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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
CADEIA PRODUTIVA DA FARINHA DE MANDIOCA NA PERSPECTIVA DA
ANÁLISE DE FILIÈRE E SUPPLY CHAIN MANAGEMENT – UM ESTUDO DE
CASO DAS RELAÇÕES ENTRE A AGROINDÚSTRIA E A DISTRIBUIÇÃO
por
NILDETE MARIA DA COSTA FERREIRA
LICENCIADA EM EDUCAÇÃO ARTÍSTICA, UFRN, 1983
TESE SUBMETIDA AO PROGRAMA DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE COMO PARTE DOS
REQUISISTOS NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE
MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
NOVEMBRO, 2004
© 2004 NILDETE MARIA DA COSTA FERREIRA
TODOS DIREITOS RESERVADOS
O autor aqui designado concede ao Programa de Engenharia de Produção da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte permissão para reproduzir, distribuir, comunicar ao
público, em papel ou meio eletrônico, esta obra, no todo ou em parte, nos termos da Lei.
Assinatura do Autor: ___________________________________________
APROVADO POR:
_____________________________________________________________
Prof. Jorge Luiz Mariano da Silva, Dr. – Orientador, Presidente
_____________________________________________________________
Prof. Sérgio Marques Júnior, Dr. - Membro Examinador
_____________________________________________________________
Maristélio da Cruz Costa, Dr. - Membro Examinador Externo
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ii
Divisão de Serviços Técnicos
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila
Mamede
Ferreira, Nildete Maria da Costa.
Cadeia produtiva da farinha de mandioca na perspectiva da análise
de filière e supply chain management : um estudo de caso das
relações entre a agroindústria e a distribuição / Nildete Maria da
Costa Ferreira. – Natal, RN, 2004.
83 f.
Orientador : Jorge Luiz Mariano da Silva.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Tecnologia. Programa de Engenharia de Produção.
1. Produtividade – Tese. 2. Cadeia produtiva – Farinha de
mandioca – Tese. 3. Agroindústrias - Cadeia produtiva – Tese. 4.
Gestão da cadeia de suprimento – Farinha de mandioca – Tese. I.
Silva, Jorge Luiz Mariano da. II. Título.
RN/UF/BCZM CDU 65.011.4(043.2)
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iii
A Joema, Filipe e Daniel,
com carinho.
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Norte e ao Programa de
Engenharia de Produção (PEP) pela oportunidade;
À Escola Agrícola de Jundiaí, através dos seus dirigentes, professores Júlio César
de Andrade Neto e José Barros da Silva, pelo esforço e apoio para qualificar o quadro de
professores;
Aos amigos que me incentivaram e dividiram comigo horas de estudo;
Ao orientador professor, Jorge Luiz Mariano da Silva, pelas valiosas contribuições
para a realização desse trabalho.
Às firmas pesquisadas, que sempre estiveram disponíveis;
A Luis Gonzaga, consultor de mercado e funcionário da CONAB, pela sua
disponibilidade em repassar informações.
A Olga Carla da Hora Espínola e Lincoln Moraes de Souza, pelas revisões.
A Isaque Asafe Costa da Silva, pela digitação e editoração do trabalho.
v
Resumo da Tese apresentada à UFRN/PEP como parte dos requisitos necessários para a
obtenção do grau de Mestre em Ciências em Engenharia de Produção.
CADEIA PRODUTIVA DA FARINHA DE MANDIOCA NA PERSPECTIVA DA
ANÁLISE DE FILIÈRE E SUPPLY CHAIN MANAGEMENT – UM ESTUDO DE
CASO DAS RELAÇÕES ENTRE A AGROINDÚSTRIA E A DISTRIBUIÇÃO
NILDETE MARIA DA COSTA FERREIRA
Novembro/2004
Orientador : Jorge Luiz Mariano da Silva
Curso : Mestrado em Ciências em Engenharia de Produção
RESUMO: Este trabalho tem por objetivo estudar a cadeia produtiva da farinha de
mandioca buscando compreender como seus segmentos, especialmente as agroindústrias
farinheiras e a distribuição, estão se relacionando para manter a cadeia de suprimento num
contexto de uma economia globalizada. Em termos metodológicos, aplicou-se a análise de
filière e supply chain management, além de um estudo de caso, realizado através de
entrevista, buscando identificar como funciona e como se organiza a cadeia produtiva
agroindustrial da farinha de mandioca, envolvendo três agroindústrias na região Agreste
Potiguar e a Distribuidora de Produtos Kero-kero. Buscou-se descrever como funciona a
cadeia produtiva, direcionando o foco do estudo para os elos que, teoricamente, estariam
mais fortes na cadeia produtiva quando realizam as suas transações através da cadeia de
suprimento. Verificou-se que, entre o segmento de distribuição e o segmento de
processamento, ocorrem relações distintas, que incluem desde um contrato informal, com
único cliente, à compra eventual com vários clientes. Por fim, o estudo de caso aponta para
a conclusão de que os contratos existentes, mesmos informais, trazem benefícios mútuos e
sugere que sejam legalizados.
vi
Abstract of the disserastion showed to UFRN/PEP as part of the necessary requisites to
obtain the Master in Production Engineering Science grade.
November/2004
Thesis Supervisor : Jorge Luiz Mariano da Silva
Program: Master of Science in Production Engineering
ABSTRACT: This research aims to study the manioc flour productive chain in order to
understand how the relationship between its segments happens, specially between the flour
agroindustry and the distribuition. This research was made from a study of case that
envolved three agro industries from the Potiguar wasteland and a company of food
distribution. The filiére and the supply chain management analysis were applied to identify
the functioning and the organization of the manioc flour productive chain. From the study
of case it’s noticed that the existing contracts, even the informal ones, has mutual benefits
and it suggests that they be legalized.
vii
SUMÁRIO
Capítulo 1 Introdução.............................................................................................................1
1.1 Considerações iniciais sobre o estudo da cadeia de produção agroindustrial da farinha
de mandioca ............................................................................................................................1
1.2 Produção da raiz de mandioca ..........................................................................................2
1.3 Produção de Farinha de mandioca....................................................................................7
1.4 Justificativa .......................................................................................................................8
1.5 Objetivo ............................................................................................................................9
1.6 Metodologia....................................................................................................................10
1.7 Estrutura do trabalho.......................................................................................................11
Capítulo 2 Revisão de Literatura ..........................................................................................13
2.1 O Agronegócio................................................................................................................13
2.2 O conceito de agribusiness, filière e commodity sistem approach (CSA) ......................17
2.3 Enfoque sistêmico e mesoanalítico.................................................................................21
2.4 Sistema agroindustrial e complexo agroindustrial..........................................................25
2.5 Supply Chain Management (SCM) ……………………………….................................28
2.5.1 Supply Chain Management como método para integrar os elos da cadeia de
produção agroindustrial …........................……………………………………………..33
2.6 Trabalhos sobre a CPA da farinha de mandioca.............................................................39
2.7 Conclusão........................................................................................................................39
Capítulo 3 Metodologia ........................................................................................................40
3.1 A Filiére e SCM como métodos de análise.....................................................................40
3.2 Classificação do estudo...................................................................................................41
3.3 Fontes e instrumento da pesquisa ...................................................................................42
3.4 Identificação dos entrevistados.......................................................................................43
Capítulo 4 Descrição e Funcionamento da CPA da Farinha de Mandioca...........................45
4.1 Sobre os municípios........................................................................................................45
viii
4.2 Caracterização da CPA da farinha de mandioca.............................................................46
4.3 Atividades operacionais da cadeia de produção da farinha de mandioca...................... 48
4.4 Sobre as recomendações para práticas na fabricação de farinha de mandioca...............51
4.5 A produção da farinha de mandioca em Vera Cruz e São José de Mipibu.....................51
4.6 Funcionamento interno das firmas..................................................................................52
4.7 Descrição dos resultados da CPA ...................................................................................53
4.7.1 Insumos..................................................................................................................53
4.7.2 Fornecimento de matéria prima .............................................................................53
4.7.3 Controle da qualidade da matéria prima e produto................................................56
4.7.4 Estoques.................................................................................................................58
4.7.5 Embalagem e armazenamento ...............................................................................58
4.7.6 Distribuição e comercialização..............................................................................59
4.7.7 Fluxo de informação ..............................................................................................61
4.8 Relacionamento agroindústria X distribuidora...............................................................62
4.9 Aproveitamento de subprodutos .....................................................................................64
4.10 Distribuidora X varejista X consumidor.......................................................................64
4.11 Programas Governamentais que influenciam na CPA da farinha de mandioca ...........65
4.12 Conclusão......................................................................................................................66
Capítulo 5 Análise dos Resultados da SCM..........................................................................67
5.1 As inter-relações na CPA................................................................................................67
5.2 Conclusão........................................................................................................................72
Capítulo 6 Conclusões..........................................................................................................73
6.1 Sobre o estudo de caso para se compreender uma CPA.................................................73
6.2 Análise crítica do objetivo ..............................................................................................74
6.3 Limitações do trabalho....................................................................................................75
6.4 Direções de pesquisa.......................................................................................................75
ix
6.5 Conclusões gerais............................................................................................................76
6.6 Recomendações...............................................................................................................78
Referências............................................................................................................................80
ANEXOS ..............................................................................................................................84
x
LISTA DE TABELAS
Tabela Nº Página Nº
1-1 Produção mundial da raiz de mandioca: principais regiões em 1999............................3
1-2 Produção mundial de mandioca: principais países em 1999 .........................................3
1-3 Produção nacional de raiz de mandioca no Brasil por regiões em 2001/2002............. 4
1-4 Principais municípios produtores de mandioca do Rio Grande do Norte – 2002 .........6
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura Nº Página Nº
1-1 Distribuição da produção de mandioca por grupo de área total no Brasil, em
1996.........................................................................................................................................5
2-1 Esquema de uma cadeia de produção agroindustrial .....................................................20
2-2 Esquema de uma cadeia de produção agroindustrial incluindo os fluxos de informação
e de produto ..........................................................................................................................24
2.3 Esquema do complexo agroindustrial da mandioca.......................................................27
2-4 Sistema logístico. Adaptado de Alves............................................................................32
4-1 Esquema da cadeia de produção da farinha de mandioca..............................................50
4-2 Fluxo de matéria-prima e produto através da cadeia de suprimento na CPA da farinha
de mandioca..........................................................................................................................61
5-1 Mercados que se formam na cadeia de suprimento entre os agentes da CPA ...............68
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro Nº Página Nº
2-1 Evolução do conceito de logística. Adaptado de Wood e Zuffo (1998) e Christopher
(1992)....................................................................................................................................30
3-1 Síntese das relações entre os diferentes segmentos da CPA ..........................................41
4-1 Sinopse das atividades logísticas internas das firmas.....................................................53
5-1 Quantidade de fornecedores / compradores versus segmentos da CPA.........................71
xiii
LISTA DE SIGLAS
CAAF – Compra Antecipada da Agricultura Familiar
CDAF – Compra Direta da Agricultura familiar
CGCAF – Contrato de Garantia de Compra da Agricultura Familiar
CONAB – Companhia de Abastecimento Nacional
COVISA – Comissão de Vigilância Sanitária
CPA - Cadeia de produção agroindustrial
EMATER – Instituto de Assistência Técnica e Extensão rural do estado do rio Grande do
Norte
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEMA – Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do
Norte
SCM – Supply chain manegement
SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Norte
xiv
LISTA DE SIGLAS
IDEMA - Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do
Norte
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
SEBRAE - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Norte
FIERN - Federação da Indústria e Comércio do Rio Grande do Norte
EMATER - Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio Grande do
Norte
CPA - Cadeia de Produção Agroindustrial
CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
SCM - Supply Chain Manegement
SUGOF – Superintendência de Gestão e Oferta
COVISA - Comissão de Vigilância Sanitária
CAAF -Compra Antecipada da Agricultura Familiar
CDAF - Compra Direta da Agricultura Familiar
CGCAF - Contrato de Garantia de Compra da Agricultura Familiar
1
Capítulo 1
Introdução
Este capítulo trata de algumas questões relacionadas à cadeia produtiva da
farinha de mandioca, enfocando também a produção da raiz de mandioca. Faz algumas
considerações sobre a importância das agroindústrias na geração de renda e da farinha
de mandioca como alimento presente na mesa de parcela da população.
1.1. Considerações iniciais sob re o estudo da cadeia de produção
agroindustrial da farinha de mandioca
As atividades produtivas ligadas à produção da farinha de mandioca no estado
do Rio Grande do Norte são uma das fontes, na área agrícola, de geração de emprego e
renda para muitos trabalhadores em diversos municípios.
Se por um lado, o aumento da competição nos últimos anos gera novos desafios
e oportunidades para o setor produtivo, em particular do agronegócio, traduzido nas
exigências de normas de fabricação; na concorrência, que requer tecnologia mais
moderna de fabricação; tecnologia de gestão; utilização de novas máquinas e
equipamentos, e na falta de recursos, entre outros. Por outro lado, induz as firmas a
buscarem e criarem novos arranjos organizacionais. Portanto, premidas pela
necessidade de manterem sua sobrevivência e adequarem-se aos novos parâmetros do
mercado as firmas, geralmente, se deparam com duas situações: reestruturam-se ou
fecham. Estudar a cadeia de produção agroindustrial (CPA) da farinha e como os
agentes se relacionam entre si, nos conduz, no primeiro momento, a dar atenção para a
produção da matéria-prima, a mandioca, abordamos alguns aspectos da produção
2
mundial, no Brasil e no estado do Rio Grande do Norte os quais estão contemplados nas
seções 1.2 e 1.3 deste capítulo.
1.2. Produção da raiz de mandioca
A mandioca, originária da América do Sul, foi largamente cultivada pelas
populações indígenas, que a utilizavam como principal fonte de alimentação na
fabricação de farinha, na obtenção da massa de carimã (utilizada em bolo), no beiju
(variação da tapioca) ou ainda na produção de uma farinha que se chama uiatan.
Segundo Bezerra (2000), em matéria na revista Globo Rural, o alemão Hans Staden,
quando da sua passagem pelo Brasil nos anos compreendidos entre 1548 e 1555, relata:
Nos lugares em que pretendem fazer plantações, os selvagens derrubam as árvores e
deixam-nas secando por cerca de três meses[...] ateiam fogo[...] entre os troncos das
árvores, então plantam a raiz que lhes servem como alimento. Ela se chama mandioca
[...].
A mandioca, até hoje, se constitui numa das poucas fontes de carboidratos,
vitaminas (A, B1, B2, B6 e C) e sais minerais à disposição da população mais carente.
Embora historicamente desprezada, a cultura da mandioca é de grande importância
econômica, sendo uma das lavouras que mais empregam pessoas, quase 2 milhões de
empregos diretos em torno da cadeia produtiva, proporcionando uma receita anual
equivalente a 2,5 bilhões de dólares (BEZERRA, 2000).
A produção brasileira de mandioca chega a 12,8% da produção mundial e ocupa
o segundo lugar, depois da Nigéria. Em 2002, o Brasil produziu mais de 23 milhões de
toneladas, das quais 60% são consumidas in natura, tanto na alimentação animal quanto
na alimentação humana, 30% como matéria-prima para a fabricação de farinha de mesa
e 10% na forma de fécula, utilizado na produção de alimentos ou como insumos para a
indústria química e farmacêutica (CUNHA e FLORENTINO, 2003). Nestas indústrias,
a fécula de mandioca, entra na composição de lama aquosa na mineração do petróleo, na
produção de álcool, indústria de papel (preparo da massa e recobrimento da superfície),
indústria têxtil (para evitar encolhimento de tecido), produção de adesivos e de agentes
ligantes e na indústria de fundições.
O Brasil é o responsável pela exportação de 300 mil toneladas/ano, o segundo
exportador mundial, sendo 90% em fécula e 10% em farinha de soja/mandioca . No que
3
se refere à exportação da fécula, esta deverá crescer em torno de 30% ao ano devido ao
fim dos subsídios a produção de fécula derivada da batata da Europa (BEZERRA,
2004).
Considerando a produção mundial da raiz de mandioca, o continente Africano é
o maior produtor, sendo a Nigéria o país que tem uma maior participação, em termos
percentuais, como mostram as Tabelas 1-1 e 1-2. Já o Brasil mantém-se como segundo
maior produtor no ranking mundial, mesmo tendo oscilado sua produção.
Tabela 1-1 Produção mundial da raiz de mandioca: principais
regiões em 1999
Regiões
Participação(
%)
Quantidade
(milhões de ton)
África 54,8 92.119.233
Ásia 27,4 46.057.117
Américas 17,6 29.694.889
Oceania 0,11 183.292
Total 100,00 168.054.531
Fonte: FAO (1999) in EMBRAPA. atualizado em 2000.
Tabela 1-2. Produção mundial de mandioca: principais países em 1999
Países Participação (%) Quantidade (milhões de ton.)
Nigéria 19,7 33.060
Brasil 12,5 20.932
Tailândia 9,8 16.506
República D. do Congo 9,8 16.000
Indonésia 9,1 15.421
Total 60.9 101.919
Fonte: FAO(1999) in EMBRAPA..
Nesse sentido, a produção brasileira de raiz de mandioca caiu 12,5%, entre os
anos de 1995 a 1999. Porém, entre 1999 e 2002, houve um aumento de produção de
20.932 para 23.065 toneladas (IBGE, 2003) equivalente a 10,1%, distribuídas em todas
as regiões brasileiras. Dentre as regiões consumidoras destacam-se a região semi-árida
do Nordeste e Norte, principalmente sob a forma de farinha (CUNHA e
FLORENTINO, 2003). No Sul e Sudeste a produção destina-se principalmente à
indústria, através da fécula, cujo grau de tecnologia aplicada no plantio e nas indústrias
processadoras é mais sofisticado. Das regiões brasileiras, o Nordeste é o maior produtor
4
da raiz (Tabela 1-3). Sua participação é de 35,5% da produção nacional; o Norte de
26,3%; o Sul de 23%; Sudeste de 9,0% e Centro-oeste de 6,2% (IBGE, 2003).
Comparando a Tabela 1-3, verifica-se que, enquanto o Nordeste o Sudeste reduziram
sua produção, em 2002, o Norte e o Centro-Oeste alcançaram índices maiores que o ano
anterior. Essa redução foi derivada das áreas de seca nos estados de Pernambuco e
Bahia e da substituição do plantio de mandioca por soja na região do arenito, em
especial do Paraná (CONAB, 2003). Mesmo assim entre os estados da Federação os
maiores produtores são o Pará, a Bahia e o Paraná.
Tabela 1-3. Produção nacional de raiz de mandioca no Brasil por regiões em 2001/2002
2001 2002
Região
Quantidade
(milhões/ton)
Participação (%)
Quantidade
(milhões/ton)
Participação (%)
Nordeste 8.275,0 36,0 8.181,9 35,5
Norte 5.860,1 25,5 6.074,1 26,3
Sul 5.285,9 23,0 5.314,6 23,0
Sudeste 2.180,9 9,5 2.080,5 9,0
Centro-oeste 1.387,7 6,0 1.414,5 6,2
Total 22.989,6 100 23.065,67 100
Fonte: IBGE 2003.
Por se tratar de uma cultura temporária e de fácil cultivo, exigindo menos
insumos e mão-de-obra não especializada, por isso com menor custo de produção, a
mandioca é cultivada em todas as regiões do Brasil por pequenos produtores, que têm
nessa cultura a sua fonte de subsistência. Além desses fatores, há uma forte influência
cultural relacionada aos hábitos alimentares.
A sua utilização se destina principalmente à ração animal, ao consumo in natura
e à produção de farinha de mesa. Os dados do último Censo Agropecuário (1995-1996),
mostram que as áreas que mais produziram foram as de produtores com plantio de 50
hectares (IBGE), (Figura 1-1), se configurando, assim, como uma atividade de pequenos
produtores. Nesse contexto, o destino da produção da raiz da mandioca foi distribuído
da seguinte maneira: 516 toneladas para o consumo do próprio produtor; 49 toneladas
para estoque; 27 toneladas entregue às cooperativas; 9.916 destinadas à agroindústria;
5
87.137 toneladas entregues aos intermediários; l.627 toneladas vendidas diretamente ao
consumidor; e 201 sem declaração. Apesar de os dados estarem defasados em mais de
dez anos, eles indicam que o maior percentual da produção foi entregue ao
intermediário.
Distribuição da produção de mandioca por grupo de área total no Brasil, em 1996.
Figura 1-1
Fonte: IBGE (1999).
No Nordeste brasileiro a maior parte da mandioca cultivada é destinada à
fabricação da farinha, o restante é utilizada na ração animal. Tal produção é realizada
em pequenas casas de farinha, algumas vezes por processo artesanal e outras já
incorporando outro tipo de tecnologia, ainda em pequena escala. O plantio da mandioca
constitui-se uma atividade econômica importante onde milhares de pessoas dependem
do cultivo e da sua comercialização e seus derivados para sobreviver, além de se
constituir num dos alimentos básicos e numa das poucas fontes de carboidratos,
vitaminas, proteínas e sais minerais à disposição de parcelas da população pobre.
Geralmente é cultivada por pequenos agricultores, em reduzidas áreas, sem uso de
tecnologia consideradas modernas, possibilitando uma baixa produtividade, em torno de
10 toneladas por hectare, longe do potencial da planta que, sob condições adequadas de
solo, clima, manejo, adubação etc, alcança em outros estados do Brasil, uma
produtividade de 20 toneladas por hectare (IBGE, 2003).
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Grupo de Área Total (ha)
Participação (%)
6
No Rio Grande do Norte, a cultura da mandioca em 1999 ocupava o terceiro
lugar da produção agrícola, em 2000 passa para o quinto lugar (IDEMA, 2000). Com
relação a produção de 2003, esta superou as estimativas realizadas pela CONAB-RN
atingindo 373.163 toneladas, com área cultivada em 40.259 hectares, representando um
acréscimo de 2,4% em relação ao ano de 2002 (IBGE, 2003). Estima-se para 2004,
devido à situação climática favorável, um aumento de área em torno de 10% e da
produção em 15% o que significa a produção aumentar para mais de 429 mil toneladas
(CONAB, 2004).
