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Universidade Estadual Paulista
"Júlio de Mesquita Filho"
Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica
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Dissertação apresentada à Faculdade de
Engenharia de Ilha Solteira – UNESP, como
parte dos requisitos para obtenção do título
de Mestre em Engenharia Mecânica.
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Ilha Solteira, Dezembro de 2007
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A Deus, pela sua presença em todos os dias de minha
vida; em especial a minha irmã Maria Amélia, pelo seu ato
heróico; à toda minha família – minha mãe, Maria Rosa,
meu pai, Manoel, e meus irmãos, Carlos Renato e José
Eduardo; e àqueles que, de alguma forma, me apoiaram e
me ajudaram no momento mais difícil da minha vida.
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Para a conclusão do presente trabalho, contei com a ajuda e o apoio de várias pessoas
e instituições. É com grande satisfação que expresso meus sinceros agradecimentos a todos
eles. Em particular, sou grato:
A Deus, por esta oportunidade;
Aos Profs. Sérgio Said Mansur e Edson Del Rio Vieira, primeiramente, pela amizade durante
quase todos os anos de minha vida acadêmica e, como orientadores, pela paciência em
transmitir muito dos seus valiosos conhecimentos, por sempre terem dado oportunidades e
espaço para o meu crescimento, sem nunca terem deixado de exigir o melhor de mim;
Aos Profs. André Luiz Seixlack e Ricardo Augusto Mazza, pela participação na banca
examinadora encarregada de julgar o presente trabalho;
Aos técnicos do Departamento de Engenharia Mecânica, Marino, Edivaldo, Darci, Ronaldo,
pelo auxílio e pela amizade, e, em especial, ao técnico Reginaldo, que, além de um grande
amigo, um ótimo profissional, acima de tudo – um braço direito na montagem da instalação
experimental;
Aos estagiários Rony e Thiago, que colaboraram, com seus conhecimentos, na montagem do
aparato experimental;
Ao corpo docente do Departamento de Engenharia Mecânica e a todos demais professores que
contribuíram, de forma direta ou indireta, na minha formação acadêmica e profissional;
A todos os funcionários do Departamento de Engenharia Mecânica: aos secretários Elaine,
Sandra e Alex, que sempre me ajudaram nas questões burocráticas, ao técnico de
informática Elias, pelo suporte, e ao pessoal da faxina, por manterem nosso local de
trabalho limpo e agradável;
A todos os amigos que fiz em minha estada na UNESP Ilha Solteira, tanto na graduação como
na pós-graduação; em especial, a três deles, Adailton, Franscisco Augusto e Alexandre
Marson, que sempre estiveram ao meu lado colaborando e incentivando durante o
desenvolvimento deste trabalho;
Aos meus pais e familiares, que sempre estiveram me incentivando e apoiando nos momentos
mais difíceis;
À minha namorada e seus familiares, por me acompanharem nesta jornada.
À CAPES, pelo suporte financeiro que viabilizou a realização deste trabalho, concedendo-me
uma bolsa de estudos.
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O princípio de funcionamento de um sistema gas-lift é bastante simples,
baseando-se na injeção de um gás inerte próximo à extremidade submersa de um tubo
utilizado para ascensão do líquido (riser). Esse sistema tem sido utilizado em diversos setores
da indústria, dentre os quais se destaca o setor petroquímico. Apesar de ter sido concebido
há mais de um século, e a despeito do considerável número de artigos publicados sobre o
assunto, vários aspectos relativos às características do escoamento bifásico dentro do riser e
ao funcionamento do sistema são, ainda, pouco conhecidos. No presente trabalho, um sistema
air-lift de pequeno porte foi inteiramente desenvolvido e testado, permitindo observar o
comportamento do sistema quando submetido a variações na vazão de ar, na razão de
submersão e na geometria do injetor – contendo três (3F) ou quinze furos (15F). Ensaios de
visualização foram conduzidos, possibilitando a caracterização do escoamento bifásico no
interior do riser. Medições experimentais foram, também, realizadas para a obtenção da
eficiência e das curvas características do sistema. Os resultados quantitativos foram
interpretados em associação com imagens estáticas do escoamento, capturadas com uma
câmera fotográfica digital, e com imagens dinâmicas, tomadas com o auxílio de uma
filmadora de alta velocidade. A partir destas imagens, foi possível, ainda, a estimativa de
alguns importantes parâmetros característicos do escoamento pistonado, associados ao
deslocamento da chamada bolha de Taylor. Os dados assim obtidos foram comparados com
valores oriundos de correlações empíricas propostas por outros autores, apresentando boa
concordância. Com relação aos resultados quantitativos, observou-se que, sob determinadas
condições de operação, o injetor 3F é capaz de atribuir ao sistema um rendimento
significativamente maior que o apresentado quando o injetor 15F é empregado.
Palavras chave: sistema gas-lift, escoamento bifásico, visualização de escoamentos,
velocidade de bolha, escoamento pistonado, bolha de Taylor.
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The beginning of operation of the gas-lift system it is quite simple, basing on the
injection of a close inert gas to the extremity submerged of a tube used for ascension of the
liquid. That system has been used in several sections of the industry, among which stands out
the section petrochemical. In spite of it being become pregnant there is more than one
century, and in spite of the considerable number of goods published on the subject, several
relative aspects to the characteristics of the two-phase flow inside of the riser and to the
operation of the healthy system little known. In the present work, a system air-lift of small
load was entirely developed and tested, allowing to observe the behavior of the system when
submitted to variations in the flow of air, in the submersion reason and in the geometry of the
injector - containing three (3F) or fifteen holes (15F). Visualization rehearsals were
accomplished, making possible the characterization of the two-phase flow inside the riser.
Experimental measurements were, also, accomplished for the obtaining of the efficiency and
of the characteristic curves of the system. The quantitative results were interpreted in
association with static images of the flow, captured with a digital photographic camera, and
with dynamic images, sockets with the aid of a high-speed camcorder. Starting from these
images, it was possible the estimate of some important characteristic parameters of the slug
flow, associates to the displacement of the call bubble of Taylor. The data obtained like this
were compared with values originating from of empiric correlations proposed by other
authors, presenting good agreement. Regarding the quantitative results, it was observed that,
under certain operation conditions, the injector 3F is capable to attribute to the system
significantly an income larger than presented it when the injector 15F is used.
Key word: gas-lift system, two-phase flow, visualization of the flow, bubble velocity, slug
flow, bubble of Taylor.
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Figura 1.1: Sistema de bombeamento utilizado nos jardins da Babilônia
02
Figura 1.2: Parafuso de Arquimedes 02
Figura 1.3: Equipamentos de bombeamento sanguíneo 03
(a) Bomba circulação extracorpórea 03
(b) Coração artificial definitivo 03
Figura 1.4: Configuração básica de um sistema gas-lift 03
Figura 1.5: Configuração básica de um sistema gas-lift 05
Figura 1.6: Tipos de injeção de gás – Adaptado Villela (1963)
07
(a) Modelo Pohlé ou side inlet 07
(b) Modelo Saunders 07
(c) Modelo tubo central 07
Figura 1.7: Operação de descarga de um poço de gas-lift na indútria petrolífera 09
(a) Estado inicial do poço 09
(b) Início do processo 09
(c) Primeira válvula injetando gás 09
(d) Segunda válvula injetando gás
09
(e) Fim do processo 09
(f) Representação esquemática de uma válvula gas-lift – Carvalho Filho (2004) 09
Figura 1.8: Ciclo de operação do GLI – Adaptado Thomas (2004) 11
(a) Período de alimentação 11
(b) Período de injeção
11
(c) Período de redução de pressão 11
Figura 3.1: Representação esquemática dos parâmetros básicos no
escoamento Bifásico
21
Figura 3.2: Padrões de escoamento observados em um escoamento vertical bifásico
ascendente Taitel et al. (1980) 24
(a) Escoamento em bolhas 24
(b) Escoamento pistonado 24
(c) Escoamento agitado 24
(d) Escoamento anular 24
Figura 3.3: Mapa de padrões de escoamento vertical ascendente 26
a) Mapa de padrões de escoamento vertical ascendente Taitel et al.(1980) 26
b) Mapa de padrões de escoamento vertical ascendente Samaras e
Margaris (2005) 26
Figura 3.4: Representação de uma célula unitária 26
Figura 4.1: Sistema gas-lift
31
(a) Representação esquemática 31
(b) Montagem experimental 31
Figura 4.2: Dispositivo nivelador
32
(a) Caixa de nivelamento 32
(b) Conexões hidráulicas 32
Figura 4.3: Suporte do riser 32
Figura 4.4: Separador gás-líquido 32
(a) Caixa de coleta 32
(b) Sistema de direcionamento 32
Figura 4.5: Dispositivo de injeção 33
(a) Modelos de injetores 33
(b) Conector de alimentação
33
Figura 4.6: Válvula reguladora da vazão de ar 33
Figura 4.7: Sistema de medição de vazão de ar 35
(a) Representação esquemática 35
(b) Vista geral 35
Figura 4.8: Detalhes construtivos do dispositivo de medição de vazão de ar
36
(a) Dimensões dos trechos retos utilizados (comprimentos em mm) 36
(b) Placa de orifício 36
(c) Flanges 36
Figura 4.9: Transmissor diferencial de pressão 37
Figura 4.10: Poço de medição de pressão e de temperatura 37
Figura 4.11: Montagem dos dispositivos fotográficos 39
(a) Representação esquemática 39
(b) Vista geral 39
Figura 5.1: Resultados experimentais obtidos para o injetor 3F, plotados
sobre diferentes mapas de padrões de escoamento 41
(a) Mapa de Taitel et al. (1980) 41
(b) Mapa de Samaras e Margaris (2005) 41
Figura 5.2: Resultados experimentais obtidos para o injetor 15F, plotados
sobre diferentes mapas de padrões de escoamento 42
(a) Mapa de Taitel et al. (1980) 42
(b) Mapa de Samaras e Margaris (2005)
42
Figura 5.3: Curvas características das diferentes razões de submersão para
os injetores 3F e 15F 43
Figura 5.4: Vazão de água bombeada em função da razão de
submersão HL/HT, para diferentes vazões de ar
44
(a) Vazão de ar 2kg/h 44
(b) Vazão de ar 3 kg/h 44
(c) Vazão de ar 5kg/h 44
(d) Vazão de ar 7kg/h 44
Figura 5.5: Eficiência do sistema gas-lift em função da vazão de ar,
para diferentes razões de submersão 46
(a) Razão de submersão 0,30 46
(b) Razão de submersão 0,45
46
(c) Razão de submersão 0,55 46
(d) Razão de submersão 0,67 46
(e) Razão de submersão 0,75 46
Figura 5.6: Máxima eficiência atingida pelo sistema air-lift, com o uso
dos injetores 3F e 15F, em função da razão de submersão
47
Figura 5.7: Características do escoamento na região de injeção do sistema,
utilizando-se o injetor 15F 49
(a)
G
=0,32 kg/h 48
(b)
G
=2,35 kg/h 48
(c)
G
=3,40 kg/h 48
(d)
G
=4,10 kg/h 49
(e)
G
=6,03 kg/h 49
(f)
G
=8,08 kg/h 49
Figura 5.8: Distribuição de bolhas no pistão de líquido 50
(a)
G
=0,32 kg/h z=90-110 cm 50
(b)
G
=2,35 kg/h z=100-120 cm 50
(c)
G
=4,77 kg/h z=85-105 cm 50
(d)
G
=8,08 kg/h z=95-115 cm 50
(e)
G
=10 kg/h z=90-110 cm 50
Figura 5.9: Transição do escoamento em bolhas para o escoamento pistonado,
para
G
=3,40 kg/h 51
(a) z = 13 22 cm 51
(b) z = 32 41 cm 51
(c) z = 57 66 cm
51
Figura 5.10: Transição do escoamento bolhas para o escoamento pistonado na
região do riser compreendida entre z = 40 e 60 cm 52
(a) t=0s 52
(b) t=0,02s 52
(c) t=0,04s 52
(d) t=0,06s 52
(e) t=0,08s 52
(f) t=0,1s 52
Figura 5.11: Imagens correspondentes ao Ensaio 1, para o injetor 3F
54
(a) Medição 1 54
(b) Medição 2 54
(c) Medição 3 54
Figura 5.12: Imagens correspondentes ao Ensaio 2, para o injetor 3F 54
(a) Medição 1
54
(b) Medição 2 54
(c) Medição 3 54
Figura 5.13: Imagens correspondentes ao Ensaio 3, para o injetor 3F 55
(a) Medição 1 55
(b) Medição 2 55
(c) Medição 3 55
Figura 5.14: Imagens correspondentes ao Ensaio 1, para o injetor 15F 55
(a) Medição 1 55
(b) Medição 2 55
(c) Medição 3 55
Figura 5.15: Imagens correspondentes ao Ensaio 2, para o injetor 15F 56
(a) Medição 1 56
(b) Medição 2 56
(c) Medição 3
56
Figura 5.16: Imagens correspondentes ao Ensaio 3, para o injetor 15F 56
(a) Medição 1 56
(b) Medição 2
56
(c) Medição 3 56
Figura A.1: Sistema de calibração da placa de orifício 67
Figura A.2: Curva de Calibração da placa de orifício 68
Figura A.3: Aparato experimental utilizado na calibração do termopar 69
Figura A.4: Curva de calibração do termopar do tipo T 70
Figura B.1: Desvio dos pontos experimentais em relação a curva de calibração 74
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Tabela 1.1: Quadro comparativo dos sistemas GLC e GLI – Carvalho Filho (2004)
10
Tabela 3.1: Correlações para o cálculo da velocidade da
bolha de Taylor – Rodrigues et al. (2007) 27
Tabela 3.2: Equações para o cálculo da freqüência de passagem
das bolhas de Taylor no escoamento pistonado 29
Tabela 5.1: Tabela das velocidades superficiais de gás e de líquido
utilizados nos ensaios para a determinação das velocidades de bolha
e das freqüências do escoamento pistonado
53
Tabela 5.2: Velocidades de ascensão da bolha de Taylor – comparação
entre dados experimentais e correlações propostas na literatura 57
Tabela 5.3: Desvio relativo da velocidade de bolha obtida no presente
trabalho em relação a correlações da literatura 57
Tabela 5.4: Freqüências de passagem das bolhas de Taylor – comparação
entre dados experimentais e correlações propostas na literatura 58
Tabela 5.5: Desvio relativo das freqüências de passagem da bolha
de Taylor obtida no presente trabalho, em relação a correlações da literatura
58
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A Área da seção transversal do tubo [m²]
AE Altura de elevação do líquido [m]
A
L Área da seção transversal ocupada pelo líquido [m²]
AG Área da seção transversal ocupada pelo gás [m²]
b Coeficiente da equação da placa de orifício [-]
C Coeficiente de descarga [-]
CL Coeficiente de descarga para Reynolds tendendo ao infinito [-]
C
0 Parâmetro de distribuição de velocidade [-]
d Diâmetro do furo da placa de orifício [m]
D Diâmetro interno do tubo [m]
g Aceleração da gravidade [m/s²]
G
G
Fluxo de massa da fase gasosa [kg/m²s]
G
L
Fluxo de massa da fase líquida [kg/m²s]
HL Altura submersa do riser [m]
HS Submersão estática [m]
HT Distância do injetor ao topo do riser [m]
i Incerteza de medição de uma grandeza [%]
m
G
Massa da fase gasosa [kg]
m
L
Massa da fase líquida [kg]
Vazão em massa de gás [kg/s]
Vazão em massa de líquido [kg/s]
N Número de amostras adquiridas
P Pressão [Pa]
Q
G
Vazão volumétrica da fase gasosa [m³/s]
Q
L
Vazão volumétrica da fase líquida [m³/s]
Re Número de Reynolds [-]
s Desvio padrão da amostra
S Razão de escorregamento [-]
t Tempo [s]
T Temperatura [K]
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Velocidade de escorregamento [m/s]
E Diferença de potencial [V]
V
BT
Velocidade da bolha de Taylor [m/s]
V
G
Velocidade da fase gasosa [m/s]
V
L
Velocidade da fase líquida [m/s]
V
M Velocidade da mistura [m/s]
V
SG
Velocidade superficial da fase gasosa [m/s]
V
SL
Velocidade superficial da fase líquida [m/s]
x Título termodinâmico [-]
x* Título bifásico [-]
X
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Variável genérica
z Coordenada do riser na direção da altura, medida a partir da base do riser [m]
Símbolos gregos
μ
Viscosidade dinâmica [Pa.s]
ρ
Massa específica [kg/m³]
σ
Tensão superficial [N/m]
β Ângulo do riser em relação a horizontal [-]
α Fração de vazio [-]
Δ Variação de uma grandeza qualquer
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Capítulo 1: Introdução
01
1.1 Sistemas de bombeamento 01
1.2 O sistema gas-lift 04
1.2.1 Generalidades 04
1.2.2 Elementos constitutivos essenciais 05
1.2.3 Configurações possíveis 06
1.2.4 O sistema gas-lift na indústria do petróleo 08
1.3 Objetivos do trabalho 11
Capítulo 2: Revisão bibliográfica 13
Capítulo 3: Considerações sobre escoamento bifásico 20
3.1 Definição de parâmetros básicos 20
3.2 Escoamento vertical ascendente 23
3.3 Mapa de padrões de escoamento 24
3.4 Relações de fechamento para o escoamento pistonado 25
Capítulo 4 - Instalação e procedimento experimental
30
4.1 Instalação experimental 30
4.1.1 Descrição do aparato 30
4.1.2 Funcionamento do sistema 33
4.2 Procedimentos Experimentais 34
4.2.1 Medição de vazão 34
4.2.2 Visualização do escoamento bifásico no riser 37
Capítulo 5: Resultados e discussão 39
5.1 Introdução 39
5.2 Mapas de padrões de escoamento 39
5.3 Curvas características e de eficiência 41
5.4 Imagens congeladas (still photo) 46
5.5 Tomadas de vídeo de alta velocidade 50
5.6 Relações de fechamento 51
5.6.1 Velocidade de bolha 51
5.6.2 Freqüência 56
Capítulo 6: Conclusão e recomendações para trabalhos futuros 58
Referências 61
Apêndice A: Calibração de instrumentos 65
A.1 Placa de orifício 65
A.2 Termopar 67
Apêndice B: Análise de incertezas experimentais 70
B.1 Análise de incertezas por amostragem simples 70
B.2 Incerteza da vazão de ar 72
a) Coeficiente de descarga 72
b) Diâmetro interno do tubo 73
c) Diâmetro do furo da placa 74
d) Fator isentrópico 74
e) Massa específica do gás 74
f) Incerteza da vazão de gás 74
B.4 Incerteza da vazão da água bombeada 75
B.5 Análise de incerteza do número de Reynolds 75
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1.1 SISTEMAS DE BOMBEAMENTO
A necessidade de movimentar grandes quantidades de água de um lugar para outro
se manifestou bem cedo na história da humanidade, motivando o desenvolvimento de
sistemas capazes de facilitar a realização desta tarefa. Há cerca de 8.000 anos, surgiram os
primeiros canais de irrigação, viabilizando a produção agrícola nas terras baixas da
Mesopotâmia, situadas entre os rios Tigre e Eufrates, na região onde hoje se localiza o
Iraque. Em muitos outros locais ao redor do mundo, descobertas arqueológicas indicam que
tubulações rudimentares, confeccionadas em bambu, chumbo ou cerâmica, foram
extensamente empregadas por diferentes civilizações antigas, na distribuição de água e na
coleta de esgoto.
