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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM - MESTRADO
LÍLIAN MOREIRA DO PRADO
CUIDADOS DE ENFERMAGEM SOB A ÓTICA DE CLIENTES EM PÓS-
OPERATÓRIO DE CIRURGIA CARDÍACA
Rio de Janeiro
2007
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LÍLIAN MOREIRA DO PRADO
CUIDADOS DE ENFERMAGEM SOB A ÓTICA DE CLIENTES EM PÓS-
OPERATÓRIO DE CIRURGIA CARDÍACA
Relatório final de dissertação apresentado À Banca
Examinadora do Programa Pós-Graduação em Enfermagem
Mestrado da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro, como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Enfermagem.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Kaneji Shiratori.
Rio de Janeiro
2007
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LÍLIAN MOREIRA DO PRADO
CUIDADOS DE ENFERMAGEM SOB A ÓTICA DE CLIENTES EM PÓS-
OPERATÓRIO DE CIRURGIA CARDÍACA
Relatório final da Dissertação apresentada à banca examinadora do Programa de Mestrado em
Enfermagem na linha de Pesquisa “o cotidiano da prática de cuidar e se cuidado” da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO como requisito para a obtenção do
título de Mestre em Enfermagem.
Aprovada em ___ de _______ de 2007.
Banca Examinadora
______________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Kaneji Shiratori
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – Presidente
______________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Deyse Conceição Santoro
Universidade Federal do Rio de Janeiro - 1ªexaminadora
______________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Nébia Maria Almeida de Figueiredo
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - 2ª examinadora
______________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Leila Milman
Hospital Naval Marcílio Dias -3ª examinadora
______________________________________________________________________
Prof. Dr.Roberto Carlos Lyra da Silva
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro- 4ª examinador
Agradecimentos
À Deus por me dar forças para a realização desse trabalho.
À minha família pela compreensão, pela paciência e pelo estímulo.
À minha orientadora Kaneji pela paciência, pelo carinho, pela determinação, pela competência e
simplicidade.
Aos meus amigos, em especial, Tereza pelas orientações e Vera por me conceder tempo, para a
realização dessa dissertação.
Aos clientes hospitalizados no pós-operatório de cirurgia cardíaca, pelas entrevistas concedidas,
mesmo em seus momentos de maior fragilidade, entenderam a importância dessa pesquisa.
À todos os funcionários do pós-operatório do Instituto Nacional de Cardiologia que contribuíram
direta ou indiretamente para a realização da pesquisa.
Título da dissertação: Cuidados de enfermagem sob a ótica de clientes em pós-
operatório de cirurgia cardíaca.
Resumo
Este estudo exploratório-descritivo vincula-se à linha de pesquisa “o cotidiano da prática de
cuidar e ser cuidado e apresenta, como objeto de estudo, o entendimento do cliente sobre o
cuidado de enfermagem em uma unidade de pós-operatório de cirurgia cardíaca”. Emergiu das
angústias, dos questionamentos e das reflexões desenvolvidas durante as minhas experiências
profissionais em unidade de pós-operatório de cirurgia cardíaca. Apresenta como objetivos:
caracterizar o entendimento dos clientes submetidos à cirurgia cardíaca sobre os cuidados de
enfermagem em uma unidade de pós-operatório adulto e discutir as ações de cuidar em
enfermagem originárias dos depoimentos de clientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca. A
metodologia fundamentou-se na abordagem qualitativa; a produção dos dados foi
operacionalizada pela cnica da entrevista e suas análises e pela discussão a partir da análise
temática, que visa descobrir as unidades de significação, os temas que contêm uma comunicação,
demonstrando algo, dando um sentido ao objeto proposto.Duas categorias de análise foram
formadas: Cuidado de enfermagem : da objetividade à sensibilidade e ambiente e cliente: numa
relação de cuidado. Os resultados apontam que a enfermagem forma um grupo de profissionais
que apresenta preocupações com os elementos subjetivos do cuidado, além dos sinais que são
apresentados pelos equipamentos e resultados laboratoriais, ou seja, os eminentemente técnicos.
O cuidado deve ser qualificado, seguro, responsável; revestido de amor, carinho, paciência,
preocupação, delicadeza, dedicação e orientação; deve minimizar a dor e o sofrimento; deve ser
ético e estético; objetivo revestido de subjetividade; e comprometido com a vida. Apesar de
verificar-se que o ambiente da unidade de terapia intensiva, apresenta-se como um local onde se
fomenta o modelo biomédico de cuidado, a subjetividade com todas nuance da sensibilidade,
emerge da relação dos atores desse cenário profissionais e clientes. Pois, pode parecer simples,
mas a atenção ao gemido, a preocupação com o excesso de luminosidade e o barulho, tornam a
dimensão objetiva do cuidado em dimensão subjetiva, ela que revestida daquilo que não
percebemos no concreto, não conseguimos mensurar em quantidade, mas certamente, o fazemos
na busca de resultados que evidenciem a qualidade final do cuidado em enfermagem objetivo,
subjetivo, estético e ético/bioético.
Palavras-chave: cuidado de enfermagem. cirurgia cardíaca. pós-operatório.
Dissertation Title: Nursing care from the point of view of cardiac surgery post-
operatory clients.
Abstract
This descriptive-exploratory study binds to the line of research of the daily practice of watching
and being watched and presents as subject matter the understanding of the client about the
nursing care in post-operatory units for cardiac surgery. It emerged from the anguish, questioning
and observation developed during my professional experience in post-operatory units for cardiac
surgery. The objectives are: characterize the understanding of clients who undergo cardiac
surgery about the nursing care in post-operatory units for adults and debate the care actions in
nursing originated from the testimony of clients in post-operatory cardiac surgery. The
methodology was based on the qualitative approach; the data production was implemented
through the interview technique and its analysis and deliberation from the thematic analysis,
which aims to reveal the signification units, the themes that contain communication, showing
something, a meaning to the proposed subject. Two analysis categories were formed: Nursing
Care: from objectivity to sensibility and Setting and Client: a caring relationship. The results
indicate that Nursing trains a group of professionals who worry about subjective elements of
caring, beyond the signs that are presented by the equipments and lab results, i.e. the notably
technical ones. The caring shall be qualified, safe, responsible, covered with love, affection,
patience, solicitude, delicacy, dedication and guidance; it shall minimize the pain and suffering, it
shall be ethical and tasteful; subject covered with subjectivity; and commitment to life. Even
though it has been noted that the setting of the intensive care unit presents itself as a place where
the biomedical model for care is promoted, the subjectivity with all the layers of sensitivity rise
from the relationship of the “actors” in this setting professionals and clients. For it may seem
simple, but the attention to the moan, the concern about too much light and noise, turn the
objective dimension of the care into subjective dimension of the care, which is covered with
something not concretely perceived, not measured in quantity, but is certainly done in results that
highlight the final quality of nursing care – objective, subjective, aesthetic and ethical/bioethical.
Keywords: nursing care. cardiac surgery. post-operatory.
SUMÁRIO
I-Introdução. ................................................................................................ 07
Problematização ............................................................................................... 09
QuestõesNorteadoras ............................................................................................... 12
Objetivos .............................................................................................. 12
Contribuições do estudo .............................................................................................. 13
II- BasesTeóricas. ............................................................................................... 14
Percorrendo os caminhos do cuidado............................................................................ 14
Descobrindo os cuidados de enfermagem no pré, trans e pós-operatório de cirurgia
cardíaca...Um universo de grandes ações ................................................................... 20
III- Trajetória Metodológica ..................................................................................... 32
IV- Análise e discussão dos dados
Categoria 1 – Cuidado de enfermagem : Da objetividade à sensibilidade ................ 39
Categoria 2 – Ambiente e cliente: numa relação de cuidado ..................................... 48
V- Considerações Finais.............................................................................................. 58
Referências. ................................................................................................................. 62
Apêndice A- Roteiro de entrevista para os clientes submetidos à cirurgia cardíaca,
hospitalizados em uma unidade de pós-operatório adulto.............................................. 69
Apêndice B- Cronograma de atividades..................................................................... 70
Apêndice C- Termo de consentimento livre e esclarecido......................................... 71
Apêndice D- Carta de esclarecimento e consentimento aos profissionais de saúde
da unidade ..................................................................................................................... 72
7
1 - Introdução
Trata-se de um estudo exploratório-descritivo que se vincula à linha de pesquisa o
cotidiano da prática de cuidar e ser cuidado e apresenta como objeto de estudo o entendimento
do cliente sobre o cuidado de enfermagem em uma unidade de pós-operatório de cirurgia
cardíaca.”
O recorte do objeto deste estudo emergiu das angústias, dos questionamentos e das
reflexões desenvolvidas a partir de minhas experiências profissionais em unidades de pós-
operatório de cirurgia cardíaca.
Ao longo dos sete anos de minha trajetória profissional tive experiências marcantes,
dentre as quais aquela obtida após o término da graduação quando ingressei no Curso de
Especialização em Enfermagem nos Moldes de Residência, pela Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro no ano de 2000.
Minha primeira atuação como residente (R1) foi em um hospital universitário e, como tal
recebia, com freqüência, acadêmicos, internos e residentes. Uma experiência gratificante, pois
desenvolvi, diariamente, durante um período aproximado de um ano, ações de cuidar na rotina de
uma clínica médica e de uma clínica cirúrgica. Esse contexto muito contribuiu para o meu
aprendizado, pois sendo iniciante na profissão, estava sempre disposta a aprender. Assim, as
indagações e as dúvidas durante a realização de cuidados, surgiam a todo o momento sendo
prontamente esclarecidas pelos profissionais que ali trabalhavam, e que muito contribuíram para
o meu crescimento como enfermeira.
No segundo ano de residência foi necessária minha mudança de instituição para
desenvolver e conhecer novos cenários da prática. Terminado o processo de escolha fui
encaminhada para um hospital federal na cidade do Rio de Janeiro especializado em cardiologia e
com perfil eminentemente cirúrgico. Era o momento de conhecer a dinâmica que envolvia as
unidades de terapia intensiva cirúrgica (adulto e infantil), unidade coronariana e centro cirúrgico.
Rapidamente me encantei com tudo. O ambiente apresentava-se bem organizado, havia uma
adequada estrutura física e operacional, muitos profissionais exerciam suas atividades técnico-
científicas. Dentre estas unidades, algumas estavam em reforma com o objetivo de aumentar e
aperfeiçoar a oferta de serviços e possibilidade de acesso a eles, sem perder de vista a qualidade
da assistência.
8
Ao ser escalada para a unidade de pós-operatório de cirurgia cardíaca, fiquei impactada,
receosa, pois era nova a experiência de cuidar de clientes tão complexos e instáveis na sua
evolução.
O temo complexo (ou complexidade) é muito utilizado no senso comum, quando
queremos dar a conotação de dificuldade, incerteza, complicação ou a união de vários elementos.
Ribeiro (2005) define senso comum como sendo um “conjunto de opiniões tão geralmente aceitas
em época determinada que as opiniões contrárias apareçam como aberrações individuais.” Ou
seja, o senso comum varia de acordo com o conhecimento relativo alcançado pela maioria em
determinado período histórico.
Ao caracterizar a unidade de terapia intensiva e os clientes que nela estejam
hospitalizados, o termo complexo é vastamente empregado. Etimologicamente, a palavra
complexo deriva de fechos, que significa: entrelaçado ou foi tecido em conjunto. Assim, tal termo
nos remete à idéia de junção, de todo, ou seja, o cliente possuidor de aspectos biológicos, em
conjunto com mente, alma, subjetividade, emoções e desejos. (PORTO et al, 2006).
Num âmbito maior a saúde pode ser entendida como um fenômeno complexo, que
envolve aspectos físicos, psicológicos e sociais. (CAPRA, 1982).
Edgar Marin (1990) vê na complexidade um desafio, com incertezas, contradições e
imperfeições. É a ordem e a desordem. Por um lado um mundo empírico, da incerteza, da
incapacidade de estar seguro de tudo, de formular uma lei, de conceber uma ordem absoluta e por
outro lado, algo de lógico, da incapacidade de evitar as contradições. A essência da complexidade
é a impossibilidade de homogeinezar e de reduzir.
Morin (1996) complementa dizendo que “há complexidade onde quer que se produza um
emaranhamento de ações, de interações, de retroações.” Assim, é a unidade de terapia intensiva
reconhecida por inúmeras ações e práticas, em seu cotidiano, além de atuar como palco de
interação entre profissionais/ cliente/ família, numa tentativa maior de promover a vida.
A unidade de terapia intensiva para a qual fui escalada era composta de sete leitos de pós-
operatório imediato e quatro leitos de pós-operatório tardio e com uma diversidade de
equipamentos e materiais, que constituíam a mim como desafios, pois eu devia me apropiar deles
rapidamente. A equipe era constituída de vários enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos,
além de nutricionistas e assistente social, todos qualificados para atender a essa clientela.
9
Destaco, em especial, o carinho da enfermeira responsável pela unidade, pessoa de grande caráter
e experiência, sempre encantando com sua simplicidade.
Impressiona-me, até hoje a imagem que ficou do primeiro cliente para o qual fui escalada
no pós-operatório imediato, pois ele encontrava-se envolvido em um aparato de fios
interconectados a uma diversidade de aparelhos, cateteres, sondas, tubo endotraqueal, drenos,
coletor de diurese, bombas infusoras com medicações. Diante do impacto da cena , emergiu o
seguinte questionamento: O que fazer e por onde começar?
A recepção do cliente, envolvia um intenso movimento que, enquanto o ato cirúrgico e as
suas intercorrências eram relatadas, a equipe do pós-operatório e os profissionais de enfermagem,
rapidamente, de forma sincronizada, monitorizavam o cliente, acoplavam-o à prótese ventilatória;
os drenos eram demarcados e, a partir daí, iniciava-se uma intensa rotina na checagem dos sinais
vitais (frequência cardíaca, temperatura, pressão arterial média, pressão venosa central,
frequência respiratória.), diurese, débito dos drenos, administração de medicações. A atuação da
equipe era intensa e tudo era monitorizado, a fim de avaliar a evolução clínica do cliente e
detectar com antecedência eventuais complicações. Naquele momento, percebi que era ali o local
onde deveria continuar meu trabalho.
Com o processo de conclusão da residência, recebi o convite para permanecer no hospital
como enfermeira plantonista. Rapidamente fui transferida para o pós-operatório adulto e em
pouco tempo nos mudamos para a unidade que acabara de ser construída, onde passamos a
atender vinte leitos de pós-operatório de cirurgia cardíaca adulto. Este fato proporcionou uma
grande modificação na rotina, sendo necessária a contratação de novos profissionais para compor
a equipe de enfermagem, na qual os funcionários mais antigos dividiam suas experiências com os
que estavam chegando. Foi um momento muito difícil, para o qual tivemos que nos adaptar
rapidamente, pois o mero de cirurgias aumentava e conseqüentemente o número de clientes
graves na unidade também.
Percebia que a complexidade e instabilidade dos clientes, exigindo atenção e muitos
cuidados, aliado a um desgaste muitas vezes físico e mental pela grande carga de trabalho,
geravam períodos de estresse, levando à individualidade dos membros da equipe e
conseqüentemente, à interferência direta na realização dos cuidados aos clientes na unidade de
terapia intensiva, o que exige, do enfermeiro, competência técnico-científica (especialização)
considerando que o avanço tecnológico nessa unidade é constante, dinâmico e rápido.
10
Mesmo diante de tal cenário, a presença da sensibilidade e respeito aos limites, é muito
importante, isto é, entender o momento em que termina a máquina e começa o ser humano que se
encontra amedrontado, frágil diante do contexto que para ele se apresenta de forma desconhecida.
No cotidiano de uma unidade de pós-operatório de cirurgia cardíaca de adulto, observo
que a vigília aos clientes e, tudo que está ao seu redor, traduzem informações contínuas sobre o
seu estado, exigindo do profissional uma percepção aguçada sobre qualquer modificação que
possa ocorrer.
Percebo que os cuidados de enfermagem perpassam por várias ações que vão desde a
promoção do conforto
1
, do alívio da dor, até a preocupação com a estética
2
, a higiene pessoal, a
alimentação, a orientação, além de palavras de otimismo que o profissional deve dirigir sempre
ao cliente e à família.
O cuidar do cliente crítico exige da enfermeira sensibilidade e intuição, denominados
aspectos subjetivos, que se mantêm existentes mesmo diante dos avanços tecnológicos,
considerados aspectos objetivos do conhecimento. (SANTORO, 2000).
Cuidar pode ser entendido como processo de expressão, de reflexão, de elaboração do
pensamento e de aplicação intelectual, desenvolvido pelo enfermeiro, em relação às ações, desde
as mais simples até às mais complexas, necessitando de condições estruturais, ambientais e de
recursos humanos, a fim de assegurar confiabilidade destas ações. Cuidado é a ação propriamente
dita desenvolvida pelos profissionais de enfermagem, envolvendo segurança e competência,
aliadas à tecnologia específica. (COELHO, et al, 1999).
