Download PDF
ads:
TAIS FRANCISCO PAVANELLI
Avaliação da produção de citocinas inflamatórias após estimulação por
lipoproteína L32 (LipL32), lipopolissacarídeo (LPS) e lipopeptídeo ativador
de monócitos – 2 (MALP-2) e expressão de receptores de superfície em
monócitos de pacientes com leptospirose.
São Paulo
2008
Tese apresentada à Universidade Federal
de São Paulo Escola Paulista de
Medicina, para obtenção do Título de
Mestre em Ciências
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
TAIS FRANCISCO PAVANELLI
Avaliação da produção de citocinas inflamatórias após estimulação por
lipoproteína L32 (LipL32), lipopolissacarídeo (LPS) e lipopeptídeo ativador
de monócitos – 2 (MALP-2) e expressão de receptores de superfície em
monócitos de pacientes com leptospirose.
Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Salomão
São Paulo
2008
Tese apresentada à Universidade Federal
de São Paulo Escola Paulista de
Medicina, para obtenção do Título de
Mestre em Ciências
ads:
Pavanelli, Tais Francisco
Avaliação da produção de citocinas inflamatórias após
estimulação por lipoproteína L32 (LipL32), lipopolissacarídeo (LPS) e
lipopeptídeo ativador de monócitos – 2 (MALP-2) e expressão de
receptores de superfície em monócitos de pacientes com leptospirose.
/Tais Francisco Pavanelli. São Paulo, 2008.
63f.
Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola
Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Infectologia.
Título em inglês: Production of inflammatory cytokines after
lipoprotein L32 (LipL32), lipopolysaccharide (LPS) and macrophage-
activating lipopeptide-2 (MALP-2) stimulation and evaluation of superficial
receptors expression on monocytes of infected patients with leptospirosis.
1. Leptospirose 2. Monócitos 3. Lipoproteína L32
4. Citocinas 5. Imunofenotipagem 6. Citometria de fluxo
iii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA
DEPARTAMENTO DE MEDICINA
DISCIPLINA DE INFECTOLOGIA
Chefe do Departamento: Prof. Dr Angelo Amato Vincenzo de Paola
Coordenador do Curso de Pós-graduação: Prof. Dr. Ricardo Sobhie Diaz
iv
TAIS FRANCISCO PAVANELLI
Avaliação da produção de citocinas inflamatórias após estimulação por
lipoproteína L32 (LipL32), lipopolissacarídeo (LPS) e lipopeptídeo ativador
de monócitos – 2 (MALP-2) e expressão de receptores de superfície em
monócitos de pacientes com leptospirose.
Presidente da Banca:
Prof. Dr. Reinaldo Salomão
BANCA EXAMINADORA
TITULARES
Prof. Dr. Antônio Carlos Seguro
Prof. Dr. Niels Olsen Saraiva Câmara
Dra. Milena Karina Coló Brunialti
SUPLENTES
Profa. Dra. Márcia Marinho
v
Dedicatória
DedicatóriaDedicatória
Dedicatória
Aos meus pais
, meu irmão e meu noivo
pelo
amor ilimitado... Compartilho com vocês a
alegria e a honra deste importante passo na
minha vida.
vi
Agradecimentos
À Deus, que possibilitou-me a conclusão desta etapa muito importante da minha vida,
permitindo assim a realização de um sonho.
Ao orientador e amigo Prof. Dr. Reinaldo Salomão pela paciência e sobretudo pela
oportunidade de concretização desta pesquisa. Com certeza, o pesquisador mais brilhante que
conheci.
À amiga Dra. Milena K. C. Brunialti, pela fascinante dedicação, competência e
incentivo todos os momentos deste trabalho.
Aos amigos do Laboratório de Imunologia I, em especial, Aline J. Barbosa, Natália E.
Gomes, Leandro S.W. Martos, Maria da Luz Fernandes, Viviane K. Alves, Sidnéia S. Souza,
Marialice E. Mendes e Amanda B. Alves. Sempre lembrarei de nossos bons momentos juntos e
da ajuda oferecida nos momentos difíceis.
Ao meu noivo, Vitor, pelo grande incentivo, paciência e amor dedicados durante a
concretização desta etapa.
Aos amigos Glaucia D. Mahana e Carlos P. A. Melo, hoje colegas de trabalho, por
sempre acreditarem em mim e me ajudarem na realização do meu maior sonho.
Ao Laboratório Central do Hospital São Paulo, por permitir a conclusão dos meus
experimentos.
Obrigada a todos.
vii
Sumário
Dedicatória………………………………………………………………………………..
v
Agradecimentos…………………………………………………………………............
vi
Lista de figuras....................................................................................................... ix
Lista de quadros..................................................................................................... x
Lista de tabelas...................................................................................................... xi
Lista de abreviaturas.............................................................................................. xii
Resumo.................................................................................................................. xiii
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 1
1.1 Epidemiologia, etiologia e transmissão da leptospirose...................................
2
1.2 Aspectos clínicos e patogênese……………………………..…………………….
3
2 OBJETIVOS........................................................................................................ 7
3 MATERIAIS......................................................................................................... 9
3.1 Anticorpos e corantes...................................................................................... 10
3.2 Aparelhos e Programas................................................................................... 10
3.3 Reagentes e estímulos…………………………………………………………….. 11
3.4 Soluções e meio de cultura.............................................................................. 11
4 MÉTODOS.......................................................................................................... 13
4.1 Pacientes e voluntários sadios……………………………………………………. 14
4.1.1 Grupo de pacientes com leptospirose e indivíduos sadios........................... 14
4.1.2 Critérios de inclusão………………………………………………………………
14
4.1.3 Critérios de exclusão…………………………………………………………….. 14
4.2 Coleta de amostra………………………………………………………………….. 15
4.2.1 Separação de células mononucleares do sangue periférico......................... 15
4.2.2 Congelamento das amostras…………………………………………………….
16
4.2.3 Descongelamento das amostras……………………………………………….. 16
4.3 Verificação da viabilidade de células CD14+................................................... 16
4.3.1 Aquisição de dados em citômetro de fluxo.................................................... 17
4.3.2 Análise da viabilidade celular com 7-AAD..................................................... 18
4.4 Curva dose-resposta de MALP-2……………………………………………........ 20
4.4.1 Aquisição e análise de dados em citômetro de fluxo.................................... 20
viii
4.5 Curva dose-resposta de LipL32…………………………………………………... 22
4.5.1 Aquisição e análise de dados em citômetro de fluxo.................................... 23
4.6 Estimulação in vitro de células mononucleares do sangue periférico para
detecção intracelular de citocinas em monócitos de pacientes e indivíduos
sadios.....................................................................................................................
25
4.7 Imunofenotipagem de monócitos de pacientes e indivíduos sadios através
da citometria de fluxo.............................................................................................
26
4.7.1 Aquisição e análise de dados para imunofenotipagem................................. 26
4.8 Análise estatística.............................................................................................
28
5 RESULTADOS.................................................................................................... 29
5.1 Detecção da produção de citocinas inflamatórias intracelulares (IL-6 e TNF-
α) por monócitos induzidas por LPS, MALP-2 e LipL32.........................................
30
5.1.1 Produção de IL-6…………………………………………………………………. 30
5.1.2 Produção de TNF-α induzida por LPS, MALP-2 e LipL32.............................
32
5.2 Imunofenotipagem de monócitos de pacientes e indivíduos sadios................ 34
5.2.1 Expressão de TLR2, TLR4 e CD14............................................................... 34
6 DISCUSSÃO....................................................................................................... 38
7 CONCLUSÕES................................................................................................... 42
8 REFERÊNCIAS................................................................................................... 44
Abstract 50
ix
Lista de figuras
Figura 1.
Estratégia de aquisição de monócitos em CMSP................................... 18
Figura 2.
Análise da viabilidade de monócitos após descongelamento................. 19
Figura 3.
Porcentagem de monócitos viáveis após descongelamento.................. 19
Figura 4.
Curva dose-resposta de MALP-2 para indução de IL-6 e TNF-α
intracelular...............................................................................................
21
Figura 5.
Média da porcentagem da produção de IL-6 e TNF-α intracelular em
monócitos após estimulação com diferentes concentrações de
MALP-2...................................................................................................
22
Figura 6.
Curva dose-resposta de LipL32 para indução de IL-6 e TNF-α
intracelular...............................................................................................
24
Figura 7.
Porcentagem da produção de IL-6 e TNF-α intracelular em monócitos
após estimulação com diferentes concentrações de LipL32..................
25
Figura 8.
Intensidade de expressão dos receptores TLR2 e TRL4........................
27
Figura 9.
Intensidade de expressão do receptor CD14..........................................
28
Figura 10.
Produção de IL-6 intracelular induzida por LPS (caixas em branco),
MALP-2 (caixas em cinza) e LipL32 (caixas em hachurado) em
monócitos de indivíduos sadios e pacientes com leptospirose...............
31
Figura 11.
Produção de TNF-α intracelular induzida por LPS (caixas em branco),
MALP-2 (caixas em cinza) e LipL32 (caixas em hachurado) em
monócitos de indivíduos sadios e pacientes com leptospirose...............
33
Figura 12.
Expressão de TLR2 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes
com leptospirose.....................................................................................
35
Figura 13.
Expressão de TLR4 em monócitos de indiduos sadios e pacientes
com leptospirose....................................................................................
36
Figura 14.
Expressão de CD14 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes
com leptospirose....................................................................................
37
x
Lista de quadros
Quadro 1.
Características clínicas e epidemiológicas dos pacientes com
leptospirose.............................................................................................
15
xi
Lista de tabelas
Tabela 1.
Anticorpos e corantes utilizados nos experimentos................................ 10
Tabela 2.
Painel de anticorpos monoclonais...........................................................
26
Tabela 3.
Produção de IL-6 intracelular induzida por LPS, MALP-2 e LipL32 em
monócitos de indivíduos sadios e pacientes com leptospirose...............
31
Tabela 4.
Produção de TNF-α intracelular induzida por LPS, MALP-2 e LipL32
em monócitos de indivíduos sadios e pacientes com leptospirose.........
33
Tabela 5.
Expressão de TLR2 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes
com leptospirose.....................................................................................
35
Tabela 6.
Expressão de TLR4 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes
com leptospirose.....................................................................................
36
Tabela 7.
Expressão de CD14 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes
com leptospirose.....................................................................................
37
xii
Lista de abreviaturas
APC
aloficocianina
BD
Becton Dickinson
BSA
albumina bovina sérica
CD
cluster of differentiation
CMSP
células mononucleares do sangue periférico
DMSO
dimetil sulfóxido
FCS
soro fetal bovino
FITC
fluoresceína isotiocianato
FL
fosfolipídeo
GLP
glicoproteína
IFN-γ
γγ
γ
interferon - gama
IL-10
interleucina - 10
IL-6
interleucina - 6
Lip
lipoproteínas
LPS
lipopolissacarídeo
M
Molaridade
MALP-2
lipopeptídeo ativador de monócitos – 2
µL
microlitro
mg
miligrama
min
minuto
mL
mililitro
o
C
graus Celsius
PE
ficoeritrina
PG
peptídeoglicano
TLR2
Toll-like receptor 2
TLR4
Toll-like receptor 4
TNF-α
αα
α
fator de necrose tumoral – alfa
xiii
Resumo
A leptospirose constitui uma importante zoonose, encontrada em regiões de
clima tropical, ocorrendo principalmente em épocas chuvosas. O controle da infecção
depende do adequado reconhecimento do microorganismo pelos receptores de
reconhecimento de padrão de patógenos, os TLRs, presentes nas células do sistema
imune inato do hospedeiro. A ativação dos TLRs é fundamental para o
desencadeamento da resposta inflamatória, mediadora da resposta de proteção e de
lesão no processo infeccioso. Objetivos: Avaliar a expressão dos receptores TLR2,
TLR4 e CD14 na superfície de monócitos e a resposta in vitro aos estímulos LipL32
(extraído de Leptospira sp.), MALP-2 (antígeno sintético de Mycoplasma fermentans) e
LPS (antígeno extraído de Salmonella abortus equi) ligantes dos TLRs, medida pela
produção de citocinas, em pacientes com leptospirose. Métodos: Foram incluídos 07
pacientes com quadro clínico e laboratorial de leptospirose e 07 voluntários sadios,
utilizados como controle. As células mononucleares do sangue periférico (CMSP) foram
separadas utilizando ficoll-paque, congeladas e armazenadas em nitrogênio líquido.
Após descongelamento, verificação da viabilidade e acerto da concentração de células
para 1x10
6
células/mL foi mensurada a expressão de TLR2, TLR4 e CD14 na superfície
de monócitos. O restante da suspensão de células foi incubada por 6 horas com os
estímulos de 1000ng/mL de LipL32, 0,4U/mL de MALP-2 ou 100ng/mL de LPS. Após a
primeira hora de incubação foi adicionado monensina para bloqueio da secreção de
citocina. Em seguida, as CMSP foram marcadas com CD14, fixadas, permeabilizadas e
expostas aos anticorpos anti-IL-6 e anti-TNF-α para detecção intracelular da produção
destas citocinas inflamatórias nos monócitos. Foram adquiridos 10.000 eventos
combinado-se morfologia e positividade para CD14 em citometria de fluxo.
Resultados: o foi observada diferença significativa na resposta inflamatória entre
pacientes com leptospirose e voluntários sadios quando CMSP foram estimuladas in
vitro com MALP-2 e LipL32 para indução da produção de citocinas inflamatórias (IL-6 e
TNF-α) em monócitos. Todavia, a produção de TNF-α foi menor após estímulo com
LPS (p=0,035), o que não ocorreu com a produção de IL-6. Em relação à expressão de
receptores de superfície, foi observado aumento da expressão de TLR2 (p=0,025) na
superfície de monócitos dos pacientes, porém não houve diferença na expressão de
TLR4 e CD14. Conclusões: Neste estudo demonstramos que a capacidade de
reconhecimento de antígenos pelos monócitos do sangue periférico de pacientes com
leptospirose está preservada ou aumentada. Além disso, observamos que a produção
de citocinas inflamatórias frente a antígeno da própria Leptospira (LipL32) e outro
antígeno agonista de TLR2 (MALP-2) está mantida. Entretanto, a produção de citocina
inflamatória frente ao LPS (agonista de TLR4) mostrou-se complexa podendo estar
influenciada pela tolerância cruzada.
1.
1. 1.
1. Introdução
IntroduçãoIntrodução
Introdução
2
1.1 Epidemiologia, Etiologia e Transmissão da Leptospirose
A leptospirose constitui uma das zoonoses mundialmente mais importantes,
comumente encontrada em regiões de clima tropical, ocorrendo principalmente em
épocas chuvosas. É uma doença causada por espiroquetas patogênicas do gênero
Leptospira, pertencente à família Leptospiraceae.
(3,9-11)
As leptospiras são microorganismos aeróbios obrigatórios, helicoidais, flexíveis e
móveis. Estas são individualizadas em sorotipos com base nas suas características
antigênicas. Dois ou mais sorotipos antigenicamente relacionados formam um
sorogrupo.
(3,22)
No Brasil, são mais freqüentes os sorogrupos icterohemorrhagiae,
copenhageni e canícola.
(21)
São bactérias altamente invasivas, capazes de infectar os hospedeiros,
principalmente mamíferos selvagens ou domésticos, instalando-se nos túbulos
contornados proximais dos rins desses animais.
(13,21-22)
O principal animal reservatório
das leptospiroses é o rato, pois é capaz de permanecer eliminando o microorganismo
pela urina por toda sua vida, constituindo-se um portador universal. A transmissão ao
homem pode ocorrer por contato direto com sangue, tecidos, órgãos ou urina de
animais infectados ou, por via indireta, através do contato com água ou solo
contaminados com a urina dos portadores.
(2,3,14,21,24)
Lesões em pele ou conjuntiva são as principais portas de entrada das bactérias,
mas, a contaminação também pode se dar com o epitélio intacto, se o hospedeiro se
mantiver imerso na água por um longo período, com inalação de água ou aerossóis,
que podem resultar na infecção das membranas do trato respiratório, através de
mordidas de animais e transmissão entre humanos, sendo os dois últimos exemplos
extremamente raros.
(3,21)
Apesar de a leptospirose manter-se associada à exposição ocupacional,
acometendo comumente trabalhadores rurais, pescadores, garimpeiros e mineradores,
sua epidemiologia está se modificando.
(19,25,29)
A mudança do contexto rural para
urbano ocorre em paralelo ao aumento da freqüência do sorogrupo
icterohaemorrhagiae, carreado especialmente por roedores nos grandes centros.
(4,37)
As enchentes e chuvas fortes favorecem, em nosso meio, o contato do homem
com as águas contaminadas. Sendo assim, no Brasil, a incidência é maior no período
de janeiro a abril, quando ocorrem cerca de 70% dos casos.
(22)
3
Em São Paulo e Salvador, a leptospirose relaciona-se a condições sócio-
econômicas desfavoráveis, devido ao alagamento das zonas urbanas com baixas
condições sanitárias.
(8,20,31)
1.2 Aspectos Clínicos e Patogênese
A doença pode se manifestar de várias formas, desde quadros
oligossintomáticos aparentando uma gripe, passando por formas anictéricas de
gravidade moderada, como meningite, até formas graves, como síndrome hemorrágica
pulmonar. Estas cursam com icterícia, fenômenos hemorrágicos e múltiplas disfunções
orgânicas e o conhecidas como síndrome de Weil.
(23,39)
Pacientes acometidos pelas
formas graves da leptospirose mostram quadro similar àquele apresentado por
indivíduos com sepse grave por bactérias Gram-positivas ou Gram-negativas, com
febre, taquicardia, taquipnéia, leucocitose, hipotensão e disfunções orgânicas diversas,
como insuficiência renal aguda, coma, coagulopatia e icterícia. Este quadro pode ser
caracterizado como síndrome da resposta inflamatória sistêmica por leptospirose.
(22,28)
As alterações patológicas presentes nestes pacientes são pouco intensas em
comparação ao grau de disfunção orgânica observado, sendo que as lesões são de
caráter mais focal em sua maioria. As alterações tissulares mostram, por
imunohistoquímica, a presença de depósitos de antígenos bacterianos nos locais de
lesão e poucas ou nenhuma bactéria íntegra.
(14)
As lesões apresentam características
de lesão de membranas celulares, concentradas principalmente no endotélio vascular
de pequenos vasos, levando ao extravasamento de células e plasma para o interstício
dos tecidos e podendo chegar até a hemorragias graves. Estes fatos sugerem que as
lesões patológicas da leptospirose sejam causadas por um ou mais fatores tóxicos da
bactéria associados a sua capacidade de aderência aos lípides da membrana celular. A
adesão de leptospiras à membrana celular de diversos tipos de células precede o
aparecimento de lesões celulares.
