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Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Letras
Programa de Pós-Graduação em Letras
Área: Estudos da Linguagem
Especialidade: Lingüística Aplicada
INGRID KUCHENBERCKER BROCH
ESCRITA COLETIVA DE TEXTO TEATRAL EM LÍNGUA INGLESA EM
AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM: o foco do aluno no processo
PORTO ALEGRE
2008
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1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Letras
Programa de Pós-Graduação em Letras
Área: Estudos da Linguagem
Especialidade: Lingüística Aplicada
INGRID KUCHENBERCKER BROCH
ESCRITA COLETIVA DE TEXTO TEATRAL EM LÍNGUA INGLESA EM
AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM: o foco do aluno no processo
Dissertação de Mestrado em Lingüística Aplicada
apresentada como requisito parcial para a obtenção do título
de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Orientadora: Profª Drª Eunice Polonia
PORTO ALEGRE
2008
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Letras
INGRID KUCHENBECKER BROCH
ESCRITA COLETIVA DE TEXTO TEATRAL EM LÍNGUA INGLESA EM
AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM: o foco do aluno no processo
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
BANCA EXAMINADORA
___________________________________
Profª Drª Eunice Polonia (orientadora)
(UFRGS)
___________________________________
Profª Drª Marília dos Santos Lima
(UFRGS)
___________________________________
Profª Drª nica Baptista Pereira Estrázulas
(UFRGS)
___________________________________
Prof. Dr. José Manuel Moran
(USP)
3
Dedico este trabalho ao Zeca, meu marido,
incentivador da minha caminhada,
que sempre expressou através do seu afeto,
carinho e estímulo, a crença nas minhas possíveis conquistas,
vibrando ao meu lado, em cada etapa alcançada.
E aos três ”Bs” da minha vida: Betina, Brenda e Bruno.
4
AGRADECIMENTOS
Esta dissertação é o produto de um longo processo de construção e conhecimento, que
incluiu momentos de motivação, inquietação, indagação, reflexão e estudo. Felizmente o
estive sozinha nestes momentos, por isso ao concluir este trabalho quero agradecer...
- À minha orientadora Profa. Dra. Eunice Polonia não por ter acreditado na minha
proposta de pesquisa, mas por ser a minha parceira em projetos que envolvem o uso da
tecnologia. Agradeço pelas discussões acadêmicas e por ser, em certos momentos, apenas
“ouvinte” e em outros, a pessoa mais experiente na perspectiva da zona de desenvolvimento
proximal, em que a verdadeira aprendizagem ocorre, sempre respeitando meu jeito de ser,
fazer e compreender. Agradeço pela orientação e discussões acadêmicas que tanto me
inquietavam como esclareciam pontos importantes da educação envolvendo o uso da
tecnologia.
- Ás professoras Maíra Barberena de Mello, Silvana Silva e Inês Suzete D’Ávila, que
participaram comigo do projeto Drama Club Webwriters em 2006, que acompanharam e
contribuíram para o desenvolvimento do projeto e desta pesquisa. Agradeço a todas pelos
momentos de reflexão, dúvidas, sugestões e certezas, por terem compartilhado comigo uma
proposta pedagógica com o uso da tecnologia que visa a um aprendiz mais autônomo e
reflexivo.
- Aos noventa alunos que participaram do projeto Drama Club Webwriters/2006, com os
quais aprendi a importância da atividade coletiva, da cooperação e de que cada indivíduo é
único e não deve ser comparado a outro.
- À Profª Drª Mônica Estrázulas, amiga e colega, pelo incentivo à pesquisa e pelos momentos
de nossas conversas em que pude expressar minhas angústias e ouvir sempre uma palavra de
incentivo e alento, que sempre me renovavam e mostravam a importância da pesquisa na
educação.
- Ao Prof. Dr. Cléo Altenhofen, que me oportunizou momentos de reflexão com sua amizade,
inteligência e atenção. A ele, a imensa admiração pelo profissionalismo e dedicação à
pesquisa.
5
- Aos professores do PPGLET, em especial, Profa. Dra. Ingrid Finger e Profa. Dra. Marília
Lima.
- Ao Colégio de Aplicação, por propiciar e incentivar a prática de propostas inovadoras.
- À Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), instituição à qual estou vinculada
profissionalmente, por abrir espaço para a realização desta pesquisa.
- Aos meus colegas da Área de Língua Estrangeira pelo apoio e incentivo, por serem
parceiros de trabalho dentro da perspectiva de aprendizagem cooperativa. Agradeço, por
terem me acompanhado nesta caminhada, pelo apoio e afeto sempre presentes.
- Às professoras Tatiana Pereira e Juliana dos Santos, com as quais pude trocar e
compartilhar idéias sobre o projeto Drama Club Webwriters.
- Às professoras Ana V. Tijiboy e Bettina S. dos Santos, pela receptividade e por
compartilharem seus conhecimentos sobre a teoria vygotskyana.
- Ao bolsista do PROLIC, Fabricio Vaz, que gentilmente me ajudou a organizar os Quadros
para este estudo e aos bolsistas de projetos coordenados pela Profa. Dra. Eunice Polonia em
2006.
- Às minhas amigas Valeska Altenhofen, Kelly Ferreira e Renata Bonotto, que sempre tiveram
tempo para me ouvir e incentivar.
- Aos meus pais por serem merecedores de toda a minha admiração, pelo incentivo e
confiança sempre presentes em nossa relação.
- Aos meus familiares (irmãos, irmãs e cunhadas), por valorizarem meus estudos e
compreenderem a minha ausência em vários encontros de família.
- Ao meu marido, que me deu todo suporte e afeto, tanto para mim como para nossos filhos,
os quais souberam esperar, esperar e esperar por momentos de convívio familiar completo.
Agradeço por compreenderem que minha presença física, na verdade, significava ausência
em certos momentos.
- Por fim, sou grata a Deus, pelas graças que me permitiram chegar a este momento.
6
A atividade é alcançada pela negociação,
pela orquestração e pela luta constantes entre diferentes metas
e perspectivas de seus participantes.
O objeto e o motivo de uma atividade coletiva
são algo como um mosaico em constante evolução,
um padrão que nunca está inteiramente acabado.
Yrjö Engeström
7
RESUMO
Este pesquisa propõe-se a investigar como adolescentes brasileiros, estudantes de
língua inglesa, participam e realizam uma atividade de escrita coletiva de um texto teatral em
língua inglesa em ambiente digital. Os pressupostos teóricos e metodológicos baseiam-se na
teoria cio-hisrica de Vygotsky, na qual se destacam a noção de zona de desenvolvimento
proximal e o desenvolvimento de processos psicológicos superiores. A metodologia é
qualitativa de estudo de caso. Os dados foram gerados a partir do projeto Drama Club
Webwriters desenvolvido nas aulas de Língua Inglesa do Colégio de Aplicação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Os participantes são oito alunos do primeiro ano
do Ensino Médio divididos em quatro ades que, após a leitura de uma obra adaptada em
inglês, a discutem e adaptam a história a um roteiro de peça teatral através do ambiente virtual
de aprendizagem ALED (www.ufrgs.br/aled) e o editor de texto colaborativo EquiText
(http://equitext.pgie.ufrgs.br). Os resultados apontam a atividade de escrita coletiva de texto
teatral em ambiente virtual de aprendizagem como uma nova proposta pedagógica de
abordagem processual. A atividade de escrita coletiva com o suporte de um ambiente virtual
de aprendizagem propicia a interação entre pares de maior e menor conhecimento de ngua
inglesa, os quais têm favorecida a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo ao assumirem
uma postura cooperativa. Por fim, considera-se o uso da metafala nas interações entre pares
como um indício do processo de aprendizagem. Os dados indicam que o uso da metafala deve
ser estimulado nas interações entre pares durante a escrita coletiva em ambientes virtuais de
aprendizagem, que são vistas como momentos significativos para a construção de
conhecimento e encontram na diversidade um fator determinante para o desenvolvimento
cognitivo
Palavras-chave: Escrita coletiva. Ambiente digital. Língua inglesa. Processo.
8
ABSTRACT
This research proposes the investigation of how Brazilian adolescents, English students
as a foreign language in a public school, participate and carry out a collaborative writing of a
play in English language in a digital environment. Theoretical and methodological references
are based on the Vygotsky´s theory, especially its notion of zone of proximal development
and the development of higher psychological processes. Data have been generated from the
project Drama Club Webwriters developed in English classes at Colégio de Aplicação of the
Federal University of Rio Grande do Sul. Participants are eight pupils in the first year of high
school. Divided in pairs and after having read an adapted version in English, they discuss and
adapt it into a play script by using the virtual learning environment ALED
(www.ufrgs.br/aled) and the collaborative text editor EquiText (http://equitext.pgie.ufrgs.br).
Results show that collaborative writing of a play through a digital environment can be seen as
a new pedagogical process approach to writing. Collaborative writing supported by a digital
environment allows interaction between less and more knowledgeable English learners, who
by assuming a cooperative position, may enhance learning and so may develop higher
psychological processes. Finally, the presence of metatalk in pair interactions can be
considered as an indication of the learning process. Data also suggest metatalk must be
stimulated in pair interactions during the collaborative writing through digital environments
for those represent meaningful moments for knowledge construction. Diversity in pair
interactions is seen as a determinant aspect of for cognitive development.
Keywords: Collaborative writing. Digital environment. English language. Process.
9
LISTA DE FIGURAS E QUADROS
FIGURA 1: Tela de abertura do ALED ................................................................................ 36
FIGURA 2: Tela de visualização das ferramentas do ALED ................................................ 37
FIGURA 3: Tela de abertura do EquiText ............................................................................ 39
FIGURA 4: Tela da interface de contribuição do EquiText .................................................. 40
FIGURA 5: Tela da interface do texto em construção com sobreposição da opção obs. ........ 41
FIGURA 6: Tela da interface do Histórico ........................................................................... 42
FIGURA 7: Tela da interface do texto em construção com sobreposição das opções de edição
..................................................................................................................................... 43
FIGURA 8: Tela da interface de edição na opção inserir. ..................................................... 44
FIGURA 9: Tela da interface de alteração no parágrafo ....................................................... 45
QUADRO 1: Grupos de escrita coletiva formados a partir da escolha do livro de leitura ...... 67
QUADRO 2: Horário semanal das aulas de Língua Inglesa .................................................. 68
QUADRO 3: Composição do grupo de alunos do nosso experimento ................................... 71
QUADRO 4: Perfil dos participantes ................................................................................... 72
QUADRO 5: Modos de participação no EquiText ................................................................ 73
QUADRO 6: Número de inserções realizadas pelas díades .................................................. 82
10
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ALED = Aprendizagem de Língua estrangeira a Distância
AVA = Ambiente Virtual de Aprendizagem
LE = Língua Estrangeira
PPE = Processo Psicológico Elementar
PPS = Processo Psicológico Superior
TICs = Tecnologias de Informação e Comunicação
ZDP = Zona de Desenvolvimento Proximal
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 13
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................. 17
2.1 Interação e construção de conhecimento ..................................................................... 17
2.1.1 O processo de mediação: instrumentos e signos ....................................................... 19
2.1.1.1 Agentes de mediação ........................................................................................ 20
2.1.2 O desenvolvimento dos processos psicológicos superiores ....................................... 21
2.1.3 Internalização .......................................................................................................... 23
2.1.4 A zona de desenvolvimento proximal ...................................................................... 26
2.1.5 A relação entre aprendizado e desenvolvimento cognitivo ....................................... 29
2.1.6 O conceito de atividade ........................................................................................... 31
2.2 O uso da tecnologia na educação ................................................................................. 34
2.2.1 O Ambiente virtual de aprendizagem ALED............................................................ 36
2.2.2 O Editor de texto colaborativo - EquiText................................................................ 38
2.2.2.1 A escrita coletiva em AVA vista como processo, atividade social e atividade
cognitiva ...................................................................................................................... 45
2.3 A escrita em língua estrangeira ................................................................................... 48
2.3.1 A escrita em LE quando o foco está no processo ...................................................... 48
2.3.1.1 A noção de Erro ................................................................................................ 50
2.3.1.2 A correção cooperativa entre pares ................................................................... 52
2.3.2 A escrita como atividade cognitiva .......................................................................... 54
2.3.3 Uma nova proposta de escrita coletiva em LE: projeto Drama Club Webwriters ...... 56
3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 60
3.1 Objetivos e procedimentos metodológicos ................................................................... 63
3.2 Coleta de dados ............................................................................................................ 64
3.3 Atividades desenvolvidas no projeto ........................................................................... 66
3.4 O estudo de caso ........................................................................................................... 70
3.4.1 Os participantes ....................................................................................................... 70
3.4.2 Tempo de interações - definindo o período de interesse para o estudo ...................... 72
3.4.3 Situação dos sujeitos (ade ou individual) quanto ao modo de participação ............ 73
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS ........................................................ 74
4.1 Inserções de parágrafo ................................................................................................. 75
4.1.1 Planejamento, estabelecimento de relações e a primeira inserção de parágrafo ......... 75
12
4.1.2 O Descompasso entre as díades: respeitando o tempo de cada um ............................ 82
4.1.2.1 As primeiras inserções realizadas pela díade A: iniciativa ou competitividade? . 83
4.1.2.2 As primeiras inserções realizadas pela díade D - construção e apropriação ........ 86
4.1.2.3 As primeiras inserções da díade C: reflexão-na-ação ......................................... 88
4.1.2.4 A primeira inserção da ade B: o processo e a identidade ................................ 90
4.2 Alterações no parágrafo ............................................................................................... 93
4.2.1 Alteração realizada pela mesma díade logo após inserção: reflexão sobre a ppria
produção .......................................................................................................................... 93
4.2.2 Reedição sem alteração: momento de refleo ......................................................... 95
4.2.3 Alteração para constar autoria .................................................................................. 96
4.2.4 Alteração com evidências de coletividade .............................................................. 102
4.2.5 Alteração com produção de metafala ..................................................................... 106
4.3 Respondendo às questões de pesquisa ....................................................................... 109
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 113
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 116
ANEXO A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............... 123
ANEXO B ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA ......................... 124
ANEXO C HISTÓRICO DO EQUITEXT ................................................................... 125
13
1 INTRODUÇÃO
Como professora de Língua Inglesa, tendo atuado tanto na rede privada como blica,
observei o quanto as Tecnologias de Informão e Comunicação (TICs) fazem parte do
cotidiano dos alunos. Paralelamente, o uso do computador na educação vem despertando a
atenção de pesquisadores
1
que têm concentrado seus esforços em compreender o impacto e os
benecios cognitivos na utilização dessa ferramenta em contextos educacionais.
Em 2005, tive a oportunidade, através do projeto Rede JovemPaz
2
, de estabelecer uma
parceria com o Núcleo de Educação a Distância do Instituto de Letras (NUED)
3
da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que consiste no uso da plataforma digital
4
ALED
- Aprendizagem de Língua Estrangeira a Distância, na qual desenvolvo um projeto
denominado Drama Club Webwriters. .Nesse projeto, alunos do primeiro ano do Ensino
Médio utilizam o ALED e o editor colaborativo EquiText na escrita coletiva de um roteiro
teatral em inglês. Desde então utilizo o ambiente digital em minhas aulas de Língua Inglesa.
Assim, o problema que deu origem a esta pesquisa está diretamente ligado à
introdução das novas TICs na prática de ensino e aprendizagem de Língua Estrangeira (LE)
em sala de aula de escolas blicas. O que fazem os alunos quando realizam uma atividade
coletiva em Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)? Trabalhos em grupo são muito
comuns na sala de aula, mas o que acontece quando adolescentes trabalham juntos em AVA?
Que processos psicológicos superiores emergem em uma atividade de escrita coletiva em
AVA? Qual o papel desempenhado pelo professor durante esse tipo de atividade?
Em meio a tantos questionamentos, decidi direcionar a minha pesquisa em investigar
como os adolescentes participam e realizam a atividade de escrita coletiva de um texto teatral
em ngua inglesa em AVA nas seguintes questões:
a) Como se dá a interação entre adolescentes para a realização da escrita coletiva em AVA?
b) Tendo em vista que a produção é coletiva e em ambiente digital, o que fazem os
participantes quando interagem em um mesmo texto?
Parks et al (2005) aponta três áreas que têm recebido pouca atenção nas pesquisas de
LE: a primeira refere-se à análise de dados sobre o processo de produção escrita de alunos do
Ensino Médio (para os autores, a maioria dos estudos ocorre em contextos universitários ou
1
Ver Polônia, 2003, 2007; Axt & Martins, 2004; Passerino & Santarosa, 2002; Axt et al, 2001; Albino, 2001;
Freitas, 2000.
2
Disponível em: <http://www6.ufrgs.br/leadcap/redejovempaz/sobreoprojeto.php> Acesso em: 07 abr. 2005.
3
Disponível em: < http://www6.ufrgs.br/aled/nued/> Acesso em: 05 mai 2008
4
URL: <http://www.ufrgs.br/aled> Acesso em: 03 mar 2008.
14
cursos livres); a segunda área diz respeito ao fato de que poucos estudos têm focado a
perspectiva do participante em relação a sua prática de escrita; e a última área refere-se a
apropriação e uso do processo de escrita/composição em ambientes ricos como as TICs.
Embora já existam vários estudos utilizando as TICs na aprendizagem de LE, a
maioria tem focado a sua análise nas interações síncronas e assíncronas. Poucos estudos
(PARKS, 2005) têm focado o processo de escrita em si.
O projeto Drama Club Webwriters
5
, contexto desta pesquisa, comporta as três áreas,
ou seja: os participantes são alunos do Ensino Médio, a análise ocorre a partir do foco do
aluno no processo através de interações virtuais, que ocorrem a partir da utilização das TICs.
Nesse projeto, alunos participam de um grupo, formando uma comunidade virtual, com o
objetivo de adaptar ou recriar uma história, previamente lida, a um roteiro de peça teatral
utilizando as TICs. Para realizar essa atividade, é fundamental que os alunos, cada um dentro
do seu grupo, se organizem, no sentido de assumirem a atividade e lidarem com o processo de
produção de escrita coletiva. Os alunos são estudantes brasileiros do Ensino Médio, que
estudam ngua inglesa como ngua estrangeira, em uma escola pública.
Tem-se por pressuposto nesse trabalho enxergar o aluno como um cidadão que pensa e
age por si mesmo, que esteja livre de manipulações ou situações que conduzam a um
engessamento ou, ainda, a um comportamento imitativo. Dessa forma, entende-se que incluí-
lo na sociedade em que vivemos significa criar condições para que o mesmo tenha capacidade
de desenvolver suas idéias de maneira criativa e crítica a partir de interações com seus pares
no contexto escolar.
As interações entre pares são vistas, nesse estudo, como momentos significativos no
processo de ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira, baseado na teoria sócio-
histórica de Vygotsky, e dentro dela, a perspectiva sociointeracionista que aponta para
mudanças muito diferentes daquelas propostas pela escola tradicional. Quando mencionamos
a importância das interações em uma sala de aula de língua estrangeira, é fundamental
lembrar que essa abordagem encontra na diversidade um campo procio para a aplicação de
práticas pedagógicas que favoreçam a construção de conhecimento.
A idéia de uma sala de aula arrumada, em que os alunos assistem tranilamente à
transmissão de um determinado conteúdo eleito pelo professor como sendo imprescindível,
o combina com a visão sociointeracionista. Uma sala de aula em que o conhecimento é
5
O projeto foi o vencedor da fase nacional de I Concurso Internacional EducaRede: Internet e Inovação
pedagógica promovido pela Fundação Telefônica em 2007. Disponível no link:
<http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=revista_educarede.especiais&id_especial=275> Acesso em:
11 out 2007.
15
construído a partir de interações não limita os alunos a responder perguntas sistematizadas
com base num texto ou preencher folhas e mais folhas de caderno sobre um conhecimento
construído previamente pelo professor. Ao contrário, possibilita ao aluno a construção do seu
conhecimento, criando situações dentro da sala de aula que sejam naturais e favoráveis para
que ele compartilhe com seus pares e o professor as suas dúvidas e entendimentos sobre
determinado objeto de estudo. Nesse contexto, todos m a liberdade de testar as suas
hipóteses, de falar e questionar aquilo que foi dito.
Uma mudança que nem sempre é fácil, pois exige do aluno uma postura ativa e
responsável pela sua própria construção de conhecimento. Por esse motivo, alguns alunos, em
um primeiro momento, podem ter dificuldade em assumir uma postura mais ativa na
construção de seu conhecimento. Frente a isso, eles precisam desconstruir a idéia que eles têm
sobre o que é aprender para depois, juntamente com o grupo, discutir e construir sentidos. A
atividade de aprendizagem na escola não deve estar vinculada a uma habilidade específica,
mas consiste em os alunos irem além de qualquer habilidade, rompendo com a encapsulação
da aprendizagem escolar (ENGESTRÖM, 2002a).
As interações entre pares, nesse estudo, transcendem o espaço físico-temporal da aula
presencial, uma vez que, como veremos, a atividade era realizada em ambiente virtual,
possibilitando ações fora do ambiente e horário escolar.
Neste estudo não se pretende discutir a intervenção do professor, mas investigar como
um grupo de adolescentes se organizou na construção de um texto coletivo e,
conseqüentemente, a construção conjunta de conhecimento de LE e os processos psicológicos
implicados nesta atividade.
Para tanto, minha hipótese nesta investigação é a seguinte: A atividade de escrita de
um texto teatral em AVA favorece a construção de significados, por ser essa uma condição
para participação, e pode desencadear um desequilíbrio nas ações desses, em função da
imediata publicação e do contato com a escrita do outro.
A originalidade do estudo consistiu em verificar como se dá a construção de um roteiro
de peça teatral em LE através das interações entre adolescentes por meio de ambiente virtual
de aprendizagem, contemplando a diversidade linística, social e cultural existente numa
sala de aula de Língua Inglesa.
No segundo capítulo são apresentados os pressupostos teóricos que fazem parte do
escopo desta pesquisa, referentes à interação e construção do conhecimento, ao uso das TICs
e à aprendizagem da escrita em LE. Esse tema exige uma abordagem interdisciplinar que
abrange a interação social e o desenvolvimento cognitivo. Para cobrir esse propósito utilizo a
16
teoria sócio-histórica de Vygotsky e autores relacionados a conceitos vygotskianos como
Bárbara Rogoff, Alex Kozulin, Leontiev e Engeström. No que se refere ao uso das TICs na
educação, destaco os estudos de Andrea Ramal e Pierre Lévy. Para identificar o espaço que a
produção escrita pode ocupar dentro do ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras, utilizo
estudos realizados por Vivian Zamel, Dana Ferris e Merril Swain que tratam da importância
da interação e do processo para a aprendizagem e desenvolvimento cognitivo.
A metodologia utilizada é tratada no terceiro capítulo, assim como o contexto e os
instrumentos que possibilitaram a execução do experimento. Esses tiveram como meta
verificar como se a interação e a escrita coletiva de texto teatral em língua inglesa por
adolescentes brasileiros em ambiente virtual de aprendizagem. A abordagem metodológica é
qualitativa de um estudo de caso. Os dados são apresentados e discutidos no quarto capítulo,
nos quais se incluem diálogos capturados das interações no rum, parágrafos produzidos
pelos alunos no EquiText e trechos retirados da entrevista realizada com os participantes após
o experimento. Encerro o capítulo respondendo às questões de pesquisa.
Para finalizar, no último capítulo, retorno à minha hipótese, confrontando-a com os
resultados do experimento para extrair dessa reflexão minhas considerações finais. A partir de
então sugiro novos encaminhamentos de pesquisa.
Como pesquisadora e professora pretendo contribuir para o desenvolvimento de
competências envolvendo o uso de ambientes virtuais que favoreçam uma aprendizagem de
língua estrangeira mais significativa e reflexiva. Sob a ótica vygotskiana, toda aprendizagem
significativa leva ao desenvolvimento de funções mentais superiores. A aprendizagem
significativa envolve a construção de significados a partir da interação social. A construção de
significados é mediada por signos, no caso, as palavras em língua estrangeira. Na medida em
que as palavras em LE remetem a algo internamente que pode ser a reconstrução de um
significado existente ou a emergência de um novo significado, ocorre um processo de
aprendizagem significativa. Se a palavra em LE não remeter a nenhum significado para o
aluno, ela não é um instrumento psicológico, porque não modifica o sujeito internamente. Isso
também se aplica às estruturas lingüísticas e ao funcionamento de LE em geral.
17
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Interação e construção de conhecimento
De acordo com os estudos de Vygotsky, o processo de construção de conhecimento
ocorre a partir de relações sociais mantidas ao longo da vida de cada indivíduo. Nessa
perspectiva, o indivíduo se constitui a partir do social, ou seja, suas ações se constituem em
atividades e sua consciência nas relações sociais. Cada indivíduo é único e possui a sua
trajetória sócio-histórico-cultural de formação de conceitos e conhecimentos internalizados
que vão se modificando a partir de interações sociais. Para garantir a interação social faz-se
necessário a presença de pelo menos dois indivíduos com um contexto compartilhado, em que
a interação é vista como uma ação em conjunto que produz mudanças tanto no contexto em
que ocorre a interação como nos participantes envolvidos (GARTON, 1994). Dessa forma,
entende-se que a teoria sócio-histórica foi considerada adequada para o estudo da construção
de conhecimento a partir das trocas e da construção conjunta entre pares
6
.
Para a teoria sociocultural as instituições educacionais, assim como família e escola
são imprescindíveis para o desenvolvimento cognitivo do indivíduo (Vygotsky, 2003). Dentro
dessa perspectiva, Alex Kozulin (2003) reitera que cultura e aprendizagem são inseparáveis
pelo simples fato de que a principal fonte de aprendizagem é a transmissão de cultura de
geração para geração. Cada cultura tem os seus próprios instrumentos psicológicos e situações
em que são usados. No entanto é na escola que a alfabetização constitui o mais poderoso
instrumento psicológico.
Os instrumentos psicológicos são simlicos, tais como: signos, símbolos, textos,
fórmulas, gráficos que, quando internalizados, ajudam o indivíduo a dominar as funções
psicológicas superiores de percepção, memória, atenção. Cada indivíduo traz consigo a sua
bagagem cultural. Portanto, a sala de aula caracteriza-se pelo multiculturalismo, pela presença
de diferentes instrumentos psicológicos criando um ambiente heterogêneo e diverso (Kozulin,
2003).
Esse contexto de sala de aula multicultural tem levantado a questão da necessidade de
enfatizar a educação cognitiva. Muitos problemas de alunos não estão relacionados à falta de
conteúdo, mas à falta de estratégias cognitivas necessárias e à falta de habilidades
metacognitivas. Para Vygotsky, a essência da educação cognitiva está em providenciar aos
6
O termo “pares” é sinônimo de parceiros, nesse contexto, colegas que freqüentam a mesma rie em um
contexto escolar. Sempre que estivermos nos referindo a um grupo de duas pessoas utilizaremos o termo díade.
18
alunos novos instrumentos psicológicos que possam desenvolver tanto funções cognitivas
gerais como específicas.
De acordo com Vygotsky, a colaboração entre pares é uma ação imprescindível para a
aprendizagem, e ajuda a desenvolver estratégias e habilidades de solução de problemas em
virtude do processo cognitivo implícito na interação.
Rogoff (1993) aponta uma série de estudos realizados que apóiam a idéia de que a
resolão conjunta de problemas é uma vantagem da interação entre pares. A autora afirma
que o processo de colaboração parece conduzir a um nível de compreensão dificilmente
alcançável mediante tentativas individuais ou formas de interação não cooperativas”
7
(p. 227).
Forman (1993) tem dedicado os seus estudos na investigação de aspectos cognitivos
envolvidos em uma atividade cooperativa entre adolescentes e argumenta que os diferentes
pontos de vista fomentam a co-construção de hipóteses.
Segundo Veer e Valsiner (2001, p. 88), para Vygotsky a “diversidade de níveis
cognitivos constitui uma condição importante da atividade coletiva”. A interação é uma forma
de acessar uma ampla fonte de dados que serve de base para o aluno aprender e se
desenvolver.
Os três princípios que determinaram a estrutura teórica de Vygotsky são:
- a crença no método genético ou evolutivo;
- a crença na tese de que os processos psicológicos superiores têm sua origem em
processos sociais;
- a crença de que os processos mentais podem ser entendidos somente através da
compreensão dos instrumentos e dos signos que atuam como mediadores.
Esses três princípios formam a base da abordagem e análise das fuões psicológicas
superiores que, na obra Formação Social da Mente, Vygotsky (2003) resumiu em:
1º) Analisar o processo e não o objeto;
2º) Explicar ao invés de descrever, ou seja, procurar entender as ligações entre os estímulos
externos e as respostas internas que são a base das formas superiores de comportamento;
3º) Analisar o desenvolvimento que reconsti todos os pontos e faz retornar à origem o
desenvolvimento de uma determinada estrutura, como uma forma qualitativamente nova que
aparece no processo de desenvolvimento.
7
Tradução nossa do original: El proceso de colaboración parece conduzir a un nivel de comprensión
dificilmente alcanzable mediante intentos individuales o formas de interación no cooperativas”.
19
2.1.1 O processo de mediação: instrumentos e signos
Por muitos anos, o modelo predominante de aprendizagem foi o da transmissão.
Vygotsky afirma que o desenvolvimento de processos mentais superiores depende da
presença de agentes mediadores na interação da criança com o meio ambiente. Os Processos
Psicológicos Superiores (PPSs) compreendem os mecanismos psicológicos mais complexos:
capacidade de pensamento, memória voluntária, imaginação, atenção, isto é, envolvem
controle consciente do comportamento, ação intencional e liberdade. Os PPSs têm sua origem
em processos sociais e ocorrem mediante a compreensão dos instrumentos que atuam como
mediadores. Portanto, mediação é o processo de intervenção de um elemento intermediário
em uma relação. dois tipos de mediações: por instrumento sico que é um elemento
externo ao indivíduo que regula ações sobre o objeto (machado, computador) e o signo que é
um instrumento psicológico orientado para dentro do indivíduo, ocorre internamente
regulando as ações sobre o psiquismo do indivíduo e auxiliando nos processos psicológicos
superiores.
Segundo Daniels (2002), Vygotsky descreveu os instrumentos psicológicos (signos)
como dispositivos para dominar processos mentais. Alguns exemplos de instrumentos
psicológicos citados por Vygotsky são a linguagem, sistemas de contagem, obras de arte,
desenhos, esquemas, mapas e sinais convencionais. Sobre a invenção e o uso de signos,
Vygotsky (2003) considerava que os mesmos eram úteis para solucionar um problema
psicológico (lembrar, comparar coisas, relatar, etc).
Para internalizar signos, o indivíduo tem que captar os significados compartilhados
socialmente, ou seja, tem que passar a compartilhar significados aceitos no contexto social
em que se encontra, ou já construídos social, histórica e culturalmente. A construção de
significados está diretamente relacionada com a interação. As palavras e os gestos são signos
e são constrdos socialmente. Assim como a palavra escrita e as diversas abreviações e
símbolos utilizados na interação em ambientes digitais (\ º/, vc). Signo é uma coisa que
significa outra coisa. A internalização de signos é fundamental para o desenvolvimento
humano.
Uma determinada palavra, mesmo dentro de uma mesma cultura ou uma mesma
língua, pode o ter um significado para um indivíduo que jamais teve a oportunidade de
captar o seu significado em interações sociais. Isso quer dizer que essa palavra não é um
signo, pois não modifica internamente o indivíduo. O mesmo ocorre com palavras e
20
expressões de língua estrangeira, que passam a funcionar como signos lingüísticos à medida
que seus significados são internalizados.
Portanto, em uma aula de LE em que o foco está na estrutura e regras gramaticais,
dificilmente o aluno vai atribuir algum sentido aos enunciados. Com base na minha
experiência como professora de Língua Inglesa, tanto da rede privada como pública, posso
afirmar que quando o foco na estrutura gramatical antecede a compreensão de um enunciado,
ou seja, foca na forma antes de verificar se os significados das palavras contidas no enunciado
são compartilhados pelos indivíduos naquele contexto, não favorece a aprendizagem. Para
atribuir algum sentido, primeiro os indivíduos necessitam se apropriar do significado das
palavras em LE.
Em sua obra Pensamento e Linguagem, Vygotsky discute a distinção entre o sentido e
o significado de uma palavra. Segundo ele:
O sentido de uma palavra é a soma de todos os eventos psicológicos que a
palavra desperta em nossa consciência. É um todo complexo, fluído e
dinâmico, que tem várias zonas de estabilidade desigual. O significado é
apenas uma das zonas do sentido, a mais estável e precisa. Uma palavra
adquire o seu sentido no contexto em que surge; em contextos diferentes
altera o seu sentido. O significado permanece estável ao longo de todas as
alterações do sentido. O significado dicionarizado de uma palavra nada mais
é do que uma pedra no edifício do sentido, não passa de uma potencialidade
que se realiza de formas diversas na fala (2005, p. 181).
Dessa forma, aquilo que é convencionalmente estabelecido pelo social é o significado
do signo lingüístico, e aquilo que é interpretado pelo indivíduo, que tem um histórico, é o
sentido. Cabe ressaltar que a interação propicia a troca entre os pares e o confronto de
diferentes pontos de vista iconstituir novos sentidos a serem negociados.
Seguidores de Vygotsky acrescentaram dois tipos de mediação: mediação através de
outro indivíduo e mediação através de uma atividade organizada de aprendizagem.
2.1.1.1 Agentes de mediação
Mediador humano
Segundo Kozulin (2003), o papel do mediador é definido na teoria de Vygotsky
através da noção de que cada função psicológica aparece duas vezes no desenvolvimento,
primeiro na forma de interação entre pessoas e na segunda vez como uma forma interna,
internalizada dessa função. Existem vários estudos que se referem à mediação entre mães e
filhos (SCHAFFER, 1996). Esses estudos, na maioria das vezes, observavam o que a criança
havia internalizado naquele modelo explicitado pelo adulto durante a interação. Entretanto,
21
pesquisadores na área da educação escolar se interessam em como se dá essa mediação.
Mediadores simbólicos
Segundo Vygotsky, desenvolvimento cognitivo e aprendizagem dependem da
apropriação da criança de mediadores simbólicos, apropriação e internalização na forma de
instrumento psicológico interno. A aquisição de relacionamentos simbólicos requer
experiência orientada, não aparece espontaneamente. O processo de apropriação de
instrumentos psicológicos difere do processo de aprendizado de conteúdo. A diferença está no
fato de que o conteúdo freqüentemente reproduz o conhecimento com os quais os alunos
tornam-se familiarizados no dia-a-dia, enquanto que instrumentos psicológicos podem ser
adquiridos somente através de atividades especiais de aprendizagem. Por esse motivo a
aquisição de instrumentos psicológicos requer um paradigma de aprendizagem diferente do
que a aquisição de conhecimento de conteúdo.
O instrumento simlico só cumpre seu papel se ele é apropriado e internalizado como
um instrumento generalizado, isto é, um instrumento psicológico capaz de organizar as
funções cognitivas individuais e de aprendizagem em diferentes contextos e na aplicação de
diferentes tarefas.
Neste estudo, a escrita em LE é vista como um instrumento simlico, que só é
transformado em um instrumento psicológico à medida que o aprendiz consegue compreender
e empregar as palavras, orações, estruturas lingüísticas, enfim, tudo o que faz parte de uma
escrita, em diferentes contextos. Esse processo de apropriação é gradual e requer participação
e envolvimento.
2.1.2 O desenvolvimento dos processos psicológicos superiores
Vygotsky definiu dois tipos de processos psicológicos: os processos psicológicos
elementares (PPEs) e os processos psicológicos superiores (PPSs). Os PPEs são regulados por
processos biológicos e determinados pela estimulação ambiental, comuns a animais e seres
humanos, assim como os reflexos. Os PPSs são o resultado da estimulação autogerada, ou
seja, a criação de estímulos artificiais, assim como os signos, dentro de um contexto
sociocultural do qual somente os seres humanos fazem parte.
As operações com signos são mais complexas e surgem ao longo da vida da criança
através da sua participação em atividades compartilhadas. Nesse sentido, os PPSs não são
uma evolução dos PPEs, mas seu desenvolvimento depende do contexto social no qual o
22
indivíduo está inserido. Santos (2001, p. 131) cita o pensamento, a linguagem e a vontade
como exemplo de PPSs
8
e acrescenta que,
Podemos observar, definir e incentivar na sala de aula as seguintes FPS: a
auto-observação, o planejamento, a capacidade de planejamento abstrato, a
metacognição (indivíduo capaz de pensar sobre o seu próprio pensamento), a
inferência, a indução, o pensamento lógico e a solução de problemas.
A autora conclui que para Vygotsky, “quando o homem transforma o ambiente, através
de seu próprio comportamento, essa mesma modificação influencia em seu comportamento
futuro”. (2001, p. 131). Observa-se a necessidade de uma postura ativa do indivíduo, ou seja,
através de suas ações o indivíduo demonstra compreensão, analisa e estabelece relações com
idéias já concebidas e as futuras. E é essa intelectualização (exercício intelectual) que vai
modificar o comportamento do indivíduo em atividades futuras.
Vygotsky postulava que os processos psicológicos como: o pensamento, a percepção, a
memória e a atenção apareciam inicialmente na forma primária, ou seja, na forma natural
para, depois, aparecerem em formas superiores.
Wertsch (1995) destaca quatro características que diferenciam os processos
psicológicos superiores dos elementares. Os PPSs são: 1) constituídos no contexto social; 2)
voluntários; 3) intencionais, e 4) mediados por signos.
A primeira refere-se à natureza social dos PPSs, isto é, a sua origem social. A segunda
diz respeito à passagem do controle do meio para o indivíduo, ou seja, quando o indivíduo
possui um controle sobre si mesmo e sobre suas ações. A terceira característica refere-se à
realizão consciente dos processos psicológicos, mesmo que automatizadas. Vygotsky utiliza
o termo fossilizados para processos que se consolidaram algum tempo e se tornaram
automáticos, no entanto, não devem ser confundidos com os PPEs. A última diferea é o uso
de signos como mediadores dos PPSs que, segundo Vygotsky (2003, p. 54), “(o uso de
signos) conduz os seres humanos a uma estrutura específica de comportamento que se destaca
do desenvolvimento biológico e cria novas formas de processos enraizados na cultura”.
Baquero (1998) aponta para a distinção presente na obra vygotskiana entre os PPSs,
que podem ser divididos em rudimentares” e “avançados”. Ambos se formam a partir da
participação de indivíduos em contexto sociais, sendo que o desenvolvimento dos PPSs
avançados requer a participação em contextos específicos, enquanto que para o
desenvolvimento dos PPSs rudimentares basta a participação do indivíduo na vida familiar,
como é o caso da aquisição da fala. A escrita é um PPS avançado, pois nem todos os
indivíduos de uma sociedade dominam a linguagem escrita, ou seja, a aprendizagem se a
8
PPSs, neste estudo, é sinônimo de Funções Psicológicas Superiores (FPS).
23
partir da participação em um contexto específico como o de uma instituição educacional ou
em circunstâncias em que indivíduos agem como se estivessem em uma posição institucional.
Os PPSs avançados utilizam um número maior de signos descontextualizados e com uma
regulação voluntária e consciente. Por signos descontextualizados entende-se que eles sejam
utilizados pelo indivíduo em diferentes contextos, ou seja, o significado do signo o está
vinculado a um único contexto.
A distinção das funções elementares e superiores visa diferenciar o desenvolvimento
biológico do sócio-cultural, enquanto que a classificação dos PPSs rudimentares e avançados
tem a finalidade de mostrar o caráter evolutivo dos PPSs. Essa distinção mostra as duas linhas
de desenvolvimento a que os seres humanos estão sujeitos, segundo o pensamento de
Vygotsky: a linha natural e a linha cultural.
2.1.3 Internalização
Kozulin (2003) ressalta que o elemento essencial para a formação de funções mentais
superiores é o processo de internalização. Segundo Vygotsky (2003, p. 74), internalização é a
reconstrução interna de uma operação externa”, isto é, um processo de desenvolvimento de
negociação que é co-constrdo da relação interpessoal para a intrapessoal. É o processo de
reorganização do indivíduo e o seu ambiente que emerge com os relacionamentos de outras
pessoas e seus ambientes. Através deste processo, os relacionamentos são reorganizados e
alguns destes aspectos de reorganização vão contribuir para uma reorganização nova.
