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HIPERPLASIA CÍSTICA ENDOMETRIAL EM CADELAS: ESTUDO CLÍNICO-
REPRODUTIVO, HISTOPATOLÓGICO E MICROBIOLÓGICO
CRISTINA LEITE FRANCISCO GUALBERTO RAMOS
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE
DARCY RIBEIRO - UENF
CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ
JULHO - 2008
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1
CRISTINA LEITE FRANCISCO GUALBERTO RAMOS
HIPERPLASIA CÍSTICA ENDOMETRIAL EM CADELAS: ESTUDO CLÍNICO-
REPRODUTIVO, HISTOPATOLÓGICO E MICROBIOLÓGICO
Orientadora: Prof.
a
Isabel Candia Nunes da Cunha
Co-orientador: Prof. Eulógio Carlos Queiroz de Carvalho
CAMPOS DOS GOYTACAZES
JULHO - 2008
Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e
Tecnologias Agropecuárias, Laboratório de
Reprodução e Melhoramento Genético Animal da
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro, como requisito parcial para obtenção do grau
de Mestre em Ciência Animal, na Área de
Concentração de Melhoramento Animal e
Biotecnologia da Reprodução.
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CRISTINA LEITE FRANCISCO GUALBERTO RAMOS
HIPERPLASIA CÍSTICA ENDOMETRIAL EM CADELAS: ESTUDO CLÍNICO-
REPRODUTIVO, HISTOPATOLÓGICO E MICROBIOLÓGICO
Aprovada em 30 de julho de 2008
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Marcelo Rezende Luz (Doutor em Medicina Veterinária) - UFES
Prof. Eduardo Shimoda (Doutor em Produção Animal) – UCAM
Prof. Olney Vieira da Motta (Doutor em Biociência e Biotecnologia) - UENF
Prof. Eulógio Carlos Queiroz de Carvalho (Doutor em Anatomia Patológica) – UENF
(Co-orientador)
Prof.
a
Isabel Candia Nunes da Cunha (Doutora em Medicina Veterinária) – UENF
(Orientadora)
Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e
Tecnologias Agropecuárias, Laboratório de
Reprodução e Melhoramento Genético Animal da
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro, como requisito parcial para obtenção do grau
de Mestre em Ciência Animal, na Área de
Concentração de Melhoramento Animal e
Biotecnologia da Reprodução.
3
iii
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos pais que Deus me presenteou Joel Martins Crichigno e
Maria do Carmo d’ Araújo Crichigno, aos meus irmãos, sobrinhos e marido.
Amo todos.
4
iv
AGRADECIMENTOS
A Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), ao
Centro de Ciências e tecnologias Agropecuárias (CCTA) e ao Laboratório de
Reprodução e Melhoramento Genético Animal (LRMGA), ao Laboratório de
Sanidade Animal (LSA), setor de Morfologia e Histologia Animal e setor de
bacteriologia animal, por oferecerem condições para realização desta pesquisa;
À orientadora Isabel Candia Nunes da Cunha, pela orientação, compreensão
e confiança;
Ao co-orientador, professor Euló
gio Carlos Queiroz de Carvalho e à
doutoranda Lio Moreira pelos ensinamentos, incentivo e dedicação;
Aos técnicos do LSA Luciano Grillo, Luciana da Silva Lemos, Maria de
Lurdes, que me ajudaram incansavelmente a atingir meu objetivo;
A Jovanna, secretária da Pós-graduação Animal pela amizade e empenho;
Ao professor Márcio Manhães Folly por sugestão no trabalho;
Ao professor e amigo Eduardo Shimoda pela dedicação, ensinamento e
amizade;
À equipe de cirurgia do Hospital Veterinário da UENF, em especial Prof.
Edmundo, Marília, Gisele, Márcia, Letícia e todos que se envolveram nas minhas
coletas de material;
Ao Centro de Controle de Zoonoses de Campos dos Goytacazes, pela ajuda
na obtenção de material;
Aos colegas de trabalho Israel, Amanda, Ana Carolina, Érica e Márcia Faes
do Núcleo de apóio à reprodução de carnívoros (NuARC), por terem me
proporcionado um agradável convívio me ajudando a tornar esta minha caminhada
mais fácil;
Ao meu marido José Leonardo Gualberto Ramos que com muita paciência
esteve o tempo todo ao meu lado contribuindo com seus serviços e conhecimentos;
Ao meu pai Joel Crichigno, que me ensinou a dar valor a educação e ensino,
e que mesmo ausente me impulsionou até aqui;
À minha mãe Maria do Carmo Crichigno pelo carinho e positividade que lhe é
característico;
5
v
Aos meus irmãos, Joel, Idália, Adriana e Cristiane, por serem muito
importantes na minha vida, e terem me servido de espelho cada um, em um
momento nesta caminhada;
Aos meus lindos sobrinhos, Ana Luíza, Leonardo, Bernardo e Maria Eduarda
que colorem minha vida;
Aos cunhados Leonardo Hauaji e Antônio Marcos Baptista pelo incentivo e
amizade;
Aos tios Ettore e Teresinha pela credibilidade e incentivo;
Aos tios e tias pelos incentivos;
Aos meus sogros Rozenita e José Eloi e as cunhadas Gizela e Tatiana por
tornarem esta caminhada mais fácil;
A Nilo José, Rosana de Fátima e seus filhos pelo ótimo convívio e distração
que me faziam recarregar as energias;
A todas as pessoas que, de alguma maneira contribuíram para realização
deste trabalho;
A banca examinadora pelas considerações e conselhos para o
aprimoramento do trabalho;
Aos órgãos CAPES e FAPERJ pelo apóio financeiro.
6
vi
"Quando uma porta se fecha outra se abre;
mas s quase sempre olhamos tanto e de
maneira tão arrependida para a que se
fechou que não vemos aquelas que foram
abertas para nós."
Alexander Graham Bell
7
vii
BIOGRAFIA
CRISTINA LEITE FRANCISCO GUALBERTO RAMOS, filha de Antonieta
Francisco Leite e Pedro Leite Francisco, nasceu em 16 de julho de 1975, na cidade
do Rio de Janeiro - RJ.
Em abril de 2004, graduou-se em Medicina Veterinária, pela Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro em Campos dos Goytacazes-RJ.
Foi admitida em 2006 no curso de Pós-graduação em Ciência Animal, em
nível de Mestrado da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro em
Campos dos Goytacazes-RJ, submetendo-se à defesa de dissertação para
conclusão do curso em julho de 2008.
8
viii
RESUMO
Ramos, C.L.F.G. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Julho
de 2008. Hiperplasia cística endometrial em cadelas: Estudo clínico-reprodutivo,
histopatológico e microbiológico.
Professora orientadora: Isabel Candia Nunes da
Cunha. Professor co-orientador: Eulógio Carlos Queiroz de Carvalho.
A hiperplasia cística endometrial (HCE) é uma lesão uterina que possui
causas não totalmente elucidadas. Esta lesão pode apresentar-se isoladamente, ou
associada à piometra, formando o complexo HCE-piometra. Neste trabalho
objetivou-se estudar estas duas lesões uterinas como entidades independentes. Na
HCE geralmente o se observam sinais clínicos, porém o trato genital da fêmea
pode apresentar sinais de dificuldade na implantação do concepto trazendo grande
prejuízo econômico e frustrações para proprietários e criadores. A fisiopatologia
desta lesão está relacionada à sensibilização do endométrio a ação do estrógeno e
da progesterona em situações em que esta última se comporta de forma atípica ou
simplesmente pela sua ação repetitiva. Foi realizado um estudo do histórico
reprodutivo de 36 cadelas, bem como avaliação histopatológica e microbiológica dos
seus úteros. As cadelas eram de diferentes raças, idades e escore corporal que
foram indicadas para ovário histerectomia por conveniência ou por indicação clínica.
Foi aplicado um questionário aos proprietários para obtenção do histórico
reprodutivo, avaliação histopatológica e aplicação de um escore criado com base no
número de unidades glandulares císticas e a quantidade de neutrófilos por campo
microscópico e ainda estudo microbiológico do material uterino obtido por meio de
lavado com solução de NaCl a 0,9%. Foi observada uma maior freqüência do escore
de maior gravidade (C3), bem como verificado que a obtenção de um segmento
uterino de qualquer terço ou corno uterino é suficiente para o diagnóstico de HCE. A
Escherichia coli foi a bactéria encontrada em maior freqüência em úteros de cadelas
com HCE e os antimicrobianos enrofloxacina, ciprofloxacina, amoxicilina mais ácido
clavulânico e clorafenicol foram os mais eficazes diante das bactérias isoladas em
9
ix
úteros com HCE, enquanto que a tetraciclina e a ampicilina as menos eficazes
18,18%. Verificou-se ainda que fatores como o uso de contraceptivo, presença de
secreção vaginal e isolamento de Escherichia coli isolados ou associados aumentam
a freqüência da ocorrência de HCE.
Palavras-chaves: Reprodução animal, cadelas; HCE, gram negativa, histopatologia
10
x
ABSTRACT
Ramos, C.L.F.G. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, July
2008
. Cystic Endometrial hyperplasia in bitch: study clinical-reproductive,
histopathological and microbiological. Professor advisor: Isabel Candia Nunes da
Cunha. Professor co-advisor: Eulógio Carlos Queiroz de Carvalho.
The Cystic endometrial hyperplasia (CEH) is a uterine lesion that has causes
that is not fully elucidated. This lesion may present itself separately, or associated to
piometra, forming the CEH-piometra complex. In this study aimed at to study these
two uterine lesions as independent entities. In CEH generally there are no clinical
signs, but the female's genital tract may present signs of difficulty in concept
implantation bringing great economic loss and frustration for landowners and
breeders. The physiopathology of this lesion is related to endometrium touching at
the action of estrogen and progesterone in situations where the latter is behaving in
an atypical way or simply by its repetitive actions. We performed a reproductive
historic study of 36 bitches, as well as microbiological and histopathological
evaluation of their uteri. The bitches were of different races, ages and corporal score
that were indicated for ovary hysterectomy for convenience or clinical indication. We
administered a questionnaire to the landowners for obtaining reproductive history,
histopathological evaluation and application of a score created based on the number
of cystic glandular units and quantity of neutrophils per microscopic field, and also
microbiological study of the uterine material obtained by lavage with a solution of
NaCl at 0.9%. There was a higher frequency of highest gravity score (C3) as well as
verified that the acquisition of any third uterine segment or uterine horn is enough for
the CEH diagnosis. The bacterium Escherichia coli was found in greater frequency in
uteri of bitches with HCE and the antimicrobial enrofloxacin, ciprofloxacin, amoxicillin
plus clavulanic acid and clorafenicol were the most effective in front of isolated
bacterium of uterus with CEH, while the tetracycline and the ampicillin 18.18% less
effective. It was also found that factors such as the use of contraceptives, presence
11
xi
of vaginal secretion and isolation of Escherichia coli isolated or associated increase
the frequency of occurrence of CEH.
Key words: Animal reproduction, bitch; CEH, negative gram, histopathologia
12
xii
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA............................................................................................................... iii
AGRADECIMENTOS..................................................................................................... iv
EPÍGRAFE..................................................................................................................... vi
BIOGRAFIA................................................................................................................... vii
RESUMO...................................................................................................................... viii
ABSTRACT..................................................................................................................... x
1. INTRODUÇÃO ...........................................................................................................15
1.1. OBJETIVOS ................................................................................................16
1.1.1. Objetivo geral.............................................................................................16
1.1.2. Objetivos específicos................................................................................16
2. REVISÃO DE LITERATURA .....................................................................................17
2.1. O ciclo estral da cadela .............................................................................17
2.1.1. Proestro......................................................................................................17
2.1.2. Estro............................................................................................................18
2.1.3. Diestro ........................................................................................................19
2.1.4. Anestro .......................................................................................................20
2.2. Hiperplasia Cística Endometrial (HCE) ....................................................20
2.3. HCE X Piometra..........................................................................................21
2.4. Microbiologia uterina.................................................................................24
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................26
4. TRABALHOS.............................................................................................................31
TRABALHO I .................................................................................................................32
ELABORAÇÃO DE UM ESCORE HISTOPATOLÓGICO PARA HIPERPLASIA
CÍSTICA ENDOMETRIAL EM CADELAS..........................................................32
RESUMO...............................................................................................................32
ABSTRACT...........................................................................................................33
INTRODUÇÃO ......................................................................................................34
Análise macroscópica .....................................................................................35
Análise microscópica ......................................................................................35
13
xiii
Classificação histopatológica.........................................................................36
Análise estatística............................................................................................37
RESULTADOS ......................................................................................................37
Microscopia ......................................................................................................38
DISCUSSÃO .........................................................................................................41
CONCLUSÃO........................................................................................................43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................44
TRABALHO II ................................................................................................................46
MICROBIOLOGIA UTERINA DE CADELAS COM HIPERPLASIA CÍSTICA
ENDOMETRIAL (HCE) EM CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ. ......................46
RESUMO...............................................................................................................46
ABSTRACT...........................................................................................................47
INTRODUÇÃO ......................................................................................................48
MATERIAL E MÉTODOS......................................................................................49
Avaliação microbiológica................................................................................49
Teste de susceptibilidade “in vitro” dos microrganismos isolados diante
de diferentes antimicrobianos ........................................................................50
Análise estatística............................................................................................50
RESULTADOS ......................................................................................................51
Teste de susceptibilidade “in vitro” ...............................................................54
DISCUSSÃO .........................................................................................................55
CONCLUSÃO........................................................................................................57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................58
TRABALHO III ...............................................................................................................61
INDICADORES CLÍNICOS, HISTOPATOLÓGICOS E MICROBIOLÓGICOS DA
HIPERPLASIA CÍSTICA ENDOMETRIAL EM CADELAS.................................61
RESUMO...............................................................................................................61
ABSTRACT...........................................................................................................62
INTRODUÇÃO ......................................................................................................63
MATERIAL E MÉTODOS......................................................................................64
Histopatologia ..................................................................................................64
Microbiologia....................................................................................................64
Questionário / Histórico...................................................................................65
Análise estatística............................................................................................66
14
RESULTADOS ......................................................................................................67
DISCUSSÃO .........................................................................................................75
CONCLUSÃO........................................................................................................78
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................79
5. CONCLUSÕES GERAIS ...........................................................................................81
6. APÊNDICES ..............................................................................................................82
6.1 - Apêndice A – Prancha com Fotomicrografias .......................................83
6.1.1 – Prancha demonstrativa da classificação da hiperplasia cística
endometrial em cadelas quanto ao número de glândulas císticas. ................83
6.1.2 – Prancha demonstrativa da classificação da hiperplasia cística
endometrial em cadelas quanto ao número de neutrófilos. ............................84
6.2 - Apêndice B – Ficha de Identificação.......................................................85
7. ANEXOS ....................................................................................................................86
7.1 – Anexo A – Sistemas de distribuição de escore corporal. ....................87
7.2 – Anexo B – Sistemas de distribuição de idades.....................................87
7.2 – Anexo C – Protocolo de coloração de hematoxilina e eosina..............88
xiv
15
1. INTRODUÇÃO
A hiperplasia cística endometrial (HCE) é uma lesão freqüente nas cadelas,
mas como evolui de forma subclínica, é, então em estádios mais avançados, quando
associada à piometra, que esta, na maior parte dos casos, é diagnosticada.