Leite et al (1985, p. 238) ressalta que “ainda que os cardiopatas, devido a grande evolução
da cirurgia cardíaca, possam ser considerados enfermos basicamente semelhantes a outros
submetidos à cirurgia, tratam-se geralmente de indivíduos bastante graves que, por isto,
necessitam de cuidados especiais e tratamento preciso.”.
1
È uma experiência subjetiva que transcede à dimensão física, porque inclui componentes físico-psicológico-social-
espiritual e ambiental. (ARRUDA e NUNES, 1998).
2
Envolve o cuidado com a vida, o cuidado com o corpo e envolve uma grande carga afetiva. A estética é
abrangente, é um juízo de apreciação do belo e do feio. A estética é uma questão filosófica, psicológica e
social.Envolve auto-estima, sensibilidade, emoção, sofrimento, a vivência em grupo, entre outras. (TEIXEIRA,
1998).
11
Na unidade de terapia intensiva, o cliente experimenta um processo de grande invasão ao
seu corpo e isto traz, como conseqüência, a fragilidade, a dependência, ou seja, sua vida sob a
responsabilidade de muitos profissionais.
Lemos et al (2002) identificou em seu estudo, “que os clientes do centro de terapia
intensiva e seus familiares vivenciam o medo da morte, medo do desconhecido, reconhecem a
unidade como um ambiente seguro e higiênico, mas frio e fechado, e consideram a alta como o
recomeço da vida”.
Percebo que por muitas vezes nos prendemos a protocolos e rotinas e não sabemos se
nossos cuidados estão realmente atendendo às necessidades de nossa clientela. O personagem
principal é o cliente, mas são poucos os momentos em que realmente ele fala, para expressar o
que sente e pensa. Isto é conseqüente às condições decorrentes do processo anestésico, presença
de tubos endotraqueais para permitir a ventilação adequada e presença de possíveis complicações
pós-operatórias gerando graves instabilidades, que dificultam e retardam este processo, e quando
o indivíduo se encontra estável, logo é transferido da unidade de terapia intensiva e não
obtemos nenhum retorno de como foi este momento de hospitalização.
Assim, me inquieta o fato de não saber exatamente como os clientes visualizam os
cuidados de enfermagem que são realizados diariamente neste cenário. Pois, apesar de estar
hospitalizado durante pouco tempo, sua vida se sintetiza em alguns dias de intensa expectativa e
experiências nunca antes vivenciadas. Portanto, ao buscar a qualificação de nossas ações, é
importante conhecer o que eles entendem sobre os cuidados recebidos durante a hospitalização na
unidade de pós-operatório de cirurgia cardíaca.
Michaelis (2001, p. 90) define entendimento como “capacidade de compreender as coisas,
capacidade de julgar, de entender, opinião, juízo, acordo, ajuste.”.
Portanto, a compreensão e o julgamento advindos dos sujeitos que recebem o cuidado,
promovem uma caracterização do trabalho de enfermagem, onde muito se perdem, pois, não são
registrados, além de permitirem descobrir as reais necessidades dessa clientela e, num âmbito
maior, permitem discutir e repensar políticas dessas ações de cuidar, que visem o benefício dos
profissionais e, principalmente, o bem-estar desses clientes.
12
Pagliuca (1983, p.58) questiona “de que forma dar assistência de enfermagem quando
ainda não se conhece o problema do paciente, ou seja, o que realmente constitui problema para o
paciente e não o que se supõe seja problema para ele”.
Ao dar voz aos clientes que vivenciaram a hospitalização na unidade de terapia intensiva
temos a oportunidade de descobrir significados deste processo de cuidar/cuidados, nossas
contribuições para recuperação e redução do sofrimento com as possíveis agressões que ainda
propiciamos aos seus corpos e mentes.
Acredito ser necessário nesse cuidar/cuidado, caracterizado pelo respeito à promoção de
um processo cuidativo, que favoreça o bem-estar e a diminuição de reações que dificultam sua
adaptação ao processo de hospitalização Nesta contexto, acredito que seja de grande importância
a compreensão das perspectivas de outros atores sociais, além dos profissionais, descobrindo suas
opiniões, percepções, representações, significados e experiências em torno da promoção da saúde
ou atenção à enfermidade. (MERCADO-MARTINEZ et al, 2004, p: 54).
Entendo que os sujeitos para quem realizamos nossas ações podem contribuir, de forma
única, através de suas falas, vivências e expectativas geradas pela interação dos cuidados
desenvolvidos na unidade de pós-operatório de cirurgia cardíaca. Assim defino como questões
norteadoras:
- Qual o entendimento dos clientes, submetidos à cirurgia cardíaca sobre os cuidados de
enfermagem em uma unidade de pós-operatório adulto?
- Como os clientes, submetidos à cirurgia cardíaca, recebem os cuidados de enfermagem
durante a hospitalização em uma unidade de pós-operatório adulto?
Para responder a essas questões foram elaborados os seguintes objetivos:
- Caracterizar os cuidados de enfermagem, na perspectiva dos clientes submetidos à
cirurgia cardíaca em uma unidade de pós-operatório adulto.
- Discutir as ações de cuidar em enfermagem a partir do entendimento dos clientes em
pós-operatório de cirurgia cardíaca.
O estudo poderá trazer para a prática profissional, a partir do conhecimento advindo dos
sujeitos a quem realizamos nossas ações de cuidar, um processo de reflexão sobre nossas
atuações neste cenário, permitindo contribuições para o crescimento e aperfeiçoamento da
profissão, possibilitando aos profissionais aprimorarem-se na compreensão do aspecto mais
subjetivo do cuidado que estamos concedendo aos clientes.
13
A importância circunscreve-se também na possibilidade de uma avaliação mais
qualitativa, considerando que o cliente, foco de nosso cuidado, poderá, a partir da sua realidade,
apontar elementos de nossa ação cuidativa, que, até o momento, somos nós, profissionais, que
temos definido e determinado.
Da mesma forma, o contexto atual, no qual a enfermagem vem buscando o sentido
epistemológico do cuidar e do cuidado, acredito que este estudo poderá subsidiar a compreensão
desse fenômeno, pois foi possível identificar, pelos depoimentos dos clientes, que a enfermagem
forma um grupo de profissionais que apresenta preocupações com os elementos subjetivos do
cuidado,e além desses sinais que são apresentados com os equipamentos e resultados
laboratoriais, ou seja, os eminentemente técnicos.
Além disso, propiciará aos profissionais que estão na docência, a reflexão quanto ao
cuidado de enfermagem proporcionado aos clientes internados, bem como, favorecerá o incentivo
aos estudantes para focalizar os estudos nesta área, destacando a importância do cuidado em
nosso cotidiano, além de despertar o interesse para a continuidade de pesquisas, especificamente
na área de enfermagem cardiovascular.
14
CAPÍTULO I
Bases Teóricas
Percorrendo os caminhos do cuidado...
Neste capítulo apresentamos a fundamentação teórica considerando-se a aproximação com
o objeto recortado, que se relaciona com o entendimento do cliente sobre o cuidado de
enfermagem em uma unidade de pós-operatório de cirurgia cardíaca.
O cuidado como o elemento de expressão da enfermagem, é relativo ao ser humano, pois
ele é capaz de apropriar-se e desenvolvê-lo de acordo com as necessidades do outro, dentro
das dimensões que ele requer. O ser humano adquire formas e expressões de cuidar que vão se
desenvolvendo de acordo com suas necessidades e, de modo informal, se expressa de duas
maneiras: como forma de sobrevivência e como expressão de interesse e carinho. (WALDOW,
1999).
Cada período do desenvolvimento humano vai delimitando características peculiares à sua
existência, determinando ações de cuidar/cuidados como, por exemplo a própria evolução natural
do homem, a criação de instrumentos para sua sobrevivência, as mudanças biológicas e físicas
para a adaptação ao ambiente, a religiosidade (a idéia de um Deus), o início da prática da
Medicina e ações com intuito de cura, a socialização, as expressões artísticas, demonstrando a
preocupação com a estética, a expressão de sentimentos, o avanço tecnológico e científico e as
questões de caráter ético.
As ações de cuidar/cuidados estão presentes na vida do ser humano, em conformidade
com os diversos momentos de sua evolução. Boff (1999, p.35) relata que “o ser humano, é um ser
essencialmente de necessidades, é um ser de participação, um ator social, um ser de cuidado, mas
ainda sua essência se encontra no cuidado. Colocar cuidado em tudo que projeta e faz eis a
característica singular do ser humano.”.
O cuidado prestado especificamente aos doentes inicia-se na era pré-cristã sob a
responsabilidade de sacerdotes, feiticeiros e mulheres. Na Roma antiga tal função era destinada
aos estrangeiros e escravos. Na idade Média era assumido pelos religiosos. (MELLO apud
15
PITTA, 1994, p.53). Complementa ainda, o autor, que uma questão de gênero sempre se impôs,
caracterizando este cuidado tipicamente realizado por mulheres.
O hospital, cenário de uma complexidade de cuidados, se transformou em instrumento
terapêutico, no final do século XVIII. (FOUCAULT, 1981: p.99). Anteriormente, asilava pobres
e moribundos, e era reconhecido como um local de exclusão, pois não tinha a função de salvar
vidas.
No final do século XVIII e início do século XIX, a Europa Ocidental passou por uma
grande transformação no setor de produção, ao qual se deu o nome de Revolução Industrial,
ocasionando o movimento de mecanização das fábricas e avanços nas técnicas de cultivo. Tal
processo levou à consolidação do capitalismo, sistema baseado no capital e no trabalho
assalariado, onde houve maior disponibilidade de bens de consumo. Este sistema afetou
diretamente a saúde do trabalhador devido ao processo de trabalho estabelecido, caracterizado
por longas e exaustivas jornadas de trabalho, baixos salários e efeitos na utilização das máquinas
e equipamentos.
Neste momento, a prática de assistência à saúde abandona suas características
“artesanais”, passando a ter características técnicas e financeiras, tendo como cenário social o
hospital moderno. (BRAGA et al, 1981).
No século XX, consolida-se o paradigma mecanicista caracterizado pelo crescimento
tecnológico e científico, fomentado pelas especializações, considerando-se o avanço ao modelo
biomédico, na tentativa de explicar e tratar uma diversidade de doenças. Diante de tal cenário,
observa-se o predomínio de uma concepção de saúde, que reduz o homem a um corpo
circunscrito à sua dimensão biológica, excluindo-se as dimensões relacionais, afetivas, psíquicas,
dentre outras. (BOSI, et al, 2004).
No âmbito do cuidar, podemos destacar riquíssimas contribuições advindas da pioneira
Florence Nightingale. Segundo Waldow et al (1995: p.50) ela se preocupou em dirigir ações que
“contemplaram o cuidado a partir de uma visão holística do ser humano em inter-relação com o
meio ambiente”. Visão avançada para o contexto, considerando-se as fortes evidências
paradigmáticas das ciências naturais e, por conseqüência, o aporte dos elementos biomédicos na
área de saúde.
Outros autores merecem destaque ao descreverem sobre o cuidado, como Heidegger
(1969), que relata o cuidado como essência do ser humano, Noddings (1984), que traz um
16
conteúdo moral, Mayeroff (1971), que acredita que cuidar é ajudar o outro a crescer, Leininger
(1991), com a teoria transcultural do cuidado, Watson (1988), que diz ser necessário ajudar as
pessoas a obterem um nível de harmonia entre os aspectos da mente, corpo e espírito através do
cuidado. (WALDOW, 2004: p.20-27).
Considerando a mesma autora, ressalta-se a definição elaborada por ela expressa que “o
cuidado busca promover, manter e/ou recuperar a dignidade e totalidade humanas, englobando a
saúde de forma integral no contexto psicobiológico, espiritual, social e político”. O cuidar é
entendido como um processo que envolve crescimento e ocorre independentemente da cura, é
intencional, alivia, conforta, promove, restabelece, restaura, faz, doa... O cuidado é o fenômeno
resultante do processo de cuidar e representa a forma como ocorre (ou deveria ocorrer) o
encontro entre cuidador e ser cuidado.
Relata ainda a autora que a contradição é uma das peculiaridades do cuidar, no que tange
aos aspectos técnicos e humanísticos. E que o cuidado sensível, de aspecto mais afetivo, fica
centrado em um nível mais teórico, de discurso, mesmo enquanto o paradigma tecnicista e
intervencionista que valoriza a impessoalidade, a neutralidade está muito presente no cotidiano
dos profissionais de saúde. A autora explica que o conhecimento científico, habilidades e
destrezas manuais somente serão efetivos para os sujeitos que vivenciam uma doença, se vierem
somados à sensibilidade. Muitos profissionais ainda são céticos, quanto às dimensões mais
afetivas do cuidado. (WALDOW, 2001)
O cuidado nos aproxima dos clientes e nos permite ir além das necessidades biológicas,
contempladas pelo respeito. Os clientes possuem diversidades sócio-econômicas, culturais,
espirituais e morais, que influenciam, diretamente, as ações de cuidar em como são realizadas e
são recebidas.
Infelizmente, em diversos momentos, percebemos que a tecnologia representada por
diversos equipamentos e as técnicas utilizadas, nos envolvem e nos cegam em nossas ações de
cuidar e, somadas às rotinas e normas preconizadas pelas instituições de saúde que acabam não
atendendo verdadeiramente, às necessidades dos clientes. Além disso o nível de insatisfação dos
profissionais de saúde por determinadas condições de trabalho, acabam por favorecer muitas
vezes, um olhar meramente biológico, aos sujeitos que necessitam de cuidados, dificultando a
promoção da saúde.
17
Por isso, Shiratori et al (2005-p. 31) diz ser “necessário um equilíbrio entre a dimensão
tecnocientífica e a dimensão humana, do cuidado de enfermagem, sob o risco do
desenvolvimento de uma prática limitada [...] e, por isso, o ensino de enfermagem, deveria
atentar para a formação do profissional.”.
As demandas que surgem para os profissionais de enfermagem apontam um trabalho que
não pode simplesmente reproduzir técnicas ou ser fragmentado, impessoal. Deve produzir
vínculos entre os sujeitos, profissionais e instituições, a fim de contribuir para mudanças na
concepção de saúde. (LIMA et al, 2005).
A autora ao repensar o processo de formação dos profissionais de enfermagem, acredita
ser necessário ir além das tecnologias duras (equipamentos, técnicas), mobilizando as tecnologias
leves, advindas dos processos relacionais e as leves duras (conhecimentos), admitindo utilizar o
cuidado como estratégia nos processos de trabalho e nele operar mudanças.
A equipe de enfermagem está sempre muito próxima aos clientes, devido a uma infinidade
de ações de cuidar, como o banho, o conforto, a alimentação, medicações, curativos, que não
podem ser reconhecidas somente como procedimentos técnicos, pois possuem saberes próprios,
isto é elementos que se inserem subjetivamente nessas ações como o toque, palavras de conforto
e segurança, sensibilidade. Estes profissionais terão sempre a possibilidade de fazer algo por
alguém, pois os cuidados são compostos de múltiplas ações, que apesar do lugar tomado pelos
gestos técnicos, possuem uma imensidão de “pequenas coisas”, que permitem manifestar uma
atenção aos clientes e seus familiares, ao longo de vinte e quatro horas. (HESBEEN, 2000).
Acredito ser importante resgatar essas ações de cuidado, que perpassam por dimensões
biológicas, sociais, espirituais e éticas, entendendo que passamos por obstáculos que queremos
vencer para o crescimento da profissão, mas que muito também temos a enriquecer, pelas
particularidades que acontecem diariamente dentro das instituições de saúde e que buscamos,
através de pesquisas conhecer para contribuir para a evolução de nosso aprendizado.
Figueiredo (1997, p.118) diz, que “o estilo de cuidar é pessoal, singular, inconfundível. Os
momentos, os passos podem ser iguais, mas não idealização numa prática, ela acontece, num
tempo e espaço, que é evolutivo, pessoal, particular de quem cuida e de quem é cuidado”.
Assim é importante considerar as habilidades necessárias ao cotidiano de quem
efetivamente assiste no hospital, valorizando as tecnologias informais no desempenho das
atividades, criando uma espiral de conhecimento, numa fusão do saber técnico com o saber
18
informal, intuitivo, até porque as rotinas que, por muitas vezes, caracterizam tal cenário sem
determinados arranjos desenvolvidos individualmente por cada profissional, não garantem atingir
os resultados esperados. (PITTA, 1994).
Acredito na grandeza que o cuidado de enfermagem proporciona aos clientes nas
instituições de saúde, mas é necessário conhecer a realidade desses indivíduos, entender o que
eles pensam sobre estas ações de cuidar/cuidados, com intuito de enriquecimento nossa prática,
encontrando apoio em Hoga (2004, p: 15) quando diz ser “necessário considerar a realidade,
perfil e bagagem de conhecimento sobre práticas de cuidado e cura no processo saúde-doença, na
visão dos próprios clientes”.
