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Fundação Oswaldo Cruz
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães
Departamento de Saúde Coletiva
A repercussão das doenças crônicas não-
transmissíveis (DCNT) na concessão de
auxílios-doença e aposentadorias por
invalidez no Instituto Nacional de Seguro
Social (INSS)
U
UU
UG
GG
G
Recife, 2005
Alda Alice Gomes de Souza
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Alda Alice Gomes de Moura
A Repercussão das Doenças Crônicas
Não-Transmissíveis (DCNT) na Concessão de
Auxílios-Doença e Aposentadorias por Invalidez
no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).
Dissertação apresentada ao Departamento de
Saúde Coletiva do Centro de Pesquisas
Aggeu Magalhães da Fundação Oswaldo
Cruz (NESC/CPqAM/FIOCRUZ), para a
obtenção do grau de Mestre em Saúde
Pública.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Maia Freese
de Carvalho.
RECIFE, 2005
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Alda Alice Gomes de Moura
A Repercussão das Doenças Crônicas
Não-Transmissíveis (DCNT) na Concessão de Auxílios-
Doença e Aposentadorias por Invalidez no Instituto
Nacional de Seguro Social (INSS).
Dissertação apresentada ao Departamento de Saúde Coletiva do Centro de Pesquisas
Aggeu Magalhães da Fundação Oswaldo Cruz (NESC/CPqAM/FIOCRUZ), como
requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Saúde Pública.
Recife, 29 de março de 2005.
Orientador:
____________________________________
Eduardo Maia Freese de Carvalho.
NESC/CPqAM/FIOCRUZ
1° Examinador: 2° Examinador:
_________________________________ _____________________________
Profa. Maria Rejane Ferreira da Silva Profa. Ana Cristina de Souza Vieira
NESC/CPqAM/FIOCRUZ. Depto. Serviço Social/UFPE.
AGRADECIMENTOS
Alguns trabalhos não seriam possíveis sem o envolvimento e a dedicação de um
grande número de pessoas. Portanto, inúmeros são os agradecimentos a fazer a todos
que colaboraram, voltando-se para mim, com palavras de motivação, olhares
preocupados e ansiosos por resultados, sugestões, críticas, indicações bibliográficas,
momentos de alegria e descontração, ajuda na hora certa, companheirismo, carinho e
compreensão por minhas ausências:
A Deus, fonte de toda a sabedoria que ilumina todos os passos humanos e os
descobrimentos da ciência, pois só Ele tem a ciência da vida.
A meus pais, incentivadores incondicionais, sempre presentes, desde o início da
minha jornada. Àqueles com quem aprendi a dar os primeiros passos e a pronunciar as
primeiras palavras.
A Fernando, meu marido, companheiro e amigo que dividiu comigo a arte de
controlar o stress e aprender a fazer dos desafios diários uma motivação para vencer. E
acima de tudo, sempre acreditou na minha capacidade de chegar ao final desta
caminhada.
Ao professor Eduardo Freese, por sua orientação firme e segura e por ter exigido
mais de mim. Sua objetividade, paciência e compreensão me ajudaram a encontrar
sempre o melhor caminho a tomar quando tudo me parecia tão difícil e obscuro.
As professoras Eduarda Cesse, Ana Vieira e Rejane Ferreira, pelas contribuições
na qualificação e na defesa desta dissertação, suas sugestões e críticas me ajudaram a
encontrar o rumo e a sedimentar o conteúdo deste estudo.
Aos professores do Curso de Mestrado do NESC, atores desta história, que
consolidaram conhecimentos e que despertaram em mim o prazer de apreender mais
sobre a saúde pública.
Ao Sr. Francisco Travassos, gerente executivo do INSS/Recife pela sua valorosa
atenção, disponibilidade e simplicidade em atender-me e pela ajuda tão necessária para
a finalização deste trabalho.
A Dra. Ana Ruth, Dr. Neilton, Dra. Ena e Dra. Justina, pela atenção e apoio
concedido no desenvolvimento deste trabalho.
A Ana Jerusa, Marco Aurélio, Marcos Lima e Zelândia, funcionários da
DATAPREV, sem os quais não haveria como eu organizar tantos dados.
A turma da Secretaria Acadêmica, ao pessoal da biblioteca e a todos os que
fazem o NESC funcionar e que nunca se negaram a atender aos meus pedidos de ajuda.
Ao pessoal do Laboratório de Apoio à Municipalização do NESC, o meu
agradecimento sincero pela oportunidade de conviver e aprender com vocês.
A minha turma de mestrado (Dani, Naíde, Lú, Maris, Rose, Gerlane, Veruska,
Rita, Gisele, Camila e André) amigos guardados para sempre em minha memória, com
os quais vivi os desafios e as alegrias de estar mestranda.
Aos incansáveis na oração e torcida (Catarina, Bartira e Fernando), sem os quais
a minha jornada seria muito mais difícil.
A minha turma dos sábados (Pepe, Vivi, Binho, Fábia, Nil, Júnior, Rico e Quel),
que me ouviram falar inúmeras vezes das ansiedades que me assombravam no decorrer
do curso, mas, que sempre me foram solidários com palavras de incentivo, e
especialmente a Rubinho, amigo de longas datas, pela sua ajuda e colaboração para a
realização deste trabalho.
MUITO OBRIGADA!!!
“O pesquisador que inicia um projeto não
necessita conhecer todos os métodos possíveis,
assim como o explorador que parte de um lugar
não precisa conhecer todos os caminhos. Precisa
apenas dispor de alguns sinais, de algumas
ferramentas que lhe permitam avançar e se
orientar. Em muitos casos, os pesquisadores, como
os caminhantes, fazem o caminho ao caminhar...”.
(Frederico Tobar)
RESUMO
Identificar a repercussão das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT)
considerando as concessões de auxílios-doença e aposentadorias por invalidez, a partir
das agências do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) localizadas em Recife/PE,
no período de 2000-2002, é o principal objetivo deste trabalho. O referencial teórico
está fundamentado, basicamente, no conteúdo das ciências sociais, voltados para as
transformações demográficas e para o papel da previdência social, enquanto política
pública de proteção do trabalhador, além das disciplinas da saúde coletiva. A análise do
universo dos benefícios concedidos, 14.879 por auxílios-doença e 3.091 por
aposentadorias por invalidez (excluídos os benefícios concedidos por acidentes do
trabalho) foram suficiente para demonstrar a repercussão das DCNT sob o INSS no
decorrer do período. Os resultados indicaram uma tendência de crescimento das DCNT,
onde as doenças osteomusculares (14,5%) conformaram o principal grande grupo de
causas para a concessão de auxílio-doença e as doenças do aparelho circulatório
(23,6%) para as aposentadorias por invalidez. Entre as principais causas específicas
dentro dos grandes grupos das DCNT, identificamos, para a concessão de auxílio-
doença, as doenças hipertensivas, a diabetes mellitus, as artroses, outras dorsopatias, as
neoplasias malígnas da mama, os transtornos do humor (afetivos) e a esquizofrenia. Em
relação às aposentadorias por invalidez, observamos, as doenças cerebrovasculares, a
diabetes mellitus, as artroses, as neoplasias malígnas dos órgãos digestivos e a
esquizofrenia. As características demográfica e de renda apontaram uma maioria do
sexo masculino, entre 39 e 58 anos e com valor mensal inicial de benefício de até 3
salários mínimos.
ABSTRACT
This study aimed to verify the non-transmissible chronical disease (NTCD) repercussion
on Social Beneficence Health Institution (SBHT) illness aiding fund and disability
retirement request in Recife-PE between 2000 and 2002. The theorical references were
based on Social Science contents which were turned to demographic changing and also
to social politics to protect workers besides consideration taken into health collectivity
disciplines. The illness aiding concession analysis (14.879 ones) and disability
retirement request (3.091 ones), that is, non-inclusion of working accident aiding
concession, obviously, was enough to show NTCD resounding on SBHT during the
period referred alove. Results indicated NTCD has been on the rise: bony-muscular
ones (14,5%) the majority of illness incidence for aiding concession so far. On the
other hand it was noted (23,6%) – cirdulatory system illness leading to disability
retirement request. Some NTCD were identified among the main specific causes of
illness aiding concession such as hypertension, diabetes mellitus, arthrosis,
dorsepathologies, breast neoplasies, emotional mood changing and schizophreny.
Referring to disability retirement request it was noted there were brained disorders
(vascular ones), diabetes mellitus, arthrosis, digestive neoplasies and schizophreny.
Demographic and financias characteristics indicated male sex on the majority ranking
observed aged between 39 and 58 corresponding three minimum wages as initial
monthly earning.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
QUADROS:
Quadro I Década de 20: Os Primeiros Anos da Previdência Social
Brasileira
43
Quadro II – Décadas de 30 e 40: A Expansão da Proteção Social e a Primeira
Tentativa de Unificação
46
Quadro III Décadas de 50 e 60: A Uniformização da Legislação e a
Centralização da Previdência
48
Quadro IV Décadas de 70 e 80: A Ampliação de Direitos e as Garantias da
Constituição Federal de 1988
51
Quadro V - cadas de 90 e 2000: A Nova Unificação e os Caminhos da
Reforma
56
GRÁFICOS:
Gráfico 1 – Distribuição dos auxílios-doença segundo agência e ano de
concessão do benefício, em Recife no período 2000-2002.
78
Gráfico 2 Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo agência e
ano de concessão do benefício, em Recife no período 2000-2002.
79
Gráfico 3 Distribuição dos auxílios-doença segundo grandes grupos de
causas de doenças de acordo com a CID-10 em relação às DCNT, em Recife
no período 2000-2002.
82
Gráfico 4 Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo grandes
grupos de causas de doenças de acordo com a CID-10 em relação às DCNT,
em Recife no período 2000-2002.
82
Gráfico 5 Distribuição dos auxílios-doença segundo sexo, em Recife no
período 2000-2002.
93
Gráfico 6 Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo sexo, em
Recife no período 2000-2002.
93
Gráfico 7 Distribuição dos auxílios-doença segundo idade, em Recife no
período 2000-2002.
94
Gráfico 8 Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo idade, em
Recife no período 2000-2002.
94
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuição dos auxílios-doença segundo grandes grupos de
causas de doenças de acordo com a CID-10, em Recife no período 2000-
2002.
80
Tabela 2 - Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo grandes
grupos de causas de doenças de acordo com a CID-10, em Recife no período
2000-2002.
81
Tabela 3 - Distribuição dos auxílios-doença segundo causas específicas no
interior do grupo das doenças do aparelho circulatório - DAC, em Recife no
período 2000-2002.
83
Tabela 4 - Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo causas
específicas no interior do grupo das doenças do aparelho circulatório - DAC,
em Recife no período 2000-2002.
84
Tabela 5 - Distribuição dos auxílios-doença segundo causas específicas no
interior do grupo das doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas
DENM, em Recife no período 2000-2002.
85
Tabela 6 - Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo causas
específicas no interior do grupo das doenças endócrinas, nutricionais e
metabólicas – DENM, em Recife no período 2000-2002.
85
Tabela 7 - Distribuição dos auxílios-doença segundo causas específicas no
interior do grupo das doenças do sistema osteomuscular e do tecido
conjuntivo - DO, em Recife no período 2000-2002.
86
Tabela 8 - Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo causas
específicas no interior do grupo das doenças do sistema osteomuscular e do
tecido conjuntivo - DO, em Recife no período 2000-2002.
87
Tabela 9 - Distribuição dos auxílios-doença segundo causas específicas no
interior do grupo das neoplasias - NEO, em Recife no período 2000-2002.
88
Tabela 10 - Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo causas
específicas no interior do grupo das neoplasias - NEO, em Recife no período
2000-2002.
89
Tabela 11 - Distribuição dos auxílios-doença segundo causas específicas no
interior do grupo dos transtornos mentais e comportamentais - TMC, em
Recife no período 2000-2002.
90
Tabela 12 - Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo causas
específicas no interior do grupo dos transtornos mentais e comportamentais -
TMC, em Recife no período 2000-2002.
91
Tabela 13 - Distribuição dos auxílios-doença segundo a renda mensal inicial
recebida pelo segurado, em Recife no período 2000-2002.
92
Tabela 14 - Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo a renda
mensal inicial recebida pelo segurado, em Recife no período 2000-2002.
92
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 Parecer do Conselho de Ética em Pesquisas (CEP) do
CPqAM/FIOCRUZ.
Anexo 2 Resolução 196 de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional
de Saúde
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AIS Ações Integradas de Saúde
APS Agência da Previdência Social
CAP´s Caixas de Aposentadorias e Pensões
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CE Lesões, Envenenamento e Algumas Outras Conseqüências de
Causas Externas (Cap. XIX/CID-10)
CEP Conselho de Ética em Pesquisas
CEME Central de Medicamentos
CID Código Internacional de Doenças
CLPS Consolidação das Leis da Previdência Social
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
CONASP Conselho Nacional de Administração da Saúde Previdenciária
CNS Conselho Nacional de Saúde
CPqAM Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães
DAC Doenças do Aparelho Circulatório (Cap. IX/CID-10)
DAD Doenças do Aparelho Digestivo (Cap. XI/CID-10)
DAG Doenças do Aparelho Geniturinário (Cap. XIV/CID-10)
DAR Doenças do Aparelho Respiratório (Cap. X/CID-10)
DATAPREV Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social
DCNT Doenças Crônicas Não Transmissíveis
DCV Doenças Cardiovasculares
DENM Doenças Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas (Cap. IV/CID-
10)
DIEESE Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-
Econômicos
DIP Doenças Infecciosas e Parasitárias (Cap. I/CID-10)
DO Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo
(Cap. XIII/CID-10)
DPTS Doenças da Pele e do Tecido Subcutâneo (Cap. XII/CID-10)
DS Doenças do Sangue e dos Órgãos Hematopoéticos e alguns
transtornos imunitários (Cap. III/CID-10)
DSN Doenças do Sistema Nervoso (Cap. VI/CID-10)
EC Emenda Constitucional
FES Fatores que influenciam o Estado de Saúde e o Contato com os
Serviços de Saúde (Cap. XXI/CID-10)
FHC Fernando Henrique Cardoso
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
FUNABEM Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor
FUNRURAL Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural
GPP Gravidez, Parto e Puerpério (Cap. XV/CID-10)
IAP´s Institutos de Aposentadorias e Pensões
IAPAS Instituto de Administração Financeira da Previdência Social
IAPB Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Bancários
IAPC Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários
IAPI Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários
IAPM Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Marítimos
IAPTEC Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Trabalhadores em
Trapiches e Armazéns
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IN Instrução Normativa
INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social
INPS Instituto Nacional de Previdência Social
INSS Instituto Nacional de Seguro Social
IPASE Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado
ISSB Instituto de Serviços Sociais do Brasil
LAMSAÚDE Laboratório de Apoio à Municipalização
LBA Legião Brasileira de Assistência
LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
LOAS Lei Orgânica da Assistência Social
LOPS Lei Orgânica da Previdência Social
LOS Lei Orgânica da Saúde
MCD Malformações congênitas, deformidades e anomalias
cromossômicas (Cap. XVII/CID-10)
MEDLINE MEDlars On Line, Literatura Internacional
MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social
MPS Ministério da Previdência Social
MS Ministério da Saúde
MT Ministério do Trabalho
MTPS Ministério do Trabalho e Previdência Social
NEO Neoplasias (Cap. II/CID-10)
NESC Departamento de Saúde Coletiva
OMS Organização Mundial de Saúde
OPAS Organização Panamericana de Saúde
PEC Proposta de Emenda Constitucional
PMA Programa de Melhoria do Atendimento
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PREV-SAÚDE Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde
PRORURAL Programa de Assistência ao Trabalhador Rural
RBPS Regulamento de Benefício da Previdência Social
RCPS Regulamento de Custeio da Previdência Social
RGPS Regime Geral da Previdência Social
RMR Região Metropolitana do Recife
RPS Regime de Previdência Social
SIDA Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
SIELO Scientific Eletronic Library On Line
SIMPAS Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social
STF Supremo Tribunal Federal
SUDS Sistemas Descentralizados de Saúde
SUS Sistema Único de Saúde
TMC Transtornos Mentais e Comportamentais (Cap. V/CID-10)
SUMÁRIO
APRESENTAÇÂO
1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 22
1.1 Transição epidemiológica: entre dois padrões................................................... 22
1.2 A importância da transição demográfica no caso brasileiro.............................. 27
1.3 As doenças crônicas não-transmissíveis: mais um desafio para a política de
saúde ........................................................................................................................ 33
1.4. Política social, direitos sociais e cidadania........................................................ 39
1.5 Origem e evolução histórica da Previdência Social no Brasil............................ 42
1.6. A Previdência Social enquanto política pública de seguridade social .............. 62
2. OBJETIVOS.......................................................................................................
69
2.1. Objetivo Geral...................................................................................................
69
2.2. Objetivos Específicos........................................................................................ 69
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..................................................... 70
3.1. O tipo de estudo....... ........................................................................................ 70
3.2. A população de estudo ..................................................................................... 71
3.3 A Área de abrangência ....................................................................................... 72
3.4. A Coleta de dados............................................................................................. 72
3.5. O Processamento e análise dos dados................................................................ 73
3.6 Alguns conceitos importantes ........................................................................ 74
3.7 Viabilidade do projeto de pesquisa ................................................................. 75
3.8. Considerações éticas ........................................................................................ 76
3.9. Limites da pesquisa ........................................................................................... 76
4. RESULTADOS................................................................................................... 78
5. DISCUSSÃO ...................................................................................................... 95
6. CONCLUSÕES ..................................................................................................
108
7. RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES ........................................................... 111
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 114
ANEXOS
APRESENTAÇÃO
O presente trabalho é o resultado das minhas atividades acadêmicas no curso de
Mestrado em Saúde Pública no Departamento de Saúde Coletiva, do Centro de
Pesquisas Aggeu Magalhães, da Fundação Oswaldo Cruz e está inserido em uma das
áreas temáticas do programa de pós-graduação denominada de Epidemiologia e
Políticas de Saúde e na linha de pesquisas das Doenças Crônicas Não-transmissíveis e
Avaliação de Serviços, desenvolvida pelo Laboratório de Apoio à Municipalização.
Nosso interesse pelo tema é decorrente do desejo de reunir em um único estudo,
as experiências obtidas através da minha formação enquanto assistente social com um
assunto de grande relevância para a Saúde Pública e que pudesse contribuir para o
debate em torno das questões que se encontram entranhadas no cenário social e sanitário
do país. Este estudo se justifica pela importância que as DCNT vem assumindo dentro
do quadro sócio-epidemiológico brasileiro que vem se modificando na procura por
serviços de saúde e pelo incremento de concessões de benefícios por incapacidade
temporária a segurados em idade produtiva acometidos por este grupo de doenças.
Nesta perspectiva, o objetivo geral deste trabalho é identificar a repercussão das
Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT) considerando as concessões de auxílios-
doença e aposentadorias por invalidez, a partir das agências do Instituto Nacional de
Seguro Social (INSS), localizadas em Recife/PE, no período 2000-2002.
Diante do exposto, o presente trabalho terá inicialmente, uma breve explanação a
respeito das condições de saúde do país que passa por um processo de transição
epidemiológica. Este perfil está profundamente marcado pela coexistência de doenças
21
da “modernidade” e de doenças decorrentes do “atraso” refletindo num padrão de
morbimortalidade complexo e heterogêneo, submetendo a população brasileira a
variados e distintos agravos e doenças.
Em linhas gerais, este estudo aborda a repercussão dos problemas de saúde
relacionados a DCNT na concessão de benefícios precoces por incapacidade temporária
a população trabalhadora seguradas do Regime Geral de Previdência Social (RGPS).
Destaca também, a contribuição de diversos autores a respeito dos processos de
transição epidemiológica e demográfica, enfatizando as peculiaridades do caso
brasileiro.
Por fim, o estudo salienta a importância da Previdência Social enquanto política
pública que faz parte da seguridade social e é assegurada constitucionalmente, no
sentido de garantir a reposição da renda para o sustento do trabalhador e de sua família
em caso de incapacidade para o trabalho.
22
1 INTRODUÇÃO
1.1 A TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA: ENTRE DOIS PADRÕES
Nos países desenvolvidos, sobretudo os da Europa e da América do Norte, a
transição epidemiológica ocorreu com o controle e erradicação de várias endemias e
epidemias, devido ao investimento na melhoria das condições de vida de sua população,
proporcionado através de políticas sociais e ações voltadas à educação, saneamento
básico, moradia, lazer e também ao incremento da renda dos indivíduos. Além da
manutenção de medidas curativas e hospitalares, foram também implementadas as ações
preventivas e de atenção básica como a vacinação e o monitoramento de grupos
populacionais considerados mais vulneráveis ao risco de adoecimento e morte
(CARVALHO ET AL.,1998).
Com efeito, o século XX foi palco de importantes transformações no perfil
epidemiológico e de acordo com Carvalho et al. (1998), como conseqüência das
medidas supracitadas, passaram a predominar na segunda metade deste século as
doenças crônico-degenerativas e o aumento das causas externas, marcada
principalmente pelos acidentes de trânsito. Destaca também o surgimento das chamadas
“doenças emergentes” como a SIDA (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida) e de
outras viroses, além das doenças decorrentes de exposições ambientais e do trabalho,
caracterizando um quadro denominado de “doenças da modernidade”.
23
Segundo Chor et al. (1995), o controle das doenças infecciosas representa um
bom exemplo da associação entre condições de vida e saúde, conquista atingida
precocemente e com maior eficácia nos países ricos após a incorporação de sistemas de
saneamento básico ao espaço urbano. Porém, tais melhorias nas condições de vida
foram conquistadas nos países menos desenvolvidos décadas mais tarde, fato que
proporcionou o estabelecimento de perfis epidemiológicos bastante distintos,
dependendo do grau de desenvolvimento social vivenciado por cada país.
Essa mudança é denominada por alguns autores (POSSAS, 1989; BARATA,
1997; CHAIMOWICZ, 1997) de “transição epidemiológica” e é conseqüência do
processo histórico que ocorre no interior das sociedades num determinado período de
tempo, pois se refere “às modificações, em longo prazo, dos padrões de morbidade,
invalidez e morte que caracterizam uma população específica e que, em geral, ocorrem
em conjunto com outras transformações demográficas, sociais e econômicas”
(CHAIMOWICZ, 1997).
Diferentemente dos países centrais, onde os padrões de morbidade e mortalidade
se deslocaram, ao longo do tempo das doenças infecciosas e parasitárias para as
doenças crônico-degenerativas a situação vivida pelo Brasil apresenta características
peculiares no que diz respeito às condições de saúde de sua população que não se
resumem à mera transição de padrões (POSSAS, 1989), pois o processo de transição
epidemiológica pelo qual passa o Brasil é profundamente marcado pela coexistência de
doenças da “modernidade” (cardiovasculares, neoplasias e transtornos mentais) e de
doenças decorrentes do “atraso” (doenças infecciosas e parasitárias).
De acordo com Barata (1997), essas transformações resultam em modificações
no perfil de morbi-mortalidade acarretando no aparecimento de novas doenças e
agravos à saúde e também influenciam o comportamento de antigas doenças,
24
supostamente, controladas (dengue e cólera, por exemplo) que ressurgem em
diferentes populações.
Todas essas mudanças provocam sérias implicações no quadro sócio-sanitário do
país com diferentes problemas de saúde, uma vez que resulta na soma de problemas
existentes, como a alta incidência de doenças infecciosas e parasitárias, com problemas
decorrentes do novo quadro econômico e social marcado pela crescente situação dos
problemas ambientais, da violência e do processo de envelhecimento populacional com
o aumento das doenças crônico-degenerativas.
O quadro atual tornou-se complexo, que, sem alcançar soluções
para as doenças típicas do subdesenvolvimento, passaram a ter
importância crescente às enfermidades próprias da idade adulta como
as cardiovasculares (primeira causa de morte) e o câncer (segunda
causa de morte), além das causas externas como os acidentes e a
violência (terceira causa de morte). (FLEURY, 1995).
A literatura consultada (BARRETO; CARMO, 1994; BARATA, 1997;
ALMEIDA, 2002) aponta modificações no padrão epidemiológico brasileiro, sobretudo,
a partir da década de 60, período em que se tem observado o aumento de óbitos por
doenças crônicas, entre elas as não-transmissíveis, particularmente, as cardiovasculares,
neoplasias e diabetes.
Almeida et al. (2002), destacam ainda que as doenças crônicas são hoje a
principal causa de incapacidade, a maior razão para a demanda a serviços de saúde e
respondem por parte considerável dos gastos efetuados no setor. Estes autores também
afirmam que a prevalência de problemas crônicos de saúde vem aumentando na
população adulta, em todos os grupos etários, afetando com freqüência semelhante os
25
diversos grupos sociais, ainda que sua gravidade varie, sendo maior entre os
socialmente excluídos e, que a utilização dos serviços de saúde pelos portadores dessas
patologias é consideravelmente maior do que a observada entre a população em geral.