Como nem sempre o ponto de captação encontrava-se acima do nível onde a água
deveria ser utilizada, dispositivos de bombeamento passaram a ser concebidos para vencer a
força da gravidade. A título de ilustração, a Figura 1.1 mostra um sistema constituído por duas
roldanas interligadas por uma correia ou corrente, ao longo da qual se distribui um certo
número de caçambas, que têm por finalidade o transporte intermitente de água do reservatório
inferior para o superior. Tal sistema, cujo funcionamento é relatado num dos primeiros
documentos escritos de que se tem notícia, datado de aproximadamente 4.000 a.C., foi
posteriormente utilizado para irrigar os famosos jardins suspensos da Babilônia, construídos
pelo rei Nabucodonosor, seis séculos antes da era cristã.
Nos séculos subseqüentes, equipamentos mais sofisticados foram sendo
desenvolvidos. Por volta de 250 a.C., o grego Ctesibus propôs uma máquina de combate a
incêndios, que empregava, como elemento propulsor, um dispositivo que muito se assemelha
às atuais bombas de êmbolo. Aproximadamente na mesma época, Arquimedes concebeu sua
famosa bomba de parafuso, ou parafuso de Arquimedes, utilizada para irrigar campos, drenar
charcos e retirar água de porões dos navios. Este aparato, ilustrado na Figura 1.2, é até hoje
empregado em vários ramos do setor industrial.
Figura 1.1: Sistema de bombeamento utilizado nos jardins da Babilônia.
(www.nationaldriller.com)
Figura 1.2: Parafuso de Arquimedes.
Na era moderna, uma ampla variedade de dispositivos de bombeamento continuaram a
surgir, ao mesmo tempo em que os já existentes eram aperfeiçoados. Como conseqüência, são
muitos os aparatos que atualmente se prestam a esta finalidade, cobrindo os mais variados
tipos de aplicação, que vão da captação de água para o abastecimento urbano à extração
subaquática de minério, da exploração de poços de petróleo à drenagem de fossas sépticas e
do bombeamento de esgoto sanitário à circulação sanguínea extracorpórea. A Figura 1.3(a)
mostra uma bomba peristáltica, largamente utilizada em cirurgias cardíacas realizadas com o
coração parado. Na Figura 1.3(b), por sua vez, um coração artificial definitivo, aparelho de
fluxo contínuo implantado em pacientes com problemas cardíacos graves, que, em última
análise, nada mais é do que um dispositivo de bombeamento.
(www.hidraulis.com.br)
(a) Bomba circulação extracorpórea.
(www.hospitalar.com)
(b) Coração artificial definitivo.
Figura 1.3: Equipamentos de bombeamento sanguíneo.
A maioria dos equipamentos destinados ao bombeamento de fluidos emprega algum
tipo de mecanismo rotativo ou alternativo, tal como ocorre com as bombas centrífugas, axiais,
helicoidais, lobulares, de engrenagem, de palheta ou de pistão. Um outro conceito, que se
distingue dos anteriores por evitar a presença de elementos móveis em contato com o fluido
de trabalho, é oferecido pelo sistema gas-lift, ilustrado na Figura 1.4. Seu princípio de
funcionamento é simples e envolve a injeção de um gás previamente comprimido, próximo à
extremidade inferior do tubo adutor (riser), que se encontra imerso no líquido a ser
bombeado. Nas vizinhanças do ponto de injeção forma-se, então, uma mistura bifásica, cuja
densidade é inferior àquela inicialmente apresentada pelo líquido, propiciando o empuxo
necessário à sua ascensão.
Figura 1.4: Configuração básica de um sistema gas-lift.
Embora apresente importantes vantagens em relação aos métodos convencionais de
bombeamento de líquidos, o rendimento do sistema gas-lift é relativamente baixo, o que
limita, ou até mesmo inviabiliza, sua utilização. Com o objetivo de aprofundar a compreensão
dos mecanismos que caracterizam o escoamento bifásico no interior do riser e dos agentes
que afetam o funcionamento do sistema, um número considerável de estudos tem sido
realizado e publicado na literatura especializada, fornecendo elementos de orientação para o
dimensionamento e a operação adequada do equipamento. O presente trabalho contribui nesta
direção, oferecendo dados e informações sobre o comportamento de um sistema gas-lift
submetido a variações em alguns de seus principais parâmetros físicos, geométricos e
operacionais.
1.2 O SISTEMA GAS-LIFT
1.2.1 Generalidades
Alguns autores, como Nenes et. al. (1996), citam o engenheiro alemão Carl Loscher
como sendo o inventor do sistema gas-lift. Entretanto, para Villela (1963), Carl Loscher foi
apenas um dos primeiros pesquisadores a realizarem experimentos com este sistema, a partir
de 1797. Ainda segundo o autor, existem registros comprovando a existência de um sistema
gas-lift para o bombeamento de água, instalado na cidade de Chemming, Hungria, que já se
encontrava em operação desde em 1782.
Quando de sua criação, o sistema de bombeamento por gás comprimido foi
primeiramente chamado de air-lift, uma vez que somente ar atmosférico era empregado para
promover a elevação de água. Devido a suas vantagens, como, a fácil construção, a simples
operação, o baixo custo de instalação e de manutenção e, ainda, por não conter partes
mecânicas móveis em contato com o fluido a ser bombeado, este sistema logo despertou o
interesse de vários seguimentos industriais. Na medida em que novas aplicações foram sendo
encontradas, a utilização de outros gases passou a ser necessária e o sistema foi então
rebatizado como gas-lift. Porém, sua característica principal permaneceu sempre inalterada,
ou seja, propiciar o bombeamento de líquidos com a utilização de um gás comprimido.
Um dos exemplos mais representativos de aplicação do sistema gas-lift, encontra-se na
indústria petrolífera. Segundo Villela (1963), os primeiros testes com o sistema gas-lift na
indústria do petróleo foram iniciados em 1909, quando ainda se usava o ar como o gás a ser
injetado no sistema. Devido a riscos de explosão no poço, por causa do oxigênio em contato
com o combustível, que nesse caso é o petróleo, houve a necessidade de utilizar o gás natural
da própria jazida.
Apesar de todas as vantagens citadas anteriormente, o sistema gas-lift apresenta um
sério inconveniente, que está relacionado ao seu baixo rendimento comparado com outros
tipos de sistemas de bombeamento. Limitando a sua aplicação em alguns casos. Isso se deve
ao fato da grande quantidade de gás comprimido que é consumido, representando um custo
elevado de energia com o funcionamento do compressor.
1.2.2 Elementos constitutivos essenciais
Com o apoio da Figura 1.5, os principais elementos que constituem um sistema gas-lift
convencional podem ser identificados, juntamente com a nomenclatura adotada na definição
de parâmetros que caracterizam o seu funcionamento.
GC - Gás comprimido
TI - Tubo injetor
RI - Riser
MGL - Mistura gás-líquido
RE - Reservatório
AE - Altura de elevação
NE - Nível estático
ND - Nível dinâmico
HS - Submersão estática
HL - Submersão dinâmica
PI - Ponto de injeção
Figura 1.5: Configuração básica de um sistema gas-lift.
¾ Riser: Tubo de ascensão, por onde transita a mistura gás-líquido.
¾ Tubo injetor: Tubo que conduz o gás comprimido do sistema de compressão até o ponto
de injeção, localizado na região inferior do riser.
¾ Injetor. Componente utilizado no ponto de injeção de gás de alguns sistemas gás-lift, que
tem por finalidade a produção de bolhas com dimensões reduzidas, o que torna mais
eficiente o processo de mistura do gás no interior do líquido.
¾ Sistema de compressão de gás: O sistema de compressão é, em geral, composto por um
único compressor alternativo, sobretudo nos sistemas do tipo air-lift, onde fluido injetado é
o ar atmosférico. Quando uma maior vazão de gás é necessária, além da possibilidade da
utilização de dois ou mais compressores alternativos em paralelo, compressores de
parafuso também podem ser empregados.
¾ Nível estático: Nível do líquido no reservatório de captação, antes do início da operação de
bombeamento.
¾ Nível dinâmico: Nível atingido pelo líquido no reservatório de captação durante a
operação de bombeamento, a partir do momento em que a vazão de remoção de líquido se
iguala à capacidade de produção do reservatório.
¾ Submersão dinâmica (HL): Distância entre o nível dinâmico do reservatório e o ponto de
injeção de gás comprimido.
¾ Submersão estática (HS): Distância entre o nível estático do reservatório e o ponto de
injeção do gás comprimido.
¾ Altura de elevação (AE): Distância entre o ponto de descarga da mistura bifásica gás-
líquido, localizado no topo riser, e o nível dinâmico do reservatório.
¾ Razão de submersão: Relação entre a altura de submersão dinâmica (HL) e a altura total,
dada pela soma da altura de elevação (AE) e da altura de submersão dinâmica (HL).
1.2.3 Configurações possíveis
Segundo Villela (1963), diferentes sistemas de injeção do gás podem ser adotados
num sistema gas-lift. Os principais deles – Pohlé ou side inlet, Saunders e tubo central – são
ilustrados na Figura 1.6.
A Figura 1.6(a) mostra o sistema de injeção de gás do tipo Pohlé, patenteado por
J. G. Pohlé, em 1892. Neste sistema, o tubo injetor desce paralelamente ao riser, até o ponto
de injeção, onde se forma a mistura gás-líquido. Nos dias atuais, este sistema tem sido muito
utilizado para bombear água de poços artesianos e para mineração subaquática.
(a) Modelo Pohlé ou side inlet. (b) Modelo Saunders. (c) Modelo tubo central.
Figura 1.6: Tipos de injeção de gás – Adaptado Villela (1963).
O sistema de injeção tipo Saunders, esquematizado pela Figura 1.6(b), foi proposto
por W. L. Saunders, em 1898. Para eliminar o tubo injetor, o gás é pressurizado no espaço
anular entre o revestimento do poço e o riser, a uma pressão capaz de abrir a válvula que
controla a injeção gasosa para dentro do riser. Esse sistema logo atraiu o interesse da indústria
petroquímica, por possibilitar a utilização de compressores de menor potência, viabilizando a
extração de líquidos em profundidades consideráveis.
Na Figura 1.6(c), tem-se o sistema de tubo central, que pode ser considerado como
uma variante do sistema Pohlé. Nesta configuração, entretanto, o tubo injetor é posicionado
no interior do riser. Assim, a mistura gás-líquido, que se forma na parte inferior do riser, sobe
pelo espaço anular delimitado pelo tubo injetor e o riser. Tal sistema é encontrado com certa
freqüência em poços artesianos e em reatores bioquímicos.
1.2.4 O sistema gas-lift na indústria do petróleo
O sistema gas-lift aplica-se muito bem à ascensão de líquidos com viscosidade
elevada, mesmo quando grandes alturas de elevação estão envolvidas. Esta característica
motivou fortemente a utilização deste sistema na indústria petrolífera. Além disso, a maioria
das jazidas de petróleo contém gás natural, que pode ser utilizado como agente propulsor,
barateando significativamente o custo de bombeamento.
A Figura 1.7 ilustra o funcionamento de uma coluna típica de produção de petróleo
utilizando o sistema Saunders com válvulas automáticas instaladas em série. A pressão de
abertura destas válvulas, representadas esquematicamente na Figura 1.7(f), é ajustada
individualmente para cada válvula, em função de sua posição na coluna de produção. Antes
do início de operação, certa quantidade de líquido ocupa o interior do poço, como mostra a
Figura 1.7(a). Este líquido recebe o nome de fluido de amortecimento e sua retirada é
conhecida como descarga do poço. No momento da partida do sistema, todas as válvulas
imersas no fluido de amortecimento encontram-se abertas, enquanto aquelas posicionadas
acima do nível de líquido são mantidas fechadas. Iniciada a injeção de gás, a pressão no
espaço anular aumenta, obrigando o líquido a escoar, através das válvulas, para dentro da
coluna de produção – Figura 1.7(b). Quando a primeira válvula inicialmente imersa for
descoberta, Figura 1.7(c), gás é injetado na coluna de produção, promovendo a extração do
líquido e baixando ainda mais o nível no espaço anular, até que a segunda válvula
inicialmente imersa seja descoberta – Figura 1.7(d). A pressão exercida pelo gás provoca,
então, o fechamento automático da válvula anterior e a injeção do gás passa a ser realizada
exclusivamente por esta válvula. O processo se repete, até que a última válvula, localizada no
ponto em que se deseja a injeção contínua de gás, seja alcançada, permanecendo todas as
demais válvulas fechadas, como representado na Figura 1.7(e).
