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Duílio Fabbri Júnior
A Tensão entre o Global e o Local:
A desterritorialização da notícia no bloco rede do Jornal Regional
FACULDADE CÁSPER LÍBERO
São Paulo
2006
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Duílio Fabbri Júnior
A Tensão entre o Global e o Local:
A desterritorialização da notícia no bloco rede do Jornal Regional
Dissertação apresentada ao Programa de pós-
graduação Stricto Sensu, na área de
concentração Dinâmica das Mensagens e da
Recepção, como exigência parcial para a
obsteção do título de Mestre, sob orientação do
Profº Dr. Laan Mendes de Barros.
FACULDADE CÁSPER LÍBERO
São Paulo
2006
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Duílio Fabbri Júnior
A Tensão entre o Global e o Local:
A desterritorialização da notícia no bloco rede do Jornal Regional
Data da Defesa _____/_____/______
Banca Examinadora
__________________________________
__________________________________
__________________________________
3
À Deus, que me dá o equilíbrio
necessário para enfrentar meus desafios,
sem fugir da realidade.
À minha família, que sempre me apoiou
nos momentos em que outros já tinham
desistido. Especialmente a meu irmão
Maurício.
4
Agradecimentos
A Laan Mendes de Barros, meu orientador e incentivador. Por acreditar no meu
potencial e por vezes, apontar os melhores caminhos para que eu pudesse trilhar com segurança.
A Sidney Leite, meu primeiro orientador e quem me deu as primeiras noções na
condução desse estudo.
Ao amigo Luciano Trivelin, ouvinte e crítico, sempre me incentivou a superar meus
limites e seguir em frente.
Ao amigo e irmão Rogério Bazi, mestre na essência, incentivador, colaborador e sempre
presente na minha vida e especialmente nesse estudo. A sua grandeza é minha inspiração.
Ao amigo Ciro Porto, que com sua paciência e olhar adiante me ensinou a ser firme,
conquistar meus desejos e seguir com meus estudos.
Ao amigo Reberson Ius, é a tradução mais perfeita da palavra. Dedicado, inspirador e
incentivador. Nos momentos mais difíceis, suas palavras me deram o equilíbrio para continuar.
A generosidade e conhecimento foram fundamentais para meu trabalho.
Ao meu amigo Eduardo Utiyama, presente, sempre me incentivou no meu crescimento
pessoal e acadêmico e por entender minhas ausências em momentos importantes.
Aos entrevistados e colegas da EPTV, especialmente Luciane Viegas e Daniela
Lemos, que em meio ao dia a dia tão atribulado , tiveram a paciência de parar seus afazeres e se
colocarem á disposição para fornecer informações relevantes para essa pesquisa.
Aos professores, funcionários e amigos da pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero.
Aos meus alunos da graduação da Faculdade Prudente de Moraes, que com seus
questionamentos me fizeram procurar novas abordagens para assuntos e respostas já
cristalizados. Isso colaborou e muito para esse estudo.
À Simone de Albuquerque, incentivadora e sempre presente nos momentos difíceis
desse estudo.
5
Resumo
Estudo sobre a desterritorialização da notícia, tendo como base de análise a tensão entre o
Global e o Local, no Jornal Regional Primeira edição da EPTV, afiliada da Rede Globo. O estudo
se apóia numa análise quantitativa das reportagens que entram no bloco em rede do noticiário da
EPTV, com o suporte de entrevistas semi-estruturadas com os jornalistas responsáveis pelas
decisões e encaminhamento do bloco, conhecido como “redinha”.
Ao noticiar fatos de três regiões distintas como Campinas, Ribeirão Preto e São Carlos,
interligados pelo sinal da emissora regional EPTV, a televisão produz sentidos e faz centrar a
memória discursiva dos indivíduos, quando tenta promover uma certa identificação coletiva. É
nesse momento em que o jornal produzido trabalha na (re)elaboração de identidades culturais
dentro da construção de uma realidade pública. E o território é elemento fundamental desse
processo. Pois em tensão, o Global e o Local se manifestam nesse território EPTV, onde são
gerados os sentidos identitários, que são absorvidos e retransmitidos pelo jornal Regional; que
por sua vez articula esses processos ofertados nos espaços sociais vividos. Através do estudo foi
possível analisar os critérios para a produção das notícias em rede e a hierarquização dos mesmos
na formação do espelho do jornal.
Palavras- chave - Telejornalismo, jornal regional, EPTV, identidade, global, local, território.
6
Abstract
Study about the news decentralization, having as an analysis basis the tension between
Global and the Local, in the Regional News – Jornal Regional – first edition at EPTV, a Rede
Globo affiliated. This research is based on a quantitative analysis of the pieces of news which are
in the network block of EPTV news, with the support of semi-structured interviews made by the
journalist responsible for the decisions and guiding os the block known as “redinha”.
When notifying facts from the three distinct regions as Campinas, Ribeirão Preto and São
Carlos, linked by the regional station EPTV sign, the tv makes sense and centers the individuals
discursive memory, when discursive memory, when it tries to promote a certain collective
identification. At this moment the produced news works on the (re) elaboration of the cultural
identities in the construction of a public reality. Ande the territory is the fundamental elements of
this process. Therefore in tension, the Global and the Local, appear in this EPTV’s territory,
where the “Regional” senses are generated, which are absorbed and (re) transmitted by regional
News, that in turn articulates these processes which are offered in the lived social spaces.
Through the study it was possible to analyse the criterio for the news production in network and
their hierarchy process on the News.
Key words – Telejornalism, Regional news, EPTV, Identity, Global, Local, territory
7
Sumário
Introdução ...........................................................................................................................10
1 - Capítulo I – A Identidade Cultural: global x regional ........................................18
1.1 – A Identidade mediadora .......................................................................19
1.2 – Delimitando o Regional .......................................................................25
1.3 – Em síntese.............................................................................................34
2 - Capítulo II – O “Global” na rede .........................................................................35
2.1 – Um padrão de estrutura .......................................................................36
2.2 – Padrão Global: das matrizes populares à internacionalização ............46
2.3 – O telejornalismo na rede: expansão e padrão .....................................55
2.4 – Em síntese............................................................................................63
3 - Capítulo III – EPTV: territórios e produtos .......................................................64
3.1 – Pioneiras, de São Paulo ao Sul de Minas ............................................65
3.2 – Campinas: tecnologia industrial ..........................................................74
3.3 – Ribeirão Preto: na raiz do agronegócio ...............................................79
3.4 – São Carlos: uma tese para tantas teses ................................................82
3.5 – Varginha: um sotaque mineiro ............................................................84
3.6 – Empresas Pioneiras de Televisão: Cultura Regional ..........................85
3.7 – Em síntese............................................................................................96
4 - Capítulo IV – A dinâmica do bloco-rede do Jornal Regional 1ª edição ...........97
4.1 – O fazer jornalístico .............................................................................98
4.2 – O bloco-rede: a “redinha” .................................................................101
4.3 – Referendo: agenda-setting x regional ...............................................110
4.4 – Em síntese..........................................................................................114
Considerações finais ........................................................................................................116
Bibliografia........................................................................................................................122
8
Índice de quadros
QUADRO 1 – Vinheta Globo – final dos anos 70 ..............................................................38
QUADRO 2 – Principais grupos brasileiros de mídia .........................................................40
QUADRO 3 – Vinheta Globo – final dos anos 80 ..............................................................50
QUADRO 4 – Escritórios de correspondentes distribuídos pelo mundo ............................58
QUADRO 5 – Mapa de cobertura geográfica 2005 ............................................................66
QUADRO 6 – Mapa de cobertura geográfica 2005 ............................................................67
QUADRO 7 – Consumo São Paulo.....................................................................................69
QUADRO 8 – Consumo interior São Paulo........................................................................70
QUADRO 9 – Consumo per capita São Paulo....................................................................71
QUADRO 10 – Agronegócio São Paulo..............................................................................71
QUADRO 11 – Hábitos de consumo – Mídia......................................................................72
QUADRO 12 – Setores Produtivo São Paulo ......................................................................76
QUADRO 13 - Agronegócio São Paulo II ..........................................................................80
QUADRO 14 – Programação EPTV Campinas .................................................................86
QUADRO 15 – Decupagem dos tempos do jornal (MAIO) .............................................103
QUADRO 16 – Decupagem dos tempos do jornal (JUNHO) ...........................................103
QUADRO 17 Decupagem dos tempos do jornal (JULHO) ...........................................104
QUADRO 18 Decupagem dos tempos do jornal (AGOSTO) .......................................104
QUADRO 19 – Decupagem produção de VT (MAIO) .....................................................107
QUADRO 20 – Decupagem produção de VT (JUNHO) ..................................................107
QUADRO 21 – Decupagem produção de VT (JULHO) ..................................................107
QUADRO 22 – Decupagem produção de VT (AGOSTO) ..............................................108
QUADRO 23 – Decupagem de VT’s – Referendo ...........................................................112
9
Introdução
A informação globalizada, através dos meios de comunicação, mostra-se hoje como um
fator decisivo do mundo moderno. É em busca da informação global que as empresas de
comunicação estão se reestruturando e definindo sua penetração no mercado. O veículo utilizado
pelas empresas, a criação de uma identidade com os telespectadores de uma região e a
possibilidade de faturar alguns milhões dólares são peças fundamentais para sua cristalização no
mercado. Pesquisa realizada pelo jornal Folha de S. Paulo (1997) mostrou que o meio mais
utilizado pela população para se informar é a televisão (49%).
Uma das grandes discussões de empresários, comunicadores e executivos, depois da
instalação da TV paga, é com o futuro do broadcasting
1
brasileiro. Empresários do setor de
televisão, reunidos durante um seminário promovido pelas revistas Tela Viva e Pay TV, com o
apoio da Abert e da ABTA (1997), afirmaram que a regionalização da televisão é o principal
fator de sobrevivência do broadcasting no país.
A dinâmica atual do telejornalismo apresenta dois sentidos: a globalização, via
grandes redes internacionais, e a regionalização com espaço para as emissoras e
programação locais
2
.
Conciliar a programação local com qualidade e conseguir sustentar os altos custos que
isso acarreta será o desafio das emissoras. E o jornalismo pode ser um caminho para isso. Os
estudos de Bazi
3
confirmam essa pesquisa, pois definem TV regional como aquela que
retransmite seu sinal a uma região estruturada econômica, social e culturalmente, e que tenha sua
programação voltada para essa mesma região.
1
Broadcasting - termo em inglês que significa radiodifusão. Também pode ser empregado para designar conjunto
de emissoras de TV.
2
DEBONA, Darci e FONTANELLA, Odila. Telejornalismo Global x Regional. In: BAZI, Rogério Eduardo
Rodrigues. Noticiário e a noção de território: a construção de processos identitários. São Paulo, 2004.
3
BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. TV Regional: Trajetória e perspectivas. Campinas: Alínea, 2001.
10
Sendo assim, impulsionada pelo avanço tecnológico, a sociedade contemporânea vive a
superação das fronteiras nacionais em um processo de articulação cultural , econômica e política
em escala global e é fruto de mudanças rápidas e intensas que aconteceram de forma concentrada
nas últimas três décadas.
Essas transformações passaram a decidir e mensurar a experiência do homem no universo.
As mudanças são responsáveis pela apresentação do mundo pós-moderno, de indivíduos que até
então não conseguiam alcançar, nem mesmo na esfera do imaginário, o limite mínimo de espaço
que ocupavam dentro do planeta. As interações dessas pessoas permaneciam reduzidas a um
número restrito de seres, que eram suas principais fontes de informação. O jornalismo da
televisão, nesse contexto, deve ser entendido dentro do conjunto do entretenimento, criando um
conceito de notícia aliada a entretenimento, ou seja, mesmo informativa, ela ocupa um espaço
dentro da grade de programação, que é oferecida como entretenimento no todo para o
telespectador.
Ao polir, processar e empacotar a realidade em forma de notícia, a televisão
acabou integrando vida e entretenimento de forma muito mais completa e
inextricável que qualquer outra máquina de notícias. Ainda que o jornal como
um todo fosse um veículo de entretenimento, os jornais sempre foram divididos
em espaços que demarcam claramente um departamento e outro: notícias do
dia, colunas opinativas, editoriais, esporte, humor, reportagens, o que seja. A
televisão, por outro lado, é dividida por tempo, o que acabou por ser uma
fronteira bem mais fluida e porosa. Na televisão, uma coisa fluía para a outra
até que as divisões aos poucos começaram a desaparecer e só restou o
entretenimento
4
.
Esse fenômeno pode ser visto em várias parte do mundo. No Brasil, os estudos sobre o
sistema de tevê regionalizada são recentes, mas o modelo existe há pelo menos 20 anos, com a
criação da RBS, da família Sirostry, e da EPTV pela família Coutinho Nogueira, essa última
produtora e retransmissora do objeto da pesquisa.
A sigla EPTV, Emissoras Pioneiras de Televisão, surge da identidade entre as quatro
emissoras do grupo.
4
GABLER, Neal. Vida - O filme: como o entretenimento conquistou a realidade. Trad. Beth Vieira. São Paulo:
Companhia das Letras, 1999.
11
Retratar os assuntos locais, proporcionando aos telespectadores acompanhar também o
que ocorre no país e no mundo, é a possibilidade que a EPTV fornece ao seu público, através da
união das programações regional e nacional.
Longe da pretensão de fazer uma pesquisa conclusiva sobre o noticiário regional e seus
efeitos de sentido no espaço de seus territórios, esse estudo destina-se a compreender a dinâmica
de um território específico e sua relação com o noticiário televisivo local.
Retratar os assuntos locais, proporcionando aos telespectadores acompanhar também o
que ocorre no país e no mundo, é a possibilidade que a EPTV fornece ao seu público através da
união das programações regional e nacional. Se uma pessoa desejar assistir "às cores locais",
basta sintonizar nos programas gerados pela EPTV; se optar em saber o que acontece em outro
lugar, assiste aos programas da Rede Globo.
Por quase trinta vezes, a emissora já ocupou espaços na programação da Globo,
utilizando-se do horário do programa "Globo Repórter", transmitido em rede nacional às sextas-
feiras, para apresentar suas produções regionais. Até o momento, ela é a única das emissoras da
Globo que ocupou tal espaço. A primeira exibição nacional-regional da EPTV foi em 1992, com
o documentário "O Canto da Piracema", que mostrou a subida dos peixes pelos rios do interior
paulista e de Minas Gerais. Também exibe o programa Terra da gente, em quarenta e três países,
em todos os continentes e em todo o Brasil por antena parabólica. Como verificado, a EPTV é
uma das grandes redes regionais de televisão do país, ao lado do grupo gaúcho RBS, da Rede
Amazônica, em Manaus e da TV Bahia, em Salvador, apenas para fornecer alguns exemplos.
Tais redes regionais e, em especial a EPTV, à qual vamos nos ater, são produtoras dos meios de
comunicação de massa e, assim, passam a construir identidades culturais significativas.
Dentro da produção regional da EPTV está o JR 1ª edição, objeto desse estudo, que vai
ao ar de segunda a sábado, das 11h55 às 12h45. Entretanto, de segunda a sexta-feira, o jornal
conta com um bloco, feito em rede pelas três emissoras paulistas EPTV, que não é exibido aos
sábados, quando o jornal é todo feito pela emissora local. O JR 1ª edição tem o tempo de
produção em torno de quarenta e três minutos. E, exceto aos sábados, ele pode ser visto em duas
partes. A primeira, feita em rede pelas três emissoras paulistas, onde o apresentador-âncora de
cada região, Campinas, Ribeirão Preto e São Carlos faz rodízio com outro para chamar as notícias
dessas regiões.
12
A segunda parte é estritamente local, ou seja, enfoca apenas a área de cobertura da praça,
da região em que a sede da emissora está. Os resultados médios do Ibope para o JR 1
a
Edição dão
conta de que ele tem em média vinte pontos
5
, líder da região no horário, e share
6
de 66%.
A análise desse estudo recai sobre o bloco feito em rede, com notícias de praças distintas e
com populações ligadas a áreas específicas: Ribeirão Preto tem uma tradição cultural voltada para
o agronegócio, São Carlos tem a formação sócio-econômica ligada à área das universidades e
pesquisas, e Campinas é identificada por comércio, indústria e alta tecnologia. Dessa forma, as
notícias que interessam às três regiões, em comum, são consideradas e paginadas para o primeiro
bloco do jornal.
A “redinha” , como é conhecido internamente pelos jornalistas da EPTV o bloco em rede
com as três praças, tem quinze minutos e se esse tempo, por um lado, consegue informar os
principais fatos do dia, mas, por outro, sofre da superficialidade. Não há como aprofundar, fazer
análises ou levar o telespectador a refletir sobre determinado assunto. Cumpre sua missão de
informar, mesmo com dificuldades. Isso implica diretamente na hierarquização de notícias. Os
critérios de seleção dessas notícias do bloco em rede são “elásticos”, ora com contornos globais,
ora com contornos locais. Em outras palavras, a noticiabilidade fica diretamente relacionada com
os processos de rotinização e estandardização das práticas produtivas. O conjunto de fatores que
determina a noticiabilidade dos acontecimentos, por exemplo, os limites rígidos de duração deles,
assegura a cobertura jornalística diariamente, mas torna difícil o aprofundamento de muitos
aspectos importantes dos fatos que se tornam notícia. A noticiabilidade constitui-se um elemento
de distorção involuntária da cobertura informativa do mass mídia. À medida que entendemos
noticiabilidade como sendo o conjunto de elementos pelos quais a empresa jornalística controla e
administra a quantidade e o tipo de acontecimentos, entre os quais vai selecionar as notícias,
podemos creditar “esses valores” como um componente da noticiabilidade.
O território criado pela EPTV no bloco em rede também dá ao estudo uma visão sobre a
oferta de sentido identitário, de pertencimento do indivíduo a esse espaço. Afinal, o compromisso
da emissora é fazer uma televisão onde o telespectador se vê, divulgado inclusive em sua
programação através de vinheta da sua logomarca.
5
Fonte- Ibope 2003
6
Conceito usado pelo Ibope para determinar a audiência somente no número de televisores ligados dentro do
universo de televisores determinado.
13
Após uma análise continuada do jornal, um telespectador pode se perguntar que tipo de
critério é usado para selecionar as matérias que compõem a edição do jornal da sua região.
Por que uma notícia de outra região “merece” estar no jornal de uma área que ele es
habituado a ver? Caso haja um critério, não estaria a emissora propensa a restringir ou se deixar
levar pelo peso da cidade-sede? Ao não se levarem em consideração as cidades menores ou
excluir de forma proposital determinadas notícias, ora sem um “peso” para entrar em rede EPTV,
o jornal conseguiria manter intacto esse compromisso com o telespectador. E com a formação da
rede haveria uma economia para a emissora.
HIPÓTESES
Toda e qualquer pesquisa científica deve ser conduzida através de métodos que garantam
sua validade. Severino
7
e Bazi
8
nos fornecem pistas nesse sentido apontando para a área do
pensamento e da expressão filosófica e científica, certas exigências de organização prévia e de
metodologia de execução que o trabalho impõe. Os métodos aplicados para a realização deste
estudo estão subordinados aos procedimentos metodológicos que mais se identificam com a
proposta.
Toda pesquisa é resultado de um conjunto de decisões e opções tomadas pelo
investigador ao longo do processo de investigação e que marcam todos os
níveis e etapas do processo
9
Desta forma, o método possibilitará a checagem das hipóteses que norteiam o trabalho,
expostas a seguir. Elas estão focadas:
7
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 20. ed., São Paulo: Cortez , 1996.
8
BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. TV Regional: Trajetória e perspectivas. Campinas: Alínea, 2001.
9
LOPES, Maria Immacolata Vassalo de. BORELLI, Silvia Helena Simões. RESENDE, Vera da Rocha. Vivendo
com a telenovela. São Paulo:. Summus, 2002.
14
a) A emissora cria uma linguagem regional para atingir o homem comum de sua área de
cobertura geográfica em território paulista, tornando-se alternativa ao processo de
globalização da informação, constituindo-se, assim, em espaço de integração no exercício da
atividade jornalística, nos limites de espaço, concisão. Este seria o resultado de uma tensão
existente entre o que é global e o que é local.
b) O fazer jornalístico, subjetivo, impõe uma hierarquização das notícias, que nem sempre
atende às áreas distintas de cobertura da EPTV. Assim procedendo, com limitações, é notória
a parcialidade, onde as cidades-sede (Campinas, Ribeirão Preto e São Carlos) ganham em
exposição e notícias em relação às outras cidades.
METODOLOGIA
Na tentativa de comprovar as hipóteses, além da reunião e posterior reflexão a respeito da
literatura disponível sobre o assunto dessa pesquisa, optou-se por mais de uma técnica de coleta
de informações e opiniões, usando a entrevista semi-estruturada, que forneceu grande abertura
nas perguntas durante sua condução, o que tornou, assim, o processo de investigação mais
flexível. As entrevistas foram transcritas, totalizando duas horas e meia de fita, e realizadas com
os jornalistas que participaram das tomadas de decisões do fechamento e criação do bloco-rede.
A opção, então, foi por uma metodologia que tivesse:
1) Abordagem quantitativa – recortes e totalizações
- Acompanhamento do “bloco-rede” do JR 1ª Edição;
- Distribuição geográfica das emissoras da rede EPTV;
- Classificação das reportagens de cada praça que compõe o bloco-rede;
- Resumo da leitura analítica.
15
2) Abordagem qualitativa
- Pesquisa participativa: o pesquisador entra na redação para fazer o acompanhamento das
decisões da linha editorial;
- Entrevistas semi-estruturadas com os diretores e jornalistas responsáveis pelo bloco-rede;
- A rotinização no processo de escolha das notícias.
3) Análise de documentos referentes ao suporte teórico.
A pesquisa documental sobre o assunto foi realizada na ECA-USP, Universidade Metodista
de São Bernardo do Campo, Fundação Cásper Líbero, Hemeroteca Mário Erbolato da PUC-
Campinas, Sistema Dedalus de Pesquisa, Rede Mundial de Computadores.
ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
Na tentativa de se obter uma possível compreensão das relações entre os conceitos
mencionados, ou seja, entre a oferta da produção dos efeitos de sentido identitários regionais na
perspectiva global/regional-local e a produção da notícia, o primeiro capítulo aborda as teorias
referentes à globalização cultural, à identidade cultural e local, à desterritorialização do espaço e
as possíveis variáveis correlatas.
No segundo capítulo são abordados o desenvolvimento da Rede Globo, a criação das
emissoras regionais, a dinâmica da rede e sua visão sobre a produção de conteúdos e as emissoras
afiliadas.
O terceiro capítulo está centrado na localização geográfica das três praças paulistas do
Grupo EPTV. Nessa parte também estão contidos diferenças e pontos em comum das emissoras
que formam o território EPTV, espaço de atuação do Bloco em rede da emissora. Esse território
também está distribuído geográfica e economicamente de acordo com os dados estruturais,
geopolíticos e sociais das regiões que compõem a EPTV: Campinas, Ribeirão Preto e São Carlos.
16
O quarto capítulo versa sobre a EPTV e seus produtos (jornais, programas, festivais e
revista); a influência regional e as participações nacionais na programação da Rede Globo; a
dinâmica do Jornal Regional Primeira Edição, as observações e entrevistas sobre o bloco rede; a
hierarquização da notícia; a escolha; a influência do Agenda-setting; a reflexão prática a respeito
da tensão entre Global e Local durante a cobertura do referendo nacional sobre a proibição de
venda de armas no Brasil; as certezas e dúvidas da eficiência informativa da “redinha”; a análise
quantitativa e qualitativa das matérias e reportagens que fazem parte do bloco-rede; uma leitura
crítica e o tratamento dos dados obtidos.
E, por fim, nas considerações finais as respostas às hipóteses levantadas diante da
problematização motivadora deste estudo.
17
Capítulo I
A identidade cultural: global x regional
18
1.1 A identidade mediadora
Neste capítulo serão discutidos a cultura global e os limites do regional-local. Não há uma
pretensão de esgotar o assunto, mas sim, de dar um caminho para que se possa entender alguns
conceitos adotados ao longo da dissertação. Identificar o fenômeno da globalização, típico do
século que terminou recentemente, reforça a intensificação das relações sociais em escala
mundial e tem na informação midiática uma fonte alimentadora da hegemonia do capital. Desses
encontros surge uma tensão entre o que é Global e o que é Local. E para compreender esse
resultado é preciso analisar as partes que envolvem o sistema, ou seja, o global, como parâmetro
de referência, precisa se tornar local para se realizar, para que haja o consumo.
Dentro dessa perspectiva, o encontro das culturas numa esfera global aponta novos
significados a outros grupos. A televisão, de modo especial, entre os meios de comunicação,
contribui para que a mensagem emitidita seja localizada, o que permite a cada indivíduo ou a um
grupo o reconhecimento de si mesmo como parte integrante de um conjunto maior de signos,
definidor da identidade da comunidade.
Quando falamos em telejornal, há que se considerar o meio: a televisão. E a partir da TV,
sua característica mais perturbadora: o fascínio. A televisão fascina, porque, como nenhum outro
meio, ela facilita o contato entre o homem comum e a pessoa ansiosa pela fama, pelo
reconhecimento. De um lado, esse fascínio leva a superestimar o poder de persuasão da TV,
conferindo a ela um poder de convencimento maior que o verdadeiro.
E a tv ainda tem o agravante de ser obrigada a sensibilizar o povo a que se dirige, atraí-lo,
encantá-lo, conquistar-lhe a fidelidade e, a partir daí, aprimorar-se na medida em que a sua
produção for capaz de promover intelectualmente esse povo. É tarefa para décadas. A imprensa
hoje dedica mais espaço a serviços e a entretenimento do que ao noticiário político nacional e
internacional.
19
Mas, apesar desses desequilíbrios, o jornalismo contribui para o aprimoramento da sociedade.
Desvelar as coerções ocultas que pesam sobre os jornalistas e que eles fazem
pesar, por sua vez, sobre todos os produtores culturais não é – precisa dizer? –
denunciar os responsáveis, apontar o dedo aos culpados. É tentar oferecer a
uns e outros uma possibilidade de se libertar, pela tomada de consciência, do
império destes mecanismos.
10
THOMPSON
11
aponta que o desenvolvimento da mídia ajudou a criar um mundo em que
os campos de interação podem se tornar globais em escala e em alcance e os passos da
transformação social podem ser acelerados pela velocidade dos fluxos de informação.
O crescimento dos múltiplos canais de comunicação e informação contribui
significativamente para a complexidade e imprevisibilidade de um mundo já extremamente
complexo.
Desde os primeiros estudos dos pensadores que compunham a Escola de Frankfurt, da
década de cinqüenta até agora, muito já se falou sobre a televisão, que pode ser considerada um
dos símbolos mais espetaculares da democracia de massa e que se reveste de esperanças sem
nunca conseguir satisfazê-las.
A televisão é fundamentalmente imagens e laço social.(...) O divertimento e o
espetáculo remetem à imagem, isto é, à dimensão técnica. O laço social
remete à comunicação, isto é, à dimensão social. Tal é a unidade teórica da
televisão: associar duas dimensões
12
.