Segundo Vygotsky (2003, p. 75), o processo de internalização consiste numa série de
transformações:
a) Uma operação que inicialmente representa uma atividade externa é
reconstruída e começa a ocorrer internamente. Nessa etapa, o desenvolvimento dos
PPSs requer a transformação da atividade prática que utiliza signos, ou seja, o
desenvolvimento da intelincia prática, da atenção voluntária e da memória.
b) Um processo interpessoal é transformado num intrapessoal. Isso significa que
todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro no
nível social e, depois, no nível individual. Primeiro entre pessoas (interpsicológica) e
depois no interior da criança (intrapsicológica).
24
c) A transformação de um processo interpessoal em um processo intrapessoal é
resultado de uma longa série de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimento. Ao
longo do desenvolvimento, o indivíduo não necessita mais de marcas externas, ou
seja, as representações mentais substituem os objetos de mundo real. No entanto,
cabe ressaltar, que para muitas funções, o estágio de signos externos dura para
sempre, ou seja, é o estágio final de desenvolvimento (p.75).
Para a teoria cio-histórica, o desenvolvimento cultural da pessoa é a transformação
de comportamento das formas naturais em formas superiores, culturais. Esse processo envolve
os dois planos de atuação: o intermental (social e externo) e o intramental (interno),
denominado de processo de internalização.
Segundo Frawley (2000), um termo russo para internalização é vrashchivanie, que
significa crescendo para dentro” e, às vezes, traduzido como interiorização. O autor enfatiza
que vrashchivanie implica que o pensamento superior surge a partir da ativa transformação
do indivíduo, estimuladora de fatores externos em experiência pessoalmente significativa” (p.
96). Dessa forma, o conhecimento não é uma transmissão de fatores externos para as nossas
cabeças. Para tanto, não basta o indivíduo estar presente em um contexto social, mas
participar ativamente nesse contexto. Rogoff (1998, p. 134) ressalta que:
A participação envolve esforços criativos para entender e contribuir com a
atividade social, a qual por sua própria natureza envolve coneo entre
várias formas de entender uma situação. Comunicação e esforços
compartilhados sempre envolvem ajustes entre os participantes (com
múltiplos graus de assimetria) para ampliar o conhecimento mútuo e
enquadrar novas perspectivas em um desafio compartilhado. Tal esforço
para enquadrar diferentes opiniões e para realizar algo junto é
desenvolvimento e ocorre no processo de participação. As mudanças
individuais dos participantes, tanto nos papéis como na compreeno,
estendem-se a seus esforços e envolvimentos em ocasiões similares no
futuro.
Rogoff (1998) discute três conceitos que refletem planos diferentes da atividade
sociocultural, a saber: o aprendizado, a participação guiada e a apropriação participatória. A
metáfora do aprendizado enfatiza o envolvimento de pessoas menos experientes em uma
comunidade de prática, na qual elas se engajam em uma atividade culturalmente organizada,
junto com pessoas mais experientes, tornando-se participantes mais responsáveis (ROGOFF,
1998). A análise consiste em examinar a estrutura institucional (planejamento, propósitos,
objetivos) e as tecnologias culturais da atividade intelectual (dicionário, livros,
computadores). A participação guiada se refere aos processos e sistemas de envolvimento
entre as pessoas à medida que elas se engajam e se esforçam ao participar da atividade
25
cultural (ROGOFF, 1998). O conceito de apropriação participatória se refere a como os
indivíduos se modificam através do seu envolvimento em uma atividade (ROGOFF, 1998).
Na citação abaixo a autora distingue o termo apropriação de internalização.
A apropriação ocorre no processo de participação à medida que o indivíduo
se modifica atras do envolvimento na situação em questão, e essa
participação contribui para a direção do acontecimento em evolução e para a
preparação do indivíduo em envolver-se em outros acontecimentos similares.
No meu ponto de vista, a apropriação é um processo de transformação, o
um requisito para a transformação. Assim, uso o termo “apropriação” para
me referir à mudança resultante da participação apropriatória de uma pessoa
em uma atividade, e não a sua internalização de algum acontecimento ou
cnica externa. (ROGOFF, 1998, p.134).
A apropriação considera o desenvolvimento como um processo dinâmico, mútuo e
envolvido na participação das pessoas em atividades culturais, enquanto que a internalização
considera o desenvolvimento em termos de “aquisição” ou “transmissão‟, conforme afirma
Rogoff. Nesse sentido, a autora critica o modelo de internalização por entender que o
indivíduo é passivo e um mero receptor de conhecimentos e habilidades externas. Enquanto
que, na perspectiva da apropriação participatória, Rogoff sustenta que “os processos
pessoais, interpessoais e culturais se constituem entre si à medida que transformam a
atividade sociocultural.” (1998, p. 137)
Segundo Rogoff (1998), se focarmos nossa investigação em “como as pessoas
participam na atividade sociocultural e como elas modificam suas participações dismistifica
os processos de aprendizagem e desenvolvimento” (p.139).
Neste estudo, ao contrário do que afirma Rogoff, entendemos que a internalização
ocorre em dois planos conforme os estudos de Vygotsky, e que essa transformação do plano
externo para o interno ocorre mediante a participação ativa do indivíduo em um grupo. Dessa
forma, se para Vygotsky a internalização é um processo que consiste numa série de
transformações, entendo que essas transformações ocorrem à medida que grupos e
comunidades juntos constituem e são constituídos pela atividade. Essas transformações são
entendidas como um processo constante de constituição da subjetividade a partir de situações
de intersubjetividade, ou seja, corresponde à própria formação da consciência (OLIVEIRA,
1992). Portanto, quando falamos de internalização na teoria vygotskiana, estamos nos
referindo ao crescimento interno da experiência vivida que se transforma em significado
9
pessoal, que é fomentada pelo social, ou seja, pela atividade prática (FRAWLEY, 2000).
9
O termo russo para “significado é smysl, mais especificamente, osmyslivanie, “significação; experiência é
perezhivannie, literalmente “vivência”, mas provavelmente seria mais bem traduzido como “experiência vivida”
(FRAWLEY, 2000).
26
Para entendermos melhor como se essa internalização através da interação entre
pares, Vygotsky utilizou o conceito de zona de desenvolvimento proximal.
2.1.4 A zona de desenvolvimento proximal
Segundo Vygotsky, a interação da criança com outras mais experientes favorece seu
desenvolvimento psicológico. Para Vygotsky existem dois níveis de desenvolvimento: o real e
o potencial. O primeiro refere-se às funções mentais da criança que já se estabeleceram, ou
seja, a capacidade em realizar tarefas de forma independente. O segundo refere-se às funções
que ela pode desenvolver com a ajuda de outra pessoa. A diferença entre os dois níveis é
chamada de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), definida como:
A distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costume
determinar através da solução independente de problemas, e o nível de
desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas
sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais
capazes (2003, p.112).
Na ZDP o desenvolvimento é visto de forma prospectiva, em que são definidas
funções que ainda não amadureceram e estão em processo de maturação. Segundo Vygotsky:
A zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda o
amadureceram, mas que estão no processo de maturação, funções que
amadurecerão amanhã, mas que estão correntemente em um estado
embrionário. Tais funções podem ser chamadas de “botões” ou “flores” do
desenvolvimento, em vez de serem chamadas “frutos” do desenvolvimento
(2003, p.113).
Dentre vários fatores que deveriam promover o desenvolvimento a partir das
interações dentro da ZDP, encontramos a idéia de suporte
10
inicialmente defendida por Wood,
Bruner e Ross (1976). Os autores entendiam que a interação entre um sujeito mais
especializado e um novato deveria possuir as seguintes características: a) ser ajustável de
acordo com o nível de competência do novato, e b) ser temporal, deve durar apenas o tempo
suficiente para que o novato adquira autonomia.
Cadzen (apud Baquero, 1998) acrescenta outra característica ao se referir ao suporte e
que considera fundamental: ser audível e visível, ou seja, que o sujeito tenha consciência de
que está sendo assistido e que o progresso é resultado de uma atividade intersubjetiva. Desta
forma o suporte deve ser explícito.
10
O termo original é scaffolding, em português refere-se à “idéia de andaimento, isto é, a não de que se deve
oferecer um andaime ao aluno para que ele possa se apoiar e subir um novo nível de conhecimento” (LEFFA,
2001). O termo surgiu como uma metáfora para descrever o suporte dado por um tutor a crianças durante um
experimento em que as ajudava a construir uma pirâmide com blocos de madeira.
27
No entanto, Baquero discute a metáfora do suporte a partir das iias de autores como
Griffin e Cole e Engeström. Segundo Baquero, Griffin e Cole assinalaram que:
O formato de suporte deixa em aberto o problema da criatividade no
desenvolvimento da criança e um rumo fortemente teleológico ao modelo
geral de desenvolvimento, sendo que são os avanços dos adultos que
regulam as aquisições possíveis da criança (apud BAQUERO, 1998, p.105).
Nesse mesmo sentido, segundo Baquero (1998, p. 105), Engeström afirma que "o
dispositivo suporte parece orientado, na maior parte, para a aquisição do dado, mas poderia
parecer fortemente limitado na hora de explicar a possibilidade de um salto para uma idéia
nova". Logo, as interações na ZDP podem enfatizar processos de aquisição e não de criação
(Baquero, 1998). Frente a isso, percebe-se a necessidade de se propor atividades colaborativas
que, além de propiciarem a construção de conhecimento entre pares, também favoreçam a
criação de idéias novas.
No projeto, contexto deste experimento, a atividade de escrita coletiva exige dos
adolescentes tanto o pensamento imaginativo como a criatividade. A criação de um roteiro
teatral em língua inglesa, a partir da leitura de uma obra adaptada, envolve a capacidade de
propor algo novo. Acredito que ao transformar a narrativa em um texto teatral, os alunos estão
se apropriando dos significados contidos na própria história, à medida que eles conseguem
utilizar a ngua estrangeira na escrita do roteiro e, ao fazê-lo, criam situações novas e de sua
autoria. E é nesse contexto de liberdade de criação, (subtende-se também liberdade
intelectual) que ocorrem saltos e trocas significativas entre os adolescentes. O suporte é
caracterizado pelas trocas entre os adolescentes envolvidos na atividade. E também pelo
suporte oferecido pelo professor que deve estar alinhado com esse contexto de construção e
descoberta. Para tanto Cadzen afirma que existe uma diferea essencial entre ajudar que
uma criança uma resposta concreta e ajudá-la a conseguir uma compreensão conceitual a
partir da qual possa construir no futuro respostas e perguntas similares (apud Baquero, 1998,
p.106).
Essa discussão sobre suporte na mediação é crucial neste estudo, uma vez que, nosso
experimento se propôs a verificar como se a interação entre pares com diferentes
conhecimentos de LE e de mundo, mas na condição de parceiros, isto é, pertencentes a mesma
faixa etária e mesmo grau de escolarização.
Segundo Chaiklin (2003), o conceito ZDP pode transmitir a idéia de uma
aprendizagem perfeita. A perfeição do sistema educacional, em que o professor ou um
aprendiz mais competente assistência a um aprendiz menos capaz. Chaiklin critica essa
visão e levanta as seguintes questões:
28
a) Como identificar a ZDP do aprendiz em uma tarefa de aprendizagem?
b) Como ter certeza que o aprendiz vai se engajar na ZDP?
O autor levanta três aspectos que constantemente são interpretados erroneamente. As
três suposições são:
1ª) Suposição da Generalidade: é a idéia de que o aprendiz é capaz de realizar um
determinado número de tarefas individualmente, mas em colaboração com um outro
aprendiz ele é capaz de realizar um número maior de tarefas. Segundo Chaiklin, a ZDP
o se refere à quantidade de tarefas, mas ao desenvolvimento do aprendiz ao realizar
a tarefa. O autor ainda enfatiza que a ZDP não está relacionada ao desenvolvimento de
uma habilidade em uma tarefa específica.
2ª) Suposição da Assistência: é a idéia de que a ajuda deve ser sempre fornecida por uma
pessoa mais competente. Segundo Chaiklin, a noção da ZDP introduzida por Vygotsky
em Pensamento e Linguagem enfatiza que em colaboração e com orientação, ou algum
tipo de ajuda, a criança é capaz de resolver tarefas mais difíceis. Dessa forma, não é a
competência da pessoa que favorece o desenvolvimento, mas a significado que essa
ajuda possui na interação. Para tanto, o autor enfatiza que não é a competência em si
da pessoa mais capaz que é importante, mas o significado dessa ajuda para a
aprendizagem e desenvolvimento da criança.
3º) Suposição do Potencial: é a iia de que ensinar na ZDP deveria resultar em um
aprendizado mais fácil e sem muito esforço. O autor enfatiza que para Vygotsky, o
aprendizado na ZDP nem sempre está relacionado com uma atividade prazerosa. O
potencial não é propriedade do aprendiz, mas é uma indicação de que algo pode ser
desenvolvido ou simplesmente uma indicação de que funções maturacionais ainda não
atingiram aquele estágio.
Tudge (1996) sustenta que é insuficiente falar de conflito cognitivo e de informação
fornecida dentro da ZDP do indivíduo; se em uma interação a criança mais competente não
confia em seu próprio ponto de vista, provavelmente haverá uma regressão na sua forma de
raciocínio, quando estiver interagindo com uma criança menos competente, devido à falta de
feedback. O autor sustenta que:
29
Não garantia de que o significado que é criado quando dois parceiros
interagem corresponda a um nível superior, mesmo se tratando de uma
pessoa mais competente do que a outra, e que esteja efetivamente
fornecendo informações dentro da ZDP do parceiro menos competente
(p.165).
O autor enfatiza a necessidade de prestarmos mais atenção ao processo de interação, ao
invés de nos preocuparmos em averiguar os benefícios de um indivíduo interagindo com um
parceiro mais competente. Dessa forma, o autor reitera a importância de se ver a ZDP dentro
do contexto geral da teoria vygotskiana, que destaca a obtenção conjunta do significado
(TUDGE, 1996).
Nesse sentido, a ZDP não é vista como um momento em que o parceiro de mais
conhecimento de LE ajuda o de menos conhecimento, mas também como momentos de
construção conjunta em que ambos planejam, tomam decisões e buscam soluções para
problemas. Essa busca pela obtenção conjunta do significado na escrita de uma peça teatral
envolve alunos tanto de mais como de menos conhecimento, principalmente nos momentos
em que a produção escrita do outro desperta PPSs como reflexão e análise.
2.1.5 A relação entre aprendizado e desenvolvimento cognitivo
Os autores Veer & Valsiner (2001) descrevem em sua obra uma palestra ministrada
por Vygotsky em 1933, na qual ele levanta a questão entre ensino/aprendizagem
11
escolar e
desenvolvimento cognitivo. Segundo os autores, Vygotsky não estava satisfeito com as
visões dos psicólogos da época
12
e afirmava que aprendizagem e desenvolvimento são
processos distintos e não deveriam ser confundidos, ao mesmo tempo em que o
desenvolvimento da criança não pode ser visto de forma isolada em relação ao processo de
aprendizagem” (p.357).
Para exemplificar essa relação complexa, Vygotsky utilizou o processo de
alfabetização na escola, no qual ele argumenta que o processo de aprender a escrever traz
consigo as suas dificuldades peculiares. Seria equivocado afirmar que escrever é o mesmo que
falar, ou traduzir em signos as palavras faladas. É diferente em vários sentidos, a ausência de
objetos e entonação, além do sentido abstrato de não ter uma pessoa com a qual estamos
falando e, às vezes, sem um objetivo motivador para escrever. Nesse sentido, Vygotsky
sustentava que a criança encontrava dificuldades para escrever porque tinha que se
11
O termo russo obuchenie pode ser traduzido como “ensino”, “aprendizagem e “treinamento” (VEER &
VALSINER, 2001, p. 357).
12
Vygotsky nasceu em 1896, na Bielo-Rússia, e faleceu em 1934.
30
conscientizar da sua própria fala, ao contrário do ato de falar, cuja atenção está no que a
criança está falando e não nas formas lingüísticas da sua fala. Vygotsky pontuava que o
principal problema da escrita, portanto, é tornar-se consciente de seus próprios atos”
concordava com Wundt que afirmava que a escrita está relacionada a processos conscientes e
voluntários (VEER &VALSINER, 2001, 357-8).
A relevância do exemplo acima com a relação entre aprendizagem e desenvolvimento
levantada por Vygotsky, nessa palestra, é de que:
As capacidades que a criança tem que adquirir para aprender a escrever, por
exemplo, (ou seja, tornar-se consciente de seus próprios atos, para
representar objetos que não estão presentes), não são de forma alguma
ensinadas diretamente pelo professor (VEER & VALSINER, 2001, p.358).
No entanto, os autores enfatizam que é no contexto escolar, segundo Vygotsky, que “a
criança tem que aprender a transformar uma capacidade “em si” em uma capacidade para si”
(p. 358)”, sendo que o professor deve criar condições para que determinados processos
cognitivos se desenvolvam; pois, como Vygotsky argumenta:
Implantar [algo] na criança... é impossível... é possível treiná-la para
alguma atividade exterior como, por exemplo, escrever à máquina. Para criar
uma zona de desenvolvimento proximal, isto é, para engendrar uma rie de
processos de desenvolvimento interior, precisamos dos processos
corretamente construídos de aprendizagem escolar (apud VEER &
VALSINER, 2001, p. 358).
Vygotsky ressalta que o processo de escrever exige fuões que ainda estão mal
desenvolvidas na criança p-escolar. As funções desenvolvem-se no processo de
aprendizagem de como escrever no processo da educação” (VEER & VALSINER, 2001,
p.358).
Vygotsky concluiu “que a aprendizagem capacita uma série de processos de
desenvolvimento que sofrem seu desenvolvimento próprio” e que “o ensino só é efetivo
quando aponta para o caminho do desenvolvimento (VEER & VALSINER, 2001, p. 358).
Isso nos remete a prática de ensino e aprendizagem na sala de aula. A criação de uma situação
de aprendizagem está relacionada e se dá a partir da atividade desenvolvida pelos alunos.
A teoria de Vygotsky enfoca crianças participando com outras pessoas em uma
atividade sociocultural. Segundo Rogoff (1998, p.124), para Vygotsky:
O desenvolvimento cognitivo de crianças tinha de ser entendido como
acontecendo atras de suas interações com outros membros da sociedade
que são melhor entendidos com as práticas e ferramentas intelectuais da
sociedade (especialmente a linguagem) para mediar a atividade intelectual.
A autora reitera a importância de se conhecer a atividade cultural, na qual as ações
pessoais e interpessoais, conflitos, contribuições, tradições hisricas e materiais possibilitam
31
transformações e reformulações no relacionamento individual e na interação social. De forma
que esses elementos não ocorrem isoladamente. Essa também era uma das preocupações de
Vygotsky, de preservar a essência dos acontecimentos, considerando o todo e não
fragmentando em elementos sem se preocupar com a atividade cultural.
2.1.6 O conceito de atividade
A teoria cultural-histórica da atividade foi iniciada pelo grupo de psicólogos russos
Leontiev, Luria entre outros, todos seguidores das iias desenvolvidas por Vygotsky nas
décadas de 20 e 30. Baseados na filosofia marxista, eles formularam um conceito teórico
completamente novo, para ir além da compreensão prevalente da psicologia então dominada
pelo behaviorismo, em que o desenvolvimento do indivíduo era visto através de estímulo e
resposta. Essa nova orientação era um modelo de ação mediada pelo artefato e orientada para
o objeto. Segundo Oliveira (2006, p.96),
As atividades humanas são consideradas por Leontiev, como formas de
relação do homem com o mundo, dirigidas por motivos, por fins a serem
alcançados. A idéia de atividade envolve a noção de que o homem orienta-se
por objetivos, agindo de forma intencional, por meio de ações planejadas. A
capacidade de conscientemente formular e perseguir objetivos é um tro
que distingue o homem dos outros animais.
A atividade de cada indivíduo ocorre a partir de relações sociais, em que o trabalho
tem um papel central. Segundo Daniels (2003, p.111), “o termo práxis, ou deyatelmost em
russo, refere-se à noção de atividade social prática”. A atividade mental emerge dessa
atividade social prática desenvolvida pelos homens com base no trabalho ao longo das
gerações.
A atividade cultural e os fenômenos psicológicos têm uma relação mútua de
dependência e sustentação. Não há divio tida entre eles porque estão
entrelaçados. A relação é como uma espiral, em que cada um se converte no
outro e se constrói no outro. Os fenômenos psicológicos o os processos
subjetivos da atividade cultural prática, e a atividade cultural é o lado
objetivado prático dos fenômenos psicológicos que compõem a vida social
organizada. Nessa relação, a atividade prática talvez seja o momento mais
importante porque ela inspira e organiza os fenômenos psicológicos
(RATNER apud DANIELS, 2003, p.112).
Para Leontiev (1978)
13
, a atividade é guiada por um motivo, que surge após a
manifestação de uma necessidade. Essa necessidade o está ligada somente a um objeto
material, pode estar ligada a um objeto ideal (idéia, modelo). Leontiev enfatizou a divisão do
13
Para mais informações consultar < http://marxists.anu.edu.au/archive/leontev/works/1978/index.htm> Acesso
em: 05 ago 2007.
32
trabalho e propôs uma estrutura de atividade, distinguindo três níveis de funcionamento: a
atividade propriamente dita, as ações e as operações. Um exemplo dado por Leontiev
exemplifica esses níveis de funcionamento:
Quando estão caçando, os membros de uma tribo têm, individualmente,
metas separadas e estão encarregados de diversas ações. Alguns estão
afugentando um bando de animais na direção de outros caçadores que
abatem as feras, e outros membros têm outras tarefas. Essas ações têm metas
imediatas, mas o real motivo está além da caçada. Juntas essa pessoas m
em vista obter comida e roupas permanecer vivas. Para entender por que
ações separadas são significativas, é importante compreender o motivo por
trás da atividade como um todo. A atividade é guiada por um motivo (apud
DANIELS, 2003, p.115-6).
Cada atividade pode ser desmembrada em várias ações. Cada ação é orientada a um
objetivo concreto e consciente. Esse objetivo precisa concordar com o motivo geral da
atividade, que determinará através de quais estruturas de operões será realizada essa ação.
Quando as ações são desmembradas em tarefas pequenas que o são mais realizadas de
forma consciente, essas tarefas são chamadas de operações. Operações caracterizam-se por
serem feitas de forma inconsciente como uma resposta a condições que ocorrem no ambiente.
Um exemplo de como os elementos desse sistema se articulam uns com os outros é apontado
por Gardnier (1996):
Assim que as crianças aprendem a ler, a leitura pode ser considerada uma
ATIVIDADE composta de diferentes ações; no entanto, tão logo este
aprendizado chega ao final, a leitura pode tornar-se uma AÇÃO ou mesmo
uma OPERAÇÃO no interior de um sistema formado por outra atividade. É
o caso, por exemplo, da leitura em uma situação que propõe a resolução de
problemas matemáticos. Em um caso assim, as crianças devem ler o texto, o
que aparece, então, como apenas uma das OPERAÇÕES a serem realizadas
para poder resolver os problemas. Por outro lado e em outra situação, como
por exemplo a que consiste em preparar-se para um exame, a leitura de um
livro visando à sua análise constituir-se em uma AÇÃO, que o
verdadeiro MOTIVO vincula-se à obtenção de um bom resultado no exame e
não ao conteúdo do livro propriamente dito (p.14).
Engeström (2002b) expandiu o modelo de ação mediada de Vygotsky para um modelo
de sistema de atividade coletiva. Nesse modelo a atividade é sempre multi-mediada. As ações
dos indivíduos em relação ao objeto da atividade são mediadas pelos instrumentos utilizados
(linguagem, computador, etc.); pelas regras definidas pelo grupo (comunidade) e pela divisão
de trabalho (tarefa). Segundo o autor, comunidade se refere àquelas que compartilham o
mesmo objeto de atividade. Ainda que as pessoas engajadas em uma mesma atividade estejam
separadas por grandes distâncias, se elas agem juntas em um objeto compartilhado com um
motivo compartilhado ao longo do tempo, elas formam uma comunidade.
33
Sistemas de atividades apresentam regras, que se referem às normas e padrões que
regulam a atividade (ENGESTRÖM, 2002a), mediando a relação entre o sujeito e a
comunidade. As regras são compreendidas como explícitas e formais ou não e também podem
ser modificadas ao longo da tarefa.
Em seu artigo sobre a encapsulação escolar, Engeström (2002a) defende idéias que
advogam a favor do “coletivo de alunos”, “redes de aprendizagem” e “ambientes que
transcendem limites institucionais da escola”. Nesse sentido o autor afirma que:
A atividade é alcançada pela negociação, pela orquestração e pela luta
constantes entre diferentes metas e perspectivas de seus participantes. O
objeto e o motivo de uma atividade coletiva são algo como um mosaico em
constante evolução, um padrão que nunca está inteiramente acabado (apud
DANIELS, 2003, p.119-120).
A introdução dos computadores tem apontado para uma mudança nas atividades de
ensinar e aprender. Ferramentas tecnológicas inseridas no contexto escolar propiciam a
atividade coletiva e a construção do conhecimento a distância. Novas ferramentas como a
comunicação mediada por computador, por exemplo, podem conduzir a mudanças nos papéis
de professores e alunos, permitindo que alunos atuem, inclusive, como professores de outros
alunos ou até mesmo do professor.
Albino (2001) relata algumas causas para a ausência de participação em trabalhos
numa aula presencial, apontadas pelos sujeitos de sua pesquisa, tais como: vergonha/timidez,
líderes autoritários, dispersão por conversas paralelas, desinteresse e falta de controle do
professor por parte de quem contribui no trabalho. No entanto, a autora afirma que quando as
interações são mediadas por computador para a realização de um trabalho em grupo, essas
causas tendem a se dissipar, propiciando um ambiente mais cooperativo, livre de inibições e
estruturas autoritárias.
Neste estudo a tecnologia não é vista como uma possível solução de entraves
ocasionados por atividades desenvolvidas em grupo, mas como um suporte que pode propiciar
ao aluno, que ao compartilhar suas ações e ao perceber as ações de seus pares, possa
estabelecer relações, construir conhecimento em conjunto e refletir sobre o seu processo de
aprendizagem.
No nosso experimento, um grupo de adolescentes forma uma comunidade em um
ambiente virtual de aprendizagem para a construção conjunta de um texto teatral em língua
inglesa. A formação de uma comunidade, virtual ou presencial, depende das ações dos
participantes, ou seja, aquilo que eles almejam e constroem juntos enquanto comunidade.
34
A seguir, passarei à fundamentação teórica referente à utilização das ferramentas
tecnológicas como suporte nas aulas de educação básica.
2.2 O uso da tecnologia na educação
As novas tecnologias abriram novas possibilidades de comunicação e interação entre
as pessoas em, praticamente, todos os campos de trabalho, relacionamentos individuais e
contextos educacionais. Sendo que, nesse último, Demo (1998, p. 13) ressalta que "os avanços
tecnológicos, nem de longe, são acompanhados pelos mesmos avanços no campo da
aprendizagem". Juntamente com o crescimento da ciberespaço/cibercultura crescem também
os desafios na educação que é o que Ramal (2002, p. 78) discute quando afirma:
Queiramos ou o, neste momento complexo e contraditório, momento de
rupturas e renegociações de sentidos, de queda de fronteiras e de acirramento
de desigualdades, gesta-se e é gestada uma humanidade diferente, que se
comunica de forma nova, que faz coisas diversas nos espaços e nos tempos
que lhe cabem, que o mundo a partir de novos dispositivos. É também
tarefa dos pensadores da educação e dos pesquisadores deste momento
ajudá-la a compreender e tornar-se melhor.
Para a autora, as interações/relações virtuais podem, inclusive, possibilitar que nós
passemos a avaliar a qualidade das interações presenciais na escola sob outra ótica. (RAMAL,
2002). Nesse sentido, a introdução de ferramentas tecnológicas no âmbito escolar pode causar
um desequilíbrio, trazendo à tona vários conflitos, competições, desigualdades e rivalidades
comuns em ambientes presenciais, muitas vezes camuflados, ou passam despercebidos aos
olhos do professor. A comunicação mediada por computador permite que cada indivíduo se
expresse de forma que relações sejam estabelecidas. Olhar para essas interações pode levar o
professor a repensar a sua prática, no sentido de favorecer a construção de conhecimento a
partir dessas interações, em que cada indivíduo a partir do seu nível de desenvolvimento real
tenha a possibilidade de ampliar sua ZDP.
As novas tecnologias ampliaram as formas de relações entre as pessoas. O contexto
sócio-cultural no qual vivemos hoje, e que, por mais absurdo que pareça, ainda é, de certa
forma, ignorado por muitas instituições educacionais, exige uma mudança de paradigma no
que se refere à leitura e escrita. Nossos adolescentes, incluindo os sujeitos deste experimento,
cresceram nesta cibercultura e participam de diversas formas desse contexto, vivenciando a
todo instante novas formas de leitura e escrita. Esses novos instrumentos culturais,
computador e internet, não podem ser ignorados pela escola, uma vez que a sociedade
encontra-se inserida nesse contexto. Segundo Lévy (1993, p.118), acompanhar essa mudança
35
é "[...] aprender o real que está nascendo, torná-lo autoconsciente, acompanhar e guiar seu
movimento de forma que venham à tona as suas potencialidades mais positivas".
O uso da internet possibilita a realização de uma tarefa de produção coletiva que
ultrapasse os limites de tempo e espaço; surge uma linguagem própria e também novas
relações de poder, como afirma vy (apud RAMAL, 2002), “Pela primeira vez na história, a
tecnologia da dominação é mais conhecida pelo dominado”. Os nossos adolescentes na sua
grande maioria dominam o uso do computador e a sua tecnologia. No entanto, o computador
por si não gera uma mudança, mas as atividades/tarefas que promovem a interação e a
construção de conhecimento conjunto, mediadas pelo computador, podem desencadear
processos cognitivos a partir de diferentes pontos de vista, conflitos, tomadas de decisões,
resolão de problemas entre outros. Dessa forma, acredita-se que o uso da tecnologia pode
estimular e ampliar as ZDPs dos sujeitos envolvidos em uma situação de aprendizagem. Isso
nos remete a discussão, conduzida na seção anterior, sobre interação e construção de
conhecimento, que nos leva a uma reflexão a prática de ensino/aprendizagem.
Segundo Passerino & Santarosa (2002) o ambiente telemático como suporte para a
interação tem os seguintes objetivos:
- permitir que o sujeito menos especializado se aproprie gradualmente do saber
participando, desde o começo e integralmente, numa tarefa complexa ainda que
sua participação seja parcial;
- permitir que a atividade possa ser resolvida de forma colaborativa, com um
controle inicial maior do sujeito experiente que vai delegando-o gradualmente aos
outros sujeitos menos experientes;
- possibilitar a extensão da ZDRs
14
de cada sujeito menos experiente, ampliando as
ZDPs;
- propiciar um suporte que vise à desmontagem progressiva, possibilitando um
suporte ajustável de acordo com o vel de competência do sujeito menos
experiente e dos progressos efetuados;
- propiciar um suporte que vise à temporalidade, pois um suporte crônico não
proporciona autonomia no desempenho do menos especializado.
Esses objetivos estão de acordo com a visão cio-histórica, que define interação como
uma ação em conjunto”. Isso implica trocas contínuas entre parceiros, ocorre um constante
intercâmbio de idéias e discussões, propiciando que o indivíduo desenvolva formas mais
complexas de relacionamento e representação de mundo (VYGOTSKY, 2003).
Lembrando que os PPSs avançados se caracterizam por um maior uso de instrumentos
de mediação, com crescente independência do contexto e de regulação voluntária e de
regulação consciente, Novak (2005, p. 252-3) sustenta que:
O intenso uso da escrita em comunidades virtuais de aprendizagem, como
meio para as interações interpsíquicas entre sujeitos com o propósito da
aprendizagem favorece a construção de conteúdos abstratos complexos, o
14
Zona de Desenvolvimento Real (ZDR) é o mesmo que nível de desenvolvimento real.
36
somente em função do contato com realidades distintas, mas também em
relação aos processos psicológicos superiores colocados em ação por conta
de tais eventos.
Os PPSs colocados em prática pelos membros de uma comunidade virtual, que
utilizam a linguagem escrita referem-se ao planejamento abstrato, à interpretação própria, à
formulação e organização de iias, à elaboração de hiteses, ao pensamento crítico entre
outros.
2.2.1 O Ambiente virtual de aprendizagem ALED
O ambiente virtual de aprendizagem (AVA) é uma plataforma desenvolvida para dar
suporte ao ensino e aprendizagem presencial, semipresencial ou a distância. Seu acesso é
reservado e via Internet. O AVA disponibiliza materiais, recursos, informações e ferramentas
para a interação síncrona e assíncrona entre alunos e professores.
Atualmente existem vários ambientes virtuais de aprendizagem, que possibilitam a
interação social como MOODLE, Teleduc, ROODA, entre outros. O ambiente utilizado no
projeto Drama Club Webwriters, contexto desta pesquisa, é o ALED Aprendizagem de
Língua Estrangeira a Distância do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, disponível na URL www.ufrgs.br/aled. Abaixo na figura 1 se encontra a tela de
abertura do ALED.
FIGURA 1: Tela de abertura do ALED
37
Este ambiente é composto de várias ferramentas. Faremos uma breve explicação sobre
a função de cada ferramenta, visto que esse ambiente foi e é utilizado pelos alunos e
professores do projeto.
Após o cadastro, o aluno tem acesso a diversas ferramentas. Na figura 2, na parte
superior, encontram-se várias gravuras, cada gravura corresponde a uma ferramenta. Para
utilizar a ferramenta basta clicar duas vezes sobre a gravura.
FIGURA 2: Tela de visualização das ferramentas do ALED
A seguir passarei a descrever a função de cada ferramenta, começarei pela gravura da
esquerda:
Home: tela de abertura do ALED
Chat: local para comunicação síncrona;
Writing: espaço em que o aluno escreve o seu perfil, que é compartilhado com os demais
participantes;
Blog: espaço reservado para a expressão pessoal dos alunos sobre suas preocupações
específicas ou impressões pessoais em uma linha de comunicação privada direta com o
professor;
38
Acervo: local onde tanto professor como alunos colocam materiais pesquisados por eles para
auxiliar na realização da tarefa, como leituras. Funciona como uma biblioteca digital;
Café: local para conversas sobre assuntos que o dizem respeito aos conteúdos abordados em
aula;
Agenda: local onde o professor disponibiliza o que é para ser feito pelos alunos;
Editor: ferramenta que permite a criação colaborativa de hiperlinks em textos pré-existentes;
EquiText: um link para o editor colaborativo EquiText, criado por um grupo do
PGIE/UFRGS, que permite a construção colaborativa de textos pelos alunos;
Webfolio: local onde o aluno coloca toda a sua produção, que fica visível para todos;
Fórum: espaço para discussões de tópicos propostos para desenvolvimento dos conteúdos da
disciplina, que se caracteriza pela constituição de uma memória coletiva, podendo ser
assíncrona (interação em tempos diferentes) ou ainda, síncrona (interação em tempo real).;
Logout: saída do ALED;
FAQ: questões mais freqüentes.
Cabe ressaltar que todo ambiente é como se fosse uma sala de aula, na qual existem
ferramentas disponíveis, no entanto, não existem planos de aula prontos, todo o conteúdo é
produzido pelos alunos e professores, o que torna cada turma única, com as suas dificuldades
e conquistas.
2.2.2 O Editor de texto colaborativo - EquiText
O editor de escrita coletiva foi o EquiText
15
, que possui link dentro do ALED, e que
também está disponível na rede na URL http://equitext.pgie.ufrgs.br. A figura 3 mostra a tela
de abertura do EquiText.
15
O nome EquiText originou-se de; Equi = equipe e Text= Texto.
39
FIGURA 3: Tela de abertura do EquiText
Segundo Alonso, Rizzi e Seixas (2003), autores do EquiText, a ferramenta foi
desenvolvida com a finalidade de
Possibilitar que pessoas escrevam textos de forma cooperativa/colaborativa,
através da web, estejam ou não separadas geográfica, física ou
temporalmente, pois seus recursos permitem administrar o trabalho em
textos, numa produção simultânea e assíncrona.
Dessa forma, a ferramenta propicia que participantes, previamente cadastrados, criem
textos em conjunto, ou seja, que todos possam expressar as suas idéias na tela do computador,
ao contrário do que acontece em muitos trabalhos em grupo presenciais, em que um dos
participantes tem em seu poder a caneta e, muitas vezes, assume uma postura autoritária de
escrever ou não a sugestão/opinião do seu par no trabalho. Isso não significa que em uma
produção de texto coletivo, todas as iias e pontos de vistas serão aceitos pelo grupo, mas
todos terão a possibilidade de se manifestar por escrito nesse texto. Albino (2001:59) afirma
que:
Não será mais alguém expressando as suas idéias, mas suas idéias sendo
alteradas, trabalhadas a constituírem um todo, completo, construído pelo
trabalho do grupo, expressando todas as visões, todas as opiniões e também
os consensos gerados das discussões, pois não há alguém impondo sua idéia,
mas sim várias opiniões sendo analisadas para gerar a opinião transcendente
que expresse o pensamento geral.
40
O conceito utilizado na criação do texto é de 'parágrafos', que pode ser uma linha, um
título ou rias linhas. Segundo os autores, o funcionamento do EquiText é bastante intuitivo.
Uma vez efetuado o cadastro, é feita a opção pelo texto, no qual o indivíduo icolaborar. A
figura 4 uma visão do funcionamento do editor, a qual mostra as ações de produção dos
alunos do nosso experimento, cuja ngua materna é o português e a língua estrangeira, inglês.
FIGURA 4: Tela da interface de contribuição do EquiText
As contribuições em forma de parágrafo são inseridas em uma Tabela, conforme a
Figura 4, composta pelas seguintes colunas:
#: representa a posição do parágrafo no texto em construção;
conteúdo do parágrafo: mostra o conteúdo de cada parágrafo no texto;
colaborador: contém o nome de usuário do participante (no experimento cada indivíduo da
díade possuía o seu nome de usuário, no entanto, para a díade trabalhar no EquiText eles
utilizavam apenas um dos usuários);
ação: mostra a operação efetuada sobre o respectivo parágrafo do texto. A letra Aindica
alteração do conteúdo; as letras Be Cindicam que os parágrafos foram removidos para
Baixo ou Cima; a letra “I” indica inclusão, e “E”, exclusão;
ana
ana
ana
ana
denise
bruno
diego
diego
41
Obs: é um espaço destinado para a comunicação dos participantes do texto colaborativo. Para
acessar o conteúdo dessa opção, caso houver algum, irá aparecer um asterisco em forma de
link. Ao clicar no asterisco, uma janela se sobrepõe no texto, contendo o conteúdo escrito por
um dos participantes, como pode ser visualizado na Figura 5:
Data: mostra a data e hora em que foi realizada a última ação.
FIGURA 5: Tela da interface do texto em construção com sobreposição da opção obs.
Além desses recursos, também se pode visualizar o Texto Final, conforme opção no
canto superior direito, em um único texto. Outra opção bastante usada pelos participantes é o
Histórico, que permite a visualização de todo o processo, todas as ações feitas até o momento
em ordem cronológica. Na Figura 6 a seguir, a tela encontra-se na opção Histórico, dessa
forma é possível verificar na coluna da esquerda a data e o horário de postagem dos
parágrafos, em ordem cronológica.
denise
ana
carlos
denise
anita
ana
anita
anita
42
FIGURA 6: Tela da interface do Histórico
Neste experimento, a maior parte dos dados analisados encontram-se registrados no
histórico. Esse recurso é muito importante, tanto para os alunos/participantes como para o
professor. O histórico propicia o acompanhamento do processo de escrita, composição e
revisão, assim como a participação de cada participante.
Para escrever ou teclar, o participante clica sobre o lápis e a palavra Editar, no canto
esquerdo da Figura 7, e abrirá uma janela contendo as opções: inserir antes, inserir depois,
alterar conteúdo, excluir parágrafo, mover para cima, mover para baixo.
ana
ana
ana
ana
ana
ana
ana
ana
ana
ana
43
FIGURA 7: Tela da interface do texto em construção com sobreposição das opções de edição
Na Figura 8 se encontra a tela de edição, na opção inserir parágrafo. Local onde o
indivíduo redige e envia o seu parágrafo.
