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LEONARDO CASETTA
CONTRIBUIÇÕES À MECÂNICA DOS SISTEMAS DE
MASSA VARIÁVEL
São Paulo
2008
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2
LEONARDO CASETTA
CONTRIBUIÇÕES À MECÂNICA DOS SISTEMAS DE
MASSA VARIÁVEL
Tese apresentada à Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo para a obtenção
do título de Doutor em Engenharia
São Paulo
2008
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LEONARDO CASETTA
CONTRIBUIÇÕES À MECÂNICA DOS SISTEMAS DE
MASSA VARIÁVEL
Tese apresentada à Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo para a obtenção
do título de Doutor em Engenharia
Área de concentração: Engenharia
Mecânica
Orientador: Prof. Dr. Celso Pupo Pesce
São Paulo
2008
4
DEDICATÓRIA
À Ana, minha esposa, e à Clara, minha filha, que sempre me
trouxeram muita felicidade e paz.
5
AGRADECIMENTOS
À FAPESP, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pelo suporte
financeiro, através da bolsa de doutoramento, processo número 04/04611-5.
Menção especial de agradecimento ao assessor ad-hoc da FAPESP, pelo incentivo e
compreensão ao longo do desenvolvimento da pesquisa.
Aos Professores Benaroya, H., Mikhailov, G. K. e Šíma, V., por terem gentilmente
disponibilizado algumas de suas referências; e Irschik, H., Korobkin, A. A. e Miloh, T., por
terem incentivado a pesquisa sobre o tema aqui abordado.
À banca examinadora, pelo tempo despendido com a leitura dessa tese, de onde então
culminaram valiosas críticas e sugestões não apenas para esse trabalho, mas também para
futuros.
Em especial, ao meu orientador, o Prof. Dr. Celso Pupo Pesce. Durante esses quase cinco
anos de pesquisa, o Prof. Dr. Celso Pupo Pesce foi quem, acreditando na possibilidade de que
eu pudesse realizar um bom trabalho, envolveu-se em cada uma de nossas discussões. E foi
dessa forma que essa tese foi sendo construída, ou seja, através dessa nossa relação de
confiança, respeito e carinho.
Aos meus amigos (em ordem alfabética), Ana Dienn Coelho Rocha, Edileuza Salvani da
Silva, Edna Moratto Rodrigues de Lima, Helton Henrique dos Santos Bezerra, Janice
Rechulski, Marcos Alves Rabelo, Maria Regina Castro, Marilda Nagamini, Patricia Aguiar
Fidelis, Telma Ramos Trigo e Wilson Camargo da Silva, que me ajudaram na superação de
mais esse obstáculo. Em especial, agradeço ao meu amigo Luis Fernando Sper Cavalli, que
sempre será para mim um exemplo de uma pessoa tenaz, corajosa, lutadora e ao mesmo
tempo serena.
Por fim, deixo meus mais sinceros agradecimentos à minha família, em especial aos meus
pais e irmãos, cujo apoio foi indispensável para a conclusão desse trabalho.
6
PREFÁCIO
Antes do leitor iniciar a apreciação dessa tese, o autor gostaria de comentar como se deu
seu desenvolvimento.
O primeiro contato que o autor dessa tese teve com o tema ‘teoria de sistemas de massa
variável’ ocorreu durante seu programa de mestrado, realizado aqui nessa mesma Escola. À
época, o autor estudava o chamado ‘problema de impacto hidrodinâmico’, problema que é de
grande relevância para o processo de avaliação da segurança de estruturas marítimas, e que é
usualmente modelado a partir de um volume de controle; portanto, como um sistema de massa
variável. Sob o ponto de vista teórico, esse problema apresenta um aspecto bastante
interessante. Quando o campo de pressão é integrado sob a superfície molhada do corpo, o
resultado obtido, i.e. a força de impacto, não corresponde àquela expressão que advém da
aplicação da equação de Lagrange clássica.
Ocorre que em um dos primeiros trabalhos sobre a aplicação da equação de Lagrange a
problemas de hidrodinâmica, que é aquele devido à Lamb (1932, art. 136), mostra-se que,
quando um corpo está em contato com um líquido, as forças hidrodinâmicas sob as quais o
mesmo fica submetido podem ser obtidas a partir da formulação Lagrangeana. No entanto,
para o problema de impacto hidrodinâmico, essa técnica ‘falhava’
1
e um ‘aparente’ paradoxo
assim se estabelecia.
Foi então que em 2003, o orientador desse trabalho, então orientador do programa de
mestrado do autor, mostrou que, em verdade, não existe paradoxo se a chamada ‘equação de
Lagrange estendida’ (por ele demonstrada em PESCE, 2003) fosse aplicada ao problema.
Dentro da dinâmica de partículas, a equação de Lagrange estendida é aquela que deve ser
utilizada no caso em que a massa das partículas depende explicitamente das coordenadas e
velocidades generalizadas do sistema. Essa elegante solução para o aparente paradoxo foi o
quê, de início, motivou o autor dessa tese a prosseguir com a pesquisa sobre a teoria de
sistemas de massa variável; ou seja, a buscar respostas para perguntas como: por que razão a
______________
1
Na verdade, como será discutido no Capítulo 5, essa técnica é válida para esse problema, desde que o mesmo
seja reinterpretado de modo consistente com a teoria de Lamb (1932, art. 136).
7
equação de Lagrange estendida é adequada para o problema de impacto hidrodinâmico, e, a
equação de Lagrange demonstrada por Lamb (1932, art. 136), então considerada como um
resultado clássico, não?
O autor dessa tese então começou a levantar uma série de referências bibliográficas sobre
a teoria de sistemas de massa variável, procurando nelas a interpretação sica adequada para
cada um dos termos envolvidos nas diferentes formas da equação de Lagrange. Mas ocorreu
que, em meio a essa pesquisa, uma nova questão surgiu: a aplicação da segunda lei de Newton
a sistemas de massa variável. As novas referências também apontavam para o fato de que
existiam muitos equívocos de interpretação na aplicação da segunda lei de Newton aos
sistemas de massa variável, se os termos nela envolvidos não fossem interpretados
adequadamente.
Nesse ínterim, o autor tomou conhecimento do importantíssimo trabalho de revisão de
Irschik e Holl (2004), que trata da teoria de sistemas de massa variável de um modo geral.
Além disso, em contato por correio eletrônico, o Prof. Dr. Mikhailov, atenciosamente, enviou
um de seus artigos sobre a história da mecânica de sistemas de massa variável, onde nele é
mostrada a evolução da concepção da segunda lei de Newton para esses sistemas. Assim, das
referências anteriormente levantadas, do trabalho de Irschik e Holl (2004) e aquele de
Mikhailov (1975), o autor pôde construir uma espinha dorsal para a interpretação dos
principais fundamentos envolvidos na mecânica de sistemas de massa variável.
No entanto, questões sobre a maneira adequada de se empregar a equação de Lagrange a
sistemas de massa variável ainda o havia sido respondidas, e novas pesquisas, portanto,
ainda eram necessárias. O autor então tomou conhecimento de um outro trabalho de Irschik e
Holl (2002), onde a equação de Lagrange para um volume de controle é demonstrada. A partir
desse trabalho, elementos preciosos sobre essas questões foram extraídos. Mas, foi revisitando
o trabalho de Mikhailov (1975) que o aspecto mais curioso e interessante dessa tese surgiu.
Um dos primeiros problemas a serem interpretados como um problema envolvendo um
sistema de massa variável é o chamado ‘problema da corrente em queda’. O curioso é que,
assim como o problema de impacto hidrodinâmico, o problema da corrente em queda também
envolvia aparentes paradoxos no sentido da aplicação da equação de Lagrange.
Uma nova série de referências bibliográficas sobre esse primeiro problema foi então
levantada, e entre elas estava a de Cayley (1857), que é um dos primeiros trabalhos sobre a
aplicação da equação de Lagrange a sistemas de massa variável. E foi justamente a partir
8
dessa referência que os aparentes paradoxos envolvendo o problema da corrente em queda e o
problema de impacto hidrodinâmico puderam, pelo menos sob o ponto de vista do autor dessa
tese, ser interpretados e resolvidos de uma mesma e única maneira.
O leitor dessa tese assim a encontrará dividida em duas partes. A primeira, que
corresponde à parte teórica, encerra questões de interpretação do processo de variação de
massa e dos termos envolvidos, seja na segunda lei de Newton, seja na equação de Lagrange.
Na segunda parte, o problema da corrente em queda e o de impacto hidrodinâmico são
abordados como exemplos de aplicação daquilo que foi exposto na primeira parte. Vale aqui
também adiantar que, em razão dos diferentes assuntos abordados, i.e. o problema da corrente
em queda, o problema de impacto hidrodinâmico, a história da mecânica de sistemas de massa
variável, etc., a revisão bibliográfica dessa tese encontra-se apresentada ao longo dos
Capítulos, conforme o tópico em pauta.
Cumpre mencionar, por fim, recentíssima e relevante aplicação da teoria da dinâmica de
sistemas de massa variável: o estudo do movimento de colapso das duas torres gêmeas do
World Trade Center, tragicamente ocorrido em 11 de setembro de 2001. O artigo de Bažant e
Verdure (2007), por exemplo, aborda o problema sob a ótica da mecânica de sistemas de
massa variável. No entanto, apresentam dúbias equações sem um efetivo aprofundamento das
questões teóricas aqui abordadas, acomodando-se ao aparente paradoxo, mais uma vez
manifesto.
9
RESUMO
Desde 1814, quando então se deram seus primeiros estudos, a mecânica de sistemas de massa
variável tem se constituído como um ramo particular dentro da mecânica clássica. Suas
aplicações encontram-se espalhadas por diversas áreas do conhecimento e o desde a
engenharia até a medicina, por exemplo. No entanto, apesar dessas aplicações de sucesso,
ainda hoje são encontradas na literatura discussões acerca dos fundamentos da mecânica de
sistemas de massa variável. Nesse cenário, figuram os chamados ‘aparentes paradoxos’ que
envolvem diferentes equações de movimento para um mesmo sistema de massa variável. É o
que pode ser encontrado, por exemplo, com relação ao ‘problema de Wagner’, no âmbito do
estudo do impacto de corpos sólidos contra superfícies de líquidos, e ao ‘problema da corrente
em queda’. Nessa tese, questões como essas serão abordadas. Mas o cerne do escopo do
presente trabalho é a apresentação de uma discussão de caráter mais geral e interpretativa
sobre a teoria e aplicação da mecânica de sistemas de massa variável, mantendo-se como foco
principal a contribuição para um melhor entendimento desse importante ramo da mecânica.
Para tal, resultados teóricos originais serão apresentados, e discussões e aplicações sobre os
mesmos serão feitas. Inicialmente, uma discussão sobre os primeiros trabalhos que
fundamentam a dinâmica de uma partícula de massa variável é feita. Nesse contexto,
interpretações originais do autor dessa tese são apontadas. Em seguida, a aplicação da
equação de Lagrange a sistemas de massa variável é abordada. Nesse cenário, esse autor
apresenta a chamada ‘equação de Lagrange para um volume de controle onde a massa varia
com as coordenadas e velocidades generalizadas’. Esse também é um dos resultados originais
dessa tese. Por fim, é apresentada a extensão do princípio variacional para um líquido para um
volume de controle, que também é um resultado original desse trabalho. Dois problemas
clássicos dentro da teoria de sistemas de massa variável são então tratados, i.e. o problema da
corrente em queda e o problema de Wagner. Trata-se de dois problemas ‘aparentemente
paradoxais’. A resolução desses ‘aparentes paradoxos’ é abordada, o que também se constitui
em um dos resultados originais dessa tese. Uma breve discussão sobre o problema do colapso
das torres gêmeas do World Trade Center à luz da mecânica de sistemas de massa variável é
também feita.
Palavras-chave: Mecânica teórica. Sistemas de massa variável. Abordagem Lagrangeana.
Problema de Wagner. Problema de corrente em queda. Colapso das torres gêmeas do World
Trade Center. ‘Aparentes paradoxos’.
10
ABSTRACT
Since 1814, when the first researches on the topic were carried out, variable mass system
mechanics has become a particular branch within classical mechanics. Applied problems
involving variable mass systems are sparsely distributed over a wide range of different areas
of knowledge, and go from engineering to medicine, for example. However, despite these
successful applications, even today one can find in the specialized literature discussions on
the fundamentals of the variable mass system mechanics. In this scenario, ‘apparent
paradoxes’, which are based on different equations of motion for a same variable mass
system, figure out. In this sense, the Wagner’s problem, in the context of the study of the
impact of solid bodies into liquid surfaces, and the falling chain problem can be cited as
didactic examples. In this thesis, topics like this one will be treated. However, the main scope
of this work is to present a more general and interpretative discussion on both the theory and
application of the mechanics of variable mass systems, but keeping the focus on contributions
that enable a better understanding of such an important branch of mechanics. For that, original
theoretical results will be presented, as also discussions and applications of them. In the
beginning, a discussion on the first fundamental works about the dynamics of a variable mass
particle is done. In such a context, original interpretations of this author are pointed out. Then,
the application of Lagrange equations on variable mass systems is discussed. In this scenario,
this author shows the so-called ‘Lagrange equation for a control volume where mass varies
with generalized coordinates and velocities’. This is also an original result of this thesis. By
the end, an extension of a variational principle to a control volume is shown, also an original
result of this work. Two classical problems within the theory of variable mass systems are
then treated, i.e. the falling chain problem and the Wagner’s problems. Both are ‘apparently
paradoxical’ problems. The resolution of such ‘apparent paradoxes’ is addressed, what is also
an original result. Within the present context of the mechanics of variable mass systems, a
brief discussion on the problem of the collapse of the World Trade Center twin towers is also
done.
Keywords: Theoretical mechanics. Variable mass systems. Lagrangean approach. Wagner’s
problem. Falling chain problem. Collapse of the World Trade Center twin towers. ‘Apparent
paradoxes’.
11
LISTA DE FIGURAS
Descrição Pág.
Figura 2.1 - Agregação entre uma partícula de massa
m
e uma outra partícula de massa
µ
d innitesimal..... 10
Figura 2.2 - Agregação entre uma partícula de massa
m
e uma outra partícula de massa
µ
d
innitesimal.
Caso em que, após o choque, a identidade da partícula
µ
d é perdida. ............................................................... 13
Figura 2.3 - Interpretação de Tait e Steele (1856) para a dinâmica de uma partícula de massa variável........... 15
Figura 2.4 - Representação de fontes de
ψ
dentro do volume material
V
, e passagem de
ψ
através de
V
. 18
Figura 2.5 - ‘Desaparecimento’ da partícula
µ
d
, que se encontra no exterior de V
~
(no instante de tempo
t
), e
‘surgimento’ dessa partícula no interior de
V
(no instante de tempo
tt d
+
), quando então é imediatamente
agregada pela partícula de massa
m
. A partícula ‘gerada’ não é interpretada como parte da partícula que a
gera. ...................................................................................................................................................................... 22
Figura 2.6 - O mesmo que a Fig. 2.5. Porém, a partícula ‘gerada’ é interpretada como parte da partícula que a
gera. ...................................................................................................................................................................... 22
Figura 2.7 - Partícula
µ
d , que se encontra no exterior de V
ˆ
no instante de tempo
t
, cruza a fronteira V
ˆ
, e
atinge o interior de V
ˆ
no instante de tempo tt d
+
, quando então é imediatamente agregada à partícula de
massa
m
. Ao ser capturada, a partícula
µ
d
não é interpretada como parte da outra partícula........................ 27
Figura 2.8 - O mesmo que a Fig. 2.7. No entanto, ao ser capturada, a partícula
µ
d
é interpretada como parte
da outra partícula.................................................................................................................................................. 27
Figura 3.1 – Ilustração de um sistema de massa variável com a posição. Uma caneta movendo-se ao longo de
uma folha de papel. ............................................................................................................................................... 42
Figura 3.2 - Sistema de massa variável explicitamente com a posição. Um bloco movendo-se ao longo de uma
superfície áspera. .................................................................................................................................................. 55
Figura 3.3 - Um reservatório de líquido que é aberto e que se encontra preso na extremidade de uma haste que
gira. Sistema de massa variável explicitamente com a velocidade. ...................................................................... 61
Figura 3.4 - Movimento de um corpo não-deformável e totalmente submerso em meio líquido com uma
superfície livre. Meio líquido na cor cinza, corpo na cor branca. ........................................................................ 76
Figura 4.1 - Problema de Buquoy bidimensional.................................................................................................. 85
Figura 4.2 - Problema de Buquoy unidimensional................................................................................................ 86
Figura 4.3 - Fluxo de quantidade de movimento vertical para a porção enrolada da corrente (problema de
Buquoy para o caso em que 0
<
y
&
). .................................................................................................................... 89
Figura 4.4 - Problema de Buquoy com 0
=
F e y*(0) = 6. Solução de Šima e Podolský (2005) (Eq. (4.6a) e
aquela esperada a partir dos conceitos apresentados no Capítulo 2 (Eq. (4.7a)). ............................................... 90
Figura 4.5 - Problema de Cayley tridimensional.................................................................................................. 91
Figura 4.6 - Problema de Cayley unidimensional................................................................................................. 91
Figura 4.7 - Problema de Cayley. Solução de Souza e Rodrigues (2004), Eq. (4.15a) e a de Cayley (1857), Eq.
(4.11a). .................................................................................................................................................................. 94
Figura 4.8 - Instante de tempo imediatamente anterior ao abandono de um das extremidades fixas da corrente.
............................................................................................................................................................................... 95
Figura 4.9 - Instante de tempo imediatamente após o abandono de um das extremidades fixas da corrente....... 96
Figura 4.10 - Idealização usual do problema da corrente em U. ......................................................................... 97
Figura 4.11 - Esquematização dos três volumes de controle que compõe a corrente em U. ................................ 98
Figura 4.12 - Analogia entre o problema da corrente em U e o de um bloco (retângulo com listras) sendo
abaixado por meio de uma polia móvel. Note que jv y
A
&
= , )(
2
1
jiv
+
= y
B
&
e 0=
C
v ............................... 100
Figura 4.13 - Problema da corrente em ‘U’. Solução dada pela Eq. (4.26a) e aquela onde se considera que a
perna livre cai com aceleração constante e igual à da gravidade. ..................................................................... 101
Figura 4.14 - Velocidade da partícula e velocidade do elemento de massa antes de sua captura, nas possíveis
maneiras de isso ocorrer. .................................................................................................................................... 115
12
Figura 4.15 - Velocidade da partícula e velocidade do elemento de massa após sua ejeção, nas possíveis
maneiras de isso ocorrer. .................................................................................................................................... 115
Figura 4.16 - Superfície singular que ocorre dentro da corrente no problema de Buquoy. Definição dos volumes
V
ˆ
e
V
(
. ............................................................................................................................................................... 116
Figura 4.17 - Bola de neve que ao se movimentar captura um floco de neve. Definições dos volumes V
ˆ
e V
(
.117
Figura 4.18 – Esquematização do movimento de colapso da torre do World Trade Center. ............................. 121
Figura 4.19 – Simulação do avanço da frente de colapso (avalanche) da torre 1 do World Trade
Center. 2,0
=
K , 044,0
=
Φ
;
1364,0)0(*
=
y
. Comparação entre soluções das Eqs. (4.88a) (correta) e (4.89a).
............................................................................................................................................................................. 126
Figura 4.20 – Simulação do avanço da frente de colapso (avalanche) da torre 2 do World Trade
Center. 2,0
=
K , 044,0
=
Φ
;
2545,0)0(
*
=y
. Comparação entre soluções das Eqs. (4.88a) (correta) e (4.89a).
............................................................................................................................................................................. 126
Figura 5.1 - O primeiro ponto de contato entre o corpo e o líquido, i.e. em
0
=
t
. Sistema de coordenadas
Oxyz
. .................................................................................................................................................................. 130
Figura 5.2 - Regiões características do escoamento para pequenos valores de
ε
. ........................................... 131
Figura 5.3 - O seio do líquido e a descrição da elevação da superfície livre pela função
η
............................. 131
Figura 5.4 - Mapeamento do domínio líquido
b
V do problema de Wagner não-linear no domínio líquido
0
b
V do
problema de Wagner linear. Note que
0
F
S
não inclui os jatos e que a área do disco
0
B
S
rapidamente se expande.
............................................................................................................................................................................. 134
Figura 5.5 - Fluxo de líquido através da região da raiz do jato......................................................................... 138
Figura 5.6 – Desaceleração no impacto de uma esfera, segundo Eq. (5.33) (correta) e (5.34) (incorreta) para o
caso
15
2
=
R
F
e σ = 0,2 (
35,0)/(
ρ
ρ
es
). .......................................................................................................... 142
Figura 5.7 - Desaceleração no impacto de uma esfera, segundo Eq. (5.33) (correta) e (5.34) (incorreta) para o
caso
15
2
=
R
F
e σ = 4,5 (
89,7)/(
ρ
ρ
es
). .......................................................................................................... 143
Figura A.1 – Relação entre as posições de uma mesma partícula, sendo essas tomadas com relação a diferentes
referenciais inerciais.............................................................................................................................................164
Figura B.1 - Movimento e deformação de um volume material...........................................................................171
Figura B.2 - Movimento e deformação de um volume material com relação ao volume espacial que
instantaneamente coincide com o mesmo.............................................................................................................172
Figura B.3 - Movimento e deformação de um volume de controle móvel e deformável.......................................174
Figura B.4 - Movimento e deformação do volume material que é composto pelas partículas ctícias...............176
Figura B.5 - Movimento e deformação de V
~
, volume material formado pelas partículas reais, com relação a
V
ˆ
, volume material composto pelas partículas fictícias, que também se movimenta e deforma. A priori, esses
volumes movem-se de modo diferente; mas são instantaneamente coincidentes.................................................177
Figura D.1 – Processo de ‘ejeção-captura’ de um elemento de massa entre dois subsistemas de massa variável.
Caso em que existe um estágio intermediário entre a ejeção e a
captura..................................................................................................................................................................185
13
LISTA DE SÍMBOLOS
ALFABETO ROMANO
(Obs.: caracteres em negrito correspondem a vetores)
A
: área através da qual ocorre fluxo de massa (Eq. (3.37))
a
: raio do disco
0
B
S (Seção 5.3.1)
B
: corpo (Apêndice B)
: constante de amortecimento (Eq. (3.14)); temperatura constante do sistema (a menos do
sinal) (Eq. (3.135))
tDD /(.) : derivada temporal de (.) no sentido descrito nas páginas 19 e 20
(.)d : elemento diferencial de (.)
E
: energia total do sistema (Eq. (2.48))
F
: força no sentido geral
R
F : parâmetro adimensional de velocidade de impacto (Eq. (5.33))
f : força por unidade de massa (Eq. (3.79))
g
: aceleração da gravidade
H
: altura inicial da torre (Fig. 4.18)
h : altura do bloco (Seção 3.2.1.1); altura da parte móvel não compactada (Fig. 4.18)
[.]i : fluxo de [.] (Fig. 2.4)
J : Jacobiano da transformação (Apêndice B)
K
: fator de compactação de massa definido como
cnc
σ
σ
/ (Seção 4.6)
L
: comprimento da meia-cuia (Seção 3.2.2.1); comprimento molhado característico do corpo
(Eq. (5.1)); Lagrangeana (Eq. (3.114))
l : largura do bloco (Seção 3.2.1.1); raio da meia-cuia (Seção 3.2.2.1); comprimento total da
corrente (Capítulo 4)
M
: massa adicional (Eq. (5.16))
m
: massa no sentido geral
N
: força normal (Eq. (4.8))
n
: versor normal
O : ponto fixo ao redor do qual gira a haste que segura a meia-cuia (Seção 3.2.2.1)
14
p
: quantidade de movimento no sentido geral; pressão líquida (Eq. (5.8))
Q
: força generalizada (Eq. (3.1))
q
: coordenada generalizada (Eq. (3.1))
R
: distância da meia-cuia até o ponto
O
(Fig. 3.3); raio da esfera (Eq. (5.32))
r
: posição do bloco com relação ao sistema de coordenadas
xy
(Fig. 3.2); distância de um
ponto da superfície livre do líquido com relação ao sistema de coordenadas
'' yx
(Fig. 3.3)
S
: superfície no sentido geral ; entropia (Eq. (3.115))
[.]s
: fonte de [.] (Fig. 2.4)
T
: energia cinética no sentido geral
t
: tempo
U
: velocidade vertical do corpo de impacto (Fig. 5.1)
U
: energia interna do sistema (Eq. (2.48)); energia potencial gravitacional (Seção 4.6)
u
: velocidade do elemento de massa gerado em V
~
(Eq. (2.22))
V
: volume no sentido geral
V
: configuração de referência de
B
(Apêndice B)
: velocidade no sentido geral
V
: assim como
S
, superfície no sentido geral (comumente atribui-se a
V
o sentido de
superfície associada ao volume
V
)
1
)d( v
: incremento na velocidade de uma partícula que corre devido à ação de uma força
externa
F
(Eq. (2.12))
2
)d( v
: incremento na velocidade de uma partícula que ocorre devido ao seu impacto com um
elemento de massa (Eq. (2.15))
W
: trabalho (Eq. (3.132))
WTC: World Trade Center
w
: velocidade de um elemento de massa imediatamente anterior à sua captura (
1
w
, Eq.
(2.6)), ou imediatamente após sua ejeção (
2
w
, Eq. (2.6)) (Eq. (2.18)); ou conforme a
definição da Eq. (A.4) ou da (A.15), quando assim apropriadas
),,(),,(
321
ZYXXXX
=
X : coordenadas Lagrangeanas (Apêndice B)
),,(),,(
321
zyxxxx
=
x : coordenadas Eulerianas (Cartesianas no sentido geral) (Apêndice
B)
15
ALFABETO GREGO
α
&
: módulo da velocidade angular da haste que segura a meia-cuia (Seção 3.2.2.1)
β
: multiplicador de Lagrange (Eq. (3.122))
Γ
: torque aplicado com relação ao ponto
O
(Fig. 3.3)
γ
: ângulo formado entre a superfície livre do líquido e a horizontal (Fig. 3.3)
δ
: variação virtual (Eq. (3.114))
ε
: espessura do material expelido (Figs. 3.2 e 3.3); parâmetro do problema de Wagner (Eq.
(5.1))
ζ
: profundidade de penetração do corpo (Eq. (5.1))
η
: função que descreve a elevação da superfície livre (Fig. 5.3)
Θ
: temperatura do meio líquido (Eq. (3.127))
θ
: taxa de geração de massa (Eq. (2.20))
ι
: momento de inércia com relação ao ponto
O
(Eq. (3.107))
λ
: densidade [kg/m
2
] (Eq. (3.88))
µ
: função que descreve a variação da massa com o tempo (Eq. (3.26))
...14159,3
=
π
ρ
: densidade [kg/m
3
] (Eq. (2.19))
σ
: densidade [kg/m] (Eq. (3.62)); parâmetro adimensional (Eq. (5.33))
τ
: tensão na corrente (Eq. (4.29))
υ
: volume de controle fixo (Apêndice B)
)(t
υ
: volume de controle móvel (Apêndice B)
Φ
: força reativa que ocorre devido à ejeção ou agregação de massa (ver, por exemplo, Eq.
(4.17))
Φ
: força resistiva (adimensional) ao colapso de um andar no problema das torres do WTC.
φ
: potencial de velocidade (Eq. (3.125))
χ
: função que mapeia a coordenada Lagrangeana
X
de uma partícula em sua coordenada
atual
x
(Apêndice B)
x
xx
x
: função que descreve a posição e forma de
υ
(Capítulo 6)
Ψ
: integral de
ρψ
em um determinado volume (Apêndice B)
ψ
: grandeza física qualquer por unidade de massa (Eq. (2.19))
16
SUBSCRITOS
at
: atrito (Seção 3.2.1.1)
B
: superfície molhada do corpo de impacto (Eq. (5.3))
b
: seio do líquido (Fig. 5.3)
: com relação à região compactada da torre (Seção 4.6)
cm
: centro de massa (Apêndices A.1 e A.2)
en
: porção enrolada da corrente (Seções 4.1 e 4.2)
es
: porção esticada da corrente (Seções 4.1 e 4.2); com relação à esfera (Eqs. (5.33) e (5.34))
F
: superfície livre (Figs. 5.3 e 6.1)
H
: superfície de ‘fundo’ (Fig. 6.1)
i
: com relação à i-ésima partícula de um sistema discreto de partículas (Capítulo 3)
j
: jato de líquido (Eq. (5.19)); uma das três coordenadas Lagrangeanas
j
X de uma partícula
(Capítulo 6)
k : com relação à k-ésima coordenada generalizada
k
q e a força generalizada
k
Q associada
(ver Eqs. (3.1) e (3.4))
l
: porção livre da corrente (Seção 4.3)
mov
: com relação à região móvel da torre (Eq. (4.74))
nc
: com relação à região não compactada da torre (Seção 4.6)
0
: inicial (ver, por exemplo, Eq. (3.62))
r
: porção em repouso da corrente (Seção 4.3)
ref
: velocidade do referencial móvel (Apêndice A.3)
rep
: com relação à região em repouso da torre (Eq. (4.75))
root
: raiz do jato (Eq. (5.19))
W
: superfície lateral (Fig. 6.1)
w
: domínio líquido como um todo (Eq. (5.19))
υ
: com relação a
)(t
υ
(Apêndice B)
SUPERESCRITOS
0
: com relação ao problema de Wagner linear (Fig. 5.4)
* : conforme definido no Apêndice A; função de Rayleigh alternativa (Eq. (4.44)); designação
de variável adimensional (Capítulos 4 e 5)
17
' : com relação ao referencial móvel
ˆ
;
ˆ
V
: com relação ao volume das partículas fictícias (Apêndice B); derivada parcial associada
ao volume das partículas fictícias (Eq. (3.29)) (interpretação de Irschik e Holl (2002))
~
;
~
V
: com relação ao volume das partículas reais (Apêndice B); derivada parcial associada
ao volume das partículas reais (Eqs. (3.1) e (3.29)) e derivada parcial associada ao volume
de controle cuja massa depende do tempo (Eq. (3.46)) (interpretação do autor dessa tese)
(
(
;V
: com relação ao volume de controle cuja massa varia com as coordenadas e/ou
velocidades generalizadas (Seções 3.2.1, 3.2.2 e 3.2.3); derivada parciais associadas
K
(por exemplo):
K
por unidade de massa (ver, por exemplo, Eq. (3.29))
q
&
(por exemplo): derivada temporal de
)(tqq
=
(ver, por exemplo, Eq. (3.1))
SÍMBOLOS MATEMÁTICOS
: símbolo para derivada parcial de um modo geral
: operador de Laplace (ver, por exemplo, Eq. (5.2))
τ
: variável de integração na Eq. (3.41)
τ
: parâmetro (ver, por exemplo, Eq. (3.50))
: operador gradiente (ver, por exemplo, Eq. (5.3))
OUTROS
2
ˆ
V
: superfície que define o trecho curvo da corrente (Fig. 4.11)
A
v ,
B
v e
C
v : velocidade de diferentes pontos do cabo em contato com a polia (Fig. 4.12)
1
v
,
2
v
: conforme definição no Apêndice D
A
y
,
B
y
,
T
y
: conforme definição na Figura 4.18
18
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................1
2 FUNDAMENTOS E BREVE HISTÓRICO SOBRE A DINÂMICA DE
PARTÍCULAS DE MASSA VARIÁVEL ......................................................................8
2.1 A equação geral de balanço, o teorema do transporte e os sistemas de massa variável.................. 17
2.2 A segunda lei de Newton para uma partícula de massa variável ...................................................... 28
2.3 Teorema trabalho-energia.................................................................................................................... 31
2.4 Discussão ................................................................................................................................................ 34
3 A ABORDAGEM DA MECÂNICA ANALÍTICA AOS SISTEMAS DE MASSA
VARIÁVEL ................................................................................................................36
3.1 Sistema de partículas e a equação de Lagrange ................................................................................. 37
3.2 Volume de controle e a equação de Lagrange..................................................................................... 45
3.2.1 Massa variável de forma explícita com as coordenadas generalizadas .............................................. 50
3.2.1.1 Exemplo ilustrativo de aplicação.............................................................................................. 54
3.2.2 Massa variável de forma explícita com as velocidades generalizadas................................................ 58
3.2.2.1 Exemplo ilustrativo de aplicação.............................................................................................. 60
3.2.3 Massa variável de forma explícita com as coordenadas e velocidades generalizadas........................ 66
3.3 Discussão ................................................................................................................................................ 67
3.4 O princípio de Hamilton e sistemas contínuos de massa variável..................................................... 68
3.4.1 O princípio variacional de Seliger e Whitham (1968)........................................................................ 69
3.4.1.1 Caso particular: líquido incompressível e invíscido, escoamento irrotacional e homoentrópico
74
3.4.1.2 Exemplo ilustrativo de aplicação.............................................................................................. 76
3.4.2 A expressão do princípio variacional de Seliger e Whitham (1968) em um volume de controle....... 79
4 O PROBLEMA DA CORRENTE EM MOVIMENTO VERTICAL E O
PROBLEMA DO COLAPSO DE EDIFÍCIOS............................................................84
4.1 O problema de Buquoy......................................................................................................................... 85
4.2 O problema de Cayley .......................................................................................................................... 90
4.3 O problema da corrente em ‘U ........................................................................................................... 95
4.4 O trabalho de Wong e Yasui (2006)................................................................................................... 102
4.5 Uma problemática no processo de transferência de massa entre as porções da corrente............. 114
19
4.6 O problema do colapso das torres gêmeas do World Trade Center ................................................. 119
5 O PROBLEMA DE IMPACTO HIDRODINÂMICO...........................................128
5.1 O problema de Wagner não-linear .................................................................................................... 130
5.2 O problema de Wagner linear............................................................................................................ 133
5.3 A aplicação da equação de Lagrange ................................................................................................ 135
5.3.1 O balanço de energia ........................................................................................................................ 137
5.4 Discussão .............................................................................................................................................. 144
6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ................145
REFERÊNCIAS........................................................................................................148
APÊNDICES
A.1 EQUÃO DE MOVIMENTO PARA UM VOLUME MATERIAL COM FONTES
DE MASSA ESCRITA EM TERMOS DE SUAS POSIÇÕES E VELOCIDADES
CARACTERÍSTICAS (ver IRSCHIK; HOLL, 2004, p. 152)....................................158
A.2 EQUAÇÃO DE MOVIMENTO PARA UM VOLUME DE CONTROLE ESCRITA
EM TERMOS DE SUAS POSIÇÕES E VELOCIDADES CARACTERÍSTICAS (ver
IRSCHIK; HOLL, 2004, p. 157-8)............................................................................161
A.3 INVARIÂNCIA GALILEANA DA SEGUNDA LEI DE NEWTON PARA UMA
PARTÍCULA DE MASSA VARIÁVEL......................................................................164
B O CONCEITO DE PARTÍCULAS FICTÍCIAS DE TRUSDELL E TOUPIN (1960) E
O TEOREMA DO TRANSPORTE DE REYNOLDS GENERALIZADO...................169
C.1 DERIVAÇÃO DA EQUAÇÃO DE LAGRANGE PARA UM SISTEMA DE
PARTÍCULAS DE MASSA DEPENDENTE DO TEMPO A PARTIR DO PRINCÍPIO
DE D’ALEMBERT (ver PESCE, 2003, p. 752)........................................................178
C.2 DERIVAÇÃO DE EXPRESSÕES AUXILIARES PARA O APÊNDICE C.1......182
D DISSIPAÇÃO DE ENERGIA NO PROCESSO ‘EJEÇÃO-RE-CAPTURA’ DE UM
ELEMENTO DE MASSA..........................................................................................184
1
1 INTRODUÇÃO
Na mecânica não-relativística, o termo ‘sistema de massa variável’ é utilizado para
designar um sistema cuja massa varia, no caso mais geral, com a agregação e a emissão de
matéria. O ramo da mecânica que estudo esse tipo de sistema é chamado de ‘mecânica de
sistemas de massa variável’, e pode ser considerado relativamente moderno. Enquanto a
mecânica, no sentido geral do termo, tem suas raízes no tratado de Aristóteles (384-322 a.C.),
‘Problemas da Mecânica’
2
, o reconhecimento da importância da mecânica de sistemas de
massa variável só começou a ocorrer de fato em meados do século 20
(3)
, quando Ivan
Vsevolodovitch Mechtcherskii
4
(1859-1935), matemático e mecanicista russo, dedicou as 160
páginas de sua dissertação de mestrado ao assunto.
Uma primeira motivação para a análise desse tipo de sistema é o fato de que muitos são os
problemas aplicados, pertencentes a diversas áreas do conhecimento, que são
convenientemente modelados a partir da consideração de um sistema de massa variável. Na
indústria de cabos, papel ou tecidos, os rolos, que são elementos fundamentais no processo de
fabricação desses produtos, são sistemas de massa variável. No caso da indústria têxtil, por
exemplo, o tecido pode ser visto como o entrelaçamento de diversos fios que, durante o
processo de fabricação, vão sendo desenrolados de seus respectivos rolos para então compor o
tecido. Segundo Cvetićanin (1993), a variação da massa dos rolos, que assim ocorre à medida
que o tecido é confeccionado, provoca a ação de forças reativas nos suportes dos mesmos,
devendo essas forças serem levadas em conta no dimensionamento do maquinário.
A mecânica de sistemas de massa variável também pode ser uma das vertentes de uma
pesquisa em medicina, por exemplo. De acordo com Lubarda e Hoger (2002, p. 4627), “A
análise do crescimento [ganho de massa] ‘modeladamente tensionado’ de tecidos vivos[..] tem
sido um importante tópico de pesquisa em biomecânica[...]” De fato, a biomecânica, que é o
ramo da mecânica que modela certos fenômenos biológicos, apresenta problemas bastante
______________
2
Nome original, em grego, Mηχανιχά προβληµατα.
3
Vale dizer que, no Brasil, um dos primeiros trabalhos nesse grande tema é a dissertação de mestrado de Hans I.
Weber (1968).
4
Nome original, em russo, Иван Всеволодович Мещерский.
2
interessantes envolvendo sistemas de massa variável. Um que merece destaque por seu
evidente apelo é o do crescimento de um tumor. Aliás, o estudo desse fenômeno vem se
tornando uma disciplina cada vez mais particular dentro da biomecânica, sendo hoje
divulgado em muitas publicações sob o nome de ‘mecânica do crescimento de tumores’.
Ambrosi e Mollica (2002, p. 1297) enfatizam que a descrição do crescimento de um tumor
requer a consideração de um grande número de efeitos biológicos. Uma das grandes
dificuldades nesse processo é a modelagem simultânea de dois efeitos, i.e. a variação da
massa do tumor e as tensões que a acompanham, esse segundo efeito causado, possivelmente,
ou pelo próprio crescimento do tumor ou por cargas externas.
Um outro problema clássico, onde os fundamentos da mecânica de sistemas de massa
variável encontram aplicação, é o conhecido ‘problema do foguete’, cuja mais recente e
importante motivação para análise surgiu com a corrida espacial que ocorreu entre as décadas
de 50 e 60. Uma aeronave do tipo foguete é aquela cujo movimento dá-se em virtude da
evacuação de gases. Considera-se um foguete ‘perfeito’ aquele cuja nuvem de gás, i.e. de
combustível queimado, é evacuada a uma velocidade relativa (com relação ao foguete)
constante (ver, por exemplo, GOWDY, 1995). Então, à medida que os gases são ejetados para
fora e para trás do foguete, o mesmo é propelido para frente. Essa força de propulsão, muitas
vezes também conhecida na literatura especializada como força de empuxo, tem seu módulo
dado pelo produto entre a taxa de variação temporal de massa do foguete, que é a taxa de
consumo do combustível, e a velocidade relativa de evacuação dos gases.