Estudos demonstram que, em outros países, ao visualizarem o cuidado,os clientes são mais
exigentes quanto ao desempenho técnico do profissional de enfermagem. No Brasil, os estudos
que investigam os cuidados sob a ótica dos clientes são raros, mas há uma valorização da
afetividade, carinho e atenção. (WALDOW, 2004).
Para Figueiredo et al (1999, p.23) nesse cotidiano de cuidar “as enfermeiras usam seu
corpo, num trabalho corporal não apenas mecânico, porque não está dissociado da emoção, da
consciência e da busca do prazer [...] usam seus sentidos naturais, como também a intuição, a
criatividade, a sensibilidade e a percepção.” Assim, mesmo diante da aproximação aos clientes
para realização de procedimentos que inicialmente parecem somente ser de cunho técnico,
principalmente num cenário de uma unidade de terapia intensiva, elas promovem relações
caracterizadas por subjetividade e interações.
A mesma autora considera a importância do falar da enfermeira, como aquela que produz
e realiza o cuidado, visto que não é um assunto tão abordado na literatura específica. Acredito ser
de muita importância trazê-la nesse estudo, pois, a figura da enfermeira é lembrada pelos sujeitos
de forma marcante na realização de um cuidado.
Figueiredo (1997, p.165) diz que “nos movimentos corporais das enfermeiras, nas suas
falas, nas ações de cuidar/confortar elas criam estilos e modos de se relacionar com seu cliente,
sua equipe e parceiros de trabalho”.
O cuidado envolve ações que norteiam a enfermagem e repercutem num âmbito maior, a
vida humana. É um cuidado único, específico, que aproxima o ser que cuida ao ser cuidado.
Figueiredo et al (1999, p.153) acredita que a enfermeira e o cliente são dotações singulares na
19
experiência profissional”. O cuidado que é prestado pela enfermeira a seus clientes também é
singular, porquanto interessa sobretudo à enfermagem.
Não é diferente o cuidado de enfermagem, quando se trata de clientes internados em UTI,
pois eles também se vêem numa condição de estar submetido aos profissionais que vão tratar
deles, em um ambiente que para eles é totalmente desconhecido e pode ser agressivo, pois se
entende que “só vai para a UTI, quem está nas últimas”, segundo o jargão popular. Passados os
momentos iniciais, eles verificam que houve um rompimento brutal de suas vida, como seres
humanos, haja vista a cotidianeidade. um rompimento drástico de suas relações com
familiares, amigos, necessitando estabelecer outras relações que não aquelas a que estavam
acostumados em um ambiente que é “ótimo para o tratamento da doença”, mas inóspito para sua
vivência, pois os clientes são considerados totalmente destituídos de decisões, de opiniões e de
escolhas.
20
CAPÍTULO II
Cuidados de enfermagem no pré, trans e pós-operatório de cirurgia cardíaca...
a diversidade e singularidade na complexidade.
O primeiro caso de intervenção cirúrgica no coração foi atribuído a Ludwing Rehn, que em
setembro de 1896, corrigiu com sucesso uma laceração na face anterior do coração. Mas existem
razões válidas para considerarmos que o início da cirurgia cardíaca ocorreu em 1810, quando
foram relatadas drenagens cirúrgicas do pericárdio, na Espanha e na França. (PRATES, 1999).
O mesmo autor relata que nos anos 30 e 40, vários grupos trabalhavam no desenvolvimento
de uma máquina coração-pulmão. Em maio de 1953, o Dr. John Gibbon realizou, com sucesso, o
primeiro fechamento de defeito septo interatrial com o uso de uma máquina de circulação
extracorpórea, em paciente de 18 anos. Ele estava envolvido na pesquisa de um oxigenador desde
1937. A descoberta de tal equipamento foi de fundamental importância na história da cirurgia
cardíaca.
No Brasil, a primeira operação cardíaca foi em agosto de 1905, realizada pelo cirurgião
paulista João Alves de Lima. Mas foi nas décadas de 50 e 60 que nomes como Zerbini, Adib
Jatene e Waldir Jasbik se destacaram por realizar operações diretas sobre as artérias coronárias e,
sucessivamente, até a realização do primeiro transplante cardíaco no Brasil em 1968.
. Entretanto, mesmo com a constante evolução tecnológica, aliada ao surgimento de novas
técnicas cirúrgicas e agentes farmacológicos que geram novos protocolos de tratamento aos
clientes cardiopatas, e ainda o avanço científico que contribui para novos conhecimentos na área
de cardiologia, segundo Lenfant apud Ihsitani (2006),” as doenças cardiovasculares (DCV )
ainda representam à primeira causa de morte no Brasil. Apesar da tendência de redução dos
riscos de mortalidade por DCV no País e no mundo, algumas projeções indicam o aumento de
sua importância relativa em países de baixa e média renda.”
Atualmente, nos deparamos com uma diversidade de cirurgias cardíacas; citaremos aqui as
mais comumente realizadas, pois, são as que, mais desafiam a enfermagem em seu cotidiano de
cuidar, exigindo conhecimento sobre a cirurgia e toda a sua complexidade e o domínio do saber
fazer, necessário para proporcionar a recuperação do cliente, além das possíveis intercorrências e
21
conseqüências da evolução do quadro clínico que implicarão em tomadas de decisões pela
enfermagem diante das situações que se apresentarem. Assim, constituem-se nos principais e
mais freqüentes procedimentos cirúrgicos:
a-Revascularização do miocárdio: consiste na manutenção do fluxo sangüíneo, através de uma
anastomose, ou “ponte,” com outro vaso do organismo. O enxerto a ser utilizado pode ser a
artéria mamária, radial ou safena. Nem sempre é necessário o uso da circulação extracorpórea;
b-Aneurismectomia de artéria aorta, ou do ventrículo esquerdo, onde acontece a ressecção ou
campleamento do aneurisma;
c- Cirurgia reparadora das valvas- onde, a comissurotomia mitral é a mais comumente realizada,
onde as cúspides das valvas cardíacas fundidas, são abertas;
d- Substituição valvar, que envolve a troca de uma válvula estenosada ou insuficiente por uma
prótese, podendo ser biológica ou mecânica;
e- Comunicação interatrial (CIA)- cardiopatia congênita mais comumente detectada na idade
adulta, onde há uma comunicação entre os átrios. Pode ser corrigida realizando uma aproximação
das bordas com sutura contínua ou através da colocação de um patch (uma espécie de remendo),
cujo material é de pericárdio bovino;
f- A Comunicação inter-ventricular (CIV) é a mais comum das Cardiopatias congênitas. uma
comunicação entre os dois ventrículos, permitindo uma fuga do sangue do ventrículo esquerdo
(com pressões mais elevadas) para o ventrículo direito (com pressões mais baixas). Essa, como
outras cardiopatias, não constitui-se em uma situação estática, e sim, em uma lesão que se
modifica gradativamente com o decorrer dos anos. A época mais comum de fechamento é
durante o primeiro ano de vida, mas o fechamento tardio também ocorre;
f- Transplante cardíaco, a troca de um coração por outro, proveniente de um doador;
g-Correção de comunicação septal ventricular adquirida, onde uma ruptura do septo
intraventricular, após um infarto agudo do miocárdio,
g-Angioplastia coronária transluminal percutânea: é uma técnica da cardiologia intervencionista
para melhora do fluxo sangüíneo, através da reperfusão do miocárdio. É utilizado um cateter com
um balão com intuito de alargar o diâmetro luminal interno do vaso coronariano tratado. É,
geralmente, realizado em unidades de hemodinâmica.
Atualmente no cenário onde são realizadas essas cirurgias, a enfermagem, é cada vez mais
importante, assim os enfermeiros buscam a especialização, a fim de proporcionar uma assistência
22
de qualidade. uma preocupação na realização de um cuidar/cuidado profissional, baseado em
conhecimentos técnico-científicos, resgatando o respeito ao cliente e à família, com o intuito de
restabelecer sua saúde, e/ou minimizar qualquer sofrimento.
O cuidar/cuidado na cirurgia cardíaca é bastante amplo, e envolve a complexa ação do
profissional de enfermagem pois abrange desde as orientações no pré-operatório, no ato cirúrgico
propriamente dito, até o recebimento do cliente no pós-operatório, prolongando-se até a alta
hospitalar.
Considerando-se o foco deste estudo, antes de falar dos conhecimentos acerca do período
pós-operatório, propriamente dito, observamos a necessidade em abordar algumas considerações
sobre o pré e trans-operatório de cirurgia cardíaca, que se justifica por acreditarmos que as
situações de cuidado experimentadas no pós-operatório de cirurgia cardíaca, são determinadas,
muitas vezes, por fatores decorrentes das etapas que o antecedem.
Isto funciona como um sistema de rede, onde existem cuidados específicos do pós-
operatório, ou seja intersetorial, bem como aqueles que são desenvolvidos, respeitando-se as
informações e fatos advindos das unidades de internação (pré-operatório) e centro cirúrgico
(trans-operatório). Nessas etapas são desenvolvidas ações dinâmicas, específicas, modificáveis e
inerrelacionadas, não podendo, por isso mesmo, desconsideradas na trajetória vivenciada pelos
clientes até chegar ao foco deste estudo, que é o contexto pós-operatório.
O período pré-operatório inicia-se no momento da hospitalização do cliente e termina com o
início da realização da cirurgia. Neste período são realizadas as avaliações física, social,
econômica e psicológica do cliente. Nesta fase que se compreender que o coração é um órgão
nobre do corpo humano, conhecido também por ser o centro das afetividades, repleto de
simbolismos. Neste momento, os sentimentos traduzem-se por medo, pois, seus corpos estarão
entregues e manipulados por pessoas até então desconhecidas. Segundo Leloup (2005, p.117) “o
coração é um dos símbolos do centro vital (...) O coração é o centro da relação.”
No período pré-operatório, ocorre também uma maratona de exames, ajustes nas
medicações, avaliação da doença, história atual e pregressa, verificação da presença de alergias,
hábitos de vida; como o consumo de álcool, tabaco, drogas, cirurgias anteriores, doenças
crônicas, enfim é necessária uma ampla pesquisa de todos os sistemas orgânicos, com ênfase na
função cardiovascular.
23
Nessa etapa, os temores do cliente são expressos sob diferentes formas; medo do
desconhecido, medo da morte, medo da anestesia e medo da unidade de terapia intensiva. Assim
o enfermeiro necessita encorajar a verbalização do cliente, ouvi-lo e fornecer informações que o
ajudem a aliviar suas preocupações. O conhecimento facilita a sua adaptação à internação bem
como a sua recuperação. (CAVALCANTI, 2002). Neste momento falar de morte e de vida é
muito difícil, aflige o espírito, proporciona angústias, reflexões, pensamentos. É vivenciar
opostos como a força e a fraqueza, o abstrato e o concreto, o objetivo e o subjetivo, o corporal e o
espiritual. (FIGUEIREDO, et al, 1999).
São concepções singulares, que determinam aos indivíduos posicionamentos e reações
diferentes,mediante o processo da morte. Denis (2006, p.129) afirma que a morte “é uma simples
mudança de estado, a destruição de uma forma frágil que não proporciona à vida as condições
necessárias ao seu funcionamento.”
A morte também pode ser entendida, como o fim, o término de uma caminhada. No entanto,
observa-se em Boff (1999, p. 153) que “o sentido que damos à vida depende do sentido que
damos à morte (..) se é o fim-derradeiro, então de pouco valem tantas lutas, mas se é fim-meta-
alcançada, então significa um peregrinar para a fonte.”
Cabe a nós profissionais de enfermagem, e também aos demais profissionais de saúde
envolvidos, a orientação a esses clientes e seus familiares, sempre de forma a respeitar a
individualidade e capacidade de assimilação e percepção destes, que criam diferentes
expectativas neste cenário.
Quando se referem ao período pós-operatório de cirurgia cardíaca, alguns autores como Valle
et al (1990) e Sampaio et al (2004), relatam a importância da orientação na fase pré-operatória,
para que o período posterior transcorra de forma mais tranqüila. A orientação pré-operatória
propicia calma, conhecimento, instrução e coragem aos clientes que serão submetidos à cirurgia
cardíaca. (BAGGIO, et al, 2001).
Lesage (1996 p.84/85), um cineasta franco-brasileiro que fez um coerente e honesto relato de
sua própria cirurgia cardíaca, traz considerações importantes sobre o “ser paciente”. O autor
descreve: “-nessa vigília pré - operatória, estou tendo alterações psicológicas sérias, decorrentes
da Coronariopatia. que não estou sabendo [...]”. “- Estou me imaginando, o peito aberto, o
coraçãozinho parado, ele implantando as bocas, que se entendi bem, são as emendas da safena na
coronária, acima e abaixo do trecho obstruído.”
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As experiências vivenciadas por Lesage reforçam o entendimento de que, propiciar
informações acuradas aos clientes e seu familiares, saber ouvir e promover interações, é um
importante cuidado na fase pré-operatória da cirurgia cardíaca. Essas ações resultam no
desenvolvimento de segurança e confiança, facilitando um despertar tranqüilo no período pós-
operatório. Tais orientações devem se aproximar da realidade do cliente. A linguagem muito
técnica da área de saúde, quando utilizada inadvertidamente, pode provocar, junto ao cliente,
conflitos em relação à sua patologia, gerando confusão e ansiedade. (BELLUOMINI et al, 2003).
A questão da espiritualidade, das crenças e da , também foi percebida como importante no
cotidiano desses clientes e podem ser consideradas terapêuticas, devendo ser apoiadas e
respeitadas. (BELLUOMINI et al, 2003)
As reuniões com diferentes áreas, como Enfermagem, Nutrição, Anestesia, Cirurgia,
Fisioterapia, Psicologia e Serviço Social, direcionadas aos clientes e familiares; são estimuladas.
Atualmente, elas são comuns em algumas instituições que trabalham com cirurgia cardíaca. Os
encontros acontecem, geralmente, semanalmente ou de acordo com a necessidade de cada
instituição.
Na véspera da cirurgia, alguns cuidados são realizados; o cliente é mantido em jejum, e ocorre
o preparo da pele, realizando higiene corporal e tricotomia. É administrado um sedativo, a fim de
provocar um plano anestésico superficial, uma espécie de relaxamento induzido, como forma de
propiciar tranqüilidade.
No dia da cirurgia, o cliente é acompanhado ao centro cirúrgico por profissionais de
enfermagem, e por membros da família que transmitem amor e segurança. É de fundamental
importância a presença desse vínculo familiar, pois é um momento de intensa ansiedade e de
expectativa.
Ao receber esses cuidados no período próximo à realização de sua cirurgia cardíaca, Lesage
(1996), transcreve a compreensão que teve acerca destes cuidados “- Tricotomia (raspagem pré-
operatória dos pêlos de uma região do corpo), é isso que estão praticando em mim, as duas
senhoras, uma passando o sabão com pincel, outra passando a navalha.”[...]” - O último chazinho
que me trouxeram as 7 ou às 10 da noite devia ter alguma dose daquele tipo de calmante.” [...] “-
Closes meus nos corredores, deitado na maca. [..] A entrada da sala agora é para valer. Os
homens de verde estão reunidos com aquela touca quadrada na cabeça, o tapa- boca, sem rostos,
só orelhas e olhos.”
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No período trans-operatório, o cliente é submetido ao ato anestésico. Ocorre a realização das
punções de acessos venosos periféricos, geralmente de grosso calibre, e profundos. Este último
além de ser utilizado para infusão de medicações e reposições volêmicas, permitem a
monitorização da PVC (pressão venosa central), que reflete diretamente a pressão em átrio
direito. Ocorre também a punção de uma artéria, geralmente radial ou femural para a detecção da
pressão arterial média, além das pressões sistólica (pressão arterial máxima) e diastólica (pressão
arterial mínima). Um cateter vesical é instalado para controle rigoroso da diurese.
Um importante procedimento é a entubação, geralmente orotraqueal, para a realização da
ventilação artificial. Essa técnica de colocação de um “tubo na boca” para permitir a respiração, é
sempre uma grande preocupação para o cliente. Por isso ele deve ser orientado pela enfermagem,
para que tome conhecimento das situações que irá enfrentar.
Em um estudo realizado com 104 pacientes que realizaram cirurgia cardíaca, a cânula de
entubação foi o problema por eles relatado, como sendo o de maior incômodo, tendo como
principais motivos o fato de provocar dor, vômitos, não poder falar, acúmulo de saliva na boca,
medo de não falar mais, necessidade de aspiração, sensação de asfixia, cheiro ruim na boca,
presença de muita secreção. O estudo também relatou que 54% desses pacientes não estavam
orientados quanto a este procedimento. (PAGLIUCA, 1983).
