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O presente trabalho faz uma reflexão sobre a identidade feminina, a partir da
imagem da mulher contemporânea retratada nas páginas da revista Nova. Veremos
adiante que a imprensa feminina moderna cumpre o papel de difusora social dos
modelos estéticos.
A produção e a propagação do discurso relativo aos cuidados da beleza
tornaram-se cada vez mais freqüentes nas revistas e campanhas publicitárias. Com o
desenvolvimento da indústria cosmética, novas revistas foram criadas para exaltar a
juventude, a busca da felicidade e os cuidados com a beleza. A segmentação das revistas
acompanhou as mudanças dos costumes no século XX.
No início, eram diferenciadas pelo gênero dos leitores. Enquanto as revistas
femininas contemplaram as mulheres com temas sobre lar, moda, beleza e amor, as
revistas masculinas partiram para assuntos como sexo, erotismo e pornografia.
A emancipação das mulheres e a onda feminista
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dos anos 1960/70 levaram as
revistas femininas a incluírem em suas pautas temas como trabalho e política, além de
permitirem uma abordagem diferenciada sobre vida sexual dentro e fora do lar.
As mulheres tiveram algumas importantes conquistas, mas ainda falta bastante
para alcançar a igualdade social. A desigualdade vem diminuindo: em 1992, a mulher
recebia, por hora trabalhada, 76% do que recebia o homem; em 2003, a porcentagem
cresceu para 83%
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É inegável o avanço, mas é preciso mais. Dados
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do programa Igualdade,
Gênero e Raça do Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Mulher
(Unifem) apontam que, em 2005, de cada 100 brasileiras com mais de 16 anos, 62
estavam trabalhando. Em 1976, eram apenas 30. O mesmo estudo mostra que as
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“É difícil definir o feminismo porque o significado do termo se tece cotidianamente. Ele envolve a vida
no dia-a-dia, o trabalho, a família, a saúde, a educação, as relações sexuais e afetivas. Como movimento
social, o feminismo surgiu no Brasil em meados da década de 70, durante a ditadura militar, e funcionava
como um laço de solidariedade entre mulheres advindas de espaços diversos. É inegável que desde aquele
tempo ocorreu uma significativa mudança, tanto na posição da mulher quanto na percepção sobre o seu
papel na sociedade – e atribuo ao feminismo a responsabilidade principal por essa mudança. Entretanto, é
importante ressaltar que a história não se escreve de forma linear e que as conquistas não são
necessariamente cumulativas. Assim é que só hoje, já no século XXI, a Câmara dos Deputados aprovou o
novo texto do Código Civil, que acaba com a possibilidade de anulação do casamento por perda de
virgindade da mulher antes do matrimônio. Da mesma forma, apesar de o Superior Tribunal de Justiça ter
rejeitado, em 1991, o argumento da legítima defesa da honra em casos de assassinato de mulheres por seu
companheiro, ainda há advogados defendendo essa tese em tribunais de júri de todo o país.”, declarou a
socióloga e ex-presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, Jacqueline Pitanguy, em
entrevista concedida à Revista Veja em novembro de 2001. Disponível em
http://veja.abril.com.br/especiais/mulher/p_048.html. Acesso em 27 de maio de 2007.
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Dados publicados no especial “Mulheres do Brasil” que foi encartado na edição de março de 2005 das
revistas Nova, Claudia, Elle, Estilo e Bons Fluídos.