O autor sustenta que a ideologia técnica superestima o papel do instrumento, enquanto a
ideologia política superestima o papel que podemos fazê-la desempenhar. A história da televisão
é marcada pelas alternâncias dessas ideologias. Isso demonstra o papel assumido pelo veículo, o
generalista. Assim, pode transitar nas duas dimensões, mesmo que seja considerada ultrapassada.
Se a televisão possui um caráter, este deve ser, hoje, o de reunir indivíduos e públicos que
tudo tende a separar e oferecer-lhes a possibilidade de participar individualmente de uma
10
BOURDIEU, Pierri. Sobre a Televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997
11
THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis: Vozes, 1998
20
atividade coletiva, efetivando uma aliança bem íntima entre o indivíduo e a comunidade, o que
faz dessa técnica uma atividade constitutiva da sociedade contemporânea. Como, por exemplo, a
segmentação feita nas tv’s a cabo. Reúnem-se apenas telespectadores que gostam de um mesmo
segmento e diz-se a eles que foi feito exclusivamente para esse receptor.
Observa-se que a evolução empurra para a individualização, considerada sempre um
progresso, porém, este é ambíguo no domínio da comunicação, pois o êxito é sempre mais fácil
em uma mídia temática do que numa generalista.
O deslumbramento pelas televisões temáticas é um bom exemplo da parca
cultura teórica no que diz respeito ao status da televisão. Basta aparecerem
técnicas que permitam segmentar a oferta de programas para que seja
apresentado como um progresso.
13
No fundamento da relação particular-geral, ou seja, na relação entre a fragmentação
inelutável da sociedade e a existência coletiva, encontra-se a confiança. Os cidadãos confiam na
televisão pela sua capacidade de lhes permitir acesso a diferentes dimensões fundamentais do
jogo social. Sem confiança, não existem espectadores de televisão de massa. Mas, se
considerarmos a televisão fragmentada, ela continua a existir, já que mobiliza menos
expectativas do que a tevê generalista e ainda tem que “satisfazer” uma curiosidade mais
limitada.
As mudanças da televisão aberta “levantam” numerosas questões, tanto no que se
refere à produção quanto à recepção, levando à reflexão sobre a importância do
global e do local dentro no novo cenário.
14
Desta forma, faz-se necessário abandonar o conceito de tv generalista e criar novas
definições para essa fragmentação e esses novos cenários. Um dos novos conceitos que devem
ser criados é o de televisão regional.
Não existe dentro da legislação brasileira sobre radiodifusão nenhuma
definição do que seja televisão regional. Uma das dificuldades é que seria
12
WOLTON, Dominique. Elogio do Grande público: uma teoria crítica da televisão (1996, pp.17)
13
WOLTON, Dominique. Elogio do Grande público: uma teoria crítica da televisão (1996, pp. 17)
14
JACKS, Nilda, TUFTE, Thomas. Televisão, identidade e cotidiano. Produção e recepção dos sentidos midiáticos.
A.A.C., BENTZ, I.M.G., PINTP, M. J. (orgs.) Petrópolis. São Paulo: Brasiliense, 1995, p. 151-165.
21
preciso definir em termos de alcance das ondas de TV, o que é uma “região”,
tarefa uma tanto complicada visto que a possibilidade de se expandir o sinal
por microondas ou satélites vincula o conceito às limitações tecnológicas e
econômicas
15
.
Quando falamos em televisão regional temos que pensá-la como um campo, uma vez que,
além de representações mentais (língua, sotaque, dialeto, caráter etc.), existem as representações
objetais em coisas (emblemas, bandeiras, hinos, indumentárias etc.) e em atos-estratégias de
manipulação simbólica com o objetivo de determinar representações mentais, as quais funcionam
na prática e são orientadas para a produção de efeitos sociais
16
.
A cultura regional é um dos fatores de determinação de práticas culturais que diferenciam
grupos específicos, fornecendo-lhes uma identidade própria. Martín-Barbero
17
considera a
cultura regional, com as etnias, os dialetos locais e distintas mestiçagens urbanas daí resultantes,
como formadora de grupos que atravessam as classes derivando em diferentes “competências
culturais”, que são modos de percepção e produção simbólica.
Nesse caso de identidade regional, não se está adotando o regional como sinônimo de
impermeabilidade às influências do discurso massivo, pois a cultura regional baliza uma
referência que extrapola a questão da cultura popular, que muitos cientistas traduzem como
purismo cultural.
A cultura regional, em alguns casos, há muito alcançou o discurso cultural
dito de elite, e hoje está estendida também ao massivo, pelo menos em locais
onde conseguiu penetrar no esquema de produção, conquistado junto aos
conglomerados de comunicação, ou seja, deixa de ser pensada como
fenômeno folclórico pra fazer parte da “dinâmica cultural”.
18
A globalização dos meios de comunicação proporciona às empresas do ramo, no caso a
televisão, ampliar seus horizontes de informação e publicidade. Ao mesmo tempo coloca o
telespectador numa situação mais confortável quanto à diversidade na procura de informação e de
15
CRUZ, Dulce Márcia. Televisão e negócio, a RBS em Santa Catarina. Florianópolis: UFSC, 1996 (1996, p. 160)
16
BOURDIEU, Pierri. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand, 1989.
17
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Processos de Comunicación y matrices de cultura. México: Gustavo Gili,
1987,p.193.
22
prestação de serviço. O enfoque de consenso é a TV regional como canal de informação. (...) A
TV regional pode servir para desenvolver as características culturais de cada comunidade,
combatendo uma homogeneização que poderia ser causada pelas grandes redes de
comunicação
19
. Retratar os assuntos locais, proporcionando aos telespectadores acompanhar
também o que ocorre no país e no mundo, é a possibilidade que uma emissora regional, afiliada a
um canal nacional, fornece ao seu público, mediante a união das duas programações. É o que
coloca BAZI
20
.
Em muitos estudos, a televisão acaba sendo vista apenas pela ótica do capital, dos
mecanismos de massificação, sedução e padronização, sem levar em consideração que é parte do
cotidiano de milhões de pessoas, configurada de forma diversificada e em graus diferentes de
significação. Sendo assim, fica difícil analisá-la sem perceber as inter-relações que mantém nos
contextos sócio-culturais.
Nessa ótica, a identidade cultural passa a ser parte integrante das mediações, uma vez que
elas se constituem das relações sociais e nada mais são do que espaços onde se dão essas
relações, onde se constroem a memória do povo. Esses espaços, então, se apresentam como
produtos dos processos de globalização e industrialização da cultura, da expansão de mercados,
dos deslocamentos de fronteiras entre sujeitos, territórios e dos bens culturais, com efeitos na
diversidade das mensagens, idéias, conceitos, produtos e serviços.
As dimensões espaciais somente acontecem a partir de suas fronteiras, se colocadas em
contraposição ao seu contrário. O global, como parâmetro de referência, precisa ser local para
existir. Portanto, a associação de conceitos em torno da questão da identidade e da sua articulação
com o global, o regional e o local reflete diretamente a cultura regional e a narrativa do discurso
jornalístico de aproximação praticado nessas regiões. Sendo essa cultura a mediadora através da
televisão, fornecedora de aspectos que auxiliam o entendimento da produção de significados e
como parte orgânica da sociedade e cultura contemporâneas.
É possível pensar em possibilidades mediadoras em prol da construção ou
ativação das identidades. Reavaliar o papel da televisão junto às comunidades
18
DURHAM, Eunice. Cultura e Ideologia. Dados, RJ, Vol. 27, 1984.
19
DEBONA, Darci e FONTELLA, Odila. Telejornalismo Global x Regional. In: RONSINI, Veneza, Mayora (org).
Sociedade, Mídia e Cultura. Santa Maria: CAPES, 1996. p. 17-23.
20
BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. TV Regional: Trajetória e perspectiva. Campinas: Alínea, 2001.
23
é o primeiro passo para ativar a mediação da televisão na construção das
novas identidades culturais e na formação das novas audiências.
21
Se pensarmos numa possibilidade mais ampla, podemos perceber que a (in)visibilidade das
fronteiras geográficas, políticas, econômicas e culturais, que cada vez mais se impõe na
contemporaneidade, emerge como um dos problemas oriundos da globalização: a crise do sujeito.
Mas esse é apenas um dos problemas encontrados naquilo que Castells
22
chama de sociedade em
rede. Outras variantes advindas dos processos de desterritorialização e globalização emergem no
bojo desses processos, como as tensões entre memória e esquecimento, as lutas pela ocupação de
espaços e os embates diários pela afirmação de identidades.
Nas ruas das cidades, são inseridos cotidianamente imagens, sons e cheiros que renovam a
paisagem urbana. Representações que são referenciais para determinados grupos e atores sociais
que buscam, através desses aspectos, marcar seus lugares na grande metrópole contemporânea.
1.2 Delimitando o regional
.
21
JACKS, Nilda. Querência: cultura regional como mediação simbólica. Porto Alegre: UFRS, 1999.
22
CASTELlS. Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: lluminuras, 2003.
24
Os meios de comunicação comunitários ou regionais se apresentam de forma muito clara
em suas configurações, sendo que algumas dessas chegam a se misturar com as de outros tipos de
mídia, principalmente o comunitário. Este, por sua vez, pode apresentar pontos em comum com
aquela de caráter regional/local, o que acaba por gerar dificuldades de compreensão e de
diferenciação entre os processos de mídia comunitária e de mídia local.
As dificuldades podem ser encontradas na raiz da realidade social que constituiu as práticas
comunicacionais, tais como: a impossibilidade de delimitar os “objetos” comunitário e local em
fronteiras claramente demarcadas; de separar as práticas comunicativas, seus conteúdos e
simbologias por tipo de meio de comunicação; e até mesmo a apropriação e uso do termo
comunitário para denominar programas ou emissor, de forma indiscriminada, por diferentes tipos
de mídia.
Sobre a falta de uma definição de limites precisos, não só territoriais, mas também entre os
espaços comunitário, local e regional, não é possível definir um objeto local e principalmente
dar-lhe um contorno territorial preciso. A questão é de relação e inter-relação entre a esfera do
econômico, do jurídico, do político e a esfera da vizinhança, convivência, vitalidade dos bairros
etc
23
.
Essas relações podem ser sentidas e apontadas no que concerne às práticas sociais e
simbólicas intrínsecas aos processos comunicacionais, ou seja, a comunicação comunitária e local
não é algo exterior aos processos sociais concretos. São partes constitutivas e constituintes da
dinâmica social.
Apesar dessa dificuldade em delimitar o local e/ou regional, podemos perceber que o local
se caracteriza como um espaço determinado, um lugar específico de uma região, no qual a pessoa
se sente inserida e partilha sentidos. É o espaço que lhe é familiar e lhe diz respeito mais
diretamente. Quando nos referimos ao ‘local’, imaginamos um espaço restrito, bem delimitado,
no interior do qual se desenrola a vida de um grupo ou de um conjunto de pessoas.
Ele possui um contorno preciso, a ponto de se tornar baliza territorial para os hábitos
cotidianos. E nos recorta com sua proximidade, nos acolhe com sua familiaridade.
24
Ao mesmo tempo em que o local possui as dimensões de proximidade e de familiaridade,
ele não permite ser tomado com contornos territoriais precisos, principalmente na perspectiva dos
23
BOURDIN, Alain. A questão local. Rio de Janeiro: DPA, 2001 (p.17)
24
ORTIZ, Renato. Um outro território. In BOLAÑO, César R. Siqueira (org. ) Globalização e Regionalização das
comunicações. São Paulo: EDUC: Universidade Federal de Sergipe, 1999 (p.38).
25
meios de comunicação que, com os avanços tecnológicos, podem se deslocar do local ao
universal num mesmo processo comunicativo
25
. Desse modo, a familiaridade pode ocorrer mais
pelos laços de interesse e de forma simbólica, do que por razões territoriais, ainda que, em
algumas situações, a questão geográfica seja peça importante na configuração da localidade.
O local-regional é constituído, no seu aspecto geográfico, por uma área territorial de
condições ambientais particulares, como solo, clima, fauna, flora, e antropossociologicamente,
pelos seus habitantes. Já a geografia não-tradicional vai adiante ao limitar local-regional de
acordo com a realidade histórico-social, decorrente da relação dialética entre espaço e sociedade,
e não de fronteiras territoriais estanques.
26
Embora sejam abstratas, as identidades precisam ser moldadas a partir de vivências
cotidianas. Assim como a relação com os pais nos primeiros anos de vida é determinante na
construção da identidade individual, as primeiras vivências e socializações culturais são cruciais
para a construção de identidades sociais, sejam étnicas, religiosas, regionais ou nacionais
27
.
Quando o foco do objeto passa a ser o cotidiano local-regional, ampliam-se as
possibilidades de compreensão das inúmeras idiossincrasias de recepção a que estão sujeitas as
mensagens massivas, acrescentando às diferenças socioculturais determinadas pelos diversos
estratos econômicos a questão da inserção do receptor nos contextos históricos e geográficos com
especificidades próprias.
Embora as demarcações geográficas possam ajudar a configurar o local, no que tange à
cobertura e aos efeitos das mídias, elas são imensuráveis, mas se somam às demais
singularidades, identidades e diversidades socioculturais, históricas, ecológicas, econômicas, de
comunicabilidade etc., que ajudam a constituir o espaço local ou o comunitário.
Não há porque desprezar o território geográfico como fonte de significados, pois ele faz
parte das condições objetivas de vida advindas do tipo de solo, de clima, das tradições, da língua,
dialetos etc. e da construção de valores e práticas sociais.
Tanto o local como o regional podem ser compreendidos na relação de um com o outro,
ou deles com outras dimensões espaciais, como o nacional e o global. O local só existe enquanto
25
PERUZZO, Cicília M. K. Mídia Local e as interfaces com a mídia comunitária. XXVI Congresso Intercom, Belo
Horizonte, 2003.
26
JACKS, Nilda. Querência: Cultura Regional como mediação Simbólica. Porto Alegre: EFRS, 1999 ( p. 70).
27
OLIVEN, Ruben George. 1998 In: JACKS, Nilda. Mídia nativa: indústria cultural e cultura regional. Porto
Alegre: EdUFRGS.
26
tal se tomado em relação ao regional, ao nacional ou ao universal. O local, embora esteja inserido
no processo de globalização, ou seja, exista dentro dele e esteja sujeito a ele, busca se fortalecer
tendo por base as suas singularidades. A valorização do local na sociedade contemporânea é
processada pelo conjunto da sociedade e surge no auge do processo de globalização. Logo,
podemos observar que esse fenômeno atinge os grandes meios de comunicação de massa, como a
televisão, que historicamente sempre deu mais atenção às comunicações de longa distância e aos
temas de interesse nacional ou internacional, passando agora a regionalizar parte de seus
conteúdos.
Essa mudança demonstrou justamente que as pessoas também se interessam pelo que está
mais próximo ou pelo que mais diretamente afeta as suas vidas, e não apenas pelos grandes temas
da política, da economia e assim por diante. Elas têm a necessidade de se sentirem
“globalizadas”, ou seja, de conhecerem os movimentos nacionais, mundiais, mas sabem,
intrinsecamente, que isoladamente esse conhecimento pode constituir, numa última instância,
uma abstração.
Então, para se sentirem inseridas também numa realidade específica, buscam valorizar as
“coisas” da comunidade, o patrimônio histórico cultural local e querem saber dos acontecimentos
ao seu redor.
Todos esses elementos já citados ajudam a entender a questão local/regional, mas também
são típicos de uma comunidade. Esse é um indicativo de que a separação entre as dimensões
comunitária e local é impraticável do ponto de vista objetivo, sendo possível somente apontar
suas características singulares. A comunidade se situa dentro de um espaço local, e o espaço local
é sempre mais amplo e diversificado do que uma comunidade
28
. Por sua vez, os vínculos tendem
a ser mais estreitos no espaço comunitário do que em nível local/regional. Existe comunidade
dentro do espaço local/regional quando alguns dos segmentos sociais ali presentes apresentam
graus e formas de organização típicas de comunidade, como, por exemplo, fortes laços de
cooperação entre os indivíduos, sentimento de pertença, interação, participação ativa dos
membros e a conjugação de interesses em comum.
Hoje, determinados canais de participação na programação e a abordagem de assuntos
diretamente sintonizados com a realidade regional, por muito tempo realizados somente por
28
PERUZZO,Cicília M.K. Comunicação nos movimentos populares: a participação na construção da cidadania.
Petrópolis: Vozes.
27
meios comunitários de comunicação, passam a fazer parte da pauta diária de outros tipos de
mídia. Um exemplo disso pode ser visto num jornal regional e outro comunitário. Enquanto o
regional mostra como a falta de asfalto em comunidades rurais de uma cidade afeta o escoamento
de mercadorias agrícolas e a economia da região, o comunitário mostra como a população se
sente prejudicada com a poeira e como faz para mudar essa situação sem a intervenção do
governo municipal.
Voltando aos aspectos relativos ao interesse por temas locais e regionais, cabe ressaltar que
a produção de conteúdos segmentados regionalmente, principalmente na televisão aberta, ocorre
somente no final da década de 90, do século passado
29
.
Aliás, a regionalização da programação da televisão foi apontada como fator de sobrevivência ou
caminho para as emissoras de TV no modelo aberto e comercial.
30
Esse caminho reafirmou a mudança já citada: era necessário voltar a programação para o
cotidiano local-regional, pois os telespectadores, que habitavam cidades do interior dos Estados,
sentiam-se “alienados” da sua realidade, num Brasil de tão grandes diversidades, ao assistir
somente a noticiários de fatos ocorridos na capital, nas cidades mais importantes do país
(principalmente Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília) ou do mundo. Não que esse tipo de
informação fosse desinteressante ou desnecessária. Mas, muitas vezes, determinados fatos
ocorridos na Prefeitura Municipal de uma capital, como em São Paulo, por exemplo, não fazem
muito sentido para quem mora no interior do Estado, como em Andradina, cerca de 600 km a
noroeste de São Paulo. No entanto, o cidadão de Andradina certamente gostaria de ver no jornal
assuntos como os relacionados ao poder público da sua própria cidade.
O exemplo é apenas para mostrar o que ocorre em praticamente todo o território nacional,
mas que, por causa do processo de regionalização da televisão, vem se modificando em várias
regiões. Os moradores de Campinas, por exemplo, através da EPTV, já podem usufruir do
“comício” dos candidatos municipais a prefeito na TV.
O mesmo acontece em Itu, interior de São Paulo, desde que surgiu a TV Convenção, uma TV
local em UHF
que transmite a TVE do Rio. Os moradores da cidade tamm têm uma opção
regional além da nacional, oferecida pelas emissoras abertas do país. Essa produção regional não
29
MATOS,Eloiza. Globalismo e localismo: encontros e desencontros. Líbero, São Paulo, nº1, 1998, p.42
28
é novidade para os jornais impressos. Os jornais de bairros da cidade de São Paulo produzem
edições diferenciadas por área geográfica, embora os textos jornalísticos nem cheguem a mudar
substancialmente de um para outro. O interesse maior é captar a publicidade e outras matérias
pagas nas diferentes localidades. Mas esses interesses pela regionalização da produção e a
descoberta do local como segmento de audiência, de programas e de conteúdos por parte da
grande mídia e de outros veículos de comunicação regionais e locais não é gratuito e tampouco
tem um fundo sociológico. Ele está ligado diretamente ao interesse mercadológico. O que se
quer, por parte das emissoras regionais/locais, é conquistar a verba publicitária de anunciantes
(reais ou potenciais) em cada local. Descobriu-se que o pequeno e médio anunciante de bairros e
de cidades do interior dos estados não se interessam ou não podem pagar os preços praticados
pela mídia nacional ou estadual.
Primeiro, porque conseguem comunicar-se diretamente com seu consumidor, seja por
promoção no ponto de venda, seja porque fazerem isso através da mídia local (rádio e jornal).
Além disso, a chance de conseguirem um consumidor estadual e nacional é muito pequena e,
mesmo que o consigam, o ganho não compensaria o custo do investimento.
Portanto, para não perder esse anunciante ou patrocinador, a grande mídia se regionaliza
parcialmente ou criam-se veículos locais para aproveitar o segmento de mercado publicitário
local ou regional.
Exploram-se os nichos de mercado - do nacional para o regional ou do estadual para o local
num processo semelhante ao que Stuart Hall
31
identifica ao analisar como na globalização as
empresas transnacionais passam a explorar os mercados regionais, países ao redor do mundo.
Ao pretender inserir-se nas realidades de cada localidade, a mídia não tem outra saída a não
ser tentar expressar as especificidades locais.
Nesse processo, ela se liga até ás questões de cunho comunitário, antes deixadas a cargo
dos parcos meios de comunicação comunitários.
No fundo, a tática é interagir com a “comunidade” local, enfocando temas específicos da
localidade. Nesse sentido, a Rede Globo orienta suas afiliadas regionais a buscarem uma
30
BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. TV Regional, Trajetória e perspectiva. Campinas: Alínea, 2001.
31
HALL, Stuart. Da Diáspora - identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003
29
participação ativa no dia-a-dia das cidades que fazem parte da área de cobertura e destacarem o
que há de comum entre os habitantes.
32
A mídia local/regional tende a reproduzir a lógica das “cabeças-de-rede”, ou seja, das
emissoras matrizes, principalmente no que se refere ao sistema de gestão e aos interesses em
jogo. Além, é claro, do formato de jornal, replicando o modelo centralizador.
Porém, diferencia-se quanto ao conteúdo ao prestar mais atenção às especificidades de cada
região. Enquanto as matrizes utilizam como um dos critérios para seleção de conteúdos aquelas
notícias que interessam a um maior número de pessoas possível, a TV regional procura ter como
conceito editorial preocupações que atingem o receptor local, com notícias que não são
veiculadas nacionalmente.
Outras diferenças da mídia global que caracterizam a regional são: ela é vista como um
ponto comercial, com interesses mercadológicos da rede e/ou local, que vende anúncios
comerciais e pretende ser rentável, com os lucros divididos com seus proprietários
individuais/organizacionais; explora a cultura local como nicho de mercado, ou seja, os temas e
as problemáticas específicas da localidade interessam como estratégia para aumentar a
credibilidade e a audiência.
A soma desses dois itens resulta em maior lucro para a organização, pois contribuem para
a ampliação da cidadania, desde que as estratégias adotadas ajudem na consolidação da imagem
da empresa na região, e na construção de uma identidade regional, dentro de uma lógica de
interesse mercadológico.
Um exemplo dessa construção identitária se dá no momento em que a TV regional tira do
global a repercussão local: uma CPI no Congresso Nacional envolvendo deputados da região em
que a emissora está inserida, ou um item da balança comercial que é a atividade econômica
principal de um município etc.
Em relação às situações mencionadas, trata-se de uma iniciativa incorporada por algumas
emissoras a partir dos anos 90 no Brasil, dentro de um esforço de transmitir conteúdos mais
próximos às realidades de cada lugar e com roupagem de “utilidade pública”, para assim poderem
mostrar um certo compromisso social, dentro ainda da dinâmica de mercado.
O grupo EPTV, por exemplo, ocupa espaços alternativos, deixados pela programação
nacional, para produzir programas locais com temáticas ligadas a esporte, culinária, pesca,
32
BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. TV Regional, Trajetória e perspectiva. Campinas: Alínea, 2001.
30
música etc, além de apoiar eventos esportivos (torneio de Futsal entre cidades vizinhas) e
promover campanhas educativas de interesse público (“Contra o Frio”, “Agasalho”, “Guie sem
Ódio”, “Ler e Viver” etc.), ou culturais, como o Festival de Viola. Segundo o diretor comercial
da EPTV, Tasso Madeira
33
, o crescimento e aumento dos espaços regionais garantem um fatia
significativa do “bolo publicitário”.
A emissora pode oferecer tanto espaços nacionais, focados apenas na região, como atrelar
nomes de empresários locais a produções locais, fortalecendo os laços regionais, mas vale
ressaltar que, embora o foco seja regional, a emissora continua fazendo parte da rede nacional
com a mesma qualidade “global”
34
.
A associação dos conceitos em torno da questão da identidade e a relação entre o global, o
nacional e local refletem diretamente a cultura regional e o jornalismo.
Uma televisão regional, para manter-se economicamente, conforme visto antes, precisa
veicular sua imagem entre os telespectadores regionais, fornecendo-lhes programas de enfoque
local e regional, sejam telejornais, programas jornalísticos ou de entretenimento, e aliar-se aos
pequenos comerciantes e indústrias para que a engrenagem financeira publicitária proporcione
viabilidade comercial à emissora.
Pedroso
35
considera que o noticiário regional é protagonista de um processo de sentido
dentro de uma comunidade, já que não só ele, mas também toda a imprensa, são uma forma de
representação simbólica da diversidade complexa do “mundo real”, apresentado em uma
“multiplicidade” de assuntos e problemáticas que se referem à dinâmica da vida cotidiana dos
cidadãos.
Nesse sentido, nota-se que particularmente a televisão comercial, como também seu
noticiário, admitindo todas as suas extensões regionais, exercem uma certa influência na
construção da imagem do indivíduo. Ela produz a estética do realismo representacional, de
imagens e histórias que fabricam o real, oferecendo um efeito da realidade.
Admite-se, entretanto, que a televisão pode ser vivenciada sob o manto de imagens e planos
superficiais, sem referência e significações plausíveis. Um desses autores que afirmam que os
33
Tasso Madeira- diretor comercial da EPTV. Concedeu essa entrevista a este pesquisador no dia 10/10/2005. Todas
as citações de Tasso se referem a essa entrevista.
34
Entrevista concedida a esse pesquisador no dia 27/09/2005, na sede da EPTV, em Campinas – SP.
35
PEDROSO, Rosa Nívea. Elementos para compreender o jornalismo informativo. Sala de Prensa. Site:
www.saladeprensa.org.br/art411.htm. Acesso em 03/11/2005
31
receptores que assistem com regularidade a determinados programas dedicam-se quase que
exclusivamente a eles, um grau de informação e conhecimento alto. Eles modelariam
comportamentos, estilos e atitudes pelas imagens da televisão. A televisão e outras formas da
cultura da mídia desempenham papel fundamental na reestruturação da identidade
contemporânea e na conformação de pensamentos e comportamentos da sociedade
contemporânea.
Dessa forma, o jornalismo pode, então, trabalhar na criação ou (re)elaboração de
identidades culturais, à medida que também auxilia na construção de uma realidade, dando-lhe
forma de narrativa, difundindo e convertendo-a em realidade pública.
Como exposto anteriormente, ao noticiar fatos de interesse público, o jornalismo, nesse
caso o televisivo, produz sentidos, aguça a memória discursiva dos indivíduos, tentando, assim,
promover uma certa identificação coletiva.
Talvez seja através das emissoras regionais que comunidades inteiras possam ver sua
própria face, a sua terra, a sua região.
A televisão tem sido um poderoso instrumento de “difusão desse sentimento
nacional”, que articula incluído e excluído em torno de uma certa idéia básica
de Brasil, e existe ao mesmo tempo como unidade e diversidade.
36
Um autor
que compartilha da idéia de que as identidades locais são fluxos heterogêneos,
situados em um território, que absorvem, constantemente, os processos culturais
expelidos através dos meios de comunicação de massa, em especial e nesse
caso, o segmento noticiário televisivo regional, é Bazi
37
.
Assim, registra-se que quando se aborda o Global/Regional/Local, inúmeras correlações
conceituais são possíveis e o afastamento de eixos tradicionais de identidade, em um cenário de
crescimento e produção global da cultura, não deve ser considerado assustador, como aborda
Canclini
38
.
