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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A PRODUÇÃO MAIS LIMPA COMO FERRAMENTA EM BUSCA DA
SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL: UM ESTUDO DE MÚLTIPLOS CASOS
EM EMPRESAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
por
HANDSON CLÁUDIO DIAS PIMENTA
ESPECIALISTA EM GESTÃO AMBIENTAL URBANA, UFRN, 2007
ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO, UFRN, 2006
TECNÓLOGO EM MEIO AMBIENTE, 2004
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
JULHO, 2008
© 2008 HANDSON CLÁUDIO DIAS PIMENTA
TODOS DIREITOS RESERVADOS.
O autor aqui designado concede ao Programa de Engenharia de Produção da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte permissão para reproduzir, distribuir, comunicar ao
público, em papel ou meio eletrônico, esta obra, no todo ou em parte, nos termos da Lei.
Assinatura do Autor: ___________________________________________
APROVADO POR:
________________________________________________________________
Prof. Reidson Pereira Gouvinhas, PhD. – Orientador, Presidente
________________________________________________________________
Prof.ª Karen Maria da Costa Mattos, D.Sc., Membro Examinador
________________________________________________________________
Prof. Armando Caldeira Pires, Dr., Membro Examinador Externo (UNB/CDS)
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ii
Divisão de Serviços Técnicos
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede
PIMENTA, Handson Cláudio Dias
A Produção mais Limpa como ferramenta em busca da sustentabilidade
empresarial: um estudo de múltiplos casos em empresas do Estado do Rio
Grande do Norte / Handson Cláudio Dias Pimenta – Natal, 2008.
174 f. : Il.
Orientador: Reidson Pereira Gouvinhas
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Centro de Tecnologia. Programa de Engenharia de Produção.
1. Sustentabilidade Empresarial Dissertação. 2. Produção mais Limpa
Dissertação. 3. Gestão Ambiental Dissertação. 4. Resíduos Sólidos
Dissertação. I. Gouvinhas, Reidson Pereira. II. Título.
RN/UF/BCZM CDU 65.016(043.3)
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CURRICULUM VITAE RESUMIDO
Handson Cláudio Dias Pimenta é formado em Engenharia de Produção
pela UFRN e Tecnologia em Meio Ambiente pelo CEFET-RN, além de
ser pós-graduado em Gestão Ambiental Urbana pela UFRN. Durante o
mestrado, foram 12 artigos científicos publicados em eventos nacionais e
internacionais, destacando o Artigo “Produção mais Limpa: sua Aplicação
no Estado do Rio Grande do Norte (2003 - 2005)”, eleito como melhor
artigo da área de sustentabilidade na 2º Conferência Internacional de
Análise de Ciclo de Vida de Produtos. Também durante o mestrado, foi
aprovado no concurso público para professor efetivo do CEFET-RN. Atualmente, leciona as
disciplinas de Sistema de Gestão Ambiental; Sustentabilidade Empresarial e Economia
Ambiental no Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental. No CEFET-RN, fundou o
Núcleo de Estudos em Sustentabilidade Empresarial, pelo qual no período de 10/2007 a
05/2008, coordenou o projeto “Aplicação da Ferramenta Produção mais Limpa no Arranjo
Produtivo Local - APL da Indústria Moveleira da Grande Natal” formado por 18 micros e
pequenas empresas.
ARTIGOS PUBLICADOS DURANTE O CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO
PIMENTA, H. C. D; GOUVINHAS, R. P. Produção mais Limpa: sua aplicação no Estado do
Rio Grande do Norte (2003 - 2005). In: 2 Conferência Internacional de Analise de Ciclo de
Vida de Produtos, 2007, São Paulo. Conferência Internacional Ciclo de Vida - CILCA 2007,
2007.
PIMENTA, H. C. D; GOUVINHAS, R. P. Discussão sobre possíveis variáveis ambientais a
serem inseridas no desenvolvimento de produtos para micro e pequenas empresas brasileiras.
In: CBGDP CONGRESSO BRASILEIRO DE GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO DO
PRODUTO, 2007, Belo Horizonte. Discussão sobre Possíveis Variáveis Ambientais a serem
Inseridas no Desenvolvimento de Produtos para Micro e Pequenas Empresas Brasileiras,
2007.
PIMENTA, H. C. D; GOUVINHAS, R. P. Avaliação de desempenho ambiental da indústria
de panificação de Natal-RN. In: 24º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e
Ambiental, 2007, Belo Horizonte. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e
Ambiental - anais. Rio de Janeiro: ABES, 2007.
PINTO, E. N. M. G; PIMENTA, H. C. D; GOUVINHAS, R. P. Implementação da ferramenta
produção mais limpa em uma indústria mineral do Rio Grande do Norte. In: 24º Congresso
Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2007, Belo Horizonte. 24º Congresso
Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental - anais. Rio de Janeiro: ABES Associação
Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2007.
PIMENTA, H. C. D. ; GOUVINHAS, R. P. Implementação da Produção mais Limpa na
Indústria de Panificação de Natal-RN. In: XXVII Encontro Nacional de Engenharia de
Produção, 2007, Foz do Iguaçu. XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produção -
Anais, 2007.
iv
BARBOSA JUNOR, A. F; PIMENTA, H. C. D; GOUVINHAS, R. P. CONCEITOS E
APLICAÇÕES DE ACV NO BRASIL. In: XXVII Encontro Nacional de Engenharia de
Produção, 2007, Foz do Iguaçu. XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produção -
Anais - Rio de Janeiro: ABEPRO - Associação Brasileira de Engenharia de Produção, 2007.
SANTOS, R. C. P; PIMENTA, H. C. D. Produção mais limpa aplicada a uma micro-empresa
do setor de estamparia têxtil. In: II Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte Nordeste
de Educação Tecnológica - CONNEPI 2007, 2007, João Pessoa. II Congresso de Pesquisa e
Inovação da Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica - CONNEPI 2007 - ANAIS,
2007.
MORITZ, E. R; PIMENTA, H. C. D. Estimativa da quantificação de metano no biogás do
aterro sanitário de Mafra-SC, visando à geração de energia e aquisição de créditos de redução
de emissão. In: Encontro Intercontinental sobre a Natureza, 2007, Fortaleza. Encontro
Intercontinental sobre a Natureza - Anais, 2007.
ALBUQUERQUE, M. H. O; PIMENTA, H. C. D. Identificação e avaliação de aspectos e
impactos ambientais: desenvolvimento e implementação de um modelo em um Centro de
Tecnologia do Gás - Natal-RN. In: Encontro Intercontinental sobre a Natureza, 2007,
Fortaleza. Encontro Intercontinental sobre a Natureza - Anais, 2007.
ALBUQUERQUE, M. H. O; PIMENTA, H. C. D. Produção mais limpa: oportunidades em
um lava jato Natal/RN. In: II Seminário sobre Tecnologias Limpas, 2007, Porto Alegre-RS.
PIMENTA, H. C. D; MARQUES JUNIOR, S. Modelo de gerenciamento de resíduos sólidos:
um estudo de caso na indústria de panificação em Natal-RN. In: XXVI ENEGEP - Encontro
Nacional de Engenharia de Produção, 2006, Fortaleza. MODELO DE GERENCIAMENTO
DE RESÍDUOS SÓLIDOS: UM ESTUDO DE CASO NA INDÚSTRIA DE PANIFICAÇÃO
EM NATAL-RN, 2006.
PIMENTA, H. C. D; GOUVINHAS, R. P. A nova NBR ISO 14001:2004 - mudanças e
implicações. In: I Congresso NORTE NORDESTE DE PESQUISA E INOVAÇÃO
TECNOLÓGICA, 2006, Natal. A NOVA NBR ISO 14001:2004 - MUDANÇAS E
IMPLICAÇÕES, 2006.
v
Dedico e ofereço com ternura e gratidão, o presente
trabalho, aos meus familiares, em especial, a minha mãe
Grácia Dias; e a meus avós Dival Dias e Lindalva
Macêdo Dias.
vi
AGRADECIMENTOS
A Deus por todo fortalecimento espiritual, luz e por todas as permissões concedidas.
Aos meus familiares, por toda formação e incansável apoio e motivação para
caminhar fortemente pelo desafio da vida, em especial: Gracia (mãe), Dival e Dalva (avós),
Patrícia, Débora, Márcia e Rosário, Gerson, Dias e Peteleco (tios), Márcio (primo).
À minha namorada Deborah, pelo amor, companheirismo, paciência e carinho.
A UFRN e PEP pela formação acadêmica e cidadã.
Ao meu orientador e grande amigo Reidson Gouvinhas, um agradecimento mais que
especial, por todos os ensinamentos, lições, incentivos, orientações, paciência e por me
conduzir no processo contínuo de formação humana, acadêmica e profissional.
Aos mestres do PEP e DEP, Prof. Nominando, Karen, Catunda, Jesus, Wattson.
Aos amigos da turma (2006) do mestrado.
Aos empresários Bruno, Eduardo e Moacyr e Écia, além de todos os funcionários das
empresas estudadas, pela oportunidade e confiança de buscar e implementar melhorias
visando à construção de uma sociedade sustentável.
Aos amigos da SEMURB, pelo incentivo e apoio, em especial Isa, Jean, Eduardo,
Carmem, Rosenberg e todos os fiscais ambientais.
Aos antigos professores e agora amigos de trabalho do CEFET-RN, Prof. Erivan,
Paulo Leiros, Alexandre, Narla, Vanda, André Calado, Paulo, Milton Aoqui, Valdenildo,
Lecy, Luiz Eduardo, Wyllys e aos novos amigos Prof. Beldson, Francimara e Agripina, pela
motivação e apoio.
Aos amigos da FUNCERN, pelo apoio, em especial, Jário, Dimitrof, Wagna, Cilene
e Altair.
Aos meus alunos do CEFET-RN Rodrigo, Bruna, Roberta e Henrique pelo apoio
técnico.
Ao Prof. Armando Caldeira-Pires (UNB/CDS) e à Prof. Karen Mattos pela
disponibilidade em participar como Membro da Banca Examinadora;
Meus sinceros AGRADECIMENTOS !!!
vii
Resumo da Dissertação apresentada à UFRN/PEP como parte dos requisitos necessários para
a obtenção do grau de Mestre em Ciências em Engenharia de Produção.
A PRODUÇÃO MAIS LIMPA COMO FERRAMENTA EM BUSCA DA
SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL: UM ESTUDO DE LTIPOS CASOS EM
EMPRESAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
HANDSON CLAUDIO DIAS PIMENTA
Julho/2008
Orientador: Reidson Pereira Gouvinhas
Curso: Mestrado em Ciências em Engenharia de Produção
O presente estudo teve como objetivo avaliar a Produção mais Limpa como uma ferramenta
em busca da sustentabilidade empresarial, através de uma série de estudos de múltiplos casos
em empresas do Estado do Rio Grande do Norte. Para atingir este objetivo, primeiramente, foi
efetuada uma revisão da literatura pertinente, na qual foi observado que a PmL relaciona-se
com a sustentabilidade empresarial, uma vez que de forma continuada, previne a geração de
desperdício e reduz os riscos das operações sobre os funcionários, comunidade e meio
ambiente. Além disto, a PmL contribui para posicionar as empresas em um cenário
competitivo, podendo ainda ser aplicada aos processos produtivos e serviços. Para se observar
tais afirmações, a ferramenta foi aplicada em uma indústria de alimentos (Empresa 1), em
uma indústria têxtil (Empresa 2), além de uma concessionária de veículos (Empresa 3).
Quanto aos resultados, na Empresa 1 foi contemplada a substituição de matéria-prima
(farinha) e Housekeeping (controle do uso de água, energia e leite condensado). a Empresa
2 foi possível contemplar os três níveis de PmL, através de práticas de Housekeeping (no
corte e manipulação de substâncias químicas); modificação tecnológica (instalação de um
lavador com pressão das telas de estampagem); reciclagem interna (reaproveitamento de
retalhos) e reciclagem externa (fabricação de fuxico). Por fim, na Empresa 3, devido ao
escopo estabelecido foi contemplado apenas o Nível 3 - reciclagem externa (com segregação
na fonte e reciclagem externa). Desta forma, observou-se que a PmL pode ser aplicada sem
restrições tanto em empresas industriais quanto prestadoras de serviço. Enfatiza-se, ainda que
não foi possível quantificar os ganhos sociais obtidos em uma escala monetária, por
limitações da própria ferramenta PmL e pela complexidade do estudo. Portanto, frente a
analise da aplicação da ferramenta Produção mais Limpa nas empresas estudadas, foi
evidenciado melhoria nas vertentes ambiental, social e econômica, preconizadas pela
sustentabilidade empresarial. Entretanto, faz necessário mais transparência da alta
administração no comprometimento com continuidade das ações, para diante disto, melhor
enquadrar a PmL.
Palavras-Chaves: Sustentabilidade Empresarial. Produção mais Limpa. Gestão Ambiental.
Resíduos Sólidos.
viii
Abstract of Master Thesis presented to UFRN/PEP as fulfillment of requirements to the
degree of Master of Science in Production Engineering
CLEANER PRODUCTION AS CORPORATE SUSTAINABLE TOOL: A MULTIPLE
CASE STUDIES WITHIN COMPANIES FROM RIO GRANDE DO NORTE STATE
July/2008
Thesis Supervisor: Reidson Pereira Gouvinhas
Program: Master of Science in Production Engineering
This study aimed to assess the Cleaner Production – CP as corporate sustainable tool, through
the multiple case studies within companies from Rio Grande do Norte State. In order to
achieve this goal a research methodology approach was set. The initial stage of the research
methodology was based on a literature review on which it was observed that the CP can be
linked with corporate sustainable once it prevents pollution and reduces the operational risks
among employees, community and environment. In addition, CP can useful for companies’
position within competitive position as well as being applied to process, products and
services. In order to observe these factors, CP was used within food industry (Company 1),
textile industry (Company 2) and in a car dealer (Company 3). Regarding the results,
Company 1 changed its raw material as well as implementing housekeeping (control use of
water, energy and condensed milk). In Company 2, it was observed the three levels of CP. In
other words, housekeeping (e.g. cutting process and manipulation of chemical products),
changing technology (high pressure washing machine) and internal and external recycling. In
addition, Company 3 considered only level 3 external recycling. As consequence, it was
observed that can be applied either within industry as well as service sector. Unfortunately, it
was not possible to observe any social gains on a monetary basis. This is due to limitations of
the CP methodology and study complexity. Therefore, it was observed improvements
regarding to social, environmental and economic areas. Nevertheless, it is necessary more
commitment from top level management in order to consider CP like effective sustainable
tool.
Keywords: Corporate Sustainable. Cleaner Production. Environmental Management.
Environmental Impacts. Waste.
ix
SUMÁRIO
Lista de tabelas .............................................................................................................. xi
Lista de quadros ............................................................................................................. xii
Lista de figuras............................................................................................................... xiii
Lista de abreviaturas, siglas e símbolos .......................................................................... xiv
Capítulo 1 - Introdução .................................................................................................. 1
1.1 Contextualização do Objeto de Estudo e Justificativa........................................... 1
1.2 Apresentação do Problema................................................................................... 3
1.3 Objetivos ............................................................................................................ 4
1.3.1 Geral................................................................................................................. 4
1.3.2 Específicos........................................................................................................ 4
1.4 Hipóteses ............................................................................................................. 4
1.5 Metodologia......................................................................................................... 5
1.6 Estrutura da Dissertação....................................................................................... 5
Capítulo 2 - Pesquisa Bibliográfica................................................................................. 6
2.1 Desenvolvimento Sustentável e as Empresas ....................................................... 6
2.1.1 Origem, Conceito e Abordagens do Desenvolvimento Sustentável ................ 6
2.1.2 Desenvolvimento Sustentável no Mundo Corporativo .................................... 12
2.1.2.1 Conceitos, Abordagens e Motivadores da Sustentabilidade Empresarial ...... 13
2.1.2.2 Ferramentas da Sustentabilidade Empresarial .............................................. 16
2.1.2.3 Relatórios e Indicadores da Sustentabilidade Empresarial............................ 21
2.1.2.4 Modelos de Análise de Risco em Sustentabilidade Empresarial................... 25
2.1.2.5 Os Entraves e Desafios da Sustentabilidade Empresarial ............................. 29
2.1.3 Considerações Finais sobre a Sustentabilidade Empresarial............................ 32
2.2 Responsabilidade Social Corporativa (RSC) ........................................................ 34
2.2.1 Conceitos e Abordagens da RSC .................................................................... 34
2.2.2 Ferramentas da Responsabilidade Social Corporativa..................................... 39
2.3 Eficiência Ambiental Empresarial........................................................................ 47
2.3.1 Fatores Indutores da Gestão Ambiental nas Empresas .................................... 47
2.3.2 Abordagens e Benefícios da Gestão Ambiental nas Empresas......................... 53
2.4 Produção mais Limpa .......................................................................................... 57
2.4.1 Origem e Influências da Produção mais Limpa............................................... 57
2.4.1.1 Produção Limpa .......................................................................................... 58
2.4.1.2 Prevenção da Poluição................................................................................. 60
2.4.1.3 Origem da Produção mais Limpa................................................................. 61
2.4.2 Conceitos, Vantagens e Níveis de Oportunidades da Produção mais Limpa.... 64
2.4.3 Barreiras à Produção mais Limpa ................................................................... 71
2.4.4 A Produção mais Limpa no Brasil e no Rio Grande do Norte ......................... 74
2.4.5 Metodologia da Produção mais Limpa no Brasil e suas Limitações ................ 80
Capítulo 3 - Metodologia da Pesquisa............................................................................. 82
3.1 Caracterização da Pesquisa .................................................................................. 82
3.2 Delimitação da Pesquisa ...................................................................................... 83
3.3 Procedimentos Metodológicos ............................................................................. 83
3.3.1 Procedimentos da Pesquisa de campo............................................................. 84
3.3.1.1 Planejamento............................................................................................. 84
3.3.1.2 Diagnóstico Operacional e Ambiental........................................................ 86
x
3.3.1.3 Estudo de Viabilidade, Implementação e Monitoramento........................... 90
3.3.1.4 Plano de Continuidade............................................................................... 92
3.3.1.5 Avaliação do Programa.............................................................................. 92
3.3.2. Procedimento de Analogia entre as Empresas Estudadas ............................... 93
Capítulo 4 - Resultados e Discussão ............................................................................... 94
4.1 Indústria de Alimentos – Setor de Panificação...................................................... 94
4.1.1 Descrição da Empresa e Planejamento............................................................ 94
4.1.2 Diagnostico Operacional e Ambiental ............................................................ 95
4.1.3 Estudo de Oportunidades, Implantação e Monitoramento ............................... 103
4.1.4 Plano de Continuidade.................................................................................... 109
4.1.5 Avaliação do Programa na Empresa 1 ............................................................ 109
4.2 Indústria Têxtil – Setor Confecções e Estamparia ................................................ 110
4.2.1 Descrição da Empresa e Planejamento............................................................ 110
4.2.2 Diagnóstico Operacional e Ambiental ............................................................ 112
4.2.3 Estudo de Oportunidades e Implantação e Monitoramento.............................. 121
4.2.4 Plano de Continuidade.................................................................................... 123
4.2.5 Avaliação do Programa na Empresa 2 ............................................................ 128
4.3 Serviços – Concessionária de Veículos ............................................................... 129
4.3.1 Descrição da Empresa e Planejamento............................................................ 129
4.3.2 Diagnóstico Operacional e Ambiental ............................................................ 130
4.3.3 Estudo de Oportunidades e Implantação e Monitoramento.............................. 134
4.3.4 Plano de Continuidade.................................................................................... 140
4.3.5 Avaliação do Programa na Empresa 3 ............................................................ 140
4.4 Analogia da Implementação do Programa de PmL nas Empresas Estudas ............ 141
Capítulo 5 - Conclusões e Recomendações..................................................................... 145
5.1 Considerações Iniciais.......................................................................................... 145
5.2 Análise quanto ao Atendimento dos Objetivos ..................................................... 146
5.3 Recomendações para Futuros Estudos.................................................................. 150
Referências ................................................................................................................... 155
Apêndices ..................................................................................................................... 167
Apêndice A .............................................................................................................. 169
Apêndice B............................................................................................................... 171
Apêndice C............................................................................................................... 173
Apêndice D .............................................................................................................. 174
Apêndice E............................................................................................................... 175
Apêndice F............................................................................................................... 176
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 - Resultados dos CNTL´s durante a formação pelo UNIDO............................ 63
Tabela 2.2 - Implementação da PmL no Estado do RN em 2003/2004............................. 76
Tabela 3.1 - Classificação do nível de severidade para aspectos de entrada...................... 87
Tabela 3.2 - Classificação do nível de severidade para aspectos de saída ......................... 87
Tabela 3.3 - Classificação do grau de severidade do impacto ambiental........................... 87
Tabela 3.4 - Classificação do nível de probabilidade do impacto ambiental ..................... 88
Tabela 3.5 - Avaliação de requisitos legais ...................................................................... 88
Tabela 3.6 - Avaliação das medidas de controle .............................................................. 89
Tabela 4.1 - Estimativa do consumo de materiais na Empresa 1 ...................................... 96
Tabela 4.2 - Quantificação e qualificação dos resíduos sólidos gerados pela Empresa 1..103
Tabela 4.3 - Quantificação geral dos resíduos sólidos gerados pela Empresa 1 ................ 103
Tabela 4.4 - Receitas projetadas com a destinação dos resíduos para a reciclagem
externa ............................................................................................................................ 105
Tabela 4.5 - Descrição por setor dos acondicionadores necessários para a segregação
na fonte e destinação dos resíduos para a reciclagem externa........................................... 105
Tabela 4.6 - Análise de viabilidade das oportunidades na Empresa 1............................... 107
Tabela 4.7 - Indicadores utilizados para produção do pão francês (apenas das medidas
implementadas e monitoradas) ........................................................................................ 107
Tabela 4.8 - Estimativa da produção da Empresa 2.......................................................... 111
Tabela 4.9 - Consumo de matéria-prima (tecido algodão e poliéster) na Empresa 2 ......... 119
Tabela 4.10 - Consumo de substancias química (Pasta branca) Empresa 2....................... 120
Tabela 4.11 - Análise financeira de alternativas para eliminação de desperdícios do uso
de tecido na Empresa 2.................................................................................................... 123
Tabela 4.12 - Análise financeira de alternativas para eliminação de desperdícios do uso
de água na Empresa 2...................................................................................................... 124
Tabela 4.13 - Análise de viabilidade das oportunidades na Empresa 2............................. 126
Tabela 4.14 - Indicadores utilizados na Empresa 2 (apenas medidas implementadas e
monitoradas) ................................................................................................................... 126
Tabela 4.15 - Caracterização dos resíduos sólidos gerados pela empresa 3 ...................... 132
Tabela 4.16 - Receita projetada com a comercialização de resíduos recicláveis ............... 134
Tabela 4.17 - Análise financeira da implementação da oportunidade de reciclagem
externa ............................................................................................................................ 135
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1 - Sistemas requeridos pelo desenvolvimento sustentável .............................. 11
Quadro 2.2 - Informações de sustentabilidades e os níveis gerenciais de uma empresa ... 16
Quadro 2.3 - Métodos da sustentabilidade corporativa.................................................... 18
Quadro 2.4 - Interseções dos domínios da sustentabilidade e suas ferramentas ............... 19
Quadro 2.5 - Descrição dos indicadores de sustentabilidade empresarial utilizados pelo
GRI................................................................................................................................ 23
Quadro 2.6 - Dimensões e critérios adotados no DJSI..................................................... 28
Quadro 2.7 - Oportunidades de ações sociais.................................................................. 42
Quadro 2.8 - Critérios da Produção Limpa ..................................................................... 59
Quadro 2.9 - Características das aplicações potenciais da Produção mais Limpa ............ 64
Quadro 2.10 - Barreiras de Implementação da Produção mais Limpa ............................. 72
Quadro 2.11 - Resultados da implementação da PmL em empresas do RN no período de
2005/2007 ...................................................................................................................... 79
Quadro 2.12 - Metodologias da PmL no Brasil............................................................... 80
Quadro 3.1 - Etapas da pesquisa..................................................................................... 84
Quadro 4.1 - Barreiras encontrado durante o projeto....................................................... 95
Quadro 4.2 - Setores e operações na Empresa 3.............................................................. 129
Quadro 4.3 - Quadro comparativo da aplicação da PmL nas empresa ............................. 144
Quadro 5.1 - Variáveis ambientais que podem ser inseridos no processo de
desenvolvimento de produtos ......................................................................................... 154
xiii
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 - A Agenda 21 e o desenvolvimento sustentável ............................................ 10
Figura 2.2 - Bases do modelo de planejamento estratégico para a sustentabilidade
empresarial..................................................................................................................... 21
Figura 2.3 - Modelo de valor sustentável........................................................................ 27
Figura 2.4 - Elementos da sustentabilidade empresarial .................................................. 33
Figura 2.5 - Vetores da responsabilidade social .............................................................. 37
Figura 2.6 - Fatores indutores da gestão ambiental na empresa ....................................... 51
Figura 2.7 - Abordagens da gestão ambiental empresarial............................................... 57
Figura 2.8 - Abordagem cíclica da Produção Lima ......................................................... 58
Figura 2.9 - Representação esquemática do conceito de Produção mais Limpa............... 65
Figura 2.10 - Fluxo de abordagens da Produção mais Limpa .......................................... 65
Figura 2.11 - Comparação entre as abordagens fim-de-tubo e Produção mais Limpa ...... 67
Figura 2.12 - Níveis de Oportunidades da Produção mais Limpa .................................... 68
Figura 2.13 - Medida de boas práticas adotada no manejo de substâncias químicas ........ 78
Figura 2.14 - Medidas de produção mais limpa implementadas em uma indústria
moveleira ....................................................................................................................... 78
Figura 2.15 - Etapas da Produção mais Limpa de acordo com o modelo SEBRAE ......... 81
Figura 3.1 - Etapas da pesquisa de campo....................................................................... 93
Figura 4.1 - Área de produção ........................................................................................ 98
Figura 4.2 - Fluxograma quantitativo da Empresa 1........................................................ 99
Figura 4.3 - Corte adequado na embalagem de leite condensado..................................... 105
Figura 4.4 - Distribuição física dos coletores para resíduos sólidos................................. 106
Figura 4.5 - Atividades de sensibilização com funcionários............................................ 112
Figura 4.6 - Setor de design de produtos......................................................................... 113
Figura 4.7 - Setor de desenvolvimento de produtos......................................................... 113
Figura 4.8 - Área do corte de tecido................................................................................ 114
Figura 4.9 - Processo de estampagem ............................................................................. 115
Figura 4.10 - Vazamento de água na lavagem de placas de estampagem......................... 115
Figura 4.11 - Desperdício de energia elétrica na utilização dos berços............................ 116
Figura 4.12 - Desperdícios no uso de substâncias químicas ............................................ 116
Figura 4.13 - Fluxograma qualitativo da Empresa 2........................................................ 118
Figura 4.14 - Desperdícios no corte de tecidos................................................................ 119
Figura 4.15 - Otimização da aplicação dos moldes no corte de tecido ............................. 122
Figura 4.16 - Prática de reciclagem interna (confecção de peças infantis) e externa
(confecção de fuxicos).................................................................................................... 122
Figura 4.17 - Material destinado a reciclagem externa .................................................... 123
Figura 4.18 - Esquema para instalação de interruptores nos berços................................. 125
Figura 4.19 - Armazenamento de resíduos...................................................................... 130
Figura 4.20 - Acondicionadores utilizados na empresa. .................................................. 132
Figura 4.21 - Geração de resíduos por setor.................................................................... 133
Figura 4.22 - Quantificação dos resíduos gerados por setor ............................................ 133
Figura 4.23 - Peças teatrais focando a coleta seletiva na empresa 3................................. 136
Figura 4.24 - Estrutura provisória para segregação na fonte............................................ 137
Figura 4.25 - Estrutura definitiva de acondicionadores padrão e área de armazenamento 138
Figura 4.26 - Monitoramento dos resíduos destinados a reciclagem externa.................... 138
Figura 4.27 - Receitas geradas com a destinação para reciclagem externa....................... 138
Figura 4.28 - Estrutura para o escoamento do óleo dos filtros de motor .......................... 139
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
ACV – Análise de Ciclo de Vida de Produtos
CERCLA – Comprehensive Environmental Response, Compensation and Liabilities Act
CNI – Confederação Nacional da Indústria
CNTL – Centro Nacional de Tecnologias Limpas
CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente
DJSI – Dow Jones Sustainability Indexes
DP – Desenvolvimento de Produtos
DS – Desenvolvimento Sustentável
ECOPROFIT – Ecological Project for Integrated Environmental Technologies
EIA – Estudo de Impacto Ambiental
EA – Educação Ambiental
EPA – Environmental Protection Agency
EPI – Equipamento de Proteção Individual
ETEI – Estação de Tratamento de Efluentes Industriais
GRI – Global Reporting Initiative
IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
ICC – International Chambers of Commerce
ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial
IUCN – International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources
MC – Medida de Controle
MPE – Micro e Pequenas Empresas
NBR – Norma Brasileira
OIT – Organização Internacional do Trabalho
PL – Produção Limpa
xv
P2 – Prevenção da Poluição
PmL – Produção mais Limpa
PROTEC – Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico de Micro e Pequenas
Empresas do RN
RCRA – Resource Conservation and Recovery Act
RIMA – Relatório de Impacto do Meio Ambiente
SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SGA – Sistema de Gestão Ambiental
TMA – Taxa Mínima Aceitável
UNEP – United Nations Environment Programme
UNIDO – United Nations Industrial Development Organization
VF – Valor Futuro
VPL – Valor Presente Líquido
WBCSDWorld Business Council for Sustainable Development
WCED – World Commission on Environmental Development
1
Capítulo 1
[Introdução]
1.1 Contextualização do Objeto de Estudo e Justificativa
O conceito de desenvolvimento sustentável foi apresentado pela World Commission
on Environmental Development, em abril de 1987, na Assembléia Geral das Nações Unidas,
através do relatório “Nosso Futuro Comum”, também conhecido como “Relatório
Brundtland”, como sendo o desenvolvimento que encontra as necessidades do presente sem
comprometer a habilidade das futuras gerações de encontrar suas próprias necessidades
(UNITED NATIONS, 2008).
Este modelo de desenvolvimento enfatiza a evolução da sociedade humana do ponto
de vista econômico responsável, de acordo com processos ambientais e naturais. Nesta
perspectiva, as limitações econômicas, sociais e dos recursos ambientais são considerados a
fim de contribuir não somente para o bem-estar das presentes e futuras gerações, mas também
pode ser aplicado em nível local, regional, nacional, baseado na vontade política (GLAVIC;
LUKMAN, 2006).
A inclusão do conceito de desenvolvimento sustentável no mundo corporativo foi
definida pelo World Business Council for Sustainable Development, como o alcance do
equilíbrio entre as três dimensões que balizam a sustentabilidade corporativa, que são: a
econômica; a ambiental e a social, as quais influenciam todas as organizações constituintes de
uma cadeia produtiva.
Desta forma, o desenvolvimento sustentável requer que o setor empresarial adote uma
política de proteção sócio-ambiental em consonância com o desenvolvimento econômico.
Nesse sentido, as empresas podem ser capazes de realizar mudanças fundamentais em
novos objetivos, para aumentar a qualidade enquanto diminuem os custos (PEREIRA, 2003).
2
Destaca-se que as empresas são consideradas integrantes da sociedade, devendo
participar, portanto, não apenas com a oferta de produtos ou serviços de qualidade, mas
também com respostas convincentes aos problemas sociais e ambientais existentes na
comunidade em que está inserida.
Além do exposto, o empresário também deseja evitar as penalidades da lei e as
pesadas multas decorrentes do descumprimento da legislação, reforçando a idéia de sua
empresa ser social e ambientalmente correta e responsável, pois será uma vantagem
competitiva diante do mercado globalizado.
Como dito, frente à competição dos mercados globais e regionais, a credibilidade
social e ambiental é um importante fator de competitividade, os quais podem ser reforçados
através da imagem institucional, entre os stakeholders (ROBLES JR; BONELI, 2006).
Tal atitude também é relevante em resposta a um cenário global de crise ambiental
como, por exemplo, elevados índices de emissões de gases de efeito estufa; aquecimento
global; desmatamento; eutrofização de corpos d’água; perdas de terras produtíveis devido à
acidificação e a desertificação do solo; consumo elevado de recursos naturais, além da
geração e lançamento de poluentes em grandes quantidades não respeitando a capacidade de
suporte dos recursos naturais. Como conseqüência, as empresas devem reconhecer o manejo
do meio ambiente como uma das mais altas prioridades e reconhecer este como um fator
determinante e essencial para o desenvolvimento sustentável.
Diante deste cenário, a ferramenta da Produção mais Limpa (PmL), que tem como
finalidade primordial aprimorar a eficiência dos processos produtivos e serviços, é apontada
como um caminho favorável de atuação das empresas de forma preventiva em relação aos
seus aspectos ambientais, redução dos riscos das operações aos funcionários e comunidade e
na busca da sustentabilidade. Isto ocorre através da minimização de impactos associados à
minimização de custo e otimização de processos, recuperação e otimização do uso de
matérias-primas e energia, redução dos riscos aos funcionários e comunidade.
A PmL é entendida como uma estratégia preventiva, integrativa e continuada, aplicada
a serviços, processos e produtos, a qual busca uma redução de riscos ao homem e a natureza.
Desta forma, a Produção mais Limpa pode ser considerada como uma solução
moderna para a questão ambiental, inserida dentro dos conceitos de redução de perdas e
aumento de competitividade, alterando os processos de produção (PEREIRA, 2003).
3
Contudo, os elementos do governo (legislação ambiental e políticas de controle), a
competição do mercado (concorrentes, investidores e consumidores) e a responsabilidade
sócio-ambiental, são indutores da necessidade da implementação de ferramentas que buscam
a sustentabilidade empresarial. Assim, a Produção mais Limpa pode ser implementada
respondendo a estas pressões, uma vez que pode reduzir o risco das operações sobre o meio
ambiente e a sociedade, bem como favorece as empresas a se auto-avaliarem.
Entretanto, percebe-se é que ainda há pouco debate sobre as práticas empresariais
preventivas e estratégicas que contemplem a busca da sustentabilidade, incluindo estudos
mais aprofundados sobre a Produção mais Limpa. Isto porque ainda existem diversas barreiras
e limitações quanto a sua adequada implementação o que se reflete na necessidade do
contínuo aprimoramento desta ferramenta. Desta forma, este trabalho se justifica o pela
análise teórica da PmL e sua correlação com outros mecanismos e ferramentas de busca da
sustentabilidade empresarial, mas principalmente pela necessidade de novas contribuições
frente à adequada implementação de programas de Produção mais Limpa em empresas,
principalmente nos micros, pequenas e médias Empresas.
1.2 Apresentação do Problema
Este trabalho parte da premissa de que a sustentabilidade empresarial consiste em um
processo contínuo que busca deixar os negócios em uma posição competitiva através da
responsabilidade social e da eficiência ambiental. A Responsabilidade social conforme será
trabalhada no capítulo 2, seção 2.2 (p. 34), pode ser trabalhada internamente e externamente à
empresa buscando a melhoria da qualidade de vida das partes interessadas. a eficiência
ambiental (seção 2.3, p. 47) consiste no controle e gestão ambiental das operações,
prevenindo a poluição e visando contribuir com o aumento da performance ambiental dos
processos, serviços e produtos ao longo do ciclo de vida.
Sendo assim, o presente trabalho tenta responder a partir de um estudo de múltiplos
casos em empresas do Estado do Rio Grande do Norte, às seguintes questões-problema: i) a
Produção mais Limpa consiste em uma ferramenta da sustentabilidade empresarial? ii) Quais
são os benefícios ambientais, sociais e financeiros da implementação da PmL nos casos
estudados? iii) Quais são as barreiras da PmL nos casos estudados?
4
1.3 Objetivos
Os objetivos deste trabalho estão subdivididos em objetivo geral e objetivos
específicos.
1.3.1 Geral
Avaliar a Implementação da Produção mais Limpa como uma ferramenta em busca da
sustentabilidade empresarial do Estado do Rio Grande do Norte através de uma série de
estudos de múltiplos casos em empresas do setor alimentício (indústria de panificação), do
setor têxtil (indústria de confecções e estamparia) e de serviços (concessionária de veículos).
1.3.2 Específicos
- Buscar oportunidades de controle preventivo de aspectos ambientais e minimização de
impactos ambientais além de melhoria que tragam qualidade de vida para os funcionários nas
empresas estudadas;
- Fornecer elementos de discussão para que cada empresa estudada passe a identificar e a
incorporar a variável ambiental no seu processo de gestão corporativa;
- Levantar fatores inibidores na implementação da PmL
- Verificar a importância da PmL como ferramenta na busca da sustentabilidade empresarial
nas empresas estudadas.
1.4 Hipóteses
- A PmL é um mecanismo de promoção da sustentabilidade empresarial;
- A PmL é aplicável tanto em empresas industriais como nas prestadoras de serviços;
- A PmL traz benefícios econômicos com retorno de investimento a curto e médio prazo;
- Os ganhos sociais advindo da implementação são difíceis de serem mensurado
monetariamente;
- A metodologia apresenta limitações quanto à continuidade das ações de PmL.
5
1.5 Metodologia
A dissertação visando o atendimento dos objetivos foi dividida em três etapas: Revisão
de literatura; definição do limite da pesquisa; pesquisa de campo e análise critica dos dados.
A pesquisa de campo procurou seguir a metodologia de Produção mais Limpa –
modelo SEBRAE (2005). Para simplificar o processo foram estabelecidas as seguintes etapas:
Planejamento; Diagnóstico Operacional e Ambiental; Estudo de Oportunidades,
Implementação e Monitoramento e Plano de Continuidade.
1.6 Estrutura da Dissertação
O presente trabalho está dividido em cinco capítulos. O primeiro capítulo tem por
finalidade contextualizar o objeto investigação, apresentar os problemas de pesquisa, os
objetivos e as hipóteses do trabalho.
A dissertação segue com a apresentação dos aspectos inerentes ao referencial teórico
envolvendo os temas: desenvolvimento sustentável e as Empresas, responsabilidade social e
eficiência ambiental nas empresas e por fim, a ferramenta Produção Mais Limpa.
No terceiro capítulo que aborda a metodologia da pesquisa, apresenta-se uma
descrição dos procedimentos metodológicos que foram realizados para o desenvolvimento do
estudo, assim como os recursos técnicos utilizados para obtenção das informações.
No Capítulo 4, encontram-se os principais resultados da pesquisa e as discussões a
partir da aplicação do procedimento metodológico.
Finaliza-se a discussão dos objetivos propostos nesse estudo com a análise crítica da
realidade investigada. Logo, aproveita-se para pontuar, a partir dos resultados apresentados,
algumas sugestões que podem ser aprofundadas por estudiosos que se interessem pela
temática e que, portanto, consideramos relevantes.
6
Capítulo 2
[Pesquisa Bibliográfica]
O presente capítulo trata dos aspectos inerentes ao referencial teórico envolvendo os
temas que suportaram o desenvolvimento desta dissertação de mestrado. O primeiro item
discorre sobre o Desenvolvimento sustentável e as Empresas, abordando a origem, conceitos e
abordagens do Desenvolvimento Sustentável e sua relação com o mundo corporativo. Neste
contexto, são apresentados também alguns conceitos e abordagens e ferramentas, indicadores
e avaliação da sustentabilidade empresarial. Por fim, é apresentada uma âncora conceitual de
sustentabilidade empresarial, visando contribuir com a síntese do conhecimento existente,
bem como interligar os temas do presente estudo de uma melhor forma.
A segunda e terceira seção, mesmo não sendo o foco principal desta dissertação, trata,
respectivamente, da responsabilidade social e eficiência ambiental nas empresas trazendo
conceitos e abordagens e tentando relacioná-los com a sustentabilidade.
Por fim, a Produção Mais Limpa, ferramenta objeto deste estudo, será detalhada,
apresentando sua origem, conceitos, vantagens, barreiras, metodologia, dados relacionados ao
Estado do Rio Grande do Norte.
2.1 Desenvolvimento Sustentável e as Empresas
2.1.1 Origem, Conceito e Abordagens do Desenvolvimento Sustentável
O termo Desenvolvimento Sustentável DS teve sua origem entre as décadas de 70 e
80, com aumento da preocupação e movimentos ambientais materializados em uma série de
discussões e publicações-chaves. Tais discussões chamaram a atenção da super-exploração do
termo “meio ambiente”, focando o crescimento econômico e o crescimento do interesse
global em relação aos objetivos do desenvolvimento e as limitações ambientais, além da
7
análise da relação entre meio ambiente e desenvolvimento (SPANGENBERG, 2001;
ZOLLINGER, 2004; NATIONAL STRATEGIES FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT,
2008).
Para Romeiro (2003), o termo DS é um conceito normativo, oriundo do termo
ecodesenvolvimento, em um contexto de controvérsia sobre as relações entre crescimento
econômico e meio ambiente, exacerbada principalmente pela publicação do relatório do Clube
de Roma que pregava o crescimento zero como forma de evitar a catástrofe ambiental. Este
relatório abordou ainda a idéia que os problemas ambientais ocorriam em escala global e se
aceleravam de forma exponencial, não suportando os impactos ambientais gerados e
acarretando na exaustão dos recursos naturais.
De acordo com Barbieri (1997), o termo desenvolvimento sustentável” surge em
1980, no documento denominado World’s Conservation Strategy elaborado pela International
Union for the Conservation of Nature and Natural Resources - IUCN. Para Jappur (2004),
este documento aborda que o desenvolvimento deve considerar os aspectos referentes às
dimensões sociais, ecológicas e econômicas, dos recursos vivos e o vivos e as vantagens de
curto e longo prazo de ações alternativas, para que possa ser sustentável.
Em abril de 1987, o conceito de desenvolvimento sustentável foi apresentado pela
World Commission on Environmental Development WCED, um organismo independente,
vinculados aos governos e ao sistema das Nações Unidas, durante a Assembléia Geral das
Nações Unidas, através do relatório Nosso Futuro Comum, também conhecido como
Relatório Brundtland, como sendo: “o desenvolvimento que atende as necessidades do
presente sem comprometer a habilidade das futuras gerações de encontrar suas próprias
necessidades” (UNITED NATIONS, 2008).
O Relatório Brundtland aponta que o DS, na essência, é um processo de mudança no
qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação de desenvolvimento
tecnológico e a mudança institucional estão todos em harmonia e reforçam o potencial atual e
futuro para atender às necessidades e aspirações humanas (UNITED NATIONS, 2008).
Para Robles Jr e Boneli (2006), na definição estabelecida pelo Relatório Brundtland
estão inseridos dois conceitos: o primeiro das necessidades, que podem variar de sociedade
para sociedade, mas que devem ser satisfeitas para assegurar as condições essenciais de vida a
todos, indistintivamente. O segundo conceito é o da limitação, que reconhece a necessidade
da tecnologia de desenvolver soluções que conservem os recursos limitados atualmente
8
disponíveis e que permitam renová-los na medida em que eles sejam necessários às futuras
gerações.
National Strategies for Sustainable Development (2008) por sua vez, apresenta dois
significados para o conceito de DS (UNITED NATIONS, 2008):
Atender as necessidades do presente significa satisfazer as necessidades econômicas
(acesso adequado ao sustento e a bens produtivos), necessidades sociais, culturais e de saúde
(igualdade social, direito a sadia qualidade de vida) e necessidades políticas (participação
democrática).
Sem comprometer a habilidade das futuras gerações de encontrar suas próprias
necessidades significa diminuir o uso e desperdícios de recursos não renováveis (inclui a
minimização do consumo de combustível fóssil e a substituição por fontes renováveis, bem
como a minimização dos desperdícios de recursos minerais escassos, reduzindo, reusando,
reciclando e reparando), uso sustentável dos recursos renováveis (assegurando a capacidade
de recarga da água, solo e florestas) e manter a capacidade global e local de absorção de
poluentes.
Romeiro (2003) aponta duas correntes principais para a interpretação da definição de
DS (UNITED NATIONS, 2008): a Sustentabilidade Fraca e a Sustentabilidade Forte.
Sustentabilidade Fraca os recursos naturais são considerados como fonte de insumos e
como capacidade de assimilação de impactos dos ecossistemas, não representando ao longo
do prazo um limite absoluto à expansão da economia. Neste modelo, o sistema econômico é
visto como suficientemente grande para que a disponibilidade de recursos naturais se torne
uma restrição à sua expansão, mas uma restrição relativa, superável pelo progresso científico
e tecnológico, os quais são utilizados para substituir um bem esgotado. Isso tudo é justificado
pelo fato de que o investimento compensa as gerações futuras pelas perdas de ativos causadas
pelo consumo e produção corrente.
Sustentabilidade Forte – vê o sistema econômico como um subsistema de um maior que o
contém, impondo uma restrição absoluta à sua expansão. O progresso científico e tecnológico
é visto como fundamental para aumentar a eficiência na utilização dos recursos naturais.
Entretanto, faz-se necessário instituir uma estrutura regulatória baseada em incentivos
econômicos capazes aumentar intensamente essa eficiência, estabilizar os níveis de consumo
per capita de acordo com a capacidade de carga do planeta e participação da sociedade na
decisão do uso dos recursos de modo a evitar perdas irreversíveis.
9
na visão de Philippi Jr; Romero e Bruna (2004), a expressão DS significa o modelo
de crescimento da economia que leva em consideração as possibilidades de exaustão dos
recursos naturais, as possibilidades de reutilização de produtos ou subprodutos originados
desses recursos, o controle de danos que os produtos e resíduos possam provocar no ambiente
e as possibilidades de minimizar seus impactos ambientais.
Neste contexto, em relação aos recursos naturais, de acordo com United Nations
(2008), os recursos renováveis podem ser explorados desde que a taxa de utilização esteja
dentro dos limites de regeneração e crescimento natural. os recursos não renováveis, a sua
utilização reduz o estoque disponível para as gerações futuras, mas isto não significa que tais
recursos não devem ser utilizados. Em geral, a taxa de esgotamento deve levar em conta a
criticidade desses recursos, a disponibilidade de tecnologias para minimizar o esgotamento e a
probabilidade de serem substitutos. Ainda, o autor destaca que a acumulação de
conhecimentos e o desenvolvimento de tecnologias podem melhorar a capacidade de recarga
dos recursos.