Neste sentido, Possas (1989) alerta para o fato de que a ocorrência simultânea de
doenças provenientes destes dois tipos de padrões (“arcaico” e “moderno”) submete a
população brasileira a patologias variadas, características dos processos vivenciados por
países desenvolvidos e por países em desenvolvimento, o que requer dos serviços de
saúde maior diversificação e complexidade do atendimento oferecido, bem como o
aumento de sua oferta, desde as ações básicas e de prevenção até àquelas especializadas
que incorporam tecnologias de alto custo.
Outro aspecto a ser destacado no caso brasileiro, é que além das precárias
condições de vida a que está submetida grande parcela da população, há ainda as
precárias condições de trabalho impostas pelo sistema produtivo que, segundo Possas
(1989), faz com que a necessidade de submeter-se, mesmo que temporariamente, às
exigências do processo de trabalho capitalista resulte no impacto na saúde dos
trabalhadores devido ao aparecimento de doenças e acidentes associados ao trabalho
que, conseqüentemente colaboram com a mudança no perfil de morbi-mortalidade.
Para Prata (1992), “o perfil de morbi-mortalidade pode ser considerado um
indicador relativamente sensível das condições de vida e do modelo de desenvolvimento
de uma população, sendo o resultado da interação de diversos fatores interdependentes”.
Entre estes fatores, estariam o modo de produção econômica e de reprodução humana
que interagem para determinar a estrutura econômica e demográfica de uma população
devido a modificação nos padrões de fertilidade, mortalidade e migração. Também
devem ser considerados os fatores ambientais, históricos e sócio-culturais.
26
As dificuldades de acesso aos serviços de saúde também devem ser
consideradas, pois revelam uma outra dimensão das desigualdades sociais em saúde a
qual está submetida a população brasileira (SILVA JÚNIOR ET AL., 2003). Para estes
autores, é importante registrar que as mortes por doenças não-transmissíveis como, por
exemplo, as resultantes de câncer de colo de útero, em grande parte tratável com
tecnologias já disponíveis e, àquelas por doenças cerebrovasculares decorrentes de
quadros de hipertensão inadequadamente tratados, na verdade estão relacionados à esta
situação.
Por fim, é importante salientar que esse processo de mudança no padrão de
adoecimento e morte da população brasileira acontece em um cenário de profundas
desigualdades sociais e ocorre de forma variada nos diferentes espaços da sociedade
(CARVALHO ET AL., 1998). Além das diferenças existentes entre as grandes regiões
que compõem o país, Duchiade (1995), chama a atenção para a heterogeneidade
existente no seio de cada região ou estado brasileiro que, muitas vezes, ocorre dentro de
um mesmo espaço urbano.
Para Carvalho (1991), o perfil epidemiológico da população brasileira evidencia
as diferenças regionais e as desigualdades existentes entre as distintas classes sociais,
refletindo o risco desigual de adoecer e morrer. Segundo este autor, o Brasil se
caracteriza como um país de contrastes acentuados quando compreendidos os diversos
aspectos de sua realidade e é na área social onde mais se evidenciam seus contrastes.
É nesta perspectiva que Possas (1989), enfatiza a necessidade de avançar na
análise dos determinantes e das condições específicas que, no caso brasileiro, vem
impedindo que a transição epidemiológica se pela superação dos padrões
característicos do atraso tal qual ocorreu nos países desenvolvidos.
27
1.2 A IMPORTÂNCIA DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA NO CASO
BRASILEIRO
Entre o conjunto de fatores relacionados ao processo de transição
epidemiológica brasileira destacamos a transição demográfica que tem como expressão
maior o envelhecimento da população
1
ocasionando um aumento expressivo das
chamadas doenças da modernidade. Segundo Kalache et al. (1987), o aumento no
número de idosos em uma população se traduz em um maior número de problemas de
longa duração, que com freqüência depende de intervenções custosas envolvendo
tecnologia complexa, para um cuidado adequado.
De acordo com Laurenti (1994), a transição demográfica é descrita como
conseqüência do comportamento das variáveis: mortalidade e fecundidade, traduzindo-
se por um envelhecimento da população a qual passa a ter uma maior proporção de
velhos e uma menor de jovens. Este processo se deve tanto à redução dos níveis de
mortalidade, que ao aumentar os veis de sobrevivência, permite que uma parcela da
população sobreviva até atingir a velhice e assim ampliar o contingente da população
idosa, quanto à importância de se observar a queda dos níveis de fecundidade que
ocorrem no mesmo período, diminuindo o número de nascimentos que renovariam a
população jovem. (MOREIRA, 2002).
No Brasil, o processo de transição demográfica teve início com a queda da
mortalidade na década de 1940, quando algumas causas de óbitos mais facilmente
evitáveis em particular, as do grupo de doenças infecciosas e parasitárias (DIP)
1
Segundo projeções demográficas, em 2025, o Brasil será o sexto país do mundo a ter uma população de idosos em
termos absolutos. Estimam-se 33 milhões de indivíduos com mais de 60 anos de idade (Sayeg, 1997).
28
começaram a diminuir de modo acelerado e, se consolidou na década de 1960, com o
início da queda da fecundidade
2
que em 30 anos reduziu-se em mais de 50%. Esta
rapidez é explicada pela utilização de métodos anticoncepcionais e também pela
esterilização de mulheres (MONTEIRO, 1997).
Entre os fatores que explicam a redução da mortalidade por DIP, pode-se
apontar, o desenvolvimento de novas tecnologias, como vacinas e antibióticos, a
ampliação do acesso aos serviços de saúde e a introdução de medidas de prevenção e
controle. Outro fator é o aumento da cobertura de saneamento básico. Porém, vale a
pena salientar que apesar da redução significativa da participação deste grupo de
doenças como causa de óbitos no país, ainda se observa seu impacto sobre a morbidade,
ocasionado principalmente por aquelas doenças para as quais não se dispõe de
mecanismos eficazes de prevenção e/ou que apresentam uma estreita associação com
causas ambientais, sociais e econômicas (BRASIL, 2004).
Para Laurenti (1994), ao mesmo tempo em que ocorrem mudanças na estrutura
de uma população, resultantes das alterações no comportamento das variáveis:
mortalidade e fecundidade, também se observam mudanças na incidência e prevalência
das doenças e, conseqüentemente, nas principais causas de morte.
Vermelho e Monteiro (2002), afirmam que o conceito de transição
epidemiológica surgiu a partir da transição demográfica e, de uma forma mais
abrangente, incorpora as mudanças dos padrões de saúde e doença, mortalidade,
fecundidade e estrutura por idades, além de determinantes sócio-econômicos,
ecológicos, de estilo de vida e de suas conseqüências para os grupos populacionais.
Essas mudanças, que deram origem ao conceito de transição epidemiológica,
2
A partir da década de 60 observa-se no Brasil o declínio acentuado das taxas de fecundidade, caindo de 6,2 filhos
por mulher em idade fértil, em 1960, para 2,1 em 2003 (IBGE, 2000).
29
pressupõem uma evolução gradual dos problemas de saúde antes caracterizados por alta
prevalência e mortalidade por doenças infecciosas para um contexto em que passam a
predominar doenças não-infecciosas.
Quanto ao envelhecimento populacional é importante destacar que este foi um
fenômeno inicialmente observado em países desenvolvidos, onde esse processo se deu
lentamente em uma situação de evolução econômica, de crescimento do nível de bem-
estar e de redução das desigualdades sociais. Mas, recentemente, é nos países em
desenvolvimento que a população idosa têm aumentado mais rapidamente (AUGUSTO;
BARBIERI, 2004).
Neste sentido, o envelhecimento populacional compreendido como um
fenômeno mundial, chama no caso brasileiro, particular atenção por sua ocorrência de
modo acelerado e por acontecer em um cenário de exclusão social. Segundo Veras
(2001), o envelhecimento da população além de ser uma grande conquista, é uma
aspiração natural de qualquer sociedade, mas que não basta por si só, é preciso agregar
qualidade a estes anos adicionais de vida.
O Brasil apresenta um dos mais agudos processos de envelhecimento
populacional, com aumento acelerado da população de sessenta anos e mais em relação
à população geral. A proporção de pessoas idosas, com sessenta anos e mais, aumentou
de 6,1% (7.204.517 habitantes), em 1980, para 8,6% (14.536.029 habitantes) em 2000,
correspondendo a um aumento absoluto de 7,3 milhões de indivíduos (IBGE, 1981,
2000). A partir da década de 70, as Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios
(PNAD), passaram a indicar uma rápida queda da fecundidade, cuja conseqüência mais
imediata, na década de 90, se expressou no significativo declínio no crescimento
populacional do país acompanhado de acentuado estreitamento da base da pirâmide
etária, modificando a estrutura etária da população brasileira (POSSAS, 1989).
30
Para Patarra (1994), “a transição demográfica em marcha alterou completamente
a proporção dos grupos etários que compõem a população brasileira, significando uma
mudança em todas as esferas da vida social”. Segundo este autor, uma proporção
crescente de idosos implica em alterações no modo de vida familiar, na inserção no
mercado de trabalho, nas condições de acesso e nas necessidades de atendimento em
saúde, educação, transportes e outros benefícios sociais. também, sérias implicações
para o sistema previdenciário e há, a necessidade de se rever prioridades de alocação de
recursos públicos, considerando as necessidades emergentes de um novo perfil
demográfico.
Analisando as projeções do IBGE, é possível observar claramente o
estreitamento gradual da base da pirâmide demográfica e o alargamento de seu topo,
refletindo os efeitos da redução da proporção da população jovem em relação ao total e,
aumento gradativo da população com idade avançada
. É nesse novo quadro
demográfico que passaram a predominar as doenças crônicas não-transmissíveis no
perfil de morbi-mortalidade dos países desenvolvidos, e, décadas mais tarde, na maioria
dos países do Ocidente (CHOR ET AL., 1995).
Apesar do aumento da população de idosos, Veras (1994), chama a atenção para
o fato de que o Brasil possui, e ainda possuirá por algum tempo, uma vasta população
jovem. Neste sentido, o crescimento populacional brasileiro tem características distintas
das dos países centrais, onde o número de jovens é pequeno, estável ou mesmo
decrescente algumas décadas. Aqui, o grupo etário jovem ainda é expressivo,
apesar do crescimento do grupo etário idoso, o que coloca o Brasil frente a um novo e
grande desafio: a alocação de recursos para atender as necessidades das duas faixas
etárias (jovem e idosa), ambas carentes de recursos e de grande demanda de serviços.
Para Ishitani e França (2001), é importante considerar que neste novo quadro
31
demográfico, os problemas de saúde do adulto tornaram-se importantes. Apesar disso, a
Saúde Pública no Brasil tem tradicionalmente priorizado ações voltadas para a criança,
à mulher e o idoso, provocando um lapso em relação à assistência ao adulto período
de vida mais produtivo de uma pessoa.
Neste contexto, conhecer o perfil de morbi-mortalidade dessa faixa etária torna-
se fundamental para a avaliação da saúde da população e o planejamento das ações
deste setor e de outros serviços relacionados à pessoa adulta em idade produtiva. Assim
sendo, a transição demográfica que vem sofrendo o país nos últimos anos, com
incremento da população de idosos e a incidência elevada das doenças não-
transmissíveis nessa população, determinam também a necessidade de adotar novas
estratégias para monitorar faixas etárias mais avançadas (PROPOSTA DE
MONITORAMENTO..., 1998).
Acreditamos que tais condições exigem medidas audaciosas que visem à
elaboração de políticas públicas bem estruturadas, com recursos humanos capacitados
voltados para a redução destes problemas, que não apenas aumentam a demanda por
serviços de saúde, mas também, elevam o custo com a assistência médica e com a
previdência social. Provocando um aumento do número de benefícios concedidos e
retirando do mercado de trabalho pessoas em idade economicamente ativa, abreviando-
lhes a capacidade laborativa, principalmente, entre os menos qualificados acometidos
por patologias resultantes deste novo quadro.
32
Essas transformações no cenário econômico e social também estão associadas ao
intenso processo de urbanização, devido à migração da população das áreas rurais para a
cidade. De acordo com Barata (1997), faz-se necessário destacar que,
Durante o período compreendido entre o início dos anos 70 e dos anos
90 o mundo passou por uma série de transformações caracterizadas
pelo intenso processo de urbanização que resultou no aparecimento de
grandes centros urbanos e por fluxos migratórios muitas vezes
decorrentes desse mesmo processo, bem como pela incorporação
desordenada de tecnologias, que muitas vezes desestruturam formas
tradicionais de enfrentamento dos problemas, sem que houvesse o
correspondente desenvolvimento social para sustentá-las e por
inúmeras oportunidades de comunicação, comércio e interações entre
países de áreas relativamente isoladas (BARATA, 1997).
Para Kalache et al. (1987), o processo de urbanização pelo qual passou o Brasil,
foi tão pido que na década de 1950, o país tinha dois terços de sua população (50
milhões de habitantes) vivendo em zonas rurais e na década de 1980, era possível
observar que quase três quartos (130 milhões de habitantes) viviam em áreas urbanas.
Podendo, segundo Carvalho (1991), observar a existência de uma inversão de
concentração populacional entre as áreas rural e urbana.
33
1.3 DOENÇAS CRÔNICAS NÃO-TRANSMISSÍVEIS: MAIS UM DESAFIO
PARA A POLÍTICA DE SAÚDE
Silva Júnior et al. (2003), afirma que as primeiras referências às doenças não-
transmissíveis remetiam para o grupo das chamadas doenças crônicas não-
transmissíveis (DCNT)
3
e, citando Lessa (1998), indicou que:
Este grupo é caracterizado por incluir doenças com história natural
prolongada; multiplicidade de fatores de risco complexos; interação de
fatores etiológicos conhecidos e desconhecidos; causa necessária
desconhecida; especificidade de causa desconhecida; ausência de
participação ou participação duvidosa de microrganismos entre os
determinantes; longo período de latência; longo curso assintomático;
curso clínico em geral lento, prolongado e predominante;
manifestações clínicas com períodos de remissão e exacerbação;
lesões celulares irreversíveis e evolução para graus variados de
incapacidade ou morte (SILVA JÚNIOR ET AL., 2003).
Segundo Silva Júnior et al. (2003), o crescente impacto das DCNT associado aos
efeitos da violência, aumenta o volume dos custos econômicos e sociais devido à morte
prematura ou a incapacitação definitiva de pessoas em idade produtiva, e tem sido
responsável pela sobrecarga na demanda por serviços assistenciais indicando que estes
agravos e doenças constituem-se em importantes problemas de saúde pública em todo o
mundo.
3
Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) incluem as doenças cardácas e as cerebrovasculares, os cânceres, a
diabetes, a hipertensão e as doenças auto-imunes. SILVA JÚNIOR, J. B. et al. Doenças e Agravos Não-
Transmissíveis Bases Epidemiológicas. In: Rouquayrol, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. de Epidemiologia e Saúde. 6.
ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 2003.
34
O Relatório Mundial da Saúde de 2000 estimou que para o ano de
1999, de um total de 55,965 milhões de óbitos, 59,8% seriam devido a
doenças não-transmissíveis; 31,1% seriam devido a doenças
transmissíveis, condições maternas e perinatais e deficiências
nutricionais; e 9,1%, a causas externas (SILVA JÚNIOR ET AL.,
2003).
As doenças do aparelho circulatório ou doenças cardiovasculares, que fazem
parte do grupo das DCNT, são a primeira causa de morte no mundo (LESSA, 2004a).
Segundo Lessa et al. (2004b), “as projeções referentes a este grupo de doença indicam
sua permanência como primeira causa de morte no mundo ainda por décadas,
estimando-se que, em 2025, entre 80 a 90% dos casos ocorrerão nos países de baixa e
média renda”.
Teixeira et al. (2004), afirmam que a importância das doenças crônicas no perfil
de mortalidade do Brasil se estabeleceu na década de 1960, quando o conjunto das
doenças do aparelho circulatório se sobrepôs ao das doenças infecciosas e parasitárias
nas capitais brasileiras e, em cidades com São Paulo, são a primeira causa de morte
desde o final dos anos 40. No país como um todo, exceto em São Paulo, onde as
doenças coronarianas representam um contingente maior de vítimas, observa-se o
predomínio das doenças cerebrovasculares dentro do grupo das doenças do aparelho
circulatório (LOTUFO, 2004).
Este dado também foi observado por Carvalho (1996), num estudo que
procedeu ao levantamento dos óbitos por doenças do aparelho circulatório, na região
metropolitana do Recife (RMR) que, ao desagregar os óbitos segundo causas específicas
dentro deste grupo de doenças, verificou que as doenças cerebrovasculares e as doenças
isquêmicas do coração concentraram o maior número de óbitos. Entretanto, as doenças
35
cerebrovasculares foram responsáveis pela metade das mortes cardiovasculares em
quase todos os municípios que compõem a RMR.
Dentre os fatores de risco
4
mais comuns para as DCV estão o tabagismo e a
obesidade que apresentam uma tendência à estabilidade ou ascensão. O primeiro, entre
os jovens, e o segundo, entre crianças e adultos. De acordo com Lessa (1998), a
obesidade está intimamente relacionada a mortalidade pelas DCNT mais comuns no
adulto, porém não existem estudos sobre a mortalidade por obesidade no Brasil, pois
dificilmente ela é registrada como causa básica de morte ou é associada ao óbito.
A obesidade, inclusive, passou a se comportar como epidemia com
tendência a pandemia, como resultado de mudanças sociais e culturais,
nos padrões de alimentação e atividade física” (LESSA ET AL.,
2004a).
A hipertensão arterial, além de ser considerada como doença, também se
apresenta como um importante fator de risco para as doenças cardiovasculares, e
segundo Cordeiro et al. (1993), tem sido apontada como o fator de risco mais
importante para este grupo de doença. Toscano (2004), afirma que “as estimativas
mostram que 40% dos acidentes vasculares encefálicos e em torno dos 25% dos infartos
ocorridos em pacientes hipertensos poderiam ser prevenidos com terapias anti-
hipertensivas adequada”.
4
Fator de risco constitui-se na característica do indivíduo inata ou adquirida que está associada ao aumento da
probabilidade de ocorrência de uma doença ou condição relacionada à saúde. LIMA-COSTA, M. F. Epidemiologia
do Envelhecimento no Brasil. In: ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. de. Epidemiologia e Saúde. 6. ed.
Rio de Janeiro: MEDSI, 2003.
36
De acordo com esta autora, “mesmo sendo assintomática, a hipertensão arterial
é responsável por complicações cardiovasculares, encefálicas, coronarianas, renais e
vasculares periféricas”. Explica também que sua prevalência é alta e aumenta em faixas
etárias maiores e, aponta que estudos epidemiológicos brasileiros estimam a prevalência
de 40% a 50% na população adulta com mais de 40 anos. Refere ainda que uma parcela
importante da população adulta não sabe que é hipertensa; e muitos dos que sabem, não
estão sendo tratados adequadamente.
As neoplasias malígnas são outra importante causa de óbito e segundo Pinto e
Curi (1991), estão entre as principais causas de mortalidade mundial, apresentando
níveis crescentes nas últimas décadas na maioria dos países. Esta tendência também foi
observada no Brasil. Dentre os dez principais grupos de causas de morte, foram
observadas mudanças significativas relacionadas ao aumento do peso das neoplasias no
país entre as décadas de 1980 e 2000. No Brasil, em 1980, as neoplasias eram
responsáveis por 10% dos óbitos e representava a quinta causa de morte no país, vindo
depois das doenças do aparelho circulatório; dos sintomas, sinais e afecções mal
definidas; das causas externas e das doenças infecciosas e parasitárias. Em 2000, este
grupo de doenças somou 15% dos óbitos, tornando-se assim, a terceira causa de
mortalidade no país (BRASIL, 2004).
Segundo Toscano (2004), outro grave problema de saúde pública em todos os
países, independentemente de seu grau de desenvolvimento, é a diabetes que tem o
aumento de sua incidência, em termos mundiais, relacionado às modificações de estilo
de vida e do meio ambiente trazidas pela industrialização. Foi estimado que em 1995, a
diabetes mellitus atingia 4% da população adulta mundial e que em 2025, atingirá 5,4%
da população, ou seja, existirá no mundo aproximadamente 300 milhões de diabéticos
.
Outro fato a ser destacado é que a diabetes também se apresenta como um fator de risco
37
para as doenças cardiovasculares. E segundo Toscano (2004), é extremamente comum
verificar a presença da hipertensão arterial como co-morbidade no paciente diabético,
representando um risco adicional a este grupo de pacientes para o desenvolvimento de
complicações macrovasculares.
As dietas altamente calóricas e o sedentarismo são apontados por Toscano
(2004), como os principais fatores relacionados ao aumento da prevalência da
obesidade. Segundo esta autora, vários estudos apontam para o crescimento acelerado
da obesidade e reforçam a necessidade de programas preventivos, que teriam um
impacto na redução da incidência da diabetes. Por fim, vale a pena salientar que a
diabetes é um problema de saúde que tem importante repercussão social e econômica
para a população, uma vez que apresenta alta taxa de morbi-mortalidade sendo uma das
principais causas de morte por insuficiência renal, amputação de membros, cegueira e
doenças cardiovascular. Além dos custos financeiros, a diabetes também acarreta perda
importante na qualidade de vida dos doentes devido a situações de dor e de ansiedade,
bem como de seus familiares.
Indivíduos com diabetes precisam de no mínimo 2 a 3 vezes mais recursos para
o cuidado com a saúde do que os não-diabéticos refletindo em altos encargos para o
sistema de saúde devido aos custos associados ao seu tratamento e controle. A diabetes
também representa carga adicional à sociedade devido a perda prematura da capacidade
para o trabalho ocasionado mortes e aposentadorias precoces (TOSCANO, 2004).
De acordo com Silva Júnior et al. (2003), dentre as doenças não transmissíveis,
as cardiovasculares seriam responsáveis por 45,5% dos óbitos; as neoplasias malignas
por 19,7% e o diabetes por 4,9%. No que se refere às incapacidades, as doenças não
transmissíveis e as causas externas representavam respectivamente, 54,2% e 17,7% dos
anos vividos com incapacitação.
38
De modo geral as doenças crônicas não-transmissíveis acometem a população
adulta, com 75% dos casos ocorrendo entre os 15 e os 65 anos de idade. Neste intervalo
de idade o risco de adoecer e de morrer por doenças infecciosas e parasitárias diminui
consideravelmente, porém, outros fatores são estabelecidos, como por exemplo, àqueles
ligados ao estilo de vida (hábitos e comportamentos), às exposições no ambiente de
trabalho (doenças ocupacionais e/ou profissionais e os acidentes de trabalho) e fatores
de risco variados que acentuam ou interagem com outros preexistentes, propiciando
sinergismo dos fatores de risco para algumas doenças (LESSA, 1998). Alerta também,
para o fato de que acima dos 65 anos, as doenças crônicas não-transmissíveis têm
freqüências muito elevadas, sendo comum a concomitância de diversas patologias
crônicas.
Apesar de ainda haver muito a ser esclarecido sobre os determinantes das
doenças não-transmissíveis, vários fatores de risco para este grupo de doenças, estão
bem definidos, entre eles fumo, hipertensão, obesidade, sedentarismo e ingestão de
álcool. Para Rego et al (1990), muitos desses fatores são comuns a várias doenças e a
maioria deles, são preveníveis. Segundo estes autores, “têm-se verificado que a remoção
ou reversão da exposição a estes fatores implica na redução da mortalidade e/ou da
prevalência e/ou o surgimento mais tardio das patologias de estudo”. Apesar disso, o
volume de informações disponíveis sobre a distribuição e comportamento deste tipo de
doenças e seus fatores de risco no Brasil, ainda é pequeno.
Outro fato a ser destacado é que a literatura na área da saúde pública é pobre em
textos sobre vigilância epidemiológica para DCNT e segundo Lessa (2004a), a partir
da década de 1990 é que a prevenção destas doenças vem preocupando organizações
internacionais com ênfase nos países do chamado Terceiro Mundo.
39
De acordo com Coeli et al. (2000), a OMS vem alertando para a importância do
desenvolvimento de estratégias para a prevenção e controle das doenças não-
transmissíveis, incluindo a implantação de sistemas de monitoramento integrados e
padronizados, tanto em nível nacional como internacional. Esta situação faz com que o
Brasil mesmo sem estabelecer o controle das doenças transmissíveis já esteja às voltas
de desenvolver e efetivar medidas capazes de conter o avanço das DCNT.
Nesta perspectiva Lessa (2004a) ressalta a discussão para a implementação
ampliada da Vigilância Epidemiológica para DCNT, como uma das prioridades atuais
da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, criada em 2003. Outro
evento importante neste sentido, diz respeito ao último Congresso de Epidemiologia,
realizado em Recife/PE, no ano de 2004, que serviu de palco para as discussões sobre
esta temática, incluindo em sua programação uma oficina com o objetivo de discutir a
vigilância das DCNT no país.
