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Edmilson Bastos de Moura
Amplificação dos genes que codificam a
Endotelina-1 e seus receptores
em valvas mitrais reumáticas
Brasília, 2008
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Universidade de Brasília – UnB
Faculdade de Medicina – FM
Pós-Graduação em Ciências Médicas
Amplificação dos genes que codificam a
Endotelina-1 e seus receptores
em valvas mitrais reumáticas
Dissertação Apresentada à Banca Examinadora
do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Médicas da Universidade de Brasília UnB
como Parte dos Requisitos Exigidos Para
Obtenção do Título de Mestre em Ciências
Médicas.
Mestrando: Edmilson Bastos de Moura
Orientadora: Profa. Dra. Yolanda Galindo Pacheco
Banca examinadora:
Profa. Dra. Yolanda Galindo Pacheco (Presidente)
Prof. Dr. Francisco de Assis Neves
Dr. Fábio Amorim Ferreira
Prof. Dr. Daniel França Vasconcelos
Brasília, 2008
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i
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, irmã e sobrinha,
pelo carinho incondicional.
ii
AGRADECIMENTOS
Agradeço imensamente o apoio recebido para a confeão dessa dissertação, de
amigos especiais:
À Profa. Dra. Yolanda Galindo Pacheco, minha orientadora, pela paciência com
que me fez buscar o caminho correto;
À amiga Mariana Ribeiro Gomes, companheira de bancada e de pesquisa, pela
convincia saudável e valorosa ajuda;
Ao Prof. Dr. Luís Simeoni, que gentilmente me acolheu no Laboratório de
Farmacologia Molecular;
Ao Prof. Dr. Vicente Pérez Carrascosa, pelo auxílio que prestou na confeão do
estudo histológico, e ao Sr. Giuliano, que habilmente confeccionou as lâminas;
Aos amigos Rosângela Vieira de Andrade e Tomás de Moraes Macedo, pela
participação importante durante todas as fases da pesquisa;
Aos médicos do InCor-DF, em especial aos cirurgiões Dr. Luiz Fernando
Caneo, Dr. Ricardo Corso, Dr. Cristiano Faber, Dr. Guilherme Succi e Dr.
Fernando Atik, pelas lições aprendidas na busca de uma Medicina de alta
qualidade;
Aos dicos do Hospital de Base do DF, pela dedicação que tiveram com a
coleta do material de pesquisa.
iii
“Nunca ninguém mensurou, nem
mesmo os poetas, quanto um
coração pode suportar.”
Zelda Fitzgerald
iv
SUMÁRIO
Dedicatória i
Agradecimentos ii
Lista de Figuras v
Lista de Tabelas vi
Resumo vii
Abstract viii
I. Introdução................................................................................................................1
II. Revisão de literatura..............................................................................................3
II. 1. A doença reumática mitral..............................................................................3
II. 2. Endotelinas......................................................................................................6
II. 3. A valva mitral1..............................................................................................14
II. 4. Disfunção valvar mitral................................................................................. 15
III. Objetivos............................................................................................................. 18
IV. Metodologia.........................................................................................................19
IV. 1. Material....................................................................................................... 19
IV. 2. Critérios de inclusão e exclusão.................................................................. 19
IV. 3. Métodos....................................................................................................... 21
IV. 3. 1. Histologia............................................................................................. 21
IV. 3. 2. Extração de RNA total........................................................................21
IV. 3. 3. Quantificação do RNA por espectrofotometria.................................. 21
IV. 3. 4. Obtenção de cDNA.............................................................................. 22
IV. 3. 5. Amplificação do DNA por PCR.......................................................... 22
IV. 3. 6. Análise de DNA por eletroforese em gel de agarose........................... 23
IV. 4. Análise estatística........................................................................................ 23
V. Resultados............................................................................................................. 24
V. 1. Histologia ...................................................................................................... 29
VI. Discussão............................................................................................................ 36
VII. Conclusão...........................................................................................................39
VIII. Referências bibliográficas................................................................................ 40
IX. Anexos................................................................................................................. 49
v
LISTA DE FIGURAS
1. A estrutura da endotelina-1...................................................................................8
2. Válvulas mitrais reumáticas ................................................................................ 20
3. Prevalência dos sintomas nos indivíduos.................................................................26
4. Corte histológico do folheto valvar mitral anterior, mostrando calcificação,
fibrose e infiltrado mononuclear. HE, 200x............................................................. 31
5. Corte histológico do folheto valvar mitral anterior, mostrando calcificação. HE,
400x............................................................................................................................ 31
6. Corte histológico do folheto valvar mitral anterior, mostrando área com fibrose.
HE, 100x.................................................................................................................... 32
7. Corte histológico do folheto valvar mitral anterior, mostrando infiltrado de
mononucleares. HE, 400x ......................................................................................... 32
8. Corte histológico do folheto valvar mitral anterior, mostrando neoformação
vascular. HE, 200x ....................................................................................................33
9. Corte histológico do folheto valvar mitral anterior, mostrando ossificação. HE,
200x............................................................................................................................ 33
vi
LISTA DE TABELAS
1. Dados ecocardiográficos dos pacientes................................................................. 25
2. Dados clínicos e análise molecular individualizada dos pacientes com
acometimento valvar unicamente mitral.................................................................. 26
3. Dados clínicos e análise molecular individualizada dos pacientes com
acometimento valvar mitro-aórtico.......................................................................... 27
4. Dados clínicos e análise molecular individualizada dos pacientes submetidos a
reoperação mitral...................................................................................................... 27
5. Dados histológicos individualizados dos pacientes...............................................30
6. Dados do p-valor, faixa etária e sexo x presença dos genes ..................................34
7. Dados do p-valor, sintomas x presença dos genes..................................................34
8. Dados do p-valor, subgrupos x presença dos genes................................................35
vii
RESUMO
Introdução: o estudo da substância vasoconstritora endotelina-1 e de seus receptores A
e B, desde sua descoberta em 1988, tem crescido progressivamente nos últimos anos.
Isso se deve ao seu reconhecimento como elemento crítico na fisiopatologia de diversas
doenças, com destaque para aquelas de acometimento cardiovascular. Sua fuão na
vasorreatividade é conhecida, bem como sua ação parácrina e autócrina, o que conduz
à procura de seus sítios de produção nos diversos tecidos. Essa busca objetiva desvendar
a contribuição de cada óro no processo patológico, e também determinar a
participação de tais peptídeos nas modificações sofridas pelo próprio tecido nesse
processo (como a deposição de colágeno, ou a neovascularização). Nesse contexto, a
valvopatia reumática revela-se uma boa candidata à pesquisa, pelas suas características
mudanças estruturais valvares e pela repercussão que impõe à todo o sistema
cardiovascular e pulmonar. Objetivo: determinar, mediante técnicas moleculares, a
expressão dos genes da endotelina e dos seus receptores em valvas mitrais reuticas.
Metodologia: 27 pacientes submetidos a troca valvar mitral tiveram seu tecido valvar
analisado para determinação da presença de genes da ET-1 e seus receptores A e B; foi
feita análise histológica e molecular das valvas (divididas em fragmentos M1, M2 e
M3) e colhidos dados clínicos e epidemiológicos dos pacientes. Foram divididos em 3
grupos (valvopatia mitral, mitroaórtica, pacientes reoperados). Resultados: O estudo
mostrou a manifestação do gene da endotelina-1 em 40,7% dos espécimes e de seu
receptor A em todas as amostras, com manifestação minoritária do gene do receptor B
(22,2%). Conclusões: todos os pacientes expressaram a presença do gene do receptor
A; não houve diferença estatística quanto a gravidade da doença, expressa em classe
funcional, e os subgrupos estudados (valvopatas mitrais, mitro-aórticos e pacientes
reoperados), ou quanto a expressão dos genes da ET-1 e seus receptores, entre os
subgrupos estudados (valvopatas mitrais, mitro-aórticos e pacientes reoperados).
Palavras-chave: endotelina-1; valva mitral; reação de PCR.
viii
ABSTRACT
Introduction: the study of the vasoconstrictor substance endothelin-1 and its receptors
A and B, since its discovery in 1988, has grown gradually in the last years. This is due
to their recognition as a critical element in the pathophysiology of many diseases, with
emphasis on those from cardiovascular involvement. His role in vasorreactivity is
already known, as well as its autocrine and paracrine actions, leading to demand for its
production sites in various tissues. This search aims to unveil the contribuction of each
organ in the pathological process, and also determine the involvement of these peptides
in the modifications made by the tissue in the process (as the deposition of collagen, or
neovascularization). In this context, rheumatic valve disease proves to be a good
candidate to search, due their characteristics valve structural changes and the impact of
the whole cardiovascular and pulmonary sistems. Objective: to determine, through
molecular techniques, the expression of genes of endothelin and its receptors in
rheumatic mitral valves. Methodology: 27 patients undergoing mitral valve
replacement had their valve tissue analyzed for determining the presence of genes of
ET-1 and its receptors A and B; was made histological and molecular analysis of the
valves and collected clinical and epidemiological data of patients. They were divided
into 3 groups (mitral valvophaty, mitroaortic, patients reoperated). Results: the study
showed the gene expression of enothelin-1 in 40,7% of the samples, and its receptor A
in all samples, with minority manifestation of the gene of receptor B (22,2%).
Conclusions: all patients expressed the gene of receptor A; there was no statistical
difference regarding the severity of illness, expressed in functional class, and the
subgroups studied (mitral valvophaty, mitroaortic and reoperated patients), or in the
expression of genes of ET-1 and their receptors, among the subgroups studied.
Key words: endothelin-1; mitral valve; PCR reaction.
1
I. INTRODUÇÃO
As cardiopatias são doenças de alta prevalência
1
, tornando seu conhecimento,
diagnóstico e tratamento, objeto de intensa pesquisa em âmbito mundial. Nos países em
desenvolvimento, adquire destaque a cardite reumática, complicação temida da doença
reumática em nações cuja atenção à saúde é deficiente
2
.
A valvopatia reumática acomete a valva mitral, promovendo seqüelas que
resultam em regurgitação ou insuficiência valvar
3
. As alterações em câmaras cardíacas
esquerdas se associam a disfunção endotelial com aumento dos níveis de ET-1, peptídeo
vasoconstritor de grande potência, que também estimula a proliferação de miócitos
vasculares
4
. Tais modificações tem conseqüências sobre a circulação pulmonar, muitas
vezes determinando a hipertensão pulmonar (HP)
5
. No entanto, a presença da ET-1 e
seus receptores na própria valva mitral, aumentando a deformação valvar reumática,
ainda é um assunto não abordado na literatura.
As endotelinas e seus receptores são consideradas chave para uma promissora
linha de tratamento de doenças como a HP e insuficiência cardíaca congestiva (ICC)
6
. A
identificação de sítios produtores desses peptídeos e o bloqueio de seus receptores
tissulares teoricamente mitigariam seus efeitos nefastos sobre a hemodinâmica
6
,
colaborando para o reequilíbrio entre substâncias responsáveis pelo tônus vascular,
cerne de doenças como a ICC ou a HP.