Inicia-se então, o ato cirúrgico. A cirurgia cardíaca possui uma característica peculiar, pois,
o coração e pulmões são “parados” e a circulação sangüínea é mantida por uma bomba que
substitui a função desses órgãos, conhecida como circulação extracorpórea (CEC). Esse aparelho
propicia um campo cirúrgico estacionário, sem sangue, visando promover uma boa função do
órgão, mas pode apresentar, como conseqüência uma resposta inflamatória sistêmica que leve à
piora da coagulação e resposta imune, além de uma grande liberação de catecolaminas, alterações
sanguíneas e eletrolíticas. (WOODS et al, 2005). Estas modificações biológicas podem acarretar
graves complicações aos clientes no período pós-operatório, sendo necessário o conhecimento
desse processo, pois, estará sendo realizada uma complexidade de cuidados, muitos de forma
intervencionista, exigindo dos profissionais, de uma forma geral, sensibilidade e respeito para
com eles, pois estas ações devem ser realizadas de forma a não agredir ou lesionar o corpo dos
sujeitos.
Cabe, ao enfermeiro e demais profissionais de enfermagem, um acompanhamento rigoroso;
cirúrgico, anestésico e extracorpóreo. Isto inclui o acompanhamento dos sinais vitais, padrão
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ventilatório, medicamentos administrados, infusão de hemoderivados, além de facilitar a
circulação e instrumentação na sala cirúrgica.
O entendimento sobre a circulação extracorpórea é algo difícil. Lesage (1996, p. 76) buscou
algumas leituras para compreender essa cnica ao qual seu coração seria submetido e concluiu
que, “o coraçãozinho fica parado, o sangue passa por uma máquina, o coração-pulmão, que faz o
ofício dos dois. É o que chamam de circulação extracorpórea”. Penso, como deve ser difícil para
os clientes que serão submetidos à cirurgia cardíaca, imaginar uma parada do seu coração, um
órgão fundamental a vida, sendo suas funções substituídas por uma máquina.Certamente muitas
deverão ser as interrogações, que passam pela cabeça desses clientes, onde as certezas, podem
não ser tão “certas” mas apenas probabilidades que tudo dará certo. Os riscos existem diminuindo
as certezas. Será que tudo dará certo? Será que meu coração voltará a bater novamente? O que irá
acontecer comigo?...
Antes de encaminhar o cliente ao pós-operatório, é necessária uma comunicação prévia,
com o enfermeiro da unidade, relatando locais de punção, medicações em infusão, intercorrências
e complicações, durante o período trans-operatório. A família deve ser orientada que após o
término da cirurgia, estará recebendo informações.
No pós-operatório, o cuidar/cuidados inicia-se com a preparação da unidade para receber o
cliente de forma segura. O enfermeiro e a equipe iniciam o preparo, geralmente no momento em
que o cliente é encaminhado ao centro cirúrgico.
Pelo mapa cirúrgico identificam-se o nome do cliente, número do prontuário, peso, altura,
grupo sangüíneo e fator RH, idade e cirurgia proposta.
Na unidade de terapia intensiva, onde é realizado o pós-operatório, após a identificação do
mapa cirúrgico, o leito é preparado. Inicialmente, é importante que sejam colocados os cobertores
para manter o cliente aquecido, evitando assim a hipotermia, que ocorre, devido à circulação
extra-corpórea, à cardioplegia, à refrigeração da sala cirúrgica e recuperação (GUERRIERO et al,
2000). O ventilador mecânico é montado, respeitando-se os parâmetros e alarmes característicos
para cada cliente.
De acordo com a padronização de cada unidade, são preparadas as medicações que serão
administradas em infusão contínua por via venosa, sendo uma delas, a solução de cloreto de
potássio. No pós-operatório, é comum a hipocalemia (diminuição do nível plasmático de
potássio) devido à distribuição, conseqüente ao estresse fisiológico, uso de insulina, alcalose,
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nutrição parenteral e hipotermia, além da perda excessiva pelo uso de diuréticos, o que pode
ocasionar o aparecimento de arritmias. (AULER JR, et al, 2004). Estas infusões são instaladas em
bombas infusoras, que são devidamente identificadas.
O equipamento de monitorização cardíaca é configurado, com a colocação de parâmetros de
freqüência cardíaca e respiratória, de pressão arterial média (PAM), de pressão venosa central
(PVC), de oximetria de pulso e, quando necessário, das mensurações da pressão de artéria
pulmonar e da pressão de oclusão da artéria pulmonar, estas últimas somente quando o cliente
possui um cateter de Swan-Ganz, instalado a partir de critérios específicos, onde se torna difícil a
avaliação de processos volêmicos e instabilidades hemodinâmicas. Há, também, a preocupação
com a configuração dos alarmes desses equipamentos para a segurança do cliente e da equipe.
A equipe de enfermagem prepara, também, os sistemas de aspiração de vias aéreas e tubo
orotraqueal, bem como a aspiração dos sistemas de drenagem pleural e pericárdica. É necessária,
também, a reserva de uma fonte geradora de marcapasso, pois tais clientes podem apresentar
mudanças no processo de condução elétrica cardíaca, devido à proximidade dos locais de
manipulação durante a cirurgia, o que freqüentemente resulta em bloqueios átrio-ventriculares.
O período pós-operatório imediato inicia-se no centro-cirúrgico, imediatamente após o
fechamento do tórax. Neste período, o paciente deve permanecer com parâmetros de
monitorização do ritmo cardíaco, pressão arterial média e oximetria de pulso. A chegada à
unidade de pós-operatório deve ser recebida por uma equipe com funções bem definidas e
atuação conjunta. (SENRA, et al. 1998)
No momento da admissão do cliente no pós-operatório, o cuidar/cuidado de enfermagem
inicia-se com a instalação do ventilador mecânico, monitorização cardíaca, oximetria de pulso,
colocação de drenos e sondas em seus lugares, instalação das linhas de pressão (PAM, PVC),
posicionamento adequado facilitando a drenagem do pericárdio e pleural e aquecimento do
cliente.
O impresso de balanço hídrico, instrumento utilizado pelos profissionais de enfermagem
para anotação dos ganhos e perdas hídricas, bem como sangüíneas, dos clientes submetidos à
cirurgia cardíaca, é instalado. São verificados e anotados os sinais vitais, drenagem sangüínea,
diurese que, de acordo com a normatização nesta unidade, ocorre inicialmente de 15 em 15
minutos; após a primeira hora de 30 em 30 minutos e nas 24 horas restantes de 1 em 1 hora. São
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registradas, também, as medicações e reposições volêmicas administradas, além de
hemoderivados realizados.
A preocupação em controlar a glicemia do cliente é recente, pois entende-se que podem
ocorrer alterações nos resultados, devido ao estresse cirúrgico e à circulação extracorpórea. Em
um estudo prospectivo com 98 clientes, realizando controle glicêmico na cirurgia cardíaca e
terapia intensiva, durante 48 horas em uso de insulina contínua, observou-se, nos resultados, que
não houve diferença no tempo de entubação, permanência em UTI, insuficiência renal, disfunção
neurológica e mortalidade; porém, no grupo intensivo houve tendência ao menor tempo de
hospitalização e infecção. (CHAN, 2005). Assim, atualmente protocolos de controle glicêmico
fazem parte dos cuidados de enfermagem no pós-operatório de cirurgia cardíaca.
O enfermeiro realiza o exame físico detalhado no cliente, observando, principalmente, o
padrão respiratório, plano anestésico, nível de consciência, ausculta e ritmo cardíaco, coloração e
temperatura da pele, presença de distensões abdominais, perfusão e enchimento capilar
periférico, sítios de punções, drenos avaliando débito, oscilações e presença de fuga aérea,
curativos de feridas cirúrgicas, diurese, dando ênfase à coloração e quantidade. O exame físico
deve ser realizado pelo enfermeiro, pois completa a avaliação e implementação de cuidados. Em
se tratando do cotidiano de cuidar em cirurgia cardíaca, esta ferramenta é fundamental para que o
enfermeiro tenha a exata noção da evolução do período pré, trans e pós-operatório da cirurgia
cardíaca, além do fornecimento de parâmetros para avaliações posteriores, identificando
problemas de enfermagem, a fim de possibilitar a prevenção de complicações. (CAVALCANTI,
2002).
Escher et al (1994, p.57) relata que “a assistência prestada, nas primeiras horas é muito
importante, pois é a fase mais crítica e onde pode-se detectar e prevenir complicações. O papel da
enfermagem é fundamental, dependendo de sua atuação grande parte do sucesso na recuperação
do paciente.”
Um cuidado que todos os profissionais devem considerar de suma importância e valorizar
está relacionado à dor no pós-operatório que, por muitas vezes, acompanha os clientes até a alta
hospitalar. Leite at al (1985, p.240) relata que “a dor é causada pelo rompimento dos nervos
intercostais ao longo da incisão e pela irritação da pleura, pelos cateteres torácicos, mas precisa
ser diferenciada da dor anginóide.”
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Em um estudo sobre a ocorrência e evolução da dor na cirurgia cardíaca e abdominal os
autores consideram algumas teorias que tentam explicar o processo e percepção da dor, relatando
a produção de opiáceo endógeno com possibilidade de modulação desse desconforto. A produção
dessa substância seria alterada por fatores como medo, estresse e hipoglicemia, comuns em
clientes hospitalizados na terapia intensiva. (PIMENTA, et al, 1992)
A dor provoca restrições no leito, facilitando o aparecimento de complicações pulmonares e
tromboembólicas, bem como alterações hemodinâmicas e na pressão arterial dos clientes, nas
quais comumente, podemos observar o aumento desses parâmetros que podem aumentar as
chances de sangramento no pós-operatório.
Alterações da face, agitações somadas à hipertensão e padrões de ventilação inadequados
podem evidenciar processos dolorosos, e os clientes, por muitas vezes ainda em prótese
ventilatória ou em plano anestésico, não podem verbalizar seu desconforto, sendo necessária à
observação constante para a realização de cuidar/cuidados específicos, através de analgesias,
posicionamento adequado, aliados a palavras que promovam a diminuição da ansiedade e
favoreçam a confiança.O alívio da dor é desejável, por razões humanas, éticas, e pela melhora
que produz no estado mental e físico do cliente. (LEITE, et al, 1985).
Lesage ( 1996, p. 133) escreve sobre uma das experiências da dor, após a cirurgia cardíaca:
“ a dor provocada pelo espirro é assustadora, quando acontecer abraçar com força um travesseiro,
dói bem menos (...)”.
O cuidar/cuidado na unidade de pós-operatório é muito complexo, pois envolve
responsabilidade, conhecimentos técnico-científicos específicos, bem como as dimensões
necessárias à compreensão ética dos envolvimentos decorrentes dos processos cirúrgico; além de
requerer uma assistência de enfermagem particularizada, imbuída de perseverança, observação e
sensibilidade dos profissionais de enfermagem. Nas primeiras horas após o término da cirurgia, a
preocupação é ainda maior, pois, o cliente está muito suscetível às instabilidades hemodinâmicas
e às complicações.
Woods et. al (2005, p.688) descreve como complicações precoces após a cirurgia cardíaca,
“o sangramento pós-operatório, a depressão miocárdica, o infarto do miocárdio perioperatório, as
arritmias e complicações pulmonares, renais, gastrintestinais e neurológicas.”
Com a diminuição do efeito anestésico, caso o cliente esteja estável hemodinamicamente,
inicia-se ao despertar, o processo de desmame ventilatório; nesse momento o processo de
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interação torna-se maior, pois o cliente entende o que a equipe diz e começa a responder
através de gestos com a cabeça, com as mãos e principalmente com olhares. O despertar, muitas
vezes, é difícil para os clientes, pois como referido anteriormente, o tubo endotraqueal, causa
desconforto.
A retirada do tubo orotraqueal, acontece entre 6 a 12 horas após o término da cirurgia,
quando estiverem estáveis as condições clínicas dos clientes. Manter-se acordado à espera dessa
ação, somada ao ambiente estressante da unidade de terapia intensiva, contribuem para a
ansiedade desses clientes. Percebo que, quando falamos aos clientes que a retirada do tubo vai
acontecer possivelmente durante os próximos trinta minutos, o descontentamento é imediato,
como se trinta minutos representassem, para eles, vinte e quatro horas.
A interação entre a equipe e o cliente promove o estabelecimento da segurança e da
tranqüilidade, pois ele percebe que não está só, os profissionais de enfermagem estão o tempo
todo ao seu redor, observando, registrando, intervindo rapidamente quando necessário.
No primeiro dia após a cirurgia cardíaca, na ausência de complicações, o cliente encontra-se
sem o tubo orotraqueal, podendo, inclusive verbalizar; inicia-se, então, a alimentação, mas de
forma branda e os drenos são retirados. A família está presente nesse cenário, nos momentos de
visita.
Sabemos que existem horários específicos para a realização das visitas, mas a equipe deve
ser manter flexível e buscar soluções que atendam às necessidades desses clientes, que precisam
da presença da família. Os familiares devem ser orientados sobre o comportamento e estado
clínico do cliente e o enfermeiro deve atuar como um membro educador. A família espera
intervenções para os problemas físicos e psíquicos. (MORAES, et al, 2004). Este é um
importante cuidado de enfermagem.
Até à alta do cliente da unidade de pós-operatório, a equipe de enfermagem realiza um
cuidar/cuidado de enfermagem que perpassa por questões técnicas, fisiológicas, familiares, éticas,
espirituais e sociais. Especificamente nesse serviço, os clientes sem complicações recebem alta
para o quarto a partir do segundo dia após a cirurgia. E uma exigência é que a família mantenha-
se presente nesse momento.
Todas as nossas ações se voltam para o bem-estar do cliente: são cuidados diários, que
envolvem a preocupação com a estética, o conforto e posicionamento, a higiene, a alimentação,
sono e repouso, a administração de medicações, a realização de curativos, a identificação de
31
complicações. Pode-se dizer que qualquer que seja a ão junto ao cliente, sempre envolve a
presença de um profissional de enfermagem. Mas e os clientes? Como entendem e recebem estas
ações de cuidado? Será que tais cuidados conseguem atender suas necessidades?
Lanzillotti et al (2002: p. 65) diz que “se forem considerados os aspectos que envolvem a
sensibilidade para com o outro e a subjetividade humana, pode ser um cuidado terapêutico se
começarmos a medir as respostas destes no corpo do cliente.”.
Penso na vivência diária dessa prática com uma riqueza de cuidar/cuidado e acredito que
muito temos feito, mas pouco temos colhido para aprofundar nossa compreensão. Ao buscar, dos
clientes, a descrição desses cuidados e a identificação de suas respostas a eles, sejam elas
biológicas ou subjetivas, proponho o reconhecimento dessas ações, que, acredito, sejam
terapêuticas e a possibilidade de repensar e discutir o que ainda devemos e podemos melhorar,
permitindo aumentar o crescimento da enfermagem enquanto ciência.
32
CAPÍTULO III
Trajetória Metodológica
Trata-se de um estudo tipo exploratório e descritivo que apresentou, na fase exploratória a
intenção de ampliar o conhecimento em torno do problema focalizado, criando uma aproximação
com a temática. Para isso, em conformidade com os elementos descritos por Leopardi et al
(2002), procedeu-se às revisões na literatura e a realização de entrevistas. No processo descritivo
buscou-se a descrição, com exatidão, da realidade estudada, exigindo uma riqueza de
informações sobre o objeto proposto.
O estudo teve uma abordagem qualitativa, possibilitando a entrada no ambiente natural, no
qual estão inseridos os sujeitos da pesquisa, a fim de desvendar o entendimento que estes têm
acerca dos cuidados de enfermagem numa unidade de pós-operatório de cirurgia cardíaca. Estes
achados permitiram discutir, como as ações de cuidar repercutem no cliente a partir de sua
própria visão, considerando tratar-se de uma clientela com peculiaridades tão específicas.
Optamos pela pesquisa qualitativa, por entendermos que ela permite a compreensão e o
aprofundamento do conhecimento da realidade do cuidar em enfermagem enunciada da clientela
que é assistida pela enfermagem em pós-operatório de cirurgia cardíaca.
Entendemos que a pesquisa qualitativa traz significações que um indivíduo, ou um
determinado grupo, atribuem aos fatos e fenômenos vivenciados, sempre em um ambiente natural
e nunca em um ambiente reprodutor de situações. (TURATO, 2003).
As situações são realmente experimentadas, pois os sujeitos acometidos por uma doença,
aqui especificamente a doença cardiológica, vivenciam o processo de uma cirurgia e,
posteriormente, a hospitalização na unidade de terapia intensiva. Esta unidade atua como cenário
para a realização de múltiplos cuidados e onde, mesmo em momentos de maior objetividade, as
relações humanas são estabelecidas, propiciando um contexto formador de subjetividade,
interação, particularidades, valores, significados, percepções.
A pesquisa qualitativa tenta compreender fenômenos na perspectiva dos sujeitos que os
vivenciam, partindo de sua satisfação, surpresas, desapontamentos, sentimentos, na procura,
enfim de dados subjetivos. Atenta-se para o contexto social onde ocorre o evento. Tal método
valoriza a interação entre o pesquisador e o informante. (LEOPARDI et al, 2002).
