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REGINA AMÁBILE BALDESSAR
A “nova” mulher:
jornalismo, identidade feminina e cultura do narcisismo
Faculdade Cásper Líbero
Programa de Pós-Graduação
Mestrado em Comunicação na Contemporaneidade
São Paulo, 2008
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REGINA AMÁBILE BALDESSAR
A “nova” mulher:
jornalismo, identidade feminina e cultura do narcisismo
Dissertação apresentada por Regina Amábile
Baldessar, como pré-requisito para obtenção
do título de Mestre em Comunicação, na Linha
de Pesquisa “Produtos midiáticos: jornalismo e
entretenimento”, sob a orientação do Professor
Doutor Cláudio Novaes Pinto Coelho.
Faculdade Cásper Líbero
Programa de Pós-Graduação
Mestrado em Comunicação na Contemporaneidade
São Paulo, 2008
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Que estranha cena descreves e que
estranhos prisioneiros. São iguais a nós.
Platão
4
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Faculdade Cásper Líbero
5
Banca Examinadora
6
Dedicatória
Aos meus queridos pais,
Vanda Dário Baldessar e Levi Baldessar,
pelo amor, carinho, amizade, força e apoio
em todos os momentos de minha vida.
Ao meu marido, Rodrigo Durigon,
por sempre ser inspirador.
Ao inesquecível amigo Sérgio Moliterno,
por suas grandes lições.
7
Agradecimentos
Ao meu orientador Prof. Dr. Cláudio Novaes Pinto Coelho, por sua amizade,
infinita paciência e total dedicação à orientação. Aos professores do curso de Mestrado,
especialmente para a Prof. Dra. Marlene Fortuna, que tanto contribuíram com este
trabalho. Aos colegas do mestrado, por todos os almoços divertidos e conversas
descontraídas que tornaram mais fácil esta jornada.
Às professoras que participaram do exame de qualificação, Dulcília Helena
Schroeder Buitoni e Maria Celeste Mira, por seus valiosos comentários.
A todas as leitoras de Nova entrevistadas que contribuíram com esta pesquisa.
Aos meus queridos amigos Ângela Loureiro, Edmilson Duarte, Rogério
Vaquero, Renata Malvezzi, Rodrigo Reis, Daniel Guimarães e Marcio Castanho por
estarem sempre ao meu lado (mesmo que virtualmente) em qualquer programa, de
hospital a teatro.
8
RESUMO
O estudo apresenta quais são as características da imagem da mulher
contemporânea construída pela revista Nova, versão brasileira da revista norte-
americana Cosmopolitan. Abordamos aspectos gerais sobre jornalismo e as revistas
femininas, especialmente com a reflexão sobre a indistinção entre jornalismo e
publicidade nas publicações produzidas na indústria cultural. Com a valorização das
celebridades na sociedade do espetáculo, o entretenimento ganhou espaço nas páginas
das revistas. O trabalho abrange análise, nas edições de 1995, 2000 e 2005 da revista
Nova, sobre a presença de traços da cultura do narcisismo e de características
pertencentes à sociedade do espetáculo. Posteriormente, foi investigada a coluna de
testes publicada mensalmente, assim como três comunidades do site Orkut relacionadas
à revista, para conhecer como Nova define a mulher contemporânea. Para complementar
o trabalho, leitoras pertencentes à comunidade “Eu sou uma Mulher de Nova
responderam a um questionário sobre suas impressões sobre a “Mulher de Nova”.
Apesar de defender a independência, o discurso da publicação tornaria a leitora
dependente da revista para saber quem é e como deve agir para se tornar uma pessoa
bem-sucedida. Os principais resultados do trabalho apontam que a revista indica
caminhos para que a leitora seja cada vez mais parecida com a “Mulher de Nova”. De
acordo com a pesquisa, pudemos perceber alto grau de identificação das leitoras
entrevistadas com a “Mulher de Nova”.
Palavras-chave:
Revista Nova, Indústria Cultural, Jornalismo, Revistas Femininas,
Entretenimento e Cultura do Narcisismo.
9
ABSTRACT
The study presents what are the characteristics of the image of the contemporary
woman built by the magazine Nova, Brazilian version of the North American
Cosmopolitan. We board general aspects on journalism and the feminine magazines,
especially with the reflection on the indistinction between journalism and publicity in
the publications produced in the cultural industry. With the increase in value of the
celebrities in the society of the spectacle, the entertainment gained space in the pages of
the magazines. The work includes analysis, in the publications of 1995, 2000 and 2005
of the magazine Nova, on the presence of aspects of from the culture of the narcissism
and from pertaining characteristics to the society of the show. Subsequently, was
investigated a column of tests published monthly, as well as three communities of the
site Orkut related to the magazine, just to know how Nova defines the contemporary
woman. To complement the work, pertaining readers to the community "I am a Nova's
Woman" responded to a questionnaire on his impressions on the “Woman of Nova". In
spite of defending the independence, the speech of the publication would make the
dependent reader of the magazine to know who she is and how must act to become a
successful person. The principal results of the work points that the magazine indicates
ways so that the reader is more and more similar to the "Woman of Nova". In
accordance with the inquiry, we could realize high degree of identification of the
readers interviewed with the "Woman of Nova".
Key-words:
Magazine Nova, Cultural Industry, Journalism, Feminine Magazines,
Entertainment and Culture of the Narcissism.
10
SUMÁRIO
Introdução, 11
Capítulo I: As revistas e a identidade feminina, 20
O jornalismo cor-de-rosa, 28
A revista Nova, 33
Cosmopolitan no mundo, 43
Capítulo II: A identidade feminina e a cultura do narcisismo na revista Nova, 50
O Banho de Nova e a construção do corpo-imagem, 57
A obrigação de dar prazer e as relações entre sexo e poder, 66
Capítulo III: Os testes e a mulher de Nova, 83
As características da “Mulher de Nova”, 100
Capítulo IV: A revista Nova e o perfil das leitoras, 111
Análise da entrevista com as leitoras, 129
Considerações finais, 145
Bibliografia, 148
Anexos, 152
11
INTRODUÇÃO
12
O presente trabalho faz uma reflexão sobre a identidade feminina, a partir da
imagem da mulher contemporânea retratada nas páginas da revista Nova. Veremos
adiante que a imprensa feminina moderna cumpre o papel de difusora social dos
modelos estéticos.
A produção e a propagação do discurso relativo aos cuidados da beleza
tornaram-se cada vez mais freqüentes nas revistas e campanhas publicitárias. Com o
desenvolvimento da indústria cosmética, novas revistas foram criadas para exaltar a
juventude, a busca da felicidade e os cuidados com a beleza. A segmentação das revistas
acompanhou as mudanças dos costumes no século XX.
No início, eram diferenciadas pelo gênero dos leitores. Enquanto as revistas
femininas contemplaram as mulheres com temas sobre lar, moda, beleza e amor, as
revistas masculinas partiram para assuntos como sexo, erotismo e pornografia.
A emancipação das mulheres e a onda feminista
1
dos anos 1960/70 levaram as
revistas femininas a incluírem em suas pautas temas como trabalho e política, além de
permitirem uma abordagem diferenciada sobre vida sexual dentro e fora do lar.
As mulheres tiveram algumas importantes conquistas, mas ainda falta bastante
para alcançar a igualdade social. A desigualdade vem diminuindo: em 1992, a mulher
recebia, por hora trabalhada, 76% do que recebia o homem; em 2003, a porcentagem
cresceu para 83%
2
.
É inegável o avanço, mas é preciso mais. Dados
2
do programa Igualdade,
Gênero e Raça do Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Mulher
(Unifem) apontam que, em 2005, de cada 100 brasileiras com mais de 16 anos, 62
estavam trabalhando. Em 1976, eram apenas 30. O mesmo estudo mostra que as
1
“É difícil definir o feminismo porque o significado do termo se tece cotidianamente. Ele envolve a vida
no dia-a-dia, o trabalho, a família, a saúde, a educação, as relações sexuais e afetivas. Como movimento
social, o feminismo surgiu no Brasil em meados da década de 70, durante a ditadura militar, e funcionava
como um laço de solidariedade entre mulheres advindas de espaços diversos. É inegável que desde aquele
tempo ocorreu uma significativa mudança, tanto na posição da mulher quanto na percepção sobre o seu
papel na sociedade – e atribuo ao feminismo a responsabilidade principal por essa mudança. Entretanto, é
importante ressaltar que a história não se escreve de forma linear e que as conquistas não são
necessariamente cumulativas. Assim é que só hoje, já no século XXI, a Câmara dos Deputados aprovou o
novo texto do Código Civil, que acaba com a possibilidade de anulação do casamento por perda de
virgindade da mulher antes do matrimônio. Da mesma forma, apesar de o Superior Tribunal de Justiça ter
rejeitado, em 1991, o argumento da legítima defesa da honra em casos de assassinato de mulheres por seu
companheiro, ainda há advogados defendendo essa tese em tribunais de júri de todo o país.”, declarou a
socióloga e ex-presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, Jacqueline Pitanguy, em
entrevista concedida à Revista Veja em novembro de 2001. Disponível em
http://veja.abril.com.br/especiais/mulher/p_048.html. Acesso em 27 de maio de 2007.
2
Dados publicados no especial “Mulheres do Brasil” que foi encartado na edição de março de 2005 das
revistas Nova, Claudia, Elle, Estilo e Bons Fluídos.
13
mulheres estudaram mais: têm, em média 7,8 anos de estudo, enquanto os homens
apresentaram média de 6,8 anos.
A partir da segunda metade da década de 90, acompanhando o predomínio da
ideologia neoliberal, que valoriza a dimensão privada em detrimento das questões
públicas, as revistas femininas foram criando novas segmentações e, ao mesmo tempo,
foram estreitando suas abordagens para temas mais subjetivos, como o prazer e a busca
pelo entendimento do universo masculino. Alguns assuntos relacionados à dimensão
pública, como a política, foram perdendo espaço aos poucos nas páginas dessas
publicações, como veremos no primeiro capítulo, no que diz respeito à revista Nova.
Orientações sobre relacionamentos e sexo ainda figuram nas publicações. Discussões
sobre comportamento da mulher no mercado de trabalho são retomadas constantemente,
mas normalmente estas matérias são apresentadas como guias para minimizar conflitos
no local de trabalho.
Nosso objetivo é analisar quais são as características da imagem da mulher
contemporânea construída pela revista Nova, versão brasileira da Cosmopolitan, a
revista feminina mais vendida no mundo, razão pela qual foi escolhida para ser nosso
objeto de estudo. A revista Cosmopolitan tem 59 edições mensais, em 34 diferentes
línguas, lidas por mais de 100 milhões de mulheres em países como França, Alemanha,
Grécia, Turquia, Israel, Estados Unidos, Japão e África do Sul.
3
A Cosmopolitan apresenta, em seus artigos e reportagens, estratégias para que a
mulher possa alcançar o poder, seja no trabalho, em casa ou na sociedade, ressaltando a
importância da conquista da independência
4
. No Brasil, o mesmo padrão é seguido.
A pesquisa pretende investigar se a revista Nova continua oferecendo os mesmos
conselhos para os mesmos assuntos ou se a leitora é realmente uma mulher bem
informada que sempre está em evolução.
A pesquisa buscará identificar na revista o tratamento oferecido aos
relacionamentos afetivos. Os textos da publicação apresentam fórmulas e receitas que
ensinam como, por exemplo, “ser a mulher que todo homem deseja”
5
.
Será analisada a presença em Nova de traços da cultura do narcisismo,
destacando que a leitora parece procurar na publicação respostas para sua existência,
3
Dados disponíveis no site da Cosmopolitan em http://www.cosmopolitan.com/magazine/international.
Acesso em 18 de novembro de 2007.
4
Dados disponíveis no site da Cosmopolitan em http://www.cosmopolitan.com/magazine/about/about-
us_how-cosmo-changed-the-world. Acesso em 18 de novembro de 2007.
5
Título de matéria que aparece na capa da edição de Nova de março de 2000 (nº 3, ano 28) e que promete
ensinar “7 truques espertos que derretem qualquer um (nós contamos exatamente como)”.
14
assim como encontra na revista Nova questionamentos sobre quem é, o que pretende ou
qual será seu futuro. A coluna de testes será investigada, pois oferece, mensalmente, a
oportunidade de a leitora saber como age e o que deve fazer para ficar mais parecida
com a “Mulher de Nova”.
A Nova apresenta como sua proposta a intenção de estimular a ousadia feminina.
Afirma, em seu próprio site
6
, que NOVA incentiva e orienta a mulher na busca pela
realização pessoal e profissional. Estimula a ousadia e a coragem para enfrentar os
desafios, a busca pelo prazer sem culpa e a construção da auto-estima e da
autoconfiança”.
A tiragem mensal da revista Nova é de 302 mil exemplares. A publicação
totaliza cerca de 100 mil assinantes (dados de fevereiro de 2006 fornecidos pela Editora
Abril). Um estudo consolidado da Projeção Brasil de Leitores, realizado em 2005,
apontou que a revista Nova é lida por cerca de 1,4 milhão de pessoas
7
.
Trabalhamos com três hipóteses iniciais. A primeira é que o conteúdo da revista
seria de auto-ajuda e as matérias procurariam mostrar comportamentos que poderiam
ser o segredo da felicidade. Outra questão é que o conteúdo das matérias perpetuaria
valores tradicionais sobre a condição da mulher, ressaltando a importância da submissão
feminina e aumentando o grau de dependência das leitoras, tanto em relação aos
homens, quanto em relação aos conselhos e análises fornecidos pela publicação. A
última hipótese é de que a revista indicaria caminhos para que a leitora fosse cada vez
mais parecida com a “Mulher de Nova”. Apesar de defender a independência, o
discurso da publicação tornaria a leitora dependente da revista para saber quem é e
como deve agir para se tornar uma pessoa melhor e bem-sucedida.
Uma das dificuldades que encontramos para realizar a pesquisa foi adquirir os
exemplares antigos da revista. As leitoras, como depois descobrimos durante nosso
trabalho, costumam colecionar os exemplares, o que justifica a ausência de Nova em
sebos e outras lojas especializadas. Algumas declararam que guardam as revistas para
pesquisas posteriores.
Durante o percurso do nosso trabalho, constatamos que muitas leitoras são fiéis a
Nova muitos anos. A maior prova é a criação de comunidades virtuais no site de
relacionamentos Orkut. São três grandes comunidades, sendo que em uma delas que
6
Disponível em http://elle.abril.com.br/midia_kit/nova/m_revista.html, Acesso em 14 de novembro de
2007.
7
Dados fornecidos pela Editora Abril em http://publicidade.abril.com.br/homes.php?MARCA=32.
Acesso em 15 de maio de 2007.
15
será objeto do nosso estudo no último capítulo – temos mais de cinco mil leitoras que se
consideram como uma Mulher de Nova”. Esta comunidade é destacada, inclusive, no
site oficial da revista Nova
8
.
Nenhuma outra revista criou uma personagem tão eficaz. Não temos a “Mulher
de Claudia”, nem tampouco a “Mulher de Marie Claire”, por exemplo. Encontramos no
Orkut apenas uma comunidade chamada “Mulheres de Claudia
9
, mas que foi criada
para homenagear as moradoras de uma cidade chamada Claudia, que fica em Mato
Grosso. A maior comunidade
10
da revista Claudia no site, denominada como “ADORO
A REVISTA CLAUDIA!” tem pouco mais de mil participantes. Já a de Marie Claire
11
,
chamada de “Revista Marie Claire”, tem menos de 600 participantes.
A dificuldade em encontrar os exemplares antigos de Nova foi compensada pela
presteza em que as leitoras responderam ao questionário. Chegamos a receber e-mails
de resposta solicitando autorização para que amigas pudessem também contribuir com o
trabalho.
A análise de edições dos anos de 1995, 2000 e 2005 permitirá mapear mudanças
do comportamento da mulher contemporânea. O período foi escolhido de modo a
termos percepção abrangente dos últimos 10 anos. Buscaremos identificar na revista
Nova os conselhos presentes nas matérias para avaliar se a leitora continua sendo uma
mulher insegura e um objeto.
Considerando que trabalharemos com material referente a um intervalo de 10
anos, poderemos perceber as modificações gerais da revista em relação a colunas e
seções que deixaram de existir ou foram adaptadas. Essa análise indicará se os
interesses femininos mudaram na última década.
Investigaremos o conteúdo dos testes publicados nas edições de 1995, 2000 e
2005. Utilizaremos, também, uma publicação especial chamada Nova Testes”, que
oferece a junção de testes da revista. Lançada em 2005 pela Editora Abril, a edição tem
68 páginas.
8
Disponível em http://nova.abril.com.br/orkut/. Acesso em 15 de dezembro de 2007.
9
Disponível em http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=9657724. Acesso em 18 de dezembro de
2007.
10
Disponível em http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=4897454. Acesso em 18 de dezembro de
2007.
11
Disponível em http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=1753568. Acesso em 18 de dezembro de
2007.
16
Para efetuar uma análise mais precisa, elegeremos quatro publicações anuais
consideradas pela Editora Abril
12
como edições especiais de Nova. A edição de junho
(especial do Dia dos Namorados), a de setembro (comemorativa do aniversário da
revista), a de outubro (especial de verão) e a de dezembro (Natal). Nestas quatro datas,
até mesmo o preço dos anúncios é elevado
12
. O número de ginas também costuma
aumentar.
Nos testes destas quatro edições anuais especiais, buscaremos identificar como a
revista procura orientar as leitoras, dando conselhos e guiando as atitudes femininas.
Analisaremos quais os temas mais freqüentes nos testes do período, buscando
compreender quais são as maiores dúvidas das mulheres, assim como queremos
evidenciar os conselhos repetidos com freqüência. Será possível destacar os
comportamentos mais comuns defendidos pela publicação.
Para tentar compreender melhor o universo feminino retratado pela revista Nova,
entrevistamos leitoras agrupadas em comunidades formadas por admiradoras da revista
inscritas no site de relacionamentos Orkut. O principal objetivo de conhecer a opinião
das leitoras é a oportunidade de avaliar se elas estão satisfeitas com a publicação e o que
procuram na Nova. Elas poderão, também, responder se a revista tem razão ao dizer que
toda leitora se sente uma “Mulher de Nova”.
Atualmente, encontramos dezenas de comunidades referentes à publicação,
porém consideraremos as duas maiores comunidades criadas por leitoras. A primeira
“Eu amo a Revista Nova reúne mais de 4 mil leitoras, enquanto outra comunidade
praticamente homônima (“Amo a Revista Nova”) agrupa cerca de mil leitoras.
Reconhecendo a importância de ter um canal de discussão das leitoras, a revista
Nova criou em setembro de 2007 uma comunidade oficial denominada “Eu sou uma
mulher de NOVA”
13
no site de relacionamentos. Definida como “A redação da revista
NOVA criou um canal exclusivo para as leitoras se conhecerem. Aqui, você faz
amizade, cria fóruns, troca conselhos e conversa à vontade com outras mulheres
ousadas, determinadas, sexy como você. Entre para nosso clube!”, a comunidade em
poucos meses de funcionamentos recebeu mais de quatro mil inscritas. As leitoras,
que participam desta comunidade, responderam, por e-mail, cerca de 30 perguntas
14
12
Critério disponível em http://elle.abril.com.br/midia_kit/nova/especiais.html. Acesso em 14 de
novembro de 2007.
13
Disponível em http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=39318397. Acesso em 10 de setembro de
2007.
14
As perguntas estão disponíveis no Anexo 1 deste trabalho.
17
sobre o que procuram nas edições da revista. Consideramos as respostas das primeiras
100 leitoras que responderam ao questionário encaminhado por meio de um perfil
criado no Orkut.
Buscamos dados das três comunidades, em que as leitoras discutem quais são os
problemas da revista, assim como elogiam, sugerem temas para matérias e realizam
enquetes sobre a preferência das mulheres.
Para analisar a identidade feminina, utilizaremos o trabalho de Gilles
Lipovetsky, que analisa, em A terceira mulher, a permanência e a revolução do
feminino e aponta, no ano 2000, para uma nova realidade. Lipovetsky acredita que,
depois dos modelos de passividade compulsória frente ao universo masculino e da
indiferenciação sócio-sexual, uma convergência que equalizaria homens e mulheres.
Por meio desta análise, buscaremos saber se a revista Nova acompanhou essa tendência
apontada por Lipovetsky.
O trabalho de Christopher Lasch, em Cultura do Narcisismo e O Mínimo Eu,
também traz embasamento para a questão da identidade feminina, assim como serve de
base para analisar os testes de Nova que tentam mostrar para leitora quem ela é e quem
ela deveria ser. O autor defende que, na cultura do narcisismo, o indivíduo consegue
se reconhecer pelo olhar do outro. Em 1997, um trabalho de Lasch sobre a identidade
feminina foi publicado postumamente. Em A mulher e a vida cotidiana são abordadas
questões como amor, casamento e o feminismo, criticando a cultura do consumismo,
muito presente nas páginas da revista Nova.
Os trabalhos de Dulcília Helena Schoreder Buitoni, Maria Celeste Mira, Cynthia
Sarti e Maria Quartim de Moraes são fundamentais para compreender o universo das
revistas e da imprensa feminina.
Dulcília Buitoni publicou, em 1981, Mulher de papel: a representação da
mulher na imprensa feminina brasileira. No livro, a autora discute qual é a imagem da
mulher nos órgãos de divulgação brasileiros desde o século XIX até a data da
publicação. Em 1986, Dulcília lança Imprensa Feminina, que traça o percurso histórico
desse fenômeno com o debate sobre a função desse jornalismo que oscila entre a
estética da utilidade e a estética da futilidade.
O livro, publicado em 2001, O leitor e a banca de revistas a segmentação da
cultura no século XX, de Maria Celeste Mira, traz um capítulo sobre as revistas
masculinas e femininas e as mudanças dos costumes no século XX. Como exemplo de
18
revista feminina, a autora elege Nova, traçando comparações entre a publicação
brasileira e a internacional, Cosmopolitan.
Em Vivência – história, sexualidade e imagens femininas, do início da década de
1980, Cynthia Sarti e Maria Quartim de Moraes elegem Nova, Carícia e Claudia como
as três principais revistas femininas. Elas analisam a forma como essas publicações
abordam temas como o trabalho feminino e o sexo. Comparar os dados levantados
mais de 20 anos com os dados atuais pode servir de base para entender as características
da mulher contemporânea.
A pesquisa de Leandro Marshall, publicada em 2003 no livro O Jornalismo na
era da Publicidade, ajuda a compreender as mudanças no discurso jornalístico quando
publicidade e propaganda passam a ocupar espaços antes ocupados apenas pelo
jornalismo. O estudo serve de base para compreender porque a revista cada vez mais
cede espaço para anúncios, deixando de lado matérias jornalísticas.
A sociedade do espetáculo, de Guy Debord, ajudará a compreender a influência
das celebridades e a valorização das imagens nas reportagens e principalmente nas
capas das edições da revista Nova.
A discussão sobre a indústria cultural de Theodor Adorno e Max Horkeimer
permitirá compreender a influência da cultura de massa nas páginas da revista Nova,
com a veiculação de matérias que ensinariam como a leitora pode alcançar a felicidade.
Os autores defendem que a indústria cultural apresenta as necessidades, prende o
consumidor e assim o transforma em refém da própria indústria.
No primeiro capítulo do trabalho As revistas e a identidade feminina”,
discutiremos a proposta da Nova, comparando seus objetivos com as principais revistas
femininas líderes do mercado editorial. Consideramos revistas como Elle, Manequim,
Claudia e TPM por serem dirigidas para mulheres da mesma faixa etária. Traçaremos
um breve histórico sobre a imprensa feminina.
No capítulo seguinte, “A identidade feminina e cultura do narcisismo na revista
Nova”, analisaremos a necessidade de a leitora saber quem é por meio de um olhar
exterior. A revista Nova não apresenta as respostas de quem é a leitora, como cria os
próprios questionamentos sobre quem é, o que pretende e qual será o futuro da leitora.
Neste capítulo analisaremos também a influência da espetacularização da sociedade nas
páginas da revista. Celebridades e a valorização da imagem estão sempre presentes nas
capas e no conteúdo de Nova. Para ilustrar o capítulo, utilizaremos exemplos colhidos
de diversas edições da publicação.
19
O capítulo “Os testes e a mulher de Novapretende analisar os testes publicados
na revista. Em todas as edições do período, existe a publicação da coluna de “Testes”,
que serve para responder dúvidas da leitora que ainda não se conhece bem e para indicar
caminhos que deve seguir, caso suas respostas ao teste mostrem que ela ainda não é uma
“Mulher perfeita de Nova”. Compararemos os testes de quatro edições especiais anuais
de 1995, 2000 e 2005.O quarto capítulo, “A revista Nova e o perfil das leitoras”, busca
compreender quem são as leitoras de Nova e quais são seus interesses. No mesmo
capítulo, analisaremos como a revista e os temas abordados por ela são vistos pelas
leitoras que participam da comunidade virtual criada no site de relacionamentos Orkut.
20
Capítulo 1 – As revistas e a identidade feminina
Discussões sobre o direito da mulher são recorrentes em nossa sociedade.
Divisão do trabalho, feminismo e liberdade sexual foram e ainda são temas tratados
com freqüência por pesquisadores, jornalistas e pela sociedade. As idéias difundidas
durante a revolução feminista dos anos 1960 permanecem norteando diálogos e
embasando discussões contemporâneas.
As mulheres, que tiveram acesso à educação formal em 1880, chegaram, e
hoje são maioria, aos bancos das universidades
15
. Conquistaram o direito ao voto e
encontraram espaço no mercado de trabalho mesmo que em condições piores que os
homens como revelamos na introdução do trabalho. Apenas em 1988 foi reconhecida a
igualdade plena na Constituição Brasileira.
16
O censo realizado em 2000 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) revelou que cerca de 3 milhões a mais de mulheres do que homens no
Brasil. A participação das mulheres, segundo o mesmo estudo, cresceu em todas as
áreas. A taxa de mão-de-obra feminina subiu 1,5% enquanto a masculina registrou
aumento de 0,6% em relação ao censo anterior (1991). As mulheres, que
conquistaram o direito ao voto há pouco mais de 70 anos, hoje são maioria do eleitorado
- 55,4 milhões para 54,1 milhões de homens.
As mudanças trouxeram dúvidas e, conseqüentemente, inseguranças. O mercado
publicitário vislumbrou a possibilidade de oferecer as respostas por meio de produtos. A
mulher passou a receber as instruções de como se adequar aos padrões criados pela
própria sociedade.
A imprensa feminina atual cumpre o papel de difusora social dos modelos
estéticos. Pouco a pouco, as representações e as mensagens ligadas à beleza feminina
deixaram de ser signos raros, invadindo a vida cotidiana das mulheres de todas as
15
Pesquisa publicada pela Revista Veja em 2001 afirma que: “Na universidade, o predomínio feminino é
pleno. As mulheres respondem por 55% do número de matrículas no 3º grau (1.170.028). Do total de
pessoas tituladas (mestrado, doutorado e profissionalizante) em 2000, 50,8% (3.857) eram mulheres. Nas
20 maiores faculdades, existem 248.845 mulheres e 231.982 homens”. Disponível em
http://veja.abril.com.br/especiais/mulher/abertura.html. Acesso em 21 de maio de 2007.
16
Os dados referentes às conquistas femininas que constam neste trabalho podem ser visualizados em
http://premioclaudia.abril.com.br/2001_schuma.shtml (acesso em 29 de setembro de 2007);
http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/clipping/2006/mulher-atras-em-politica-e-salario (acesso em 29 de setembro de
2007); http://veja.abril.com.br/especiais/mulher/p_082.html (acesso em 29 de setembro de 2007);
http://bomdiabrasil.globo.com/Jornalismo/BDBR/0,,AA948666-3683-280248-21927,00.html (acesso em
2 de outubro de 2007); e http://www.unifem.org.br (acesso em 3 de outubro de 2007).
21
condições. A produção e a propagação do discurso relativo aos cuidados da beleza são
cada vez maiores.
A partir do século XX, são as revistas femininas que se
tornam os vetores principais da difusão social das técnicas
estéticas. Dirigida ao grande público, vem à luz uma nova
retórica que conjuga beleza e consumo, adota um tom
eufórico ou humorístico, uma linguagem direta e dinâmica,
por vezes próxima do apelo publicitário. (Lipovetsky, 2000,
página 155)
Segundo Lipovetsky, tanto o conteúdo redacional como a forma exaltam a
beleza, tanto as mensagens como as imagens reforçam a definição do feminino como
gênero destinado à beleza.
Os cosméticos são necessários para buscar a felicidade. Os cuidados com a
beleza são garantia de felicidade e satisfação. Lipovetsky afirma que a criação de novas
revistas que exaltam a juventude, a busca da felicidade e os cuidados com a beleza é
conseqüência do desenvolvimento da indústria cosmética.
A imprensa feminina da década de 1930 exaltava o uso dos produtos
cosméticos, recomendando que as mulheres fizessem ginástica todas as manhãs,
tomassem refeições leves para permanecer esbeltas e utilizassem óleos para bronzear.
Elas deveriam também maquiar os olhos e os lábios, depilar as sobrancelhas e passar
esmalte nas unhas das mãos e dos pés.
A busca pela beleza havia deixado de ser uma prática condenável, mas uma
obrigação para toda mulher desejosa de conservar o marido. Os anúncios publicitários
ganharam cada vez mais espaço nas publicações. Não limites entre a publicidade e o
jornalismo.
Para Del Priore, é estreita a relação da mulher com os cosméticos muitos
séculos. Cita como exemplo o fato de as mulheres usarem maquiagem para dormir,
ainda no século XVIII.
O curioso é que o limite entre a cosmética saudável, aquela
capaz de sanar males e doenças, e a cosmética para
“embelezar” era estreito. As mulheres resvalavam de uma
para outra, sob o olhar sempre condenatório de maridos,
padres e médicos. A crítica regular do uso excessivo de
tintas, besuntos, cremes e ungüentos acumulava-se.
Perseguia-se a possibilidade de ver a mulher assemelhar-se
22
às cortesãs ou prostitutas. O critério, portanto, era o “muito”
ou “pouco” maquilada, critério esse que variou ao longo dos
tempos. Basta pensar no “meio-rouge” que as mulheres
usavam, ao deitar-se, no século XVIII! (Del Priore, 2000,
página 30)
A mulher permanece consumindo idéias e produtos que possam ajudá-la a
parecer mais jovem. A submissão ao homem deu espaço à submissão aos valores da
beleza e da juventude. De acordo com Mary Del Priore, a mulher contemporânea
continua submissa:
Em nossos dias, a identidade do corpo feminino corresponde
ao equilíbrio entre a tríade beleza-saúde-juventude. As
mulheres cada vez mais são empurradas a identificar a
beleza de seus corpos com juventude, a juventude com
saúde... Mesmo tomando posse do controle de seu corpo,
mesmo regulando o momento de conceber, a mulher não
está fazendo mais do que repetir grandes modelos
tradicionais. Ela continua submissa. Submissa não mais às
múltiplas gestações, mas à tríade de perfeição física”. (Del
Priore, 2000, páginas 14-5)
No Brasil, o fortalecimento da indústria cosmética também impulsionou a
imprensa feminina. A Revista Feminina, fundada em 1914, é considerada por Dulcília
Buitoni (1986, página 43) como “o exemplo mais perfeito da vinculação
imprensa/indústria nascente/publicidade, pois deve sua existência a uma bem-montada
sustentação comercial, hoje ingênua, mas muito eficaz na época”.
A autora, que define a publicação como a primeira grande revista feminina,
atribui o sucesso circulou durante 22 anos e foi lançada com 30 mil exemplares,
tiragem muito expressiva no mercado editorial da época ao esquema comercial. A
Revista Feminina competia com outras opções de leitura feminina, como A Senhorita, A
Cigarra e a Revista Ilustrada.
A grande inovação, porém, da Revista Feminina foi o
esquema comercial, que permitiu sua longa sustentação. A
revista era propriedade da Empresa Feminina Brasileira, que
fabricava e comercializava produtos destinados às mulheres,
desde cremes de beleza a livros de culinária, romances etc
(Buitoni, 1986, página 44)
23
A segmentação das revistas acompanhou as mudanças dos costumes no século
XX, período marcado pelo início da utilização da fotografia na imprensa brasileira. As
abordagens das revistas passaram a ser diferenciadas pelo gênero dos leitores. Enquanto
as revistas femininas contemplaram as mulheres com temas sobre lar, moda, beleza e
amor, as revistas masculinas partiram para assuntos como sexo, erotismo e pornografia.
De acordo com Buitoni (1986, página 49), a vinculação consumo/imprensa
feminina estabelece uma intensidade progressiva nos anos 50, em virtude do
crescimento das indústrias relacionadas à mulher e a casa, do fortalecimento do
mercado interno e da relativa ampliação da classe média.
Neste cenário, a Editora Abril lança em 1959 a revista de moldes Manequim.
Dois anos depois é a vez de Claudia, revista lançada no Brasil acompanhando uma
tendência européia de apresentar a publicação com nome de pessoa como se tivesse
personalidade própria.
Revistas como Nova (1973) e Playboy (1975) são traduzidas e adaptadas ao
público brasileiro. Ao contrário de Claudia que dirige suas matérias para a mulher
brasileira, Nova é voltada à mulher, não importa de qual lugar, que tenha características
de uma leitora a frente de seu tempo.
Na Editora Abril, Nova e Elle, entre outras, surgiram para
tentar conquistar um público feminino que se diversificava
cada vez mais. Não se fala mais, como em Claudia, na
“mulher brasileira”, mas em mulheres que se distinguem por
seus diferentes estilos de vida. (Mira, 2001, página 99)
Neste período, as revistas são importadas e permanecem com o mesmo nome
que circulam no exterior, o que revelaria, segundo Mira, a formação de mercados
segmentados. É assim com Playboy, Marie Claire e Elle. Nova ganhou um nome
brasileiro, e deixou de utilizar o título original Cosmopolitan, porque uma outra empresa
havia feito o registro do nome americano.
A emancipação das mulheres levou as revistas femininas a abordar temas como
trabalho, vida sexual dentro e fora do lar e questões políticas. Ao mesmo tempo, as
revistas femininas foram estreitando suas abordagens para temas mais subjetivos, como
prazer e busca do entendimento do universo masculino.
24
Cynthia Sarti e Maria Quartim de Moraes escreveram, no início da década de
1980, que as revistas femininas precisavam dar respostas às inúmeras dúvidas e
angústias que atormentavam a vida das mulheres da época.
Mulheres desiludidas, sentindo-se traídas pelas promessas de
que no casamento encontrariam toda a felicidade, a razão de
sua existência. Adolescentes inquietas, ávidas por conhecer
os tais mistérios da vida e, basicamente, se iniciarem nos
prazeres da sexualidade madura. Jovens inseguras, buscando
novos caminhos, alternativas aos modelos femininos que
sempre foram impostos, de geração a geração. (Sarti e
Moraes, 1980, página 20)
Para responder as dúvidas e minimizar as angústias, as publicações passaram a
tentar cumprir o papel de um conselheiro, que indica caminhos, orienta as ações e
responde às principais questões da mulher moderna. Talvez pelo próprio subjetivismo
dos temas que passaram a ser abordados, as propostas das revistas definidas por suas
editoras não apresentam grandes variações. Beleza, moda e consumo são temas
recorrentes em quase todos os principais títulos femininos.
Dulcília Buitoni afirma que existem alguns temas de grande interesse para o
público feminino que “gozam de uma certa unanimidade na imprensa de todo o
mundo”.
Assim, quase não revista que não trate, de alguma
maneira, do tema coração. O enfoque pode ser o romance, o
melodrama, a análise, o sexo. O coração já estava nos inícios
no consultório sentimental que expunha as barreiras dos
costumes, na literatura que falava de amor. (Buitoni, 1986,
páginas 21-2)
Para a autora (1986, página 22-3), entre os principais assuntos tratados nas
revistas femininas estiveram literatura, moda, culinária, decoração e atividades
domésticas. A literatura cedeu espaço para moda, enquanto a culinária atravessou
transformações em virtude da mudança da indústria alimentícia
17
.
17
A indústria alimentícia sofreu adaptações para acompanhar as tendências da sociedade. Alimentos
prontos ou semi-prontos começaram a ganhar espaço nas prateleiras quando as mulheres deixaram de ser
donas-de-casa e foram em busca de seu espaço no mercado de trabalho. Com o aumento das jornadas de
trabalho, homens e mulheres passaram a se alimentar mais em restaurantes, especialmente fast-foods, o
que exigiu mudanças na indústria alimentícia.
25
Com o fortalecimento da indústria de cosméticos, a editoria de beleza
conquistou seu território. Ao analisar a imprensa feminina, Buitoni (1986, página 18)
afirma que as revistas femininas tornaram-se peças fundamentais no mercado dos países
capitalistas com o desenvolvimento da indústria de cosméticos, de moda e de produtos
para a família e a casa, assim como com o progresso da publicidade.
Desta forma, segundo Buitoni, em torno de 1940, estavam solidificadas as
quatro grandes editorias: moda, beleza, casa e culinária. Outros temas secundários
foram surgindo e permanecem até hoje nas páginas das publicações femininas, como
horóscopo, testes e cartas de leitoras.
As publicações apresentam as tendências de moda e beleza. Os anunciantes
oferecem seus produtos. E as leitoras, ao comprarem as revistas, têm a oportunidade de
conhecer o que podem comprar e fazer para se sentirem atualizadas em relação ao
comportamento das outras mulheres do mundo.
As revistas definem que a mulher não pode ser feliz se não for, ou pelo menos se
sentir, bonita. Manter-se jovem também é uma premissa fundamental para garantir
harmonia. Até mesmo a realização profissional parece estar sempre associada com a
beleza. É preciso estar sempre confiante para que as pessoas acreditem em você. A auto-
estima pode ser elevada se a mulher estiver se sentindo amada e linda. As leitoras
precisam comprar as revistas para avaliarem se são aceitas pela sociedade.