No entanto, definir a importância do sistema de endotelinas na doença reumática
mitral e HP a ela associada depende de etapas intermedrias, entre elas determinar a
importância da própria valva mitral acometida como sítio produtor desses peptídeos.
Através de técnicas moleculares, é possível avaliar a presença de gene que codificam
tais peptídeos no tecido valvar mitral. Esse seria um passo decisivo na descoberta da
associação entre a ET-1 (e seus receptores) e a valva mitral.
Também é de relevância a determinação da associação entre características
clínicas e epidemiológicas individuais e a presença do gene da ET-1 e seus receptores.
Talvez a existência de algum sintoma específico seja preditor da presença ou não desses
genes, bem como a gravidade em que se manifesta a doença no paciente. Não se sabe se
2
pessoas submetidas a cirurgia prévia que não a troca valvar (comissurotomia, p. ex.)
apresentam modificações na presença dos genes que codificam esses peptídeos no
tecido valvar mitral.
Como discutido, a pesquisa da presença dos genes correspondentes ao sistema
de endotelinas em valvas mitrais reumáticas podem ser de grande ajuda na terapêutica
6
e talvez na modificação da história natural da valvopatia reumática e suas complicações.
No entanto, encontra-se em fases iniciais, e carece de inúmeras respostas que podem ter
resposta na análise molecular tecidual.
Considerando-se que a ativação do sistema de endotelinas tem ação tão
abrangente no sistema cardiovascular, além da reconhecida ação parácrina e
autócrina
7,8
, investigamos a presença da ET-1 e seus receptores em valvas mitrais
reumáticas, afim de esclarecer a existência de tais peptídeos no tecido acometido por
essa doença.
3
II. REVISÃO DE LITERATURA
II. 1. A doença reumática mitral
Febre Reumática (FR) é uma doença reumática, inflamatória, de origem auto-
imune e recidivante, em resposta do organismo a infecções pelo estreptococo
(Streptococcus pyogenes) do grupo A de Lancefield. Tal associação etiológica foi
inicialmente observada por Coburn, em 1930.
A doença acomete cerca de 14 milhões de pessoas em todo o mundo, levando
um número de 3 milhões de pacientes à hospitalizações freqüentes devido a
insuficiência cardíaca congestiva. A doença reumática cardíaca foi responsável por 332
mil óbitos mundialmente, em 2000
1
, sendo creditados em torno de 233 mil mortes aos
países em desenvolvimento
2
.
O impacto da doença também é preocupante para a saúde blica brasileira,
onde registram-se cinco mil casos novos ao ano
3
. Segundo Terreri et al
9
, o custo anual
da doença reumática é de US$ 50 milhões, correspondendo à 90% das indicações
cirúrgicas pediátricas do Sistema Único de Saúde (SUS).
Em países desenvolvidos, observa-se queda da prevalência da doença,
certamente graças às melhorias das condições socioecomicas e culturais e à
abrangência da atenção básica à saúde com diagnóstico precoce e antibioticoterapia
para infecções respiratórias
2
. A febre reumática continua prevalente no Brasil, onde
acomete cerca de 3 a 5% de crianças e adolescentes
10
. Sua epidemiologia assemelha-se
com a da faringite causada pelo Streptococcus ß hemolítico do grupo A, que promove a
ocorrência de surtos de FR (em torno de 3% da população afetada pela faringite).
Existem cepas de estreptococos do grupo A ditas reumatogênicas, ou seja,
responsáveis pelos surtos de febre reumática aguda. Isso se deve a virulência
diferenciada desse subgrupo, representada pela riqueza em protna M e ácido
hialurônico na sua psula, determinando propriedades antifagocíticas
11
. Aquela é
4
estruturalmente homóloga à miosina e estende-se da supercie celular como uma α
hélice. A ativão do linfócito T é feita por essa proteína, combinados com HLA-DR7
(a identificação de alguns alelos do sistema HLA sugere a presença de susceptibilidade
genética à FR), que dão origem à receptores de membrana das células apresentadoras de
antígenos (linfócitos B, monócitos, macrófagos e lulas dendríticas)
3
. A produção de
anticorpos pelos linfócitos B ativados faz com que aqueles infiltrem o tecido valvar,
aumentando a expressão da molécula de adesão VCAM-1 (Vascular Cell Adhesion
Molecule-1). O linfócito T adere à tal molécula através do ligante VLA-4 (Very Late
Antigen-4), contribuindo para a lesão reumática
12
.
Anticorpos anti-proteína M contribuem para a doença valvar via mimetismo
molecular com a miosina que, apesar de não estar presente na valva, se liga a ela pela
laminina. Anticorpos antimiosina reconhecem a laminina, uma proteína da matriz
extracelular composta predominantemente por α hélice, parte da estrutura da membrana
basal valvar
3
. No tecido valvar, lulas inflamatórias novamente são responsáveis pela
liberação local de citocinas e lesão de células intersticiais com neovascularização e
inflamação crônica. Macrófagos são ativados e atraem as células T. A destruição valvar
pode expor mais antígenos, de modo progressivo
13
.
A reação inflamatória é chamada exsudativa, em sua fase inicial. Caracteriza-se
pelo edema intersticial, fragmentação de fibras colágenas, infiltração
linfocitária/plasmocitária e degeneração fibrinóide. A fase mais tardia é dita
proliferativa, determinada por lesões contínuas à fase anterior: necrose fibrinóide
perivascular circundada por linfócitos e plasmócitos, além dos característicos miócitos
de Anitschkow (células basolicas grandes e multinucleadas). Estas lesões são
conhecidas como nódulo de Aschoff
3
.
A endocardite é o componente mais importante da pancardite reumática. A
valvulite resultante, associada à dilatação do anel mitral e disfunção papilar, é
determinante na patogênese da regurgitação valvar
10
. Associam-se outras lesões,
reconhecidas como pertencentes à fase crônica da doença valvar reutica: fibrose com
ou sem calcificação, espessamento com retração cicatricial; fusão de comissuras, com
perda do endotélio e erosão com formação de trombo; as cordoalhas, engrossadas e
retraídas; lesões verrucosas ou vegetações reumáticas, predominantes nas margens
5
livres das valvas. A cicatrização é importante na evolução da doença valvar e é
acompanhada pela neovascularização de uma estrutura outrora avascular
13
. O
aparecimento de vasos neoformados é limitado à camada esponjosa, onde encontram-se
também células inflamatórias
14
.
Quando submetidas à análise de sua espessura média, as válvulas reumáticas
apresentam medidas superiores (especialmente quando consideradas as suas
extremidades) comparadas às normais ou associadas a outras doenças (carcinóide,
relacionada ao uso de anorexígenos); possuem, ainda, uma quantidade inferior de
glicosaminoglicanos e elastina, mas superior de músculo e colágeno. Esse último,
componente característico de processos tardios de cicatrização, já seria intuitivamente
esperado, por serem os pacientes candidatos à cirurgia normalmente portadores de
doença reumática crônica
14
. Vale ressaltar que, com o avançar da idade, o aumento
de espessura, sem alteração significativa da composição valvar
14
.
O diagnóstico da FR é baseado no reconhecimento das combinações de alguns
achados clínicos, inicialmente descritos por T. Duckett Jones, em 1944. Os critérios de
Jones (modificados em 1992 por Dajani et al
15
), utilizados como guia para o diagnóstico
da FR, baseiam-se na divisão dos achados cnicos e laboratoriais da doença em sinais
maiores ou menores, segundo as respectivas importâncias diagnósticas, sem significado
prognóstico por si só. A presença de dois sinais maiores, ou de um sinal maior e dois
menores, indica alta probabilidade diagnóstica, se acompanhados da evidência de
estreptococcia prévia. Os critérios maiores são poliarterite, cardite, coréia, nódulos
subcutâneos e eritema marginado, e os menores são febre, artralgia, aumento do
intervalo PR no eletrocardiograma e aumento nos valores laboratoriais da VHS
(velocidade de hemossedimentação), PCR (proteína C reativa) ou leucocitose
3
.
No entanto, o diagnóstico da FR continua sendo desafiante para os médicos,
tornando importante a caracterização cnica e demográfica dos pacientes. Um estudo
nacional avaliou tais características
9
: a prevalência em mulheres, em crianças de cinco
anos a adolescentes de 15 anos, sendo a cardite a segunda manifestação clínica mais
freqüente (a artrite é a mais comum). Quando o processo inflamatório é mais intenso, a
anemia e a elevação da VHS e α1 glicoproteína podem ocorrer, bem como da
gamaglobulina (ratificando a participação da resposta humoral)
9
.
6
Sendo a valvopatia reutica uma seqüela crônica da febre reumática e a doença
mais frequentemente associada com a valvopatia s-inflamatória (encontrada em
rias outras doenças
9
), mesmo em pacientes assintomáticos do ponto de vista
cardiovascular, a realização do ecocardiograma pode ajudar o diagnóstico. Crianças
com cardite reumática subclínica apresentam alterações ecocardiográficas persistentes
em 35% dos casos
16
.
A profilaxia primária tem sido muito debatida, mas o tratamento com penicilina
V oral 500.000 unidades normalmente cura a faringite estreptocócica (exceto se for
causada por cepa reumatogênica). Se a FR é muito prevalente na comunidade, ou
estreptococos do grupo A são identificados, a terapêutica deve completar 10 dias. A
imunização de populações em risco através de vacinas multivalentes compostas pela
combinação dos sorotipos M mais encontrados (entre os mais de 90 já identificados), é
promissora; assim também é a imunização oral. A prevenção secundária das
recorrências reumáticas é feita através da administração de 1,2 milhões de unidades de
penicilina G benzatina mensalmente, ou a cada 3 semanas. O tempo pelo qual o
tratamento deve ser mantido dependerá do julgamento clínico do risco, envolvendo
variáveis como a gravidade do acometimento agudo ou a presença de cardite
reumática
11
.
O tratamento preventivo dos danos valvares não mudou nas últimas décadas. A
utilização de drogas inibidoras do TNF, baseada na ação citotóxica celular autoimune da
doença, possivelmente pode diminuir a deformidade valvar. O uso de cortiides para o
tratamento da cardite reumática justifica-se pela sua potência antiinflamatória, em casos
graves
11
.
II. 2. Endotelinas
A endotelina, peptído com forte potência vasoconstritora (considerada dez vezes
mais potente que a angiotensina II), foi inicialmente descrita por Yanagisawa em
1988
17
. Isolada e purificada a partir de cultura celular endotelial bovina, rapidamente
estabeleceu-se como de fundamental importância nos processos moleculares
7
responsáveis pela manutenção do tônus vascular, bem como pela sua expressão
aberrante em determinadas situações patológicas.
A importância das endotelinas e de seus receptores na patogênese de diversas
doenças, em especial aquelas em que a vasoconstrição e a proliferação celular
excessivas estão envolvidas, tem sido objeto de intensa pesquisa desde a sua descoberta.