Castro et al. (1998) apresenta a assertiva que o alicerce do conceito de
desenvolvimento sustentável é constituído por três princípios fundamentais, sendo eles:
proteção ambiental, estabilidade econômica e responsabilidade social. Nesta mesma linha,
Amaral (2003) afirma que o DS pressupõe interdisciplinaridade, na medida em que trabalha
com os aspectos ambientais, sociais e econômicos. Estes três elementos compõem o chamado
triple bottom line (SILVA, 2003).
Como conseqüência, a visão comum de desenvolvimento sustentável é que os três
domínios natureza, economia e sociedade. Onde, devem todos gradualmente crescer, mas
não as expensas um dos outros, isto porque as questões, prescrições e ferramentas do DS
afetam os três domínios (PHILIPPINE COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT,
2008).
Além das dimensões social, econômica e ambiental, Sachs (1993) apresenta também a
dimensão espacial e cultural. A sustentabilidade espacial procura obter o equilíbrio entre a
população rural e urbana. Já a sustentabilidade cultural visa garantir a continuidade das
tradições e pluralidade dos povos. Entretanto, considera-se que tais domínios (o espacial e o
cultural) já estejam inseridos em um domínio maior, ou seja, a sociedade.
Historicamente, destaca-se que o conceito de Desenvolvimento Sustentável proposto
pelo Relatório Brundtland popularizou-se na conferência das Nações Unidas sobre Meio
10
Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, chamada de ECO-92.
Durante este evento, alguns documentos oficiais em prol do DS foram lançados, entre eles: a
Carta da Terra, que visa o estabelecimento de acordos internacionais que respeitem os
interesses de todos para a proteção da integridade dos ecossistemas e desenvolvimento; e a
Agenda 21, que visa pôr em prática planos de ação para frear o processo de degradação
ambiental e implementar de forma efetiva o desenvolvimento sustentável (JAPPUR, 2004).
Em relação à Agenda 21, seus 40 capítulos
abrangem os três domínios da
sustentabilidade, de forma a nortear as nações para o desenvolvimento no século 21
(Figura
2.1) (PHILIPPINE COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT, 2008)
. Segundo
Barbieri (1997) este instrumento o é um tratado ou convenção capaz de impor vínculos
obrigatórios aos estados signatários, na realidade é um plano de intenções o mandatório,
cuja implementação depende da vontade política dos governantes e da mobilização da
sociedade. Para implementar os seus programas e as suas recomendações é necessário
desdobrar a Agenda 21 em Agendas regionais, nacionais e locais.
Figura 2.1 – A Agenda 21 e o desenvolvimento sustentável.
Fonte: Adaptado (PHILIPPINE COUNCIL FOR SUSTAINABLE
DEVELOPMENT, 2008).
O desenvolvimento sustentável enfatiza, segundo Glavic e Lukman (2006), a evolução
da sociedade humana do ponto de vista econômico responsável, de acordo com processos
ambientais e naturais. Neste modelo, as limitações econômicas, sociais e dos recursos
11
ambientais são considerados a fim de contribuir para o bem-estar das presentes e futuras
gerações e pode ser aplicado em nível local, regional, nacional, baseado na vontade política.
Na realidade o conceito de desenvolvimento sustentável catalisa um conjunto de
temas que expressam os anseios e as aspirações da sociedade contemporânea, podendo ser
desdobrados nos diversos compartimentos sociais que compõem o mundo globalizado de
hoje, desde o setor governamental nos veis nacional, regional e local; à sociedade
organizada, através das organizações não-governamentais, como pelo setor produtivo
(AMARAL, 2005).
De acordo com United Nations (2008), a busca pelo desenvolvimento sustentável
requer a adoção de sete sistemas, sendo eles:
Sistemas Objetivos
Político Assegurar uma efetiva participação dos cidadãos na tomada de decisão.
Econômico
Ser capaz de gerar excedentes e conhecimento técnico sobre uma base
segura e sustentável.
Social
Fornecer soluções para as tensões decorrentes de um desenvolvimento
desarmônico.
Produção
atender as obrigações de preservar a base ecológica para o
desenvolvimento.
Tecnológico Buscar continuamente novas soluções.
Internacional Promover padrões sustentáveis de comércio e finanças.
Administrativo Ser flexível e tenha a capacidade para auto-correção.
Quadro 2.1 – Sistemas requeridos pelo desenvolvimento sustentável.
Fonte: Adaptado (UNITED NATIONS, 2008).
Uma análise mais atenta ao Quadro 2.1 sugere que o desenvolvimento sustentável
deve ser aquele que gera riquezas de uma forma continuada no sentido de proporcionar o
crescimento pessoal de cada indivíduo, que organizado em sociedade, consegue gerar
pressões políticas nas decisões governamentais de tal forma a melhorar a qualidade de vida e
gerar oportunidade a todos desta mesma sociedade. Neste sentido, a gestão administrativa dos
governos deve ser flexível o suficiente para acompanhar os anseios da sociedade no decorrer
do tempo. Além disto, tais ações governamentais devem também condizer com as relações
comerciais entre países de tal forma que traga um benefício comum a todas as sociedades e
um controle ambiental eficiente. Por conseguinte, a flexibilização administrativa não se
restringe somente na busca do atendimento das necessidades de cada sociedade, mas também
na capacidade de se negociar soluções entre países de tal forma que os diversos “Estados”
possam realizar trocas comerciais entre si beneficiando-se mutuamente. Ainda, o
desenvolvimento tecnológico e a produção devem também estar voltados para os anseios da
12
sociedade no sentido de, ao garantir uma menor agressão ao ambiente (aqui não o meio
ambiente natural, mas também o ambiente de trabalho e de convivência da sociedade), possa
igualmente promover o bem estar social facilitando o acesso a saúde, a segurança, a
informação, ao conhecimento e a educação. Por conseguinte, em um ciclo virtuoso, a
sociedade tende a se tornar cada vez mais consciente e participativa, aprimorando o debate
político sobre as suas necessidades e se aproximando cada vez mais das decisões políticas e
administrativas governamentais e gerando novas tendências tanto ao desenvolvimento
tecnológico quanto ao aprimoramento dos processos produtivos em busca de uma ação
contínua de geração e distribuição de riquezas.
Como conseqüência, os principais objetivos das políticas públicas derivadas do
Relatório Brundtland deveriam ser: restabelecimento do crescimento; mudança na qualidade
do crescimento; atendimento às necessidades essenciais para a geração de emprego,
possibilidade do acesso a uma alimentação digna, acesso a energia, água e saneamento; além
de manter um nível sustentável da população, conservar e melhorar a base dos recursos,
reorientar a tecnologia e administrar os riscos, incluindo aspectos relacionados ao meio
ambiente e a economia na tomada de decisão (UNITED NATIONS, 2008).
Desta forma, o governo, impondo o seu poder de soberania sobre a sociedade, exerce
um importante papel na busca da sustentabilidade, uma vez que têm o poder (no sentido de
dever do Estado) de estabelecer padrões ambientais e sociais e definir a estrutura regulatória
para se atingir estas metas. Cabe ainda ao governo, estabelecer regras de manter o
desenvolvimento sem perder a qualidade de vida dentro de um ambiente econômico, em que
ações na melhoria desses padrões podem ser consideradas elevação de custos (SILVA;
QUELHAS, 2006).
As empresas por sua vez, por consumir recursos naturais e gerar riquezas, devem
assumir seu papel na busca da sustentabilidade global, a partir de seus negócios e atividades.
Apesar das responsabilidades de cada um destes entes, o desenvolvimento sustentável
não pode ser atingindo por um governo, setor, empresa ou uma comunidade isoladamente.
Cada agente social tem sua própria racionalidade e forma de ação em prol da sustentabilidade.
2.1.2 Desenvolvimento Sustentável no Mundo Corporativo
Uma vez conceituado o que seja a sustentabilidade e abordado as suas diversas
vertentes busca-se agora concentrar na abordagem do desenvolvimento sustentável nas
empresas. Esta abordagem é de fundamental importância, uma vez que é através do
13
desenvolvimento sustentável empresarial que se pode realmente verificar como ocorre a
implementação dos conceitos genéricos de sustentabilidade, observando as suas
peculiaridades e propondo os ajustes necessários para a sua completa efetivação.
2.1.2.1 Conceitos, Abordagens e Motivadores da Sustentabilidade Empresarial
Não diferentemente da abordagem genérica observada anteriormente, a inclusão do
conceito de desenvolvimento sustentável no mundo corporativo foi definida pelo World
Business Council for Sustainable Development - WBCSD, como o alcance do equilíbrio entre
as três domínios/dimensões que balizam a sustentabilidade econômica; a ambiental e a
social (JAPPUR, 2004). Estas dimensões influenciam todas as organizações constituintes de
uma cadeia produtiva, e não somente uma organização ou empresa.
A sustentabilidade empresarial ou corporativa trata do compromisso empresarial para
com o desenvolvimento sustentável. Esta vertente, segundo Jappur (2004. p. 54), deve incluir
“entre seus objetivos, o cuidado com o meio ambiente, o bem-estar das partes interessadas e a
constante melhoria da sua própria reputação”.
Grüninger (2008) afirma que a sustentabilidade empresarial consiste em “assegurar o
sucesso do negócio a longo prazo e ao mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento
econômico e social da comunidade, um meio ambiente saudável e uma sociedade igualitária".
Amaral (2005) afirma que as variáveis ambientais e sociais da sustentabilidade
empresarial são contempladas, respectivamente, através da Ecoeficiência e Responsabilidade
Social. A Ecoeficiência incide na entrega de produtos e serviços com qualidade, preço
competitivo, que atenda a real necessidade e traga qualidade de vida, ao mesmo tempo reduza
os impactos ambientais dos produtos ao longo do seu ciclo de vida. Já a Responsabilidade
Social consiste no compromisso contínuo da empresa com seu comportamento ético e com o
desenvolvimento econômico, bem como promovendo melhoria da qualidade de vida de sua
força de trabalho e suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo.
Seguindo a mesma vertente, Almeida (2002) considera que uma organização
sustentável é aquela que busca a ecoeficiência em todas as suas ações e decisões, em todos os
seus processos e produtos, incessante e permanentemente, ou seja, produzir mais e melhor
com menos, mais produtos de melhor qualidade, com menos poluição e menos uso dos
recursos naturais e com responsabilidade social.
14
Coral (2002, p. 46) estabelece uma ligação entre a sustentabilidade empresarial e a
competitividade ao afirmar “a sustentabilidade de uma empresa depende de sua
competitividade, da sua relação com o meio ambiente natural e da sua responsabilidade
social”. Assim, ser competitivo é um dos requisitos para a busca da sustentabilidade
empresarial. Assim, a autora assegura que para uma empresa ser considerada sustentável, é
necessário que ela atenda os critérios de ser economicamente viável, ocupar uma posição
competitiva no mercado, produzir de forma que não agrida o meio ambiente e contribuir para
o desenvolvimento social da região e do país onde atua.
Na visão de Savitz e Weber (2007), uma empresa sustentável é aquela que gera lucro
para os acionistas, ao mesmo tempo em que protege o meio ambiente e melhora a vida das
pessoas com que mantém interações. Além disso, nestas empresas existe uma tendência de
melhoria na gestão, a partir do momento que se tem, entre outras vantagens, a redução dos
riscos de prejudicar os clientes, os empregados e as comunidades, a limitação de intervenções
regulatórias, a redução de custos, a melhoria da produtividade, a eliminação de desperdícios, a
abertura de novos mercados e a melhoria da satisfação e da lealdade dos clientes.
Andrade e Chiuvite (2004) argumentam que a produção é considerada sustentável,
quando observa dois requisitos, a saber: economia e uso racional de energia e matéria-prima
com a conservação dos recursos naturais, através de mecanismos com abordagem corretiva e
preventiva (desde estações de tratamento de efluentes industriais - ETEI ao reuso dos
efluentes tratados). Os Autores citam o caso da FIAT, que investiu US$ 10 milhões em uma
ETEI para que efluente tratado fosse reaproveitado (92%), poupando com isso, cerca de US$
3,5 milhões em economia com água. Estas abordagens são mais intensamente voltadas para
sustentabilidade quando são geridas dentro de um contexto contínuo de melhoria do
desempenho associado. Destaca-se que estas serão detalhadas no item - 2.3.2 Abordagens e
Benefícios da Gestão Ambiental nas Empresas (p. 53).
A literatura apresenta diversos argumentos para que uma empresa busque a sua
sustentabilidade empresarial. Hart e Milstein (2004) apresentam quatro conjuntos de
motivadores, os quais induzem as empresas a identificar estratégias e práticas que contribuam
para um mundo mais sustentável e, simultaneamente, que sejam direcionadas a gerar valor
para o acionista. Tais motivadores, seguem a seguir:
15
Crescente industrialização e suas conseqüências correlatas, como consumo de
matérias-primas, poluição e geração de resíduos ao mesmo tempo em que a
industrialização produziu enormes benefícios econômicos, ela também gerou significativa
quantidade de poluentes e continua a consumir matérias-primas, recursos, combustíveis
fósseis em uma taxa crescente. A eficiência de recursos e a prevenção de poluição são, dessa
forma, cruciais para o desenvolvimento sustentável;
Interligação dos stakeholders
1
com a sociedade civil as organizações não
governamentais (ONGs) e outros grupos da sociedade civil têm ocupado a cena, assumindo o
papel de monitores dos padrões sociais e ambientais, atuando na construção de uma
consciência voltada para sustentabilidade ao mesmo tempo em que denunciam e alertam toda
a sociedade sobre empresas que agridem o meio ambiente;
Surgimento de tecnologias emergentes tecnologias como genoma, biomimética,
nanotecnologia, tecnologia da informação e energia renovável consistem em soluções
poderosas e revolucionárias que podem tornar obsoletas as bases de muitas das atuais
indústrias que usam energia e matérias-primas de forma intensiva, bem como reduzir os
impactos causados pelo homem;
Aumento da população, da pobreza e da desigualdade associado à globalização a
combinação entre crescimento populacional e aumento da desigualdade vem cada vez mais
contribuindo com a acelerada decadência social, o caos político e com o terrorismo.
Outros argumentam que a incorporação da sustentabilidade nos negócios é vista como
um caráter compulsório de atendimento a legislação, isto é, o empresário que se livre das
penalidades da lei, das pesadas multas decorrentes do descumprimento da legislação
ambiental e trabalhista, reforçando a idéia da empresa ser ambientalmente correta e
socialmente responsável (PEREIRA, 2003; HART; MILSTEIN, 2004, YOUNG; MAY;
VINHA, 2004).
Como se observa, o conceito e todas as discussões relacionadas à sustentabilidade
empresarial estão intimamente associadas ao conceito genérico de sustentabilidade. Destaca-
se que várias são as formas de empresas buscarem a sustentabilidade empresarial, as quais
serão discutidas no item a seguir.
1
Segundo ABNT (2004, c), stakeholders são definidos como qualquer pessoa ou grupo que tem interesse ou
possa ser afetado pelas ações de uma organização. Por exemplo, Público interno, fornecedor, consumidor,
cliente, instituição pública, comunidade, proprietários, banqueiros, sindicatos, órgãos governamentais, entre
outros.
16
2.1.2.2 Ferramentas da Sustentabilidade Empresarial
Orbach e Busch (2004) sugerem que os riscos causados pelos impactos ambientais e
sociais das atividades de uma empresa podem ser evitados avaliando adequadamente as
questões da sustentabilidade relacionada. Como conseqüência, a cobrança dos diversos
stakeholders por padrões de produção e prestação de serviços dentro de padrões sustentáveis
exige das empresas a adoção de uma série de metas qualitativas e quantitativas, bem como a
adoção de ferramentas voltadas para demonstrar um desempenho adequado.
Hart e Milstein (2004, p. 68-69) consideram que “o desenvolvimento sustentável
desafia as empresas a funcionarem de uma maneira transparente, responsável, tendo em vista
a existência de uma bem informada e ativa base de stakeholders”.
Nesta conjuntura, Kuhndt (2004) afirma que a política e estratégia empresarial junto
com o processo de tomada de decisão precisam ser integradas aos aspectos econômicos,
sociais e ambientais. Para tanto, o autor apresenta medidas aplicáveis ao dia-a-dia dos
negócios, para seus diferentes níveis corporativos (estratégico, tático e operacional) (Quadro
2.2).
Níveis
Contexto de
Negócio
Exemplos de decisões onde informação de desempenho
sustentável é útil
Planejamento
Estratégico
- Desenvolvimento de política corporativa
- Estratégicas de longo prazo para desenvolvimento tecnológico
- Estratégias para P&D de um portfólio de produtos sustentáveis
Nível
Estratégico
Investimento de
capital e aquisição de
tecnologias
- Investimentos em novas tecnologias e linhas de produção com
melhorias no desempenho sustentável
Nível Tático
Design e
desenvolvimento de
produtos, serviços e
processos
- Desenvolvimento de produtos e serviços em veis diferentes
de melhoria
- Desenvolvimento de processos
- Desenvolvimento de tecnologias
Comunicação e
Marketing
- Decisão de marketing: empresas podem usar informação de
marketing para anunciar seus produtos como mais sustentáveis ou
refutar reivindicações adversas sobre produtos por concorrentes
- Rotulagem de produtos (ISO 14020, tipo III)
- Relatórios de sustentabilidade para comunicação externa,
comunicação e redes de relacionamento
Nível
Operacional
Gestão Operacional
- Monitoramento interno
- Identificação e priorização de oportunidades de gestão
- Conformidade com os regulamentos existentes ou iniciativas
- Gestão e auditoria sustentável
- Gestão da cadeia e portfólio de produtos
- Escolha de fornecedores
- Benchmarketing: empresas podem comparar seu desempenho
com outros competidores ou podem comparar seu próprio
desempenho sustentável o tempo todo.
Quadro 2.2 – Informações de sustentabilidades e os níveis gerenciais de uma empresa.
Fonte: Adaptado (KUHNDT, 2004, p. 69).
17
Analisando o quadro anterior, observa-se que o vel estratégico comporta a visão
macro da empresa no que diz respeito à questão da sustentabilidade. Ou seja, a empresa deve-
se posicionar no mercado de tal forma a definir posições de como a sustentabilidade
influenciará as suas decisões de negócios. Descendo para o nível tático, a empresa começa a
definir o conjunto de produtos e serviços que deverão ser ofertados ao mercado em
consonância com a visão estratégica de longo prazo definido na etapa anterior. A seguir,
passa-se a um nível mais operacional, onde mecanismos são definidos no sentido de se
colocar em prática todo o portfólio de produtos e serviços definidos a nível tático.
É através dos produtos e serviços que a empresa se apresenta ao seu mercado
consumidor. Conseqüentemente deve haver uma associação muito forte daquilo que é
definido a nível estratégico, tático e operacional. As transformações de decisões nestes três
níveis devem acontecer de forma suave e natural de tal forma que a questão da
sustentabilidade possa permear toda a empresa. Agindo desta forma, a empresa pode
transmitir ao seu cliente que realmente não só está preocupada com a sustentabilidade como a
incorpora em suas decisões em todos os seus níveis hierárquicos.
Para tanto, vários mecanismos gerencias e operacionais são sugeridos na literatura. Por
exemplo, Jappur (2004) recomenda para que uma organização trilhe em direção da
sustentabilidade ela deve, necessariamente, utilizar alguns métodos que as ajudem nesta
condução, a saber: Responsabilidade Social Corporativa; Governança Corporativa;
Ecoeficiência; Análise do Ciclo de Vida; Emissão Zero; Sistemas de Gestão Certificáveis;
Produção Mais Limpa e Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (Quadro 2.3, p. 18). Para
o autor, a aplicação de um método não impossibilita a utilização de outros
concomitantemente, muito pelo contrário, pois dependendo do caso elas se integram. É
necessário destacar ainda, em relação aos métodos apresentados, não foram apresentados os
critérios de delimitação como mecanismos da sustentabilidade empresarial. Enfatiza-se
também, que outros diversos métodos poderiam ser inseridos, por exemplo, ecodesign,
rotulagem ambiental (rótulos independentes), práticas e abordagens de consumo e produção
sustentável, gestão da cadeia de suprimento.
18
Métodos Descrição
Responsabilidade
Social Corporativa
Refere-se à conduta ética e responsável adotada pelas organizações na plenitude das
suas redes de relações, incluindo seus consumidores, fornecedores, funcionários e
familiares, acionistas, comunidade em que se inserem, ou sobre a qual exercem algum
tipo de influência, além do governo e do meio ambiente.
Governança
Corporativa
É designada para abranger os assuntos relativos ao poder de controle e direção de uma
empresa, bem como as diferentes formas e esferas de seu exercício e os diversos
interesses que estão ligados à vida das sociedades comerciais. Adota as seguintes
linhas mestras - transparência, prestação de contas e eqüidade.
Ecoeficiência
Consiste em uma filosofia de gestão empresarial que incorpora as questões ambientais,
que visa o fornecimento de bens e serviços a preços competitivos que satisfaçam as
necessidades e tragam qualidade de vida, ao tempo que reduz progressivamente o
impacto ambiental e o consumo de recursos ao longo do ciclo de vida, a um nível, no
mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada da Terra.
Análise do Ciclo de
Vida
É um método para a avaliação dos aspectos ambientais e dos impactos reais e
potenciais associados a um produto, compreendendo etapas que vão desde a extração
das matérias-primas até a disposição do produto final.
Emissão Zero
Incidir em um agrupamento ecológico de indústrias, na qual a aplicação de seu
conceito proporciona uma mudança da produtividade do trabalho para a produtividade
dos recursos, uma vez que os resíduos são transformados em novos recursos. O
agrupamento ecológico aumenta extraordinariamente a produtividade e melhora a
qualidade dos produtos, ao mesmo tempo em que gera empregos e diminui a poluição.
Sistemas de Gestão
Certificáveis
Possuem vários focos e abordagens, estes, no entanto, não garantem defeitos zero,
poluição zero, ou riscos zeros, mas sim, um meio pelo qual as organizações se
articulam sistematicamente para dar resposta às demandas exigidas pelas partes
interessadas e obtêm uma forma de buscar continuamente melhorar seu sistema de
gerenciamento e seus respectivos indicadores de desempenho.
Produção Mais Limpa
Consiste em um método de combate ao desperdício de recursos naturais e financeiros.
Esta abordagem pode ser considerada como uma das formas de se atingir a
ecoeficiência.
Relatórios de
Sustentabilidade
Corporativa Global
Reporting Initiative
Tem como visão e missão a ajuda no preparo, na comunicação e na obtenção de
informações que auxiliem as organizações no desenvolvimento de relatórios de
sustentabilidade corporativa. Busca, ainda, melhorar a qualidade, o rigor e a utilidade
destes relatórios, harmonizando as informações econômicas, ambientais e sociais,
através de um suporte ativo de engajamentos vindos de várias partes interessadas.
Quadro 2.3 – Métodos da sustentabilidade corporativa.
Fonte: (JAPPUR, 2004, p. 55-87).
Destaca-se no estudo de Jappur, a indicação da Produção mais Limpa, objeto de
estudo desta dissertação, como uma ferramenta para busca da sustentabilidade. A referida
ferramenta, também é citada pelo PHILIPPINE COUNCIL FOR SUSTAINABLE
DEVELOPMENT (2008) que sugere que a PmL está inserida entre duas dimensões da
sustentabilidade economia e natureza (ambiental). O Conselho Filipino também apresenta
outras ferramentas dentro das seguintes interseções: Natureza e Economia; Natureza e
Sociedade; Sociedade e Economia e Natureza, Economia e Sociedade, conforme apresentado
no Quadro 2.4 (p. 19).
19
Interseções Ferramentas
Natureza e Economia
- Contabilidade dos recursos naturais
- Princípio do poluidor-pagador e instrumentos baseado no mercado
- Valoração e proteção do capital natural e da biodiversidade
- Análise social ou análise do custo-benefício
- Auditoria energética
- Otimização de colheitas
- ISO 14000
- Produção mais Limpa
- Proibição de colheitas e comércio de espécies ameaçadas
- Gestão de resíduos e gestão de bolsas de resíduos
Natureza e Sociedade
- Capacidade de suporte da população
- Workshops detalhados sobre ecologia
- Gestão de recursos baseada na comunidade
- Acordos de manejo florestal
Sociedade e Economia
-
Desenvolvimento participativo
-
Combate a pobreza e a exclusão social
- Analise de stakeholders
- Igualdade de sexo
Natureza, Economia e
Sociedade
-
Avaliação de impacto ambiental
-
Índice de desenvolvimento humano
-
Conselhos nacionais de desenvolvimento sustentável
Quadro 2.4 – Interseções dos domínios da sustentabilidade e suas ferramentas.
Fonte: (PHILIPPINE COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT, 2008).
Andrade e Chiuvite (2004) apresentam outros instrumentos para o desenvolvimento
sustentável, sendo eles: EIA Estudo de Impacto Ambiental e RIMA Relatório de Impacto
Ambiental; Licenciamento Ambiental; Auditoria Ambiental e Sistema de Gestão Ambiental.
Destaca-se que todos os instrumentos apresentados, por si só não garantem ações e padrões de
desempenho dentro das três vertentes da sustentabilidade. Na verdade, tais instrumentos
enfatizam basicamente a variável ambiental. Por exemplo, no EIA/RIMA
2
(que consiste em
uma análise de impactos ambientais de um empreendimento, exigido no processo de
licenciamento para algumas atividades efetivamente poluidoras) a exigência de proposições
de medidas mitigadoras não acarreta na utilização das melhores tecnologias disponíveis,
utilização mais racional dos recursos em um processo produtivo, melhorias das condições de
trabalho, inserção da responsabilidade social, bem como uma visão completa dos impactos ao
longo de todo ciclo de vida de um produto, ficando restrito ao site onde o empreendimento
será instalado. Destaca-se ainda que a definição da capacidade de suporte do ecossistema no
qual o empreendimento será inserido muitas vez não é definida e/ou não respeitada.
Schenini (2005) aponta outras quatro ações empresariais voltadas para a
sustentabilidade, a saber: adequação à legislação ambiental; responsabilidade social; uso de
2
Mais informações ver Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA nº 001/1986.
20
tecnologias limpas gerenciais e uso de tecnologias limpas operacionais. As tecnologias limpas
(tanto operacionais quanto gerenciais) apresentadas pelo autor consistem na utilização de
tecnologias na produção de bens e serviços que utilizam racionalmente os recursos e evitam a
poluição, não afetando o meio ambiente.
As tecnologias gerenciais são constituídas por ações voltadas para a utilização do
marketing verde; parcerias com fornecedores exigindo padrões e adequações ambientais,
apresentação de relatórios envolvendo as finanças ambientais; implementação de um sistema
de gestão ambiental estruturado na ISO 14001; Responsabilidades frente aos empregados e a
sociedade em geral, contemplando saúde ocupacional e riscos ambientais. as tecnologias
operacionais, tanto aplicadas à ambientes fabris quanto na prestação de serviços, contemplam:
Balanços energéticos otimizados; antecipação e monitoramento de riscos; geração e
tratamento de resíduos sólidos; efluentes líquidos e emanações aéreas; análise de ciclo de vida
de produtos; produtos e serviços ecológicos; reaproveitamento de pós-uso;
eliminação/substituição de processos poluentes e procedimentos para emergência
(SCHENINI, 2005).
Em relação ao atendimento da legislação apontada como uma ação em prol do
desenvolvimento sustentável é recomendável o uso não apenas de dispositivos que
especifiquem limites de lançamento de poluição, mas sim que forcem as empresas na fonte
geradora a reduzir desperdícios e poluentes, em todo o ciclo de vida. Para tanto, faz
necessário um amadurecimento de debates entre governo, empresas e toda a sociedade para
caminhar para construção de dispositivos legais preventivos que influenciem um
comportamento pró-ativo das empresas.
Coral (2002) sugere um modelo de planejamento estratégico voltado para a
sustentabilidade de uma indústria de curtume e uma fábrica de calçados, baseado no triple
bottom line. A figura 2.2 (p. 21), a seguir, contempla os elementos componentes de cada
dimensão (ou seja, econômica, ambiental e social).
21
Sustentabilidade
Sustentabilidade
Economica
Sustentabilidade
Ambiental
Sustentabilidade
Social
- Tecnologias Limpas
- Reciclagem
- Utilização sustentável
de recursos naturais
- Atendimento a legislação
- Tratamento de efluentes e
resíduos
- Produtos ecologicamente
corretos
- Impactos ambientais
- Vantagem competitiva
- Qualidade e custo
- Foco
- Mercado
- Resultados
- Estratégias de negócios
- Assumir a responsabilidade
social
- Suporte no crescimento da
comunidade
- Compromisso com o
desenvolvimento dos
Recursos Humanos
- Proteção e Participação
em projetos de cunho
social
Figura 2.2 Bases do modelo de planejamento estratégico para a sustentabilidade
empresarial.
Fonte: Adaptado (CORAL, 2002, p. 129).
Como conseqüência, consegue-se perceber que assim como a estrutura proposta pelo
Governo das Filipinas (Quadro 2.4, p.19), a proposta apresentada por Coral (2002) também
requer que a questão da sustentabilidade permeie todos os níveis hierárquicos da empresa para
que haja uma efetiva implementação. Ou seja, pode-se inferir que umas das principais
características para a adequada implementação destes modelos/estruturas é a necessidade da
mudança cultural organizacional em consonância com a questão sócio-ambiental. Somente a
partir deste pré-requisito plenamente estabelecido, é que se pode falar em possibilidade da
incorporação destas ferramentas/instrumentos de forma contínua e natural.
2.1.2.3 Relatórios e Indicadores da Sustentabilidade Empresarial
Além dos aspectos internos da empresa, a implementação de ferramentas/instrumentos
que busquem a sustentabilidade empresarial, é indispensável que haja uma transparência na
comunicação da empresa com a sociedade e seus diversos stakeholders.
Neste contexto, Marchi e Ferreira (2008) afirmam “a sustentabilidade empresarial está
intimamente ligada à perenidade da relação de equilíbrio que uma organização possui com as
partes interessadas na cadeia produtiva, na qual está inserida”.
22
Young, May e Vinha (2004) afirmam que um bom diálogo com stakeholders favorece
eficiência e efetividade do mercado, bem como práticas democráticas, conforme observa-se a
seguir:
O diálogo com stakeholders é baseado nas premissas de que o mercado
trabalha com mais eficiência e efetivamente quando existe adequada
informação, e o envolvimento efetivo dos stakeholders aumenta as
possibilidades de obtenção de informação mais qualificada (…) ele tem o
mérito de expor a empresa ao escrutínio social e fazê-la lidar com práticas
democráticas em relação aos seus diversos públicos. Nesta perspectiva, o
elemento chave para o sucesso dos empreendimentos é a equidade na
participação dos stakeholders, sobretudo a comunidade local (…)
(YOUNG; MAY; VINHA, 2004, p. 39).
Para o Global Reporting Initiative GRI (2006), a transparência em relação à
sustentabilidade das atividades organizacionais é do interesse de diferentes públicos da
empresa, incluindo o mercado, trabalhadores, organizações não-governamentais, investidores,
contadores.
Nesta vertente, visando à busca de interatividade do mundo corporativo e as partes
interessadas, faz-se necessário à utilização de informações claras e transparentes sobre
impactos econômicos, ambientais e sociais das operações. Isto é mais premente, sobretudo no
que diz respeito aquelas necessárias para demonstração de um desempenho sustentável bem
como para decisões sobre investimento e em outras relações de mercado. Assim, destaca-se a
utilização do GRI, um relatório de sustentabilidade empresarial, que compartilha globalmente
uma estrutura de conceitos, uma linguagem coerente e uma métrica.
O GRI é uma instituição independente com representantes das áreas de negócios,
contabilidade, investimentos, meio ambiente, direitos humanos e organizações de pesquisa de
todo o mundo, sendo um núcleo oficial de colaboração do Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente. Essa Instituição tem como missão satisfazer essa necessidade, oferecendo
uma estrutura confiável para a elaboração de relatórios de sustentabilidade, que possa ser
usada por organizações de todos os tamanhos, setores e localidades. Seu modelo de relatório
leva em conta as questões práticas enfrentadas por uma série de organizações, desde pequenas
empresas até grupos com operações variadas e geograficamente espalhadas, e inclui o
conteúdo geral e específico por setor, acordados globalmente por vários stakeholders, como
aplicáveis na divulgação do desempenho de sustentabilidade da organização.
O propósito dos indicadores de sustentabilidade sugeridos pela GRI é de fornecer
informações econômicas, ambientais e sociais, para a organização e para as partes
23
interessadas em relação à sustentabilidade de seu desempenho. Assim, o uso do referido
relatório pode ser uma estratégia positiva de benchmarketing sustentável contemplando as
informações resumidas no quadro a seguir:
Indicadores Descrição
Econômica
refere aos impactos da organização sobre as condições econômicas de seus
stakeholders e sobre os sistemas econômicos em nível local, nacional e global.
Ambiental
refere aos impactos da organização sobre sistemas naturais vivos e não-vivos,
incluindo ecossistemas, terra, ar e água. Os indicadores ambientais abrangem o
desempenho relacionado a insumos (como material, energia, água) e a
produção (emissões, efluentes, resíduos). Além disso, abarcam o desempenho
relativo à biodiversidade, à conformidade ambiental e outras informações
relevantes, tais como gastos com meio ambiente e os impactos de produtos e
serviços.
Social
refere aos impactos da organização nos sistemas sociais nos quais opera. Os
indicadores de desempenho social da GRI identificam aspectos de desempenho
fundamentais referentes a práticas trabalhistas, direitos humanos, sociedade e
responsabilidade pelo produto.
Quadro 2.5 – Descrição dos indicadores de sustentabilidade empresarial utilizados pelo GRI.
Fonte: (
GLOBAL REPORTING INITIATIVE, 2006, p. 26-36).
No Brasil, o Centro Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
CEBDS, visando à transparência com os stakeholders utiliza uma série de indicadores
atrelados às três dimensões da sustentabilidade. Esses indicadores são apresentados em um
formato de Relatório, demonstrando, sobretudo, a visão estratégica de conduzir seus negócios
no rumo do desenvolvimento sustentável das empresas associadas ao CEBDS. Assim, as
empresas associadas enviam seus relatórios no modelo padrão e o Conselho divulga. Em
2006, um total de 20 empresas, todas de grande porte e com grande influência no mercado
nacional, sendo muitas delas empresas multinacionais estavam contidas no relatório
(ARAUJO ET AL, 2006). A seguir, têm-se os indicadores trabalhados:
Dimensão Ambiental
- Água e energia – uso racional das fontes renováveis e eficiência energética e hídrica;
- Biodiversidadeinvestimentos para a manutenção de um habitat natural;
- Conformidade ambiental quantidade de autuações por violações das normas de proteção
ambiental;
- Emissões, efluentes e resíduos controle/tratamento das emissões de gases, efluentes
líquidos e resíduos sólidos;
24
- Fornecedores – os contratos de fornecedores m cláusulas contratuais que envolvem
questões ambientais e sociais. Os fornecedores também devem cumprir integralmente a
legislação trabalhista;
- Materiais aquisição de matérias-primas ambientalmente corretas, uso racional das
matérias-primas;
- Reciclagem – reaproveitamento do material já utilizado na produção.
Dimensão Econômica
- Exportações – valor monetário dos produtos vendidos para o mercado externo;
- Faturamento – valor total das vendas em um determinado período de tempo;
- Folha de pagamento intimamente ligado ao conceito de força de trabalho (número de
trabalhadores e geração de empregos);
- Investimentos – aplicação em dinheiro com o propósito de se obter lucro;
- Lucro – ganho, benefício ou vantagem que se obtém com alguma atividade;
- Receita – quantia recebida, rendimento, renda;
- Tributos – impostos, taxas e contribuições pagas ao governo.
Dimensão Social
- Direitos humanos – seguridade dos direitos básicos das pessoas;
- Diversidade – contratação de pessoas levando em consideração a diversidade cultural;
- Práticas trabalhistas – cumprimento dos direitos e deveres dos funcionários;
- Responsabilidade social – ações que promovem o desenvolvimento social;
- Segurança e saúde – segurança do trabalho e saúde ocupacional;
- Sociedade – promoção de programas que desenvolvam a sociedade;
- Treinamento – tornar os funcionários aptos para desenvolverem suas atividades.
Em relação aos relatórios de sustentabilidade, observa-se uma semelhança de conteúdo
do Modelo da GRI e CEBDS. Os dois modelos são de adesão voluntária, entretanto a
utilização do modelo do CEBDS é efetuada por empresas vinculadas ao Conselho, as quais
preenchem seus relatórios e divulgam coletivamente em versões anuais. Diferentemente, o
25
modelo da GRI pode ser utilizados por qualquer empresa do mundo para auto-declaração sem
verificação ou através de um processo auditoria das informações apresentadas pela secretaria
da GRI. Destaca-se também que “o GRI reconhece que muitas organizações ainda não
possuem capacidade para realizar relatórios de sustentabilidade de acordo com o guia de
diretrizes” (JAPUR, 2004. p. 82). Entretanto, estas são incentivadas a realizarem relatórios
informais, dentro de sua atual capacidade, adotando, inicialmente, alguns indicadores
conhecidos e compreendidos por elas.
2.1.2.4 Modelos de Análise de Sustentabilidade Empresarial
Na busca de reduzir o risco do investimento, seja por motivo econômico (e.g. baixo
rendimento, fraudes), seja por desastres ambientais (e.g. contaminação de mananciais,
mortandade de animais) ou por danos sociais (e.g. péssimas condições de trabalho, trabalho
infantil), faz-se necessária uma postura mais crítica por parte de investidores na tomada de
decisão, fazendo com que analisem as empresas não apenas sob óptica econômica, mas a
partir de novos valores: capacidade de oferecer também bons resultados no âmbito no social e
ambiental.
Hart e Milstein (2004) propõem um modelo de valor ao acionista contemplando quatro
fatores, os quais precisam ser trabalhados igualmente, através de um processo contínuo de
diagnóstico, avaliação e implementação de ações em prol da sustentabilidade. Este modelo
deve ser encarado pelos executivos como uma série de desafios e oportunidades que podem
agregar valor aos acionistas. A seguir, serão apresentados os fatores componentes do modelo,
também expressos na Figura 2.3 (p. 27).
Aumento de lucros e redução do risco por meio do combate à poluição o combate à
poluição está focado na melhoria da eficiência ambiental de produtos e processos de hoje, ou
seja, na redução de resíduos e emissões das operações atuais. Menos resíduos significa melhor
utilização dos insumos, resultando em custos mais baixos de matérias-primas e de destinação
final de resíduos e outras formas de poluentes. Um combate eficiente da poluição requer um
envolvimento intenso dos empregados, acompanhado de um bom desenvolvimento de
potenciais para melhorias contínuas e para controle de qualidade, bem como o
comprometimento total dos executivos. Contudo, este fator tem como estratégia o combate à
poluição, tendo a redução de custo e de risco como retorno corporativo;
Otimização da reputação e legitimidade por meio do gerenciamento de produto
enquanto o combate à poluição foca nas operações internas, o gerenciamento de produto atua
26
além das fronteiras da organização para incluir o ciclo de vida inteiro do produto (desde o
acesso à matéria-prima, passando pelos processos de produção, até o uso do produto e seu
descarte). O gerenciamento de produto envolve então a integração da voz dos stakeholders
nos processos de negócio por meio de uma extensa interação com fornecedores, clientes,
órgãos de regulação, comunidades, organizações não-governamentais e mídia. Como tal, ele
oferece um meio para diminuir os impactos ambientais e para otimizar a legitimidade e a
reputação da empresa ao envolver os stakeholders na condução das operações. Ao engajar
construtivamente os stakeholders, as empresas elevam a confiança externa em suas intenções
e atividades, ajudando a otimizar a reputação corporativa e a catalisar a disseminação de
outras práticas sustentáveis dentro do sistema de negócios como um todo. Assim, este fator
tem como estratégia o gerenciamento de produto, obtendo como retorno corporativo à
reputação e legitimidade;
Acelerando a inovação e o reposicionamento por meio de tecnologias limpasas
tecnologias limpas não se referem a melhorias incrementais associadas ao combate à poluição,
mas a inovações que ultrapassam as rotinas e o conhecimento comum. A rápida emergência
de tecnologias, como o genoma, a biomimética
3
, a tecnologia da informação, a
nanotecnologia e a energia renovável, representa a oportunidade para as empresas,
especialmente aquelas que dependem fortemente de combustíveis fósseis, de recursos naturais
e materiais tóxicos, reposicionarem suas competências internas em torno de tecnologias mais
sustentáveis. Logo, a tecnologia limpa é a estratégia de negócio, obtendo inovação e
reposicionamento;
Cristalizando o caminho e a trajetória do crescimento da empresa por meio de uma
visão de sustentabilidade a realização de uma forma mais inclusiva de capitalismo,
caracterizada por um diálogo e uma colaboração de duas vias com os stakeholders
anteriormente desprezados ou ignorados pelas empresas (por exemplo, ambientalistas
radicais, moradores de favelas, população rural pobre em países em desenvolvimento) pode
ajudar na abertura de novos caminhos para o crescimento em mercados anteriormente não
atendidos. Este fator tem como estratégia a visão de sustentabilidade.
3
Benyus (2003) define biomimética como “a inovação inspirada pela natureza, o exame de uma nova e
revolucionária ciência que está redescobrindo as melhores idéias e transformação do mundo”.
27
Estratégia:
Tecnologia limpa
Desenvolver as competências
sustentáveis do futuro
Inovação e
reposicionamento
Retorno corporativo:
Estratégia:
Visão de sustentabilidade
Criar um mapa comum
para atender às necessidades
não satisfeitas
Crescimento e
trajetória
Retorno corporativo:
Estratégia:
Combate à poluição
Minimiza resíduos e
emissões das operações
Redução de custos e de riscos
Retorno corporativo:
Estratégia:
Gerenciamento de produto
Integra a perspectiva do
stakeholder nos negócios
Reputação e
legitimidade
Retorno corporativo:
Motivadores
- Revolução
- Tecnologia limpa
- Marcas
Motivadores
- Poluição
- Consumo
- Resíduos
Motivadores
- População
- Pobreza
- Desigualdade
Motivadores
- Sociedade civil
- Transparência
- Conectividade
Amanhã
Hoje
Interno
Externo
Valor
Sustentável
ao Acionista
Figura 2.3 – Modelo de valor sustentável.
Fonte: Adaptado (HART; MILSTEIN, 2004. p. 71).
Outro caminho de tomada de decisão para investidores seria recorrer aos índices de
sustentabilidade utilizados pelas bolsas de valores. Marcondes (2004) afirma que existem dois
tipos de investidores: pragmáticos e engajados. Os pragmáticos o aqueles que compram
ações de empresas listadas em índices de sustentabilidade porque acreditam que essas
companhias têm mais chances de permanecerem produtivas pelas próximas décadas e que
sofrerão menos passivos judiciais, como ações ambientais, trabalhistas e sociais. os
engajados são aqueles que, por comprometimento pessoal, decide privilegiar as empresas que
atuam de forma sustentável, com respeito a valores éticos, ambientais e sociais.
Nesta vertente, merece destacar a utilização Dow Jones Sustainability Indexes DJSI,
da bolsa de valores de Nova York, e o brasileiro Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE
da bolsa de valores de São Paulo – Bovespa.
O DJSI foi lançado em 1999 pela Bolsa de Valores de Nova York visando avaliar o
desempenho de empresas de um mesmo setor econômico em termos da sustentabilidade
empresarial para possíveis investimentos. A metodologia do DJSI é baseada na aplicação de
critérios para avaliar oportunidades e riscos derivados também das dimensões econômicas,
ambientais e sociais, as quais são descritas no Quadro 2.6 (p. 28). Para participar do DJSI, as
empresas pertencentes do Dow Jones Global Index são convidadas a responder um
questionário e posteriormente são auditadas para validar as informações, sendo que apenas
10% entram no DJSI. Segundo Marcondes (2004), 316 empresas de 33 países participam
deste Índice.
28
Dimensão Critérios
Econômica
- Governança Corporativa
- Gestão de Risco e Crise
- Código de Conduta e Conformidade
- Critérios específicos para cada tipologia de empresa (por exemplo, gestão do
relacionamento com clientes, gestão da cadeia de suprimentos, inovação,
pesquisa e desenvolvimento, etc.)
Ambiental
- Desempenho Ambiental (energia, gases de efeito estufa, resíduos, efluentes,
etc.)
- Relatórios Ambientais
- Critérios específicos (impactos na biosfera, sistema de gestão ambiental,
estratégias climática
Social
- Desenvolvimento do Capital Humano
- Atração e manutenção de força de trabalho
- Indicadores de práticas de desempenho no trabalho
- Cidadania e filantropia
- Relatórios Sociais
- Critérios específicos (bioética, saúde e segurança ocupacional, etc.).
Quadro 2.6 – Dimensões e critérios adotados no DJSI.
Fonte: (DOW JONES SUSTAINABILITY INDEXES, 2008, p. 9-10).
No Brasil, destaca-se o Índice da Bovespa de Sustentabilidade Empresarial, o qual foi
lançado em 2005 com o objetivo de refletir o retorno de uma carteira composta por ões de
empresas com reconhecido comprometimento com a responsabilidade social e a
sustentabilidade empresarial, e também atuar como promotor das boas práticas no meio
empresarial brasileiro.
O critério de avaliação do ISE leva em consideração, além dos elementos ambientais,
sociais e econômico-financeiros, três grupos de indicadores: a) critérios gerais (que questiona,
por exemplo, a posição da empresa perante acordos globais e se a empresa publica balanços
sociais); b) critérios de natureza do produto (que questiona, por exemplo, a posição da
empresa perante acordos globais, se a empresa publica balanços sociais, se o produto da
empresa acarreta danos e riscos à saúde dos consumidores, entre outros); e c) critérios de
governança corporativa. As dimensões ambiental, social e econômico-financeira foram
divididas em quatro conjuntos de critérios: a) políticas (indicadores de comprometimento); b)
gestão (indicadores de programas, metas e monitoramento); c) desempenho; e d)
cumprimento legal (BOVESPA, 2008, a).
Essas informações são coletas através um questionário enviado para empresas. O
preenchimento do questionário é voluntário, e demonstra o comprometimento da empresa
com as questões de sustentabilidade, consideradas cada vez mais importantes no mundo todo.
