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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Mirela Ferraz
As Narrativas do Supervisor de Campo de Estágio:
Conhecendo a Atribuição Privativa do Assistente Social
MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
SÃO PAULO
2008
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Mirela Ferraz
As Narrativas do Supervisor de Campo de Estágio:
Conhecendo a Atribuição Privativa do Assistente Social
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
como exigência parcial para obtenção do título de
MESTRE em Serviço Social pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, sob a
orientação da Professora Doutora Maria Lúcia
Martinelli.
SÃO PAULO
2008
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Banca Examinadora:
__________________________
_____________________________
__________________________
A Deus!
Aos meus pais!
A todos(as) os(as) Assistentes Sociais
que têm o compromisso de
supervisionar os Campos de Estágios
em Serviço Social!
ALGUNS SIGNIFICADOS COMO AGRADECIMENTOS...
Aos meus pais, José e Mirna, por todos os ensinamentos de amor e respeito, sem os
quais não saberia construir esta vida terrestre. Por fazerem de nossa família o
espaço onde os sonhos são confabulados, acolhidos e estimulados.
Mãe, pela mulher linda e militante que você é, eu a admiro muito! Pai, por me
ensinar, dia após dia, um pouco mais sobre você! Obrigada por estarem ao meu
lado, em todos os momentos.
Sou, porque vocês me ensinaram a ser. Eu os amo tanto, tanto, tanto!
Ao meu irmão do meio, Paulo, pessoa com quem amo compartilhar a vida e quem
não saberia viver sem. Sei que nossas vidas estão traçadas para todo o infinito e
além.
Ao meu irmão mais velho, Guto, e à minha cunhada, Paula, por representarem para
mim o sentimento concreto de amor e cumplicidade. Eu os quero sempre perto de
mim!
A Raquel e Marieli, por completarem minha família. A nossa amizade é um bem pelo
qual zelo com todas as minhas forças. Obrigada por emanarem luz!
À proteção espiritual daqueles que amo e que compõem minha família, no Céu.
A Maria Lúcia Martinelli. Professora, obrigada por toda a sabedoria e poesia que
emanam de suas palavras! E, principalmente, por contribuir para meu encontro com
a pesquisa, respeitando cada momento desse processo científico; afinal, como
dizia o poeta Fernando Pessoa: “eu não escrevo português, eu escrevo eu mesmo”.
E você acreditou e valorizou isso.
Às minhas amigas e aos amigos de longe... Manuela, Edilaine, Helena, Wellington e
Célia, por compartilharem da minha experiência em Curitiba. E, principalmente, por
estarem presentes até hoje...
Aos colegas desses últimos três anos de retorno a São Paulo: Marilene Boscari,
Léia, Simão, Michelly, Milka, Maira, Augusto, Cris, Elisângela, Fábio e Marcos Valdir,
por compartilharem comigo o sonho de aprender, sempre! Agradeço pelas
caminhadas.
A Potira, Michelly, Simão, Liduína, Cris, Elisângela, Manuela, Renata e
Edilaine...pois, “amigos de verdade amam você de qualquer jeito”.
A Maria Liduína, pela competência profissional e inteligência de vida. É um enorme
aprendizado compartilhar com você “o Serviço Social”.
A Kátia, que mais do que a secretária do Programa de Pós-Graduação em Serviço
Social da PUC-SP, tornou-se minha amiga. Obrigada pelos eternos esclarecimentos.
Ao cleo de Formação Profissional, do Conselho Regional de Serviço Social, de
São Paulo (Cress-SP), na pessoa da Marlene Merisse, por representar com muita
ética a militância da nossa categoria profissional.
À Associação de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (Abepss), região Sul II, na
pessoa da Elisa Brisola, por manter aquecidos nossos debates e compromissos com
a formação profissional do Serviço Social.
Ao Cress, da seccional de São José dos Campos, na pessoa do Marcos Valdir, por
contribuir com essa pesquisa, não somente pelo espaço físico, mas pelas muitas
palavras de sabedoria.
Às professoras do Curso de Serviço Social, da Pontifícia Universidade Católica do
Paraná, por instigarem em mim a busca constante pelo saber da nossa profissão.
As professoras Carmelita Yasbek, Maria Lúcia Carvalho e Myrian Veras Baptista, da
Pós-Graduação em Serviço Social, da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, por transmitirem muita sabedoria e conhecimento.
Ao Departamento de Serviço Social, da Universidade de Taubaté, na pessoa da
Professora Mabel Mascarenhas, por contribuir e tornar viável esta pesquisa.
Às Assistentes Sociais Supervisoras de Campos de Estágios em Serviço Social:
Lucimara Gil, Patrícia Saad e Maria Fernanda Costa. Obrigada por contribuírem com
esta pesquisa, compartilhando suas narrativas e belas experiências profissionais.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelos
investimentos nas pesquisas em Serviço Social, e, em especial, nesta.
Aos queridos estudantes do Curso de Serviço Social da Universidade São Francisco,
pois os saberes fazem sentido se compartilhados. Obrigada por crescerem
comigo.
A todos, especialmente a cada um, o meu sincero obrigada!
Pouco conhecimento faz com que as criaturas se sintam orgulhosas.
Muito conhecimento, com que se sintam humildes.
É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça para o céu,
Enquanto que as cheias a abaixam para a terra, sua Mãe.
Leonardo da Vinci
RESUMO
Título: As Narrativas do Supervisor de Campo de Estágio: Conhecendo a Atribuição
Privativa do Assistente Social
Autor: Mirela Ferraz
A presente pesquisa tem como temática a formação profissional em Serviço Social,
com centralidade na supervisão de estágio, permitindo vislumbrar como objeto de
pesquisa as atribuições do Assistente Social Supervisor de Campo de Estágio, sob a
perspectiva de seu caráter mediador. Portanto, tal aproximação vai considerar a
experiência de Assistentes Sociais em relação às suas compreensões no que
concerne ao desenvolvimento de tal atribuição privativa, no cotidiano de seu
exercício profissional. Exercício profissional esse que é composto por determinantes
da condição de trabalhador assalariado e mediado pelos saberes e conhecimentos
éticos, políticos, teóricos e metodológicos que constituem o Serviço Social.
Reforçando que tais conhecimentos e saberes enriquecem as proposições legais da
profissão, como, também, os debates contemporâneos sobre estágio, consolidados
pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (Abepss). A
pesquisa pautar-se-á na análise dessa totalidade, sob o referencial teórico crítico e o
uso da metodologia da História Oral, a qual, por permitir a centralidade nos sujeitos
políticos, evidencia os significados de suas narrativas, tornando-as fiel à experiência
ilustrada pela coleta dos depoimentos da Coordenação de Estágio da Instituição de
Ensino Superior, e de três Assistentes Sociais Supervisoras de Campos de Estágios,
como sujeitos relevantes para o desenvolvimento de pesquisas qualitativas. A
pesquisa bibliográfica é composta por categorias da área do Serviço Social,
principalmente as publicações da Abepss e da Educação, cujo intuito é iluminar não
somente o corpo teórico de nossa profissão, como, também, o exercício de
supervisionar campos de estágios pelos Assistentes Sociais.
Palavras-chave: Supervisão de Estágio em Serviço Social, Atribuições Privativas e
História Oral.
ABSTRACT
Title: The Narratives of the Apprenticeship’s Supervisor: knowing the private
attribution of the Social Worker.
Author: Mirela Ferraz
The present research has as its thematic the professional formation in Social Work,
with the central issue in the apprenticeship’s supervision, allowing to glimpse as the
research’s object the attributions of the Social Worker who is also the
apprenticeship’s supervisor, under the perspective of the mediation character.
Therefore, such approach will be considering the experience of Social Works and
their understandings about the development of the privative attribution, in the daily’s
professional exercise. This professional exercise is composed by the conditions of
the wage-earning worker and mediated by the knowledge in ethics, politics, theories
and methodologies that constitute the Social Work. Those knowledges enrich the
Profession’s legal propositions, as well as, the contemporaries debates about the
apprenticeship that are consolidated by the Brazilian Association of Teaching and
Research in Social Work (Abepss). This research will analyze this totality, under the
reference of the critical theory critical and the use of the methodology of the Oral
History, that allows the central issue in the political citizens and it evidences the
meanings of their narrations, becoming faithful to the experience illustrated by the
depositions of the Apprenticeship’s Coordination in Social Work, such as, three
Social Workers, as excellent citizens for the development of qualitative research. The
bibliographical research will be composed by categories of the area of the Social
Work, mainly, the Abepss’s publications, and the Education, with the intention to not
only illuminate the theoretical body of our profession as well the apprenticeship’s
supervision’s exercise in Social Work.
Key-Words: Apprenticeship’s Supervision in Social Work, Privative Attributions and
Oral History.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Abess – Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social
Abepss – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social
Apasp – Associação Paulista dos Servidores Públicos
Cedic – Centro de Documentação e Informação Científica
Cfess – Conselho Federal de Serviço Social
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Consep – Conselho de Ensino e Pesquisa
Cofi – Comissão de Fiscalização
Cress – Conselho Regional de Serviço Social
Enpess – Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social
Feac – Federação das Entidades Assistenciais de Campinas
Fundhas – Fundação Hélio Augusto de Souza
IES – Instituição de Ensino Superior
LDB – Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional
MEC – Ministério da Educação e Cultura
Nepi – Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Identidade
PAC – Programa de Aceleração do Crescimento
PNAS – Política Nacional de Assistência Social
PUC – Pontifícia Universidade Católica
Suas – Sistema Único da Assistência Social
Unitau – Universidade de Taubaté
TCC – Trabalho de Conclusão de Curso
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................
12
CAPÍTULO I - A HISTÓRIA ORAL - SUJEITOS POLÍTICOS, EXPERIÊNCIAS
E SEUS SIGNIFICADOS ......................................................................................
21
1.1 As Assistentes Sociais Supervisoras de Estágios .......................................... 23
1.2 As Experiências em Supervisionar os Campos de Estágios ......................... 31
1.3 As Trajetórias Percorridas .............................................................................. 36
1.3.1 Questões Instigadoras ................................................................................. 41
CAPÍTULO II O CARÁTER MEDIADOR DAS ATRIBUIÇÕES PRIVATIVAS
DO SUPERVISOR DE ESTÁGIO .........................................................................
44
2.1 A Mediação entre a Teoria e a Prática do Serviço Social ...............................
57
2.2 O Cotidiano Profissional enquanto Espaço Privilegiado da Práxis da
Supervisão de Estágio em Serviço Social ............................................................
62
CAPÍTULO III AS NARRATIVAS DAS SUPERVISORAS DE CAMPOS DE
ESTÁGIOS ............................................................................................................
71
3.1 “O Caminho da Teoria e da Prática é a Mediação” ........................................ 72
3.2 “Eu ali represento um Funcionário Assalariado” .............................................
80
3.3 “O Código de Ética é a minha Formação Profissional” ...................................
85
3.4 “A Universidade faz a parte dela e existe aí a minha responsabilidade” ........ 89
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................
94
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 101
ANEXO ................................................................................................................. 112
12
INTRODUÇÃO
Temos a chave do futuro da humanidade,
mas para poder usá-la temos que compreen-
der o presente. (...) Não podemos nos permitir
desviar os olhos.
Sebastião Salgado
Se relembrarmos, a história
1
do Serviço Social está permeada por elementos
externos, da conjuntura da sociedade, como internos da profissão, o que remete o
Assistente Social, constantemente, à necessidade de não se permitir desviar os o-
lhos de quaisquer questões que estejam entrelaçadas ao seu cotidiano profissional.
Temas como a Supervisão de Campos de Estágios em Serviço Social adqui-
rem centralidade nas preocupações do dia-a-dia da profissão
2
, portanto, o desafio de
ora apresentar esta pesquisa, no decorrer do Mestrado em Serviço Social, nos per-
mitiu a investigação mais profunda desse aspecto. Esta dissertação contém, ainda
uma reflexão constituída por lembranças, experiências, conhecimentos construídos
ao longo da história da nossa vida profissional como Assistente Social.
Com isso, propomo-nos a discutir a formação profissional do Serviço Social
na perspectiva específica do processo de ensino-aprendizagem da Supervisão de
Campos de Estágios, na busca de conhecer como se constrói e se desenvolve o
caráter mediador das atribuições do Assistente Social enquanto supervisor respon-
sável por tal atividade.
Partimos da premissa de que esse processo de ensino-aprendizagem deve
considerar uma concepção educacional que reconhece que o próprio supervisor de
campo aprende, além de ensinar. Assim, nesse movimento, o assistente social deve
estar sempre em processo de formação para que, na medida em que os saberes
1
Para mais esclarecimentos sobre os fundamentos teórico-metodológico-históricos do Serviço Social,
ler Relações Sociais e Serviço Social no Brasil Esboço de uma Interpretação Histórico-
Metodológica, de IAMAMOTO, Marilda e CARVALHO, Raul.
2
Preocupações apresentadas pelos debates em núcleos de estudos (Núcleo de Formação Profissio-
nal, do Conselho Regional de Serviço Social - Cress Região), reuniões e oficinas (tais como as da
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social - Abepss, da região Sul II), como tam-
bém, artigos publicados pelos Conselhos Regionais de Serviço Social e a Associação Brasileira de
Pesquisa e Ensino em Serviço Social, que, durante os anos de 2006 a 2008, trouxeram em sua pauta
de discussões o estágio em Serviço Social.
13
forem sendo adquiridos, seja viabilizada a construção dessa atribuição do profissio-
nal, em seu exercício competente.
A partir desse entendimento, é possível compreender que, embora a Lei que
Regulamenta a Profissão determine o que cabe exclusiva e legalmente ao assistente
social, é preciso existir um compromisso coerente com o projeto potico, com suas
atribuições privativas, de forma a direcionar as ações profissionais iluminadas pela
apreensão do conjunto de determinantes que interfere na configuração social e que
ainda compõe as particularidades do Serviço Social.
Isso, pois,
o supervisor constitui o elo privilegiado da relação entre institui-
ção/campo de estágio e o processo de ensino, cabendo-lhe o acom-
panhamento cotidiano do aluno no âmbito de dinâmica institucional,
apoiando-o no exercício das atividades do estágio, subsidiando-o na
análise e enfrentamento das estruturas e relações de poder, das po-
líticas institucionais, no reconhecimento do público-usuário, inserin-
do-o na rede de relações intra e interprofissionais. (IAMAMOTO,
2004a:206)
O exercício de supervisionar estágio é construído a partir da graduação em
Serviço Social, a qual deve estar pautada em uma proposta de currículo estruturado
em núcleos temáticos
3
, que são os elementos fundamentais da formação e do traba-
lho do Assistente Social.
De acordo com essa proposta de formação profissional, o estágio supervisio-
nado surge como um dos “conteúdos necessários para capacitar os profissionais no
exercício de suas funções, resguardando as suas competências específicas, norma-
tizadas por lei”. (Id., 2001b:72)
Nota-se, aí, quão relevante é a formação acadêmica em seu papel de forne-
cedora dos subsídios teóricos, éticos e políticos para alimentar a trajetória histórica
3
Segundo IAMAMOTO (2001a), tais núcleos constituem-se de: fundamentos teórico-metodológicos
da vida social, que busca decifrar o ser social em sua vida em sociedade; fundamentos da particulari-
dade da formação sócio-histórica da sociedade brasileira, voltados para a apreensão das característi-
cas históricas da formação regional e local da sociedade, configurando-se a questão social e suas
expressões; e fundamentos do trabalho profissional, que o os elementos constitutivos do Serviço
Social.
14
da profissão em direção a uma sociedade democrática
4
. Da mesma forma, vê-se
também a identidade da atribuição privativa do Assistente Social em supervisionar
os campos de estágios ser feita sem a necessária formação, como afirma Iamamoto
(2004b:206), ao considerar que “a Universidade o vem propiciando capacitação
sistemática ao corpo de supervisores (...) o que é agravado (...) pelas precárias o-
portunidades e falta de tradição de reciclagem teórico-prática sistemática por parte
dos Assistentes Sociais”.
Porém, mesmo não sendo o nosso compromisso de estudo, na presente dis-
sertação, partilhamos da preocupação quanto ao rumo que a formação da nossa
profissão está tomando
5
, pois, essa mesma Universidade pensada para a “criação e
divulgação do saber (...) articulando o ensino, a pesquisa e a extensão nos níveis
mais elevados da política educacional de um país” (WANDERLEY, 1987:9), pode vir
a ser um aparelho ideológico que “absorve e exprime as idéias e práticas neolibe-
rais, hoje dominantes” (CHAUÍ, 2001:35).
Os profissionais de Serviço Social precisam estar atentos na contrapartida
dessa ideologia neoliberal, pois, as conseqüências dessas reformulações afetam
diretamente o direcionamento do ensino superior brasileiro
6
, como, também, a for-
4
“Uma das condições do exercício democrático, como já dizia Gramsci, é captar os reais interesses e
necessidades das classes subalternas, sentir com ela suas paixões para que se possa efetuar a críti-
ca do senso comum e da herança intelectual acumulada o papel da ‘filosofia da práxis’. Segundo
Ernesto Cardenal é este o papel do intelectual: ‘devolver claramente às massas o que delas recebeu
confusamente’. Supõe conhecimento crítico do universo cultural das classes subalternas, contribuindo
para a ultrapassagem de seus elementos opacos, que vedam o descortinar dos horizontes coletivos”.
(IAMAMOTO, 2001a: 77)
“A luta pela democracia continua a ser uma tarefa primordial para toda a sociedade e, como tal, tam-
bém para os assistentes sociais. Em particular, cumpre-nos uma colaboração efetiva nesse processo
na luta por direitos sociais e políticos das classes trabalhadoras, e por ampla redefinição de cidadani-
a. Com isso, os assistentes sociais estarão contribuindo para a criação de novos valores éticos, cen-
trados efetivamente na liberdade e justiça social”. (PAIVA, 2001: 110).
5
Não é nossa proposta adentrar no debate sobre os cursos a distância, mas salientamos que, de
acordo com as distintas manifestações públicas das categorias profissionais do Serviço Social, como
o Conselho Federal em Serviço Social (Cfess), que, na data de 15 de maio de 2008, se pronunciou
contra tal maneira de organizar o ensino superior brasileiro, inclusive, por reconhecer e afirmar a ne-
cessidade de se ter a “realização de estágio supervisionado presencial, com acompanhamento direto
por supervisores/as acadêmico/as e de campo”.
6
Embora não seja um dos objetivos da presente pesquisa, é relevante evidenciar que os direciona-
mentos do ensino superior brasileiro estão relacionados com a atual política do governo Lula (2002-
2009), contida no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pois, Roberto Ler, em palestra
proferida durante o II Seminário Nacional de Pós-Graduação e a Oficina Nacional de Graduação em
Serviço Social promovidos pela Abepss, nos dias 26, 27 e 28 de março de 2008, afirma que: “o PAC
expressa justamente a maneira como a América Latina está inserindo-se na economia mundial, (...) e,
por conta disso, a educação superior brasileira passa a ser educação terciária, ou seja, (...) a institui-
ção universidade passou a ser vista como serviço, portanto, é colocada no nível de prestadora de
serviço como qualquer outro, (...) dando-se ênfase ao grande índice de privatização da educação”.
15
mação do Assistente Social, que pode estar pautada em diretrizes curriculares de-
terminadas pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), sem considerar o debate
capitaneado pelas representações da categoria profissional.
Na contrapartida da precarização do ensino em Serviço Social, um exemplo
atual desse debate, nos espaços do Cfess, Abepss e Cress, é a discussão sobre a
minuta
7
de resolução que regulamenta o estágio supervisionado. No período entre o
segundo semestre de 2007 e o primeiro de 2008, tais entidades buscaram contribuir
com a regulação das normas do estágio, em consonância com os princípios do Có-
digo de Ética, com as bases legais da Lei de Regulamentação da Profissão e as exi-
gências teórico-metodológicas propostas pelas diretrizes curriculares defendidas
pela categoria profissional.
Enquanto atividade curricular obrigatória, o estágio configura-se a partir da in-
serção do aluno no espaço sócio-institucional, objetivando capacitá-lo para o exercí-
cio profissional, o que pressupõe supervisões sistemáticas, tal como Boschetti
(2007:6)
8
afirma em uma de suas reflexões
:
estágio supervisionado constitui momento ímpar no processo ensi-
no-aprendizagem, pois se configura como elemento síntese na rela-
ção teoria-prática, na articulação entre pesquisa e intervenção pro-
fissional, e que se consubstancia como exercício teórico-prático,
mediante a inserção do aluno nos diferentes espaços ocupacionais
das esferas públicas e privadas, com vistas à capacitação profissio-
nal, conhecimento da realidade institucional, problematização teóri-
co-metodológica, elaboração e implementação de plano de interven-
ção do estagiário articulado à discussão teórico-metodológica e a uti-
lização do instrumental técnico-operativo do Serviço Social, pertinen-
tes ao campo específico da ação, sob supervisão direta de profissio-
nal assistente social atuante na instituição onde se realiza o estágio,
comumente designado de ‘supervisor de campo’(...).
E, ainda, ao considerar o que Iamamoto trouxe-nos durante o Debate Estadual sobre a Precarização
do Ensino Superior e o Exame de Proficiência no Serviço Social, promovido pelo Cress-SP, no dia 31
de março de 2007, quando apresentou a condição do ensino superior a distância dos cursos de Ser-
viço Social, temos outro contingente de entidades formadoras de profissionais sem qualquer parâme-
tro da discussão que a própria categoria profissional realiza, tornando o “exercício do assistente soci-
al massificado e ainda desqualificado”.
7
A futura publicização da referida resolução será aprovada no Encontro Cfess-Cress, que ocorrerá
em setembro de 2008.
8
Contido no material que resultou do Seminário Nacional de Capacitação das Cofi’s, realizado em
Brasília-DF, em abril de 2007.
16
Ou seja, somente o assistente social, em seu exercício profissional, em qual-
quer instituição socioocupacional, pode supervisionar estagiários de Serviço Social.
E se lembrarmos que é durante o processo de formação profissional que o
acadêmico tem de inserir-se no campo de estágio supervisionado para apreender a
totalidade social e as formas particulares de sua expressão, fortalecendo o projeto
profissional que, por sua vez, se vincula ao projeto societário democrático, é que se
verifica a importância da supervisão.
Esse movimento revela as responsabilidades do exercício da supervisão de
estágio em Serviço Social, pelo próprio Assistente Social, no sentido de construir ou
desconstruir suas atribuições como tal.
Queremos dizer, sempre refletindo sobre se tal atribuição é construída sob os
cuidados da formação profissional em Serviço Social ou se depende exclusivamente
do compromisso particular do profissional em querer contribuir com a formação dos
futuros colegas de profissão, que atuam nas diversas áreas, comprometidos com a
transformação social, a caminho da justiça e da democracia social.
Assim, partimos da hipótese de que é pela mediação entre a teoria e a ptica
do Serviço Social, no lócus privilegiado do ensino-aprendizagem do estágio, que as
atribuições do assistente social como supervisor de campo devem ser consolidadas,
a partir da premissa contida no Projeto Ético-Político
9
da profissão.
9
Entendemos que “este projeto tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor central
(...); daí um compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos soci-
ais. Conseqüentemente, este projeto profissional se vincula a um projeto societário que propõe a
construção de uma nova ordem social, sem exploração/dominação de classe, etnia e gênero. A partir
destas opções que o fundamentam, tal projeto afirma a defesa intransigente dos direitos humanos e o
repúdio do arbítrio e dos preconceitos, contemplando positivamente o pluralismo, tanto na sociedade
como no exercício profissional.
A dimensão política do projeto é claramente enunciada: ele se posiciona a favor da equidade e da
justiça social, na perspectiva da universalização do acesso a bens e a serviços relativos às políticas e
programas sociais; a ampliação e a consolidação da cidadania são explicitamente postas como ga-
rantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras. Correspondentemente, o proje-
to se declara radicalmente democrático considerada a democratização como socialização da parti-
cipação política e socialização da
riqueza socialmente produzida.
Do ponto de vista estritamente profissional, o projeto implica o compromisso com a competência, que
pode ter como base o aperfeiçoamento intelectual do assistente social. Daí a ênfase numa forma-
ção acadêmica qualificada, fundada em concepções teórico-metodológicas críticas e sólidas, capazes
de viabilizar uma análise concreta da realidade social – formação que deve abrir a via à preocupação
com a (auto)formação permanente e estimular uma constante preocupação investigativa.