33
Foi considerada a entrada do pesquisador com aproximação inicial do contexto e dos
sujeitos da pesquisa, no cenário de uma unidade de pós-operatório de cirurgia cardíaca, para que
se conhecesse profundamente essa realidade. Foi uma fase minuciosa, tendo em vista a riqueza de
fatos e fenômenos que ocorrem nesse ambiente, e os diferentes significados que a clientela com
tantas especificidades apresenta mediante a variedade de ações de cuidar recebidas. Ressalta-se
que o estudo foi subsidiado por revisões de literatura e elaboração de instrumento, as entrevistas,
que serão posteriormente, detalhadas. Tudo o que foi encontrado foi descrito de forma fidedigna,
possibilitando um encontro com os objetivos propostos no estudo.
-Cenário:
O cenário para a realização da pesquisa foi um hospital público de médio porte,
especializado em cardiologia, caracterizado como uma autarquia federal. É uma instituição de
referência, atualmente reconhecida por seu perfil cirúrgico, onde são realizadas diariamente, uma
média de quatro cirurgias cardíacas em adulto e uma infantil. Outro grande destaque são os
inúmeros exames realizados pelo setor de hemodinâmica, como o cateterismo cardíaco, as
angioplastias, técnica intervencionista com intuito de implantar um stent (uma espécie de rede)
em determinada artéria coronária, para desobstruí-la, evitando assim uma cirurgia cardíaca.
O hospital possui três andares destinados à internação clínica: o sétimo andar está destinado
a clientes portadores de miocardiopatia, o oitavo andar recebe os clientes portadores de doença
valvar e o nono andar está destinado à clientela coronariopata. Há uma média de vinte oito leitos
em cada andar. No quarto andar está localizada a cardiopediatria. Vale a pena ressaltar que esta
oferta de leitos, atualmente, não atende a demanda diária.
A terapia intensiva divide-se em três unidades: unidade cardiointensiva clínica (UCIC)
(composta de sete leitos), unidade coronariana (UCO) (composta de doze leitos) e a unidade de
terapia cardiointensiva cirúrgica (UTCIC) (composta de vinte leitos) unidade esta que se
constituiu no presente estudo.
Conhecida como setor de pós-operatório de cirurgia cardíaca adulto, esta unidade recebe,
diariamente, uma média de três a quatro clientes submetidos à cirurgia cardíaca e dois clientes
submetidos à angioplastia. As cirurgias mais comumente realizadas são as revascularizações do
miocárdio, trocas valvares, plastias valvares, atrioseptoplastias (fechamento de uma comunicação
atrial), endarterectomia de carótidas e reincidentes como drenagens de pericárdio e revisões de
esternos.
34
A instituição passou por várias reformas e atualmente, possui uma ótima estrutura, além de
uma tecnologia avançada, com suporte material capaz de atender às necessidades dos
procedimentos e dos cuidados que são aí efetivados.
Os profissionais que trabalham neste cenário possuem um padrão técnico-científico elevado;
e têm a preocupação de desenvolver-se e fazer da instituição um centro de pesquisas,
principalmente, tendo em vista a implementação de estudos com células-tronco no tratamento de
miocardiopatias. O programa de transplante cardíaco também já foi oficializado na instituição.
- Sujeitos:
Os sujeitos do estudo foram clientes adultos hospitalizados na unidade de pós-operatório
entre o segundo e quarto dias após serem submetidos à cirurgia cardíaca. O período diferenciado
da hospitalização dos sujeitos possibilitou a contribuição para uma diversidade nos discursos
durante a realização do estudo. Assim, a escolha da delimitação de um período para a realização
das entrevistas, buscou uma homogeneidade fundamental da amostra. Turato (2003, p. 365) diz
que “neste processo de seleção, pelo menos uma característica ou variável é comum a todos os
sujeitos da amostragem”.
Compuseram este estudo oito clientes: 4 do sexo masculino e 4 do sexo feminino, na faixa
média de 46 anos, variando de 19 a 64 anos de idade, com média de 2,7 dias de internação na
UTI. É importante relatar que os termos de consentimento livre e esclarecido foram assinados
pelos clientes ainda na enfermaria, geralmente na véspera da cirurgia, no momento em que a
pesquisadora tinha acesso ao mapa cirúrgico.
Caracterização dos sujeitos do estudo
Cliente Cirurgia realizada Idade Tempo de
permanência na UTI
Cliente 1
Sexo masculino
Revascularização do
Miocárdio
64 anos 4 dias
Cliente 2
Sexo feminino
Revascularização do
Miocárdio
60 anos 2 dias
Cliente 3
Sexo masculino
Troca valvar aórtica
mecânica
47 anos 2 dias
35
Cliente 4
Sexo masculino
Troca valvar mitral e
aórtica mecânica
19 anos 5 dias # em 24 horas
retornou a SO por
duas vezes por
sangramento intenso
Cliente 5
Sexo feminino
Revascularização do
miocárdio
35 anos # 1 cirurgia
cardíaca prévia em
2005
2 dias
Cliente 6
Sexo feminino
Revascularização do
miocárdio
38 anos 2 dias
Cliente 7
Sexo feminino
Troca valvar mitral e
aótica biológica
43 anos 2 dias
Cliente 8
Sexo masculino
Revascularização do
miocárdio
59anos 2 dias
Fonte: Dados de entrevistas realizadas no estudo.
Observa-se que o cliente 4 permaneceu na unidade de terapia intensiva por 5 dias,
modificando a proposta de uma amostra de clientes em hospitalização no pós-operatório, entre o
segundo e quarto dias após a realização da cirurgia cardíaca.
Mas torna-se importante considerar que a pesquisa desenhada inicialmente com
determinadas possibilidades, pode promover inclusões progressivas, impulsionadas por
descobertas no campo, confrontando-se com a teoria. (MINAYO, 2004).
Foram assinados 16 consentimentos, mas 8 clientes não puderam ser entrevistados pelas
seguintes razões: complicações no per e pós-operatório imediato, como sangramentos, resultando
em instabilidades hemodinâmicas e maior tempo de internação, modificando o perfil da amostra
escolhida para a pesquisa aparecimento, no pós-operatório, de sinais de desorientação
psicológica, quadros de ansiedade, agitação, nervosismo, que impossibilitaram a entrevista, e
suspensão de cirurgias, devido, por exemplo, à falta de hemocomponentes.
Ressalto que as entrevistas somente foram realizadas mediante a estabilidade clínica dos
sujeitos, os quais estavam sem prótese ventilatória e sem efeito de drogas anestésicas ou
36
sedativas, verbalizando com segurança sobre as ações de cuidar, recebidas da equipe de
enfermagem.
Outro fator a ser considerado para a realização das entrevista foi buscar certo
distanciamento para que os sujeitos me identificasse muito mais como pesquisadora, do que
como enfermeira da unidade, para que seus depoimentos fossem verdadeiros e não houvesse
constrangimentos.
No intuito de garantir a segurança dos sujeitos a serem entrevistados, bem como o
esclarecimento e o respeito da equipe de saúde da unidade, a pesquisadora solicitou através do
consentimento do profissional de saúde que estava cuidando diretamente destes clientes, a
constatação e confirmação das condições de estabilidade clínica destes sujeitos, no momento das
entrevistas.
Por ser uma pesquisa envolvendo seres humanos, ela atendeu aos pressupostos e princípios
arrolados na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Os aspectos éticos e científicos
foram respeitados, pois, a eticidade da pesquisa implica em considerar os princípios, como o da
autonomia, onde os sujeitos devem ser informados através do consentimento livre e esclarecido,
para a proteção dos grupos vulneráveis, aqui entendidos como os que têm sua capacidade de
autodeterminação reduzida, além dos legalmente incapazes. No que se refere ao princípio da
beneficência, observou-se a ponderação entre os riscos e os benefícios, ou seja, nos
comprometemos com o máximo de benefícios e o mínimo de danos. E o princípio da justiça e
eqüidade foi de fundamental importância porque revelou a relevância social da pesquisa com
vantagens significativas para os sujeitos da pesquisa e minimização do ônus para os sujeitos
vulneráveis. Finalizando, o princípio da não maleficência que garantiu o afastamento dos danos
previsíveis.
A pesquisa foi apreciada pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da própria instituição,
sendo autorizada após parecer consubstanciado.
-Técnica e instrumentos:
O instrumento constitui-se de roteiro de entrevista semi-estruturada, Triviños (1987, p.146)
explica que a entrevista semi-estruturada “ao mesmo tempo em que valoriza a presença do
investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e
37
a espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação”. Desta forma, nos permitiu ajustes de
questões e concessão de tempo necessário para que o cliente refletisse acerca do que foi
formulado.
Esta técnica é denominada, por Turato (2003, p.313-314) de entrevista semi-dirigida,
porque aborda que o ato de dirigir significa dar direção, para onde à entrevista caminhará.
Considera, ainda que o entrevistador tenha a liberdade de solicitar ao sujeito que fale mais
particularidades, em momentos em que haja maior necessidade de compreender os significados,
além de dar liberdade para que o entrevistador solicite maiores explicações sobre respostas
obscuras a outros questionamentos ao sujeito entrevistado.
O roteiro norteador da entrevista buscou a aproximação ao objeto de pesquisa, o que
permite, aos sujeitos discursar, detalhar sobre o tema abordado, pois nos aportando de Minayo
(2004, p.124), entendemos ser “uma relação intersubjetiva [...] que contempla o afetivo, o
existencial, o contexto do dia-a-dia, as experiências, e a linguagem do senso comum, e é condição
sine qua non” do êxito da pesquisa qualitativa”.
As entrevistas foram gravadas em fita cassete e posteriormente transcritas. As fitas serão
arquivadas por um período de cinco anos, respeitando o sigilo dos nomes dos sujeitos bem como
a exclusão de alguns trechos, quando solicitado.
A gravação em fita cassete representa uma das grandes formas de registros citadas por
Ludke e André (1986), pois “carregam consigo as vantagens de ser um registro imediato de todas
as expressões verbais e liberdade para o entrevistador prestar mais atenção ao depoente.”.
Para a análise dos dados adotou-se a análise temática, que visa descobrir unidades de
significação, isto é, os temas que contêm uma comunicação, onde a presença ou a freqüência
destes demonstrem algo, um sentido, para o objeto proposto. (MINAYO, 2004).
Esta técnica de análise desdobra-se em três momentos que são: a pré-análise, na qual houve
uma leitura exaustiva e organização do material produzido, a fim de determinar a unidade de
registro (palavra-chave ou frase); a unidade de contexto (delimitação do contexto de compressão
da unidade de registro) tais como: recortes formas de categorização, conceitos teóricos mais
gerais que orientam a análise). No segundo momento a exploração do material buscou a
lapidação dos dados, a fim de alcançar a compressão do texto. Posteriormente, submeteu-se os
resultados obtidos a um tratamento analítico e a interpretação.
38
Esta técnica permitiu trabalhar com os significados surgidos após a entrevista semi-
estruturada com os sujeitos submetidos à cirurgia cardíaca onde buscou-se através de uma
regularidade no tratamento dos dados, evidenciar os resultados da pesquisa, para uma maior
aproximação ao objeto recortado para este estudo.
39
CAPÍTULO IV
Análise e Discussão dos dados
Neste momento, apresentamos a análise dos dados provenientes das entrevistas realizadas,
utilizando a metodologia proposta. Para a categorização dos dados buscamos, nas falas dos
clientes a presença de elementos (palavras, frases) que continham uma relação com o objeto
proposto. A partir desta intensa lapidação dos dados, emergiram duas categorias:
Cuidado de enfermagem: Da objetividade à sensibilidade
Ambiente e cliente: numa relação de cuidado.
categoria de análise : Da objetividade à sensibilidade discute a objetividade que está
presente no cotidiano de uma unidade de terapia intensiva, pelo predomínio do modelo
reducionista; denominado “modelo cartesiano”, consolidado pelo matemático francês René
Descartes, fortemente caracterizado por não aceitar a interferência de valores humanos e
religiosos nem qualquer variável relacionada à subjetividade na busca da verdade. (SILVA,
2003).
Esse modelo explicativo que incorporou as inovadoras concepções sobre a estrutura e
funcionamento do corpo influenciou a formação dos profissionais da área de saúde durante longo
período de tempo que buscavam compreender o corpo e sua interação harmônica com as partes.
Tal modelo introduziu gradativa reorientação nos princípios e práticas para a compreensão do
funcionamento do corpo como se fosse a máquina e suas engrenagens. As ciências biomédicas
com o êxito do paradigma mecanicista fundamentavam suas práticas em leis gerais na tentativa
de explicar os fenômenos da natureza.
O modelo biomédico reafirma e reforça o comportamento cartesiano quando separa o
observador do objeto, atrelando o reducionismo e o mecanicismo ao profissional de saúde, que
supervaloriza a ênfase no olhar biológico. A visão de um corpo mecanicista, o dualismo entre
mente e corpo, são princípios, que dificultam o trabalho com a subjetividade, não existindo
40
espaço para a participação dos sujeitos no cuidado e nem para formas de tratamentos diferentes
das oficiais. (TEIXEIRA, 1998).
Nascimento et al (2004) diz que na unidade de terapia intensiva “o cuidado ainda é
orientado pelo modelo médico biologicista, cuja atenção está voltada principalmente para o órgão
doente, para a patologia e para os procedimentos técnicos”.
Entretanto, verifica-se que a unidade de terapia intensiva, mais do que um ambiente do
cuidado que privilegia a tecnologia e a racionalidade, permite, no âmbito daquela compreensão
que outros elementos também sejam considerados como a dor, o desconforto e o sofrimento, pois
estes também são lembrados pelos profissionais de enfermagem, ao dar sentido a este ambiente,
conforme observou SILVA (2006) em sua tese de doutorado.
Jamais poderemos desconsiderar a importância desta concepção, pois respondeu às
grandes questões de saúde, mas, atualmente com a evolução da sociedade, bem como com a
compreensão do homem e do cuidado em saúde, já não conseguimos mais dar conta de explicar a
complexidade dos processos que acompanham o indivíduo na saúde, na doença e na morte;
evidenciando sua impossibilidade em oferecer respostas conclusivas ou satisfatórias para muitos
problemas, principalmente, para os componentes ou elementos psicológicos e/ou subjetivos que
acompanham qualquer doença.
Tal consideração é sustentada por Teixeira et al (1997, p. 276) que nos afirma que “o
antigo paradigma de linha positivista que tem se apóia no mecanicismo, no dualismo cartesiano,
na priorização do método, na quantificação e no empirismo, está demonstrando uma insuficiência
para dar conta de certos aspectos humanos.” Assim, abrem-se caminhos para tornar possível o
estudo da subjetividade, à medida que buscamos arriscar outros métodos que venham contribuir
com questões que o método dedutivo e positivista não concede. (TEIXEIRA, FIGUEIREDO,
2000.)
Apoiamos-nos em Teixeira (1997, p.27) que entende subjetividade “como produção de
sentido, que se expressa nas sensações e ações dos sujeitos.” A subjetividade é influenciada pelo
contexto assistencial e modelada pela interação entre dois sujeitos, quem cuida e quem é cuidado.
Além disso, o cuidado subjetivo pode despertar, nestes sujeitos, um sentimento de prazer ou
desprazer. (SANTORO, 2000.)
41
Portanto, é importante considerar a imersão do sensível no cuidado, valorizando a
intuição, o desejo, as emoções, a realidade corporal, existentes no processo saúde-doença.
(TEIXEIRA, 1997.)
Ao buscar o entendimento sobre cuidado de enfermagem e como este aconteceu na
unidade de pós-operatório, observa-se nos depoimentos dos clientes, alguns aspectos
relacionados a estética, o que poderia caracterizar o cuidado subjetivo, como uma combinação
com os cuidados objetivos, entendidos com procedimentos realizados ao corpo físico destes
clientes.
“Recebi um cuidado com carinho, com amor, com dedicação. Falavam para mim, não
vai doer, não vai sentir nada. Realmente não senti nada. Graças a Deus, vocês são excelentes
como enfermagem.” (cliente 2).
Atenção total, delicadeza, pessoas interessantes de se conviver, de conversa
interessante, atenciosas, mostram que sabem o que estão fazendo, que não tem vida do que
vai fazer, não é carinho e atenção, é você entender, você sente confiança, não questiona o
que está sendo feito.” (cliente 1).
“Eu entendo que é ter um bom atendimento, acho que é tudo... achei ótimo. Banho,
curativo, foi ótimo.” (cliente 3).
“Aqui vocês dão banho, fazem todo o papel né, trocam roupa, trocam tudo e fica uma
enfermeira somente responsável por você (...) Eu gostei. Acho diferente. Eu pensei que era o
jeito que ela dava o medicamento, mas não, é o jeito que ela trata a gente, fala com a gente.