Há de se acrescentar, ainda, que este sistema pode ser operado em modo contínuo
(GLC) ou intermitente (GLI). O modo contínuo é mais adequado para utilização em poços
com alto índice de produtividade e elevada pressão de fundo. O modo intermitente, por sua
vez, é freqüentemente empregado em poços maduros, com baixa pressão de fundo,
substituindo com vantagens o bombeamento mecânico ou o próprio GLC. A Tabela 1.1
compara as principais características operacionais destes dois modos de produção.
(a) Estado inicial do poço.
(b) Início do processo.
.
(c) Primeira válvula injetando gás.
(d) Segunda válvula injetando gás.
(e) Fim do processo. (f) Representação esquemática de uma
válvula gas-lift – Carvalho Filho (2004).
Figura 1.7: Operação de descarga de um poço de gas-lift na indútria petrolífera.
Tabela 1.1: Quadro comparativo dos sistemas GLC e GLI – Carvalho Filho (2004).
CARACTERÍSTICA GAS-LIFT CONTINUO (GLC) GAS-LIFT INTERMITENTE (GLI)
Eficiência
Razoável (eficiência típica de 5% a
30%).
Baixa (eficiência típica de 5% a
10%).
Flexibilidade
Excelente (a vazão de líquido extraído
é diretamente ajustada pela vazão de
gás injetado).
Boa (a vazão de líquido extraído
é ajustada através do tempo de
injeção e da freqüência dos ciclos
de operação do sistema).
Confiabilidade Excelente Excelente
Investimento
inicial
Baixo (os custos das linhas de injeção
e produção podem ser significativos, a
adoção de centrais de compressão
reduz o custo por poço).
Semelhante ao GLC.
Custos
operacionais
O custo de compressão varia com o
acionamento e a manutenção do
compressor.
Semelhante ao GLC.
Emprego
Sistemas de grande vazão, para poços
com alto índice de produtividade e
elevada pressão de fundo.
Utilizado em substituição ao
bombeamento mecânico com
hastes e em poços com baixa
pressão de fundo, equipados
originalmente com GLC.
De acordo com Thomas (2004), o ciclo de operação de um poço com gas-lift
intermitente é determinado pelo tempo em que ocorre a elevação de uma golfada de líquido da
base do poço até a superfície. Como ilustrado na Figura 1.8, este ciclo pode ser dividido em
três períodos distintos: a) período de alimentação; b) período de elevação; e c) período de
redução da pressão na coluna de produção.
No período de alimentação, ocorre a entrada de líquido proveniente do reservatório na
coluna de produção. A válvula de gas-lift e o controlador de injeção de gás (intermitor) estão
fechados, enquanto que a válvula de pé se encontra aberta. Essa configuração se mantém até
que seja acumulada certa quantidade de líquido na coluna de produção. A quantidade de
líquido acumulada depende da pressão hidrostática do reservatório e do tempo decorrido até a
abertura da válvula gas-lift.
O período de injeção, por sua vez, é caracterizado pela ascensão do líquido acumulado
na coluna de produção. Nesse período, o intermitor e a válvula gas-lift são abertos, enquanto
que a válvula de pé se fecha, permitindo que o gás injetado no espaço anular seja introduzido
na coluna de produção, através da válvula gas-lift.
Finalmente, no período de redução de pressão, a injeção de gás é cessada, com o
fechamento do intermitor, e a pressão no interior do espaço anular começa a cair, até que haja
o fechamento da válvula gas-lift. Com a diminuição da pressão na coluna de produção,
decorrente da descarga do líquido, ocorre a abertura da válvula de pé, permitindo a entrada de
líquido proveniente do reservatório. Após esta etapa, um novo ciclo é iniciado.
(a) Alimentação. (b) Injeção. (c) Redução de pressão.
Figura 1.8: Ciclo de operação do GLI – Adaptado Thomas (2004).
1.3 OBJETIVOS DO TRABALHO
No presente trabalho, um dispositivo experimental foi inteiramente projetado,
construído e testado, para permitir o estudo do comportamento de um sistema gas-lift de
pequeno porte submetido a alterações em alguns de seus parâmetros geométricos e de
funcionamento. Mais especificamente, os objetivos deste estudo podem ser assim resumidos:
a) Identificar os padrões assumidos pelo escoamento bifásico no interior do riser, mediante a
interpretação de imagens fotográficas;
b) Quantificar parâmetros característicos do escoamento bifásico no interior do riser, usando
como ferramenta a interpretação de imagens obtidas por cinematografia ultra-rápida;
c) Comparar as configurações de escoamento, identificadas experimentalmente em diferentes
condições de teste, com mapas de padrões de escoamento propostos por outros autores.
d) Obter as curvas características do sistema do sistema para diferentes vazões de ar suprido,
razões de submersão e configurações do injetor;
e) Determinar a eficiência apresentada pelo sistema em diferentes condições de operação.
C
C
A
A
P
P
Í
Í
T
T
U
U
L
L
O
O
2
2
R
R
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E
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V
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B
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O
G
G
R
R
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Á
F
F
I
I
C
C
A
A
Os primeiros estudos experimentais envolvendo o sistema gas-lift datam do final do
século XIX. O principal foco destes trabalhos voltava-se para o estabelecimento de
correlações empíricas que pudessem auxiliar no dimensionamento do sistema. Faltava, porém,
a estas correlações, a necessária generalidade para cumprir satisfatoriamente este papel.
Pouco tempo depois, alguns autores passaram a desenvolver análises teóricas do
sistema, na tentativa de predizer seu desempenho, com base em balanços energéticos. Estas
análises, por sua vez, eram bastante limitadas, em virtude dos conhecimentos ainda
rudimentares que se tinha, naquela época, sobre a dinâmica do escoamento bifásico. Com
isso, importantes fenômenos físicos que ocorrem no escoamento no interior do riser, como o
escorregamento entre as fases, não era levado em consideração. Os trabalhos de
Stepanoff (1929) e Pickert (1932) são bons exemplos de estudos realizados nessa etapa.
Utilizando fundamentos termodinâmicos, Stepanoff (1929) delineou uma teoria para explicar
as perdas de carga em um sistema gas-lift, enquanto Pickert (1932), aplicando o balanço de
energia a uma superfície de controle envolvendo o riser, propôs um modelo para a predição
do rendimento de sistema.
Ainda que esses e outros estudos não tenham atingido plenamente seus objetivos, os
resultados qualitativos gerados na condução destas pesquisas foram de grande importância
prática, trazendo novos conhecimentos sobre o funcionamento do sistema e identificando
alguns dos parâmetros que determinam o desempenho do gas-lift, como a razão de submersão,
a vazão de gás suprido e o diâmetro do riser, dentre vários outros. A partir de então, um
número expressivo de autores procuraram quantificar a contribuição destes parâmetros no
desempenho global do sistema, com o intuito de aperfeiçoar os critérios de dimensionamento
do gas-lift.
Os avanços no estudo do escoamento bifásico possibilitaram o surgimento de uma
nova forma de abordagem para o estudo do sistema gas-lift. Aplicando conhecimentos básicos
de escoamento bifásico, Nicklin (1963) e Stenning e Martin (1968) obtiveram bons resultados
na predição do desempenho do sistema.
Todoroki et al. (1973) realizaram um estudo teórico do sistema gas-lift, considerando
como permanente o escoamento no interior do riser. Desprezando apenas o termo referente a
variação de quantidade de movimento da fase gasosa e considerando a ocorrência de
escoamento pistonado ao longo de todo o riser, os autores obtiveram correlações empíricas
para expressar a fração de líquido e as perdas de carga que ocorrem no escoamento bifásico.
Quando comparados com resultados experimentais de outros autores, os resultados fornecidos
pelo modelo proposto mostraram concordância satisfatória, sobretudo para instalações com
diâmetro do riser compreendido entre 25 e 100 mm, operando com razões de submersão na
faixa de 0,4 a 0,8.
Considerando o sistema gas-lift como sendo um sistema termodinâmico fechado,
composto por dois fluidos inviscidos – gás e líquido – e, considerando, ainda, que a energia
potencial requerida para elevar o líquido seja suprida com a expansão isotérmica do gás no
riser, Husain e Spedding (1976) propuseram um modelo para descrever o comportamento do
sistema. Os resultados obtidos com o modelo apresentaram boa concordância com os dados
experimentais de Gosline (1936), enquanto que, ao ser confrontado com os dados de
Govier et. al. (1957), o modelo mostrou consistência apenas para os casos com elevada
velocidade de líquido. Por outro lado, utilizando diferentes configurações de sistemas gas-lift,
Jeelani et. al. (1979) concluíram que o modelo proposto por Husain e Spedding (1976) é
válido apenas para sistemas com risers de pequeno diâmetro. O modelo foi validado para
sistemas com diâmetro interno do riser menor do que 3,5 mm.
Com a finalidade de aumentar a eficiência do processo de bombeamento, Khalil e
Elshorbagy (1979) desenvolveram um riser de baixa rugosidade, capaz de reduzir o atrito
entre a mistura gás-líquido e a parede. Seus resultados mostraram uma redução no coeficiente
de atrito, tanto para o escoamento monofásico quanto para o bifásico, aumentando a eficiência
do sistema e diminuindo a submersão estática requerida na partida.
Parker (1980) estudou experimentalmente o efeito do desenho da geometria do injetor
sobre o desempenho de um sistema gas-lift. Neste trabalho, o autor comparou dois tipos de
injetores – o tipo bico e o tipo jaqueta. Para grandes vazões de gás, o injetor do tipo bico
propiciou um aumento na capacidade de bombeamento, quando comparado com o injetor do
tipo jaqueta. Além disso, o autor observou que, ao diminuir o diâmetro dos furos de ambos os
injetores, houve uma queda acentuada na eficiência do sistema. De posse de todos estes
resultados, Parker (1980) pôde estender o modelo proposto por Stenning e Martin (1968),
permitindo a predição do funcionamento de sistemas gas-lift equipados com injetores do tipo
bico.
Clark e Dabolt (1986) propuseram um modelo capaz de descrever o comportamento de
um sistema gas-lift em regime permanente, dando ênfase na aplicação em plantas de
reprocessamento de combustível nuclear. Considerando a contribuição da perda de carga por
atrito no cálculo do gradiente de pressão global pouco significativa, os autores efetuaram
apenas uma estimativa grosseira das perdas no interior do riser, usando as correlações de
Lockhart-Martinelli (1949). Ainda assim, as curvas geradas a partir desse modelo
apresentaram uma boa concordância com dados experimentais. Depois de algum tempo,
entretanto, Cachard e Delhaye (1996) mostraram que o modelo desenvolvido de Clark e
Dabolt (1986) era falho para sistemas com risers de pequeno diâmetro interno, extensamente
usados em plantas nucleares.
Estudos experimentais mostrando o efeito da adição de surfactante ao líquido
bombeado foram realizados por Khalil e Mansour (1990). Nesse trabalho, os autores
provaram que o uso de pequenas concentrações de surfactante são capazes de aumentar, de
forma significativa, o desempenho de um sistema gas-lift. Além disso, Khalil e
Mansour (1990) realizaram testes experimentais para estudar os efeitos do método de injeção
no desempenho de um sistema gas-lift. Os resultados obtidos mostraram que o tamanho e a
distribuição das bolhas no riser exercem grande influência sobre a eficiência do sistema. De
maneira geral, quanto mais homogênea for a mistura formada no riser, menor será o
escorregamento e, conseqüentemente, maior a eficiência do sistema.
Levando em conta os efeitos da tensão superficial na velocidade de ascensão das
bolhas no riser, Reinemann et. al. (1990) complementaram o modelo apresentado por
Nicklin (1963), estudando o desempenho de sistemas gas-lift com risers de diâmetro interno
na faixa de 3 mm a 20 mm. Os autores mostraram que, para pequenos diâmetros de risers, a
velocidade de ascensão das bolhas é fortemente afetada pelos efeitos da tensão superficial, o
que influencia a eficiência e a razão de submersão ótima do sistema.
Um estudo experimental foi desenvolvido por Morrison et. al. (1987), mostrando que
o desempenho de um sistema gas-lift pode ser afetado de forma considerável pela vazão de
gás e pela forma como se dá a injeção do gás no interior do riser. Ao utilizar um injetor com
oito furos, os autores notaram um aumento na eficiência do sistema, quando comparado com
um injetor de quatro furos.
Para investigar experimentalmente o efeito do injetor na eficiência de um sistema air-
lift, Khalil et. al. (1999) alteraram a razão de submersão e a vazão de ar para nove diferentes
configurações de injetor, em um sistema de pequeno porte. Segundo os autores, o injetor com
três furos mostrou-se o mais eficiente para quase todas as razões de submersão.
Utilizando o modelo de Stenning e Martin (1968) com a modificação proposta por
Parker (1980), Abed (2003) examinou teoricamente os parâmetros que afetam o desempenho
de cinqüenta e cinco configurações de sistemas air-lift, alterando o diâmetro, o comprimento e
a razão de submersão do riser. Nesse estudo, foram estabelecidos, para cada configuração
estudada, a quantidade de ar suprida para a obtenção do ponto de máximo rendimento e a
quantidade mínima de ar que deve ser fornecida para que o sistema entre em operação.
Guet et. al. (2003) analisaram a influência do tamanho e da concentração inicial de
bolhas no desempenho de um sistema gas-lift., mantendo-se o fluxo de ar constante e
diminuindo-se o tamanho inicial das bolhas, pode-se aumentar a quantidade de líquido
bombeado por unidade de tempo, melhorando a eficiência do sistema. Segundo os autores, a
distribuição de bolhas influência na coalescência próximo ao injetor, antecipando ou
prorrogando a mudança do padrão de escoamento. Baseados no modelo drift-flux, um modelo
teórico, também, foi desenvolvido para predizer a influência do tamanho da bolha sobre a
eficiência do sistema. Os resultados obtidos com este novo modelo se mostraram consistentes
com os dados experimentais apresentados.
A influência da presença de uma curva no riser sobre o desempenho de um sistema
gas-lift de pequeno diâmetro usado para o transporte de partículas sólidas foi analisado por
Fujimoto et. al. (2004). Utilizando partículas de alumina em três configurações de riser, por
meio de resultados quantitativos auxiliados por observações fotográficas, os autores
analisaram o movimento das partículas nas regiões onde se encontravam as curvas.
Concluíram que ocorre um menor desempenho do sistema quando a curva está localizada
acima do injetor de gás e, também, à medida que se aumenta o fluxo de partículas, ocorre uma
diminuição no fluxo de líquido. Sendo que, o fluxo de partículas sólidas, ocorre para um fluxo
de líquido acima do fluxo crítico.
Awari et. al. (2007) analisaram experimentalmente a eficiência de um sistema air-lift,
variando-se a razão de submersão, a vazão de ar suprido, o diâmetro do riser e a forma como
o ar é injetado no sistema. Utilizando injetores com um único orifício, os autores mostraram
que o diâmetro ótimo do furo deve ser escolhido em função do diâmetro do riser.
Vários estudos têm demonstrado que a operação instável de um sistema gas-lift pode
comprometer seriamente seu rendimento. Um dos primeiros estudos sobre a operação instável
de sistemas gas-lift foi realizado por Hjalmars (1973). Nesse trabalho, o autor considerou que
o principal mecanismo responsável indução de instabilidades está associado às oscilações na
densidade do fluido no interior do riser. Com base na análise do termo transiente da equação
da quantidade de movimento, Hjalmars (1973) propôs uma metodologia para prever
condições de operação capazes de tornar instável o funcionamento do sistema. Apesar de seu
grande potencial de aplicação em situações práticas, o modelo escolhido pelo autor para
representar o escoamento bifásico dentro do riser – modelo homogêneo – mostrava-se
inadequado, principalmente por não considerar o escorregamento entre as fases.
Depois de aperfeiçoar o modelo de Hjalmars (1973), utilizando o modelo de dois
fluidos para representar o escoamento bifásico, Apazidis (1985) estudou a influência do
tamanho inicial das bolhas no desempenho e na estabilidade de um sistema gas-lift. Nesse
trabalho, o autor mostrou que, diminuindo-se o diâmetro médio das bolhas de gás de 4 mm
para 1 mm, mantendo-se as demais condições inalteradas, é possível obter um aumento de até
10% na vazão de líquido bombeado. Além disso, ficou demonstrado que essa mesma
diminuição do diâmetro médio das bolhas pode produzir um aumento médio de 8% nos
valores da submersão crítica.