(CARREIRA e PIRES 2005).
A HCE acomete diferentes espécies e quando associada à piometra constitui
o complexo HCE-piometra. Este por sua vez, é uma enfermidade que acomete
cadelas adultas, sendo caracterizado pela inflamação do útero com acúmulo de
exsudato, que ocorre na fase tea do ciclo estral e que pode comprometer vários
sistemas do organismo (HIDALGO et al., 1986).
Freqüentemente a HCE e a piometra são vistas como uma única entidade,
mas atualmente se considera a possibilidade de serem tratadas como entidades
distintas (CARREIRA e PIRES, 2005). A piometra não é necessariamente a
conseqüência de um útero com HCE infectado, embora, não possa ser excluído o
fato de cadelas com HCE estarem predispostas a desenvolverem piometra. (DE
BOSSCHERE et al., 2001).
No ciclo estral canino observa-se uma fase folicular ou estrogênica que
persiste durante três semanas e a fase luteal ou progesterônica que tem duração de
2 a 3 meses (SILVA et al., 2002). A fisiopatologia desta lesão uterina é atribuída a
uma resposta exagerada e anormal do endométrio à estimulação crônica e repetitiva
de progesterona, com acúmulo de fluido no interior das glândulas endometriais e no
lúmen uterino (FELDMAN & NELSON, 1996).
Fransson (2003) detectou crescimento bacteriano em 98% das cadelas com
piometra e sugeriu que desordens uterinas não inflamatórias como a HCE ou
mucometra raramente estão associadas com infecções bacterianas.
Histologicamente a HCE pode apresentar-se em diferentes graus de evolução
(DOW, 1957; WEISS et al., 2004). Nas suas fases iniciais, os animais mantêm-se
clinicamente assintomáticos, podendo, no entanto observar uma diminuição da
fertilidade. À medida que o processo evolui, com a formação de mucometra e
posterior infecção do conteúdo uterino, aparecem os primeiros sinais clínicos.
Nestas duas fases, as informações obtidas pelos exames complementares permitem
elaborar um diagnóstico definitivo, permitindo ao clínico aconselhar seu cliente sobre
16
os possíveis procedimentos (CARREIRA et al., 2002).
A HCE ainda representa um desafio para a maioria dos médicos veterinários,
sendo difícil estabelecer tanto um diagnóstico como um prognóstico preciso. Para
tanto, desenvolveu-se este trabalho com intuito de colaborar com a literatura, no
sentido de confrontar e/ou corroborar dados desta lesão uterina que acomete
cadelas em idade reprodutiva podendo causar infertilidade e prejuízo econômico.
1.1. OBJETIVOS
1.1.1. Objetivo geral
Relatar a freqüência da HCE em cadelas da região Norte Fluminense.
1.1.2. Objetivos específicos
Criar um escore histopatológico da HCE, para fins de prognóstico;
Avaliar amostras microbiológicas de conteúdo uterino de cadelas;
Avaliar a susceptibilidade “in vitro” a antimicrobianos frente aos
microrganismos isolados de conteúdo intra-uterino de cadelas com HCE;
Correlacionar dados histopatológicos, microbiológicos e históricos das
pacientes.
17
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. O ciclo estral da cadela
A cadela cicla em intervalos de 5 a 12 meses (CONCANNON et al., 1989). No
seu ciclo estral o evidenciadas a fase folicular ou estrogênica que persiste
aproximadamente durante três semanas e a fase luteal ou progesterônica que tem
duração de 2 a 3 meses (SILVA et al., 2002). A fase luteal é considerada
semelhante em indivíduos gestantes e não gestantes e, após esta, apresenta-se um
período de vários meses de anestro até surgir um novo ciclo (CONCANNON et al.,
1989). A gestação nesta espécie dura em média 56 a 72 dias e a lactação em torno
de 6 semanas (CONCANNON, 1986).
Os estádios e fases funcionais do ciclo estral desta espécie são: o proestro e
o estro, que correspondem à fase folicular; o diestro, que corresponde à fase
luteínica (ETTINGER, 1992), e o anestro, que se caracteriza, em termos de
comportamento, pela inatividade sexual (FELDMAN & NELSON, 2003).
O epitélio vaginal é classificado histologicamente como estratificado
pavimentoso e é particularmente sensível às alterações hormonais, em especial à
ação do estrógeno (VANNUCCHI et al., 1997). O estrógeno promove o
espessamento do epitélio, tornando as células do lúmen vaginal cada vez mais
distantes do seu suprimento sangüíneo e promovendo assim proteção à mucosa no
momento da cópula (FELDMAN & NELSON, 1996).
2.1.1. Proestro
Clinicamente o proestro apresenta duração de 3 a 21 dias com média de 9
dias, podendo ou não estar associado a uma secreção vaginal hemorrágica. Durante
este período, sob ação de alta concentração de estrógeno, a vulva apresenta-se
edemaciada e hipertrofiada, a cérvix dilatada, o endométrio espessado. A atividade
18
glandular uterina aumentada, e crescimento dos ductos e túbulos da glândula
mamária. Ainda nesta fase ocorre atração do macho, sem que a fêmea permita a
cópula (FELDMAN & NELSON, 1996). Ela pode se tornar mais disposta, ou mais
passiva, à medida que o proestro transcorre (ETTINGER & FELDMAN, 1997).
O início do proestro está associado a concentrações de estrógeno acima de
25 pg/mL, atingindo o pico máximo com concentrações em torno de 60 a 70 pg/mL,
24 a 48 horas antes do término do mesmo (FELDMAN & NELSON, 1996). O
hormônio luteinizante (LH) é liberado pela hipófise anterior de forma pulsante, e
estimula a maturação, luteinização e ovulação dos folículos ovarianos (ALLEN,
1995). Observam-se pequenas ondas de LH no início desta fase (FELDMAN &
NELSON, 1996) e ao final do período, alcança um pico em aproximadamente 48
horas antes da ovulação (ETTINGER, 1992). Esta onda pré-ovulatória de LH tem
uma duração de 24 a 72 horas (CONCANNON et al., 1989).
Na citologia vaginal a fase inicial é marcada pela presença de hemácias,
células parabasais, intermediárias, neutrófilos e bactérias no campo (FELDMAN &
NELSON, 1996). Na fase final, neutrófilos não são encontrados e a presença de
hemácias é variável. O aspecto citológico apresenta-se com mais de 80% das
estruturas observadas no campo visual de células superficiais nucleadas e
anucleadas (JOHNSTON et al., 2001).
2.1.2. Estro
O estro tem duração de 3-21 dias, com média de 9 dias, é identificado pela
receptividade da fêmea ao macho, permitindo o coito. A fêmea começa a exibir os
sinais do estro quando a concentração de estrógeno circulante começa a declinar e
a progesterona plasmática aumenta (CONCANNON et al., 1989; FELDMAN &
NELSON, 1996). Na maioria dos ciclos a onda pré-ovulatória de LH ocorre um dia
antes da transição do proestro para o estro (CONCANNON et al., 1989). Esta onda
desencadeia a ovulação dentro de 40 a 50 horas e depois desta há a formação do
corpo lúteo. As concentrações de progesterona continuam aumentando na
circulação durante estes dias e, com o desenvolvimento do corpo lúteo funcional, a
19
concentração de progesterona aumenta ainda mais, por um período de 1 a 3
semanas (RODRIGUES e RODRIGUES, 2002).
A ovulação é espontânea e ocorre 24 a 72 horas após a onda de LH. A cadela
ovula ovócitos primários, e a primeira divisão meiótica se completa no oviduto dentro
de três dias após a ovulação (ETTINGER, 1992; FELDMAN & NELSON, 1996).
Na citologia vaginal não se observam neutrófilos e no campo predominam
células superficiais queratinizadas, eritrócitos podem ser encontrados e o aspecto do
esfregaço é claro (FELDMAN & NELSON, 1996).
2.1.3. Diestro
O diestro tem duração de 2-3 meses com média de 75 dias e seu início é
marcado pelo fim do período de estro (CHRISTIANSEN, 1988; FELDMAN &
NELSON, 1996). A cadela apresenta-se mais calma do que quando comparado à
fase anterior, e a atração pelos machos também diminui (CHRISTIANSEN, 1988). As
pregas da mucosa vaginal estão planas, adelgaçadas e de coloração vermelho-
pálida (ETTINGER & FELDMAN, 1997).
Nesta fase a concentração plasmática de progesterona continua se elevando
rapidamente, podendo chegar a90 ng/mL, esta concentração diminui durante 3 a
4 semanas após o início do diestro. Tanto em cadelas gestantes como no diestro
não gestacional, normalmente os corpos lúteos (CL) são capazes de manter altas
concentrações de progesterona, pelo menos a o 6 dia de diestro (LUZ et al.,
2006). Observam-se no final desta fase pequenos pulsos de LH, e as concentrações
plasmáticas de estrógeno e FSH permanecem diminuídas (HOFFMANN et al.,
1996). A proliferação do endométrio e quiescência do miométrio ocorrem sob a
influência da progesterona (ETTINGER e FELDMAN, 1997).
O esfregaço citológico mostra 90% de células parabasais e intermediárias, e
em geral, não diferença citológica entre fêmeas gestantes e não gestantes
(FELDMAN & NELSON, 1996).
20
2.1.4. Anestro
O anestro tem duração de 1-6 meses com média de 125 dias. Neste período o
útero encontra-se em processo de involução após os efeitos de uma gestação ou
pseudogestação. A completa involução do útero ocorre aos 120 dias no ciclo sem
gestação e aos 140 dias no ciclo com gestação (FELDMAN & NELSON, 1996).
Clinicamente, o anestro é um período de inatividade reprodutiva, porém,
endocrinologicamente, a atividade hormonal é flutuante. Durante esta fase o útero
atinge sua involução completa, havendo um completo reparo endometrial
(FELDMAN & NELSON, 1996).
No início e meio do anestro as concentrações de estradiol e progesterona
encontram-se basais, havendo elevação do estradiol no final do mesmo. A
concentração do hormônio folículo estimulante (FSH) encontra-se basal no início e
meio do anestro, apresentando aumento no final deste período. O surgimento
episódico do LH pode ser detectado durante o anestro, apresentando maior
intensidade no final do mesmo (ETTINGER, 1992; KOOISTRA et al., 1999), e um
aumento da concentração circulante de FSH é essencial para a foliculogênese e
conseqüentemente para o término do anestro nesta espécie (BEIJERINK et al.,
2004)
2.2. Hiperplasia Cística Endometrial (HCE)
A HCE é uma alteração uterina causada por uma resposta exagerada e
anormal do endométrio à estimulação crônica e repetitiva de progesterona, com
acúmulo de fluido no interior das glândulas endometriais e no lúmen uterino
(FELDMAN & NELSON, 1996). Tem início durante a fase lútea, com endométrio
espessado contendo muitas elevações císticas e o muco claro que pode estar
presente inicialmente, não contém células inflamatórias (THRELFALL, 1995).
Segundo Gandotra et al. (1994), Johnson (1995), e FELDMAN & NELSON, (1996), a
HCE precede o desenvolvimento da piometra em cadelas. DE BOSSCHERE et
al. (2001) defendem
que não necessariamente a HCE irá preceder a piometra, e sim
21
que estas duas afecções são entidades independentes.
O 17β-estradiol é o estrógeno biologicamente ativo produzido pelo ovário
apresentando ação, por meio do hipotálamo, sobre a liberação do FSH e do LH
(HAFEZ, 1995). A redução do número de receptores de estrógeno ocorre sob
influência da crescente concentração de progesterona durante o final do estro e no
diestro em cadelas normais. Já em cadelas que desenvolvem a HCE, parece ocorrer
uma falha nesse mecanismo e como resultado desta expressão continuada de
receptores para estrógeno, o endométrio continua responsivo mesmo a baixas
concentrações de estrógeno circulante, e isto pode resultar na continuação da
proliferação de glândulas endometriais em uma
fase do ciclo em que uma forte
influência da progesterona. O aumento da expressão de receptores para
progesterona aumenta a resposta fisiológica dos tecidos (DE BOSSCHERE et al.,
2002).
Durante essa fase, a progesterona promove proliferação endometrial,
secreção glandular e suprime a atividade miometrial, permitindo assim o acúmulo de
secreções uterinas (GILBERT, 1992; JOHNSON, 1994). Fatores predisponentes,
como a duração prolongada do estro na cadela, permitem que o colo uterino
permaneça muito tempo aberto, sendo possível uma contaminação (ETTINGER,
1992).
2.3. HCE X Piometra
A piometra é uma desordem aguda ou crônica, polisistêmica, diestral de cadelas
adultas e não castradas, caracterizada por hiperplasia do endométrio e infiltração de
células inflamatórias, que pode estar presente em toda porção uterina (HARDY e
OSBORNE, 1974, KENNEDY, 1993).