As respostas das companhias são analisadas por uma ferramenta estatística chamada “análise
de clusters”, que identifica grupos de empresas com desempenhos similares e aponta o grupo
29
com melhor desempenho geral. As empresas desse grupo irão compor a carteira final do ISE,
após aprovação do Conselho. Para participar as empresas devem atender a alguns critérios, a
saber: a) ser uma das 150 ações com maior índice de negociabilidade apurados nos doze
meses anteriores ao início do processo de reavaliação; b) ter sido negociada em pelo menos
50% dos pregões ocorridos nos doze meses anteriores ao início do processo de reavaliação e
c) atender aos critérios de sustentabilidade referendados pelo Conselho do ISE. Atualmente 32
empresas de 13 setores, representando um valor de R$ 927 Bilhões (BOVESPA, 2008, b).
2.1.2.5 Os Entraves e Desafios da Sustentabilidade Empresarial
Segundo Hart e Milstein (2004, p. 66), “são algumas poucas empresas têm começado
a tratar a sustentabilidade como uma oportunidade de negócios, abrindo caminho para a
diminuição de custos e riscos, ou até mesmo elevando seus rendimentos e sua participação de
mercado por meio da inovação”.
Para Herinque Wilhem Morg de Andrade, presidente do Conselho Temático de Meio
Ambiente da Federação das Indústrias de Estado de Goiás, observa que no geral, as grandes
indústrias estão bem estruturadas quanto a ações de desenvolvimento sustentável, mas falta
incentivo e estrutura para as médias e pequenas. Antes das proibições impostas através de leis,
deveria haver estímulos fiscais, projetos, parcerias, entre outras ações além de uma estrutura
adequada de fiscalização governamental para as empresas irregulares no sentido de promover
o desenvolvimento sustentável do setor com a participação da indústria (QUITALHINA,
2007).
James (2001) argumenta que apenas uma minoria de empresas está desenvolvendo
ações para o desenvolvimento sustentável, o que se justifica pelos seguintes fatos: baixo
comprometimento dos gestores; pouco incentivo financeiro, com taxas ambientais e custo de
recursos relativamente baixos, não refletindo os custos ambientais e sociais reais;
complexidade de muitas questões sustentáveis, que dificultam a capacidade de muitas
empresas de entender e responder as demandadas; pressão limitada dos consumidores
relacionada aos padrões de compra atual; necessidade de reagir continuamente às mudanças
de mercado, dificultando muitas empresas a manter constantes melhorias; falta de estrutura de
apoio governamental para a sustentabilidade empresarial.
Destaca-se também que existe um desacordo entre os executivos quanto ao significado
específico da sustentabilidade empresarial, conforme observa-se nas colocações de Hart e
Milstein (2004, p. 66).
30
Para alguns executivos, tal sustentabilidade é um mandato moral; para
outros, uma exigência legal. Ainda para alguns outros, a sustentabilidade é
percebida como um custo inerente ao fato de se fazer negócios um mal
necessário para se manter a legitimidade e o direito de a empresa funcionar
(...) algumas têm defendido que a criação de um mundo mais sustentável irá
exigir que as empresas sacrifiquem os lucros e o valor ao acionista (...)
(HART; MILSTEIN, 2004, p 66).
Acredita-se que esta diversidade de opiniões no que diz respeito à sustentabilidade
empresarial, deve-se ao fato da ausência de informações massificadas. Desta forma, estudos
sobre a sustentabilidade empresarial devem ser aprofundados, para que possa existir uma
ampla divulgação e um aprimoramento do debate. Em resumo, os empresários devem ser mais
informados sobre os conceitos, práticas, benefícios, riscos da sustentabilidade empresarial
para se melhor posicionar a respeito.
Ainda em relação ao trabalho de Hart e Milstein (2004, p. 68), estes afirmam também
que “a maioria dos executivos não considera a sustentabilidade como uma oportunidade
multidimensional, mas, em vez disso, como um incômodo unidimensional”.
O que se percebe, portanto, é que para muitas empresas brasileiras a questão da
sustentabilidade é percebida como um entrave para o desenvolvimento empresarial ao invés
de ser considerada uma oportunidade para a realização de novos negócios.
O CEBDS (2002), também afirma que o principal fator inibidor para o
desenvolvimento sustentável consiste na falta de integração entre empresas, governo e
movimentos sócio-ambientais, conforme observa-se a seguir:
O principal empecilho do desenvolvimento sustentável no Brasil ainda é a
falta de integração entre empresas, governo e ambientalistas. Falta harmonia
entre o ambientalismo e o empresariado, e sobram proselitismo e
radicalismo, de um lado, ou a omissão, de outro. Um governo efetivamente
preocupado com o econômico, o ambiental e o social é aquele que busca e
promove oportunidades de negócios de forma sustentável, em constante
diálogo com todos os envolvidos (CEBDS, 2002, p. 23).
Desta forma é necessário o desenvolvimento e a efetivação de mecanismos que
facilitem o diálogo entre empresas, sociedade e governo, bem como auxiliem as empresas de
todos os portes a alavancar para uma postura mais sustentável.
O Governo deve agir induzindo continuamente novas oportunidades para o meio
empresarial, certamente não agindo apenas através dos mecanismos de comando e controle,
os quais têm criado uma série de dificuldades para o setor produtivo sem necessariamente
31
implicar na integridade das questões sócio-ambientais (Young, May, Vinha, 2004). Deve agir
desenvolvendo políticas públicas que facilitem a implementação continuada de metodologias
e mecanismos voltados para a sustentabilidade, tais como produção mais limpa, análise do
ciclo de vida, ecodesign, entre outras, levando os empresários a perceber que as questões
sócio-ambientais podem representar excelentes oportunidades de negócio.
Essas medidas podem além de ser uma forma de proteger os recursos naturais (na
extração mais controlada das matérias-primas ou na disposição dos rejeitos dos processos ou
produtos), podem aumentar o nível de consciência dos empregados, bem como da
comunidade em que o empreendimento está inserido.
Um exemplo positivo de apoio governamental ocorreu na Holanda, durante o período
de 1995 e 1998, quando o governo apoiou a aplicação do ecodesign em um grupo de 77 micro
e pequenas empresas. O projeto resultou na redução de peso de produtos, redução do uso de
substâncias perigosas e aumento de materiais reciclados, aumento da durabilidade, diminuição
da energia consumida pelos produtos, entre outras (VAN HEMEL, 2001).
No Brasil, vale destacar algumas iniciativas positivas de parceria entre grupos de
empresas e Governo, em prol da sustentabilidade. No Estado de Goiás
4
, destaca-se a criação
de um programa de implantação florestal com fins energéticos, tendo em vista a grande
demanda por madeira para fins industriais, elaboração das Agendas 21 Estadual e de alguns
municípios; implementação em 2005 da Bolsa de Resíduos Industriais no Estado;
implementação e desenvolvimento desde 2004 do Prêmio Goiás Ambiental, com participação
expressiva de empresas industriais de pequeno, médio e grande porte. Em o Paulo
5
,
destaca-se o fortalecimento de ações de coleta seletiva e reciclagem de resíduos sólidos
urbano, debate sobre o licenciamento ambiental e Produção mais Limpa e Redução do uso de
substâncias tóxicas. No Estado da Bahia
6
, destaca-se a implementação da Produção mais
Limpa na Companhia de Saneamento Ambiental Estadual pela Federação das Indústrias, o
que resultou na redução da geração de efluentes e resíduos sólidos e consumo de água e
energia, bem como um retorno anual de R$ 2.011.631,00 com as medidas implementadas.
4
Extraído de: FARINELLI, Eliane Lopes Noronha. Meio ambiente é prioridade em Goiás. In: MEIO
AMBIENTE INDUSTRIAL. Agenda ambiental da Indústria. São Paulo: Tocalino, ano XI, edição 65, jan./fev;
2007.
5
Extraído de: REIS, Pereira Nelson. Departamento de Meio Ambiente da FIESP atua para fomentar a gestão
ambiental de excelência. In: MEIO AMBIENTE INDUSTRIAL. Agenda ambiental da Indústria. o Paulo:
Tocalino, ano XI, edição 65, jan./fev; 2007.
6
Extraído de: COELHO, Arlinda. Aplicação da Metodologia Produção mais Limpa UNIDO/UNEP na Embasa.
In: MEIO AMBIENTE INDUSTRIAL. Agenda ambiental da Indústria. o Paulo: Tocalino, ano XI, edição
65, jan./fev; 2007.
32
Infelizmente, tais iniciativas citadas são pontuais e mesmo obtendo bons resultados,
não foram fortemente difundidos como se espera, induzindo a participação de um maior
número de Estados. Portanto, como dito anteriormente, é necessário mais esforço no sentido
de estimular mais iniciativas como estas mencionadas.
As empresas, por sua vez, frente ao cenário global de crise ambiental como emissões
de gases de efeito estufa elevado; aquecimento global; desmatamento; eutrofização de corpos
d’água; perdas de terras produtivas acidificação, salinização, desertificação; consumo
elevado de recursos naturais e geração e lançamento de poluentes em grandes quantidades não
respeitando a capacidade de suporte dos ecossistemas, também devem assumir sua
responsabilidade, reconhecendo o manejo das questões sociais e de meio ambiente como uma
das mais altas prioridades e fator determinante e essencial para a sobrevivência do planeta.
Para provar um compromisso mais efetivo para este fim, principalmente com a sociedade, as
empresas devem uma postura mais transparente, consolidando sua imagem como empresa
compromissada com a sustentabilidade.
2.1.3 Considerações Finais sobre a Sustentabilidade Empresarial
Frente a real necessidade de ações voltadas para a sustentabilidade no meio
corporativo apresentadas anteriormente, bem como buscando contribuir com a síntese do
conhecimento existente a respeito, a presente dissertação adota o termo sustentabilidade
empresarial como sendo o desenvolvimento, implementação e manutenção de ações que
tornem a organização economicamente viável e inserida em uma posição competitiva,
levando em consideração a eficiência ambiental e a responsabilidade social aplicada em todas
as suas operações, produtos e níveis organizacionais com foco nos recursos naturais, na
sociedade e seus stakeholders (Figura 2.4, p. 33).
Nesta vertente, tem-se a seguir a delimitação para cada dimensão do triple bottom line:
Econômica (Posição Competitiva): adoção de preços adequados e competitivos de
produtos e serviços, utilizando operações que respeitem a capacidade de suporte dos
ecossistemas e que tenham eficiência na utilização dos recursos, zelando pela produtividade e,
conseqüentemente, por sua rentabilidade.
Social (Responsabilidade Social Corporativa): adoção de medidas que tragam uma
melhoria continuada do clima organizacional e com interatividade com a comunidade local e
stakeholder, reduzindo os riscos e melhorando a qualidade de vida.
33
Ambiental (Eficiência Ambiental): Utilização de ferramentas de gestão ambiental, que
gerenciem e controlem adequadamente os aspectos e impactos ambientais, alocação e
desativação do site, e previna a geração de desperdícios e poluição, além de contribuir com o
aumento do desempenho ambiental dos processos, serviços e produtos ao longo do ciclo de
vida.
Operações
e Produtos
Posição competitiva
Eficiência ambiental
Sustentabilidade Empresarial
Responsabilidade social
Recursos Naturais
Sociedade
Stakeholders
Figura 2.4 – Elementos da sustentabilidade empresarial.
Fonte: Autor.
Vale apena ressaltar que iniciativas empresariais, como a simples adoção de uma ou
outra ferramenta ou mecanismo de avaliação voltado para a sustentabilidade não significa que
a empresa alcançou a sua plenitude no que diz respeito à sustentabilidade empresarial. Cada
iniciativa implementada deve ser encarada como um processo de aprendizado contínuo na
busca desta sustentabilidade. Destaca-se também a real necessidade da participação neste
processo do governo e sociedade.
Internamente, a empresa, em todos os níveis organizacionais deve existir uma
estrutura adequada, delimitação de responsabilidade e seguindo procedimentos e rotinas
administrativas e contábeis. O comprometimento e participação da alta administração são
essenciais para o sucesso. Trata-se, portanto, de uma decisão desafiadora uma vez que implica
em possíveis mudanças de trajetória, inclusive tecnológica e principalmente cultural,
envolvendo interferências profundas em todas as áreas da empresa, inclusive, onde já pode ter
ocorrido investimentos (treinamento de pessoal, aquisição de equipamento e softwares, entre
outros). Contudo, esse processo de transformação cultural emerge na organização um
conjunto de atitudes e comportamentos essenciais a gestão sustentável dos negócios.
34
Por fim, o desenvolvimento sustentável é um alvo móvel, uma vez que representa o
esforço constante em equilibrar e integrar os três pilares do bem-estar social, prosperidade
econômica e proteção ambiental em benéficos das gerações atual e futura (LOVELOCK,
2006). Por esta razão é que existe uma continua busca deste equilíbrio, onde a empresa, ao
redefinir suas ações caminha em direção a sustentabilidade.
2.2 Responsabilidade Social Corporativa (RSC)
O presente tópico trará um referencial teórico sobre responsabilidade social
corporativa contemplando conceitos e abordagens, além de ferramentas com potencialidade
de uso.
2.2.1 Conceitos e Abordagens da RSC
O mercado atual é marcado por uma rígida postura dos clientes e consumidores,
voltada à expectativa de interagir com as organizações que atuam com base na ética, que
tenham boa imagem institucional no mercado e que ajam de forma socialmente responsável.
Adicionalmente, Marcondes (2006) afirma que as empresas estão sendo chamadas a
responder por ações e decisões tomadas fora de sua zona de controle direto e por impactos
nunca antes interpretados como sendo de sua responsabilidade.
Assim, como observa-se nesta dissertação, o papel das empresas enquanto ator do
processo de desenvolvimento extrapola a concepção tradicional de que a única função da
empresa é gerar lucro e riqueza para os acionistas, passando a atuar como agentes socais
proativos no processo de desenvolvimento social, econômico e ambiental, sendo responsáveis
pelo bem estar de seus colaboradores, do meio ambiente, do homem e da valorização de sua
cultura (SCHENINI; RENSI; CARDOSO, 2005).
Vale enfatizar que para provar um compromisso mais efetivo com a coletividade, as
empresas devem assumir uma postura mais transparente, independente do impacto negativo
sobre seu produto ou sobre sua imagem (YOUNG; MAY; VINHA, 2004).
Holme e Watts (2000) relacionam a responsabilidade social a ética e a busca de
melhoria da qualidade de vida da população, iniciando com práticas internas, conforme
observa-se a seguir:
35
A responsabilidade social corporativa consiste em um compromisso
continuado com o comportamento ético e em contribuir para o
desenvolvimento econômico enquanto busca melhorar a qualidade de vida
da força de trabalho e de seus familiares bem como da comunidade e
sociedade, onde está inserido (HOLME; WATTS, 2000, p. 8).
A Confederação Nacional da Indústria - CNI (2006) relaciona a responsabilidade
social corporativa ao conjunto de iniciativas voluntárias aplicadas aos seus stakeholders
focalizadas na dimensão ética de suas relações, bem como na qualidade dos impactos sobre a
sociedade e meio ambiente. Ao buscar a ética e a transparência nos negócios e o
aprimoramento das relações com os stakeholders, as empresas estão, ao mesmo tempo,
pavimentando o caminho para a sua competitividade frente às exigências do mercado.
Para Young, May e Vinha (2004, 40 p.), “a responsabilidade social corporativa deve
ser traduzida em metas, ações, estratégias e formas de medir resultados”. Para tanto, se faz
necessário, o estabelecimento de uma estrutura que reflita no organograma da organização,
nos procedimentos administrativos e contábeis e nas rotinas operacionais, além de um
conjunto de conhecimento e competência.
A responsabilidade social não pode ser confundida com filantropia. Seu conceito
implica um modelo de gestão que vai além da simples filantropia (baseada no marketing
social). As empresas não podem confundir gastos em ações sociais externas, com a sua
estrutura de custos fixos, com investimentos em ativos sociais que compõem a expectativa de
retorno financeiro, por exemplo, apoio a atividades beneficentes. A responsabilidade social
difere da filantropia porque reflete consciência social e o dever cívico (PRIMOLAN, 2004;
YOUNG; MAY; VINHA, 2004).
Desta forma, as ações devem contribuir verdadeiramente com o crescimento das
pessoas e não se limite apenas a uma mera assistência. As ações não devem se preocupar
apenas no aporte de recursos financeiros. Segundo a CNI (2006) é preciso um planejamento
efetivo que envolva um conhecimento da realidade da comunidade em que pretende atuar e
delimitação do escopo de atuação, para que a execução e avaliação atinjam efetividade dos
resultados traçados.
Ashley (2003) afirma ainda que somente será caracterizada responsabilidade social se
a empresa adotar medidas incorporadas a sua cultura e com qualidade em relação aos projetos
sociais implementados. Em adição, Holme e Watts (2000) consideram que as ações de
responsabilidade social sejam caracterizadas por abordagens de longo prazo, integridade e
valores consolidados.
36
Ressalta-se ainda que a filantropia não garante que as empresas, ao praticarem ato
filantrópico, estejam respeitando o meio ambiente, desenvolvendo a cidadania ou respeitando
o direito de seus funcionários, não eximindo de forma geral sua responsabilidade (TENÓRIO,
2004).
Outra distinção importante é entre responsabilidade social e obrigação social, esta
última caracterizada pelas obrigações previstas em leis e regulamentos oficiais. A
responsabilidade social corporativa não se restringe ao respeito dos direitos dos trabalhadores,
solidificados na legislação trabalhista e nos padrões da Organização Internacional do Trabalho
– OIT, isto é, as empresas devem ir além do que prescreve a lei.
A responsabilidade social deve levar as empresas a efetuar investimentos no bem-estar
dos seus funcionários e dependentes e num ambiente de trabalho saudável, isto é, ações
internas. Além disso, as empresas devem promover comunicações transparentes, dar retorno
aos acionistas, assegurar sinergia com seus parceiros e garantir a satisfação dos seus clientes
e/ou consumidores (MELO NETO; FRÓES, 1999). Assim, admite-se que a responsabilidade
social pode ser trabalhada em cima de duas abordagens: a interna e a externa, independente do
porte da empresa (ASHLEY, 2003; PRIMOLAN, 2004).
Segundo Ashley (2003, p. 6), “a responsabilidade social leva, no âmbito interno da
empresa, à constituição de uma cidadania organizacional e, no âmbito externo, a
implementação de direitos sociais”. Nessa vertente, o autor ainda aponta uma série de vetores
para a prática da responsabilidade social corporativa (Figura 2.5, p. 37). Esses vetores
relacionam-se tanto com abordagem interna quanto a externa. No vetor 2, destaca-se que a
preocupação com a preservação ambiental é explicitada, o que representa certa interação em
relação às vertentes da sustentabilidade, isto é, na eficiência ambiental e na responsabilidade
social. Além disso, os diversos vetores podem ter variáveis que se contemplam entre si,
devidos as múltiplas transações, tanto no ambiente interno quanto no externo, possuem
variáveis que se contemplam entre si.
37
V1
V2
V3
V4
V5
V6
V7
apoio ao desenvolvimento da comunidade
preservação do meio ambiente
retorno aos
acionistas
sinergia com
parceiros
investimento em bem-estar dos funcionário e
dependentes e em um ambiente de trabalho amigável
comunicações
transparentes
satisfação de clientes e consumidores
Figura 2.5 – Vetores da responsabilidade social.
Fonte: Adaptado (ASHLEY, 2003, p. 9).
A responsabilidade social interna começa pela valorização profissional e a melhoria da
qualidade de vida dos funcionários e, em uma perspectiva mais ampla, de suas famílias. As
empresas devem desenvolver algumas ações visando definir seu legado corporativo,
instalando na organização uma ética de educação e de aprendizado e instituindo processos que
fomentem esse traço cultural.
Vale destacar também que um conjunto de iniciativas espontâneas voltadas para seus
funcionários podem ser contempladas pela empresa por meio de programas e projetos em
outras áreas saúde, lazer, esporte, cultura, entretenimento, acompanhamento familiar,
atendimento psicológico, aconselhamento pessoal e profissional; educação o relacionada
com o trabalho; entre outras (PRIMOLAN, 2004).
Furtado e Pena (2007) apresentam algumas ações de responsabilidade com o público
interno, a saber: gestão participativa e relações com sindicatos (desenvolvimento de práticas
que envolvam os funcionários na solução dos problemas da empresa e que permita a atuação
de sindicatos no local de trabalho); políticas de remuneração, de benefícios e de carreira
(desenvolvimento de projetos que apóiem a geração de empregos e o fortalecimento da
empregabilidade); cuidado com a saúde, segurança e condições de trabalho (desenvolvimento
de ações concretas e estabelecimento de indicadores de desempenho e ainda, a busca por
padrões internacionais como a SA 8000).
A presença de funcionários leais, capacitados e de melhor qualidade em um ambiente
corporativo pode ser um diferencial competitivo nos dias de hoje. Nesse contexto, pode-se
afirmar que a responsabilidade social interna pode ser uma estratégia de ganho de
competitividade. Destaca-se também que relações éticas e comunicação aberta e transparente
38
e respeito mútuo contribuem para o aumento da produtividade dos funcionários. Esse cenário
de fortalecimento da produtividade e competitividades relaciona-se com a abordagem
conceitual sobre a sustentabilidade empresarial, de considerar os negócios em uma posição
competitiva.
Além de inserir valores internamente, as empresas devem extrapolar suas ações sociais
fora dos seus limites. Com isso, elas devem estar preparadas para o diálogo com as diferentes
organizações que representam interesses dentro dessas comunidades, buscando conhecer suas
necessidades e além de estabelecer parcerias com os vários veis de governo que fortaleçam
os mecanismos de garantir a quebra das desigualdades sociais, o acesso da população à
educação, saúde e a recursos econômicos, tecnológicos e naturais, acesso a saúde e educação,
e de forma global garantir o desenvolvimento sustentável.
Este aspecto vem de encontro à afirmação de Young, May e Vinha (2004, p. 37) a
responsabilidade social não se sustentará por muito tempo numa sociedade cada vez mais
desigual”. No mundo sustentável, as metas de crescimento econômico devem ser
compatibilizadas com as metas de bem-estar humano.
Na responsabilidade social externa, as empresas podem ampliar seu leque de
comprometimento social, participando de programas, projetos e planos sociais que podem ou
não ser conduzidos diretamente por ela. Trata-se de ações voluntárias com um caráter
complementar às ações do governo, que são desenvolvidas em parcerias, não tirando as
atribuições do governo em investir no bem-estar dos indivíduos. Enfatiza-se também, que
estas ações são justificadas pelo fato das empresas se preocuparem “como a riqueza é gerada”,
levando em consideração os impactos sociais de suas operações, envolvendo de uma maneira
mais ativa a população, inclusive criando condições para que ela se torne cliente em potencial
(PRIMOLAN, 2004).
Nesta linha de pensamento da responsabilidade social externa, destaca-se o exemplo
da Unilever
7
no nordeste Brasileiro. Frente à realidade do município Araçoiaba, situado no
interior de Pernambuco, de ter o quinto pior Índice de Desenvolvimento Humano IDH,
daquele Estado (0,637), a Unilever lançou em janeiro de 2005 o Projeto Mais Vida com
duração de quatro anos. O projeto tem como objetivo principal elevar o IDH para 0,730,
7
Extraído de: ROLIM, Andrea; MOLINA, Elaine. Unilever: lucro na base da pirâmide In: MARCONDES,
Cilene. Sustentabilidade empresarial: um ciclo a ser encontrado. Conselho Empresarial Brasileiro para o
Desenvolvimento Sustentável. 58 - 59 p. Disponível em:
<http://www.sustentavel.org.br/sustentavel2007/arquivos/sustentavel_2006.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2008.
39
através da interferência positiva na comunidade local com iniciativas que impulsionassem os
três pilares: saúde, educação e desenvolvimento econômico. Vale destacar, alguns indicadores
inicialmente observados no município: dos seus 17 mil habitantes, cinco mil eram
analfabetos; apenas 298 tinham empregos formais; 3% das residências possuíam saneamento
básico e somente 30% dos professores detinham diploma de ensino superior. Na área de
educação, a prioridade foi de reduzir o índice de analfabetismo e capacitar os professores.
Para tanto, foi estabelecida uma sólida parceria com a secretaria municipal de educação. As
ações desenvolvidas foram: elaboração de um plano de educação, com acompanhamento
periódico; fornecimento de material escolar; apoio na construção e melhoria de escolas. Na
saúde, o foco foi o combate a mortalidade materna e infantil, sendo criado o Centro de Saúde
Infância Feliz, que virou referência na região e atende gestantes e crianças de 0 a 12 anos e foi
estabelecida uma parceria com a Pastoral infantil para campanhas contra a desnutrição
infantil. Para estimular o desenvolvimento econômico local foi investido na capacidade
empreendedora da população através de uma parceria com o SEBRAE para atuação na área
de agronegócios.
De uma forma geral, a adoção de medidas internas e externas trará várias vantagens
para a organização, a saber: ganho de respeito por parte dos acionistas e consumidor em geral,
isto é, melhora da imagem institucional, fortalecimento e ampliação das relações com os
stakeholders (Ashley, 2003).
O tópico a seguir contemplará uma discussão geral acerca de uma série de ferramentas
que as empresas podem incorporar visando o estabelecimento de uma conduta social.
2.2.2 Ferramentas da Responsabilidade Social Corporativa
Este tópico apresentará como ferramentas da responsabilidade social corporativa a
elaboração de um código de conduta ético e transparente, a utilização de oportunidades com
diversos stakeholders e a formação de uma cadeia de valor ao longo do ciclo de vida, a
utilização de balanço social e finalmente o uso de certificação de sistema de gestão voltado
para a responsabilidade social.
O desenvolvimento de ações tanto interna quanto externa da RSC deve ser baseado na
continuidade e nos princípios éticos. Estes fatores têm total ligação, uma vez que, segundo
Tenório (2004, p. 35), “quando a responsabilidade social é movida por questões de princípios,
o risco de descontinuidade de investimentos sociais é reduzido, pois esses valores estão
40
inseridos na cultura da empresa, orientado todas as suas ões e norteando suas relações com
seus stakeholders”.
Desta forma, sugere-se inicialmente a elaboração de um código de conduta ética com o
objetivo de traduzir, para as pessoas que representam a empresa, os valores que devem
orientar a tomada de decisões no dia-a-dia da organização e seu relacionamento com as partes
interessadas e contemplar verdadeiramente o entendimento da empresa sobre responsabilidade
social e como se aplica. Esse código deve ser cultivado e praticado consolidando uma cultura
empresarial. Ashley (2003, p. 81) afirma ainda que “o compromisso social não pode ser
considerado uma carta de meras intenções, devendo a empresa zelar por seus valores morais,
da mesma forma que preza sua qualidade, suas marcas e seus produtos”.
Outra virtude do código de ética é facilitar o conhecimento e o acesso dos mais
diferentes públicos aos princípios, políticas e praticas de uma organização, além de permitir
que os valores da organização sejam identificados e renovados (GASPAR, 2006).
Delai e Takahashi (2008) propõem um modelo de mensuração da sustentabilidade,
pelo qual a dimensão social do modelo avalia, de forma qualitativa, a relação da organização
com suas partes interessadas funcionários, consumidores, fornecedores, governos e
sociedade. Convém ressaltar que os stakeholders acionistas e investidores não são
trabalhados nesta dimensão, e sim na dimensão econômica. A seguir, têm-se as características
de cada tópico. Observa-se que todos contemplam as abordagens da responsabilidade social,
isto é, a interna e a externa.
Funcionários: Neste tópico, são avaliadas as práticas trabalhistas, sendo elas: educação,
treinamento e desenvolvimento de funcionários; diversidade e oportunidade com o foco no
tratamento igualitário nas oportunidades e remuneração para todos os funcionários; saúde e
segurança; geração de empregos com o foco na contribuição organizacional ao
desenvolvimento da região com a geração de empregos; atração e retenção de talentos com o
foco no gerenciamento da satisfação salários, bônus, promoções, acesso a programas de
desenvolvimento; direitos humanos com o foco nas operações internas e na cadeia de
suprimentos.
Consumidor: os itens avaliados são: satisfação do consumidor; políticas e programas para
reduzir os riscos à saúde e segurança do consumidor; informações relativas às funcionalidades
e impactos e atendimento a legislação dos produtos oferecidos; práticas de comunicação com
41
padrões éticos; procedimentos para proteger as informações pessoais dos seus consumidores e
o respeito às leis e regulamentações especificas.
Fornecedores: Este item contempla: seleção, avaliação e desenvolvimento de
fornecedores com foco na qualidade dos serviços e produtos, além da sustentabilidade e o
grau de cumprimento dos contratos.
Governos: Em relação ao setor público o modelo avalia dois itens: a contribuição da
organização ao governo por meio do pagamento de impostos, isto é, as obrigações tributárias.
O segundo item analisa a contribuição do governo à organização por meio de subsídios
recebidos.
Sociedade: este item avalia o relacionamento da organização com as comunidades onde
opera através dos seguintes itens: investimentos em ações sociais; diálogo com a sociedade
através da avaliação do sistema de gerenciamento das reclamações da comunidade e o
posicionamento da organização frente á opinião e à necessidade da comunidade; engajamento
e transparência quanto à contribuição a partidos políticos; práticas de competição e preço com
o foco no anti-monopólio; e por fim, códigos de conduta, corrupção e ética.
A Confederação Nacional da Indústria (2006) recomenda que as empresas integrem a
RSC a qualquer discussão do negócio, colocando seus valores em prática, estimulando a
gestão responsável em todos os níveis e com diferentes stakeholders. O Quadro 2.7 (p. 42)
apresenta uma série de stakeholders e possíveis oportunidades de desenvolvimento de ões.
Destaca-se o comportamento ético e transparente nas diversas oportunidades listadas,
principalmente na busca de igualdade de oportunidades (sexo, etnia, idade, necessidades
especiais) e liberdade de associação a agremiações de trabalhadores juntos aos colaboradores,
entre outros.
42
Stakeholders
Oportunidades
Colaboradores
- Igualdade de oportunidades (sexo, etnia, idade, necessidades especiais)
- Saúde e segurança dos colaboradores
- Promoção da empregabilidade
- Desenvolvimento de competências
- Salários e benefícios adequados
- Ambiente de trabalho saudável
- Liberdade de associação a sindicatos e agremiações de trabalhadores
- Respeito aos direitos humanos no ambiente de trabalho
Clientes
- Satisfação em todos os momentos de interação
- Segurança e qualidade dos produtos e serviços
- Qualidade dos serviços e do atendimento pré e pós-venda
- Consulta e envolvimento em decisões que os afetem
- Educação dos consumidores
Fornecedores
e Parceiros de
Negócios
- Uso de critérios transparentes de Responsabilidade Social e Ambiental na escolha
de fornecedores e parceiros de negócios
- Cumprimento rigoroso de todas as obrigações contratuais
- Uso adequado do poder de compra pelas empresas de grande porte, especialmente
quando se tratar de fornecedores pequenos e com baixo poder de negociação,
visando à construção de relações de confiança e de parcerias de longo prazo
- Manter em dia o pagamento de todas as obrigações com fornecedores e parceiros
de negócios
- Sempre que possível, dar preferência a fornecedores que gerem empregos e
oportunidades para a economia local
Concorrentes
- Manter as práticas concorrenciais da empresa dentro de critérios eticamente
responsáveis, não compactuando com qualquer forma de concorrência desleal
- Apoiar os poderes constituídos e as entidades privadas no combate a todas as
formas de concorrência desleal, inclusive a comercialização ilegal de produtos e a
adulteração de marcas
Comunidade
- Investimento Social Privado e/ou apoio a boas causas sociais
- Incentivo e suporte ao trabalho voluntário por parte dos colaboradores da empresa
- Participação em programas e projetos de geração de emprego e fortalecimento da
economia local
- Parcerias com ONGs, apoiando suas iniciativas com recursos não necessariamente
financeiros, como, por exemplo, capacitações ou consultoria nas áreas de
planejamento, gestão e avaliação de projetos
Governos
- Cumprir todas as leis, normas e procedimentos que asseguram à empresa licença
para operar, formalmente concedida pelos três níveis de governo
Meio
Ambiente
- Gestão ambiental
- Uso responsável de água e energia
- Tratamento de poluente e reciclagem
- Educação ambiental
Quadro 2.7 – Oportunidades de ações sociais.
Fonte: Adaptado de (CNI, 2006, p. 28 – 30).
É interessante também que seja criado uma cadeia de valor ao longo do ciclo de vida
do produto, caracterizada por práticas empresariais tanto internas quanto externas, conforme
observa-se a seguir (HOLME; WATTS, 2002):
Extração das Matérias-Primas: proibindo-se o trabalho infantil, a discriminação, o abuso
dos povos indígenas, a desigualdade social;
43
Transportes: Evitando-se longas jornadas de trabalho, o abuso dos direitos humanos, além
de expor os trabalhadores em condições inseguras de trabalho;
Processamento de Produtos: O o a corrupção, a discriminação, a ausência de liberdade
de expressão, a ausência de programas de saúde e a segurança ocupacional, além do uso
irracional de recursos naturais;
Distribuição: Discriminação nas vendas e o suborno;
Uso Final: Competição desleal, exclusão social, poluição.
Uma empresa que desenvolve ações sociais pode adotar valores éticos, difundi-los e
transferi-los. Assim, com a transferência de seus valores éticos, baseados na sustentabilidade e
efetividade de suas ações sociais, uma empresa tende a exercer plenamente sua
responsabilidade social (PRIMOLAN, 2004).
É importante dar visibilidade às ações sociais da empresa, tanto para o público interno
quanto para o público externo. Quando colaboradores, gerentes e diretores conhecem o que a
empresa está fazendo, eles se comprometem mais e isso faz com que sintam mais orgulho da
empresa onde trabalham. Por outro lado, quanto maior for a divulgação do trabalho social da
empresa, mais essa cultura se difundirá, aumentando o conceito da empresa junto à sociedade,
bem como o número de empresas interessadas em desenvolver uma ação social (CNI, 2006)
.
Nesse contexto, faz-se necessário refletir sobre a importância da utilização de meios
ou ferramentas de transparência que permitam o dialogo entre as partes envolvidas. Desta
forma, cabe destacar a publicação do Balanço Social, instrumento pelo qual a empresa torna
pública a responsabilidade social praticada como parte do processo de transparência.
O balanço social consiste em um demonstrativo publicado anualmente referente às
atividades desenvolvidas por uma empresa em promoção humana e social, dirigida a seus
funcionários e a comunidade onde está inserida, buscando evidenciar a prática de
responsabilidade social corporativa.
Este documento teve sua origem nos EUA, mas foi a França o primeiro país a tornar
compulsório a sua elaboração e publicação desde 1977. Atualmente, diversos outros países
europeus adotaram esta prática compulsória, entre eles, Alemanha, Bélgica, Inglaterra,
Holanda, Espanha e Portugal. No Brasil, a partir da década de 90, corporações de diferentes
44
setores passaram a publicar anualmente, de forma voluntária os seus balanços sociais
(SCHENINI; RENSI; CARDOSO, 2005).
O Balanço Social objetiva divulgar informações e indicadores dos investimentos e das
ações realizadas pelas empresas, concentrando-as nas ações internas e externas conforme
observa-se na citação da CNI (2006, p. 40):
O Balanço Social objetiva divulgar informações e indicadores dos
investimentos e das ações realizadas pelas empresas, concentrando-as em
duas vertentes: a interna, voltada para os colaboradores e trabalhadores
terceirizados, dirigentes e gerentes; e a externa, que compreende as relações
da empresa com acionistas, fornecedores, consumidores, concorrentes,
comunidades de entorno, governos, meio ambiente e a sociedade em geral
(CNI, 2006, p. 40).
Ainda em relação à CNI, é afirmado que o Balanço Social estimula a empresa a
utilizar indicadores para medição de ações e a entender a percepção das várias partes
interessadas, uma vez que sistematiza uma série de informações quantitativas e qualitativas
sobre o conjunto de ações empreendidas. Desta forma, o relatório revela o mapa da conduta
responsável da empresa, permitindo a avaliação de cada um dos índices, detectando pontos de
força e de fragilidade. Esse é o grande benefício que o relatório traz e, exatamente por isso, a
decisão de fazê-lo não pode estar apenas associada à intenção de comunicar quais são as ações
realizadas pela empresa.
Gaspar (2006) complementa afirmando que o balanço social deve incluir as metas para
o próximo período, constituindo-se assim em um instrumento útil para planejar e avaliar os
progressos da empresa em torno das questões sociais, além forçar o engajamento das partes
interessadas em todo da sustentação e aprimoramento destas práticas.
Nesse sentido vale destacar dois modelos de balanços praticados no Brasil: o modelo
IBASE e o modelo do Instituto Ethos.
O IBASE
8
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas atua
estrategicamente no desenvolvimento de uma sociedade democrática, combatendo
desigualdades e estimulando a participação cidadã. Segundo Schenini, Rensi e Cardoso
(2005), o IBASE liderou uma campanha em 1997 pela divulgação do balanço social das
empresas e lançou um modelo padronizado para garantir uma avaliação adequada da ação da
8
Mais informações sobre o IBASE, acesse: < http://www.ibase.br>.
45
empresa. Este modelo tem um caráter quantitativo e com ele é possível comparar o total de
investimentos com a receita da empresa, o lucro operacional e a folha de pagamento com
variáveis sociais como investimentos/custos alimentação, encargos sociais compulsórios,
previdência privada, saúde, segurança e medicina do trabalho, capacitação e desenvolvimento
social auxílio creche, participação nos lucros, cultura, esporte, contribuições para sociedade e
meio ambiente, além de as despesas com o controle ambiental. No modelo, estas variáveis são
apresentadas em números em Reais definindo o exercício dos dois últimos anos.
o Instituto Ethos
9
de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização não-
governamental criada em 1998 com a missão de mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a
gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de
uma sociedade sustentável e justa. O modelo de relatório e balanço anual do Instituto Ethos
possui uma abordagem qualitativa ao avaliar o estágio de avanço e comprometimento das
empresas e também quantitativo como o modelo do IBASE. OS indicadores Ethos
transpassam aspectos como valores e transparência (análise da existência de digos de ética
explícitos para que a empresa possa comunicar suas expectativas e promover a participação de
todos os envolvidos, práticas além do atendimento a legislação); práticas de transparência no
diálogo com o público interno e entidades sindicais, combate ao trabalho infantil e corrupção,
trabalho decente, respeito ao individuo, desenvolvimento humano e profissional, grau de
impacto ambiental ao longo do ciclo de vida, critérios de seleção de fornecedores,
responsabilidade com clientes e consumidores e relação com a comunidade, governo e
sociedade. Desta forma, conforme Custodio e Moyá (2007), estes indicadores estão divididos
em sete categorias, a saber: Valores, transparência e governança; público interno; meio
ambiente; fornecedores; consumidores e clientes; comunidade; governo e sociedade.
Além do uso de balanços sociais, as organizações também têm adotado normas
certificáveis de responsabilidade social, visando desempenhos sociais adequados dentro de
sistemas de gestão. Neste contexto, destaca-se a norma internacional SA 8000 (Social
Accountability), desenvolvida e supervisionada pela Social Accountability Internacional
SAI
10
, organização não-governamental sediada nos Estados Unidos. Esta foi a primeira norma
social de auditoria inserida em um contexto independente sem influência de governo ou
grupos de interesse (SOCIAL ACCOUNTABILITY INTERNACIONAL, 2008). A norma
9
Mais informações sobre o Instituto Ethos, acesse: < http://www.ethos.org.br>.
10
Mais informações sobre o SAI, acesse: <http://www.sa-intl.org/>.
46
visa aprimorar o bem estar e as condições de trabalho bem como o desenvolvimento de um
sistema de verificação que garanta a contínua conformidade com os requisitos estabelecidos
pela norma, buscando encorajar a participação de todos os setores da sociedade na busca pela
dignidade e boas condições no trabalho. Entre as áreas cobertas pela SA 8000 estão: trabalho
infantil, trabalho forçado, saúde e segurança, liberdade de associação e direito a acordos
coletivos, discriminação, práticas disciplinares, horas de trabalho, compensação e sistemas de
gestão. Estabelecendo padrões que governam os direitos dos trabalhadores, a SA 8000 adota
acordos internacionais existentes, incluindo as Convenções Internacionais do Trabalho,
Convenção das Nações Unidas pelos Direitos da Criança e na Declaração Universal dos
Direitos Humanos.
No Brasil, foi lançada em 2004 pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABNT, a norma ABNT NBR 16001, sobre sistema certificável de gestão de responsabilidade
social. A NBR 16001 foi concebida com base nas três dimensões da sustentabilidade -
econômica, social e ambiental - estabelecendo os requisitos para a implementação de um
Sistema de Gestão passível de integração com outros sistemas de gestão, como sistema de
gestão ambiental. A referida norma pode ser aplicada a todos os tipos e portes de
organizações. Destaca-se que o atendimento aos requisitos da norma, por si só, não garante
resultados ótimos e o significa que a organização e socialmente responsável. A certificação
na norma NBR 16001 possui acreditação do INMETRO.
Em essência, o que se observa é que a grande maioria destas ferramentas está
embasada no Princípio de dignidade da pessoa humana, consagrada na Constituição Federal
de 1988; na ética e em seus valores sociais que busquem a melhoria da qualidade de vida.
No momento em que depara-se com várias reportagens sobre trabalho escravo e
infantil principalmente nas regiões norte e nordeste do Brasil, e no abuso que as empresas
impõem aos seus funcionários, verifica-se a necessidade de um maior amadurecimento por
parte das empresas com relação à questão da responsabilidade social.
Tais ferramentas são importantes para que se possa delinear um norte de atuação e
servir de parâmetros mensuráveis para avaliar o desempenho empresarial. Assim, tal qual o
que ocorre com a dimensão ambiental, o conceito e aplicação efetiva da responsabilidade
social deve ser difundida, mostrando que tal dimensão, ao contrário que muitos pensam,
contribui de forma significativa no desempenho da dimensão econômica, fortalecendo,
contudo a busca da sustentabilidade empresarial.
47
2.3 Eficiência Ambiental Empresarial
O presente tópico trará um referencial teórico sobre a eficiência ambiental em
empresas, destacando os fatores indutores e abordagens. Conforme exposto, a eficiência
ambiental neste trabalho está associada à utilização de ferramentas de gestão ambiental, que
gerenciem e controle adequadamente os aspectos e impactos ambientais, alocação e
desativação do site, e previna a geração de desperdícios e poluição, além de contribuir com o
aumento do desempenho ambiental dos produtos e serviço ao longo do ciclo de vida.
2.3.1 Fatores Indutores da Gestão Ambiental nas Empresas
A introdução da variável ambiental no ambiente empresarial foi induzida por um
processo de mudança da conscientização, comportamento e atitude ambiental da sociedade,
governo e mercado, a qual teve sua origem após a Conferência de Estocolmo, realizada em
1972 na Suécia, que firmou a base para um novo entendimento a respeito das relações entre o
meio ambiente e o desenvolvimento.
Esse período foi marcado pelo acontecimento de diversos desastres ecológicos
provocados pelas atividades produtivas, destacando-se: desastre em Minamata, Japão, que
levou a morte de milhares de pessoas contaminadas pelo mercúrio lançado no mar pelas
empresas locais; o acidente utico do superpetroleiro Torrey Canyon, derramando 320 mil
toneladas de petróleo bruto do mar, além do navio Exxon Valdez que lançou milhares de
toneladas de petróleo no Alaska; o acidente industrial em Seveso, Itália, quando uma pluma
tóxica de tetra-cloro-benzo-paradioxina espalhou por uma área de 1970 hectares; o vazamento
em uma fábrica de pesticidas em Bhopal, Índia, levando a morte de milhares de pessoas; o
acidente na Usina de Chernobyl, na Ucrânia; entre outros (BARBIERI, 1997).
Tais fatos contribuíram para as mudanças nas políticas oficiais de meio ambiente e nos
conceitos de gerenciamento nas atividades produtivas. Destaca-se que muitos países
produziram novas constituições após Estocolmo, incluído a variável ambiental, é o caso do
Chile (1972), da Grécia (1975), de Portugal (1976), da Espanha (1978) (ANDRADE;
CHIUVITE, 2004).
No Brasil, até o inicio da década de 80, a legislação ambiental era marcada por
instrumentos pontuais, pouco interligados e com baixa eficácia, como o caso do Código
Florestal (Decreto 2793/34), do Código das Águas (Decreto 24643/34), do Estatuto da
Terra (Lei nº 4504/64), do Código de Pesca (Decreto nº 221/67), do Código de Mineração
48
(Decreto nº 2793/34), entre outros.
De forma tardia apenas, em 1980, surgiu à lei 6803 que estabeleceu as diretrizes
básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição e a lei 6972/81
estabeleceu a criação de estações ecológicas e de áreas de proteção ambiental, além da lei
6938/81, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, e em 1988, a constituição foi
alterada, inserindo um capítulo sobre meio ambiente.
Em relação à Política Nacional de Meio Ambiente, este dispositivo instituiu uma série
de instrumentos de políticas públicas, destacando-se o licenciamento e a revisão de atividades
efetivamente ou potencialmente poluidoras e o estabelecimento de padrões de qualidade
ambiental (BRASIL, 1981). Estes instrumentos, segundo Barbieri (2004), estão classificados
como instrumentos de comando e controle, que regulamentam diretamente as atividades
produtivas, tendo como objetivo limitar e condicionar o uso de bens naturais, estabelecer
níveis máximos de poluentes constantes no meio ambiente e realizar atividades e o exercício
de liberdades individuais em benefício da sociedade como um todo.
Em particular, o licenciamento ambiental, através da emissão das licenças prévia,
instalação e operação, condiciona, restringe e exige medidas de controle ambiental necessárias
para manter a qualidade ambiental (BRASIL, 1997). Assim, os empreendimentos passaram,
em tese, a se responsabilizar em controlar sua poluição gerada e recuperar possíveis danos
causados ao meio ambiente, dentro de padrões estabelecidos na legislação.