As revistas femininas ainda recomendam vários planos e fórmulas para que a
leitora possa alcançar este objetivo. Cynthia Sarti e Maria Quartim de Moraes (1980,
página 80) afirmam que “cada vez mais, as revistas especializam-se nos ensinamentos
da arte de agarrar (e manter, é óbvio) o homem”.
Apesar de terem propostas muito semelhantes, outras revistas femininas foram
criadas e conquistaram seu espaço. A vendagem das femininas cresceu de forma
impressionante. Dados
18
disponibilizados pela Editora Abril apontam que a vendagem
da editora de revistas femininas passou de 12 milhões de exemplares em 1992 para 24
milhões em 1996, e para 76 milhões em 2000.
As editoras investiram em aprimoramentos gráficos e diversificaram, também, a
quantidade de títulos. A Abril, maior editora de revistas da América Latina, tinha oito
revistas femininas em 1994. Em 2000, este número saltou para 18. Apesar de
18
Dados disponíveis no site comemorativo dos primeiros 50 anos da Editora Abril em
http://www.abril.com.br/institucional/50anos/femininas.html. Acesso em 18 de setembro de 2007.
26
oferecerem novas opções, as definições das revistas não apresentam grandes
diferenciações.
Segundo o site
19
da Editora Abril, ELLE é “a revista que apresenta e traduz as
grandes tendências nacionais e internacionais de moda e beleza para a mulher jovem de
idade ou de espírito”. Ao mesmo tempo, o mesmo grupo define a concorrente Boa
Forma como “a revista que mais entende de beleza”.
Manequim
20
, outra revista da Abril, traduz as tendências da moda e “orienta as
leitoras a usar corretamente as roupas compradas prontas ou feitas com os moldes”. A
proposta da revista traz ainda que a publicação “também é sua consultora para as áreas
de casa, saúde e beleza”.
Ainda do mesmo grupo, a revista Estilo
21
é a “referência de consumo para as
mulheres que buscam idéias práticas e eficientes de moda, beleza e entretenimento e se
inspiram no estilo de vida das celebridades”.
Enquanto isso, Nova
22
“incentiva e orienta a mulher na busca pela realização
pessoal e profissional. Estimula a ousadia e a coragem para enfrentar os desafios, a
busca pelo prazer sem culpa e a construção da auto-estima e da autoconfiança”.
Se a mulher de Nova está em busca do prazer sem culpa, a leitora de Claudia
23
é uma mulher com mais responsabilidades e outras preocupações. Definida como a
primeira e mais completa revista feminina do país”, a publicação promete trazer
reflexões sobre o que acontece no mundo e soluções práticas para os desafios do dia-a-
dia, além de tirar dúvidas sobre a educação dos filhos, a vida emocional e a profissional.
Claudia “é a parceira da mulher em todos os momentos”.
Dentro do universo das revistas femininas, uma publicação assume uma postura
diferenciada. Criada no final de abril de 2001 pela Editora Trip, a revista TPM (Trip
para Mulheres) tem tiragem mensal de 30 mil exemplares e a “pretensão de suprir em
curto prazo a enorme demanda reprimida que existe por parte das mulheres brasileiras
19
Dados disponíveis em http://nova.abril.com.br/livre/canal/revistas.shtml. Acesso em 21 de setembro de
2007.
20
Dados disponíveis em http://nova.abril.com.br/livre/canal/revistas.shtml. Acesso em 21 de setembro de
2007.
21
Dados disponíveis em http://nova.abril.com.br/livre/canal/revistas.shtml. Acesso em 21 de setembro de
2007.
22
Dados disponíveis em http://elle.abril.com.br/midia_kit/nova/m_revista.html. Acesso em 21 de
setembro de 2007.
23
Dados disponíveis em http://nova.abril.com.br/livre/canal/revistas.shtml. Acesso em 21 de setembro de
2007.
27
com mais acesso à cultura, informação, com maior poder aquisitivo e insatisfeitas com o
tratamento medíocre a elas dispensado pela maioria das publicações femininas do país”.
Apesar da definição disponibilizada no site da editora (www.tripeditora.com.br),
a revista assume que não tem a pretensão de saber exatamente quem é sua leitora e quais
são suas principais características. Selecionamos TPM para nossa comparação não por
ser uma das revistas mais vendidas, mas por assumir publicamente que sua proposta
editorial como revista feminina é totalmente diferenciada das demais.
TPM questiona os valores femininos e parece tentar buscar respostas para
justificar a perpetuação de algumas idéias. A edição comemorativa dos quatro anos da
revista (nº 44, de junho de 2005), por exemplo, traz como matéria principal (destaque na
capa e quatro páginas no interior da revista) o tema “Por que ainda precisamos
desesperadamente casar? com “as novas explicações da ciência para esse drama
feminino”. O que para a maioria das revistas é o principal objetivo da vida da mulher
arrumar um companheiro para TPM é um drama que precisa ser desvendado por uma
psicoterapeuta e uma antropóloga.
No editorial da edição 64, de abril de 2007, a publicação revela que está
realizando tentativas de definir as características que distinguem a personalidade das
leitoras da TPM. Segundo o editor Paulo Lima, independência e bom humor seriam as
duas noções que têm se sobressaído.
O mesmo editorial ressalta que a revista vem conquistando maior número de
leitoras e destaca o reconhecimento da revista Imprensa, que apontou a TPM como a
melhor revista feminina do Brasil em 2006, com 37% dos votos de seu júri popular.
Talvez o que torne a revista TPM diferente das outras publicações femininas é o
fato de defender publicamente em seus editoriais que é preciso existir renovação.
Enquanto a publicação Boa Forma, da Editora Abril, por exemplo, se define como a
revista que mais entende de beleza, TPM se propõe a oferecer um tratamento
diferenciado a suas leitoras.
O editorial da TPM de fevereiro de 2007
24
defende que “não é possível imaginar
uma revista que não seja revista de tempos em tempos”. Paulo Lima escreve que “o fato
é que uma revista que tem a pretensão assumida de conectar-se com os corações e
cérebros das mulheres donas das atitudes e crenças mais contemporâneas do Brasil não
24
Disponível em http://revistatpm.uol.com.br/62/editorial/home.htm. Acesso em 12 de abril de 2007.
28
pode sequer sonhar em não se rever”. A revista TPM se distinguiria das demais revistas
femininas por não praticar o jornalismo cor-de-rosa que será abordado no item seguinte.
O jornalismo cor-de-rosa
Como discutimos anteriormente, a publicidade se apropriou de grande espaço
nas páginas das revistas femininas. Os produtos cosméticos anunciados seriam a solução
mágica para diversos problemas inexistentes. Marshall explica que o jornalismo
incorporou as novas premissas da linguagem da publicidade moderna. Para Marshall, o
discurso da publicidade e da estética, com o sensacionalismo e a espetacularização,
inocularam a ética do jornalismo. O novo paradigma cultural e a ordem do mercado
transformaram o jornalismo contemporâneo em um “jornalismo cor-de-rosa”, que é
marketizado, mercantilizado, estetizado e essencialmente light.
A ordem é hibridizar a natureza persuasiva da publicidade,
dissolvendo-a no espaço jornalístico, como se fora parte da
própria natureza jornalística. É um exercício que inocula o
interesse privado do espaço público da imprensa e investe de
legitimidade o gene clandestino da lógica publicitária.
(Marshall, 2003, página 120)
Entre 25 variações que Marshall relaciona no “jornalismo cor-de-rosa”,
caracterizado pela sintetização de uma espécie de produção jornalístico-publicitária, é
difícil classificar as matérias encontradas em revistas femininas que misturam
informações com sugestões de produtos. Não sabemos se há venda do espaço das
matérias para os anunciantes, permuta de notícia por anúncios ou se os “produtos
jornalísticos” foram criados para “a publicação de publicidade”.
É possível, porém, notar características de semelhança, especialmente nas
matérias de beleza, com o modelo que Marshall chama de “consumismo direto –
estímulo ao consumismo direto”. A mídia de massa estaria tratando de acompanhar a
ideologia do consumo.
Dessa forma, um grande porcentual de revistas e jornais tem
elegido como linha editorial o estímulo a um consumismo
direto, retratando em suas páginas peças de vestuário,
objetos do lar, novos lançamentos, tendências da moda,
opções de presentes, estilos de decoração, padrões de
comportamento, inovações tecnológicas, produtos inéditos,
29
sugestões de lazer, indicações turísticas, modelos de
arquitetura e design etc. Muitas vêm, inclusive, com preços,
endereços de lojas ou de fornecedores e indicações ou
orientações anexas. (Marshall, 2003, página 134)
O autor acredita que tais informações buscam objetivamente induzir ao consumo
e ferem frontalmente os princípios do jornalismo. Para ele, não nem a preocupação
de mascarar ou maquiar as informações para impedir que os leitores em busca de
informações se sintam ludibriados. Os leitores da maioria das publicações desse
segmento de jornalismo de consumo, pelo contrário, parecem demonstrar satisfação em
ler amenidades. O veículo pode situá-los nos padrões sociais.
Cláudio Novaes Pinto Coelho também questiona a presença da publicidade em
nosso cotidiano. A própria propaganda vai criar novas necessidades para que possamos
adquirir os produtos anunciados.
A publicidade procura estabelecer uma relação de identidade
entre os consumidores e os objetos industrializados. O
discurso publicitário dirige-se ao consumidor de forma
singularizada, procurando fazer com que os objetos feitos
em série sejam vistos pelo consumidor como produtos
especialmente feitos para ele. (Coelho, 2003, página 11)
Marshall (2003, página 147) defende que o consumidor “lê a si mesmo em cada
nova notícia e sente as suas próprias pulsões em cada nova imagem. A dia e a
imprensa fraudam o poder de criar, recriar, ocultar ou transformar a realidade,
reproduzindo-a num novo espaço meramente ilusório”.
Assim, para se tornar atraente, a leitora precisa se ver pelo olhar da publicação e
eleger uma das artistas citadas pela revista para copiar por meio do consumo dos
produtos anunciados. Marshall afirma (2003, página 148) que “a catarse psicológica e a
inconsciência coletiva dão forma e sentido à grande embalagem social, racionalizada em
parte pelos signos estéticos do jornalismo e da publicidade”.
A leitora de Nova, por exemplo, parece receber a receita com todos os produtos
cosméticos que precisa para se tornar feliz e inserida na sociedade. Para garantir que
está acompanhando as tendências da moda e da beleza nada melhor que se pareça com
as mulheres que são destaques da dia, seja por um escândalo, seja por ser mulher de
um político, seja por ser a estrela da novela.
30
Elegemos exemplos de edições recentes de outras revistas femininas. A
publicidade, muitas vezes disfarçada como se fosse jornalismo, oferece às leitoras a
oportunidade de se identificarem com seus ídolos. É a chance de poder comprar a
felicidade e realizar seus sonhos. Tudo está disponível no mercado.
A edição de novembro de 2007 da revista Claudia destaca na capa Juliana Paes.
Em uma matéria de quatro páginas intitulada “O manual da especialista”, a atriz “ensina
como faz para manter a pele, os cabelos e o corpão lindos e bem tratados”. Para se
tornar parecida com Juliana Paes, a leitora deve seguir os conselhos e comprar os
produtos listados na matéria. Em um dos trechos da matéria, na página 48, encontramos:
“Esperta, ela garante hidratação reforçada com um produto para estrias da grife
Dermage”. A indicação que o produto é utilizado por mulheres espertas vem
acompanhada de um depoimento da atriz: “Eu não tenho estrias, mas a fórmula é
ótima”. Ou seja, a atriz utilizaria um produto eficaz para um problema que ela não tem.
As revistas indicam caminhos como se fossem uma amiga conselheira da leitora.
Porém, não diferenciação se os conselhos são pagos pelos anunciantes ou se tratam
de buscas aleatórias de opções de produtos. Uma matéria de cinco ginas da edição de
novembro de 2007 da Elle apresenta dicas de sites de compras da internet. Comprar
virtualmente seria a solução para a leitora não enfrentar filas e congestionamento nos
shoppings para realizar as compras de Natal. Elle afirma: Para vonão se perder no
maravilhoso mundo do comércio virtual, selecionamos alguns sites nacionais com
achados bacanas. Relaxe, aproveite e boas compras!”. São listadas duas ou três opções
de compras para cada categoria (“Para adoçar a família”, “Para aspirantes a chef”, “Para
todas as belas”, entre outras). Não nenhuma informação sobre como estas indicações
foram selecionadas. A leitora recebe as dicas sem saber se é uma matéria paga, se
permuta de anúncios ou se é uma escolha aleatória da publicação.
Para conquistar as leitoras, as publicações femininas apresentam os anúncios
como revelações especiais. Em Marie Claire, de novembro de 2007, a leitora encontra
da página 206 até a 215 dicas de beleza e produtos que são a tendência do verão.
Dezenas de produtos ganham estas páginas e são listados como “novidades para
proteger a pela dos efeitos do sol, combater a celulite e dar brilho aos fios”. Assim como
nas outras revistas femininas, não encontramos diferenciação se esta matéria é um
anúncio publicitário ou se é uma seleção aleatória de produtos realizada pela editoria da
publicação. A leitora recebe os produtos como se fizessem parte de uma seleção
imparcial e como se os produtos tivessem sido testados rigorosamente pela revista.
31
Apresentar soluções publicitárias como resposta para encontrar a felicidade não
é exclusividade de Nova, como observamos nos exemplos de outras publicações,
porém nenhuma outra revista criou e solidificou um conceito tão forte de transformação
da identidade da leitora. Não existe a “Mulher de Claudia”, nem a “Mulher de Marie
Claire”. Porém, toda leitora de Nova tem potencial para ser uma “Mulher de Nova”. Se
ainda não é, precisa aprender como realizar esta transformação.
Marie Claire, por exemplo, apresenta uma seção de transformação da leitora
com o título “De visual novo”. Em Nova, a identificação é maior. A seção que realiza a
mesma atividade de transformação chama “Banho de Nova”. Quanto mais utilizar os
recursos da revista, mais “Mulher de Nova” ela poderá ser.
Nova reafirma este conceito constantemente. Para tanto, disponibilizou a
comunidade oficial no site de relacionamentos Orkut chamada “Eu sou uma mulher de
Nova”, como já dissemos na introdução deste trabalho.
Propaganda da comunidade criada no Orkut veiculada no site oficial da revista Nova
Para ser uma “Mulher de Novaé preciso ser bonita. E, para isso, basta comprar
os cosméticos anunciados pela própria revista. Não há muita lógica nos anúncios. Como
acreditar que, caso utilizem o mesmo produto, todas as mulheres leitoras, dos mais
diferentes perfis físicos, irão ficar todas com a mesma aparência?
32
Evidentemente sabemos que a indústria cosmética, cada vez mais, oferece
soluções específicas para cada tipo físico. Porém, quando lemos os anúncios ou
reportagens que sugerem produtos, não diferenciação. As especificidades de cada
produto não são destacadas.
Como já salientamos, a transformação das mulheres, principalmente por meio de
maquiagem e cosméticos, está presente nas revistas femininas muito tempo. É
preciso se transformar para agradar aos homens, assim como para encontrar espaço na
sociedade. Maria Quartim de Moraes questiona a necessidade de transformação das
mulheres, buscando desassociar os ritos e encenações da realidade feminina:
Quem não quer amar e ser amada? Mas conhecemos a
realidade amorosa de forma ambivalente, pois temos que nos
submeter aos ritos: por que tantas exigências menores, tanta
encenação e dramatização? Será impossível desfrutar do
amor sem os artifícios da maquilagem, da moda, dos
maneirismos dos gestos estereotipados e da voz afetada (ou
“calidamente infantil”, como dizem os romances água-com-
açúcar)? E sem a subordinação à gica da dominação,
obrigando-nos ao desempenho exclusivo de um tipo de
sexualidade: a do corpo erótico que existe na medida em
que o Outro o valoriza? (Moraes, 1979, página 70)
E acrescenta: “A sexualidade feminina é prisioneira, portanto, dos estreitos
limites sociais em que se desenrola a vida da mulher” (Moraes, 1979, página 70). As
revistas femininas apropriaram-se das constantes modificações dos limites sociais
femininos, como o direito ao voto e o ingresso da mulher no mercado de trabalho, para
“ajudar” a mulher moderna a encontrar seu espaço na sociedade.
Buscar sua identidade e se sentir único e diferenciado é uma das principais lutas
do ser humano, que vive inserido em um mundo de produção em massa, rico de ofertas
de uma sociedade capitalista.
Sua participação na sociedade do espetáculo faz com que esteja sempre tentando
descobrir o que precisa para ser feliz. É justamente essa ansiedade por realização e
sucesso pessoal que sustenta as ofertas publicitárias. Está naquilo que ainda não viveu a
sua chance de encontrar a felicidade.
A proliferação das imagens e o seu poder de antecipar
experiências ainda não vividas, que são as principais
características da sociedade do espetáculo, atingem inclusive
33
movimentos sociais que pretendem questionar a sociedade
capitalista de consumo. A indústria cultural, a ação dos
meios de comunicação de massa, direciona-se no sentido de
transformar todas as dimensões da vida social de acordo
com as características da sociedade do espetáculo. (Coelho,
2003, página 52)
Para se sentir reconhecido na sociedade por sua individualidade, o ser humano se
esforça para seguir modelos indicados por pessoas que aparentemente teriam
conseguido alcançar a felicidade. Mesmo que isso seja apenas tentar copiar a aparência
física. Para Adorno e Horkheimer, a perfeita semelhança é a absoluta diferença:
A indústria cultural perfidamente realizou o homem como
ser genérico. Cada um é apenas aquilo que qualquer outro
pode substituir: coisa fungível, um exemplar. Ele mesmo
como indivíduo é absolutamente substituível, o puro nada, e
é isto que começa a experimentar quando, com o tempo,
termina por perder a semelhança. (Adorno e Horkheimer,
2000, página 193)
As revistas oferecem a oportunidade de a mulher descobrir como deve agir para
ficar parecida com alguém que conquistou o sucesso. É pelo olhar da revista que a
leitora vai saber o que falta fazer para ser, por exemplo, a “Mulher de Nova”, que é
muito feliz e realizada.
Buscar a aprovação dos outros, no caso das revistas, é uma das principais
características do ser humano narcisista. Segundo a cultura do narcisismo
25
, é somente
por um olhar exterior que o indivíduo narcisista consegue reconhecer sua existência.
Esse tema será desenvolvido no capítulo seguinte.
A Revista Nova
Cosmopolitan é a maior revista feminina do mundo. São 59 edições mensais, em
34 diferentes línguas, lidas por mais de 100 milhões de mulheres em países como
França, Alemanha, Grécia, Turquia, Japão e África do Sul.
26
25
Não pretendemos esgotar esta discussão e nem tampouco defender que tais características são únicas da
cultura do narcisismo.
26
Dados disponíveis no site da Cosmopolitan em http://www.cosmopolitan.com/magazine/international.
Acesso em 18 de novembro de 2007.
34
Lançada em Nova York em 1886, Cosmopolitan apresentava literatura
internacional para o público norte-americano, conta Maria Celeste Mira:
Segundo magazine da Hearst Corporation, Cosmopolitan
havia sido lançada em Nova York no ano de 1886. Seus
criadores, Schlick & Field of Rochester, vendem-na três
anos depois para o futuro magnata William Randolph Hearst
por US$ 400 mil. Multiplicador de tiragens, Hearst eleva sua
circulação um ano depois, em 1890, para um milhão de
exemplares, ambicionando fazer dele “o magazine nacional
da América”. De acordo com Brian Braithwaite,
Cosmopolitan “foi uma tentativa séria de apresentar a
literatura internacional para o público norte-americano...
sobreviveu nos anos de guerra, principalmente como um
título de ficção, mas, no início dos anos 60, sua popularidade
estava caindo.” (Mira, 2001, páginas 120-1)
Com a sua popularidade ameaçada no início da década de 1960
27
, a publicação
contratou a americana Helen Gurley Brown, autora do best-seller “Sex and the single
girl” que havia explodido em 1962 por tratar de um assunto ainda não muito discutido
abertamente na época.
Capa da Cosmopolitan de março de 1894
27
A década de 60 ficou marcada pela revolução sexual e protestos juvenis contra a ameaça de
endurecimento dos governos.
35
O site atual da Cosmopolitan
28
dedica uma página a Helen Brown. Segundo o
site, a americana seria a responsável pela transformação do antiquado magazine de
interesse geral na revista mais lida do mundo, que teria o papel de agente social
transformadora “encorajando mulheres de todos os lugares a irem atrás do que
desejam”.
“Eu queria minha revista para ser a melhor amiga das mulheres, uma plataforma
onde eu pudesse dizer a elas tudo que eu aprendi e falar sobre todas as coisas que não
haviam sido discutidas antes. Eu precisava dizer a verdade: o sexo é uma das três
melhores coisas que estão por e eu ainda não sei onde estão as outras duas”, afirma
Helen Brown no site da Cosmopolitan.
Em 1973, foi lançada a Nova, edição brasileira da Cosmopolitan. O lançamento
foi definido no site de aniversário dos 50 anos da Editora Abril (comemorado no ano
2000) como um “salto na mentalidade feminina”. "Desde o século XIX, a revista
feminina enxergava a mulher pelo mundo à sua volta: a casa, o marido, os filhos. A
partir de Cosmopolitan, passou a se dirigir à pessoa da leitora", afirmou, no site
comemorativo, Fátima Ali, a primeira diretora de redação de Nova.
Hoje, Nova ocupa o primeiro lugar das revistas femininas mais vendidas no
Brasil. Em março de 2007, de acordo com dados do Instituto Verificador de Circulação
(IVC
29
), a revista registrou tiragem de 311.960 exemplares, sendo 116.010 destinados
aos assinantes, e 127.410 edições avulsas, o que totaliza a circulação líquida de 243.420
exemplares.
De acordo com o índice calculado pela Projeção Brasil de Leitores com base no
estudo Marplan Consolidado 2006, 1.111.000 leitores tiveram acesso à revista. O
mesmo estudo aponta que 76% dos leitores de Nova têm entre 18 e 49 anos. Os homens
representam 16% do público da revista. Aproximadamente 46% dos leitores pertencem
à classe social B, 25%, à classe A e 21% são da classe C.
Estes são os dados disponibilizados pela revista sobre o perfil dos leitores e
representam como Nova se apresenta aos possíveis anunciantes. O grupo Abril
disponibiliza, também, um espaço na internet para os leitores de Nova. Cerca de 95%
dos internautas que acessam o site da revista (www.nova.abril.com.br) são mulheres. As
28
O endereço eletrônico da Cosmopolitan é http://www.cosmopolitan.com. A página especial sobre
Helen Brown está disponível em http://www.cosmopolitan.com/magazine/about/about-us_how-cosmo-
changed-the-world. Acesso em 21 de novembro de 2007.
29
O IVC é uma empresa sem fins lucrativos que tem por objetivo proporcionar autenticidade às
circulações de publicações.
36
informações da Pesquisa Nacional Abril/Datalistas 2005 apontam que 74% têm entre 19
e 35 anos. A audiência do site em junho de 2007 (fonte: Wusage) foi de 2.749.975
visitas na página, sendo 416.313 registros de visitantes únicos.
O sucesso de Nova gerou outra publicação: a newsletter. Segundo dados da
Editora, em outubro de 2006, 30.263 usuários estavam cadastrados recebendo o boletim
eletrônico que apresenta as matérias publicadas no site, fóruns e enquetes sobre temas
considerados polêmicos, além de testes com resultados instantâneos e promoções.
Maria Celeste Mira explica que a revista Cosmopolitan, desde sua reformulação
em 1965, começou a trabalhar com a figura da Cosmopolitan Girl, que seria o tipo ideal
de uma nova mulher que pode tomar a própria vida em suas mãos.
O perfil da leitora de Cosmopolitan é mais ou menos
igual no Brasil, EUA e Inglaterra: são mulheres jovens, entre
20 e 35 anos em média, das classes A e B. (Mira, 2001,
página 98)
Sarti e Moraes (1980, página 26) defendem, com base no perfil da leitora
elaborado pela redação de Nova para utilização interna, que a revista foi lançada em
1973 tendo em vista a mulher que está “descobrindo que sua vida pode ser melhor do
que é, que ela pode ser levada mais a sério, que pode ter opinião, que pode se impor, se
fazer respeitar. Mas tudo isso ainda é uma novidade para ela; são coisas descobertas na
medida em que ela sai de casa para trabalhar, e não só para casar...”.
Para as autoras, Nova dirige-se muito mais à mulher que trabalha e que pode ser
solteira, separada ou recém-casada do que à dona de casa, mãe ou esposa. A família
deixa, neste novo momento, de ser o centro exclusivo do universo feminino.
Desde seu lançamento no Brasil, não é possível identificar grandes mudanças no
conteúdo e nas capas de Nova. Até hoje apresenta, em seus artigos e reportagens,
construções e estratégias para que a mulher possa alcançar o poder, seja no trabalho, em
casa ou na sociedade, ressaltando a importância da conquista da independência.
A definição proposta por Dulcília Buitoni, em 1986, ao analisar a imprensa
feminina, mantém-se pertinente até os dias de hoje. Analisando as edições de 1995,
2000 e 2005 ainda é possível observar as mesmas características apontadas pela autora
há mais de 20 anos. Diz a autora:
A filosofia de Cosmopolitan concentra-se na idéia de que é
preciso infundir na leitora confiança em si própria, algo
como “você é capaz”, “você pode”. A modelo com roupa
37
decotada na capa, muitos artigos sobre comportamento,
sexo, liberação, um desejo de luxo e estudada descontração,
algumas pitadas culturais, eis a fórmula que se foi
adequando ao “clima” brasileiro. (Buitoni, 1986, página 51)
A publicação promete apresentar o caminho para que a mulher encontre seu
espaço no mundo, alcançando a igualdade dos sexos por meio da afirmação da
sexualidade feminina. Agora que a mulher não precisa mais do homem para guiar seus
passos, pode encontrar na revista a possibilidade de não se sentir sozinha nesta estrada.
Da mesma forma, a análise elaborada por Sarti e Moraes, 27 anos, também
permanece válida.
A revista é apresentada no editorial do primeiro número
como uma proposta que “nasceu da necessidade de oferecer
à mulher brasileira uma companheira útil e atualizada para
permitir-lhe o ingresso no fechadíssimo clube das cabeças
que pensam, julgam e decidem. Até ontem, este clube estava
reservado aos homens, e a eles. Hoje, com Nova, estamos
pretendendo fornecer-lhe as chaves deste clube. Coragem:
abra a porta e entre. O mundo é seu”. (Sarti e Moraes, 1980,
página 26)
Dulcília Buitoni reafirma, no estudo de 1986, o perfil da leitora de Nova como
sendo uma mulher solteira sem grandes preocupações com os afazeres domésticos.
Sua leitora estuda e/ou trabalha fora e não tem grandes
preocupações domésticas. No máximo, quer habitar um
lugarzinho bem decorado e saber fazer um prato gostoso
para agradar ao namorado. No fundo, o velho “agarre seu
homem”. (Buitoni, 1986, página 51)
A mulher moderna é independente, mas ainda não sabe qual destino quer dar
para sua vida. Consegue viver distante do homem, mas encontra na publicação um guia
para substituir quem oriente seu caminho.
Na definição de sua idealizadora, a garota Cosmopolitan é
aquela que “não quer ser reconhecida por ser a mulher de
um executivo, a mãe de um bom estudante, a irde um
jogador de futebol ou a namorada de um músico de rock. Ela
quer ser reconhecida pelo que faz. Amor e trabalho são
realmente importantes para ela”. Ao longo dos anos, estes
38
dois temas serão constantes na revista: amor (com sexo) e
trabalho. (Mira, 2001, página 122)
No Brasil, a Cosmopolitan Girl foi transformada na “Mulher de Nova”. Ao
mesmo tempo em que não quer ser reconhecida como “a mulher de um executivo”,
compra a revista para seguir fórmulas que possam transformá-la na “Mulher de Nova”:
é um novo casamento.
O editorial da edição de janeiro de 1995 revela os resultados do encontro
mundial realizado a cada dois anos pelas editoras das revistas Cosmopolitan. No fim de
1994, o encontro foi realizado em Paris para debater desde a qualidade do papel e da
foto até as mudanças na vida sexual das mulheres. O que mais me fascina é verificar
como um numeroso grupo de mulheres pensando, desejando, sentindo, buscando
coisas tão parecidas em lugares tão diferentes quanto Austrália, Rússia, México ou
Hong Kong”, escreve a editora brasileira Marcia Neder.
O texto traz um pouco do perfil das mulheres, destacando pequenas diferenças
regionais. Mas a conclusão da editora aponta que certas atitudes estão presentes em
todos os países por onde circulam a publicação. “Entre diferenças e semelhanças, alguns
pontos permanecem fundamentais em todas: o desejo de ser independente, ganhar o
próprio dinheiro, ser mais autoconfiante, encontrar o amor, fazer sexo com segurança,
ter um casamento com equilíbrio de poder, ser mãe sem parar de trabalhar”, resume.
O perfil da leitora de Nova nos dias de hoje não apresenta grandes mudanças.
Em 2007, a Editora define a leitora, ao fornecer informações para seus anunciantes no
site
30
, como “jovem, trabalha fora, ambiciosa, determinada, cheia de energia, curiosa,
independente, competitiva e extremamente vaidosa. Procura sempre superar os seus
limites e viver intensamente o amor, o sexo e a carreira”.
Segundo o kit
31
de informações divulgado para os anunciantes, esta leitora pega
em média quatro vezes a revista depois da compra. Cerca de 60% destas leitoras
acredita que a revista diverte, enquanto 86% acham que a Nova informa. Outro atrativo
aos anunciantes é que 78% das assinantes de Nova, segundo a própria Editora Abril,
“prestam atenção e lêem os anúncios publicados”.
30
Informações disponíveis em http://elle.abril.com.br/midia_kit/nova/p_leitor.html. Acesso em 13 de
agosto de 2007.
31
Disponível em http://elle.abril.com.br/midia_kit/nova/p_leitor_2.html. Acesso em 14 de agosto de
2007.
39
Este “kit de dia” informa que, em todas as edições estão presentes cinco
conteúdos editoriais: “Amor e Sexo”, “Vida e Trabalho”, “Gente famosa”, Beleza e
Saúde”, além de “Moda e Estilo”.
De acordo com o material promocional
32
, “Amor e Sexo” são os “dois temas
mais importantes na fórmula de Nova/Cosmopolitan”. Neste conteúdo estariam
presentes “artigos e reportagens para a leitora que tem ou está em busca de um
relacionamento amoroso. Ajudam a entender melhor os homens, saber o que passa no
coração e na mente deles, tornar a relação mais feliz. Também resolvem as principais
dúvidas sobre sexo e ensinam as melhores maneiras de ter mais prazer na cama”.
Os verbos “ajudar”, “resolver” e “ensinar” são comuns nas definições da revista.
Ao explicar como é o conteúdo de “Vida e Trabalho”
33
, a leitora é definida como
“profissional batalhadora e ambiciosa, a leitora de Nova não descansará enquanto não
conseguir o emprego dos seus sonhos, um bom salário, um cargo que ela julga à altura
de suas habilidades”. Mesmo sendo independente, cabe à revista ajudar a leitora na
busca do auto-conhecimento: “As reportagens dessas seções ajudam também a realizar
sonho de montar o negócio próprio e ensinam a esta mulher incrivelmente independente
a administrar bem o próprio dinheiro e senso assim a busca do auto-conhecimento”.
Apesar de ser uma profissional batalhadora, a leitora não mediria esforços para
conquistar seu espaço no mercado. Para a Editora
34
, “Beleza e Saúde” são “itens
absolutamente essenciais na vida da leitora de Nova. Segundo a definição, a beleza é
uma arma utilizada para conquistar sucesso na carreira. “Vaidosa, muito feminina e
sensual, ela faz questão de estar a par de todas as novidades dos últimos lançamentos,
também porque estar bonita e bem-cuidada é uma das armas que nossa leitora usa para
conquistar postos na carreira”.
Estar bem vestida também é essencial para o sucesso no trabalho. “Moda e
estilo”
35
é apresentado como “material de alta temperatura para a Mulher de Nova, que
não abre mão de ter sempre no guarda-roupa as peças que são a última moda. Claro,
desde que se adaptem ao seu estilo: sensual, quando está com o namorado ou vai para a
balada, conquistador e vitorioso na vida profissional. As peças básicas que lhe dão a
aparência de um milhão de dólares se misturam aos modelos ultra-sexy”.
32
Disponível em http://elle.abril.com.br/midia_kit/nova/edicoes.html#. Acesso em 16 de agosto de 2007.
33
Disponível em http://elle.abril.com.br/midia_kit/nova/edicoes.html#. Acesso em 16 de agosto de 2007.
34
Disponível em http://elle.abril.com.br/midia_kit/nova/edicoes.html#. Acesso em 16 de agosto de 2007.
35
Disponível em http://elle.abril.com.br/midia_kit/nova/edicoes.html#. Acesso em 16 de agosto de 2007.
40
O conteúdo editorial de “Gente famosa”
36
é justificado porque a leitora “é
jovem, antenada e ativa. Assiste ao jornal, à novela das 8, às séries da TV a cabo, gosta
de música e cinema”.
Alguns adjetivos da “Mulher de Nova”, como “vaidosa”, “muito feminina”,
“sensual” e “bem-cuidada” servem para qualificar a revista como uma promissora opção
para os anunciantes. O interesse da leitora por beleza é destacado no quadro a seguir
disponibilizado no site da Editora Abril. Os dados, que podem ser tendenciosos afinal
são propagandas realizadas pela Editora para os anunciantes, apontam que a leitora de
Nova consome mais produtos relacionados à beleza que a maioria da população.
A leitora de Nova parece procurar as mesmas respostas desde a criação da
revista. Observando as edições de 1995, 2000 e 2005, é possível perceber que “Amor e
Sexo” sempre foram os eixos principais da revista.
Uma hipótese que podemos considerar é a de que a mulher, depois da revolução
sexual ocorrida na década de 1960, tornou-se um pouco insegura em relação às suas
atitudes. A sociedade teria mudado a forma como enxerga a liberdade sexual feminina e
as mulheres poderiam ter sentido necessidade de validar esta liberdade na revista.
Em 1995, o sumário das edições da revista estava dividido em quatro partes. A
primeira era “Artigos e Reportagens”, com matérias de interesse feminino sobre saúde,
comportamento, amor e sexo. O segundo eixo era “Culinária e Decoração” que trazia
receitas culinárias e dicas de decoração. A terceira seção era “Moda e Beleza” com
artigos e fotos sobre as novas tendências da moda. O último grupo era intitulado de
36
Disponível em http://elle.abril.com.br/midia_kit/nova/edicoes.html#. Acesso em 16 de agosto de 2007.
41
“Sempre em Nova”, com horóscopo, cartas, política, dicas de finanças, cinema, música
e livros, além do ponto de vista masculino.
A revista publicava em cada edição uma matéria sobre política, como “Nós e a
IV Conferência Mundial da Mulher” (página 31 da edição de abril de 1995), “A última
do economês, em bom português” (página 34 da edição de maio de 1995) e “O inferno
das populações sitiadas” (página 44 da edição de novembro de 1995).
No ano de 2000, a revista já apresenta uma nova divisão, com oito temas. Em
algumas edições deste período, encontramos um nono tema, chamado de “Especial” que
tem artigos sobre a mulher 2000. São três suplementos publicados com um balanço das
conquistas femininas no Brasil no último século.
Na nova segmentação de editorias, “Moda e Beleza” é dividido em “Beleza e
Saúde” e “Moda e Estilo”. Uma seção chamada “Vida e Trabalho” é criada com
reportagens sobre empreendedorismo e comportamento. A capa ganha destaque e é
transformada no primeiro item do sumário, que reúne todas as matérias que apareceram
na capa da edição. “Amor e sexo” ganham seu espaço e deixam de fazer parte da antiga
seção “Artigos e Reportagens”. As celebridades conquistam seu espaço em “Gente
famosa”, assim como “Sempre em Nova” passa a se chamar “Mais”. “Culinária e
decoração” não sofrem alterações.
As matérias de política deixam de ser publicadas no primeiro semestre de 1996.
As primeiras edições de Nova deste ano ainda apresentam matérias sobre política. Em
fevereiro de 1996, por exemplo, uma reportagem publicada na página 31 fala sobre “as
escutas que abalaram governos”. A última matéria sobre o assunto política que
encontramos foi na página 38 da edição de abril: “Entre o poder e a paixão: a difícil
escolha dos governantes”. De abril de 1996 em diante, a seção “Política” que sempre
aparecia no índice em “Sempre em Nova”, deixou de existir.
no início de 2005, não podemos observar grandes mudanças em relação as
edições de 2000. Sete editorias são mantidas da mesma forma, porém “Culinária e
Decoração” deixa de existir, evidenciando uma mudança no comportamento da “Mulher
de Nova” que provavelmente perdeu o interesse nos afazeres domésticos.
A partir da edição de aniversário de Nova, em setembro de 2005, uma nova
editoria aparece: “É quente, é nova”, com reportagens e artigos sobre sexo e
comportamento.
A única mudança significativa que podemos observar foi a exclusão de matérias
de culinária e decoração, o que acompanha o ingresso da mulher no mercado de
42
trabalho. As outras editorias, apesar de terem mudado de nome no sumário das edições,
permaneceram inalteradas. As matérias de comportamento e sexo seguem sendo o eixo
central da revista no período analisado.
As mulheres deixaram os afazeres domésticos e foram em busca de colocações
no mercado de trabalho, o que motivou a inserção de novas matérias sobre trabalho e
empreendedorismo. Apesar do caráter inovador, muitas matérias ainda têm enfoque
superficial e dão conta de assuntos como as roupas que a mulher deve vestir no trabalho
para ter mais sucesso, por exemplo.