36
PRIOLLI, Gabriel. Antenas da brasilidade. In: BUCCI, Eugenio (org.) A TV aos 50: criticando a televisão
brasileira no seu cinqüentenário. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2000.
37
BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. TV Regional, Trajetória e perspectiva. Campinas: Alínea, 2001.
38
GARCÍA CANCLINI, Nestor. Consumidores e Cidadãos: Conflitos Multiculturais da Globalização. Rio de
Janeiro: UFRJ, 1999.
32
Ele coloca que se vive num tempo não só de rupturas e de heterogeneidade, de segmentações
dentro do próprio território, mas tamm de fluxos contínuos de informação de escala
transnacional.
Diante dessa relação entre o global e o regional, os conceitos sobre os processos de
identidade cultural e a influência no jornalismo nos dão pistas para entender o telejornalismo
regional como um sistema de reprodução simlica do Estado, do capital do mercado, da cultura
e dos partidos políticos, reprodução que, segundo Pedroso
39
, apresenta-se cristalizada no tipo de
conteúdo produzido e veiculado pelo jornalismo. E que produz um efeito de diversidade
mostrando a variedade e diversidade e a complexidade do mundo, reproduzindo a dinâmica da
vida, o que causa um efeito de familiaridade. E a EPTV, objeto deste estudo, trabalha nessa linha.
39
PEDROSO, Rosa Nívea. Elementos para compreender o jornalismo informativo. Sala de Prensa. Site:
www.saladeprensa.org.br/art411.htm. Acesso em 03/11/2005.
33
1.3 Em síntese
Vimos que no espaço Local/Regional não existe uma definição de limites precisos, mas
sim um lugar específico no qual a população dessa região se sente inserida e partilha de sentidos,
cujos espaços lhes são mais familiares. São nesses espaços que as identidades são moldadas a
partir das vivencias diárias dessas pessoas. Diante disso, o Local ganha uma valorização no
conjunto da sociedade e pode ser observado inclusive nos meios de comunicação de massa, como
a tv, que historicamente sempre preferiu temas globais por atingir um maior número de pessoas.
Parte dessa valorização também está ligada diretamente ao poder dessa oferta de pertencimento,
próprio da regionalização, pois do ponto de vista econômico, esse espaço passou a ser um nicho
de interesse mercadológico. Isso porque, os anunciantes médios e pequenos conseguem
comunicar-se diretamente com seu público-alvo e as tv’s conseguem aumentar suas verbas
publicitárias. A soma desses itens, dependente da estratégia adotada pela empresa de
comunicação, que pode conseguir fortalecer a imagem do cidadão na construção da identidade e
por outro lado, ainda aumentar seus lucros para a organização.
Um instrumento para isso pode ser o noticiário, que dentro das suas extensões regionais
influencia o sujeito na construção da própria imagem, sugerindo comportamentos e suscitando
reflexões, além de produzir um efeito de diversidade, reproduzindo a dinâmica da vida e
causando um efeito de pertencimento e familiaridade de um território específico.
34
Capítulo II
O “Global” na rede
35
2.1 Um padrão de estruturas
O foco deste capítulo recai sobre a formação econômica e estrutural da empresa Rede
Globo, uma das integrantes das organizações Globo, que tem ainda a Globopar (Globo.com e
canais Globosat), Globo Internacional, jornal O Globo, Sistema Globo de Comunicação - rádio
Globo e Editoras Globo e Cochrane. Também será abordado o aspecto de regionalização e como
surgiram as emissoras afiliadas.
A TV Globo foi criada nos anos sessenta e é hoje a maior rede de emissoras de televisão do
país e uma das maiores produtoras de conteúdo áudio-visual. Os aspectos desse crescimento, o
desenvolvimento estrutural e a influência político-social no Brasil são os pontos de reflexão. A
intenção não é mostrar o desenvolvimento da Emissora, tão bem retratada em outras pesquisas,
teses e dissertações, mas dar uma noção “global” do processo de regionalização, para introduzir o
objeto desse estudo: a EPTV.
Uma outra questão a ser abordada nesse capítulo é a cessão das outorgas do serviço
público, pois contribui no entendimento da consolidação do poder dessas emissoras e dos grupos
que detêm a exclusividade do serviço público.
Pelas concessões de canais, também é possível se ter uma noção da formação de
monopólios privados, que saem do setor econômico, entrando em aspectos políticos que
envolvem a consolidação da democracia.
Antes de falar da EPTV, é preciso analisar a emissora da qual ela é afiliada: a Rede Globo
de Televisão. No Brasil, a Rede Globo pertence à família Marinho e é, segundo o IBOPE, líder
de audiência na maior parte dos horários, configurando-se, há quatro décadas, como a mais
importante empresa do mercado televisivo nacional e uma das mais destacadas do mundo.
A emissora é a que mais investe na regionalização de programas. Segundo o departamento
comercial, em 1994, por exemplo, o faturamento anual da emissora ultrapassou os US$ 1,1
bilhão.
Três anos depois, em 1997, a Globo faturou US$ 1,7 bilhão, de acordo com Meio &
Mensagem de abril de 1998; em 2002 foi de R$ 2,6 bilhões e, em 2003, R$ 3,2 bilhões
40
.
40
Segundo a Revista Tela Viva de abril de 1995.
36
Os números ainda revelaram que a emissora é responsável pela mais abrangente área de
cobertura do Brasil. O sinal da emissora com sede no Rio de Janeiro atinge 5.507 municípios,
cerca de 99,98% do território do país, totalizando 34 milhões de domicílios com televisores. A
emissora só não atinge 69 cidades brasileiras. Na região centro-oeste, são nove cidades; na região
nordeste, 21; na região norte, 32; na região sudeste, três cidades; e na região sul, são 04 cidades,
totalizando 375.617 pessoas não atendidas pelo sinal da Globo.
Foi no dia 26 de abril de 1965, precisamente às 11 horas, que entrou no ar o Canal 4 do Rio
de Janeiro, a TV Globo. A concessão havia sido outorgada anos antes, ainda no governo
Juscelino Kubitschek, mas entrou no ar apenas naquele ano, já na época da ditadura militar. Dono
do já consolidado jornal O Globo e de emissoras de rádio, o empresário Roberto Marinho fez
uma associação com a empresa norte-americana ‘Time “Life”, que investia em emissoras de
televisão na América Latina.
O grupo investiu um montante e a emissora foi ao ar. Porém o investimento aberto do
grupo norte-americano contrariava o artigo 160 da Constituição Brasileira, pois uma empresa
estrangeira não poderia participar da orientação intelectual e administrativa da sociedade
concessionária de televisão. Pelo contrato assinado, a Time Life passou a irrigar as áreas de
administração, com informações e prestando assistência relacionada com a modernização da
empresa, com técnica e processos relacionados a programação, noticiário e atividades de
interesse público, atividades de controle financeiro, orçamentário e contábil, além de informações
técnicas na área de engenharia, construção civil, retransmissão e principalmente da venda e
produção de comerciais. O contrato previa também um treinamento de brasileiros nos Estados
Unidos e vice-versa. Bastou a associação ser anunciada para que a primeira guerra entre
concorrentes fosse travada.
O grupo Diários Associados, proprietário da Rede Tupi, liderado por João Calmon,
começou uma campanha contra a associação, proibida na Constituição da época. Enquanto
Calmon, chamado por Roberto Marinho de “Calmão”, bradava com documentos cartoriais
ilegíveis e inteligíveis, a Globo exibia programas de televisão, difundindo o “milagre brasileiro”
anunciado pelos militares e fortalecendo seu padrão de qualidade.
37
Segundo BORGERTH
41
, a campanha impressionou os militares, então nacionalistas,
resultando num decreto-lei segundo o qual a rede Associada, embora já tivesse fracassado no
intento, ficava definitivamente impedida de adotar esquema semelhante ao da Globo.
O decreto 236 de fevereiro de 1967 limitava a propriedade de rádio e
televisão, em virtude da qual os Diários Associados teriam que se
desvencilhar de parte de suas emissoras e abandonar o regime de propriedade
de ações em condomínio, o que nunca fizeram, é claro, vivendo e
prosperando, na mais tranqüila ilegalidade.
42
As conseqüências do decreto também atingiram a Rede Globo. Essa pode ser considerada
uma das poucas “batalhas” que a TV Globo tenha perdido, pois a parceria teve que ser desfeita.
Mas ao mesmo tempo deu audiência para a Globo, pois a repercussão da "guerra" foi grande.
Além da emissora do Rio de Janeiro, Roberto Marinho adquiriu das Organizações Victor Costa
(OVC) a TV Paulista, canal 5 de São Paulo.
Nos primeiros tempos, a TV Paulista ficou como uma espécie de afiliada da Globo, quando
então foi formada a Rede Globo.
43
(Vinheta da emissora - final dos anos 70)
O ambiente da época, seguindo o Código Brasileiro de Telecomunicação, tentava
contemplar a regulamentação por três pontas clássicas da regulação econômica: sociedade,
empresa exploradora de serviço público e governo. Assim, a Rede Globo se desenvolveu, com
vistas financeiras próximas do mercado.
41
BORGERTH, Luiz Eduardo. Quem e como fizemos a TV Globo. São Paulo: A Girafa Editora, 2003.p.30.
42
BORGERTH, Luiz Eduardo. Quem e como fizemos a TV Globo. São Paulo: A Girafa Editora, 2003.p.30.
43
Site acessado em 27/07/2005. http://www.telehistoria.com.br/canais/emissoras/globo.htm
38
O que vai acontecer a partir de 1965 e principalmente a partir dos anos 1970 é
um processo acelerado de concentração. A partir da entrada da Globo, em
dois anos o mercado se estrutura como um mercado oligopolizado
extremamente concentrado. A partir de 1970 começa a constituição da Rede
Nacional e o predomínio da Globo se estabelece nesse momento e nunca mais
desaparece.
44
Com a parceria da Time Life, a Rede Globo consegue se firmar no mercado, sendo um
diferencial, mesmo com a “poderosa” Tupi, que tinha emissoras em várias regiões do país. Com a
estrutura que conseguiu montar e com as empresas carioca e paulista, leva ao ar, em 1969, o
primeiro Jornal em rede: o Jornal Nacional, um jornalístico que inauguraria padrões vigentes até
os dias de hoje.
Percebe-se, então, que o perfil econômico estava consolidado, pois na literatura econômica
pode ser encontrada descrição de empresas que operam em rede, capazes de gerar concentração.
As indústrias que operam em rede são um caso especial de monopólio natural. Elas
exploram a multiplicidade de relações transacionais entre os agentes econômicos situados em
diferentes nós da rede, envolvendo um princípio de organização espacial e territorial. Elas
também têm como característica distintiva o fato de gerarem as externalidades de rede: o
benefício de um usuário depende do número de usuários ligados à rede.
O benefício de um consumidor que dispõe de uma linha telefônica depende diretamente do
número de pessoas que estão conectadas, com as quais ele pode se comunicar. Isso leva à
associação com audiência e explica, em parte, o porquê da “guerra”, além de reforçar a idéia
citada de foco no mercado.
Em televisão, quanto maior a audiência, maior é o preço de venda do espaço publicitário e
maior também a retroalimentação de investimentos em equipamento, mão-de-obra e
programação. Assim, configurada como rede nacional, a Globo cresceu e conquistou prestígio
político, principalmente com seus produtos de horário nobre (Jornal Nacional e novela).
Na década de 70 já detinha uma importante fatia do mercado publicitário, em detrimento
dos Diários Associados, por causa de seu alcance e, conseqüentemente, da audiência. Baseado
44
BRITOS, Valério Cruz. Globo, Transnacionalização e Capitalismo. In: BRITTOS, Valério Cruz e BOLAÑO,
39
em números do IBOPE
45
, a emissora publicou em anúncios que possui audiências que variam de
30% a 50% no horário nobre com uma participação de mercado de 80%.
Por esses dados, a questão da formação de monopólios privados não é tratada somente no
âmbito econômico, no caso das televisões, o problema deriva para os aspectos políticos que
envolvem a consolidação da democracia e a conformação das relações de poder dentro da própria
sociedade, já que existe uma grande concentração de audiência em torno de um único veículo.
Essa interpenetração do poder econômico e político é, na verdade, a nova face do poder que se
manifesta na redefinição das “regras do jogo do mercado” e na busca crescente de flexibilizar
essa ordem.
Veja no quadro abaixo os números que expressam as condições político-econômicas dos
principais grupos brasileiros de mídia:
EMPRESA
PRESIDENTE
RECEITA
PRINCIPAIS
NEGÓCIOS
FUNCIONÁRIO
S
Globo
Irineu Marinho
3 bilhões
TV aberta, jornais.
2.218
Grupo Abril
Roberto Civita
1,1 bilhão
Revista, TV Cabo.
8.000
SBT
Silvio Santos
430 milhões
TV aberta
1.373
Grupo Folha
Otávio Frias
462 milhões
Jornais, Internet.
2.785
Grupo Estado
Francisco Mesquita
Neto
494,2 milhões
Jornais, agência de
notícias.
2.574
RBS
Nelson Sirotsky
1 bilhão
TV aberta, jornais e
rádios.
5.000
Fonte: SOUSA, Paulo Henrique de LIRIO, Sérgio. A mídia se entrega-
www.pbh.gov.br/noticias/opiniao/opiniao18.htm, 25/07/2002
No Brasil, as TVs abertas têm um papel cada mais intenso na determinação, geração e
divulgação dos valores que balizam a globalização neoliberal e privatista.
Os efeitos desses negócios podem ser compreendidos pela teoria política, além de colocar
também novos desafios na esfera jurídica, abrindo debates sobre a propriedade intelectual.
A comercialização de conteúdos pelas grandes redes de mídia e a própria
interpenetração das diversas atividades em que se lançam as grandes empresas
César Ricardo Siqueira. Rede Globo, 40 anos de poder e hegemonia (orgs). São Paulo: Paulus, 2005.
45
Revista Meio e Mensagem, 05/07/2004.
40
de comunicações – a Globo não é, evidentemente uma exceção - renovam a
convicção da necessidade não apenas da efetivação das tradicionais formas de
regulação (ainda incipientes no Brasil), mas também do surgimento de novas
formas para os novos negócios de mídia, com conseqüências as mais variadas
sobre a atuação das elites econômica e política – relacionadas aos aspectos
democráticos e, portanto, sobre o cotidiano da sociedade e cidadania
46
.
Assim, a emissora dos Marinho se calca como a maior produtora de conteúdo audiovisual
do país, além de deter ainda a maior participação na audiência, receber a maior verba publicitária
e ter a maior rede de distribuição de sinal.
Isso pode ser visto apenas como o “cume” da estrutura de um poder midiático, volúvel em
face aos novos negócios, como a internacionalização de programas, mas representativo dentro de
uma lógica que remete a uma concentração e considera-se a grande possibilidade de exclusão da
sociedade de interferir no conteúdo dos programas. Bucci
47
afirma que a organização do espaço
público de comunicação se faz hoje com o alheamento do povo, ou com sua transformação em
massa de manobra dos setores dominantes, funcionando assim não só em matéria de política, mas
também de economia, cultura ou religião. Isso pode ser constatado na Rede Globo. Mesmo tendo
os cinco programas de maior audiência pertencentes a sua grade de programas, segundo o
IBOPE, a emissora tem outras cinco abertas competindo diariamente. Entretanto, os números dos
relatórios de audiência não refletem essa concorrência. Em 2000, segundo o IBOPE, os dez
programas com maior audiência eram da TV Globo, sendo 4 informativos, 3 de ficção e 3 de
variedades.
O share médio do primeiro programa, que era uma telenovela, tinha 67% da audiência, o
que equivale a dizer que, do universo dos televisores ligados, 67% estavam na novela, cerca de
35 milhões de telespectadores.
O de menor share, o décimo lugar, tinha 51% da audiência, cerca de 21 milhões de
telespectadores. Uma situação de quase monopólio, ainda mais se considerarmos que a
hegemonia se consolida em quase trinta anos.
46
SIMÕES, Cassiano Ferreira e MATTOS Fernando. Elementos Histórico-Regulatórios da televisão Brasileira. In:
BRITTOS, Valério Cruz e BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Rede Globo, 40 anos de poder e hegemonia(orgs.).
São Paulo: Paulus, 2005.
47
BUCCI, Eugenio. (org.) A TV aos 50: criticando a televisão brasileira no seu cinqüentenário. São Paulo: Fundação
Perseu Abramo, 2000.
41
As outorgas de distribuição de TV aberta no Brasil ajudam essa posição. Segundo os dados
do Siscom - Sistema de informação dos Serviços de Comunicação de Massa -, da Agência
Nacional de Telecomunicações, de fevereiro de 2005, a Rede Globo tem 5 geradoras próprias, 96
geradoras afiliadas, 19 retransmissoras próprias e 1405 retransmissoras afiliadas. A REDE
BANDEIRANTES tem 10 geradoras próprias, 23 geradoras afiliadas, 191 retransmissoras
próprias e 234 retransmissoras afiliadas. O SBT tem dez geradoras próprias, 37 geradoras
afiliadas, 1749 retransmissoras próprias e 639 retransmissoras afiliadas.
A REDE RECORD tem 18 geradoras próprias, 18 geradoras afiliadas, 322 retransmissoras
próprias e 216 retransmissoras afiliadas e, por fim, a menor de todas, a REDE TV!, tem 6
geradoras próprias, 9 afiliadas, 113 retransmissoras próprias e 84 afiliadas.
A dependência da TV Globo dos sinais das afiliadas é grande. Mas não só isso,
dos estados brasileiros, em 15, as concessões estão nas mãos de grupos familiares políticos,
segundo mostram as informações do banco de dados: estruturas dos meios de comunicação no
Brasil). Se por um lado isso beneficia a expansão do sinal, por outro, a Globo corre riscos. A
forma como os conteúdos políticos são exibidos nas TVs de propriedade de políticos chega a
colocar a credibilidade da Globo em xeque.
Tanto que, em maio 2001, a Globo foi obrigada a fazer a primeira intervenção em uma de
suas afiliadas: a TV Gazeta, do ex-presidente Fernando Collor de Melo, em Maceió, estado das
Alagoas, assumindo o comando da direção do jornalismo local.
Logo depois, repetiu o ato na TV Sergipe, em Aracaju, do ex-governador Albano Franco,
do PSDB, e na TV Verdes Mares, em Fortaleza, no Ceará, do ex-deputado federal Edson Queiroz
do PPB. O caso mais conhecido foi da TV Bahia, do ex-senador Antônio Carlos Magalhães,
quando a apresentadora Ana Paula Padrão anunciou no Jornal Nacional, do dia dez de maio de
2001, que a afiliada recusou-se a mostrar imagens do protesto de estudantes pedindo a cassação
do senador.
As imagens de violência da polícia invadindo a universidade Federal da Bahia e
espancando os estudantes foram cedidas pelo sindicato dos bancários baianos e mostradas ao vivo
no jornal.
Os telespectadores baianos puderam ver o protesto pela transmissão nacional, o que tinha
sido omitido pela emissora regional. Apesar de não sofrer intervenção direta, mostrou ao país a
42
caracterização do clientelismo ao qual estava submetida nas mãos de políticos que usavam o
veículo para fins discutíveis.
Os grupos de comunicação buscam alcançar os parâmetros de lucratividade e
rentabilidade que orientam as ações dos demais gigantes transnacionais. Os
interesses estratégicos, modelos organizacionais e alvos mercadológicos
assemelham-se. Não vejo distinção essencial entre filosofias, metas e
estruturas operativas. Segue-se o figurino multissetorial da corporação-rede,
isto é, exploram-se, simultaneamente, ramos correlatos ou conexos,
promovendo sinergias capazes de racionalizar custos, conjugar know how e
economizar na escala
48
.
Caparelli e Lima
49
observaram que o “coronelismo eletrônico” não é uma característica
recente. Antes mesmo da inauguração do primeiro canal no país, a televisão já estava prevista no
Decreto 21.111, de 1932, que centralizava a distribuição de outorgas de radiodifusão na figura do
Chefe do Poder Executivo.
A ligação Estado-empresário remete à origem do Estado. Na tradição
marxista, o Estado é concebido como instrumento da dominação de classe,
expressão da capacidade de uma delas de se impor sobre o conjunto social.
Tal entendimento deve ser completado com as posições de Gramsci, que
afasta a tendência de determinismo econômico e destaca a importância das
possibilidades do processo político. Nesse sentido, identificam-se as disputas
políticas pelo controle estatal, de forma que os governantes muitas vezes vão
além dos grupos que são inicialmente ligados, para obter posições. O Estado
representa interesses de classe, mas, no jogo político, também demanda das
classes que se coadunem a seus propósitos.
50
A recente transição para um modelo neoliberal de comunicação trouxe novos elementos ao
cenário da comunicação – como a privatização das telecomunicações e a liberação desse setor à
48
MORAES, Denis. Mídia e Globalização Neoliberal. Acessado no site em 27/07/2005.
http://revcom.portcom.intercom.org.br/pdf/cc/n7/a01n7.pdf
49
LIMA, Venício Artur de Lima & CAPARELLI, Sérgio. Comunicação e Televisão: desafios da pós-globalização.
São Paulo: Hacker, 2004.
50
BRITTOS, Valério Cruz. A participação do Estado no mercado de TV por assinatura. 2003. Site acessado em
27/072005. http://www.fndc.org.br/pos_deb/data/Estado_Merc_TV_assina.htm
43
participação estrangeira - mas, paralelamente, intensificou a concentração da propriedade dos
meios e fragmentou o controle público.
A força dos interesses ideológicos tenta manter o status quo que vigora hoje,
acima dos interesses dos movimentos sociais, ou das pressões do mercado. E
a esse “coronel eletrônico” interessa essencialmente a capacidade massiva de
disseminação do seu poder de influência. Isso é favorecido, em muitas vezes,
por causa da adoção do ideário neoliberal, onde a flexibilização da
regulamentação, bem como a livre competição dos mercados, se limita ao
espaço que não altere o domínio desses “coronéis”
.
51
Dessa forma, constata-se como a lógica clientelista se estabelece, com o Governo
seduzindo o mercado e prestando alguns favores esporádicos; mantendo a relação patronal e de
dependência e vice-versa.
Essa estrutura se solidifica cada vez mais com o passar do tempo, tanto que a cada governo,
independentemente do partido ou do contexto político, intensifica-se uma dependência, tornando-
o refém da centralidade da mídia na legitimação de políticas e na construção de imagens positivas
diante do povo, distanciando a revisão do setor das prioridades de governo. A gestão do
presidente Lula, até o dia de hoje, não contempla essa revisão profunda da área de
telecomunicação.
A circulação de imagens e a construção de narrativas se dão em processos
fragmentados e dificilmente sintetizáveis sob controles centralizados. Talvez a
única e mais potente tática possível para enfrentar o fluxo contínuo de
imagens fragmentadas seja o reconhecimento da lógica intrínseca ao jogo.
52
Essa relação, pressupondo um cliente e um patrão, não pode ser considerada um benefício
para as duas partes. Caparelli desenvolve uma outra visão para essa relação, aparentemente de
simbiose, uma relação observada na natureza em que há ganhos mútuos.
51
SANTOS, Suzy dos & CAPARELLI, Sérgio. Coronelismo, Radiofusão e Voto: a nova face de um velho conceito.
In: BRITTOS, Valério Cruz e BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Rede Globo, 40 anos de poder e hegemonia
(orgs.). São Paulo: Paulus, 2005.
44
Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, ela é desigual e assimétrica
porque implica a subordinação do cliente ao patrão
. (...) há no
apadrinhamento a criação de uma dimensão moral que, somada à relação
pessoal, serve para disfarçar a desigualdade que gera a necessidade de tais
trocas.
53
Portanto, percebe-se que a politização dos negócios resulta não só do papel relevante do
Estado na economia, mas também da natureza do processo político.
Nas formas de organização social clientelística, a informação é considerada
como recurso privado, para ser trocada apenas num quadro de relações
particulares. Tende igualmente a esbater as fronteiras entre os domínios
público e privado, e a considerar algum tipo de cobertura jornalística como
uma intrusão nos assuntos privados. E, embora considere a informação como
um recurso privado, o clientelismo premia as demonstrações públicas de
lealdade para com o patrono
54
.
Nos países com uma história de clientelismo, os aparelhos judiciário e administrativo estão
menos desenvolvidos e mais politizados partidariamente, o que os torna mais vulneráveis às
pressões. Efetivamente, no Brasil a mídia acaba exercendo um papel que a insere no Estado,
como um aparelho de sustentação do sistema. Embora, por outro lado, é ela que também funciona
como um instrumento de controle do governo por parte da população. Uma vez que a liberdade
de imprensa é vital para a estabilidade democrática.
2.2 Padrão global: das matrizes populares à internacionalização
52
HAMBURGER, Esther. A desimportância política da Televisão. Site acessado em 27/07/2005.
http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/1401,1.shl
53
SANTOS, Suzy dos & CAPARELLI, Sérgio. Coronelismo, Radiodifusão e Voto: a nova face de um velho
conceito. (p. 81/82) In: BRITTOS, Valério Cruz e BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Rede Globo, 40 anos de
poder e hegemonia (orgs.). São Paulo: Paulus, 2005.
54
FILIPE, Pedro B. Clientelismo político afecta autonomia do jornalismo. Dossier "Media" / 2003-01-09. Site
acessado em 27/07/2005. http://www.noticiasdaamadora.com.pt/nad/artigo
45
As tecnologias de informação e comunicação são essenciais na formatação dos contornos
das sociedades modernas, e é nessa “arena” que se confrontam o global e local, num encontro
tenso entre homogeneidade e diversidade.
As análises do fenômeno do crescimento das empresas na comunicação não deve ser
encarada de forma simplista, uma vez que as indústrias culturais relacionam-se com o próprio
funcionamento dos mercados, desempenhando a tarefa de diferenciação do produto e
direcionamento das escolhas de consumo.
A televisão tem na essência a função de vender, quer seja uma programação,
uma pessoa ou um produto. Suas supostas funções podem incluir educar,
informar e expandir a consciência cultural. Mas o que ela faz melhor é vender.
Ela deve sua existência a um sistema político que incentiva esse papel.
55
Percebe-se, então, que os movimentos da comunicação industrial atual, em regra,
confundem-se com o caminho percorrido pelo próprio capitalismo, até pela relação muito estreita
entre ambos. Essa relação, entretanto, abre atalhos para manifestações não-ligadas às concepções
hegemônicas, uma via que vem do jornal, passa pelo rádio, ganha “euforia” com o vídeo e hoje
pode ser constatada em canais comunitários e do cabo.
No capitalismo pós-industrial, a comunicação assume cada vez mais um papel central.
Como supracitado, a relação entre ambos é intensa e dinâmica, onde o maior interesse dos
empresários e detentores do capital pelas companhias de informação e comunicação é quase
única e exclusivamente na posição delas de centralidade. Ou seja, revela a intenção de aproveitar
a função desses empreendimentos ainda mais ativos no funcionamento dos mercados com o
interesse econômico que despertam, já que esse papel pressupõe uma expectativa de maior
lucratividade.