Além disso, são importantes reguladoras da deposição de colágeno e matriz
extracelular
18
. Exercem múltiplos efeitos biológicos, através de seus receptores A e B, e
suas concentrações tissulares refletem com maior precisão a ativação do sistema das
endotelinas
18
.
Reconhecidamente a mais importante para a espécie humana, a ET-1 tem sido o
isopeptídeo mais estudado em sua família (composta pelas endotelinas 1, 2 e 3 ET-1,
ET-2 e ET-3). De incontestável relevância no sistema cardiovascular
5,4
, a ET-1 é
codificada por genes localizados no cromossomo 6
19
e são abundantes no endotélio, o
que motivou sua denominação. No entanto, podem ser produzidas em outros tipos
celulares: células tubulares renais, neurônios do sistema nervoso central, neurônios
simpáticos pós-ganglionares, monócitos e macrófagos. Sob condições pró-inflamatórias,
também é produzida pelas células musculares lisas vasculares
4
.
A produção intracelular da ET-1 ocorre através de uma reação proteotica
bifásica, pois seus dois precursores (preproET-1 e bigET-1) são processados por duas
proteases para a obtenção da forma biologicamente ativa. A preproET-1, peptídeo com
aproximadamente 200 aminoácidos, é clivada por endopeptidases neutras dependentes
de lcio semelhantes à furina – enzima pertencente a família das subtilisinas
20
. É
formado um composto intermedrio, biologicamente inativo, chamado big ET-1,
transformado no produto final (ET-1) por metaloproteases ligadas à membrana celular
21
,
que rompem o peptídeo precisamente na posição Trp-Val
22
. A importância dessa
conversão justifica-se pela potência vasoconstritora 140 vezes maior da ET-1 em
relação ao seu antecessor
23
. Essa família de metaloproteases (pertencentes à
superfamília das neprilisinas
24
) é chamada de enzima conversora de endotelina (ECE).
Suas variadas posições subcelulares, dependentes da isoforma de ECE em questão,
permitem que a conversão a ET madura se tanto na supercie celular quanto em seu
8
interior
4
. A ET-1, resultante do processo acima descrito, é um peptídeo de 21
aminoácidos formando uma alça fechada por duas pontes dissulfeto.
Figura 1. A estrutura da endotelina-1 (Masaki, 2004)
Foram identificadas duas variantes de ECE, denominadas 1 e 2: a primeira,
encontrada em várias células (inclusive endoteliais), é capaz de converter a big ET-1 em
ET-1 tanto na superfície celular quanto no interior desta, graças ao seu pico de ação em
pH neutro; a segunda, presente em outros tipos celulares, como neurônios, tem boa ação
intracelular, devido a sua afinidade pelo pH ácido
4,25
.
Além da própria ET-1, a angiotensina II, catecolaminas, cardiotrofina-1,
trombina, fatores de crescimento, citocinas, radicais livres, insulina, hipóxia, e distensão
dos vasos, são responsáveis pela liberação da ET-1 pelo endotélio
26,27,28,29,30
. a sua
síntese é inibida pelo óxido trico, peptídeos natriuréticos, heparina, prostaglandinas,
homocisteína e estrógeno
31,32,33,34,35
.
Liberada na luz dos vasos a partir do endotélio, a ET-1 age de maneira autócrina
e parácrina, e o como um hormônio
7
. É uma molécula de clearence rápido,
principalmente pulmonar (circulação onde 50% da ET-1 é depurada numa
passagem
36,37
) com uma meia-vida de 1 minuto e efeitos pressóricos mantidos por 1
hora
38,39
. Normalmente, detecta-se pequena quantidade no plasma, níveis que não se
correlacionam com sua atividade, pois representam o excesso das moléculas que não se
ligaram aos receptores teciduais
5
.
9
A existência dos receptores A e B (ETRA e ETRB), responsáveis por mediar os
efeitos das ET em mamíferos, classificados com base em sua potência em resposta às
ET’s, sendo ET-1 = ET-2 >> ET-3 para o ETRA e ET-1 = ET-2 = ET-3 para a ETRB
40
.
São muitas as formas através das quais a ET-1 age, mediando alguns
mecanismos em diversas doenças cardiovasculares. Promove a formação de ânion
superóxido, que ativa a família do fator de transcrição nuclear κB (NF-κB); esse inicia a
expressão de genes que codificam moléculas proaterogênicas e pró-inflamatórias
(adesinas: VCAM-1, ICAM-1, E-selectin; citocinas inflamatórias: IL-6 e 8). Essas
reações são co-responsáveis pela indução e progressão da aterosclerose, além da
desestabilização da placa aterosclerótica
18
. Além disso, o NF-κB modula a apoptose
feita pelo TNF, garantindo a sobrevivência do cardiomiócito e a manutenção da função
e do remodelamento cardíacos em situações de stress.
A ET-1 também exerce importante papel no remodelamento de artérias de baixa
resistência e na hipertrofia ventricular esquerda. Isso se deve a sua ação estimuladora na
atividade do gene do colágeno I, na deposição de proteínas da matriz extracelular, na
expressão de fibronectina e na potencialização dos efeitos do fator de crescimento
transformador β (TGF-β) e do fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF)
18
.
A ET-1 necessita de concentrações picomolares no plasma para atingir seus
efeitos fisiológicos
41
, insuficientes para exercer tais ações nos receptores, sugerindo que
a ET-1 age de modo parácrino ou autócrino no coração
42, 8
. Tais níveis séricos o se
correlacionam com sua atividade, que representam apenas as moculas que não se
ligaram aos receptores teciduais
5
.
Ambos os receptores de endotelina são membros de uma superfamília de
receptores acoplados a proteína G de hepta hélice, com uma média de tamanho de 45 a
50 kDa e codificados por gene localizados no cromossomo 4 e 13, respectivamente
43
. O
receptor A possui uma cadeia de 427 amincidos, e apresenta uma similaridade de
64% com a molécula de 442 aminoácidos do receptor B
44
. Consistem em moculas
com extremidade amino extracelular e outra carboxi intracelular (esta última com tio
de fosforilação). Mesmo antes de serem assim denominados, os receptores de ET já
podiam ser diferenciados pela sua afinidade preferencial por moculas de ET-1, 2 e 3; o
10
ETRA, como já comentado, tem uma enorme afinidade para ligação com ET-1 e 2,
quatro à oito vezes maior em relação a ET-3
45
.
A análise de tecidos humanos por técnicas moleculares revela a presença de
ETRA numa grande variedade deles, principalmente em lulas da musculatura lisa
vascular pulmonares e sistêmicas
46
. Através desse receptor ocorre a contração dessa
musculatura em modelos experimentais
47
, muitas vezes simultaneamente à ação de
ETRB coexistente
48
. Seu mapeamento in vivo mostra sua presença em diversos tecidos:
pulmões, coração, rins, intestino, adrenais, olhos e cérebro. Sua densidade é
especialmente alta nos dois primeiros tios; nos pulmões, uma distribuição abrangente,
principalmente nos brônquios, e no coração, no sistema condutor, átrios, ventrículos e
artérias coronárias
49
.
Foram descritos dois padrões de ligação da ET-1 aos receptores A e B. Tais
padrões produzem aumento do cálcio intracelular: num deles o aumento é fugaz (2-5
segundos), no outro é mantido por 20 minutos. Tal comportamento é dito bifásico
50,51
.
O mecanismo de ação atualmente aceito dos canais iônicos e mensageiros ocorre através
de liagação da ET-1 ao receptor, estimulando a fosfolipase C, que hidrolisa o
fosfatidilinositol 4,5 bifosfato para formar o trifosfato de inositol (IP 3), hidrossolúvel, e
o diacilglicerol (DAG), neutro. IP3 induz a mobilização do Ca
++
do retículo
sarcoplasmático com os receptores IP3 promovendo o primeiro aumento transirio de
[Ca
++
]i
52
. A abertura de canais de Ca
++
pode ser direta ou indiretamente acionada pela
deplão dos estoques de Ca
++
citosólicos. O DAG abre canais de Ca
++
operados por
receptores (ROC – receptor-operated Ca
++
channels).
A elevação do [Ca
++
]i ativa vários canais iônicos resultando na entrada de Ca
++
através da membrana citoplastica
53
. Ativa canais de cloreto, promovendo o efluxo
destes íons, despolarização celular, ativação de canais de Ca
++
voltagem-dependente e
influxo de Ca
++
51,54
. Os canais de K
+
voltagem-dependentes também promovem influxo
de Ca
++
através dos canais de Ca
++
voltagem-dependentes
55
. A ativão do trocador de
Na
+
/Ca
++
resulta em alcalinização das células e promove o influxo de Ca
++
56
. O
aumento de [Ca
++
]i também pode disparar a liberação de Ca
++
do retículo
sarcoplasmático, ativando os canais de K
+
ativados-por-Ca
++ 57
.
11
Como observado, a ET-1 medeia os sinais para mobilização do cálcio, através de
rios canais iônicos. Portanto, a expressão relativa e distribuição desses canais iônicos
determinam a resposta celular à ativação pela ET-1. O sinal de feedback negativo,
responsável pela interrupção da mobilização de íons cálcio, é dado pela cinase C
protéica, ativada pelo DAG e pelo próprio Ca
+2
58
. A cascata de sinalização intracelular
quando da ativão do ETRB é semelhante àquela descrita para o receptor A; além
desse mecanismo, o receptor B ativa a fosfolipase A
2
, liberando tromboxano A
2
e
prostaglandinas E
2
e I
2
, importantes na reação inflamatória e vasorreatividade
5
. uma
mudança fenotípica de um subtipo de receptor de ET para outro de acordo com
condições encontradas in vitro nas culturas de células musculares lisas vasculares e, se
essas expressarem ETRB, a ET-1 torna-se um mitógeno mais potente em tais células
59
.
O efeito dos receptores de endotelina na rede vascular se faz sentir de diferentes
maneiras. O ETRB tem um duplo efeito no tônus vascular: vasodilatador, quando
receptores localizados no endotélio são ativados, produzindo óxido trico e metabólitos
vasodilatadores da ciclooxigenase; vasoconstritor, quando acionados ETRB no músculo
liso vascular. O ETRA tem mecanismo de ação vasoconstritor semelhante na
musculatura lisa vascular
4
.
Não é inteiramente conhecida a ão hemodinâmica basal das endotelinas
engenas, bem como a suposta proteção exercida pelo ETRA ao organismo contra tais
ações. Supõem-se que o papel desse último no tônus vascular basal de indivíduos
normais seja pouco relevante, já que o bloqueio desse receptor pode não modificar a
pressão arterial
4
.
Os receptores são expressos de forma heterogênea no tecido cardíaco, com
ETRA predominando nos miócitos. Sua estimulação tem efeitos inotrópico e, menos
freqüentemente, cronotrópico positivos
4
. Além disso, estimula a hipertrofia cardíaca,
uma importante resposta adaptativa, é induzida pela ET-1 em culturas de miócitos
cardíacos, provavelmente pela ativação da família MAPK (cinases protéicas ativadas
por mitogênese) que estimula a produção do protooncogene c-jun e seus efeitos
promotores do crescimento
60
.
