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Campos Bicudo
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. O nome desse bandeirante está associado, inextricavelmente, ao
início do desbravamento sistemático do oeste, levado a cabo pelos habitantes da Vila de
Piratininga, homens mateiros por excelência.
Na obra Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil, Francisco de Assis
Carvalho Franco escreveu que Manuel de Campos Bicudo:
...Realizou vinte e quatro entradas nos sertões do rio Grande e do rio
Paraguai, sendo três como soldado e vinte e uma como capitão-mor
da tropa. Das suas expedições sabemos que cerca de 1671, com seus
filho Antônio Pires de Campos e sempre à caça do indígena,
vislumbrou as minas do celebrado Martírios
[...] Em 1675 ganhava
ele o norte de Mato-Grosso, chefiando temerária algara contra os
selvícolas. Em 1679, andava no Rio Paraguai... (FRANCO, 1985, p.
73).
Antonio Pires de Campos cresceu acompanhando as jornadas sertanejas de seu
pai, Manuel de Campos Bicudo
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. A célebre narrativa da Serra dos Martírios, como se
depreende dessa citação de Franco, teria surgido de uma dessas incursões de Bicudo no
oeste, quando seu filho teve a oportunidade de brincar com granetes do abundante ouro
que existia na região, além de haver contemplado a mítica Serra dos Martírios. Tempos
depois desse alegado avistamento por Pires de Campos, propalou-se cada vez mais a
narrativa acerca de uma maravilhosa montanha, resplandecente e brilhante, a sinalizar o
ponto onde jaziam fantásticas riquezas minerais.
Desta forma, na última década do século XVII, circulava entre os sertanistas o
mito de:
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Aqui a ressalva quanto aos exploradores anteriores, remontando até o século XVI.
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Numa dessas jornadas, acorreu, ao acaso, em pleno sertão oeste, o encontro da tropa de Manuel de
Campos Bicudo com a expedição de Bartolomeu Bueno da Silva (o Anhanguera), que trazia consigo
seu filho homônimo, ainda adolescente, que seria conhecido no futuro como o segundo Anhanguera.
Nessa oportunidade, o filho de Campos Bicudo – Antônio Pires de Campos –, então também bem jovem,
travou amizade com o segundo Anhanguera, ainda um bandeirante mirim. Estes dois jovens, embora não
se associassem futuramente em empreitadas sertanistas, foram os dois maiores propaladores da existência
da Serra dos Martírios, que se ergueria incógnita em algum lugar do oeste, nas matarias primitivamente
perlustradas por seus respectivos pais, Manuel de Campos Bicudo e Bartolomeu Bueno da Silva, o
primeiro Anhanguera. Sobre o avistamento da Serra dos Martírios, bem como sobre o encontro das duas
bandeiras em pauta, nos sertões do oeste, escreveu Basílio de Magalhães: “Manuel de Campos Bicudo
fizera 24 entradas no sertão, devassando a vasta zona que se estende desde o Planalto dos Parecis até a
parte meridional do Paraguai. Na que realizou [...] com a mira de conquistar os índios serranos levou
apenas 60 homens, além do filho Antônio Pires de Campos, de 14 anos de idade. Após muitos meses de
viagem [...] se lhes deparou uma serra, a que, por desenhos naturais observados nos penhascos e
semelhantes aos símbolos da paixão de Cristo, deram o nome de Martírios, outra célebre lenda na nossa
história, análoga à das Minas de Prata, até hoje sem descobridor [...] lá, no recesso do sertão [...] com eles
foi dar a bandeira do primeiro Anhanguera [...] da qual fazia parte o filho, então de 12 ou 13 anos de
idade...” (MAGALHÃES, 1944, p. 173). Esses dizeres de Magalhães, além de abordar o encontro das
duas bandeiras, bem como a lenda dos martírios, auxiliam a reflexão acerca da grande área percorrida por
essas expedições no oeste, abrangendo regiões não apenas pertencentes a Mato Grosso do Sul, mas
também ao Paraguai e à Goiás.