Enfim, o projeto assinala claramente que o desempenho ético-político dos assistentes sociais se
potencializará se o corpo profissional articular-se com os segmentos de outras categorias profissio-
17
A reflexão sobre o caráter mediador da atribuição de supervisionar estágio re-
gistra o reconhecimento das condições externas da prática profissional em relação
aos determinantes do mundo do trabalho, e também fortalece os saberes do Assis-
tente Social, pois essa dinâmica influencia diretamente as estratégias da profissão,
mediando os compromissos éticos e políticos no espaço contraditório em que inter-
vém.
Nesta pesquisa, consideramos que é na relação entre a teoria e a prática do
Serviço Social que se forma o caráter mediador das atribuões do assistente social
supervisor de campos de estágios, de forma que, pela centralidade que se busca dar
ao profissional e à sua experiência, tornam-se significativas as construções de tal
atribuição, no cotidiano profissional.
Assim, é pela certeza do compromisso ético-político com a formação profis-
sional que desafios são superados e equívocos esvanecidos.
Para iluminar o nosso objeto de estudo, optamos pelas seguintes questões
norteadoras: Considerando a relação teoria-prática do Serviço Social, como são
construídas as atribuões de supervisionar os campos de estágios, de modo a ga-
rantir o seu caráter mediador? E, também, quais os significados atribuídos pelos As-
sistentes Sociais à sua experiência como supervisor de campos de estágios em Ser-
viço Social?
O objetivo da pesquisa é tornar explícita a experiência profissional de supervi-
sores de estágios em Serviço Social, de forma a evidenciar o caráter mediador des-
sa atribuição privativa do Assistente Social.
Com esse escopo, a presente dissertação de mestrado foi subdividida de a-
cordo com os seguintes capítulos:
No Capítulo I, apresentamos os caminhos metodológicos construídos durante
a pesquisa, de forma a reconhecer o assistente social que desenvolve a supervisão
de campos de estágios. Com essa intenção, utilizamos a História Oral como metodo-
logia qualitativa.
nais que compartilham de propostas similares e, notadamente, com os movimentos que se solidari-
zam com a luta geral dos trabalhadores.” (NETTO, 1999: 104-105)
18
Nas narrativas, buscamos os significados atribuídos pelas próprias Assisten-
tes Sociais entrevistadas, para saber “como as pessoas elaboram a experiência so-
cial em sua consciência” (KHOURY, 2004:118), com vistas ao conhecimento e à sis-
tematização de indicações e tendências contidas nas atribuições da profissional en-
volvida com a supervisão de estágio.
No Capítulo II, discutimos a importância do caráter mediador das atribuições
de supervisionar os campos de estágios em Serviço Social, considerando a relação
teoria-prática e as condições reais do trabalho, no cotidiano do Assistente Social,
envolvendo, inclusive, suas reflexões sobre as questões éticas e políticas que per-
meiam a profissão.
Isso significa pensar e repensar como é que as atribuições privativas do as-
sistente social movimentam-se além da lei (que Regulamenta a Profissão) que as
constitui, e, passam a ser concretas nas realidades do processo de ensino-
aprendizagem dos estágios em Serviço Social, à luz do projeto ético-potico e dos
conhecimentos teórico-metodológicos dos projetos de profissão.
Por serem tão ricos os significados trazidos pelas narrativas das Assistentes
Sociais e considerando toda a reflexão teórica, esclarecemos que os depoimentos
são citados no decorrer dos capítulos e não apenas no Capítulo III, momento esse
que, com maior ênfase, identificamos e refletimos sobre as experiências vividas pe-
las Assistentes Sociais.
Por ser essa a nossa intenção ético-política, optamos pela pesquisa de natu-
reza qualitativa, em que a visão de pesquisador em relação ao problema, mas
também, e especialmente, a das Assistentes Sociais que fazem a supervisão de es-
tágio no processo de formação em Serviço Social.
Com isso, a apresentação dessas Assistentes Sociais permitiu aprofundar o
conhecimento sobre os determinantes constitutivos do objeto pesquisado, além de
possibilitar o conhecimento de seus posicionamentos no desenvolver das supervi-
sões de estágio.
Dessa forma, o processo investigativo deu-se por meio da aproximação ao
Departamento de Serviço Social da Universidade de Taubaté, no interior do Estado
de São Paulo, exatamente por nela estar centrada a vice-presidência da Abepss, da
19
região Sul II
10
. O departamento indicou-nos as Assistentes Sociais que contribuíram
sobremaneira com esta dissertação de mestrado.
Consideramos ainda importante destacar que realizamos um levantamento
das publicações da Abepss, em seus Cadernos Abess e Revistas Temporalis, com o
intuito de enriquecer a pesquisa da dissertação.
Nossa perspectiva final - mas não definitiva - ficou impressa na certeza de
que o delineamento das atribuições do profissional como supervisor de campo de
estágio vai fortalecer o Projeto Ético-Político do Serviço Social
11
e possibilitar o re-
conhecimento da importância do exercício dessa supervisão, ao mesmo tempo em
que contribuirá para a identidade do Assistente Social.
Identidade profissional essa comprometida com a garantia do acesso univer-
sal aos direitos sociais, de forma a fortalecer a justiça social e, conseqüentemente, a
emancipação social.
Nossa posição em todo momento da construção da presente pesquisa sem-
pre foi a de dar centralidade ao Assistente Social que supervisiona os campos de
estágios em Serviço Social; Assistente Social esse que, pelas condições contraditó-
rias, acaba sentindo-se isolado no desenvolver desse exercício, na prática profissio-
nal, mas que deve acreditar e/ou acredita que todo o saber teórico, metodológico,
ético e potico inerente à profissão, como também todo o conhecimento construídos
no exercício do profissional também iluminam a supervisão de campos de estágios.
E esse entendimento explica e justifica o tulo desta dissertação de mestrado:
As Narrativas do Supervisor de Campo de Estágio: conhecendo a Atribuição Privati-
va do Assistente Social.
Assim, o Assistente Social Supervisor de Campos de Estágios contribui com a
formação de futuros colegas de profissão e, portanto, com a identidade do Serviço
10
A Abepss é composta pelas Diretorias Regionais, entre outros órgãos, segundo o artigo 11, de seu
Estatuto, e essas “regionais são constituídas pelas Unidades de Ensino filiadas à Abepss nas respec-
tivas regiões” (artigo 26). Disponível em: www.abepss.org.br
Tal estatuto está sendo debatido e reformulado, neste presente semestre de 2008, pelas sub-regiões,
para que, em assembléia da Abepss, durante o XI Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço
Social (Enpess) previsto para ocorrer de 1º a 6 de dezembro de 2008, possam ser definidas as possí-
veis modificações.
11
Sob o ponto de vista de sua materialidade, o projeto ético-político expressa-se pelo Código de Éti-
ca, no qual estão postos os valores que o fundamentam, e que, por extensão, fundamentam também
a ação profissional. Outras expressões do projeto, no caso brasileiro, estão contidas na legislação
que regulamenta a profissão e nos currículos de cursos de formação graduada e pós-graduada em
Serviço Social. (MARTINELLI, 2004)
20
Social. E, para isso, utiliza-se de elementos constitutivos da profissão e do cotidiano
profissional, o que o torna conscientemente parte do coletivo de profissionais que
têm o compromisso de supervisionar os campos de estágios em Serviço Social.
Afirmamos isso para convidar todos a adentrarem nas narrativas sobre as ex-
periências em supervisionar campos de estágios em Serviço Social, as quais bus-
camos evidenciar na presente pesquisa.
21
CAPÍTULO I - A HISTÓRIA ORAL - SUJEITOS POLÍTICOS, EXPERI-
ÊNCIAS E SEUS SIGNIFICADOS
Tu, místico, vês uma significação em todas as cousas.
Para ti tudo tem um sentido velado.
Há uma cousa oculta em cada cousa que vês.
O que vês, vê-lo sempre para veres outra cousa.
Alberto Caeiro
Construir significados a partir das narrativas de sujeitos políticos nos remete
ao uso da metodologia da História Oral nas pesquisas qualitativas, afinal, conforme
as palavras do poeta citado na epígrafe: todo cidadão místico constrói uma significa-
ção sobre as cousas, e o conceito de pesquisa social que defendemos é exatamente
esse interesse em evidenciar a história contada pelos sujeitos, os quais, por sua vez,
formam os significados a partir de suas experiências.
Ao compor a sua história e permitir-se dividir conosco sua narrativa, o sujeito
compartilha tal experiência e a maneira como, por meio dela, conseguiu compreen-
der um fenômeno com seu olhar criterioso e cuidadoso para saber que, por trás de
toda aparente realidade, é necessário desvendar e saber o que existe oculto em ca-
da cousa, para, assim, ser posvel ver outra cousa.
E é assim que nós, pesquisadores, nos percebemos: nessa ânsia por des-
vendar como o Assistente Social vem mediando sua atribuição de supervisor de
campos de estágios em Serviço Social, num contexto contraditório, no qual está in-
serido como trabalhador assalariado, mas que também, nesse mesmo movimento
do cotidiano profissional, estabelece seus compromissos com o processo de ensino-
aprendizagem pertinente ao estágio profissional. Isso porque, como afirma Khoury
(2004:123), “(...) as narrativas se constroem nas e pelas redes de relações em que
estão inseridos”.
Com a metodologia da História Oral, evidenciamos o além da realidade da
qual nos aproximamos, ou seja, buscamos dar visibilidade às experiências das pró-
prias Assistentes Sociais Supervisoras de Campos de Estágios e, também, toda sig-
nificação construída por esses sujeitos políticos responsáveis pela supervisão. Para-
fraseando Khoury (2004:118), buscamos saber como as Assistentes Sociais elabo-
raram as experiências sociais dessa prática em suas consciências.
22
Reconhecemos também que a singularidade da experiência de cada profis-
sional contribuiu para o desvelamento de nosso objeto de estudo e nos possibilitou
uma aproximação com a lógica da compreensão interna de um determinado grupo.
Queremos dizer que, mesmo sendo a experiência singular de cada Assistente Soci-
al, esses significados nos permitiram compreender a identidade social do próprio
Serviço Social e sua expressão no processo de supervisão.
Identidade social, essa cujos interesses apresentaram-se em comum na sua
diversidade e, ainda, levaram-nos ao conhecimento de que uma determinada expe-
riência está diretamente relacionada com outras experiências, fato que nos permite
conhecer fielmente o cenário contemporâneo da supervisão de estágio em Serviço
Social.
Afinal,
a questão sobre quão histórica é a vida privada e quão pessoal é a
história pode ser posta pelo narrador, pelo historiador ou por ambos;
na verdade, sempre a questão do que é privado e do que é público
na narrativa de alguém é incerta, especialmente se estamos em
busca do enganoso tema da história da vida privada. De qualquer
maneira que possa ser, a história oral expressa a consciência da his-
toricidade da experiência pessoal e do papel do indivíduo na história
da sociedade em eventos públicos. (PORTELLI, 1997:14)
Assim, apresentamos nossa reflexão com a compreensão de que a escolha
dessa metodologia de pesquisa permitiu a construção de um espaço de auto-
encontro, de compartilhamento com outrem, e ainda que, dessa dinâmica, saísse-
mos com ensinamentos, os quais, por sua vez, não serão somente de utilidade par-
ticular, mas coletiva, afinal, o produto do ato de pesquisar é para todos.
Para que, no decorrer desta dissertação, adentrássemos nas experiências
narradas pelas Assistentes Sociais e nas contribuições que trouxeram para o aden-
samento da discussão sobre uma das atribuições privativas do profissional da área,
buscamos conhecer a totalidade do debate desse tema, caminhando entre as narra-
tivas e as teorias sobre a construção da supervisão de campos de estágios em Ser-
viço Social.
Assim, antes de descrever os caminhos que nos levaram até as Assistentes
Sociais Supervisoras de Campos de Estágios, e considerando a importância das
23
narrativas e experiências trazidas por tais profissionais, apresentamos cada uma
delas, bem como seus significados.
1.1 As Assistentes Sociais Supervisoras de Estágios
Eu gosto muito de ter estagiário.
(Lucimara)
No dia 29 de maio de 2008, realizamos a entrevista com a Assistente Social
Lucimara de Moura Gil, em espaço cedido pelo Cress-SP, na seccional de São Jo-
sé dos Campos.
Antes do nosso primeiro encontro, conversamos por telefone, em dois mo-
mentos, com o intuito de nos apresentarmos e, ainda, para confirmar a data do a-
gendamento da entrevista.
No dia previsto, chegamos ao Cress alguns minutos antes de Lucimara.
O Cress fica em uma casa térrea, numa rua tranqüila perto de movimentada
avenida de um dos bairros da cidade. Era um dia ensolarado, tanto que a sala cedi-
da para a entrevista tinha uma grande janela pela qual a claridade externa iluminava
a mesa, as cadeiras, tornando o local bem acolhedor.
Nossa conversa durou pouco mais de uma hora e, no final, Lucimara pediu
para que anotássemos a poesia de Mário Quintana: “somos anjos de uma asa só;
precisamos nos abraçar para poder voar”. E, ainda, que havia repetido esse pensa-
mento para as colegas de trabalhos, alguns dias antes da nossa conversa, como
incentivo e para manter a perseverança em relação aos compromissos do Serviço
Social, pois acredita que o Assistente Social deve enfrentar, no coletivo, os desafios
colocados no cotidiano profissional.
Nesse dia, conhecemos Lucimara. Formada pela Universidade de Taubaté
(Unitau), em 1999, e com paixão pela área da Arte-terapia - que descoberta, aquele
curso, maravilhoso!”, são suas palavras - trabalha, atualmente, na Fundação Hélio
Augusto de Souza (Fundhas), no Município de São José dos Campos, uma institui-
24
ção filantrópica que atende crianças e adolescentes provenientes de classes em si-
tuação de vulnerabilidade social.
Informou-nos que, por estar ocupando um cargo de coordenação, não acom-
panha diretamente os estagiários em Serviço Social, porém, organiza a política de
estágio da instituição, que tem em torno de 30 estagiários divididos entre as 35 As-
sistentes Sociais.
Mas Lucimara já revela que
Uma das coisas que eu mais senti naquele momento foi deixar de ter um es-
tagiário. Porque s atendemos assistentes sociais, então eu não posso ter um es-
tagiário ali por questão de ética mesmo!
Estando na política de estágio, a gente faz toda a seleção e lida com esse
conflito também, não é? De supervisor e estagiários. Eu acho que isso complemen-
ta. Eu acho que eu posso sim, falar um pouco disso (sobre a temática da su-
pervisão de campo de estágio) também.
E isso também traz muita reflexão e nós estamos numa condição de estar in-
termediando essa relação, do estagiário com o supervisor nesse momento. E isso
assim, eu me vejo lá: como eu era (como) supervisora? Então assim, não que eu
seja um modelo. Mas, coisas muito simples que não devem acontecer tanto de um
lado quanto do outro.
Lucimara, em seu depoimento, também evidenciou a relevância da sua própria
experiência como estagiária em Serviço Social para desenvolver sua atribuição co-
mo Supervisora de Campo, nos dias atuais, ao afirmar que:
Sempre houve respeito! Eu entrei como estagiária voluntária, no terceiro
ano. Então, eu fazia o estágio no fim da tarde assim, algumas horinhas, porque eu
trabalhava e ainda tinha o estágio. E, no outro ano, no quarto ano, eu fiquei integral.
Daí, eu fui efetivada e, assim, eu percebi o profissionalismo dela (da supervisora de
campo) de conseguir fazer esse link o de um dia para o outro: ‘você não é mais a
minha estagiária’.
25
Então assim, é isso mesmo que ficou. Por isso veio essa reflexão para mim!
Esse aluno que eu estou dando supervisão hoje, daqui a pouco ele é meu colega de
trabalho, de profissão e que nós vamos estar de igual para igual!
Então eu acho que a Jurema foi realmente assim, um espelho para mim! Daí,
eu fiquei com essa preocupação! Eu sou espelho para alguém também.
O Código de Ética... a gente procura discutir muito, nas supervisões.
(Patrícia)
Numa sexta-feira chuvosa, na cidade da garoa, dia 30 de maio de 2008, diri-
gimo-nos a Taubaté (SP) para entrevistar a Assistente Social Patrícia Saad.
Nosso encontro foi realizado no espaço de trabalho dessa profissional, numa
Clínica de Fisioterapia, um dos campos de extensão da Unitau, universidade em que
o Serviço Social está inserido.
Aproximadamente duas horas da tarde cheguei ao local para encontrar-me
com Patrícia. Pedi informações num balcão, logo na entrada da clínica, e, pronta-
mente, um senhor - com um dos pés engessado apontou-me a direção que deve-
ria seguir.
Chegando à sala do Serviço Social, nos apresentamos, e, em seguida, Patrí-
cia mostrou-nos todo o espaço da clínica, os serviços ali prestados, e também apre-
sentou os profissionais que desenvolvem o trabalho. E, o principal, traz como refle-
xão, a idéia central do trabalho da profissão dentro de um espaço institucional para
desenvolver a atribuição de supervisionar os campos de estágios, ao afirmar:
Então, eu comecei... eu vim para a Clínica foi em julho de 2004. Eu tive um
período em que eu tive que construir a minha proposta de trabalho. Então, estar co-
meçando, é... estar construindo toda a dinâmica de trabalho, a instrumentalidade do
Serviço Social. Até a gente poder, estar recebendo os alunos.
26
Sobre sua experiência como estagiária, dividiu conosco que a construção de
conhecimentos desse momento de ensino-aprendizagem iluminaram construtiva-
mente a sua atribuição de supervisionar os campos de estágios, atualmente.
Mirela: você pensa também que toda a experiência que você teve, enquanto
você era aluna-estagiária, dentro dessa relação com a supervisora na época, contri-
bui para o seu exercício de hoje, o atual?
Patrícia: Então, nossa! Eu acho que contribui bastante. Fui muito privile-
giada quando era estagiária.
Eu fazia estágio na Prefeitura de São José dos Campos, na Secretaria de
Desenvolvimento Social na Unidade Centro. Tive a oportunidade de trabalhar em um
projeto denominado “Projeto de Apoio Sócio-Familiar”, desenvolvendo em conjunto
com a população de bairros definidos como bolsões de pobreza discussões, a-
ções e a construção de alternativas de resgate da cidadania. O Projeto propiciava a
existência do trabalho coletivo, o despertar para o sujeito coletivo.
Tive supervisores que tinham compromisso em estar orientando. Tive espaço
como estagiária para criar ações, participar de reuniões, de projetos, enfim, desen-
volver minha identidade profissional. Acho que esta experiência de estágio foi
muito construtiva e significativa para meu processo de formação. A supervisão
é um compromisso muito grande para nós supervisores, tendo em vista que o
processo de estágio constitui âmbito de construção de referências profissio-
nais.
Foi (...) com os alunos que eu mesma descobri como orientá-los, no campo.
(Maria Fernanda)
Quinta-feira. Esse foi o dia de várias semanas em que ocorreram os encon-
tros do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Identidade
12
, durante o primeiro semes-
12
O Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Identidade, cujo tema neste primeiro semestre de 2008 foi
a História Oral: Trabalhando com as Narrativas; tem como professora responsável Maria Lúcia Marti-
nelli. A ementa desse núcleo foi, no referido semestre, formar pesquisadores na área de memória,
cultura e identidade, com foco nas narrativas colhidas por meio do uso da fonte oral.
27
tre de 2008. Em particular, no dia 5 de junho, a Assistente Social e Professora Maria
Fernanda Costa participou para dividir com os integrantes sua experiência com
pesquisas qualitativas feitas com a metodologia da História Oral.
Aproveitando a oportunidade do encontro, realizamos nossa entrevista. Eram
aproximadamente quatro horas da tarde ensolarada, na cidade de São Paulo, quan-
do resolvemos conversar em um dos espaços descontraídos que ficam na frente da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Assim, em um ambiente tranqüilo, Maria Fernanda trouxe, imediatamente, sua
história:
Eu tenho quase trinta anos de formada. Formei-me pela PUC de Campinas, fiz
mestrado na PUC do Rio, e doutorado aqui (PUC-SP). Aqui, a PUC é muito bom,
não é? Esse lugar aqui faz bem para a alma!
Na Universidade, estou 12 anos lá, em Taubaté (Unitau), como docente.
Eu pude supervisionar alunos, na Clínica de Psicologia. Foi um período curto (...),
mas, foi um período com os alunos que eu mesma descobri como orientá-los, no
campo.
Com relação a essa experiência específica em supervisionar estágios em Ser-
viço Social, Maria Fernanda traz uma reflexão distinta, no sentido de que sua atribui-
ção enquanto supervisora, abrange as responsabilidades acadêmicas e do campo
de estágio, sem distinção entre elas.
Mirela: Mas você coloca, enquanto supervisora acadêmica ou supervisora de
campo?
Maria Fernanda: Ah, eu acho que nos dois casos, nos dois casos! Eu não
consigo ver muito essa diferença, porque eu entendo que o fato de eu ser um su-
pervisor acadêmico, eu tinha que ter hora-aula para poder ir ver esse aluno lá, e não
trabalhar só com as angústias sem conhecer o cotidiano dele.
Mirela: Fica realmente fragmentado, não é?
28
Maria Fernanda: Muito! Quando você está num projeto extensionista, você
está com hora-aula dentro de uma instituição, como essa que eu citei. Você está
junto com o aluno, você está atendendo. Esse é o ideal!
Tal afirmação trouxe um conteúdo extra para o aprofundamento do objeto da
pesquisa em questão. Exatamente por tratar da atribuição da supervisão de estágio,
sob o enfoque da realidade dos campos de estágios estritamente relacionada com a
supervisão na Academia. Quer-se dizer, embora sejam realidades distintas, com de-
terminantes particulares ao seu espaço, o Assistente Social permanece na condição
de assalariado. Essa dinâmica influencia o desenvolvimento do estágio e, conse-
qüentemente, a construção da atribuição privativa de supervisionar, tanto uma como
a outra.
E, ainda, ambas as responsabilidades, embora tenham atividades espeficas
distintas entre si, são iluminadas pelo Código de Ética, o Projeto Ético-Político e os
saberes do Serviço Social, sem exceção. Portanto, de fato, como Maria Fernanda
veio a afirmar: “eu não consigo ver muito essa diferença!
Maria Fernanda contribuiu, também, com relação à importância de sua expe-
riência como estagiária em Serviço Social para a construção das atribuições do su-
pervisor de campo e o acadêmico, desenvolvidas por ela, ao dizer:
E eu gosto muito, viu? Dos alunos em supervisão. Gosto de questionar o que
eles fazem, sabe? Sou aberta para receber as informações, porque eu sei que ali
eles precisam de alguém como referência, assim como para mim foi muito importan-
te ao fazer esse curso.
A minha formação na graduação, eu acho que eu me identifiquei muito
mais com os meus supervisores de campo do que com os professores, olha
que interessante! Muito mais, porque eles faziam parte na época de uma institui-
ção, em Campinas, que se chamava Feac - Federação das Entidades Assistenciais
de Campinas.
Então, várias entidades eram associadas à Feac e (eu) tinha supervisão
de vários profissionais. E esse grupo era um grupo muito militante; tinha (o grupo)
29
tido uma história de participação em movimento estudantil, gente que tinha sido exi-
lada, presa, enfim, uma história de militância. Então, na minha formação, para mim,
eu queria isso. Eu queria essa experiência desses assistentes sociais.
E como na graduação nem sempre a gente tem oportunidade de escolher, eu
tive muita sorte de ter esses profissionais do meu lado e podendo ler coisas diferen-
tes, me abrindo. Na supervisão mesmo, me abrindo, arrasando aquela visão messi-
ânica
13
que você chega num curso de Serviço Social e que atravessa, inevitavel-
mente, não é?
E elas construíram a minha identificação profissional. Porque eu acho que
é ali (no estágio), claro que na sala de aula (também), mas no contexto do campo de
estágio isso é muito forte, você tem que estar identificado com o seu supervisor e o
supervisor identificado nesse lugar de quem ensina. Isso é o fundamental!
Os campos de estágios, eles são variadíssimos.
(Mabel)
A primeira segunda-feira do mês de junho de 2008, no dia 2, foi a data agen-
dada pela Assistente Social e Coordenadora de Estágio da Unitau, Mabel Mascare-
nhas para nossa conversa.
Aproximadamente, um mês antes desse nosso encontro, havíamos ido à Uni-
versidade de Taubaté, para encaminhar o projeto de pesquisa para aprovação no
Comitê de Ética dessa universidade. E aproveitando o ensejo fomos ao Departa-
mento de Serviço Social para um primeiro contato com Mabel.