12
Os receptores A também tem função de estimular o stress oxidativo vascular, já
que a geração de espécies (ou ânions) reativas do oxigênio (ROS, em inglês) levam ao
crescimento da musculatura lisa vascular, hipertrofia cardíaca, e deficiência do
relaxamento dependente do endotélio, todas essas ações características da ET-1 e de
relevância na hipertensão arterial
61
. Além disso, promovem o crescimento e proliferação
das células musculares lisas vasculares
24
.
Apesar das conhecidas interações entre as endotelinas e seus receptores, algumas
vezes estas podem ser inesperadas e paradoxais. Isso pode ser explicado pela hetero e
homodimerização desses receptores, que dão origem a moléculas semelhantes aos
receptores originalmente conhecidos, mas com algumas características próprias
4
.
A intensa pesquisa laboratorial envolvendo as ET’s e seus receptores, bem como
dos antagonistas desses, justifica-se pela sua resposta farmacológica única e sua
possível correlação com doenças cardiovasculares
62
. As ações das ET’s no sistema
cardiovascular e sua atividade pró-inflamatória despertam grande interesse na
determinação de sua participação nos mecanismos fisiopatológicos daquelas
enfermidades. Dentre elas, destaca-se a hipertensão pulmonar, ora como via final de
rias cardiopatias, ora como perpetuadora dessas condições mórbidas
63
.
Na insuficiência cardíaca sua concentração sanguínea está aumentada, talvez por
uma expressão majorada do mRNA da ET-1
64
. Disso resulta a importância do
mapeamento do sistema de endotelinas no tecido cardíaco, em situação de homeostase
ou patológica, visando definir sua relevância em cada um dos contextos.
Sua localização nos diversos tecidos cardíacos revela importantes informações,
como a de que os miócitos cardíacos não são produtores de ET-1 na espécie humana
65
.
Aparentemente, as células endoteliais endocárdicas são as maiores responsáveis pela
liberação de endotelinas, modulando a ação de células vizinhas: inotropismo positivo
nas câmaras cardíacas e, possivelmente, contribuindo para a fibrilação atrial
63
.
A participação do sistema de endotelinas na fisiopatologia e nas alterações
morfológicas da valva mitral na doença reumática é desconhecida. Sabe-se que existe
associação entre portadores de determinados HLA (DR7 e DRw53 entre os
13
brasileiros
66
) com o desenvolvimento de febre reumática ou cardiopatia reumática. Isso
demonstra o envolvimento de mecanismos imunológicos celulares e humorais, e
inflamatórios, representados por substâncias responsáveis pela síntese de citocinas pró-
inflamatórias, através da transcrição de seus genes. Entre eles, identificam-se o FNTα,
IL- e β, entre outros; contudo, o papel do sistema de endotelinas como marcador
genético da cardiopatia reumática é obscuro
67
.
Estudos conduzidos em animais, utilizando valvas mitrais, buscaram mostrar os
níveis de expressão da ET-1 e seus receptores nesse tecido, sugerindo uma correlação
entre os peptídeos e a mudaa na composição dos folhetos com a idade
68
. Apesar de
terem sido utilizadas valvas mitrais mixomatosas, é possível fazer uma transposição dos
resultados para as valvas reumáticas, igualmente ricas em colágeno e fibroblastos.
Por outro lado, a ET-1 pode representar a ligação entre alterações vasculares e o
metabolismo acelerado do colágeno associado ao processo fibtico em algumas
doenças
41
. Estimulada por forças de fricção, a síntese e a expressão de ET-1 ficam
aumentadas. Esse fator sico, encontrado em disfunções valvares onde a coaptação
entre os folhetos é deficiente e pode se fazer mediante maior atrito associa-se a
outros fatores, químicos e endógenos, determinando alterações na composição tecidual.
No entanto, estudos continuam a ser conduzidos no sentido de demonstrar essa
correlação entre os efeitos vasoconstritores e a fibrose tissular
41
. É possível que esse
mecanismo patológico venha a se mostrar relevante na valvopatia reutica, associando
níveis aumentados de ET-1 encontrados na doença às deformidades valvares.
A ET-1 tem efeitos pró-fibticos, agindo através de seus receptores A e B,
encontrados nos fibroblastos. Neles, provoca aceleração da produção de matriz
extracelular
69
. Em tecidos onde essas células se encontram em quantidade, como na
doença valvar reumática, e onde podem ser encontrados níveis aumentados de ET-1,
pode-se esperar a progressiva alteração tecidual valvar como resultado.
Uma variedade de doenças cardiovasculares tem a participação de ET-1 em sua
patogênese. Considerando-se tudo o que foi discutido nos trechos acima, podemos
esperar aplicações terapêuticas dos antagonistas dos receptores de ET-1
6
. Através deles,
as ações do sistema de endotelinas podem ser revertidas, traduzindo-se em benefício
14
clínico para muitos pacientes. Além do avio sintomático produzido, existem situações
outras em que tais medicações se mostraram igualmente benéficas, permanecendo
especulativa sua utilização em outras condições patológicas
6
. Nesse sentido, sua
indicação terapêutica em situações incomuns, como em pacientes com comorbidades do
tecido conjuntivo, como tratamento a longo prazo, ou mesmo em estágios mais
precoces, dependem do profundo conhecimento de suas ações, na saúde e na doença.
II. 3. A valva mitral
A valva mitral posiciona-se na transição atrioventricular esquerda, separando as
cavidades atrial e ventricular. Possui dois folhetos: o anterior, bem maior e o posterior,
menor. Ambos são divididos em zonas rugosa e lisa (a última na borda livre da valva).
São separados no anel mitral pelas comissuras posteromedial e anterolateral. O anel
fibroso mitral é formado por duas estruturas colagenosas: o trígono fibroso direito,
localizado entre o septo membranoso atrioventricular, as valvas mitral e tricúspide, e a
raiz rtica; e o trígono fibroso esquerdo, na junção da valva mitral com a cúspide
coronariana esquerda da valva rtica
70
. O anel posterior corresponde a 2/3 de todo o
anel mitral
71
.
Comunicando a valva mitral ao miocárdio ventricular encontram-se as
cordoalhas tendíneas e músculos papilares. Esses últimos são divididos em anterolateral
e posteromedial, e deles surgem as primeiras, classificadas em cordoalhas de primeira
ordem (que se fixam às bordas das válvulas), segunda ordem (mais espessas e menos
numerosas, unidas às lvulas entre as zonas lisa e rugosa, e mais proeminentes para a
válvula anterior) e terceira ordem (originadas na parede ventricular, fixam-se ao anel
mitral posterior). Totalizam em torno de 25 feixes tendinosos
70
.
A análise histológica do tecido valvar revela 3 camadas: a fibrosa, rica em
colágeno e contínua com a cordoalha tendínea; a camada esponjosa, que cobre a face
atrial e forma a borda da válvula (possui proteoglicanas, elastina e tecido conectivo em
abundância, e pouco colágeno); uma cobertura fibroelástica, fina na face atrial e espessa
na ventricular, chamada ventricularis
70
. Essa última camada produz mais elastina e
colágeno com o avançar da idade, tornando-se espessada. Existem, ainda, outras
estruturas musculares e neurais, importantes na coaptação valvar
72
.
15
II. 4. Disfunção valvar mitral
Existem duas disfunções valvares, conhecidas como estenose e insuficiência,
que o são mutuamente exclusivas, podendo coexistir. Definida como uma obstrução
ao influxo de sangue no ventrículo esquerdo em nível da valva mitral - resultante de
uma anormalidade estrutural - impedindo sua abertura durante a fase de enchimento
diastólico daquele, a estenose mitral tem diferentes etiologias. A predominante é a
cardite reumática, chegando a somar 99% das estenoses em algumas séries
73
. Causas
ditas não-reumáticas, como a calcificação anular ou valvar, deformidades connitas,
síndrome carcinóide, trombo atrial esquerdo, endocardite, pós comissurotomias ou
implantes valvares protéticos, são menos comuns
70
.
Quando não tratada, a EM evolui de maneira insidiosa e estável nos primeiros
anos. Contudo, é uma doença contínua e pode progredir aceleradamente. Isso ocorre
principalmente se a infeão reumática for grave ou os episódios de cardite forem
recorrentes. O aparecimento de sintomas pode surgir após um período de latência de 20
até 40 anos, tornando-se debilitantes uma década depois. A sobrevida em dez anos dos
pacientes que atingem esse estágio da doença é de 80%, 50% ou 15%, se a
sintomatologia for nima, moderada ou limitante, respectivamente. A mortalidade em
65% dos casos se deve a congestão sistêmica e pulmonar, embolia sistêmica em 25%,
embolia pulmonar em 10% e infecção em 1-5%
74
.
O achado macroscópico de espessamento e calcificação valvar e fusão
comissural e de cordoalhas assemelha o aparato mitral a um funil. Isso provoca
estreitamento do orifício valvar mitral e diminuição da área valvar correspondente,
normalmente em torno de 4-5 cm
2
, determinando o gradiente transmitral diastólico, que
resulta na elevação da pressão atrial esquerda, com reflexos sobre a circulação venosa
pulmonar. Mudanças iniciais sobre o leito venoso pulmonar são considerados
protetores, evitando pressões excessivamente altas.
O paciente com estenose mitral pode permanecer assintotico por longos
períodos de tempo
75
, apesar do débito cardíaco decrescente e resistência venosa e
arteriolar pulmonar aumentadas, e, eventualmente, alterações morfofuncionais da
16
vasculatura pulmonar
70
. A gravidade da vasculopatia pulmonar é determinante no
surgimento e agravamento dos sintomas nos pacientes com estenose mitral.
A sintomatologia associa-se com a área valvar encontrada, ainda que tal
correlação não seja sempre confiável. Anteriormente precipitados pelo exercício, stress
emocional, infecção, gravidez ou fibrilação atrial com alta resposta ventricular, os
sintomas resultam da atividade cotidiana quando a área valvar é inferior a 2,5 cm
2
.
Surgem sintomas em repouso quando essa área é inferior a 1,5 cm
2
. De acordo com
dados como o gradiente médio, pressão sistólica de artéria pulmonar e área valvar, a
gravidade da estenose mitral é avaliada, embora ainda não haja valor que a defina. Em
pacientes com área valvar maior que 1,5 cm
2
, gradiente médio menor que 5mmHg e
pressão sistólica da artéria pulmonar menor que 30mmHg, classifica-se a estenose
mitral como leve; aqueles com área valvar entre 1-1,5 cm
2
, gradiente médio entre 5-
10mmHg e pressão sistólica da artéria pulmonar entre 30-50mmHg, encontram-se
classificados como portadores de EM moderada. Finalmente, dados de área valvar
menor que 1cm
2
, gradiente médio maior que 10mmHg e pressão sistólica da artéria
pulmonar maior que 50mmHg, definem a EM como grave
74
.