A piometra pode acarretar um quadro de poliúria, polidipsia, letargia, vômito e
diarréia, entre outros (ALVARENGA et al., 1995; FELDMAN & NELSON, 1996) e
pode se apresentar com a cérvix aberta ou fechada (LUCAS et al., 2000).
Esta afecção é classificada como aberta quando a cérvix está quase
completamente aberta e presença de secreção vaginal; e fechada, quando não
abertura da cérvix, havendo acúmulo de material no útero, não ocorrendo,
22
portanto, secreção vaginal (LUCAS et al., 2000). Weiss et al., (2004) não
encontraram relação entre as lesões teciduais, o agente etiológico e as
determinações hormonais do estradiol e da progesterona com o tipo de piometra
aberta e fechada.
Cock et al. (1997) ressaltaram
que a progesterona não seria a única
responsável pelo desenvolvimento do complexo HCE-piometra, mas uma disfunção
dos receptores de esteróides também estaria envolvida. De acordo com De
Bosschere et al., (2001), os complexos HCE-mucometra (HCE) e endometrite-
piometra (piometra) guardam entre si muitas semelhanças, com exceção da reação
inflamatória observada no complexo de endometrite/piometra. Na patogênese da
HCE e piometra, cada uma destas alterações uterinas pode ter seus próprios
gatilhos no desenvolvimento das lesões. Mudanças na concentração de receptores
de hormônios sexuais podem aumentar a suscetibilidade do útero para HCE,
enquanto que bactérias podem constituir o gatilho para o desenvolvimento da
piometra. Ainda conforme estes autores, a piometra não é necessariamente a
conseqüência de um útero com HCE infectado, porém, não pode ser excluído o fato
de cadelas com HCE estarem predispostas a desenvolver piometra.
Weiss et al. (2004) em
seus experimentos confirmaram os achados de England
et al., (2003) e sugeriram que a HCE seria uma resposta fisiológica do útero, devido
à exposição a altas concentrações de estrogênio e de progesterona que
normalmente regridem ao rmino da fase luteal, entretanto, em condições anormais
surgem complicações que se refletem na enfermidade conhecida como complexo
cístico endometrial-piometra.
O uso de altas doses de progesterona como contraceptivo em cadelas
normais por um período prolongado pode
resultar no desenvolvimento de lesões
uterinas que o compatíveis com a piometra (JOHNSON, 1994; FELDMAN &
NELSON, 1996; GOBELLO et al., 2003).
Uso de estrógenos, com intuito de interromper a gestação, também pode
induzir à piometra com grande freqüência (JOHNSON, 1994; FELDMAN & NELSON,
1996). O estrógeno, por manter a cérvix relaxada por um período maior, aumenta o
risco de aparecimento de piometra em cadelas com mais de quatro anos de idade
(NISKANEN e THRUSFIELD, 1998). Porém, a administração de progestágenos está
relacionada à maior incidência de piometra, principalmente em cadelas jovens
(JOHNSON, 1994; FELDMAN & NELSON, 1996; LUCAS et al., 2000).
23
Weiss et al., (2004) propuseram uma adaptação da classificação da HCE-
piometra realizada por Dow (1957), com a qual constataram um elevado número de
HCE acentuada seguida por uma HCE moderada em amostras uterinas colhidas de
trinta cadelas (Quadro 1).
QUADRO 1 - Classificação das alterações histológicas de acordo com o grau de
comprometimento celular, aspecto e tipos de células inflamatórias.
GRAU Alteração Aspecto Células Características
I
(acentuada)
Dilatações
Císticas de
Glândulas
Endometriais
Eosinofílico
amorfo
Neutrófilos
Linfócitos
Plasmócitos
Infiltrado
inflamatório com
foco hemorrágico
II
(moderada)
Dilatações
císticas de
glândulas
endometriais
Infiltrado
inflamatório
difuso e
acentuado
Neutrófilos
Macrófagos
Congestão e
hemorragia difusa
e moderada
III (leve) Hiperplasia leve
Leve infiltrado
inflamatório
Linfoplasmócitos
Neutrófilos
Infiltrado
Inflamatório na
Mucosa
Weiss et al., (2004); Adaptado DOW (1957)
24
2.4. Microbiologia uterina
A infecção bacteriana é considerada uma condição secundária a HCE.
Porém, a origem das bactérias dessa infecção é muito discutida. Segundo Nelson e
Feldman (1986), as bactérias da vagina ascendem pela cérvix e para dentro do útero
durante o estro. Meyers-Wallen et al. (1986), no entanto, observaram que os tipos de
bactérias isoladas da vagina não representam necessariamente as espécies
bacterianas isoladas de útero com piometra.
Hagman e Kuhn (2002) sugerem que os microrganismos seriam do intestino
do próprio animal, pois estes se deslocam da região anal para o útero. Porém, as
bactérias podem entrar no útero, mas logo são eliminadas (NOMURA, 1983).
Johnson et al. (2001) sugerem existir uma microbiota presente no útero, considerada
normal sem caracterizar um estado patológico.
Quando as bactérias chegam ao lúmen uterino, as concentrações elevadas
de progesterona diminuem a velocidade da resposta inflamatória, mas as meas
com HCE parecem incapazes de eliminar bactérias e estas podem sobreviver no
fluido uterino (ALLEN, 1995).
Durante o proestro e estro, bactérias foram isoladas do ambiente uterino,
enquanto que nas outras fases do ciclo estral dificilmente foram encontradas
(WATTS et al., 1996). Olson e Mather (1978) concluíram por cultura bacteriana, que
cadelas não apresentam bactérias no útero sem piometra.
Allen (1995), Weiss et al., (2004) e Coggan et al. (2005) são unânimes em
destacar a Escherichia coli como sendo o principal agente infeccioso envolvido na
piometra de cadelas. Em um estudo com agentes microbiológicos anaeróbicos em
piometra, a bactéria Corinebacterium sp destacou-se como o microrganismo isolado
com maior freqüência, e os outros microrganismos isolados presentes nesta afecção
foram Streptococcus sp, Bacillus sp, Staphylococcus sp, E. coli e Klebsiella sp.
Sugere-se ainda não poder estabelecer o tipo de microrganismo específico nos
materiais coletados, como critério apenas a coloração da secreção uterina, é
indicada a realização da cultura da secreção (COSTA, 2007).
Sandholm et al. (1975) verificaram que a E. coli possui afinidade pelo epitélio
do trato urinário e pelo endométrio sensibilizado pela progesterona e que as cepas
de E. coli isoladas do sistema urinário e útero apresentavam similaridades.
25
Inoculações de E. coli durante o diestro induzido em cadelas ovarioectomizadas
causaram o desenvolvimento de HCE-piometra, e a inoculação diária de E. coli
intravaginal resultou em útero saudável durante o estro fisiológico e induzido,
sugerindo a existência de fortes defesas para eliminar grandes doses de E. coli
patogênica nesta fase do ciclo estral. Os autores sugerem que algum outro fator
pode ser requerido para iniciar a infecção e ajudar a persistência e a ação das
bactérias no útero (ARORA et al., 2006).
26
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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81-87, 2004.
31
4. TRABALHOS
Os trabalhos a seguir foram elaborados segundo as normas da revista
Ciência Animal Brasileira.
32
TRABALHO I
ELABORAÇÃO DE UM ESCORE HISTOPATOLÓGICO PARA HIPERPLASIA
CÍSTICA ENDOMETRIAL EM CADELAS
RESUMO
A hiperplasia stica endometrial (HCE) é uma afecção reprodutiva mediada por
alterações hormonais e comumente apresenta-se isolada ou associada à piometra,
esta última é caracterizada por infiltração de células inflamatórias com
predominância de neutrófilos. Buscou-se com este trabalho elaborar um escore
histopatológico com base no número e/ou na dimensão das unidades glandulares
císticas e na quantidade de células neutrofílicas por campos microscópicos. Foram
utilizados 36 úteros de cadelas de idades variando de 9 meses a 12 anos, e de
raças e escore corporal variados. Imediatamente após ovário histerectomia
por
conveniência ou por indicação clínica os úteros foram preparados para exame
histopatológico e foram classificados conforme escore proposto. Este exame revelou
41,66% (n=15) de úteros com HCE, sendo que, 40% dos úteros com HCE foram
classificados com o grau mais grave, onde apresentavam mais de 10 glândulas
císticas por campo (objetiva 4X) e/ou 1 ou mais estava(m) com seu(s) diâmetro(s)
maior(es) que 20 vezes o diâmetro normal, além de apresentarem mais de 40
neutrófilos por campo (objetiva 40X). Foi proposto um escore histopatológico para
HCE diferente dos utilizados, e foi possível concluir que a colheita de uma única
amostra do endométrio é suficiente para o diagnóstico da HCE, independentemente
do segmento escolhido.
PALAVRAS CHAVES: HCE, cadela, histopatologia, escore
33
ABSTRACT
The endometrial cystic hyperplasia (CEH) is a reproductive affection mediated
by hormonal alterations and commonly is presented isolated or associated to the
pyometra, this last one is characterized by infiltration of inflammatory cells with
neutrophils predominance. It was looked for with this work to elaborate a
histopathologic score with base in the number and/or in the dimension of the cystic
glandular units and in the amount of neutrophilic cells to microscopic fields. It was
used 36 uteruses of bitch of ages varying from 9 months to 12 years, races and
corporal score varied. Immediately after ovary hysterectomy for convenience or for
clinical indication the uteruses were prepared for histopathologic exam and they were
classified according to proposed score. This exam revealed 41,66% (n=15) of
uteruses with CEH, and, 40% of the uteruses with CEH were classified with the most
serious degree, where they presented more than 10 cystic glands for field (lens 4X)
and/or 1 or more was (were) with its (their) diameter(s) bigger than 20 times the
normal diameter, besides they present more than 40 neutrophils for field (lens 40X).
A histopathplogic score was proposed for HCE different from the already used, and it
was possible to conclude that the crop of an only sample of the endometrial is
enough for the diagnosis of CEH, independently of the chosen segment.
KEY WORDS: CEH, bitch, histopathology, score
34
INTRODUÇÃO
A HCE é uma lesão uterina desenvolvida por uma resposta exagerada e
anormal do endométrio à estimulação crônica e repetitiva de progesterona, com
acúmulo de fluido no interior das glândulas e no lúmen (FELDMAN & NELSON,
1996).
Segundo Nascimento e Santos (2003), quatro tipos de hiperplasia endometrial
podem ser observados nas cadelas: Complexo HCE-piometra por excessiva
estimulação progesterônica, hiperplasia associada à pseudociese, hiperplasia por
indução estrogênica, e pólipos endometriais uterinos.
A hiperplasia endometrial sem a formação de cistos o se evidencia
macroscopicamente, salvo nos casos de endométrio excessivamente espesso.
Quando cistos, a hiperplasia endometrial é observada mais facilmente. Além dos
cistos, ocorre espessamento do endométrio, com coloração brancacenta ou branco-
acinzentada e de aspecto brilhante. No exame microscópico, observa-se grande
número de glândulas endometriais, edema do estroma e, às vezes, como ocorre na
vaca, acúmulo de muco no lúmen uterino (NASCIMENTO e SANTOS, 2003).
Na patogênese da HCE e piometra, cada uma destas alterações uterinas
pode ter seus próprios gatilhos no desenvolvimento das lesões. Mudanças na
quantidade de receptores de hormônios sexuais podem aumentar a susceptibilidade
do útero pelo menos para HCE, enquanto que bactérias podem constituir o gatilho
para o desenvolvimento da piometra (DE BOSSCHERE et al., 2001).
Dow (1957) analisando
100 casos de alterações uterinas em cadelas propôs
uma classificação para o complexo HCE-piometra, reconhecendo a existência de
quatro fases clínicas e anatomopatológicas, designadas por grau ou estádio e
numeradas de I a IV. Weiss et al., (2004) adaptaram a classificação de Dow (1957),
e com a nova classificação, constataram um elevado número de HCE acentuada,
seguida por uma HCE moderada, de acordo com as alterações histológicas, grau de
comprometimento celular, aspecto e tipos de células inflamatórias encontrados.
O objetivo deste trabalho foi elaborar um escore histopatológico para HCE
diferente das propostas para o complexo HCE-piometra e com esta relatar a
freqüência da HCE em úteros de cadelas ovário histerectomizadas
do Hospital
Veterinário da UENF e no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) em Campos dos
Goytacazes no ano de 2007.
35
MATERIAL E MÉTODOS
Análise macroscópica
Cada útero foi macroscopicamente avaliado externa e internamente, após
corte longitudinal de todo o órgão, levando-se em consideração seu aspecto e
presença de conteúdo.
Análise microscópica
Foram utilizados 36 úteros de cadelas de diferentes raças, idades e escore
corporal imediatamente posterior a ovário histerectomia
por conveniência ou por
indicação clínica por estarem apresentando problemas reprodutivos. Sete amostras
de cada útero foram colhidas: três de cada corno uterino, sendo estas das porções:
1) terço proximal, 2) terço médio e 3) terço distal de cada corno e uma do corpo do
útero.
As amostras foram estendidas sobre um papel absorvente, deixando as
serosas em contato com este, e em seguida acondicionadas em frascos com
formalina neutra tamponada a 10%, no volume mínimo 10 vezes maior que a
amostra.
As amostras foram remetidas ao Setor de Morfologia e Anatomia Patológica,
onde foram clivadas, e encaminhadas ao processador automático de tecidos (LEICA
TP 1020)
®
. Foram incluídas em parafina e os fragmentos cortados com espessura
de 5 micras em micrótomo semi-automático (LEICA RM 2145)
®
. Estes cortes foram
corados pela hematoxilina-eosina (HE), montados entre lâmina e lamínula e
examinados em microscópio óptico Olympus BX 41
®
.