A mandioca é uma das importantes culturas temporárias disseminada e cultivada
por todo o estado, principalmente nas Regiões do Agreste e Leste Potiguar, destacando-
se os municípios de Nova Cruz, Macaíba, Serrinha e Vera Cruz (Tabela 1-4) e ainda o
município de Serra de Santana, situado na Região Central Potiguar, este como maior
produtor da raiz no estado.
Tabela 1-4. Principais municípios produtores de mandioca do Rio Grande do Norte - 2002
Município Área plantada (ha)
Quantidade
produzida(t)
Rendimento médio
(kg/ha)
Serra de Santana 3.770 35.540 9.427
Nova Cruz 2.580 25.800 10.000
Macaíba 3.100 24.800 8.000
Serrinha 1.945 23.340 12.000
Senador Elói de Souza 1.975 19.800 10.000
Vera Cruz 1.975 19.750 11.000
Brejinho 1.628 16.250 10.000
outros 23.461 207.833 10,62
Total 40.259 373.163 9.350
Fonte: IBGE 2003
A produção estadual da raiz de mandioca vem sendo utilizada como matéria-
prima para a produção de farinha, goma e in natura na alimentação humana e do
rebanho bovino. Devido ao aumento de preços da raiz, compreendidos entre março de
7
2002 e março de 2003, em torno de 177,7 %, tem-se reduzido o consumo para a ração
animal (CONAB, 2003).
Em relação à sua utilização na produção da farinha de mandioca, dos municípios
que se destacam incluem-se Brejinho e Vera Cruz, com produção destinada a todo o
estado do Rio Grande do Norte e a outros estados do Nordeste brasileiro.
1.3. Produção de farinha de mandioca
Entende-se por farinha de mandioca o produto obtido de raízes provenientes de
plantas da família Euphorbiaceae, gênero Manihot esculenta Crantz, tratadas por
processo tecnológico adequado (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1995). Cassava,
é seu nome em inglês.
As farinhas de mandioca que passam por processos de torrefação (farinha
torrada, farinha de mesa e farinha d’água), são geralmente utilizadas no consumo direto
à mesa, enquanto as farinhas provenientes de raízes secas (de raspa ou de apara), têm
fins diversificados (farinha alimentícia panificável), utilizada em grande escala na
década de 70
1
, do século passado, destinada principalmente para a fabricação de massas
em misturas com a farinha de trigo.
No processo de fabricação da farinha, a manipuera (acído cianídrico), líquido
extraído depois da prensagem, está sendo utilizado como fertilizante na lavoura, e a
raspa na complementação da ração bovina. No entanto, é ainda em forma de farinha de
mandioca um dos alimentos bem consumidos incluída como alimento diário da
população, apesar do seu baixo teor protéico (1,5%). Pesquisa realizada com ratos
mostra que enriquecida com bioproteína a farinha poderá ser usada como complemento
alimentar para humanos (METRI et al, 2003).
Além de pesquisa orientada para a alimentação humana, outras foram realizadas
utilizando a farinha de mandioca na composição de ração para animais como o frango,
1
Nesse período, a resolução nº 15/70 da Comissão de Normas e Padrões do Ministério da Saúde restringe
o uso do bromato de potássio, produto utilizado em grande escala na fabricação do pão francês. Mais
recentemente, com a preocupação em reduzir a importação do trigo, o Congresso Nacional aprovou, em
março de 2002, lei que obriga a utilização de 20% de fécula de mandioca, pelas indústrias alimentícias, a
fazer uso na produção de pães e 40% nas bases de pizzas, além do uso em biscoitos e macarrão. Diário
do Nordeste, 24/05/2002. Fortaleza-Ceará-Brasil.
8
ganso, camarão, tilápia híbrida e tilápia do Nilo, nesse último caso, usando-se a farinha
de varredura (que cai no chão da fábrica) como componente ligante e substituto do
milho (BOSCOLO et al, 2002).
Originadas das casas de farinha, as quais por sua vez, foram criadas pelos
portugueses a partir do aproveitamento da maquinaria da uva ou da azeitona
(MAYANARD, 2000), as agroindústrias farinheiras que permanecem produzindo vêm
aos poucos se modificando. A abertura de mercado gerando aumento da concorrência, a
falta de recursos financeiros e a falta de uma gestão adequada, contribuiu para os
pequenos produtores de farinha de mandioca desistirem das suas atividades. Para
muitos, devido à não adoção de tecnologia dita modernas e práticas de fabricação mais
adequadas; o não investimento em marketing e design de embalagens, decorrentes da
falta de recursos financeiros e de conhecimentos; a não articulação com os fornecedores
de matéria-prima; influenciam para que seus produtos fiquem fora das prateleiras dos
grandes abastecedores do mercado, os supermercados.
Quanto às agroindústrias farinheiras tradicionais existentes no Estado, umas
foram fechadas e outras, nas quais houve aquisição de equipamentos com certo grau de
automação, melhorando assim, o processo de produção, continuam caracterizando-se
como uma atividade importante na geração de trabalho e renda para o pequeno produtor.
1.4. Justificativa
A produção da raiz de mandioca é uma atividade importante para a economia
agrícola potiguar e matéria-prima na produção da farinha, que se constitui em um
produto presente na maioria da dieta alimentar humana. Destaca-se ainda pela
capacidade de geração de emprego, por meio de toda cadeia produtiva, compreendendo
desde o plantio da mandioca, a transformação em farinha e sua distribuição até o
consumidor final.
As firmas processadoras de farinha, as agroindústrias, se caracterizam por
explorarem pouca tecnologia, considerada avançada, com emprego de mão-de-obra não
especializada e uso de recursos financeiros próprios. Mantém outras atividades
econômicas para se tornarem sustentáveis, visto que em determinados períodos do ano,
por exemplo, no verão a matéria prima não é suficiente para manter uma produtividade
que cubra os custos de manutenção da firma. Não somente as questões climáticas
9
interferem, mas, também, a falta de uma programação da produção, que pode ser
efetivada através da gestão da cadeia de suprimento, pode afetar o desempenho da
cadeia produtiva. Além de fatores, como sazonalidade e condições climáticas, os
produtores da matéria-prima não levam em consideração a capacidade instalada das
unidades de processamento, ocorrendo um período de escassez ou de excesso na oferta
da raiz de mandioca.
Apesar das dificuldades enfrentadas algumas agroindústrias mantêm-se no
mercado vendendo seu produto para todo estado do RN através de um canal de
distribuição.
Na pesquisa bibliográfica referente ao tema, poucos trabalhos foram
encontrados, ainda assim todos focados no estudo da cadeia produtiva da mandioca.
Portanto, no âmbito estadual, apenas a Companhia Nacional de Abastecimento
(CONAB) realizou um estudo de levantamento sobre a cadeia produtiva da farinha
enfocando a formação de preço, no entanto, não se traduz numa proposta para as firmas
nem para a cadeia como um todo, mas para cumprimento dos seus objetivos
institucionais. Portanto, entende-se que pouca atenção tem sido dada à produção de um
produto básico na alimentação de muitos nordestinos.
O presente trabalho busca analisar como as firmas, da cadeia de produção da
farinha de mandioca, estão se articulando, partindo da pressuposto de que o desempenho
e a competitividade de uma cadeia produtiva dependem, também, das formas de
relações entre os seus segmentos. Nessa perspectiva, estudos como esse podem
contribuir para um melhor entendimento da cadeia produtiva da farinha de mandioca, e,
também servir como subsídio na formulação de políticas dos órgãos públicos para o
setor.
1.5. Objetivo
O objetivo do trabalho é estudar a cadeia produtiva da farinha de mandioca,
usando como método a análise de filière e de supply chain management (SCM). Busca-
se, assim, compreender o funcionamento da cadeia produtiva da farinha de mandioca no
estado do Rio Grande do Norte, identificando os pontos que possam interferir no
desempenho das agroindústrias e da cadeia como um todo, bem como analisar as inter-
relações existentes entre os elos da cadeia, quando se enfoca a cadeia de suprimento.
10
1.6. Metodologia
Trata-se de um estudo de caso, incluindo dados qualitativos e quantitativos,
dirigido para analisar a cadeia produtiva da farinha de mandioca. O trabalho foi
realizado através de pesquisa bibliográfica geral voltada para o estudo sobre cadeia
produtiva sob o referencial teórico da aplicação do conceito de filiére ou cadeia de
produção agroindustrial (BATALHA, 2001) e de supply chain management (SCM) ou
gestão da cadeia de suprimento (CHRISTOPHER, 1999), e de trabalho de campo, com
entrevistas dos segmentos de distribuição e transformação da cadeia produtiva da
farinha de mandioca.
Em relação à pesquisa bibliográfica, o estudo da cadeia de produção
agroindustrial (CPA) da farinha, com enfoque da análise de filière, e também do
conceito de SCM, leva a uma visão sistêmica e uma atenção ao gerenciamento das
atividades operacionais internas das firmas, bem como as relações que se estabelecem
entre os vários segmentos da CPA, principalmente entre as agroindústrias e a
distribuição.
Alguns dados, relacionados à produção, aos municípios foram coletados dados
no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Empresa Agropecuária do Rio
Grande do Norte (EMPARN), Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresa
(SEBRAE), Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande
do Norte (IDEMA), Secretaria da Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte,
Federação da Indústria e Comércio do Rio Grande do Norte (FIERN), Instituto de
Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte (EMATER) procurando
identificar o lugar que ocupa e a forma como se organiza a produção de mandioca no
Estado.
Já para a pesquisa de campo, foram delimitados os municípios de Vera Cruz e
São José de Mipibú, localizados no Agreste Potiguar, e uma distribuidora de alimentos
localizada no município de Parnamirim (RN) visto que, por se enquadrar em alguns
requisitos, de tamanho e importância na distribuição de produtos alimentares para todo
o estado do Rio Grande do Norte, foi a partir dela que se constatou as relações de
negócio com as três agroindústrias localizadas nos referidos municípios. Além, de Vera
Cruz, ser o sexto município produtor de raiz de mandioca, congrega um maior número
de agroindústria farinheira, que é vendida em todo o estado, através de seus canais de
11
distribuição. Trata-se ainda de um município que vive praticamente da produção,
processamento e comercialização da cultura de mandioca. O segundo município, apesar
de não ser a farinha de mandioca um importante produto componente da economia,
interage, geograficamente, culturalmente e economicamente com o município vizinho
(Vera Cruz), a ponto de confundir-se.
A pesquisa tem recorte temporal referente aos anos de 1999 do século passado,
até 2003 por ter sido um período em que a produção registrou seu pico máximo e, ainda,
ter sido um momento em que algumas melhorias em equipamentos e processos de
produção foram adotadas nas agroindústrias.
No trabalho de campo, foi adotado um roteiro de entrevista, as quais foram
realizadas com o conjunto de atores que compõem a cadeia em estudo: proprietários das
três agroindústrias e um distribuidor, além de entrevistas no escritório da EMATER e na
Secretaria Municipal de Agricultura - Vera Cruz-RN.
Os dados da pesquisa de campo foram checados com o referencial teórico, a fim
de se responder às questões detectadas na pesquisa empírica. Por se tratar de um estudo
de caso, o resultado do trabalho, com as devidas considerações, fica restrito, portanto,
ao âmbito dos segmentos estudados na cadeia produtiva, ou seja, como se estruturam as
relações inter-organizacionais dos segmentos, focando a distribuição e a agroindústria.
1.7. Estrutura do trabalho
O trabalho foi estruturado de maneira a facilitar o desenvolvimento desse
relatório, apresentado de acordo com a seqüência descrita a seguir.
A Introdução, capítulo um, contempla as considerações acerca do estudo
proposto, enfatizando alguns aspectos da produção da matéria-prima no âmbito nacional
e estadual. Contextualiza a produção da farinha de mandioca, justificando o estudo e
explicitando seu objetivo. Ainda descreve uma visão geral da metodologia aplicada.
Subseqüentemente, o capítulo dois trata da revisão da literatura sobre o tema
proposto, buscando em livros e artigos científicos, de vários autores e pesquisadores, os
conceitos relativos à cadeia produtiva e gestão da cadeia de suprimento.
12
O capítulo três trata de descrever a trajetória analítica desenvolvida no trabalho,
indicando as fontes e instrumentos de pesquisa, classificação do estudo e caracterização
dos entrevistados.
O capítulo quatro refere-se aos resultados qualitativos do estudo, descrevendo o
funcionamento da cadeia de produção agroindustrial (CPA) no município de Vera Cruz,
e São José de Mipibú, considerando os agentes envolvidos na pesquisa e de como
ocorre o fluxo de produto e materiais na cadeia de suprimento.
O capítulo cinco busca analisar como se inter-relacionam os dois segmentos de
transformação e de distribuição da cadeia produtiva da farinha de mandioca, enfocando
uma distribuidora de alimentos e seus fornecedores (três agroindústrias).
Finalmente, no capítulo seis, algumas conclusões gerais e recomendações são
feitas buscando contribuir com propostas que poderão ser úteis para o agronegócio da
farinha de mandioca no estado do Rio Grande do Norte. Além disso, tece comentários
sobre as dificuldades e limitações do trabalho.
13
Capítulo 2
Revisão de literatura
Esse capítulo tem como objetivo fazer um levantamento do quadro de referência
teórico acerca dos conceitos de cadeia de produção agroindustrial, sistema
agroindustrial e complexo agroindustrial que, historicamente vêm sendo utilizado como
uma ferramenta metodológica de análise para se compreender e estudar as questões
relacionadas ao agronegócio. Além do levantamento do quadro teórico, faz-se uma
breve revisão acerca dos trabalhos sobre a CPA da mandioca.
2.1. O agronegócio
As décadas de 80 e 90 do século passado foram marcadas por grandes e rápidos
avanços tecnológicos e da informática que influenciaram e facilitaram novos arranjos na
economia mundial, se configurando na chamada globalização. A economia globalizada
trouxe novos desafios para os setores da economia, com a expansão mundial das
atividades das empresas, aumentando assim a competitividade entre elas, forçando-as a
adotarem estratégias que lhes facilitem enfrentar os novos desafios e mais rápido se
adaptem a essa realidade. O processo crescente da chamada globalização e de formação
de blocos regionais implicaram maior exposição da economia à concorrência
internacional onde foram exigidos esforços crescentes de reestruturação produtiva. A
reformulação de produtos e de processos, a adoção de novas tecnologias, inovação
organizacional, o uso crescente de pesquisa e desenvolvimento e de técnicas de
informação; os novos arranjos empresariais, através de parcerias e integração são
exemplos de como as empresas buscam estratégias para serem competitivas. Em
contrapartida, a manutenção dessa competitividade significa adaptar-se às mudanças,
que em conseqüência trouxeram novas pressões, como a redução dos custos de
14
produção, que tende a ser superada pelo enfoque no serviço, a sofisticação e exigências
dos clientes e a redução do ciclo de vida dos produtos (DORNIER, 2000). A essas
demandas agregam-se ainda o sistema financeiro, as políticas públicas governamentais,
as regulamentações e leis que influenciam no desempenho das empresas, quando não
são submetidas a elas. Neste sentido,Viola (1985) apud (OASHI, 1999) observa que aos
desafios advindos da globalização associam-se ainda outras questões, quais sejam: a
redução dos limites entre o nacional e internacional; do internacional para o
transacional; o desenvolvimento da biotecnologia, da telemática, da microeletrônica e
da engenharia genética; a concorrência em mercados globalizados.
Diante do exposto, destacamos o setor agroindustrial que, fazendo parte da
economia, também é influenciado por esse processo e busca alternativas e estratégias
competitivas, para se adequar e modernizar-se, de acordo com as novas demandas do
atual mercado.
As implicações da globalização para o agronegócio se refletiram na aceleração
no seu arranjo espacial, com ocupação em áreas de fronteiras, como o Norte e Centro-
Oeste e do Nordeste do Brasil; na redução da capacidade dos governos nacionais
implementarem programas autônomos de gerenciamento de suas economias,
observando-se grande redução do seu grau de intervenção no setor, com corte de 70%
nos recursos financeiros. Como exemplo, pode citar as reduções nos programas de
Promoção e Extensão Rural, da Produção Animal e Vegetal e no Abastecimento
(BARROS in MONTOYA, 2000a). Os sucessivos programas de ajuste econômicos
pelos quais o país passou nos últimos vinte anos também afetaram de maneira
significativa o setor, destacando-se ainda, algumas mudanças na política de
financiamento e juros.
Além desses fatores, o consumidor final passa a exigir produtos de qualidade e
preços menores; muitas inovações tecnológicas são agregadas a processos e produtos
(embalagens, novas composições, rotulagem, apresentação); a produção passa a ser
flexibilizada; novas formas de gestão são adotadas; parcerias são realizadas para que as
firmas mantenham a sua eficiência e o seu desempenho, permanecendo no mercado ou
tentando ganhar fatias de outros mercados.
No processo de internacionalização e de integração da economia mundial, as
cadeias produtivas de alguns produtos são também internacionalizadas e integradas.
Assim, pode-se dizer que também no caso do agribusiness observa-se a globalização,
15
sendo alguns produtos como o frango, a soja e o boi submetidos às exigências dos
mercados internacionais.
O estreitamento entre setor agropecuário e a indústria, quer seja demandante de
insumos e equipamentos, quer seja ofertante de matéria-prima, passa a ser encarado,
nessa nova ordem econômica, como ponto fundamental de estudo e pesquisa para o
entendimento do funcionamento do sistema agroindustrial. As interdependências entre
os setores da economia passam a ser uma questão importante, visto que uma mudança
em um setor acarreta alterações em outro, uma mudança na política de crédito agrícola,
por exemplo, implica mudança na produção de matéria-prima. A compreensão das
cadeias produtivas agroindustriais, portanto, passa a ser uma preocupação de gestores
do agronegócio, bem como das instituições governamentais, que tratam de dar suporte e
apoio ao setor para tomar decisão.
Alguns enfoques teóricos influenciam o debate, que nos anos 70 e 80, do século
passado, se dá em torno das relações de poder econômico tanto entre os elos da cadeia,
como em relação à agricultura e a indústria, notadamente a subordinação entre os dois
setores e suas formas de organização. No segundo momento o enfoque é deslocado para
problemas de inovação, principalmente a inovação tecnológica, mais voltada para as
indústrias químicas, como força transformadora e indutora do crescimento econômico,
as quais a produção agrícola estaria sendo fortemente influenciada. Hoje, o debate tende
a girar em torno das formas de relações que ocorrem no interior das cadeias produtivas
ou entre o mesmo segmento produtivo, enfocando os custos de transação, onde as
empresas ou buscam se integrar ou transacionam no mercado.
O Brasil, a partir da década de oitenta, começam a serem realizadas pesquisas
sobre a produção da soja, de laranja, do milho, do café, envolvendo a visão de que antes
da produção, existem as indústrias de suporte (insumos, de ferramentas, equipamentos e
maquinários) que fornecem os suprimentos para a sua realização (da produção), e que
parte da matéria-prima produzida terá a indústria de transformação como destino, sendo
ainda, direcionada ao consumidor final, a varejistas e intermediários (comercialização),
numa estreita ligação entre todos os segmentos (BATALHA e ALVES, 2001). A partir
da concepção de que nenhum segmento deve ser visto isoladamente, que é difícil
separar as atividades de produção agrícola, transformação e distribuição, foram se
construindo, ao longo do tempo, diversos recortes analíticos com maior ou menor poder
explicativo para se estudar a questão agrícola. Foram reformulando-se conceitos já
16
existentes e buscando outros que dessem conta da problemática do setor. O termo
agricultura já não satisfazia aos profissionais da área para se estudar, entender e dar
respostas aos problemas relacionados ao setor, num contexto de uma economia
desenvolvida,
... A visão teórica do fenômeno rural não acompanhou a realidade em toda
sua complexidade. O termo“agricultura” era aplicado indistintamente a
uma agricultura de subsistência e a uma agricultura no contexto da
economia desenvolvida, sem que a confusão de conceitos criasse problema
especial para a teoria econômica. Foram profissionais da área de
administração que alertaram sobre a confusão dos conceitos existentes ao
ser utilizado o termo “agricultura” em uma economia de subsistência
aplicado a uma economia desenvolvida ( Lauchner,1979:29).
Para se estudar a problemática, duas metodologias se destacam no debate
acadêmico, quando se trata do agronegócio: o commodity sistem approuch (CSA) e
filière (cadeia de produção agroindustrial).
O termo agribusiness é definido pela primeira vez por J. H. Davis em 1955, e
dois anos depois aparece na literatura internacional em seu livro em parceria com
Goldberg (SILVA, 1991). Posteriormente, para estudar o comportamento dos sistemas
de produção da laranja, soja e trigo nos Estados Unidos, os autores utilizam a noção de
Commodity Sistem Approach (CSA), se configurando como método analítico do
agronegócio.
Desde então uma seqüência de abordagens vem enriquecendo as idéias de Davis
e Goldberg. Entre essas, se destaca a análise de filière. O conjunto de idéias de cadeia
produtiva, até então vem se mostrando de muita utilidade para pesquisadores e gestores
públicos e privados interessados na elaboração de políticas setoriais (SCRAMIM e
BATALHA, 1999), como metodologia para entender o funcionamento do sistema
agroindustrial e encontrar as respostas aos problemas afetos ao setor, visto que o campo
de análise não abrange somente a empresa individualmente, mas todos os segmentos, a
montante e a jusante, que estão interligados através da necessidade de suprimento de
materiais (insumos, ferramentas, máquinas e equipamentos), de matéria-prima, de
produtos e serviços, além de interagir com os elementos do ambiente externo, no caso a
tecnologia, os fatores culturais, demografia, a dimensão econômica e a governamental
(MONTANA, 2000). Essa visão engloba a idéia de que a empresa, para obter vantagens
competitivas, não se deve inserir exclusivamente nos seus limites, mas, para possibilitar
o sucesso, deve estender-se a todas as partes envolvidas fora dela, principalmente no
tocante aos seus fornecedores e clientes. Para Dornier (2000.p.29) todas as
17
organizações devem ser analisadas como um sistema no qual as diferentes áreas
funcionais (marketing, produção e finanças etc.) e os diferentes agentes (fornecedores,
fabricantes, varejistas, clientes etc.) estão todos inter-relacionados.