44
FIGURA 8: Tela da interface de edição na opção inserir.
No entanto, se o indivíduo optar por alterar conteúdo, ao clicar nessa opção o referido
parágrafo irá estar disponível para uma reedão. Como pode ser visto na Figura 9:
45
FIGURA 9: Tela da interface de alteração no parágrafo
2.2.2.1 A escrita coletiva em AVA vista como processo, atividade social e atividade cognitiva
A escrita coletiva pode ser definida como um processo em que mais de um autor com
habilidades e responsabilidades diferentes ou não interagem na elaboração de um mesmo
texto. O objetivo é a construção de um texto com início, meio e fim, conforme Demo (1996,
p. 24) argumenta:
[...] quando um texto é apenas lido reprodutivamente ou copiado
imitativamente, ainda não aparece o raciocínio, o questionamento, o saber
pensar. Quando é interpretado, supõe alguma forma de participação do
sujeito, por mais incipiente que seja, pois busca-se compreeno de sentido.
Compreender o sentido de um texto implica estabelecer relões entre texto
e significado, colocar em movimento modos de entender e compreender,
indagar possibilidades alternativas de compreensão, perceber e dar sentidos.
Esta dinâmica avança ainda mais, quando se trata de saber fazer e refazer um
texto, passando-se de leitor a autor. Aparecendo a elaboração própria, torna-
se visível o saber pensar e o aprender a aprender.
Ler e escrever em uma aula de Língua Inglesa, tradicionalmente, se resume a
responder perguntas sobre um texto ou ao preenchimento de lacunas. Na atividade de escrita
coletiva, autores e leitores se cruzam on-line. A cada momento alternância de papéis, em
que a escrita se torna leitura e a leitura leva a uma nova escrita ou reescrita. Esse movimento
46
exige um trabalho de equipe, daí a importância do diálogo e das relações estabelecidas entre
os autores de um mesmo texto. Segundo Bakhtin (2003, p. 348):
A vida é dialógica por natureza. Viver significa participar do diálogo:
interrogar, ouvir, responder, concordar, etc. Nesse diálogo o homem
participa inteiro e com toda a vida: com os olhos, os lábios, as mãos, a alma,
o espírito, todo o corpo, os atos.
Escrever um texto coletivo implica tornar público o que eu escrevi, ou seja,
compartilhar com os outros autores/parceiros do grupo e com o professor. Pode levar algum
tempo até que o aluno se acostume com a idéia de deixar a sua marca de autoria no texto e
assumir aquilo que escreveu ou ainda, assumir um possível erro, que pode ser algo que ele
ainda não tenha certeza: uma hitese. Entender que a escrita coletiva se dá dentro de um
processo, quando o aluno está habituado com o produto, é um aspecto que exige tranqüilidade
e confiança por parte do aluno, do grupo e do professor. Talvez esse seja o primeiro
estranhamento que ocorre, isto é, o aluno precisa lidar com o seu processo de construção de
conhecimento. Ele não está repassando para o professor um produto acabado (a sua produção
escrita), mas ele a qualquer momento poderá acessar e modificar a sua produção. O segundo
estranhamento ocorre quando o aluno ao ler o texto coletivo se conta de que a sua frase
o é mais a mesma, mas foi modificada pelo colega e é preciso reler todo o texto para dar
continuidade ao que já foi escrito.
Neste estudo, a escrita não está sendo vista como uma tarefa isolada ou como um único
objetivo que é a comunicação. Em ambiente virtual de aprendizagem, segundo Seixas (2000),
[...] reconhece-se que o texto em si deve ser mais que um mero mediador de comunicação,
deve ser como uma ponte, um elo, uma ferramenta para atingir uma meta, neste caso, a
aprendizagem”. A ênfase está no processo de construção do texto, em que cada autor participa
com as suas idéias e todos buscam construir sentidos. No contexto da cibercultura, Ramal
(2002, p. 129) afirma que:
Leitura e escrita não-lineares, hipertextos plásticos e em mobilidade
permanente, redes hipertextuais que se constituem com múltiplas vozes,
olhares e autorias, uma inteligência coletiva em contínuo movimento e
produção de informões, nada disso comporta nem admite a antiga rigidez
das teorias sistêmicas e dos textos clássicos.
Considerando que, nesse ambiente, a aprendizagem é colaborativa/cooperativa
16
,
SANTORO, F.M; BORGES, M.S. e SANTOS, N. (1999) pontuam que em uma relação de
parceiros para a construção de conhecimento sobre um determinado objeto, devem estar
presentes aspectos: motivacionais (objetivo), sociais (grupo), cognitivos de desenvolvimento
16
Os termos colaboração e cooperação são utilizados como sinônimos neste estudo.
47
(interação entre os aprendizes) e a perspectiva cognitiva de elaboração (reestruturação
cognitiva ou re-elaboração).
Segundo Axt e Martins (2004, p. 4):
O processo de autoria é uma tarefa complexa e cíclica. É um processo
aberto, que nunca chega a um ponto de finalização concreto, pois a cada
retomada do texto surgem modificações, na tentativa de sempre melhorar o
sentido do que está exposto.
Além da complexidade do processo de autoria, soma-se ao fato de a tarefa ser realizada
por um grupo, dessa forma, ampliando o grau de complexidade, ou seja, da autoria em si e da
coordenação de esforços exigidos no trabalho em equipe (AXT E MARTINS, 2004).
Contextos socioculturais diferentes podem evocar equilíbrios de prioridades
diferentes. Esse pico foi explorado por Rueda e Mehan (1986), que procuraram entender as
maneiras como a performance de estudantes com dificuldade de aprendizagem variavam em
função do contexto instrucional.
A variabilidade situacional parece surgir porque os alunos com dificuldade
de aprendizagem trabalham em duas tarefas ao mesmo tempo: administram
suas identidades e administram uma tarefa intelectual. Empregam estratégias
para evitar a tarefa apresentada a eles e administrar a situação de modo que
pareçam competentes (p. 158-9).
Neste sentido, a utilização de um ambiente virtual de aprendizagem pode causar um
desequilíbrio no curso de ações do indivíduo. O desequilíbrio causado pelo contexto
situacional da atividade de aprendizagem exigirá um esfoo ainda maior por parte do
indivíduo para a realização da tarefa. Ao passo que, em alguns casos, evitar a realização da
tarefa pode ser uma das estratégias adotadas pelo indivíduo. Para tanto, faz-se necessário o
estabelecimento de uma rede de cooperação entre os participantes, que se apóiam
mutuamente.
Dentro da teoria vygotskiana, o construto instrumento refere-se a instrumentos
materiais, tais como: lápis, caderno, computador, programas de computador, editores de
textos, plataformas digitais e a instrumentos psicológicos, como a linguagem e o discurso.
Neste estudo, o processo de escrita coletiva também é visto como um instrumento psicológico
juntamente com o instrumento material representado pelo computador e ferramentas
disponíveis como plataforma digital, internet e sofwares.
Nesse sentido, busco uma maior compreensão sobre o que os alunos fazem quando
realizam e organizam em conjunto uma atividade de escrita em LE mediada por computador.
Para tanto, veremos o que a literatura nos diz sobre a escrita em LE, sob dois pontos de
vista: como processo e como atividade cognitiva.
48
2.3 A escrita em língua estrangeira
2.3.1 A escrita em LE quando o foco está no processo
A partir dos anos 80, pesquisadores de LE como Zamel (1982, 1983) concentraram-se
seus estudos no processo de composição, investigando as estratégias relacionadas à geração
de idéias, formulação, revisão e edição do texto. Dessa forma, foram realizadas muitas
pesquisas analisando os diferentes tipos de feedback dados pelo professor, o impacto da
revisão feita pelos alunos, a mediação do professor durante a revisão, diferentes etapas de
reescrita e correção feita entre pares (ZAMEL, 1983; MENDONÇA & JOHNSON, 1994;
VILLAMIL & DE GUERRERO, 1996, 1998; TRUSCOTT, 1996; FERRIS, 2003;
FIGUEIREDO, 2002, 2003; VIDAL, 2005). Esses estudos não só mostraram a importância do
processo de composição na aprendizagem de LE, como também apontaram para a
complexidade envolvida numa abordagem que prioriza o processo.
Para Zamel (1987), muitos pesquisadores concentraram seus estudos em tentar
encontrar o melhor método para ensinar a escrever, estabelecendo um conjunto de tarefas
ordenadas logicamente, exercícios ou, ainda, um modelo predeterminado. No entanto, muitos
desses exercícios e drills consistiam em poucas oportunidades de escrita. A autora afirma que
até a década de 80 os estudos referentes à escrita na sala de aula focavam somente o produto
realizado pelo aluno, considerando que o uso correto de normas e estruturas gramaticais
indicava uma escrita de melhor qualidade. Dessa forma o professor desconsiderava todo o
esforço e o significado que havia sido construído pelo aluno até aquele momento. Zamel
reitera que a ênfase no uso correto de aspectos gramaticais na produção escrita, na maioria das
vezes, objetiva unicamente o uso de determinadas estruturas lingüísticas trabalhadas
previamente nas aulas de LE.
Segundo Zamel (1982), a ênfase na exatidão e na forma inibia o processo de
descobrimento e negociação. Os alunos têm sido instruídos a prestar atenção no uso correto de
aspectos lingüísticos, ao passo que pouca atenção é dada ao propósito, ao público leitor e ao
processo de escrita em si.
De acordo com Zamel (1982, p.195), o ato de escrever é o processo no qual cria-se
significado”
17
; a autora enfatiza a importância que deve ser atribuída ao ato de gerar, formular
e redefinir idéias no processo de escrita. Havia a necessidade de se investigar como os alunos
17
Tradução nossa do original:” writing is the process through which meaning is created”.
49
redigiam suas dificuldades, que estratégias eles utilizavam, que fatores comportamentais
influenciavam o ato de escrever. O processo de escrita não envolve apenas o ato de escrever e
reescrever, mas requer planejamento, um propósito definido e um leitor em mente. Todos
esses aspectos caminham juntos. A análise de estruturas lingüísticas é relevante dentro de
um contexto. Um contexto em que o aluno tenha liberdade para criar significados e construir
sentidos ao compor um texto.
E é nesse contexto de liberdade intelectual e descoberta que surgem oportunidades
como conteúdos emergentes, os quais, embora não previstos no programa curricular
estabelecido pelo professor, devem ser aproveitados, pois acredito que no momento em que o
indivíduo encontra-se focado num problema é que existe a possibilidade de aprendizagem. A
tentativa de solucionar o problema desafia o aluno a pensar, pois, segundo Vygotsky, a ajuda
fornecida pelo adulto ou parceiro quando o aluno se encontra dentro da ZDP impulsiona o
desenvolvimento cognitivo. Nesse sentido, faz-se necessário a criação de um espaço para a
liberdade intelectual, que i lançar o aluno para dentro de sua ZDP e possibilitar o seu
desenvolvimento cognitivo.
Zamel defende que o vocabulário e a sintaxe são aspectos importantes da escrita e que
precisam ser ensinados, não apenas apontados pelo professor no final da produção escrita,
mas como meios para expressarmos melhor os significados. No entanto, Zamel (1987)
demonstra que o foco dos professores de L2 continua sendo o produto ao se referir ao
feedback fornecido por eles, no qual eles focam em problemas de escrita dos alunos
considerados superficiais e
Eles parecem ler e reagir ao texto como uma série de partes separadas em
nível de sentença ou até em nível de oração, ao invés de considerá-las como
uma unidade inteira do discurso. Na verdade eles estão tão distraídos com
problemas relacionados à língua que freqüentemente corrigem sem perceber
que há um problema relacionado com o significado muito maior que eles
deixaram de abordar
18
(p. 700).
Zamel (1985) argumenta que devem ser estabelecidas prioridades na hora de responder
ou revisar a produção dos alunos e, ao mesmo tempo, encorajar os próprios alunos para que
eles se preocupem com questões relacionadas ao significado/sentido, principalmente nos
primeiros rascunhos. Se a abordagem é processual, não faz sentido perder tempo com
correções lingüísticas nas primeiras produções, uma vez que muitas dessas formas ou
expressões serão substituídas durante o processo de revisão e construção de sentidos pelos
18
Tradução nossa do original: “they seem to read and react to a text as a series of separate pieces at the sentence
level or even clause level, rather than as a whole unit of discourse. In fact they are so distracted by language-
related problems that they often correct these without realizing that there is a much larger, meaning related
problem that they have failed to address”.
50
alunos. Outro motivo para o professor não focar na forma nos primeiros rascunhos do
processo de escrita é que possivelmente isso levaria o aluno a crer que, corrigindo esses erros
estruturais e passando o seu texto a limpo, seria mais importante do que o exercício de
organizar as suas idéias e construir significados/sentidos.
Sommers (1982) também reitera a necessidade do professor em deixar o aluno
desenvolver as suas idéias nos primeiros rascunhos, em vez de focar erros gramaticais logo na
primeira escrita, deixando o aluno livre para, dentro do processo, descobrir e desenvolver suas
idéias. Segundo Sommers, professores podem, através de seus comentários/correções,
interferir nas idéias expostas pelo aluno; o autor definiu isso como um problema de
apropriação:
Alunos fazem as mudaas que o professor quer ao invés daquelas que o
aluno percebe como necessárias, uma vez que as preocupações dos
professores impostas no texto criam os motivos para as mudanças
subseqüentes
19
(p. 149-150).
Em vez de o aluno se apropriar do processo de composição, que envolve geração de
idéias e revisão, ele pode estar apenas reproduzindo as marcas deixadas pelo professor na
correção. De certa forma, é o professor que está se apropriando da produção do aluno, e
impondo as suas iias, sem haver um diálogo sobre o conteúdo ou estrutura do texto, o que
na maioria dos casos não leva o aluno a refletir sobre a sua produção. Ao mesmo tempo, os
comentários do professor poderão estabelecer uma hierarquia quanto à importância na
correção de erros, a qual pode estar diretamente ligada a questões avaliativas. Tal
procedimento pode induzir o aluno a fazer apenas às alterações consideradas relevantes pelo
professor naquele momento, o que de certa forma é bastante comum no ensino tradicional, em
que os alunos recebem um feedback do professor com o objetivo de justificar a nota/conceito
escolar, e não com o objetivo de melhorar a sua produção escrita.
2.3.1.1 A noção de Erro
Não poderíamos deixar de mencionar a importância da noção de erro, tanto por parte
do professor como do aluno. Segundo Lima (2006, p. 70), "tal concepção reflete o ponto de
vista de cada um sobre como se dá o processo de ensino e de aprendizagem em LE, o que i
determinar os papéis que cada participante i assumir". A autora afirma que "o aprendiz
19
Tradução nossa do original: “Students make the changes the teacher wants rather than those that the student
perceives are necessary, since the teachers´concerns imposed on the text create the reasons for the subsequent
changes.
51
precisa testar as suas hipóteses sobre a ngua alvo e, para isso, precisa saber que seus erros
o serão mal recebidos (p. 70)". Cabe ao professor criar um ambiente favorável na sala de
aula para que o aluno não se sinta constrangido ao testar as suas hiteses.
Segundo Swain (1995, p. 131), "para testar uma hipótese, aprendizes precisam fazer
alguma coisa, e uma maneira de fazer isso é dizer ou escrever algo"
20
. Quando a autora afirma
que uma das funções de produção é testar hiteses, ela quer dizer que a própria produção em
si é uma hipótese, isto é, a produção demonstra as escolhas que o aprendiz fez para dizer ou
escrever algo (SWAIN, 1995).
Ao produzir um enunciado em LE de forma consciente e voluntária, o aluno pode ser
levado a descobrir algo sobre a ngua-alvo que até então o havia chamado a sua atenção.
Swain (1985, 1995, 1998, 2000)
21
sustenta o argumento de que é através da produção oral ou
escrita que o aprendiz poderá potencializar a sua acurácia na língua-alvo. Para a autora, além
de testar hiteses, outra função de produção é a de "noticing
22
" em que a autora afirma que
em algum momento, ao produzir, o aprendiz se dará conta (notice a gap) de uma "lacuna" no
seu conhecimento, quando ele se deparar com um problema.
Ferris (2003) argumenta que se a noção de erro não estiver bem definida, ou seja, o
que deve ser considerado como erro em uma produção escrita, poderá levar o professor a
marcar/corrigir estruturas que estejam além da capacidade de compreensão, naquele
momento, do aluno que produziu o texto.
Segundo Ferris (2003), a literatura diferencia erros locais de erros globais. O primeiro
refere-se a erros que não interferem diretamente na compreensão de um texto, o segundo
interfere na comunicação. A autora também ressalta outra diferença entre erros tratáveis
(treatable) e não tratáveis (untreatabe). Erros tratáveis são aqueles regidos por regras
gramaticais (alunos podem consultar a gramática para resolvê-los); erros não tratáveis são as
expressões idiomáticas ou estruturas idiossincráticas, tais como preposições, collocations
entre outras.
No projeto, contexto deste experimento, o erro é visto como algo necessário para a
aprendizagem, ou seja, é no ato de escrever que os alunos testam as suas hiteses sobre o
funcionamento da LE. No entanto, ressalto que para que isso ocorra, faz-se necessário uma
atividade de escrita em que o aluno se envolva a ponto de correr riscos ao tentar se expressar
20
Tradução nossa do original: “To test hypothesis, learners need to do something, and one way of doing this is to
say or write something”.
21
Ver também (SWAIN, M. & LAPKIN, S.,1995, 1998).
22
O conceito de "noticing" foi utilizado por Schmidt (1990) como o processo de prestar atenção de forma
consciente aos traços lingüísticos do insumo, sem o qual a aprendizagem o pode ocorrer.
52
por escrito. Correr riscos quer dizer persistir na sua iia ao tentar colo-la no editor
colaborativo e não modificar a sua idéia em função da dificuldade ou de naquele momento
ainda não ter encontrado a forma de escrita correta para aquilo que ele quer dizer. O aluno
precisa ver a escrita como um processo de significação (ZAMEL, 1987), no qual funções
sintáticas e regras de forma geral só são importantes para expressarmos os significados
almejados. Isso i fazer com que o mesmo melhore a sua escrita cada vez mais para se
aproximar do significado desejado ao tentar ver a sua iia compreendida. Ter a idéia
compreendida implica um leitor, daí a importância de um propósito para a escrita. Segundo
McLane (1996, p. 298), Vygotsky argumentou que "o ensino (da escrita) deveria ser
organizado de tal forma que ler e escrever se mostrassem necessários para alguma coisa”.
Portanto, os estudos de Zamel estão de acordo com Vygotsky que via a escrita como uma
expressão de algo e não como um conjunto de signos e símbolos que deveriam ser treinados
mecanicamente.
2.3.1.2 A correção cooperativa entre pares
Outra distinção importante feita por Ferris refere-se ao tipo de feedback, que segundo
Hendrickson (1978, 1980), pode ser direto ou indireto. Feedback direto é quando o professor
escreve a forma correta no texto do aluno; nesse caso, se for solicitado que o aluno reescreva
o seu texto, ele irá reescrever o texto substituindo partes do texto pelas correções feitas pelo
professor. Por outro lado, feedback indireto requer que o aluno se engaje em uma solução de
problema guiado, em que o professor indica que ocorreu um erro, o qual é sublinhado,
circulado ou marcado e o aluno deve identificar o tipo de erro e tentar solucio-lo. Em
alguns casos, uma tabela de códigos disponível. Nesse caso o aluno identifica o erro na
tabela e tenta solucionar o problema (Ferris, 2003). A autora enfatiza que muitos
pesquisadores concordam que feedback indireto tem um potencial maior do que o feedback
direto, pois a longo prazo, alunos têm demonstrado crescimento devido ao engajamento e a
atenção na forma e a resolão de problemas.
Ferris (2003), além de discutir os efeitos dos comentários de professores nas produções
escritas de alunos, também avalia os benefícios da correção feita por colegas. A autora
enfatiza que a correção feita entre pares encontra suporte na teoria de Vygotsky, a qual é vista
como uma atividade socialmente construída, “na qual o desenvolvimento cognitivo resulta da
53
interação social”
23
(Ferris, 2003, p. 70). A autora sugere que o feedback oferecido por colegas
implica ter um interlocutor mais variado e autêntico do que simplesmente escrever para o
professor, além disso ajuda o aluno a desenvolver o pensamento ctico ao ler e corrigir o
texto do colega, podendo a partir dessa correção melhorar o seu próprio texto. Outro aspecto
levantado pela autora refere-se ao fato de os alunos sentirem-se menos ressentidos ou
ameaçados com o feedback fornecido pelos colegas.
A autora sustenta que, ao fazer a correção no texto de um colega, o indivíduo torna-se
mais ativo em seu próprio processo de aprendizagem. Nessa atividade, o indivíduo
desenvolve a criticidade necessária para analisar e revisar, observando as dificuldades e
qualidades do texto do colega, além de compartilhar seu conhecimento.
No entanto, cabe ressaltar que a mudaa de foco no produto para o foco no processo
requer uma mudança de postura tanto do professor como do aluno, assim como a introdução
da correção feita por colegas (cooperativa). Alguns alunos podem sentir-se incomodados e
inseguros, devido a suas limitações ou por não compreenderem a importância da troca entre
pares, preferindo o modelo tradicional. Por outro lado, alguns professores podem se sentir
inseguros quanto ao seu papel, sentindo-se muitas vezes ameaçados por alunos que, ao invés
de assumirem um papel mais ativo e responsável pela sua aprendizagem, preferem delegar
essa função ao professor. Por isso é importante enfatizar que, quando um aluno realiza uma
correção no texto do colega, ele não está realizando uma tarefa do professor, o papel do
professor continua sendo de orientador. Cabe ao professor, após essa atividade, retomar
questões e dialogar com os alunos. Para tanto, Ferris (2003) enfatiza a importância de se
trabalhar previamente com os alunos sobre a atividade de correção cooperativa.
Neste experimento, não se pretende analisar o feedback fornecido pelo professor, mas
olhar para dentro de uma atividade em grupo e observar como as ades de adolescentes
constroem um texto em conjunto, aplicando seus conhecimentos de LE e em que medida as
ações e as trocas entre eles, muitas vezes em forma de correções, favorecem a aprendizagem
em conjunto. O processo de escrita coletiva em ambiente digital permite que o aluno escreva a
sua idéia, que pode ser visualizada por todos, tornando-se objeto de refleo coletiva e que
pode vir a ser alterada ou não por qualquer um dos participantes do grupo. Esse processo
estimula a reflexão-na-ação, que de acordo com Schön (2000) produz imediata significação
para a ação.
23
Tradução nossa do original:“cognitive development results from social interaction.
54
2.3.2 A escrita como atividade cognitiva
Swain & Tocalli-Beller (2005) têm concentrado seus estudos em diversas funções de
produção, falada ou escrita, em LE. Recentemente essas autoras passaram a conceber a
produção, não mais somente como produto, mas também como uma ferramenta cognitiva que
serve de mediação para o aprendizado de uma LE. Dessa forma, assim como Vygotsky,
Lantolf e muitos outros, Swain & Tocalli-Beller afirmam nós entendemos a aprendizagem
como um processo que ocorre na interação com outros e consigo mesmo
24
(2005, p. 5).
Tocalli-Beller (apud SWAIN & TOCALLI-BELLER, 2005) reitera que indivíduos podem
experienciar conflitos cognitivos quando estão em interação. Segundo Swain & Tocalli-Beller
(2005, p. 5-6), “um conflito cognitivo é um conflito intelectual; é orientado por um objetivo, e
potencializa a aprendizagem em vista de normalmente conduzir a uma discussão de diferentes
pontos de vista
25
.
Swain & Tocalli-Beller (2005) utilizaram uma técnica chamada reformulação para
investigar o papel da produção no aprendizado de L2. Segundo Cohen (apud SWAIN &
TOCALLI-BELLER, 2005), reformulação consiste em um nativo reescrever um texto escrito por
um aprendiz de LE, mantendo as mesmas iias, apenas utilizando expressões e uma
linguagem mais adequada e própria da ngua em questão. O aprendiz de LE compara o seu
texto com o texto reformulado e são confrontados com as mudanças, que podem ser aceitas ou
o, a partir de então seguem outros procedimentos. As autoras mostram como a
reformulação da escrita por uma dupla de aprendizes tornou-se uma técnica eficaz para
estimular o noticing, a reflexão e a discussão sobre a LE e sobre suas crenças e hipóteses de
como a língua funciona.
Em resumo para que o conflito cognitivo seja efetivo, alunos deveriam
perceber que a informação apresenta algo diferente do que eles sabem,
fazem ou acreditam (e para melhorar a sua produção, eles precisam mudá-la
de algum modo); isto é, parece que a necessidade de utilizar alguma
consciência metacognitiva, assim como a disposição dos alunos em
considerar a mudança
26
(SWAIN & TOCALLI-BELLER (2005, p. 6).
24
Tradução nossa do original: we view learning as a social process which occurs in interaction with others and
with oneself.
25
Tradução nossa do original: “cognitive conflict is an intellectual conflict; it is issue-oriented, and it enhances
learning as it usual leads to discussion of different points of view.
26
Tradução nossa do original: “In sum for the cognitive conflict to be effective, students should realise that the
information presents something different from what they know, do or believe (and in order to improve their
output, that they need to change to some extent); that is, some metacognitive awareness seems to be necessary,
as well students‟ willingness to consider the change.
55
Da mesma forma, quando alunos redigem um texto coletivamente e a sua produção é
alterada, eles se deparam com mudanças e, no momento em que eles se deparam ou percebem
(notice) essas alterações, podem desencadear um conflito cognitivo para que a alteração tenha
o impacto no aprendizado deles.
Segundo Swain & Tocalli-Beller (2005), essa mudança/alteração ou reformulação que
desencadeia o conflito cognitivo oportuniza aos alunos avançar no seu conhecimento sobre a
língua, o através da fala, mas também os leva a refletir sobre a ngua e a sua própria
produção. A metafala é o tipo de linguagem utilizada para essa reflexão e serve de mediação
para a aprendizagem da língua (SWAIN, 2000)
27
. Para Swain & Tocalli-Beller a metafala dá
suporte ao processo de apropriação.
Quando falamos normalmente nos envolvemos socialmente com outros. A
fala é inicialmente exterior, que regula outros e é regulada por outros. Com o
tempo, entretanto, o que ocorre socialmente torna-se parte do eu à medida
que o indivíduo se apropria das ações regulatórias nas quais ele participou.
Isto é, o que acontece e/ou é dito em um contexto social move para dentro
para tornar-se parte do processo cognitivo de conhecimento
28
(SWAIN &
TOCALLI-BELLER 2005, p. 8).
De acordo com Swain (1998), a metafala é o processo de fala sobre o uso da língua e
tem a finalidade de resolver problemas através do uso de conhecimento explícito que os
indivíduos possuem sobre a língua-alvo. A metafala pode ser produzida com ou sem
terminologia lingüística.
Lantolf &Apple (1994) afirmam que a fala como mediação não precisa ser algo que
ocorra apenas internamente, como um processo interior, mas pode ser externalizada. Através
da interação social participantes têm a oportunidade de explicar e dizer o que entenderam,
esse movimento de interpretação e exposição de iias potencializa a compreensão e o
aprendizagem.
Do ponto de vista sociocultural, falar, assim como escrever, é uma atividade cognitiva.
Nesse sentido, sempre que o pensamento é externalizado, esse passa a ser um objeto sujeito a
questionamentos, discordâncias ou reflexões. Portanto, quando é dada a oportunidade de
refletir e discutir sobre a ngua é dada a oportunidade de construir conhecimento que, de
acordo com Swain (1997), é através do processo de produção, oral ou escrita, que ele é criado.
27
Swain propôs o diálogo colaborativo definido como “diálogo construtor de conhecimento” (1997, 2000); ver
também (SWAIN, M.; LAPKIN, S., 1998).
28
Tradução nossa do original: “When speaking we are usually involved socially with others. Speech is initially
an exterior action which regulate others and is regulated by others. Over time , however, what takes place
socially becomes part of the self as the individual appropriates the regulatory actions s/he participated in. That is,
what happens and/or is said in the social domain moves inward to become part of the individual‟s cognitive
processes and knowledge”.
56
2.3.3 Uma nova proposta de escrita coletiva em LE: projeto Drama Club Webwriters
O projeto pedagógico Drama Club Webwriters
29
(BROCH e POLONIA, no prelo) visa
favorecer a aprendizagem de inglês de modo significativo e contextualizado através da
interação entre alunos e professores em um ambiente virtual de aprendizagem. Após a leitura
de uma adaptação de obra literária em inglês, os alunos discutem maneiras de adaptar a
narrativa a um roteiro de peça teatral, que poderá vir a ser encenada no colégio. A escrita do
texto teatral é realizada por um grupo de forma coletiva.
Os grupos são formados a partir da escolha do livro de leitura, sendo que, na maioria
das vezes, tal escolha é por dois alunos, que trabalham em dupla em frente ao computador.
As interações entre as díades que formam o grupo ocorrem no ambiente virtual de
aprendizagem ALED www.ufrgs.br/aled. As ferramentas utilizadas, nesse ambiente, para as
interações são o Fórum e o editor colaborativo de textos que possui link no ALED.
Criar condições para que o aluno possa escolher o livro de leitura, dando autonomia
para que ele crie os seus critérios de escolha, quanto ao vel de dificuldade (número de
palavras), história, é colocar nas mãos do aluno a responsabilidade pela leitura. Permitir que o
aluno destaque aspectos relevantes da história e decida como fará a adaptação ou as mudanças
na história é, novamente, colocar a responsabilidade nas os do aluno.
Segundo Rogoff, estudos tanto da tradição vygotskiana como piagetiana, consideram:
[...].o fato de compartilhar a tomada de decisão ou a perspectiva como fator
importante de uma interação eficaz entre pares. A relação entre pares mais
fecunda parece ser o resultado de uma forma de organização na qual o
processo de tomada de decio é levado a cabo conjuntamente, com uma
exploração equilibrada por parte das crianças e seus diferentes pontos de
vista
30
(1993, p. 225-6).
A responsabilidade quanto a organização e planejamento da atividade de escrita
coletiva do texto teatral foi atribuída ao grupo. Isso se deve ao fato de que a tomada de
decisões em uma atividade coletiva, além de desencadear uma série de processos mentais,
favorece o movimento reflexivo sobre as próprias ações e as ações do grupo. Dessa forma, as
29
No programa Conhecendo a UFRGS encontra-se uma reportagem realizada pela TV UFRGS sobre o projeto,
que está disponível em <http://www.ufrgs.br/comunicacaosocial/ufrgstv/conhecendo_a.htm>
O projeto foi apresentado no I rum Internacional da Diversidade Lingüistica, na UFRGS em 2007.
30
Tradução nossa do original: “el hecho de llegar a compartir la toma de decisiones o la perspectiva como factor
importante de una interacción social eficaz entre iguales. La relación entre iguales más fecunda parece ser el
resultado de una forma de organización en la que el proceso de toma de decisiones se lleva a cabo
conjuntamente, con una exploración equilibrada por parte de los niños de los diferentes puntos de vista”.
57
situações de produção e de interação entre as ades no AVA não foram pré-estabelecidas,
mas emergiram a partir das relações e tomadas de decisões realizadas pelas díades.
A atividade não se resume apenas na adaptação de um texto narrativo em um texto
teatral, mas na descoberta dos significados gerados entre a narrativa e a dramatização dessa
narrativa. ECO (1986) traz contribuições importantes para a compreensão desses significados.
O autor enfatiza que toda narrativa contém elipses que são pequenas lacunas de
acontecimentos que não são narrados pelo autor, mas que, são completados durante o ato de
leitura. Sendo assim todo texto exige do leitor “movimentos cooperativos, conscientes e
ativos”, pois todo texto quer que alguém o ajude a funcionar” (p. 36-7). O autor enfatiza que
cada leitor preenche as lacunas de cada enunciado de acordo com a sua experiência em
relação a outras obras lidas, evidenciando uma noção de intertextualidade.
O texto teatral a partir de uma obra literária (no caso, adaptada) permite que um
mesmo acontecimento seja contado ou encenado sob diversos pontos de vista. A presença do
discurso direto no texto teatral, ou seja, a emissão da fala do personagem em substituição ao
narrador, que é carregada de inteão, expressão e entonação aparece entre parênteses e é
denominada de rubrica (stage directions). Além da utilização de rubricas que exigem uma
abstração muito maior por parte do autor, os autores lidam com o aspecto temporal dos
acontecimentos.
Cabe ressaltar que o objetivo de escrever um texto teatral nesse contexto escolar não é,
e nem poderia ser, o de tornar esses alunos escritores, mas em utilizar o texto teatral como um
instrumento psicológico, no qual o aluno iutilizar a LE com um objetivo bem definido,
observando as características de composição do mesmo: forma dialogada (discurso direto);
inserções de rubricas; formato de cenas; composição de uma trama com início, meio e fim,
contendo conflito, clímax e um desfecho; escolha por um tipo de enredo: comédia, drama,
suspense, romance, terror entre outros.
O projeto Drama Club Webwriters surge como uma proposta didática nas aulas de
Língua Inglesa, ampliando os conhecimentos de forma dinâmica e criativa. A possibilidade de
interagir com os colegas, compartilhar iias e aprender em conjunto por meio de um
ambiente virtual de aprendizagem propicia que o aprendiz torne-se mais reflexivo e
autônomo.
58
Segundo Little (2003, p. 4), aprendizes em um contexto educacional dão o seu
primeiro passo em direção à autonomia quando:
Eles reconhecem que são responsáveis pela sua própria aprendizagem, eles
exercitam esta responsabilidade se envolvendo em todos os aspectos do
processo de aprendizagem planejando, implementando, avaliando; e a sua
autonomia cresce como o resultado do interminável esforço para entender o
porquê, o quê e o como de sua aprendizagem
31
.
Para o autor a autonomia do aprendiz envolve uma série de comportamentos auto-
regulatórios que ocorrem através da prática com objetivo de aprendizagem.
Partindo da premissa vygotskiana de que a aprendizagem ocorre em um contexto
social, em que o outro passa a ser a nossa consciência, um processo gradual de mudança
de co-regulação para auto-regulação.
De acordo com a perspectiva vygotskiana e a ZDP, aprendizagem/cognição envolve a
apropriação de instrumentos culturais quando indivíduos mais experientes de uma
determinada comunidade interagem com indivíduos menos experientes. Esse processo é
facilitado através do suporte (Donato, 1984; Baquero, 1998; Cazden, 2001) que se refere à
maneira como o ambiente pode ser organizado com o objetivo de facilitar a aprendizagem. No
projeto em questão, suporte pode ocorrer de diversas maneiras:
a. Através de interações entre professor e a díade ou ainda, entre os indivíduos da díade
que estão em frente ao computador, durante o processo de escrita coletiva no
laboratório de informática que ocorre no período de aula de Língua Inglesa;
b. A interação entre pares em frente ao computador e/ou com seus colegas que estão em
outros computadores;
c. A interação entre as ades no rum e no EquiText, ou seja, dentro do ambiente
virtual de aprendizagem;
d. O apoio obtido na interação dos indivíduos da díade com instrumentos materiais, tais
como: dicionários, gramáticas, caderno e a internet, dicionários eletrônicos e outras
fontes disponíveis;
e. A instrução do professor em sala de aula, quando os alunos não estão em frente ao
computador, a partir das dificuldades (conteúdos emergentes) que surgiram da própria
produção escrita pelos alunos.
31
Tradução nossa do original: “they recognize that they are responsible for their own learning; they exercise that
responsibility by being fully involved in all aspects of the learning process planning, implementation,
evaluation; and their autonomy grows as a result of their never-ending effort to understand the why, the what and
the how of their learning”.
59
No nosso experimento, pretende-se investigar como se dá a interação das díades dentro
do ambiente virtual de aprendizagem. Dessa forma, não serão analisados aqui o suporte
oferecido pelo professor, materiais, ou outros, mas em como os pares se apóiam na atividade
de escrita coletiva.
Passerino & Santarosa (2002, p. 69) apontam que "a participação do outro como
mediador do processo pode assumir diferentes papéis num contexto de conflito e negocião",
que as autoras exemplificam como:
- problematizador: sugerindo problemas, promovendo situações de
desequilíbrio, questionando estratégias e contra-argumentando nas decisões
dos sujeitos;
- facilitador: fornecendo pistas e dicas para a resolução de problemas,
oferecendo alternativas de pesquisa, etc;
- dialógico: estimulando o diálogo e a comunicação, entre sujeitos e os
grupos;
- reflexivo: promovendo a refleo e a re-construção de modelos mentais,
entre outras formas de refleo.
A meta de todo sistema educativo é que os alunos adquiram conhecimento e que
possam aplicá-lo em diferentes situações e contextos, dentro e fora da escola, em outras
palavras, que os alunos construam significados e dêem um sentido a esse conhecimento para
as suas vidas. Nesse sentido, o projeto cria uma situação de aprendizagem, à medida que os
alunos utilizam todo o seu conhecimento de ngua inglesa agindo dentro do seu vel de
desenvolvimento real, sendo, no entanto, desafiados pela própria complexidade da atividade
coletiva a trabalhar dentro da ZDP.
60
3 METODOLOGIA
A proposta embasou-se em um modelo de análise qualitativa com enfoque na
perspectiva cio-histórica orientada para a identificação de dados empíricos relevantes na
abordagem da aprendizagem colaborativa através das interações entre adolescentes em AVA
mediante estudo de caso exploratório.
Segundo Yin (1989) o estudo de um caso tenta compreender as características
holísticas e significativas de um evento da vida social. Para Laville e Dionne (1999), um
estudo de caso bem conduzido não poderia se contentar em fornecer uma simples descrição
que não desembocasse em uma explicação, pois, como sempre o objetivo de uma pesquisa
o é ver, mas sim, compreender”. Nesse sentido, o estudo de um caso está de acordo com a
perspectiva vygotskiana que não se limita apenas a uma descrição, mas que é complementada
pela explicação. Outra questão importante é o uso de várias fontes de evidências no estudo de
caso que, de acordo com Yin (2005, p. 126), “[...] permite que o pesquisador dedique-se a
uma ampla variedade de questões históricas, comportamentais e de atitudes”.
Segundo Freitas, na pesquisa qualitativa com enfoque da perspectiva cio-histórica:
[...] as questões formuladas para a pesquisa não o estabelecidas a partir da
operacionalização de variáveis, mas se orientam para a compreeno de
fenômenos em toda a sua complexidade e em seu acontecer histórico. Isto é,
não se cria artificialmente uma situação para ser pesquisada, mas se vai ao
encontro da situação no seu acontecer, no seu processo de desenvolvimento
(2002, p.27).
Para tanto, estudar o comportamento é estudar a manifestação de algo em um
determinado tempo. Como conseqüência disto, o pesquisador o deve se deter no produto do
desenvolvimento, mas a sua observação deve contemplar principalmente o processo de
realizão de uma atividade/tarefa. Freitas (2002, p. 28) reitera que, “focalizar o processo de
realizão de uma tarefa pode levar à descoberta das estruturas internas de desenvolvimento
dos processos psicológicos superiores”. Assim sendo, o pesquisador está mergulhado dentro
do contexto em que se a pesquisa, buscando “a compreensão dos comportamentos a partir
da perspectiva dos sujeitos da investigação” (Bodgan e Biklen, 1994, p. 16)
Como pesquisadora e professora, neste contexto do experimento, busco uma
compreensão marcada pela totalidade, construída através da observação e interpretação dos
diferentes enunciados produzidos pelos adolescentes, sujeitos desta pesquisa, a partir das
reflexões dos próprios participantes do experimento. Para tanto, participo dessa relação
dialógica, a fim de compreender o fenômeno investigado para buscar então melhorias em
minha prática pedagógica e oportunizar a reflexão aos participantes. Esta investigação está de
61
acordo com o método dialético de Vygotsky, no qual o pesquisador estabelece um diálogo
entre o externo e o interno. Este diálogo visa propor mudanças na sua prática pedagógica
(FREITAS, 2003).