Depois desse encontro, muitos outros se sucederam, pela via eletrônica, pois
a professora contribuiu com a indicação das outras três Assistentes Sociais para
compor a pesquisa de campo da dissertação de mestrado.
No dia da nossa conversa, fomos ao encontro da professora, na sala dos pro-
fessores do departamento do curso, para iniciarmos nossa conversa.
13
O conceito de ‘visão messiânica refere-se à perspectiva naturalista e idealista que constituiu a
prática social do Serviço Social durante um período de sua história, e, ainda, esse termo foi inicial-
mente utilizado por Marilda Iamamoto (2004a).
30
Mabel trouxe como contribuição o lugar do Coordenador de Estágio em sua
relação com a organização dos distintos campos de estágio e, essencialmente, so-
bre o seu apoio pedagógico, teórico e metodológico ao Assistente Social, supervisor
desse mesmo campo estágio, principalmente ao levantar e refletir sobre os limites e
desafios colocados, em seu cotidiano profissional.
Como vemos:
Mabel: a principal dificuldade que eu vejo é que ainda algumas unidades de
estágio entendem a Universidade como fiscalizadora, e, não como mais um sujeito
desse processo. Por mais que a gente entenda que a gente trabalha de uma forma
democrática, que chama para discussão, que chama para reunião, que faz um traba-
lho, por exemplo, de visitação aos locais de estágio.
Eu vou até os lugares, eu quero conhecer, eu quero conhecer os supervisores.
Ainda assim, quando a gente chega, eles ficam meio assim. E eu posso falar isso
para você com muita tranqüilidade porque eu trabalho como assistente social aqui
na região. Então, muitos dos supervisores me conhecem como assistente social.
Então, eles ficam mais relaxados, mas nem por isso... alguns ainda falam: ‘ah, você
veio aqui para ver se a gente está fazendo tudo certinho?.
E eu falei: ‘Olha! No dia que tiver tudo certinho tem alguma coisa errada, por-
que não é possível’. (Risos)... Eu falei: Nem na Universidade’. E assim, e aqui ainda
tem essa coisa de que quem está na Universidade sabe mais.
E o mais relevante, dessa reflexão, é afirmar que quanto maiores forem a cla-
reza e o entendimento desses determinantes, melhor repensadas as estratégias de
apoio que vão fortalecer, inclusive, a construção das atribuições do supervisor de
campo, pois esse profissional (o supervisor de campo) também passa, dentro do
processo de ensino-aprendizagem do estágio, por momentos de sistematizar, não
somente a sua prática profissional dentro do espaço sócio-institucional, mas a ma-
neira como desse repensar as novas perspectivas ético-poticas de supervisão ao
estagiário, para que de fato a mediação entre as construções de novos conhecimen-
tos e o exercício concreto da supervisão passem a ter o suporte da Coordenação de
Estágio, em distintas situações, a ver:
31
A última reunião que eu fiz aqui, eu discuti muito com eles (supervisores de
campo) que como a gente tem lidado cada vez mais (com) população que vive de
forma precária, o bairros extremamente violentos, que o interessante é que o es-
tagiário não vá sozinho fazer uma visita domiciliar, por exemplo.
A gente ainda encontra unidades que entende que o estagiário é trabalhador.
E, isso é muito comum, o estagiário substituindo funções que é do (assistente
social) supervisor.
Que ele tem que ter o acompanhamento. Por mais que ele, o aluno, chegar
e coordenar o atendimento. Ele que vai ser o responsável por aquele atendi-
mento, mas eu entendo que a presença do supervisor é fundamental porque é
o supervisor que responde.
Nós tivemos alunos aqui que foram retidos na supervisão acadêmica, na
supervisão acadêmica e no estágio por uma solicitação do supervisor de campo. A
supervisora de campo avalia: ‘ele não tem maturidade. Não demonstra ter maturida-
de para dar conta de atendimentos individuais’.
E o atendimento social individual é uma das atribuições do assistente social.
Então, se ele não demonstra ter consistência para fazer isso, ele não pode passar
para frente.
1.2 As Experiências em Supervisionar os Campos de Estágios
A maneira de se saber é ouvir o que nossa gente tem a dizer.
14
Reconhecendo que a história oral é mais intrinsecamente ela mesma quando
concerne às pessoas que ainda não foram reconhecidas como protagonistas da es-
fera pública” (PORTELLI, 1997:14), buscamos conhecer a realidade da Supervisão
dos Campos de Estágios em Serviço Social, numa reflexão que transita num movi-
14
Utilizamos a fala de uma personagem do filme brasileiro: “Narradores de Javé”, dirigido por Eliane
Caffé, pois ela representa a essência da paródia em evidenciar a importância das narrativas dos mo-
radores de Javé, cujas histórias compõem a estratégia para não extinguir o povoado ameaçado de
perder seu lugar.
32
mento que envolve não somente a legalidade da profissão no que diz respeito às
atribuições privativas e éticas do Assistente Social, mas como essa experiência tem
sido efetivamente desenvolvida nas narrativas dos próprios profissionais.
Pois,
(...) tanto a realidade quanto a relação humana são qualitativas. Im-
plicam em sons, aromas, cores, arte, poesias, linguagem, os quais
podem ser alcançados pela mediação do sujeito e predominan-
temente de modo qualitativo, pois demandam atribuição de significa-
dos. Tal tarefa apenas o sujeito é capaz de realizar, pois significados
se constroem a partir da experiência. (MARTINELLI, 2005:118)
E os significados das experiências em supervisionar os campos de estágios
foram alcançados através das narrativas das Assistentes Sociais. Para isso, o
uso da metodologia da História Oral permitiu que nós conseguíssemos alcançar es-
sa centralidade nos sujeitos.
Ainda permitiu que, por essas narrativas, novos significados fossem construí-
dos pelos próprios sujeitos entrevistados, pois, ao submeter a um olhar crítico o e-
xercício de sua experiência, passou a rever a dinâmica da supervisão de estágios,
não somente no contexto da instituição ocupacional, mas, num contexto mais amplo,
presente na história do Serviço Social
15
.
Tanto é que Patrícia afirmou:
também agradeço por essa oportunidade, porque ser sujeito de uma pesquisa,
participar, é muito importante também; esse momento faz com que a gente também
reveja a importância de algumas categorias teóricas. Propicia ainda rever ações de-
senvolvidas como supervisora. Hoje eu tive oportunidade de repensar sobre meu
processo de supervisão. Como que ele pode ser melhor? Mesmo porque é um
aprendizado contínuo, uma troca contínua. Aprendemos muito, mas sempre
temos muito a aprender.
15
Desde os primórdios da profissão, podemos identificar essa preocupação com a formação profis-
sional direcionada para a discussão sobre o estágio em Serviço Social. Tanto é que, na busca de
documentos históricos do Serviço Social, nos acervos do Centro de Documentação e Informação
Científica (Cedic), na PUC-SP, encontramos um projeto pedagógico elaborado por Nadir Kfouri sob a
influência teórica do Serviço Social norte-americano, relatando as experiências em estudos de caso,
datado da década de 1940.
33
A realidade da supervisão de estágios em Serviço Social - em particular, a
supervisão dos campos de estágios - apresenta-se no cotidiano da prática do Assis-
tente Social o qual, no seu exercício profissional, tem a competência
16
de saber me-
diar tal atribuição privativa com todos os determinantes de sua condição de traba-
lhador assalariado e ainda assim ter claro o seu compromisso ético-político, ilumina-
do por suas dimensões teórico-metodológica e técnico-operativa, de fazer com que
esse processo de ensino-aprendizagem do estágio seja repleto de significados cons-
trutivos para proporcionar uma formação profissional qualificada.
Para obter o reconhecimento desse contexto contraditório que se apresenta
nos meandros do cotidiano profissional do Assistente Social, além de uma busca
teórica que conceitua e explica tal realidade, instigamos as entrevistadas para saber
o concreto real, o que de fato acontece no dia-a-dia. Para tanto, faz-se relevante a
necessidade de uma metodologia que nos permita movimentar da compreensão teó-
rica à realidade; enfatizando que é sob a luz dessa mesma compreensão que perce-
beremos o real.
Ou seja,
a História Oral trata-se de uma metodologia qualitativa de pesquisa,
adequada ao conhecimento do tempo presente; permite conhecer a
realidade passada e presente, pela experiência e pela voz daqueles
que a viveram. Não se resume a uma simples técnica, incluindo
também uma postura, na medida em que seu objetivo não se limita à
ampliação de conhecimentos e informações, mas visa conhecer a
versão dos agentes. Permite conhecer diferentes versões sobre um
mesmo período ou fato, versões estas marcadas pela posição social
daqueles que os viveram e os narram. (LANG, 2000:123, grifo nos-
so)
Portanto, a busca pela experiência desses Assistentes Sociais foi fiel aos sig-
nificados construídos pelos próprios profissionais envolvidos, e por isso é que nossa
aproximação de tal realidade não foi no sentido de fiscalizar esse exercício profis-
16
Tal competência tem como norte comum da categoria profissional de Serviço Social, o esclareci-
mento ético-político do digo de Ética, lei que regulamenta a profissão e projeto ético político. O
Código de Ética (Resolução 273/93) em seu artigo diz que é vedado ao Assistente Social com-
pactuar com o exercício ilegal da profissão, inclusive, nos casos de estagiários que exerçam atribui-
ções específicas em substituição aos profissionais (alínea d); e permitir ou exercer a supervisão de
aluno de Serviço Social em Instituições Públicas ou Privadas que não tenham em seu quadro assis-
tente social que realize acompanhamento direto ao aluno estagiário (alínea e).
34
sional, mas para conhecer realmente o processo de construção de suas atribuições
enquanto supervisores de campos de estágios.
Compreendemos que tais significados representaram a subjetividade de cada
sujeito envolvido, que embora, tenham em comum um compromisso ético-político do
Serviço Social, criam singularmente a sua dinâmica de mediação entre o saber e
fazer na construção de suas atribuições como supervisores de campo de estágio em
Serviço Social.
Evidenciamos isso por meio dos significados da narrativa da Maria Fernanda,
quando diz:
Vou tentar recapitular aqui na minha memória, como que eu fui chegando a
essa preocupação (de supervisionar os campos de estágios em Serviço Social). O
que é, de fato, que me identifica enquanto profissional?
Eu acho que ao longo da minha formação eu fui percebendo que você só pode
falar do lugar de assistente social! Poder dizer: eu sou assistente social, à medida
que você considera as suas experiências concretas, que é dali que você sabe, não
é? Então eu acho que eu fui desenvolvendo, na formação, questões que tinham a
ver com a supervisão de campo na medida (em) que eu pensava na minha própria
formação: de onde eu falo como assistente social? Eu falo a partir da minha expe-
riência e do que eu pude sistematizar enquanto profissional. Então a minha pre-
ocupação é de fazer com que o aluno sinta isso. Não tem coisas prontas, não é? E
mesmo que ele conheça os instrumentos cnico-operativos, os instrumentos técni-
co-operativos olhados de outra perspectiva teórica, será usado de uma outra manei-
ra.
Nesse sentido, entendemos que, embora cada Assistente Social desenvolva
singularmente a supervisão de estágio, no seu cotidiano profissional, ele representa
também um saber construído pelo Serviço Social, que vem constituir a perspectiva
coletiva do seu fazer profissional. Tal como Severino (2001:53) afirma:
35
pode-se constatar que a prática do saber é a face subjetiva da cole-
tividade política dos sujeitos. Em todas as esferas de sua prática, os
homens atuam como sujeitos coletivos. (...) Ainda que mediado pela
ação singular e dispersa dos indivíduos, o conhecimento tem seu
pleno sentido quando inserido nesse tecido mais amplo do cultural.
Portanto, a busca pela experiência de cada Assistente Social reflete, também,
o coletivo do Serviço Social.
E é essa dinâmica subjetiva que queremos evidenciar pelo uso da metodolo-
gia da História Oral, tanto que
a primeira coisa que a torna (a história oral) diferente, portanto, é
aquela que nos conta menos sobre eventos que sobre significados.
(...) Mas, o único e precioso elemento que as fontes orais têm sobre
o historiador, e que nenhuma outra fonte possui em medida igual, é
a subjetividade do expositor. (...) Fontes orais contam-nos não ape-
nas o que o povo faz, mas o que queria fazer, o que acreditava estar
fazendo e o que agora pensa que fez. (...) Subjetivamente, faz tanto
parta da história quanto os ‘fatos’ mais visíveis. O que os informan-
tes acreditam é na verdade em um fato histórico (isto é, o fato no
qual eles crêem), tanto como naquilo que realmente aconteceu.
(PORTELLI, 1997:31)
Assim sendo, o sujeito entrevistado trouxe os seus significados construídos e
atribuídos à sua experiência de supervisionar os campos de estágios, pelo lugar so-
cial e profissional que ocupa.
Para alcançar tal significado nas narrativas de nossos sujeitos, foi preciso
pensar no critério de escolha dos mesmos, que, “a qualidade do material obtido
depende da qualidade do informante escolhido, em função do que se pretende des-
vendar”. (QUEIROZ, 1991:75)
Ou seja, “(...) as abordagens qualitativas destacam-se por serem aquelas ca-
pazes de incorporar os significados que os próprios sujeitos atribuem à sua experi-
ência social cotidiana”. (MARTINELLI, 2005:121)
36
E, a partir dessas experiências
17
, foi possível repensar como estamos cons-
truindo a mediação das atribuições privativas do Assistente Social supervisor de
campo de estágio.
Afinal, esse é o objetivo proposto desta dissertação, ou seja, refletir sobre o
caráter mediador das atribuições do Assistente Social como supervisor de estágio, o
que exige a compreensão da mediação em Serviço Social, pois, a partir do momento
em que esse Assistente Social assume-se como supervisor de campo de estágio, é
fundamental que passe a reconhecer os determinantes e as variáveis que ilustram
sua prática, reconhecendo inclusive a diferença entre as ações atribuídas pelo espa-
ço socio-ocupacional e as que ele, como profissional, comprometeu-se a desenvol-
ver, tal como a supervisão de estágio.
1.3 As Trajetórias Percorridas
No desenrolar desta pesquisa de mestrado, as trajetórias percorridas foram
uma aventura do espírito, diria Ianni (1985). Aventura de aproximarmo-nos dos sujei-
tos e suas experiências sociais e profissionais; os sentidos construídos por eles e,
inclusive, como, por meio do ato da narrativa, novos significados também foram
construídos, superando equívocos e alcaando a criticidade necessária.
É como reflete Maria Fernanda:
Eu nunca, nunca tinha dito, por exemplo, que o Projeto Ético-Político na
verdade ele é a minha formação. E é. Pensando aqui, ele é. Nenhum desses con-
teúdos me veio externamente. m a ver com o que eu aprendi em sala de aula e
com o que eu aprendi na supervisão. E eu acho que, da forma como eu aprendi, me
fez querer ser uma delas (supervisoras de campos). Assim como os meus professo-
res, todos me fizeram querer ser um deles.
17
“A experiência humana, portanto, expressa o que de mais vivo na história. É a presença de ho-
mens e mulheres retornando como sujeitos, construtores do devir e do presente. Não são as estrutu-
ras que constroem a história. São as pessoas carregadas de experiência. (...) As contingências histó-
ricas exercem pesada presença na vida de cada pessoa. São os antagonismos aos quais todos nós
estamos submetidos.” (BEZERRA, 1995: 125-126)
37
E ainda continua Maria Fernanda:
(...) Eu podia saber disso e não saber, não é? Mas, à medida que você me in-
daga eu vou pensar, refletir. Então, eu acho que eu pude pensar coisas aqui que
eu também não sabia, está vendo? E, isso me prova que quando a gente escuta,
o sujeito se institui. Estou aqui instituída agora da minha formação!
Sabemos que é na vida cotidiana que a história desvela-se ou se oculta, tal
qual a atribuição privativa do assistente social em supervisionar os campos de está-
gios, atividade que pode se tornar rotineira e sem propósito, esvanecendo o real va-
lor para a formação profissional em Serviço Social, ou não.
Por creditarmos nessa negação e valorizarmos a proposição da supervisão de
estágio, é que buscamos saber a história, as experiências das Assistentes Sociais,
de Taubaté e região. Afinal, como afirmou Martinelli (2008), nas aulas do Nepi, du-
rante o primeiro semestre: “a história, para não ser esquecida, precisa ser contada”.
Entendendo que buscamos reconstruir uma reflexão teórica de categorias
concretizadas no exercício de supervisão de estágio, clarificando-as, de forma a al-
cançar a construção das atribuições privativas dos assistentes sociais, optamos pela
pesquisa qualitativa, para identificarmos o que os sujeitos Assistentes Sociais envol-
vidos com o processo de supervisão de estágio no processo de formação em Servi-
ço Social têm a nos dizer a respeito; afinal, a apresentação desses Assistentes So-
ciais o viria permitir o conhecimento dos determinantes constitutivos do objeto
pesquisado, como também uma reflexão sobre os significados de suas experiências
em desenvolver as supervisões de estágio.
O processo metodológico está fundamentado em uma revisão bibliográfica
18
cujo núcleo central foi compreender qual é a atribuição profissional do Assistente
Social como supervisor de campo de estágio, à luz de um referencial teórico-
18
Considerando ainda a importância de destacar que até mesmo as pesquisas qualitativas devem
“pressupor, em alguma medida, a quantitativa. E o fato de ser qualitativa não implica a descaracteri-
zação ou exclusão da outra modalidade” (MARTINELLI, 1999: 25), também buscamos nos aproximar
da discussão sobre o objeto de estudo e da realidade histórica, cultural e social que constituem as
atribuições privativas de supervisão de estágio, por meio da pesquisa documental. Para tanto, utili-
zamos o material (Cadernos Abess e Revistas Temporalis) produzido e publicado pela Abepss, pois
entendemos que esse tipo de pesquisa “vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamen-
to analítico” (GIL, 1991:51). Vide anexo.
38
conceitual construído para refletir as seguintes categorias: supervisão de estágio e
atribuições privativas do assistente social.
Nosso objetivo é trazer para a contemporaneidade tal debate, tão importante
para a formação profissional do Assistente Social; pensar e repensar como é que as
atribuições privativas do assistente social movimentam-se além da lei que as consti-
tuem, e passam a ser concretas nas realidades do processo de ensino-
aprendizagem durante os estágios em Serviço Social, sob a luz do projeto ético-
político e dos conhecimentos teórico-metodológicos apreendidos nas qualificações
profissionais, desde o momento da graduação.
Dessa forma, o processo investigativo foi construído por aproximações suces-
sivas, revelando determinações mais concretas e complexas constitutivas e constitu-
intes do recorte realizado. Recorte esse definido pela escolha do Curso de Serviço
Social de uma Instituição de Ensino Superior (IES), por compartilhar da aplicação e
desenvolvimento das diretrizes curriculares propostas pela Abepss e também por
estar centrada nela a vice-presidência da Abepss, da Região Sul II.
Ainda conforme o artigo 16, do Estatuto da Abepss, que estabelece que “a Di-
retoria da Abepss, eleita em Assembléia Geral para cumprir mandato de dois anos, é
o órgão responsável pela coordenação e execução das atividades da entidade, com
base nas diretrizes e política de ação aprovadas pela Assembléia Geral”, temos que,
durante os anos de 2006 a 2008
19
, a vice-presidência da Região Sul II, que compõe
os Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, está no Departamento de Serviço
Social da Unitau, ficando sob a responsabilidade dessa vice-presidência, dentre ou-
tras competências, o estímulo efetivo da participação e envolvimento dos superviso-
res de campo no processo de formação profissional (inciso VII, do artigo 27, desse
mesmo Estatuto).
Não foi feito estudo de caso da IES escolhida, pois nosso enfoque de pesqui-
sa movimenta-se no espaço do processo de ensino-aprendizagem do estágio em
Serviço Social, nas instituições sócio-ocupacionais, mais especificamente, nas expe-
riências das Assistentes Sociais supervisoras de campos de estágios, portanto, a
definição de uma universidade serviu para viabilizar o contato direto e significativo
com tais profissionais.
19
Em 8 de dezembro de 2006, durante o X Enpess Encontro de Pesquisadores em Serviço Social,
foi realizada a Assembléia da Abepss para publicizar a eleição e a posse da nova diretoria.
39
Com isso, esclarecemos que a partir dos critérios de escolha de uma IES, ti-
vemos a definição do Departamento de Serviço Social, da Unitau, como espaço a-
cadêmico da pesquisa de campo a ser aproximado. Isso porque a Unitau é “uma
instituição municipal de ensino superior, sob a forma de autarquia educacional de
regime especial e rege-se pelas disposições legais gerais e específicas, pelo seu
Estatuto e pelo Regimento Geral”
20
, o que lhe permite cumprir, de modo autônomo e
independente, a sua verdadeira, relevante e indispensável finalidade enquanto uni-
versidade.
E, também, o ementário das disciplinas da graduação do Departamento de
Serviço Social, deliberado pelo Conselho de Ensino e Pesquisa (Consep), sob o
344/ 2003, tem o enfoque reflexivo da sua organização relacionado com as propos-
tas das Diretrizes Curriculares da Abepss, principalmente no que diz respeito à or-
ganização do estágio e da supervisão de estágio em Serviço Social, como consta
em tal documento.
Assim, aproximações com essa IES foram realizadas
21
. Mantivemos contato
com a coordenação do curso e a coordenação de estágio para esclarecer a inten-
cionalidade de nossa pesquisa, no sentido de evidenciar que nosso intuito não seria
produzir conhecimentos, somente, mas o nosso interesse ético-político buscava
compreender que tal realidade tem movimentos e que eles são construídos por su-
jeitos políticos.
Os sujeitos da pesquisa foram definidos a partir da densidade de suas vivên-
cias como supervisores de campos de estágios, e a partir da indicação da Coorde-
nação de Estágio da Unitau. De acordo com a metodologia da História Oral, não foi
necessário trabalhar com um grande número de sujeitos, em nossa pesquisa, mas
apenas com aqueles compatíveis com o objetivo proposto, uma vez que considera-
mos que esses sujeitos expressam significativamente a vivência do grupo.
20
Disponível em: http://www.unitau.br/universidade. Acesso em: 6 abr.2008, às 16h16min.
21
Segundo a Resolução nº. 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde, todas
as pesquisas que envolvem seres humanos devem ser regidas por diretrizes e normas regulamenta-
doras, que garantam o consentimento livre e esclarecido dos indivíduos de forma ética. Portanto, esta
dissertação de mestrado foi aprovada pelo protocolo 116/08, do Comitê de Ética da Unitau, para
que pudéssemos coletar os depoimentos das Assistentes Sociais supervisoras de campos de está-
gios vinculadas ao Departamento de Serviço Social, da referida IES.
40
Assim, definimos quatro Assistentes Sociais; uma delas Coordenadora de Es-
tágio da Unitau, e as três demais supervisoras de campos de estágios. O objetivo da
pesquisa é conhecer como essa pessoa vive sua experiência, quais significados fo-
ram construídos e a forma como esses arquivos vivos são gravados em sua memó-
ria.
Com isso, as histórias foram coletadas por meio de depoimentos, pois,
busca-se obter o testemunho do entrevistado sobre sua vivência em
determinadas situações ou participação em determinadas institui-
ções que se quer estudar, observando-se que o depoimento não tem
o sentido de estabelecimento da verdade, mas, de conhecimento de
uma versão devidamente qualificada. (...) Mostra ainda que por trás
do tema da narrativa, o não dito, o não perguntado e se desven-
dam vinhetas sobre o espaço público e que configuram o contexto.
(LANG, 2000:124-125)
E como é exatamente o “não dito, o não perguntadoque almejamos tornar
público, construímos algumas questões instigadoras para a coleta dos depoimentos.
Afinal, tais eixos/ indicadores foram previamente formuladas para evidenciar as futu-
ras categorias de análise, e permitir a compreensão dos conceitos de supervisão de
estágio em Serviço Social, como suporte teórico para desenvolver significativamente
as experiências dessas Assistentes Sociais. Considerando, inclusive, a relação teo-
ria-prática do Serviço Social como característica mediadora para construir a atribui-
ção privativa em supervisionar os campos de estágios.
