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perfeita correspondência com a teoria política.
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A oposição entre Absolutismo e
Relativismo filosófico que se apresenta na primeira, levaria a uma correspondente
oposição entre autocracia e democracia, os representantes respectivamente do
absolutismo e do relativismo no âmbito político.
Quem considera inacessíveis ao conhecimento humano a verdade absoluta e os
valores absolutos não deve considerar possível apenas a própria opinião, mas
também a opinião alheia. Por isso, o relativismo é a concepção do mundo suposta
pela idéia democrática. A democracia julga da mesma maneira a vontade política
de cada um, assim como respeita igualmente cada credo político, cada opinião
política cuja expressão, alias, é a vontade política. Por isso a democracia dá a
cada convicção política a mesma possibilidade de exprimir-se e de buscar
conquistar o animo dos homens através da livre concorrência. (....)
32
Não é difícil perceber esse paralelo estabelecido por Kelsen quando nos
damos conta que o problema central na Teoria do Conhecimento é a relação entre
sujeito e objeto de conhecimento e não muito diferentemente, a discussão política
por sua vez, se desenvolve em torno da relação sujeito e objeto de dominação.
33
Tanto em uma como em outra, a problemática essencial reside em saber qual o
fator determinante nessa relação, se é o primeiro ou o segundo
34
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“Desde que existe a filosofia, existe também a tentativa de relacioná-la com a política; podemos
dizer que essa tentativa logrou êxito na medida em que, hoje, a ligação entre a teoria política e
aquela parte da filosofia que chamamos ética é reconhecida como um truísmo. Contudo, parece
estranho supor - e este ensaio busca exatamente verificar esta suposição- que haja um paralelismo
externo, e talvez até uma relação interna, entre a política e outros ramos da filosofia, como a
epistemologia, isto é, a teoria do conhecimento, e a teoria dos valores.É justamente no âmbito
dessas duas teorias que reside o antagonismo entre o absolutismo e o relativismo filosófico; e esse
antagonismo parece ser em muitos aspectos análogo a oposição fundamental entre autocracia e a
democracia, que representam respectivamente o absolutismo e o relativismo no domínio da
política”. (KELSEN, Hans. A Democracia, p. 347.)
32
KELSEN, Hans. A Democracia, p. 105.
33
KELSEN, Hans. A Democracia, p.162.
34
São seis as possibilidades que se estabelecem, dependendo de onde se direciona o foco da
atenção: duas pré-metafisicas, duas ontológicas e duas teológicas. A solução pré-metafísica,
quando favorável ao objeto é chamada de Objetivismo e quando favorável ao sujeito,
Subjetivismo. Para o Objetivismo, o objeto, que é algo pronto, em si mesmo determinado, é o que
determina o sujeito cognoscente. Esse de certa forma incorpora as determinações do objeto.
Platão foi o primeiro a representar essa corrente, que posteriormente veio a ser seguida por
Husserl. É importante ressaltar, que as semelhanças entre as doutrinas de Platão e Hurssel se
referem apenas ao seu pensamento fundamental, qual seja, que o reino objetivo das idéias ou
essencialidades é a base sobre a qual se assenta todo o conhecimento. Porém, em seu
desenvolvimento, a doutrina de Hurssel permanece no reino das essencialidades ideais, enquanto
Platão avança no sentido de atribuir-lhes realidades metafísicas. O Subjetivismo, ao contrário,
transfere o conhecimento do objeto para o sujeito, mas não um sujeito qualquer, e sim um sujeito
transcendente. Agostinho foi quem introduziu essa mudança ao transferir o mundo das idéias de
Platão para o espírito divino. As essencialidades existentes por si, passaram a ser conteúdos da
razão divina. É desse ser supremo que a consciência cognoscente recebe seus conteúdos e não
mais dos objetos. Na filosofia moderna, o subjetivismo é resgatado pelos Neokantistas. Se o
caráter ontológico for incluído na questão, a discussão se instala entre Idealistas, que são aqueles
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