1.4 POLÍTICA SOCIAL, DIREITOS SOCIAIS E CIDADANIA
Segundo Vieira (1997), a tradição histórica do Brasil revela constante
intervenção estatal no âmbito da política social, alicerçada ao longo do século XX em
direitos sociais variados e gradativamente conquistados. Neste sentido, podemos dizer
então que a esfera social constitui-se em lócusprivilegiado de estudo da intervenção
ou não do Estado, através da execução de políticas públicas capazes de garantir os
direitos de cidadania estabelecidos em lei.
40
Para Fleury (1994), “o reconhecimento da cidadania, como um conjunto de
direitos positivos que a sociedade atribui àqueles que são seus membros integrais é o
traço marcante da nova sociedade”. A autora destaca ainda que,
O que vai variar ao longo da história, e com especificidades próprias a
cada um dos Estados nacionais, é a amplitude da pauta de direitos
embutidos na condição de cidadania, bem como o grau de
inclusividade na extensão aos diferentes segmentos da sociedade. A
condição de cidadão, no entanto, é atributo da sociedade capitalista
(FLEURY, 1994).
Pode-se dizer então que, historicamente, a cidadania tem assumido várias formas
em função de diferentes contextos culturais no decorrer do tempo. Para Silva (2001), de
acordo com a clássica concepção de T.H. Marshall, “a cidadania é o conteúdo de
presença igualitária a uma dada comunidade política, o qual é aferido pelos direitos e
deveres que o constituem e pelas instituições que o traduzem e o implementam social e
politicamente de modo eficaz”. Segundo esta autora, o conceito de cidadania em
Marshall, possui três componentes que se interrelacionam, mas, do ponto de vista
histórico, incorporam-se um(s) ao(s) outro(s) paulatinamente: Os direitos civis, os
direitos políticos e os direitos sociais.
1) Os Direitos Civis que correspondem ao primeiro momento do desenvolvimento
da cidadania e tiveram como período formativo o século XVIII, referem-se aos
direitos relacionados à liberdade de impressa, de expressão do pensamento e da fé, à
propriedade e a concluir contratos válidos e à justiça.
41
2) Os Direitos Políticos, que foram conquistados no início do século XIX, refere-
se ao direito de participar do exercício do poder político, como membro de um
organismo investido de autoridade política, ou como um eleitor dos membros de tal
organismo político.
3) Os Direitos Sociais surgidos no século XX, sobretudo após a II Guerra Mundial,
se referem a tudo o que inclui desde o direito a um mínimo de bem-estar econômico
e segurança, ao direito de participar por completo do usufruto aos bens e aos
serviços produzidos socialmente e viver com dignidade, de acordo com os padrões
que prevalecem na sociedade.
Segundo Fleury (1994), apesar de terem surgido em momentos distintos, os
direitos civis no século XVIII, os políticos no século XIX e os sociais no século XX,
levanta-se uma tese que pressupõe uma relação causal entre os três elementos
constitutivos da cidadania. Assim os direitos políticos seriam um produto do exercício
dos direitos civis, da mesma forma que os direitos sociais foram o resultado da
participação política na sociedade democrática.
É importante destacar que os direitos sociais foram conquistados a partir das
lutas do movimento operário e sindical e se referem ao direito do trabalho, à saúde, à
educação, à aposentadoria, ao seguro-desemprego, enfim, a garantia de acesso ao meio
de vida e de bem-estar social que foram assegurados legalmente pela nova Constituição
brasileira. De fato, a Constituição aprovada em 1988 representou um grande marco no
que diz respeito aos direitos sociais legalmente constituídos. É em seu artigo que se
garante “a saúde, a educação, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade, a assistência aos desamparados” como direitos sociais.
42
1.5. ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO
BRASIL
De acordo com Ibrahim (2002), pode-se afirmar que a proteção social nasceu,
verdadeiramente na família, pois, no passado, o cuidado com os mais idosos e
incapacitados era incumbência dos mais jovens e aptos para o trabalho. Contudo,
ressalta este autor, nem todas as pessoas eram dotadas de tal proteção familiar e, mesmo
quando esta existia, era freqüentemente precária, surgindo assim, a necessidade de
auxílio externo, com natureza eminentemente voluntária de terceiros, muito incentivada
pela igreja. mais tarde, por volta do século XVII, o Estado viria assumir alguma
responsabilidade neste sentido.
Data do ano de 1344 a celebração do primeiro contrato de seguro marítimo,
posteriormente surgiu à cobertura de riscos contra incêndio. Mas, foi na Alemanha, a
partir de 1883, que Otto Von Bismark introduziu uma série de seguros sociais de modo
a atenuar a tensão existente nas classes trabalhadoras (MARTINS, 2001) até inaugurar o
primeiro sistema de previdência social no ano de 1889.
O primeiro sistema de previdência social moderno foi criado na
Alemanha, em 1889, como parte integrante da política bismarckiana
de promover a unidade nacional sob a égide de um Estado forte que
procurava controlar a classe operária e instaurar a paz social mediante
programas assistenciais paternalistas (MALLOY, 1986).
43
Diante da necessidade de demarcarmos historicamente a origem da Previdência
Social no Brasil, localizamos como marco inicial deste processo a aprovação da Lei Eloi
Chaves no ano de 1923 e, consideramos importante destacar, ainda que de forma
cronológica, a sua evolução no país.
QUADRO I - DÉCADA DE 20: OS PRIMEIROS ANOS DA PREVIDÊNCIA
SOCIAL BRASILEIRA
ANO
FATO IMPORTÂNCIA
Promulgação da Lei Eloy
Chaves (Decreto Legislativo
n° 4.682 de 24/01/23).
Surgimento efetivo da Previdência Social no
Brasil com a criação das CAP´s, entidades
organizadas por empresas e voltadas para o
ciclo de comercialização e exportação do café,
compreendendo inicialmente os ferroviários.
1923
Criação do Conselho
Nacional do Trabalho
(Decreto 16.037 de
30/04/23)
Órgão que além das questões trabalhistas, tinha
a seu cargo a previdência social, cujo controle
lhe competia.
1926 Ampliação da Lei Eloy
Chaves (Decreto n° 5.109 de
20/12/26)
Estendeu o regime das Caixas aos portuários e
marítimos e introduziu algumas modificações
sobre o dispositivo promulgado em 1923.
Este primeiro quadro refere-se ao período inicial da história da Previdência no
país, marcado pela criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAP’S), entidades
organizadas por empresas e da qual o Estado não participava ativamente nem no plano
administrativo, nem no financeiro.
Fonte: Elaboração própria baseada em análise documental e na obra de vários autores.
44
A Lei Eloi Chaves foi a primeira norma a instituir no Brasil a previdência
social, com a criação das CAP´s para os ferroviários, de nível nacional em razão das
manifestações gerais dos trabalhadores da época e da necessidade de apaziguar o ânimo
dos setores estratégicos e importantes da mão-de-obra daquele tempo. A referida lei
previa os benefícios de aposentadoria por invalidez, ordinária (equivalente à
aposentadoria por tempo de serviço), pensão por morte e assistência médica.
A extensão da cobertura previdenciária na sua trajetória histórica
mostra que se buscava atender aos trabalhadores via categoria
profissional, principalmente e prioritariamente, àqueles que detinham
a organização política e eram vitais à economia brasileira. (DUARTE,
2003).
Oliveira e Teixeira (1989), salientam também que as tentativas de criação de
instituições previdenciárias anteriores aos anos 20 tiveram sempre um âmbito muito
limitado e, que poucas vezes alcançaram implementação concreta. Contrariamente, as
instituições previstas pelo Decreto de 1923, implementaram efetivamente as CAP´S, a
partir daquele mesmo ano.
Em 1926, os benefícios da Lei Eloy Chaves foram estendidos aos empregados
portuários e marítimos. Em 1928, ao pessoal das empresas de serviços telegráficos e
radiotelegráficos e, em 1930, foram criadas as CAP´s para os empregados nos serviços
de força, luz e bonde (MARTINS, 2001).
Nesta perspectiva, estes acontecimentos foram o resultado da luta do movimento
operário dos serviços estratégicos para a economia do país que vinha reagindo de
45
maneira cada vez mais intensa à postura liberal do Estado - e da percepção das elites e
dos governantes de que a mera repressão - os anos 20 são marcados por uma
exacerbação das medidas repressivas sobre a movimentação das classes trabalhadoras -
se tornara insuficiente para enfrentar os problemas colocados pela emergência das
classes trabalhadoras urbanas no cenário político e social.
Os anos 20 tiveram como exigência a modificação na postura até
então marcadamente liberal do Estado frente à problemática
trabalhista e social, inaugurando um processo de intervenção crescente
do Estado no âmbito desta problemática que se consolidará nos anos
seguintes (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989).
Oliveira e Teixeira (1989), destacam como características centrais deste primeiro
modelo, uma relativa amplitude no plano de atribuições das instituições previdenciárias,
uma prodigalidade nas despesas, tomando por referência o modelo que vai lhe suceder
concretamente no pós-30 e, a natureza basicamente civil privada daquelas instituições.
O ano de 1923 marcou também a criação do Conselho Nacional do Trabalho,
órgão responsável por questões relacionadas ao trabalho e que tinha a seu cargo a
previdência social, inclusive como órgão de recurso das decisões das Caixas. Embora
tenha sido instalado no mesmo ano, permaneceu inoperante até 1930.
46
QUADRO II – DÉCADAS DE 30 E 40: A EXPANSÃO DA PROTEÇÃO SOCIAL
E A PRIMEIRA TENTATIVA DE UNIFICAÇÃO
ANO
FATO IMPORTÂNCIA
1930 Criação do Ministério do
Trabalho, Indústria e
Comércio (Decreto
19.433 de 26/11/30)
Órgão que, a partir de então, tinha entre as suas
atribuições, orientar e supervisionar a
previdência social.
1930 Criação dos Institutos de
Aposentadorias e Pensões
IAP´s
Devido a sua forma de organização, os IAP´s
tinham uma abrangência bem maior do que as
CAP´s que eram organizadas por empresas. O
Instituto dos marítimos (IAPM), foi o primeiro
a ser criado em 1933, seguido pelos dos
bancários (IAPB), em 1934, e dos industriários
(IAPI), em 1936. Em 1938, foram criados os
Institutos dos servidores do Estado (IPASE) e
dos trabalhadores em trapiches e armazéns
(IAPTEC) e, em 1940, o dos comerciários
(IAPC).
1945 Criação do Instituto de
Serviços Sociais do Brasil
ISSB (Decreto 7.526 de
07/05/45).
Primeira tentativa de unificação administrativa
dos IAP´s, com a criação de um instituto único
para todos os trabalhadores, na prática não foi
implementada.
O quadro II mostra o segundo período da previdência, com a criação do
Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, órgão que a partir de então tinha entre as
suas atribuições, orientar e supervisionar a previdência social. Os anos 30 foram
também o cenário para a criação dos Institutos de Aposentadorias e pensões (IAP’S),
que pretendeu estender para um número maior de trabalhadores assalariados urbanos os
benefícios previdenciários e, passou a contar com a participação do Estado na
administração e no custeio dos benefícios.
Fonte: Elaboração própria baseada em análise documental e na obra de vários autores.
47
A unificação das caixas em institutos também ampliou a intervenção
estatal na área, pois o controle público ficou finalmente consolidado,
que os institutos eram dotados de natureza autárquica e
subordinados diretamente à União, em especial ao Ministério do
Trabalho (IBRAHIM, 2002),
Ao contrário do modelo abrangente e pródigo que dominou no período anterior
(1923-1930), a previdência brasileira no período 1930-1945 é marcada por uma
“orientação contencionista” imposta pelo Estado (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989).
Outro enfoque deste modelo refere-se à legislação do período que se inicia em 30, que
procurou demarcar a diferença entre previdência e assistência médica, não observada
antes.
Os serviços de assistência médica, cirúrgica e hospitalar absolutamente
não são encarados como uma atribuição das instituições
previdenciárias. Estas são destinadas a conceder aposentadorias e
pensões. Este é o seu fim, sua atribuição específica, sua obrigação
contratual para com os associados, sua natureza. Quase como uma
concessão, poderão [...] manter serviços de assistência médica, etc.,
[...] apenas enquanto o Estado não tratar de assumir o que é visto agora
como encargo exclusivamente seu e não das instituições de
previdência (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989).
A partir de 1930 iniciou-se uma mudança radical no sistema previdenciário
brasileiro, que passou a aglutinar os trabalhadores por categorias profissionais nos
IAP´s, fato que representou uma evolução do sistema, referente à expansão da cobertura
da proteção social dos trabalhadores. Contudo, havia muitas diferenças entres os vários
48
Institutos devido ao seu tamanho, sua importância na economia do país e sua capacidade
de organização.
Nesta perspectiva, a consolidação total em uma única entidade era justificável,
pois, a manutenção de diversos institutos gerava gasto elevado, com diversas
redundâncias no funcionamento, uma vez que executavam as mesmas atividades,
diferenciando-se somente pela clientela protegida. Foi então que surgiu em 1945 a
primeira tentativa de unificação administrativa dos IAP´s, com a criação do Instituto de
Serviços Sociais do Brasil (ISSB), mas que na prática não foi implementado.
QUADRO III – DÉCADAS DE 50 E 60: A UNIFORMIZAÇÃO DA
LEGISLAÇÃO E A CENTRALIZAÇÃO DA PREVIDÊNCIA
ANO
FATO IMPORTÂNCIA
1953 Criação do Ministério da
Saúde – MS
Órgão destinado a administrar e coordenar as
medidas preventivas de caráter coletivo e os
serviços públicos de saúde em paralelo com a
previdência.
1960 Aprovação da Lei Orgânica
da Previdência Social -
LOPS (Lei 3.807 de
28/08/60).
Lei que uniformizou a legislação
previdenciária e organizou esta política em
todo o território nacional.
1966 Criação do Instituto
Nacional de Previdência
Social – INPS (Decreto n°
72 de 21/11/66)
Unificou todos os IAP´s, centralizando a
organização previdenciária num único
instituto, que foi realmente implantado em
1967.
1969 Expansão da previdência
social para o trabalhador
rural (Decreto-lei 564 de
01/05/69)
Inclusão dos trabalhadores rurais,
especialmente os empregados do setor agrário
da agroindústria canavieira, por meio de um
plano básico.
Fonte: Elaboração própria baseada em análise documental e na obra de vários autores.
49
Conforme mostra o quadro III, a década de 50 marca a criação do Ministério da
Saúde, órgão que a partir de então, seria o responsável pela administração e
coordenação das medidas preventivas de caráter coletivo e dos serviços públicos de
saúde de maneira paralela à previdência social, materializando a idéia de separação
entre previdência e assistência médica. A década de 60 também início à extensão da
proteção social à área rural que começou em 1963 com a instituição do Fundo de
Assistência e Previdência do Trabalhador Rural (FUNRURAL) e se ampliou em 1969,
através do Decreto-Lei 364 que instituiu o Plano Básico da área rural, estendendo a
proteção aos trabalhadores do setor agrário e da agroindústria canavieira.
Outro acontecimento de relevo desta década foi a aprovação da lei que unificou
toda a legislação securitária e ficou conhecida como Lei Orgânica da Previdência Social
(LOPS). Segundo Martins (2001), a referida Lei padronizou o sistema assistencial e
ampliou os benefícios, tendo feito surgir vários tipos de auxílios como: auxílio-
natalidade, auxílio-funeral e auxílio-reclusão, e, ainda estendeu a área de assistência
social a outras categorias profissionais.
A LOPS foi muito importante porque deu início ao processo de
unificação da Previdência Social, uniformizando procedimentos,
normas, critérios de concessão de benefícios e prestação de serviços.
Houve ainda, uma grande ampliação de benefícios e serviços
prestados à população (SILVA, 1995).
De acordo com Oliveira e Teixeira (1989) a promulgação da LOPS representa o
marco da derrota final do modelo contencionista proposto no período anterior (1930-
1945), uma vez que estendeu para um conjunto de segurados da previdência, um plano
50
extremamente amplo de benefícios e serviços. Além da assistência médica e dos
benefícios pecuniários há, na legislação do período, disposições referentes às áreas de
habitação, empréstimos e alimentação. Por outro lado, esta uniformização de direitos
agravou as dificuldades financeiras crescentes da previdência no período e ampliou
ainda mais o seu plano de atribuições. Para Ibrahim (2002), a unificação da legislação
foi um passo premeditado para a unificação dos institutos. Esta tarefa ficaria
sensivelmente facilitada se todos se submetessem a um mesmo regime jurídico.
Contudo é importante observar que os IAP´s somente foram unificados em
1966, por meio do Decreto-Lei que criou o Instituto Nacional de Previdência Social
(INPS), entidade da administração direta da União, com personalidade jurídica e de
natureza autárquica que tinha como objetivo de racionalizar os gastos e centralizar o
regime previdenciário. Porém, naquele contexto a resistência à unificação era grande
por parte das entidades envolvidas, pois havia o medo da perda dos direitos e do
enfraquecimento da proteção adquirida, principalmente das categorias mais
organizadas.
Segundo Malloy (1976), o processo de unificação através da criação do INPS,
insere-se na perspectiva de modernização da máquina estatal, aumentando seu poder
regulatório sobre a sociedade além de, obviamente, representar um esforço de
desmobilização das forças políticas estimuladas no período populista, para excluir a
classe trabalhadora organizada como uma força política, e para diminuir seu papel como
mecanismo articulador e de pressão na defesa dos interesses dos trabalhadores. Bravo
(2000), ressalta que a unificação da previdência social se deu atendendo a duas
características fundamentais: “o crescente papel interventivo do Estado na sociedade e o
alijamento dos trabalhadores do jogo político, com sua exclusão na gestão da
previdência, ficando-lhes reservado apenas o papel de financiadores”.
51
QUADRO IV – DÉCADA DE 70 E 80: A AMPLIAÇÃO DE DIREITOS E AS
GARANTIAS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
ANO
FATO IMPORTÂNCIA
1971 Aprovação da Lei
Complementar 11 de
25/05/71
Cria o PRORURAL, a partir do qual são
destinados fundos específicos para a
manutenção do FUNRURAL, estendendo a
Previdência Social ao trabalhador rural.
1972 Aprovação da Lei 5.859
de 11/12/72
Incluiu os empregados domésticos como
segurados obrigatórios da Previdência.
1973 Aprovação da Lei 5.850
de 08/06/73
Estendeu os benefícios previdenciários aos
trabalhadores autônomos.
1974 Criação do Ministério da
Previdência e Assistência
Social MPAS (Lei
6.036 de 01/05/74)
Estabelece o desdobramento do MTPS em dois
outros ministérios, o do Trabalho e o da
Previdência e Assistência Social.
1976 Aprovação da Consolidação
das Leis da Previdência
Social - CLPS (Decreto n°
77.077 de 24/01/76)
Norma que tinha força de decreto e não de lei
e, que reuniu pela primeira vez, a legislação até
então em vigor sobre a previdência social
urbana.
1977 Instituição do Sistema
Nacional de Previdência e
Assistência Social
SINPAS (Lei 6.439 de
01/07/77)
Sistema integrador das atividades das
entidades vinculadas ao MPAS, composto
pelas seguintes instituições: Instituto Nacional
de Previdência Social (INPS); Instituto
Nacional de Assistência Médica e Previdência
Social (INAMPS); Fundação Legião Brasileira
de Assistência (LBA); Fundação Nacional de
Bem-Estar do Menor (FUNABEM); Empresa
de Processamento de Dados da Previdência
Social (DATAPREV); Instituto de
Administração Financeira da Previdência
Social (IAPAS) e Central de Medicamentos
(CEME).
52
1977 Aprovação do Estatuto
Básico da Previdência
Privada (Lei 6.435 de
15/07/77).
Garantiu uma legislação específica que
regulasse as atividades de previdência privada,
ordenando-lhes os impulsos e instituindo seus
propósitos.
1988 Promulgação da atual
Constituição da República
Federativa do Brasil
Integrou as políticas de previdência social,
assistência social e saúde à Seguridade Social
em um capítulo específico na Constituição.
A partir do quadro IV, é possível perceber um certo alargamento da proteção
social na década de 70, que tem como expressão a extensão efetiva dos benefícios
previdenciários aos trabalhadores rurais, pois, segundo Silva (1995), até então não
existia nada de mais expressivo e consistente. De acordo com Ibrahim (2002), uma Lei
Complementar instituiu em 1971, o Programa de Assistência ao Trabalhador Rural
(PRORURAL
5
), que substituiu o plano básico social rural de 1969.
De natureza assistencial, o principal benefício do PRORURAL era a
aposentadoria por velhice, após 65 anos de idade, equivalente a 50% do salário mínimo
de maior valor no país. No PRORURAL não havia contribuição direta por parte do
trabalhador rural, que tinha direito, ainda, a aposentadoria por invalidez, pensão e
auxílio-funeral, todas no valor de meio salário mínimo.
Eram todos trabalhadores rurais excluídos socialmente com trabalho temporário
sem carteira assinada, apesar dos valores serem insuficientes (meio salário-mínimo), foi
um programa de inclusão social, sustentado, inicialmente, pelo conjunto de
trabalhadores com carteira assinada que contribuíam para a previdência social. Vale
5
O PRORURAL
ligado ao então MTPS, tinha a assistência médica como centro de suas atividades. SILVA, M.L.L.
Resgatando a história da Previdência Social. In: _______ Previdência Social: um direito conquistado. Resgate
histórico, quadro atual e propostas de mudanças. Maranhão, SINTSPREV-MA-CUT, 1995, p.27-77.
Fonte: Elaboração própria baseada em análise documental e na obra de vários autores.
53
salientar que legislação posterior estabeleceu a contribuição do trabalhador rural,
enquanto segurado especial da previdência social, definida a partir de um percentual sob
a receita bruta de sua produção.
Em 1972, os benefícios previdenciários foram estendidos às empregadas
domésticas contribuindo como autônomas e, no ano seguinte, foi regulamentada a
situação de outros trabalhadores autônomos. Essa medida fez com que aumentasse o
número de segurados da previdência e fosse introduzida no sistema, de forma efetiva,
mais uma fonte de custeio: as contribuições individuais advindas dessa nova categoria
de segurados (SILVA, 1995).
Excetuando-se os trabalhadores do mercado informal de trabalho, todos os
demais trabalhadores urbanos passaram a ser cobertos pela Previdência Social
(OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989). Esta tendência à universalização da cobertura, nos
moldes propostos pela seguridade social vai sendo consolidada ano a ano.
As conquistas dos trabalhadores em outros momentos políticos, já
haviam sido incorporadas de tal forma a sua condição de cidadania
que era impossível se voltar atrás neste assunto. Pelo contrário, a
estratégia estatal apoiada pelas classes empresariais, na
manutenção e ampliação destes direitos a possibilidade de obtenção
da harmonia social em um contexto altamente desfavorável para os
trabalhadores, impossibilitado de organização e participação política
(OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989).
Oliveira e Teixeira (1989) ressaltam três características marcantes deste período,
a primeira, foi a extensão da cobertura previdenciária abrangendo a quase totalidade da
população urbana e ainda parte da população rural.
54
A segunda refere-se à orientação da política nacional de saúde para o
privilegiamento da prática médica curativa, individual, assistencialista e especializada,
em detrimento de medidas de saúde pública, de caráter preventivo e de interesse
coletivo. Tal escolha, é suficiente para indicar na direção de uma articulação do
Estado com os interesses do capital internacional que se expandia no país, através da
indústria farmacêutica e de equipamentos hospitalares.
E, a terceira característica, se refere à intervenção estatal na área da saúde,
optando pela prática médica curativa e individual veiculada por meio da previdência
social, que propiciou a criação de um complexo-médico-industrial, responsável pelas
elevadas taxas de acumulação do capital das grandes empresas monopolistas
internacionais na área de produção de medicamentos e de equipamentos médicos.
No ano de 1974 o Governo criou o Ministério da Previdência e Assistência
Social (MPAS) e, a partir de então, ficou estabelecida a definição de competências entre
este e o Ministério do Trabalho (MT), concretizando a antiga idéia de um ministério
específico para a previdência. Também nesta década, em 1976, foi aprovado o Decreto
que editou, pela primeira vez, a Consolidação das Leis da Previdência Social (CLPS)
que se constituiu numa inovação legislativa que tinha a função de agregar, em um
mesmo corpo normativo, todas as leis previdenciárias existentes, representava algo
semelhante a um código previdenciário.
O processo de institucionalização que se inicia com a criação do MPAS, vem
buscar sua realização efetiva através da criação do Sistema Nacional de Previdência e
Assistência Social (SINPAS) instituído em 1977, com a finalidade de integrar a
concessão e manutenção de benefícios e prestação de serviços, custeio de atividades e
programas além da gestão administrativa, financeira e patrimonial de seus componentes
(MARTINS, 2001).
55
O SINPAS vem atender principalmente à condição de separar em órgãos
distintos, embora vinculados, o INPS, IAPAS e INAMPS, ou seja, as entidades
responsáveis pela concessão e manutenção de benefícios e demais prestações
previdenciárias; pela arrecadação, fiscalização e cobrança das contribuições e de outros
recursos pertinentes a previdência e assistência social; e pela prestação da assistência
médica, respectivamente.