Além do termo agribusiness, os termos sistemas agroindustriais, complexos
agroindustriais, cadeias agroindustriais, vêm sendo utilizado em trabalhos acadêmicos
quando se trata da questão do negócio agropecuário. Essas concepções, segundo Batalha
(2001), advêm dos dois enfoques, CSA e filière e a sua escolha dependerá do recorte
analítico, delimitado pelo pesquisador.
2.2. O conceito de agribusiness, filiére e commodity sistem approach
(CSA)
Em 1957 os professores John Davis e Ray Goldberg expressam, em publicação
técnica (A concept of Agribusiness), na Universidade de Harvard, as idéias que fazem
parte do termo agribusiness. Com a publicação desse livro, os autores estabeleceram um
divisor de águas nos estudos da agricultura norte-americana. Amplia-se a visão do
conceito de agricultura, uma vez que esta já não podia ser tratada como “setor primário”
nem ignorar a sua crescente interligação com outros setores da economia norte-
americana, em especial à indústria e serviços (SILVA, 1991).
Baseados nesse conceito, os autores identificaram dois níveis de agregados,
denominados de triagregado: no primeiro triagregado, encontram-se as indústrias de
insumos para a agricultura, a agricultura e o processamento e distribuição da produção;
o segundo triagregado inclui os serviços para a agropecuária, gastos do governo e o
processamento de fibras e de alimentos em separado (BELIK in Montoya, 2000).
Já Neves e Spers (1996 apud SUGANO e SANTOS, 2000), afirmam que
o conceito de agribusiness, visa a dar um nome que, antes de mais nada,
recupere, apesar das diferenças de magnitudes, a importância do termo
agricultura de 50 anos atrás. Trata-se da agricultura e dos negócios que
esta envolve, desde antes da porteira até após a porteira.
Anos depois, em 1968, Goldberg ao examinar os comportamentos do sistema de
produção da laranja, trigo e soja nos Estados Unidos e suas relações intersetoriais com
os demais setores da economia, ampliam o conceito para as agribusiness industries.
Usam a noção de commodity system approach (CSA), o enfoque sistêmico do produto.
A motivação para esses estudos surgiu a partir da necessidade de melhor entender as
18
formas de organização e inter-relações das cadeias agroalimentares, a partir do fluxo de
um determinado produto, que deixam de ser coordenadas pelos mercados locais e
passam a serem coordenadas por sistemas mais complexos, envolvendo contratos,
parcerias ou integração vertical (SILVA, 1991, OASHI, 2000). Ampliando a noção do
agribusiness, Goldberg define o CSA:
Um commodity sistem approach engloba todos os atores envolvidos com a
produção, processamento e distribuição de um produto. Tal sistema inclui o
mercado de insumos agrícolas, a produção agrícola, operações de
estocagem, processamento, atacado e varejo demarcando um fluxo que vai
desde os insumos até o consumidor final. O conceito engloba todas as
instituições que afetam a coordenação dos estágios sucessivos do fluxo de
produtos, tais como as instituições governamentais, mercados futuros e
associações de comércio (GOLDBERG, 1968 apud Oashi, 2000).
Batalha (2001:27) afirma que esse enfoque teve sucesso devido à sua aparente
simplicidade e coerência do aparato teórico e que incorpora certo aspecto dinâmico,
quando considera as mudanças que ocorrem no sistema ao longo do tempo.
Outra vertente metodológica de análise sistêmica envolvendo o agronegócio teve
origem na Escola Francesa Industrial, através dos trabalhos de Louis Malassis, com a
noção de filière, traduzida para o português como “cadeias de produção agroindustrial”
(CPA) ou “cadeias de produção”, nos trabalhos de Batalha (2001) e Oashi (1999).
O termo filière tem origem francesa e apresenta o significado de fileira. Sua
interpretação, portanto, está vinculada a uma seqüência de atividades operacionais
levando à contínua transformação de produtos, destinado ao consumidor final.
Enfatizando a dimensão histórica do agribusiness Malassis (apud SILVA, 1991)
destaca ainda a importância de se analisar os fluxos e encadeamentos por produtos, no
setor agroalimentar, que compreendem quatro sub-setores: o das empresas que
fornecem à agricultura serviços e meios de produção (crédito, assistência técnica,
fertilizantes, sementes, maquinário agrícola, etc); o sub-setor agropecuário propriamente
dito; o sub-setor das indústrias processadoras e alimentícias e o sub-setor de
distribuição.
O estudo das filières, para Malassis & Padilha (apud BELIK et al, 2000; Silva,
1991), comporta dois aspectos fundamentais: sua identificação (o produto, seus
itinerários, agentes e operações) e a análise dos seus mecanismos de regulação
(estrutura e funcionamento dos mercados, intervenção do Estado e planificação).
19
Muito embora autores estudiosos desse assunto tenham tentado elaborar um
conceito que exprima um real sentido de filière ou cadeias de produção, não
encontramos referências que se traduzam num consenso. As definições se diferenciam,
principalmente, no que se refere à delimitação do campo de análise e do ponto de
partida. Em função disto, nos basearemos na concepção de filière adotada por Batalha
(2001).
Citando Morvan (1988), Batalha (2001.p.28) procura sistematizar e sintetizar as
idéias acerca da filière abordando três elementos: é uma sucessão de operações de
transformação, que podem ser dissociáveis e separáveis, as quais são ligadas entre si por
encadeamentos tecnológicos; é um conjunto de relações comerciais e financeiras, que
regulam as trocas que se verificam entre os sucessivos estágios do processo de
transformação e entre fornecedores e clientes; forma um conjunto de atividades
econômicas articuladas que utilizam fatores de produção e de distribuição até o
consumidor final.
O autor ainda usa os termos cadeia de produção agroindustrial, filière e cadeia
de produção como sinônimos, ressaltando que, grosso modo, a cadeia de produção
agroindustrial é composta por três macrossegmentos, quais sejam:
a) comercialização - composto pelas firmas que estão em contato direto e
realizam a venda ao consumidor final, dos produtos da cadeia (mercearias,
supermercados, lanchonetes, restaurantes, etc), incluída a logística de distribuição;
b) industrialização – congrega as empresas responsáveis pela transformação das
matérias-primas em produtos finais;
c) produção de matéria-prima - congrega as empresas que fornecem matéria-
prima para que as indústrias avancem no processo de produção do produto final.
Assim, a arquitetura da cadeia de produção e análise de filière, poderá ser
visualizada como um sistema de atividades sucessivas e verticalmente integradas,
representando o fluxo produtivo e distributivo do produto individualizado (MELLO e
MATTUELA,1999). O ponto de análise é a identificação de um produto final para, a
partir daí, encadear as operações técnicas necessárias à sua obtenção, e as atividades
comerciais e logísticas de jusante a montante, quais sejam, distribuição, transformação e
produção da matéria-prima, e da produção de insumos.
20
Especificamente na CPA da farinha de mandioca teríamos, esquematicamente
mostrado na Figura 2-1, como in puts a matéria-prima (raiz), a mão-de-obra e os
equipamentos necessários à execução das atividades produtivas e que irão compor cada
etapa operacional de processamento. As operações de 1 à 8 ilustram bem essas
operações que seqüenciadas darão origem a saída do produto final (farinha de
mandioca). No entanto, entre uma operação e outra, poderá se obter um subproduto que
poderá ser utilizado como insumo na mesma CPA ou que alimentará outra CPA.
Quanto ao produto final, para chegar ao consumidor, deverá passar por outro segmento
constitutivo da cadeia, a distribuição/comercialização. Trataremos desse tema com mais
detalhes no capítulo 4.
Esquema de uma cadeia de produção agroindustrial
Figura 2-1
Fonte: adaptada de Batalha (2001).
Subproduto
Produção de matéria-prima
Operação 1
Operação 8
Produto final
Distribuição / Comercialização
Operação 3
Operação n
Operação 2
21
Na análise de filière ou cadeia de produção agroindustrial, portanto, a lógica de
desencadeamento das operações das cadeias, segundo Batalha (2001), devem ser de
jusante a montante, dando atenção ao consumidor final como ator dinamizador da
cadeia, ou seja, o ponto de partida da análise passa a ser o produto final que chega ao
consumidor, que percebe ou não o seu valor. A noção de filière traz, ainda, em seu
escopo, a noção de uso múltiplo. Considerando duas cadeias de produção agroindustrial
quaisquer, Batalha (2001) discorre sobre o fato de que o produto de uma CPA pode
alimentar outra cadeia, a exemplo do refino do óleo vegetal, que tanto é produto final
em si mesmo como é suprimento para outra cadeia, no caso a da manteiga e maionese.
Muitas cadeias se repartem e outras se juntam... agregando-se em conjuntos, ou blocos
... denominados de complexos industriais (KUPPER e HANSECLEVER, 2002).
Sintetizando, poderemos conceber a CPA ou análise de filière como subdivisão
do complexo agroindustrial, que enfatiza um produto final a partir de suas
especificidades. Além disso, a análise de cadeias produtivas de acordo com a
abordagem de filière, propicia a identificação de questões significativas para a melhoria
de desempenho e de sua competitividade, a partir da identificação dos chamados “nós”,
os quais se constituem nos pontos chaves onde são estabelecidas as políticas, tanto da
firma individual, como as de toda a cadeia. Em outras palavras, a análise de filière ajuda
a identificar os pontos fracos, que são os elos que podem comprometer a cadeia como
um todo pelas suas especificidades, bem como os pontos fortes existentes, que devem
ser explorados para melhoria do seu desempenho.
2.3. Enfoque sistêmico e mesoanalítico
Ao comparar os dois enfoques, usualmente utilizados como métodos de análise
para se estudar a problemática do agronegócio ou agribusines, observa-se que, apesar
do ponto de partida em um (CSA) ser a matéria-prima, e em outros (filière) ser o
produto, a definição de ambos converge para uma abordagem que nos leva ao aspecto
mesoanalítico e sistêmico. O primeiro aspecto busca associar a análise do ambiente em
que a firma ou empresa está inserida, sem, no entanto, esquecer a sua estrutura interna.
Os macrossegmentos que formam o sistema, a produção de insumos, de matérias-
primas, as indústrias, a distribuição/comercialização, interagem entre si e com o
ambiente externo através de ligações dinâmicas, envolvendo informações, fluxo de
produtos e serviços e outros fatores não específicos.
22
A abordagem meso proporciona às empresas e administradores um melhor
conhecimento do ambiente e, em conseqüência, maior identificação das oportunidades e
necessidades dos seus negócios, que poderão ser repassadas aos setores produtivos da
cadeia.
Na abordagem sistêmica e mesoanalítica a interdependência dos componentes é
reconhecida e enfatizada, além de permitir o estudo de diversas questões, possibilitando,
em princípio, o melhor entendimento de fatores que afetam critérios de desempenho
global (competitividade). Fatores estes que podem estar presentes em quaisquer dos
elementos constituintes do sistema, em nível microeconômico, como também relativos
às questões macroeconômicas, envolvendo a análise de desempenho do sistema como
um todo. Portanto, a análise de filière, baseado no enfoque sistêmico, tanto oferece
subsídios para aplicar às firmas individualmente, tanto quanto a cadeia produtiva como
um todo, pois envolve a idéia de que as firmas integrantes da cadeia de produção fazem
parte de um sistema; essas partes mantêm dependência uma das outras e interage com o
ambiente para atingirem um objetivo em comum.Tais idéias são advindas da Teoria dos
Sistemas, desenvolvida pelo biólogo Ludwig Von Bertalanfly, tendo sido usada pela
Administração. Nesse sentido, a teoria dos sistemas tenta definir princípios e
propriedades comuns a qualquer tipo de sistema, seja no reino animal, seja na mecânica,
nas atividades empresariais e governamentais.
Optner (1973.p.30) considera que não há sistemas fora de um meio específico
(ambiente). Eles existem, sempre, em um meio e por esse meio são condicionados.
Salienta, ainda, que o analista jamais poderá iniciar uma pesquisa ilimitada, que vise
compreender todas as condições que possam influir no comportamento do sistema...
todos os sistemas operam em determinado meio com uma fronteira estabelecida. Daí
deriva-se a necessidade da delimitação do espaço de análise, considerando-se, também,
as peculiaridades dos atores econômicos que compõem uma cadeia de produção
agroindustrial.
Sistemas, segundo Uhlmann (1997.p.13)
são conjuntos de elementos interdependentes entre si, logicamente
estruturados para a consecução de um objetivo e que formam, dada a sua
condição de sistemas abertos, uma cadeia de sistemas - um
macroambiente...- com o qual se comunicam ativamente.
Tal sistema comportaria outros subsistemas, por exemplo, uma firma (sistema) é
composta por atividades funcionais (subsistemas) para que possa atingir seu objetivo
23
mais eficazmente. Portanto a concepção de sistema incorpora a idéia de que existe uma
interação entre os seus elementos, se situa em um dado ambiente e possuem objetivos
definidos.
Por conseguinte, o enfoque sistêmico contido numa cadeia de produção
agroindustrial, implica uma inter-relação entre os vários subsistemas, visualizados
através das indústrias de produção de insumos, de processamento, de
distribuição/comercialização.
Batalha (2001), discorrendo sobre o aspecto mesoanalítico contido na cadeia de
produção agroindustrial, define como sendo a análise estrutural e funcional dos
subsistemas e de sua interdependência dentro de um sistema integrado. É a análise do
sistema, da cadeia produtiva, inserido num macroambiente que influencia e é
influenciado por ele.
Comparando as várias contribuições dos autores citados, nota-se que o aspecto
sistêmico e mesoanálitico estão intrinsecamente ligados, pois, ao analisar uma cadeia ao
mesmo tempo em que se estuda as unidades que a compõem (produtor, a indústria e a
distribuição) atenta-se para as suas relações com o meio em que elas estão inseridas, ou
seja, o ambiente externo ou macroambiente.
O mesmo autor considera, ainda, que os dois conceitos, CSA e filière,
compartilham a noção de que a agricultura deve ser vista dentro de um sistema mais
amplo, composto principalmente pelos produtores de insumos, pelas agroindústrias e
pela distribuição/comercialização; utilizam a noção de sucessão de etapas produtivas, na
orientação da construção de suas análises; consideram o aspecto dinâmico; sua
aplicação aponta na mesma direção: marketing e estratégia, políticas industrial, gestão
tecnológica, ferramenta de descrição técnico-econômica de um setor e delimitação de
espaços de análise dentro do sistema produtivo. A Figura 2-2 sintetiza as considerações
supracitadas, mostrando como os segmentos (produção de matéria-prima,
industrialização e comercialização) estão articulados. Antes de se produzir a matéria-
prima existem as indústrias de insumos, os órgãos de assistência técnica, as associações
e sindicatos de produtores rurais, um programa de crédito rural, políticas públicas
voltadas para a produção e a comercialização de produtos agropecuários, as empresas
concorrentes etc, compondo o ambiente externo às firmas. Tais setores influenciam na
tomada de decisão no que diz respeito ao que produzir, como produzir e quanto
produzir. Fazendo uma inter-relação desse ambiente com os segmentos mais
24
diretamente relacionados com a cadeia produtiva, no caso da CPA da farinha de
mandioca, a aquisição da raiz se dá através do segmento da produção de matéria-prima
e o seu processamento é realizado nas agroindústrias farinheiras onde se obtêm o
produto final. Já em relação ao mercado, se por um lado, considerarmos o consumidor
final como destinatário da produção, a partir dele ocorre o fluxo de recursos financeiros
e informação que flui por toda a cadeia, através do seu segmento de distribuição
(varejista e/ou atacadista), quando realizam uma transação comercial com o
consumidor; do segmento de transformação quando, por exemplo, é realizado um
pedido partindo do segmento a jusante que vai ser repassado ao segmento da produção
de matéria-prima. Por outro lado, se focarmos o segmento de produção da matéria-
prima, deste partirá o fluxo de materiais e produtos, todos incluídos em um ambiente
que envolve as indústrias produtoras de insumo, os órgãos públicos e privados de
pesquisa e assistência técnica, os agentes financeiros, as organizações sindicais e
associativas, entre outros.
Esquema de uma cadeia de produção agroindustrial incluindo os fluxos de informação e de produto.
Figura 2-2
Fonte: Adaptado de Batalha (2001)
Matéria-prima
O
era
ão 1
O
era
ão 2
O
era
ão 3
O
era
ão n
Subprodutos
Produto final
Produção da
matéria-
p
rima
Operações de
transformação
Distribuição /
comercializa
ç
ão
A
mbiente externo (produção de insumos, assistência técnica e rural, associações
e sindicatos rurais
,
re
g
ulamenta
ç
ão
,
crédito rural
,
etc
)
Fluxo de materiais e produtos Fluxo de informações e recursos
25
O estudo das cadeias produtivas com enfoque sistêmico e mesoanalítico, ainda
traz em seu escopo outros aportes teóricos que o complementam, partindo do
pressuposto de que toda cadeia necessariamente requer um fluxo de materiais, produtos,
informações e recursos, que partem ora a jusante, ora a montante de algum elo da
cadeia. Estas afirmações permitem a distinção de, pelo menos, quatro mercados com
diferentes características: entre os produtores de insumo e os produtores rurais; entre os
produtores e a agroindústria (indústria de transformação); entre a agroindústria e os
distribuidores; e entre os distribuidores e os consumidores finais. Identificar os pontos
de estrangulamentos contidos em cada elo da cadeia, que traz em si as suas
especificidades e onde se efetuam as transações de negócios é ponto fundamental para
orientar na escolha de estratégias para melhoria do desempenho de toda cadeia de
produção.
2.4. Sistema agroindustrial e complexo agroindustrial
Na década de 50, o francês Perroux começa a moldar o conceito de complexo
industrial, a partir dos trabalhos sobre a questão do encadeamento e identificação de
indústrias motrizes. Para ele as relações entre os setores eram mais que uma simples
transação, pois existia um componente de “dominação”. O efeito dessa dominação é
cumulativo, surgindo do desenvolvimento inerente do mercado ou mesmo
acidentalmente, mas reproduzindo-se e reforçando-se continuamente (BELIK in
Montoya, 2000). Essa “dominação” é exercida através da liderança de certas unidades
produtivas, seja pela sua dimensão, seja pelo valor agregado ou pela natureza estratégia
própria de sua atividade. A idéia de complexo de Perroux não se referia apenas à
presença de várias indústrias articuladas entre si, mas a identificação de indústrias
motrizes; a não concorrência do complexo e a concentração territorial (SILVA, 1991).
Malassis e Padilha (apud Silva, 1991), em sua obra Èconomic agroalimentaire (1973),
aprofundaram essa abordagem, acrescentando outros elementos históricos e
desenvolvendo o conceito, que ora denomina de complexo agroalimentar (CAI) e ora de
sistema agroalimentar (sistema agroindustrial), onde transitariam as filiéres
caracterizadas como cortes verticais referentes às linhas de produtos utilizados.
Observa-se que, ao conceito esboçado por Perroux, os autores introduzem novos
elementos com ligações horizontais com outros sistemas, além da integração vertical
considerada no estudo das CPAs.
26
Embora às vezes seja confundido com outros complexos industriais, o CAI vai
além da relação compra e venda determinados pela matriz insumo-produto e da
limitação técnico-produtiva, pois incorpora novos elementos, tais como o papel das
políticas públicas e das organizações de interesses empresariais e sindicais e o processo
histórico de constituição de cada complexo. Essa abordagem foi trazida pelos trabalhos
coordenados por Kageyama (BELIK, 2000.p.61) com a utilização de uma nova unidade
de análise situada em um nível mesoeconômico, dando conta da dinâmica da
transformação da agricultura a partir da ação dos próprios agentes econômicos das
representações.
Kageyama apud Pedrozo et al (1999.p.21), caracteriza os complexos
agroindustriais dividindo-os em quatro grupos:
CAIs completos: possuem fortes vínculos com os setores à montante e à
jusante;
CAIs incompletos: com fortes vínculos à montante e à jusante, porém o
primeiro funciona mais como fornecedor genérico de insumos e equipamentos;
Conjuntos de atividades modernizadoras: dependem da montante, mas não
mantém um processo de integração com este;
Bases artesanais: existe uma utilização limitada de tecnologia .
Já Batalha (2001), identificando os conceitos esboçados em trabalho
acadêmicos, diferencia o complexo agroindustrial de sistema agroindustrial. Para ele, o
complexo agroindustrial tem como ponto de partida uma matéria-prima de base, cuja
arquitetura seria ditada pela explosão dessa matéria, segundo os processos industriais e
comerciais que ela pode sofrer até se transformar em diferentes produtos finais. Assim,
a formação de um complexo agroindustrial exige a participação de várias cadeias de
produção, cada uma delas associada a um produto ou família de produtos. Por exemplo,
consideraremos o complexo agroindustrial da mandioca, formado por várias cadeias
produtivas, tais como a da farinha de mesa, da fécula (goma), além dos subprodutos
advindos de cada cadeia, que irão “alimentar” outras cadeias.
O termo complexo agroindustrial é abrangente, podendo referir-se ao complexo
agroindustrial da mandioca como também ao complexo agroindustrial brasileiro,
englobando aí um conjunto de CPAs. Aplicando o conceito de complexo agroindustrial
para a mandioca teremos uma arquitetura como aparece na Figura 2-3 e será composto
27
pelas indústrias agroalimentares (IAA), incluindo as cadeias de produção agroindustrial
da farinha, da produção da fécula, os minimamente processados ou processados
(mandioca pré-cozidas e fritas); pelas indústrias não alimentares (INA), englobando as
cadeias produtivas ligadas às indústrias farmacêutica, química, celulose, petroquímica,
etc. Lembramos que as fecularias além de processarem produtos que poderão ir direto
para a mesa do consumidor (goma, sagu), ainda produzem insumos para alimentar
outras cadeias de IAAs (pré-gelatinizados, polvilho etc) e para as cadeias de INAs
(glugose, sorbitol, vitamina C, dextrina etc) (CARDOSO, 2001).