Para Vygotsky (2003, p. 85), “estudar alguma coisa historicamente significa estudá-la
no processo de mudança: este é o requisito básico do método dialético”. Nessa perspectiva o
desenvolvimento é compreendido como um complexo processo dialético a partir de
transformações qualitativas vivenciadas em interações sociais. Os sujeitos vão se constituindo
nesse processo interpessoal.
As experiências vivenciadas por quatro díades de adolescentes, sujeitos escolhidos
para esta pesquisa, em ambiente virtual de aprendizagem, fazem parte do projeto Drama Club
Webwriters, desenvolvido nas aulas de Língua Inglesa. O projeto faz parte do currículo
pedagógico da disciplina de Língua Inglesa do primeiro ano do Ensino Médio do Cogio de
Aplicação da UFRGS, no qual não se pretendia produzir estatísticas, mas compreender o
sentido de cada manifestação no seu contexto, através de uma pesquisa, o intrusiva, mas
participante, no decurso de três meses.
Devido à ênfase na interação social, a unidade de análise nessa perspectiva não é nem
indivíduo e nem o contexto, mas a relação dialógica entre as díades, sujeitos desta pesquisa.
Essa relação dialógica se manifesta através de enunciados produzidos sob forma de diálogos
escritos e de enunciados sob forma de parágrafos que resultam da construção do texto
coletivo. O termo enunciado, nesta perspectiva dialógica, é definido como uma unidade de
comunicação, de significação, necessariamente contextualizada (BAKHTIN, 2003).
Bakhtin afirma que:
Todo enunciado concreto é um elo na cadeia de comunicação discursiva de
um determinado campo. Os próprios limites do enunciado o determinados
pela alternância dos sujeitos do discurso. Os enunciados não são indiferentes
entre si nem se bastam cada um a si mesmos; uns conhecem os outros e se
refletem mutuamente uns nos outros. Esses reflexos mútuos lhes determinam
o cater. Cada enunciado é pleno de ecos e ressonâncias de outros
enunciados com os quais está ligado pela identidade da esfera de
comunicação discursiva (p. 296-7).
Para Bakhtin, a enunciação é o produto de dois indivíduos socialmente organizados. A
palavra, como signo, é extraída pelo locutor de um estoque social de signos disponíveis, a
própria realização desse signo social na enunciação concreta é inteiramente determinada pelas
relações sociais. A forma da enunciação desses signos é um reflexo do contexto da inter-
relação social.
62
Por se tratar de alunos que realizavam sua primeira experiência de escrita coletiva em
língua inglesa por meio de AVA, tornava mais fácil captar o impacto causado pela inovação
pedagógica no uso da tecnologia.
Segundo Markham (2005), a comunicação mediada por computador foi vista, no
início, como um meio de transcender os limites associados à corporificação humana,
apagando marcas socioculturais, como raça e gênero, e escondendo esteriótipos físicos. No
entanto, foi criticada por remover a essência socioemocional e pistas o verbais,
estabelecendo uma relação de baixa confiabilidade entre as pessoas. Markham afirma que
resultados recentes apontam que, devido ao crescimento da população que utiliza o
computador e o aumento de pesquisas sobre a comunicação neste ambiente, relacionamentos
significativos e significantes, assim com estruturas sociais podem ser desenvolvidos através
da comunicação mediada por computador.
Markham enfatiza que no ambiente on-line a construção da identidade é um processo
mais consciente, isto é, não basta o sujeito estar conectado (on-line), é preciso fazer algo. O
primeiro passo, para que o indivíduo algum sinal de sua exisncia, é através da produção,
que pode ser escrita, ou através de gráficos, imagens e sons. A concepção de linguagem
básica de Bakhtin constitui-se na relação dialógica; assim sendo, toda enunciação é um
diálogo, estabelecendo uma comunicação contínua, mesmo sendo uma produção escrita.
Segundo Koch (1992, p. 110), “é preciso pensar a linguagem humana como lugar de
interação, de constituição das identidades, de representações de papéis, de negociação de
sentidos”. Dessa forma, identidade não é algo estático, ou seja, os sujeitos vão construindo as
suas identidades a partir da convivência com outras pessoas, bem como, dos contextos
culturais em que se encontram inseridos. Mosquera (1974, p. 8) reitera que “nenhuma
identidade pode formar-se sozinha, nem se desenvolve apenas no tempo. Desenvolve-se no
tempo, no espaço e numa determinada cultura. A reflexão e a observação têm papel
fundamental”.
A condição de coordenadora do projeto e professora das turmas, levando em conta que
conhecia a maioria dos alunos há pelo menos dois anos, tornou-se essencial para que eu
pudesse colher impressões espontâneas, de forma não intrusiva, sem interferir no processo dos
acontecimentos. Pretendia-se, desta forma, acompanhar as ações e compreender a essência de
cada momento e suas significações para cada díade de participantes durante a produção de
escrita coletiva no AVA. Sendo assim, a pesquisa não se propunha à obtenção de dados
controlados artificialmente ou respostas prontas dirigidas ao professor provocando uma
encapsulação da aprendizagem escolar (ENGESTRÖM, 2002a), mas tomar como ponto de
63
partida as ações de díades de adolescentes envolvidos numa tarefa coletiva em ambiente
digital, observando o processo de interação espontânea entre eles.
Como o objetivo era captar o que acontecia durante a produção coletiva entre díades, a
intervenção do professor no ambiente virtual de aprendizagem durante o processo ocorreu
somente no Fórum, com o objetivo de acompanhar e observar as ações dos alunos, sendo que
a maior parte das intervenções dos professores, de orientação e instrução era realizada
presencialmente, tanto na sala de aula como no laboratório de informática. Nesses locais, a
intervenção se dava no sentido de dar condições para que o aluno reformulasse o objeto, no
caso, a escrita em LE. Nosso experimento mostrou o foco dos alunos e o que eles conseguiram
realizar em conjunto a partir das interações virtuais, e que conhecimentos eles conseguiram
aplicar no contexto, a importância das tomadas de decisões, tomada de consciência e a
solução de problemas entre outras. Cabe ressaltar que a filosofia que embasa o projeto
pedagógico curricular da disciplina em pauta não favorece a participação colaborativa e
cooperativa, como também a aprendizagem autônoma.
Também é importante mencionar que não se pretende aprofundar questões referentes
ao design do AVA, recursos técnicos, disponibilidade de internet rápida entre outros.
3.1 Objetivos e procedimentos metodológicos
Devido à riqueza dialógica existente nesse contexto, cabe ressaltar que o se pretende
contemplar todas as relações vivenciadas por alunos e professores no projeto. Coube a mim,
como pesquisadora, delimitar o meu campo de análise, cujo objetivo nesta pesquisa foi de
investigar como adolescentes participam e realizam uma escrita coletiva de um texto teatral
em língua inglesa em ambiente digital. Para a verificação do processo interativo de escrita
coletiva, usei como indicadores as inserções e alterações efetuadas pelas díades no texto
coletivo durante o processo. Entende-se que essas inserções e alterações são observáveis
empiricamente e que representam manifestações, tanto de uso de processos mentais superiores
como das estruturas da LE, de acordo com o estágio evolutivo da interngua. Para tanto,
foram criadas as seguintes categorias:
64
a) Inserção de parágrafo: quando é acrescentado ao texto um parágrafo que foi escrito pela
primeira vez, por isso é considerado novo, e que, necessariamente, deve dar continuidade à
idéia do parágrafo anterior. Considerei as seguintes categorias:
- Planejamento, estabelecimento de relações e a primeira inserção de parágrafo.
- O descompasso entre as díades: respeitando o tempo de cada um.
- As primeiras inserções realizadas pela díade A: iniciativa ou competitividade?
- As primeiras inserções realizadas pela díade D: apropriação e construção.
- As primeiras inserções realizadas pela díade C: reflexão-na-ação.
- As primeiras inserções realizadas pela díade D: processo e identidade.
b) Alteração na escrita de parágrafos existentes: quando é feita qualquer alteração no
parágrafo, como acréscimo, substituição e apagamento de letras, palavras ou grupo de
palavras, mudança na estrutura do parágrafo ou qualquer outra alteração, tanto na forma como
no sentido. A pontuação e sinais gráficos também foram considerados como alterações. Para
uma melhor visualização do processo, optou-se pelas seguintes categorias:
- Alteração realizada pela mesma díade logo após inserção: reflexão sobre a
própria produção.
- Reedição sem alteração: momento de reflexão.
- Alteração para constar autoria.
- Alteração com evidências de coletividade.
- Alteração com produção de metafala.
Segundo SWAIN & TOCALLI-BELLER (2005), toda alteração que desencadeia um
conflito cognitivo oportuniza aos alunos avançar no seu conhecimento sobre a língua, neste
estudo, isto se dá através da expressão escrita, no momento em que os sujeitos refletem sobre
a ngua e a sua própria produção. De acordo com Swain, a metafala é o processo de fala
sobre o uso da língua, produzida com ou sem terminologia lingüística, e tem a finalidade de
resolver problemas através do uso de conhecimento lingüístico explícito que eles possuem de
sua interngua.
3.2 Coleta de dados
Como já mencionamos no capítulo anterior, o projeto em que se deu a pesquisa faz
parte do currículo pedagógico da disciplina de ngua Inglesa do primeiro ano do Ensino
65
Médio. Como professora e pesquisadora tive amplo contato com os sujeitos da pesquisa e
acesso a uma grande fonte de dados que foram coletados antes, durante e após o período de
escrita coletiva, que são os seguintes:
Antes
- Questionário respondido pelos alunos, em mao, sobre o uso da tecnologia e o interesse
pela língua inglesa;
- Escrita da página pessoal, em março, que se encontra disponível no ALED;
- Escrita individual de blogs, escritos semanalmente de março a junho que se encontram
disponíveis no ALED;
Durante (período de 07/8 a 30/10)
- registro de todas as interações realizadas pelas díades no Fórum;
- histórico (Anexo C) de todo o processo de escrita coletiva;
- observações realizadas no laboratório de informática;
Após
- Entrevista semi-estruturada (Anexo B) com cada díade, em novembro, momento em que o
pesquisador entregou todo o histórico da escrita coletiva e o registro de todas as interações do
Fórum aos indivíduos da díade. A entrevista semi-estruturada teve o objetivo de ouvir os
indivíduos, e através do diálogo com o pesquisador,oportunizar um momento de reflexão;
- Auto-avaliação realizada pelo aluno em dezembro, que se encontra disponível no blog do
ALED.
Todos estes dados foram levados em consideração na interpretação e explicação.
Segundo Yin (2005), o confronto de dados de fontes múltiplas, que se a partir de um
processo denominado triangulação, assegura a validade e a confiabilidade das informações. A
triangulação se deu na convergência dos seguintes dados:
- parágrafos produzidos em LE pelos sujeitos no EquiText;
- interações virtuais entre os sujeitos no Fórum;
- reflexões dos sujeitos sobre as interações virtuais e o processo de escrita coletiva a
partir de entrevista com a pesquisadora.
O processo interativo/dialógico entre as quatro ades de adolescentes, sujeitos desta
pesquisa, tanto no Fórum como no editor colaborativo, me ajudou a compreender o que
aconteceu nos bastidores de uma produção coletiva de um texto teatral. Segundo Ramal
66
(2002, p. 205), Na escola da cibercultura, será tão importante verificar a que respostas o
aluno chegou quanto saber os caminhos que foram utilizados para isso”. O confronto das
fontes desse experimento trouxe à tona uma atividade cognitiva a ser considerada por mim em
intervenções futuras.
A pesquisa foi realizada no primeiro ano do Ensino Médio do Colégio de Aplicação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, uma escola pública, cuja forma de ingresso é por
sorteio público. As três turmas, num total de noventa alunos, participaram do projeto de
Língua Inglesa entitulado Drama Club Webwriters, o qual faz parte da proposta pedagógica
curricular, no qual além de professora, também exerço a função de coordenadora. A seguir
farei um breve relato sobre as atividades desenvolvidas no projeto, buscando uma melhor
contextualização desta pesquisa.
3.3 Atividades desenvolvidas no projeto
Em 2006, noventa alunos divididos em três turmas participaram do projeto. Os alunos
tiveram a liberdade de escolher o livro em inglês
32
conforme o seu interesse e conhecimento
da língua-alvo. A partir das escolhas das obras, formaram-se doze grupos, que variaram
quanto ao número de alunos, dois a quinze participantes por grupo, conforme Quadro 1.
32
Os livros são adaptações e os títulos classificados por níveis: de starter a upper intermediate. Os livros fazem
parte da série Macmillan Readers. As referências completas encontram-se disponíveis em:<
http://www.macmillan.com.br/Catalogo.asp?IdColecao=581> Acesso em: 05 mai 2008.
67
QUADRO 1: Grupos de escrita coletiva formados a partir da escolha do livro de leitura
Todos os alunos foram cadastrados no ambiente digital do ALED. Além do livro de
leitura, os alunos possuíam uma gramática de Língua Inglesa e um dicionário ings-
português/português-inglês.
Esses alunos não são iniciantes no estudo de língua inglesa, portanto, partiu-se do
pressuposto que foram trabalhados os seguintes conteúdos no Ensino Fundamental:
WH words
Pronouns
Articles
Adjectives
Prepositions
Verb to be
Simple Present
Present Continuous
Can/ could
There is/ There are
Adverbs of frequency
BOOK
01
02
03
Jane Eyre
(Profa. 1)
Díade A
Díade B
The Brontée Story
(Profa. I)
Díade A
Officially Dead
(Profa. 2)
Díade A
Díade B
Díade C
Rich Man, Poor Man
(Profa. 4)
Díade A
Díade B
Díade C
Díade D
Díade E
Díade F
Díade G
Díade H
The Picture of Dorian Gray
(Profa. 3)
Díade A
Díade B
Díade C
Díade D
The Princess Diaries
(Profa. 1)
Díade A
Trio B
Díade C
Díade D
Díade E
Hound of Baskervilles
(Profa. 2)
Trio A
Díade B
The Mask of Zorro
(Profa. 4)
Aluno A (sozinho)
Díade B
Trio C
Díade D
The Canterville Ghost
(profa. 2)
Díade A
Díade B
Díade C
Díade D
The Long Tunnel
(Profa. 3)
Díade A
Aluno B (sozinho)
Díade C
Díade D
Díade E
Díade F
The Beginning of everything
Else
(Profa. 4)
Díade A
Díade B
The Fox
(Profa. 1)
Díade A
68
Simple Past - did / didn´t regular and irregular
Past Continuous
Conjunctions and/ but/ so
Comparatives and superlatives
Should/ Shouldn´t
Used to
Will/ won´t
Todos esses conteúdos gramaticais foram trabalhados de forma contextualizada e
funcional numa abordagem eclética.
Neste projeto não havia uma lista de conteúdos prévios, todo conteúdo emergia da
produção do aluno. Desta forma, o projeto trabalhou com conteúdos emergentes de língua
inglesa, que na maioria das vezes eram estruturas que já haviam sido estudadas pelos alunos
anteriormente, mas que não haviam sido apropriadas.
O projeto contou com a docência de quatro professoras, que se reuniam semanalmente
para planejamento das aulas. A carga horária era de dois períodos semanais, cada um de
45min, os quais eram organizados da seguinte forma:
Horário
Segunda-feira
Sexta-feira
8h às 8h45
Turma 01
Turma 01
8h45 às 9h30
Turma 02
Turma 02
9h30 às 10h15
Turma 03
Turma 03
QUADRO 2: Horário semanal das aulas de Língua Inglesa
Nas segundas-feiras as aulas eram no laboratório de informática com todos os alunos,
os quais trabalhavam em dupla em frente ao computador. Os alunos tinham liberdade de
solicitar ajuda, tanto para colegas como para as professoras, sendo que o suporte oferecido
pelas professoras era de dar condições ao aluno para que ele mesmo encontrasse a solução
para seus problemas de escrita em LE.
Nas sextas-feiras as aulas eram na sala de aula, cada turma era dividida em dois
grupos, pares e ímpares. Cada professor trabalhava com quinze alunos. Normalmente os
alunos sentavam-se num semicírculo. Nessas aulas eram trabalhados textos referentes a peças
teatrais e conteúdos emergentes, entre outras atividades.
Seguem abaixo as principais atividades do projeto desenvolvidas:
69
No laboratório de informática (segunda-feira)
Os alunos utilizaram as seguintes ferramentas do ALED:
- No WRITING: cada aluno escreveu seu perfil e anexou uma foto. As páginas pessoais
podiam ser vistas por todos;
- No BLOG: semanalmente os alunos escreviam um diário sobre o seu fim de semana ou algo
que se sentissem a vontade para compartilhar com a professora, que respondia com o objetivo
de estimular a escrita e a interação com o aluno. O blog era visto pela professora. Esse
também era o espaço utilizado para a auto-avaliação, que ocorria sempre ao final de cada
trimestre;
- No FÓRUM: foi aberto um tópico para cada grupo, que correspondia ao nome do livro de
leitura que cada um tinha escolhido, onde as díades interagiam para a escrita do texto teatral;
- No EQUITEXT: alunos realizaram a escrita da peça teatral;
- No ACERVO: tanto professores como alunos colocaram material referente à escrita das
peças.
Na sala de aula (sexta-feira)
- Foram trabalhados textos de peças teatrais em ngua inglesa;
- Os alunos assistiram a uma peça teatral em língua inglesa;
- A professora de Teatro ministrou uma palestra sobre dramaturgia;
- Trabalhamos conteúdos emergentes referentes às produções dos alunos no ALED;
- Os alunos realizaram a escolha do livro;
- Após a compra do livro, os alunos iniciaram a leitura sob a orientação das professoras;
- Foram realizadas atividades orais de dramatização e leitura dramática;
- No final do trabalho de escrita coletiva, os alunos realizaram uma correção cooperativa na
peça teatral de outro grupo. Todos receberam feedback de outro grupo e puderam aceitar ou
o as sugestões dos colegas.
A intervenção das professoras no laboratório de informática ocorria por solicitão
freqüente do aluno, ou melhor, da díade, que solicitava ajuda ao professor para: compreender
uma estrutura lingüística ou o sentido do enunciado; organizar a ordem das palavras na
oração; discutir sua hitese sobre um problema encontrado na escrita do enunciado;
encontrar o significado de palavras e expressões em LE.
Por entender que esses momentos em que a díade solicitava a atenção e ajuda do
professor eram propícios para a construção de conhecimento, a intervenção não tinha o
70
objetivo de fornecer a resposta ao aluno, mas de dar condições para que ele chegasse à
resposta. A professora utilizava-se de exemplos e exercícios realizados em sala de aula,
explicava o uso de determinadas expressões e estruturas e orientava o aluno quanto ao uso do
dicionário e da gramática.
A mediação não era sobre o objeto. O professor não modificava o enunciado escrito
pelo aluno, mas auxiliava a modificar a ação do aluno sobre o objeto, a escrita em LE. Era o
aluno que, a partir da discussão estabelecida com o professor ou com outro colega,
modificava ou não o objeto. Toda essa intervenção tinha o objetivo de ajudar o aluno a
construir conhecimento e não em reproduzir o conhecimento constrdo pelo professor.
Portanto, o que levava o aluno a modificar ou o a sua escrita ou a do colega era
resultado de sua reflexão sobre a língua. Tal reflexão também era verbalizada, no momento
em que o aluno utilizava a metafala na conversa com o seu parceiro e com o professor.
Na sala de aula, as professoras, através da instrução, retomavam conteúdos já
trabalhados e trabalhavam com conteúdos emergentes.
3.4 O estudo de caso
Conforme mencionado anteriormente, optou-se por fazer o estudo de caso de um dos
doze grupos participantes do projeto em 2006. O critério de escolha utilizado foi a variedade
de situações de interação que, de certa forma, com mais ou menos intensidade também se
manifesta nos demais grupos. Para tanto, o grupo escolhido foi The Cantervile Ghost
33
, que se
formou e desenvolveu suas atividades dentro do contexto do projeto descrito na subseção 3.3.
3.4.1 Os participantes
O grupo escolhido era composto de oito adolescentes com idades entre 14-16 anos, que
freqüentavam o ano do Ensino Médio do Colégio de Aplicação da UFRGS em Porto
Alegre em 2006. Os sujeitos constituíram um grupo, a partir da escolha feita por eles da obra
adaptada The Canterville Ghost. Os pais autorizaram a participação dos filhos por escrito
34
. A
identidade dos sujeitos foi preservada através de pseudônimos. Com o objetivo de facilitar a
33
Esta história faz parte do livro The Canterville Ghost and Other Stories (Oscar Wilde, adaptado por Stephen
Colbourn). Nível; 3 elementary (cerca de 1.100 palavras).
34
Anexo A Modelo do termo de consentimento livre e esclarecido.
71
identificação dos sujeitos com a sua respectiva díade, a inicial de cada sujeito/pseudônimo
corresponde à letra da sua díade.
Abaixo se encontra o grupo composto de quatro díades.
OBRA ESCOLHIDA
Turma 01
Turma 02
Turma 03
THE CANTERVILLE
GHOST
(Prof. 2)
Díade A
(Ana e Anita)
Díade B
(Bruno e Beto)
Díade C
(Carlos e César)
Díade D
(Diego e Denise)
QUADRO 3: Composição do grupo de alunos do nosso experimento
Conforme quadro acima, as díades, com exceção de B e C, não compartilhavam o
mesmo espaço sico de sala de aula, nem a mesma professora, pois cada turma dispunha de
uma faixa de horário diferente para a disciplina de Língua Inglesa. No entanto, no ambiente
digital, o grupo era acompanhado e orientado por uma única professora.
Segundo Veer & Valsiner (2001), para Vygotsky o processo de construção do
conhecimento ocorre a partir de relações sociais mantidas ao longo da vida de cada indivíduo.
Cada indivíduo é único e possui a sua trajetória sócio-histórico-cultural de formação de
conceitos e conhecimentos internalizados que vão se modificando a partir de interações
sociais.
A heterogeneidade do grupo também é percebida pela bagagem de conhecimento que
os alunos trazem com relação à língua inglesa. Alguns alunos possuem um bom conhecimento
lexical devido à pratica de jogos como videogames ou Internet. Por outro lado, temos alunos
que desenvolveram uma audição mais aguçada devido à prática em ouvir e compreender
músicas ou filmes em inglês. Todo esse conhecimento é construído ao longo da vida escolar
do aluno e das atividades exercidas fora da escola.
Os participantes o realizaram nenhum teste de nivelamento quanto à proficiência de
língua inglesa, uma vez que os diários escritos, individualmente, no ALED indicavam o nível
de desenvolvimento real dos sujeitos, que foram classificados como sujeito que tem bom
conhecimento de língua inglesa, regular e pouco conhecimento de língua inglesa. Esses
diários foram escritos semanalmente e a classificação foi baseada nos seis primeiros registros.
Os critérios utilizados para a classificação quanto ao conhecimento foram os seguintes:
Bom: o aluno possui boa compreensão oral e escrita, tem bom conhecimento e
aplicação de estruturas básicas e tem um conhecimento lexical muito bom;
72
Regular: o aluno possui uma boa compreensão oral, tem um bom conhecimento
lexical, consegue se expressar por escrito, no entanto, apresenta alguma dificuldade na
organização das frases e no uso de estruturas básicas;
Pouco: o aluno possui pouca compreensão oral e escrita, tem pouco conhecimento
lexical e tem dificuldade de construir frases com sentido e com o uso correto de regras
gramaticais básicas.
Ressalto que essa classificação só foi realizada para fins desta pesquisa, pois não
houve um procedimento formal de testagem para a classificação do aluno quanto ao seu nível
de desenvolvimento real, apesar de o professor conhecer o nível real de cada aluno através de
sua produção. No entanto, numa interação entre pares, essa nomeação pode ocorrer de forma
espontânea pelos próprios parceiros, ao mesmo tempo em que os papéis de maior ou menor
conhecimento de língua inglesa em determinados momentos na interação podem se inverter.
O quadro abaixo mostra um pequeno histórico dos sujeitos com relação ao tempo de
estudo de ngua inglesa em escola regular e possíveis atividades realizadas fora da escola em
que o indivíduo utilize a língua inglesa.
Sujeitos
Idade
Estuda língua
inglesa em escola
regular desde
que série
Atividades em que utiliza a língua
inglesa fora da escola
Classificação
quanto ao
conhecimento
de língua
Ana
14
Escutar e traduzir músicas, acessar sites de
assuntos diversos e assistir filmes.
Bom
Anita
14
Escutar e traduzir músicas, acessar sites de
assuntos diversos.
Bom
Bruno
14
Escutar música
Regular
Beto
15
Nenhuma
Pouco
Carlos
16
Jogar vídeo game
Regular
César
15
Nenhuma
Pouco
Diego
14
Escutar e traduzir músicas, jogar vídeo
games e acessar sites
Bom
Denise
15
Escutar e traduzirsicas. Estuda
inglês em um curso livre desde março de
2006.
Bom
QUADRO 4: Perfil dos participantes
3.4.2 Tempo de interações - definindo o período de interesse para o estudo
O período analisado inicia no dia 07 de agosto de 2006 e termina no dia 30 de outubro
de 2006, num total de 12 semanas e um dia. O total de aulas no laboratório de informática foi
12, sendo que na primeira aula, dia 7/8, os alunos interagiram no Fórum para o
planejamento da escrita da peça, após uma semana, dia 14/8, iniciou-se a atividade de escrita,
propriamente dita, no EquiText. Para o nosso experimento, interessou analisar os dados
73
gerados pelo grupo no ambiente virtual de aprendizagem nesse período, pois foi o tempo
utilizado para a realização da escrita coletiva do texto teatral. Cabe salientar que as interações
virtuais continuaram após esse período, com intervenções da professora e de colegas de outros
grupos. No período analisado, a intervenção da professora, orientadora desse grupo, no Fórum
foi mínima, correspondente a uma mensagem de estímulo postada no dia 31/8.
3.4.3 Situação dos sujeitos (díade ou individual) quanto ao modo de participação
Ao iniciar a atividade de escrita coletiva tínhamos a intenção de considerar somente a
díade, no entanto, com o progresso dos trabalhos, ficou cada vez mais evidente que, sendo o
ambiente virtual de aprendizagem um ambiente aberto em relação a tempo e espaço, alguns
indivíduos do grupo voluntariamente acessaram o AVA em locais e tempos diferentes
daqueles previstos no laboratório. O que, de certa forma, representa um indicativo consistente
de uso de PPSs, que são movidos por ações conscientes e voluntárias, em que motivação e
vontade de ultrapassar limites, definindo um modelo de aprendizagem autônoma. Isto é
percebido na Quadro 5 contendo os dias em que a ade ou um dos indivíduos da díade
trabalhou no editor colaborativo EquiText.
DIAS
Turma 01
Turma 02
Turma 03
DÍADE A
DÍADE B
DÍADE C
DÍADE D
Ana
Anita
Bruno
Beto
Carlos
César
Diego
Denise
14/ago
25/ago
4/set
8/set
11/set
15/set
18/set
22/set
25/set
2/out
9/out
12/out
16/out
20/out
23/out
30/out
LEGENDA
Em Aula
Em Aula & Fora da Aula
Fora da Aula
Não houve aula no laboratório
QUADRO 5: Modos de participação no EquiText
74
As datas com o fundo azul referem-se às aulas no laboratório de informática, que
iniciaram no dia 07/8. Esse dia não consta no quadro, pois os alunos trabalharam no
Fórum. No dia 22/9, somente a turma 03 teve aula na sala de informática, as outras turmas
tiveram aula na sala de aula como, normalmente, ocorria nas sextas-feiras.
Com relação aos modos de participação, poder-se-ia, sem dúvida, centrar o foco em
uma díade. Entretanto a pesquisa não pretende esgotar tudo o que uma díade produziu na
escrita coletiva, mas em analisar situações significativas desencadeadas no grupo.
Cada participante possuía o seu login para acessar o ALED e o EquiText. Apenas um
dos integrantes da díade digitava o seu login, embora ambos estivessem trabalhando juntos.
Observou-se que o indivíduo que acessava a Internet, normalmente também era o que
digitava. Observou-se também que o uso do login alternava entre os indivíduos da ade.
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
Neste capítulo tenho o objetivo de analisar o fenômeno investigado, ou seja, como
adolescentes participam em ambiente digital e realizam nele a escrita coletiva de um texto
teatral em língua inglesa. Na medida em que se propõe compreender esse processo interativo
em AVA através da interação, produção e reflexão dos próprios adolescentes que integram o
grupo, optou-se pelo estudo de caso como estratégia metodológica.
Como já mencionado anteriormente, as díades integrantes do estudo de caso, com
exceção de B e C, não freqüentavam a mesma turma. As aulas tanto na sala de aula como no
laboratório de informática eram planejadas em conjunto pelas quatro professoras, incluindo a
pesquisadora, que atendiam as três turmas, sendo que cada turma era dividida em dois grupos
- números pares e ímpares - num total de seis grupos.
Para a verificação do processo interativo de escrita coletiva, neste experimento, usei
como indicadores as inserções e alterações de parágrafos efetuados pelas díades no texto
coletivo durante o processo, os quais se encontram registrados no histórico do EquiText. Os
dados registrados no Fórum referentes às interações virtuais, bem como as entrevistas serão
utilizados na análise, concomitantemente com os registros de composição de parágrafos, com
o objetivo de trazer as reflexões dos participantes.
Vale lembrar que as situações de produção e de interação entre as díades no AVA não
foram pré-estabelecidas pela autora, mas emergiram no processo desta pesquisa. Cabe
destacar que a responsabilidade quanto a organização e planejamento da atividade de escrita
75
coletiva do texto teatral foi atribuída ao grupo. Isso se deve ao fato de que a tomada de
decisões em uma atividade coletiva, além de desencadear uma série de processos mentais,
favorece o movimento reflexivo sobre as próprias ações e as ações do grupo (ROGOFF,
1993).
A forma de entrada na escola é através de sorteio público, o que de certa forma
contribui para a diversidade cultural, social e econômica encontradas no perfil dos
participantes. O conhecimento de LE também é bastante diversificado, e não poderia ser
diferente, assim como os objetivos que cada um pretende alcançar através do estudo.
Entretanto, para este grupo, a escrita coletiva mediada por computador constitui uma
novidade, o que os coloca como aprendizes não somente em relão à apropriação da escrita
em LE, mas também em relação ao modo coletivo de reali-la em ambiente digital.
4.1 Inserções de parágrafo
O texto coletivo avança, na medida em que parágrafos são inseridos. Nas categorias a
seguir são analisadas situações de inserções de parágrafos realizadas pelas díades
participantes, a partir de fontes múltiplas de evidências, como as interações no Fórum, trechos
de entrevista e observações presenciais no laboratório de informática.
Situação, no contexto de inserção, refere-se a uma seqüência de parágrafos produzidos
pela mesma díade ou não, retirada do histórico do editor colaborativo EquiText.
4.1.1 Planejamento, estabelecimento de relações e a primeira inserção de parágrafo
As interações virtuais começam a constituir-se no Fórum uma semana antes da
primeira inserção de parágrafo no EquiText. O diálogo se a partir do planejamento do
esboço das cenas que irão compor o roteiro de peça teatral, discussão sobre o conflito central,
tipo de enredo, personagens, além de outras questões relacionadas à composição de um roteiro
de peça teatral. O texto teatral foi trabalhado em sala de aula, não pelos professores de
Língua Inglesa que participaram do projeto Drama Club Webwriters, mas também pelos
professores de Teatro. Essa familiaridade com o teatro é mencionada por Anita, no momento
da entrevista com seu par e a professora/pesquisadora, em que conversavam sobre a
experiência de escrita coletiva:
Esta questão de escrita em grupo, quem era do Aplicação ano passado,
quando a gente tinha que fazer uma pa de teatro, por exemplo, dentro do
76
teatro, a gente tinha que pensar juntos e isso já era complicado, e isso
quando a gente sentava junto e conversava todos juntos. , então, trabalha
com uma pessoa que a gente o vendo e, não ao mesmo tempo também
(ela está se referindo ao tempo real de escrita), porque ela vai olhar depois e,
vai lá e vai mudá uma coisa que tu fez ....isso, às vezes da uma raiva [...]
O depoimento de Anita, de certa forma, traduz a vincia de sete integrantes do grupo,
que estudavam pelo menos cinco anos no colégio e freqüentaram aulas de teatro. Mostra
também que havia uma consciência dos fatores que envolviam uma atividade em grupo. Cada
um traz consigo a experiência de trabalhar entre pares presencialmente, experiências que
podem ter sido positivas ou nem tanto. A grande questão era como isso se daria em ambiente
virtual de aprendizagem. Em entrevista com a díade D, Diego e Denise expressaram a sua
preocupação inicial sobre a interação virtual:
Denise: Eu achei que, no início quando eu ouvi o projeto, achei que não ia
dar certo, ia um problema, porque, às vezes, tu fala alguma coisa no
computador, escrevendo, assim .... a pessoa não sabe a reação que tu teve na
hora da fala e ela pode interpretá errado a tua ... fala, assim .... daí ela pode,
sei lá, não concorda só pela entonação que ela acha que tu deveria ter dito, e
tu fala com outro jeito
Diego: ..é isso é importante
Mariane: é ou, às vezes, pode ser um fato a favor,... em vez de...
Diego: tu xinga e a pessoa acha que tu elogia.
Com efeito, sendo os participantes adolescentes, muitos já interagiam virtualmente.
Eles utilizavam o computador, e isso é facilmente detectado através da linguagem escrita, das
abreviaturas e de símbolos utilizados e conhecidos nesse meio denominada de internetês
35
.
Como na seqüência de enunciados retirados dos diálogos no Fórum:
Fórum: Díade A - Segunda, 14 Agosto 2006 08:40:27
O que vocês acham de colocar uma espécie de coro? que seria bem
engraçado e eles falariam cantando coisas que deixariam engraçada a
história ou então eles incomodariam a que o personagem em cena
mandassem o coro ficar quieto e tal... ^^
Outra coisa... O fantasma poderia ter um outro motivo para infernizar os
Otises... Como ser apaixonado por algum deles... Até mesmo pelo fiho mais
velho... O.o
Fórum: Díade D - Segunda, 14 Agosto 2006 09:10:50
Oi aki eh u Diego i a Denisei...
35
Internetês é uma linguagem surgida no ambiente da internet, baseada na simplificação informal da escrita, com
o objetivo principal de tornar mais ágil, rápida, a comunicação, fazendo dela uma linguagem taquigfica,
fonética e visual. Abreviações, simplificações, símbolos criados por combinação de caracteres, símbolos gráficos
próprios e uma grande diversidade de recursos de comunicação por imagens utilizados na internet são as
principais características encontradas nas mensagens que utilizam essa linguagem Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Internet%C3%Aas> Acesso em: 05 maio 2008.
77
E a gnt axa q a idéia du fantasma c apaixonar pelo filho mais velho da
família seria show!!!!!!!Soh q a do coro naum fikaria legal...Sei lah
meo...Naum kombina cum a peça sab...
E qnt ao César e u Carlos...Por favor hein?!Q idéia eh essa d um fantasma
voando em uma peça d teatro...Meu deus!!!!!!!!!!Como eh q vcs pensam em
botar um fantasma voando na peça
Forúm; Díade C - Segunda, 14 Agosto 2006 09:43:05
AAAAAAAAAAAAAAAAhhhh tinha que ser coisa da denise meo deus...
TiPoo, daria pra o fastasma subir em um cubo, ou coisa do tipo e talzz..dai
ele embolotavaaa shaUshAhsAHsasa e ao inves de assustar ele poderia
causar risos nos otises...=D
Seria bala...ele não precisa voar, só embolotar encima do cubo e
talzz...quanto a conspiração ali pra fazer fica bala...mas a gente tem que dar
um jeito pra acabar ficando tipooo como se ela fosse a que menos tem
chance de ser a a governanta que ta tramando algo e talzz...ai seria bala
meoo...que tarrrrrrrr????
Fórum: Díade B - Segunda, 14 Agosto 2006 09:55:14
>>Essa historia de se apaixonar vai ficar muito chata e sem graça, deviamos
seguir a idéia do livro e não botar coisas que o estejam no livro
OUVIRAM!!! HEIN!!!!
Então é só isso...
Tanto a utilização exagerada e repetida da pontuação como as letras maiúsculas (idéia
de gritando) dão a entonação do enunciado acima. A omissão de vogais, abreviando a escrita
das palavras “qnt” = quanto, ”Q” = que, “vcs” = vocês, ou ainda, a escrita imitando a
linguagem falada, u” = o, entre outras, o características do internetês, sendo utilizado pela
maioria dos participantes durante toda a interação no Fórum.
No entanto, a preocupação da díade D se deve ao fato de que, para que se estabeleça
uma compreensão mútua entre as díades no ambiente digital, faz-se necessário um esforço
maior, uma vez que a linguagem utilizada é a linguagem escrita. Esse esforço implica o
desenvolvimento de processos como linguagem escrita social, síntese e argumentação, entre
outros. Dessa forma, o que surge como um recurso novo e de grande potencial nas interações
mediadas por computador é o registro escrito de todas as interlocuções feitas pelos
participantes numa atividade coletiva de aprendizagem Ao analisarmos os enunciados acima,
veremos que a introdução das interações virtuais também requer uma mudança no
comportamento do indivíduo.
Os enunciados acima, retirados do Fórum, ocorrem após várias interlocuções entre as
díades A, C e D, as quais haviam organizado na primeira aula, no dia 07/8, um esboço
sobre as cenas da peça. Os sujeitos da díade B, apesar de estarem presencialmente em frente
ao computador, não haviam se manifestado no rum, ou seja, não haviam estabelecido
contato com o grupo antes do enunciado. O primeiro enunciado postado no Fórum é o que se
78
encontra na seqüência acima. O que chamou a atenção dos demais participantes foi que,
apesar de ser a primeira vez que a dupla se manifestou, não cumpriu um ritual de
apresentação, como fizeram as outras ades quando estabeleceram o primeiro contato no dia
07/08: "Anita e Ana. s somos da turma 01", "Nós somos a dupla Denise e Diego
(hauahuahuahuah) \o/ " e "...a gente é a dupla César (o mais bonito) e Carlos (o mais gatao
[ele que diz isso, não eu..])". O depoimento de Ana revela esse estranhamento "uma dupla
entrou no meio do trabalho e começou a mandar", em outras manifestações percebe-se que o
fato dos sujeitos da díade não terem se apresentado, deixava vidas quanto à existência de
um par, pois o que constava no registro do Fórum era o login de um dos indivíduos da díade.
Isso é percebido no enunciado postado por Diego no Fórum:
Fórum: Diego - Sexta, 25 Agosto 2006 10:07:06 (Sua parceira Denise
estava trabalhando no computador ao lado no momento desta postagem)
Oi aki eh u Diego...E eh issu ai galera...Tem q passa pro EquiText logo,
senão a gnt se ferra i talzzz...E naum tem condições d seguir o livro pa faz a
peça meo...Tem q muda td...Tipw faz a historia d novu...Soh q cum a mesma
base...Eu prefiro q mud batant a historia...E o UNICO DO CONTRA AKI
EH U BRUNO...O q quer dizer q eli perdeu...São 6 contra 1...A gnt vai
muda a historia SIM E PRONTO!!!!!!
ABRÇS...
Percebe-se que Diego cita o nome de apenas um dos integrantes da díade e após diz
"são 6 contra 1", isto é, as díades A, C e D contra um individuo da díade B. Problemas de
comunicação em interações virtuais, muitas vezes, se deve ao fato de não haver uma escrita
voltada para a sociabilidade. A comunicação mediada por computador força o
desenvolvimento da linguagem escrita social. No enunciado acima, Diego cumpre um ritual
de apresentação e finaliza a sua fala de maneira cordial. Tijiboy (2001, p. 124) refere-se à
linguagem escrita social como “situações em que o sujeito mostra comportamento de empatia,
de interação cordial, levando em consideração o outro. Em um ambiente virtual de
aprendizagem, as relações entre os participantes o estabelecidas a partir dessa linguagem
escrita social. Deve haver, então, uma reciprocidade entre os parceiros de uma comunidade
virtual, a qual é percebida através da linguagem escrita social. Fato este que foi, de certo
modo, amenizado pela díade C, que conforme pode ser visto na data e horário trabalhavam de
forma síncrona.