Também em 1977 foi instituída a Previdência Complementar Privada no Brasil,
a qual foi dividida em dois níveis: o das empresas com seus empregados, denominada
Previdência Complementar Privada Fechada, e a individual, administrada por
instituições financeiras, denominada Previdência Complementar Privada Aberta. Neste
cenário, a década de 70 marcou o início da grande expansão das entidades de
previdência privada, o que tornou inadiável uma legislação específica que regulasse
suas atividades, ordenando-lhes os impulsos e instituindo seus propósitos. Assim, surgiu
o Estatuto Básico da Previdência Privada.
Cabe dizer que a reestruturação proposta pelo SINPAS não impediu que o
sistema previdenciário entrasse em crise a partir do final da década de 70 e,
sobretudo, na década de 80, período em que a crise atingiu o seu ápice – acentuada pela
crise do petróleo e do panorama econômico mundial adotando-se assim, uma política
econômica recessiva.
Na década de 80 o país vivenciou ao mesmo tempo o final do regime militar que
deu passagem para a democracia culminando com a elaboração da “constituição cidadã”
e uma profunda e prolongada crise econômica cujos efeitos persistem até os dias atuais.
É também nesta década que eclode a “Crise da Previdência Social”, segundo Oliveira e
Teixeira (1989), “trata-se de uma crise estrutural, potencializada por fatores detonadores
existentes em uma conjuntura particularmente adversa”. Por outro lado, esta década é o
56
momento em que o processo político decisório cerrado durante duas últimas décadas de
ditadura, ressurge refletido inclusive, pela participação popular e resulta na aprovação
do mais importante arcabouço jurídico legal de um país: a Constituição.
Sem dúvidas, a atual Constituição da República inaugurou um novo paradigma
de Estado constitucional: O Estado Democrático de Direito e, disponibilizou o capítulo
II, título VIII Ordem Social, para tratar da Seguridade Social que é composta pelo
seguinte tripé: Saúde, Previdência e Assistência Social. No artigo 194 da Constituição
Federal a Seguridade Social é definida como “um conjunto integrado de ações e
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, previdência e assistência social” (BRASIL, 1988).
QUADRO V – DÉCADA DE 90 E INÍCIO DOS ANOS 2000: A NOVA
UNIFICAÇÃO E OS CAMINHOS DA REFORMA
ANO
FATO IMPORTÂNCIA
1990 Criação do Instituto
Nacional de Seguro Social
INSS (Lei 8.029 de
12/04/90 e Decreto
99.350 de 27/06/90)
Cria o INSS vinculando-o ao MTPS, mediante
a fusão do IAPAS e do INPS, unificando as
duas autarquias previdenciárias e reunindo
custeio e benefício em única entidade.
1991 Aprovação das Leis
8.212 e 8.213 de 24/07/91
Leis básicas da Previdência Social que após a
criação do INSS regulamentaram
respectivamente, o custeio e os benefícios
previdenciários.
1997 Aprovação da Lei 9.548
de 10/12/97 que modifica as
Leis n° 8.212 e 8.213
Alterou contribuições e extinguiu as
aposentadorias especiais de aeronauta,
telefonista, jogador de futebol, jornalista e juiz
classista da Justiça do Trabalho.
57
1998 Aprovação da Emenda
Constitucional 20 de
15/12/98
Trouxe várias alterações ao sistema
previdenciário brasileiro contido na
Constituição de 1988, aprovada após vários
anos de discussão no Congresso Nacional e da
edição de várias leis que alteraram vários
dispositivos: Leis n°s 9.701, 9.703, 9.711,
9.715, 9.718, 9.720 e 9.732.
1999 Aprovação do Decreto
3.048 de 06/05/99
Aprovou o novo regulamento da Previdência
Social (RPS), revogando os Decretos
anteriores e unificando os antigos
regulamentos.
1999 Aprovação da Lei 9.876
de 26/11/99
Alterou as Leis n°s 8.212 e 8.213/91,
complementando a reforma previdenciária e
criando o fator previdenciário.
2003 Aprovação da Emenda
Constitucional 41 de
19/12/03
Alterou as regras para a concessão de
benefícios previdenciários a servidores
públicos. Publicada no Diário Oficial em
31/12/03, alguns pontos passaram a valer a
partir da data de sua publicação, outros
dependem de regulamentação posterior.
2004 Aprovação da Lei 10.839
de 05/02/04
Altera e acresce dispositivo à Lei 8.213 de
24/07/91 que dispõe sobre o plano de
benefícios da previdência social
O quinto e último quadro, apresenta os acontecimentos das duas décadas mais
recentes, iniciando em 1990, com a criação do Instituto Nacional de Seguro Social
(INSS), autarquia federal vinculada ao então Ministério do Trabalho e Previdência
Social (MTPS) e responsável pela arrecadação e gerenciamento dos recursos, bem como
pela concessão dos benefícios previdenciários.
Fonte: Elaboração própria baseada em análise documental e na obra de vários autores.
58
No ano seguinte foram aprovadas as Leis 8.212/91 e 8.213/91 reconhecidas
como Leis Básicas da Previdência Social que após a criação do INSS regulamentaram
respectivamente, o plano de custeio da seguridade social e dispõe sobre o plano de
benefícios previdenciários, segundo as determinações da Constituição de 1988. De
acordo com Ibrahim (2002), as leis básicas da previdência têm sofrido diversas
alterações, merecendo destaque a Lei n° 9.876/99, que criou o fator previdenciário
prevendo a expectativa de vida do segurado para o cálculo do benefício. Os anos
seguintes desta década vivenciaram a edição e aprovação de várias leis que trouxeram
inúmeras modificações ao sistema previdenciário brasileiro contido na Constituição de
1988.
Em meados dos anos 90, mais de 20 propostas sobre a reformulação da
seguridade social e da previdência estavam em discussão e podiam ser reunidas em duas
grandes vertentes: as que consideravam a proteção social como tarefa do Estado e as
que a compreendiam como responsabilidade individual do cidadão. Essa última situada
claramente no campo neoliberal justificava que somente adotando um sistema privado e
de capitalização as pessoas teriam estímulo para melhorar seu rendimento e por
conseqüência, aumentarem sua capacidade de poupança criando as bases necessárias
para a sustentação financeira do desenvolvimento do país (MARQUES ET AL., 2003).
Para Marques et al. (2003), a apresentação da proposta do governo Fernando
Henrique Cardoso para a reforma da previdência, baseada em sua compreensão da
situação e do comportamento das contas públicas, da economia e da demografia, e de
seus efeitos sobre o sistema previdenciário brasileiro visou alterar o sistema
previdenciário brasileiro, abrangendo o setor privado e o público. Para serem aprovadas,
algumas propostas governamentais deveriam ser antecedidas por mudanças nas
disposições da Constituição de 1988, enquanto outras não feriam princípios
59
constitucionais.
Por esse motivo, entre 1994 e 1996, foram extintos alguns tipos de benefícios
destinados aos trabalhadores do setor privado e limitada a concessão de aposentadorias
especiais. Somente em 1995, foram tomadas as providências para mudar os dispositivos
constitucionais considerados necessários apresentando ao Congresso Nacional a
Proposta da Emenda Constitucional conhecida com PEC 33 que ficou em pauta nas
discussões do Congresso até julho de 1996, sofreu reformulações, sendo reapresentada
em 1997, porém, a proposta do governo foi aprovada pelo Congresso Nacional dois
anos depois (MARQUES ET AL., 2003).
Grandes discussões a respeito da reforma da previdência entraram na pauta do
Congresso Nacional, com destaque para a Emenda Constitucional 20 aprovada em
1998, que determinou que o segurado para ter direito à aposentadoria, contribua no
mínimo durante 35 anos, se homem, ou 30, se mulher e impôs um limite de idade para
obtenção da aposentadoria por tempo de serviço, o homem necessita ter 65 anos e a
mulher, 60 anos. Permaneceu a redução de 5 anos para os rurais de ambos os sexos e
para o professor que “comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções
de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio” (art. 201,
parágrafos 7°, inciso I e II, e 8°).
Segundo Salvador e Boschetti (2002), a reforma previdenciária, ao trocar o
critério de tempo de serviço pelo tempo de contribuição, aumenta as exigências para
fazer jus à aposentadoria, provocando problemas ao trabalhador de categorias
profissionais com menor grau de organização, onde há sonegação no recolhimento das
contribuições da Previdência.
Outra parte da reforma da previdência foi aprovada já no governo Lula, e diz
respeito a Emenda Constitucional 41, aprovada em 2003 que alterou as regras para a
60
concessão de benefícios previdenciários aos servidores públicos, como o caso da
aplicação de teto de remuneração dos servidores que, no âmbito da União, não poderão
exceder o valor da remuneração dos Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e,
introduziu o abono da contribuição previdenciária (11% da remuneração) para os
servidores que podem se aposentar, mas preferem continuar trabalhando, entre outras
alterações.
Segundo Boschetti (2003), “a reforma da previdência social realizada em 1998,
atingiu não só, mais com maior impacto, os trabalhadores regidos pela Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT), sobretudo os do setor privado”. Por sua vez, o discurso sobre a
necessidade de reformar a previdência, retomado pelo governo Lula, teve como alvo o
setor público. Para Granemann (2003), “as propostas do governo Lula para a
previdência dos servidores públicos, divulgadas em meados de abril, complementam e
aprofundam a reforma da previdência iniciada pelo governo de Fernando Henrique
Cardoso”.
Cabe aqui destacar o reconhecimento da necessidade de se reformar a
previdência social, sobretudo, “[...] para corrigir desigualdades de tratamento entre
trabalhadores e para assegurar direitos iguais aos cidadãos brasileiros, e não para reduzir
direitos duramente conquistados pelos trabalhadores” (BOSCHETTI, 2003).
É importante considerar ainda, o elevado nível de desemprego e de relações
informais de trabalho existente no país. Boschetti (2003), baseando-se nos dados do
Dieese, afirma que do total de 71,7 milhões de pessoas ocupadas, menos da metade
(43,5%) contribui para a previdência, ou seja, são pessoas que não apenas colaboram
para engrossar o déficit previdenciário, mas acima de tudo, são cidadãos excluídos do
acesso aos direitos da seguridade social, tão ameaçados pelo projeto político-ideológico
neoliberal.
61
Em linhas gerais, o que se viu nestas últimas décadas, foi o fortalecimento do
fenômeno da globalização que caracterizava a economia internacional desde meados
da década de 70 e que instaurou no Brasil, a partir da década de 90, o processo de
“mundialização do capital” e a quebra das fronteiras nacionais.
O processo da globalização não se resume a uma dinâmica puramente
econômica, trata-se de um fenômeno multidimensional que obedece a
decisões de natureza política, apresentado como um processo
inevitável, independente da intervenção humana, pelo qual todos os
países deveriam ajustar-se de modo inescapável a um receituário
único e através do qual se tecem vínculos entre economia mundial e
economia nacional (DINIZ, 2001).
Aliado a este processo, o país assiste nos anos 90 ao redirecionamento do papel
do Estado, influenciado pela política de ajuste neoliberal e à instauração de um novo
modelo econômico centrado no mercado. Como ressalta Bravo (2000), “o Estado deve
deixar de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social para se
tornar o promotor e regulador, transferindo para o setor privado as atividades que antes
eram suas”. Segundo esta autora, a afirmação da hegemonia neoliberal no Brasil tem
sido responsável pela redução dos direitos sociais e trabalhistas, desemprego estrutural,
precarização do trabalho, desmonte da previdência pública, sucateamento da saúde e da
educação.
Nesta década, a reforma do Estado adquiriu status de tema central na agenda
brasileira e a “crescente crise fiscal-financeira do Estado, o fraco desempenho da
economia e o crescimento da taxa de desemprego e do trabalho informal propiciaram o
fortalecimento do discurso sobre a necessidade de reformar a Previdência Social”. Entre
os vários argumentos apontados para a realização da reforma, um dos que se
62
destacavam defendia que os direitos introduzidos pela Constituição de 1988 teriam
provocado fortes desequilíbrios no sistema previdenciário (MARQUES ET AL. 2003).
Para Bravo (2000), a reforma da previdência e das regras que regulamentam as
relações de trabalho no Brasil representa um forte ataque aos avanços contidos no texto
constitucional. Segundo a autora, “ao agendar a reforma da previdência, e não da
seguridade, o governo teve como intenção desmontar a proposta da Seguridade Social
contida na Constituição de 1988”.
1.6. A PREVIDÊNCIA SOCIAL ENQUANTO POLÍTICA PÚBLICA DE
SEGURIDADE SOCIAL
Como foi dito anteriormente, a Constituição Federal de 1988 é considerada
um marco fundamental em relação à história da Previdência Social enquanto política
pública no Brasil, inserida no âmbito da seguridade social.
Dentre todas as Constituições, a de 1988 foi a que contou com maior
apoio popular e, com isso, a feitura de suas normas atendeu aos
interesses da maioria da população, relegando a segundo plano os
anseios de importantes setores da elite econômica (AGRA, 2002).
63
Marques et al. (2003) afirma que, apesar das resistências governamentais, os
constituintes aprovaram uma Constituição que procura garantir os direitos básicos e
universais de cidadania, estabelecendo o direito à saúde, à assistência social, ao seguro-
desemprego e à previdência social em um capítulo específico – o da Seguridade Social.
Cabe ressaltar que o tratamento concedido ao campo da proteção social na
Constituição de 1988 avançou no sentido da universalização da cobertura e da
diminuição das desigualdades relacionadas ao acesso de direitos, em contraposição ao
período anterior a sua promulgação, sobretudo no campo do direito à saúde uma vez que
substituiu o caráter meritocrático pelo princípio da cidadania (MARQUES, 2003).
Nesta perspectiva, a nova Constituição também consagrou os direitos
previdenciários sob a nova dimensão da seguridade social e reformulou o sistema
previdenciário brasileiro, unificando os regimes urbano e rural (BRASIL, 2002b). A
partir de então, o sistema de proteção social brasileiro passou a ser organizado com base
nos seguintes princípios constitucionais:
Universalidade da cobertura e do atendimento; uniformidade e equivalência dos
benefícios e dos serviços às populações urbanas e rurais;
Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e dos serviços;
Irredutibilidade do valor dos benefícios, equidade na forma de participação e
custeio;
Diversidade da base de financiamento; e
Caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, mediante gestão
quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos
aposentados e do governo nos órgãos colegiados.
64
É importante dizer que o momento histórico que foi cenário do processo
constituinte
6
correspondeu à luta pela redemocratização da sociedade brasileira que
acabou propiciando e, ao mesmo tempo, sendo o resultado de uma ampla
mobilização da sociedade civil organizada, com forte pressão popular, principalmente
em torno das questões relacionadas às políticas sociais.
Tal movimento, que marcou nossa história, tem sua importância revelada por
representar a mola propulsora para que constasse no arcabouço constitucional o intuito
de configurar na sociedade brasileira um Estado de Bem-Estar Social
7
, retratado pela
inclusão da saúde, da assistência social e da previdência social no tripé da seguridade
social e sob o ponto de vista de direito do cidadão e dever do Estado.
Embora o padrão de proteção social varie suas formas em cada local, é
caracterizado pelo fato de o Estado oferecer à população um conjunto de políticas para
fazer frente a determinadas contingências sociais, como acesso universal, de acordo
com cada necessidade específica (DRAIBE, 1989). Vale salientar que essa
determinação aconteceu em plena contramão da história mundial, no período do
recrudescimento da ofensiva liberal provocado pela crise internacional do capital – da
tentativa de desresponsabilização do Estado, marcada pela diminuição e até retirada de
investimento das áreas sociais e na política de bem-estar social.
Segundo Martins (2001), a palavra Previdência vem do latim pre videre, e
significa ver com antecipação as contingências sócias e procurar compô-las. Conforme a
6
A Constituinte de 1988 exerceu pleni-potenciáriamente os seus poderes, graças à legitimação popular de que estava
imbuída. De todos os Textos Constitucionais foi o que mais apresentou legitimidade por parte da população. AGRA,
W. M. Histórico das Constituições brasileiras. In: ______. Manual de Direito Constitucional. São Paulo, Revista
dos Tribunais, 2002. p. 41-51.
7
Estado de Bem-Estar Social, welfare states ou keneysianismo social é um padrão mínimo garantido pelo Estado de
renda, alimentação, saúde, alojamento e instrução assegurados a qualquer cidadão como um direito político e não um
benefício. Wilenski apud DRAIBE, S. M. O “Welfare States” no Brasil: Características e Perspectivas. Anuário de
Sociologia, Antropologia e Política, ANPOCS,
1989, p. 18.
65
previsão do artigo 201 da atual Constituição brasileira, as contingências previstas em lei
são: doença, invalidez, morte, velhice, maternidade e desemprego.
No Brasil, a previdência social é entendida como o segmento da Seguridade
Social, composta de um conjunto de princípios, de regras e de instituições destinado a
estabelecer um sistema de proteção social, mediante contribuição, que tem por objetivo
proporcionar os meios indispensáveis de subsistência ao segurado e a sua família,
quando ocorrer certa contingência prevista em lei (MARTINS, 2001).
De acordo com Martins (2001), o sistema previdenciário brasileiro está pautado
num modelo de repartição simples onde os ativo contribuem para os inativos, ou seja,
“[...] os recursos recolhidos dos contribuintes atuais são destinados a cobrir gastos com
os aposentados de hoje” (BRASIL, 2002d). A previdência social consiste então, em
uma forma de assegurar benefícios e serviços com base no princípio da solidariedade
humana, em que a população ativa deve sustentar a inativa. Nesta lógica, “[...] para que
esse sistema se mantenha equilibrado é necessário que se tenha, ao longo do tempo, uma
relação estável entre o número de contribuintes e de beneficiários” (BRASIL, 2002d).
Segundo Ibrahim (2002), o sistema previdenciário apresenta pelo menos três
características marcantes. A primeira se refere à obrigatoriedade de contribuição, ou
seja, as pessoas contribuem obrigatoriamente na busca de uma garantia, uma proteção
na eventualidade de um infortúnio, como doenças e incapacidades para o trabalho.
Ao contrário do regime de assistência social,
8
previsto pela Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS) e da concepção que norteia a concessão de aposentadorias
aos trabalhadores rurais (ACHUTTI; AZAMBUJA, 2004) em que o segurado não
precisa ter contribuído para ter direito ao benefício, o regime previdenciário brasileiro
depende da contribuição por parte do próprio segurado.
8
Prevê a concessão de benefícios segundo a LOAS para idosos acima de 65 anos e portadores de
deficiência.
66
Outra característica do sistema previdenciário brasileiro é que ele é
necessariamente contributivo, isto é, deve financiar-se a partir das contribuições de seus
participantes. Àquele que não contribui, não tem direito a benefício proporcionado pelo
regime geral. Essas pessoas, no máximo, poderiam postular um benefício assistencial,
caso sejam enquadradas como necessitadas (IBRAHIM, 2002).
Por fim, a compulsoriedade é outra característica de grande relevância do nosso
sistema previdenciário. Ibrahim (2002), destaca que qualquer pessoa, inclusive de
origem estrangeira, que venha a exercer atividade remunerada em território nacional
filia-se, automaticamente, ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS), sendo
obrigado a efetuar recolhimentos ao sistema previdenciário.
Vale salientar que as pessoas vinculadas a regimes próprios de previdência,
como militares e alguns servidores públicos estão excluídos da regra acima. Segundo
Ibrahim (2002), a complusoriedade é justificada, em especial, pela pouca importância
dada ao futuro pelos mais jovens e pela solidariedade previdenciária, que garante o
pagamento de benefícios mesmo àqueles com cotização insuficiente. Por este motivo
Achutti e Azambuja (2004), enfatizam que “a previdência social no Brasil, como no
resto do mundo, está estremeada por interesses econômicos e não pode ser discutida
fora deste contexto”.
A previdência está baseada no conceito de seguro, ou seja, de um
contrato individual que afirma a existência de um direito pessoal do
contribuinte (ou afiliado do sistema) a um benefício futuro em razão e
na proporção de sua contribuição presente. o conceito de
seguridade social baseia-se em um contrato social, pelo qual o direito
aos benefícios aparece como um direito de cidadania (ACHUTTI;
AZAMBUJA, 2004).
67
Como medida de esclarecimento e para facilitar nosso entendimento é
importante dizer ainda que, o sistema previdenciário brasileiro é dotado de três regimes:
1. Regime Geral de Previdência Social, organizado pelo Instituto Nacional de
Seguro Social (INSS), é o mais amplo e responsável pela proteção da grande
massa de trabalhadores brasileiros;
2. Regimes Próprios de Previdência são os regimes mantidos pela União, Estados
e alguns municípios em favor de seus servidores ocupantes de cargos públicos
efetivos;
3. Regime Complementar de Previdência possui caráter facultativo e natureza
privada, cabendo à União a fiscalização e regulamentação de seu
funcionamento. É uma opção individual do beneficiário participar deste regime,
contudo, sua adesão não exclui a obrigatoriedade de contribuir para o regime
geral ou, no caso do servidor, para o regime próprio.
Nesta perspectiva, de acordo com o então Ministério da Previdência e
Assistência Social:
O Brasil possui hoje, mais de um regime de Previdência
Social. Cada Regime funciona nas três esferas de governo: União,
Estados e Municípios. Durante a vida laboral dos trabalhadores, uma
parte significativa poderá contribuir ou pertencer a mais de um deles
(BRASIL, 2001).
68
É neste cenário que buscaremos compreender a história da previdência social
brasileira enquanto política pública de seguridade social que segundo Dain (1991),
depende do fato de que a mesma amplie seu horizonte de cobertura e transite
definitivamente de uma visão de seguro, ligada aos direitos individuais dos
contribuintes, para uma visão de seguridade social, ou seja, que se transforme em direito
de cidadania.
69
2 OBJETIVOS
2.1. GERAL
Identificar a repercussão das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT)
considerando as concessões de auxílios-doença e aposentadorias por invalidez, a partir
das agências do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) localizadas em Recife/PE,
no período de 2000-2002.
2.2. ESPECÍFICOS:
Identificar a distribuição dos auxílios-doença e das aposentadorias por invalidez
segundo agência e ano de concessão dos benefícios em Recife no período 2000-2002;
Identificar os principais grupos de causas, agrupados de acordo com os capítulos
da CID-10, para a concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez em Recife
no período 2000-2002;
Identificar as causas específicas mais evidentes no interior dos grandes grupos de
causas, referente a DCNT relacionadas à concessão de auxílio-doença aposentadoria por
invalidez de acordo com a CID-10 em Recife no período 2000-2002;
Relacionar a concessão de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez por
DCNT segundo sexo, idade e renda inicial dos segurados em Recife no período 2000-
2002.
70
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 O Tipo de Estudo
Trata-se de um estudo quantitativo com uma abordagem epidemiológica
relacionando as DCNT e a concessão e distribuição dos auxílios-doença e das
aposentadorias por invalidez - benefícios comuns por incapacidade temporária para o
trabalho - nas agências do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) localizadas em
Recife/PE.
A escolha pelo método quantitativo deve-se ao fato de este ser freqüentemente
aplicado nos estudos descritivos, “[...] naqueles que procuram descobrir e classificar a
relação entre variáveis, [...]” (RICHARDSON, 1989).
A primeira fase deste estudo contou com a realização do levantamento
bibliográfico e documental sobre o tema como recurso à fundamentação teórica,
incluindo uma pesquisa nas bases de dados dos sistemas virtuais (MEDLINE, SCIELO
e LILACS) disponibilizados via Internet.
Todo o processo de investigação foi orientado pelos objetivos anteriormente
descritos nesta dissertação. Na busca de melhor compreender as características dos
segurados para os quais foram concedidos os dois tipos de benefícios citados, utilizamos
as seguintes variáveis no estudo: sexo, idade e valor mensal inicial recebido pelo
benefício.
Na fase seguinte do estudo se procedeu à identificação das doenças segundo
grandes grupos de causas de doenças e, posteriormente, das principais causas
71
específicas relacionada as DCNT de acordo com a Classificação Internacional de
Doenças, décima versão (CID-10), com o intuito de aferir quais enfermidades tiveram
maior repercussão na saúde dos trabalhadores segurados, ficando estes temporariamente
incapacitados para o exercício de suas atividades laborais ou foram aposentados por
invalidez, excluindo-se àqueles relacionados a acidentes do trabalho.
3.2 A População de Estudo
A população do estudo foi constituída pelo universo de segurados que receberam
os benefício de auxílio-doença e aposentaria por invalidez, do Regime Geral de
Previdência Social (RGPS), das agências localizadas em Recife, no período
compreendido entre janeiro de 2000 e dezembro de 2002. Neste sentido, foram
identificados 14.879 segurados beneficiários de auxílio-doença e 3.091 beneficiários de
aposentaria por invalidez.