Note assim que o campo de aplicações da mecânica de sistemas de massa variável é, sem
dúvida, muito amplo. Basta ver, por exemplo, que em um recente trabalho de revisão sobre o
assunto, onde apenas na primeira parte são empregadas 96 referências bibliográficas, seus
autores comentam: “Entretanto, nós não podemos afirmar que nossa revisão está completa. A
literatura sobre o tópico tornou-se esparsamente distribuída sobre uma larga faixa de
diferentes áreas”. (IRSCHIK; HOLL, 2004, p. 146).
Mas apesar dessas inúmeras e relevantes aplicações, é também importante frisar o porquê
de problemas como os acima mencionados devam assim ser tratados, i.e. modelados como
problemas envolvendo um sistema de massa variável. A primeira razão reside no simples fato
de ser o objeto de estudo de massa variável. No caso dos rolos da indústria têxtil, por
exemplo, não se deseja saber o que ocorre com o conjunto formado pelos rolos, fios enrolados
3
e tecido, que é um sistema de massa constante. O foco de atenção são apenas os rolos. Mas é
exatamente essa necessidade de se isolar uma determinada parte do sistema como um todo
que gera as problemáticas envolvidas no tratamento dos sistemas de massa variável.
Uma das dificuldades iniciais na análise da dinâmica de sistemas de massa variável deve-
se ao fato de que os princípios clássicos da mecânica foram originalmente escritos para
sistemas de massa constante, i.e. para o sistema como um todo (ver, por exemplo, McIVER
1973). Eke e Mao (2002), no entanto, apontam duas alternativas para se resolver essa
questão. A primeira alternativa é elaborar formalismos próprios aos sistemas de massa
variável, como: aquele que vem sendo construído por Mušicki (1992, 1993, 1996) apud
Mušicki (2004) e Mušicki (1999, 2000); aquele por eles próprios elaborado (ver EKE; MAO,
2002); e aquele de Shan-Jun; Wei-Guo e Pei-Tian (2005). A segunda alternativa consiste em
interpretar os sistemas de massa variável como sendo de massa constante, e assim torná-los
tratáveis pelos princípios existentes. Em outras palavras, essa segunda técnica consiste em
propor relações de equivalência entre dois pontos de vista, i.e. aquele que considera o sistema
como um todo e aquele que considera apenas a porção de interesse, que é de massa variável.
O formalismo Lagrangeano também dispõe de um ferramental bastante rico para o
tratamento desses sistemas. Nele, a massa pode ser escrita, quando assim for conveniente,
como uma função de três ‘tipos’ de variáveis, i.e. tempo, coordenadas e velocidades
generalizadas (ver, por exemplo, IRSCHIK
5
; MUŠICKI, 2000 e PESCE, 2003). Embora seja
sempre verdade que, se a massa de um sistema varia, então, essa pode ser expressa como uma
função do tempo, a possibilidade de expressar a massa do sistema como uma função explícita
das coordenadas generalizadas, em alguns casos, e das velocidades generalizadas, em outros,
mostra-se extremamente conveniente. Pode-se dizer que isso equivale a estabelecer uma
‘equação constitutiva’ para o sistema de massa variável. Vale lembrar, como analogia, que, na
química, a velocidade de uma reação, que pode ser representada pela taxa de consumo de um
dos reagentes envolvidos, é uma função do tempo. No entanto, por diversas razões que o
serão aqui discutidas por fugirem ao escopo desse trabalho, é bastante conveniente escrever a
velocidade da reação como uma função de outras variáveis, i.e. da concentração dos reagentes
(ver, por exemplo, ATKINS, 1994, p. 861-97).
______________
5
Comunicação particular (2008).
4
Mas, afora as discussões acima levantadas sobre a mecânica de sistemas de massa
variável, seja no sentido de sua teoria, seja no de suas aplicações, ainda existe um ponto
bastante curioso a ser apontado. Embora hoje já se disponha de ferramentas suficientes para se
abordar determinados problemas práticos e razoavelmente complexos, como é o caso, por
exemplo, do crescimento de um tumor, ainda parecem existir questões de ordem bem mais
fundamental a ser reconsideradas. Um caso interessante é o chamado ‘problema da corrente
em queda’. Trata-se do primeiro problema abordado à luz da mecânica de sistemas de massa
variável, em 1814. Sua formulação é bastante simples. Deve-se obter a aceleração de uma
corrente verticalmente esticada que, sob a ão da gravidade, cai amontoando-se sobre uma
superfície horizontal. Nesse caso, o sistema de massa variável em questão é a porção vertical
da corrente em queda. Ocorre que, mesmo após quase dois séculos a contar de sua concepção,
são encontradas referências bibliográficas onde em cada uma delas é apresentada uma
diferente solução para esse problema, estando cada uma delas, inclusive, aparentemente
muito bem argumentada. É o caso, por exemplo, dos trabalhos de Cayley (1857) e Wong e
Yasui (2006). Outro problema onde errôneas interpretações levaram a diferentes soluções é o
da penetração de um corpo na superfície livre da água, o chamado problema de Wagner
(1931). Quando o corpo inicia sua penetração na superfície livre da água, jatos de líquido são
expelidos para fora do chamado ‘seio do líquido’. Logo, o seio do líquido pode ser visto como
um sistema de massa
6
variável. No entanto, a maneira adequada de se considerar esse fluxo de
líquido também é um foco atual de discussão, como mostram, por exemplo, os trabalhos de
Casetta e Pesce (2008), Pesce (2006) e Wu (1998).
Claramente, questões como essas apontam para o fato de que, de um modo geral, existe
uma corrente necessidade de se contribuir para adequadas interpretações do entendimento do
processo de variação de massa de um sistema. E esse é o objetivo principal dessa tese. Para
tal, a mesma foi estruturada em duas partes: parte teórica, objeto dos Capítulos 2 e 3; e de
aplicações, reservadas aos Capítulos 4 e 5.
No Capítulo 2, o leitor encontrará um levantamento dos principais fundamentos
envolvidos na análise da dinâmica de um sistema de massa variável. Esse Capítulo aborda
desde o primeiro trabalho sobre o assunto, que data de 1814, até os mais atuais, como é o de
Reynolds (1903) apud Irschik e Holl (2004) e o de Truesdell e Toupin (1960). Ao final do
Capítulo é feita uma breve discussão sobre o processo de agregação de massa, perda de
______________
6
O seio do líquido não só é de massa variável, mas também pode ser interpretado à luz do conceito de massa
adicional variável, como assim será discutido no Capítulo 5.
5
informação sobre o sistema, e aumento de sua entropia. Segundo o melhor conhecimento do
autor dessa tese, essa é uma vertente sobre os sistemas de massa variável ainda não explorada.
O Capítulo 3 trata da concepção e aplicação da equação de Lagrange a alguns sistemas de
massa variável. O Capítulo então se inicia com o trabalho de Cayley (1857), que é um dos
primeiros sobre o tópico e onde a equação de Lagrange para um sistema de partículas de
massa variável é demonstrada, e passa pelo de Irschik e Holl (2002), onde a equação de
Lagrange para um volume de controle é obtida através do conceito de partículas fictícias de
Truesdell e Toupin (1960). A partir desse trabalho de Irschik e Holl (2002), o autor dessa tese
mostra, heuristicamente, a equação de Lagrange para um volume de controle cuja massa varia
com as coordenadas e velocidades generalizadas do sistema. Esse é um dos resultados
originais dessa tese. Dois exemplos ilustrativos, um para o caso de um volume de controle
cuja massa varia com a posição, e outro para o caso de um volume de controle cuja massa
varia com a velocidade são então resolvidos. Infelizmente, não foi possível encontrar nenhum
problema onde se identificasse um volume de controle cuja massa variasse do modo mais
geral, i.e. com a posição e velocidade. Por fim, encerrando a parte teórica desta tese, um
importante resultado dentro da mecânica dos meios contínuos, i.e. o princípio variacional de
Seliger e Whitham (1968), que foi originalmente formulado para um sistema fechado, é
estendido para o caso de um volume de controle. Esse também pode ser visto como um dos
resultados original dessa tese.
No Capítulo 4, o problema da corrente em queda nas versões de Buquoy, Cayley e como
problema da corrente em ‘U’ são abordados. Para cada um dos casos, e sob a ótica dos
fundamentos apresentados nos Capítulos 2 e 3, as diferentes soluções encontradas na literatura
são discutidas. Atenção especial deve ser dada à Seção 4.4, onde o trabalho de Wong e Yasui
(2006) é minuciosamente discutido. É nessa Seção que, a partir dos fundamentos apresentados
nos Capítulos anteriores, mostram-se que assertivas consideradas pelos autores como
irrefutáveis podem estar incorretas. Essa discussão também é um dos resultados originais
dessa tese. É também no Capítulo 4 que o problema do colapso das torres gêmeas do World
Trade Center é discutido, sendo então mostrada a notável similaridade entre a equação de
movimento da torre em colapso e a de uma corrente em queda livre. O Capítulo 5 trata do
problema de Wagner. Nele é apresentada uma maneira consistente de se abordar o problema
frente à mecânica de sistemas de massa variável. Resultados originais obtidos são apontados
ao longo do Capítulo. O trabalho de Wu (1998), que, analogamente ao de Wong e Yasui
(2006), contrapõe alguns dos resultados apresentados, não será discutido, mas apenas
6
mencionado, haja vista a publicação de dois artigos sobre o assunto, i.e. Pesce (2003,
2006).
O Capítulo 6 apresenta as conclusões obtidas ao longo dessa tese, assim como sugestões
para possíveis trabalhos futuros baseadas em extensões dos resultados conseguidos.
7
PARTE I:
A TEORIA DOS SISTEMAS DE MASSA
VARIÁVEL
8
2 FUNDAMENTOS E BREVE HISTÓRICO SOBRE A DINÂMICA DE
PARTÍCULAS DE MASSA VARIÁVEL
Em 1687, Sir Isaac Newton (1643-1727), em seu famoso trabalho de título ‘Philosophiae
Naturalis Principia Mathematica’, que é considerado uma das grandes obras-primas da
ciência, apresentou aquelas que são conhecidas por leis
7
de Newton. Anteriormente, René
Descartes (1596-1650), em seu trabalho ‘Principia Philosophiae’ de 1644, já havia mostrado
resultados semelhantes aos de Newton. Entre eles, por exemplo, estavam a lei da inércia, a lei
da conservação da magnitude da quantidade de movimento, e as assim chamadas ‘seis leis de
impacto’, i.e. relações entre o estado do sistema antes e após o choque entre dois corpos (ver
ARONS; BORK, 1964; DUGAS, 1988). No entanto, as leis de Newton não devem ser vistas
apenas como uma mera reconsideração do trabalho de Descartes. A abordagem Newtoniana
representa um novo ponto de vista, onde é o efeito das forças em cada um dos corpos do
sistema que é considerado (ver ARONS; BORK, 1964). Mais do que isso, segundo Knudsen e
Hjorth (2000), foi Newton quem estabeleceu o conceito de força e quantidade de movimento,
assim como uma relação entre esses.
O antigo conceito cartesiano de massa, que então a atrelava à noção de ‘res extensa’
8
, i.e.
a massa é um atributo inerente aos corpos extensos, foi também reformulado por Newton.
Para ele “[...]a quantidade de matéria é a medida da mesma que emerge de sua densidade e
meio conjuntamente[...]” (DUGAS, 1988, p. 201). Ainda segundo Dugas (1988), Newton foi
também o responsável pela introdução do conceito moderno de massa na mecânica não-
relativística, haja vista que:
[...]o conceito de massa de Newton pode ser considerado de maneira mais abstrata
como uma propriedade (escalar) matemática de um ponto do corpo (seu centro de
gravidade). Corpos extensos começaram a ser tratados como pontos materiais e esse
progresso desempenhou uma função muito importante na descrição das órbitas dos
planetas. (FILHO, 1986, p. 202)
______________
7
Usualmente, falam-se em três leis de Newton. No entanto, em alguns livros-textos, as leis de Newton são
apresentadas como sendo três leis e dois postulados, sendo esses dois últimos o de tempo e espaço absolutos;
ou ainda, como simplesmente, cinco leis de Newton (ver, por exemplo, KNUDSEN; HJORTH, 2000).
8
‘Coisa material’, em latim.
9
Para a análise do movimento dos planetas, Newton precisava observar a história do
movimento de um único ponto, e não a do sistema como um todo. Assim:
Parece ser muito possível que, motivado por essa necessidade, ele [Newton]
discerniu na [sua] terceira lei uma maneira de ‘separar’ ou ‘isolar’ um corpo
individual do resto do sistema com o qual está interagindo.
Dadas ações iguais e opostas em cada corpo (a Terceira Lei), a consistência com as
conhecidas leis de impacto demanda que essas ações contribuam com mudanças
iguais e opostas no momento [quantidade de movimento]. Assim, Newton pode
naturalmente ter obtido a II Lei: ‘a mudança no momento [quantidade de movimento
do corpo] é proporcional à força motora impressa; e é feita na direção da linha reta
em que a força é impressa’.
Recentemente, muitos autores têm comentado que ao usar o termo ‘força motora’,
Newton, na maioria das vezes, referia-se ao que nós agora chamamos de impulso’.
(ARONS; BORK, 1964, p. 315)
Em suma, o trabalho de Newton fornece três importantes elementos para a análise da
dinâmica de uma partícula, i.e. 1) isolando-se a partícula do sistema como um todo, 2) e
reconhecendo-se as forças nelas atuantes, 3) é possível estabelecer uma relação causa-efeito
entre essas forças e a variação da quantidade de movimento dessa partícula.
A equação de movimento de uma partícula de massa constante que, entre os instantes de
tempo
tt d
+
e
t
, encontra-se sob a ação de uma força
F
pode ser dada por
9
ptF dd
=
, (2.1)
onde
mv
p
=
é a quantidade de movimento da partícula, sendo
m
e
, respectivamente, sua
massa e velocidade.
Claramente, nesse caso, a Eq. (2.1) pode ser alternativamente escrita como
vmtF dd
=
, (2.2)
i.e.
t
v
mF
d
d
= , (2.3)
______________
9
Por ora, e por simplicidade, atém-se ao movimento retilíneo; portanto, abstém-se da notação vetorial.
10
que é a forma em que a segunda lei de Newton, para uma partícula de massa constante, é
comumente apresentada.
Pode-se dizer que o nascimento da dinâmica de partículas de massa variável ocorreu em
1812, quando o matemático e inventor tcheco, Jiří František August Buquoy (1781-1851),
percebeu que, quando uma partícula sofre uma contínua variação de massa
10
, a equação a ser
considerada para a descrição de seu movimento não é mais a Eq. (2.2).
Segundo Trigg (1966a, b), a interpretação mais ‘coerente’ para a Eq. (2.1) é a de que o
incremento (por unidade de tempo) na quantidade de movimento do sistema como um todo é
igual à soma das forças nele atuantes. Considere então que, no instante de tempo
t
, o sistema
como um todo é formado por uma partícula de massa
m
, cuja velocidade é
, e por uma outra
partícula de massa innitesimal
µ
d
(11)
, cuja velocidade é
w
. Imagine que, no instante de
tempo
tt d
+
, as duas partículas agregam-se, passando então a se mover com a mesma
velocidade vv d
+
(ver Fig. 2.1).
Figura 2.1 - Agregação entre uma partícula de massa
m
e uma outra partícula de massa
µ
d
innitesimal.
Nesse caso, o incremento
pd
na quantidade de movimento do sistema como um todo é
dado por
______________
10
Termo empregado por Buquoy.
11
O símbolo
µ
é aqui utilizado para tornar clara a referência a uma outra partícula.
x
y
t
w v
tt d
+
vv d
+
µ
d
m
(partículas agregadas)
µ
d
+
m
x
y
t
w v
tt d
+
vv d
+
µ
d
m
(partículas agregadas)
µ
d
+
m
11
µ
µ
µ
d)(d)d()d)(d()()d(d vwvmwmvvvmtpttpp
=
+
+
+
=
+
=
. (2.4)
(12)
Logo, considerando-se que
F
é a força que, entre os instantes de tempo
tt d
+
e
t
, atua
no sistema como um todo, obtém-se, das Eqs. (2.1) e (2.4), a equação de movimento
apresentada por Buquoy, i.e.
µ
d)(dd wvvmtF
+
=
. (2.5)
(13)
Mas com exceção de Simeón Denis Poisson (1781-1840), as investigações de Buquoy
sobre a dinâmica de partículas de massa variável não despertaram a atenção de outros
importantes cientistas da época, entre eles, André-Marie Ampère (1775-1836), Augustin
Louis Cauchy (1789-1857), François Marie Charles Fourier (1772-1837), Pierre-Simon
Laplace (1749-1827), etc.
Poisson, em 1819, argumentou que a variação de massa de uma partícula, no caso mais
geral, deve ser vista como o resultado entre dois processos independentes entre si, i.e. a
adição e a subtração
14
de elementos de massa. E é bastante provável
15
que, a partir dessa sua
interpretação, Poisson tenha se deparado com a seguinte questão: para que o processo de
adição de massa seja independente do de subtração, e assim possam ocorrer ambos
simultaneamente, é necessário que os mesmos estejam associados a elementos de massa
diferentes, haja vista que, um mesmo elemento de massa não pode, pelo menos não
simultaneamente, ser adicionado à partícula e dela subtraído. Se assim, deve ter sido para
considerar adequadamente essa problemática que Poisson apresentou a equação de
movimento de uma partícula de massa variável na forma
2211
dd)(dd
µ
µ
wwmvtF
+
=
, (2.6)
onde então é feita uma clara distinção entre a partícula a ser agregada e a partícula a ser
subtraída, ou seja, enquanto
1
d
µ
e
1
w correspondem, respectivamente, a massa e velocidade
______________
12
Os termos ‘
vdd
µ
’ e ‘ vmdd ’ foram desprezados.
13
Essa relação será demonstrada logo adiante.
14
E não apenas devido à adição de elementos de massa, como assim considerado por Buquoy.
15
Mikhailov (1975), por exemplo, não faz nenhuma consideração a respeito dessa questão.
12
da partícula a ser agregada,
2
d
µ
e
2
w
referem-se, respectivamente, a massa e velocidade da
partícula a ser subtraída.
Mas quando não há subtração de massa, a Eq. (2.6) reduz-se a
µ
d)(dd wmvtF
=
. (2.7)
(16)
Vale agora entender o porquê das Eqs. (2.5) e (2.7), que representam o mesmo fenômeno,
serem diferentes na forma. Ou seja, enquanto na Eq. (2.5) aparece o termo
µ
dv
, na Eq. (2.7),
esse termo é trocado por
mvd
. A Fig. 2.1 (correspondente à Eq. (2.5)) mostra que, em ambos
os instantes de tempo
tt d
+
e
t
, tanto a massa nal, quanto a massa inicial do sistema como
um todo pode ser representada por
µ
d
+
m
. Note então que, tanto no instante de tempo
t
,
quando as partículas estão separadas, quanto no instante de tempo
tt d
+
, quando as
partículas estão agregadas, é possível fazer uma distinção entre as partículas de massa
m
e
µ
d
.
Imagine agora que, quando a partícula
µ
d
é capturada no instante de tempo
tt d
+
, a
mesma não possa mais ser identicada
17
, pois, torna-se parte da outra partícula (ver Fig. 2.2).
Ou seja, no instante de tempo tt d
+
, a partícula
µ
d passa a representar um elemento de
massa da outra partícula, e assim sua identidade é perdida. Dessa forma, enquanto na
abordagem de Buquoy (ver Fig. 2.1) a massa do sistema como um todo é sempre igual a
µ
d
+
m
, na de Poisson (ver Fig. 2.2), a massa do sistema como um todo é
µ
d
+
m
no
instante de tempo
t
, e mm d
+
no instante de tempo tt d
+
. Logo, na abordagem de Poisson,
a Eq. (2.4) deve ser reinterpretada como
µ
µ
d)d()d()d)(d()()d(d wmvwmvvvmmtpttpp
=
+
+
+
=
+
=
. (2.8)
Portanto, da Eq. (2.8) em (2.1), obtém-se a equação de movimento apresentada por
Poisson, i.e. Eq. (2.7). Mas como a massa do sistema como um todo se conserva, é necessário
______________
16
O subscrito ‘1’ foi omitido de
1
d
µ
apenas para simplicar a notação.
17
Imagine, por exemplo, que ambas as partículas são formadas por um mesmo material líquido, sendo, portanto,
miscíveis entre si.
13
que sua massa antes da transferência, i.e.
µ
d
+
m
, seja igual à sua massa após a transferência,
i.e.
mm d
+
. Em outras palavras, é necessário que
mmm dd
+
=
+
µ
, i.e.
mdd
=
µ
.
Interpretando-se essa relação como uma restrição, no sentido da mecânica analítica,
associada ao multiplicador de Lagrange
’, i.e.
0)dd(
=
mv
µ
, pode-se reescrever a Eq.
(2.8) como
)dd(d)d(d mvwmvp
+
=
µ
µ
, (2.9)
i.e
µ
µ
µ
d)(ddddddd vwvmmvvwvmmvp
=
+
+
=
, (2.10)
que é a própria Eq. (2.4) da abordagem de Buquoy!
Figura 2.2 - Agregação entre uma partícula de massa
m
e uma outra partícula de massa
µ
d
innitesimal.
Caso em que, após o choque, a identidade da partícula
µ
d
é perdida.
Isso mostra que a identidade da partícula
µ
d
, que então é perdida na abordagem de
Poisson, pode ser recuperada se à equação de movimento for adicionada a equação de
conservação de massa do sistema como um todo.
O próximo avanço na interpretação da dinâmica de partículas de massa variável foi
realizado por Tait e Steele (1856). Tanto na abordagem de Buquoy, como na de Poisson,
ainda que associadas a diferentes pontos de vista, a segunda lei de Newton foi aplicada em sua
x
y
t
w v
tt d
+
vv d
+
µ
d
m
(partículas agregadas)
mm d
+
x
y
x
y
t
w v
tt d
+
vv d
+
µ
d
m
(partículas agregadas)
mm d
+
14
forma original, i.e. Eq. (2.1). Ocorre então que, tanto o lado direito da Eq. (2.5), quanto o da
Eq. (2.7) (ou (2.6)) referem-se ao incremento na quantidade de movimento do sistema como
um todo, onde tanto a partícula de massa
m
com a de massa
µ
d
estão sendo simultaneamente
consideradas.
Em 1856, Tait e Steele então apresentaram uma primeira aproximação para se isolar
totalmente a partícula do sistema como um todo. Em seu livro, ‘A Treatise on the Dynamics
of a Particle’, Tait e Steele consideraram os “problemas com uma série contínua de impactos
[de elementos de massa] innitesimalmente pequenos cujo efeito é comparável ao de uma
força nita” (MIKHAILOV, 1975, p. 34). A idéia dos autores era a de considerar que a
variação na velocidade da partícula sujeita aos impactos é o resultado de dois fenômenos
independentes, o que signica “[...]estimar separadamente as mudanças na velocidade [da
partícula de massa
m
] produzida pela força nita [
F
] e pelos impactos [de elementos de
massa] no mesmo elemento de tempo [
td
], e somá-las para se obter o efeito real no
movimento naquele período” (MIKHAILOV, 1975, p. 34, grifo nosso).
Partindo da relação
21
)d()d(d vvv
+
=
, (2.11)
onde vd ,
1
)d( v e
2
)d( v são, respectivamente, o incremento total na velocidade da partícula, a
parcela desse incremento devido à ação da força externa
F
, e a parcela referente ao impacto
dessa partícula com um elemento de massa, Tait e Steele (1856) estariam apresentando uma
expressão envolvendo grandezas físicas associadas apenas à partícula de interesse. Mas sendo
os incrementos
1
)d( v e
2
)d( v independentes entre si, pode-se calcular um supondo-se a
inexistência do outro (ver Fig. 2.3).
Para o cálculo de
1
)d( v
, assume-se que a partícula está sob a ação da força externa
F
,
mas livre dos impactos de elementos de massa. Ou seja, é como se a massa da partícula fosse
constante. Para tal, basta então aplicar a segunda lei de Newton na forma da Eq. (2.2), i.e.
1
)d(d vmtF
=
, (2.12)
ou seja
15
m
tF
v
d
)d(
1
= . (2.13)
Figura 2.3 - Interpretação de Tait e Steele (1856) para a dinâmica de uma partícula de massa variável.
Para o cálculo de
2
)d( v
, deve-se imaginar que essa mesma partícula está agora livre da
ação da força externa
F
, mas sujeita ao impacto de um elemento de massa
µ
d
. Quando livre
da ação de forças externas, a soma entre as quantidades de movimento das partículas (a de
massa
m
e a de massa
µ
d
) antes e após a interação entre essas deve ser a mesma, ou seja
)]d()[d(d
2
vvmwmv
+
+
=
+
µ
µ
, (2.14)
e então
m
vwv
µ
d
)()d(
2
= . (2.15)
Por m, das Eqs. (2.13) e (2.15) em (2.11), chega-se a
x
y
tt d
+
t
vw
µ
d
m
tt d
+
t
v
m
m
:0d
=
µ
:0
=
F
F
F
µ
d
+
m
1
)d( vv +
2
)d( vv +
x
y
x
y
tt d
+
t
vw
µ
d
m
tt d
+
t
v
m
m
:0d
=
µ
:0
=
F
F
F
µ
d
+
m
µ
d
+
m
1
)d( vv +
2
)d( vv +
16
m
vw
m
tF
v
µ
d
)(
d
d += , (2.16)
de onde então se recupera a Eq. (2.5).
Embora a Eq. (2.5) tenha sido inicialmente demonstrada por Buquoy, sua forma vetorial,
i.e.
t
t
m
d
d
)(
d
d
µ
wv
v
F += , (2.17)
parece
18
ser devida ao matemático e mecanicista russo Ivan Vsevolodovitch Mechtcherskii
19
(1859-1935). Em sua dissertação de mestrado, defendida em 1897, em São Petersburgo,
Rússia, Mechtcherskii analisou o movimento de uma partícula de massa variável,
considerando diversas formas para a função-velocidade do elemento de massa a ser a ela
agregado. Entre essas funções, podem ser citadas, por exemplo, vw k
=
( .constk
=
), 0
=
w
e
const.
+
=
w
(ver MIKHAILOV, 1975, p. 38).
Em 1898, Mechtcherskii, valendo-se da equação de Poisson na forma
t
t
t
m
d
d
)(
d
d
)(
d
d
2
2
1
1
µ
µ
wvwv
v
F ++= , (2.18)
(20)
analisou o movimento de uma partícula de massa variável, porém, agora, sujeita à adição e
subtração de elementos massa. Para esse caso mais geral, o matemático russo também
considerou diversas formas para as funções
1
w
,
2
w
,
td/d
1
µ
e
td/d
2
µ
(ver MIKHAILOV,
1975, p. 39).
Do ponto de vista histórico, vale mencionar que a equação de Mechtcherskii, como assim
Starjinski (1986, p. 499) denomina a Eq. (2.17), foi empregada nos chamados ‘primeiro e
______________
18
Segundo interpretação do trabalho de Mikhailov (1975).
19
Иван Всеволодович Мещерский’, em russo (nome original).
20
Aparentemente, foi o próprio Poisson quem, pela primeira vez, apresentou essa equação (em forma vetorial)
(ver MIKHAILOV, 1975, p. 34 e 39, Eqs. (3.2), (9.1) e (9.2)).
17
segundo problema de Ciołkowski
21
’. Nesses problemas, buscava-se, respectivamente, a
expressão para a velocidade de um foguete em lançamento vertical, ora livre, ora sob a ação
do campo gravitacional (ver STARJINSKI, 1986, p. 500-2).
Um próximo avanço para a dinâmica de sistemas de massa variável foi dado por Cayley
(1857), quem, através do princípio de D’Alembert, demonstrou a equação de Lagrange para
um sistema de partículas de massa variável. No entanto, esse é um tópico do Capítulo 3, onde
será tratado com mais propriedade. Mas buscando uma melhor completude para a
fundamentação até então apresentada, será discutido na Seção a seguir o importante papel que
a equação geral de balanço e o teorema do transporte de Reynolds desempenham na
compreensão da mecânica de sistemas de massa variável.
2.1 A equação geral de balanço, o teorema do transporte e os
sistemas de massa variável
Teoricamente, pode-se dizer que, essencialmente, existem duas diferentes maneiras de se
conceber um sistema de massa variável. Na primeira, o sistema é denido por uma superfície
fechada, que não permite o fluxo de massa através da mesma. É o chamado volume material.
Nesse caso, a variação da massa do sistema dá-se quando se imagina que suas partículas
possuem ‘fontes’ ou ‘sumidouros’ de massa. Ou seja, o aumento ou a diminuição da massa do
sistema não é interpretado como sendo devido à variação no número de partículas que o
mesmo encerra, mas sim em razão da variação da massa das partículas existentes. Essa é
uma abordagem que é geralmente empregada quando não se deseja alterar o número de graus
de liberdade do sistema em análise.
______________
21
O nome Konstantin Edwardowicz Ciołkowski (1857-1935) é de origem polonesa. No entanto, são encontradas
referências onde esse é apresentado em russo, i.e. Константин Эдуардович Циолковский.
18
Um dos primeiros cientistas a empregar o conceito de fontes de massa foi Mechtcherskii,
ao estudar a estabilidade do sistema planetário. Imagine, por exemplo, que um determinado
planeta está sujeito ao impacto (inelástico) de meteoros. Supondo-se que o planeta não se
desfragmenta com os impactos, o mesmo pode ser modelado por um único e identicável
ponto que possui uma fonte de massa.
Dentro de um volume material, a quantidade física
ψ
qualquer varia segundo a chamada
equação geral de balanço (ver, por exemplo, IRSCHIK e HOLL, 2004, p. 146, Eq. (2.1)), i.e.
=
VVV
VψiVψsVψ
t
~~~
~
d][
~
d][
~
d
d
d
~
n
ρρ
, (2.19)
onde V
~
é o volume material considerado,
][ψs
representa a fonte de geração de
ψ
em seu
interior, e
n
][ψi
é a passagem de
ψ
, ou ‘influx’
22
, através de V
~
(ver Fig. 2.4).
Figura 2.4 - Representação de fontes de
ψ
dentro do volume material V
~
, e passagem de
ψ
através de
V
.
______________
22
Daí o símbolo ‘i’ em i[.].
x
y
][
ψ
s
][
ψ
s
V
~
][
ψ
i
][
ψ
s
n
x
y
x
y
][
ψ
s ][
ψ
s
][
ψ
s ][
ψ
s
V
~
][
ψ
i ][
ψ
i
][
ψ
s ][
ψ
s
n
19
O operador td/(.)d
~
utilizado na Eq. (2.19) indica que a variação total de
ψ
é tomada com
respeito às partículas que compõe V
~
.
Tomando-se
1
=
ψ
na Eq. (2.19), obtém-se que
=
VVV
VVsV
t
~~~
~
d
~
d]1[
~
d
d
d
~
θρρρ
, (2.20)
onde
θ
[1/s] é a freqüência de geração de massa no interior de
V
~
e
mV
V
=
~
~
d
ρ
.
A equação de movimento de um volume material com fontes de massa é obtida tomando-
se
=
ψ
na Eq. (2.19), i.e.
=
VVV
ViVsV
t
~~~
~
d][
~
d][
~
d
d
d
~
nvvv
ρρ
. (2.21)
O termo do lado esquerdo da Eq. (2.21) é a taxa de variação da quantidade de movimento
de V
~
com respeito às partículas que o compõe. O primeiro termo do lado direito representa as
fontes de quantidade de movimento no interior de V
~
. Segundo Irschik e Holl (2004, p. 151),
as possíveis fontes de quantidade de movimento no interior de um volume material são: 1)
geração de elementos de massa dotados de velocidade absoluta não-nula; 2) atuação de forças
volumétricas
23
3) e difusão de massa no caso de mistura multifásica. Nessa tese, problemas
onde esse terceiro efeito aparece não serão tratados. Assim, o primeiro termo do lado
esquerdo da Eq. (2.21) pode ser escrito como
+=
VVV
VVVs
~~~
~
d
~
d
~
d][ fuv
ρρθρ
, (2.22)
onde
u
é a velocidade do elemento de massa no instante de tempo imediatamente após sua
______________
23
Como a gravitacional, por exemplo.
20
‘geração’, e f são as forças volumétricas [N/kg] que atuam nas partículas de V
~
. O segundo
termo do lado direito da Eq. (2.22) então representa a resultante
F
das forças atuantes em V
~
,
i.e.
Ff =
V
V
~
~
d
ρ
. (2.23)
O segundo termo do lado direito da Eq. (2.21), i.e.
V
Vi
~
~
d][ nv
, refere-se à passagem de
quantidade de movimento através da superfície fechada
V
~
. Ainda segundo Irschik e Holl
(2004, p. 151), esse termo é não-nulo se o tensor das tensões de Cauchy assim também não o
for. Nessa tese, esses casos também não serão considerados.
Por m, nas referidas condições, a equação de movimento de um volume material com
fontes de massa é
+=
VV
VV
t
~~
~
d
~
d
d
d
~
uFv
θρρ
. (2.24)
Como mostrado no Apêndice A.1, a Eq. (2.24) pode ser escrita em termos de posições e
velocidades características, i.e.
)(
d
d
~
d
d
d
d
2
d
d
~
d
d
*
2
2*
2
2
cmcm
cmcmcm
t
m
ttt
m
t
m rr
rr
wF
r
++=
, (2.25)
onde
cm
r ,
w
e
*
cm
r estão denidos, respectivamente, como
=
V
cm
Vm
~
1
~
drr
ρ
,
=
V
Vtm
~
1
~
d)d/d
( uw
ρθ
e
=
V
cm
Vtm
~
1*
~
d)( d/d
rr
ρθ
.
No caso particular em que: 1)
θ
é constante ao longo de V
~
, o que implica
θ
mtm =d/d
~
(ver Eq. (2.20)) e também
*
cmcm
rr = , 2) e as partículas de V
~
apresentam a mesma velocidade
, o que implica t
cm
d/drv
=
; a Eq. (2.25) pode ser simplicada para
21
t
m
t
m
d
d
~
)(
d
d
vw
v
F = , (2.26)
ou ainda
t
m
m
t
d
d
~
)(
d
d
~
wvF = . (2.27)
Mas como já discutido anteriormente, embora algebricamente equivalentes, as Eqs. (2.26)
e (2.27) estão associadas a diferentes a pontos de vista. Enquanto, a Eq. (2.26) é obtida sob a
consideração de que o elemento de massa gerado não faz parte da partícula geradora, a Eq.
(2.27) decorre da interpretação de que o elemento de massa gerado é parte da partícula
geradora. Assim, a rigor, as Eqs. (2.26) e (2.27) devem ser respectivamente escritas como
t
t
m
d
d
)(
d
d
µ
vw
v
F = (2.28)
e
t
m
t
d
d
)(
d
d
~
µ
wvF = , (2.29)
e então interpretadas, respectivamente, conforme as Figs. 2.5 e 2.6.
Porém, há também os problemas em que o sistema de interesse não é um conjunto
especíco de partículas, mas sim uma determinada região do espaço. Quando assim, o
sistema é usualmente denido por uma superfície de controle, que permite fluxo de partículas
através da mesma. É o chamado volume de controle. Na maioria dos problemas práticos que
requer essa abordagem, as partículas envolvidas não apresentam fontes de massa, e assim, a
variação da massa do sistema ocorre pura e exclusivamente devido à variação do número de
partículas no interior do volume de controle. Basta imaginar, por exemplo, um reservatório
inicialmente cheio de areia. Se um furo é feito na porção inferior do reservatório, partículas de
areia começam a abandoná-lo e a massa nele contida a diminuir.
22
Mas existe uma diculdade que é intrínseca ao tratamento desse tipo sistema. A questão é
que os princípios da mecânica foram desenvolvidos para um conjunto denido de partículas
(ver EKE; MAO, 2002, p. 124), ou seja, para sistemas compostos sempre pelas mesmas
partículas (ver McIVER, 1973, p. 249).
Figura 2.5 - ‘Desaparecimento’ da partícula
µ
d , que se encontra no exterior de V
(no instante de tempo
t
), e ‘surgimento’ dessa partícula no interior de V
~
(no instante de tempo tt d
+
), quando então é
imediatamente agregada pela partícula de massa
m
. A partícula ‘gerada’ não é interpretada como parte da
partícula que a gera.
Figura 2.6 - O mesmo que a Fig. 2.5. Porém, a partícula ‘gerada’ é interpretada como parte da partícula que
a gera.
x
y
t
tt d
+
w
µ
d
v
m
V
~
V
~
µ
d
+
m
vv d
+
x
y
t
tt d
+
w
µ
d
v
m
V
~
V
~
µ
d
+
m
vv d
+
t
tt d
+
w
µ
d
v
m
V
~
V
~
vv d
+
x
y
mm d
+
t
tt d
+
w
µ
d
v
m
V
~
V
~
vv d
+
x
y
mm d
+
23
Em 1903, o mecanicista e engenheiro irlandês, Osbourne Reynolds (1842-1912), em seu
trabalho de título ‘The Sub-Mechanics of the Universe’, apresentou um axioma que viria a
permitir o tratamento desse tipo de sistema à luz dos princípios clássicos da mecânica. Eis o
axioma de Reynolds:
‘AXIOMA I: Qualquer que seja a mudança na quantidade de uma entidade dentro de
uma superfície fechada, essa pode ocorrer através de uma, ou das duas seguintes
maneiras: (1) pode ocorrer pela produção ou destruição da entidade dentro da
superfície, ou (2) pela passagem da entidade através da superfície’. No Artigo 14 da
memória, Reynolds formulou esse axioma para entidades escalares em três versões
matemáticas.
Primeiramente, Reynolds [5] tratou uma superfície de controle movendo-se a uma
velocidade diferente da velocidade das partículas localizada na superfície, e em sua
equação (13) ele obteve uma formulação que, pelo teorema da divergência, pode ser
identicada como sendo equivalente à Eq. (2.3a) [ver Eq. (2.30)] (IRSCHIK; HOLL,
2004, p. 147, grifo nosso)
Segundo Irschik e Holl (2004, p. 147), o estabelecimento de uma conexão entre o nome de
Reynolds e o conhecido teorema do transporte foi mérito de Truesdell e Toupin (1960), que,
através da introdução do conceito de partículas ctícias, possibilitaram uma prova
matemática formal para as várias versões do então chamado ‘teorema do transporte de
Reynolds’. No Apêndice B, o autor dessa tese apresenta sua própria interpretação para o
conceito de partículas ctícias de Truesdell e Toupin (1960).
Em sua forma generalizada (ver Apêndice B), o teorema do transporte de Reynolds é
dado por
=
V
V
V
VV
t
V
t
ˆ
~
ˆ
ˆ
d)
ˆ
(
~
d
d
d
~
ˆ
d
d
d
ˆ
nvv
ρψρψρψ
, (2.30)
onde V
ˆ
é o volume de controle que é instantaneamente coincidente com V
~
. Por sua vez,
nv
ˆ
é a velocidade normal da superfície de controle V
ˆ
que, em geral, é diferente da
velocidade normal
n
da superfície material V
~
.
O operador de diferenciação que é empregado em V
~
, i.e. td/(.)d
~
, é diferente daquele
utilizado em V
ˆ
, i.e. td/(.)d
ˆ
. A questão é que, embora ambos correspondam à taxa de
variação total de
ψ
em uma mesma região do espaço (haja vista que VV
~
ˆ
= ), tem-se que
24
ψ
ψψ
+
= v
t
t
d
d
~
, (2.31)
onde
ψ
v
refere-se à convecção de
ψ
com as partículas reais, sendo
kji )/(.)