Além do uso da mandioca nestas indústrias, destacamos o in natura na
alimentação humana e para alimentar outras cadeias produtivas, notadamente, a CPA da
carne bovina.
Esquema do complexo agroindustrial da mandioca
Figura 2-3
Fonte: autor baseado nos dados de pesquisa bibliográfica
O sistema agroindustrial, segundo Batalha (2001.p.32), pode ser considerado
como o conjunto de atividades que concorrem para a produção de produtos
agroindustriais, desde a produção de insumos (sementes adubos, máquinas agrícolas
etc) até a chegada do produto final (queijo ,biscoito , farinha de mandioca, etc) ao
consumidor, envolvendo toda produção (pesca, agricultura e pecuária), as indústrias de
mandioca
cadeias
alimentares
Indústrias não-
alimentares
Produtos finais
Consumo in natura:
humano e animal
Indústrias
alimentares
Agroindústria
farinheira
Outras
cadeias
Minimamente
Processados e
Processados
Agroindústria
feculeira
cadeias não-
alimentares
28
apoio à produção, de transformação e distribuição, além das indústrias não alimentares
(couros e peles, têxtil, móveis, etc).
Vale ressaltar, mais uma vez, que esses conceitos são utilizados dependendo do
objetivo do estudo em questão, e nesse trabalho adotamos o conceito definido por
Batalha (2001), citado acima.
2.5. Supply Chain Management (SCM)
Fazendo referência aos conceitos de complexo agroindustrial, de sistema
agroindustrial, de cadeia agroindustrial, verifica-se que a inter-relação entre os atores
econômicos envolvidos nos sistemas deriva da presença do fluxo de compra de
materiais, interna e externa à empresa, incluindo matéria-prima, estoques, produção e
distribuição, até a chegada ao consumidor final, e do fluxo de informações e de
recursos, que vão de um segmento a outro da cadeia. Nesse sentido, aos estudos das
cadeias produtivas agroindustriais vem sendo agregada a concepção da logística e, por
derivação, a da gestão da cadeia de suprimento (SCM), como estratégia de criar maior
valor para o consumidor final, e em conseqüência, melhorar o desempenho da cadeia
como um todo. Por “valor” entende-se o valor percebido pelo cliente, significando um
benefício que contribuirá para a utilidade do produto ou vantagens aos olhos do cliente
- e conseqüentemente sua disposição para pagar (CHRISTOPHER,1999.p.201).
Portanto, a gestão da cadeia de suprimento (supply chain management), configura-se
como mais uma metodologia de análise e surge da necessidade de dar resposta mais
rápida às necessidades do controle e coordenação do fluxo de materiais e produtos dos
segmentos integrantes de uma cadeia produtiva (WOOD e ZUFFO, 1998), através de
estratégias que podem incluir relação de cooperação entre as firmas.
Com o aumento da competição mundial, cresce também a filosofia econômica
que prioriza a melhoria da administração dos suprimentos, em vez de estimular a
demanda. Controle de custos, produtividade e controle da qualidade são áreas de
interesse à medida que as empresas enfrentam o fluxo de produtos importados
(BALLOU, 1993).
O interesse pela logística foi sendo consolidado, na década supracitada, na área
administrativa, nas universidades e nas empresas, tendo sido mudado o seu foco da
29
distribuição física de produtos para uma concepção mais abrangente, integrando as
atividades de distribuição física e de administração de materiais.
Com a pressão do mercado por produtos de menor custo, o papel da logística de
suprimento passa a ser encarada por administradores e professores como fator
importante para o reagrupamento das atividades empresariais, além de ajudar a justificar
as atividades de distribuição, reduzindo custos, e em conseqüência, oferecendo ao
consumidor final um valor na forma de produto ou serviço, com um preço mais baixo,
em tempo certo, no lugar certo e na condição física que desejarem. O gerenciamento
logístico, portanto, passa a ser encarado pelas organizações empresariais, como
ferramenta para se obter uma vantagem competitiva, ou seja, alcançando uma posição
mais confortável e duradoura sobre seus concorrentes, em termos de preferência do
cliente (CHRISTOPHER, 1999.p.2).
Segundo Ballou (1993.p.30), outras condições econômicas e tecnológicas
contribuíram para o desenvolvimento da logística:
a) alterações nos padrões e atitudes da demanda dos consumidores – a migração
das áreas rurais para as urbanas e de centros urbanos para os subúrbios, bem como a
procura por maiores variedades de produtos, forçou os varejistas a seguirem essa
população, redundando na diminuição de estoques nos pontos-de-venda, passando essa
função para o seu fornecedor ou centrais de distribuição;
b) a pressão por custos nas indústrias - os administradores viram que os custos
com logística eram uma oportunidade de melhorar suas margens. Os custos com
logísticas na indústria alimentar americana, por exemplo, na década de 50, era de 32%
das vendas;
c) o avanço na tecnologia de computadores facilitou o controle da distribuição
logística com o uso de ferramentas de modelagem matemática, da teoria de controle de
estoques e de simulação;
d) a experiência militar - as atividades de operação logística que executaram, na
invasão da Europa, foram bem planejadas e sofisticadas, englobando aquisição, estoque,
definição de especificações, transporte e administração de estoques, muitos dos quais
estão na definição de logística.
Ballou (1993.p.24) define a logística como:
30
Todas as atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo
de produtos desde o ponto de aquisição da matéria-prima até o consumidor
final, assim como dos fluxos de informação que colocam os produtos em
movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviço adequados
aos clientes a um custo razoável.
Para Christopher (1992.p.2) a logística é
O processo de gerenciar estrategicamente a aquisição, movimentação e
armazenagem de materiais, peças e produtos acabados (e os fluxos de
informações correlatas) através da organização e seus canais de marketing,
de modo a poder maximizar as lucratividades presente e futuras através do
atendimento dos pedidos a baixo custo.
A evolução do entendimento do papel da logística, para uma concepção de
gestão da cadeia de suprimento, advêm também, das modificações nas atividades
organizacionais ao longo do tempo, que passam a adotar uma visão mais integrada, em
que as funções de produção, marketing, engenharia, apoio técnico, finanças, etc, devem
ser alinhadas e sincronizadas passando a atuar de forma integrada, ressaltando o foco
no cliente e, indiretamente transmitindo uma visão sistêmica (WOOD e ZUFFO, 1998)
(Quadro 2-1).
Quadro 2-1: Evolução do conceito de logística.
Fonte: Adaptado de Wood e Zuffo (1998) e Christopher (1992).
Baseando-se no quadro acima, observa-se que a evolução do papel da logística
passa gradativamente de um estágio em que a preocupação com as compras e
movimentação de materiais dentro da firma era o foco, e em conseqüência a
administração de materiais era a função principal, para um estágio de integração da
cadeia de suprimento, no âmbito de toda a cadeia produtiva. Nessa perspectiva cada
Estágio 1:
linha básica
Estágio 2:
integração funcional
Estágio 3:
Integração interna
Estágio 4:
integração externa
Estágio 5:
integração externa
Perspectiva
dominante
Administração
de materiais
Administração de
materiais +
distribuição
Logística
integrada
Supply chain
nanagemente
Supply chain
management +
efficient consumer
response
Focos
Gestão de
estoque, gestão
de compras e
movimentação
de materiais
Otimização do
sistema de
transporte
Visão sistêmica
da empresa e
integração por
sistema de
informações
Visão sistêmica da
empresa, incluindo
fornecedores e
canais de
distribuição
Amplo uso de
alianças estratégias
de parcerias e
canais alternativos
de distribuição
31
estágio evolutivo corresponde uma nova concepção da logística, que passa a ser vista
não mais como uma característica técnica e operacional, mas como uma fonte de
estratégias, englobando processos de negócios internos e externos a firma, para
melhorar seu desempenho. A preocupação diante do consumidor final advém da
concepção de que não basta a empresa buscar melhorias operacional, se os elos da
cadeia produtiva (fornecedores, distribuidores, varejistas) continuam operando de
maneira ineficiente, prejudicando a cadeia toda.
Distinguindo o papel da logística da SCM Christopher (1992.p.15) resume como
o gerenciamento logístico está primeiramente preocupado com a otimização de fluxos
dentro da organização, enquanto que a gestão da cadeia de suprimentos reconhece que
a integração interna por si só não é suficiente, ao mesmo tempo o autor defende que as
mudanças das atividades das funções internas da empresa e de sua relação com os elos
da cadeia produtiva tenham gerado uma mudança na concepção da logística. Tal
concepção culminou na idéia da integração de todas as atividades dos elos da cadeia.
Nota-se que no primeiro estágio, as firmas adotam uma estrutura organizacional, de
forma que cada função se preocupa com as suas respectivas atividades inerentes à sua
função e que gradativamente as funções vão se integrando internamente, até atingir um
grau de integração com todos os elos da cadeia produtiva.
O sistema logístico, presente em todas as transações da cadeia de suprimento, é
composto pelos canais logísticos que se estendem à montante e à jusante da empresa e
são responsáveis pelas atividades primárias (transportes manutenção de estoques e
processamento de pedidos); e de atividades de apoio (armazenamento, manuseio de
materiais, embalagens de proteção, obtenção, programação da produção e manutenção
de informação) (BALLOU,1993.p.26). Essas atividades, segundo Alves (in BATALHA,
2001), estão relacionadas ao apoio à produção, que incluem a movimentação interna de
recursos produtivos, através de gerenciamento de estoques de matérias-primas e
produtos acabados, do armazenamento, manuseio e transporte de insumos necessários à
produção interna da firma; ao suprimento, ou seja, à obtenção de matéria-prima,
produtos ou insumos de seus fornecedores; e à distribuição física, que congrega o
transporte dos produtos, insumos ou matérias-primas ao longo da cadeia agroindustrial,
ou seja, realiza o suprimento em si. Concomitantemente, ao cobrir essas atividades, há
um fluxo de informações e de recursos advindos das transações dos negócios realizados
entre os segmentos da cadeia. A Figura 2-4 mostra como o sistema logístico funciona
32
internamente e entre as empresas para garantir que o produto chegue ao seu destino na
quantidade e no momento certo e em diversos lugares, enfim, ao consumidor final. Para
realizar as suas atividades produtivas as firmas internamente se organizam de maneira a
atender as necessidades da produção, para tanto, engloba e integra as atividades de
aquisição de matéria-prima, de apoio à produção e de distribuição física de materiais e
produtos. A forma como essas funções se organizam é que ajudará ou não no
desempenho da firma. Ultrapassando os limites das firmas, o fluxo de recursos
(financeiros) e de informação parte das necessidades dos clientes concretizados através
de pedidos de compra, afinal é ele quem gera a necessidade de se produzir. O fluxo de
materiais (produtos, matéria-prima etc) percorre o caminho inverso da informação,
partindo dos fornecedores até o consumidor final. Os canais de distribuição, elo entre as
firmas e o consumidor final, realizam as transações comerciais facilitando ao longo da
cadeia o fluxo de informações e recursos.
Sistema logístico
Figura 2-4
fonte: Adaptado de Alves (2001:172 in Batalha)
fornecedores
Fluxo físico de
materiais
Suprimento
A
quisição de
materiais
Apoio à
produção
Distribuição
física
Canais de
Distribuição
Clientes
Transações comerciais
Empresa
Fluxo de informações
33
Fundamentado em Michael Porter, Christopher (1997) considera as atividades
ligadas á logística como: primárias, que estão relacionadas com logística de entrada, as
operações internas, logística de saída, marketing e vendas e assistência técnica; e
atividades de apoio à infra-estrutura, gerenciamento de recursos humanos,
desenvolvimento de tecnologia e aquisição, que são integradas e atravessam as várias
atividades dentro da firma. Considera ainda que, para ganhar vantagem competitiva
sobre suas concorrentes, a firma deve proporcionar valor para seus clientes
desempenhando as atividades de modo mais eficiente que eles ou através de atividades
que criem maior valor adicionado percebido pelo cliente, sendo o gerenciamento da
cadeia de suprimento uma atividade potencial para alcançar essa vantagem diferencial.
2.5.1. Supply Chain Management como método para integrar os elos da cadeia de
produção agroindustrial
A necessidade de se reagrupar as atividades das firmas, de se ter um
gerenciamento das atividades organizacionais para enfrentar cada vez mais um mercado
competitivo é que originou o surgimento do conceito de gestão da logística, que
atualmente extrapola os limites da empresa e engloba toda a cadeia produtiva dando
origem ao conceito da gestão da cadeia de suprimento, ou seja, a uma atividade que
enxerga a cadeia como um sistema a ser gerenciado e que é definida como a gestão da
cadeia completa de suprimento de matérias-primas, manufatura, montagem e
distribuição ao consumidor final (SLACK et al, 1999.p.317). A concepção da SCM,
portanto, surge da evolução do esboço da concepção da gestão da logística, na busca de
desenvolver uma ferramenta que integre o conjunto dos macrossegmentos da cadeia
produtiva.
Fazendo uma aproximação entre a cadeia de suprimento e uma CPA Alves (in
Batalha, 2001), afirma que o conceito de cadeia de suprimento apresenta relação direta
com o conceito de cadeia de produção agroindustrial sendo adequado, principalmente,
quando se considera a necessidade atual dos atores econômicos de uma cadeia, diante
das mudanças no macroambiente, em manter uma relação de cooperação mais
coordenada e eficiente criando valor para o consumidor final.
Considerando a necessidade que as empresas têm em adaptar-se às
transformações, demonstrado através da evolução da concepção do papel da logística,
34
por exemplo, Dornier (2000) identifica quatro forças que dirigem as mudanças no
ambiente do negócio, e que influenciam as empresas a ajustarem suas estratégias e tática
de logística. São elas: os mercados que mudam sob a influência de produtos, das
mudanças de localização geográfica e das necessidades de clientes; os concorrentes, que
incitam as empresas a modificarem suas cadeias logísticas de suprimento; a tecnologia,
que freqüentemente oferece novos recursos, como o uso de códigos de barra e o uso de
intercâmbio de dados; e as regulamentações governamentais, que freqüentemente têm
impacto significativo sobre as atividades logísticas (recolhimento de embalagens, por
exemplo).
Para Sproesser ( in BATALHA, 2001), após a década de 70 do século passado, o
poder dos distribuidores no seio da cadeia produtiva tem aumentado, mas que a
concorrência horizontal, principalmente baseada em preço, tem enfraquecido esse
segmento que busca aumentar suas margens, dirigindo-se à montante, ou seja, na
direção das indústrias, a fim de reduzir os custos de compra de produtos.
A produção agroindustrial, além de sofrer impacto dos fatores anteriormente
descritos, apresenta características peculiares que podem ser minimizadas com o
emprego da gestão da cadeia de suprimento bem articulada entre os agentes,
principalmente os fornecedores. Neste sentido considerando a terra como fator de
produção; o tempo de produção maior que o tempo de trabalho; a irreversibilidade do
ciclo de produção, dependente de condições biológicas e climáticas; a perecibilidade
dos produtos; a sazonalidade, entre outras, a adoção de estratégias de logísticas é de
fundamental importância para o aumento do nível de coordenação, da redução de
incertezas e de custos de uma cadeia produtiva agroindustrial. Vale salientar a crescente
demanda por produtos mais saudáveis, livres de agrotóxicos e que estejam preocupados
com as questões relativas à preservação ambiental. Esta segmentação de mercados, em
busca de parâmetros eficientes de diferenciação, dificulta as previsões de demanda,
agravando o desempenho da cadeia produtiva na sua missão de criar valor e atender as
necessidades do consumidor final (SCRAMIM e BATALHA,1999).
A partir dessa realidade, é que se busca promover entre os atores econômicos de
uma cadeia produtiva, a criação de mecanismos de coordenação envolvendo uma
relação de cooperação entre as firmas, a fim de reduzir-se os riscos individuais, as
incertezas e a redução dos custos, eliminando perdas e esforços desnecessários.
Voltando-se ao conceito de SCM, este pressupõe a integração de todas as
35
atividades da cadeia produtiva através da coordenação de fluxo de materiais (matéria-
prima) concomitantemente com o fluxo de recursos e informações para todas os
processos e atividades envolvidas no suprimento da cadeia, incluindo as atividades
associadas ao transporte de materiais (LAZZARINI, CHADDAD e COOK, 2001).
Portanto, a SCM é definida como uma atividade que engloba sucessivos estágios de
criação de valor no espaço interno das firmas e da sua integração com outros atores
integrantes da cadeia produtiva. Envolve, do ponto de vista da firma, uma variedade de
assuntos técnicos e de gestão, a descentralização de processos, de canais eficientes de
distribuição de produtos, da coordenação de contratos com fornecedores e parceiros, da
terceirização da logística e multi-localização de estoques.
Introduzindo a idéia de rede Harrison e Gandshan (p.2) define a SCM como uma
rede de empresas de facilidades e opções de distribuição que desempenha função de
prover materiais, transformá-los em produtos intermediários e em produto acabados,
bem como da sua distribuição até o consumidor final. Classifica as decisões da SCM em
duas amplas categorias: estratégica e operacional. E que o esforço dessas decisões são
para uma gestão eficiente e eficaz que envolve quatro áreas de decisões: locação,
produção, estoque e distribuição.
O estudo das cadeias produtivas agroindustriais, ampliado com a aplicação da
abordagem de SCM, como necessidade de controle e coordenação do fluxo de materiais
e produtos, fluxo de informação e recursos entre os segmentos integrantes da cadeia,
dará resposta mais rápida às necessidades do consumidor final. Cria um valor para este
em forma de produto e serviço, influenciando na redução de preços, na entrega em
tempo certo, no lugar certo e no estado físico desejado. Conseqüência da adoção da
metodologia do SCM deve-se ressaltar a eficácia e eficiência de toda cadeia.
Sistematizando as fontes de criação de valor, Lazzarini, Chaddad e Cook (2001)
identifica-as na redução dos custos de transação
2
, otimização dos processos e operações
de produção e na apropriação exata de certas características.
2
Os custos de transação estão ligados às idéias de Coase (1937 apud Carvalho), em que o sistema econômico é
coordenado pelo mecanismo de preços e pela coordenação dos agentes (atores) que empregam diferentes princípios
organizacionais dentro da firma, para alocar seus recursos produtivos, podendo as transações serem feitas no
mercado, através de contratos, ou internamente na firma.
36
Nesse sentido, o bom desempenho de uma cadeia agroindustrial, no atual
contexto, estaria ligado à necessidade de realizarem-se relações contratuais entre os
agentes econômicos (atores), em que cada vez mais as firmas procuram diminuir os
custos, o tempo de produção, os estoques e a quantidade de fornecedores, em busca de
relações mais duradouras e confiáveis através de parcerias. Segundo alguns estudiosos
(CHRISTOPHER,1997, SLACK, 1999), há vantagens em reduzir o número de
fornecedores. Para Christopher, quanto mais restrito for o número de fornecedores
maiores serão as chances que as habilidades de cada um sejam aplicadas para benefício
mútuo. As firmas cada vez mais enfocam os “seus negócios”, e o restante é adquirido
externamente, através das parcerias, objetivando a redução dos custos e adição de valor
para o consumidor final.
Os benefícios significativos a serem ganhos em adotar uma parceria, que vai
além das fronteiras da empresa, se traduzem na melhoria dos objetivos de desempenho
da empresa, quais sejam: velocidade, confiabilidade, flexibilidade, qualidade e custos
em comparação à simples gestão do fluxo interno à empresa (SLACK et al 1999) e
conseqüentemente trará maiores benefícios ao conjunto de atores envolvidos na cadeia
de produção até o consumidor final. Mais especificamente, esses benefícios estão
ligados, na prática, a prazos de entrega mais curtos, entregas confiáveis, redução nas
quebras de programação, estoques mais baixos, flexibilização de projetos, melhoria da
qualidade, preços mais estáveis e competitivos e prioridade aos pedidos.
Em se tratando do suprimento de matéria-prima ou produto a firma poderá
decidir entre fazer ou comprar.A decisão de comprar acarreta em decisão de escolher
entre uma fonte única ou fonte múltiplas. As vantagens advindas da escolha de fonte
única (single-sourcing) estão no fortalecimento de relações mais duráveis, maior
comprometimento e esforço dos parceiros, melhor comunicação, facilidade de
cooperação no desenvolvimento de novos produtos e serviços, mais economia de escala
e maior confidencialidade. Por outro lado, as vantagens de se manter fonte múltipla
(multi-sourcing) estão no fato do comprador poder forçar os preços para baixo através
da competição dos fornecedores, na possibilidade de mudar de fornecedor caso
necessário e na variação de fontes de conhecimento e especialização (SLACK et al,
1999).
Apoiados nessas idéias, através do gerenciamento da cadeia de suprimento, no
caso das cadeias produtivas agroindustriais, os atores econômicos obterão vantagens
37
através das oportunidades de implementar parcerias com fornecedores. Nesse sentido,
os atores devem acreditar que, ao longo da cadeia, a colaboração deve ser encarada
como fator de vantagem para ambos, na perspectiva de uma relação em que todos
possam ser beneficiados.
Através de estratégias de parcerias, entre os agentes econômicos da cadeia
produtiva, por exemplo, reduzem-se os riscos e custos, otimizam-se os processos de
produção, portanto, melhora-se a eficiência da cadeia produtiva. A parceria consiste em
estratégias de cooperação que sejam benéficas tanto a um como a outro agente, baseada
na vontade de baixar os custos globais da cadeia produtiva, evitando duplicação das
operações e suprimindo aquelas que não contribuem ao aumento do valor agregado do
produto (SPROESSER, 2001).