Quanto ao número de páginas dos três períodos, as edições de 2000 foram as
maiores. As edições de janeiro de 1995, 2000 e 2005, por exemplo, apresentaram 142,
154 e 122 páginas respectivamente. Em junho de 1995, edição especial do Dia dos
Namorados, Nova teve 194 páginas, enquanto a edição de junho de 2000 teve 212 e a de
2005, 182. Na edição de aniversário (setembro), a edição de 2000 contou com 226
páginas. Em setembro de 1995, foram 218, um pouco mais que em 2005, uma edição
com 182 páginas. A proporção se manteve nas outras edições do período.
Nas capas brasileiras não identificamos diferenças significativas no período
analisado. Os destaques para “sexo” permaneceram nos três anos analisados, assim
como chamadas para matérias que tratam de amor e relacionamento. As capas de
janeiro, por exemplo, apresentaram três modelos em traje de banho: Letícia Spiller,
Melanie Bitti e Luziana Gimenez. As capas de 2000 e 2005 trazem destaque para dicas
de verão com dietas para que a mulher possa ter um corpo mais bonito. As três edições
têm chamada principal no canto esquerdo sobre sexo.
Capas das edições de Nova de janeiro de 1995, 2000 e 2005
43
Cosmopolitan no mundo
Analisando as edições de outros países da revista Cosmopolitan, é possível
observar diversas semelhanças. As edições de janeiro de 2006 da França, da Espanha e
de Portugal trazem a mesma foto na capa, variando apenas a cor do fundo e a cor da
fonte que imprime o nome da revista.
As três revistas apresentam entrevistas com Eva Longoria, estrela de uma série
de televisão. Nas edições francesa e portuguesa, há destaque para a entrevista remetendo
ao nome da rie. Na espanhola, o apelo é maior. A chamada é: “Eva Longoria nos fala
de sexo...”.
Tal semelhança talvez possa ser atribuída à globalização e ao acesso remoto à
Internet. Hoje, também, programas de TV a cabo são exibidos, com diferenças de
poucas semanas, em diversos países. Os filmes têm lançamento quase simultâneo em
todas os continentes. Atores, cantores e outras celebridades podem ganhar o mundo em
poucos instantes. Eva Longoria, por exemplo, é protagonista de um seriado que foi
exibido em muitos países e foi sucesso de crítica.
Capas das edições da França, da Espanha e de Portugal – janeiro de 2006
Com destaque para o guia astrológico com previsões para o novo ano que se
inicia, as edições da Alemanha, Inglaterra, França e Espanha tornam-se muito parecidas
com a edição brasileira.
Nas capas das edições analisadas, de janeiro de 2006, há fórmulas e receitas para
resolver problemas. O destaque para os testes também é visível. Na Cosmopolitan
francesa há oito destaques na capa, sendo metade deles perguntas que serão respondidas
no interior da revista.
44
Na edição espanhola, a revista se propõe a desvendar os mistérios do homem,
revelando o que pensam, o mistério de sua mente e se, até mesmo, agem de forma séria
ou se estão brincando. A edição também conta à leitora porque ela está “sempre
cansada”. Um teste mostrará se a leitora se deixa influenciar por outras pessoas. É
curioso esse teste, levando-se em consideração que a própria revista está tentando
influenciar a mulher em quase todos os tópicos citados na capa, inclusive no guia
astrológico que traz as previsões de saúde, dinheiro e amor para todos os signos.
Capas das edições da Inglaterra e da Alemanha – janeiro de 2006
A edição portuguesa evidencia a dominação masculina na chamada “Mulheres
em cima Mostre-lhe quem manda esta noite entre lençóis”. Além de dar a receita para
que a mulher tenha a oportunidade de não ser dominada por uma única noite, a chance
de a mulher conseguir isso é sexualmente. Para as mulheres que trabalham, a chamada
direta anuncia e ressalta a função da revista de guiar os passos da leitora, como se os
conselhos fossem infalíveis: “carreira – erros que não pode cometer”.
Em outros tópicos, também há emprego de imperativo. Até para as promessas de
Ano Novo sugeridas, a revista indica: 7 promessas a cumprir – Repita conosco: “eu vou
conseguir”. Outro destaque da capa é a o teste “Ele estará interessado?”, seguido da
ordem: “Se tem dúvidas, esqueça-o de vez”.
A edição inglesa traz mais chamadas na capa que as outras edições européias
analisadas. O guia astrológico anunciado na capa vem acompanhado da previsão para
todas as leitoras: “Este é o ano que você vai conseguir o emprego, o homem, o dinheiro
45
e o sexo”. Uma das matérias anunciadas pela revista na capa mostra como a leitora pode
triplicar seus orgasmos.
As mesmas receitas sugeridas pela Cosmopolitan brasileira para atingir sucesso
e conquistar felicidade estão presentes nas edições inglesa, portuguesa, espanhola,
francesa e alemã. Nas revistas são ditadas fórmulas a serem seguidas pela leitora, que
ainda não sabe quem é ao certo, sendo submetida constantemente a testes e perguntas
para que possa se conhecer melhor.
Assim como nas edições brasileiras, encontramos destaques para o assunto
“sexo” em diversas capas da Cosmopolitan russa de 2006 e 2007. As capas apresentam
muitas semelhanças no estilo brasileiro na diagramação e nas cores utilizadas.
Capas das edições russas de dezembro de 2006, fevereiro de 2006, julho de 2006,
abril de 2007, junho de 2007 e outubro de 2007
Apesar de Cosmopolitan ser publicada em países com características culturais,
históricas e econômicas muito distintas, não grande diferenciação no padrão das
capas, talvez pela nossa hipótese anterior sobre a globalização de ídolos. Chamadas com
apelo para sexo, mulheres famosas insinuantes e cores contrastantes estão presentes nas
capas em todas as partes do planeta. Falar de sexo abertamente é uma das marcas de
Cosmopolitan.
46
Podemos observar a padronização da diagramação, em que o título aparece
sempre destacado no topo da capa, ocupando em letras maiúsculas todo o espaço
horizontal. No centro da capa, em uma proporção de aproximadamente 50% do espaço,
sempre uma artista (na maioria das vezes, modelo, cantora ou atriz) visivelmente
produzida para a ocasião. A cada mês, novas cores são utilizadas. O título
Cosmopolitané utilizado em outra cor, contrastando com o fundo da capa, a cor das
chamadas das matérias e as roupas da modelo. O estilo da diagramação é o mesmo, mas
a variação de cores parece querer indiciar que há alguma diferença nas capas.
Se desconsiderássemos o idioma das chamadas nas capas, não seria possível
distinguir a qual país pertence cada edição da Cosmopolitan. Em todos os exemplos
listados a seguir, encontramos mulheres com o mesmo padrão físico e diagramação das
capas similares (mantendo a proporção do título, da modelo e das chamadas). São capas
de edições recentes (todas de 2007) de diversos países. Alguns países apresentaram a
mesma modelo. Em muitos casos, é a mesma foto. Em outros, apenas uma variação da
posição da modelo, como Rússia, Ucrânia, Austrália, Polônia e Países Baixos.
República Tcheca Rússia Finlândia
Grécia Israel Lituânia
47
Sérvia e Montenegro Coréia Eslovênia
África do Sul Ucrânia Hungria
Índia Austrália Polônia
48
Estônia Países Baixos Chile
A padronização das capas fica evidente também nas edições da Finlândia, Sérvia
e Montenegro e Estônia. A única capa que encontramos que não segue o mesmo estilo
de diagramação e não apresenta fotos de modelos que tentam realçar suas curvas é a
edição de Hong Kong
37
. No exemplo a seguir, apresentamos a capa da edição de
outubro de 2007, que traz uma modelo em posição totalmente vertical sem nenhuma
tentativa de valorização de curvas e com roupas que cobrem praticamente todo o seu
corpo, deixando apenas o pescoço aparecer na foto. A roupa também é diferenciada, se
compararmos com as demais capas listadas, e apresenta cores mais sóbrias.
Edição de outubro de 2007 da Cosmopolitan de Hong Kong
37
Antiga colônia britânica, agora administrada pela China. Considerada como uma região administrativa
especial chinesa, Hong Kong segue suas próprias leis, tem sua moeda e até mesmo um código de trânsito
diferenciado. Acreditamos que a diferença na capa da Cosmopolitan esteja relacionada com a moda local
e a costumes sociais muito mais rígidos que os ocidentais. Buscamos outras informações sobre moda e a
condição feminina no local, mas não nos aprofundamos na questão. Em vários artigos, observamos que o
típico físico mais exaltado é o magro, sem nenhuma curva.
49
A revista Nova no Brasil segue a mesma fórmula mundial da Cosmopolitan, com
modelos ressaltando seus corpos na capa e diagramação com destaque para os assuntos
de sexo e comportamento. As seções de Nova acompanham a tendência mundial
discutida neste capítulo, mantendo como enfoque as matérias que oferecem a
oportunidade de a leitora se sentir inserida na sociedade, seja pela mudança de seu
comportamento ou pela compra dos produtos anunciados.
A maneira como Nova oferece soluções publicitárias para que a leitora possa se
sentir mais feliz e parecida com outras mulheres bem-sucedidas é tema do próximo
capítulo deste trabalho. Discutiremos, também, como características da cultura do
narcisismo e da sociedade do espetáculo estão presentes na publicação.
50
Capítulo 2 – A identidade feminina e a cultura do narcisismo na revista Nova
O ser humano, quando questionado sobre suas perspectivas, traz evidências para
a confirmação que o mundo contemporâneo o futuro sem esperança. A ausência de
vínculo com o quadro político do mundo visível nas matérias da revista Nova poderia
ser o indício da crescente falta de vontade do cidadão de participar do sistema político
como consumidor de espetáculos pré-fabricados.
As matérias anunciadas nas capas aparecem sem nenhum contexto temporal. No
máximo, encontramos referências ao ano (no caso das previsões astrológicas), aos
aniversários da revista e às estações do ano, especialmente antes do verão quando a
leitora deve começar a “contagem regressiva para entrar no biquíni”. Porém, nenhum
grande acontecimento do país ganha espaço nas capas de Nova.
O pouco interesse pelo passado justifica o fato de todas as edições repetirem a
mesma coisa. As matérias propõem ações que trazem resultados imediatos e a curto
prazo. As necessidades, no mês seguinte, já parecem ser outras.
Nova promete resolver todos os problemas femininos em cada edição. Promessas
como “sexo como você nunca viu antes” são desmentidas na última página da mesma
edição, onde são anunciados os assuntos da próxima revista. A capa da edição de agosto
de 2005 traz a chamada “100% orgasmo”, com “o mais completo, eficaz, esclarecedor,
bombástico dossiê o que você sempre quis saber [e sentir] e o que nem imagina: ímã
que facilita, adesivo que intensifica, gel que acelera...”.
Nas últimas páginas dessa mesma edição, uma página com os destaques da
edição seguinte, de setembro de 2005. A matéria principal é “Sexo nas nuvens”, em que
Nova vai desvendar para você o sublime prazer de povos do Oriente e mostrar até onde
o sexo tântrico, o Kama Sutra e a ioga podem levá-la junto com seu homem”.
Enquanto a capa da edição anuncia que traz o mais completo dossiê sobre o
sexo, quando acaba de ler a revista, a leitora se depara com algo sobre o assunto que não
estava no dossiê completo. Apenas adquirindo o próximo exemplar, poderá
“experimentar – e levitar”.
Para Lasch (1983), o novo narcisista é perseguido pela ansiedade, o que
justificaria a existência de tantas matérias que prometem dar fim a todos os problemas,
mesmo que os problemas voltem a figurar nas páginas da próxima edição. Como o novo
narcisista está perpetuamente insatisfeito, não é difícil apresentar problemas e suas
51
soluções a curto prazo. Um dos principais temores do narcisista é o envelhecimento.
Uma luta contra a própria natureza é travada constantemente.
Em uma sociedade que tem horror à velhice e à morte, o
envelhecimento implica um terror especial para os que
temem a dependência e cuja auto-estima requer a admiração
geralmente reservada à juventude, à beleza, à celebridade ou
ao encanto pessoal. (Lasch, 1983, página 66)
O autor defende que o narcisista não tem capacidade para apreciar a vida em um
processo que envolve crescente identificação com a felicidade e as realizações de outras
pessoas. Renata Salecl reafirma o temor em relação ao tempo do homem
contemporâneo:
Não é difícil concordar com a idéia de que envelhecer parece
alguma coisa inaceitável e dramática na sociedade de hoje.
Podemos até mesmo dizer que envelhecer, também, se
mostra uma questão de escolha – resta a cada indivíduo
“fazer” alguma coisa contra o envelhecimento, ou melhor,
não mostrar seus sinais, assim como seguir as muitas
soluções propostas para como prevenir a morte. (Salecl,
2005, página 26)
Para essa aflição contemporânea, Nova tem a solução. Em suas matérias, oferece
até mesmo o impossível, que é deixar a mulher mais jovem. A leitora de Nova, assim
como o novo narcisista, está aterrorizada irracionalmente com a possibilidade de
envelhecer. “Por ter o narcisista tão poucos recursos interiores, ele olha para os outros
para validar seu senso do eu. Precisa ser admirado por sua beleza, encanto, celebridade
ou poder atributos que geralmente declinam com o tempo”, explica Lasch (1983,
página 254).
O novo narcisista o mundo sem esperança e procura encontrar respostas para
sua existência. A revista Nova não apresenta as respostas como cria os próprios
questionamentos sobre quem é a leitora, o que pretende ou qual será seu futuro.
Na revista Nova é mostrado tudo o que as mulheres ainda não têm e,
conseqüentemente, ainda não são. Na seção “Fala!” de fevereiro de 2000, a leitora
Regina Rezende, relações-públicas de São Paulo, conta como a revista sempre a ajudou
a resolver seus dilemas. Sob o título “força motriz” e ao lado de sua foto, Regina diz:
52
Nova me viu casar, separar, engravidar, deixar o Rio de
Janeiro, mudar para São Paulo, namorar um homem nove
anos mais novo (e penar nas mãos da família dele), enfrentar
desafios profissionais... e vencer! Mas, quando cheguei perto
dos 30 anos, mergulhei numa depressão profunda. Parecia
que nada dava certo. Foi então que vocês publicaram a
reportagem ‘74 coisas que você já devia ter feito aos 30
anos’ (Nova/dez 95). Nunca poderia imaginar que ler o texto
ia ser mais útil do que consultar um psicólogo! Vi que já
havia realizado muita coisa e que podia, sim, ir em frente e
voltar a ser dona do meu nariz. Como sempre, a revista me
guiou, mostrando que eu era uma mulher comum, com suas
conquistas e derrotas.
38
A matéria que teria dado nova direção à vida de Regina Rezende traz 74 itens
genéricos e bem questionáveis. Entre eles, “apaixonar-se pelo homem certo”, “assaltar a
geladeira no meio da noite”, “arriscar a sorte na loteria”, “sentir vontade de ter um
filho”, “fumar na frente do seu pai”, “beijar alguém debaixo d´água” e até mesmo
“entrar em uma academia de ginástica para lutar contra a lei da gravidade”.
Nas edições, apenas os produtos são oferecidos, distantes de qualquer realidade e
sem qualquer conexão com o mundo externo da revista. No momento da leitura,
existe a relação entre a “Mulher de Nova e o produto indicado pela revista. Não há
nada além da relação das matérias com os produtos, o que, segundo os conceitos de
Debord, constituiria um espetáculo. Para o autor,
o espetáculo é o momento em que a mercadoria ocupa
totalmente a vida social. Não apenas a relação com a
mercadoria é visível, mas não se consegue ver nada além
dela: o mundo que se vê é o seu mundo. (1997, página 30)
É na mercadoria que a leitora encontrará a resposta para as suas dúvidas. Ao
comprar a mercadoria anunciada, terá a chance de se conectar com o mundo anunciado
na revista. E não os produtos anunciados formam o espetáculo. A própria revista não
nada além dela: cria necessidades para oferecer respostas na edição seguinte. O
mundo de quem consome a revista está fechado na revista. A relação com a revista é
maior que a relação da leitora com o mundo exterior.
38
Carta publicada na página 22 da edição de Nova de fevereiro de 2000 (nº 2, ano 28).
53
A “Mulher de Nova” não existe fora da Nova. A leitora não compra uma revista
e sim a possibilidade de ter mais prazer no sexo, a chance de parecer a artista da capa ou
a promessa de ser mais feliz. Quando compra a mercadoria anunciada em Nova, não
está preocupada com a formulação química do creme, mas na oportunidade de se tornar
parecida com a estrela da capa.
Nova ajuda todas as leitoras a alcançarem seus sonhos, inclusive as artistas,
como revela a atriz Gabriela Duarte, capa da edição de junho de 2005. A matéria, de
quatro páginas (130-3), comemora o fato de Gabriela ter superado as expectativas de
todos que apostavam que ela substituiria sua mãe, Regina Duarte, no papel de
Namoradinha do Brasil. Segundo a revista, “a moça provou que pode muito mais”.
Ganhou o título da publicação de “Namoradona!”.
Nova – junho de 2005 – páginas 130 e 131
O segredo para ter ultrapassado as expectativas foi ter conquistado “bons
personagens” e, o mais importante, “uma paixão avassaladora”. O destaque é que “os
dois se conheceram numa sessão de fotos para Nova”.
As duas primeiras páginas trazem esta revelação e uma grande foto da atriz. Na
terceira página, ao lado de outra foto de Gabriela, o título diz: Nova é cupido”, com o
depoimento da atriz contando como se apaixonou pelo fotógrafo da revista. Apesar de
ter conhecido o rapaz nesse dia, Gabriela Duarte conta que foram ficar juntos três
anos depois.
54
A revista confere a felicidade da atriz medindo sua paixão. Diz o início da
matéria: “A gente logo percebe que Gabriela Duarte está nas nuvens, de tão apaixonada.
para notar o brilho dos olhos, pelo ar sereno e pelo jeito dengoso de falar do
namorado, o fotógrafo Jairo Goudflus, de 36 anos”.
Em Nova, a mulher dificilmente encontra sua felicidade sozinha. É preciso
arrumar um companheiro, mas apenas lendo a revista e seguindo seus conselhos, a
leitora o conseguirá. As necessidades e os anseios de todas as leitoras seriam únicos.
Acompanhar a vida das celebridades e agir de uma maneira predeterminada pela
publicação para ser feliz representam a chance de alcançar a mesma felicidade e o
sucesso que aparenta o artista em destaque na edição. Chiavenato (1998, páginas 55-6)
ressalta que no mundo atual a distância entre “viver” e “sentir” é cada vez maior:
“Quanto mais uniforme é o ‘sentir’, mais desigual é o ‘viver’”.
Os ícones reconhecidos como ídolos são cada vez mais utilizados para que sejam
admirados, amados ou até mesmo odiados, diz Chiavenato. Buscar a identificação com
alguém que detenha poder, por exemplo, é encontrar uma chance de estar mais próximo
do sonho de felicidade, presente na imaginação popular na sociedade atual, que o autor
chama de sociedade de consumo.
Música, cinema, esporte, política, tragédia ou eventos
felizes, o importante é que esses acontecimentos, ao
se transformarem em notícia ou entretenimento a
mensagem –, estimulem reações uniformes, “cimentando” as
mais diferentes culturas no mesmo processo globalizador. A
aceitação da mensagem globalizada implica colonialismo
cultural, apatia política e, por fim, porém não menos
importante, consumismo embutido no culto dos ícones.
(Chiavenato, página 56)
O desejo da leitora é ser única, mesmo que para isso tenha de se adaptar a um
modelo estabelecido pela publicação. Ter a possibilidade de escolher qual produto
pretende comprar passa a idéia libertadora de respeito à opinião e aos desejos da
consumidora. Porém, ela escolhe entre produtos similares, de eficácia não comprovada e
que prometem sempre os mesmos milagres transformadores.
Debord (1997, página 33) afirma que o consumidor real torna-se consumidor de
ilusões: “A mercadoria é essa ilusão efetivamente real, e o espetáculo é sua
55
manifestação geral”. Faz parte do espetáculo o consumidor acreditar que está fazendo
suas escolhas.
A falsa escolha em meio à abundância espetacular, escolha
que reside na justaposição de espetáculos concorrentes e
solidários e na justaposição dos papéis (principalmente
expressos e incorporados por objetos) que são ao mesmo
tempo exclusivos e imbricados, desenvolve-se como luta de
qualidades fantasmáticas destinadas a açular a adesão à
banalidade quantitativa (Debord, 1997, página 41)
A leitora não tem o que precisa e ainda não é o que deveria ser. A insatisfação
torna-se uma lacuna perfeita para a publicidade. A própria insatisfação torna-se
mercadoria.
Ao agir como a revista orienta e comprar os produtos sugeridos, a leitora tem a
oportunidade de se transformar na “Mulher de Nova”. Seguindo as regras e com os
produtos certos, qualquer mulher pode se tornar linda, independente, feliz e, o mais
importante: diferente de todas.
Os meios de comunicação de massa, com seu culto da
celebridade e sua tentativa de cercá-la de encantamento e
excitação, fizeram dos americanos uma nação de fãs, de
freqüentadores de cinema. A “mídia” substância e, por
conseguinte, intensifica os sonhos narcisistas de fama e
glória, encoraja o homem comum a identificar-se com as
estrelas e a odiar o “rebanho”, e torna cada vez mais difícil
para ele aceitar a banalidade da vida cotidiana. (Lasch, 1983,
página 43)
As mercadorias anunciadas impõem-se como únicas. Cada produto apresenta sua
especificidade. Todos estão inseridos em uma revista que também aposta em sua
diferença, mesmo se definindo de forma muito similar a outras publicações voltadas ao
universo feminino. Os produtos similares encontram nas publicações femininas a
oportunidade de ressaltarem suas mínimas diferenças.
Ondas de entusiasmo por determinado produto, apoiado e
lançado por todos os meios de comunicação, propagam-se
com grande rapidez. Um estilo de roupa surge de um filme;
uma revista lança lugares da moda, que por sua vez lançam
as mais variadas promoções. No momento em que a massa
de mercadorias caminha para a aberração, a engenhoca é a
56
expressão do fato de o próprio aberrante tornar-se uma
mercadoria especial. (Debord, 1997, página 45)
O consumismo é a solução para tudo. O indivíduo, tomado pela ansiedade de
ainda não estar plenamente feliz, procura meios para alcançar o sucesso. A leitora
encontra nas ginas de Nova diversas opções de produtos que poderão ajudá-la a lutar
contra o tempo e a conquistar um companheiro. A liberação sexual e a falta de
proibições aumentam a ansiedade da leitora. Para Buitoni, a revista
é um produto que veio suprir uma lacuna no mercado e que
vem ao encontro da estratégia de segmentação. Nem sempre
o ideal de valorização da mulher apregoado em suas páginas
se confirma; às vezes, o consumismo surge como remédio
para tudo. Além disso, a pressão por uma maior liberação
sexual não deixa de ser mais uma imposição a que a mulher
tem de se submeter. (Buitoni, 1986, página 51)
Livre das proibições de ter prazer impostas anteriormente pela sociedade, a
mulher passa a procurar o grau máximo de prazer, o que a torna novamente presa a
modelos impostos. Apenas ao alcançar o grau máximo de prazer, ela acredita que
poderá ser feliz. É na revista que a leitora vai buscar novas regras para seguir e vai
encontrar uma nova forma de autoridade.
A leitora pretende alcançar a felicidade e eliminar a ansiedade da busca, porém
os objetivos são cada vez mais inatingíveis. Ao mesmo tempo que não quer limites para
seu prazer, sofre por não ter certeza que ainda não atingiu o limite máximo.
De um lado, o sujeito cada vez mais procura por novas
formas de prazer e assim está sob a constante pressão do
consumo (que tristemente, muitas vezes o leva ao consumo
de si mesmo), mas, por outro, o sujeito procura
desesperadamente novas formas de limites sociais. A
autoproibição abre as portas para novas formas de
desespero. E com a falta de autoridades tradicionais, o
sujeito não parece estar próximo da “felicidade”. Ele procura
desesperadamente por novas autoridades. (Salecl, 2005,
página 49)
Para a autora, essa busca desesperada por novas autoridades fortalece a criação
de novos títulos de auto-ajuda e aconselhamento. A falta de proibições encaminharia as
57
pessoas para uma busca incessante pelo prazer. De acordo com Salecl, Cosmopolitan
estimula esta busca do prazer sem fim:
Observando a fala da mídia sobre a sexualidade hoje, não é
difícil observar que poucas coisas que são proibidas (com
a exceção da pedofilia, incesto e abuso sexual), enquanto há
uma opressora pressão pela “busca do prazer”. A
transgressão sexual é marcada como a última forma de
prazer possível. A idéia é a de que se alguém trabalhar nela,
aprender seus truques e praticá-la sem descanso, não
limites para a satisfação que uma pessoa pode atingir. A
revista Cosmopolitan encoraja aqueles que não dominaram
ainda as novas técnicas do prazer sem fim a se matricularem
em escolas de sexo. (2005, página 45)
O Banho de Nova e a construção do corpo-imagem
Entre as características da “Mulher de Novaesmuito presente a busca pela
perfeição física. Na verdade, é a busca pela adequação da mulher a uma série de padrões
impostos pela sociedade atual e repetidos insistentemente pela publicação.
A ausência de qualquer relação das matérias publicadas com o mundo externo à
revista ressalta uma característica interessante: as edições, muito tempo, são muito
parecidas. Observando as capas das edições de 1995, 2000 e 2005 não é possível
destacar diferenças entre as mulheres fotografadas na capa da revista. Elas são
maquiadas e fotografadas da mesma forma, sempre com poucas roupas e com a mesma
expressão facial. É difícil diferenciá-las. Qualquer artista pode ser transformada em a
“Mulher de Nova”. E esse é o sonho de muitas leitoras.
A seção “Banho de Nova” recebe várias cartas de leitoras que desejam passar
pela transformação, que pode trazê-las para os padrões de normalidade. Aline Cassiane
de Oliveira, 23 anos (Nova de agosto de 2000) explica por que se inscreveu: “Já que a
Nova é a minha cara, quero a minha cara na Nova. Foi o que pensei quando me
candidatei a ‘modelo’ da seção. Adorei o resultado”.
A leitora conta que “participar dessa seção foi uma experiência maravilhosa:
arrumar o cabelo, fazer maquiagem, provar roupas divinas...”. Sua maior dificuldade,
segundo ela, foi ficar diante da câmera, mas as dicas da fotógrafa de Nova ajudaram.
58
Como já foi observado anteriormente, para que as leitoras possam se adequar aos
padrões da “Mulher de Nova”, são indicados vários produtos de beleza em todas as
edições. Em muitos casos, não a mínima distinção entre o que é anúncio publicitário
e o que é matéria. A leitora conhece os produtos. As matérias são redigidas acentuando
(ou simulando) a intimidade com as mercadorias.
A edição de agosto de 2005 traz uma matéria de seis páginas destacada na capa
como “mais bonita com menos dinheiro segredos de duas dermatologistas, um
cabelereiro e um maquiador famosos que estão à venda nos supermercados”. A
reportagem começa na página 108 como se os produtos tivessem sido escolhidos por
critérios científicos e não por interesses comerciais. O título é “Os campeões das
prateleiras”. A introdução diz:
Você se perde no corredor de perfumaria do supermercado
ou da farmácia, na maior dúvida sobre qual produto pegar?
Seus problemas acabaram. Nova convidou um cabeleireiro,
um maquiador e duas dermatologistas nota 10 para encarar a
hipervariedade das prateleiras (uma única delas chega a
oferecer mais de 30 marcas de xampu!) e facilitar a sua
escolha.
39
Os profissionais selecionados são descritos como “mestres da beleza que
pinçaram os dez melhores itens das seguintes categorias: corpo, cabelo, rosto e
maquiagem”. Dessa forma, a revista aproxima as consumidoras de seus anunciantes e
ainda garante os resultados: “na sua cesta de compras só vai ter aliados”.
Entre os comentários subjetivos dos profissionais sobre os melhores produtos
eleitos por critérios questionáveis, temos a opinião do cabeleireiro Marco Antônio de
Biaggi para o Mega Mousse Basic Hair, que custa R$ 39: “Para definir os cachos. A
atriz Maria Fernanda Cândido não vive sem”.
Adriana Vilarinho, dermatologista de “beldades como as top Gisele Bündchen e
Isabeli Fontana”, também elegeu seus produtos. Na foto de sua cesta de compras, um
produto chamado de “Anti-cellulite” da Neutrogena (R$ 76) aparece com uma indicação
de “investimento” porque seria capaz de ativar a produção de colágeno.
Ser a dermatologista que cuida da apresentadora Eliana e da cantora Wanessa
Camargo credenciou Ligia Kogos para eleger os melhores produtos para a pele. Os
produtos mais baratos aparecem com promessas menos tentadoras, como o Leite de
Colônia (R$ 4) que “funciona como adstringente para pele normal e seca”. Os mais
39
Texto publicado na página 108 da edição de Nova de agosto de 2005 (nº 8, ano 33).
59
caros parecem ser mais eficazes. É o caso do produto RetinOx Gel Eye da ROC, que
custa R$ 131 e que, segundo a dermatologista das famosas, por ter “retinol puro” apaga
as rugas. Praticamente uma mágica como o Ystheal, da Avène (R$ 143) que basta
aplicar para sentir uma ação antiidade e antiflacidez.
Na seção “Banho de Nova”, as leitoras são transformadas totalmente por
camadas de cosméticos. Todos os produtos milagrosos são listados como se não
houvesse nenhuma novidade, como se fosse óbvio saber que, para ficar linda, toda
mulher usa determinado produto.
Cristiane Guerra passou pela transformação e ficou satisfeita: “Ai, que delícia
levar este banho de beleza. Se eu encontrasse um gênio da lâmpada, pediria para ter a
equipe da Nova trabalhando em casa todo dia”, afirmou a leitora, que ocupa a página
44 da edição de janeiro de 2000. Porém, o trabalho de Robin Garcia, maquiador e
cabeleireiro, é peça dispensável para ficar bonita. O segredo é comprar os produtos
certos. Qualquer mulher pode. Sobre o cabelo de Cristiane, Nova explica:
As mechas finas foram feitas com Blond Dimension, da
Redken. Para suavizar a cor dos reflexos, ele utilizou o
tonalizante castanho-claro (Shades EQ, também da Redken).
`Usei o mesmo produto para clarear as sobrancelhas, conta
Robin´. Em seguida, o cabelo foi lavado com a linha Seda
DNA, da Elida Gibbs. Antes da escova, Robin aplicou um
produto que volume, brilho e protege os fios, o The Heat,
de Paul Mitchell.
40
A transformação do corpo seria a chance de recomeçar uma nova vida. Para
Maria Rita Kehl, investir no corpo é tentar garantir a aceitação e a inclusão social na
cultura do narcisimo.
O corpo-imagem que você apresenta ao espelho da
sociedade vai determinar sua felicidade não por despertar o
desejo ou o amor de alguém, mas por constituir o objeto
privilegiado do seu amor-próprio: a tão propalada auto-
estima, a que se reduziram todas as questão subjetivas na
cultura do narcisimo. (Kehl, 2004, páginas 174-5)
40
Texto publicado na página 44 da edição de Nova de janeiro de 2000 (nº 1, ano 28).
60
Nova – janeiro de 2000 – página 44
Segundo Debord (1997, página 45), o consumidor, quando atinge o estágio do
uso fundamental da submissão, exibe a prova de sua intimidade com a mercadoria:
“Como nos arroubos dos que entram em transe ou dos agraciados por milagres do velho
fetichismo religioso, o fetichismo da mercadoria atinge momentos de excitação
fervorosa”.
O produto perde seu caráter prestigioso quando passa pelas ginas da revista e
deixa as prateleiras do mercado. Debord afirma que o objeto que era prestigioso no
espetáculo torna-se vulgar na hora em que entra na casa do consumidor ao mesmo
tempo em que na casa de todos os outros.
Deixa de ser a ponte para que a mulher se torne diferente do que é e, ao mesmo
tempo, parecida com uma artista, quando perde seu poder singular e a consumidora nota
que a massa também pode adquiri-lo facilmente em virtude de uma produção em série.
Nesse momento, um novo produto é apresentado para que a consumidora retome a
sensação de ser a única a aproveitar a “dica” da revista. “Cada nova mentira da
publicidade é também a confissão da mentira anterior”, diz Debord (1997, página 47).
61
Os produtos são anunciados como a solução para todos os problemas, até mesmo
para a mulher se sentir mais independente, ressaltando seu sucesso perante a sociedade.
Não o mínimo questionamento sobre a eficácia dos produtos e sim o respaldo da
revista assegurando que a propaganda é verdadeira. Não fatos objetivos
comprovando quais propriedades de determinado produto agem no organismo da
consumidora para atingir o objetivo anunciado e sim há artistas dando seus depoimentos
de como são bonitas e felizes usando aqueles produtos. Lasch (1983, página 105)
acredita que, nos meios de comunicação de massa, “a verdade cedeu lugar à
credibilidade, os fatos às declarações, que soam autoritárias sem transmitir quaisquer
informações autoritárias”. Como a revista atingiu credibilidade entre as leitoras, é mais
importante Nova validar o produto anunciado do que demonstrarem estudos que
comprovam a eficiência.
É indiscutível que homens e mulheres têm o direito de ocupar seus espaços no
mercado de trabalho. As matérias não tratam mais destas discussões e não questionam
como, por exemplo, os salários das mulheres ainda costumam ser mais baixos na
sociedade atual. Nova apenas procura ensinar como as leitoras devem se comportar no
mercado de trabalho. Não existe mais a necessidade de repetir que as mulheres têm
direitos iguais, mesmo que isso ainda não seja uma realidade.
As razões para a recente intensificação do combate sexual
repousam na transformação do capitalismo, de sua forma
paternalista e familiar, em um sistema administrativo,
empresarial e burocrático de controle quase total: mais
especificamente, no colapso do “cavalheirismo”; a liberação
do sexo de muitas de suas restrições anteriores; a busca do
prazer sexual com um fim em si mesmo; a sobrecarga
emocional das relações pessoais; e mais importante de tudo,
a resposta masculina irracional à emergência da mulher
liberada. (Lasch, 1983, página 231)
A leitora começa a viver um paradoxo entre ser uma mulher ativa sexualmente e
um passivo objeto de prazer. A imagem apresentada na revista Nova não é tão diferente
da mulher que ocupa a capa da revista masculina, por tanto tempo criticada pelo
movimento feminista. Com poucas roupas, apresenta seu corpo como mercadoria a ser
admirada, ou quem sabe copiada, por outras mulheres.
A afirmação da sexualidade feminina reduz-se ao uso do
poder de sedução como a arma essencialmente feminina.
62
Não tão despida, a mulher-Nova assemelha-se às mulheres
fotografadas nas revistas masculinas. Com uma diferença:
em Nova, a mulher é provocativa porque quer e não apenas
porque o homem assim o deseja: ela é objeto sexual
assumido. A alternativa à imagem tradicional da
mãe/esposa/dona de casa é, pois, o objeto sexual que gosta
de seu papel. Cria-se uma mulher paradoxal que, por um
lado, afirma-se sexualmente como mulher ativa e, por outro,
reitera a imagem passiva de objeto de prazer. (Sarti e
Moraes, 1980, página 42)
É a publicação que vai avaliar se ela está agindo corretamente e indicar o que ela
deve fazer de sua vida, quais caminhos deve seguir. Nova liberta a leitora de seu marido
ou companheiro, mas aprisiona a mulher aos produtos anunciados.
A indústria da propaganda encoraja, assim, a pseudo-
emancipação das mulheres, lisonjeando-as com o seu
insinuante lembrete “Você progrediu bastante, menina”, e
disfarçando a liberdade de consumo de genuína autonomia.
Da mesma forma, ela lisonjeia e exalta a juventude, na
esperança de elevar o pessoal jovem ao status de
consumidores desenvolvidos por direito próprio. Cada qual
com um telefone, um aparelho de televisão e um aparelho de
som em seu próprio quarto. A educação” das massas
alterou o equilíbrio de forças dentro da família,
enfraquecendo a autoridade do marido em relação à
mulher e dos pais em relação aos filhos. Ela emancipa
mulheres e crianças da autoridade patriarcal, contudo,
somente para sujeitá-las ao novo paternalismo da indústria
da publicidade, da corporação industrial e do Estado. (Lasch,
1983, página 104)
Livre da aprovação de um homem, a leitora tem a orientação necessária para se
transformar na “Mulher de Nova”. Para mudar seu comportamento, muitas dicas e
orientações. Quanto à mudança física, basta usar os produtos certos e, caso seja
necessário e seja uma sortuda, passar pelo “Banho de Nova”.
Segundo a revista, todo mundo quer ter esta transformação. A mulher recebe
uma série de produtos que a transforma em uma mulher forte, independente e feliz. Os
63
efeitos são anunciados como duradouros, mas a maioria dos produtos utilizados no
milagre irão embora com um simples banho de água.
Em “Notícias da Redação” (página 16) da edição de março de 2000, o tema é “O
sucesso do Banho de Nova!”, editorial que comenta o sucesso da seção depois de quatro
meses de sua criação. “Em apenas quatro meses, cerca de 1.000 leitoras entraram em
contato com a redação, falando da vontade de participar dessa seção (que começou
assim mesmo, com uma carta de leitora). A nossa alegria é enorme, ao ver que
acertamos em cheio ao criar essa página”, comemora a revista.
O objetivo do editorial é falar da dificuldade em atender a todos os pedidos:
“Mas, ao mesmo tempo, estamos convivendo com a agonia de não poder atender todas.
Imagine só: é uma por mês, apenas doze por ano!”. Apesar da dificuldade, Nova
acrescenta que é preciso continuar tentando: “Mas não perca a esperança, continue
mandando suas cartas. Estamos estudando uma maneira de conseguir realizar seu
sonho”. Anos depois, a seção continua da mesma maneira. Apenas uma felizarda por
mês tem a chance de realizar esse sonho.
