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FACULDADE DE LETRAS/ UFRJ
LUCIANA DE ALBUQUERQUE DALTIO VIALLI
A REDUPLICAÇÃO NO BABY-TALK:
UMA ANÁLISE PELA MORFOLOGIA PROSÓDICA
Rio de Janeiro
2008
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A REDUPLICAÇÃO NO BABY-TALK:
UMA ANÁLISE PELA MORFOLOGIA PROSÓDICA
Luciana de Albuquerque Daltio Vialli
VOLUME ÚNICO
Dissertação de Mestrado apresentado ao
Programa de Pós-Graduação em Letras
Vernáculas, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre
em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).
Orientador:
Prof. Dr. Carlos Alexandre Gonçalves
Rio de Janeiro
Agosto de 2008
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Nº 96 VIALLI, Luciana de Albuquerque Daltio
A Reduplicação no Baby-talk: uma Análise pela Morfologia Prosódica
Dissertação (Mestrado em Letras Vernáculas- Língua Portuguesa)- Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras.
Orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves
1. Reduplicação. 2 Morfologia Prosódica. 3. Letras – Teses
I. Gonçalves. Carlos Alexandre Victorio. (Orientador) II Universidade Federal
do Rio de Janeiro. Programa de Pós- Graduação em Letras Vernáculas. III A
Reduplicação no Baby-talk.
CDD:
A Reduplicação no Baby-talk:
Uma Análise pela Morfologia Prosódica
Luciana de Albuquerque Daltio Vialli
Orientador: Professor Doutor Carlos Alexandre Gonçalves
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras
Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).
Examinada por:
_____________________________________________________
Presidente, Prof. Doutor Carlos Alexandre Gonçalves
_____________________________________________________
Profa. Doutora Christina Abreu Gomes - UFRJ
_____________________________________________________
Profa. Doutora Carmen Teresa Dorigo - UFRRJ
_____________________________________________________
Prof. Doutor João Antônio de Moraes – UFRJ, Suplente
_____________________________________________________
Prof. Doutor Mauro José Rocha do Nascimento – CEFET, Suplente
Rio de Janeiro
Agosto de 2008
SINOPSE
Estudo sobre o fenômeno da Reduplicação na aquisição da
linguagem em português: situações de Baby-talk. Análise
morfo-prosódica, baseada nas noções de molde e
circunscrição prosódica.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, ao meu orientador, professor doutor Carlos Alexandre
Gonçalves, pelo conhecimento transmitido, por toda paciência e tempo dedicado a mim,
pelo incentivo e apoio durante esses anos de convivência e, sobretudo, por acreditar na
minha capacidade, mesmo quando até eu duvidava, trazendo-me forças para prosseguir nos
momentos difíceis.
Agradeço ao meu marido, Alex, pela compreensão nos momentos de minha
ausência, pela ajuda nos momentos de dificuldade e pelo apoio incondicional aos meus
projetos, por estar comigo em todas as horas em que precisei.
Quero agradecer também à professora doutora Maria Lúcia Leitão de Almeida pelas
palavras de incentivo nas horas de dificuldade e pela injeção de ânimo dada sempre que
necessário.
Agradeço a todos os informantes que contribuíram para a formação do corpus
recolhido durante o período de pesquisa, pois sem eles nada teria sido possível.
Quero agradecer, ainda, ao professor doutor Leo Wetzels e à professora doutora
Giovana Bonilha pelas valiosas contribuições dadas ao trabalho durante o III Congresso
Internacional de Fonologia.
RESUMO
VIALLI, Luciana de A. D. A Reduplicação no Baby-talk: uma Análise pela Morfologia
Prosódica. Dissertação de Mestrado em Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Universidade
Federal do Rio de Janeiro, 2008.
A presente dissertação analisa o fenômeno da Reduplicação no português brasileiro
em situações de baby-talk com base na Morfologia Prosódica (McCARTHY & PRINCE,
1990 e 1993), numa abordagem que envolve estratos derivacionais e baseada na Morfologia
Não-concatenativa. A Reduplicação é um fenômeno visto como marginal em português,
apesar de seu recorrente emprego em diversas línguas naturais. Logo, o primeiro
esclarecimento feito neste trabalho diz respeito à própria definição de Reduplicação e, em
seguida, à verificação de seu constante uso na linguagem verbal humana.
