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longo período de institucionalização e, em alguns casos, com pouco
convívio familiar, estejam preparados para ele.
Atualmente, mudanças nessa realidade institucional estão sendo
anunciadas.
A pesquisa de Arruda (2006), tendo como categoria central de
análise o cotidiano, versa sobre o processo de reordenamento
institucional do Abrigo Casa Coração de Maria. Ele o evidencia como um
espaço de diversidade e pertencimento e mostra como, na política de
atendimento à criança e ao adolescente, o trabalho desenvolvido em
rede possibilitou a duas adolescentes desse abrigo, Flavia e Jéssica,
condições para a construção de seus projetos de vida após o
desabrigamento, conforme relato a seguir dessas adolescentes:
Minha vida é muito corrida (...) Saindo de casa vou para o serviço,
ralo pra caramba, depois saio do serviço e vou para a faculdade (...)
Depois saio da faculdade, vou para casa, tenho que arrumar o
remédio do nenê, tenho de fazer as coisas (...) Hoje eu dou aula (...)
hoje eu sou professora lá na creche/EGJ (...) ter feito cursos, como
eu fiz lá no abrigo. Aprender coisas hiper-legais, como viajar,
conhecer a praia, conhecer tudo isso: o universo (...) Você conhece o
outro mundo e se forma... (ARRUDA, 2006, p. 174).
Bom fora do abrigo você acaba tendo muito mais responsabilidade
(...) Porque você chega lá fora, não é tão fácil quanto a gente
imagina. É que você tem que se preocupar com as roupas do dia. A
questão do trabalho. Eu vou para o balé até de domingo. Além de eu
dar aulas para eles, em público, eu tenho que arrumar os tapetes,
verificar o palco se está tudo OK, o som tudo... para que tudo saia
perfeito na hora que o som começar, as crianças começarem a
dançar. Saber que elas não vão se machucar porque o aquecimento
que eu dei foi ótimo, maravilhoso. Eu também tenho a
responsabilidade de ser assistente de uma professora. Eu ajudo a
montar as coreografias para ela, digo se a música está legal ou não,
e isso é passado para a coordenação e tem um relatório sobre mim
(...) Sei o que eu faço da minha vida... (ARRUDA, 2006, p. 176).