36
Classificação histopatológica
Para a determinação da intensidade da HCE foi idealizado um método
classificatório (escore) que obedeceu ao número de unidades glandulares císticas e/
ou grau de dilatação das mesmas. Era escolhido o campo microscópico em objetiva
de 4X que apresentasse maior gravidade da lesão, para assim ser classificada em:
Grau A: quando 1 a 5 unidade(s) glandular(es) era(m) cística(s), e/ou estava(m) com
seu(s) diâmetro(s) dilatado(s) em torno de 5 a 10 vezes maior que o diâmetro
glandular normal;
Grau B: quando 5 a 10 unidades glandulares eram císticas e/ou estavam com seus
diâmetros dilatados em torno de 10 a 20 vezes maiores que o diâmetro glandular
normal;
Grau C: quando havia mais de 10 glândulas e/ou 1 ou mais estava(m) com seu(s)
diâmetro(s) maior(s) que 20 vezes o diâmetro normal.
A este escore foi somado o grau de supuração, quando presente, igual à
quantidade de neutrófilos por campo, em objetiva de 40X (Quadro 1).
Cada segmento foi classificado individualmente segundo os parâmetros
adotados, e o útero recebeu uma classificação final referente ao segmento com
maior comprometimento.
Quanto à distribuição da HCE no útero como um todo, foi adotada a
classificação de focal (F), multifocal (MF) e difuso (D) (Quadro 2).
QUADRO 1 - Classificação da hiperplasia cística endometrial em úteros de cadelas
quanto ao número de neutrófilos* encontrados por campo de avaliação, Campos dos
Goytacazes - RJ, 2007.
Classificação 0 1 2 3
Nº de neutrófilos
Ausente
Até 20
neutrófilos
21-40
neutrófilos
Superior a 40
neutrófilos
*Observação em campo da objetiva de 40X em microscopia óptica.
37
QUADRO 2 - Classificação da distribuição* da hiperplasia cística endometrial em
úteros de cadelas, Campos dos Goytacazes - RJ, 2007.
Classificação Focal Multifocal Difuso
Segmentos com
HCE
Apenas um
segmento com
HCE
Mais de um
segmento com
HCE
Todos os
segmentos com
HCE
*Observação em campo da objetiva de 40X em microscopia óptica.
Análise estatística
Os graus atribuídos às glândulas císticas e de neutrófilos por terço (proximal,
médio e distal) do corno uterino foram comparados através do teste F, sendo
realizada análise de variância para verificação de diferenças significativas.
Os coeficientes de correlação (r) de Pearson entre as variáveis (número de
glândulas císticas por segmento), bem como sua significância (5% e 1%) foram
determinados mediante utilização do aplicativo Sistema para Análises Estatísticas
(SAEG), versão 9.1 (2007).
RESULTADOS
Os úteros exibiram várias formas: foram encontrados úteros com HCE-
mucometra (n=2); HCE-hemometra (n=2); HCE-piometra (n=6); HCE isolada (n=5);
piometra sem HCE (n=2); hemometra sem HCE (n=3); e úteros sem altreração
alguma (n=16).
Os úteros com conteúdo purulento (com ou sem HCE) apresentavam-se
aumentados em forma de gomos ou contínuos com paredes edemaciadas; repletos
de pus, com variações na quantidade desta secreção. Em todos estes casos as
cadelas exibiam secreção vaginal.
38
Os úteros com conteúdo sanguinolento estavam aumentados, com conteúdo
denso distribuído uniformemente, sem formação de gomos, e com paredes
edemaciadas. Das cadelas com HCE-hemometra, uma exibia cistos por todo
endométrio e secreção vaginal,
enquanto que outra, não; e daquelas livres de HCE,
duas exibiam secreção vaginal e uma não.
Dois úteros apresentaram conteúdo mucóide, estando um com paredes
delgadas com conteúdo discreto, endométrio cístico e focos hemorrágicos, e outro,
com aumento unilateral, com endométrio delgado distendido mostrando estrutura
puntiforme aderida e cística. O corno oposto estava delgado e com discreto
conteúdo mucóide.
Os úteros aparentemente saudáveis apresentavam-se delgados com
dimensões compatíveis com o tamanho, idade e histórico de parições anteriores.
Microscopia
Dos 36 úteros, 15 (41,66%) apresentavam HCE nos achados
histopatológicos. Daqueles sem alterações císticas (21), oito (38%) possuíam
aumento no número de unidades glandulares (hiperplasia), principalmente das
basais.
Com relação a classificação quanto ao número de unidades glandulares
císticas, não houve diferença significativa (P= 0, 1247) entre os cornos direito e
esquerdo. Também não foi verificada diferença significativa, em nível de 5% de
probabilidade, na classificação quanto à quantidade de neutrófilos por campo entre
os dois cornos.
A classificação quanto ao número de unidades glandulares císticas não diferiu
estatisticamente, em nível de 5% de probabilidade, entre os terços (proximal, médio
e distal). Ainda, também não foi observada diferença significativa (p= 0, 3380) na
classificação do número de neutrófilos por terço.
Da classificação histopatológica proposta quanto à distribuição da HCE, foi
observado 33,3% (n=5) de HCE multifocal, 66,7% (n=10) de HCE difusa e nenhuma
HCE focal (Quadro 3).
39
QUADRO 3 - Classificação da HCE de cadelas considerando a presença de
neutrófilos, o grau de lesão histopatológica e a distribuição no útero, Campos dos
Goytacazes - RJ, 2007.
Animal
Escore
final
Dist.
Achados adicionais
1 C3 D Infiltrado misto denso difuso
2 A0 M Infiltrado de mononucleares, focos hemorrágicos
3 C3 D Infiltrado misto e hiperplasia do epitélio
4 C0 M Hemorragia difusa
5 A1 D Edema discreto, infiltrado misto e adenomiose
6 C3 D Infiltrado misto, adenomiose, abscessos
7 A0 M Fibrose periglandular, focos hemorrágicos
8 C0 D Infiltrado de mononucleares e fibrose periglandular
9 C3 D Infiltrado misto
10 A0 M Edema miometrial e atrofia endometrial
11 C0 D Infiltrado de mononucleares, e adenomiose
12 C3 D
Infiltrado misto, fibrose, hiperplasia do epitélio luminal e
focos hemorrágicos
13 C3 D
Infiltrado linfocitário miometrial, adenomiose acentuada
profunda
14 C3 D
Pólipo adenomatoso cístico papilístico e fibrose
periglandular
15 B0 M Fibrose periglandular, hemorragia, adenomiose
Dist.= distribuição; D= difuso, M=multifocal
Na avaliação histopatológica realizada nos úteros com HCE (n=15), foram
verificados 53,3% (n=8) de úteros com infiltrado neutrofílico de classificação 1 e 3 e
com número de glândulas de classificação A e C. Em 46,7% (n=7) teve-se ausência
40
de infiltrado neutrofílico, e glândulas com classificação A, B e C (Tabela 1; Apêndice
A).
TABELA 1 Distribuição dos úteros de cadela com HCE de acordo com a
classificação proposta, em Campos dos Goytacazes - RJ, 2007.
Sem infiltrado neutrofílico Com infiltrado neutrofílico
Classificação A0 B0 C0 A1 C3
Número de
úteros
3 1 3 1 7
Porcentagem
Total
46,7% 53, 3%
As classificações das unidades glandulares císticas dos segmentos de ambos
os cornos uterinos tiveram correlação significativa (p<0,01) entre si, exceto entre os
segmentos do terço médio do corno direito (G2) com segmentos do terço médio (G5)
e terço distal (G6) do corno esquerdo (tabela 2).
Dentre os diversos segmentos em que a classificação do número de
glândulas foi determinada, aquele que apresentou maior correlação com a
classificação final do número de glândulas conferida ao útero (GF), foi o terço médio
direito (G2).
41
TABELA 2- Matriz de correlações de Pearson (p<0,05 e p<0,01) dos locais de
ocorrência da HCE nos segmentos uterinos de cadelas avaliados, Campos dos
Goytacazes – RJ, 2007.
Glan.
GF G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7
GF 1.00000
G1 0.62290**
1.00000
G2
0.88328**
0.57266* 1.00000
G3 0.52425* 0.82041** 0.54290* 1.00000
G4 0.66595**
0.94312** 0.67374** 0.87088** 1.00000
G5 0.49352* 0.74658**
0.44601ns
0.64038** 0.72977** 1.00000
G6 0.50581* 0.76518**
0.39975ns
0.60542* 0.71179**
0.98027**
1.00000
G7 0.48369* 0.58537** 0.55337* 0.65405** 0.65245** 0.85671** 0.83184** 1.00000
Glan.= Glândulas nos segmentos; GF= classificação final do útero quanto ao de glândulas císticas; G1=
classificação do terço proximal direito quanto ao de glândulas císticas; G2= classificação do terço médio
direito quanto ao de glândulas císticas; G3= classificação do terço distal direito quanto ao de glândulas
císticas; G4= classificação do terço proximal esquerdo quanto ao de glândulas císticas; G5= classificação
do terço médio esquerdo quanto ao de glândulas císticas; G6= classificação do terço distal esquerdo
quanto ao de glândulas císticas; G7= classificação do segmento do corpo do útero quanto ao de
glândulas císticas
* = significativo a p<0,05; ** = significativo a p<0,01; ns = não significativo.
DISCUSSÃO
Foi observado que dos oito úteros com piometra, 25% (n=2) não
apresentavam associação desta com HCE, o que corrobora com a afirmação de De
Bosschere et al. (2001), de que a piometra e a HCE podem ser consideradas
entidades separadas; e que a piometra pode não ser necessariamente
conseqüência de um útero com HCE infectado, divergindo dos achados de Oliveira
et al.,(2008), que observaram 100% (n=21) de associação HCE/piometra
concordando com Dow (1957) e Weiss et al. (2004). Ainda nos achados do presente
estudo, considerando os 15 úteros com HCE, 40% (n=6) apresentaram
HCE/piometra, achado este que certifica que estas duas entidades podem em
determinadas situações estar associadas como declararam De Bosschere et al.,
2001).
42
Foi verificado que dos 36 úteros analisados, 41,7% (n=15) possuíam unidades
glandulares císticas. Esta porcentagem foi superior à encontrada por Tardim et al.
(2006), no qual foi encontrada uma porcentagem de 33,3% de cadelas com HCE.
Esta diferença pode ser atribuída ao fato de que, no trabalho citado, foram utilizadas
apenas cadelas clinicamente saudáveis destinadas à esterilização para controle
populacional, diferentemente do trabalho em questão, no qual foram estudados
úteros de 36 cadelas, independente do seu estado clínico.
Dos úteros com HCE, oito exibiam o número de unidades glandulares
aumentadas (hiperplasia), principalmente de glândulas basais, sendo este perfil
característico de úteros que estão sobre ação de estrógeno. Em alguns casos foram
observados cistos ovarianos, o que poderia justificar tal efeito, além da fase do ciclo
em que estas cadelas se encontravam.
Tardim et al. (2006) estudando 3 segmentos aleatórios de cada útero,
sugeriram a existência de irregularidades na distribuição das lesões, observando que
estas nem sempre estavam de forma homogênea em toda superfície uterina. Esta
distribuição irregular foi verificada também neste trabalho, encontrou-se lesão em
vários pontos (multifocal) ou em todo útero (difuso), mas em nenhum caso foi
encontrado apenas um ponto lesado (focal).
A freqüência de ocorrência da HCE foi igual em ambos os cornos uterinos.
Assim como a freqüência de ocorrência de HCE nos terços proximal, médio e distal.
Com estes achados pode-se dizer que em cadelas com HCE a colheita de apenas
um segmento uterino de qualquer parte do útero pode ser representativa para o
diagnóstico da HCE. Este dado se torna importante na condução de biópsias
uterinas na clínica reprodutiva, em cadelas com suspeita de HCE. No entanto, a
colheita do material oriundo do terço médio direito foi o que apresentou maior
correlação (r=0,88328, p<0,01) com a classificação final do útero.
Ao se estabelecer um escore histopatológico no qual se levou em
consideração o número de unidades glandulares císticas e a quantidade de infiltrado
neutrofílico, encontrou-ser um diferencial nos achados entre HCE e piometra, o que
corrobora com a teoria de De Bosschere et al. (2001), ou seja, HCE e piometra o
entidades independentes, embora possam, em alguns casos, estarem associadas, a
despeito de Gandotra et al. (1994), Johnson (1995), e Feldmam & Nelson (1996),
relatarem que a HCE precede o desenvolvimento da piometra em cadelas.
Considerando o escore C determinado neste trabalho, acompanhado ou não
43
de qualquer grau de supuração, como o grau mais grave, encontrou-se 66,7% da
forma mais grave de HCE, resultado semelhante ao encontrado por De Cock et al.,
(1997), que adotando diferente critério de avaliação, verificaram 70% de HCE
severa em úteros com piometra. Uma maior freqüência de ocorrência do grau mais
grave da HCE também foi observada por Oliveira et al., 2008, fato este, que os
levaram a concluir que quanto maior o grau de severidade da HCE, maiores
quantidades dos fluidos das glândulas endometriais e do lúmen uterino se
acumulam, tornando assim o ambiente mais propício para o crescimento bacteriano.
CONCLUSÃO
Foi estabelecido um escore para HCE baseando-se no número de unidades
glandulares císticas e quantidade de infiltrado neutrofílico como representação da
gravidade da lesão.
A colheita de uma única amostra do endométrio é representativa do estado
geral do útero da cadela, não importando o local de colheita histológica.
44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Immunoistochemical analysis of estrogen receptors in cist-endometritis-piometra
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TARDIM, G.C.; CUNHA, I.C.N.; CARVALHO, E.C.Q.; LEMOS, L.S. Ocorrência e
classificação da hiperplasia cística endometrial em cadelas em Campos dos
Goytacazes. In: Conferencia Sul-americana de Medicina Veterinária, 2006, Rio
de Janeiro, 2006.
45
WEISS, R.R., CALOMENO, M.A., SOUSA, R.S. BRIERSDORF, S.M. 4;
CALOMENO, R.A., MURADÁS, P. (2004) Avaliação histopatológica, hormonal e
bacteriológica da piometra na cadela. Archives of Veterinary Science v. 9, n. 2,
p.81-87, 2004.