Com o avanço da economia e o aumento da competição num cenário globalizado, muitas
empresas colocaram como meta os acordos entre firmas, com vistas à conquista de mercado em
outros países, usando essa experiência de internacionalização para atuar de forma sólida no
55
CASHMORE, Ellis. ... e a Televisão se fez. São Paulo: Summus Editorial, 1998.
46
mercado a ser atingido. A Rede Globo não fugiu à regra. O processo começou em 1970, com a
exportação dos direitos de exibição da telenovela “Véu de noiva”. Em 1972 foi vendida a novela
Irmãos Coragem”, para uma TV de Nova Iorque, Estados Unidos. Ela era destinada ao público
porto-riquenho e para países da América Latina. Mas, em 1976, a Globo conseguiu montar uma
estrutura de venda e a novela “O Bem Amado” foi exportada para 17 países, todos da América
Latina.
56
Algumas exportações, para países de Língua Portuguesa, como Angola, tiveram uma má
interpretação cultural e configuraram um dos erros da Rede Globo. O sítio do Pica-pau Amarelo,
que viria a ter um reconhecimento internacional, foi rejeitado nesse país.
O problema foi a personagem da Tia Nastácia, uma cozinheira negra, que no Brasil tinha
uma imagem muito positiva pelo conhecimento que a vida tinha lhe dado, além da simpatia e
isenção de preconceito, entretanto, ela foi considerada uma afronta em Angola, um produto
racista remanescente do período escravagista.
Mas o problema foi causado por uma questão cultural equivocada, pois o reconhecimento
pela qualidade de produção da Globo veio na década de 80, quando o International Council of the
National Academy of Television Arts and Sciences of the United States concedeu-lhe o Troféu
Salute pelos programas produzidos e, no mesmo ano, outro para o Sitio do Pica-pau Amarelo,
que também foi escolhido pela Unesco como um exemplo de bom programa para crianças.
O processo de globalização, sustentado econômica e politicamente na maioria
dos países, quebrou muitas barreiras. A economia, a cultura, as preferências
tomaram um novo rumo em busca de homogeneização. Mas, ao mesmo tempo
em que os limites se tornam quase inexistentes, surge a necessidade da busca
do local.
57
Esses reconhecimentos internacionais com a exportação de novelas tornaram-se um porto
agregador de conhecimento para o lançamento da Globo Internacional, ou seja, a Rede Globo
partia para um caminho ousado para um emissora latina, conquistar o mercado norte-americano e
europeu. O projeto teve um impulso depois da parceria, no começo dos anos 90, com a televisão
56
BRITTOS, Valério Cruz. Globo, Transnacionalização e Capitalismo. In: BRITTOS, Valério Cruz e BOLAÑO,
César Ricardo Siqueira. Rede Globo, 40 anos de poder e hegemonia (orgs.). São Paulo: Paulus,
2005.
57
CABRAL, Eula Dantas Taveira e CABRAL FILHO, Adilson Vaz. Do massivo ao local: A perspectiva dos grupos
de mídia. Site acessado em 27/07/2005.
http://www.intercom.org.br/papers/congresso2003/pdf/2003_NP10_cabral.pdf
47
portuguesa SIC. Depois da aprovação da Lei de Televisão nº 58/90 e após a definição das
condições específicas, surgiram três fortes candidatos aos canais de televisão disponibilizados
pelo Governo para duas estações de televisão privadas: a Sociedade Independente de
Comunicação (SIC), liderada por Pinto Balsemão, a Rede Independente (TV1), liderada por
Proença de Carvalho, e a Televisão Independente (TVI), um projeto associado à Igreja Católica.
Antes de os resultados terem sido anunciados, a Globo tinha já adquirido 15% das ações da SIC,
o máximo permitido pela lei portuguesa para investidores estrangeiros, o que representava cerca
de 34 milhões de dólares americanos.
Por um lado, a produção na Sic permitiu testar a exibição de dramaturgia em
tempo muito próximo de sua transmissão no Brasil, bem como as respostas de
público e anunciantes a uma programação alicerçada fortemente em produtos
realizados pela Globo. Por outro lado, possibilita aumentar o conhecimento
sobre o mercado internacional e acumular mais subsídios a respeito de
administração de um negócio no exterior, o que foi incorporado a Globo,
diante da sua constante interação com o cotidiano da SIC, através de contatos
formais e informais.
58
A Globo também teve que se adaptar a novas lógicas difundidas pelo capitalismo. Seguindo
a racionalidade atual e regras do mercado internacional, a experiência e o arquivo de produtos
áudio-visuais, como novelas, programas culturais e de entretenimento, a emissora conseguiu se
estruturar com custos mais baixos, exibindo produtos já pagos pelo mercado brasileiro e
ampliando a rentabilidade.
A informação tornou-se fonte alimentadora das engrenagens indispensáveis à
hegemonia do capital, isto é, o lubrificante dos ciclos de troca e de lucro,
nesse sentido a mercadoria mais importante. Assim, os empresários da mídia
passaram a dominar diversos setores comerciais.
59
58
BRITOS, Valério Cruz. Globo, Transnacionalização e Capitalismo.(p. 143) In: BRITTOS, Valério Cruz e
BOLAñO, César Ricardo Siqueira. Rede Globo, 40 anos de poder e hegemonia(orgs).São Paulo: Paulus,2005
59
MORAES, Denis de. A dialética das mídias globais. In: Globalização, mídia e cultura contemporânea. Campo
Grande:Letra livre,1997.
48
Toda essa dinâmica, calçada numa estrutura básica, foi alicerçada também pelo capital
simbólico construído por quase quatro décadas de atuação no mercado nacional e por demandas
anteriores, principalmente a exportação de novelas. O mercado europeu atesta, de forma
significativa, a superioridade na produção desse segmento, o de telenovela, fazendo uma
distinção positiva de outras emissoras no mesmo continente ou no americano.
A TV Globo internacional vem apresentando um crescimento muito
acelerado, motivando, até mesmo, a projeção de outras experiências
internacionais, compensando minimamente as dificuldades das Organizações
Globo em outros negócios comunicacionais no Brasil.
60
No ranking mundial, 50 empresas controlam a mídia mundial, além de possuírem outros
negócios
61
. No Brasil, o grupo das Organizações Globo é o 12º no ranking. Os conglomerados,
com o controle sobre a mídia de massa global, expandem-se anualmente. Os grupos hegemônicos
aparecem apenas onde gigantescas organizações corporativas têm acesso, apoiadas que são pelos
maiores bancos multinacionais e por regimes nacionais politicamente convenientes.
Sozinhos, já comandam audiências internacionais maiores que as de qualquer outro líder
político da história. Além disso, dispõem, geralmente, de sistemas unificados e de diversos meios
para atingir suas audiências, alguns provenientes da imprensa escrita, alguns da televisão,
transmitida via satélite, e alguns, ainda, por meio de instrumentos portáteis como gravações e
fitas de vídeo.
A abertura de novos mercados permitiu que se construísse uma estrutura capaz de atender
não só a demanda interna, mas o novo negócio que surgia: a exportação de programas de
entretenimento e jornalismo para o exterior.
60
BRITTOS, Valério Cruz. Globo, Transnacionalização e Capitalismo.(p. 151) In: BRITTOS, Valério Cruz e
BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Rede Globo, 40 anos de poder e hegemonia (orgs.). São Paulo: Paulus, 2005.
61
Revista Variety edição de 24-30 de agosto de 1998.
49
62
(vinheta da emissora – final dos anos 80)
Segundo dados da emissora, no site oficial, até os dias atuais, mais de 300 produções foram
comercializadas para aproximadamente 130 países: comédias, dramas, suspenses e aventuras
traduzidos para idiomas como espanhol, inglês, francês, catalão, alemão, sueco, mandarim,
polonês e russo. A teledramaturgia foi a pontos distantes do mundo, despertando o interesse de
parceiros internacionais, como SIC, Telemundo e Rettequatro, que buscam exclusividade na
programação e co-produção de tramas brasileiras. No último ano, 52 novelas seguiram para 70
países, mais de 23 mil horas de programas comercializados.
O conteúdo produzido pela Central Globo de Jornalismo permitiu a criação da Agência de
Notícias, em 1998, que também produz programas com parceiros internacionais, permitindo a
criação de um produto feito com o olhar do público estrangeiro. Um novo investimento
disponibilizou a programação da Rede Globo para os cinco continentes: a criação do Canal
Internacional, em 1999.
Brasileiros e lusófonos podem receber, via satélite, 24 horas de programação em Língua
Portuguesa. Atualmente, são 200 mil assinantes pelo mundo, acompanhando noticiários, novelas,
eventos esportivos, séries especiais, shows e muito mais.
A obtenção e manutenção da hegemonia da Rede Globo no universo televisivo brasileiro
implica em investimentos. E com recursos próprios se tornou o maior centro de produção de
conteúdo de entretenimento das Américas e um dos maiores do mundo, a CGP - Central Globo de
Produção.
62
Site acessado em 27/07/2005. http://www.telehistoria.com.br/canais/emissoras/globo.htm
50
O projeto de telenovela ganhou formato como tal nas mãos de Walter Clark, um executivo
da Rede Globo, que instituiu o prime time, termo em inglês para traduzir o horário nobre de cada
emissora. O formato, vigente até hoje, é bastante simples: um informativo, no caso o Jornal
Nacional, “ensanduichado” no meio de duas novelas: a das SETE e a das OITO
63
. A idéia era que
o telespectador, mesmo dividido por interesses diversos, acompanhasse a primeira novela
enquanto esperava o telejornal e assistisse ao telejornal enquanto esperava a telenovela. Isso
garantiu uma fidelidade de público e bons índices de audiência à Globo até o final de década de
80.
Esse projeto foi fundamental para a fixação de uma grade horizontal e vertical de
programação, pois o receptor sabe o dia e a hora em que vai passar a atração a que ele quer
assistir.
Para além de espaço privilegiado de consolidação de um modelo de produção,
de base para a formação de um hábito de ver TV e de indiscutível fidelidade
de público, o prime time constituiu também lugar de captação de elevados
recursos da verba publicitária destinada ao campo televisivo, que, por sua vez,
detém a maior fatia do total investido em diferentes mídias
64
.
O modelo adotado permite também um alto valor de rentabilidade, pois o processo de
produção de uma telenovela requer um custo baixo de produção, não em custo absoluto, mas
relativo.
Os valores obtidos com verbas publicitárias e merchandising cobrem com alta
rentabilidade os custos da produção, sem levar em conta a venda delas depois para o mercado
internacional. Observa-se, então, que as verbas publicitárias pagam o custo e rendem lucro e todo
o dinheiro da “exportação” é lucro, pois já foram pagas.
Essa relação transformou a novela e o Jornal Nacional, nos produtos mais rentáveis da
televisão brasileira. Por exemplo: em 1986, Aguinaldo Silva dirigiu a novela Roque Santeiro, de
Dias Gomes.
63
Hoje, apenas a novela das sete se mantém no horário. Por causa da Lei da Censura, que regulamenta os horários
das atrações na TV Brasileira, a novela das oito começa por volta das nove da noite.
64
BORELLI, Silvia Helena Simões. Telenovelas: padrão de produção de matizes populares. In: BRITTOS, Valério
Cruz e BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Rede Globo, 40 anos de poder e hegemonia (orgs.). São Paulo: Paulus,
2005.
51
O valor total da produção ficou em dois milhões de dólares, com cada capítulo custando em
média 15 mil dólares. Só com essa novela, a Globo recebeu, e aqui não há outras receitas, 19.800
dólares por cada 30 segundos de inserção comercial; e somam-se ainda 30% de valor calculado
de merchandising, equivalente a um minuto de comercial.
65
Em 2004, um anúncio de trinta segundos no prime time, em rede nacional, custava 77.000
dólares, se fosse somente para a cidade de São Paulo seria de 17.000 dólares e apenas para o Rio
de Janeiro, de 11.000 dólares
66
.
Embora não devamos analisar os números de forma absoluta, eles podem revelar
tendências, e algumas ponderações podem ser feitas, uma vez que, à medida que aumenta o custo
da novela, aumenta na mesma proporção o custo da inserção comercial. Se for considerado o
número de capítulos de uma produção, entre 180 e 200 capítulos, a equação fica mais fácil de
entender.
Descobertos o caminho e a fórmula das telenovelas, a emissora passou a investir no
mercado latino, mesmo com baixos índices de audiência, devido à barreira da língua, que
obrigava as novelas a serem dubladas, o que despertava um interesse mínimo. Mas toda a
experiência levou a Rede Globo a fazer uma abordagem mais direta, focada no mercado
hispânico nos Estados Unidos. Segundo dados do censo americano
67
, em 2003 o número de
hispânicos morando nos estados Unidos era de 39,9 milhões, aproximadamente 14% da
população. A projeção para 2005 é de 102,6 milhões, o que representa 24% dos habitantes.
O primeiro contrato em terras norte-americanas foi com a Telemundo, empresa pertencente
hoje à NBC Universal. Na época do contrato, a emissora pertencia ao grupo Sony e à AT&T.
A Globo se comprometia a entregar um pacote de 15 mil horas de programação num prazo
de cinco anos. A estratégia não foi boa, ou seja, embora tenha sido a primeira experiência no
mercado dos Estados Unidos, os erros se revelaram. A Telemundo não conseguia mais que 20%
do mercado de emissoras de língua espanhola, quase todo ele dominado pela Univisión
68
.
65
Renato Ortiz, Silvia Borelli e Jose Mario Ramos, op.cit.
66
O Estado de São Paulo, 18/01/2004. Na conversão usada no mesmo ano, os valores em reais seriam
respectivamente: 225.000 reais, 49.500 reais e 31.000 reais.
67
United States Census Bureau. Hispanic Americans by the numbers. Washington, D.C., 2004.
68
A Univisón era uma sociedade entre a Televisa, de propriedade dos Azcárraga, e a Venevisón de Gustavo Cisneros.
52
Além disso, a escolha da primeira novela a ser produzida em língua espanhola foi Vale Tudo,
sucesso de audiência no Brasil, mas que não foi bem recebida pelo público nos Estados Unidos,
pelo fato de apenas traduzir a trama, o que não criou identificação com esses receptores. Até o
ambiente da novela foi mantido, a cidade do Rio de Janeiro, o que poderia ter sido substituído
facilmente por Los Angeles ou Miami, cidades de grande concentração de hispânicos, e que
possibilitaria um reconhecimento identitário maior. E a facilidade se dava, porque 90% das cenas
eram internas ou locações cenográficas, o que daria oportunidade a adaptações.
Além da ambientação, os latinos não aceitavam passivamente o fato de a personagem Maria
de Fátima maltratar tanto a mãe, a “batalhadora” Raquel, uma vez que para eles a figura da mãe
na família é quase santificada.
A mais recente investida da emissora brasileira é a novela América, da autora Glória Perez.
A estória é simples e segue a fórmula solidificada: a menina pobre que sonha em ganhar dinheiro
nos Estados Unidos e para isso arrisca até a vida ao tentar entrar ilegalmente no país. Entre os
sacrifícios enfrentados pela protagonista da trama, está a separação do namorado, que fica no
Brasil, onde trabalha com muito empenho em rodeios, como peão de boiadeiro.
Uma trama com vários elementos identitários dos hispânicos e, por que não dizer, uma
representação simbólica projetiva da própria Globo, que vira as costas para a América Latina em
busca dos dólares norte-americanos. Ou seja, a emissora brasileira se arrisca, forçando uma
telenovela para conquistar os Estados Unidos, deixando para trás os vizinhos latinos.
Por quanto tempo a Globo irá negligenciar a América Latina? O que pensam
os filhos de Roberto Marinho sobre a Região? No México, o mercado oscila
com as constantes especulações sobre o jovem Emílio Azcárraga Jean colocar
a venda o império construído por seu avô. Seria essa a vocação da Globo com
a morte do patriarca? (...) O fato é que se o principal grupo de mídia regional
mantiver a opção de não ocupar espaços geográficos além das fronteiras do
país, em breve terá vizinhos tão fortalecidos por parcerias com corporações
transnacionais que perderá até mesmo a hegemonia nacional adquirida ao
longo dos últimos 40 anos.
69
69
REBOUÇAS, Edgar. América Latina: um território pouco explorado e ameaçador para a TV Globo. In: BRITTOS,
Valério Cruz e BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Rede Globo, 40 anos de poder e hegemonia
(orgs.). São Paulo:
Paulus, 2005.
53
O mercado agora assiste às novas posições da Globo, e a questão principal é se a empresa
define uma estratégia ofensiva em relação a esse complexo, mas poderoso, mercado que é a
América Latina, ou se investe na Globo Internacional para fortalecer e conquistar mercado nos
Estados Unidos.
As análises apontam, entretanto, que não há margem para novos erros. Os avanços da
tecnologia, principalmente as transmissões digitais, pressionam as decisões, e antes, as que eram
tomadas por caminhos políticos, agora requerem conhecimento e informação privilegiada de
mercado, de investimento e parcerias. A Telemundo, que já exibe a programação de ficção da
Globo, quer negociar a programação jornalística. O presidente da emissora, James Mcnamara,
afirma que podem usar matérias do Globo Repórter e Fantástico, principalmente as esotéricas e
de extraterrestres, mantendo o estereótipo do padrão “cucaracha”.
54
2.3 O telejornalismo na rede: expansão e padrão
A partir de todo esse conjunto, em que a telenovela da Globo tornou-se ponta de lança da
internacionalização da própria emissora, um outro processo passou a ser elaborado: o lançamento
da Rede Globo Internacional, cuja cerimônia de lançamento foi mostrada em todos os jornais da
rede em 28 de agosto de 1999. A Rede Globo torna-se vitrine dos produtos brasileiros e, de
muitas maneiras, da própria cultura nacional.
Em muitos rincões escondidos do mundo, pessoas que falam línguas bem diferentes do
português passaram a considerar o estilo de vida no Brasil e o jeito “brasileiro de ser” como um
produto, e como tal fonte de desejo.
Nesse contexto, podemos retomar um pouco o conceito citado anteriormente de
comunidade, onde a Globo, no âmbito internacional, remete à interpretação sobre o que é a
comunidade brasileira, principalmente pelas exortações de telenovela. Ou seja, todo esse objeto
de desejo, como praias, grandes centros como Rio e São Paulo, é refletido nas novelas e
programas e atrai os olhares internacionais.
Outro elemento reforça o imaginário sobre a “comunidade brasileira”, o jornalismo. Por
esse viés, torna-se perceptível a constituição de uma identidade nacional ideal através da
intervenção desse jornalismo, que no momento em que irradia as informações dos grandes
centros políticos e econômicos, fornece elementos consolidantes de um tipo adequado de
personagem, sobrepujando os traços culturais e tradicionais de lugares diferentes.
Assim, o que está em jogo não é a validade do conceito, mas sua configuração
atual, pois as características das comunidades de hoje estão densamente
contaminadas pelo estágio do capitalismo contemporâneo e pelas formas de
comunicação que se estabeleceram para atender às demandas de acumulação
do capital, especialmente originadas das redes viabilizadas pela tecnologia
comunicacional da qual dependem os processos de desenvolvimento do
mercado global
70
70
BENEVENUTO, Álvaro Jr. Comunitário: Um peixe vivo, mas fora da rede. In: BRITTOS, Valério Cruz e
BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Rede Globo, 40 anos de poder e hegemonia (orgs.). São Paulo: Paulus, 2005.
55
E como não se pode pensar em televisão como algo separado do processo de formação das
audiências, ela precisa dos receptores, quer seja no telejornalismo, na novela, nos humorísticos ou
nos reality shows. Nessa seara aberta inicialmente pelas novelas, a Globo se instala e começa a
dominar os mecanismos do mercado de produção internacional, e passa a ser a ponte para esse
“desejo”.
Reconhecida no mundo todo pela qualidade dos seus produtos, a Globo
transforma-se também em motivo de orgulho nacional, padrão para
julgamento de outros produtos e emissoras (inclusive do exterior), marca do
reconhecimento de que temos uma televisão digna “de primeiro mundo”.
Temos orgulho da Globo, mas não podemos negar que ela é também fruto de
uma relação com o Governo Militar, do uso da tecnologia para deslumbrar (e
não para fazer pensar), de um virtual monopólio da informação. Tudo isso e
mais arrojo, pesquisa, profissionalismo, audácia. Temos orgulho da Globo,
mas temos vergonha do seu passado, desconfiança do seu presente, e
esperanças daquilo que será o seu futuro.
71
Para conquistar esse mercado novo, era preciso estratégia, e a adotada pela Globo foi usar
as linhas de financiamento existentes no país para entrar na área de TV por assinatura, onde o
jornalismo e a programação poderiam se expandir e ser distribuídos de maneira rápida e eficiente.
Mesmo atrasada, e numa arena que grandes emissoras, principalmente as gigantes
americanas, dominavam, a Globo começou a oferecer serviços de transmissão direta, via satélite,
na banda KU, ou seja, no Direct-to-home (HTH), inicialmente no Brasil. A indústria da TV a
cabo crescia uma média de 4% a 6% por mês no final dos anos 90.
Na área de TV paga, as operações de múltiplos sistemas, próprios ou franqueados,
contabilizavam cerca de 61% do total de 3 milhões de assinantes no Brasil, segundo a revista
Variety, 2000. A Globo Cabo e a Net Brasil receberam investimentos de mais de 600 milhões de
dólares entre os anos de 2000 e 2002 e uma oferta de 1,2 bilhão de dólares foi feita em agosto de
2000 por novas licenças de telefonia celular, em conjunto com parceiros, segundo Luis
Guilherme Duarte
72
.
71
TEMER, Ana Carolina Pessôa. Orgulho e vergonha: Repassando a trajetória da Rede Globo dentro dos 50 anos da
TV Brasileira. Site acessado em 27/07/2005.
http://www2.metodista.br/unesco/midi@forum/midi@forum_2000/midiaf2-5.htm .
72
Consultor internacional de telecomunicações.
56
A Globosat, braço da GloboPar, que por sua vez era a responsável pelos novos negócios
das Organizações Globo, foi responsável pela produção e comercialização de 18 canais de cabo
(4 deles somente para Portugal) cobrindo 70% do território brasileiro com distribuição pela Net.
Tomando sinergia com seus produtos da TV aberta, a Globo passou a fazer uso de promoções
cruzadas entre a plataforma de cabo e TV aberta, o que fez com que âncoras do telejornalismo
pudessem ser vistos também no canal pago da Globo News e na programação vendida pela Globo
Internacional.
O custo dessa hegemonia foi alto. Enquanto nos países europeus e nos Estados Unidos
foram diluídos por longos anos de implantação e fidelização de mercado, a Globo teve que fazer
de forma mais rápida, a custos mais altos, para conseguir competir internacionalmente. Não
houve tempo para criar infra-estruturas, conteúdos e concorrência de satélites, a Globo teve que
se recriar, abrindo-se para investidores estrangeiros e colocando em risco a própria emissora,
dada como avalista das negociações da GloboPar na área de cabo.
As desvalorizações do real e as mudanças políticas acabaram dobrando a dívida em dólares
da Globo e fizeram com que a dívida da Net (GloboPar) subisse para mais de 1, 3 bilhão de reais,
cujo pagamento está suspenso desde 2002
73
. Tudo isso para conquistar um mercado cheio de
promessas e de lucros altos.
Mas se por um lado os caminhos tomados mostravam essa aproximação com a Europa e os
Estados Unidos, por outro, o jornalismo da Rede Globo refletia a falta de interesse pelo mercado
latino, principalmente dos países vizinhos, como Argentina e Chile.
Se analisarmos os dados fornecidos pela emissora
74
, os escritórios de correspondentes estão
distribuídos dessa forma:
73
Luiz Guilherme Duarte-Consultor internacional de telecomunicações.
74
Jornal Nacional: a notícia faz História, Zahar, 2004.
57
CIDADE ANO
Nova York
1973
Londres
1974
Paris
1977
Bonn
1977
Washington
1982
Roma
1999
Jerusalém
2004
Buenos Aires
2004
Pequim
2005
Dados: Memória Globo
Se a conquista de novas fronteiras passava por desafios maiores que os previstos, no
mercado interno a Rede Globo precisava enfrentar novas mudanças, precisava restabelecer e
fortalecer os laços que a ligam com a comunidade, base do seu jornalismo e fonte para novelas,
programas e humorísticos.
As relações da Globo com a temática regional haviam se perdido durante os projeto de
internacionalização e de solidificação em rede nacional.
A Rede Globo tinha como meta regionalizar a programação depois de se fortalecer nas
capitais brasileiras. Foi então, na década de 80, que o projeto de regionalização ganhou força com
a implantação, em seu organograma, de um setor específico para atender as suas afiliadas: a
CGAE - Central Globo de Afiliadas e Expansão -, responsável por viabilizar as emissoras locais
em todas as necessidades, como programação, engenharia e jornalismo
75
.
Nessa central, as preocupações iniciam-se na qualidade do sinal que chega aos lares dos
telespectadores e estendem-se até o investimento realizado pelas emissoras regionais em seus
diversos departamentos.
75
FERNANDES, Rosimeire Ap. de Castro. Depois dos comerciais: o compromisso do Telejornal regional com o
mercado. In: BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. Noticiário regional e a noção de território: a construção de
processos identitários: Dissertação de doutorado, São Paulo, 2004.
58
A separação entre jornalismo comunitário
76
e de rede era uma tendência natural de
organização do jornalismo, pois a cobertura local tem pouco a ver com a cobertura nacional
77
.
Foi nessa mesma década que a Central Globo de Afiliadas e Expansão criou o Prodetaf – Projeto
de Desenvolvimento do Telejornalismo das Afiliadas – com a finalidade de minimizar
“distorções entre diferentes regiões do Brasil e criar um padrão de qualidade no telejornalismo de
todas as emissoras da Rede Globo”
78
.
Percebeu-se que os temas locais não povoaram de imediato a produção de entretenimento e
de novelas da emissora. Com a regionalização dos sinais, uma preocupação constante por parte
das redes relaciona-se à qualidade técnica da imagem. Não adianta falar em regionalizar os sinais
das emissoras, se as afiliadas forem mal equipadas e tiverem pessoal de baixa qualificação
técnica.
Isso porque a sua realização, de um lado exigia a mobilização de equipe
técnica, de trabalhadores intelectuais e de capital para viabilizar as peças
audiovisuais, cujo know how ainda não estava disponível: de outro, as
pressões políticas (a radiodifusão brasileira é um serviço público concedido à
exploração de firmas privadas) forçavam a integração da televisão aos
propósitos do governo e, conjugadas com as pressões mercadológicas da
concorrência entre as emissoras, delinearam os conteúdos
.
79
76
Cabe registrar que o conceito comunitário adotado nesse e em outro momentos desta dissertação assume a
conotação do universo jornalístico de empreendimentos que tornam a comunidade local como público-alvo das ações
das organizações de mídia. Tem-se consciência de que a expressão comunidade é trabalhada por vários autores e
pesquisadores para denominar ações de capacitação e envolvimento da população como agentes produtores.
77
Memória Globo, op.cit, p.122.
78
JN: a notícia faz história (2004:123).
79
BENEVENUTO, Álvaro Jr. Comunitário: Um peixe vivo, mas fora da rede. In: BRITTOS, Valério Cruz e
BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Rede Globo, 40 anos de poder e hegemonia (orgs.). São Paulo: Paulus, 2005.
