Póstumas de Brás Cubas (1880), que sem dúvida tornou ainda mais depurada e até mais lúcida
a dimensão realista da sociedade brasileira, o mérito de Alencar estaria, principalmente, no fato
do escritor tomar a seu cargo o desafio de buscar soluções para a identidade ainda em formação
do país numa época em que poucos conseguiam captar tão bem essa necessidade brasileira de
consolidar a sua própria identidade. Dessa forma, seria um descabimento procurar dentre os
dois escritores aquele que mais corroborou para a literatura do país. Dessa mesma perspectiva,
Lucia Helena vai ressaltar que
Haveria sempre em Alencar um tom de missão, carregado por vezes de ingenuidade e
de arrogância, simultaneamente. Em Machado, o recorte sem sentimentalismo, ferino,
cético e contundente, destilado de escrita fina e lâmina afiada. Enfim, são tantas as
variáveis que os distinguem que parece não levar muito longe a comparação (em geral
com o sinal de menos voltado para Alencar) entre os dois que, sem dúvida, vejo como
os nossos maiores narradores do século XIX. É verdade, como diz Schwarz, que
Machado tem uma escrita que define padrão crítico mais consciente, mas Alencar tem
o inegável trabalho de desbravador.
Na revolução que representam, se eles se distinguem no propósito e na execução, se
aproximam na capacidade com a qual captam, ambos, a contradição e problemas na
esfera social brasileira de seu tempo. Alencar está mais próximo de um movimento de
entusiasmo, de construção, de “invenção da nação”, que se alimenta, até de modo
explicito, da vontade de “fazer um país”. Machado é reticente, mais cético acerca da
validade de se atribuir uma tal missão, o que sempre o afastou de revisitar as
“origens” do nacional (HELENA, 2006, p.94).
Além disso, apesar das críticas que recebeu ao longo da sua produção intelectual,
Alencar soube trabalhar muito bem, principalmente se comparado aos demais escritores que
produziram seus romances no mesmo período, esse aspecto múltiplo do país que vimos até
aqui. Além do mais, alguns de seus personagens reforçam, através da maneira perspicaz com
que atuam na sociedade, no caso dos romances urbanos, a conturbada relação entre o ser e o
parecer que foi, sem dúvida, uma grande problemática do Brasil oitocentista.
A corte carioca foi, para Alencar, o cenário ideal para falar da nascente sociedade
burguesa no Brasil e do frenesi capitalista que insistia em se espalhar rapidamente na ainda
pretensa vida urbana do Rio de Janeiro e que foi o grande responsável pela ardente necessidade