46
TRABALHO II
MICROBIOLOGIA UTERINA DE CADELAS COM HIPERPLASIA CÍSTICA
ENDOMETRIAL (HCE) EM CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ.
RESUMO
A hiperplasia cística endometrial (HCE) é comumente observada isoladamente, ou
associada à piometra. A infecção bacteriana foi considerada uma condição
secundária à HCE, porém, estudos recentes, mostram que a contaminação uterina
pode não depender da HCE, embora possam, em determinados casos, coexistirem.
Admite-se que as bactérias ascendam até o útero facilitando sua contaminação. O
presente trabalho analisou culturas bacterianas isoladas de 36 úteros de cadelas
com idades variando de 9 meses a 12 anos, de raça definida (17) e sem raça
definida (19) submetidas a ovário histerectomia no Hospital Veterinário da UENF e
no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Campos dos Goytacazes no ano de
2007. Foi recolhida uma amostra de cada útero por meio de lavado uterino com
auxilio de solução de NaCl a 0,09%, seringa e agulha estéreis. Dos 15 úteros
diagnosticados com HCE por exame histopatológico, em dez, foi observado
crescimento bacteriano. A bactéria isolada em maior freqüência em úteros com HCE
foi a Escherichia coli, seguida de Pseudomonas e Salmonela. O antimicrobiano o
qual essas bactérias isoladas apresentaram maior sensibilidade foram a
enrofloxacina, amoxicilina mais ácido clavulânico, ciprofloxacina e clorafenicol, com
100% cada e a maior resistência foi à tetraciclina e ampicilina, com 18,2% cada.
PALAVRAS CHAVES: HCE, cadela, bactérias, gram-negativas, susceptibilidade,
antimicrobianos.
47
ABSTRACT
The Cystic endometrial hyperplasia (CEH) is observed commonly separately, or
associated to the piometra. The bacterial infection a secondary condition was already
considered HCE, however, recent studies, show that the uterine contamination
cannot depend on HCE, although they can, in certain cases, coexist. It is admitted
that the bacterium ascend until the uterus facilitating its contamination. The present
work analyzed isolated bacterial cultures of 36 uteruses of bitch with ages varying
from 9 months to 12 years, of defined race (17) and without defined race (19)
submitted to the ovary hysterectomy in the Veterinary Hospital of UENF and in the
Center of Control of Zoonoses (CCZ) of Campos dos Goytacazes in 2007. A sample
of each uterus was picked up through washed uterine with aid of solution of NaCl at
0,09%, syringe and needle sterile. Of the 15 uteruses diagnosed with HCE by
histopathological exam, in ten, bacterial growth was observed. The isolated bacterial
in larger frequency in uteruses with HCE was Escherichia coli followed by
Pseudomonas and Salmonela. The antimicrobial which those isolated bacterium
presented larger sensibility were the enrofloxacin, amoxicilin plus clavulânico acid,
ciprofloxacin and clorafenicol, with 100% each and the largest resistance went to the
tetraciclin and ampicilin, with 18,2% each.
KEY WORDS: CEH, bitch, bacteria, gram-negative, susceptibility, antimicrobial.
48
INTRODUÇÃO
A hiperplasia cística endometrial (HCE) é uma alteração uterina causada por
uma resposta exagerada e anormal do endométrio à estimulação crônica e repetitiva
de progesterona, com acúmulo de fluido no interior das glândulas endometriais e no
lúmen uterino (FELDMAN & NELSON, 1996).
Existem relatos de que desordens uterinas não inflamatórias como a HCE e
mucometra raramente estão associadas com infecções bacterianas. Em cadelas
com piometra, 98% apresentaram crescimento bacteriano uterino e chegou-se à
conclusão de que, quanto maior o número de unidades formadoras de colônias/mL,
maior a intensidade do processo inflamatório (FRANSSON, 2003). Porém, a
presença de bactérias no útero das cadelas é discutida. Através de cultura
bacteriana, Olson & Mather (1978) demonstraram que cadelas sem piometra não
apresentam bactérias em seus úteros. Todavia, durante o proestro e estro, bactérias
foram isoladas do ambiente uterino, enquanto que nas outras fases do ciclo estral
dificilmente foram encontradas (WATTS et al., 1996).
A infecção bacteriana já foi considerada uma condição secundária a HCE e foi
sugerido que as bactérias da vagina ascendem pela cérvix para dentro do útero
durante o estro (NELSON e FELDMAN, 1986). Outra hipótese é de que as bactérias
encontradas no útero sejam do intestino do próprio animal, pois estes se
deslocariam da região anal para o útero (HAGMAN e KUHN, 2002).
Embora outras bactérias já tenham sido isoladas, a E. coli é apontada como o
principal agente infeccioso envolvido na piometra de cadelas (ALLEN, 1995; WEISS
et al., 2004; COGGAN et al., 2005; COSTA, 2007). Segundo estudo de Sandholm et
al. (1975), a E. coli mostrou afinidade pelo epitélio do trato urinário e pelo endométrio
sensibilizado pela progesterona, e as suas cepas isoladas do sistema urinário e
útero mostraram similaridades. Segundo De Bosschere et al. (2001), as bactérias
podem constituir o gatilho para o desenvolvimento da piometra, enquanto que
mudanças na concentração de receptores de hormônios sexuais podem aumentar a
susceptibilidade do útero para HCE.
49
Tendo em vista que a HCE é uma lesão uterina que pode causar infertilidade
nas cadelas e se apresentar associada com uma das mais sérias e comuns
afecções que atingem esta espécie, podendo evoluir até mesmo a óbito, foi
delineado o presente trabalho cujo objetivo foi avaliar a microbiologia uterina das
cadelas, e especificamente, exibir o perfil microbiológico dos úteros com HCE.
.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas 36 úteros de cadelas de raça definida (17) e sem raça
definida (19), com idades entre 9 meses e 12 anos e com escore corporal variável.
Os úteros destas cadelas após ovário histerectomia
passaram por exame
histopatológico e foi considerado diagnóstico positivo de HCE para 15 destas
cadelas.
Avaliação microbiológica
Imediatamente após a ovário histerectomia
por indicação clínica ou por
conveniência, foi colhida uma amostra do fluido intra-uterino (3 mL) nos úteros com
conteúdo aparente. Nos úteros em que não havia conteúdo aparente introduziu-se
solução de NaCl a 0,09%, com auxílio de seringa e agulha (40x12) descartáveis
estéreis para obtenção da amostra (lavado uterino, injetando solução e aspirando
sem que a agulha fosse retirada do orifício inicial).
Em seguida, as amostras foram transportadas ao Laboratório de Sanidade
Animal - Setor de bacteriologia sob refrigeração em recipiente de isopor com gelo,
onde foram cultivadas em agar sangue de carneiro (5%) e agar MacConkey com
incubação em aerobiose, a 37º C com leituras a 24 horas. As amostras também
foram cultivadas em agar Sabouraud + clorafenicol, e mantidas por um período
mínimo de sete dias.
50
Os microrganismos isolados foram identificados de acordo com Lennette et al.
(1985), e classificados segundo Kreeger-Van-Rig (1984), Krieg e Holt (1994) e
Murray et al. (1999).
Teste de susceptibilidade “in vitro” dos microrganismos isolados diante de
diferentes antimicrobianos
Foi estudada a susceptibilidade "in vitro" dos microrganismos isolados das
amostras uterinas de cadelas. Os testes foram realizados frente aos antibióticos:
clorafenicol (30 µg), tetraciclina (30 µg), cefalotina (30 µg), gentamicina (10 µg),
sulfazotrim (25 µg), ampicilina (10 µg), enrofloxacina (5 µg), cefalexina (30 µg),
tobramicina (10 µg), amoxicilina + ácido Clavulânico (20/10 µg) e cefoxitina(30 µg).
Os antibiogramas foram realizados em agar de Müller & Hinton, utilizando-se
discos impregnados (Sensifar®) e empregando o método de difusão seguindo
técnica de Kirby & Bauer. As interpretações foram as recomendadas pela Natiomal
Commitee For Clinical Laboratory Standards – NCCLS” EM 1999.
Análise estatística
Para a análise microbiológica foram
apresentados os dados de freqüência de
diferentes tipos de microrganismos em animais com ou sem HCE, considerando-se:
P
mo
= Presença de microrganismo
A
mo
= ausência de microrganismo
P
HCE
= presença de HCE
A
HCE
= ausência de HCE
As freqüências foram agrupadas de acordo com a existência concomitante de
microrganismo e de HCE, conforme segue:
51
Freqüência concomitante = animais com P
mo
e P
HCE
+ animais com A
mo
e A
HCE
(representa o número de animais que apresentam determinado microrganismo e
também apresentam HCE ou que NÃO apresentam determinado microrganismo e
também NÃO apresentam HCE).
Freqüência não concomitante = animais com P
mo
e A
HCE
+ animais com A
mo
e
P
HCE
(representa o número de animais que apresentam determinado microrganismo
e NÃO apresentam HCE ou que NÃO apresentam determinado microrganismo e
apresentam HCE).
Estas freqüências foram comparadas por meio do teste de Qui-Quadrado,
adotando-se a significância de 5%. As análises foram realizadas utilizando-se o
Aplicativo estatístico: Sistema para Análises Estatísticas (SAEG), versão 9.1 (2007).
RESULTADOS
Dos 36 úteros, foi observado crescimento de microrganismos em 58,3%
(n=21) dos úteros.
Considerando-se as 21 amostras nas quais houve crescimento de
microrganismos, foram isoladas 18 colônias puras e 3 mistas. Os agentes isolados
foram: E.coli (8 puras e 2 mistas), Klebsiella pneumoniae (2 puras), Pseudomonas
aeruginosa (1 pura e 1 mista), Salmonella spp. (1 mista), Proteus (1 pura),
Enterobacter (3 puras), Serratia (1 pura e 1 mista) e Shigella (2 puras e 1 mista).
Das 3 colônias mistas, foram isoladas: E.coli + Salmonella subgenus; E.coli +
Serratia rubiacea, e Shigella + Pseudomonas aeruginosa.
Dos 15 úteros em que foram verificadas lesões compatíveis com HCE pela
histopatologia, 05 apresentavam conteúdo uterino negativo para crescimento
bacteriano, e em 10 houve isolamento de bactérias, sendo 9 colônias puras e uma
mista. Os agentes isolados foram: E. coli (8 amostras puras e 1 mista),
Pseudomonas (1 pura) e Salmonela (1 mista).
Em 50% (n=5) dos úteros com HCE não houve crescimento bacteriano,
enquanto que o número de úteros sem HCE com e sem crescimento bacteriano
foram 11 e 10, respectivamente (Figura 1).
52
Figura 1 - Freqüência do isolamento de microrganismos no conteúdo uterino de
cadelas. Campos dos Goytacazes, 2007.
0
2
4
6
8
10
12
Útero com HCE Útero sem HCE
Nº de amostras
Presença de
microorganismo
Ausência de
microorganismo
A freqüência de cadelas que apresentou isolamento intra-uterino de E. coli e
HCE foi de 9 amostras; as que não apresentavam HCE e nem tão-pouco
E. coli foi
de 20 amostras; as que apresentaram E. coli e o apresentavam HCE foi de 1
amostra e as que não apresentavam E. coli e apresentavam HCE foi de 6 amostras
(Tabela 1).
TABELA 1- Distribuição de úteros de cadela quanto a ocorrência de HCE e a
presença de E.Coli, Campos dos Goytacazes - RJ, 2007.
E.COLI
HCE
AUSÊNCIA PRESENÇA
AUSÊNCIA 20 1
PRESENÇA 6 9
53
A E. coli foi a única bactéria que apresentou ocorrência concomitante maior
do que a ocorrência não concomitante com HCE, em nível de 5% de probabilidade,
(tabela 2).
TABELA 2 Distribuição dos úteros de cadelas de acordo com a ocorrência
concomitante de microorganismo e HCE ou não. Campos dos Goytacazes - RJ,
2007.
Ocorrência
Microorganismo
Não concomitante* Concomitante** P***
E. coli
7B 29A 0,00025
Enterobacter
18A 18A 1,00000
Kebsiella
17A 19A 0,73888
Proteus
16A 20A 0,50498
Pseudomonas
15A 21A 0,31731
Salmonella
14A 22A 0,18242
Serratia
17A 19A 0,62187
Shigella
18A 18A 1,00000
Freqüências (n=36) seguidas de mesma letra na mesma linha o diferem estatisticamente entre
si, em nível de 5% de significância pelo teste de Qui-quadrado.*
**presença do microorganismo e ausência de HCE ou ausência do microorganismo e presença
de HCE
*** presença do microorganismo e presença de HCE ou ausência do microrganismo e ausência
de HCE
54
Teste de susceptibilidade “in vitro”
As bactérias isoladas em úteros com HCE apresentaram maior resistência
aos antimicrobianos tetraciclina e ampicilina com 18,2% cada, maior sensibilidade a
enrofloxacina, ciprofloxacina, amoxicilina mais ácido clavulânico e clorafenicol todos
com 100% cada. Dos 15 úteros com HCE, em cinco não houve crescimento
bacteriano; de dez, nove foram colônias puras e uma foi colônia mista com duas
bactérias totalizando 11 amostras bacterianas que foram submetidas ao teste de
susceptibilidade “in vitro” (Tabela 3).
TABELA 3 - Resultado da susceptibilidade dos microorganismos isolados nos úteros
de cadelas com HCE aos agentes antimicrobianos, Campos dos Goytacazes - RJ,
2007.
S I R Susceptibilidade
Antimicrobiano
% (Nº)
% (Nº)
%
(Nº)
Amoxicilina+clav. 100 (11) 0,00 (0) 0,00 (0)
Ampicilina
81,8 (9)
0,00 (0) 18,2 (2)
Cefalotina
90,9 (10)
0,00 (0) 9,1 (1)
Cefoxitina
90,9 (10)
0,00 (0) 9,1 (1)
Ciprofloxacina
100,0 (11)
0,00 (0) 0,00 (0)
Cloranfenicol
100,0(11)
0,00 (0) 0,00 (0)
enrofloxacina
100,0(11)
0,00 (0) 0,00 (0)
Gentamicina
90,9(10)
0,00 (0) 9,1 (1)
Sulfazotrin
72,7 (8)
18,2 (2) 9,1(1)
Tetraciclina
81,8 (9)
0,00 (0) 18,2 (2)
Tobramicina
90,9 (10)
9,1 (1) 0,00 (0)
Legenda: S-sensível, I- intermediário R- resistente.
