fazer arte. Implodir, inquietar, desconstruir a maneira de pensar, produzir e contemplar
a
arte, tornou-se uma atividade política.
A partir de 1967, intensificaram-se as ações dos grupos de esquerda que vislumbravam a
possibilidade de uma insurreição popular. Os movimentos ligados à luta armada apontavam
que a estratégia política de alianças do PCB havia falhado e, influenciados pela experiência
cubana e as teses de Régis Debray
, iniciaram ações voltadas para o financiamento e a
organização da revolução. Outros grupos dissidentes do PCB ganharam destaque como a
Ação Libertadora Nacional, liderada por Carlos Marighela
; o Partido Comunista Brasileiro
Revolucionário; o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8); a Vanguarda Popular
Revolucionária (VPR), que contava com a liderança de Carlos Lamarca
. Marighela e
Aliás, a palavra “contemplar” não cabe nesse movimento, pois a arte deixa de ser contemplativa para ser um
instrumento de afetação: deve-se tocar, mexer, perceber a arte no corpo, nos poros, misturar-se com ela,
exprimentá-la. A arte não é mais feita para o olho, mas para o corpo inteiro, introduzindo novas percepções e
sentidos.
Jules Régis Debray (1940 - ), seguidor de Louis Althusser, teve grande influência sobre a juventude dos anos
60, do último século, a partir da publicação do livro “A Revolução na Revolução”, onde relatava a trajetória de
Fidel Castro e Che Guevara e o êxito da Revolução Cubana. Desenvolveu a teoria do “foco guerrilheiro”, ou
“foquismo”, que, de acordo com Ridenti (2002), articulava três teses: “opção pela luta armada; opção pela guerra
de guerrilhas como método para desenvolvê-la; e opção pela montagem imediata de um foco guerrilheiro no
campo como forma de iniciar a guerra de guerrilhas” (p. 275). Acompanhou Che na guerrilha da Bolívia, quando
este foi assassinado, em 8 de outubro de 1969, ficando preso neste país no período de 1967 a 1971. Após uma
rápida passagem pelo Chile, regressou à Paris em 1973. Segundo Loïc Wacquant, em seu livro Prisões da
Miséria (1999), na década de 1990 Debray participou do governo Francês defendendo a implementação da
política de “tolerância zero” naquele país. (Fontes: SADER, E. O anjo torto: esquerda (e direita) no Brasil. São
Paulo: Brasiliense, 1995 e RIDENTI, M. Capítulo 6: Ação Popular: cristianismo e marxismo. Em: RIDENTI,
M. e REIS FILHO, D. A. (orgs.) História do marxismo no Brasil: volume V – partidos e organizações dos anos
20 aos 60. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2002).
Carlos Marighella (1911-1969), nascido em Salvador, BA, foi membro do Partido Comunista Brasileiro
(PCB), fundador do grupo revolucionário Ação Libertadora Nacional (ALN) e um dos mais combativos
militantes implicados no combate ao autoritarismo no Brasil. Marighella aderiu ao PCB em 1929, ainda
estudante de Engenharia da Escola Politécnica da Bahia. No combate à ditadura de Getúlio Vargas, foi preso
inúmeras vezes, sendo anistiado em 1945, momento do processo de democratização do país marcado pela
deposição de Vargas e pela saída do PCB da clandestinidade. O apoio popular à Marighela foi expresso na
eleição à Assembléia Constituinte, em 1946, onde representou o estado da Bahia como deputado federal. Dois
anos depois, cassado pela repressão do governo Dutra, voltou, junto com o Partido, às atividades clandestinas,
condição que manteria até sua morte. Depois de anos criticando a política de alianças com a burguesia e o
imobilismo do PCB diante do golpe de 1964, Marighela requereu seu desligamento do Partido, em dezembro de
1966, explicitando sua posição de lutar junto às massas, em vez de ficar à mercê do jogo político. Em dezembro
de 1967 fundou ALN, afirmando a luta armada como caminho para a derrubada da ditadura e a instalação de um
Governo Popular Revolucionário. Marighella foi assassinado por policiais comandados pelo delegado Sérgio
Paranhos Fleury, em uma armadilha em São Paulo, em 4 de novembro de 1969. (Fontes: SADER, E. O anjo
torto: esquerda (e direita) no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1995 e Escritos de Carlos Mariguella. São Paulo:
Editora Livramento, 1979).
Carlos Lamarca (1937-1971), um dos fundadores do grupo Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) que,
junto com a ALN, viria a ser uma das principais organizações da luta armada contra a ditadura militar, que se
instaurou no Brasil a partir de 1964. O Capitão Lamarca, como era conhecido, fez parte de um movimento de
militares que optou pelo enfrentamento da repressão. Em 1971 desligou-se da VPR e ingressou no Movimento
Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e, com a finalidade de estabelecer uma base desta organização no interior
do país, foi para o município de Brotas de Macaúbas,no sertão da Bahia, onde foi morto pela repressão. (Fontes:
SADER, E. O anjo torto: esquerda (e direita) no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1995 e
WWW.torturanuncamais-rj.org.br acessado em 23 de junho de 2008, às 13:45).