(...) Na forma de dar o banho, tem a paciência porque certas pessoas não têm a capacidade de
fazer isto. (...) elas ficavam sempre preocupadas, eu sentia que elas estavam fazendo um
trabalho bem feito e que este local que eu estou valia a pena...” (cliente 4).
“Dar atenção (...) não que seja toda hora, mas nas horas mais importantes tipo o que para
a gente é uma sede, ou explicar que você não pode tomar uma água, ou desde a hora de uma
42
medicação, até um simples bom dia que o enfermeiro passa pela gente e fala, isso é muita
coisa...” (cliente 5).
“(...) eu vendo ali o pessoal sempre atencioso, com cuidado. (...) às vezes é coisa mínima
que ela faz (a enfermeira), às vezes é na hora do remédio que ela vem, numa preocupação que
ela transmite, ta ali, ta no sangue, passar e dar um sorriso, às vezes nem para ou vem te
aplica o remédio e vai embora. Mas te deixa tão satisfeita e aquilo ali te da uma força tão
grande para viver, que você nem imagina quanto, do que vir uma que não te transmite nada e te
deixa aborrecida com medo de ficar naquele lugar...” (cliente 5).
“(...) até o banho por último agora foi um enfermeiro homem que me deu, não fiquei
constrangida, não tive vergonha, e ele deu banho direitinho, com calma, soube me arrumar eu
podia ficar nervosa, né, é um homem, é um profissional, profissional não tem homem, não tem
mulher, eu vi um bom profissional.” (cliente 5).
“(...) Foi bom, elas cuidaram direitinho, toda vez que eu sentia dor, elas me deram os
medicamentos que precisavam, aplicaram o que tinha que aplicar, quando eu ia vomitar, na
mesma hora elas foram e me botaram o paninho para eu não me sujar, em relação a este tipo
de coisa não tenho que reclamar mesmo.” (cliente 6).
“A enfermeira que eu peguei foi nota dez, não tenho que reclamar não, ela vinha cuidava
ajeitava minha roupa, dava o suco direitinho, teve aquele cuidado necessário que tinha que
ter, fez carinho, isto é necessário na UTI, a gente está fragilizado..” (cliente 6).
“Cuidaram bem, me deram banho, gostei (...) senti frio, deram o banho mais rapidinho
(..) ela falou vou te dar um banho e me tratou bem (..) foi tudo ótimo me trataram bem, me
viraram para dar o banho, mas viraram devagarzinho, foi tudo bem.” (cliente 7).
“(...) Exatamente esse carinho, esse cuidado, eu senti que as pessoas que estão aqui estão
qualificadas...” (cliente 8).
43
“Cuidar bem do paciente, fazer uma boa higiene, não haja contaminação, um zelo com o
paciente como se fosse um parente da gente.” (cliente 8).
Estes depoimentos evidenciaram a importância dos aspectos subjetivos na realização das
ações de cuidar, no contexto de uma UTI, enfatizando a relevância do “cuidar”, conceito bastante
negligenciado na abordagem à “saúde mais tradicional”, pois envolve estar atento às necessidades
do bem-estar físico/orgânico, mas também emocionais e espirituais.
Por isso, a compreensão da pessoa é fundamental para subsidiar o cuidado que
pretendemos conceder ao cliente, pois assim reconheceremos na prática aquilo que aportamos
teoricamente: que o contexto influencia o cliente e vice-versa, porque ele não é objeto e muito
menos é fragmentado como o modelo biomédico nos mostra. Implica, também, em conceber que,
quem cuida, também possui suas necessidades como ser humano e que necessita ser entendido e
respeitado na sua integridade para o desenvolvimento da dignidade. Isto nos permite pensar na
reciprocidade do cuidado, ou seja, “dou o melhor de mim porque estou atento aquilo que o outro
necessita, e recebo como resultado, o conforto e o restabelecimento do cliente”.
Os cuidados como banho, administração de medicações, curativos são cuidados concretos,
objetivos, realizados diariamente naquela unidade. Mas o que impressiona é como a subjetividade
emerge na realização desses cuidados, contemplando o sensível numa perspectiva estética,
através da preocupação com a aparência física, no cuidado com seus corpos, no olhar, sentir e
perceber o outro demonstrando atenção, através de um simples bom dia, na segurança para a
realização de um procedimento, no carinho, na confiança, no sorriso, na orientação, na presença,
no respeito à privacidade, caracterizando-se como aspectos tão importantes que transmitem força
para que os clientes possam superar este período de hospitalização. É como se encontrassem no
outro, o dinamismo necessário para conseguir se superar e continuar perseverando em busca da
cura, do conforto e da atenção.
Tal fato nos permite compreender o que se busca, atualmente, é um cuidado caracterizado
pela eficácia, efetividade, aceitabilidade, legitimidade, otimização e eqüidade como tributos de
qualidade na assistência. Assim, os clientes nos remetem à importância das ações que geram bons
efeito porque são ações verdadeiras, autênticas, dignas, aproveitando ao máximo a capacidade
humana, provendo igualdade durante a realização do cuidado.
44
Souza et al (2005, pág.269) relata que “os modos ou modelo de cuidar em enfermagem,
não são, portanto uma questão unicamente instrumental e operacional para o trabalho, mas antes,
o reconhecimento de sua finalidade para a vida humana.”.
Os sujeitos demonstram que mesmo diante de um ambiente tecnológico, biológico,
objetivo
1
, cercado de situações definidoras, com predomínio da razão e da instrumentalidade, os
profissionais de enfermagem conseguem fazer uma conexão em sua prática entre objetividade e
subjetividade, que é o que temos buscado teoricamente e que temos mencionado como interfaces
do cuidado em enfermagem.
Os clientes exemplificam banho, administração de medicações, como cuidados repetitivos
no cotidiano de uma unidade de terapia intensiva e sentem-se seguros e confiantes na realização
desses cuidados, ao relatarem que os profissionais demonstram saber o que estão fazendo, além
de informá-los. O trabalho é realizado de forma adequada, os profissionais de enfermagem são
qualificados, responsáveis, preocupados com as condições dos sujeitos, além de se empenharem
para que não haja contaminações.
Sabemos que mesmo sendo muito comuns neste ambiente, tais cuidados devem ser
realizados com cautela, avaliação e principalmente conhecimento. Ao realizar um banho em um
cliente grave, com presença de cateteres, drenos, balão intra-aórtico
2
, por exemplo, se não são
respeitadas as técnicas, além de uma observação rigorosa, garantindo uma movimentação
adequada, as complicações são passíveis de ocorrer e, se presentes é necessário saber como lidar
com elas de forma imediata. Da mesma maneira ocorre com os medicamentos, a mola-mestre do
tratamento médico. Para preparo e administração deve-se dispor de conhecimento, bem como
saber das possibilidades de reações adversas e incompatibilidades. Tudo isso só é garantido
mediante a qualificação dos profissionais de enfermagem, através do conhecimento e aquisição
de treinamentos. É também no momento da realização de tais cuidados que descobrimos as
verdadeiras necessidades dos clientes e buscamos formas de realizá-los, a fim de diminuir as
_____________________________________________________________________________.
1
Aquilo que se opõe ao mental; aquilo que escapando aos caprichos subjetivos e às arbitrariedades do sujeito, pode
ser considerado uma coisa captável por uma multiplicidade de sujeitos, de forma independente e autônoma, em
relação a qualquer um deles. (FILHO, 1997).
2
Dispositivo de assistência cardiocirculatória mecânica do tipo em série com contrapulsação que proporciona a
redução do trabalho cardíaco por meio da diminuição da pós-carga e da pressão diastólica final do ventrículo
esquerdo, aumentando a perfusão coronariana. (PALOMO, 2007).
45
sensações de desconforto e dor. Aliado a estas ações de cuidar, os clientes verificam a presença
do sensível, enunciando-se como necessário na percepção do cuidado.
Uma das condições que favorece a percepção dos clientes às nossas ações de cuidar é a
presença constante da equipe de enfermagem neste contexto da unidade de terapia intensiva,
sendo ela que ouve os gemidos dos clientes, que observa suas expressões faciais, que ouve suas
reclamações e insatisfações. (Leão, et al, 2007).
É durante o ritual de cuidar nos envolvemos. Nossos movimentos se combinam, se
entrosam. No momento da execução de um procedimento técnico de curativo, na realização de
um banho no leito, na verificação de uma pressão arterial, é que passamos a sentir, de perto, as
necessidades do cliente, bem como a melhor maneira de aconchegá-lo, de sentir sua pele, de
observar, através da expressão facial, suas sensações de prazer , de dor, medo e alívio.A busca do
cuidado de qualidade implica, aos profissionais de enfermagem, a possibilidade de fazer o melhor
para o seu cliente e modificar estruturas estabelecidas, pois o cliente busca qualidade no
atendimento, segurança e garantia que seus desejos sejam contemplados e que vai encontrar
suporte necessário para lutar por sua melhora. (SANTORO, 2000).
Os profissionais de enfermagem, através de suas ações de cuidar, estão conseguindo
transcender os campos da objetividade. Santoro (2000, p.108) ao defender sua tese, sustentou a
“existência de uma dimensão subjetiva nas ações de cuidar e nos cuidados prestados pela
enfermeira e sua equipe, durante o seu cotidiano na unidade coronariana”
Isto vem ao encontro do que nossos clientes relatam sobre a presença da sensibilidade ao
receber os cuidados de enfermagem, mesmo que para nós, profissionais de enfermagem, pareçam
gestos pequenos, quase imperceptíveis, para eles ganham tamanha proporção
Ao buscar o que os clientes entendiam como cuidado de enfermagem e como se deu este
cuidado na terapia intensiva cardíaca, observamos, como descrito, a presença de objetividade,
sensibilidade e subjetividade. Desta maneira procuramos sintetizar , destacando algumas palavras
ditas pelos sujeitos , que expressam tais princípios, enriquecendo os depoimentos.
Objetivo
Cuidados objetivos com o corpo
físico
Sensível
Cuidados como preocupação
com o outro e sua condição
Subjetivo
Cuidados percebidos
46
Troca de roupa carinho Pessoas interessantes
banho amor O jeito de tratar
medicação dedicação O jeito como fala
Dava o suco orientação Um simples bom dia
Ajeitava minha roupa delicadeza É coisa mínima que
ela faz
paciência Ficavam preocupadas
Sente confiança
Sem constrangimento
Gestos devagar e com
zelo
Tá no sangue
Só da um sorriso
Fonte: Dados de entrevistas realizadas no estudo
Através dos temas/ unidades temáticas que emergiram dos depoimentos, podemos
perceber que, ao fechar as cortinas dos boxes para realização de uma imensidão de procedimentos
técnicos aos clientes hospitalizados na terapia intensiva, os profissionais de enfermagem vem
associando ingredientes revestidos de sensações como carinho, atenção, segurança, preocupação,
qualificação, para minimizar a agressão concebida por tantas técnicas e manipulação, necessárias
à manutenção da vida.
A técnica concede ao homem a possibilidade de conhecer o inimaginável, modificando a
natureza, dominando-a, ou seja, a técnica em si pode ser entendida, em última análise, como meio
de universalizar ou de dominar. Sendo assim, a enfermagem deve utilizar-se dela consciente e
responsavelmente A técnica, aliada à ciência, permite ao homem transformar, de forma
irremediável, sua própria natureza e a natureza de outras espécies que com ele participam da
aventura da existência universal.
Retornando o pensamento para a Grécia clássica, encontramos em Aristóteles (2000), as
considerações sobre a capacidade intelectual humana e sua relação com suas formas de
estabelecer uma relação com a realidade, quais sejam: a contemplação (theoría), procurada em
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razão de si mesma e possuindo como fim o conhecimento da verdade das coisas; a ação (práxis)
buscada em razão do bem (agathón) ou da excelência (areté) do indivíduo e da comunidade,
configurando-se como objeto das ciências práticas, a Ética e a Política; e a produção ou a
fabricação (poiéses), a qual, por meio da técnica (techné), tornava possível a obtenção de objetos
artificiais, cuja finalidade era a pura utilidade ou mero prazer. Interessa-nos, por ora, enfocar a
primeira e a última relação descritas por Aristóteles, do intelecto humano com a realidade, haja
vista sua correspondência ao que, hoje, denominamos ciência e técnica, respectivamente.
Em um setor extremamente tecnificado, cujo reconhecimento social dos padrões, da
tecnologia e da qualificação dos profissionais é indubitável, as manifestações de maior atenção
percebidos pelos clientes, foi não terem sido confundidos com objeto, como um corpo doente,
mas sim como pessoas que precisam de respeito e exigem dignidade, principalmente, por terem
sido notadas, olhadas, cumprimentadas e distinguidas.
O cuidado de enfermagem é um cuidado complexo, porque o ser humano também assim o
é. A partir deste contexto, o cuidado, pode ser entendido como aquele dotado de um agir
verdadeiramente humano, pois na ação em si, manifestada por atos, atitudes, comportamentos, o
sujeito deliberadamente o realiza no sentido de promover o bem, ao contrário, não seria cuidado,
mas um descuidado. (SHIRATORI; FIGUEIREDO; TEIXEIRA, 2006).
Os depoimentos podem nos parecer, à primeira vista, coisas pequenas. Porém estas
pequenas coisas que constituem o cuidado de enfermagem, não são medíocres, pois sem elas, não
teria sentido a internação do cliente. Como menciona Hesbeen (2000) “esta característica
proporciona força real, pois sentido à vida de quem sofre, ao mesmo tempo em que revela o
nível de formação e as qualidades dos profissionais”. Não se pode curar ou tratar de uma pessoa,
sem que ela seja cuidada.
Cavalcanti (2002,p111) em sua dissertação de mestrado descreve detalhadamente a
interação entre enfermeiros e clientes no cenário da cirurgia cardíaca “cujas peculiaridades
próprias fazem do cotidiano uma mistura de objetividade com subjetividade, correria com
sensibilidade, calor com frio, colorido com preto e branco, luta pela vida com perda de vida”.
A mesma autora complementa que este cuidar, pela sua complexidade, por momentos
torna-se frio e mecanicista, quando envolve correria, manuseio de equipamentos tecnológicos,
mas por outro lado, esta frieza é amenizada quando encontramos o toque, o sorriso, a
preocupação, as palavras que consolam e aliviam a solidão.
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Ao final da análise dessa primeira categoria podemos considerar, através das falas dos
clientes que vivenciaram a hospitalização na unidade de terapia intensiva, após serem submetidos
à cirurgia cardíaca, que o cuidado de enfermagem por eles recebido pode ser entendido como:
- um cuidado qualificado, seguro, responsável;
- um cuidado revestido de amor, carinho, paciência, preocupação, delicadeza, paciência;
- um cuidado que busca minimizar a dor e o sofrimento;
- um cuidado ético e estético;
-um cuidado objetivo revestido de subjetividade;
- um cuidado, que une ciência e arte;
- um cuidado comprometido com a vida.
2- Ambiente e cliente: numa relação de cuidado
O ambiente de uma unidade de terapia intensiva é extremamente peculiar, sobretudo se
considerarmos a presença do cliente crítico e a necessidade do suporte tecnológico para
manutenção da vida desta clientela.
Esta relação entre máquinas e fator humano torna-se um viés para grandes reflexões e
desafios neste ambiente, quando estes aparelhos que salvam vidas também podem, por outro
lado, distanciar os profissionais de seus clientes.
Nesse cenário de tantas peculiaridades, é fundamental pensar no cliente crítico e nas ações
de cuidado voltadas para eles, bem como na necessidade de possibilitar um ambiente propício à
sua recuperação de forma digna.
Florence Nightingale em sua obra “Notas sobre Enfermagem” demonstrou que a
preocupação com o ambiente era um fator determinante para permitir ao organismo manter
condições para não adoecer ou se recuperar das doenças. Suas instruções demonstravam como
criar e manter um ambiente terapêutico.
Silva (2006, pág. 72) nos diz que “embora não haja uma definição específica, o termo
ambiente terapêutico remete a idéia de um ambiente que reúna as condições necessárias,
favoráveis à recuperação do cliente e melhor desempenho profissional.” Este mesmo autor, ao
buscar os significados atribuídos ao ambiente de unidade de terapia intensiva pelos profissionais
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de enfermagem, constatou a dificuldade em propiciar um ambiente terapêutico, relacionando tal
dificuldade com a idéia de ambiente de dor, sofrimento e desconforto, tão freqüentemente
atribuído a UTI. Além de considerar que na concepção destes profissionais, o cuidado de
enfermagem parece sofrer influência do ambiente de terapia intensiva e de todas as suas
particularidades.
Tal consideração parece se aproximar, também, da ótica dos clientes hospitalizados na
unidade de terapia intensiva cardíaca, pois ao buscarmos o entendimento sobre o cuidado de
enfermagem , foram identificados elementos relativos ao ambiente tais como, barulhos, ruídos,
temperatura, privacidade física, como fatores que interferem diretamente nas ações de cuidar.