Ou seja, buscamos no relato oral as questões apresentadas pelos próprios
sujeitos entrevistados, para que tais narrativas nos esclarecessem a sistematização
das indicações e tendências existentes na construção das atribuições das Assisten-
tes Sociais envolvidas com a supervisão de estágio, já que, ao considerarmos o eixo
central na história, na cultura e na identidade, dessa metodologia, teremos a aproxi-
mação com os sujeitos, através da fonte oral, possibilitando assim a evidência dos
significados das experiências vividas.
Portanto, por meio do sujeito Assistente Social, buscamos o resgate de sua
experiência na reconstrução da trajetória enquanto supervisor de campos de está-
gios, para conseguirmos, articulados esses dados com as categorias teóricas pes-
quisadas, visualizar com maior precisão o caráter mediador das atribuições do Assis-
tente Social como supervisor de campo de estágios em Serviço Social.
41
Embora “o vivido seja irrecuperável em sua total vivacidade” (QUEIROZ,
1991:89), buscamos manter a maior fidelidade possível com as narrativas das pro-
fissionais, que compreendemos que os significados atribuídos às experiências
pelos sujeitos não remetem à veracidade cronológica dos fatos, mas como eles
constroem tais experiências em determinada realidade, em um certo período de
tempo.
Ainda trabalhamos nossa matriz de análise de acordo com os mais importan-
tes tópicos apresentados nas narrativas dos sujeitos entrevistados e que estavam
relacionados com as questões instigadoras dos caminhos de aproximação com as
Assistentes Sociais Supervisoras de Campos de Estágios em Serviço Social e suas
experiências, para que, conseqüentemente, a apresentação de tais profissionais pu-
desse ser contextualizada de acordo com seus devidos valores.
Sob esse escopo, a seguir apresentamos as questões instigadoras da disser-
tação de mestrado.
1.3.1 As Questões Instigadoras
As questões que instigaram a conversa com as Assistentes Sociais foram e-
laboradas previamente, com o intuito de fazer com que essas profissionais falassem
sobre o contexto da supervisão de estágio, tema de nossa pesquisa.
Esclarecemos ainda que nossas conversas foram subsidiadas pelo uso de um
gravador digital e subdivididas em dois momento: o primeiro, em conversa com a
Coordenadora de Estágio do Curso de Serviço Social da Unitau e, o segundo, com
as Assistentes Sociais Supervisoras de Campos de Estágios em Serviço Social coli-
gados com a referida IES.
Ficando, assim, as questões instigadoras dos depoimentos das supervisoras
de campos de estágios e da Coordenadora de Estágios em Serviço Social da Uni-
tau:
- relação teoria-prática como mediação para a construção da atribuição do As-
sistente Social supervisor de campo de estágio;
42
- a condição de trabalhador assalariado do Assistente Social;
- o compromisso com o projeto ético político do Serviço Social;
- o apoio pedagógico, teórico e metodológico dos Assistentes Sociais supervi-
sores de campos de estágios;
A intenção, com tais eixos, foi desvendar a prática de supervisionar o campo
de estágio e compreender que está em movimento no cotidiano profissional, durante
o qual o próprio Assistente Social, além de desenvolver essa atribuição, também
tem, sob sua responsabilidade, o exercício da prática do Serviço Social na instituão
– espaço sócio-ocupacional.
Reconhecendo essa dinâmica, almejamos saber, sobre essa mesma condi-
ção que é influenciada pelos determinantes que ditam o mercado de trabalho, e no
qual o próprio assistente social está inserido, criando-lhe um espaço de contradição
visto que ele tem que lidar com suas responsabilidades sob os condicionantes da
situação de assalariamento que o faz pertencer à classe trabalhadora como qual-
quer outro profissional/ trabalhador – e ainda ter concreto em seu fazer profissional -
tanto no de Serviço Social, na instituição, como na sua atribuição de supervisionar
campo de estágio – o compromisso com o Projeto Ético-Político.
E é exatamente o enfoque desse projeto - alimentado pelo caráter mediador
da relação entre a teoria e a prática - que faz com que o Assistente Social construa
sua atribuição como supervisor de campo, de maneira que o processo ensino-
aprendizagem do estágio venha a contribuir com a formação da identidade profissio-
nal comprometida com a justiça social. Afinal, esse é o exercício da práxis profissio-
nal.
na coleta do depoimento da Coordenadora de Estágio, a intenção de co-
nhecer os significados de sua experiência por meio dessas questões instigadoras
apresentadas teve um adendo relevante para a compreensão do caráter mediador
da atribuição de supervisionar campos de estágios: o apoio pedagógico realizado
43
por tal profissional em relação às supervisoras de campos de estágios. Afinal, essa
relação entre profissionais é um elemento determinante das atribuições do supervi-
sor de campo, por evidenciar, inclusive, que as contradições dessa parceria têm
fundamentação histórica, política e econômica.
Para que, assim, no Capítulo III, possamos conhecer as narrativas das expe-
riências das Assistentes Sociais Supervisoras de Campos de Estágios em Serviço
Social, antes, faz-se relevante discutir o caráter mediador da atribuição privativa de
supervisionar campos de estágios, como contexto reflexivo que o suporte para
tais narrativas.
44
CAPÍTULO II - O CARÁTER MEDIADOR DAS ATRIBUIÇÕES PRIVA-
TIVAS DO SUPERVISOR DE ESTÁGIO
Os filósofos só interpretaram o mundo
de diferentes maneiras, do que se trata
é de transformá-lo.
Marx
E essa transformação que Marx (2007:103) vem nos propor pode acontecer
também no exercício cotidiano de supervisionar estagiários em Serviço Social. Atri-
buição essa que depende do compromisso de cada Assistente Social. Mas, enfati-
zamos que tal subjetividade é construída, em conjunto, pela categoria profissional do
Serviço Social, isto é, no coletivo de profissionais que compreendem que esse exer-
cício vai além da prerrogativa legal, indo ao encontro do fortalecimento do Projeto
Ético-Político, e, conseqüentemente, da construção da identidade da nossa profis-
são.
A reflexão sobre o caráter mediador da atribuição de supervisionar estágio é
intrínseca à história que a profissão vem construindo na conjuntura brasileira, pois
toda a trajetória do Serviço Social, inclusive a constituição dessa atribuição do Assis-
tente Social, é determinada por condições externas - como desenvolver a prática
profissional segundo os determinantes do mundo do trabalho -, e as perspectivas da
educação, em especial a do ensino superior, que influenciam diretamente a forma-
ção da categoria profissional– as quais direcionam a profissão, mas também permi-
tem, em um movimento contraditório, que estratégias sejam construídas criticamen-
te.
Essas estratégias permitem que nós, os Assistentes Sociais, nos revelemos
por meio de nosso discurso
22
e pela de nossa ação profissional, inclusive no proces-
so de ensino-aprendizagem do estágio, afinal, todo ato profissional é um ato potico
22
Ou seja, “na ação e no discurso, os homens mostram quem são, revelam ativamente suas identi-
dades pessoas singulares, e assim apresentam-se ao mundo humano, enquanto suas identidades
físicas são reveladas, sem qualquer atividade própria, na conformação singular do corpo e no som
singular da voz. Esta revelação de quem, em contraposição a o que alguém é os dons, qualidades,
talentos e defeitos que alguém pode exibir ou ocultar –, está implícita em tudo o que diz ou faz”. (A-
RENDT, 1987:192)
45
entre sujeitos, e é também na relação entre supervisor de campo de estágio e aca-
dêmico-estagiário que as experiências propositivas são construídas.
Reconhecendo a importância dos Assistentes Sociais no processo de cons-
trução e desenvolvimento das atribuições privativas, dentre elas a de supervisionar
os campos de estágios, é importante refletirmos sobre as atribuições privativas da
área do Serviço Social e o significado delas para a supervisão de estágio em serviço
social para desvendarmos o objeto proposto nesta pesquisa.
Entendemos que essa supervisão de campos de estágios em Serviço Social é
uma atividade reconhecida como prerrogativa do profissional em legislações es-
pecíficas da área do Serviço Social.
Dentre elas, a Lei nº. 8.662, de 1993
23
, que regulamenta o Serviço Social. Em
seu artigo 5º, a lei indica, como atribuições privativas do Assistente Social, em
especial, no inciso VI, o treinamento, a avaliação e a supervisão direta de estagiários
de Serviço Social. E, ainda, no parágrafo único, do artigo 14, que “somente os estu-
dantes de Serviço Social, sob supervisão direta de Assistente Social em pleno
gozo de seus direitos profissionais, poderão realizar estágio de Serviço Social”. (grifo
nosso)
Com esse compromisso estabelecido legalmente, é possível compreender a
supervisão de estágio como uma
prática educativa, o profissional conduz o estagiário para seus pró-
prios recursos (realidade); essa tarefa é um dos aprendizados mais
difíceis, uma vez que o supervisor está sempre em luta para se a-
propriar do seu lugar (realidade), do sentido das coisas. (
PACCHI-
ONI
, 2000:42)
E temos clara essa conceituação nas narrativas das Assistentes Sociais Lu-
cimara e Patrícia, as quais, ao refletirem sobre a atribuição de supervisionar os cam-
pos de estágios, reconhecem, inclusive, a proposição do processo de ensino-
aprendizagem nesse momento da graduação:
23
A lei que regulamenta a profissão de Serviço Social também estabelece, no artigo 14, que cabe às
Unidades de Ensino credenciar e comunicar aos Conselhos Regionais de sua jurisdição os campos
de estágios de seus alunos e designar os assistentes sociais responsáveis por sua supervisão.
46
É fundamental construir e atualizar conhecimentos, refletir sobre pers-
pectivas teóricas, sobre o projeto ético-político que embasa nossas ações. To-
da esta bagagem e a problematização contínua desta é importante para o aluno,
para a construção de sua identidade profissional e para o aperfeiçoamento da su-
pervisão de estágio.
O processo de supervisão propicia construir conhecimentos juntos, superviso-
res e estagiários. È um excelente movimento para que o profissional em conjunto
com o aluno possa rever a metodologia de trabalho, construir novas alternativas,
desenvolver novos projetos.
A supervisão é semanal, sendo desenvolvida com duração de no mínimo uma
hora por semana. Organizo também as atividades da supervisão de acordo com o
processo de desenvolvimento do estagiário. No início do estágio, quando o aluno
vem para a Clínica, é realizado por um mês - dependendo dos resultados demons-
trados pelo aluno - um período de observação dos atendimentos sociais, das ativi-
dades sócio-educativas, possibilitando a percepção da dinâmica do Serviço Social
dentro do espaço institucional. Se necessário, o período de observação pode ser
estendido aque o estagiário demonstre estar preparado para desenvolver as atri-
buições e atividades da profissão. Aos poucos os atendimentos, encaminhamentos
vão sendo realizados pelo aluno.
Discutimos nas supervisões os critérios sociais que foram definidos para as
avaliações sócio-econômicas, a qualidade dos encaminhamentos e quando possível
realizamos visitas institucionais para conhecer a rede de recursos sociais.
Procuro dar respaldo ao aluno para que conheça o espaço onde ele está,
relacionando-o ao contexto social mais amplo. (Patrícia)
Como também,
O que eu acho que mais contribui (...), por exemplo, (o estagiário) foi fazer es-
tágio comigo, com criança e adolescente. A instituição atende criança e adoles-
cente.
47
(Assim), fazer a reflexão que esse estagiário não necessariamente depois de
formado vai trabalhar numa instituição com criança e adolescente. Porque ele pode
ter ido trabalhar num trabalho (em) empresa, que é mais restrito, mas que existe, ou
com idoso, ou pessoa com deficiência as várias possibilidades da profissão na
área da saúde.
E eu acho que essa é a maior contribuição e isso precisa estar muito cla-
ro que o que ele aprende ali, ele pode estar aplicando independentemente da
área.
Porque (...) independentemente de onde ele (profissional recém-formado) es-
teja, o Suas e a Política Nacional de Assistência Social
24
, tem que estar tomando
conhecimento. Então, assim, o que você identifica aqui, independentemente da
sua área de atuação, você vai levar. (Lucimara)
Para que esse processo seja fiel a uma prática educativa, que também deve
ser constituída para superar os limites e desafios postos no cotidiano profissional, o
Assistente Social deve compreender que as atribuições da supervisão de estágio -
muito além do que lhe cabe legalmente, ao desenvolver tal função - exigem o forta-
lecimento da relação entre a teoria e a prática do Serviço Social, que é o real sentido
do estágio, o qual
tem um significativo papel no processo de formação profissional,
pois representa essencialmente ao aluno uma possibilidade de apro-
ximação da realidade cotidiana dos indivíduos sociais, associada à
apropriação de conhecimentos teórico-metodológicos, que orientam
o exercício profissional do assistente social. (OLIVEIRA, 2004:65)
Então, para quê? Podemos perguntar. Para quê buscar a reflexão sobre o ca-
ráter mediador entre a teoria e a prática no exercício da supervisão de estágio, no
cotidiano do Assistente Social, se ela está sendo garantida pela graduação em
24
De acordo com a Resolução nº. 145, de 15 de outubro de 2004, foi instituída a Política Nacional da
Assistência Social (PNAS), cujas ações são: “preveão, proteção, promoção e inserção, bem como
o provimento de um conjunto de garantias ou seguranças que cubram, reduzam ou previnam exclu-
sões, riscos e vulnerabilidades sociais, bem como atendam às necessidades emergentes ou perma-
nentes decorrentes de problemas pessoais ou sociais de seus usuários”. E, ainda, ressalta-se que, na
perspectiva do Sistema Único de Assistência Social (Suas), a regulação e a organização em todo o
território nacional, são constituídas dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais.
Para mais informações, pesquisar em: www.mds.gov.br.
48
Serviço Social? Na tentativa de explanar sobre esse questionamento, partimos do
entendimento de que o assistente social, muito além de apreender, durante a sua
formação, a importância da teoria para que possa construir a sua atribuição como
supervisor de estágio, é na concretude dessa prática que os profissionais efetiva-
mente se vêem ou não preparados para uma supervisão de estágio crítica e proposi-
tiva.
Isso porque é com a experiência do estágio e com o acompanhamento direto
do supervisor de campo de estágio, que se concretiza o espaço privilegiado para a
construção da identidade profissional, ou seja,
a matriz de identidade profissional deve fornecer condições para
contínuas mudanças, reformulações no processo de ensino-
aprendizagem. Neste sentido, esta é necessária e importante no
processo de formação do aluno, especialmente no momento em que
ele inicia o estágio prático supervisionado, onde, diante do desco-
nhecido, do novo, ele apresenta insegurança profissional. (BURIOL-
LA, 1996:36)
Ainda,
cabe então ao supervisor, seu protótipo, acompanhar o aluno esta-
giário neste processo de amadurecimento de sua formação profis-
sional. Supervisor e supervisionado vão conjuntamente desvelando
os diversos conteúdos relacionados à sua prática e, aos poucos, por
aproximações sucessivas, as diversas concepções vão se alterando.
Este processo leva o aluno a uma maturação gradativa, a uma segu-
rança profissional, a tal ponto que se espera, no final do curso, que
ele tenha encontrado a sua própria identidade profissional. (BURI-
OLLA, 1996:36)
Portanto, ainda que sejam fortalecidos outros espaços fundamentais
25
para
construir a identidade profissional
26
, o estágio passa a ser o lócus onde se torna vi-
25
Tais como: a própria graduação, em seus debates teóricos; seminários/palestras relacionados com
a discussão do Serviço Social; movimentos da categoria, como participação nos eventos do conjunto
Cfess/Cress, Abepss, entre outras participações, que contribuem com a capacitação continuada do
Assistente Social, enriquecendo sua prática sob a luz do projeto ético-político e assim construindo a
identidade do Serviço Social.
26
Como afirma Martinelli (2001:131), “(...) a identidade profissional e a consciência social só se cons-
troem no movimento, na complexa trama de relações e processos que compõem a totalidade”. E,
ainda, “no caso do Serviço Social, as circunstancias favorecedoras da estruturação da consciência
coletiva de seus agentes devem ser buscadas na ampliação do contingente profissional e na diversifi-
49
sível a prática do assistente social, com as possibilidades de ruptura e também a
construção de novas estratégias de ação e de novas capacidades de elaborar atribu-
ições privativas do assistente social.
Percebemos tal reflexão nas narrativas das Assistentes Sociais, quando afir-
mam que:
É todo um processo que vivemos e construímos desde quando somos
alunos do curso de Serviço Social. Vamos assimilando e selecionando toda
uma bagagem teórica. Desde o contato que a gente vai tendo continuamente
com conhecimentos no processo de formação profissional até a troca de co-
nhecimentos com o Departamento de Serviço Social enquanto supervisores de
campo. Eu não atribuo somente, ao que eu, Patrícia, acho importante.
É um processo que a gente vivenciou, uma bagagem teórica que foi adqui-
rida. Processo que se estende desde meu tempo de graduação até à experiência
profissional em constante desenvolvimento. Porque a gente amadurece esses co-
nhecimentos e cria outros conhecimentos tamm, descobre outros dados e vislum-
bra novas propostas... Assim, o é um amadurecimento particular, individual. É um
processo vivenciado em âmbito acadêmico, no decorrer do exercício profissional e
no contato com outros assistentes sociais (ou profissionais de outras áreas) e esta-
giários. Existem discussões da categoria também em evidência que contribuem mui-
to.
Contribuímos também com o conhecimento da experiência profissional. Não é
algo individual, descolado, mas um, um processo acadêmico e social, no qual a po-
pulação também é participante.
Pesar a qualidade das nossas ações, para que a gente realmente possa (ter
o) processo de construção da identidade profissional, e a gente está contribu-
indo para a própria construção da categoria.
(Patrícia)
cação de seus integrantes, introduzindo-se assim na categoria diferentes visões de mundo, posicio-
namentos diversos”. (Id., ibid., p. 137)
50
Por isso, é que se faz legalmente relevante a presença direta de um Assisten-
te Social como supervisor de campo de estágio, reconhecendo a fundamental impor-
tância dessa atribuição do profissional para construir a identidade, as dimensões e o
projeto da profissão, junto com os estagiários de Serviço Social que logo estarão
inseridos no mercado de trabalho.
E, ainda, como Maria Fernanda também narrou:
Eu penso que na própria formação, quando você está dando supervisão, ofe-
rece a possibilidade do aluno se pensar no seu lugar, não é? Se você estivesse aqui
sozinha, com esse usuário, quais seriam os seus encaminhamentos? Para que vo-
(o estagiário) criando uma segurança num ser profissional à sua própria
maneira’.
Compreendendo isso, o Assistente Social supervisor de campo torna-se um
multiplicador de sua consciência política junto aos acadêmicos de Serviço Social, os
quais, sob uma mesma sintonia, vão construir vontades históricas determinadas por
lutas hegemônicas cujos princípios e objetivos são partilhados.
Tal profissional, nesse instante, precisa estar habilitado para a relação de ex-
terioridade que estará lançando no relacionamento entre ele - supervisor de estágio -
e o estagiário. Isso porque cada qual, dentro dessa relação de forças, possui sua
concepção de mundo, fundada na experiência própria de agir, pensar, sentir.
A atribuição do Assistente Social - como da tarefa de supervisionar estágio -
deve ser planejada e repensada coletivamente, à luz dessa reflexão que aqui reali-
zamos, pois é nesse movimento contraditório da realidade que o exercício de super-
visionar será efetivo e eficaz
27
.
27
Embora não seja o foco da nossa reflexão avaliar se o exercício da supervisão de estágio em Ser-
viço Social está sendo realizado de maneira eficaz e eficiente, é importante esclarecer o entendimen-
to que temos desses critérios avaliativos para que possamos reafirmar a importância da construção
das atribuições do Assistente Social como supervisor de estágio de forma que seja pensada e execu-
tada para garantir o alcance das metas e dos objetivos dessa atividade, como também para causar
um impacto propositivo na vida profissional dos acadêmicos de Serviço Social. Dessa forma, segundo
Baptista (2002:118) “a eficácia é analisada a partir do estudo da adequação da ação para o alcance
dos objetivos e das metas previstos no planejamento do grau em que os mesmos foram alcançados.
Incide sobre a proposta e, basicamente, sobre os objetivos por elas expressos, estabelecendo em
que medida os objetivos propostos foram alcançados e quais as razões dos êxitos e dos fracassos”.
51
É preciso construir caminhos que concretizem essa intenção política!
Esse é o desafio a ser vencido pelos profissionais de Serviço Social, afinal, a
supervisão de estágio tem que contribuir propositivamente com a formação profis-
sional, pois essa batalha é travada diariamente, por muitos Assistentes Sociais, em
seu cotidiano profissional.
Compromisso que Mabel também se colocou para refletir pela sua narrativa,
quando diz:
não estamos atados. Não temos respostas? Temos respostas, muitas res-
postas. Agora, como é que a gente constrói isso aqui? É aqui, o é... a revolu-
ção, ela não se dá por idéias, ela se dá pela experiência! Ela tem que ter materia-
lidade, senão... e isso está no Manifesto Comunista, não sou eu que estou falan-
do, Marx fala assim: ‘a transformação não se por palavras, ela se por atos’,
por um exercício efetivo, agora.
Tal reflexão sobre essas atribuições, no cenário atual da educação superior
brasileira
28
, traduz a necessidade de reafirmarmos os compromissos ético-poticos
de responsabilidade para com a categoria profissional, de maneira geral, e que, arti-
culando com o exercício do estágio em Serviço Social, possamos responder supe-
rando uma prática que pode vir a pairar somente no campo da abstração.
Para tanto,
“a avaliação da efetividade diz respeito, mais propriamente, ao estudo do impacto do planejado
sobre a situação, à adequação dos objetivos definidos para o atendimento da problemática objeto da
intervenção, ou melhor, ao estudo dos efeitos da ação sobre a questão do objeto do planejamento”.
(Id., ibid., p. 119-120)
28
Cenário esse que podemos elucidar a partir das propostas da nova Lei de Diretrizes e Bases para
Educação Nacional (LDB), decorrente do documento Ensino Superior na América Latina e no Caribe.
Um documento Estratégico. Uma das mais amplas e profundas reformas que o Brasil já enfrentou nos
últimos tempos, a relacionada com o ensino superior, através da LDB, trouxe, como afirma Iamamoto
(2004b:35-36), “uma veloz e radical alteração da educação no país e, em especial, da universidade
brasileira, (...) tendo em vista permitir ancorar as políticas governamentais voltadas ao reordenamento
do sistema de educação nacional”.
52
os desafios presentes no campo de atuação exigem do(a) profissio-
nal o domínio de informações, para identificação dos instrumentos a
serem acionados e requer habilidades técnico-operacionais, que
permitam um profícuo diálogo com os diferentes segmentos sociais.
O conhecimento da realidade possibilita o seu deciframento para ‘i-
luminar’ a condução do trabalho a ser realizado. (IAMAMOTO,
2002:12)
E,
avançar na legitimação da profissão na sociedade, na apropriação e
ampliação dos espaços ocupacionais, reforçando a nossa identidade
profissional. O desafio maior é, pois, traduzir o projeto ético-político
em realização efetiva no âmbito das condições em que se realiza o
trabalho do assistente social (Id., ibid., p. 15)
Assim, e a partir desse compromisso assumido pela categoria do Serviço So-
cial, toda atividade desenvolvida pelo Assistente Social, no cotidiano da prática pro-
fissional, deve estar norteada por uma teoria e uma metodologia que se fundamenta
ética e politicamente e também ser operacionalizada com o uso de instrumentos
técnico-operativos, como é o caso do exercício da supervisão de estágio.
Na busca por constituir elementos sob essa perspectiva, foram legalizadas al-
gumas ações, reconhecidas como atribuições privativas do Assistente Social, de a-
cordo com a referida Lei, ou seja,
a Lei, como instrumento, pôde articular princípios ético-políticos, e
procedimentos técnico-operacionais. O texto legal expressa, pois,
um conjunto de conhecimentos particulares e especializados, a partir
dos quais são elaboradas respostas concretas às demandas sociais,
embora saibamos que a predefinição das atribuições privativas e
competências, como uma exigência jurídica/ legal, não as garante na
prática, posto estarem, também, condicionadas à lógica do mercado
capitalista. (Id., ibid., p. 11)
Como uma dessas atribuições - enquanto prerrogativa, privilégio, direito e
possibilidade de poder realizar algo enfatizamos a supervisão de estágio em Ser-
viço Social, atividade exclusiva do profissional que demandadele a clareza do ob-
jetivo desse exercício, como também a organização e desenvolvimento de um plane-
jamento a ser incluído com o envolvimento do estagiário acadêmico que acompanha
tal atividade.