O texto inclui ainda o nome dos profissionais que trabalham na transformação da
leitora e destaca a sorte da escolhida da edição de março de 2000. O empenho dos
profissionais garantiu a transformação da leitora Penelope Seppe, que a revista classifica
como “cinderela do Banho de Nova”.
A “cinderela” Penelope aprovou sua transformação: “Assim como toda mulher,
tenho os meus complexos: perna fina, pouca cintura... Mas Nova conseguiu realçar o
que tenho de melhor”, diz uma foto-legenda com a primeira foto de Penelope
carregando livros do curso de Direito, ao lado da imagem da estudante seminua depois
da transformação. A publicação faz questão de realçar que ensina sua leitora a
aproveitar o que tem de melhor e isso está sempre relacionado à aparência física.
“Sou tão vaidosa que até me apelidaram de Penelope Charmosa. Já havia
experimentado muitos penteados e maquiagens, mas nunca me vi assim tão poderosa.
Agora preciso conferir em casa se aprendi todas as lições de Nova”, diz a estudante.
Depois da transformação, a estudante aparece na foto sem os livros do curso, como se
para uma mulher bonita não fosse mais preciso estudar para alcançar seus objetivos.
Para as outras leitoras terem a oportunidade de realçarem o que tem de melhor, Nova
recomenda produtos para o cabelo e para maquiagem.
Todos os meses uma celebridade também passa por esse banho e se transforma
na “Mulher de Nova”, que ilustra a capa da edição. A leitora, que se considera uma
64
“Mulher de Nova”, pode enxergar que a celebridade se transformou para virar essa
mesma personagem. A aproximação entre leitora e celebridade fica ainda mais estreita.
Para ser fotografada, a celebridade usa os mesmos produtos que a leitora compra.
Lasch (1983, página 44) afirma que “em sua vacuidade e insignificância, o homem de
capacidades comuns tenta aquecer-se com o brilho refletido pelas estrelas”.
Segundo Debord, destacar a imagem da celebridade (que ele define como vedete
do espetáculo) é a oportunidade de oferecer identificação ao ser humano comum com
vários estilos de vida.
A vedete do espetáculo, a representação espetacular do
homem vivo, ao concentrar em si a imagem de um papel
possível, concentra pois essa banalidade. A condição de
vedete é a especialização do vivido aparente, o objeto de
identificação com a vida aparente sem profundidade, que
deve compensar o estilhaçamento das especializações
produtivas de fato vividas. As vedetes existem para
representar tipos variados de estilos de vida e de estilos de
compreensão da sociedade, livres para agir globalmente.
Elas encarnam o resultado inacessível do trabalho social,
imitando subprodutos desse trabalho que são magicamente
transferidos acima dela como sua finalidade: o poder e as
férias, a decisão e o consumo que estão no início e no fim de
um processo indiscutido. (Debord, 1997, página 40)
O sonho de transformar-se em uma celebridade torna-se mais atingível, assim
como o sonho de ficar idêntica à “Mulher de Nova”, com a popularização de programas
de estilo reality show (como “Big Brother Brasil”), que criam artistas em apenas 90
dias. As pessoas deixam os programas como ídolos e passam a figurar nas capas de
revistas. A chance de ser famoso, desta forma, é oferecida para todos, mas alcançada
apenas pelos privilegiados pela sorte.
A ideologia se esconde no cálculo de probabilidade. A
felicidade não deve chegar para todos, mas para quem tira a
sorte, ou melhor, para quem é designado por uma potência
superior – na maioria das vezes a própria indústria do prazer,
que é incessantemente apresentada como estando em busca
dessa pessoa. (Adorno e Horkheimer, 1985, página 135)
65
A leitora, na verdade, não quer ficar parecida com a artista, ela quer ser uma
celebridade. Lasch explica que na sociedade contemporânea o sonho do sucesso foi
esvaziado de qualquer sentido além do seu próprio. Os seres humanos não têm outra
medida para o seu sucesso, além do sucesso dos outros.
Hoje em dia, os homens buscam o tipo de aprovação que
aplaude não suas ações, mas seus atributos pessoais.
Desejam não tanto ser estimados, mas sim admirados.
Desejam não a fama, mas o fascínio e a excitação da
celebridade. Querem, antes, ser invejados do que
respeitados. O orgulho e a ganância, os pecados do
capitalismo ascendente, deram lugar à vaidade. (Lasch,
1983, página 87)
A capa de maio de 2000 traz Luma de Oliveira, pela quinta vez fotografada por
Nova. O editorial da edição é aberto com o título “Luma na versão 2000 – mais linda do
que nunca”. Luma é elogiada por sua capacidade de fazer algo improvável. “Quando a
gente olha esta sucessão de capas que Luma fez para Nova, não pode deixar de
admirar, com um tiquinho de inveja, a maneira como ela, gloriosa, está dando uma
rasteira no tempo”, ressalta o texto.
A maior glória de Luma, segundo a revista, é enganar o tempo e permanecer
bonita. A leitora poderia aprender, lendo a entrevista, como driblar a velhice. O texto
revela quais poderiam ser os segredos de manter a beleza inabalável:
Talvez seja pela simplicidade e simpatia, que não foram
destruídas pela fama. Ou pela garra com que sempre foi
buscar tudo o que quis. Quem sabe foi por causa da
maternidade, que iluminou ainda mais seus olhos, sem
deixar marcas no corpo. Ou da alegria esfuziante, que faz
delirar o Sambodrómo do Rio a cada Carnaval. Ou ainda do
alto-astral com que encara tudo na vida idade, trabalho,
casamento.
41
A aprovação deve vir pela beleza física e não pelas ações. O talento dos
fotógrafos que captaram cinco momentos diferentes da vida de Luma também é
ressaltado. Outro ponto de destaque do editorial, depois de quase 50% da gina ser
dedicada à imagem de Luma com fotos das capas anteriores, é a chamada para a
41
Disponível na página 14 da Nova de maio de 2000 (nº 5, ano 28).
66
entrevista: “Não deixe de ler também a entrevista feita pela jornalista Marta Goés, na
qual ela explica por que odeia quando a comparam a uma Cinderela que encontrou o
príncipe encantado”.
O título da matéria é “Prefiro ser Amélia a Cinderela”. A explicação aparece na
seqüência: “Depois de fazer fotos como uma dona de casa sexy, Luma foi chamada de
Amélia do ano 2000 e não achou ruim. Fica indignada, mesmo, é quando dizem que
não era nada antes de se casar com seu príncipe encantado, o empresário Elke Baptista”.
A modelo justifica na entrevista que era famosa antes pelo seu próprio mérito,
por sua beleza. Não foi o marido que a tornou famosa. A reportagem evidencia que
Luma teme que as pessoas pensem que não seria famosa se não tivesse realizado seu
casamento com o empresário: “A Cinderela não tinha feito nada quando encontrou o
príncipe encantado, eu já, e muita coisa antes de surgir um marido na minha vida”.
A obrigação de dar prazer e as relações entre sexo e poder
A revista Nova busca mostrar quais são os caminhos para que a leitora se adapte
às novas características impostas pela publicação. Qualquer uma pode ser a “Mulher de
Nova”, mas é preciso muito esforço e dedicação para continuar agradando.
São apresentadas estratégias e regras que devem ser seguidas por suas leitoras.
Os relacionamentos afetivos são tratados como verdadeiros combates. A leitora pode
estar sendo induzida a acreditar que deve vencer o homem, seu inimigo. Mesmo quando
está em seu lazer, a mulher deve exercer sua função, objetivando vencer a batalha. Se
viver como a revista recomenda, estará sempre em estado de alerta, tanto quanto um
profissional moderno que depois do trabalho permanece disponível com seu aparelho de
celular sempre ligado.
A mesma mulher que busca incessantemente afirmar sua independência, mantém
sua obrigação de dar prazer. São apresentadas mensalmente matérias em Nova para
melhorar o desempenho sexual de suas leitoras. A revista defende a liberdade sexual, ao
mesmo tempo que impõe padrões de comportamentos que as mulheres devem adotar
para agradar aos homens.
Com a bandeira da liberdade sexual, Nova poucas vezes discute temas
polêmicos. A coluna “Opinião Livre” – espaço em que a leitora interage com a revista e
tem a oportunidade de criticar a publicação de março de 1995 traz cartas que
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questionam um anúncio publicitário polêmico da empresa de lingerie Duloren que
insinuava práticas homossexuais.
Foram publicadas críticas de três leitoras da revista com frases como “a Duloren
chamou minha atenção, mas para o ridículo”, “fiquei chocada ao me deparar com a
propaganda da Duloren: considerei-a grotesca e vulgar” e “fiquei revoltada com a
propaganda da Duloren, pois ainda não chegamos ao ponto de achar o lesbianismo uma
coisa normal”.
A revista responde às cartas em uma nota entitulada “Gosto não se discute”. Diz
a publicação: “A redação de Nova recebeu diversas cartas e cerca de 90 ligações de
leitoras reclamando da publicidade da Duloren, veiculada nos meses de janeiro e
fevereiro. Nesses 21 anos de Nova, a livre expressão da sexualidade sempre foi a nossa
bandeira”. A revista acrescenta que não julga as opções sexuais de suas leitoras, assim
como não julga segundo gosto pessoal a opção dos anunciantes.
Curiosamente, não destaques nem matérias em Nova que discutam ou
aconselhem leitoras que sejam lésbicas, apenas há recomendações que toda mulher
necessita de um homem para ser feliz e alcançar sua realização pessoal. Quando é
considerada a relação mulher-mulher, está inserida no contexto de a leitora satisfazer
uma fantasia de seu companheiro.
O homossexualismo é pauta da revista apenas quando aconselha como as leitoras
devem agir caso descubram que o marido é gay, como na capa da edição de maio de
1995 que anuncia a matéria “Mulheres que se casam com gays Algumas são pegas de
surpresa pela notícia, mas outras escolhem esse tipo de união. Por quê?”.
Os textos da revista Nova apresentam fórmulas e receitas para “conquistar”,
“aproveitar”, “administrar todos os pretendentes que aparecem” e “mudar os hábitos
indesejáveis de seu namorado”. São verdadeiros planos estratégicos para que a leitora
possa derrubar o inimigo.
Para alcançar a felicidade, Nova permanece ligada aos clichês, como se homens
e mulheres agissem sempre da mesma forma, repetindo padrões impostos pela
sociedade. Todos agiriam de acordo com padrões pré-estabelecidos e fórmulas especiais
resolveriam como amenizar os conflitos entre os gêneros.
As estratégias apresentam soluções para se alcançar a felicidade absoluta. Para
justificar a eficiência das propostas, Nova tenta justificar seus planos como se estes
fossem embasados em alguma lógica real. A apresentação de celebridades, que
declaram que são felizes e realizadas, serve para estimular que as leitoras ajam da
68
mesma forma. As celebridades se propõem a exibir suas imagens simplesmente para se
manterem em destaque na sociedade.
Horkheimer e Adorno (2000, página 190), escreveram sobre este fenômeno
presente na indústria cultural: “a lógica do divertimento puro, o abandono irrefletido às
associações variadas e ao absurdo feliz, é excluída do divertimento corrente: pois que é
prejudicada pela introdução substitutiva de um significado coerente que a indústria
cultural se obstina em estabelecer para suas produções, enquanto, por outro lado,
observando a fundo trata aquele significado como um simples pretexto para que os
astros se mostrem”.
De acordo com as matérias, se a leitora ainda não atingiu a felicidade,
provavelmente ainda não tenha agido corretamente. Ao mesmo tempo que considera a
sorte (na maioria das matérias representada pelo encontro do companheiro ideal) como
algo especial, reservado para a verdadeira “Mulher de Nova”, a revista apresenta as
dificuldades para alcançar este objetivo.
A mulher será agraciada com a sorte de encontrar um companheiro quando
for a hora certa. Enquanto não é presenteada com este homem especial, precisa aprender
a viver os dias sem se sentir vazia. O momento e o seu homem - chegará quando a
leitora menos esperar.
A revista mostra, em todas as edições, astros considerados modelos de sucesso,
que confessam seus segredos de felicidade. Ao mesmo tempo em que prega que existem
homens perfeitos, e que esses devem ser o objetivo de cada mulher, a publicação
destaca comportamentos de homens famosos (especialmente artistas de novelas),
ressaltando suas qualidades que representariam a perfeição.
Para Adorno e Horkheimer (2000, página 169), “a civilização atual a tudo
confere um ar de semelhança”. Este ar de semelhança é visivelmente identificável nos
tipos sociais e nos estereótipos . Nova oferece testes, nos quais a leitora, dependendo de
sua escolha entre três ou quatro alternativas, é encaixada em um tipo de personalidade.
Assim também funcionam as páginas dedicadas ao horóscopo da leitora e de seu par.
Seriam doze tipos de mulheres diferentes, cada uma predestinada a agir como a previsão
astrológica. Todos os homens e todas as mulheres pensariam da mesma forma e agiriam
da mesma maneira, ao encontrar o grupo ao qual pertencem.
A edição de fevereiro de 1995 traz um artigo com “O que nunca dizer a um
homem”. No índice, a explicação sobre o que trata a matéria: “Por mais que se sinta
tentada, respire fundo, conte até dez... mas não reproduza um desses comentários que
69
nós listamos para você”. Já na matéria, que ocupa as páginas 78 e 79, o título é repetido,
mas sem qualquer explicação. São listadas 45 frases (sendo uma destacada logo abaixo
do título) que jamais poderiam ser ditas.
Nova – fevereiro de 1995 – páginas 78 e 79
A revista estabelece padrões de comportamento que poderiam garantir êxito para
atingir a realização pessoal. Além do autoritarismo nos conselhos, Nova estimula a
leitora a sempre encontrar o homem perfeito, assim como a não fazer nada errado para
evitar perder esse companheiro, mesmo considerando que dizer a um homem
“precisamos ter uma conversa” e “adoraria conhecer sua mãe” sejam erros fatais.
A listagem aparece desconectada de qualquer introdução. Talvez as frases não
fossem apropriadas para um primeiro encontro ou para o primeiro mês de namoro, mas
são generalizadas como coisas que nunca deveriam ser ditas, em qualquer circunstância,
para qualquer homem.
O objetivo é sempre manter ao seu lado o homem perfeito e fazer de tudo para
não desagradá-lo. Porém, nas matérias, a publicação deixa evidente que esse homem
não existe. Dessa forma, a revista ensinaria a mulher a buscar algo que não existe.
Adorno e Horkheimer defendem que a indústria cultural apresenta as necessidades,
prende o consumidor e assim o transforma em refém da própria indústria. É a lógica que
70
fica evidente na revista. Para os autores (2000, gina 189), “a lei suprema é que nunca
se chegue ao que se deseja...”.
Baudrillard (1991, página 9) diz que “dissimular é fingir não ter o que se tem”,
enquanto “simular é fingir ter o que não se tem”. Assim funcionaria a lógica de Nova,
ao mostrar à mulher que ela precisa conquistar um homem perfeito, agindo de
determinada maneira, mesmo que ele não exista. E, quando conquistou o sonho da
perfeição, a mulher precisa ser convencida de que ainda não conseguiu, pois assim
continuará consumindo produtos e a própria publicação.
Cláudio Novaes Pinto Coelho
42
discute o conceito de Indústria Cultural e a
Comunicação na Sociedade Contemporânea. Em sua análise, Coelho (2002, página 9)
afirma que “as soluções apresentadas pela indústria cultural para os problemas reais são
falsas soluções: os problemas e contradições sociais continuam a existir”. E cita
Adorno:
Pretendendo ser o guia dos perplexos, e apresentando-lhes
de maneira enganadora os conflitos que eles devem
confundir com os seus, a indústria cultural na aparência
os resolve, pois não lhes seria possível resolvê-los em suas
próprias vidas (Adorno, 1986, página 98)
A lógica de criar necessidades inatingíveis também se repete quando a revista
trata do orgasmo, que pode ser cada vez melhor e com mais intensidade. A mulher não
deve nunca ficar satisfeita com o prazer que tem e com o homem que conquista, mas
precisa saber como lidar com essa frustração.
Para Haug (1996, página 83), o valor de troca apropria-se do aspecto sexual
colocando-o a seu serviço. E completa:
Inumeráveis objetos de uso incluem-se na sua superfície, e
os bastidores da felicidade sexual tornam-se a roupagem
mais freqüente da mercadoria ou, então, o fundo dourado
sobre o qual a mercadoria aparece. A sexualidade
generalizada das mercadorias passou a abranger também as
pessoas. (Haug, 1996, página 83)
42
Trabalho apresentado no Núcleo de Pesquisa de Teorias da Comunicação do XXV Congresso Anual
em Ciência da Comunicação, realizado em setembro de 2002, em Salvador.
71
A constante tentativa de parecer mais jovem também está presente nas edições.
Por meio de cosméticos e atitudes, a mulher deve parecer mais madura (pronta para um
relacionamento), assim como mais jovem fisicamente.
Inúmeros anúncios publicitários veiculados na revista trazem fotos de mulheres
seminuas, talvez para agradar aos leitores homens ou para buscar identificação com as
leitoras. Todas as mulheres dos anúncios são magras e sempre tentam representar muita
felicidade e satisfação.
Os dispositivos utilizados pela publicação – como proliferação das imagens
sublimes do feminino, difusão em massa das informações estéticas, associação da
beleza ao consumo, valorização social dos cuidados corporais e retórica publicitária
constroem a era democrática do belo sexo.
A revista declara como felicidade tudo que deseja impor. A maioria das matérias
garante que toda mulher deseja e deve se casar. As vantagens de ser solteira devem ser
aproveitadas enquanto o “príncipe” não chega. Depois de casada, a preocupação é
manter afastada a amante.
A mulher deve encontrar seu príncipe e satisfazê-lo. A felicidade da mulher é ver
o seu homem feliz. Na capa da edição de março de 2000, encontramos o destaque “para
ser a mulher que todo homem deseja”, com “7 truques espertos que derretem qualquer
um (nós contamos exatamente como)”. No índice a “mulher é transformada em
“namorada”. A mesma matéria é anunciada como “A namorada que todos os homens
desejam”, com a introdução “Eles revelam o que torna você irresistível”.
A matéria ocupa quatro páginas, sendo as duas primeiras com uma foto em que
um homem praticamente rasteja aos pés de uma mulher, que segue sem olhar para trás,
e o mesmo título do índice acompanhado dos dizeres:
Bonita, sexy, inteligente, divertida... O que faz uma mulher
tão especial a ponto de ser disputada pelos homens mais
interessantes do pedaço? Depois de ouvir vários
representantes do time masculino, deciframos as sete
atitudes que vão tornar você irresistível.
43
Nas duas páginas seguintes, os sete itens comentados por homens e uma tabela
para a leitora descobrir se está “sufocando o amado, deixando-o livre de mais ou se
atingiu o tão sonhado ponto de equilíbrio”. O destaque da terceira página é uma frase
43
Página 163 da edição de Nova de março de 2000 (nº 3, ano 28).
72
grafada em preto e vermelho “eles adoram mulheres versáteis que sabem inovar na
cama e gostam do próprio corpo”.
Nova - março de 2000 – páginas 162 a 165
73
Na abertura da matéria, Nova explica que as mulheres disputadas não são
felizardas e sim que “em determinado momento da vida, talvez depois de alguns
relacionamentos fracassados, elas aprenderam os segredos da sedução inteligente”.
Mas a leitora pode ficar tranqüila porque a publicação entrevistou “vários” (em
nenhum momento, na matéria ou no índice, foi dito quantos foram os entrevistados) e “a
esmagadora maioria deixou bastante claro que ela não precisa ser uma beldade de corpo
escultural e inteligência de Einstein”. A revista garante que para ser feliz e conquistar os
homens basta reunir sete traços de personalidade “que qualquer uma de nós pode
adquirir”.
A primeira característica apontada pelos supostos entrevistados é “ela sabe
conquistar as pessoas”. Diz Nova: “Apuramos que grande parte dos homens procura
alguém que se adapte a diversos tipos de situação de um jantar formal com o chefe a
uma roda de amigos na choperia”. E a revista acrescenta, na tentativa de dar um
depoimento mais embasado em ciência, que “os especialistas em comportamento
afirmam que o ideal masculino é uma mulher capaz de se integrar à vida deles e que
faça com que sintam importantes”. Para a leitora que ainda não é assim, o caminho
indicado é “experimente deixar de lado a inibição e mostre seu verdadeiro eu, seja
espontânea”.
O segundo item revela que os homens admiram quando “ela faz do prazer uma
aventura constante”. Não basta satisfazê-lo sexualmente, é preciso criar novos meios
para dar prazer:
O grande erro de muitas de nós é deduzir que precisamos
mostrar disponibilidade para fazer amor a qualquer hora para
deixar o sujeito feliz da vida. Nem sempre. De acordo com
alguns entrevistados, nada mantém mais o interesse em alta
do que uma mulher versátil, pronta para inovar.
44
Na lista, o item número 3 é “ela é companheira”, que traz “outra preciosa
descoberta: eles adoram quando a gente deixa a frescura de lado e veste jeans, tênis e
camiseta para acompanhá-los naqueles típicos programas masculinos”. O conselho da
revista para esse tema é “da próxima vez que o seu amor convidá-la para uma diversão
aparentemente para rapazes, siga o exemplo de lia”. A leitora Júlia acompanhou o
noivo Pedro em um jogo de futebol. Segundo Nova, valeu a pena, porque Pedro “ficou
44
Página 164 da edição de Nova de março de 2000 (nº 3, ano 28).
74
tão agradecido pela atitude dela que tratou de retribuir naquela mesma noite, com uma
sessão de sexo inesquecível”.
O item 4 ficou com “ela gosta de si mesma”. Isso porque, segundo Nova, as
mulheres que atraem mais candidatos não são necessariamente modelos de beleza, altas
e magras “mas agem como se fossem”. Dessa forma, gostar de si mesma é fingir que é
alta e magra.
Para os homens, é importante também que a mulher tenha autocontrole.
“Mulheres que vivem à beira de um ataque de nervos são um balde de água fria até para
o candidato mais bem-intencionado”, revela o item 5 da matéria. Ou seja, a mulher
precisa estar calma, o para se sentir melhor, e sim para não incomodar seu
companheiro. A revista inclusive sugere que quando ficar nervosa, a leitora deve ligar
para uma amiga e pedir ajuda.
O sexto traço desejável de personalidade é dar espaço aos homens. Para
exemplificar a história bem-sucedida de uma leitora: Luciana, 26 anos, namora um
rapaz “fanático” por esportes, que adora ver os jogos no fim de semana. “Então, em vez
de fazer cara feia, comecei a me reunir aos domingos com minhas amigas do tempo da
faculdade para colocar as novidades em dia”, relata Luciana, que conclui o tópico
contando o resultado de sua atitude. “Estou certa de que essa estratégia colaborou para
que me pedisse em casamento”. Para a revista, seguindo os conselhos, qualquer mulher
que der espaço poderá garantir um pedido de casamento.
O último traço da personalidade contraria os outros seis e também é contrariado
pelo próprio corpo do texto seguinte. Denominado como “Ela é forte e independente”, o
sétimo item explica como a mulher necessita ser independente. Para Nova, a principal
razão de uma mulher ter seus próprios interesses é para conquistar um homem. Diz:
Uma mulher forte e independente livra o homem da
sensação de ser a tábua de salvação, aquele que vai resolver
todos os problemas da vida dela. Manter interesses fora do
relacionamento também dá um certo ar de mistério, sem
falar que você fica mais atraente aos olhos dele.
45
A sugestão para ser independente e assim parecer mais atraente é a leitora
continuar indo às aulas de ginástica, ir ao cinema com as amigas e fazer um curso com o
qual “sonha há tempos”. Uma outra leitora que agiu dessa forma, “sendo independente”,
conta que o namorado depois de seis meses disse que uma das razões pelas quais se
45
Página 165 da edição de Nova de março de 2000 (nº 3, ano 28).
75
apaixonou foi que ela não se jogou “de cabeça feito uma desesperada na relação”. E o
prêmio por não ser uma desesperada foi o namorado ficar mais à vontade para se abrir
com ela e “finalmente” dizer que a amava.
A leitora deve aprender o limite, não porque tem seu valor, mas sim porque os
homens odeiam mulheres que cedem demais. O conselho é parecer independente,
parecer forte e parecer bonita, para que o homem não perca o interesse.
A revista Nova costuma associar o orgasmo a algo que o homem pode dar a
mulher. A mesma mulher que busca incessantemente afirmar sua independência,
mantém sua obrigação de dar prazer ao homem. Para Lasch, “a busca do prazer disfarça
uma luta pelo poder”.
As atividades empreendidas ostensivamente somente para o
prazer têm, com freqüência, o objetivo real de lograr os
outros. É sintomático da tendência subjacente da vida
americana que os termos vulgares para o ato sexual também
transmitem o sentido de tirar o melhor de alguém, de
explorá-lo, absorvê-lo, impondo sua vontade por meio de
astúcia, fraude ou força superior. (Lasch, 1983, página 95)
Para o autor (1983, gina 95), as relações sexuais tornaram-se manipuladoras e
predatórias, comportamento evidenciado nas capas da Nova em chamadas que sugerem
como a “Mulher de Novadeve agir para derrubar seu inimigo. Na edição de Nova de
agosto de 2005, um título “Homens!”, acompanhado de duas possibilidades. Se a
leitora estiver “de bem como eles”, poderá aprender “10 rituais turbina-paixão”. Caso
contrário, se a leitora viver uma fase “de mal com eles”, terá a chance de ver o resultado
de Nova investiga por que andam tão passivos, assustados, sumidos do mapa”. Em
fevereiro de 2005, o primeiro destaque da capa de Nova é para “o debate do momento”,
que levanta a questão: “Por que os homens somem? Mulheres atacam, os fujões se
defendem”.
Na edição de junho de 2000, uma leitora escreve comentando a matéria A
namorada que todos os homens desejam” citada neste trabalho. Sob o título “agradar
o sexo oposto”, afirma Maira Allebrand:
Amei a matéria “A namorada que todos os homens desejam”
(Nova/mar), pois percebi que minhas atitudes nem sempre se
enquadram nas mais apreciadas pelo sexo oposto. De agora
em diante, com a ajuda de vocês, tentarei melhorar minha
76
performance! Tenho certeza de que os homens vão aprovar a
mudança!
46
A leitora busca ajuda para agradar os homens. A idéia de que a mulher necessita
“ter” um homem para ser feliz é ressaltada nas matérias e nos anúncios publicitários.
Para conquistar um homem, a mulher é coisificada como mercadoria sexual, disposta a
qualquer sacrifício para ter boa aparência e prontidão para servir.
As mulheres precisam esconder suas fraquezas para conquistar seus homens.
Esses devem aprender a satisfazer as mulheres, além de prometerem fidelidade eterna.
O casamento é o principal objetivo. Encontrar o homem perfeito é necessário para ter
uma vida plena e satisfatória. A revista ajuda a leitora a encontrar esse companheiro
perfeito no meio da multidão, e depois disso, testá-lo para saber se realmente é fiel e
honesto, mesmo indicando em capas e matérias que a maioria dos homens têm segredos
e mentem para suas esposas.
Tanto homens como mulheres vieram a abordar as relações
pessoais com uma avaliação aumentada de seus riscos
emocionais. Determinados a manipular as emoções dos
outros, enquanto se protegem contra danos emocionais,
ambos os sexos cultivam uma superficialidade protetora,
um distanciamento cínico que, no fundo, não sentem, mas
que logo se torna um hábito e que, de qualquer modo,
torna amargas as relações pessoais, quando se torna
repetitivo. Embora, em alguns aspectos, os homens e
mulheres tenham tido de modificar suas exigências a
respeito uns dos outros, especialmente em sua incapacidade
de exigir compromissos de fidelidade sexual para toda a
vida, em outros aspectos fazem mais exigências do que
nunca. (Lasch, 1983, página 237)
Com a liberação sexual e a busca sem culpa pelo prazer, os homens passaram a
enfrentar dificuldades para satisfazer as mulheres. O número de leitores de Nova do
sexo masculino evidencia a preocupação do homem moderno em tentar compreender o
universo da mulher contemporânea.
Homens e mulheres tentam se adaptar à nova realidade sexual e buscam nas
publicações fórmulas de comportamento padrão. O público masculino procura nas
46
Página 22 da edição de Nova de junho de 2000 (nº 6, ano 28).
77
revistas femininas a possibilidade de ter mais chances de compreender o universo
considerado inimigo. E o mesmo ocorre com as mulheres.
Até mesmo a revista Playboy, conhecida como uma das publicações mais
direcionadas aos homens, conta hoje com 15% de leitores do sexo feminino.
Playboy, que tem circulação mensal de 354.800 exemplares (dados fornecidos
pelo IVC referentes a abril de 2007), é definida por sua editora (Abril) como a “parceira
ideal para desfrutar as melhores coisas da vida: as mulheres mais lindas, viagens,
esportes, aventuras, carros”. No site da Abril, Playboy é a revista que “fala sobre beleza,
consumo sofisticado, gastronomia, bebida, sexo, cultura e entretenimento para o homem
que sabe viver”. No caso dos anunciantes, fica a promessa de que, em Playboy, você
encontra homens de bom gosto, que fazem das melhores coisas da vida a porta de
entrada para o seu produto”.
Uma das mais presentes promessas de Nova é revelar o pensamento masculino
para que a leitora aprenda como pode satisfazer um homem. O prazer da mulher estaria
condicionado à satisfação de seu companheiro. O prazer sexual é o maior segredo que
Nova promete revelar em todas as edições.
Lasch (1983, página 234) afirma que homens e mulheres buscam o prazer
sexual como um fim em sim mesmo, não mediado nem mesmo pelas armadilhas
convencionais do romance”. Com a liberação sexual
47
e a busca sem culpa pelo prazer,
os homens passaram a enfrentar dificuldades para satisfazer as mulheres.
A satisfação está condicionada a um conjunto de procedimentos corretos. Lasch
afirma que esta busca tem por objetivo direcionar as preocupações apenas para a
superficialidade das relações sexuais.
A medida do “desempenho sexual”, a insistência de que a
satisfação sexual depende de “técnica” adequada e a crença
generalizada de que ela pode ser “alcançada” após
esforço, prática e estudos coordenados atestam, todos, a
invasão do ato pela retórica da realização. Contudo, aqueles
que deploram a transformação do ato em desempenho,
47
Lasch (1999, 113) critica a conceituação de revolução sexual difundida pelos meios de comunicação:
“Segundo os meios de comunicação, a história das mulheres pode ser dividida em duas épocas, separadas
pela revolução sexual da década de 1960. Somente nos anos 60, segundo a visão deformada dos meios de
comunicação, as mulheres iniciaram a dolorosa saída da Idade Média sexual. Elas passaram a fazer parte
da mão-de-obra, passaram a controlar seu corpo e desafiaram a supremacia masculina em todas as suas
formas – política, econômica e ideológica. Até então, as mulheres trabalhavam em péssimas condições. A
partir dos anos 60, elas obtiveram grandes conquistas e embora a revolução contra o patriarcado ainda
tenha muito caminho pela frente, antes que as mulheres conquistem a igualdade plena, ela é irreversível.”
78
confinam sua atenção à superfície do ato, no caso presente à
superfície das relações sexuais. (Lasch, 1983, páginas 93-4)
A ansiedade e ausência de paz sexual movem a revista a trazer em todas as
edições dicas que prometem dar fim a todas as questões. Mas, como as leitoras parecem
estar constantemente ameaçadas e inseguras, é impossível solucionar os problemas
criados pela própria revista. As fórmulas e receitas são redesenhadas, mantendo sempre
a mesma estrutura. O fim não é sentir o prazer e sim proporcionar o prazer.
Como ressaltamos, a busca do prazer esconde uma luta pelo poder. As
mulheres querem derrubar seus inimigos, usar o sexo como arma para atingir seus
objetivos em uma verdadeira guerra. Na capa de setembro de 2005, uma chamada
que promete transformar a leitora em “deusa do sexo”. São “4 segredos do tao, do
tantra, da ioga e do Kama Sutra”. Segredos “tão poderosos que ele vai cair de joelhos à
sua simples visão”.
Evidentemente a sociedade norte-americana possui suas peculiaridades, porém o
mesmo fenômeno descrito por Lasch é identificável em Nova. Lasch declara que o
desempenho sexual tornou-se uma arma na guerra entre homens e mulheres. Não
mais inibições sociais que impeçam a mulher de explorar a vantagem tática que a
obsessão pelas medidas sexuais lhe deu.
Enquanto a mulher histérica, mesmo quando se apaixonava e
desejava descontrair-se, raramente superava sua aversão
subjacente pelo sexo, a mulher pseudoliberada do
Cosmopolitan explora sua sexualidade de um modo mais
deliberado e calculista, não porque tem menos reservas a
respeito do sexo, mas porque consegue com mais sucesso
evitar vínculos emocionais. (Lasch, 1983, página 236)
A revista Nova se apropriou da fórmula de ensinar a mulher como dar mais
prazer, para que ela consiga derrubar seu inimigo. Artigos, entrevistas com profissionais
da saúde, produtos eróticos - tudo vale nesta guerra.
Nova é a revista que se propõe a “liberação sexual”,
reivindicando o direito da mulher ao prazer. O sexo é o
instrumento da afirmação feminina, a comprovação da
feminilidade, que se pelo seu poder de sedução. O
sucesso da mulher no campo sexual identifica-se com o seu
poder de atração (e a revista dedica muitas páginas à arte de
79
obter uma bela aparência, comportar-se ou vestir-se de
maneira “naturalmente” sedutora), e o fato dela ser desejada.
Trabalhando, cozinhando, comendo, em qualquer situação, a
mulher-Nova é erotizada: a imagem sexy espalha-se por toda
a revista, nas fotos e ilustrações. (Sarti e Moraes, 1980,
página 42)
A análise feita em 1980 sobre a revista Nova ainda é aplicável à revista. Nos
dois últimos capítulos, observaremos como a imagem de uma mulher sexy ainda
permeia o discurso da revista e das leitoras.
Homens e mulheres teriam passado a abordar as relações pessoais como uma
avaliação aumentada de seus riscos emocionais. Manipulando as emoções dos outros,
poderiam se proteger contra danos emocionais. A superficialidade protetora,
representada por um distanciamento cínico que, segundo Lasch, não é sentido
verdadeiramente, torna as relações amargas. O distanciamento passa a ser um hábito
repetidamente mantido. Porém, o autor questiona que, enquanto cultivam o sexo com
superficialidade, são cada vez mais exigentes em suas relações.
Embora, em alguns aspectos, os homens e mulheres tenham
tido de modificar suas exigências a respeito uns dos outros,
especialmente em sua incapacidade de exigir compromissos
de fidelidade sexual para toda a vida, em outros aspectos
fazem mais exigências do que nunca. (Lasch, 1983, 237)
A busca pela perfeição, que jamais será alcançada, poderia ser utilizada como
uma desculpa para não ter ainda atingido o objetivo final. A insatisfação cria uma
lacuna na sociedade capitalista contemporânea do qual a publicidade se apropria.
Como dito anteriormente, a revista dissemina os valores da sociedade capitalista
contemporânea, oferecendo soluções de consumo para todas as insatisfações que a
leitora possa sentir. Ao mesmo tempo, faz questão de deixar a leitora insegura sobre sua
personalidade. É apenas por meio da revista que a leitora vai saber quem é. A leitora
depende do olhar do outro para lidar com a realidade, tendo mais chance de assim
desenvolver os traços de personalidade da cultura do narcisismo reforçados pela
publicação.
80
As preocupações femininas giram em torno de como dar mais prazer ao seu
parceiro, como arrumar um marido, como se manter mais bonita e como parecer mais
magra e jovem. A revista cria os problemas e promete resolvê-los.
A “Mulher de Nova” é independente, mas está sempre a procura de um
companheiro. Ter encontrado o seu homem é ter a certeza de sua existência.
A mulher, por sua vez, é estimulada a desenvolver
sentimentos de possessividade, justificáveis na medida em
que deve agarrar com unhas e dentes sua garantia na vida
afetiva e muitas vezes econômica ou seja, um homem.
Perdê-lo é ver ameaçada sua própria existência. (Sarti e
Moraes, 1980, página 31)
Até mesmo na seção de horóscopo fica evidente a preocupação da revista em
ensinar como as mulheres podem conquistar um homem. As tradicionais previsões
vistas com freqüência em horóscopos cedem lugar aos conselhos da revista. Para cada
signo, há uma previsão “cósmica”, seguida de um conselho para quem procura o
homem ideal ou para aquelas que querem manter o homem já conquistado.
Na última edição de 2005, a revista faz a previsão que as mulheres do signo de
Capricórnio estarão influenciados pelos astros, com a promessa de Natal e Réveillon
inesquecíveis. A passagem do Sol pelo signo garantià leitora deste signo ser uma das
pessoas mais animadas e requisitadas da festa de Ano-Novo. Porém, a revista um
conselho: “Não se entusiasme a ponto de escantear o amado. Ele não vai gostar nadinha
disso. Se souber dosar as coisas, será a mais feliz das mulheres no dia 31 de dezembro”.
A leitora que souber agradar seu companheiro poderá ser a mais feliz do mundo.
Para as mulheres que ainda não encontraram o príncipe encantado, a revista
também indica o que fazer. “Se está só, anote: uma companhia deliciosa deve animar
sua vida por mais tempo do que você imagina”.
Não de forma exclusiva em Nova, os conselhos e previsões são bem parecidos e
genéricos para todos os signos: “Você anda mais disposta do que nunca em aparar todas
as arestas dos seus relacionamentos”, “Comunicativa do jeito que anda, se estiver à
procura de um novo amor, começe (sic) a sonhar com um encontro inesquecível” ou “Se
o homem dos seus sonhos está ao seu lado, o período é de absoluta lua-de-mel. Se
está à procura de um novo amor, prepare-se: paqueras mil a esperam”.
