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A verdade, porém, é que as ONGs possuem responsabilidade na sociedade civil, muito
além do que já foi citado. Têm um papel de vital importância, buscando alternativas para a
crise ecológica e a crise social que ameaçam o mundo mediante a globalização da pobreza,
que abate cada vez mais a humanidade (VIEIRA, 2002, p. 68).
Para Danziato (1998, p.194), as ONGs são
organizações que se constituíram em torno de um ideal de democracia, de exercício
de cidadania, cujo eixo central refere-se ao poder, notadamente o poder exercido
pelo Estado, cuja lógica política, econômica, social e cultural é excludente, uma vez
que não privilegia a população como um todo. Assim, desde que se inseriram
socialmente, não concebem uma prática desvencilhada das questões políticas,
econômicas, sociais e culturais, uma vez que se entende que é neste âmbito que se
dá a exclusão dos indivíduos e, portanto, o impedimento do exercício da cidadania e
realização de uma democracia plena.
As ONGs, na verdade, pautam-se no compromisso de uma ética que objetiva à
emancipação do sujeito, encaminhando-o para a efetivação de sua cidadania.
Cabe ressaltar que as ONGs tornam-se a cada dia que passa mais e mais importantes.
Construíram uma verdadeira rede, teia, trama, na sociedade globalizada em que se vive, assim
como o fazem os grupos privados em uma sociedade nacional. Neste sentido, traz-se a
observação de Gohn (2005, p. 95), que diz que ONG “é um grupo de pessoas que produz um
certo tipo de conhecimento e ajuda a sociedade civil a produzir novos direitos.”
Com relação à história das ONGs, foi apenas no mundo moderno que surgiram os
organismos internacionais semelhantes às ONGs.
22
É possível concluir que um dos
antecedentes considerados mais importantes das ONGs foi a criação do Comitê Internacional
da Cruz Vermelha (CICV) no ano de 1863.
23
Como recorda Bedin (2001, p. 300-301),
além dessa marca, de serem organismos que surgiram mais propriamente no mundo
moderno, as organizações não-governamentais possuem, ainda, como marca
fundamental, a sua relação, inicial, com as ordens religiosas. Daí, portanto, a
afirmação de SEITENFUS de que “as primeiras manifestações de solidariedade
internacional nascem com a religião. Ao desconhecer as fronteiras nacionais, as
ordens religiosas criaram atividades que escapavam ao controle do Estado”, criando
espaços para a atuação futura das organizações não-governamentais.
22
Menciona o autor o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (1863). Este movimento laico e pioneiro assumiu
papel importantíssimo em prol da marcha do direito humanitário.
23
Comitê que mesmo tendo vínculo com o Direito interno da Suíça, possui estatuto internacional de
reconhecimento pelos Estados signatários das Convenções de Genebra. O CICV é, então, um órgão híbrido,
tratando-se de uma organização especializada suíça de vocação a nível internacional. Esse comitê tem sido, ao
longo de sua história, uma organização que se destaca pelo trabalho de cunho humanitário que desenvolve, em
relação às pessoas atingidas pela guerra, os feridos, os desaparecidos, os detidos e os prisioneiros, concedendo
proteção a essas pessoas, sejam elas civis ou militares.