53
Conforme Buriolla (1996) nos apresenta em suas reflexões, o profissional
Assistente Social supervisor de campos de estágios no espaço do cotidiano profis-
sional terá de desempenhar alguns papéis
29
desenvolvidos de acordo com o interes-
se de fortalecer tal atribuição sob os seguintes olhares: expressão do saber, educa-
tiva e política.
Sobre a supervisão enquanto expressão do saber, entendemos que se consti-
tui enquanto prática social, tendo em vista que
toda prática social é teoria em movimento, é articulação de saberes,
é construção coletiva em busca de objetivos socialmente determina-
dos e historicamente estabelecidos. (MARTINELLI, 2001:147)
Neste momento, faremos um adendo sobre a contribuição dos autores, de
forma a direcioná-la para a nossa realidade de estudo. Para compreender a supervi-
são de estágio como uma expressão do saber, remetemos ao que Buriolla
(1996:166) afirma, sobre o papel de educador do supervisor de estágio, que esse
deve “propiciar oportunidades de aprendizagem e, pela prática de Supervisão, refle-
tir conjuntamente sobre elas, de retenção de experiências”.
E essa possibilidade de reflexão em conjunto entre supervisor de campo e es-
tagiário é evidenciada na narrativa de Maria Fernanda, quando ela traz que a expe-
riência do estágio sob a orientação de um Assistente Social permite reflexões críti-
cas, de forma, a tornar viável a percepção da função política do profissional de Ser-
viço Social na relação com outros profissionais, como também na relação com os
usuários dos bens e serviços da instituição.
Maria Fernanda: a gente fica muito preocupada com os campos de saber.
Até onde vai o meu conhecimento? E principalmente em relação ao psicólogo: ‘ah,
isso é terapia’, ‘aquilo é do psicólogo, isso é meu!
Você é parte desse conjunto de questões que estão presentes na vida daque-
le usuário que recorre à Psicologia, não é? Então, trabalhar com uma mãe, que está
levando o filho por dificuldades na escola, é muito importante saber quais são as
29
Buriolla (1996) apresenta que o supervisor de estágio deve ter os papéis de educador, transmissor
de conhecimentos e experiências, facilitador e autoridade.
54
angústias que ela traz, que eu estou falando com ela; o que ela espera desse a-
companhamento, para que as expectativas dela se aproximem das expectativas que
estão sendo desenvolvidas com a criança.
Então, poder trabalhar esses aspectos com os alunos, para que eles não
fiquem temerosos de achar que vão fazer terapia, que eu sei que isso é uma
preocupação no Serviço Social muito grande, e eu acho que com as devidas
razões. Mas poder ouvir o usuário por inteiro e remetê-lo às suas referências,
eu acho que é fundamental!
E, mais uma vez, a reflexão teórica é parte desse processo, por que a capaci-
dade que a gente tem de escuta, a gente desenvolve isso ao longo do curso. Essa é
uma profissão interventiva, que tem uma característica muito forte, que muitas vezes
não é trabalhada em outras formações, que é essa disponibilidade para escutar o
outro que está trazendo suas demandas.
E, por assim ser, a supervisão, enquanto expressão do saber, exige que o
profissional Assistente Social desenvolva seu papel de educador na relação com o
estagiário, afinal, a construção dos conhecimentos dessa relação supervisor de
campo e acadêmico deve propiciar a troca de experiências, as quais estarão rela-
cionadas com a vivência de cada sujeito envolvido no processo de ensino-
aprendizagem do estágio.
Ou seja,
toda prática social é verdadeiramente uma prática educativa; é a
expressão concreta da possibilidade de trabalharmos com os sujei-
tos sociais na construção de seu real, de seu viver histórico. É, por-
tanto, prática do encontro, da possibilidade do diálogo, da constru-
ção partilhada. (MARTINELLI, 2001:147, grifo nosso)
Tal compreensão permite, dessa forma, que o supervisor de campos de está-
gios seja o transmissor de conhecimentos e experiências, pois, embora esse profis-
sional esteja munido de competências relacionadas com o saber teórico e prático da
realidade na qual intervém, o acadêmico-estagiário também possui um arsenal de
conhecimentos e ambos podem refletir em conjunto. (BURIOLLA, 1996:170)
55
Embora essa relação coloque os dois sujeitos da supervisão de estágio as-
sistente social e acadêmico-estagiário numa mesma ação reflexiva, o profissional
é o responsável pela direção desse momento, ou, como afirma Buriolla
(1996:174), é dele o papel de autoridade, pois
dá-se em um processo contínuo de acumular conhecimento, junto
com o saber competente, o que lhe confere seu poder correspon-
dente, poder que é partilhado junto com o aluno estagiário, atenden-
do às suas necessidades demandatárias.
E, para isso, a supervisão toma seu caráter político, queremos dizer, o assis-
tente social, mesmo sendo o profissional responsável a autoridade ele deve ser
o facilitador do processo de ensino-aprendizagem, o acadêmico-estagiário está en-
volvido, tornando evidente a direção a ser seguida pela supervisão de estágio em
Serviço Social. (BURIOLLA, 1996:171-172)
Ou seja,
não há prática social que não seja política, pois essa é a sua nature-
za constitutiva, a sua razão de ser. É, por excelência, a possibilidade
de operar com projetos políticos que tenham por horizonte a consoli-
dação da democracia e o fortalecimento da cidadania. (MARTINEL-
LI, 2001:147)
Para alcançar essa dinâmica com êxito, o Assistente Social Supervisor de
Campos de Estágios deve estar especializado
30
, a partir de sua formação teórica,
técnica e ético-política, pelo contínuo processo de qualificação. Isso, pois, permitiria
que tal profissional consiga vislumbrar aquilo que delimita o caráter da atividade do
assistente social enquanto privativa, que é: a qualificação da matéria, da área e da
unidade do Serviço Social.
Ou seja, segundo Iamamoto (2002:18),
30
“Em outros termos, a prerrogativa de auto-qualificação da profissão é dos seus agentes especiali-
zados e de seus organismos representativos que, em determinados contextos societários, confirmam
a necessidade ou utilidade social dessa especialização do trabalho.” (IAMAMOTO, 2002)
56
no sentido etimológico (...) a matéria diz respeito ‘a substância ou
objeto ou assunto sobre o que particularmente se exerce a força de
um agente’. A área refere-se ao campo delimitado ou âmbito de atu-
ação do assistente social e a unidade do Serviço Social não se re-
duz a uma visão administrativa enquanto órgão de uma entidade,
definido em seu organograma, tal como se identifica no senso co-
mum. Pode ser ainda compreendida com ‘a ação simultânea de vá-
rios agentes que tendem ao mesmo fim’ ou ‘agrupamentos de seres
individuais, considerados pelas relações mútuas, que existem entre
si, pelos seus caracteres comuns, suas mútuas dependências’. Em
síntese, a unidade de Serviço Social pode ser interpretada como o
conjunto de profissionais de uma unidade de trabalho.
Portanto, como a supervisão de estágio é uma atribuição privativa do Assis-
tente Social, partimos do pressuposto de que, para esse exercício, é necessária a
compreensão do que viria a ser a matéria, a área e a unidade do Serviço Social.
Queremos dizer, por ser essa atividade exclusiva do profissional, ela também
o é para todos os da categoria de Serviço Social os quais, assim que graduados,
estariam preparados para desenvolver essa supervisão
31
, compondo uma provável
unidade de Assistentes Sociais Supervisores de Campos de Estágios, cujos com-
promissos ético-políticos estariam pautados, além da reflexão que Buriolla trouxe
como contribuição, no Projeto Ético-Político
32
do Serviço Social, permitindo o fortale-
cimento da identidade profissional relacionada com a transformação e defesa da jus-
tiça social.
Para tanto, a área de atuação do Assistente Social iria além do espaço sócio-
institucional em que está diretamente inserido, mas, também, de forma abrangente a
31
Com relação a essa reflexão, Patrícia faz um adendo, ao dizer que, embora de fato a graduação
em Serviço Social prepare o estudante para essa atribuição de supervisionar os campos de estágios
ainda assim seria relevante trazer a necessidade de reafirmar que tal atribuição privativa poderia ser
uma discussão melhor aprofundada, ainda no processo de formação, ao dizer: eu acho assim, a
faculdade realmente (dá) um respaldo, nós temos no curso, a gente sai com uma bagagem em
conhecimentos que a gente tem, minimamente, condições de supervisionar. assim, eu acho
que seriam importantes talvez alguns momentos de aprofundamento, durante a graduação. Então, eu
acho que seria importante para o profissional, principalmente no último ano que a gente já está sain-
do do curso de Serviço Social. Lógico que isso é um processo, não é só um aprendizado do último
ano, mas que a gente pudesse ter um aprofundamento para que os profissionais saíssem com
mais clareza da responsabilidade da supervisão, momentos em que a gente pudesse discutir
talvez experiências de supervisores, não como fórmulas, mas uma forma da gente poder, ainda
aluno, conhecer experiências de supervisores! (Pois), infelizmente, a gente vê muitos alunos que vão
para campos de estágio e ficam em funções administrativas”. (Patrícia)
32
Sob o ponto de vista de sua materialidade, o Projeto Ético-Político está contido no Código de Ética,
onde estão postos os valores que o fundamentam, e, por extensão, fundamentam também a ação
profissional. Outras expressões do projeto, no caso brasileiro, constam da legislação que regulamen-
ta a profissão e nos currículos de cursos de formação graduada e pós-graduada em Serviço Social.
(MARTINELLI, 2004)
57
perceber os elementos da política de referência do programa e/ou projeto de atua-
ção, que são influenciados pelo contexto cio, econômico e político do momento
histórico de uma determinada conjuntura que sofrerá intervenção.
E, ainda, esse escopo permitiria a compreensão e a definição da matéria da
prática do assistente social e a melhor estratégia de enfrentamento. Hoje, compre-
endemos que a questão social
33
é essa matéria-prima, mas defini-la em sua particu-
laridade e singularidade, de acordo com o contexto de atuação, é responsabilidade
do assistente social.
Esse entendimento permite que o Assistente Social desenvolva a sua atribui-
ção de supervisor de campo de estágio, de forma que, enquanto prática política e
educadora contribua realmente com a construção de identidades profissionais com-
prometidas com a defesa da justiça social.
2.1 A Mediação
34
entre a Teoria e a Prática do Serviço Social
“Mediações são instâncias de passagem da teoria para a prática, são vias de
penetração nas tramas constitutivas do real” (MARTINELLI, 1993:136), e, tendo em
vista que o exercício profissional tem em sua dinâmica uma perspectiva direcionada
hegemonicamente para o enfrentamento das diversas expressões da questão social,
a categoria da mediação apresenta-se como o movimento entre a singularidade e a
totalidade, de forma a evidenciar a particularidade
35
do Serviço Social, no cotidi-
ano da prática do Assistente Social.
Isto é,
33
Segundo Iamamoto (2001b:16-17), “a questão social diz respeito ao conjunto das expressões das
desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermedia-
ção do Estado. Tem sua gênese no caráter coletivo da produção, contraposto à apropriação privada
da própria atividade humana o trabalho -, das condições necessárias às sua realização, assim, co-
mo de seus frutos. (...) Envolve simultaneamente uma luta aberta e surda pela cidadania. Esse pro-
cesso é denso de conformismos e rebeldias, forjados ante as desigualdades sociais, expressando a
consciência e a luta pelo reconhecimento dos direitos sociais de todos os indivíduos sociais.” Para
mais informações, ver a Revista Temporalis, da Abepss, ano II, nº. 3, 2001.
34
Enquanto uma das categorias da teoria social (totalidade, historicidade, contradição, negação) de
Marx, a mediação é filosófica, porque permite a intervenção como instância de passagem da área de
conhecimento para a área de atuação/intervenção.
35
Para maior detalhamento, ver Pontes (2002).
58
a mediação é, portanto, uma forma de objetivar a prática pela qual o
próprio profissional se objetiva enquanto ser social. É, ao mesmo
tempo, uma categoria reflexiva e ontológica, pois sua construção se
consolida tanto por operações intelectuais, como valorativas, apoia-
das no conhecimento crítico do real, possibilitando fundamentalmen-
te pela intervenção da consciência. (MARTINELLI, 1993:137)
Para tanto, o Assistente Social, em seu fazer profissional, é iluminado pelas
dimensões
36
ético-política, teórico-metodológica e técnico-operativa, para responder
à sua demanda pela percepção do singular dentro da totalidade, desenvolvendo
uma prática que se movimenta pelo reconhecimento dos limites das normas institu-
cionais e, ainda, contempla a compreensão da problemática apresentada de acordo
com as defesas do Projeto Ético-Político do Serviço Social.
Fortalecendo a relação teoria-prática, o Assistente Social tem uma gama de
conhecimentos e instrumentos
37
para responder ao seu objeto profissional contextu-
alizado, repensando e reconstruindo os conceitos que o definem para tornar viável
um objetivo profissional que considere todos os fatores envolvidos na busca de uma
sociedade justa.
E é a mediação entre teoria e prática que viabiliza esse movimento pelo Ser-
viço Social, afinal, a própria “mediação como categoria intelectiva permite, mediante
um impulso do real, à razão construir categorias para auxiliar a compreensão e ação
profissionais”. (PONTES, 2002:165)
Sob esse escopo e na busca do entendimento da importância do saber teóri-
co para a construção da atribuição privativa do Assistente Social como Supervisor
de Campo de Estágio, tal prática exige que esse profissional tenha de aguçar sua
subjetividade com o intuito de reconhecer que o compromisso que estabeleceu nas
relações sociais tem presente a questão do poder, e, por isso, a intencionalidade de
36
Segundo BATTINI (2003: 3), a dimensão teórico-metodológica é substanciada por uma teoria so-
cial que permite a leitura e de explicação do real que tem impressa; a dimensão ético-política que (...)
impulsiona ações profissionais em defesa de valores éticos universais e modos próprios de recons-
truí-los e operá-los em espaços diversos de relações sociais; a dimensão técnico operativa, diz
respeitos a exigência que se coloca de construção de estratégias de intervenção como um dos fun-
damentos do processo de trabalho do assistente social”.
37
Embora não tenha sido o propósito dessa reflexão discutir a instrumentalidade do Serviço Social, é
importante esclarecer que essa relação visa sair das circunstâncias e ir para os significados, de acor-
do com os objetivos da sua ação o trabalho se incorpora ao meio. Não trabalho humano sem
mediação, portanto, a instrumentalidade é movida por razão, vontade e liberdade, para que o objetivo
do instrumento não seja menor que o projeto profissional e, assim, estabeleça a relação dialética
entre quantidade e qualidade, de forma que um complete o outro. Para mais informações, ver Guerra
(2002).
59
toda e qualquer prática deve ser percebida sob uma direção ética e política, tornan-
do-a profissional.
Já que,
a sociedade humana é atravessada e impregnada por um coeficiente
de poder; ou seja, os sujeitos individuais não se justapõem, unas ao
lado dos outros, em condições de simétrica igualdade, mas se colo-
cam hierarquicamente, uns sobre os outros, uns dominando os ou-
tros. Este coeficiente que marca as nossas relações sociais como re-
lações políticas e que caracteriza nossa prática social envolve os in-
divíduos na esfera do poder. (SEVERINO, 2001:48-49)
Ou seja, em todo o processo do fazer profissional, precisa ser renovado o
compromisso ético e político, que se estenderá a toda a atribuição profissional de-
senvolvida na supervisão de estágio. Isso tudo compõe o amadurecimento do saber,
portanto, “tanto quanto o agir, também o saber não pode se dar na fragmentação:
precisa acontecer sob a perspectiva da totalidade.” (SEVERINO, 2001:54, grifo
nosso)
Sob essa perspectiva da totalidade, a supervisão de campo de estágio é me-
diada pelos saberes e fazeres do Serviço Social, isto é, saberes que foram construí-
dos no decorrer da formação acadêmica do profissional, como também aqueles co-
nhecimentos adquiridos no cotidiano da prática do Assistente Social.
E essa compreensão faz com que a supervisão de estágio seja fundamentada
além de sua legalidade, pois vai sendo desvendada com as aproximações que o
profissional ao movimento da teoria em iluminar essa atribuição privativa, para que
até o exercício dessa ação esteja livre do imediatismo e perceba meios de superar
os limites e desafios
38
postos, de forma a fortalecer a direção “social, política e técni-
ca de produção de conhecimentos, tendo em vista um saber e uma prática mais
conseqüentes”. (BAPTISTA, 2001:116)
38
Como mesmo afirma Maria Fernanda sobre alguns limites e desafios que precisam ser superados:
“o que eu acho que muitas vezes acontece na relação do aluno com o estágio, é que ele está mais
identificado com o usuário, e os assistentes sociais também com a própria condição da classe
trabalhadora que nós somos. Muitas vezes, a gente vive história não diferente daquela que a
gente está ouvindo. Não é às vezes, isso acontece muito lá. É um supervisor para um grupo grande
de vários projetos, então, o aluno recebe a supervisão uma vez por semana, mas, se o assistente
social não está ali com ele, uma vez por semana só é pouquíssimo, é pouquíssimo! Eu acho que é
um momento de muita insegurança!”.
60
O Serviço Social vai delineando a direção das suas ações, permitindo a cons-
trução da sua prática de supervisionar o campo de estágio, que reconhecida a
importância do movimento da teoria sobre a prática, para esse mesmo exercício
39
,
tem-se a certeza de que novos conhecimentos são elaborados para fortalecer a te-
leologia
40
dessa supervisão. Teleologia essa que contribuirá para o processo de en-
sino-aprendizagem do Serviço Social e constituição da sua identidade profissional.
Afirmamos isso porque todo conhecimento, inclusive o adquirido na prática de
estágio, é interiorizado pelos sujeitos – supervisor acadêmico, supervisor de campos
de estágios e acadêmico-estagiário -, envolvidos nesse processo, afinal, como afir-
ma Severino (2001:49, 50),
o conhecimento individual se dá sobre um fundo de uma experiência
radicalmente histórica e coletiva que lhe é anterior e que lhe serve
de matriz placentária. Esse contexto, como que um tecido que vai se
complexificando pela contínua articulação de novas experiências,
tornadas possíveis pelas experiências passadas e acumuladas, é a
cultura, uma das mediações concretas da existência dos homens.
Um elemento específico interfere no social humano, o poder tornan-
do política a sociedade.
Portanto, a partir desse entendimento, o Assistente Social que tiver uma ex-
periência de estágio significativa, durante o seu processo de formação profissional
em Serviço Social, terá melhor definido o seu compromisso político, enquanto edu-
cador, no decorrer da supervisão de campos de estágios, contribuindo para a cons-
trução qualitativa do caráter mediador dessa atribuição.
E, ainda, na medida em que essa experiência vai ocorrendo no cotidiano da
vida profissional, o Assistente Social tem a seu favor o intuito de o somente con-
tribuir com a reconstrução das relações na sociedade, mas também colocar em
39
Essa idéia já foi defendida por Rosa Maria Ferreiro Pinto (1997:55), quando afirma que “(...) estágio
e supervisão formam um conjunto unificado cujo objetivo é o ensino teórico-prático do Serviço Social
para a aprendizagem profissional (...)”.
40
No capítulo V de O Capital, Marx explica tal conceito ao dizer que o trabalhador “(...) figura na men-
te sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um
resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o
material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que tinha conscientemente em mira, o
qual constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade. E
essa subordinação não é um ato fortuito. Além do esforço dos órgãos que trabalham, é mister a von-
tade adequada que se manifesta através da atenção durante todo o curso do trabalho”. Disponível
em: www.vermelho.org.br. Acesso em: 21 de agosto de 2007, às 11h 45min.
61
constante questionamento a construção da sua própria prática profissional, tanto a
intervenção na sociedade como a de supervisionar os estágios, portanto,
nesse processo de construção, as ações individuais dos profissio-
nais podem assumir, ao mesmo tempo, as dimensões de síntese
resultante do processo coletivo de elaboração de conhecimentos e
práticas desenvolvidos pela categoria e de criação de novas pro-
postas e de novos conhecimentos. Nesse processo, a experiência é
submetida a uma seletividade que determina o que deve ser retido e
o que deve ser ‘esquecido’, o que pode ser objetivado, conservado e
acumulado, constituindo o acervo de conhecimentos a ser transmiti-
do na formação profissional. Esse acervo inclui o conhecimento da
situação e de seus limites, o que permite sua ‘localização’ na socie-
dade e o ‘manejo’ dos conhecimentos de forma apropriada. (BAP-
TISTA, 2001:117)
Queremos dizer que todo conhecimento adquirido e construído passa a com-
por um acervo para o profissional, de forma que, em diversos momentos da sua vida
profissional, ele próprio possa retomar esses conhecimentos e criticamente analisá-
los sob uma nova perspectiva, com um olhar mais amadurecido pelas novas experi-
ências e por novos saberes e fazeres apreendidos em seu cotidiano.
Nessa ótica, entende-se que não é apenas a informação teórica que
forma o profissional, a formação atualiza, em seus objetos, a história
e o contexto, a experiência e a vivência, de indivíduos e grupos. Lo-
go, integra uma modalização da prática, mediatizada pelo trabalho.
É o trabalho, assim circunscrito como fazer profissional, que poten-
cializa um conhecimento novo acerca de objetos do real, do concre-
to, filtrando-o num movimento que o articula ao viver cotidiano.
(NICOLAU, 2004:83-84)
É nesse exercício profissional que ao mediar os saberes teóricos na prática,
permite que seja criado o lugar privilegiado do Serviço Social. Principalmente, quan-
do consideramos que a
prática da supervisão é o lugar onde o supervisor realiza e reflete
sua ação, vivenciando um certo modo de fazer e pensar o processo
de trabalho com base em uma dada perspectiva, viando um dado
projeto”. (
PACCHIONI
, 2000:60)
62
Afinal, Buriolla (1999:84) afirma, com a sua contribuição reflexiva, que “a
matéria-prima da supervisão em Serviço Social ao nível da formação profissional (...)
é o agir profissional do assistente social e do aluno em formação.” Assim, tudo o que
é apreendido previamente na formação profissional tem a sua concretude na prática
profissional, que, por estar inserida num espaço institucional, sofre influências dos
diversos determinantes históricos que compõem a sociedade em que vivemos, mas
que, ainda assim, permite novas direções e novos conhecimentos.
2.2 O Cotidiano Profissional enquanto Espaço Privilegiado da Práxis da Super-
visão de Estágio em Serviço Social
É na e pela prática que as coisas
humanas efetivamente aconte-
cem; que a história se faz.
Severino
Lembrando que é no processo de ensino-aprendizagem do estágio em Servi-
ço Social, que “supervisor e supervisionado, vivenciam uma práxis na qual ambos
refletem sobre a sua ação” (BURIOLLA, 1999:83, grifo nosso), torna-se relevante,
nesse momento, nos apropriarmos desse espaço privilegiado porque, afinal, é nessa
prática que a história da supervisão de campo de estágio em Serviço Social é cons-
truída.
E, para essa apropriação da prática profissional, Netto (1989:148-149) nos a-
lerta sobre a necessidade de compreendermos a condição do Assistente Social en-
quanto trabalhador assalariado.
Condição essa que, mesmo definindo a inserção de tal profissional na divisão
sócio-técnica do trabalho, não consegue fazer com que o Serviço Social perca a sua
autonomia, pela perspectiva do seu arcabouço teórico-metodológico particular. E
esse incessante movimento é viável com a legitimação do exercício profissional
pelas mediações entre o saber orientado pela baliza teórica e a análise reflexiva ine-
rente à própria prática da profissão.
Ou seja, o entendimento do Serviço Social como “especialização do trabalho
coletivo permite compreender que a atividade profissional se realiza no universo do
assalariamento, por meio de um processo social e técnico de trabalho que objetiva
63
um produto concreto” (ABESS, 1996:162), mas que tem autonomia para conduzir o
direcionamento da sua intervenção profissional na própria prática da supervisão de
estágio.
É exatamente com essa inserção do Serviço Social no mercado de trabalho
que podemos identificar a institucionalização da profissão
41
como forma de enfren-
tamento da questão social, enquanto objeto da intervenção profissional.