Anos mais tarde, um estudo minucioso sobre instabilidades no funcionamento de
sistemas gas-lift foi apresentado por Cachard e Delhaye (1997). Os resultados teóricos e
experimentais dos autores mostraram que os efeitos decorrentes de alterações nos parâmetros
responsáveis pela estabilidade do sistema são bastante complexos e intrincados. A variação de
um dado parâmetro tanto pode estabilizar como desestabilizar o sistema, dependendo dos
valores apresentados pelas demais variáveis de funcionamento. Os autores citam, entre outras
coisas, a importância de se incluir na análise de estabilidade de um sistema gas-lift o efeito da
compressibilidade do gás entre a válvula reguladora e o dispositivo de injeção.
Num estudo recente, Aamo et al. (2005) propuseram um dispositivo para monitorar e
controlar as instabilidades no escoamento bifásico dentro do riser. Os resultados mostraram
que controle eficiente de instabilidades pode aumentar substancialmente as taxas de
bombeamento de líquido, mantendo inalterado o gasto energético. De fato, mesmo sem
conseguir distinguir a contribuição individual dos diferentes mecanismos responsáveis pela
operação instável do sistema, os autores mostraram que o uso deste controlador pode
propiciar um aumento de até 5 % na taxa de bombeamento, em relação a um sistema
convencional.
Pela vantagem de não conter partes móveis em contato com o fluido a ser bombeado, a
utilização do gas-lift para o transporte de partículas sólidas passou a ser investigada por
alguns pesquisadores, com vistas à aplicação do sistema na mineração subaquática. Um dos
trabalhos pioneiros nesta área foi publicado por Kato et. al. (1975). A partir da equação da
quantidade de movimento, usada para representar o escoamento bifásico no interior do riser, e
um balanço de forças aplicado sobre partículas sólidas, os autores conseguiram avaliar a
eficiência do sistema no transporte destas partículas. Quando comparados com dados
experimentais, os resultados teóricos obtidos apresentaram boa concordância.
Posteriormente, Yoshinaga e Sato (1996) utilizaram ar e água como fluidos de
trabalho em uma unidade experimental gas-lift, para avaliar o transporte de partículas
esféricas. Também baseados na equação da quantidade de movimento, os autores propuseram
um modelo que descreve o escoamento multifásico no riser. Alterando o diâmetro do riser, o
diâmetro das partículas e a razão de submersão, Yoshinaga e Sato (1996) obtiveram uma
relação entre a vazão de ar suprido, a quantidade de água bombeada e a descarga de partículas
sólidas. Comparando os resultados obtidos com dados experimentais de diferentes autores,
Yoshinaga e Sato (1996) comprovaram a validade de seu modelo, tanto para sistemas de
pequenas dimensões, instalados em laboratório, como para sistemas de dimensões industriais.
Uma das mais importantes ferramentas de análise do escoamento bifásico atualmente
disponíveis são os mapas de padrões de escoamento. Nos últimos anos, mapas deste tipo têm
sido criados para aplicações específicas, como evaporadores, condensadores e tubos de
pequeno diâmetro. Seguindo essa linha de pesquisa, Samaras e Margaris (2005)
desenvolveram um mapa de padrões de escoamento específico para sistemas gas-lift,
validando-o com dados experimentais de outros autores. Além de constituir uma importante
ferramenta para a predição do desempenho de sistemas gas-lift, tal mapa mostra, de forma
direta, os padrões de escoamento que podem ser esperados dentro do riser para uma dada
condição de funcionamento, fornecendo, ainda, subsídios para eventuais estimativas de fração
de vazio.
A guisa de conclusão, pode-se dizer que o sistema gas-lift, desde o seu surgimento,
tem sido objeto de um grande número de estudos teóricos e experimentais. Diferentes
metodologias de análise têm sido empregadas como ferramenta, resultando num volume
considerável de dados e informações sobre aspectos fundamentais e aplicados do tema. Todo
este esforço permitiu entender e controlar os principais mecanismos que afetam a estabilidade
e o desempenho do sistema. Atualmente, a melhor compreensão fenomenológica do
escoamento bifásico no interior do riser, associada aos notáveis avanços na tecnologia dos
computadores, abre novos horizontes para que a modelagem e a simulação numérica do
funcionamento de sistemas gas-lift completos ocupem um lugar de destaque no
aprimoramento deste tipo de aparato.
CAPÍTULO 3
C
C
O
O
N
N
S
S
I
I
D
D
E
E
R
R
A
A
Ç
Ç
Õ
Õ
E
E
S
S
S
S
O
O
B
B
R
R
E
E
E
E
S
S
C
C
O
O
A
A
M
M
E
E
N
N
T
T
O
O
B
B
I
I
F
F
Á
Á
S
S
I
I
C
C
O
O
3.1 DEFINIÇÃO DE PARÂMETROS BÁSICOS
Classicamente, são considerados multifásicos os escoamentos que ocorrem quando
duas ou mais fases de uma mesma substância, ou de substâncias diferentes, estão presentes
simultaneamente, separadas por interfaces de espessura infinitesimal. Quando apenas duas
fases se fazem presentes, tal como tipicamente acontece no interior de um sistema gas-lift, o
escoamento é dito bifásico.
De acordo com Yoshizawa (2007), o escoamento bifásico vem sendo estudado há mais
de um século, mas ainda está longe de ser completamente entendido. Técnicas experimentais
e numéricas avançadas têm contribuído para melhorar a compreensão fenomenológica que se
tem hoje sobre o assunto, mas muito trabalho resta, ainda, a ser feito em termos de
equacionamento e modelagem do problema. Por outro lado, formulações simplificadas deste
tipo de escoamento têm sido frequentemente empregadas, fornecendo importantes subsídios
para o desenvolvimento de projetos e para a solução de problemas de engenharia. Em tais
formulações, as características macroscópicas do escoamento são estabelecidas por uma série
de parâmetros, cuja definição é apresentada a seguir.
A Figura 3.1 representa esquematicamente um escoamento bifásico gás-líquido dentro
de um duto inclinado de um ângulo
β
qualquer. O subscrito L designa a fase líquida, enquanto
o subscrito G refere-se à fase gasosa. As variáveis V e Q representam, respectivamente, a
velocidade média e a vazão volumétrica da fase, enquanto A denota a área que a fase ocupa na
seção transversal do tubo.
Figura 3.1: Representação esquemática dos parâmetros básicos no escoamento bifásico.
A velocidade superficial da fase líquida, V
SL
, é definida como a razão entre a vazão
volumétrica da fase líquida, Q
L
, e a área total da seção transversal do tubo, A.
A
Q
V
G
SG
=
(3.1)
De maneira similar, a velocidade superficial da fase gasosa, V
SG
, é dada pela razão
entre a vazão volumétrica da fase gasosa, Q
G
, e a área total da seção transversal do tubo, A.
A
Q
V
L
SL
=
(3.2)
Nestas duas equações, a área total da seção transversal do tubo, A, corresponde à soma
entre a área da seção transversal ocupada pela fase líquida, A
L
, e a área ocupada pela fase
gasosa, A
G
, ou seja,
GL
AAA
+
=
(3.3)
A velocidade de mistura, V
M
, é definida como sendo a soma das velocidades
superficiais de ambas as fases, como mostra a equação:
SGSLM
VVV
+
=
(3.4)
A fração da área transversal total do tubo ocupada pelo gás é denominada fração de
vazio, α, podendo ser calculada por:
A
A
G
=
α
(3.7)
ou, ainda, por:
()
A
A
L
=
α
1
(3.8)
Conhecida a fração de vazio, α, a velocidade média de cada fase na seção do tubo pode
ser determinada, com o auxílio das expressões:
()
α
==
1
SL
L
L
L
V
A
Q
V
(3.9)
α
SG
G
G
G
V
A
Q
V ==
(3.10)
A vazão em massa total é representada por e representa a soma da vazão em massa
da fase líquida, , e da fase gasosa, .
O conceito de título no escoamento bifásico não deve ser confundido com a definição
de título termodinâmico. Na termodinâmica, o título, x, é definido como a razão entre a massa
de vapor e massa total da mistura , ou seja,
GL
G
mm
m
x
+
=
(3.11)
Já no escoamento bifásico, o título, x*, representa a razão entre a vazão em massa de
vapor e a vazão em massa total, podendo ser calculado pelas equações:
(3.12)
(3.13)
Vale ressaltar que, embora conceitualmente distintas, as definições de título
termodinâmico e título bifásico serão coincidentes quando houver equilíbrio termodinâmico e
hidrodinâmico entre as fases.
O título bifásico é frequentemente denominado fração de secagem (dryness fraction),
enquanto seu complemento, a quantidade (1-x*), é conhecida como fração de umidade
(wetness fraction).
O fluxo de massa de cada fase é definido por:
(
)
*
1 xGV
A
m
G
LSL
L
L
L
===
ρ
&
(3.14)
*
GxV
A
m
G
GSG
G
G
G
===
ρ
&
(3.15)
Finalmente, a razão de escorregamento S, definida como a razão entre as velocidades
da fase gasosa e da fase líquida, é expressa matematicamente por:
L
G
V
V
S =
(3.11)
3.2. ESCOAMENTO VERTICAL ASCENDENTE
Num escoamento tubular bifásico gás-líquido, a distribuição espacial das fases no
interior de um tubo depende das velocidades típicas das fases, das propriedades físicas dos
fluidos envolvidos – notadamente a massa específica, a viscosidade e a tensão superficial – e
da orientação do tubo, se vertical, inclinado ou horizontal. Dependendo das condições,
diferentes padrões de escoamento podem ser encontrados. A Figura 3.2, elaborada com base
no trabalho de Taitel et al. (1980), apresenta as principais configurações observadas no
escoamento ascendente dentro de um tubo circular vertical, as quais são discutidas a seguir.
(a) Bolhas. (b) Pistonado. (c) Agitado. (d) Anular.
Figura 3.2: Padrões de escoamento observados em um escoamento vertical bifásico
ascendente – Taitel et al. (1980).
No escoamento em bolhas (bubble flow), Figura 3.2(a), a fase gasosa encontra-se
dispersa na fase líquida contínua e, tipicamente, a velocidade superficial do gás é baixa. Com
o aumento do fluxo de gás, estas bolhas aumentam de tamanho, através de um processo de
coalescência.
Com o aumento da vazão de gás, as bolhas passam a se aglomerar, favorecendo o
processo de coalescência. Com isso, bolhas significativamente maiores, com razoável simetria
radial, podem ser observadas. Estas grandes estruturas gasosas na forma de projéteis recebem
o nome de bolhas de Taylor e ocupam praticamente todo o diâmetro do tubo, deixando apenas
uma fina camada de líquido entre elas e a parede do tubo. Este padrão é conhecido como
escoamento pistonado (slug flow) e sua configuração típica está ilustrada na Figura 3.2(b).
Aumentando-se a velocidade superficial do gás, o escoamento passa de pistonado para
agitado (churn flow), Figura 3.2(c). Neste processo, ocorre o rompimento e a deformação das
bolhas de Taylor. Caracterizado por um padrão bem mais desordenado que o anterior, no
escoamento agitado as duas fases coexistem na zona central do tubo, onde se movimentam de
maneira caótica, com uma camada mais espessa de líquido escoando na região parietal.
O escoamento anular (annular flow), representado na Figura 3.2(d), ocorre com altas
velocidades e concentrações de gás. Nestas condições, líquido flui numa fina camada anular
em contato com a parede do tubo, carregando pequenas bolhas dispersas, enquanto o gás
escoa na parte central da tubulação, transportando pequenas gotas de líquido.
3.3. MAPA DE PADRÕES DE ESCOAMENTO.
Os padrões típicos de escoamento e seus respectivos limites de transição são
representados graficamente nos chamados mapas de escoamento bifásico. Tais mapas
constituem ferramentas de grande utilidade prática, justificando os consideráveis esforços
realizados na obtenção de mapas cada vez mais confiáveis.
A geração destes mapas pode ser feita de duas maneiras diferentes: a partir do
tratamento de uma grande amostra de dados experimentais ou através da análise teórica dos
mecanismos de transição. No primeiro caso, os mapas produzidos são de natureza empírica e,
portanto, limitados à faixa coberta pelos respectivos dados que lhes deram origem. No
segundo caso, as alterações nos padrões de escoamento são estabelecidas com base em
modelos mecanicistas. Na literatura, vários modelos são propostos para predizer a transição.
Tais modelos incorporam os principais parâmetros de operação do sistema, podendo ser
aplicados em uma grande faixa de situações. Porém, deve-se ressaltar que correlações
empíricas são requeridas para o fechamento do modelo.
A seleção de coordenadas apropriadas para apresentar, de forma clara e eficiente,
as condições que determinam a transição de um padrão de escoamento para outro ainda
constitui um assunto de discussão entre pesquisadores. A maioria dos autores, entretanto,
vem adotando como coordenadas as velocidades superficiais das fases.
A Figura 3.3 mostra dois diferentes mapas de padrões de escoamento, propostos
em épocas diferentes e por diferentes autores. Ainda que ambos adotem o mesmo sistema
de coordenadas, pode-se constatar que o mapa de Taitel et al. (1980) cobre uma faixa
significativamente maior de velocidades V
SL
e V
SG
. O mapa de Samaras e Margaris (2005),
entretanto, é mais confiável para aplicação em risers de sistemas gas-lift, uma vez que, na
verdade, trata-se do famoso mapa de Hewitt e Roberts (1969), adaptado, pelos autores,
para prever os padrões de escoamento bifásico no interior de sistemas gas-lif.
0.1 1 10 100
0.01
0.1
1
10
V
SL
(m/s)
V
SG
(m/s)
Anular
Agitado
Pistonado
Bolhas Dispersas
02468101214
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
V
SL
(m/s)
V
SG
(m/s)
Anular
Pistonado
Agitado
Bolhas
(a) Taitel et al.(1980). (b) Samaras e Margaris (2005).
Figura 3.3: Mapa de padrões de escoamento vertical ascendente.
3.4 RELAÇÕES DE FECHAMENTO PARA O ESCOAMENTO PISTONADO.
O padrão pistonado é predominante no sistema gas-lift. Trata-se de um padrão bastante
dinâmico, caracterizado pela constante variação das velocidades e das pressões ao longo da
tubulação. O procedimento usualmente adotado em sua modelagem, consiste em dividir uma
unidade do escoamento em duas subunidades, uma formada pelo pistão líquido e a outra pela
bolha alongada de Taylor, como representado na Figura 3.4. O pistão líquido é tratado como
uma região onde o padrão de bolhas dispersas prevalece. A região da bolha alongada, por sua
vez, pode ser adequadamente tratada com o auxílio de modelos mecanicistas, cujo fechamento
apóia-se em correlações para o cálculo da velocidade da bolha de Taylor e a da freqüência
característica do escoamento pistonado.
Figura 3.4: Representação de uma célula unitária.
Um dos primeiros estudos sobre o movimento de uma bolha de Taylor no escoamento
pistonado foi realizado por Nicklin et al. (1962). Neste trabalho, os autores propuseram que a
velocidade de deslocamento da bolha, V
BT
, fosse calculada pela equação:
(3.12)
onde C
0
é uma constante que pondera a velocidade de mistura, V
M
, na velocidade da bolha,
enquanto a constante C
1
pondera a velocidade de escorregamento, que é definida como a
diferença entre as velocidades do gás e do líquido. Na Equação (3.12), a parcela que
representa a velocidade de escorregamento, – onde g é a força gravitacional e D o
diâmetro do tubo – descreve a velocidade de escorregamento para o líquido estagnado, ou
seja, considerando-se a velocidade do líquido igual a zero. Nicklin et al. (1962) obtiveram
experimentalmente os valores de C
0
= 1,2 e C
1
= 0,351.