A regurgitação ou insuficiência mitral é resultado do mau funcionamento ou
interação dos componentes valvares, subvalvares ou das câmaras cardíacas esquerdas. A
etiologia mais comum dessa disfunção valvar é a degeneração mixomatosa (prolapso
mitral), em 29-70% dos casos. Outras causas comuns são a insuficiência mitral
isquêmica (resultante de isquemia ou ruptura de músculo papilar após insulto
miocárdico isquêmico), insuficiência funcional (secundária a cardiomiopatia dilatada),
doença reumática, calcificação do anel mitral, endocardite infecciosa, entre outras
76
.
O átrio esquerdo dilata-se progressivamente, acompanhando a regurgitação
valvar crônica. Gradualmente, a pressão atrial esquerda pode elevar-se. Contudo,
aumentos pronunciados da resistência vascular pulmonar o são comuns, ao contrário
do que acontece com a estenose valvar
70
. A sintomatologia em pacientes portadores de
insuficiência mitral moderada pode ser inexpressiva, permanecendo esse assintotico
durante anos. Isso acontece devido a adaptação do ventrículo esquerdo ao aumento do
trabalho. O desenvolvimento de baixo débito cardíaco ou congestão pulmonar
acompanha-se de fadiga, fraqueza, dispnéia aos esforços e palpitações
70
.
17
A regurgitação mitral pode ser classificada ecocardiograficamente, de acordo
com critérios qualitativos e quantitativos. Entre os primeiros, encontramos a área do jato
central e a medida da vena contracta; os critérios quantitativos são o volume
regurgitante, a fração regurgitante e a área do orifício regurgitante. Objetivamente, a
insuficiência é considerada leve quando o jato central é menor que 4cm
2
ou menor que
20% da área do átrio esquerdo, a vena contracta é inferior a 0,3cm, o volume
regurgitante é menor que 30ml, a fração regurgitante é menor que 30% e a área do
orifício regurgitante é inferior a 0,20cm
2
. É considerada moderada quando o jato central
tem características intermediárias entre leve e grave, a vena contracta tem medida entre
0,3 a 0,69cm, o volume regurgitante encontra-se entre 30 e 59ml, a fração regurgitante
está entre 30 e 49% e a área do orifício regurgitante tem valores entre 0,20 e 0,39cm
2
.
Finalmente, quando o jato central é grande ou superior a 40% da área do átrio esquerdo,
a vena contracta é superior ou igual a 0,7cm, o volume regurgitante é maior que 60ml, a
fração regurgitante é menor que 50% e a área do orifício regurgitante é superior a
0,40cm
2
. Além desses parâmetros, a função ventricular, determinada pela fração de
ejão e pelo diâmetro sistólico final do ventrículo esquerdo, auxiliam na orientação
terapêutica
74
.
Em ambas as disfunções valvares mitrais, a utilização da ecocardiografia
transtorácica ou transesofágica tem se tornado importante, não para o diagnóstico,
mas para o acompanhamento da dilatação de câmaras e magnitude do fluxo ou refluxo
transvalvar. Através do Doppler de fluxo colorido, tal fluxo pode ser quantificado pelo
seu padrão, direção, velocidade, duração e intensidade. Pode-se avaliar as condições e
características do aparelho subvalvar, morfologia das cordoalhas, mobilidade dos
folhetos. Além disso, lculos indiretos da área valvar podem ser feitos, auxiliando a
classificação da disfunção valvar.
18
III. OBJETIVOS
III. 1. Objetivos Gerais
O objetivo geral deste projeto é determinar, mediante técnicas moleculares, a
expressão dos genes da endotelina e dos seus receptores em valvas mitrais reumáticas.
III. 2. Objetivos Finais
1. Desenvolver rotinas de técnicas moleculares na identificação de genes da ET-1 e
de seus receptores em tecido valvar;
2. Investigar se existe correlação entre a presença dos genes de ET-1, ETRA e
ETRB nas valvas e:
os diferentes subgrupos pesquisados (valvopatia mitral pura, doença
mitro-aórtica e submetidos a reoperação);
o sexo dos pacientes, e a faixa etária na qual se encontram (inferior ou
superior a 50 anos);
e os sintomas apresentados.
19
IV. METODOLOGIA
IV. 1. Material
Foram coletadas 27 amostras de válvulas junto a serviços de Cirurgia
Cardiovascular (Instituto do Coração InCor-DF e Hospital de Base do DF),
posteriormente submetidas a análise histológica e molecular. Os pacientes, adultos e de
ambos os sexos, foram escolhidos dentre aqueles admitidos com doença mitral
reumática e indicação para substituição cirúrgica da válvula nativa por prótese.
IV. 2. Critérios de inclusão e exclusão
O procedimento cirúrgico foi realizado após coleta de exames laboratoriais
sumários (bioquímica sanguínea e hemograma; ecocardiograma transtorácico;
cineangiocoronariografia para aqueles com idade superior a 40 anos ou com
necessidade de estudo mais aprofundado de pressões intracardíacas).
Foram incluídos no estudo portadores de valvopatia mitral de características
reumáticas ao ecocardiograma, isolada ou em associação à outra valvopatia (aórtica,
tricúspide), com indicação classe I de intervenção cirúrgica por critérios pré
estabelecidos nas Unidades de Cirurgia Cardiovascular escolhidas, sem indicação de
valvotomia percutânea ou reparo valvar (comissurotomia/valvoplastia mitral). Era
considerada indicaçào pacientes com estenose mitral moderada ou grave (área valvar
mitral 1,5cm
2
) e classificação funcional III ou IV (NYHA). Pacientes com
insuficiência, sintomáticos (NYHA II, III e IV) com função ventricular esquerda normal
(fração de ejeção > 60% e diâmetro endossistólico de ventrículo esquerdo < 45mm), ou
com disfunção leve de ventrículo esquerdo (fração de ejeção 50-60% e diâmetro
endossistólico de ventrículo esquerdo 45-50mm) ou moderada (fração de ejeção 30-50%
e diâmetro endossistólico de ventrículo esquerdo 50-55mm). Foram incluídos pacientes
submetidos a cirurgia de comissurotomia mitral, e que concordasse em participar do
estudo (através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE).
Foram excluídos do estudo pacientes candidatos a valvotomia percutânea ou
cirurgia para reparo valvar; portadores de outras doenças cardiovasculares que tivessem
20
indicação cirúrgica (doença coronariana obstrutiva, aneurismas de ventrículo esquerdo,
anomalias cardíacas congênitas cianóticas ou acianóticas); já operados com troca valvar
mitral (ausência de tecido valvar mitral nativo); não concordância em participar do
estudo.
Esses foram internados e submetidos aos exames pré-operatórios de rotina em
cada instituição. Previamente informados e consultados a respeito de seu consentimento
em participar do estudo, preencheram e concordaram com o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido - TCLE (Anexo I). Dados pessoais e epidemiológicos dos pacientes
foram colhidos, bem como algumas informões a respeito da sintomatologia e
classificação funcional (NYHA) ecocardiográficas (valvopatia mitral predominante,
estimativa de área valvar, estimativa de pressão sistólica pulmonar, área do orifício
regurgitante efetivo, volume regurgitante).
Imediatamente após a sua retirada, o segmento da válvula obtido era
fragmentado obedecendo o seguinte: considerando toda a extensão do fragmento
retirado, esse sempre tinha tecido valvar da extremidade livre até próximo ao anel
mitral; esse tecido valvar era, então, separado em 3 segmentos grosseiramente iguais em
tamanho, nomeados M1, M2 e M3 (Figura 1): o primeiro próximo do anel mitral, o
terceiro na extremidade, em contato com a cordoalha tendínea, e o segundo na região
intermediaria. Tal divisão pretendia a diferenciação em regiões que são,
macroscopicamente, distintas quanto ao seu acometimento pela doença reumática,
unicamente para análise histológica.
Figura 2
. lvulas Mitrais
Reumáticas. Fragmento retirado em
cirurgia do paciente 9. Encontraram-
se músculos papilares
macroscopicamente fibrosados e
calcificados, além de calcificação e
retração dos folhetos anterior
direita na foto) e posterior
esquerda). Autor: Edmilson B. de
Moura, 2006.
21
IV. 3. Métodos
IV. 3. 1. Histologia
Todas as válvulas retiradas e fragmentadas foram fixadas em solução de
formalina neutra 10% (pH 7,0), sendo posteriormente submetidas a descalcificação,
inclusão em parafina e corte ao Micrótomo, a uma espessura de 4µc. A coloração foi
feita pela técnica de hematoxilina e eosina. Cada segmento foi analisado quanto à
presença de fibrose, calcificação, ossificação, neoformação vascular e infiltrado
mononuclear.
IV. 3. 2. Extração RNA total
A extração do RNA total das 27 amostras foi realizada por meio da utilização do
reagente Trizol® (Total RNA isolation Reagent - Invitrogen®). O RNA total de três
diferentes fragmentos das três regiões da válvula mitral (M1, M2 e M3) foi extrdo
separadamente usando 100µL do reagente TRIZOL.
Esse método consiste na maceração de aproximadamente 100µg de tecido valvar
(previamente congelado a -80ºC), com motor manual (Motor Cordless - Kontes) em
capela de fluxo laminar. Uma vez homogeneizado, o tecido foi submetido à repetidas
centrifugações, purificação com clorofórmio, precipitação com isopropanol e limpeza
com etanol 75%.
IV. 3. 3. Quantificação do RNA por espectrofotometria
Foi realizada a diluição de 4µL RNA em 196µL de água milliQ, totalizando
200µL de solução. Essas amostras foram colocadas em cubeta específica e analisadas no
Espectrofotômetro (UV-1601 - UV Visible Spectrophotometer Shimadzu
Corporation). Os valores de absorbância encontrados foram analisados de acordo com a
fórmula: [RNA (µg/mL)] = 40 x A260 x diluição / 1000 (Maniattis). A avaliação de
pureza foi feita por meio da razão entre os valores de absorbância obtidos à 260nm e
22
280nm (A260 / A280), sendo consideradas viáveis as amostras com valores entre 1,6 e
2,6.
IV. 3. 4. Obtenção de cDNA
Pela reação de transcriptase reversa (RT) foi obtido o cDNA total dos 27
pacientes analisados. Para essa reação foi utilizado o RNA, extraído pelo método do
Trizol, e ajustado para uma concentração final de 1µg/µl por regra de três simples. Foi
seguido o procedimento recomendado para o kit ImProm-II™ Reverse Transcriptase, da
Promega. O oligonucleotídeo oligodT (dT
18
) estava concentrado à 0,5 µg.
IV. 3. 5. Amplificação do DNA por PCR
A partir dos cDNAs produzidos, foram realizadas reações de PCR para detecção
da expressão dos genes de interesse nos fragmentos valvares dos pacientes analisados.