(22,33,34)
A caracterização dos diversos componentes de efeito xico presentes nas
leptospiras, tais como as lipoproteínas (Lip), a glicoproteína (GLP), o lipopolissacarídeo
(LPS), o fosfolipídeo (FL) e o peptídeoglicano (PG) e a avaliação da resposta
inflamatória são importantes aspectos investigativos nesta doença.
(12,14,22)
4
As lipoproteínas, constituintes externos da membrana das leptospiras, são
consideradas potentes agentes imunogênicos.
(10,39)
Dentre elas, a LipL21 é a segunda
lipoproteína mais abundante, além de ser encontrada em cerca de 90% das espécies
saprofíticas.
(10)
A LipL32 tem grande destaque por ser encontrada em maior quantidade
na bactéria patogênica. Guerreiro et al. demonstraram que esta é altamente expressa e
conservada em espécies patogênicas de Leptospira, além de ser a lipoproteína
antigênica imunodominante reconhecida pela resposta humoral na infecção natural por
leptospirose.
(9,15,18,40)
A GLP, isolada de leptospiras patogênicas, mostrou-se tóxica para lulas em
cultura e animais.
(37)
O efeito tóxico parece ocorrer sobre a membrana celular, mas seu
mecanismo íntimo não está esclarecido. Tal citotoxicidade da GLP parece estar
relacionada à presença de ácidos graxos, como por exemplo, o ácido hexadecanóico,
que, na sua forma livre ou ligado a um fosfolípide, produziria lesões na membrana
celular. possibilidade de que a GLP possa ser a toxina comum às L. interrogans, e
que participaria das lesões vasculares, renais e tamm de outros órgãos, agindo de
maneira similar a endotoxina dos bacilos Gram-negativos.
(2,12,22,24)
O LPS isolado de L interrogans tem ação biológica similar à do LPS de bactérias
gram-negativas, porém, sua potência é cerca de 12 a 20 vezes menor.
(26)
Todavia,
diferente do LPS dos gram-negativos, o LPS de L. interrogans provoca lesão hepática
em animais, que se prolonga por vários dias. Este efeito é acompanhado do aumento
dos níveis plasmáticos de citocinas pró-inflamatórias via estimulação de macrófagos e
monócitos. Embora haja semelhança entre os dois tipos de LPS, o LPS de leptospira
não possui o ácido 2-ceto-3-deoxiotônico nem o ácido hidroximirístico. O mesmo
apresenta conteúdo protéico maior que o LPS de Gram-negativos.
(38)
Werts et al.
demonstraram que o LPS das leptospiras desencadeia a atividade dos macrófagos
principalmente através do CD14 e receptores do tipo Toll 2 (TLR2), ao contrário das
bactérias gram-negativas, cujos componentes de reconhecimento são os receptores do
tipo Toll 4 (TLR4), porém este mecanismo está não está completamente elucidado na
literatura. bastante interesse também em respostas cruzadas das células dos
pacientes com leptospirose a outros compostos bacterianos, como LPS de bactérias
gram-negativas e MALP-2, presente em Mycoplasma fermentans, agonista de TLR2/6.
(40,41)
5
Através dos componentes patogênicos derivados das leptospiras, indução de
citocinas pró-inflamatórias e também antiinflamatórias. Tais citocinas são liberadas
como resposta mediadora do hospedeiro frente ao desenvolvimento da doença.
(35)
Como na sepse por bactérias gram-positivas e gram-negativas acredita-se que
as citocinas inflamatórias tenham um papel fundamental na fisiopatologia da
leptospirose. Dentre as citocinas pró-inflamatórias, a interleucina - 6 (IL-6), produzida
por fagócitos mononucleares ativados, células endoteliais e fibroblastos, estimula a
síntese de proteínas de fase aguda pelos hepatócitos, bem como o crescimento de
linfócitos B que produzem anticorpos, e o fator de necrose tumoral - alfa (TNF-α),
produzido principalmente por fagócitos mononucleares ativados, estimula as células
endoteliais vasculares a expressarem novas moléculas de adesão, induz macrófagos e
células endoteliais a produzirem quimiocinas e promove apoptose de células alvo. Em
infecções graves, exerce efeitos sistêmicos, incluindo a indução de febre, síntese de
proteínas de fase aguda e caquexia.
(1)
De Fost et al. demonstraram que L. Interrogans
serovar rachmati induz a produção de IFN-γ e TNF-α in vitro, estabelecendo assim que
leptospiras patogênicas podem estimular a produção de citocinas tipo I, envolvidas na
imunidade celular.
(11)
Níveis elevados de TNF-α foram inicialmente associados com a reação de
Jarisch-Herxheimer na leptospirose.
(16)
Posteriormente, níveis circulantes foram
detectados, observando-se associação entre a elevação desta citocina e uma maior
taxa de gravidade e mortalidade da leptospirose.
(36)
Em investigações conduzidas por
nosso grupo, demonstramos que a GLP induziu a produção de citocinas inflamatórias e
anti-inflamatórias em células mononucleares do sangue periférico e que os monócitos
eram ativados, pela detecção de IL-6 e TNF-α intracelular.
(12,13)
Estes achados indicam
que GLP leva a indução de citocinas que são essenciais ao controle da infecção e
podem estar envolvidas na patogênese das lesões nos tecidos afetados pela
Leptospira sp.
(13)
Diversos estudos avaliando a atividade biológica de componentes tóxicos da
Leptospira foram conduzidos em células de animais ou de voluntários sadios. Estudos
conduzidos em células do sangue periférico de pacientes com sepse causada por
bactérias gram-negativas e gram-positivas mostram que essas sofrem modulação da
resposta a antígenos bacterianos, como o LPS, durante o curso da doença.
(6)
Todavia,
6
não estudos conduzidos avaliando a adaptação celular em células do sangue
periférico de pacientes com leptospirose, que foi objeto dessa investigação.
7
2.
2. 2.
2. Objetivos
Objetivos Objetivos
Objetivos
8
O objetivo deste estudo foi avaliar a resposta inflamatória na fase aguda da
leptospirose, através da produção de citocinas inflamatórias frente a diferentes
estímulos e expressão de receptores na superfície celular.
Para tanto foram investigados:
1. A produção de citocinas inflamatórias, IL-6 e TNF-α, frente aos estímulos LPS,
MALP-2 e LipL32 em monócitos.
2. A expressão dos receptores TLR2, TLR4 e CD14 na superfície de monócitos.
9
3.
3. 3.
3. Materiais
MateriaisMateriais
Materiais
10
3.1 Anticorpos e corantes
Tabela 1: Anticorpos e corantes utilizados nos experimentos.
Anticorpo Quantidade
(µl)
Clone Isotipo Fabricante
CD14-FITC
2
5
MφP9
mIgG
2b
BD Bioscience
TLR2-PE
3
10 TL2.1 mIgG
2a
eBioscience
TLR4-PE 20 HTA125 mIgG
2a
eBioscience
TNF-α-APC 2 MAb11 mIgG
1
BD Bioscience Pharmingen
IL6-PE 10 AS12 mIgG
1
BD Bioscience
7-AAD 5 - - BD Bioscience
1. APC: aloficocianina
2. FITC: fluoresceína isotiocianato
3. PE: ficoeritrina
3.2 Aparelhos e Programas
Citômetro de fluxo - BD FACSCalibur (BD Bioscences)
A leitura das amostras foi realizada em citômetro de fluxo FACSCalibur (BD
Bioscience) equipado com dois laseres, um de argônio e outro de diodo, com emissão
de comprimentos de onda de 488nm e 633nm, respectivamente. O laser de argônio
possibilita a excitação de três fluorocromos: FITC, PE e PerCP. O laser de diodo excita
o fluorocromo APC. A detecção das fluorescências foi feita em escala logarítmica. As
dispersões frontal e lateral de luz detectam, sem auxilio de fluorescência, tamanho e
complexidade celular, respectivamente. A dispersão frontal e lateral de luz foram
observadas em escala linear. Desta forma foi possível detectar até seis parâmetros
para cada evento adquirido, sendo que cada evento foi considerado como uma célula.
A detecção de cada parâmetro e compensação entre os canais de fluorescências foram
acertados para aperfeiçoar a aquisição de eventos. O citômetro é acoplado a unidade
constituída por um microcomputador Macintosh Power PC, modelo G4 (Apple
Computer Inc.), que permite controle sobre o citômetro e armazenamento dos dados
em arquivo.
Cell Quest
TM
Software versão 3.3 (BD Biosciences)
11
3.3 Reagentes e estímulos
LipL32
Proteína recombinante de leptospira, obtida conforme Haake, et al., 2002. Gentilmente
cedida pelo Dr Albert I. Ko, Fundação Oswaldo Cruz, Bahia, Brasil.
(19)
MALP-2 (Lipopeptídeo-2 ativador de macrófago)
Sintético, 50 µg/500 µL corresponde a 1x10
7
unidades.Reconstuído em PBS 5% BSA,
conforme instruções do fabricante (Aléxis Biochemicals).
(17)
LPS de Salmonella abortus equi
Obtido pelo método do fenol-água e purificado com fenol, clorofórmio e éter de
petróleo, gentilmente cedido pelo Dr Chris Galanos, Instituto Max-Planck de
Imunobiologia, Freiburg, Alemanha.
Monensina – 1mM (Sigma)
3.4 Soluções e meio de cultura
Albumina bovina sérica (BSA – Sigma)
Corante trypan blue
Trypan blue (Sigma) 0,1% em PBS
Meio de congelamento celular
Soro bovino fetal 10% Dimetil sulfóxido (DMSO – Calbiochem)
Meio de cultura RPMI 1640 pH 7,0
Meio RPMI 1640 autoclavável (Sigma), Penicilina G 10 IU/mL (Gibco), Estreptomicina
sulfatada 10 ug/mL (Gibco), L-glutamina 200 mM (Sigma)
12
PBS 0,15M pH 7,2
NaCl 0,286M (Merck), KH
2
PO
4
2,95mM (LabSynth), Na
2
HPO
4
16,4mM (LabSynth), KCl
5,56mM (LabSynth)
PBS 1% azida sódica
Azida sódica 1% (Sigma) diluído em PBS
Solução de lise BD
TM
(BD Bioscences)
Tampão de fixação pH 7,4-7,6
Paraformaldeído 4% (Polysciences) diluído em PBS
Tampão de marcação pH 7,4-7,6
Soro bovino fetal 1% (FCS – Gibco), azida sódica 0,1% diluídos em PBS
Tampão de permeabilização pH 7,4-7,6
Soro bovino fetal 1%, saponina 0,1% (Sigma), azida sódica 0,1% diluídos em PBS
13
4. M
4. M 4. M
4. Métodos
étodosétodos
étodos
14
4.1 Pacientes e voluntários sadios
4.1.1 Grupo de pacientes com leptospirose e indivíduos sadios
Voluntários sadios e pacientes foram incluídos no estudo após assinatura do
termo de consentimento livre e esclarecido por eles mesmos ou responsáveis. O
estudo obteve a aprovação dos Comitês de Ética do Hospital Santa Marcelina e
Hospital São Paulo/UNIFESP.
Voluntários: 07 indivíduos sadios, sem uso de medicamentos, foram pareados
por gênero e idade em relação aos pacientes.
Pacientes: 07 pacientes com quadro clínico e laboratorial de leptospirose,
admitidos no Hospital Santa Marcelina, na cidade de São Paulo. Todos os pacientes
incluídos são do sexo masculino. As demais características estão no quadro 1.
4.1.2 Critérios de inclusão
Pacientes com quadro cnico e laboratorial de leptospirose, com menos de 48
horas de admissão hospitalar.
Pacientes sem histórico de imunodeficncia.
O diagnóstico de leptospirose foi confirmado por sorologia ou isolamento de
leptospira.
4.1.3 Critérios de exclusão
Pacientes menores de 18 anos ou com doença em estádio terminal, como
neoplasias ou Aids.
Pacientes que receberam alguma terapia experimental.
O evento definidor da leptospirose ocorrido há mais de 48 horas.
15
Quadro 1: Características cnicas e epidemiológicas dos pacientes com leptospirose
Paciente
Idade Epidemiologia Início dos
Sintomas*
Alterações
em Urina I
Confirmação
Sorológica
Evolução
01
22 Exposição a
enchente
03 dias Hematúria e
leucocitúria
1ª amostra
positiva
Disfunção
renal
02
16 Exposição a
enchente
06 dias Hematúria e
proteinúria
1ª amostra
positiva
Sem
disfunção
03
31 Exposição a
ratos
10 dias Sem
alterações
1ª amostra
positiva
Sem
disfunção
04
40 Exposição a
ratos e
profissional
07 dias Hematúria,
leucocitúria e
proteinúria
1ª amostra
positiva
Insuficiência
respiratória e
renal
05
16 Exposição a
ratos
06 dias Hematúria e
leucocitúria
1ª amostra
positiva
Disfunção
renal
06
38 Exposição a
enchente
05 dias Hematúria e
leucocitúria
1ª amostra
positiva
Insuficiência
renal aguda
07
45 Exposição a
enchente
05 dias Leucocitúria
e proteinúria
1ª amostra
positiva
Sem
disfunção
*Até a data da coleta do sangue
4.2 Coleta de amostra
Para cada indivíduo sadio ou paciente com leptospirose foram coletados 20 mL de
sangue em tubo a vácuo contendo heparina sódica (BD) para obtenção das células
mononucleares do sangue periférico. As amostras foram encaminhadas para
processamento no Laboratório de Imunologia I da Disciplina de Infectologia da
UNIFESP.
4.2.1 Separação de células mononucleares do sangue periférico
O sangue coletado em tubo com heparina foi diluído em parte igual de soro
fisiológico estéril 0,9% (Áster, Sorocaba, SP, BR). O sangue diluído foi adicionado
sobre ficoll-paque plus (GE Bio-Science, Uppsala, Suécia) e centrifugado a 500g por 20
minutos a temperatura ambiente. Durante a centrifugação, as células mononucleares
do sangue periférico (CMSP) foram separadas devido à densidade do ficoll-paque plus
formando uma camada esbranquiçada de células. As células da camada foram
coletadas e passaram por duas lavagens com 50mL de soro fisiológico. O botão de
células mononucleares foi suspendido em meio de cultura RPMI suplementado com L-
16
glutamina, soro fetal bovino (FCS), estreptomicina e penicilina. A viabilidade e a
concentração da suspensão de células foram verificadas através da utilização do
corante trypan blue (Sigma, Saint Louis, MO, EUA) e câmara de Neubauer.
4.2.2 Congelamento das amostras
A suspensão de células foi congelada na concentração de 1x10
7
em FCS
10%DMSO em alíquotas de 1mL em criotubos. Estes permaneceram em caixas
especiais para congelamento celular (Strata Cooler) em freezer -80
o
C pelo menos 24
horas. Após este período as alíquotas foram transferidas para nitrogênio líquido onde
permaneceram até a realização dos ensaios.
4.2.3 Descongelamento das amostras
Assim que retiradas do nitrogênio líquido, as amostras foram colocadas em
banho-maria a 37
o
C para um rápido descongelamento. Imediatamente, as amostras
foram transferidas para tubos de 15 mL. As células foram lavadas com 10 mL de RPMI
a 37
o
C e centrifugadas a 2000 rpm por 10 minutos a temperatura ambiente. O
sobrenadante foi desprezado e as células foram suspensas em 3 mL de RPMI. A
viabilidade e correção da concentração da suspensão de células para 1x10
6
células/mL
foi através da utilização do corante trypan blue (Sigma, Saint Louis, MO, EUA) e
câmara de Neubauer, respectivamente.
4.3 Verificação da viabilidade de células CD14+
Amostras de 3 indivíduos sadios foram utilizadas. Dois mililitros da suspensão
de 1x10
6
lulas/mL foram centrifugados a 2000 rpm por 10 minutos a temperatura
ambiente e o sobrenadante foi desprezado. Após serem suspendidas, foram
aliquotadas em dois tubos de polipropileno. Um deles, foi incubado por 5 horas a 37
o
C,
e o outro teve as células marcadas com 5 µL de 7-AAD (marcador de células mortas) ,
5 µL de CD14-FITC (marcador de monócitos) e 2 µL de CD45-APC (marcador de
17
leucócitos) e incubadas por 15 minutos em câmara escura a temperatura ambiente. As
células então foram lavadas com tampão de marcação, novamente centrifugadas a
2000 rpm por 10 minutos a temperatura ambiente. Em seguida, o sobrenadante foi
desprezado e as células suspendidas em 300 µL de tampão de marcação para ser feita
a aquisição de dados por citometria de fluxo. Transcorridas as 5 horas, o mesmo
procedimento foi realizado com o outro tubo para certificação da viabilidade das células
CD14+ após o período de incubação utilizado nos experimentos de detecção de
citocinas intracelulares.
4.3.1 Aquisição de dados em citômetro de fluxo
Durante a aquisição dos dados, dois gráficos de pontos foram utilizados (figura
1). O primeiro, de dispersões frontal e lateral de luz, que representam respectivamente,
o tamanho e a complexidade das células, foi utilizado para determinar uma região R1
de morfologia de monócitos. Utilizando-se outro gráfico de dispersão lateral de luz
versus expressão de CD14, foi delimitada uma região R2 para eventos positivos para
CD14. Através da combinação de R1 com R2, foram adquiridos 10.000 eventos, os
quais possuíam, portanto, morfologia de monócitos e positividade para CD14. Todos os
eventos foram salvos. Tanto a aquisição dos eventos quanto a análise dos resultados
foram realizadas através do programa CellQuest (BD Bioscience).
18
Figura 1: Estratégia de aquisição de monócitos em CMSP. O gráfico a esquerda
mostra a dispersão frontal e lateral de luz, correspondendo ao tamanho e complexidade
celular, respectivamente. A região 1 (R1) separa a população característica de
monócitos. O gráfico da direita mostra expressão de CD14 e dispersão lateral de luz. A
região 2 (R2) separa os eventos CD14+. Durante a aquisão foram armazenados
10.000 eventos combinando as regiões R1 e R2.
4.3.2 Análise da viabilidade celular com 7-AAD
A figura 2 mostra o índice de viabilidade das células CD14+ logo após
descongelamento. A média da porcentagem de viabilidade celular de indivíduos foi de
65,70. O mesmo ocorreu após 5h de incubação destas células (média 51,82%). Este
dado foi importante para nos certificarmos que as células ainda estariam viáveis para
os ensaios de citocina intracelular. A figura 3 mostra a viabilidade de monócitos de 3
indivíduos logo após o descongelamento (T0) e após 5 horas de incubação (T5).
19
Figura 2: Análise da viabilidade de monócitos após descongelamento. O gráfico a
esquerda mostra a dispersão frontal e lateral de luz, correspondendo ao tamanho e
complexidade celular, respectivamente. A região 1 (R1) separa a população
característica de monócitos. O gráfico a direita mostra as células de R1 marcadas por
CD14 e 7-AAD. As células viáveis estão localizadas no quadrante superior esquerdo,
as quais são CD14 positivas e 7-AAD negativas. Resultado de um voluntário sadio.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
T0 T5
horas de incubação
viabilidade de monócitos (%)
V1
V2
V3
média
Figura 3: Porcentagem de monócitos viáveis após descongelamento.