A equação proposta por Nicklin et al. (1962) tem sido adotada por diferentes autores,
alguns dos quais preconizam valores ou formas alternativas de cálculo para as constantes C
0
e
C
1
. Num recente trabalho de revisão, Rodrigues et al. (2007) apresentam as principais opções
para a obtenção destas constantes, as quais estão resumidas A Tabela 3.1.
Tabela 3.1: Correlações para o cálculo da velocidade da bolha de Taylor – Rodrigues et al. (2007).
AUTOR C
0
C
1
Nicklin et al. (1962) 1,2 0,351
Dukler et al. (1985) 1,225 -
Théron (1989)
Petalas e Aziz (1998)
-
Sendo o número de Froude em relação a velocidade superficial de líquido calculado pela
Equação (3.13) e o número de Froude para a velocidade de mistura dado pela Equação (3.14),
enquanto que a Equação (3.16) representa o número de Reynolds referente à velocidade de
mistura.
(3.13)
(3.14)
(3.15)
(3.16)
A freqüência característica do escoamento pistonado é definida como sendo a
recíproca do tempo necessário para que a parte frontal da bolha de Taylor percorra todo o
comprimento da célula unitária. Tem-se ocorrência de dois tipos de modelos na literatura,
correlações mecanicistas, que não são muitas, e a grande maioria que são correlações
empíricas, sendo a maioria delas de escoamento horizontal. No presente trabalho, encontra-se
as duas correlações existente para o escoamento bifásico vertical, a correlação de
Zabaras (2000) e a correlação de Sakaguchi (2001).
Zabaras (2000), em seu estudo, revisou seis correlações empíricas e duas mecanicistas,
como nenhum dos modelos estudados não fazia referencia ao escoamento vertical, o autor
propôs um fator de correção para a correlação de Gregory e Scott (1969), levando em conta a
inclinação do tubo. Utilizando ar-água e ar-óleo, Zabaras (2000) extraiu resultados para uma
faixa de tubos entre 25 e 203 mm. A correlação obtida pelo autor, pode ser representada pela
Equação (3.17).
(3.16)
Onde
φ
é o fator de correção e é dado por.
(3.17)
Usando trezentos e trinta e sete pontos experimentais para o ar-água, ar-água em
solução com NaOH, K
3
Fe(CN)
6
, K
4
Fe(CN)
6
e CO
2
-água em tubos variando de 8 a
50,3 mm, Sakaguchi (2001) propôs uma correlação para a freqüência que leva em conta as
propriedades dos fluídos no escoamento vertical. Esta correlação pode ser descrita pela
Equação (3.18).
(3.18)
A Tabela 3.2 apresenta as duas correlações para o cálculo da freqüência do
escoamento vertical pistonado.
Tabela 3.2: Equações para o cálculo da freqüência de passagem das bolhas de
Taylor no escoamento pistonado.
AUTOR CORRELAÇÃO
Zabaras (2000)
Sakaguchi (2001)
CAPÍTULO 4
I
I
N
N
S
S
T
T
A
A
L
L
A
A
Ç
Ç
Ã
Ã
O
O
E
E
P
P
R
R
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C
C
E
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D
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I
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M
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E
X
X
P
P
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E
R
R
I
I
M
M
E
E
N
N
T
T
A
A
L
L
4.1 INSTALAÇÃO EXPERIMENTAL
4.1.1 Descrição do aparato
Para a realização de medições experimentais e identificação dos possíveis padrões de
escoamento no interior do riser, um sistema gas-lift em escala reduzida foi inteiramente
projetado e construído no âmbito do presente trabalho. A Figura 4.1 fornece uma visão geral
deste aparato, constituído por uma base (01) robusta, confeccionada em aço carbono com
10 mm de espessura, sobre a qual são assentados os reservatórios de bombeamento (04) e
auxiliar (11), interligados pelo tubo de comunicação e drenagem (12). Estes dois reservatórios,
construídos com tubos de alumínio de 210 mm de diâmetro por 1,6 m de altura, são conectados
a um dispositivo de nivelamento (06), mostrado na Figura 4.2, responsável pelo controle da
altura de líquido dentro dos reservatórios e, consequentemente, da razão de submersão.
O reservatório de bombeamento é munido de quatro janelas de visualização (05) e
abriga, em seu interior, um tubo de acrílico transparente com diâmetro interno de 25,4 mm e
1,71 m de comprimento, que atua como riser (03). Este tubo é cuidadosamente montado na
posição vertical, ao lado de uma escala graduada em milímetros, Figura 4.3, cuja origem
situa-se a 50 mm do fundo do reservatório, coincidindo com a extremidade inferior do riser,
por onde o líquido a ser bombeado é admitido. Na extremidade superior do riser, localiza-se o
separador gás-líquido, ilustrado na Figura 4.4, composto por uma caixa de coleta, com
dimensões 35 x 18 x 21 cm, equipada com um suspiro e um conjunto de dutos e válvulas, que
permite devolver o líquido ao reservatório auxiliar ou redirecioná-lo para o sistema de
medição de vazão.
A alimentação de ar comprimido é feita a uma distância de 13 cm a partir da base do
riser, por intermédio de injetores intercambiáveis. Dois diferentes tipos de injetores
prismáticos, ambos de seção transversal quadrada e medindo 30 x 6 x 6 mm, foram
empregados na campanha de ensaios. O primeiro deles, identificado na Figura 4.5(a) como
modelo 3F, apresenta três furos alinhados, com 2,1 mm de diâmetro, todos eles localizados
sobre a mesma face do prisma. O modelo 15F, por sua vez, é dotado de quinze furos de
0,9 mm de diâmetro, agrupados, cinco a cinco, em três das quatro faces do injetor. Uma
mangueira flexível de 4 mm de diâmetro conecta o ponto de alimentação do riser, mostrado
na Figura 4.5(b), à linha de ar comprimido.
(01) Base de sustentação
(02) Injetor
(03) Riser
(04) Reservatório de bombeamento
(05) Janela de visualização
(06) Dispositivo nivelador
(07) Escala graduada
(08) Suspiro
(09) Separador gás-líquido
(10) Sistema direcional de líquido
(11) Reservatório auxiliar
(12) Tubulação de comunicação e drenagem
(a) Representação esquemática. (b) Montagem experimental.
Figura 4.1: Sistema gas-lift.
O suprimento de ar comprimido ao sistema é garantido por uma estação de
compressão equipada com um compressor de 5 HP de potência, modelo 20/250 da Wayne
Wetzel, com reservatório de 0,25 m
3
, capaz de fornecer uma vazão máxima de 577 l/min a
uma pressão de 12 bar. O controle de vazão de ar é realizado com o auxílio da válvula
mostrada na Figura 4.6.
(01) Drenagem do excesso de água
(02) Válvula do dreno
(03) Ligação reservatório auxiliar/nivelador
(a) Caixa de nivelamento. (b) Conexões hidráulicas.
Figura 4.2: Dispositivo nivelador.
Figura 4.3: Suporte do riser.
(a) Caixa de coleta. (b) Sistema de direcionamento.
Reservatório Dreno
Auxiliar
Figura 4.4: Separador gás-líquido.
(a) Modelos de injetores. (b) Conector de alimentação.
Figura 4.5: Dispositivo de injeção.
Figura 4.6: Válvula reguladora da vazão de ar.
4.1.2 Funcionamento do sistema
Antes do início de cada ensaio, o dispositivo nivelador é adequadamente posicionado e os
reservatórios são preenchidos com água da rede urbana até o nível desejado. Em seguida, a
válvula de ar, mostrada na Figura 4.6, é cuidadosamente ajustada, para que tenha início o
processo de bombeamento gas-lift. A mistura gás-líquido sobe, então, pelo riser até a caixa de
coleta, de onde o líquido, já separado do gás, é devolvido ao reservatório auxiliar ou segue
para o sistema externo de medição de líquido, conforme o tipo de ensaio que a ser realizado.
Neste segundo caso, o reservatório auxiliar deve ser continuamente alimentado com água da
rede externa, para repor, a cada instante, a massa removida do sistema, evitando que as
condições de teste sejam alteradas.
No modo de operação com reposição contínua, a válvula que controla a entrada de
água no sistema deve ser cuidadosamente ajustada, para que a reposição de líquido seja a feita
na mesma taxa em que se dá sua remoção. Quando esta condição é atingida, o sistema estará
operando em regime permanente, e as medições poderão imediatamente ser efetuadas.
Entretanto, por medida de precaução e uniformização de procedimentos, em todas as corridas da
presente campanha experimental, o nível dos reservatórios sempre foi monitorado por, pelo
menos, quinze minutos depois de atingido o regime permanente, antes que qualquer processo de
medição fosse realizado.
4.2 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS
4.2.1 Medição de vazão
A Figura 4.7 mostra o sistema de medição de vazão de gás utilizado no presente
trabalho, que incorpora uma placa de orifício acoplada a um transmissor diferencial de
pressão, uma válvula reguladora de vazão, um manômetro e um termopar. Este tipo de
configuração foi escolhido por apresentar, simultaneamente, baixo custo, facilidade de
operação e simplicidade construtiva.
A Figura 4.8 mostra, com um pouco mais de detalhes, o sistema de medição empregado.
Confeccionada em alumínio com 3 mm de espessura, a placa possui diâmetro externo de 34 mm
e furo de 9 mm, chanfrado em 45°, sendo o raio de chanfro de 2,5 mm. A diferença de pressão
na placa de orifício foi medida por meio de um transmissor diferencial de pressão Yokogawa,
modelo EJA 120 – DES4A-22DC/D4, ilustrado na Figura 4.9.
Esta placa foi projetada em conformidade com a norma ASME 1971, ainda que, por
motivos de ordem técnica, algumas recomendações de menor importância não tenham sido
seguidas em sua instalação. Dentre elas, incluem-se a rugosidade do tubo no trecho reto a
montante do medidor e a forma de união entre os tubos e os flanges que condicionam a placa
de orifício. Na impossibilidade de utilização de uma união soldada, como especificado na
norma, os flanges foram cuidadosamente rosqueados e colados aos tubos, de maneira a
assegurar a necessária estanqueidade.
(01) Ar proveniente da linha
(02) Válvula reguladora de vazão
(03) Placa de orifício
(04) Transissor diferencial de
pressão
(05) Manômetro do tipo Bourdon
(06) Termopar
(a) Representação esquemática.
(b) Vista geral.
Figura 4.7: Sistema de medição de vazão de ar.
(a) Dimensões dos trechos retos utilizados (comprimentos em mm).
(b) Placa de orifício. (c) Flanges.
Figura 4.8: Detalhes construtivos do dispositivo de medição de vazão de ar.
Os trechos retos foram confeccionados com tubos de PVC branco com 15,7 mm de
diâmetro interno e revestido com um tubo de PVC marrom de 21,6 mm de diâmetro interno,
para melhorar sua resistência mecânica. Os comprimentos mínimos definidos pela norma
ASME 1971 para o trecho reto a montante foi respeitado com bastante folga, além do que três
retificadores de fluxo do tipo placa perfurada, espaçados entre si de uma distância equivalente
a um diâmetro interno do tubo, foram instalados.
Figura 4.9: Transmissor diferencial de pressão.
Para completar o sistema, foram instalados, num poço de medição localizado no final
do trecho reto a jusante da placa (Figura 4.10), um manômetro Bourdon e um termopar do
tipo T (cobre-constantan) devidamente calibrados nas condições típicas de ensaio, destinados,
respectivamente, à medição da pressão e da temperatura do ar, necessárias ao cálculo de
vazão. A pressão foi obtida com o auxílio de um manômetro de precisão padrão do tipo
Bourdon com um fundo de escala de 0 a10 kg/cm
2
, sendo a menor divisão 0,05 kg/cm². Para a
determinação da temperatura, foi utilizado um multímetro digital Toliterm, modelo
UT56 SAME POL77. A junta de referência foi colocada em uma garrafa térmica contendo
água e gelo, evitando a necessidade de compensar a temperatura ambiente.
Para medir a vazão de líquido bombeado, o método direto – massa/tempo – foi
empregado, por aliar simplicidade e confiabilidade. Uma balança Filizola, modelo ID 1500,
com capacidade máxima de carga de 150 kg, foi utilizada para a obtenção da massa
acumulada em um recipiente de 20 litros ao longo do tempo de medição, este último
determinado com o auxílio de um cronômetro digital.
Figura 4.10: Poço de medição de pressão e de temperatura.
4.2.2 Visualização do escoamento bifásico no riser
Diferentemente do que ocorre na maioria dos escoamentos monofásicos, o
escoamento gás-líquido que se dá no interior do riser pode ser visualizado sem o auxílio de
traçadores. Neste caso, a própria interface entre as fases presentes fornece as condições
necessárias para a captura de imagens de boa qualidade. Por outro lado, a obtenção de
registros suficientemente nítidos requer um paciente trabalho na regulagem da iluminação e
do aparelho de captura, seja ele uma câmera fotográfica ou de vídeo.
No presente trabalho, imagens congeladas (still photo) foram obtidas, utilizando-se
uma câmera digital Fuji, modelo FinePix S7000, equipada com uma objetiva Fujinon zoom de
7,8-46,8 mm (6x), f 1:2.8-3.1, equipada com filtro UV. As imagens são capturadas com uma
resolução de 6.0 MPixel, em formato de arquivo JPEG de 24 bits de cores e, posteriormente,
convertidas para 8 bits P&B, ou 256 tons de cinza, suficientes para a extração de informações
fenomenológicas.
Várias formas de iluminação foram testadas durante o trabalho. Para as imagens
congeladas, os melhores resultados foram obtidos com a utilização de um flash NIKON,
modelo SB26, com operação manual, empregando-se apenas 1/64 de sua carga total. Com
isto, uma velocidade de disparo de 1/23000 segundo foi adotada, o suficiente para o
congelamento da imagem, com bom nível de nitidez e de detalhes nos contornos entre as
fases. Para evitar reflexos indesejáveis, o flash foi posicionado acima da câmera fotográfica,
formando um ângulo de 45° em relação à linha de visada da máquina, como representado na
Figura 4.11. O flash foi acoplado à câmera através de um cabo de sincronismo espiral com a
conexão hotshoe da câmera e a velocidade de obturação foi ajustada em 1/250 segundo, para
evitar iluminação parasita.
Para a obtenção de imagens dinâmicas (vídeo digital), uma iluminação difusa foi
empregada e uma câmera de alta velocidade OLYMPUS, modelo i-speed 2, foi utilizada. Esta
câmera possui um sensor CMOS, capaz de capturar até 33000 fps (fotogramas por segundo)
com resolução de 96 x 72 pixels. Esta resolução, entretanto, pode aumentar
consideravelmente, na medida em que a velocidade de captura diminui. Na maioria dos
ensaios realizados no presente trabalho, a velocidade foi ajustada em 1000 fps, com resolução
de 800 x 600 pixels. Apenas em alguns poucos casos, a velocidade foi aumentada para
6000 fps, o que resulta em imagens com resolução 256 x 192 pixels. O balanço de branco é
feito de forma automática e as imagens foram capturadas com duas objetivas diferentes, uma
com distância focal de 25 mm e outra com distância focal de 50 mm. Uma unidade de display
de 8,4 polegadas de alta resolução foi conectada à câmera, permitindo a seleção de trechos
dos vídeos capturados. A velocidade de varredura (shutter) foi ajustada em 1x, para captura
em 1000 fps, e em 5x, para tomadas em 6000 fps de imagens em close.
(a) Representação esquemática. (b) Vista geral.
Figura 4.11: Montagem dos dispositivos fotográficos.
CAPÍTULO 5
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O
O
5.1. INTRODUÇÃO
Neste capítulo, são apresentados e discutidos os principais resultados obtidos durante a
realização da campanha de ensaios. Num primeiro momento, a adequação dos dados
experimentais aos mapas de padrões de escoamento de Taitel et al. (1980) e de
Samaras e Margaris (2005) é avaliada, com base nas informações colhidas nos ensaios de
visualização. Em seguida, são discutidos dados quantitativos que permitem caracterizar a
performance apresentada pelo sistema gas-lift sob diferentes condições de funcionamento.