Tais depoimentos demonstram a necessidade e importância de se pensar no ambiente do cuidado.
(...) eu não tenho experiência de hospital, ainda bem, né... (risos) é a primeira vez, a
única coisa que tenho reclamado aqui é o ar-condicionado é gelado demais (..) Eu acho que
deveria ter um controle no ambiente, se pudessem diminuir a boquinha do ar-condicionado (..)
Acho que a hora que eu mais me senti mal foi a hora em que eu cheguei aqui que me deram
banho, raspagem.. Eu tremia igual a vara verde (...)” (cliente 1).
“(...) Toda hora perguntando se esta tudo bem, se esta precisando de alguma coisa (...)
Isto beneficia, porque aqui é um local meio barulhento, né, e você fica meio irritado (...)”
(cliente 4).
“(...) Desses dias, foi mais tranqüilo, apesar de ser menos dias, mais os banhos que eu
tomei foi tranqüilo, não afetou, tanto é que nem disparou aquela máquina.” (cliente 5).
“(...) Faltou silêncio, muito barulho delas, conversa, acho que elas esqueceram, tudo
bem a gente estava dopada, mas a gente escuta. Este barulho atrapalhou em termos, que eu
queria ficar mais calma e tinha muita agitação.” (cliente 6)
Os aparelhos não incomodam, quando acho que sai alguma coisa do lugar, né, ou
alguma coisa assim, aí eles incomodam um pouco, mas elas vem logo.” (cliente 6)
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“O banho foi bem, achei que tinha muita gente (...) daqui a pouco estava cheio,
quer dizer privacidade zero, faltou em relação a este tipo de coisa, privacidade foi o que
faltou.” (cliente 6)
“(...) a gente ta numa situação que a gente perde a noção de tempo e horário e você
tendo estes cuidados ajuda muita coisa, né..” (cliente 6)
“Eu fui muito bem cuidado, acho que dentro das minhas possibilidades fizeram tudo, eu
só tenho uma observação a fazer, que tenham cuidado a conversar, porque a gente que ta doente,
a gente ouve tudo, até as conversas mais íntimas das pessoas, então a gente acaba tendo
conhecimento da vida do outro, ou pelo menos ouve muita coisa, que acho que não deveria
ouvir.” (cliente 8)
O ambiente de uma unidade de terapia é caracterizado por ser fechado, seco, refrigerado,
com iluminação artificial, com uma variedade de ruídos que ocorrem devido ao funcionamento
da tecnologia pesada (monitores cardíacos, ventiladores mecânicos, bombas infusoras...) além das
conversas da equipe multidisciplinar. Os leitos destinados a receber clientes graves obedecem aos
aspectos estruturais e operacionais, para otimizar a realização dos cuidados.
Kinney (1991) apud Silva (2006, p. 82-83) reforça esta caracterização do ambiente de
terapia intensiva, destacando que ele deve possuir, “além de um excelente modelo de assistência
médica, um ótimo planejamento em sua planta física, que deverá atender aos requisitos de
observação direta do paciente, a monitorização fisiológica através de equipamentos eletrônicos e
boas condições ambientais (ventilação, poucos ruídos...)”.
Como dito anteriormente, o cenário onde ocorre a pesquisa é uma unidade complexa,
composta de vinte leitos, com grande rotatividade, devido à realização diária de uma média de
quatro cirurgias cardíacas. Isto demanda um quantitativo maior de profissionais de enfermagem,
com atividades que não são interrompidas no período noturno, somente reduzidas. Mas conhecer
estes fatores desencadeadores de estresse aos nossos clientes é importante, principalmente no que
tange aos modificáveis.
Nossos clientes apontam o barulho, tanto dos equipamentos, quanto principalmente, o
ruído provocado pelas conversas, além da falta de privacidade, do ambiente frio, da perda da
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noção do tempo, como fatores de irritação, desconforto, perda da tranqüilidade, agitação,
estresse. Estas são conseqüências que dificultam a recuperação dos clientes.
Bitencourt et al (2007) define estresse “como uma situação tensa, fisiológica ou
psicológica, que pode afetar a pessoa em todas as suas dimensões. A resposta ao estresse é
influenciada pela intensidade, duração e âmbito do agente agressor.”.
Os agentes estressores, entendidos como mudança ou estímulo que desperta este estado de
estresse, podem ser descritos como físicos (frio, calor,...), fisiológicos (dor, fadiga.) ou
psicossociais (reações emocionais, como medo, ansiedade,...). (BRUNNER & SUDDARTH,
1998).
A resposta fisiológica ao estresse acontece havendo um aumento da freqüência cardíaca e
da pressão arterial , conseqüências da resposta do sistema nervoso simpático. também
aumento do nível de glicose sangüínea, aumentando a taxa metabólica, e isto se deve a respostas
medulo-adrenal-simpáticas. produção de glicocorticóides como o cortisol, que estimula o
catabolismo protéico, devido à resposta hipotalâmico-hipofisária. Os glicocorticóides, quando
presentes em altas concentrações deprimem o sistema imune, havendo uma redução na resposta
inflamatória e sistêmica. (BRUNNER & SUDDARTH, 1998).
Tais alterações fisiológicas podem gerar respostas negativas no cliente em pós-operatório
de cirurgia cardíaca, como aumento do trabalho cardíaco e diminuição da resposta imune. Este
último, favorecendo a propensão de infecções.
Portanto, ao buscar formas para a redução dos fatores de estresse presentes no ambiente,
que o determina como não terapêutico, procuramos prover uma hospitalização mais agradável e
segura para o cliente. Tal fato nos permite dizer, que ao cuidar deste ambiente, estou
promovendo, mesmo que de forma indireta um cuidado aos clientes na unidade de terapia
intensiva.
A percepção de nossos clientes sobre o cuidado de enfermagem vem de acordo com o que
os profissionais evidenciam, pois sofrem influências do ambiente da unidade de terapia intensiva.
Isto explica as razões porque os profissionais de enfermagem também precisam pensar no
ambiente onde o cuidado está sendo desenvolvido, oferecendo um ambiente limpo, tranqüilo,
aconchegante, com iluminação favorável ao ritmo circadiano do cliente, além de uma
temperatura adequada. (SILVA, 2006). Este autor complementa que muitos fatores que fazem da
unidade de terapia intensiva um ambiente não terapêutico, não são passíveis de serem alterados,
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como por exemplo, o alarme dos equipamentos. Entretanto, a luminosidade excessiva, a
temperatura e as conversas em altos tons, podem sofrer intervenções, minimizando seus efeitos
negativos neste ambiente.
O Ministério da Saúde em sua Portaria Nº. 3.432 de 1998 discorre sobre vários aspectos da
humanização das unidades de terapia intensiva como cuidados com “a climatização, iluminação
natural, divisórias entre os leitos, relógios visíveis para todos os leitos, garantia de visitas diárias
dos familiares, à beira do leito, bem como garantia de informações da evolução diária dos
pacientes aos familiares.”.
A preocupação com a climatização na unidade de terapia intensiva é fundamental pois o
cliente em pós-operatório de cirurgia cardíaca necessariamente apresenta risco para temperatura
corporal desequilibrada relacionada à exposição ambiental, à alteração da taxa metabólica, à
sedação e à terapia com vasodilatadores e vasoconstritores. O objetivo é manter uma temperatura
retal/axilar em torno de 36, 5º C. (AULER JR et al, 2004). Portanto a manutenção da temperatura
corporal é um cuidado de enfermagem.
A sensação de frio é algo muito singular, próprio de cada indivíduo, pois alguns gostam e
suportam locais com muita refrigeração, mas outro têm um limiar pequeno para suportar tal
incômodo, gerando intenso desconforto, chegando a promover sensações dolorosas.
A refrigeração presente no ambiente da unidade de terapia intensiva favorece o estado de
hipotermia (diminuição da temperatura corporal) nos clientes. Atualmente, há discussões na
comunidade científica buscando evidências que respondam se a temperatura da pele pode ser
considerada um indicador para hemorragia grave no pós-operatório.
Em sua investigação em uma unidade de terapia intensiva cardíaca Manduz et al (2006)
mostrou que “a duração da temperatura da pele baixa é significantemente mais longa em
pacientes que tiveram maior sangramento.”
Realizar condutas para promover o aquecimento da pele a níveis em torno de 36º, através
de cobertores e colchas, é um cuidado de enfermagem. Atualmente dispomos de mantas térmicas,
que otimizam tal cuidado.
Outro elemento que chamou a atenção dos clientes durante a hospitalização foi perda da
noção do tempo. Na unidade de terapia intensiva, o sono e repouso acontecem, na maioria das
vezes, de forma irregular, e isso somado à presença de uma iluminação artificial, resulta no
aparecimento de clientes que se confundem entre o dia e o horário. Entretanto, um simples “bom
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dia”, “boa noite” dos profissionais da unidade, além de cordial e agradável, orientam os clientes
quanto ao tempo, pois eles começam a correlacionar o momento da realização de um cuidado.
Por exemplo: o banho ocorre durante o período da manhã, as visitas ocorrem durante o almoço e
a noite, com um exato período do dia. Outra medida a ser considerada é a colocação de relógios
próximos aos leitos.
Lemos et al (2002) descrevem que “o centro de terapia intensiva (CTI) é um ambiente em
que o cliente não recebe estímulos provenientes do meio exterior. Tanto a iluminação como a
ventilação é artificial. Portanto, a noção de tempo e espaço é extremamente prejudicada.”.
Também os ruídos, principalmente as conversas, além dos equipamentos que foram
menos citados, tomaram destaque nas falas dos clientes hospitalizados no pós-operatório de
cirurgia cardíaca. Nightingale (1989, p.52) ao transcorrer sobre ruídos, explica que “estes
despertam o cliente do seu sono e propiciam uma excitação posterior, que poderá causar danos
maiores do que qualquer outro causado por barulho.”.
Cavalcanti (2002, p.33/34) complementa ao dizer que o sono “indispensável ao cliente,
fica prejudicado, gerando ansiedade e desgaste físico-químico que podem levar a um quadro de
agitação psicomotora, com aumento de pressão arterial e freqüência cardíacas e respiratórias”,
que são complicações indesejáveis ao cliente em pós-operatório de cirurgia cardíaca.
A ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas em sua NBR 10152 de 1987 fixa as
condições exigíveis para avaliação da aceitabilidade do ruído ambiente num determinado recinto
de uma edificação. Para ambientes hospitalares recomendam-se 35 a 45 dB como níveis
aceitáveis. Pereira et al (2003) considera que geralmente “os níveis de ruído em um hospital
tranqüilo devem encontrar-se entre 40 e 50 dB, em um ambiente intermediário entre 50 e 60 dB e
em um ambiente ruidoso, como de uma terapia intensiva, observou-se que estaria na margem de
60 a 70 dB.”.
Outro fator relatado pelos clientes foi o que se refere à privacidade física. Na unidade de
terapia intensiva, os clientes ficam nus, sendo protegidos por cobertores, lençóis e colchas. A
manipulação é constante para realização dos procedimentos técnicos. O banho, por exemplo, é
um cuidado muito pessoal. O cliente está fragilizado e dependente da equipe e esta não pode
esquecer da manutenção da privacidade, por isso a necessidade de divisórias e cortinas no box, e
de cobrir partes do corpo para que não fiquem expostas, além do menor número de profissionais
durante o manuseio. Deve haver ética e respeito ao cliente, durante toda sua hospitalização.
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A privacidade envolve conceitos como anonimato, confidência, segredo, intimidade. É um
valor moral e um direito legal das pessoas. Na privacidade física a pessoa autônoma decide com
quem e em que nível deseja estabelecer um contato. No âmbito da saúde, na realização dos
cuidados, muitas vezes um contato íntimo é estabelecido, o toque, a observação de profissionais,
durante o preparo e realização de exames, cirurgias na hospitalização. Neste sentido faz-se
necessária a orientação aos clientes.(OGUISSO, et al, 2006).
O código de ética dos profissionais de enfermagem preconiza como deveres “Art. 27 -
Respeitar e reconhecer o direito do cliente de decidir sobre sua pessoa, seu tratamento e seu bem-
estar”. “Art. 28 - Respeitar o natural pudor, a privacidade e a intimidade do cliente.
Concomitantemente, é importante citar alguns direitos aos quais o cliente possui como o direito a
atendimento humano, atencioso e respeitoso, por parte de todos os profissionais da saúde. O
direito a um local digno e adequado para seu atendimento. Além de ter o direito a
manter sua
privacidade para satisfazer suas necessidades fisiológicas, inclusive alimentação adequada e
higiênica, quer quando atendido no leito, ou no ambiente onde está internado ou aguardando
atendimento”.
A garantia destes direitos aos clientes e a necessidade dos cumprimentos destes deveres
por parte de quem os atendem, devem ser parâmetros que norteiam as ações de cuidar. Watson
(2002, p. 55) nos relembra que o “cuidar não é apenas um simples desejo, é o ideal moral da
enfermagem, o seu objetivo é proteger, melhorar e preservar a dignidade humana. Envolvem
valores, conhecimentos. Todo cuidar está relacionado com respostas humanas.” A autora
complementa afirmando que a enfermagem tem uma responsabilidade ética tanto para o
indivíduo como para a sociedade.
Ao cuidar, adentramos na intimidade de nossos clientes que, fragilizados pelo processo de
doença, encontram-se parcial a totalmente dependentes de nossas ações. A unidade de pós-
operatório de cirurgia cardíaca é um ambiente “agressivo”, no sentido da ampla manipulação de
nossa clientela. Mas os valores morais jamais devem ser esquecidos, mesmo diante das
tecnologias “duras”, que funcionam como suportes para a manutenção da vida. Os preceitos
éticos devem estar atrelados às nossas formas de cuidar. A privacidade deve ser garantida, o
toque deve ocorrer com respeito, os olhares devem refletir sutileza, mesmo com intuito de uma
observação constante e rigorosa. A interação entre profissional e cliente facilita a realização de
um cuidado, e o respeito aos princípios éticos.
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A ética surgiu na Grécia como reflexão sobre o comportamento humano, considerado
subjetivo, ou seja, a maneira de ser de uma pessoa e objetivo que corresponde aos usos e
costumes de uma coletividade. Toda a ética é fundada em valores, o que a torna complexa,
diferente das realidades puramente biológicas ou físico-químicas. Os princípios éticos são os
valores da dignidade da pessoa humana, a verdade, a justiça, o amor, a liberdade, a igualdade a
segurança e a solidariedade. (COMPARATO, 2006).
Estes princípios nos remetem à compreensão de que se atinge o cuidado efetivo de
enfermagem, em qualquer âmbito, quando se integram os elementos tais como a solidariedade e
reciprocidade do profissional e clientes no amor, no respeito, no bem-estar, na atenção, na
responsabilidade; ao contrário, seria uma relação impessoal, distante e irresponsável.
A unidade de pós-operatório de cirurgia cardíaca apresenta peculiaridades de uma unidade
de terapia intensiva. A incorporação da tecnologia, as especializações e o uso da racionalidade
nas decisões, conseqüências de modelo fundamentalmente biológico num ambiente onde as ações
são essencialmente voltadas para a manutenção da vida, parece evidenciar um processo
dicotômico, onde de um lado observamos as técnicas e máquinas e, de outro, o conteúdo humano,
isto é, os clientes e seus valores.
Ao dar voz aos nossos clientes verificamos a necessidade da fusão da técnica e dos
valores, ou seja, a prática do cuidado na sua verdadeira dimensão. Pois, eles valorizam a
sensibilidade, e nos dizem que sabemos realizar ações que contemplam este aspecto, mas por
momentos, nos chamam a atenção para um cuidado maior, envolvendo o ambiente onde ocorre a
hospitalização, bem como a prática da individualidade e do respeito. As condições do ambiente
físico (luminosidade, ventilação, temperatura) entre outros, podem demonstrar a possibilidade de
estar havendo descuidado por parte dos profissionais de enfermagem (SILVA, 2006). Tal fato nos
faz acreditar que é necessário trabalhar medidas para modificar tais fragilidades neste contexto do
cuidado. Promover reflexões e determinar responsabilidades aos profissionais, podem trazer
contribuições, bem como desenvolver ações pautadas na ética, que direcionem a agir de forma
que nossas ações contemplem a vida humana.
Comparato (2006, p.500) afirma que a “técnica guia-se pelo valor da utilidade ou
eficiência dos meios de produção, ao passo que a ética acentua o fim último visado pelo seu
agente e o seu valor, relativamente a outras pessoas, que com ele tratam.”.
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A realização do cuidado aos clientes perpassa por uma concepção ética que contemple a
vida como um bem valioso. A valorização do cuidado pode permitir, mais facilmente, a
compreensão dos limites humanos do sofrimento e da morte, além de possibilitar a necessidade
moral de convívio com o outro respeitando a dignidade do seu corpo, buscando o respeito à
totalidade. (SOUZA et al, 2005).