O modelo selecionado para a análise desse fenômeno foi desenvolvido a partir dos
avanços da Fonologia Não-Linear e é baseado nos conceitos de molde e circunscrição
prosódica, indo além de operações aglutinativas e provando que os moldes envolvidos no
processo acessam primitivos prosódicos e devem, portanto, respeitar as condições de boa-
formação. A Morfologia Prosódica prevê a atuação de filtros sobre um molde para formar
uma base.
Os principais pontos do processo são indicados durante a análise dos dados,
recolhidos entre adultos e crianças em fase de aquisição da linguagem. Dessa forma, são
mostradas as condições de boa-formação atuantes na Reduplicação no baby-talk, assim
como a importância da sílaba tônica para a atuação da circunscrição prosódica positiva, e
toda a trajetória que leva à obtenção das cinco bases formadas durante o processo: 1ª BASE
»CV, BASE »CVV, 3ª BASE »CV.CV, BASE CV.CVV e BASE »CVC.CV. Ainda, é
demonstrado como o processo de Reduplicação pode fornecer análises adequadas para fatos
polêmicos da fonologia do português, como, por exemplo, a geminação de /¯/, proposta por
Wetzels (2000).
ABSTRACT
VIALLI, Luciana de A. D. A Reduplicação no Baby-talk: uma Análise pela Morfologia
Prosódica. Dissertação de Mestrado em Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Universidade
Federal do Rio de Janeiro, 2008.
The present paper analyzes the Reduplication of the Brazilian Portuguese in baby-
talk situations based on Prosodic Morphology, (McCARTHY & PRINCE, 1990 e 1993), in
an approach that involves derivational strata and based on Nonconcatenative Morphology.
The Reduplication is a marginal phenomenon in Portuguese, despite its recurrent usage in
several natural languages. Therefore, the first clarification concerns the definition of
Reduplication, and then, the verification of its constant usage in the human verbal language.
The model selected for the analysis of this phenomenon was developed from the
improvements of the Nonlinear Phonology. It is based on the template concepts and
Prosodic Circumscription that goes beyond the agglutinative operations, proving the
templates involved in the process access primitive prosodic and must, ergo, respect the
Well-formedness Condictions. The Prosodic Morphology presupposes the operation of
filters under a template to create a basis.
The major points in the process are indicated during the data analysis collected from
adults and children in the language acquisition phase. Therefore, the conditions of good
formation presented in the baby-talk Reduplication are indicated, as well as the importance
of the stressed syllable for the action of the positive prosodic circumscription. The course
takes to the obtention of the five bases formed during the process are: BASE »CV,
BASE »CVV, BASE 'CV.CV, BASE CV.CVV e BASE 'CVC.CV. Moreover, it
demonstrates how the process of Reduplication provides adequate analysis for polemic
facts of the Portuguese Phonology, for instance, the germination of /¯/, proposed by
Wetzels (2000).
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO..............................................................................................................10
2 – SOBRE A REDUPLICAÇÃO .......................................................................................13
2.1 – Reduplicação: breve definição como base na noção de molde esqueletal ..............13
2.2 – Caráter Marginal da Reduplicação nas línguas naturais e em português................23
2. 3 – A Reduplicação em Português................................................................................24
2.4 – Baby-talk (BT).........................................................................................................28
3 – QUADRO TEÓRICO ADOTADO: A MORFOLOGIA PROSÓDICA........................30
3.1 – Bases da Morfologia Prosódica...............................................................................30
3.2 – Morfologia Prosódica: histórico e fundamentos......................................................37
4 – A REDUPLICAÇÃO NO BABY-TALK EM UMA ANÁLISE MORFO-PRODICA..48
4.1 – Metodologia e Recolha de Dados............................................................................48
4.2 – Dificuldades Enfrentadas.........................................................................................53
4.3 – Análise de Dados.....................................................................................................55
4.4 - Análise de Casos Excepcionais................................................................................83
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................86
6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:...........................................................................89
ANEXO 1.............................................................................................................................92
ANEXO 2.............................................................................................................................93
ANEXO 3.............................................................................................................................94
ANEXO 4.............................................................................................................................95
ANEXO 5.............................................................................................................................96
10
1 – INTRODUÇÃO
A Reduplicação é um fenômeno do português pouco analisado por possuir status
marginal dentre os processos de formação de palavras. Através de consulta na literatura
tradicional, pôde-se perceber que tal fenômeno não é tratado adequadamente, sendo muitas
vezes confundido com processos distintos, como a Composição. Neste trabalho, um tipo
específico de Reduplicação é focalizado: a Reduplicação no baby-talk (mamadeira
dedera, boneca
neneca, iogurte
guguti, xampu
pupu, panela
nenela, papel
pepéu etc). Esse fenômeno ocorre na interação de adultos com crianças pequenas (baby-
talk) e também é freqüentemente empregado por crianças em fase de aquisição de
linguagem.