Vale salientar que os benefícios aqui referidos fazem parte, apenas, do Regime
Geral de Previdência Social. Esse regime de previdência é o mais amplo e, portanto,
responsável pela proteção da maior parte dos trabalhadores brasileiros. Sua
administração é atribuída ao Ministério da Previdência Social (MPS), sendo exercida e
organizada pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).
72
3.3 A Área de Abrangência
A área de abrangência da pesquisa está conformada pelas oito (08) Agências da
Previdência Social (APS) localizadas em Recife/PE, a saber:
APS Afogados;
APS Areias;
APS Casa Amarela;
APS Corredor do Bispo;
APS Convênio;
APS Encruzilhada;
APS Mário Melo;
APS Pina.
3.4 A Coleta de Dados
Quanto à coleta de dados, o presente estudo fez uma análise dos registros do
banco de dados do INSS, disponibilizado pela Empresa de Processamento de Dados da
Previdência Social (DATAPREV), referente aos auxílios-doença e às aposentadorias
por invalidez das oito agências localizadas em Recife no período 2000-2002, com a
finalidade de identificar o diagnóstico de enfermidades que acometem a população de
segurados, determinando incapacidade temporária para executar suas atividades laborais
habituais. Acreditamos na viabilidade e relevância da utilização dessa base de dados
com finalidade epidemiológica.
73
O INSS detém atualmente o maior banco de dados referente a
características demográficas e de saúde de uma parcela significativa
da população brasileira, contudo estes dados são ainda pouco
explorados para o diagnóstico da morbidade dos trabalhadores
segurados (AZAMBUJA ET AL., 2002).
Neste sentido, procuramos nos apropriar do quadro de morbidade que
proporciona a entrada da população no contexto da previdência social e de configurar as
características demográficas e de renda destes segurados.
Para a classificação da morbidade, ou seja, das principais causas de adoecimento
da população adulta trabalhadora, propomos a realização do estudo em duas etapas: a
primeira, realizada através da identificação de grandes grupos de causas de doença e, a
segunda, identificando as principais causas específicas relacionadas a DCNT. Para
ambas utilizamos como parâmetro de estudo a Classificação Internacional de Doenças,
décima versão (CID10, 1997) da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Neste estudo, também recorremos a fontes secundárias provenientes de dados
oficiais publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pelo
antigo Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), pelo atual Ministério da
Previdência Social (MPS) e pelo Ministério da Saúde (MS).
3.5. O Processamento e a Análise dos Dados
O processamento dos dados seguiu o plano de análise proposto no projeto da
pesquisa utilizando como recurso de tabulação e consolidação, o programa Excel versão
2000 que, possibilitou a construção de tabelas e gráficos. Estes foram posteriormente
analisados pela autora com o auxílio da literatura selecionada.
74
3.6 Alguns Conceitos Importantes
Para facilitar nossa compreensão, salientamos ainda, que o conceito de auxílio-
doença e de aposentaria por invalidez aqui adotado é o mesmo utilizado por Ibrahim
(2002):
Auxílio-doença (Ver Lei n° 8.213/91 artigos 59 a 63 e RPS, artigos 71 a 80):
Auxílio-doença é benefício não-programado, decorrente da
incapacidade temporária do segurado para o seu trabalho habitual.
Porém, somente será devido se a incapacidade for superior a 15 dias
consecutivos. A grande diferença entre este benefício e a
aposentadoria por invalidez diz respeito à natureza temporária da
incapacidade protegida por auxílio doença, que não existe na
aposentadoria por invalidez (IBRAHIM, 2002).
Aposentadoria por Invalidez (Ver Lei 8.213/91 artigos 42 a 47 e RPS,
artigos 43 a 50):
A Aposentadoria por Invalidez é concedida ao segurado que, estando
ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz para o
trabalho ou insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade
que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer
nesta condição. Assim, o fato de o segurado ter recebido
anteriormente auxílio-doença é irrelevante. Todavia, na prática, a
perícia médica concede o auxílio ao segurado, esperando que este
venha a se recuperar das lesões apresentadas. Caso isto não ocorra,
chegando a perícia à conclusão que o segurado é irrecuperável para a
sua atividade ou inadaptável para outra, é então aposentado por
invalidez. Nada impede que o segurado recupere a sua capacidade
laboral. Sem dúvida foi fato imprevisto pela perícia médica, mas se
observável futuramente, determina o término do benefício, sem
prejuízo para o segurado, salvo má fé (IBRAHIM, 2002).
75
Vale salientar ainda que de acordo com o RGPS, estes benefícios estão
classificados por espécie, para facilitar sua identificação e controle:
Tipo do Benefício Espécie
Auxílio-doença 31
Aposentadoria por Invalidez 32
3.7.Viabilidade da Pesquisa
O projeto da pesquisa foi desenvolvido no Laboratório de Apoio à
Municipalização (LAMSAÚDE), do Departamento de Estudos em Saúde Coletiva, do
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães da Fundação Oswaldo Cruz
(NESC/CPqAM/FIOCRUZ), a partir da instalação de um banco de dados contento as
informações sobre os auxílios-doença e as aposentadorias por invalidez, referente as
oito agências do INSS localizadas em Recife/PE, compreendendo o período em estudo,
disponibilizado gratuitamente pela Empresa de Processamento de Dados da Previdência
Social (DATAPREV).
Além do banco de dados, a pesquisa contou também com o apoio da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) através da concessão de
uma bolsa de estudos em nível de mestrado para a autora responsável pelo estudo.
Sendo assim, este projeto não apresentou custos adicionais para a instituição
confirmando a viabilidade de sua execução.
76
3.8 Considerações Éticas
Este Projeto foi encaminhado ao Conselho de Ética em Pesquisa (CEP) da
CPqAM/FIOCRUZ, tendo sido aprovado por atender ao Código de Ética, resolução
196, de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), do Ministério da
Saúde e complementares por estar condizente com a conduta ética que deve nortear as
pesquisas envolvendo seres humanos (anexos 1 e 2).
3.9 Limites da Pesquisa
O presente trabalho se propôs a identificar algumas questões relacionadas à
repercussão das DCNT na previdência social, sem a pretensão de esgotar o assunto, que
só recentemente ganhou espaço na agenda pública brasileira. Todavia, não pode se
furtar a oportunidade de apontar as potencialidades dos registros de dados do INSS para
o levantamento epidemiológico da população segurada, mostrando a viabilidade de sua
utilização para o planejamento das ações da política de saúde.
Entretanto, nossa intenção, que acreditamos ser pioneira, ao menos com
referência as oito agências da previdência social estudadas no município de Recife/PE,
foi a de levantar pistas que favoreçam e incentivem investigações posteriores que
ampliem as informações a respeito desta discussão.
Neste sentido, devem ser consideradas neste estudo as dificuldades encontradas
para o acesso dos dados primários da previdência social, principalmente àquelas
relacionadas às causas básicas para a concessão dos benefícios, também relatadas por
77
outros autores (SAMPAIO ET AL., 2003; TEIXEIRA ET AL., 2004; ACHUTTI;
AZAMBUJA, 2004). Conforme cita Teixeira et al. (2004), “o site da previdência
disponibiliza vários dados sobre benefícios, mas não discrimina quais são os grupos de
doenças que determinaram o pagamento do benefício”.
Outra questão a ser considerada diz respeito a necessidade de comparar os
achados da população segurada em Recife/PE, com os dados do Brasil como um todo,
devido a dificuldade de acesso, e até inexistência, de relatórios com dados consolidados
em âmbito municipal.
Por fim, coloca-se também como limite para o estudo a inexistência de dados a
respeito da última ocupação e do local de residência do segurado que podem ser fatores
determinantes para o desenvolvimento das patologias que geraram a necessidade do
benefício. Vale salientar que, de acordo com a DATAPREV, os dados referentes a
ocupação somente se tornaram uma informação de inclusão obrigatória a partir de 2001,
no que pese ainda, a cultura dos servidores de enquadrar esta informação como “outros”
segundo o código brasileiro de ocupações (CBO), ocasionando vieses que não
corresponderiam a realidade dos segurados.
78
4 RESULTADOS
Os resultados apresentados neste trabalho baseiam-se na análise das informações
sobre a concessão de 14.879 auxílios-doença e 3.091 aposentadorias por invalidez (não
incluídos os acidentes de trabalho) de oito agências que compõem a gerência do INSS
em Recife no período de 2000-2002.
De acordo com o gráfico 1, é possível identificar quando comparamos o ano de
2000, ao ano de 2002 um incremento na concessão de auxílios-doença, sobretudo nas
agências Afogados e Areias que neste período aumentaram em cinco vezes a concessão
deste benefício. Apenas as agências Convênio, Mario Melo e Pina, apresentaram uma
tendência de diminuição.
Gráfico 1 - Distribuição dos auxílios-doença segundo
agência e ano de concessão do benefício, em Recife no
período 2000-2002.
0
500
1000
1500
2000
2000
300 47 654 492 610 566 780 674
2001
581 71 639 503 972 359 582 539
2002
1651 282 855 703 1318 527 746 428
Afogados Areias
C.
Amarela
C. do
Bispo
Encruzilha
da
Mário
Melo
Pina Convênio
Fonte: INSS/PE, 2003.
79
Em relação às aposentadorias por invalidez, o gráfico 2 mostra que houve uma
tendência de redução de sua concessão no decorrer dos três anos estudados (2000-2002)
com exceção das agências Afogados e Pina que praticamente ampliaram em 50% o
número de benefícios concedidos nesta espécie. Vale salientar também que, na APS
Areias a redução se deu de forma bastante acentuada em 2002.
Gráfico 2 - Distribuição das aposentadorias por invalidez
segundo agência e ano de concessão do benefício, em
Recife no período 2000-2002.
0
100
200
300
400
2000
182 27 187 131 138 75 137 61
2001
295 63 168 86 115 57 180 84
2002
307 9 71 115 138 66 328 71
Afogados Areias
C.
Amarela
C. do
Bispo
Encruzilha
da
Mário
Melo
Pina Convenio
Fonte: INSS/PE, 2003.
A tabela 1 permite verificar a distribuição dos auxílios-doença segundo os
principais grupos de causas de doenças de acordo com a CID-10 e revela que as CE
(20,16%) ocupam o primeiro lugar na concessão deste tipo de benefício, seguida dos
FES (19,46%). As DO (14,55%) aparecem em terceiro lugar, às DAC (10,68%) em
quarto e os TMC (9,67%), em quinto. Merecem destaque também a persistência de
ocorrências de DIP (6,18%) e o crescimento dos casos de NEO (4,15%). Neste
contexto, é importante salientar que no quadro geral da concessão de auxílios-doença
80
considerando todas as agências da previdência social em Recife, entre as seis primeiras
causas de adoecimento da população, três referem-se ao conjunto das DCNT (DO, DAC
e NEO) em que este benefício foi concedido pelo INSS.
Tabela 1 - Distribuição dos auxílios-doença segundo grandes grupos de causas de
acordo com a CID-10, em Recife no período 2000-2002.
GRUPOS DE CAUSAS 2000 2001 2002 Total %
Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas
externas (CE) 761 822 1416 2999 20,16
Doenças do aparelho circulatório (DAC) 411 484 694 1589 10,68
Doenças do aparelho digestivo (DAD) 94 92 150 336 2,26
Doenças do aparelho geniturinário (DAG) 77 93 109 279 1,88
Doenças do aparelho respiratório (DAR) 65 74 110 249 1,67
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (DENM) 78 77 141 296 1,99
Algumas doenças infecciosas e parasitárias (DIP) 253 250 416 919 6,18
Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (DO) 575 620 970 2165 14,55
Doença do olho e anexos (DOA) 72 66 126 264 1,77
Doenças do ouvido e da apófise mastóide (DOAM) 23 22 33 78 0,52
Doenças da pele e do tecido subcutâneo (DPTS) 54 53 75 182 1,22
Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns
transtornos imunitários (DS) 9 4 10 23 0,15
Doenças do sistema nervoso (DSN) 76 88 165 329 2,21
Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os
serviços de saúde (FES) 976 873 1046 2895 19,46
Gravidez, parto e puerpério (GPP) 66 61 74 201 1,35
Mal formações congênitas, deformidades e anomalias
cromossômicas (MCD) 8 4 6 18 0,12
Neoplasias (NEO) 164 188 266 618 4,15
Transtornos mentais e comportamentais (TMC) 361 375 703 1439 9,67
TOTAL 4123 4246 6510 14879 100,00
Fonte: INSS/PE, 2003.
No caso da distribuição das aposentadorias por invalidez segundo os principais
grupos de causas de doenças de acordo com a CID-10, as DAC (23,62%) aparecem na
81
tabela 2 como a primeira causa para a concessão deste benefício. Em segundo lugar,
encontram-se os TMC (15,14%) e em terceiro, as DO (14,69%). As CE (9,41%) e as
DIP (8,31%) aparecem em quarto lugar e em quinto, respectivamente, seguidas das
NEO (7,51%), que se apresentam em sexto. Com respeito a este tipo de benéfico, os
resultados apontam que as três primeiras causas de adoecimento da população segurada
fazem parte das DCNT (DAC, TMC e DO).
Tabela 2 - Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo grandes grupos de
causas de doenças de acordo com a CID-10, em Recife no período 2000-2002.
GRUPOS DE CAUSAS 2000 2001 2002 Total %
Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas
externas (CE) 81 93 117 291 9,41
Doenças do aparelho circulatório (DAC) 238 244 248 730 23,62
Doenças do aparelho digestivo (DAD) 13 15 23 51 1,65
Doenças do aparelho geniturinário (DAG) 21 28 26 75 2,43
Doenças do aparelho respiratório (DAR) 12 19 20 51 1,65
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (DENM) 28 34 48 110 3,56
Algumas doenças infecciosas e parasitárias (DIP) 92 93 72 257 8,31
Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (DO) 127 161 166 454 14,69
Doença do olho e anexos (DOA) 48 47 46 141 4,56
Doenças do ouvido e da apófise mastóide (DOAM) 4 9 7 20 0,65
Doenças da pele e do tecido subcutâneo (DPTS) 14 10 9 33 1,07
Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns transtornos
imunitários (DS) 4 4 4 12 0,39
Doenças do sistema nervoso (DSN) 58 52 54 164 5,31
Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os
serviços de saúde (FES) 0 0 1 1 0,03
Gravidez, parto e puerpério (GPP) 0 0 0 0 0,00
Mal formações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas
(MCD) 1 0 0 1 0,03
Neoplasias (NEO) 59 80 93 232 7,51
Transtornos mentais e comportamentais (TMC) 138 159 171 468 15,14
TOTAL 938 1048 1105 3091 100,00
Fonte: INSS/PE, 2003.
82
Nos gráficos 3 e 4 podemos observar a distribuição dos auxílios-doença e das
aposentadorias por invalidez, segundo os principais grupos de causas de doenças de
acordo com a CID-10, em relação às DCNT (DAC; DENM; DO; NEO e TMC) a partir
de seu agrupamento. A respeito desta agregação de dados, é possível verificar que
houve uma tendência de crescimento do conjunto das DCNT no decorrer dos anos em
estudo, nos dois tipos de benefícios.
Gráfico 3 - Distribuição dos auxílios-doenças segundo
grandes grupos de causas de doenças de acordo com a
CID-10 em relação às DCNT, em Recife no período 2000-
2002.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
2000 2001 2002
CE
DAD
DAG
DAR
DCnT
DIP
DOA
DOAM
DPTS
DS
DSN
FES
GPP
MCD
Fonte: INSS/PE, 2003.
Gráfico 4 - Distribuição das aposentadorias por invalidez
segundo grandes grupos de causas de doenças de acordo
com a CID-10 em relação às DCNT, em Recife no período
2000-2002
0
100
200
300
400
500
600
700
800
2000 2001 2002
CE
DAD
DAG
DAR
DCnT
DIP
DOA
DOAM
DPTS
DS
DSN
FES
GPP
MCD
Fonte: INSS/PE, 2003.
83
As tabelas 3 e 4 se referem às causas de doenças específicas mais evidentes no
interior dos grandes grupos de causas de DCNT segundo a CID-10, relacionadas à
concessão de auxílios-doença e aposentadorias por invalidez nas agências do INSS em
Recife no período em estudo.
A tabela 3 é referente ao grupo das Doenças do Aparelho Circulatório (DAC) e
revela que as doenças hipertensivas são responsáveis por 25,6%, do total de casos, ou
seja, representam um quarto das causas que resultaram na concessão de auxílios doença
neste grupo. É importante destacar ainda que 15,7% dos casos referem-se às doenças
das veias, dos vasos linfáticos e dos gânglios linfáticos, não classificadas em outra
parte; 13,9% às doenças isquêmicas do coração; 13,4% às doenças cerebrovasculares e
11% a outras formas de doenças do coração.
Tabela 3 – Distribuição dos auxílios-doença segundo causas específicas no
interior do grupo das Doenças do Aparelho Circulatório - DAC, em Recife no
período 2000-2002.
CID-10 DAC TOTAL %
I00-I02 Febre reumática aguda 129 8,10
I05-I09 Doenças reumáticas crônicas do coração 140 8,80
I10-I15 Doenças hipertensivas 406 25,60
I20-I25 Doenças isquêmicas do coração 221 13,90
I26-I28 Doenças cardíaca pulmonar e da circulação pulmonar 8 0,50
I30-I52 Outras formas de doença do coração 175 11,00
I60-I69 Doenças cerebrovasculares 213 13,40
I70-I79 Doenças das artérias, das arteríolas e dos capilares 27 1,70
I80-I89 Doenças das veias, dos vasos linfáticos e dos gânglios
linfáticos, não classificadas em outra parte 250 15,70
Outros
20 1,30
TOTAL 1589 100,00
Fonte: INSS/PE, 2003.
84
No caso das aposentadorias por invalidez, as doenças cerebrovasculares
assumem a primeira posição com 25,6% dos casos do grupo das Doenças do Aparelho
Circulatório (DAC), conforme indicam os dados da tabela 4. As doenças hipertensivas
somaram 22,6%; as doenças esquêmicas do coração 19,5%. Por fim, outras formas de
doenças do coração apresentaram 18,9% das causas para concessão deste tipo de
benefício.
Tabela 4 - Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo causas
específicas no interior do grupo das Doenças do Aparelho Circulatório - DAC,
em Recife no período 2000-2002.
CID-10 DAC TOTAL %
I05-I09 Doenças reumáticas crônicas do coração 19 2,60
I10-I15 Doenças hipertensivas 165 22,60
I20-I25 Doenças esquêmicas do coração 142 19,50
I26-I28 Doenças cardíaca pulmonar e da circulação pulmonar 6 0,80
I30-I52 Outras formas de doença do coração 138 18,90
I60-I69 Doenças cerebrovasculares 187 25,60
I70-I79 Doenças das artérias, das arteríolas e dos capilares 13 1,80
I80-I89 Doenças das veias, dos vasos linfáticos e dos glânglios linfáticos,
não classificadas em outra parte 50 6,80
Outros 10 1,40
TOTAL
730 100,00
Fonte: INSS/PE, 2003
.
Em relação aos auxílios-doença, ocasionados por causas relacionadas as DENM,
a tabela 5 demonstra que mais da metade dos casos de concessão deste benefício se
deram devido ao diagnóstico de diabetes mellitus que foi responsável por 77,7% deste
benefício. Vale salientar que, a segunda causa, os transtornos da glândula da tireóide
apresentaram 14,9% dos casos e, a terceira, obesidade e outras formas de
hiperalimentação, somaram apenas 4,1% dos diagnósticos.
85
Tabela 5 - Distribuição dos auxílios-doença segundo causas específicas no
interior do grupo de Doenças Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas - DENM,
em Recife no período 2000-2002.
CID-10 DENM TOTAL %
E00-E07 Trasntornos da glândula da tireóide 44 14,90
E10-E14 Diabetes Mellitus 230 77,70
E65-E68 Obesidade e outras formas de hiperalimentação 12 4,10
Outros 10 3,30
TOTAL 296 100,00
Fonte: INSS/PE, 2003.
Ainda no grupo das DENM, a tabela 6 apresenta as causas de aposentadorias por
invalidez com grande destaque para o diabetes mellitus que somou 91,8% dos casos, ou
seja, a quase totalidade dos diagnósticos para a entrada da população segurada neste
benefício. A segunda causa com maior número de casos foi obesidade e outras formas
de hiperalimentação com apenas 4,5% dos diagnósticos identificados.
Tabela 6 - Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo causas
específicas no interior do grupo de Doenças Endócrinas, Nutricionais e
Metabólicas – DENM, em Recife no período 2000-2002.
CID-10 DENM TOTAL %
E10-E14 Diabetes Mellitus 101 91,80
E65-E68 Obesidade e outras formas de hiperalimentação 5 4,50
Outros 4 3,60
TOTAL 110 100,00
Fonte: INSS/PE, 2003.
86
As Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo (DO),
configuram outro grupo de doenças que também fazem parte do grupo das DCNT.
Conforme os dados da tabela 7, as causas específicas mais expressivas para a concessão
de auxílios-doença dentro deste grupo de causas apresentaram em primeiro lugar, com
32,4% do total dos casos, outras dorsopatias; seguida das artroses que foram
responsáveis por 18,2% e das poliatropatias inflamatórias com 12,1% dos casos
diagnosticados.
É significativo destacar ainda os dados equivalentes à quantidade dos
diagnósticos por transtornos das sinóvias e dos tendões (9,4%); por outros transtornos
articulares (7,9%) e por outros transtornos dos tecidos moles (7,6%) que somados
representam 24,9%, ou seja, um quarto das causas responsáveis por auxílio-doença
neste grupo.
Tabela 7 - Distribuição dos auxílios-doença segundo causas específicas no
interior do grupo das Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido
Conjuntivo – DO, em Recife no período 2000-2002.
CID-10 DO TOTAL %
M00-M03 Artropatias infecciosas 62 2,80
M05-M14 Poliatropatias inflamatórias 262 12,00
M15-M19 Artroses 393 18,20
M20-M25 Outros transtornos articulares 170 7,90
M45-M49 Espondilopatias 73 3,40
M50-M54 Outras dorsopatias 701 32,40
M65-M68 Transtornos das sinóvias e dos tendões 203 9,40
M70-M79 Outros transtornos dos tecidos moles 164 7,60
M95-M99 Outros transtornos do sistema osteomuscular e do tecido
conjuntivo 36 1,70
Outros 101 4,60
TOTAL 2165 100,00
Fonte: INSS/PE, 2003.
87
As causas específicas no grupo das DO para a concessão de aposentadorias por
invalidez revelam que as artroses com 33,7% do total de casos constituem a primeira
causa de diagnóstico para o benefício. Outras dorsopatias (21,4%) e espondilopatias
(11,7%) também revelam ter um peso importante nos casos diagnosticados no interior
deste grupo de doenças, conforme a tabela 8.
Tabela 8 - Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo causas
específicas no interior do grupo das Doenças do Sistema Osteomuscular e do
Tecido Conjuntivo – DO, em Recife no período 2000-2002.
CID10 DO TOTAL %
M05-M14 Poliartropatias inflamatórias 50 11,00
M15-M19 Artroses 153 33,70
M20-M25 Outros transtornos articulares 16 3,50
M30-M36 Doenças sistêmicas do tecido conjuntivo 18 4,00
M40-M43 Dorsopatias deformantes 10 2,20
M45-M49 Espondilopatias 53 11,70
M50-M54 Outras dorsopatias 97 21,40
M65-M68 Transtornos das sinóvias e dos tendões 11 2,40
M70-M79 Outros transtornos dos tecidos moles 15 3,30
M95-M99 Outros transtornos do sistema osteomuscular e do tecido
conjuntivo 19 4,20
Outros 12 2,60
TOTAL 454 100,00
Fonte: INSS/PE, 2003.
Outro grupo de causas de doenças que enquadramos dentro das DCNT, é o das
neoplasias. Dentro deste grupo as neoplasias malígnas da mama representam a primeira
causa específica para a concessão de auxílios-doença no período estudado com 22,8%
dos diagnósticos. Conforme a tabela 9, também apresentam sua importância no quadro
geral de causas que asseguram a concessão deste tipo de benefício dentro deste grupo,
88
as neoplasias malígnas dos órgãos digestivos (12,9%); as neoplasias malígnas do lábio,
cavidade oral e faringe (11,3%); as neoplasias malígnas do tecido linfático,
hematopoético e de tecidos correlatos (10,8%) e, as neoplasias benignas (10,5%).
Tabela 9 - Distribuição dos auxílios-doença segundo causas específicas no
interior do grupo de Neoplasias – NEO, em Recife no período 2000-2002.