Para cada condição de teste, estabelecida pela vazão de ar suprido (entre 1 e 8,5 kg/h) e pela
razão de submersão (ajustada na faixa de 0,3 a 0,75), foram efetuadas seis medições de vazão
da água, para posterior tratamento estatístico. Os resultados são apresentados na forma de
curvas características e curvas de eficiência. Por último, são apresentados resultados
qualitativos do escoamento no interior do riser, que revelam, através de imagens congeladas
(still photo) capturadas com o auxílio de uma câmera digital, aspectos topológicos do
escoamento bifásico. Em complementação a estes resultados, são mostradas imagens
extraídas dos vídeos realizados com o auxílio de uma filmadora de alta velocidade. A análise
em slow motion destes vídeos permitiu a determinação da velocidade de deslocamento das
bolhas de Taylor,
V
V
B
B
T
T
, e das correspondentes freqüências de passagem, f, parâmetros
essenciais para a descrição do escoamento pistonado. Um DVD contendo estes vídeos pode
ser encontrado na contracapa da presente dissertação.
5.2. MAPAS DE PADRÕES DE ESCOAMENTO
Os ensaios de visualização realizados para diferentes condições de operação revelaram
total predominância do padrão pistonado no interior do riser. Somente nas corridas
experimentais realizadas com razão de submersão 0,3 e altas vazões de ar observou-se a
ocorrência de escoamento no padrão agitado.
A Figura 5.1 mostra os pontos experimentais obtidos com o uso do injetor 3F, plotados
sobre os mapas de Taitel et al. (1980) e de Samaras e Margaris (2005). Resultados similares
são apresentados na Figura 5.2, para ensaios realizados com o injetor 15F. Em ambos os
casos, a maioria dos pontos experimentais se situa na região de escoamento agitado, no mapa
de Taitel et al. (1980), e na região de escoamento pistonado, no mapa de
Samaras e Margaris (2005). Este resultado mostra que o mapa de Samaras e Margaris (2005)
é mais adequado para aplicação no sistema desenvolvido no presente estudo. Esta constatação
faz sentido, uma vez que o mapa Samaras e Margaris (2005) foi obtido especificamente para o
escoamento bifásico em risers de sistemas gas-lift, enquanto o mapa de Taitel et al. (1980)
apresenta um caráter mais geral, aplicando-se a qualquer tipo de escoamento bifásico gás-
líquido ascendente.
0,1 1 10
0,01
0,1
1
0,30
0,45
0,55
0,67
0,75
V
SL
(m/s)
V
SG
(m/s)
Pistonado
Agitado
(a) Mapa de Taitel et al. (1980)
0123456
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
V
SL
(m/s)
V
SG
(m/s)
0,30
0,45
0,55
0,67
0,75
Pistonado
Agitado
(b) Mapa de Samaras e Margaris (2005)
Figura 5.1: Resultados experimentais obtidos para o injetor 3F, plotados sobre
diferentes mapas de padrões de escoamento.
0,1 1 10
0,01
0,1
1
0,30
0,45
0,55
0,67
0,75
V
SL
(m/s)
V
SG
(m/s)
Pistonado
Agitado
(a) Mapa de Taitel et al. (1980)
0123456
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
V
SL
(m/s)
V
SG
(m/s)
0,30
0,45
0,55
0,67
0,75
Pistonado
Agitado
(b) Mapa de Samaras e Margaris (2005)
Figura 5.2: Resultados experimentais obtidos para o injetor 15F, plotados sobre
diferentes mapas de padrões de escoamento.
5.3. CURVAS CARACTERÍSTICAS E DE EFICIÊNCIA
As características de funcionamento do sistema gas-lift operando com diferentes
injetores e razões de submersão pode ser observado na Figura 5.3. Para cada um dos injetores,
3F e 15F, as razões de submersão foram variadas de 0,30 a 0,75.
Em todos os casos, as curvas exibem aproximadamente o mesmo comportamento
qualitativo, caracterizado por um aumento da vazão de água mais acentuado para baixas
vazões de ar. Na medida em que aumenta a vazão de ar, ocorre uma nítida diminuição na taxa
de crescimento da curva. Em vários casos, um valor máximo de vazão de líquido é atingido e,
a partir deste ponto, um aumento na vazão de gás implica numa diminuição da vazão de
líquido. De acordo com Todoroki (1973), este declínio está relacionado, em grande parte, com
o aumento da fração de vazio no riser, que ocasiona um aumento das perdas por atrito,
provocadas pelo aumento na velocidade do escoamento gás-líquido.
0123456789
0
200
400
600
800
1000
1200
0,30 3F
0,30 15F
0,45 3F
0,45 15F
0,55 3F
0,55 15F
0,67 3F
0,67 15F
0,75 3F
0,75 15F
Figura 5.3: Curvas características das diferentes razões de submersão para os
injetores 3F e 15F
Este comportamento do sistema pode ser observado, também, na Figura 5.4, que
mostra a variação da vazão de água em relação à razão de submersão, quando fixada a
vazão de ar.
Para a vazão de ar de 2 kg/h, Figura 5.4(a), a vazão de água é praticamente a mesma
para os dois injetores, qualquer que seja a razão de submersão. Fixando-se a vazão de ar em
3 kg/h, Figura 5.4(b), já se nota uma variação maior das vazões de água entre os injetores 3F e
15F, sobretudo para a razão de submersão de 0,75. Este aumento fica ainda mais nítido nas
Figuras 5.4(c) e 5.4(d), que mostram, respectivamente, as curvas para as vazões de ar fixadas
em 5 kg/h e 7 kg/h.
0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8
0
200
400
600
800
1000
1200
Injetor 3F
Injetor 15F
0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8
0
200
400
600
800
1000
1200
Injetor 3F
Injetor 15F
(a) Vazão de ar 2kg/h (b) Vazão de ar 3 kg/h
0,20,30,40,50,60,70,8
0
200
400
600
800
1000
1200
Injetor 3F
Injetor 15F
0,20,30,40,50,60,70,8
0
200
400
600
800
1000
1200
Injetor 3F
Injetor 15F
(c) Vazão de ar 5kg/h (d) Vazão de ar 7kg/h
Figura 5.4: Vazão de água bombeada em função da razão de submersão HL/HT, para
diferentes vazões de ar.
A Figura 5.5 mostra as curvas que retratam a eficiência do sistema como uma função da
vazão de ar fornecida, para as diferentes razões de submersão. Para a obtenção destes gráficos,
empregou-se o conceito de eficiência introduzido por Nicklin (1963), definido pela relação
entre o trabalho realizado pelo sistema para bombear o líquido e o trabalho realizado pelo gás
em uma expansão isotérmica. Matematicamente, esta definição pode ser colocada na forma:
(5.1)
onde W
L
e W
G
representam, respectivamente, o trabalho de bombeamento de líquido e o trabalho
realizado pelo gás,
ρ
G
é a densidade do líquido, g a aceleração gravitacional, Q
L
e Q
G
as vazões de
líquido e de gás, HT a distância entre o injetor e o topo do riser, HL a distância entre o injetor e o
nível de líquido e, finalmente, P
1
e P
2
as pressões no injetor e no topo do riser.
Analisando-se as curvas obtidas, verifica-se que um aumento na vazão de ar produz
um aumento na eficiência de bombeamento, até que um ponto de máximo na curva seja
atingido. A partir daí, novos incrementos na vazão de ar implicam em acentuada queda de
eficiência. Na maioria dos casos, o ponto de máximo ocorre para vazões de ar ligeiramente
superiores a 1 kg/h, exceto para a razão de submersão de 0,30.
O injetor 15F se mostrou mais eficiente que o 3F, para quase todas as razões de
submersão, chegando a ser cerca de 5 % mais eficiente para razão de submersão de 0,55,
Figura 5.5(c). Apenas na Figura 5.5(a), para razão de submersão 0,3, a eficiência máxima do
injetor 3F é 4,1 % maior que apresentada pelo injetor 15F. Entretanto, a queda de eficiência do
injetor 15F após o ponto de máximo é significativamente maior do que a observada com o uso
do injetor 3F. Este comportamento é observado para todas as razões de submersão, sendo que a
diferença entre as duas curvas diminui na medida em que a razão de submersão aumenta.
Este conjunto de resultados mostra que a eficiência do sistema é fortemente afetado
não apenas pela razão de submersão, mas, também, pela pressão de injeção e pelo do tipo
injetor empregado. De fato, o desenho do injetor interfere diretamente no tamanho e na
distribuição inicial das bolhas na parte baixa do riser. Segundo Khalil (1999), melhorando-se
a distribuição e reduzindo-se o tamanho das bolhas de forma satisfatória, pode-se diminuir o
escorregamento entre as fases, aumentando-se a eficiência do sistema. A título de informação,
os injetores utilizados no presente trabalho foram construídos com o mesmo número de furos
e com os mesmos diâmetros dos furos utilizados por Khalil (1999). O desenho dos injetores,
entretanto, é radicalmente diferente, uma vez que no trabalho de Khalil (1999), discos de
mesmo diâmetro foram empregados, enquanto aqui, injetores com a forma de cilindros de
base quadrada foram utilizados.
Construída a partir dos resultados da Figura 5.5, a Figura 5.6 reúne, em um só gráfico,
os pontos de eficiência máxima obtidos com o uso dos injetores 3F e 15F, para diferentes
razões de submersão. Em princípio, seria de se esperar que a maior eficiência ocorresse para a
razão de submersão de 0,75, na qual as vazões de água são maiores. Porém, pode-se observar
que as maiores eficiências são apresentadas quando a razão de submersão encontra-se em
torno de 0,55. Para esta razão de submersão, uma eficiência de 45,5 % é obtida com o injetor
15F e de 43,5% para o injetor 3F, enquanto um rendimento em torno de 39% é obtido na
razão de submersão em 0,75.
0123456789
8
12
16
20
24
28
32
36
40
44
48
Injetor 3F
Injetor 15F
0123456789
8
12
16
20
24
28
32
36
40
44
48
Injetor 3F
Injetor 15F
(a) Razão de submersão 0,30. (b) Razão de submersão 0,45.
0123456789
8
12
16
20
24
28
32
36
40
44
48
Injetor 3F
Injetor 15F
Eficiência (%)
0123456789
8
12
16
20
24
28
32
36
40
44
48
Injetor 3F
Injetor 15F
(c) Razão de submersão 0,55 (d) Razão de submersão 0,67
0123456789
8
12
16
20
24
28
32
36
40
44
48
Injetor 3F
Injetor 15F
(e) Razão de submersão 0,75
Figura 5.5: Eficiência do sistema gas-lift em função da vazão de ar, para
diferentes razões de submersão.
0,2 0,4 0,6 0,8
20
30
40
50
Injetor 3F
Injetor 15F
Eficiência (%)
Razão de submersão -
HL/HT
Figura 5.6: Máxima eficiência atingida pelo sistema air-lift, com o uso dos injetores 3F e
15F, em função da razão de submersão.
5.4. IMAGENS CONGELADAS (STILL PHOTO)
A Figura 5.7 mostra as características do escoamento na região de injeção,
compreendida entre 12,5 e 20 cm a partir da base do riser, utilizando-se o injetor 15F, com
razão de submersão fixada em 0,67 e vazões de ar variando entre 0,32 kg/h a 8,08 kg/h.
Na Figura 5.7(a), especificamente, observa-se a configuração do escoamento para uma
pequena vazão em massa, de apenas 0,32 kg/h, o suficiente para iniciar o processo de
bombeamento. Neste caso, observa-se, a partir da saída no injetor, a formação de uma pluma
composta por um aglomerado de bolhas com aproximadamente 5 mm de diâmetro.
Aumentando-se a vazão de ar para 2,35 kg/h, Figura 5.7(b), percebe-se na saída do
injetor formação um jato gasoso com diâmetro aproximado de 12 mm, cujo diâmetro médio
vai aumentando de forma branda. Nesta situação, pequenas bolhas isoladas podem ser
percebidas na região anular ocupada pela fase líquida, cuja origem está associada às tensões
cisalhantes na interface gás-líquido.
A Figura 5.7(c) ilustra as características do escoamento para uma vazão de ar em torno
de 3,4 kg/h, que se situa próximo ao pico da curva característica do sistema para esta razão de
submersão de 0,67, como mostra a Figura 5.3. Com essa vazão, o jato de ar começa a se
tornar instável e ocorre um aumento considerável no número das pequenas bolhas de ar na
região líquida anular.
(a)
G
=0,32 kg/h (b)
G
=2,35 kg/h (c)
G
=3,40 kg/h
(d)
G
=4,10 kg/h (e)
G
=6,03 kg/h (f)
G
=8,08 kg/h
Figura 5.7: Características do escoamento na região de injeção do sistema,
utilizando-se o injetor 15F.
Nas Figuras 5.7(d), (e) e (f) observa-se que o jato de ar, que na Figura 5.7(b)
apresentava um diâmetro médio de aproximadamente de 12 mm, vai, gradativamente,
Injetor
ocupando toda a seção transversal do tubo. Em razão disto, as pequenas bolhas dispersas,
antes observadas na região parietal, tornam-se, agora, muito mais escassas.
É interessante destacar que, para vazões de gás mais elevadas, a partir de 3,5 kg/h, o ar
expelido a alta pressão pelos furos laterais do injetor 15F passa a se chocar contra as paredes
do riser, aumentando as perdas hidráulicas e, ao mesmo tempo, criando certo bloqueio ao
bombeamento de líquido. Em conseqüência disto, a queda verificada na eficiência do sistema
para altas vazões de ar torna-se mais importante que a aquela obtida com o uso do injetor 3F,
como mostrado anteriormente na Figura 5.5(d).
A Figura 5.8 mostra, para diferentes condições de operação, as características do
escoamento no pistão de líquido que segue a bolha de Taylor.
Para vazão mássica de ar fixada em 0,32 kg/h, Figura 5.8(a), é possível observar, na
região do riser compreendida entre 90 e 110 cm, a presença de bolhas de pequeno diâmetro
no pistão de líquido, que surgem em virtude do processo de aeração da bolha de Taylor.
Através de um processo de coalescência, estas bolhas aumentam seu tamanho, à medida que
se afastam da bolha de Taylor.
(a)
G
=0,32 kg/h
z=90-110 cm
(b)
G
=2,35 kg/h
z=100-120 cm
(c)
G
=4,77 kg/h
z=85-105 cm
(d)
G
=8,08 kg/h
z=95-115 cm
(e)
G
=10 kg/h
z=90-110 cm
Figura 5.8: Distribuição de bolhas no pistão de líquido.
A Figura 5.8(b) mostra que o processo de aeração da bolha de Taylor é bastante
intensificado, quando a vazão mássica de ar passa para 2,35 kg/h. Neste caso, o aumento no
número de pequenas bolhas é acompanhado pela diminuição no diâmetro das bolhas.
Como pode ser visto nas Figuras 5.8(c), (d) e (e), o subseqüente aumento da vazão
de ar, intensifica ainda mais o processo de aeração da bolha de Taylor. Esta evolução é
provocada pelas tensões cisalhantes que atuam no escoamento, devido à diferença de
velocidade entre as fases líquida e gasosa. A ação dessas tensões traz como conseqüência a
quebra das bolhas de gás, ou break-up, como este mecanismo é conhecido na literatura
anglo-saxônica.
Nas imagens da Figura 5.9, observam-se as características do escoamento bifásico em
diferentes trechos do riser, para uma mesma vazão de gás, fixada em 3,40 kg/h. Neste caso, a
transição do escoamento em bolhas para o padrão pistonado pode ser identificada.
(a) z = 13 – 22 cm (b) z = 32 – 41 cm (c) z = 57 – 66 cm
Figura 5.9: Transição do escoamento em bolhas para o escoamento pistonado,
para
G
=3,40 kg/h.
A Figura 5.9(a) mostra o trecho inicial do escoamento bifásico, localizado logo
acima do ponto de injeção ponto de injeção. Nessa região, observam-se pequenas bolhas
que se desprendem da pluma de gás formada a partir do injetor, pela ação das tensões
cisalhantes atuando na interface gás-líquido, devido aos altos gradientes de velocidade entre
as duas fases.