A Reduplicação é um tipo de fenômeno que compõe a lista dos processos não-
concatenativos (MCCARTHY, 1981), ou seja, fenômenos que demandam, conjuntamente a
uma análise morfológica, informações fonológicas durante o processo de formação de um
vocábulo. Dessa forma, neste trabalho recorremos a um modelo que conta de
dispositivos morfológicos e prosódicos para consolidar a análise: a Morfologia Prosódica
(MCCARTHY & PRINCE, 1998).
Os principais objetivos do presente trabalho são os seguintes:
(1) Definir apropriadamente a Reduplicação, revendo definições anteriores;
(2) Traçar as regularidades envolvidas no processo;
(3) Determinar como se a atuação da circunscrição prosódica e que características estão
envolvidas no mapeamento de segmentos;
11
(4) Determinar quais os filtros, encarregados das condições de boa-formação, são atuantes
no processo;
(5) Definir o modelo do Reduplicante;
(6) Definir os critérios que regulam a cópia.
De modo a dar conta dos objetivos acima, o trabalho está organizado da seguinte
maneira: no capítulo 2 , que foi dividido em 4 partes, o fenômeno da Reduplicação é tratado
em seus aspectos mais gerais. Na primeira seção 2.1, são indicados os aspectos da
Morfologia Não-concatenativa relevantes ao processo, evidenciando sua ocorrência e
características em outras línguas naturais, assim como a formação de moldes esqueletais.
Em 2.2, o caráter marginal da Reduplicação é sucintamente apresentado, ao lado das
características que o definem como um processo não-concatenativo. Na terceira parte do
capítulo 2.3, o fenômeno da Reduplicação em língua portuguesa é finalmente discutido,
começando com as definições prescritivas para, em seguida, apresentar nova definição e
divisão, tendo em vista os vários tipos de Reduplicação observados em português. Em 2.4,
o discurso conhecido como Baby-talk é definido, posto que o alvo da análise é a formação
de palavras reduplicadas no âmbito desse tipo de interação lingüística.
O modelo teórico adotado para a análise da Reduplicação no baby-talk é abordado
no capítulo 3. Em 3.1, as bases da Morfologia Prosódica são explanadas: representações
fonológicas independentes, camadas paralelas e níveis de representação diversos. Ainda
nessa seção, são definidas as Condições de boa-formação, responsáveis pela atuação dos
filtros e os devidos ajustes nas formas, durante a derivação. Em 3.2, o histórico da
Morfologia Prosódica é retomado, desde sua base na Fonologia Autossegmental.
12
Na primeira seção 4.1 do capítulo 4, é apresentada a metodologia aplicada para o
desenvolvimento do trabalho, assim como é detalhado o processo de recolha de dados. A
seguir, em 4.2, são apontadas as maiores dificuldades enfrentadas durante a pesquisa e os
principais empecilhos encontrados na execução do trabalho. Em 4.2 e 4.3, é feita a análise
dos dados recolhidos e são apresentadas as regularidades do processo. Nessas seções, os
diferentes casos encontrados são divididos em grupos e analisados a partir de exemplos
representativos de cada situação envolvida. Mostramos, neste capítulo, que a Reduplicação
pode trazer à tona importantes questões da gramática fonológica da língua, como a idéia de
que a nasal palatal é uma consoante geminada em português.