CID-10 NEO TOTAL %
C00-C14 Neoplasias malígnas do lábio, cavidade oral e faringe 70 11,3
C15-C26 Neoplasias malígnas dos órgãos digestivos 80 12,9
C30-C39 Neoplasias malígnas do aparelho respiratório e dos órgãos
intratorácicos 46 7,4
C40-C41 Neoplasias malígnas dos ossos e das cartilagens articulares 9 1,5
C50 Neoplasias malígnas da mama 141 22,8
C51-C58 Neoplasias malígnas dos órgãos genitais femininos 52 8,4
C60-C63 Neoplasias malígnas dos órgãos genitais masculinos 17 2,8
C64-C68 Neoplasias malígnas do trato urinário 10 1,6
C69-C72 Neoplasias malígnas dos olhos, do encéfalo e de outras partes do
sistema nervoso central 17 2,8
C73-C75 Neoplasias malígnas da tireóide e de outras glândulas endócrinas 12 1,9
C76-C80 Neoplasias malígnas de localizações mal definidas, secundárias e de
localizações não especificadas 7 1,2
C81-C96 Neoplasias malígnas do tecido linfático, hematopoético e de tecidos
correlatos 67 10,8
D00-D09 Neoplasias in situ 16 2,6
D10-D36 Neoplasias benignas 65 10,5
Outros 9 1,5
TOTAL 618 100,00
Fonte: INSS/PE, 2003
.
89
O
s dados da tabela 10 apresentam as causas específicas referentes ao grupo das
Neoplasias para a concessão de aposentadorias por invalidez. Neste grupo, destaca-se
como primeira causa as neoplasias malígnas dos órgãos digestivos com 21,1%; seguida
das neoplasias malígnas do aparelho respiratório e dos órgãos intratorácicos, com
15,1%; as neoplasias malígnas do tecido linfático, hematopoético e tecidos correlatos,
com 14,2% e as neoplasias malígnas da mama com 13,4% das causas.
Tabela 10 - Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo causas
específicas no interior do grupo de Neoplasias - NEO, em Recife no período
2000-2002.
CID-10 NEO TOTAL %
C00-C14 Neoplasias malígnas do lábio, cavidade oral e faringe 13 5,60
C15-C26 Neoplasias malígnas dos órgãos digestivos 49 21,10
C30-C39 Neoplasias malígnas do aparelho respiratório e dos órgãos
intratorácicos 35 15,10
C50 Neoplasias malígnas da mama 31 13,40
C51-C58 Neoplasias malígnas dos órgãos genitais femininos 15 6,50
C60-C63 Neoplasias malígnas dos órgãos genitais masculinos 11 4,70
C69-C72 Neoplasias malígnas dos olhos, do encéfalo e de outras partes do
sistema nervoso central 14 6,00
C81-C96 Neoplasias malígnas do tecido linfático, hematopoético e tecidos
correlatos 33 14,20
D10-D36 Neoplasias benignas 8 3,40
Outros 23 10,00
TOTAL 232 100,00
Fonte: INSS/PE, 2003.
A tabela 11 apresenta dados referentes às causas específicas dentro do grupo de
transtornos mentais e comportamentais (TMC), o último grupo de DCNT estudado, para
a concessão de auxílios-doença.
90
Neste grupo, os transtornos do humor (afetivos) representaram 29,4% das causas
do benefício; a esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes 28,5%
e, os transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o "stress" e transtornos
somatoformes 22,4%. Vale salientar ainda que, os transtornos mentais orgânicos,
inclusive os sintomáticos com 9,8% e transtornos mentais e comportamentais devido ao
uso de substância psicoativa com 6,5% também sinalizam sua importância no quadro
geral de causas de doenças neste grupo.
Tabela 11 - Distribuição dos auxílios-doença segundo causas específicas no
interior do grupo de Transtornos Mentais e Comportamentais – TMC, em
Recife no período 2000-2002.
CID-10 TMC TOTAL %
F00-F09 Transtornos mentais orgânicos, inclusive os sintomáticos 141 9,80
F10-F19 Transtornos mentais e comportamentais divido ao uso de
substância psicoativa 93 6,50
F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes 410 28,50
F30-F39 Transtornos do humor (afetivos) 423 29,40
F40-F48 Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o "stress" e
transtornos somatoformes 323 22,40
F50-F59 Síndromes comportamentais associadas a disfunções fisiológicas
e a fatores físicos 7 0,50
F60-F69 Transtornos da personalidade e do comportamento do adulto 31 2,20
F70-F79 Retardo mental 8 0,60
Outros 3 0,20
TOTAL 1439 100,00
Fonte: INSS/PE, 2003.
Quanto às causas específicas para a concessão de aposentadorias por invalidez
dentro do grupo dos TMC destacam-se principalmente a esquizofrenia, transtornos
esquizotípicos e transtornos delirantes, com 44,7%, e os transtornos do humor
91
(afetivos), com 26,7% das causas de diagnóstico para o benefício, que somam mais da
metade dos casos, conforme apresenta a tabela 12.
Tabela 12 - Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo causas
específicas no interior do grupo de Transtornos Mentais e Comportamentais –
TMC, em Recife no período 2000-2002.
CID-10 TMC TOTAL %
F00-F09 Transtornos mentais orgânicos, inclusive os sintomáticos 37 7,90
F10-F19 Transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de
substância psicoativa 33 7,10
F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes 209 44,70
F30-F39 Transtornos do humor (afetivos) 125 26,70
F40-F48 Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o "stress" e
transtornos somatoformes 40 8,50
F60-F69 Transtornos da personalidade e do comportamento do adulto 12 2,60
F70-F79 Retardo mental 9 1,90
Outros 3 0,60
TOTAL 468 100,00
Fonte: INSS/PE, 2003.
A tabela 13 apresenta a composição do valor mensal inicial recebido pelos
segurados do INSS beneficiários de auxílio-doença no período estudado. Evidenciamos
um grande número de dados classificados como “não informado”. É possível observar
que grande parcela da população segurada identificada (26%) recebe até 3 salários
mínimos, ficando um percentual muito pequeno com remuneração superior a este valor.
É importante considerar que diante das variações sofridas pelo salário mínimo
neste período, adotamos como valores para o cálculo da renda mensal inicial o valor do
salário mínimo que permaneceu por mais tempo nos anos em questão, a saber: R$
151,00 para o ano de 2000; R$ 180,00 para o ano de 2001 e R$ 200,00 para o ano de
2002.
92
Tabela 13 - Distribuição dos auxílios-doença segundo o valor mensal inicial
recebido pelos segurados em Recife no período 2000-2002.
RMI 2000 % 2001 % 2002 % Total %
Até 1SM 232 5,63 203 4,78 771 11,85 1206 8,11
>1SM - 2SM 318 7,72 309 7,27 1290 19,82 1917 12,88
> 2SM - 3SM 83 2,02 514 12,09 148 2,27 745 5,01
> 3SM - 5SM 69 1,68 76 1,79 139 2,14 284 1,91
>5SM 66 1,60 19 0,45 156 2,40 241 1,62
Não Informado 3351 81,35 3130 73,63 4005 61,53 10486 70,48
Total 4119 100,00 4251 100,00 6509 100,00 14879 100,00
Fonte: INSS/PE, 2003.
Através da tabela 14 podemos observar a composição do valor mensal inicial
recebido pelos segurados do INSS em aposentadoria por invalidez no mesmo período.
Neste caso, é possível identificar uma maior concentração da renda até 2 salários
mínimos, mesmo com a limitação verificada que para um grande número de segurados
não dispomos dessa informação, ficando então, na categoria dos “não informados”. Para
calcular a renda mensal inicial dos segurados em aposentadoria por invalidez, adotamos
os mesmos valores do salário-mínimo utilizados em relação aos auxílios-doença.
Tabela 14 – Distribuição das aposentadorias por invalidez segundo o valor
mensal inicial recebido pelos segurados em Recife no período 2000-2002.
RMI 2000 % 2001 % 2002 % Total %
Até 1SM 0 0,00 28 2,67 111 10,05 139 4,50
> 1SM - 2SM 136 14,47 73 6,97 189 17,12 398 12,88
> 2SM - 3SM 0 0,00 162 15,47 61 5,53 223 7,21
> 3SM - 5SM 1 0,11 85 8,12 0 0,00 86 2,78
>5SM 0 0,00 0 0,00 8 0,72 8 0,26
Não Informado 803 85,43 699 66,76 735 66,58 2236 72,34
Total 940 100,00 1047 100,00 1104 100,00 3091 100,00
Fonte: INSS/PE, 2003.
93
Considerando a distribuição dos segurados por sexo, identificamos um maior
número de indivíduos do sexo masculino, tanto em relação ao benefício de auxílio-
doença, com 57% de seu contingente formado por homens, quanto em relação as
aposentadorias por invalidez, onde os segurados do sexo masculino, com 66% do total
representaram, praticamente, o dobro de segurados do sexo feminino conforme os
gráficos abaixo.
Gráfico 5 - Distribuição dos Auxílios Doença segundo
sexo, em Recife no peodo 2000-2002.
57%
43%
MASCULINO
FEMININO
Fonte: INSS/PE, 2003.
Gráfico 6 -Distribuição das Aposentadorias por Invalidez
segundo sexo, em Recife no período
2000-2002.
66%
34%
MASCULINO
FEMININO
Fonte: INSS/PE, 2003.
94
Em relação à idade, os gráficos 8 e 9, mostram que existe maior concentração da
concessão de auxílios-doença e de aposentadorias por invalidez a segurados jovens, a
partir de 29 anos até os 58 anos. Acentuando-se nos intervalos de idade de 39 a 48 anos,
para o primeiro tipo de benefício e de 49 a 58 anos, para o segundo tipo.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
Gráfico 7 - Distribuição dos auxílios-doenças segundo
idade, em Recife no peodo 2000-2002.
Quant
2037 3747 4728 3254 1113
17-28 29-38 39-48 49-58 59- +
Fonte: INSS/PE, 2003.
0
200
400
600
800
1000
1200
Gráfico 8 - Distribuição das aposentadorias por invalidez
segundo idade, em Recife no período 2000-2002.
Quant
120 485 850 1085 551
17-28 29-38 39-48 49-58 59- +
Fonte: INSS/PE, 2003.
95
5 DISCUSSÃO
Certamente viver inclui alguns perigos e incertezas e por este motivo, a
preocupação com os infortúnios da vida tem sido algo constante na história da
humanidade. Desde tempos remotos, o homem tem buscado formas de adaptar-se ou
reduzir os efeitos da adversidade da vida, como a fome, a doença e a velhice, por
exemplo. É nesta perspectiva, de amenizar adversidades inesperadas, que surge a
Previdência Social.
A Previdência Social Pública constitui-se num sistema de proteção
social, contendo um elenco de benefícios que propõe dar cobertura ao
trabalhador, quando este deixa de exercer atividade laborativa nos
momentos de doença, invalidez, idade avançada, morte, natalidade e
acidente do trabalho (DUARTE, 2003).
De acordo com Paulino (2003), “[...] pode-se dizer que a previdência social
surge como solução ao problema, que é inerente à relação de trabalho e consistente em
sua contraprestatividade”. Isto significa dizer que, se é com a remuneração recebida em
contrapartida pelo seu trabalho, que o trabalhador se equipa para defender seu sustento e
o de sua família, caso venha a lhe ocorrer algum infortúnio que o impeça de trabalhar
ele não receberia nada ao final do mês.
96
Então, tal contraprestatividade da relação laboral, passa a se tornar um problema
individual (do trabalhador), familiar (pois se estende aos entes de sua família) e, por sua
repercussão, social, uma vez que todos os trabalhadores estão sujeitos a eventos que
podem lhes retirar, temporária ou permanentemente, sua capacidade de trabalho e,
conseqüentemente, de ganho e de sobrevivência.
Cabe destacar que a proteção contra morte, invalidez parcial ou total e velhice
são benefícios que se refere à perda permanente e os acontecimentos como doença,
acidente, maternidade e reclusão estão associadas à perda temporária da capacidade de
trabalho. Pode-se dizer então, que a previdência é o seguro do trabalhador que garante
parte da reposição da renda para o seu sustento e o de sua família frente a consequências
advindas de quaisquer eventos, cuja ocorrência, lhe proporcione a perda da capacidade
de trabalho permanente ou temporária em decorrência dos riscos a que este está
submetido no decorrer de sua vida (BRASIL, 2002d).
Segundo o então Ministério da Previdência e Assistência Social, a previdência
pagou benefícios a 20 milhões de pessoas por mês no ano de 2002. Fato que, segundo as
estimativas do próprio Ministério, fez com que a previdência beneficiasse,
indiretamente, cerca de 70 milhões de pessoas, algo em torno de 41,3% da população
brasileira daquele ano (BRASIL, 2002d). Informações como estas revelam que a
previdência social tem um importante papel na economia brasileira e que está ainda
relacionado com a estabilidade social do país. Esta importância aumenta a medida em
que a população envelhece. Para Kalache et al. (1987), “quanto maior o número de
pessoas que envelhece, maior a necessidade de recursos para atender a suas
necessidades específicas”.
97
A mesma publicação afirma que a “previdência protege elevada parcela da
população idosa e, conseqüentemente, de suas famílias. Cerca de 70% da população
brasileira com idade superior a 60 anos recebe algum benefício previdenciário”
(BRASIL, 2002d). De acordo com Achutti e Azambuja (2004), o fenômeno mundial do
envelhecimento populacional certamente causa impacto no orçamento e nas políticas
públicas, especialmente àquelas que compõem o sistema de seguridade social (Saúde,
Assistência Social e Previdência Social), voltado particularmente para os estratos
demográficos de idade mais avançada e para os incapacitados.
Para Schramm (2004), o envelhecimento rápido da população brasileira faz com
que a sociedade se depare com uma demanda por serviços médicos e sociais vivida até
então, apenas, por países desenvolvidos. E segundo Chaimowicz (1997), uma das
características marcantes da população que envelhece no Brasil é a pobreza. Neste
sentido, aposentadorias e pensões constituem a principal fonte de rendimentos da
população idosa.
Entretanto, gostaríamos de chamar a atenção para a quantidade de auxílios-
doença e aposentadorias por invalidez, benefícios comuns por incapacidade temporária,
que em números absolutos, no Brasil, somaram em 2004 (até o mês de novembro)
1.316.437 e 2.507.895, respectivamente. Os dois benefícios juntos foram responsáveis
pela emissão de, aproximadamente, 17% do total de benefícios neste ano e têm
importante repercussão no sistema previdenciário, a medida em que representam
benefícios concedidos a pessoas em idade produtiva, acometidas por patologias
resultantes do novo quadro epidemiológico e que são incapacitantes para o trabalho.
O período estudado neste trabalho, também aponta para esta preocupação, pois
apresenta um acréscimo na concessão destes benefícios no decorrer dos anos. Em 2002,
98
foram concedidos em Recife, por algumas agências, cinco vezes mais auxílios-doença e
duas vezes mais aposentadorias por invalidez em relação ao total geral destes benefícios
concedidos em 2000. Diante deste quadro e sabendo-se que a lógica da previdência está
assentada no fato de a população economicamente ativa sustentar a inativa, o número
crescente de benefícios por incapacidade temporária ou definitiva para o trabalho pode
ser apontado como um dos fatores que se representam nós críticos para o custeio do
sistema previdenciário.
Ainda em relação a distribuição destes benefícios por agências em Recife/PE,
identificamos que os incrementos observados em sua concessão, principalmente nas
agências Afogados e Pina, estão relacionados à transformação dos antigos postos da
previdência em agências segundo novo modelo proposto pelo Ministério da Previdência
e estão ligados a incorporação de um maior número de servidores, a implantação do
Programa de Melhoria do Atendimento (PMA), além das melhorias no espaço de
atendimento a população. O incremento observado na APS Areias é justificado, não
pela transformação da agência, pois esta ainda funciona no modelo antigo, mas devido
ao longo período em que seu atendimento foi realizado na APS Afogados por motivos
de problemas no sistema local.
Um estudo realizado pelo Ministério da Previdência e Assistência Social e
publicado no início da década de 80 revelou que no Brasil, no ano de 1979 foram
concedidos 758.292 auxílios-doença, entre estes, as cinco primeiras causas deste
benefício por ordem de concessão eram: CE (36,8%), neuroses (8,3%), DO (7,0%),
DAC (6,4%) e hipertensão (5,2%). (BRASIL, 1980). Comparando com o nosso estudo,
identificamos que o diagnóstico para a concessão dos auxílios-doença em Recife neste
período manteve as causas externas (20,16%) em primeiro lugar como uma tendência já
observada por Vermelho e Jorge (1996), que constataram que a partir de 1960 as
99
causas violentas passaram a ocupar a primeira posição no perfil de mortalidade de
grandes centros urbanos como Rio de Janeiro e São Paulo, principalmente às
relacionadas aos acidentes de trânsito e aos homicídios.
Alguns fatores estão relacionados a esta tendência epidemiológica como as
mudanças demográficas associadas aos processos de industrialização e urbanização, o
desenvolvimento tecnológico, as mudanças na estrutura produtiva, a crise econômica
que se estende ao longo das décadas e se intensifica nos anos oitenta, a ampliação do
mercado de drogas, assim como os novos estilos de vida ou formas de comportamentos,
configuram este padrão, principalmente, entre os mais jovens (VERMELHO; JORGE,
1996).
Os fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de
saúde (19,46%), representam o segundo grande grupo de causas para a concessão de
auxílio-doença. Considerando a CID-10, este grupo de causas é expresso como
decorrente de situações que envolvem o contato da população com os serviços de saúde
diante de circunstâncias ou problema que influenciam o estado de saúde da pessoa, mas
que não é em si uma doença ou traumatismo. Neste sentido, salientamos que os estudos
de morbidade e de mortalidade, tradicionalmente não têm enfocado resultados
relacionados a este grupo como causa importante referente ao adoecimento ou morte da
população brasileira, apontando, assim, para um achado extremamente relevante deste
estudo.
É importante destacar ainda que tais situações estão relacionadas, não a doença,
mas a necessidade de receber assistência ou serviço, como imunização profilática,
doação de órgãos e tecidos, circunstâncias relacionadas a reprodução, colocação e
ajustamento de aparelhos de prótese externa ou diante da realização de inquéritos
100
populacionais, quando a pessoa pode ou não estar doente, e ainda, diante da necessidade
de registrar determinada circunstância ou problema, como fator adicional a ser levado
em conta quando a pessoa está recebendo cuidados para alguma doença ou traumatismo,
como por exemplo, história pessoal ou familiar de outras doenças ou afecções, ou
alergias a drogas e medicamentos. Assim, consideramos estas características de absoluta
generalidade e sem guardar neste grupo uma relação homogênea entre estas possíveis
“causas” de auxílio-doença, supomos então, que a elevada freqüência observada é
inicialmente produto de um inadequado diagnóstico para os segurados do INSS ou erro
de classificação.
Por outro lado, uma afinidade encontrada, diz respeito as DO (14,55%) e as
DAC (10,68%), em relação ao levantamento realizado pelo MPAS, em 1980. E, como
quinto grande grupo de causas no período 2000-2002, encontramos os TMC (9,67%).
Cabe destacar que todas estas causas fazem parte do grupo das DCNT mostrando que
para a concessão de auxílio-doença estas apresentaram um expressivo aumento de sua
ocorrência quando comparamos os dois períodos citados.
No que concerne as DAC, reconhece-se a sua importância entre as principais
causas de mortalidade em todo o país. Um estudo realizado por Carvalho et al. (1996),
permitiu verificar que este grupo de doenças representou, em 1991, a primeira causa de
óbito na Região Metropolitana do Recife (RMR), sendo responsável por 25,61% do
total de óbitos registrados naquele ano. Segundo o referido estudo, Recife foi um dos
municípios que apresentou o mais elevado índice de mortalidade por doenças
cardiovasculares (238,6/100.000). Outro estudo realizado por Carvalho mostrou que as
enfermidades do aparelho circulatório representaram 19,8% da mortalidade
proporcional em 1984, para o grupo etário de 20 a 49 anos (CARVALHO, 1991). Tendo
101
em vista que este grupo se constitui em grande parte da força de trabalho ativa esta
situação representa um aumento na demanda por serviços de saúde e na concessão de
benefícios por incapacidade temporária.
Em relação as DO e as TMC é importante destacar a sua relação com questões
decorrentes do esforço no processo de trabalho, ao tipo de trabalho realizado e ao
ambiente onde ele é exercido. Santos (1992), assinala que a organização moderna do
trabalho atua na gênese da fadiga física e do sofrimento mental, através de vários
aspectos: jornada de trabalho prolongada; trabalhos em turno e noturno; ritmos
acelerados de produção; pressão hierárquica e inexistência de pausa.
Neste sentido, o processo de trabalho aparece como processo de desgaste do
trabalhador. Refere ainda que “as condições de produção destroem de início o equilíbrio
e a integridade psicofísica do trabalhador, causando danos à saúde e degradando a
psiquê”. Segundo Carvalho (1991), a doença mental mais frequente no país são as
neuroses que se constituem como uma das primeiras causas de incapacidade temporária.
Resultados equivalentes aos nossos foram identificados em pesquisa realizada
com a população trabalhadora e beneficiária de auxílio-doença adscrita à gerência de
Porto Alegre, referente ao ano de 1998, onde as autoras concluíram que as principais
causas de incapacidade temporária para o trabalho, evidenciadas em seu estudo (causas
externas, doenças osteomusculares e doenças mentais), “são condições potencialmente
relacionadas à piora das condições de vida e de trabalho decorrente de políticas
econômicas adotadas em países periféricos” (BOFF ET AL. 2002). Segundo estas
autoras, esse perfil de morbidade recomenda entre outras questões,
A adequação de políticas de prevenção e assistência do SUS, de
modo a melhor contemplar esses agravos, além de políticas visando
ao pleno emprego, à melhor distribuição da renda e ao direito à
102
educação. Investimentos em melhorias das estradas, em campanhas
educativas contra o abuso de álcool, pela educação para o trânsito e
para a prevenção de doenças e acidentes do trabalho [...] Serviços
voltados ao atendimento e à reabilitação de traumas precisam ser
priorizados, e serviços especializados em doenças mentais e doenças
osteomusculares, atualmente de difícil acesso pelo SUS, que devem
ser expandidos (BOFF ET AL. 2002).
Com relação às aposentadorias por invalidez em 1979, foram concedidos
113.514 benefícios no Brasil e o ranking dos cinco primeiros grupos de causas estava
assim: hipertensão (17,7%), DAC (14,4%), DSN (8,8%), osteartrite (8,7%) e TMC
(7,9%) (BRASIL, 1980). Nosso estudo realizado entre as agências da previdência
social, localizadas em Recife, mostrou uma predominância das DCNT entre as cinco
primeiras causas para concessão deste benefício apontando, por ordem decrescente da
freqüência de concessão, as DAC, os TMC, e as DO como responsáveis por 53,45% dos
benefícios concedidos entre os anos de 2000 e 2002.
Quando analisamos as principais causas de doença em relação ao agrupamento
das DCNT (DAC, DENM, DO, NEO e TMC) tanto para a concessão de auxílios-
doença, quanto para as aposentadorias por invalidez no período 2000-2002,
identificamos uma tendência de crescimento e, segundo Achutti e Azambuja (2004), o
quadro tende a tornar-se mais crítico, pois “na medida em que o processo de
envelhecimento da nossa população avançar, especialmente via redução da mortalidade
precoce, deverá aumentar a prevalência das DCNT e sua repercussão na seguridade
social”.
Achutti e Azambuja (2004), destacam ainda que uma reunião realizada no Rio
de Janeiro em novembro de 2003, com representantes do Ministério da Saúde, da
103
Organização Pan-Americana de Saúde, da Organização Mundial da Saúde e da
Organização das Nações Unidas indicou que este conjunto de doenças é responsável por
60% das mortes e incapacidades em todo o mundo, numa escala progressiva, podendo
chegar a 73% de todas as mortes em 2020.
É importante observar que devido a longa duração dessas doenças, vai havendo
acúmulo das mesmas na população, ocorrendo então uma combinação paradoxal de
declínio da mortalidade com o aumento da morbidade (LAURENTI, 1990). Neste
sentido, impõe-se como de fundamental importância o conhecimento e o estudo dessa
tendência com a finalidade de identificar quais as causas mais prevalentes e como se
distribuem na população para facilitar o planejamento, a implantação e a avaliação de
programas de saúde orientados para o controle das DCNT.
É nesta perspectiva que outra etapa da pesquisa foi realizada no sentido de
identificar as causas mais evidentes no interior dos grandes grupos da causas de DCNT.
Em relação aos auxílios-doença, identificamos que existe uma predominância das
doenças hipertensivas (25,6%) e, em relação às aposentadorias por invalidez, das
doenças cerebrovasculares (25,6¨%). Ambas foram responsáveis por um quarto dos
benefícios concedidos dentro do grupo das DAC.
Segundo Lessa (1998), com o aumento da freqüência desse grupo de doenças,
tornou-se necessário compreender a importância da hipertensão arterial e de suas
complicações, tendo em vista que representa um importante fator de risco para as
doenças cerebrovasculares e outras doenças cardiovasculares e, mais importante ainda,
conhecer os seus determinantes e a sua distribuição nas diversas sociedades. Já as
doenças cerebrovasculares, estão entre as três primeiras causas de morte em todos os
países industrializados e que os países em desenvolvimento refletem essa tendência no
processo de transição epidemiológica em curso.
104
No grupo das DENM, a diabetes mellitus foi a causa de 77,7% dos casos de
auxílio-doença e 91,8% de aposentadorias por invalidez, demonstrando uma
predominância desta causa. Segundo Toscano et al. (2004), “o aumento da incidência de
diabetes em termos mundiais tem sido relacionado às modificações de estilo de vida e
do meio ambiente trazidas pela industrialização”. Essa afirmativa baseia-se na tese de
que estas modificações levam à obesidade, ao sedentarismo e ao consumo de uma dieta
rica em calorias e em gorduras que representam fatores de risco para a diabetes tipo II.
As DO também fazem parte do grupo das DCNT e apresentaram as dorsopatias
(32,4%) como a causa mais expressiva para a concessão de auxílios-doença e as artroses
(33,7%) para as aposentadorias por invalidez. Segundo Boff et al. (2002) é possível que
as violências e os acidentes (excetuados àqueles registrados como acidentes de trabalho)
sejam responsáveis por uma parcela dos agravos relacionados às DO. Também é
provável que parte das cirurgias por condições osteomusculares tenha também decorrido
de lesões por causas externas, porém, a grande ocorrência das DO estão freqüentemente
associadas ao esforço e a repetição de movimentos no trabalho.
Neste estudo, as NEO por serem doenças degenerativas, algumas de longa
duração e não-transmissíveis, também foram enquadradas como um evento do conjunto
das DCNT. Dentro deste grupo, as neoplasias malígnas da mama (22,8%) foram a
primeira causa de concessão para auxílio-doença, enquanto que as neoplasias malígnas
dos órgão digestivos (21,1%) foram a primeira causa para as aposentadorias por
invalidez.
A partir de 1999, as neoplasias malígnas representaram a terceira causa de
morte conhecida no Brasil e também em Pernambuco e as mais freqüentes são aquelas
localizadas nos aparelhos respiratório, digestivo e genital. Sendo as maiores taxas no
sexo masculino atribuídas para o câncer de pulmão, estômago e próstata e no sexo
105
feminino, para o câncer de mama e de colo de útero (PROPOSTA DE
MONITORAMENTO ..., 1998).
De acordo com os dados contidos na publicação Saúde Brasil, do Ministério da
Saúde, houve de fato uma importante modificação no perfil epidemiológico do país no
que se refere ao peso das neoplasias como causa de morte (BRASIL, 2004). Cabe
destacar aqui, a influência das neoplasias malígnas da mama, que segundo a referida
publicação apresentaram tendência crescente em todas as idades, nas regiões norte,
nordeste e centro-oeste, revelando a importância de programas de prevenção e de
detecção precoce que podem resultar em grande impacto neste quadro.
Quanto às causas específicas dentro do último grupo de DCNT estudado, o dos
TMC, identificamos como principal diagnóstico para os auxílios-doença, os transtornos
do humor (afetivos) com 29,4% e para as aposentadorias por invalidez, a esquizofrenia,
transtornos esquizótipos e transtornos delirantes com 44,7% do total de casos.
Os transtornos mentais e comportamentais resultam da interação de fatores
genéticos e ambientais. Os fatores psicológicos individuais também se relacionam com
a manifestação dessa doença. É importante referir que a associação de fatores sociais
como a urbanização, a pobreza e as condições associadas a ela, os níveis de violência,
entre outros, tem conseqüências para a saúde mental dos indivíduos. Tais conseqüências
são extensivas a suas famílias que “além da necessidade de proporcionar apoio físico e
emocional, também são obrigadas a arcar com o impacto negativo da estigmatização e
da discriminação, presentes em todo o mundo” (OPAS, 2001).
Em relação ao valor recebido como renda mensal inicial pelos segurados, apesar
de existir um grande número de segurados classificados como “não informado” pelo
INSS, identificamos que pelo menos um quarto dos segurados de auxílio-doença, ou
seja, 26% e 32,7% dos segurados de aposentadoria por invalidez receberam no
106
período 2000-2002, renda inicial de até 3 salários mínimos. As remunerações superiores
a três salários mínimos somaram 4,54% dos auxílios-doença e 0,72% das
aposentadorias por invalidez.
Estes dados reforçam a tese de que quanto maior a renda mensal inicial, menor é
a quantidade de segurados incluída neste grupo. Isto ocorre porque a maioria da
população segurada do RGPS contribui sobre o valor mínimo de contribuição e está de
acordo com o contexto de baixos salários em que está inserida a maioria dos
trabalhadores brasileiros.
Quando observamos a distribuição dos segurados por sexo, identificamos que o
estudo realizado pelo MPAS com referência ao ano de 1979 demonstrou que os homens
representavam 64,1% dos auxílios-doença e 67,5% das aposentadorias por invalidez
(BRASIL, 1980). Confirmando esta tendência, o presente estudo também identificou
que a presença do sexo masculino é maior em ambos os benefícios no período 2000-
2002.
O contingente masculino somou 57% dos auxílios-doença e 66% das
aposentadorias por invalidez. Porém, em relação aos auxílios-doença se percebe, neste
período, um crescimento na participação das mulheres com 43% do total deste
benefício, fato que está relacionado a crescente inserção da mulher no mercado de
trabalho e, conseqüentemente, a exposições antes enfrentadas apenas pelos homens.
A inserção crescente no mercado de trabalho não tem desobrigado as
mulheres de suas funções tradicionais, o que implica o acúmulo de
tarefas, com maior estresse físico e mental, além dos riscos
ocupacionais conseqüentes à dupla inserção (AQUINO ET
AL.,1992).
107
Esta situação é agravada em nossa sociedade devido a ausência de equipamentos
sociais, como creches e escolas, sendo atribuída à mulher total responsabilidade no
cuidado da casa e dos filhos, mesmo quando exerce jornadas de trabalho tão extenuantes
quanto às do marido.
Por último, consideramos as faixas etárias que mais incluem segurados no
RGPS. No ano de 1979, havia uma predominância do intervalo de idade de 20 a 30 anos
para os auxílios-doença e de 50 a 60 anos para as aposentadorias por invalidez
(BRASIL, 1980). Entretanto, observamos que os auxílios-doença no período 2000-2002
foram concedidos predominantemente a segurados incluídos no intervalo de idade de 39
a 48 anos, ou seja, mais tardiamente em relação aos achados do ano de 1979. É
importante registrar que em números absolutos refere-se a 4.728 trabalhadores retirados
precocemente do mercado de trabalho por apresentar problemas de saúde, o que
representa um elevado número de auxílios-doença concedidos a grupos jovens de
homens e mulheres em idade economicamente ativa.
No tocante às aposentadorias por invalidez o que se percebe neste estudo é que
são benefícios concedidos predominantemente a pessoas com idade entre 49 e 58 anos,
confirmando a tendência de incidir sobre os segurados de idade mais avançada, porém,
ainda em idade produtiva para o trabalho. Este fato pode apontar para as mudanças
demográficas sofridas pela população brasileira nos últimos anos, que diante do
envelhecimento populacional vem reafirmando a importância da previdência social na
proteção de elevada parcela da população idosa e, conseqüentemente de suas famílias.
108
6. CONCLUSÔES
A metodologia utilizada neste estudo associada ao referencial teórico adotado
mostrou-se adequada para responder aos objetivos propostos e nos permitiu chegar as
seguintes conclusões:
Verificamos um elevado número de concessões de benefícios por incapacidade
temporária (17.970) no universo das agências do INSS, localizadas em Recife/PE, no
período 2000-2002. Sendo 14.879 por auxílio-doença e 3.091 por aposentadoria por
invalidez, com importante reflexo sobre o orçamento da política de Seguridade Social
diante da demanda por serviços de saúde, aliada ao fato de retirar precocemente do
mercado de trabalho pessoas em idade economicamente ativa. Por outro lado, estes
benefícios, representam a garantia de proteção dos trabalhadores e suas famílias frente a
determinadas contingências sociais.
Em relação as cinco primeiras causas para a concessão destes benefícios, as
DCNT foram responsáveis por 34,9% de auxílios-doença e 53,4% de aposentadorias por
invalidez pela Previdência Social em Recife no período estudado. As causas externas
apresentaram-se como a primeira causa de auxílios-doença, seguidas dos fatores que
influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde o que representou
um achado relevante deste estudo. Entre as DCNT, as doenças osteomusculares são a
principal causa de auxílio-doença, seguida das doenças do aparelho circulatório e dos
109
transtornos mentais. para as aposentadorias por invalidez, as doenças do aparelho
circulatório constituem-se a primeira causa, seguida dos transtornos mentais e das
doenças osteomusculares.
Entre as Doenças do Aparelho Circulatório predominam a hipertensão arterial
como primeira causa para o auxílio-doença e as doenças cerebrovasculares em relação
às aposentadorias por invalidez, ambas responsáveis por um quarto das concessões
destes benefícios no grupo das doenças do aparelho circulatório.
No grupo das Doenças Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas, a diabetes
mellitus, enfermidade passível de prevenção, foi responsável pela quase totalidade das
concessões dos benefícios estudados ocasionando 77,7% dos auxílios-doença e de
91,8% das aposentadorias por invalidez.
No tocante as Neoplasias malígnas que acometeram a população trabalhadora,
destacam-se o câncer da mama para os auxílios-doença e câncer dos órgãos digestivos
para as aposentadorias por invalidez, responsáveis por, praticamente, 25% dos
benefícios concedidos.
Entre as Doenças Osteomusculares, outras dorsopatias e artroses juntas foram
responsáveis por mais da metade dos casos diagnosticados neste grupo de doenças.
Sendo 50,6% para os auxílios-doença e 55,1% para as aposentadorias por invalidez.
No grupo dos Transtornos Mentais e Comportamentais, os transtornos do humor
e a esquizofrenia também se impuseram enquanto principal razão de incapacidade
110
para a população trabalhadora. Estas duas causas foram responsáveis por 57,89% dos
auxílios-doença e 71,37% das aposentadorias por invalidez no triênio 2000-2002.
Considerando as características demográficas e de renda dos segurados destaca-
se a presença do sexo masculino, maior em ambos os benefícios, a entrada da população
trabalhadora no contexto da previdência social por benefícios de incapacidade
temporária acontece entre grupos jovens, ainda em idade economicamente ativa e o
valor mensal inicial recebido pelos segurados é de até três salários mínimos, revelando o
contexto salarial em que está inserida a maioria dos trabalhadores brasileiros, não se
diferenciando do padrão nacional.
111
7. RECOMENDAÇÔES E SUGESTÕES
A previdência social tem atualmente a sua disposição um grande banco de dados
referente às características demográficas e de saúde, ainda pouco explorado como
instrumento de planejamento dos serviços e ações de saúde a partir do diagnóstico de
morbidade que acomete uma parcela significativa da população trabalhadora brasileira,
demonstrando a necessidade de integração entre as políticas que compõem a seguridade
social.
É importante atentar para os motivos responsáveis pelo crescimento da
concessão benefícios por incapacidade temporária como os auxílios-doença e as
aposentadorias por invalidez, que causam impacto sobre o orçamento das políticas da
Seguridade Social, aumentado a demanda por serviços de saúde e retirando
precocemente do mercado de trabalho pessoas em idade economicamente ativa.
Para países em desenvolvimento como o Brasil, torna-se um desafio equacionar
recursos para atender de um lado, questões sócio-sanitárias básicas e de outro, a
demanda crescente de uma população que envelhece sofrendo de doenças não
transmissíveis, que resultam em modificação no padrão de utilização dos serviços de
saúde e no aumento dos gastos, considerando a necessidade de incorporação tecnológica
para o tratamento das mesmas.
112
É de fundamental importância a implementação de programas de prevenção e
monitoramento de DCNT, especialmente aqueles voltados para hipertensão e diabetes
que além de apresentarem peso considerado enquanto morbidade específica, também
são importantes fatores de risco para as doenças cardiovasculares, primeira causa de
morte no Brasil.
O crescimento acelerado da obesidade que tem importante impacto na incidência
da diabetes, impõe a necessidade de implantar programas preventivos que incorporem
ações educativas e comportamentais incentivando mudanças no estilo de vida da
população brasileira, no sentido de adotar hábitos alimentares mais saudáveis e realizar
atividades físicas regulares.
O perfil epidemiológico da população brasileira, marcado nas últimas décadas
pelas DCNT, impõe a necessidade de ultrapassar a prática de uma política de saúde
caracterizada, predominantemente, pela medicina curativa e introduzir estratégias de
prevenção e promoção da saúde que possam ao menos identificar e controlar a doença
precocemente.
Diante desse novo desenho demográfico e epidemiológico observado no Brasil,
o sistema de saúde vigente permanece priorizando ações voltadas para o segmento
materno-infantil. Entretanto, na nova situação brasileira, os problemas do adulto
tornaram-se importantes exigindo um redimensionamento da assistência para esse
segmento etário que representa o período de vida mais produtivo de uma pessoa.
113
Por fim, diante dos resultados apresentados neste estudo, entendemos que é
imprescindível a adoção de estratégias que permitam a implementação de um sistema de
vigilância à saúde, voltado para o controle de DCNT, com a finalidade de reduzir a
morbidade por estas doenças tende a agravar-se com o envelhecimento da população,
com grande impacto nos sistemas de saúde e previdenciário.
114
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACHUTTI, A.; AZAMBUJA, M. I. R. Doenças crônicas não-transmissíveis no Brasil:
repercussões do modelo de atenção à saúde sobre a seguridade social. Revista Ciência e
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Sociedade, São Paulo, n. 53, p. 67-73, 1997.
ANEXOS
ANEXO 1
Parecer do Conselho de Ética em Pesquisas (CEP) do CPqAM/FIOCRUZ.
ANEXO 2
Resolução nº 196 de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE
RESOLUÇÃO Nº 196 DE 10 DE OUTUBRO DE 1996
O Plenário do Conselho Nacional de Saúde em sua Quinquagésima Nona Reunião Ordinária,
realizada nos dias 09 e 10 de outubro de 1996, no uso de suas competências regimentais e atribuições
conferidas pela Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, e pela Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990,
RESOLVE:
Aprovar as seguintes diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres
humanos:
I - PREÂMBULO
A presente Resolução fundamenta-se nos principais documentos internacionais que emanaram
declarações e diretrizes sobre pesquisas que envolvem seres humanos: o Código de Nuremberg (1947), a
Declaração dos Direitos do Homem (1948), a Declaração de Helsinque (1964 e suas versões posteriores de
1975, 1983 e 1989), o Acordo Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (ONU, 1966, aprovado pelo
Congresso Nacional Brasileiro em 1992), as Propostas de Diretrizes Éticas Internacionais para Pesquisas
Biomédicas Envolvendo Seres Humanos (CIOMS/OMS 1982 e 1993) e as Diretrizes Internacionais para
Revisão Ética de Estudos Epidemiológicos (CIOMS, 1991). Cumpre as disposições da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 e da legislação brasileira correlata: Código de Direitos do
Consumidor, Código Civil e Código Penal, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Orgânica da Saúde
8.080, de 19/09/90 (dispõe sobre as condições de atenção à saúde, a organizão e o funcionamento dos
serviços correspondentes), Lei 8.142, de 28/12/90 (participação da comunidade na gestão do Sistema Único
de Saúde), Decreto 99.438, de 07/08/90 (organização e atribuições do Conselho Nacional de Saúde),
Decreto 98.830, de 15/01/90 (coleta por estrangeiros de dados e materiais científicos no Brasil), Lei 8.489, de
18/11/92, e Decreto 879, de 22/07/93 (dispõem sobre retirada de tecidos, órgãos e outras partes do corpo
humano com fins humanitários e científicos), Lei 8.501, de 30/11/92 (utilização de cadáver), Lei 8.974, de
05/01/95 (uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio ambiente de organismos
geneticamente modificados), Lei 9.279, de 14/05/96 (regula direitos e obrigações relativos à propriedade
industrial), e outras.
Esta Resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, os quatro referenciais
básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, entre outros, e visa assegurar os
direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado.
O caráter contextual das considerações aqui desenvolvidas implica em revisões periódicas desta
Resolução, conforme necessidades nas áreas tecnocientífica e ética.
Ressalta-se, ainda, que cada área temática de investigação e cada modalidade de pesquisa, além
de respeitar os princípios emanados deste texto, deve cumprir com as exigências setoriais e
regulamentações específicas.
II - TERMOS E DEFINIÇÕES
A presente Resolução, adota no seu âmbito as seguintes definições:
II.1 - Pesquisa - classe de atividades cujo objetivo é desenvolver ou contribuir para o conhecimento
generalizável. O conhecimento generalizável consiste em teorias, relações ou princípios ou no acúmulo de
informações sobre as quais estão baseados, que possam ser corroborados por métodos científicos aceitos
de observação e inferência.
II.2 - Pesquisa envolvendo seres humanos - pesquisa que, individual ou coletivamente, envolva o
ser humano, de forma direta ou indireta, em sua totalidade ou partes dele, incluindo o manejo de informações
ou materiais.
II.3 - Protocolo de Pesquisa - Documento contemplando a descrição da pesquisa em seus
aspectos fundamentais, informações relativas ao sujeito da pesquisa, à qualificação dos pesquisadores e à
todas as instâncias responsáveis.
II.4 - Pesquisador responsável - pessoa responsável pela coordenação e realização da pesquisa
e pela integridade e bem-estar dos sujeitos da pesquisa.
II.5 - Instituição de pesquisa - organização, pública ou privada, legitimamente constituída e
habilitada na qual são realizadas investigações científicas.
II.6 - Promotor - indivíduo ou instituição, responsável pela promoção da pesquisa.
II.7 - Patrocinador - pessoa física ou jurídica que apoia financeiramente a pesquisa.
II.8 - Risco da pesquisa - possibilidade de danos à dimensão física, psíquica, moral, intelectual,
social, cultural ou espiritual do ser humano, em qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente.
II.9 - Dano associado ou decorrente da pesquisa - agravo imediato ou tardio, ao indivíduo ou à
coletividade, com nexo causal comprovado, direto ou indireto, decorrente do estudo científico.
II.10 - Sujeito da pesquisa - é o(a) participante pesquisado(a), individual ou coletivamente, de
caráter voluntário, vedada qualquer forma de remuneração.
II.11 - Consentimento livre e esclarecido - anuência do sujeito da pesquisa e/ou de seu
representante legal, livre de vícios (simulação, fraude ou erro), dependência, subordinação ou intimidação,
após explicação completa e pormenorizada sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos,
benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, formulada em um termo de
consentimento, autorizando sua participação voluntária na pesquisa.
II.12 - Indenização - cobertura material, em reparação a dano imediato ou tardio, causado pela
pesquisa ao ser humano a ela submetida.
II.13 - Ressarcimento - cobertura, em compensação, exclusiva de despesas decorrentes da
participação do sujeito na pesquisa.
II.14 - Comitês de Ética em Pesquisa-CEP - colegiados interdisciplinares e independentes, com
"munus público", de caráter consultivo, deliberativo e educativo, criados para defender os interesses dos
sujeitos da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa
dentro de padrões éticos.
II.15 - Vulnerabilidade - refere-se a estado de pessoas ou grupos que, por quaisquer razões ou
motivos, tenham a sua capacidade de autodeterminação reduzida, sobretudo no que se refere ao
consentimento livre e esclarecido.
II.16 - Incapacidade - Refere-se ao possível sujeito da pesquisa que não tenha capacidade civil
para dar o seu consentimento livre e esclarecido, devendo ser assistido ou representado, de acordo com a
legislação brasileira vigente.
III - ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS
As pesquisas envolvendo seres humanos devem atender às exigências éticas e científicas
fundamentais.
III.1 - A eticidade da pesquisa implica em:
a) consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-alvo e a proteção a grupos vulneráveis e aos
legalmente incapazes (autonomia). Neste sentido, a pesquisa envolvendo seres humanos deverá sempre
tratá-los em sua dignidade, respeitá-los em sua autonomia e defendê-los em sua vulnerabilidade;
b) ponderação entre riscos e benefícios, tanto atuais como potenciais, individuais ou coletivos
(beneficência), comprometendo-se com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos;
c) garantia de que danos previsíveis serão evitados (não maleficência);
d) relevância social da pesquisa com vantagens significativas para os sujeitos da pesquisa e
minimização do ônus para os sujeitos vulneráveis, o que garante a igual consideração dos interesses
envolvidos, não perdendo o sentido de sua destinação sócio-humanitária (justiça e eqüidade).
III.2- Todo procedimento de qualquer natureza envolvendo o ser humano, cuja aceitação não esteja
ainda consagrada na literatura científica, será considerado como pesquisa e, portanto, deveobedecer às
diretrizes da presente Resolução. Os procedimentos referidos incluem entre outros, os de natureza
instrumental, ambiental, nutricional, educacional, sociológica, econômica, física, psíquica ou biológica, sejam
eles farmacológicos, clínicos ou cirúrgicos e de finalidade preventiva, diagnóstica ou terapêutica.
III.3 - A pesquisa em qualquer área do conhecimento, envolvendo seres humanos deverá observar
as seguintes exigências:
a) ser adequada aos princípios científicos que a justifiquem e com possibilidades concretas de
responder a incertezas;
b) estar fundamentada na experimentação prévia realizada em laboratórios, animais ou em outros
fatos científicos;
c) ser realizada somente quando o conhecimento que se pretende obter não possa ser obtido por
outro meio;
d) prevalecer sempre as probabilidades dos benefícios esperados sobre os riscos previsíveis;
e) obedecer a metodologia adequada. Se houver necessidade de distribuição aleatória dos sujeitos
da pesquisa em grupos experimentais e de controle, assegurar que, a priori, não seja possível estabelecer as
vantagens de um procedimento sobre outro através de revisão de literatura, métodos observacionais ou
métodos que não envolvam seres humanos;
f) ter plenamente justificada, quando for o caso, a utilização de placebo, em termos de não
maleficência e de necessidade metodológica;
g) contar com o consentimento livre e esclarecido do sujeito da pesquisa e/ou seu representante
legal;
h) contar com os recursos humanos e materiais necessários que garantam o bem-estar do sujeito
da pesquisa, devendo ainda haver adequação entre a competência do pesquisador e o projeto proposto;
i) prever procedimentos que assegurem a confidencialidade e a privacidade, a proteção da imagem
e a não estigmatização, garantindo a não utilização das informações em prejuízo das pessoas e/ou das
comunidades, inclusive em termos de auto-estima, de prestígio e/ou econômico - financeiro;
j) ser desenvolvida preferencialmente em indivíduos com autonomia plena. Indivíduos ou grupos
vulneráveis não devem ser sujeitos de pesquisa quando a informação desejada possa ser obtida através de
sujeitos com plena autonomia, a menos que a investigação possa trazer benefícios diretos aos vulneráveis.
Nestes casos, o direito dos indivíduos ou grupos que queiram participar da pesquisa deve ser assegurado,
desde que seja garantida a proteção à sua vulnerabilidade e incapacidade legalmente definida;
l) respeitar sempre os valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, bem como os hábitos e
costumes quando as pesquisas envolverem comunidades;
m) garantir que as pesquisas em comunidades, sempre que possível, traduzir-se-ão em benefícios
cujos efeitos continuem a se fazer sentir após sua conclusão. O projeto deve analisar as necessidades de
cada um dos membros da comunidade e analisar as diferenças presentes entre eles, explicitando como será
assegurado o respeito às mesmas;
n) garantir o retorno dos benefícios obtidos através das pesquisas para as pessoas e as
comunidades onde as mesmas forem realizadas. Quando, no interesse da comunidade, houver benefício real
em incentivar ou estimular mudanças de costumes ou comportamentos, o protocolo de pesquisa deve incluir,
sempre que possível, disposições para comunicar tal benefício às pessoas e/ou comunidades;
o) comunicar às autoridades sanitárias os resultados da pesquisa, sempre que os mesmos
puderem contribuir para a melhoria das condições de saúde da coletividade, preservando, porém, a imagem
e assegurando que os sujeitos da pesquisa não sejam estigmatizados ou percam a auto-estima;
p) assegurar aos sujeitos da pesquisa os benefícios resultantes do projeto, seja em termos de
retorno social, acesso aos procedimentos, produtos ou agentes da pesquisa;
q)assegurar aos sujeitos da pesquisa as condições de acompanhamento, tratamento ou de
orientação, conforme o caso, nas pesquisas de rastreamento; demonstrar a preponderância de benefícios
sobre riscos e custos;
r) assegurar a inexistência de conflito de interesses entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa
ou patrocinador do projeto;
s) comprovar, nas pesquisas conduzidas do exterior ou com cooperação estrangeira, os
compromissos e as vantagens, para os sujeitos das pesquisas e para o Brasil, decorrentes de sua
realização. Nestes casos deve ser identificado o pesquisador e a instituição nacionais co-responsáveis pela
pesquisa. O protocolo deverá observar as exigências da Declaração de Helsinque e incluir documento de
aprovação, no país de origem, entre os apresentados para avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da
instituição brasileira, que exigirá o cumprimento de seus próprios referenciais éticos. Os estudos
patrocinados do exterior também devem responder às necessidades de treinamento de pessoal no Brasil,
para que o país possa desenvolver projetos similares de forma independente;
t) utilizar o material biológico e os dados obtidos na pesquisa exclusivamente para a finalidade
prevista no seu protocolo;
u) levar em conta, nas pesquisas realizadas em mulheres em idade fértil ou em mulheres grávidas,
a avaliação de riscos e benefícios e as eventuais interferências sobre a fertilidade, a gravidez, o embrião ou o
feto, o trabalho de parto, o puerpério, a lactação e o recém-nascido;
v) considerar que as pesquisas em mulheres grávidas devem, ser precedidas de pesquisas em
mulheres fora do período gestacional, exceto quando a gravidez for o objetivo fundamental da pesquisa;
x) propiciar, nos estudos multicêntricos, a participação dos pesquisadores que desenvolverão a
pesquisa na elaboração do delineamento geral do projeto; e
z) descontinuar o estudo somente após análise das razões da descontinuidade pelo CEP que a
aprovou.
IV - CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe após consentimento
livre e esclarecido dos sujeitos, indivíduos ou grupos que por si e/ou por seus representantes legais
manifestem a sua anuência à participação na pesquisa.
IV.1 - Exige-se que o esclarecimento dos sujeitos se faça em linguagem acessível e que inclua
necessariamente os seguintes aspectos:
a) a justificativa, os objetivos e os procedimentos que serão utilizados na pesquisa;
b) os desconfortos e riscos possíveis e os benefícios esperados;
c) os métodos alternativos existentes;
d) a forma de acompanhamento e assistência, assim como seus responsáveis;
e) a garantia de esclarecimentos, antes e durante o curso da pesquisa, sobre a metodologia,
informando a possibilidade de inclusão em grupo controle ou placebo;
f) a liberdade do sujeito se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da
pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo ao seu cuidado;
g) a garantia do sigilo que assegure a privacidade dos sujeitos quanto aos dados confidenciais
envolvidos na pesquisa;
h) as formas de ressarcimento das despesas decorrentes da participação na pesquisa; e
i) as formas de indenização diante de eventuais danos decorrentes da pesquisa.
IV.2 - O termo de consentimento livre e esclarecido obedecerá aos seguintes requisitos:
a) ser elaborado pelo pesquisador responsável, expressando o cumprimento de cada uma das
exigências acima;
b) ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa que referenda a investigação;
c) ser assinado ou identificado por impressão dactiloscópica, por todos e cada um dos sujeitos da
pesquisa ou por seus representantes legais; e
d) ser elaborado em duas vias, sendo uma retida pelo sujeito da pesquisa ou por seu representante
legal e uma arquivada pelo pesquisador.
IV.3 - Nos casos em que haja qualquer restrição à liberdade ou ao esclarecimento necessários para
o adequado consentimento, deve-se ainda observar:
a) em pesquisas envolvendo crianças e adolescentes, portadores de perturbação ou doença mental
e sujeitos em situação de substancial diminuição em suas capacidades de consentimento, deverá haver
justificação clara da escolha dos sujeitos da pesquisa, especificada no protocolo, aprovada pelo Comitê de
Ética em Pesquisa, e cumprir as exigências do consentimento livre e esclarecido, através dos representantes
legais dos referidos sujeitos, sem suspensão do direito de informação do indivíduo, no limite de sua
capacidade;
b) a liberdade do consentimento deverá ser particularmente garantida para aqueles sujeitos que,
embora adultos e capazes, estejam expostos a condicionamentos específicos ou à influência de autoridade,
especialmente estudantes, militares, empregados, presidiários, internos em centros de readaptação, casas-
abrigo, asilos, associações religiosas e semelhantes, assegurando-lhes a inteira liberdade de participar ou
não da pesquisa, sem quaisquer represálias;
c) nos casos em que seja impossível registrar o consentimento livre e esclarecido, tal fato deve ser
devidamente documentado, com explicação das causas da impossibilidade, e parecer do Comitê de Ética em
Pesquisa;
d) as pesquisas em pessoas com o diagnóstico de morte encefálica só podem ser realizadas desde
que estejam preenchidas as seguintes condições:
- documento comprobatório da morte encefálica (atestado de óbito);
- consentimento explícito dos familiares e/ou do responsável legal, ou manifestação prévia da
vontade da pessoa;
- respeito total à dignidade do ser humano sem mutilação ou violação do corpo;
- sem ônus econômico financeiro adicional à família;
- sem prejuízo para outros pacientes aguardando internação ou tratamento;
- possibilidade de obter conhecimento científico relevante, novo e que não possa ser obtido de
outra maneira;
e) em comunidades culturalmente diferenciadas, inclusive indígenas, deve-se contar com a
anuência antecipada da comunidade através dos seus próprios líderes, não se dispensando, porém, esforços
no sentido de obtenção do consentimento individual;
f) quando o mérito da pesquisa depender de alguma restrição de informações aos sujeitos, tal fato
deve ser devidamente explicitado e justificado pelo pesquisador e submetido ao Comitê de Ética em
Pesquisa. Os dados obtidos a partir dos sujeitos da pesquisa não poderão ser usados para outros fins que os
não previstos no protocolo e/ou no consentimento.
V - RISCOS E BENEFÍCIOS
Considera-se que toda pesquisa envolvendo seres humanos envolve risco. O dano eventual poderá
ser imediato ou tardio, comprometendo o indivíduo ou a coletividade.
V.1 - Não obstante os riscos potenciais, as pesquisas envolvendo seres humanos serão
admissíveis quando:
a) oferecerem elevada possibilidade de gerar conhecimento para entender, prevenir ou aliviar um
problema que afete o bem-estar dos sujeitos da pesquisa e de outros indivíduos;
b) o risco se justifique pela importância do benefício esperado;
c) o benefício seja maior, ou no mínimo igual, a outras alternativas estabelecidas para a
prevenção, o diagnóstico e o tratamento.
V.2 - As pesquisas sem benefício direto ao indivíduo, devem prever condições de serem bem
suportadas pelos sujeitos da pesquisa, considerando sua situação física, psicológica, social e educacional.
V.3 - O pesquisador responsável é obrigado a suspender a pesquisa imediatamente ao perceber
algum risco ou dano à saúde do sujeito participante da pesquisa, conseqüente à mesma, não previsto no
termo de consentimento. Do mesmo modo, tão logo constatada a superioridade de um método em estudo
sobre outro, o projeto deverá ser suspenso, oferecendo-se a todos os sujeitos os benefícios do melhor
regime.
V.4 - O Comitê de Ética em Pesquisa da instituição deverá ser informado de todos os efeitos
adversos ou fatos relevantes que alterem o curso normal do estudo.
V.5 - O pesquisador, o patrocinador e a instituição devem assumir a responsabilidade de dar
assistência integral às complicações e danos decorrentes dos riscos previstos.
V.6 - Os sujeitos da pesquisa que vierem a sofrer qualquer tipo de dano previsto ou não no termo
de consentimento e resultante de sua participação, além do direito à assistência integral, têm direito à
indenização.
V.7 - Jamais poderá ser exigido do sujeito da pesquisa, sob qualquer argumento, renúncia ao
direito à indenização por dano. O formulário do consentimento livre e esclarecido não deve conter nenhuma
ressalva que afaste essa responsabilidade ou que implique ao sujeito da pesquisa abrir mão de seus direitos
legais, incluindo o direito de procurar obter indenização por danos eventuais.
VI - PROTOCOLO DE PESQUISA
O protocolo a ser submetido à revisão ética somente poderá ser apreciado se estiver instruído com
os seguintes documentos, em português:
VI.1 - folha de rosto: título do projeto, nome, número da carteira de identidade, CPF, telefone e
endereço para correspondência do pesquisador responsável e do patrocinador, nome e assinaturas dos
dirigentes da instituição e/ou organização;
VI.2 - descrição da pesquisa, compreendendo os seguintes itens:
a) descrição dos propósitos e das hipóteses a serem testadas;
b) antecedentes científicos e dados que justifiquem a pesquisa. Se o propósito for testar um novo
produto ou dispositivo para a saúde, de procedência estrangeira ou não, deverá ser indicada a situação atual
de registro junto a agências regulatórias do país de origem;
c) descrição detalhada e ordenada do projeto de pesquisa (material e métodos, casuística,
resultados esperados e bibliografia);
d) análise crítica de riscos e benefícios;
e) duração total da pesquisa, a partir da aprovação;
f) explicitaçao das responsabilidades do pesquisador, da instituição, do promotor e do patrocinador;
g) explicitação de critérios para suspender ou encerrar a pesquisa;
h) local da pesquisa: detalhar as instalações dos serviços, centros, comunidades e instituições nas
quais se processarão as várias etapas da pesquisa;
i) demonstrativo da existência de infra-estrutura necessária ao desenvolvimento da pesquisa e para
atender eventuais problemas dela resultantes, com a concordância documentada da instituição;
j) orçamento financeiro detalhado da pesquisa: recursos, fontes e destinação, bem como a forma e
o valor da remuneração do pesquisador;
l) explicitação de acordo preexistente quanto à propriedade das informações geradas,
demonstrando a inexistência de qualquer cláusula restritiva quanto à divulgação pública dos resultados, a
menos que se trate de caso de obtenção de patenteamento; neste caso, os resultados devem se tornar
públicos, tão logo se encerre a etapa de patenteamento;
m) declaração de que os resultados da pesquisa serão tornados públicos, sejam eles favoráveis ou
não; e
n) declaração sobre o uso e destinação do material e/ou dados coletados.
VI.3 - informações relativas ao sujeito da pesquisa:
a) descrever as características da população a estudar: tamanho, faixa etária, sexo, cor
(classificação do IBGE), estado geral de saúde, classes e grupos sociais, etc. Expor as razões para a
utilização de grupos vulneráveis;
b) descrever os métodos que afetem diretamente os sujeitos da pesquisa;
c) identificar as fontes de material de pesquisa, tais como espécimens, registros e dados a serem
obtidos de seres humanos. Indicar se esse material será obtido especificamente para os propósitos da
pesquisa ou se será usado para outros fins;
d) descrever os planos para o recrutamento de indivíduos e os procedimentos a serem seguidos.
Fornecer critérios de inclusão e exclusão;
e) apresentar o formulário ou termo de consentimento, específico para a pesquisa, para a
apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa, incluindo informações sobre as circunstâncias sob as quais o
consentimento será obtido, quem irá tratar de obtê-lo e a natureza da informação a ser fornecida aos sujeitos
da pesquisa;
f) descrever qualquer risco, avaliando sua possibilidade e gravidade;
g) descrever as medidas para proteção ou minimização de qualquer risco eventual. Quando
apropriado, descrever as medidas para assegurar os necessários cuidados à saúde, no caso de danos aos
indivíduos. Descrever também os procedimentos para monitoramento da coleta de dados para prover a
segurança dos indivíduos, incluindo as medidas de proteção à confidencialidade; e
h) apresentar previsão de ressarcimento de gastos aos sujeitos da pesquisa. A importância
referente não poderá ser de tal monta que possa interferir na autonomia da decisão do indivíduo ou
responsável de participar ou não da pesquisa.
VI.4 - qualificação dos pesquisadores: "Curriculum vitae" do pesquisador responsável e dos demais
participantes.
VI.5 - termo de compromisso do pesquisador responsável e da instituição de cumprir os termos
desta Resolução.
VII - COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA-CEP
Toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser submetida à apreciação de um Comitê de
Ética em Pesquisa.
VII.1 - As instituições nas quais se realizem pesquisas envolvendo seres humanos deverão
constituir um ou mais de um Comitê de Ética em Pesquisa- CEP, conforme suas necessidades.
VII.2 - Na impossibilidade de se constituir CEP, a instituição ou o pesquisador responsável deverá
submeter o projeto à apreciação do CEP de outra instituição, preferencialmente dentre os indicados pela
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP/MS).
VII.3 - Organização - A organização e criação do CEP será da competência da instituição,
respeitadas as normas desta Resolução, assim como o provimento de condições adequadas para o seu
funcionamento.
VII.4 - Composição - O CEP deverá ser constituído por colegiado com número não inferior a 7
(sete) membros. Sua constituição deverá incluir a participação de profissionais da área de saúde, das
ciências exatas, sociais e humanas, incluindo, por exemplo, juristas, teólogos, sociólogos, filósofos,
bioeticistas e, pelo menos, um membro da sociedade representando os usuários da instituição. Poderá variar
na sua composição, dependendo das especificidades da instituição e das linhas de pesquisa a serem
analisadas.
VII.5 - Terá sempre caráter multi e transdisciplinar, não devendo haver mais que metade de seus
membros pertencentes à mesma categoria profissional, participando pessoas dos dois sexos. Poderá ainda
contar com consultores "ad hoc", pessoas pertencentes ou não à instituição, com a finalidade de fornecer
subsídios técnicos.
VII.6 - No caso de pesquisas em grupos vulneráveis, comunidades e coletividades, deverá ser
convidado um representante, como membro "ad hoc" do CEP, para participar da análise do projeto
específico.
VII.7 - Nas pesquisas em população indígena deverá participar um consultor familiarizado com os
costumes e tradições da comunidade.
VII.8 - Os membros do CEP deverão se isentar de tomada de decisão, quando diretamente
envolvidos na pesquisa em análise.
VII.9 - Mandato e escolha dos membros - A composição de cada CEP deverá ser definida a
critério da instituição, sendo pelo menos metade dos membros com experiência em pesquisa, eleitos pelos
seus pares. A escolha da coordenação de cada Comitê deverá ser feita pelos membros que compõem o
colegiado, durante a primeira reunião de trabalho. Será de três anos a duração do mandato, sendo permitida
recondução.
VII.10 - Remuneração - Os membros do CEP não poderão ser remunerados no desempenho desta
tarefa, sendo recomendável, porém, que sejam dispensados nos horários de trabalho do Comitê das outras
obrigações nas instituições às quais prestam serviço, podendo receber ressarcimento de despesas efetuadas
com transporte, hospedagem e alimentação.
VII.11 - Arquivo - O CEP deverá manter em arquivo o projeto, o protocolo e os relatórios
correspondentes, por 5 (cinco) anos após o encerramento do estudo.
VII.12 - Liberdade de trabalho - Os membros dos CEPs deverão ter total independência na
tomada das decisões no exercício das suas funções, mantendo sob caráter confidencial as informações
recebidas. Deste modo, não podem sofrer qualquer tipo de pressão por parte de superiores hierárquicos ou
pelos interessados em determinada pesquisa, devem isentar-se de envolvimento financeiro e não devem
estar submetidos a conflito de interesse.
VII.13 - Atribuições do CEP:
a) revisar todos os protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos, inclusive os multicêntricos,
cabendo-lhe a responsabilidade primária pelas decisões sobre a ética da pesquisa a ser desenvolvida na
instituição, de modo a garantir e resguardar a integridade e os direitos dos voluntários participantes nas
referidas pesquisas;
b) emitir parecer consubstanciado por escrito, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, identificando
com clareza o ensaio, documentos estudados e data de revisão. A revisão de cada protocolo culminará com
seu enquadramento em uma das seguintes categorias:
- aprovado;
- com pendência: quando o Comitê considera o protocolo como aceitável, porém identifica
determinados problemas no protocolo, no formulário do consentimento ou em ambos, e recomenda uma
revisão específica ou solicita uma modificação ou informação relevante, que deverá ser atendida em 60
(sessenta) dias pelos pesquisadores;
- retirado: quando, transcorrido o prazo, o protocolo permanece pendente;
- não aprovado; e
- aprovado e encaminhado, com o devido parecer, para apreciação pela Comissão Nacional de
Ética em Pesquisa -CONEP/MS, nos casos previstos no capítulo VIII, item 4.c.
c) manter a guarda confidencial de todos os dados obtidos na execução de sua tarefa e
arquivamento do protocolo completo, que ficará à disposição das autoridades sanitárias;
d) acompanhar o desenvolvimento dos projetos através de relatórios anuais dos pesquisadores;
e) desempenhar papel consultivo e educativo, fomentando a reflexão em torno da ética na ciência;
f) receber dos sujeitos da pesquisa ou de qualquer outra parte denúncias de abusos ou notificação
sobre fatos adversos que possam alterar o curso normal do estudo, decidindo pela continuidade, modificação
ou suspensão da pesquisa, devendo, se necessário, adequar o termo de consentimento. Considera-se como
anti-ética a pesquisa descontinuada sem justificativa aceita pelo CEP que a aprovou;
g) requerer instauração de sindicância à direção da instituição em caso de denúncias de
irregularidades de natureza ética nas pesquisas e, em havendo comprovação, comunicar à Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa-CONEP/MS e, no que couber, a outras instâncias; e
h) manter comunicação regular e permanente com a CONEP/MS.
VII.14 - Atuação do CEP:
a) A revisão ética de toda e qualquer proposta de pesquisa envolvendo seres humanos não poderá
ser dissociada da sua análise científica. Pesquisa que não se faça acompanhar do respectivo protocolo não
deve ser analisada pelo Comitê.
b) Cada CEP deverá elaborar suas normas de funcionamento, contendo metodologia de trabalho, a
exemplo de: elaboração das atas; planejamento anual de suas atividades; periodicidade de reuniões; número
mínimo de presentes para início das reuniões; prazos para emissão de pareceres; critérios para solicitação
de consultas de experts na área em que se desejam informações técnicas; modelo de tomada de decisão,
etc.
VIII - COMISSÃO NACIONAL DE ÉTICA EM PESQUISA (CONEP/MS)
A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP/MS é uma instância colegiada, de natureza
consultiva, deliberativa, normativa, educativa, independente, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde.
O Ministério da Saúde adotará as medidas necessárias para o funcionamento pleno da Comissão e
de sua Secretaria Executiva.
VIII.1 - Composição: A CONEP terá composição multi e transdiciplinar, com pessoas de ambos os
sexos e deverá ser composta por 13 (treze) membros titulares e seus respectivos suplentes, sendo 05 (cinco)
deles personalidades destacadas no campo da ética na pesquisa e na saúde e 08 (oito) personalidades com
destacada atuação nos campos teológico, jurídico e outros, assegurando-se que pelo menos um seja da área
de gestão da saúde. Os membros serão selecionados, a partir de listas indicativas elaboradas pelas
instituições que possuem CEP registrados na CONEP, sendo que 07 (sete) serão escolhidos pelo Conselho
Nacional de Saúde e 06 (seis) serão definidos por sorteio. Poderá contar também com consultores e
membros "ad hoc", assegurada a representação dos usuários.
VIII.2 - Cada CEP poderá indicar duas personalidades.
VIII.3 - O mandato dos membros da CONEP será de quatro anos com renovação alternada a cada
dois anos, de sete ou seis de seus membros.
VIII.4 - Atribuições da CONEP - Compete à CONEP o exame dos aspectos éticos da pesquisa
envolvendo seres humanos, bem como a adequação e atualização das normas atinentes. A CONEP
consultará a sociedade sempre que julgar necessário, cabendo-lhe, entre outras, as seguintes atribuições:
a) estimular a criação de CEPs institucionais e de outras instâncias;
b) registrar os CEPs institucionais e de outras instâncias;
c) aprovar, no prazo de 60 dias, e acompanhar os protocolos de pesquisa em áreas temáticas
especiais tais como:
1- genética humana;
2- reprodução humana;
3- farmácos, medicamentos, vacinas e testes diagnósticos novos (fases I, II e III) ou não registrados
no país (ainda que fase IV), ou quando a pesquisa for referente a seu uso com modalidades, indicações,
doses ou vias de administração diferentes daquelas estabelecidas, incluindo seu emprego em combinações;
4- equipamentos, insumos e dispositivos para a saúde novos, ou não registrados no país;
5- novos procedimentos ainda não consagrados na literatura;
6- populações indígenas;
7- projetos que envolvam aspectos de biossegurança;
8- pesquisas coordenadas do exterior ou com participação estrangeira e pesquisas que envolvam
remessa de material biológico para o exterior; e
9- projetos que, a critério do CEP, devidamente justificado, sejam julgados merecedores de análise
pela CONEP;
d) prover normas específicas no campo da ética em pesquisa, inclusive nas áreas temáticas
especiais, bem como recomendações para aplicação das mesmas;
e) funcionar como instância final de recursos, a partir de informações fornecidas sistematicamente,
em caráter ex-ofício ou a partir de denúncias ou de solicitação de partes interessadas, devendo manifestar-
se em um prazo não superior a 60 (sessenta) dias;
f) rever responsabilidades, proibir ou interromper pesquisas, definitiva ou temporariamente,
podendo requisitar protocolos para revisão ética inclusive, os já aprovados pelo CEP;
g) constituir um sistema de informação e acompanhamento dos aspectos éticos das pesquisas
envolvendo seres humanos em todo o território nacional, mantendo atualizados os bancos de dados;
h) informar e assessorar o MS, o CNS e outras instâncias do SUS, bem como do governo e da
sociedade, sobre questões éticas relativas à pesquisa em seres humanos;
i) divulgar esta e outras normas relativas à ética em pesquisa envolvendo seres humanos;
j) a CONEP juntamente com outros setores do Ministério da Saúde, estabelecerá normas e critérios
para o credenciamento de Centros de Pesquisa. Este credenciamento deverá ser proposto pelos setores do
Ministério da Saúde, de acordo com suas necessidades, e aprovado pelo Conselho Nacional de Saúde; e
l) estabelecer suas próprias normas de funcionamento.
VIII.5 - A CONEP submeterá ao CNS para sua deliberação:
a) propostas de normas gerais a serem aplicadas às pesquisas envolvendo seres humanos,
inclusive modificações desta norma;
b) plano de trabalho anual;
c) relatório anual de suas atividades, incluindo sumário dos CEP estabelecidos e dos projetos
analisados.
IX - OPERACIONALIZAÇÃO
IX.1 - Todo e qualquer projeto de pesquisa envolvendo seres humanos deverá obedecer às
recomendações desta Resolução e dos documentos endossados em seu preâmbulo. A responsabilidade do
pesquisador é indelegável, indeclinável e compreende os aspectos éticos e leagis.
IX.2 - Ao pesquisador cabe:
a) apresentar o protocolo, devidamente instruido ao CEP, aguardando o pronunciamento deste,
antes de iniciar a pesquisa;
b) desenvolver o projeto conforme delineado;
c) elaborar e apresentar os relatórios parciais e final;
d) apresentar dados solicitados pelo CEP, a qualquer momento;
e) manter em arquivo, sob sua guarda, por 5 anos, os dados da pesquisa, contendo fichas
individuais e todos os demais documentos recomendados pelo CEP;
f) encaminhar os resultados para publicação, com os devidos créditos aos pesquisadores
associados e ao pessoal técnico participante do projeto;
g) justificar, perante o CEP, interrupção do projeto ou a não publicação dos resultados.
IX.3 - O Comitê de Ética em Pesquisa institucional deverá estar registrado junto à CONEP/MS.
IX.4 - Uma vez aprovado o projeto, o CEP passa a ser co-responsável no que se refere aos
aspectos éticos da pesquisa.
IX.5 - Consideram-se autorizados para execução, os projetos aprovados pelo CEP, exceto os que
se enquadrarem nas áreas temáticas especiais, os quais, após aprovação pelo CEP institucional deverão ser
enviados à CONEP/MS, que dará o devido encaminhamento.
IX.6 - Pesquisas com novos medicamentos, vacinas, testes diagnósticos, equipamentos e
dispositivos para a saúde deverão ser encaminhados do CEP à CONEP/MS e desta, após parecer, à
Secretaria de Vigilância Sanitária.
IX.7 - As agências de fomento à pesquisa e o corpo editorial das revistas científicas deverão exigir
documentação comprobatória de aprovação do projeto pelo CEP e/ou CONEP, quando for o caso.
IX.8 - Os CEP institucionais deverão encaminhar trimestralmente à CONEP/MS a relação dos
projetos de pesquisa analisados, aprovados e concluídos, bem como dos projetos em andamento e,
imediatamente, aqueles suspensos.
X. DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
X.1 - O Grupo Executivo de Trabalho-GET, constituido através da Resolução CNS 170/95,
assumirá as atribuições da CONEP até a sua constituição, responsabilizando-se por:
a) tomar as medidas necessárias ao processo de criação da CONEP/MS;
b) estabelecer normas para registro dos CEP institucionais;
X.2 - O GET terá 180 dias para finalizar as suas tarefas.
X.3 - Os CEP das instituições devem proceder, no prazo de 90 (noventa) dias, ao levantamento e
análise, se for o caso, dos projetos de pesquisa em seres humanos já em andamento, devendo encaminhar à
CONEP/MS, a relação dos mesmos.
X4 - Fica revogada a Resolução 01/88.
ADIB D. JATENE
Presidente do Conselho Nacional de Saúde
Homologo a Resolução CNS nº 196, de 10 de outubro de 1996, nos termos do Decreto de
Delegação de Competência de 12 de novembro de 1991.
ADIB D. JATENE
Ministro de Estado da Saúde
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