59
No campo das comunicações, os anos 80 foram marcados pelo maior avanço da história
latino-americana. Assistiu-se a um aumento singular do número de emissoras de televisão; ao
lançamento de satélites domésticos; ao enlace mundial de satélite; à implantação e inserção na
rede mundial de transmissão de dados; à introdução de televisão a cabo, da televisão por
assinatura; à abertura de emissoras em UHF; à formação de redes regionais de televisão; à
introdução de parabólicas em todos os países e à grande entrada de equipamentos de
telecomunicações e de radiodifusão por intermédio das corporações internacionais, com o
beneplácito da maioria dos governos, apesar das leis e dos protecionismos.
Convictos da lucratividade das emissoras regionais, os diretores da Globo estimularam os
investimentos. A afiliada da emissora em Pernambuco injetou mais de R$ 1,5 milhão em 1997,
em equipamentos e modernização dos estúdios. A afiliada TV Bahia, instalou novas torres de
transmissão com investimentos na ordem de US$ 300 mil. A TV Cabugi, no Rio Grande do
Norte, passou a operar no sistema Betacam
80
e construiu a nova sede da emissora em 1997, com
um total aplicado de R$ 3 milhões
81
. No interior de São Paulo, as afiliadas da Globo também
investiram na qualidade do sinal e na reformulação de sua programação. Aliás, como disse
Francisco Góes
82
, o importante não é a quantidade de minutos, mas a qualidade da programação
local. “Estamos trabalhando para achar soluções de integração entre algumas emissoras, além de
apoiar as afiliadas na ampliação de suas grades com programas que vão além do telejornalismo”.
A regionalização também possibilitou caminhos novos para a temática cotidiana, mas ainda
tinha um espaço limitado dentro da grade de programação de rede e os fatos, além de explorados
pelo jornalismo, eram aproveitados em programas nacionais. Exemplificando, pode-se observar
que a Central Globo de Produções usou o dia-a-dia regional para séries como Brasil Legal,
Comédia da Vida privada, Os normais, Os aspones e séries como A casa das sete mulheres. Nas
novelas, os temais regionais estavam presentes em folhetins como O Rei do Gado e Salvador da
Pátria.
No Fantástico, por exemplo permitiu a criação de quadro como Retrato Falado, em que as
personagens se misturam entre ficção e “vida real” para contar “causos” e experiências de suas
próprias vidas, e o quadro em exibição esse ano, Questão de peso, pelo médico Drauzio Varella.
80
Câmera de vídeo de ½ polegada com melhor resolução de imagem e som.
81
Fonte: Meio & Mensagem, 15.12.97
82
Entrevista ao jornal Meio & Mensagem,14.12.98
60
Para se posicionar regionalmente, a Globo precisou romper com a visão de rede e abrir espaços
para a inserção de conteúdos, ou seja, a expressão comunitária regional passou a integrar o menu
da emissora, sem que fosse perdida a visão de coesão nacional. A solução foi aprovar esses
conteúdos depois de uma análise da própria Globo, através do departamento das afiliadas. Pode-
se observar que as tomadas de posição da emissora oferecem elementos para perceber que a baixa
freqüência da participação comunitária e alternativa na grade principal da Globo não a torna uma
televisão comunitária, ficando para as suas emissoras regionais e afiliadas a função de buscar essa
identidade.
Isso ocorre não apenas por uma indisposição oriunda do rol de propósitos da
empresa, seja motivada pela falta de apelo comercial, seja pela avaliação
negativa a respeito do interesse da audiência: é pela característica de rede, que
necessita montar uma grade que atenda interesses múltiplos da audiência e do
mercado. Ela também é uma questão que envolve equipamentos de alta
complexidade, grandes equipes técnicas, conhecimento específico da
produção audiovisual e condições de autofinanciamento.
83
A questão da regionalização da comunicação vem ganhando espaço de forma crescente. O
assunto está tramitando até mesmo no Congresso Nacional em função do debate em torno da
obrigatoriedade de que no mínimo 30% da programação televisiva seja produzida localmente,
contra os atuais entre 10 e 20% em vigor.
Trata-se de um projeto de lei
84
que tem gerado bastante polêmica por mudar as regras em
vigor das grandes emissoras, além de ser considerado economicamente inviável por alguns.
83
BENEVENUTO, Álvaro Jr. Comunitário: Um peixe vivo, mas fora da rede. In: BRITTOS, Valério Cruz e
BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Rede Globo, 40 anos de poder e hegemonia (orgs.). São Paulo: Paulus, 2005.
84
Da Deputada Jandira Feghali (PC do B/RJ).
61
Soma-se a esse debate um outro projeto de lei
85
em tramitação no Congresso Nacional, que
prevê a obrigatoriedade da inclusão da disciplina “comunicação comunitária”
86
nos cursos
universitários das instituições públicas e privadas como forma de melhor preparar os estudantes
para as novas demandas sociais
87
.
85
Dos Deputados Ana Corso (PT/RS) e Walter Pinheiro (PT/BA).
86
Os cursos universitários de Comunicação Social atualmente enfatizam uma formação voltada para as demandas
dos grandes meios de comunicação. Contudo, crescem iniciativas (curriculares ou apenas de atividades) relacionadas
à comunicação local, regional e comunitária, muito embora não se caracterizem como tendências majoritárias no
ensino. Existem cursos que já possuem a referida disciplina em seus currículos e entre eles aqueles que desenvolvem
trabalhos vinculados a organizações do Terceiro Setor. Atividades nessa perspectiva têm empolgado os alunos
envolvidos, certamente porque vislumbram novas possibilidades de atuação profissional e evidenciam espaços mais
flexíveis para o desenvolvimento da criatividade, numa dinâmica de aprendizagem que prima por relacionar prática e
teoria.
87
Pela LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação -, as Universidades gozam de autonomia para montar os seus
currículos acadêmicos. A inclusão, troca ou supressão de disciplinas depende apenas de decisões internas no âmbito
de cada instituição. Por outro lado, as novas diretrizes curriculares em vigor, aprovadas pelo Ministério da Educação,
suprimiram a exigência de um currículo mínimo unificado para os Cursos de Comunicação Social.
62
2.4 Em síntese
Nesse capítulo, mostrou-se como a rede Globo começou a sua hegemonia, usando de
capital externo e se estabilizando á medida que a concorrência tentava derrubar essa “ajuda
estrangeira”. A parceria com a empresa norte americana Time Life ajudou a Globo a reforçar o
seu padrão de qualidade, com investimentos em equipamento e expansão do seu sinal. Além de
manter boas relações com o governo militar da época, difundindo o “milagre brasileiro” visão
adotada por eles. Foi discutido nesse capítulo também, as outorgas de distribuição de tv’s abertas
no país e as conseqüências, como o aparecimento do fenômeno que alguns autores classificam
como “coronelismo eletrônico”, ou seja, a ligação do Estado-empresário, um seduzindo o outro e
prestando favores esporádicos, mantendo a relação de dependência entre eles.
Mostrou-se também o processo de internacionalização da Rede Globo e como a
teledramaturgia abriu as portas da Europa e Estados unidos. Esse caminho permitiu uma
lucratividade maior, com venda de cotas comerciais em merchandising e parcerias em produções
bi-internacional. Apesar desse passo, a Globo começou a se preocupar com o regionalismo,
primeiro nos programas de entretenimento e logo em seguida com o telejornalismo. Nessa área
criou-se jornais estaduais e regionais para aproximar a população de territórios específicos com a
emissora. O tema ganhou espaço e as discussões chegaram no congresso , onde se discute hoje o
aumento dos espaços regionais nas grandes redes de televisão.
63
Capítulo III
EPTV: territórios e produtos
64
3.1 PIONEIRAS, DE SÃO PAULO AO SUL DE MINAS
Neste capítulo vamos mostrar a trajetória das Empresas Pioneiras de Televisão (EPTV) e
contextualizá-la no cenário nacional como elemento de veiculação de cultura regional. Serão
identificadas as dinâmicas que compõe a sua produção, a linguagem adotada, os limites de cada
emissora do grupo e onde se estruturam geograficamente. A importância dessa classificação será
ponto determinante para aplicar os conceitos de cultura regional e local, vistos em capítulos
anteriores. Explorar os produtos feitos pela emissora EPTV Campinas e desvelar a produção do
Jornal Regional Primeira Edição, e o bloco-rede, objeto de pesquisa dessa dissertação.
Também será mostrada a formação concreta do território de cada área de cobertura da
EPTV, no aspecto geográfico e cultural. Um mapeamento sobre a produção econômico-cultural
das três praças paulistas, onde está inserido o grupo de mídia televisiva EPTV. A noção de
mercado será discutida para entendermos as características simbólicas da cultura desses
receptores e assim auxiliar na delimitação do território.
Afiliadas da Rede Globo de Televisão, as emissoras da Rede EPTV (Campinas, Ribeirão
Preto, São Carlos e Varginha) são controladas pelas famílias Coutinho Nogueira e Marinho, e
obtiveram juntas, em 1998, um faturamento de cerca de R$ 84 milhões
88
. Inaugurada em 1979
pelo empresário José Bonifácio Coutinho Nogueira, a EPTV tem atuação no mercado do interior
paulista. A sede se localiza em Campinas, município onde foi montada a primeira emissora, a TV
Campinas, a cerca de noventa quilômetros de São Paulo.
88
BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. TV Regional, Trajetória e perspectiva. Campinas: Alínea, 2001.
65
89
Teve início, assim, a EPTV, então Empresas Paulistas de Televisão. Um ano depois, o
grupo inaugurou a EPTV Ribeirão, em Ribeirão Preto. Em 1988, foi a vez da EPTV Sul de
Minas, cuja sede está localizada em Varginha. Nessa mesma época, o nome da Emissora mudou e
passou a ser Empresas Pioneiras de Televisão, mantendo a mesma sigla do grupo: EPTV. Em
1989, a cidade de São Carlos recebeu os sinais da EPTV Central. E em 2005, a EPTV expande o
sinal e monta uma sucursal regular em Brasília.
No início, o sinal da emissora de Campinas chegava a apenas 20 cidades. Atualmente, as
quatro emissoras atingem 298 municípios, com um público estimado em 10 milhões de pessoas.
89
Dados fornecidos pelo departamento de Marketing da EPTV – mapa da cobertura geográfica – 2005.
66
90
.
Como se pode verificar, a EPTV é uma das grandes redes regionais de televisão do país, ao lado
do grupo gaúcho RBS, da Rede Amazônica, em Manaus, da TV Bahia, em Salvador, da Rede
Paranaense, apenas para fornecer alguns exemplos.
A estratégia mercadológica das grandes redes de televisão é penetrar no mercado nacional
por meio da regionalização, através da produção descentralizada ou emissão de caráter regional
91
.
Nesse sentido, as redes regionais são produtoras dos meios de comunicação de massa, podendo,
assim, contribuir para a construção de identidades. Para Bourdieu
92
, a sociedade está alicerçada
em estruturas onde os campos sociais distintos se apresentam. No caso dos media, ele é regido
pela pressão do mercado pelo intermédio do índice de audiência. No campo jornalístico, por
exemplo, é “muito heterogêneo, muito fortemente sujeito às pressões comerciais”.
90
Dados fornecidos pelo departamento de Marketing da EPTV – mapa da cobertura geográfica – 2005.
91
JACKS, Nilda. Pesquisa de recepção e cultura regional. In: BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. Noticiário
Regional e a noção de território: a construção de processos identitários. São Paulo, 2004.
92
BOURDIEU, Pierri. Sobre a Televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
67
Bazi
93
concorda com a afirmação exposta e vai além, quando coloca que é através desses
campos que a mídia, em especial a televisiva, expõe facetas identitárias, tentando buscar, junto às
comunidades, uma certa relação de cumplicidade, ora territorial, ora desterritorializadas, sob o
manto dos efeitos globalizadores dessa época.
Embora as demarcações geográficas possam ajudar a configurar o local, no que tange à
cobertura e aos efeitos das mídias, elas são imensuráveis, mas se somam às demais
singularidades, identidades e diversidades sócio-culturais, históricas, ecológicas, econômicas, de
comunicabilidade etc., que ajudam a constituir o espaço local ou o comunitário. Não há por que
desprezar o território geográfico enquanto fonte de significados, pois ele faz parte das condições
objetivas de vida advindas do tipo de solo, de clima, das tradições, da língua, dialetos etc. e da
construção de valores e práticas sociais.
94
Quando se trata da questão local, é impossível definir fronteiras territoriais precisas, mas
elas pressupõem contornos que se expressam em várias dimensões que advêm de uma situação de
vida em comum, de identidades e raízes histórico-culturais e dos valores e códigos de
comunicação compartilhados.
É sob esse foco que será detalhado agora o território paulista das Emissoras Pioneiras de
Televisão - EPTV. Três das quatro emissoras do grupo estão no interior de São Paulo: Campinas,
Ribeirão Preto e São Carlos.
O interior do estado de São Paulo é praticamente um país, com uma economia forte,
centrada na indústria e no agronegócio. Se tomarmos números nacionais para fazermos
comparações, teremos resultados como esses: O Produto Interno Bruto – PIB, per capita, em
2003 era de US$ 4,46 mil, enquanto a média nacional era de US$ 3,03 mil. Ele responde por 17%
do PIB nacional, num total de US$ 93,7 bilhões. No gráfico abaixo podemos observar
informações que compõem esse quadro
95
:
93
BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. Noticiário regional e a noção de território: a construção de processos
identitários. São Paulo, 2004.
94
PERUZZO, Cicília M. Krohling. Mídia Local e suas interfaces com a mídia comunitária.
Texto apresentado no
Núcleo de Pesquisa Comunicação para a Cidadania, XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação,
INTERCOM, 2 a 6 de setembro de 2003, PUC-MG, Belo Horizonte.
95
Fonte: Atlas de Consumo/Central Globo Marketing – Mercado (Base: Target Pesquisa/IBGE/Atlas de cobertura
Rede Globo - jun./04).
68
Setor Valor anual de
consumo em US$
(bilhões)
PA% em
relação ao
total Brasil
PA% em relação
ao total região
Sudeste
Manutenção do Lar
7,82
18,14
29,65
Alimentação no domicílio
7,67
15,70
29,64
Alimentação fora do domicílio
1,72
14,70
25,84
Eletrodomésticos e
equipamentos
1,50
16,31
28,00
Gastos com veículo próprio
1,49
18,12
30,75
Vestuário confeccionado
1,27
14,08
26,93
Consumo total (urbano + rural)
43,74
15,92
28,45
Se comparados com os índices internacionais e os dados acima, teremos uma economia
superior a países como Venezuela, Chile, República Tcheca e Malásia. Ele ainda é superior à
soma dos PIB’s de Equador, Luxemburgo, Costa Rica, Uruguai e Jamaica, que juntos
correspondem a US$ 90,4 bilhões
96
.
Os números trazem tamm um perfil sócio-econômico com destaque no cenário
internacional. Ainda em relação ao mundo, o interior de São Paulo é responsável por 25% da
produção mundial de cana-de-açúcar. É o maior produtor de laranja e suco concentrado, detendo
95% das exportações de suco do Brasil, e é ainda o principal exportador de grão verde de café do
país, respondendo por 50% dos embarques nacionais pelo porto de Santos
97
. Para manter uma
economia saudável, o interior paulista precisa de investimentos, e eles vieram na mesma
proporção do impacto da sua produção no país. Do total de investimentos anunciados no
primeiro semestre de 2003, dados mais recentes, US$ 3,6 bilhões destinaram-se aos municípios
do interior. Isso representa cerca de 48% de tudo anunciado. Se fizermos um corte,
descobriremos que 75% dos investimentos da indústria, um dos principais segmentos do estado,
foram para os municípios do interior.
96
Dados fornecidos pelo World Development Indicators Database, World Bank Fundação Seade e IBGE – junho de
2005. In: Atlas de consumo da Central Globo de Marketing.
97
Dados fornecidos pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA); Ministério da Agricultura, Secretaria Estadual do
Desenvolvimento; Gazeta Mercantil; Coordenadoria Técnica Integral (CATI) – 2004/2005. In Atlas de consumo da
Central Globo de Marketing.
69
O interior paulista representa também 25% de toda a produção industrial do país, o que
torna a região um terreno propício para novos investimentos.
A infra-estrutura acompanha esse desenvolvimento: são mais de 20 mil quilômetros de
rodovias pavimentadas e uma rede com 34 aeroportos
98
. Esse mercado, ou melhor, região, é
conhecido nacionalmente também pelo poder de consumo, recebendo o título de segundo
mercado consumidor do país. Anualmente a cifra alcança o número de US$ 43,74 bilhões, com
uma estimativa para alcançar os US$ 53 bilhões no ano de 2005.
Se considerada a média econômica brasileira, o interior de São Paulo está
aproximadamente 34% acima. O quadro a seguir detalha essa relação em diferentes setores da
economia
99
:
Setor das Empresas Nº de Empresas PA% em
relação ao total
Brasil
Percentual superior à
média nacional
Agronegócio
8.889
19,6%
+ 65%
Comércio
419.385
17,9%
+ 51%
Indústrias
85.610
15,3%
+ 30%
Serviços
277.174
15,7%
+ 33%
Total
791.058
17,0%
+ 42%
Neste outro quadro, vamos observar o consumo per capita, por algumas categorias, que
ratificam o conceito desse potencial de consumo do interior
100
:
98
Fundação Seade, Governo do Estado de São Paulo, DER-SP e Infraero – 2003/2004.
99
Fonte: World Development Indicators Database, World Bank, Fundação Seade e IBGE – jun./05 e Atlas do
Consumo Raios-X / Central Globo de Marketing – Mercado (Base: Target Pesquisa/IBGE/Atlas de cobertura Rede
Globo - jun./05). IEA, Governo de São Paulo, Agência Estado Agro; Jornal O Estado de São Paulo; IBGE;
MegaAgro. UDR, Gazeta Mercantil e Ministério da Agricultura.
100
Fonte: Atlas de Consumo/Raio X – Central Globo Marketing – Mercado (Base: Target Pesquisa/IBGE/Atlas de
cobertura Rede Globo jun./04
).
70
Categoria BASE 100%
Média consumo per capita Brasil
Alimentação fora do domicílio
+ 9,23 %
Alimentação no domicílio
+ 16,66%
Despesas com recreação e cultura
+ 2,64%
Despesas com viagens
+ 16,27%
Eletrodomésticos e equipamentos
+ 21,20%
Gastos com veículo próprio
+ 34,65%
Vestuário confeccionado
+ 4,65%
Consumo total (urbano + rural)
+ 33,86%
Ainda dentro desse exercício comparativo, vale registrar que a frota de veículos fica
50,70% acima da média nacional e a renda, com base em salário mínimo, no ano de 2000, ficou
27,31% acima. O destaque também está no agronegócio como detalhado a seguir.
Nesse quadro observamos o quanto a região desempenha no cenário nacional
101
:
AGRONEGÓCIO BASE 100 – MÉDIA BRASIL
Diferença de SP Interior em relação à média Brasil
Produção de Laranja (valor)
644
Produção de cana-de-açúcar (valor)
474
Número de empresas agronegócio
165
Produção de café (valor)
112
Nesse cenário de concentração de renda, o grupo EPTV se instalou, logo no processo de
regionalização da Rede Globo, ao final dos anos 70, crescendo numa das regiões mais ricas,
desenvolvidas e progressistas do país
102
.
101
Fonte: Atlas de Cobertura Rede Globo (jun./05).
102
Fonte: TGI Interior de São Paulo/pessoas (set./03 a jan./04).
71
Hábitos de consumo de mídia Penetração dos meios no interior paulista
TV Aberta
96%
Rádio FM
75%
Outdoor
42%
Revista
40%
Jornal
30%
Cinema
30%
Internet
30%
Rádio AM
15%
Esse processo de regionalização começou a ser planejado na Globo durante os anos mais
“pesados” da censura.
Passados aqueles anos, com a revogação dos Atos Institucionais, impostos pelos militares,
em dezembro de 1978, a emissora apostou nesse caminho, implantando o projeto pelo
departamento de jornalismo. O ponto de partida foi a divisão da Central Globo de Jornalismo em
dois setores: Comunitário e Rede. O responsável foi o jornalista e diretor do departamento
Armando Nogueira. A conseqüência foi o fortalecimento do jornalismo comunitário com a
criação do Globo Cidade e dos telejornais locais RJTV, SPTV, MGTV, NETV e DFTV
103
.
Inaugurada em 1979 pelo empresário José Bonifácio Coutinho Nogueira, a EPTV tem vinte e seis
anos de fundação e atuação no mercado do interior paulista. A sede se localiza em Campinas,
cerca de noventa quilômetros de São Paulo, município onde foi montada a primeira emissora: a
TV Campinas. Dava início a EPTV, hoje com três emissoras em São Paulo e uma no sul de
Minas Gerais.
Definido o território, o desafio era conhecê-lo, para criar uma identificação com o
telespectador local e criar um processo de fidelização, criando um processo de construção de
103
Pedro Bial, op.cit, p. 269.
72
significado com base em um tributo cultural, ou ainda inter-relacionado(s), o(s) qual(is)
prevalece(m) sobre outras fontes de significado
104
. A área geográfica de atuação da EPTV
apresenta indicadores econômicos que se destacam no contexto nacional. Trata-se, é fato, de uma
macro região de grande potencial. Cabe, no entanto, reconhecer as particularidades de cada
região que compõe a redinha. É o que será feito nas paginas que se seguem.
3.2 Campinas: tecnologia industrial
104
CASTELLS, Manuel. O poder da Identidade. 2ª ed. Tradução de Klauss B. Gerhardt, São Paulo. In: BAZI,
Rogério Eduardo Rodrigues. Noticiário regional e a noção de território: a construção de processos identitários:
Dissertação de doutorado, São Paulo, 2004
73
Campinas tem 1.045.706 habitantes segundo o último censo do IBGE de julho de 2005. Ela
detém 9% do Produto Interno Bruto (PIB) e 17% da produção industrial do Estado de São Paulo
saem da região de Campinas. Essa região é responsável por 10% de toda a produção
agroindustrial de São Paulo, assim como é a primeira colocada no país quanto ao uso de sementes
de alta qualidade e mecanização agrícola. Também está incluída no segundo maior mercado
consumidor do Brasil, com um total de 14.550 lojas só no comércio varejista de Campinas.
É a quinta maior praça bancária do país em valor de compensação de cheques.
A cidade Abriga um total de 17 mil empresas ligadas ao Setor Terciário. Quanto à
ocupação da mão-de-obra, 65% está alocada no Setor de Comércio e Serviços; 34% na Indústria
e 1% na Agricultura. Na cidade há um total de 55 instituições financeiras instaladas, com 132
agências bancárias.
O acesso à cidade pode ser feito através das rodovias Anhanguera e Bandeirantes, que
ligam Campinas e região à cidade de São Paulo; rodovia Santos Dumont, que leva a Sorocaba e
também se entronca com a rodovia Castelo Branco, interligando Campinas com o Oeste do
Estado, Curitiba (PR) e com o Norte e Oeste do Paraná, Mato Grosso do Sul, Paraguai e Bolívia;
rodovia D. Pedro I, que entronca com a via Dutra no município de Jacareí, ligando Campinas ao
Rio de Janeiro; e a rodovia Campinas - Mogi Mirim, fazendo a conexão com o Sul de Minas
Gerais. Por causa da conurbação urbana e da alta taxa de crescimento, foi estabelecida a região
Metropolitana, criada no dia 19 de junho de 2000, por meio da lei complementar nº 870. Ela é
composta por 19 municípios, entre eles: Americana, Arthur Nogueira, Campinas, Cosmópolis,
Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Itatiba, Indaiatuba, Jaguariúna, Monte Mor, Nova
Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara D’Oeste, Santo Antonio de Posse, Sumaré, Valinhos e
Vinhedo. A população estimada pelo IBGE é de 2,3 milhões de habitantes.
O sinal da EPTV Campinas abrange, além dessas, outras cidades, como Águas de Lindóia,
Águas de São Pedro, Amparo, Capivari, Charqueada, Cordeirópolis, Elias Fausto, Espírito Santo
do Pinhal, Estiva Gerbi, Ipeúna, Iracemápolis, Itapira, Limeira, Lindóia, Louveira, Mogi Guaçu,
74
Mogi Mirim, Mombuca, Monte Alegre do Sul, Morungaba, Pedra Bela, Pinhalzinho, Piracicaba,
Rafard, Rio das Pedras, Saltinho, Santo Antonio do Jardim, São Pedro, Serra Negra, Socorro e
Tuiuti
105
. Ao todo são 49 municípios com uma população, segundo o censo do IBGE, de
3.803.880 pessoas, com um IPC
106
(Índice de Potencial de Consumo) de 3,304
107
.
O parque industrial da RMC (Região Metropolitana de Campinas) é o segundo do país,
perdendo apenas para o da RMSP (Região Metropolitana de São Paulo). Os 19 municípios da
RMC concentram hoje 8,5% de todas as empresas da cadeia produtiva dos automóveis no Estado
de São Paulo.
Segundo levantamento do economista Fernando Sarti, da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), cerca de 18 mil pessoas estão empregadas diretamente nas 139 empresas
do segmento, montadoras como a Honda, em Sumaré, e a Toyota, em Indaiatuba, e indústrias de
autopeças como a Bosch, em Campinas, e a Magneti Marelli, em Hortolândia. Dados do
Ministério do Trabalho revelam que o nível de emprego também é alto: 10,55% do total do
Estado, mais de 20 mil empregados estão com a carteira assinada em 221 empresas. Só inferior
ao da Região Metropolitana de São Paulo, que inclui o ABC, onde estão empregadas 72.429
pessoas em 1360 empresas.
Nos 19 municípios da região metropolitana estão cadastradas 468 empresas associadas,
cujo faturamento é de RS$ 13,23 bilhões ao ano
108
, e empregam 75.144 pessoas.
Essas empresas se distribuem conforme quadro abaixo
109
:
·:
Empresas associadas que pertencem aos seguintes
setores
Nº de empresas
Metalúrgico
82
Elétrico / Eletrônico / Comunicação
39
Mecânico
29
Farmacêutico
7
105
Cobertura geográfica da EPTV - 2005 - Divisão Comercial.
106
Target Pesquisas e Serviços de Marketing – Brasil em Foco 2004.
107
Cobertura geográfica da EPTV- 2005 - Divisão Comercial. Censo Demográfico 2000 IBGE - taxa média
geométrica de crescimento.
108
Centro das Industrias do Estado de São Paulo – CIESP- regional de Campinas. Dados: 2004/2005.
109
Idem
75
Alimentos
13
Têxtil
14
Madeira
2
Bebidas
1
Gráfico
6
Construção
11
Piscicultura
1
Borracha
7
Transportes / Autopeças
19
Entidades de Classe
9
Mobiliário
11
Papel e Papelão
9
Químico
42
Vestuário
5
Calçados
0
Prod. Materiais Plásticos
13
Prod. Materiais não Metálicos
16
Serviço Ind. de Utilidade Pública
6
Prestadores de Serviços
119
Diversos
7
Dessas empresas associadas, 56 delas são multinacionais e 412 são nacionais. O Ciesp
ainda tem o registro de 412 empresas exportadoras.
