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Souza (2005) observa que o modo de produção capitalista, sistema
atual em que vivem as famílias brasileiras, obriga os membros da família a
participarem de forma efetiva no aumento da renda familiar, uma vez que a
única forma de sobrevivência da classe trabalhadora é vender sua força de
trabalho. Alencar (2004) apud Souza (2005:6) salienta que:
“Assim, em um contexto social marcado pelo aumento do
desemprego, no qual torna-se cada vez mais difícil a obtenção do
trabalho assalariado e, por conseqüência, o acesso à cidadania, a
família vem se tornando, talvez, quase a única possibilidade real
para os indivíduos proverem as suas necessidades,
principalmente diante da inoperância ou mesmo ausência de
mecanismos de proteção social que levem em consideração os
efeitos sociais recentes dos problemas originados da
precarização do trabalho”.
Sobrevivência e relacionamento familiar estão intimamente
relacionados, tanto pela divisão das tarefas do sobreviver como pela
repercussão do sobreviver nos relacionamentos. Os baixos salários e as
péssimas condições de vida colocam a família em condição financeira difícil
no âmbito doméstico, de modo que são necessárias alternativas para
potencializar seus recursos, seja dividindo despesas, assumindo trabalhos
extras, seja distribuindo recursos conforme necessidades mais prementes.
Tudo isso afeta consideravelmente o ecossistema familiar, já que a família
pode ser vista como unidade de sustentação dos seus membros, um espaço
em que as pessoas crescem e se desenvolvem, para satisfazer suas
necessidades, em razão das suas interfaces com o microambiente mais
próximo (mercado de trabalho, escolas, vizinhos e parentes, instituições
sociais, dentre outros) e com o meio ambiente sociocultural, econômico,
político, físico, religioso e tecnológico, dentre outros sistemas.
A sociedade, um sistema maior, deve oferecer à família condições
necessárias para a sua existência, e, para isso, é preciso que estes sistemas
estejam inter-relacionados. Essa relação pode ser entendida ao se observar
o comportamento de indicadores econômicos, que se mostrou oscilante ao
longo do século XX, bem como de indicadores sociais, que apresentaram
importantes, porém tímidas, melhoras. Segundo Furtado (2004), a sociedade
como um todo, incluindo as famílias nela inseridas, sofreu os reflexos da
evidente opção por medidas que privilegiaram a estabilização da inflação,