~
()/(.)
~
()/(.)
~
((.) zyx ++
; e
ψ
ψψ
+
=
ˆ
ˆ
d
d
ˆ
v
t
t
, (2.32)
onde
ψ
ˆ
ˆ
v
es associado à convecção de
ψ
com as partículas ctícias, sendo
kji )/(.)
ˆ
()/(.)
ˆ
()/(.)
ˆ
((.)
ˆ
zyx ++
. Mas a partir desse ponto, o conceito formal de
partículas ctícias será por ora ‘abandonado’, devendo
nv
ˆ
ser interpretado apenas como a
velocidade normal da superfície de controle
V
ˆ
.
A equação de movimento em
V
ˆ
pode ser obtida tomando-se
v
=
ψ
na Eq. (2.30), i.e.
=
V
V
V
VV
t
V
t
ˆ
~
ˆ
ˆ
d)
ˆ
(
~
d
d
d
~
ˆ
d
d
d
ˆ
nvvvvv
ρρρ
. (2.33)
Supondo-se que V
~
não apresenta fontes de massa, tem-se, das Eq. (2.24) e (2.33) que
(24)
=
VV
VV
t
ˆˆ
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
d
d
d
ˆ
nvvvFv
ρρ
. (2.34)
Como explica Thompson (1988, p. 40), a Eq. (2.34) mostra que o incremento na
quantidade de movimento de um volume de controle (lado esquerdo da Eq. (2.34)) decorre de
dois fatores: 1) atuação da força
F
(25)
nas partículas que instantaneamente encontram-se
dentro de
V
ˆ
(primeiro termo do lado direito da Eq. (2.34)), o que representa uma ‘geração’ de
______________
24
Equivalentemente, Grubin (1963) apresenta uma outra maneira de se obter essa equação a partir do teorema do
transporte de Reynolds.
25
Que pode ser vista como a resultante das forças atuantes no volume material.
25
quantidade de movimento no interior de
V
ˆ
, 2) e fluxo de quantidade de movimento através de
V
ˆ
(segundo termo do lado direito), que ocorre quando partículas dotadas de velocidade
absoluta não nula
26
atravessam a superfície de V
ˆ
.
De maneira análoga àquela empregada na obtenção da Eq. (2.25) a partir da Eq. (2.24),
tem-se, a partir da Eq. (2.34), que (ver Apêndice A.2)
)(
d
d
ˆ
d
d
d
d
2
d
d
ˆ
d
d
*
2
2*
2
2
cmcm
cmcmcm
t
m
ttt
m
t
m rr
rr
wF
r
++= , (2.35)
onde, agora,
cm
r
,
w
e
*
cm
r
estão respectivamente denidos como
=
V
cm
Vm
ˆ
1
ˆ
drr
ρ
,
=
V
Vtm
ˆ
1
ˆ
d)
ˆ
()( d/d
ˆ
nvvvw
ρ
e
=
V
cm
Vtm
ˆ
1*
ˆ
d)
ˆ
()( d/d
ˆ
nvvrr
ρ
.
No caso particular em que 1) as partículas no interior de V
ˆ
apresentam a mesma
velocidade t
cm
d/drv
=
, 2) e
*
cm
rr =
cm
, a Eq. (2.35) pode ser simplicada para
t
m
t
m
d
d
ˆ
)(
d
d
vw
v
F = (2.36)
ou
t
m
m
t
d
d
ˆ
)(
d
d
ˆ
wvF = . (2.37)
Mas assim como as Eqs. (2.26) e (2.27) devem preferivelmente ser escritas na forma das
Eqs. (2.28) e (2.29), respectivamente, as Eqs. (2.36) e (2.37) também devem ser interpretadas
______________
26
Siegel (1972) argumenta que fluxo de massa não-nulo implica obrigatoriamente fluxo de quantidade de
movimento também não-nulo. Mas basta tomar 0
=
v em V
ˆ
como um contra-exemplo. Nesse caso, o fluxo
de massa
V
V
ˆ
ˆ
d)
ˆ
( nvv
ρ
, de fato, é diferente de zero. No entanto, o fluxo de quantidade de movimento é
claramente nulo, i.e. 0
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
=
V
Vnvvv
ρ
.
26
respectivamente como
t
t
m
d
d
)(
d
d
µ
vw
v
F = (2.38)
e
t
m
t
d
d
)(
d
d
ˆ
µ
wvF = . (2.39)
Assim:
No presente contexto de um volume não-material [de controle], nós assim chegamos
a uma relação [Eq. (2.35)] para o movimento do centro de massa em completa
analogia com o resultado de Federhofer [65] para um volume material com fontes de
massa em seu interior, Eq. (3.18) [Eq. (2.25)]. (IRSCHIK; HOLL, 2004, p. 157)
No entanto, apesar dessa analogia, existe uma diferença de interpretação entre as Eqs.
(2.29) e (2.39). A questão é que, no primeiro caso, a partícula
µ
d
‘desaparece’ do lado de
fora de V
~
e então ‘surge’ em seu interior, uma vez que
µ
d
o pode cruzar a fronteira V
~
que é fechada. no segundo caso, a partícula
µ
d
atravessa a superfície
V
ˆ
para chegar ao
interior de V
ˆ
. Nesse segundo caso, V
~
é o volume que, entre os instantes de tempo
tt d
+
e
t
,
encerra as duas e mesmas partículas (ver Figs. 2.7 e 2.8).
Faz-se agora notar que as Eqs. (2.28) e (2.38), embora advindas de diferentes abordagens,
são idênticas. Ocorre que, tanto na Fig. 2.5 como na 2.7, guras essas que estão associadas,
respectivamente, às Eqs. (2.28) e (2.38), o foco de atenção é sempre a mesma e única
partícula, i.e. a de cor escura. Como já discutido anteriormente, se, ao ser capturada, a
partícula
µ
d
é considerada como o pertencente à partícula de massa
m
, a identidade de
ambas as partículas é mantida. Ou seja, tanto a Fig. 2.5 como a 2.7 equivalem a um ponto de
vista em que é a identidade da partícula que importa, e não se a mesma é encerrada por um
volume material ou de controle.
E do mesmo modo em que
td/(.)d
~
é o operador associado a um volume material, e
td/(.)d
ˆ
o operador associado a um volume de controle, é possível também conceber um
operador relacionado a esse ponto de vista, onde é a identidade da partícula que é preservada.
27
É o chamado, segundo a terminologia de Shao-kai e Feng-xiang (1992, p. 857), operador para
‘derivada de solidicação total’, e que aqui será simbolizado por tDD /(.) .
Figura 2.7 - Partícula
µ
d
, que se encontra no exterior de V
ˆ
no instante de tempo
t
, cruza a fronteira V
ˆ
,
e atinge o interior de V
ˆ
no instante de tempo tt d
+
, quando então é imediatamente agregada à partícula de
massa
m
. Ao ser capturada, a partícula
µ
d
não é interpretada como parte da outra partícula.
Figura 2.8 - O mesmo que a Fig. 2.7. No entanto, ao ser capturada, a partícula
µ
d
é interpretada como
parte da outra partícula.
w
µ
d
v
m
µ
d
+
m
vv d
+
t
tt d
+
x
y
V
ˆ
V
ˆ
V
~
V
~
w
µ
d
v
m
µ
d
+
m
vv d
+
t
tt d
+
x
y
V
ˆ
V
ˆ
V
~
V
~
w
µ
d
v
m
vv d
+
t
tt d
+
x
y
V
ˆ
V
ˆ
V
~
V
~
mm d
+
w
µ
d
v
m
vv d
+
t
tt d
+
x
y
V
ˆ
V
ˆ
V
~
V
~
mm d
+
28
Se a identidade da partícula é mantida durante o choque, sua massa torna-se uma
constante entre os instantes de tempo tt d
+
e
t
, o que implica 0/
=
tm
D
D
. Sendo assim, a
Eq. (2.38) (ou (2.28)), pode ser apresentada como
t
m
t
d
d
)()(
µ
vwvF =
D
D
. (2.40)
Comparando-se então as Eqs. (2.39) e (2.40), ou, equivalentemente, as Eqs. (2.29) e
(2.40), vê-se que a taxa de variação da quantidade de movimento
v
p
m
=
da partícula
depende do ponto de vista, ou seja, a expressão para
tm d/)(d
ˆ
v
(ou
tm d/)(d
~
v
) é diferente
daquela para
tm DD /)( v
, onde
)d/d(/)( tmtm vv
=
DD
. Ou seja,
tm DD /)( v
é a derivada
temporal da quantidade de movimento de uma partícula cuja identidade é preservada após o
choque. Na Seção a seguir, essa questão será abordada, sendo apresentada, por m, qual deve
ser considerada a real extensão da segunda lei de Newton a uma partícula de massa variável.
2.2 A segunda lei de Newton para uma partícula de massa variável
Na década de 60, vericou-se um debate sobre a maneira adequada de se apresentar a
segunda lei de Newton para uma partícula de massa variável (ver ARMSTRONG, 1965;
ARMSTRONG, 1966; ARONS; BORK, 1964; BORK; ARONS, 1964; GADSDEN, 1964;
GADSDEN, 1966; LEITMANN, 1957; MERIAM, 1960; POMERANZ, 1964; THORPE,
1962; TIERSTEN, 1969; TRIGG, 1966a; TRIGG, 1966b; VAN DEN AKKER, 1964).
Essencialmente, a questão em pauta era se a segunda lei de Newton para uma partícula de
massa variável deveria ser escrita como
t
m
m
t
d
d
)(
d
d
wvF =
(2.41)
29
ou como
)(
d
d
vF m
t
= , (2.42)
onde nenhuma menção adicional era feita sobre o operador de diferenciação utilizado. Por
essa razão, empregou-se nas Eqs. (2.41) e (2.42) o operador
td/(.)d
, que é livre de qualquer
diacrítico e deve então ser interpretado no sentido usual de derivada temporal.
Como pode ser concluído das discussões feitas nesse Capítulo, a Eq. (2.42) é o caso
particular da Eq. (2.41) em que
0
=
w
. Além disso, a Eq. (2.42) não pode ser considerada
como uma extensão da segunda lei de Newton, porque o é invariante sob transformações
Galileanas (ver, por exemplo, PLASTINO; MUZZIO, 1992 e Apêndice A.3). A Eq. (2.41)
não só representa o caso mais geral em que a velocidade do elemento de massa a ser
capturado é não nula, como também é invariante sob transformações Galileanas (ver
Apêndice A.3). Mas, mesmo assim, existe ainda uma pergunta a ser respondida.
A questão é que qualquer uma das Eqs. (2.39), (2.29) ou (2.40) podem ser obtidas a partir
da Eq. (2.41). Basta interpretar
td/(.)d
coerentemente com cada caso. Mas qual dentre essas,
de fato, pode ser considerada como uma real extensão da segunda lei de Newton a uma
partícula de massa variável? Em outras palavras, qual dentre essas equações vale-se dos
conceitos originalmente empregados por Newton?
Inicialmente, deve-se lembrar que a Eq. (2.39) advém da Eq. (2.34), que é o teorema do
transporte de Reynolds para a quantidade de movimento. Note que a Eq. (2.39), quando
escrita como
)(
d
d
ˆ
d
d
vwF m
t
t
=+
µ
, (2.43)
pode ser interpretada da seguinte forma: a taxa de variação da quantidade de movimento de
uma partícula de massa variável (no sentido da Fig. 2.8), que é o lado direito da Eq. (2.43), é
igual à força (primeiro termo do lado esquerdo) nela atuante somada ao fluxo de quantidade
de movimento (segundo termo do lado esquerdo) para a mesma. O que deve então ser
distinguido é que esse termo de fluxo, ainda que apresente unidade de força, i.e. [N], não deve
30
ser interpretado como tal. Do Axioma I de Reynolds, tem-se que o termo de fluxo deve
possuir um signicado físico diferente do termo de geração. Ou seja, o termo de fluxo de
quantidade de movimento não deve ser sicamente interpretado como uma força, sendo essa
segunda o termo de geração de quantidade de movimento no interior de
V
ˆ
. Isso mostra que a
Eq. (2.43) não é uma relação causal entre forças e taxa de variação de quantidade de
movimento, conceito esse que deve estar imbuído na segunda lei de Newton. Logo, a Eq.
(2.43) não pode ser considerada como a extensão própria da segunda lei de Newton a uma
partícula de massa variável.
Seja agora a Eq. (2.29) sob a forma
)(
d
d
~
d
d
vwF m
t
t
=+
µ
. (2.44)
Equivalentemente à Eq. (2.43), o lado direito da Eq. (2.44) também representa a taxa de
variação da quantidade de movimento de uma partícula de massa variável, porém, no sentido
da Fig. 2.6. O segundo termo do lado esquerdo da Eq. (2.44) não é um termo de fluxo de
quantidade de movimento, mas sim uma fonte dessa grandeza devido à geração de elementos
de massa dotados de velocidade absoluta não nula. No entanto, enquanto
F
, que também é
uma fonte de quantidade de movimento, é uma força propriamente dita,
)d/(d t
µ
w
é uma
fonte de quantidade de movimento devido à geração de massa no interior de V
~
. Ou seja, a Eq.
(2.44) também não representa uma relação causa-efeito entre forças e taxa de variação de
quantidade de movimento, e, portanto, também não deve ser considerada como a extensão
própria da segunda lei de Newton a uma partícula de massa variável.
Considere agora a Eq. (2.40) na forma
t
mm
t
t
d
d
)(
d
d
)(
v
vvwF ==+
D
D
µ
. (2.45)
Como sob o operador
tDD /(.)
a partícula é vista como de massa constante entre os
instantes de tempo tt d
+
e
t
, passa então a ser uma conseqüência direta da interpretação da
equação geral de balanço e do Axioma I de Reynolds, que os termos do lado esquerdo da Eq.
(2.45) devem ser forças propriamente ditas. Ou seja, se a massa do sistema é interpretada
31
como sendo instantaneamente constante, a única maneira de alterar sua quantidade de
movimento é através da aplicação de forças. Dessa forma, a Eq. (2.45) é uma relação causa-
efeito entre as forças
F
e
)d/(d)( t
µ
vw
e a taxa de variação da quantidade de movimento
da partícula de massa
.
const
m
=
entre os instantes de tempo
tt d
+
e
t
, i.e.
)d/d(/)( tmtm vv
DD
. Ou seja, é a Eq. (2.45) que deve ser considerada como a extensão da
segunda lei de Newton a uma partícula de massa variável no sentido estrito do termo.
2.3 Teorema trabalho-energia
Seja agora a relação entre a potência transmitida ao sistema e a taxa de variação de sua
energia cinética associada a cada uma das Eqs. (2.29), (2.39) e (2.40).
Multiplicando-se escalarmente ambos os lados da Eq. (2.40) por
, obtém-se que
t
T
t D
D
=
+ vvwF
d
d
)(
µ
, (2.46)
onde
2
2
1
vmT = é a energia cinética da partícula, e, portanto,
)d/d(/ tmtT vv
=
DD
.
A Eq. (2.46) mostra que, sob esse ponto de vista, a potência associada às forças
F
e
)d/d)(( t
µ
vw
atuantes na partícula (lado esquerdo da Eq. (2.46)) é igual à taxa de variação
de sua energia cinética (lado direito). Ou seja, sob esse ponto de vista, a partícula é
interpretada como um sistema não-dissipativo, se
F
assim também não o for.
Por outro lado, Copeland (1982) demonstra que, associada à Eq. (2.39), tem-se a seguinte
relação entre a potência transmitida ao sistema e a taxa de variação de sua energia cinética
32
t
t
t
T
d
d
)(
d
d
d
d
ˆ
2
2
1
2
2
1
µµ
vwwvF += . (2.47)
Supondo-se, por hipótese, que não transferência de calor para V
~
, a primeira lei da
termodinâmica (ver, por exemplo, TESTER; MODELL, 1997, p. 48) estabelece que
t
U
t
T
t
E
d
d
~
d
d
~
d
d
~
+==vF , (2.48)
onde
E
é a energia total em
V
~
, expressa como a soma entre a energia cinética
T
e a energia
interna U .
Então, das Eqs. (2.47) e (2.48), e do teorema do transporte de Reynolds (ver Eq. (2.30))
com
2
2
1
v=ψ , i.e.
t
t
T
t
T
d
d
d
d
ˆ
d
d
~
2
2
1
µ
w= , (2.49)
obtém-se que
t
t
U
d
d
)(
d
d
~
2
2
1
µ
vw = . (2.50)
A Eq. (2.50) mostra que, quando uma partícula de massa
m
e velocidade
choca-se com
um elemento de massa
µ
d e velocidade
w
, a energia interna de V
~
sofre um incremento dado
por
µ
d)(
2
2
1
vw . Segundo Sherwood (1983, p. 599) (ver também LEFF;
MALLINCKRODT, 1993, p. 125), isso também implica um aumento na temperatura de cada
uma das partículas. Assim, tem-se que, sob o ponto de vista correspondente ao operador
td/(.)d
ˆ
, parte do trabalho transmitido ao sistema não é a ele convertido em energia
mecânica, mas sim em energia interna. Isso mostra que, quando interpretada conforme a Fig.
(2.8), uma partícula de massa variável é, essencialmente, um sistema dissipativo.
33
Mas é interessante vericar que, no caso particular em que
vw
2
1
=
(ver, por exemplo,
COPELAND, 1982, p. 599), a Eq. (2.47) conduz à seguinte expressão
t
T
d
d
ˆ
=vF , (2.51)
que é a forma do teorema trabalho-energia para um sistema não-dissipativo. Note que a Eq.
(2.51) mostra que, nesse caso particular, todo o trabalho (por unidade de tempo) transmitido
ao sistema (de massa variável) é convertido em um aumento (por unidade de tempo) apenas
em sua energia cinética. Fisicamente falando, isso signica que, no caso particular em que
vw
2
1
=
, a energia mecânica dissipada durante o choque, i.e.
µ
d)(
2
2
1
vw
, é balanceada
pelo ganho de energia mecânica que ocorre devido à captura do elemento de massa
µ
d
, i.e.
(
µ
d
2
2
1
w ). Assim, o termo
µµ
dd)(
2
2
1
2
2
1
wvw
(27)
pode ser chamado de energia líquida
dissipada.
De modo análogo ao da obtenção da Eq. (2.47) a partir da Eq. (2.39), mostra-se, da Eq.
(2.29), que
t
t
t
T
d
d
)(
d
d
d
d
~
2
2
1
2
2
1
µµ
vwwvF +=
. (2.52)
Na maioria dos livros textos, não se encontra a forma da primeira lei da termodinâmica
para um volume material com fontes de massa. Então, comparando-se a Eq. (2.52) com a Eq.
(2.48), recupera-se novamente a Eq. (2.50). Como discutido para o caso de um volume de
controle, tem-se, de modo também análogo, que um volume material com fontes de massa,
quando interpretado conforme a Fig. 2.6, é um sistema dissipativo salvo se vw
2
1
=
.
______________
27
No Capítulo 3, será mostrado que a energia líquida dissipada no processo de aumento ou diminuição de massa
de um sistema corresponde à função dissipação de Rayleigh para um sistema de massa variável.
34
2.4 Discussão
Nesse Capítulo, foi apresentada uma breve discussão sobre as primeiras abordagens da
dinâmica de partículas de massa variável. Isso foi feito a partir de uma interpretação, que é
própria do autor dessa tese, dos trechos dos trabalhos de Buquoy, Poisson, Tait e Steele e
Mechtcherskii que se encontram no artigo de Mikhailov (1975). A contribuição de Cayley,
que indubitavelmente também deve gurar entre essas outras, será discutida no Capítulo
seguinte.
Uma primeira conclusão desse Capítulo, que essencialmente decorre essencialmente dessa
interpretação dos trabalhos acima citados, é a de que, embora as Eqs. (2.29), (2.39) e (2.40)
sejam algebricamente equivalentes, cada uma delas está associada a um diferente ponto de
vista. Enquanto nas duas primeiras, a identidade das partículas que compõe o sistema como
um todo é perdida após a interação entre elas, na terceira, a identidade dessas partículas é
preservada.
Também foi mostrado por esse autor que é possível transitar entre essas duas
interpretações, se a equação de conservação de massa for vista como uma restrição no sentido
da mecânica analítica. Esse é um resultado bem explorado no contexto da mecânica do
contínuo por Seliger e Whitham (1968). Dentro dessa questão da identidade das partículas,
emerge o conceito de diferentes operadores de diferenciação para diferentes tipos de sistema
de massa variável. Esse é um procedimento que pode ser encontrado, por exemplo, nos
trabalhos de Irschik e Holl (2002, 2004), Shao-kai e Feng-xiang (1992) e Truesdell e Toupin
(1960).
Mas segundo o melhor conhecimento do autor dessa tese, pouca ênfase e quase nenhuma
discussão é feita sobre a diferença do signicado físico dos termos que compõe as Eqs. (2.29)
e (2.40), ou (2.39) e (2.40), principalmente no que se diz respeito à diferença entre a força
)d/(d)( t
µ
vw
e o fluxo (ou geração)
)]d/d([ t
µ
w
de quantidade movimento. Por essa
razão, essa questão foi explorada.
Um outro resultado decorre da análise da relação entre a potência transmitida e a taxa de
variação de energia cinética. A questão a ser observada é que, quando a identidade das
35
partículas é mantida, o sistema deve ser interpretado como não-dissipativo. No entanto,
quando a identidade das partículas é perdida, o inverso ocorre, ou seja, o mesmo sistema deve
ser interpretado como dissipativo. Frolov (1984, p. 62) argumenta que, no processo de
agregação de massa, uma outra conseqüência além do aumento da energia interna do sistema,
é o aumento de sua entropia. Esse seu argumento pode ser justicado pela clássica relação da
termodinâmica US d
~
d
~
Θ , onde
S
é a entropia do sistema e
Θ
sua temperatura absoluta.
O que é interessante de ser comentado é que Gilbert Newton Lewis (1930, p. 573), famoso
físico-químico americano, escreveu que ganho em entropia sempre signica perda de
informação, e nada mais”. E é curioso constatar que esse conceito verica-se na dinâmica de
partículas de massa variável. No caso em que a identidade da partícula
µ
d
é perdida após o
choque (ver Figs. 2.6 e 2.8), vê-se, a partir da Eq. (2.50), que a energia interna do sistema
aumenta, e, portanto, também assim aumenta sua entropia. Ou seja, de acordo com Lewis,
esse passa a ser um resultado previsto, pois, quando a identidade da partícula
µ
d
é perdida,
uma informação sobre o sistema também é perdida, o que implica um aumento em sua
entropia. Por outro lado, quando a identidade da partícula
µ
d
é mantida após o choque (ver
Figs. 2.5 e 2.7), o sistema é interpretado como não-dissipativo, ou seja, sem aumento de
energia interna e entropia. Mas curiosamente, esse resultado também pode ser previsto pela
consideração de Lewis, haja vista que, se as identidades das partículas são mantidas, a
quantidade de informações sobre o sistema permanece a mesma, e logo, o sistema não deve
sofrer aumento de entropia.
36
3 A ABORDAGEM DA MECÂNICA ANALÍTICA AOS SISTEMAS DE
MASSA VARIÁVEL
Em 1788, Joseph-Louis Lagrange (1736-1813), matemático e físico francês
28
, propôs, em
seu trabalho ‘Mécanique Analytique’, um formalismo matemático apropriado para a
mecânica, assim como um método analítico, por ele considerado geral, para a resolução de
problemas. Dugas (1988, p. 332-3) enfatiza que o ‘Mécanique Analytique’ representa a união
dos esforços realizados durante o século 18 para se desenvolver uma mecânica racionalmente
organizada.
Nas próprias palavras de Lagrange, seus objetivos eram:
Reduzir a teoria da mecânica e a arte de resolver os problemas associados para
formulas gerais, cujo simples desenvolvimento forneça as equações necessárias para
a solução de cada problema.
Unificar e apresentar, a partir de um único ponto de vista, os diferentes princípios
que, até então, têm sido encontrados para assistir na solução de problemas da
mecânica; apresentando a dependência mútua desses princípios e fazendo um
julgamento da validade desses e escopo possível[...].
Diagramas não serão encontrados nesse trabalho. Os métodos que eu explico nele
não requerem nem construções geométricas nem argumentos mecânicos, mas
somente as operações algébricas inerentes ao processo regular e uniforme. Aqueles
que amam Análise verão, com satisfação, a mecânica tornar-se um novo ramo dessa
e agradecer-me-ão por assim ter estendido seu campo. (DUGAS, 1988, p. 333)
O objetivo desse Capítulo é contribuir no preenchimento de uma importante lacuna na
abordagem Lagrangeana da dinâmica de sistemas de massa variável, em particular, na dos
sistemas contínuos de massa variável. A questão é que, segundo o conhecimento e
interpretação do autor dessa tese, Irschik e Holl (2002), nessa recente publicação, apresentam
a equação de Lagrange para um volume de controle cuja massa varia apenas com o tempo. A
questão é agora conceber a equação de Lagrange para um volume de controle onde a massa
varia do modo mais geral, i.e. não com o tempo, mas também com as coordenadas e
velocidades generalizadas. Esse é um dos resultados originais dessa tese. Vale mencionar que,
com relação a um sistema discreto de partículas, a equação de Lagrange, para o caso em que a
______________
28
Lagrange nasceu na Itália, e tem seu nome de batismo dado por Giuseppe Lodovico Lagrangia.
37
massa das partículas varia explicitamente com as coordenadas, é demonstrada,
independentemente, por Cvetićanin (1993) e Pesce (2003); esse último autor inclui o caso de
dependência com velocidades generalizadas. Exemplos de aplicação da equação de Lagrange
para um volume de controle onde a massa varia com as coordenadas e velocidades
generalizadas, serão aqui abordados. No final do Capítulo 4, uma discussão sobre a vantagem
de se empregar essa equação em alguns tipos de sistemas de massa variável será feita.
A Seção 3.4 complementa o presente Capítulo, com discussão acerca da aplicação do
Princípio de Hamilton a meios contínuos de massa variável, à luz do princípio variacional
demonstrado em 1968, por Seliger e Whitham, apresentando alguns resultados originais no
que tange à sua aplicação a volumes de controle.
3.1 Sistema de partículas e a equação de Lagrange
Essencialmente, essa Seção encontra-se dividida em duas partes. Na primeira, será
apresentada uma breve apreciação do importante trabalho de Cayley. Na segunda, o conceito
de massa explicitamente dependente de uma determinada variável (no caso, a posição) será
introduzido.
A equação de Lagrange para um sistema de partículas de massa constante, i.e.
kk
k
q
T
q
T
t
Q
=
~
~
d
d
~
&
, (3.1)
(29)
onde
=
i
ii
mT
2
2
1
v
é a energia cinética do sistema de partículas,
i
m e
i
v , respectivamente, a
massa e a velocidade da isima partícula desse sistema, e
k
Q a força generalizada associada
______________
29
Assim como
td/(.)d
,
k
q
&
/(.)
e
k
q /(.)
referem-se a variações com respeito às partículas de
V
.
38
à coordenada generalizada
k
q
; pode ser demonstrada a partir do conhecido princípio de
D’Alembert, ou seja
0
d
d
=
i
ii
i
i
t
m xF
v
δ
, (3.2)
sendo
i
F a força atuante na isima partícula,
= t
ii
dvx , e
i
x
δ
o deslocamento virtual da i-
ésima partícula.
Considere que
=
k
k
k
i
i
q
q
δδ
x
x
, (3.3)
sendo
k
q
δ
a variação virtual da coordenada generalizada
k
q .
Então, da definição para a força generalizada
k
Q , i.e.
=
k k
i
ik
q
Q
x
F , (3.4)
e do fato de que as variações
k
q
δ
são independentes e arbitrários, mostra-se, a partir das Eqs.
(3.4), (3.3) em (3.2), como usualmente é feito, a equação de Lagrange em sua forma clássica,
que é a Eq.(3.1).
No Capítulo 2, viu-se que a real extensão da segunda lei de Newton a um sistema de
massa variável é aquela onde aparece o operador
tDD /(.)
, i.e. Eq. (2.40). Nessa equação,
todos os termos envolvidos são forças, o que então permite que a ela seja aplicado o princípio
de D’Alembert. Além disso, como discutido no Capítulo 2, o ponto de vista associado ao
operador
tDD /(.)
é aquele onde a identidade das partículas envolvidas é mantida, o que
também é uma justificativa para o emprego do princípio de D’Alembert à Eq. (2.40).
39
Sendo assim, da Eq. (2.40) obtém-se que
0
d
d
)(
d
d
=
i
i
i
iii
i
i
tt
m xvwF
v
δ
µ
. (3.5)
Em 1857, Cayley então derivou a equação de Lagrange para um sistema de partículas de
massa variável a partir da Eq. (3.5). Para tal, inicialmente, Cayley (1857, p. 507-8) assume
que
=
k
kk
kk
i
ii
i
i
qQ
q
T
q
T
tt
m
δδ
&
d
d
d
d
xF
v
, (3.6)
mas não faz qualquer consideração adicional sobre os operadores de diferenciação dessa
equação. No entanto, é da interpretação do autor dessa tese, que, se
)(tmm
ii
=
, então, para
que a Eq. (3.6) seja válida, é necessário interpretá-la como
=
k
kk
kk
i
ii
i
i
qQ
q
T
q
T
tt
m
δδ
~
~
d
d
&
D
D
xF
v
(3.7)
(ver Apêndice C.1). Mas em vez de apresentar a equação de Lagrange para um sistema de
partículas de massa variável como sendo
=
i k
i
ii
i
kk
k
qtq
T
q
T
t
Q
x
vw )(
d
d
~
~
µ
&
D
D
(3.8)
(ver Eq. (C.17)), ou pelo menos na forma equivalente
=
i
k
i
i
i
kk
k
qt
m
q
T
q
T
t
Q
x
w
d
d
~
~
~
d
d
~
&
(3.9)
(ver Eq. (C.13)); Cayley (1857) vale-se de uma outra abordagem para o termo
40
i
iiii
t xvw
δµ
)d/d)((
. O autor argumenta que, como as partículas
i
µ
d ’s não pertencem
ao sistema das partículas i’s, as coordenadas generalizadas
k
q que descrevem o estado do
sistema formado por essas segundas não podem ser empregadas para expressar a posição
daquelas primeiras. Considerando então por hipótese que )(
kii
q
&
vv
=
, e valendo-se da relação
=
k
k
k
i
i
q
q
&
x
v
, (3.10)
Cayley (1857, p. 508-9) obtém uma expressão alternativa à Eq. (3.8), i.e.
kkk
k
qq
T
q
T
t
Q
&&
+
=
~
~
~
D
D
, (3.11)
onde
( )
=
=
i k
k
k
i
i
l
l
l
ii
i k
k
k
i
ii
i
q
q
q
qt
q
qt
&&&
x
w
xx
wv 2
d
d
2
d
d
2
1
2
1
µµ
.(3.12)
Nos Capítulos 4 e 5, quando, respectivamente, os chamados ‘problema da corrente em
queda’ e o ‘problema de Wagner’ forem abordados, a consistência dessa interpretação
proposta para a equação de Cayley (Eq. (3.11)) a partir dos operadores de diferenciação
tDD /(.)
,
k
q
&
/(.)
~
e
k
q /(.)
~
tornar-se-á mais clara.
Da Eq. (2.50), vê-se ainda que a Eq. (3.12) pode ser escrita como
=
i
i
i
tt
U
d
d
d
d
~
2
2
1
µ
w . (3.13)
Note assim que a função
pode ser entendida como a soma entre 1) a quantidade de
energia mecânica (por unidade de tempo) dissipada no processo de agregação de massa
41
(primeiro termo do lado direito da Eq. (3.13)), e 2) a quantidade de energia mecânica que é
carregada para fora do sistema, ou para dentro desse trazida (segundo termo do lado direito da
Eq. (3.13)). Ou seja,
corresponde à energia mecânica líquida que é dissipada no processo
de variação de massa. Deve também ser observado que 1) e 2) estão relacionados a uma
mudança na velocidade do sistema, o quê, de certa forma, justifica a forma
k
q
&
∂ℜ
/ do
termo. Assim, vê-se que
desempenha o papel da função de Rayleigh para um sistema de
massa variável; podendo ainda ser imediatamente generalizada para
qCqw
&&
+
=
T
i
i
i
t
t
U
2
1
2
2
1
d
d
d
d
~
µ
, (3.14)
(30)
no caso da presença de forças de dissipação viscosa linear, onde C é a matriz de
amortecimento.
Mas dentro da mecânica analítica, a massa das partículas de um sistema pode, no caso
mais geral, ser uma função não do tempo, mas também das coordenadas e velocidades
generalizadas, i.e. ),,(
kkii
qqtmm
&
=
(ver, por exemplo, CVETIĆANIN, 1993; MUŠICKI,
1999, 2000 e PESCE, 2003). A questão é que, se a massa das partículas depende de
k
q e/ou
k
q
&
, as Eq. (3.8), (3.9), ou (3.11) tornam-se impróprias. Imagine, por exemplo, uma caneta
sendo modelada como uma partícula. Suponha que essa caneta move-se, por hipótese, com
translação pura. Assim, enquanto se move e ‘risca’ a folha de papel, transfere tinta para essa
superfície (ver Fig. 3.1)
Trata-se, portanto, de uma partícula de massa variável. Como imediatamente após
abandonar a caneta, a tinta adere ao papel, então 0
=
w . Assim, se
F
é a força resultante que
movimenta a caneta, então, da Eq. (2.29), tem-se que
)(
d
d
~
mv
t
F =
, (3.15)
______________
30
Ver forma alternativa em, por exemplo, Rosof (1971, p. 1269).
42
onde
é a velocidade da caneta.
Mas é bastante conveniente expressar a massa da caneta como uma função da distância
por ela percorrida. Basta conhecer a quantidade de tinta que a caneta abandona por unidade de
comprimento percorrido, i.e.
σ
[kg/m]. Assim, se
0
m
é a massa inicial da caneta e
x
a
distância por ela percorrida, então xmxm
σ
=
0
)( . Note que se a Eq. (3.9) fosse nesse
problema empregada com
QF
=
,
q
x
=
,
0
=
w
, obter-se-ia
v
t
m
mv
t
v
x
m
mv
t
F
d
d
~
)(
d
d
~
~
)(
d
d
~
2
1
2
2
1
=
= , (3.16)
que é uma equação diferente da Eq. (3.15).
Figura 3.1 – Ilustração de um sistema de massa variável com a posição. Uma caneta movendo-se ao longo
de uma folha de papel.
Pesce (2003) então mostra que se ),,(
kkii
qqtmm
&
=
, faz-se necessário reconsiderar a
dedução da equação de Lagrange a partir dos princípios de D’Alembert e dos Trabalhos
Virtuais, e assim as Eqs. (C.8) e (C.9) devem ser respectivamente reescritas como
[ ]
k
i
i
i
i
k
i
ii
kk
i
i
qt
m
q
m
m
qtqt
m
=
x
vvv
v
d
d
~
~
~
d
d
~
d
d
2
2
1
2
2
1
2
2
1
&&&
, (3.17)
[
]
2
2
1
2
2
1
2
2
1
~
~
i
k
i
ii
kk
i
i
q
m
m
qq
m vv
v
=
, (3.18)
x
y
x
y
x
y
43
onde agora
++=
k
kki
k
kkiii
qqmqqmtmtm
&&&&
)/
~
()/
~
(/d/d
~
.
Logo, das Eqs. (3.17) e (3.18) em (C.5), obtém-se que
[ ] [ ]
k
i
i
i
i
k
i
ii
k
i
k
i
ii
kk
ii
i
qt
m
q
m
m
qq
m
t
m
qtqt
m
+
=
x
v
vvvv
xv
d
d
~
~
~
~
d
d
~
~
d
d
~
d
d
2
2
1
2
2
1
2
2
1
2
2
1
&&
, (3.19)
o que implica
k
k
i
i
i
k i
i
k
i
i
k
i
kki k
k
k
ii
i
q
qt
m
q
m
q
m
tq
T
q
T
t
q
qt
m
δ
δ
+
+
=
x
v
vv
xv
d
d
~
~
~
d
d
~
~
~
d
d
~
d
d
2
2
1
2
2
1
&&
.(3.20)
Assim, das Eqs. (3.20) e (C.4) em (C.3), chega-se a
+
++
=
k
ii
ii
i
i
i
i
k
i
i
k
i
kk
k
qt
t
m
q
m
q
m
tq
T
q
T
t
Q
x
vw
vvv
d
d
)(
d
d
~
~
~
d
d
~
~
~
d
d
~
2
2
1
2
2
1
µ
&&
, (3.21)
i.e.
+
=
i
k
i
i
i
i
k
i
i
k
i
kk
k
qt
m
q
m
q
m
tq
T
q
T
t
Q
x
wvv
d
d
~
~
~
d
d
~
~
~
d
d
~
2
2
1
2
2
1
&&
. (3.22)
Analogamente à Eq. (3.8), a Eq. (3.22) pode ser escrita sob o operador
tDD /(.)
. Para tal,
basta reconsiderar a Eq. (3.17) como
44
[ ]
=
2
2
1
2
2
1
2
2
1
~
~
d
d
i
k
i
ii
kk
i
i
q
m
t
m
qtqt
m vv
v
&&&
D
D
D
D
. (3.23)
Pelo mesmo procedimento acima mostrado para a demonstração da Eq. (3.22), chega-se
agora a
+
=
i
k
i
ii
i
i
k
i
i
k
i
kk
k
qtq
m
q
m
tq
T
q
T
t
Q
x
vwvv )(
d
d
~
~
~
~
2
2
1
2
2
1
µ
&&
D
D
D
D
. (3.24)
Note assim que, com relação à Eq. (3.9), onde )(tmm
ii
=
, a Eq. (3.22), que é válida para
o caso mais geral em que
),,(
kkii
qqtmm
&
=
, apresenta dois termos adicionais, i.e.
i
i
k
i
q
m
t
2
2
1
~
d
d
~
v
&
e
i
i
k
i
q
m
2
2
1
~
v . Note agora que se a Eq. (3.22) for aplicada ao problema da
caneta anteriormente mencionado, obtém-se que
)(
d
d
~
~
~
)(
d
d
~
2
2
1
2
2
1
mv
t
v
x
m
v
x
m
mv
t
F =
+
= , (3.25)
que é o resultado esperado (ver Eq. (3.15)).
Vale agora dizer que, se as funções )(tqq
kk
=
e )(tqq
kk
&&
=
forem a priori conhecidas,
então a massa das partículas do sistema pode ser escrita como uma função apenas do tempo,
i.e.
))(),(,()( tqtqtmtm
kkiii
&
=
=
µ
. (3.26)
Se assim, no problema da caneta, a Eq. (3.9) pode ser aplicada como
)(
d
d
~
)(
d
d
~
~
)(
d
d
~
2
1
mv
t
v
t
x
v
t
F =
= µ
µ
µ , (3.27)
45
sendo
v
x
m
t
=
~
d
d
~
µ
. (3.28)
3.2 Volume de controle e a equação de Lagrange
Irschik e Holl (2002) foram os primeiros a abordar a questão da associação da equação de
Lagrange a um volume de controle. Em suas próprias palavras, tem-se que:
Segundo nosso melhor conhecimento, o conceito de volume de controle ainda não
foi associado às equações de Lagrange na literatura. Desenvolvendo-se a extensão
desejada das equações de Lagrange, uso será feito do teorema do transporte de
Reynolds para um volume não-material [volume de controle], ver Truesdell e
Toupin [2, sec. 81], e das generalizações desse teorema com respeito a derivadas
parciais das quantidades transportadas para coordenadas e velocidades
generalizadas. Cobrirá a parte principal do presente artigo a derivação dessas
generalizações. (IRSCHIK; HOLL, 2002, p. 232)
Para
2
2
1
v== T
ψ
, os autores (ver IRSCHIK; HOLL, 2002, p. 242, Eqs. (4.12) e (4.15))
então consideram a seguinte generalização do teorema do transporte de Reynolds para a
derivada parcial com respeito à coordenada generalizada
k
q
+
=
V
k
V
k
V
k
V
q
TVT
q
VT
q
ˆˆ
~
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
d
ˆ
~
d
~
nvv
&
ρρρ
. (3.29)
É agora importante salientar a seguinte menção feita por Irschik e Holl (2002, p. 238):
“[...]as coordenadas generalizadas [
k
q ’s] da Seção 2 [do seu trabalho] podem ser também
usadas para o problema ctício [i.e. para descrever o movimento de V
ˆ
]
31
, as dependências
______________
31
Vale lembrar que V
ˆ
é o volume das partículas fictícias. Daí o nome ‘problema fictício’.