De acordo com os últimos registros do Sebrae, em 2005
110
, 99% dos estabelecimentos são
de micro e pequeno porte. Os municípios com maior concentração de indústrias na RMC são:
Campinas, Americana, Indaiatuba e Limeira. Na região, acrescenta-se ainda os municípios de
Piracicaba e Mogi Guaçu. Segundo a Infraero
111
, o volume de importação e exportação do
aeroporto de Viracopos foi de 111.632 toneladas no ano passado, o que corresponde a um total de
negócios no valor de US$ 1,962 bilhão em exportação e US$ 2, 316 bilhões em importação, com
a balança atingindo as cifras de US$ 4,278 bilhões.
O balanço até julho de 2005 registra um movimento de importação e exportação na ordem
de 99.838 toneladas, o que coloca o aeroporto como o segundo do país em cargas, perdendo
apenas para o aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, que atende a região metropolitana de São
Paulo. Ainda no setor de transportes, a região de Campinas tem uma malha rodoviária que conta
com 1.200 quilômetros de vias metropolitanas, avenidas, ruas e estradas. Isso nos 19 municípios
da região metropolitana, enquanto em São Paulo são 2.500 quilômetros em 39 municípios.
110
Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
111
Empresa Brasileira de Infraestrutura aeroportuária. 2005
76
Na área de pesquisas, existem dois pólos liderados pela Unicamp - Universidade Estadual
de Campinas - e CPqD – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento -, além da área agrícola com o
Instituto Agronômico de Campinas- IAC, IZ - Instituto estadual de Zootecnia, ITAL - Instituto de
Tecnologia de Alimentos, coordenados pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios,
com 40 escritórios. A região corresponde a 10% de toda a produção agroindustrial do estado. O
Governo Federal consolidou, em meados dos anos 80, a pesquisa acadêmica no país investindo
cerca de 0,7% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em Ciência e Tecnologia. São cerca de 60 mil
os cientistas e tecnólogos em atuação no Brasil. Embora ainda seja um número pequeno em
relação à população brasileira, representa um significativo avanço quando comparado a décadas
anteriores e às nações do terceiro mundo. Na América Latina, este quadro de institucionalização
da pós-graduação e de execução de pesquisas distingue o Brasil dos demais países.
Em termos comparativos, o Brasil está entre os 20 países que mais publicam artigos
científicos em revistas internacionais, à frente de países como Áustria, Polônia, Coréia ou
Taiwan.
Dentro do quadro de universidades públicas, as estaduais paulistas têm papel destacado,
contribuindo com quase 2/3 da produção científica do país e da formação de pesquisadores com
titulação de doutorado. Só na Unicamp, são 20 unidades de ensino e pesquisa, divididas em 10
Institutos e 10 Faculdades. Nelas são ministrados cursos de nível superior de graduação e pós-
graduação, além dos cursos técnicos.
Entretanto, como em todas as metrópoles, a taxa de crescimento entrou num processo de
desaceleração
112
. Nos últimos cinco anos, as 19 cidades da Região Metropolitana ganharam 167
habitantes por dia. De 1991 a 2000, o número era de 219.
A desaceleração é apontada como um fenômeno esperado em função da queda de níveis de
fecundidade, gradativo aumento da expectativa de vida e redução nas taxas de migração para
essas cidades. Isso não é só observado nessas regiões, mas se sobressai mais nesses territórios de
grande concentração populacional.
112
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
77
3.3 Ribeirão Preto: na raiz do agronegócio
Localizada na região Nordeste do estado de São Paulo e com uma população estimada em
560 mil habitantes segundo o censo do IBGE de 2005, a cidade está a 319 km da capital pela
principal via, a rodovia Anhanguera. Ribeirão é a sexta melhor cidade em termos de condições e
78
qualidade de vida, segundo o IDH-M
113
do estado de São Paulo. Uma parte do índice é calculada
pelo poder aquisitivo da sociedade e nisso a população se destaca, pois 43%, quase metade dos
habitantes, pertencem à classe A
114
. A renda mensal está 19% acima da média estadual. O forte
da região é o agronegócio. O indicativo desse poder é que o município é sede de uma das 3
maiores feiras mundiais agrícolas, a Agrishow-Ribeirão.
A edição desse ano movimentou o equivalente a US$ 300 milhões em vendas. O principal
produto é a cana-de-açúcar. A moagem para a produção de açúcar e álcool emprega cerca de
oitenta e oito mil trabalhadores por safra. Pessoas vindas principalmente do nordeste brasileiro,
norte do Paraná e do vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais
115
. Migrantes que em busca de
trabalho, por causa da ocupação do cerrado pela soja, que é mecanizada, chegam a passar seis
meses longe de casa, empregados nas usinas e fazendas de produção de cana da região de
Ribeirão. De acordo com o IEA – Instituto de Economia Agrícola –, o estado deve colher 244
milhões de toneladas, o que corresponde a 70% da produção nacional, e só a região de Ribeirão
Preto fica responsável por 30% desse total estadual.
Um terço das usinas do estado também está na região, o que corresponde a 43 usinas
116
.
No quadro abaixo fica possível visualizar a produção de açúcar e álcool no município
117
:
Agroindústria canavieira na região de Ribeirão Preto,
No Estado de São Paulo e no Brasil.
de
Unida-
des.
Produ-
toras
Produção de
cana-de-
açúcar (em
toneladas)
Produção
de Açúcar
(em
toneladas)
Produção
de Álcool
Anidro
(em m³)
Produção
de Álcool
Hidratado
(em m³)
Produção
Total de
Álcool
(m3)
Nº de
empregos
diretos e
mão-de-
obra
temprária
Brasil
337 285.583.944 13.596.812 4.550.247 9.704.635 14.254.882 1.200.000
113
Índice de Desenvolvimento Humano.
114
Fundação Seade e Ibope – dados de 2003.
115
Dados da Pastoral do migrante – São Paulo.– 2005.
116
ABAG - Associação Brasileira de Agronegócios, regional Ribeirão Preto –2005.
117
Acessado no site http://www.citybrazil.com.br/sp/ribeiraopreto/economia.htm , em 08/09/2005. Secretaria de
Planejamento-Prefeitura de Ribeirão Preto.
79
São Paulo
132 169.349.999 8.078.250 3.111.458 5.760.954 8.872.412 600.000
R. Preto
47 77.120.186 3.774.134 1.665.384 2.304.302 3.969.686 88.000
O café também representa bem a produção agrícola da região. O Brasil detém 40% do
mercado cafeeiro mundial e é hoje o segundo maior consumidor de café do mundo, perdendo
apenas para os Estados Unidos.
Para este ano, estimam-se exportações de pelo menos 26 milhões de sacas, o que
corresponderia a US$ 3 bilhões
118
. De acordo com o levantamento, a cultura ocupa 222,9 mil
hectares.
Franca e Altinópolis têm plantado 36 mil hectares o que faz a região ser a maior produtora
de café do estado, com 750 mil sacos tipo exportação. A empregabilidade da cafeicultura é alta e
dá trabalho para trinta mil pessoas
119
.
Outro produto de destaque, ainda na área agrícola, é a laranja. O sistema citrícola
representa 1,87% da pauta total de exportações brasileiras e 4,47% das exportações de produtos
do agribusiness. A principal comercialização no mercado internacional é a do suco de laranja
concentrado congelado, que representa 72% do valor dessas exportações.
Para o Estado de São Paulo, que exporta 95% da produção de suco de laranja, a
importância cresce. O suco de laranja concentrado congelado ocupou em 2003 a segunda posição
entre os produtos comercializados no mercado internacional, atrás das exportações de aviões.
O Brasil mantém a posição de maior produtor mundial de laranja, com uma área cultivada
de 820 mil hectares, 77% dos quais na região Sudeste. A laranja representa 49% de toda a
produção brasileira de frutas
120
. Em 2003, este sistema produtivo destinou aos cofres federais
US$ 139,41 milhões. Dados desse mesmo ano
121
apontam Ribeirão Preto como o maior produtor
de laranja do país, com 200 hectares de plantação e uma produção média de 75 milhões de caixas
118
Conab – Companhia Nacional de Abastecimento – Ministério da Agricultura – 2005.
119
Seade – SP – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados – 2005.
120
PENSA/USP- Programa de Estudos dos Negócios Agroindustriais da Universidade Estadual de São Paulo.
Acessado no site
http://www.fundecitrus.com.br/informativo, 08/09/2005.
121
Seade/SP – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados – 2003
80
por ano, abastecendo quase todo o sudeste brasileiro e produzindo suco para exportação. O setor
de serviços e o industriário também ressaltam a qualidade de vida e a riqueza da população.
A região também compõe o cenário de riqueza. Franca, a segunda maior cidade da região,
mantém quase toda a economia centrada na produção de calçados masculinos. Em 2000, foram
produzidos 32 milhões de pares de sapatos, 4,3 milhões exportados para os EUA e Europa, o que
representou cerca de 6% da produção brasileira de sapatos. A capacidade de produção estimada
nesse ano é de 37 milhões de pares.
Na região de Franca estão instaladas 360 empresas, das quais 10% são consideradas
grandes, 20% de médio porte e a grande maioria, 70%, micro empresas, com estrutura
familiar
122
.
3.4 São Carlos: uma tese para tantas teses
O município de São Carlos é um dos maiores pólos de ciências e tecnologia do país. A
cidade conta com duas universidades públicas – Universidade de São Paulo, a USP, e a
Universidade Federal de São Carlos, a UFSCar. Também estão sediados na cidade dois centros
81
de excelência em pesquisa: a Embrapa, que é responsável por formação de mão-de-obra
altamente qualificada, e a Fundação Parque Alta Tecnologia – ParqTec, que fomenta, divulga e
embasa a instalação e desenvolvimento de empresas de base tecnológica na cidade e região. Na
região, são mais duas universidades, a Universidade Estadual de São Paulo – UNESP –, em
Araraquara, e a USP de Pirassununga, ambas com foco em produção de pesquisas em alta
tecnologia. O resultado de toda essa concentração de centros de excelência não poderia resultar
em outro dado: a região concentra o maior número per capita de mestres e doutores do país. Na
cidade existe um doutor para cada 230 pessoas e um mestre para cada grupo de 54. Ressalta-se
que a população, segundo o Seade é de 213.314 mil habitantes. É em São Carlos que está sediada
a segunda maior feira mundial de tecnologia, a Fealtec. Um dos cursos de destaque da USP é o de
engenharia aeronáutica, e a explicação para isso é simples: a cidade apresenta um dos maiores
pólos aeroespaciais do estado, com a academia da Força Aérea, em Pirassununga, a fábrica da
Embraer em Gavião Peixoto e a oficina de manutenção de aeronaves da TAM – empresa de
viação comercial brasileira. Mas a região também tem uma economia estruturada.
Todo o desenvolvimento ultrapassa os portões das universidades e abre espaço para um
comércio e indústria definidos. São 43.455 empresas instaladas, segundo dados da própria
associação comercial, destacando-se as de base tecnológica, nas áreas de automação, informática
e tecnologia da informação, instrumentação eletrônica, mecânica de precisão, química fina e
óptica, com parte significativa da produção voltada para a exportação.
Já a atividade industrial é marcada pela presença de grandes indústrias: Volkswagen
(motores), Tecumseh (compressores), Faber Castell (lápis), Electrolux (geladeiras e fogões), além
de empresas têxteis, de embalagens, de máquinas, tintas, lavadoras, equipamentos ópticos e uma
grande quantidade de indústrias médias e pequenas dos mais diversos setores de produção.
A região se transformou no principal pólo produtor de carne de frango do Estado. Da
produção total, 15% saem daqui. São Carlos é o maior produtor, com uma média anual de 75
milhões de quilos, seguido por Descalvado, com 55 milhões. Isso deixa São Paulo como o quarto
colocado no ranking nacional dos produtores de carne de frango, integrando a carteira de
exportação nacional com 134 países e uma geração de 180 mil empregos por ano.
122
Sindicato das empresas calçadistas de Franca – dados 2005.
82
Tudo isso se reflete nos indicadores socioeconômicos. Segundo a Fundação Seade
123
, das
vinte melhores cidades com melhores condições de vida do Estado, 3 se encontram na região. O
crescimento na geração de emprego foi na ordem de 13% entre os anos de 2000/2003.
3.5 Varginha: um sotaque mineiro
Com cerca de 110 mil habitantes e área de 396.39 Km², Varginha está a 300 Km do Rio de
Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, o que facilita o escoamento de sua produção de café e
123
Seade – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados – 2005.
83
outros produtos através de sua estação aduaneira, único porto seco do sul de Minas. A cidade e a
microrregião são áreas produtoras de café, sendo Varginha centro de industrialização e
comercialização desta produção para outros mercados de consumo.
DADOS DA SAFRA/PREVISÃO CONAB DE DEZEMBRO
BRASIL
MÁX. 33.007.000 SACAS
MIN. 30.739.000
MINAS GERAIS
MÁX. 14.242.000 SACAS
MIN. 12.999.000
SUL DE MINAS
MÁX. 6.760.000 SACAS
MIN
. 6.093.000
Junto ao café está a produção de leite, que também é industrializado no município e região.
Em torno dessa economia agropecuária, a cidade supre as principais necessidades da região em
termos de serviços, além de ter um consistente setor industrial de base. Neste setor, os principais
destaques são: agroindústria, auto-peças, mecânico-elétrico, têxtil e confecções.
Varginha está entre as 10 cidades de maior poder econômico de Minas Gerais e sedia
praticamente todas as regionais dos governos estadual e federal.
Nesse aspecto, é considerada a terceira cidade mais promissora do estado e com a melhor
qualidade de vida, segundo a Fundação João Pinheiro
124
.
3.6 Empresas Pioneiras de Televisão: cultura regional
Como explicado até agora em tópicos e capítulos anteriores, cabe ressaltar que os pontos
abordados tentam desvelar e apontar conceitos de identidade e cultura regional, a noção de
124
Fundação João Pinheiro – Sistema Estadual de Planejamento – Governo de Minas Gerais – 2005.
84
Global e Regional da comunicação, contextualizando o processo de regionalização da Rede
Globo e suas afiliadas, principalmente a EPTV. Tudo à luz da literatura disponível, que torna
possível o estudo dos fenômenos da comunicação massiva e mediada a um nível cada vez mais
“glocal”, ou seja, a um nível Global, Transnacional, com adaptação aos contextos Locais na
busca da identidade.
125
Nesse contexto, ressalta-se que a televisão brasileira nasceu “local” com a inauguração da
TV Tupi, na década de 50, e foi somente nos anos 60, depois do vídeo-tape, que a situação
mudou e as emissoras passaram a ter autonomia. Nessa década também, a programação
Regional se fundiu com a Nacional.
No final dos anos 60, a Rede Globo criou a programação nacional, fortalecendo os
Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, impondo uma grade nacional, na tentativa de divulgar os
mesmos produtos culturais. As estações regionais foram categorizadas a afiliadas e passaram a
exibir os programas adquiridos da geradora da programação, chamada de “cabeça de rede”.
Bazi
126
propõe que, com a evolução dos meios de comunicação e a globalização, as
empresas de televisão ampliaram seus horizontes publicitários e sua abrangência. Ao mesmo
tempo, colocaram o telespectador em uma situação mais confortável quanto à diversidade na
procura de informação e de prestação de serviço. Em poucos segundos e a qualquer momento, o
homem pode assistir ao que está acontecendo do outro lado do mundo. A partir dessa
característica, o telejornalismo praticado pelas emissoras regionais pôde auxiliar os
telespectadores na solução de alguns de seus problemas relativos ao espaço e serviços públicos.
A primeira exibição regional em rede nacional da EPTV foi em 1992 com o documentário
“O Canto da Piracema”, que mostrou a subida dos peixes pelos rios do interior paulista e de
Minas Gerais. Em janeiro de 2000, a emissora voltou a ocupar o espaço do programa com o
especial “Vida Selvagem”, obtendo 37 pontos de audiência, segundo registros do IBOPE.
Enquanto a emissora se especializava em documentários e matérias especiais, a grade regional
era preenchida pelo jornalismo diário. Veja quadro abaixo:
125
SOUSA, Jorge Pedro. Teorias da notícia e do jornalismo. Chapecó: Argos, 2002.
126
BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. Noticiário e a noção de território: a construção de processos identitários. São
Paulo, 2004.
85
PROGRAMAÇÃO EPTV CAMPINAS
DIAS PROGRAMAS HORÁRIO
De 2ª a 6ª feira
Jornal Regional 1ª Edição
Globo Esporte Regional
Jornal Regional 2ª Edição
12h
12h50
18h55
Sábado
EPTV Comunidade
Caminhos da Roça
EPTV Esporte
Jornal Regional 1ª Edição
Jornal Regional 2ª Edição
07h
08h45
11h55
12h10
18h55
Domingo Não há programação própria
Fonte: Emissora, 29.11.2005.
Se observarmos com atenção, todos os espaços abertos para a produção local são ocupados
por programas ou jornais que colocam em relevo a cultura local geograficamente delimitada. E
essas imagens geradas ao público permitem conhecer a identidade de uma emissora de televisão e
são construídas a partir dos próprios elementos.
Um deles, bastante revelador, é a grade de programação, que passa desde a construção da
marca até os elementos que completam sua identidade corporativa, que são as ofertas que os
emissores fazem aos seus receptores.
127
A produção regional da Rede EPTV, por exemplo, exposta a seguir, é realizada,
principalmente, por profissionais regionais, mas não necessariamente para a sua região.
O programa “Terra da Gente” é uma produção regional, mas é vendido para 55 países e
veiculado através da programação da Globo Internacional (cabo). Ao mesmo tempo em que é
visto por telespectadores locais/regionais, também representa a diversidade cultural do Brasil,
para telespectadores globais.
É possível determinar o perfil dos programas das emissoras de televisão a partir
de uma classificação por gêneros, assim sugerida: documentários - programas
127
CIFUENTES, Diego Portales. Televisão Pública na América Latina: crises e oportunidades. In: RINCÓN, Omar
(org.) Televisão Pública: do consumidor ao cidadão. São Paulo: Proyeto Latinoamericano de médios de
comunicación. In: BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. Noticiário e a noção de território: a construção de processos
identitários. São Paulo, 2004.
86
que requerem pesquisa científica e/ou jornalística com tempo suficiente para
desenvolver o tema dentro de um contexto e profundidade; informativos -
programas com conteúdo da atualidade e com diversas estruturas e sintaxes;
magazines - programas com conteúdo e forma variada, sem necessariamente ser
jornalístico; espetáculos - programas que se constituem em torno de eventos
sociais ou de situações especialmente produzidas para a televisão; programas
com tramas - programas de ficção, nos quais se desenvolvem narrações com
variações de tempo (novelas, longa ou curta-metragens).
128
Percebe-se que, no caso desta pesquisa, a Rede EPTV é classificada através dos gêneros
documentários (produção de seus especiais jornalísticos, como o “Beija Flor”), informativos
(telejornais e programas como o “EPTV Comunidade”) e espetáculos (como os festivais musicais
e os esportivos, como o “Troféu Gustavo Borges”).
Dentro dos conceitos já mostrados, a marca da emissora de televisão vai sendo construída
através de muitas pequenas marcas que lhe vão proporcionando a sua identidade. Não apenas o
logotipo, como também as pessoas “aparecem” no vídeo. O conjunto de apresentadores e
repórteres estabelece a relação de credibilidade ou de cumplicidade entre cada programa e o
público, agregando valor à marca da emissora. A construção da “identidade corporativa” é o
terceiro e último elemento que permite conhecer a identidade de uma emissora de televisão.
A identidade corporativa se estabelece a partir de um conjunto de resultados: primeiro, o
nome atribuído ao canal de televisão faz referência à natureza de seus proprietários ou à sua
proposta comercial; segundo, a identidade é refletida através do logotipo da emissora com seu
nome, as promoções de programas e o uso para si de elementos publicitários; por último,
aparecem os estatutos jurídicos, a definição da missão da empresa, os manuais de redação e estilo
e os critérios de ação para os funcionários.
Assim, percebe-se que quando uma emissora consegue estabelecer essa identidade cultural,
com elementos citados, ela desempenha e cumpre a condição necessária para se tornar líder no
128
Idem.
87
espaço audiovisual, e se obedecer a esses requisitos econômicos, com a possibilidade de auto-
financiamento das operações, da expansão e da inovação tecnológica e criativa, então a condição
necessária passa a ser a condição suficiente.
129
Abaixo, tem-se a descrição dos programas e jornais realizados pela EPTV, objeto dessa
pesquisa, em que se pode ter a noção dos conteúdos produzidos e os temas desenvolvidos para as
regiões cobertas pelo seu sinal:
Jornal Regional 1ª Edição
Ele foi ao ar pela primeira vez em 1983, depois que a grade de programação da Rede Globo
mudou e transformou o Jornal Hoje em obrigatório e nacional. Para as praças não perderem
espaço, abriu-se o espaço regional.
O telejornal é focado em prestação de serviço, artes e cultura, factual da manhã e segurança
pública. Existem quadros fixos, como o “Em Cena” – um revista cultural com dicas de shows,
exposições, entrevistas com artistas e eventos do final de semana; “Prato fácil” – feito por um
jornalista-cozinheiro, em praça pública, o quadro traz receitas rápidas e baratas, com alimentos da
época e que pode ser preparada em minutos; “Ver e Rever” – traz as estréias da semana nos
cinemas da região e dicas de filmes que estão em vídeo; e o “Há vagas” – quadro que traz ofertas
de empregos de empresas e que são passadas através dos Postos de atendimento dos
trabalhadores e estágios, repassados pelo Centro de Integração Empresa-Escola, o CIEE.
129
CIFUENTES, Diego Portales. Televisão Pública na América Latina: crises e oportunidades. In: RINCÓN, Omar
(org.) Televisão Pública: do consumidor ao cidadão. São Paulo: Proyeto Latinoamericano de médios de
comunicación. In: BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. Noticiário e a noção de território: a construção de processos
identitários. São Paulo, 2004.
88
Até 1997 era produzido com cinqüenta minutos e entrava no ar entre meio-dia e uma hora
da tarde, acrescentando o tempo de publicidade. Mas em 1999, com a mudança do programa
matinal da apresentadora Ana Maria Braga, ele perdeu dez minutos e fixou-se com quarenta
minutos. Além disso, a Globo investiu numa padronização visual em toda a rede, à qual as
afiliadas também tiveram que se submeter. O cenário da programação traz painéis com fotos dos
principais pontos turísticos ou característicos das maiores cidades da área de cobertura do sinal da
emissora.
Mas foi em 2003 que o Jornal passou por uma grande mudança. A Rede Globo, por
estratégia de concorrência, cortou quinze minutos de produção do jornal na grade nacional. Isso
porque estava empatando em audiência, segundo o Ibope, na praça de São Paulo, com a emissora
concorrente do SBT, que nesse horário exibia o humorístico mexicano Chaves. Como a Rede
Globo perdia audiência por ter um jornal concorrendo com um humorístico, resolveu esticar os
desenhos do programa infantil da apresentadora Xuxa para concorrer de igual para igual, ou seja,
programas com a mesmas características. Vale ressaltar que a praça de São Paulo é a que mais
fatura dentro da Rede Globo e, portanto, qualquer ameaça a isso justificaria a mudança de grade
no país todo. Mas para não prejudicar as outras regiões do país, a Globo colocou os quinze
minutos da grade nacional como um tempo optativo. A emissora que decidisse seguir com a
programação da rede, teria quinze minutos a menos de jornal e a emissora que optasse em ficar
com o jornal, editaria o desenho da Xuxa e entraria mais cedo com o jornal, ocupando mais o
espaço regional.
A EPTV, que tinha uma audiência alta no horário – 24 pontos de ibope e share de 62%
130
manteve o tempo optativo para o jornal, mas inovou criando nesse tempo um bloco-rede. A
“redinha”, como ficou conhecida, era um jornal unindo as três praças paulistas da EPTV –
Campinas, Ribeirão Preto e São Carlos –, bloco esse, objeto dessa pesquisa. Nesses quinze
minutos “extras”, as três regiões fronteiriças fariam o jornal em rede, revezando os três
âncoras
131
, chamando cada um deles as notícias referentes a sua área de cobertura. Por exemplo:
o âncora de Campinas chamaria as matérias que fossem da área de Campinas e assim
sucessivamente, até que se esgotasse o tempo.
130
SHARE - sistema de mediação da empresa Ibope, que mede a audiência apenas dos televisores ligados,
desprezando os desligados, diferente da medição-Ibope, que considera todos os televisores da área de medição.
131
Do termo inglês anchor, que no jargão jornalístico significa o principal apresentador do jornal e também o editor
que seleciona as notícias que entram no jornal junto com o editor-chefe.
89
Depois disso, nos blocos restantes do jornal, se desfaz a redinha e cada apresentador segue
com o jornal da sua região. Toda a dinâmica será mais bem explicada no próximo capítulo.
Jornal Regional 2ª edição
O Jornal Regional segunda edição entrou no ar, com esse nome, depois que a Rede Globo
permitiu que as emissoras afiliadas escolhessem o nome dos telejornais regionais, extinguindo o
Jornal das sete da grade de programação e mudando os jornais locais de posição, em 1983. Até
essa data, o jornal antecedia o Jornal Nacional, mas depois da mudança ele passou a entremear a
novela 1 (novela das seis) e a novela 2 (novela das sete). O Jornal Regional é exibido de
segunda-feira a sábado, às 18h55. A estrutura é pequena: são três blocos e dois espaços
comerciais em uma produção de 15 minutos. Abre-se com uma escalada, onde as manchetes são
anunciadas. É no primeiro bloco que estão as notícias que foram destaques na região no período
da tarde e começo da noite, o que no jargão jornalístico é conhecido como “factual”; o bloco
seguinte, geralmente, é dedicado ao esporte e a uma ou duas matérias de interesse geral; por fim,
no último bloco, dá-se preferência às matérias mais importantes e de impacto.
Mais noticioso do que o JR primeira edição, traz reportagens que abordam temas de polícia,
política, saúde e denúncias.
Atualmente, é o produto de maior audiência da EPTV, com uma audiência média de 49
pontos no Ibope, com um share de 75,9%.
De acordo com Godoi
132
, a principal característica da audiência dos telejornais regionais
advém do pertencimento, da proximidade com os fatos, e do crédito às TVs como espaço público
– quando ‘solucionam’ problemas cotidianos junto ao poder público, às autoridades.
132
GODOI, Christian. Reflexão sobre o regional como identidade cultural em recepção. In: Revista Com. Art.
Santos: Unisanta, vol. 1, nº 1 2002.
90
Globo Esporte
O Globo Esporte estreou na EPTV Campinas no dia 19 de janeiro de 1981 com um bloco
local, dentro do Globo Esporte estadual. Hoje, com equipe própria, todas as emissoras paulistas
da EPTV produzem o primeiro bloco do Globo Esporte localmente. A produção é de cinco
minutos e o enfoque é o futebol como prioridade de cobertura. A emissora de Minas não faz esse
bloco, que é feito por Belo Horizonte.
Depois do primeiro bloco, entram outros dois, produzidos pela Rede Globo de São Paulo,
somente para o Estado de São Paulo. Em Minas, os dois outros blocos vêm da Globo Rio. O
Globo Esporte vai ao ar de segunda-feira a sábado, logo depois do Jornal Regional Primeira
Edição.
EPTV Esporte
O EPTV Esporte edição de sábado estreou no dia 31 de julho de 1999, feito em rede com as
três emissoras paulistas do Grupo EPTV. O programa surgiu depois de experiência da emissora
de usar o horário optativo do domingo à noite, depois do programa humorístico Sai de Baixo.