A gestão da cadeia de suprimento, através da criação de espaços de colaboração
e parcerias entre as firmas, integrantes de uma cadeia agroindustrial, contribuem para
que estas obtenham maior eficiência e, melhor e mais rapidamente, se adapte às
mudanças exigidas pelo ambiente econômico em constante mutação.
Grosso modo, o SCM
pode ser definido como uma metodologia desenvolvida para alinhar todas
as atividades de produção, de forma sincronizada, visando a reduzir custos,
minimizar ciclos e maximizar o valor percebido pelo cliente final por meio
do rompimento das barreiras entre departamentos e áreas (Wood e Zuffo,
1998:1),
E que envolve também, todos os segmentos de uma CPA.
Para Christopher (1997.p.13),
a cadeia de suprimentos representa uma rede de organizações, através de
ligações nos dois sentidos, dos diferentes processos e atividades que
produzem valor na forma de produtos e serviços que são colocados nas
mãos do consumidor final.
O gerenciamento dessa cadeia envolve a integração interna da empresa e a
integração com seus fornecedores.
Partindo das várias concepções sobre o SCM, Betchel & Jayaram (1997 apud
SCRAMIM e BATALHA, 1999) sistematizam essas idéias e indicam duas correntes de
pensamento, quais sejam: a escola de informação que enfatiza o fluxo de informações
entre os membros da cadeia de suprimentos e a considera a espinha dorsal do SCM; a
escola de integração/processos que foca a integração funcional da cadeia de suprimento,
38
conduzindo a um sistema definido como um conjunto de processos que busca um
melhor desempenho global que adiciona valor.
Na adoção teórica da metodologia de SCM, deixou-se de discutir as diferenças
de concepções que existem entre os autores, cujas abordagens estão ligadas à origem
dos dois grupos que criaram o conceito de logística. Este conceito começara a ser
esboçado ainda nos anos 1912 e 1922 por Arch Shaw e Fred Clark, um estudioso de
marketing e outro empresário, respectivamente, e mais tarde por autoridades ligadas à
área de marketing e os profissionais da área da logística. No entanto, buscamos o que
existe em comum entre eles, que é o entendimento de que a logística engloba o fluxo de
matérias-primas, produtos e informações que permeiam toda a cadeia produtiva, do
fornecedor ao consumidor final, e que o ambiente externo facilita a criação de
mecanismos de cooperação entre os agentes de uma cadeia, a fim de melhorarem o
desempenho global, através da abordagem da SCM.
2.6. Trabalhos sobre CPA da farinha de mandioca
Apesar da cadeia produtiva da farinha de mandioca, ser um dos temas ligados ao
agronegócio e que vêm sendo bastante pesquisados e discutidos pelos estudiosos, é
escasso o número de trabalhos sobre ele, seja nas fontes de pesquisa bibliográficas mais
habituais, seja na Internet. Os trabalhos de pesquisa que dizem respeito à farinha de
mandioca, confundem-se com o estudo da cadeia produtiva da mandioca.
Como exemplo, cita-se um resumo dissertação de mestrado com o título
“Competitividade: Perspectivas para o Desenvolvimento da Agroindústria da
Mandioca”, (SANTOS, 1997) que, com enfoque na integração agropecuária / indústria,
faz uma análise da atual situação das agroindústrias farinheiras e aponta as perspectivas
da cultura da mandioca se adaptar à competitividade global, através da inovação com a
produção de ração animal, trazendo benefícios sociais e econômicos para a região.
Um outro trabalho de mestrado relacionado ao tema é “A Cadeia Produtiva da
Mandioca e sua Importância Social e Econômica na Microrregião Geográfica de
Paranavaí” (ARAÚJO, 2000). Alguns outros trabalhos publicados pela EMBRAPA
foram fontes de pesquisa, quais sejam: “Cadeia Produtiva da Mandioca no Acre”
(CASTRO et al, 1998) que descreve a cadeia, o perfil do varejista, o papel da
39
assistência técnica, a situação das agroindústrias, o perfil do consumidor, do produtor e
seu sistema produtivo; e um relatório de pesquisa intitulado “Estudo da Cadeia
Produtiva da Mandioca no Amazonas” (DIAS et al, 1998) onde são identificados os
ambientes , os agentes da cadeia e suas responsabilidades dentro desse ambiente,
apontando para busca de alternativas de utilização de outros produtos de mandioca para
melhorar o retorno econômico ao mandiocultor.
Ainda numa publicação da EMBRAPA, Cardoso (2001) faz uma análise da
competitividade da cadeia produtiva da mandioca utilizando ferramenta da Matriz da
Análise de Políticas (MAP), que requer um conhecimento sobre as estruturas de custos
e receitas. Identificam dois corredores de comercialização e formação de preços:
Salvador como centro de formação de preço e Paranavaí como produtor; e São Paulo
como centro formador de preços e Paranavaí como centro de produção.
A partir das pesquisas realizadas, nota-se uma maior preocupação por parte dos
órgãos governamentais em estudar o agronegócio relacionado ao complexo
agroindustrial da mandioca, que envolve não somente a produção de farinha, mas
também da fécula, como produto para exportação, utilizada na indústria alimentícia,
farmacêutica e química, entre outras.
2.7. Conclusão
Na revisão teórica encontramos muitas visões de autores que, em busca de
delimitar os espaços de estudos para um determinado produto ou matéria-prima, ora o
definem como sistema agroindustrial, ora o denominam de complexo agroindustrial, ora
cadeia produtiva. Partindo dessa premissa, em se tratando de estudar a CPA da farinha
de mandioca adotamos as idéias de Batalha (2001) que faz uma abordagem
diferenciando dos termos acima mencionados, considerando esses três conceitos como
enfoques distintos, advindos das abordagens de CSA e filières. A escolha dependerá do
recorte analítico, delimitado pelo pesquisador. Assim sendo, a análise da CPA da
farinha de mandioca está em consonância com a concepção de filière ou cadeia
produtiva agroindustrial, partindo de um produto acabado seguido das atividades
operacionais necessárias a sua obtenção e a sua articulação com os outros segmentos
quando se realiza o suprimento de materiais e produtos, quais sejam, as atividades de
produção da matéria-prima até a distribuição. Nesse sentido a noção de SCM também
foi adotada como método de análise da CPA da farinha de mandioca.
40
Capítulo 3
Metodologia
Este capítulo trata de descrever a trajetória analítica desenvolvida no trabalho,
indicando as fontes e instrumentos de pesquisa, classificação do estudo e caracterização
dos entrevistados.
3.1. A filiére e SCM como métodos de análise
No tocante ao nosso trabalho, trata-se de um estudo de caso cujo objetivo é
compreender a cadeia produtiva da farinha de mandioca em dois municípios do estado
do Rio Grande do Norte: municípios de Vera Cruz e São José de Mipibu. Analisamos as
interdependências existentes entre os elos da CPA, a partir de pesquisas bibliográfica e
de campo voltadas para o estudo sobre cadeias produtivas, sob o referencial teórico da
aplicação dos conceitos de fiilère ou cadeia de produção agroindustrial (BATALHA,
2001) e de supply chain management (CHRISTOPHER, 1992).
Os assuntos ligados ao sistema agroindustrial têm sido tratados na literatura
usando-se a metodologia de análise de filière ou CPA. Este conceito envolve um
aspecto sistêmico necessário para se compreender a dinâmica do setor agrícola,
orientando os pesquisadores a procurarem as inter-relações entre os segmentos. Para se
compreender a CPA, como parte de um sistema, tomamos como ponto de partida a
identificação do produto final e o encadeamento, de montante à jusante, de todas as
operações técnicas, comerciais e de logística necessárias à sua produção.
O estudo da CPA da farinha, baseado no enfoque analítico de filière, é também
realizado sob a perspectiva da noção básica de SCM (supply chain management), dando
assim, além de uma visão sistêmica envolvendo as atividades de apoio e os
41
macrossegmentos da cadeia (matéria-prima, industrialização e comercialização), um
referencial que permite oferecer à empresa, individualmente, subsídios para a melhoria
do seu desempenho através da logística integrada. Nesta perspectiva da SCM, procurou-
se identificar alguns pontos, montado no Quadro 3-1 e construído a partir da literatura
referente à gestão de cadeia de suprimento, que denotassem a sua existência entre os
segmentos da CPA em estudo.
Quadro 3-1
Síntese das relações entre os diferentes segmentos da CPA
Mais regular Menos regular
Confiança
Fidelidade
Comprometimento
Fluxo de comunicação
3.2. Classificação do estudo
Para buscar evidências ligadas ao referencial teórico utilizado na pesquisa
bibliográfica, usamos o estudo de caso, dentro do conceito de Yin (2001), como
estratégia da pesquisa empírica, de maneira
que permita uma investigação para se preservar as características
holísticas e significativas dos eventos da vida real [...]. Estudo de caso é
uma investigação empírica de um fenômeno contemporâneo dentro do seu
contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e
contexto não são claramente definidos (YIN, 2001: p. 21-27).
Para ele, esse tipo de estudo de caso se divide em explanatório, descritivo e
exploratório. O estudo de caso em questão enquadra-se num estudo descritivo, exigindo
uma base teórica para se compreender como funciona a CPA e como ocorrem as
relações entre os seus elos e a cadeia de suprimento. No estudo de caso, os resultados
serão melhor relacionado, ou não, à base teórica. Caso afirmativo, teremos o que Yin
(2001) denomina de replicação literal (previsão de resultados semelhantes), e se
confrontada, uma replicação teórica (produção de resultados contrastantes).
42
3. 3. Fontes e instrumento da pesquisa
Os dados foram coletados em três fontes. A primeira, de dados secundários que
contém informações quantitativas (dados numéricos) e qualitativas, oriundas de
levantamentos do Censo Agropecuário (1995/1996) na Fundação Instituto Brasileiro
Geográfico e Estatístico e no Instituto Defesa do Meio Ambiente (2001); na Empresa
Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN), Serviço de Apoio à Pequena e
Micro Empresa (SEBRAE-RN), Secretaria da Agricultura do Estado do Rio Grande do
Norte, Federação da Indústria e Comércio do Rio Grande do Norte, Departamento de
Agropecuária da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Instituto de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte (EMATER - Regional), Secretaria
Municipal de Agricultura, em busca de documentos, publicações, periódicos, registros,
informações etc, referentes ao tema em estudo. A segunda fonte, dados qualitativos, foi
uma série sistemática de entrevistas conduzidas de forma espontânea e entrevista focal.
A terceira, a observação direta, realizada conjuntamente nas ocasiões em que estavam
sendo coletadas as evidências provenientes das entrevistas.
A entrevista focal, embora assumisse um caráter de conversa informal, seguiu
um certo conjunto de perguntas que se originaram da necessidade de se buscar as
evidências, originadas do estudo de caso (YIN, 2001). No primeiro contato inicial,
observamos indícios de que havia algum tipo de ligação mais estreita entre os
segmentos da CPA. A partir dessa constatação, o roteiro das entrevistas foi flexibilizado
incorporando questões mais orientadas, como a existência ou não de coordenação das
funções internas das firmas e da cadeia como um todo, em relação à gestão da cadeia de
suprimento
3
. Embora existam três unidades de processamento envolvidas no estudo de
caso, usamos o mesmo roteiro de entrevista na expectativa de se encontrarem ou não as
evidências, entre cada firma processadora e a firma distribuidora. Na coleta de dados,
cada agroindústria foi considerada uma unidade independente.
A pesquisa tem recorte temporal nos anos de 1999, do século passado, até o ano
2003, sendo que em relação aos dados secundários, utilizamos todo o período ficando o
ano de 2003, meses de julho a setembro, para coleta dos dados primários. Salientamos
3
Ver roteiro de entrevista em anexo
43
que foi nesse período em que algumas melhorias tecnológicas foram adotadas pelas
firmas processadoras (agroindústrias).
3.4. Identificação dos entrevistados
No estudo de caso, o quadro de respondentes principais englobou um atacadista
e proprietários de três agroindústrias que na cadeia de suprimento, mantêm
relacionamento de parceria com a distribuidora, além do gerente da EMATER Regional
e Secretaria Municipal de Agricultura. Este conjunto de atores foi selecionado, primeiro,
a partir da identificação da empresa Distribuidora de Produtos Kero Kero como
distribuidora de farinha de mandioca para supermercados de Natal e de todo estado do
Rio Grande do Norte. A partir daí, a identificação do município de Vera Cruz e de São
José de Mipibú, como fornecedores de farinha para a distribuidora, através de três
agroindústrias ali situadas.
As entrevistas foram realizadas com o produtor de farinha de mandioca
observando se ele produz a matéria-prima, sobre seus fornecedores, se existem contratos
(formais ou informais), parcerias, tanto à jusante quanto à montante da firma, como a
produção é vendida para atacadista e varejista, que inovações tecnológicas foram
incorporadas à produção, que tipo de farinha é mais aceita pelo consumidor, cuidados
na prática de fabricação. Ao atacadista/distribuidor: identificar se compra á granel ou já
embaladas em unidades, de quantas agroindústrias adquire o produto, quem são os seus
consumidores, que tipo de farinha é mais vendida, quanto se compra etc.
Para efeito didático, nomeamos com letras cada agente entrevistado do segmento
de transformação, que, ao longo do trabalho, serão assim identificados: agroindústria A
(localizado no distrito de Cobé-Vera Cruz), agroindústrias B e C (localizadas no distrito
de Arenã, São José de Mipibu), e do segmento de distribuição (localizado no município
de Parnamirim-RN) constituindo-se estes, como pessoas chaves na coletas de dados.
Também foram realizadas entrevistas informais com o gerente da EMATER Regional e
Secretário Municipal de Agricultura, além de outras pessoas da região.
Foi elaborado um roteiro inicial para entrevista. Na primeira entrevista,
observou-se a necessidade de ampliá-la com outras questões que dessem conta de mais
evidências, ao mesmo tempo, cruzadas as respostas das agroindústrias A, B e C com as
do distribuidor, notou-se que algumas respostas discordavam. Isto posto, foi necessário
44
retornar aos respondentes com as mesmas questões, a fim de se buscar as prováveis
evidências. Portanto, a cada contato realizado com os respondentes quase sempre
surgiram uma informação nova ou diferente da anteriormente posta ou não percebida,
pelo que foi necessário incorporá-la aos registros da pesquisa.
45
Capítulo 4
Descrição e funcionamento da CPA da farinha de
mandioca
Este capítulo tem o objetivo de descrever como funciona a CPA da farinha de
mandioca nos municípios de Vera Cruz e São José de Mipibú, enfocando a gestão da
cadeia de suprimento, em três agroindústrias farinheiras e o seu cliente principal, uma
distribuidora de alimentos. Adotamos a análise de filière e de gestão da cadeia de
suprimento como referencial teórico para analisar como ocorre o suprimento de matéria-
prima e produto na cadeia de produção agroindustrial e compará-los com as práticas
empresariais dos agentes econômicos da CPA, em foco, adotadas para melhorarem o
desempenho individual e/ou coletivo.
4.1. Sobre os municípios
Vera Cruz, município em destaque, situa-se na Região Agreste, a 46 km
(quarenta e seis quilômetros) da capital do estado do Rio grande do Norte, ocupando
uma área de 100 (cem) quilômetros quadrados e com uma população de 8.522
habitantes.
A localidade, inicialmente chamada de Periperi, se emancipou através do
desmembramento do município de São José de Mipibu, em 1963, se destacando pelas
atividades agrícolas e pastoris (Cavalcante, 1998).
O município de Vera Cruz possui uma população rural de 4.597 pessoas
ocupadas no plantio de fruteiras (mamão, manga, banana, caju, abacate, coco da baía,
abacaxi), no plantio das culturas do milho, feijão, batata-doce e mandioca. A produção
46
da raiz da mandioca é uma das principais atividades agrícolas, tendo em 2002,
produzido 19.750 toneladas em uma área de 1.975 hectares (IBGE, 2003). Há também,
as atividades de pecuária ligadas à criação bovina de leite e avícola de postura, com uma
produção de 642 mil litros de leites e 22 mil dúzias de ovos (IDEMA. 2001).
No distrito do Cobé, Vera Cruz, nota-se uma tradição para a produção de farinha
de mandioca, a qual abastece parte do mercado estadual e com emprego direto da mão-
de-obra local em torno de cento e setenta pessoas. Há mais ou menos dez anos, existiam
em torno de trinta casas de farinha, e atualmente em torno de dez. O que significa dizer
que ao longo do tempo os produtores de farinha de mandioca foram encerrando suas
atividades ou se ocupando de outras atividades agrícolas ou não agrícolas, como o
comércio e fabricação de telhas.
Já o município de São José de Mipibu possui uma população de 34.912
habitantes sendo que 19.310 residem na zona rural (IBGE, 2000). Sua produção agrícola
está direcionada para o plantio da batata-doce, feijão, mandioca, milho, destacando-se
na produção de cana-de-açúcar. Possui localidades às margens da estrada que se
confundem com o município de Vera Cruz, como é o caso de Arenã, onde existem
algumas agroindústrias encarregadas da produção de farinha de mandioca.
4.2. Caracterização da cadeia de produção agroindustrial da farinha
de mandioca
A CPA em estudo, dentro do contexto de uma economia globalizada, sofre
influência do aumento da competitividade e de novas exigências dos consumidores em
adquirir um produto confiável, forçando os seus segmentos a adotar medidas para se
manterem no mercado. Algumas dessas medidas traduzem-se na mudança tecnológica
na produção, adoção de boas práticas de fabricação
4
, criação de novas formas de
organização (com integração vertical, contratos), introdução de novos produtos,
flexibilização da produção, entre outros.
Na CPA da farinha de mandioca em estudo, as agroindústrias
5
caracterizam-se
como uma unidade empresarial em que há contratação de mão-de-obra de terceiros,
4
As boas práticas de fabricação referem-se às normas de fabricação exigidas pelo Ministério da
Agricultura.
5
Nesse trabalho a agroindústria é entendida como uma unidade de beneficiamento ou
processamento de matérias-primas de base agropecuária.
47
emprego de algumas tecnologias de produção mais modernas e um mínimo de
investimento de capital próprio, embora advindos de outras atividades econômicas.
Existem fortes vínculos à jusante da CPA, caracterizando-se como formas de contratos
entre as agroindústrias e a distribuidora.
Apesar de ter ocorrido uma queda no número das agroindústrias, ainda é a
farinha o derivado da mandioca que apresenta a maior expressão, tanto em termos
econômicos como também sociais. Portanto, no estado do Rio grande do Norte, o
segmento de processamento da mandioca está intimamente ligado à produção de farinha
de mesa, diferentemente do Paraná que tem a fécula como derivado principal.
Ao analisarmos o fluxo de matéria-prima da CPA da farinha, nas agroindústrias
pesquisadas, o fornecimento ocorre através dos mesmos atores, o produtor/fabricante, e
por pequenos produtores da região, que tanto vendem diretamente à agroindústria como
também através de intermediário, que é chamado de “corretor”.
O produto final (farinha de mandioca) é comercializado por agentes que aqui são
classificados como:
Intermediário 1 - agente de comercialização que é fixado ou não na comunidade
ou Município (atravessador, corretor). Adquire o produto da agroindústria e
repassa para varejistas;
Intermediário 2 - agente de comercialização que adquire o produto do
intermediário 1, fixado ou não na comunidade, denominado de varejista
(supermercado, mercadinho e mercearia).
Intermediário 3 - agente de comercialização que atua diretamente nas
agroindústrias do Município, estabelecido na capital (Distribuidora de Alimentos
Kero Kero) e que distribui o produto para varejistas de todo o Estado do Rio
Grande do Norte
6
.
Cada agente envolvido no fluxo da cadeia de suprimento da farinha de mandioca
adquire um volume determinado do produto dependendo de suas necessidades e da
demanda do mercado. Já o consumidor, se caracteriza como o conjunto de pessoas ou
6
Os intermediários assim classificados, referem-se aos dados encontrados na pesquisa empírica, porém,
existem outros agentes atuando na CPA que não foram entrevistados por se encontrarem fora do escopo
do trabalho.
48
organizações que têm necessidades comuns e interesse em adquirir a farinha de
mandioca. Este mercado consumidor é formado por pessoas de todas as classes sociais,
ressalvadas as diferenças culturais e dieta alimentar, e que obtém o produto em feiras
livres, supermercados e mercearias.
O segmento de distribuição se configura como uma plataforma logística, um
grande espaço físico (armazém), onde se concentra uma variedade de produtos
alimentares, de limpeza e higiene pessoal, provenientes de vários pontos e/ou
fornecedores, onde é feita a seleção, classificação e embalagem para atender à demanda
expressa por atores à jusante da cadeia de suprimento (ALVES in Batalha, 1999).
4.3. Atividades operacionais da cadeia de produção da farinha de
mandioca
Segundo o referencial teórico adotado para se analisar a CPA da farinha de
mandioca, a cadeia de produção e análise de filière poderá ser visualizada como um
sistema de atividades sucessivas e verticalmente integradas, representando o fluxo
produtivo e distributivo do produto individualizado (MELLO et al,1999), e
identificados seus elos. Lembrando que o ponto de partida iniciou-se com a
identificação de um produto final, para a partir daí encadear as operações técnicas
necessárias à sua obtenção, além das atividades comerciais e de logísticas, que estão
presentes na distribuição, transformação e produção da matéria-prima. Para se obter o
produto final, no caso a farinha de mandioca, a indústria de transformação, aqui
considerada agroindústria, necessita da produção agrícola para obter a matéria-prima
que irá ser processada, após o que passará por várias seqüências de processamento,
descritas abaixo e mostrado na Figura 4.1.
1) Recepção e pesagem da matéria-prima
A mandioca é encaminhada a granel para a recepção onde é pesada e efetuado o
controle.
2) Tanque
As raízes são levadas para o tanque onde são lavadas manualmente e colocadas
de molho por 48 horas.
3) Raspagem
49
Consiste no descascamento das raízes, que é realizado manualmente.
4) Ralação
Essa etapa consiste na transformação das raízes em uma massa realizada por um
ralo, hoje, moedor mecânico.