Fórum: díade C - Segunda, 14 Agosto 2006 09:55:14
[...] da uma lida ali meoo, a gent vai faze uma comediazinha...=D
Participar de uma comunidade virtual de aprendizagem é um exercício de autonomia
do indivíduo. Nesse caso, a falta de participação da díade B no início das discussões do
Fórum, de acordo com relato dos sujeitos, se deu pelo fato de que os indivíduos desta díade
79
o haviam lido o livro conforme combinação feita entre alunos e professora. O que,
certamente, em uma aula presencial não causaria tanta estranheza, pois a presença sica,
mesmo que em silêncio, ou acompanhada de acenos com a cabeça, não denunciaria a
passividade do sujeito, uma vez que o trabalho seria realizado pelos demais integrantes do
grupo. Ao contrário da tradição instaurada nas instituições educacionais de ensino básico, que
de modo geral primam pela interação face a face, a participação do sujeito em uma
comunidade virtual de aprendizagem, segundo Novak:
[...] depende da tomada de iniciativas por conta própria, assumindo o curso
de sua aprendizagem, para não ficar à margem dos acontecimentos [...] Em
um modelo diretivo é difícil saber a onde o aluno está exercendo sua
autonomia ou agindo por coação (NOVAK, 2005, p.175).
Sem vida, a tomada de iniciativa ocorre à medida que é outorgado algum poder de
decisão ao aluno, permitindo que o mesmo se comprometa a partir de suas próprias ações e
assuma as conseqüências de seus atos, conforme trecho de entrevista:
sar: [...] cada um tinha a sua idéia de fazê, de como fazê, todo mundo
podia se expor sem o professor "não, mas quem sabe vocês fazem assim",
que daí era só o grupo, daí era bem legal.
Carlos: isso sem contá que aumenta a nossa responsabilidade, porque a gente
tem que decidi e fazê
sar: (falando como geralmente acontece na aula) o professor vai
estabelecê uma ordem e tu vai ter que segui.
No depoimento acima, Carlos enfatiza a responsabilidade que tende a aumentar
quando o sujeito decide e executa aquilo que foi decidido por ele. César salienta que decisões
tomadas pelo grupo, sem a imposição do professor, permitem uma exposição maior por parte
dos participantes. Ao contrário, numa situação em que o professor estabeleceu o que fazer e
como fazer, o aluno se limita à execução, ficando à margem da execução de uma tarefa mais
complexa que propicia o desenvolvimento de PPSs como: planejamento abstrato, tomada de
decisão, solão de problemas entre outros.
Um ambiente virtual de aprendizagem reflete as ações dos participantes. O registro das
ações dos participantes, tanto no Fórum como no EquiText, ajuda o sujeito a acompanhar o
seu processo. Esse registro também começa a ser percebido pelos outros participantes, o que
de certa forma pode provocar uma desestabilização, levando o indivíduo a rever as suas
atitudes. Soma-se a isso a possibilidade de o sujeito, ao observar o registro de seus pares,
entrar em contato com outras opiniões, outras condutas, outros modos de se fazer algo,
possibilitando que o mesmo reflita sobre o seu fazer e sobre a atividade como um todo.
Após intensas discussões envolvendo o planejamento das cenas, a díade A tomou a
iniciativa de começar a escrita do texto teatral no EquiText.
80
Situação 1
14/08/2006-
08:43
Scene 1: Mr Hiram B. Otis is talking with the Lord Canterville in the
garden of the Canterville Chase. He want to buy the Canterville Chase.
ana
I
--
A dupla fez a primeira inserção de parágrafo, que é o esboço da primeira cena,
planejada no Fórum. Em entrevista Ana concluiu:
Se a gente não tivesse tomado a iniciativa de começar no EquiText, acho que
a gente ia ficá mais tempo ainda, porque a gente montou um
cronograma........ e pronto, vai ser isso. quando a gente disse vai ser isso.
ninguém discutiu mais, entendeu? Então pararam de discuti e começaram
a trabalhar no EquiText.
Ao observar o enunciado acima, percebe-se que ele foi escrito dois minutos antes de
terminar a aula de inglês, sendo que, antes desse registro, a dupla havia interagido no rum,
colocando as suas sugestões sobre o planejamento das demais cenas. Nesse mesmo dia, as
díades C e D continuaram o planejamento das cenas no Fórum. Ninguém, nesse dia, deu
início às falas da cena 1.
A díade B continuava num processo de desestabilização. Segundo relato feito por
Bruno e Beto no dia 14/8, eles haviam lido o livro durante a semana que passou. No entanto,
na mensagem abaixo parece que não estavam se incluindo na tarefa de escrita e novamente
sua atitude demonstra passividade acrescida de cobrança em relação à produção dos colegas.
Fórum: Díade B - Segunda, 14 Agosto 2006 10:13:12
O meu vamo posta lah no EquiText nao tem nada la!!!
vamo agiliza galera!!!!!!!!!!!!!!!!!
Analisando a mensagem acima, dentro do contexto em que foi redigida, percebe-se que
a ade B não deu importância à primeira inserção, postada às 8:43 do dia 14/8. Nota-se que
o um reconhecimento do esforço realizado pelo outro, no caso a díade A. Sem vida, a
inserção de parágrafo numa produção coletiva é um exercício de autonomia, que resultou de
uma ação consciente e voluntária da díade A. No entanto a ade B, se manteve em frente ao
computador das 9:30, para às 10:13 chamar a atenção dos colegas sobre a necessidade de
escrever no EquiText, sendo que eles em todo esse intervalo não produziram nada, nem
mesmo no Fórum.
No presente estudo, observou-se que a falta de requisitos para produzir algo com
criatividade por parte do aluno pode dificultar, ou até bloquear a produção. Alunos que em
sua trajetória escolar foram “castrados”, ou seja, inibidos de pensar por si , acabam se
habituando apenas a reproduzir um modelo. Esses mesmos alunos em uma situação que exige
criatividade ficam sem ação, por isso, a escola é o lugar para se propor e criar algo diferente.
81
Aprender uma LE para fazer algo, para agir no mundo é possibilitar a construção de
conhecimento de uma forma mais ampla.
A escrita de um texto teatral, além de estimular a criatividade e a imaginação, também
desenvolve o planejamento abstrato; estes PPSs emergiram nas interações entre as díades no
Fórum que mostram a constante reorganização da trama do texto teatral, assim como no
trecho da entrevista realizada com a díade D:
Denise: Teve uma parte muito legal que a gente fez na peça, que era uma
frase do Canterville Ghost (risos) a gente até imaginava a pessoa que poderia
fazê... o jeito que ela.(é interrrompida)
Diego: a gente imaginô o (nome de um colega)
[...]
Denise: Daí...foi uma frase assim que era bem..... eles estavam, assim,
perguntando sobre a morte do,... que o canterville Ghost foi acusado de ter
matado a mulher dele, né? E daí as pessoas, as pessoas da casa tavam
perguntando para ele se ele realmente matou a mulher dele, daí ele responde
aquela frase curta e grossa: - sim, fui eu.
No depoimento acima, observa-se o comentário de Diego e Denise sobre as ações de
um dos personagens da trama. A preocupação com a viabilizão das ações dos personagens
no palco e a preocupação com a reação da suposta platéia que assistiria ao espetáculo,
demonstram a real preocupação com o propósito da atividade de produção de uma peça
teatral. Para Vygotsky (2003) a fala tem um papel importante na organização dos PPSs.
Através de experimentos o autor concluiu que:
1) [...] fala e ação fazem parte de uma mesma função psicológica complexa,
dirigida para a solução do problema.
2) Quanto mais complexa a ação exigida pela situação e menos direta a
solução, maior a importância que a fala adquire na operação como um todo
(p. 34).
O depoimento da ade D confirma esse pensamento abstrato que é exigido no ato de
escrever. Toda a escrita pressupõe uma organização de pensamento, que se dá através de uma
fala interior. No momento, em que dois indivíduos compõem um enunciado que expresse a
idéia de ambos, essa fala interior precisa ser externalizada e compartilhada com o parceiro que
também é responsável pela criação. Observa-se que a escrita do texto teatral é em LE,
enquanto a fala interior externalizada ocorre na Língua Materna (LM) dos indivíduos. A LM é
utilizada para mediar à criação e a própria escrita em LE.
As interações no rum continuavam concomitantemente com a escrita no EquiText.
Havia muita divergência quanto à trama da história, conforme depoimento de Carlos:
[...] no começo foi mais difícil, assim, traça um rumo do que a gente queria
fazer realmente, uns queriam fazê uma comédia, os outros queriam fazê
suspense [...] discussão serve pra isso, pra achá o melhor caminho pra fazê
uma coisa.
82
4.1.2 O Descompasso entre as díades: respeitando o tempo de cada um
Os dados conforme Quadro 6 mostram que cada díade possuía um ritmo de trabalho
para inserir um parágrafo novo, contendo a sua marca de autoria. Uma situação em que editar
também significa publicar, uma vez que sua escrita pode ser visto pelos demais autores no
EquiText. A inserção de um parágrafo pode desencadear um desequilíbrio em que o
indivíduo, além de lidar com as suas limitações de leitura e escrita em LE, também irá
compartilhar as suas dificuldades, suas hipóteses sobre o funcionamento da LE, com o grupo.
Isso certamente gera um desconforto no indivíduo, a ponto de acionar uma série de processos
mentais que em uma situação de conforto‟, que se entende como pouco desafiadora,
permaneceriam adormecidos. Esses processos mentais referem-se à própria atividade de
escrita em LE, que implica compreender o significado das palavras, organizar as iias e a
estrutura da frase.
O quadro abaixo mostra a quantidade de inserções de parágrafos realizada pelas
díades. Cabe ressaltar que, em determinados momentos, apenas um indivíduo da díade inseriu
o parágrafo, pois conforme Quadro 5, os sujeitos tinham a liberdade de acessar o AVA fora
do período de aula de LE.
DÍADE
A
B
C
D
Total de
inserções
66
07
10
47
QUADRO 6: Número de inserções realizadas pelas díades
Este descompasso no ritmo de inserções de parágrafos faz parte da atividade de escrita
coletiva. Não se espera que em um grupo heterogêneo os indivíduos ajam de forma parecida.
Entretanto, se espera que essa diferença entre os modos de agir de cada um desperte nos
participantes novas maneiras de se fazer algo, de resolver problemas, enfim de aprendizagem.
Segundo Rogoff:
Participação requer compromisso em certo aspecto do significado de
esforços conjuntos, mas não necessariamente em ação simétrica ou em
conjunto. Uma pessoa que esteja observando ativamente e seguindo as
decisões feitas pelos outros está participando mesmo que ela ou ele venha a
contribuir, ou não, diretamente com as decisões à medida que estas são
tomadas (ROGOFF, 1998, p.130).
O descompasso tanto no ritmo das inserções como na qualidade da escrita são aspectos
percebidos pelos participantes de acordo com depoimentos:
83
Denise: às vezes, uma (escrita) é melhor que a outra, isso daí vai ter na real
[...] porque o mais importante era a peça escrita do que quem colocava.
Ana: [...] foram praticamente quatro pessoas que escreveram a peça.
Poderia se afirmar que as díades começam a se apropriar dos significados e sentidos
produzidos coletivamente, num plano intermental, na medida em que são capazes de usar por
si mesmos, estes significados e sentidos, num âmbito intramental, que se concretiza na criação
um novo parágrafo. A díade começa a regular a sua atividade, na medida em que, além de
observar e alterar os parágrafos existentes, também é capaz de usar por si aquele
instrumento psicológico, no caso, a escrita em LE.
A seguir passaremos a analisar em que momento e como ocorreu a primeira inserção
de cada díade, para obter uma visão mais ampla sobre o descompasso na produção de um
texto coletivo.
4.1.2.1 As primeiras inserções realizadas pela díade A: iniciativa ou competitividade?
Dentro do EquiText, o texto evolui a partir das inserções de parágrafos. Como pode se
observar na situação 2, a díade A, após tomar a iniciativa de inserir o primeiro parágrafo na
aula do dia 14/8, também é a primeira díade a introduzir as falas dos personagens referentes à
primeira cena.
Situação 2
25/08/2006-
08:06
Lord Canterville: Do you wanna live in Canterville Chase? Oh, I don't
want to live there... The house has a ghost - The Canterville Ghost!
anita
I
----
25/08/2006-
08:11
Mr Otis: I come from America. America is a modern country. I don't
believe in ghosts! [ironically] Have you seen this "Canterville ghost"?
anita
I
----
25/08/2006-
08:13
Lord Canterville: No... But I have heard it at night!
anita
I
----
25/08/2006-
08:16
Mr Otis: I'm not scared, because I don't believe in ghosts.
anita
I
----
25/08/2006-
08:29
Lord Canterville: [amazed]Don't you believe? My aunt saw the ghost...
She was so frightened that she was ill for the rest of her life. Also, the
servants have seen in so they will not stay in the house at night. Only
the housekeeper, Mrs Umney, lives in Canterville Chase. Mrs Umney
lives there alone.
anita
I
----
25/08/2006-
08:31
Mr Otis: [thoughtful] Welll... I want to buy the house. I'll buy the ghost
as well. Will you sell the Canterville Chase? Will you sell the ghost?
anita
I
----
25/08/2006-
08:32
Lord Canterville: Yes, I will. But, please remember. I told you about
the ghost before you bought the house!
anita
I
----
84
A situação 2 mostra a quantidade de inserções realizadas pela díade, que ao iniciar a
escrita da peça já ims uma condição para as próximas inserções, ou seja, os demais
participantes teriam que fazer uma leitura detalhada sobre os acontecimentos da trama
desenvolvida para, então, dar continuidade ao texto. Ao mesmo tempo as ações de inserção
das falas dos personagens por Ana e Anita serviam de modelo para as outras ades. Para
Vygotsky, a atividade em um grupo social permite que os menos experientes aprendam com
os mais experientes. A díade A não possuía experiência em escrita coletiva em AVA,
entretanto, Ana e Anita se valeram de experiências anteriores parecidas e, nesse início,
passaram a reproduzir o mesmo comportamento adotado por ambas numa atividade em grupo
presencial, ou seja, uma atitude competitiva que é percebida na fala de Anita:
[...] quando a gente discorda, assim, aí a gente, não... a nossa idéia vai ter
que prevalecer, aí a gente ia lá... escrevia antes que o outro escrevesse,
entendeu?
No início, havia uma preocupação da dupla em fazer valer a sua iia, como se fosse
uma competição. No depoimento dado na entrevista, percebe-se que havia certa dificuldade
dos sujeitos da ade A em lidar com pontos de vistas que divergiam das suas idéias. Isso se
deve ao fato de tanto Ana como Anita acreditarem, no início, que os colegas não teriam
contribuições significativas, isto é, dificilmente eles acrescentariam algo ao seu
conhecimento. Acredito que esse seja um dos pontos mais importantes da aprendizagem entre
pares, pois se ao realizar uma tarefa em grupo, cada indivíduo utilizasse somente o seu
conhecimento, provavelmente ele permaneceria no seu nível de desenvolvimento real.
Portanto, somente o fato de compartilhar conhecimento com os demais membros do grupo
o garante que os mesmo estejam sendo desafiados a trabalhar na sua ZDP, que depende do
contexto social. Numa interação entre pares, para que os indivíduos trabalhem dentro da sua
ZDP, deve haver a necessidade de construção conjunta de conhecimento.
O que se espera, portanto, em uma atividade coletiva complexa, como a escrita de uma
peça teatral, é que os participantes ao agirem em conjunto, utilizando os seus conhecimentos,
trocando com os colegas, se sintam também desafiados a construir um conhecimento que até
então nenhum deles dominava, possibilitando que, no momento em que eles buscam soluções
para possíveis problemas ou testam hipóteses, eles estejam construindo conhecimento em
conjunto.
Tijiboy (2001) enfatiza a importância do desenvolvimento de uma postura cooperativa,
que a autora, tomando por base Vygotsky e seus seguidores, define como:
Atitudes e aspectos manifestados pelos sujeitos em trabalhos com outros que
dizem respeito a uma descentração por parte deste. Isto é, o levar em conta a
85
opinião e as necessidades dos outros, respeitando-os na sua diversidade e
individualidade. Implica, portanto, em atitudes de tolerância, de convívio
amigável, cordial e de empatia com colegas, e em relações heterárquicas,
onde existem trocas colaborações e momentos de reflexão. Abrange decisões
conjuntas e tomadas de decisões em grupo (p. 126).
O desenvolvimento de uma postura cooperativa pode ocorrer quando sujeitos
realizam algo em conjunto. Para os autores Veer e Valsiner (2001, p. 374), a pessoa deve
realizar "tarefas que ela não possa executar de forma independente, mas que ela consiga
realizar em cooperação com outras pessoas", dessa forma, ela passará a atuar dentro da sua
ZDP ao realizar uma ação em conjunto. Partindo do pressuposto de que a atividade de escrita
coletiva de um texto teatral em AVA era uma novidade para os sujeitos, o havia uma
'receita' a ser seguida, todo o planejamento dependia das ações realizadas pelo grupo.
Percebe-se que, aos poucos, o individualismo de Ana e Anita vai sendo deixado de lado e
coma a surgir uma preocupação com a opinião dos colegas e a necessidade de ajuda para
resolver problemas que surgiam. Isso pode ser percebido em vários momentos de interação no
Fórum em que Ana e Anita passam a solicitar e aceitar a ajuda ao grupo:
Fórum: díade A - Sexta, 25 Agosto 2006 08:36:58
A cena 1 da peça tá praticamente pronta no EquiText, mas se alguém quiser
acrescentar... por favor: não enrolem muito!!! Ou a peça vai ficar muito
chata...
Façam a cena 2 que é: todos Otises na livraria e descobrem a mancha e
quando todos vão dormir! [...]
Vamos trabalhar!!! Tem que dar tempo!!!
Essa postura cooperativa também é percebida no momento em que Ana compartilha as
idéias sobre o filme:
Fórum: Ana - Segunda, 11 Setembro 2006 08:45:08
Eu vi o filme do "The Canterville Ghost" e na parte que os gêmeos
assustavam o fantasma, eles não usavam uma abóbora. E sim, haviam
construído uma espécie de "fantasma" com vários objetos. Então, o
Fantasma de Canterville ficava assustado e saía correndo. Depois que via a
placa deixada pelos gêmeos derrubava tudo.
O que acham?
A atividade coletiva envolve e compromete as ões de todos os participantes. É um
constante chamamento para participação, como pode ser visto na fala abaixo:
Observação:
Criamos a cena 8 pq não sabíamos o q escrever na 7!!! Se alguém tiver idéia
de como fazer o fantasma se assustar...
Essa observação encontra-se no primeiro parágrafo da situação 3, em que a díade A,
numa atitude cooperativa, explica aos demais participantes o motivo pelo qual foi criada a
cena oito sem ter sido concluída a cena sete.
86
Situação 3
18/09/2006-
08:31
The Ghost: It's today that I fright the twins! Wahahahahaha!!!!!
anita
A
*
18/09/2006-
08:35
---> SCENE 8: Virginia is walking alog the corridor. She look the
twin's bedroom. They are laughing.
anita
I
----
Percebe-se que o existe o rigor de seguir uma série de etapas no texto de forma
linear; o editor colaborativo permite um processo que leva em conta o modo como o indivíduo
concebe suas idéias, isto é, não linear. O EquiText favorece o registro da escrita de forma não
linear, uma vez que a qualquer momento novos parágrafos podem ser inseridos em qualquer
parte do texto.
4.1.2.2 As primeiras inserções realizadas pela díade D - construção e apropriação
A díade D fez a sua primeira inserção de parágrafo no EquiText na terceira semana de
escrita coletiva. Nas três primeiras semanas, Diego e Denise participaram das discussões
sobre as cenas no Fórum e haviam realizado onze alterações na cena 1 no EquiText. A
situação 4 mostra o momento da primeira inserção da díade.
Situação 4
04/09/2006-
09:03
Mrs Otis: What's this red stain on the floor?
diego
A
----
04/09/2006-
09:09
One of the twins: Mom!Mom!I´m hungry...I´m tired!
diego
I
----
04/09/2006-
09:11
So all the Otises going to their beds.
diego
I
----
Ao analisarmos a situação 4, percebe-se que a díade, ao inserir o seu primeiro
parágrafo, dá continuidade à composição das falas dos personagens da cena 1 produzidas pela
díade A. Inserir um parágrafo dentro de uma cena em andamento, de certo modo, é muito
diferente do ato de começar e terminar as falas de uma cena, imaginando as ações dos
personagens. Esse movimento de continuar a trama, a idéia do outro, envolve esforço na
solução de problemas. Se observarmos o horário da primeira inserção, verifica-se que ela
ocorreu aos 24 min do início da aula, ou seja, houve um trabalho detalhado de leitura e
apropriação das ações que estão ocorrendo na cena, que pode ser observada nas onze
alterações feitas na primeira cena. Não seria possível dar continuidade a cena sem
compreender o que está acontecendo naquele momento em que eles efetuam à inserção do
87
parágrafo. um esforço da ade que envolve solução de problemas sobre como: Como
continuar? Quem é o personagem que vai falar? O que ele vai dizer? Como a cena vai
terminar? Isso tudo levando em conta as ações e intenções dos personagens. A solução de
problemas é um PPS, que de acordo Tijiboy:
Envolve uma situação de impasse com o qual o sujeito se depara, na qual
precisa analisar e estabelecer as relões necessárias entre os componentes
que fornecem uma saída para o impasse. Os processos envolvidos costumam
ser: a análise dos requisitos do problema, geração de hipóteses, determinação
de estragias de solução e comparação dos resultados (2001, p. 125).
Podemos afirmar que a inserção de parágrafo exige estratégias de solução de
problemas, envolvendo processos como análise e geração de hiteses. Portanto, o simples
fato de inserir um parágrafo no texto para dar continuidade na composição das idéias pode
desencadear um conflito cognitivo.
Em uma composição coletiva, toda ação começa pela leitura. Para escrever é preciso
ler o que já foi produzido. Dessa forma, a leitura deve ser um ato consciente: para dar
continuidade às falas dos personagens no texto, os indivíduos precisam se apropriar dos
significados constrdos pelos co-autores. A leitura consciente remete à construção de
sentidos. Numa aula de LE em escola regular é muito comum o aluno ler e não construir
sentidos, ou seja, ele identifica alguns significados de palavras isoladas, necessários para
realizão do exercício, mas, necessariamente, não constrói sentido.
Todo esse trabalho de construção coletiva exige um tempo que vai muito além de um
período de uma hora/aula. Quanto tempo se leva para criar uma fala de um personagem? Por
outro lado, se houver uma restrição muito rígida com relação ao tempo, este pode ser um fator
determinante quanto ao envolvimento do aluno na atividade coletiva. Por exemplo, se o grupo
dise de apenas uma aula para realizar um trabalho, possivelmente, o foco das atenções
estará voltado para o produto e a construção conjunta ficará prejudicada. Construir
conhecimento em conjunto requer tempo e o engajamento dos participantes na atividade
também requer tempo.
Entender que pessoas são diferentes e que as turmas são heterogêneas é aceitar que os
ritmos de aprendizagem também serão diferentes. Segundo Moran (2003),
[...] é importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu
próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para
a cooperação, para aprender em grupo, para intercambiar idéias, participar de
projetos, realizar pesquisas em conjunto (Disponível em:
<http://www.eca.usp.br/prof/moran/uber.htm> Acesso em: 30 de set 2007).
A escrita coletiva no computador proporciona aos alunos a participação com o seu
próprio ritmo. Os dados mostram esse descompasso, que reforça a diversidade existente no
88
grupo, ao mesmo tempo em que o registro escrito no AVA permite que indivíduos com
diferentes ritmos de aprendizagem se incluam no trabalho em grupo, pois o tempo e o espaço
o além de um período em uma sala de aula.
4.1.2.3 As primeiras inserções da díade C: reflexão-na-ação
A díade C optou por iniciar uma nova cena. Conforme mencionado, as díades A, C e D
(a ade B não participou deste planejamento) haviam feito um esboço de todas as cenas no
Fórum, totalizando dez cenas. Carlos e César não haviam escrito nada no EquiText até o
momento da primeira inserção (ver situação 4). Também não haviam realizado nenhuma
alteração nos parágrafos dos colegas. A decisão deles foi iniciar a composição das falas
referentes à quarta cena. As cenas 1, 2 e 3 estavam praticamente prontas. Todo este
movimento de tomada de decisão sobre como e por onde começar a inserção de parágrafos
desencadeia uma série de processos mentais. É importante retomar que a díade C participou
ativamente do planejamento das cenas no Fórum.
Situação 5
04/09/2006-09:50
Scene 4: Is early and they will have breakfastWashington
Otis: What colour is today?
César
I
04/09/2006-09:51
Scene 4: Is early and they will have breakfast
César
A
04/09/2006-09:52
Washington Otis: What colour is today?
César
I
Na situação acima, observa-se que Carlos e César editam a fala do personagem
Washington no mesmo local em que eles haviam escrito a ação que se desenrolará na cena 4.
Eles testam a hipótese de editar dois parágrafos ao mesmo tempo, mas logo em seguida, após
testarem a sua hipótese sobre o funcionamento do EquiText, perceberam que algo estava
errado e solucionam o problema. É interessante observar o movimento em que eles testam o
funcionamento do editor colaborativo, que, além de explicado, foi demonstrado em sala de
aula, com o auxílio de data show e, nesse caso, ainda havia as inserções dos colegas que
poderiam servir de modelo. No entanto, a aprendizagem se dá através da ação/produção e isso
também se estende ao uso da tecnologia.
Schön (2000) enfatiza a necessidade de o aluno aprender através do fazer. O ato de
aprender está relacionado a uma ação realizada em uma atuação espontânea. Segundo o autor
(2000, p. 34), "o que distingue a reflexão-na-ação de outras formas de reflexão é a sua
imediata significação para a ação". O processo de escrita coletiva mediada pelo editor
89
colaborativo permite o fazer de todos os participantes e propicia a reflexão sobre todas as
ações efetuadas e registradas.
Priorizar o processo em detrimento do produto, especialmente numa atividade coletiva,
é possibilitar que cada indivíduo evolua também ao observar as ações de outros membros que
fazem parte dessa atividade. Esse é um fator decisivo quanto ao benefício do uso da
tecnologia em sala de aula, oportunizar que, ao fazer parte de um grupo/comunidade de
aprendizagem, o indivíduo consiga ter acesso à produção dos membros do grupo. E dentro de
suas possibilidades, construir conhecimento (inter/intra), lidar com o desconhecido, testar
hipóteses, buscar soluções e, principalmente, refletir sobre sua própria produção. Ao
contrário, em salas de aula de LE, onde vigora o ensino tradicional e o indivíduo o
consegue nem entrar nesse processo coletivo, ele abre e fecha portas numa atitude
descompromissada e muitas vezes defensiva. O processo é imediatista e, com isso, o aluno
mais proficiente acaba ocupando a maior parte do tempo e espaço dedicado à atividade, sem
compartilhar o seu conhecimento. Em um ambiente virtual, o tempo e o espaço não são
fatores limitantes, mas compartilveis. Todos podem igualmente refletir e colaborar, fazendo
suas inserções a priori ou a posteriori. Em uma aula tradicional, onde o tempo da atividade se
impõe sobre o ritmo do aluno, este pode se desestimular.
A escrita coletiva em AVA proporciona aos sujeitos que participem com o seu próprio
ritmo e dentro da sua capacidade de produzir em LE, sendo, no entanto, desafiados a todo
instante pelo trabalho coletivo a trabalhar dentro da ZDP ao lidarem com significados e
estruturas gramaticais desconhecidas. Tanto o indivíduo que tem menos conhecimento de LE
como o sujeito que tem mais conhecimento, ambos trabalham dentro da sua ZDP. O primeiro,
por realizar uma tarefa de escrita em LE que em alguns momentos pode estar além do seu
nível de desenvolvimento real. O segundo, por ser desafiado a utilizar o seu conhecimento de
LE em um contexto diferente do usual e pelo próprio trabalho coletivo, no momento em que
ele oferece suporte ao seu parceiro ou a outra ade, tentando resolver ou explicitar o uso de
determinadas estruturas de LE. Ao tentar explicar uma determinada estrutura, o indivíduo de
mais conhecimento pode trabalhar na sua ZDP, refletindo sobre estruturas que ainda não
estejam consolidadas. Na entrevista, César se refere à interação entre ele e seu parceiro.
Mesmo não sendo o foco deste estudo a interação face a face entre os indivíduos da díade, o
depoimento é pertinente, na medida em que ambos buscam entendimento para a inserção de
um parágrafo.
90
sar: eu comecei a conversá com ele (apontando para Carlos, aí ele foi
me explicando "isso aqui é assim, isso aqui é o verbo tal conjugado" e, eu
fui indo, fui pegando o enredo [...]
Carlos: [...] eu tinha que saber para explicar pra ele, né, não era aquele
chute, assim, tinha que sabê bastante para consegui explicá alguma coisa
para ele. Eu também aprendi muita coisa, bah, esse ano foi um absurdo o que
aprendi, aprendi bastante coisa mesmo com essa escrita [...]
uma construção de conhecimento entre os indivíduos da díade que antecede o ato
de inserir o parágrafo. Isso ise refletir no ritmo de cada díade. O tempo que cada dupla
necessita para realizar uma inserção depende do que acontece entre os indivíduos que a
comem, ou seja, do tempo que eles necessitam para construir significados, resolver
problemas e entrar em concordância ou não.
4.1.2.4 A primeira inserção da ade B: o processo e a identidade
Na situação 6 abaixo, pode-se observar o momento em que Bruno e Beto decidem
inserir o seu primeiro parágrafo. Essa primeira inserção ocorre após três alterações que serão
analisadas mais adiante. Vale lembrar que essa díade e a díade C trabalhavam de forma
síncrona.
Situação 6
04/09/2006-
09:55
The Otises are talking and laughing about the blood-stain before
breakfast, but Virginia Otis do not laugh
sar
A
----
04/09/2006-
09:56
The Otises are talking and laughing about the blood-stain before
breakfast, but Virginia Otis do not laugh
sar
A
*
304/09/2006-
09:56
The Otises begin to discuss about the colour of the blood-stain
bruno
I
----
04/09/2006-
09:58
The Otises are talking and laughing about the blood-stain before
breakfast, but Virginia Otis do not laugh. She feel sand and she
cried. She fell sorry for the ghost.
sar
A
*
04/09/2006-
09:58
OOO Brunnnn a gente ta escrevendo aqui tamm
meoooo...shAUIshuaiHsuaHUsapeeeraaeeeee
sar
I
----
04/09/2006-
10:01
OOO Brunnn a gente ta escrevendo aqui também
meoooo...shAUIshuaiHsuaHUsapeeeraaeeeeeFAAAZ
ACENAAA 5 QUE A GENTE FAZ ESSA, OU AO
CONTRARIO, TA AFIMMM???? TU QUE
ESCOLHEEEEE....BELEZA?
sar
A
----
04/09/2006-
10:03
OOO Brunnn a gente ta escrevendo aqui também
meoooo...shAUIshuaiHsuaHUsapeeeraaeeeeeFAAAZ
ACENAAA 5 QUE A GENTE FAZ ESSA, OU AO
CONTRARIO, TA AFIMMM???? TU QUE
ESCOLHEEEEE....BELEZA?
sar
E
----
continua
91
04/09/2006-
10:11
The Otises begin to discuss about the colour of the blood-stain
sar
E
----
04/09/2006-
10:13
The Otises are talking and laughing about the blood-stain before
breakfast, but Virginia Otis do not laugh. She feel sad and she
cried. She fell sorry for the ghost.
sar
A
*
04/09/2006-
10:15
Virginia: The stain has been here for three hundred years. The
poor ghosts puts the stain on the floor every nigth. Can not you
leave the stain here??
sar
I
----
04/09/2006-
10:15
Scene 5: The Otises hear a strong noise coming from downstairs.
They go check, and see that the ghost be with the armor.The
ghost' knee is hurt, the Otises offer a medicine.
bruno
I
----
Observa-se na situação acima um momento de conflito entre as ações das díades B e C
que, conforme pode ser visto pela data e horário, trabalhavam na mesma cena ao mesmo
tempo no editor colaborativo. A díade C, que havia iniciado a cena, consegue perceber que
um problema estava se configurando, e utiliza o mesmo espaço da escrita coletiva para
chamar a atenção de Bruno e Beto, numa tentativa de propor uma alternativa, como pode ser
visto na situação acima.
A dificuldade da díade B, ao não perceber que a escrita de forma síncrona na mesma
cena causaria um impasse, demonstra dificuldade tanto com o trabalho coletivo como pelo
fato de a atividade ser mediada por computador.
Com relação ao trabalho coletivo, percebe-se que não há preocupação por parte da
díade B em estabelecer um diálogo com a díade C que, conforme pode ser visto na situação 5
quando a díade C escreve no próprio EquiText às 9:58 "[...] a gente ta escrevendo aqui
também meoooo...[...]" na tentativa de estabelecer uma comunicação para a solução do
problema e não obtém uma resposta. Logo após, Carlos e César fazem mais duas tentativas,
conforme mostra a situação 5, uma às 10:01 e a outra às 10:03, sendo que as 10:06 eles
postam a seguinte mensagem no Fórum:
Fórum: Díade C - Segunda, 4 Setembro 2006 10:06:12
o Brurrrr.. te liga la no EquiText pq tu ta escrevendo a mesma coisa q eu e o
gordo.
a gente ta fazndo a cena 4 pq tu naum faz a partir da 5?...
te liga meu..
le o bagulho antes de postar..
e olha so pq vcs naum querem mudar a cena einm?..
essa historia e mtu xata pra faze assim..
tm q muda sim..
le o EquiText antes de postar...
continuação
92
Vemos que a díade C se preocupa em dialogar, mas a díade B introduz a cena 5 sem
estabelecer uma relação de reciprocidade com a ade C, que é um fator importante numa
atividade coletiva de caráter cooperativo.
Outro fator relevante ao analisarmos a dificuldade de Bruno e Beto em realizar uma
atividade coletiva refere-se ao fato de que toda atividade coletiva pressupõe que haja uma
descentração de pontos de vista. A díade B não consegue sair do seu ponto de vista, conforme
visto no enunciado "devíamos seguir a idéia do livro e não botar coisas que não estejam no
livro OUVIRAM!!! HEIN!!!!" postado no mesmo dia 14/8 (ver subseção 4.1.1) e numa
demonstração de não estar alinhado com as demais díades, torna a insistir no dia 4/9, no
Fórum, no seu ponto de vista "o podemos colocar coisas que o estão no livro". No 4/9, o
esboço das cenas já estava concluído, no qual não houve colaboração por parte da díade B. O
fato da díade B permanecer no seu ponto de vista aumenta a dificuldade em relação às
ações coletivas, ou seja, a escrita da peça propriamente dita, que se dá a partir das inserções.
Outro aspecto refere-se à dificuldade para com a atividade mediada por computador. A
mediação é feita através da escrita, tanto no Fórum como no EquiText. Vários são os
momentos em que Bruno e Beto são chamados pela díade C para ler, como no enunciado
postado no Fórum no dia 14/8 "da uma lida ali meoo" (ver subseção 4.1.1) e no enunciado
acima retirado do Fórum "le o bagulho antes de postar", os próprios colegas percebem a falta
de leitura da díade B.
Num ambiente virtual de aprendizagem, a participação começa pela leitura. A partir de
então, outros processos poderão ser ativados no momento em que o indivíduo interpreta,
analisa, infere, estabelece relações, compara e argumenta, buscando um entendimento para a
realizão da atividade coletiva. Quando questionados sobre a leitura, se eles acompanhavam
as discussões do Fórum, Bruno e Beto dizem o seguinte:
Bruno: acho que não
Beto: mas tipo antes de entra (no EquiText) a gente dava uma olhada (no
Fórum), não sempre.
O depoimento acima mostra a falta de leitura por parte dos alunos que numa aula
presencial, às vezes, é minimizada pela atitude um tanto quanto protetora do professor. Um
exemplo disso seriam os enunciados contendo as instruções para realização de exercícios, que
são explicados muito antes de o aluno ler e tentar compreendê-los. O aluno, de certa forma, se
habitua a não necessidade de ler e compreender o enunciado, esperando que o professor leia e
explique o que ele deve fazer. Esse fato acaba desencadeando outro problema: a dificuldade
de entendimento a partir da leitura.
93
Ao que tudo indica, a díade D tinha como paradigma o ensino tradicional, Isso é
percebido em várias situações em que a díade espera que alguém lhe diga o que fazer e, em
outras situações em que eles assumem um papel mais autoritário.
Fórum: Díade B - Segunda, 11 Setembro 2006 09:54:55
>>Ô galera!
o diego ta avacalhando tudo. Ta botando um monte de palavrões e tudo mais.
Eu acho que ele merece uma punição!!!
Quem concordar comigo responde essa mensagem!
Frente a isso, havia a necessidade de desconstruir a iia de transmissão, para então
iniciar um processo rumo a um novo paradigma em que os sujeitos vão se apropriando de
novas formas de aprendizagem, em que eles vão adquirindo autonomia, construindo
conhecimento e desenvolvendo habilidades e competências.
4.2 Alterações no parágrafo
Visto que a produção é coletiva, os participantes podem fazer alterações em um
parágrafo escrito por eles mesmos ou em um parágrafo escrito por indivíduos de outra díade.
Situação, nesse contexto de alteração no parágrafo, refere-se a qualquer alteração ou
intenção de alteração realizada em um mesmo parágrafo pela mesma díade ou por outras.
4.2.1 Alteração realizada pela mesma díade logo após inserção: reflexão sobre a própria
produção
Na situação abaixo, pode-se observar a alteração imediata, conforme horário de
postagem, realizada pela díade. A mediação ocorre através do registro escrito, que serve de
instrumento psicológico, no qual a díade percebe um problema na sua escrita.
Situação 7
04/09/2006-08:35
Mrs Umney: It's a blood!
anita
I
----
04/09/2006-08:35
Mrs Umney: It's blood!
anita
A
----
Ao comentarem sobre as alterações feitas na própria escrita, Ana e Anita disseram:
Anita: é que, às vezes, a gente escreve rápido até, e digita coisa errada, teve
uma palavra, assim que (é interrompida por Ana)
Ana: uma hora a gente tá pensando numa coisa, mas depois tu vê que não era
bem aquilo que tu tava querendo escrevê, aí tu volta lá pra ten...
Anita: ou então as preposições, às vezes, a gente não tinha trabalhado ainda
em aula, então, a gente não tava nem muito ligado nas preposições, que
94
vinha antes de tal palavra assim, depois, começava a ler e via que a frase
ficava estranha aí a gente tinha que ire mudá alguma coisa assim.
Percebe-se que a auto-revisão é uma constante no processo de escrita coletiva em
AVA. Ao editar o parágrafo, a tela do computador retorna ao texto que está sendo produzido,
dessa vez contendo o parágrafo que acabou de ser editado. No momento em que a tela retorna
ao texto em produção, a releitura do último parágrafo é um fato. Os sujeitos lêem o que
acabaram de editar, movimento este que faz parte da rotina de escrita coletiva. Nesta auto-
revisão, os indivíduos podem perceber, através do registro da própria escrita, algum problema
tanto no sentido como na forma, conforme relatado por Ana e Anita "depois, comava a ler e
via que a frase ficava estranha aí a gente tinha que ir e mudá". A díade ao ler o parágrafo
percebe que há algo estranho e a solução encontrada foi a retirada do artigo definido "a”.
Nessa situação, não houve produção de metafala por parte dos indivíduos no AVA, muito
provavelmente, tenha ocorrido na interação face a face entre Ana e Anita em frente ao
computador. Talvez seja uma das questões que envolveriam pesquisas futuras: como se a
interação face a face entre os indivíduos da díade numa atividade de escrita coletiva?
A auto-revisão, nesse processo, não foi determinada pelo professor, mas emergiu da
própria ação do sujeito envolvido e comprometido com a atividade, que tem um propósito
bem definido. A autocorreção se através de um ato consciente pela busca da solução certa
para o problema, mesmo que parcialmente, favorecendo a revisão de suas próprias hipóteses
sobre a língua em questão. Ao modificar a sua produção, o aprendiz está testando hiteses
sobre a LE, que podem estar corretas ou incorretas.