A Figura 5.9(b) mostra que um importante processo de coalescência das bolhas de ar
ocorre na região compreendida entre 32 e 41 cm do riser. Nesta região, observa-se que o gás
se desloca de forma razoavelmente caótica na zona central do tubo, sem um padrão de
escoamento muito bem definido.
Na região localizada entre 57 cm a 66 cm do riser, Figura 5.9(c), o escoamento no
centro do tubo já se dá de forma mais organizada. As poucas bolhas de ar que ainda persistem
na região líquida anular são pressionadas contra a parede, sendo forçadas a coalescerem com
o núcleo gasoso.
5.5. TOMADAS DE VÍDEO DE ALTA VELOCIDADE
Fixando-se a vazão de ar em 1,16 kg/h e a razão de submersão em 0,67, foram
realizadas várias tomadas de vídeo ultra-rápido, cobrindo a região do riser que vai de 40 a
60 cm, a partir de sua base. Na Figura 5.10, cinco fotogramas espaçados em intervalos iguais
de 0,02 s foram selecionados, com o objetivo de mostrar a transição do escoamento em bolhas
para o escoamento pistonado e o papel da coalescência de bolhas dispersas na formação da
bolha de Taylor.
Na região da Figura 5.10(a) circundada por uma elipse branca, nota-se a presença de
uma bolha maior, seguida por um grupo de bolhas menores. Com o decorrer do tempo,
percebe-se que este grupo de bolhas, que apresenta maior velocidade, encontra o caminho
obstruído pela bolha maior e, por coalescência, acabam por se unirem a ela, dando origem à
bolha de Taylor, destacada na Figura 5.10(e).
Para o instante t = 0,1 s, Figura 5.10(f), a bolha de Taylor é seguida por um pistão de
líquido, o qual contém, em seu interior, um grande número de micro-bolhas de ar. Na parte
baixa da imagem, observa-se que estas micro-bolhas são capturadas por uma bolha de Taylor
em formação.
(a) t=0s (b) t=0,02s (c) t=0,04s (d) t=0,06s (e) t=0,08s (f) t=0,1s
Figura 5.10: Transição do escoamento bolhas para o escoamento pistonado na região
do riser compreendida entre z = 40 e 60 cm
5.6 RELAÇÕES DE FECHAMENTO
A partir das tomadas de vídeo, realizadas com o auxílio da filmadora de alta velocidade,
foi possível determinar a velocidade das bolhas de Taylor e a freqüência característica do
escoamento pistonado. O processo de obtenção destas variáveis é bastante simples, uma vez que
a câmera associa, a cada frame, um time code, que permite identificar, com grande exatidão, o
instante de captura de qualquer frame. Assim, fixando-se um ponto de referência sobre o riser,
pode-se obter, durante uma reprodução do vídeo em slow motion, a velocidade de ascensão das
bolhas,
V
V
B
B
T
T
, e as correspondentes freqüências de passagem, f, apenas identificando-se o instante
em que sucessivas bolhas de Taylor passam pelo ponto de referência.
5.6.1 Velocidade de bolha
Para analisar o comportamento da velocidade da bolha de Taylor, foram selecionadas
três diferentes vazões de gás, para cada um dos injetores, mantendo-se a razão de submersão
fixa em 0,67. Para cada um dos casos, foram realizadas três medições, a partir das quais foram
extraídas as correspondentes médias. As velocidades de gás e de líquido utilizadas em cada
um destes ensaios são resumidas na Tabela 5.1. Os resultados obtidos são comparados com os
fornecidos pela Equação 3.12, utilizando-se os diferentes valores das constates C
0
e C
1
dados
na Tabela 3.1.
Tabela 5.1: Tabela das velocidades superficiais de gás e de líquido utilizados nos ensaios
para a determinação das velocidades de bolha e das freqüências do escoamento pistonado.
INJETOR 3F INJETOR 15F
VELOCIDADE
SURPERFICIAL
ENSAIO 1 ENSAIO 2 ENSAIO 3 ENSAIO 1 ENSAIO 2 ENSAIO 3
V
SG
(m/s) 0,444 1,050 3,102 0,357 0,531 2,311
V
SL
(m/s) 0,381 0,501 0,499 0,152 0,367 0,476
Imagens obtidas durante o Ensaio 1 do injetor 3F podem ser observadas na
Figura 5.11. Analisando-se a Figura 5.11(a), pode-se verificar que a frente da bolha de Taylor
percorreu 22,5 cm em 0,16 s, o que resulta em uma velocidade de ascensão de 1,406 m/s. Nas
Figuras 5.11(b) e (c), os mesmos cálculos conduzem às velocidades de 1,392 m/s e 1,388 m/s,
respectivamente, resultando em uma velocidade média para as três medições de 1,396 m/s.
As imagens que se prestaram ao cálculo das velocidades de bolha para todos os demais
ensaios, tanto do injetor 3F quanto 15F, são apresentadas sequencialmente nas Figuras 12 a
16. Os correspondentes valores de velocidade são reunidos na Tabela 5.2, onde são
comparados com correlações da literatura.
Tabela 5.2: Velocidades de ascensão da bolha de Taylor – comparação entre dados
experimentais e correlações propostas na literatura.
VELOCIDADE DE BOLHA (m/s)
INJETOR 3F INJETOR 15F
AUTOR
ENSAIO
1
ENSAIO
2
ENSAIO
3
ENSAIO
1
ENSAIO
2
ENSAIO
3
Presente trabalho 1,396 2,462 3,879 0,549 1,466 4,178
Nicklin et al. (1962) 1,162 2,035 4,495 0,784 1,250 3,519
Dukler et al. (1985) 1,008 1,898 4,409 0,621 1,097 3,413
Théron (1989) 1,162 2,034 4,494 0,783 1,249 3,518
Petalas e Aziz (1998) 1,061 1,999 4,643 0,654 1,155 3,594
t = 0 s t = 0,160 s t = 0 s t = 0,158 s t = 0 s t = 0,162 s
(a) Medição 1 (b) Medição 2 (c) Medição 3
Figura 5.11: Imagens correspondentes ao Ensaio 1, para o injetor 3F.
t = 0 s t = 0,090 s t = 0 s t = 0,080 s t = 0 s t = 0,095 s
(a) Medição 1 (b) Medição2 (c) Medição 3
Figura 5.12: Imagens correspondentes ao Ensaio 2, para o injetor 3F.
t = 0 s t = 0,050 s t = 0 s t = 0,038 s t = 0 s t = 0,036 s
(a) Medição 1 (b) Medição 2 (c) Medição 3
Figura 5.13: Imagens correspondentes ao Ensaio 3, para o injetor 3F.
t = 0 s t = 0,232 s t = 0 s t = 0,300 s t = 0 s t = 0,300 s
(a) Medição 1 (b) Medição 2 (c) Medição 3
Figura 5.14: Imagens correspondentes ao Ensaio 1, para o injetor 15F..
t = 0 s t = 0,068 s t = 0 s t = 0,102 s t = 0 s t = 0,102 s
(a) Medida 1 (b) Medida 2 (c) Medida 3
Figura 5.15: Imagens correspondentes ao Ensaio 2, para o injetor 15F.
t = 0 s t = 0,036 s t = 0 s t = 0,041 s t = 0 s t = 0,045 s
(a) Medida 1 (b) Medida 2 (c) Medida 3
Figura 5.16: Imagens correspondentes ao Ensaio 3, para o injetor 15F..
O desvio relativo entre os dados experimentais e os valores dados pelas diferentes
correlações discriminadas na Tabela 5.2 pode ser definido pela relação:
(5.2)
sendo e o erro relativo, y o valor calculado e y
exp
o valor obtido experimentalmente no
presente trabalho.
A Tabela 5.3 mostra que a maioria dos resultados experimentais apresenta um desvio
inferior a 20%, em relação às correlações da literatura. Entretanto, em alguns poucos casos,
desvios superiores a 40% foram encontrados.
Tabela 5.3: Desvio relativo da velocidade de bolha obtida no presente trabalho em
relação a correlações da literatura.
ERRO RELATIVO (%)
INJETOR 3F INJETOR 15F
AUTOR
ENSAIO
1
ENSAIO
2
ENSAIO
3
ENSAIO
1
ENSAIO
2
ENSAIO
3
Nicklin et al. (1962)
16,74 17,36 15,87 42,71 14,74 15,78
Dukler et al. (1985)
27,82 22,90 13,67 13,11 25,16 18,30
Théron (1989)
16,78 17,38 15,86 42,62 14,77 15,79
Petalas e Aziz (1998)
23,99 18,81 19,71 19,11 21,19 13,97
5.6.2 Freqüência
Os valores experimentais correspondentes às freqüências obtidas no presente trabalho
estão expostos na Tabela 5.4, juntamente com os obtidos através de correlações da literatura.
Uma comparação entre os valores de freqüência obtidos experimentalmente com os valores
experimentais da velocidade de bolha apresentados na Tabela 5.2, pode-se constatar que a
freqüência cai com o aumento da velocidade de bolha. Como a freqüência representa a razão
entre a velocidade de bolha e o tamanho de uma célula unitária, conclui-se que esta queda
resulta de um aumento no tamanho da célula.
Utilizando-se a mesma Equação 5.2 para o cálculo do desvio entre os presentes dados
experimentais e as correlações propostas por outros autores, puderam-se obter os valores
apresentados na Tabela 5.5. Neste caso, entretanto, a faixa de desvios encontrada é
significativamente maior que para o caso das velocidades de bolha, variando entre mais de
200% para o Ensaio 1 com o injetor 15F, a praticamente zero para o Ensaio 2, com o mesmo
injetor. Como estas correlações foram obtidas a partir de dados experimentais, é bem provável
que as condições do Ensaio 2 sejam mais próximas às condições dos ensaios que deram
origem às correlações.
Tabela 5.4: Freqüências de passagem das bolhas de Taylor – comparação entre dados
experimentais e correlações propostas na literatura.
FREQÜÊNCIA (Hz)
INJETOR 3F INJETOR 15F
AUTOR
ENSAIO
1
ENSAIO
2
ENSAIO
3
ENSAIO
1
ENSAIO
2
ENSAIO
3
Presente trabalho 3,74 6,33 5,74 1,49 6,70 5,06
Zabaras (2000) 6,35 4,56 2,64 3,67 5,52 2,75
Sakaguchi (2001) 6,94 7,35 7,94 4,56 6,72 7,62
Tabela 5.5: Desvio relativo das freqüências de passagem da bolha de Taylor obtida no
presente trabalho, em relação a correlações da literatura.
DESVIO RELATIVO (%)
INJETOR 3F INJETOR 15F
AUTOR
ENSAIO
1
ENSAIO
2
ENSAIO
3
ENSAIO
1
ENSAIO
2
ENSAIO
3
Zabaras (2000) 69,91 27,96 54,10 146,89 17,52 45,69
Sakaguchi (2001) 85,80 16,16 38,24 206,95 0,35 50,56
CAPÍTULO 5
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O
S
S
Conhecido há mais de um século e apresentando uma série de vantagens em relação a
outros dispositivos de bombeamento, o sistema gas-lift tem sido extensamente utilizado em
vários setores da indústria, da farmacêutica à nuclear, passando pela petrolífera e pela
mineradora. Em vista disso, o número de trabalhos científicos dedicados ao estudo deste tipo
de sistema é, hoje, razoavelmente vasto, abrangendo estudos teóricos, numéricos e
experimentais. Ainda assim, muitos aspectos associados ao escoamento bifásico no interior do
riser ainda não são bem conhecidos. Uma melhor compreensão dos mecanismos de interação
entre as fases líquida e gasosa pode auxiliar na busca de soluções que melhorem a eficiência e
a confiabilidade do sistema, justificando os esforços de pesquisa feitos nesta direção.
Com o objetivo de contribuir com o estudo do sistema gas-lift, realizou-se, no presente
trabalho, um estudo experimental do funcionamento de um aparato deste tipo, construído em
escala de laboratório.
Dois tipos de injetores na forma de cilindros de base quadrada foram testados – um
deles com três furos sobre apenas uma de suas faces laterais (injetor 3F) e o outro com quinze
furos, distribuídos cinco a cinco, sobre três das quatro faces laterais (injetor 15F).
Comparando-se os resultados obtidos, foi possível observar que a forma do injetor afeta a
distribuição inicial do gás no interior do riser, exercendo influência sobre a eficiência do
sistema. De maneira geral, o sistema equipado com o injetor 15F apresentou uma eficiência
máxima maior que a obtida com o injetor 3F, principalmente para altas razões de submersão.
Por outro lado, após o ponto de máxima eficiência, a queda de rendimento do sistema
operando com o injetor 15F é bem mais acentuada que a verificada com o uso do injetor 3F.
Por isto, em algumas condições de funcionamento – por exemplo, vazão de ar de 7 kg/h e a
razão de submersão de 0,75 – o sistema utilizando o injetor 3F foi capaz de bombear mais de
100 kg/h de água que sistema munido do injetor 15F.
Imagens do escoamento foram capturadas tanto na forma still photo (imagem
congelada) como em vídeo ultra-rápido. Estes ensaios de visualização permitiram observar,
para variadas condições de operação do sistema, diferentes padrões de distribuição espacial
entre fases, além de mecanismos típicos da interação gás-líquido em sistemas deste tipo, tais
como os processos de quebra (break-up) e coalescência de bolhas.
Neste contexto, o processo de break-up pôde ser nitidamente observado na região
posterior da bolha de Taylor. Observou-se ainda que, na medida em que a vazão de ar é
aumentada, ocorre uma diminuição no tamanho e um aumento do número das bolhas,
indicando um aumento nas tensões de cisalhamento, provocado pelo maior escorregamento
entre as fases. Com isto, as perdas hidráulicas também são penalizadas.
As tomadas de vídeo ultra-rápido possibilitaram a visualização do fenômeno de
formação da bolha de Taylor. A análise destes vídeos em slow motion permitiu também a
medição da velocidade e da freqüência de passagem das bolhas de Taylor, mostrando detalhes
do escoamento pistonado, desde a região de transição.
Deve-se acrescentar, ainda, que os resultados qualitativos auxiliaram também na
interpretação de dados quantitativos. De fato, mapas de padrões de escoamento são
frequentemente empregados como elementos de orientação no estudo de sistemas gas-lift.
Com o auxílio da visualização de escoamentos, observou-se, no presente trabalho, que nem
todos os mapas que retratam o escoamento gás-líquido ascendente podem ser aplicados para
qualificar o escoamento em risers de sistemas gas-lift. Neste sentido, dois mapas propostos
por autores distintos – Taite et at (1980) e Samaras e Margaris (2005) – foram comparados
entre si, no que tange à sua adequação aos dados experimentais do presente trabalho. Como
resultado, pode-se dizer que o mapa de Samaras e Margaris (2005) apresentou uma adequação
claramente superior ao de Taite et at (1980), uma vez que a maioria dos pontos obtidos
experimentalmente puderam ser alocados na região de escoamento pistonado, como
observado nos ensaios de visualização.
Finalmente, cabe considerar que, durante a realização da campanha experimental,
várias idéias para futuras investigações foram surgindo, que poderiam ser implementadas
como uma extensão dos estudos aqui desenvolvidos. As principais dentre elas são as
seguintes:
Utilizar a técnica de injeção de corante para visualizar o comportamento do filme de
líquido que se forma entre o tubo e a bolha de Taylor;
Medir a fração de vazio em pontos específicos do riser e, utilizando os valores obtidos para
aprimorar o cálculo das velocidades de cada fase;
Medir da pressão ao longo do riser para melhor caracterizar o escoamento bifásico
ascendente , visando otimizar o funcionamento sistema;
Analisar a eficiência do sistema operando com outros líquidos e outros gases,
comparativamente ao sistema ar-água.
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A
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Segundo o Vocabulário Internacional de Termos Fundamentais e Gerais de
Metrologia, Inmetro (2003), calibração é o conjunto de operações que estabelece, sob
condições especificadas, a relação entre os valores indicados por um instrumento ou sistema
de medição, ou valores representados por uma medida materializada ou um material de
referência, e os valores correspondentes das grandezas estabelecidas por padrões.