20
4.4 Curva dose-resposta de MALP-2
Células descongeladas como no item 4.2.3 foram utilizadas para determinar a
concentração ideal de MALP-2 a ser empregada. Foram feitas alíquotas de 1 mL na
concentração de 1x10
6
cél/mL de 3 voluntários sadios em tubos de polipropileno. As
alíquotas foram mantidas a 37°C a 5% de CO2 por 30 min para estabilização das
células. Após a incubação, foram adicionadas as doses 0,4 ou 4,0 U de MALP-2. Um
tubo sem estímulo foi mantido como controle negativo. Após 30 min os tubos
receberam 2 µL de monensina e permaneceram incubados por 5 horas. Em seguida,
os tubos receberam 2 mL de tampão de marcação e foram centrifugados a 2000rpm
por 5min a 4°C. As amostras foram marcadas com o anticorpo monoclonal de
superfície, CD14-FITC e incubadas por 20 minutos no escuro a 4 ºC. Logo após, as
células foram lavadas em 2 mL de tampão de marcação, suspendidas em 1 mL de
tampão de fixação e incubadas por 20 minutos a 4ºC no escuro. Os tubos foram
novamente centrifugados e o sobrenadante desprezado. As células foram suspendidas
em 50 µL de tamo de permeabilização, receberam 10 µL de IL6-PE e 2 µL TNFα-
APC , sendo incubadas por 30 minutos a 4ºC no escuro. Após este período, as células
foram lavadas em 1 mL de tampão de permeabilização e suspendidas em tampão de
marcação para aquisição no citômetro de fluxo.
4.4.1 Aquisição e análise de dados em citômetro de fluxo
A aquisição dos dados para o ensaio de dose-resposta de MALP-2 foi feita como
no item 4.3.1. A figura 4 mostra gráficos de citometria da produção de IL-6 e TNF-α
intracelular em monócitos de um indivíduo após estímulo com 0,4 e 4U de MALP-2 e a
figura 5 ilustra a média de detecção em três indivíduos. Após análise dos resultados
escolhemos a dose de 0,4U/mL de MALP-2 para realizar os demais ensaios desta tese.
21
Figura 4: Curva dose-resposta de MALP-2 para indução de IL-6 e TNF-α intracelular.
(A) Gráficos de identificação da população de monócitos através da combinação das
regiões R1 e R2. (B) Os gráficos controle mostram em porcentagem o basal de
monócitos produzindo citocinas. Os demais gráficos mostram a porcentagem de
monócitos produtores de IL-6 e TNF-α estimulados com 0,4 e 4,0U/mL de MALP-2.
Resultado de um indivíduo.
B
controle
0,4 U
4,0 U
IL-6
TNF-alfa
dispersão frontal de luz
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
22, 60%
13, 70%
32,28%
54, 06%
51,51%
59,91%
B
controle
0,4 U
4,0 U
IL-6
TNF-alfa
dispersão frontal de luz
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
22, 60%
13, 70%
32,28%
54, 06%
51,51%
59,91%
22
0
5
10
15
20
25
30
35
0,4 U 4,0 U
Dose de MALP-2
Porcentagem de monócitos
produzindo citocina
TNF-alfa
IL-6
Figura 5: Média da porcentagem da produção de IL-6 e TNF-α intracelular em
monócitos após estimulação com diferentes concentrações de MALP-2. O valor basal
de produção de citocina foi descontado da condição estimulada. Média obtida de três
indivíduos sadios.
4.5 Curva dose-resposta de LipL32
Células descongeladas como no item 4.2.3 foram utilizadas para determinar a
concentração ideal de LipL32 a ser empregada. Foram feitas alíquotas de 1 mL na
concentração de 1x10
6
cél/mL de um voluntário sadio em tubos de polipropileno. As
alíquotas foram mantidas em estufa de CO
2
a 5% por 30 min para estabilização das
células. Em seguida, foram adicionadas as doses de LipL32 10, 100, 1000 ng/mL. Um
tubo sem estímulo foi mantido como controle negativo. Todo o processo de ativação
celular e marcação intracelular foram feitos de forma similar ao item 4.4.
23
4.5.1 Aquisição e análise de dados em citômetro de fluxo
A aquisição dos dados para o ensaio de dose-resposta de LipL32 foi feita como
no item 4.3.1. A figura 6 mostra gráficos de pontos (dot plots) e a figura 7 o percentual
de monócitos positivos para produção de IL-6 e TNF-α de um indivíduo após estímulo
com 10, 100 e 1000 ng/mL de LipL32. Após análise do resultado escolhemos a dose de
1000 ng/mL de LipL32 para realizar os demais ensaios desta tese.
24
Figura 6: Curva dose-resposta de LipL32 para indução de IL-6 e TNF-α intracelular.
(A) Gráficos de identificação da população de monócitos através da combinação das
regiões R1 e R2. (B) Os gráficos controle mostram em porcentagem o basal de
monócitos produzindo citocinas. Os demais gráficos mostram a porcentagem de
monócitos produtores de IL-6 e TNF-α estimulados com 10, 100 e 1000 ng/mL de
LipL32.
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
B
controle
10 ng /mL
100 ng /mL
1000 ng /mL
dispersão frontal de luz
IL-6 TNF-alfa
1,38%
5,44%
12,89%
6,86%
41,71%
25,27%
49,51%
35,85%
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
B
controle
10 ng /mL
100 ng /mL
1000 ng /mL
dispersão frontal de luz
IL-6 TNF-alfa
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
B
controle
10 ng /mL
100 ng /mL
1000 ng /mL
dispersão frontal de luz
IL-6 TNF-alfa
1,38%
5,44%
12,89%
6,86%
41,71%
25,27%
49,51%
35,85%
25
0
10
20
30
40
50
60
10 ng/mL 100 ng/mL 1000 ng/mL
Doses de LipL32
Porcentagem de monócitos
produzindo citocina
IL-6
TNF-alfa
Figura 7: Porcentagem da produção de IL-6 e TNF-α intracelular em monócitos após
estimulação com diferentes concentrações de LipL32. O valor basal de produção de
citocina foi descontado da condição estimulada.
4.6 Estimulação in vitro de células mononucleares do sangue periférico para
detecção intracelular de citocinas em monócitos de pacientes e indivíduos
sadios
As células dos pacientes e voluntários sadios foram descongeladas conforme
item 4.2.3. Após acerto da concentração para 1x10
6
cel/mL foram feitas alíquotas de
1mL da suspensão de CMSP em tubos de polipropileno. Estes foram incubadas por 30
minutos a 37
o
C. Ao fim da incubação manteve-se um tubo controle (sem estímulo) e
outros tubos foram estimulados com 100 ng/mL de LPS (dose previamente
padronizada pelo nosso laboratório, conforme artigo 11), 0,4 U/mL de MALP-2 e 100
ng/mL de LipL32. Todo o processo de ativação celular e marcação intracelular foi feito
de forma similar ao item 4.4.
26
4.7 Imunofenotipagem de monócitos de pacientes e indivíduos sadios através da
citometria de fluxo
As células dos pacientes e voluntários sadios foram descongeladas conforme
item 4.2.3. Após acerto da concentração para 1x10
6
cel/mL foram feitas alíquotas de
500 µL da suspensão de CMSP em tubos de polipropileno e acrescentando 2 mL de
tampão de marcação. Os tubos foram centrifugados a 2000 rpm por 8 minutos a
temperatura ambiente. Os sobrenadantes foram desprezados e as células
suspendidas. As amostras foram marcadas com os anticorpos monoclonais de
superfície como descrito na tabela 2 e incubadas por 15 minutos no escuro. Após o
tempo de incubação os tubos foram centrifugados a 2000 rpm por 8 minutos a
temperatura ambiente. Os sobrenadantes foram desprezados e as células suspendidas
em 300 µL para leitura em citômetro de fluxo.
Tabela 2: Painel de anticorpos monoclonais.
Tubos
FITC PE
1 CD14 (2,5 µL)
mIgG
2a
(5 µL)
2 CD14 (2,5 µL)
TLR2 (5 µL)
3 CD14 (2,5 µL)
TLR4 (10 µL)
4.7.1 Aquisição e análise de dados para imunofenotipagem
A aquisição dos dados para análise da imunofenotipagem foi feita como no item
4.3.1. A figura 8 mostra a expressão dos receptores TLR2 e TLR4 na superfície de
monócitos através de gráficos de histograma. Isotipos controles foram utilizados em
cada situação.
Para análise da expressão de CD14 em monócitos utilizou-se estratégia similar,
como mostrado na figura 9. A intensidade de expressão de CD14 foi verificada dentro
da marcação M1.
27
Figura 8: Intensidade de expressão dos receptores TLR2 e TLR4. (A) Gráficos de
identificação da população de monócitos através da combinação das regiões R1 e R2.
(B) Análise a expressão dos receptores TLR2 e TLR4 através de histogramas. Foi
utilizado isotipo controle.
Ig G 2a
TLR4
TLR2
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
B
Ig G 2a
TLR4
TLR2
Ig G 2a
TLR4
TLR2
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
B
28
Figura 9: Intensidade de expressão do receptor CD14. (A) Gráficos de identificação da
população de monócitos através da combinação das regiões R1 e R2. (B) Análise a
expressão de CD14 dentro da marcação M1.
4.8 Análise estatística
Os dados obtidos com a análise dos ensaios de imunofenotipagem e produção
de citocina intracelular foram transferidos a uma planilha de dados dos programas
Excel 2003 (Microsoft Corporation, Seattle, WA, EUA) e SPSS 13.0 (SPSS Inc. and
Predictive Analytics, Chicago, IL, EUA). Os valores obtidos com a ligação dos isotipos
na imunofenotipagem e a produção de citocinas detectadas na condição sem estímulo
foram subtraídos dos resultados. A comparação das variáveis foi realizada com o teste
não paramétrico Mann-Whitney. A diferença estatística foi considerada significativa
quando o valor de p observado foi menor que 0,05.
R1
R2
M1
Dispersão lateral de luz
dispersão frontal de luz
FL3
CD14 FITC
CD14 FITC
A
B
R1
R2
M1
Dispersão lateral de luz
dispersão frontal de luz
FL3
CD14 FITC
CD14 FITC
R1
R2
M1
Dispersão lateral de luz
dispersão frontal de luz
FL3
CD14 FITC
CD14 FITC
A
B
29
5.
5. 5.
5. Resultados
ResultadosResultados
Resultados
30
5.1 Detecção da produção de citocinas inflamatórias (IL-6 e TNF-α) induzidas por
LPS, MALP-2 e LipL32 em monócitos de pacientes com leptospirose e
voluntários sadios
5.1.1 Produção de IL-6
A produção de IL-6 foi similar frente aos estímulos de LPS, MALP-2 e LipL32
(figura 10 e tabela 3). Os valores basais de produção de IL-6 foram subtraídos das
condições de estímulos. Ao analisarem-se os grupos verificou-se que não houve
diferença significativa na produção de IL-6 entre voluntários sadios e pacientes com
leptospirose. Os valores de p comparando lulas de pacientes com leptospirose e
voluntários sadios para os estímulos foram: LPS (p=0,100), MALP-2 (p=0,917) e LipL32
(p=1,000) (Mann-Whitney).
31
Figura 10: Produção de IL-6 intracelular induzida por LPS (caixas em branco), MALP-2
(caixas em cinza) e LipL32 (caixas em hachurado) em monócitos de indivíduos sadios
e pacientes com leptospirose. Resultado de 07 voluntários sadios e 07 pacientes. No
gráfico os valores são representados em porcentagem de células positivas para IL-6.
Estão representados os valores máximos e mínimos, o percentil 25% e 75% (caixas),
mediana dos grupos e valores extremos (asteriscos).
Tabela 3: Produção de IL-6 intracelular induzida por LPS, MALP-2 e LipL32 em
monócitos de indivíduos sadios e pacientes com leptospirose. Valores expressos em
porcentagem de células positivas para IL-6.
LPS
sadio
MALP-2
LipL32
LPS
paciente
MALP-2
LipL32
média 33,7
24,4
26,6
20,9
24,9
30,4
mediana 29,0
25,3
29,6
16,8
18,6
26,4
mínimo 22,2
24,4
20,3
16,8
15,6
19,7
máximo 46,4
40,5
34,9
49,2
47,5
52,2
percentis 25 24,7
15,1
19,3
12,1
15,5
16,9
75
45,2
33,3
32,4
37,0
37,5
47,7
voluntário sadio paciente
Porcentagemde monócitospositivos paraIL-6
32
5.1.2 Produção de TNF-α
Nos dois grupos estudados, a produção de TNF-α induzida por MALP-2 e LipL32
apresentou uma magnitude de resposta bastante similar (figura 11 e tabela 4). Os
valores basais de produção de TNF-α foram subtraídos das condições de estímulos. Ao
analisarem-se os grupos verificou-se que houve diferença significativa na produção de
TNF-α entre voluntários sadios e pacientes com leptospirose quando o estímulo foi LPS
(p=0,035). Para os estímulos MALP-2 (p=0,317) e LipL32 (p=0,180) não houve
diferença significativa (Mann-Whitney).
33
Figura 11: Produção de TNF-α intracelular induzida por LPS (caixas em branco),
MALP-2 (caixas em cinza) e LipL32 (caixas em hachurado) em monócitos de indivíduos
sadios e pacientes com leptospirose. Resultado de 07 voluntários sadios e 07
pacientes. No gráfico os valores são representados em porcentagem de lulas
positivas para TNF-α. Estão representados os valores máximos e mínimos, o percentil
25% e 75% (caixas), mediana dos grupos e valores extremos (círculos). *
p<0,05 na
comparação entre os grupos estimulados com LPS (Mann-Whitney).
Tabela 4: Produção de TNF-α intracelular induzida por LPS, MALP-2 e LipL32 em
monócitos de indivíduos sadios e pacientes com leptospirose. Valores expressos em
porcentagem de células positivas para TNF-α.
LPS
sadio
MALP-2
LipL32
LPS
paciente
MALP-2
LipL32
média 32,8
30,7
46,0
19,1
25,6
36,6
mediana 32,2
24,0
46,6
15,1
22,9
37,8
mínimo 16,6
21,0
28,6
3,39
15,1
20,2
máximo 48,2
50,8
62,5
41,8
37,3
54,8
percentis 25 27,8
21,7
39,4
11,3
15,3
20,9
75
40,5
40,7
50,4
31,6
38,0
48,3
voluntário sadio paciente
Porcentagem de monócitos positivos para TNF-α
voluntário sadio paciente
Porcentagem de monócitos positivos para TNF-α
*
34
5.2 Imunofenotipagem de monócitos de pacientes e indivíduos sadios
5.2.1 Expressão de TLR2, TLR4 e CD14
Foi observada diferença estatística quando se compararam os dois grupos
estudados (indivíduos sadios e pacientes com leptospirose) quanto à expressão de
TLR2 (p=0,025) na superfície de monócitos como mostrado na figura 12, porém não
houve diferença estatística na expressão de TLR4 (p=0,318) e CD14 (p=0,949), como
mostrado nas figuras 13 e 14, respectivamente. Os valores obtidos no estudo das
expressões de TLR2, TLR4 e CD14 estão nas tabelas 5, 6 e 7, respectivamente.
35
Figura 12: Expressão de TLR2 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes com
leptospirose. Resultado de 7 voluntários sadios e 07 pacientes. Foram adquiridos
10.000 eventos na janela de monócitos, combinado tamanho e complexidade das
células e positividade para CD14. No gráfico os valores são mostrados em média
geométrica da intensidade de fluorescência da expressão de TLR2. Estão
representados os valores máximos e mínimos, o percentil 25% e 75% (caixas) e a
mediana dos grupos. p<0,05 na comparação entre os grupos (Mann-Whitney).
Tabela 5: Expressão de TLR2 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes com
leptospirose. Valores mostrados em média geométrica da intensidade de fluorescência.
sadio
paciente
média 37,2
70,8
mediana 33,6
74,6
mínimo 20,7
24,1
máximo 58,0
116,7
percentis 25
75
21,2
54,9
44,3
89,9
100
80
60
40
20
0
Expressão de TLR2 em monócitos (MGIF)
voluntário sadio paciente
100
80
60
40
20
0
Expressão de TLR2 em monócitos (MGIF)
voluntário sadio paciente
36
Figura 13: Expressão de TLR4 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes com
leptospirose. Resultado de 7 voluntários sadios e 07 pacientes. Foram adquiridos
10.000 eventos na janela de monócitos, combinado tamanho e complexidade das
células e positividade para CD14. No gráfico os valores são mostrados em média
geométrica da intensidade de fluorescência da expressão de TLR4. Estão
representados os valores máximos e mínimos, o percentil 25% e 75% (caixas) e a
mediana dos grupos e valores extremos (círculos). p>0,05 na comparação entre os
grupos (Mann-Whitney).
Tabela 6: Expressão de TLR4 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes com
leptospirose. Valores mostrados em média geométrica da intensidade de fluorescência.
sadio
paciente
média 31,6
39,2
mediana 27,2
37,3
mínimo 16,4
19,0
máximo 58,4
59,9
percentis 25
75
17,2
42,3
34,5
45,1
0
20
10
30
40
50
voluntário sadio
paciente
Expressão de TLR4 em monócitos (MGIF)
0
20
10
30
40
50
voluntário sadio
paciente
Expressão de TLR4 em monócitos (MGIF)
37
Figura 14: Expressão de CD14 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes com
leptospirose. Resultado de 7 voluntários sadios e 07 pacientes. Foram adquiridos
10.000 eventos na janela de monócitos, combinado tamanho e complexidade das
células e positividade para CD14. No gráfico os valores são mostrados em média
geométrica da intensidade de fluorescência da expressão de CD14. Estão
representados os valores máximos e mínimos, o percentil 25% e 75% (caixas) e a
mediana dos grupos. p>0,05 na comparação entre os grupos (Mann-Whitney).
Tabela 7: Expressão de CD14 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes com
leptospirose. Valores mostrados em média geométrica da intensidade de fluorescência.
sadio
paciente
média 391,6
395,3
mediana 406,7
417,5
mínimo 317,8
290,8
máximo 483,4
488,5
percentis 25
75
334,4
439,8
309,5
482,8
250
300
350
400
450
500
voluntário sadio
paciente
Expressão de CD14 em monócitos (MGIF)
250
300
350
400
450
500
voluntário sadio
paciente
Expressão de CD14 em monócitos (MGIF)
38
6.
6. 6.
6. Discussão
DiscussãoDiscussão
Discussão
39
A leptospirose é uma doença causada por toxina ou toxinas presentes nas
células do espiroqueta e liberadas nos tecidos afetados. Dentre os vários produtos
isolados da leptospira destaca-se a LipL32 (agonista de TLR2), por ser altamente
expressa e conservada em espécies patogênicas de Leptospira, além de ser a
lipoproteína antigênica imunodominante, indutora de resposta humoral na infecção
natural por leptospirose.