46
funcionais, claro, sendo diferentes [
),,(
kk
qqtf
&
=
v
é diferente de
),,(
ˆ
kk
qqtg
&
=
v
, por
exemplo][...]”
Uma vez que V
ˆ
é instantaneamente coincidente com V
~
(ver Apêndice B), então
==
V
V
VTVTT
ˆ
~
ˆ
d
~
d
ρρ
. (3.30)
Logo, da Eq. (3.29)
+
=
V
kkk
V
q
T
q
T
q
T
ˆ
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
~
nvv
&
ρ
. (3.31)
Para a derivada parcial com respeito à velocidade generalizada, a generalização do
teorema do transporte de Reynolds apresentada por Irschik e Holl (2002, p. 243, Eq. (5.5))
corresponde a
+
=
V
kkk
V
q
T
q
T
tq
T
t
ˆ
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
d
d
~
d
d
nvv
&&&
ρ
, (3.32)
onde não é encontrada, pelo menos o no trabalho original desses autores, nenhuma
distinção entre o operador de diferenciação total que aparece no lado esquerdo da Eq. (3.32) e
aquele que aparece no lado direito dessa equação. A questão é que, se assim for, a equação
kk
q
T
q
T
&&
=
ˆ
~
, (3.33)
que é apresentada pelos autores (IRSCHIK; HOLL, 2002, p. 242, Eq. (4.16)), torna então
sempre nulo o segundo termo do lado direito da Eq. (3.32). Mas isso equivale a assumir que o
fluxo de quantidade de movimento
=
V
k
V
k
V
q
V
q
T
ˆˆ
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
d)
ˆ
( nvv
x
vnvv
ρρ
&
47
também é sempre nulo. O que é impróprio. Além disso, os próprios autores, ao abordarem o
clássico problema do foguete como exemplo de aplicação, corretamente assumem que
0
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
V
k
V
q
T
nvv
&
ρ
.
Ou seja, uma vez que o trabalho de Irschik e Holl (2002) é de caráter geral, o autor dessa
tese acredita fortemente que a Eq. (3.32) deva ser reinterpretada. Para tal, tome, inicialmente,
o teorema do transporte de Reynolds (na forma da Eq. (2.30)) com
k
qT
&
= /
~
ψ
, o que então
conduz a
+
=
V
kkk
V
q
T
q
T
tq
T
t
ˆ
ˆ
d)
ˆ
(
~
d
d
ˆ
~
d
d
~
nvv
&&&
ρ
. (3.34)
Substituindo-se agora as Eqs. (3.31) e (3.34) em (3.1), obtém-se a equação de Lagrange
associada ao volume de controle V
ˆ
, i.e.
+
=
V
k
V
kkk
k
V
q
TV
q
T
q
T
q
T
t
Q
ˆˆ
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
~
d
d
ˆ
nvvnvv
&&&
ρρ
, (3.35)
32
que é algo diferente daquela que é originalmente demonstrada por Irschik e Holl (2002, p.
243, Eq. (5.6)) a partir da consideração da Eq. (3.32) (no lugar da Eq. (3.34)), i.e.
+
=
V
k
V
kkk
k
V
q
TV
q
T
q
T
q
T
t
Q
ˆˆ
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
d)
ˆ
(
ˆˆ
d
d
~
nvvnvv
&&&
ρρ
. (3.36)
Entretanto, deixa-se bem claro que a consideração da Eq. (3.34) em vez da Eq. (3.32), e a
da Eq. (3.35) em vez da Eq. (3.36), em nada altera a validade dos resultados apresentados por
Irschik e Holl (2002). Inclusive, a reinterpretação aqui proposta permite que a consistência de
seus resultados fique ainda mais evidente.
______________
32
=
V
kk
VqQ
~
d)/( xf
, onde
f
é a força atuante em um elemento de massa
V
~
d
ρ
.
48
Irschik e Holl (2002, p. 245) argumentam que se pode assumir que
0
ˆ
d
d
d
ˆ
1
ˆ
ˆ
d)
ˆ
(
ˆˆ
=
=
V
k
V
k
V
t
m
Aq
TV
q
T
&&
nvv
ρ
, (3.37)
onde
=
V
VA
ˆ
ˆ
d , haja vista que, comumente, são consideradas as seguintes simplificações
0
d
d
ˆ
ˆ
=
t
m
q
k
&
, (3.38)
0=
k
q
A
&
. (3.39)
Note que a hipótese dada pela Eq. (3.38) é equivalente a
0
ˆ
=
k
q
m
, (3.40)
ou seja, a massa contida em V
ˆ
não depende das coordenadas generalizadas
33
, e, portanto,
pode ser interpretada como uma função apenas do tempo, i.e.
=
t
m
tm
0
d
d
d
ˆ
)(
ˆ
τ
τ
. (3.41)
Isso mostra que, na porção de V
ˆ
onde ocorre o fluxo de massa, i.e. onde em V
ˆ
nvnv
ˆ
, tanto a posição das partículas reais quanto a das fictícias não dependem de
k
q .
______________
33
E, supostamente, também não das velocidades generalizadas.
49
Da Eq. (3.37), tem-se que
0)),,(
ˆ
(,0),,((0
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
=
=
=
kk
k
kk
k
V
k
qqt
q
qqt
q
V
q
T
&
&
&
&&
vvnvv
ρ
, (3.42)
o que implica
)(
ˆˆ
),(0)),(
ˆ
(,0)),(( ttqt
q
qt
q
k
k
k
k
xxxxxx ===
=
, (3.43)
kk
q
T
q
T
=
ˆ
~
. (3.44)
Assim, verifica-se que, quando a posição das partículas reais e fictícias imediatamente
localizadas em V
ˆ
dependem apenas do tempo, a massa contida em V
ˆ
também depende
apenas do tempo, i.e. Eqs. (3.41) e (3.43). Veja que, de fato, a teorema do transporte de
Reynolds (para a variável tempo) com 1
=
ψ
e 0
=
θ
(ver Eqs. (2.20) e (2.30)) conduz a uma
relação, i.e
==+
VVV
V
tt
m
VV
t
ˆˆˆ
ˆ
d)
ˆ
(
d
d
d
d
ˆ
0
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
d
d
d
ˆ
nxxnvv
ρρρ
. (3.45)
Note assim que os operadores de diferenciação
td/(.)d
ˆ
e
td/(.)d
estão associados com a
dependência temporal da massa em V
ˆ
. Além disso, a Eq. (3.35) sob a hipótese dada pela Eq.
(3.37) torna-se igual a
+
=
V
kkk
k
V
qq
T
q
T
t
Q
ˆ
ˆ
d)
ˆ
(
~
~
d
d
ˆ
nvv
x
v
ρ
&
, (3.46)
que é análoga à Eq. (3.9) para um sistema de partículas de massa dependente do tempo.
50
O objetivo agora é apresentar a forma da equação de Lagrange para um volume de
controle onde a massa nele contida varia do modo mais geral, i.e. não com o tempo, mas
também com as coordenadas e velocidades generalizadas, onde então se faz
),,(
kk
qqmm
&
(
(
τ
=
.
Ou seja, para um volume de controle, qual é a equação análoga à Eq. (3.22)? A idéia é
estender o conceito apresentado de que um sistema de partículas de massa variável com o
tempo, coordenadas e velocidades generalizadas, i.e.
),,(
kkii
qqtmm
&
=
, pode ser interpretado
como um sistema de partículas de massa apenas dependente do tempo, i.e.
))(),(,()( tqtqtmtm
kkiii
&
=
=
µ
. Para tal, basta conhecer a priori as funções )(tqq
kk
=
e
)(tqq
kk
&&
=
. Inicialmente, na Seção 3.2.1, o caso em que a massa no volume de controle varia
com a coordenas generalizadas será abordado. Em seguida, na Seção 3.2.2, aquele em que a
massa no volume de controle varia com as velocidades generalizadas. Por último, na Seção
3.2.3, o caso mais geral onde a massa no volume de controle varia tanto com as coordenas
quanto com as velocidades generalizadas.
3.2.1 Massa variável de forma explícita com as coordenadas generalizadas
Seja
V
(
um volume instantaneamente coincidente com V
ˆ
. Assuma que ),(
k
qτxx
(
(
=
é a
função que descreve a posição e forma de
V
(
, sendo
τ
um parâmetro. Logo, um incremento
infinitesimal no valor de
k
q implica uma variação
kk
qq d)/(
x
(
na posição e forma de V
(
.
Então, seguindo a forma da expressão de Irschik e Holl (2002, p. 242, Eq. (4.13)), i.e.
+
=
V
k
V
k
V
k
V
q
ψVψ
q
Vψ
q
~~~
~
d
~
)d(
~
d
~
n
v
&
ρρρ
, (3.47)
que a partir da relação dada pela Eq. (C.23) também pode ser alternativamente escrita como
51
+
=
V
k
V
k
V
k
V
q
ψVψ
q
Vψ
q
~~~
~
d
~
)d(
~
d
~
n
x
ρρρ
, (3.48)
concebe-se, em total analogia com as Eqs. (3.48), (B.11) e Fig. B.3 (ver Apêndice B), a
seguinte expressão para a variação em
V
(
+
=
V
k
V
k
V
k
V
q
ψVψ
q
Vψ
q
(((
(
(
((
(
d)d(d n
x
ρρρ
. (3.49)
Considere agora a hipótese dada pela Eq. (3.45), que implica que a função x
ˆ
que descreve
a posição e forma de V
ˆ
depende explicitamente do tempo, i.e.
)(
ˆˆ
txx
=
(ver Eq. (3.43)).
Mas sendo V
ˆ
e
V
(
instantaneamente coincidentes, é possível imaginar a seguinte relação
entre as funções x
ˆ
e
x
(
, i.e.
))(,()(
ˆ
tqtt
k
=
τxx
(
. (3.50)
Ou seja, enquanto x
ˆ
é implicitamente dependente das coordenadas generalizadas, x
(
é
explicitamente dependente dessas. Sendo assim, pelo mesmo raciocínio que conduz a Eq.
(B.9) a (B.10), onde
υ
é fixo no tempo, escreve-se, a partir da Eq. (3.49)
+
=
V
k
V
k
V
k
V
q
ψVψ
q
Vψ
q
ˆˆ
ˆ
d
ˆ
d
~
d n
x
(
(
(
(
ρρρ
, (3.51)
onde agora a posição e forma de V
ˆ
não varia com
k
q .
Ou seja, V
ˆ
desempenha para V
(
a mesma função que
υ
(ver Apêndice B) desempenha
para V
~
. Nesse segundo caso, uma função
x
xx
x
que descreve a posição e forma de
υ
não
depende do tempo, e, portanto, deve ser uma constante, i.e.
const.
=
x
xx
x
a função que
descreve a posição e forma de V
~
é dependente do tempo, i.e.
)(txx
=
(considerando a
hipótese dada pela Eq. (3.42)). No entanto, como
υ
e V
~
são instantaneamente coincidentes,
52
então
x
xx
x
=
)(tx
no instante de tempo
t
considerado. Analogamente àquele primeiro caso,
tem-se que a função
)(
ˆˆ
txx
=
que descreve a posição e forma de V
ˆ
não depende de
k
q , e,
portanto, é interpretada como implicitamente dependente de
k
q , ou explicitamente dependente
do tempo. Por outro lado, a função ),(
k
qτxx
(
(
=
que descreve a posição e forma de V
(
depende de
k
q . Ainda de mesmo modo, ))(,()(
ˆ
tqtt
k
=
τxx
(
.
Tome agora
1
=
ψ
na Eq. (3.51), i.e.
+
=
V
k
V
k
V
k
V
q
V
q
V
q
ˆˆ
ˆ
d
ˆ
d
~
d n
x
(
(
(
(
ρρρ
. (3.52)
Mas como
)(
ˆ
ˆ
d
ˆ
tmV
V
=
ρ
, a Eq. (3.52) fica
=
V
k
V
k
V
q
V
q
ˆ
ˆ
dd n
x
(
(
(
(
ρρ
, (3.53)
o que implica
),(d
k
V
qmV τ
(
(
(
=
ρ
, (3.54)
sendo
))(,()(
ˆ
tqtmtm
k
=
τ
(
. (3.55)
Ou seja
=
=
),(),(,
)(
ˆ
)(
ˆˆ
,
ˆ
kk
qmqV
tmtV
ττ
(
((
(
xx
xx
. (3.56)
53
Considere agora
2
2
1
v== Tψ
na Eq. (3.51), i.e.
+
=
V
kkk
V
qq
T
q
T
ˆ
2
2
1
ˆ
d
~
n
x
v
(
(
ρ
. (3.57)
Então, da Eq. (3.57) em (3.46), chega-se a
+
+
=
V
k
V
kkk
k
V
q
V
qq
T
q
T
t
Q
ˆˆ
2
1
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
d
~
d
d
ˆ
nvv
x
vn
x
v
2
ρρ
(
(
&
, (3.58)
que é a equação de Lagrange associada a um volume de controle cuja massa depende
explicitamente de
k
q .
Mas assim como a Eq. (3.46) é análoga à Eq. (3.9), mostra-se que a Eq. (3.58) é análoga à
Eq. (3.22) com ),(
kii
qtmmm
=
=
, por exemplo. Verifique, por exemplo, que, no caso
particular em que
2
2
1
2
2
1
2
2
1
2
2
1
),(d)(
ˆ
ˆ
d vvvv
k
VV
qmVtmV τ
(
(
()
==
ρρ
, i.e. quando todas as
partículas de V
(
apresentam a mesma velocidade
, tem-se, da Eq. (3.57),
+
=
+
V
kkk
k
k
V
qq
tm
q
qm
q
m
ˆ
2
2
1
2
2
1
ˆ
d)(
ˆ
),( n
x
v
v
v
v
vv
(
(
(
ρ
τ
. (3.59)
Mas como no instante de tempo considerado vale a Eq. (3.55), a Eq. (3.59) fica
2
2
1
ˆ
2
2
1
ˆ
d vn
x
v
k
V
k
q
m
V
q
=
(
(
ρ
. (3.60)
Assim, das Eqs. (3.60), (3.58) e (A.15), chega-se a
kkkk
k
qt
m
q
m
q
T
q
T
t
Q
+
+
=
x
wv
2
d
d
ˆ
~
d
d
ˆ
2
1
(
(
&
, (3.61)
54
como se queria mostrar análoga à Eq. (3.22) com
),(
kii
qtmmm
=
=
.
3.2.1.1 Exemplo ilustrativo de aplicação
Antes de se iniciar com a abordagem desse problema, deixa-se claro que esse é um
exemplo bastante simples e que pode ser alternativamente resolvido pela aplicação da
segunda lei de Newton, como assim mostra a Eq. (3.79). O objetivo é o de se apresentar um
exemplo didático de aplicação da equação de Lagrange para um volume de controle onde a
massa varia explicitamente com a posição.
Seja então um bloco que é constantemente pressionado contra uma superfície áspera (ver
Fig. 3.2). Suponha que a consistência do bloco é tal que o mesmo não possa ser comprimido.
As dimensões iniciais do bloco são
l
e
0
h , sendo essas, respectivamente, sua largura e altura.
Considere que a força
if
[N/kg] empurra o bloco ao longo da superfície áspera, quando então
o mesmo se torna sujeito à ação da força de atrito )( i
at
f [N/kg]. À medida que o bloco
muda de posição, sua massa é continuamente depositada ao longo de seu trajeto, onde
permanece em repouso. Se a densidade linear
σ
[kg/m] do material abandonado é, por
hipótese, constante, então, a massa do bloco, quando localizado na posição arbitrária
r
(coordenada generalizada do sistema), pode ser convenientemente expressa por
σ
ρ
ρ
rhrhrm
=
=
ll
(
0
)()( , (3.62)
sendo
ρ
[kg/m
2
] a densidade do bloco que, por hipótese, também é constante, e
)(rhh
=
a
altura do bloco quando na posição arbitrária
r
.
Como após abandonarem o bloco, as partículas adquirem velocidade absoluta nula, não há
fluxo de quantidade de movimento a partir do bloco, e então, a Eq. (3.58) torna-se
+
=
VV
at
V
rr
T
r
T
t
V
r
ff
ˆ
2
2
1
ˆ
ˆ
d
~
d
d
ˆ
ˆ
d)( n
x
v
v
i
(
(
&&
ρρ
. (3.63)
55
Mas nesse problema, existe uma singularidade
34
na distribuição de velocidade dentro do
bloco. Ocorre que, a cada instante de tempo, no interior desse volume, uma camada
ε
de
partículas que se encontra em contato com a superfície áspera, e, por isso, as partículas dessa
camada apresentam velocidade absoluta nula. Com exceção dessas, todas as outras partículas
em
V
(
apresentam velocidade dada por
+=+= jijiv
r
h
t
r
t
h
t
r
d
d
d
d
d
d
. (3.64)
Figura 3.2 - Sistema de massa variável explicitamente com a posição. Um bloco movendo-se ao longo de
uma superfície áspera.
A questão é que, felizmente, essa singularidade ocorre no interior de
V
(
, e não através de
V
(
. Assim, a energia cinética do bloco pode então ser calculada como
______________
34
Um tratamento formal a esse tipo de problemática pode ser encontrado em Irschik e Schlager (2004).
0
w
ε
h
r
l
superfície áspera
A
B
D
C
n
x
y
x
y
0
w
material
abandonado
ε
i
j
VV
ˆ
=
(
V
(
V
ˆ
tt d
t
at
f f
dm
0
w
ε
h
r
l
superfície áspera
AA
BB
DD
CC
n
x
y
x
y
x
y
0
w
material
abandonado
ε
i
j
i
j
VV
ˆ
=
(
V
(
V
ˆ
tt d
t
at
f f
at
f f
dm
A
V
ˆ
A
V
ˆ
B
V
ˆ
B
V
ˆ
C
V
ˆ
C
V
ˆ
D
V
ˆ
D
V
ˆ
56
2
2
1
2
2
1
2
2
1
)(d vvv mmV
V
(
l
(
(
(
=
ρερ
. (3.65)
Seja agora o cálculo de
V
Vr
ˆ
2
2
1
ˆ
d)/( nxv
(
ρ
, onde
+++=
DCBA
VVVVV
ˆˆˆˆˆ
(ver
Fig. 3.2).
0;;);0(,:
;;);(,:
ˆ
==
<+=
==
<+=
vini
x
jix
vini
x
jix
r
yyr
r
hyyrV
A
(
(
(
(
εε
εε
, (3.66)
hhyV
r
h
V
A
2
2
1
2
2
1
2
2
1
ˆ
2
2
1
)(d)1(
ˆ
d vvvn
x
v
ρερρρ
ε
==
+
(
; (3.67)
vjnji
x
jix ;;);'0(,)()'(:
ˆ
=
+=
++=
r
h
r
xrhxrV
B
(
l
(
, (3.68)
l
(
l
r
h
x
r
h
V
r
B
V
=
=
2
2
1
0
2
2
1
ˆ
2
2
1
'd
ˆ
d vvn
x
v
ρρρ
; (3.69)
0;;);0(,)(:
;;);(,)(:
ˆ
==
<++=
==
<++=
vini
x
jix
vini
x
jix
r
yyr
r
hyyrV
C
(
l
(
(
l
(
εε
εε
, (3.70)
hhyV
r
h
V
C
2
2
1
2
2
1
2
2
1
ˆ
2
2
1
)(d
ˆ
d vvvn
x
v
ρερρρ
ε
==
+
(
; (3.71)
0:
ˆ
v
D
V
, (3.72)
57
0
ˆ
d
ˆ
2
2
1
=
D
V
V
r
n
x
v
(
ρ
. (3.73)
Então, das Eqs. (3.73), (3.71), (3.69) e (3.67), obtém-se que
2
2
1
ˆ
2
2
1
ˆ
d vn
x
v l
(
r
h
V
r
V
=
ρρ
, (3.74)
que da Eq. (3.62) também pode ser escrita como
2
2
1
ˆ
2
2
1
ˆ
d vn
x
v
r
m
V
r
V
=
(
(
ρ
. (3.75)
Então, como
[ ]
r
tmrrtm
r
r
T
&
&
&&
=
=
v
vv )(
ˆ
),()(
ˆ
~
~
2
2
1
, (3.76)
rt
tm
rt
tm
rt
m
r
tm
tr
T
t
&&&&&
+
+
=
=
v
v
vvv
v
v
v
d
d
)(
ˆ
d
d
)(
ˆ
d
d
ˆ
)(
ˆ
d
d
ˆ
~
d
d
ˆ
, (3.77)
[ ]
r
tm
r
m
r
rm
r
m
rrrm
r
r
T
+
+
=
=
v
vv
v
vvv )(
ˆ
)(),()(
2
2
1
2
2
1
2
2
1
(
(
(
&
(
(
(
(3.78)
(ver Eq. (3.55)), obtém-se, por fim, das Eqs. (3.78), (3.77), (3.75) e das relações dadas pelas
Eqs. (C.22) e (C.23) em (3.63), que
)(
d
d
ˆ
rm
t
FF
at
&
= , (3.79)
58
sendo
=
V
VfF
ˆ
ˆ
d
ρ
e
=
V
atat
VfF
ˆ
ˆ
d
ρ
.
Note que a Eq. (3.79) é aquela que seria obtida da aplicação da segunda lei de Newton sob
a forma dada pela Eq. (2.34).
3.2.2 Massa variável de forma explícita com as velocidades generalizadas
Seja
V
(
um volume instantaneamente coincidente com
V
ˆ
, onde agora a função que
descreve a posição e forma de
V
(
é dada por ),(
k
q
&
(
(
τxx
=
. Um incremento infinitesimal em
k
q
&
então implica uma variação
kk
qq
&&
(
d)/(
x na posição e forma de
V
(
.
A consideração de que a posição de uma partícula depende das velocidades generalizadas
não é usual dentro da abordagem clássica da mecânica analítica. Nessa, o caso mais geral
explorado é aquele em que a posição da partícula depende do tempo e das coordenadas
generalizadas (ver, por exemplo, IRSCHIK; HOLL, 2002, p. 235, Eq. (2.2) e LANCZOS,
1970, p. 32, Eq. (18.3)). No entanto, assim como Irschik e Holl (2002, p. 234) supõe que a
posição de uma dada partícula pode ser propriamente descrita como ))(,()( tqtt
k
xxx
=
=
,
assume-se aqui que a função que descreve a posição e forma de V
(
pode ser dada por
),(
k
q
&
(
(
τxx
=
. Assim, seguindo a forma da Eq. (3.57) e da extensão da Eq. (3.56), i.e.
=
=
=
),(),(,
),(),(,
)(
ˆ
)(
ˆˆ
,
ˆ
kk
kk
qmqV
qmqV
tmtV
&
(
&
((
(
(
((
(
ττ
ττ
xx
xx
xx
, (3.80)
tem-se uma expressão análoga à Eq. (3.57), ou seja
+
=
V
kkk
V
qq
T
q
T
ˆ
2
2
1
ˆ
d
~
n
x
v
&
(
&&
(
ρ
. (3.81)
59
Derivando-se a Eq. (3.81) sob o operador
td/(.)d
ˆ
, obtém-se
+
=
V
kkk
V
qtq
T
tq
T
t
ˆ
2
1
ˆ
d
d
d
ˆ
~
d
d
ˆ
d
d
ˆ
n
x
v
2
&
(
&&
(
ρ
. (3.82)
Assim, da Eq. (3.82) em (3.46), mostra-se que
+
=
V
k
V
kkk
k
V
q
V
qtq
T
q
T
t
Q
ˆˆ
2
1
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
d
d
d
ˆ
~
d
d
ˆ
nvv
x
vn
x
v
2
ρρ
&
(
&
(
, (3.83)
que é a equação de Lagrange associada a um volume de controle no qual a massa depende
explicitamente de
k
q
&
.
E, assim como a Eq. (3.46) é análoga à Eq. (3.9), e a Eq. (3.58) é análoga à Eq. (3.22) com
),(
kii
qtmmm
=
=
, a Eq. (3.83) é análoga à Eq. (3.22) com ),(
kii
qtmmm
&
=
=
. Para
verificar, basta proceder como anteriormente, assumindo que todas as partículas de
V
(
apresentam a mesma velocidade
, i.e.
2
2
1
2
2
1
),(d)(
ˆ
ˆ
d vv
k
VV
qmVTtmVT
&
(
(
()
τ==
ρρ
.
Nesse caso, a Eq. (3.81) torna-se
+
=
+
V
kkk
k
k
V
qq
tm
q
qm
q
m
ˆ
2
2
1
2
2
1
ˆ
d)(
ˆ
),( n
x
v
v
v
v
vv
&
(
&&
(
&
(
ρ
τ
, (3.84)
e então, da relação análoga à Eq. (3.55), i.e.
))(,()(
ˆ
tqtmtm
k
&
(
=
τ , (3.85)
a Eq. (3.84), após derivação sob o operador
td/(.)d
ˆ
, fica
60
=
2
2
1
ˆ
2
2
1
d
d
ˆ
ˆ
d
d
d
ˆ
vn
x
v
k
V
k
q
m
t
V
qt
&
(
&
(
ρ
. (3.86)
Por fim, das Eqs. (3.86), (3.83) e (A.15), mostra-se que
kkkk
k
qt
m
q
m
tq
T
q
T
t
Q
+
=
x
wv
2
d
d
ˆ
d
d
ˆ
~
d
d
ˆ
2
1
&
(
&
(
, (3.87)
que é aquilo que se queria verificar.
3.2.2.1 Exemplo ilustrativo de aplicação
Exemplos envolvendo sistemas de massa variável explicitamente com a velocidade são
bastante difíceis de serem encontrados. O que será resolvido a seguir, inclusive, foi o único
que o autor dessa tese conseguiu conceber. No entanto, vale ressaltar que esse exemplo está
fundamentado em hipóteses bastante fortes, e, assim como aquele apresentado na Seção
3.2.1.1, também pode ser resolvido de um modo mais simples (ver Eq. (3.106)). Mas,
novamente, assim como na Seção 3.2.1.1, o objetivo aqui é o de se apresentar um exemplo
didático de aplicação da equação de Lagrange para um volume de controle onde a massa varia
explicitamente com a velocidade.
Considere então um reservatório em forma de ‘meia-cuia’. Suponha que, inicialmente,
esse reservatório encontra-se completamente preenchido por um determinado líquido. Na
extremidade de uma haste que gira com velocidade
j
α
&
em torno de um eixo
jO
, o
reservatório encontra-se fixo (ver Fig. 3.3). Para a simplicidade da análise é interessante
considerar que as dimensões do reservatório são pequenas se comparadas ao comprimento da
haste, o que então permite assumir que todas as partículas líquidas apresentam a mesma
distância do eixo.
Considere então que as propriedades físicas do líquido são tais que, quando o reservatório
passa de uma velocidade angular a outra, a superfície livre desloca-se até sua nova posição de
equilíbrio de modo lento o suficiente a manter sua forma plana. Além disso, o líquido
61
V
(
V
ˆ
ε
R
i
j
x
y
k
r
n
l
tt d
+
t
líquido
abandonado do
reservatório
j
Γ
j
α
&
y
x
γ
V
(
V
ˆ
ε
R
i
j
x
y
k
r
n
l
tt d
+
t
líquido
abandonado do
reservatório
j
Γ
j
α
&
y
x
V
(
V
ˆ
ε
R
i
j
i
j
x
y
x
y
k
r
n
l
tt d
+
t
líquido
abandonado do
reservatório
j
Γ
j
α
&
y
x
γ
abandona o reservatório através de uma região de tamanho
0
ε
, analogamente ao
problema da Seção anterior.
Figura 3.3 - Um reservatório de líquido que é aberto e que se encontra preso na extremidade de uma haste
que gira. Sistema de massa variável explicitamente com a velocidade.
A aceleração centrípeta ( iR
2
α
&
) do reservatório, onde
R
é sua distância até o eixo,
determina a inclinação
γ
da superfície livre do líquido. Assim, verifica-se que a inclinação da
superfície livre do líquido depende explicitamente da velocidade angular do reservatório, que
é a velocidade generalizada do sistema. Por essa razão, como mostra a Fig. 3.3, a massa
contida no reservatório depende explicitamente da velocidade generalizada do sistema.
Quando a superfície livre do líquido apresenta uma inclinação
γ
arbitrária, a massa
contida no reservatório é dada por
62
=
γλ
2
2
2
1
π
m l
(
, (3.88)
onde
L
ρ
λ
=
[kg/m
2
], sendo
ρ
[kg/m
3
] a densidade do líquido,
L
e
l
, respectivamente, o
comprimento e o raio da meia-cuia.
A dependência de
γ
com
α
&
é dada através da conhecida relação
=
g
R
2
arctan
α
γ
&
, (3.89)
sendo
g
a aceleração devido à gravidade.
Logo, a Eq. (3.88) fica
=
g
R
m
2
2
2
1
arctan
2
)(
απ
λα
&
l
&
(
. (3.90)
Sendo as dimensões do reservatório, por hipótese, muito menores que
R
, a velocidade de
arrastamento das partículas líquidas pode ser considerada a mesma e igual a
kijv RR
arr
α
α
&&
=
×
=
. (3.91)
Se a viscosidade do líquido for suficientemente alta, não apenas a movimentação da
superfície livre é lenta, como também a velocidade das partículas com relação ao reservatório
é bem menor que a velocidade de arrastamento dessas. Quando assim, pode-se assumir que a
velocidade de todas as partículas líquidas corresponde àquela dada pela Eq. (3.91), e logo, a
energia cinética em V
(
fica
2
2
2
4
1
2
2
1
2
2
1
2
2
1
)(arctan
2
dd R
g
R
mVVT
VV
α
απ
λλλ
&
&
l
(
(((
((
====
vvv . (3.92)
63
A equação que descreve o movimento do quido no reservatório pode ser obtida a partir
da reconsideração da Eq. (3.83) , i.e.
×+
=
VV
VV
t
TT
t
ˆˆ
2
1
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
d
d
d
ˆ
~
d
d
ˆ
nvvvrn
x
v
2
λ
α
λ
αα
Γ
&
(
&
(
, (3.93)
sendo
jΓ
Γ
=
a parcela do torque aplicado com relação ao eixo
jO
que causa a aceleração
angular do líquido no reservatório, e o quarto termo do lado direito
35
nulo devido ao fato de
que o líquido abandona o reservatório na direção radial, i.e.
0
=
×
vr
na região onde se o
fluxo. Nesse caso, a Eq. (3.93) torna-se
=
V
V
t
TT
t
ˆ
2
1
ˆ
d
d
d
ˆ
~
d
d
ˆ
n
x
v
2
α
λ
αα
Γ
&
(
&
(
. (3.94)
Seja, por fim, o cálculo de
V
Vt
ˆ
2
2
1
ˆ
d)/()d/d
ˆ
( nxv
αλ
&
(
. Da Fig. 3.3, vê-se que, com
relação ao sistema de coordenadas
'' yx
, a função que descreve a posição da superfície
V
(
é
)(sin)(cos jix
+
=
γ
γ
rr
(
, (3.95)
i.e.
)(arctansin)(arctancos)(
22
jix
+
=
g
R
r
g
R
r
αα
α
&&
&
(
. (3.96)
Logo
______________
35
Ver Grubin (1963).
64
+
+
=
)(arctancosarctansin
1
2
22
2
2
ji
x
g
R
g
R
g
R
g
Rr
αα
α
α
α
&&
&
&
&
(
. (3.97)
Então, como
jin
γ
γ
cos)(sin
+
=
, (3.98)
i.e.
jin
+
=
g
R
g
R
22
arctancos)(arctansin
αα
&&
, (3.99)
tem-se, da Eq. (3.97), (3.99) e (3.91), que
+
=
+
=
2
2
233
2
1
0
2
2
33
ˆ
2
2
1
1
d
1
ˆ
d
g
R
g
R
rr
g
R
g
R
V
V
α
αρ
α
αρ
α
ρ
&
l
&
&
&
&
(
l
n
x
v . (3.100)
Derivando-se então a Eq. (3.100) sob o operador td/(.)d
ˆ
, chega-se à expressão
procurada, i.e.
+
+
=
422
42
422
2
2
2
1
ˆ
2
2
1
4
3)(
ˆ
d
d
d
ˆ
α
α
α
α
αρ
α
ρ
&
&
&
&&
l
&
&
(
Rg
R
Rg
gR
RV
t
V
n
x
v . (3.101)
Note agora da Eq. (3.90) e (3.91) que
+
+
=
422
42
422
2
2
2
1
2
2
1
4
3)(
d
d
ˆ
α
α
α
α
αρ
α
&
&
&
&&
l
&
&
(
Rg
R
Rg
gR
R
m
t
v
. (3.102)
65
Ou seja, de modo análogo ao problema apresentado na Seção anterior, onde se verificou
válida a Eq. (3.60), no presente problema, verifica-se válida a Eq. (3.86). Isso ocorre, pois, em
ambos os casos foi admitido que as partículas em
V
(
possuem todas a mesma velocidade.
Note, de fato, que, como todas as partículas de
V
(
possuem a mesma velocidade
, o que
implica
2
vmT
(
(
2
1
=
(em analogia com a Eq. (3.65) do problema anterior), tem-se
[ ]
α
α
α
αα
αα
&
&
(
&
(
&&
(
&
(
&
(
+
=
=
v
vvv )()()(
2
2
1
2
2
1
m
m
m
T
, (3.103)
α
α
α
α
ααα
α
αα
&
&
(
&
&
(
&&
(
&
&
(
&
(
&
(
+
+
+
+
=
+
=
v
v
vv
v
vv
v
vv
t
m
t
m
t
mm
t
m
m
t
T
t
d
d
)(
d
d
)(
d
d
ˆ
d
d
ˆ
)(
d
d
ˆ
d
d
ˆ
2
2
1
2
2
1
, (3.104)
[ ] [ ]
α
α
α
αα
α
α
=
=
v
vvv )(
ˆ
)()(
ˆ
~
)())((
~
~
2
2
1
2
2
1
tmtmtm
T
&&&
(
. (3.105)
Por fim, das Eqs. (3.105), (3.104), (3.102), (3.101), (3.85) e das relações (C.22) e (C.23)
na Eq. (3.94), obtém-se que
36
)(
d
d
ˆ
2
αΓ
&
mR
t
= , (3.106)
i.e.
)(
d
d
ˆ
αΓ
ι
&
t
= , (3.107)
onde
2
mR
=
ι
é o momento de inércia do líquido com relação ao eixo
jO
.
______________
36
O torque total deverá incluir a taxa de variação da quantidade de movimento angular do sistema mecânico
completo.
66
3.2.3 Massa variável de forma explícita com as coordenadas e velocidades
generalizadas
Nesse último caso, que é uma combinação daqueles apresentados nas Seções 3.2.1 e 3.2.2,
deve-se considerar que a função que descreve a posição de
V
(
é dependente tanto das
coordenadas como das velocidades generalizadas, i.e.
),,(
kk
qq
&
(
(
τxx
=
, onde, novamente,
))(),(,()(
ˆ
tqtqt
kk
&
(
tτ
=
=
xx
. Uma variação na posição e forma de
V
(
pode ocorrer com um
incremento em
k
qd e/ou um incremento em
k
q
&
d , i.e.
kkkk
qqqq
&&
(
(
d)/(d)/(
+
xx . A Eq.
(3.80) assume aqui sua forma mais completa, i.e.
=
=
=
=
),,(),,(,
),(),(,
),(),(,
)(
ˆ
)(
ˆˆ
,
ˆ
kkkk
kk
kk
qqmqqV
qmqV
qmqV
tmtV
&
(
&
((
(
&
(
&
((
(
(
((
(
ττ
ττ
ττ
xx
xx
xx
xx
. (3.108)
Nesse caso em que ),,(
kk
qq
&
(
(
τxx
=
em
V
(
, a Eq. (3.57) é tomada assumindo-se
k
q
&
fixo,
e a Eq. (3.82) considerada com
k
q fixo. A substituição dessas duas equações na Eq. (3.46) por
fim conduz a
+
+
+
=
V
k
V
k
V
kkk
k
V
q
V
q
V
qtq
T
q
T
t
Q
ˆ
ˆ
2
2
1
ˆ
2
2
1
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
d
ˆ
d
d
d
ˆ
d
d
ˆ
nvv
x
v
n
x
vn
x
v
ρ
ρρ
(
&
(
(
&
(
, (3.109)
que é a equação de Lagrange associada a um volume de controle onde a massa varia
explicitamente com as coordenadas e velocidades generalizadas. E, certamente, no caso
particular em que
2
2
1
vmT
(
(
= , das Eqs. (3.60) e (3.86) (e (A.15)) em (3.109), chega-se a
67
kkkkk
k
qt
m
q
m
q
m
tq
T
q
T
t
Q
+
=
x
wvv
d
d
ˆ
d
d
ˆ
d
d
ˆ
2
2
1
2
2
1
(
&
(
(
&
(
, (3.110)
cuja forma é análoga à equação de Lagrange para um sistema de partículas em que
),,(
kkii
qqtmmm
&
=
=
(ver Eq. (3.22)).
Sistemas cuja massa varia tanto com as coordenadas quanto com as velocidades
generalizadas são bem difíceis de serem concebidos. Por essa razão, o autor dessa tese optou
por explorá-los com mais acuidade em trabalhos futuros.
3.3 Discussão
Apresentou-se aentão, de modo heurístico e a partir de argumentos físicos gerais como
os apresentados em Reynolds (1903) apud Irschik e Holl (2004, p. 147), Thompson (1988, p.
15-6) e Truesdell e Toupin (1960, p. 347), o teorema do transporte de Reynolds generalizado
a derivadas parciais com respeito às coordenadas e velocidades generalizadas, mas para um
volume de controle onde massa varia explicitamente com essas variáveis. Da disposição desse
resultado, e interpretando-se o resultado de Irschik e Holl (2002) (ver Eq. (3.35)) como a
equação de Lagrange para um volume de controle onde a massa varia explicitamente com o
tempo, chegou-se à equação de Lagrange para um volume de controle onde a massa varia
explicitamente com as coordenadas e velocidades generalizadas. Esse é um resultado original
dessa tese que então vem a contribuir para o entendimento da aplicação da equação de
Lagrange a sistemas de massa variável, em particular os contínuos.
Quando possível, a interpretação da massa de um sistema como uma função das
coordenadas e velocidades generalizadas possui uma vantagem na resolução de problemas.
No da caneta, por exemplo (ver Fig. 3.1), se a informação sobre a quantidade de tinta que é
depositada ao longo da folha de papel, que depende das propriedades físicas da tinta e do
modo em que a caneta foi construída, estiver disponível, torna-se possível, mesmo antes de se
68
resolver o problema, apresentar uma expressão para a massa da caneta. Isso implica que a
equação de movimento, i.e.
t
v
mv
x
m
F
d
d
d
d
~
2
+= , (3.111)
torna-se uma equação diferencial de primeira ordem em
com os coeficientes
xxm d/)(d
~
e
)(xmm
=
conhecidos. Note que se a massa da caneta for alternativamente interpretada como
uma função do tempo, i.e.