É tanta coisa boa reservada pelos astros que a própria revista indícios que
tudo não passa de um sonho, quando traz na previsão do signo Virgem a confissão de
81
que o que vai acontecer está longe da realidade: “Depois de se divertir ao lado dos
amigos, de se entender superbem com o amado e, se está sozinha, de encontrar uma
companhia muito charmosa, você voltará à vida real disposta a agarrar todas as suas
chances e liberar de vez sua criatividade”.
A edição de dezembro de 2000 traz, na seção “Fala!”, o depoimento de uma
leitora que colocou em prática os conselhos de Nova. A carta em destaque traz o
testemunho de Karen, que conta: “Depois de perder uma oportunidade de ficar com um
cara incrível, li e reli a reportagem ‘Guia para fazer o amor acontecer’ (Nova/out) até
decorar e consegui superar minha timidez e agarrar a outra chance que apareceu. Ele
mora em outra cidade, é difícil engatar um namoro, mas não me arrependo de nada, pois
agora tenho lembranças de uma pessoa especial”.
Karen seguiu os passos da revista para alcançar seu objetivo, afirma que deu
certo e na seqüência já não era mais o que queria. A insatisfação com a própria vida leva
as leitoras a acreditarem que agindo de determinada maneira poderão encontrar a
felicidade, bem como atingir objetivos que talvez nem sejam os delas.
A aparência criada pela crescente determinação de viver o momento é uma
ilusão. Os casamentos, com a perda do caráter de ligação do contrato matrimonial,
passam a ter como base as relações sexuais, o que para Lasch não passa de uma ilusão
de intimidade.
O culto da intimidade esconde uma crescente desesperança
de encontrá-la. As relações pessoais desintegram-se sob o
peso emocional com o qual são carregadas. A incapacidade
“de interessar-se por qualquer coisa depois da própria
morte”, que tanta urgência à procura de relações pessoais
no presente, torna a intimidade mais ilusória do que nunca.
(Lasch, 1983, página 230)
A leitora insatisfeita com sua própria vida tem, em Nova, a oportunidade de se
tornar uma mulher feliz. Basta seguir os conselhos e comprar os produtos. Cumprindo
as orientações, a “Mulher de Nova” encontra a intimidade, estabelece uma relação
duradoura, mesmo que o namoro seja de uma noite.
Com a revista, a leitora pode se conhecer melhor para ter mais chances de
encontrar seu melhor caminho. Pode ressaltar suas principais qualidades, sejam as
pernas ou os seios. Responde aos testes da publicação para saber o que está fazendo de
errado, para entender quais as causas de sua insatisfação com a própria vida.
82
As edições apresentam também modelos para conquistar paixões, obter sucesso
profissional e melhorar as relações pessoais. É possível identificar o maniqueísmo e a
forma como a publicação classifica as pessoas.
As variações de personalidade das leitoras são insignificantes. A “Mulher de
Nova” deve continuar comprando a revista e os produtos anunciados para ficar cada vez
mais parecida com as outras mulheres de Nova. Não o nimo interesse em que ela
se torne diferente, que pense por si mesma e que não necessite mais de conselhos para
tomar suas próprias decisões.
Lasch discute também, em O Mínimo Eu, como o indivíduo pode se transformar
em mercadoria, vendo a si próprio através dos olhos alheios, quando começa a tentar
suprir suas fantasias e desejos. A leitora de Nova precisa comprar a revista para saber
como é, para que então saiba quais produtos deve consumir e quais atitudes deve tomar
para conquistar a felicidade.
A cultura organizada em torno do consumo de massa
estimula o narcisismo que podemos definir, para o
momento, como a disposição de ver o mundo como um
espelho; mais particularmente, como uma projeção dos
próprios medos e desejos – não porque torna as pessoas
gananciosas e agressiva, mas porque as torna frágeis e
dependentes. (Lasch, 1986, página 24)
Ao citar Herbert Gans, Lasch (1986, página 27) concorda que os artigos sobre a
liberação feminina nas revistas femininas servem para que a mulher, que ainda vive
numa sociedade dominada pelos homens, encontre idéias e sentimentos para começar a
lutar pela sua liberdade. Como a mulher o sabe ao certo quem é, acaba necessitando
de novas regras para se libertar da repressão que já faz parte de seu cotidiano.
Nos próximos capítulos discutiremos como a revista Nova utiliza a seção dos
testes para permitir à leitora descobrir quem é, assim como para indicar quais passos
deve tomar para se tornar uma verdadeira “Mulher de Nova”. Analisaremos, também,
qual é o perfil da leitora e o que ela busca na publicação.
83
Capítulo 3 – Os testes e a mulher de Nova
Neste capítulo, vamos analisar e comparar os testes das edições de 1995, 2000 e
2005. Consideraremos, também, dados de uma publicação especial, de 2005, da Editora
Abril com 24 testes extraídos de outras edições da revista Nova. Nosso objetivo é
avaliar quais são as principais dúvidas da leitora de Nova, assim como quais são os
comportamentos indicados como apropriados pela publicação.
Elegeremos os testes de quatro revistas de cada ano, considerando o mesmo
critério da Editora Abril
48
, que define como especiais as edições de junho (especial do
Dia dos Namorados), setembro (comemorativa do aniversário da revista), outubro
(especial de verão) e dezembro (Natal).
Os testes variam entre três e quatro páginas, sendo que os maiores normalmente
estão ocupados por anúncios publicitários. As propagandas são constantes nesta seção,
principalmente comerciais de calçados.
Para saber o resultado dos testes, a leitora precisa somar a quantidade de pontos
atribuída para cada resposta até encontrar o tipo de personalidade no qual se encaixa.
Ao somar os pontos, a leitora pode ter a impressão que está realizando um teste com
precisão matemática, sem margem de erros. A quantidade de pontos é apresentada,
normalmente, em um quadro com as mesmas características.
Das edições analisadas, apenas em setembro de 2000 e outubro de 2005 não
encontramos opções semelhantes de pontuação. Em setembro de 2000, a resposta é
apresentada para cada questão, enquanto em outubro de 2005 a leitora deverá apenas
escolher um tipo de sapato para saber quem é. A seguir, destacamos os demais quadros
de pontuação das edições do período analisado que apresentam a mesma lógica.
Junho de 2000 Dezembro de 2000 Setembro de 2005
48
Critério descrito em http://elle.abril.com.br/midia_kit/nova/especiais.html.
84
Outubro de 1995 Junho de 1995 Setembro de 1995 Dezembro de 1995
Junho de 2005 Outubro de 2000 Dezembro de 2005
A seção de testes ajuda as leitoras a descobrirem quem são e como devem agir
para se adequarem aos padrões da “Mulher de Nova”. Os testes oferecem alternativas de
respostas para perguntas que, em sua maioria, podem ser consideradas subjetivas.
Depois de responder, a leitora soma a quantidade de pontos e procura qual o tipo
de mulher é. São listados tipos de mulheres, cada um com suas características. Apenas
um tipo de mulher apontado pela Nova nos testes está agindo de maneira correta. Os
demais modelos precisam mudar suas atitudes para conquistar maior realização pessoal.
Nova apresenta os testes como um segredo da personalidade da leitora que será
revelado. As fórmulas e alternativas representariam a verdade absoluta, elaborada pelos
profissionais da revista. Mais que especialistas em comportamentos, são verdadeiros
85
“gurus”. As previsões e análises destes profissionais seriam mais que análises
comportamentais.
O editorial da publicação especial de 2005 define os psicólogos que elaboram os
testes como
profissionais cuja especialidade é traduzir gestos, atitudes,
sonhos e até pensamentos. Verdadeiros gurus, esses experts
sabem tudo de emoções e, por isso, produzem questionários
cujas respostas são uma terapia, um mergulho na alma da
gente e dos outros.
49
Desta forma, a revista Nova apresenta os testes como uma análise certeira dos
gostos e da personalidade da leitora. São “perguntas mágicas” e “os resultados não
mentem jamais”. A leitora, antes de começar a responder os testes, precisa responder
honestamente a uma única pergunta: “pronta para saber a verdade, toda a verdade, nada
mais que a verdade?”.
Nova afirma assim que é detentora da verdade ou de segredos que serão
revelados após a divulgação dos resultados – surpreendentes – dos testes. A leitora, após
responder as perguntas e efetuar o cálculo dos pontos, pode “descobrir” ou “saber”
quem ela é.
O índice da edição de junho de 1995 (página 4) apresenta o teste “Você é mulher
adulta?”. Ao responder as questões, a leitora tem a oportunidade de descobrir se
atingiu a maturidade emocional. Diz a revista: “Descubra se esse é o seu caso”.
No teste de setembro do mesmo ano, que vai avaliar se a “vaidade passa dos
limites”, a revista anuncia à leitora, na página 4: “saiba se o seu orgulho está mesmo sob
controle”. Na edição seguinte, de outubro, também na página 4, a leitora terá acesso à
outra descoberta: “Descubra até que ponto seu relacionamento não está correndo riscos
por falta de cerimônia e da sua vontade de partilhar tudo”.
A leitora que responder o teste da última edição de 1995 “vai saber se realmente
tem um coração de mãe ou se não ponto sem nó”, revela o índice na página 4. Na
edição de junho de 2000 (página 132), Nova promete que, ao responder o teste “Você
faz o gênero independência ou morte?”, a leitora saberá se é “daquelas que pedem
socorro à mamãe por qualquer besteira”. E promete: “Embarque no teste abaixo para
descobrir a verdade”.
49
Texto publicado na página 3 da edição especial de Testes de 2005.
86
Para estimular que as leitoras respondam o teste da edição de setembro de 2000,
a revista garante, na página 146, que além de medir o nível de envolvimento do
companheiro da leitora, esta ainda poderá aprender como melhorar a situação: Faça o
teste para medir o nível de envolvimento do seu gato e, de quebra, aprenda os truques
para elevar a temperatura desse amor”.
Mais uma vez a revista apresenta estratégias que seriam a garantia de obter
sucesso nos relacionamentos pessoais. Em junho de 2005, na gina 108, no teste
“Vocês falam a mesma língua?”, a leitora recebe a ordem: “Cheque, agora, o jeito de
vocês se expressarem e os segredos para melhorar a sintonia”.
Antes de responder a pergunta “Você é exigente demais?publicada na página
136 da edição de outubro de 2000, a leitora precisa realizar o teste. “Antes de concluir,
faça o teste”, recomenda Nova. Assim, a revista afirma que tem mais condições de
responder a esta questão que a própria leitora.
Os verbos “descobrir” e “saber” são constantes nos testes. Nova diz à leitora que,
se responder o teste “Você se apaixona rápido demais” na gina 130 da edição de
dezembro de 2000, será possível que ela “descubra” como “lida com o amor”. no
índice da edição de setembro de 2005 (página 6), o teste “Do que você é capaz para
chegar lá”, relacionado ao tema trabalho, promete:
saiba se está mais para impulsiva, estrategista ou
acomodada. Descubra aqui se está mais para impulsiva,
estrategista ou (cuidado!!) acomodada.
50
Em dezembro de 2005, na página 129, a leitora saberá se costuma utilizar como
estratégia “abrir o verbo e dizer o que pensa na lata ou adoçar cada uma de suas
opiniões com um bom glacê”. Para Nova, é preciso responder qual é a postura da leitora
antes de agendar compromissos sociais: “Descubra qual é o seu estilo antes de marcar a
próxima reunião com as amigas!”.
No teste de outubro de 2005 não é a revista Nova que vai dizer como a leitora é,
e sim o seu sapato. A leitora recebe 10 opções de modelos de sapato para escolher e
desta forma poderá conhecer como é sua personalidade: “Aponte qual modelo ama de
paixão e ele dirá quem você é”, afirma o índice na página 6.
Outra questão observável é que a revista impõe medidas e limites para avaliar os
comportamentos das mulheres. Estabelece um padrão, que considera como o equilíbrio
50
Texto disponível na página 6 da edição da Revista Nova de setembro de 2005 (nº 9, ano 33)
87
desejável na “Mulher de Nova”, e tenta estimular que as leitoras ajam da mesma
maneira, de acordo com esses limites.
Os temas dos testes apresentam perguntas que parecem ser lógicas, com
resultados precisos. Encontramos diversas expressões como “até que ponto” e “demais”
que mensurariam os problemas comportamentais de quem respondesse as questões. A
leitora é estimulada a responder o teste de maneira que acredite que encontrará respostas
precisas para temas, na maioria das vezes, subjetivos.
Os títulos de algumas destas edições indiciam a precisão matemática que a
revista tenta impor às leitoras: “A sua vaidade passa dos limites?” (setembro de 1995),
“Você não está a vontade demais na companhia dele?” (outubro de 1995), “Até que
ponto os outros podem contar com você?(dezembro de 1995), “Até que ponto o amor
dele por você é profundo?” (setembro de 2000), Você é exigente demais?” (outubro de
2000) e “Você se apaixona rápido demais?” (dezembro de 2000).
Os resultados são apresentados como se a revista estivesse falando diretamente
com a leitora. Ao analisar o horóscopo da revista Elle, Laurence Bardin levanta a
hipótese que a coluna apresentaria discurso que facilitaria a identificação para o leitor.
Tanto mais que à polissemia voluntária do discurso se junta
o elogio do narcisismo. Tudo no texto gira em redor do
sujeito tornado bruscamente herói. O horóscopo é um
espelho. Um espelho deformador, visto que não reflete o
sujeito, mas sim um modelo ideal (e normativo). O leitor
não sabe que ele é deformador: olha-o e reconhece-se. Um
discurso semelhante favorece a introspecção e conduz ao
exame de consciência, ou, pelo menos, a fazer o ponto de
situação. (Bardin, 2007, página 71)
E Bardin (2007, página 71) acrescenta que “o horóscopo coloca o indivíduo num
quadro de referência, fornecendo-lhe ou impondo-lhe modelos de conduta. O
comportamento do leitor é normalizado numa forma pré-determinada.
Assim como nas previsões astrológicas de Elle, as informações de cada resultado
de teste de Nova são subjetivas. A leitora é induzida a acreditar que realmente age de
determinada maneira, se enquadrando em tipos de comportamento pré-estabelecidos
pela publicação.
Segundo Bardin, o horóscopo é apresentado como um espelho. Em Nova, a
própria revista tenta impor esta característica. De acordo com a revista, ao se ver pelo
88
teste, a leitora poderá se reconhecer. É o olhar de Nova que mostrará quem é a leitora,
afinal uma das principais características da cultura do narcisismo é o indivíduo se
reconhecer apenas por um olhar exterior e depender da aprovação alheia para agir.
Para cada teste, a revista apresenta um modelo correto de comportamento, em
que a leitora que foi enquadrada neste tipo recebe elogios e conselhos para continuar
agindo desta maneira. Para as demais, que tiveram uma somatória de pontos diferente
da considerada ideal, Nova oferece idéias que podem auxiliá-la a ser uma pessoa
melhor. A revista assume, na maioria das vezes, discurso que critica os comportamentos
da leitora que ainda não for considerada uma “Mulher de Nova”. Afirma ser detentora
da verdade para justificar o tom que concede aos seus conselhos, que podem ser
entendidos em muitos casos como ordens.
Da mesma forma como age uma mãe, que sempre quer o melhor para o seu
filho, Nova afirma que as críticas são sempre para o bem da leitora. Agindo da maneira
imposta, mesmo que para isso a leitora contrarie seus costumes, alcançará êxito e
sucesso. A revista assume o papel de amiga sincera da leitora, disposta a falar
“verdades” que possam ajudar quem responde os testes.
No teste de junho de 1995 (“Você é uma mulher adulta?páginas 100-5), a
leitora que alcançar pontuação entre 19 e 38 recebeavaliações positivas como “Não
importa que tenha acabado de fazer 21 anos você é adulta no melhor sentido da
palavra” e “é provável que sua família tenha criado amplas condições para você se
expressar e crescer emocionalmente. Ou, quem sabe, tem um talento inato para os
relacionamentos”. E Nova conclui:
De qualquer forma, você é capaz de manter um equilíbrio
produtivo entre suas necessidades e as de outras pessoas.
Não é à toa que é uma mulher tão popular e satisfeita!
51
Já a leitora que fez 18 pontos ou menos é considerada pela revista como imatura.
A imaturidade aparece como uma “forma de autodestruição” porque “ninguém nunca
vai ser capaz de preencher suas expectativas”. Apesar da crítica, Nova tem a solução
para a leitora: “Nesse caso, uma terapia pode ajudar”.
A revista acrescenta outras soluções: “Mas a auto-ajuda também funciona.
Experimente fazer uma lista de coisas que acha difíceis de modificar e vá trabalhando
51
Texto publicado na página 105 da edição de Nova de junho de 1995 (nº 6, ano 23)
89
cada uma delas”. E associa com algo bem prático de fácil entendimento para qualquer
pessoa, uma analogia bem simples:
Não consegue andar mais de um quilômetro e meio em
quinze minutos? Comece a tentar. Logo vai descobrir que
pode fazer em quatorze minutos. E depois em treze minutos.
O mesmo raciocínio vale para quase tudo na vida. Aos
poucos, vai perceber que é capaz de enfrentar aquela tão
temida entrevista de emprego, que consegue se divertir
sozinha no sábado à noite, que não é tão difícil assim trocar
um pneu.
52
O segredo é que a leitora, “a cada pequena vitória, vai ficar cada vez mais e mais
confiante”. Para finalizar, Nova sugere que ao se tornar mais madura, a mulher pode ter
outras vantagens: “Talvez você até comece a gostar de agir como uma pessoa madura!”.
Quem completou mais de 39 pontos é considerada uma “supermulher”, mas sem
garantias de ser adulta. Neste tipo de personalidade, a revista é mais incisiva nas
análises e apresenta os resultados destacando quais são os defeitos que podem atrapalhar
as relações pessoais da leitora:
É possível que tenha sido forçada a assumir muito cedo
responsabilidades. Por isso, não aprendeu a ouvir suas
próprias necessidades. Mesmo quando toma consciência de
seus desejos, você tem dificuldade de atendê-los. Portanto,
tende a ficar com raiva, o que pode envenenar a relação.
Além disso, você costuma atrair pessoas que são o seu
extremo oposto – isto é, adultos que mais parecem crianças e
que só olham para o próprio umbigo.
53
A saída seria a leitora reservar um tempo para ela “seja para meditar, seja para ir
ao cabeleireiro ou ao cinema. Duas horas apenas por semana podem fazer toda a
diferença”. Desta forma, Nova afirma que ao ir ao cabeleireiro semanalmente a leitora
poderia se tornar uma mulher mais adulta. Segundo a revista, ao se afastar das pessoas
imaturas para ir ao cabeleireiro, por exemplo, a leitora dará a chance que estas outras
pessoas amadureçam. “Que atitude pode ser mais adulta do que deixar os outros
amadurecerem?”, questiona a revista.
52
Texto publicado na página 105 da edição de Nova de junho de 1995 (nº 6, ano 23)
53
Texto publicado na página 105 da edição de Nova de junho de 1995 (nº 6, ano 23)
90
Para atingir a pontuação que a revista considera a ideal de 19 a 38 pontos a
leitora deve assinalar a maioria das questões com alternativas que correspondem a um
ponto cada. São 29 questões, em que as respostas variam entre 0 e 2 pontos.
Curiosamente, as respostas não são excludentes. Em determinada situação, qualquer
pessoa poderia agir das três maneiras propostas sem nenhum problema.
A questão número 3, por exemplo, trata de como a leitora se comporta numa
festa onde conhece a anfitriã. Qualquer pessoa poderia executar, se desejasse, as três
opções listadas na mesma festa sem nenhuma dificuldade e sem nenhuma contradição.
Porém, para cada atitude é computada uma pontuação diferente. As três ações seriam:
a) Pede a ela para apresentá-la a algumas pessoas.
b) Escolhe alguém aparentemente simpático e puxa
conversa.
c) Ajuda a dona da casa – serve aperitivos e lava pratos.
54
Na pergunta número 8, encontramos três opções que aparecem mais
complementares que contraditórias. A questão avalia como a leitora considera “seus
amigos mais chegados”. Quem assinalar a opção “C” está mais próxima de ser
considerada como adulta. As opções são:
a) companhias agradáveis.
b) pessoas com quem partilha os mesmos interesses.
c) aqueles com quem pode contar num aperto.
55
Em outras perguntas, como na 11ª, a leitora deve escolher entre três alternativas
para uma questão que é citada de maneira descontextualizada e sem mensurar a
intensidade do problema. Pergunta a revista como a leitora age “quando está brava”.
Independentemente de qual é a situação, qual o motivo que motivou o sentimento e em
relação a quem a leitora está se sentindo desta maneira, deve escolher se “demonstra sua
raiva”, “tenta se controlar” ou “desabafa, se for possível”.
Para facilitar o entendimento da análise, listamos o título dos testes das edições
selecionadas de Nova, apresentamos réplica das páginas e descrevemos como o teste é
apresentado em cada uma das edições.
54
Texto publicado na página 101 da edição de Nova de junho de 1995 (nº 6, ano 23)
55
Texto publicado na página 101 da edição de Nova de junho de 1995 (nº 6, ano 23)
91
EDIÇÃO TESTE
Junho de 1995 Você é uma mulher adulta?
Setembro de 1995 Sua vaidade passa dos limites?
Outubro de 1995 Você não está à vontade demais na companhia dele?
Dezembro de 1995 Até que ponto os outros podem contar com você?
Junho de 2000 Você precisa crescer?
Setembro de 2000 Até que ponto o amor dele por você é profundo?
Outubro de 2000 Você é exigente demais?
Dezembro de 2000 Você se apaixona rápido demais?
Junho de 2005 Vocês falam a mesma língua?
Setembro de 2005 Do que você é capaz para chegar lá?
Outubro de 2005 Que sapato pega bem no seu pé?
Dezembro de 2005 Sua franqueza é uma faca de dois gumes?
JUNHO DE 1995 - O teste, assinado por Theda Dritchell, “Você é uma mulher
adulta?” é listado no índice na seção de “Artigos e Reportagens”, ao lado da explicação:
“Mesmo a mais independente das mulheres pode não ter atingido ainda a maturidade
emocional. Descubra se esse é o seu caso”.
A avaliação começa na página 100, com uma foto de uma mulher jovem
abraçando um urso de pelúcia com os dizeres: “Talvez você já tenha conseguido pagar a
última prestação do apartamento e seja dona do carro de seus sonhos. São sinais de que
está atingindo a independência mas não a verdadeira maturidade emocional. Para
descobrir se é realmente adulta, faça este teste. Os resultados podem pegá-la de
surpresa!”.
A promessa de ser surpreendente o resultado ofusca o fato que Nova relaciona
diretamente independência com a questão financeira, como se não houvesse outras
questões envolvidas.
Nas páginas seguintes, Nova apresenta 16 perguntas com três alternativas cada
uma, seguidas da tabela de pontuação e o resultado.
92
SETEMBRO DE 1995 O teste “Sua vaidade passa dos limites?” aparece na
seção de “Artigos e Reportagens” do índice da revista. Para Nova, “não nada de
errado com uma auto-imagem positiva, mas a pretensão pode derrubá-la. Saiba se o seu
orgulho está mesmo sob controle”. Assinado por Theda Dritchell, o teste começa na
página 122, com dois terços da página ocupados por uma foto de uma mulher, que veste
roupa social aparentando ser uma executiva –, debruçada ao lado de um carro
estacionado para ver sua imagem refletida no espelho retrovisor.
Acompanhando a foto, aparece o texto “Não nada de errado com uma auto-
imagem positiva, mas a pretensão pode derrubá-la. O seu orgulho está o sob controle?
Ou... a sua vaidade passa dos limites?”.
Na seqüência, encontramos oito perguntas com quatro alternativas cada, uma
nona pergunta com 8 alternativas e a décima, com 9 opções de resposta. Depois, temos a
pergunta 11 com cinco alternativas, a 12ª com quatro alternativas, o quadro de
pontuação e o resultado.
OUTUBRO DE 1995 Assinado por Carol Weston, o teste “Você não está à
vontade demais na companhia dele?” aparece na seção de “Artigos e Reportagens” do
índice, que ainda traz o texto “Descubra até que ponto seu relacionamento não está
correndo riscos por falta de cerimônia e da sua vontade de partilhar tudo”.
O teste começa na página 112, com a foto de uma mulher abraçando um homem
pelas costas e o texto “Há mulheres que detestam fazer cerimônia e adoram partilhar
tudo. Será que um romance resiste a esse estilo franco? Faça o teste – e descubra até que
ponto seu relacionamento está correndo riscos... Você não está à vontade demais na
companhia dele?”.
93
Na gina seguinte, temos a primeira parte do teste com 13 perguntas com três
alternativas cada, a segunda parte que tem apenas uma pergunta com 12 alternativas e o
início da terceira parte, que segue na página seguinte totalizando nove alternativas. A
pontuação e resultado são apresentados ainda na página 114.
DEZEMBRO DE 1995 Carol Weston assina este teste, que aparece novamente
na seção “Artigos e Reportagens” do índice: “Até que ponto os outros podem contar
com você? Egocêntrica, abnegada demais, prestativa, generosa (em termos). Você vai
saber se realmente tem um coração de mãe ou se não dá ponto sem nó”.
O teste começa na página 104 com a foto de duas mulheres, sendo que uma está
à frente da outra e o podemos identificar o que a segunda está fazendo nas costas da
outra. A imagem é acompanhada pelo texto: “Até que ponto os outros podem contar
com você? Quando uma amiga pede um favor, como você reage? Sente prazer em
ajduar ou estremece diante do pedido? Faça o teste e descubra se tem um CORAÇÃO
DE MÃE.. ou se NÃO DÁ PONTO SEM NÓ”.
A primeira parte contém 11 perguntas, todas com quatro alternativas. Na
segunda parte encontramos uma questão com 15 alternativas para a leitora assinalar as
afirmações como verdadeiras ou falsas. O quadro de pontuação fecha o conteúdo da
94
página 106. Encontramos os resultados possíveis com suas explicações. De acordo com
a pontuação, a leitora pode ser “Egocêntrica”, Generosa, em termos”, “Sinceramente
prestativa” ou “Abnegada demais”.
JUNHO DE 2000 Na seção “Vida e Trabalho” do índice, Nova apresenta o
teste “Você precisa crescer?”, assinado por Mary K. Moore. O teste começa na página
132, com uma foto de uma mulher abraçada com um urso de pelúcia (assim como na
edição de junho de 2005) e o texto: “Você faz o gênero independência ou morte? Ou é
daquelas que pedem socorro à mamãe por qualquer besteira? Embarque no teste abaixo
para descobrir a verdade. Você precisa crescer?”. Ainda nesta página, temos a primeira
pergunta com três alternativas, acima da frase: “as atitudes do dia-a-dia denunciam seus
pontos fracos”.
A página 134 traz as questões de número 2 a 10, cada uma com três alternativas
de resposta, além da pontuação. Na página 135, encontramos os resultados. A leitora,
depois de efetuar os cálculos do teste, descobre em qual categoria está: “Na barra da
saia da mamãe”, “No ponto certo” ou “Quanto mais longe de casa, melhor”.~
SETEMBRO DE 2000 O teste “Até que ponto o amor dele por você é
profundo?” aparece na seção de “Amor e Sexo” do índice. Com assinatura de Megan
Fitzmorris McCafferty, apresenta na página 146 uma foto de um homem deitado sobre
uma mulher, com o título: “Até que ponto o amor dele por você é profundo? Você acha
que ele está apaixonado, mas não põe a mão no fogo por isso. Faça o teste para medir o
nível de envolvimento do seu gato e, de quebra, aprenda os truques para elevar a
temperatura desse amor”. A seguir, temos a primeira pergunta com três alternativas e a
“Avaliação do Grau de Compromisso”. A frase “aumentar o grau de interesse depende
de estratégias” está impressa no rodapé da página.
95
Na gina 148, temos outras cinco perguntas, também com três alternativas e
uma avaliação do grau de compromisso em cada uma. A sétima pergunta aparece na
página 150, acompanhada da avaliação e dos resultados: “Você é a musa da vida dele”,
“Ele foi fisgado, mas por quanto tempo?”, “Ele está na sua – hoje” e “Mix de A, B e C”.
OUTUBRO DE 2000 O teste “Você é exigente demais? de Laura Gilbert
aparece listado no índice da edição em “Vida e Trabalho”. Começa na página 136 com
uma foto de uma mulher ao centro de sete homens supostamente nus. O texto
complementa a imagem: “Você é exigente demais? Quando o assunto é homem, você
passa a vida engolindo sapos ou joga duro, descartando até o príncipe encantado? Antes
de concluir, faça o teste”. Duas perguntas com três alternativas cada uma estão
acompanhadas da frase: “No fundo, a mulher muito seletiva tem medo da intimidade”.
Nas ginas seguintes, temos as questões de número 3 a 10, com três
alternativas, além da contagem de pontos e os resultados: “Missão Impossível”,
“Mulher nota 10” e “Perigosamente juntos”.
DEZEMBRO DE 2000 Listado no índice na seção de “Amor e Sexo”, o teste
“você se apaixona rápido demais?começa na página 130 com a foto de uma mulher
admirando um homem com o título “Você se apaixona rápido demais”. No rodapé da
página, temos a frase: “Nem todo gato é um amor em potencial”, próxima ao texto “É a
96
terceira vez que sai com ele e se derrete toda, sentindo que achou o homem da sua
vida? Ou leva uma eternidade para abrir o coração? Descubra como você lida com o
amor”. Sem assinatura no índice, é creditado no interior da revista a Laura Gilbert.
Nas próximas páginas, temos 10 perguntas, com três alternativas cada uma, além
da contagem de pontos do teste. Logo depois temos o resultado que indica se a leitora
que respondeu o teste é “Miss Apressadinha”, “Miss Cautelosa” ou “Miss devagar”.
JUNHO DE 2005 Elaborado por Gail O´Connor e citado no índice na seção
“Amor e Sexo”, o teste “Vocês falam a mesma língua? Cheque a quantas anda a
sintonia entre voe e o seu lindo” começa na página 108, com uma foto de um casal
abraçado debaixo de lençóis coloridos.
O texto “Vocês falam a mesma língua? Como são suas conversas com ele:
divertidas ou profundas? Há diálogo ou monologo? Quem tagarela mais? Cheque,
agora, o jeito de vocês se expressarem e os segredos para melhor a sintonia” dá início ao
teste.
Na coluna da direita, encontramos mais explicações sobre o tema: “‘O Estilo de
comunicação diz algo sobre cada um e também sobre o casal. Mostra quão próximos
vocês estão e como vão enfrentar eventuais problemas no futuro’, explica a terapeuta de
casais Sharin Wolf. Para desvendar aspectos importantes do relacionamento, faça o
97
teste”. Logo após este texto, são apresentadas as duas primeiras perguntas com quatro
alternativas cada.
Nas próximas duas páginas, temos as perguntas de mero 3 a 10, também com
quatro alternativas, e a contagem de pontos. O resultado indica se o casal pode ser
considerado “humor em dose dupla”, “gargantas profundas”, “pólos opostos” ou “gato
falante”. Na segunda página, a última coluna é ocupada por propaganda do tônico facial
Ecologie.
SETEMBRO DE 2005 O teste “Do que você é capaz para chegar lá? Saiba se
está mais para impulsiva, estrategista ou acomodada” de Rian Smith aparece no índice
da edição na seção “Vida e Trabalho”.
Inicia na página 120 com uma foto de uma mulher abrindo uma porta com ar de
mistério e com o texto: “Do que você é capaz para chegar lá? Quando deseja muito
alcançar um objetivo, corre atrás dele, atropelando o que estiver na frente, ou pensa que,
se tiver que ser seu, de mais ninguém será? Descubra aqui se está mais para impulsiva,
estrategista ou (cuidado!!) acomodada”. A pergunta número 1 também aparece nesta
página, com três alternativas.
Nas próximas duas páginas, temos as perguntas de número 2 a 10, todas com
três alternativas, a contagem de pontos e o resultado que aponta se “o fim justifica os
meios”, “meios certos = final feliz” ou “nem meio nem final feliz”. Ainda na página
123, temos um texto com “4 sinais que precisa sair da toca” e um anúncio publicitário
do shampoo anti-resíduos Ecologie.
OUTUBRO DE 2005 Na seção “Vida e Trabalho” temos o teste “Que sapato
pega bem no seu pé? Aponte qual modelo ama de paixão e ele dirá quem você é”, de
Marcia Kedolik. O teste tem início na página 112 com uma foto de 10 sapatos para a
leitora escolher, acompanhada do texto:
98
Que sapato pega bem no seu pé? Se o modelo que você ama
de paixão for o de bico fino, deve ser ambiciosa. Caso
prefira a sapatilha, desperta nos homens a vontade de
protegê-la. Para saber mais, faça este teste exclusivo
preparado pela jornalista italiana Paola Jacobbi.
56
Não esclarecimento do papel de Marcia Kedolik, afinal o teste foi elaborado
por Paola Jacobbi. Um novo texto é apresentado nesta mesma página:
Sapatos novos não trazem felicidade... mas ajudam, segundo
a italiana Paola Jacobbi, autora do livro Eu quero aquele
Sapato! (Objetiva). Depois de investigar o assunto durante
meses e entrevistas especialistas como Sara Porro,
considerada uma das estilistas de maior destaque na Itália
hoje, ela traçou perfis de acordo com os que mais gostamos
de usar e preparou este verdadeiro leitor de personalidade
direto de Milão. Curiosa para fazer o teste? Escolha acima
qual você mais ama e cheque a seguir o resultado.
57
Nas próximas páginas, são apresentados os 10 tipos de sapatos acompanhados
do perfil de cada leitora.
DEZEMBRO DE 2005 Sem assinatura, o teste “Sua franqueza é uma faca de
dois gumes? Você diz o que pensa, mas... e depois? Descubra aqui” aparece no índice
na seção “Vida e trabalho”.
56
Texto publicado na página 112 da edição de Nova de outubro de 2005 (nº 10, ano 33)
57
Texto publicado na página 112 da edição de Nova de outubro de 2005 (nº 10, ano 33)
99
Começa na página 129, com a foto de uma mulher sem qualquer relação com o
tema e o texto: Sua franqueza é uma faca de dois gumes? Sua melhor estratégia é abrir o
verbo e dizer o que pensa na lata ou adoçar cada uma de suas opiniões com um bom
glacê? Descubra qual é o seu estilo antes de marcar a próxima reunião com as amigas!”.
E Nova acrescenta:
“Qualquer relacionamento construído sobre uma base de
mentiras termina em fracasso”, sentencia Mo Shapiro, autor
do livro Shift your Thinking, Change Your Life (Pense
diferente e mude sua vida). Mas a gente sabe que nem
sempre é fácil ser franca e direta. Ainda mais quando a
verdade pode magoar a quem amamos. “As pessoas pedem
opiniões para garantir reforço para as próprias idéias,
alimentar o ego ou r suas convicções à prova”, orienta
Shapiro. “O segredo é pesar se vale a pena dizer o que elas
desejam ouvir.” Para descobrir como você funciona, assinale
apenas uma alternativa para as afirmativas a seguir.
58
Encontramos nas duas próximas páginas 10 perguntas com três opções (sendo
“discorda radicalmente”, “fica na dúvida” ou concorda”). Daí, respondendo estas
perguntas, a leitora descobre qual é sua cor... De acordo com a cor, passa a saber que
pode ser “a sem-papas-na-língua”, “a diplomática” ou “a puxa-saco”.
58
Texto publicado na página 129 da edição de Nova de dezembro de 2005 (nº 12, ano 33)
100
As características da “Mulher de Nova
É possível notar nos testes do período, tanto nas imagens quanto nos temas
sugeridos, que o sucesso da “Mulher de Nova está sempre vinculado às atitudes da
leitora em relação às outras pessoas.
Das 12 edições analisadas, em apenas três edições as fotos que iniciam os testes
têm uma mulher sozinha. Considerando que um dos testes é representado por imagens
(edição de outubro de 2005), os oito restantes apresentam mulheres acompanhadas por
outras pessoas ou abraçando grandes ursos de pelúcia. A seguir, apresentamos as capas
dos testes em que as mulheres não estão sozinhas.
Junho de 1995 Outubro de 1995 Dezembro de 1995
Junho de 2000 Setembro de 2000 Outubro de 2000
Dezembro de 2000 Junho de 2005
101
Nas perguntas e respostas, encontramos a mesma tendência de avaliar se o
comportamento da leitora está dentro dos padrões de normalidade por meio de suas
atitudes com outras pessoas. A maioria dos itens questiona como a leitora se relaciona
com seu companheiro, com amigas, com o chefe ou com os pais.
Entre os tipos de personalidade apresentados para a leitora que responde o teste,
sempre um ideal, referente à “Mulher de Nova”. Quem alcançou estas
características é parabenizada e recebe conselhos para continuar agindo desta maneira.
A mulher que não é enquadrada neste tipo de personalidade ideal é criticada e orientada
a proceder de forma diferente em determinadas situações.
No teste de junho de 1995 (páginas 100-5) a leitora descobrirá se tem
maturidade. A mulher ideal está classificada no item “Sim, sim, sim!”. Diz o texto:
Não importa que tenha acabado de fazer 21 anos você é
adulta no melhor sentido da palavra. “Maturidade emocional
significa se responsabilizar pelo próprio comportamento,
lembrando que os outros têm agendas independentes da
sua”, diz Charles Spezzano, autor de What to Do Between
Birth and Death: The Arte (sic) of Growing Up (O que fazer
entre o Nascimento e a Morte: a Arte de Amadurecer). “Tem
a ver com a percepção dos seus sentimentos, sem achar que
esse conhecimento lhe o direito de usar as pessoas à sua
volta para atingir os seus objetivos.”
59
Por se considerar detentora da verdade e de uma longa experiência de vida, Nova
costuma ser incisiva em seus conselhos e, até mesmo, quando cita um especialista é
alguém que escreveu um livro que, ambiciosamente, promete ensinar o que a pessoa
deve fazer desde o nascimento até a morte.