Dessa forma, foram construídos primers específicos para a ET-1 (seqüência NM 001955
gi110624717 - NCBI), ET
A
(seqüência NM 001957 gi4503464 - NCBI) e ET
B
(seqüência NM 000115 gi4557546 - NCBI). Como controle constitutivo das amostras
foi utilizado o gene GAPDH (BC029640). Todos os primers foram diluídos para
concentração de 10mM. Foram utilizados os reagentes da Invitrogen para a reação, na
qual usou-se 1,25U de Taq DNA polimerase (5U/µl), 0,25µM de cada primer e dNTPs
concentrados à 0,1mM cada. Os programas para amplificação utilizados foram definidos
de acordo com o Certificado de Análise da empresa fabricante dos primers (Invitrogen
Brasil LTDA.). O volume final da reação foi de 10µL, sendo essas realizadas em
triplicata. Todas as amostras analisadas foram verificadas em gel de agarose 1%.
Para as reações de PCR com o gene GAPDH, foram utilizadas 23 amostras; para
os genes ETRB e ETRA foram analisadas 20 amostras, enquanto para a ET-1, 19
amostras foram verificadas. A quantidade de amostras utilizadas nas reações de PCR,
para cada gene específico, variou tendo em vista que determinados pacientes
apresentavam uma concentração reduzida de material biológico – limitante para as
análises moleculares além de alguns estarem comprometidos com pesquisas mais
complexas envolvendo PCR em tempo real – daí a necessidade de se poupar esse
material biológico.
23
IV. 3. 6. Análise de DNA por eletroforese em gel de agarose
As as amplificações, o volume L de cada amostra foi analisado através de
eletroforese em gel de agarose 1%, acrescidos de brometo de etídio 5mg/ml e tampão de
amostra (azul de bromofenol) 6x.
IV. 4. Análise estatística
A análise estatística dos dados foi realizada através do teste exato de Fisher. É
um teste da classe dos testes exatos, onde o p-valor é calculado como se os totais
marginais fossem fixos, e é considerado significativo se inferior a 0,05. Foi examinada a
correlação entre a presença do gene da ET-1 e seus receptores A e B e o sexo dos
pacientes, as faixas etárias inferior e superior a 50 anos, os diversos sintomas
apresentados.
Foi feita, também, uma análise comparativa entre os grupos de pacientes
valvopatas mitrais, mitro-aórticos e pacientes reoperados, no tocante a presença dos
mencionados genes, utilizando-se o teste do χ
2
.
24
V. RESULTADOS
A amostra final foi de 27 pacientes, submetidos a tratamento cirúrgico entre os
meses de março de 2006 e setembro de 2007, de acordo com os critérios de inclusão e
exclusão definidos previamente. Dois deles foram operados no Hospital de Base do DF
e 25 no Instituto do Coração do DF. Todos os pacientes consentiram em participar do
trabalho. Quinze pacientes foram do sexo feminino e 12 do masculino, com uma média
de idade de 46,2 anos (16-67 anos; DP: 12,6 – tabela 1). Do total da amostra, apenas 10
pacientes (3, 4, 7, 9, 11, 18, 20, 22, 24, 25 - 37% dos pacientes) conseguiram determinar
o tempo de sua doença, que variou entre 4 meses e 45 anos (tempo médio de 12 anos).
Não houve óbito transoperatório, pós-operario ou hospitalar.
Dos dados individuais colhidos, observou-se pacientes nas quatro classificações
funcionais (NYHA), assim distribuídos: um paciente na CF I (paciente 21 - 3,7% da
população); quatorze pacientes na CF II (pacientes 1, 2, 3, 7, 9, 10, 11, 16, 17, 18, 19,
20, 24 e 26 51,8%); onze na CF III (pacientes 4, 5, 6, 8, 13, 14, 15, 22, 23, 25 e 27 -
40,7%) e um paciente na CF IV (paciente 12 - 3,7%). Em termos de prevalência de
lesão valvar, observamos dupla lesão em 19 pacientes (70,3%), cinco pacientes com
insuficiência valvar pura (18,5%) e os três restantes (11,2%) com estenose valvar pura
(tabela 1).
Os dados ecocardiográficos obtidos foram a área valvar, o gradiente transvalvar
mitral e a pressão sistólica da artéria pulmonar (nos casos de estenose mitral), e volume
regurgitante e orifício regurgitante efetivo (na insuficiência mitral). Os achados
revelaram uma área valvar média de 1,1cm
2
(DP: 5,3; 0,6-1,9 cm
2
dados de todos os
22 pacientes), o gradiente transvalvar médio de 14,8mmHg (DP: 6,9; 6-32mmHg
dados de 20 dos 22 pacientes, 90,9%), pressão sistólica média da artéria pulmonar
55,9mmHg (DP: 16,4; 21-100mmHg dados de 21 dos 22 pacientes, 95,4%), volume
regurgitante médio de 88,3ml (DP: 61,3; 58-209ml dados de 6 dos 24 pacientes, 25%)
e orifício regurgitante efetivo médio de 0,47 cm
2
(DP: 0,26; 0,27-1 cm
2
dados de 6
dos 24 pacientes, 25% - tabela 1).
25
Tabela 1. Dados ecocardiográficos dos pacientes.
Paciente
Sexo Idade
CF
(NYHA)
Disfunção
valvar
Área
valvar
(PHT)
G.T.M. PSAP V.R. O.R.E.
1 M 43 2 D 1 17 55 - -
2 F 54 2 I 1,9 7 56 83 0,5
3 M 16 2 I - - - - 0,27
4 F 51 3 D 1,1 10 40 - -
5 F 49 3 D 1,9 8 51 58 -
6 F 22 3 D 0,6 13 60 - -
7 M 35 2 D 1,4 12 - - -
8 F 67 3 D 1 14 56 209 1
9 M 62 2 D - 9 70 - -
10 F 50 2 D 0,9 19 - - -
11 F 47 2 D 1 - 51 - -
12 M 62 4 I - - 63 - -
13 F 63 3 D 0,9 17 71 - -
14 F 44 3 D 0,9 14 40 - -
15 M 39 3 D 1,1 9 21 - -
16 F 51 2 D 1 18 55 76 0,4
17 F 59 2 D 1 32 75 - -
18 M 46 2 D 1,4 12 100 - -
19 F 50 2 E 0,8 22 74 - -
20 M 38 2 I - - 35 68 0,4
21 M 52 1 I 3,1 5 49 36 0,3
22 F 26 3 D 1,4 - 46 - -
23 M 49 3 D 1 11 55 - -
24 F 52 2 E 0,9 12 44 - -
25 F 39 3 D 0,8 28 64 - -
26 M 54 2 D - - - - -
27 M 30 3 E 1 23 - - -
Média 1,1 14,8 55,9 88,3 0,47
Desvio padrão 5,3 6,9 16,4 61,3 0,26
CF (NYHA): classe funcional (New York Heart Association); I/E/D: insuficiência valvar/estenose
valvar/dupla lesão valvar; PHT: pressure half-time; G.T.M.: gradiente transvalvar médio; PSAP:
pressão sistólica da artéria pulmonar; V.R.: volume regurgitante; O.R.E.: orifício regurgitante
efetivo.
As manifestações clínicas mais comuns foram a dispnéia (25 dos 27 pacientes,
92,5%), a dor torácica (9 pacientes, 33,3%), a dispnéia paroxística noturna (7 pacientes,
25,9%), o edema de MMII (3 pacientes, 11,1%) e a ortopnéia (em 3 pacientes, 11,1%).
As palpitações apresentaram-se em 2 pacientes (7,4%) e a taquipnéia e os escarros
hemoptóicos manifestaram-se cada qual em apenas 1 paciente (3,7%). Um paciente se
dizia assintomático durante a internação (tabelas 2, 3 e 4; figura 3).
26
Figura 3. Prevalência dos sintomas nos indivíduos.
Tabela 2. Dados clínicos e análise molecular individualizada dos pacientes com
acometimento valvar unicamente mitral.
Paciente CF (NYHA) Gravidade Sintomatologia ET-1 ETRA ETRB
1 2 Moderado 1 + + +
5 3 Grave 1,2,3 + +
6 3 Grave 1,3,5 +
9 2 Grave 1,2,3,5,6 + + +
10 2 Grave 1
12 4 Grave 1,3,5 + + +
13 3 Grave 1 + +
15 3 Grave 1,2 +
16 2 Grave 1,2 +
17 2 Moderado 1
18 2 Grave 1,8 +
19 2 Grave 1,7
24 2 Grave 1,3 +
25 3 Grave 1
26 2 Moderado 1 + +
CF (NYHA): classe funcional (New York Heart Association); gravidade: classificação
ecocardiográfica; sintomatologia: dispnéia (1); dor torácica (2); dispnéia paroxística noturna (3);
edema MMII (4); ortopnéia (5); hemoptóicos (6); palpitações (7); taquipnéia (8). ET-1 (+): presença
do gene da endotelina-1; ETRA: presença do gene do receptor A da endotelina; ETRB (+):
presença do gene do receptor B da endotelina.
25
7
3
3
2
1
1
9
0 5 10 15 20 25 30
Dispia
Dor tocica
DPN
Edema MMII
Ortopia
Palpitações
Taquipnéia
Hemoptóicos
27
Tabela 3. Dados clínicos e análise molecular individualizada dos pacientes com
acometimento valvar mitro-aórtico.
Paciente
CF
(NYHA)
Gravidade Sintomatologia
ET-
1
ETRA ETRB
3 2 Moderado 2 + +
7 2 Grave 1 +
11 2 Grave 1,2
14 3 Grave 1,2,4 + +
20 2 Grave 1,2,7 +
21 1 Grave - + +
27 3 Grave 1
CF (NYHA): classe funcional (New York Heart Association); gravidade: classificação
ecocardiográfica; sintomatologia: dispnéia (1); dor torácica (2); dispnéia paroxística noturna (3);
edema MMII (4); ortopnéia (5); hemoptóicos (6); palpitações (7); taquipnéia (8). ET-1 (+): presença
do gene da endotelina-1; ETRA: presença do gene do receptor A da endotelina; ETRB (+):
presença do gene do receptor B da endotelina.
Tabela 4. Dados clínicos e análise molecular individualizada dos pacientes submetidos
a reoperação mitral
Paciente
CF
(NYHA)
Gravidade Sintomatologia
ET-
1
ETRA ETRB
2 2 Grave 1,3,4 + +
4 3 Moderado 1
8 3 Grave 1 + +
22 3 Grave 1,2 + + +
23 3 Grave 1,3,4 + +
CF (NYHA): classe funcional (New York Heart Association); gravidade: classificação
ecocardiográfica; sintomatologia: dispnéia (1); dor torácica (2); dispnéia paroxística noturna (3);
edema MMII (4); ortopnéia (5); hemoptóicos (6); palpitações (7); taquipnéia (8). ET-1 (+): presença
do gene da endotelina-1; ETRA: presença do gene do receptor A da endotelina; ETRB (+):
presença do gene do receptor B da endotelina.