(9,15,18,39)
bastante interesse também em respostas cruzadas de CMSP dos pacientes
com leptospirose a outros compostos bacterianos, como LPS de bactérias gram-
negativas (agonista de TLR4) e MALP-2, presente em Mycoplasma fermentans
(agonista de TLR2/6), para que haja uma comparação entre a produção de citocinas
induzida por produtos antigênicos isolados de leptospiras patogênicas e de outros tipos
de bactérias que tamm induzem a sepse.
(40,41)
Em investigações conduzidas por nosso grupo, demonstramos que níveis
elevados de TNF-α foram encontrados no plasma de pacientes com as formas mais
graves da doença, estando ausente ou em baixos veis nas formas mais brandas, o
que nos mostrou que uma associação entre a elevação desta citocina circulante e
maior gravidade e mortalidade da leptospirose.
(36)
Em outra rie de investigações, observamos que em monócitos de voluntários
sadios estimulados com GLP proveniente de leptospiras patogênicas ocorreu indução
da produção de citocinas inflamatórias (como IL-6 e TNF-α) e anti-inflamatória (IL-10),
as quais são essenciais ao controle da infecção e podem estar envolvidas na
patogênese das lesões nos tecidos afetados pela Leptospira sp.
(12,13)
De Fost et al. induziram a produção de IFN-γ e TNF-α em células do sangue
periférico de bovinos estimuladas com L. interrogans serovar rachmati inativada por
calor. Após estimulação do sangue total, detectou-se a presença das citocinas por
ELISA em sobrenadante da cultura, estabelecendo assim que leptospiras patogênicas
podem estimular a produção de citocinas tipo I, envolvidas na imunidade celular.
(11)
Investigações conduzidas em CMSP de pacientes com sepse por bactérias
gram-negativas e gram-positivas mostram que essas sofrem modulação da resposta a
antígenos bacterianos, como o LPS, durante o curso da doença. Encontrou-se uma
regulação positiva da produção de citocinas inflamatórias no estádio inicial da sepse,
seguida de uma importante regulação negativa nos estágios tardios, ou seja, pacientes
em sepse grave e choque ptico.
(6)
Este resultado é concordante com a hipótese de
patogênese da sepse, onde no estádio inicial após a infecção o surgimento de
40
citocinas inflamatórias e antiinflamatórias. O estádio tardio é caracterizado por
persistente desativação do monócito e aumento do risco de morte.
(5,30)
Não há relatos de trabalhos que avaliem a adaptação celular em lulas do
sangue periférico de pacientes com leptospirose. A produção de citocinas, na maioria
das investigações, foi induzida in vitro, a partir da estimulação de células sadias, de
animais ou voluntários, com LPS ou GLP de leptospiras patogênicas.
Em nosso estudo, avaliamos a produção de citocinas por células mononucleares
de pacientes com leptospirose, detectada intracelular em monócitos estimulados com
antígenos purificados de Leptospira patogênica (LipL32), Salomonella abortus equi
(LPS) e Mycoplasma fermentans (MALP-2).
Nossos resultados indicam que há preservação da resposta inflamatória em
pacientes com leptospirose comparados a voluntários sadios quando CMSP são
estimuladas in vitro com MALP-2 e LipL32 para indução da produção de citocinas
inflamatórias intracelulares (IL-6 e TNF-α) em monócitos. Todavia, a produção de TNF-
α intracelular foi menor após estímulo com LPS, o que não ocorreu com a produção de
IL-6 que se manteve preservada.
Sato et al. Demonstraram regulação negativa, in vitro, da produção de TNF-α
intracelular em macrófagos de murinos pré-tratados com MALP-2 em resposta ao LPS,
o que confirma a tolerância cruzada entre antígenos sinalizadores de TLR2 e TLR4.
(32)
Esse efeito poderia explicar o mecanismo pelo qual pacientes com leptospirose
mostraram-se hiporresponsivos ao estímulo com LPS em nosso estudo, uma vez que
eles já tiveram sua ativação de resposta celular primária via TLR2.
Estudos indicam que lipoproteínas e LPS provenientes de Leptospiras
patogênicas desencadeiam a atividade dos macrófagos, principalmente através dos
receptores CD14 e TLR2, ao contrário das bactérias gram-negativas, cujos
componentes de reconhecimento são os receptores CD14 e TLR4. Entretanto, o
mecanismo de reconhecimento de antígenos padrão de Leptospiras não está
completamente elucidado na literatura.
(40)
A expressão de TLR2 e TLR4 em monócitos durante a leptospirose reveste-se
de grande interesse, que estes são, sabidamente, receptores de reconhecimento de
patógenos. Investigações conduzidas com camundongos e seres humanos mostram
que há diferença na especificidade de receptores do tipo Toll por LPS de Leptospira em
seres humanos e camundongos. Os humanos requerem CD14 e TLR2, mas não TLR4
para o reconhecimento do patógeno, diferentemente dos camundongos que o
41
reconhecem via TLR2 e TLR4. É sabido que camundongos o pouco susceptíveis a
leptospirose e humanos são sensíveis, por este motivo acredita-se que a via de
reconhecimento do antígeno por monócitos de camundongos faça parte de uma efetiva
resposta imune inata da doença.
(27)
Nossos resultados mostram que os receptores da superfície celular de
monócitos estão diferentemente regulados na leptospirose. Assim, houve aumento da
expressão de TLR2 e não se observou diferença na expressão de TLR4 e CD14 entre
voluntários sadios e pacientes. Todavia, o aumento da expressão de TLR2 não resultou
em acréscimo da produção de citocinas inflamatórias, que se manteve semelhante ao
grupo controle. Também observamos uma discrepância em relação à produção de
TNF-α intracelular após estimulação com LPS e expressão de receptores, ou seja,
embora a produção de TNF-α tenha sido menor, a expressão de TLR4 e CD14 se
manteve inalterada. Este resultado é concordante com estudo realizado por nosso
grupo em pacientes com sepse por bactérias gram-negativas ou gram-positivas, onde a
expressão destes receptores permaneceu inalterada no continuum da doença, porém a
detecção de citocinas foi elevada no estágio inicial e suprimida nos estágios mais
graves da síndrome, sugerindo que a regulação positiva ou negativa se na
sinalização intracelular.
(6)
42
7.
7. 7.
7. Conclusões
Conclusões Conclusões
Conclusões
43
1. Monócitos do sangue periférico de pacientes com leptospirose mantêm a
capacidade de reconhecimento e sinalização celulares, avaliados pela detecção
intracelular de IL-6 e TNF-α frente a estímulos da própria Leptospira (LipL32),
assim como a outro antígeno agonista de TLR2 (MALP-2). Todavia, a produção
de TNF-α intracelular foi menor após estímulo com LPS, o que não ocorreu com
a produção de IL-6 que se manteve preservada.
2. A expressão dos receptores de superfície, TLR4 e CD14 nos monócitos está
inalterada na fase aguda da leptospirose em relação a indivíduos sadios, já a
expressão de TLR2 mostra-se aumentada. A preservação da expressão desses
receptores na superfície celular pode desempenhar um importante papel na
preservação da capacidade de reconhecimento e sinalização demonstrada in
vitro.
44
8.
8. 8.
8. Referências
ReferênciasReferências
Referências
45
1. Abbas AK, Lichtman AH. Citocinas. In Abbas AK, Lichtman AH. Imunologia
celular e molecular. 5a ed. Traduzido por Farias AS. Rio de Janeiro: Elsevier;
2005. p.251-82.
2. Alves VAF, Gayatto LCC, Yasuda PH, Wakamatsu A, Kanamura CT, De Brito T.
Leptospiral antigens (L. Interrogans serogroup icterohaemorrhagiae) in the
kidney of experimentally infected guinea pigs and their relation to the
pathogenesis of the renal injury. Exp Pathol. 1991;42:81-93.
3. Bharti AR, Nally JE, Ricaldi JN, Matthias MA, Diaz MM, Lovett MA, et al.
Leptospirois: a zoonotic disease of global importance. Lancet Infect Dis.
2003;3(12):757-71.
4. Bishara J, Amitay E, Barnea A, Yitzhaki S, Pitlik S. Epidemiological and clinical
features of leptospirosis in Israel. Eur J Clin Microbiol Infect Dis. 2002;21(1):50-2.
5. Bone RC, Sibbald WJ, Sprung CL. The ACCP-SCCM consensus conference on
sepsis and organ failure. Chest. 1992;101:(6)1481-3
6. Brunialti MK, Martins PS, Barbosa de Carvalho H, Machado FR, Barbosa LM,
Salomao R. TLR2, TLR4, CD14, CD11b, and CD11c expressions on monocytes
surface and cytokine production in patients with sepsis, severe sepsis and septic
shock. Shock. 2006 Apr;25(4):351-7.
7. Chierakul W, de Fost M, Suputtamongkol Y, Limpaiboon R, Dondorp A, White
NJ, et al. Differential expression of interferon-γ and interferon-γ-inducing
cytokines in Thai patients with scrub typhus or leptospirosis. Clin Immun.
2004;113:140-4.
8. Costa E, Costa YA, Lopes AA, Sacramento E, Bina JC. Severe forms of
leptospirosis: clinical, demographic and environmental aspects. Rev Soc Bras
Med Trop. 2001;34(3):261-7.
46
9. Croda J, Ramos JGR, Matsunaga J, Queiroz A, Homma A, Riley LW, et al.
Leptospira immnunoglobulin-like proteins as a serodiagnostic marker for acute
leptospirosis. J Clin Microbiol. 2007;45(5):1528-34.
10. Cullen PA, Haake DA, Bulach DM, Zuerner RL, Adler B. LipL21 is a novel
surface-exposed lipoprotein of pathogenic Leptospira species. Infect Immun
2003; 2414-21.
11. De Fost M, Hartskeerl RA, Groenendijk MR, van der Poll T. Interleukin 12 in part
regulates gamma interferon release in human whole blood stimulated with
Leptospira interrogans. Clin Diagn Lab Immunol. 2003;10(2):332-5.
12. Diament D, Brunialti MKC, Romero EC, Kallas EG, Salomão R. Peripheral blood
mononuclear cell activation induced by Leptospira interrogans glycoprotein.
Infect Immun. 2002;1677-83.
13. Dorigatti F, Brunialti MKC, Romero EC, Kallas EG, Salomão R. Leptospira
interrogans activation of peripheral blood monocyte glycolipoprotein
demonstrated in whole blood by the release of IL-6. Braz J Med Biol Res.
2005;38:909-14.
14. Faine S. Leptospira and Leptospirosis. CRC Press, Boca Raton; 1994.
15. Flannery B, Costa D, Carvalho FP, Guerreiro H, Matsunaga J, Silva ED, et al.
Evaluation of recombinant Leptospira antigen-based enzyme-lynked
immunosorbent assays for the serodiagnosis of leptospirosis. J Clin Microbiol.
2001;39(9):3303-10.
16. Frieland JS, Warrell DA. The Jarisch-Herxheimer reaction in leptospirosis:
possible pathogenesis and review. Rev Infect Dis. 1991;13:207-10.
17. Galanos C, Freudenberg MA, Luderitz O, Rietschel ET, Westphal O. Chemical,
physicochemical and biological properties of bacterial lipopolysaccharides. Prog
Clin Biol Res. 1979;29:321-32.
47
18. Guerreiro H, Croda J, Flannery B, Mazel M, Matsunaga J, Reis MG, et al.
Leptospiral proteins recognized during the humoral immune response to
leptospirosis in humans. Infect and Immun. 2001;69(8):4958-68.
19. Haake DA, Dundoo M, Cader R. Leptospirosis, water sports, and
chemoprophylaxis. Ciln Infect Dis. 2002;34:e40-3.
20. Ko AL, Reis GM, Riley LW. Urban epidemic of severe leptospirosis in Brazil. The
Lancet. 1999;354:820-5.
21. Levett PN. Leptospirosis. Clin Microb Rev. 2001;14:296-326.
22. Lomar AV, Veronesi R. Leptospiroses. In Veronesi R, Focaccia R. Tratado de
Infectologia. 5a ed. São Paulo: Atheneu, 1997. p.987-1003.
23. Lomar AV, Diament D, Torres J. Leptospirosis in Latin América. Infect Dis Clin
North Am. 2000;14(1):23-39.
24. Macedo-Santos RT, Sakata EE, Yasuda PH. Glicoproteina de Leptospira
interrogans sorogrupo icterohaemorrhagiae: distribuição em fígado e rim de
cobaias experimentalmente infectadas. Ver Inst Med Trop. 1989;31(4):235-41.
25. Meites E, Jay MT, Deresinski S, Smith S. Reemerging leptospirosis, Califórnia.
Emerg Infect Dis. 2004;10:406-11.
26. Merien F, Truccolo J, Rougier Y. In vivo apoptosis of hepatocytes in guinea pigs
infected with Leptospira interrogans serovar icterohaemorrhagiae. FEMS
Microbiol Lett. 1998;169:95-102.
27. Nahori MA, Fournié-Amazouz E, Que-Gewirth N, Balloy V, Chignard M, Raetz
CRH, et al. Differential TLR recognition of Leptospiral lipid A and
lipopolysaccharide in murine and human cells. Journal Immun. 2005,175:6022-
31.
48
28. O’Neil Km, Rickman LS, Lazarus AA. Pulmonary manifestations of leptospirosis.
Rev Infect Dis. 1991;13:705-9.
29. Ricaldi J, Vinetz JM. Leptospirosis in tropics and in travelers. Curr Infect Dis
Reports. 2006;3(7):1-10.
30. Riedemann NC, Guo RF, Ward PA. Novel strategies for treatment of sepsis. Nat
Med. 2003;9(5):517-24.
31. Romero EC, Bernardo CCm, Yasuda P. Human leptospirosis: a twenty-nine year
serological study in São Paulo, Brazil. Rev Inst Med Trop São Paulo.
2003;45(5):245-8.
32. Sato SS, Nomura F, Kawai T, Takeuchi O, Mühlradt PF, Takeda K, et al.
Synergy and cross-tolerance between toll-like receptor (TLR) 2- and TLR4-
mediated signaling pathways. J Immunol. 2000 Dec 15;165(12):7096-101.
33. Segura ER, Ganoza CA, Campos K, Ricaldi JN, Torres S, Silva H, et al. Clinical
spectrum of pulmonary involvement in leptospirosis in a region of endemicity,
with quantification of leptospiral burden. Clin Infect Dis. 2005;40(3):343-51.
34. Spichler A, Moock M, Chapola EG, Vinetz J. Weil’s disease: an unusually
fulminant presentation characterized by pulmonary hemorrhage and shock. Braz
J Infect Dis. 2005;9(4):336-40.
35. Takiji MH, Nakama AS, Salomão R. The ration of plasma levels of IL-10/TNF-α
and its relationship to disease severity and survival in patients with leptospirosis.
Braz J Infect Dis. 1997;1(3):138-41.
36. Takiji MH, Salomão R. Association of plasma levels of tumor necrosis factor α
with severity of disease and mortality among patients with leptospirosis. Clin
Infect Dis. 1996;23:1177-8.
37. Vinetz JM, Glass GE, Kaslow DC. Sporadic urban leptospirosis. 1996;10:794-8.
49
38. Vinh T, Adler B, Faine S. Glycoprotein cytotoxin from Leptospira interrogans
serovar copenhageni. J Gen Microbiol. 1986;132:111-23.
39. Weil A. Ueber eine eigentumliche mit milztumor, icterus and nephritis
einhergehende acute infektionskrankheit. Dtsche Arch Klin Med. 1886;39:209-32.
40. Werts C, Tapping RI, Mathison JC. Leptospiral lipopolysaccharide activates cells
though a TLR2-dependent mechanism. Nat Immun. 2001;2:346-52.
41. Wilde I, Lotz S, Engelmann D, Starke A, van Zandbergen G, Solbach W, et al.
Direct stimulatory effects of the TLR2/6 ligand bacterial lipopeptide MALP-2 on
neutrophil granulocytes. Med Microbiol and Immunol. 2007;196(2):61-71.
50
Abstract
The Leptospirosis is one of the world's most important zoonoses, found in regions of
tropical climate, occurring mainly in rainy seasons. The control of infection depends on
the proper recognition of the microorganism by receptors for recognition of patterns of
pathogens, the TLRs present in the cells of the innate immune system of the host. The
activation of TLRs is crucial for triggering the inflammatory response, mediator of the
response of protection in case of injury and infection.
Objectives: To evaluate the
expression of receptors TLR2, TLR4 and CD14 on the monocytes surface in vitro and
response to stimuli LipL32 (extracted from Lestospira sp.), MALP-2 (synthetic antigen of
Mycoplasma fermentans) and LPS (antigen extracted from bacteria-gram negative)
binders of TLRs, as measured by production of cytokines in patients with leptospirosis.
Methods: 07 patients with clinical and laboratory of leptospirosis were included and 07
healthy volunteers, used as controls. The peripheral blood mononuclear cells (PBMC)
were separated using ficoll-paque, frozen and stored in liquid nitrogen. After thawing,
checking the feasibility and wisdom of the concentration of cells to 1x10
6
células/mL was
measured the expression of TLR2, TLR4 and CD14 on the monocytes surface. The rest
of the cell suspension was incubated for 6 hours with the stimuli of 1000ng/mL of
LipL32, 0.4 U / mL of MALP-2 or 100ng/mL of LPS. After the first hour of incubation was
added monensin for blocking the secretion of cytokine. Then the PBMC were stained
with CD14, set, permeabilizaded and exposed to anti-IL-6 and anti-TNF-α for detection
of intracellular production of inflammatory cytokines in monocytes. They were acquired
10,000 events combined to morphology and positive for CD14 in flow cytometry.
Results: There was no significant difference in the inflammatory response among
patients with leptospirosis and healthy volunteers when PBMC were stimulated in vitro
with MALP-2 and LipL32 to induce the production of inflammatory cytokines (IL-6 and
TNF-α) in monocytes. However, the production of intracellular of TNF-α was lower after
stimulation with LPS (p = 0035), which did not occur to the production of IL-6.
Regarding the expression of surface receptors, it was observed increased expression of
TLR2 (p = 0025) on the monocytes surface of patients, but there was no difference in
the expression of TLR4 and CD14. Conclusions: This study demonstrated that the
ability of recognition of antigens by peripheral blood monocytes of patients with
leptospirosis is preserved or increased. Also, we observed that the production of
inflammatory cytokines in front of the Leptospira antigen (LipL32) and another antigen
agonist of TLR2 (MALP-2) is maintained. Meanwhile, the production of inflammatory
cytokine front of LPS (agonist of TLR4) proved to be complex may be influenced by
cross tolerance.
