Assim como a imagem contemporânea inaugura uma presença que impregna o
cotidiano, a imagem de diversas épocas, como o Barroco, o Renascimento, também
engendram modelos sociais e crenças, propagam uma ordem visual e comportamental e
precipitam evoluções na área visual abrindo caminhos a seus efeitos nos dias de hoje.
Estes motivos nos remetem ao estudo da imagem ao longo dos tempos para elucidar
alguns conceitos, pois essa questão tem um papel relevante no tocante às artes plásticas e à
literatura, conforme a investigação deste trabalho demonstrará.
Inicialmente, a primeira acepção do termo imagem que vem ao nosso pensamento, é
de algo que se assemelha visualmente a um objeto ou pessoa, denotando peculiaridades
comuns a eles: formas, cores. Logo, a imagem representa, substitui, o que pode ser
exemplificado quando se observa um anúncio com o jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho.
O que se vê é a sua representação e não a sua pessoa. Como diz Francis Wolff: “Não
representamos aquilo que está presente, representamos o que está ausente, o que ainda não
está mais, o que não pode estar presente, e que se encontra então representado...”
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Na
verdade, esse primeiro conceito sobre o termo foi desenvolvido pelo filósofo grego Platão.
Em sua teoria, ele considerava a imagem da coisa como sua idéia (eidos), uma projeção
mental. Para Wolff, o filósofo abordava alguns elementos importantes. O primeiro, Platão
explica no diálogo Crátilo:
Se alguma divindade, não contente de imitar tua cor e tua forma, como os pintores,
reproduzisse também todo o interior de tua pessoa, tal como ele é, lhe desse a
mesma nobreza e o mesmo calor, e lhe desse movimento, arte e pensamento, tais
como existem em ti, em uma palavra, colocasse a teu lado um duplo de todas as
tuas qualidades, haveria, nesse caso, um Crátilo e uma imagem de Crátilo, ou dois
Crátilos?
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WOLFF, Francis. Por trás do espetáculo: o poder das imagens.Trad. Eric Roland René Heneault. In:
NOVAES, Adauto(org.) Muito além do espetáculo. São Paulo: Ed. Senac, 2005, pp. 20-21.
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PLATÃO, Diálogos, Crátilo, trad. Carlos Alberto Nunes, vol. IX da Coleção Amazônica (Belém: Universidade
Federal do Pará, 1973), 432 bc, pp.182-183.