55
DISCUSSÃO
No presente trabalho, dos 15 úteros em que foram verificadas HCE, 05
(33,3%) úteros foram negativos para crescimento bacteriano, e em 10 (66,7%)
úteros houve isolamento de bactérias, sendo 9 colônias puras e uma mista.
Fransson (2003) sugere que desordens uterinas não inflamatórias como a HCE e
mucometra raramente estão associadas com infecções bacterianas, bem como
Olson e Mather (1978) concluíram que cadelas sem lesão uterina não apresentam
bactérias, porém neste trabalho foram verificados 19,4% (n=7) de casos em que
houve isolamento bacteriano em úteros livres de HCE, outras lesões ou conteúdos.
Com exceção da Pseudomonas aeruginosa, as bactérias encontradas neste
trabalho pertencem à família das enterobactereaceaes. Estas são definidas como
bacilos gram-negativos, não espurulados e que crescem bem em meios artificiais
(Moura et al., 1998).
Das 21 amostras dos fluidos uterinos (de úteros com e sem HCE) em que
houve crescimento de microrganismos, foram isoladas 18 colônias puras e 3 mistas
(com duas bactérias). As bactérias isoladas foram: E.coli (41,7%), Klebsiella
Pneumoniae (8,3%), Pseudomonas aeruginosa (8,3%), Salmonella spp. (4,2%),
Proteus (4,2%), Enterobacter (12,5%), Serratia (8,3%) e Shigella (12,5%). Coggan et
al., (2004) em trabalho com amostras de conteúdo uterino de cadelas com HCE-
piometra, analisaram 82 amostras, sendo uma de cada corno uterino e foram
isolados os seguintes agentes: E. coli (79,16%), Klebsiella pneumoniae subsp.
Pneumoniae (2,7%), Staphylococcus schleiferi subsp. coagulans (2,7%), Morganella
morganii (2,7%), Streptococcus sp. (2,7%), Pseudomonas aeruginosa (2,7%),
Staphylococcus epidermidis (2,7%), Streptococcus canis (1,4%).
Coggan et al. (2004) afirmaram ser a E. coli a bactéria mais freqüentemente
isolada do conteúdo uterino de cadelas com o complexo HCE-piometra e que
algumas cepas são comprovadamente patogênicas para o homem e/ou animais. Da
mesma forma, Hagman e Kühn (2002) afirmaram ser a E. coli a
bactéria mais
freqüentemente isolada do conteúdo uterino de cadelas com HCE-piometra (n=6).
Verificou-se neste trabalho porcentagem de 80% de E. coli isolada de úteros com
HCE, superior à soma das outras bactérias isoladas (20%), e esta só foi isolada pura
em amostras de úteros com HCE, enquanto que em cadelas sem HCE este agente
microbiológico foi isolado apenas em infecções mistas. Oliveira et al. (1988) isolaram
56
50,5% de E.coli, contra 22,8% de outras bactérias em úteros com piometra.
Fransson et al. (1997) isolaram E.coli de 90% das cadelas com piometra (n = 48). No
presente trabalho, verificou-se que dos úteros em que foram diagnosticados HCE-
piometra (n=6), 83,3% (n=5) foram positivas para E. coli, e 16,7% (n=1) foi negativa
para esta e qualquer outra bactéria, não foi observado nenhum outro microrganismo
envolvido em útero de cadelas com HCE-piometra, se não a E. coli.
Uma explicação para esta grande freqüência de achados da E coli pode ser
encontrada no trabalho de Allen e Dagnall (1982), que observaram a E. coli em
maior freqüência em swabs vaginais de cadelas no estro, inférteis ou com secreção
vaginal e também de swabs prepuciais e sugeriram ainda que a E. coli pode ser
transmitida através do coito. De acordo com a literatura, pressupõe-se que esta
bactéria seja comum do trato genital da espécie canina e pode ascender ao útero da
cadela, além de serem residentes no trato gastrointestinal e poderem chegar ao
útero por se deslocarem da região anal (HAGMAN e KUHN, 2002).
Além da E. coli foram também isoladas bactérias dos gêneros Samonella
(10%- n=1) e Pseudomonas (10%- n=1). O reservatório da Salmonella é o trato
gastrointestinal de animais de sangue frio e quente (HIRSCH & ZEE, 2003), e a
Pseudomonas também é residente normal da flora intestinal de homens e animais.
Coggan (2005) encontrou
2% de cada uma dessas bactérias em conteúdo intra-
uterino de cadelas com piometra. Esse resultado está de acordo com a hipótese de
que as bactérias envolvidas na piometra em cadelas são oriundas do trato
gastrointestinal do próprio animal, porém acrescentaria esta referência a úteros de
cadelas também com HCE, visto que ambas foram isoladas em úteros que possuíam
HCE sem a presença de piometra, estando a Salmonella associada a E. coli, porém
estudos com um número maior de amostras se faz necessário.
A maioria das enterobactérias é normalmente sensível às ampicilinas,
cefalosporinas, aminoglicosídeos, tetraciclinas, clorafenicol, cotrimoxazonal e aos
derivados quininolónicos (TRABULSI, 1999). Resistência múltipla a antimicrobianos
da família das enterobactereaceaes é baseada, na maioria das vezes, na presença
de elementos
extracromossomiais
chamados de fatores R. A transmissão horizontal
de resistência múltipla
foi demonstrada em membros desta família como a E. coli
e a Salmonella spp (DWIGHT; HIRSH, 1973). O antimicrobiano, o qual as bactérias
isoladas em úteros com HCE apresentaram maior resistência, foi a tetraciclina e a
ampicilina,
ambas com resistência em 18,18% dos casos, e aqueles aos quais as
57
bactérias apresentaram maior sensibilidade foram: a enrofloxacina, ciprofloxacina,
amoxicilina mais ácido clavulânico e clorafenicol, todos com sensibilidade em 100%
dos casos. Com isso, verificou-se que a enrofloxacina, uma fluorquinolona de amplo
espectro contra gram-negativas e gram-positivas (PLUMB, 1999) é um
antimicrobiano eficiente, mesmo sendo muito utilizado em medicina animal (COHN
et al., 2003). Segundo Coggan (2005), a enrofloxacina é o antimicrobiano de eleição
em pós-cirúrgicos de ovário histerectomia de cadelas com piometra no Hospital
Veterinário (HOVET) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da
Universidade de São Paulo, e considerou eficiente este antimicrobiano por ter
verificado que 68% dos microrganismos apresentaram sensibilidade a este.
CONCLUSÃO
Foram observados 19,4% (n=7) de amostras com crescimento bacteriano,
porém, livres de HCE ou qualquer outra lesão ou conteúdo intra-uterino.
Verificou-se crescimento bacteriano em 66,7% dos úteros com HCE e
ausência em 33,3% dos casos.
Verificou-se que é a E. coli o principal agente envolvido na HCE, com
porcentagem de 80% de ocorrência, e a soma da ocorrência das outras bactérias
isoladas de 20%.
Os antimicrobianos enrofloxacina, ciprofloxacina, amoxicilina mais ácido
clavulânico e clorafenicol foram os mais eficazes diante das bactérias isoladas em
úteros com HCE, e a tetraciclina e a ampicilina as menos eficazes 18,18%.
.
58
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61
TRABALHO III
INDICADORES CLÍNICOS, HISTOPATOLÓGICOS E MICROBIOLÓGICOS DA
HIPERPLASIA CÍSTICA ENDOMETRIAL EM CADELAS
RESUMO
A hiperplasia cística endometrial (HCE) é uma afecção uterina de causa
atribuída a uma alteração entre as ações hormonais e expressões de receptores de
hormônios reprodutivos. Esta lesão tem seu diagnóstico e prognóstico dificultado
devido à sua forma de expressão, pois não manifesta sinais clínicos restringindo-se
na maioria das vezes a quadros de subfertilidade ou infertilidade. Entretanto
,
alguns
fatores podem predispor a HCE, e/ou servirem como indicadores para predizer a
ocorrência da mesma, auxiliando no diagnóstico e amesmo no prognóstico. No
presente trabalho foram colhidas informações sob forma de questionário de 36
cadelas ovário histerectomizadas
no Hospital Veterinário da Universidade Estadual
do Norte Fluminense Darcy Ribeiro-UENF e no Centro de Controle de Zoonoses
(CCZ) de Campos dos Goytacazes no ano de 2007. Foram analisados idade, escore
corporal, ocorrência de pseudociese, presença de secreção vaginal, uso de
contraceptivo, partos anteriores, tumor de mama e bactérias isoladas dos úteros das
cadelas. Os resultados obtidos permitiram afirmar que para a amostra em questão, o
uso de contraceptivo, presença de secreção vaginal e isolamento intra-uterino de E.
coli, são fatores relevantes para o diagnóstico da HCE e que estas associadas
aumentam a probabilidade da HCE se desenvolver nesta espécie.
PALAVRAS CHAVES: HCE, cadela, contraceptivo, secreção vaginal, gram-negativo
62
ABSTRACT
The endometrial cystic hyiperplasia (CEH) is a uterine affection of attributed cause to
an alteration between the hormonal actions and expressions of receivers of
reproductive hormones. This lesion has its diagnosis and prognostic hindered owed
in its expression form, because it doesn't manifest clinical signs limiting most of the
time to subfertility pictures or infertility. However some factors can predispose HCE,
and/or serve as indicators to predict the occurrence of the same, aiding in the
diagnosis and even in the prognostic. In the present work was gathered information
under form of questionnaire of 36 bitch ovary hysterectomyzed in the Veterinary
Hospital of the Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro-UENF and
in the Center of Control of Zoonoses (CCZ) in Campos of Goytacazes in 2007. Were
analyzed age, corporal score, pseudociese occurrence, presence of vaginal
secretion, use of contraceptive, previous childbirths, mamma tumor and isolated
bacterium of the uteruses of the bitch. The obtained results allowed to affirm that for
the sample in subject, the contraceptive use, presence of vaginal secretion and intra-
uterine isolation of E. coli, are important factors for the diagnosis of HCE and that
these associations increase the probability of HCE to grow in this species.
KEY WORDS: CEH, bitch, contraceptive, vaginal secretion, gram-negative
63
INTRODUÇÃO
A hiperplasia cística endometrial é a alteração reprodutiva mais freqüente em
cadelas com mais de 6 anos e trata-se de uma lesão de etiologia complexa
(CARREIRA & PIRES, 2005). Parece ser mediada por anormalidades nos receptores
endometriais para estrógeno/progesterona (De COCK et al., 1997), e além disso é
possível que cadelas com esta afecção tenham históricos de estros irregulares ou de
pseudociese (ARTHUR, 1964).
O ciclo estral desta espécie caracteriza-se pela existência de períodos
prolongados e recorrentes de dominância de progesterona que aparentemente
predispõem o endométrio à hiperplasia. De igual modo, está descrita a existência de
uma relação estreita entre a administração de progestágenos exógenos e a
ocorrência de HCE-piometra (KOOISTRA et al., 1997).
O uso de altas doses de progesterona como contraceptivo em cadelas
normais por um período prolongado, pode resultar no desenvolvimento de lesões
uterinas que são compatíveis com a piometra principalmente em cadelas jovens
(JOHNSON, 1994; FELDMAN, e NELSON, 1996; GOBELLO et al., 2003).
Em casos em que a HCE está associada à piometra, a secreção vaginal pode
ser constante ou intermitente caso a cérvix esteja aberta (CRAIG, 1937), e neste
caso, bactérias e neutrófilos no esfregaço vaginal podem estar presentes
(CHRISTIANSEN, 1988). A piometra é fechada, quando não abertura da cérvix,
havendo acúmulo de material no útero, não ocorrendo, portanto, secreção vaginal
(LUCAS et al., 2000).
O objetivo deste trabalho foi investigar fatores que juntos e/ou isolados podem
contribuir para predizer a HCE em cadelas. Para tanto foram analisadas as variáveis:
idade, escore corporal, pseudociese, secreção vaginal, tumor de mama, partos
anteriores e isolamento de bactérias no interior dos úteros.
64
MATERIAL E MÉTODOS
Animais
As cadelas utilizadas, foram de diferentes raças, e agrupadas de acordo com
o escore corporal e idades (anexo 1). Inicialmente foram assistidas no Hospital
Veterinário da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro-UENF, e
no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), ambos em Campos dos Goytacazes-RJ,
2007.
Histopatologia
Os úteros das 36 cadelas foram submetidos a exame histopatológico, e
considerou-se o diagnóstico positivo de HCE para 15 destas cadelas.
Microbiologia
Dos 36 úteros de cadelas que passaram pelo exame histopatológico, e
submetidos ao exame microbiológico, considerou-se diagnóstico positivo para 21
(58,3%) úteros com isolamento de 18 colônias puras e 3 mistas (24 amostras)
(Quadro 3).
65
QUADRO 3 - Característica microbiológica das amostras de fluido uterino de cadelas
com e sem HCE, Campos dos Goytacazes -RJ, 2007.
Bactérias isolada
Amostras com
crescimento
bacteriano
(n=24)
Amostras de
úteros com
HCE
(n=11)
Amostras de
úteros sem
HCE
(n=13)
E.coli
8 puras
2 mistas
8 puras
1 mista
-------
1 mista
Klebsiella Pneumoniae
2 puras ------ 2 puras
Pseudomonas aeruginosa
1 pura
1 mista
1 pura
-------
1 mista
-------
Salmonella spp
1 mista 1 mista -------
Proteus
1 pura ------- 1 pura
Enterobacter
3 puras ------- 3 puras
Serratia
1 pura
1 mista
-------
1 pura
1 mista
Shigella
2 puras
1 mista
--------
2 puras
1 mista
-------- = ausência / mista = 2 bactérias
Questionário / Histórico
Foi aplicado um questionário aos proprietários, com o objetivo de se obter
informações sobre o histórico reprodutivo das pacientes (Apêndice B).