Esta abordagem de responsabilidade sobre a poluição fundamenta o Princípio do
Poluidor Pagador. Por exemplo, um empreendimento que antes lançava seu efluente líquido
sem tratamento em um corpo d’água, passa a ser obrigado a tratar e dispor adequadamente
dentro de padrões estabelecidos por lei, uma vez que a continuidade destas externalidades
resultaria em custos para sociedade, no formato de perda da qualidade de vida. Caso o
empreendimento não tratasse seus poluentes, ele pagaria uma taxa ao governo para efetuar o
tratamento ou permitir a dispersão no meio ambiente (por exemplo, um corpo hídrico). E
neste contexto, o agente poluidor é induzido a diminuir sua poluição para evitar cobranças
elevadas. Segundo Cánepa (2003, p. 65), “o estabelecimento de um preço para utilização do
meio receptor em sua capacidade assimilativa de resíduos força os agentes poluidores a uma
moderação do uso, racionalizando o uso do recurso ambiental”.
A cobrança pelo uso de recursos naturais e cobrança pela dispersão da poluição dentro
da capacidade de assimilação são classificadas por Barbieri (2004) como instrumentos de
49
econômicos. Para Young, May e Vinha (2004, p. 36), este mecanismo “permite maior
eficiência da gestão pública dos recursos naturais, além de arrecadar recursos que possam
assegurar a sustentabilidade institucional deste mecanismo e do arcabouço regulatório que o
apóia”.
Assim, o uso de mecanismos econômicos na intervenção governamental sobre as
empresas teriam mais efetividade na promoção da sustentabilidade. Por exemplo, a indução
de práticas de redução da poluição através da produção mais limpa, através de políticas
públicas (e.g. incentivos fiscais, subsídios, entre outras). Entretanto, o foco governamental se
restringiu fortemente em práticas de políticas de comando e controle e dentro de uma
realidade de falta de preparo e infra-estrutura para o Estado agir frente à grande quantidade de
empresas. Donaire (1999, p. 32) afirma que a gestão ambiental no Brasil é caracterizada pela
“desarticulação dos diferentes organismos envolvidos, pela falta de coordenação e pela
escassez de recursos financeiros e humanos para o gerenciamento das questões relativas ao
meio ambiente”. Em adição, Young, May e Vinha (2004) criticam o licenciamento ambiental
relacionando a sua complexidade, lentidão e excesso de burocracia.
Ainda, muitos dispositivos criados na legislação o foram regulamentados na sua
totalidade. É caso da Política Nacional de Recursos Hídricos instituída pela Lei 9433/97,
que estabelece entre seus instrumentos a cobrança pelo uso de recursos hídricos, a qual tem o
objetivo de reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu
real valor; incentivar a racionalização do uso da água e obter recursos financeiros para o
financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.
Este instrumento forçaria aqueles empreendimentos que utilizam águas subterrâneas ou
superficiais a racionalizar seu uso, uma vez que este recurso passaria a ser cobrado pelo seu
valor, além de buscar uma redução da geração de efluentes líquidos ou a minimização da
carga poluidora destes, quando lançados em corpo d’água, já que existiria uma taxa para o
lançamento destes em corpos d’água.
Outro exemplo de instrumento econômico é a Lei Complementar nº 4100/92 que
dispõe sobre o Código do Meio Ambiente do município do Natal-RN, a qual em seu artigo 62
estabelece que o Poder Público estimulará, inclusive com isenções e incentivos fiscais, a
substituição pelos empreendimentos econômicos que utilizam fornos a lenha por fornos
elétricos ou a gás natural ou outras energias alternativas o degradadoras do meio ambiente.
Entretanto, este dispositivo ainda não foi regulamentado.
50
Além da pressão exercida pelo governo através de seus mecanismos de comando e
controle (licenciamento, fiscalização, entre outros), dois outros elementos também são
apontados por Barbieri (2004) como indutores da gestão ambiental empresarial: sociedade e
mercado.
As organizações da sociedade civil têm atuado de forma significativa através de
denúncias, formação de opiniões perante o grande público, pressões políticas nas instâncias
legislativas e executivas e de cooperação com as empresas. A atuação de Organizações não
Governamentais e do Ministério Público também tem contribuído na exigência do
cumprimento da legislação, seja em ações educativas. Outra fonte de pressão sobre as
empresas advém do aumento da consciência da população em geral e, principalmente, dos
consumidores que procuram produtos e serviços ambientalmente saudáveis.
A influência exercida pelo mercado é oriunda dos investidores que procuram
minimizar os riscos de seus investimentos. A geração de passivo ambiental pelo o
cumprimento da legislação ou por falhas de controle operacional ou mesmo pela não
recuperação da degradação gerada pode comprometer a rentabilidade futura de uma empresa,
pois esses passivos poderão ser cobrados em alguma data futura, seja por acordos bilaterais
voluntários, seja por ações judiciais. Assim, como exposto no Tópico 2.1.2.4 (p. 25) quando
tratou-se dos modelos de análise de sustentabilidade empresarial, a vertente ambiental passa a
ser analisada por parte de investidores através de relatórios de desempenho ambiental para
tomada de decisão.
Vale destacar também que na formação da cadeia de valor, uma empresa pode exigir
ou ser cobrada por fornecedores ou clientes/consumidores a inserir a variável ambiental nos
seus negócios, além de serem forçadas a seguir regras estabelecidas por associações,
sindicatos, conselhos empresariais. A busca pela competitividade também pode ser associado
ao mercado. Estes são exemplos claros da força do mercado sobre as empresas.
Assim, tanto o governo, como a sociedade e o mercado são os três principais fatores
indutores da gestão ambiental empresarial, conforme proposto por Barbieri (2004) (Figura
2.6, p. 51).
51
EMPRESA
GOVERNO
MERCADO
SOCIEDADE
Figura 2.6Fatores indutores da gestão ambiental na empresa.
Fonte: (BARBIERI, 2004, p. 99).
Côté, Booth e Louis (2006) apresentam como fatores indutores da gestão ambiental
dois grupos: fatores internos e externos. Entre os fatores internos destacam-se: redução de
custos, aumento da qualidade de produtos e serviços, aumento da motivação dos empregados,
gestão de risco e responsabilidade. Já os fatores externos destacam-se a pressão pública
exercida pelo governo, clientes e consumidores, acesso a financiamentos e pressão global
(e.g. aquecimento global). Dentre os fatores apresentados, destaca-se o acesso a
financiamentos, uma vez que neste processo de liberação de linhas de créditos para
investimentos, as empresas devem apresentar as instituições financiadoras estudos ambientais
além da comprovação da adequação ambiental frente ao órgão licenciador entre outras
exigências governamentais.
Em relação aos fatores internos, destaca-se a redução de custos, a qual pode ser
efetivada, por exemplo, com a implementação da ferramenta Produção mais Limpa, conforme
será apresentado na próxima seção.
Donaire (1999) apresenta ainda como fatores indutores da gestão ambiental a
globalização dos negócios, a internacionalização dos padrões de qualidade ambiental descritos
na série ISO 14000 e a disseminação da educação ambiental nas escolas.
Observa-se que estes fatores apresentados acima permeiam a triplicidade apresentada
por Barbieri (2004), isto é, os fatores internos e externos apresentados estão dentro de um
conjunto maior formado pelo governo, sociedade e mercado.
Desta forma, a administração de empresas vem passando por uma profunda
transformação, na qual a variável ambiental passa a ser levada em conta na tomada de
decisão. Nesse contexto, a função ambiental, segundo Almeida (2004), deixa de ser uma
52
função exclusiva da produção, passando para um contexto mais amplo, participando no
desenvolvimento das atividades de rotina, na discussão dos cenários alternativos e,
conseqüentemente, na análise de sua evolução, gerando políticas, metas e plano de ação, isto
é, passando a estar presente no gerenciamento global da empresa.
Além disso, padrões ambientais adequados podem dar inicio a um processo de
inovações que diminua o custo total de um produto ou aumente seu valor. As inovações
permitem que as empresas usem mais produtivamente um conjunto de insumos de matérias-
primas a fontes de energia – de forma a compensar os gastos feitos para preservar mais o meio
ambiente (ALMEIDA, 2004).
Contudo, Tachizawa (2004, p. 75), “a gestão ambiental torna-se um importante
instrumento gerencial para capacitação e criação de condições de competitividade para as
organizações, qualquer que seja seu segmento econômico”. Donaire (1999, p. 34)
complementa com a assertiva “as atitudes e medidas racionais para proteger e conservar o
meio ambiente tornam-se rapidamente condição sine qua non para os bons negócios e para a
própria sobrevivência das empresas”.
No entanto, para que se tenham resultados mais efetivos, a inserção da variável
ambiental no ambiente empresarial não pode limitar-se apenas em grandes corporações. Em
um estudo efetuado por Hillary
11
(2000, apud CÔTÉ; BOOTH; LOUIS, 2006) em empresas
do Reino unido, foi observado as micro e pequenas empresas MPE´s geram 70% de toda
poluição. A autora aponta alguns fatores que justificam este dado: as MPE´s têm sido, em
grande parte, ignoradas pelas agências ambientais do governo; são em grande parte
inconsciente de seus impactos ambientais e da legislação aplicável além da importância da
sustentabilidade; são ticas em relação aos benefícios gerados com a melhoria do
desempenho ambiental.
Nesse contexto, empresas de todos os portes e tipologias estão sendo induzidas a
inserir a variável ambiental no seu planejamento. Desta forma, nos próximos tópicos serão
apresentadas as abordagens para busca da eficiência ambiental.
11
Hillary Ruth. Small and Medium-Sized Enterprises and the Environment: Business Imperatives. Sheffield:
Greenleaf Publishing; 2000
.
53
2.3.2 Abordagens e Benefícios da Gestão Ambiental nas Empresas
Conforme exposto no tópico anterior vários foram os fatores que levaram a inserção
da variável ambiental nas empresas. Frente a estes fatores, também denominados pressão
ambiental, as empresas podem adotar diferentes abordagens para trabalhar com a questão
ambiental. Na literatura consultada, observam-se, de forma geral, três níveis de abordagens,
cada um com conteúdo específico, embora com limites entre eles nem sempre nítidos e com
taxonomia distintas (DONAIRE, 1999; ALMEIDA, 2004; BARBIERI, 2004; LEMOS;
BARROS, 2006; ROBLES JR; BONELLI, 2006; JABBOUR; SANTOS, 2006). Assim, serão
apresentadas essas abordagens, dentro dos níveis: Controle da Poluição e Remediação;
Prevenção da Poluição e Estratégica.
Controle da Poluição e Remediação - Corretiva
A preocupação principal da empresa, na abordagem de controle da poluição, limita-se
a evitar acidentes locais, controlar a poluição, recuperar os danos ambientais causados e
atender a legislação ambiental, mantendo a mesma estrutura produtiva e/ou operacional,
acoplando apenas equipamentos de controle ambiental no fim da linha, como por exemplo,
estações de tratamento de efluentes líquidos industriais, incineradores de resíduos sólidos,
filtros para tratar as emissões atmosféricas. Na remediação de áreas degradadas oriundas de
efeitos negativos dos processos produtivos, pode-se citar a efeito de exemplo, o vazamento de
hidrocarbonetos no solo pelas atividades petrolíferas, podendo ser utilizadas tecnologias de
bio-remediação para recuperação da situação anterior.
Barbieri (2004) afirma que os equipamentos de controle da poluição agregam custos
adicionais durante toda a vida útil da empresa em decorrência das operações necessárias e das
providencias para solucionar os problemas gerados pelos poluentes captados (basicamente
ocorre mudança de estado físico dos poluentes, por exemplo, o poluente contido no efluente
líquido e convertido em lodo na Estação de tratamento, sendo necessária a disposição final
deste). Com isso, do ponto de vista empresarial, representa elevação do custo de produção que
tende a elevar à medida que as exigências tornam-se mais rigorosas. Tais soluções técnicas
são conhecidas na literatura como solução de fim de tubo (ANDRÉS, 2001; CNTL, 2003, a;
PEREIRA, 2003; SENAI-RS, 2003; BARBIERI, 2004; LEMOS; BARROS, 2006;
MEDEIROS ET AL, 2007; MILLER, 2007).
54
Desta forma, segundo Lemos e Barros (2006, p. 14 e 15), “essa abordagem significa
elevação dos custos nas duas pontas do processo: antes, pela utilização das matérias-
primas e insumos, e, adiante, pelo custo de tratamento e disposição final”.
Para Jabbour e Santos (2006) a abordagem de controle da poluição é movida por uma
reação à legislação e ainda, desconsidera o potencial estratégico da variável ambiental, pois
age lentamente às mudanças que ocorrem no âmbito dos negócios.
Em relação à legislação ambiental como fator indutor do comportamento empresarial
para se adotar esta abordagem, destaca-se um conjunto de diplomas legais da esfera federal
que estabelecem veis máximos de lançamento de poluentes seja de fontes fixas ou móveis,
bem como níveis máximos de poluentes permitidos e constantes no meio ambiente (e.g. a
Resolução do CONAMA 357/2005, estabelece a classificação dos corpos d’água e
especifica os limites dos efluentes líquidos em corpos hídricos; a Resolução do CONAMA
01/1990 que dispõe sobre a emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades
industriais, comerciais, sociais ou recreativas, determinando padrões, critérios e diretrizes; a
Resolução do CONAMA 03/1990 que dispões sobre os padrões de qualidade do ar; a
Resolução do CONAMA 382/2006 que estabelece os limites máximos de emissão de
poluentes atmosféricos para fontes fixas). Enfatiza-se também que muitos desses diplomas
legais ambientais são exigidos no processo de licenciamento de acordo com os aspectos
ambientais gerados pelos empreendimentos, isto é, seu potencial poluidor.
Contudo, atender a legislação, o significa ser um empreendimento competitivo e
sustentável. Pelo fato das empresas serem igualmente obrigadas a estar em conformidade com
a legislação ambiental, e estar em conformidade não significa um diferencial competitivo.
Além disso, estabelecer instrumentos de controle no final do processo, apenas reduz a
poluição, tendo um efeito indireto sobre os problemas ambientais globais (por exemplo,
redução de CH
4,
contribuindo para redução do efeito estufa). Entretanto, não força uma
visualização de como o processo está ocorrendo, principalmente o uso otimizado de matérias-
primas, insumos, água e energia.
Este fato pode ser justificado, como exposto pela predominância de uma legislação
ambiental, voltada para mecanismos de comando e controle, não havendo incentivos a
práticas preventivas, que no geral reduz a poluição na fonte geradora, eliminando desperdícios
do uso de materiais, conforme se exposto a seguir.
55
Prevenção da Poluição - preventiva
Na prevenção da poluição, o controle ambiental passa a integrar a função produção,
incluindo suas práticas e processos produtivos, além das atividades de controle da poluição
(ALMEIDA 2004).
Assim, as empresas procuram atuar sobre os produtos e processos para prevenir a
geração da poluição, empreendendo ações com vistas a uma produção mais eficiente e,
portanto, poupadora de materiais e energia em diferentes fases do processo e comercialização
(BARBIERI, 2004). O autor, ainda especifica que a prevenção da poluição requer mudanças
em processos e produtos a fim de reduzir ou eliminar na fonte, isto é, antes que eles sejam
produzidos, combinando duas preocupações: uso sustentável dos recursos naturais e controle
da poluição.
Como práticas desta abordagem podem ser citadas: o reaproveitamento dos resíduos
internamente ou sua venda para outras empresas através de bolsas de resíduos; a reciclagem
de materiais que tem trazido uma grande economia de recursos naturais para as empresas
(DONAIRE, 1999).
Segundo CNI (2006) reduzir as perdas e o desperdício de energia e de materiais,
promover a reutilização e reciclagem de materiais contribui de forma fundamental para o
controle e a redução de custos e, conseqüentemente, para os níveis de produtividade, além de
ser extremamente importante para a preservação da qualidade de vida no planeta.
Dessa forma, a prevenção da poluição permite enxergar o meio ambiente e sua
proteção como oportunidades para abrir novos negócios e prevenir contra restrições futuras
quanto ao acesso a mercados internacionais. Assim, nota-se uma interseção e transição para
abordagem estratégica (DONAIRE, 1999).
Abordagem Estratégica
Na visão de Barbieri (2004) a abordagem ambiental estratégica significa tratar
sistematicamente as questões ambientais para proporcionar valor ao negócio da empresa,
diferenciando-a de seus concorrentes e contribuindo para dotá-la de vantagens competitivas.
O respeito com meio ambiente através de uma postura ética e transparente, evitando
danos e passivos ambientais são condições essenciais para a abordagem estratégica.
56
Robles Jr. e Boneli (2006, p. 24) complementam com a assertiva as empresas
adiantam-se às leis vigentes e antecipam-se às leis vindouras projetando uma imagem
avançada da empresa”.
Além disso, as empresas devem adotar planos de continuidade das oportunidades de
prevenção. Este aspecto pode ser considerado o fator principal para diferenciar a abordagem
preventiva e estratégica (BARBIERI, 2004). As oportunidades de prevenção da poluição
quando não trabalhadas de forma continuada são facilmente copiadas por outras empresas,
não sendo mais diferencial competitivo, assim não configurando uma postura estratégica.
Segundo Bendavid-Val e Perine (2003), para manter uma postura estratégica faz-se
necessária a adoção de constantes atualizações do capital humano e físico, para o uso eficiente
de recursos, adição de valor ao mercado, além de promover a melhoria contínua do
desempenho ambiental, envolvendo clientes e consumidores. Como em todos os outros
aspectos de competitividade, uma empresa deve estar constantemente inovando, a fim de
sustentar o seu ambiente de competitividade. Entende-se como capital humano o
conhecimento, experiência, poder de inovação, habilidades e competências dos empregados e
capital físico como tecnologia, sistemas de informação, softwares, bancos de dados, patentes e
marcas.
Desta forma, pode-se fazer link entre a abordagem estratégica e a ecoeficiência,
definida pelo WBCSD (1998) como a entrega competitiva de bens e serviços que satisfaz as
necessidades humanas e traz qualidade de vida, quando progressivamente reduz os impactos
ambientais e a intensidade do uso de recursos ao longo de todo ciclo de vida, respeitando a
capacidade de suporte. A ecoeficiência identifica o potencial de melhorias ambientais e
explora oportunidades de negócios através de estratégias sustentáveis. Cramer e Stevels
(2001) afirmam que um negócio ecoeficiente permite uma redução de custos, fortalece a
posição no mercado, cria novos mercados e evita críticas de stakeholders externos, além de
aumentar a possibilidade de sobrevivência das empresas a longo prazo.
Na abordagem estratégica, firma-se, assim, a busca empresarial pelo conceito de
excelência ambiental, que avalia a pressão não somente pelo seu desempenho produtivo e
econômico, mas por seus valores éticos e pelo desempenho ambiental (ALMEIDA 2004). Um
exemplo desta abordagem é a aplicação da ferramenta Produção mais Limpa, a qual será
detalhada nos próximos tópicos. Esta ferramenta, segundo Lemos (1998) está contribuindo
para eliminar o dilema de que não existe uma possível relação entre desenvolvimento
57
econômico e meio ambiente, uma vez que em cima de variáveis ambientais se consegue
reduzir custos operacionais.
A Figura abaixo apresenta as três abordagens da gestão ambiental discutidas neste
tópico. Observa-se que os níveis apresentados estão interligados e todos são necessários para
o desenvolvimento de um negócio sustentável. Mesmo prevenindo a poluição, e buscando a
melhoria continua do desempenho ambiental, uma empresa pode continuar gerando
resíduos, os quais quando não reaproveitados ou reciclados, devem ser tratados e dispostos
adequadamente.
Estratégica
PreventivaCorretiva
Figura 2.7 – Abordagens da gestão ambiental empresarial.
Fonte: Autor.
2.4 Produção mais Limpa
2.4.1 Origem e Influências da Produção mais Limpa
A Produção mais Limpa tem suas origens nas propostas correlatas estimuladas pela
Conferência de Estocolmo de 1972, como o conceito de tecnologia limpa (clean technology).
Tal conceito deveria alcançar três propósitos distintos, porém complementares: gerar menos
resíduos, lançar menos poluição ao meio ambiente e consumir menos recursos naturais,
principalmente os o-renováveis. Proposto pela Comissão da Comunidade Econômica
Européia em meados década de 1970, esse conceito referia-se a qualquer tecnologia que
pudesse reduzir a poluição e economizar recursos (BARBIERI, 2004).
Destaca-se que a necessidade de investigar todos os tipos de resíduos, a fim de
proteger o meio ambiente e conservar os recursos naturais tem impulsionado a implementação
58
de estratégias de controle preventivo da poluição. Assim, o objetivo desta estratégia é parar a
geração de poluentes antes que eles sejam gerados e atingir melhorias sustentáveis,
envolvendo não apenas a conservação dos recursos naturais e materiais, mas também a
prevenção de acidentes e evitando exposições de materiais tóxicos e perigosos (GLAVIC,
LUKMAN, 2006).
A partir dessa concepção, vários modelos de controle ambiental preventivo
começaram a surgir, merecendo destaque os modelos: Produção Limpa (PL) do Greenpeace e
Prevenção da Poluição (P2) da Environmental Protection Agency EPA, os quais
influenciaram fortemente o modelo de Produção mais Limpa.
2.4.1.1 Produção Limpa
O modelo da organização ambientalista não-governamental Greenpeace, Produção
Limpa foi proposto nos anos 80, buscando definir um sistema de produção industrial que
incorporasse a variável ambiental em todas as fases produtivas (CARDOSO, 2004).
Para Thorpe (1999) a PL está enraizada no conceito cíclico do ciclo de vida (Figura
2.8), adotando uma abordagem com precaução na seleção de materiais, projetando produtos
com durabilidade e possibilidade de reuso, minimizando o uso de energia, água e matérias-
primas. O autor ainda afirma que a Produção Limpa questiona a necessidade real do produto
ou procuram outras formas pelas quais essa necessidade poderia ser satisfeita ou reduzida.
Pela figura abaixo, nota-se um conjunto de critérios da PL aplicados ao ciclo de vida de um
produto, a começar da matéria-prima, a qual deve ser renovável e ter uma mínima extração.
Na manufatura, devem ser utilizadas tecnologias limpas, com uma geração mínima de
resíduos, bem como o reaproveitamento de produtos ou materiais. O Greenpeace (1997)
corrobora com esses critérios, conforme observa-se no Quadro 2.8 (p. 58).
Recursos
Naturais
Materiais
Manufatura
Utilização
- Renovável
- Mínima extração
Uso de Tecnologias
Limpas
Produtos são
Atóxico
Resíduo Mínimo
Reciclagem de resíduos
não perigosos
- necessários
- reutillzados, reparados,
reciclados
Figura 2.8 – Abordagem cíclica da Produção Lima.
Fonte: Adaptado de (THORPE, 1999, p. 4).
59
Critérios da Produção Limpa
Os sistemas de Produção Limpa para alimentos e produtos manufaturados são:
- não-tóxicos e eficientes no uso de energia;
- feitos usando materiais renováveis, rotineiramente reaproveitados e extraídos de forma a manter a
viabilidade do ecossistema e da comunidade da qual foram extraídos; ou
- feitos de materiais não-renováveis, mas passíveis de reprocessamento de forma não-tóxica e
eficiente em termos de energia.
Os produtos são:
- duráveis e reutilizáveis e fáceis de desmontar, reparar e remontar;
- mínima e adequadamente embalados para distribuição, usando materiais reutilizáveis ou reciclados
e recicláveis;
- redução dos impactos ambientais, na saúde e segurança durante todo o ciclo de vida do produto.
Acima de tudo, os sistemas de Produção Limpa
- preservam a diversidade na natureza e na cultura;
- garantem às gerações futuras a satisfação de suas necessidades.
O ciclo de vida útil inclui
- fase de projeto de produto/tecnologia;
- fase de seleção e produção de matéria prima;
- fase de fabricação e montagem de produto;
- fase de distribuição e comercialização;
- fase de uso do produto pelo consumidor;
- gerenciamento social dos materiais ao fim da vida útil do produto.
Quadro 2.8 – Critérios da Produção Limpa.
Fonte: Adaptado de (GREENPEACE, 1997, p. 4).
Segundo Furtado (1998), o modelo leva em conta também: “auto-sustentabilidade de
fontes renováveis de matéria-prima; reutilização e reaproveitamento de materiais por
reciclagem de maneira atóxica e energia eficiente; geração de produtos de vida útil longa,
atóxicos e seguros para o homem e meio ambiente, cujos restos (incluindo embalagens)
tenham reaproveitamento atóxico; reciclagem (na planta industrial ou fora dela) de maneira
atóxica como alternativa para as opções de manejo ambiental representadas por incineração e
despejo em aterros.
A essência da PL consiste na visão do sistema global de produção, aplicação dos
princípios fundamentais precaução, prevenção, integração e controle democrático e
responsabilidade continuada do produtor (FURTADO E FURTADO, 2004).
Cardoso (2004) apresenta as etapas componentes da PL, a saber: a) identificação das
substâncias perigosas a serem gradualmente eliminadas com base no princípio da precaução;
b) realização de análises químicas e de fluxo de materiais; c) estabelecimento e implantação
de um cronograma para a eliminação gradual de substâncias perigosas do processo de
produção, assim como o acompanhamento das tecnologias de gerenciamento de resíduo; d)
implementação de produção limpa em processos e produtos existentes e em pesquisa de novos
produtos; e) prover treinamento e dar suporte técnico e financeiro; f) ativa divulgação de
60
informações para o público e garantia de sua participação na tomada de decisões; g)
viabilização da eliminação gradativa de substância por meio de incentivos normativos e
econômicos; h) viabilização da transição para a produção limpa com planejamento social,
envolvendo trabalhadores e comunidades afetadas.
Nesse contexto, o conceito proposto pelo Greenpeace (Produção Limpa) é mais
restritivo do que o conceito utilizado pela United Nations Industrial Development
Organization UNIDO e United Nations Environment Programme UNEP (Produção Mais
Limpa). Enquanto a Produção Limpa propõe produtos atóxicos e o uso de fontes de energia
renováveis, bem como avalia a real necessidade do produto, a Produção mais Limpa estimula
a redução da toxidade e o uso mais eficiente dos insumos, entre ele matéria-prima, água e
energia.
2.4.1.2 Prevenção da Poluição
O Programa da EPA, Prevenção da Poluição, descreve procedimentos para
minimização de resíduos industriais perigosos no processo de manufatura visando o
atendimento da legislação. Destaca-se que na cada de 80, o surgimento dos dispositivos
legais Resource Conservation and Recovery Act RCRA e Comprehensive Environmental
Response, Compensation and Liabilities Act CERCLA, os quais baseados no princípio do
poluidor-pagador forçaram a responsabilidade do industrial frente a sua geração de resíduos,
impactos e passivos ambientais, bem como a recuperação de sites impactados, acarretando
custos significativos para o industrial. Desta forma, em 1988, a EPA lançou tais
procedimentos na publicação Waste Minimization Opportunity Assessment Manual (EPA,
1988; MILLER; ET AL, 2007).
O manual considera a abordagem de prevenção da poluição baseada na minimização
de resíduos perigosos através da redução na fonte pela mudança de processos produtivos e
reciclagem interna ou externa para recuperação de material e produção de energia. Contudo, a
aplicação da Prevenção da Poluição levou a empresa a economizar dinheiro com a redução
dos custos de tratamento e disposição final de resíduos, compra de matéria-prima e outros
custos operacionais; satisfazer as metas da política de minimização de resíduos; reduzir
passivos ambientais potenciais; proteger a saúde pública e dos trabalhadores; proteger o meio
ambiente (EPA, 1998).
Este manual teve o mérito de estimular atitudes voluntárias, de parte das indústrias que
estão fora do alcance da legislação dos EUA. Destaca-se que as indústrias dispõem de
61
financiamentos governamentais para minimização de resíduos, além de assistência técnica
governamental (FURTADO, 1998; MILLER, 2007).
As diferenças entre os modelos Prevenção da Poluição” e “Produção mais Limpa
são pequenas. Segundo a UNEP, as diferenças são atribuídas a questões de localização
geográfica, conforme observa-se a seguir:
Os termos Produção Mais Limpa e prevenção da poluição são freqüentemente
utilizados de forma intercambiáveis. A distinção entre os dois tende a ser
geográfico - o termo prevenção da poluição tende a ser usado na América do
Norte, enquanto a Produção Mais Limpa é usado em outras partes do mundo
(...) (UNEP, 2006, a).
Em adição, destaca-se que a P2 é uma ferramenta de minimização de resíduos apoiada
pelo governo dos Estados Unidos, através de políticas públicas. Destaca-se que até 1992, mais
de 25 Estados ofereciam assistências através de programas. Diferentemente, na Produção mais
Limpa falta apoio governamental através de políticas públicas que incentivem e induzam a
participação de empresários, conforme será debatido no tópico de 2.4.3 (p. 69).
Ambos, Produção mais Limpa e Prevenção da Poluição incidem sobre uma estratégia
de redução da poluição e de controle do impacto ambiental através da redução fonte, isto é se
antecipando aos problemas ambientais, em vez do fim do processo (End-of-the-pipe-control).
2.4.1.3 Origem da Produção mais Limpa
Desta forma, a PmL surge como uma abordagem intermediaria entre Produção Limpa
e Prevenção da Poluição e inclui processos mais simples, não necessariamente requerendo a
implementação de tecnologias de ponta, podendo atingir um número maior de organizações,
que não detêm o desenvolvimento tecnológico. Esse modelo que prioriza a prevenção
revelou-se como uma importante ferramenta para diminuição dos impactos no meio ambiente,
utilizando-se de recursos mais factíveis para a realidade das organizações (CNTL, 2003, a).
Quanto às origens da Produção mais Limpa, no início dos anos 80, UNEP começou a
receber no seu escritório da indústria e meio ambiente, localizado em Paris, informações das
indústrias de vários países que tinham modificado seus processos de produção, reduzindo
desperdícios de matérias primas e energia, e reduzindo a geração de resíduos e poluição que
deveriam ser tratados. O retorno dos investimentos necessários à modificação dos processos
de produção acontecia invariavelmente em poucos meses, resultando em consideráveis lucros
62
para estas indústrias. Com isso, o UNEP resolveu criar um banco de dados sobre tecnologias
industriais mais Limpas, e começou a publicar relatórios para divulgar estas experiências bem
sucedidas. Assim, em 1989, baseado na experiência acumulada no seu Banco de Dados sobre
Tecnologias Industriais mais Limpas, o UNEP lança mundialmente o Programa de Produção
Mais Limpa (SEBRAE-RJ, 2007).
Os esforços iniciais do programa objetivavam o fortalecimento de parcerias e
incentivos para promover o conceito de PmL em escala mundial, através de troca de
informações, capacidade de execução e assistência técnica. Desta forma, em 1994, a UNIDO
e UNEP iniciaram juntamente o programa mundial dos Centros de Produção mais Limpa.
(UNIDO, 2002).
No projeto dos Centros Nacionais de Produção mais Limpa, UNIDO é responsável
pelas atividades específicas da indústria e pela montagem física dos mesmos e UNEP é
responsável pelo treinamento e informação dos componentes (CNTL, 2003, a).
O papel do Centro Nacional de PmL ou Centro Nacional de Tecnologias Limpas é o
de promover, coordenar e facilitar as atividades da Produção Mais Limpa em cada país. A
proposta de um CNTL é construir a capacidade local de implementar a PmL, formando
profissionais que podem aplicar os conceitos ou mesmo ser ajustado às condições locais.
Assim, o alvo principal do CNTL é a transferência de know-how e não apenas transferência
tecnológica. Os Centros são acolhidos por instituições nacionais (Federações de indústrias,
instituições acadêmicas e pesquisa, organizações produtivas) e possui uma estrutura enxuta
pessoal, contemplando profissionais da instituição de acolhimento, aliados e outros parceiros
(UNEP - b).
Os serviços básicos dos CNTL´s são aumentar a sensibilização sobre os benefícios e
vantagens da Produção Mais Limpa; capacitação de consultores e desenvolvimento das
capacidades locais de PmL; assistência técnica em empresa; assessoria sobre as fontes de
financiamento para tecnologias mais limpas; disseminação da informação e assessoria política
para governos nacionais e locais (LUKEN; NAVRATIL, 2002).
Um total de 25 centros foi estabelecido nos seguintes países, desde 1995, entre eles:
Brasil, China, Costa Rica, República Checa, El Salvador, Etiópia, Guatemala, Hungria,
Coréia, Líbano, México, Marrocos, Moçambique, Nicarágua, República Eslovaca, África do
Sul, Tanzânia, Tunísia, Uganda, Vietnam, e Zimbábue.
63
Segundo Luken e Navratil (2002), foram investidos mais de 17 milhões de dólares
para formação dos centros, conforme observa-se na Tabela 2.1. Ainda, segundo os autores, a
eficácia dos CNTL´s pode ser observada principalmente em ações de sensibilização, formação
de consultores e introdução do conceito PmL nos currículos das instituições de ensino.
Entretanto, os benefícios ambientais e econômicos têm sido bastante modestos em
comparação com o potencial existente.
Tabela 2.1 – Resultados dos CNTL´s durante a formação pelo UNIDO.
Operação com UNIDO
País
Inicio Fim
Quantidade Investida
(US$)
Retorno
(US$/ano)
África do Sul 2002 2007 1.500.000 300.000
Brasil 1995 1998 330.000 110.000
China 1995 1998 310.000 103.000
Costa Rica 1998 2003 1.123.000 224.600
Croácia 1997 1999 175.000 58.100
El Salvador 1998 2003 1.123.000 224.600
Eslováquia 1995 2000 517.500 86.200
Etiópia 2000 2002 708.000 236.000
Guatemala 1999 2004 1.123.000 224.600
Hungria 1997 2000 444.000 148.000
Índia 1995 1998 310.000 103.000
Líbano 2002 2004 200.000 100.000
México 1995 1998 310.000 103.000
Marrocos 2000 2005 1.334.000 266.800
Moçambique 2000 2002 713.000 237.600
Nicarágua 1997 2002 805.000 161.000
Quênia 2000 2002 421.000 140.300
República Checa 1994 1999 603.000 120.600
República da Coréia 2001 2003 610.000 203.000
Sri Lança 2001 2006 1.200.000 240.000
Tanzânia 1995 1998 310.000 103.000
Tunísia 1996 1998 66.500 33.200
Uganda 2001 2003 708.000 236.000
Vietnã 1998 2003 2.550.000 510.000
Zimbábue 1995 1998 310.000 103.000
Total 17.804.000 4.375.600
Fonte: Adaptado de (LUKEN; NAVRATIL, 2002, p. 197).
Destaca-se que em 1998, a UNEP lançou a Declaração Internacional de Produção mais
Limpa, uma declaração pública com o compromisso com estratégia e prática de PmL. As
metas da declaração são de encorajar o apoio para a adoção de atividades de PmL, intensificar
o empenho de vários atores envolvidos, promover uma cooperação internacional e difundir a
ferramenta (UNIDO, 2002).
64
2.4.2 Conceitos, Vantagens e Níveis de Oportunidades da Produção mais Limpa
De acordo com UNIDO (2002), a PmL consiste em uma estratégia preventiva e
integrativa, que é aplicada a todo ciclo de produção para: a) aumentar a produtividade,
assegurando um uso mais eficiente da matéria-prima, energia e água; b) promover um melhor
desempenho ambiental, através da redução de fontes de desperdícios e emissão; c) reduzir
impacto ambiental por todo ciclo de vida de produto através de um desenho ambiental com
baixo custo efetivo.
para UNEP (c), a PmL é a aplicação contínua de uma estratégia ambiental
preventiva e integrada a processos, produtos e serviços para aumentar a eficiência global e
reduzir os riscos aos seres humanos e ao meio ambiente. A produção mais limpa pode ser
aplicada aos processos usados em toda a indústria, aos próprios produtos e aos vários serviços
fornecidos à sociedade. A seguir, têm-se as características das aplicações potenciais da PmL.
Aplicações Potenciais Características
Processos de produção
- Conservação de matérias-primas, água e energia;
- Eliminação matérias-primas tóxicas e perigosas; e
- Redução da quantidade e a toxicidade de todas as emissões e
desperdícios na fonte durante o processo de produtivo
Produtos
- Redução dos impactos ambientais, na saúde e segurança durante
todo o ciclo de vida do produto
Serviços
- Incorporação de uma preocupação ambiental no planejamento e
prestação de serviços.
Quadro 2.9 Características das aplicações potenciais da Produção mais Limpa.
Fonte: Adaptado de (UNEP, c).
O Centro Nacional de Tecnologias Limpas do Brasil utiliza uma definição
influenciada pelos conceitos da UNIDO e UNEP, conforme observa-se, a seguir:
Produção mais Limpa é a aplicação de uma estratégia técnica, econômica e
ambiental integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no
uso de matérias-primas, água e energia, através da não geração, minimização ou
reciclagem dos resíduos e emissões geradas, com benefícios ambientais, de
saúde ocupacional e econômicos (SENAI, 2003, p. 10).
De uma forma geral, vale destacar alguns elementos chaves formadores do conceito de
PmL, sendo eles: Estratégia, Prevenção, Integração e Redução de Risco. Assim, pode-se
considerar a PmL como uma Ferramenta de Gestão Ambiental aplicada a partir de uma
estratégia preventiva e integrativa, tanto para serviços quanto para processos e produtos, de
forma a
se reduzir os riscos ambientais e ao homem (Figura 2.9, p. 65).
65
Figura 2.9 – Representação esquemática do conceito de Produção mais Limpa.
Fonte: Autor.
Diante os conceitos anteriores é possível associar a PmL como uma ferramenta que
favorece a promoção da sustentabilidade empresarial, uma vez que esta ferramenta permite de
forma contínua a busca pela eficiência ambiental das operações através da otimização do uso
de recursos naturais e eliminação de desperdícios, melhoria do ambiente de trabalho através
da eliminação e/ou minimização de riscos aos funcionários e comunidade, e mudança da
consciência dos funcionários frente à problemática ambiental, simultaneamente permitindo
ganhos econômicos com a eliminação de desperdícios e riscos, assim como, aumento da
produtividade.
A PmL pode ser adotada em qualquer setor e porte de atividade a partir de uma análise
técnica, econômica e ambiental detalhada do processo produtivo, objetivando a identificação
de oportunidades que possibilitem melhorar a eficiência, sem acréscimo de custos para a
empresa (WEIHS; WEISSEL, 2005; SILVA; MEDEIROS, 2006).
Para Glavic e Lukman (2006), a PmL inclui tanto uma condição para atingir melhorias
ambientais no processo e desenvolvimento de produtos, e uma contribuição para uma maior
sustentabilidade do mundo. Sicsú e Silva Filho (2003, p. 4) complementam “a PmL possibilita
o funcionamento da empresa de modo social e ambientalmente responsável, ocasionando
também influência em melhorias econômicas e tecnológicas”.
Weihs e Weissel (2005) afirmam que a PmL não nega o crescimento, entretanto
este deve ser efetuado dentro dos conceitos da sustentabilidade, buscando o equilíbrio entre
disponibilidade e consumo de materiais, incluindo água e energia, reduzindo os impactos
ambientais ao longo do ciclo de vida e riscos com a preocupação com a saúde e segurança.
A PmL é um conceito de melhoria contínua que permite aperfeiçoar a eficiência, a
lucratividade e a competitividade das empresas, enquanto protege o meio ambiente, o
66
consumidor e o trabalhador (ALMEIDA; GIANNETTI, 2006). Esta definição norteia bem, a
proposta desta dissertação em associar e confirmar a produção mais limpa como uma
ferramenta em busca da sustentabilidade empresarial.
Esta ferramenta de gestão, segundo Medeiros et. al. (2007, p. 110), “está respaldada
no fato de que o meio mais eficaz em termos de custos ambientais para a redução da poluição
é analisar o processo na origem da produção e eliminar o problema na sua fonte”.
Assim, a PmL é considerada uma ferramenta de gestão, econômica, ambiental e de
qualidade. Ferramenta de gestão porque faz com que as atividades do empreendimento sejam
repensadas ou reorganizadas. Para tanto, faz-se necessário o total comprometimento e
envolvimento da alta e média administração. Ferramenta econômica devido ao fato de
considerar um desperdício (resíduos, efluentes, entre outros) como produtos com negativo
valor econômico. Cada passo para reduzir o consumo de matérias-primas e energia, bem
como prevenir e reduzir a geração de desperdícios pode aumentar a produtividade e trazer
benefícios econômicos para empresa, além de reduzir os custos adicionais das soluções de fim
de tubo. É uma ferramenta ambiental porque previne a geração da poluição, combatendo os
desperdícios na fonte geradora. Finalmente, a sistemática redução de desperdícios e poluentes
reduz perdas no processo e aumento da produtividade e qualidade do produto. A contínua
atenção e foco na organização e gestão das atividades na empresa trazem o benefício
adicional de uma melhoria na qualidade do produto e redução das taxas de rejeição, evitando
desperdícios de tempo, trabalho e materiais, além de eventuais conflitos com clientes
(UNIDO, 2002).
Para a UNIDO e a Danish Environmental Protection Agency (2007) as vantagens de
se aplicar a Produção mais Limpa são: melhoria ao produto e aos processos; economia de
matérias-primas e energia, assim reduzindo custos de gastos de produção; aumento da
competitividade através do uso de tecnologias novas e melhoradas; preocupação reduzida
sobre a legislação ambiental; redução da responsabilidade associada com o tratamento,
armazenamento e disposição dos resíduos perigosos; melhoria da saúde, a segurança e a moral
dos empregados; melhoria a imagem de companhia e redução dos custos de soluções de fim
de tubo.
Enquanto as técnicas de fim-de-tubo, isto é, de controle da poluição, apresentam uma
postura reativa, buscando atender a legislação e as pressões da comunidade, bem como
utilizando ações remediativas (os resíduos são gerados, tratados e dispostos) e encarando a
gestão ambiental como custo adicional, a PmL é uma ação preventiva, que visa evitar ou
67
diminuir a geração. Quando uma organização adota os princípios da PmL, está tentando
buscar tecnologias que substituam os tratamentos convencionais de fim-de-tubo (que de forma
geral não busca entender porque a poluição é gerada, apenas tratar e dispor) por modificações
no processo produtivo focadas na prevenção e controle de poluição na fonte (BARBIERI,
2004; SILVA; MEDEIROS, 2006). Outra diferença é o fato que a abordagem fim-de-tubo não
focaliza os processos, nem interpreta suas ações e conseqüências, a abordagem da PmL,
visualiza as atividades, diagnostica-as, efetua análises e indaga sempre as causas e os efeitos
das ações (MEDEIROS ET AL, 2007) (Figuras 2.10 e 2.11, p. 68).
A mudança do paradigma fim-de-tubo para o paradigma de PmL, segundo Christie
12
(1995 apud LEMOS, 1998), envolve o repensar dos sistemas gerenciais, bem como do
desenho de produtos e processos industriais. A tomada de decisão e comprometimento
gerencial consistem em elementos de grande importância para o sucesso da implementação da
PmL.
Figura 2.10 – Fluxo de abordagens da Produção mais Limpa.
Fonte: Adaptado de (CNTL, 2003, p. 8, b).
12
CHRISTIE, Ian, ROLFE, Heather, LEGARD, Robin. Cleaner Production in Industry: Institute, Integrating
business goals and environmental management. PSI-Policy Studies. London, 1995.
68
Design
Produção
Consumo
do produto
Descarte
do produto
Resíduos
Poluição (emissão,
efluente e resíduos)
Desperdícios
de recursos
Tratamento
Disposição
Resíduos
Controle de Poluição "Fim de Tubo"
Ecodesign com
base na ACV
Produção
Consumo
do produto
Minimização
do descarte
Resíduos
Reuso de
resíduos
Reuso, Reparo
Remanufatura
Tratamento
Disposição
Resíduos
Produção mais Limpa
com prevenção
da poluição na fonte
Figura 2.11 – Comparação entre as abordagens fim-de-tubo e Produção mais Limpa.
Fonte: Adaptado de (CHRISTIE, 1995 APUD LEMOS, 1998, p. 21).
A Produção mais Limpa apresenta três níveis de oportunidades, a saber: Nível 1
Redução na fonte (Modificação no Produto e Modificação no Processo); Nível 2
Reciclagem Interna e Nível 3 – Reciclagem Externa (CNTL, 2003, b; SEBRAE, 2005)
(Figura 2.12, p. 69). Consistem em três níveis: O primeiro nível é marcado pela Redução na
Fonte, através de medidas que visem evitar a geração de resíduos, efluentes e emissões, via
modificação no produto ou modificação no processo. As modificações no produto podem
incluir aumento da longevidade, substituição de materiais, modificação do design do produto,
uso de materiais recicláveis e reciclados, substituição de componentes críticos, redução do
número de componentes, viabilização do retorno de produtos, substituição de itens do produto
ou alteração de dimensões para um melhor aproveitamento da matéria-prima. Vale destacar
que na metodologia de PmL difundida no Brasil (SEBRAE, 2005 e CNTL, 2003) não um
procedimento/método/modelo para avaliar e propor melhorias no projeto do produto.
As modificações no processo de produção ajudam a reduzir muito os resíduos, às
quais compreendem um conjunto de medidas: Housekeeping; Mudanças em matérias-primas e
Modificação Tecnológica. A opção de housekeeping implica em medidas de procedimentos,
administrativos ou operacionais, que reduzem resíduos e emissões, normalmente
69
implementadas a um pequeno custo e que não exigem mudanças tecnológicas significativas.
A seguir alguns exemplos de praticas neste nível: melhoria do controle de produção; melhoria
no sistema de compras e vendas; melhoria no sistema de informações e treinamentos;
melhoria no sistema de manutenção; otimização de parâmetros operacionais; padronização de
procedimentos. As mudanças em matérias-primas contemplam redução ou eliminação de
materiais perigosos (tóxicos) ou que tem dificuldades para reciclagem. Como práticas deste
nível têm-se: substituição de embalagens; substituição de matéria-prima ou de fornecedor,
escolha de materiais com menor teor de impurezas ou com maior rendimento no processo. As
mudanças tecnológicas consistem em modificações do processo e/ou do equipamento. Estas
podem incluir: mudanças no processo de produção, modificação do equipamento,
modificação no arranjo físico, automação, alteração nas condições do processo, tais como
taxas de fluxo, temperaturas, pressões, inclusão ou exclusão de etapas ou sistemas (CNTL,
2003, b; SEBRAE, 2005).