TAIS FRANCISCO PAVANELLI
Avaliação da produção de citocinas inflamatórias após estimulação por
lipoproteína L32 (LipL32), lipopolissacarídeo (LPS) e lipopeptídeo ativador
de monócitos – 2 (MALP-2) e expressão de receptores de superfície em
monócitos de pacientes com leptospirose.
São Paulo
2008
Tese apresentada à Universidade Federal
de São Paulo Escola Paulista de
Medicina, para obtenção do Título de
Mestre em Ciências
TAIS FRANCISCO PAVANELLI
Avaliação da produção de citocinas inflamatórias após estimulação por
lipoproteína L32 (LipL32), lipopolissacarídeo (LPS) e lipopeptídeo ativador
de monócitos – 2 (MALP-2) e expressão de receptores de superfície em
monócitos de pacientes com leptospirose.
Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Salomão
São Paulo
2008
Tese apresentada à Universidade Federal
de São Paulo Escola Paulista de
Medicina, para obtenção do Título de
Mestre em Ciências
Pavanelli, Tais Francisco
Avaliação da produção de citocinas inflamatórias após
estimulação por lipoproteína L32 (LipL32), lipopolissacarídeo (LPS) e
lipopeptídeo ativador de monócitos – 2 (MALP-2) e expressão de
receptores de superfície em monócitos de pacientes com leptospirose.
/Tais Francisco Pavanelli. São Paulo, 2008.
63f.
Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola
Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Infectologia.
Título em inglês: Production of inflammatory cytokines after
lipoprotein L32 (LipL32), lipopolysaccharide (LPS) and macrophage-
activating lipopeptide-2 (MALP-2) stimulation and evaluation of superficial
receptors expression on monocytes of infected patients with leptospirosis.
1. Leptospirose 2. Monócitos 3. Lipoproteína L32
4. Citocinas 5. Imunofenotipagem 6. Citometria de fluxo
iii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA
DEPARTAMENTO DE MEDICINA
DISCIPLINA DE INFECTOLOGIA
Chefe do Departamento: Prof. Dr Angelo Amato Vincenzo de Paola
Coordenador do Curso de Pós-graduação: Prof. Dr. Ricardo Sobhie Diaz
iv
TAIS FRANCISCO PAVANELLI
Avaliação da produção de citocinas inflamatórias após estimulação por
lipoproteína L32 (LipL32), lipopolissacarídeo (LPS) e lipopeptídeo ativador
de monócitos – 2 (MALP-2) e expressão de receptores de superfície em
monócitos de pacientes com leptospirose.
Presidente da Banca:
Prof. Dr. Reinaldo Salomão
BANCA EXAMINADORA
TITULARES
Prof. Dr. Antônio Carlos Seguro
Prof. Dr. Niels Olsen Saraiva Câmara
Dra. Milena Karina Coló Brunialti
SUPLENTES
Profa. Dra. Márcia Marinho
v
Dedicatória
DedicatóriaDedicatória
Dedicatória
Aos meus pais
, meu irmão e meu noivo
pelo
amor ilimitado... Compartilho com vocês a
alegria e a honra deste importante passo na
minha vida.
vi
Agradecimentos
À Deus, que possibilitou-me a conclusão desta etapa muito importante da minha vida,
permitindo assim a realização de um sonho.
Ao orientador e amigo Prof. Dr. Reinaldo Salomão pela paciência e sobretudo pela
oportunidade de concretização desta pesquisa. Com certeza, o pesquisador mais brilhante que
conheci.
À amiga Dra. Milena K. C. Brunialti, pela fascinante dedicação, competência e
incentivo todos os momentos deste trabalho.
Aos amigos do Laboratório de Imunologia I, em especial, Aline J. Barbosa, Natália E.
Gomes, Leandro S.W. Martos, Maria da Luz Fernandes, Viviane K. Alves, Sidnéia S. Souza,
Marialice E. Mendes e Amanda B. Alves. Sempre lembrarei de nossos bons momentos juntos e
da ajuda oferecida nos momentos difíceis.
Ao meu noivo, Vitor, pelo grande incentivo, paciência e amor dedicados durante a
concretização desta etapa.
Aos amigos Glaucia D. Mahana e Carlos P. A. Melo, hoje colegas de trabalho, por
sempre acreditarem em mim e me ajudarem na realização do meu maior sonho.
Ao Laboratório Central do Hospital São Paulo, por permitir a conclusão dos meus
experimentos.
Obrigada a todos.
vii
Sumário
Dedicatória………………………………………………………………………………..
v
Agradecimentos…………………………………………………………………............
vi
Lista de figuras....................................................................................................... ix
Lista de quadros..................................................................................................... x
Lista de tabelas...................................................................................................... xi
Lista de abreviaturas.............................................................................................. xii
Resumo.................................................................................................................. xiii
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 1
1.1 Epidemiologia, etiologia e transmissão da leptospirose...................................
2
1.2 Aspectos clínicos e patogênese……………………………..…………………….
3
2 OBJETIVOS........................................................................................................ 7
3 MATERIAIS......................................................................................................... 9
3.1 Anticorpos e corantes...................................................................................... 10
3.2 Aparelhos e Programas................................................................................... 10
3.3 Reagentes e estímulos…………………………………………………………….. 11
3.4 Soluções e meio de cultura.............................................................................. 11
4 MÉTODOS.......................................................................................................... 13
4.1 Pacientes e voluntários sadios……………………………………………………. 14
4.1.1 Grupo de pacientes com leptospirose e indivíduos sadios........................... 14
4.1.2 Critérios de inclusão………………………………………………………………
14
4.1.3 Critérios de exclusão…………………………………………………………….. 14
4.2 Coleta de amostra………………………………………………………………….. 15
4.2.1 Separação de células mononucleares do sangue periférico......................... 15
4.2.2 Congelamento das amostras…………………………………………………….
16
4.2.3 Descongelamento das amostras……………………………………………….. 16
4.3 Verificação da viabilidade de células CD14+................................................... 16
4.3.1 Aquisição de dados em citômetro de fluxo.................................................... 17
4.3.2 Análise da viabilidade celular com 7-AAD..................................................... 18
4.4 Curva dose-resposta de MALP-2……………………………………………........ 20
4.4.1 Aquisição e análise de dados em citômetro de fluxo.................................... 20
viii
4.5 Curva dose-resposta de LipL32…………………………………………………... 22
4.5.1 Aquisição e análise de dados em citômetro de fluxo.................................... 23
4.6 Estimulação in vitro de células mononucleares do sangue periférico para
detecção intracelular de citocinas em monócitos de pacientes e indivíduos
sadios.....................................................................................................................
25
4.7 Imunofenotipagem de monócitos de pacientes e indivíduos sadios através
da citometria de fluxo.............................................................................................
26
4.7.1 Aquisição e análise de dados para imunofenotipagem................................. 26
4.8 Análise estatística.............................................................................................
28
5 RESULTADOS.................................................................................................... 29
5.1 Detecção da produção de citocinas inflamatórias intracelulares (IL-6 e TNF-
α) por monócitos induzidas por LPS, MALP-2 e LipL32.........................................
30
5.1.1 Produção de IL-6…………………………………………………………………. 30
5.1.2 Produção de TNF-α induzida por LPS, MALP-2 e LipL32.............................
32
5.2 Imunofenotipagem de monócitos de pacientes e indivíduos sadios................ 34
5.2.1 Expressão de TLR2, TLR4 e CD14............................................................... 34
6 DISCUSSÃO....................................................................................................... 38
7 CONCLUSÕES................................................................................................... 42
8 REFERÊNCIAS................................................................................................... 44
Abstract 50
ix
Lista de figuras
Figura 1.
Estratégia de aquisição de monócitos em CMSP................................... 18
Figura 2.
Análise da viabilidade de monócitos após descongelamento................. 19
Figura 3.
Porcentagem de monócitos viáveis após descongelamento.................. 19
Figura 4.
Curva dose-resposta de MALP-2 para indução de IL-6 e TNF-α
intracelular...............................................................................................
21
Figura 5.
Média da porcentagem da produção de IL-6 e TNF-α intracelular em
monócitos após estimulação com diferentes concentrações de
MALP-2...................................................................................................
22
Figura 6.
Curva dose-resposta de LipL32 para indução de IL-6 e TNF-α
intracelular...............................................................................................
24
Figura 7.
Porcentagem da produção de IL-6 e TNF-α intracelular em monócitos
após estimulação com diferentes concentrações de LipL32..................
25
Figura 8.
Intensidade de expressão dos receptores TLR2 e TRL4........................
27
Figura 9.
Intensidade de expressão do receptor CD14..........................................
28
Figura 10.
Produção de IL-6 intracelular induzida por LPS (caixas em branco),
MALP-2 (caixas em cinza) e LipL32 (caixas em hachurado) em
monócitos de indivíduos sadios e pacientes com leptospirose...............
31
Figura 11.
Produção de TNF-α intracelular induzida por LPS (caixas em branco),
MALP-2 (caixas em cinza) e LipL32 (caixas em hachurado) em
monócitos de indivíduos sadios e pacientes com leptospirose...............
33
Figura 12.
Expressão de TLR2 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes
com leptospirose.....................................................................................
35
Figura 13.
Expressão de TLR4 em monócitos de indiduos sadios e pacientes
com leptospirose....................................................................................
36
Figura 14.
Expressão de CD14 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes
com leptospirose....................................................................................
37
x
Lista de quadros
Quadro 1.
Características clínicas e epidemiológicas dos pacientes com
leptospirose.............................................................................................
15
xi
Lista de tabelas
Tabela 1.
Anticorpos e corantes utilizados nos experimentos................................ 10
Tabela 2.
Painel de anticorpos monoclonais...........................................................
26
Tabela 3.
Produção de IL-6 intracelular induzida por LPS, MALP-2 e LipL32 em
monócitos de indivíduos sadios e pacientes com leptospirose...............
31
Tabela 4.
Produção de TNF-α intracelular induzida por LPS, MALP-2 e LipL32
em monócitos de indivíduos sadios e pacientes com leptospirose.........
33
Tabela 5.
Expressão de TLR2 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes
com leptospirose.....................................................................................
35
Tabela 6.
Expressão de TLR4 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes
com leptospirose.....................................................................................
36
Tabela 7.
Expressão de CD14 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes
com leptospirose.....................................................................................
37
xii
Lista de abreviaturas
APC
aloficocianina
BD
Becton Dickinson
BSA
albumina bovina sérica
CD
cluster of differentiation
CMSP
células mononucleares do sangue periférico
DMSO
dimetil sulfóxido
FCS
soro fetal bovino
FITC
fluoresceína isotiocianato
FL
fosfolipídeo
GLP
glicoproteína
IFN-γ
γγ
γ
interferon - gama
IL-10
interleucina - 10
IL-6
interleucina - 6
Lip
lipoproteínas
LPS
lipopolissacarídeo
M
Molaridade
MALP-2
lipopeptídeo ativador de monócitos – 2
µL
microlitro
mg
miligrama
min
minuto
mL
mililitro
o
C
graus Celsius
PE
ficoeritrina
PG
peptídeoglicano
TLR2
Toll-like receptor 2
TLR4
Toll-like receptor 4
TNF-α
αα
α
fator de necrose tumoral – alfa
xiii
Resumo
A leptospirose constitui uma importante zoonose, encontrada em regiões de
clima tropical, ocorrendo principalmente em épocas chuvosas. O controle da infecção
depende do adequado reconhecimento do microorganismo pelos receptores de
reconhecimento de padrão de patógenos, os TLRs, presentes nas células do sistema
imune inato do hospedeiro. A ativação dos TLRs é fundamental para o
desencadeamento da resposta inflamatória, mediadora da resposta de proteção e de
lesão no processo infeccioso. Objetivos: Avaliar a expressão dos receptores TLR2,
TLR4 e CD14 na superfície de monócitos e a resposta in vitro aos estímulos LipL32
(extraído de Leptospira sp.), MALP-2 (antígeno sintético de Mycoplasma fermentans) e
LPS (antígeno extraído de Salmonella abortus equi) ligantes dos TLRs, medida pela
produção de citocinas, em pacientes com leptospirose. Métodos: Foram incluídos 07
pacientes com quadro clínico e laboratorial de leptospirose e 07 voluntários sadios,
utilizados como controle. As células mononucleares do sangue periférico (CMSP) foram
separadas utilizando ficoll-paque, congeladas e armazenadas em nitrogênio líquido.
Após descongelamento, verificação da viabilidade e acerto da concentração de células
para 1x10
6
células/mL foi mensurada a expressão de TLR2, TLR4 e CD14 na superfície
de monócitos. O restante da suspensão de células foi incubada por 6 horas com os
estímulos de 1000ng/mL de LipL32, 0,4U/mL de MALP-2 ou 100ng/mL de LPS. Após a
primeira hora de incubação foi adicionado monensina para bloqueio da secreção de
citocina. Em seguida, as CMSP foram marcadas com CD14, fixadas, permeabilizadas e
expostas aos anticorpos anti-IL-6 e anti-TNF-α para detecção intracelular da produção
destas citocinas inflamatórias nos monócitos. Foram adquiridos 10.000 eventos
combinado-se morfologia e positividade para CD14 em citometria de fluxo.
Resultados: o foi observada diferença significativa na resposta inflamatória entre
pacientes com leptospirose e voluntários sadios quando CMSP foram estimuladas in
vitro com MALP-2 e LipL32 para indução da produção de citocinas inflamatórias (IL-6 e
TNF-α) em monócitos. Todavia, a produção de TNF-α foi menor após estímulo com
LPS (p=0,035), o que não ocorreu com a produção de IL-6. Em relação à expressão de
receptores de superfície, foi observado aumento da expressão de TLR2 (p=0,025) na
superfície de monócitos dos pacientes, porém não houve diferença na expressão de
TLR4 e CD14. Conclusões: Neste estudo demonstramos que a capacidade de
reconhecimento de antígenos pelos monócitos do sangue periférico de pacientes com
leptospirose está preservada ou aumentada. Além disso, observamos que a produção
de citocinas inflamatórias frente a antígeno da própria Leptospira (LipL32) e outro
antígeno agonista de TLR2 (MALP-2) está mantida. Entretanto, a produção de citocina
inflamatória frente ao LPS (agonista de TLR4) mostrou-se complexa podendo estar
influenciada pela tolerância cruzada.
1.
1. 1.
1. Introdução
IntroduçãoIntrodução
Introdução
2
1.1 Epidemiologia, Etiologia e Transmissão da Leptospirose
A leptospirose constitui uma das zoonoses mundialmente mais importantes,
comumente encontrada em regiões de clima tropical, ocorrendo principalmente em
épocas chuvosas. É uma doença causada por espiroquetas patogênicas do gênero
Leptospira, pertencente à família Leptospiraceae.
(3,9-11)
As leptospiras são microorganismos aeróbios obrigatórios, helicoidais, flexíveis e
móveis. Estas são individualizadas em sorotipos com base nas suas características
antigênicas. Dois ou mais sorotipos antigenicamente relacionados formam um
sorogrupo.
(3,22)
No Brasil, são mais freqüentes os sorogrupos icterohemorrhagiae,
copenhageni e canícola.
(21)
São bactérias altamente invasivas, capazes de infectar os hospedeiros,
principalmente mamíferos selvagens ou domésticos, instalando-se nos túbulos
contornados proximais dos rins desses animais.
(13,21-22)
O principal animal reservatório
das leptospiroses é o rato, pois é capaz de permanecer eliminando o microorganismo
pela urina por toda sua vida, constituindo-se um portador universal. A transmissão ao
homem pode ocorrer por contato direto com sangue, tecidos, órgãos ou urina de
animais infectados ou, por via indireta, através do contato com água ou solo
contaminados com a urina dos portadores.
(2,3,14,21,24)
Lesões em pele ou conjuntiva são as principais portas de entrada das bactérias,
mas, a contaminação também pode se dar com o epitélio intacto, se o hospedeiro se
mantiver imerso na água por um longo período, com inalação de água ou aerossóis,
que podem resultar na infecção das membranas do trato respiratório, através de
mordidas de animais e transmissão entre humanos, sendo os dois últimos exemplos
extremamente raros.
(3,21)
Apesar de a leptospirose manter-se associada à exposição ocupacional,
acometendo comumente trabalhadores rurais, pescadores, garimpeiros e mineradores,
sua epidemiologia está se modificando.
(19,25,29)
A mudança do contexto rural para
urbano ocorre em paralelo ao aumento da freqüência do sorogrupo
icterohaemorrhagiae, carreado especialmente por roedores nos grandes centros.
(4,37)
As enchentes e chuvas fortes favorecem, em nosso meio, o contato do homem
com as águas contaminadas. Sendo assim, no Brasil, a incidência é maior no período
de janeiro a abril, quando ocorrem cerca de 70% dos casos.
(22)
3
Em São Paulo e Salvador, a leptospirose relaciona-se a condições sócio-
econômicas desfavoráveis, devido ao alagamento das zonas urbanas com baixas
condições sanitárias.
(8,20,31)
1.2 Aspectos Clínicos e Patogênese
A doença pode se manifestar de várias formas, desde quadros
oligossintomáticos aparentando uma gripe, passando por formas anictéricas de
gravidade moderada, como meningite, até formas graves, como síndrome hemorrágica
pulmonar. Estas cursam com icterícia, fenômenos hemorrágicos e múltiplas disfunções
orgânicas e o conhecidas como síndrome de Weil.
(23,39)
Pacientes acometidos pelas
formas graves da leptospirose mostram quadro similar àquele apresentado por
indivíduos com sepse grave por bactérias Gram-positivas ou Gram-negativas, com
febre, taquicardia, taquipnéia, leucocitose, hipotensão e disfunções orgânicas diversas,
como insuficiência renal aguda, coma, coagulopatia e icterícia. Este quadro pode ser
caracterizado como síndrome da resposta inflamatória sistêmica por leptospirose.
(22,28)
As alterações patológicas presentes nestes pacientes são pouco intensas em
comparação ao grau de disfunção orgânica observado, sendo que as lesões são de
caráter mais focal em sua maioria. As alterações tissulares mostram, por
imunohistoquímica, a presença de depósitos de antígenos bacterianos nos locais de
lesão e poucas ou nenhuma bactéria íntegra.
(14)
As lesões apresentam características
de lesão de membranas celulares, concentradas principalmente no endotélio vascular
de pequenos vasos, levando ao extravasamento de células e plasma para o interstício
dos tecidos e podendo chegar até a hemorragias graves. Estes fatos sugerem que as
lesões patológicas da leptospirose sejam causadas por um ou mais fatores tóxicos da
bactéria associados a sua capacidade de aderência aos lípides da membrana celular. A
adesão de leptospiras à membrana celular de diversos tipos de células precede o
aparecimento de lesões celulares.
(22,33,34)
A caracterização dos diversos componentes de efeito xico presentes nas
leptospiras, tais como as lipoproteínas (Lip), a glicoproteína (GLP), o lipopolissacarídeo
(LPS), o fosfolipídeo (FL) e o peptídeoglicano (PG) e a avaliação da resposta
inflamatória são importantes aspectos investigativos nesta doença.