5) Prensamento
A massa é transportada através de uma esteira para uma prensa hidráulica, onde
é prensada e o líquido escorre para um dos tanques. Após a prensagem a massa
apresenta-se sob forma de blocos e é depositada em um cocho.
6) Desmembramento
A massa nessa fase é distribuída, a fim de ser efetuado seu desmembramento,
através do equipamento desmembrador-esfarelador.
7) Torração
A massa será torrada em forno planetário, havendo aquecimento através de lenha
vegetal, depois depositada em cocho cônico.
8) Resfriamento
Consiste em deixar a farinha em repouso até seu resfriamento para depois ser
selecionada e classificada
9) Classificação
A farinha é misturada e classificada através de peneiras, de vários diâmetros,
para manter a sua uniformidade.
10) Armazenamento
Após selecionada, a farinha é pesada e ensacada e transportada para local
específico.
11) Trituração
Após a separação dos grãos maiores de farinha, estes são levados novamente
para o forno e voltarão ao cocho de resfriamento, para depois ser classificada e
armazenada.
A próxima etapa se dedicará à distribuição do produto final, que tanto pode ser
via um distribuidor (atravessador) ou um varejista. Do consumidor final, parte
50
informações relativas à aceitação do tipo do produto, quantidade requerida, entre outras,
que deverão repercutir em toda cadeia até o produtor de matéria-prima. Outras
informações ocorrem ao inverso da cadeia, em se tratando do suprimento de matéria
prima, quando esta se dá do produtor para a agroindústria, da agroindústria para o
distribuidor ou varejista e destes para o consumidor final.
Esquema da cadeia de produção da farinha de mandioca
Figura 4-1
Fluxo de materiais e produtos Fluxo de informações e recursos
Raspa para
ração animal
Manipueira
para
adubação e
alimentação
animal
Produção da
material-prima
Operações de transformação
Distribuição /
comercialização
A
mbiente externo (produção de insumos, assistência técnica e rural,
associações e sindicatos rurais, regulamentação, crédito rural, etc).
mandioca
Recepção e
prensagem
descascamento
lavagem
prensagem
desmembramento
torração
classificação
armazena
mento
trituração
51
4.4. Sobre as recomendações para práticas na fabricação de farinha de
mandioca
Considerando que o consumidor está cada vez mais exigente em adquirir um
produto confiável e de qualidade; levando em conta as diferenças regionais, em que
cada centro consumidor de farinha de mandioca possui preferências específicas, os
órgãos governamentais, Ministério da Agricultura, criam normas que devem ser
seguidas pelas agroindústrias, com objetivo de padronizar o produto. Além das normas
estabelecidas pela Comissão Técnica de Normas e Padrões – CTNP, outros órgãos
como o SEBRAE, oferecem serviços de apoio à produção, através de assessorias,
palestras, cursos e material impresso.
Entre os trabalhos realizados pelo SEBRAE, encontramos o que se refere às
Recomendações para a Fabricação de Farinha e Fécula (Goma) de Mandioca com
Padrão de Identidade e Qualidade Definidos (Oliveira, 1997) e mais especificamente
relacionados às boas práticas de fabricação. Embora nosso trabalho não esteja focado na
qualidade do produto, essas recomendações (anexo 3), no entanto, devem ser
consideradas por fazerem parte das exigências advindas do consumidor final e por ser
um objetivo de desempenho de qualquer agroindústria que pretenda permanecer no
mercado competitivo.
4.5. A produção da farinha de mandioca em Vera Cruz (Cobé) e São
José de Mipibú - (Arenã)
As casas de farinha, aqui denominadas de agroindústrias se concentram nas
regiões Agreste e Leste Potiguar, onde se localizam os municípios de Vera Cruz e São
José de Mipibú.
Atualmente, segundo informação da CONAB, estima-se que 70% do suprimento
de farinha do estado do Rio Grande do Norte, vem sendo realizado através das
agroindústrias locais revelando-se de grande importância na geração de renda, na
demanda de mão-de-obra local e, em conseqüência, nas melhorias econômicas,
financeiras e sociais dos envolvidos.
A produção de farinha de mandioca no município de Vera Cruz, que já somou
em torno de cem casas de farinha, hoje possui mais ou menos cinqüenta, destacando-se
52
como uma atividade de parcelas da população, através tanto do cultivo da raiz como
também da produção de farinha de mesa. Segundo dados obtidos na EMATER local
(2003), as comunidades onde há maior concentração de agroindústrias são o Sítio de
Santa Cruz, Jacaré, Genipapo, Cobé, Papagaio, Araçá, Ponta de Várzea, Pitombeira,
num total estimado de cinqüenta casas de farinha, cada uma, empregando em média
doze pessoas.
Como centro de nossa atenção, pesquisamos a agroindústria A (Cobé), que
emprega vinte e seis pessoas, seis homens e vinte mulheres e produz 300 sacos (15.000
kg) semanalmente; a agroindustrial B (Arenã), empregando doze mulheres e quatro
homens, produzindo 120 sacos (6.000 kg) de farinha e a agroindústria C (Arenã) com
uma produção semanal irregular em torno de 50 sacos (2.500 kg).
As mulheres, maioria das pessoas ocupadas, levam com elas seus filhos menores
para o seu trabalho. Sentadas ao chão, fazem rodas em torno do monte de raiz e
conversam enquanto descascam a mandioca. Quando faltam ao trabalho, a produção cai
drasticamente.
Em São José de Mipibu, a produção de mandioca foi pouco mais de 6.000
toneladas (IBGE, 2002), com agroindústrias localizadas principalmente vizinhas ao
Cobé. Entre os dois distritos não há separação espacial, se misturando entre as casas e as
suas agroindústrias farinheiras.
4.6. Funcionamento interno das firmas
As firmas envolvidas na pesquisa têm um perfil peculiar. São ao mesmo tempo
unidades produtivas que no seu bojo englobam características da produção familiar
(emprego de mão-de-obra doméstica) ao mesmo tempo em que contratam mão-de-obra
e adotam um certo grau de automação. Em relação às funções de gestão, pelas próprias
características das firmas, se concentram em duas gerências. Normalmente o
proprietário assume o papel de gerente geral é encarregado da contratação de mão-de-
obra, mantém contato com os compradores e fornecedores e acompanha o processo
produtivo na planta. Ao parente mais próximo (filho), atribui as funções de transportar a
matéria-prima para suprir a produção e de entregar o produto final ao distribuidor.
Observa-se que, embora não haja uma proposta de trabalho na perspectiva de SCM, as
firmas internamente trabalham de forma integrada. Não por opção, mas por possuir um
53
número reduzido de trabalhadores e de postos de trabalho, as atividades administrativas
se concentrarem em duas pessoas, o tamanho da planta, enfim, as condições que
facilitam o trabalho integrado. No entanto, as funções de gerenciamento de materiais, do
gerenciamento da produção e do gerenciamento da distribuição, não são facilmente
identificáveis.
Comparando as atividades logísticas, já descritas no capítulo 2, com as funções
de gerenciamento da produção, materiais e distribuição, identificamos suas respectivas
responsabilidades, ora sintetizado no Quadro 4.1. As atividades relacionadas ao apoio à
produção incluem: a movimentação interna de recursos produtivos, através de
gerenciamento de estoques de matérias primas (raiz da mandioca) e produtos acabados
(farinha); o armazenamento, manuseio e transporte de insumos necessários à produção
interna da firma (lenha, embalagem); o suprimento, ou seja, a obtenção de matéria-
prima, produtos ou insumos de seus fornecedores; e a distribuição física que congrega o
transporte dos produtos, insumos ou matérias-primas ao longo da cadeia produtiva.
Quadro 4-1: Sinopse das atividades logísticas internas das firmas
Funções
Atividades Logísticas
Gestão de
materiais
Gestão de
produção
Gestão de
distribuição
Compra matéria-prima X
Transporte da matéria-prima X X
Controle de estoques(matéria-prima e produtos) X
Controle aa qualidade X
Armazenagem X
Informação com os clientes e fornecedores X
Transporte/distribuição de matéria-prima e produtos X X
Fonte: autora, baseado nos dados colhidos. (Vera Cruz/RN, 2003).
4.7. Descrição dos resultados da CPA
Esta seção tem como objetivo descrever os resultados da pesquisa de campo, que
compõe o estudo de caso, enfocando os segmentos da CPA e suas relações e
interdependências quando tratadas na cadeia se suprimento, ou seja, o fluxo de matérias,
54
produtos e serviços que vão do produtor até o consumidor final, como também do fluxo
de informação que advêm do consumidor em direção ao produtor. Resumidamente,
tratamos da indústria de insumos, por fazer parte da cadeia, mas não nos atemos a esse
segmento por considerar que não exerce influência significativa sobre a cadeia.
4.7.1. Insumos
O segmento das indústrias é constituído dos fornecedores de equipamentos,
máquinas, fertilizantes, adubos, etc. Situa-se a montante das indústrias de
processamento, porém não exerce pressão significativa sobre a cadeia, visto que os
produtores de raízes pouco usam tecnologias ditas modernas e insumos químicos
(fertilizantes e herbicidas). Basicamente a adubação é feita com o subproduto da
farinha, a manipueira, e do adubo orgânico de origem animal (esterco), ambos oriundos
da própria localidade.
4.7.2. Fornecimento de matéria-prima
As informações coletadas na pesquisa mostraram que os três produtores de
farinha de mandioca produzem em torno de 35% da matéria-prima necessária para o
suprimento da sua agroindústria (casa de farinha) e, além do cultivo da raiz de
mandioca, diversificam a produção através de outras atividades econômicas (produção
de batata-doce irrigada, a pecuária e o comércio), o que potencializa a economia da
agricultura familiar, garantido-lhe a sua reprodução.
A opção por uma verticalização, produção da raiz de mandioca e
processamento, foi com o objetivo de diminuir as incertezas do mercado, referente à
safra e entressafra, prevenindo-se contra a falta da matéria-prima, bem como garantir a
manutenção do mesmo nível de produção semanal, ao longo de todo o ano. A raiz
produzida pelos produtores de farinha está sendo utilizada no final da colheita,
enquanto, no início da safra, o suprimento é realizado pela matéria-prima adquirida de
outros produtores de mandioca. Nota-se aqui a adoção de uma estratégia que não é algo
novo, pois faz parte da cultura dos produtores de farinha de outras regiões do país em
produzir a matéria-prima e transformá-la em farinha, goma ou beiju.
A utilização da sua produção, em um segundo momento, caracteriza o início de
um novo ciclo de produção da raíz.
55
Geralmente, a matéria-prima local supre as necessidades da produção das
agroindústrias. No entanto quando chega a escassear, o suprimento é feito através da
compra em municípios vizinhos (Macaíba, Lagoa de Pedra, Lagoa Salgada e Monte
Alegre).
Na cadeia de suprimento, a aquisição da matéria-prima por parte da
agroindústria não guarda uma relação de contrato com fornecedores de raiz.
Considerando que, os donos das agroindústrias, são também produtores, isso lhes dá
uma certa margem de segurança em manter um fluxo mais ou menos constante de
material necessário para a sua produção. Todavia, percebe-se uma tendência para
configuração de futuros contratos, pois os fornecedores da raiz, sabendo das
necessidades das agroindústrias, geralmente os procura para comercializar.
Muito raramente ocorre falha no abastecimento, através da produção local, e
quando isso ocorre o corretor é acionado. O corretor cumpre a função de intermediar a
transação entre um produtor de mandioca e o produtor de farinha, ou seja, ele assume o
papel do atravessador (ver Figura 4-3), que é facilitada pela ausência de informação a
respeito do mercado. A falta de uma programação da produção, a demanda de outros
estados e o uso na alimentação animal acarreta um desequilíbrio entre a oferta da raiz e
a capacidade produtiva das agroindústrias locais, interferindo no preço do quilo, que,
segundo os respondentes, há três anos era de R$ 0,05 (cinco centavos) e em 2003
7
, R$
0,25 (vinte e cinco centavos). Observando-se os dados relacionados ao preço da farinha
de mandioca, no intervalo de tempo entre março/2002 e março/2003, constata-se que
houve um aumento considerável, tanto da farinha a granel (sacos de 50 kg), como da
farinha empacotada (1 kg) em mais de 100%. Nesse mesmo período, ocorre uma queda
do consumo da matéria-prima para fim de alimentação animal (CONAB, 2003). Além
disso, o aumento do consumo doméstico de fécula, passando de 400 mil toneladas para
667 mil toneladas, a partir de 2002 (CONAB, 2003), reduz a disponibilidade de
matéria-prima para as agroindústrias farinheiras. O estado da Bahia
8
, além do Paraná,
está utilizando a fécula na produção do pão, acarretando o aumento na demanda da
matéria prima, como também o da própria farinha. Em relação ao preço da matéria-
7
Atualmente, em 2004, o preço da mandioca está em torno de R$ 0,10 o quilo, influenciando também no
preço da farinha de mandioca, cujo saco de 50 quilos é comprado na agroindustrial por R$ 22,00 até R$
25,00. Informação cedida pelo distribuidor em 07/10/2004.
8
Além do Paraná, a Bahia é o segundo Estado da Federação que, antes mesmo de ser aprovada a lei no
Congresso Nacional sobre o uso de até 20% da fécula de mandioca na indústria alimentícia, já se
adiantara utilizando a fécula na fabricação do pão francês. Radiobrás, Brasil.
56
prima, se compararmos o período entre maio de 2002 e maio de 2003, houve um
aumento de 177,7 % no preço da raiz (CONAB, 2002).
A demanda pelo produto final está também vinculada aos novos hábitos
alimentares e as políticas governamentais que geram em segmentos de mercado uma
tendência de redução do consumo passando a substituí-lo por outros produtos (fubá,
arroz, por exemplo). Por outro lado, o aumento do consumo da farinha de mandioca está
concentrado nos meses de junho e dezembro.
Considerando esses fatores, a raiz da mandioca está sendo comercializada ainda
nova, interferindo na produtividade, onde mil covas produzem 2.500 mil a 3.000 mil
quilos de mandioca, quando deveria ser colhida em um maior espaço de tempo
produzindo em torno de 4.000 mil quilos por 1.000 mil covas, não consideradas as
diferenças climáticas, tipo de solo, adubação etc.
Perguntado sobre a questão da colheita precoce, os respondentes consideram que
devido as condições de mercado, o preço da tonelada da raiz se encontra num patamar
que lhes garante agregar maior valor ao produto final. Considerando as incertezas, os
produtores de raiz preferem vender a produção antecipada com receio de queda de preço
mais adiante.
4.7.3. Controle da qualidade da matéria prima e produto - Sazonalidade e
perecibilidade
O termo qualidade está diretamente relacionado à qualidade do produto em
termos de seus atributos intrínsecos e percebidos, que se concretizam nas características
de cor (branca ou amarela), no tipo (farinha fina ou média), no sabor, na ausência de
sujicidades (conformidade com as normas de boas práticas de fabricação); e na garantia
de manuseio (embalagem segura), prazo de validade, ou seja, todos os itens ligados às
exigências do consumidor. Portanto corroborando com o conceito de que a qualidade do
produto é uma propriedade síntese de múltiplos atributos do produto que determinam o
grau de satisfação do cliente (TOLEDO p.472 in Batalha, 2000).
Em se tratando de um produto de base agropecuária, a qualidade da matéria-
prima influi tanto na qualidade do produto final como também na produtividade, como
por exemplo, o aumento do percentual de umidade, diminuindo o percentual de amido
e, por derivação, a redução do peso.
57
Como não existem contratos formais nem informais entre a agroindústria e os
fornecedores de raízes, não há uma orientação no que se refere à qualidade da matéria-
prima, que chega em alguns períodos do ano, a ter uma perda na rentabilidade, na
obtenção do produto final, de até mais de 70%, incluindo as perdas normais que
ocorrem nas operações de descasque e prensagem. Como regra, em boas condições
climáticas, de adubação, de tratos culturais e respeitado o período de colheita, uma
tonelada de raiz produzirá em torno de 300 quilos de farinha seca de mesa.
O atributo da qualidade do produto, por conseguinte, está ligado ao clima, ao
solo, aos tratos culturais e adubação realizados e ao tempo de colheita. No inverno, por
exemplo, a raiz não produz uma farinha de qualidade considerada boa e a produtividade
diminui consideravelmente. Segundo o proprietário da agroindústria B, no inverno a
farinha fica fofa e perde o sabor. A lagarta também influi na qualidade da mandioca
colhida. A redução da quantidade de goma (fécula) da farinha, por sua vez, igualmente
afeta a qualidade do produto final. Em contrapartida, no verão a raiz produzida é de
melhor qualidade, o que influencia na sua produtividade e na qualidade do produto
final.
As características de perecibilidade da matéria-prima é um fator, que na
pesquisa, apareceu como de fundamental importância para a qualidade da farinha. Ao
serem descarregadas, as raízes devem ser imediatamente descascadas num intervalo
máximo de 24 horas. Se o tempo entre o descasque e o processamento for longo, a raiz
muda de coloração interferindo na qualidade da farinha. Ainda, segundo o proprietário
da agroindústria B, a mandioca não pode ficar para amanhã, a mercadoria tem que ser
feita logo. Isso acarreta uma outra questão. A necessidade de mão-de-obra para o
descasque da raiz varia de acordo com a quantidade requerida da produção, derivando
daí a flutuação do número de trabalhadoras e no processo produtivo que requer um lead
time curto, pois, ao chegar, a matéria-prima deverá ser processada rapidamente. Além
disso, se a mão-de-obra disponível for menor que a necessária, ocorre um atraso no
processamento, ou seja, o gargalo da produção é a operação de descasque ao aumentar,
assim o lead time de fabricação.
A certificação, norma exigida pelo Ministério da Agricultura para classificação
da farinha com objetivo de padronização, é de responsabilidade da distribuidora. A não
conformidade com as normas impede a sua certificação. Nela, o grau de umidade,
58
fibras, fiapos e entrecascas, amido, acidez e cinzas são avaliadas seguindo a tolerância
máxima e a mínima para o item amido.
Ainda em relação à qualidade, segundo entrevista com funcionário da
EMATER, a empresa elaborou e já está sendo implementado um projeto para melhoria
das instalações das plantas e compra de equipamentos, destinado ao município de Vera
Cruz-RN, cujo financiamento será realizado através do Banco do Brasil S/A, tendo
limite no valor de R$ 18.000 (dezoito mil reis) e carência de dois anos a seis anos para
se efetuar o pagamento. Tais melhorias incluem revestimento cerâmico de paredes e
pisos, construção de W.C. e caixa d’água, instalações elétricas e hidráulicas, construção
de tanques para manipueira e de recepção de matéria-prima. Além de financiamento
para aquisição de descascador mecânico, prensa e fornos (misturador) elétrico.
4.7.4. Estoques
Por estoque entende-se tudo que possa ser armazenado com propósito de
utilização posterior (SCARPELLI, 2001 p.352). No caso da produção de farinha, o
estoque, tanto do produto final como da mandioca, é praticamente zero. O fluxo de
matéria-prima é realizado quase que diariamente, não havendo, portanto, formação de
estoques de matéria-prima, determinado pela característica da perecibilidade.O mesmo
acontece com a produção, cujos resultados são entregues quase que diariamente ao
distribuidor - Distribuidora de Alimentos Kero-Kero localizada na cidade de Natal.
A produção da farinha de mandioca, portanto, poderia ser caracterizada como
uma produção just in time, parte devido a característica perecível da mandioca que deve
ser utilizada no máximo 48 horas depois de colhida, hoje chegando a 24 horas, e parte
devido à demanda e exigências da distribuidora, que exige uma farinha “quente”(nova).
Nesse sentido, o estoque é todo transferido para a distribuidora, que por sua vez
entrega diariamente o produto aos seus clientes varejistas.
4.7.5. Embalagem e armazenagem
Segundo Alves (2001,p.219), a gestão da armazenagem ocupa-se em
administrar o espaço físico para manutenção dos estoques.
A embalagem do produto, na cadeia de suprimento, é uma variável que auxilia
na manutenção da qualidade intrínseca e percebida, na segurança do manuseio e
armazenagem, e em conseqüência, na agregação de valor para o produto. Os produtores
59
entrevistados que vendem para a distribuidora, encarregam-se apenas do
acondicionamento da farinha em sacos de cinqüenta quilos, que devem ser seguros e
práticos.
As embalagens para acondicionamento da farinha de mandioca, segundo as
Normas de Identidade, Qualidade, Embalagem e Transporte da Farinha de Mandioca
(NIQETFM), poderão ser de algodão branco ou similar, papel, plástico, ou qualquer
outro tipo de material, desde que previamente aprovado pelo Ministério da Agricultura.
As embalagens deverão ser novas e resistentes e o material plástico deve ser
transparente e incolor, para permitir a visualização do produto e acondicionada em 50
kg (para atacado) em pacotes de 500g, 1(um), 2(dois), 5(cinco) e 10(dez) quilogramas
em peso líquido (para o varejo).
O acondicionamento da farinha, nas agroindústrias pesquisadas, é feito em sacos
plásticos trançados, de 50 kg, para venda a atacado, transportados em caminhão aberto,
percorrendo uma distância de 40 km até a distribuidora. O armazenamento da farinha na
agroindústria é feito na própria planta de produção, onde fica de um (agroindústria A) a,
no máximo, quatro dias (agroindústria B e C), chegando a zero dia.
Na distribuidora, a farinha passa por processo de seleção, em equipamentos
apropriados, e é embalada em unidades de 1 kg e, em seguida, em fardos de 25kg e
depois distribuídas em todo o estado do Rio Grande do Norte.
Nota-se, por parte do distribuidor, uma preocupação com o design das
embalagens, incluindo a conveniência (unidade para consumo e código de barra),
informações essenciais (composição do produto, prazo de validade, peso, preço) e
informações adicionais (finalidades de uso), atendendo tanto as exigências da Secretaria
do Ministério da Agricultura como também a dos consumidores.