))(()( txmtm
=
=
µ
, a mesma torna-se dependente da própria
solução
)(txx
=
da equação de movimento, ou seja
t
v
mv
t
m
F
d
d
d
d
~
+= . (3.112)
3.4 O princípio de Hamilton e sistemas contínuos de massa
variável
O princípio de ação estacionária está associado a importantes nomes como o de Sir
William Rowan Hamilton (1805 - 1865). A aplicação do princípio de Hamilton estende-se
desde a mecânica clássica até a quântica, podendo ser concebido tanto para sistemas discretos
como para contínuos. A pretensão desse Capítulo está longe de ser a de se abordar o tema em
sua totalidade. Assim como no Capítulo 3 discutiu-se a extensão da equação de Lagrange a
sistemas de massa variável, no presente Capítulo, o mesmo será feito com o princípio de
Hamilton, também originalmente formulado para sistemas onde a identidade das partículas
deve ser mantida.
Na hidrodinâmica, essa problemática de se identificar a partícula aparece mesmo no
tratamento de volumes fechados. Basta, por exemplo, que se valha da descrição Euleriana do
69
escoamento. Como comentam Gabbai e Benaroya (2005, p. 1), [...] o desenvolvimento de
princípios varicionais Eulerianos não tem sido sem desafios, que emergem principalmente da
necessidade de se ‘forçar’ a correspondência entre os princípios Eulerianos e Lagrangeanos.”
Um dos notáveis trabalhos sobre essa questão é o de Seliger e Whitham (1968). Nele é
demonstrada, para um sistema contínuo e fechado, a forma Euleriana do princípio de
Hamilton. O objetivo principal desta Seção é o de se discutir a generalidade do princípio
variacional de Seliger e Whitham (1968), estendendo-o então a um volume aberto, i.e. a um
volume de controle, e para o caso de escoamentos potenciais. Tal extensão constitui-se em um
resultado original dessa tese.
3.4.1 O princípio variacional de Seliger e Whitham (1968)
Supondo a ausência de forças outras que não aquela devido ao gradiente de pressão, em
coordenadas Lagrangeanas, a equação de variação de quantidade de movimento para um
líquido invíscido e incompressível é dada por (ver, por exemplo, BATCHELOR, 1967)
p
t
−∇=
2
2
x
ρ
, (3.113)
onde
ρ
e
p
são, respectivamente, a densidade e a pressão do líquido, lembrando-se também
que ),( tXx
χ
=
(ver Apêndice B), onde
χ
é a função que mapeia a coordenada
Lagrangeana
X
da partícula em sua coordenada atual
x
.
De acordo com Seliger e Whitham (1968), o princípio variacional que recupera a Eq.
(3.113) pode ser dado por
70
( )
[ ]
0d
~
d/d
~
d
2
1
2
1
~
2
2
1
~
==
t
t
V
t
t
V
tVUttVL x
ρδδ
, (3.114)
com
(37)
(
)
ρρΘ
d/dd
2
pSU +=
, (3.115)
sendo
Θ
a temperatura absoluta [K] do líquido,
S
[J/(Kg.K)] a entropia por unidade de
massa e temperatura; e
L
a densidade de Lagrange
Em coordenadas Eulerianas, a equação equivalente à Eq. (3.113) é
p
t
−∇=
+
vv
v
ρ
, (3.116)
onde
),( txvv
=
é o campo de velocidade.
Observando-se a Eq. (3.114), é natural sugerir
( )
0d
~
d
2
1
~
2
2
1
=
t
t
V
tVU
ρρδ
v (3.117)
como princípio variacional que conduziria à Eq. (3.116).
Ocorre que a variação da Eq. (3.117) com respeito a
conduz apenas ao resultado trivial
0
=
v
. Seliger e Whitham (1968) argumentam que uma solução para essa questão é adicionar,
através do método dos multiplicadores de Lagrange, restrições à Eq. (3.117), como a equação
de conservação de massa
0)( =+
v
ρ
ρ
t
, (3.118)
______________
37
Válida para processos reversíveis.
71
e a equação de conservação de entropia
(38)
(
)
(
)
0=+
SS
t
v
ρρ
. (3.119)
Adicionando-se, por meio dos respectivos multiplicadores de Lagrange
φ
e
η
, as
restrições dadas pelas Eqs. (3.118) e (3.119) à Eq. (3.117), obtém-se
0d
~
d)()()(
2
1
~
2
2
1
=
+
+
+
+
t
t
V
tV
tt
U SS vvv
ρρηρ
ρ
φρρδ
. (3.120)
Mas embora a variação da Eq. (3.120) com respeito a
forneça
ηφ
+= Sv
, (3.121)
o campo de velocidades dado pela Eq. (3.121) ainda é bastante restritivo. De acordo com
Seliger e Whitham (1968, p. 5-6),
Se a entropia é constante, a distribuição de velocidade é o gradiente do potencial
η
s
+
e somente escoamentos irrotacionais estão incluídos. Em alguns casos, como
o escoamento atrás de uma curva de choque, a vorticidade está associada com os
gradientes de entropia. Entretanto, em um escoamento incompressível simples, por
exemplo, deve ser possível ter escoamentos rotacionais. Essa foi uma grande
dificuldade até Lin (1963) apresentar o seguinte ponto. Mesmo que as coordenadas
Lagrangeanas
α
[
X
] não sejam requeridas explicitamente [na abordagem
Euleriana], os campos de velocidade considerados devem ser tais que as
coordenadas
α
possam ser encontradas. Na descrição Euleriana, as coordenadas
iniciais
),( trα
[
),(
1
txX
=
χ
] não mudam ao longo do caminho da partícula, e
assim, cada coordenada (
j
X ,
3,2,1
=
j
) satisfaz 0/ =+
jj
XtX v .
A idéia de Lin (1963) é usar essa equação como uma restrição adicional. É
novamente um pouco mais conveniente combinar a equação com a equação de
continuidade e usar 0)(/)( =+
jj
XtX v
ρρ
.
Originalmente, Lin (1963) apud Seliger e Whitham (1968) sugeriu a utilização de três
restrições, i.e. uma para cada coordenada Lagrangeana
j
X da partícula. No entanto, Seliger e
Whitham (1968) mostram que a consideração de apenas uma dessas coordenadas (que será
______________
38
Válida para processos adiabáticos e reversíveis.
72
aqui, por simplicidade de notação, representada sem o subscrito
j
, i.e.
X
) é suficiente para
tal. Seliger e Whitham (1968) então propõem uma nova modificação para o princípio
variacional dado pela Eq. (3.120), adicionando a ela a equação de conservação (de identidade)
de
X
(39)
através do multiplicador de Lagrange
β
, ou seja
0d
~
d)()(
)()()(
2
1
~
2
2
1
=
+
+
+
+
+
+
+
tVXX
t
tt
U
t
t
V
v
vvv
ρρβ
ρρηρ
ρ
φρρδ
SS
. (3.122)
Supondo-se que as funções
)(
ρφ
,
)(
ηρ
S
e
)(
β
ρ
X
estejam prescritas nos instantes de
tempo
1
t
e
2
t
, tem-se então alternativamente que
0d
~
d
d
d
d
d
d
d
2
1
~
2
2
1
=
t
t
V
tV
t
X
t
S
t
U
β
ρ
η
ρ
φ
ρρρδ
v . (3.123)
Basta ver, por exemplo, das Eqs. (B.3) e (B.4) que
0d
d
d
~
d
~
d
d
d
~
d
~
d
d
)d(
2
1
2
1
2
1
~~
=
=
t
t
t
t
V
t
t
V
t
t
tV
t
tV
t
Φ
δρφδ
ρφ
δ
. (3.124)
Por fim, tem-se que variações da Eq. (3.123) com respeito a
,
ρ
,
S
e
X
conduzem,
respectivamente, às seguintes equações
βηφ
++= XSv
(3.125)
+
+
+
+
+
=
β
β
η
η
φ
φ
ρ
ρ
vvvv
t
X
tt
U S)(
2
2
1
(3.126)
______________
39
‘Conservação de
X
’ é uma expressão empregada por Seliger e Whitham (1968).
73
Θη
η
=
+
=
v
tS
U
(3.127)
0=
+
β
β
v
t
. (3.128)
Claro que
X
satisfaz a mesma equação que S e o termo
β
X adicionado a
v
toma a mesma forma que
η
S [ver Eq. (3.125)]. Entretanto, o mesmo [i.e.
β
X ]
permite que vorticidade introduzida inicialmente [i.e.
β
×
X ] seja separada da
vorticidade produzida por subseqüentes gradientes de entropia [i.e.
η
×S ].
(SELIGER; WHITHAM, 1968, p. 6)
Da Eq. (3.126), tem-se que
t
X
t
S
t
U
U
d
d
d
d
d
d
2
2
1
2
β
ρ
η
ρ
φ
ρρρ
ρ
ρ
=
v
, (3.129)
o quê permite que a Eq. (3.123) seja reescrita como
0d
~
d
2
1
~
2
=
t
t
V
tV
U
ρ
ρδ
. (3.130)
Da relação termodinâmica, i.e. Eq. (3.115), é imediato que a Eq. (3.130) possa ser
reescrita como
0d
~
d
2
1
~
=
t
t
V
tVp
δ
, (3.131)
de onde se conclui que, quando o volume considerado for fechado, sob a descrição Euleriana
do escoamento, a densidade de Lagrange pode ser dada apenas pela pressão do liquido!
74
A Eq. (3.131) é um princípio variacional para um líquido livre da interação com um
corpo. Para a inclusão desse efeito, i.e. a interação com o corpo, deve-se adicionalmente
considerar o trabalho
W
realizado pelo corpo no líquido (ver, por exemplo, MILOH, 1984),
i.e.
0dd
~
d
2
1
2
1
~
=+
t
t
t
t
V
tWtVp
δδ
. (3.132)
Na Seção abaixo, as hipóteses usuais da hidrodinâmica clássica serão tomadas a fim de se
aplicar, a título de exemplo, a Eq. (3.132) ao caso do movimento de um corpo rígido em meio
líquido.
3.4.1.1 Caso particular: líquido incompressível e invíscido, escoamento irrotacional e
homoentrópico
Seja o caso particular em que o líquido é incompressível e inviscido, e o escoamento
irrotacional e homoentrópico, i.e.
.constS =
para essa última hipótese.
Sob essas considerações, o campo de velocidade pode ser dado por
φ
=
v
, (3.133)
que será mostrado como sendo um caso particular da Eq. (3.125).
Então, da Eq. (3.125), tem-se que, para que a Eq. (3.133) seja válida, é necessário que
0=+
βη
XS
. (3.134)
Uma possível solução para a Eq. (3.134) é tomar
ct
=
η
, (3.135)
75
onde
.
const
=
(
0
>
c
) representa a temperatura (constante) do líquido (ver Eq. (3.127)); e
.const
=
β
(3.136)
Como o escoamento é irrotacional, sua vorticidade
ω
, i.e.
βη
×+×= XSω
, (3.137)
deve ser nula. De fato, note que as Eqs. (3.135) e (3.136) em (3.137) conduzem a
0
=
ω
.
As restrições dadas pelas Eqs. (3.135) e (3.136) simplificam a Eq. (3.123) para
0d
~
d
d
d
2
1
~
2
2
1
=
+
t
t
V
tVcS
t
U
ρ
φ
ρρρδ
v . (3.138)
Como o líquido é incompressível, a Eq. (3.138) pode ser convenientemente escrita como
0d
~
d
d
d
2
1
~
2
2
1
=
+
t
t
V
tVcS
t
U
φ
ρδ
v . (3.139)
Além disso, como o escoamento é homoentrópico e os processos envolvidos reversíveis,
então
0== SU
δδ
. (3.140)
Logo, a Eq. (3.139) torna-se
0d
~
d
d
d
2
1
~
2
2
1
=
t
t
V
tV
t
φ
ρδ
v , (3.141)
76
i.e.
0d
~
d
d
~
dd
~
d
d
d
2
1
2
1
2
1
~
2
1
~
2
1
~
2
2
1
=
+
=
=
t
t
V
t
t
V
t
t
V
tV
t
tV
t
tV
t
φφ
φ
ρδ
φφ
φ
φφρδ
φ
ρδ
v
. (3.142)
Claramente, se houver interação do líquido com um corpo, tem-se que (ver Eq. (3.132))
0dd
~
d
2
1
2
1
~
2
1
=+
+
t
t
t
t
V
tWtV
t
δφφ
φ
ρδ
. (3.143)
3.4.1.2 Exemplo ilustrativo de aplicação
Considere o movimento de um corpo não-deformável e totalmente submerso em meio
líquido (ver Fig. 3.4).
B
S
é a superfície de contato entre o corpo e o líquido,
F
S
a superfície
livre do líquido,
H
S a superfície de fundo e
W
S as superfícies laterais, i.e.
WHFB
SSSSV +++
=
~
Figura 3.4 - Movimento de um corpo não-deformável e totalmente submerso em meio líquido com uma
superfície livre. Meio líquido na cor cinza, corpo na cor branca.
n
n
B
S
F
S
H
S
W
S
x
y
n
n
B
S
F
S
H
S
W
S
x
y
x
y
77
Na presença de superfícies móveis, a variação do primeiro termo da Eq. (3.143) conduz a
(ver MILOH, 1984, p. 231, Eq. (6))
+
++
=
=
++
2
1
2
1
2
1
d
~
dd
~
d
d
~
d
~~
2
1
~
2
1
t
t
V
t
t
V
t
t
V
tV
t
tVgh
t
tVgh
t
δφφ
δφ
ρδφφ
φ
ρ
φφ
φ
ρδ
nr
(3.144)
(40)
Da expressão para o trabalho virtual, i.e.
=
k
kk
qQW
δδ
, (3.145)
da relação de Synge e Griffith (1959) apud Miloh (1984, p. 231, Eq. (7)),
++
=
++
B
B
S
k
kk
S
Vqngh
t
Vgh
t
~
d
~
d
2
1
2
1
δφφ
φ
ρ
δφφ
φ
ρ
nr
, (3.146)
e assumindo-se que ambas as posições de
H
S
e
W
S tendem ao infinito, o que então implica
0
φ
e
0
φ
nessas superfícies, a Eq. (3.144) torna-se
______________
40
A inclusão do termo )( gh
ρ
é elementar, sendo h a altura da superfície líquida em questão e com relação a
um estado de referência arbitrário e conveniente.
78
0d
~
d
~
d
~
d
2
1
2
1
2
1
~
2
1
2
1
=
+
+
+
++
++
tqQ
V
t
Vgh
t
Vqngh
t
t
t
k
kk
t
t
V
S
t
t
k
S
kk
F
B
δ
δφφ
δφ
ρδφφ
φ
ρ
δφφ
φ
ρ
nr
. (3.147)
Do teorema do transporte de Reynolds, i.e.
+=
VVV
VV
t
V
t
~~~
~
d
~
d
d
d
~
d nv
δφρδφρ
δφ
ρ
, (3.148)
e uma vez que 0)()(
21
=
=
tt
δφ
δφ
, chega-se a
=
2
1
2
1
~~
d
~
dd
~
d
t
t
V
t
t
V
tVtV
t
nv
δφρ
δφ
ρ
. (3.149)
Então, do teorema de Gauss-Green-Ostrogradsky, i.e.
+=
2
1
2
1
2
1
d
~
dd
~
dd
~
d
~~~
t
t
V
t
t
V
t
t
V
tVtVtV
φδφρφδφρδφφρ
n
, (3.150)
e da Eq. (3.149), a Eq. (3.147) torna-se
79
0d
~
d
~
d
~
d)(
~
d
2
1
~~
2
1
2
1
=
++
+
++
tVgh
t
VV
qVngh
t
Q
F
B
S
VV
t
t
k
k
S
kk
nr
nv
δφφ
φ
ρ
φδφρφδφρ
δφφ
φ
ρ
. (3.151)
Por fim, como
k
q
δ
,
δφ
e
nr
δ
são arbitrários e independentes entre si, as seguintes
equações são obtidas a partir da Eq. (3.151)
0
=
φ
em
V
~
(3.152)
sendo
222222
/(.)/(.)/(.)(.) zyx ++=
0)(
=
nv
φ
em
B
S
e
F
S
(3.153)
0
~
d
2
1
=
++
B
S
kk
Vngh
t
Q
φφ
φ
ρ
em
B
S
, (3.154)
0
2
1
=++
gh
t
φφ
φ
em
F
S . (3.155)
3.4.2 A expressão do princípio variacional de Seliger e Whitham (1968) em um
volume de controle
Suponha ainda válidas as hipóteses da Seção 6.1.1. Considere então que V
ˆ
(ver Apêndice
B) é o volume das partículas fictícias instantaneamente coincidente com V
~
. Seja agora a
80
equivalência entre o princípio variacional dado pela Eq. (3.142), que é aquele considerado
aplicado a
V
~
, e aquele que será aqui escrito aplicado a
V
ˆ
.
Tome a Eq. (3.142) na forma
0d
~
d
d
d
2
1
~
2
1
=
t
t
V
tV
t
φ
φφρδ
. (3.156)
Como V
ˆ
e V
~
são instantaneamente coincidentes então
=
V
V
VV
ˆ
2
1
~
2
1
ˆ
d
~
d
φφρφφρ
. (3.157)
No entanto, embora a densidade de energia cinética
φ
φ
ρ
2
1
em ambos os volumes
seja a mesma, o operador gradiente que deve ser empregado em V
ˆ
, a rigor, é aquele
associado às partículas fictícias (ver Eqs. (2.31) e (2.32)), e, portanto,
=
V
V
VV
ˆ
2
1
~
2
1
ˆ
d
ˆˆ
~
d
φφρφφρ
, (3.158)
i.e.
2
1
2
1
d
ˆ
d
ˆˆ
d
~
d
ˆ
2
1
~
2
1
t
t
V
t
t
V
tVtV
φφρδφφρδ
. (3.159)
Valendo-se agora da propriedade de permutação entre os operadores
(.)
δ
e
td/d(.)
,
escreve-se
=
=
2
1
2
1
2
1
d
~
d
d
d
~
d
~
d
d
d
d
~
d
d
d
~~~
t
t
V
t
t
V
t
t
V
tV
t
tV
t
tV
t
δφρ
δφ
ρ
φ
ρδ
. (3.160)
81
Então, aplicando-se o teorema do transporte de Reynolds (Eq. (2.30)) na Eq. (3.160),
chega-se a
+=
2
1
2
1
2
1
d
ˆ
d)
ˆ
(d
ˆ
d
d
d
ˆ
d
~
d
d
d
~
ˆˆ
~
t
t
V
t
t
V
t
t
V
tVtV
t
tV
t
nvv
δφρδφρδφρ
. (3.161)
Combinando-se agora as Eqs. (3.161) e (3.159) em (3.156) mostra-se que
0d
ˆ
d)
ˆ
(
d
ˆ
d
ˆˆ
d
~
d
2
1
2
1
2
1
ˆ
ˆ
2
1
~
2
1
=
+=
+
t
t
V
t
t
V
t
t
V
tV
tV
t
tV
t
nvv
δφρ
φ
φφρδ
φ
φφρδ
, (3.162)
i.e.
0d
ˆ
d)
ˆ
(d
ˆ
d
ˆ
dd
2
1
2
1
2
1
ˆˆ
==
t
t
V
t
t
V
t
t V
tVtVptVp nvv
δφρδδ
. (3.163)
De mesmo modo, quando da interação de um corpo com o líquido, tem-se, das Eqs.
(3.163) e (3.132), que
0dd
ˆ
d)
ˆ
(d
ˆ
d
ˆ
2
1
2
1
2
1
ˆˆ
=+
t
t
t
t
V
t
t
V
tWtVtVp
δδφρδ
nvv . (3.164)
A Eq. (3.164) corresponde ao princípio variacional de Seliger e Whitham (1968) escrito
para um volume de controle. Essencialmente como visto, a demonstração desse resultado
baseia-se na aplicação do teorema do transporte de Reynolds na restrição
V
Vt
~
~
d)d/(d
φρ
que aparece no princípio variacional original (ver Eq. (3.141), por exemplo), i.e. aquele para
82
um sistema fechado. Tecnicamente falando, esse é o procedimento adotado por McIver (1973)
para a obtenção do princípio de Hamilton para sistemas mecânicos de massa variável.
Uma aplicação para a Eq. (3.164) é o problema de Wagner (ver Capítulo 5), quando a
mesma então assume a forma de
0ddd)(dd
2
1
2
1
2
1
=+
∫ ∫
t
t
t
t S
brootj
t
t V
b
tFtVtVp
rootb
δζδφρδ
nvv . (3.165)
Mas como a Eq. (3.164) é equivalente à Eq. (3.132), deve-se lembrar que são as
quantidades físicas de
V
~
, volume que no caso representa o seio do líquido
b
V
e
adicionalmente os jatos, que se encontram prescritas nos instantes de tempo
1
t
e
2
t
. Sendo
assim, as equações que derivam da Eq. (3.165) devem ser equivalentes àquelas que derivam
da Eq. (3.132).
Juntamente com o anterior, o presente Capítulo encerra a primeira parte dessa tese, onde a
fundamentação da dinâmica de sistemas de massa variável é discutida a partir de uma
interpretação que é própria do autor, baseada em trabalhos clássicos; são apresentados, no
decorrer das discussões, resultados teóricos originais. Nos Capítulos seguintes, esses
conceitos serão empregados na rediscussão de dois problemas clássicos da mecânica, para os
quais existem aparentes paradoxos, i.e. o problema da ‘corrente em queda’ (Capítulo 4), e o
problema de ‘impacto hidrodinâmico’ sob a abordagem de Wagner (Capítulos 5).
83
PARTE II:
APLICAÇÕES:
O PROBLEMA DA CORRENTE EM
MOVIMENTO VERTICAL E O PROBLEMA DO
COLAPSO DAS TORRES GÊMEAS DO
WORLD TRADE CENTER
O PROBLEMA DE IMPACTO
HIDRODINÂMICO
84
4 O PROBLEMA DA CORRENTE EM MOVIMENTO VERTICAL E O
PROBLEMA DO COLAPSO DE EDIFÍCIOS
Um dos primeiros problemas práticos que foi abordado à luz da dinâmica de sistemas de
massa variável foi aquele que hoje é conhecido como ‘problema da corrente em queda’ (ver,
por exemplo, EKE; MAO, 2002, p. 124 e ŠIMA; PODOLSKÝ, 2005). Sua primeira versão,
apresentada em 1814, é devida à Buquoy, e refere-se ao movimento de uma corrente,
inicialmente amontoada sobre uma superfície horizontal, que então é puxada para cima a
partir de uma de suas extremidades. Resolver o problema significa obter a equação de
movimento da porção esticada da corrente, que é um sistema de massa variável. Em 1856,
Tait e Steele apresentaram em seu livro ‘A Treatise on the Dynamics of a Particle’ uma
segunda versão para o problema (ver WONG; YOUN; YASUI, 2007, p. 387, Fig. 2). Na
versão de Tait e Steele, existe, acima da porção amontoada, uma polia fixa e ideal, por onde
passa a porção esticada. O sistema de massa variável de interesse é, nesse caso, a porção da
corrente que se estende a partir da polia. Um ano após a publicação do trabalho de Tait e
Steele, Cayley, em seu artigo ‘On a Class of Dynamical Problems’, considerou uma terceira
versão do problema, utilizando-a como exemplo de aplicação da equação de Lagrange para
um sistema de massa variável (ver Capítulo 3). Pode-se dizer que o problema de Cayley é
uma versão modificada do problema de Buquoy.
Embora o problema da corrente em queda tenha sido inicialmente apresentado em meados
do século 19, ainda hoje são encontradas na literatura diferentes soluções para uma mesma
versão desse problema. Nesse Capítulo serão discutidas três versões: 1) a de Buquoy, 2) a de
Cayley, e 3) a da corrente em ‘U’. O objetivo é apresentar para cada uma dessas versões, e à
luz dos fundamentos discutidos nos Capítulos 2 e 3, a maneira adequada de se considerar o
processo de troca de massa entre as porções da corrente, e a de se obter a equação de
movimento para a porção de interesse.
85
4.1 O problema de Buquoy
Considere uma corrente, de densidade linear
σ
[kg/m], inicialmente em repouso e
enrolada sobre uma superfície horizontal de apoio. Suponha que, a partir do instante de tempo
0
=
t
, a corrente começa a ser puxada para cima, devido à ação de uma força vertical
jF F
=
que age em uma de suas extremidades. Em um instante de tempo
t
arbitrário,
observa-se a corrente então dividida em duas porções, i.e. a esticada e aquela ainda enrolada
(ver Fig. 4.1).
Figura 4.1 - Problema de Buquoy bidimensional.
Supondo-se que o comprimento da porção esticada é bem maior que a dimensão
característica da porção enrolada, o problema bidimensional representado na Fig. 4.1 pode ser
simplificado para sua versão unidimensional, como assim mostra a Fig. 4.2.
Como imediatamente antes de ser capturado pela porção esticada, os elementos de massa
da porção enrolada possuem velocidade nula, o fluxo de quantidade de movimento vertical
para a porção esticada também é nulo, i.e. 0
=
es
wy
&
σ
. Dessa forma, a quantidade de
movimento da porção esticada é
y
y
&
σ
no instante de tempo
t
, e
)d)(d( yyyy
&&
+
+
σ
σ
no
instante de tempo tt d
+
seguinte. Para a aplicação da segunda lei de Newton a um sistema de
g
F
j
y
porção enrolada
porção esticada
gg
FF
j
y
jj
y
porção enrolada
porção esticada
86
massa variável, deve-se considerar as forças atuantes no sistema como um todo. Portanto, no
presente problema, deve-se considerar as forças atuantes na corrente como um todo. No
instante de tempo
t
, as forças que atuam na porção esticada são
jF
e a força peso
)( jyg
σ
.
Como a porção enrolada está em repouso, ou seja,
0
=
=
eses
vv
&
, a soma das forças que nela
atua é nula. Assim, no instante de tempo
t
, a soma das forças que atua na corrente como um
todo é j))(( gtyF
σ
. No instante de tempo tt d
+
seguinte, a porção enrolada perde um
elemento de massa, mas ainda permanece em repouso; e a porção esticada passa a sofrer a
ação da força (
jgyyF )d(
+
σ
). Ou seja, nesse instante de tempo, novamente, a soma das
forças atuantes na corrente como um todo continua sendo
j))(( gtyF
σ
.
Figura 4.2 - Problema de Buquoy unidimensional.
Portanto, da Eq. (2.37), tem-se que
)(
d
d
yy
t
ygF
&
σσ
= , (4.1)
de onde então se obtém
+=
y
y
g
y
F
y
2
&
&&
σ
. (4.2)
Como imediatamente antes de ser capturado, o elo da porção enrolada possui velocidade
nula, o fluxo de energia cinética para a porção esticada também é nulo. No entanto, como
discutido no Capítulo 2, esse processo de captura do elo implica uma dissipação de energia,
i.e.
y
F
| y |
representação da
porção enrolada
y
F
| y |
representação da
porção enrolada
87
3
2
1
2
2
1
d
d
~
yyy
t
U
es
&&&
σσ
==
(4.3)
(ver Eq. (2.50)). O teorema trabalho-energia (ver Eq. (2.47)) aplicado à porção esticada então
se torna
3
2
1
2
2
1
d
)(d
)( y
t
yy
yygF
&
&
&
σ
σ
σ
+= . (4.4)
Dividindo-se a Eq. (4.4) por
y
&
, e desenvolvendo-se a derivada que aparece no primeiro
termo de seu lado direito, recupera-se Eq. (4.1), como esperado.
Šima e Podolský (2005) (assim como também SOUZA, 2002), no entanto, argumentam
que a Eq. (4.1) deve ser considerada válida somente nos casos em que
0
>
y
&
, ou seja,
naqueles em que a porção esticada move-se para cima. Segundo esses autores, quando a
porção esticada é continuamente depositada sob a superfície horizontal, i.e. quando
0
<
y
&
, a
superfície reage contra a porção esticada aplicando-lhe uma força reativa que é igual a
j
2
y
&
σ
.
Segundo esses autores, se a porção esticada for solta a partir de uma determinada altura
0
yy
=
(com 0
=
F ), a Eq. (4.1) deve ser reinterpretada como
)(
d
d
2
yy
t
ygy
&&
σσσ
= , (4.5)
de onde se obtém
gy
=
&&
, (4.6)
e que na forma adimensional fica
1
*
=y
&&
, (4.6a)
88
onde
gytyy /d/d
2
**2*
&&&&
==
,
0
*
/ ygtt = , sendo
0
y
o comprimento inicial da porção
suspensa.
Por outro lado, da Eq. (4.2) com 0
=
F , obtém-se que
y
y
gy
2
&
&&
= , (4.7)
que na forma adimensional torna-se
*
2
*
*
1
y
y
y
&
&&
=
, (4.7a)
onde
0
*
/ yyy =
e
(
)
[
]
gyyytyy
00
***
/d/d
&&
== .
Ou seja, comparando-se as Eqs. (4.7) e (4.6), vê-se que, com relação à aceleração da
porção esticada, a abordagem de Šima e Podolský (2005) difere da usual pelo termo
)/(
2
yy
&
. Considere agora uma análise, que é própria do autor dessa tese, sobre os
argumentos daqueles autores para o caso em que 0
<
y
&
. Seja
t
o instante de tempo
imediatamente anterior ao contato do último
41
elo da porção esticada com a superfície
horizontal. No instante de tempo tt d
+
seguinte, esse elo choca-se com a superfície
horizontal, e imediatamente adquire velocidade nula. É quando esse elo passa a fazer parte da
porção enrolada.
Imediatamente antes de ser agregado pela porção enrolada, o último elo da porção
esticada possui velocidade
jy
&
. Nesse instante, as forças que atuam na porção enrolada são: 1)
a força peso ( jgy)(
l
σ
), onde )( y
l
σ
é a massa da porção enrolada, sendo l o
comprimento total da corrente, 2) e a força normal
jN N
=
devido ao contato da porção
enrolada com a superfície horizontal. Estando a porção enrolada constantemente em repouso
por hipótese, i.e. 0
=
=
enen
vv
&
, tem-se, da Eq. (2.41) que
______________
41
Definido como o elo que se encontra na iminência de se chocar com a superfície horizontal.
89
en
wygyN
&
l
σ
σ
=
)(
, (4.8)
onde
en
wy
&
σ
é o fluxo de quantidade de movimento para a porção enrolada (ver Fig. 4.3).
Figura 4.3 - Fluxo de quantidade de movimento vertical para a porção enrolada da corrente (problema de
Buquoy para o caso em que
0
<
y
&
).
Por fim, como então jw y
en
&
=
, obtém-se, da Eq. (4.8) que
2
)( ygyN
&
l
σσ
+= . (4.9)
Ou seja, o fluxo de quantidade de movimento para a porção enrolada implica em uma
força sobre ela agente dada por (
j
2
y
&
σ
). Dessa forma, para manter o equilíbrio da porção
enrolada, a superfície horizontal deve reagir contra a porção enrolada com uma força
jN
( 0
>
N ) não apenas para compensar a força peso ( jgy)(
l
σ
), mas também a força
(
j
2
y
&
σ
). Ou seja, a superfície horizontal reage com uma força
jN
contra a porção enrolada,
e não contra a porção esticada. Então, uma vez que a corrente não apresenta resistência à
compressão, a superfície horizontal não consegue transmitir aos elos da porção esticada
qualquer força. Dessa forma, tem-se que o argumento de Šima e Podolský (2005), i.e. o de
considerar que uma força j
2
y
&
σ
atua na porção esticada quando 0
<
y
&
, mostra-se
equivocado.
Por fim, mostra-se a diferença entre essa abordagem de Šima e Podolský (2005) e aquela
aparentemente correta, i.e. Eq. (4.7), plotando-se logo a seguir um gráfico
*
y versus
*
t .
0
en
v
esen
vw
porção esticada
porção enrolada
0
en
v
esen
vw
porção esticada
porção enrolada
90
0
1
2
3
4
5
6
7
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
t*
y*
Eq. (4.7a)
Eq. (4.6a)
Figura 4.4 - Problema de Buquoy com 0
=
F e y*(0) = 6. Solução de Šima e Podolský (2005) (Eq. (4.6a)
e aquela esperada a partir dos conceitos apresentados no Capítulo 2 (Eq. (4.7a)).
4.2 O problema de Cayley
No problema de Cayley, a superfície horizontal apresenta uma abertura (ver Figs. 4.5a e
b). A partir do instante de tempo
0
=
t
, a corrente começa a ser puxada para baixo através
dessa abertura, haja vista a ação da força da gravidade que atua em sua porção esticada. Por
hipótese, o comprimento inicial
0
)0( yty
=
=
dessa porção deve ser não nulo. Como os elos
da porção amontoada encontram-se em repouso, tem-se, pela mesma razão apresentada na
Seção 4.1, que o fluxo de quantidade de movimento vertical para a porção esticada é também
nulo. Comparando-se o problema de Cayley com aquela versão do problema de Buquoy em
que a corrente é abandonada a partir de uma determinada altura, vê-se que a principal
diferença entre esses é a de que, enquanto no primeiro a força peso atua no sentido positivo de
y
, no segundo, contrariamente, essa força age no sentido negativo de
y
.
91
Figura 4.5 - Problema de Cayley tridimensional.
Figura 4.6 - Problema de Cayley unidimensional.
Da Eq. (2.37), tem-se que, no problema de Cayley, a equação de movimento da porção
esticada corresponde a
)(
d
d
yy
t
yg
&
σσ
= , (4.10)
de onde então se obtém
y
y
gy
2
&
&&
= , (4.11)
i.e.
y
| y |
g
y
σ
y
| y || y |
g
y
σ
abertura na superfície
horizontal de apoio
g
| y |
abertura na superfície
horizontal de apoio
gg
| y |
92
*
2
*
*
1
y
y
y
&
&&
=
, (4.11a)
sob as mesmas adimensionalizações da Seção anterior.
Nesse caso, da Eq. (4.11), tem-se como valor limite
3
lim
g
y =
&&
, (4.12)
(42)
i.e.
3
1
lim
*
=y
&&
, (4.12a)
ou seja, no problema de Cayley, a porção esticada da corrente cai com uma aceleração
inferior à da gravidade. Isso acontece, pois, a força reativa, que assim surge devido à captura
de elos em repouso, possui mesma direção, mas sentido contrário ao da força peso, i.e.
jvvvwΦ
2
))(d/d())(d/d( ytt
eseneseses
&
σµµ
== .
Souza e Rodrigues (2004), entretanto, abordam o problema de Cayley supondo que essa
força ))(d/d(
eseses
t vwΦ
=
µ
é a priori desconhecida. Dessa forma, a Eq. (4.10) é por eles
reinterpretada sob a seguinte forma
yyΦyg
es
&&
σ
σ
=
+
. (4.13)
Então, juntamente com a Eq. (4.13), esses autores valem-se do teorema trabalho energia
(ver Eq. (2.47)) na forma
______________
42
Originalmente, essa solução foi demonstrada pelo próprio Cayley (1857), mas pode também ser encontrada em
trabalhos mais recentes, como, por exemplo, o de Chicón (2003), Jiménez et al. (2005) e Keiffer (2001).
93
(
)
2
2
1
d
d
)( yy
t
yyg
&&
σσ
= . (4.14)
Obviamente, dispondo-se das Eqs. (4.13) e (4.14), obtêm que
y
y
gy
2
2
1
&
&&
= , (4.15)
i.e.
*
2
*
2
1
*
1
y
y
y
&
&&
=
, (4.15a)
que conduz ao valor limite
2
lim
g
y =
&&
, (4.16)
i.e.
2
1
lim
*
=y
&&
(4.16a)
e
jΦ
2
2
1
y
es
&
σ
= . (4.17).
Note que é evidente que o valor limite da aceleração da porção esticada que é prevista por
Souza e Rodrigues (2004), i.e.
2/g
, é significativamente diferente daquela obtida pelo
próprio Cayley, i.e.
3/g
. O mesmo ocorre com o valor da força
es
Φ , dada por
jΦ
2
2
1
y
es
&
σ
= , i.e. a metade do valor esperado a partir da abordagem de Cayley.
94
A questão é que, como discutido no Capítulo 2, para que o teorema trabalho-energia
aplicado à porção esticada assuma a forma dada pela Eq. (4.14), é necessário que
yw
&
2
1
=
.
No entanto, isso não corresponde à situação do problema de Cayley, onde se verifica
0
w
.
Nesse segundo caso, o teorema trabalho-energia deve ser aplicado como (ver Eq. (2.47))
(
)
3
2
1
2
2
1
d
d
yyy
t
yyg
&&&
σσσ
+=
, (4.18)
onde o segundo termo do lado direito representa a energia mecânica que é dissipada (por
unidade de tempo) no processo de transferência de massa para a porção esticada, i.e.
3
2
1
d
d
~
y
t
U
es
&
σ
=
. (4.19)
De fato, note que, dividindo-se a Eq. (4.18) por
y
&
, e desenvolvendo-se a derivada do
termo do lado direito dessa equação, obtém-se a Eq. (4.11), que é a equação obtida por
Cayley. E analogamente ao gráfico apresentado na Seção anterior, tem-se, agora
0
1
2
3
4
5
6
7
8
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
t*
y*
Eq. (4.11a)
Eq. (4.15a)
Figura 4.7 - Problema de Cayley. Solução de Souza e Rodrigues (2004), Eq. (4.15a) e a de Cayley (1857),
Eq. (4.11a).
95
4.3 O problema da corrente em ‘U’
Imagine uma corrente de comprimento
l
(ver Fig. 4.8) que se encontra inicialmente
pendurada por suas duas extremidades, formando um ‘U’. No instante de tempo 0
=
t , uma
das extremidades é solta, enquanto a outra permanece fixa (ver Fig. 4.9). A partir de então, a
‘perna’ livre da corrente começa a cair devido à ação da gravidade, transferindo massa para a
outra ‘perna’ em repouso.
Figura 4.8 - Instante de tempo imediatamente anterior ao abandono de um das extremidades fixas da
corrente.
SCHAGERL et al. (1997) argumentam que, basicamente, existem duas maneiras de se
abordar esse problema. Na primeira, considera-se que a energia da corrente como um todo é
conservada, quando então se obtém que a extremidade livre da corrente cai com uma
aceleração superior à da gravidade. Dessa abordagem, valem-se, por exemplo, Kucharski
(1941), Hamel (1949), Kuypers (1990) e Rosenberg (1991) apud SCHAGERL et al. (1997).
Na segunda abordagem, a transferência de massa da perna livre para a perna em repouso é
interpretada como uma série contínua de impactos totalmente elásticos.
Se assim, conclui-se, contrariamente, que a extremidade livre da corrente cai com uma
aceleração igual à da gravidade. Exemplos de trabalhos onde essa segunda abordagem é
empregada são os de Crellin, Janssens e Poelaert (1995) e Steiner e Troger (1995) apud
SCHAGERL et al. (1997). Ocorre que, experimentalmente, verifica-se que a extremidade
ggg
96
livre da corrente cai, de fato, com uma aceleração superior à da gravidade (ver, por exemplo,
SCHAGERL et al., 1997, CALKIN; MARCH, 1989, TOMASZEWSKI; PIERANSKI;
GEMINARD, 2006), o que remete à primeira abordagem.
Figura 4.9 - Instante de tempo imediatamente após o abandono de um das extremidades fixas da corrente.