No tocante a abordagem cirúrgica, foram submetidos a reoperação cinco
pacientes (18,5% - pacientes 2, 4, 8, 22 e 23), enquanto os demais (22 pacientes, 81,5%)
foram abordados cirurgicamente pela primeira vez. Daqueles reoperados, o tempo
dio desde a primeira cirurgia foi de 12,2 anos (DP: 6,3; paciente 22: 5 anos, paciente
2: 9 anos; paciente 23: 10 anos; paciente 8: 16 anos; paciente 4: 21 anos).
A quantificação de RNA (tabela 1 - anexo) mostrou uma razão entre
absorbâncias dentro do intervalo considerado adequado. Vinte e três amostras foram
submetidas a realização de cDNA.
28
A qualidade do cDNA sintetizado bem como a reação de PCR desenvolvida
foram analisadas por meio da amplificação do gene constitutivo GAPDH, em 23 das 27
amostras estudadas. Verificou-se uma amplificação positiva, por meio de análise em gel
de agarose 1%, para esse gene em todos os cDNA sintetizados.
As análises referentes ao receptor A da endotelina revelaram a expressão desse
gene em 20 pacientes analisados por meio da técnica de PCR – 74% do total de
pacientes utilizados no estudo e 100% das amostras analisadas molecularmente.
A expressão do receptor B da endotelina foi detectada em 7 amostras (35% dos
20 pacientes analisados), como demonstrado nas Tabelas 2, 3 e 4. A endotelina 1
apresentou amplificação positiva em 12, das 19 amostras analisadas (63,15%).
29
V. 1. Histologia
As a coleta dos fragmentos valvares, doze deles foram submetidos a inclusão
em parafina e coloração pela técnica de hematoxilina e eosina. Posteriormente,
analisadas quanto a presença de fibrose, calcificação, ossificação, neoformação
vascular, infiltrado mononuclear. Foram feitas lâminas, identificadas como M1, M2 e
M3, dependendo da disponibilidade de material, priorizando a utilização do material
para as etapas de extração de RNA e subsequentes.
Observou-se uma grande quantidade de fibrócitos, tecido conjuntivo denso,
fibras colágenas do tipo I (eosinofílicas) e substância fundamental extracelular. O tecido
é grosseiramente avascular. Não foram encontrados miócitos de Anitschkow ou os
característicos nódulos de Aschoff.
Nos fragmentos M3 foi visualizado processo inflamatório com celularidade alta
(Figura 6), vascularização do tecido, com capilares permeando-o (destacando-se a maior
vascularização tecidual relativamente às demais áreas Figura 8), colágeno
transformado ou neoformado (hialinização do colágeno). Observou-se fibroblastos,
linfócitos, e áreas de calcificação distrófica (necrose do tecido com depósito). Nas
lâminas de segmento M2 os achados foram semelhantes, com zonas de cicatrização,
pequenos focos de inflamação e lulas mais afastadas entre si; também foi visualizada
ossificação (Figura 9). Na análise histológica do segmento M1, foram encontrados as
mesmas características citadas anteriormente, exceto pela ausência de calcificação ou
ossificação. Em termos de achados histológicos individuais, foi encontrada (Tabela 5):
30
Tabela 5. Dados histológicos individualizados dos pacientes.
Histologia
Fibrose Neoformação Vascular
Infiltrado de Mononucleares
Calcificação
Ossificação
Paciente
M1
M2
M3
M1 M2 M3 M1 M2 M3 M1
M2
M3
M1
M2
M3
2 x x x x x
5 x x x x x
6 x X x
8 x x x X x
9 x x x x x x x
10 x x x
11 x x x x X
12 x x x
13 x x
14 x x x X
15 x x x x X
22 x x x x x x
M!/M2/M3: fragmentos extraídos em regiões próximas ao anel mitral,
intermediária e próxima à borda livre valvar, respectivamente; “X”: presença do
achado histológico.
Fibrose em todos os pacientes nas amostras M3 (2, 5, 6, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 16,
25, 26); em 10 pacientes nas amostras M2 e M1 (2, 5, 8, 9, 10, 11, 12, 16, 25,
26), 83,3% do total de pacientes analisados (figuras 3 e 5).
Neoformação vascular em 9 pacientes (2, 5, 6, 8, 9, 11, 14, 15, 22), 75% do
total de pacientes analisados; encontrada em duas amostras M1 (22,2%), quatro
amostras M2 (44,4%), cinco amostras M3 (55,5%) e em dois pacientes (11 e 15
22,2%), foi encontrada em dois fragmentos simultaneamente (M1/M3 e
M2/M3, respectivamente – figura 7).
Infiltrado de mononucleares em 6 pacientes (2, 5, 6, 8, 9, 22), 50% do total de
pacientes analisados; encontrado em uma amostra M1 (16,6%), três amostras
M2 (50%), duas amostras M3 (33,3%) e em nenhum paciente foi encontrado em
dois ou mais fragmentos simultaneamente (figuras 3 e 6).
Calcificação em 3 pacientes (9, 13, 22), 25% do total de pacientes analisados;
o foi encontrada em amostra M1, encontrada em uma amostra M2 (33,3%),
duas amostras M3 (66,6%) e em nenhum paciente foi encontrado em dois ou
mais fragmentos simultaneamente (figuras 3 e 4).
Ossificação em apenas uma amostra (M2) do paciente 9, 8,3% do total de
pacientes analisados (figura 8).
31
Figura 4. Corte histológico do folheto valvar mitral anterior, mostrando calcificação,
fibrose e infiltrado mononuclear. HE, 200x. Paciente 9, segmento M2. UnB-FM, 2006.
Figura 5. Corte histológico do folheto valvar mitral anterior, mostrando calcificação.
HE, 400x. Paciente 9, segmento M2. UnB-FM, 2006.
32
Figura 6. Corte histológico do folheto valvar mitral anterior, mostrando fibrose. HE,
100x. Paciente 8, segmento M3. UnB-FM, 2006.
Figura 7. Corte histológico do folheto valvar mitral anterior, mostrando infiltrado de
mononucleares. HE, 400x. Paciente 9, segmento M2. UnB-FM, 2006.
33
Figura 8. Corte histológico do folheto valvar mitral anterior, mostrando neoformação
vascular. HE, 200x. Paciente 8, segmento M3. UnB-FM, 2006.
Figura 9. Corte histológico do folheto valvar mitral anterior, mostrando ossificação. HE,
200x. Paciente 9, segmento M2. UnB-FM, 2006.
34
A análise estatística dos dados obtidos não mostrou correlação, dentro da
população analisada, entre a presença dos genes de ET-1, ETRA e ETRB com a faixa
etária superior ou inferior a 50 anos, ou com o sexo dos pacientes (tabela 6).
Tabela 6. Dados do p-valor, faixa etária e sexo x presença dos genes (teste exato de
Fisher).
ET-1 ETRA ETRB
Faixa etária
(<50,≥50 anos)
0,69 0,67 0,20
Sexo
0,70 0,09 0,18
ET-1: presença do gene da endotelina-1; ETRA: presença do gene do receptor A da endotelina;
ETRB: presença do gene do receptor B da endotelina.
A relação entre os diversos sintomas e a presença do gene da ET-1 não foi
estatisticamente significativa, como também não foi a presença do ETRB (tabela 7).
Tabela 7. Dados do p-valor, sintomas x presença dos genes (teste exato de Fisher).
Sintomas ET-1 ETRA ETRB
Dispnéia 0,65 0,06 0,42
Dor torácica 0,55 0,69
DPN 0,08 0,49
Edema MMII 0,05 0,45
Ortopnéia 0,54 0,54
Hemoptóicos 0,40 0,22
Palpitações 0,49 0,59
Taquipnéia 0,59 0,77
ET-1: presença do gene da endotelina-1; ETRA: presença do gene do receptor A da endotelina;
ETRB: presença do gene do receptor B da endotelina.
Também não houve associação estatística entre a presença ou não dos genes da
ET-1, ETRA e ETRB entre os subgrupos de pacientes (valvopatas mitrais, mitro-
aórticos e pacientes reoperados -tabela 8).
35
Tabela 8. Dados do p-valor, subgrupos x presença / ausência dos genes (teste χ²).
ET-1 ETRA ETRB Subgrupo
Mitral
Mitro-aórtico
Reoperado
0,08
0,94
0,60
ET-1: presença do gene da endotelina-1; ETRA: presença do gene do receptor A da endotelina;
ETRB: presença do gene do receptor B da endotelina.
36
VI. DISCUSSÃO
O estudo mostrou a expressão do gene da endotelina-1 em 12 das 19 amostras
analisadas (63,15%) e de seu receptor A em 20 pacientes analisados por meio da técnica
de PCR 74% do total de pacientes utilizados no estudo e 100% das amostras
analisadas pela técnica mencionada. A expreso do gene do receptor B foi mais
modesta (sete das 20 amostras analisadas – 35%).
As valvas extraídas encontravam-se, invariavelmente, com os clássicos achados
de fibrose com ou calcificação, espessamento, retração, bem como fusão de comissuras
e cordoalhas tendíneas
3
. Foi possível observar a heterogeneidade nos segmentos
valvares, no tocante a presença de achados histológicos picos da doença reumática.
Estudo semelhante já abordou tal aspecto na literatura, considerando, no entanto, a
composição de diferentes segmentos em sua secção longitudinal (extremidade livre até
sua inserção no anel mitral
14
). Sabe-se que a ET-1 tem importante função reguladora na
deposição de cogeno nos tecidos
18
; resta-nos definir se o aumento da composição
tecidual de colágeno tem algum tipo de efeito sobre a presença ou aumento da
concentração da ET-1 e seus receptores.
A etapa de extração do RNA das amostras demonstrou a expressão desses rios
genes nas valvas mitrais. Não existe protocolo para a maceração de tecido biológico tão
endurecido, pela abundância de fibrose tecidual (resultante da própria degeneração
característica da doença). O processo requeria perda e degradação nimas do
fragmento (muitas vezes exíguo). Alguns métodos tem sido indicados na literatura
recente, mas em valvas não-reumáticas
78
. O tecido estudado era pouco celularizado,
contendo grande quantidade de colágenos e elastina, e lulas mesenquimais (como
miofibroblastos e miócitos cardíacos) em pequena quantidade. Isso influenciou
decisivamente na obtenção do RNA, já que esse é oriundo dessas últimas. A amostra de
RNA resultante, invariavelmente, foi escassa.
O achado mais importante desse estudo foi a presença de ETRA em todas as
amostras submetidas à análise molecular. Tal resultado talvez se justifique por ser esse
o receptor predominante nos miócitos cardíacos
4
; além disso, justificaria transformações
típicas da doença, sendo esse receptor correlacionado com processos inflamatórios,
37
exuberantes na doença reumática em sua fase exsudativa, e também presentes na fase
proliferativa
3
.