Produção mais Limpa
Nível 1 - Redução na Fonte
Nível 2 - Recicagem Interna
Nível 3 - Recicagem Externa
Modificação no Produto
Modificação no Processo
Substituição de
Matéria-prima
Housekeeping
Modificação
Tecnológica
Figura 2.12 – Níveis de Oportunidades da Produção mais Limpa.
Fonte: Adaptado de (CNTL, 2003, p. 9, b).
Os resíduos que não podem ser evitados com a ajuda das medidas acima descritas
devem ser reintegrados ao processo de produção de sua empresa (reciclagem interna). Isto
pode significar utilizar as matérias-primas ou produtos novamente para o mesmo propósito;
utilizar as matérias-primas ou produtos usados, para um propósito diferente; realizar a
utilização adicional de um material para um propósito inferior a sua utilização original, como
usar resíduos de papel para enchimentos; recuperação parcial de componentes de produtos;
recuperação de compostos intermediários do processo ou de resíduos de etapas de processos.
70
Somente depois de buscar as soluções de eliminação ou redução na fonte (nível 1) e de
reciclagem interna (nível 2) é que se deve optar por medidas de reciclagem de resíduos,
efluentes e emissões fora da empresa (nível 3). A recuperação de materiais de maior valor e
sua reintegração ao ciclo econômico - como papel, aparas, vidro, materiais de compostagem -
é um método menos reconhecido de proteção ambiental integrada pela minimização de
resíduos (CNTL, 2003, b; SEBRAE, 2005).
Desta forma, a PmL se antecipa aos aspectos e impactos ambientais gerados, podendo
em todas as fazes do ciclo de vida do produto evitar a poluição (GIANNETI; ALMEIDA,
2006). Assim, desde a extração de matérias-primas, passando pela logística de suprimentos,
processamento, uso e pós-uso, oportunidades de PmL nos níveis apresentados podem ser
aplicadas para maximizar as operações, com vistas à economia de matérias-primas e à
minimização dos resíduos. Além disso, na extração de matérias-primas, a capacidade de
suporte deve ser respeitada. E destaca-se ainda que na fase pós-consumo pode ser aplicada
técnicas de reuso, reciclagem, reparo ou remanufatura, tendo com isso, uma otimização do
uso de materiais e descarte mínimo de resíduos (Figura 2.11, p. 68).
Logo, observa-se que a PmL pode assumir o caráter cíclico da abordagem da ecologia
industrial, isto é, adotar uma forma de sempre reaproveitar matérias-primas, energia e
resíduos dentro de um sistema interligado de indústrias (GIANNETTI; ALMEIDA, 2006).
A PmL também pode ser integrada a outras ferramentas e mecanismos de gestão
ambiental empresarial, tais como Sistema de Gestão Ambiental SGA, Análise de Ciclo de
Vida – ACV, e Rotulagem Ambiental, entre outras.
Em um SGA, o qual, segundo Moreira (2006, p. 87) “visa controlar sistematicamente
o desempenho ambiental de uma empresa e promover sua melhoria contínua”, bem como
deve ter o compromisso com a prevenção da poluição (ABNT, 2004, b), a PmL pode ser uma
ferramenta utilizada para seu planejamento (inserção no texto da política ambiental, na forma
de se buscar a prevenção da poluição, avaliação de aspectos e impactos, estabelecimento de
objetivos, metas e programas) e operacionalização (implementação, monitoramento e
avaliação). Destaca-se também, na interação com seus stakeholders, uma empresa que
implementou um SGA estruturado pela ISO 14001 pode exigir ou apoiar a implementação de
programas de PmL, por exemplo em fornecedores.
A Avaliação do Ciclo de Vida entendida como um processo objetivo para avaliar os
impactos ao meio ambiente e a saúde, associado a um produto, processo, serviço ou outra
71
atividade econômica, em todo o seu ciclo de vida. Ao longo prazo, a ACV pode direcionar as
mudanças tecnológicas fundamentais na produção e nos produtos, em parte devido ao efeito
multiplicador ao longo da cadeia produção, inclusive no uso otimizado de energia e de
materiais, através do uso de processos de reciclagem e de reuso (CALDEIRA-PIRES ET AL,
2005). Assim, nestas ações a PmL pode ser aplicada de forma pontual ou interligada em cada
fase de um ACV, conforme já exposto.
E relação ao Ecodesign que consiste “em um processo de desenvolvimento de
produtos que leva em conta o completo ciclo de vida de um produto e considera os aspectos
ambientais em todos os estágios” (GLAVIC; LUKMAN, 2007) e “por abordar aspectos como
gestão do meio ambiente, disposição do produto após seu ciclo de vida útil, prevenção da
poluição, gestão de rejeitos, etc. (GOUVINHAS; COSTA, 2005, p. 246), princípios da
Produção mais Limpa podem ser utilizados principalmente, visando à eliminação da geração
de poluentes ao longo do ciclo ou em etapas da cadeia. Pode-se pensar também, na eliminação
da toxicidade dos materiais, na escolha de combustíveis, e em facilitar a logística reversa.
Finalmente, a rotulagem ambiental é um mecanismo de comunicação com o mercado
consumidor sobre os aspectos ambientais do produto ou serviço com o objetivo de diferenciá-
lo da concorrência (LEMOS; BARROS, 2006). Assim, rótulos de tipo II, auto-declaração,
podem ser desenvolvidos após a implementação da PmL como, por exemplo, na prestação de
um serviço ou para produto, que após a implementação de um programa de PmL, reduziu
consumo de energia ou a geração de resíduos.
2.4.3 Barreiras à Produção mais Limpa
É essencial que no processo de implementação de um programa de Produção mais
Limpa, as barreiras que surgem sejam superadas. Para tanto, é recomendado que sejam
identificadas as possíveis barreiras no inicio e durante a implementação do programa. A
UNEP (d) apresenta uma classificação das barreiras em Financeira, Econômica, Política,
Organizacional, Técnica e Conceitual, conforme observa-se no Quadro 2.10 (p. 72).
De uma forma geral foi observado na literatura que as principais barreiras estão
associadas a fatores econômicos tanto relacionado à ausência de políticas públicas de
incentivos a implementação de PmL, quanto à ausência de recursos das empresas; falhas
organizacionais e falhas na participação da equipe de implementação. De acordo com
Figueiredo (2004), em seu trabalho em micro e pequenas empresas dos setores de construção
civil, alimentos (polpa de frutas e panificação), indústria de móveis e lava-jato do Estado de
72
Sergipe, a falta de recurso financeiro é uma das barreiras mais representativas para o sucesso
da implementação de PmL, apesar de não se tratar de quantias elevadas. Ainda, o
comportamento e educação das pessoas envolvidas na organização foram outras barreiras
encontradas.
A questão financeira também é apontada por outros autores, no caso: prestadoras de
serviços para indústria petrolífera (CAMPOS; RABELO; SANTOS, 2005) e em Micro e
Pequenas indústria têxteis do Rio Grande do Norte (MOURA ET AL, 2005).
Classificação Descrição das Barreiras
Financeira
- Alto custo de capital externo para investimentos na indústria;
- Falta de mecanismos de financiamento apropriados para produção mais
limpa (esquemas de empréstimos);
- Percepção que investimentos em PmL representam um alto risco devido a
natureza inovadora da PmL;
- PmL não avaliada adequadamente pelos fornecedores de créditos nos seus
procedimento de avaliação para empréstimos, participação igualitária, etc.
Econômica
- Investimentos em PmL não são custos suficientemente eficazes comparado
com outras oportunidades;
- Imaturidade dos cálculos de custo interno e práticas de alocação de custos
das organizações;
- Imaturidade nos orçamentos internos e procedimentos de alocação de
capital.
Política
- Foco insuficiente da PmL no meio ambiente, tecnologia, desenvolvimento e
estratégias da indústria e comércio;
- Imaturidade da estrutura da política ambiental (incluindo falta da aplicação).
Organizacional
- Falta de liderança nos assuntos ambientais;
- Percepção da gestão de risco relacionado com a PmL (por exemplo, não
existe incentivos para os gestores colocar seus esforços na implementação da
PmL;
- Imaturidade na função da gestão ambiental nas operações da organização;
- Imaturidade da estrutura organizacional, gestão e sistema de informação da
organização;
- Experiência limitada de trabalhadores envolvidos e projetos
Técnica
- Ausência de uma base operacional sólida (com práticas de produção bem
estabelecidas e esquemas de produção);
- Complexidade da PmL (por exemplo, necessidade de avaliações
compressivas para identificar oportunidades de PmL);
- Acesso limitado de equipamentos de apoio para PmL (Por exemplo,
pequenos equipamentos de alta qualidade para processar instrumentação;
- Acesso limitado de informações técnicas confiáveis adaptadas as
necessidades e capacidade assimilativa das organizações
Conceitual
- Indiferença: percepção relacionada com o próprio papel na contribuição da
melhoria ambiental;
- Interpretação limitada ou equivocada conceito da PmL;
- Resistência para mudanças.
Quadro 2.10: Barreiras de Implementação da Produção mais Limpa.
Fonte: (UNEP, d)
73
No estudo de Pimenta e Gouvinhas (2005) sobre identificação de oportunidades de
PmL em uma indústria moveleira em Natal-RN, as principais barreiras encontradas na
implementação de PmL consistiram: concentração de poder de decisão - o dono da empresa
também exercia os cargos de diretor executivo e gerente de produção, assim, todas as decisões
eram tomadas por ele, o que gerava também falta de liderança e iniciativa pelos funcionários;
sistema de gerenciamento inadequado ou ineficiente, com planejamento efetuado em uma
base diária; Falta de sistemas para promoção e capacitação profissional.
para Pereira (2003), as dificuldades observadas na implementação da PmL, em uma
indústria de cerâmica em Recife foram: dificuldade da equipe de implementação em assimilar
os conceitos e a metodologia da PmL; dificuldade de envolvimento efetivo da direção da
empresa com a proposta do trabalho; dificuldades para obtenção dos equipamentos de
medição e dificuldade da equipe de implementação para executar as medições.
Segundo Araujo (2002), em sua pesquisa no setor da construção civil em
Florianópolis, as principais barreiras encontradas referem-se à resistência dos funcionários
terceirizados para realização das medições em campo. Apesar de ter sido realizada uma
explicação dos objetivos do trabalho para os funcionários terceirizados, estes sentiam-se
constrangidos em serem analisados, pois entendiam que o trabalho era uma crítica ao serviço
por eles prestado.
De forma geral, Masera et al (2004) apresentam algumas barreiras encontradas para
disseminação da Produção mais Limpa na América Latina e Caribe: burocracia excessiva para
acesso aos recursos materiais ou financeiros que venham a subsidiar ações ou projetos de
PmL; pouca interação entre a iniciativa privada e universidades, centros de pesquisas, para o
desenvolvimento conjunto de ações de PmL; conhecimento e conscientização ainda incipiente
sobre PmL entre os colaboradores de entidades públicas ou privadas; número ainda reduzido
de cursos acessíveis para capacitação de pessoal em PmL; poucos trabalhos de pesquisa
científica com foco em PmL, tanto na área governamental, como na iniciativa privada;
existência de poucos projetos pilotos ou demonstrativos de PmL, no contexto da realidade
local dos países ou regiões, junto às atividades com impacto ambiental significativo; baixa
capacidade de investimentos das organizações, dificultando o acesso a tecnologias limpas,
sobretudo nas MPE´s;
No estudo de Shi, Peng e Zhong (2007), as principais barreiras encontradas em micro
e pequenas empresas no contexto da Ásia foram: a falta de conscientização, educação e
formação sobre PmL; fatores econômicos e financeiros; falta de profissionais capacitados para
74
implementação; problemas organizacionais (falta de coordenação e falta de infra-estruturas,
falha no controle de registros, gerencia centralizadora).
Na Nova Zelândia, foram observadas as seguintes barreiras: falta de suporte interno a
membros da equipe; comunicação interna insuficiente; falta de envolvimento dos outros
funcionários, que não são integrantes da equipe do projeto; falta de habilidade dos membros
da equipe de implementação em superar as barreiras organizacionais e políticas (STONE,
2006).
Em Zimbábue, foi averiguado que devido à situação econômica do país, muitas MPE´s
focavam ganhos a curto prazo. Destaca-se que a intervenção governamental nas empresas
para busca da adequação ambiental era bastante incipiente e contraditória, uma vez que era
mais barato poluir e pagar impostos em vez de se buscar a melhoria do desempenho
ambiental. Desta forma, estes fatores externos, além da dificuldade financeira das empresas e
assistência técnica limitada para implementação de programas de PmL, consistiam as
principais barreiras naquele país (CICCOZZI; CHECKENYA; RODRIGUEZ, 2003).
De forma geral, o que se observa é a existência de uma grande relutância para a prática
da PmL. Os maiores obstáculos ocorrem em função da resistência à mudança; da concepção
errônea (falta de informação sobre a técnica e a importância dada ao ambiente natural); a não
existência de políticas nacionais que dêem suporte às atividades de Produção mais Limpa;
barreiras econômicas (alocação incorreta dos custos ambientais e investimentos) e barreiras
referentes ao Papel da equipe de implantação.
2.4.4 A Produção mais Limpa no Brasil e no Rio Grande do Norte
Em julho de 1995, foi instalado no Brasil a primeira rede de informação em PmL da
América do Sul. O CNTL foi hospedado pelo sistema da Confederação Nacional das
Indústrias (CNI), no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) do Rio Grande
do Sul. Este centro passou a difundir práticas de PmL auxiliando as empresas a realizar
projetos de prevenção da poluição, capacitando pessoal, difundindo informações e
estabelecendo mecanismos de cooperação (CNTL, 2003, a).
Em 1996, criaram-se demonstrações práticas em sites industriais, implantando
programas de técnicas de Produção mais Limpa. Para este ensaio participaram 11 empresas
dos setores metal-mecânico, agro-industrial e químico. As empresas implementaram
oportunidades como: redução de emissão na fonte; técnicas de monitoramento de emissões,
75
efluentes e resíduos; treinamento e implementação de procedimentos e instruções de trabalhos
específicos, entre outros. Os investimentos realizados pelas empresas que participaram do
programa foram de aproximadamente R$ 245 mil, com um benefício econômico de R$ 490
mil ao ano. A disseminação dos resultados foi concretizada através de um seminário realizado
em dezembro de 1997, quando foram reunidas as comunidades tecnológicas, científicas e
empresariais dos setores, bem como o corpo técnico envolvido no programa (ANDRES,
2001).
Em 1999, o SEBRAE Nacional, o CEBDS e o CNTL e outras instituições iniciaram o
primeiro projeto para implementação da Rede Brasileira de Produção Mais Limpa, formando
quatro Núcleos de Produção mais Limpa no Brasil, sediados nas Federações das Indústrias
dos Estados da Bahia, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Um dos focos da
Rede Brasileira de Produção Mais Limpa é promover o desenvolvimento sustentável nas
micro e pequenas empresas brasileiras, difundindo a metodologia de Produção mais Limpa,
como instrumentos para aumentar a competitividade, a inovação e a responsabilidade
ambiental no setor produtivo brasileiro. A metodologia da PmL adotada pela Rede Brasileira
foi adaptada do programa da UNIDO e da UNEP e da experiência da Consultoria Stenum, da
cidade de Graz, na Áustria, que desenvolveu o projeto Ecological Project for Integrated
Environmental Technologies ECOPROFIT
13
. Atualmente, a Rede está integrada pelo
CNTL, sediado no Rio Grande do Sul, por sete Núcleos estaduais (Minas Gerais, Bahia, Santa
Catarina, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco) e onze Núcleos Regionais do
SEBRAE (Distrito Federal, Amazônia, Amapá, Mato Grosso do Sul, Pará, Espírito Santo,
Alagoas, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Piauí e Sergipe). Esta rede que completou uma
década de atuação no Brasil implementou a Produção Mais Limpa em mais de 300 empresas,
proporcionando melhorias no desempenho ambiental e ganhos econômicos (COELHO, 2004;
SEBRAE, 2005; CALIA; GUERRINI, 2006).
O governo brasileiro aderiu em 2003 a Declaração Internacional de Produção mais
Limpa compartilhando, assim, a responsabilidade do Governo com ões para a melhoria do
13
Ferramenta que investiga o processo de produção e as demais atividades de uma empresa e estuda-os do ponto
de vista da utilização de materiais e energia, tendo como principal característica a participação da alta direção e
da área de recursos humanos da empresa. A aplicação desta ferramenta na cidade de Graz uma redução na fonte
de 108 mil MWh de energia, 7 milhões de m
3
de água, 6,5 milhões de m3 de efluentes, 4,1 mil toneladas de
resíduos perigosos e 10 mil toneladas de resíduos o perigosos. O modelo ECOPROFIT foi patenteado e é
replicado em cidades da Europa, Ásia, África e Américas (COELHO, 2004; CALIA; GUERRINI, 2006).
76
ambiente global e práticas de produção e consumo sustentáveis. Com o objetivo de promover
a Rede Brasileira de Produção mais Limpa e Ecoeficiência, como instrumento de gestão
ambiental e modernização do setor produtivo, foi instituído por meio de Portaria (nº 454 de 28
de novembro de 2003) do Ministério do Meio Ambiente – MMA, o Comitê Gestor de
Produção mais Limpa CGPL. Compete ao Comitê acompanhar as ões de Gestão
Ambiental e Produção mais Limpa implementadas no âmbito dos Ministérios participantes,
sugerindo ações e atividades para os diferentes órgãos do governo e instituições, considerando
o desenvolvimento sustentável e a saúde ambiental, entre outros. O MMA juntamente com
órgãos estaduais de meio ambiente estão promovendo a articulação com instituições do setor
público, privado e do terceiro setor, visando à sensibilização, organização e
institucionalização de “Fóruns Estaduais de Produção mais Limpa”, com a perspectiva de que
no futuro esses possam se integrar a uma rede nacional (ARAÚJO, 2006).
No Rio Grande do Norte, o CNTL/SENAI-RS, em 2003, em parceria com o
SEBRAE-RN, formou a turma de consultores em PmL. O resultado final culminou na
aplicação da metodologia em seis empresas do Estado. De acordo com dados do Núcleo
Potiguar de Econegócios, nestas seis empresas, os investimentos necessários para
implementação do programa foram pouco mais de R$ 21.000 e o retorno ultrapassou R$ 150
mil, em um horizonte de um ano. Os benefícios ambientais traduzem-se em otimização do uso
de materiais, redução do consumo de água e minimização do risco de contaminação,
conforme observa-se na tabela abaixo:
Tabela 2.2 – Implementação da PmL no Estado do RN em 2003/2004.
Setor Aplicado
Investimento
(R$)
Benefício Bruto
(R$)
Benefício Ambiental
Indústria de Água
Mineral
505,00 40.374,00
Redução do consumo de água (17.294 m
3
)
e Redução no consumo de soda cáustica
(50%)
Indústria de
Panificação
1.030,00 1.082,85
Redução de risco de contaminação dos
produtos
Indústria de Abates de
Aves
1.990,00 45.014,00
Redução do consumo de água (3.695 m
3
)
e Recuperação do sangue (79.200 Kg)
Indústria de Laticínios 140,00 673,00
Redução do consumo de água (32%) e
Minimização do risco de contaminação
dos produtos
Indústria de Polpa de
Frutas
9.000,00 12.066,00
Redução do consumo de água (342 m
3
) e
Aproveitamento do composto orgânico
(60 t)
Indústria de Produtos
de Plásticos e Fibra de
Vidro
8.600,00 51.168,31
Melhor aproveitamento da resina e fibra
(7.098 Kg) e Redução na emissão de
solventes (3.648 L)
Total 21265,00 150.378,16 -
Fonte: Adaptado de (SEBRAE-RN, 2005).
77
No período de 2004/2005, um grupo de consultores formados e colaboradores através
do SEBRAE-RN, implementaram a PmL em 27 indústrias têxteis de Jardim de Piranhas
(MOURA ET AL, 2005). Quanto aos aspectos ambientais atrelados a esta atividade, vale
destacar: grande desperdício de matéria-prima; baixa produtividade, subutilização da mão de
obra; geração de resíduos sólidos. Dentre as etapas de maior potencial de geração observadas
nas empresas, estavam as etapas de tecelagem e corte do tecido, gerando um montante
significativo de pêlos (14,5 t/ano) e buchas (25,3 t/ano), o que representava um desperdício na
ordem de R$ 94.332,23 e R$ 164.988,01 por ano, respectivamente, perfazendo um total de R$
259.320,24 por ano (originam-se: a de fiação, dos fios que o foram tecidos; e a de
tecelagem: são das sobras de fio, não aprovadas na produção), e retalhos (Originam-se do
corte). As medidas implementadas, as quais tiveram um investimento de R$ 18.400, foram:
Realização da uma limpeza simplificada nos teares, e de todo o piso (vassouras de pêlo)
da área de tecelagem diariamente, ao final do expediente, garantindo um ambiente de trabalho
limpo e agradável;
Controle da lubrificação simplificada dos teares, diariamente;
Realização de uma lubrificação completa em todo o tear, sempre que se terminar a
barcada, logo após a limpeza;
Implantação de alguns programas de boas práticas no manuseio, lubrificação aos tecelões;
Aquisição de compressores/ aspiradores (Tipo: 140 lbs / pol- 2 cilindros reservatório
100lts – Motor 2 HP), para realizar a limpeza dos teares diariamente.
Vale destacar também no período de 2004/2005, uma intervenção de PmL na indústria
moveleira de pequeno porte, efetuada por Pimenta e Gouvinhas (2005). Foi observado que
uma das etapas com aspectos críticos era desenvolvida na cabine de pintura que tinha como
aspectos ambientais significativos o consumo excessivo de substâncias químicas, geração de
resíduos sólidos perigosos e vazamento (o qual espalhava poeiras químicas para toda área de
produção). Nesse estudo, vale mencionar outros problemas estruturais, desestruturação do
arranjo físico, re-trabalho em algumas peças produzidas, movimentações longas, culminando
em elevado lead-time, entre outros. Nesse contexto, foram implementadas as seguintes ações:
controle de aspectos ergonômicos e padronização da dosagem de substâncias químicas;
manejo adequado de Substâncias químicas (Figura 2.13, p. 78); uso de Pistolas de 40 Lbs;
aquisição de substâncias químicas em maiores volumes, adaptação da cabine de pintura
(Isolamento, as paredes foram pintadas de branco para otimizar a iluminação). Essas medidas
levaram a indústria, a redução na ordem de 15% do consumo de substâncias químicas e 20%
78
de resíduos perigosos, além de reduzir os riscos de comprometimento da saúde do
trabalhador. Merece ser destacado a implementação do adensamento da produção em um
único galpão, através de um arranjo do tipo celular (Figura 2.14). Antes da implantação da
PmL a empresa tinha três galpões, com quinas distribuídas ineficientemente, acarretando
em elevados tempos de movimentação. Com a medida, estoques excessivos de matéria-prima
também foram eliminados, além da redução do tempo de movimentação. Observa-se, assim,
ganhos de produtividade, e um aspecto social positivo, o galpão desinstalado passou a ser
utilizado como uma quadra de futebol, gerando envolvimento da comunidade e também
renda, através do aluguel desta.
Figura 2.13 – Medida de boas práticas adotada no manejo de substâncias químicas.
Fonte: (PIMENTA; GOUVINHAS, 2005).
[
Figura 2.14 Medidas de produção mais limpa implementadas em uma indústria moveleira. 1 Área do
Galpão Desinstalado (ao centro estoque de madeira) (Situação “antes”), 2 Armazém de madeira, estoque
mínimo (Just in time), 3 Quadra de Futsal instalada no galpão desativado (2 e 3 “depois”). Fonte:
(PIMENTA; GOUVINHAS, 2005).
O Quadro 2.11 (p. 79) apresenta os resultados da implementação da PmL pelo
SEBRAE-RN em empresas do RN no período de 2005 a 2007. Pelos resultados, nota-se que
as consultorias do SEBRAE-RN levaram as empresas a uma redução do consumo de recursos,
79
diminuição de desperdícios, redução de riscos, corroborando com os benefícios apontados
nesta revisão de literatura. Destaca-se que os recursos financeiros que viabilizaram essas
ações no Estado do RN foram oriundos do próprio SEBRAE, junto com Programa de Apoio
ao Desenvolvimento Tecnológico de Micro e Pequenas Empresas do RN PROTEC do
Governo Estadual e uma contra partida das empresas.
Setor / Total de empresas / Local /
Ano
Resultados
Setor: Indústria Têxtil
Total de empresas: 1
Cidade: Serra Negra do Norte
Ano: 2005
- implantação programa 5s
- melhoria das condições do trabalho, processo, segurança do
trabalho;
- Capacitação mão de obra;
- Diminuir os riscos de acidentes.
Setor: Construção Civil
Total de empresas: 5
Cidade: Mossoró
Ano: 2005
- diminuição de desperdícios;
- melhoria mão de obra.
Setor: Beneficiamento de coco
Total de empresas: 1
Cidade: São José Mipibu
Ano: 2005
- Reaproveitamento dos resíduos;
- diminuição de desperdícios;
- melhoria mão de obra.
Setor: Oficinas auto-mecânicas
Total de empresas: 23
Cidades: Mossoró (5) e Natal (18),
Caicó (5)
Ano: 2005/2006/2007
- implantação de procedimento de limpeza e organização
- instalação de bacia de contenção na área de armazenamento de
óleo usado;
- tratamento de efluentes de lavagem de peças e veículos;
- Melhoria das condições de trabalho.
Setor: Hospital Público
Total de empresas: 2
Cidades: Caicó (1) e Parelhas (1)
Ano: 2006/2007
- diminuição de desperdícios;
- implementação do programa 5´s;
- implementação de um programa de gerenciamento de resíduos;
- economia no consumo de energia (12%);
- implantação de parâmetros de segurança.
Setor: Empresas fornecedoras de
bens e serviços para o setor petróleo
e gás (manutenção, usinagem e
extração e beneficiamento de cal)
Total de empresas: 5
Cidade: Alto do Rodrigues
Ano: 2006/2007
- implementação de coleta seletiva;
- diminuição de desperdícios;
- redução de impactos ambientais;
- implantação de piso de grade, onde o piso de alvenaria tenha
uma inclinação, para facilitar o escoamento de efluentes.
Setor: Fabricação de Instrumentos
musicais
Total de empresas: 1
Cidade: Natal
Ano: 2006/2007
- implementação de procedimentos de limpeza e organização;
- implementação de um sistema de exaustão do pó;
- implementação do programa 5´s;
- mudança de layout.
Quadro 2.11 – Resultados da implementação da PmL em empresas do RN no período de 2005/2007.
Fonte: (SEBRAE-RN, 2007).
80
2.4.5 Metodologia da Produção mais Limpa no Brasil e suas Limitações
Conforme exposto, a metodologia da PmL adotada pela Rede Brasileira de
Produção mais Limpa foi adaptada do programa da UNIDO e da UNEP e do ECOPROFIT. O
Quadro abaixo apresenta as etapas necessárias para implementação da PmL.
Etapas
Passos
etapa: planejamento e organização - obter o
comprometimento da gerência e do empresário e ficar
atento às barreiras que surgirão no decorrer da
implementação do programa.
Passo 1: obter comprometimento e
envolvimento da gerência;
Passo 2: definir as equipes do projeto;
Passo 3: evidenciar possíveis barreiras.
etapa: Diagnóstico definir as medidas
apropriadas para a PmL, é essencial, na maioria dos
casos, usar uma base de dados atualizada
Passo 4: identificar como a empresa está
organizada;
Passo 5: desenvolver os fluxos dos
processos;
Passo 6: selecionar as oportunidades de
PmL.
Etapa 3: Realização das medições e definição de
indicadores - abordar a importância da correta
identificação de todas as entradas e saídas vinculadas
a cada etapa, para posterior identificação dos gastos
vinculados aos seus processos, produtos ou serviços e
a realização de análise de viabilidade econômica das
oportunidades de PmL priorizadas, considerando os
instrumentos padrão de análise de projetos de
investimento.
Passo 7: realizar uma análise quantitativa
de entradas e saídas e criar indicadores;
Passo 8: efetuar a avaliação das causas
Etapa 4: Estudo de viabilidade técnica, econômica
e ambiental - Subsidiar de dados econômicos e
analisar a viabilidade das opções de PmL.
Passo 9: efetuar a avaliação técnica;
Passo 10: efetuar a avaliação econômica;
Passo 11: efetuar a avaliação ambiental.
Etapa 5: Implementação e plano de continuidade -
Implementar as opções de PML selecionadas e
assegurar atividades que mantenham a PML.
Passo 12: criar o plano de implementação;
Passo 13: monitorar e acompanhar a
implementação;
Passo 14: sustentar atividades de PmL.
Quadro 2.12 – Metodologias da PmL no Brasil.
Fonte: (SEBRAE, 2005)
Com base no Quadro acima, nota-se que as etapas da PmL segundo SEBRAE (2005)
estão estruturada no ciclo PDCA (do inglês Plan, do, check, act) (Figura 2.14, p. 81). O ciclo
PDCA segue as seguintes etapas: Planejar (Estabelecer os objetivos e processos necessários
para atingir os resultados em concordância com a política ambiental da organização);
Executar (Implementar os processos); Verificar (Monitorar e medir os processos em
conformidade com a política, objetivos, metas, requisitos legais e outros, e relatar os
resultados) e Agir (Agir para continuamente melhorar o desempenho do sistema da gestão)
(ABNT, 2004, b).
81
Segundo Moreira (2001), este ciclo pode ser utilizado tanto para manter um estágio
alcançado, impedindo o retorno para o patamar inferior, quanto para promover melhorias
significativas, mediante redefinição de metas ao longo do tempo.
Planejamento e
organização
Diagnóstico
Medições e
Indicadores
Estudo de
viabilidade
Implementação e
continuação
comprometimento e envolvimento da gerência
equipes de implementação do projeto
levantamento de barreiras
identificar como a empresa está organizada
fluxos dos processos
oportunidades de PmL
análise quantitativa de
entradas e saídas e criar indicadores
efetuar a avaliação das causas
avaliação técnica
avaliação econômica
avaliação ambiental
plano de implementação
monitorar e acompanhar a implementação
sustentar atividades de PmL
Figura 2.15 – Etapas da Produção mais Limpa de acordo com o modelo SEBRAE (2005).
Fonte: Autor
Em relação às limitações da metodologia PmL, destacam-se:
A questão social não é explicitamente trabalhada, não sendo feita uma avaliação concreta,
por exemplo, fatores como riscos ambientais para os funcionários ou mesmo forma de
quantificar monetariamente os ganhos cm qualidade de vida.
A metodologia não apresenta uma seqüência lógica ou procedimento ou método para
atender o nível redução na fonte através de modificações no produto, isto é, fazer práticas de
ecodesign.
Apesar de se relacionar com ACV, também não nenhuma seqüência lógica ou
procedimento para integrar estas ferramentas.
O plano de continuidade, apesar de ser uma das etapas, se não existir um
comprometimento da alta administração, não adiante esforço do ecotime, o programa tende a
ser interrompido.
82
Capítulo 3
[Metodologia da Pesquisa]
3.1 Caracterização da Pesquisa
A caracterização metodológica da pesquisa seguiu a classificação proposta por Silva e
Menezes (2001), os quais consideram quatro tipologias de classificação: quanto à natureza,
quanto à forma de abordagem, quanto aos objetivos e quanto aos procedimentos técnicos
adotados.
Em relação à natureza de uma pesquisa científica, o estudo se classifica como pesquisa
aplicada, a qual objetiva gerar conhecimentos para a aplicação prática dirigida à solução de
problemas específicos.
Quanto à forma de abordagem, o presente trabalho representa uma pesquisa
quantitativa uma vez que considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir
em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Na utilização da
Produção mais Limpa, o levantamento quantitativo das entradas e saídas e os indicadores se
enquadram nesta descrição, além de outros elementos que são mensuráveis.
No que se refere aos objetivos, o estudo classifica-se como exploratória devido ao
levantamento bibliográfico que visa proporcionar maior facilidade com o problema e
resultados parciais e, descritiva, já que visa a descrever relações entre variáveis. Destaca-se
também, pelo fato desta pesquisa analisar criticamente os dados obtidos, enquadrá-la como
pesquisa explicativa.
E finalmente, quanto aos procedimentos adotados, o estudo consiste em estudo de
caso, o qual se caracteriza como um tipo de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa
profundamente. Quando o estudo envolve dois ou mais sujeitos, duas ou mais instituições,
consiste em um estudo de casos múltiplos (GODOY, 1995).
83
Para Yin (1994) são exemplos de aplicações dos estudos de caso: explicar ligações
causais em intervenções ou situações da vida real que são complexas demais para tratamento
através de estratégias experimentais ou de levantamento de dados; descrever um contexto de
vida real no qual uma intervenção ocorreu; avaliar uma intervenção em curso e modificá-la
com base em um estudo de caso ilustrativo; explorar aquelas situações nas quais a intervenção
não tem clareza no conjunto de resultados.
3.2 Delimitação da Pesquisa – Empresas Estudadas
As unidades de análise escolhidas são as empresas listadas a seguir, as quais foram
selecionadas com base em critérios como acessibilidade e interesse das empresas em
participar do estudo, a saber:
- Indústria de Panificação
- Indústria têxtil – confecções e estamparia
- Concessionária de veículos
3.3 Procedimentos Metodológicos
Levando em conta a intenção de se utilizar o enfoque sistêmico como meio de
compreensão e discussão dos fenômenos aqui pesquisados, torna-se relevante o
estabelecimento de uma seqüência lógica desta pesquisa.
Desta forma, esta terceira e ultima seção da metodologia, traz os procedimentos
efetuados para pesquisa de campo e da analogia entre a implementação da PmL nas empresas
estudas (Quadro 3.1, p. 84).
84
Atividade Descrição Fonte da Coleta
Revisão
Bibliográfica
Descrição dos temas de Desenvolvimento
Sustentável e sua relação com o mundo
corporativo, da responsabilidade social e eficiência
ambiental nas empresas e da Produção Mais Limpa.
Tais temas foram pesquisados em
trabalhos realizados por diversos
pesquisadores e instituições
brasileiras e internacionais,
(ver Capítulo 2).
Definição do
Limite da
pesquisa
Escolha de três empresas situadas em Natal-RN,
dos setores de alimentos, têxtil e serviços.
- Acessibilidade;
- Interesse da empresa
Pesquisa de
Campo
A implementação da ferramenta PmL modelo
SEBRAE (2005) com algumas modificações,
ocorrida no período de julho/2005 a março de
2008.
As empresas constituintes das
unidades de análise.
Análise
Crítica dos
dados
Com base nas informações coletadas em cada
empresa, buscou-se efetuar uma análise crítica da
operacionalização da ferramenta objeto de estudo
em cada empresa, analisando a sua relação com a
sustentabilidade empresarial e os benefícios,
barreiras e limitações. Em seguida foi feito uma
análise comparativa entre as empresas e uma
análise critica em cima da metodologia PmL
(SEBRAE, 2005)
Dados coletados
(ver Capítulos 4 e 5)
Quadro 3.1 – Etapas da pesquisa.
3.3.1 Procedimentos da Pesquisa de campo
O presente trabalho procurou seguir a metodologia de PmL modelo SEBRAE (2005).
Para simplificar o processo foram estabelecidas as seguintes etapas: Planejamento;
Diagnóstico Operacional e Ambiental; Estudo de oportunidades; Implementação e
Monitoramento; Plano de continuidade e Avaliação, as quais serão descritas a seguir:
3.3.1.1 Planejamento
Esta etapa contemplou as seguintes etapas: Passo 1 obter comprometimento e
envolvimento da gerência; Passo 2 definir as equipes do projeto e passo 3 evidenciar
possíveis barreiras.
O empresário/direção deve está ciente de todo o programa, suas etapas e
principalmente da necessidade de tempo e recursos para um bom desenvolvimento do
programa e está totalmente comprometida com a realização das etapas. Assim, o
comprometimento e envolvimento da gerência foi feita através de uma reunião inicial, na qual
foram apresentados a metodologia de PmL, as vantagens e alguns casos de sucesso de
implementação do PmL. No momento da reunião inicial, também foi efetuado um
levantamento dos setores e atribuições (organograma funcional), levantamento de pendências
85
ambientais e programas ambientais e sociais existentes na empresa, levantamento de
problemas com desperdícios, geração de resíduos, efluentes.
Com base no conhecimento dos setores, também na reunião inicial, foi formado a
equipe de implementação ou ecotime, com o objetivo de desenvolver as atividades na
empresa, facilitando as ações, orientando com relação aos passos da metodologia e com
relação aos aspectos técnicos e de gestão. Buscou-se a formação de uma equipe
representativa, com funcionários de diferentes setores e com um considerável conhecimento
do setor e da empresa, além de critérios como organização e espírito de liderança.
O programa de sensibilização foi baseado em práticas de educação ambiental EA, a
qual consiste em processos por meio dos quais, o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do
meio ambiente, bem do uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e a
sustentabilidade (BRASIL, 1999).
Na formação do ecotime foi montado um programa de treinamento de 10 horas
contemplando os seguintes temas: Qualidade; Segurança do Trabalho e Produção mais Limpa,
além de assuntos inerentes aos aspectos ambientais significativos observados inicialmente na
empresa. Os treinamentos foram efetuados in company com auxílio de equipamentos
multimídia. Para cada tema, o ecotime ficou responsável em levantar problemas críticos e
possíveis melhorias, visando a facilitar o processo de identificação de oportunidades,
posteriormente. Também foram levantadas com o ecotime as possíveis barreiras no processo
de implantação e junto com eles, foi traçado metas e planos de superação das barreiras
identificadas. Assim, buscou-se aproximar os funcionários da preservação ambiental e PmL e
tornando o projeto não só da alta administração, mas também dos funcionários.
Nesta etapa, procurou-se também definir com a gerência e com o ecotime, após um
reconhecimento dos produtos, serviços, processos e etapas, um pré-escopo de atuação, isto é,
em qual setor/processo poderia ser efetuado o processo de implementação da PmL.
Com o comprometimento do empresário/direção e ecotime formado, pré-escopo
estabelecido, o próximo passo foi o levantamento das informações de ordem operacional e
ambiental, conforme descrição a seguir.
86
3.3.1.2 Diagnóstico Operacional e Ambiental
A segunda etapa da pesquisa de campo constituiu no desenvolvimento do Passo 4
identificar como a empresa está organizada; Passo 5 desenvolver os fluxos dos processos;
Passo 6 selecionar as oportunidades de PmL; Passo 7 realizar uma análise quantitativa de
entradas e saídas e criar indicadores e Passo 8 – efetuar a avaliação das causas da metodologia
modelo SEBRAE (2005).
Nesta etapa, junto com ecotime, o organograma foi novamente levantado e melhor
investigado, visando o levantamento de algumas informações referentes aos elementos
operacionais tais como equipamentos, materiais, mão de obra, entre outros, financeiros (e.g
gastos com água, energia, resíduos, salários, preço de matéria-prima, entre outros) e
ambientais (e.g licença ambiental, existência de programas, procedimentos ou mecanismos de
controle ambiental).
Em seguida, foi elaborado o fluxograma qualitativo do setor/processo/produto
delimitado na etapa anterior. O fluxograma consiste em um diagrama de entrada-saída que
determinam uma visão geral útil do contexto do processo e de oportunidades de
melhoramentos (SLACK, 2002). Desta forma, foram identificados todas as etapas, consumo
de materiais, água e energia, equipamentos, funcionários e geração de saídas (resíduos
sólidos, efluentes líquidos, ruídos, emissões atmosféricas, calor, vibração, odor, entre outros).
Quando foi possível fazer uma quantificação de todas as entradas e saídas, o fluxograma foi
do tipo quantitativo.
Ainda na fase do diagnóstico foi efetuada a avaliação de aspectos e impactos
ambientais, seguindo a metodologia do SEBRAE (2005). A ISO 14001:2004 define um
aspecto ambiental como um elemento das atividades ou produtos ou serviços de uma
organização que pode interagir com o meio ambiente. Um aspecto ambiental significativo é
aquele que tem ou pode ter um impacto ambiental significativo. um impacto ambiental é
definido pela norma supracitada como qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou
benéfica, que resulte, no todo ou em parte, dos aspectos ambientais da organização (ABNT,
2004, b). Assim, todos os aspectos de entrada e saída, identificados no fluxograma do
processo produtivo, podem gerar impactos ambientais manifestados em:
- Entradas: uso de recursos naturais
- Saídas: poluição das águas; poluição do solo e/ou águas subterrâneas; poluição do ar.
87
- Incômodo às partes interessadas: as partes interessadas são os indivíduos ou os grupos com
algum interesse nos aspectos ambientais das atividades, produtos e serviços da organização ou
afetados pelo desempenho ambiental de uma organização, tais como funcionários, vizinhos,
acionistas, seguradores, clientes e consumidores, órgão certificador e público em geral.
Em seguida, os impactos identificados foram examinados de acordo com os critérios
de severidade, abrangência, probabilidade, importância do impacto, requisitos legais e
medidas de controle, conforme descrição a seguir:
Severidade
A severidade que consiste no grau de intensidade do impacto, sendo avaliada em cima
dos aspectos de entrada (matérias-primas e materiais auxiliares) (Tabela 3.1) e aspectos de
saída (Tabela 3.2):
Tabela 3.1 – Classificação do nível de severidade para aspectos de entrada.
Consumo/mês
Peso para Produto
perigoso
Peso para Produto
não perigoso
Até 30% do consumo total 2 1
31 a 60% do consumo total 3 2
61 a 100 % do consumo total 4 3
Fonte: Adaptado de (SEBRAE, 2005).
Tabela 3.2 – Classificação do nível de severidade para aspectos de saída.
Nível Descrição Peso
Baixa
Eventos que afetam o meio ambiente, mas que por meio de ação imediata o
potencial dano pode ser remediado.
1
Média
Eventos que atingem o meio ambiente, mas que por meio de ação imediata com
a disponibilização de recursos e/ou apoio, remedia o potencial dano.
2
Alta
Eventos que tem a potencialidade de causar danos significativos ao meio
ambiente.
3
Fonte: (SEBRAE, 2005).
Abrangência
Este critério consiste em uma escala referente à abrangência física do impacto
ambiental causado pelo aspecto das atividades, produtos e serviços em análise. A sua análise é
baseada na tabela abaixo, avaliando se o impacto restringe-se ao setor, à empresa ou extrapola
para comunidade.
Tabela 3.3 – Classificação do grau de severidade do impacto ambiental.
Nível Descrição Peso
Setor de trabalho
Restrito aos limites do setor de trabalho
1
Interno à empresa
Restrito aos limites da empresa
3
Externo a Empresa
Atinge áreas além dos limites da empresa. Atinge toda a comunidade
5
Fonte: Adaptado de (SEBRAE, 2005).
88
Probabilidade de Ocorrência
A probabilidade de ocorrência consiste na freqüência de ocorrência do aspecto
associado ao impacto em análise, sendo classificada em três veis, conforme, observa-se a
seguir:
Tabela 3.4 – Classificação do nível de probabilidade do impacto ambiental.
Nível Descrição Peso
Baixa O aspecto ocorre esporadicamente, sem regularidade. 1
Média O aspecto ocorre freqüentemente (semanal, quinzenal, mensal). É planejado. 2
Alta O aspecto ocorre continuamente, ininterruptamente. 3
Fonte: Adaptado de (SEBRAE, 2005).
Importância do Impacto
A importância do impacto é definida com o somatório da severidade e abrangência
multiplicado pela probabilidade, conforme equação abaixo:
I = (Sv + Ab)
.
P (Eq. 3.1)
Onde:
I
= Importância do Impacto
Sv = Severidade
P = Probabilidade
Requisitos Legais
Neste critério, verifica-se se o aspecto ambiental está relacionado a um ou mais
requisitos legais, como: políticas ambientais ou diretrizes ambientais corporativas; legislação
ambiental (federal, estadual ou municipal); normas técnicas; condicionante da licença de
instalação/operação e do Alvará Sanitário; normas regulamentadoras do trabalho NRs; e
partes interessadas.
O critério neste caso consiste na aplicação ou o dos requisitos, conforme observa-se
a seguir:
Tabela 3.5 – Avaliação de requisitos legais.
Requisito legal relacionado ao aspecto em análise Peso
Não 0
Sim 5
Fonte: Adaptado de (SEBRAE, 2005).
Medidas de Controle
As medidas de controle são ações existentes na empresa com o objetivo de evitar ou
minimizar o impacto, por meio do controle do aspecto impactante. Podem ser procedimentos,
instalações, equipamentos utilizados pela empresa que evitam ou controlam a poluição.
89
A avaliação consiste na observação da existência de medidas de controle e se estas são
eficazes ou atendem aos requisitos legais, conforme observado a seguir:
Tabela 3.6 – Avaliação das medidas de controle.
A empresa possui medida de controle Peso
Sim, é eficaz e/ou atende a legislação 0
Sim, mas NÃO é eficaz e/ou NÃO atende a legislação 4
Não 5
Fonte: Adaptado de (SEBRAE, 2005).
Resultado
O resultado será fornecido pelo somatório do valor encontrado nos itens “importância
do impacto”, “requisito legal” e “medida de controle”, conforme equação abaixo
:
R = I + Rl + Mc (Eq. 3.2)
Onde:
R
= Resultado
I
= Importância do Impacto
Rl = Requisito Legal
P = Medida de Controle
Com base na avaliação de aspectos e impactos ambientais que apontou os aspectos
significativos, bem como frente às evidências de desperdícios com base em informações
visuais e/ou qualitativas e/ou descritivas (relatos do ecotime) e com um debate com o
empresário juntamente com o ecotime foram escolhidas as etapas/operações/setor que teriam
as entradas e saídas quantificadas. Em seguida foram definidos os indicadores
14
de
desempenho para avaliação da situação encontrada e posteriormente, comparar com a situação
após a implementação. Exemplos de tais indicadores serão descritos mais detalhadamente
para cada caso apresentado no Capitulo 4 desta dissertação.
Para auxiliar os levantamentos foram utilizados equipamentos auxiliares como
balança, cronômetro, decibelímetro, medidores de tensão elétrica e máquina fotográfica
digital.