Diante do exposto, verifica-se que, apesar do ambiente de UTI apresentar-se como um
local onde se perpetua o modelo biomédico e a sua influência no cuidado, a subjetividade, com
todas as nuances da sensibilidade, emerge a partir da relação dos atores desse cenário
profissionais e clientes. Embora possa parecer simples, a atenção ao gemido, à preocupação com
excesso de luminosidade e o barulho, transformam a dimensão objetiva do cuidado de
enfermagem em subjetiva, revestido daquilo que não percebemos no concreto, não conseguimos
mensurar em quantidade, mas certamente, vai reduntar em resultados com qualidade o cuidado de
enfermagem.
Destaca-se, também, a preocupação evidenciada nas falas dos sujeitos, durante a
realização das entrevistas no que se refere à identidade profissional. Os clientes, na maioria das
vezes, não conseguem diferenciar um enfermeiro das demais divisões das categorias de trabalho
existentes na profissão. Isto nos remete à compreensão de que esta é a imagem ao qual a
sociedade nos identifica. Sendo a figura de maior aproximação a do técnico de enfermagem,
principalmente nos momentos da realização de cuidados objetivos (banho, medicações...), pois
são um número quantitativamente superior favorecendo a um contato maior, os clientes
considera-nos enfermeiros e, realizam seus julgamentos.
A comunidade julga a enfermagem a partir das formas de cuidar nas práticas assistenciais,
ou seja, pelo comportamento do profissional de maior proximidade, e tais atores não tem sido
outros se não os auxiliares e técnicos de enfermagem, guiados, nos bastidores, por algumas
enfermeiras. (TRENTINI, 1997).
Assim, fica evidente a necessidade de trazer os enfermeiros às suas responsabilidades.
Estes poderão ganhar reconhecimento na comunidade se utilizarem, no âmbito do cuidado, o
conhecimento científico, técnico, a estética, ética e subjetividade para com os nossos clientes,
bem como as formalidades de suas apresentações na relação com o cliente.
Finalizando, merece aqui as considerações a partir do exposto que é de indiscutível
importância, as de dizer que o enfermeiro deve atentar para as interações que ocorrem entre os
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estímulos ambientais e as respostas de um organismo. Pois, conforme os clientes, seus
comportamentos estão atrelados ao conhecimento e à adaptação às diferentes situações do
ambiente em que se situa. As cores, os sons, o odor e os gostos são construções mentais que
respondem a diversos estímulos que lhes são provocados. Na unidade de terapia intensiva os
estímulos são mais intensos, principalmente se compararmos com o ambiente externo a ela; é um
pequeno espaço, no qual ocorre a mesma quantidade de estímulo que no ambiente externo.
Com isso, considerar o ambiente sob o ponto de vista da luminosidade, da mecânica
corporal, térmica é de singular importância, mas, sobretudo que o fazer do profissional esteja
investido e revestido da ética/bioética ao cuidar, pois, desta forma, poderá garantir a dignidade da
pessoa humana. Não somos máquinas/equipamentos, somos seres humanos acima de tudo,
vemos, ouvimos, sentimos, rimos e choramos.
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V- Considerações Finais
Diante das análises e discussões dos dados obtidos, afirmamos que os objetivos
elaborados para este estudo foram plenamente atingidos. Foram oportunas as reflexões
desenvolvidas sobre o cuidado de enfermagem a partir, do olhar de quem cuidamos.
O cuidado não é um elemento privativo da enfermagem , mas trazê-lo para nossa
responsabilidade é importante, por ser uma profissão que atende o ser humano e suas
necessidades, num compromisso com a vida.
Acreditando na importância dessas ações, buscamos a compreensão deste cuidado através
da estratégia metodológica adotada, isto é nas falas de quem recebeu tais ações na unidade de
terapia intensiva, mas especificamente no pós-operatório de cirurgia cardíaca.
Percebemos que o cuidado de enfermagem, nesse cenário se constitui de objetividade,
através dos procedimentos técnicos realizados repetitivamente. É um cuidado ao corpo físico,
através da administração da medicação, da realização do banho, da troca da roupa, da mudança
de decúbito, da oferta da alimentação... Isso é algo esperado pelos clientes nesse ambiente da
terapia intensiva, pois são cuidados necessários a sua recuperação, manutenção, estabilização e
tal objetivo é alcançado na medida em que são atendidas as necessidades biológicas de seus
corpos, no intuito de evitar possíveis complicações no pós-operatório.
Portanto, após a realização de uma cirurgia cardíaca, entendida como uma grande
intervenção passível de muitas complicações, é necessária a hospitalização na unidade de terapia
intensiva, por atender às necessidades biológicas, devido à presença de tecnologias capazes de
realizarem a monitorização necessária, facilitando diagnósticos e indicando tratamentos, além de
funcionarem como suportes indispensáveis para a manutenção da vida do cliente crítico.
Fundamental é a presença de recursos humanos especializados no atendimento dessa clientela.
Neste sentido, foi constatado, pelos clientes entrevistados que passaram por este ambiente
da terapia intensiva que o cuidado de enfermagem se deu de forma segura, na medida em que
perceberam que os profissionais de enfermagem que ali atuavam sabiam o que estava fazendo
durante a realização dos cuidados objetivos. Eles sinalizaram a preocupação, interesse, segurança,
como elementos presentes ao receberem esses cuidados.
Assim, podemos constatar que os clientes entendem que é necessário conhecimento e
competência para cuidar deles, após submeterem-se a uma cirurgia tão complexa, e sabem que se
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encontram totalmente dependentes dos cuidados da equipe. Caracterizaram este cuidado de
enfermagem pautado em conhecimentos, no momento em que consideraram que os profissionais
sabiam o que estavam realizando.
Ao relatarem estes cuidados, eles também perceberam a presença de outros elementos,
como amor, carinho, dedicação, paciência, delicadeza, o que nos remete à compreensão de
cuidados que são realizados mediante a preocupação com a condição do outro, possibilitando a
aproximação com o sensível, valorizando os desejos, a emoção, a intuição.
Os clientes também se surpreenderam ao considerar alguns aspectos do âmbito de cuidar,
que fizeram a diferença durante sua hospitalização como: o jeito que os profissionais falavam
com eles, um simples bom dia, o cuidar com zelo, com dedicação, atenção. Estes elementos
foram fundamentais para amenizar seus sofrimentos, dores, desconforto, angústias. Assim, no
fazer caracterizado pela objetividade, a subjetividade aflorou, dando caminho aos sentidos,
expressos nas sensações e ações de quem cuidava, sendo percebidas por quem as recebia. Tal
achado nos faz acreditar que a união de tais elementos vem ao encontro do que os clientes
precisam e almejam e ao mesmo tempo, fortalecimento da profissão, a partir da combinação
entre arte e ciência.
Mas os clientes também apontaram situações de estresse e desconforto advindas do
ambiente; tais como: ruídos provenientes de conversas da equipe, e barulho de alarmes de
equipamentos, gerando irritação devido à perda do sono, alteração da temperatura corporal,
advindas de uma proteção da pele ineficaz num ambiente refrigerado, e apontaram também a
perda da noção do tempo, e perda da privacidade física.
Estas considerações podem ser entendidas como situações de descuidados da equipe de
enfermagem, sendo necessário trazer ao âmbito de discussão e reflexão de quem cuida. É
fundamental trabalharmos com responsabilidades e buscar formas de modificar a realidade aqui
apresentada, pois sabemos que são situações que possuem implicações negativas na dinâmica
corporal dos sujeitos com complicações biológicas e mentais.
Assim, buscar formas de cuidar com ética nos limites da relação
cliente/equipamentos/material/ambiente, no contexto de uma unidade de terapia intensiva, devem
resultar em ações que respeitem a dignidade humana, a verdade, a justiça, o amor, a liberdade, a
igualdade, a segurança e a solidariedade. Tal princípio pode ser um elemento modificador de
condutas ou, pelo menos um primeiro passo para entendermos a necessidade de mudanças. Mas
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temos consciência que é necessário saber o que acontece neste cenário para que situações como
estas ocorram; isso demonstra a necessidade de mais pesquisas sobre o assunto, pois neste
momento, nos preocupamos em atender o objeto recortado.
Vimos também que os clientes se confundem na identificação do enfermeiro, do técnico e
auxiliar de enfermagem. Para eles, todos que realizam cuidados de enfermagem são considerados
enfermeiros. Neste cenário especificamente o mero de enfermeiros é bem inferior ao número
de auxiliares de enfermagem. Assim os cuidados objetivos principalmente os relacionados a
higiene, alimentação e medicações em sua maioria são realizados pelos auxiliares, exceto quando
envolve cuidados ao um cliente muito grave. Mas sendo estes os cuidados mais citados pelos
clientes , eles reconhecem o auxiliar como enfermeiro durante a realização destes.
Neste sentido, mesmo sabendo da problemática do número inferior de enfermeiros, estes
devem buscar maior proximidade com esta clientela, pois ela nada mais é que uma representação
da sociedade. Principalmente neste cenário da unidade de terapia intensiva, os profissionais que
conhecem bem seus clientes, conseguem definir condutas terapêuticas, mas tal fato é possível
se nos dispormos a cuidar, pois é neste momento que descobrimos as reais necessidades destes
sujeitos.
Esta pesquisa demonstrou que o cliente entende o cuidado de enfermagem na unidade de
pós-operatório de cirurgia cardíaca como necessário, pois é qualificado, é responsável e atende ao
seu estado de gravidade, desde que a subjetividade na relação e no contato seja preservada.
Neste momento de hospitalização eles se encontram fragilizados e isso ocorre pelo
processo de dependência física, da separação da família e do número de procedimentos realizados
aos seus corpos, que entendem ser necessários, mas que geram desconforto, dor, sofrimento e
principalmente medo da morte.
Entretanto, eles admitem que existem particularidades, nestas ações de cuidar, que
diminuem o sofrimento da hospitalização, pois afirmam haver sentimentos, emoções, sensações
expressas pelos profissionais de enfermagem durante a realização do cuidado.
Todavia eles pontuam situações que devem ser refletidas e reavaliadas, no âmbito do
ambiente do cuidado, demonstrando que temos responsabilidades que não estão sendo respeitadas
e nem totalmente cumpridas.
Percebemos que a maneira como realizamos o cuidado reflete diretamente no processo
saúde/doença dos indivíduos hospitalizados neste cenário da terapia intensiva. Mesmo não
61
investigando neste momento as respostas físicas e mentais destes cuidados, podemos arriscar
dizer que um cuidado que une objetividade, subjetividade, estética e ética, beneficia os clientes
durante sua hospitalização, atuando de forma benéfica na recuperação, ou, quando não é possível,
busca atenuar o processo de sofrimento destes sujeitos.
Com isso, requer-se a reavaliação do processo, dos procedimentos de enfermagem no
contexto do cuidado, tendo em vista a postura ética/bioética na relação com o cliente/ambiente,
mesmo sabendo da complexidade que forma o cuidado como um todo, pois, envolve
necessidades do cliente, seus sentimentos, estados de ânimo e sentidos integrados entre si e com
os elementos objetivos do cuidado, o que nos permite uma compreensão da diversidade,
pluralidade e complexidade que envolve o cuidado.
Não basta entender e aplicar a técnica e os procedimentos tecnológicos, se não temos a
compreensão das necessidades básicas do ser humano; não basta ser altamente qualificado se
estamos destituídos de sentimentos; não basta a razão e a racionalidade se não possuímos os
motivos, pelo menos humanos, para sua aplicação. Prestar cuidado significa acima de tudo ser
humano e solidário.
62
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69
APÊNDICE A-
Roteiro de entrevista para os clientes submetidos à cirurgia cardíaca , hospitalizados em
uma unidade de pós-operatório adulto.
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro- UNIRIO
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Escola de Enfermagem Alfredo Pinto
Curso de Pós-Graduação em Enfermagem- Mestrado
I-Identificação do cliente:
Nome:
Sexo:
Idade:
Cirurgia realizada:
Tempo de permanência na unidade de pós-operatório:
II- O que você entende como cuidado realizado pela enfermagem? ( Para você o que é um
cuidado realizado pela equipe de enfermagem)
III- Como você recebe os cuidados realizados pela enfermagem? ( Fale como foi o cuidado
que você recebeu)
70
APÊNDICE B-
Cronograma de atividades
2006 2007
M
A
M
J J A
S
O
N
D
J F
M
A
M
J J A
S
O N
D
Revisão de literatura X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Elaboração do projeto X
X
X
X
X
Defesa do projeto X
Entrega do projeto ao
CEP
X
Coleta de dados X
X
X
X
X
Análise preliminar X
X
X
Qualificação X
Análise final e
discussão dos dados
obtidos
X
X X
Defesa da dissertação X
71
APÊNDICE C-
Termo de consentimento livre e esclarecido
Prezado(a) Senhor (a), estamos desenvolvendo uma pesquisa denominada CUIDADOS
DE ENFERMAGEM SOB A OTICA DE CLIENTES EM PÓS-OPERATÓRIO DE
CIRURGIA CARDÍACA. Informamos que este estudo tem como objetivos: 1- Caracterizar o
entendimento dos clientes submetidos à cirurgia cardíaca sobre os cuidados de enfermagem em
uma unidade de pós-operatório adulto. 2 –Discutir as ações de cuidar em enfermagem originária
dos depoimentos de clientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca.
Durante a realização da pesquisa, as entrevistas serão realizadas, com seu
consentimento após informações da pesquisadora. Asseguramos que o senhor (a) tem total
liberdade de retirar o consentimento a qualquer momento e deixar de participar desta pesquisa,
sem que isto represente prejuízo à sua condição. Também tem garantia de receber informações
sobre o estudo, esclarecimento e orientação com relação a qualquer dúvida que tenha. Seus
depoimentos serão usados apenas para fins de estudo, portanto, seus nomes verdadeiros não serão
citados em nenhum momento para lhe garantir sigilo. Não haverá gastos de sua parte em
nenhuma fase relacionada ao estudo. Sua participação e o preenchimento deste documento são
fundamentais para a realização desta pesquisa que pretende contribuir para a melhoria da
assistência. Agradecemos antecipadamente sua atenção.
Pesquisadoras:
Enfermeira Lílian Moreira do Prado ________________________________________________
Contato: tel.: (0XX21) 2264-5618 / 9881-9515 – e-mail:
Drª. Kaneji Shiratori ( orientadora)__________________________________________________
AUTORIZAÇÃO:
Eu, ___________________________________________________, concordo voluntariamente, a
participar da pesquisa descrita, nas condições do termo acima. Autorizo que meus depoimentos
sejam utilizados para fins de estudo e divulgação de seus respectivos resultados no meio
acadêmico ( eventos e/ou publicações), tendo garantido o anonimato.
Data: / /
Assinatura do( a) participante:____________________________________________________
72
APÊNDICE D-
Carta de esclarecimento e consentimento aos profissionais de saúde da unidade
Prezado(a) Senhor (a), estamos desenvolvendo uma pesquisa denominada CUIDADOS
DE ENFERMAGEM SOB A OTICA DE CLIENTES EM PÓS-OPERATÓRIO DE
CIRURGIA CARDÍACA. Informamos que este estudo tem como objetivos: 1- Caracterizar o
entendimento dos clientes submetidos à cirurgia cardíaca sobre os cuidados de enfermagem em
uma unidade de pós-operatório adulto. 2 –Discutir as ações de cuidar em enfermagem originária
dos depoimentos de clientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca.
Os sujeitos do estudo serão inicialmente clientes adultos hospitalizados na unidade de pós-
operatório entre o segundo e quarto dia após serem submetidos à cirurgia cardíaca .
As entrevistas serão compostas por duas perguntas semi-estruturadas e serão realizadas
mediante a estabilidade clínica dos sujeitos, os quais deverão estar sem prótese ventilatória e sem
efeito de drogas anestésicas ou sedativas, para que possam verbalizar com segurança, sobre as
ações de cuidar, recebidas da equipe de enfermagem.
No intuito de garantir a segurança dos sujeitos da pesquisa, o esclarecimento e respeito
pelos membros da equipe de saúde da unidade; torna-se necessário para a realização da pesquisa,
a constatação e confirmação pelo profissional de saúde, responsável pelos cuidados diretos ao
cliente, da condição de estabilidade clínica do sujeito, no momento da entrevista.
É necessário informá-los que, os sujeitos que serão entrevistados, assinaram
previamente um termo de consentimento livre e esclarecido, para participação na pesquisa,
respeitando a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Pesquisadoras:
Enfermeira Lílian Moreira do Prado ________________________________________________
Contato: tel.: (0XX21) 2264-5618 / 9881-9515 – e-mail:
Drª. Kaneji Shiratori ( orientadora)
Eu, _________________________________________________________________________,
neste momento, considero estáveis as condições clínicas do cliente
________________________________________________________________________
para a realização da entrevista da pesquisa descrita.
DATA: / /
Assinatura:
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