E, como conseqüência, o profissional passa a defrontar-se mais diretamente
com os problemas sociais também fruto dos determinantes do capitalismo, que apa-
recem para o Serviço Social como sua demanda profissional, desafiando tal profis-
são a viabilizar estratégias de enfrentamento, nesse mesmo espaço contraditório
que tamm reproduz as condições de desigualdades, afinal, é na batalha em defe-
sa dos direitos sociais e da emancipação social que o trabalho do Assistente Social
baseia-se. (ABESS, 1996:164)
Com a profissão institucionalizada, o Serviço Social passa a assumir a carac-
terística de relação de venda da força de trabalho especializado do Assistente Social
para as distintas entidades empregadoras, independentemente de sua natureza ser
privada, pública ou filantrópica, fazendo com que esse mesmo trabalhador assalari-
ado sofra mais diretamente com as condições das relações de trabalho e de poder.
Ora, ao vender sua força de trabalho em troca do salário, o profis-
sional entrega ao seu empregador o seu valor de uso ou o direito de
consumi-la durante a jornada estabelecida. Durante a jornada de
trabalho, a ação criadora do assistente social deve submeter-se às
exigências impostas por quem comprou o direito de utilizá-la durante
um certo período de tempo conforme as políticas, diretrizes, objeti-
vos e recursos da instituição empregadora. É no limite dessas condi-
ções que se materializa a autonomia do profissional na condução de
suas ações. (IAMAMOTO, 2001a:97)
Com isso, qualquer que seja o espaço em que o Assistente Social esteja inse-
rido, ele terá um dos seus mais instigantes desafios, que é a aproximação sucessiva
com a realidade distinta que lhe é apresentada no desenvolvimento do exercício pro-
fissional, através de particularidades e circunstâncias que ditam os limites e os desa-
fios a serem ultrapassados, e, assim que for apropriado, tal movimento permitirá o
41
Para mais esclarecimentos sobre a institucionalização da profissão, sugerimos a leitura de autores
como Faleiros e Raichelis.
64
fortalecimento da prática profissional na direção ético-política defendida pela profis-
são.
Queremos dizer que o Serviço Social, por não possuir um único processo de
trabalho, mas diversos e distintos conforme o espaço no qual o profissional está
inserido a mediação entre os saberes e os conhecimentos construídos no cotidia-
no profissional permitirá a definição, em sua totalidade, de qual função será desen-
volvida pela profissão, afinal,
o processo de trabalho é configurado por todo fazer profissional que
abrange metodologias, utilização do arsenal técnico da profissão, es-
tabelecimentos de diretrizes de ação, de comunicação e de presta-
ção de serviços aos usuários. No processo de trabalho seriam ope-
radas as condições de geração dos produtos do trabalho profissio-
nal, portanto seriam gestadas as garantias de acesso aos serviços
profissionais, na forma de serviços entendidos como bens corpóreos
e também como bens incorpóreos. (GENTILLI, 1998:25)
E, para isso, a autonomia do profissional de Serviço Social fundamenta-se pe-
lo
ponto de vista do resultado concreto do seu trabalho, o Assistente
Social produz efeitos nas condições de vida materiais e culturais -
comportamentos, valores, representações da população usuária
por meio dos serviços prestados pelos organismos empregadores.
(...) Ao constituir-se como assistente social, o profissional é um sujei-
to social cuja condição é atravessada por componentes objetivos o-
riginados da sua situação de classe, pela sua subjetividade e, con-
seqüentemente, por todas as mudanças e processos que afetam o
mundo do trabalho, no qual ele esta incluído. (ABESS, 1996:163)
Assim, o desenvolvimento específico da ptica do assistente social acontece
dentro dos distintos processos de trabalho, porque é a partir dos conhecimentos
construídos e adquiridos no movimento que esse próprio profissional faz, na sua a-
ção, é que ele também vai constituir a sua atividade de supervisionar o campo de
estágio.
Considerando que é exatamente no cotidiano profissional do Assistente Social
que se abre o espaço para transformações, ou, nesse movimento de contradições
do profissional é que ele terá sua autonomia para criar estratégias que venham a
garantir as propostas políticas que norteiam os serviços voltados à emancipação
65
social. Portanto, é sob essa dinâmica que se desenvolve a prática profissional e a
supervisão de campo de estágio.
E essa presente reflexão fica muito evidente na narrativa da Lucimara, quan-
do ela afirma que, embora seja um profissional assalariado, o conhecimento garante
autonomia a esse Assistente Social para questionar os limites da instituição e propor
novas estratégias de ação, e essa dinâmica, a ser elucidada e pensada em conjunto
com o estudante-estagiário, é que torna relevante o caráter mediador da atribuição
privativa em supervisionar estágios.
Eu estou ali numa condição de assalariada, eu vendo a minha força de traba-
lho para esse mundo capitalista. Então, é importante fazer essa reflexão com o es-
tagiário. (Lucimara)
E Lucimara ainda narra:
“Por exemplo, desligamento de adolescente. Ali entra o meu papel assim,
de... nisso eu peito quem for preciso para sustentar aquilo, o meu parecer téc-
nico.
E, eu falo: ‘ó, estagiário, isso é sua obrigação fazer!’
E o meu projeto ético-político diz (que) eu não posso permitir que seja negli-
genciado um direito desse adolescente. Mas tem situações que são institucionais, e
eu ali represento um funcionário assalariado que respeita a hierarquia, e que esse
jogo de cintura é necessário no mundo do trabalho.
(...) Como que eu vou fazer isso? Como que eu vou chegar na minha chefe,
na minha diretora e falar que o projeto não funciona, que tem um monte de coisa
errada? Não é assim. Então, (qual) instrumental cnico que eu tenho para levar es-
sas minhas reivindicações para a alta direção?
Então, o relatório! E, na oportunidade, a gente (supervisor de campo e estu-
dante-estagiário) discutiu os vários tipos de relatório. ‘A gente vai fazer relatório
66
para a diretora dizendo que eu sou contrária ao desligamento’. E isso era respeitado.
Eu acho que ela (a estagiária) sentia essa satisfação!
Houve todo um alvoroço: ‘não pode, porque não pode’. Não! Existe essa
situação e esse é o meu parecer!’. E o parecer do assistente social ali é respei-
tado. Então, como ela (a estagiária) estava envolvida nessa discussão foi mui-
to legal. Eu acho que ela conseguiu perceber os limites realmente!
Para isso, afirmamos que, na particularidade do Serviço Social, destaca-se
também esse compromisso de pensar numa prática profissional efetiva, que tem,
sim, autonomia para superar os desafios apresentados no cotidiano profissional e,
ainda, permite perceber tal movimento no processo de ensino-aprendizagem que
acontece durante o estágio.
Isso porque
o serviço social atua numa correlação particular de forças sob a for-
ma institucionalizada, na mediação fragilização-exclusão/ fortaleci-
mento/ inserção social, vinculada ao processo global de re-produzir
e re-presentar-se dos sujeitos em suas trajetórias. (FALEIROS,
2005:49)
Portanto, é nesse entendimento que Iamamoto (2001a:59) afirma que a práti-
ca do Serviço Social é compreendida como sendo práxis social”, ou seja, ao pen-
sarmos na prática profissional é preciso considerar o movimento contraditório da so-
ciedade, e ainda, sob competente análise profissional saber identificar, compreender
e intervir nos processos de trabalho dessa profissão.
Ou ainda, como afirma Kosik (2002:222),
a práxis na sua essência e universalidade é a revelação do segredo
do homem como ser ontocriativo, como ser que cria a realidade
(humano social) e que, portanto, compreende a realidade (humana e
não humana, a realidade na sua totalidade). A práxis do homem não
é atividade prática contraposta à teoria; é determinação da existên-
cia humana como elaboração da realidade.
67
Exatamente essa intervenção profissional é que qualifica a prática do Assis-
tente Social, no seu cotidiano de trabalho, pois o reveladas as demandas imedia-
tas da profissão, que, por sua vez, instrumentaliza-se e cria estratégias para enfren-
tar os problemas sociais que lhes são apresentados, superando inclusive os desafi-
os e limites impostos por certas condições da instituição sócio-ocupacional para a
efetivação dessas garantias.
Ou seja,
se, por um lado, a instituição tem o monopólio do objeto e dos recur-
sos institucionais, se é ela que define o significado objetivo do papel
do profissional e a expectativa que existe com relação a ele, por ou-
tro lado, é o modo particular, subjetivo, como o profissional elabora a
sua situação na instituição, estabelecendo sua própria ordem de re-
levâncias, que vai dar o sentido do trabalho. O profissional se faz,
fazendo. Tem o significado de um ponto de referência para um pro-
cesso constitutivo da ação na instituição, que se realiza na relação
intersubjetiva entre profissional/instituição/usuário. (BAPTISTA,
2001:113, grifo nosso)
Ainda na tentativa de compor com uma posição crítica do Assistente Social,
nesse cotidiano profissional, apreendemos, no decorrer dos debates da disciplina de
Prática Profissional no Cotidiano I
42
, que a prática do Serviço Social movimenta-se
também de acordo com as seguintes dimensões:
o Senso comum: é desenvolver ações que ocorrem sob a certeza de
que futuras descobertas ocasionais vão conformar a continuidade da prática,
permitindo o agir conforme costume.
o Reiteração: o projeto está pronto e o profissional o desenvolve da me-
lhor forma possível, permanecendo no limite do projeto. Sem intenção de rup-
tura nas práticas no nível do instituído.
o Funcional: prática sem proposta que supera os limites da instituição,
não avançando em direção às propostas mais amplas, pois não considera os
outros sujeitos políticos, já que sua proposta é operacional e não política.
42
Tais debates ocorreram durante o primeiro semestre de 2007, no decorrer da participação da pes-
quisadora na disciplina de Prática Profissional no Cotidiano I, orientada pela Professora Doutora M-
yrian Veras Baptista.
68
o Estratégica: procurar romper com o que está acostumado; com novas
propostas no objetivo e também no processo de alcance ao pretendido. No
cotidiano, trabalhamos com processualidade, com a dialética, para conhecer
criticamente e assim re-criar.
Dessa forma, toda ptica profissional tem, em algum momento, no seu coti-
diano, tais dimensões, sendo que a diferença vai ser onde as forças do Assistente
Social vão ser mais centrais, ou seja, as aproximações sucessivas vão permitir um
olhar crítico sobre a sua realidade profissional e dessa dinâmica repensar o seu e-
xercício. Pois é esse movimento que constitui também a supervisão de campos de
estágios.
E foi essa a intencionalidade crítica que percebemos no conteúdo apresenta-
do na narrativa de Patrícia, pois é reconhecendo que a atribuição de supervisionar
os campos de estágios também é movimentada pelo conceito da práxis é que a
construção e o direcionamento de tal atribuição estarão indo ao encontro de uma
formação propositiva na relação com o estudante-estagiário, como também do forta-
lecimento da construção da identidade profissional.
A teoria está imbricada à construção da práxis. O aluno está em processo de
formação profissional, busca construir uma identidade profissional e a articulação
entre teoria e ptica é imprescindível para o aperfeiçoamento das ações e produção
de novos conhecimentos.
Precisamos rever nossas posturas profissionais. Muitos profissionais equivo-
cadamente constroem ações que não estão compatíveis às demandas trazidas pela
população. Vários dados são trazidos pela população, fazem com que a gente re-
pense. Repense a nossa práxis, quais novas alternativas podem estar sendo cons-
truídas.
Muitas vezes o aluno vem com a perspectiva de “colocar em prática todos os
conhecimentos adquiridos na faculdade”. “Como que se faz”? Então vêm numa an-
siedade, em busca assim, de receitas, de fórmulas. Não existe uma fórmula, uma
receita pronta. É todo um processo de aprendizado, de contato com a realidade,
mediatizado por suportes teóricos e constantes reflexões engendradas nas
supervisões acadêmicas e de campo. Através do embasamento teórico, dessa
69
discussão na supervisão, para que se possa construir toda essa articulação
entre o que você traz de bagagem teórica e a prática.
O contato com o cotidiano da população e as experiências trazidas pelos usu-
ários alimentam o exercício profissional, assim como a formação dos estagiários.
Discutimos muito sobre o “porquê” das ações, dos encaminhamentos; é es-
sencial avaliar a intencionalidade do exercício profissional, o aspecto político da prá-
xis. Até que ponto reforçamos o conservadorismo com as nossas ações? E até que
ponto desenvolvemos ações em que o usuário é respeitado como sujeito histórico e
participante de seu tempo e sua história? Buscamos discutir no processo de es-
tágio a intencionalidade das ações. (Patrícia)
Assim, para que tal relação entre o profissional, a instituição e o usuário seja
enriquecida no cotidiano da prática profissional, de forma a permitir o fortalecimento
político dos sujeitos envolvidos para a construção de canais políticos e educativos, o
Assistente Social tem como norte, a favor do seu exercício profissional, um emba-
samento teórico que, ao iluminar suas ações, vai confirmar-se com o anseio pela
transformação da sociedade.
E, ainda, será exatamente essa realidade, mediada entre a teoria e a prática,
um dos alimentos da supervisão de campo de estágio em Serviço Social, permitindo
que, de fato, o espaço de ensino-aprendizagem do estágio seja significativo para a
vida profissional de todos os sujeitos envolvidos.
Dessa forma, afirmamos o quão necessário é ser leve com consistência ou,
ainda, sensibilizar o olhar, principalmente, aquele que vicia e prende toda a nossa
prática profissional à mera rotina que nos distancia do compromisso com as trans-
formações. Para isso, no cerne da nossa discussão, na centralidade da relação en-
tre o Assistente Social supervisor de estágio e o acadêmico-estagiário de Serviço
Social é que poderemos criar mediações, superando os limites e construindo a rela-
ção entre a teoria e a prática, sob um olhar ético-político dessa atribuição profissio-
nal.
Assim, a mediação entre a teoria e a prática permite a completude da ação da
supervisão de estágio, no decorrer das experiências construídas, tornando-as politi-
camente válidas. Afinal, os Assistentes Sociais têm a seu favor a criatividade como
70
suporte para constituir as atribuições de supervisor de campo de estágio em Serviço
Social, fortalecidas sob os princípios éticos e políticos da profissão, em defesa, sim,
da transformação da sociedade, que, parafraseando Marx, nós, Assistentes Soci-
ais, buscamos transformá-la, e quem sabe o início desse compromisso não seja de
fato instigado também no processo do estágio? É o que pretendemos desvelar, no
decorrer desta pesquisa.
71
CAPÍTULO III - AS NARRATIVAS DAS SUPERVISORAS DE CAMPOS
DE ESTÁGIOS
43
Benjamin (1994:203) já nos alerta, ao dizer que
cada manhã recebemos notícias de todo o mundo. E, no entanto,
somos pobres em histórias surpreendentes. A razão é que os fatos
nos chegam acompanhados de explicações. Em outras palavras:
quase nada do que acontece está a serviço da narrativa, e quase tu-
do está a serviço da informação. Metade da arte narrativa está em
evitar explicações. (...) O extraordinário e o miraculoso são narrados
com a maior exatidão, mas, o contexto psicológico da ação não é
imposto ao leitor. Ele é livre para interpretar a história como quiser, e
com isso o episódio narrado atinge uma amplitude que não existe na
informação.
Com isso, nossa intenção foi travar, durante a construção dos referenciais te-
óricos sobre o objeto de estudo, a interlocução entre autores e sujeitos políticos, pa-
ra que todas as experiências em supervisão de estágio apresentadas de fato esti-
vessem a serviço da ética da arte narrativa, evidenciando as reflexões nos depoi-
mentos apresentados, evitando explicações interpretativas que pudessem distingui-
la da sua verdadeira essência.
Deixamos livre para o leitor o uso dessas narrativas e reflexões teóricas que
traçamos nos capítulos anteriores, estimulando assim novas construções de signifi-
cados para todos que dessa pesquisa se apropriarem.
Isso porque, na primeira parte da presente dissertação, esclarecemos a im-
portância das Assistentes Sociais Supervisoras de Campos de Estágios em Serviço
Social para a nossa pesquisa, afinal, são delas as narrativas das experiências con-
cretas que constituíram o caráter mediador dessa atribuição privativa.
Mediação essa, conforme tratamos no segundo capítulo, que se movimenta
entre os limites dos condicionantes da realidade do trabalho do Assistente Social
enquanto pertencente à classe assalariada, mas que tem um conhecimento e saber
43
Partimos do seguinte entendimento: “o campo de estágio, como local de trabalho, é um espaço de
aprendizagem social, profissional e cultural, no qual o estagiário se insere em situações reais de vida
e trabalho, dimensionando novas condições de aprendizado distintas das existentes no ensino. O
estágio é realizado em diversos campos, de acordo com os programas desenvolvidos pelo assistente
social.” (PACCHIONI, 2000:31-32)
72
profissional que é enriquecido também por essa prática e pelas dimensões das teo-
rias metodológicas, ética, e potica que proporcionam uma nova perspectiva de in-
tervenção, em prol da defesa por justiça social.
E é reconhecendo exatamente tal dinâmica que temos fortalecida a constru-
ção da atribuição de Supervisionar Campos de Estágios, indo além das legislações,
e apropriando-se delas sob a perspectiva da realidade, que alimenta e instrumentali-
za tal exercício.
Assim, para nos apropriarmos da realidade aproximada, apresentaremos as
experiências das Assistentes Sociais Supervisoras de Campos de Estágios em Ser-
viço Social.
3.1 “O Caminho da Teoria e da Prática é a Mediação”
Para entender a importância do saber teórico no desenvolvimento da atribui-
ção privativa de supervisionar os campos de estágios pelo Assistente Social, é ne-
cessário que tal atividade constitua um exercício do Serviço Social maior e que, por
estar institucionalizado, faça com que esse mesmo profissional tenha de aguçar sua
subjetividade profissional para reconhecer que o espaço em que se encontra e onde
as relações sociais acontecem envolve o poder e, por isso, a intencionalidade de
toda e qualquer prática profissional tem de ser percebida sob uma direção ética, po-
lítica, teórica e metodológica.
Isso para que, a partir desse movimento, o fazer profissional e o saber teórico
possibilitem a construção de novos conhecimentos, que componham novas ações,
fortalecendo a garantia dos direitos sociais e não de continuidade de uma ideologia
de submissão, na relação direta com os usuários dos bens e serviços oferecidos.
Embora, no momento, não seja nossa idéia discuti-la, essa ideologia está presente
no cotidiano profissional e influencia diretamente a perspectiva da supervisão de es-
tágio desenvolvida em toda a dinâmica do Serviço Social.
Baptista (2001:119) nos traz a reflexão sobre a relação entre a teoria e a prá-
tica, que compõe a dinâmica da construção do caráter mediador da atribuição do
supervisor de campos de estágios, ao afirmar que:
73
em síntese, a construção do saber do profissional, tendo como hori-
zonte a intervenção, realiza um tríplice movimento: de crítica, de
construção de um conhecimento “novo” e de nova síntese no plano
do conhecimento e da ação, em um movimento que vai do particular
para o universal e retorna ao particular em outro patamar, dese-
nhando um movimento em espiral de relação ação/conhecimento, de
pontos de situação/pontos de lançamento.
Assim é que, na narrativa da Assistente Social Patrícia, percebemos exata-
mente esse movimento, pela sua experiência no desenvolvimento de tal atribuição,
quando ela revela:
Eu acho que contribui muito porque a gente, ao discutir sobre temas, sobre
legislações, ao atualizar também conhecimentos, refletir sobre perspectivas teóricas,
sobre o Projeto Ético-Político que nós temos em nossas ações. Eu acho que tudo
isso é importante para o aluno, para a construção da identidade profissional, além
disso, é importante para o aluno e para o profissional.
Porque à medida que a gente tem esse espaço de discussão que seria a
supervisão, (...) a gente possa juntos construir conhecimentos. Até, às vezes, a
gente poder também rever nossa metodologia de trabalho, construir novas alternati-
vas que nós possamos desenvolver de projetos na Clínica. Até, assim, como a gente
avalia quais resultados nós estamos obtendo com nosso trabalho. Qual é a visão do
usuário em relação ao Serviço Social? Para a gente, isso é muito importante, não é?
Então, assim: como o usuário visualiza o nosso trabalho? E como que a gente
intencionalidade para as nossas ações?
Então, isso tem sido gratificante, porque grande parte da população retorna
para orientações, vendo o Serviço Social como um local em que ele pode saber so-
bre direitos. (E) o que a gente verifica, é que, muitas vezes, a tendência de muitos
profissionais é mecanizar aquelas ações.
Então, você simplesmente faz entrevista e registra os dados, mas, de que
forma a gente pode estar se sistematizando? A gente tem procurado fazer esse tra-
balho com os estagiários, reavaliar até essas palestras socioeducativas, e, a gente
tem tido resultados muito, muito significativos, nesse sentido.
74
(Quando) a gente pára para analisar a realidade, repensar qual é o embasa-
mento teórico, qual é a intencionalidade vinculada a isso. (...) Então, assim, o Código
de Ética, a legislação da profissão, e outras legislações pertinentes, tudo isso real-
mente é nosso aporte, o que constrói a nossa bagagem.
E, como eu falei, não uma receita: ‘como que eu vou estar pondo em
prática’?
E a gente sempre ouve muito as pessoas falarem que os conhecimentos
(são) importantes a gente construir. Na verdade, é um processo que é construído.
Não existe uma fórmula de como a gente vai supervisionar e nem é o fato da
gente querer, (mas) discutir o como supervisionar, o como fazer, porque real-
mente a gente tem todo um suporte teórico que nos prepara para que a gente,
na supervisão com o aluno, a gente vá construindo caminhos.
Mas, que a gente procure, também, trazer à tona discussões voltadas à pro-
fissão, voltadas à realidade social, que surgem na categoria, (...) leituras que façam
com que a gente possa repensar o nosso trabalho e entender tamm a realidade
mais ampla, porque a gente não pode estar fechada no nosso espaço. Na verdade,
a gente tem aqui o contato com a população, e, essa, logicamente, (está) ligada a
uma realidade mais ampla.
E todo esse conhecimento vai fazer com que a gente cresça, cresça em
qualidade de atendimento, enquanto profissional, e que a gente também tenha
qualidade como supervisor. (Pois) (...) temos como referência o nosso cotidia-
no, (...), (devemos) estar repensando e discutindo coisas que poderiam dar
uma nova dimensão para a nossa práxis.
Todo aquele embasamento teórico com que a gente vai se atualizando,
vai cada vez mais ampliando, o aprendizado contínuo. Então, a gente sai do
momento em que a gente está na condição de estagiário para a condição de
profissional com a responsabilidade de supervisionar, e de estar dando uma
dimensão de aprendizado, de discussão, de reflexão, para alguém que está na
condição que nós estávamos anteriormente.
Então, é uma experiência rica, em que a gente cresce realmente. Eu me senti
assim, crescer muito, na medida em que eu procurei me fortalecer de conhecimen-
tos. E até o meu próprio crescimento enquanto profissional dentro do espaço institu-
75
cional, na medida em que a gente se fortalece até na própria postura profissional
que nós assumimos dentro da instituição.
Então, ao assumir o processo de supervisão, todo esse processo de troca, de
aprendizado e de responsabilidade que é ser supervisor, nos faz ter o compromisso,
com o estagiário.
Nessa contribuição de Patrícia, percebemos a real importância de todo o pro-
cesso do fazer profissional que inclui a supervisão de estágio em ser renovado
pelo compromisso ético, político, como também iluminado pela construção teórica e
metodológica, para que essa relação venha a compor o amadurecimento do saber, e
para que essas ações profissionais não fiquem aprisionadas ao imediatismo, mas
que desse imediato surjam meios de superar os limites e desafios e fortalecer a di-
reção “social, política e técnica de produção de conhecimentos” do estágio em Ser-
viço Social. (BAPTISTA, 2001:116)
Direção essa do estágio que, necessariamente, precisa ser acompanhada pe-
la Assistente Social Supervisora de Campo, o que reforça o debate sobre o caráter
mediador de tal atribuição, que institui a relação da teoria com essa prática como o
principal movimento que a fortalece.
E essa compreensão é apresentada, também, na narrativa feita por Maria
Fernanda, ao ser questionada sobre a importância da teoria para a prática de super-
visionar os campos de estágios:
Maria Fernanda: Se você não tiver claro (os) recursos teóricos (que) você
tem para ler uma realidade, a sua intervenção fica um mero assistencialismo, um
mero fazer sem um fio da meada. Então, isso me parece que, essa dimensão teó-
rica, ela é fundamental para você ler a realidade, e, ao longo da supervisão, ir
desenvolvendo essa idéia da mediação! Como é que você utiliza os dados do co-
tidiano, tanto os das entrevistas quanto os dados coletados, de onde vem a sua de-
manda, onde ela se expressa com mais vulnerabilidade.