Noturno, na faixa de horário que inicia a madrugada, o EPTV Esporte tinha uma média de sete
pontos no Ibope, mas por causa do horário, que variava entre meia-noite e meia-noite e meia,
para entrar no ar, ele foi retirado da grade da emissora local em 2001. Com apenas a edição de
sábado, o programa passou de 25 minutos para 15 e foi deslocado para o horário que antecede o
Jornal Regional primeira edição, entrando no ar por volta das 12h.
91
O enfoque é o esporte regional, diferente do futebol. Os assuntos são tratados como uma
revista eletrônica, sem deixar de mostrar o “factual” do final-de-semana.
EPTV Cidade
São 4 boletins com um minuto de duração e que vão ao ar de segunda a sexta-feira, das 14h
às 18h, durante a programação da Rede Globo, aleatoriamente.
Os boletins são feitos pelos repórteres e podem ser gravados ou ao vivo, transmitidos por
link’s. Trazem notícias de prestação de serviço ou fatos pequenos que estejam acontecendo nas
cidades da área de cobertura da emissora e são todos regionais.
EPTV Comunidade
Programa de entrevistas semanal. Vai ao ar aos sábados, às oito da manhã. Tem 40 minutos
de produção e, através de entrevistas de estúdio e participações de telespectador, discute
problemas e soluções que afetam socialmente as pessoas da área de cobertura de cada emissora.
O EPTV Comunidade traz especialistas sobre os assuntos e com reportagens de rua faz cobranças
às autoridades sobre os problemas.
Caminhos da Roça
92
O programa vai ao ar todos os sábados, às quinze para as nove da manhã.
Tem uma hora de duração e é sempre ancorado pelo agronegócio – um dos principais temas
do programa – valor evidenciado através de reportagens e entrevistas com convidados
credenciados, que sempre acrescentam muito ao que foi mostrado na matéria.
Um estúdio improvisado no celeiro ou na varanda de uma fazenda garante o cenário de
apresentação do Caminhos da Roça. A produção viaja de uma fazenda para outra, de sítio em
sítio, desde janeiro de 2002, levando a informação agrícola e pecuária ao homem do campo. E ter
o proprietário rural como anfitrião é a forma que o programa encontra para falar sobre as novas
tecnologias aplicadas ao campo, as tradições rurais e prestação de serviços e estar próximo do
telespectador.
Dois quadros fixos do programa garantem universalidade nesse enfoque regional: um
quadro de culinária, de Fernando Kassab, que toda semana ensina o preparo de um prato
diferente, e o do violeiro Mazinho Quevedo, anfitrião de violeiros que cantam histórias da terra.
Terra da Gente
O programa tem a pesca esportiva como fio condutor. São 35 minutos de produção, que vai
ao ar aos sábados, depois do Jornal Hoje, por volta das 14h. O Terra da Gente entra nas
emissoras da EPTV no lugar do Vídeo Show de sábado, que é um resumo da semana.
Ele é voltado aos aspectos da natureza, meio ambiente, culinária, música caipira, curiosidades da
região onde é gravado, assim como a fauna local.
A produção é feita pela equipe da EPTV Campinas e Ribeirão. A estréia foi em 21 de junho de
1997, inicialmente nas quatro praças da Rede EPTV, e depois vendido para as demais emissoras
da Globo no estado de São Paulo, ou seja, no estado, apenas as regiões metropolitanas de São
Paulo e Santos não veiculam o programa. Mas o Terra da Gente não fica só em São Paulo. Ele é
exibido em Juiz de Fora (MG), Triângulo Mineiro (MG), Petrolina (PE), Vitória (ES), Amazonas
93
(AM), Goiás (MT), no sul do país, e em 55 países através do canal Superstation da Globo
Internacional.
O custo de cada programa fica em torno de R$ 5 mil a R$ 8 mil, incluindo os salários dos
profissionais. Possui três câmeras aquáticas a um custo de US$ 40 mil cada e foi o primeiro
programa digital da emissora. Estima-se que o público salte de 9 milhões de espectadores, que
atualmente recebem o sinal da EPTV, para 29 milhões, pois o programa é exibido em regiões de
Minas, estados do Norte e Nordeste do país, como visto anteriormente.
A partir do exemplo desse programa, é possível fazer uma constatação: investir em projetos
regionalizados, como o faz a EPTV, gera retorno comercial para a empresa e seus anunciantes, e
também ajuda no fortalecimento da imagem da emissora, tanto para o público da sua região,
como para o público de outros estados, tornando, assim, a emissora conhecida nacionalmente
133
.
Tanto que ,em maio de 2004, o grupo EPTV lançou, a partir do sucesso do programa na
televisão, a revista “Terra da Gente”.
O novo produto impresso, e o primeiro do grupo, possui periodicidade mensal, com
tiragem de 20 mil exemplares distribuídos nacionalmente e, destaca também a natureza e seus
aspectos. Com a exposição dos produtos produzidos pela EPTV, constata-se que a emissora
investe na realização de programas regionais, com elementos culturais regionais, sobretudo em
jornais que, além de informar, têm a função de aproximar emissora e telespectador.
133
BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. Noticiário regional e a noção de território: a construção de processos
identitários. São Paulo, 2004.
94
3.7 Em síntese
Nesse capítulo vimos a formação estrutural da Rede Globo e o processo de regionalização,
com o surgimento do grupo de mídia televisiva EPTV. Também abordamos os territórios
geográficos e simbólicos da emissora, através da produção econômica e os produtos veiculados
pela EPTV.
A seguir, será abordado o aspecto conceitual da produção jornalística, com vistas à análise
da cobertura do referendo sobre a comercialização de armas, relacionando-o com a visão global e
regional.
95
Capítulo IV
A dinâmica do bloco-rede do Jornal Regional
96
1ª edição
4.1 O fazer jornalístico
Neste capítulo o estudo recai sobre percepção das dinâmicas do bloco-rede do Jornal
Regional e entender seus elementos subjetivos, próprios da linguagem jornalística, sempre à luz
dos aspectos conceituais dessa produção. Será abordada ainda a seleção de reportagens, notas e
transmissões ao vivo nas três regiões que formam o bloco-rede da EPTV, verificando a eficácia
do “fazer jornalístico” e a forma como se hierarquizam as notícias. Perceberemos, através de
entrevistas e gráficos, quais as notícias selecionadas para o bloco-rede e se atende às áreas
distintas de cobertura da EPTV, observando as limitações e parcialidades, em que se destacam as
cidades-sede (Campinas, Ribeirão Preto e São Carlos), dando-lhes maior exposição em relação às
outras cidades da área de cobertura.
Os principais pontos mostrados, de forma reflexiva, até agora, deram conta de noções de
cultura regional, os processos globais, locais e regionais da comunicação e identidade, face ao
crescimento da mídia televisiva com contornos regionais e adaptações locais. Assim, o “fazer
jornalístico” faz-se importante na contextualização dessas escolhas e dos seus resultados.
97
Saber como as notícias são contextualizadas e produzidas é a chave para compreender o seu
significado. Traquina
134
defende que as notícias registram as formas literárias e as narrativas
utilizadas pelos jornalistas para organizar o acontecimento e os constrangimentos organizacionais
que condicionam o processo de produção de notícias.
A notícia pode ser entendida como uma forma de ver, perceber e conceber a realidade. Ela
também pode ser percebida como um autêntico sintoma social e analisá-la, do ponto de vista da
produção, consegue nos dar pistas das realidades que nos cercam, quer seja global, quer seja
regional.
Para Luciane Viegas
135
, a notícia é um fato que interessa ao maior número de pessoas, que
tenha um interesse público e também possa ser de interesse do público.
No bloco-rede, os principais assuntos que se tornam notícias são os de ordem governamental, ou
seja, as medidas tomadas pelo governador, os factuais de cada praça e algum assunto nacional
que possa ser repercutido com dados e características das três praças paulistas da EPTV.
Na produção de notícias tem-se, por um lado, a cultura profissional e, por outro, as
restrições ligadas à organização do trabalho, sobre as quais são criadas convenções profissionais
que definem a notícia e legitimam o processo produtivo, desde a captação do acontecimento,
passando pela produção, edição até a apresentação. E o resultado é o estabelecimento de um
conjunto de critérios de relevância que definem a noticiabilidade de cada acontecimento, ou seja,
a sua capacidade para se transformar em notícia.
Wolf
136
defende que a noticiabilidade corresponde ao conjunto de critérios, operações e
instrumentos com os quais os órgãos de informação enfrentam a tarefa de escolher,
cotidianamente, entre um número imprevisível e indefinido de fatos, uma quantidade finita e
tendencialmente estável de notícias, o que faz com que a noticiabilidade esteja ligada à rotina e a
práticas produtivas, além do elemento fundamental dessas rotinas produtivas, a substancial
escassez de tempo. Ou seja, a noticiabilidade se constitui em um elemento de distorção
involuntária na cobertura informativa do mass media.
As principais fases da produção de notícias para o jornal diário são: captação, seleção e
apresentação. Luciane Viegas explica que no bloco-rede as notícias são escolhidas dessa forma:
134
TRAQUINA, Nelson. As notícias. In: ___ (org). Jornalismo: questões, teorias e estórias''. Lisboa: Vega, 1993.
135
Luciane Viegas é chefe de redação e âncora da EPTV Campinas. Concedeu essa entrevista no dia 15 de dezembro
de 2005, a este pesquisador. Todas as citações de Luciane se referem a essa entrevista.
136
WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. Lisboa: Presença, 1994.
98
A prioridade são as notícias de caráter estadual. Quando uma praça oferece alguma
reportagem, alguma medida de governo que vai ser anunciada naquele dia que o jornal vai ao
ar, que a gente sabe que é importante a gente dar, porque é estadual e nenhum jornal vai dar
antes de nós, é prioridade. A segunda é um assunto com reflexo semelhante nas praças, ou seja,
por exemplo, a laranja e cana de açúcar.
A gente sabe que tem uma certa semelhança e que Campinas, Ribeirão e São Carlos tem
essas lavouras, então tem um público mais voltado para isso. Mesmo se a rede nacional, no caso
a Globo, fosse dar o assunto, não daria o mesmo enfoque para essas regiões.
Então é o que priorizamos na redinha. A gente deixa em 3º lugar as matérias nacionais,
que sabemos que não vamos conseguir dar especificamente com o enfoque que a gente queria.
Porque a cobertura vai ser mais com números das três praças e não vai ter a preocupação
de trazer um reflexo do que o fato vai mudar na vida dessas pessoas.
Ah! A primeira coisa é o factual da praça. Eu estava esquecendo, porque há um peso diferente
na notícia. Por exemplo, para a gente dar um factual na redinha tem que ter uma repercussão
nacional, por exemplo, uma operação da Polícia Federal no país e que uma parte dessa
operação se passa numa das nossas praças... então tem um peso nacional e está na nossa região.
Então a gente tem que dar na redinha e aí, fica como o factual da praça, mas isso é uma vez ou
outra. Nem me lembrava disso, porque é muito raro acontecer.
Porque os assuntos factuais das praças têm pesos diferentes. Por exemplo, uma fuga de
preso na região central de São Carlos não tem peso para a redinha, porque em Campinas tem
isso sempre, então a gente tira isso da redinha e deixa no local. Primeiro as notícias factuais,
depois as estaduais, de interesse para as três regiões e, por último, as questões nacionais”.
Já a seleção é um processo mais complexo e subjetivo e que se desenvolver ao longo do
ciclo de trabalho realizado em diferentes etapas, desde a escolha, já citado por Luciane Viegas,
até a apresentação. A etapa da apresentação e edição é a parte final do processo de produção da
maioria dos jornais, quer seja em rádio, televisão ou jornal.
Em TV, essa fase significa colocar os acontecimentos de um período dentro do formato de
duração dos noticiários e tentar anular os efeitos das limitações provocadas pela organização
produtiva, para restituir à informação o seu aspecto de espelho da realidade exterior. Embora esse
não seja o objeto central do estudo, é importante a reflexão do “fazer jornalístico” para que se
conheça as influências dele na produção de notícias do dia-a-dia. De modo geral na pesquisa de
99
campo a seguir, alguns desses elementos se tornam mais claros e podem contribuir para um maior
entendimento do newsmaking.
4.2 O bloco-rede: a “redinha”
O bloco-rede ou “redinha”, como é chamado internamente pelos jornalistas da EPTV, foi
criado no dia onze de novembro de 2002. A cabeça
137
que abriu o jornal, “inaugurando” o
formato rede foi essa:
BOA TARDE.// A PARTIR DE HOJE O JORNAL REGIONAL LEVA
ATÉ VOCÊ O QUE É NOTÍCIA EM TRÊS REGIÕES FORTES DE
SÃO PAULO. A AMPLIAÇÃO DA COBERTURA JORNALÍSTICA DA
EPTV CRIA AGORA UMA REDE REGIONAL.// SÃO NOTÍCIAS DAS
EMISSORAS DE CAMPINAS, RIBEIRÃO PRETO E SÃO CARLOS.//
INTERLIGADAS, COM REPORTAGENS E ENTREVISTAS AO
VIVO.// SÃO REALIDADES DIFERENTES, MAS MUITO
PRÓXIMAS. VOLTADAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO
ESTADO.
Ela é a primeira parte do Jornal Regional Primeira Edição. São quinze minutos, de um
total de quarenta e três minutos do jornal, em que as praças paulistas ficam interligadas por um
137
Cabeça: no jargão jornalístico de TV significa o texto que antecede a reportagem. É o texto lido pelo apresentador
para apresentar a matéria feita pelo repórter na rua.
100
malha de link’s
138
e entram no ar em revezamento, cada praça chamando reportagens da sua área
de cobertura.
A redação está informatizada, afirma Ciro Porto
139
, e as praças se comunicam em rede
também, usando um programa de software chamado I-News, importado dos Estados Unidos, e
roda em plataforma Windows. Todos os editores das três praças estão vendo como o espelho está
sendo fechado e as mudanças que acontecem à medida que as notícias vão caindo e chegando
outras mais factuais. Isso facilita a comunicação e evita erros no ar. O computador é uma
ferramenta essencial para a operação em rede e por isso os investimentos em softwares são
constantes. O bloco abre com uma escalada
140
, usando os três apresentadores, chamando as
principais notícias de cada praça.
Logo depois, a ancoragem do jornal fica em Campinas, que vai chamando as outras praças
de acordo com a paginação do jornal. Isso explica os tempos de exposição da região de Campinas
em relação aos de Ribeirão Preto e São Carlos.
Ciro Porto explica que a EPTV Sul de Minas não faz parte dessa interligação por apresentar
características diferentes das regiões do estado de São Paulo.
Tiramos a praça do Sul de Minas da redinha porque nós íamos ter três cidades de São Paulo e
uma de Minas Gerais, além de Minas ter características diferentes de São Paulo, a agricultura
central é do café, que aqui até tem, mas é justamente nas cidades que fazem divisa com Minas;
O forte aqui é cana e laranja, além de tecnologia de ponta e pesquisas, sem contar que se a gente
pegar e dividir em quatro, teríamos ¾ de notícias paulistas, e 1/4 mineiras. E há que se
considerar um certo bairrismo de cada região. Ele não é grande, mas existe. Logo que
começamos a redinha tivemos reclamações de outras praças: “– Ah, vamos ter que ouvir
notícias de Campinas?”, dizia um dos vários e-mails que chegaram à redação da região de
Ribeirão Preto, e só depois que o telespectador foi entendendo o que é a redinha e a proposta
dela e que os assuntos eram mais abrangentes que a cobertura local. Mas no caso de Minas
ficaria difícil de fazer isso, temos que considerar que esse bairrismo não é pequeno. Optamos em
fazer o bloco em rede só com as praças paulistas, e a repercussão nacional, que Minas
necessitaria, viria pelo escritório da EPTV em Brasília”.
138
Termo em inglês que significar “ligar”. No jargão jornalístico indica uma transmissão ao vivo.
139
Ciro Porto é diretor de jornalismo das quatro emissoras da EPTV. Concedeu essa entrevista no dia 27 de
dezembro de 2005, a este pesquisador. Todas as citações de Ciro Porto se referem a essa entrevista.
140
Escalada: no jargão jornalístico significa as manchetes do jornal, que trazem as principais notícias a serem
exibidas naquele horário.
101
A fim de desenvolver o estudo proposto, na observação participante, fez-se uso de
metodologias observadas por Fausto Neto
141
para recepção ao chamar a atenção sobre as
necessidades de se conhecer as leis e as regras de funcionamento do suporte na construção da
recepção. Pois para um trabalho fortemente descritivo era preciso dar conta de teorias implícitas
que sustentam o funcionamento de um certo modelo de ordenação de sentido em oferta da
produção.
Durante quatro meses desse ano, 2005, foi gravado o bloco-rede. Para registro da pesquisa,
foi utilizada sempre a segunda semana de cada mês.
As entrevistas semi-estruturadas com o diretor de jornalismo, a chefe de redação e editora-
chefe do bloco-rede e a chefe de reportagem da EPTV Campinas auxiliaram na análise crítica dos
dados recolhidos. No tempo em que foi observada a gravação do jornal, de maio até agosto,
pode-se perceber que o tempo de Campinas no ar é muito superior ao das outras praças, conforme
gráfico abaixo:
Maio
VT Link Nota
Campinas
16min: 36s
7min: 20s
9min: 50s
Ribeirão Preto
9min: 59s 1min: 30s 3min: 32s
São Carlos
4min: 13s 1min: 30s 3min: 33s
Brasília
2min: 49s
Brasil
São Paulo
1min: 15s 1min: 50s
No mês de maio, se somado, o tempo de reportagem das praças de Ribeirão Preto e São
Carlos não chega ao tempo de Campinas.
Quando consideradas as entradas “ao vivo”, por link’s, fica visível o tempo de exposição de
Campinas em relação às outras áreas de cobertura da “redinha”. O mesmo pode ser observado em
notas, ou seja, as informações que são lidas pelos apresentadores e não têm imagens. Mesmo
considerando as notícias vindas da sucursal de Brasília, da Rede Globo de São Paulo, ou as
informações Nacionais, Campinas supera em muito o tempo dessas outras praças e/ou fontes.
141
FAUSTO NETO, Antônio. Notas para uma discussão sobre metodologias de recepção. Campinas, 1994. Mimeo.
102
A situação pode ser confirmada nos gráficos dos meses subseqüentes, que mostram quanto
tempo a região de Campinas ficou no ar. Em todos os meses, Campinas representou a metade do
tempo do jornal no ar.
Junho
VT Link Nota
Campinas
8min: 31s
9min: 40s
7min: 17s
Ribeirão Preto
6min: 21s 2min: 21s 1min: 41s
São Carlos
1min: 18s 5min: 35s 0min: 34s
Brasília
1min: 51s 3min: 21s 0min: 56s
Brasil
4min: 42s 1min: 23s
São Paulo
2min: 46s 0min: 59s
Julho
VT Link Nota
Campinas
16min: 45s
7min: 15s
8min: 41s
Ribeirão Preto
11min: 55s 1min: 20s 3min: 35s
São Carlos
2min: 46s 3min: 42s 3min: 32s
Brasília
1min: 27s
Brasil
São Paulo
0min: 29s
Agosto
VT Link Nota
Campinas
18min: 49s
7min: 55s
11min: 01s
Ribeirão Preto
10min: 48s 1min: 15s 4min: 37s
São Carlos
4min: 04s 1min: 37s
Brasília
3min: 02s
Brasil
São Paulo
1min: 13s 4min: 23s
A editora-chefe do bloco-rede e chefe de redação da EPTV Campinas, Luciane Viegas, tem
uma explicação para o fato:
É uma questão interna de estrutura da praça e de oferta de reportagem.
O fato de Campinas ter um número maior de matérias e um tempo maior na redinha, não
significa que esteja fazendo um jornal mais focado em Campinas... mesmo porque, os erros da
redinha vão para as três praças. Na verdade o que acontece é que uma praça fica mais
sobrecarregada que outra praça. Os resultados, independem de quem está produzindo, porque
nas matérias tem dados das três praças e o personagem não é localizado na cidade em que ele
103
está, ele é mostrado pela situação que ele enfrenta, o que aquele fato representa na vida dele e
não tem nada a ver com o lugar que ele esteja. Isso acontece por a praça ter mais
disponibilidade de equipe do que outra, mais gente na rua e gente pensando nas matérias do que
para o resultado do telespectador. Porque o resultado independe daquela praça que está
produzindo. Dentro da proposta da redinha, não faria diferença se fosse buscar um personagem
em Rio Claro e não em São Carlos, que é a cidade-sede, por exemplo. A proposta é abrir os
assuntos para interessar mais pessoas, então, se pegasse o personagem fora de lá, só demoraria
mais tempo e o resultado seria o mesmo.
Porque o que interessa é abrir os assuntos para que possa abranger mais as praças,
principalmente nos contextos estaduais, não faria diferente de onde está produzindo, isso facilita
e agiliza a produção, que a matéria seja feita na cidade-sede”.
Santos
142
defende que, apesar da intensificação da interdependência transnacional e das
interações globais, o que faz com que as relações regionais pareçam hoje cada vez mais
desterritorializadas, nota-se, aparentemente em contradição com essa tendência, um
ressurgimento de novas identidades regionais e locais baseadas numa revalorização do direito às
raízes. Esse movimento assenta-se sempre na idéia de território, seja ele imaginário ou simbólico,
real ou hiper-real.
Ciro Porto não vê como prejuízo o fato de uma cidade pólo estar mais em evidência que
outras. “Primeiro porque as cidades-sede são de maior população e economicamente mais
importantes e isso é um critério bastante óbvio. Se você vai repercutir uma matéria, como a
declaração de imposto de renda, por exemplo, porque vou fazer em Tupi, uma cidade pequena,
que não tem uma representatividade política e nem econômica na região? Vou fazer em
Campinas, ou Ribeirão Preto, que têm identificação com os moradores de uma região maior.
Então, é claro, tem o lado mais cômodo de fazer a matéria mais perto e claro que é por causa da
população e economia.”.
Ainda sobre a economia para a própria empresa, utilizando critérios comuns nas três
regiões, Porto diz que o importante é integrar a região, a economia é secundária. “A questão da
economia é 20% da importância, mas como argumento para viabilizar a redinha...Não que isso
142
SANTOS, Boaventura de Souza. Pela mão de Alice: o social e a política na pós-modernidade. São Paulo: Cortez,
1996.
104
seja o objetivo, é porque é mais barato. Isso é secundário. O objetivo é que tenha um conteúdo
mais apurado, uma relevância e uma produção maior para o telespectador da redinha”.
Como Molotch e Lester
143
ponderam, a natureza do media, enquanto organização formal,
enquanto rotinas produtivas na redação, quanto padrões de mobilidade profissional para um
grupo de profissionais e enquanto instituições de criação de lucros, está inextricável e
reflexivamente ligada ao conteúdo das notícias publicadas.
A forma de organização está ligada ao mercado, como adverte Marcondes Filho:
Notícia é a informação transformada em mercadoria com todos os seus apelos
estéticos, emocionais e sensacionais; para isso a informação sobre um
tratamento que a adapta às normas mercadológicas de generalização,
padronização, simplificação e negação dos subjetivismo.
144
Diante da explicação de Ciro Porto, a questão a seguir é se a ênfase proposital a uma
cidade-sede, que tem mais expressividade política e econômica numa região, não restringiria a
cobertura jornalística nessas áreas da EPTV, colocando em risco a eficiência e o objetivo de ser
regional. Para isso, o diretor de jornalismo do grupo responde:
Olha, toda região tem uma cidade que puxa, todo estado tem uma cidade que puxa o
estado, ou seja, as capitais. E toda a região tem essa cidade, então é comum.
Se você estiver viajando e alguém perguntar onde você mora, é normal você responder em
Valinhos, perto de Campinas. Está vendo, você dá a maior cidade como referência. Você não trai
a sua região, seu compromisso, porque você continua a ser regional.
Você acha que o JN já foi em todas as cidades do Brasil? É claro que não, mas ele esta
presente em todas as cidades do Brasil, porque as notícias chegam em todos os lugares do país e
informam as pessoas e elas sabem que estão no país e se identificam. Então, acho impossível
você ter uma cobertura equânime, mesmo com obrigação de fazer um jornal região, a notícia, o
fato, está onde tem mais pessoas, onde é mais economicamente forte.
143
MOLOTCH, Harvey; LESTER, Marlyn. As notícias como procedimento internacional: acerca do uso estratégico
de acontecimentos de rotina, acidentes e escândalos. In: VIZEU JR. Alfredo. Decidindo o que é notícia.
http://bocc.ubi.pt/pag/_texto.php3?html2=vizeu-alfredo-decidindo-noticia-tese.html. Acessado em 04/01/2006.
144
MARCONDES FILHO, Ciro. A opinião no jornalismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1994.
105
As pessoas identificam as regiões. O morador de uma cidade pequena sabe que ele está
numa região mais macro. Ela cumpre o seu papel de ser regional estando presente no dia-a-dia
das cidades, dos fatos relevantes, na cobrança dos poderes; o telespectador se vê na EPTV, vê os
problemas da sua cidade ou região sendo discutidos na EPTV, claro que se você pode perguntar
se ela cumpre da maneira ideal? Não. O ideal é o que se busca. Se você observar, há uma
evolução gigantesca do primeiro jornal até hoje e a tendência é essa daqui para frente, que
evolua sempre. Antes, há dez anos, era um evento entrar ao vivo no jornal regional, hoje é
corriqueiro entrar ao vivo. Ela cumpre sim o papel de ser regional, porque se ela não cumprir,
nenhuma outra emissora na região cumpre”.
Daniela Lemos
145
diz que o tempo de exposição de Campinas se justifica por ser uma praça
maior, que naturalmente tem mais notícias. O tempo de exposição é reforçado nesse outro
gráfico. Ainda usando a mesma metodologia, de acompanhar o jornal durante quatro meses, e
pegando aleatoriamente a segunda semana de cada mês para a análise, constata-se que a produção
de notícias em Campinas é maior que nas outras praças:
Maio
VT Link Nota
Campinas
9 5 1
Ribeirão Preto
5 1
São Carlos
3 1
Brasília
Brasil
São Paulo
1 3
Junho
VT Link Nota
Campinas
8 6
Ribeirão Preto
4 1
São Carlos
3 2
Brasília
2
Brasil
3
São Paulo
1 1
Julho
VT Link Nota
Campinas
11 5 1
145
Daniela Lemos é chefe de reportagem da EPTV Campinas. Concedeu essa entrevista no dia 30 de dezembro de
2005, a este pesquisador. Todas as citações de Daniela Lemos se referem a essa entrevista.
106
Ribeirão Preto
6 2
São Carlos
2 1
Brasília
Brasil
1
São Paulo
Agosto
VT Link Nota
Campinas
11 5
Ribeirão Preto
6
São Carlos
3 1
Brasília
Brasil
4
São Paulo
Daniela Lemos argumenta também que, apesar desse tempo de exposição de Campinas,
não há uma perda significativa para outras praças. “Não há prejuízo para o telespectador,
porque as três praças têm uma formação cultural muito parecida. Essas regiões surgiram com a
cultura do café e se expandiram sob o olhar dos fazendeiros. Apesar de cada praça ter um perfil
diferente, como Campinas desenvolveu a parte tecnológica, São Carlos centrou nas pesquisas
acadêmicas e Ribeirão ficou no agronegócio, mesmo assim, essas regiões têm muito em comum.