(12,14,22)
4
As lipoproteínas, constituintes externos da membrana das leptospiras, são
consideradas potentes agentes imunogênicos.
(10,39)
Dentre elas, a LipL21 é a segunda
lipoproteína mais abundante, além de ser encontrada em cerca de 90% das espécies
saprofíticas.
(10)
A LipL32 tem grande destaque por ser encontrada em maior quantidade
na bactéria patogênica. Guerreiro et al. demonstraram que esta é altamente expressa e
conservada em espécies patogênicas de Leptospira, além de ser a lipoproteína
antigênica imunodominante reconhecida pela resposta humoral na infecção natural por
leptospirose.
(9,15,18,40)
A GLP, isolada de leptospiras patogênicas, mostrou-se tóxica para lulas em
cultura e animais.
(37)
O efeito tóxico parece ocorrer sobre a membrana celular, mas seu
mecanismo íntimo não está esclarecido. Tal citotoxicidade da GLP parece estar
relacionada à presença de ácidos graxos, como por exemplo, o ácido hexadecanóico,
que, na sua forma livre ou ligado a um fosfolípide, produziria lesões na membrana
celular. possibilidade de que a GLP possa ser a toxina comum às L. interrogans, e
que participaria das lesões vasculares, renais e tamm de outros órgãos, agindo de
maneira similar a endotoxina dos bacilos Gram-negativos.
(2,12,22,24)
O LPS isolado de L interrogans tem ação biológica similar à do LPS de bactérias
gram-negativas, porém, sua potência é cerca de 12 a 20 vezes menor.
(26)
Todavia,
diferente do LPS dos gram-negativos, o LPS de L. interrogans provoca lesão hepática
em animais, que se prolonga por vários dias. Este efeito é acompanhado do aumento
dos níveis plasmáticos de citocinas pró-inflamatórias via estimulação de macrófagos e
monócitos. Embora haja semelhança entre os dois tipos de LPS, o LPS de leptospira
não possui o ácido 2-ceto-3-deoxiotônico nem o ácido hidroximirístico. O mesmo
apresenta conteúdo protéico maior que o LPS de Gram-negativos.
(38)
Werts et al.
demonstraram que o LPS das leptospiras desencadeia a atividade dos macrófagos
principalmente através do CD14 e receptores do tipo Toll 2 (TLR2), ao contrário das
bactérias gram-negativas, cujos componentes de reconhecimento são os receptores do
tipo Toll 4 (TLR4), porém este mecanismo está não está completamente elucidado na
literatura. bastante interesse também em respostas cruzadas das células dos
pacientes com leptospirose a outros compostos bacterianos, como LPS de bactérias
gram-negativas e MALP-2, presente em Mycoplasma fermentans, agonista de TLR2/6.
(40,41)
5
Através dos componentes patogênicos derivados das leptospiras, indução de
citocinas pró-inflamatórias e também antiinflamatórias. Tais citocinas são liberadas
como resposta mediadora do hospedeiro frente ao desenvolvimento da doença.
(35)
Como na sepse por bactérias gram-positivas e gram-negativas acredita-se que
as citocinas inflamatórias tenham um papel fundamental na fisiopatologia da
leptospirose. Dentre as citocinas pró-inflamatórias, a interleucina - 6 (IL-6), produzida
por fagócitos mononucleares ativados, células endoteliais e fibroblastos, estimula a
síntese de proteínas de fase aguda pelos hepatócitos, bem como o crescimento de
linfócitos B que produzem anticorpos, e o fator de necrose tumoral - alfa (TNF-α),
produzido principalmente por fagócitos mononucleares ativados, estimula as células
endoteliais vasculares a expressarem novas moléculas de adesão, induz macrófagos e
células endoteliais a produzirem quimiocinas e promove apoptose de células alvo. Em
infecções graves, exerce efeitos sistêmicos, incluindo a indução de febre, síntese de
proteínas de fase aguda e caquexia.
(1)
De Fost et al. demonstraram que L. Interrogans
serovar rachmati induz a produção de IFN-γ e TNF-α in vitro, estabelecendo assim que
leptospiras patogênicas podem estimular a produção de citocinas tipo I, envolvidas na
imunidade celular.
(11)
Níveis elevados de TNF-α foram inicialmente associados com a reação de
Jarisch-Herxheimer na leptospirose.
(16)
Posteriormente, níveis circulantes foram
detectados, observando-se associação entre a elevação desta citocina e uma maior
taxa de gravidade e mortalidade da leptospirose.
(36)
Em investigações conduzidas por
nosso grupo, demonstramos que a GLP induziu a produção de citocinas inflamatórias e
anti-inflamatórias em células mononucleares do sangue periférico e que os monócitos
eram ativados, pela detecção de IL-6 e TNF-α intracelular.
(12,13)
Estes achados indicam
que GLP leva a indução de citocinas que são essenciais ao controle da infecção e
podem estar envolvidas na patogênese das lesões nos tecidos afetados pela
Leptospira sp.
(13)
Diversos estudos avaliando a atividade biológica de componentes tóxicos da
Leptospira foram conduzidos em células de animais ou de voluntários sadios. Estudos
conduzidos em células do sangue periférico de pacientes com sepse causada por
bactérias gram-negativas e gram-positivas mostram que essas sofrem modulação da
resposta a antígenos bacterianos, como o LPS, durante o curso da doença.
(6)
Todavia,
6
não estudos conduzidos avaliando a adaptação celular em células do sangue
periférico de pacientes com leptospirose, que foi objeto dessa investigação.
7
2.
2. 2.
2. Objetivos
Objetivos Objetivos
Objetivos
8
O objetivo deste estudo foi avaliar a resposta inflamatória na fase aguda da
leptospirose, através da produção de citocinas inflamatórias frente a diferentes
estímulos e expressão de receptores na superfície celular.
Para tanto foram investigados:
1. A produção de citocinas inflamatórias, IL-6 e TNF-α, frente aos estímulos LPS,
MALP-2 e LipL32 em monócitos.
2. A expressão dos receptores TLR2, TLR4 e CD14 na superfície de monócitos.
9
3.
3. 3.
3. Materiais
MateriaisMateriais
Materiais
10
3.1 Anticorpos e corantes
Tabela 1: Anticorpos e corantes utilizados nos experimentos.
Anticorpo Quantidade
(µl)
Clone Isotipo Fabricante
CD14-FITC
2
5
MφP9
mIgG
2b
BD Bioscience
TLR2-PE
3
10 TL2.1 mIgG
2a
eBioscience
TLR4-PE 20 HTA125 mIgG
2a
eBioscience
TNF-α-APC 2 MAb11 mIgG
1
BD Bioscience Pharmingen
IL6-PE 10 AS12 mIgG
1
BD Bioscience
7-AAD 5 - - BD Bioscience
1. APC: aloficocianina
2. FITC: fluoresceína isotiocianato
3. PE: ficoeritrina
3.2 Aparelhos e Programas
Citômetro de fluxo - BD FACSCalibur (BD Bioscences)
A leitura das amostras foi realizada em citômetro de fluxo FACSCalibur (BD
Bioscience) equipado com dois laseres, um de argônio e outro de diodo, com emissão
de comprimentos de onda de 488nm e 633nm, respectivamente. O laser de argônio
possibilita a excitação de três fluorocromos: FITC, PE e PerCP. O laser de diodo excita
o fluorocromo APC. A detecção das fluorescências foi feita em escala logarítmica. As
dispersões frontal e lateral de luz detectam, sem auxilio de fluorescência, tamanho e
complexidade celular, respectivamente. A dispersão frontal e lateral de luz foram
observadas em escala linear. Desta forma foi possível detectar até seis parâmetros
para cada evento adquirido, sendo que cada evento foi considerado como uma célula.
A detecção de cada parâmetro e compensação entre os canais de fluorescências foram
acertados para aperfeiçoar a aquisição de eventos. O citômetro é acoplado a unidade
constituída por um microcomputador Macintosh Power PC, modelo G4 (Apple
Computer Inc.), que permite controle sobre o citômetro e armazenamento dos dados
em arquivo.
Cell Quest
TM
Software versão 3.3 (BD Biosciences)
11
3.3 Reagentes e estímulos
LipL32
Proteína recombinante de leptospira, obtida conforme Haake, et al., 2002. Gentilmente
cedida pelo Dr Albert I. Ko, Fundação Oswaldo Cruz, Bahia, Brasil.
(19)
MALP-2 (Lipopeptídeo-2 ativador de macrófago)
Sintético, 50 µg/500 µL corresponde a 1x10
7
unidades.Reconstuído em PBS 5% BSA,
conforme instruções do fabricante (Aléxis Biochemicals).
(17)
LPS de Salmonella abortus equi
Obtido pelo método do fenol-água e purificado com fenol, clorofórmio e éter de
petróleo, gentilmente cedido pelo Dr Chris Galanos, Instituto Max-Planck de
Imunobiologia, Freiburg, Alemanha.
Monensina – 1mM (Sigma)
3.4 Soluções e meio de cultura
Albumina bovina sérica (BSA – Sigma)
Corante trypan blue
Trypan blue (Sigma) 0,1% em PBS
Meio de congelamento celular
Soro bovino fetal 10% Dimetil sulfóxido (DMSO – Calbiochem)
Meio de cultura RPMI 1640 pH 7,0
Meio RPMI 1640 autoclavável (Sigma), Penicilina G 10 IU/mL (Gibco), Estreptomicina
sulfatada 10 ug/mL (Gibco), L-glutamina 200 mM (Sigma)
12
PBS 0,15M pH 7,2
NaCl 0,286M (Merck), KH
2
PO
4
2,95mM (LabSynth), Na
2
HPO
4
16,4mM (LabSynth), KCl
5,56mM (LabSynth)
PBS 1% azida sódica
Azida sódica 1% (Sigma) diluído em PBS
Solução de lise BD
TM
(BD Bioscences)
Tampão de fixação pH 7,4-7,6
Paraformaldeído 4% (Polysciences) diluído em PBS
Tampão de marcação pH 7,4-7,6
Soro bovino fetal 1% (FCS – Gibco), azida sódica 0,1% diluídos em PBS
Tampão de permeabilização pH 7,4-7,6
Soro bovino fetal 1%, saponina 0,1% (Sigma), azida sódica 0,1% diluídos em PBS
13
4. M
4. M 4. M
4. Métodos
étodosétodos
étodos
14
4.1 Pacientes e voluntários sadios
4.1.1 Grupo de pacientes com leptospirose e indivíduos sadios
Voluntários sadios e pacientes foram incluídos no estudo após assinatura do
termo de consentimento livre e esclarecido por eles mesmos ou responsáveis. O
estudo obteve a aprovação dos Comitês de Ética do Hospital Santa Marcelina e
Hospital São Paulo/UNIFESP.
Voluntários: 07 indivíduos sadios, sem uso de medicamentos, foram pareados
por gênero e idade em relação aos pacientes.
Pacientes: 07 pacientes com quadro clínico e laboratorial de leptospirose,
admitidos no Hospital Santa Marcelina, na cidade de São Paulo. Todos os pacientes
incluídos são do sexo masculino. As demais características estão no quadro 1.
4.1.2 Critérios de inclusão
Pacientes com quadro cnico e laboratorial de leptospirose, com menos de 48
horas de admissão hospitalar.
Pacientes sem histórico de imunodeficncia.
O diagnóstico de leptospirose foi confirmado por sorologia ou isolamento de
leptospira.
4.1.3 Critérios de exclusão
Pacientes menores de 18 anos ou com doença em estádio terminal, como
neoplasias ou Aids.
Pacientes que receberam alguma terapia experimental.
O evento definidor da leptospirose ocorrido há mais de 48 horas.
15
Quadro 1: Características cnicas e epidemiológicas dos pacientes com leptospirose
Paciente
Idade Epidemiologia Início dos
Sintomas*
Alterações
em Urina I
Confirmação
Sorológica
Evolução
01
22 Exposição a
enchente
03 dias Hematúria e
leucocitúria
1ª amostra
positiva
Disfunção
renal
02
16 Exposição a
enchente
06 dias Hematúria e
proteinúria
1ª amostra
positiva
Sem
disfunção
03
31 Exposição a
ratos
10 dias Sem
alterações
1ª amostra
positiva
Sem
disfunção
04
40 Exposição a
ratos e
profissional
07 dias Hematúria,
leucocitúria e
proteinúria
1ª amostra
positiva
Insuficiência
respiratória e
renal
05
16 Exposição a
ratos
06 dias Hematúria e
leucocitúria
1ª amostra
positiva
Disfunção
renal
06
38 Exposição a
enchente
05 dias Hematúria e
leucocitúria
1ª amostra
positiva
Insuficiência
renal aguda
07
45 Exposição a
enchente
05 dias Leucocitúria
e proteinúria
1ª amostra
positiva
Sem
disfunção
*Até a data da coleta do sangue
4.2 Coleta de amostra
Para cada indivíduo sadio ou paciente com leptospirose foram coletados 20 mL de
sangue em tubo a vácuo contendo heparina sódica (BD) para obtenção das células
mononucleares do sangue periférico. As amostras foram encaminhadas para
processamento no Laboratório de Imunologia I da Disciplina de Infectologia da
UNIFESP.
4.2.1 Separação de células mononucleares do sangue periférico
O sangue coletado em tubo com heparina foi diluído em parte igual de soro
fisiológico estéril 0,9% (Áster, Sorocaba, SP, BR). O sangue diluído foi adicionado
sobre ficoll-paque plus (GE Bio-Science, Uppsala, Suécia) e centrifugado a 500g por 20
minutos a temperatura ambiente. Durante a centrifugação, as células mononucleares
do sangue periférico (CMSP) foram separadas devido à densidade do ficoll-paque plus
formando uma camada esbranquiçada de células. As células da camada foram
coletadas e passaram por duas lavagens com 50mL de soro fisiológico. O botão de
células mononucleares foi suspendido em meio de cultura RPMI suplementado com L-
16
glutamina, soro fetal bovino (FCS), estreptomicina e penicilina. A viabilidade e a
concentração da suspensão de células foram verificadas através da utilização do
corante trypan blue (Sigma, Saint Louis, MO, EUA) e câmara de Neubauer.
4.2.2 Congelamento das amostras
A suspensão de células foi congelada na concentração de 1x10
7
em FCS
10%DMSO em alíquotas de 1mL em criotubos. Estes permaneceram em caixas
especiais para congelamento celular (Strata Cooler) em freezer -80
o
C pelo menos 24
horas. Após este período as alíquotas foram transferidas para nitrogênio líquido onde
permaneceram até a realização dos ensaios.
4.2.3 Descongelamento das amostras
Assim que retiradas do nitrogênio líquido, as amostras foram colocadas em
banho-maria a 37
o
C para um rápido descongelamento. Imediatamente, as amostras
foram transferidas para tubos de 15 mL. As células foram lavadas com 10 mL de RPMI
a 37
o
C e centrifugadas a 2000 rpm por 10 minutos a temperatura ambiente. O
sobrenadante foi desprezado e as células foram suspensas em 3 mL de RPMI. A
viabilidade e correção da concentração da suspensão de células para 1x10
6
células/mL
foi através da utilização do corante trypan blue (Sigma, Saint Louis, MO, EUA) e
câmara de Neubauer, respectivamente.
4.3 Verificação da viabilidade de células CD14+
Amostras de 3 indivíduos sadios foram utilizadas. Dois mililitros da suspensão
de 1x10
6
lulas/mL foram centrifugados a 2000 rpm por 10 minutos a temperatura
ambiente e o sobrenadante foi desprezado. Após serem suspendidas, foram
aliquotadas em dois tubos de polipropileno. Um deles, foi incubado por 5 horas a 37
o
C,
e o outro teve as células marcadas com 5 µL de 7-AAD (marcador de células mortas) ,
5 µL de CD14-FITC (marcador de monócitos) e 2 µL de CD45-APC (marcador de
17
leucócitos) e incubadas por 15 minutos em câmara escura a temperatura ambiente. As
células então foram lavadas com tampão de marcação, novamente centrifugadas a
2000 rpm por 10 minutos a temperatura ambiente. Em seguida, o sobrenadante foi
desprezado e as células suspendidas em 300 µL de tampão de marcação para ser feita
a aquisição de dados por citometria de fluxo. Transcorridas as 5 horas, o mesmo
procedimento foi realizado com o outro tubo para certificação da viabilidade das células
CD14+ após o período de incubação utilizado nos experimentos de detecção de
citocinas intracelulares.
4.3.1 Aquisição de dados em citômetro de fluxo
Durante a aquisição dos dados, dois gráficos de pontos foram utilizados (figura
1). O primeiro, de dispersões frontal e lateral de luz, que representam respectivamente,
o tamanho e a complexidade das células, foi utilizado para determinar uma região R1
de morfologia de monócitos. Utilizando-se outro gráfico de dispersão lateral de luz
versus expressão de CD14, foi delimitada uma região R2 para eventos positivos para
CD14. Através da combinação de R1 com R2, foram adquiridos 10.000 eventos, os
quais possuíam, portanto, morfologia de monócitos e positividade para CD14. Todos os
eventos foram salvos. Tanto a aquisição dos eventos quanto a análise dos resultados
foram realizadas através do programa CellQuest (BD Bioscience).
18
Figura 1: Estratégia de aquisição de monócitos em CMSP. O gráfico a esquerda
mostra a dispersão frontal e lateral de luz, correspondendo ao tamanho e complexidade
celular, respectivamente. A região 1 (R1) separa a população característica de
monócitos. O gráfico da direita mostra expressão de CD14 e dispersão lateral de luz. A
região 2 (R2) separa os eventos CD14+. Durante a aquisão foram armazenados
10.000 eventos combinando as regiões R1 e R2.
4.3.2 Análise da viabilidade celular com 7-AAD
A figura 2 mostra o índice de viabilidade das células CD14+ logo após
descongelamento. A média da porcentagem de viabilidade celular de indivíduos foi de
65,70. O mesmo ocorreu após 5h de incubação destas células (média 51,82%). Este
dado foi importante para nos certificarmos que as células ainda estariam viáveis para
os ensaios de citocina intracelular. A figura 3 mostra a viabilidade de monócitos de 3
indivíduos logo após o descongelamento (T0) e após 5 horas de incubação (T5).
19
Figura 2: Análise da viabilidade de monócitos após descongelamento. O gráfico a
esquerda mostra a dispersão frontal e lateral de luz, correspondendo ao tamanho e
complexidade celular, respectivamente. A região 1 (R1) separa a população
característica de monócitos. O gráfico a direita mostra as células de R1 marcadas por
CD14 e 7-AAD. As células viáveis estão localizadas no quadrante superior esquerdo,
as quais são CD14 positivas e 7-AAD negativas. Resultado de um voluntário sadio.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
T0 T5
horas de incubação
viabilidade de monócitos (%)
V1
V2
V3
média
Figura 3: Porcentagem de monócitos viáveis após descongelamento.