Como discutido no Capítulo 2, a dinâmica de sistemas de massa variável encontra-se
essencialmente fundamentada no seguinte conceito: o processo contínuo de variação de massa
de um sistema pode ser interpretado como uma sucessão também contínua de impactos
inelásticos entre elementos de massa externos e o sistema em questão. Assim, quando a
segunda lei de Newton na forma da Eqs. (2.5) ou (2.7), ou mesmo o teorema trabalho-energia
na forma da Eqs. (2.46) ou (2.47), que foram deduzidos a partir desse conceito, são aplicados
a um dado sistema, automaticamente se está reconhecendo a validade dessa interpretação.
Essa é uma primeira razão para se questionar a ocorrência de impactos totalmente elásticos no
processo de variação de massa das pernas da corrente, e, portanto, também para se questionar
o resultado teórico por alguns considerado de que a extremidade livre da corrente cai com
uma aceleração igual à da gravidade.
Como nos problemas anteriores, os subsistemas da corrente são definidos separando-se os
elos que instantaneamente apresentam a mesma velocidade. No problema da corrente em ‘U’,
a rigor, três subsistemas devem ser identificados. São eles: 1) a perna livre, cujos elos
possuem velocidade jy
&
, sendo
y
a distância entre a extremidade livre e o ponto onde essa se
encontrava presa, 2) a perna em repouso, assim chamada por seus elos apresentarem
velocidade nula, 3) e o trecho curvo entre as pernas, cuja velocidade será discutida mais tarde
97
A Fig. 4.10 mostra a usual idealização do problema da corrente em U para um instante de
tempo
t
arbitrário, i.e.
Figura 4.10 - Idealização usual do problema da corrente em U.
Tome o caso em que
R
é bem menor que o comprimento da corrente. Em um instante de
tempo
t
arbitrário, o comprimento
l
da perna livre, que inicialmente então era dado por
l
2
1
,
passa a ser dado por
l
, e o comprimento da perna em repouso, que inicialmente também era
l
2
1
, passa a ser dado por
r
. Uma vez que l e
r
devem então satisfazer as equações i)
l
=
+
rl
e ii)
rly
=
+
, os mesmos podem ser respectivamente escritos como )(
2
1
yl
=
l
e )(
2
1
yr
+
=
l . A massa da perna livre então se torna
)(
2
1
ym
l
=
l
σ
(4.20)
e a da perna em repouso,
)(
2
1
ym
r
+
=
l
σ
. (4.21)
Precisa-se agora analisar o campo de velocidades da porção da corrente instantaneamente
localizada no trecho curvo. Considere então a corrente dividida em três volumes de controle,
como mostra a Fig. 4.11 abaixo.
| y |
y
R
l
r
g
| y |
y
R
l
r
| y |
y
R
l
r
gg
98
Figura 4.11 - Esquematização dos três volumes de controle que compõe a corrente em U.
Como estabelecido, a velocidade do volume de controle
5
2
4
2
3
2
1
22
ˆˆˆˆˆ
VVVVV = , que é não-deformável, é dada por jy
&
2
1
. Mas uma vez que a
densidade da corrente é constante, para que haja conservação da massa em
2
ˆ
V
, é necessário
que
[
]
[
]
0)
ˆ
()
ˆ
(
2
2
1
2
ˆˆ
=
+
VV
nvvnvv . (4.22)
y
1
2
3
y
&
2
1
y
&
y
&
2
1
y
&
y
&
2
1
n
n
n
1
2
ˆ
V
2
2
ˆ
V
3
2
ˆ
V
4
2
ˆ
V
5
2
ˆ
V
i
j
y
1
2
3
y
&
2
1
y
&
y
&
2
1
y
&
y
&
2
1
n
n
n
1
2
ˆ
V
2
2
ˆ
V
3
2
ˆ
V
4
2
ˆ
V
5
2
ˆ
V
y
1
2
3
y
&
2
1
y
&
y
&
2
1
y
&
y
&
2
1
n
n
n
1
2
ˆ
V
2
2
ˆ
V
3
2
ˆ
V
4
2
ˆ
V
y
1
2
3
y
&
2
1
y
1
2
3
y
&
2
1
y
&
y
&
2
1
y
&
y
&
2
1
n
n
n
1
2
ˆ
V
2
2
ˆ
V
3
2
ˆ
V
4
2
ˆ
V
5
2
ˆ
V
i
j
i
j
99
Mas
0)
ˆ
(
)(
)
ˆ
(,)(
2
2
2
1
11
=
=
=
=
nv
nv
nvnv
x
yy
&
&&
, (4.23)
onde
x
&
é a componente horizontal da velocidade da corrente quando em
2
2
ˆ
V
. Das Eqs.
(4.22) e (4.23) mostra-se então que yx
&&
2
1
=
, i.e. Logo, a velocidade do centro de massa de
um elo localizado em
2
2
ˆ
V
é dada por
)(
2
1
jiv
+
=
y
&
em
2
2
ˆ
V
. (4.24)
Note que esse é o caso análogo ao do movimento descendente de uma polia móvel, onde a
porção do cabo que se encontra imediatamente em contato com a polia representaria aqui o
trecho curvo entre as pernas (ver Fig. 4.12).
Sob o ponto de vista associado ao operador
td/(.)d
ˆ
, a única força que atua na perna livre
é aquela devido à ação da força da gravidade, i.e. jj gygm
l
)(
2
1
=
l
σ
. Uma vez que se está
escrevendo o balanço de quantidade de movimento para a direção vertical, tem-se que
yw
&
2
1
=
(ver Eq. (4.24)); e, portanto, da Eq. (2.37), tem-se que
[ ]
2
4
1
2
1
2
1
)(
d
d
)( yyy
t
gy
&&
ll
σσσ
+=
, (4.25)
de onde então se obtém a seguinte expressão (correta) para a aceleração da perna livre da
corrente, i.e.
y
y
gy
+=
l
&
&&
2
2
1
, (4.26)
100
que na forma adimensional fica
43
*
2
*
2
1
*
1
1
y
y
y
+=
&
&&
, (4.26a)
Em (4.26) foram aplicados os mesmos parâmetros de adimensionalização anteriores, a menos
do comprimento característico que agora é dado pelo comprimento total da corrente.
Figura 4.12 - Analogia entre o problema da corrente em U e o de um bloco (retângulo com listras) sendo
abaixado por meio de uma polia móvel. Note que
jv y
A
&
=
,
)(
2
1
jiv
+
= y
B
&
e
0=
C
v
.
Haja vista que
y
>
l
, a Eq. (4.26) mostra que, de fato, a extremidade livre da corrente
deve cair com uma aceleração superior à da gravidade, como assim verificado
experimentalmente por Schagerl et al. (1997), Calkin e March (1989) e Tomaszewski,
Pieranski e Geminard (2006). Por fim, a Fig. 4.13 mostra a diferença entre a solução dada por
______________
43
A singularidade prevista em y*=1 decorre da hipótese de ‘elo rígido’; não existirá se o problema for
equacionado de forma realista, quando a deformabilidade do corpo não poderá ser desprezada na presença de
forças reativas a elevadas desacelerações.
i
j
y
&
2
1
y
&
A
B
C
i
j
i
j
y
&
2
1
y
&
2
1
y
&
A
B
C
101
gy
=
&&
, e aquela dada pela Eq. (4.26).
A Eq. (4.25), quando colocada na forma da Eq. (2.40), i.e.
2
4
1
ygmym
ll
&&&
σ
+= , (4.27)
responde ainda à seguinte pergunta:
Uma vez que a perna livre move-se mais rápido que um corpo em queda livre, é
necessário que, no ponto mais baixo da corrente, uma força seja criada para puxar a
perna livre para baixo. Então, a seguinte questão deve ser respondida: Como é essa
força criada? (SCHAGERL et al., 1997, p. 159)
A questão é que, quando a perna livre, que possui velocidade y
&
, abandona um elo dotado
de velocidade
y
&
2
1
, a mesma sofre a ação de uma força vertical dada por
2
4
1
y
l
&
σΦ
=
(ver Eq.
(4.27)). Por possuir sinal positivo,
l
Φ
puxa a perna livre para baixo, o que então faz com que
essa apresente uma aceleração superior à da gravidade.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
t*
y*
Eq. (4.26a)
Acel. Constante ('g')
Figura 4.13 - Problema da corrente em ‘U’. Solução dada pela Eq. (4.26a) e aquela onde se considera que a
perna livre cai com aceleração constante e igual à da gravidade.
102
Analogamente, quando a perna em repouso, que possui velocidade nula, captura o elo
dotado de velocidade vertical
y
&
2
1
, também sofre a ação de uma força vertical dada por
2
4
1
)( y
t
m
r
rrr
&
σΦ
==
d
d
vw
(4.28)
(ver Eq. (4.21)). O sinal positivo de
r
Φ
implica que a tração
τ
(44)
na extremidade fixa da
corrente seja superior à força peso da perna em repouso. Veja que a Eq. (2.40) quando
aplicada à perna em repouso (
0
=
r
v
) conduz à
2
4
1
2
1
)( ygy
&
l
σστ
++= . (4.29)
4.4 O trabalho de Wong e Yasui (2006)
Dentre os mais recentes trabalhos sobre a dinâmica de uma corrente em queda está o de
Wong e Yasui (2006). Nele, os autores argumentam que:
[...] a transferência de um elo da porção enrolada [no problema de Cayley] para a
porção esticada envolve o mesmo processo de conservação de energia que opera na
perna livre [do problema da corrente em ‘U’], i.e. uma emissão ‘exoérgica’ de massa
é seguida por uma absorção ‘endoérgica’ de massa, que a contrapõe (WONG;
YASUI, 2006, p. 491).
Uma vez assim considerado, Wong e Yasui (2006, p. 491) mostram que [..] o processo
completo de transferência de massa [entre as porções da corrente] conserva a energia
mecânica, quando a massa transferida tem a velocidade dada pela equação de movimento de
Lagrange.” Dessa forma, os autores concluem que:
______________
44
Positiva quando apontada para cima.
103
[... ] a formulação de Lagrange dá a ambas [a porção esticada da corrente no
problema de Cayley e a perna livre no problema da corrente em ‘U’] a mais simples
e mais completa descrição do movimento de ambas correntes em queda (WONG;
YASUI, 2006, p. 491).
Nas palavras de Tomaszewski, Pieranski e Geminard (2006, p. 776), por exemplo, o
trabalho de Wong e Yasui (2006) traz “Uma revisão crítica e detalhada da história dos
problemas da corrente em queda, em particular de algumas abordagens errôneas [...].” Além
disso,
[...][Wong e Yasui (2006)] localizam a fonte de erro [das outras abordagens] e
propõem uma abordagem Lagrangiana infalível para os problemas da corrente em
queda, concluindo que ‘o método de Lagrange fornece respostas definitivas com
uma facilidade sem igual, clareza e elegância’ (TOMASZEWSKI; PIERANSKI;
GEMINARD, 2006, p. 776).
No entanto, segundo a opinião do autor dessa tese, existe no trabalho de Wong e Yasui
(2006) uma questão que ainda merece uma análise criteriosa. Ocorre que os autores
recuperam resultados ‘supostamente’ corretos e esperados apenas quando abordam o
problema da corrente em ‘U’. No tratamento do problema de Cayley, os autores concluem que
a aceleração limite da porção esticada deve ser
2/g
, e não
3/g
, como até então era
esperado.
Seja então a abordagem de Wong e Yasui (2006) para o problema da corrente em ‘U’.
Tomando
y
como a coordenada generalizada do problema, os autores aplicam à perna livre a
equação de Lagrange em sua forma clássica, i.e.
y
T
y
T
t
F
ll
l
=
&
d
d
. (4.30)
Como
2
4
1
)( yyT
l
&
l =
σ
é a energia cinética da perna livre, então
yy
y
T
l
&
l
&
)(
2
1
=
σ
(4.31)
yyy
y
T
t
l
&&
l
&
&
)(
d
d
2
1
2
2
1
+=
σσ
(4.32)
104
2
4
1
y
y
T
l
&
σ
=
. (4.33)
Logo, sendo gyF
l
)(
2
1
=
l
σ
, das Eqs. (4.32) e (4.33) em (4.30), obtém-se a Eq. (4.25),
que fornece a expressão correta para a aceleração da perna livre da corrente, i.e.
2
4
1
2
1
2
1
])([
d
d
)( yyy
t
gy
&&
ll
σσσ
+=
. (4.34)
Considere agora a aplicação da segunda lei de Newton (ver Eq. (2.17), por exemplo) à
perna livre, e tome
w
como a priori desconhecido, ou seja
wyyy
t
gy
&&
ll
σσσ
2
1
2
1
2
1
])([
d
d
)( +=
. (4.35)
Comparando-se as Eqs. (4.34) e (4.35), vê-se claramente que yw
&
2
1
=
. Wong e Yasui
(2006) assim mostram que a velocidade
w
pode ser determinada unicamente pela equação de
Lagrange na forma clássica por eles considerada. Segundo os autores, para que o processo de
transferência de massa entre dois sistemas não provoque uma dissipação na energia mecânica
da corrente como um todo, a velocidade
w
de uma partícula que é emitida por um sistema e
agregada pelo outro deve ser igual
)(
21
2
1
vvw
+
=
(4.36)
(ver Apêndice D).
Suponha, por exemplo, que, em um determinado instante de tempo, um sistema com
velocidade
1
v
abandona uma partícula dotada de velocidade
w
. No instante de tempo
seguinte, essa partícula é capturada por um outro sistema cuja velocidade é
2
v
. Então, para
que não haja dissipação da energia mecânica do sistema como um todo, sendo esse definido
pelos dois sistemas e mais a partícula de velocidade
w
, é necessário que
w
obedeça à Eq.
(4.36). Assim, de acordo com a interpretação de Wong e Yasui (2006, p. 493-4), “[...] essa
105
velocidade média [Eq. (4.36)] não é acidental, mas é necessária para a conservação de
energia.”; Em outras palavras, a conservação da energia cinética [do sistema como um todo]
é forçada quando
u
[
w
na simbologia aqui utilizada] tem esse valor médio.”
De fato, note que a Eq. (4.36) se verifica para o problema da corrente em ‘U’. Tomando-
se
0
2
=
v
, que é a velocidade da perna em repouso, e
yv
&
=
1
, que é a velocidade da perna
livre, conclui-se então que yw
&
2
1
=
, como assim era esperado.
Wong e Yasui (2006) então empregam a equação de Lagrange clássica também no
problema de Cayley, i.e.
y
T
y
T
t
F
eses
es
=
&
d
d
, (4.37)
sendo
ygF
es
σ
=
e
2
2
1
yyT
es
&
σ
=
. Assim,
yy
y
T
es
&
&
σ
=
(4.38)
yyy
y
T
t
es
&&&
&
σσ
+=
2
d
d
(4.39)
2
2
1
y
y
T
es
&
σ
=
. (4.40)
Então, das Eqs. (4.40) e (4.39) em (4.37), obtém-se
2
2
1
)(
d
d
yyy
t
yg
&&
σσσ
= , (4.41)
que é uma equação de movimento diferente daquela originalmente obtida por Cayley (ver Eq.
(4.10)), mas que equivale à Eq. (4.14) de Souza e Rodrigues (2004). Então, assim como
Souza e Rodrigues (2004), Wong e Yasui (2006) também concluem que a aceleração limite da
106
porção esticada deve ser dada por 2/
lim
gy =
&&
e não por 3/
lim
gy =
&&
.
Como a velocidade da porção esticada é
y
&
, e a da porção enrolada é nula, da Eq. (4.36),
os autores então também concluem que
yw
&
2
1
=
. Note que esse mesmo resultado poderia ser
obtido comparando-se a Eq. (4.41) com a segunda lei de Newton aplicada à porção esticada,
i.e.
wyyy
t
yg
&&
σσσ
= )(
d
d
. (4.42)
Para Wong e Yasui (2006),
[...] a transferência de massa [no problema de Cayley] ocorre na borda da mesa
[superfície horizontal], seja essa em forma de quina ou arredondada, mas não é
óbvio qual é a velocidade de um elo no momento de transferência. A resposta a
partir da equação de movimento de Lagrange é que esta é também a velocidade
média
2/)(
21
vvu +=
[
2/)(
21
vvw +=
na notação aqui utilizada] das duas
partes da corrente (WONG; YASUI, 2006, p. 493).
Comparando-se a Eq. (4.41), obtida a partir da aplicação da equação de Lagrange
clásssica, com a Eq. (4.10), que é a equação de movimento segundo Cayley, Wong e Yasui
(2006) verificam que é o termo (
2
2
1
y
&
σ
) do lado direito da Eq. (4.41) não aparece no
tratamento de Cayley. Isso ocorre, pois, segundo Wong, Youn e Yasui (2007), Cayley teria
desconsiderado, de modo totalmente arbitrário, a dependência da energia cinética da porção
esticada com a coordenada generalizada
y
, quando então
2
2
1
/ yyT
es
&
σ
= teria sido por ele
‘forçosamente’ assumido nulo. Ainda nas palavras de Mikhailov (1984) apud Wong, Youn e
Yasui (2007), esse critério de ‘diferenciação seletiva’ de Cayley não é usual e não fora
adotado por nenhum outro autor subseqüente a ele.
Por fim, Tomaszewski, Pieranski e Geminard (2006, p. 776) argumentam que, a partir
dessas considerações, “Wong e Yasui confirmaram o resultado [i.e. 2/gy
=
&&
],
reconsiderando a história da convicção errônea, que perdurou por um longo tempo, de que a
aceleração [da porção esticada] deveria ser igual a 3/g .”
Seja agora a argumentação de Cayley. Quando o mesmo resolveu o problema que leva seu
nome, assim também o fez através da aplicação da equação de Lagrange. No entanto,
107
diferentemente de Wong e Yasui (2006), que se valem da forma clássica dessa equação (ver
Eq. (4.37)), Cayley a emprega na forma por ele próprio demonstrada (ver Eq. (3.11)), i.e.
yy
T
y
T
t
F
eses
es
&&
∂ℜ
+
=
D
D
. (4.43)
Para tornar mais clara a exposição a seguir, tome a forma alternativa
*
da função de
Rayleigh
onde, analogamente ao procedimento discutido no Capítulo 2, adiciona-se à
função de Rayleigh original, que para o problema de Cayley é dada por
2
2
1
)d/(d yt
&
µ
(ver Eq.
(3.12)), o termo
[
]
2
2
1
2
2
1
)d/(d)d/(d ytmyt
&&
+
µ
. Ou seja, trata-se da condição
(
0dd
=
+
m
µ
) multiplicada por
2
)d/1( yt
&
,
2
2
1
2
2
1
2
2
1
*
d
d
d
d
d
d
y
t
m
y
t
m
y
t
&&&
=
++=
µ
. (4.44)
Nesse caso, a Eq. (4.43) é então transformada para
yy
T
y
T
t
F
eses
es
&&
∂ℜ
+
=
*
D
D
. (4.45)
Esse procedimento em nada altera a solução de problemas. A diferença é que, enquanto
conduz a equações de movimento escritas em termos de
tDD /(.)
,
*
conduz a equações
de movimento escritas em termos de td/(.)d . No entanto, as equações obtidas são as
mesmas! E além disso, a rigor, a equação empregada por Cayley na resolução do problema é a
própria Eq. (4.45) e não a Eq. (4.43).
Então, para obter a equação de movimento da porção esticada da corrente a partir da Eq.
(4.45), Cayley indica com uma barra ‘_’ as variáveis que, segundo ele, devem estar ‘livres’ do
processo de diferenciação. Esse é o chamado ‘critério de diferenciação seletiva de Cayley’.
Para Cayley, a energia cinética da porção esticada deve ser dada por
2
2
1
yyT
es
&
σ
=
, e a função
*
por
2
2
1
*
yy
&&
σ
= . Dessa forma, para o autor
108
yy
y
T
es
&
&
σ
=
(4.46)
yyyy
ty
T
t
es
&&&
&
σσ
==
)(
D
D
D
D
(4.47)
(45)
0=
y
T
es
(4.48)
yy
y
&&
&
σ
=
∂ℜ
*
. (4.49)
Cayley então argumenta que, após a derivação, a barra ‘_’ pode ser desconsiderada, i.e.
yy =
. Assim, das Eqs. (4.49), (4.48) e (4.47) em (4.45), chega-se à Eq. (4.10), de onde então
se obtém o resultado
3/gy
=
&&
. Note agora que, de fato, o critério de diferenciação seletiva
de Cayley considera que 0/
=
yT
es
.
No entanto, existem dois argumentos que justificam o critério de diferenciação seletiva de
Cayley. Primeiramente, deve ser observado que, caso Cayley não tivesse empregado o critério
de diferenciação seletiva, o mesmo resultado, i.e. Eq. (4.10), teria sido por ele obtido. Tome as
formas ‘usuais’ para a energia cinética da porção esticada e a função
*
, ou seja,
2
2
1
yyT
es
&
σ
=
e
2
2
1
*
yy
&&
σ
=
. Se assim for, as seguintes equações serão obtidas
yy
y
T
es
&
&
σ
=
(4.50)
yyyy
ty
T
t
es
&&&
&
σσ
==
)(
D
D
D
D
(4.51)
______________
45
Vale lembrar que sob o operador de diferenciação
tDD /(.)
, a massa do sistema é considerada
instantaneamente constante. Sendo assim, yytyy
&&&
σσ
=DD /)( .
109
2
2
1
y
y
T
es
&
σ
=
(4.52)
22
2
1
*
yy
y
&&
&
σσ
+=
∂ℜ
. (4.53)
Logo, das Eqs. (4.51), (4.52) e (4.53) em (4.45), recupera-se novamente a Eq. (4.10).
Assim, embora esse não tenha sido um dos resultados explícitos de seu trabalho, Cayley
mostrou que, se a massa de uma partícula varia explicitamente com a posição, no caso
y
σ
, a
função dissipação de Rayleigh associada deve ser dada por
2
2
1
*
yy
&&
σ
= .
Um segundo argumento que pode justificar o critério de diferenciação seletiva de Cayley
é que: a equação de Lagrange por ele demonstrada corresponde àquela para um sistema de
partículas cuja massa depende do tempo, i.e. )(tmm
ii
=
. Basta ver que na Eq. (3.7), o termo
de dependência da massa com a posição não aparece (compare com a Eq. (3.19)). Logo, a
massa da porção esticada, assim como sua taxa de variação temporal devem ser expressas,
respectivamente, como )()( tytm
es
σ
=
e )()( tytm
es
&&
σ
=
, ou seja, como funções temporais.
Então, a energia cinética e a função de Rayleigh tornam-se, respectivamente,
2
2
1
)(),( ytyytT
&&
σ
= e
2
2
1
*
)(),( ytyyt
&&&
σ
= , justificando assim a forma das Eqs. (4.48) e
(4.49).
Ou seja, o critério de diferenciação seletiva de Cayley, embora possa soar como arbitrário
e infundado, corresponde à interpretação alternativa e lida de que a massa da porção
esticada depende do tempo.
No entanto, ainda existe uma pergunta a ser respondida. Por que a abordagem de Wong e
Yasui (2006), que corresponde à aplicação da equação de Lagrange em sua forma clássica,
seria válida para o problema da corrente em ‘U’, mas não para o problema de Cayley?
Inicialmente, deve-se observar que, enquanto no problema da corrente em ‘U’, a corrente
se encontra dividida em três porções, no problema de Caley, a corrente está dividida em duas.
No problema da corrente em ‘U’, tem-se: 1) a perna livre, cujos elos possuem velocidade jy
&
,
110
2) a perna em repouso, cujos elos possuem velocidade nula e 3) o trecho localizado entre
essas pernas, que é chamado por alguns autores de ‘curva’, cujo elo apresenta velocidade
vertical dada por jy
&
2
1
. Por outro lado, no problema de Cayley, tem-se: 1) a porção esticada,
cujos elos apresentam velocidade
jy
&
e 2) a porção em repouso, cujos elos possuem
velocidade nula.
No caso do problema da corrente em ‘U’, o processo de transferência de massa entre a
perna livre e a perna em repouso -se em duas etapas: 1) no instante de tempo
t
, a perna
livre ejeta um elo e, 2) no instante de tempo
tt d
+
subseqüente, o mesmo é capturado pela
perna em repouso. Quando assim, como mostrado no Apêndice D, para que ocorra a
conservação da energia mecânica da corrente como um todo, a velocidade do elo ejetado pela
perna livre deve ser dada pela Eq. (4.36). No entanto, como discutido no Capítulo 2, esse
valor de yw
&
2
1
=
também garante que não ocorra dissipação da energia mecânica da perna
livre. E é por essa segunda razão que a equação de Lagrange clássica torna-se adequada para
descrever o movimento da perna livre. Lembre-se de que, escrevendo-se a massa da perna
livre como uma função de
y
(a coordenada generalizada do problema), i.e.
)()(
2
1
yym
l
=
l
σ
, a equação de Lagrange que deve ser a priori considerada é aquela em
sua forma ‘estendida’ (ver Eq. (3.22), por exemplo), ou seja
w
t
m
y
y
m
y
T
y
T
t
F
llll
d
d
d
d
2
2
1
+
=
&
&
. (4.54)
Para o presente problema
)d/(d)/( tmyym
ll
=
&
, e a Eq. (4.54) pode então ser
simplificada para
( )
y
y
m
wy
y
T
y
T
t
F
lll
&&
&
+
=
2
1
d
d
. (4.55)
Note da Eq. (4.55) que, sendo yw
&
2
1
=
, a aplicação da equação de Lagrange estendida a
esse caso específico leva exatamente a forma da equação de Lagrange clássica, ou seja
111
y
T
y
T
t
F
ll
=
&
d
d
. (4.56)
Tomando-se então gyF )(
2
1
=
l
σ
e
2
4
1
)(),( yyyyT
l
&
l
&
=
σ
na Eq. (4.56) chega-se a
[ ]
2
4
1
2
1
2
1
)(
d
d
)( yyy
t
gy
&&
ll
σσσ
+= . (4.57)
Seja agora o problema de Cayley, onde a corrente encontra-se dividida em apenas duas
partes. Ou seja, um determinado elo ou está na porção enrolada, ou na porção esticada. Nesse
caso, o processo de transferência de massa então se em apenas uma única etapa, i.e. o elo
abandonado pela porção enrolada imediatamente passa a fazer parte da porção esticada.
Assim, no processo de ejeção de massa a partir da porção enrolada, a taxa de dissipação
da energia mecânica da corrente como um todo é
2
2
1
)(
d
d
d
d
~
enen
en
en
t
m
t
U
vw =
. (4.58)
Mas como a velocidade da porção enrolada é nula, i.e. 0
=
en
v , e jvw y
esen
&
=
é a
velocidade de um elo imediatamente após ter sido ejetado da porção enrolada, então
2
2
1
d
d
d
d
~
y
t
m
t
U
en
en
&
=
. (4.59)
No processo de captura de massa pela porção esticada, a taxa de dissipação da energia
mecânica da corrente como um todo é
2
2
1
)(
d
d
d
d
~
eses
es
es
t
m
t
U
vw =
(4.60)
i.e.
112
2
2
1
d
d
d
d
~
y
t
m
t
U
es
es
&
=
, (4.61)
haja vista que jv y
es
&
=
é a velocidade da porção esticada, e 0
=
enes
vw é a velocidade de
um elemento de massa imediatamente antes der agregado à porção esticada.
Mas como a massa da corrente como um todo é constante, i.e.
0
d
d
d
d
=+
t
m
t
m
esen
, (4.62)
obtém-se das Eqs. (4.62), (4.61) e (4.59) que
0
d
d
~
d
d
~
d
d
~
=
+
=
esen
t
U
t
U
t
U
. (4.63)
Ou seja, assim como no problema da corrente em ‘U’, no problema de Cayley, a energia
mecânica da corrente como um todo também se conserva. Além disso, a equação de Lagrange
que deve ser aplicada à porção esticada da corrente no problema de Cayley também é aquela
em sua forma estendida, i.e.
w
t
m
y
y
m
y
T
y
T
t
F
eseseses
d
d
d
d
2
2
1
+
=
&
&
, (4.64)
pois a massa da porção esticada também depende da coordenada generalizada
y
.
No entanto, com relação à porção esticada, que é o sistema de massa variável em questão,
tem-se que
0
=
w
. Logo, a Eq. (4.64) torna-se
2
2
1
d
d
y
y
m
y
T
y
T
t
F
eseses
&
&
+
=
(4.65)
i.e.
113
)(
d
d
yy
t
yg
&
σσ
= , (4.66)
que é a própria Eq. (4.10).
Para encerrar, vale dizer que, um ano após a publicação de seu trabalho sobre a aplicação
da equação de Lagrange ao problema de Cayley, Wong, Youn e Yasui (2007) mostram
experimentalmente que a aceleração limite da porção esticada é
gy )0010,03204,0(
lim
±=
&&
, ou
seja, um valor bastante próximo daquele analiticamente obtido por Cayley, i.e.
ggy 3333,03/
lim
=
&&
. Ou seja, a análise teórica de Wong e Yasui (2006) é por eles mesmos
demonstrada como equivocada!
Dessa Seção, conclui-se então que
i) Tanto no problema da corrente em ‘U’, quanto no de Cayley, a energia mecânica da
corrente como um todo se conserva;
ii) O argumento de Wong e Yasui (2006, p. 493-4) de que “[...] essa velocidade média
[Eq. (4.36)] não é acidental, mas é necessária para a conservação de energia.” é válido
apenas para o problema da corrente em ‘U’. No problema de Cayley, por estar a
corrente dividida em duas partes, a Eq. (4.36) torna-se sem sentido;
iii) Não faz sentido também o seguinte argumento de Wong e Yasui (2006, p. 494):
“Assim, o conhecimento da conservação de energia nos permite concluir que a
hipótese de Cayley de impactos inelásticos está incorreta.” No entanto, vale lembrar
que foi mostrado que em ambos os problemas, a hipótese de conservação da energia
mecânica da corrente como um todo é satisfeita, mesmo utilizando-se de um dos
principais fundamentos da dinâmica de sistemas de massa variável, i.e. o conceito de
impacto inelástico. Esse conceito encontra-se imbuído na extensão da segunda lei de
Newton a um sistema de massa variável.
iv) Não é correto afirmar que é da aplicação da equação de Lagrange clássica que se
obtém o valor de
w
. Essa é uma informação que deve ser obtida a priori e a partir da
idealização do problema em voga.
114
v) Por último, menciona-se novamente que, quando a massa de um sistema depende
explicitamente das coordenadas generalizadas, como ocorre no problema da corrente
em ‘U’ e no de Cayley, a equação de Lagrange a ser empregada é aquela em sua forma
‘estendida’.
4.5 Uma problemática no processo de transferência de massa
entre as porções da corrente
Dentro da mecânica de sistemas de massa variável, pode-se identificar uma problemática
que ocorre em uma determinada classe de problemas. Trata-se da satisfação das equações de
balanço nos casos em que os subsistemas de massa variável encontram-se separados por uma
superfície singular. Ou seja, se tal superfície é localizada em
x
ˆ
, então
)
ˆ
()
ˆ
(
+
xx
ψψ
. O
tratamento formal e completo dessa questão pode ser encontrado, por exemplo, em Irschik e
Schlacher (2005, p. 9-20). Pertencem a essa classe de problemas, por exemplo, o de Buquoy,
o de Cayley, e o da corrente em U. Mas, dentro dessa questão, existe ainda um outro problema
a ser considerado, que é a ‘aparente impossibilidade’ que determinados subsistemas possuem
de capturar elementos de massa de um outro subsistema. Entre esses figuram o problema de
Buquoy para o caso em que
ygF
σ
>
, o problema de Cayley, e os problemas do tipo ‘bola de
neve’.
Como discutido no Capítulo 2,
w
representa a velocidade do elemento de massa
µ
d no
instante de tempo imediatamente anterior à sua captura pela partícula de massa
m
, no caso
de aumento de massa da partícula; ou a velocidade desse elemento de massa no instante de
tempo imediatamente posterior à sua ejeção a partir da partícula de massa
m
, no caso de
diminuição de massa da partícula. Por simplicidade da análise, tome apenas os casos
unidimensionais. Considere então uma partícula dotada de velocidade
0
>
v
. Para que ocorra
aumento de sua massa, o elemento
µ
d a ser capturado, se localizado à frente da partícula,
deve possuir velocidade
w
<
; e, se localizado atrás, velocidade
w
>
(ver Fig. 4.14).
115
Contrariamente, a diminuição de massa da partícula ocorre se
µ
d
for dela ejetado para frente
e com velocidade
w
>
, ou, para trás, com velocidade
w
<
(ver Fig. 4.15).
Figura 4.14 - Velocidade da partícula e velocidade do elemento de massa antes de sua captura, nas
possíveis maneiras de isso ocorrer.
Figura 4.15 - Velocidade da partícula e velocidade do elemento de massa após sua ejeção, nas possíveis
maneiras de isso ocorrer.
x
y
v
m
m
vw
µ
d
w
µ
d
x
y
x
y
v
m
m
vw
µ
d
w
µ
d
x
y
v
m
w
µ
d
m
v
w
µ
d
x
y
x
y
v
m
w
µ
d
m
v
w
µ
d
m
v
w
µ
d
116
Seja então o problema de Buquoy para o caso em que a corrente é puxada para cima. A
análise a ser feita a seguir é análoga para o problema de Cayley. Na idealização do problema
de Buquoy, a porção enrolada da corrente apresenta velocidade nula, i.e. 0
=
esen
wv ,
enquanto a porção esticada,
0
>
es
v
(quando se movimentando para cima). A questão é que o
elemento de massa
µ
d
e velocidade 0
=
es
w , quando na iminência de ser capturado, localiza-
se atrás da porção esticada (ver Fig. 4.16). Logo, essa é uma situação que não corresponde a
nenhuma daquelas representadas na Fig. 4.14.
Figura 4.16 - Superfície singular que ocorre dentro da corrente no problema de Buquoy. Definição dos
volumes V
ˆ
e V
(
.
Assim, é natural que se faça a seguinte pergunta: como um elemento de massa pertencente
à porção enrolada cruzará a superfície
S
V
ˆ
?
Em problemas do tipo ‘bola de neve’, uma problemática semelhante também ocorre.
Considere, por simplicidade
46
, que uma bola de neve rola sem escorregar, sofrendo,
concomitantemente, um contínuo aumento em sua massa (ver Fig. 4.17). Pode-se imaginar
que esse é um processo que ocorre devido ao fato de que, ao se mover, flocos de neve
continuamente grudam em sua superfície
47
. A questão é que essa captura dá-se no ponto de
contato da bola com o solo, i.e. onde tanto a bola de neve quanto o floco de neve apresentam
velocidade nula. Para um volume de controle, a equação de conservação de massa é dada por
______________
46
Um tratamento formal desse tipo de problema pode ser encontrado em Ong e O’Reilly (2004)
47
Um problema totalmente análogo é o do carretel que rola, sem escorregar, capturando elementos de linha.
V
ˆ
V
(
representação da
porção enrolada
superfície
singular
S
V
ˆ
V
ˆ
V
(
representação da
porção enrolada
V
ˆ
V
(
representação da
porção enrolada
superfície
singular
S
V
ˆ
superfície
singular
S
V
ˆ
117
=
V
V
t
m
ˆ
ˆ
d)
ˆ
(
d
d
ˆ
nvv
ρ
. (4.67)
Logo, nesse caso, como 0
ˆ
=
=
vv em V
ˆ
, então
0
d
d
ˆ
=
t
m
, (4.68)
o que é falso, haja vista o aumento de massa da bola de neve.
Figura 4.17 - Bola de neve que ao se movimentar captura um floco de neve. Definições dos volumes V
ˆ
e
V
(
.
Então, embora seja o problema da bola de neve um caso onde o nenhuma superfície
singular como aquela apresentada na Fig. 4.12, ainda assim, a questão da ‘aparente
impossibilidade’ de captura de um elemento de massa por um sistema de massa variável
parece ocorrer.
velocidade
nula
V
ˆ
V
(
floco de neve
bola de
neve
velocidade
nula
V
ˆ
V
(
V
ˆ
V
(
floco de neve
bola de
neve
118
A fim de se abordar essa problemática, considere a Eq. (3.52), i.e.
+
=
V
k
V
k
V
k
V
q
V
q
V
q
ˆˆ
ˆ
d
ˆ
d
~
d n
x
(
(
(
(
ρρρ
. (4.69)
Mas como )(
ˆ
ˆ
d
ˆ
tmV
V
=
ρ
, então a mesma pode ser simplificada para
=
V
k
V
k
V
q
V
q
ˆ
ˆ
dd n
x
(
(
(
(
ρρ
(4.70)
ou seja
=
V
kk
V
qq
m
ˆ
ˆ
dn
x
(
(
ρ
. (4.71)
Em uma expressão análoga à Eq. (3.28), tem-se
k
k
q
q
m
t
m
&
(
=
d
d
ˆ
, (4.72)
que a partir da Eq. (4.71) pode ser escrita como
=
V
k
k
V
q
q
t
m
ˆ
ˆ
d
d
d
ˆ
n
x
(
&
ρ
. (4.73)
A Eq. (4.73) mostra que uma maneira alternativa de se calcular a taxa de variação de
massa de um sistema é através do modo com que o sistema se deforma à medida que suas
coordenadas generalizadas mudam.
119
Assim, no caso do problema de Buquoy, em vez de se calcular a transferência de massa
através da superfície singular
S
V
ˆ
, procede-se alternativamente calculando-se a taxa de
deformação da porção esticada da corrente (i.e.
V
(
) com relação a V
ˆ
(fixo) (ver Fig. 4.13).
O mesmo ocorrendo para o problema da bola de neve, i.e. em vez de se interpretar a
transferência de massa como flocos de neve grudando na superfície da bola de neve, calcula-
se sua taxa de deformação (i.e.
V
(
) com relação a V
ˆ
(fixo) (ver Fig. 4.14).
Como visto, o método alternativo acima discutido apresenta pelo menos duas vantagens.
A primeira é a de que, calculando-se a deformação de
V
(
está se ‘ignorando’ a superfície
singular
S
V
ˆ
, como comentado no problema do bloco que se move sob uma superfície
áspera (ver Capítulo 3). A segunda é a de que o cálculo da variação de massa quando feito
através da deformação de
V
(
envolve, quase sempre, uma área maior, e, portanto, do ponto
de vista computacional, pode gerar menos erros do que aquele feito através do trecho de V
ˆ
por onde se a captura dos elementos de massa, que, em geral, envolve uma área bem
menor.
4.6 O problema do colapso das torres gêmeas do World Trade
Center
Neste Capítulo, o chamado ‘problema da corrente em movimento vertical’ foi abordado na
forma do problema de Buquoy, na do de Cayley e na forma do problema da corrente em U.
Para completá-lo, cumpre ainda mencionar um problema prático, de grande interesse e
atualidade, que pode ser visto como uma ‘quarta versão’ do problema da corrente em
movimento vertical: o problema do colapso vertical de edifícios, cujo mais contundente
exemplo é o das torres gêmeas do World Trade Center. Certamente esse é um problema
bastante complexo e sua análise envolve diversas áreas do conhecimento, como a engenharia
de estruturas, a ciência dos materiais, dentre outras. Mas o objetivo dessa Seção está longe de
pretender tratar o problema em sua completude e deixa de lado discussões acerca da
120
modelagem da carga resistiva ao colapso, por exemplo. No entanto, a análise a seguir, restrita
ao estudo do movimento, mostrará que o problema em questão guarda grande similaridade
com os problemas de corrente em movimento vertical.