São mediações que são significativas ao longo do estágio para que os
alunos possam estabelecer essa relação teoria e prática. Essa é minha preo-
76
cupação grande, sabe? Do aluno não sair repetindo: "ah, mas teoria não tem
nada a ver com a prática". Isso eu fico muito preocupada.
E digo que isso é incorreto, que uma avaliação dessa é incorreta. Alguma coi-
sa não está se dando bem nesse processo de estágio, quando você reafirma que
‘ah, teoria e prática não tem uma relação’. Ela tem uma relação que é mediática.
Passa pelos processos do cotidiano dos atendimentos, e, sobretudo, das re-
flexões que se fazem a partir de uma perspectiva teórica.
Nesse sentido, eu acho que os supervisores de campo, às vezes, distan-
ciam-se muito das suas próprias reflexões teóricas e acabam não fazendo es-
sas mediações para o aluno.
O que é muito legal em relação à supervisão quando você tem essa preocu-
pação (com) esse movimento teórico-prático, sempre tem TCC. O resultado sempre
é uma reflexão mais ampliada sob um determinado aspecto que ele conseguiu ob-
servar nos atendimentos.
Mirela: tem realmente uma sistematização daquilo que você tem ali construí-
do, não é?
Maria Fernanda: exatamente, porque eu acho que essa é a proposta da
supervisão! Que você possibilite esse trânsito entre as referências teóricas e o
que você esolhando da realidade. (...) Formar profissionais que tenham essa
inquietude de pensar e sistematizar o cotidiano, porque senão você não tem a expe-
riência sistematizada, porque a experiência o é o contato empírico com deter-
minada realidade, é alguma coisa que você olha, numa primeira vez, você tem um
panorama, voolha certos aspectos. Agora, esses aspectos têm que estar sendo
organizados!
Os alunos usam cadernos de campo. Eu acho o caderno de campo uma for-
ma muito interessante de você fazer anotações pessoais, reflexões teóricas, atendi-
mentos que você teve dificuldade de fazer, questões que apareceram durante o a-
tendimento. (Enfim), é um instrumento para você começar a sistematizar os dados.
E, quanto aos atendimentos que ocorrem durante o estágio, eu sempre peço que os
77
alunos façam um quadro desses atendimentos; de onde vêm os usuários, que de-
mandas maiores, que reflexões eu posso produzir desse conjunto de dados.
Porque (isso) não é a experiência do contato, mas é todo um conjunto de
coisas que acontecem dentro da instituição, da relação de forças da instituição, os
atores. Enfim, tem uma conjuntura ali que não se compõe dos usuários, compõe-
se também dos elementos que estão presentes na instituição, dos interesses do
Serviço Social, que nem sempre são os da instituição.
E a forma de mostrar o teu conhecimento é (pelo) o dado organizado, é o da-
do sistematizado com uma reflexão acerca do que é aquilo, que realidade é essa
que está se colocando, que está se apresentando, e, ela, além de tudo, se modifica.
(...) Se você não tem os dados desse cotidiano, como que você vai apontar para on-
de deve seguir um programa? Para onde um projeto tem que ser repensado, se não
tem elementos do seu trabalho, do seu cotidiano?
Você esatendendo, você está mostrando o beabá desde a hora que o
usuário chega, depois que ele vai embora, que reflexões a gente faz, o que a
gente anota depois, estando junto (supervisor e estagiário). Quer dizer, essas
coisas básicas de um cotidiano de Serviço Social que voestá podendo in-
tervir e orientar. Eu acho que isso desenvolve os alunos a encaminharem, a
descobrirem organizações que possam complementar o atendimento. Eu acho
mais estimulante!
Estimulante é, como Maria Fernanda coloca, de fato, o estágio e a certeza de
que a própria supervisão reforça a relação da teoria e a prática desenvolvida e, para
ser tal perspectiva, o Assistente Social deve ter clareza sobre o caráter mediador de
sua atribuão. Clareza essa que é constitutiva da profissão, e que é construída por
esse profissional, pelo seu lugar no processo da experiência, pois, como afirmou
Patrícia, e como expõe, a seguir, Maria Fernanda:
Então eu acho que para enfrentar essa divisão (teoria e prática), isso tu-
do que eu estou te falando, eu fui formulando exatamente para resolver essa
questão. Então, é desse lugar que nós estamos falando para ler a realidade!
78
Eu acho que esclarecer isso para o aluno, para que ele veja que essa pers-
pectiva teórica faz com que ele se depare com o sujeito que é uma expressão de um
contexto, de uma determinada conjuntura. Eu acho que o essas duas dimen-
sões que não pode se perder em termos de relação de supervisão (entre) aluno
e supervisor de campo!
Porém, essa mesma profissional questiona se realmente os Assistentes Soci-
ais Supervisores de Campos de Estágios estão se preocupando com esse movimen-
to, exatamente por existir a reiteração de um exercício marcado também pelos de-
terminantes da condição de trabalhador assalariado, que, como veremos a seguir,
pode corromper as dimensões ética, política, teórica e metodológica do exercício
profissional e de supervisionar os estágios. Maria Fernanda diz:
Eu não sei, Mirela, se os supervisores de campo estão, de fato, preparados
para fazer essa dimensão. Talvez, quem saia da Universidade está com isso mais
fresco, mas, quem está dez, vinte ou trinta anos de uma prática reiterativa, de
uma reprodução, talvez não tenha mais distanciamento teórico para fazer isso.
Então, eu acho que isso é fundamental para quem está entrando numa vida
profissional. Eu acho que é um pouco essa junção mesmo, dessa perspectiva teóri-
co-metodológica, ela é fundamental para que você possa desenvolver uma ação,
uma reflexão e uma ação. Enfim, uma práxis!
Portanto, mostra-se quão relevante é essa busca constante de renovação, de
aproximar-se com maior crítica das intervenções que realiza através de atividades
que desenvolve, pois é nessa dinâmica que ocorrerá também a supervisão de está-
gio, como cita Lucimara:
Eu procurei fazer essa reflexão com a estagiária, (...) ela precisa identificar na
tua ação: ‘então como que você acha que o seu supervisor está atendendo?’ Então,
eu acho que esse retorno é bom: o estagiário vai com o conteúdo que ele está a-
prendendo na Universidade fazer essa relação com a atuação do profissional, e, a-
79
cho que até para a gente se rever mesmo, dentro dos limites e possibilidades da
nossa atuação.Qual é a reflexão disso que você está aprendendo (na universida-
de)?’ Porque no começo a impressão que não tem nada a ver mesmo, e, eu
acho que à medida que você vai amadurecendo COM o estágio, (ele) oportuni-
za isso.
Dessa fala, também evidenciamos o quão indispensável é o aporte que a gra-
duação em Serviço Social também fornece para o estudante que, ao inserir-se nos
campos de estágios, também construirá novos conhecimentos, pois, como questiona
Mabel na sua relação com esses estudantes, na academia:
‘Como é que acontece a entrevista, por exemplo, no seu campo de estágio?
Para que ele (estudantes): ‘ah, ta! Eu aprendi isso. Mas, nossa! (no campo de
estágio) faz muito diferente. Ah, e como é? Por que tem essa diferença? Por que
não é tudo igualzinho’?
A gente tem essa preocupação também, porque ainda é muito presente: ‘ah,
eu aprendo umas coisas na faculdade chega no campo de estágio eu não vejo’.
‘Mas não vê, por quê?’ ‘Será que a teoria é uma chapa que a gente chega e aplica?’
‘Será que teoria é aplicação?’ ‘Então, como é que é isso? Não é construção?’ ‘Se é
construção, como constrói?’
Questionamentos esses que estimulam o olhar crítico sob o crivo da ética, da
política, da teoria e da metodologia, que vão constituir a dimensão do estágio em
Serviço Social, fortalecendo o reforço da mediação inerente à atribuição de supervi-
sionar os campos de estágios pelos Assistentes Sociais.
Sob essa análise, o trabalho de Serviço Social vai delineando o direcionamen-
to das suas ações, permitindo a construção da sua atribuição como supervisor de
campo, que, reconhecido o olhar da teoria sobre a prática, e a certeza de que no-
vos conhecimentos o sendo elaborados para fortalecer a teleologia das ações pro-
fissionais, o Assistente Social saberá se comprometer com a prática de supervisio-
nar campos de estágio.
80
3.2 “Eu ali represento um funcionário assalariado”
Na certeza de que é no movimento da sociedade que o trabalho tem sua con-
figuração modificada, mesmo que interagido e entendido numa perspectiva coletiva,
enfrentamos, na atualidade, muitos determinantes que fragilizam a tal estrutura onto-
lógica do trabalho
44
, e que passam a definir as distintas direções a serem seguidas
pela categoria do Serviço Social, como sendo uma especialização do trabalho coleti-
vo e, com isso, influenciada por todos esses elementos.
O entendimento do Serviço Social como “especialização do trabalho coletivo
permite compreender que a atividade profissional se realiza no universo do assalari-
amento, por meio de um processo social e técnico de trabalho” (Abess, 1996:162).
Com isso, é num contexto de totalidade que se insere a profissão de Serviço Social,
no mercado de trabalho, o mediador de todo trabalho profissional, e que ainda nesse
contexto também vem a desenvolver a atribuição de supervisionar os campos de
estágios.
No entanto, é exatamente nessa inserção no mercado de trabalho que o pro-
fissional passa a defrontar-se mais diretamente com os problemas sociais também
fruto dos determinantes do capitalismo, que aparecem para o Serviço Social como
sua demanda profissional, desafiando os Assistentes Sociais a viabilizarem estraté-
gias de enfrentamento nesse mesmo espaço contraditório, o qual também reproduz
as condições de desigualdades, afinal, é na defesa dos direitos sociais e da emanci-
pação social que o trabalho do Assistente Social e também sua atribuição de estágio
são baseados.
E percebemos essa dinâmica pela narrativa de Lucimara:
Diante de todas as funções que a gente exerce ali, é uma coisa de louco, é
muita coisa, muita coisa, é um número muito elevado de usuários por profissional.
Então, às vezes, eu falo: ‘meu Deus, o que eu faço primeiro?’
E (nisso de) ‘o que eu faço primeiro’, eu sempre tive convicção, mesmo
nas minhas dificuldades de definir o que era prioridade, eu tinha certeza, disso
eu tinha certeza (que) dar supervisão era minha prioridade. Faça sol ou faça
chuva: ‘ah, o adolescente’. ‘Não!’. ‘Vai ter reunião’. ‘Não! Eu tenho supervisão.
44
Para mais esclarecimentos ver Marx (2008).
81
E, eu acho que isso é fundamental!
Essa narrativa ilustra a autonomia do profissional de Serviço Social em de-
terminar suas prioridades, a perspectiva da sua ação profissional. E, ainda, como
apresenta, pela sua experiência, a Assistente Social Patrícia:
Eu falo que a gente tem (de) estar a todo momento também reavaliando o
nosso espaço institucional, o que a instituição nos exige, como a gente avalia esse
espaço institucional, até que ponto a gente pode construir o nosso trabalho com uma
perspectiva ético-política, voltada realmente aos interesses da população, à cidada-
nia, à participação.
Na Clínica de Fisioterapia, na avaliação social são encaminhamentos, são vá-
rias famílias em atendimento. Em média passam por aqui por ano para fazer a pri-
meira entrevista, isso sem contar os outros retornos que a família tem, em média
400 famílias novas a cada ano. (Já) a Clínica atende muito mais do que isso, todo
ano.
A gente recebe um fluxo muito grande, então, eu tenho que articular com o
meu espaço de trabalho e com as minhas demandas de trabalho também (a super-
visão).
Então, a gente procura estar articulando, toda essa exigência da instituição e
também criar um trabalho com qualidade, mesmo diante dessa exigência e dessa
grande demanda. A gente que a Clínica é grande, tem uma assistente so-
cial. Na Fisioterapia a gente tem (de) estar atento a isso, porque se a gente não se
organizar, não souber fazer uma leitura das exigências da instituição muitas vezes a
instituição quer resultados quantitativos!
É um grande desafio. Então, o que a gente procura é mostrar a importância
do nosso trabalho, principalmente no aspecto qualitativo, a importância de que a
gente mostre resultados e a gente possa argumentar, através desses resultados, da
importância desse trabalho para a qualidade de vida da população que é atendida
aqui.
Não adianta eu ter um atendimento de vinte minutos com uma família para o-
rientações e fazer uma coisa que nem seria suficiente um tempo suficiente e a-
tender grande número de pessoas se não tiver qualidade. Então, tem que saber me-
dir o que a instituição exige.
82
Até a própria qualidade que eu tenho de trabalho para eu poder ser e ter
uma boa supervisão com os estagiários. Então quais também são as minhas
exigências como supervisora para que os alunos tenham qualidade de traba-
lho.
A gente fala de ‘n’ coisas, não de espaço físico, mas, também que a gente
possa ter recursos para o trabalho, um espaço para supervisão, tudo isso eu acho
que é muito importante.
Assim, a gente sempre quer criar coisas novas, quer fazer mais e a partir do
que a gente constata, criar outras atividades, outras estratégias de ação, outras al-
ternativas, (mesmo que) às vezes a gente se encontra limitado, até porque a gente
tem poucos recursos humanos.
O fato também da supervisão contribuiu muito, a participação dos estagiários
até pela possibilidade de atender com qualidade, porque quando é um profissional,
fica difícil você atender num tempo menor.
E você tem a dificuldade, às vezes, de poder estar fazendo acompanhamento
social de todas as famílias que têm necessidade desse atendimento, então, nesse
sentido, os estagiários, eles contribuem muito também, não nesse sentido, em
muitos outros. Mas, eu acho esse contato, essas orientações propiciadas pelo aten-
dimento deles têm contribuído muito para a qualidade do atendimento na Clínica.
E isso eu acho importante, a gente tem muitas ações ainda a serem desen-
volvidas, (mas, na) nossa própria dinâmica de trabalho nós construímos muita coi-
sas, no Serviço Social. Então, para a gente dar continuidade ao que é feito, ao que a
gente gostaria também de construir, realmente é um processo contínuo de poder se
organizar, de poder analisar, sistematizar, e ver o que realmente é importante para o
trabalho, o que não é importante mais.
Então, assim, é um desafio, (...) (mas, temos) a construção da identidade
do Serviço Social, na Clínica de Fisioterapia, nesse espaço institucional, então,
é um trabalho gradativo (de) construir a identidade profissional, e ainda são
espaços que nós ainda queremos ampliar essa identidade para a Universidade.
E essa reflexão da Assistente Social Patrícia, de fato, é coerente com a con-
dição de trabalho de muitos profissionais, os quais, no exercício dentro da Instituição
sócio-ocupacional, passam a lidar com cobranças institucionais que exigem, equivo-
83
cadamente, dados quantitativos sem questionar a qualidade do que está sendo ofer-
tado, lembrando que, ainda dentro dessa dinâmica, o profissional tem de construir a
sua atribuição em supervisionar o campo de estágio, um desafio a mais para o As-
sistente Social.
Desafios esses que devem e podem ser superados gradativamente, como a-
firmou Patrícia, com a autonomia que o profissional deve constituir e fortalecer no
seu cotidiano de trabalho. Autonomia de saber direcionar o exercício profissional
dentro da instituição e trazer elementos de suporte para o desenvolvimento da su-
pervisão de estágio em Serviço Social, a partir dessantese reflexiva.
Ou seja, como Iamamoto (2001:97) fundamenta, ao afirmar que:
ao vender sua força de trabalho em troca do salário, o profissional
entrega ao seu empregador o seu valor de uso ou o direito de con-
sumi-la durante a jornada estabelecida. Durante a jornada de traba-
lho, a ação criadora do assistente social deve submeter-se às exi-
gências impostas por quem comprou o direito de utilizá-la durante
um certo período de tempo conforme as políticas, diretrizes, objeti-
vos e recursos da instituição empregadora. É no limite dessas condi-
ções que se materializa a autonomia do profissional na condução de
suas ações.
E é ainda a partir dessa mesma reflexão que Mabel trouxe novos questiona-
mentos pertinentes à prática do supervisor de campos de estágios, ao dizer:
Eu acho que, apesar de no discurso do Serviço Social a gente colocar
que a realidade é o nosso lócus de trabalho, a gente ainda pensa de uma forma
muito idealista. Como se estivesse numa busca de uma perfeição que não vai
existir.
Então, ‘qual é a nossa condição de trabalho?’ ‘É essa!’ É em cima dela
que eu tenho que trabalhar!
Não adianta eu pensar: ‘se eu fosse mensalista, se eu trabalhasse em tal ou-
tro lugar’, (pois), eu vou chegar em tal outro lugar e eu vou ter uma série de proble-
mas naquele outro lugar também, porque, eu acho que é quase que constitutivo da
nossa realidade ter problema.
84
Não é uma realidade fácil, mas, não é aquela coisa pessimista de achar que
nada certo, que a nossa profissão não tem valor, que o que a gente faz não tem
sentido. Isso não é verdade!
Exatamente, (por exemplo), em 1999, aquela revista ‘Você S.A.’ - que é uma
revista que representa o mundo capitalista - fez uma reportagem de capa dizendo
sobre as profissões que atravessarão o século XXI. E uma das profissões era o Ser-
viço Social.
E, eu falei: ‘gente’! ‘Ah! Também a pobreza não vai acabar’. Eu falei: ‘a vincu-
lação não é tão imediata assim. É claro que majoritariamente trabalhamos com as
pessoas que vivem em condição de vulnerabilidade, mas o é isso, fazemos
gestão de políticas, na docência, em pesquisa, assessoria, consultoria. Quantas coi-
sas a gente faz!
Não tira o mérito da profissão, trabalhar com as famílias vulneráveis.
Não tira o mérito da profissão, trabalhar em bairros periféricos. Ao contrário, eu acho
que nós ainda somos um dos poucos profissionais que conseguem fazer essa apro-
ximação com essa população, e consegue entender o modo como ela vive, reco-
nhece as estratégias de sobrevivência. Poxa! O nosso trabalho é tão, tão amplo e
muito complexo, (pois) ele não se resume ao recurso.
E é dentro dessa complexa rede de determinantes que compõem o cotidiano
profissional que Mabel contemplou, em sua fala, o formar, o desenvolvimento espe-
cífico da atribuição do Assistente Social em supervisionar os campos de estágios,
dentro dos distintos processos de trabalho.
E é exatamente essa intervenção profissional que qualifica a prática do Assis-
tente Social, no seu cotidiano de trabalho, pois o reveladas as demandas imedia-
tas para a profissão, que, por sua vez, se instrumentaliza e cria estratégias para o
enfrentamento dos problemas sociais que lhes são apresentados, superando inclusi-
ve os desafios e limites postos por certas condições da instituição sócio-ocupacional
para a efetivação dessas garantias aos usuários!
Enfatizando que não somente essa garantia de direitos envolve exclusiva-
mente os usuários de bens e serviços, mas também permite construir a autonomia
85
para o profissional alcançar suas propostas, em ainda ter subsídios concretos para
mediar a sua atribuição privativa como supervisor de estágio.
3.3 “O Código de Ética é a minha Formação Profissional”
Entendemos que o Projeto Ético-Político contemporâneo brasileiro configurou-
se sob o reconhecimento da liberdade como valor central, evidenciando um com-
promisso profissional com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos in-
divíduos sociais. Isto é, vincula-se com o projeto da sociedade sob a ótica de uma
nova ordem social, sem dominação nem exploração de classes, etnias e gênero, e
tem, na lei que regulamenta a profissão de serviço social, as atribuições que dão
exclusividade e garantia de atuação para o Assistente Social intervir sobre a realida-
de sob tais valores.
Com isso, o Serviço Social, em sua dimensão política,
se posicionou em favor da eqüidade e da justiça social, na perspec-
tiva da universalização do acesso aos bens e serviços relativos aos
programas e políticas sociais; a ampliação e a consolidação da cida-
dania foram postas explicitamente como condição para a garantia
dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalh
a
doras.
(NETTO, 1996:105)
Refletindo em um “projeto democrático, enquanto socialização da participação
política e da riqueza socialmente produzida”. (Id.,ibid.:105)
Na perspectiva estritamente profissional, Netto (Ibid., p. 105) ainda afirma
que:
o projeto implica o compromisso com a competência, que pode
ter como base o aprimoramento intelectual do assistente social. Daí
a ênfase numa formação acadêmica qualificada, alicerçada em con-
cepções teórico-metodológicas críticas e sólidas, capazes de viabili-
zar uma análise concreta da realidade social formação que deve
abrir o passo à preocupação com a (auto) formação permanente e
estimular uma constante postura investigativa.
86
Exatamente sobre a preocupação de se ter uma formação permanente para
estimular uma postura investigativa que dará o suporte para o caráter mediador da
atribuição privativa do Assistente Social, é que Lucimara reflete sobre o Projeto Ético
Político em sua experiência:
O que é o meu projeto ético-político. Eu fui estudar a respeito, porque a gente
ouve, ouve, e, eu falei: ‘isso não ficou claro para mim lá na faculdade!’ E daí, quando
a gente parava para fazer uma discussão, mesmo entre profissionais, era tudo muito
vazio. Eu falei: ‘eu não quero isso para mim, eu não me formei à toa; por que eu es-
tou aqui, e qual é o meu papel enquanto assistente social?’
E, assim, eu acho que elas (as estagiárias) comparavam muito ali por ter ou-
tros profissionais, na sala. Comparavam de ver a questão da linha, da corrente! (...)
Daí trazer para a questão da ética (como) um esforço realmente que a gente faz
nesse momento (para) as coisas não virarem fofoca!
Porque isso realmente fortalece, e eu tenho (de) dar exemplo. (Afinal),
‘eu sou educadora até ele concluir a faculdade!’ Então, eu fui estudar! Eu falava
para ela (a estagiária) (quando) tinha algumas palavras novas, eu falava: ‘o que é
isso?’
Assim, eu acho que a gente tem que ter humildade de reconhecer o que a
gente não conheceu ainda e reconhecer (também) que esse estagiário que es
na vida acadêmica, (está) tudo muito fresquinho, que ele pode também con-
tribuir com a minha prática.
Nessa narrativa, Lucimara traz um adendo muito relevante, ao apresentar que
a ética profissional e o Código de Ética do Assistente Social passam a ser discutidos
articuladamente conforme a concepção do mundo e do tempo de cada um, isto é, “a
compreensão crítica de si mesmo ocorre através de uma luta de hegemonias políti-
cas, de direções contrastantes, primeiro no campo da ética, depois da política, para
chegar a uma elaboração superior da própria concepção do real” (COUTINHO apud
PAIVA, 2001:106)
87
Assim é que,
ao articular a ética como um espaço no interior da luta pela hegemo-
nia, Gramsci nos coloca diante de uma premissa: a de considerar-
mos a ética, a moral e os valores como um fenômeno concreto e his-
tórico que é, desta forma, objetivado e subjetivado no cotidiano soci-
al, ou seja, a discussão da ética e as preocupações com os valores
e com a moral correspondem a processos sócio-históricos concre-
tos, e a contemporaneidade nessa questão é um elemento elucida-
dor dessa proposição. (PAIVA, 2001, p. 106)
Como mesmo afirmou Maria Fernanda:
Então, essa questão do Projeto Ético-Político, eu tenho uma referência dele
que é uma referência histórica, desde a minha graduação, desde a época que não
existia um sindicato ainda em São Paulo, eu participei da Associação Paulista dos
Servidores Públicos (Apasp) e acompanhei muitos momentos históricos da profis-
são, que eu acho que indiretamente esse Código estava sendo construído.
Então, quando eu penso no Código de Ética Profissional e quando eu
penso na proposta do Projeto Ético-Político, é como se eu não conseguisse
separar muito, eu não consigo pensá-lo como um documento, não consigo
pensá-lo como uma coisa externa. Eu acho que ele é parte da minha formação.
Eu entrei na faculdade em 79 e saí em 82. No meio da Universidade, eu peguei uma
mudança de currículo significativa, e, depois desse momento, dos anos 82 até os
anos 90, a gente pôde participar de muitos movimentos sociais, ver essas expres-
sões. Então, o Código de Ética é a minha formação profissional!
Eu acho que tem questões que são princípios para essa profissão, (ao) co-
meçar pela ppria escuta, que é uma escuta ética, o moral. Eu não vou fazer
uma avaliação moral, absolutamente, de quem está chegando, aliás, eu preciso cui-
dar disso. Precisa ter muito cuidado nessa escuta, nesse trabalho - mesmo que seja
coletivo - com essa questão dos princípios éticos!