As informações solicitadas foram: ocorrência e números de prenhez, data da
última parição, período do último estro, duração média e características do ciclo
estral (comportamento, duração e característica do sangramento, atração de
66
machos), pseudociese, tumor de mama, uso de contraceptivos, problemas
reprodutivos, montas ou inseminações artificiais que não resultaram em prenhez,
momento em que foi feito o acasalamento ou inseminação artificial, se o macho
acasalado tem fertilidade conhecida, estado clínico geral e secreção vaginal. Porém,
nem todas as perguntas puderam ser avaliadas devido à falta de conhecimento por
parte dos proprietários.
Os dados obtidos nos questionários e na microbiologia foram correlacionados
com a freqüência de ocorrência da HCE diagnosticada pela histopatologia.
Análise estatística
Para a análise das variáveis, foram apresentados os dados de
freqüência das variáveis analisadas em cadelas com ou sem HCE.
Considerando-se:
P
var
= Presença da variável
A
var
= Ausência da variável
P
HCE
= Presença de HCE
A
HCE
= Ausência de HCE
As freqüências foram agrupadas de acordo com a existência concomitante da
variável e da HCE:
Freqüência concomitante = animais com P
var
e P
HCE
+ animais com A
var
e A
HCE
(representa o número de animais que apresentam determinada variável e também
apresentam HCE ou que NÃO apresentam determinada variável e também NÃO
apresentam HCE);
Freqüência não concomitante = animais com P
var
e A
HCE
+ animais com A
var
e
P
HCE
(representa o número de animais que apresentam determinada variável e NÃO
apresentam HCE ou que NÃO apresentam determinada variável e apresentam
HCE).
67
Para verificar o efeito das variáveis: uso de contraceptivo, manifestação de
pseudociese, partos anteriores, escala de idade, presença de tumor mamário, escala
de escore corporal e presença de secreção vaginal, sobre o desenvolvimento da
HCE, as freqüências dos grupos com ou sem HCE foram comparadas pelo teste de
Qui-Quadrado, adotando-se o nível de 5% de significância.
Foram obtidos os coeficientes de correlação de Pearson entre as diversas
variáveis citadas e a presença de HCE, sendo sua significância verificada pelo teste
t de Student.
Para tornar possível a predição da HCE em cadelas, realizou-se a análise de
regressão linear múltipla, em que foram analisadas as variáveis (uso de
contraceptivo, manifestação de pseudociese, partos anteriores, escala de idade,
presença de tumor mamário, escala de escore corporal, presença de secreção
vaginal, isolamento de E. coli, isolamento de Enterobacter, isolamento de Klebsiella,
isolamento de Proteus, isolamento de Pseudomonas, isolamento de Salmonela,
isolamento de Serratia e isolamento de Shigella) e a variável dependente, a
ocorrência de HCE. Ainda, as variáveis cujos coeficientes não apresentaram
significância, foram excluídas da regressão, sendo obtida nova equação apenas com
as variáveis significativas, adotando-se procedimento do tipo stepwise.
As análises foram realizadas utilizando-se o aplicativo estatístico: Sistema
para Análises Estatísticas (SAEG), versão 9.1 (2007).
RESULTADOS
A idade média das cadelas que apresentaram HCE (n=15) foi de 6 anos,
(tabela 2).
68
TABELA 2 Distribuição das idades das cadelas submetidas ao exame
histopatológico do útero. Campos dos Goytacazes – RJ, 2007.
Idade
Diagnóstico
6 m - 2 a >2 - 8 a >8 a TOTAL
Sem HCE 38,1% (n=8)
52,4% (n=11) 9,5% (n=2) 100% (n=21)
Com HCE 26,7% (n=4)
33,3% (n=5) 40,0% (n=6) 100% (n=15)
TOTAL
33,3%
(n=12)
44,4% (n=16) 22,2% (n=8) 100% (n=36)
(p=0, 0791)
As respostas obtidas nos questionários foram agrupadas em diferentes
categorias (Tabela 3). O uso de contraceptivo e secreção vaginal mostraram
contribuir para incidência da HCE (p = 0,0045 e p = 0,0027, respectivamente).
TABELA 3 Histórico clinico - reprodutivo das cadelas com HCE, em Campos dos
Goytacazes - RJ, 2007,
Respostas
Categorias
Não
% (n)
Sim
% (n)
P**
Dentro da condição corporal ideal 26,7(4) * 73,3 (11) 1.0000
Usou de contraceptivo 73,3 (11) 26,7 (4) 0, 0045
Primípara / plurípara 66,7 (10) 33,3 (5) 0, 7388
Já apresentou pseudociese 86,7 (13) 13,3 (2) 0, 5050
Desenvolveu tumor de mama 80,0 (12) 20,0 (3) 0, 1824
Presença de secreção vaginal 40,0 (6) 60,0 (9) 0, 0027
*Cadelas subalimentada ou sob-alimentadas (fora do escore ideal)
**Teste do Qui-Quadrado com 5% de significância.
69
A freqüência de cadelas que fizeram uso de contraceptivo e apresentaram
HCE, somada as que não usaram contraceptivos e não apresentaram HCE foi igual
a 24. Em contrapartida, a freqüência das cadelas que usaram contraceptivos e não
apresentaram HCE somadas as queo usaram contraceptivo e apresentaram HCE
foi igual a 12. O mesmo se pode dizer da presença de secreção vaginal em relação
à HCE, sendo os valores iguais a 27 e 9, respectivamente (Tabelas 4 e 5).
TABELA 4 - Distribuição das cadelas em relação à ocorrência de HCE e o uso de
contraceptivo, Campos dos Goytacazes - RJ, 2007.
CONTRACEPTIVO
HCE
NÃO USO USO
AUSÊNCIA 4 1
PRESENÇA 11 20
TABELA 5 - Distribuição das cadelas quanto à ocorrência de HCE e a presença de
secreção vaginal, Campos dos Goytacazes - RJ, 2007
SECREÇÃO VAGINAL
HCE
AUSÊNCIA PRESENÇA
AUSÊNCIA 9 3
PRESENÇA 6 18
Dentre os itens avaliados, o uso de contraceptivo e presença de secreção
vaginal foram os que apresentaram relação concomitante significativamente maior
do que a relação não concomitante com a HCE, em nível de 5% de probabilidade,
(Tabela 6).
70
TABELA 6 - Distribuição dos úteros de cadelas de acordo com a ocorrência
concomitante dos itens analisados e HCE ou não. Campos dos Goytacazes - RJ,
2007.
Ocorrência
Itens analisados
Concomitante* Não concomitante**
Contraceptivo
12B 24A
Parto 17A 19A
Pseudociese 16 A 20A
Tumor de mama 14 A 22A
Escore corporal 18 A 18A
Secreção vaginal 9B 27A
Freqüências (números de animais observados) seguidas de mesma letra na mesma linha não
diferem estatisticamente entre si, em nível de 5% de probabilidade pelo teste de qui-quadrado.
*presença do item analisado e ausência de HCE ou ausência item analisado e presença de HCE
** presença item analisado e presença de HCE ou ausência item analisado e ausência de HCE
Dentre as variáveis analisadas individualmente, as únicas que apresentaram
correlação positiva e significativa (P<0,05) com a HCE foram: isolamento de E. coli,
presença de secreção vaginal e uso de contraceptivo, (tabela 7).
71
TABELA 7 Resultado da Correlação de Pearson entre itens analisados como
possíveis indicadores para HCE em úteros de cadelas, em Campos dos Goytacazes,
2007.
Variável Variável Observações Correlação T Significância
E.coli
HCE 36 + 0.6080 4.4654 0.0001
Secreção HCE 36 + 0.4781 3.1740 0.0016
Contraceptivo HCE 36 + 0.3123 1.9167 0.0319
Enterobacter
HCE 36 - 0.2548 - 1.5366 0.0668
Shigella
HCE 36 - 0.2548 - 1.5366 0.0668
Klebsiella
HCE 36 - 0.2050 - 1.2212 0.1152
Serratia
HCE 36 - 0.2050 - 1.2212 0.1152
Escala idade HCE 36 + 0.2039 1.2142 0.1165
Salmonela
HCE 36 + 0.2000 1.1902 0.1211
Tumor de mama
HCE 36 + 0.1493 0.8807 0.1923
Proteus
HCE 36 - 0.1429 - 0.8416 0.2029
Escala escore HCE 36 - 0.0714 - 0.4171 0.3396
Pseudomonas
HCE 36 + 0.0410 0.2392 0.4062
Pseudociese HCE 36 - 0.0136 - 0.0792 0.4687
Parto anteriores
HCE 36 0.0000 0.0000 0.5000
A correlação entre a soma de todas as variáveis, considerando 0 para
ausência e 1 para presença, com a variável HCE não mostrou diferença significativa
(P>0,05), conforme apresentado na Tabela 8, na linha 1. Porém, nesta mesma
tabela na linha 6 verifica-se que a soma entre as variáveis secreção vaginal, uso de
contraceptivo e isolamento de E. coli apresentou melhor conjunto de correlação
significativa e positiva com HCE.
72
TABELA 8 - Correlações entre o somatório dos itens analisados como possíveis
indicadores para HCE em úteros de cadelas e a ocorrência de HCE, em Campos
dos Goytacazes, 2007.
LINHA
Variáveis Variável
Observações
Correlação
T Significância
1
Pseudociese
Escala escore
Enterobacter
Klebsiella
Proteus
Serratia
Shigella
Parto anterior
Pseudomonas
Tumor mama
Salmonella
Escala idade
Contraceptivo
Secreção vaginal
E.coli
HCE 36 +0, 270 1,63 0, 056
2
Parto anterior
Pseudomonas
Tumor mama
Salmonella
Escala idade
Contraceptivo
Secreção vaginal
E.coli
HCE 36 +0, 474 3,14 0,0017
73
Continuação de TABELA 8
LINHA
Variáveis Variável
Observações
Correlação
T Significância
3
Tumor mama
Salmonella
Escala idade
Contraceptivo
Secreção vaginal
E.coli
HCE 36 +0, 495 3,32 0,0011
4
Salmonella
Escala idade
Contraceptivo
Secreção vaginal
E.coli
HCE 36 +0,516 3,52
0,0006
5
Escala idade
Contraceptivo
Secreção vaginal
E. coli
HCE 36 +0, 506 3,42
0, 0008
6
Contraceptivo
Secreção vaginal
E.coli
HCE 36 +0, 617 4,57
<0, 0001
7
Secreção vaginal
E.coli
HCE 36 +0, 603 4,40
<0, 0001
8
E.coli
HCE 36 +0, 608 4,47
<0, 0001
Foram também obtidas equações de regressão linear e múltipla para estimar
a HCE (Ŷ) a partir da soma das diversas variáveis. À semelhança do procedimento
adotado nas correlações, também se iniciou o processo utilizando-se a soma de
todas as variáveis, sendo que a primeira equação não foi significativa (P>0,05).
Sucessivas vezes foram retiradas da soma as variáveis que apresentaram
correlações não significativas, de forma que o melhor resultado (maiores valores dos
parâmetros estatísticos R
2
e F e melhor significância) foi aquele em que foi utilizada
a soma das variáveis contraceptivo + secreção vaginal + E.coli (tabela 9).
74
Assim, é possível estimar a probabilidade (de 0 a 1) de uma cadela apresentar HCE
utilizando-se a equação:
Ŷ = 0, 3094. X + 0, 1847
Sendo:
Ŷ = probabilidade de HCE (de 0 a 1)
X = soma das variáveis contraceptivo + secreção vaginal + E.coli, sendo
adotado 0 para ausência e 1 para presença.
TABELA 9 Equações de Regressão Linear para estimar a probabilidade de
ocorrência de HCE* em função da soma dos itens analisados como possíveis
indicadores para HCE em úteros de cadelas, em Campos dos Goytacazes, 2007.
VARIÁVEIS EQUAÇÃO R
2
F SIGNIF
Pseudociese
Escore corporal
Enterobacter
Klebsiella
Proteus
Serrátia
Shigella
Parto
Pseudomonas
Tumor mama
Salmonela
Idade escala
Contraceptivo
Secreção vaginal
E.coli
Ŷ = 0, 0647. X + 0, 1613 0, 0728 2,67 0, 1116
Parto
Pseudomonas
Tumor mama
Salmonela
Idade escala
Contraceptivo
Secreção vaginal
E.coli
Ŷ = 0, 1304. X 0, 2248 9,86 0, 0035
75
Continuação tabela 09
VARIÁVEIS EQUAÇÃO R2 F SIGNIF
Tumor mama
Salmonela
Idade escala
Contraceptivo
Secreção vaginal
E.coli
Ŷ = 0, 1439. X + 0, 013 0, 2454 11,05 0, 0021
Salmonela
Idade escala
Contraceptivo
Secreção vaginal
E.coli
Ŷ = 0, 1667. X – 0, 0278 0, 2667 12,36 0, 0013
Idade escala
Contraceptivo
Secreção vaginal
E.coli
Ŷ = 0, 1671. X – 0, 0241 0, 2562 11,71 0, 0016
Contraceptivo
Secreção vaginal
E.coli
Ŷ = 0, 3094. X + 0, 1847 0, 3801 20,84 0, 0001
Secreção vaginal
E.coli
Ŷ = 0, 3597. X + 0, 1968 0, 3632 19,39 0, 0001
E.coli
Ŷ = 0, 6692. X + 0, 2308 0, 3697 19,94 0, 0001
* 0 = a ausência de HCE e 1= a presença de HCE
DISCUSSÃO
A cadela mais nova que apresentou HCE era da raça Chow Chow e tinha 10
meses de idade, apresentava histórico de dois estros seguidos em curto espaço de
tempo, o que sugeriu se tratar de um “split cio”. Smith (2006) descreveu a
observação de piometra em subseqüentes gerações de cadelas jovens desta
mesma raça, juntamente com a raça Setter Inglês e sugeriu a existência de uma
tendência familiar para o desenvolvimento de HCE nestas cadelas. a cadela mais
velha era sem raça definida, tinha 12 anos de idade, e apresentava um histórico de
uso de contraceptivo em toda sua vida.