A análise da mulher ideal continua: “É provável que sua família tenha amplas
condições para você se expressar e crescer emocionalmente. Ou, quem sabe, tem um
talento inato para os relacionamentos. De qualquer forma, você é capaz de manter um
equilíbrio produtivo entre suas necessidades e as de outras pessoas. Não é à toa que é
uma mulher tão popular e satisfeita!”.
Notamos, assim, que a “Mulher de Nova” se relaciona bem com as outras
pessoas o por seu próprio mérito. Ou seria talento inato ou herança de família, duas
situações que a mulher não pode controlar. A revista confere ao termo “maturidade” um
59
Texto publicado na página 105 da edição de Nova de junho de 1995 (nº 6, ano 23)
102
significado entre saber conciliar suas próprias necessidades com as de outras pessoas. E
conclui, sem demonstrar qual a lógica desta conclusão, que esta mulher é popular e
satisfeita, características não relacionadas diretamente à maturidade.
Cinco anos depois, a revista repete o mesmo teste (páginas 132-5), com
pequenas alterações. A leitora que responder as perguntas ficará sabendo se precisa
crescer. A maturidade é novamente pauta da seção e o melhor resultado também
relaciona o sucesso da mulher ideal com sua família.
Quem marcar de 8 a 15 pontos, será considerada “no ponto certo”, o que
significa que “entendeu que era adulta no momento em que começou a arrumar a
própria cama. É provável que tenha guardado na cabeça os melhores ensinamentos
recebidos em casa. E hoje mantém um relacionamento equilibrado com seus pais.
Estabelece fronteiras e consegue fazer com que eles não interfiram em suas decisões, já
que concedeu a eles o importante papel de confidentes. Dessa forma, eles se sentem
inibidos em contrariar suas decisões e evitam discursos morais”.
Nova atribui aos pais a responsabilidade da maturidade de suas filhas, assim
como confere a todo mundo que se relaciona com a “Mulher de Novao benefício da
inocência. A leitora sempre saberá se está agindo corretamente ou de maneira errônea
com aqueles que a cercam, mas em momento algum estas pessoas tão importantes em
sua personalidade são analisadas. Para manter uma boa relação com os pais, que
aparentemente não apresentam nenhum problema, a revista recomenda: “O melhor jeito
de prolongar essa relação de igualdade é partilhando interesses. Assim, quando sentir
que as coisas saíram dos eixos, experimente freqüentar aulas de danças de salão com
sua mãe ou praticar algum esporte com seu pai. E lembre-se: tudo bem recorrer aos
amigos (especialmente se eles forem seus pais) a qualquer momento. Mas, às vezes, é
importante tomar decisões única e exclusivamente por conta própria”. Apesar de se
propor a revelar qual o grau de maturidade da leitora, o resultado apenas relaciona
conselhos para melhorar ou manter a relação da mulher com seus pais.
A “mulher nota 10” da edição de outubro de 2000 (teste publicado da página 136
a 140) é exigente na medida certa. Desta forma, não corre o risco de estar dispensando o
príncipe encantado por uma decisão precipitada. Esta mulher “sabe o que buscar num
homem, levando sempre em conta que qualidades fora de negociação”. E os
exemplos seguem com clichês: “Você prefere a honestidades aos arroubos românticos, a
integridade à conta bancária. Acredita que deve exigir certos pré-requisitos, pois sentir
atração e admiração por um namorado é fundamental”.
103
Se agir de acordo com o que diz a publicação, terá êxito em suas relações,
independentemente do comportamento do companheiro. “Quando um homem satisfaz
as exigências básicas, você costuma relaxar e não o sobrecarrega com críticas. Isso
ocorre com mulheres autoconfiantes, que sabem o que desejam da vida e do amor. Essa
atitude torna o relacionamento mais fácil e deixa o parceiro à vontade: ele não precisa
provar nada para você”.
Neste momento, a revista explicita que as características importantes para um
relacionamento funcionar são distintas entre homens e mulheres. Se a mulher agir
corretamente, o parceiro ficará à vontade porque não precisa provar nada para ela.
Porém, não é recomendável, segundo a revista, que a leitora se sinta a vontade na
presença de seu companheiro, como aponta o teste de outubro de 1995 (páginas 112-4)
que avalia se a mulher não está à vontade demais na relação.
A leitora que atingir entre 14 e 42 pontos neste teste será considerada
“Descontraída na medida certa”. Normalmente a “medida certa” de Nova é o equilíbrio,
o meio termo. Diz a análise: “´Viva a diferença´, você diz. Embora fique à vontade e
seja honesta com seu namorado, você nem sonha em colocar meias soquetes para
dormir, em acrescentar absorventes higiênicos na lista de compras dele ou em pôr o
diafragma na pia no dia seguinte. Você também sabe ser direta sem ofendê-lo. Quanto à
maquilagem... acha que seria ridículo se pintar assim que sai da cama. Ao mesmo
tempo, você não guarda o rímel, o batom e o blush só para programas com outras
pessoas”. Para credenciar a veracidade da análise, Nova cita o autor do livro Os homens
são de Marte, as Mulheres são de Vênus: “´Cuidar da relação é como molhar plantas´,
diz John Gray. ´Se põe pouca água, elas morrem. Se coloca demais, também morrem.
Mas, se rega na medida certa, elas florescem.´”. Podemos concluir que, de acordo com
Nova, a mulher não pode alcançar o estágio de não precisar provar nada ao homem.
Os exemplos e metáforas utilizados por Nova costumam ser muito simples.
Cuidar de um relacionamento é tão simples como cuidar de uma planta, segundo o autor
citado pela revista. Mais uma vez o homem assume um papel passivo na relação de
acordo com a interpretação de Nova. A responsabilidade de zelar pela relação é da
mulher que, agindo corretamente, garantirá o êxito no combate. O segredo, segundo a
revista, é encontrar o equilíbrio entre estar à vontade com o companheiro e não
transparecer alguns aspectos da personalidade - ou até mesmo naturalidade como
quando a revista diz que é necessário estar maquiada em todos os programas - para não
demonstrar falta de zelo com o relacionamento.
104
Na edição de setembro de 1995 (páginas 122-8), quatro tipos de mulheres
listadas pela publicação. Duas consideradas completamente equivocadas em relação às
suas atitudes e duas que tem pontos fortes: a confiante e a modesta. Elegeremos para
nossa análise a “confiante” por apresentar mais elogios e também pela somatória de
pontos mais próxima da média.
Esta leitora “tem consciência tanto de suas limitações como de seus pontos
fortes. Isso a torna surpreendentemente tolerante e altamente resistente ao stress”. A
revista, que pretendia avaliar se a vaidade da leitora estava no limite correto, acrescenta:
“de acordo com vários estudos, uma pessoa que tem uma imagem positiva de si mesma,
como você, tende a ser mais saudável, mais bem-sucedida e mais feliz do que as outras.
Por causa de sua auto-estima consistente, não costuma se abalar com críticas. Ainda
assim, precisa controlar certas pressões internas. O maior risco que corre é o de se
entregar ao perfeccionismo. Portanto, cuidado com aquelas (sic) convicção íntima de
que é capaz de fazer qualquer coisa.”
Em momento algum, a resposta traz relação com vaidade e sim com a imagem
que a mulher tem de si mesmo. Por ser confiante, a leitora teria uma saúde melhor e
seria melhor sucedida em todos os aspectos de sua vida. Porém, para Nova a mulher
sempre enfrentará dificuldades. Cabe à revista alertá-la – como uma espécie de previsão
do futuro e ensiná-la como agir diante dessas dificuldades. De acordo com a revista, a
mulher confiante não pode mais acreditar que pode realizar tudo que desejar. Parece
intenção da publicação ameaçar a segurança da leitora.
Ajudar os outros de forma sincera também é uma característica presente na
“Mulher de Nova”, como observamos no teste de dezembro de 1995 (páginas 104-8). A
melhor resposta é para quem marcou de 20 a 39 pontos, considerada “sinceramente
prestativa”. Esta mulher “tem boa índole, sente prazer em dar uma força para os outros e
não cobra nem espera nada em troca”. E segue o texto, acentuando a importância de
prestar favores aos amigos, realçando a necessidade de se relacionar bem com outras
pessoas: “A verdade é que se sente bem agindo assim e sempre um jeito de
transformar favores em diversão. Os amigos sabem que é ocupada, e, por isso, admiram
ainda mais sua generosidade.”
Novamente, a publicação tenta validar o seu discurso: “Os psicólogos afirmam
que pessoas ajustadas sempre conseguem tirar prazer verdadeiro da ajuda que oferecem.
E mais: prestar favores é uma necessidade humana e uma maneira de nos sentirmos
integradas.”
105
A mulher ideal é também cautelosa, segundo o teste de dezembro de 2000
(páginas 130-4). As leitoras consideradas do tipo “miss cautelosa” são parabenizadas e
analisadas: “As mulheres desse tipo não se apaixonam rápido demais, tampouco
trancam o coração a ponto de não se permitir gostar daqueles que as merecem. A
vantagem: como você sabe o que quer, não perde tempo com relacionamentos furados
apenas para não ficar sem namorado. Quando começa uma relação, a miss cautelosa
entende que é necessário tempo para um conhecer o outro e não supervaloriza cada
passo que os dois dão”. A recompensa por ter “habilidade de pisar no acelerador (ou no
freio) na hora certa” será encontrar “um genuíno amor”.
Duas das edições analisadas de 2005 apresentam diferenças em relação aos
testes de períodos anteriores. Nos quatro tipos de personalidades listados na edição de
junho (da página 108 a 111) não uma aparentemente considerada como perfeita.
ressalvas em todos os tipos e a análise parece respeitar características da personalidade
de cada pessoa, sem julgamentos. A mesma coisa acontece na edição de outubro
(páginas 112-5) quando as características das leitoras estão agrupadas em 10 tipos
distintos, sem grandes elogios e sem críticas fortes aparentes.
Porém, o padrão aqui demonstrado está presente nas outras duas edições
analisadas do mesmo ano. Em setembro (páginas 120-3), temos três tipos de
personalidades, sendo uma definida como “meios certos = final feliz”. A revista é direta
e apresenta, no título, a garantia que agindo corretamente é possível alcançar o final
feliz. Esta leitora “tem a capacidade de falar das suas necessidades sem aquele ranço de
garota mimada”. Por ter “jogo de cintura”, conseguirá, por exemplo, concretizar
negócio e conquistar um apartamento “perfeito”.
A edição de dezembro de 2005 (da página 129 a 131) retoma algumas análises já
realizadas anteriormente. A leitora, ao responder os testes, saberá se sua franqueza está
no ponto certo. O tipo ideal é “a diplomática” que “é sensível aos sentimentos dos
amigos e procura sempre a maneira mais suave de verbalizar suas opiniões
verdadeiras”, afinal como vimos anteriormente saber ajudar é um dos talentos da
“Mulher de Nova”.
Os três tipos de personalidades apresentados nesta edição têm suas vantagens,
porém a mais ponderada e que consegue manter o equilíbrio é a diplomática. O
conselho é: “Acredite: bons relacionamentos agüentam, sim, uma boa dose desse tipo de
sinceridade”.
106
Para garantir o êxito de qualquer relacionamento, a revista avalia também o
companheiro da “Mulher de Nova”. O teste de setembro de 2000 (da página 146 a 150)
apresenta como correto quem respondeu a maioria de respostas “A”, o que significaria
que a leitora “é a musa da vida dele”. Para isso, as perguntas foram direcionadas para
avaliar atitudes do casal, principalmente do companheiro. O melhor homem é aquele
que é louco pela leitora e “faz questão de participar do seu dia-a-dia”. Este companheiro
“não tem medo de demonstrar a profundidade do seu amor e, nem se quisesse,
conseguiria esconder suas emoções. Além disso, não gosto de jogos de sedução, é
sincero e totalmente seguro de seus atos”.
Em seguida, Nova apresenta nesta mesma classificação um conselho chamado de
“PARA AUMENTAR SUAS CHANCES” que explica como a leitora deve agir para
segurar esse homem especial. Depois de revelar à leitora que o seu companheiro é sua
alma mea, Nova assume o tom imperativo e conselhos mais ríspidos a leitora: “Se
quer passar o resto da vida ao lado desse homem, esteja certa de ter marcado vários
gols. Mas não fique se achando o máximo só porque conseguiu fisgar o namorado
perfeito e aprenda a dar valor a ele. Sim, porque até as relações mais quentes pedem
cuidados especiais de ambas as partes para durar anos a fio. E, lembre-se, não é porque
descobriu que ele enxergou em você a mulher ideal que precisa se render a esse fato.
se entregue de corpo e alma a esse romance se estiver certa de que ele também é a sua
alma gêmea”.
Desta forma, a revista estimula a insegurança na mulher. Ao mesmo tempo em
que diz que a leitora é a garota dos sonhos de seu companheiro e ele é “louco” por ela,
diz que ela precisa se cuidar para não perder esse homem perfeito. O sucesso da relação
dependeria do comportamento exclusivo da mulher. Este tipo de companheiro elegeu a
leitora como sua musa e não fará nada para desagradá-la. Cabe a mulher decidir se
continuará ao lado dele – pelo resto da vida – com suas atitudes.
Enquanto o homem aparentemente se dedicou à relação, a leitora ainda vai
decidir se quer se entregar de corpo e alma. É uma verdadeira luta para derrubar o
inimigo. A mulher poderia expor seus sentimentos quando tivesse certeza que a
vitória do conflito estaria garantida.
Ao analisar os testes do período, identificamos várias características atribuídas à
mulher considerada ideal pela publicação. Para alcançar êxito em seus relacionamentos
e em sua vida profissional, a “Mulher de Novadeve apresentar um grande conjunto de
qualidades que a transformaria praticamente em um super herói.
107
A revista elogia tantos aspectos como se fosse possível uma mesma pessoa
agrupar tantas características positivas. Seria uma pessoa dedicada integralmente a um
relacionamento, que agiria por todo o tempo de forma correta e ainda estaria cercada de
pessoas, especialmente os pais e o companheiro, também perfeitos.
É uma característica do narcisista buscar a aprovação para suas atitudes e é isto
que Nova explora em seus testes. Oferece o reconhecimento e valida a personalidade da
leitora. Ela, que vive uma intensa ansiedade para agir corretamente e garantir uma
felicidade absoluta que é impossível, pelo olhar de Nova a possibilidade de estar no
caminho certo.
Nos testes, a leitora tem a oportunidade de saber as respostas de
questionamentos criados pela própria revista. Nova tem o interesse em acentuar a
insegurança da leitora para que, em cada edição, possa dar a oportunidade de oferecer
alento às principais crises de insegurança. Como vimos anteriormente, nos 12 exemplos
citados, a revista elogia características da leitora para depois incutir a possibilidade do
fracasso em algum aspecto de sua vida.
Ao mesmo tempo em que promete que suas fórmulas, se seguidas, são a chave
para a felicidade, seu discurso mostra que a “Mulher de Nova tem virtudes tão
especiais que já teria nascido com estas.
Desta forma, ou a “Mulher de Novanasceria perfeita, filha de pais perfeitos,
com talento inato para atrair e reconhecer o companheiro ideal, ou estaria condenada ao
fracasso e à infelicidade. O discurso torna-se contraditório à medida que Nova estimula
a leitora a agir de uma determinada maneira e afirma que a felicidade é algo que a
leitora já nasce predestinada.
Saber se é popular e admirada pelas outras pessoas também é uma das principais
dúvidas da leitora, segundo o teste. Nova comumente afirma que a leitora é popular,
querida pelos amigos, admirada pelos companheiros de trabalho e praticamente
idolatrada pelo namorado/marido.
O narcisista vive a busca para o fim de sua ansiedade. Acredita que encontrando
a plena felicidade atingirá seu objetivo, mesmo que não saiba quais resultados quer
alcançar e nem como deve fazer para atingí-los.
Como já apontamos no segundo capítulo deste trabalho, a leitora dificilmente
encontra sua felicidade sozinha. Depende da revista e das outras pessoas para enxergar
seu sucesso e sua felicidade. Enquanto não encontra um companheiro para idolatrá-la, a
leitora pode contar com a revista, que fará questão de elogiá-la sempre que possível.
108
A leitora, ao responder os testes, busca a ilusão de que será reconhecida por suas
qualidades e receberá a garantia da publicação que seus sonhos irão se realizar. Se agir
como a revista orienta, terá melhor relacionamento com seus pais, encontrará o amor de
sua vida e ainda o emprego de seus sonhos.
Tudo depende dela e não das pessoas que vivem a sua volta. Cultivar boas
relações é uma das características consideradas necessárias para obter sucesso na vida
contemporânea, aponta Rüdiger (1996, página 170). Para o autor, que analisa a literatura
de auto-ajuda e o individualismo,
na comunidade de interesses defendida pelos modernos, os
indivíduos relacionam-se para maximizar as vantagens
individuais que visualizam como capazes de lhes trazer o
bem. As relações sociais constituem, idealmente, contratos
em que os participantes negociam e chegam a um acordo
sobre a melhor maneira de satisfazer seus interesses.
(Rüdiger, 1996, página 169)
A leitora encontrará sua aprovação na revista, que analisará a forma como se
relaciona com as outras pessoas. Para ter sucesso na vida, a mulher precisaria cultivar
estas relações, tanto no trabalho quanto com o companheiro, os pais e os amigos.
Somente quando alcançar a aprovação do outro, encontrará sua felicidade.
Rüdiger (1996, página 170) acredita que o indivíduo moderno busca se
relacionar bem com os outros para que possa dominar as relações. A lógica é aplicável
nos testes de Nova, principalmente nas questões afetivas, pois a leitora é recomendada a
agir de determinadas maneiras não para ser mais feliz e sim para dominar seu
companheiro e vencer a guerra contra os homens.
A mulher ainda não tem o que deseja porque ainda falta realizar alguma ação
que a revista revelará. Assim como qualquer mercadoria na cultura do narcisismo, os
testes são apresentados como únicos, mesmo que sejam muito parecidos e com
resultados similares.
Segundo a revista, a Mulher de Nova não se abala com as dificuldades do
cotidiano. Com uma imagem positiva de si mesma, consegue superar as adversidades,
conciliar conflitos e lidar com o stress da vida moderna.
Saudável, esta mulher é incansável na busca não de sua felicidade porque é
sua tarefa, também, fazer felizes aqueles que vivem a sua volta. Deve estar sempre
109
pronta a ajudar, assim como permanece em estado de alerta em busca do companheiro
ideal que completará sua vida.
É nos outros que Nova estimula que a leitora encontre sua realização e sentido
para sua existência. Sendo uma boa companheira e uma boa filha, a mulher poderá ser
uma boa pessoa. A liberação sexual torna-se, nas ginas da revista, mais uma tarefa
que a mulher tem de cumprir. Ao dar prazer, poderá ter prazer e sentido em sua vida.
Curiosamente, seguindo o raciocínio do teste, a leitora é uma mulher segura,
com auto-estima positiva e tem uma ótima imagem de si mesma. Se a leitora é tão
confiante, por que responderia o teste? Uma mulher tão bem-sucedida sabe quem é e
não precisaria responder questões subjetivas para que a revista diga quem ela é e como
deve agir para se tornar uma pessoa boa.Nos resultados analisados, encontramos na
“Mulher de Novacaracterísticas como consciência de suas limitações, consciência de
seus pontos fortes e que esta leitora não costuma se abalar com críticas. Alguém que não
se abala com críticas e sabe quais são seus pontos negativos e positivos não precisaria
responder o teste.
A possibilidade de se transformar em uma pessoa melhor com pequenas
fórmulas talvez seja o atrativo para a leitora. De acordo com a revista, pequenas ações
poderiam garantir êxito. Cuidar de um relacionamento como se cuida de uma planta,
apenas oferecendo água com freqüência, parece algo simples e Nova garante que é
eficaz e suficiente.
Apesar de o teste apresentar, tanto em sua forma como na maneira que a leitora
calcula os resultados, um caráter lúdico, a revista jamais afirma que o teste é uma
diversão. Seriam resultados precisos, validados por especialistas.
A leitora responderia para descobrir quem é e encontraria nas respostas a
oportunidade de ser uma pessoa melhor para atingir, finalmente, a felicidade absoluta.
Mantendo a mesma fórmula, Nova promete resolver todos os problemas e aflições da
leitora, porém na edição seguinte novas necessidades e questionamentos são
apresentados. Alguns temas são freqüentemente repetidos, assim como as respostas são
parecidas, seguindo a lógica da cultura do narcisismo, onde a felicidade é um ideal que
jamais será alcançado.
Nova age como um manual de auto-ajuda para que a leitora entenda que possui
um grande potencial de realização. O sucesso da “Mulher de Novaé resultado de suas
ações. A leitora deve acreditar que é única, com capacidades acima das outras pessoas
110
que vivem à sua volta. Cabe a esta mulher agir de forma correta para garantir a
harmonia das pessoas que fazem parte de suas relações.
O indivíduo precisa assumir a responsabilidade de desempenhar corretamente
suas funções para assegurar a existência de sua personalidade perante a sociedade.
Acreditando que tem domínio das circunstâncias e das relações, o indivíduo poderia ter
a sensação de domínio sobre si mesmo.
Rüdiger (1996, página 201) defende que “a responsabilidade e o desejo de
contituir-se e realizar-se como sujeito contrastam com a dificuldade e o sofrimento de
ser indivíduo”. Nova explora esta dicotomia e oferece às leitoras uma identidade pré-
fabricada para que possam se adequar. Agindo de acordo com fórmulas e modelos, a
leitora pode assumir o papel de “Mulher de Nova”.
No próximo capítulo, analisaremos entrevistas realizadas com leitoras de Nova,
para avaliar se os interesses e anseios destas são os mesmos apresentados nas páginas da
revista. Com material disponibilizado em comunidades de leitoras do Orkut poderemos
compreender como as leitoras avaliam a revista e como definem quem é a “Mulher de
Nova”. Compararemos a “Mulher de Nova estampada nas seções da revista com a
“Mulher de Nova” que consome a publicação.
111
Capítulo 4 – A revista Nova e o perfil das leitoras
Nos três capítulos anteriores, buscamos identificar as principais características
da “Mulher de Nova” construídas pela publicação. Com as análises realizadas nas
edições de 1995, 2000 e 2005, procuramos encontrar como é a mulher retratada na
revista, assim como seus interesses.
De acordo com a revista, toda leitora pode ser transformada nesta mulher, seja
por meio de suas atitudes que podem ser guiadas pelos conselhos da revista ou de
forma física, quando a leitora passa pelo “Banho de Nova”.
Encontramos nas revistas analisadas uma série de adjetivos atribuída a esta
mulher. Segundo Nova, a mulher contemporânea ideal é independente e tem um bom
relacionamento com os pais. Deseja encontrar um companheiro, tem sua carreira
fortalecida e pode ser considerada como à frente do seu tempo. Encontrar um marido é
um de seus principais objetivos. Resta saber se a leitora realmente é ou pretende ser
desta forma. Para encontrar a resposta, buscamos informações com as leitoras.
O objetivo é comparar se a opinião das leitoras da revista coincide com o perfil
criado para a “Mulher de Nova”. Para isso, encaminhamos um questionário
60
para
diversas leitoras e consideramos as 100 primeiras respostas que recebemos para o
resultado. Todas as entrevistadas fazem parte da comunidade “Eu sou uma Mulher de
Nova
61
. O espaço foi criado pela própria revista no site de relacionamentos Orkut em
18 de setembro de 2007 e já tem 5.444 membros inscritos.
Encaminhamos uma breve mensagem inicial (por meio de um “recado”
62
no
Orkut) explicando sobre o trabalho de mestrado. Em seguida, pedimos que, caso
houvesse interesse e disposição em participar, que a leitora encaminhasse uma
mensagem ou e-mail. Mais de 150 leitoras (de um total de aproximadamente 200
mensagens iniciais) responderam o primeiro contato.
Então, enviamos o questionário por e-mail. Algumas leitoras, ao receber o
questionário, responderam que estavam sem tempo e que responderiam mais adiante.
Mesmo depois de termos computado os 100 primeiros questionários completos, ainda
recebemos diversas mensagens.
60
Vide Anexo 1.
61
Disponível em http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=39318397. Acesso em 18 de dezembro
de 2007.
62
Muitos usuários de internet utilizam o termo scrap para recado, pois o site de relacionamentos Orkut,
durante os seus primeiros anos de funcionamento, não possuía uma versão traduzida para o português.
112
Além das respostas recebidas, consideramos tópicos debatidos pelas leitoras em
outras duas comunidades do Orkut: “Eu amo a Revista Nova
63
que conta com 4.410
leitores (homens e mulheres) e “Amo a Revista Nova
64
, que reúne 995 leitores. Com o
objetivo de sermos fiéis aos depoimentos, utilizaremos as declarações da forma original,
mantendo até erros de português e a linguagem com abreviações própria da internet.
No Orkut encontramos outras dezenas de comunidades relacionadas à revista,
porém estas três selecionadas para nossa análise o as que agrupam o maior número de
leitores. Quando começamos a realizar este projeto de mestrado, existiam comunidades
destinadas a criticar a publicação, mas foram excluídas no período da pesquisa do site
de relacionamentos.
Nas três comunidades em questão, as leitoras criam tópicos para discutirem
assuntos relacionados à revista. As leitoras aproveitam o espaço, também, para pedir
conselhos para outras leitoras. Na comunidade “Eu sou uma mulher de NOVA”, por
exemplo, foi criado um tópico
65
em 21 de outubro de 2007 questionando como se
“turbina sua auto-estima”. A leitora diz:
Sou uma mulher de Nova mas tenho que admitir q
ultimamente não ando muito confiante... aceito idéias...
vcs podem me dar uma força nesse momento...
66
Outras seis participantes deram conselhos. A primeira sugeriu que a leitora
encontrasse as respostas na revista:
Tem muitas reportagens legais e se vc seguir os conselhos
desses “mestres”, tenho certeza que vai recuperar sua auto
estima, uma olhada em suas revistas antigas, tem sempre
alguma coisa legal.
67
Observando estes fóruns, é possível afirmar que as leitoras mantêm as fórmulas
apresentadas por Nova e repetem os conselhos encontrados na publicação. A leitora
Juliana apresenta um conselho para melhorar a auto-estima similar a recomendações
63
Disponível em http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=571812. Acesso em 18 de dezembro de
2007.
64
Disponível em http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=21612030. Acesso em 18 de dezembro
de 2007.
65
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2561768655707734137.
Acesso em 12 de dezembro de 2007.
66
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2561768655707734137.
Acesso em 12 de dezembro de 2007.
67
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2561768655707734137.
Acesso em 12 de dezembro de 2007.
113
vistas na seção de Testes analisada neste trabalho. Para ela, “nada melhor que uma
boa terapia e um dia de salão”.
Como já apontamos nos capítulos anteriores, o sucesso da “Mulher de Nova
dependeria de despertar a admiração de homens e de derrotar as outras concorrentes
Para elevar a auto-estima, a participante Thaty Barbosa reitera a necessidade de
depender da aprovação de um olhar exterior para se sentir bem:
Eu coloco uma roupa que eu sei que vai parar o trânsito, um
salto alto, me perfumo e sai de baixo! Qd percebo os olhares
de admiração masculinos e os de inveja femininos... minha
auto-estima sobe até a lua!!!
6
Fazer coleção da revista é um comportamento bem difundido nas comunidades,
talvez seja por isso que encontramos tanta dificuldade em encontrar exemplares antigos
a venda em sebos e outras lojas especializadas.
As comunidades apresentam mensagens de leitoras contando que colecionam os
exemplares. Muitas estabelecem uma relação com a revista como se esta fosse uma
pessoa de quem sentem ciúmes. Elas garantem que não emprestam seus exemplares e
que mantêm um acervo das edições passadas para eventuais consultas.
Um tópico
7
criado em 13 de outubro em “Eu sou uma mulher de NOVA” traz
depoimentos de leitoras sobre esta relação de possessividade com a publicação.
Intitulado “Morrooo de ciúmes das minhas revistas...” (vide Figura 1), a discussão conta
com a participação de dez leitoras, com testemunhos como o de Danielle:
Aiii, se minha NOVA chega e alguém abre... sou muito
ciumenta, posso até emprestar, mas não me sinto aliviada até
a revista voltar e salva... rsrsrs... até agora coleção
completa e inteirinha!
68
A leitora Nascimento, uma das leitoras entrevistadas neste trabalho,
acrescenta em 26 de outubro que também sente ciúmes:
tenho um acervo enorme. todas as edições organizadas por
mes desde 2002, quando tinha 15 anos. morro de ciumes.
uma orelhinha nelas pode ser fatal...
69
68
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2560282435971765500.
Acesso em 17 de dezembro de 2007.
69
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2560282435971765500.
Acesso em 17 de dezembro de 2007.
114
Esta relação com a revista despertou a criação de um tópico
70
na comunidade
“Eu amo a Revista Nova”. Foram computados 50 votos (vide Figura 2) para a pergunta
“Se a revista Nova fosse uma pessoa que grau de intimidade voce acha que ela teria com
voce”, criada por alguém que se identificou como “pesquisadora”.
A maioria (60%) das votantes declarou que se a revista fosse uma pessoa seria a
melhor amiga delas. Para outros 16 leitores, seria uma amiga. Apenas quatro pessoas
disseram que seria “apenas conhecida”. Ninguém assinalou a opção “poderia ser
desconhecida”.
Figura 1
Figura 2
70
Disponível em http://www.orkut.com/CommPollResults.aspx?cmm=571812&pct=1177680420
&pid=1055834243. Acesso em 12 de dezembro de 2007.
115
Evidentemente, em um mercado onde a segmentação é necessária para atrair
mais anúncios publicitários, todas as revistas buscam a maior identificação possível com
seus leitores. Nova parece ter alcançado uma excelente relação com suas leitoras com a
criação de uma personagem chamada a “Mulher de Nova”. Uma das perguntas do
questionário que enviamos era “Como é a Mulher de Nova?”. Nenhuma das
entrevistadas hesitou sobre a existência desta personagem. Pelo contrário, apresentaram
características similares às citadas pela publicação.
Nova parece ter acertado na receita de suas matérias e de sua composição. No
tópico
71
“O que vc acha da Revista?”, criado na comunidade “Amo a Revista Nova”,
84% dos leitores (de um total de 64 votos) consideram a publicação “Excelente. Não
precisa mudar nada” (31%) ou “Muito boa. Precisa de pequenas mudanças/melhorias”
(53%). Somente dois votos foram computados para “Ruim. Precisa mudar totalmente” e
oito votos para “Razoável. Precisa de grandes mudanças/melhorias”.
Poderíamos questionar a satisfação dos leitores por esta enquete ter sido
realizada em uma comunidade virtual de pessoas que admiram a revista. Mas, por não
termos outros espaços destinados a leitores insatisfeitos e também por ser um espaço
livre onde qualquer um pode votar, seja leitor ou não, devemos levar em conta tais
resultados.
Mesmo satisfeitas, as leitoras participantes das três comunidades têm algumas
críticas em relação à revista. Uma das mais recorrentes é que as leitoras querem ver
mulheres mais comuns nas páginas da publicação. Vários tópicos foram criados para
reclamar da ausência de negras, asiáticas e mulheres fora do padrão físico imposto pela
revista, chamadas de “gordinhas” pelas participantes.
Alaine criou um tópico
72
na comunidade “Eu sou uma mulher de NOVA”
questionando os motivos pelos quais “nunca tem mulatas ou negras nas capas de Nova
(vide Figura 3). Outras leitoras manifestaram apoio e sugeriram nomes de atrizes negras
para serem fotografas para a capa de Nova.
71
Disponível em http://www.orkut.com/CommPollResults.aspx?cmm=21612030&pid=1713901750
&pct=1186486442. Acesso em 17 de dezembro de 2007.
72
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2558368130457617312.
Acesso em 12 de dezembro de 2007.
116
Figura 3
Outro tópico
73
discute a questão na mesma comunidade. Criado em 17 de
novembro pela leitora Paula, a discussão contou com 24 mensagens e tomou outros
rumos. As leitoras listaram também a ausência de orientais e mulheres consideradas
obesas. A mensagem inicial diz:
E nós as negras ficamos como????? Venho aki fazer uma
reclamação e tbm convocar todas para exigir da revista que
também de dicas de beleza pra gente! Sou negra mas gosto
de usar o meu cabelo lisinho, aposto que mtas outras leitoras
também gostam. Nunca colocam nada para o nosso tipo de
cabelo, nada para o nosso tom de pele! Toda vez que ligam
oferecendo assinaturas faço as mesmas reclamações e nada
muda! Amo de paixão a revista mas tem ficado complicado
não acham garotas?
74
73
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2566861415
330080348&na=3&nst=21&nid=39318397-2566861415330080348-2567596694442892760. Acesso em
17 de dezembro de 2007.
74
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=256686141533008
0348&na=3&nst=21&nid=39318397-2566861415330080348-2567596694442892760. Acesso em 17 de
dezembro de 2007.
117
A discussão segue e as leitoras começam a acusar Nova de ser preconceituosa.
Outras mensagens pedem orientais na capa e dicas de maquiagem para negras. Entre
outras mensagens de apoio ao fórum criado por Paula, a leitora Elaine pede
providências da revista em relação à exclusão:
Exclusão??? Bem acho que a revista NOVA deveria tomar
alguma providência em relação a isso, pois já tem muitas
reclamações sobre exclusão da raça negra pela Revistra
NOVA. Várias comunidades da revista no orkut sempre
falam sobre as modelos da capa nunca serem negras, no
banho de nova nunca nenhuma negra, as dicas de beleza
tbm quase nunca são pra negras, bem... acho que as
mulheres de nova tbm são negras, afinal estamos no Brasil!
Não queremos que a revista seja voltada apenas para o
público negro, não é isso! Pois sabemos que que existem
revistas voltadas somente para a nossa raça, mas
gostariamos de sentir que a revista tem a ver com a gente
tbm, afinal uma revista que gostamos tanto deveria ter a
nossa cara e falar um pouco mais sobre nós.
75
Ao mesmo tempo, a leitora Vera levanta outra questão na discussão:
E falta tbm moda para as "cheínhas" como eu!!! A NOVA
só mostra magrelas!!!Nem toda leitora é modelo!!
76
A leitora Daniela defende Nova dizendo que não negras na capa porque a
sociedade que é preconceituosa e por isto estas não conquistariam o sucesso. Ela opina:
Eu sinceramente discordo um pouco!!! Acho sim, que o
padrão de beleza exigido pela NOVA é surreal, para nós,
simples mortais. Mas dizer que preconceito em razão de
qualquer tipo de raça, não concordo. Simplesmente eles
colocam na capa a famosa que está na mídia. Seja ela negra,
75
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=256686141
5330080348&na=3&nst=21&nid=39318397-2566861415330080348-2567596694442892760. Acesso em
17 de dezembro de 2007.
76
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2566861415
330080348&na=3&nst=21&nid=39318397-2566861415330080348-2567596694442892760. Acesso em
17 de dezembro de 2007.
118
oriental ou loira. Se há mais loiras saradonas na mídia ... a
culpa não é da Nova.
77
A opinião acima citada da leitora Danielle levanta uma questão já discutida neste
trabalho. Nova não é a culpada pelos problemas e sim uma conseqüência da sociedade.
O narcisismo é uma característica encontrada nos dias atuais e não é exclusividade das
páginas de Nova.
Evidentemente, não defendemos a exclusão de nenhum tipo social, nem
compactuamos com a ditadura da beleza imposta pela revista que apresenta como chave
do sucesso a beleza física da mulher. Porém, é preciso considerar que a “Mulher de
Nova”, segundo as próprias leitoras, seria um retrato da mulher contemporânea.
A questão primordial é observar que esta mulher contemporânea perdeu muito
dos valores defendidos em meados dos anos 60, como a liberação sexual, o controle da
natalidade e o direito de ocupar sua posição no mercado de trabalho sem nenhum tipo
de preconceito.
Em Nova, a mulher busca o prazer como uma verdadeira obstinação. A liberdade
sexual deu espaço a um aprisionamento na luta de ter o maior prazer, o melhor orgasmo
e ainda de dar prazer ao companheiro.
Apesar de a comunidade ter sido criada pela própria revista com a finalidade de
ser um espaço de interatividade entre a Redação de Nova e as leitoras, não encontramos
nenhuma manifestação por parte da revista em relação a críticas e elogios. Da mesma
forma que acontece nas outras duas comunidades analisadas, os fóruns são escritos por
leitores. A defesa das críticas é realizada, normalmente, por outras leitoras.
As leitoras utilizam as comunidades para discutir assuntos relacionados à revista,
dar sugestões, fazer críticas e, principalmente manifestar o desejo de participar do
“Banho de Nova”. Fóruns são criados para que as leitoras votem nas melhores capas da
publicação. Embora tenhamos concluído nos capítulos anteriores que as capas eram
muito parecidas e não apresentavam grandes variações, as leitoras parecem ter opinião
distinta. Criam pesquisa para que votem na melhor capa de cada artista. Há, em “Eu sou
uma mulher de NOVA”, o “TOP 5 Adriane Galisteu”, “TOP 4 Angélica”, “TOP 3
Priscila Fantin”, “TOP 3 Juliana Paes”, “TOP 4 Alinne Moraes”, “TOP 5 Ana Paula
77
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=256686141533008
0348&na=3&nst=21&nid=39318397-2566861415330080348-2567596694442892760. Acesso em 17 de
dezembro de 2007.
119
Arósio”, “TOP Cristiana Oliveira” e o “TOP 10 Xuxa” (vide Figura 4). Nestes fóruns
78
todas as capas de cada artista são apresentadas para votação.
Figura 4
Algumas leitoras aproveitam o grande número de mulheres participantes para
pedir opinião sobre diversos assuntos. Neide Ribeiro
79
, por exemplo, pediu sugestões
para o nome de seu filho. Grávida de três meses, sugeriu que cada integrante da
comunidade “Eu sou uma mulher de NOVA” deixasse duas sugestões caso fosse
menino e duas se fosse menina. Mais de 80 leitoras enviaram nomes.