13
2 – SOBRE A REDUPLICAÇÃO
Neste capítulo, descrevemos o fenômeno da Reduplicação, observando os principais
significados que se manifestam, nas nguas do mundo, através desse tipo “especial” de
afixação (Gonçalves, 2004). Esse processo foi central para debates sobre morfologia não-
concatenativa em muitas línguas, assim como para o modelo teórico aqui adotado a
Morfologia Prosódica, o que justifica as descrições a seguir apresentadas. Ainda neste
capítulo, apresentamos os diversos casos de Reduplicação que aparecem em português,
para, por fim, justificar o “recorte” aqui efetuado.
2.1 – Reduplicação: breve definição como base na noção de molde esqueletal
A Reduplicação é conhecida como um fenômeno não-concatenativo de formação de
palavras, através do qual uma espécie de afixo é produzida por meio da cópia de material
fonológico da base. Embora tal operação morfo-fonológica seja bastante comum nas
línguas naturais, ela ainda é vista como um processo marginal de formação de palavras em
muitas delas, como é o caso do português.
O fenômeno por meio do qual se repete todo o vocábulo ou parte dele para produzir
uma nova palavra é percebido com muita naturalidade em diversas línguas. Geralmente, a
Reduplicação é empregada com o intuito de expressar conceitos como distribuição,
pluralidade, repetição, atividade recorrente, continuidade, acréscimo de tamanho e maior
intensidade. Dessa forma, a Reduplicação é usada em muitos idiomas e dialetos como
mecanismo derivacional ou flexional.
14
O tipo de Reduplicação observado neste trabalho (em situações de baby-talk) não
apresenta acréscimo ou mudança de significado, se comparados base e produto. Entretanto,
existem outros tipos de Reduplicação em língua portuguesa que possuem essa
característica, como o processo envolvido com a cópia de bases verbais (quebra-quebra,
mata-mata, bate-bate).
Com o propósito de ilustrar a naturalidade de emprego do fenômeno em questão,
Katamba (1990: 181) seleciona diversos exemplos em nguas naturais. Alguns desses
exemplos estão reproduzidos abaixo, com o objetivo de demonstrar que, embora seja
considerado um processo marginal em português, a Reduplicação é um fenômeno bastante
corrente nas línguas do mundo:
(1.1) Plural de Nomes em Papago
SINGULAR PLURAL
bana ‘coiote’ baabana
tini ‘boca’ tiitini
kuna ‘marido’ kuukuna
Como se pode perceber, o plural de nomes em Papago é produzido através da
formação de um prefixo que copia a primeira sílaba do nome no singular e, em seguida,
alonga a vogal copiada.
15
(1.2) Verbos – Envolvendo um participante
(a) -pik ‘toque’
-pipik ‘toque repetidamente’
(b) guyon ‘zombar’
guguyon zombar repetidamente’
(1.3) Verbos – Envolvendo mais de um participante
(a) wu ‘morrer’
wuwu ‘morrer numerosamente’
(b) bu ‘quebrar’
bubu ‘quebrar várias coisas’
Nesses dois exemplos, a Reduplicação expressa freqüência ou repetição de um
evento ou ação, ou seja, manifesta o aspecto iterativo
1
. Em (1.2.a) e (1.2.b), temos
exemplos do Tzeltal e do Sudanês, respectivamente. Nesses casos, o processo envolve
apenas um participante. em (1.3), ambos exemplos do Twi, a mesma ação repetida
envolve mais de um participante.
A Reduplicação pode expressar intensidade ou atenuação em uma mesma língua,
como se observa nos exemplos a seguir, em (2.a) e (2.b), do Thai, também extraídos de
Katamba (1990: 182):
1
O aspecto iterativo também pode ser percebido na Reduplicação de bases verbais em língua portuguesa,
como detalharemos mais adiante.
16
(2) Reduplicação indicando intensidade e atenuação
(a) dii ‘ser bom’
diidii ‘ser extremamente bom’
(b)
kbb
‘velho’
kbb- kbb
‘idoso’
Em (2.a), a Reduplicação foi empregada com o intuito de indicar intensidade; no
exemplo (2.b), foi utilizada com o objetivo de atenuar o significado da palavra ‘velho’,
funcionando, portanto, como um eufemismo. Com esse pequeno corpus, fica comprovado
que a Reduplicação realmente envolve cópia de elementos da base e que tal fenômeno é
empregado com diversas funções em rias línguas naturais. No entanto, é importante
determinar o que exatamente pode ser copiado nesse processo.