4.7.6. Distribuição e comercialização
Em muitas cadeias produtivas, a distribuição se traduz em grandes armazéns,
localizados em pontos geográficos próximos dos consumidores, onde concentram-se
grandes variedades de produtos que serão posteriormente distribuídos. A Distribuidora
de Produtos Kero-kero Ltda, funciona há cinco anos no estado do Rio Grande do Norte,
com duas lojas, uma localizada na BR 101- km 5, Município de Parnamirim-RN e outra
em Natal-RN, cujos sócios são dois irmãos.
60
O fornecimento da farinha de mandioca para a distribuidora é feito através das
três agroindústrias, sendo que, a agroindústria A faz sua entrega diariamente e as
agroindústrias B e C, o tempo de entrega varia em média três dias. Em todos os três
casos as entregas são realizadas por meio de transporte rodoviário próprio. A Kero-
Kero, depois de receber a farinha e realizar o processo de certificação e embalagem,
distribui o produto para supermercados da capital ( um de origem francesa e integrantes
de uma Rede), mercados e mercearias da capital e do interior de todo o estado, através
de caminhões próprios, de médio e grande porte.
A distribuição é realizada diariamente e entregue para seus clientes que fazem
seus pedidos via informática (nos supermercados) e através de seus vendedores (via fax
ou telefone), para os demais clientes.
Em relação ao suprimento da matéria-prima, as unidades de produção,
geograficamente se situam próximas à agroindústria, aproximadamente 10 km, o que
certamente diminui os custos com transporte e, em conseqüência, pouco adiciona no
custo final do produto.
Partindo dos dados colhidos nas entrevistas esquematizamos o fluxo do
suprimento da matéria-prima, na Figura 4.2, que se dá, praticamente, em duas vias. A
primeira, através da própria agroindústria, quando o mesmo produtor decide pela
verticalização, produzindo a mandioca e a farinha; e a segunda, através de outros
produtores de mandioca da região. Entre produtores e agroindústria não há uma relação
de contrato, podendo a matéria-prima ser vendida diretamente para a agroindústria
como também para a figura do corretor (atravessador). No caso da agroindústria A, que
tanto se auto-abastece como adquire a raiz de outros, em se tratando da sua produção de
farinha esta é vendida totalmente para a distribuidora. Já as agroindústrias B e C
vendem parte da produção de farinha para a distribuidora e o restante para
atravessadores e/ou varejistas. Os atravessadores, por sua vez, repassam para varejistas
(mercearias, cantinas) ou diretamente ao consumidor, especialmente em feiras livres.
61
Fluxo de matéria-prima e produto através da cadeia de suprimento na CPA da farinha de mandioca
Figura 4-2
Fonte: Autora baseada nos dados da pesquisa de campo (Vera Cruz/RN, 2003)
4.7.7. Fluxo de informação
Considerado como parte da cadeia do suprimento, o fluxo de informação deve
ser realizado de forma rápida.
As exigências do consumidor final chegam à distribuidora através dos seus
clientes (varejistas). Pelo fato de estar mais próxima do consumidor final na cadeia
produtiva, a distribuidora repassa para a agroindústria os atributos requeridos por esses
consumidores, preocupando-se com as recomendações de processo de fabricação da
farinha, levando em conta, por exemplo, as práticas de fabricação, as condições
higiênicas do local, orientando na variação da cor. Para se ter uma idéia, por exemplo, a
cor amarela tem sido exigida pelos restaurantes e hotéis de Natal devido seu uso facilitar
a obtenção da farofa carioca, portanto, não havendo necessidade de se adicionar
corantes.
A confirmação dos pedidos do produto entre a distribuidora e as agroindústrias,
é feita semanalmente, e até diariamente, dependendo das necessidades da distribuidora.
Há período em que a demanda não varia permanecendo então, os pedidos inalterados.
Geralmente, não há variação na quantidade requerida, para as agroindústrias B e C.
Na relação entre as agroindústrias e os produtores de matéria-prima, a
comunicação é realizada sem programação, visto que não há contratos entre eles. O
fluxo de informação sobre as necessidades de matéria-prima ocorre quase que
automaticamente. Como os produtores de raiz de mandioca sabem das necessidades das
Produto
Matéria-prima
Produção de
matéria-prima
Consumidor
final
Agroindústrias
A
travessador/
corretor
atacadista
varejista
62
agroindústrias, eles oferecem seu produto diretamente e outras vezes, através do
“corretor”. As agroindústrias por sua vez, sabendo onde se localizam as fontes de
fornecimento da matéria-prima, buscam os seus suprimentos.
Voltando-se para o segmento de distribuição, quando perguntado sobre as causas
que levaram a adotar esse tipo de relacionamento com a agroindústria, o distribuidor
respondeu que a escolha foi pela necessidade de se ter maior segurança na entrega em
tempo certo e pela garantia da qualidade do produto. Há uma preocupação, por parte da
distribuidora, em visitar as unidades processadoras e orientá-los na manutenção da
planta e nas práticas de fabricação. Nesse sentido, o papel da distribuidora funciona de
certa forma como um coordenador em busca de vantagens, o que certamente reflete na
melhoria e otimização do processo produtivo (certificação do produto, orientação para
melhoria das instalações) e irá refletir na melhoria da qualidade do produto ofertado ao
consumidor final.
Entre os supermercados e a distribuição, o fluxo de informação é mais rápido.
Com adoção de novas tecnologias de informação, como o código de barras, os
supermercados controlam seus estoques diariamente. Considerando a farinha um
produto de pouca variação na demanda, os pedidos seguem a mesma lógica.
4.8. Relacionamento das agroindústrias X distribuidora
Toda a produção da agroindústria A, é destinada para a distribuidora Kero-Kero.
A tomada de decisão partiu da distribuidora, no caso da agroindústria A, que há dez
anos mantém essa parceria com a Kero-Kero, vendendo toda produção semanal que
perfaz em torno de 500 sacos, ou seja, 25.000 quilos
9
. Perguntado sobre as vantagens do
contrato, o proprietário da agroindústria A enfatizou as incertezas de mercado que não
lhe garantiria o pagamento em dia combinado e a flutuação na demanda. Há períodos
em que muitas agroindústrias, que não mantém contrato, sentem dificuldade para
comercializar o seu produto. Sobre esse assunto o proprietário da agroindústria A,
sintetizou na sua fala: eu fico tranqüilo pois seu Zequinha compra tudo, diz ele. Como
desvantagem apontou quando ocorre aumento de preço da matéria-prima este não é
repassado para o distribuidor imediatamente, pois este tende a protelar a decisão de
pagar o preço que cubra esse aumento.
9
Atualmente, houve uma redução no volume de compra entre a distribuidora e as agroindústrias, sendo
que a agroindústria A passou a fornecer em torno de 150 a 200 sacos semanais de farinha. Informação
cedida pelo distribuidor em 07/10/2004.
63
Ainda em relação à agroindústria A, acrescenta ainda que não há garantias de
preço mínimo para a farinha, que varia dependendo do preço da mandioca. Enquanto os
custos com mão-de-obra e insumos aumentam gradativamente ao longo do tempo, a
farinha pode ter uma queda de preço que não cobre os custos de produção, tendo que
suprir essa diferença com outras atividades econômicas que são desenvolvidas por eles.
Nesse aspecto há de considerar que o preço da farinha de mandioca varia de acordo com
o preço da matéria-prima, que, por sua vez altera-se em época de entressafra, quando há
também um aumento do consumo da raiz para ração animal, além da demanda de outros
estados vizinhos, como Pernambuco.
Para o proprietário da agroindústria A, a perspectiva de médio prazo não é boa.
Segundo seu raciocínio as exigências da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) em
manter os trabalhadores contratados legalmente levarão a uma falência das
agroindústrias, que não poderiam arcar com os custos trabalhistas e previdenciários,
entre outros.
Voltando-se para a agroindústria B, com capacidade produtiva menor, 120 sacos
semanais, esta fornece 100 sacos de farinha para a Kero-kero, ou seja, cinco mil quilos.
Há menos de um ano, o proprietário procurou a distribuidora e com ela mantém um
contrato, onde ficou acordado o volume de entrega semanal, o que representa 80% da
sua produção. Os 20% da produção são comercializados com o atravessador. Ele ainda
acrescenta como vantagem do contrato, a certeza de entregar a produção a um
cliente certo, com recebimento em dia e que algumas vezes recorre ao
adiantamento da produção em dinheiro. Não vê desvantagem em manter esse tipo de
relação com a distribuidora e faz questão de continuar com uma relação de confiança,
relatando que às vezes aparece comprador com uma proposta acima do valor pago pela
distribuidora, mas rejeita. Considera, que seria uma atitude desonesta por parte dele e
uma quebra do contrato.
A transação entre a distribuidora e a agroindústria C, difere dos dois anteriores.
Segundo o respondente, não há nenhum compromisso com a distribuidora, mantendo
um relacionamento inconstante. Dependendo da demanda, a agroindústria vende o
produto para quem a procura, inclusive para outros proprietários de agroindústrias e
atravessadores da região. Além de manter outras atividades agrícolas, a sua produção
está focada no plantio de coco verde.
64
4.9. Aproveitamento de resíduos
No processo de fabricação da farinha de mandioca, a casca, derivada da etapa de
descasque da raiz, bem como a manipueira, retirada da prensagem da massa, são
utilizadas amplamente por todos os produtores. Na lavoura, a manipueira é usada como
adubo para enriquecer o solo. A casca é vendida para auxiliar na ração animal,
notadamente de bovinos.
Apesar disso, ainda percebe-se a falta de informação mais precisa quanto ao uso
da manipueira que poderá ser usada na ração animal, desde que o produtor siga algumas
orientações técnicas, podendo também ser utilizada como herbicida no combate às
pragas.
Considerando essa realidade, a Prefeitura Municipal de Vera Cruz, através da
Secretaria de Agricultura, adquiriu um carro modelo pipa visando colher os resíduos
líquidos das agroindústrias farinheiras, dando oportunidade para que cada proprietário
possa mais facilmente escoar, usar ou vender a manipueira.
Ainda sobre a decantação da manipueira, retira-se a goma (fécula) que, após
lavada, é comercializada ao preço de R$ 1,40 (um real e quarenta centavos).
Em relação à parte aérea da planta, há perdas consideráveis pois somente um
percentual é utilizado no replantio e na ração animal, sendo o restante não aproveitado.
4.10. Distribuidor X varejista X consumidor
Com um consumo estimado em 20kg/ano por habitante, o Rio Grande do Norte
produz aproximadamente 60.000 toneladas de farinha, o que não atende as demandas,
importando do estado da Bahia e do Paraná um adicional (CONAB, 2003). Deste
montante a Distribuidora de Produtos Kero Kero atende 6.000 (seis mil) pedidos
mensais, o que representa um total de 150 mil quilos de farinha de mandioca.
Como a distribuição é diária, a certificação após um mês do produto em
prateleira, passa a ser de responsabilidade dos varejistas. Além do produto (farinha) da
marca Kero-Kero, os varejistas comercializam outras marcas (Yoki, Brejeirinha, Padre
Cícero etc). No tocante à farinha, ela representa um percentual de aproximadamente,
36% dos pedidos realizados por um supermercado de origem francesa, ou seja, 3.600
kg/mês, cuja comercialização é realizada através de contrato legal, cuja duração é de
65
um ano
10
. Em relação à Rede de supermercado local, segundo o gerente comercial, os
pedidos são realizados individualmente, através dos supermercados integrantes da rede.
4.11. Programas Governamentais que influenciam na CPA da farinha
de mandioca
Dentre os órgãos Públicos Federais, a Companhia Nacional de Abastecimento
(CONAB) vinculada ao Ministério da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária; e
a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), são empresas que
fornecem subsídio para que o Governo Federal Brasileiro trace as políticas para o setor
agrícola. A CONAB tem como função conhecer e informar sobre as questões do
agronegócio, assim como operacionalizar as Políticas de Preços Mínimos e de execução
de políticas de abastecimento. Com isso, sua atuação tem o objetivo de contribuir com
soluções para a política agrícola brasileira, propondo, no geral, programas para o setor e
de abastecimento sugerindo preços mínimos, previsão de safra, avaliando custos de
produção de produtos agrícola, gestão de estoques públicos e de armazenagem, além de
criar instrumentos de proteção à atividade rural. Nesse sentido, apresenta juntamente
com a Superintendência de Gestão da Oferta (SUGOF), uma proposição de preços
mínimos contemplados no Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura
Familiar que deverá se efetivar através da Compra Antecipada (CAAF), da Compra
Direta (CDAF) e do Contrato de Garantia de Compra (CGCAF) considerando os preços
praticados no mercado. Dessa forma procura estimular o plantio da raiz da mandioca e
assegurar o preço mínimo da mandioca e da farinha de mandioca.
Por outro lado, a EMBRAPA desenvolve pesquisas importantes que podem
subsidiar outros órgãos governamentais na orientação aos mandiocultores, quanto no
uso do plantio de variedades mais produtivas. Desenvolve também pesquisas no sentido
de investigar as possibilidades de utilização da fécula da mandioca na produção de
produtos alimentícios como o pão.
10
Segundo informação do gerente da distribuidora, em 2004, este contrato não foi renovado.
66
4.12. Conclusão
Na CPA da farinha de mandioca podemos considerar que, algumas melhorias
foram incorporadas, como a automação, adoção de práticas de recomendação na
fabricação, divisão de funções mais definida etc. Em se tratando das inter-relações entre
os segmentos da CPA, observa-se que o elo mais fraco é entre os produtores de raiz de
mandioca e os das agroindústrias, enquanto que entre estas e a distribuição existe um
relacionamento mais estreito tendo como componente a confiança e a colaboração.
67
Capítulo 5
Análise dos resultados da SCM
Este capítulo faz uma análise dos dados encontrados na pesquisa de campo,
enfocando as inter-relações entre os segmentos da CPA, mais especificamente
direcionadas à gestão cadeia de suprimento (SCM) descritas a seguir.
5.1. As inter-relações na CPA
Baseando-se nos resultados das informações empíricas, observa-se que as firmas
processadoras buscam se integrar verticalmente, ampliando suas atividades na CPA da
farinha de mandioca. Essa integração decorre, principalmente, da necessidade, de
garantir o suprimento da matéria-prima, os prazos de entrega e volume do produto final
ao longo de toda cadeia produtiva. Internamente as firmas individuais buscam integrar
suas atividades, que vão da produção da matéria-prima ao processamento, uma
característica das agroindústrias farinheiras. Todas elas produzem, de alguma forma,
parte da sua matéria-prima, tradicionalmente cultivada na região, e daí a tradição
cultural de, nas casas de farinha, produzir para o seu próprio consumo.
A integração vertical também ocorre fora dos limites das firmas, quando elas
passam a manter contratos ou parcerias com outro segmento da CPA, portanto, além da
simples relação de compra e venda, como ocorre no mercado spot. Tanto uma como
outra forma de integração, trazem alguns benefícios mútuos que se traduzem na entrega
da quantidade certa, na hora certa e na garantia da qualidade do produto. Portanto, há de
se considerar que entre a Distribuidora Kero Kero e a agroindústria A não existe um
contrato formal que dê garantia efetiva de escoar a sua produção, considerando aí a
possibilidade de não se praticar o chamado preço justo.
68
Referindo-se as transações realizadas entre os segmentos da CPA, os mercados
que se estabelecem, enfocando a agroindústria, são à jusante, na aquisição de matéria-
prima e à montante na entrega do produto final a distribuidora e, enfim, desta para o
segmento de varejo, como esquematizado na Figura 5.1.
Quanto ao consumidor final, as preferências pelo produto (de cor, granulação)
são influenciadas pelas questões culturais e o preço é pouco percebido, pois sua
variação não impede que o produto esteja à mesa do consumidor nordestino. A
distribuição se encarrega de criar fontes de valor para o consumidor final que se
traduzem em embalagem com receitas, e na entrega, garantindo o produto nas
prateleiras nos pontos de venda (supermercados, mercearias).
Mercados que se formam na cadeia de suprimento entre os agentes da CPA.
Figura 5-1
Fonte: Autora baseada nos dados da pesquisa de campo (Vera Cruz/RN, 2003)
No geral, a relação entre os segmentos de processamento e distribuição da cadeia
produtiva, quando realizam seu suprimento do produto final, é baseada em uma inter-
relação de confiança e de fidelidade. Destacamos que entre a distribuidora e as
agroindústrias A e B, a relação caracteriza-se como contrato informal, que nem por isso
deixa de ser considerado como importante. Já no caso da agroindústria C, as transações
não se configuram como contrato. Dependendo do interesse da distribuidora, esta faz o
pedido, mas, sem haver um comprometimento de compra semanal.
A seguir, detalhamos alguns pontos que consideramos relevantes para a cadeia
como um todo e para as firma individuais, na perspectiva da SCM.
Primeiro, na relação entre os produtores de matéria-prima e a agroindústria não
existem contratos formais. Em não havendo, logicamente não se configura como uma
gestão da cadeia de suprimento. As transações se dão no mercado spot, em que ocorre
uma vez, mas não obrigatoriamente nas vezes subseqüentes e são realizadas num espaço
físico. Vale salientar, no entanto, que por ser uma região em que há concentração de
agroindústrias farinheiras, os produtores da raiz terão como escoar sua produção sem
grandes dificuldades. Além do mais, existe uma demanda de outros estados vizinhos,
Pernambuco, por exemplo, que reforça a garantia do escoamento do produto. Portanto,
Produtor de
matéria-prima
Consumidor
final
VarejistasDistribuidor
Indústria de
processamento
69
independente de existirem contratos formais entre esses dois segmentos, eles mantêm
sua produção baseados em suas experiências, e não numa relação contratual em que
possa ocorrer uma programação da produção, considerando-se os pedidos das
agroindústrias. Provavelmente essa atitude é condicionada pelo próprio mercado, que
devido a questões climáticas, sazonais e de aumento de consumo da fécula, derivado de
um crescimento da demanda pela raiz em alguns períodos do ano, que por vez, tem
também alterado o seu preço. Muitas vezes os produtores antecipam a colheita, cuja
produtividade fica aquém do potencial da planta, quando surge oportunidade de vendê-
la mais cara. Além do mais, é compreensível esse comportamento, visto que os
produtores, ao agirem assim, procuram obter maiores margens ou mesmo cobrir os
custos da sua produção. Tal comportamento nos leva a crer que existe uma expectativa,
por parte dos produtores da mandioca, para aproveitar as oportunidades de se
comercializar a matéria-prima a preços mais elevados. Portanto, considera-se que o
comportamento do segmento da produção se mostra de forma especulatória, pois ora
vende à agroindústria local, ora a clientes de outros estados do Nordeste brasileiro.
Segundo, nas transações relativas às agroindústrias e a distribuidora ocorrem três
tipos de inter-relações, que podem suscitar uma discussão sobre se existe ou não uma
SCM na CPA da farinha de mandioca. As evidências mostram que entre a agroindústria
A e a distribuidora de alimentos há um contrato formal implícito caracterizado,
temporalmente, pelos dez anos de parceria, única para a agroindústria, mas não para a
distribuidora. Considera-se que há uma articulação mais estreita entre a agroindústria A
e a distribuidora sinalizando para uma gestão da cadeia de suprimento, portanto, ainda
não definido como um modo de gerenciamento estratégico, se levar em conta que a
agroindústria não possui pessoas capacitadas profissionalmente para exercerem
atividades administrativas ou tomarem decisões que aponte para uma melhoria, tendo
ainda que o gerente / proprietário atuar em quase todas as funções, além de exercer
outras atividades produtivas. Porém o fato das atividades serem executadas por
praticamente uma única pessoa, ou duas pessoas da família, de certo modo facilita a
integração interna da firma numa perspectiva da SCM embora não seja proposital, ou
seja, não faz parte da estratégia administrativa das firmas, como bem coloca Christopher
(1999). Nesse contexto, a distribuidora se configura como um elo importante da cadeia,
repassando informações para o segmento de processamento, relativos aos requisitos de
qualidade e quantidade requisitados pelos varejistas, que por sua vez, atende ao
70
consumidor final. Além de repassar essas informações, a distribuidora ainda cumpre um
papel de orientar na higienização da planta e do processo de fabricação da farinha,
culminando com a responsabilidade da certificação do produto. Há todo um interesse da
distribuidora, socializado no depoimento do seu sócio / gerente, em manter uma relação
mais estreita com a agroindústria, manifestado na prática através das sugestões dadas no
modo de fabricação, em empréstimos para aquisição de materiais, funcionando como
uma assessoria
11
.
Para a agroindústria A, existem vantagens e desvantagens. Como vantagem,
podemos destacar: a melhor comunicação (informação fidedigna sobre as exigências do
consumidor, certificação); cooperação mais fácil (orientação na melhoria da estrutura da
planta, adiantamentos da produção); maior comprometimento e esforço (garantia da
qualidade, estabelecimentos de prazos); relação mais forte e durável. Como principal
desvantagem podemos citar maior vulnerabilidade da agroindústria, relativa à redução
na demanda da distribuidora, caso ocorra; o distribuidor pode forçar preços para baixo,
caso outros seus fornecedores o façam.
A relação entre a Kero kero e agroindústria B, também se caracteriza como um
contrato, pois mantém uma quota de suprimento semanal constante. No entanto, as suas
transações comerciais ocorrem com outros (intermediário 1 e 2). Em relação à
agroindústria C, não há vínculo contratual, pois o suprimento se dá esporadicamente. De
acordo com as evidências, estas indicam que a venda se dá dependendo da necessidade
da Kero kero.
Terceiro, a busca por parceiros foi de iniciativa da distribuidora, tomando como
critério de escolha a qualidade da farinha produzida pelas agroindústrias da região. A
distribuidora optou, num primeiro momento, por um único fornecedor, tendo ampliado
para três. Portanto, o segmento de distribuição, assume um papel de coordenação da
inter-relação existente entre eles. A distribuidora, que tinha um único fornecedor, vem
gradativamente aumentando o número de fornecedores. Para ela, ter um único
fornecedor significa submeter-se aos preços praticados por este e limitar o volume de
transação, com os seus clientes, ao mesmo volume adquirido de uma única
agroindústria.