Importante enfatizar que o equacionamento do movimento que modela o colapso da torre
do World Trade Center tem sido alvo de intensa discussão (ver, por exemplo, BAŽANT;
VERDURE, 2007 e SEFFEN, 2008). Como nos problemas anteriores, um dos principais
pontos levantados por esses autores refere-se à correta forma da equação de movimento e à
sua adequada interpretação, quando deduzida sob a ótica da mecânica de sistemas de massa
variável. Tal discussão reforça a atualidade e relevância do presente estudo.
O estudo a seguir refere-se à fase de movimento que antecede o empilhamento provocado
pelo acúmulo de material colapsado sobre o solo. Esta primeira fase é denominada pelos
autores Bažant e Verdure (2007) como ‘crush-down’. A segunda fase, i.e. a do empilhamento
de material colapsado, é denominada ‘crush-up’.
Considere então a seguinte idealização simplificada do problema do colapso de uma das
torres gêmeas do WTC. Os modelos em voga admitem que colapsos desta natureza ocorrem
devido à propagação de uma ‘frente de avalanche’ que se ao longo da torre e em direção à
sua base, a partir de um determinado pavimento, cuja resistência estrutural fora
suficientemente deteriorada. Em um instante de tempo arbitrário, a torre pode ser dividida em
duas regiões principais, i.e. a móvel e a em repouso (ver Fig. 4.18). A região móvel é aquela
que se localiza acima da frente de avalanche e a em repouso aquela que se encontra abaixo da
mesma. À medida que a frente de avalanche se propaga, massa da região em repouso é
transferida para a região móvel, com ela passando a se mover, compactada logo atrás da frente
de avalanche. A região móvel pode assim ser divida em duas regiões: a compactada, de
densidade
c
σ
(constante)
48
e volume variável, e a não compactada, de densidade
nc
σ
(também, por simplicidade, suposta constante) e de volume constante. Já a região em repouso,
não compactada, corresponde a uma região de densidade
nc
σ
(constante), mas de volume
variável. Pode-se visualizar o modelo como se a parte móvel ‘engolisse’ a parte em repouso,
através de uma superfície móvel: a frente da avalanche. Considere agora que o sistema de
interesse é a região móvel, e que, através da aplicação da equação de Lagrange, pretende-se
obter a equação que rege seu movimento.
______________
48
Não é parte do escopo do presente trabalho discutir com profundidade a validade dessa hipótese
simplificadora, a qual é adotada por Bažant e Verdure (2007), quanto por Seffen (2008).
121
A massa
mov
m
da região móvel pode ser convenientemente expressa por
)()(dd
ABcTAnc
y
y
c
y
y
ncmov
yyyyyym
B
A
A
T
+=+=
σσσσ
. (4.74)
Da Fig. 4.18, vê-se que, se
H
é a altura inicial da torre, então, a massa
rep
m da região em
repouso pode ser dada por
Figura 4.18 – Esquematização do movimento de colapso da torre do World Trade Center.
)(d
Bnc
H
y
ncrep
yHym
B
==
σσ
. (4.75)
Aplicando-se o princípio da conservação de massa na torre como um todo, tem-se, para
um instante de tempo arbitrário, a seguinte relação
)()(
ABcBTAncnc
yyyyHyH
+
+
=
σ
σ
σ
(4.76)
i.e.
H
y
A
y
B
y
T
h
j
g
REGIÃO MÓVEL
REGIÃO EM
REPOUSO
FRENTE DE
AVALANCHE
H
y
A
y
B
y
T
h
jj
gg
REGIÃO MÓVEL
REGIÃO EM
REPOUSO
FRENTE DE
AVALANCHE
122
0)()(
=
+
ABcBTAnc
yyyyy
σ
σ
, (4.77)
onde
.consthyy
TA
=
=
é a altura da parte móvel não compactada.
Mas, como
c
σ
e
nc
σ
são supostamente constantes, então, tomando-se a derivada temporal
de ambos os lados da Eq. (4.77), obtém-se o vínculo cinemático
BA
yKy
&&
)1(
=
, (4.78)
onde
K
é o chamado ‘fator de compactação’ e é dado por
1/
<
=
cnc
K
σ
σ
. Vale lembrar que,
para a obtenção da relação dada pela Eq. (4.78), foi admitido que
AT
yy
&&
=
. Essa consideração
decorre da hipótese de que a região não compactada apresenta volume constante, ou seja, que
a parcela móvel não-compactada desloca-se como um corpo rígido.
Durante o processo de transferência de massa da região em repouso para a região móvel,
as partículas da região em repouso, que apresentam velocidade absoluta nula, são capturadas
pela região compactada, quando então imediatamente adquirem velocidade
A
y
&
. Dessa forma,
como a região não compactada movimenta-se como um corpo gido com velocidade
A
y
&
, a
energia cinética
mov
T da região móvel pode então ser expressa a partir da Eq. (4.74), i.e.
[
]
[ ]
2
1
2
1
2
2
1
2
2
1
)(
)()(
AAB
K
TAnc
AABcTAncAmovmov
yyyyy
yyyyyymT
&
&&
+=
=+==
σ
σσ
. (4.79)
Da Eq. (4.77) que expressa a conservação de massa do edifício como um todo, a Eq.
(4.79) pode ser escrita como
2
2
1
ABncmov
yyT
&
σ
= , (4.80)
que, a partir da Eq. (4.78), torna-se
123
2
2
2
1
)1(
BBncmov
yyKT
&
=
σ
. (4.81)
A energia potencial gravitacional
mov
U é, por sua vez, dada por
[
]
))(1(
2
2
2
2
1
hyKHgU
Bncmov
+=
σ
. (4.82)
Tome agora
B
y
como sendo a coordenada generalizada do problema. Como
mov
m depende
explicitamente de
B
y , a equação de Lagrange a ser adotada é a Eq. (3.22), na forma
w
t
m
y
m
y
U
y
T
y
T
t
F
mov
N
mov
B
mov
B
mov
B
mov
d
d
d
d
2
2
1
+
+
= v
&
. (4.83)
Em (4.83), 0
<
F , representa a força generalizada associada à resistência ao colapso
(49)
de
cada pavimento do edifício e que é aplicada à sua parte móvel, no sentido oposto à da
aceleração da gravidade.
Note que, no instante de tempo imediatamente anterior à captura de um elemento de
massa da região em repouso pela região móvel, a velocidade absoluta desse elemento é nula.
Logo,
0
=
w
. Por outro lado, a hipótese de descontinuidade de velocidade na fronteira
B
y
faz
com que
jv
A
y
&
=
.
Da Eq. (4.81), tem-se que
)(
d
d
)1(
d
d
)1(
22
BBnc
B
mov
BBnc
B
mov
yy
t
K
y
T
t
yyK
y
T
&
&
&
&
=
=
σσ
. (4.84)
Por outro lado, da Eq. (4.79), mostra-se de imediato que
2
2
1
A
B
mov
B
mov
y
y
m
y
T
&
=
. (4.85)
______________
49
O modelo da força de resistência ao colapso foge ao escopo do presente texto (ver, por exemplo, BAŽANT;
VERDURE, 2007 e SEFFEN, 2008).
124
Da Eq. (4.82), chega-se a
Bnc
B
mov
yKg
y
U
)1( =
σ
. (4.86)
Então, substituindo-se as Eqs. (4.84), (4.85), (4.86) em (4.83), chega-se a
FyKgyy
t
K
BncBBnc
+= )1()(
d
d
)1(
2
σσ
&
, (4.87)
que, se dividida por
Bnc
yK
2
)1(
σ
, assume a seguinte forma
Bnc
B
B
B
yK
F
K
g
y
y
y
σ
2
2
)1(
1
+
+=
&
&&
. (4.88)
Caso fosse aplicada a formulação usual da equação de Lagrange ao presente problema
(ver Eq. (3.1)), sem tomar em conta a variação de massa da parte móvel, que ocorre de forma
explícita com a posição, a equação de movimento obtida seria dada na errônea forma
Bnc
B
B
B
yK
F
K
g
y
y
y
σ
2
2
2
1
)1(
1
+
+=
&
&&
. (4.89)
Vê-se que a Eq. (4.88) é similar à Eq. (4.7), que descreve o movimento da corrente em
queda sobre um plano horizontal (problema de Buquoy com a corrente em queda livre). A Eq.
(4.7) é prontamente recuperável da Eq. (4.88), bastando que se faça
0
=
F
e
0
=
K
e que
seja invertida a orientação da coordenada generalizada
B
y
, que no análogo problema de
Buquoy foi definida contrária à aceleração da gravidade.
As formas adimensionais das Eqs. (4.88) e (4.89) podem então ser escritas:
*2*
2
*
*
)1(1
1
yKKy
y
y
Φ
+
+=
&
&&
, (4.88a)
125
e
*2*
2
*
2
1
*
)1(1
1
yKKy
y
y
Φ
+
+=
&
&&
. (4.89a)
Nestas versões, o tempo adimensional é definido como
Hgtt =
*
e
0)(
<
=
=
Φ
PFgHF
nc
σ
é a correspondente forma adimensional da força resistiva ao
colapso, que segue naturalmente normalizada pelo peso do edifício,
gHP
nc
σ
=
.
Segundo Seffen (2008), o fator de compactação no caso do WTC tem magnitude próxima
de 20.0
K . Tanto Bažant e Verdure (2007) quanto Seffen (2008) apresentam análises
paramétricas, variando a magnitude da força média resistiva de colapso, entre o valor nulo
(queda-livre) e aquele que impediria a propagação do colapso. Para os seguintes valores:
m407
=
H
,
t/m10770
3
×=
nc
σ
e
GN073,3
=
P
, o modelo de Bažant e Verdure (2007) indica
que o valor médio da força de resistência ao colapso variaria no intervalo
21,00
Φ
>
.
Esses autores indicam ainda, como boa estimativa, o valor
044,0
Φ
, correspondente a
cerca de 4,4% do peso total do edifício.
As figuras abaixo ilustram a variação do avanço da frente de colapso (‘crush-down’),
comparando as soluções das Eqs. (4.88a) e (4.89a). Ambas as torres tinham 110 andares. Por
referência, o avanço correspondente à ‘queda-livre’ (
0
Φ
;
0
=
K
) é também apresentado. A
Figura 4.19 refere-se à torre 1 (denominação de SEFFEN, 2008), admitindo que o colapso
teria sido iniciado no 95
o
andar , i.e.
1364,0110/)15110()0(
*
==y
. Já, a Figura 4.20 refere-
se à torre 2, para a qual o colapso teria sido iniciado no 82
o
andar, i.e.
2545,0110/)28110()0(
*
==y
.
126
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0
t*
y*
Eq. (4.88a)
Eq. (4.89a)
queda-livre
Figura 4.19 – Simulação do avanço da frente de colapso (avalanche) da torre 1 do World Trade Center. 2,0
=
K ,
044,0
=
Φ
;
1364,0)0(*
=
y
. Comparação entre soluções das Eqs. (4.88a) (correta) e (4.89a).
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0
t*
y*
Eq. (4.88a)
Eq. (4.89a)
queda-livre
Figura 4.20 – Simulação do avanço da frente de colapso (avalanche) da torre 2 do World Trade Center.
2,0
=
K
,
044,0
=
Φ
;
2545,0)0(
*
=y
. Comparação entre soluções das Eqs. (4.88a) (correta) e (4.89a).
127
A frente de colapso atinge o solo quando
1
*
=y
. A Eq. (4.88a) prevê esta ocorrência em
72,1
*
t no caso da torre 1 e 44,1
*
t , no caso da torre 2; ou seja, respectivamente,
s1,11
t
e
s3,9
t
. Já, a Eq. (4.89a) prevê, correspondentemente,
s8,9
t
e
s4,8
t
. Uma
simples análise considerando os eventos como se fossem de ‘queda-livre’, avaliaria os tempos
de ‘crush-down’ como
s5,8
t
e
s9,7
t
, respectivamente, valores substancialmente menores
aos previstos pela Eq. (4.88a). Tanto Bažant e Verdure (2007) quanto Seffen (2008)
mencionam tempos de colapso da ordem de 11 segundos.
Como apontam esses autores, as incertezas de modelagem, que envolvem não apenas a
carga resistiva ao colapso, como o fator de compactação, permitem prever uma faixa de
variação para o tempo de colapso. O importante aqui é apontar as diferenças decorrentes da
adoção das duas distintas equações de movimento (4.88a) – correta e (4.89a) – errônea.
128
5 O PROBLEMA DE IMPACTO HIDRODINÂMICO
Nesse Capítulo será abordado aquele que é conhecido na literatura especializada como
‘problema de impacto hidrodinâmico’. Não se trata de um caso de sistema de massa variável
propriamente dito, i.e. sob os termos anteriormente apresentados, mas sim de ‘massa
adicional’ variável. Esse é um conceito que será propriamente discutido ao longo do Capítulo.
Mais do que isso, será mostrado que é justamente a interpretação adequada desse conceito de
massa adicional que permite que o problema seja tratado à luz da mecânica de sistemas de
massa variável. Vale lembrar agora que o problema de impacto hidrodinâmico, que
essencialmente trata do impacto de corpos contra a superfície livre da água, é um assunto
bastante complexo. E a pretensão desse Capítulo está longe de ser a de se tratar o problema
em sua completude. O objetivo aqui é discutir os pontos considerados fundamentais para que
o problema possa então ser abordado à luz da mecânica de sistemas de massa variável. A
motivação para essa investigação será apresentada ao longo do texto. Para tal, o Capítulo foi
estruturado da seguinte maneira: de início, apresenta-se o problema seguido de uma breve
revisão bibliográfica. É nessa parte que se pretende apenas elucidar algumas das dificuldades
envolvidas em seu tratamento. A partir daí, o problema será formulado na forma do chamado
‘problema de Wagner’. É dessa formulação que surge o conceito de massa adicional associada
ao corpo de impacto. Os resultados e interpretações originais iniciam-se a partir desse ponto.
O fenômeno do impacto de corpos contra a superfície livre da água é um problema
clássico dentro da hidrodinâmica. Seus primeiros estudos iniciaram-se com os pioneiros
trabalhos de Von Kármán (1929) e Wagner (1931), e foram estimulados pelo interesse no
‘pouso’ de hidroaviões que estavam sendo projetados pela primeira vez na década de 30. A
segunda guerra mundial também trouxe novos incentivos para pesquisas sobre o assunto, haja
vista o interesse pelos problemas de entrada e saída de projéteis da água. Nos dias de hoje, o
problema de impacto hidrodinâmico é parte fundamental do desenvolvimento de projetos de
navios, embarcações, plataformas de petróleo, etc., quando então recebe o nome mais geral de
problema de ‘slamming’ (ver, por exemplo, FALTINSEN; LANDRINI; GRECO, 2004).
Essencialmente, dentro da engenharia, o que motiva o estudo desse fenômeno é a avaliação
129
das cargas hidrodinâmicas que surgem durante a penetração dessas estruturas na superfície da
água, ou mesmo durante o choque de ondas contra as mesmas. A questão é que essas cargas
são bastante localizadas e de magnitude suficiente para provocar sérios danos estruturais.
O fenômeno de impacto hidrodinâmico está caracterizado por uma forte o
estacionariedade e por mudanças abruptas nas grandezas sicas envolvidas. Uma das
conseqüências visíveis desse seu aspecto é a emissão de um spray de líquido que ocorre nas
proximidades da região de contato sólido-líquido, durante o chamado estágio inicial de
penetração. Por essa razão, i.e. sua forte não-estacionariedade, experimentos sobre o
fenômeno são difíceis de serem conduzidos com boa acurácia (ver, por exemplo, DEAR;
FIELD, 1988; LIN; SHIEH, 1997; MAY, 1951 e MOGHISI; SQUIRE, 1981). No campo
teórico, a modelagem do problema também não é uma tarefa fácil. O estabelecimento preciso
do problema é muito complicado e pode incluir uma variedade de diferentes fenômenos
outros, como, por exemplo, a compressiblidade da água (ver, por exemplo, CAMPANA et al.,
1998 e KOROBKIN, 1992, 1994 e 1996), o chamado efeito ‘colchão-de-ar’ que ocorre
imediatamente antes do contato do corpo com a superfície líquida (ver, por exemplo,
KOEHLER; KETTLEBOROUGH, 1977 e VERHAGEN, 1967), as deformações mecânicas
do corpo (ver, por exemplo, HUA; WU; WANG, 2000; IAFRATI et al., 1998 e KIM et al.,
1996), e a entrada oblíqua do mesmo (ver, por exemplo, FRAENKEL; KEADY, 2004;
HOWISON; OCKENDON; OLIVER, 2004; JUDGE; TROESCH; PERLIN, 2004; MILOH,
1999 e TRILLING, 1950). Uma excelente e compreensiva revisão sobre o problema de um
modo geral pode ser encontrada em Korobkin e Pukhnachov (1988).
No entanto, a análise do problema pode ser bastante simplificada se as hipóteses de
líquido incompressível e invíscido, escoamento irrotacional e corpo rombudo, estritamente
convexo, rígido e que se move verticalmente forem adotadas. Além disso, quando se está
preocupado em se avaliar as cargas hidrodinâmicas máximas, pode-se ainda restringir a
análise do problema ao seu chamado ‘estágio inicial’, pois é durante esse estágio que elas
ocorrem. Ou seja, é nesse estágio que o corpo sofre uma grande desaceleração, podendo
inclusive os efeitos gravitacionais ser aí desprezados. O estágio inicial é aquele onde a
profundidade de penetração do corpo é bem menor que sua dimensão característica. Sob tais
hipóteses, o problema de impacto hidrodinâmico passa a receber o nome de problema de
Wagner não linear, e sua modelagem então conduz a um problema de contorno com
superfícies móveis, haja vista o movimento da superfície livre e o da superfície de contato
sólido-líquido.
130
x
y
z
0
x
y
z
0
x
y
z
0
x
y
z
0
x
y
z
0
x
y
z
0
x
y
z
0
x
y
z
0
),0,0( U
=
U
n
nn
corpo de impactocorpo de impacto
líquidoquido
5.1 O problema de Wagner não-linear
Para a simplicidade da análise, considere que o líquido está inicialmente em repouso e
ocupa a metade inferior do plano
0
<
z
. No instante de tempo
0
=
t
inicial, o corpo toca a
superfície livre em um único ponto, que será tomado como a origem do sistema de
coordenadas (ver Fig. 5.1).
Figura 5.1 - O primeiro ponto de contato entre o corpo e o líquido, i.e. em
0
=
t
. Sistema de coordenadas
Oxyz .
A análise assintótica para pequenos valores do parâmentro adimensional 0
>
ε
(veja, por
exemplo, OLVER, 2003), que é dado pela razão entre a penetração
ζ
do corpo e seu
comprimento molhado característico
L
, i.e.
L
ζ
ε
= , (5.1)
mostra que o domínio líquido pode ser dividido em quatro regiões principais (ver Fig. 5.2).
São elas: a região externa de ordem )/1(
ε
, a região de ordem
1
, a raiz do jato de ordem )(
ε
e
a região do jato de ordem
)()/1(
ε
ε
×
. A região do jato corresponde ao jato em si. A raiz do
jato é a área transversal através da qual o líquido é expelido da parte principal do domínio. A
região de ordem
1
é a pequena vizinhança da linha de contato onde a elevação da superfície
131
Jet root
Jet region
Outer region
)1(O
L
Penetration depth
região externaregião externa
região do jatoregião do jato
profundidade de
penetração
profundidade de
penetração
raiz do
jato
raiz do
jato
região de
ordem 1
região de
ordem 1
x
y
z
0
x
y
z
0
),,( tyxz
η
=
V
B
S
F
S
b
V
b
V
livre não é desprezível, pelo menos não no chamado problema de primeira ordem. E a região
externa está relacionada com o comprimento molhado característico do corpo.
Figura 5.2 - Regiões características do escoamento para pequenos valores de
ε
.
No problema de primeira ordem, os jatos são ‘cortados’ do domínio líquido, e somente o
chamado ‘seio do líquido’, i.e.
b
V , que é dado pelo domínio líquido como um todo a menos
dos jatos, é considerado. Além disso, assume-se que a fronteira da superfície
B
S de contato
sólido-líquido ocorre precisamente na superfície do corpo (ver Fig. 5.3), o que permite a
descrição da elevação da superfície livre
F
S
por uma função do tipo
),,( tyxz
η
=
.
Figura 5.3 - O seio do líquido e a descrição da elevação da superfície livre pela função
η
.
132
A formulação do problema de primeira ordem decorre da aplicação da condição da
irrotacionalidade do escoamento, i) incompressibilidade do quido, ii) impermeabilidade do
corpo, iii) condição cinemática iv) e condição dinâmica da superfície livre, v) evanescência
tanto para o potencial de velocidade como para a elevação da superfície livre, juntamente com
as condições iniciais. São as equações que se seguem
0
=
φ
em
b
V (5.2)
0)(
=
nU
φ
em
B
S
(5.3)
0=
+
+
zyyxxt
φ
η
φ
η
φ
η
em
F
S
(5.4)
0
2
1
=+
φφ
φ
t
em
F
S
(5.5)
,
φ
0
η
quando +
22
yx (5.6)
0)0,,(
=
=
tyx
φ
,
0)0,,(
=
=
tyx
η
. (5.7)
A força hidrodinâmica de impacto pode ser calculada integrando-se o campo de pressão
sob
B
S , i.e.
+
==
BB
S
b
S
b
V
t
Vp dd
2
1
nnF
φφ
φ
ρ
. (5.8)
Esse é o problema de Wagner não-linear, i.e. aquele dado pelas Eqs. (5.2) – (5.8).
133
5.2 O problema de Wagner linear
Entretanto, mesmo sob essas hipóteses simplificadoras, o problema de Wagner não-linear
ainda é bastante complexo para análises téoricas. Uma abordagem possível para essa
problemática é empregar o conceito de ‘impulso de pressão’ (ver, por exemplo, COOKER;
PEREGRINE, 1995 e PENG; PEREGRINE, 2000), onde a escala de tempo é considerada
suficientemente pequena para que tanto a superfície livre como a porção molhada do corpo
sejam interpretadas como colapsadas no plano horizontal (ver Fig. 5.4). Dessa forma, o
problema sofre uma grande simplificação, haja vista também que os termos convectivos
podem ser desprezados na equação de Bernoulli (ver OLIVER, 2003 e PESCE, 2006). Sendo
assim, tem-se
0
=
φ
em
0
b
V (5.9)
U
z
=
φ
em
0
B
S
(5.10)
z
t
=
φ
η
em
0
F
S
(5.11)
0==
φ
φ
t
em
0
F
S
(5.12)
,
φ
0
η
quando
+
22
yx
(5.13)
0)0,,(
=
=
tyx
φ
, 0)0,,(
=
=
tyx
η
. (5.14)
134
x
y
z
0
x
y
z
0
x
y
z
0
x
y
z
0
F
S
0
F
S
B
S
0
B
S
V
0
V
b
V
b
V
0
b
V
0
b
V
Figura 5.4 - Mapeamento do domínio líquido
b
V
do problema de Wagner não-linear no domínio líquido
0
b
V do problema de Wagner linear. Note que
0
F
S
não inclui os jatos e que a área do disco
0
B
S
rapidamente
se expande.
Mas ainda que o problema tenha se tornado linear em suas condições de contorno, é
importante mencionar que a condição de contorno na região de contato sólido-líquido muda
da condição de Dirichlet
)0(
=
φ
para a condição de Neumann
)/( Uz
=
φ
, o que
implica, tanto para o campo de pressão como para o de velocidade, uma singularidade
localizada no ponto de contato sólido-líquido. Essas singularidades são integráveis, o que
permite que a elevação da superfície livre seja então calculada a partir da Eq. (5.11), e a força
hidrodinâmica de impacto através da expressão
=
0
00
d
B
S
b
V
t
F
φ
ρ
. (5.15)
135
No entanto, mesmo sob essas novas considerações, soluções analíticas para o problema de
Wagner linear, que agora é dado pelas Eqs. (5.9) (5.15), são ainda restritas a geometrias
bastante específicas. Entre elas, por exemplo, estão as soluções de Bisplinghoff e Doherty
(1952) (cunha), Chuang (1969) (cone), Cointe e Armand (1987) (cilindro), Faltinsen e Zhao
(1997) (cone e esfera) e Miloh (1991) (esfera); Scolan e Korobkin (2000), Scolan e Korobkin
(2001) e Korobkin e Scolan (2002), sendo essas três últimas para o caso de linhas de contato
elípticas.
Um procedimento que é usual
50
, e de certa forma também intuitivo, é o de se expressar a
força hidrodinâmica de impacto através da massa adicional
b
M associada ao movimento
impulsivo do disco
0
B
S
, quando então a Eq. (5.15) passa a ser escrita corretamente como
t
UM
F
b
d
)d(
=
. (5.16)
Mas haja vista a semelhança dessa equação com aquelas que ocorrem dentro da dinâmica
de partículas de massa variável, é natural que se faça a seguinte pergunta: uma vez dispondo-
se da massa adicional, que no caso do problema de impacto hidrodinâmico é variável devido à
expansão do disco durante a penetração do corpo, qual é a correta aplicação da equação de
Lagrange ao problema?
5.3 A aplicação da equação de Lagrange
Um dos primeiros trabalhos sobre a aplicação da equação de Lagrange a problemas de
hidrodinâmica é aquele devido a Lamb (1932, art. 136 ). Nele, o autor demonstra que, uma
vez dispondo-se da energia cinética
T
do líquido, é possível calcular as forças que agem no
______________
50
Embora usual e também correto, esse é um procedimento que é comumente adotado sem maiores justificativas
(ver, por exemplo, FALTINSEN, 1990, p. 286).
136
corpo em contato com o mesmo através da seguinte expressão:
ζζ
=
TT
t
F
&
d
d
, (5.17)
sendo
ζ
a coordenada generalizada do corpo.
No problema de Wagner, a energia cinética do sub-sistema em questão é aquela do seio
líquido e é dada, portanto, por
2
2
1
UMT
bb
= . Logo, da aplicação da Eq. (5.17), chega-se a
U
t
M
t
UM
F
bb
d
d
d
)d(
2
1
= . (5.18)
A questão é que essa não é a expressão esperada para a força de impacto (ver Eq. (5.16)),
sendo curioso também notar que esse mesmo resultado, i.e. Eq. (5.18), também pode ser
obtido quando a taxa de variação da energia cinética do seio do líquido é assumida como
sendo igual à potência transmitida pelo corpo de impacto tão somente ao seio do líquido, i.e.
tTFU
b
d/d
=
. Isso mostra que, durante a penetração do corpo, haja vista as hipóteses de
incompressibilidade do líquido e rigidez do corpo, energia cinética é, de alguma forma,
drenada para fora do seio do líquido (ver, por exemplo, KOROBKIN; PEREGRINE, 2000).
De fato, a análise assintótica do escoamento (ver, por exemplo, OLIVER, 2003) na vizinhança
da linha de contato sólido-líquido mostra que finas camadas de líquido são expelidas a partir
de seu seio, através da raiz do jato e em alta velocidade. E são esses jatos que, embora possam
ser desprezados na integração do campo de pressão sob a superfície de contato, como assim
feito na Seção 5.1 e 5.2, transportam para fora do seio do líquido uma quantidade significativa
de energia cinética. Mais do que isso, uma vez que a escala de tempo do problema é muito
pequena, o que impede a radiação de ondas a partir do corpo como forma de dissipação de
energia, que é o que ocorre em problemas de oscilação de corpos flutuantes em superfície
livre, os jatos são uma maneira de se aliviar o campo impulsivo de pressão causado pelo corpo
(ver PESCE, 2006)
De fato, como será mostrado na Seção seguinte, são as considerações adequadas sobre a
dissipação de energia através dos jatos que permitem a aplicação correta da equação de
Lagrange ao problema.
137
5.3.1 O balanço de energia
Considere que o seio do líquido é um volume de controle, cuja superfície permite o fluxo
de líquido apenas através da raiz do jato. Sendo assim, se
j
v
é a velocidade do jato, e
root
v
a
velocidade da raiz do jato (ver Fig. 5.5), então, do teorema do transporte de Reynolds, chega-
se a
b
S
rootjj
bw
V
t
T
t
T
root
+=
d)(
d
d
d
d
2
2
1
nvvv
ρ
, (5.19)
onde
w
T
representa a energia cinética do domínio líquido como um todo, e
root
S
a superfície
transversal da raiz do jato.
Certamente, todo o trabalho realizado sobre o domínio líquido como um todo tem que ser a
ele convertido em energia cinética. Dessa forma, tem-se que
t
T
FU
w
d
d
=
. (5.20)
Então, da Eqs. (5.20) e (5.16) em (5.19), chega-se a
b
S
rootjj
b
VU
t
M
root
=
d)(
d
d
2
2
1
2
2
1
nvvv
ρ
, (5.21)
que é uma expressão para o fluxo de energia através da raiz do jato em termos da variação da
massa adicional associada ao seio do líquido.
Esse é um resultado que havia sido demonstrado para casos particulares por Molin,
Cointe e Fontaine (1996) (bidimensional), Scolan e Korobkin (2003) (tridimensional com
linha de contato elíptica) e Cointe et al. (2004) (tridimensional com corpo assimétrico). Aqui,
no entanto, nenhuma restrição foi feita, e, portanto, a expressão dada pela Eq. (5.21) pode ser
considerada de caráter geral. Além disso, a mesma confirma a previsão de Scolan e Korobkin
138
(Control surface defining
the bulk of the liquid)
(Liquid particle
leaving the bulk
of the liquid)
F
S
F
S
jatojato
corpocorpo
raiz do jato,
)(
root
S
raiz do jato,
)(
root
S
raiz do jato,
)(
root
S
‘zoom’‘zoom’
partícula
cruzando
root
S
partícula
cruzando
root
S
(2001) de que, no caso tridimensional geral, se a velocidade de penetração do corpo for
forçada a ser constante, i.e. .
0
constU ==
ζ
&
, sua energia passa a ser igualmente distribuída
entre o seio do líquido e os jatos. Para verificar, basta tomar
2
2
1
UMT
bb
= e novamente as
Eq. (5.20) e (5.21) na Eq. (5.19), ou seja
2
0
2
1
2
0
2
1
d
d
d
d
U
t
M
U
t
M
FU
bb
+=
. (5.22)
Figura 5.5 - Fluxo de líquido através da região da raiz do jato.
Essa demonstração e discussão da generalidade da Eq. (5.21) é um resultado original
dessa tese que já se encontra publicado em Casetta e Pesce (2005).
Mas a consideração de que existe um fluxo de energia a partir do seio do líquido fornece
139
um elemento crucial para a aplicação adequada da equação de Lagrange ao problema de
impacto hidrodinâmico. Como mostrado no Capítulo 3, a função de Rayleigh para um sistema
de massa variável pode ser dada pela soma entre o fluxo de energia cinética a partir do
sistema considerado e a taxa de variação de sua energia interna. No caso, como o líquido é
supostamente ideal, a função de Rayleigh torna-se precisamente o fluxo de energia cinética a
partir do seio do líquido, i.e. (ver Eq. (5.21))
2
2
1
2
2
1
*
d
d
d
d
ζ
&
t
M
U
t
M
bb
= . (5.23)
A aplicação da equação de Lagrage então decorre da consideração da Eq. (4.45), i.e.
ζζζ
&&
∂ℜ
+
=
bb
TT
t
F
D
D
, (5.24)
de onde se obtém a Eq. (5.16)
Assim, tem-se que, quando apenas o seio do líquido é considerado, existe uma perda de
energia cinética através dos jatos que tem que ser levada em conta quando se pretende abordar
coerentemente o problema através da mecânica analítica de sistemas de massa variável.
Mas ainda existe uma pergunta a ser respondida. Por que a equação demonstrada por
Lamb (1932) não é válida para o caso? Inicialmente, deve-se lembrar que considerar apenas o
seio do líquido fere uma das hipóteses adotada por Lamb (1932), i.e. a de que todo o domínio
líquido deve ser levado em conta. Existe então uma maneira conveniente de se abordar o
problema de impacto hidrodinâmico através da Eq. (5.17). Convenientemente, pode-se então
definir a massa adicional como aquela associada ao domínio líquido como um todo, onde.
2
2
1
UMT
ww
= . Vale lembrar que a massa adicional, assim definida, a medida de energia
cinética do quido como um todo, i.e. seio mais jatos. Nesse caso,
w
M também varia com a
profundidade de penetração do corpo. Entretanto, o jato é agora parte integrante do domínio
líquido, e, portanto, a função de Rayleigh para esse caso é nula. Logo, a Eq. (5.17) pode ser
empregada com
2
2
1
UMT
ww
= , i.e.
140
U
t
M
t
UM
F
ww
d
d
d
)d(
2
1
= . (5.25)
Essa discussão sobre a aplicação da equação de Lagrange conforme a definição da massa
adicional também é um resultado original dessa tese que se encontra publicado em Casetta
e Pesce (2006).
No entanto, desconhecedor dessas sutilezas, Wu (1998) considera que as Eqs. (5.25) e
(5.18) são equivalentes. Para justificar a Eq. (5.18), Wu (1998) assume que
0/
=
t
φ
é
válida ao longo de toda a superfície livre, inclusive na raiz do jato. A questão é que, em uma
abordagem que se vale de argumentos de energia, isso não pode ser assumido como verdade,
pois, retornando-se à Eq. (5.5), isso implicaria 0
2
1
=
φ
φ
em toda a superfície livre,
inclusive na raiz do jato. E de fato, sabe-se, da discussão anterior, que, na raiz do jato, o
líquido apresenta grande velocidade, e, portanto, 0
2
1
φ
φ
em
root
S .
Note que se tomado
0
2
1
=
φ
φ
na raiz do jato, a Eq. (5.19) fica
t
T
t
T
bw
d
d
d
d
=
, (5.26)
o que equivale à desprezar a energia cinética transferida aos jatos
51
.
Logo, da Eq. (5.26) em. (5.20) chega-se à Eq. (5.18).
Para ilustrar, em termos práticos, a real diferença entre as Eqs. (5.18) e (5.16), considere o
caso do impacto hidrodinâmico de uma esfera em queda livre. Pode-se mostrar que, no
problema de Wagner, a massa adicional associada ao impacto de uma esfera contra a
superfície livre é determinada por
3
3
4
aM
b
ρ
= , sendo
ζ
Ra
2
3
= o raio do disco
0
B
S
,
ρ
a
densidade do líquido e
R
o raio da esfera (ver, por exemplo, CASETTA, 2004).
______________
51
Este ponto encontra-se discutido em detalhes em Pesce (2006).
141
Haja vista que
F
é a força que atua no sistema líquido, tem-se, pelo princípio da ação e
reação, que a força atuante na esfera deve ser dada por (
F
). Logo, se
m
é a massa da
esfera, então
F
t
U
m =
d
d
. (5.27)
Assim, da Eq. (5.16) em (5.27), mostra-se que
t
UM
t
U
m
b
d
)d(
d
d
=
. (5.28)
Do mesmo modo, da Eq. (5.18) em (5.27), chega-se a
U
t
M
t
UM
t
U
m
bb
d
d
d
)d(
d
d
2
1
+= . (5.29)
As Eqs. (5.28) e (5.29) podem ser adimensionalizadas considerando-se
g
U
g
&
&&
&&
==
ζ
ζ
*
(5.30)
0
0
*
*
U
U
t
==
=
ζ
ζ
ζ
&
&
&
, (5.31)
sendo RtUt /
0
*
= , e
R
ζ
ζ
=
*
, (5.32)
quando então respectivamente tornam-se
142
( )
2/3
*
3
1
*
2
*2
*
ζσ
ζζ
ζ
+
=
&
&&
R
F
(5.33)
( )
2/3
*
3
1
*
2
*2
2
1
*
ζσ
ζζ
ζ
+
=
&
&&
R
F
, (5.34)
sendo RgUF
R
2/
2
0
2
= e )/(57,0)/(
27
62
ρρρρσ
π
eses
= , onde
es
ρ
é a densidade [kg/m
3
] da
esfera.
Como claramente revelam as Fig. 5.6 e 5.7, considerar a equação incorreta (Eq. (5.34))
implica subestimar a desaceleração máxima a que a esfera fica submetida durante seu estágio
inicial de penetração na água. Do ponto de vista de projeto, isso significa subestimar as cargas
hidrodinâmicas máximas a que uma estrutura fica sujeita, o que pode ser extremamente
perigoso para sua segurança.
-10
-9
-8
-7
-6
-5
-4
-3
-2
-1
0
0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3
t*
d
2
ζ
ζ
ζ
ζ
*/dt*
2
Eq. (5.33)
Eq. (5.34)
Figura 5.6 – Desaceleração no impacto de uma esfera, segundo Eq. (5.33) (correta) e (5.34) (incorreta) para
o caso 15
2
=
R
F e σ = 0,2 ( 35,0)/(
ρ
ρ
es
).
143
-2
-1,8
-1,6
-1,4
-1,2
-1
-0,8
-0,6
-0,4
-0,2
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
t*
d
2
ζ
ζ
ζ
ζ
*/dt*
2
Eq. (5.33)
Eq. (5.34)
Figura 5.7 - Desaceleração no impacto de uma esfera, segundo Eq. (5.33) (correta) e (5.34) (incorreta) para
o caso 15
2
=
R
F e σ = 4,5 ( 89,7)/(
ρ
ρ
es
).
144
5.4 Discussão
Existe uma questão bastante curiosa acerca do problema de Wagner: sua analogia com o
problema de Cayley (ver Capítulo 4). Embora o primeiro seja um problema de hidrodinâmica,
e o segundo um de mecânica propriamente dita, ambos são modelados a partir da
consideração de um sistema dissipativo de massa (massa adicional no primeiro caso) variável
com a posição. Além disso, a função de Rayleigh para ambos assume a mesma forma (ver
Eqs. (4.44) e (5.23)). Mas o curioso mesmo de ser notado é o fato de que, para ambos os
casos, foi encontrado na literatura o mesmo tipo de interpretação errônea no que se diz
respeito à aplicação da equação de Lagrange. Ou seja, em ambos os casos, a dissipação de
energia do sistema de interesse foi mal interpretada e a equação de Lagrange clásssica então
empregada de modo impróprio por Wu (1998), no caso do problema de Wagner, e por Wong
e Yasui (2006), no caso do problema de Cayley.
145
6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Uma primeira e importante conclusão que pode ser extraída dessa tese é a de que a
mecânica de sistemas de massa variável depende fortemente da interpretação e resposta de
três perguntas: i) qual é o sistema de massa variável de interesse? ii) como se dá o processo de
agregação-ejeção de massa desse sistema de interesse? iii) qual o significado físico dos
termos envolvidos nas equações de movimento de um sistema de massa variável, equação
geral de balanço, teorema do transporte, etc.?
No Capítulo 2, foi apresentada uma análise de pontos relevantes dos primeiros trabalhos
que fundamentaram a dinâmica de sistemas de massa variável. Isso incluiu desde o trabalho
de Buquoy, de 1814, até o de Reynolds (1903) e Truesdell e Toupin (1960). Mas a principal
conclusão desse Capítulo é o fato de que, dependendo da maneira com que o processo de
agregação-ejeção de massa é interpretado, o sistema pode ser considerado como dissipativo
ou não; como um volume material com fontes de massa, ou um volume de controle, ou
sistema de massa instantaneamente constante. A análise apresentada nesse Capítulo foi feita a
partir do trabalho de Mikhailov (1975), deixando-se então como sugestão a leitura dos
trabalhos originais de Buquoy, Poisson, Tait e Steele, e Mechtcherskii, assim como também o
levantamento de novas referências sobre a história da mecânica de sistemas de massa
variável. Sem dúvida, isso pode vir a contribuir ainda mais para o entendimento dos
fundamentos desse ramo da mecânica.