20
4.4 Curva dose-resposta de MALP-2
Células descongeladas como no item 4.2.3 foram utilizadas para determinar a
concentração ideal de MALP-2 a ser empregada. Foram feitas alíquotas de 1 mL na
concentração de 1x10
6
cél/mL de 3 voluntários sadios em tubos de polipropileno. As
alíquotas foram mantidas a 37°C a 5% de CO2 por 30 min para estabilização das
células. Após a incubação, foram adicionadas as doses 0,4 ou 4,0 U de MALP-2. Um
tubo sem estímulo foi mantido como controle negativo. Após 30 min os tubos
receberam 2 µL de monensina e permaneceram incubados por 5 horas. Em seguida,
os tubos receberam 2 mL de tampão de marcação e foram centrifugados a 2000rpm
por 5min a 4°C. As amostras foram marcadas com o anticorpo monoclonal de
superfície, CD14-FITC e incubadas por 20 minutos no escuro a 4 ºC. Logo após, as
células foram lavadas em 2 mL de tampão de marcação, suspendidas em 1 mL de
tampão de fixação e incubadas por 20 minutos a 4ºC no escuro. Os tubos foram
novamente centrifugados e o sobrenadante desprezado. As células foram suspendidas
em 50 µL de tamo de permeabilização, receberam 10 µL de IL6-PE e 2 µL TNFα-
APC , sendo incubadas por 30 minutos a 4ºC no escuro. Após este período, as células
foram lavadas em 1 mL de tampão de permeabilização e suspendidas em tampão de
marcação para aquisição no citômetro de fluxo.
4.4.1 Aquisição e análise de dados em citômetro de fluxo
A aquisição dos dados para o ensaio de dose-resposta de MALP-2 foi feita como
no item 4.3.1. A figura 4 mostra gráficos de citometria da produção de IL-6 e TNF-α
intracelular em monócitos de um indivíduo após estímulo com 0,4 e 4U de MALP-2 e a
figura 5 ilustra a média de detecção em três indivíduos. Após análise dos resultados
escolhemos a dose de 0,4U/mL de MALP-2 para realizar os demais ensaios desta tese.
21
Figura 4: Curva dose-resposta de MALP-2 para indução de IL-6 e TNF-α intracelular.
(A) Gráficos de identificação da população de monócitos através da combinação das
regiões R1 e R2. (B) Os gráficos controle mostram em porcentagem o basal de
monócitos produzindo citocinas. Os demais gráficos mostram a porcentagem de
monócitos produtores de IL-6 e TNF-α estimulados com 0,4 e 4,0U/mL de MALP-2.
Resultado de um indivíduo.
B
controle
0,4 U
4,0 U
IL-6
TNF-alfa
dispersão frontal de luz
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
22, 60%
13, 70%
32,28%
54, 06%
51,51%
59,91%
B
controle
0,4 U
4,0 U
IL-6
TNF-alfa
dispersão frontal de luz
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
22, 60%
13, 70%
32,28%
54, 06%
51,51%
59,91%
22
0
5
10
15
20
25
30
35
0,4 U 4,0 U
Dose de MALP-2
Porcentagem de monócitos
produzindo citocina
TNF-alfa
IL-6
Figura 5: Média da porcentagem da produção de IL-6 e TNF-α intracelular em
monócitos após estimulação com diferentes concentrações de MALP-2. O valor basal
de produção de citocina foi descontado da condição estimulada. Média obtida de três
indivíduos sadios.
4.5 Curva dose-resposta de LipL32
Células descongeladas como no item 4.2.3 foram utilizadas para determinar a
concentração ideal de LipL32 a ser empregada. Foram feitas alíquotas de 1 mL na
concentração de 1x10
6
cél/mL de um voluntário sadio em tubos de polipropileno. As
alíquotas foram mantidas em estufa de CO
2
a 5% por 30 min para estabilização das
células. Em seguida, foram adicionadas as doses de LipL32 10, 100, 1000 ng/mL. Um
tubo sem estímulo foi mantido como controle negativo. Todo o processo de ativação
celular e marcação intracelular foram feitos de forma similar ao item 4.4.
23
4.5.1 Aquisição e análise de dados em citômetro de fluxo
A aquisição dos dados para o ensaio de dose-resposta de LipL32 foi feita como
no item 4.3.1. A figura 6 mostra gráficos de pontos (dot plots) e a figura 7 o percentual
de monócitos positivos para produção de IL-6 e TNF-α de um indivíduo após estímulo
com 10, 100 e 1000 ng/mL de LipL32. Após análise do resultado escolhemos a dose de
1000 ng/mL de LipL32 para realizar os demais ensaios desta tese.
24
Figura 6: Curva dose-resposta de LipL32 para indução de IL-6 e TNF-α intracelular.
(A) Gráficos de identificação da população de monócitos através da combinação das
regiões R1 e R2. (B) Os gráficos controle mostram em porcentagem o basal de
monócitos produzindo citocinas. Os demais gráficos mostram a porcentagem de
monócitos produtores de IL-6 e TNF-α estimulados com 10, 100 e 1000 ng/mL de
LipL32.
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
B
controle
10 ng /mL
100 ng /mL
1000 ng /mL
dispersão frontal de luz
IL-6 TNF-alfa
1,38%
5,44%
12,89%
6,86%
41,71%
25,27%
49,51%
35,85%
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
B
controle
10 ng /mL
100 ng /mL
1000 ng /mL
dispersão frontal de luz
IL-6 TNF-alfa
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
B
controle
10 ng /mL
100 ng /mL
1000 ng /mL
dispersão frontal de luz
IL-6 TNF-alfa
1,38%
5,44%
12,89%
6,86%
41,71%
25,27%
49,51%
35,85%
25
0
10
20
30
40
50
60
10 ng/mL 100 ng/mL 1000 ng/mL
Doses de LipL32
Porcentagem de monócitos
produzindo citocina
IL-6
TNF-alfa
Figura 7: Porcentagem da produção de IL-6 e TNF-α intracelular em monócitos após
estimulação com diferentes concentrações de LipL32. O valor basal de produção de
citocina foi descontado da condição estimulada.
4.6 Estimulação in vitro de células mononucleares do sangue periférico para
detecção intracelular de citocinas em monócitos de pacientes e indivíduos
sadios
As células dos pacientes e voluntários sadios foram descongeladas conforme
item 4.2.3. Após acerto da concentração para 1x10
6
cel/mL foram feitas alíquotas de
1mL da suspensão de CMSP em tubos de polipropileno. Estes foram incubadas por 30
minutos a 37
o
C. Ao fim da incubação manteve-se um tubo controle (sem estímulo) e
outros tubos foram estimulados com 100 ng/mL de LPS (dose previamente
padronizada pelo nosso laboratório, conforme artigo 11), 0,4 U/mL de MALP-2 e 100
ng/mL de LipL32. Todo o processo de ativação celular e marcação intracelular foi feito
de forma similar ao item 4.4.
26
4.7 Imunofenotipagem de monócitos de pacientes e indivíduos sadios através da
citometria de fluxo
As células dos pacientes e voluntários sadios foram descongeladas conforme
item 4.2.3. Após acerto da concentração para 1x10
6
cel/mL foram feitas alíquotas de
500 µL da suspensão de CMSP em tubos de polipropileno e acrescentando 2 mL de
tampão de marcação. Os tubos foram centrifugados a 2000 rpm por 8 minutos a
temperatura ambiente. Os sobrenadantes foram desprezados e as células
suspendidas. As amostras foram marcadas com os anticorpos monoclonais de
superfície como descrito na tabela 2 e incubadas por 15 minutos no escuro. Após o
tempo de incubação os tubos foram centrifugados a 2000 rpm por 8 minutos a
temperatura ambiente. Os sobrenadantes foram desprezados e as células suspendidas
em 300 µL para leitura em citômetro de fluxo.
Tabela 2: Painel de anticorpos monoclonais.
Tubos
FITC PE
1 CD14 (2,5 µL)
mIgG
2a
(5 µL)
2 CD14 (2,5 µL)
TLR2 (5 µL)
3 CD14 (2,5 µL)
TLR4 (10 µL)
4.7.1 Aquisição e análise de dados para imunofenotipagem
A aquisição dos dados para análise da imunofenotipagem foi feita como no item
4.3.1. A figura 8 mostra a expressão dos receptores TLR2 e TLR4 na superfície de
monócitos através de gráficos de histograma. Isotipos controles foram utilizados em
cada situação.
Para análise da expressão de CD14 em monócitos utilizou-se estratégia similar,
como mostrado na figura 9. A intensidade de expressão de CD14 foi verificada dentro
da marcação M1.
27
Figura 8: Intensidade de expressão dos receptores TLR2 e TLR4. (A) Gráficos de
identificação da população de monócitos através da combinação das regiões R1 e R2.
(B) Análise a expressão dos receptores TLR2 e TLR4 através de histogramas. Foi
utilizado isotipo controle.
Ig G 2a
TLR4
TLR2
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
B
Ig G 2a
TLR4
TLR2
Ig G 2a
TLR4
TLR2
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
R1
R2
Dispersão lateral de luz
CD14 FITC
dispersão frontal de luz
dispersão lateral de luz
A
B
28
Figura 9: Intensidade de expressão do receptor CD14. (A) Gráficos de identificação da
população de monócitos através da combinação das regiões R1 e R2. (B) Análise a
expressão de CD14 dentro da marcação M1.
4.8 Análise estatística
Os dados obtidos com a análise dos ensaios de imunofenotipagem e produção
de citocina intracelular foram transferidos a uma planilha de dados dos programas
Excel 2003 (Microsoft Corporation, Seattle, WA, EUA) e SPSS 13.0 (SPSS Inc. and
Predictive Analytics, Chicago, IL, EUA). Os valores obtidos com a ligação dos isotipos
na imunofenotipagem e a produção de citocinas detectadas na condição sem estímulo
foram subtraídos dos resultados. A comparação das variáveis foi realizada com o teste
não paramétrico Mann-Whitney. A diferença estatística foi considerada significativa
quando o valor de p observado foi menor que 0,05.
R1
R2
M1
Dispersão lateral de luz
dispersão frontal de luz
FL3
CD14 FITC
CD14 FITC
A
B
R1
R2
M1
Dispersão lateral de luz
dispersão frontal de luz
FL3
CD14 FITC
CD14 FITC
R1
R2
M1
Dispersão lateral de luz
dispersão frontal de luz
FL3
CD14 FITC
CD14 FITC
A
B
29
5.
5. 5.
5. Resultados
ResultadosResultados
Resultados
30
5.1 Detecção da produção de citocinas inflamatórias (IL-6 e TNF-α) induzidas por
LPS, MALP-2 e LipL32 em monócitos de pacientes com leptospirose e
voluntários sadios
5.1.1 Produção de IL-6
A produção de IL-6 foi similar frente aos estímulos de LPS, MALP-2 e LipL32
(figura 10 e tabela 3). Os valores basais de produção de IL-6 foram subtraídos das
condições de estímulos. Ao analisarem-se os grupos verificou-se que não houve
diferença significativa na produção de IL-6 entre voluntários sadios e pacientes com
leptospirose. Os valores de p comparando lulas de pacientes com leptospirose e
voluntários sadios para os estímulos foram: LPS (p=0,100), MALP-2 (p=0,917) e LipL32
(p=1,000) (Mann-Whitney).
31
Figura 10: Produção de IL-6 intracelular induzida por LPS (caixas em branco), MALP-2
(caixas em cinza) e LipL32 (caixas em hachurado) em monócitos de indivíduos sadios
e pacientes com leptospirose. Resultado de 07 voluntários sadios e 07 pacientes. No
gráfico os valores são representados em porcentagem de células positivas para IL-6.
Estão representados os valores máximos e mínimos, o percentil 25% e 75% (caixas),
mediana dos grupos e valores extremos (asteriscos).
Tabela 3: Produção de IL-6 intracelular induzida por LPS, MALP-2 e LipL32 em
monócitos de indivíduos sadios e pacientes com leptospirose. Valores expressos em
porcentagem de células positivas para IL-6.
LPS
sadio
MALP-2
LipL32
LPS
paciente
MALP-2
LipL32
média 33,7
24,4
26,6
20,9
24,9
30,4
mediana 29,0
25,3
29,6
16,8
18,6
26,4
mínimo 22,2
24,4
20,3
16,8
15,6
19,7
máximo 46,4
40,5
34,9
49,2
47,5
52,2
percentis 25 24,7
15,1
19,3
12,1
15,5
16,9
75
45,2
33,3
32,4
37,0
37,5
47,7
voluntário sadio paciente
Porcentagemde monócitospositivos paraIL-6
32
5.1.2 Produção de TNF-α
Nos dois grupos estudados, a produção de TNF-α induzida por MALP-2 e LipL32
apresentou uma magnitude de resposta bastante similar (figura 11 e tabela 4). Os
valores basais de produção de TNF-α foram subtraídos das condições de estímulos. Ao
analisarem-se os grupos verificou-se que houve diferença significativa na produção de
TNF-α entre voluntários sadios e pacientes com leptospirose quando o estímulo foi LPS
(p=0,035). Para os estímulos MALP-2 (p=0,317) e LipL32 (p=0,180) não houve
diferença significativa (Mann-Whitney).
33
Figura 11: Produção de TNF-α intracelular induzida por LPS (caixas em branco),
MALP-2 (caixas em cinza) e LipL32 (caixas em hachurado) em monócitos de indivíduos
sadios e pacientes com leptospirose. Resultado de 07 voluntários sadios e 07
pacientes. No gráfico os valores são representados em porcentagem de lulas
positivas para TNF-α. Estão representados os valores máximos e mínimos, o percentil
25% e 75% (caixas), mediana dos grupos e valores extremos (círculos). *
p<0,05 na
comparação entre os grupos estimulados com LPS (Mann-Whitney).
Tabela 4: Produção de TNF-α intracelular induzida por LPS, MALP-2 e LipL32 em
monócitos de indivíduos sadios e pacientes com leptospirose. Valores expressos em
porcentagem de células positivas para TNF-α.
LPS
sadio
MALP-2
LipL32
LPS
paciente
MALP-2
LipL32
média 32,8
30,7
46,0
19,1
25,6
36,6
mediana 32,2
24,0
46,6
15,1
22,9
37,8
mínimo 16,6
21,0
28,6
3,39
15,1
20,2
máximo 48,2
50,8
62,5
41,8
37,3
54,8
percentis 25 27,8
21,7
39,4
11,3
15,3
20,9
75
40,5
40,7
50,4
31,6
38,0
48,3
voluntário sadio paciente
Porcentagem de monócitos positivos para TNF-α
voluntário sadio paciente
Porcentagem de monócitos positivos para TNF-α
*
34
5.2 Imunofenotipagem de monócitos de pacientes e indivíduos sadios
5.2.1 Expressão de TLR2, TLR4 e CD14
Foi observada diferença estatística quando se compararam os dois grupos
estudados (indivíduos sadios e pacientes com leptospirose) quanto à expressão de
TLR2 (p=0,025) na superfície de monócitos como mostrado na figura 12, porém não
houve diferença estatística na expressão de TLR4 (p=0,318) e CD14 (p=0,949), como
mostrado nas figuras 13 e 14, respectivamente. Os valores obtidos no estudo das
expressões de TLR2, TLR4 e CD14 estão nas tabelas 5, 6 e 7, respectivamente.
35
Figura 12: Expressão de TLR2 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes com
leptospirose. Resultado de 7 voluntários sadios e 07 pacientes. Foram adquiridos
10.000 eventos na janela de monócitos, combinado tamanho e complexidade das
células e positividade para CD14. No gráfico os valores são mostrados em média
geométrica da intensidade de fluorescência da expressão de TLR2. Estão
representados os valores máximos e mínimos, o percentil 25% e 75% (caixas) e a
mediana dos grupos. p<0,05 na comparação entre os grupos (Mann-Whitney).
Tabela 5: Expressão de TLR2 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes com
leptospirose. Valores mostrados em média geométrica da intensidade de fluorescência.
sadio
paciente
média 37,2
70,8
mediana 33,6
74,6
mínimo 20,7
24,1
máximo 58,0
116,7
percentis 25
75
21,2
54,9
44,3
89,9
100
80
60
40
20
0
Expressão de TLR2 em monócitos (MGIF)
voluntário sadio paciente
100
80
60
40
20
0
Expressão de TLR2 em monócitos (MGIF)
voluntário sadio paciente
36
Figura 13: Expressão de TLR4 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes com
leptospirose. Resultado de 7 voluntários sadios e 07 pacientes. Foram adquiridos
10.000 eventos na janela de monócitos, combinado tamanho e complexidade das
células e positividade para CD14. No gráfico os valores são mostrados em média
geométrica da intensidade de fluorescência da expressão de TLR4. Estão
representados os valores máximos e mínimos, o percentil 25% e 75% (caixas) e a
mediana dos grupos e valores extremos (círculos). p>0,05 na comparação entre os
grupos (Mann-Whitney).
Tabela 6: Expressão de TLR4 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes com
leptospirose. Valores mostrados em média geométrica da intensidade de fluorescência.
sadio
paciente
média 31,6
39,2
mediana 27,2
37,3
mínimo 16,4
19,0
máximo 58,4
59,9
percentis 25
75
17,2
42,3
34,5
45,1
0
20
10
30
40
50
voluntário sadio
paciente
Expressão de TLR4 em monócitos (MGIF)
0
20
10
30
40
50
voluntário sadio
paciente
Expressão de TLR4 em monócitos (MGIF)
37
Figura 14: Expressão de CD14 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes com
leptospirose. Resultado de 7 voluntários sadios e 07 pacientes. Foram adquiridos
10.000 eventos na janela de monócitos, combinado tamanho e complexidade das
células e positividade para CD14. No gráfico os valores são mostrados em média
geométrica da intensidade de fluorescência da expressão de CD14. Estão
representados os valores máximos e mínimos, o percentil 25% e 75% (caixas) e a
mediana dos grupos. p>0,05 na comparação entre os grupos (Mann-Whitney).
Tabela 7: Expressão de CD14 em monócitos de indivíduos sadios e pacientes com
leptospirose. Valores mostrados em média geométrica da intensidade de fluorescência.
sadio
paciente
média 391,6
395,3
mediana 406,7
417,5
mínimo 317,8
290,8
máximo 483,4
488,5
percentis 25
75
334,4
439,8
309,5
482,8
250
300
350
400
450
500
voluntário sadio
paciente
Expressão de CD14 em monócitos (MGIF)
250
300
350
400
450
500
voluntário sadio
paciente
Expressão de CD14 em monócitos (MGIF)
38
6.
6. 6.