14
Entendem-se, por indicadores, expressões quantitativas ou qualitativas que fornecem informações sobre
determinadas variáveis e suas inter-relações. Destaca-se que estes não espelham a qualidade dos temas em sua
totalidade, mas indiretamente servem de referência para abordá-los e tratá-los em seus aspectos mais sensíveis
(SEBRAE, 2005). Sua utilização na metodologia PmL objetiva comparar a situação encontrada em cima de um
aspecto ambiental um característica operacional (e.g tempo da atividade, produtos fabricados) com a proposta de
oportunidade de melhoria.
90
Nesta etapa também foi efetuada uma observação em cima de riscos ambientais,
ergonômicos e mecânicos ao funcionário, e uso de equipamentos de proteção individual ou
coletivo. Os riscos ambientais são aqueles causados por agentes físicos, químicos ou
biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza,
concentração, intensidade ou tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do
trabalhador. Os Riscos Ergonômicos são aqueles relacionados com fatores fisiológicos e
psicológicos inerentes à execução das atividades profissionais. Estes fatores podem produzir
alterações no organismo e estado emocional dos trabalhadores, comprometendo a sua saúde,
segurança e produtividade (e.g. movimentos repetitivos, levantamento e transporte manual de
pesos, esforço físico intenso, postura inadequada, etc.). os riscos mecânicos são quaisquer
circunstâncias ou comportamentos que provoquem alteração da rotina normal de trabalho
(PRESSER, 2007).
3.3.1.3 Estudo de Viabilidade das Oportunidades, Implementação e Monitoramento
Esta etapa da pesquisa de campo contemplou os seguintes passos da metodologia da
PmL (SEBRAE, 2005): Passo 9 efetuar a avaliação técnica; Passo 10 efetuar a avaliação
econômica; Passo 11 efetuar a avaliação ambiental; Passo 12 implementação e Passo 13 –
monitorar e acompanhar a implementação.
No estudo de levantamento de oportunidade de melhoria, foram apresentadas soluções
detalhadas para os problemas evidenciados no diagnóstico, dentro dos níveis de PmL
apresentados na Figura 2.12 (p. 69).
Para cada solução foi analisado o grau de impacto da sua implementação frente aos
benefícios ambientais, técnicos e financeiros. Nos benéficos ambientais foram utilizados os
indicadores ambientais traçados no diagnóstico para projetar um cenário da situação antes
(isto é, situação encontrada ao momento da pesquisa) e depois (situação proposta ou
implementada – com base em estimativas ou no monitoramento).
Na avaliação técnica, foram contemplados fatores inerentes à produção e à
responsabilidade social, tais como ganho de produtividade, redução do tempo de
movimentações, redução de riscos aos funcionários e comunidade, ganho de qualidade de
vida, entre outros.
Por fim, na avaliação financeira, para o levantamento dos custos associados aos
desperdícios foi utilizado o todo de custeio por absorção, o qual é derivado da aplicação
91
dos princípios contábeis geralmente aceitos e é, no Brasil, adotado pela legislação comercial e
pela legislação fiscal (HERNANDEZ PEREZ JÚNIOR, 2003).
Nesse método de custeio, todos os custos de produção (fixos ou variáveis) são rateados
em cada fase da produção. Logo, os custos de produção são absorvidos quando forem
atribuídos a um produto ou unidade de produção de tal forma que cada unidade ou produto
receberá sua parte no custo até que o valor aplicado seja totalmente absorvido pelo custo do
produto vendido (Aramayo, 2005). Os critérios utilizados na análise de viabilidade financeira
foram: valor presente Líquido – VPL (da situação encontrada e proposta, comprando as
alternativas) e pay-back (ou seja, o tempo de retorno do investimento). Também foi utilizado
o Valor Futuro a partir de séries uniformes aplicado as receitas oriundas do beneficio na
implementação da oportunidade de melhoria.
O todo do VPL é calculado através da diferença entre o valor presente dos
benefícios ou receitas (fluxos positivos) e o valor presente dos pagamentos ou despesas
(fluxos negativos), utilizando também uma taxa mínima atratividade ou aceitável - TMA
(Equação 3.3) (ARAMAYO, 2005). A TMA é a taxa de juros mínima que uma proposta de
investimento deverá produzir para ser atrativa. Desta forma, foi utilizado a TMA equivalente
a 1,0% ao mês. Esta taxa foi definida considerando o valor utilizado na poupança praticada no
Brasil. O horizonte de tempo para efeito de cálculos foi projetado para um ano (12 meses).
Não foram considerados fatores como inflação e depreciação de equipamentos.
=
+
=
n
t
t
t
k
F
VPL
0
)1(
(Eq. 3.3)
Onde:
F
t
= Fluxos previstos de receitas (entradas) ou despesas (saídas) no período "t" (0 <= t <= n)
n = Número de períodos de análise
k = Taxa Mínima Aceitável (TMA)
Também foi utilizado o método do Valor Futuro a partir de séries uniformes aplicadas
as receitas oriundas do beneficio na implementação da oportunidade de melhoria.
Desta forma, o todo do Valor Futuro a partir de séries uniformes consiste no valor
das séries uniforme oriundas da diferença entre o valor dos benefícios ou receitas (fluxos
positivos) e o valor presente dos pagamentos ou despesas (fluxos negativos), multiplicado por
um determinado valor de juros (Equação 3.4, p. 92) (MASAKAZU, 2003; ARAMAYO,
2005). Este método foi aplicado, não com o objetivo de comparar alternativas, mas sim, de se
92
projetar no final de um ano (12 meses), quanto seria acumulado com a economia da receita
gerada com a implementação da oportunidade de melhoria.
=
+
=
n
t
t
t
k
kA
VT
0
)1(
(Eq. 3.4)
Onde:
A
t
= Anuidade (mensalidade) prevista de receitas (entradas) ou despesas (saídas) no período "t" (0 <= t
<= n)
n = Número de períodos de análise
k = Taxa Mínima Aceitável (TMA)
O cálculo do prazo de recuperação ou simplesmente pay-back consiste no tempo
necessário para recuperar o capital investido (Equação 3.5) (ARAMAYO, 2005). Neste foi
utilizado o um horizonte de planejamento de 12 meses.
0
)1(
0
=
+
=
n
t
t
t
r
F
(Eq. 3.5)
Onde:
F
t
= Fluxos previstos de receitas (entradas) ou despesas (saídas) no período "t" (0 <= t <= n)
r = Taxa Mínima Aceitável (TMA)
n’ = Prazo de recuperação (pay-back)
Quando aprovada a oportunidade de melhoria pelo empresário, a medida foi
implementada e monitorada para análise através dos indicadores.
3.3.1.4 Plano de Continuidade
Esta etapa contemplou o Passo 14 sustentar atividades de PmL. Assim, as
oportunidades de melhoria não implementadas até o momento de intervenção na empresa
foram repassadas para um plano de continuidade, onde o empresário se comprometia a
implementar de médio a curto prazo. Neste plano, também foram sugeridas outras
oportunidades, sendo necessário, em alguns deles, todo o inicio da metodologia, isto é, a
começar pelo comprometimento d empresário/direção.
Neste processo, o empresário foi sensibilizado mais uma vez sobre a importância da
continuidade do programa. O plano foi repassado para o ecotime, o qual também foi
sensibilizado sobre a importância da continuidade do programa.
3.3.1.5 Avaliação do Programa
Por fim, foi realizada uma visita nas empresas para avaliar a continuidade das ações
93
Implantadas e se as medidas previstas no plano de continuidade ou outras medidas foram
implementadas.
A Figura 3.1 apresenta um esquema associando as etapas da pesquisa de campo e seus
produtos.
Comprometimento
empresário/direção
Formação do ecotime
Definição do
pré-escopo
Fluxograma Qualitativo
Avaliação de Aspectos e
Impactos Ambientais
Definição do Foco de
Avaliação (Escopo)
Avaliação Quantitativa
etapa/setor
Investigação das Causas
dos desperdícios
Estudo de Viabilidade
das Oportunidades
Implementação
Monitoramento
Plano de Continuidade
Recursos Necessários
Levantamento de barreiras
oportunidades iniciais
Setor / processo / produto
Visualização de todos os recursos consumidos,
desperdicíos e poluição gerada
Planejamento
Defnição dos aspectos ambientais
significativos
Definição do escopo e
Indicadores para avaliação
Balanço de massa da etapa/processo
selecionado
Motivos e Custos Associados
aos Desperdícios
Estudo Técnico, Econômico e
Ambiental
Diagnóstico Operacional e Ambiental
Estudo de Viabilidade, Implementação e Monitoramento
Plano de Continuidade
Avaliação do Programa
Figura 3.1 – Etapas da pesquisa de campo.
3.3.2. Procedimento de Analogia entre as Empresas Estudadas
Com base na discussão dos resultados foi efetuada uma comparação entre as empresas,
contemplando os seguintes temas: grau de participação do empresário e ecotime; veis de
oportunidade nas medidas implementadas; ganhos (ambiental, social e econômico) e barreiras
na implementação. Esta analise encontra-se na seção 4.4 (p. 141).
94
Capítulo 4
[Resultados e Discussão]
O presente capítulo trata da apresentação e análise dos resultados da implementação da
Produção mais Limpa obtidos nas empresas componentes do presente estudo.
4.1 Indústria de Alimentos – Setor de Panificação
4.1.1 Descrição da Empresa e Planejamento
A empresa componente do primeiro estudo de caso, agora denominada Empresa 1,
classifica-se como uma empresa de pequeno porte
15
e pertence ao setor de panificação e
confeitaria. Operando no mercado local desde 1998, a Empresa oferece mais de 80 produtos
de panificação, pastelaria e confeitaria e uma produção diária de aproximadamente 6.000
pães.
A Empresa 1 possui 30 funcionários distribuídos em três setores: administrativo
(Financeiro, aquisição de matérias, vendas e gestão de recursos humanos), produção
(panificadora, pastelaria e confeitaria) e vendas (frente de loja). Não foi identificado um setor
de meio ambiente ou um profissional responsável pelos temas relacionados aos requisitos
ambientais, como licenciamento e controle ambiental.
A empresa estava regularizada na Vigilância Sanitária Municipal, isto é, estava
operando com o alvará sanitário válido. Entretanto, operava sem a devida licença ambiental,
exigida em Natal pelo Código de Meio Ambiente (Lei 4.100/92) e Código de Obras (Lei
complementar nº 055/2005).
A empresa tinha uma consultoria de um psicólogo que atuava no recrutamento eões
motivacionais para o desenvolvimento das atribuições dos funcionários. Os responsáveis pela
15
Empresa de pequeno porte: 20 de funcionários 99, Médio: 100 de funcionários 399 (SEBRAE,
2005)
95
elaboração de produtos (padeiro, confeiteiro e pasteleiro) estavam sempre participando de
cursos de capacitação e aprimoramento junto ao SENAI.
O projeto teve inicio em julho de 2005 e foi finalizado em setembro do mesmo ano. A
demanda surgiu por interesse do empresário, o qual relatava elevados desperdícios na
produção, principalmente na padaria. Assim, o setor apontado pelo mesmo para o
desenvolvimento das ações foi à panificação. Além disso, o foco principal do estudo foi na
produção do o francês, em virtude de ser o produto com maior produção, mas com a
possibilidade de se fazer outras observações nos demais setores.
O processo de comprometimento foi efetuado no momento da apresentação da
metodologia do projeto, no qual também foram mostrados os benefícios, barreiras e recursos
necessários para o desenvolvimento das ações.
O setor de panificação possuía três funcionários, sendo um padeiro e dois assistentes,
todos com uma jornada de trabalho de 44 horas semanais. Devido à presença de poucos
funcionários no setor, o ecotime foi constituído por estes funcionários. Destaca-se que todos
tinham como nível de escolaridade, o ensino fundamental incompleto.
No processo de formação, os temas trabalhados foram: cuidados sanitários com os
alimentos, programa 5´s e PmL, perfazendo um total de 8 horas de treinamento. Os recursos
utilizados foram vídeos, dinâmicas e exposição oral com uso de multimídia. Durante os
treinamentos e implementação do programa, as barreiras foram levantadas e discutidas com o
ecotime, sendo elas:
Barreira Descrição Forma de Superação
Falta de comprometimento
do ecotime
- Inicialmente, os dados apresentados eram
inconsistentes;
- Acordos não cumpridos;
- Falta de iniciativa de repasse para outros
setores.
- Acompanhamento de
todos os levantamentos
quantitativos;
- Reuniões com
ecotime.
Falta de recursos financeiros
- A alegação de falta de recursos
inviabilizou a aquisição dos
acondicionadores do programa de coleta
seletiva.
Barreira não superada
Quadro 4.1 – Barreiras encontrada durante o projeto.
4.1.2 Diagnóstico Operacional e Ambiental
No setor de panificação existiam aproximadamente cinco tipos de massas: salgada,
doce, semi-doce, integral e as massas especiais. O pão francês, principal produto, era derivado
da massa salgada, a qual era processada a partir da mistura de água com os seguintes
96
ingredientes: farinha de trigo comum, farinha pré-mescla, sal, açúcar, melhorador, manteiga e
fermento. A Tabela abaixo apresenta uma estimativa do consumo desses materiais.
Tabela 4.1 – Estimativa do consumo de materiais na Empresa 1.
Consumo (Kg)*
Materiais
Mensal Anual
Farinha tipo Pré-Mescla 1005,26 12063,07
Farinha do tipo Tradicional 1338,67 16064,02
Fermento 14,05 168,63
Sal 28,77 345,29
Açúcar 15,06 180,68
Melhorador 20,08 240,90
Manteiga 43,33 519,94
Total 2465,21 29582,52
* Julho/2005.
A produção do pão francês era feita diariamente de acordo com a seguinte demanda:
de segunda a quinta-feira, eram processados em média 65 quilos de farinha por dia
(tradicional e a com pré-mescla, tendo 50% para cada), com 1 lote de 5Kg e 4 lotes de 15Kg
de farinha; na sexta-feira, eram processados 50 quilos (1 Lote de 5 Kg e 3 de 15 Kg) e no
sábado e domingo 35 quilos de farinha (1 Lote de 5 Kg e 2 de 15 Kg). Essa diminuição
ocorria pela queda na movimentação de clientes na proximidade do fim da semana.
O Processo de fabricação do pão francês era composto pelas seguintes etapas:
Separação e pesagem dos ingredientes; Mistura; Desenvolvimento; Divisão; Modelagem,
Fermentação e Forneamento.
Na etapa de separação e pesagem dos ingredientes, todo o material era pesado
seguindo uma receita padrão. O local de armazenamento destes materiais consistia em um
almoxarifado coberto e com piso impermeável, ventilado e sem umidade. Como ponto crítico
observado, esta etapa apresentava um considerável tempo de separação e pesagem de
ingredientes. Também foi observada a geração de resíduos de embalagens de materiais.
Na fase de mistura (Figura 4.1, p. 98), os ingredientes separados e pesados eram
lançados na batedeira, com o objetivo de misturar todos os ingredientes com a água (oriunda
da rede pública de abastecimento), formando uma massa homogênea. Este processo mecânico
permitia a incorporação de ar na massa e a oxidação da mesma, ocorrendo o branqueamento e
formação da rede de glúten. Como conseqüência, se desencadeava a quebra das ligações até
que o glúten fosse desenvolvido. A batedeira tinha capacidade para processar 40 Kg e
apresentava uma potência elétrica de 7 cv. Na utilização deste equipamento, foi observado
97
que havia uma grande variação do tempo de batida (de 5 a9 minutos representando uma
variação na ordem de 45%, para a mesma quantidade de massa 15 Kg). Outro fator crítico
inicialmente observado foi a falta de um controle na dosagem da água acrescida junto aos
ingredientes. A recomendação do fabricante das farinhas era que houvesse uma mistura de
52% em relação à água (e.g. ao se colocar 10 Kg de farinha deve ser colocado 5,2 Kg de
água
16
).
No cilindro (com 6 cv de potência), ocorria um complemento do desenvolvimento do
Glúten. Nesta etapa, também foram observados os tempos de batida para o mesmo lote com
variação entre 2 e 3,5 minutos.
Em seguida, a massa processada era dividida para se obter pequenas quantidades de 50
gramas, com tamanho e volume iguais, para posterior modelagem. Nesta etapa, era utilizado
o equipamento de uso manual, denominado de divisora.
Após a divisão, as massas são modeladas na modeladora (0,37 Kw de potência -
Figura 4.1, p. 98), no intuito de obter a massa no formato final do pão francês. Depois de
modelado, os pedaços de massa modelada e ainda crua de pão eram colocados em bandejas e,
em seguidas, na cabine de fermentação para posteriormente ser efetuada a queima. Nesta
etapa, todos os lotes são processados intermitentemente, perfazendo um total de 32 minutos
em média.
A fermentação era processada em câmaras específicas, com um tempo médio de 4
horas. O objetivo desta etapa era propiciar um ambiente favorável ao crescimento da massa e
possibilitar a formação do sabor e aroma do pão.
O Forneamento consistia na última etapa do processo de produção. A etapa tem como
objetivo fazer com que a massa cozinhe e tenha a crosta formada, com sua coloração
característica. Vale destacar que o forno da organização em estudo é do tipo elétrico, com
quatro câmaras de queima, com 7 cv de potência, cada. Cada fornada leva aproximadamente
15 minutos.
16
A densidade absoluta da água é igual a 1000 g cm
-3
.
98
Figura 4.1 – Área de produção. Na figura à esquerda, têm-se a Batedeira o e Cilindro. Já na figura à direita,
têm-se a modelagem e uma fermentação. (jul. 2005).
A Figura 4.2 (p. 99) apresenta o fluxograma quantitativo do processo produtivo
referente a produção a 2000 pães do tipo francês. Devido à delimitação do escopo, a
disponibilidade do ecotime e o acompanhamento, e ainda pelo próprio porte do setor
investigado, foi possível efetuar um levantamento quantitativo das entradas e saídas de cada
etapa do processo, obtendo assim, um fluxograma quantitativo.
99
SEPARAÇÃO E PESAGEM
DOS INGREDIENTES
MISTURA
DESENVOLVIMENTO
NO CILINDRO
DIVISÃO
MODELAGEM
FERMENTAÇÃO
FORNEAMENTO
DISTRIBUIÇÃO
PARA ATENDIMENTO
1
2
3
4
5
6
7
8
CONSUMO DE ENERGIA
ELÉTRICA
KWH
2,75
KWH
1,0
KWH
3,0
KWH
25,5
CONSUMO DE ÁGUA
Fonte: CAERN
Lavagem diária do
setor de produção
CONSUMO DE MATERIAS
Fermento Kg
0,42
Sal Kg
0,9
LANÇAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS
Tratamento: Não evidenciado
Destino Final: Rede Pública
Água L=Kg
32,0
Farinha
(Kg)
0,03
Massa
Pronta (Kg)
0,1
Óleo (Kg)
0,15
Embalagem de
Plástico (Kg)
0,02
Sacos de
ráfia (Kg)
0,42
Farinha
(Kg)
0,02
GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Coleta: Terceiros
Destino Final: Reciclagem
GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Coleta: URBANA
Destino Final: Aterro Sanitário
LEGENDA
Setas de Aspectos Ambientais de Entrada
CONSUMO DE MATERIAIS
CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA
CONSUMO DE ÁGUA
Setas de Fluxo de Processo Produtivo
LANÇAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS
GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Farinha (Kg)
0,33
103,67 Kg de
massa processada
Setas de Aspectos Ambientais de Saída
23,0
Açúcar Kg
0,45
Melhorador Kg
0,9
Manteiga Kg
1,0
Farinha
Pré-mescla Kg
45,0
Farinha
Tradicional Kg
Figura 4.2 – Fluxograma quantitativo da Empresa 1.
100
Com base no fluxograma foi feito a avaliação de aspectos e impactos ambientais
(Apêndice A, p.167). Pelos resultados obtidos, os aspectos ambientais mais significativos
foram: consumo de energia elétrica da batedeira, modeladora e fornos, consumo de água e
geração de resíduos de embalagens. Estes aspectos apresentaram evidências de desperdícios
os quais serão comentados a seguir:
Em relação ao consumo de água, a dosagem era feita de forma aleatória, sem nenhuma
mensuração. O padeiro quando julgava que a água chegou ao ponto ideal de mistura com os
outros ingredientes, suspendia o fornecimento. Nesse sentido, foi feito uma investigação,
levantando a quantidade de farinha inserida, a vazão da torneira, e o tempo em que esta ficava
ligada. Desta forma, foi observado que o volume de água em relação à farinha era de 47%,
5% abaixo do recomendado. Este fato representava uma perda de 67 pães/dia. Em valores
monetários, com base custo da unidade de pão vendida, no final do mês eram perdidos R$
412,5 (ou seja, 1.650,00 pães eram deixados de ser fabricados, sendo 19.800 es no final do
ano). Usando o método do Valor Futuro a partir de séries uniformes (como descrito no
capitulo 3, metodologia, item 3.3.1.3, p. 90), considerando o valor mensal de R$ 412,50, no
final do ano o desperdício chegava a R$ 5.231,53. Neste caso, o indicador criado para análise
do problema foi a Quantidade de água por massa de farinha processada (Indicador 1).
Em relação à primeira etapa na separação de ingredientes, foi levantada a possibilidade
de se efetuar um teste de produção com a farinha pré-mescla, a qual por recomendações do
fabricante só era preciso à adição de água e fermento para a produção do pão francês. Frente a
esta possibilidade, levantou-se uma série de indagações:
trata-se da possibilidade da diminuição da geração de resíduos de embalagens?
é possível a diminuição do tempo de separação e passagem dos ingredientes?
há diminuição do esforço físico dos funcionários?
haverá alteração no custo de produção?
Com isso, o empresário autorizou que se fossem realizados dois dias de testes de
produção trabalhando com 100% de farinha do tipo pré-mescla. Os resultados serão
apresentados a seguir:
Com os testes, foi observado que a geração de resíduos diminuiu em aproximadamente
35%. O processo que a empresa vinha operando gerava 25,3 Kg por mês de embalagens de
materiais, sendo eles, sacos de ráfia, baldes de manteiga, embalagens plásticas de sal, açúcar e
101
melhorador (destacando apenas do processo de fabricação do pão francês). No teste,
extrapolando para um mês foi observada uma geração de 16,5 Kg (Indicador 2 - Quantidade
de resíduos de embalagens gerados por mês).
Quanto ao tempo de separação, pesagem e alimentação da batedeira, foi observada
uma redução de mais de 70% do tempo. Antes a manipulação de todos os lotes de produção
era em torno de 15 minutos, passando agora para 4 minutos (Indicador 3 – Tempo de
manipulação de ingrediente por dia). Extrapolando para o final do mês, tem-se uma economia
de quase 6 horas, o que representa uma economia de aproximadamente R$ 50,00, baseado na
folha salarial da mão de obra envolvida no processo. Além disso, considerando o consumo de
energia elétrica, a economia de tempo com manipulação e os custos dos materiais, o custo do
quilo de massa pronta de pão francês passou de R$ 1,52 para R$ 1,46, com a mudança.
Extrapolando este valor para o final do mês, foi observada uma economia de R$ 117,00.
Usando o método do Valor Futuro a partir de séries uniformes, considerando o valor mensal
de R$ 117,00, no final do ano essa mudança acarreta em uma economia de R$ 1.483,85. Neste
caso, o indicador criado para análise do problema foi Custo por Quilo de massa (Indicador 4).
No tocante aos resultados do teste de fabricação, observou-se um melhor desempenho
na produção, com diminuição do tempo de produção, aumento da qualidade do produto,
diminuição da pressão sobre os funcionários.
Em relação ao consumo de energia, foi observada uma discrepância de tempos no uso
tanto na batedeira quanto no cilindro, atingindo-se uma diferença de mais de 40%, conforme
apresentado. Assim, para a produção diária de o francês eram consumidos na batedeira e
no cilindro 3,46 Kwh. Sendo que estabelecendo um tempo padrão com base nas dias de
cada lote de produção, pode-se chegar a um consumo de 2,68 Kwh, uma economia no final do
ano de 277 Kwh (22%). Em valores monetários, com base no consumo ativo presente na
conta de energia (agosto de 2005), chega-se a uma economia de pouco mais de 50 reais. O
consumo energético consistiu o Indicador 5.
No diagnóstico operacional e ambiental, não foi evidenciado pontos críticos
relacionados ao arranjo físico, estando os equipamentos em posições satisfatórias, com
movimentações mínimas, bem como aspectos de segurança e saúde ocupacional.
Outros pontos críticos fora do processo de fabricação do pão francês foram observados
na Empresa 1. Foi averiguado um desperdício do uso de leite condensado, o qual era
comprado em embalagens de tetra pack de 395 g. Os funcionários tinham o hábito de cortar
102
apenas um dos vértices da embalagem, fato esse que dificultava a retirada eficiente do
insumo, deixando aproximadamente 11% da massa contida na embalagem. Eram consumidas
20 embalagens por dia pela padaria (massa doce) e confeitaria durante cinco dias na semana.
Assim, foi observada uma perda por mês de mais de 18 Kg de leite condensado, o equivalente
a R$ 73,45. Usando o método do Valor Futuro a partir de séries uniformes, no final do ano
essa mudança acarreta em uma economia de R$ 931,52. Esse caso evidencia que a
utilização de recursos gera um volume significativo de resíduos.
Na empresa 1 como um todo foi observado que todos os setores eram geradores
potenciais de resíduos sólidos, sendo que muitos deles podem ser reaproveitados internamente
ou destinados a reciclagem externa. Assim, os resíduos de cada setor foram caracterizados,
estando na Tabela 4.2 (p. 103) uma estimativa da geração e a classificação dos resíduos
sólidos. Pelos resultados, nota-se uma geração total de 51 Kg de resíduos por dia, sendo todos,
Não Perigosos
17
, de acordo com a NBR 10004.
A Tabela 4.3 (p. 103) indica uma descrição geral dos resíduos, aglutinado em alguns
grupos, e a quantidade estimada diária, semanal, mensal e anual. Pelos resultados, observa-se
uma geração na ordem de 11 toneladas de resíduos por ano, sendo 78% desses, orgânicos e
tendo, 22% dos resíduos passíveis de serem destinado para reciclagem (0,9 tonelada por mês).
Diante desse fato, foi analisado a possibilidade de se implementar um programa de coleta
seletiva dentro da empresa 1.
17
Resíduos Classe II – Não Perigosos, conforme ABNT (2004, a), se classificam em:
- Resíduo Classe II A – Não Inertes: aqueles que não se enquadram nas classificações de resíduos Classe I –
perigosos ou Classe II B – inertes. Estes resíduos podem ter propriedades, tais como: biodegradabilidade,
combustibilidade ou solubilidade em água.
- Resíduo Classe II B – Inertes: Quaisquer resíduo que, quando amostrados de forma representativa, segundo a
norma NBR 10007 (Amostragem de resíduos sólidos), e submetidos a um contato dinâmico e estático com água
destilada ou desionizada, à temperatura ambiente, conforme ABNT NBR 10006 (Procedimentos para obtenção
de extrato solubilizado de resíduo sólido0, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a
concentrações superiores aos padrões de portabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e
sabor, conforme anexo G (Padrões para ensaio de solubilização).
103
Tabela 4.2 Quantificação e qualificação dos resíduos sólidos gerados pela Empresa 1.
Descrição
Quantidade
(Kg/dia)*
% Classificação Estado Sólido
Orgânico pastelaria 23,59 46,04
Classe II –A Sólido
Plásticos – Pastelaria (fino/embalagens) 0,87 1,69
Classe II –A Sólido
Plástico – embalagem de limpeza 0,07 0,13
Classe II –A Sólido
Embalagem de leite condensado 0,29 0,56
Classe II –A Sólido
Papelão Padaria 0,77 1,50
Classe II –A Sólido
Plástico contaminado com comida 0,25 0,48
Classe II –A Sólido
Plástico de mercadorias 0,33 0,63
Classe II –A Sólido
Papel de mercadorias 0,16 0,3
Classe II –A Sólido
Papelão de mercadorias 4,26 8,31
Classe II –A Sólido
Vidro 0,90 1,76
Classe II –B Sólido
Copos Descartáveis 0,11 0,21
Classe II –A Sólido
Plástico fino loja 0,17 0,33
Classe II –A Sólido
Latas de refrigerante 0,54 1,05
Classe II –A Sólido
Plástico de embalagens de suco 0,65 1,26
Classe II –A Sólido
Plástico sujo loja 0,72 1,41
Classe II –A Sólido
Orgânico loja 12,43 24,25
Classe II –A Sólido
Papel da Loja 0,45 0,88
Classe II –A Sólido
Orgânico – padaria 4,50 8,78
Classe II –A Sólido
Plásticos padaria 0,22 0,42
Classe II –A Sólido
Total 51,24 100
-
-
* ago. 2005.
Tabela 4.3 – Quantificação geral dos resíduos sólidos gerados pela Empresa 1.
Quantidade (Kg)
Descrição Geral
Dia Semana Mês Ano
%
Orgânico 40,52 170,18 731,79 8781,49 78,32
Plásticos 3,28 13,78 59,24 710,84 6,34
Papelão 3,27 13,73 59,05 708,57 6,32
Papel 0,61 2,56 11,02 132,20 1,18
Vidro 0,90 3,78 16,25 195,05 1,74
Latas de Refrigerante 0,54 2,27 9,75 117,03 1,04
Embalagem de Leite Condensado 0,29 1,22 5,24 62,85 0,56
Copos Descartáveis 0,11 0,46 1,99 23,84 0,21
Saco de ráfia 0,84 3,53 15,20 182,40 1,63
Embalagens de Manteiga 1,38 5,78 24,85 298,20 2,66
Total - 217,30 934,37 11.212,47
100,00
4.1.3 Estudo de Oportunidades, Implantação e Monitoramento
Frente aos resultados obtidos no diagnóstico operacional e ambiental, as oportunidades
vislumbradas serão apresentadas a seguir:
104
Em relação ao consumo de água foi proposta a compra de um balde graduado visando
a padronização das dosagens, e nele foram efetuadas demarcações para as dosagem de acordo
com os lotes de produção (5 e 15 Kg).
Foi também proposto o uso de 100% de farinha pré-mescla, eliminando os outros
ingredientes (sal, açúcar, manteiga e melhorador), facilitando assim, o processo produtivo,
que passará apenas a manipular: farinha, fermento e a água.
Em relação ao controle energético, foram fixados cartazes na batedeira e no cilindro,
mostrando o tempo padrão para os respectivos lotes: para 5 Kg (na batedeira 3,5 minutos e no
cilindro 2,0 minutos) e para 15 Kg (na batedeira 5 minutos e no cilindro 2,5 minutos).
Todas as proposta referente à produção do pão francês foram acatadas pelo ecotime e
empresário, sendo implementada de imediato.
Em relação ao uso de leite condensado foi proposto o corte recomendado pelo
fabricante, o qual permite a raspagem interna da caixa, otimizando o uso do material,
conforme observa-se na figura abaixo:
Figura 4.3 Corte adequado na embalagem de leite condensado.
(ago. 2005)
Quanto à questão dos resíduos recicláveis, foi feita uma proposta de implementar um
programa de segregação na fonte e destinação dos resíduos para a reciclagem externa. A
Tabela 4.4 (p. 105) apresenta a receita projetada com a comercialização dos resíduos
recicláveis, a Tabela 4.5 (p. 105) apresenta a descrição dos materiais necessários para
implantação e a Figura 4.4 (p. 106) a localização dos acondicionadores de resíduos na
empresa.
105
Tabela 4.4 Receitas projetadas com a destinação dos resíduos para a reciclagem externa.
Resíduos Recicláveis Quantidade Unidade
Valor
Comercial*
Unidade
Receita Projetada
(R$/mês)
Plásticos 59,24 Kg/mês 0,2 R$/Kg 11,85
Papelão 59,05
Kg/mês 0,08 R$/Kg 4,72
Papel 11,02
Kg/mês 0,15 R$/Kg 1,65
Vidro 16,25
Kg/mês 0,03 R$/Kg 0,49
Latas de Refrigerante 9,75
Kg/mês 1,5 R$/Kg 14,63
Copos Descartáveis 1,99
Kg/mês 0,20 R$/Kg 0,40
Saco de ráfia 80
Un/mês 0,20 R$/Un 16,00
Embalagens de
Manteiga
35 Un/mês 2,00 R$/Un 70,00
Total 119,74
* pesquisa efetuada junto a empresas de comercialização de recicláveis (Ago. 2005).
Tabela 4.5 Descrição por setor dos acondicionadores necessários para a segregação na fonte e destinação dos
resíduos para a reciclagem externa.
Setor Descrição do material
Quanti_
dade
Preço
(R$/un)
Investimento
(R$)
Recipiente de alumínio – orgânico
(Já existente)
01 0,0 0,0
Balde de 50 L – Resíduos Plásticos 01 20,0 20,0
Padaria
Recipiente plástico de manteiga
reaproveitamento – Outros resíduos
01 0,0 0,0
Recipiente de alumínio - orgânico 01 0,0 0,0
Balde de 50 L – Resíduos Plásticos 01 20,0 20,0
Pastelaria
Recipiente plástico de manteiga
reaproveitamento - Outros resíduos
01 0,0 0,0
Recipiente plástico de manteiga para resíduo
orgânico - Reaproveitamento
01 0,0 0,0
Balde de 50 L – Resíduos Plásticos 01 20,0 20,0
Confeitaria
Recipiente plástico de manteiga
reaproveitamento – Outros resíduos
01 0,0 0,0
Recipiente especial para papel 04 20,0 80,0
Administra
ção
Recipiente plástico de manteiga para outros
resíduos (Reaproveitamento)
0,2 0,0 0,0
Balde de 50 L c/ tampa – Orgânico 03 30,0 90,0
Balde de 50 L – Resíduos Plásticos 04 20 80,0
Recipiente plástico de manteiga para outros
resíduos (Reaproveitamento)
03 0,0 0,0
Recipiente plástico de manteiga para papel dos
caixas (Reaproveitamento)
03 0,0 0,0
Recipiente plástico de manteiga para outros
resíduos dos caixas (Reaproveitamento)
03 0,0 0,0
Loja
Coletor Especial para coleta seletiva 01 100,0* 100,0
Tambor 200 L (Já existente) 01 0,0 0,0 Armazena
mento
Bombonas 200 L (Já existente) 07 0,0 0,0
Total
410,0
* (Ago. 2005).
106
Figura 4.4 – Distribuição física dos coletores para resíduos sólidos.
Nas Tabelas 4.4 e 4.5 (ambas p. 107) serão apresentados, respectivamente, o estudo de
viabilidade e os indicadores da situação antes e com as modificações.
107
Tabela 4.6 – Análise de viabilidade das oportunidades na Empresa 1.
Receita
Gerada/Projetada
Análise Financeira
Aspecto Crítico
Solução
Investimento
(R$)
Mês
(R$)
Ano (VF)
(R$)
VPL
Encontrada
(R$)
VPL
Proposta (R$)
Pay-
back
(meses)
Benefícios
1
Uso incorreto da
água
Compra de balde e
treinamento
155,00 412,50 5.231,53 - 4642,72 + 4.487,72 0,37
-
Otimização do consumo de água
- Aumento da produção de pão
2
Substituição da
farinha
Uso de 100% de farinha
pré-mescla
0,00 117,00 1.483,85 -1.316,84 + 1.316,84 0,00
- Redução do tempo de manipulação
(70%)
- Redução da geração de resíduos
(35%)
3
Orientações tempo
de batida
Fixação de cartazes e
treinamento
5,00 50,00 634,13 - 562,75 + 557,75 0,1
- Redução do consumo de energia
elétrica (22%)
4
Uso correto de leite
condensado
Fixação de cartazes e
treinamento
5,00 73,45 931,52 -826,69 + 821,69 0,07
- Otimização do uso de recurso
- Diminuição da geração de resíduos
5
Geração de
resíduos sólidos
Implantação de um
programa de coleta
seletiva com
reaproveitamento,
visando a reciclagem
externa
410,00 119,74 1.518,60 - 1347,68 + 937,68 3,5
- Redução do envio de resíduos
recicláveis para o aterro sanitário
Total 575,00 772,69 9.799,63 -8696,68 8.121,68 - -
Tabela 4.7 – Indicadores utilizados para produção do pão francês (apenas das medidas implementadas e monitoradas).
Indicadores Unidade Situação encontrada Situação Modificada
1 Quantidade de água por massa de farinha processada % 47 52
2 Geração de Resíduos de embalagens por mês Kg/mês 25,3 16,5
3 Tempo de manipulação por dia Minutos/dia 15 4
4 Custo por Quilo de massa R$ 1,52 1,46
5
Consumo de energia elétrica batedeira e cilindro (produção de um
dia de pão francês)
Kwh 3,46 2,69
108
Pelos resultados, nota-se que as intervenções feitas em cima dos aspectos ambientais
significativos da produção do o francês trouxeram melhorias ambientais para a empresa
estudada, tais como redução do consumo de energia, otimização do consumo de água, redução
da geração de resíduos sólidos. Em relação aos aspectos financeiros, a implementação das
oportunidades (controle do uso de água na mistura, substituição da farinha, controle do uso de
energia e leite condensado) levou a uma economia total de aproximadamente R$ 579,50 por
mês, isto é, R$ 7.349,51 por ano (Soluções de 1 a 3, Tabela 4.6, p. 107), com baixos valores
de investimentos e um período de recuperação inferior a um mês. Analisando o VPL da
situação encontrada, observa-se que o custo dos desperdícios encontrados, em um horizonte
de um ano, era de R$ 6.522,31.
Frente aos indicadores, percebe-se com a implementação das oportunidades uma
otimização do consumo de água e matérias. Além disso, redução em 34% dos resíduos de
embalagens; 73% do tempo de manipulação de ingredientes e 22% do consumo de energia
elétrica nas etapas de mistura e desenvolvimento. Destaca-se também uma redução de 45% do
custo da massa de pão francês.
No tocante aos resultados, os pontos críticos observados estavam relacionados à
conduta dos funcionários frente à utilização dos recursos materiais, água e energia. Faltava
uma visão da necessidade do uso racional dos recursos e uma maior cobrança por parte da
administração, uma vez que no organograma funcional não havia o papel do gerente no setor.
A administração apenas ficava encarregada de emitir a ordem de produção e cobrar o seu
atendimento, bem como de comprar os materiais. Frente a estes fatos, os treinamentos foram
direcionados para superar esta situação. Assim, as oportunidades relacionadas ao uso do balde
para mensuração da água e fixação de cartazes para o uso adequado da batedeira e do cilindro
foram soluções dentro do nível de redução na fonte, modificação no processo e Housekeeping.
Esta questão também se aplica ao caso do uso do leite condensado. Por comodidade os
funcionários cortavam apenas o bico da embalagem e não espremiam completamente o
material. A perda por ano era equivalente a 554 caixas, isto é, 219 Kg de leite condensado
eram desperdiçados. Assim, seguindo a orientação do fabricante e com os treinamentos, a
utilização otimizada gerou uma economia de pouco mais de R$ 930 por ano.
Em relação à oportunidade de substituição de matéria-prima, essa trouxe benefícios
não mensuráveis tais como, minimização da pressão sob os funcionários sobre possibilidades
de erros e incertezas no ato das dosagens de ingredientes. Com uma dosagem simplificada
109
(farinha, fermento e água) esta pressão foi reduzida, principalmente no momento de ausência
do padeiro, o qual sempre era o responsável pela dosagem. Assim, o próprio auxiliar passou a
fazer esta operação sem contratempos. A farinha pré-mescla também proporcionou um ganho
de qualidade do produto, segundo relatos do padeiro.
Com a intervenção dos outros setores, principalmente para o estudo de coleta seletiva
houve uma internalização da preocupação ambiental por parte dos funcionários e alta
administração.
4.1.4 Plano de Continuidade
O plano de continuidade traçado para empresa 1 consistiu na implementação do
programa de coleta seletiva. Também foi especificado que o ecotime passasse a orientar os
outros setores em buscar o uso eficiente dos ingredientes, através de visitas quinzenais ao
outros setores e as reuniões mensais com todos os funcionários.
Outra ação foi a orientação do empresário sobre o licenciamento ambiental.
4.1.5 Avaliação do Programa na Empresa 1
As oportunidade vislumbradas na empresa 1 contemplaram os três veis de Produção
mais Limpa. No nível 1, isto é, redução na fonte, as oportunidades vislumbradas foram: a
substituição de matéria-prima (substituição de farinha), housekeeping, (controle no gasto
energético e de água). No nível 2, reciclagem interna, o reaproveitamento de embalagens de
manteiga como acondicionador de resíduo foi proposto para a implementação de um
programa de segregação na fonte geradora. Finalmente, no nível 3, com a proposta do
programa de segregação seria possível o encaminhamento de resíduos para reciclagem
externa.
Destaca-se que pela estrutura organizacional, foi observada a ausência de um maior
controle em cima do uso de materiais e de um controle de entrada e saídas no estoque. A falta
de consciência e atitudes dos funcionários da padaria, junto com a pressão na entrega dos
pedidos (demandas) acarretavam em um total descuido com o uso dos materiais, resultando
em desperdícios de materiais e conseqüente geração de resíduos. Desta forma, o projeto na
Empresa 1 teve sua relevância nas ações de educação ambiental, inicialmente desenvolvido
com o ecotime e depois repassado para os demais funcionários, gerando uma maior
sensibilização.
110
Após seis meses do programa implantado, a empresa foi visitada, sendo observados os
seguintes fatos:
- O uso da farinha pré-mescla continua sendo extrapolada para as outras massas (doce e semi-
doce);
- O programa de coleta seletiva não foi implementado na sua totalidade, apenas continuava
ainda a venda de baldes e sacos de ráfia;
- O uso do balde havia sido suspenso. Do ecotime montado no inicio do projeto, apenas o
padeiro continuava na empresa, tendo novos dois funcionários. Por desconhecimento desses
outros dois sobre a ferramenta do PmL, a cobrança mútua deixou de existir, acarretando na
atitude do padeiro em suspender o uso do balde. Após reuniões com a equipe e empresário, o
balde voltou a ser usado como anteriormente.
- A empresa passou a apoiar eventos na área ambiental: na semana o meio ambiente passou a
distribuir sementes da espécie “saboneteira” aos clientes.
- Todos os resultados de redução de desperdícios foram amplamente divulgados para
Associação dos Panificadores de Natal, em reuniões de assembléia e jornal, observando-se
relatos de que alguns panificadores começaram a adotar algumas medidas apresentadas.
De uma forma geral, foi observado que a utilização da ferramenta Produção mais
Limpa trouxe ganhos significativos dentro das vertentes econômica, ambiental e social.
Econômica pela redução do custo de produção do produto mais representativo, ambiental pela
minimização dos impactos ambientais e social pelo ganho de consciência e participação dos
funcionários na redução dos impactos da empresa.
4.2 Indústria Têxtil – Setor Confecções e Estamparia
4.2.1 Descrição da Empresa e Planejamento
A segunda empresa investigada nesta dissertação, agora denominada de Empresa 2,
situa-se em Natal-RN e atua no mercado têxtil da região desde 1995 com confecção e
estamparia. Sua jornada de trabalho é de 8 horas diárias, operando com 20 funcionários
diretos e 3 indiretos, distribuídos em 3 setores: Direção geral; Administrativo (finanças
comercial e atendimento) e Produção (design, corte e costura, estampa e acabamento).
111
A principal operação consiste na confecção de camisetas básicas em algodão,
Poliéster, dry, e piquê com uma capacidade de produção de 400 camisas estampadas por dia.
Foi observada uma demanda constante de camisas durante todo o ano e que a cartela de
clientes da empresa era muito extensa. Além disso, a empresa confecciona peças individuais e
modelos infantis, principalmente referentes aos temas atuais da moda. A Tabela 4.8 apresenta
uma estimativa referente a capacidade de produção da empresa:
Tabela 4.8 – Estimativa da produção da Empresa 2.
Produção (Unidades)*
Descrição
Mês Ano
Camisetas básicas promocionais. >5000 60000
Uniformes (empresas) 2000 24000
Uniformes (colegiais) 1500 18000
* (Abr. 2007).
Na Empresa 2 não foi observado um setor ou profissional responsável pela área
ambiental. Além disso, a empresa operava sem a devida licença ambiental.
O projeto teve inicio em abril de 2007 e foi finalizado em agosto do mesmo ano. A
demanda surgiu por interesse do empresário. O processo de comprometimento foi efetuado no
momento da apresentação da metodologia do projeto, no qual também foram mostrados os
benefícios, as barreiras e os recursos necessários para o desenvolvimento das ações. Destaca-
se que o foco da investigação não foi definido em cima de um único produto, devido à
diversidade da cartela da empresa, mas foi efetuado em cima de uma análise global através de
observações in loco e relatos do ecotime a ser formado.
Assim, no processo de formação do ecotime buscou-se uma equipe representativa dos
diversos setores, sendo adotados os critérios de assiduidade no trabalho, pontualidade,
organização e espírito de liderança. Dentro deste perfil, o ecotime foi indicado pelo
empresário.
A atividade seguinte foi o desenvolvimento de uma reunião com o ecotime, na qual foi
apresentado a metodologia, os objetivos e as atribuições do ecotime, além de ter sido montado
um cronograma de treinamento. No processo de formação, os temas trabalhados foram: o
programa 5´s, a segurança do trabalho e a produção mais limpa, perfazendo um total de 8
horas de capacitação. Os recursos utilizados foram vídeos, dinâmicas e exposição oral com
uso de multimídia.
112
O ecotime formado foi composto por membros dos seguintes setores e formação
escolar: design (ensino médio); corte (médio incompleto); estamparia (médio incompleto);
costura (médio completo); acabamento (médio completo) e administrativo (superior
completo).
Em seguida, foi desenvolvida uma atividade com todos os funcionários abordando
questões como problemas ambientais, qualidade no ambiente de trabalho, segurança e um
enfoque maior na Produção mais Limpa. Este evento foi de suma importância, uma vez que
iniciou-se um trabalho de integração do ecotime com os demais funcionários para a
identificação e proposição de oportunidades de melhoria de pontos críticos identificados.
Neste evento foi utilizado equipamento multimídia para apresentação de slides e vídeo e
desenvolvimento de dinâmicas, conforme observa-se Figura 4.5.
Figura 4.5 – Atividades de sensibilização com funcionários. (Abr. 2007).
