2. Embora os discursos dos diferentes agentes apresentem conotações retóricas
diferentes, o embate estratégico ocorreu em perfeita consonância com os
interesses em jogo: o grupo representado pelos Radiodifusores, defensor da
adoção do modelo japonês, teve seu discurso caracterizado pela presença e
unicidade do significado da mensagem. Esse discurso valoriza o nível apologético
da tecnologia, não deixando espaço para dúvidas e questionamentos, acentuado
pelo próprio caráter das expressões enunciadas: integração; desenvolvimento;
novo tempo e qualidade. Por sua vez, os defensores do modelo Europeu,
representado pela indústria de Telecom, denunciaram a falta de diálogo nas
discussões, e o caráter autoritário do Decreto 5820/06.
3. As mensagens alicerçadas no verossímil, no plausível, no provável,
acompanhadas de fortes componentes afetivos e emocionais, buscavam denunciar
os procedimentos utilizados pelos grupos concorrentes, ao mesmo tempo que
preservavam seus interesses do grupo que as emitia. O decreto 4901/03 que fazia
menção a adoção do modelo Europeu (do qual a multi-programação era parte
significativa), foi criticado violentamente pelos radiodifusores. O mesmo se deu
em relação ao Decreto 5820/06 que adotou o japonês (que privilegia a alta-
definição e ao mesmo tempo, a mono-programação) – também foi criticado
radicalmente pelo grupo intervozes e a indústria de Telecom.
Assim, valorizamos o pressuposto que somos seres retóricos por excelência, isto é,
usamos a linguagem como instrumento de mudança ou reforço de percepções e sentimentos,
valores, posicionamentos e ações embasados em estratégias intencionalmente escolhidas, no
intuito de responder aos ditames de uma situação.
O Governo Federal, ao ressaltar a integração e o desenvolvimento, justificou sua
postura inovadora e moderna. O Intervozes, (um dos representantes da sociedade civil),
criticou fortemente o Decreto 5820/06 pelas seguintes razões: limitado efeito democrático, a
não adequação da convergência das mídias e denúncia da não efetividade da multi-
programação. Os Radiodifusores, na pretensão de manter seus privilégios, enfatizaram a
necessidade da continuidade do mesmo modelo de negócio, ou seja, a troca de audiência por
publicidade. A indústria de eletro-eletrônica acentuou a necessidade da interatividade, embora
para eles, tanto a multi-programação, bem como a mono-programação, eram aceitáveis, uma
vez que não provocaria qualquer interferência no seu modelo de negócio. Por isso, o discurso