6. Discussão
DiscussãoDiscussão
Discussão
39
A leptospirose é uma doença causada por toxina ou toxinas presentes nas
células do espiroqueta e liberadas nos tecidos afetados. Dentre os vários produtos
isolados da leptospira destaca-se a LipL32 (agonista de TLR2), por ser altamente
expressa e conservada em espécies patogênicas de Leptospira, além de ser a
lipoproteína antigênica imunodominante, indutora de resposta humoral na infecção
natural por leptospirose.
(9,15,18,39)
bastante interesse também em respostas cruzadas de CMSP dos pacientes
com leptospirose a outros compostos bacterianos, como LPS de bactérias gram-
negativas (agonista de TLR4) e MALP-2, presente em Mycoplasma fermentans
(agonista de TLR2/6), para que haja uma comparação entre a produção de citocinas
induzida por produtos antigênicos isolados de leptospiras patogênicas e de outros tipos
de bactérias que tamm induzem a sepse.
(40,41)
Em investigações conduzidas por nosso grupo, demonstramos que níveis
elevados de TNF-α foram encontrados no plasma de pacientes com as formas mais
graves da doença, estando ausente ou em baixos veis nas formas mais brandas, o
que nos mostrou que uma associação entre a elevação desta citocina circulante e
maior gravidade e mortalidade da leptospirose.
(36)
Em outra rie de investigações, observamos que em monócitos de voluntários
sadios estimulados com GLP proveniente de leptospiras patogênicas ocorreu indução
da produção de citocinas inflamatórias (como IL-6 e TNF-α) e anti-inflamatória (IL-10),
as quais são essenciais ao controle da infecção e podem estar envolvidas na
patogênese das lesões nos tecidos afetados pela Leptospira sp.
(12,13)
De Fost et al. induziram a produção de IFN-γ e TNF-α em células do sangue
periférico de bovinos estimuladas com L. interrogans serovar rachmati inativada por
calor. Após estimulação do sangue total, detectou-se a presença das citocinas por
ELISA em sobrenadante da cultura, estabelecendo assim que leptospiras patogênicas
podem estimular a produção de citocinas tipo I, envolvidas na imunidade celular.
(11)
Investigações conduzidas em CMSP de pacientes com sepse por bactérias
gram-negativas e gram-positivas mostram que essas sofrem modulação da resposta a
antígenos bacterianos, como o LPS, durante o curso da doença. Encontrou-se uma
regulação positiva da produção de citocinas inflamatórias no estádio inicial da sepse,
seguida de uma importante regulação negativa nos estágios tardios, ou seja, pacientes
em sepse grave e choque ptico.
(6)
Este resultado é concordante com a hipótese de
patogênese da sepse, onde no estádio inicial após a infecção o surgimento de
40
citocinas inflamatórias e antiinflamatórias. O estádio tardio é caracterizado por
persistente desativação do monócito e aumento do risco de morte.
(5,30)
Não há relatos de trabalhos que avaliem a adaptação celular em lulas do
sangue periférico de pacientes com leptospirose. A produção de citocinas, na maioria
das investigações, foi induzida in vitro, a partir da estimulação de células sadias, de
animais ou voluntários, com LPS ou GLP de leptospiras patogênicas.
Em nosso estudo, avaliamos a produção de citocinas por células mononucleares
de pacientes com leptospirose, detectada intracelular em monócitos estimulados com
antígenos purificados de Leptospira patogênica (LipL32), Salomonella abortus equi
(LPS) e Mycoplasma fermentans (MALP-2).
Nossos resultados indicam que há preservação da resposta inflamatória em
pacientes com leptospirose comparados a voluntários sadios quando CMSP são
estimuladas in vitro com MALP-2 e LipL32 para indução da produção de citocinas
inflamatórias intracelulares (IL-6 e TNF-α) em monócitos. Todavia, a produção de TNF-
α intracelular foi menor após estímulo com LPS, o que não ocorreu com a produção de
IL-6 que se manteve preservada.
Sato et al. Demonstraram regulação negativa, in vitro, da produção de TNF-α
intracelular em macrófagos de murinos pré-tratados com MALP-2 em resposta ao LPS,
o que confirma a tolerância cruzada entre antígenos sinalizadores de TLR2 e TLR4.
(32)
Esse efeito poderia explicar o mecanismo pelo qual pacientes com leptospirose
mostraram-se hiporresponsivos ao estímulo com LPS em nosso estudo, uma vez que
eles já tiveram sua ativação de resposta celular primária via TLR2.
Estudos indicam que lipoproteínas e LPS provenientes de Leptospiras
patogênicas desencadeiam a atividade dos macrófagos, principalmente através dos
receptores CD14 e TLR2, ao contrário das bactérias gram-negativas, cujos
componentes de reconhecimento são os receptores CD14 e TLR4. Entretanto, o
mecanismo de reconhecimento de antígenos padrão de Leptospiras não está
completamente elucidado na literatura.
(40)
A expressão de TLR2 e TLR4 em monócitos durante a leptospirose reveste-se
de grande interesse, que estes são, sabidamente, receptores de reconhecimento de
patógenos. Investigações conduzidas com camundongos e seres humanos mostram
que há diferença na especificidade de receptores do tipo Toll por LPS de Leptospira em
seres humanos e camundongos. Os humanos requerem CD14 e TLR2, mas não TLR4
para o reconhecimento do patógeno, diferentemente dos camundongos que o
41
reconhecem via TLR2 e TLR4. É sabido que camundongos o pouco susceptíveis a
leptospirose e humanos são sensíveis, por este motivo acredita-se que a via de
reconhecimento do antígeno por monócitos de camundongos faça parte de uma efetiva
resposta imune inata da doença.
(27)
Nossos resultados mostram que os receptores da superfície celular de
monócitos estão diferentemente regulados na leptospirose. Assim, houve aumento da
expressão de TLR2 e não se observou diferença na expressão de TLR4 e CD14 entre
voluntários sadios e pacientes. Todavia, o aumento da expressão de TLR2 não resultou
em acréscimo da produção de citocinas inflamatórias, que se manteve semelhante ao
grupo controle. Também observamos uma discrepância em relação à produção de
TNF-α intracelular após estimulação com LPS e expressão de receptores, ou seja,
embora a produção de TNF-α tenha sido menor, a expressão de TLR4 e CD14 se
manteve inalterada. Este resultado é concordante com estudo realizado por nosso
grupo em pacientes com sepse por bactérias gram-negativas ou gram-positivas, onde a
expressão destes receptores permaneceu inalterada no continuum da doença, porém a
detecção de citocinas foi elevada no estágio inicial e suprimida nos estágios mais
graves da síndrome, sugerindo que a regulação positiva ou negativa se na
sinalização intracelular.
(6)
42
7.
7. 7.
7. Conclusões
Conclusões Conclusões
Conclusões
43
1. Monócitos do sangue periférico de pacientes com leptospirose mantêm a
capacidade de reconhecimento e sinalização celulares, avaliados pela detecção
intracelular de IL-6 e TNF-α frente a estímulos da própria Leptospira (LipL32),
assim como a outro antígeno agonista de TLR2 (MALP-2). Todavia, a produção
de TNF-α intracelular foi menor após estímulo com LPS, o que não ocorreu com
a produção de IL-6 que se manteve preservada.
2. A expressão dos receptores de superfície, TLR4 e CD14 nos monócitos está
inalterada na fase aguda da leptospirose em relação a indivíduos sadios, já a
expressão de TLR2 mostra-se aumentada. A preservação da expressão desses
receptores na superfície celular pode desempenhar um importante papel na
preservação da capacidade de reconhecimento e sinalização demonstrada in
vitro.
44
8.
8. 8.
8. Referências
ReferênciasReferências
Referências
45
1. Abbas AK, Lichtman AH. Citocinas. In Abbas AK, Lichtman AH. Imunologia
celular e molecular. 5a ed. Traduzido por Farias AS. Rio de Janeiro: Elsevier;
2005. p.251-82.
2. Alves VAF, Gayatto LCC, Yasuda PH, Wakamatsu A, Kanamura CT, De Brito T.
Leptospiral antigens (L. Interrogans serogroup icterohaemorrhagiae) in the
kidney of experimentally infected guinea pigs and their relation to the
pathogenesis of the renal injury. Exp Pathol. 1991;42:81-93.
3. Bharti AR, Nally JE, Ricaldi JN, Matthias MA, Diaz MM, Lovett MA, et al.
Leptospirois: a zoonotic disease of global importance. Lancet Infect Dis.
2003;3(12):757-71.
4. Bishara J, Amitay E, Barnea A, Yitzhaki S, Pitlik S. Epidemiological and clinical
features of leptospirosis in Israel. Eur J Clin Microbiol Infect Dis. 2002;21(1):50-2.
5. Bone RC, Sibbald WJ, Sprung CL. The ACCP-SCCM consensus conference on
sepsis and organ failure. Chest. 1992;101:(6)1481-3
6. Brunialti MK, Martins PS, Barbosa de Carvalho H, Machado FR, Barbosa LM,
Salomao R. TLR2, TLR4, CD14, CD11b, and CD11c expressions on monocytes
surface and cytokine production in patients with sepsis, severe sepsis and septic
shock. Shock. 2006 Apr;25(4):351-7.
7. Chierakul W, de Fost M, Suputtamongkol Y, Limpaiboon R, Dondorp A, White
NJ, et al. Differential expression of interferon-γ and interferon-γ-inducing
cytokines in Thai patients with scrub typhus or leptospirosis. Clin Immun.
2004;113:140-4.
8. Costa E, Costa YA, Lopes AA, Sacramento E, Bina JC. Severe forms of
leptospirosis: clinical, demographic and environmental aspects. Rev Soc Bras
Med Trop. 2001;34(3):261-7.
46
9. Croda J, Ramos JGR, Matsunaga J, Queiroz A, Homma A, Riley LW, et al.
Leptospira immnunoglobulin-like proteins as a serodiagnostic marker for acute
leptospirosis. J Clin Microbiol. 2007;45(5):1528-34.
10. Cullen PA, Haake DA, Bulach DM, Zuerner RL, Adler B. LipL21 is a novel
surface-exposed lipoprotein of pathogenic Leptospira species. Infect Immun
2003; 2414-21.
11. De Fost M, Hartskeerl RA, Groenendijk MR, van der Poll T. Interleukin 12 in part
regulates gamma interferon release in human whole blood stimulated with
Leptospira interrogans. Clin Diagn Lab Immunol. 2003;10(2):332-5.
12. Diament D, Brunialti MKC, Romero EC, Kallas EG, Salomão R. Peripheral blood
mononuclear cell activation induced by Leptospira interrogans glycoprotein.
Infect Immun. 2002;1677-83.
13. Dorigatti F, Brunialti MKC, Romero EC, Kallas EG, Salomão R. Leptospira
interrogans activation of peripheral blood monocyte glycolipoprotein
demonstrated in whole blood by the release of IL-6. Braz J Med Biol Res.
2005;38:909-14.
14. Faine S. Leptospira and Leptospirosis. CRC Press, Boca Raton; 1994.
15. Flannery B, Costa D, Carvalho FP, Guerreiro H, Matsunaga J, Silva ED, et al.
Evaluation of recombinant Leptospira antigen-based enzyme-lynked
immunosorbent assays for the serodiagnosis of leptospirosis. J Clin Microbiol.
2001;39(9):3303-10.
16. Frieland JS, Warrell DA. The Jarisch-Herxheimer reaction in leptospirosis:
possible pathogenesis and review. Rev Infect Dis. 1991;13:207-10.
17. Galanos C, Freudenberg MA, Luderitz O, Rietschel ET, Westphal O. Chemical,
physicochemical and biological properties of bacterial lipopolysaccharides. Prog
Clin Biol Res. 1979;29:321-32.
47
18. Guerreiro H, Croda J, Flannery B, Mazel M, Matsunaga J, Reis MG, et al.
Leptospiral proteins recognized during the humoral immune response to
leptospirosis in humans. Infect and Immun. 2001;69(8):4958-68.
19. Haake DA, Dundoo M, Cader R. Leptospirosis, water sports, and
chemoprophylaxis. Ciln Infect Dis. 2002;34:e40-3.
20. Ko AL, Reis GM, Riley LW. Urban epidemic of severe leptospirosis in Brazil. The
Lancet. 1999;354:820-5.
21. Levett PN. Leptospirosis. Clin Microb Rev. 2001;14:296-326.
22. Lomar AV, Veronesi R. Leptospiroses. In Veronesi R, Focaccia R. Tratado de
Infectologia. 5a ed. São Paulo: Atheneu, 1997. p.987-1003.
23. Lomar AV, Diament D, Torres J. Leptospirosis in Latin América. Infect Dis Clin
North Am. 2000;14(1):23-39.
24. Macedo-Santos RT, Sakata EE, Yasuda PH. Glicoproteina de Leptospira
interrogans sorogrupo icterohaemorrhagiae: distribuição em fígado e rim de
cobaias experimentalmente infectadas. Ver Inst Med Trop. 1989;31(4):235-41.
25. Meites E, Jay MT, Deresinski S, Smith S. Reemerging leptospirosis, Califórnia.
Emerg Infect Dis. 2004;10:406-11.
26. Merien F, Truccolo J, Rougier Y. In vivo apoptosis of hepatocytes in guinea pigs
infected with Leptospira interrogans serovar icterohaemorrhagiae. FEMS
Microbiol Lett. 1998;169:95-102.
27. Nahori MA, Fournié-Amazouz E, Que-Gewirth N, Balloy V, Chignard M, Raetz
CRH, et al. Differential TLR recognition of Leptospiral lipid A and
lipopolysaccharide in murine and human cells. Journal Immun. 2005,175:6022-
31.
48
28. O’Neil Km, Rickman LS, Lazarus AA. Pulmonary manifestations of leptospirosis.
Rev Infect Dis. 1991;13:705-9.
29. Ricaldi J, Vinetz JM. Leptospirosis in tropics and in travelers. Curr Infect Dis
Reports. 2006;3(7):1-10.
30. Riedemann NC, Guo RF, Ward PA. Novel strategies for treatment of sepsis. Nat
Med. 2003;9(5):517-24.
31. Romero EC, Bernardo CCm, Yasuda P. Human leptospirosis: a twenty-nine year
serological study in São Paulo, Brazil. Rev Inst Med Trop São Paulo.
2003;45(5):245-8.
32. Sato SS, Nomura F, Kawai T, Takeuchi O, Mühlradt PF, Takeda K, et al.
Synergy and cross-tolerance between toll-like receptor (TLR) 2- and TLR4-
mediated signaling pathways. J Immunol. 2000 Dec 15;165(12):7096-101.
33. Segura ER, Ganoza CA, Campos K, Ricaldi JN, Torres S, Silva H, et al. Clinical
spectrum of pulmonary involvement in leptospirosis in a region of endemicity,
with quantification of leptospiral burden. Clin Infect Dis. 2005;40(3):343-51.
34. Spichler A, Moock M, Chapola EG, Vinetz J. Weil’s disease: an unusually
fulminant presentation characterized by pulmonary hemorrhage and shock. Braz
J Infect Dis. 2005;9(4):336-40.
35. Takiji MH, Nakama AS, Salomão R. The ration of plasma levels of IL-10/TNF-α
and its relationship to disease severity and survival in patients with leptospirosis.
Braz J Infect Dis. 1997;1(3):138-41.
36. Takiji MH, Salomão R. Association of plasma levels of tumor necrosis factor α
with severity of disease and mortality among patients with leptospirosis. Clin
Infect Dis. 1996;23:1177-8.
37. Vinetz JM, Glass GE, Kaslow DC. Sporadic urban leptospirosis. 1996;10:794-8.
49
38. Vinh T, Adler B, Faine S. Glycoprotein cytotoxin from Leptospira interrogans
serovar copenhageni. J Gen Microbiol. 1986;132:111-23.
39. Weil A. Ueber eine eigentumliche mit milztumor, icterus and nephritis
einhergehende acute infektionskrankheit. Dtsche Arch Klin Med. 1886;39:209-32.
40. Werts C, Tapping RI, Mathison JC. Leptospiral lipopolysaccharide activates cells
though a TLR2-dependent mechanism. Nat Immun. 2001;2:346-52.
41. Wilde I, Lotz S, Engelmann D, Starke A, van Zandbergen G, Solbach W, et al.
Direct stimulatory effects of the TLR2/6 ligand bacterial lipopeptide MALP-2 on
neutrophil granulocytes. Med Microbiol and Immunol. 2007;196(2):61-71.
50
Abstract
The Leptospirosis is one of the world's most important zoonoses, found in regions of
tropical climate, occurring mainly in rainy seasons. The control of infection depends on
the proper recognition of the microorganism by receptors for recognition of patterns of
pathogens, the TLRs present in the cells of the innate immune system of the host. The
activation of TLRs is crucial for triggering the inflammatory response, mediator of the
response of protection in case of injury and infection.
Objectives: To evaluate the
expression of receptors TLR2, TLR4 and CD14 on the monocytes surface in vitro and
response to stimuli LipL32 (extracted from Lestospira sp.), MALP-2 (synthetic antigen of
Mycoplasma fermentans) and LPS (antigen extracted from bacteria-gram negative)
binders of TLRs, as measured by production of cytokines in patients with leptospirosis.
Methods: 07 patients with clinical and laboratory of leptospirosis were included and 07
healthy volunteers, used as controls. The peripheral blood mononuclear cells (PBMC)
were separated using ficoll-paque, frozen and stored in liquid nitrogen. After thawing,
checking the feasibility and wisdom of the concentration of cells to 1x10
6
células/mL was
measured the expression of TLR2, TLR4 and CD14 on the monocytes surface. The rest
of the cell suspension was incubated for 6 hours with the stimuli of 1000ng/mL of
LipL32, 0.4 U / mL of MALP-2 or 100ng/mL of LPS. After the first hour of incubation was
added monensin for blocking the secretion of cytokine. Then the PBMC were stained
with CD14, set, permeabilizaded and exposed to anti-IL-6 and anti-TNF-α for detection
of intracellular production of inflammatory cytokines in monocytes. They were acquired
10,000 events combined to morphology and positive for CD14 in flow cytometry.
Results: There was no significant difference in the inflammatory response among
patients with leptospirosis and healthy volunteers when PBMC were stimulated in vitro
with MALP-2 and LipL32 to induce the production of inflammatory cytokines (IL-6 and
TNF-α) in monocytes. However, the production of intracellular of TNF-α was lower after
stimulation with LPS (p = 0035), which did not occur to the production of IL-6.
Regarding the expression of surface receptors, it was observed increased expression of
TLR2 (p = 0025) on the monocytes surface of patients, but there was no difference in
the expression of TLR4 and CD14. Conclusions: This study demonstrated that the
ability of recognition of antigens by peripheral blood monocytes of patients with
leptospirosis is preserved or increased. Also, we observed that the production of
inflammatory cytokines in front of the Leptospira antigen (LipL32) and another antigen
agonist of TLR2 (MALP-2) is maintained. Meanwhile, the production of inflammatory
cytokine front of LPS (agonist of TLR4) proved to be complex may be influenced by
cross tolerance.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo