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“Avaliação do
swab
conjuntival para o diagnóstico da
leishmaniose visceral canina por PCR-hibridização”
Sidney de Almeida Ferreira
Dissertação apresentada como parte dos requisitos
para obtenção do grau de Mestre em Ciência e
Tecnologia das Radiações, Minerais e Materiais
2008
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Comissão Nacional de Energia Nuclear
CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DA TECNOLOGIA NUCLEAR
Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia das Radiações, Minerais e
Materiais
AVALIAÇÃO DO SWAB CONJUNTIVAL PARA O DIAGNÓSTICO DA
LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA POR PCR-HIBRIDIZAÇÃO
Sidney de Almeida Ferreira
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em
Ciência e Tecnologia das Radiações, Minerais e Materiais,
como requisito parcial à obtenção do Grau de Mestre.
Área de Concentração: Ciência e Tecnologia das Radiações.
Orientador: Dr. Antero Silva Ribeiro de Andrade.
Belo Horizonte
2008
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DEDICO
Dedico este trabalho a meus pais, os quais lançaram
os sólidos alicerces para que eu pudesse me apoiar e
chegar onde estou. Avante!
AGRADECIMENTOS
Agradeço, incondicionalmente:
A DEUS...
Aos meus pais, meus exemplos mais valiosos de honestidade, profissionalismo e sabedoria.
Aos meus irmãos, pelo aprendizado mútuo.
Ao Prof. Dr. Antero, pela orientação técnico-científica de alta qualidade e pelo constante
incentivo.
À professora Maria Norma de Melo pela excelente consultoria científica, sempre disposta,
desprendida e bastante agradável.
Ao Leonardo Ituassu pela essencial colaboração na coleta de amostras dos cães.
Aos membros do Centro de Controle de Zoonoses de Belo Horizonte, especialmente ao
Adamastor por sua diligência, ótimo humor e boa vontade.
Ao Prof. Marcos Silva pela excelente consultoria estatística.
Aos cães evolvidos nesse estudo, pois eles deram, literalmente, sangue e lágrimas por esse
trabalho.
Aos companheiros de laboratório: Luciana (por sua “vasta ironia”), Marcella (por me fazer
rir muito, afinal...eu peguei no seu pé...), Estefânia (pelos estudos e viagens juntos), Márcia
(pelo constante incentivo, simpatia e boa vontade no aprendizado), Fred (valeu pelas
caronas e pela festa ofertada para a galera do lab!), Juliana (pelas boas conversas de
bancada de laboratório), Baiano (pelo bom humor e pelo “eterno” sossego...acorda
Baiano!!), Bárbara (La belle de jour, daqui a pouco você entra para o horário integral...), à
carinhosa Marina e demais estagiários pela convivência, festas e afins.
Ao Zacarias e Geraldinho pela vital contribuição nas atividades técnicas no laboratório.
A todos da minha turma de mestrado pelas cervejas, festas, churrascos, sítios, basquete, e
todo o tipo de curtição: a turma mais animada que já vi. Aprontamos muito mais em três
meses de cadeirão do que em toda a graduação!!!
Aos colegas das outras turmas de mestrado: Carol, Karynne e Cíntia (pelo papo cabeça e
risadas sem fim...), Jack, Wellington (Cascão), Elizabeth, José Augusto, Tati e Patrícia
pelas excelentes conversas.
Aos grandes amigos de infância: Gustavo Martins e Kris Kristofeson, pelas rodas de violão
e pela parceria extremamente edificante.
Aos grandes amigos Daniel (“Great Big”), Andreza, Punk, Rafa & Cia. Talvez vocês não
saibam, mas as nossas farras e convivência foram imprescindíveis para que eu voltasse
renovado na segunda-feira seguinte e continuasse este trabalho sempre como se fosse a
primeira vez.
Aos amigos do esporte: Edmar, Conceição, Zezé, Rogerim, Vilmar, Nem & CIA pelas
disputas acirradas, porém construtivas e é claro, pela ótima convivência.
Aos amigos do PEMJA: Vivien, Cassimiro, Alê, Alex e Renata Top, seres diferenciados,
iluminados e elevados, sempre com diálogos altamente qualificados tanto para as coisas
“sérias como não sérias”...VIVA OS PEMJEROS!!!
À Eloísa, Fabíola Bono Fukushima e Rosângela pelos artigos, cães soronegativos e
amostras de DNA respectivamente. Vocês são peças fundamentais para a concretização
deste trabalho.
À Virgínia, Nivia, Lenira e Romário pelo auxílio essencial na biblioteca com artigos,
normalização, COMUT e tudo o mais.
Ao Machado por seu incentivo constante, seja pelo diálogo, seja por suas ótimas mensagens
em seu quadro de avisos.
Ao Eduardo pelas caronas para o CDTN e pelas ótimas conversas.
Aos membros da banca examinadora por terem aceitado o convite de participação.
À Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) pela bolsa concedida.
A todos os professores da pós-graduação do CDTN/CNEN.
Aos membros da secretaria da pós-graduação do CDTN/CNEN pelos serviços prestados.
E a todos que, de alguma forma, contribuíram para a conclusão deste projeto. Uma ação,
uma boa conversa, um pensamento construtivo que seja, foram, sem dúvida, de grande
valia.
MUITO OBRIGADO MESMO!!!
“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de
vosso entendimento.”
(Romanos 12:2)
“A ciência é uma interação equilibrada entre a mente e a natureza”
(Stephen Jay Gould)
VII
AVALIAÇÃO DO SWAB CONJUNTIVAL PARA O DIAGNÓSTICO DA
LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA POR PCR-HIBRIDIZAÇÃO
Sidney de Almeida Ferreira
RESUMO
A leishmaniose visceral (LV) no Brasil é causada pela espécie Leishmania chagasi (L.
infantum) e os cães são considerados o principal reservatório doméstico desse parasita.
Portanto, o diagnóstico correto e seguro é muito importante para evitar a transmissão da
doença ou o sacrifício desnecessário de cães. O objetivo deste trabalho foi avaliar o swab
conjuntival (SC), um método não invasivo de amostragem, para o diagnóstico da LV canina
por PCR-hibridização. Primeiramente, um teste in vitro foi delineado utilizando-se swabs
contaminados com 10
3
até 1,0 célula de L. chagasi. Três métodos de extração de DNA
foram testados: fenol-clorofórmio, kit Wizard
®
e fervura. Em seguida, dois grupos de 23
cães soropositivos foram utilizados. Foram feitos esfregaços por SC em ambos os olhos de
cada animal. A extração de DNA de SC foi realizada utilizando-se o método fenol-
clorofórmio no grupo 1 e a técnica de fervura no grupo 2. Além disso, sangue foi coletado
de cada cão sendo que 30µL foram aplicados em papel filtro (PF) e 1,0mL foi tratado para
obtenção do anel leucocitário (AL). A purificação de DNA para PF e AL foi realizada da
mesma forma em ambos os grupos utilizando-se kits comerciais. A análise de todas as
amostras foi feita por PCR seguida de hibridização com sondas de DNA marcadas com
32
P.
O experimento com swabs contaminados com L. chagasi mostrou positividade na PCR para
até 25, 10 e 1,0 célula pelos métodos da fervura, kit Wizard® e fenol-clorofórmio
respectivamente. A hibridização aumentou a sensibilidade para até 10 e 1,0 célula pelos
métodos da fervura e kit Wizard® respectivamente. As positividades da PCR para os cães
VIII
do grupo 1 e 2 foram respectivamente: 73,9% e 52,2% (SC), 8,7% e 30,4% (AL), 8,7% e
17,4% (PF). A hibridização aumentou essas positividades para: 91,3% e 65,2% (SC),
21,7% e 34,8% (AL), 30,4% e 43,5% (PF) respectivamente. Os melhores resultados foram
obtidos pela associação de SC com o método de fenol-clorofórmio para extração de DNA.
O resultado final obtido desse tratamento foi estatisticamente diferente daqueles referentes
ao AL e PF no grupo 1 (p<0,01). No grupo 2, o resultado final proveniente do SC associado
com a técnica de fervura para o isolamento de DNA foi estatisticamente distinto apenas do
resultado referente ao AL (p<0,05). Concluiu-se que a combinação de SC com a extração
de DNA por fenol-clorofórmio é uma ferramenta valiosa para o diagnóstico da LV canina e
pode ser recomendada para o diagnóstico em cães sintomáticos.
Palavras-chave:
Leishmaniose visceral; PCR; Hibridização; Swab conjuntival; Diagnóstico; Cães.
IX
EVALUATION OF THE CONJUNCTIVAL SWAB FOR CANINE VISCERAL
LEISHMANIASIS DIAGNOSIS BY PCR-HYBRIDIZATION
Sidney de Almeida Ferreira
ABSTRACT
The visceral leishmaniasis (VL) in Brazil is caused by Leishmania chagasi (L. infantum)
and dogs are considered to be the main domestic reservoir. Therefore the correct diagnosis
is very important in order to avoid the disease transmission or unnecessary culling of dogs.
The aim of this study was to evaluate the conjunctival swab (CS) as a noninvasive sampling
method for the canine VL diagnosis by the PCR-hybridization procedure. Firstly, an in
vitro test was carried out using cotton swabs seeded with 10
3
to one cell of L. chagasi.
Three DNA purification techniques were tested: phenol-chloroform, Wizard
®
kit and
boiling. After that, two groups of 23 seropositive dogs were used. CS samples were
obtained from both eyes of each animal. The DNA extraction from CS was performed by
the phenol chloroform method in group 1 and by boiling in group 2. In addition, blood was
collected from each animal so that 30µL were spotted onto filter paper (FP) and 1.0mL was
treated to obtain the buffy coat (BC). The DNA extraction from the BC and FP was
accomplished by the same way in both groups using commercial kits. The analysis of all
samples was made by PCR associated to the hybridization with
32
P labeled DNA probes.
The in vitro test with seeded parasites showed positivity to until 25, 10 and one cell for
boiling, Wizard® kit and phenol chloroform methods respectively. The hybridization step
increased the sensitivity until 10 and one cell for the boiling and Wizard® respectively. The
PCR positivities for the dogs in groups 1 and 2 were respectively: 73.9% and 52.2% (CS),
8,7% and 30.4% (BC), 8.7% and 17.4% (FP). The hybridization step increased the
X
positivities for: 91.3% and 65.2% (CS), 21.7% and 34.8% (BC), 30.4% and 43.5% (FP)
respectively. The best frequency of positivity was obtained by the association between CS
and the DNA extraction by phenol chloroform. The final result obtained from this treatment
was statistically different from the BC and FP data in group 1 (p<0,05). In group 2, the
result from CS associated with DNA purification by boiling was distinct only from the BC
data (p<0,05). We conclude that the CS associated with the DNA extraction by phenol
chloroform is a valuable tool for diagnosis of canine LV and can be recommended for
diagnosis of symptomatic dogs.
Key words
Visceral Leishmaniasis; Polimerase Chain Reaction (PCR); Hybridization; Conjunctival
Swab; Diagnosis; Dogs.
XI
LISTA DE ABREVIATURAS
DNA: “Deoxyribonucleic Acid” (Ácido Desoxirribonucléico);
EDTA: “Ethylenediaminetetracetic Acid” (Ácido Etilenodiaminotetracético);
ELISA: “Enzyme Linked Immunosorbent Assay” (Ensaio Imunosorbente Ligado à
Enzima);
FUNASA: Fundação Nacional de Saúde;
Gp63: Glicoproteína de 63 kiloDaltons;
Hsp70: “70kDa Heat Shock Protein” (Proteína de Choque Térmico de 70 kiloDaltons);
kDNA: DNA de cinetoplasto;
LC: Leishmaniose Cutânea;
LV: Leishmaniose Visceral;
α MEM: “Minimum Essential Medium” (Meio Essencial Mínimo);
MeV: Megaeletronvolt;
OMS (WHO): Organização Mundial de Saúde (“World Health Organization”);
32
P: Fósforo trinta e dois;
pb: Pares de base;
PCR: “Polymerase Chain Reaction” (Reação em Cadeia da Polimerase);
RIFI: Reação de Imunofluorescência Indireta;
SDS: Sulfato Dodecil de Sódio;
SSC: “Solution of Sodium Citrate” (Solução de citrato de sódio);
TBE: Tris Borato EDTA;
TE: Tris EDTA.
XII
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Distribuição mundial da leishmaniose cutânea. .................................................... 24
Figura 2: Distribuição mundial da leishmaniose visceral ..................................................... 24
Figura 3: Avaliação da sensibilidade a partir da contaminação artificial de swabs com
células de L. chagasi. ......................................................................................................... 51
Figura 4: Coleta de amostra pelo método de swab conjuntival. ........................................... 55
Figura 5: Processo de análise das amostras caninas para diagnóstico da leishmaniose por
PCR-hibridização. .............................................................................................................. 61
Figura 6: Resultado de dot blot referente aos produtos de PCR obtidos dos swabs
contaminados artificialmente com L. chagasi ............................................................... 65
Figura 7: Gel de agarose dos produtos de PCR referentes aos swabs conjuntivais da ocular
direita (D) dos cães do grupo 1. ..................................................................................... 68
Figura 8: Resultado de dot blot com produtos de PCR referentes aos swabs conjuntivais dos
cães do grupo 1. ............................................................................................................. 69
Figura 9: Gel de agarose dos produtos de PCR referentes ao anel leucocitário de cães do
grupo 1. .......................................................................................................................... 72
Figura 10: Resultado de dot blot com os produtos de PCR de anel leucocitário dos cães do
grupo 1. .......................................................................................................................... 73
Figura 11: Gel de agarose dos produtos de PCR referentes aos papéis filtros contaminados
com sangue de cães do grupo 1. .................................................................................... 75
Figura 12: Resultado de dot blot com produtos de PCR obtidos a partir de papéis filtros
contaminados com sangue dos cães do grupo 1. ........................................................... 76
Figura 13: Gel de agarose dos produtos de PCR referentes aos swabs conjuntivais da ocular
esquerda (E) de cães do grupo 2. ................................................................................... 79
Figura 14: Resultado de dot blot com produtos de PCR referentes aos swabs conjuntivais
dos cães do grupo 2. ....................................................................................................... 80
Figura 15: Gel de agarose dos produtos de PCR referentes ao anel leucocitário de cães do
grupo 2. .......................................................................................................................... 82
Figura 16: Resultado de dot blot com produtos de PCR de anel leucocitário dos cães do
grupo 2. .......................................................................................................................... 83
XIII
Figura 17: Gel de agarose dos produtos de PCR referentes aos papéis filtros contaminados
com sangue dos cães do grupo 2. ................................................................................... 86
Figura 18: Resultado de dot blot com produtos de PCR obtidos a partir de papéis filtros
contaminados com sangue dos cães do grupo 2. ........................................................... 87
Figura 19: Porcentagem de positividade da PCR seguida de hibridização para os swabs
conjuntivais das oculares direita e esquerda dos cães de ambos os grupos. .................. 88
Figura 20: Porcentagem de positividade para a PCR e PCR seguida de hibridização para as
amostras clínicas dos cães de ambos os grupos. ............................................................ 89
XIV
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Classificação dos cães do grupo 1. ....................................................................... 52
Tabela 2: Classificação dos cães do grupo 2. ....................................................................... 53
Tabela 3: Resultados da PCR para os swabs contaminados artificialmente com L. chagasi.
....................................................................................................................................... 64
Tabela 4: Resultados da PCR e hibridização para swabs conjuntivais dos cães do grupo 1.
....................................................................................................................................... 67
Tabela 5: Resultados da PCR e hibridização para anel leucocitário dos cães do grupo 1. ... 71
Tabela 6: Resultados da PCR e hibridização para papel filtro contaminado com sangue dos
cães do grupo 1. ............................................................................................................. 74
Tabela 7: Resultados da PCR e hibridização para os swabs conjuntivais dos cães do grupo
2. .................................................................................................................................... 78
Tabela 8: Resultados da PCR e hibridização para anel leucocitário dos cães do grupo 2. ... 81
Tabela 9: Resultados da PCR e hibridização para papel filtro contaminado com sangue dos
cães do grupo 2. ............................................................................................................. 85
Tabela 10: Análise estatística das positividades da PCR seguida de hibridização referentes
aos tratamentos envolvendo swabs e anel leucocitário para cães do grupo 1. ............... 91
Tabela 11: Análise estatística das positividades da PCR seguida de hibridização referentes
aos tratamentos envolvendo swabs e papel filtro contaminado com sangue para cães do
grupo 1. .......................................................................................................................... 91
Tabela 12: Análise estatística das positividades da PCR seguida de hibridização referentes
aos tratamentos envolvendo anel leucocitário e papel filtro contaminado com sangue
para cães do grupo 1. ..................................................................................................... 91
Tabela 13: Análise estatística das positividades da PCR seguida de hibridização referentes
aos tratamentos envolvendo swabs e anel leucocitário para cães do grupo 2. ............... 93
Tabela 14: Análise estatística das positividades da PCR seguida de hibridização referentes
aos tratamentos envolvendo swabs e papel filtro contaminado com sangue para cães do
grupo 2. .......................................................................................................................... 93
XV
Tabela 15: Análise estatística das positividades da PCR seguida de hibridização referentes
aos tratamentos envolvendo anel leucocitário e papel filtro contaminado com sangue
para cães do grupo 2. ..................................................................................................... 93
SUMÁRIO
RESUMO.............................................................................................................................VII
ABSTRACT..........................................................................................................................IX
LISTA DE ABREVIATURAS.............................................................................................XI
LISTA DE FIGURAS.........................................................................................................XII
LISTA DE TABELAS.......................................................................................................XIV
1) INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 18
1.1) Manifestações clínicas da leishmaniose em humanos e os principais complexos de
espécies de Leishmania no Brasil ..................................................................................... 20
1.2) Epidemiologia das leishmanioses ................................................................................. 22
1.3) Epidemiologia da leishmaniose visceral no Brasil ........................................................ 25
1.4) O processo de urbanização da leishmaniose ................................................................. 28
1.5) O papel do cão no ciclo da leishmaniose ...................................................................... 30
1.6) Principais medidas profiláticas ..................................................................................... 32
1.7) Principais métodos de diagnóstico da leishmaniose visceral ........................................ 32
2) JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 37
3) OBJETIVOS ................................................................................................................... 45
3.1) Objetivo geral ............................................................................................................ 46
3.2) Objetivos específicos ................................................................................................. 46
4) MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................................... 47
4.1) Teste de contaminação artificial de swabs com células de Leishmania chagasi .......... 48
4.1.1) Extração de DNA por fenol-clorofórmio ................................................................ 48
4.1.2) Purificação de DNA genômico - Wizard
®
(Promega) ............................................ 49
4.1.3) Extração de DNA por fervura ................................................................................. 50
4.2) Cães ............................................................................................................................... 50
4.3) Coleta de amostras ........................................................................................................ 54
4.4) Extração de DNA das amostras caninas ........................................................................ 54
4.4.1) Extração de DNA dos swabs .................................................................................. 56
4.4.2) Tratamento dos papéis filtros contaminados com sangue ...................................... 56
4.4.3) Extração de DNA do anel leucocitário ................................................................... 56
4.5) PCR ............................................................................................................................... 57
4.6) Eletroforese em gel de agarose...................................................................................... 58
4.7) Dot Blot ......................................................................................................................... 58
4.8) Hibridização .................................................................................................................. 59
4.9) Análise estatística .......................................................................................................... 60
5) RESULTADOS ............................................................................................................... 62
5.1) Contaminação artificial de swabs .................................................................................. 63
5.2) Cães do grupo 1 ............................................................................................................. 66
5.2.1) PCR e hibridização para os swabs .......................................................................... 66
5.2.2) PCR e hibridização para anel leucocitário .............................................................. 70
5.2.3) PCR e hibridização para sangue em papel filtro ..................................................... 70
5.3) Cães do grupo 2 ............................................................................................................. 77
5.3.1) PCR e hibridização para os swabs conjuntivais ...................................................... 77
5.3.2) PCR e hibridização para anel leucocitário .............................................................. 77
5.3.3) PCR e hibridização para sangue em papel filtro ..................................................... 84
5.4) Síntese dos resultados referentes aos cães dos grupos 1 e 2 ......................................... 84
5.5) Análise estatística .......................................................................................................... 90
5.5.1) Grupo 1 ................................................................................................................... 90
5.5.2) Grupo 2 ................................................................................................................... 92
6) DISCUSSÃO ................................................................................................................... 94
7) CONCLUSÕES ............................................................................................................ 103
8) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 105
ANEXOS ........................................................................................................................... 113
ANEXO A: Artigo aceito para publicação. ........................................................................ 113
ANEXO B: Aprovação do Comitê de Ética em Experimentação Animal (CETEA-UFMG)
......................................................................................................................................... 120
18
1) INTRODUÇÃO
19
A leishmaniose é uma doença parasitária de caráter zoonótico e representa hoje um
grande problema de saúde pública mundial. Seus aspectos epidemiológicos são complexos,
dada a grande variedade de fatores envolvidos. Exemplos destes fatores são a diversidade
de hospedeiros, as diferentes espécies do agente etiológico e a dinâmica dos processos
ecológicos e sociais que determinam a distribuição geográfica dessa enfermidade.
Em relação ao agente etiológico da doença, são conhecidas cerca de 30 espécies
heteroxênicas, todas pertencentes à Ordem Kinetoplastida, Família Trypanosomatidae e
gênero Leishmania. Desse total, 13 ocorrem no continente americano (GRIMALDI; TESH,
1993). Estes parasitas são intracelulares obrigatórios quando presentes nos hospedeiros
vertebrados, se apresentando sob a forma amastigota. Nos hospedeiros invertebrados, as
0células de Leishmania se transformam nas formas promastigotas, as quais passam por dois
estágios de desenvolvimento bem distintos. O primeiro se caracteriza por células de alta
capacidade de divisão chamadas de promastigotas procíclicas. No segundo estágio, as
células de Leishmania passam a apresentar formato alongado, e um longo flagelo sendo
chamadas promastigotas metacíclicas, que se constituem na forma infectante para os
hospedeiros vertebrados (OLIVIER; GREGORY; FORGET, 2005).
O modo mais importante de sua transmissão se dá através da picada de fêmeas de
dípteros da família Psychodidae, subfamília Phlebotominae, conhecidos como
flebotomíneos. No Velho Mundo, as espécies transmissoras do parasita se incluem no
gênero Phlebotomus, enquanto que, no Novo Mundo, predomina o gênero Lutzomyia
(GRIMALDI; TESH, 1993; DESJEUX, 1996).
Inicialmente, as espécies de Leishmania tinham sua caracterização baseada em
dados clínicos e geográficos. Posteriormente, foi utilizado também como critério, o
comportamento desses protozoários em cultura, nos vetores e em outros hospedeiros
20
(ANDRADE, 2000). Desde os anos 80, muitos métodos bioquímicos, imunológicos e de
biologia molecular têm sido desenvolvidos para detectar e caracterizar espécies desse
protozoário com resultados promissores. A identificação de subgêneros, espécies e cepas
têm sido possível mediante a utilização de zimodemos que são perfis eletroforéticos de
isoenzimas (CARVALHO et al., 2006), (CUPOLILLO; GRIMALDI; MOMEN, 1994).
Além disso, padrões eletroforéticos de DNA gerados por restrição enzimática são também
um importante recurso para determinação de espécies de Leishmania (DEGRAVE, et al.,
1994).
1.1) Manifestações clínicas da leishmaniose em humanos e os principais complexos de
espécies de Leishmania no Brasil
Quanto ao caráter clínico, a leishmaniose é polimórfica para os humanos e apresenta
algumas manifestações principais a saber:
Leishmaniose visceral (LV). É também chamada de calazar e é considerada uma doença
crônica e sistêmica. Nesta modalidade, os parasitas demonstram tropismo pelas células
do sistema fagocitário mononuclear do fígado, baço, medula óssea e tecidos linfóides.
Os sintomas clássicos que podem ocorrer nos indivíduos afetados são acessos febris
irregulares, palidez cutâneo-mucosa e hepatoesplenomegalia. A LV é considerada a
forma mais grave da doença, sendo fatal em 95% dos casos não tratados;
Leishmaniose tegumentar: Existem duas formas principais que dependem da espécie
envolvida do agente etiológico e da resposta imune do hospedeiro:
a) Leishmaniose cutânea (LC): Nessa forma, uma lesão bem delimitada, ulcerada ou não,
se desenvolve no local da picada do inseto vetor e pode se curar espontaneamente ou
21
persistir por longo tempo. Em algumas situações, a lesão pode se difundir especialmente
nos pacientes imunodeprimidos.
b) Leishmaniose mucocutânea: Essa manifestação caracteriza-se por progressão lenta e
crônica. Implica em metástases da lesão primária, as quais podem atingir as mucosas
nasobucal e faringiana, causando destruição extensiva e desfigurante de tecidos moles e
cartilagens, o que pode incapacitar o indivíduo para o trabalho e o convívio social.
A classificação dos parasitas do gênero Leishmania é muito importante para o estudo de
qualquer aspecto relacionado a estes protozoários e às doenças por eles causadas. Há
algumas décadas, a classificação das espécies de Leishmania e a confirmação de sua
participação em lesões humanas eram muito conflitantes. A taxonomia desses parasitas
também apresentava problemas. Isso levou alguns especialistas a reunirem as espécies de
Leishmania em grandes grupos ou complexos, tendo como base, critérios essencialmente
biológicos (LAINSON; SHAW, 1972, 1987). Os principais complexos existentes no Brasil
são: Leishmania (Viannia) braziliensis, L. (L.) mexicana e L. (L.) donovani. As espécies
predominantes em território nacional referentes a esses três complexos são
respectivamente: L. braziliensis, causadora da forma cutânea ou mucocutânea, L.
amazonensis responsável pela manifestação cutânea localizada ou difusa, e L. chagasi,
causadora da forma visceral da doença.
Todos os tipos da doença podem começar com uma pequena lesão cutânea, mas o
subseqüente desenvolvimento e prognóstico são determinados, em grande parte, pela
espécie de Leishmania envolvida (GRIMALDI; TESH, 1993).
22
1.2) Epidemiologia das leishmanioses
Em termos globais, a leishmaniose é a terceira moléstia mais importante dentre as
veiculadas por vetores, ficando aquém apenas da malária e da filariose linfática (DAVIES;
REITHINGER, 2002). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a leishmaniose é
endêmica em 88 países, aproximadamente 14 milhões de pessoas são consideradas
infectadas e outras 350 milhões estão expostas a situações de risco. São notificados, por ano
no mundo, cerca de 2 milhões de novos casos dessa enfermidade sendo que a LC contribui
com aproximadamente 1,5 milhão de casos enquanto a forma visceral tem 500 mil registros
(WHO, 2007).
Verifica-se que a leishmaniose possui hoje uma distribuição geográfica muito maior
em relação ao passado e novos casos têm sido relatados em regiões previamente não
endêmicas (WHO, 2002b). Isso se deve, em grande parte, à adaptação do vetor em novas
áreas, ao ressurgimento da leishmaniose como doença oportunista nas infecções com o
vírus da imunodeficiência humana (HIV), urbanização não planejada, desflorestamento,
resistência do parasita a drogas e dificuldades econômicas de grande parte dos países
afetados (DESJEUX, 2004), (REITHINGER; DUJARDIN, 2007).
Na realidade, os dados numéricos relativos à prevalência e à abrangência da
leishmaniose são apenas aproximações, pois, de todos os países assolados, apenas 33 têm
obrigatoriedade de notificar os casos da doença. Somado a isso, a transmissão da
leishmaniose continua a ocorrer em regiões rurais remotas desprovidas de quaisquer
políticas públicas de saúde, permanecendo muitos casos sem a devida comprovação (WHO,
2007). Portanto, os dados oficiais são certamente subestimados.
23
As nações mais afetadas por esta enfermidade são indiscutivelmente as consideradas
subdesenvolvidas nas quais se incluem a maioria absoluta dos casos confirmados em
humanos. Dos 88 países em que ocorre essa moléstia, 72 são subdesenvolvidos (WHO,
2002a). O sudoeste asiático e a América Latina apresentam alguns países que respondem
juntos pela maior parte dos casos de leishmaniose no mundo (FIG. 1 e FIG. 2). O Brasil
integra a lista das nações mais afetadas pelas duas principais formas da doença: a visceral,
com 90% dos casos em Bangladesh, Brasil, Índia, Nepal e Sudão bem como a tegumentar
com 90% dos casos no Afeganistão, Argélia, Brasil, Irã, Peru, Arábia Saudita e Sudão. O
tratamento, especialmente para a LV, é caro e de difícil acesso para a grande maioria de
pessoas que vivem em estado de pobreza, as quais constituem a parcela da população mais
vulnerável à doença. Com isso, tem-se observado um aumento nos fatores de risco para
leishmaniose (DESJEUX, 2001), (WHO, 2007).
Um fator agravante que dificulta o controle da leishmaniose nos países endêmicos é
a contínua negligência do setor privado da economia. Os investimentos no desenvolvimento
de novas drogas e métodos diagnósticos nessas nações têm ficado sob responsabilidade do
setor público, o qual, não raro, enfrenta escassez de recursos e falta de infra-estrutura
adequada (GONTIJO; MELO, 2004).
24
Figura 1: Distribuição mundial da leishmaniose cutânea.
Fonte: WHO, 2007.
Figura 2: Distribuição mundial da leishmaniose visceral
Fonte: WHO, 2007.
25
Em relação à LV, são conhecidas três espécies do agente etiológico. No Sudão,
Kênia, Nepal, Bangladesh, China Oriental, Paquistão e Índia predomina L. donovani e
nessas regiões a doença tem caráter antroponótico. No sudeste asiático, nordeste da China,
norte da África e Europa mediterrânea, prevalece L. infantum enquanto que L. chagasi está
presente nas Américas (TAVARES; FERNANDES; MELO, 2003). Nestes dois últimos
casos, a LV assume um perfil zoonótico. Estas duas últimas espécies eram antes
consideradas diferentes, porém estudos de caracterização molecular feitos por Mauricio e
colaboradores (2000), indicaram serem elas indistingüíveis.
Sessenta e cinco países são considerados endêmicos para LV e estima-se que 200
milhões de pessoas estão sob condições de risco de contaminação. O número de óbitos
anuais registrados chega a 59.000 e este é somente ultrapassado pelo número de mortes
causadas pela malária dentre as doenças parasitárias (ALVAR; YACTAYO; BERN, 2006).
Dada a ampla abrangência e o significativo aumento de casos da doença, o Programa
Especial de Pesquisas e Treinamento em Doenças Tropicais (TDR), vinculado à OMS,
considera a leishmaniose uma prioridade em suas pesquisas dentre as 10 principais
endemias tropicais do mundo (WHO, 2007).
1.3) Epidemiologia da leishmaniose visceral no Brasil
Especificamente em relação ao Brasil, a LV demonstra ampla distribuição atingindo
as regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Por isso, a LV possui aspectos
geográficos e sociais bem diferenciados e complexos. Das 27 unidades federativas do país,
19 possuem casos autóctones registrados da doença totalizando cerca de 1.600 municípios
26
afetados. A região Nordeste concentrou mais de 90% dos casos humanos na década de 90 e
atualmente responde por 67% do total de casos no país (ELKHOURY, 2005).
A partir dos anos 90, novos surtos e focos da doença foram registrados nos estados
do Pará e Tocantins (região Norte), Mato Grosso do Sul (região Centro-Oeste), bem como
Minas Gerais e São Paulo (região Sudeste). Estas regiões passaram então a influir
significativamente nas estatísticas da LV no Brasil. A partir daí, vem ocorrendo uma
tendência crescente da incidência de casos de LV até então. Esse aumento vem ocorrendo
de maneira mais pronunciada desde 1999 (FUNASA, 2002). Cerca 3.500 casos de LV são
notificados, em média, a cada ano no país. As taxas de letalidade, segundo registros
oficiais, chegam a 10% em algumas localidades (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007a).
A LV ocorre tipicamente em regiões caracterizadas por baixo nível socioeconômico
o que é muito comum em áreas rurais e periurbanas do Brasil. No entanto, esse quadro vem
se modificando especialmente nos estados das regiões Centro-Oeste e Sudeste, onde a LV
vem sofrendo um processo de urbanização (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003).
A espécie do agente etiológico presente no Brasil para LV é L. chagasi e esta possui
como reservatórios silvestres, as raposas e marsupiais. Estes animais possuem hábitos
sinantrópicos e isso provavelmente está relacionado à ligação entre os ciclos silvestre e
doméstico da doença. Entretanto, mais estudos são necessários para elucidar o real papel
desses animais no ciclo de transmissão da LV. No ambiente domiciliar, o cão é o principal
hospedeiro de L. chagasi. Os flebótomos Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi estão
diretamente relacionados com a transmissão da doença. A primeira espécie é considerada a
principal transmissora de L. chagasi no Brasil. A segunda espécie foi posteriormente
apontada como vetor no estado do Mato Grosso do Sul (SANTOS, et al., 1998).
27
A LV pode ocorrer em pessoas de qualquer idade, mas tem se observado que, em
grande parte das regiões endêmicas brasileiras, cerca de 59% dos casos registrados são de
crianças de até 10 anos, sendo que 46% desses casos são registrados em menores de 5 anos
(ELKHOURY, 2005). Essa maior vulnerabilidade pode estar relacionada a uma
susceptibilidade imunológica agravada pela desnutrição infantil muito comum nas regiões
mais assoladas pela doença, além de uma maior exposição ao flebotomíneo no
peridomicílio. Por outro lado, nas regiões urbanas, existem também altos índices de
infecção para o público de adultos jovens (SILVA, et al., 2001a). O sexo masculino é mais
atingido pela LV com 60% dos casos registrados (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003).
O Brasil detém a maior parte de casos registrados de LV na América Latina
(MILES, et al., 1999). Seu comportamento epidemiológico é cíclico, com elevação do
número de casos em intervalos médios de 5 anos (ELKHOURY, 2005).
Um programa de combate e controle da LV surgiu no Brasil na década de 50 e tinha
como principal objetivo interromper a cadeia de transmissão da doença. No entanto, tal
iniciativa mostrou-se ineficiente ao longo das últimas décadas o que levou o Ministério da
Saúde e a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) a convocarem um comitê para
reexaminar seu plano de ação (COSTA, 2001). Esta reavaliação vem sendo orientada por
estudos científicos e outros fatores de ordem operacional como: constatação de que outros
reservatórios como raposas e marsupiais podem ser fontes de transmissão dos parasitas;
conflitos entre os estudos a respeito do real impacto do sacrifício de cães sobre a infecção
humana; existência de pouco conhecimento sobre o impacto das estratégias de combate ao
vetor; inexistência de uma padronização dos métodos diagnósticos da doença em humanos
e em cães (GONTIJO; MELO, 2004).
28
Desde 1993, Belo Horizonte vem sofrendo com o acréscimo de casos humanos e
caninos da LV. Sabe-se hoje que a doença foi introduzida nessa capital a partir de um
município vizinho (GONTIJO; MELO, 2004). De fato, na região metropolitana de Belo
Horizonte, houve um aumento no número de municípios com notificação da doença de 6 no
biênio 94/95 para 15 no biênio 98/99 (LUZ, et al., 2001), (SILVA, et al., 2001a). De
acordo com dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, Belo Horizonte foi o terceiro
município brasileiro mais afetado pela LV em 2006, ficando atrás somente de Fortaleza e
Campo Grande (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007b).
1.4) O processo de urbanização da leishmaniose
O estabelecimento de uma doença parasitária em uma determinada região depende
fundamentalmente da presença de hospedeiros e vetores igualmente susceptíveis. No
passado, a leishmaniose possuía um caráter essencialmente silvestre dado que o inseto vetor
vive naturalmente em regiões de mata e de florestas. No entanto, a colonização humana
abrupta, descontrolada e intensa nas áreas naturais reduziu drasticamente o habitat natural
dos flebotomíneos bem como a disponibilidade de seus hospedeiros naturais. Tais fatores
permitiram que o inseto vetor se adaptasse muito bem ao ambiente peridomiciliar próximo
onde passou a infectar, via repasto sangüíneo, o cão e o homem. Isso fez com que a
leishmaniose adquirisse um caráter tipicamente rural.
Por outro lado, a enfermidade vem se urbanizando cada vez mais. Isso se deve a
diversos fatores como a globalização econômica, a concentração de riquezas, êxodo rural
proveniente de regiões mais pobres, desmatamentos, alta densidade populacional e à grande
susceptibilidade da população à doença. Em 1950, menos de um terço da população
29
mundial vivia nas cidades. Hoje, mais de 50% desta está nas grandes metrópoles e é
estimado que mais de 5 bilhões de pessoas estejam nas regiões urbanas dentro de 50 anos
(DAULAIRE, 1999). Na América do Sul, mais de 70% da população é urbanizada. Isso
tende a levar endemias rurais para áreas metropolitanas onde a concentração humana e a
presença de vetores aumentam a incidência de doenças. Ao mesmo tempo, houve grande
proliferação de subúrbios pobres onde os cães vadios são numerosos e as condições
sanitárias e nutricionais são precárias. As restrições alimentares graves associadas com a
presença de indivíduos imunossuprimidos como os portadores do vírus HIV expõem uma
parcela significativa de pessoas extremamente vulneráveis ao avanço da leishmaniose
(DESJEUX; ALVAR, 2003).
Paralelamente, o flebótomo acabou por encontrar no ambiente urbano um habitat
favorável à sua reprodução. Como resultado, o Lutzomyia longipalpis, por exemplo, tornou-
se muito numeroso nessas regiões o que tem aumentado o número de casos da doença
(WHO, 2002b).
Todo esse panorama se deve a mudanças comportamentais de caráter sócio
ambiental as quais têm provocado impactos sem precedentes. O aumento e a expansão da
LV para áreas urbanas e periferias estão também relacionados às migrações humanas,
envolvendo o transporte de cães infectados para regiões onde o inseto vetor já existe
(ARIAS, et al., 1996). A partir disso, criaram-se condições concretas para a transição
efetiva do ciclo rural da doença para o ciclo em grandes metrópoles e regiões periféricas.
A adaptação do vetor aos ambientes urbanos foi concretamente comprovada no
Brasil no final da década de 80. Nesse cenário, os flebotomíneos passaram a ser
encontrados em paióis, canis e também no ambiente intradomiciliar. Desde então, muitas
cidades brasileiras como Fortaleza (CE), Aracaju (SE), Santarém (PA), Corumbá (MS),
30
Palmas (TO), Araçatuba (SP), Teresina (PI), Natal (RN), São Luís (MA), Campo Grande
(MS), Montes Claros e Belo Horizonte (MG) vêm apresentando, de maneira preocupante,
mais casos autóctones da doença (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007a).
Por ser a urbanização da LV no Brasil um evento relativamente recente, pouco se
sabe sobre sua epidemiologia no meio urbano. As relações entre os componentes da cadeia
de transmissão da doença nas cidades e regiões adjacentes brasileiras parecem ser bem mais
complexas e diversificadas do que no ambiente rural e carecem de mais estudos para serem
inteiramente explicadas (GONTIJO; MELO, 2004).
1.5) O papel do cão no ciclo da leishmaniose
Em relação aos diversos hospedeiros da L. chagasi, o cão assume um papel central
na manutenção do ciclo da enfermidade dada a grande susceptibilidade desse animal e à sua
proximidade com o homem. Nas regiões brasileiras endêmicas da doença, os cães são
muito expostos ao flebótomo, pois freqüentemente dormem ao relento e próximos às aves
domesticadas. Estas são refratárias à moléstia, mas atraem fortemente os insetos vetores
(BRUCE, et al., 2002). A pele canina, uma vez infectada, passa a apresentar altos níveis de
amastigotas o que aumenta a chance de contaminação de outros flebotomíneos.
Em geral, a doença no cão é crônica e sistêmica. Porém, a forma aguda e grave pode
ocorrer levando o animal à morte em poucas semanas. Após a infecção da pele em cães
susceptíveis, há a disseminação do parasita para vários órgãos e posteriormente surgem os
sintomas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003). As manifestações clínicas clássicas incluem
lesões na pele como dermatite exfoliativa e ulcerações, alopecia, perda de peso, caquexia,
onicogrifose, linfoadenopatia, esplenomegalia e falência renal sendo esta última uma das
31
principais causas de óbito (MORENO; ALVAR, 2002). A alopecia gerada pela infecção
expõe maiores áreas da pele extensamente parasitadas o que facilita ainda mais a infecção
de outros flebotneos. A extensão dos sinais clínicos está intimamente relacionada com o
tipo de resposta imunológica apresentada pelo animal infectado.
Estudos com infecções experimentais em cães mostraram que o período de
incubação é bastante variável girando em torno de três meses a vários anos (ANDRADE,
2000). Então, é comum o fato de muitos animais infectados não apresentarem sintomas
clínicos durante um longo tempo, o que prejudica os levantamentos epidemiológicos e o
combate à doença. De acordo com dados estatísticos, cerca de 52% dos cães infectados
assintomáticos podem evoluir para cura espontânea, 12% permanecem longo tempo
parasitados e sem sintomas e 36% manifestam a doença mais tarde (NEVES, 2006).
Tem sido amplamente relatado que o fluxo de transmissão da LV é independente da
extensão dos sintomas apresentados pelo cão. Há relatos de que cães soropositivos
assintomáticos permitiram a transmissão do parasito para flebotomíneos (SOLANO-
GALLEGO, et al., 2001), (SOUZA, et al., 2001), (ALVAR, et al., 2004). Sendo assim, os
cães são um reservatório competente e importante do protozoário em questão. Essa
relevância foi confirmada mediante observações especialmente nas zonas urbanas com
transmissão recente onde os casos caninos da doença precederam os casos humanos. Nessas
regiões, foi comprovada uma associação na distribuição espacial da LV em cães e no
homem (DI LORENZO; PROIETTI, 2002).
32
1.6) Principais medidas profiláticas
O Ministério da Saúde recomenda três medidas básicas de controle: tratamento
precoce das pessoas infectadas, combate ao vetor e eliminação dos cães infectados
(PALATNIK-DE-SOUZA, et al., 2001). Portanto, o diagnóstico da leishmaniose canina é
uma etapa fundamental no controle da enfermidade e inquéritos extensivos para a
sondagem de animais contaminados têm sido preconizados. O diagnóstico deve ser feito, de
preferência, de uma maneira precoce através de um método suficientemente confiável e
robusto. Ainda hoje, o desenvolvimento e a padronização de uma técnica enquadrada
nesses critérios e que seja rápida, barata e de simples manuseio permanecem como
objetivos a serem alcançados.
Nesse contexto, tem sido ressaltada nos últimos anos a necessidade de uma maior
aproximação e sinergia entre pesquisadores e agentes de saúde pública no combate à
doença. Diante das dificuldades operacionais de combate à LV especialmente nas regiões
urbanas, tornam-se necessários mais investimentos na área técnico-científica e
aperfeiçoamento das estratégias de controle e vigilância da doença. Todas essas medidas
devem ser integradas de modo que elas possam ser mais efetivas (ELKHOURY, 2005).
1.7) Principais métodos de diagnóstico da leishmaniose visceral
Para um diagnóstico mais seguro da LV, recomenda-se a combinação de diferentes
métodos uma vez que essa doença apresenta um amplo espectro clínico tanto em humanos
(REITHINGER; DUJARDIN, 2007) quanto em cães (GONTIJO; MELO, 2004) e ainda
não existe um teste 100% específico e sensível (ALVAR, et al., 2004). Sendo assim, é
33
muito importante considerar conjuntamente dados laboratoriais, clínicos e epidemiológicos
para a realização do diagnóstico do calazar.
Um diagnóstico definitivo da LV canina exige a detecção direta do parasita. Para
sua demonstração, são comumente utilizados materiais de biópsias ou aspirados de medula
óssea, linfonodos, baço ou fígado (REITHINGER; DUJARDIN, 2007). Com o material
coletado são feitos esfregaços e colorações específicas em lâminas para análise
microscópica e detecção de formas amastigotas do parasita. Para isso, a lâmina deve ser
exaustivamente examinada antes de ser considerada negativa (DIETZE, 2005).
Podem ser feitos também cortes histológicos, inoculação de aspirados em animais
de laboratório ou cultura in vitro em meio bifásico (GOMES, et al., 2006). Essa modalidade
de diagnóstico é considerada um padrão ouro, pois apresenta alta especificidade e, diante da
positividade, não há dúvida quanto à presença da infecção. No entanto, a forma de coleta de
amostras envolvida nesses procedimentos é invasiva, possui contra-indicações e pode
causar complicações mais sérias em algumas ocasiões (GUERIN, et al., 2002).
Devido à freqüente ausência de sintomas clínicos nos cães e à dificuldade da
detecção direta do parasito, o diagnóstico rápido e indireto da infecção canina tem se
transformado em uma parte essencial dos programas de controle (BADARÓ, 1988). Muitos
métodos de diagnóstico sorológico freqüentemente utilizados nestes programas apresentam
sensibilidades variando de 80% a 100%, e especificidades que vão de 80% a 98% (REED,
et al., 1990). Tais testes partem do pressuposto de que a maioria ou todos os animais
infectados desenvolvem uma resposta imunológica humoral específica a qual pode ser
detectada pelas metodologias disponíveis.
Nas áreas endêmicas do Brasil, onde a prevalência da LV é a maior das Américas,
os cães são periodicamente analisados por sorologia, geralmente pela reação de
34
imunofluorescência indireta (RIFI) e o imunoensaio ou ELISA (Enzyme Linked
Immunosorbent Assay), (BADARÓ; REED; CARVALHO, 1981) (DIETZE, 2005). Ambos
os testes envolvem a utilização de antígenos brutos e possuem algumas limitações quanto à
sua especificidade e reprodutibilidade (SUNDAR; RAI, 2002), (SINGH, 2006). Nos
últimos anos, novos antígenos purificados e recombinantes contendo epítopos específicos
de L. chagasi e L. donovani têm sido obtidos, e com eles, melhores sensibilidades e
especificidades vêm sendo apresentadas (GOMES, et al., 2006). O teste RIFI é considerado
menos sensível e mais específico do que o método de ELISA (GONTIJO; MELO, 2004).
Estas metodologias têm sido normalmente escolhidas para a realização de inquéritos
populacionais.
Os resultados da RIFI são normalmente expressos em diluições em que
normalmente se considera um resultado positivo com um título igual ou superior a 1:40. No
caso do ELISA, os resultados são medidos em unidades de absorbância com base em
espectrofotometria na qual podem ser utilizadas diluições fixas (resultado quantitativo) ou
somente presença ou ausência de reação (resultado qualitativo), (DIETZE, 2005).
Badaró e colaboradores (1996), desenvolveram o Teste Rápido Anticorpo
Leishmania donovani (TRALd) que se baseia num método imunocromatográfico no qual a
proteína recombinante de L. chagasi rK39 é fixada em membrana de nitrocelulose. Esse
procedimento se revelou simples e rápido e permitiu a obtenção de bons resultados no
diagnóstico em cães e humanos. No entanto, a mesma técnica foi incapaz de detectar
infecção em animais com baixos títulos de RIFI (GENARO, et al., 1997).
Outro tipo de diagnóstico é baseado em testes moleculares os quais permitem a
detecção de seqüências de DNA específicas do parasita. A Reação em Cadeia da
Polimerase ou Polymerase Chain Reaction (PCR) é um importante exemplo e é um
35
procedimento que permite a amplificação de segmentos de DNA em até 1.000.000 de
vezes. Existem diferentes alvos de amplificação no genoma de Leishmania que já foram
descritos para diagnóstico. Esses são normalmente seqüências repetitivas e/ou polimórficas.
Como exemplos, tem-se os genes para o RNA ribossomal e seus espaçadores, β-tubulina,
locus gp63, hsp70, cisteino proteinases e minicírculos do DNA de cinetoplasto (kDNA),
(REITHINGER; DUJARDIN, 2007; SINGH, 2006). Este último tem sido considerado um
dos melhores alvos para PCR sendo que podem ser amplificados os minicírculos completos
ou somente suas regiões conservadas (GONTIJO; MELO, 2004). Na era pós genômica,
vem ocorrendo a identificação e a caracterização de um número cada vez maior de
seqüências nucleotídicas potenciais de Leishmania para novos alvos de PCR. Isso contribui
para aumentar a versatilidade dessa técnica.
Vários sistemas de detecção baseados na PCR foram desenvolvidos (SCHALLIG;
OSKAM, 2002), e a busca de sua padronização é tida como um importante objetivo para os
programas de controle da leishmaniose (WHO, 2002a). Muitos trabalhos já demonstraram a
aplicabilidade da PCR para o diagnóstico da leishmaniose canina indicando ser esta uma
técnica mais sensível e específica do que os métodos tradicionais (MANNA, et al., 2004)
(REALE, et al., 1999), (SILVA, et al., 2001c), (STRAUSS-AYALI, et al., 2004).
Resultados diagnósticos mais precisos são obtidos quando a PCR é combinada com
outros métodos moleculares como a hibridização de sondas de DNA (HEADINGTON, et
al., 2002). Este foi o primeiro procedimento em biologia molecular a ser desenvolvido para
fins diagnósticos e hoje já se dispõe de diferentes sondas específicas tanto para seqüências
genéticas nucleares quanto para regiões do genoma mitocondrial de Leishmania
(DEGRAVE, et al, 1994). Foi demonstrado em alguns estudos que o uso de sondas de
36
kDNA permitiu a distinção entre os complexos L. braziliensis e L. mexicana. Junto a essas
pesquisas, percebeu-se que os minicírculos de kDNA contêm regiões com diferentes
especificidades taxonômicas. Com esta evidência, sugeriu-se que as seqüências de kDNA
vêm sofrendo diferentes taxas de divergência evolutiva. Esta característica pode ser útil
para diagnósticos na medida em que ela pode auxiliar a identificar e diferenciar com mais
segurança os subgêneros de Leishmania. Também foi relatado que as sondas de kDNA têm
um importante potencial para a realização de estudos de caráter epidemiológico (ROGERS;
WIRTH, 1987).
Para o processo de hibridização, as técnicas Dot-Blot e Southern Blot são
comumente utilizadas. A primeira consta da aplicação dos produtos de PCR desnaturados
em uma membrana, normalmente de nylon a qual recebe posteriormente as sondas
marcadas, por exemplo, com radioisótopos como o
32
P. Quanto ao Southern blot, as
amostras de DNA presentes num gel de agarose são desnaturadas. Em seguida, uma
membrana de nitrocelulose ou nylon é colocada e pressionada sobre o gel permitindo que o
DNA passe para ela por capilaridade. Após isso, o ácido nucléico é fixado e a membrana é
tratada com sondas marcadas complementares à seqüência alvo do DNA do parasita. Após
a auto-radiografia é feita a revelação e a verificação dos resultados. Estas técnicas têm se
mostrado adequadas para a detecção de fragmentos de DNA de Leishmania (BOZZA, et al,
1995), (SILVA, et al, 2004).
Neste trabalho a reação de PCR foi utilizada com iniciadores endereçados para a
região conservada dos minicírculos de kDNA (DEGRAVE, et al., 1994). Os produtos
amplificados foram hibridizados com sondas constituídas de minicírculos clonados de L.
chagasi e marcados com
32
P.
37
2) JUSTIFICATIVA
38
O cão é considerado o principal reservatório de L. chagasi e fonte importante de
infecção para o vetor. Portanto, é fundamental que os cães sejam submetidos aos testes
diagnósticos rotineiros. O diagnóstico correto é muito importante para evitar a eliminação
de cães não infectados e para identificar devidamente os animais contaminados. Essa
medida se constitui em um dos fundamentos para o controle da LV.
As metodologias usualmente utilizadas para o diagnóstico da LV canina ainda
apresentam deficiências, de forma que ainda hoje permanece o desafio para obtenção de um
método sensível, específico, simples, rápido e de baixo custo.
Em relação à análise clínica, existe uma dificuldade recorrente relacionada ao fato
de muitos sinais da enfermidade no cão serem muito parecidos com os de outras doenças
infecciosas (GRIMALDI; TESH, 1993). Outro problema está no amplo espectro de sinais
clínicos apresentados pelos cães. Nesse caso, os animais vão de uma faixa de
aparentemente saudáveis (assintomáticos) até estágios severos da doença (sintomáticos),
perpassando por estágios intermediários com poucos sintomas (oligossintomáticos)
(GONTIJO; MELO, 2004).
Os exames parasitológicos baseados em microscopia e cultura de parasitas são
laboriosos, demorados, requerem formas invasivas de amostragem e apresentam
sensibilidade baixa ou muito variável (SILVA, et al., 2006). A baixa sensibilidade se deve à
ocorrência comum de animais assintomáticos e ao fato da distribuição dos parasitas ser
heterogênea num mesmo tecido (GONTIJO; MELO, 2004), (IKONOMOPOULOS, et al.,
2003), (REITHINGER, et al., 2003).
Os testes sorológicos de diagnóstico estão bem estabelecidos e são de uso mais
freqüente. No caso canino, os métodos comumente empregados são a RIFI e a técnica de
ELISA. Com a utilização de antígenos brutos, tais técnicas têm apresentado problemas
39
quanto à especificidade e reprodutibilidade. Melhores resultados têm sido apresentados a
partir da utilização de proteínas antigênicas purificadas e/ou recombinantes. No entanto,
sua obtenção é em muitas vezes demorada e requer procedimentos laboratoriais muito
sofisticados (TAVARES, FERNANDES; MELO, 2003). Tais métodos têm se mostrado
efetivos em detectar leishmaniose ativa, na qual grandes quantidades de anticorpos estão
presentes nos hospedeiros. No entanto, a eficiência pode diminuir quando essas técnicas são
utilizadas em regiões endêmicas onde é comum a existência de animais imunossuprimidos
(FISA, et al., 2001). Com isso, pode-se não detectar os baixos níveis de anticorpos
presentes nesses animais e resultados falsos negativos podem ocorrer o que subestima a
prevalência da infecção nos cães (SILVA, et al., 2001c).
Um resultado positivo de RIFI em um cão clinicamente suspeito assume grande
relevância. Por outro lado, um resultado negativo não exclui a possibilidade de infecção,
pois, além da possibilidade da imunossupressão, podem existir alguns animais capazes de
desenvolver imunidade celular predominante sobre a imunidade humoral (CABRAL, et al.,
1998; PINELLI, et al., 1994). Também é comum que muitos cães desenvolvam resposta
imunológica detectável somente algumas semanas depois da infecção (ANDRADE, 2000).
Logo, um teste sorológico feito dentro desse intervalo de tempo implica em falso negativo.
Existe ainda a possibilidade de ocorrência de reações cruzadas nos testes RIFI e ELISA
com outras enfermidades como doença de Chagas, erliquiose, rickettsiose e toxoplasmose
(BARBOSA DE DEUS, et al., 2002). Pelo fato desses exames se basearem na detecção de
anticorpos contra Leishmania, um outro problema surge para a monitoração sorológica de
cães vacinados para leishmaniose.
Recentemente foi desenvolvida uma vacina contra a leishmaniose canina que gera
níveis de proteção acima de 90%, (BORJA-CABRERA, et al., 2002; SILVA, et al., 2001b).
40
Esta foi licenciada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e
industrializada (NOGUEIRA, et al., 2005), fato que vem tornando a vacinação uma prática
cada vez mais comum. O processo de imunização é realizado em três doses, com intervalo
de 21 dias entre elas, e a proteção é estabelecida somente após a terceira e última aplicação.
Porém, após a vacinação o cão pode apresentar reação positiva nos testes de sorologia, visto
que a vacina é produzida a partir de antígenos de Leishmania que vão estimular a produção
de anticorpos específicos no animal. Sendo assim, os métodos sorológicos de diagnóstico
regularmente utilizados podem fornecer resultados inconclusivos, pois permaneceria a
dúvida se o animal realmente estaria infectado ou se ele estaria apenas munido da proteção
humoral conferida pela vacina. Portanto, o monitoramento dos animais vacinados se
transformou em um desafio, pois as alternativas de diagnóstico disponíveis (biópsias de
linfonodo ou medula óssea para a identificação do parasito) são invasivas, dispendiosas,
mais complicadas e de difícil aceitação pelos proprietários dos animais, o que torna tais
procedimentos inadequados para levantamentos epidemiológicos.
Ainda hoje, existem poucos estudos sobre testes diagnósticos que discriminem
corretamente o cão vacinado do cão naturalmente infectado. Até o momento, não há
procedimentos de diagnóstico para uso em larga escala e que permitam esse discernimento.
Com isso, o desenvolvimento e a padronização de técnicas para o diagnóstico da LV em
cães imunizados tornam-se extremamente importantes.
A técnica de PCR é uma alternativa atraente neste contexto. Como os animais
vacinados e não infectados não apresentam reação positiva na reação de PCR, esta se
apresenta como uma possível solução para o monitoramento dos cães imunizados. A
técnica é suficientemente sensível, específica e rápida para atender as necessidades dos
programas de controle.
41
A PCR vem a suprir algumas lacunas importantes presentes nos métodos
tradicionais de diagnóstico. Por exemplo, permite detectar, de maneira específica,
seqüências exclusivas do genoma do parasita sem necessidade de seu isolamento em
cultura. Isso representa mais rapidez para geração de resultados. A PCR vem sendo descrita
como um procedimento altamente sensível para a identificação do parasita. Dessa forma,
tem sido possível a detecção de infecção em cães antes da soroconversão (STRAUSS-
AYALI, et al., 2004) e em animais assintomáticos (ANDRADE, et al., 2006),
(LACHAUD, et al., 2002b).
Um dos exemplos de seqüências genéticas alvo para a amplificação por PCR são as
regiões conservadas de minicírculos de kDNA de Leishmania. Tais seqüências possuem
pelo menos 120 pares de base (pb) (FERNANDES, et al., 1996) e apresentam uma grande
vantagem: são abundantes, pois chegam a ocorrer até 10.000 cópias dos minicírculos por
célula. Isso aumenta a sensibilidade da técnica, pois cresce enormemente a chance
estatística de anelamento correto dos iniciadores ou primers nas seqüências de DNA alvo
permitindo um bom rendimento da reação.
Tem-se demonstrado a ocorrência de cães PCR positivos soronegativos (REALE, et
al., 1999), (SOLANO-GALLEGO, et al., 2001). A PCR também se revelou superior à RIFI
e à microscopia óptica no diagnóstico em cães independentemente dos órgãos utilizados
para retirada de amostras ou das manifestações clínicas presentes nesses animais
(ANDRADE, et al., 2006).
A sensibilidade e a especificidade do diagnóstico da leishmaniose por PCR podem
ser aumentadas com o uso complementar da hibridização com sondas de DNA marcadas,
especialmente com o
32
P (DEGRAVE, et al., 1994). Estudos mostram que com esse método
é possível reconhecer até 0,1pg do DNA alvo. De uma maneira geral, as técnicas de
42
marcação isotópica de DNA apresentam uma sensibilidade significativamente superior e
são mais baratas quando comparadas aos procedimentos convencionais (DAR; KHAN.
2004). Outra vantagem é a simplicidade da detecção do sinal emitido pela radiação. O
32
P,
por exemplo, emite partículas β com energia máxima de 1,7 Mev (TURNER, 1995) o que
facilita a leitura dos resultados pela auto-radiografia. Como esse radioisótopo tem meia
vida curta de 14,7 dias, seu decaimento é breve o que minimiza o problema da disposição
do rejeito radioativo.
Um dos aspectos mais importantes da hibridização é que informações sobre o
agente etiológico podem ser obtidas nesta etapa. Com a utilização de sondas de DNA
específicas é possível identificar o sub-gênero do parasita e até mesmo a espécie, caso haja
disponibilidade de dados epidemiológicos. É importante lembrar ainda que a técnica de dot
blot oferece uma vantagem interessante para essa metodologia de diagnóstico como um
todo. Apenas uma membrana utilizada nesse procedimento pode receber muitas amostras
ao mesmo tempo, as quais são analisadas em uma única etapa. As sondas aplicadas podem
ser removidas após a hibridização e a membrana pode ser reutilizada várias vezes. Isso
permite uma economia de material e mais rapidez para a obtenção e interpretação de
resultados.
Para a realização da PCR não é necessária grande quantidade de material e
diferentes amostras clínicas podem ser utilizadas como fonte de DNA. São exemplos os
aspirados (esplênicos, de linfonodos e medula óssea), células de cultura, camada
leucocitária e sangue coletado em papel filtro (FISA, et al, 2001), (TAVARES,
FERNANDES; MELO, 2003).
43
A utilização de metodologias de amostragens não invasivas é relevante, pois pode
representar uma alternativa mais simples e não traumática para os animais. Isso certamente
diminui a resistência dos proprietários dos cães em permitir os exames.
Por isso, será avaliado neste trabalho um processo de amostragem pelo swab
conjuntival. Este método consta de um esfregaço das conjuntivas de cães mediante a
utilização de swabs. Essa estratégia está de acordo com a necessidade de se adotar métodos
mais fáceis, rápidos e não invasivos para obtenção de material para a reação de PCR.
Alguns autores utilizaram swabs para coleta de amostras em estudos de diagnóstico
molecular da leishmaniose.
Strauss-Ayali et al. (2004) utilizaram este método de amostragem para a
identificação de infecção por L. infantum em cães, utilizando-se a PCR. A positividade
obtida com esse procedimento foi maior quando comparada aos resultados referentes à PCR
realizada a partir de cultura e de aspirados esplênicos ou de linfonodo.
Num outro contexto, Mimori et al. (2002) utilizaram swabs para a coleta de
amostras a partir de lesões cutâneas para o diagnóstico da LC humana por PCR. Neste caso,
foi possível detectar a infecção em 15 pacientes num total de 16. Com isso, estes autores
consideraram o método de coleta por swabs mais indicado do que o uso de biópsias para o
diagnóstico da LC.
Esses estudos indicam que o método de esfregaços por swabs para o diagnóstico da
leishmaniose é promissor e deve, portanto, ser investigado de maneira mais ampla.
Vale ressaltar que a pesquisa de alternativas diagnósticas mais sensíveis e
específicas é prioritária para auxiliar a prevenção, vigilância e controle das leishmanioses.
O investimento em procedimentos de diagnóstico vem sendo apontado como necessário
44
para redução da morbidade e da mortalidade da LV, bem como para a diminuição dos
riscos de transmissão (ELKHOURY, 2005).
O presente projeto está diretamente inserido nesse contexto e tem como meta o
desenvolvimento de um método de diagnóstico mais simples e eficiente para a LV canina,
disponibilizando para a sociedade uma ferramenta importante para auxiliar no controle
dessa doença.
45
3) OBJETIVOS
46
3.1) Objetivo geral
Avaliar o swab conjuntival como método de coleta de amostra para o diagnóstico da
LV canina por PCR-hibridização.
3.2) Objetivos específicos
Avaliar e padronizar diferentes métodos de extração de DNA a partir de swabs
contaminados artificialmente com células de L. chagasi;
Baseado nos resultados anteriores, escolher as técnicas de purificação de DNA a serem
testadas em amostras obtidas pelo swab conjuntival
em cães soropositivos;
Comparar os métodos de coleta utilizando-se swab conjuntival e sangue depositado em
papel filtro para o diagnóstico da LV canina por PCR-Hibridização;
Comparar os métodos de coleta utilizando-se swab conjuntival e anel leucocitário para
o diagnóstico da LV canina por PCR-Hibridização;
Determinar, entre os métodos testados, aqueles que se mostrarem mais adequados para
o diagnóstico para a LV canina por PCR-hibridização em cães soropositivos
sintomáticos.
47
4) MATERIAIS E MÉTODOS
48
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal
(CETEA) da Universidade Federal de Minas Gerais (n° de protocolo 198/2006) (ANEXO
B).
4.1) Teste de contaminação artificial de swabs com células de Leishmania chagasi
Promastigotas de L. chagasi, cepa MHOM/1973/BH46, foram cultivadas em meio
essencial mínimo (α MEM) suplementado com 10% de soro fetal bovino. Uma alíquota de
1,0 mL foi retirada e homogeneizada levemente no vórtex. Desse volume, foram utilizados
10 µL para a contagem dos parasitas em uma câmara de Neubauer (BOECO - Germany).
Em seguida, swabs estéreis manufaturados para isolamento de bactérias foram
contaminados em triplicata com os seguintes números de células: 10
3
, 10
2
, 50, 25, 10 e 1,0.
Para a extração de DNA dos swabs contaminados, três métodos diferentes foram
utilizados e comparados. São eles:
4.1.1) Extração de DNA por fenol-clorofórmio
Este método foi conduzido de acordo com Strauss-Ayali, et al. (2004) com
pequenas modificações. Uma mistura de 300 µL de proteinase K (250 µg.mL
-1
) e Triton X-
100 (1%) em tampão de lise (Tris 50 mM, NaCl 50 mM e EDTA 10 Mm [pH 8,0]) foi
adicionada a tubos eppendorf estéreis contendo as extremidades contaminadas
artificialmente dos swabs. Tais amostras foram incubadas por 2h a 56°C. A remoção dos
contaminantes foi realizada mediante três lavagens com 500 µL de fenol e clorofórmio -
álcool isoamílico (24:1) em tubos Phase Lock Gel Heavy. Nas duas primeiras lavagens,
49
foram utilizados 75% e 50% de fenol respectivamente e a última foi realizada com
clorofórmio – álcool isoamílico 100%. Após cada lavagem, as soluções foram
centrifugadas a 12.000g por 5 min. Em seguida, 50 µL de acetato de sódio 3M foram
adicionados em cada amostra. O DNA foi precipitado com um volume de isopropanol e foi
lavado com 250 µL de etanol 75%. Após centrifugação, a fase contendo DNA foi
suspendida em 30 µL de solução TE (Tris 10 mM e EDTA 1,0 mM [pH 8,0]) e armazenada
a 4°C até o momento de uso.
4.1.2) Purificação de DNA genômico - Wizard
®
(Promega)
O DNA foi extraído a partir de outro conjunto de swabs contaminados com L.
chagasi utilizando-se o kit de extração Wizard
®
para cultura celular conforme as instruções
do fabricante. Primeiramente, as extremidades contaminadas dos swabs foram separadas e
acondicionadas em tubos eppendorf estéreis, onde receberam 600 µL de solução de lise
nuclear. As amostras receberam 3,0 µL de RNAse e posteriormente foram incubadas a
37°C por 15 min. Estas receberam 200 µL de solução de precipitação protéica, foram
homogeneizadas em vórtex e mantidas em gelo por 5 min. As amostras foram então
centrifugadas a 14.000g por 8,0 min. O sobrenadante foi transferido para novos tubos onde
recebeu 600 µL de isopropanol. Nova centrifugação foi realizada a 14.000g por 1,0 min e o
sobrenadante foi descartado. O precipitado foi lavado com 600 µL de etanol 70% e
centrifugado a 14.000g por 1,0 min. Em seguida, removeu-se a fase líquida, secou-se o
precipitado a 56°C por 15 min e finalmente foram adicionados 100 µL de solução de
reidratação. O produto final foi então mantido a 4°C até o momento de uso.
50
4.1.3) Extração de DNA por fervura
Numa terceira forma de extração, as extremidades contaminadas dos swabs foram
removidas e colocadas em tubos eppendorf estéreis de 1,5 mL onde receberam 300 µL de
água deionizada autoclavada. O material foi fervido a 100°C em bloco seco por 15 min e
posteriormente centrifugado a 14.000g por 5 min. O sobrenadante foi coletado e
armazenado em tubos eppendorf estéreis a 0°C até sua utilização para a PCR.
O processo experimental da avaliação da sensibilidade a partir de swabs
contaminados artificialmente está resumido na FIG. 3.
4.2) Cães
Foram utilizados 46 cães soropositivos para a reação de ELISA, RIFI e fixação de
complemento neste estudo. Os animais foram cedidos pelo Centro de Controle de Zoonoses
de Belo Horizonte, Minas Gerais. Os cães foram avaliados clinicamente e classificados
segundo Mancianti, et al. (1988). Segundo esta classificação, os animais podem ser:
assintomáticos nos quais há ausência de sintomas, oligossintomáticos caracterizados pela
apresentação de adenopatia linfóide e/ou discreta perda de peso e/ou pêlo opaco e, por fim,
sintomáticos em que deve haver todos ou alguns dos sintomas severos típicos da LV como
hepatoesplenomegalia, onicogrifose, emagrecimento acentuado, queda de pêlo localizada
ou generalizada, conjuntivite, anorexia e úlceras na pele.
Os animais foram aleatoriamente divididos em dois grupos, 1 e 2, cada qual com 23
indivíduos. Em cada grupo, os animais foram classificados quanto ao sexo e à
sintomatologia (TAB 1 e 2).
51
Figura 3: Avaliação da sensibilidade a partir da contaminação artificial de swabs com células de L.
chagasi.
Contaminação artificial de
swabs com L. chagasi
Extração de DNA
Fenol-clorofórmio Fervura Wizard®
PCR - hibridização a partir
do DNA purificado
Escolha dos métodos a serem utilizados nas amostras
obtidas por esfregaço das conjuntivas de cães
soropositivos
52
Tabela 1: Classificação dos cães do grupo 1.
Cão Sintomatologia Sexo
1 S F
2
S M
3 S M
4 S F
5 S M
6 S F
7 O M
8 S M
9 O M
10
S F
11 S M
12 S M
13 S F
14 S F
15 S M
16 S M
17 S F
18 S F
19 S M
20 S F
21 S M
22 S M
23 O F
S: sintomático; O: oligossintomático;
M: macho; F: fêmea;
53
Tabela 2: Classificação dos cães do grupo 2.
Cão Sintomatologia Sexo
1 S F
2 S F
3 S F
4 O M
5 S F
6 S F
7 S F
8 S F
9 S M
10 S M
11 S F
12 S M
13 S F
14 S F
15 O F
16 S M
17 S F
18 S F
19 S M
20 S F
21 S M
22 S M
23 S F
S: sintomático; O: oligossintomático;
M: macho; F: fêmea;
54
Dez cães saudáveis soronegativos provenientes de região não endêmica serviram como
controles negativos.
4.3) Coleta de amostras
Após o exame clínico, amostras foram coletadas da conjuntiva inferior de ambos os
olhos de todos os cães, utilizando-se para o esfregaço, swabs estéreis manufaturados para
isolamento de bactérias (FIG 4). As extremidades contaminadas dos swabs foram separadas
e acondicionadas em tubos eppendorf estéreis de 1,5 mL. Estes foram armazenados a -20°C
até o momento de uso.
Para amostragem sangüínea foram colhidos cerca de 2,7 mL de sangue de cada cão
por meio de punção venosa sendo o material imediatamente acondicionado e
homogeneizado em tubos com EDTA. De cada tubo, foi retirada uma alíquota de 30 µL,
que foi transferida para papel filtro (Dialab®), o qual foi deixado secar a temperatura
ambiente e depois foi armazenado a –20°C até sua utilização. Para a obtenção do anel
leucocitário, 1,0 mL do sangue restante foi utilizado. Os tubos foram mantidos no gelo até o
processamento do sangue.
4.4) Extração de DNA das amostras caninas
Métodos distintos de extração de DNA foram utilizados a partir das amostras
provenientes dos esfregaços de conjuntiva dos cães do grupo 1 e 2.
55
Figura 4: Coleta de amostra pelo método de swab conjuntival.
56
4.4.1) Extração de DNA dos swabs
As amostras obtidas do grupo 1 foram submetidas ao processo de extração de DNA
por fenol-clorofórmio (item 4.1.1). No grupo 2, foi utilizado o método da fervura (item
4.1.3). Estes procedimentos de extração de DNA foram escolhidos de acordo com os
resultados obtidos do experimento de contaminação artificial de swabs com L. chagasi.
4.4.2) Tratamento dos papéis filtros contaminados com sangue
Os papéis filtros contaminados com sangue canino foram processados da mesma
maneira em ambos os grupos.
Para o processamento, discos de 3,0 mm de diâmetro foram retirados de cada cartão
utilizando-se punches estéreis. Estes foram transferidos para tubos eppendorf estéreis de 1,5
mL a fim de se remover contaminantes. Para isso, 200 µL de reagente de purificação
(Dialab®) foram adicionados a cada amostra, as quais permaneceram 20 min a temperatura
ambiente. Posteriormente o material foi submetido a mais duas lavagens com 200 µL do
mesmo reagente. Finalmente, os discos de papel foram lavados duas vezes com 200 µL de
solução TE (Tris 10 mM e EDTA 1,0 mM [pH 8,0]). Após cada lavagem, as soluções
foram descartadas e o papel filtro tratado foi armazenado a -20°C até sua utilização. Para a
reação de PCR utilizou-se diretamente o disco de papel tratado.
4.4.3) Extração de DNA do anel leucocitário
Esta extração foi realizada utilizando-se o kit para purificação de DNA genômico
Wizard
®
(Promega) para ambos os grupos. A 1,0 mL de sangue foram adicionados e
57
homogeneizados 3,0 mL de solução de lise celular. Essa mistura foi incubada por 10 min a
temperatura ambiente para lise de hemácias e centrifugada a 2.000g por 10 min. O
sobrenadante foi descartado e o anel de células brancas foi suspendido utilizando-se o
vórtex. Adicionaram-se 1,0 mL de solução de lise nuclear e 5,0 µL de RNAse em cada
amostra e estas foram incubadas a 37°C por 15 min. Em seguida, foram adicionados 330
µL da solução de precipitação protéica, a mistura foi homogeneizada e depois centrifugada
a 2.000g por 10 min. O sobrenadante foi transferido para tubos com 1,0 mL de isopropanol
e a solução, homogeneizada e centrifugada a 2.000g por 1,0 min. O sobrenadante obtido foi
descartado e o precipitado foi lavado com 1,0 mL de etanol 70% , sendo posteriormente
centrifugado a 2.000g por 1,0 min. O sobrenadante foi mais uma vez descartado, o
precipitado foi deixado secar a 56°C por 15 min e foi finalmente suspendido em 150 µL de
solução de reidratação. O produto final foi mantido a 4°C até sua utilização.
4.5) PCR
O método de PCR para amplificação da região conservada dos minicírculos de
kDNA de Leishmania foi previamente descrito (DEGRAVE et al., 1994). Para sua
realização, 1,0 µL de cada amostra com DNA purificado foi adicionado a 24 µL de uma
solução contendo 2,5 µL de desoxinucleotídeos trifosfato (dATP, dCTP, dGTP e dTTP) a
1,0 mM, 0,2 nmol de cada oligonucleotídeo iniciador [5’–
(G/C)(G/C)(C/G)CC(A/C)CTAT(A/T)TTACACAACCCC-3’ e
5’GGGGAGGGGCGTTCTGCGAA-3’], 2,5 unidades da DNA polimerase AmpliTaq
Gold
®
(Applied Biosystems), 2,5 µL de solução tampão (Tris-HCl 50 mM, [pH 8,3], KCl
50 mM), 1,5 µL de MgCl
2
a 1,5 mM e um volume complementar de água deionizada
58
autoclavada. O mesmo foi feito para os controles negativos sem, no entanto, acrescentar
DNA. Para os controles positivos, foi adicionado 1,0 µL de solução contendo DNA
genômico purificado de L. chagasi, cepa MHOM/1973/BH46, na concentração de 1,0
ng.µL
-1
. As condições para a reação foram: 95°C por 15 min para a desnaturação inicial,
seguindo-se 30 ciclos de amplificação (30 segundos a 94
0
C, 30 segundos a 50
0
C e 30
segundos a 72
0
C). Foi feito ainda um passo para a extensão final a 72°C por 10 min. Depois
disso o sistema permaneceu a 4°C. O termociclador (Perkin Elmer®) foi programado para
delinear todos essas etapas nas temperaturas e tempos determinados. As diferentes etapas
da reação de PCR foram realizadas em laboratórios diferentes para evitar a contaminação
por amplicons.
4.6) Eletroforese em gel de agarose
Para analisar os produtos de PCR, 5,0 µL de tampão de amostra (Tris 10 mM,
EDTA 10 mM, azul de bromofenol 0,005% m/v e glicerol 10% v/v) foram acrescentados a
10 µL da amostra e em seguida foram submetidos à eletroforese em gel de agarose a 2%,
com brometo de etídio, numa diferença de potencial de 90V. Um marcador de peso
molecular com fragmentos múltiplos de 25 pb foi utilizado e a corrida foi realizada em
tampão TBE 1X.
4.7) Dot Blot
Um total de 10 µL dos produtos de PCR foram aquecidos a 100°C por 5,0 min e
resfriados em gelo. A eles foram acrescentados 11 µL de solução desnaturante (NaOH 0,4
59
M, EDTA 25 mM [pH 8,0]). Em seguida, as amostras foram aplicadas sob vácuo a uma
membrana de nylon utilizando-se o aparelho Bio Dot (Hybri-dot manifold -BRL®). Cada
poço recebeu mais 100 µL da solução desnaturante e o aparelho foi submetido novamente
ao vácuo. A membrana foi lavada com SSC 2X (NaCl 0,3 M, citrato de sódio, 0,3 mM),
deixada secar sobre papel filtro e submetida a luz ultravioleta no aparelho Stratalinker para
fixação do DNA com energia de 0,12 J por centímetro quadrado.
4.8) Hibridização
Foram utilizados como sondas mini-círculos clonados de Leishmania (Leishmania)
chagasi. Estes foram marcados com
32
P]dCTP utilizando-se o método dos iniciadores
aleatórios (Invitrogen®). As condições de hibridização foram previamente descritas por
Andrade et al. (2001). A membrana de nylon, contendo as amostras, foi pré-incubada a
58
0
C por 30 min em solução de leite desnatado 0,5%, sulfato dodecil de sódio (SDS) 1% e
SSC 2X. A solução foi trocada utilizando-se um volume suficiente apenas para cobrir a
membrana. As sondas marcadas foram adicionadas à solução, após terem sido previamente
aquecidas por 3 min a 100
0
C. As membranas foram incubadas por 14h a 58
0
C com agitação
e depois lavadas em solução SSC 0,5X, SDS 0,5% a 65
0
C por 30 min. A membrana foi
deixada secar a temperatura ambiente. Ao final, ela foi exposta ao cassete BAS 2325
(Fujifilm®) por 2h. A imagem foi obtida através do analisador de imagem Bio-Imaging
Analyzer (Fujifilm®).
60
4.9) Análise estatística
Para análise estatística dos resultados, foi utilizado o Teste Exato de Fisher com
nível de significância de 5%. Este procedimento foi aplicado separadamente nos grupos 1 e
2. Dentro de cada grupo, os diferentes tratamentos foram confrontados dois a dois. Assim,
foi verificado se houve ou não diferença significativa entre os resultados obtidos dos
tratamentos utilizados. Todas as análises matemáticas foram processadas pelo programa
EPI INFO® 6.
Todo o processo experimental envolvendo os cães de ambos os grupos está
sumarizado na FIG. 5.
61
Figura 5: Processo de análise das amostras caninas para diagnóstico da leishmaniose por PCR-
hibridização.
46 cães
Grupo 1
(23 cães)
Grupo 2
(23 cães)
Coleta de amostras:
Esfrego das conjuntivas com swabs estéreis;
Retirada de 2,7 mL sangue por punção venosa;
Transferência de 30µL de sangue para papel filtro.
Métodos de extração de DNA:
1) Swabs: fenol-clorofórmio;
2) 1,0 mL de sangue: preparação
e processamento do anel
leucocitário – protocolo
Wizard®;
3) Sangue em papel filtro:
protocolo Dialab®.
Métodos de extração de DNA:
1) Swabs: fervura;
2) 1,0 mL de sangue: preparação
e processamento do anel
leucocitário – protocolo
Wizard®;
3) Sangue em papel filtro:
protocolo Dialab®.
PCR e
Hibridização a partir
do DNA purificado
Análise
estatística
62
5) RESULTADOS
63
5.1) Contaminação artificial de swabs
Neste experimento avaliou-se a sensibilidade dos ensaios de PCR e hibridização
utilizando-se diferentes métodos de extração de DNA a partir de swabs contaminados com
números conhecidos de células de L. chagasi. Buscou-se determinar o número mínimo de
células necessário para se obter um resultado positivo.
Resultados positivos para a reação de PCR foram obtidos para todas as quantidades
de parasitas em todos os procedimentos de extração de DNA testados, exceto para 10 e 1,0
células referentes ao método da fervura e 1,0 célula referente à extração pelo kit Wizar
(TAB. 3).
Em seguida, os produtos de PCR foram submetidos à hibridização com sondas
marcadas com
32
P. As sondas consistiam de mini-círculos clonados de kDNA de L.
chagasi. A hibridização foi utilizada para confirmar os resultados e aumentar a
sensibilidade de detecção. Nesse caso, todos os resultados positivos da PCR foram
confirmados. Resultados positivos adicionais foram obtidos na faixa de 1,0 parasita para a
extração pelo protocolo Wizard® e na faixa de 10 parasitas para o processo da fervura,
segundo análise do resultado de dot blot (FIG. 6).
64
Tabela 3: Resultados da PCR para os swabs contaminados artificialmente com L. chagasi.
(+): positivo; (-): negativo.
++++++
Fenol
clorofórmio
-
+++++Wizard®
--
++++Fervura
1,010255010
2
10
3
Número de parasitas
Método de
extração de
DNA
++++++
Fenol
clorofórmio
-
+++++Wizard®
--
++++Fervura
1,010255010
2
10
3
Número de parasitas
Método de
extração de
DNA
65
Figura 6: Resultado de dot blot referente aos produtos de PCR obtidos dos
swabs contaminados artificialmente com L. chagasi.
Foram utilizados de 10
3
até 1,0 promastigota por swab. Os produtos de PCR
foram hibridizados com sondas de kDNA de
L. chagasi marcadas com
32
P. (+):
controle positivo de
L. chagasi (-): Controle negativo sem DNA. A) Extração
de DNA por fervura. B) Extração de DNA - kit Wizard®. C) Extração de DNA
por fenol-clorofórmio.
(+) (-)
A)
B)
C)
10
3
10
2
50 25 10 1
(+) (-)
A)
B)
C)
10
3
10
2
50 25 10 1
66
5.2) Cães do grupo 1
5.2.1) PCR e hibridização para os swabs
Para os cães do grupo 1, o método de fenol-clorofórmio foi utilizado para
purificação do DNA proveniente dos swabs conjuntivais. Foram obtidas positividades para
PCR de 73,9% para a conjuntiva direita, 60,9% para a esquerda e 73,9% combinando
ambas as conjuntivas. Após a hibridização, as freqüências de resultados positivos foram:
73,9% para conjuntiva direita, 91,3% para a esquerda e 91,3% para as duas conjuntivas
combinadas. Os resultados observados para cada cão são mostrados na TAB. 4.
A FIG. 7 corresponde a um gel de agarose representativo para o grupo 1 no qual são
mostrados resultados positivos da PCR para a conjuntiva direita dos cães identificados
pelos números de 9 a 16. A positividade foi comprovada pela correspondência das bandas
amplificadas com a banda de 120 pb obtida do padrão positivo, que por sua vez,
corresponde ao tamanho esperado da seqüência conservada do minicírculo de kDNA alvo
da amplificação.
É importante ressaltar que os controles negativos e positivos de todas as reações de
PCR realizadas neste trabalho apresentaram o padrão esperado. Assim, não houve qualquer
amplificação nos controles negativos e os controles positivos apresentaram a banda
esperada de 120 pb o que indica não ter havido nem contaminação nem inibição das
reações.
Os resultados da hibridização foram visualizados na imagem que é mostrada na
FIG. 8. Nesse caso, 21 resultados positivos foram detectados para a conjuntiva esquerda e
17 para a direita.
67
Tabela 4: Resultados da PCR e hibridização para swabs conjuntivais* dos cães do grupo 1.
Cão
Conjuntiva direita Conjuntiva esquerda
PCR Hibridização PCR Hibridização
1 + + + +
2
+ + + +
3 + + - +
4 - - - -
5 + + - +
6 + + + +
7 + + + +
8 - - - +
9 + + + +
10
+ + + +
11 + + + +
12 + + - +
13 + + + +
14 + + + +
15 + + + +
16 + + + +
17 + + + +
18 + + + +
19 + + + +
20 - - - -
21 - - - +
22 - - - +
23 - - - +
*O DNA foi isolado pelo método fenol-clorofórmio.
Positividade da PCR para as duas oculares combinadas: 73,9%.
Positividade da hibridização para as duas oculares combinadas: 91,3%.
(+): positivo; (-): negativo.
68
Figura 7: Gel de agarose dos produtos de PCR referentes aos swabs conjuntivais da ocular direita
(D) dos cães do grupo 1.
Neste grupo (1) a extração de DNA foi realizada pelo método do fenol-clorofórmio. PM: padrão
de peso molecular - 25pb. CN: controle negativo sem DNA. CP: controle positivo para
L. chagasi
(MHOM/1973/BH46). D9-D16: Amostras de cães.
PM CN CP D9 D10 D11 D12 D13 D14 D15 D16
(pb)
100
125
69
Figura 8: Resultado de
dot blot com produtos de PCR referentes aos swabs conjuntivais dos cães
do grupo 1.
Os produtos de PCR foram hibridizados com sondas de minicírculos clonados de kDNA de
L.
chagasi
marcadas com
32
P. (+): Controle positivo: L. chagasi (MHOM/1973/BH46). (-): Controle
negativo sem DNA. CE: Conjuntiva esquerda. CD: Conjuntiva direita. 1-23: Amostras de cães.
CE
CD
70
5.2.2) PCR e hibridização para anel leucocitário
A partir da camada leucocitária (
buffy coat) dos cães do grupo 1, foram obtidas
positividades de 13% e 21,7% para a PCR e hibridização respectivamente. Os resultados
para cada cão são mostrados na TAB. 5.
Na FIG. 9 é mostrado um gel de agarose com resultados de PCR para os primeiros 8
cães analisados no grupo 1. Neste gel, o cão de número 6 apresentou resultado positivo.
O resultado geral da hibridização desses produtos de PCR pode ser visualizado na
FIG. 10. No total, cinco resultados positivos foram obtidos.
5.2.3) PCR e hibridização para sangue em papel filtro
Os resultados obtidos, a partir dos papéis filtros contaminados com sangue dos cães
do grupo 1, foram de 8,7% e 30,4% respectivamente para PCR e hibridização. Os
resultados para cada cão são descritos na TAB. 6.
Um gel de agarose representativo correspondente a parte do grupo 1 é mostrado na
FIG. 11. Nesse caso, foi verificada uma amplificação positiva (amostra 10).
Após a hibridização dos produtos de PCR, sete resultados positivos foram obtidos
(FIG. 12).
71
Tabela 5: Resultados da PCR e hibridização para anel leucocitário dos cães do grupo 1.
Cão PCR Hibridização
1 - -
2 - -
3 - -
4 - -
5 - -
6 + +
7 - +
8 - -
9 - -
10 - +
11 - -
12 - -
13 - -
14 - -
15 + +
16 + +
17 - -
18 - -
19 - -
20 - -
21 - -
22 - -
23 - -
(+): positivo; (-): negativo.
72
Figura 9: Gel de agarose dos produtos de PCR referentes ao anel leucocitário de cães do grupo
1.
PM: padrão de peso molecular - 25pb. CN: controle negativo sem DNA. CP: controle positivo
para
L. chagasi (MHOM/1973/BH46). 1-8: amostras de cães.
PM CN CP 1 2 3 4 5 6 7 8
(pb)
125
100
PM CN CP 1 2 3 4 5 6 7 8
(pb)
125
100
73
Figura 10: Resultado de dot blot com os produtos de PCR de anel leucocitário dos cães do
grupo 1.
Os produtos de PCR foram hibridizados com sondas de minicírculos clonados de kDNA de
L. chagasi marcadas com
32
P. (+): Controle positivo para L. chagasi (MHOM/1973/BH46).
(-): Controle negativo sem DNA. 1-23: Amostras de cães.
74
Tabela 6: Resultados da PCR e hibridização para papel
filtro contaminado com sangue dos cães do grupo 1.
Cão PCR Hibridização
1 - +
2 - +
3 - +
4 - -
5 - -
6 + +
7 - -
8 - -
9 - -
10 + +
11 - -
12 - +
13 - -
14 - -
15 - +
16 - -
17 - -
18 - -
19 - -
20 - -
21 - -
22 - -
23 - -
(+): positivo; (-): negativo.
75
Figura 11: Gel de agarose dos produtos de PCR referentes aos papéis filtros contaminados com
sangue de cães do grupo 1.
PM: padrão de peso molecular
- 25pb. CN: controle negativo sem DNA. CP: controle positivo para L.
chagasi (
MHOM/1973/BH46). 9-16: amostras de cães.
PMCNCP910111213141516
125
(pb)
76
Erro!
Figura 12: Resultado de dot blot com produtos de PCR obtidos a partir de papéis filtros
contaminados com sangue dos cães do grupo 1.
Os produtos de PCR foram hibridizados com sondas de minicírculos de kDNA de
L. chagasi
marcadas com
32
P. (+): Controle positivo para L. chagasi (MHOM/1973/BH46). (-): Controle
negativo sem DNA. 1-23: Amostras de cães.
77
5.3) Cães do grupo 2
5.3.1) PCR e hibridização para os swabs conjuntivais
O método da fervura foi utilizado para isolar o DNA das amostras obtidas pelo
swab
conjuntival dos cães do grupo 2. A partir desse tratamento, foram obtidas positividades para
PCR de 43,5% somente para a conjuntiva direita, 47,8% para a esquerda e 52,2%
combinando-se ambas as conjuntivas. Após a hibridização, foram observadas positividades
de 52,2% para a conjuntiva direita, 56,5% para a esquerda e 65,2% para as duas conjuntivas
combinadas. Os resultados de todos os indivíduos do grupo 2 são representados na TAB. 7.
A FIG. 13 apresenta um gel de agarose representativo para o grupo 2. Neste gel,
foram obtidos resultados positivos de PCR para os cães identificados por E9, E11 e E16.
No procedimento de hibridização, foram detectados 13 resultados positivos para a
conjuntiva esquerda e 12 para a direita conforme o resultado de
dot blot apresentado na
FIG. 14.
5.3.2) PCR e hibridização para anel leucocitário
No grupo 2, as positividades obtidas para PCR e hibridização a partir de anel
leucocitário foram 30,4% e 34,8% respectivamente. Os resultados para cada cão são
mostrados na TAB. 8.
Um gel de agarose representativo é mostrado na FIG. 15. Para as amostras
correspondentes aos cães de número 3, 5 e 7 foram obtidos resultados positivos para PCR.
Após à hibridização, foram observados 8 resultados positivos conforme a imagem
apresentada na FIG. 16.
78
Tabela 7: Resultados da PCR e hibridização para os swabs conjuntivais* dos cães do grupo 2.
Cão
Conjuntiva direita Conjuntiva esquerda
PCR Hibridização PCR Hibridização
1 - + + +
2
- - - -
3 + + + +
4 - - - -
5 + + + +
6 + + + +
7 + + + +
8 + + + +
9 + + + +
10
+ + - -
11 - - + +
12 - - - -
13 - + - -
14 - - - -
15 - - - -
16 + + + +
17 - - - -
18 - - - +
19 + + + +
20 - - - +
21 - - - -
22 + + + +
23 - - - -
*O DNA foi isolado pelo procedimento da fervura.
Positividade da PCR para as duas oculares combinadas: 52,2%.
Positividade da hibridização para as duas oculares combinadas:: 65,2%.
(+): positivo; (-): negativo
79
Figura 13: Gel de agarose dos produtos de PCR referentes aos
swabs conjuntivais da ocular
esquerda (E) de cães do grupo 2.
A extração de DNA foi realizada por fervura. PM: padrão de peso molecular - 25pb. CN: controle
negativo sem DNA. CP: controle positivo com DNA para
L. chagasi (MHOM/1973/BH46). E9-
E16: amostras de cães.
PM CN CP E9 E10 E11 E12 E13 E14 E15 E16
(pb)
125
100
PM CN CP E9 E10 E11 E12 E13 E14 E15 E16
(pb)
125
100
80
Figura 14: Resultado de
dot blot com produtos de PCR referentes aos swabs conjuntivais dos cães
do grupo 2.
Os produtos de PCR foram hibridizados com sondas de minicírculos de kDNA de
L. chagasi
marcadas com
32
P. (+): Controle positivo para L. chagasi (MHOM/1973/BH46). (-): Controle
negativo sem DNA. CE: Conjuntiva ocular esquerda. CD: Conjuntiva ocular direita. 1-23: Amostras
de cães.
CE
CD
81
Tabela 8: Resultados da PCR e hibridização para anel
leucocitário dos cães do grupo 2.
Cão PCR Hibridização
1 - -
2 - -
3 + +
4 - -
5 + +
6 - -
7 + +
8 - +
9 - -
10 + +
11 + +
12 - -
13 - -
14 - -
15 - -
16 - -
17 - -
18 - -
19 + +
20 - -
21 - -
22 + +
23 - -
(+): positivo; (-): negativo.
82
Figura 15: Gel de agarose dos produtos de PCR referentes ao anel leucocitário de cães do grupo 2.
PM: padrão de peso molecular - 25pb. CN: controle negativo sem DNA. CP: controle positivo para
L. chagasi (MHOM/1973/BH46). 1-8: amostras de cães.
PM CN CP 1 2 3 4 5 6 7 8
125
(pb)
100
PM CN CP 1 2 3 4 5 6 7 8
125
(pb)
100
83
Figura 16: Resultado de dot blot com produtos de PCR de anel leucocitário dos cães do grupo 2.
Os produtos de PCR foram hibridizados com sondas de minicírculos clonados de kDNA de
L.
chagasi
marcadas com
32
P. (+): Controle positivo para L. chagasi (MHOM/1973/BH46). (-):
Controle negativo sem DNA. 1-23: Amostras de cães.
84
5.3.3) PCR e hibridização para sangue em papel filtro
A partir das amostras de sangue em papel filtro para os cães do grupo 2, foram
obtidas positividades de 17,4% e 43,5% respectivamente para PCR e hibridização. Os
resultados para cada cão são descritos na TAB 9.
Um gel de agarose representativo é mostrado na FIG. 17. Nele, foram detectados
quatro resultados positivos de PCR correspondentes aos cães identificados pelos números
3, 5, 7 e 8.
Após a hibridização, dez resultados positivos foram observados de acordo com a
imagem que está representada na FIG. 18.
5.4) Síntese dos resultados referentes aos cães dos grupos 1 e 2
Os resultados da PCR seguida de hibridização referentes às conjuntivas esquerda e
direita de cada grupo foram mostrados na FIG 19. A combinação dos resultados de ambas
as conjuntivas aumentou sensibilidade do método. Os resultados gerais tanto de PCR
quanto da PCR seguida de hibridização para todas as amostras clínicas dos cães dos dois
grupos são sumarizados na FIG. 20.
85
Tabela 9: Resultados da PCR e hibridização para papel
filtro contaminado com sangue dos cães do grupo 2.
Cão PCR Hibridização
1 - -
2 - +
3 + +
4 - -
5 + +
6 - -
7 + +
8 + +
9 - +
10 - -
11 - -
12 - +
13 - +
14 - +
15 - -
16 - -
17 - -
18 - -
19 - -
20 - -
21 - -
22 - +
23 - -
(+): positivo; (-): negativo.
86
Figura 17: Gel de agarose dos produtos de PCR referentes aos papéis filtros contaminados com
sangue dos cães do grupo 2.
PM: padrão de peso molecular - 25pb. CN: controle negativo sem DNA. CP: controle positivo para
L. chagai (MHOM/1973/BH46). 1-8: Amostras de cães.
PM CN CP 1 2 3 4 5 6 7 8
(pb)
125
PM CN CP 1 2 3 4 5 6 7 8
(pb)
125
87
Figura 18: Resultado de dot blot com produtos de PCR obtidos a partir de papéis filtros
contaminados com sangue dos cães do grupo 2.
Os produtos de PCR foram hibridizados com sondas de minicírculos clonados de kDNA de
L.
chagasi
marcadas com
32
P. (+): Controle positivo para L. chagasi (MHOM/1973/BH46). (-):
Controle negativo sem DNA. 1-23: Amostras de cães.
88
Figura 19: Porcentagem de positividade da PCR seguida de hibridização para os
swabs
conjuntivais das oculares direita e esquerda dos cães de ambos os grupos.
Os números acima das barras indicam a porcentagem de positividade obtida. CD: conjuntiva direita:
CE: conjuntiva esquerda. Grupo 1: extração realizada pelo método do fenol-clorofórmio, Grupo 2:
extração realizada pela fervura.
73,9
52,2
56,5
91,3
65,2
91,3
0
20
40
60
80
100
Grupo 1 Grupo 2
Positividade (%)
CD CE CD + CE
89
Figura 20: Porcentagem de positividade para a PCR e PCR seguida de hibridização para as
amostras clínicas dos cães de ambos os grupos.
Os números acima das barras indicam a porcentagem da positividade obtida. SC:
swab conjuntival;
AL: anel leucocitário; PF: papel filtro. Grupo 1: extração realizada pelo método do fenol-
clorofórmio a partir de SC. Grupo 2: extração realizada pela fervura a partir de SC.
73,9
13
8,7
52,2
30,4
17,4
91,3
21,7
30,4
65,2
34,8
43,5
0
20
40
60
80
100
SC AL PF SC AL PF
Grupo 1 Grupo 2
Positividade (%)
PCR Hibridização
90
Todos os animais do grupo controle foram submetidos aos mesmos tratamentos
adotados para os cães dos grupos 1 e 2 e apresentaram resultados negativos para todos os
testes feitos.
5.5) Análise estatística
O Teste Exato de Fisher foi utilizado neste trabalho para a análise estatística. De
acordo com os critérios desse teste, os métodos ou tratamentos adotados para obtenção de
amostras dos cães foram analisados dois a dois dentro de cada grupo (SIEGEL;
CASTELLAN, 2006). Dessa forma, foi averiguado se houve ou não diferença estatística
significativa entre os resultados finais após a hibridização provenientes de cada tratamento.
5.5.1) Grupo 1
De acordo com os dados disponíveis e a análise estatística empregada, houve
diferença estatisticamente significativa entre os resultados positivos oriundos dos
tratamentos envolvendo
swabs e anel leucocitário (p<0,05) (TAB. 10).
A partir da análise dos resultados provenientes dos métodos envolvendo
swabs e
sangue em papel filtro, chegou-se à conclusão de que ambos diferem entre si. Assim, o total
de resultados positivos oriundos do tratamento com
swabs foi estatisticamente distinto do
total de resultados positivos referentes ao tratamento com sangue em papel filtro (p<0,05)
(TAB. 11). Por fim, não houve diferença estatística significativa entre os resultados
positivos dos tratamentos envolvendo anel leucocitário e sangue em papel filtro. (TAB. 12).
91
Tabela 10: Análise estatística das positividades da PCR seguida de hibridização referentes aos
tratamentos envolvendo
swabs e anel leucocitário para cães do grupo 1.
Tratamento
Resultados da hibridização
Total
(+) (-)
Swabs
(fenol-clorofórmio)
21
a
2 23
Anel leucocitário
5
b
18 23
Total
26 20 46
a,b
Letras diferentes numa mesma coluna demonstram diferença estatística
significativa para p<0,05 pelo Teste Exato de Fisher.
Tabela 11: Análise estatística das positividades da PCR seguida de hibridização referentes aos
tratamentos envolvendo
swabs e papel filtro contaminado com sangue para cães do grupo 1.
Tratamento
Resultados da hibridização
Total
(+) (-)
Swabs
(fenol-clorofórmio)
21
a
2 23
Sangue em papel filtro
7
b
16 23
Total
28 18 46
a,b
Letras diferentes numa mesma coluna demonstram diferença estatística
significativa para p<0,05 pelo Teste Exato de Fisher.
Tabela 12: Análise estatística das positividades da PCR seguida de hibridização referentes aos
tratamentos envolvendo anel leucocitário e papel filtro contaminado com sangue para cães do grupo
1.
Tratamento
Resultados da hibridização
Total
(+) (-)
Anel leucocitário
5
a
18 23
Sangue em papel filtro
7
a
16 23
Total
12 34 46
a
Letras iguais numa mesma coluna demonstram equivalência para p<0,05 pelo
Teste Exato de Fisher.
92
5.5.2) Grupo 2
A primeira análise estatística para o grupo 2 foi feita com base nos tratamentos
envolvendo
swabs e anel leucocitário. A partir do confronto entre os dados obtidos destes
procedimentos, houve diferença estatística significativa entre as positividades de cada um
deles (p<0,05) (TAB. 13).
Para os dados referentes aos tratamentos com
swabs e sangue em papel filtro, não
houve diferença estatisticamente significativa entre os resultados positivos observados para
cada um deles. (TAB. 14).
O mesmo tipo de inferência foi obtido em relação aos tratamentos com anel
leucocitário e sangue em papel filtro. Assim, houve igualdade entre os resultados positivos
oriundos desses dois tipos de amostra não ocorrendo diferença estatisticamente significativa
entre eles (TAB. 15).
93
Tabela 13: Análise estatística das positividades da PCR seguida de hibridização referentes aos
tratamentos envolvendo
swabs e anel leucocitário para cães do grupo 2.
Tratamento
Resultados da hibridização
Total
(+) (-)
Swabs (fervura)
15
a
8 23
Anel leucocitário
8
b
15 23
Total
23 23 46
a,b
Letras diferentes numa mesma coluna demonstram diferença estatística
significativa para p<0,05 pelo Teste Exato de Fisher.
Tabela 14: Análise estatística das positividades da PCR seguida de hibridização referentes aos
tratamentos envolvendo
swabs e papel filtro contaminado com sangue para cães do grupo 2.
Tratamento
Resultados da hibridização
Total
(+) (-)
Swabs (fervura)
15
a
8 23
Sangue em papel filtro
10
a
13 23
Total
25 21 46
a
Letras iguais numa mesma coluna demonstram equivalência para p<0,05 pelo
Teste Exato de Fisher.
Tabela 15: Análise estatística das positividades da PCR seguida de hibridização referentes aos
tratamentos envolvendo anel leucocitário e papel filtro contaminado com sangue para cães do grupo
2.
Tratamento
Resultados da hibridização
Total
(+) (-)
Anel leucocitário
8
a
15 23
Sangue em papel filtro
10
a
13 23
Total
18 28 46
a
Letras iguais numa mesma coluna demonstram equivalência para p<0,05 pelo
Teste Exato de Fisher.
94
6) DISCUSSÃO
95
A PCR tem sido amplamente utilizada para o diagnóstico de várias doenças
infecciosas. Para as leishmanioses, tem sido particularmente recomendada devido às
limitações dos métodos convencionais (IKONOMOPOULOS,
et al., 2003; GOMES, et al.,
2006) e à necessidade da confirmação do parasita, o que justifica a utilização desta técnica.
A aplicação da PCR para o diagnóstico da LV canina é bastante promissora uma vez
que essa técnica permite a obtenção rápida de resultados e apresenta alta sensibilidade e
especificidade (ALVAR,
et al., 2004), (GOMES, et al., 2007). Existem diversos estudos
nos quais foram feitas comparações entre diferentes técnicas de diagnóstico para
leishmaniose e a PCR tem se destacado como um método que permite aumentar a
sensibilidade de detecção da LV canina superando as técnicas tradicionais.
Ashford
et al. (1995) compararam a PCR com sorologia (FAST-ELISA) no
diagnóstico da LV canina. Seus resultados mostraram que esse teste molecular foi mais
sensível e específico o que levou ao questionamento da utilização da sorologia para detectar
a infecção em cães. A PCR também se mostrou superior às técnicas de cultura e inoculação
em hamster, e foi apontada como uma melhor alternativa para diagnosticar a infecção por
Leishmania.
Berrahal
et al. (1996) investigaram a capacidade da PCR em identificar o parasita
em cães assintomáticos a partir de biópsias de conjuntiva e de pele. Para isso, compararam
esse teste molecular com procedimentos tradicionais de diagnóstico sorológico. Seus
resultados mostraram que a maioria dos cães avaliados estava contaminada e a PCR foi
mais sensível na detecção de animais infectados assintomáticos do que os testes sorológicos
investigados nesse estudo.
