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significante terá explorado seu potencial visual ? não só em relação à disposição gráfica na
folha impressa como também em relação a termos morfológicos, de economia verbal, de
desintegração do sintagma e seus morfemas, utilizando para isso diversos recursos das artes
gráficas através, por exemplo, do uso de siglas. O poema passa a ser identificado como um
objeto de linguagem, uma realidade autosuficiente que adquire dimensão material,
concreta ( CAMPOS et al, apud TELES, 200, p. 402-405 ). Assim, para os concretistas “O
poema concreto é um objeto em e por si mesmo, não um intérprete de objetos exteriores e/ou
sensações mais ou menos subjetivas. Seu material: a palavra ( som, forma visual, carga
semântica ).” ( CAMPOS et al, apud TELES, 200, p. 404 ).
No caso de Armando Freitas Filho, o elemento visual aparece primeiro em sua
trajetória através de um cuidado com a apresentação plástica do objeto livro, que começa
desde o envolvimento do autor com o material utilizado ( escolha da capa, edição artesanal )
até a convivência e troca com inúmeros artistas plásticos:
Sempre fui muito ligado às artes plásticas. O convívio, desde moço, com
Rubens Gerchman, Antonio Dias, Roberto Magalhães, Carlos Vergara, e mais tarde
com Cildo Meireles, Artur Barrio, Milton Machado etc. apurou o meu gosto. Dos
meus doze livros, oito têm capa de pintores: seis do Rubens (com quem fiz dois
livros de arte: Mademoiselle Furta-cor e Dupla identidade ), um do Cildo, outro do
Milton. Guaches do Barrio ilustraram uma pequena edição numerada de duzentos
exemplares de Dois dias de verão, escritos, em co-autoria, com Carlito Azevedo.
Elaborei inúmeras apresentações para exposições, catálogos e convites.
Ultimamente, além de Erótica, com Marcelo Frazão, Vladimir Freire e eu fizemos
um folder, 3TIGRES, que é um belo objeto de arte gráfica.
Agora, está saindo do forno um álbum, Sol e carroceria, com dois dedos de
prosa minha iluminados pelas serigrafias de Anna Letycia, em tiragem limitada.
Não sei se chego a ter "obsessões imagéticas", mas, seguramente, formas e cores,
alimentam a poesia que pratico, e colaboram, em muito, na minha imagerie ou com
a minha imaginação. Prova disto é que não são raros, em meus poemas, homenagens
ou menções a artistas plásticos. ( FREITAS FILHO, apud BOSI et al,
2000 )
Como o próprio poeta nos diz, esta presença do visual ultrapassa a esfera do preparo
do livro e dos diálogos com seus contemporâneos e se espraia em sua obra marcando-a de
forma explícita através de toda uma onomástica das artes plásticas, utilizando-se, para isto, de