(Preciso) de uma conduta que transpareça isso, que fique de alguma forma
presente no momento, das entrevistas, do trabalho com grupos e para os alunos,
especialmente para os alunos, que não têm a mesma formação que a gente teve, é
88
um outro momento histórico, que não viram isso se construir por dentro da profissão.
Eu acho que tem uma questão mais distanciada com o Código de Ética.
Então, eu acho que pensar o Projeto Ético-Político é pensar, do meu ponto de
vista, dessa maneira, quer dizer, essa preocupação teórica, essa preocupação com
as mediações, com a reflexão do cotidiano de trabalho, com a sistematização dos
dados, com pesquisas, tudo isso eu entendo como um processo que media o
Código, que media um Projeto Ético-Político.
Com essa reflexão de Maria Fernanda, compreendemos que a ética e a políti-
ca incidem no cotidiano profissional, desde a graduação em Serviço Social, estabe-
lecendo seus rumos na atuação e nos espaços ocupacionais de atendimento de di-
reitos, até os espaços de trabalhos ocupados pelos profissionais, exigindo desses
Assistentes Sociais o enraizamento do projeto profissional, inclusive, para constituir
a perspectiva do caráter mediador da atribuição privativa de supervisionar os cam-
pos de estágio, pois, como também afirma Mabel:
Eu entendo que a supervisão acadêmica ou de campo é uma das atribuições
que o profissional tem. A gente tem formação para isso independentemente de ter
curso para isso. Eu, particularmente, acho que eu não preciso ter um curso de
supervisão para ser supervisor, (pois) eu entendo que a minha experiência
profissional, ela me capacita, me gabarita a dar uma supervisão.
Ao mesmo tempo, contraditoriamente, entendo que a precarização do nosso
trabalho é tal, que se a Universidade oferece um curso, eu entendo que o supervisor
(se) sente mais seguro, se sente mais confiante naquele trabalho que ele está exer-
cendo. Então, é uma posição ambígua. Mas, a minha formação como assistente
social me possibilita ser supervisor.
Isso é condição. Tanto que se você pegar, tanto a lei de regulamentação
quanto o Código de Ética, nenhum deles diz: ‘para que o assistente social seja
supervisor, ele tem que fazer um curso, ele tem uma capacitação’.
89
Assim, pela reflexão das Assistentes Sociais, pode-se compreender que o
princípio ético e as perspectivas políticas são compreendidas pelo lugar social que
ocupam, como também por seu projeto político, principalmente no que diz respeito à
atribuição de supervisionar campos de estágios, mas que sempre teremos um proje-
to hegemônico de profissão como norte para as ações e intervenções profissionais.
Norte esse não percebido como utópico, no sentido vazio e distante de transforma-
ções concretas, mas de uma perspectiva real, que se constitui em atos, no miúdo do
cotidiano profissional, tal como a própria supervisão de campos de estágios em Ser-
viço Social.
3.4 “A Universidade faz a parte dela e existe aí a minha co-responsabilidade”
Com a análise das narrativas, sob a referência das reflexões teóricas até en-
tão tratadas, pudemos apreender alguns conhecimentos acumulados pelo Serviço
Social, que compõem a atribuição de supervisionar os campos de estágios, sob a
perspectiva do seu caráter mediador, ficando, também, evidente, para as Assisten-
tes Sociais que desenvolvem tal exercício, a importância do apoio pedagógico, teóri-
co e metodológico do espaço da Academia, dos cursos de Serviço Social, para uma
perspectiva crítica dessa atribuição.
Até mesmo pelo fato trazido e apresentado por Mabel, e ratificamos sua fala,
quando diz que a precarização do nosso trabalho é tal, que se a Universidade ofe-
rece um curso, eu entendo que o supervisor (se) sente mais seguro, se sente mais
confiante naquele trabalho que ele está exercendo!”.
Portanto, fortalecer espaços, como os fóruns de supervisores, seminá-
rios/palestras para discutir o Serviço Social; movimentos da categoria, como partici-
pação nos eventos do conjunto Cfess/ Cress, Abepss; entre outras atitudes que con-
tribuam com a capacitação continuada do Assistente Social, fortalecem sua prática
enriquecedora sob a luz do projeto ético-político.
Também Mabel apresenta, em sua experiência em coordenar os campos de
estágios, a importância de fortalecer a atribuição do supervisor de campo, pois reco-
nhece essa necessidade trazida pelos colegas profissionais. Assim, diz:
90
Os dois primeiros anos de trabalho que eu tive aqui foi de tentar fortalecer o
papel desse supervisor de campo. E eu entendo que hoje é continuar isso, mas,
também tirar deles essa questão da fiscalização, talvez porque toda vez que eu vou
à reunião, eu levo os informativos do Cress; eu sempre levo as legislações, por e-
xemplo, teve aquela legislação do Cfess de 2006 sobre as condições do trabalho do
assistente social, as condições físicas. Eu falo: ‘gente, olha! É lei federal’.
Eu falo dos honorários, eu falo do salário, eu trago os informativos da Abepss:
‘gente, olha! Vai ter Enpess’. ‘A Abepss está fazendo esse curso’, ou, ‘a Abepss está
trazendo essa discussão. É importante que vocês saibam disso!
Porque, nessa tríade: aluno, supervisor de campo e supervisor acadêmico, fi-
ca parecendo que os dois papéis fundamentais são o do supervisor acadêmico e o
do aluno, e o supervisor de campo fica muito como se ele fosse um papel acessório.
E eu tenho trabalhado muito com os supervisores do quanto a presença deles é fun-
damental e (que) sem a presença deles não há estágio.
(Pois), ao contrário, o supervisor acadêmico pode não existir, porque têm al-
gumas Universidades que nem tem o supervisor acadêmico ou coloca um supervisor
na sala de aula e esse professor atende a todos os alunos, mas sem a presença do
supervisor de campo, o estágio inviabiliza. Sem o supervisor de campo, o estágio
fica inviabilizado.
Lidar com isso significa lidar com as fragilidades da profissão. (...) Eu tenho
(de) lidar com as fragilidades da profissão e com as próprias fragilidades que aquele
profissional tem no exercício da sua profissão. Então, o que significa possibilidades,
e entendo também que o meu papel tem (de) ser de aproximar a Universidade – e aí
como uma proposta – aproximar a Universidade dos campos de estágio.
Então, eu penso (também) em traduzir aqui dentro do nosso Departamento
todos esses procedimentos que a gente tem sobre o Regimento de Estágio, o Proje-
to de Estágio, o Relatório Final de Estágio, numa política de estágio. (E) o que seria
essa política de estágio? É entender o estágio como parte integrante do processo
formativo e não como uma coisa que vai exigir uma estrutura à parte. Não. Ele faz
parte desse corpo, por isso esse trabalho é difícil, é árduo!
91
Assim, por meio de experiências como a relatada, o desenvolvimento das a-
tribuições passam a compor o que a própria Mabel já afirmou sobre a importância da
pareceria entre a Universidade e os supervisores de campos, e que reforça a refle-
xão de Lucimara:
A Universidade faz a parte dela; existe aí a minha co-responsabilidade, então,
o tripé: o aluno, a Universidade e o campo de estágio. Eu acho que é imprescindível
que a Universidade tenha essa proximidade com o supervisor de campo.
Tanto é que se eu estou numa situação muito gritante, que eu tratei ali com o
estagiário, (e) vejo que eu não consigo avançar, eu acho que daí é o meu momento
de pedir ajuda, (de) pedir socorro para a Universidade, porque isso é possível. Se eu
tiver algum problema, por exemplo, estou com uma dificuldade em relação (ao esta-
giário), (e) não consigo resolver, o que extrapolar disso, o que passar disso eu recor-
ro à Universidade.
que isso acontece se também tiver esse outro lado. A Universidade
precisa saber, de verdade, quem que é esse supervisor! Isso faz toda a diferença,
porque quando ele está dando a supervisão lá, (...) emergem ali questões de rela-
cionamento, por exemplo. Aí, entra a minha responsabilidade do processo de forma-
ção. Eu acho que o que faz diferença também, hoje eu entendo assim, eu me
vejo num papel importante para a vida daquele estagiário, que é, assim, dentro
de todas as funções que eu desenvolvo ali na Fundhas, algumas coisas realmente a
gente o conta de fazer porque é muita coisa. Mas para mim sempre foi prio-
ridade dar supervisão sistemática para o estagiário.
Eu acho que o relatório é um dos meios, essa reunião que a Universida-
de faz também, e o contato com o supervisor acadêmico. Acho que são ins-
trumentos que acabam fortalecendo realmente não somente o aprendizado pa-
ra o aluno, mas também para a gente se fortalecer enquanto supervisor!
Tem (de) ter respaldo! A gente tem situações, que o estagiário ia ser desliga-
do antes do previsto. E o contrato dele? E qual é o respaldo? Imagina eu sustentar
que esse estagiário não tem condições de se formar? Como que é isso? Onde eu
me baseio para falar isso? Antes que (o estagiário) chegue lá no quarto ano?
92
Então, se eu identifico isso, daí sim é o momento de pedir socorro para a
Universidade!
E como também Patrícia narra:
Tem momentos (que) tem convites de reuniões para poder estar discutindo
coletivamente a situação do supervisor, a relação com o aluno, e eu procuro também
interagir sempre com o Departamento, independentemente do espaço das reuni-
ões, eu acho importante estar sempre em contato com a Coordenação de Estágio,
para poder tirar dúvidas, ter um suporte no sentido de se atualizar em materiais, que
a gente poderia estar discutindo na supervisão.
Então eu acho isso importante, porque na supervisão eu procuro, além dos
atendimentos, dos encaminhamentos que são feitos e das avaliações socioeconômi-
cas, discutir também todo um respaldo também de legislações.
Dessa forma, é evidenciada claramente a importância desse apoio pedagógi-
co, teórico e metodológico para a supervisão dos campos de estágios, e, inclusive,
que tal parceria é composta pelo reconhecimento da atribuição dos Assistentes So-
ciais para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem do estágio, sen-
do de sua responsabilidade o direcionamento dessa atividade educativa, mas que é
necessária a relação com o outro, para subsidiar reflexões, troca de experiências,
esclarecimentos de equívocos, dentro de um espaço aberto e rico de saberes e co-
nhecimentos que podem constituir tal apoio da relação universidade e campos de
estágios.
Para que, assim, possamos refletir criticamente sobre o que Maria Fernanda
questiona em sua narrativa:
a relação do estágio, supervisor (de campo) e aluno tem (de) ser uma re-
lação de confiança, senão quem vai ser a referência para ele do que está certo
e do que está errado? E eu observo na fala dos alunos hoje em dia uma coisa de
constatar tudo aquilo que o assistente social faz que ele julga incorreto, aquilo repre-
senta uma frustração imensa, imensa!
93
Referência essa que perpassa e pelo caráter mediador da atribuição privativa
de supervisionar campos de estágios em Serviço Social, e pudemos ter clareza da
relevância da relação teoria-prática, ético-política, condições de assalariamento, co-
mo também do apoio pedagógico da Unidade de Ensino para constituir o cotidiano
desse exercício. o esses elementos que determinam e direcionam toda a prática
social, inclusive dessa atividade educativa. E, conseqüentemente, compõem a cons-
trução dessa atribuição pelo coletivo de Assistentes Sociais, portanto, estar atento a
eles em sua relação com a totalidade –, faz termos a certeza de ter fortalecido a
essencial presença desse profissional na vida acadêmica de quem está se forman-
do, pois logo esse também será um supervisor de estágio em Serviço Social.
94
CONSIDERAÇÕES FINAIS...
O meu olhar é nítido como um girassol
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda
E, de vez em quando, olhando para trás
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se ao nascer
Reparasse que nascera deveras
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo
Alberto Caeiro
O poeta Fernando Pessoa –- nessa poesia sob o heterônimo de Alberto Caei-
ro nos fazia refletir sobre a necessidade de voltarmos nosso olhar para cada
novidade do mundo; novidade essa que, mínima que fosse, seria valorizada e aca-
lentada em nossas referências! Assistente Social e pesquisadora que somos, toma-
mos a liberdade de emprestar as belas palavras do poeta e afirmar também que o
olhar sobre a atribuição de supervisionar os campos de estágios em Serviço Social
trouxe-nos o pasmo essencial, e permitiu-nos nascer a cada momento em que foi
sendo constituído o processo da presente pesquisa.
E, ainda, hoje, sob uma nova perspectiva um pouco mais madura que
dois anos e meio acreditamos na importância do supervisor de campos de está-
gios em Serviço Social para a vida acadêmica e profissional do futuro Assistente So-
cial.
Pois é no momento do estágio que se aprende a ser profissional; profissional
que defenda a justiça social, a garantia dos direitos sociais e a universalidade de seu
acesso, compreendendo o que cada usuário traz com sua história de vida, atrás de
cada vulnerabilidade que compõe seu dia-a-dia. Para que, cada vez mais, possamos
estar próximos de uma sociedade direcionada pelos princípios da liberdade de esco-
lha, autonomia e emancipação, sem dominação, exploração de classe, etnia e gêne-
ro.
95
Acreditamos que as nossas considerações referem-se às novidades para a
supervisão de estágio em Serviço Social, e ainda remetem à necessidade constante
de re-pensar tal atribuição, tornando-a provisória até o momento em que novas idéi-
as surgem e precisam ser colocadas em prática. Assim, concluímos que as conside-
rações não são finais, mas provisórias.
Por isso, apresentamos...
... Algumas Reflexões Provisórias sobre a Atribuição Privativa de Supervisio-
nar os Campos de Estágios em Serviço Social
Valorizar as experiências das Assistentes Sociais em supervisionar os cam-
pos de estágios foi a nossa verdadeira intenção, no desenvolvimento desta pesqui-
sa, e a metodologia da História Oral apresentou-nos os caminhos necessários para
tornar concreta tal proposta.
Na centralidade dos sujeitos e de suas narrativas, compreendemos que o mo-
vimento contraditório que permeia a atribuição privativa em supervisionar estágio
requer a contribuição da singularidade do cotidiano de cada profissional e o enten-
dimento dos significados construídos pelo lugar que essa experiência ocupou ou a-
inda ocupa em sua vida profissional.
Sabe? Eu gosto de ensinar, e o supervisor tem (de) ter desejo de ensi-
nar. Desejo de acompanhar. Não basta estar no Código de Ética ou no Projeto
Ético-Político. Não são todos que têm disponibilidade e interesse para super-
visão. Então, eu acho que tem (de) mobilizar as pessoas que gostam disso,
porque eu acho que é como dar aula.
Você tem (de) gostar de aluno, você tem (de) gostar de fazer com que ele
aprenda a ser um assistente social. Isso tem (de) ser importante para a gente,
não é? Senão, não se transmite. (Maria Fernanda)
96
Aos publicizarmos as experiências sob um olhar cienfico, tornamos possível
que os significados construídos pelo Assistente Social às suas atribuições de super-
visionar os campos de estágios ilustrassem com maior riqueza a hipótese de nossa
pesquisa: a mediação entre a teoria e a prática do Serviço Social permite a constru-
ção dessa atribuição privativa comprometida com o projeto ético-político.
Pelas narrativas, compreendemos que essa mediação perpassa pela identifi-
cação dos limites e desafios do fazer profissional e, além disso, entender que esse
fazer profissional – enquanto prática social – é constituído por dimensões do saber e
de conhecimentos teóricos, poticos, éticos e metodológicos, os quais fortalecem a
identidade da profissão sob a perspectiva do Projeto Ético-Político do Serviço Social.
Sendo assim, os caminhos percorridos pelas aproximações e análises das
narrativas trouxeram a compreensão de que a atribuição do Assistente Social Su-
pervisor deve ter a perspectiva da compreensão do estágio em Serviço Social por
meio do processo de ensino e aprendizagem que o constitui.
Vislumbrando, ainda, pelos significados atribuídos pelas Assistentes Sociais à
sua experiência de supervisionar, que os determinantes das condições de trabalha-
dor assalariado e a premissa do fortalecimento do projeto profissional movimentam-
se contraditoriamente, no cotidiano profissional, onde desafios e limites vão surgin-
do, mas também são superados pela criação de estratégias éticas e políticas.
Ou seja, um processo contraditório que viabiliza tanto o retrocesso quanto o
avanço profissional, indo muito do desenvolvimento das ações pelo comprometimen-
to do Assistente Social e do entendimento que esse mesmo profissional tem da rea-
lidade na qual está inserido e sobre a qual intervém.
As experiências em supervisionar os campos de estágios em Serviço Social
permitiram compreender o envolvimento e a capacidade do profissional em entender
os elementos determinantes da instituão, da sociedade e da demanda dos serviços
de forma histórica, para que o olhar não seja fragmentado, o que não superaria pro-
posições acríticas.
Para tanto, se coloca, para o Assistente Social, o desafio de se perceber
num movimento de conscientização, ou seja, se o profissional não entender que o
mundo do trabalho coloca limites que podem ser superados, a prática do Serviço
97
Social estará fadada à mesmice, no cotidiano, e sem perspectiva de novos direcio-
namentos.
Que a gente vai observando? Que o aluno absorve a linguagem da orga-
nização como dele. E, de certa forma, reproduz aquilo que os Assistentes So-
ciais também fazem nas organizações. Todos nós fazemos, não é? A gente ab-
sorve o limite organizacional como nosso! A dificuldade, às vezes, que o assis-
tente social tem de diferençar o objetivo da organização e o objetivo do Servi-
ço Social naquela organização, o aluno também tem de diferençar o objetivo
do Serviço Social na organização e o objetivo do estágio dele dentro daquela
organização.
E, são essas coisas que eu entendo que devem ser reforçadas na super-
visão acadêmica. A supervisão tem (de) dar esse aporte ao aluno para que ele
saia dessa coisa: ‘ah, o meu supervisor é bom e o meu estágio é bom’, (ou), ‘o
meu supervisor é ruim, o meu estágio é ruim’! E, aí eu volto a falar: não existe
estágio ruim! Existem estágios! E nós vamos nos apropriar inclusive daquilo
que não é tão bom, mas eu preciso reconhecer naquela atividade se ela é boa
ou ruim. (Mabel)
Sob o entendimento dos significados atribuídos e apresentados pelas narrati-
vas, é que o Assistente Social cria e re-cria sua atribuição de supervisionar os cam-
pos de estágios, pois pauta-se por elementos estruturais do cotidiano profissional,
cuja intenção é desenvolver suas ações e atividades pela defesa dos direitos sociais
da sua demanda, e, para receber nesse mesmo espaço o estagiário de Serviço So-
cial, o profissional tem de estar preparado para que tal processo de ensino-
aprendizagem seja importante para todos os sujeitos nele envolvidos.
Portanto, o Assistente Social é permanentemente convocado a dar respostas,
através do movimento entre o pensamento e sua ação, criadas imediatamente por
causa do acúmulo de conhecimentos adquiridos no processo da prática profissional,
no cotidiano, e no próprio desenvolvimento da supervisão de estágio.
98
Ou seja, a rotina profissional permite lidar com as ações, simultaneamente,
para que tanto as institucionais como as da supervisão de estágio sejam efetivadas,
sob igual relevância, pelo Assistente Social.
Apreendemos, também, sobre a necessidade de não se acomodar, pois o
proposto é pensar a supervisão do campo de estágio com o apoio das normas e das
rotinas da instituição, para que os aspectos que determinam a condição de trabalha-
dor assalariado do Assistente Social sejam refletidas criticamente por tais profissio-
nais na relação com os estagiários.
No movimento dessa dinâmica, a atribuição privativa de supervisionar os es-
tágios em Serviço Social reconhece seu compromisso ético e político e fortalece es-
sa experiência na perspectiva do coletivo que constrói a identidade da profissão vol-
tada para a sistematização contínua da prática profissional e a constante formação
profissional.
Mirela: Sobre o seu compromisso, você perpassa pela discussão do
próprio Serviço Social, o compromisso da categoria com essa questão da for-
mação ou você pensa que esse é um compromisso pessoal teu?
Lucimara: Para mim, eu tenho os dois. O compromisso pessoal, porque
eu acho que eu sou até muito exigente de gostar de ver as coisas fluindo bem!
Não é ser muito certinho, eu não gosto dessa palavra. Mas, do que eu me pro-
pus então? Eu me proponho, eu, Lucimara, pessoa! (E), eu tenho um compro-
misso profissional, por conseqüência, o que diz respeito (a) uma atribuição.
(Afinal), eu sou responsável porque esse profissional daqui a pouco vai estar
no mercado de trabalho.
Com isso, cria-se a possibilidade para que o Assistente Social compreenda tal
atribuição inserida na realidade profissional, caminhando além do apresentado pela
lei que regulamenta a profissão e pelo Código de Ética, pois concretiza em sua ex-
periência o que é proposto, evidenciando situações contraditórias e estratégicas que
enriquecem esse exercício, e permitem que o profissional tenha disponibilidade para
participar de encontros, reuniões, fóruns relacionados com a questão do estágio em
Serviço Social – enquanto apoio pedagógico, teórico e metodológico.
99
Compreendemos que o cotidiano do estágio dentro da instituição pode influ-
enciar movimento de retrocesso no ensino e aprendizagem, no entanto, entendemos
também que a estratégia de superação pode ser elaborada pelo Assistente Social,
de forma a fortalecer o Projeto Ético-Político.
Reforçar também o nosso próprio projeto social e nosso compromisso
ético-político, que vão ter um projeto ético-político com uma visão crítica! Por-
que muitas vezes a gente tem que desenvolver muito a criatividade e a critici-
dade também. (E) muitas vezes o profissional que não tem uma visão crítica
sobre os seus próprios conceitos, sua própria prática, acaba por reforçar a-
ções e conceitos que realmente deixam de ter uma articulação com a realida-
de, com as transformações sociais.
Então, acho que nesse sentido o importante é que, a todo momento, a
gente se reveja também, e, ao mesmo tempo, que a gente, ao buscar essa vi-
são crítica (vai) passar isso para os próprios estagiários, (pois) é uma constru-
ção conjunta, não é o supervisor que vai entregar isso para o estagiário, é uma
construção. Na verdade não é o supervisor que vai entregar a visão critica,
mas pode propiciar, nesse processo de supervisão, a construção dessa visão,
para que a gente possa ter até uma sociedade mais crítica, mais democrática!”
(Patrícia)
A leitura crítica das condições contraditórias do cotidiano profissional permite
criar argumentos para enfatizar a importância da supervisão de estágio, pois toda
ação não é bloco homogêneo, sempre será um movimento, o que permite criar no-
vas perspectivas e obter novos resultados.
É relevante, como norte da supervisão de campos de estágios, o Assistente
Social valorizar o seu saber profissional; saber esse adquirido na formação profis-
sional contínua e que se constitui, também, na materialidade do cotidiano profissio-
nal como novos conhecimentos.
Compreendemos, então, que é na unidade da teoria e da prática profissional,
e no movimento entre si, que as atribuições de supervisionar os estágios vão ser
construídas.
100
Assim, podemos concluir que o caráter mediador da atribuição privativa de
supervisionar os campos de estágios é constituído pela capacidade do profissional
de Serviço Social apreender, propor e agir de forma ética e política e, ainda, nesse
movimento, fortalecer seu compromisso e competência profissional para que possa
apreender e decifrar o conjunto de determinantes que interferem na configuração do
seu cotidiano profissional, enquanto trabalhador assalariado, fornecendo a esse pro-
fissional estratégias criativas e articuladas com sua atribuição de supervisionar está-
gio.
Contribuir para uma formação profissional de qualidade para os futuros Assis-
tentes Sociais, que também estarão preparados para configurar os objetos relacio-
nados à sua prática profissional e, assim, serem capazes de perpetuar com um di-
namismo ético-político esse interesse para com novos estagiários de Serviço Social,
que logo estao compondo o mercado de trabalho e fazendo parte de uma catego-
ria profissional que luta constantemente pelo fortalecimento de uma identidade pro-
fissional comprometida com o projeto ético-político.
As narrativas das experiências das Assistentes Sociais Supervisoras permiti-
ram que nós enfatizássemos a importância dessa atribuição privativa, sob a pers-
pectiva do caráter mediador, que é constituído pela realidade profissional, bem como
pelos saberes e conhecimentos da profissão, do seu cotidiano profissional e dos pro-
jetos pessoais e políticos de cada sujeito.
Para que, assim, tenhamos a certeza de que a supervisão de estágio em Ser-
viço Social será direcionada ética e politicamente, tanto pelos estagiários como pe-
los Assistentes Sociais.
101
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