Em um primeiro momento, poderíamos afirmar que o elemento copiado na
Reduplicação sempre envolve um constituinte interpretado como um morfema, uma sílaba
ou uma palavra, como acontece na maioria dos casos. A Reduplicação total é um bom
exemplo disso, como exposto abaixo, em dados do Maori (cf. Katamba, 1990: 183):
(3) Reduplicação total em Maori
a) mano
reo
‘mil’
‘voz’
manomano
reoreo
‘inumerável’
‘conversa’
b) ako
kimo
patu
‘aprender’
‘piscar’
‘matar’
akoako
kimokimo
patupatu
‘consultar em conjunto’
‘piscar repetidamente’
‘matar tudo’
c) mate
wera
‘doente’
‘quente’
matemate
werawera
‘doentio’
‘caloroso’
17
Nos exemplos acima, a Reduplicação é total e pode expressar informações distintas.
Em (3.a), a Reduplicação total com nomes indica aumento; em (3.b), o mesmo fenômeno,
agora com verbos, expressa repetição; em (3.c), o significado expresso pela Reduplicação
com adjetivos é atenuativo. Esses são casos de Reduplicação considerados clássicos, que
o processo copia constituintes morfológicos.
No entanto, há casos em que a cópia efetuada não é de um constituinte tipicamente
morfológico. É ainda no próprio Maori que podemos constatar casos desse tipo:
(4) Reduplicação Parcial em Maori
a) kimo ‘piscar’
kikimo ‘manter os olhos firmemente fechados’
b) nui ‘grande’
nunui ‘grandes’
c) moe ‘dormir’
momoe ‘dormir junto’
Em (4), constata-se a Reduplicação da primeira sílaba CV da palavra.
Coincidentemente, em (4.a), a primeira sílaba é exatamente constituída por uma consoante
e uma vogal, mas nos dados (4.b) e (4.c) isso não acontece. Nesses dados, nota-se que a
cópia acontece, mas a operação leva à separação dos constituintes da sílaba, excluindo as
vogais [i] e [e] do material copiado. Observa-se o mesmo fenômeno em outras línguas,
como na formação do plural em Quileute:
(5) Reduplicação em Quileute
qax ‘osso’
qaqax ‘ossos’
18
No exemplo (5), a cópia envolve uma seqüência CV inicial. O elemento qa é
copiado, deixando para trás o segmento <x>, o que resulta na separação da sílaba ‘qax’, da
qual não se aproveita a coda. Novamente, temos a cópia de um elemento que não é
constituinte morfológico na língua. Esse fenômeno também acontece na Reduplicação em
situações de Baby-talk em língua portuguesa, que veremos em detalhes mais adiante; nela,
o reduplicante envolvido no processo nem sempre copia a primeira laba integralmente.
Logo, fica evidenciado que, no processo de Reduplicação, nem sempre se efetua a cópia de
um morfema, uma sílaba completa ou uma palavra. Esse fato levanta outra questão: como a
Reduplicação pode ser, então, definida? O que explica a seleção de apenas determinados
segmentos da base?
Utilizando noções da Fonologia Autossegmental, podemos afirmar que a
Reduplicação é um processo de afixação de uma espécie de molde. Trata-se de uma camada
CV-esqueletal subespecificada que, quando preenchida, será anexada a uma base como um
afixo. Nesse caso, as propriedades sintáticas e amesmo semânticas – são especificadas,
mas não a parte fonológica, que é deixada incompleta. Para que ela seja preenchida, é
necessário o mapeamento de segmentos da base de acordo com as camadas C e V que
existirem como padrão a ser alcançado no processo. Logo, uma porção da representação
segmental da base é copiada, sendo a ela mesma anexada a camada subespecificada. Os
segmentos copiados podem ou não representar constituintes morfológicos da base, como
destacamos mais acima.