Esta situação de aprendizagem favorece o desenvolvimento de PPSs como a atenção
voluntária, percepção e o senso crítico sobre sua produção. Todo ato consciente leva a uma
construção de conhecimento. E esse conhecimento construído a partir da tomada de
consciência tende a permanecer e ser empregado em ações futuras.
Abaixo se encontra uma situação de alteração realizada pela mesma díade após seis
minutos da inserção do parágrafo.
Situação 8
11/09/2006-
09:20
The ghost goes to his secret room, he makes a plan to scare the twins
and the Otises, but he is so unhappy...Why does he can't scare the
Otises?!
diego
I
----
11/09/2006-
09:26
The ghost goes to his secret room, he makes a plan to scare the twins
and the Otises, but he is so unhappy...Why can't he scare the Otises?!
diego
A
----
95
Na situação 8, ocorrida no dia 11/9, a díade D, após inserir dois parágrafos, retorna ao
primeiro para realizar uma autocorreção. O tempo para a realização dessa autocorreção, para a
utilização correta do verbo can em frases interrogativas, foi de seis minutos. Apesar de não
haver registro escrito no AVA contendo algum tipo de reflexão por parte da díade, infere-se
que nesse intervalo houve reflexão, mesmo que não explicitada no AVA.
4.2.2 Reedição sem alteração: momento de reflexão
Foram vários os parágrafos reeditados, mas que não apresentavam nenhuma alteração.
Infere-se que em algum momento tais parágrafos foram objeto de reflexão. Como pode-se
observar nas situações 9 e 10.
Situação 9
25/09/2006-
08:37
She turn back to the door at the top of the stairs. All of the family
follow her.
ana
I
----
25/09/2006-
08:40
She turn back to the door at the top of the stairs. All of the family
follow her.
ana
A
----
Situação 10
25/08/2006-
08:45
Scene 2: Mrs Umney (the housekeeper) and the Otises are in the library. Mrs
Umney put teacups on the table and she bring a pot of tea. They are talking
about the house.
anita
A
*
25/08/2006-
10:14
Scene 2: Mrs Umney (the housekeeper) and the Otises are in the library. Mrs
Umney put teacups on the table and she bring a pot of tea. They are talking
about the house.
diego
A
*
Observa-se que tanto na situação 9 como na situação 10 não foram realizadas
alterações, no entanto, infere-se que houve alguma intenção de alteração.
Anita: Até tem vezes que tu entra assim (referido-se ao ato de clicar na
opção alterar parágrafo), e que o tava errado ou então não altera nada,
que tava errada, e não era de olhá e volta e fica o teu nome. Só que a
gente sempre procurava quando acontecia isso, em vez de colocar alterar,
voltar em cima da gina e não botava teu nome ali, que daí os espertos
colocaram assim,aí ficava tudo alterado ... às cenas..
Nesse depoimento, Anita relata detalhadamente o que acontecia, em algumas
situações, quando ocorria uma mudança no nome do colaborador, mas não havia sido feita
nenhuma alteração no parágrafo. um momento de reflexão sobre a ngua-alvo. O fato de
uma díade reeditar um parágrafo existente com o objetivo de alterá-lo mostra que os
indivíduos perceberam algo estranho. O ato de perceber algo estranho (to notice) pode levar a
96
uma reflexão sobre o funcionamento da ngua-alvo, podendo o indivíduo vir a alterar a forma
para dar sentido ao parágrafo.
No entanto, Anita demonstra certa irritação com o fato de que mesmo não alterando
algo no parágrafo os colegas retornavam ao texto clicando na opção alterar parágrafo, o que
implicava mudança no nome do colaborador, como mostra a situação 10 acima.
4.2.3 Alteração para constar autoria
O simples fato dos indivíduos da díade perceberem a mudança no nome do
colaborador do parágrafo que havia sido redigido por eles, era o suficiente para que eles
recorressem ao histórico, na tentativa de comparar a inserção feita por eles com a alteração
promovida pelo outro. Ao contrário do que ocorre normalmente, quando o professor devolve
um teste, em que o aluno está apenas interessado no conceito ou nota, numa atividade de
escrita coletiva eles querem entender o motivo que levou o colega a "mexer" no seu
parágrafo. Esse movimento de identificar a alteração favorece a ampliação da ZDP. Para
tanto, vejamos o que ocorre na situação 11.
Situação 11
04/09/2006-
09:13
---> SCENE 1: Mr Hiram B. Otis is talking with the Lord Canterville
in the garden of the Canterville Chase. He want to buy the Canterville
Chase.
diego
A
----
04/09/2006-
09:52
---> SCENE 1: Mr Hiram B. Otis is talking with the Lord Canterville
in the garden of the Canterville Chase. He want to buy the Canterville
Chase...
bruno
A
----
Observa-se na situação 11 que a díade B acrescentou mais dois pontos no final do
parágrafo. Essa alteração automaticamente propiciou a mudança no nome do colaborador, ou
seja, o nome de um dos indivíduos da díade B aparece como colaborador no segundo
parágrafo da situação 11. Esse comportamento se repetiu mais de uma vez e foi percebido
pelas demais díades, que reprovaram a atitude da ade B.
Autoria coletiva não é algo que se explica e todos passam a agir coletivamente. Autoria
coletiva é um conceito a ser construído pelo grupo. Nas primeiras semanas, em que tudo é
novidade, inclusive o funcionamento do editor colaborativo, onde os sujeitos percebem que
basta alterar a pontuação do parágrafo e o seu nome de usuário aparece como autor do
parágrafo, surge o primeiro conflito sobre aprendizagem e trabalho em grupo (coletivo).
97
O fato de a díade acrescentar mais um ponto no final do parágrafo, apenas para que seu
nome constasse na tela do editor coletivo, demonstra que esses alunos estavam preocupados
em tentar passar a falsa idéia de estarem trabalhando. Surge então a primeira questão: Quem
esse aluno está tentando enganar? Seria o grupo? O professor? Ou ele mesmo? Através do
registro no histórico os indivíduos tinham a oportunidade de refletir sobre suas ações e no
Fórum os colegas do grupo se manifestavam sobre a sua atitude.
Fórum: Díade A - Segunda, 4 Setembro 2006 08:08:43
é para dar palpite aqueles que estão COLABORANDO NO
EQUITEXT!!! pra perceber que quem só reclama não escreveu NADA
até agora no EquiText!! Então vai funcionar assim: só reclama ou dá opinião
quem está realmente a fim de trabalhar na peça!! E se der alguma opinião,
aproveite e escreva no EquiText! Parem de reclamar e vão fazer alguma
coisa de útil!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Ao que tudo indica a díade encontra dificuldades de trabalhar numa atividade coletiva
em AVA e, para tanto, administra duas tarefas ao mesmo tempo: 1) evitar a atividade de
escrita coletiva em LE, e 2) administrar suas identidades para que pareçam competentes. Essa
situação está de acordo com os achados de Rueda e Mehan (1986), abordados na nossa
fundamentação trica, ao afirmarem que alunos com dificuldade realizam duas tarefas ao
mesmo tempo: "administram suas identidades e administram uma tarefa intelectual.
Empregam estratégias para evitar a tarefa apresentada a eles e administrar a situação de modo
que pareçam competentes" (p.158-9).
Na tentativa de evitar uma atividade intelectual mais complexa, a díade emprega o seu
tempo elaborando mensagens no Fórum, como a que se encontra abaixo:
Fórum: díade B - Segunda, 4 Setembro 2006 09:48:48
>>>olha aqui!!
não podemos colocar coisas que não estão no livro é contra as regras
universais de leitura da velha Universidade de letras de Harvard, segundo as
minhas pesquisas.
Então estou analisando categoricamente os fatos que por sua própria
perspicácia e sentido afetam diretamente os pontos que por sua vez não estão
completamente consolidados.
Portanto aqui deixo a minha crítica que neste momento se encaixa
perfeitamente em todos os sentidos anatômicos.
Esta estória não pode ser mudada, pois a mesma não é muito empolgante,
eno não podemos com nossa mente mirabolante que gira como um moinho
o tempo todo constantemente, ou seja, sem parar.
Então por analisar todos os fatos posso afirmar com plenitude e total
consciência que o final da história não poderá em todos os sentidos ser
MUDADA!!!
Pelo horário da mensagem acima, observa-se que ela foi postada no mesmo dia em que
a díade fez as alterações na pontuação, ou seja, após os acréscimos de pontuação eles postam
98
a mensagem acima no Fórum. Quando questionados na entrevista sobre o porquê das
alterações e das mensagens, Bruno e Beto dizem o seguinte:
Bruno: É que no começo foi uma brincadeira, sora... a gente ... não é que
a gente botava um ponto (risos). A gente achava que não tinha esse
histórico (risos).
Beto: Era assim tipo, era que nem ele falô, uma brincadeira, porque olha lá,
o cara escreveu, a gente põe um ponto lá, daí a gente não tinha noção disso
daqui (apontando para as folhas impressas do histórico que estavam na o
do Bruno) do produto final e do trabalhão que ia pra fazê issso daqui, daí
a gente pensô que ia se brincadeira, a gente ia lá e arreganhava, mas depois a
gente viu que não era bem assim.
Constata-se que o fato do EquiText possuir um histórico contendo todas as ações
(inserções e alterações) dos participantes, o próprio registro acaba denunciando a falta de
empenho e comprometimento da díade no grupo. Percebe-se no depoimento acima, que essa
constatação é feita pelos próprios participantes, que uma atitude pouco reflexiva, em vários
momentos, deixavam claro que aquilo que eles estavam fazendo era brincadeira”. Isso
porque eles não estavam identificando aquela atividade como uma situação de aprendizagem,
uma vez que o professor não estava transmitindo conhecimento. A mensagem abaixo deixada
no Fórum mostra a atitude descompromissada e dissimulada ao tentar ostentar algo que eles
o realizaram.
Fórum: Díade B - Segunda, 25 Setembro 2006 09:41:39
Ta Galera!! acabamo a peça, o diego ele mudou tudo o que eu escrevi ,
não precisava ter feito isso!
E não adianta olha no histórico!!
Para tanto, é necessário primeiro que haja uma desconstrução do que o sujeito
considera ser aprendizagem, aprender para quê? Para quem? Como? E isso não é um processo
simples, uma vez que muitos alunos já estão habituados a delegar a função de ensino e
aprendizagem ao professor, e dessa forma agem como se estivessem entendendo, fazendo e
aprendendo a maior parte do tempo.
A reflexão pode levar a uma mudança de atitude. Essa mudança exige muita
determinação e responsabilidade. Os indivíduos da díade B davam sinais de estarem em um
processo de mudança, que oscilava entre assumir uma postura mais ativa ou continuar a agir
de forma descomprometida e de certa forma mais passiva. Ao serem questionados pela sua
produção eles afirmaram, na entrevista, que não encontraram dificuldade em compor os
diálogos das cenas, e acrescentaram:
Bruno: a gente escrevia, só que daí a gente pensava numa maneira melhor de
escrevê (...) eu não tinha o livro, eu pedia emprestado.
99
Beto:...tinha horas que a gente não fazia nada, assim no finalzinho da aula
(...) todo mundo era a mesma coisa trabalha, ia trabalha, trabalha,
trabalha, coisa séria.
Nota-se que havia uma preocupação quanto à escrita e à organização das idéias,
indicando a dificuldade em aplicar seus conhecimentos de LE numa situação diferente da
proposta em livros didáticos e exercícios gramaticais. A atividade complexa como esta de
escrita coletiva de uma peça teatral em inglês requer um exercício intelectual, um esforço
coletivo, ao qual muitos alunos não estão acostumados. Nesse sentido, o depoimento de Beto
todo mundo era a mesma coisa trabalha, ia lá trabalha, trabalha, trabalha, coisa séria”,
surge como um desabafo. A díade demonstra dificuldade em lidar com uma atividade no
ambiente virtual de aprendizagem, num engajamento coletivo. Segundo Vygotsky, processos
mentais são construídos na interação social, especialmente em atividades colaborativas, em
que os indivíduos encontram-se, de certa forma, numa posição mais procia a trabalhar
dentro da ZDP.
A díade demonstrou dificuldade em realizar uma atividade de aprendizagem que exigia
certa autonomia por parte dos participantes. Segundo Simpson (2003), apesar de palavra
'autonomia' possuir uma conotação óbvia com a palavra 'independência', a autora lembra a
afirmação de Little:
[...] como seres humanos sociais nossa independência é sempre equilibrada
pela dependência, que é manifestada particularmente em nossa interação
social com colegas, parceiros de trabalho, família e assim por diante. Essa
natureza dupla da autonomia a capacidade de agir de modo independente e
individual, e ao fazê-lo observar as restrições impostas pelos membros de
grupos sociais particulares (no caso presente, a aula de segunda língua, a
escola) formato às abordagens práticas que trazem sucesso à
aprendizagem de segunda língua
36
(apud SIMPSON, 2003, p. 204).
O grupo social, neste estudo, é o grupo composto pelas quatro ades, que caracteriza
uma comunidade virtual de aprendizagem que se concretiza se os participantes agirem de
forma cooperativa estabelecendo uma rede, cujas ações estão voltadas para um objetivo em
comum. No entanto, Simpson (2003) ressalta que para alguns aprendizes a intenção de
aprendizagem em determinadas atividades pode ser compreendida somente quando esta
estiver concluída e a reflexão pode complementar o processo de mediação.
36
Tradução nossa do original: as social beings our independence is always balanced by dependence, which is
manifested in particular in our social interaction with peers, colleagues, family, and so on. This dual nature of
autonomy - a capacity to behave in an independent an individual manner, but to do so while observing the
constraints imposed by membership of particular social groups (in the present case. the second language class,
the school) shapes the practical approaches that bring success in second language learning.”
100
No caso de Bruno e Beto, eles precisaram passar por todo o processo de escrita
coletiva para, no final, refletir sobre as suas ações e se essas ações resultaram em construção
de conhecimento. Mesmo que esse momento seja feito através da mediação do professor, no
caso da entrevista. Portanto, a dificuldade encontrada por Bruno e Beto era em lidar com uma
aprendizagem mais autônoma. A maioria das suas ações foi de evitar a atividade em si e, ao
mesmo tempo, sustentar uma participação aparente, que não contribuía para o objetivo a ser
alcançado.
Numa atividade coletiva espera-se que as ações produzidas pelos integrantes propiciem
melhorias e contribuam para que o objetivo seja alcançado. Surge então a questão: Quando
uma alteração se torna necessária? Para tanto, analisaremos a situação 12:
Situação 12
25/08/2006-08:40
Mr Otis: Don't worry. I will remember...
anita
I
----
25/08/2006-10:13
Mr Otis: Don't worry. I will not forget...
diego
A
----
04/09/2006-20:59
Mr Otis: Don't worry. I will not forget...
denise
A
*
04/09/2006-20:59
Mr Otis: Don't worry. I won´t forget...
denise
A
----
11/09/2006-09:39
Mr Otis: Don't worry. I won´t forget..
bruno
A
----
Nota-se que os sujeitos brincam com os significados e com as estruturas gramaticais da
língua inglesa, o que é possível quando há uma apropriação dos sentidos envolvidos
naquele contexto, que de certa forma pode ser visto como uma briga pela autoria. Entretanto,
no momento em que há uma preocupação com o sentido, também construção de
conhecimento. No entanto, Ana e Anita numa atitude explosiva deixam a sua posição de
reprovação, no Fórum, quanto a esse tipo de alteração:
Fórum: díade A - Segunda, 18 Setembro 2006 08:15
Pequenas "alterações" na escrita não são necessárias, como:
Antes estava escrito:
I will remember...
Aí mudaram para:
I will not forget...
Então foi o mais esperto:
I won't forget...
Para quem não sabe, existe um histórico com todas as escritas e mudanças
no EquiText... Não adianta bancar o esperto só para aparecer o nome lá!!!!
101
O EquiText permite que qualquer participante altere parágrafos existentes, sem
restrições. Esse editor de texto colaborativo, além de propiciar a participação de todos os
envolvidos, também coloca nos ombros dos participantes o gerenciamento de suas ações, quer
dizer, como cada um vai lidar com essa autonomia na produção coletiva. Se observarmos a
situação acima, veremos que houve construção de conhecimento. A díade A produz uma frase
afirmativa “I will remember, logo após a díade D tranforma a afirmação em uma frase
negativa I will not forget, conservando o sentido. Esse fato requer uma ação consciente dos
indivíduos, é um exercício intelectual muito diferente daquele presente em vários livros
didáticos, que solicitam ao aluno que passe a frase para a forma negativa, sem nenhuma
preocupação com contexto ou sentido, resultando em um ato mecânico de colocar o not
após will. Num exercício como esse a preocupação do aluno está em memorizar a posição
correta do “not na frase e não, em construir sentidos.
Ainda na situação 12, no terceiro parágrafo, Denise às 20:59 utiliza a forma contraída
de will not que corresponde a “won´t”, observa-se que à direita do parágrafo há um
asterisco. Esse asterisco é uma observação feita por Denise, que diz o seguinte:
Observação:
will+ not = won´t ]]
A observação mostra a postura cooperativa que Denise assume em relação aos seus
colegas no grupo ao explicar a contração. Lembramos que uma comunidade virtual de
aprendizagem só existe se for estabelecida essa postura cooperativa.
Passaremos a analisar a situação 13.
Situação 13
04/09/2006-09:11
So all the Otises going to their beds.
diego
I
----
08/09/2006-14:04
All the Otises go to their beds.
anita
A
----
Ao observar os parágrafos acima, percebe-se que Anita acessou o AVA fora do horário
de aula, à tarde, possivelmente ela fez uma leitura de tudo que havia sido escrito, para as
14:04 alterar a escrita do parágrafo. Para entendermos melhor o impacto que os participantes
têm ao acessarem o texto coletivo, principalmente depois das aulas no laboratório de
informática, vamos analisar essa situação mais detalhadamente. Conforme explicado na
subseção 2.2.2 (Figura 6), o histórico contém todas as ações (inserção, alteração, mover ou
excluir) realizadas pelas díades nos parágrafos. Na situação 13, o parágrafo inserido pela
díade D, no dia 04/09, consta como o 37º parágrafo no histórico, a alteração realizada por
Anita no dia 08/9 corresponde ao 99º parágrafo, isto é, entre o parágrafo inserido pela díade D
102
e a ação de alteração de Anita, haviam sido realizadas 62 edições de parágrafos. É importante
conseguirmos visualizar esse processo contínuo em uma produção coletiva, no entanto, não se
espera que os participantes percebam todas as ações realizadas no texto. Entretanto constatou-
se que eles acompanham esse movimento de alteração de parágrafos, mesmo sendo realizada
por outra díade. Nos depoimentos abaixo, os participantes relatam como se sentem em relação
às alterações.
Anita: Bom, no primeiro momento é um pouco, assim, irritante, parece...
como é que pode? Mas aí depois, com o tempo assim tu vai vendo que a
pessoa sabe algumas coisas que tu não lembrava mesmo, aquelas coisas lá do
princípio que a gente tinha que sabê.
É interessante observar como aos poucos os participantes conseguem perceber que
existe uma construção conjunta, embora o diálogo colaborativo (SWAIN, 2000) não tivesse
ocorrido, entretanto há evidências de que os registros no hisrico são utilizados pelos
participantes para verificar a natureza da alteração. Esses registros são indicadores concretos
numa produção de escrita coletiva de solução de problemas (noticing, formulação e testagem
de hipóteses), assim como de construção de significados.
4.2.4 Alteração com evidências de coletividade
À medida que o texto avança fica mais difícil reconhecer qual foi a primeira díade que
inseriu o parágrafo, salvo pelo fato de fazer uma pesquisa no histórico. No entanto, o que se
observa é que já não há mais uma preocupação tão latente sobre quem escreveu, mas em
tentar melhorar aquilo que foi escrito. Isso é percebido nas situações abaixo, quando o mesmo
parágrafo é reformulado por várias mãos.
Na situação 14, podemos observar como os alunos estão envolvidos na construção de
sentido. É pensando na característica de um texto teatral que a díade D acrescenta uma
rubrica
37
“[smile]”, após a oração I´m not scared”. A atenção de Denise e Diego está voltada
para a expressão do personagem ao emitir o enunciado, além de modificar o sentido da
segunda oração I don´t believe in ghosts para This ghost doesn´t exist”, como pode ser
visto abaixo:
37
Indicação escrita de como deve ser executado um trecho musical, uma mudança de cenário, um movimento
nico, uma fala , uma gesto do ator, etc. (Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 1986).
103
Situação 14
25/08/2006-08:16
Mr Otis: I'm not scared, because I don't believe in ghosts.
anita
I
----
25/08/2006-10:12
Mr Otis: I'm not scared! [smile] This ghost doesn't exist...
diego
A
----
04/09/2006-08:04
Mr Otis: I'm not scared! [smiling] This ghost doesn't exist...
anita
A
----
Observa-se que os indivíduos das díades estão com o foco no sentido e na forma, ou
seja, uma preocupação com a característica do texto teatral e com o sentido. Essa
apropriação de escrita de um texto teatral é possível mediante a instauração de um
processo, caso contrário, a apropriação pode o ocorrer. A apropriação envolve uma
seqüência de acontecimentos. Quando essa seqüência de acontecimentos ocorre numa
situação em que mais de uma pessoa age sobre o objeto, vários processos mentais são
desencadeados a partir da ação do outro. Se observarmos, na situação acima, o parágrafo do
dia 25/8, percebe-se que a díade D acrescenta a rubrica [smile], que é uma característica do
texto teatral, no parágrafo que havia sido escrito pela díade A. No dia 04/ 9, a díade A retorna
ao parágrafo para alterar o tempo verbal da rubrica. A alteração é na forma, pois a rubrica
indica a ação do personagem no momento da fala, para tanto o tempo verbal indicado é o
presente contínuo, no caso [smiling]. No entanto, a alteração na forma de [smile] para
[smiling] só foi possível porque o foco estava no sentido.
Percebe-se que a díade A está no processo de apropriação do texto teatral. Ao se
deparar com a alteração realizada pela díade D, na qual eles acrescentam a rubrica [smile],
Ana e Anita, por compreenderem e focarem no sentido dessa rubrica no texto, ou seja, que a
rubrica indica algo que está ocorrendo naquele momento da fala do personagem em questão
alteraram a forma para [smiling]. Dessa forma, o desenvolvimento psicológico se a partir
da apropriação de formas culturais maduras da atividade.
A situação demonstra uma co-regulação entre as duas díades, isto é, a regulação
ocorreu a partir de uma construção conjunta sobre o uso correto de rubricas em um texto
teatral. E é nesse contexto, em que vários conhecimentos se cruzavam que os indivíduos
passavam a auto-regular as suas ações. Toda essa regulação se deu de forma consciente e
voluntária. Consciente e voluntária porque foi o aluno que percebeu o problema e realizou
ações para tentar resolvê-lo.
Passaremos para outra situação, a situação 15, em que a mesma díade que insere o
parágrafo, o qual é alterado por outras díades, também encerra as alterações no parágrafo.
104
Esse fato é importante, porque mostra como os participantes acompanham o movimento das
alterações realizadas e, sempre que julgarem necessário, participam dessas alterações.
Situação 15
04/09/2006-09:50
Scene 4: Is early and they will have breakfastWashington Otis: What
colour is today?
sar
I
---
04/09/2006-09:51
Scene 4: Is early and they will have breakfast
sar
A
---
04/09/2006-21:21
Scene 4: It was early when all the Otises go to have breakfast.
denise
A
---
04/09/2006-21:22
---> SCENE 4: It was early when all the Otises go to have breakfast.
denise
A
---
04/09/2006-21:25
---> SCENE 4: It was early when all the Otises go to have breakfast.
denise
A
*
11/09/2006-08:17
---> SCENE 4: It is early and the Otises is having breakfast.
ana
A
---
Nota-se que o problema surgiu a partir da inserção de parágrafo feita pela díade C, no
dia 04/9, seguida de várias alterações em que o testadas várias hipóteses sobre o
funcionamento da língua em questão. Denise, ao acessar o texto à noite de sua casa, percebe
a falta de sujeito na primeira oração do parágrafo "Is early" e acrescenta "It" no início do
parágrafo, encontrando a solução certa para um dos problemas. No entanto, essa mesma díade
substitui o verbo "ïs" por "was", ou seja, conjuga o verbo no passado, nesse caso, a alteração
o estava correta e foi percebida, no dia 11/9, pela díade A que altera novamente o verbo
para "ïs". Percebe-se que não diálogo entre os envolvidos nas alterações, no entanto, pode-
se inferir que o cessamento de alterações nessa oração pode ser devido à concordância da
solução encontrada. Assim, as alterações cessam quando os participantes parecem concordar
com a solução encontrada para o problema.
Na situação acima, a alteração realizada por Denise no dia 04/09, às 21:25, observa-se
que ela continua com a atenção voltada para o parágrafo. Após realizar a alteração às 21:21,
Denise percebe algo, mas fica na dúvida e pede ajuda aos outros. Essa ajuda é solicitada
através do recurso 'observação' disponível no asterisco à direita do parágrafo acima editado às
21:25, que diz o seguinte:
Observação: escrita por Denise no dia 04/9 às 21:25
Eh have breafast ou have a breafast??? eu nah mi lembrooo
A resposta não veio em forma de diálogo, mas pode-se inferir que como houve mais
duas alterações nesse parágrafo, em que a oração "the Otises go to have breakfast " foi
alterada para "the Otises is having breakfast " e depois para " the Otises are having
breakfast.", a resposta se encontra na própria expressão "having breakfast", ou seja, a forma
correta é have breakfast.
105
O problema apresentado acima se configurou a partir das ações das díades C, A e
um indivíduo da díade D no mesmo parágrafo, cujos efeitos são percebidos através das
alterações. As alterações mostraram que houve um engajamento dos participantes em tentar
encontrar a melhor maneira de construir o enunciado (ver situação 15). Os indivíduos se
esforçaram para resolver o problema, que foi criado a partir da inserção de um parágrafo
postado por uma díade de menor conhecimento. Entretanto pode-se inferir que a ade C,
além de desencadear essa situação de resolução de problemas, também acompanha e participa
do processo de alterações e no final no dia 11/09 ás 09:42 consegue fazer uma alteração na
forma, mas com o foco no sentido. Essa alteração, que está correta, resolve o problema de
organização no enunciado. Percebe-se, nessa situação, que os envolvidos trabalham dentro da
ZDP, que nesse caso pode ser entendida como coletiva. Segundo Passerino e Santarosa
(2000):
A ZDP é coletiva (social) porque transcende os limites dos indivíduos ao se
criar pela interação entre indivíduos Tanto crianças como adultos constroem
conhecimento conjuntamente, sendo todos os participantes aprendizes,
aprendendo pela construção de representações compartilhadas pelo uso de
instrumentos.
(Disponível em:
<http://lsm.dei.uc.pt/ribie/docfiles/txt200372911757Uma%20vis%C3%A3o
%20s%C3%B3cio-hist%C3%B3rica.pdf> Acesso em: 30 mar 2008>).
A ZDP é coletiva porque caracteriza a construção conjunta de conhecimento. E nessa
construção conjunta se tanto pela participação do indivíduo de menor conhecimento como
de maior.
Na situação 16 observa-se como o grupo assumiu uma postura cooperativa e
gradualmente vão se apropriando da escrita coletiva em LE mediada por computador. Ao
compararmos o primeiro parágrafo inserido pela díade D The Ghost goes to his secret room
e a última alteração promovida por Denise The Ghost takes off the oil and goes to his secret
room. He is very angry and he is cursing all the Otises, and he begins to cry...”, percebemos a
quantidade de idéias que foram acrescentadas e construídas em conjunto.
Situação 16
04/09/2006-09:30
The Ghost goes to his secret room.
diego
I
----
04/09/2006-09:30
The Ghost goes to his secret room and cried.
diego
A
----
04/09/2006-21:15
The Ghost goes to his secret room and cry.
denise
A
----
04/09/2006-21:17
The Ghost goes to his secret room and begins to cry.
denise
A
----
11/09/2006-08:15
The Ghost takes off the oil and he goes to your secret room.
He is very angry and he is cursing all the Otises.
ana
A
----
continua
106
11/09/2006-08:58
The Ghost takes off the oil and goes to your secret room. He is
very angry and he is cursing all the Otises, and he begins to
cry...
diego
A
----
15/09/2006-19:59
The Ghost takes off the oil and goes to his secret room. He is
very angry and he is cursing all the Otises, and he begins to
cry...
denise
A
----
Observa-se, também, a alternância quanto ao uso do pronome na oração The Ghost
goes to his secret room”, que é alterado para “...he goes to your secret room” e novamente
alterado para “...goes to his secret room”. Não houve produção de metafala no AVA, mas
infere-se que os indivíduos que se envolveram nessas alterações refletiram sobre o uso
adequado do pronome. Portanto, percebe-se que os indivíduos focam no objeto que é a ngua
inglesa.
A linguagem, além de ser objeto de estudo também pode ser utilizada para falarmos
desse objeto. Segundo Peters,
Os efeitos da aprendizagem aparecem quando os estudantes escrevem algo
que aprenderam, reformulam um problema, o novas razões para uma
solução que já encontraram e as discutem, ou explicam resultados complexos
para outros (PETERS, 2003, p. 180).
Ao utilizarmos a língua para falarmos sobre possíveis problemas e soluções
encontrados, estamos refletindo sobre o seu funcionamento; nesse caso, linguagem é ao
mesmo tempo objeto e resultado de aprendizagens e de desenvolvimento cognitivo.
Vimos acima situações em que as díades reformularam parágrafos, testaram hipóteses
e sinalizaram um pedido de ajuda. A seguir, veremos situações em que os participantes
antecedem alguma explicação e explicitam regras gramaticais sobre o funcionamento da
língua em questão.
4.2.5 Alteração com produção de metafala
No dia 04/09, Denise acessou o ALED de sua casa às 20:40 e realizou uma série de
alterações nos parágrafos. No total, Denise alterou vinte e sete parágrafos e inseriu um
parágrafo novo. A última alteração foi registrada às 22:14.
Além de acrescentar algumas rubricas, Denise fez várias corrões nos tempos verbais,
como pode ser visto, na situação 17, que contém dois dos parágrafos alterados.
continuação
107
Situação 17
04/09/2006-
20:40
---> SCENE 1: Mr Hiram B. Otis is talking with the Lord Canterville in the
garden of the Canterville Chase. He wants to buy the Canterville Chase...
denise
A
----
04/09/2006-
21:24
The Otises are talking and laughing about the blood-stain before the
breakfast, but Virginia Otis doesn´t laugh. She feels sad. She fells sorry for
the ghost.
denise
A
*
Nesse mesmo dia, Denise deixou a seguinte mensagem no Fórum:
Fórum: Denise - Segunda, 4 Setembro 2006 22:04
Aewww gente... cuidar tempo verbal qndu forem escreve nu EquiText
O ESQUAM DAS REGRAS CHATAS:
he/she/it = acrescenta "s" no final
depois do verbo GO vm u "to" = go to
dependendo do contexto do narrador algumas vzs temos q por nu passado p
faze sentido... eno antes de add u trekinho traduzam o q vcs colocaram
eh idiota mas tem gt errando por falta di atenção...
bjoo
u texto ta fikando mto bom
Ao analisarmos a mensagem postada no Fórum por Denise no dia 04/9 às 22:04, que
foi escrita após uma série de alterações realizadas por ela no EquiText, percebeu-se que
Denise utiliza a metafala na tentativa de lembrar seus colegas sobre regras da língua-alvo que
são conhecidas, mas que ainda não foram internalizadas e apropriadas.
Cabe ressaltar que, nos momentos presenciais, as professoras utilizavam e
estimulavam o uso da metafala, tanto no laboratório de informática como na sala de aula.
No entanto, o curioso é perceber que a metafala descrita acima foi utilizada pela
primeira vez por Denise no dia 4/9, quando ela acessou o computador de casa, que segundo
ela:
Eu ficava em casa tendo umas idéias do livro, eu tinha o livro e o CD, [...] eu
tava deitada na cama e olhava e via o livro aberto, "ah uma olhada",
daí eu dava uma olhada no livro, bah, me vinha uma idéia, daí eu ia lá no
ALED e colocava a idéia, daí eu corrigia algumas coisas, trocava, às
vezes, [...]
Nesse dia foram produzidas mais duas interlocuções de metafala por Denise. De
acordo com Swain (1998), a metafala é o processo de fala sobre o uso da língua e tem a
finalidade de resolver problemas através do uso de conhecimento explícito que os indivíduos
possuem sobre a ngua-alvo.
108
Ao se dirigir aos outros integrantes do grupo como se eles não estivessem prestando
atenção “NÃO ESQUEÇAM DAS REGRAS CHATAS” ou “eh idiota mas tem gt errando
por falta di atenção...”, Denise está se incluindo, pois várias das alterações envolvendo a
correção de “s” na terceira pessoa do singular foram realizadas nos parágrafos escritos por ela
e seu par. Na verdade, a metafala é o tipo de linguagem usada para reflexão e que faz a
mediação na aprendizagem de LE, porque ajuda no processo de internalização (SWAIN &
TOCALLI-BELLER 2005). Ao usar a metafala, Denise está se apropriando de um
conhecimento que ainda não estava consolidado. Segundo Vygostky, eu só me aproprio de
algo quando consigo utilizar aquilo em diversos contextos de forma voluntária e consciente.
Os indivíduos que não estavam empregando o “s” na terceira pessoa eram os mesmos
que em um exercício gramatical utilizavam a regra. No entanto, é no momento de produção de
uma atividade descontextualizada (quer dizer livre de um único contexto, que pode ser
entendido como livre de um exercício exclusivo de uso do presente simples), em que os
sujeitos agem de forma voluntária e consciente, que se pode perceber o que realmente foi
internalizado e o que ainda está em processo de internalização. Através da metafala se
consegue perceber a aprendizagem acontecendo. A aprendizagem não ocorre em um único
espaço e tempo, mas é através da participação do indivíduo em várias atividades de
aprendizagem que se possibilita que o mesmo se aproprie de conhecimentos construídos
naquela interação e que futuramente serão utilizados por ele em outras atividades. E é quando
o indivíduo é capaz de por si utilizar aquele conhecimento naquele contexto e em outros,
que se percebe a apropriação. Nesse caso, Denise, ao perceber a necessidade de utilizar o
presente simples para se referir às ações que acontecem no início das cenas, utiliza a metafala
com o objetivo de compartilhar o uso dessa forma com os seus parceiros, agindo de acordo
com o que se espera de uma comunidade virtual de aprendizagem. A partir da atividade
coletiva, o indivíduo entra em contato com as ações do outro, e é a partir das ações do outro
que ele auto-regula as suas ações.
Para Vygotsky, o indivíduo se constitui a partir do social, suas ações se constituem em
atividades, assim como sua consciência se constitui nas relações sociais. O desenvolvimento
ocorre à medida que o plano intersubjetivo permite elevar as ações para o plano intrasubjetivo
(individual). E é essa relação intersubjetiva entre pares que estabelece uma confiança, auto-
estima e estimula os indivíduos a através do esforço em conjunto construir conhecimento.
Assim, o desenvolvimento psicológico se dá a partir da apropriação de formas culturais
maduras da atividade e o através de pia ou ações mecânicas. A idéia de aprendizagem na
teoria vygotskiana inclui a interdependência dos indivíduos envolvidos no processo.
109
4.3 Respondendo às questões de pesquisa
1) Como se dá a interação entre adolescentes para a realização da escrita coletiva em AVA?
O padrão de linguagem utilizado é misto. Alguns utilizaram o tipo de linguagem
escrita própria de conversas síncronas mediadas por computador, denominada de internetês,
enquanto que outros mantiveram-se dentro de um padrão de escrita convencional e outros
ainda se valeram do eruditismo. A língua materna predominou, sendo que a ngua inglesa foi
utilizada no esboço das cenas do roteiro teatral e esporadicamente alguns vocábulos da ngua
inglesa eram utilizados e se misturavam à língua materna. Essa linguagem mista foi utilizada
tanto no Fórum como no EquiText, neste último os sujeitos utilizavam o recurso da
observação para dialogar.
Foram identificadas duas formas de participações: a ativa e a marginal. A primeira
constitui as ações das díades que orientaram seus esforços para o objetivo comum da
atividade. Isso independe da produção de cada díade. Mesmo aqueles que produziram pouco,
participaram das discussões com contribuições que resultaram na construção conjunta. Não
significa que todos executavam a mesma ação. Embora as ações de cada díade fossem
diferentes (enquanto alguns demonstravam preocupação com a caracterização dos
personagens ou a descrição do cenário, outros focavam mais na trama), todas estavam
voltadas para o mesmo objetivo. O que demonstra uma articulação entre as ações de cada
díade e o todo, que exige PPSs como síntese e planejamento abstrato, denotando um grau
elevado de atividade cognitiva dos envolvidos.
A segunda é aquela que não soma seus esforços com os esforços dos demais
integrantes do grupo, mas tenta manter uma participação aparente, realizando atividades que
o colaboram com o objetivo acordado pela maioria. Neste experimento, a participação da
díade B foi marginal. Essa participação se manteve durante os dois meses iniciais, sendo que
no último mês as ações da díade mostravam mudança quanto à participação. Essa mudança
consistia em uma preocupação quanto à avaliação processual do professor.
Nas interações entre pares, os adolescentes assumiram diferentes identidades de acordo
com as situações que emergiram, quais sejam: de conflito, de negociação, de descentração, de
colaboração/cooperação. Essas situações foram vivenciadas de forma muito intensa, exigindo
envolvimento e esforço conjunto, a ponto de deslocá-los para uma ZDP coletiva, que resultou
no desencadeamento de processos psicológicos superiores, tais como: a argumentação, o
raciocínio lógico, a resolução de problemas, entre outros.
110
Por fim, observou-se que os sujeitos que estavam focados no objetivo final a ser
alcançado pela atividade desenvolveram uma postura cooperativa criando estratégias para
realizarem a atividade em conjunto. Por outro lado, os indivíduos que não focaram no
objetivo comum, mantiveram uma atitude desagregadora e, em certos momentos, autoritária.
Não contribuíram para o avanço da atividade e o se engajaram nas ações coletivas.
2) Tendo em vista que a produção é coletiva, o que os adolescentes fazem quando produzem
um texto em LE em AVA?
Todos os participantes têm acesso à produção do texto na tela do computador.
Observou-se que o número de alterações nos parágrafos (186) realizados é superior ao número
de inserções de parágrafos (132), isso se explica porque alguns parágrafos foram alterados
mais de uma vez. O número elevado de alterações indica que o foco do aluno era alcançar o
melhor resultado para o seu objetivo de construção de um roteiro de peça teatral.
O histórico do texto coletivo denunciou que a preocupação dos alunos estava voltada
para a criação de significados e sentidos, mesmo quando o foco era na forma. Percebeu-se que
os participantes com mais conhecimento de ngua inglesa realizaram mais alterações do que
aqueles com menos conhecimento. Isso se deve ao fato de que os alunos com mais
conhecimento já se apropriaram de estruturas lingüísticas que influenciam no sentido da frase,
ao passo que os alunos com menos conhecimento construíram sentido com foco no
significado das palavras, isto é, no nível semântico. Portanto, a maior parte das alterações foi
realizada pela díade D, num total de 102 alterações de parágrafos. A díade A realizou 54
alterações, enquanto que as díades B e C realizaram cada uma 15 alterações. As alterações
eram, em geral, mudanças de palavras, organização das iias na oração e correções
gramaticais. Essas correções eram realizadas no parágrafo do outro ou autocorreções, que
consistiam em apagamentos, deslocamentos e acréscimos.
As alterações são vistas como um processo de revisão do aluno na produção coletiva, e
ocorriam de modo espontâneo, voluntário e consciente, evidenciando reflexão-na-ação, que
em algumas situações resultou no uso da metafala.
Observou-se que a maioria das alterações resultou em melhoria, no entanto, alguns
parágrafos que continham problemas, identificados por mim, professora e pesquisadora, não
foram alterados. Esses problemas, possivelmente, encontravam-se fora da ZDP dos
participantes.
111
No entanto, pode-se afirmar que as melhorias promovidas no texto em construção
pelos participantes possibilitaram a ampliação das ZDPs e na maioria dos casos observou-se
que a ZDP foi coletiva no momento em que mais de um aluno alterava o mesmo parágrafo.