Em relação às barreiras encontradas destaca-se a dificuldade de coletar informações no
inicio da pesquisa em virtude do temor de alguns dos funcionários. A falta de interesse por
parte dos funcionários foi outra barreira considerável, visto que alguns afirmaram que não
adiantaria tentar fazer nada, que as oportunidades de melhoria não iriam mudar em nada
trabalho e salário”. Buscou-se superar estas barreiras com diálogos em relação aos benefícios
do programa e a responsabilidade de cada frente ao uso racional de materiais. Todos os dados
quantitativos foram efetuados com acompanhamento ao ecotime.
4.2.2 Diagnóstico Operacional e Ambiental
O processo produtivo da empresa consiste em sete etapas, iniciando desde o
desenvolvimento da arte digital até a expedição.
113
Para a fabricação de um produto, o processo inicia-se na etapa de design de produto
com a utilização do software corel draw (Figura 4.6). Destaca-se que nesta etapa não foi
evidenciado nenhuma preocupação com as questões ambientais, por exemplo, a escolha do
tipo de tinta da estampa, de um tecido mais resistente, entre outros. Nesta etapa, os aspectos
ambientais observados foram consumo de energia elétrica para uso de computadores e
impressoras e ar condicionado e geração de resíduos sólidos. Em relação ao consumo de
energia elétrica, o ar condicionado do setor apresentava o rótulo da PROCEL de desempenho
energético do tipo “A”, que consiste em um rótulo de eficiência energética.
Figura 4.6 – Setor de design de produtos. (Abr. 2007).
A etapa posterior consiste na modelagem, na qual era efetuado o molde de papelão
para cada parte do produto. No caso de produtos já desenvolvidos, os moldes arquivados eram
reaproveitados (Figura 4.7). Observa-se nesta etapa, a geração de resíduos de papelão.
Figura 4.7 – Setor de desenvolvimento de produtos. (Abr. 2007).
114
Em seqüência, ocorre o processamento do corte do tecido, de acordo com o formato e
a quantidade de cada parte do produto. Nesta fase são utilizados: uma quina de corte
elétrico e os moldes de papelão, além do tecido. A empresa não utilizava nenhum programa
para efetuar um plano de corte, fazendo este de forma intuitiva. O enquadramento dos moldes
no tecido a ser cortado era efetuado de forma aleatória, de acordo com a conveniência do
operador (Figura 4.8). Estes fatos acarretavam em uma significativa perda de material, e
posterior geração de resíduos. Outro fator agravante nesta etapa era a ausência de
equipamentos de proteção individual pelo operador (luva metálica e protetor auricular), apesar
da exposição constante de ruídos (acima de 80 decibéis) e do risco de acidentes com o corte
de tecido. Após o corte das peças, o funcionário repassa para o setor de costura ou para o setor
de estamparia.
Figura 4.8 – Área do corte de tecido. (Abr. 2007).
No setor de estamparia, ocorre a fixação da estampa nas camisas que pode ser
desenhos, emblemas, logomarca ou frases. Esta operação ocorria com auxílio de placas de
estampagem, preparação e aplicação de pigmentos (tinta) e tratamento rmico (o qual ocorre
em uma placa metálica munida de uma resistência elétrica denominada de “berço”) para
acelerar a secagem da tinta (Figura 4.9, p. 115).
Os aspectos ambientais observados na estampagem foram: consumo de água (oriunda
da rede pública), consumo de energia elétrica, consumo de substâncias químicas para preparo
dos pigmentos, geração de resíduos sólidos e efluentes líquidos.
O consumo de água era proveniente da limpeza das placas de estampagem, a qual
ocasiona um consumo considerável de água e conseqüente geração de efluentes líquidos
(tratado em um tanque séptico e sumidouro). Estes aspectos ambientais estavam sendo
115
agravados pelo fato da torneira, que alimentava o setor, estava quebrada, e ainda na lavagem
não havia nenhum controle na pressão da água para potencializar o processo de limpeza
(Figura 4.10).
Figura 4.9 Processo de estampagem. 1 placa de
estampagem; 2 recipiente de aplicação pigmento e 3
berços. (Abr. 2007).
Figura 4.10 – Vazamento de água na lavagem de placas de
estampagem. (Abr. 2007).
Em relação ao consumo de energia elétrica foram observados indícios de desperdícios
no processo tratamento para secagem da estampa. Os berços estavam instalados em conjuntos
de 6 ou 12 berços por mesa (Total de mesa com 6 berços= 3; Total de mesas com 12 berços =
3, perfazendo um total de 54 berços, cada um com uma potência de 0,450 Kw). Entretanto, o
controle de fornecimento de energia era feito por mesa, isto é, ligando a mesa, todos os berços
eram acionados. A Figura 4.11 (p. 116) ilustra o desperdício de quando a mesa não era
totalmente preenchida com peças a serem estampadas. Além disso, os berços não utilizados
3
3
116
consistiam em pontos potenciais para acidentes por descuidos dos funcionários
(queimaduras).
Quanto ao consumo de substâncias químicas para elaboração dos pigmentos, também
foram evidenciados desperdícios significativos devido a falhas no manejo e armazenamento,
bem como descuido no uso por parte dos funcionários, ocasionando além da utilização de
um material químico, uma geração de resíduos sólidos (Figura 4.12). Destaca-se ainda, que os
funcionários não usavam nenhum tipo de EPI, como máscara com filtro e luvas para
manipulação das substâncias químicas, apesar da exposição de riscos químicos,
principalmente poeira e o contato direto.
Figura 4.11 Desperdício de energia elétrica na utilização dos
berços. Em destaque os berços sem uso apesar de estarem
ligados. (Abr. 2007).
Figura 4.12 – Desperdícios no uso de substâncias químicas. (Abr. 2007).
117
Diante destes fatos, observa-se que a estampagem consiste em um setor com vários
pontos críticos, os quais serão discutidos com mais ênfase em seguida.
Após a estampagem, as peças passam para o setor de costura, no qual é feito a inserção
de outras partes (como mangas, golas, bainha e etc.) dos produtos, acabamentos. Neste setor
foram observados os seguintes aspectos ambientais: consumo de materiais (aviamentos: linha,
botão, zíper, entre outros); consumo de energia elétrica pelas máquinas e geração de resíduos
sólidos (resto de linhas e fios que eram doados para comunidades carentes que trabalham com
confecção de artesanato). Neste setor, também foi evidenciado níveis de ruídos acima de 80
decibéis, além disso, as funcionárias não faziam uso de protetor auricular.
Finalizando, tem-se controle de qualidade e expedição, no qual, quando identificado
pequenos erros de costura, furos na malha ou mancha, os produtos voltam para efetuar as
possíveis correções. Os produtos aprovados são entregues posteriormente.
A Figura 4.13 (p. 118) apresenta o fluxograma qualitativo do processo produtivo, com
a identificação das entradas e saídas.
118
DESIGN
MODELAGEM
CORTE
ESTAMPAGEM
COSTURA
CONTROLE DE QUALIDADE
EXPEDIÇÃO
1
2
3
4
5
6
7
LANÇAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS
Tratamento: Não evidenciado
Destino Final: Rede Pública
GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Coleta: URBANA
Destino Final: Aterro Sanitário
LEGENDA
Setas de Aspectos Ambientais de Entrada
CONSUMO DE MATERIAIS
CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA
CONSUMO DE ÁGUA
Setas de Fluxo de Processo Produtivo
LANÇAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS
GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Setas de Aspectos Ambientais de Saída
CONSUMO DE ENERGIA
ELÉTRICA
CONSUMO DE MATERIAIS
Papel
Papelão
plástico, fios, tecido
Embalagens de
substâncias químicas
GERAÇÃO DE RUÍDO
Tecidos, papelão
e plástico
produto reprovado
GERAÇÃO DE RUÍDO
Papel e
Papelão
Tecido
Aviamento
CONSUMO DE ÁGUA
Fonte: CAERN
Substâncias
Químicas
Figura 4.13 – Fluxograma qualitativo da Empresa 2.
119
Com base no fluxograma foi efetuada a avaliação de aspectos e impactos, conforme
Apêndice B (p. 169). Pelos resultados, nota-se que os aspectos mais significativos foram:
consumo de tecidos e geração de resíduos na etapa de corte; consumo de água, energia e
substâncias químicas e geração de resíduos na etapa de estampagem.
Desta forma, em reunião com o ecotime e com o empresário, foi apontado como
prioridade para realização dos levantamentos quantitativos nos setores de corte e estampagem,
a fim de levantar as oportunidades de melhoria.
No setor de corte evidenciado, foi quantificado o consumo de tecido de algodão e
poliéster durante um dia. Estes dois tecidos foram escolhidos por serem os mais utilizados na
fabricação dos produtos da empresa 2, aproximadamente 70%. Pelos resultados apresentados
na Tabela 4.9, nota-se um desperdício médio de mais de 20% no consumo desses tecidos.
Estes materiais por não serem reaproveitados, ou ficavam ocupando espaço ou eram
destinados no aterro sanitário. Desta forma, eram desperdiçados cerca de 40 Kg de tecido por
dia, equivalente a 873,84 Kg por s, isto é, mais de 10 toneladas por ano (Figura 4.14). Em
valores monetários, a perda mensal chegava a R$ 18.030,54. Usando o método do Valor
Futuro a partir de séries uniformes, no final do ano o desperdício chegava a R$ 228.672,38.
Nesta investigação, foram adotados dois indicadores: Indicador 1 – eficiência média do uso de
poliéster e algodão e Indicador 2 – quantidade de resíduos gerados e dispostos em aterro.
Tabela 4.9 Consumo de matéria-prima (tecido algodão e poliéster) na Empresa 2.
Consumo (dia) Desperdício (dia)
Tecido
Kg R$* Eficiência
(%)
Kg R$
Poliéster 90,00 2115,00 77,87 19,92 468,12
Algodão 90,00 1597,50 78,00 19,80 351,45
Total 180,00 3712,50 - 39,72 819,57
* Base de preço: Ago. 2007.
Figura 4.14 – Desperdícios no corte de tecidos. (Abr. 2007).
120
No setor de estamparia, especificamente no setor de limpeza das placas de
estampagem, a utilização inadequada da água acarretava na geração de um maior volume de
efluentes líquidos. Como apresentado, duas eram as fontes deste desperdício: uma torneira
com vazamento e a falta de pressão na lavagem.
Em relação ao vazamento da torneira, levantando a vazão deste, e projetando para o
final do dia, foi observado que o desperdício era de 134 litros, ou seja, o equivalente a 4.000
litros no final do s. Este volume desperdiçado em valores monetários chagava à R$ 12,58
por mês (Base de cálculos em maio de 2007 conta de água). Usando o método do Valor
Futuro a partir de séries uniformes, esse desperdício no final do ano era de 159,55 reais.
O consumo de água referente às lavagens das telas foi calculado em cima da vazão da
torneira e o tempo de funcionamento da mesma para o processo de lavagem de cada placa, e
ainda descontando o volume do vazamento (134 L/dia). Desta forma, o consumo de água
observado por dia no setor era de 2.300 Litros. Destaca-se que este consumo era
potencializado devido à ausência de uma forma de efetuar uma pressão para otimizar a
lavagem das tintas (por exemplo, um regulador de pressão na ponta da mangueira ou ainda
um lavado elétrico pressurizado. Frente a esta análise, criou-se o terceiro indicador (Consumo
de água na lavagem de placas por dia).
Ainda no setor de estamparia, também foi observado um manejo inadequado de
substâncias químicas, principalmente na retirada do produto das embalagens e no
armazenamento destas. Frente à diversidade de cores, foi escolhida a pasta branca, que
representa 45% do consumo das substâncias, a qual tinha um consumo de 5 Kg. As sobras da
pasta nas embalagens ou nos recipientes de aplicação (Figura 4.12, p. 116) eram de
aproximadamente 8% do material utilizado, isto é, 0,4 Kg por dia, ou seja, 9 Kg por mês
(Tabela 4.10) (quase duas embalagens de pasta branca desperdiçadas mensalmente). Em
valores monetários, este desperdício mensal era equivalente a R$ 30,62. Usando o método do
Valor Futuro a partir de séries uniformes, esse desperdício no final do ano era de R$ 388,34
reais. Desta forma, o consumo de pasta branca formatou o quarto indicador.
Tabela 4.10 Consumo de Substâncias Química (Pasta branca) Empresa 2.
Consumo (dia) Desperdício (dia) Substância
química
Kg R$* Eficiência
(%)
Kg R$
Pasta Branca
5,00 17,4 92 0,4 30,62
* Base de preço: Ago. 2007.
121
Quanto ao consumo de energia elétrica pelos berços na etapa de estampagem, foi
observado uma perda significativa de energia elétrica devido a não utilização das mesas
dentro da capacidade. Conforme apresentado a empresa possui 3 mesas com 6 berços e 3
mesas com 12 berços. Entretanto, com base em um levantamento de uma semana, foi
averiguado uma eficiência no uso das mesas de 70% através da adoção de uma planilha de
controle de uso, pela qual também foi verificado o tempo médio de uso (2,5 horas). Assim,
com base na quantidade de berços, na potência de cada um e na freqüência e no tempo médio
de uso, foi contabilizado um consumo de 60,75 Kwh. Frente ao desperdício de 30%,
observou-se um desperdício de 18,22 kwh por dia, ou seja, 400,95 Kwh por s.
Monetariamente, com base no consumo ativo fornecido pela conta de energia do mês de maio
de 2007, o desperdício era equivalente a R$ 155, 97 por mês. Usando o método do Valor
Futuro a partir de séries uniformes, esse desperdício no final do ano era de R$ 1978,09.
4.2.3 Estudo de Oportunidades e Implantação e Monitoramento
Frente aos resultados do diagnóstico operacional e ambiental, as oportunidades
vislumbradas serão apresentadas a seguir:
Em relação ao corte, considerando o desperdício de material e conseqüente geração de
resíduos sólidos foram propostas duas alternativas. A primeira alternativa sugerida foi a
compra de um software de elaboração de plano de corte e um plotter para impressão do plano.
Para tanto, o investimento necessário era de R$ 90.172,00 (R$ 46.440,00 pelo software
acrescidos de R$ 43.732,00 pelo plotter) e o rendimento do plano de corte seria na ordem de
90%. Esta alternativa foi descartada pelo empresário, devido ao elevado investimento inicial.
Assim, a segunda alternativa partiu para o nível de housekeeping através de um
treinamento para máximo enquadramento manual dos moldes nos tecidos. Ainda gerando
retalhos, estes passariam por um procedimento de classificação para reaproveitamento interno
(principalmente para confecção de produtos infantis), e caso não sendo possível, seriam
destinados para venda a empresas de artesanatos (confecção de fuxicos coxas para cama,
toalhas de mesa e tapetes).
No treinamento, foi repassado a noção de áreas, figuras geométricas e aproveitamento
de espaço. Nesta ação, foi necessária a troca do funcionário do corte, devido à relutância e
falta de interesse, sendo este realocado para o setor de estamparia. Com o novo funcionário,
foi observado um aumento da eficiência do corte na ordem de 5%, passando com isso, para
82,87% a eficiência do corte do tecido do tipo poliéster e 83% a eficiência do corte do tecido
122
do tipo algodão (Figura 4.15). Desta forma, observou-se uma redução na geração de resíduos,
caindo para 30,74 Kg/dia.
Figura 4.15 – Otimização da aplicação dos moldes no corte de
tecido. (Jun. 2007).
Com o sistema de classificação (peças com uma área superior a 600 cm
2
, critério
definido em reunião com o funcionário do corte e ecotime), o material classificado como
retalhos para reaproveitamento era aproximadamente 55% do material gerado pelo corte. Os
retalhos sem possibilidade de reaproveitamento passaram a ser vendidos em um valor de R$
0,70 por quilo (base de preço: agosto de 2007). Com a venda dos retalhos não reaproveitados
internamente, aproximadamente 13,83 Kg/dia, seria possível uma receita de R$ 212,98 por
mês. A Figura 4.16 ilustra o material separado reaproveitado internamente e destinado para a
reciclagem externa.
Figura 4.16 – Prática de reciclagem interna (confecção de peças infantis) e externa (confecção de fuxicos).
(Jun. 2007).
Comparando as duas alternativas com a situação encontrada, nota-se que as duas
alternativas eram rentáveis (Tabela 4.11, p. 123). Entretanto, fazendo uma comparação entre
123
elas, mesmo sabendo do desinteresse do empresário pela primeira alternativa a curto prazo, a
alternativa 1, do ponto de vista econômico, técnico e ambiental, apresenta-se como a mais
vantajosa. Para se ter idéia, o período de retorno da alternativa 1 seria de 9,8 meses, isto é, em
menos de um ano o investimento já teria sido pago.
Tabela 4.11 Análise financeira de alternativas para eliminação de desperdícios do uso de tecido na Empresa 2.
Comparação
Alternativas
Investimento (R$)
Receita Projetada
(R$/mês)
Custo de Operação
(R$/mês)
VPL (R$)
Alternativa 1
90.172,00 9.863,04*
2
650*
4
+ 13.521,48
Alternativa 2
300,00*
1
4.296,73*
3
0,00 + 48.060,04
*
1
Custo referente à capacitação efetuada
*
2
Valor obtido pela diminuição do desperdício (Antes “em média” 22,06%, ver Tabela 4.9, p. 117, passando
para 10%, conforme proposta do fabricante).
*
3
Valor obtido pela diminuição do desperdício (Antes “em média” 22,06%, ver Tabela 4.9, p. 117, passando
para 17,06%, conforme resultado observado com as práticas de housekeeping na fixação dos moldes) acrescido
da receita da venda dos retalhos não reaproveitados.
*
4
Custo referente aos gastos com a impressão do plano de corte.
Na estamparia, as soluções propostas foram: aquisição e troca da torneira
(housekeeping); aquisição e instalação de um equipamento de lavagem pressurizado
(modificação tecnológica); adoção de um procedimento de manejo de substâncias químicas
(pasta branca) (housekeeping) e instalação de tomadas nos berços (modificação tecnológica).
A primeira proposta foi efetuada sem maiores dificuldades pelo baixo preço do
investimento (R$ 10,00). Assim, a aquisição e troca da torneira trouxeram uma economia de
mais de 48.000 litros de água o final do ano (Figura 4.17).
Figura 4.17 Figura comparativa da torneira de fornecimento de água no setor de estamparia. À direita nova
torneira instalada (Mai. 2007).
Quanto à aquisição do lavador pressurizado, esta medida foi implementada com a
utilização de um lavador que o empresário tinha na sua residência. Para efeito de cálculo de
viabilidade, foram considerados: o custo de aquisição do equipamento (R$ 250,00 valor de
124
aquisição em janeiro de 2007); a potência elétrica de 1,4 Kw (fornecida pelo fabricante); o
tempo médio de uso de 3 horas por dia; o custo do Kwh (especificado no consumo ativo
fornecido pela conta de energia do mês de maio de 2007); o consumo de 2300 L/dia pelo setor
e uma economia de 70% do consumo de água (fornecida pelo fabricante). Desta forma, a
Tabela 4.12 apresenta o cálculo do VPL para esta alternativa. Pelo resultado, nota-se uma
rentabilidade de R$ 596,94. A economia de água e conseqüente diminuição da geração de
efluentes líquidos industriais foram de aproximadamente, 1610 L/dia, equivalente a 35.420
L/mês, gerando uma economia mensal de R$ 111,22. O custo de operação do equipamento
projetado foi de R$ 35,97. Assim, a economia mensal oriunda da implementação desta
alternativa foi de R$ 75,25. Usando o todo do Valor Futuro a partir de séries uniformes, a
economia oriunda da eliminação do desperdício de água no final do ano era de R$ 954,36.
Tabela 4.12 Análise financeira de alternativas para eliminação de desperdícios do uso de água na Empresa 2.
Análise da Alternativa
Alternativa
Investimento
(R$)
Receita Projetada
(R$/mês)
Custo de Operação
(R$/mês)
VPL (R$)
Compra de um
lavador pressurizado
250,00 111,22 35,97 + 596,94
Na manipulação na pasta branca, os funcionários do setor foram orientados a extrair ao
máximo as substâncias das embalagens e acondicionar as sobras de forma que não ficassem
expostas. Para tanto, foi necessário um investimento na ordem de R$ 150 para efetuar um
treinamento. Após a implementação do treinamento, observou-se que o rendimento da cola
branca aumentou para aproximadamente 99%. Assim, a geração de resíduos reduziu para 0,05
Kg por dia (87%), pouco mais de 1,1 Kg por mês. Em valores monetários, o beneficio mensal
foi de R$ 26,79. Usando o método do Valor Futuro a partir de séries uniformes, a economia
oriunda anual foi de R$ 339,76.
Finalmente, em relação à questão do consumo energético nos berços, foi proposta a
instalação de um sistema de chaves de controle (Interruptor). Para as mesas com 6 berços foi
proposto a instalação de dois interruptores, onde cada um passaria a controlar três berços.
para a mesa com 12 berços, foi proposta a instalação de 4 interruptores, mantendo a mesma
proporção de controle (Figura 4.18, p. 125). Estima-se um aumento da eficiência do uso dos
berços na ordem de 100%. Para tanto, o investimento necessário era aquisição e instalação
dos interruptores era de R$ 250,00. Por decisão do empresário, esta proposta ficou como uma
ação para o plano de continuidade.
125
Tomada 1
Tomada 2
Tomada 1
Tomada 3
Tomada 2
Tomada 4
Grupo 1
Grupo 2
Grupo 1
Grupo 3
Grupo 2
Grupo 4
Berço
Mesa com 6 berços
Mesa com 12 berços
Figura 4.18 – Esquema para instalação de interruptores nos berços.
Nas Tabelas 4.13 e 4.14 (ambas p. 126), serão apresentados respectivamente o estudo
de viabilidade e os indicadores da situação antes e com as modificações.
126
Tabela 4.13– Análise de viabilidade das oportunidades na Empresa 2.
Receita
Gerada/Projetada
Análise Financeira
Aspecto Crítico
Solução
Investimento
(R$)
Mês
(R$)
Ano (VF)
(R$)
VPL
Encontrada
(R$)
VPL
Proposta (R$)
Pay-
back
(meses)
Benefícios
1
Procedimento incorreto do
corte do tecido tipo -
poliéster e algodão
Treinamento para
maximização da
alocação de moldes no
nos tecidos
300,00 4.296,73 54.493,29 -228.672,38 + 13.521,48 10
-5
- Otimização do consumo de
recursos;
- Aumento da produtividade;
- Diminuição de custos de
fabricação;
- Diminuição da geração de
resíduos.
2
Desperdício de água
torneira vazando
Aquisição e troca da
torneira quebrada
10,00 12,58 159,55 - 141,59 + 131,59 0,8
3
Desperdício de água
procedimento inadequado
de lavagem das placas
Aquisição e instalação
de lavador com pressão
250,00 75,25 954,36 -1251,79 + 596,94 3,4
- Diminuição do consumo de
água
- Diminuição da geração de
efluentes líquidos industriais.
4
Desperdício do uso de pasta
branca
Maximização do uso e
cuidados no
armazenamento
150,00 26,79 339,76 - 344,63 + 151,52 11,9
- Otimização do uso de material
- diminuição da geração de
resíduos
5
Desperdício no consumo de
energia elétrica nos berços
Instalação de tomadas 250,00 155,97 1978,09 -1755,45 + 1505,45 1,6
- redução do consumo de
energia
- redução de acidentes do
trabalho
Total 960,00 4567,32 57.925,05 -232165,84 15906,98 - -
Tabela 4.14 – Indicadores utilizados na Empresa 2 (apenas medidas implementadas e monitoradas).
Indicadores Unidade Situação encontrada Situação Modificada
1 Eficiência média do uso de poliéster e algodão % 77,89 82,89
2 Quantidade de resíduos sólidos gerados e disposto em aterro (tecido) Kg 873,84 0,00
3 Consumo de água nas placas de estampagem m
3
/mes 53,55 15,18
4 Geração de resíduos de pasta branca Kg/mês 9,0 1,1
127
Pelos resultados, nota-se que as intervenções feitas em cima dos aspectos ambientais
significativos trouxeram melhorias ambientais para a Empresa 2: aumento na eficiência do
uso de recursos naturais água (70%) e tecido (5%); diminuição da geração de resíduos
sólidos (tecidos e pasta branca, cerca de 99,87%); diminuição da geração de efluentes
(71,23%). Em relação aos aspectos econômicos, destaca-se uma economia anual de R$
55.946,96, tornando a empresa mais produtiva e com tendência de se tornar mais competitiva.
Destaca-se que as soluções encontradas partiram da busca da redução de desperdícios
na fonte geradora, através de intervenções no processo: housekeeping (no corte e manipulação
de substâncias químicas); modificação tecnológica (instalação de lavador com pressão;
instalação de controle de energia nos berços); reciclagem interna (reaproveitamento de
retalhos) e reciclagem externa. O período de retorno dos investimentos necessários não foi
superior a um mês, o que denota uma alta rentabilidade.
Mais uma vez, o principal desperdício observado na empresa, falhas no corte de
tecido, era oriundo da falta de uma fiscalização e controle da gerência para um uso racional,
bem como ausência de conhecimento e atitude ambiental (por exemplo, zelo pelos recursos ou
critérios para se evitar desperdícios e conseqüente geração de resíduos) por parte do
funcionário. Assim, foi necessário buscar uma mudança de atitude através de ações de
educação ambiental. Entretanto, foi necessária a substituição do funcionário que foi bastante
reativo as propostas. Com o novo funcionário, o processo ocorreu sem contratempos,
chegando a um aumento de 5% na eficiência do corte de tecido.
4.2.4 Plano de Continuidade
Quanto ao plano de continuidade, as medidas traçadas foram:
- Obter o licenciamento ambiental junto a Prefeitura;
- Instalar uma Estação de Tratamento de Efluentes Líquidos Industriais com eficiência para
remoção de substâncias químicas para tanto faz necessário a contratação de um profissional
habilitado;
- Compra de equipamentos de proteção individual: Setor de corte (luva metálica e protetor
auricular do tipo plug); setor de estamparia (luvas de PVC ¾, máscara com filtro); setor de
costura (protetor auricular tipo plug);
128
- Contratação de uma consultoria para realização de ginástica laboral com os funcionários,
principalmente as costureiras;
- Aquisição do software e hardware para elaboração de planos de corte;
- Realizar um estudo de viabilidade para implementar um programa de coleta seletiva;
- Efetuar reuniões quinzenais com o ecotime;
- Efetuar palestras mensais dentro das temáticas da qualidade, segurança do trabalho e meio
ambiente.
4.2.5 Avaliação do Programa na Empresa 2
Efetuada uma visita seis meses depois da finalização do programa, observou-se que as
medidas implementadas continuavam dentro do que foi traçado e não houve avanço nas
medidas contidas no plano de continuidade, exceto as reuniões do ecotime (que passaram a
ser mensais, devido ao aumento das demandas) e a entrega dos EPI´s.
Foi justificado por parte do empresário, que devido ao aumento da demanda, a
empresa estaria se mudando para uma área maior e que por isso as outras medidas o foram
implementadas. Com isso, no novo site industrial, o empresário se comprometeu em fazer as
implementações pendentes.
Contudo, acredita-se que o sucesso deste caso esteja associado à simplicidade das
oportunidades implementadas que trouxeram resultados expressivos para empresa, motivando
o empresário na cobrança de atitudes por parte do ecotime e funcionários na continuidade e
melhoria das ações.
No tocante a este estudo, foram observados ganhos sociais (ganho de uma consciência
ambiental, busca de redução dos riscos aos funcionários), econômicos (redução de custos
operacionais) e ambientais (otimização do consumo de água, energia e matéria-prima e
insumos, redução da geração de resíduos e efluentes), podendo estes fatores evidenciar que a
Produção mais Limpa auxiliou a empresa a incorporar uma postura social e ambiental, além
de direcionar em uma melhor posição no mercado.
129
4.3 Serviços – Concessionária de Veículos
4.3.1 Descrição da Empresa e Planejamento
A terceira empresa desta dissertação está inserida no setor de serviços, no ramo de
concessionária de veículos e atua em Natal-RN desde 1991. Em média, mensalmente são
comercializados 400 carros novos, mais de 700.000 peças e acessórios comercializados, com
um atendimento médio de 3500 a 4500 clientes.
Sua jornada de trabalho é de 44 horas semanais, operando com 105 funcionários
distribuídos em 6 setores, sendo assim uma empresa de médio porte. O Quadro 4.1 apresenta
uma breve descrição das operações de cada setor.
Setor Operações / Atividades / Atribuições
Administração
- Superintendência
- Gerência
- Supervisão
- Recursos Humanos
- Serviços Gerais
- Financeiro
- Contabilidade
- Controle patrimonial
- Setor Jurídico
Arquivamento dos documentos operacionais
- Manutenção e Reparos do Edifício
Funilaria
- Reparação de veículos batidos
- Montagem de veículos novos
- Serviço de pintura
Oficina Mecânica
- Reparação de serviços mecânicos e elétricos da tapeçaria
- Troca de peças de reposição
- Serviços de Mecânica (radiador, alinhamento, balanceamento,
substituição de peças e manutenção)
- Troca de óleo lubrificante, filtro de ar, filtro de óleo, filtro de
combustível
Peças/ Acessórios - Venda, entrega e instalação de peças e assessórios
Posto de Lavagem
- Lavagem de veículos
- Revitalização de veículos
Vendas
- Venda de veículos novos
- Financiamentos
- Atendimento ao cliente
Quadro 4.2 Setores e operações na Empresa 3.
Destaca-se que na empresa, devido ao seu porte, existia uma Comissão Interna de
Prevenção a Acidentes CIPA. Entretanto, não possuía um setor ou um responsável pelas
questões ambientais.
130
A Empresa 3 estava com um processo de renovação da licença ambiental junto ao
Órgão Ambiental Municipal, a qual solicitou, como condicionante da emissão da licença, que
os resíduos sólidos fossem armazenados em área coberta e a destinação final no aterro fosse
efetuada por uma empresa licenciada.
Até aquele momento, a Empresa 3 armazenava seus resíduos sólidos em caçambas
alocadas em área aberta, o que ocasionava um sério risco de contaminação do solo. Além
disso, a empresa responsável pela destinação dos resíduos para o aterro não tinha a Licença
Ambiental. Destaca-se que o custo semanal da disposição era de R$ 300,00. Entretanto,
observando os resíduos, muitos destes tinham características de materiais com potencialidade
de serem reciclados - papelão, papel, plásticos, metal, entre outros (Figura 4.19).
Figura 4.19 – Armazenamento de resíduos sólidos da Empresa 3. (Set. 2007).
Diante desses fatos, a empresa aceitou a proposta de se buscar uma redução da geração
de resíduos através de ações de PmL, fincando o projeto focado em ações inerentes ao
gerenciamento de resíduos sólidos.
Desta forma, o projeto iniciou em setembro de 2007 com o escopo de se buscar a
redução dos resíduos destinados ao aterro sanitário (sendo finalizado em fevereiro de 2008).
A primeira atividade foi à busca do comprometimento gerencial. Com isso foi feito uma
reunião com a direção e os gerentes de todos os setores. Durante a reunião foi exposto o
planejamento das atividades descrição, objetivos, cronograma, barreiras, com se envolver e
formação do Ecotime.
O processo de formação do ecotime levou como critério, a participação de pessoas
engajadas, com experiência e com liderança no setor. Assim, o ecotime formado contemplou
funcionários dos seguintes setores: Funilaria (01 - dio completo); Administração (02
131
superior completo e fundamental completo) e Oficina Mecânica (01 dio completo). O
conteúdo passado para o ecotime foi a Produção mais Limpa, além de questões associadas aos
problemas ambientais trazidos com o gerenciamento de resíduos sólidos, coleta seletiva e
reciclagem.
Nas reuniões iniciais, frente à dificuldade de se vislumbrar possibilidades de reduzir a
geração na fonte geradora, devido a geração ser inerente a atividade (por exemplo, não era
possível reduzir a geração de filtros de combustível, uma vez que este era proporcional a
quantidade de carros que são atendidos para este fim) e devido ao tempo de investigação na
empresa, optou-se em padronizar uma segregação entre matérias recicláveis e rejeito (não
reciclável), buscando promover o terceiro nível da Produção mais Limpa, reciclagem externa.
Outras barreiras foram surgindo ao longo do projeto, a saber: baixa participação dos
funcionários (superada com cobrança do ecotime, adoção de programas de Educação
Ambiental e treinamentos); baixo comprometimento dos gerentes (superada com adoção de
programas de Educação Ambiental) e demora nas autorizações para realização de
investimentos por parte da Direção (esta barreira acarretou na necessidade de ampliação do
tempo de implementação do projeto, passado para seis meses) além da pouca cobrança
dirigidas aos gerentes para implementação de ações (barreira superada com solicitações
constantes).
4.3.2 Diagnóstico Operacional e Ambiental
O primeiro passo do diagnóstico operacional e ambiental foi identificar todos os
setores de geradores de resíduos e de forma qualitativa identificar quais os resíduos gerados,
além de entender qual o fluxo contemplado desde a geração até a disposição final. Observou-
se, assim, que os resíduos sólidos gerados em cada setor eram acondicionados em coletores
não-padronizados (Figura 4.20, p. 132), não havendo qualquer tipo de segregação na fonte.
Quando os coletores estavam cheios, estes eram esvaziados e tinham o seu conteúdo
despejado na caçamba pelos funcionários encarregados pela limpeza. Por semana, em média,
eram feitas três coletas, acarretando em um custo total de R$ 300,00.
Em seguida com apoio do ecotime, no controle dos resíduos, para não haver mistura
com os de outros setores ou mesmo no descarte destes na caçamba, os resíduos de cada setor
foram quantificados durante dois dias e classificados de acordo com os anexos da norma NBR
10.004 (2004). Destaca-se que a participação do ecotime na pesagem, não foi significativa,
apenas um funcionário participou, este era ligado a administração e trabalhava como auxiliar
132
de serviço de limpeza. Este processo contou com o auxilio de outro funcionário do setor de
limpeza bem como de quatro estudantes do curso de graduação tecnológica do CEFET-RN,
devido ao elevado volume gerado.
Figura 4.20 – Acondicionadores utilizados na empresa. (Set. 2007).
A Tabela 4.15 apresenta uma caracterização geral dos resíduos gerados pela Empresa
3 e no Apêndice C (p. 171) tem-se a quantificação por setor. Pelos resultados, nota-se que a
Empresa 3 gerava 2,05 toneladas de resíduos por mês, sendo que 45,66% eram resíduos
recicláveis (papel, papelão e metal), ou seja, o equivalente a 939 Kg/mês. Os demais eram
rejeitos, materiais sem a possibilidade de reaproveitamento ou reciclagem, tais como trapos,
película para automóveis, filtros de ar, copos descartáveis, embalagens de alimentos, entre
outros. Entretanto, todo esse material era misturado, acarretando em custos adicionais e
contribuindo para diminuição do tempo vida útil, do aterro sanitário.
Tabela 4.15 – Caracterização dos resíduos sólidos gerados pela Empresa 3.
Massa (Kg)
Resíduos Sólidos Gerados
Mês* Ano % Classificação
Papel/Papelão
508,8 6105,6
24,74
Classe II – A
Plástico
364,6 4375,2
17,73
Classe II – A
Metal
65,6 787,2 3,19
Classe II – A
Rejeito
1117,5
13410
54,34 Classe I / Classe II-A
Total
2056,5
24678
100,00
-
* (Set. 2007).
O setor que mais contribuía com a geração era a oficina mecânica com 35,89%, isto é,
o equivalente a 738 kg por mês, seguido da funilaria e administração (Figuras 4.21 e 4.22, p.
133). Destaca-se que ainda oficina mecânica era o setor que mais contribui com a geração de
plástico e metal na empresa, 50,60% e 88,87%, respectivamente. Isto se justifica pelo fato de
haver muita substituição de peças e partes integrantes do veículo.
133
o setor de peças e assessórios era o que mais contribuía com a geração de papel e
papelão, com 25,29%. Isto ocorre devido o fato do setor fornecer, a oficina mecânica e a
funilaria, peças e acessórios, ficando retidas as embalagens destas no setor de origem. A
funilaria, por sua vez, era o setor que mais contribui coma geração de rejeitos, ou seja,
44,47%.
Contudo, observa-se a potencialidade da empresa em promover a reciclagem externa,
principalmente, devido à elevada geração de resíduos, ou seja, mais de 11 toneladas por ano.
Desta forma, o indicador utilizado para esta abordagem será a quantidade de resíduos
destinados para reciclagem externa.
Proporção da geração de resíduos por setor (%)
10,52
24,83
35,89
9,51
7,10
12,15
Administração
Funilaria
Oficina Mecânica
Peças/ Acessórios
Posto de Lavagem
Vendas
Figura 4.21 – Geração de resíduos sólidos por setor da Empresa 3.
Resíduos gerados por setor
100,1
21,1
128,7
116,6
20,6
3,7
184,8
52,1 54,1
0 0
58,3
0 0
7,3
95,7
485,80
17,6
74,8
71,8
19,1
123,2
49,3
371,8
0
100
200
300
400
500
600
Administra ç ã o Funila ria Ofic ina
Me c â nic a
P e ça s/
Ac e ssórios
P osto de
La va ge m
Ven da s
setores
Kg
Papel/Papelão
Plástico
Metal
Rejeito
Figura 4.22 – Quantificação dos resíduos sólidos gerados por setor da Empresa 3.
Destaca-se que frente ao foco deste terceiro estudo de caso ser no gerenciamento dos
resíduos sólidos, não foi efetuado o Passo 5 desenvolver os fluxos dos processos e neste, a
Avaliação de Aspectos e Impactos Ambientais.
134
4.3.3 Estudo de Oportunidades e Implantação e Monitoramento
Este tópico apresentará o estudo de viabilidade da oportunidade de segregação na
fonte geradora e destinação dos resíduos recicláveis para reciclagem externa.
Frente à tipologia de resíduos de cada setor e a massa gerada, foram levantados os
tipos de acondicionadores para cada setor. Visando uma padronização, foram adotadas as
seguintes cores da coleta seletiva: Azul (papel e papelão); Vermelho (Plásticos), Amarelo
(Metal), Cinza (Rejeito) e Laranja (embalagens plásticas contaminadas com óleo). O projeto
contemplou 81 acondicionadores de 14, 22, 97 litros de polipropileno e tonéis metálicos de
190 litros (reaproveitamentos das embalagens de óleo comprado, sendo limpo e pintado
conforme a necessidade) e um kit de coleta seletiva contendo os acondicionadores padrão e
suporte (Apêndice D, p. 172). Também foi dimensionada e projetada uma área de
armazenamento temporário, para evitar a depreciação do material separado na fonte geradora
com uma capacidade de armazenamento de 9.700 Litros de resíduos, dividida em quatro baias
(papel e papelão, plásticos, metal e embalagens plásticas de óleo) (Apêndice E, p. 173).
Quanto à potencialidade de receitas oriunda das vendas dos resíduos recicláveis com
uma empresa devidamente licenciada, o projeto apresentou uma receita mensal de R$ 174,03,
conforme observa-se na Tabela 4.16.
Tabela 4.16 – Receita projetada com a comercialização de resíduos recicláveis.
Resíduos Recicláveis
Quantidade
(Kg/mês)
Valor Comercial*
(R$)
Receita Projetada
(R$/mês)
Papel/Papelão
508,8
0,15
76,32
Plásticos
364,6
0,25
91,15
Metal
65,6
0,10
6,56
Total
174,03
* preços estabelecidos com a empresa selecionada para compra de recicláveis (Outubro de
2007).
Desta forma, a análise da viabilidade econômica foi efetuada considerando o custo de
compra dos acondicionadores de resíduos (R$ 1.702,20), o custo de construção da área de
armazenamento (R$ 1.500,00) e o custo de capacitação com os funcionários (R$ 1.000,00), e
ainda o custo mensal de R$ 1.260,00 referente à disposição final dos resíduos e a
possibilidade de se reduzir em 50% este valor com a implementação do projeto. Pelos
resultados presentes na Tabela 4.17 (p. 135), considerando o horizonte de um ano, o custo da
solução encontrada para descarte dos resíduos no aterro sanitário seria de R$ 14.181,40. Com
135
a implantação do projeto, o custo anual com o gerenciamento de resíduos cairia para R$
9.334,18, isto é, uma redução de 34% e o investimento seria pago em 2,3 anos.
Tabela 4.17 – Análise financeira da implementação da oportunidade de reciclagem externa.
Receita Projetada
Análise Financeira
Investimento
(R$)
Mês
(R$)
Ano (VF)
(R$)
VPL
Encontrada (R$)
VPL
Proposta (R$)
Pay-back
(meses)
4202,20 174,03 2.207,14 - 14.181,40 - 9334,18 27,8
Apresentando os resultados a direção, a proposta de compra de acondicionadores e
construção da área de armazenamento e contrato com a empresa de reciclagem foram
aprovadas em outubro de 2008. Entretanto, a compra e construção só foram autorizadas
apenas em dezembro, tendo a estrutura instalada, conforme planejado apenas em janeiro de
2008.
Com o intuito de tornar os funcionários da empresa sensíveis às questões ambientais e
capacitados para agirem de acordo com os procedimentos da coleta seletiva, foi realizada uma
série de ações voltadas fortemente à sensibilização e a intervenções de educação ambiental, a
saber:
- Treinamento com carga horária de 10 horas, abordando a temática em questão (problemas
ambientais trazidos pelos resíduos sólidos, reciclagem e coleta seletiva), bem como os
procedimentos necessários a serem adotados na concessionária. Inicialmente houve um
agendamento com todos os gerentes, no qual foi estabelecido os melhores horários e dias,
para se obter uma programação. Com isso, o treinamento foi repassado para todos os
funcionários;
- fixação de diversos cartazes em pontos estratégicos da empresa como: cantina, controle de
ponto, quadro de avisos, banheiros internos e externos, copa, pontos de entrada e a sala de
espera;
- realização de peças teatrais: uma com o setor de educação ambiental com companhia de
limpeza pública da Prefeitura com a temática coleta seletiva e outra com o núcleo de ação
social da associação de ex-catadores de Natal. Ambas abordaram os problemas ambientais
trazidos pelo lixo e como realizar a coleta seletiva. Estas atividades foram desenvolvidas no
galpão da oficina mecânica no inicio do expediente da tarde, buscando a partição da maior
quantidade possível de funcionários (Figura 4.23, p. 136). O ecotime relatou que na empresas
atividades como essas nunca haviam acontecido, o que foi muito favorável na integração do
projeto.
136
Figura 4.23 – Peças teatrais focando a coleta seletiva na empresa 3. (Out. 2007).
- entrega de mudas de espécies nativas (cajueiro, pau Brasil, sabão soldado, entre outras) para
os funcionários da empresa, a fim de despertá-los para a questão da reciclagem do papel;
- distribuição de sementes de plantas e de cartilhas sobre o fenômeno do efeito estufa, tendo
em vista o crescente problema do aquecimento global, com o objetivo de despertar nos
clientes o conhecimento da importância do projeto para a preservação do meio ambiente e
conseqüentemente o bem-estar social.
Durante essas ações, haja vista a demora inicial na aquisição e fixação dos
acondicionadores, bem como na construção da área de armazenamento, buscou-se instalar
uma estrutura provisória, com a fixação de coletores provisórios elaborados a partir do
reaproveitamento de resíduos, especificamente caixas de papelão e tambores metálicos
(Figura 4.24, p. 137). Desta forma, mesmo sem a estrutura planejada, buscou-se trabalhar a
segregação na fonte geradora com todos os setores. Os rejeitos passaram a ser armazenado em
área coberta e ser coletados por uma empresa com a devida licença ambiental.
137
Figura 4.24 Estrutura provisória para segregação na fonte. À esquerda, setor da oficina mecânica (separação
de papel e papelão e plástico limpo) e à direita setor administrativo (separação de papel). (Out. 2007).
Assim, observando as primeiras semanas, foi verificado que a segregação não estava
sendo satisfatória, devido à mistura de materiais recicláveis com os rejeitos. Diante desse fato
e buscando estimular os funcionários a praticarem a correta segregação foi criado o Programa
Ecoeficiente. O programa contemplou uma análise semanal se os setores estavam fazendo a
correta segregação. Para tanto foi feito uma escolha aleatória de três coletores por setor, e
junto com o ecotime era verificado se havia mistura de entre resíduos recicláveis ou a mistura
desses resíduos com os rejeitos. Desta forma, aquele setor que segregasse da forma mais
eficiente ganhava o título “Setor Ecoeficiente”, e recebia um troféu e uma premiação
simbólica (chocolates). o setor que obtinha a menor pontuação da semana ganhava o título
“Setor Porcão”, e recebia um troféu. A cada resultado, era fixado um cartaz ao lado do
controle de ponto, para que todos os funcionários pudessem visualizar. Este programa forçou
uma maior participação dos gerentes na cobrança dos seus subordinados para a correta
segregação, já que nenhum setor queria receber o prêmio porção.
Destaca-se, que após a implementação destas ações e com consolidação dos
treinamentos, além da instalação da estrutura planejada (Figura 4.25, p. 138), a
comercialização dos recicláveis aumentou consideravelmente. De acordo com o
monitoramento efetuado de outubro de 2007 até março de 2008 (Apêndice F, p. 174) foram
destinados para a reciclagem externa mais de 6 toneladas de resíduos, sendo um total 3,85
toneladas de papel e papelão, 0,95 tonelada de plástico e 1,21 tonelada de metal (Figura 4.26,
p. 138). Em relação às receitas geradas, foi observado um crescimento proporcional,
permitindo a empresa um montante de R$ 936,40 (Figura 4.27, p. 138). A venda no material
138
ficou ligada o setor administrativo com o acompanhamento do ecotime. Semanalmente, a
empresa responsável pela compra fazia a coleta na empresa.
Figura 4.25 Estrutura definitiva de acondicionadores padrão e área de armazenamento. (Jan. 2008).
Quantidade de Reduos Destinados a Reciclagem Externa
30 4
525
577
537
594
110
131
142
173
188
204
0
151
117
282
354
309
1317
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
out/07 nov/07 dez/07 jan/08 fev/08 mar/08
Meses
Kg
PAPEL/PAPELÃO
PLÁSTICO
METAL
Figura 4.26 Monitoramento dos resíduos destinados a reciclagem externa.
Figura 4.27 – Receitas geradas com a destinação para reciclagem externa.
Ainda em relação instalação da área de armazenamento, esta favoreceu principalmente
a manutenção da qualidade do papel e papelão, os quais antes da instalação eram armazenados
a granel em área aberta.