Os receptores B foram encontrados em poucas amostras da série, conforme
podemos observar nas tabelas 2, 3 e 4. Como discutido, a manifestação de tais
peptídeos ocorre em células endoteliais e epiteliais responsáveis pela modulação da
resistência vascular e natriurese, entre outros
25
. Além disso, tais receptores
caracterizam-se pela rápida dessensibilização e internalização, cujos resultados na
concentração tissular são pouco estudados
77
. O tempo de convívio com a doença valvar
reumática, associado a outras características individuais, podem ser possíveis
determinantes da manifestação de gene do ETRB no tecido valvar mitral. Essa
afirmação demandará pesquisa específica nesse sentido, e não foi enfoque de nosso
trabalho. Além disso, dependerá da coleta fidedigna de dados epidemiológicos, como o
tempo de doença. Essa informação, todavia, foi de difícil obtenção, já que muitos
pacientes não sabem relatar com precisão quando adquiriram a doença, diferentemente
do que se observa em outros estudos
9
. Muitos definem tempo de doença como tempo do
diagnóstico dessa, ou do início dos sintomas, não sabendo determinar precisamente o
episódio inicial ou mesmo a presença de surtos no período.
Conforme avaliado na tabela 5, os pacientes reoperados nessa série foram, em
sua maioria, mulheres. Dentre elas (80%, quatro dentre cinco pacientes), setenta e cinco
por cento (três entre as quatro mulheres) encontravam-se na menopausa (pacientes 2, 4 e
8). Não obstante tratarem-se de números inexpressivos, a condição hormonal
diferenciada dessas pessoas pode ser a responsável pelas mudanças na expressão dos
genes codificadores dos peptídeos do sistema de endotelinas. Sabe-se que o estrógeno,
cujos níveis se reduzem na menopausa, inibe a síntese da ET-1 pelo endotélio
35
;
consequentemente, a produção de ET-1 estaria, teoricamente, aumentada.
Conforme já destacado anteriormente, pode ocorrer mudança fenotípica de um
subtipo de receptor de ET para outro de acordo com condições encontradas in vitro nas
culturas de lulas musculares lisas vasculares e, se essas expressarem ETRB, a ET-1
torna-se um mitógeno mais potente em tais células
59
. Não sabemos se isso se repete in
vivo ou em outros tecidos (como o valvar), nem qual é seu real impacto sobre a
produção desses receptores. Entretanto, pode existir uma conexão entre o
38
remodelamento arterial e hipertrofia ventricular
18
e o predomínio de um subtipo de
receptor sobre o outro. Tal afirmação depende, ainda, de novas pesquisas, que abordem
a busca desses peptídeos em tecido mitral.
Devido a ausência de estudos identificando a ET-1 e seus receptores alvo em
tecido mitral, desconhece-se se a presença daquela inibe a formação desses, conforme já
identificado em valvas rticas
78
. Esse comportamento poderia justificar, em parte, os
resultados encontrados no atual estudo, onde a presença da ET-1 promoveria um
feedback negativo na produção do ETRB. No entanto, por ser o presente estudo apenas
de quantificação de genes dos citados peptídeos, essa observação necessita de
comprovação.
Dentro da população estudada, não observamos associação estatística entre as
variáveis destacadas e a presea dos genes em questão. Os testes mostraram uma forte
tendência de que haja associação entre a presença desse gene e as variáveis edema de
MMII (p=0,056) e dispnéia paroxística noturna (p=0,084). No entanto, seja pela
pequena amostra, seja pelo valor de p, não podemos afirmar tal correlação.
A busca da cura da cardiopatia valvar reumática por intermédio de agentes
farmacológicos, em substituição à troca valvar ou valvoplastia cirúrgicas, ainda carece
de pesquisa e permeia diversos setores da saúde pública. O controle dos surtos de
estreptococcia, através de medidas sanitárias, seria um bom começo. O diagnóstico
precoce, determinando menor ou nenhum comprometimento da valva e de seu aparelho
subvalvar, permitiria o tratamento de inúmeros indivíduos de maneira menos onerosa. A
identificação de valvopatas em risco, por um acompanhamento ambulatorial regular,
encaminharia-os ao tratamento invasivo, antes do surgimento de complicações.
Talvez a união de estratégias adequadas nas poticas de saúde às pesquisas
dicas em áreas básicas e clínicas permitam encontrar opções às terapêuticas atuais.
Nesse contexto, possivelmente o sistema de endotelinas e seus antagonistas venham
colaborar, limitando a reação inflamatória valvar, modulando a vasorreatividade e
modificando o curso fisiopatológico e clínico da valvopatia reumática.
39
VII. CONCLUSÃO
Em resumo, o presente estudo mostrou que todos os pacientes (submetidos a
análise molecular), independentemente das características individuais (sexo, idade,
classe funcional, alteração valvar mitral), expressaram a presença do gene do receptor
A. Daqueles pacientes reoperados, quatro são mulheres e menopausadas; uma delas
encontrava-se em idade fértil e expressou os três genes estudados. Não houve diferença
estatística quanto a expressão dos genes da ET-1 e seus receptores, entre os subgrupos
estudados (valvopatas mitrais, mitro-aórticos e pacientes reoperados). Observa-se que
houve uma tenncia à maior presença de ET-1, na população estudada, naqueles
pacientes com edema de membros inferiores e dispnéia paroxística noturna. Entre eles,
houve um maior número de mulheres.
A busca de resultados que confirmem a participação da valva mitral reumática
comotio produtor de ET-1 e receptores A e B, provando ou negando também a
contribuição do sistema de endotelinas como auxiliar no processo inflamatório que
danifica a valva, suprirá importante lacuna no conhecimento da história natural da
doença reumática. Essas informações contribuio decisivamente para apontar novas
abordagens e terapêuticas, talvez utilizando antagonistas dos receptores das endotelinas
como adjuvantes no tratamento, trazendo novas expectativas para a doença reumática.
40
VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Geneve: WHO expert consultation, 2004. (WHO Technical Report – 923).
2. Carapetis JR. Rheumatic heart disease in developing countries. N Engl J Med
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IX. ANEXOS
IX. 1. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
50
IX. 2. Tabela 1
Dados da extração de RNA total das amostras. UnB-FM, 2006-2008.
M1 M2 M3
Pacientes
Quantific. 260 280 Razão
[ ] µg/µl p/ [ ] 1µg/µl Quantific. 260 280 Razão
[ ] µg/µl p/ [ ] 1µg/µl Quantific. 260 280 Razão
[ ] µg/µl p/ [ ] 1µg/µl
1 SIM 0,047 0,014 3,3 0,094 10,6 SIM 0,074 0,033 2,2 0,148 6,8 SIM 0,231 0,130 1,8 0,462 2,2
2 SIM 0,066 0,041 1,6 0,132 7,6 SIM 0,002 -0,010 -0,2 0,004 250,0 SIM 0,139 0,068 2,0 0,278 3,6
3 SIM 0,037 0,026 1,4 0,074 13,5 SIM 0,199 0,116 1,7 0,398 2,5 SIM 0,104 0,045 2,3 0,208 4,8
4 SIM 0,105 0,048 2,2 0,210 4,8 SIM 0,082 0,041 2,0 0,164 6,1 SIM (-) 0,028 0,008 3,5 0,056 17,9
5 SIM 0,034 0,02 1,7 0,068 14,7 SIM 0,105 0,066 1,6 0,210 4,8 SIM 0,097 0,059 1,6 0,194 5,2
6 SIM 0,072 0,036 2,0 0,144 6,9 SIM 0,055 0,025 2,2 0,110 9,1 SIM 0,087 0,038 2,3 0,174 5,7
7 SIM 0,135 0,066 2,0 0,270 3,7 SIM 0,017 0,006 2,8 0,034 29,4 SIM 0,136 0,079 1,7 0,272 3,7
8 SIM 0,077 0,040 1,9 0,154 6,5 SIM 0,038 0,016 2,4 0,076 13,2 SIM 0,131 0,070 1,9 0,262 3,8
9 SIM 0,131 0,076 1,7 0,262 3,8 SIM 0,052 0,020 2,6 0,104 9,6 SIM 0,058 0,027 2,0 0,116 8,6
10 SIM 0,116 0,051 2,3 0,232 4,3 SIM 0,134 0,074 1,8 0,268 3,7 SIM 0,114 0,051 2,2 0,228 4,4
11 SIM 0,271 0,161 1,7 0,542 1,8 SIM 0,503 0,289 1,7 1,006 1,0 SIM 0,101 0,042 2,4 0,202 5,0
12 SIM 0,378 0,199 1,9 0,756 1,3 SIM 0,074 0,022 3,4 0,148 6,8 SIM 0,101 0,040 2,5 0,202 5,0
13 SIM 0,401 0,212 1,9 0,802 1,2 SIM 0,266 0,151 1,8 0,532 1,9 SIM 0,281 0,140 2,0 0,562 1,8
14 SIM 0,081 0,040 2,0 0,162 6,2 SIM 0,088 0,040 2,2 0,176 5,7 SIM 0,113 0,071 1,6 0,226 4,4
15 SIM 0,048 0,027 1,8 0,096 10,4 SIM 0,137 0,072 1,9 0,274 3,6 SIM 0,078 0,042 1,9 0,156 6,4
16 SIM 0,079 0,039 2,0 0,158 6,3 SIM 0,236 0,137 1,7 0,472 2,1 SIM 0,109 0,061 1,8 0,218 4,6
17 SIM 0,103 0,056 1,8 0,206 4,9 SIM 0,227 0,131 1,7 0,454 2,2 SIM 0,165 0,099 1,7 0,330 3,0
18 SIM 0,113 0,061 1,9 0,226 4,4 SIM 0,079 0,044 1,8 0,158 6,3 SIM 0,287 0,155 1,9 0,574 1,7
19 SIM - - - - - SIM - - - - - SIM 0,090 0,049 1,8 0,180 5,6
20 SIM 0,206 0,121 1,7 0,412 2,4 SIM 0,135 0,082 1,6 0,270 3,7 SIM 0,313 0,191 1,6 0,626 1,6
21 SIM 0,025 0,004 6,25 0,050 20,0 SIM 0,120 0,056 2,1 0,240 4,2 SIM 0,030 0,001 30 0,06 16,7
22 SIM - - - - - SIM - - - - - SIM 0,080 0,037 2,2 0,160 6,3
23 SIM 0,299 0,158 1,9 0,598 1,7 SIM 0,031 0,016 1,9 0,062 16,1 SIM 0,087 0,064 1,4 0,174 5,7
24 SIM 0,488 0,297 1,6 0,976 1,0 SIM 0,06 0,029 2,0 0,120 8,3 SIM 0,156 0,081 1,9 0,300 3,3
25 SIM 0,269 0,156 1,7 0,538 1,9 SIM 0,04 0,028 1,4 0,080 12,5 SIM 0,059 0,037 1,6 0,118 8,5
26 SIM 0,062 0,024 2,6 0,124 8,1 SIM 0,042 0,016 2,6 0,084 11,9 SIM 0,074 0,037 2,0 0,148 6,8
27 SIM 0,328 0,168 2,0 0,656 1,5 SIM 0,419 0,236 1,8 0,838 1,2 SIM 0,302 0,172 1,8 0,604 1,7
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