Algumas outras discussões não-relacionadas à Nova também tem seu espaço nas
comunidades. Em “Eu sou uma mulher de NOVA”, por exemplo, 121 leitoras votaram
na enquete “O que você sente pelo Johnny Depp?
80
. Outras 314 responderam à
pergunta “Qual a maior tragédia na vida de uma mulher de Nova?” (vide Figura 5). As
alternativas
81
, eram “o salto quebrar no meio da rua”, “engordar um pouquinho” e
78
Disponível em http://www.orkut.com/CommPolls.aspx?cmm=39318397. Acesso em 18 de dezembro
de 2007.
79
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=256516177651947
9330&na=2&nst=76. Acesso em 18 de dezembro de 2007.
80
Disponível em http://www.orkut.com/CommPollVote.aspx?cmm=39318397&pct=1195066042
&pid=884022013. Acesso em 15 de dezembro de 2007.
81
Disponível em http://www.orkut.com/CommPollResults.aspx?cmm=39318397&pid=1783834685
&pct=1192272207. Acesso em 15 de dezembro de 2007.
120
“perder a edição de Nova do mês”. O resultado é praticamente um empate, com
aproximadamente 30% das leitoras votando em cada uma das opções.
Figura 5
O desejo de se ver na revista é o maior pedido das leitoras. Participar da seção
“Banho de Nova” é o sonho de todas. As três comunidades analisadas apresentam
diversos tópicos de leitoras pedindo para participar da seção da revista. Em uma delas,
uma discussão de leitoras que questionam se preferência na escolha de leitoras
paulistas. Com críticas ou sem críticas ao processo de seleção da revista, todas tentam
aproveitar o espaço do Orkut para reivindicar seu espaço em Nova.
Os tópicos servem apenas para reunir leitoras com o mesmo sonho, que a
Redação da revista, mesmo sendo mediadora de uma das comunidades, não se manifesta
em hipótese alguma sobre as discussões das leitoras.
Um destes fóruns
82
sobre o Banho de Nova (vide Figura 6) recebeu mais de 300
pedidos de leitoras em menos de dois meses. Criado em 2 de outubro de 2007 por uma
participante que identifica como Chris, o tópico começa com:
QUERO PARTICIPAR! BANHO DE NOVA. Eu quero
participar da secção banho de nova, sou leitora desdo os 17 e
hoje tenho 31, meu sonho é participar.... ja enviei milhoes de
cartas... REALIZEM MEU SONHO...
83
Na seqüência, outras leitoras começam a elencar razões pelas quais deveriam ser
escolhidas pela Redação da revista. O argumento mais repetido é que as leitoras são
verdadeiras “Mulheres de Nova” e por isso merecem participar da seção.
82
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2558333231625012402
&na=1&nst=1. Acesso em 16 de dezembro de 2007.
83
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2558333231625012402
&na=1&nst=1. Acesso em 16 de dezembro de 2007.
121
Figura 6
Mais que um sonho, as leitoras pedem a participação no Banho de Nova como
uma necessidade que sentem em suas vidas. Muitas repetem que participar desta seção é
ter a certeza de sentir a auto-estima elevada. A leitora Marcia Nunes escreve que
gostaria de participar do Banho, mas que também desejaria ser entrevistada pela revista:
EU NECESSITO!!!!
Tenho 34 anos e leio a NOVA desde os 9 (fazia isso
escondida, é claro!). Meu 1,80 e os meus longos cabelos
precisam do BANHO DE NOVA. Porque vocês não fazerm
uma matéria especial para as 50 primeiras participantes desta
enquete??? Beijos enormes e amo essa revista.
84
Alguns dias depois, a leitora Mel, que se considera uma “Mulher de Nova”,
também deixa sua mensagem. Ela evidencia que participar da seção é a oportunidade de
ser reconhecida como uma verdadeira “Mulher de Nova”.
Eu quero muuuuuuuuuuuuuuuuuuito!!!!!!!!
Queria muuuuuuuuuuito participar de um banhode nova.... É
meu sonho me ver nas mãos de profissionais tão
84
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2558333231625012402
&na=1&nst=1. Acesso em 16 de dezembro de 2007.
122
competentes, que podem extrair o melhor que em mim e
me transformar em uma mulher de Nova muito mais do que
eu sou. Tomara que um dia eu consiga realizar este sonho! O
que será que precisa pra isso Seria capaz de "tudo" para
conseguir.... Bjs e boa sorte para todas nós que temos este
sonho!
85
Curiosamente, para pedir a participação na seção, as leitoras ressaltam suas
fraquezas e os problemas que enfrentam, contrariando a imagem de uma mulher bem
resolvida criada pela própria publicação. Destacam os problemas que têm com suas
imagens para convencer que realmente necessitam do Banho. Afirma a leitora Cynara:
PRECISO MUITO!!!!!
Apesar de me achar bonita....interessante...simpatica...tenho
andado com minha auto estima em baixo.Tive problemas
de saúde e por conta disso perdi muitos quilos e meu guarda
roupa todoooooooo!!! Me olho no espelho e nao consigo
mais me achar bonita...me acho sem graça, sem brilho,fico
desanimada e triste por nao estar bem comigo mesma. Por
favor me ajudem!!! Preciso levantar minha auto estima!!!! A
revista tem ajudado bastante, mas eu preciso de um BANHO
DE NOVA!!!!!
86
A leitora Joy foi ainda mais detalhista ao narrar sua história para provar que
precisa participar da seção. Em seu depoimento, abordou questões já discutidas neste
trabalho, como a necessidade de ser reconhecida por outra pessoa. Ela conta que
passou a se ver como mulher quando começou a namorar depois de uma separação. Diz
Joy na mensagem intitulada “Banho siiim”:
EU gostaria muito de participar de um banho de nova. Bem,
mas antes vou contar a minha história. Eu me casei aos 17
anos, e tive uma filha, desde então..minha vida foi trabalhar,
estudar e fazer de tudo pra ter uma vida confortável a minha
pequena. Hoje, me separei faz 3 anos...e desde então percebi
q eu estava esquecida de mim. É verdade. Eu, desde a minha
adolescência, eu não me via. o pude ser mulher...eu
85
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2558333231625012402
&na=1&nst=1. Acesso em 16 de dezembro de 2007.
86
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2558333231625012402
&na=3&nst=91&nid=39318397-2558333231625012402-2560166422451574798. Acesso em 16 de
dezembro de 2007.
123
mulher. só a mae, a estudante, a dona de casa. Tive um
namoro, e desde então, comecei a pensar em mim como
mulher a me comparar com as outras, e confesso, não estou
satisfeita..mas como eu vou ser mulher? eu não tenho idéia.
Sempre q vou levar a minha filha a psicologa eu leio a Nova
e. puxa...ta me ajudando a refletir e enxergar as coisas como
mulher. Queria um banho de Nova, não no visual, mas
tbém na mente.. amo vcs..me dêem um banho!!!
87
Outras leitoras disseram que precisavam participar da seção para conseguir se
casar. A leitora Josy afirmou que o Banho seria importante para ela, pois desta forma
seu namorado poderia pedi-la em casamento:
Eu perciso!!!!
Venho sonhando com isso 15 anos.... hoje tenho 30, mas
produção da Nova, novembro é mes de meu aniversário, me
este presente!!!! seria a realização de um sonho, que hoje
considero impossível... mas talvez naum inatingível.. Poxa,
agora dia 28 vasi fazer 5 anos de namoro, e isso iria ser
massa tbm pra gente, meu namo irira ficar super orgulhoso,
e quem sabe ate me pediria em casamento rsrsrs... fica meu
pedido pela milésima vez:: me dá uma repaginada vai.....
88
Assim como nas páginas da revista, as leitoras parecem estar sempre
insatisfeitas, em busca de algo que traria a felicidade, seja participar do Banho de Nova,
encontrar um namorado ou chegar ao peso considerado ideal.
Encontramos diversas mensagens, fóruns e comentários sobre insatisfação das
leitoras com a imagem que representam. Chegar ao ideal de ser uma “Mulher de Nova
é objetivo de todas. A comunidade “Amo a Revista Novatraz uma enquete
89
sobre a
relação das leitoras com o corpo (vide Figura 7). Quase 80 leitoras responderam a
pergunta: “Você está satisfeita com o seu peso?”. Apenas nove leitoras declararam que
se consideravam em forma, enquanto 51% delas apontaram que gostariam de perder
87
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2558333231625012402
&na=3&nst=161&nid=39318397-2558333231625012402-2561188081359304488. Acesso em 17 de
dezembro de 2007.
88
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2558333231625012402
&na=3&nst=171&nid=39318397-2558333231625012402-2561336573421311019. Acesso em 17 de
dezembro de 2007.
89
Disponível em http://www.orkut.com/CommPollResults.aspx?cmm=21612030&pid=1940596940&pct
=1179808504. Acesso em 18 de dezembro de 2007.
124
cerca de cinco quilos. As outras 29 leitoras (37%) assinalaram a opção “Não. Estou
gorda e preciso perder mais de 10 kg”.
Figura 7
A insegurança está presente nas mensagens, como na comunidade “Eu sou uma
mulher de Nova”, em que a leitora Aline criou, em 21 de outubro de 2007, um tópico
90
pedindo ajuda, conforme mostra a Figura 8. Outras duas leitoras deixaram conselhos na
seqüência, tentando estimular Aline a ser mais segura.
Figura 8
Diversas leitoras pedem conselhos em busca de se sentirem mais confiantes,
enquanto outras tentam ajudá-las. Talvez a insegurança seja causada pela própria idéia
de que para ser uma “Mulher de Nova é preciso ter uma grande quantidade de
características positivas, nem sempre fáceis de alcançar, como relatam as leitoras.
90
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2561771294965059106.
Acesso em 18 de dezembro de 2007.
125
Algumas mensagens deixadas na comunidade criticam a ditadura da beleza
imposta por Nova, especialmente a necessidade de ser muito magra e branca. As leitoras
negras e orientais questionam a ausência de outros tipos físicos na capa.
Tópicos foram criados, também, para discutir a imagem da “Mulher de Nova”. A
leitora Patrícia escreveu, no dia 9 de dezembro de 2007, na comunidade “Eu amo a
Revista Nova”, um tópico
91
intitulado “Crítica a Mulher de Nova”. Diz o texto:
CRÍTICA A MULHER DE NOVA
Ao contrário do que a revista prega, a mulher leitora de
NOVA está bem distante da imagem de poderosa e bem
resolvida que esta revista tanto tenta impor e massificar na
cabeça dessas pobres mulheres que a lêem.
A leitora de NOVA se sente sim insegura e oprimida vez
que a Revista considera apenas como bem sucedida
mulheres esquálidas (quem não se lembra da reportagem
ridícula de que felicidade se resume apenas a uns jeans
tamanho 38),mulheres de cabelos loiros e escorridos (Sim
baby,se você não tem mechas loiras no tom diva califórniana
ou a la bombshell você não passa de uma pobre coitada) e se
a sua vidinha não se resume a baladas nas ultimas casas da
moda e com vários homens aos seus pés, garota como é que
você ainda não tentou suicídio ?!
Acompanho a revista NOVA a bastante tempo, alias toda a
minha infância e adolescência foram recheadas de leituras de
revista desse tipo e antigamente a Revista tinha uma visão
mais feminista, sobre o que era ser uma mulher na essência e
a quebra de tabus. Entretanto para a minha decepção NOVA
ultimamente se resume apenas a sexo e a estética que,
pelo menos para mim a concepção que a revista passa a
seguinte imagem: Se você quer ser uma mulher feliz, sua
vida se resume a mera satisfação sexual e estética e de
preferencia, que essa estética seja dentro de padrões pré-
estebelecidos (calça jeans 38+cabelo loiro+boca da Angelina
Jolie). E claro, a leitora de NOVA nunca pode ser uma
pessoa alternativa já que ela e assiste apenas os best
sellers do momento se estes são de conteúdo fraco e
medíocre,não importa afinal o que importa é ler o que está
na moda por isso NO A FILMES QUE QUERO VER DE
91
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=571812&tid=2570950582827113022
&start=1. Acesso em 03 de janeiro de 2008.
126
VERDADE E YES A SEX AND THE CITY afinal existe
algo mais “cool do que Sex and the city ou o ultimo livro
do Dan Brow ??
E no quesito de relacionamentos seja uma mulher selvagem
e fogosa e claro,sempre tente matar suas concorrentes de
inveja afinal respeito mútuo e amizade verdadeira entre
mulheres na concepção de NOVA é algo incabível nos dias
de hoje não é mesmo ?!
gostei da revista mas hoje tenho total aversão a ela uma
vez que até a revista Capricho mostra mais conteúdo e
cultura do que ela.
Parem de ler essas publicações que fazem vocês se
sentirem, mais inseguras. O mundo aí fora é muito mais
interessante do que corpos phtoshopado e, intrigas
femininas. SEJAM VOCÊS MESMAS.
32
Ao contrário da maioria das discussões existentes na comunidade, nessa
ninguém mais opinou. Nenhuma outra leitora se manifestou a respeito das críticas.
Porém, um link
92
para esta mensagem foi colocado pela participante Kellyciosa Lee em
outra comunidade (“Eu sou uma Mulher de Nova”). No dia 14 de dezembro a internauta
disponibilizou o endereço eletrônico da crítica com a pergunta “Alguém concorda?”
direcionada para as participantes da outra comunidade.
Oito mulheres opinaram sobre a crítica de Patrícia e todas foram favoráveis,
discordando apenas de aspectos pontuais, aos comentários contra a revista. A seguir,
apresentamos as opiniões destas outras oito leitoras insatisfeitas com Nova:
Hummmmmmmm.... Não seria tal radical como a colega
que criticou a Nova, mas as vezes eu tb acho ki a Nova
exagera na superficilidade.Exagera nos modismos ,isso não
posso negar.Tb acho ki deveria ser mais democrática ao
escolher as modelos dos editoriais e matérias,sempre são
loiras e magérrimas,tão diferentes da maioria das
brasileiras,poderiam colocar mais mulatas, negras,ruivas,
orientais,castanhas e modelos com mais curvas e mais
corpo,que pareçam com a mulher que le a revista.
Mas a edição desse mes me agradou pois tem uma matéria
falando pras leitores se sentirem bem com o corpo ki
92
Disponível em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2571855751482286081.
Acesso em 10 de janeiro de 2008.
127
tem.Ufa!!!!!!!!!!Até ki enfim,apesar de achei a matéria
pequena ,mas é alguma coisa........Quero mais materias
comportamentais,quero livros alternativos,dicas de presentes
mais acessiveis,quero materias falando de espiritualidade e
ecologia...............Muitas vezes sinto falta disso tudo........
93
Apoiadíssima!! Se mudar muito a revista perde o foco do
público, mas que precisa se adaptar à realidade das leitoras,
precisa mesmo...
94
Eu concordo, hoje em dia leio a Nova mais pela net do que
comprando nas bancas. è só sexo,sexo sexo...
Eu sou gordinha e apesar de fazer dieta pra emagrecer não
quero ser esquálida como a revista anda pregando que se
deve ser para se tornar uma mulher de sucesso.
Eu ainda gosto de Nova, só que é necessário fazer uma
filtragem antes de sair lendo tudo...
Para as leitoras fica o aviso de que não existe manual pra ser
feliz,em primeiro lugar se aceite e depois veja o que pode
melhorar sob o seu conceito!
95
CONCORDO COM VC JUJU!
96
Eu concordo!! ultimamente são poucas as matérias que
relmente são interessantes...tá muito repetitiva e alheia a
realidade das leitoras!!! tem certas colunas então...não tá
acrescentado em nada...(o Rio é sexy) como assim?? soa até
mal...tem revista femina que é mais inteligente!
97
93
Opinião da leitora Renata, publicada em 14 de dezembro de 2007, disponível em http://www.orkut.
com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2571855751482286081. Acesso em 10 de janeiro de 2008.
94
Opinião da leitora Juju, publicada em 17 de dezembro de 2007, disponível em http://www.orkut.com/
CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2571855751482286081. Acesso em 10 de janeiro de 2008.
95
Opinião da leitora Cris, publicada em 17 de dezembro de 2007, disponível em http://www.orkut.com/
CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2571855751482286081. Acesso em 10 de janeiro de 2008.
96
Opinião da leitora Josi, publicada em 23 de dezembro de 2007, disponível em http://www.orkut.com/
CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2571855751482286081. Acesso em 10 de janeiro de 2008.
97
Opinião da leitora Ana Jardim, publicada em 25 de dezembro de 2007, disponível em http://www.orkut
.com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2571855751482286081. Acesso em 10 de janeiro de 2008.
128
Eu concordo uma vez,que nova esta tendo conteúdo futeis
desprezando a inteligência da mulher e seus interesses pelo
mundo exterior como um todo!!!
98
Oq a revista anda mostrando nas edições é q temos q ter um
emprego muito bem sussedido, um homem maravilhoso
conosco e varios lindos nos paquerando,com um corpo de
dar inveja a muitas mulheres lindas,um cabelo (LL) lindo
liso e com uma maquiagem impecavel das melhores marcas
do mundo.....
Eu particularmente não quero tudo isso q a revista prega
,como toda mulher inteligente q entende a revista NOVA,
devemos absorver oq lhe serve e não aquilo q esta na moda.
O Rio é sexy ? Com tantos estados no Brasil só ele é?
Cabelo liso é lindo? E os cacheados q a maioria de nós
temos? Vamos ter q alisar e pintar de loiro ? Não quero ficar
com cara da Beyonce ela é linda mas não vai adiantar eu
mudar meu cabelo c eu não vou ficar bem com aquele.
Mulher de nova é bonita pq sabe valorisar oq tem ,e tb sabe
oq quer.
As materias são boas,os produtos tb ,só q não cabem no meu
bolso e eu sou negra,não vou ficar bem de cabelo loiro
.Assim como em algumas mulheres ,na revista esta faltando
simancol e atenção pra leitoras de todos os meses.
99
De Capricho para Nova
Fazem 15 anos que leio a nova, cheguei a fazer coleção e
tudo. Percebi que com o passar do tempo as materias foram
ficando repetitivas por ser leitora. Agora costumo ir a banca
e pesquisar o que de acordo com as minhas necessidades
intelectuais possa ser melhor aproveitada. Como estava
trabalhando e estudando muito e fiquei um pouco
desinteressada por sexo e desatualizada de tendências de
moda, comecei a compra-la novamente. Faço isso agora, ir a
98
Opinião da leitora Mila, publicada em 25 de dezembro de 2007, disponível em http://www.orkut.
com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2571855751482286081. Acesso em 10 de janeiro de 2008.
99
Opinião da leitora Lucimara, publicada em 25 de dezembro de 2007, disponível em http://www.orkut.
com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2571855751482286081. Acesso em 10 de janeiro de 2008.
129
banca e pesquisar. Costumamos fazer isso com muitos
objetos porque não fazer para comprar revista.
O período que parei de compra a revista , foi quando casei.
Agora depois de 5 anos e que o casamento estava caindo na
rotina, voltei a comprar. É isso meninas, depende do
momento que estamos vivendo. Quando quero saber sobre
tendências de forma ampla compra a Estilo, quando quero
informação empresarial Exame, quando for familia Claudia
e quando o assunto for flerte e mulheres sexy ai não tem
erro. Vou na banca e compro NOVA. Segredinho, fazem 3
meses que voltei a ler e tem sido ótimo.
100
Apesar dessas críticas, a maioria das leitoras demonstra satisfação em relação à
revista, tanto nas comunidades e cartas publicadas pela Nova, quanto nas entrevistas que
realizamos, conforme veremos adiante.
Análise das entrevistas com leitoras
Considerando as respostas dos 100 questionários aplicados, buscamos mapear
como é o perfil das leitoras que fazem parte da comunidade “Eu sou uma Mulher de
Nova”. Nosso objetivo não é afirmar que esta é uma amostragem capaz de apresentar
como é o perfil das leitoras da revista impressa, pois devemos considerar que muitas
destas não têm acesso ao site de relacionamentos do Orkut ou não estão afiliadas a
comunidades da revista. Porém, não podemos negar que esta amostragem é capaz de
indiciar traços das leitoras.
A maioria das entrevistadas tem entre 19 e 35 anos. Cerca de 90% das leitoras
estão nesta faixa etária, como podemos observar no Gráfico 1. Os dados caminham no
mesmo sentido apontado pela Editora Abril no segundo capítulo deste trabalho:
segundo a Pesquisa Nacional Abril/Datalistas 2005, 74% das leitoras teriam esta idade.
Em relação à formação, uma das leitoras entrevistadas possui apenas o ensino
fundamental, 16 concluíram até o ensino médio, 73 cursaram ou estão cursando
graduação e 10 delas têm algum tipo de pós-graduação. Das 100 leitoras, 22 atualmente
não trabalham.
100
Opinião da leitora Elaine, publicada em 26 de dezembro de 2007, disponível em http://www.orkut.
com/CommMsgs.aspx?cmm=39318397&tid=2571855751482286081. Acesso em 10 de janeiro de 2008.
130
Perfil das leitoras entrevistadas
14
33
36
9
5
3
menos de
21 anos
de 21 a 25
anos
de 26 a 30
anos
de 31 a 35
anos
de 36 a 40
anos
mais de 40
anos
Gráfico 1 – Idade das leitoras
Quanto ao estado civil, 78 leitoras são solteiras, enquanto 20 estão casadas e
duas são divorciadas. apontamos diversas vezes neste trabalho que as leitoras de
Nova estão sempre em busca de um relacionamento. Ao responderem o questionário
sobre o estado civil, encontramos algumas respostas curiosas. Leitoras procuraram
justificar a razão pela qual estavam solteiras, enquanto outras fizeram questão de
explicar de que forma eram casadas. Para a pergunta “Qual seu estado civil?”, elas
responderam:
solteira (ainda e por pouco tempo rs!)
101
namorando
102
Solteira, curtindo a vida.
103
Solteira. Estou quase casada (noiva)
104
Sou casada. (não no papel)
105
101
Resposta da leitora Ana Carolina Marques, 27 anos, natural de São Paulo – Capital.
102
Resposta da leitora Ághata Corrêa Meyer, 14 anos, natural de Água Boa, no Mato Grosso.
103
Resposta da leitora Stefani Carol Schmidt, 22 anos, natural de São Paulo – Capital.
104
Resposta da leitora Regiane Felix, 28 anos, natural de São Paulo – Capital.
105
Resposta da leitora Tatiane Nobre de Oliveira, 21 anos, natural de São Paulo – Capital.
131
Convivente (o que equivale a união estável, juridicamente; o
quase casamento).
106
Solteira, comprometida
107
Como dissemos anteriormente, Nova é direcionada principalmente a mulheres
solteiras e sem filhos. Das nossas entrevistadas, 83% não têm filhos.
Perguntamos, também, quanto tempo as mulheres eram leitoras de Nova. As
respostas contrariam a tendência de segmentação editorial que prevê que as leitoras
consumam a revista durante um período de suas vidas e sigam trocando de publicações
com o passar do tempo. Apenas uma das entrevistadas declarou que é leitora menos
de um ano. Três delas responderam que acompanham a revista Nova desde o seu
primeiro exemplar. A seguir, apresentamos o resultado da pergunta “Há quanto tempo lê
a revista Nova?”. Podemos observar que mais da metade de nossas entrevistadas (total
de 52, desconsiderando as que responderam “muito tempo”) são leitoras mais de
cinco anos.
Gráfico 2: Resultado da questão: “Há quanto tempo lê a revista Nova?”
106
Resposta da leitora Érica de Aquino Paes, 32 anos, natural do Rio de Janeiro – Capital.
107
Resposta da leitora Luciana Rodrigues S. Borges, 24 anos, natural de São Paulo – Capital.
132
A fidelidade das leitoras em relação à Nova pode ser vista no número de
assinantes. A Editora Abril
108
afirma que 55% das leitoras são assinantes. Das nossas
100 entrevistadas, 45 são assinantes. Entre as 55 que responderam que não eram
assinantes, 19 fizeram questão de dizer que um dia já foram.
Entre os motivos que elas apontaram voluntariamente para terem deixado de
assinar está a demora na entrega dos exemplares em casa, como revelou a paulista
Michelly Iwamura:
Fui assinante durante muitos anos, mas deixei de assinar,
pois a Revista demora muito para chegar (sempre a partir do
dia 10 de cada mês). Com isso, passei a comprar todo ínicio
de mês nas Bancas. Sou extremamente fiel e jamais deixei
de comprar, mesmo que eu esteja viajando, alguém fica
encarregado de comprar.
109
Outras leitoras afirmaram que deixaram de ser assinantes porque passaram a ler
Nova pela internet, o que pode indiciar uma nova tendência do mercado de revistas que
não discutiremos neste trabalho.
Como salientamos nos capítulos anteriores, não diferenças substanciais
entre as edições de 1995, 2000 e 2005. Podemos afirmar que são apresentados sempre
os mesmos assuntos, variando entre amor, sexo, comportamento, trabalho e moda. As
capas mantêm a mesma padronagem, mudando apenas as cores em cada edição. Porém,
ao analisar os questionários enviados às leitoras, é surpreendente que muitas delas
apontam que o maior diferencial da revista é a diversidade nos assuntos.
Contrariando nossas análises anteriores que apontavam a repetição de assuntos
em Nova, muitas leitoras destacaram como diferencial da revista justamente a
diversidade de assuntos. Questionadas sobre o que Nova tinha e as outras publicações
não, recebemos respostas como:
Informações diversas, não tem um tipo só de reportagens
110
conteudo bem diversificado com qualidade
111
108
Dado disponibilizado pela Editora Abril em http://elle.abril.com.br/midia_kit/nova/distribuicao.html.
Acesso em 19 de janeiro de 2008.
109
Resposta referente à questão “Você é assinante?” da leitora Michelly Iwamura, 24 anos, solteira,
natural de Taubaté, em São Paulo.
110
Resposta referente à questão “O que a revista Nova tem que as outras revistas não têm?” da leitora
Celise Salgado, 25 anos, solteira, natural de São Paulo – Capital.
111
Resposta referente à questão “O que a revista Nova tem que as outras revistas não têm?” da leitora
Adriana Fontana de Oliveira, 28 anos, solteira, natural de Cascavel, no Paraná.
133
RENOVAÇÃO, está sempre com assuntos diferentes
112
Objetividade, clareza e informações atuais numa linguagem
feminina e imparcial.
113
Algumas leitoras elogiaram a diagramação e outras a maneira como Nova trata
de sexo. Apenas uma entrevistada declarou que Nova era similar às outras revistas
femininas e, portanto não tinha diferenciais.
Estes resultados podem nos mostrar que, ao contrário do que dissemos
anteriormente, a revista não é considerada repetitiva pelas leitoras. Apontamos, por
diversas vezes, que Nova permanece oferecendo as mesmas soluções para os mesmos
problemas. Reinventa questões e promete solucioná-las. Se as leitoras concordassem
que Nova apenas republica matérias sobre o mesmo tema de maneira pouco diferente,
acreditamos que elas não permaneceriam consumindo a publicação por tanto tempo.
Observarmos no capítulo anterior como Nova apresenta os testes como
reveladores. Aponta que as leitoras precisam responder os testes para conhecer quem
são. Apontamos, também, que na sociedade contemporânea a identidade tornou-se
incerta, o que levou as pessoas a procurarem grupos e padrões para se encaixarem. Ao
mesmo tempo em que Nova ajuda a leitora a resolver seus problemas, gera
permanentemente insegurança em relação à identidade. Os testes, como vimos no
capítulo três, indicam que as leitoras ainda não sabem ao certo quem são.
Perguntamos, então, a 100 leitoras se estas realmente respondem os testes. O
resultado mostra que apenas 18 delas não respondem aos testes. Algumas destas
justificaram que não tinham tempo, enquanto outras declararam que não acreditam na
eficácia da análise.
Muitas leitoras que responderam “sim” confirmaram que avaliam o teste como
algo revelador. Para elas, o teste é uma oportunidade de saber se estão agindo
corretamente, assim como de se enquadrarem em padrões pré-estabelecidos.
112
Resposta referente à questão “O que a revista Nova tem que as outras revistas não têm?” da leitora
Ághata Corrêa Meyer, 14 anos, solteira, natural de Água Boa, no Mato Grosso.
113
Resposta referente à questão “O que a revista Nova tem que as outras revistas não têm?” da leitora
Alessandra Guimarães da Costa, 34 anos, solteira, natural de São Paulo – Capital.
134
Gráfico 3: Resultado da questão: “Você costuma responder os Testes de Nova?
Os motivos que levam as leitoras a responderem são variados, porém a maioria
das respostas oscila entre curiosidade e “para se conhecer melhor”. Listamos alguns
exemplos a seguir das justificativas dadas pelas leitoras que respondem aos testes:
Porque adoro testes, e gosto de ver se os resultados
correspondem à imagem que eu faço de mim mesma.
114
Sim, pois é uma forma de nos avaliarmos, e descobrirmos
onde erramos e acertamos nos diversos aspectos da vida.
115
Sim, é sempre legal saber uma opinião de nós mesmo que
não seja nossa.
116
Sim, porque acho interessantes e quero saber em qual perfil
me encaixo.
117
Por autocrítica, avaliação pessoal e alheia... rsrs,
curiosidade, "ver para crer"...
118
Sim. É sempre bom descobrir o que por trás do nosso
comportamento, gostos, atitudes.
119
114
Resposta referente à questão “Você responde os Testes de Nova? Por quê?” da leitora Micheli Artus,
24 anos, solteira, natural de Barão, no Rio Grande do Sul.
115
Resposta referente à questão “Você responde os Testes de Nova? Por quê?” da leitora Laise Alves de
Moura, 20 anos, solteira, natural de São Paulo – Capital.
116
Resposta referente à questão “Você responde os Testes de Nova? Por quê?” da leitora Claudia Regina
da Silva, 30 anos, solteira, natural de São Paulo– Capital.
117
Resposta referente à questão “Você responde os Testes de Nova? Por quê?” da leitora Stefani Carol
Schmidt, 22 anos, solteira, natural de São Paulo– Capital.
118
Resposta referente à questão “Você responde os Testes de Nova? Por quê?” da leitora Alessandra
Guimarães da Costa, 34 anos, solteira, natural de São Paulo– Capital.
135
Sim, gosto de fazer os testes e ver se estou dentro ou fora
dos padrões e se preciso mudar ou melhorar alguma coisa...
atitude....
120
Sim. Por quê? Caso o teste altere algo, corro para
corrigir.
121
Questionadas se acreditam na eficácia dos testes, as leitoras se dividem.
Algumas afirmam que costumam responder as questões apenas para se divertir,
enquanto outras enxergam na seção de testes a oportunidade até de elevar a auto-estima.
Gráfico 4: Resultado da questão: “Você acredita que o Teste funciona?
As opiniões são diferentes. Parte das leitoras afirma que a eficácia do teste
depende de como a mulher vai aplicar em sua vida os ensinamentos da revista, como
apontou a assessora comercial Carolina Almeida:
Não basta ler e deixar pra lá, a mulher que quer estar
atualizada, tem que ler e colocar em prática aquilo que esta
faltando em sua vida... no seu dia-a-dia.
122
119
Resposta referente à questão “Você responde os Testes de Nova? Por quê?” da leitora Daniela Maria
de Castro Vieira, 34 anos, solteira, natural de Goiânia, em Goiás.
120
Resposta referente à questão “Você responde os Testes de Nova? Por quê?” da leitora Carolina
Almeida, 53 anos, divorciada, natural de São Paulo - Capital.
121
Resposta referente à questão “Você responde os Testes de Nova? Por quê?” da leitora Telma Haydt, 43
anos, casada, natural de São Bernardo do Campo, em São Paulo.
122
Resposta referente à questão “Você acredita que o Teste funciona?” da leitora Carolina Almeida, 53
anos, divorciada, natural de São Paulo - Capital.
136
Para Danielle Silva do Nascimento, a eficácia é indiscutível. Questionada se
acreditava que o teste funcionava, não hesitou: “Claro, ele é feito com estudos e define
quem realmente você é.”
123
O desejo de participar do “Banho de Nova que já demonstramos no nosso
trabalho também ficou evidenciado em nossas entrevistas. Das 24 leitoras que
enviaram algum tipo de correspondência (carta, e-mail ou inscrição no site) à Redação
da revista, 13 procuravam participar da transformação. Outra afirmou que tinha escrito
uma mensagem no tópico criado na comunidade do Orkut e que estava aguardando a
resposta da revista.
Questionadas à respeito das características da Mulher de Nova nenhuma de
nossas leitoras hesitou para responder, o que comprova que o personagem criado pela
revista está solidificado entre as consumidoras da publicação.
O adjetivo “independente” estava na maioria das respostas sobre como é a
“Mulher de Nova”. São diversas respostas variando entre as mesmas características.
Como apontamos nas páginas da revista, a “Mulher de Novaé forte, independente,
dinâmica, sempre está em busca de algo.
A leitora paulista Érica Vidal da Cunha, 23 anos, revela uma contradição já
mostrada nos capítulos anteriores. Ao mesmo tempo em que se diz independente, esta
mulher necessita da aprovação dos outros. Enquanto responde testes para saber quem é,
não se deixaria influenciar por outras pessoas. Diz a estudante de psicologia:
A mulher de nova é moderna, independente, ousada, do tipo
que não se deixa influenciar. Ela confia no seu potencial
tanto profissional quanto emocional. Não é uma fortaleza,
precisa de carinho e de alguém que a valorize. Ela é
fantástica.
124
Por entendermos que a maneira como as leitoras consideram a “Mulher de
Nova é muito importante para nossa pesquisa, disponibilizamos todas as respostas
referentes à questão “Como é a Mulher de Nova?” no segundo anexo deste trabalho.
Perguntamos depois se as leitoras se consideravam como esta personagem. Os
resultados, apresentados a seguir, demonstram que a maioria se identifica com a
“Mulher de Nova”.
123
Resposta referente à questão “Você acredita que o Teste funciona?” da leitora Danielle Silva do
Nascimento, 30 anos, solteira, natural de João Pessoa, na Paraíba.
124
Resposta referente à questão “Como é a Mulher de Nova?” da leitora Érica Vidal da Cunha, 23 anos,
solteira, natural de Lençóis Paulista.
137
Das leitoras que responderam “não”, muitas declararam que gostariam de ser,
mas ainda não estão prontas. A busca pela perfeição tratada anteriormente no capítulo
que discutiu a cultura do narcisismo está presente nas respostas. Elas acreditam que não
alcançaram alguns aspectos fundamentais da “Mulher de Nova”, como independência.
Outra afirmou que não é bonita o suficiente.
Gráfico 5: Resultado da questão “Você se considera uma Mulher de Nova?
Caroline Meneghelli dos Santos respondeu que ainda não se considerava uma
“Mulher de Nova” e justificou: “ainda falta estabilidade financeira”.
125
A leitora Gisele Stoco não se considera bonita o suficiente para ser como a
personagem da revista:
Infelizmente não, principalmente porque minha realidade
não permite que eu me enquadre nos padrões de beleza da
revista.
126
Camilla Teixeira e Silva Guimarães respondeu que o se considera uma
“Mulher de Nova”, mas reconhece que gostaria de ser:
Não me considerado exatamente uma mulher de Nova,
apenas gostaria de ser uma. Afinal, não consegui ainda
satisfazer ao perfil da mulher de Nova, me falta ser bem
125
Resposta referente à questão “Você se considera uma Mulher de Nova?” da leitora Caroline
Meneghelli dos Santos, 23 anos, solteira, natural de Santo André, em São Paulo.
126
Resposta referente à questão “Você se considera uma Mulher de Nova?” da leitora Gisele Stoco, 27
anos, solteira, natural de São Paulo – Capital.
138
sucedida na minha profissão e poder comprar, comprar e
comprar como me parece fazer a mulher de Nova. Mas com
certeza, esse arquétipo é influenciador e estimula a mulher a
buscar a conquista dos seus objetivos.
127
Lívia de Almeida Mercês é outra leitora que busca ser uma “Mulher de Nova”:
Estou tentando ser, acho bonito quando uma mulher é
independente, dona de si e confiante...
128
O mesmo acontece com Mariana Ramos, que respondeu:
quase, pois preciso melhorar alguns pontos da minha vida,
que ainda estao em inercia.
129
Apesar de não se considerar uma “Mulher de Nova”, Juliana Brendolan disse:
Às vezes eu tenho um espírito de mulher de Nova, mas não
me considero uma mulher de Nova.
130
Mônica Cristina Theodoro, casada, não pretende ser uma mulher assim. Ela,
que considera a “Mulher de Novacomo “uma mulher moderna, sexualmente ativa e
independente”, afirmou:
Não me considero não, pq se vc levar tudo o que ao da
letra nunca vai encontrar um homem para se casar.
131
Edilaine Gracioli Neves, também casada, não concorda com os valores da
“Mulher de Nova”. Leitora da revista há mais de quatro anos, declarou que se considera
“meio antiquada”.
132
Aline Fidelis Souza, outra leitora casada, também tem valores diferentes:
Não totalmente, tenho alguns valores que não se encaixam
no perfil da revista.
133
127
Resposta referente à questão “Você se considera uma Mulher de Nova?” da leitora Camilla Teixeira e
Silva Guimarães, 21 anos, casada, natural de Goiânia, em Goiás.
128
Resposta referente à questão “Você se considera uma Mulher de Nova?” da leitora Lívia De Almeida
Mercês, 25 anos, solteira, natural do Rio de Janeiro – Capital.
129
Resposta referente à questão “Você se considera uma Mulher de Nova?” da leitora Mariana Ramos, 27
anos, solteira, natural de Campinas, em São Paulo.
130
Resposta referente à questão “Você se considera uma Mulher de Nova?” da leitora Juliana Brendolan,
21 anos, solteira, natural de Pedreira, em São Paulo.