Fatores predisponentes como a duração prolongada do cio e/ou repetida ação
da progesterona no endométrio, (ETTINGER, 1992) podem ter sido a causa para
que uma cadela jovem (10 meses) apresentasse um quadro de HCE-piometra.
Segundo Noakes et al., 2001, nas cadelas a HCE é observada geralmente em
animais com mais de 6 anos, estando referida a sua ocorrência a uma idade média
76
de 8,5 anos. Johnson (1995), no entanto, aponta a existência de um amplo intervalo
de idades em que foi diagnosticado complexo HCE-piometra, sendo a idade menor
de 9 meses e a maior idade de 20 anos.
Dentre as 15 cadelas que apresentaram HCE, dez eram nulíparas e cinco
delas haviam parido ao menos uma vez. Os dados encontrados na literatura que
relacionam a HCE com o fato das cadelas serem nulíparas, primíparas ou pluríparas
fazem menção ao complexo HCE-piometra, prevalecendo o fato das nulíparas que
apresentam ciclo estral anormal ou pseudo gestação, serem mais propensas a esta
lesão (NISKANEN & THRUSFIELD, 1998). Allen (1995) encontrou uma mesma
freqüência do complexo HCE-piometra em cadelas nulíparas e pluríparas. Neste
trabalho a freqüência das cadelas nulíparas com HCE foi maior do que a soma das
pluríparas e primíparas, porém, estatisticamente este parâmetro não demonstrou
influenciar na ocorrência da HCE. Das cinco cadelas em que foram administrados
contraceptivos análogos da progesterona injetável, quatro delas tiveram diagnóstico
positivo para HCE contra 01 negativa. Este fato indica que o uso de medicamentos
desta natureza na prevenção de prenhez é um fator que pode predispor cadelas à
ocorrência de HCE, por esta espécie ser mais propensa ao desenvolvimento por ser
monoéstrica e exibir diestro longo.
O uso de altas doses de progesterona como contraceptivo em cadelas
normais por um período prolongado, pode resultar no desenvolvimento de lesões
uterinas que são compatíveis com a piometra (JOHNSON, 1994; FELDMAN, e
NELSON, 1996; GOBELLO et al., 2003; CONCANNON, 2004), ou mesmo quando
utilizadas em doses indicadas. (CONCANNON, 2004). Porém, casos de cadelas
que toleram doses mais altas do que as indicadas, sem que sofram com qualquer
efeito colateral. Lesões como a HCE e a piometra podem ser causadas também se a
administração do contraceptivo for realizada em proestro, estro ou fase lútea, pois a
interação com uma elevação anterior do estrógeno pode intensificar as lesões
uterinas (CONCANNON, 2004). Neste estudo não foi possível identificar a fase estral
exata nem a posologia utilizada dos análogos de progesterona, no entanto, segundo
informações obtidas, nenhuma delas apresentava sinais de estarem em proestro
quando receberam o contraceptivo. Foi observado também que o uso de
contraceptivos pode não necessitar de um tempo prolongado de uso, pois
constataram que duas cadelas que receberam uma única dose, desenvolveram
HCE.
77
Os tumores mamários caninos são claramente hormonalmente dependentes e
constituem aproximadamente 52% de todos os tumores que afetam as cadelas,
embora a incidência mostre tendência para diminuir, uma vez que a prática da
ovariectomia em fêmeas jovens é cada vez mais comum (QUEIROGA & LOPES,
2002). Os tumores de mama aqui observados foram identificados pela histologia
como adenomas complexos e não demonstraram influenciar no desenvolvimento da
HCE.
Não foi observada influência da pseudociese no desenvolvimento da HCE,
embora, esta, seja a causa de uma hiperplasia endometrial durante sua
manifestação (NASCIMENTO E SANTOS, 2003). Cadelas com pseudociese
clinicamente encontram-se na fase de diestro e muitas vezes apresentam distensão
abdominal, hiperplasia da glândula mamária com secreção láctea e comportamento
que mimetiza o de uma cadela gestante. (NASCIMENTO e SANTOS, 2003).
Verificou-se que a secreção vaginal pode contribuir para se chegar a um
diagnóstico de HCE. Nos casos em que foi observada secreção vaginal, a HCE
estava associada à piometra aberta. Na piometra aberta ocorre que a cérvix está
quase completamente aberta e presença de secreção vaginal; e na fechada há
acúmulo de conteúdo no útero, não ocorrendo, portanto, secreção vaginal (LUCAS
et al., 2000). Neste estudo todos os casos em que foi observada a associação da
HCE com a piometra, estas, foram do tipo aberta, não havendo nenhuma do tipo
fechada.
Foi observado que em 27 casos, havia HCE e também secreção vaginal, ou
não havia HCE e não havia secreção, e em 24 casos havia HCE e também havia
uso de contraceptivo, ou não havia HCE e não havia uso de contraceptivo. Este
resultado vem aumentar a confiança de que essas duas variáveis são válidas em
predizer o diagnóstico da HCE, pois o número de coincidência entre HCE e as
variáveis foi superior ao número de casos em que não houve coincidência dos
mesmos.
O fato de ter sido observado correlações positivas além de significativas entre
a HCE e as variáveis E. coli, secreção vaginal e contraceptivo , indica que deve
existir uma relação direta entre estas três variáveis e a HCE, ou seja, o aumento da
freqüência destas variáveis aumentam as chances da presença de HCE.
78
A E. coli foi observada em maior freqüência em swabs vaginais de cadelas no
estro, inférteis ou com secreção vaginal e também de swabs prepuciais por Allen e
Dagnall (1982). Estes autores observaram ainda, que a E. coli pode ser transmitida
através do coito. Neste trabalho a E. coli exibiu uma correlação (r= 0.6080, P< 0,05)
relativamente alta em comparação com as demais bactérias em relação à HCE, o
que leva a concordar com Coggan (2005) que a E. coli é a bactéria mais
freqüentemente isolada do conteúdo uterino de cadelas com o complexo HCE-
piometra, porém acrescentou-se que é a bactéria mais freqüentemente isolada de
úteros com HCE.
Para obtenção de uma equação que pudesse estimar o risco da ocorrência de
HCE entre as cadelas, obteve-se o melhor resultado quando foi utilizada a soma das
variáveis: contraceptivo, E.coli e secreção vaginal. Este resultado indica que quando
secreção vaginal e somou-se a este fato, a administração de contraceptivo e
isolamento intra-uterino de E.coli, aumentou-se a confiabilidade no diagnóstico para
HCE.
CONCLUSÃO
A secreção vaginal, isolamento de E. coli e uso de contraceptivo interferem
na freqüência de ocorrência de HCE.
O aumento da freqüência de uso de contraceptivo, isolamento intra-uterino de
E.coli e presença de secreção vaginal em conjunto aumentam também as
freqüências das ocorrências de HCE.
É possível estimar a presença de HCE através de uma equação de regressão
utilizando-se as variáveis: contraceptivo, secreção vaginal e E.coli.
79
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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the genital tract of the dog and bitch. Journal of Small Animal Practice, v. 23, p.
325-335, 1982.
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Fertilidade e Obstetrícia no Cão. São Paulo: Varela, 1995, p 18-25.
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Interamericana, 1964. 526p
CARREIRA P.R., E PIRES M.A. [Hiperplasia quística do endométrio em cadelas
Cystic endometrial hyperplasia in the bitch] Revista Portuguesa de Ciências
Veterinária p. 5-16, 2005.
CHRISTIANSEN, I.J. Reprodução do cão e no gato. São Paulo: Manole, 1988,
p.26 – 28.
COGGAN, J.A. Estudo microbiológico de conteúdo uterino e histopatológico de
útero de cadelas com piometra e pesquisa de fatores de virulência em cepas
de E. coli e o potencial risco à saúde humana. Dissertação (mestrado).
Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
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ETTINGER, S.J. Tratado de medicina interna veterinária. 3.ed. São Paulo:
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FELDMAN, E.C.; NELSON, R.W. Canine and feline endocrinology and
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80
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Fertility. (Suppl. 51), 355 – 361, 1997
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NISKANEN, M.; THRUSFIELD, M.V. Associations between age, parity, hormonal
therapy and breed, and pyometra in finnish dogs. Veterinary Record, v.143, n.18,
p.493-8, 1998.
NOAKES, D. E.; PARKINSON, T. J.; ENGLAND, G. C. W. Arthur’s veterinary
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.
QUEIROGA, F. & LOPES, C. Congresso de Ciências Veterinárias [Proceedings of
the Veterinary Sciences Congress, 2002], SPCV, Oeiras, 10-12 Out., p. 183-190.
SMITH, F.O. Canine pyometra. Theriogenology. 66: p.610-612, 2006.
81
5. CONCLUSÕES GERAIS
É possível estabelecer um escore para HCE baseando-se no número de
unidades glandulares císticas e quantidade de infiltrado neutrofílico.
A colheita de uma única amostra do endométrio uterino é representativa do
estado geral do útero em questão, não importando o local de colheita histológica.
A E. coli é o principal agente envolvido na HCE.
As bactérias isoladas em úteros com HCE apresentaram 100% se
sensibilidade frente os antimicrobianos enrofloxacina, amoxicilina mais ácido
clavulânico e cloranfenicol, e maior resistência à tetraciclina e ampicilina, ambos com
18,2%.
A presença de secreção vaginal e uso de contraceptivo interferem na
ocorrência de HCE.
O isolamento intra-uterino de E.coli, presença de secreção vaginal e uso de
contraceptivo juntos aumentam a freqüência da ocorrência de HCE.
A equação de regressão proposta estima a presença de HCE quando os
parâmetros: contraceptivo, secreção vaginal e E.coli. foram utilizados
82
6. APÊNDICES
6.1 - Apêndice A – Prancha com Fotomicrografias
6.1.1 – Prancha demonstrativa da classificação da hiperplasia cística
endometrial em cadelas quanto ao número de glândulas císticas.
6.1.2 – Prancha demonstrativa da classificação da hiperplasia cística
endometrial em cadelas quanto ao número de neutrófilos.
6.2 - Apêndice B – Ficha de Identificação
83
6.1 - Apêndice A – Prancha com Fotomicrografias
6.1.1 – Prancha demonstrativa da classificação da hiperplasia cística endometrial em
cadelas quanto ao número de glândulas císticas.
I
II
1
2
4
3
6
5
7
9
8
III
1
3
2 4
5
6
8
7
9
10
11
IV
Figura 1. Prancha com fotomicrografias representativas das classificações da
hiperplasia cística endometrial em cadelas quanto ao número de glândulas. I)
Unidades glandulares com dimensões sem alterações note na marcação
glândulas de tamanhos normais hiperplásicas sob ação estrogênica; II) Escore A,
note nas marcações as glândulas dilatadas no campo microscópico; III) Escore B;
número de glandulas dilatadas compatíveis com este escore; IV) Escore C. Obj.
4X/H X E.
84
6.1.2 – Prancha demonstrativa da classificação da hiperplasia cística endometrial em
cadelas quanto ao número de neutrófilos.
Figura 2. Prancha com imagens representativas das classificações da hiperplasia
cística endometrial em cadelas quanto à quantidade de neutrófilos. I) Escore 1,
note nas marcações neutrófilos no interior da glândula dilatada; II) Escore 2,
observe nas marcações aglomerados de neutrófilos acompanhados de infiltrado
de mononucleares no interior de glândulas dilatadas. Obj. 40X/ H X E.
85
6.2 - Apêndice B – Ficha de Identificação
Ficha de Identificação
Nome: Idade:
Raça: Peso:
Escore corporal:
Já pariu: Quantas Vezes:
Data da última:
Já cruzou ou inseminou e não emprenhou:
Usou contraceptivo Qts.vezes?
Característica:
Quantos cios no ano?
Duração:
Características:
Apresentando secreção vulvar:
Características: (cor, odor):
Possui tumor de mama?
Apresentando problema de saúde:
Qual?
Usou ou está usando medicamento (antibiótico?):
Qual:
86
7. ANEXOS
7.1 – Anexo A – Sistemas de distribuição de escore corporal.
7.2 – Anexo B – Sistemas de distribuição de idades.
7.3 – Anexo C – Protocolo de coloração de hematoxilina e eosina.
87
7.1 – Anexo A – Sistemas de distribuição de escore corporal.
Sistema de avaliação de escore corporal (LAFLAMME, 1997), utilizado na
avaliação das cadelas, Campos dos Goytacazes, 2007.
Escore corporal
1 a 3
(subalimentação)
4 a 5
(ideal)
6 a 9
(sob-alimentação)
7.2 – Anexo B – Sistemas de distribuição de idades.
Idades separadas por intervalos, utilizado na avaliação das cadelas, Campos
dos Goytacazes, 2007.
Idade
6 m - 2 a
>2 a -8 a
>8 a
m=meses / a= anos/
88
7.2 – Anexo C – Protocolo de coloração de hematoxilina e eosina.
PROCEDIMENTO:
Xilol I - 1 a 3 minutos
Xilol II - 1 a 3 minutos
Álcool etílico I - 1 minuto
Álcool etílico II - 1 minuto
Álcool etílico III - 1 minuto
Água corrente - 1 minuto
Água destilada - 1 minuto
Hematoxilina - 4 a 6 minutos
Água corrente - banho
Água corrente - 15 minutos
Água destilada - 1 minuto
Álcool 70 % - 1 minuto
Eosina - 15 a 30 segundos
Álcool etílico I - 1 minuto
Álcool etílico II - 1 minuto
Álcool etílico III - 1 minuto
Álcool etílico IV - 1 minuto
Álcool etílico V - 1 minuto
Xilol I - 1 a 3 minutos
Xilol II - 1 a 3 minutos
Montar a lâmina e a lamínula.
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