Outra situação observada no fazer dos alunos foi a necessidade dos participantes em
assumir uma postura cooperativa, implicando em uma descentração, que consistia em
considerar o ponto de vista do outro, lançando o grupo, muitas vezes em uma ZDP coletiva.
Numa ZDP coletiva as identidades dos participantes se confundem e o suporte é oferecido ora
por um, ora por outro, consistindo em pedido de ajuda, oferecimento de ajuda, solicitação da
atenção do outro quanto ao uso correto de estruturas lingüísticas e resolução de problemas em
conjunto.
O editor colaborativo de texto suportado por uma AVA se mostrou uma ferramenta
pedagógica eficiente para a realização de escrita coletiva em LE, na medida em que os alunos
encontraram nessa ferramenta uma flexibilidade que os envolveu como leitores e autores.
Segundo Lévy (2003), o texto em papel forçosamente está realizado por completo. A tela
informática é a nova máquina de ler, e é somente nela que o leitor encontra a nova
plasticidade do texto ou da imagem.
Diferentemente do que ocorre com registros grafados no papel, em que o aluno, a cada
vez que realiza uma melhoria no seu texto, desanima por ter que reescrevê-lo, o editor
colaborativo de texto EquitText se apresenta como um instrumento eficaz para atender as
ações dos autores de modo simples, rápido e versátil. Isso de certa forma favorece a realização
de melhorias, pois ao invés de desperdar o seu tempo reescrevendo o texto, o aluno pode
concentrar o seu esforço somente na organização do texto como um todo, num movimento
o linear.
O editor colaborativo de texto oportuniza que o processo de escrita coletiva seja
visualizado por todos simultaneamente, possibilitando que indivíduos com menor
conhecimento iniciem a sua participação através da observação e gradualmente o
aumentando o seu campo de ação. Esse é um aspecto importante quando se introduz uma
nova ferramenta numa atividade coletiva. Embora a dificuldade apresentada pelos indivíduos
o fosse com o uso da ferramenta em si, mas com as possibilidades de publicação e
visualização, ou seja, o fato de compartilhar a sua produção. Frente a isso, há a necessidade de
se criar uma postura cooperativa entre os participantes de uma comunidade virtual, para
incentivar e acolher o outro. Uma comunidade virtual existe quando é estabelecida uma
rede de suporte entre os participantes, o havendo cooperação não comunidade. Segundo
112
Lévy, o maior desafio da escola não é superar a dificuldade de trabalhar com o virtual, mas a
de desenvolver uma cultura de colaboração
38
.
Outro aspecto observado, neste experimento, refere-se ao impacto que a atividade
pedagógica em AVA utilizada dessa forma pode causar aos participantes quando eles
possuem uma concepção de aprendizagem centrada na transmissão de conhecimento por parte
do professor. De certa forma foi o que aconteceu com a díade B, cujos indivíduos não se
engajaram em favorecer a construção conjunta de conhecimento. Isso pôde ser observado em
rias situações em que a díade agia de forma a não compartilhar o objetivo de escrita da
peça. Ao analisar e refletir sobre a sua participação no momento da entrevista, os indivíduos
se referiram à atividade realizada no AVA como uma brincadeira, ou seja, não havia um
professor transmitindo o conteúdo ou dizendo o que e como eles deveriam fazer na atividade.
Bruno relatou que no final ele havia se dado conta de que a atividade não era tão simples e
fácil como ele havia pensado, pois para ele o que importava era o produto. E isso de certa
forma explica um pequeno aumento na participação da díade no último mês.
Não se está inferindo que os participantes têm consciência da importância do processo
ou que eles focam propositalmente no processo. O que se observou é que eles, ao se
engajarem em uma atividade coletiva em AVA e formarem uma comunidade cujos encontros
são marcados por um objetivo em comum, mesmo estabelecendo uma rede com diferentes
ações, obtêm como conseqüência o processo.
Portanto não é o ciberespaço que determina o desenvolvimento cognitivo, mas é visto
como um ambiente procio para a criação de comunidades virtuais que através da interação
podem desenvolver uma inteligência coletiva (ver vy, 2003). Segundo Lévy (1999, p. 158),
O ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que amplificam, exteriorizam e modificam
numerosas funções cognitivas humanas: memória, percepção, raciocínios”.
O uso do computador nas nossas aulas coloca a escola em sintonia com o mundo
contemporâneo. No entanto, este estudo não se refere simplesmente ao uso dessa tecnologia,
mas em realmente significarmos esta ferramenta de tal forma que a atividade pedagógica
desenvolvida com o uso do computador resulte no desenvolvimento de novos processos
mentais.
38
Reportagem dispovel em:
<http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=revista_educarede.especiais&id_especial=268> Acesso em:
05 mar 2007.
113
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo se propôs a investigar como adolescentes brasileiros, estudantes de ngua
inglesa, participam e realizam uma atividade de escrita coletiva de um texto teatral em língua
inglesa em ambiente digital. O estudo confirmou minha hipótese de que a atividade de escrita
de um texto teatral em ambiente digital favorece a construção de significados em LE por parte
dos participantes, sendo esta uma condição para participação, além de desencadear um
desequilíbrio nas ações dos participantes, despertando processos cognitivos em função da
imediata publicação e do contato com a escrita do outro.
Sendo assim, a construção de significado é requisito para a participação dos
adolescentes na escrita coletiva de um texto teatral. No entanto, essa construção se de
forma descompassada, ou seja, cada díade de adolescentes participou com o seu ritmo. Esse
ritmo dependia do que acontecia entre os indivíduos da díade, que construíam e negociavam
significados em conjunto para a composição coletiva do roteiro de peça teatral. Por outro
lado, nem sempre os indivíduos da díade trabalhavam sincronamente. Os registros mostram
que alguns indivíduos acessaram o ambiente digital fora do horário de aula e contribuíram na
escrita da peça em horários alternativos. Isso demonstra que o AVA proporciona ações que
o se restringem a um espaço físico escolar, promovendo a expansão da atividade para uma
dimensão espaço-temporal. Essa expansão da atividade de aprendizagem para além da rotina
escolar, quando feita de modo voluntário e consciente, caracteriza a aprendizagem autônoma,
ao mesmo tempo em que rompe com a concepção de que só se aprende quando alguém
ensina. Numa atividade coletiva em AVA, os papéis de aprender, ensinar e construir juntos se
alternam constantemente.
Os dados também mostram que a construção de significados na escrita coletiva de um
texto teatral em língua inglesa exige esforço e envolvimento por parte dos adolescentes, sendo
que alguns participantes podem realizar ações, nas quais não há construção de significado e,
conseqüentemente, também não contribuem para o objetivo do grupo. Esses indivíduos
ocupam-se em manter uma participação aparente, ao mesmo tempo em que demonstram
dificuldade em lidar com uma atividade que exige uma postura cooperativa e mais autônoma.
Observou-e, também, a importância de os alunos serem submetidos ao processo de escrita
coletiva em AVA, pois somente vivenciando o processo é que poderão refletir sobre sua
participação em atividades coletivas com objetivo de aprendizagem, ainda que seja ao final da
atividade.
114
O experimento mostrou que a escrita coletiva em ambiente digital favorece o
surgimento de ZDPs e que, a ZDP entre pares, em várias situações, é coletiva. A ZDP é
coletiva porque envolvia mais de uma díade na construção de conhecimento e foi observada
tanto nos diálogos registrados no Fórum como nas alterações realizadas nos parágrafos do
EquiText. Refiro-me a ZDP como coletiva quando os sujeitos encontraram-se envolvidos na
resolão de um mesmo problema, na qual eles testaram hipóteses, argumentaram, analisaram
e construíram conhecimento em conjunto. Também me refiro às situações de descentração
quando os sujeitos de uma díade consideraram a alteração realizada por outra díade sobre o
funcionamento da ngua-alvo. Isso quer dizer que eles analisaram a hipótese do outro como
uma possibilidade de uso da ngua ou não.
O nosso estudo o se deteve em analisar a ZDP de um indivíduo apenas, mas com
base nas intervenções feitas pelas professoras nas aulas no laboratório de informática,
observou-se que o indivíduo ao trabalhar com o seu par em frente ao computador, muitas
vezes atuou dentro da sua ZDP. Um futuro estudo poderia se concentrar em verificar como os
indivíduos de uma mesma díade se organizam presencialmente em frente ao computador. No
meu experimento não me detive em averiguar como os sujeitos negociavam o uso do
computador, ou que tipo de suporte (gramática, dicionário, internet, pedido de ajuda a outros
colegas ou ao professor) eles utilizavam para solucionar possíveis problemas e nem como eles
combinavam a forma de participação no grupo de escrita coletiva no AVA.
Observei que os participantes de diferentes conhecimentos de LE podem potencializar
sua escrita ao interagirem entre pares na produção de um texto coletivo em AVA, se a
participação de ambos for ativa e os participantes exercerem uma postura cooperativa. A
aprendizagem de LE pode ser potencializada principalmente através do uso da metafala, que
apesar de ser estimulada pelas professoras presencialmente, foi pouco utilizada pelos alunos
no AVA. Isso talvez se deva ao fato de que os indivíduos trabalhavam em dupla em frente ao
computador e na maioria das situações, conforme observações presenciais, a metafala era
utilizada na interação face a face pelos sujeitos da díade. No entanto, as situações em que a
metafala foi utilizada no AVA foram mencionadas na entrevista como sendo momentos em
que ocorreu uma tomada de consciência coletiva sobre o uso de determinadas estruturas da
língua-alvo. Sem dúvida, foram situações em que se puderam observar indícios do processo
de aprendizagem.
A metafala, que é o resultado da reflexão do sujeito sobre o uso da ngua em questão,
envolve auto-regulação por parte do sujeito de estruturas de funcionamento da língua.
Entretanto a metafala utilizada em uma atividade de escrita coletiva em AVA, além de ser
115
uma demonstração de reflexão, é uma demonstração de coletividade, ou seja, uma
preocupação em regular as ações dos demais integrantes do grupo.
Portanto, tanto alunos com menor conhecimento como alunos com maior
conhecimento podem potencializar sua aprendizagem em LE, na medida em que um utiliza o
outro como interlocutor de sua reflexão sobre a língua naqueles conceitos que ainda não estão
bem elaborados e internalizados. Isso ocorre porque justamente o aluno com menos
conhecimento propicia momentos de reflexão. O verdadeiro potencial desses momentos de
reflexão só é compartilhado quando ocorre a metafala. Como professora e pesquisadora,
através deste estudo, percebo a necessidade de incentivar o uso da metafala tanto nas
interações presenciais como no ambiente virtual. Neste último, como fator imprescindível
para a aprendizagem coletiva.
Na atividade pedagógica deste experimento, a metafala surgiu de forma espontânea,
como uma necessidade de organização e orientação das ões coletivas, devido à natureza do
projeto, cujo objetivo é favorecer uma aprendizagem que resulte no desenvolvimento de
processo psicológicos superiores.
O presente estudo entende que a mediação do professor, embora não contemplada na
nossa análise, é fundamental, no sentido de orientar e dar condições para que os alunos
construam conhecimento, através de seus esforços, despertando e desenvolvendo PPSs como
planejamento abstrato, solução de problemas, análise, reflexão, entre outros. Portanto, sugiro
um estudo que contemple a mediação do professor numa atividade de escrita coletiva em
AVA, com o objetivo de verificar em que medida ela favorece uma aprendizagem mais
autônoma.
Ao finalizar este estudo considero a atividade de escrita coletiva de texto teatral em
AVA uma atividade pedagógica que favorece o processo de escrita no que se refere ao ato de
gerar, organizar o pensamento, escrever e revisar. À medida que os alunos criam significados
e constroem sentidos, eles orientam suas ações para revisão de aspectos ortográficos,
organização da estrutura da frase e estruturas gramaticais, através do ato voluntário e
consciente de perceber algum problema na escrita em LE. Isso faz com que a atividade em
AVA seja vista como uma nova possibilidade de abordagem de escrita processual.
116
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n.2, p. 195-209, 1982.
______. The composing processes of advanced ESL students: Six case studies. TESOL
Quartely, v.17, p. 165-187, 1983.
______. Responding to Student Writing. TESOL Quartely, v. 19, n. 1, p. 79-101, 1985.
______. Recent Research on Writing Pedagogy. TESOL Quartely, v. 21, p. 697-715, 1987.
123
ANEXO A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Programa de Pós-Graduação em Letras - Lingüística Aplicada
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezados pais
Sou aluna do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFRGS e professora de
Língua Inglesa do Colégio de Aplicação estou realizando uma pesquisa de mestrado em
Linística Aplicada, com o objetivo de conhecer melhor as interações e a produção de alunos
e professores por meio de um ambiente digital (internet).
Solicito as seguintes autorizações: 1) a utilização dos registros realizados pelo seu
filho, durante as aulas de inglês, e disponibilizados no ambiente digital ALED
(www.ufrgs.br/aled); 2) a realização de entrevista com seu filho, a qual será filmada. Os
dados serão usados somente para fins de pesquisa científica por mim, e a pesquisa será
divulgada apenas em apresentações e publicações acadêmicas. Cabe salientar que a
identidade do seu filho será preservada através do uso de pseudônimo. Além disso, os dados
o serão disponibilizados para qualquer propósito que não se encaixe nos termos da
pesquisa. Apenas a instituição será identificada por se tratar de um estudo envolvendo o
Colégio de Aplicação da UFRGS.
A participação do aluno é muito importante, pois ele estará contribuindo para a
produção de conhecimento. Agradecemos sua colaboração.
Cordialmente,
Ingrid Kuchenbecker Broch
Mestranda do curso de Letras
Professora de Língua Inglesa do Colégio de Aplicação/UFRGS
Fone: 33086990
LI A DESCRIÇÃO ACIMA, CONCORDO COM A PARTICIPAÇÃO DO(A) MEU(MINHA) FILHO(A)
____________________________________________ NESTE ESTUDO ACADÊMICO E AUTORIZO O USO
DOS DADOS PARA PESQUISA CONFORME INDICADO ACIMA.
Nome do responsável: ____________________________________________________________________
Assinatura: ____________________________________________________________________________
Data: ______/______/___________
Agendamento da entrevista: ______/______/___________
124
ANEXO B ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
1) Perfil da díade
Nome dos sujeitos:
Idades:
Relato sobre a vida escolar:
Contato com a língua inglesa fora do contexto escolar:
2) Relate como foram as interações no Fórum do ALED.
3) Fale sobre como foi escrever um texto coletivo em ngua inglesa no editor colaborativo de
texto EquiText.
4) O que mais você gostaria de falar sobre a atividade de escrita coletiva de um texto teatral
em ngua inglesa em ambiente digital.
125
ANEXO C HISTÓRICO DO EQUITEXT
14/08/2006-
08:43
Scene 1: Mr Hiram B. Otis is talking with the Lord Canterville in the garden
of the Canterville Chase. He want to buy the Canterville Chase.
ana
I
--
25/08/2006-
08:06
Lord Canterville: Do you wanna live in Canterville Chase? Oh, I don't want
to live there... The house has a ghost - The Canterville Ghost!
anita
I
----
25/08/2006-
08:11
Mr Otis: I come from America. America is a modern country. I don't believe
in ghosts! [ironically] Have you seen this "Canterville ghost"?
anita
I
----
25/08/2006-
08:13
Lord Canterville: No... But I have heard it at night!
anita
I
----
25/08/2006-
08:16
Mr Otis: I'm not scared, because I don't believe in ghosts.
anita
I
----
25/08/2006-
08:29
Lord Canterville: [amazed]Don't you believe? My aunt saw the ghost... She
was so frightened that she was ill for the rest of her life. Also, the servants
have seen in so they will not stay in the house at night. Only the housekeeper,
Mrs Umney, lives in Canterville Chase. Mrs Umney lives there alone.
anita
I
----
25/08/2006-
08:31
Mr Otis: [thoughtful] Welll... I want to buy the house. I'll buy the ghost as
well. Will you sell the Canterville Chase? Will you sell the ghost?
anita
I
----
25/08/2006-
08:32
Lord Canterville: Yes, I will. But, please remember. I told you about the
ghost before you bought the house!
anita
I
----
25/08/2006-
08:38
Lord Canterville: Yes, I will. But, please remember: I told you about the
ghost before you bought the house!
anita
A
----
25/08/2006-
08:40
Mr Otis: Don't worry. I will remember...
anita
I
----
25/08/2006-
08:43
Scene 2: Mrs Umney (the housekeeper) and the Otises are in the library. Mrs
Umney put teacups on the table and she bring a pot of tea. They are talking
about the house.
anita
I
----
25/08/2006-
08:45
Scene 2: Mrs Umney (the housekeeper) and the Otises are in the library. Mrs
Umney put teacups on the table and she bring a pot of tea. They are talking
about the house.
anita
A
*
25/08/2006-
10:10
Mr Otis: I come from America. America is not a poor country. I don't believe
in ghosts! [ironically] Have you seen this "Canterville ghost"?
diego
A
----
25/08/2006-
10:12
Mr Otis: I'm not scared! [smile] This ghost doesn't exist...
diego
A
----
25/08/2006-
10:13
Mr Otis: Don't worry. I will not forget...
diego
A
----
25/08/2006-
10:14
Lord Canterville: [amazed]Don't you believe? My aunt saw the ghost... She
was so frightened that she was ill for the rest of her life. Also, the servants
have seen in so they will not stay in the house at night. Only the housekeeper,
Mrs Umney, lives in Canterville Chase. Mrs Umney lives there alone.
diego
A
*
25/08/2006-
10:14
Scene 2: Mrs Umney (the housekeeper) and the Otises are in the library. Mrs
Umney put teacups on the table and she bring a pot of tea. They are talking
about the house.
diego
A
*
04/09/2006-
08:04
Mr Otis: I'm not scared! [smiling] This ghost doesn't exist...
anita
A
----
126
04/09/2006-
08:25
Mr Otis: Wow... The Canterville Chase is really beautiful! It's a big and old
house, isn't?
anita
I
----
04/09/2006-
08:30
Mrs Otis: Oh yes... My sweet [looking at Virginia), close the window. It's a
big storm out there![flash of light]
anita
I
----
04/09/2006-
08:34
Washington: But the house is little bit nasty, isn't? Yikes! [making a weird
face and pointing the stain]
anita
I
----
04/09/2006-
08:35
Mrs Otis: What's the red stain?
anita
I
----
04/09/2006-
08:35
Mrs Umney: It's a blood!
anita
I
----
04/09/2006-
08:35
Mrs Umney: It's blood!
anita
A
----
04/09/2006-
08:36
Everybody: Ohhhhhhh!!!!
anita
I
----
04/09/2006-
08:39
Washington: I don't want a blood-stain in our library!I will remove the stain. I
have some Pinkerton's Stain Remover from America!! It can remove any
stain! It's a thriller of the nasty!!! Watch!
anita
I
----
04/09/2006-
08:43
Washington walk to the blood-stain. He take the small stick of Pinkerton's
Stain Remover on the stain. The stain is removed quickly and easily.
anita
I
----
04/09/2006-
08:44
Washington: Pinkerton's can remove anything! The blood-stain has gone!
[smiling]
anita
I
----
04/09/2006-
08:44
Everybody: Ohhhhhhhh!
anita
I
----
04/09/2006-
08:58
Scene 2: Mrs Umney (the housekeeper) and the Otises are in the library. Mrs
Umney put teacups on the table and she brings a pot of tea. They are talking
about the house.
diego
A
*
04/09/2006-
08:58
Mr Otis: Wow... The Canterville Chase is really beautiful! It's a big and old
house, it isn't?
diego
A
----
04/09/2006-
08:59
Mrs Otis: Oh yes... My dear [looking at Virginia], close the window. It's a big
storm out there![flash of light]
diego
A
----
04/09/2006-
09:01
Washington: But the house is a little bit nasty, it isn't? Yikes! [making a
weird face and pointing the stain]
diego
A
*
04/09/2006-
09:02
Washington: But the house is a little bit nasty, it isn't? Yikes! [making a
weird face and pointing the stain]
diego
A
----
04/09/2006-
09:03
Mrs Otis: What's this red stain on the floor?
diego
A
----
04/09/2006-
09:09
One of the twins: Mom!Mom!I´m hungry...m tired!
diego
I
----
04/09/2006-
09:11
So all the Otises going to their beds.
diego
I
----
04/09/2006-
09:12
SCENE 1: Mr Hiram B. Otis is talking with the Lord Canterville in the
garden of the Canterville Chase. He want to buy the Canterville Chase.
diego
A
----
04/09/2006-
09:13
SCENE 1: Mr Hiram B. Otis is talking with the Lord Canterville in the
garden of the Canterville Chase. He want to buy the Canterville Chase.
diego
A
----
127
04/09/2006-
09:13
---> SCENE 1: Mr Hiram B. Otis is talking with the Lord Canterville in the
garden of the Canterville Chase. He want to buy the Canterville Chase.
diego
A
----
04/09/2006-
09:13
---> SCENE 2: Mrs Umney (the housekeeper) and the Otises are in the
library. Mrs Umney put teacups on the table and she brings a pot of tea. They
are talking about the house.
diego
A
*
04/09/2006-
09:17
---> SCENE 3: The Otises hear a strange noise in their corridor, the noise
make Mr. Otis wake up. He takes a night light and goes to the corridor.
diego
I
----
04/09/2006-
09:18
Mr. Otis: Who's making this terrible noise? [looking at the corridor]
diego
I
----
04/09/2006-
09:19
Canterville Ghost: I am...
diego
I
----
04/09/2006-
09:21
Mr. Otis look at the ghost and see that ghost makes the noise song with his
old chains.
diego
I
----
04/09/2006-
09:24
Mr. Otis: Wowwww...! Your chains are very old... Would you like to use this
oil? That make your chains don`t make this noise...
diego
I
----
04/09/2006-
09:24
Mr. Otis: Wowwww...! Your chains are very old... Would you like to use this
oil? That make your chains don`t make this noise...
diego
A
----
04/09/2006-
09:26
Mr. Otis takes the oil to the ghost and goes to sleep. The ghost looks at the oil
and stays unhappy.
diego
I
----
04/09/2006-
09:29
Canterville Ghost: Nobody has never taken me a oil before.
diego
I
----
04/09/2006-
09:30
The Ghost goes to his secret room.
diego
I
----
04/09/2006-
09:30
The Ghost goes to his secret room and cried.
diego
A
----
04/09/2006-
09:50
Scene 4: Is early and they will have breakfastWashington Otis: What colour
is today?
césar
I
----
04/09/2006-
09:51
Scene 4: Is early and they will have breakfast
césar
A
----
04/09/2006-
09:52
Washington Otis: What colour is today?
césar
I
----
04/09/2006-
09:52
---> SCENE 1: Mr Hiram B. Otis is talking with the Lord Canterville in the
garden of the Canterville Chase. He want to buy the Canterville Chase...
bruno
A
----
04/09/2006-
09:53
---> SCENE 2: Mrs Umney (the housekeeper) and the Otises are in the
library. Mrs Umney put teacups on the table and she brings a pot of tea. They
are talking about the house...
bruno
A
*
04/09/2006-
09:53
Washington: But the house is a little bit nasty, it isn't? Yikes! [making a
weird face and pointing the stain].
bruno
A
----
04/09/2006-
09:55
The Otises are talking and laughing about the blood-stain before breakfast,
but Virginia Otis do not laugh
césar
A
----
04/09/2006-
09:56
The Otises are talking and laughing about the blood-stain before breakfast,
but Virginia Otis do not laugh
césar
A
*
04/09/2006-
09:56
The Otises begin to discuss about the colour of the blood-stain
bruno
I
----
128
04/09/2006-
09:58
The Otises are talking and laughing about the blood-stain before breakfast,
but Virginia Otis do not laugh. She feel sand and she cried. She fell sorry for
the ghost.
césar
A
*
04/09/2006-
09:58
OOO brunnn a gente ta escrevendo aqui também
meoooo...shAUIshuaiHsuaHUsapeeeraaeeeee
césar
I
----
04/09/2006-
10:01
OOO brunnn a gente ta escrevendo aqui também
meoooo...shAUIshuaiHsuaHUsapeeeraaeeeeeFAAAZ ACENAAA 5 QUE A
GENTE FAZ ESSA, OU AO CONTRARIO, TA AFIMMM???? TU QUE
ESCOLHEEEEE....BELEZA?
césar
A
----
04/09/2006-
10:03
OOO brunnn a gente ta escrevendo aqui também
meoooo...shAUIshuaiHsuaHUsapeeeraaeeeeeFAAAZ ACENAAA 5 QUE A
GENTE FAZ ESSA, OU AO CONTRARIO, TA AFIMMM???? TU QUE
ESCOLHEEEEE....BELEZA?
césar
E
----
04/09/2006-
10:11
The Otises begin to discuss about the colour of the blood-stain
césar
E
----
04/09/2006-
10:13
The Otises are talking and laughing about the blood-stain before breakfast,
but Virginia Otis do not laugh. She feel sad and she cried. She fell sorry for
the ghost.
césar
A
*
04/09/2006-
10:15
Virginia: The stain has been here for three hundred years. The poor ghosts
puts the stain on the floor every nigth. Can not you leave the stain here??
césar
I
----
04/09/2006-
10:15
Scene 5: The Otises hear a strong noise coming from downstairs. They go
check, and see that the ghost be with the armor.The ghost' knee is hurt, the
Otises offer a medicine.
bruno
I
----
04/09/2006-
20:40
---> SCENE 1: Mr Hiram B. Otis is talking with the Lord Canterville in the
garden of the Canterville Chase. He wants to buy the Canterville Chase...
denise
A
----
04/09/2006-
20:42
Mr Otis: I came from America. America is not a poor country. I don't believe
in ghosts! [ironically] Have you ever seen this "Canterville ghost"?
denise
A
----
04/09/2006-
20:53
Lord Canterville: [amazed] Don't you believe? My aunt saw the ghost... She
was so frightened. Also, the servants have seen it. Only the housekeeper, Mrs
Umney, lives in the Canterville Chase. Mrs Umney lives there alone.
denise
A
*
04/09/2006-
20:55
Lord Canterville: [amazed] Don't you believe? My aunt saw the ghost... She
was so frightened. Also, the servants have seen it. Only the housekeeper, Mrs
Umney, is able to live in the Canterville Chase. She lives there alone.
denise
A
----
04/09/2006-
20:59
Mr Otis: Don't worry. I will not forget...
denise
A
*
04/09/2006-
20:59
Mr Otis: Don't worry. I won´t forget...
denise
A
----
04/09/2006-
21:05
---> SCENE 2: Mrs Umney and the Otises are in the library. Mrs Umney puts
the teacups on the table and she brings a pot of tea. All the Otises begin to
speak about something.
denise
A
----
04/09/2006-
21:09
Washington: I will remove the stain. I have some Pinkerton's Stain Remover
from America!! It can remove any stain! It's a thriller of the nasty!!! Look!
denise
A
----
04/09/2006-
21:11
Washington:ll remove this stain. I have some Pinkerton's Stain Remover
from America!! It can remove anything! It's a thriller of the nasty!!! Look!
denise
A
----
04/09/2006-
21:11
Washington walks to the blood-stain. He takes the small stick of Pinkerton's
Stain Remover on the stain. The stain is removed quickly and easily.
denise
A
----
04/09/2006-
---> SCENE 3: The Otises hear a strange noise in their corridor, the noise
denise
A
----
129
21:12
makes Mr. Otis wakes up. He takes a night light and goes to the corridor.
04/09/2006-
21:14
Mr. Otis looks at the ghost and see that ghost makes the noise song with his
old chains.
denise
A
----
04/09/2006-
21:15
The Ghost goes to his secret room and cry.
denise
A
----
04/09/2006-
21:17
The Ghost goes to his secret room and begins to cry.
denise
A
----
04/09/2006-
21:21
Scene 4: It was early when all the Otises go to have breakfast.
denise
A
----
04/09/2006-
21:22
---> SCENE 4: It was early when all the Otises go to have breakfast.
denise
A
----
04/09/2006-
21:24
The Otises are talking and laughing about the blood-stain before the
breakfast, but Virginia Otis doesn´t laugh. She feels sad. She fells sorry for
the ghost.
denise
A
*
04/09/2006-
21:25
---> SCENE 4: It was early when all the Otises go to have breakfast.
denise
A
*
04/09/2006-
21:28
The Otises are talking and laughing about the blood-stain before the
breakfast, but Virginia Otis doesn´t laugh. She felt sad. She felt sorry for the
ghost.
denise
A
*
04/09/2006-
21:30
Virginia: The stain has been here for three hundred years. We have been here
for three weeks. The poor ghosts puts the stain on the floor every nigth. Can
not you leave the stain here??
denise
A
----
04/09/2006-
21:31
d
denise
I
----
04/09/2006-
21:33
Although Virginia says this, the others Otises didn´t listen her.
denise
A
----
04/09/2006-
21:37
Although Virginia says this, the others Otises didn´t listen her.
denise
A
----
04/09/2006-
21:55
Scene 5: The Otises hear a strong noise and coming from downstairs. They go
to check, and see what is happening. They saw the ghost. He was sitting next
to the armour. He had broken his knee. So, the Otises take him some
medicine.
denise
A
----
04/09/2006-
21:57
---> SCENE 5: The Otises hear a strong noise and come from downstairs.
They go to see what is happening. They saw the ghost. He was sitting next to
the armour. He had broken his knee. So, the Otises take him some medicine.
denise
A
----
04/09/2006-
22:09
Mr. Otis: Are you ok? Would you like to take some medice?
denise
I
----
04/09/2006-
22:10
---> SCENE 5: The Otises hear a strong noise and come from downstairs.
They go to see what is happening. They saw the ghost. He was sitting next to
the armour. He had broken his knee.
denise
A
----
04/09/2006-
22:11
Mr. Otis: Are you ok? Would you like to take some medice? [the twins
laughed loudly]
denise
A
----
04/09/2006-
22:11
Mr. Otis: Are you ok? Would you like to take some medice? [the twins laugh
loudly]
denise
A
----
04/09/2006-
22:14
Mr. Otis: Are you ok? Would you like to take some medice? I have a bottle of
Dr Dobell´s medicine. Is good for stomach-aches and headaches. Please
denise
A
----
130
take the medicine. [the twins laugh loudly]
08/09/2006-
14:04
All the Otises go to their beds.
ganita
A
----
11/09/2006-
08:06
Mrs Otis: Oh! It's really later... Come on! Go to your beds, kids!
ana
I
----
11/09/2006-
08:07
---> SCENE 3: The Otises hear a strange noise in their corridor, the noise
makes Mr. Otis to wake up. He takes a night light and goes to the corridor.
ana
A
----
11/09/2006-
08:09
Mr. Otis takes the oil to the ghost and goes to sleep. The ghost looks at the oil
and stays unhappy. Mr. Otis goes to your bed again.
ana
A
----
11/09/2006-
08:12
Canterville Ghost: [angry] Nobody has never taken me a oil before!
ana
A
----
11/09/2006-
08:15
The Ghost takes off the oil and he goes to your secret room. He is very angry
and he is cursing all the Otises.
ana
A
----
11/09/2006-
08:17
---> SCENE 4: It is early and the Otises is having breakfast.
ana
A
----
11/09/2006-
08:32
Washington: This Ghost is very stupid! He is so old fashion! He's "out"! Is it
possible that he doesn't know that pink is the summer colour????
ana
I
----
11/09/2006-
08:33
---> SCENE 5: The Otises hear a strong noise and come from downstairs.
They go to see what is happening. They see the ghost. He is sitting next to the
armour. He had broken his knee.
ana
A
----
11/09/2006-
08:34
Washington: This Ghost is very stupid! He is so old fashion! He's "out"!
[indignant] Is it possible that he doesn't know that pink is the summer
colour????
ana
A
----
11/09/2006-
08:36
The Ghost: [angry]I don't want your medicine! You are a son of the -
piiiiiiiiiiiiii...-!!!
ana
I
----
11/09/2006-
08:37
The Ghost: [angry]I don't want your medicine! You are a son of the
(piiiiiiiiiiiiii...) !!!
ana
A
----
11/09/2006-
08:38
The Otises are talking and laughing about the blood-stain before the
breakfast, but Virginia Otis doesn´t laugh. She felt sad. She felt sorry for the
ghost.
ana
A
*
11/09/2006-
08:39
Washington: But the house is a little bit nasty, it isn't? Yikes! [making a
weird face and pointing the stain].
ana
A
----
11/09/2006-
08:58
The Ghost takes off the oil and goes to your secret room. He is very angry
and he is cursing all the Otises, and he begins to cry...
diego
A
----
11/09/2006-
09:05
The Ghost: [angry]I don't want your medicine! You are the son of a bitch!!!
diego
A
----
11/09/2006-
09:09
Mrs.Otis: Oh my god!!!What did you say?!This ghost is so unpolite...I´m
very scared!!!
diego
I
----
11/09/2006-
09:09
Mrs.Otis: Oh my god!!!What did you say?!This ghost is so unpolite...I´m
very scared!!!
diego
A
*
11/09/2006-
09:10
The Ghost: [angry]I don't want your medicine! You are the son of a bitch!!!
diego
A
*
11/09/2006-
09:11
The Ghost: [angry]I don't want your medicine! You are a son of a bitch!!!
diego
A
*
131
11/09/2006-
09:12
Mr.Otis: What?!You called me "a son of a bitch"?!You are a stupid ghost!!!
diego
I
----
11/09/2006-
09:15
Mr.Otis takes a gun and put it on the ghost's head, the ghost smiles...
diego
I
----
11/09/2006-
09:17
Canterville Ghost: Ha!Ha!Ha!I can't be kill...You are a stupid guy...I´m
dead!!!
diego
I
----
11/09/2006-
09:17
Canterville Ghost: Ha!Ha!Ha!I can't be kill...You are a stupid guy...I´m
dead!!!
diego
A
----
11/09/2006-
09:20
The ghost goes to his secret room, he makes a plan to scare the twins and the
Otises, but he is so unhappy...Why does he can't scare the Otises?!
diego
I
----
11/09/2006-
09:23
---> SCENE 6: The ghost is in his secret room, and he is talking to himself...
diego
I
----
11/09/2006-
09:26
The ghost goes to his secret room, he makes a plan to scare the twins and the
Otises, but he is so unhappy...Why can't he scare the Otises?!
diego
A
----
11/09/2006-
09:29
Canterville Ghost: Oh shit...How can I scare the Otises?! [thinking] Oh my
god!!!I have an idea...And it's a great idea... [makes a scary face]
diego
I
----
11/09/2006-
09:39
Mr Otis: Don't worry. I won´t forget..
bruno
A
----
11/09/2006-
09:40
Mr Otis: I came from America, America is not a poor country. I don't believe
in ghosts! [ironically] Have you ever seen this "Canterville ghost"?
beto
A
----
11/09/2006-
09:42
---> SCENE 4: It is early and the Otises are having breakfast.
carlos
A
----
11/09/2006-
09:44
The Otises are talking and laughing about the blood-stain before the
breakfast, but Virginia Otis doesn´t laugh. She felt sad. She felt sorry for the
ghost.
carlos
A
*
11/09/2006-
09:45
Virginia: The stain has been here for three hundred years. We have been here
for three weeks. The poor ghosts puts the stain on the floor every nigth. Can
not you leave the stain here??
carlos
A
----
15/09/2006-
19:57
Mr. Otis looks at the ghost and sees that ghost makes the noise song with his
old chains.
denise
A
----
15/09/2006-
19:59
The Ghost takes off the oil and goes to his secret room. He is very angry and
he is cursing all the Otises, and he begins to cry...
denise
A
----
15/09/2006-
20:03
Virginia: The stain has been here for three hundred years. We have been here
for three weeks. The poor ghosts puts the stain on the floor every night. Can´t
you leave the stain here??
denise
A
----
15/09/2006-
20:06
Mr.Otis takes a gun and puts it on the ghost's head, the ghost smiles...
denise
A
----
18/09/2006-
08:10
---> SCENE 7: It's later and The Otises go to bed.
anita
I
----
18/09/2006-
08:18
---> SCENE 7: It's later and The Otises go to bed, but they don't imagine that
the Ghost planned to visit the twins in the night. He planned to visit the twins
in their bedroom for to touch them with his ice-cold hands in the dark.
anita
A
----
18/09/2006-
08:19
The Twins: Good night, Mom. Good night, dad!
anita
I
----
132
18/09/2006-
08:20
Mrs Otis: Good night kids!
anita
I
----
18/09/2006-
08:21
They go to bed and the ghost climb the stairs and walk along the corridor.
anita
I
----
18/09/2006-
08:24
The Ghost: It's today that I fright the twins!
anita
I
----
18/09/2006-
08:24
The Ghost: It's today that I fright the twins! Wahahahahaha!!!!!
anita
A
----
18/09/2006-
08:31
The Ghost: It's today that I fright the twins! Wahahahahaha!!!!!
anita
A
*
18/09/2006-
08:35
---> SCENE 8: Virginia is walking alog the corridor. She look the twin's
bedroom. They are laughing.
anita
I
----
18/09/2006-
08:36
Virginia: What happened?
anita
I
----
18/09/2006-
08:37
Twins [together]: The Ghost is very dumb!!! Wahahahaha!!!
anita
I
----
18/09/2006-
08:39
Virginia: Can't you leave the poor ghost alone? Why do you want to hurt
him? Why do you want to play tricks on him? He has lived here for a very
long time! Leave him alone!
anita
I
----
18/09/2006-
08:40
The twins don't listen, but the ghost hear Virginia's words. The words give
him hope.
anita
I
----
18/09/2006-
08:41
The twins don't listen, but the ghost hear Virginia's words. The words give
him hope.Virginia hear anybody crying and she goes to the library.
anita
A
----
18/09/2006-
08:42
The twins don't listen, but the ghost hear Virginia's words. The words give
him hope.Virginia hear anybody crying and she goes to the library.In the
library, she see the ghost looking at the window.
anita
A
----
18/09/2006-
09:00
---> SCENE 7: It was later when The Otises go to bed, but they don't imagine
that the Ghost planned to visit the twins at night. He planned to visit the twins
in their bedroom for to touch them with his ice-cold hands in the dark.
diego
A
----
18/09/2006-
09:01
---> SCENE 8: Virginia is walking along the corridor. She looks the twin's
bedroom. They are laughing.
diego
A
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18/09/2006-
09:04
Virginia: What happenned with you?!
diego
I
----
18/09/2006-
09:04
Canterville Ghost: Can you answer me a question?!Please...
diego
I
----
18/09/2006-
09:05
Virginia: Sure!
diego
I
----
18/09/2006-
09:13
Virginia: Sure!
diego
A
*
18/09/2006-
09:15
Virginia: Sure!
diego
A
*
18/09/2006-
09:28
The ghost walks to the twin's bedroom, and looks to the twins, they are
sleeping and dreaming...
diego
I
----
18/09/2006-
Vamo deixar assim galera, tipo....a gente acaba a cena e dai quando acabar
carlos
I
----
133
09:42
vem aqui e coloca na cena que acabou e talzz...dai assim fica mais fácil, e a
gente não precisa ir até lá o Fórum pra ver as coisas....=DCésar e Carlos1-
Compra da casa. FEITO2- Otises chegam na casa. FEITO* Mancha na
biblioteca.* Vão dormir.3- Óleo nas correntes do fantasma (barulho no
corredor).* Gêmeos atiram travesseiros. FEITO4- A mancha na biblioteca
com outra cor.* Otises dão risadas e sobem as escadas para tomar café
(aquelas escadas que ficam nas cortinas).* Virgínia fica triste e critica.