No Capítulo 3, discutiu-se a concepção e aplicação da equação de Lagrange a sistemas de
massa variável. O trabalho de Cayley, um dos primeiros sobre o tópico, foi reinterpretado, e
uma interpretação física coerente para a chamada função dissipação de Rayleigh para sistemas
de massa variável foi apresentada. Nesse Capítulo, aparece claramente a questão da
interpretação física dos termos envolvidos nas diferentes formas da equação de Lagrange. É
então a principal conclusão desse Capítulo a de que, a partir da interpretação do trabalho de
Irschik e Holl (2002) como sendo a equação de Lagrange para um volume de controle cuja
146
massa varia com o tempo, pode-se demonstrar a equação de Lagrange para um volume de
controle cuja massa varia com as coordenadas e velocidades generalizadas. Sob esse aspecto,
uma sugestão para trabalho futuro, ao menos para fins didáticos, é a busca de exemplos
envolvendo sistemas cuja massa varia com a velocidade, que são bastante difíceis de ser
encontrados, e a de exemplos envolvendo sistemas cuja massa varia do modo mais geral, i.e.
com a posição e com a velocidade. Vale ressaltar que, segundo o melhor conhecimento do
autor dessa tese, acerca desse segundo caso, nenhum exemplo foi ainda encontrado.
Por fim, a parte teórica desta tese encerrou-se com a apresentação da extensão do
princípio variacional de Seliger e Whitham (1968), originalmente formulado para um volume
fechado, para um volume de controle, mas restrito a problemas potenciais. Esse resultado foi
obtido através do conceito de partículas fictícias de Truesdell e Toupin (1960), mas que,
essencialmente, baseia-se na técnica de McIver (1973) para a obtenção do princípio de
Hamilton para sistemas mecânicos de massa variável. Seliger e Whitham (1968),
implicitamente, adotam a hipótese de processo adiabático e reversível. Sendo assim, sugere-se
então a busca de princípios variacionais para volumes de controle cujos processos envolvidos
não sejam adiabáticos.
Na segunda parte dessa tese, buscou-se apresentar casos de aplicação para aquilo que foi
discutido nos Capítulos anteriores. E nesse sentido não podia haver exemplos melhores do
que o chamado ‘problema da corrente em queda’ e o ‘problema de Wagner’, problemas esses,
inclusive, de grande relevância prática. Enquanto o primeiro pode ser considerado como uma
importante peça no entendimento da dinâmica de correntes e cabos, o segundo está envolvido
no processo de avaliação da segurança de estruturas que se chocam com a superfície livre da
água. Mas o quê coloca esses problemas na posição de exemplo didático é o fato de que
ambos exigem um cuidado ‘especial’ no que diz respeito à interpretação do processo de
agregação-ejeção de massa, dissipação de energia, e aplicação da equação de Lagrange para
recuperação da equação de movimento associada. O quê bem pode ilustrar toda a dificuldade
em se interpretar consistentemente tais problemas é o que foi discutido nos Capítulos 4 e 5
sobre a aplicação da equação de Lagrange. Ou seja, se o sistema de massa variável de
interesse o for adequadamente considerado, a aplicação da equação de Lagrange conduz a
resultados significativamente incorretos, como assim foi mostrado para o problema de Cayley
e o de Wagner. Cumpre ressaltar que a tese permitiu resgatar a validade da análise de Cayley
147
(1857) para o problema que leva seu nome. Um outro interessantíssimo aspecto a ser notado é
o resultado ‘falso-positvo’ obtido por Wong e Yasui (2006), ao empregar a equação de
Lagrange clássica no problema da corrente em U. Na verdade, Wong e Yasui (2006) e Wu
(1998) cometem tautologias.
Ambos os problemas foram abordados a partir de uma série de hipóteses de idealização.
Sendo assim, sugere-se, por exemplo, abordar o problema da corrente em queda levando em
conta a dimensão de seus elos, suas possíveis formas, e as propriedades mecânicas dos
mesmos. Com relação ao problema de Wagner, questões acerca da compressibilidade do
líquido e da elasticidade do corpo de impacto também são sugeridas para ser incluídas em
trabalhos futuros.
A conclusão final dessa tese é a de que a mecânica de sistemas de massa variável como
aqui apresentada é, em sua essência, um ramo da mecânica que depende fortemente das
respostas às três perguntas mencionadas no início desse Capítulo. Exemplos didáticos e
práticos onde um sistema de massa variável possa ser identificado serão sempre concebíveis.
Veja, por exemplo, o problema do carretel, o da corrente em queda, o da bola de neve, etc.
Mas é também possível reconhecer um sistema de massa variável em problemas que
envolvem situações de risco. Um exemplo é o problema de Wagner, onde se está preocupado
com a avaliação da segurança de estruturas marítimas que se chocam contra a superfície da
água do mar. Outro que indubitavelmente é um notável exemplo de tais situações é o
problema do colapso vertical de edifícios, em particular o caso das torres gêmeas do World
Trade Center.
148
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POSIÇÕES E VELOCIDADES CARACTERÍSTICAS (ver IRSCHIK;
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Seja
=
V
cm
Vm
~
~
drr
ρ
, (A.1)
onde
cm
r é a posição do centro de massa das partículas de V
~
, e
r
a posição dessas partículas
medidas com relação a um referencial inercial.
Seja também
=
V
Vm
~
~
d
ρ
(A.2)
e
=
V
cm
V
t
m
~
~
d
d
d
~
rr
*
ρθ
, (A.3)
onde
*
cm
r é a posição do centro de massa dos elementos
µ
d
, que então são gerados a partir das
partículas que compõe o volume material V
~
.
Considere adicionalmente que (ver Eq. (2.24))
159
=
V
V
t
m
~
~
d
d
d
~
uw
ρθ
. (A.4)
Derivando-se a Eq. (A.1) sob o operador td/(.)d
~
, obtém-se que
=+
V
cm
cm
V
tt
m
t
m
~
~
d
d
d
~
d
d
~
d
d
rr
r
ρ
. (A.5)
Da equação geral de balanço (ver Eq. (2.19)) para
r
=
ψ
, e assumindo-se que, nesse caso,
seus termos são
+=
VVV
VVVs
~~~
~
d
~
d
~
d][ rvr
ρθρρ
(A.6)
e
0
~
d][
~
V
Vi nr
, (A.7)
mostra-se que
+=
VVV
VVV
t
~~~
~
d
~
d
~
d
d
d
~
rvr
ρθρρ
. (A.8)
Então, das Eqs. (A.8) e (A.5), chega-se a
+=+
VV
cm
cm
VV
t
m
t
m
~~
~
d
~
d
d
d
~
d
d
rvr
r
ρθρ
. (A.9)
Mas da Eq. (A.3) em (A.9), tem-se que
160
=+
V
cmcm
cm
V
t
m
t
m
~
*
~
d)(
d
d
~
d
d
vrr
r
ρ
. (A.10)
Por fim, derivando-se a Eq. (A.10) sob o operador td/(.)d
~
, e tomando-se as Eqs. (A.4) e
(2.24), obtém-se
)(
d
d
~
d
d
d
d
2
d
d
~
d
d
*
2
2*
2
2
cmcm
cmcmcm
t
m
ttt
m
t
m rr
rr
wF
r
++=
, (A.11)
que é a Eq. (2.25).
161
A.2 EQUAÇÃO DE MOVIMENTO PARA UM VOLUME DE
CONTROLE ESCRITA EM TERMOS DE SUAS POSIÇÕES E
VELOCIDADES CARACTERÍSTICAS (ver IRSCHIK; HOLL, 2004, p.
157-8)
Inicialmente, vale relembrar que, para esse caso,
V
~
é um volume material sem fontes de
massa em seu interior, e V
ˆ
é o volume de controle que é instantaneamente coincidente com
V
~
.
Seja então
=
V
cm
Vm
ˆ
ˆ
drr
ρ
(A.12)
(análoga à Eq. (A.1)), onde
cm
r é o centro de massa das partículas de V
~
que instantaneamente
se encontram no interior de
V
ˆ
,
r
a posição dessas partículas medidas com relação a um
referencial inercial, e
=
V
Vm
ˆ
ˆ
d
ρ
. (A.13)
Seja agora
=
V
*
cm
V
t
m
ˆ
ˆ
d)
ˆ
(
d
d
ˆ
nvvrr
ρ
(A.14)
(análoga à Eq. (A.3)), sendo
*
cm
r a posição do centro de massa das partículas que
instantaneamente se encontram em V
ˆ
.
162
Considere também que
=
V
V
t
m
ˆ
ˆ
d)
ˆ
(
d
d
ˆ
nvvvw
ρ
(A.15)
(análoga à Eq. (A.4)).
Derivando-se ambos os lados da Eq. (A.12), agora sob o operador
td/(.)d
ˆ
, obtém-se que
=+
V
cm
cm
V
tt
m
t
m
ˆ
ˆ
d
d
d
ˆ
d
d
ˆ
d
d
rr
r
ρ
(A.16)
(análoga à Eq. (A.5)).
E em vez de se considerar a equação de balanço, como na Eq. (A.8), toma-se o teorema do
transporte de Reynolds para
r
=
ψ
(ver Eq. (2.30)), i.e.
=
V
V
V
VV
t
V
t
ˆ
~
ˆ
ˆ
d)
ˆ
(
~
d
d
d
~
ˆ
d
d
d
ˆ
nvvrrr
ρρρ
. (A.17)
Então, das Eqs. (A.17), (A.16) e (A.14), obtém-se que
=+
V
cmcm
cm
V
tt
m
t
m
~
~
d
d
d
~
)(
d
d
ˆ
d
d
rrr
r
*
ρ
. (A.18)
Como V
~
é um volume material que não possui fontes de massa, então, da Eq. (A.8) para
0
=
θ
, tem-se que
=
VV
VV
t
~~
~
d
~
d
d
d
~
vr
ρρ
. (A.19)
163
Logo, da Eq. (A.19) em (A.18) obtém-se que
=+
V
cmcm
cm
V
t
m
t
m
~
~
d)(
d
d
ˆ
d
d
vrr
r
*
ρ
(A.20)
(análoga à Eq. (A.10)).
Mas como V
~
é instantaneamente coincidente com V
ˆ
, a Eq. (A.20) pode ser
convenientemente escrita como
=+
V
cmcm
cm
V
t
m
t
m
ˆ
ˆ
d)(
d
d
ˆ
d
d
vrr
r
*
ρ
. (A.21)
Derivando-se, então, ambos os lados da Eq. (A.21) sob o operador td/(.)d
ˆ
, e utilizando-
se as Eqs. (A.15) e (2.34), chega-se, por fim, à seguinte expressão
)(
d
d
ˆ
d
d
d
d
2
d
d
ˆ
d
d
*
2
2*
2
2
cmcm
cmcmcm
t
m
ttt
m
t
m rr
rr
wF
r
++=
, (A.22)
que é a Eq. (2.35).
164
A.3 INVARIÂNCIA GALILEANA DA SEGUNDA LEI DE NEWTON
PARA UMA PARTÍCULA DE MASSA VARIÁVEL
Considere dois sistemas inerciais de referência. Para a simplicidade da análise, e sem
perda de generalidade, suponha que um desses sistemas é fixo e o outro então dotado de
velocidade de translação constante
ref
v . Assim, se
= tdvx é a posição de uma partícula
com relação ao referencial fixo, e
= t'' d vx é a posição dessa mesma partícula com relação
ao referencial móvel, então, da Fig. A.1, vê-se que
Figura A.1 – Relação entre as posições de uma mesma partícula, sendo essas tomadas com relação a
diferentes referenciais inerciais.
+= t '
ref
dvx x , (A.23)
o que implica
ref
' v vv += , (A.24)
e também
x
y
x
y
x
x
t
ref
dv
x
y
x
y
x
y
x
y
x
x
t
ref
dv
165
t
'
t
d
d
d
d vv
= . (A.25)
Seja então a segunda lei de Newton para uma partícula de massa constante, i.e.
t
m
d
dv
F =
. (A.26)
Claramente, da Eq. (A.25) em (A.26), tem-se que
t
'
m
d
d v
F = . (A.27)
Ou seja, para uma particular de massa constante, a segunda lei de Newton é invariante sob
transformações Galileanas.
Considere agora a segunda lei de Newton para uma partícula de massa variável na forma
da Eq. (2.41). Das Eqs. (A.24) e (A.25), e tomando-se
w
com relação ao referencial móvel,
i.e.
ref
' vw w
+
=
, (A.28)
a Eq. (2.41) é então reescrita como
t
m
''
t
'
m
d
d
)(
d
d
vw
v
F =
, (A.29)
i.e.
166
t
m
''m
t
d
d
)(
d
d
w vF = . (A.30)
Assim, tem-se que as Eqs. (A.29) e (A.30), expressões da segunda lei de Newton para
uma partícula de massa variável, onde nenhuma consideração é feita sobre os diferentes
operadores de diferenciação ou sobre a distinção entre as partículas envolvidas, são
invariantes sob transformações Galileanas.
Por outro lado, desenvolvendo-se a derivada do lado direito da Eq. (2.42), i.e.
t
m
t
m
d
d
d
d
v
v
F +=
, (A.31)
mostra-se, a partir das Eqs. (A.24) e (A.25), que
t
m
'
t
'
m
ref
d
d
)(
d
d
v v
v
F ++= , (A.32)
ou seja, a Eq. (2.42) depende da escolha do referencial inercial.
Seja agora cada uma das Eqs. (2.29), (2.39) e (2.40), quando então existe uma distinção
entre os operadores de diferenciação, e as partículas do sistema.
Da Eq. (2.29), tem-se
t
t
m
t
m
d
d
d
d
~
d
d
µ
wv
v
F += . (A.33)
Então, das Eqs. (A.24), (A.25) e (A.28) em (A.33), mostra-se que
t
'
t
m
'
t
'
m
refref
d
d
)(
d
d
~
)(
d
d
µ
vw v v
v
F +++= . (A.34)
167
Note que o segundo e o terceiro termo do lado direito da Eq. (A.34) dependem da escolha
do referencial inercial, não podendo essa expressão ser reduzida a uma outra onde nenhum
dos termos envolvidos apresentem tal dependência. Por outro lado, se a restrição para se
recuperar a identidade da partícula, i.e.
0
d
d
~
d
d
=
t
m
t
µ
v , (A.35)
que é equivalente a
0
d
d
~
d
d
)( =
+
t
m
t
ref
µ
v' v
, (A.36)
for adicionada à Eq. (A.34), tem-se a seguinte expressão
++
+++=
t
m
t
'
t
'
t
m
'
t
'
m
refref
ref
d
d
~
d
d
)(
d
d
)
(
d
d
~
)(
d
d
µµ
v vv
w v v
v
F
, (A.37)
que agora então pode ser reduzida a uma equação que é invariante sob transformações
Galileanas, i.e.
t
''
t
'
m
d
d
)(
d
d
µ
vw
v
F =
. (A.38)
Seja agora a Eq. (2.39) sob a forma
t
t
m
t
m
d
d
d
d
ˆ
d
d
µ
wv
v
F += . (A.39)
Das Eqs. (A.24), (A.25) e (A.28) em (A.39), obtém-se uma expressão análoga à Eq.
(A.34), i.e.
168
t
'
t
m
'
t
'
m
refref
d
d
)(
d
d
ˆ
)(
d
d
µ
vw v v
v
F +++= , (A.40)
que também não é invariante sob transformações Galileanas, mas que pode ser reduzida à Eq.
(A.38), se a restrição para a recuperação da identidade da partícula, i.e.
0
d
d
ˆ
d
d
)( =
+
t
m
t
ref
µ
v' v
, (A.41)
for a ela adicionada.
Finalmente, tome a Eq. (2.40) sob a forma
t
t
m
d
d
)(
d
d
µ
vw
v
F += . (A.42)
É imediato das Eqs. (A.24), (A.25) e (A.28) em (A.42) que
t
''
t
'
m
d
d
)(
d
d
µ
vw
v
F +=
. (A.43)
Ou seja, a Eq. (2.40) é invariante sob transformações Galileanas.
169
B O CONCEITO DE PARTÍCULAS FICTÍCIAS DE TRUSDELL E
TOUPIN (1960) E O TEOREMA DO TRANSPORTE DE REYNOLDS
GENERALIZADO
Imagine um corpo
B
~
, móvel e deformável, que é composto por um conjunto bem
denido de partículas. Considere que
V
~
é a conguração de referência de
B
~
. Em
V
~
, as
partículas de
B
~
apresentam coordenadas dadas por
(
)
(
)
ZYXXXX ,,,,
321
=
X . São as
coordenadas Lagrangeanas dessas partículas. Porém, no instante de tempo tt d
+
seguinte,
haja vista seu movimento e deformação,
B
~
assume uma outra configuração, i.e. a
configuração atual V
~
. Quando assim, as partículas de
B
~
apresentam coordenadas Eulerianas
dadas por ),,(),,(
321
zyxxxx
=
x . Assume-se que, em qualquer instante de tempo
t
, a
posição
x
de uma partícula de coordenada Lagrangeana
X
pode ser obtida a partir de uma
função
χ
, onde
(
)
t,Xx
χ
=
. A partir de
χ
, pode-se estabelecer uma relação entre um
elemento de volume
V
~
d da conguração de referência do corpo e um elemento V
~
d de sua
conguração atual. Essa relação é dada por
V
~
d
~
d JV = , (B.1)
onde
J
, o Jacobiano da transformação, é denido como
0]/det[
=
ji
XxJ . (B.2)
Seja agora
Ψ
uma quantidade sica extensiva associada às partículas que compõe um
determinado corpo. No caso de
B
~
, tem-se então que
=
V
V
~
~
d
ρψ
Ψ
, (B.3)
170
onde
),( tx
ψ
ψ
=
é o valor de
Ψ
por unidade de massa.
A taxa da variação total de
Ψ
com relação às partículas que compõe
B
~
corresponde a
=
V
V
tt
~
~
d
d
d
~
d
d
~
ρψ
Ψ
. (B.4)
Da Eq. (B.1), a Eq. (B.4) pode ser reescrita como
+==
VVV
t
J
t
JJ
t
V
t
~~~
~
d
d
d
~
)(
d
d
~
~
d
d
d
~
~
d
d
d
~
VV
ρψρψρψρψ
, (B.5)
haja vista também que
( )
=
VV
J
t
J
t
~~
~
d
d
d
~
~
d
d
d
~
VV
ρψρψ
. (B.6)
Da denição de
td/(.)d
~
(ver Eq. (2.31)) e da relação
v= J
t
J
d
d
~
(B.7)
(ver IRSCHIK; HOLL, 2004, p. 148, Eq. 2.4b), a Eq. (B.5) torna-se
+
=
+
=
VVV
V
t
J
t
V
t
~~~
~
d)()(
~
d)()(
~
d
d
d
~
vv
ρψρψρψρψρψ
V . (B.8)
Então, do teorema da divergência de Gauss-Green-Ostrogradsky, a Eq. (B.8) assume a
seguinte forma
171
+
=
VVV
VV
t
V
t
~~~
~
d
~
d)(
~
d
d
d
~
nv
ρψρψρψ
. (B.9)
A Eq. (B.9) assim estabelece que a variação total de uma determina grandeza associada à
V
~
(lado esquerdo) é o resultado entre dois fatores: 1) a variação dessa grandeza que ocorre
em cada uma das partículas de
V
~
(primeiro termo do lado direito), 2) e a variação dessa
grandeza que se com o movimento e/ou deformação de
V
~
(segundo termo do lado direito)
(ver Fig. B.1).
Figura B.1 - Movimento e deformação de um volume material.
Segundo Truesdell e Toupin (1960, p. 347, grifo nosso) o teorema do transporte pode ser
concebido a partir da Eq. (B.9), “Escolhendo-se o volume espacial
υ
[xo] que, no instante
de tempo
t
, é a conguração do volume material [i.e. V
~
],” ou seja
+
=
υυ
υυ dd
~
d
d
d
~
~
nv
ρψρψρψ
t
V
t
V
. (B.10)
x
y
plano cartesiano
V
~
V
~
t
tt d
+
J
x
y
plano cartesiano
V
~
V
~
V
~
t
tt d
+
J
172
A Eq. (B.10) passa então a ter um signicado físico diferente daquele associada à Eq.
(B.9), i.e.
[...]a taxa da variação total de
ψ
em um volume material V
~
é igual à taxa da
variação total de
ψ
em um volume
υ
xo, que é a conguração instantânea de
V
,
mais o fluxo de
v
ψ
para fora da fronteira. (TRUESDELL; TOUPIN, 1960, p. 347)
Ou seja, enquanto
V
Vt
~
~
d/)(
ρψ
representa a variação de uma grandeza que ocorre em
cada uma das partículas do volume material quando o mesmo assume a conguração
V
~
,
υ
υd)/(
ρψ
t
é a variação dessa grandeza que ocorre em cada uma das partículas do volume
material, porém, quando o mesmo se localiza instantaneamente na porção
υ
do espaço, i.e.
V
~
=
υ
(ver Fig. B.2). Além disso, enquanto
V
V
~
~
dnv
ρψ
representa a variação dessa
grandeza devido ao movimento e deformação de V
~
,
υ
υdnv
ρψ
está associado à variação
dessa grandeza em razão do fluxo de
ρψ
através de
υ
.
Figura B.2 - Movimento e deformação de um volume material com relação ao volume espacial que
instantaneamente coincide com o mesmo.
Ocorre que, em determinados problemas, o sistema de massa variável é preferencialmente
descrito por um volume de controle móvel e deformável, o que então inviabiliza o emprego da
Eq. (B.10), haja vista que nessa, por hipótese, o volume de controle em questão, i.e.
υ
, é xo.
x
y
plano cartesiano
V
~
t
υ
x
y
plano cartesiano
V
~
t
υ
173
Mas existem três maneiras de se sobrepor essa problemática, e então considerar um volume de
controle )(t
υ
móvel e deformável. A primeira decorre da abordagem heurística de Thompson
(1988):
Seja
)(t
υ
um volume móvel (não necessariamente um volume material) com
fronteira
)(t
e versor normal
n
que é positivo quando apontado para fora[...] Tal
volume móvel e arbitrário é freqüentemente chamado por volume de controle; a
fronteira não precisa em geral ser identicada com nenhuma fronteira física[...]
(THOMPSON, 1988, p. 15)
Segundo esse autor, a taxa da variação total de uma grandeza com relação a um volume de
controle móvel, i.e.
)(
d)d/(d
t
t
υ
υ
υ
ρψ
(52)
, é o resultado entre dois fatores: 1) a variação de
ρψ
dentro de
)(t
υ
, o que corresponde à taxa de variação
)(
d/)(
t
t
υ
υ
ρψ
(53)
, 2) e a variação de
ρψ
que ocorre devido ao fato de
)(t
υ
englobar diferentes regiões do espaço físico ao longo
do tempo, o que implica uma taxa de variação
)(
d
tυ
υ
υnv
ρψ
, onde nv
υ
é a velocidade
normal de )(t
υ
. Sendo assim (ver Fig. B.3)
+
=
)()()(
dd)(d
d
d
ttt
tt
υ
υ
υυ
υ
υυυ nv
ρψρψρψ
. (B.11)
A segunda maneira de se considerar a taxa da variação total de uma entidade física em um
volume de controle móvel decorre da interpretação do Axioma I de Reynolds (ver Capítulo 2),
o que, segundo o próprio Thompson (1988, p. 16, nota de rodapé 1), é equivalente à
abordagem heurística por ele proposta. Note que o primeiro termo do lado direito da Eq.
(B.11) é a primeira das duas maneiras apresentadas por Reynolds, em seu Axioma I, para se
alterar uma entidade física dentro de uma superfície fechada. o segundo termo do lado
direito da Eq. (B.11) é equivalente à segunda maneira concebida por Reynolds, em seu
Axioma I, para se alterar uma entidade física dentro de uma superfície fechada, i.e. a
______________
52
O operador de diferenciação td/(.)d
υ
refere-se àquele que acompanha o volume de controle
)(t
.
53
Note que, diferentemente de
, onde
=
υυ
υυ d)/d/)( (
ρψρψ
tt , pois
é xo; para )(t
υ
, tem-se que
)()(
d)/d/)( (
tt
tt
υυ
υυ
ρψρψ
, haja vista que
)(t
é móvel.
174
passagem de uma entidade física através da superfície
)(t
υ
. A diferença é que, enquanto na
abordagem de Thompson (1988) é a superfície
)(t
υ
que engloba diferentes regiões do
espaço, interpretando-se o Axioma I de Reynolds, é a entidade física em questão que
atravessa a superfície
)(t
υ
. Ou seja, trata-se apenas de uma questão de ponto de vista.
Figura B.3 - Movimento e deformação de um volume de controle móvel e deformável
No entanto, segundo Irschik e Holl (2004) e Thompson (1988), a derivação do teorema do
transporte para um volume de controle móvel e deformável é dada por Truesdell e Toupin
(1960, p. 347), que, para tal, introduzem o conceito de partículas ctícias. Essencialmente,
essa técnica consiste em imaginar
54
que o volume )(t
υ
, que é o espaço encerrado por )(t
υ
, é
um volume material composto pelas partículas ctícias. Considere então que
B
ˆ
é um outro
corpo que não
B
~
. Assim, enquanto esse segundo corpo é denido pelo volume material V
~
, e
então composto por partículas reais, aquele primeiro é denido pelo volume material V
ˆ
e
composto pelas partículas ctícias. Mas qual é a real necessidade de se imaginar que o
volume de controle
)(t
υ
é um volume material? A questão é que, se assim, a Eq. (B.11) pode
ser demonstrada através de um procedimento matemático já bem estabelecido, não precisando
ser concebida heuristicamente como assim faz Thompson (1988), ou axiomaticamente, como
assim fez Reynolds. Note que Irschik e Holl (2004, p. 148) atribuem a Truesdell e Toupin
(1960) a associação formal entre o teorema do transporte e o axioma de Reynolds.
______________
54
Daí o nome partículas fictícias.
x
y
plano cartesiano
t
tt d
+
? J
)(t
υ
)d( tt
+
υ
x
y
plano cartesiano
t
tt d
+
? J
)(t
υ
)d( tt
+
υ
175
Como mostram Irschik e Holl (2002), faz-se necessário desenvolver um formalismo
próprio para as partículas ctícias, não devendo ser esse confundido com aquele que é
aplicado às partículas reais.
Uma vez que pertencem a corpos diferentes, partículas reais e partículas ctícias, a priori,
apresentam velocidades diferentes. Ou seja, se
descreve a velocidade de uma partícula real,
então v
ˆ
descreve a velocidade de uma partícula ctícia. Por essa razão, o operador gradiente
associado às partículas reais difere daquele
ˆ
associado às ctícias (ver Eqs. (2.31) e
(2.32)). Além disso, se
X
é a posição das partículas reais quando o corpo
B
~
assume sua
conguração de referência
V
~
, e
x
a posição das partículas reais quando
B
~
assume sua
conguração atual V
~
; então
X
ˆ
e
(
)
t,
ˆ
ˆˆ
Xx
χ
=
correspondem, respectivamente, à posição das
partículas ctícias quando o corpo
B
ˆ
assume sua conguração de referência
V
ˆ
, e à posição
das partículas ctícias quando o corpo
B
ˆ
assume sua conguração atual V
ˆ
.
Assim, a demonstração da Eq. (B.11) decorre da reinterpretação das Eqs: (B.1), i.e.
V
ˆ
d
ˆˆ
d JV = (B.12)
(ver também IRSCHIK; HOLL, 2002, p. 240); (B.2), i.e.
0]
ˆ
/
ˆ
det[
ˆ
=
ji
XxJ ; (B.13)
(B.3), i.e.
=
V
V
ˆ
ˆ
d
ˆ
ρψ
Ψ
, (B.14)
onde agora ),
ˆ
( tx
ψ
ψ
=
; (B.8), i.e.
176
+
=
+
=
VVV
V
t
J
t
V
t
ˆˆˆ
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
)(
ˆ
d
ˆ
)
ˆ
(
ˆ
)(
ˆ
d
d
d
ˆ
vv
ρψρψρψρψρψ
V , (B.15)
o que então implica, do teorema da divergência de Gauss-Green-Ostrogradsky, que
+
=
VVV
VV
t
V
t
ˆˆˆ
ˆ
d
ˆ
ˆ
d)(
ˆ
d
d
d
ˆ
nv
ρψρψρψ
, (B.16)
sendo essa equação análoga à Eq. (B.9) (ver Fig. B.4 abaixo).
Figura B.4 - Movimento e deformação do volume material que é composto pelas partículas ctícias.
O teorema do transporte de Reynolds generalizado, i.e. para um volume de controle que
não obrigatoriamente é fixo, mas sim móvel e deformável, pode ser obtido supondo-se que,
instantaneamente, VV
~
ˆ
= , o que então implica
=
V
V
V
t
V
t
~
ˆ
~
d)(
ˆ
d)(
ρψρψ
(B.17)
e
x
y
plano cartesiano
t
tt d
+
V
ˆ
V
ˆ
J
ˆ
x
y
plano cartesiano
t
tt d
+
V
ˆ
V
ˆ
J
ˆ
177
=
VV
V
VVV
ˆˆ
~
ˆ
d)
ˆ
(
ˆ
d
ˆ
~
d nvvnvnv
ρψρψρψ
. (B.18)
Então, das Eqs. (B.9, (B.16), (B.17) e (B.18), mostra-se o teorema do transporte de
Reynolds generalizado (ver Fig. B.5), i.e.
=
V
V
V
VV
t
V
t
ˆ
~
ˆ
ˆ
d)
ˆ
(
~
d
d
d
~
ˆ
d
d
d
ˆ
nvv
ρψρψρψ
, (B.19)
que agora pode ser alternativamente escrito, quando assim preferido, como
=
)(
~
)(
d)(
~
d
d
d
~
d
d
d
t
V
t
V
tt
υ
υ
υ
υ
υυ nvv
ρψρψρψ
. (B.20)
Figura B.5 - Movimento e deformação de V
, volume material formado pelas partículas reais, com relação
a V
ˆ
, volume material composto pelas partículas fictícias, que também se movimenta e deforma. A priori,
esses volumes movem-se de modo diferente; mas são instantaneamente coincidentes.
x
y
plano cartesiano
t
V
~
V
ˆ
v
ˆ
x
y
plano cartesiano
t
V
~
V
~
V
ˆ
v
ˆ
V
ˆ
v
ˆ
v
ˆ
v
ˆ
178
C.1 DERIVAÇÃO DA EQUAÇÃO DE LAGRANGE PARA UM
SISTEMA DE PARTÍCULAS DE MASSA DEPENDENTE DO TEMPO A
PARTIR DO PRINCÍPIO DE D’ALEMBERT (ver PESCE, 2003, p. 752)
Seja um sistema de partículas de massa dependente do tempo, i.e. )(tmm
ii
=
. Do
princípio de D’Alembert, tem-se então que
0
d
d
)(
d
d
=
i
i
i
iii
i
i
tt
m xvwF
v
δ
µ
. (C.1)
Para um sistema holônomo, o que implica
=
k
k
k
i
i
q
q
δδ
x
x
, (C.2)
a Eq. (C.1) torna-se
0
d
d
)(
d
d
=
i k
k
k
ii
iii
i
i
q
qtt
m
δ
µ
x
vwF
v
, (C.3)
onde
=
=
=
k
kk
k i
k
k
i
i
i k
k
k
i
i
i k
k
k
i
i
qQq
q
q
q
q
q
δδδδ
x
F
x
F
x
F . (C.4)
Considere agora o termo
i k
k
k
ii
i
q
qt
m
δ
xv
d
d
. Como
k
q
δ
’s são independentes entre si e
arbitrários, tem-se, para cada
i
,
k
ii
i
qt
m
xv
d
d
.
179
Da Eq. (C.26), escreve-se que
k
i
i
k
i
i
k
ii
i
q
m
qt
m
qt
m
=
2
2
1
2
2
1
d
d
d
d vvxv
&
. (C.5)
Tome por ora apenas o termo
k
i
i
qt
m
&
2
2
1
d
d
v
. Pela regra da cadeia, a Eq. (C.5) pode ser
escrita como
k
i
i
i
k
i
i
k
i
i
qt
m
q
m
tqt
m
&&&
=
v
v
vv
d
d
~
d
d
~
d
d
2
2
1
2
2
1
, (C.6)
e da Eq. (C.23) como
k
i
i
i
k
i
i
k
i
i
qt
m
q
m
tqt
m
=
x
v
vv
d
d
~
d
d
~
d
d
2
2
1
2
2
1
&&
. (C.7)
Mas como )(tmm
ii
=
, a Eq. (C.7) pode ser convenientemente escrita como
[ ]
k
i
i
i
ii
kk
i
i
qt
m
m
qtqt
m
=
x
vv
v
d
d
~
~
d
d
~
d
d
2
2
1
2
2
1
&&
. (C.8))
Isolando-se agora o segundo termo do lado direito da Eq. (C.5), tem-se analogamente
[
]
2
2
1
2
2
1
~
ii
kk
i
i
m
qq
m v
v
=
. (C.9)
Assim, das Eqs. (C.9) e (C.8) em (C.5), chega-se a
180
[
]
[
]
k
i
i
i
ii
k
ii
kk
ii
i
qt
m
m
q
m
qtqt
m
=
x
vvv
xv
d
d
~
~
~
d
d
~
d
d
2
2
1
2
2
1
&
, (C.10)
o que implica
k
k i
k
i
i
i
kk
i k
k
k
ii
i
q
qt
m
q
T
q
T
t
q
qt
m
δδ
=
x
v
xv
d
d
~
~
~
d
d
~
d
d
&
. (C.11)
Por fim, das Eqs. (C.11) e (C.4) em (C.3), chega-se a
+
=
i k
ii
iii
i
kk
k
qtt
m
q
T
q
T
t
Q
x
vwv
d
d
)(
d
d
~
~
~
d
d
~
µ
&
. (C.12)
Mas, como discutido no Capítulo 2, sob o ponto de vista correspondente ao operador
td/(.)d
~
, ttm
ii
d/dd/d
~
µ
= . Logo, a Eq. (C.12) pode ser reescrita como
=
i k
i
i
i
kk
k
qt
m
q
T
q
T
t
Q
x
w
d
d
~
~
~
d
d
~
&
. (C.13)
Sob o operador tDD /(.) , a Eq. (C.8) pode ser escrita como
[ ]
2
2
1
2
2
1
2
2
1
~
d
d
ii
kk
i
i
k
i
i
m
qtq
m
tqt
m v
vv
&&&
=
=
D
D
D
D
. (C.14)
Assim, das Eqs. (C.9) e (C.14) em (C.5), escreve-se uma expressão alternativa para
k
ii
i
qt
m
xv
d
d
, i.e.
[
]
[
]
2
2
1
2
2
1
~
~
d
d
ii
k
ii
kk
ii
i
m
q
m
qtqt
m vv
xv
=
&
D
D
, (C.15)
181
de onde implica
k
k kki k
k
k
ii
i
q
q
T
q
T
t
q
qt
m
δδ
=
~
~
d
d
&
D
D
xv
. (C.16)
Assim, das Eqs. (C.16) e (C.4) em (C.3), chega-se a
=
i k
i
ii
i
kk
k
qtq
T
q
T
t
Q
x
vw )(
d
d
~
~
µ
&
D
D
. (C.17)
182
C.2 DERIVAÇÃO DE EXPRESSÕES AUXILIARES PARA O
APÊNDICE C.1
Assuma que ),(
kii
qtxx
=
. Assim,
=
k
k
k
i
i
q
q
δδ
x
x
. (C.18)
Mas, se ),(
kii
qtxx
=
, então ),,(
kkii
qqt
&
vv
=
, o que implica
+
=
k
k
k
i
k
k
k
i
i
q
q
q
q
&
&
δδδ
vv
v
. (C.19)
Derivando-se a Eq. (C.18) sob o operador
td/d(.)
,obtém-se
+
=
k
k
k
i
k
k
k
i
i
q
q
q
qt
&
δδδ
xx
v
d
d
, (C.20)
haja vista que
tt d/(.)dd/d(.)
δ
δ
=
.
Tomando-se a diferença entre as Eqs. (C.19) e (C.20), mostra-se então que
0
d
d
=
+
k
k
k
i
k
i
k
k
k
i
k
i
q
qq
q
qqt
&
&
δδ
vxvx
. (C.21)
Por fim, como
k
q
δ
’s são independentes entre si e arbitrários, e, portanto, assim também o
são
k
q
&
δ
’s, obtém-se da Eq. (C.21) que
183
k
i
k
i
qtq
=
xv
d
d
(C.22)
k
i
k
i
qq
=
xv
&
. (C.23)
E dessas duas últimas, mostra-se também que
k
i
i
k
ii
k
i
i
k
i
i
k
i
qtqtqtqtqt
+
=
=
=
x
v
xvx
v
v
v
v
d
d
d
d
d
d
d
d
d
d
2
2
1
&&
(C.24)
k
i
i
k
i
i
k
i
qtqq
=
=
x
v
v
v
v
d
d
2
2
1
. (C.25)
Logo das Eqs. (C.24) e (C.25), chega-se a
k
i
k
i
k
ii
qqtqt
=
2
2
1
2
2
1
d
d
d
d vvxv
&
. (C.26)
184
D DISSIPAÇÃO DE ENERGIA NO PROCESSO ‘EJEÇÃO-RE-
CAPTURA’ DE UM ELEMENTO DE MASSA
No Capítulo 2, mostrou-se que, quando um elemento de massa é agregado por uma
partícula de massa
m
, ocorre uma dissipação (ou aumento) de energia mecânica que é dada
por (ver Eq. (2.50))
t
m
t
U
d
d
ˆ
)(
d
d
~
2
2
1
vw =
. (D.1)
Considere agora um volume material V
~
formado por dois subsistemas
1
ˆ
V
e
2
ˆ
V
que
trocam massa entre si. Como a taxa de variação da energia interna de V
~
é igual à soma entre
as taxas de variação da energia interna de cada um dos subsistemas, então
t
m
t
m
t
U
d
d
ˆ
)(
d
d
ˆ
)(
d
d
~
2
2
22
2
1
1
2
11
2
1
vwvw += . (D.2)
Mas, da conservação de massa, tem-se que
0d/d
ˆ
d/d
ˆ
21
=+ tmtm
. Logo, a Eq. (D.2)
pode então ser escrita como
[ ]
t
m
t
U
d
d
ˆ
)()(
d
d
~
1
2
22
2
1
2
11
2
1
vwvw = . (D.3)
Assim, para que não haja dissipação de energia mecânica em
V
~
, é necessário que
0)()(
2
22
2
1
2
11
2
1
= vwvw . (D.4)
185
Um caso particular de interesse é aquele em que, no instante de tempo
tt d
, um
elemento de massa é ejetado do subsistema 1, sendo então capturado pelo subsistema 2 no
instante de tempo
tt d
+
(ver Fig. D.1). Isso implica que o instante de tempo
t
imediatamente
após a ejeção do elemento de massa do subsistema 1 também corresponde ao instante de
tempo
t
imediatamente anterior à sua captura pelo subsistema 2, i.e.
www
=
21
. Logo, da
Eq. (D.4), tem-se que
)(
21
2
1
vvw
+
=
. (D.5)
Figura D.1 – Processo de ‘ejeção-captura’ de um elemento de massa entre dois subsistemas de massa
variável. Caso em que existe um estágio intermediário entre a ejeção e a captura.
1
v
2
v
1
m
2
m
tt d
11
dvv
+
w
2
v
t
11
dvv
+
22
dvv
+
tt d
+
µ
d
11
dmm
+
11
dmm
+
22
dmm
+
2
m
1
v
2
v
1
m
2
m
tt d
11
dvv
+
w
2
v
t
11
dvv
+
22
dvv
+
tt d
+
µ
d
11
dmm
+
11
dmm
+
22
dmm
+
2
m
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