139
Outro material que teve a destinação para reciclagem externa potencializada foi o
metal, oriundo do setor de oficina mecânica, principalmente os filtros de motor. Inicialmente,
os filtros não eram destinados para reciclagem devido à grande quantidade de óleo presente.
Com isso, foi criada uma estrutura para escoamento do óleo composta por tambor e uma
grade, que permitia escoamento do óleo por gravidade. Este mecanismo o constituía um
tratamento, uma vez que não era aplicada nenhuma técnica para remoção total do óleo (por
exemplo, aplicação de solvente), ficando ainda, nas paredes dos filtros, resquícios deste. Com
a separação, os filtros eram lançados em acondicionador de metais e por sua vez, quando o
tambor estava cheio, o óleo separado era destinado ao armazenamento de óleos usados. A
empresa compradora destinava os filtros para o Estado do Ceará, onde o mesmo era tratado e
reciclado. A Figura 4.28 apresenta esta estrutura de separação do óleo dos filtros de motor:
Figura 4.28 Estrutura para o escoamento do óleo dos filtros de motor.
(Nov. 2007).
Assim, como o metal, o papel e papelão não eram reciclados pela empresa compradora
os recicláveis, estes materiais eram revendidos para uma empresa recicladora do Estado do
Rio Grande do Norte. os plásticos eram reciclados na empresa compradora para fabricação
de cano.
Em relação ao custo da disposição de rejeitos este reduziu pela metade, com a
destinação do material para reciclagem. O rejeito passou a ser destinado para o aterro por uma
empresa licenciada.
Desta forma, comparando o indicador no cenário encontrado para o projeto instalado,
observa-se que a empresa passou a destinar para a reciclagem externa aproximadamente 50%
de seus resíduos, uma média aproximada de uma tonelada por mês.
O próximo tópico apresentará as medidas vislumbradas para o plano de continuidade.
140
4.3.4 Plano de Continuidade
No tocante ao plano de continuidade, este foi relacionado às inspeções e
monitoramento do ecotime na destinação dos resíduos para reciclagem externa, na
continuidade dos programas de educação ambiental e no levantamento de oportunidade de
redução na fonte geradora.
Destaca-se ainda que foram traçadas medidas, em cima de outros dois aspectos
potencialmente significativos, o consumo de água e energia elétrica, a saber:
- Efetuar um estudo sobre a potencialidade de reuso de água de chuva para lavagem de carros
e outros fins;
- Efetuar um estudo sobre eficiência energética na empresa como um todo.
Para tanto, a empresa e o ecotime foram orientados a buscar apoio de profissionais das
áreas especificas.
4.3.5 Avaliação do Programa na Empresa 3
O processo de implementação da Produção mais Limpa na Empresa 3, devido ao porte
e demandas peculiares da empresa (elevados gastos com disposição final de resíduos e
exigências do órgão ambiental), focou na oportunidade de melhoria do nível 3 de
oportunidades, ou seja, reciclagem externa (Figura 2.12, p. 69).
Desta forma, foi feito o levantamento qualitativo e quantitativo da geração de resíduos
de todos os setores, não sendo necessário desta forma a realização do Passo 5 desenvolver
os fluxos dos processos e neste, a Avaliação de Aspectos e Impactos Ambientais da
metodologia da PmL (SEBRAE, 2005). Destaca-se também frente ao grande volume de
resíduos sólidos gerados, e a dificuldade de tempo e falta de vontade (principalmente a
dificuldade de manejo com os resíduos – aspectos estéticos) do ecotime em mensurar a
geração destes, foi necessário o apoio técnico de estudantes do CEFET-RN, para um
levantamento mais detalhado da geração.
Pelos resultados, foi observada uma redução significativa na destinação dos resíduos
no aterro sanitário, além da redução do custo da disposição final, tornando o projeto viável
financeiramente, tecnicamente e ambientalmente.
141
No processo de implantação foi necessária uma participação mais ativa de todos os
funcionários induzida por ações de educação ambiental. O desafio da correta segregação na
fonte geradora foi indutor de um processo de mudança cultural na empresa, frente aos
cuidados com o meio ambiente, ocasionando também uma maior integração entre setores e
satisfação dos funcionários.
No mês de abril 2008, foi efetuada uma visita na empresa, sendo observada uma total
motivação dos setores e ecotime. Destaca-se também, que a empresa contratou um dos
estudantes do CEFET-RN que participou do levantamento quantitativo dos resíduos, como
estagiário para consolidar as ações de segregação e auxiliar o ecotime no processo de
investigação da redução na fonte. Além disso, com a presença constante deste estagiário,
novas ações começaram a ser desenvolvidas, consolidando ainda mais o processo de formação
de uma nova cultura, a saber:
- Adoção do Programa “Idéias Ambientais”: tem por objetivo desenvolver a capacidade de
iniciativa e participação dos funcionários para o desenvolvimento de idéias aplicadas à
temática ambiental, o setor ou em outras áreas da empresa.
- Sábado Ambiental: o objetivo desta ação era de promover uma maior divulgação do projeto
para os clientes, além de tentar torná-los mais sensíveis frente à temática ambiental. Para
tanto, foi entregue a cada funcionário uma camisa padrão do projeto, e esta deveria ser usada
em um sábado por mês. Além disso, os funcionários dos setores que tinham contato direto
com clientes, além do atendimento normal, passaram a entregar sementes de espécies nativas
(pau Brasil, cajueiro, entre outras) e de cartilhas sobre o projeto.
Por este estudo de caso, observa-se que não limites para aplicação da produção
mais limpa, quanto ao porte ou ramo de atividade. Entretanto, nota-se a necessidade de ações
planejadas de educação ambiental, buscando o máximo envolvimento dos funcionários além
de vontade a alta administração em fazer os investimentos necessários.
4.4 Analogia da Implementação do Programa de PmL nas Empresas
Estudadas
O processo de implementação da ferramenta Produção mais Limpa nas três empresas
buscou seguir a metodologia SEBRAE (2005). Exceto na Empresa 3, todos os passos
preconizados pela metodologia (Quadro 2.12, p. 80) foram efetuados. Nesta empresa, devido
142
ao escopo da pesquisa estabelecido e frente às inúmeras operações de cada setor, o
levantamento de fluxograma não foi efetuado. Também na Empresa 3, o cronograma foi
prolongado por mais 2 meses, devido a demora na aquisição dos coletores e construção da
área de armazenamento de resíduos recicláveis.
As oportunidades de melhoria levantadas nas três empresas estiveram dentro dos
níveis da metodologia, ou seja, redução na fonte, reciclagem interna e reciclagem externa.
Quanto ao grau de participação dos empresários ou diretoria (no caso da empresa 3), a
assistência ao longo das atividades foram satisfatórias, dentro das atribuições de
acompanhamento do projeto, participação em reuniões com gerente e/ou ecotime, facilitação
do acesso de informações e cobrança dos funcionários um maior empenho durante a execução
do projeto. Enfatiza-se, que ao longo do projeto, algumas reuniões tiveram que ser remarcadas
e que às vezes, a cobrança aos funcionários não ocorria da forma esperada. Entretanto, esses
contratempos foram superados, não comprometendo a pesquisa.
Um fato comum ocorreu nas três empresas no momento do repasse do estudo de
oportunidades: as oportunidades mais simples de implementação, que não necessitavam de
investimentos elevados ou aquisição de equipamentos, foram autorizadas e implementadas de
imediato. Entretanto, quando as oportunidades exigiam investimentos consideráveis, mesmo
apresentando uma análise financeira e todas as vantagens de ordem técnica e ambiental, as
oportunidades ou demoraram a ser implementadas ou passaram para o plano de continuidade,
não havendo uma garantia formal para a implementação. Percebe-se, assim, mesmo diante do
engajamento do ecotime e cobrança dos funcionários, além da apresentação de estudos
fortemente respaldados, se não existir vontade e comprometimento da alta administração
(gerência/administração), ou mesmo uma cobrança externa (e. g. governo, clientes,
investidores, parceiros comerciais, fornecedores), a implementarem do projeto bem como a
sua continuidade podem ficar comprometidas.
Outro fato em comum foi à necessidade de um acompanhamento mais efetivo junto ao
ecotime, sendo necessária, em muitos casos, a realização dos levantamentos quantitativos.
Entretanto, de forma geral, o ecotime nas empresas esteve empenhado e motivado.
Destaca-se também que benefícios de ordem social foram visualizados nas três
empresas, entretanto foi não foi possível quantificar estes em uma escala monetária ou mesmo
através de indicadores.
143
O Quadro 4.3 (p. 144) apresenta um resumo comparativo dos principais resultados
advindos da implementação da PmL nas empresas pesquisadas. Observa-se que foi
contemplado nesta análise o nível de oportunidade implementada, os seus benefícios e as suas
barreiras.
Quanto ao nível de oportunidades implementadas, a Empresa 1 contemplou o Nível 1
substituição de matéria-prima (farinha), Housekeeping (controle do uso de água, energia e
leite condensado). Já a Empresa 2 foi possível contemplar os três níveis de PmL, isto é, Nível
1 - Housekeeping (no corte e manipulação de substâncias químicas); modificação tecnológica
(instalação de lavador com pressão); Nível 2 - reciclagem interna (reaproveitamento de
retalhos) e vel 3 - reciclagem externa (fabricação de fuxico). Na Empresa 3, devido ao
escopo estabelecido foi contemplado apenas o Nível 3 - reciclagem externa (segregação na
fonte e reciclagem externa).
Contudo, quanto aos benefícios observou-se ganhos financeiros e sociais oriundo do
controle preventivo dos aspectos ambientais nas três empresas estudadas.
144
Fatores de Comparação Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3
Nível de Oportunidades
Nível 1 substituição de matéria-prima
(farinha), Housekeeping. (controle do uso de
água, energia e leite condensado).
Nível 1 - Housekeeping (no corte e
manipulação de substâncias químicas);
modificação tecnológica (instalação de
lavador com pressão); Nível 2 - reciclagem
interna (reaproveitamento de retalhos) e nível
3 - reciclagem externa (fabricação de fuxico).
Nível 3 - reciclagem externa (segregação na fonte
e reciclagem externa).
Ambiental
- redução em 34% dos resíduos de
embalagens;
- 22% do consumo de energia elétrica.
- aumento na eficiência do uso de recursos
naturais – água (70%) e tecido (5%);
- diminuição da geração de resíduos sólidos
(tecidos e pasta branca, cerca de 99,87%); -
diminuição da geração de efluentes (71,23%).
- redução do envio de resíduos para o aterro
sanitário
Social
- ganho de consciência e atitude ambiental;
- envolvimento de funcionários na solução de
problemas ambientais;
- comunicação de ações ambientais com
clientes.
- ganho de consciência e atitude ambiental;
- envolvimento de funcionários na solução de
problemas ambientais;
-Uso de EPI e conseqüente controle de riscos.
- ganho de consciência e atitude ambiental;
- envolvimento de funcionários na solução de
problemas ambientais;
- visibilidade das iniciativas dos funcionários;
- fortalecimento do relacionamento entre setores;
- aumento da satisfação dos funcionários;
- comunicação das ações ambientais com clientes.
Benefícios
Econômico
- 73% do tempo de manipulação de
ingredientes;
- uma redução de 45% do custo da massa de
pão francês;
- Aumento da produção de pão francês em
3%;
- economia anual de R$ 7.349,51.
- Aumento da produtividade;
- Economia anual de R$ 55.946,96;
- redução dos gastos com disposição (50%);
- ganho de receitas com a comercialização de
recicláveis;
Barreiras
- Falta de comprometimento do ecotime;
- Falta de recursos financeiros.
- Dificuldade de coletar informações no inicio
da pesquisa;
- Falta de interesse por parte dos funcionários
- baixa participação dos funcionários;
- baixo comprometimento dos gerentes;
- demora nas autorizações para realização de
investimentos por parte da Direção
- pouca cobrança por parte da diretoria dirigida
aos gerentes de setores para implementação de
medidas.
Quadro 4.3 – Quadro comparativo da aplicação da PmL nas empresas.
145
Capítulo 5
[Conclusões e Recomendações]
5.1 Considerações Iniciais
O presente estudo buscou avaliar a Produção mais Limpa, metodologia criada pela
ONU por meio da UNIDO e UNEP disseminada no Brasil através do CNTL/SENAI-RS,
SEBRAE e CEBDS, como uma ferramenta em busca da sustentabilidade empresarial, através
de uma série de estudos de múltiplos casos em empresas do Rio Grande do Norte.
Assim, inicialmente, procurando contribuir com a síntese do conhecimento existente a
respeito da sustentabilidade empresarial, a presente dissertação adotou o termo
sustentabilidade empresarial como sendo o desenvolvimento, implementação e manutenção
de ões que tornem a organização economicamente viável e inserida em uma posição
competitiva, levando em consideração a eficiência ambiental e a responsabilidade social
aplicada em todas as suas operações, produtos e níveis organizacionais com foco nos recursos
naturais, na sociedade e seus stakeholders.
Relacionando a âncora teórica acima com o conceito de PmL estabelecido pela UNEP
(c) “aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva e integrada a processos,
produtos e serviços para aumentar a eficiência global e reduzir riscos aos seres humanos e ao
meio ambiente”, nota-se uma total relação entre a PmL como uma ferramenta em busca da
sustentabilidade empresarial, uma vez que de forma continuada a PmL previne a geração de
desperdício e reduz os riscos das operações sobre os funcionários, comunidade e meio
ambiente. Nessa conjuntura, observa-se que a Produção mais Limpa contempla as vertentes
ambientais (eficiência ambiental) e sociais (responsabilidade social) da sustentabilidade, além
do fato que pode posicionar as empresas em um cenário competitivo.
Ainda em relação ao UNEP, este afirma que a PmL pode ser aplicada aos processos
usados em toda a indústria, aos próprios produtos e aos vários serviços fornecidos à
146
sociedade. Assim, o estudo procurou implementar a PmL em empresa de diferentes
segmentos e porte empresarial, com o critério de acessibilidade e interesse e apoio por parte
da empresa. Com isso, os setores trabalhados foram: alimentício (indústria de panificação,
pequeno porte), têxtil (indústria de confecções e estamparia, pequeno porte) e serviços
(concessionária de veículos, médio porte).
O processo de implementação da ferramenta Produção mais Limpa nas três empresas
buscou seguir a metodologia SEBRAE (2005). Exceto na Empresa 3 (concessionária de
veículos), todos os passos preconizados pela metodologia foram efetuados. Nesta empresa,
devido ao escopo da pesquisa estabelecido e frente às inúmeras operações de cada setor, o
levantamento de fluxograma não foi efetuado.
As oportunidades de melhoria levantadas nas três empresas estiveram dentro dos
níveis da metodologia, ou seja, redução na fonte, reciclagem interna e reciclagem externa,
sendo vislumbrados ganhos econômicos, sociais e ambientais.
O tópico a seguir apresentará uma análise frente ao atendimento dos objetivos.
5.2 Análise quanto ao Atendimento dos Objetivos
Em relação ao primeiro e segundo objetivos específicos, respectivamente “buscar
oportunidades de controle preventivo de aspectos ambientais e minimização de impactos
ambientais em empresas do Estado do Rio Grande do Norte” e “Fornecer elementos de
discussão para que cada empresa estudada passe a identificar e a incorporar a variável
ambiental no seu processo de gestão corporativa” têm-se as seguintes considerações:
Nas três empresas, foi observada a falta de conhecimento por parte do
empresário/diretoria sobre os aspectos e impactos ambientais de suas atividades. Nas duas
empresas industriais, também foram observados que os principais motivos da geração de
desperdícios estavam associados a falhas organizacionais, ou seja, a ausência de uma
fiscalização e/ou controle da gerência para um uso racional dos recursos, bem como ausência
de conhecimento e atitude ambiental (por exemplo, zelo pelos recursos ou critérios para se
evitar desperdícios e conseqüente geração de resíduos) por parte dos funcionários. Estes fatos
acarretavam, além de desperdícios significativos de materiais, na geração de resíduos sólidos,
efluentes, perda da produtividade e aumento do risco para o meio ambiente e funcionários. Já
na empresa de serviços, a falta de conhecimento técnico frente às questões ambientais e a
147
comodidade da diretoria no gerenciamento de resíduos sólidos acarretavam em custos
desnecessários de disposição final de resíduos, além do envio para o aterro sanitário de
matérias com potencialidade de voltar para cadeia produtiva, através da reciclagem.
Desta forma, analisando os aspectos ambientais de entrada e saída de setores
efetivamente geradores de desperdícios, com base em uma avaliação técnica e financeira, foi
possível evidenciar e apresentar em valores monetários o custo do desperdício (geração da
poluição) para as empresas.
Na empresa de panificação, com o consumo de água, fora das especificações técnicas,
19.800 pães franceses por ano não eram fabricados. Este desperdício foi corrigido com a
utilização de um balde com demarcações para o volume correto do uso da água. Também foi
vislumbradas oportunidades de melhoria no uso energético por meio do estabelecimento de
tempos-padrão (economizando 277 Kwh por ano), substituição de matéria-prima (substituição
dos ingredientes sal, açúcar, melhorador, manteiga e farinha tradicional por uma farinha
especial que dispensava o uso dos demais ingredientes) acarretando na diminuição do tempo
de manipulação e geração de resíduos. Desta forma, com o controle preventivo na fonte
geradora dos aspectos significativos, foi observada uma economia de R$ 6.522,31 por ano,
destaca-se apenas na fabricação do pão francês.
Na Empresa 2, foi evidenciado uma perda de 10 toneladas por ano de tecido de
algodão e poliéster devido a falhas no sistema de corte. A solução deste aspecto crítico
ocorreu no nível 1 com a adoção de Housekeeping, na alocação dos moldes no tecido,
aumentando a eficiência do corte em 5%, tendo os resíduos gerados reaproveitados
internamente, com a fabricação de peças infantis e externamente, com a fabricação de fuxico.
Também foram evidenciados desperdícios no consumo de água na etapa de estampagem,
acarretando na geração de 425.040 Litros de efluentes quidos por ano, o qual foi reduzido
com a instalação de um lavador pressurizado. Monetariamente, a implementação de um
controle preventivo em cima dos aspectos ambientais significativos da empresa gerou uma
economia anual de R$ 55.946,96.
Por fim, na Empresa 3 (Concessionária de Veículos), foi averiguada uma geração de
duas toneladas de resíduos por mês, os quais eram dispostos no aterro sanitário, a um custo
mensal de R$ 1.260,00. Foi observado também, que 45,66% dos resíduos gerados em resíduos
recicláveis (papel, papelão e metal), ou seja 0,94 tonelada. Desta forma, o projeto focou na
implementação dos resíduos na fonte geradora e o envio do material reciclável para a
148
reciclagem externa, acarretando na redução do custo de disposição em 50%, além da geração
de receita com a comercialização dos recicláveis.
Desta forma, verifica-se que foi possível a implementação de um controle preventivo
de aspectos ambientais significativos nas empresas estudadas, fornecendo elementos de
discussão favoráveis para a incorporação da variável ambiental no seu processo de gestão
corporativa. Destaca-se que o período de retorno para os investimentos necessários foi inferior
a 12 meses, na maioria dos casos.
Com isso, nota-se que a Produção mais Limpa não se limita apenas a uma ferramenta
que busca o aprimoramento do desempenho ambiental da empresa, mas também incorpora o
seu bojo aspectos relacionados com a vertente social, além de aspectos de gestão, econômicos
e de qualidade, corroborando assim com a assertiva de UNDO (2002) que “PmL é
considerada uma ferramenta de gestão, econômica, ambiental e de qualidade”.
Além disso, observou-se que a PmL pode ser aplicada sem restrições tanto em
empresas industriais quanto prestadoras de serviço.
Nessa conjuntura, estes resultados corroboram com as seguintes hipóteses: “a PmL é
aplicável tanto em empresas industriais como nas prestadoras de serviços” e “a PmL traz
benefícios econômicos com retorno de investimento a curto e médio prazo”.
Em relação ao objetivo “buscar oportunidades de melhoria nas empresas e que tragam
qualidade de vida para os seus funcionários”, foi observado ganhos na empresa com a
inserção de uma nova cultura, que busca racionalizar o uso de recursos e participação dos
funcionários na solução de problemas ambientais no âmbito da empresa. De forma geral, os
ganhos sociais estão relacionados mais fortemente a responsabilidade social interna, por
exemplo, envolvimento de funcionários na solução de problemas ambientais (observado nas
três empresas); uso de EPI e conseqüente controle de riscos (observado na Empresa 2);
fortalecimento do relacionamento entre setores (observado na Empresa 3); visibilidade das
iniciativas dos funcionários (observado na Empresa 3) e aumento da satisfação dos
funcionários (observado na Empresa 3). no contexto da Responsabilidade social externa,
foi observada a comunicação de ações ambientais com clientes (observado nas Empresas 1 e
3).
Enfatiza-se, que não foi possível quantificar os ganhos sociais observados em uma
escala monetária, por limitações da própria ferramenta PmL e pela complexidade do estudo.
149
Logo, nota-se que esta dificuldade corrobora com a hipótese que “os ganhos sociais
advindo da implementação são difíceis de serem mensurado monetariamente”.
Por fim, frente ao objetivo de levantar fatores inibidores na implementação da PmL
nas empresas estudadas, foi observada uma série de barreiras relacionada a atitude reativa dos
funcionários, principalmente nas primeiras semanas do projeto. A falta de comprometimento
do ecotime, principalmente na coleta de informações também foi observada no inicio do
projeto. Diante disto, as barreiras comportamentais foram superadas com o desenvolvimento
de ações de educação ambiental, buscando incorporar aos funcionários uma consciência e
atitudes voltadas à preservação do meio ambiente.
Também foi averiguado que quando houve necessidade de aporte de recursos
financeiros, em quantias mais significativas para implementação de oportunidades de
melhoria, houve uma resistência por parte da gerência/administração, mesmo com a
apresentação das vantagens de ordem econômica, técnica e ambiental. Com isso, as
oportunidades ou demoraram a ser implementadas ou passaram para o plano de continuidade,
não havendo uma garantia formal para a sua implementação. Nesta conjuntura, percebe-se
que mesmo com o engajamento do ecotime e a cobrança dos funcionários, além da
apresentação de estudos técnicos consolidados e fortemente respaldados financeiramente, se
não existir vontade e comprometimento do empresário/direção, ou mesmo uma cobrança
externa (e. g. governo, clientes, investidores, parceiros comerciais, fornecedores), a
implementarem do projeto bem como a sua continuidade podem ficar comprometidas.
Contudo, conclui-se que o plano de continuidade está intimamente relacionando ao
comprometimento da alta administração na incorporação da PmL.
Diante do exposto, a hipótese que a metodologia apresenta limitações quanto a
continuidade das ações de PmL foi confirmada. Além disso, foi observado que a metodologia
da PmL (SEBRAE, 2005) não apresenta um procedimento metodológico para avaliar o
desempenho de um produto frente a variável ambiental, propondo oportunidade de melhoria
no produto, isto é, trabalhar no Nível 1 modificação no produto. Esta dificuldade foi
vislumbrada na empresa 2, quando no diagnóstico operacional e ambiental, na etapa de design
de produto não foi evidenciado elementos para inserção ambiental.
Portanto, frente à analise da aplicação da ferramenta Produção mais Limpa nas
empresas estudadas, foram evidenciadas melhorias nas vertentes ambiental, social e
econômica, preconizadas pela sustentabilidade empresarial. Entretanto, faz necessário mais
150
transparência da alta administração no comprometimento com continuidade das ações, para
diante disto, melhor enquadrar a PmL, como uma ferramenta em busca da sustentabilidade.
5.3 Recomendações para Futuros Estudos
Frente às limitações da Ferramenta Produção mais Limpa, sugere-se os seguintes
estudos futuros:
- Estudo para elaboração de políticas públicas visando à divulgação e incentivos da
implementação da PmL em instituições privadas e públicas. Por exemplo, como se exige para
as atividade efetivamente poluidoras, a apresentação de um Estudo de Impactos Ambientais,
poderia ser solicitado a implementação de um programa de PmL e, no ato da renovação da
Licença de Operação, ser apresentados os resultados e registros da implementação e
monitoramento e o plano de continuidade para o próximo período de vigência da licença.
Além disso, o Governo poderia oferecer subsídios para implementação das oportunidades de
melhoria. Diante deste exemplo, vale destacar a iniciativa do Estado de Goiás, na qual as
empresas que se certificaram com a ISO 14001, mantendo todas as auditorias e requisitos da
norma, receberam do Governo um prolongamento do prazo de validade da Licença de
Operação para 10 anos.
- Estudo para criação de uma Rede de Produção mais Limpa no Estado do Rio Grande do
Norte para maior divulgação e conhecimento da sociedade sobre esta ferramenta.
- Estudo para inserção de procedimentos para implementar e avaliar os ganhos sociais
advindos da Implementação de PmL;
- Estudo para inserir procedimentos de ecodesign no Nível 1 modificação do produto. Neste
contexto, sugere-se a inserção de possíveis variáveis ambientais no desenvolvimento de
produtos (criação ou revisão de produtos), dentro do contexto proposto abaixo:
O procedimento deve levar aos profissionais responsáveis pelo desenvolvimento do
produto (DP) a uma reflexão sobre possíveis variáveis ambientais que podem ser inseridas ao
longo de todo o ciclo de vida. Ao considerar essas variáveis, o projetista pode neutralizar
efeitos ambientais negativos, sem negligenciar sua funcionalidade. Desta forma, para as fases
de seleção beneficiamento e processamento de matéria-prima; manufatura e distribuição; uso
e descarte, sugere-se algumas variáveis, conforme descrição a seguir:
151
Minimização dos Impactos ambientais na seleção, beneficiamento e processamento
de materiais
Na fase inicial de concepção do produto, o projetista irá buscar materiais menos
danosos ao meio ambiente, com menos impactos oriundos da extração, processamento e
beneficiamento dos materiais (desmatamentos, contaminação de recursos hídricos, do solo e
do ar, exaustão de recursos naturais). Deverá também buscar materiais o nocivos à saúde
daquele que executa a fabricação do produto, bem como, aquele que o utiliza. Além disto, o
projetista deve procurar reduzir ao ximo a quantidade de materiais demandados pelo
processo produtivo.
Pode-se, verificar a proximidade dos fornecedores, se estes apresentam a licença
ambiental, se possui uma política ambiental atrelada a um programa de gestão que busquem
atender as metas e objetivos ambientais, através de processos de auditoria de segunda parte.
Vale destacar que muitos impactos ambientais podem ser minimizados ou mitigados,
nesse momento, principalmente os gerados pelo processo produtivo. Por falhas na definição
das especificações dos materiais a serem utilizados no processo, como dimensões, volume e
tipologia, muitos aspectos ambientais são gerados, como maior consumo de materiais, energia
e outros insumos, maior geração de poluentes (emissões atmosféricas, resíduos sólidos e
efluentes industriais).
Nesta etapa, pode-se também refletir sobre as embalagens a serem utilizadas,
vislumbrando possibilidades de como o produto será transportado, comercializado e
distribuído, de forma a otimizar a capacidade de transporte e se pensar numa menor geração
de resíduos.
De forma geral, nesta etapa, o projetista irá pensar se o material a ser selecionado teve
no seu beneficiamento, processamento e transporte uma geração significativa de impactos, a
toxidez e risco do uso do material para o meio ambiente e a população, as especificações
técnicas deste para aperfeiçoar seu uso no processo, buscando uma menor geração de
poluentes e otimização.
Minimização dos Impactos ambientais na manufatura e distribuição
Muitos aspectos ambientais podem ser evitados no processo de desenvolvimento de
produtos, como o uso otimizado de recursos, mitigação da geração de poluentes (emissões
atmosféricas, resíduos sólidos e efluentes líquidos). Entretanto, faz-se necessário, a busca de
informação do processo de manufatura, para se buscar a melhoria dos velhos ou novos
produtos. Lead-time, quantidade de etapas/operações, consumo de energia, tempo de set-up,
152
balanço de massa o variáveis que podem ser analisadas buscando uma retroalimentação do
sistema, bem como a melhoria contínua.
Vale destacar também a necessidade de se buscar novas técnicas e tecnologias de
produção com baixo impacto ambiental. Assim, m-se possibilidades de se ter um baixo
consumo de energia, otimização do uso de materiais, além da escolha de materiais com menor
toxidade e conseqüente menor cargas de poluentes ambientais. A experiência de utilização
destas novas técnicas e tecnologias deve ser incorporada o quanto antes no processo de
desenvolvimento de produtos (se for possível, na fase de projeto conceitual). Como
conseqüência, novos produtos poderão ser projetados de tal forma a estarem em conformidade
com os avanços tecnológicos, ampliando as possibilidades de ganho econômico e ambiental.
O transporte dos produtos contribui também para a poluição, pois consome
combustíveis fósseis e cria a necessidade de um complexo conjunto de estradas, vias férreas,
portos e armazéns, além de centros de distribuição.
Assim, uma forma de evitar os impactos ambientais da distribuição é assegurar que o
produto seja transportado da fábrica ao distribuidor e usuário da maneira mais eficiente
possível. Para tanto faz necessário refletir sobre alguns aspectos: Escolha de modais; Volume
e peso; Roterização e Pouca embalagem.
Minimização dos Impactos ambientais no uso
Planejando a fase de uso, pode-se estabelecer metas como de reduzir o consumo de
energia, reduzir a geração de CO
2
e reduzir a quantidade de materiais pela escolha de
componentes mais eficientes ou da eliminação de certos componentes.
Minimização dos Impactos ambientais no descarte
Frente à meta de prolongar o tempo de vida útil, de maneira que seja usado em sua
função original por um período mais longo, acarretando, conseqüentemente, em uma redução
do volume de materiais descartados, algumas características podem ser adotadas, a saber:
aumentar a confiabilidade e a durabilidade; facilitar a manutenção e reparos: produtos de
difícil / dispendiosa manutenção acabam sendo mais facilmente substituídos em detrimento de
reparados.
- Assegurar estrutura modular do produto: a escolha de uma estrutura modular ou
adaptabilidade torna possível revitalizar um produto que não é mais ótimo do ponto de vista
técnico ou estético. Isto torna possível ao produto ainda atender as necessidades (modificadas)
do usuário.
153
A reciclagem parece ser uma estratégia muito popular, especialmente porque requer
relativamente pouco tempo e baixo investimento (fazer o produto de tal maneira que ele possa
ser desmontado e usar materiais adequados). O aspecto de reciclabilidade também é cil de
comunicar dentro e fora da empresa. Porém, caso esta estratégia for seguida, sem
considerarem as outras opções, ou se ela for seguida em detrimento de outras estratégias de
maior mérito ambiental, então a reconsideração é a única coisa correta a fazer.
Fechar ciclos pela reutilização do produto, dos componentes ou materiais utilizados no
mesmo, é feita com a intenção de reduzir o impacto ambiental devido a um segundo uso dos
materiais e energia, os quais já foram investidos na manufatura do produto.
Isto reduz o impacto ambiental do novo produto na forma de material usado, energia
consumida e emissões tóxicas. Quanto mais o produto retém sua forma original, mais mérito
ambiental é adquirido, na medida em que os sistemas de coleta e reciclagem o
desenvolvidos simultaneamente.
Requisitos legais
Haja vista a busca de informações sobre a legislação ambiental brasileira, sugere-se o
uso do site do CONAMA conselho Nacional de Meio Ambiente
(
http://www.mma.gov.br/port/conama), pelo qual, a pesquisa é feita por tipo de requisito,
número e ano, ou pelo texto, o que facilita bastante a procura.
O Quadro 5.1 (p. 152) apresenta de forma resumida as possíveis variáveis a serem
inseridas no desenvolvimento de produtos, visando atender e nortear futuros estudos que
contemplem o nível – modificação do produto na metodologia da PmL.
154
Variáveis Ambientais Comentários Entregas
Uso de materiais não
agressivos
O DP deve contemplar a n
ecessidade do
uso de materiais não tóxicos no
desenvolvimento de produtos
Baixos custos de disposição
Insumos de alta tecnologia
Uso de material reciclado
O DP deve contemplar o uso de materiais
recicláveis, diminuindo a necessidade de
se buscar mais recursos naturais
Baixos custos de material
Atender a Requisitos higiênicos
Redução de peso e volume
O DP deve contemplar a otimização do
uso de recursos tendo um produto mais
versátil
Menos aquisição de material
Baixos custos de transporte
Facilidade de uso
Imagem de qualidade
Confiabilidade operacional
Baixos custos de embalagem
Baixos custos de estocagem
Redução da necessidade de
Insumos de produção
O DP deve contemplar a otimização do
uso de recursos
Menos compras de materiais auxiliares
Redução de custos
Facilidade no processo
Redução do consumo de
energia
O DP deve contemplar a busca da
minimização do uso de energia no uso de
produtos
Menos gastos com energia
Redução do refugo de
produção
O DP deve contemplar a redução de
desperdícios no processo de
produção
frente
Menor geração de resíduos
Redução do uso de
embalagem
O DP deve contemplar a otimização do
uso de recursos no desenvolvimento de
produtos
Redução no custo
Proteção do produto
Imagem de qualidade
Publicidade na embalagem
Aumento de vendas (
Marketing
Ambiental)
Logística eficiente
O DP deve contemplar os canais
logísticos
Redução nos custos
Baixos gastos com energia
Prolongamento do período de
vida inicial
O DP deve contemplar a durabilidade do
produto
Imagem corporativa de qualidade
Aumento de vendas
Reutilização do produto
O DP deve contemplar a facilidade de
desmonte do produto visando à
preservação dos recursos naturais
Aumento de vendas (Marketing
Ambiental)
Redução de custos
Reutilização de componentes
Reciclagem de materiais
O DP de
ve contemplar a facilidade de
desmonte do produto visando à
preservação dos recursos naturais
Imagem ambientalmente correta
Menos componentes: custos de
montagem mais baixos, custos mais
baixos de moldes/matrizes
Menor variedade de materiais: custos
mais baixos de estocagem
Atendimento a Legislação
Ambiental
O DP deve contempla o
s dispositivos
legais aplicáveis em todas as fases do
produto.
Evitar penalidades
Evitar barreiras mercadológicas
Quadro 5.1 Variáveis ambientais que podem ser inseridos no processo de desenvolvimento de produtos.
155
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166
Apêndices
167
Apêndice A
Avaliação de Aspectos e Impactos Ambientais – Empresa 1
IMPACTOS
Uso de Recursos Naturais
Contaminação das águas
Contaminação do solo e/ou águas
subterrâneas
Contaminação do ar
Incômodo a partes interessadas
Entradas Saídas
Número da operação / etapa
Descrição do Aspecto
Severidade
Abrangência
Probabilidade (P)
Importância do Impacto I = (Sv+Ab) x P
Existe Requisito Legal?
0-Não 5-Sim
Existe Medida de Controle?
0-Sim 4- Sim, mas não atende 6-Não
Resultado (somatória) R= I+RL+MC
Medida de Controle
Consumo de materiais (Farinha) 2 0 0 0 1 3 9 5 0 14 Dosagem em Balança
Consumo de materiais (Farinha pré-mescla) 2 0 0 0 1 3 9 5 0 14 Dosagem em Balança
Consumo de materiais (Insumos) 1 0 0 0 1 3 6 5 0 11 Dosagem em Balança
Consumo de energia elétrica 1 0 0 0 1 3 6 0 0 6
Geração de Resíduos Sólidos Orgânicos 0 0 3 0 1 3 12 5 0 17 Doação para criação de suínos
Geração de Resíduos Sólidos Recicláveis (Sacos de Ráfia) 0 0 2 0 1 3 9 5 6 20
Geração de resíduos sólidos (baldes vazio de manteiga) 0 0 1 0 1 2 4 5 6 15
1
Geração de Resíduos Sólidos Recicláveis (Embalagens de
plástico)
0 0 1 0 1 2 4 5 6 15
Consumo de energia elétrica 3 0 0 0 1 3 12 0 6 18
2
Consumo de água 2 0 0 0 1 3 9 5 6 20
168
Apêndice A
Avaliação de Aspectos e Impactos Ambientais – Empresa 1 – CONTINUAÇÃO
IMPACTOS
Uso de Recursos Naturais
Contaminação das águas
Contaminação do solo e/ou águas
subterrâneas
Contaminação do ar
Incômodo a partes interessadas
Entradas Saídas
Número da operação / etapa
Descrição do Aspecto
Severidade
Abrangência
Probabilidade (P)
Importância do Impacto I = I = (Sv+Ab) x P
Existe Requisito Legal?
0-Não 5-Sim
Existe Medida de Controle?
0-Sim 4- Sim, mas não atende 6-Não
Resultado (somatória) R= I+RL+MC
Medida de Controle
Consumo de materiais (Farinha) 1 0 0 0 1 3 6 0 6 12
Consumo de energia elétrica 3 0 0 0 1 2 8 0 6 14
3
Geração de Resíduos Sólidos Orgânicos (Massa Pronta que cai no chão) 0 0 2 0 1 2 6 5 6 17
4
Consumo de materiais (óleo) 1 0 0 0 1 3 6 5 6 17
6
Consumo de energia elétrica 2 0 0 0 1 3 9 0 6 15
7
Consumo de energia elétrica 3 0 0 0 1 3 12 0 6 18
169
Apêndice B
Avaliação de Aspectos e Impactos Ambientais – Empresa 2
IMPACTOS
Uso de Recursos Naturais
Contaminação das águas
Contaminação do solo e/ou águas
subterrâneas
Contaminação do ar
Incômodo a partes interessadas
Entradas Saídas
Número da operação / etapa
Descrição do Aspecto
Severidade
Abrangência
Probabilidade (P)
Importância do Impacto I = I = (Sv+Ab) x P
Existe Requisito Legal?
0-Não 5-Sim
Existe Medida de Controle?
0-Sim 4- Sim, mas não atende 6-Não
Resultado (somatória) R= I+RL+MC
Medida de Controle
Consumo de energia elétrica 1 0 0 0 1 3 6 0 6 12
1
Consumo de papel 1 0 0 0 1 3 6 0 0 6
Uso sempre que possível da frente
e verso do papel
Consumo de energia elétrica 1 0 0 0 1 2 4 0 6 10
Consumo de papelão 1 0 0 0 1 2 4 0 6 10
2
Geração de Resíduos Sólidos (papelão) 0 0 1 0 1 2 4 5 4 13 Destinação aterro sanitário
Consumo de energia elétrica 2 0 0 0 1 3 9 0 6 15
Consumo de Tecido 3 0 0 0 2 3 15 0 6 21
Geração de Resíduos Sólidos (tecido) 0 0 3 0 2 3 15 5 4 24 Destinação aterro sanitário
Geração de Resíduos Sólidos (papelão e plásticos) 0 0 1 0 1 1 2 5 6 13 Destinação aterro sanitário
3
Geração de Ruídos 0 0 0 0 1 3 9 5 6 14
Consumo de energia elétrica 3 0 0 0 2 3 15 0 6 21
Consumo de água 3 0 0 0 1 3 12 5 6 23
Consumo de substancias químicas 3 0 0 0 2 3 15 0 6 21
Geração de efluentes líquidos 0 0 3 0 2 3 15 5 4 24 Tratamento em tanque séptico
4
Geração de resíduos perigosos 0 0 3 0 2 3 15 5 4 24 Destinação aterro sanitário
170
Apêndice B
Avaliação de Aspectos e Impactos Ambientais – Empresa 2 - CONTINUAÇÃO
IMPACTOS
Uso de Recursos Naturais
Contaminação das águas
Contaminação do solo e/ou águas
subterrâneas
Contaminação do ar
Incômodo a partes interessadas
Entradas Saídas
Número da operação / etapa
Descrição do Aspecto
Severidade
Abrangência
Probabilidade (P)
Importância do Impacto I = I = (Sv+Ab) x P
Existe Requisito Legal?
0-Não 5-Sim
Existe Medida de Controle?
0-Sim 4- Sim, mas não atende 6-Não
Resultado (somatória) R= I+RL+MC
Medida de Controle
Consumo de energia elétrica 3 0 0 0 1 3 12 0 6 18
Consumo de aviamentos 2 0 0 0 1 3 9 0 9 18
Geração de ruídos 0 0 0 0 1 3 9 5 6 14
5
Geração de resíduos (plástico, fios, papelão, tecido ) 0 0 1 0 1 1 2 5 6 13 Destinação aterro sanitário
Consumo de energia elétrica 1 0 0 0 1 3 6 0 6 12
6
Geração de resíduos (plástico, fios, papelão, tecido ) 0 0 1 0 1 1 2 5 6 13 Destinação aterro sanitário
7
Consumo de energia elétrica 1 0 0 0 1 3 6 0 6 12
171
Apêndice C
Quantificação de Resíduos Sólidos por Setor – Empresa 3
Administração Funilaria Oficina Mecânica Peças/ Acessórios Posto de Lavagem Vendas Resíduos
Sólidos
Gerados
kg/
mês
%
(setor)
%
(empresa)
kg/
mês
%
(setor)
%
(empresa)
kg/
mês
%
(setor)
%
(empresa)
kg/
mês
%
(setor)
%
(empresa)
kg/
mês
%
(setor)
%
(empresa)
kg/
mês
%
(setor)
%
(empresa)
Total
Papel/Papelão 100,1 46,26 19,67 21,1 4,13 4,15 123,2 16,69 24,21 128,7
65,80 25,29 19,1 13,08 3,75 116,6
46,68 22,92 508,8
Plástico 20,6 9,52 5,65 3,7 0,72 1,01 184,8 25,04 50,69 49,3 25,20 13,52 52,1 35,68 14,29 54,1 21,66 14,84 364,6
Metal 0 0,00 0,00 0 0,00 0,00 58,3 7,90 88,87 0 0,00 0,00 0 0,00 0,00 7,3 2,92 11,13 65,6
Rejeito 95,7 44,22 8,56 485,8 95,14 43,47 371,8 50,37 33,27 17,6 9,00 1,57 74,8 51,23 6,69 71,8 28,74 6,43 1117,5
Total 216,4 100,00
10,52 510,6 100,00
24,83 738,1 100,00
35,89 195,6
100,00
9,51 146 100,00
7,10 249,8
100,00
12,15 2056,5
172
Apêndice D
Dimensionamento dos coletores para a segregação na origem – Empresa 3
Setor Tipo de Coletor Cor Quantidade Quantidade Total Valor unitário (R$) Valor total (R$)
Amarelo 01
Plástico 01
Polipropileno 22 L
Rejeito 01
3 39,00 117,00
CANTINA
(Vendas)
Total 117,00
Tonel 190 L Cinza 2 2 6,50 13,00
Caixa Polipropileno
-22 L
Azul 1 1 29,00 29,00
PINTURA
(Funilaria)
Total 42,00
Vermelho 1
Azul 1
Tonel 190 L
Cinza 1
3 6,50 19.50
FUNILARIA
Total 19,50
Polipropileno 97 L Vermelho 1 1 39,00 39,00
Caixa Polipropileno
-22 L
Azul 5 5 29,00 145,00
Polipropileno 14 L Azul 1 1 9,90 9,90
Vermelho 1
Tonel 190 L
Azul 1
2 6,50 13,00
PEÇAS E ACESSÓRIOS
Total 206,90
Polipropileno 14 L Azul 3 3 9,90 29,70
Vermelho 2
Azul 1
Amarelo 2
Tonel 190 L
Laranja 1
6 6,50 39,00
Caixa Polipropileno -
22 L
Azul 6 6 29,00 174,00
CSPE-50 SUPER Completo 1 1 290,00 290,0
OFICINA MECÂNICA
Total 532,70
CS-14 Azul 21 21 9,90 207,90
Caixa Polipropileno
-22 L
Azul 1 1 29,00 29,00
ADMINISTRAÇÃO
Total 236,90
Polipropileno 14 L Azul 10 10 9,90 99,90
Caixa Polipropileno
-22 L
Azul 1 1 29,00 29,00
Vermelho 1
Cinza 1
Polipropileno 22 L
Azul 1
3 39,00 117,00
VENDAS
Total 245,90
Amarelo 1
Vermelho 1
Polipropileno 14 L
Azul 1
3 16,90 50,70
SALA DE ESPERA
(Oficina Mecânica)
Total 50,70
Polipropileno 14 L Azul 4 4 9,90 39,60
Caixa Polipropileno
-22 L
Azul 1 1 29,00 29,00
Vermelho 2
Amarelo 3
Laranja 2
Tonel 190 L
Azul 1
8 6,50 52,00
ASSISTÊNCIA TÉCNICA
(Oficina Mecânica)
Total 120,60
Cinza 1
Laranja 1
Tonel 190 L
Amarelo 1
3 6,50 19,50
BOX RÁPIDO
(Oficina Mecânica)
Total 117,00
Vermelho
1
Tonel 190 L
Cinza 1
2 6,50 13,00
POSTO DE LAVAGEM
(Oficina Mecânica)
Total
13,00
TOTAL
1702,20
173
Apêndice E
Projeto da Área de Armazenamento dos Resíduos Recicláveis da Empresa 3
2 m
Papel e Papelão
Plástico
Embalagens
de Óleo
Metal
0,7 m
0,7 m
0,9 m
5m
1,8 m
0,15 m
0,15 m
1,5 m
Altura 1,5 m
Altura 2,5 m
PLANTA BAIXA ÁREA DE ARMAZENAMENTO
RESÍDUOS SÓLIDOS RECICLÁVEIS
Data
Outubro / 2007
Escala
1 : 200
Revisão
0
Papel / Papelão
Plástico
Metal
Embalagens de óleo
Descrição
Volume (m^3)
4,5
2,0
1,6
1,6
174
Apêndice F
Monitoramento da destinação de resíduos para reciclagem externa e Receita gerada na Empresa 3.
Meses Monitorados
Out/07 Nov/07 Dez/07 Jan/08 Fev/08 Mar/08 Total
Resíduos Sólidos
Kg R$ Kg R$ Kg R$ Kg R$ Kg R$ Kg R$ Kg R$
Papel/Papelão
304 45,60
525 78,75 577 86,55 537 80,55 594 89,10 1317 197,55
948 578,10
Plástico
110 27,50
131 32,75 142 35,50 173 43,25 188 47,00 204 51,00 1213 237,00
Metal
0 0 151 15,10 117 11,70 282 28,20 354 35,40 309 30,90 6015 121,30
Total
414 73,10
807 126,60
836 133,75
992 152,00
1136 171,50
1830 279,45
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