Neste anexo, são apresentadas informações referentes ao processo de calibração de
elementos do sistema de medição de vazão de ar empregado nos ensaios experimentais.
A.1 PLACA DE ORIFÍCIO
A Figura A.1 ilustra a montagem experimental utilizada para calibrar a placa de
orifício utilizada na medição da vazão de ar injetado no sistema gas-lift, confeccionada e
instalada segundo a norma ASME 1971. Por limitações de ordem construtivas, entretanto, a
rugosidade recomendada pela norma para o trecho reto que antecede a placa não foi
obedecida.
O funcionamento do sistema é bastante simples, podendo ser descrito como segue. A
água armazenada em um reservatório de nível constante escoa por um tubo de 32 mm de
diâmetro interno, até chegar a uma válvula reguladora de vazão, instalada no início do trecho
reto que conduz o escoamento até a placa de orifício. A função deste trecho reto é garantir um
perfil do escoamento completamente desenvolvido na entrada placa de orifício. A diferença
de pressão provocada pelo elemento deprimogênio é medida com o auxílio de um transmissor
diferencial de pressão, marca Yokogawa, modelo EJA 120 – DES4A-22DC/D4, o mesmo
utilizado durante a realização da campanha experimental do sistema gas-lift.
O procedimento de calibração envolve as etapas explicitadas a seguir.
1) Abrir a válvula de controle de vazão e o dreno localizado no transmissor diferencial de
pressão, para a remoção do ar eventualmente aprisionado no sistema;
2) Ajustar a válvula reguladora de vazão à posição desejada;
3) Esperar de 10 a 15 minutos, verificando-se frequentemente a estabilidade do escoamento,
até que a condição de regime permanente seja atingida;
4) Realizar, com o auxílio de um cronômetro digital e de uma proveta graduada de 2000 ml,
seis medições de vazão para uma mesma abertura da válvula reguladora;
5) Aumentar a vazão de água e retornar ao passo (3)
6) Após atingida a vazão máxima, repetir o procedimento de calibração no sentido da máxima
para a mínima vazão, avaliando-se eventuais efeitos de histerse.
01 – Reservatório de nível constante.
02 – Transmissor diferencial de pressão.
03 – Válvula reguladora de vazão.
04 – Placa de orifício.
05 – Saída de água para a proveta graduada de 2000 ml.
Figura A.1: Sistema de calibração da placa de orifício
Os resultados obtidos com os procedimentos descritos anteriormente permitiram traçar
uma curva de calibração do coeficiente de descarga em função do número de Reynolds,
permitindo que placa pudesse ser empregada com diferentes fluidos de trabalho. A Figura A.2
mostra que os resultados obtidos situam-se, em média, 8% acima da curva de calibração
sugerida pela norma ASME 1971.
Com base neste conjunto de pontos experimentais, foram determinados os coeficientes
CL e b da Equação de Stolz , Nicolau e Güts (1988), dada por:
(A.1)
resultando na seguinte expressão:
(A.2)
a qual é capaz de representar o coeficiente de descarga da placa de orifício, C, com uma
dispersão máxima da ordem de 3,7%.
2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000 18000 20000
0,60
0,65
0,70
0,75
Experimental
ASME 1971
Curva de Ajuste
Coeficiente de Descarga - C
Reynolds - Re
Figura A.2: Curva de Calibração da placa de orifício.
A.2 TERMOPAR
Para a medição da temperatura do ar, foi utilizado um termopar do tipo T
(cobre/constantan), cuja calibração foi realizada empregando-se a montagem mostrada na
Figura A.3, composta pelo termopar a ser aferido, uma garrafa térmica com água e gelo
fundente em equilíbrio térmico, um multímetro digital, um banho termostático, termômetros
de precisão e uma serpentina.
Utilizando-se gelo, o banho termostático foi mantido, inicialmente, a uma temperatura
de 0°C, igual àquela encontrada na garrafa térmica que abriga o termopar de referência. Com
o termopar de medição imerso no banho termostático, aumentou-se gradativamente a
temperatura do banho termostático, anotando-se a leitura indicada no multímetro digital toda
vez que o termômetro de precisão mergulhado no banho termostático indicava temperaturas
múltiplas de 5°C.
Figura A3 – Aparato experimental utilizado na calibração do termopar.
A temperatura máxima atingida pelo banho foi de aproximadamente 100ºC. A esta
temperatura, a resistência do banho termostático foi desligada, mantendo-se, entretanto, a
circulação da água na serpentina imersa em um reservatório contendo gelo fundente. Com
isto, pôde-se obter um resfriamento suficientemente lento do banho termostático, refazendo-se
as medições, de 5ºC em 5ºC, até a temperatura mínima 0º C.
Com as leituras das tensões elétricas obtidas no multímetro em função das diferentes
temperaturas, foi possível levantar a curva de calibração do termopar, mostrada na Figura A4.
Neste caso apenas uma pequena histerese foi observada.
Ajustando-se uma reta aos pontos experimentais, obtém-se a equação:
(A.3)
que fornece a temperatura T, em ºC, como uma função da tensão elétrica V indicada no
multímetro, em mV.
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
Curva de Aumento de T
Curva de Diminuição de T
Curva de Ajuste Linear
Temperatura (°C)
Tensão (mV)
Figura A4 – Curva de calibração do termopar do tipo T.
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Para que possam ter alguma confiabilidade, resultados de medições experimentais
devem sempre vir acompanhados de uma indicação quantitativa sobre o grau de incerteza
relacionado aos valores apresentados. O procedimento utilizado para estimar e expressar
adequadamente esta indicação recebe o nome análise de incertezas.
Escrito com base no trabalho de Moffat (1988), este anexo apresenta a metodologia
adotada na análise das incertezas associadas às principais grandezas medidas durante a
campanha de ensaios e os correspondentes valores obtidos.
B.1 ANÁLISE DE INCERTEZAS POR AMOSTRAGEM SIMPLES
Experimentos de amostragem simples são aqueles em que cada ponto experimental é
verificado somente uma vez, ou no máximo, algumas poucas vezes. Experimentos de pesquisa
em mecânica dos fluidos e transferência de calor são, em geral, experimentos de amostragem
simples, caracterizados por dados distribuídos ao longo de uma ampla faixa do parâmetro em
estudo. A base matemática para a análise de incertezas por amostragem simples é apresentada
a seguir.
Considere-se uma variável
que possui uma incerteza conhecida . A maneira de
representar a variável e sua incerteza é dada pela seguinte equação.
(20:1)
(B.1)
Esta definição deve ser interpretada como:
A melhor estimativa de é (medido)
Existe uma incerteza em que pode ser tão grande quanto
As chances da incerteza de ser menor do que são de 20 para 1 (95%)
O valor de (medido) representa a leitura realizada, enquanto que representa 2s,
onde s é o desvio padrão da população de possíveis medidas, das quais a única amostra foi
tirada. Supondo que um número infinito de medidas fosse feita, a média seria o valor
verdadeiro, assumindo-se que não haja erros sistemáticos ou fixos, e os erros aleatórios seriam
normalmente distribuídos ao seu redor, com desvio padrão igual a s. Sabendo-se que 95% de
todos os casos de uma população com distribuição normal situam-se dentro do intervalo ±2s
em torno da média, com 95% de confiança, o valor médio está contido no intervalo de ±2s do
valor medido. O desvio padrão da população s pode ser calculado a partir do desvio padrão da
amostra S, obtido do experimento utilizando-se a distribuição de Student.
O resultado R do experimento, calculado a partir de um conjunto de medições, é
representado por,
(B.2)
Kline e McClintock (1953) mostraram que a incerteza de um resultado calculado pode
ser estimada com boa precisão utilizando-se uma combinação dos efeitos das incertezas
individuais de cada variável sobre o resultado. O efeito da incerteza de uma única variável sobre
o resultado calculado, se somente esta variável possui um incerteza associada, é dada por:
(B.3)
A derivada parcial de R em relação a é conhecida como coeficiente de sensibilidade
do resultado R em relação à variável . Quando diversas variáveis independentes são
utilizadas no cálculo do resultado, os termos individuais são combinados da seguinte forma:
(B.4)
Cada termo da equação anterior representa a contribuição que a incerteza de uma
variável dá à incerteza global do resultado . Todos os termos possuem a mesma forma,
ou seja, a derivada parcial de R em relação a , multiplicada pela incerteza desta variável.
Para que a Equação B.4 seja válida, as seguintes condições precisam ser observadas.
Cada uma das medições é independente das demais;
Se fossem realizadas repetidas medições de cada variável, sua dispersão seria uma
Gaussiana;
A incerteza de cada variável é expressa com a mesma probabilidade.
Na maioria das situações, os termos da Equação B.4 que são três ou mais vezes
menores do que o maior termo, geralmente podem ser desprezados. Assim, a incerteza global
de um resultado fica dominada por apenas alguns de seus termos.
Em muitas aplicações, deseja-se que a incerteza de um resultado seja expressa como
uma fração do resultado. Em particular, quando a expressão do resultado pode ser escrita na
forma de um produto, tal como na Equação B.5, a incerteza relativa pode ser encontrada
diretamente, isto é, se:
(B.5)
então,
(B.6)
Essa é uma forma natural e conveniente de calcular a incerteza relativa do resultado,
quando se conhece a incerteza relativa das variáveis envolvidas. Neste caso, os expoentes de
são os coeficientes de sensibilidade dos termos da Equação B.6.
B.2 INCERTEZA DA VAZÃO DE AR
Na medição das vazões de ar, uma placa de orifício concêntrica foi empregada. De
acordo com Delmée (2003), a incerteza de elementos deprimogênios pode ser calculada pela
Equação B.7, como preconizam as normas ISO 5167 e ISO 5168.
(B.7)
sendo: a incerteza de medição da vazão em massa;
a incerteza sobre o coeficiente de descarga;
a incerteza de medição do diâmetro interno do tubo;
a incerteza de medição do diâmetro do furo da placa;
a incerteza de medição do fator isentrópico;
a incerteza de medição da pressão diferencial;
a incerteza de medição da massa específica.
A
A
)
)
C
C
O
O
E
E
F
F
I
I
C
C
I
I
E
E
N
N
T
T
E
E
D
D
E
E
D
D
E
E
S
S
C
C
A
A
R
R
G
G
A
A
A Figura B1, apresenta os desvios dos pontos obtidos no processo de calibração da
placa, relativamente à curva ajustada sobre estes mesmos pontos. A linha tracejada representa
a curva de calibração e as duas linhas contínuas representam os limites ± 2 %. Pode-se, então,
constatar que 94 % dos pontos encontram-se dentro de uma fixa de confiança de ± 2 %. Logo,
uma incerteza de 2 % pode ser associada ao coeficiente de descarga. Este valor coincide com
o sugerido por Delmée (2003) para os coeficientes de descarga de placas de pequeno
diâmetro.
-3
-2
-1
0
1
2
3
Desvio (%)
Figura B1- Desvio dos pontos experimentais em relação a curva de calibração.
B
B
)
)
D
D
I
I
Â
Â
M
M
E
E
T
T
R
R
O
O
I
I
N
N
T
T
E
E
R
R
N
N
O
O
D
D
O
O
T
T
U
U
B
B
O
O
As dimensões do diâmetro interno do tubo nos trechos retos foram medidas com o
auxílio de um paquímetro digital, marca Mitutoyo Absolute Digimatic, modelo CD-6”CS,
com escala de 0,01-150 mm. Neste caso, a incerteza foi obtida por meio de um experimento
simples, que consiste em realizar vinte medições em posições diferentes do tubo, com o
paquímetro perpendicular ao seu eixo longitudinal. O desvio padrão da amostra resultante
deste procedimento foi s = 6,96 10
-5
m. A incerteza associada ao diâmetro do tubo é, então,
dada por:
(B.8)
onde
δ
D é a incerteza de medição do diâmetro interno do tubo, o coeficiente de Student
para uma confiança de 95 %, s é o desvio padrão da amostra e N é o número de pontos da
amostra. Assim, a incerteza do diâmetro interno do tubo pode ser estimada como
δ
D = ± 3,26 10
-5
m, ou ± 0,2 %.
C
C
)
)
D
D
I
I
Â
Â
M
M
E
E
T
T
R
R
O
O
D
D
O
O
F
F
U
U
R
R
O
O
D
D
A
A
P
P
L
L
A
A
C
C
A
A
Utilizando o mesmo equipamento e os mesmos procedimentos empregados para medir
o diâmetro interno do tubo, o desvio padrão obtido para o furo da placa de orifício foi
s = 9,4 10
-6
m. Com este resultado, utilizando-se a Equação B.8, a incerteza de medição do
diâmetro do furo da placa pôde ser estimada como
δ
d = ± 4,41 10
-6
m, ou ± 0,1 %.
D
D
)
)
F
F
A
A
T
T
O
O
R
R
I
I
S
S
E
E
N
N
T
T
R
R
Ó
Ó
P
P
I
I
C
C
O
O
Conforme Delmee (2003), considerando β, ΔP/P e k isentos de erro, a incerteza sobre
o fator de expansão isentrópica
ε
para placas de pequeno diâmetro pode ser calculado de
acordo com a equação:
(B.9)
na qual ΔP é a diferença de pressão, lida num transmissor diferencial de pressão marca
Yokogawa, modelo EJA 120–DES4A-22DC/D4, cuja incerteza constante no manual é de
0,075 %. Como a incerteza da pressão P do ar que passa pela placa de orifício é de ± 0,5 %, a
incerteza do fator isentrópico é estimado em .
E
E
)
)
M
M
A
A
S
S
S
S
A
A
E
E
S
S
P
P
E
E
C
C
Í
Í
F
F
I
I
C
C
A
A
D
D
O
O
G
G
Á
Á
S
S
Ainda de acordo com Delmée (2003), a incerteza de medição da densidade do ar pode
ser calculada pela equação.
(B.10)
Como a incerteza da pressão P é ± 0,5 % e da temperatura, obtida com o termopar do
tipo T (cobre/constatan), é de ± 0,1 %, a incerteza da densidade do ar é de ± 0,51 %.
F
F
)
)
I
I
N
N
C
C
E
E
R
R
T
T
E
E
Z
Z
A
A
D
D
A
A
V
V
A
A
Z
Z
Ã
Ã
O
O
D
D
E
E
G
G
Á
Á
S
S
Calculadas as incertezas de medição de todas as variáveis que interferem na vazão de
ar, a incerteza da vazão de gás pode ser calculada pela Equação A.1, resultando em ± 2,17 %
da medida realizada.
B.3 INCERTEZA DA VAZÃO DA ÁGUA BOMBEADA
A vazão em massa bombeada pelo sistema é calculada com base na relação:
(B.11)
onde Δt é o tempo necessário para encher um recipiente com uma quantidade de líquido m
L
preestabelecida, que no presente trabalho foi em torno de 10 kg.
A incerteza associada à vazão em massa de líquido pode ser expressa como:
(B.12)
Para medir a massa de líquido bombeada foi utilizada uma balança Filizola ID-1500,
com escala de 0-250 kg e incerteza de ± 0,02 %. Para obter o tempo necessário para coletar a
quantidade de líquido foi utilizado um cronômetro com incerteza de ± 0,0002 %. Portanto,
substituindo estes valores na Equação B.12, a incerteza da vazão em massa da água é de
± 0,02 %.
B.4 INCERTEZA DO NÚMERO DE REYNOLDS
O número de Reynolds do escoamento em um tubo é definido pela equação:
(B.13)
Na literatura há várias correlações que estabelecem a viscosidade absoluta da água em
função da temperatura. A correlação utilizada no presente trabalho foi proposta por
White (1986) e apresenta incerteza de 0,2%, podendo ser escrita como:
(B.14)
sendo e μ
0
=1,788 10
-3
Pa.s
Para a faixa de temperatura na qual foram realizados os ensaios, entre 20 e 30°C,
pode-se estimar a incerteza associada ao número de Reynolds pela seguinte equação.
(B.15)
Efetuando-se as devidas substituições, pode-se estimar a incerteza associada ao
número de Reynolds como sendo ± 0,28 %.
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