11
Recentemente o gerente da distribuidora reuniu-se com as agroindústrias com a finalidade de
redefinirem e compatibilizarem o volume da produção com o volume de compra semanal. Informação
prestada pelo sócio-gerente da distribuidora, em 07/10/2004.
71
Por outro lado, ao adotar a opção por outros fornecedores, essa escolha
possibilitará melhores condições traduzidas na obtenção diária do produto e na
diversificação do produto, em termos de classificação ( farinha fina e média) e
coloração (farinha amarela). A diversificação do produto, nesse caso, deu-se através do
aumento do número de fornecedores, pois se da agroindústria A adquire uma farinha
amarela, branca e fina; das agroindústrias B e C compra uma farinha do tipo média e
branca. O Quadro 5-1 sintetiza o exposto anteriormente. Além disso, é óbvio que,
mantendo três fornecedores, há maior possibilidade de barganhar algum benefício extra.
Quadro 5-1: Quantidade de fornecedores / compradores versus segmentos da CPA
Quantidade de Fornecedores / Compradores
Segmentos da
CPA
Único fornecedor Único comprador
Vários
fornecedores
Vários
compradores
Agroindústra A
-
XX -
Agroindústria B
-
-XX
Agroindústria C
-
-XX
Distribuição
-
-XX
Fonte: Autora baseada nos dados da pesquisa de campo (Vera Cruz/RN, 2003)
Apesar dessas observações, considerando a freqüência em que ocorrem essas
transações comerciais, os segmentos (agroindústria e distribuidora) não terão motivos
para impor perdas a seus parceiros, com comportamentos oportunistas. Foi evidenciado,
através das entrevistas, que nem a distribuidora deixa de cumprir com os acordos
realizados em termos de efetivar a compra dos volumes de produção requeridos das
agroindústrias, nem estas deixam de entregar a sua produção para a Kero-kero, caso
haja melhores condições de transação relacionadas à melhor oferta de preços da farinha.
Vale salientar que a regulamentação dos preços tanto se dá pelo mercado como também
através da parceria, consideradas as devidas variações do preço da matéria-prima.
Notamos que a agroindústria A, que mantém um relacionamento inter-
organizacional único e mais sólido com a distribuidora, sente-se mais segura em relação
ao escoamento da sua produção arcando com menores custos vinculados a gastos
adicionais com transporte, tempo e pessoal em busca de compradores.
72
5.2 Conclusão
A partir dos dados da pesquisa, podemos destacar que as inter-relações que se
formam a partir das transações entre as três agroindústrias e a distribuidora são distintas,
e surge da necessidade de um segmento, especialmente da distribuidora, em manter uma
regularidade de volume e tempo na compra do produto final. Já em relação a produção
de matéria-prima e as firmas processadoras as relações se dão sem compromisso,
levando a comportamentos oportunistas.
Além da necessidade das firmas integrantes da CPA da farinha de mandioca em
buscar mecanismos que facilite o seu desempenho individual, e por derivação, do
coletivo, as exigências do mercado por produtos mais saudáveis, preços baixos, entrega
no prazo e qualidade também influenciam para que seus atores econômicos busquem
formas de cooperação, apontando para soluções que possam de organização desses
empreendimentos. Criam-se mecanismos de colaboração, por exemplo, entre os
segmentos da cadeia, reduzindo-se riscos, otimizando-se os processos de produção e,
portanto, melhorando a eficácia e a eficiência de toda a cadeia de produção.
73
Capítulo 6
Conclusões
Este capítulo trata de uma síntese dos resultados do trabalho como um todo,
comparados aos objetivos, apresenta limitações do trabalho e direções de pesquisa e
algumas recomendações.
6.1. Sobre o estudo de caso para compreender a CPA
As categorias contidas no referencial teórico, que apoiaram o desenvolvimento
desse trabalho, estão baseadas numa visão sistêmica das organizações empresariais, o
que significa dizer que as firmas e os atores, estudados na pesquisa, atuam num
ambiente, influenciam esse ambiente e são influenciados por ele, dificultando a
identificação dos seus limites. Pensando nisso, usamos o estudo de caso, para
compreender como ocorrem as relações entre os segmentos da CPA, agroindústria e
distribuição, através do fluxo de materiais e produtos, ou seja, quando as transações são
realizadas.
Neste sentido
, a elaboração de um roteiro de entrevista para estudo de caso a
partir da base teórica, a fim de se detalhar as relações entre os segmentos da CPA, foi a
estratégia adequada para se compreender como a CPA se organiza. A partir dessas
entrevistas e tendo sistematizado seus os resultados, através das descrições eitas no
capítulo anterior, observa-se os limites do modelo proposto. Além disso, as
características das firmas e as influências do macroambiente no comportamento de cada
respondente, influenciam nas suas respostas, por vezes omitindo alguma opinião. Isso
considerado, concluí-se que o estudo de caso possibilitou compreender como funciona a
74
CPA da farinha de mandioca e como alguns dos agentes se comportam ao longo da
cadeia de suprimento no tocante aos municípios de Vera Cruz e São José de Mipibu.
6.2. Análise crítica do objetivo
Este trabalho teve como objetivo analisar a CPA da farinha de mandioca através
de estudo de caso, para compreender seu funcionamento e as inter-relações que se
formam entre os segmentos, pelo menos no universo estudado, algumas limitações
foram observadas.
Na busca desse objetivo, foi realizada uma análise tendo como base teórica o
conceito de filière ou cadeia de produção agroindustrial (CPA) (BATALHA, 2001) e o
supply chain managemnt (SCM) (CHRISTOPHER, 1997). A análise feita a partir do
conceito da CPA, teve como proposta de trabalho entender as questões ligadas à
produção agrícola, como um sistema composto pelos segmentos (da produção de
matéria-prima a comercialização), bem co mo algumas interferências do ambiente
externo às firmas.
Considerado esse enfoque, observou-se a dificuldade de se tratar algumas das
questões relacionadas a CPA, visto que teria que se analisar um número diversificado de
problemas econômicos, tecnológicos, culturais e sociais. No entanto, tendo claro essa
dificuldade e delimitado o foco de estudo, os resultados são considerados satisfatórios,
pois possibilitou compreender o funcionamento da CPA nos casos estudados. No que
tange à SCM, constata-se que, apesar de não ser uma prática empresarial das firmas
envolvidas em usá-lo como ferramenta de gestão, mas a escolha como referência teórica
ofereceu subsídios para se definir o roteiro para coleta de informações empíricas
(entrevista) em busca das evid ências que poderiam indicar como as firmas estariam se
relacionando para atingir seu objetivo de fazer chegar ao consumidor o resultado da sua
produção (quer seja matéria-prima ou produto final) através da cadeia de suprimento.
Portanto, a partir dos resultados do estudo de caso apresentado considera-se que o
objetivo foi atingido.
75
6.3. Limitações do trabalho
Considerando o objetivo proposto e a estratégia de pesquisa (estudo de caso),
algumas limitações podem ser relatadas. Uma delas, diz respeito à pesquisa
bibliográfica e ao levantamento de dados sobre a produção da farinha de mandioca no
estado do Rio Grande do Norte. Nas fontes utilizadas constata-se que praticamente não
existe referência significativa sobre o tema, e quando encontrada está vinculado à
produção da raiz de mandioca. Assim, foram utilizados os dados da CONAB como
única fonte para tratar da produção da farinha no estado.
Além dessas dificuldades, alguns dados coletados relacionados à produção da
raiz de mandioca encontram-se defasados em 2 e até 10 anos, interferindo na
fidedignidade de algumas conclusões, as quais podem não corresponder à realidade.
Quanto às interferências do mercado in ternacional, considerando a exportação
da fécula, geram internamente demandas que não foram consideradas, por se tratar de
um estudo de caso que teve como limites as inter-relações que se formam entre os
segmentos da CPA prioritariamente, àqueles em que as relações se configuram como
contratos, derivando também a dificuldade de se generalizar as conclusões para outros
segmentos da cadeia em foco para todo o Rio Grande do Norte.
6.4. Direções de pesquisa
Considerando as vantagens do estudo de caso, usado como estratégia para se
compreender a CPA, e a delimitação da pesquisa a determinados atores econômicos
envolvidos na CPA da farinha de mandioca, alguns pontos devem ser ressaltados como
proposta de realização de novas pesquisas que possam subsidiar os gestores públicos e
os segmentos da CPA, na implantação de melhoria de desempenho da cadeia como um
todo, bem como do potencial da matéria-prima (sistema agroindustrial) na fabricação de
outros produtos.
Entre outros direcionamentos, sugerimos:
Aprofundar uma análise comparativa entre os atores econômicos
(segmento de processamento) que mant ém e os que não mantém contratos
com o segmento de distribuição.
76
Análise de outros casos no Rio Grande do Norte que permita uma
comparação e possibilite uma maior generalização;
Pesquisa para compreender a formação de custos e preço da farinha da
mandioca;
Análise das vantagens sobre a fabricação, em escala, da fécula como
produto de exportação, considerando que a sua obtenção requer uso de
tecnologia mais sofisticada;
Identificação de possíveis entraves à generalização de parcerias por meio
de contratos, entre os segmentos da CPA da farinha de mandioca;
Estudos sobre inovação de produtos, como a utilização da raiz, hastes e
cascas da mandioca, na composição de ração animal;
Possibilidades do uso da farinha como insumo na obtenção de outros
produtos alimentares;
Estudos referentes aos impactos das políticas públicas na CPA da farinha;
6.5. Conclusões Gerais
Os resultados do estudo de caso junto aos segmentos da CPA da farinha de
mandioca, mostram que não há uma ação mais coordenada entre eles que possam
contribuir para uma melhoria de desempenho competitivo. Não existe uma estratégia
clara que possa apontar para uma SCM ao longo da cadeia estudada. As inter-relações
dos segmentos de produção de matéria-prima e o de processamento (as agroindústrias)
são os mais frágeis, realizando suas transações totalmente dependentes do mercado, não
havendo, portanto, uma inter-relação mais estreita entre os elos da cadeia, notadamente
em relação à programação da produção que atenda as demandas de matéria-prima das
agroindústrias envolvendo tanto prazo de entrega como volume da produção.
Com base nessas observações consideramos que, entre a agroindústria A e a
distribuidora onde há um contrato mais claro, as transações ocorrem de maneira mais
fluente, no geral, havendo uma sinalização de gerenciamento na perspectiva do SCM,
assim, influenciando na redução de alguns custos incluídos no sistema logístico, tais
como: transporte físico de produtos, informaçõ es entre os segmentos, custos de venda,
preço, rapidez na entrega além da redução das incertezas do mercado.
77
Já no segundo caso ocorre diferente. Se en tre a agroindústria A e a distribuidora
não há uma SCM definida, a possibilidade disso existir entre esta e a agroindústria B é
mais remota. Apesar de haver um contrato (informal), este não se caracteriza como no
caso acima supracitado. A relação entre os dois segmentos (agroindústria B e
distribuidora) se dá de forma menos excl usiva, daí derivando o menor interesse da
distribuidora em manter contatos mais freqüentes, interf erir no processo produtivo etc,
isto é, uma colaboração entre as firmas, do ponto de vista da SCM, parece mais remoto
de ser implementado.
Voltando-se, para o terceiro caso, o nível de relacionamento entre a
agroindústria C e a distribuidora é mais fraco, visto que as transações ocorrem
esporadicamente, e por isso mesmo, muito longe de se iniciar uma SCM.
Respondida a questão de como ocorre as relações entre os segmentos de
processamento e distribuição da CPA da farinha de mandioca, outras considerações
podem ser feitas, relacionadas aos segmentos de produção de matéria-prima e de
transformação, levando-se em conta os impactos desses relacionamentos na cadeia
produtiva. A venda no mercado spot, ou seja, da compra eventual, gera a possibilidade
de se repassar o produto para intermediários que tenham comportamento de caráter
especulativo, agregando um valor que deverá ser embolsado por ele. Numa transação
desse tipo poderá ocorrer uma redução nas margens da agroindústria que, por não ter
cliente certo para sua produção, fica dependendo exclusivamente das flutuações do
mercado, por isso sujeito a esses tipos de comportamentos. Considera-se, entretanto,
que há riscos, para a agroindústria, em manter um único comprador se não existe um
contrato legalmente formalizado, embora sejam minimizados pela confiabilidade e
fidelidade existente entre ela e a distribuidora.
Em relação à criação de valor para o consumidor final, os contratos podem trazer
benefícios no tocante a redução do custo e na qualidade do produto final, visto que os
custo embutidos nas transações comerciais, falando mais especificamente da logística,
serão minimizados. Porém, por se tratar de um produto cuja variação de preço depende
também do período de colheita da raiz, do clima e de demandas externas este benefício
será pouco percebido.
Finalmente, considera-se que na atual conjuntura os relacionamentos
duradouros entre fornecedores e compradores são muito importantes visto que, no longo
prazo, permitem diminuição dos custos de transação, maior troca de informações e
78
conhecimentos, a garantia de fornecimento e distribuição contínua, entre outros. Neste
sentido, a CPA em estudo, o segmento de processamento apresenta uma vantagem
competitiva, configurada no relacionamento com um segmento mais forte (a
Distribuidora de Produtos Kero kero) na distribuição de produtos para todo o estado do
Rio Grande do Norte, tendo como clientes grandes supermercados da capital. No
entanto, para maior garantia das agroindústrias, necessário seria aprimorar as relações
através da legalização dos contratos informais já existentes, como acontece na transação
entre os supermercados e a distribuidora.
6.6. Recomendações
Levando-se em conta, a importância do cultivo da mandioca e da produção da
farinha para pequenos e médios produtores de diversos municípios do estado do Rio
Grande do Norte, e com base nas evidências dos resultados da pesquisa, sugeri-se aos
gestores públicos, privados, órgãos fiscalizadores e de apoio à produção agrícola as
seguintes recomendações:
Aos órgãos públicos de assistência técnica (EMATER), para que
subsidiem na orientação técnica sobre as variedades que proporcionem
uma melhor produtividade; no manejo e na adubação; nas possibilidades
do uso da manipueira e da parte aérea; no plantio padronizado de
manivas entre outros, de maneira a estimular e melhorar a produtividade
dos mandiocultores;
Aos órgãos que fiscalizam e controlam a fabricação de produtos
alimentares, para que, juntamente com outros órgãos, implementem
ações educativas junto às agroindústrias (proprietários, empregados e
gerentes) no que se refere às prát icas recomendadas de fabricação e
higiene;
Realizar cursos (gestão de empres a, associativismo, cooperativismo)
junto aos gerentes/proprietários, a fim de atualizá-los para exercerem
suas atividades com mais profissionalismo. Tais eventos podem ser
realizados através de programas governamentais, implementados pelo
SINE/RN e EMATER, do SEBRAE/RN, da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), isolados ou em parcerias.
79
Às agroindústrias que podem incor porar um valor agregado embalando
seu produto em unidades menores, sugerimos que procurem se organizar
em associação ou cooperativa. Cada unidade isolada comporia um capital
social para aquisição de máquinas e embalagens padronizadas, a fim de
classificar e embalar a produção individual que seria vendida em
conjunto, em lotes maiores.
A classificação da farinha de mandioca do estado do RN é feita no
Ministério da Agricultura-Fortale za-Ce, aumentando os custos de
produção, com transporte aéreo. Que seja despendido esforço no sentido
de se criar condições para que essa atividade seja realizada no próprio
estado do Rio grande do Norte.
80
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83
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84
ANEXO 1
Pontos a serem abordados na coleta de dados da pesquisa – Entrevista 01:
Tema: Cadeia produtiva da farinha de mandioca - Estudo de caso
Entrevistado
Agroindústria
de empregados: feminino masculino
1-Fornecedor(res) de matéria-prima
2-Produção programada
3-Produção semanal
4-Canal de distribuição:
a)Atravessador
b) Distribuidor
c)Varejista
6-Freqüência de venda
7-Embalagem
8-Armazenamento do produto
9-Níveis de estoque
10-Transporte do produto
11-Impacto da Sazonalidade_da matéria-prima
12-Qualidade da matéria-prima
a) perecibilidade
13-Certificação do produto
14-Relação com o cliente
a)Existe confiança?
85
b)Se há contrato, como funciona?
c) Há algum programa de qualidade?
d)vantagem do contrato
e) desvantagem
15-Suprimento de insumos
16- Comunicação com o fornecedor
a)cliente
17-Fontes de investimentos
18-Facilidades de colocação do produto no mercado
86
ANEXO 2
Pontos abordados na coleta de dados da pesquisa - Entrevista 02
Tema- Cadeia Produtiva da farinha de mandioca
Entrevistado
Distribuidora
de empregado : feminino masculino
1-Fornecedor(res)
2-Compra programada
a)Volume de compra de cada fornecedor
3-Clientes principais:
a) exigências dos clientes
6-Freqüência de vend a/rapidez de entrega
7-Embalagem
8-Armazenamento do produto
9-Níveis de estoque
10-Transporte do produto
11-Impacto da sazonalidade_da matéria-prima
a) influencia no preço
b) no volume de compra
b)garantia de preço
12-Qualidade do produto
a) perecibilidade
13-Certificação do produto
14-Relação com o fornecedor
87
a)Existe confiança?
b)Se há contrato, como funciona?
c)Há algum programa de qualidade?
d) que motivos levaram ao tipo de contrato existente
e) vantagem do contrato
15-Como ocorre a comunicação com o cliente:
16-Fontes de financiamento
17-Facilidades de colocação do produto no mercado
18-Dificuldades
19)Outros
88
ANEXO 3
Normas de Boas Práticas de fabricação para a Farinha de mandioca e Goma
A- Matéria-prima
Evitar colher raízes danificadas e estragadas uma vez que, estão sujeitas a
invasão de fungos e outros microorganismos deteriorantes;
Eliminar a areia e barro aderidos às raízes diminuindo o risco de
contaminação, desgaste de equipamento e sujicidades e impurezas no produto
acabado;
Lavar adequadamente as raízes;
Planejar adequadamente a colheita;
Planejar turnos de trabalho para melhor aproveitamento da colheita;
Armazenar as raízes, a céu aberto, desde que usadas no mesmo dia;
O período de tempo entre a colheita e o processamento não deve ultrapassar as
48 horas;
O armazenamento não deve ser maior que a capacidade consumida em um dia;
A mandioca depois de ralada deve ser imediatamente processada.
B-Pessoal
As pessoas que trabalham direto com a farinha de mandioca devem apresentar
boas condições de saúde;
Adotar a prática de lavagem das mãos com sabão após a utilização de
sanitários;
Evitar práticas de coçar a cabeça, nariz, orelhas e boca, bem como tossir ou
espirrar sobre o produto;
89
Adotar o treinamento e orientação constantes sobre práticas sanitárias aos
operários;
Usar roupas adequadas.
C- Ambiente, equipamentos e armazenamento
As áreas de fabricação e/ou embalagem devem estar limpas e livres de
materiais estranhos ao processo;
A contaminação “cruzada” deve ser evitada através de instalações e fluxos
adequados. Isto significa, por exemplo, que as raízes chegadas do campo não
devem estar próximas ou juntas das raízes já descascadas ou mesmo da
farinha pronta, no ambiente da fábrica;
Evitar trânsito de pessoas e animais nas áreas de produção;
Dar saída em primeiro lugar a farinha fabricada a mais tempo. O primeiro que
entra é o primeiro que sai;
O piso ideal deve ser impermeável, anti-derrapante, de fácil lavagem e
resistente a corrosão;
A água deve ser de boa qualidade;
Iluminação que contribua para melhorar a fadiga para os olhos e a condição de
limpeza.
D- Resíduos –Manipueira
A manipueira deve ser armazenada em tanques escavados no solo de forma a
que a mesma seja contida;
Até três dias pode ser usada pura para combater formigas ou, diluída com água
como inseticida em pulverização;
Após perder a toxidez, a manipueira pode ser usada como adubo, bem como na
alimentação de animais;
Em seu estado puro e logo após a prensagem pode ser testada como herbicida;
90
A toxidez da manipueira depende da variedade de mandioca e também da
região onde é cultivada.
E- Limpeza, higiene da casa de farinha e pragas
Lavar piso ao terminar a jornada de trabalho, ou ao menos varrer;
Espanar o teto pelo menos uma vez por semana;
Limpar os fornos antes de iniciar os trabalhos;
Limpar o cevador e o recipiente que recebe a massa que vem dele;
Lavar bem os “panos” da prensa;
Evitar recipientes reciclados de pneus;
Manter o piso seco;
Retirar diariamente o lixo;
Prevenir presença de insetos, roedores e pássaros;
As imediações da casa de farinha devem estar limpas;
Não usar veneno contra insetos e pragas na área interna.
91
ANEXO 4
Tabela - Distribuição da produção de mandioca por grupo de área no Brasil, em 1996.
Grupo de área total Área (há) Participação(%) Acumulado(%)
Menos de 1 há 60.278 4,89 4,89
1 a menos de 2 há 85.014 6,89 11,78
2 a menos de 5 há 175.042 14,19 25,98
5 a menos de 10 ha 160.350 13,00 38,98
10 a menos de 20 ha 201.003 16,30 55,28
20 a menos de 50 ha 256.923 20,83 76,12
50 a menos de 1000 ha 124.574 10,10 86,22
100 a menos de 200 ha 78.718 6,38 92,60
200 a menos de 500 ha 51.920 4,21 96,81
500 a menos de 1.000 ha 19.764 1,60 98,41
1.000 a menos de 2.000 ha 11.098 0,90 99,31
2.000 a menos de 5.000 ha 5.545 0,45 99,75
5.000 a menos de 10.000 1.599 0,13 99,89
10.000 a menos de 100.000 ha 1.160 0,09 99,99
100.000 há a mais 88 0,01 100,00
Sem declaração 60 0,00
total 1.233.138 100,00
Fonte: IBGE 1996
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