FEITO5- Otises ouvem barulhos da biblioteca.* Descem a escada e o fantama
está com a armadura.* Otises oferecem remédio. O Fantasma se irrita.6- O
fantasma vai para sua sala secreta e planeja assustar os gêmeos.7- Os gêmeos
dizem "Boa Noite" e "Feliz Halloween" e todos vão dormir, deixando o
corredor vazio. O Fantasma aparece, a placa e abóbora deixada pelos
gêmeos. Se assusta e sai correndo.Virgínia aparece no corredor e critica o
gêmeos que continuam rindo.8- Virgínia sai pela casa e encontra o fantasma
na biblioteca. Ela conversa com ele e vê a mensagem na janela.* Os dois
seguem pela fenda na parede.9- Otises estão procurando por Virginia.* Ela
reaparece de repente e conta o que deve ser feito.10- Otises na floresta para a
cerimônia de enterro do fantasma
18/09/2006-
09:44
Vamo deixar assim galera, tipo....a gente acaba a cena e dai quando acabar
vem aqui e coloca na cena que acabou e talzz...dai assim fica mais fácil, e a
gente não precisa ir até lá o Fórum pra ver as coisas....=DCésar e Carlos1-
Compra da casa. FEITO 2- Otises chegam na casa. FEITO* Mancha na
biblioteca.* Vão dormir. 3- Óleo nas correntes do fantasma (barulho no
corredor).* Gêmeos atiram travesseiros. FEITO 4- A mancha na biblioteca
com outra cor.* Otises dão risadas e sobem as escadas para tomar café
(aquelas escadas que ficam nas cortinas).* Virgínia fica triste e critica.
FEITO 5- Otises ouvem barulhos da biblioteca.* Descem a escada e o
fantama está com a armadura.* Otises oferecem remédio. O Fantasma se
irrita.FEITO 6- O fantasma vai para sua sala secreta e planeja assustar os
gêmeos. FEITO 7- Os gêmeos dizem "Boa Noite" e "Feliz Halloween" e
todos vão dormir, deixando o corredor vazio. O Fantasma aparece, vê a placa
e abóbora deixada pelos gêmeos. Se assusta e sai correndo.Virgínia aparece
no corredor e critica o gêmeos que continuam rindo. FEITO 8- Virgínia sai
pela casa e encontra o fantasma na biblioteca. Ela conversa com ele e vê a
mensagem na janela.* Os dois seguem pela fenda na parede.9- Otises estão
procurando por Virginia.* Ela reaparece de repente e conta o que deve ser
feito.10- Otises na floresta para a cerimônia de enterro do fantasma
carlos
A
----
18/09/2006-
09:46
Vamo deixar assim galera, tipo....a gente acaba a cena e dai quando acabar
vem aqui e coloca na cena que acabou e talzz...dai assim fica mais fácil, e a
gente não precisa ir até lá o Fórum pra ver as coisas....=DCésar e Carlos 1-
Compra da casa. FEITO.......................... 2- Otises chegam na casa. Mancha
na biblioteca.* Vão dormir.FEITO........................ 3- Óleo nas correntes do
fantasma (barulho no corredor).* Gêmeos atiram travesseiros.
FEITO............................... 4- A mancha na biblioteca com outra cor.* Otises
dão risadas e sobem as escadas para tomar café (aquelas escadas que ficam
nas cortinas).* Virgínia fica triste e critica. FEITO........................... 5- Otises
ouvem barulhos da biblioteca.* Descem a escada e o fantama está com a
armadura.* Otises oferecem remédio. O Fantasma se
irrita.FEITO.................................... 6- O fantasma vai para sua sala secreta e
planeja assustar os gêmeos. FEITO...................... 7- Os gêmeos dizem "Boa
Noite" e "Feliz Halloween" e todos vão dormir, deixando o corredor vazio. O
Fantasma aparece, vê a placa e abóbora deixada pelos gêmeos. Se assusta e
sai correndo.Virgínia aparece no corredor e critica o gêmeos que continuam
rindo. FEITO................................. 8- Virgínia sai pela casa e encontra o
fantasma na biblioteca. Ela conversa com ele e vê a mensagem na janela.* Os
dois seguem pela fenda na parede. FEITO.........................9- Otises estão
procurando por Virginia.* Ela reaparece de repente e conta o que deve ser
feito.10- Otises na floresta para a cerimônia de enterro do fantasma
carlos
A
----
18/09/2006-
09:48
Vamo deixar assim galera, tipo....a gente acaba a cena e dai quando acabar
vem aqui e coloca na cena que acabou e talzz...dai assim fica mais fácil, e a
gente não precisa ir até lá o Fórum pra ver as coisas....=DCésar e Carlos 1-
Compra da casa. FEITO.......................... 2- Otises chegam na casa. Mancha
na biblioteca.* Vão dormir.FEITO........................ 3- Óleo nas correntes do
carlos
A
----
134
fantasma (barulho no corredor).* Gêmeos atiram travesseiros.
FEITO............................... 4- A mancha na biblioteca com outra cor.* Otises
dão risadas e sobem as escadas para tomar café (aquelas escadas que ficam
nas cortinas).* Virgínia fica triste e critica. FEITO........................... 5- Otises
ouvem barulhos da biblioteca.* Descem a escada e o fantama está com a
armadura.* Otises oferecem remédio. O Fantasma se
irrita.FEITO.................................... 6- O fantasma vai para sua sala secreta e
planeja assustar os gêmeos. FEITO...................... 7- Os gêmeos dizem "Boa
Noite" e "Feliz Halloween" e todos vão dormir, deixando o corredor vazio. O
Fantasma aparece, vê a placa e abóbora deixada pelos gêmeos. Se assusta e
sai correndo.Virgínia aparece no corredor e critica o gêmeos que continuam
rindo. FEITO................................. 8- Virgínia sai pela casa e encontra o
fantasma na biblioteca. Ela conversa com ele e a mensagem na janela.* Os
dois seguem pela fenda na parede. FEITO.........................9- Otises estão
procurando por Virginia.* Ela reaparece de repente e conta o que deve ser
feito.10- Otises na floresta para a cerimônia de enterro do fantasma
18/09/2006-
09:49
Vamo deixar assim galera, tipo....a gente acaba a cena e dai quando acabar
vem aqui e coloca na cena que acabou e talzz...dai assim fica mais fácil, e a
gente não precisa ir até lá o Fórum pra ver as coisas....=DCésar e Carlos 1-
Compra da casa. FEITO.......................... 2- Otises chegam na casa. Mancha
na biblioteca.* Vão dormir.FEITO........................ 3- Óleo nas correntes do
fantasma (barulho no corredor).* Gêmeos atiram travesseiros.
FEITO............................... 4- A mancha na biblioteca com outra cor.* Otises
dão risadas e sobem as escadas para tomar café (aquelas escadas que ficam
nas cortinas).* Virgínia fica triste e critica. FEITO........................... 5- Otises
ouvem barulhos da biblioteca.* Descem a escada e o fantama está com a
armadura.* Otises oferecem remédio. O Fantasma se
irrita.FEITO.................................... 6- O fantasma vai para sua sala secreta e
planeja assustar os gêmeos. FEITO...................... 7- Os gêmeos dizem "Boa
Noite" e "Feliz Halloween" e todos vão dormir, deixando o corredor vazio. O
Fantasma aparece, vê a placa e abóbora deixada pelos gêmeos. Se assusta e
sai correndo.Virgínia aparece no corredor e critica o gêmeos que continuam
rindo. FEITO................................. 8- Virgínia sai pela casa e encontra o
fantasma na biblioteca. Ela conversa com ele e vê a mensagem na janela.* Os
dois seguem pela fenda na parede. FEITO.........................9- Otises estão
procurando por Virginia.* Ela reaparece de repente e conta o que deve ser
feito.10- Otises na floresta para a cerimônia de enterro do fantasma
carlos
A
*
18/09/2006-
09:55
PARTE DO BRUNO, PRA NOSSA NÃO FICAR ENCIMA...ELE VAI
FAZER A 9 E A GENTE A 10
carlos
I
----
18/09/2006-
09:59
The wall opened. Therewas darknessbeyond the wall and a cold wind.
bruno
A
----
18/09/2006-
10:00
The wall opened. There was darkness beyond the wall and a cold wind.
bruno
A
----
18/09/2006-
10:01
Chanterville Ghost: Go back, Virginia. Go back before it´s too late.
bruno
I
----
18/09/2006-
10:04
SCENE 10: They are in the forest for the funeral.
carlos
I
----
18/09/2006-
10:05
Chanterville Ghost: Go back, Virginia. Go back before it´s too late.
bruno
I
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18/09/2006-
10:06
Chanterville Ghost: Go back, Virginia. Go back before it´s too late.
carlos
C
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18/09/2006-
10:06
Chanterville Ghost: Go back, Virginia. Go back before it´s too late.
carlos
E
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18/09/2006-
10:06
SCENE 10: They are in the forest for the funeral.
bruno
A
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135
18/09/2006-
10:07
SCENE 10: They are in the forest for the funeral.
carlos
A
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18/09/2006-
10:07
Chanterville Ghost: Go back, Virginia. Go back before it´s too late.
bruno
A
----
18/09/2006-
10:12
SCENE 9: Virginia didn´t come downstairs for supper. MR. Otis sent a
servant to her room. The servant couldn´t find Virginia. So everybody
searched the house.
bruno
I
----
18/09/2006-
10:12
SCENE 9: Virginia didn´t come downstairs for supper. Mr. Otis sent a
servant to her room. The servant couldn´t find Virginia. So everybody
searched the house.
bruno
A
----
18/09/2006-
10:12
SCENE 9: Virginia didn´t come downstairs for supper. Mr. Otis sent a
servant to her room. The servant couldn´t find Virginia. So everybody
searched the house.
bruno
B
----
22/09/2006-
09:52
They go to bed. The ghost climbs the stairs and walks along the corridor.
denise
A
----
22/09/2006-
10:01
Virginia: What happened with you?!
denise
A
----
22/09/2006-
10:03
Virginia: Sure!
denise
A
*
22/09/2006-
10:22
The twins don't listen, but the ghost hear Virginia's words. The words give
him hope. One afternoon, Virginia goes to the library. The library door is
slightly open. There was somebody sat by the window. It was the Canterville
Ghost! He is looking at the library window which was made of coloured
glass. There were words painted on the glass.
denise
A
----
22/09/2006-
10:26
Virginia: I feel very sorry for you!, m sorry that my brothers weren´t very
kind to you. But you did try to frighten them!.
denise
A
----
22/09/2006-
10:28
The ghost: Yes I did. Is my job to frighten everyone who cames to
Canterville Chase.
denise
I
----
22/09/2006-
10:28
The ghost: Yes I did. Is my job to frighten everyone who cames to
Canterville Chase.
denise
E
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22/09/2006-
10:29
The ghost: Yes, I did. It´s my job to frighten everyone who cames to
Canterville Chase
denise
I
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22/09/2006-
10:29
The ghost: Yes, I did. It´s my job to frighten everyone who comes to
Canterville Chase
denise
A
----
22/09/2006-
10:32
Virginia: You´re very wicked. Mrs Umney, the housekeeper, told us that you
killed your wife.
denise
I
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22/09/2006-
10:33
Virginia: You are very wicked. Mrs Umney, the housekeeper, told us that you
killed your wife.
denise
A
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22/09/2006-
10:35
Canterville Ghost: Can you answer me a question?!Please...
denise
E
----
22/09/2006-
10:35
Virginia: Sure!
denise
E
*
22/09/2006-
10:40
Ghost: Yes, I did. But she wasn´t very kind. And it wasn´t very kind of her
brothers to starve me to death.
denise
I
----
22/09/2006-
10:41
Ghost: Yes, I did. But she wasn´t very kind. And it wasn´t very kind of her
brothers to starve me to death.
denise
A
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136
22/09/2006-
10:43
Virginia: Starve you to death?. Oh, poor ghost, are you hungry? Would you
like a sandwich?
densie
I
----
22/09/2006-
10:48
Ghost: No thank you. I never eat anything. But you are very kind. I like you!.
You aren´t nasty and unkind as the rest of your family.
denise
I
----
22/09/2006-
10:49
Ghost: No, thank you. I never eat anything. But you are very kind. I like you!.
You aren´t nasty and unkind then the rest of your family.
denise
A
----
22/09/2006-
10:52
Virginia: Ohh shut up! Don´t say anything bad to my family. You don`t have
this right.
denise
I
----
22/09/2006-
10:54
Ghost: m Sorry, miss Virginia, but don´t go please. I´m so lonely and so
unhappy. I don´t know what to do. I want to go to sleep and I cannot!.
denise
I
----
22/09/2006-
10:56
Ghost: I am Sorry, Miss Virginia, but don´t go, please. I am so lonely and so
unhappy. I don´t know what to do. I want to go to sleep and I cannot!.
denise
A
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22/09/2006-
10:56
Virginia: Ohh shut up! Don´t say anything too bad for my family. You don`t
have this right.
denise
A
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22/09/2006-
11:00
Virginia walks across the library and looks at the old face of the ghost. It is a
sad face.
denise
I
----
22/09/2006-
11:01
Virginia: Poor ghost!!! How can I help you?
denise
I
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22/09/2006-
11:02
Virginia: Starve you to death?. Oh, poor ghost, Are you hungry? Would you
like a sandwich?
denise
A
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22/09/2006-
11:07
Ghost: Ohhhh far away in the woods, there is a little garden. In the garden the
grass grows long and thick. There are many flowers and trees... The
nightingale sings all night along ...[the ghost continou speaks ---> bla bla bla]
it´s beautiful...!!!
denise
I
----
22/09/2006-
11:07
Ghost: Ohhhh far away in the woods, there is a little garden. In the garden the
grass grows long and thick. There are many flowers and trees... The
nightingale sings all night along ...[the ghost continues speak ---> bla bla bla]
it´s beautiful...!!!
denise
A
----
22/09/2006-
11:09
Virginia [putting her hands over her face]: You mean it is the Garden of
Death!
denise
I
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22/09/2006-
11:11
Ghost: yeah!!, The Garden of Sleep!. But only Love can open the door to the
garden. For love is stronger than death.
denise
I
----
22/09/2006-
11:12
Ghost: yeah!!, The Garden of Sleep!. But only love can open the door to the
garden. For love is stronger than death.
denise
A
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22/09/2006-
11:14
Virginia doest know what to say.
denise
I
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22/09/2006-
11:15
Ghost: Have you read the writing on the library window?
denise
I
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22/09/2006-
11:16
Virginia: Yes, but I don´t understand it.
denise
I
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22/09/2006-
11:21
Ghost: Look! It says: "When a golden girl shall weep, for the ghost that
cannot sleep, then the dead at last shall die, and in restful earth may lie". The
words mean you must weep for me.
denise
I
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22/09/2006-
11:22
Virginia: What do I have to do?
deniose
I
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137
22/09/2006-
11:24
Ghost: Look! It says: "When a golden girl shall weep. For the ghost that
cannot sleep. Then the dead at last shall die. And in restful earth may lie".
The words mean you must weep for me.
denise
A
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22/09/2006-
11:24
Ghost: Have you read the writing on the library window?
denise
A
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22/09/2006-
20:01
SCENE 9: Virginia dot come downstairs for supper. Mr. Otis sent a servant
to her room. The servant can´t find Virginia. So, everybody search Virginia in
the house.
anita
A
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25/09/2006-
08:05
The wall open. There was darkness beyond the wall and a cold wind.
ana
A
----
25/09/2006-
08:06
Canterville Ghost: Go back, Virginia. Go back before it´s too late.
ana
A
----
25/09/2006-
08:07
SCENE 9: Virginia dot come downstairs for supper. Mr. Otis send a
servant to her room. The servant can´t find Virginia. So, everybody search
Virginia in the house.
ana
A
----
25/09/2006-
08:09
Virginia: Yes, but I didn´t understand it.
ana
A
----
25/09/2006-
08:12
Canterville Ghost: You must come with me into the darkness. You will see
strange things. You will hear strange voices, but nothing will hurt you. You
are good and kind. The dark can't hurt you.
ana
I
----
25/09/2006-
08:14
Virginia don't answer and the ghost wait. He had waited for three hundred
years. This are the longest minute of all that time.
ana
I
----
25/09/2006-
08:15
Virginia: I'm not afraid... I will come with you into the dark.
ana
I
----
25/09/2006-
08:16
The ghost kiss her hand. The ghost hold her hand and they walk to the wall of
the library.The wall open. There was darkness beyond the wall and a cold
wind.
ana
A
----
25/09/2006-
08:17
The ghost kiss her hand. The ghost hold her hand and they walk to the wall of
the library.The wall open. There was darkness beyond the wall and a cold
wind.The voices speak out of the wind.
ana
A
----
25/09/2006-
08:19
Virginia walk into the darkness with the ghost. They disappear through the
library wall.
ana
I
----
25/09/2006-
08:19
The Voices: Go back, Virginia. Go back before it´s too late.
ana
A
----
25/09/2006-
08:21
SCENE 9: Virginia dot come downstairs for supper. Mr. Otis send a
servant to her room. The servant can´t find Virginia. So, everybody search
Virginia in the house. They look everywhere, but they can't find her. Mr. Otis
and Mrs. Otis are very worry.
ana
A
----
25/09/2006-
08:22
Mr Otis: Where is my little girl? I'm so upset!
ana
I
----
25/09/2006-
08:22
Mrs Otis: Where is my little girl? I'm so upset!
ana
A
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25/09/2006-
08:24
Mr Otis: Our daughter are missing and this is our fault!
ana
I
----
25/09/2006-
08:27
Suddenly, a strange music sound inside the house and a door open at the top
of the stairs. Virginia appear.
ana
I
----
138
25/09/2006-
08:28
Suddenly, a strange music sound inside the house and a door open at the top
of the stairs. Virginia appear.She look down the stairs at your family. Her
face is very pale and she carry a small box in her hands.
ana
A
----
25/09/2006-
08:30
Mr Otis: Where have you been? [angrily] Your mother has been very
worried. You have frightened us all. You must never play a trick like this
again!
ana
I
----
25/09/2006-
08:31
The twins: Except on the ghost. You can play tricks on the ghost!
ana
I
----
25/09/2006-
08:32
Virginia: Father, I have been with the ghost. He is dead and now he can rest.
He gave me this box of bautiful jewel before he died.
ana
I
----
25/09/2006-
08:33
Virginia show her father the small box. Inside are necklace made of red
stones.
ana
I
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25/09/2006-
08:34
Mr Otis: Where did get this? Where have you been?
ana
I
----
25/09/2006-
08:35
Virginia: Come. I will show you.
ana
I
----
25/09/2006-
08:37
She turn back to the door at the top of the stairs. All of the family follow her.
ana
I
----
25/09/2006-
08:40
She turn back to the door at the top of the stairs. All of the family follow her.
ana
A
----
25/09/2006-
08:42
SCENE 10: The Otises follow Virginia along a secret corridor. They come to
an old wooden door wich is open.Beyond the door is a little room with a low
ceiling. There is an iron ring in the wall and two chains. At the end of the
chains is a skeleton.
ana
A
----
25/09/2006-
08:45
Virginia: This is the body of Sir Simon of Canterville. He murdered his wife
in 1575 (fifteen seventy five). Then his wife's brother shut him in this room.
He was given no food. Sir Simon starved to death ...
ana
I
----
25/09/2006-
08:56
Ghost: I am Sorry, Miss Virginia, but don´t go, please. I am so lonely and so
unhappy. I don´t know what to do. I want to go to sleep and I cannot!
diego
A
----
25/09/2006-
09:02
Virginia goes into the darkness with the ghost. They disappear through the
library wall.
diego
A
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25/09/2006-
09:02
Virginia walks into the darkness with the ghost. They disappear through the
library wall.
diego
A
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25/09/2006-
09:05
Suddenly, a strange music sound inside the house and a door open at the top
of the stairs. Virginia appears. She looks down the stairs at your family. Her
face is very pale and she carries a small box in her hands.
diego
A
----
25/09/2006-
09:06
Virginia: Father, I have been with the ghost. He is dead and now he can rest.
He gaves me this box of bautiful jewel before he died.
diego
A
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25/09/2006-
09:07
Virginia shows for her father the small box. Inside there is a necklace made
of red stones.
diego
A
----
25/09/2006-
09:07
She turns back to the door at the top of the stairs. All of the family follow her.
diego
A
----
25/09/2006-
09:12
Virginia: This is the body of Sir Simon of Canterville. He murdered his wife
in 1575, because she traired him. Then her loving shut him in this room. He
was given no food and no water. Sir Simon starved to death ...
diego
A
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25/09/2006-
The Otises have been so upset and angry to the wife of Sr.Simon...
diego
I
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139
09:13
25/09/2006-
09:16
Mr.Otis: So!Why can I help you?!And the ghost...
diego
I
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25/09/2006-
09:24
Virginia: You need to go at the ghost's funeral...
diego
I
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25/09/2006-
09:25
Virginia: We need to go at the ghost's funeral...
diego
A
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25/09/2006-
09:27
Mr.Otis: Ok!But when is the funeral?!
diego
I
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25/09/2006-
09:28
Virginia: It's now!
diego
I
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25/09/2006-
09:29
The Otises go to the ghost's funeral, they cry, but they are so happy for the
ghost...After that they live happy forever...
diego
I
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25/09/2006-
09:36
SCENE 10: The Otises follow Virginia along a secret corridor. They come to
an old wooden door wich is open.Beyond the door is a little room with a low
ceiling. There is an iron ring in the wall and two chains. At the end of the
chains is a skeleton.
césar
A
----
25/09/2006-
09:38
Vamo deixar assim galera, tipo....a gente acaba a cena e dai quando acabar
vem aqui e coloca na cena que acabou e talzz...dai assim fica mais fácil, e a
gente não precisa ir até lá o Fórum pra ver as coisas....=DCésar e Carlos 1-
Compra da casa. FEITO.......................... 2- Otises chegam na casa. Mancha
na biblioteca.* Vão dormir.FEITO........................ 3- Óleo nas correntes do
fantasma (barulho no corredor).* Gêmeos atiram travesseiros.
FEITO............................... 4- A mancha na biblioteca com outra cor.* Otises
dão risadas e sobem as escadas para tomar café (aquelas escadas que ficam
nas cortinas).* Virgínia fica triste e critica. FEITO........................... 5- Otises
ouvem barulhos da biblioteca.* Descem a escada e o fantama está com a
armadura.* Otises oferecem remédio. O Fantasma se
irrita.FEITO.................................... 6- O fantasma vai para sua sala secreta e
planeja assustar os gêmeos. FEITO...................... 7- Os gêmeos dizem "Boa
Noite" e "Feliz Halloween" e todos vão dormir, deixando o corredor vazio. O
Fantasma aparece, vê a placa e abóbora deixada pelos gêmeos. Se assusta e
sai correndo.Virgínia aparece no corredor e critica o gêmeos que continuam
rindo. FEITO................................. 8- Virgínia sai pela casa e encontra o
fantasma na biblioteca. Ela conversa com ele e vê a mensagem na janela.* Os
dois seguem pela fenda na parede. FEITO.........................9- Otises estão
procurando por Virginia.* Ela reaparece de repente e conta o que deve ser
feito.....................FEITO10- Otises na floresta para a cerimônia de enterro do
fantasma.................................FEITOACABOOOOOOOOOOOOOOOOO
¬¬* \o/
césar
A
----
25/09/2006-
09:50
Vamo deixar assim galera, tipo....a gente acaba a cena e dai quando acabar
vem aqui e coloca na cena que acabou e talzz...dai assim fica mais fácil, e a
gente não precisa ir até lá o Fórum pra ver as coisas....=DCésar e Carlos 1-
Compra da casa. FEITO.......................... 2- Otises chegam na casa. Mancha
na biblioteca.* Vão dormir.FEITO........................ 3- Óleo nas correntes do
fantasma (barulho no corredor).* Gêmeos atiram travesseiros.
FEITO............................... 4- A mancha na biblioteca com outra cor.* Otises
dão risadas e sobem as escadas para tomar café (aquelas escadas que ficam
nas cortinas).* Virgínia fica triste e critica. FEITO........................... 5- Otises
ouvem barulhos da biblioteca.* Descem a escada e o fantama está com a
armadura.* Otises oferecem remédio. O Fantasma se
irrita.FEITO.................................... 6- O fantasma vai para sua sala secreta e
planeja assustar os gêmeos. FEITO...................... 7- Os gêmeos dizem "Boa
Noite" e "Feliz Halloween" e todos vão dormir, deixando o corredor vazio. O
Fantasma aparece, vê a placa e abóbora deixada pelos gêmeos. Se assusta e
sai correndo.Virgínia aparece no corredor e critica o gêmeos que continuam
césar
E
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140
rindo. FEITO................................. 8- Virgínia sai pela casa e encontra o
fantasma na biblioteca. Ela conversa com ele e vê a mensagem na janela.* Os
dois seguem pela fenda na parede. FEITO.........................9- Otises estão
procurando por Virginia.* Ela reaparece de repente e conta o que deve ser
feito.....................FEITO10- Otises na floresta para a cerimônia de enterro do
fantasma.................................FEITOACABOOOOOOOOOOOOOOOOO
¬¬* \o/
25/09/2006-
10:07
Characters-> Ghost: [img]http://www.fenomeno.trix.net/images/fenomeno-
fantasmab.jpg
césar
I
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25/09/2006-
10:08
Characters-> Ghost: [img]http://www.fenomeno.trix.net/images/fenomeno-
fantasmab.jpg[/img]
césar
A
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25/09/2006-
10:08
Characters-> Ghost: [img]http://www.fenomeno.trix.net/images/fenomeno-
fantasmab.jpg[/img]
césar
E
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02/10/2006-
08:34
The Otises go to the ghost's funeral. Virginia are crying but she is are so
happy for the ghost...
anita
A
----
02/10/2006-
08:36
Virginia: rest in peace... I'm so happy for you...
anita
I
----
02/10/2006-
08:39
Virginia takes a flower on the ghost's tomb.After that, all the Otises get out
and they live happy forever...
anita
I
----
02/10/2006-
08:40
Mean while at the house...
anita
I
----
02/10/2006-
08:40
Meanwhile at the house...
anita
A
----
02/10/2006-
08:41
The Otises (except Washington) go to the ghost's funeral. Virginia are crying
but she is are so happy for the ghost...
anita
A
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02/10/2006-
08:43
Washington: I'll still remove the stain of the floor with the Pinkerton's Stain
Remover!!!
anita
I
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02/10/2006-
08:58
Mr.Otis: So! How can I help you?!And the ghost...
diego
A
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02/10/2006-
08:59
The Otises (except Washington) go to the ghost's funeral. Virginia are crying
but she is so happy for the ghost...
diego
A
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09/10/2006-
09:15
Mr Otis: [exciting] Wow... The Canterville Chase is really beautiful! It's a big
and old house, it isn't?
diego
A
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09/10/2006-
09:59
http://www6.ufrgs.br/aled/acervo/arquivos/1493.gif
césar
I
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09/10/2006-
10:00
[tag]http://www6.ufrgs.br/aled/acervo/arquivos/1493.gif[/tag]
césar
A
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09/10/2006-
10:00
[img]http://www6.ufrgs.br/aled/acervo/arquivos/1493.gif[/tag]
césar
A
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09/10/2006-
10:00
[img]http://www6.ufrgs.br/aled/acervo/arquivos/1493.gif[/img]
césar
A
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09/10/2006-
10:01
[htm]http://www6.ufrgs.br/aled/acervo/arquivos/1493.gif[/htm]
césar
A
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09/10/2006-
10:01
http://www6.ufrgs.br/aled/acervo/arquivos/1493.gif
césar
A
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141
09/10/2006-
10:02
[tag]http://www6.ufrgs.br/aled/acervo/arquivos/1493.gif[/tag]
césar
A
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09/10/2006-
10:02
[htm]http://www6.ufrgs.br/aled/acervo/arquivos/1493.gif[/htm]
césar
A
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09/10/2006-
10:02
[html]http://www6.ufrgs.br/aled/acervo/arquivos/1493.gif[/html]
césar
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09/10/2006-
10:02
[img]http://www6.ufrgs.br/aled/acervo/arquivos/1493.gif[/img]
césar
A
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09/10/2006-
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[img]http://www6.ufrgs.br/aled/acervo/arquivos/1493.gif[/img]
césar
E
----
09/10/2006-
10:07
He pushed open the door of the twins' bedroom. The door banged against the
wall. He had planned to shout and hold his head in his hands. But a haevy jug
of water fell from the top of the door.
bruno
I
----
09/10/2006-
10:07
[gif]http://www6.ufrgs.br/aled/acervo/arquivos/1493.gif[/gif]
césar
I
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09/10/2006-
10:07
[gif]http://www6.ufrgs.br/aled/acervo/arquivos/1493.gif[/gif]
césar
E
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09/10/2006-
10:08
He pushed open the door of the twins' bedroom. The door banged against the
wall. He had planned to shout and hold his head in his hands. But a haevy jug
of water fell from the top of the door.
bruno
C
----
09/10/2006-
10:11
The twins had played a trick on him, He was saoked with water. The twins
shouted and laughed. The ghost ran back down the corridor. He couldn't
frighten teh twins. He couldn't frighten anyone in the Otises family.
bruno
I
----
09/10/2006-
10:12
He pushed open the door of the twins' bedroom. The door banged against the
wall. He had planned to shout and hold his head in his hands. But a heavy jug
of water fell from the top of the door.
césar
A
----
12/10/2006-
21:52
The Otises (except Washington) go to the ghost's funeral. Virginia is crying
but she cries of hapiness!
denise
A
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12/10/2006-
21:56
Mr Otis: Our daughter is missing and this is our fault!
denise
A
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12/10/2006-
22:05
SCENE 9: Virginia didn´t come downstairs for supper. So Mr. Otis sends a
servant to her room. The servant can´t find Virginia. Thus, everybody begin
to look for Virginia in the house. They look everywhere, but they can't find
her. Mr. Otis and Mrs. Otis are very worry.
denise
A
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12/10/2006-
22:09
Virginia doesn't answer and the ghost waits. He had waited for three hundred
years. This is the longest minute of all that time.
denise
A
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12/10/2006-
22:10
Virginia: What I have to do?
denise
A
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12/10/2006-
22:21
The twins had played a trick on him, He was soaked with water. The twins
shouted and laughed. The ghost ran back down the corridor. He couldn't
frighten the twins. He couldn't frighten anyone in the Otises family.
denise
A
----
12/10/2006-
22:44
---> SCENE 4: It was early when the Otises being to have breakfast.
denise
A
----
16/10/2006-
08:08
---> SCENE 7: It's later when The Otises go to bed, but they don't imagine
that the Ghost planned to visit the twins at night. He planned to visit the twins
in their bedroom for to touch them with his ice-cold hands in the dark.
anita
A
----
142
16/10/2006-
08:09
He open the door of the twins' bedroom. The door bang against the wall. He
plan to shout and hold his head in his hands. But a heavy jug of water fell
from the top of the door.
anita
A
----
16/10/2006-
08:10
The twins play a trick on him, He was soak with water. The twins shout and
laugh. The ghost run back down the corridor. He can't frighten the twins and
anyone in the Otises family.
anita
A
----
16/10/2006-
08:11
---> SCENE 7: It's later when The Otises go to bed, but they don't imagine
that the Ghost planned to visit the twins at night. He planned to visit the twins
in their bedroom for to touch them with his ice-cold hands in the dark.
anita
A
----
16/10/2006-
08:14
He opens the door of the twins' bedroom. The door bangs against the wall. He
plans to shout and hold his head in his hands. But a heavy jug of water fells
from the top of the door.
anita
A
----
16/10/2006-
08:14
The twins play a trick on him, He is soak with water. The twins shout and
laugh. The ghost runs back down the corridor. He can't frighten the twins and
anyone in the Otises family.
anita
A
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16/10/2006-
08:17
---> SCENE 11: Meanwhile at the house...
anita
A
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16/10/2006-
08:17
---> SCENE 10: The Otises follow Virginia along a secret corridor. They
come to an old wooden door wich is open.Beyond the door is a little room
with a low ceiling. There is an iron ring in the wall and two chains. At the end
of the chains is a skeleton.
anita
A
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16/10/2006-
08:18
---> SCENE 9: Virginia don´t come downstairs for supper. So Mr. Otis sends
a servant to her room. The servant can´t find Virginia. Thus, everybody begin
to look for Virginia in the house. They look everywhere, but they can't find
her. Mr. Otis and Mrs. Otis are very worry.
anita
A
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16/10/2006-
08:18
---> SCENE 9: Virginia didn´t come downstairs for supper. So Mr. Otis sends
a servant to her room. The servant can´t find Virginia. Thus, everybody begin
to look for Virginia in the house. They look everywhere, but they can't find
her. Mr. Otis and Mrs. Otis are very worry.
anita
A
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16/10/2006-
08:24
INTRODUCTION: Sir Simon of Canterville is a ghost. He has lived in The
Canterville Chase for three hundred years. His jos is to terrify the people who
stay there. But Mr. Otis, an American, buys the house and the thriller start...
For the ghost...
anita
I
----
16/10/2006-
08:35
CHARACTERS IN THE PLAY: Sir Simon, the dumb ghost. Virginia, the
spoilsport lady. Mr Otis, the boring American. Mrs Otis, the boring wife.
Washington, the camp and the oldest son. The Twins, the young twins. Mrs
Umney, the doormat housekeeper.
aniat
I
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16/10/2006-
08:56
INTRODUCTION: Sir Simon of Canterville is a ghost. He has lived in The
Canterville Chase for three hundred years. His job is to terrify the people who
stay there. But Mr. Otis, an American, buys the house and the thriller start...
For the ghost...
denise
A
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16/10/2006-
08:57
CHARACTERS IN THE PLAY: Sir Simon, the dumb ghost; Virginia, the
spoilsport lady; Mr Otis, the boring American; Mrs Otis, the boring wife;
Washington, the camp and the oldest son; The Twins, the young sons; Mrs
Umney, the doormat housekeeper.
denise
A
----
16/10/2006-
09:05
Performance Notes: Scene 1: people are talking in the garden, of the
Canterville chase, there is a lot of trees and a square bank.
denise
I
----
16/10/2006-
09:07
Performance Notes: SCENE 1: people are talking in the garden, of the
Canterville chase, there is a lot of trees and a square bank. SCENE 2:
denise
A
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16/10/2006-
Performance Notes: SCENE 1: People are talking in the garden, of the
denise
A
----
143
09:19
Canterville chase, there is a lot of trees and a square bank. SCENE 2: The
Otises and the housekeeper are in the libery, there are a pots of tea on the
table and two sofas. SCENE 3: There is long and dark corridor with a red
carpet in center. In the end of the corridor, there is picture of Sir Simon
Canterville. Below there is a vase with red roses on the table. SCENE 4:
16/10/2006-
09:41
---> SCENE 7: It's later when The Otises go to bed, but they don't imagine
that the Ghost plan to visit the twins at night. He plan to visit the twins in
their bedroom for to touch them with his ice-cold hands in the dark.
bruno
A
----
16/10/2006-
09:44
---> SCENE 7: It's later when The Otises go to bed, but they don't imagine
that the Ghost plans to visit the twins at night. He plans to visit the twins in
their bedroom for to touch them with his ice-cold hands in the dark.
bruno
A
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16/10/2006-
10:13
Performance Notes: SCENE 1: People are talking in the garden, of the
Canterville chase, there is a lot of trees and a square bank. SCENE 2: The
Otises and the housekeeper are in the libery, there are a pots of tea on the
table and two sofas. SCENE 3: There is long and dark corridor with a red
carpet in center. In the end of the corridor, there is picture of Sir Simon
Canterville. Below there is a vase with red roses on the table. SCENE 4: The
Otises are in the library there is two sofas and one table. SCENE 5: They're in
the living room. There is a armour, a carpet and a vase of flowers on the
table. SCENE 6: The Ghost is in your secret room. There is a sofa and a little
table next of the sofa. SCENE 7: In the twin's bedroom have two beds and a
table between. there is a lamp on the table.
bruno
A
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20/10/2006-
22:50
Performance Notes: SCENE 1: People are talking in the garden, of the
Canterville chase, there is a lot of trees and a square bank. SCENE 2: The
Otises and the housekeeper are in the libery, there are a pots of tea on the
table and two sofas. SCENE 3: There is long and dark corridor with a red
carpet in center. In the end of the corridor, there is picture of Sir Simon
Canterville. Below there is a vase with red roses on the table. SCENE 4: The
Otises are in the library there are two sofas and one table. SCENE 5: In the
living room there is a vase with flowers and a white and wide towel. In one
side of this room there is an armour. SCENE 6: The Ghost is in your secret
room. There is a sofa and a little table next of the sofa. Many maps and books
are played on the table. SCENE 7: In the twin's bedroom, there are two beds
and a table between this. There is a orange lamp on the table and many toys
are in the soil.
denise
A
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23/10/2006-
08:09
The twins don't listen, but the ghost hear Virginia's words. The words give
him hope. One afternoon, Virginia goes to the library.
ana
A
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23/10/2006-
08:10
---> SCENE 9: The library door is slightly open. There was somebody sat by
the window. It was the Canterville Ghost! He is looking at the library window
which was made of coloured glass. There were words painted on the glass.
ana
I
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23/10/2006-
08:10
---> SCENE 10: Virginia didn´t come downstairs for supper. So Mr. Otis
sends a servant to her room. The servant can´t find Virginia. Thus, everybody
begin to look for Virginia in the house. They look everywhere, but they can't
find her. Mr. Otis and Mrs. Otis are very worry.
ana
A
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23/10/2006-
08:11
---> SCENE 11: The Otises follow Virginia along a secret corridor. They
come to an old wooden door wich is open.Beyond the door is a little room
with a low ceiling. There is an iron ring in the wall and two chains. At the end
of the chains is a skeleton.
ana
A
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23/10/2006-
08:11
---> SCENE 12: Meanwhile at the house...
ana
A
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23/10/2006-
08:17
SCENE 2: The Otises and the housekeeper are in the libery, there are a pots
of tea on the table and two sofas.
ana
I
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23/10/2006-
08:17
SCENE 3: There is long and dark corridor with a red carpet in center. In the
end of the corridor, there is picture of Sir Simon Canterville. Below there is a
ana
I
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144
vase with red roses on the table.
23/10/2006-
08:17
SCENE 4: The Otises are in the library there are two sofas and one table.
ana
I
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23/10/2006-
08:18
SCENE 5: In the living room there is a vase with flowers and a white and
wide towel. In one side of this room there is an armour.
ana
I
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23/10/2006-
08:18
SCENE 6: The Ghost is in your secret room. There is a sofa and a little table
next of the sofa. Many maps and books are played on the table.
ana
I
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23/10/2006-
08:19
SCENE 7: In the twin's bedroom, there are two beds and a table between this.
There is a orange lamp on the table and many toys are in the soil.
ana
I
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23/10/2006-
08:19
SCENE 1: People are talking in the garden, of the Canterville chase, there is a
lot of trees and a square bank.
ana
A
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23/10/2006-
08:19
PERFORMANCE NOTES
ana
I
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08:20
PERFORMANCE NOTES
ana
B
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08:24
SCENE 8: There is long and dark corridor with a red carpet in center. In the
end of the corridor, there is picture of Sir Simon Canterville. Below there is a
vase with red roses on the table. There is the door of the Twin's bedroom.
Along the corridor, are some doors of the others Otise's bedrooms.
ana
I
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23/10/2006-
08:33
SCENE 9: There are many bookshelfs and one table at the center with two
chairs. In the empty wall, are one window. In the glass of the window, is a
prophecy writing.
ana
I
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08:37
SCENE 9: There are many bookshelfs and one table at the center with two
chairs. In the empty wall, are one window. In the glass of the window, is a
prophecy writing.
ana
A
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30/10/2006-
08:18
SCENE 10: There are the stair, two arm-chairs and one carpet. When Virginia
appears, she holds one little box.
anita
I
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08:27
SCENE 11: There are an iron ring in the wall and two chains. At the end of
the chains, is the skeleton of Sir Simon of Canterville. There are many plots
and chains too. The place is almost dark.
anita
I
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30/10/2006-
08:28
---> SCENE 12: The Otises (except Washington) go to the ghost's funeral.
Virginia is crying but she cries of hapiness!
anita
A
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08:29
---> SCENE 13: Meanwhile at the house...
anita
A
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30/10/2006-
08:31
SCENE 12: There are many tombs and one tree. In the tomb of Sir Simon, are
many flowers.
anita
I
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08:36
SCENE 13: There are the stain on the floor, the Pinkerton's Stain Remover
and one cleaning cloth.
anita
I
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30/10/2006-
09:20
SCENE 6: The Ghost is in his secret room. There is a sofa and a little table
next of the sofa. Many maps and books are played on the table.
diego
A
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09:21
SCENE 2: The Otises and the housekeeper are in the libery, there are many
cups of tea on the table and two sofas.
diego
A
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30/10/2006-
09:49
SCENE 2: The Otises and the housekeeper are in the library, there are many
cups of tea on the table and two sofas.
bruno
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