Roura; Sanchez e Ferrer, (1999) também mostraram ser a PCR um método
altamente sensível e específico para o diagnóstico da LV canina. Neste caso, foram
96
utilizadas amostras de medula óssea para o teste. Estes autores confirmaram inclusive a
permanência de infecção em cães após seis meses de tratamento o que corrobora o
potencial da PCR para monitoração de animais infectados.
Moreira
et al. (2007) também obtiveram bons resultados para PCR num estudo
comparativo que incluiu procedimentos parasitológicos, imunológicos e sorológicos na
detecção de
Leishmania em cães. A partir dos resultados obtidos, esses autores cogitaram a
possibilidade de que a PCR possa ser adotada como um padrão ouro para o diagnóstico da
LV canina.
Para a amplificação do DNA do parasita, foram utilizados neste trabalho,
primers
endereçados para a região conservada dos minicírculos de kDNA. A reação é positiva para
todas as espécies do gênero
Leishmania. A hibridização dos produtos de PCR com sondas
de minicírculos clonados de
L. chagasi marcadas com
32
P foi adotada para aumentar a
sensibilidade e a especificidade do teste. Degrave,
et al. (1994) destacam a importância do
uso complementar da hibridização uma vez que essa técnica confirma os resultados da PCR
e permite a identificação do subgênero.
Silva,
et al. (2001c) mostraram que a associação da PCR com a hibridização com
sondas marcadas com
32
P é altamente sensível para o diagnóstico da LV canina. Nesse
caso, foi demonstrado que a combinação dessas técnicas permitiu um aumento na
sensibilidade do teste sendo possível inclusive detectar infecção em cães negativos por
sorologia.
Inicialmente, neste trabalho, foi avaliada a sensibilidade de detecção da PCR e
hibridização a partir de
swabs contaminados artificialmente com diferentes números de
células promastigotas de
L. chagasi. Diferentes métodos de extração de DNA foram
testados e, dentre eles, o procedimento de fenol-clorofórmio apresentou a melhor eficiência,
97
permitindo a detecção de até 1,0 parasita na reação de PCR. Esta sensibilidade leva a crer
que a combinação da PCR com a técnica de fenol-clorofórmio possa ser uma boa opção
para testes de diagnóstico baseados na utilização de
swab.
O processo complementar de hibridização confirmou os resultados da PCR e
incrementou a sensibilidade do teste permitindo a obtenção de mais dois resultados
positivos: 10 parasitas para o método de fervura e 1,0 célula para o kit Wizard® (FIG. 6).
Com isso, foi possível um aumento de até 10 vezes na sensibilidade o que reitera a
relevância da hibridização em experimentos de detecção de DNA de
Leishmania.
Com base nesses resultados, os métodos de fenol-clorofórmio e de fervura foram
escolhidos para serem testados nas amostras colhidas por
swab conjuntival em cães
soropositivos. A alta sensibilidade do primeiro procedimento e a praticidade do segundo
foram levados em consideração para essa escolha.
Os cães utilizados nesse estudo apresentaram sintomas clínicos sugestivos para LV
além de positividade para os testes de RIFI, ELISA e fixação de complemento. Segundo
Dietze (2005), um resultado positivo de RIFI em um cão clinicamente suspeito assume
grande relevância e praticamente confirma o diagnóstico do calazar. Esse critério foi então
utilizado na seleção dos cães.
A partir dos resultados obtidos do experimento desenvolvido com estes animais,
comprovou-se novamente um aumento da sensibilidade de detecção com o uso
complementar da hibridização o que está em concordância com o teste de contaminação
artificial de
swabs. A hibridização garantiu também a especificidade do teste. Para todas as
amostras clínicas dos cães de ambos os grupos, a combinação da hibridização com a PCR
apresentou positividades superiores aos resultados obtidos apenas com o ensaio de PCR
(FIG. 20). Uma outra vantagem oferecida pela hibridização é sua capacidade de
98
discriminação entre os subgêneros de Leishmania, uma vez que as sondas de minicírculos
clonadas utilizadas neste método são subgênero específicas (DEGRAVE
et al., 1994). Este
dado associado com informações epidemiológicas locais permite identificar a espécie
de
Leishmania envolvida. Isso se torna especialmente importante nos estudos em áreas nas
quais ocorrem simultaneamente espécies pertencentes aos subgêneros
Viannia e
Leishmania, como em Belo Horizonte, onde cães já foram encontrados infectados também
com
Leishmania (Viannia) braziliensis (ANDRADE, et al., 2006).
De todos os métodos adotados para coleta de amostras dos cães soropositivos do
grupo 1, a técnica de
swab conjuntival permitiu melhor desempenho. A partir dela, obteve-
se a positividade mais alta para PCR e para a hibridização: 73,9% e 91,3% respectivamente.
Neste grupo, o processo de extração de DNA utilizado foi o de fenol-clorofórmio e sua
maior eficiência obtida no estudo com os cães foi coerente com o experimento de
contaminação artificial de
swabs. A positividade da PCR seguida de hibridização obtida do
tratamento com
swabs conjuntivais foi superior em 69,6% e em 60,9% àquelas obtidas do
anel leucocitário e de sangue em papel filtro respectivamente. Com a análise estatística
realizada a partir desses dados, verificou-se que esses desvios foram altamente
significativos com p<0,01.
Outros trabalhos também demonstraram resultados significativos para o diagnóstico
molecular da LV canina utilizando, porém, processos invasivos de amostragem. Reale,
et
al. (1999) evidenciaram uma alta sensibilidade e especificidade da PCR realizada a partir
de aspirados de linfonodo e comprovaram que o teste de RIFI forneceu resultados falsos
negativos para cães. Manna,
et al. (2004) obtiveram um resultado similar ao demonstrarem
que a PCR realizada a partir de amostras de sangue, pele e linfonodo foi mais sensível do
que a técnica de RIFI.
99
Andrade et al. (2006) investigaram a presença de Leishmania em cães por PCR a
partir de amostras de fígado, baço, linfonodo, medula óssea e pele. Esse teste molecular foi
considerado mais eficiente do que os procedimentos de microscopia óptica e sorologia
(RIFI). Esses autores discutem também que a PCR pode auxiliar a determinar a extensão de
infecções sub-clínicas em áreas endêmicas para a LV canina e fornecer uma melhor
estimativa do número de cães contaminados.
Por outro lado, Solano-Gallego
et al., (2001), demonstraram que a PCR realizada a
partir de biópsias de conjuntiva de cães foi mais sensível do que aquela realizada a partir da
utilização de amostras de medula óssea.
No grupo 2, a maior freqüência de resultados positivos tanto de PCR quanto de
hibridização foi também obtida pelo
swab conjuntival: 52,2 % e 65,2% respectivamente.
Nesse caso, o método de fervura foi utilizado para isolar o DNA. A positividade da
hibridização seguida de PCR obtida desse tratamento foi superior em 30,4% e 21,7% em
relação aos resultados referentes ao anel leucocitário e sangue em papel filtro
respectivamente.
No entanto, o resultado final referente ao esfregaço conjuntival neste grupo foi
estatisticamente distinto apenas em relação àquele proveniente do tratamento envolvendo
anel leucocitário (p<0,05). Quando a comparação foi feita entre o
swab conjuntival e o
tratamento de sangue em papel filtro, houve igualdade estatística entre os resultados. Esses
dados sinalizam que o processo de fervura para isolamento de DNA é mais limitado.
Porém, esse procedimento é de baixo custo, rápido e muito mais simples do que o método
de fenol-clorofórmio.
Lachaud,
et al. (2001) perceberam empiricamente que a realização da fervura de
amostras de sangue humano seguida da extração de DNA por fenol-clorofórmio aumentou
100
a sensibilidade de ensaios de PCR. Marques, et al. (2001), num estudo de diagnóstico da
leishmaniose cutânea por PCR, mostraram que o processo de fervura de papéis
impregnados com biópsias de pele foi eficiente para a extração de DNA. Os resultados de
PCR daí obtidos foram estatisticamente equivalentes àqueles resultantes de processos
enzimáticos mais laboriosos de purificação, o que levou esses autores a recomendarem a
utilização do processo de fervura para esse tipo de experimento.
É possível que o processo de extração de DNA por fervura possa oferecer melhores
resultados a partir de algumas modificações. Um exemplo seria o aumento da amostra de
DNA purificado para o ensaio de PCR, pois apenas 1,0µL de preparação de DNA foi
utilizado neste trabalho. Outra opção poderia ser a realização da
Nested PCR a partir da
qual os
amplicons gerados são novamente amplificados, aumentando a sensibilidade do
teste.
Foi observado neste estudo que, a partir da combinação dos resultados de ambas as
conjuntivas foi possível aumentar a sensibilidade do diagnóstico (FIG. 19). Por isso,
recomenda-se fortemente este procedimento. Strauss-Ayali
et al. (2004) também
observaram a importância dessa combinação uma vez que ela permitiu uma maior
sensibilidade.
O uso do
swab conjuntival apresenta importantes vantagens, pois é um método fácil
e rápido além de ser um procedimento não invasivo de amostragem. Isso é muito
importante para diminuir a resistência dos proprietários dos cães em permitir coleta de
amostras e a realização de exames. O material coletado por
swab conjuntival é também
facilmente armazenado e não necessita de cuidados mais laboriosos como ocorre com as
amostras de sangue. Isso pode ser útil para trabalhos de campo e estudos epidemiológicos
em maior escala.
101
Neste trabalho, os resultados obtidos a partir da técnica de swab conjuntival foram
comparados com aqueles referentes às amostras de sangue. O processo de coleta sangüínea
é considerado não invasivo quando comparado às formas tradicionais de amostragem
(LACHAUD,
et al., 2002b). Neste estudo, foram evitadas formas invasivas de coleta de
amostras como aspirados de linfonodo ou medula óssea.
Diferentes estudos envolvendo a utilização de sangue periférico para o diagnóstico
da LV canina por PCR têm apresentado resultados conflitantes. Alguns autores mostraram
boa sensibilidade a partir desse material (MANNA,
et al., 2004; LACHAUD, et al., 2002a).
Entretanto, outros trabalhos evidenciaram que o sangue canino não é uma boa fonte de
DNA de
Leishmania (REALE, et al., 1999; SILVA, et al., 2006), tendo sido relatados
problemas associados à extração de DNA, presença de inibidores (LACHAUD,
et al.,
2002b) e oscilação da positividade da PCR em função do tempo de infecção (STRAUSS-
AYALI,
et al., 2004).
As amostras de sangue utilizadas neste trabalho, anel leucocitário e papel filtro,
forneceram as menores positividades de PCR e hibridização. Esses resultados foram
significativamente diferentes daqueles obtidos do tratamento com
swab conjuntival no
grupo 1 (p<0,01). As positividades obtidas a partir de anel leucocitário foram
inesperadamente baixas apesar do uso de um kit comercial já padronizado para extração de
DNA. Nesse caso, as células mononucleares foram obtidas de 1,0 mL de sangue e
coagulações foram detectadas em algumas amostras apesar de elas terem sido
homogeneizadas e armazenadas em tubos com anticoagulante EDTA. Isso provavelmente
comprometeu a qualidade do sangue e do DNA daí purificado influenciando nos resultados
finais. Trinta por cento das amostras relativas ao anel leucocitário consideradas negativas
102
para PCR foram contaminadas artificialmente com DNA de Leishmania. Desse total, 25%
não foram amplificadas o que indicou presença de inibidores.
A ocorrência de bandas espúrias foi recorrente em todos os géis relativos às
amostras do anel leucocitário. Isso dificulta a interpretação dos resultados e leva a
conclusões errôneas se a análise for feita apenas pelo gel de agarose. Neste estudo, a
hibridização confirmou a ausência de DNA de
Leishmania em boa parte das amostras que
demonstraram resultado duvidoso no gel de agarose.
Lachaud
et al., (2002b) também evidenciaram o problema da ocorrência de bandas
inespecíficas provenientes de amostras de sangue canino. Por isso, recomendam o uso da
hibridização com sondas específicas para evitar interpretações equivocadas. Segundo estes
autores, a utilização de sangue canino forneceu resultados insatisfatórios e isso estaria
relacionado não somente à presença de inibidores, mas também ao pouco conhecimento
disponível sobre a dinâmica da parasitemia em cães infectados.
Os resultados deste trabalho indicaram que o
swab conjuntival associado com a
extração de DNA por fenol-clorofórmio, é uma ferramenta útil para o diagnóstico da LV
canina por PCR-hibridização para cães sintomáticos. Esta é uma técnica de amostragem
não invasiva e prática e apresentou alta sensibilidade. Esta metodologia possui um grande
potencial para auxiliar a sondagem de cães imunossuprimidos ou vacinados uma vez que os
testes sorológicos tradicionais não são indicados para estes casos.
Estudos adicionais são ainda necessários para explorar todo o potencial da técnica
de
swab conjuntival e um aspecto importante a ser avaliado é a sensibilidade dessa técnica
para cães assintomáticos. Uma boa sensibilidade para o diagnóstico em cães sem sintomas
tornaria o
swab conjuntival a primeira opção para o diagnóstico da LV canina por PCR-
hibridização.
103
7) CONCLUSÕES
104
Dentro do contexto experimental deste trabalho, conclui-se que:
¾ A técnica de fenol-clorofórmio se mostrou mais eficiente para purificar DNA a
partir de
swabs contaminados artificialmente com células de L. chagasi.
¾ A hibridização com sondas de minicírculos clonados de L. chagasi marcadas com
32
P aumentou a sensibilidade de detecção e garantiu a especificidade da técnica.
¾ O swab conjuntival associado com o método de fenol-clorofórmio para extração de
DNA apresentou os melhores resultados para o diagnóstico da LV canina por PCR -
hibridização em cães sintomáticos soropositivos.
¾ A extração de DNA por fervura a partir do swab conjuntival se mostrou mais
limitada, porém ainda é passível de melhoramentos e deve ser considerada pela sua
praticidade e baixo custo.
¾ A combinação da análise de ambas as conjuntivas dos cães é recomendada para
aumentar a sensibilidade da metodologia.
¾ As amostras clínicas de anel leucocitário e sangue em papel filtro não foram
adequadas para o diagnóstico da LV canina.
¾ O swab conjuntival associado com o método de extração de DNA por fenol-
clorofórmio é adequado para o diagnóstico molecular da LV canina em cães
sintomáticos.
105
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WORLD HEALTH ORGANIZATION. Weekly epidemiological record, v. 77, n. 44, p.
365-372. 2002b
.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Contém informações institucionais, notícias
técnicas, publicações, projetos e serviços. Disponível em
<www.who.int/topics/leishmaniasis/en/
>. Acesso em 19/02/2007.
113
ANEXOS
AXEXO A: Artigo publicado
114
115
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117
118
119
120
ANEXO B: Aprovação do Comitê de Ética em Experimentação Animal (CETEA-
UFMG).
XV
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