131
Resposta referente à questão “Você se considera uma Mulher de Nova?” da leitora Mônica Cristina
Theodoro, 36 anos, casada, natural de Mogi das Cruzes, em São Paulo.
132
Resposta referente à questão “Você se considera uma Mulher de Nova?” da leitora Edilaine Gracioli
Neves, 37 anos, casada, natural de Orlândia, em São Paulo.
139
Luciana Oliveira Santos acredita que não está dentro dos padrões das leitoras da
revista. Contraditoriamente, ela afirma que é leitora “uns quase 10 anos”. Luciana
definiu a “Mulher de Nova como alguém que “quer estar sempre atualizada no
universo feminino”.
Mãe de uma menina de quatro anos, Luciana respondeu que não se considera
uma “Mulher de Nova”:
Não me considero, estou fora da média da maioria das
leitoras de Nova.
134
Podemos observar que as únicas leitoras entrevistadas que não estavam tentando
ser como a “Mulher de Nova eram casadas e/ou tinham filho. Talvez seja por estas
razões que não estão buscando a identificação com a personagem.
Depois de destacarem as características da “Mulher de Novae responderem se
elas se consideravam desta forma, foi a vez das leitoras dizerem se acreditam que a
revista pode ajudar a mulher a ter estas características.
Apenas três leitoras o acreditam que a revista possa ajudar. As outras 97
afirmaram que Nova pode ajudar as leitoras a se transformarem, mas a maioria
ponderou que a mudança depende mais do empenho da consumidora que da revista.
Beatriz Papisckys da Motta foi uma das leitoras que respondeu “não”. Para ela,
as características da “Mulher de Nova” já nasceriam com as mulheres:
Não acredito que uma revista seja capaz de uma revolução
na vida de uma mulher,álias, na vida de ninguém, acredito
que a revista apenas ressalte pontos interessantes e um estilo
de vida, tratando da mulher moderna,mas quem tem esses
estilos de vida tem desde que nasceu e não pelo que a revista
prega.
135
Já para Érica Vidal da Cunha, a revista tem papel mais importante:
Essa pergunta é complicada. Talvez possa, acho que
depende da posição que a pessoa toma diante da vida.
matérias e reportagens muito interessantes, liçoes de vida,
133
Resposta referente à questão “Você se considera uma Mulher de Nova?” da leitora Aline Fidelis
Souza, 23 anos, casada, natural de São Paulo – Capital.
134
Resposta referente à questão “Você se considera uma Mulher de Nova?” da leitora Luciana Oliveira
Santos, 26 anos, solteira, natural de Nova Canaã, na Bahia.
135
Resposta referente à questão “Você acredita que a Revista pode ajudar a mulher a se tornar uma
Mulher assim?” da leitora Beatriz Papisckys da Motta, 20 anos, solteira, natural de São Paulo – Capital.
140
mulheres bem sucedidas, quando você pensa "se essa
fulana conseguiu isso, porque eu não conseguiria?". Mas
essa reação não acontece sempre, acho que tem que haver
uma predisposição, uma espécie de identificação do que eu
sou ou do que eu quero ser com o que está na Revista.
Então, se isso ocorre, acho que pode ajudar sim.
136
Como dissemos, Nova estimula a comparação e a competitividade entre
mulheres. Em sua resposta, Érica ressalta isso e fala de uma identificação que pode ter
na revista com um personagem que gostaria de ser.
A leitora Renata Bortolosso não acredita que Nova pode ajudar na
transformação da mulher, como elogia o consumismo estimulado pela revista:
Claro, sem dúvida. As dicas são maravilhosas. Além do
mais a revista tb influencia no consumo né..... Por exemplo
aquela mulher q usa roupas basiquinhas vai querer comprar
roupas e acessórios para virar um mulherão.
137
A resposta de Renata reforça nossa afirmação anterior que as leitoras são
estimuladas a comprar produtos que poderiam transformá-las em pessoas mais
interessantes e, conseqüentemente, mais felizes.
As fórmulas ditadas pela revista motivam a transformação e fazem com que a
leitora queira mudar o que é diferente da “Mulher de Nova logo após o término da
leitura, segundo Juliana Brendolan:
Acredito que sim no sentido de trazer motivação, quando a
gente acaba de ler a revista tem vontade de ser assim, mulher
de Nova, e mudar o que está diferente.
138
Annelise Nogueira disse que acredita no poder de transformação da revista e
relatou que Nova é responsável por sua formação:
Sim, a revista é responsável por boa parte daquilo que hoje
sou, das opiniões que formei, e de como corro atras dos
meus objetivos, sem contar a injeção de alta estima...
139
136
Resposta referente à questão “Você acredita que a Revista pode ajudar a mulher a se tornar uma
Mulher assim?” da leitora Érica Vidal da Cunha, 23 anos, solteira, natural de Lençóis Paulista, em São
Paulo.
137
Resposta referente à questão “Você acredita que a Revista pode ajudar a mulher a se tornar uma
Mulher assim?” da leitora Renata Bortolosso, 29 anos, casada, natural de Americana, em São Paulo.
138
Resposta referente à questão “Você acredita que a Revista pode ajudar a mulher a se tornar uma
Mulher assim?” da leitora Juliana Brendolan, 21 anos, solteira, natural de Pedreira, em São Paulo.
141
As entrevistadas acreditam que a “Mulher de Nova representa a mulher
contemporânea, como podemos observar no Gráfico 6. Para 90% das leitoras, a
personagem criada por Nova é uma representação da mulher dos dias atuais.
Gráfico 6: Resultado da questão “A Mulher de Nova representa a mulher contemporânea,
com seus valores e atitudes?”
Algumas leitoras aproveitaram esta questão para opinar novamente sobre as
características da “Mulher de Nova”. Muitos elogios foram escritos. Rebecca
Wanderley Nepomuceno Agra Silva criticou a imagem criada pela revista. A leitora tem
27 anos e compra Nova oito anos. Ela, que disse que procura na revista “moda e um
pouco de distração”, respondeu sobre os valores da “Mulher de Nova”: “As vezes acho
que a mulher de nova é um pouco fútil”. Questionada anteriormente se acreditava que
era uma “Mulher de Nova”, havia respondido: A vida real não é exatamente como o
universo da revista, mas acho que as vezes me sinto uma mulher de Nova”.
Outras leitoras parecem acreditar que o universo da revista reflete o universo em
que vivemos. Mais de 80 leitoras afirmaram que se sentem mais atualizadas depois que
terminam de ler Nova, como mostra o Gráfico 7.
Apesar de a revista não acompanhar o cenário político e social do Brasil,
algumas leitoras declararam que se sentem mais atualizadas depois que terminam a
leitura. Porém, ressalvas foram feitas nesta questão. Recebemos declarações que as
139
Resposta referente à questão “Você acredita que a Revista pode ajudar a mulher a se tornar uma
Mulher assim?” da leitora Annelise Nogueira, 22 anos, solteira, natural de Itajubá, em Minas Gerais.
142
leitoras se sentiam atualizadas principalmente em assuntos como moda e beleza e não
no contexto geral.
Gráfico 7: Resultado da questão “Você se sente mais atualizada depois
que termina de ler a edição?”
Todas as entrevistadas responderam que costumam comentar reportagens de
Nova com outras pessoas, normalmente com amigas e com o namorado.
Nossas leitoras afirmaram que, pelo menos em alguma edição, se
identificaram com as modelos da capa. Algumas declararam que sempre se identificam,
enquanto outras contaram que só em alguns casos têm esta empatia.
Sobre o questionamento “O que você menos gosta na revista?”, recebemos
diversas opiniões. A maioria reclamou do excesso de propagandas e dos preços
elevados dos produtos anunciados. Uma grande quantidade de entrevistadas apenas
preferiu elogiar a revista e dizer que não tinha nada de que não gostassem.
Outra questão era “O que falta na revista Nova?”. Mais de quarenta leitoras
responderam que estavam plenamente satisfeitas, como revela o Gráfico 8. As
reivindicações mais freqüentes foram mais reportagens regionais (fora do eixo Rio-São
Paulo), diversidade nos tipos físicos das modelos fotografadas na capa (ausência de
negras e mulheres menos magras), mais matérias sobre política e meio ambiente, além
de maior interação com as leitoras. Três leitoras disseram que faltava elas participarem
143
do “Banho de Nova
140
, uma respondeu “páginas”
141
, outra sugeriu “ser quinzenal
142
,
enquanto outras duas afirmaram: “Eu na capa”
143
e “Uma coluna minha”
144
.
Gráfico 8 – Resultado da questão: “O que falta na revista?”
Com a apuração dos questionários, podemos concluir que a fidelidade das
leitoras em relação à Nova é inabalável por diversas razões: boa parte das leitoras é
assinante, quase todas confiam que Nova pode transformá-las em uma pessoa melhor,
consomem Nova por longos anos e todas acreditam que existe a “Mulher de Nova”. E,
para elas, não há dúvidas que esta mulher é bem realizada e feliz.
Neste capítulo pudemos observar que a leitora de Nova, ao contrário do que
poderíamos imaginar em se tratando de segmentação de revistas, permanece
consumindo a revista por muitos anos.
Tais constatações nos levam a crer que a revista teria conseguido aplicar a
fórmula de reinventar problemas e soluções, seguindo as lições ditadas pela publicidade
na sociedade do espetáculo.
140
Resposta referente à questão “O que falta na Revista Nova?” das leitoras Sheila Alves Bezerra da
Silva, 29 anos, solteira, natural de Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco; Naira Spuri, 29 anos,
solteira, natural de Nepomuceno, em Minas Gerais; e Adriana Anji, 25 anos, solteira, natural de São
Paulo – Capital.
141
Resposta referente à questão “O que falta na Revista Nova?” da leitora Adriana Aparecida de Castro
Porto, 33 anos, casada, natural de São Paulo – Capital.
142
Resposta referente à questão “O que falta na Revista Nova?” da leitora Nathalia Souza Castro, 20 anos,
solteira, natural de Santos, em São Paulo.
143
Resposta referente à questão “O que falta na Revista Nova?” da leitora Denise Bastos Bittencourt, 35
anos, casada, natural de Salvador, na Bahia.
144
Resposta referente à questão “O que falta na Revista Nova?” da leitora Annelise Nogueira, 22 anos,
solteira, natural de Itajubá, em Minas Gerais.
144
A busca constante pela perfeição e pela felicidade absoluta não é vista nas
páginas da revista, conforme apontamos nos primeiros capítulos, como é facilmente
reconhecida na entrevista com as leitoras.
Um espaço virtual com mais de cinco mil mulheres que declaram publicamente
que são uma verdadeira “Mulher de Nova é indiscutivelmente a comprovação que
Nova criou um personagem e, por meio de recursos publicitários, fez parecer que este
era o ideal de felicidade. De nossas entrevistas, aquelas que ainda não se consideravam
uma “Mulher de Nova” estavam em busca do que faltava para realizarem este sonho.
A busca constante por um ideal de perfeição, arma utilizada pela publicidade
para vender mais, indiscutivelmente se fez presentes nas páginas da revista.
145
Considerações finais
Tentamos pois temos consciência da complexidade do tema - neste trabalho
discutir qual a imagem da mulher contemporânea na revista Nova. Quando iniciamos
este trabalho, não tínhamos total consciência de como seria complexo avaliar uma
revista que se reinventa a cada edição.
Encontramos matérias praticamente similares com apenas títulos diferentes. Em
alguns casos, até mesmo sem a variação do título. A publicação se reinventa a cada
edição e solidifica sua mais importante propriedade – na nossa opinião – que é a
“Mulher de Nova”. Buscamos analisar quais eram as características desta personagem
por meio da análise da seção de testes e de outros exemplos capturados de outras
matérias da revista.
Por alguns momentos durante o percurso do nosso trabalho, pensamos em
expandir nosso tema e incluirmos outra revista feminina para comparação. Acreditamos
que tal idéia só surgiu por conta da deficiência do material que analisávamos. Conforme
nos aprofundávamos no tema, as edições tornavam-se cada vez mais parecidas. não
era possível encontrar diferenças substanciais entre os exemplares de 1995, 2000 ou
2005. Chegamos a procurar números mais antigos da revista com a esperança de
encontrarmos significativas mudanças, mas nem desta forma conseguimos.
Porém, por não termos encontrado nenhum estudo completo sobre a revista
Nova nos últimos anos, julgamos que seria importante levantar temas que no futuro
possam ser aproveitados e aprofundados por outros pesquisadores. As referências que
ainda hoje são utilizadas por outros pesquisadores do tema datam da década de 80.
Nesta pesquisa, partimos da hipótese principal de que o conteúdo de Nova seria
de auto-ajuda e que as matérias procurariam mostrar comportamentos que poderiam ser
o segredo da felicidade. Com nossa análise afirmamos que as matérias realmente se
propunham a revelar fórmulas para que as leitoras pudessem se sentir mais seguras.
Discutimos, também, que tal fenômeno não é exclusivo da revista Nova, mas sim
da cultura do narcisismo que hoje impera na sociedade. A busca pela perfeição, que
poderia trazer a felicidade, é praticada constantemente pelo ser humano contemporâneo.
A revista, inserida em uma sociedade que vive do espetáculo, apenas acompanha
uma tendência mercadológica, em que produtos são vendidos muito mais por seus
valores subjetivos que por seus valores de uso.
146
Culpar a sociedade? Acreditamos que seria comodismo, mas é inegável que uma
revista que atende a um público vaidoso por natureza e sedento de novidades deve
seguir os preceitos sugeridos pela publicidade e propaganda.
A supervalorização de modelos perfeitas e pessoas que se declaram
extremamente felizes é a oportunidade de deixar as leitoras mais inseguras para, logo
em seguida, oferecer produtos que saciem tal insatisfação.
Constatamos que, ao contrário do que defende Lipovetsky, em Nova não uma
convergência que equalizaria homens e mulheres. A tendência apontada pelo autor não
foi evidenciada na publicação, que ainda trata homens e mulheres de maneira muito
distinta.
A possibilidade de entrevistar 100 leitoras que participam de uma comunidade
de adoração da revista que já no nome denuncia a que se propõe definitivamente
enriquece nosso trabalho, ao mesmo tempo em que levanta diversas questões pontuais
que deveriam ser pensadas no futuro.
Jamais tivemos a pretensão de esgotar o tema “identidade feminina”, até mesmo
porque não seria possível concluir algo sobre a mulher, já que esta vive inserida em uma
sociedade de constantes e importantes mudanças.
A entrevista com as leitoras revelou dados importantes para que tentemos refletir
sobre o papel da mulher na sociedade contemporânea. Moda e beleza talvez ainda sejam
seus principais interesses. Não nos cabe aqui e nem foi objetivo deste trabalho qualquer
julgamento sobre os valores impostos pela publicação, nem tampouco pelas respostas
que recebemos das mulheres entrevistadas.
Sem dúvida, alguns comportamentos perpetuam por décadas e centenas de anos.
A liberação sexual da mulher revolucionou gerações. Alguns autores, citados neste
trabalho, acreditam que a própria liberação teria causado sentimento de busca constante
por um prazer sexual. Afirmar que esta busca poderia ter tornado as mulheres
novamente reféns de um tabu não chega a ser precipitado, visto o número de matérias e
revistas que prometem ensinar a mulher a ter orgasmos e satisfação cada vez mais
intensos.
Em algum momento, talvez as mulheres tenham esquecido que ter o prazer pode
ser considerado mais importante que dar o prazer. Nova estimula em diversos artigos
que a mulher contemporânea deve saber satisfazer um homem. Observamos que a
presença destes artigos é mais constante que os artigos que a ensinariam a buscar a sua
satisfação.
147
Nossa busca pela compreensão do universo da revista Nova não se esgota com
este trabalho. As reportagens ainda perpetuam alguns valores tradicionais sobre a
condição da mulher, aumentando o grau de dependência tanto em relação aos homens
quanto em relação a conselhos e fórmulas mágicas que trariam a felicidade. Não
podemos concluir que isto não seja aprovado pelas leitoras, afinal boa parte de nossas
entrevistadas se declararam plenamente satisfeitas com a publicação, assim como
fizeram relatos sobre como suas vidas foram transformadas com a leitura de Nova.
Como uma amiga, Nova orienta, aconselha, critica e sugere mudanças. E as
mulheres parecem estar satisfeitas com as indicações. Mais que analisar o papel de Nova
na sociedade contemporânea, acreditamos que a questão maior que devemos pensar, de
agora em diante, é a razão pela qual as mulheres, que proclamam o verdadeiro valor da
independência, tornaram-se tão dependentes.
148
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152
ANEXOS
153
ANEXO 1
Questionário
1) Qual o seu nome completo?
2) Qual sua idade?
3) Qual seu estado civil?
4) Qual é a sua naturalidade (cidade e estado)?
5) Você tem filhos? Se sim, quantos e qual a idade deles?
6) Você atualmente trabalha? Qual sua função?
7) Qual a sua formação?
8) Há quanto tempo lê a revista Nova?
9) Você é assinante?
Se sim: Há quanto tempo? Por que decidiu assinar? Está satisfeita com a assinatura?
Por quê? Quantas pessoas costumam ler mensalmente o seu exemplar?
Se não: Com qual freqüência lê a revista? Você mesmo compra seu exemplar? Se não,
onde tem acesso à revista? Você acha o preço justo?
10) Para você, como é a Mulher de Nova?
11) Você se considera uma Mulher de Nova? Por quê?
12) Você acredita que a revista pode ajudar a mulher a se tornar uma Mulher assim?
13) Qual a seção que você mais gosta na revista? Por quê?
14) Você costuma responder os Testes de Nova? Por quê?
15) Com qual freqüência você responde os testes?
16) Você acredita que o Teste funciona?
17) Você costuma comentar matérias da Nova com alguém? Com quem?
18) Você já enviou alguma carta para a Redação da revista? Se sim, para qual seção?
Qual foi o resultado?
19) O que mais chama sua atenção na capa da revista?
20) Você se identifica com as modelos que são fotografadas da capa?
21) O que você procura encontrar nas edições da revista?
22) O que você menos gosta na revista?
23) Você se sente mais atualizada depois que termina de ler a edição?
24) A Mulher de Nova representa a mulher contemporânea, com seus valores e atitudes?
25) O que a revista Nova tem que as outras revistas não têm?
26) O que falta na revista?
154
ANEXO 2
Respostas da pergunta “Para você, como é a Mulher de Nova?”. A apresentação das
respostas segue a mesma ordem de recebimento dos questionários respondidos.
1) Celise Salgado, 25 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Dinâmica, responsável, divertida, segura de si, moderna,
antenada com o mundo...
2) Leyserée Silva, 26 anos, solteira, natural de Curitiba – PR:
Autêntica, decidida, determinada.
3) Micheli Artus, 24 anos, solteira, natural de Barão – RS:
É uma mulher de múltiplas tarefas, antenada com o que
acontece ao seu redor, inteligente, prática e que se valoriza,
acima de tudo.
4) Adriana Fontana de Oliveira, 28 anos, solteira, natural de Cascavel – PR:
Otimista com espirito evoluido e inovador...
5) Sheila Alves B. da Silva, 29 anos, solteira, natural de Jaboatão dos Guararapes – PE:
É uma mulher decidida quanto ao que gosta, ao que quer e
ao que não quer, bem resolvida consigo mesma, batalhadora,
festeira, animada, bem humorada e que ta sempre buscando
o melhor profissionalmente e amorosamente.
6) Nayara Santos Aguiar, 24 anos, solteira, natural de Brasília – DF:
Não existe um padrão para a Mulher de Nova, ela deve ser
independente do jeito dela, única e exclusiva como ela
achar, deve ser nova independente da idade e,
principalmente, deve ser feminina!
7) Olívia Oliveira Gonçalves, 28 anos, solteira, natural de Conceição do Coité – BA:
É uma mulher linda, inteligente, independente, segura de si e
de seus atos, decidida...
8) Naira Spuri, 29 anos, solteira, natural de Nepomuceno – MG:
Uma mulher moderna , independente, que se ama
155
9) Ana Carolina Marques, 27 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Uma mulher de Nova , é uma mulher independente,
divertida, charmosa, sexy, determinada, moderna e que sabe
muito bem o que quer, tem personalidade e é inteligente.
10) Leiliane Roberta da Silva Lopes, 22 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
é uma mulher antenada, inteligente, que tem atitude, uma
vida profissional estável, relacionamentos complicados e
tentam achar respostas para torná-los mais estáveis e que
acima de tudo têm personalidade.
11) Érica Vidal da Cunha, 23 anos, solteira, natural de Lençóis Paulista- SP:
A mulher de nova é moderna, independente, ousada, do tipo
que não se deixa influênciar. Ela confia no seu potêncial
tanto profissional quanto emocional. Não é uma fortaleza,
precisa de carinho e de alguém que a valorize. Ela é
fantástica.
12) Ticiane Aparecida dos Santos Palma, 30 anos, solteira, natural de Salvador- BA:
Determinada, batalhadora, independente e bastante vaidosa.
13) Jaqueline Bueno, 37 anos, solteira, natural de Castro – PR:
Inteligente, versatil, sagaz, elegante, antenada
14) Heloísa Zaia Gomes, 23 anos, solteira, natural de Ourinhos – SP:
É uma mulher decidida, independente, com personalidade e
que batalha pelo que quer.
15) Rafaela Caroline Camargo, 20 anos, solteira, natural de Mogi das Cruzes – SP:
Mulher de nova é aquela que não tem medo de enfrentar a
realidade para ir atrás de seus sonhos, ela é batalhadora e
não abre mão de sua felicidade. Ela também consegue ser
linda, atraente, de bem consigo mesma.
16) Laise Alves de Moura, 20 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Uma mulher que busca seus objetivos profissionais,
pessoais, priorizando a felicidade e independencia em todos
os sentidos.
156
17) Adriana Aparecida de Castro Porto, 33 anos, casada, natural de São Paulo – SP:
É a guerreira, aquela que chora sim mas por um pequeno
periodo, pois encara os desafios, as perdas com mais
racionalidade. Usa sua emoção na medida e sabe exatamente
o que quer e principalmente aprendeu a se respeitar e
valorizar, não dependendo mais da opinião dos outros para
ser quem é.
18) Talita Regina Capece, 23 anos, casada, natural de Ribeirão Preto – SP:
É concerteza uma mulher antenada nos assuntos atuais,
elegante, e com certeza inteligente....
19) Natália Sorrentino Silva, 20 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Uma mulher independente, realizada, que adora inovar,
gosta de se cuidar, não passa por cima das suas vontades, se
respeita e respeita os outros tambem, adora sair, viajar.
20) Priscila Teixeira da Silva, 28 anos, solteira, natural do Rio de Janeiro – RJ:
Uma mulher independente, sabe o que acontece no mundo,
que se cuida, trabalha em alto cargo em escritório, tem um
bom salário e lida muito bem com a sexualidade.
21) Caroline Meneghelli dos Santos, 23 anos, solteira, natural de Santo André – SP:
Independente, feliz, personalidade própria
22) Ana Paula Andrade, 21 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
A mulher de nova, é aquela que em meio a tantas coisas no
dia a dia, ainda consegue arranjar tempo pra cuidar da saúde
(comer bem), cuidar da beleza, se atualiza... se dedica a
família. É independente, e se preocupa muito com o próprio
bem estar.
23) Maria Elizabeth R. Oliveira, 23 anos, solteira, natural de Recife – PE:
Inteligente, interessante, preocupada com o corpo e mente,
segura, que busca sempre melhorar seus relacionamentos.
24) Claudia Regina da Silva, 30 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Uma mulher moderna, que gosta de moda e não tem medo
de enovar
157
25) Caroline Ranieri Sípoli, 24 anos, solteira, natural de Ibiporã – PR:
É uma mulher responsável, competente, que luta pelos seus
direitos, é batalhadora, é vaidosa, gosta de novidades. Ama e
não tem medo de sofrer por amor, é romântica, mas sabe
quando tirar seu time de campo. Enfim é uma guerreira.
26) Mariana Gonçalves da Silva, 29 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Moderna, atualizada e decidida
27) Geraldine C. Hoffmann, 27 anos, solteira, natural de Curitiba – PR:
Dinâmica, antenada e autêntica.
28) Magda Sarmento, 40 anos, solteira, natural de São Leopoldo – RS:
A mulher da minha geração. Aquela que já vive de forma
livre e corre atrás dos seus sonhos, sempre
29) Mônica Cristina Theodoro, 36 anos, casada, natural de Mogi das Cruzes – SP:
Uma mulher moderna, sexualmente ativa e independente
30) Renata Bortolosso, 29 anos, casada, natural de Americana – SP:
Hummmm, acima de tudo sexy, alto astral, ligada em moda,
beleza, de bem com a vida e segura de si.
31) Edilaine Gracioli Neves, 37, casada, natural de Orlândia – SP:
Atual, moderna e arrojada.
32) Silvana Sá, 26 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Díficil, é uma mulher 10 em 1, faz de tudo o dia todo, é
antenada nas novidades e gosta de ter uma boa relação com
um cara legal.
33) Ághata Corrêa Meyer, 14 anos, solteira, natural de Água Boa – MT:
elegante, bela, inteligente, linda, esforçada, trabalhadora
34) Fabiana Cássia Nunes, 28 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Independente, moderna, bonita, amada, criativa, esforçada,
inteligente, tem muitos atributos.
158
35) Beatriz Papisckys da Motta, 20 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Uma mulher que se ama e se respeita, que tem uma mente
sem preconceitos e sem machismo e acima de tudo
independente emocional e financeiramente.
36) Edilaine de Melo Souza, 23 anos, divorciada, natural de Duque de Caxias – RJ:
Independente, determinada, capaz de desempenhar inúmeras
atividades sem perder a feminilidade.
37) Rebecca Wanderley Nepomuceno Silva, 27 anos, solteira, natural de Recife –PE:
Independente, segura de si e feliz
38) Juliana Brendolan, 21 anos, solteira, natural de Pedreira – SP:
A mulher de Nova é bonita, antenada, inteligente,
batalhadora e vive na moda... não sei, acho que é isso.
39) Tatiana Corrêa de Moura, 22 anos, solteira, natural de Mineiros – GO:
Atualizada
40) Gisele Stoco, 27 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Perfeita: rica, bonita e inteligente.
41) Renata Rodrigues Romão, 20 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
É uma mulher madura, com objetivos e garras pra lutar por
eles, auto-confiante e..simplesmente mulher.
42) Vanusa Maria da Silva, 25 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Independente social e financeiramente
43) Luciana Rocha, 31 anos, solteira, natural de Brasília – DF:
Uma mulher bem informada sobre os mais variados assuntos
44) Andresa Afonso Dias de Sousa, 28 anos, casada, natural de Uberaba – MG:
mulher moderna, antenada e de olho no futuro, com reservas
do passado, sempre buscando algo mais
45) Bruna Holleweger, 19 anos, solteira, natural de Tangará – SC:
Independente, moderna, de conteúdo, e objetiva.
159
46) Stefani Carol Schmidt, 22 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Mulher moderna, que encontra-se na faixa etaria onde esta
terminando formação e construindo carreira e
consequentemente com relacionamentos amorosos e
possivel construção de familia.
47) Nathalia Souza Castro, 20 anos, solteira, natural de Santos – SP:
Decidida, segura e principalmente alguém que sabe o que
quer pra si.
48) Larissa Neves de Santana, 25 anos, solteira, natural de Catalão – GO:
uma mulher atualizada, moderna
49) Manuella Andrade Coelho, 31 anos, solteira, natural de Salvador – BA:
Independente, informada, fashion.
50) Vanessa Bueno Gonçalves, 20 anos, solteira, natural de Porto Alegre – RS:
independente, segura de si. sem preconceitos e sabe
equilibrar seu lado "culto" e "futil".
51) Camilla Teixeira e Silva Guimarães, 21 anos, casada, natural de Goiânia – GO:
Mulher de Nova: para mim a mulher de Nova é
independente, bem sucedida profissionalmente e satisfeita
sexualmente e amorosamente.
52) Mariana Capeleti e Silva, 21 anos, solteira, natural de Morrinhos – GO:
Independente, vaidosa, amorosa e disposta a conquistar seu
parceiro todos os dias.
53) Ana Cruz Poota, 30 anos, casada, natural de Teresina- PI:
inteligente, versatil, sexy, culta
54) Daiana Regina Gardini, 24 anos, solteira, natural de Campos Novos – SC:
Determinada, independente, sexy, inovadora, auto-confiante,
bem informada
55) Regiane Felix, 28 anos, solteira, natural de São Paulo- SP:
È uma mulher atualizada sobre assuntos referentes a moda,
maquiagem, relacionamentos...
160
56) Tatiane Nobre de Oliveira, 21 anos, casada, natural de São Paulo – SP:
A mulher de nova é moderna, independente que quer
conquistar o seu espaço e mostrar que além de fragéis nós
somos fortes e guerreiras.
57) Michelly Iwamura, 24 anos, solteira, natural de Taubaté – SP:
Uma mulher independente (em todos os aspectos), que tem
uma carreira profissional bacana e se dedica a ela, mas que
ainda assim, consegue ter tempo para a família, os amigos,
namorado, para cuidar de si própria e principalmente da
saúde. Uma mulher que mesmo com seus defeitos, se ama e
se valoriza !
58) Priscila Santos Costeira, 23 anos, solteira, natural de Santos – SP:
uma mulher independente, que luta pelo que quer... e busca
informações para chegar lá...
59) Lívia de Almeida Mercês, 25 anos, solteira, natural do Rio de Janeiro – RJ:
Inteligente, independente, confiante... mulher!!!!
60) Aline Aparecida Reis da Rosa, 27 anos, solteira, natural de Caxias do Sul – RS:
A mulher de Nova é a mulher independente, que sabe o que
quer.
61) Deise Alixandre Duarte, 22 anos, solteira, natural de Criciúma – SC:
Independente, alto astral, com amor próprio.
62) Maria Clara Silveira, 24 anos, solteira, natural de Porto Alegre – RS:
É moderna, ligada nas últimas novidades, segura de si,
cheirosa, vaidosa, linda e alto astral!
63) Aline Moreno Costa Santos, 18 anos, solteira, natural de Salvador – BA:
Corajosa, romantica, estilosa, decidida e sexy.
64) Alessandra Guimarães da Costa, 34 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Atualizada, contemporânea, moderna, independente,
objetiva, interessada...
161
65) Adriana Moneda Mangabeira, 29 anos, casada, natural de Guarulhos – SP:
Uma mulher segura de si, e independente
66) Ludimilla M. Macedo, 30 anos, casada, natural de Anápolis – GO:
auto estima elevada e sabe satisfazer um homem na cama
67) Denise Bastos Bittencourt, 35 anos, casada, natural de Salvador – BA:
Irreverente, ousada, mulher.
68) Adriana Santos Vernizzi, 27 anos, casada, natural de São Paulo – SP:
sempre estar atualizada
69) Jéssica Aparecida de Amorim Chagas, 18 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Dinâmica, Versátil, Inspiradora.
70) Adriana Anji, 25 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Para mim a mulher de Nova é inovadora, corajosa, encara
desafios, não se intimida perante grandes mudanças, vai
atrás do que quer. Gosta de se produzir mas não é escrava da
beleza...aha se eu for ficar falando td que uma mulher de
Nova é vou longe com essa resposta...rsrs
71) Daniela Maria de Castro Vieira, 34 anos, solteira, natural de Goiânia – GO:
Moderna, atual, dinâmica, independente, segura, de
personalidade.
72) Fernanda Ananias Stepanenko, 27 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Uma mulher independente, trabalhadora, amante do que faz
e que corre atras de seus objetivos. Uma mulher que faz
acontecer.
73) Mariana Ramos, 27 anos, solteira, natural de Campinas – SP:
moderna intelectual e fisicamente
74) Graziela de Caixeta e Silva, 25 anos, solteira, natural de Uberlândia – MG:
Independente, pensa com a própria cabeça e tem amor
próprio antes de tudo.
162
75) Fernanda Ferreira, 27 anos, casada, natural de Rio de Janeiro – RJ:
atualizada
76) Vanessa Araújo Caribé Oliveira, 26 anos, solteira, natural de Alagoinhas- BA:
Inteligente, sexy, ligada na moda
77) Maria Lessa Chiquetti, 51 anos, casada, natural de Petrolândia – SC:
Uma mulher dinâmica em busca da sua independência de
fato.
78) Aline Fidelis Souza, 23 anos, casada, natural de São Paulo –SP:
Moderna (As vezes moderna até demais)
79) Tatiane Daniel, 30 anos, casada, natural de Curitiba – PR:
Uma mulher moderna, independente, bem resolvida
pessoalmente, profissionalmente e principalmente
sexualmente.
80) Ana Lucia Sliachticas, 35 anos, solteira, natural do Rio de Janeiro – RJ:
É uma mulher inteligente que quer saber tudo sobre qq
assunto desde a ultima tendencia qto como agir em situações
embraraçossas..que quer ter sempre a atualidade.
81) Carolina Almeida, 53 anos, divorciada, natural de São Paulo – SP:
A Mulher de Nova é uma pessoa moderna, antenada com as
modernidades, que gosta de aprender e estar por dentro da
moda, dos assuntos do momento, super ativa.
82) Telma Haydt, 43 anos, casada, natural de São Bernardo do Campo – SP:
Ser bem informada
83) Fabíola Dias do Nascimento, 24 anos, solteira, natural de São Paulo –SP:
É antenada com o mundo as novas tendências.Uma mulher
moderna, que não abre mão de conforto e felicidade.
84) Alyne Santos de Souza, 27 anos, solteira, natural de Salvador – BA:
Uma mulher ousada q sabe o q quer.
163
85) Priscila Foli, 26 anos, solteira, natural de Arapongas – PR:
Moderna, inteligente, antenada, diferente...
86) Cecília Villas Boas, 27 anos, solteira, natural de Curitiba – PR:
Independente
87) Andreza Geanina Coleone, 31 anos, solteira, natural de Ibitinga – SP:
Moderna, independente, antenada, é como a própria revista
descreve, quem Nova tem a cabeça aberta as novas idéias
meeeesmo!
88) Luciana Oliveira Santos, 26 anos, solteira, natural de Nova Canaã – BA:
quer estar sempre atualizada no universo feminino
89) Isaura Andrade Silva, 28 anos, casada, natural de Vitória da Conquista – BA:
Inteligente, decidida e maravilhosa!
90) Annelise Nogueira, 22 anos, solteira, natural de Itajubá – MG:
Independente, batalhadora, bem humorada, segura de si,
sabe bem qula são seus objetivos e eluta por eles, é
romantica mais no chão, é determinada a consegui o que
quer, mais tambem sabe a hora de parar, é linda e sabe se
cuidar.
91) Carolina Fonseca Cardoso, 25 anos, solteira, natural de Santos – SP:
criativa e moderna
92) Érica de Aquino Paes, 32 anos, casada, natural de Rio de Janeiro – RJ:
Independente, workholic, linda, mas que quer um grande
amor (maridão, filhos etc).
93) Geruza de Souza de Melo, 27 anos, solteira, natural de Curitiba – PR:
Independente, trabalhadora e batalhadora, espiritualizada, de
atitude, "antenada", que sempre tem um papo legal com
qualquer pessoa (e nisso a Nova ajuda e muito!), que gosta
de se cuidar e ser cuidada, é resiliente, adora sair com os
amigos pelo prazer da companhia deles, pra dar risada,
ama estar com a família, gosta de surpreender e ser
surpreendida, de viajar, conhecer pessoas e lugares
164
diferentes, que gosta muito de sexo (onde dor de cabeça
nunca é desculpa), que gosta de fazer seu homem feliz,
completando-o, sendo amiga, mãe, companheira, amante... é
a mulher que, de certa forma, sempre está a procura do seu
"príncipe encantado", não é perfeita, mas está sempre em
busca de ser melhor... E mais, muito mais...
94) Andréia Leite Soares, 27 anos, solteira, natural de Ipatinga – MG:
Dinâmica, moderna
95) Solange Magalhães Oliveira Reis, 26 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Eu acredito que essa mulher de nova tem dois aspectos.
Depende do leitor. Por exemplo, a revista passa a imagem
daquela mulher super, ultra independente, que conta de
tudo e ainda está sempre em dia com a beleza.... que é
moderna e de bem com sua sexualidade. muita gente
entende isso pelo lado negativo, como uma imagem
inatingível. Eu prefiro encarar sob o aspecto de que a revista
procurar passar a mensagem de que temos que ser o melhor
possível, de acordo com os limites e possibilidades de cada
um, ou melhor, cada uma, sem necessariamente ser uma
"Gisele Budchen", mas ser o melhor possível e sempre
buscar evoluir, acho que essa é a mulher de Nova, a que
"não desiste nunca" e a que acredita no seu potencial.
96) Danielle Silva do Nascimento, 30 anos, solteira, natural de João Pessoa – PB:
Uma mulher moderna, pra frente, inteligente...
97) Joselândia Bezerra do Nascimento, 20 anos, solteira, natural de Paulo Afonso – BA:
A mulher de NOVA é aquela que tem varias obrigações mas
não deixa de se cuidar, que trabalha, que luta pela
independência, que não se deixa abater com os problemas.
Aquela que não tem vergonha de buscar satisfação sexual e
que gosta de dar prazer ao parceiro. Mas acima de tudo a
mulher de NOVA é aquela que também tem duvidas, que
sente medo, que chora, e que precisa de carinho e atenção.
98) Niama Alencar, 20 anos, solteira, natural de Salvador – BA:
Decidida,confiante ,inteligente e claro super feminina!
165
99) Marina Araújo de Farias, 20 anos, solteira, natural do Rio de Janeiro – RJ:
Independente, descolada, inteligente, vaidosa, sem pudores e
com boa auto-estima
100) Luciana Rodrigues S. Borges, 24 anos, solteira, natural de São Paulo – SP:
Uma mulher que está sempre em busca de evolução, que é
independente, que tem metas e vai atrás de seus objetivos.
Alguém que tem amor próprio e que deseja ser feliz e livre
acima de tudo. Enfim, alguém que tem amor a vida!
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