Claro que tenho dúvidas se o telespectador de Ribeirão Preto se identifica com a forma de
pensar da população de Campinas, mas quando a gente usa a linguagem desenvolvida aqui, pela
EPTV, essa integração fica mais clara. Portanto, não tem muita dificuldade pra definir o que é
matéria para a redinha, eu sempre ofereço nas reuniões de fechamento de matéria, as
reportagens que abranjam números e reflexos na três praças.
A gente procura o que tem de mais próximo de cada região, por exemplo, se tem um
aumento no número de casos de dengue em Campinas, procuramos os números de Ribeirão
Preto e São Carlos, aí damos o serviço de como está sendo combatida a epidemia e o que deve
ser feito pela população. Isso vale para as três regiões”.
Ainda sobre a escolha de notícias com tema regional, Ciro Porto defende que a região em
que o bloco-rede é exibido é um pequeno país. “Cultura e economia são coisas que têm interesse
107
regional muito grande. Então você vai ter no primeiro bloco, na redinha, um tratamento maior
na matéria, como se a gente tratasse, se a gente tratasse não, a gente trata como se fosse um
pequeno país. Como um estado dentro do estado que tem interesse particular e você dá a
repercussão em nível nacional, como o Jornal Nacional e o Jornal Hoje tratam uma região em
nível nacional. Não é que a gente dite essa norma. Eu conheço hoje a identidade caipira, mas eu
não a conhecia.
Quando nós fomos fazer o “Festival Viola de Todos os Cantos”
146
, por exemplo, entrou um
grupo de catira, que é aquela dança batendo pé, e eu vi, num ginásio, 12 mil pessoas batendo pé
no mesmo ritmo, e falei assim: ‘- Sou eu que estou enfiando catira ‘goela’ abaixo desse povo?
Não sou. Estou apenas refletindo isso’. Não tenho a mínima dúvida, seria essa uma das funções
da televisão: refletir a cultura regional e as notícias que interessam à população local”.
Podemos deduzir pelas entrevistas que os critérios estabelecidos pelos responsáveis do
bloco em rede do Jornal Regional, na hora de selecionar os assuntos, adotam classificações que
tentam buscar uma padronização que já foi elaborada dentro da rotina de fechamento do jornal.
Essas tipificações, ou classificações corroboram com a constatação de Tuchman
147
de que
os jornalistas, para controlarem seu trabalho, desenvolvem tipificações dos fatos que têm como
finalidade padronizar o material.
Tipificação se refere à classificação em que as características relevantes são
básicas para a solução de tarefas práticas ou de problemas que se apresentem e
estejam concluídos e fundados na atividade de todos os dias.
148
Essas rotinas evidenciam uma certa intimidade com a estrutura organizacional da própria
EPTV. E reforçam a linha editorial em que a notícia de televisão é concebida para ser
completamente inteligível quando visionada na sua totalidade. O seu foco é, pois, um tema que
perpassa toda notícia e que se desenrola do início até o meio e do meio até o fim.
146
Um festival nacional de música de raiz e caipira, realizado pela EPTV a partir de 2003.
147
TUCHMAN,Gaye. La produción de la notícia. Estudo sobre la construccíon de la realidad. Barcelona: Gili,
1983.
148
Idem.
108
Critérios para transformar assuntos nacionais em regionais já foram dados nas entrevistas
com Ciro Porto, Luciane Viegas e Daniela Lemos. Quando tomamos um assunto como exemplo,
a tipificação e a visão do regional se manifestam.
4.3 Referendo: agenda-setting x regional
A inclusão ou exclusão reflete o grau de comprometimento de uma emissora regional com
seu território. Quanto maior a inclusão de pautas relacionadas com o território dos indivíduos,
menor a exclusão.
De certa maneira, a inclusão ou a exclusão pode ser interpretada como um
mecanismo de apropriação do efeito de sentido identitário pelo indivíduo, através
do noticiário regional, uma vez que, de um lado, é possível pensar na produção de
significação a partir da relação do conteúdo com seu território[(re)elaboração das
identidades locais e, de outro, na circulação dos conteúdos e suas
significações.
149
Esse mecanismo foca a realidade dos indivíduos, o que proporciona um estado de mundo
disseminado através de processos narrativos do noticiário regional, tornando-se, assim, o
resultado de um universo de opção do público.
Apresentada por McCombs e Shaw
150
e elaborada a partir do estudo da corrida presidencial
dos EUA em 1968, a teoria agenda-setting destaca que os meios de comunicação não possuem a
intenção de persuadir.
149
SHAW, D. 1979. Agenda-Setting and Mass Communication Theory. Gazette (International Journal of Mass
Communication Studies), XXV(2):96-105 apud WOLF, Mauro. Teorias da Comunicção. Lisboa: Editorial Presence,
5ª ed. 1999.
150
McCOMBS, Marwell E., SHAW, Donald L. The evolution of agenda-setting: Twenty five years in the
markerplace ideas. Journal of communication, v 43, nº 2, 1993.
109
O agenda-setting é consideravelmente mais que a clássica asserção que as
notícias nos dizem sobre o que pensar. As notícias também nos dizem como
pensar nisso. Tanto a seleção de objetos que despertam a atenção como a
seleção de enquadramentos para pensar esses objetos são os poderosos papéis
do agenda-setting.
151
De acordo com as noções acima, podemos analisar que a influência dos meios de
comunicação na realidade dos cidadãos não é imediata, mas ocorrerá em alguma passagem da
vida dos indivíduos, ou seja, a identidade é um processo em pleno desenvolvimento e essa
influência também se inscreve no “domínio das cognições, dos conhecimentos, e não das
atitudes”, podendo ser configurada segundo dois níveis: 1- a “ordem do dia” dos temas, assuntos
e problemas presentes na agenda dos mass media; 2- a hierarquia de importância e de prioridade
segundo a qual esses elementos estão dispostos na “ordem do dia”.
Para ter uma aplicação concreta no estudo, fazendo uso das reflexões feitas até agora,
escolheu-se um tema aleatoriamente, discutido no Jornal Regional, no bloco-rede, para perceber
a influência do agenda-setting e a visão dos jornalistas responsáveis pelo bloco, no tratamento de
um tema. O assunto escolhido foi o Referendo sobre a proibição do comércio de armas de fogo
no Brasil.
Para recuperar o caso em um breve histórico, no dia 23 de outubro, decidiu-se nas urnas
sobre o artigo 35 do Estatuto do Desarmamento, que entrou em vigor no dia 22 de dezembro de
2003, proibindo a comercialização de armas de fogo e munição no país. Os eleitores votaram pelo
sim, ou seja, que o país não deveria proibir a venda de armas de fogo no Brasil.
Aprovado integralmente pelo Governo Federal, o Estatuto do Desarmamento restringiu a
posse e o porte de armas no Brasil. O único item "em aberto" do Estatuto foi justamente o que
dizia respeito à venda de armas de fogo. Veja as mudanças provocadas pelo decreto:
O porte de armas em todo o Brasil está proibido, com algumas exceções;
O porte é liberado para os integrantes das Forças Armadas (Exército, Marinha e
Aeronáutica) e das polícias Federal, Militar e Civil, dentro e fora do expediente de
trabalho;
151
Idem.
110
Quem comprovar necessidade especial ou risco à integridade tem autorização para ter a
posse autorizada limitadamente. A autorização será cassada em caso de embriaguez ou
uso de entorpecentes;
Agentes de empresas de segurança poderão andar armados, desde que a lista de
funcionários – com resultados de testes psicológicos – seja enviada semestralmente aos
órgãos competentes. Funcionários demitidos perdem o direito ao porte;
Os residentes de áreas rurais que comprovem depender do emprego de arma de fogo
para o sustento da família têm autorização para o porte de arma de fogo – na categoria
"caçador";
Só poderá comprar munições quem possuir o porte de armas;
O Certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território nacional,
autoriza o proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior da residência
ou local de trabalho, desde que seja o proprietário titular ou o responsável legal pelo
estabelecimento ou empresa;
O certificado de registro de arma de fogo será expedido pela Polícia Federal e estará
sujeito à revisão no prazo máximo de três anos;
A idade mínima para obter o porte de armas subiu de 21 para 25 anos;
A pena para o porte ilegal de armas subiu de um a dois anos de reclusão para dois a
quatro anos de prisão;
O disparo de armas de fogo em local não autorizado prevê pena de dois a quatro anos de
prisão. Antes, não havia nenhum tipo de penalização;
O tráfico de armas não era considerado crime. A partir do Estatuto, a infração pode
provocar pena de quatro a oito anos de prisão e multa;
Todas as munições comercializadas no país deverão estar acomodadas em embalagens
com sistema de código de barras gravado na caixa, visando possibilitar a identificação
do fabricante e de quem comprou, entre outras informações definidas pelo regulamento.
Esse foi um assunto amplamente discutido por toda a sociedade brasileira, pois, como numa
eleição oficial, o voto era obrigatório.
Duas frentes se formaram e tiveram os mesmos direitos de partidos políticos numa
campanha, o que incluiu horário gratuito de propaganda eleitoral em rádio e televisão.
Para fins de metodologia, recortou-se os meses de maio até outubro, de segunda a sexta-
feira, observando o tema no bloco-rede. Pelo gráfico abaixo, percebe-se o aumento da discussão
do assunto, sob a visão regional, à medida que se aproximava a data da votação, 23 de outubro de
2005. Vale ressaltar que, no mês de maio, não houve qualquer citação do tema no bloco-rede.
111
Jornal Regional 1ª edição – bloco-rede
VT
Junho
1
Julho
3
Agosto
1
Setembro
7
Outubro
13
Para Luciane Viegas, o tema merecia cobertura porque poderia colocar no debate a visão
regional sobre o assunto: “No caso do Referendo, o Brasil todo estava falando dele. Em algumas
matérias conseguimos regionalizar o assunto. De que forma? A gente mostrou o que as pessoas
da nossa região pensavam. Fizemos matéria ouvindo nas reportagens os atiradores, donos de
lojas e a população. Pegamos exemplos de moradores das três praças, tentamos colocar
números e pensamentos das regiões de Campinas, Ribeirão e São Carlos.
Acho que valia mostrar como o Referendo ia modificar a vida deles, o problema foi
abordar isso na rede, porque estava muito perto das matérias nacionais.
O que a gente dizia, também, de certa forma, era dito e mostrado no Jornal Hoje, no
Jornal Nacional e no próprio Jornal da Globo.
Nas nossas matérias, a gente pegava um personagem local, mas que poderia ser também
de qualquer parte do mundo. Dar o assunto em rede foi muito difícil. Isso é um prejuízo, porque
não reflete a região, e sim um senso comum nacional. Nesse caso, acho que foi um prejuízo
localmente”.
Para Daniela Lemos existe uma dificuldade grande: trazer o Global e fazê-lo “caber” no
regional/Local. “Antes de tudo, os assuntos, muitas vezes nacionais, devem ser tratados nos
jornais regionais, porque são tão importantes que merecem ser repetidos ao longo da
programação. A forma com que acho que trouxemos alguma coisa da discussão do Referendo
para o nosso jornal foi ouvindo pessoas da nossa região, ouvindo opiniões e o que pensam as
pessoas da nossa região a respeito desse tema. Mas não há como negar que é muito difícil
transformar um assunto nacional, uma polêmica nacional, com um perfil regionalizado. A gente
tenta dessa forma, ouvindo pessoas daqui, o que não é muito diferente do que pensam as pessoas
de outras regiões, mas é como a gente consegue trazer para a nossa região, ouvindo essas
112
pessoas. Pelo menos assim há uma identificação. Não é a mais adequada, mas é a que é mais
possível”.
4.4 Em Síntese
Analisando o desenvolvimento da redinha, a sua estrutura de programação e as entrevistas
realizadas, percebe-se que mesmo o impacto global do assunto sendo discutido em horário
gratuito, nos jornais de rede da emissora, a EPTV, com dificuldades para delimitar um assunto
regional de um Global, manteve o compromisso de informar a população da “redinha”, com uma
linguagem característica e específica para essa região, trazendo as opiniões, pensamentos e os
reflexos desse assunto nas regiões cobertas pela emissora, a partir dos reflexos locais, territoriais.
Logo, a influência local terá, num primeiro momento, mais proporções significativas para a
comunidades, porque pressupõe contornos que expressam em várias dimensões que advém de
uma situação em comum de identidades e raízes histórico-culturais e dos valores introjetados
nessa população.
Numa análise do quadro de reportagens sobre o Referendo, fica evidente a preocupação da
emissora em manter o vínculo com a sua comunidade e evidencia o padrão identitário. Assim
definido por Muniz Sodré:
A mídia conforma o sentido da presença do homem no território em que ele
habita. É o padrão identitário conectado a esses comportamentos e valorizado
pelos meios de comunicação que vai permitir ao indivíduo atingir um
reconhecimento social.
152
152
SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho. Petrópolis: Vozes. 2002.
113
Pelas entrevistas fica clara a busca constante dessa identidade durante a escolha das
matérias para o bloco-rede, embora ela não seja nítida na maioria das vezes.
Ciro Porto argumenta ainda que a EPTV sempre soube absorver as características dessa
região, centrada nas origens agrícolas do passado, na prestação de serviço do presente com a
evolução tecno-industrial que se vislumbra futuro adiante.
Ainda na constituição de oferta de efeito de sentido identitário regional, sob a visão do
bloco-rede, fica claro o perfil credibilidade-identidade, sendo o primeiro fornecedor de
características que mantêm a sobrevivência do grupo no mercado, com a interação e integração
das praças de Ribeirão Preto, Campinas e São Carlos, como o segundo, que permite ao indivíduo
se reconhecer num lugar mais macro que a sua cidade.
Ambos, então, não são excludentes e se articulam na formação da linguagem que abrange
uma região tão igual e tão diferente quanto as três praças paulistas da EPTV interligadas por um
bloco de notícias de um jornal, com um novo território simbólico constituído, unidas nessa
linguagem regional, mantendo uma relação de confiança com o indivíduo.
Sendo assim, é preciso reconhecer que, após a decomposição feita de um todo em suas
partes integrantes, é possível considerar aspectos que merecem destaque na pesquisa e que vão
ser abordados a seguir.
114
Considerações finais
A motivação para realizar este estudo surgiu do interesse em determinar o bloco-rede do
Jornal Regional da EPTV, afiliada da Rede Globo, desvelando, assim, os motivos que levaram
esse grupo de mídia televisiva regional a adotar a formação de um território macrorregional
dentro de um outro, usando as praças de Campinas, Ribeirão Preto, e São Carlos, onde cada uma
delas mantinha a produção regional de um noticiário jornalístico.
A análise enveredou-se, então, na descoberta desse novo território simbólico, cujo limite
deriva-se da tensão entre o global e o local, a noção de identidade, esta vista como um conjunto
de representações entre os indivíduos e o seu território e a relação dele com o noticiário regional
televisivo. Para viabilizar esse assunto, foram retomados da literatura, assim como das
entrevistas, os principais aspectos que podem contrapor-se às constatações obtidas ou se
aproximar delas. Sempre a contribuir com novas abordagens sobre o assunto, à luz da reflexão,
não se espera que o assunto se esgote, mas que se abram novas possibilidades de pesquisa.
Os estudos levantados nesse trabalho apontam que nem sempre a identidade é construída
com rigidez e força, ou somente em pequenas cidades e territórios, onde o senso de historicidade,
tradição e de relações face a face são mais intensas, mas que se pode ter uma harmonia global
reforçando o sentimento de pertencer a um lugar, a uma região.
A presença de uma televisão regional ajuda na articulação e interpretação da cultura
híbrida, própria do processo atual de globalização. O jornalismo praticado pelas emissoras da
EPTV trabalha nesse sentido, de reforçar o sentimento de “pertencimento”, e trabalha na
(re)elaboração da identidade cultural, quando cria o bloco em rede, ou “redinha”, que une as
115
regiões de Campinas, Ribeirão Preto e São Carlos. Essa “criação” de território e,
conseqüentemente, de identidade, se dá à medida que a emissora desenvolve uma linguagem
específica para esses indivíduos, sob a forma de narrativa, e a difunde, tornando-a uma realidade
pública, num instrumento de resgate da memória para fixar a cultura e identidade regionais.
O desenvolvimento da mídia ajudou a criar um mundo em que os campos de interação
podem se tornar globais em escala e em alcance e os passos da transformação social podem ser
acelerados pela velocidade dos fluxos de informação.
Quando falamos em televisão regional podemos pensá-la como um campo em que, além de
representações mentais (língua, sotaque, dialeto, caráter etc.) existem as representações objetais
em coisas (emblemas, bandeiras, hinos, indumentárias etc.) e em atos-estratégias de manipulação
simbólica com o objetivo de determinar representações mentais, as quais, funcionam na prática e
são orientadas para a produção de efeitos sociais.
Sabe-se que as televisões abertas, comerciais, com abrangência nacional, estão presentes no
cotidiano dos brasileiros, e como a cultura se prolifera num território a partir de fluxos contínuos
e rotativos, fica claro o papel da televisão na construção e reconstrução das identidades.
No entanto, Brittos
153
pondera que as emissoras locais de televisão possuem uma posição
específica e destaca na reconstrução das identidades culturais locais, podendo ser repensadas
como mediadoras de identidades mais fraternas, que privilegiam o sujeito.
Na busca de responder à problematização, através das hipóteses, é necessário discorrer
sobre os conceitos dessa dissertação. O elemento fundante desse estudo tem na matriz de toda a
sua estrutura o território. É nele que se concretiza a tensão existente entre o Global e o Local.
É também nesse espaço que os indivíduos se encontram integrados pelas trocas simbólicas,
que dão o efeito de sentido identitário, absorvidas e refletidas pelo bloco - rede do Jornal
Regional. A EPTV, emissora local desse território, desenvolve uma linguagem própria e
específica para essa população, através dos mecanismos descritivos, que possibilita o
desenvolvimento dos sentimentos identitários para a apropriação da recepção local, que se
articulam nesse espaço vivido.
A partir de então, pode-se contribuir com argumentos em direção às respostas que
nortearam esse estudo. Após o levantamento dos dados, constatou-se que o noticiário regional
reflete, através de índices mediadores, os aspectos econômicos, sociais e culturais, da região em
153
BRITTOS, Valério Cruz. Recepção e TV a cabo: a força cultural local. São Leopoldo: Unisinos, 2000.
116
que o grupo de mídia televisiva EPTV atua. A empresa consegue permear o território formado
pelas praças de Campinas, Ribeirão Preto e São Carlos, ofertando o primeiro bloco em rede do
Jornal Regional, possibilitando um efeito de sentido para que os indivíduos consigam
(re)elaborar e interpretá-lo com vistas à constituição de identidades.
Porém, à medida que exclui as cidades que compõem essas regiões e intensifica o noticiário
nas cidades-sede, esses efeitos identitários diminuem, uma vez que as articulações simbólicas são
de caráter local, ligadas às suas raízes culturais e à sua tradição.
Nas entrevistas com os responsáveis pelo bloco em rede aparecem essas dúvidas sobre a
eficiência de informar nesse território, que são compensadas com uma “elasticidade” maior dos
critérios que selecionam as notícias, muitas vezes ultrapassando o limite do local e partindo para
o global. Para conter um número maior de receptores, usa-se o recurso do critério global, com
índices simbólicos locais, como números ou entrevistas de pessoas da região, para dar esse efeito
de local, ainda que de forma parcial. Há a abrangência da audiência do território EPTV. Vale
relembrar as palavras do diretor de jornalismo da EPTV, Ciro Porto, para evidenciar o
argumento: “Você pode perguntar se ela cumpre da maneira ideal? Não. O ideal é o que se busca.
Se você observar, há uma evolução gigantesca do primeiro jornal até hoje e a tendência é essa
daqui para frente, que evolua sempre. Antes, há dez anos, era um evento entrar ao vivo no Jornal
Regional; hoje é corriqueiro entrar ao vivo. Ela cumpre sim o papel de ser regional, porque se ela
não cumprir, nenhuma outra emissora na região cumpre”.
Embora não se tenha uma medida exata se o Global ou o Local se sobressai um em relação
ao outro, vale recordar Ortiz
154
, que admite que, na modernidade atual, os indivíduos possuem,
certamente, referências, mas não propriamente raízes que os fixem no mundo. Em outras
palavras, podemos afirmar que há uma coexistência de vários códigos simbólicos em um grupo,
ou mesmo em um indivíduo e nesse espaço híbrido, do território interligado pela “redinha”, se
produz o efeito de sentido de localidade, de identidade, conjugando num só tempo a fixação
cultural, a demarcação de um novo território, de renovação de tradições e comportamentos
contextualizados dentro da globalização e incorporados através do noticiário da EPTV.
Outro ponto dessa tensão, na constituição do bloco-rede, foi a exposição de uma praça, no
caso Campinas, em detrimento das outras duas, Ribeirão Preto e São Carlos, que formam o
154
ORTIZ, Renato. Um outro território. In: BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. Noticiário regional e a noção de
território: a construção de processos identitários: Tese de doutorado, São Paulo, 2004
117
território EPTV. A praça de Minas foi excluída logo na formação, por se tratar de outro estado e
os critérios teriam que ser ainda mais “elásticos” para conter os indivíduos daquela região.
Sobre a quantidade superior de notícias de Campinas, a argumentação se fundou na
importância política, econômica e social das cidades-sede e no próprio tamanho delas, sendo
fonte “natural” de notícias. A abertura de critérios para hierarquizar as informações foi apontada
como de fundamental relevância.
Identificar os aspectos que unem essas regiões, como a formação cultural à base da
agricultura, a proximidade de fenômenos geopolíticos e principalmente de políticas-
administrativas, garante, ainda que de forma parcial, as características necessárias para o sujeito
se reconhecer e ser reconhecido no espaço onde vive e a sobrevivência da emissora no mercado
jornalístico. As matérias passaram a ser quase estaduais, ora com um caráter global, ora com um
caráter local. Mesmo parecendo excludentes, elas conseguem ainda se articular dentro do
processo da oferta de efeito de sentido.
Além disso, evidencia que mesmo nas dúvidas e incertezas dos critérios adotados pelos
editores e responsáveis pelo bloco-rede, em dias em que não haja os factuais, que motivam uma
abertura “quente” do jornal, a produção e a rotinização do trabalho jornalístico acentuam-se na
mesma intensidade.
A pesquisa revela mais um aspecto importante quando destaca um assunto prático, como o
Referendo sobre a proibição da venda de armas como exemplo de um tratamento de um assunto
global, nacional, e o tratamento regional, dado pela EPTV, para a repercussão do assunto no
território coberto pelo bloco-rede. Mesmo admitindo que o fato era genuinamente nacional, foi
nas palavras de Luciane Viegas que os argumentos se resumiram: “No caso do Referendo, o
Brasil todo estava falando dele. Em algumas matérias conseguimos regionalizar o assunto. De
que forma? A gente mostrou o que as pessoas da nossa região pensavam. Fizemos matéria
ouvindo nas reportagens os atiradores, donos de lojas e a população. Pegamos exemplos de
moradores das três praças, tentamos colocar números e pensamentos das regiões de Campinas,
Ribeirão e São Carlos. Acho que valia mostrar como o Referendo ia modificar a vida deles, o
problema foi abordar isso na rede, porque estava muito perto das matérias nacionais”. Nos
levantamentos de dados e na quantidade de reportagens dadas sobre o assunto, revela-se, no caso
dessa pesquisa, que o Jornal Regional primeira edição, no bloco-rede, apresentou, com a
118
linguagem própria da emissora, como o assunto influenciava os indivíduos do território EPTV e
evidenciou o significado dessa escolha pela população.
Quando se observa o assunto sendo tratado com contornos Globais e Regionais, lembra-se
da afirmação de McCombs e Shaw
155
, de que os sujeitos têm a tendência para incluir ou excluir
“dos seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou excluem do seu próprio
conteúdo”, referenciando a teoria do Agenda-setting. Elemento esse que faz uso dos mecanismos
da apropriação de efeito de sentido identitário pelo indivíduo através do bloco-rede do Jornal
Regional. Sendo possível pensar na produção de significação, começando pela relação do
conteúdo com seu território (re)elaborado pelas identidades locais e na circulação dos conteúdos
e suas significações. A discussão do Referendo, num âmbito regional ajudado pelo mecanismo da
agenda-setting , focado na realidade da população das regiões de Campinas, Ribeirão Preto e São
Carlos, aflora um estado de mundo disseminado através de processo narrativos da própria
emissora, tornando-se, assim o resultado de um universo de opção desses indivíduos. O impacto
regional, então, terá sempre proporções mais significativas para a comunidade, levando em conta
a expressividade de suas dimensões na vida diária dos cidadãos, na composição de suas
identidades histórico-culturais.
Fica claro neste estudo que a economia para a empresa é apontada por todos os
responsáveis pelo bloco-rede. Nas palavras de Ciro Porto: “A questão da economia é 20% da
importância, mas como argumento para viabilizar a redinha...não que isso seja o objetivo porque
é mais barato. Isso é secundário. O objetivo é que tenha um conteúdo mais apurado, uma
relevância e uma produção maior para o telespectador da redinha”. Para Luciane Viegas há uma
economia, pois evita que cada praça produza uma mesma matéria, mas que esse também não
chega a ser o principal motivo.
Isso posto, e se as linhas dessa argumentação estiverem corretas, conclui-se que, no
momento em que a notícia é produzida em novos territórios, existe em tamanhos diferentes uma
tensão de como é abordada sob a ótica Global x Regional/Local. Isso fica evidente na oferta de
efeito de sentido identitário, que vai (re)elaborando significações à medida que os limites do
155
McCOMBS, Marwell E. , SHAW, Donald L. The evolution of agenda-setting: twenty five years in the
marketplace ideas. Journal of Comunication, v 43, nº 2, 1993. In BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. Noticiário
regional e a noção de território: a construção de processos identitários: Tese de doutorado, São Paulo, 2000.
119
território se alargam ou estreitam. Com a criação do bloco-rede do Jornal Regional Primeira
edição, da EPTV, a emissora cria um mecanismo de narrativas simbólicas unindo igualdades
dessas regiões, criando novos critérios de identificação cultural.
Ainda que de forma parcial, excluindo as pequenas cidades e concentrando a cobertura
nas cidades-pólo, a EPTV consegue manter o compromisso de manter informados os indivíduos
desse território, dando contorno ora global, ora regional para a produção de notícias. Quando
adota critérios de colocar matérias de abrangência estadual, mas que interferem no cotidiano dos
indivíduos do território EPTV, ouvindo os cidadãos dessa região e refletindo os números dessas
três praças, esse compromisso é (re)significado, ofertando um sentido de identidade.
Até essa ocasião, espera-se ter compreendido um pouco mais o papel do bloco-rede na
constituição de identidades e territórios, refletindo os contornos globais e regionais/locais.
É importante registrar que não se podem prever os reflexos na recepção, o que demandaria
outra pesquisa e outro enfoque, mas à medida que a padronização, as referências, critérios e
territórios se fortalecem no caminho da regionalização, os laços comunitários, culturais, políticos
e econômicos se solidificam e trazem novas luzes à formação social das regiões.
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