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professores se assustavam um pouco. Ela, por exemplo, utilizava o método
sintético
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e a Cartilha Fontes. Lecionou do 1º ao 4º ano. Os alunos eram atendidos
das 8h00 às 12h00, somente no turno matutino. O uso do tinteiro, quatro crianças
dispostas por cada carteira, o mesmo professor lecionando do 1º ao 4º ano, por um
período de quatro horas, mantivera-se igual à forma adotada na década de 1930.
Lídio Leopoldo
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, ex-aluno, descreve a década de 1940 e início de 1950 como
um tempo no qual 95% da população local era nativa e vivia da pesca e da
agricultura de subsistência; tempo dos engenhos de açúcar e farinha de mandioca,
das carretas puxadas a cavalo, que vendiam peixe de porta em porta, chamando os
moradores ao toque da buzina feita de chifre de boi. Um tempo em que não havia
energia elétrica, poucos automóveis, e a lua iluminava os terreiros. Para ele, a
escola significava um ponto de encontro entre as crianças da localidade e servia
para aprender a ler e a escrever. A importância dada à escola como espaço de
inserção social só foi percebida quando foi trabalhar em Santos, cidade litorânea do
estado de São Paulo, em 1961, aos quinze anos. Fato que demonstra a diferença
entre os conhecimentos desenvolvidos na escola em que estudou e aqueles
ministrados nos centros urbanos.
estrangeiros, devido à infra-estrutura e às belas paisagens. Dona Dilma lecionará em 1957, no Grupo
Escolar Osmar Cunha, em Canasvieiras. Aposenta-se 1982. Possuía, em 1944, apenas o ensino
primário; a formação complementar só ocorreria na década de 1950, através de curso ministrado por
Elpídio Barbosa, diretor de Instrução Pública na década de 1940. Entrevista concedida a Virgínia
Pereira da Silva de Ávila e a Angela Beirith, em 12/5/08.
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MORTATTI, Maria Rosário Longo. História dos métodos de alfabetização no Brasil. Em
conferência realizada em 2006, a autora esclarece sobre o método sintético. Até o final do Império
brasileiro, o ensino carecia de organização e as poucas escolas existentes eram, na verdade, salas
adaptadas, que abrigavam alunos de todas as “séries” e funcionavam em prédios pouco apropriados
para esse fim; eram as “aulas régias”, já mencionadas. Em decorrência das precárias condições de
funcionamento nesse tipo de escola, o ensino dependia muito mais do empenho de professor e dos
alunos para subsistir. O material de que se dispunha para o ensino da leitura era também precário,
embora na segunda metade do século XIX houvesse aqui algum material impresso sob a forma de
livros para fins de ensino de leitura, editados ou produzidos na Europa. Habitualmente, porém,
iniciava-se o ensino da leitura com as chamadas “cartas de ABC" e depois se liam e se copiavam
documentos manuscritos. Para o ensino da leitura, utilizavam-se, nessa época, métodos de marcha
sintética (da "parte" para o "todo"): da soletração (alfabético), partindo do nome das letras; fônico
(partindo dos sons correspondentes às letras); e da silabação (emissão de sons), partindo das
sílabas. Dever-se-ia, assim, iniciar o ensino da leitura com a apresentação das letras e seus nomes
(método da soletração/alfabético), ou de seus sons (método fônico), ou das famílias silábicas (método
da silabação), sempre de acordo com certa ordem crescente de dificuldade. Quanto à escrita, esta se
restringia à caligrafia e ortografia, e seu ensino, à cópia, aos ditados e à formação de frases,
enfatizando-se o desenho das letras. Disponível em < http:// portal.mec.gov.br/seb > Acesso em: 10
de jun. de 2008.
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Lídio Leopoldo, nascido em 7/08/1944, estudou na Escola Isolada Municipal da Vargem Pequena
em meados de 1950. Sua professora chamava-se Rosa Lucia de Brito. Entrevista concedida a
Virgínia Pereira da Silva de Àvila, em 3/3/08.