A subespecificação tem como objetivo principal garantir a economia: trata-se de
uma representação individual de algo que é geral e aparece em forma de regra. Essas regras
gerais para, nesse caso, a cópia de segmentos fônicos de uma base, evitam o provável
19
surgimento de, para cada cópia, a formação de uma lista com incontável número de
possibilidades.
Broselow & MacCarthy (1983: 27), propõem os princípios que regem a cópia de
elementos fônicos para um afixo subespecificado na Reduplicação, como se observa em
(6), a seguir.
(6) Princípios de mapeamento na Reduplicação
(a) Introdução de um afixo subespecificado (prefixo, sufixo ou infixo);
(b) Criação de uma cópia de segmentos fonêmicos separada da raiz ou base;
(c) Associação da cópia com a camada CV-esqueletal em relação de um-para-um, com
vogais ligadas a camadas V e consoantes, a camadas C. No caso de um prefixo, a
associação parte da esquerda para a direita e, no caso de um sufixo, ela parte da direita para
a esquerda;
(d) Finalmente, o apagamento de material fonêmico supérfluo ou de CV slots na camada
esqueletal que ficarem sem associação no fim do processo.
Esses princípios de mapeamento regem a formação de prefixos, sufixos e infixos na
Reduplicação. Vejamos os exemplos mais clássicos de cada tipo à luz de tais princípios:
(7) Reduplicação Prefixal em Agta (Filipinas)
(a) takki perna’
taktakki ‘pernas’
(b) uffu ‘coxa’
ufuffu ‘coxas’
20
A Reduplicação em Agta consiste num mecanismo para a formação do plural. O
processo não respeita a estrutura de constituintes morfológicos da base, pois tende a
desfazer a geminação existente, ao copiar apenas uma das camadas C, levando a uma
consoante travadora de sílaba, como em taktakki e ufuffu. É importante lembrar que uma
geminação se dá, nos termos da fonologia autossegmental, quando duas camadas são
ocupadas por um mesmo segmento. No caso em questão, as geminadas figuram na posição
de onset de uma sílaba e na de coda, de outra.
Logo, em nomes com a seqüência CVCCV, a primeira porção CVC é reduplicada,
como vemos em (7.a). quando a seqüência da base é VCCV, somente VC reduplica,
como em (7.b). Nesse caso, levando em conta os princípios de mapeamento expostos
acima, sabe-se que CV slots desgarradas na camada esqueletal são automaticamente
apagadas; isso explica a Reduplicação sem a primeira consoante em (7.b), já que uffu não
tem consoante inicial para ser copiada. Dessa forma, temos a validação de uma camada
esqueletal CVC para o processo. Abaixo, temos o esquema de cópia em (7.a) com mais
detalhes.
(8) Cópia em Agta
C
V
C
C
V
C
V
C- C
V
C
C
V
C
V
C- C
V
C
C
V
t a k i
t a k i
t a k i
t a
k t a k i
21
(9) Reduplicação Sufixal em Saho
(a) lafa ‘osso’
lafof ‘ossos’
(b) illa ‘primavera’
illol ‘primaveras’
(c) gaba ‘mão’
gabob ‘mãos’
Em Saho, o sufixo reduplicativo de plural é formado por uma camada esqueletal
parcialmente subespecificada. Nesse caso, uma vogal /o/ é sempre anexada à raiz da base
no lugar do /a/, sufixo formador de singular, seguida da cópia da última consoante
pertencente à raiz da base, ou seja, em Saho, o reduplicante tem a forma de uma camada VC
esqueletal, em que V corresponde à vogal /o/, como exemplificado em (9). Abaixo, em
(10), segue a representação de (9.a) com mais detalhes.
(10) Cópia em Saho
C V C
C V
C -V C
C V C V C
l a f
l a f o
l a f o f
(11) Reduplicação Interna em Samoano
2
(infixação)
(a) alofa ‘amar’
alolofa
(b) savali andar’
savavali
(c) maliu ‘morrer’
maliliu
2
Para a tradução no plural, seria também necessário o afixo identificador de pessoa verbal.
22
Acima, temos os raros exemplos de infixação feita por meio de Reduplicação. Nesse
tipo de Reduplicação, copia-se parte da base, inserindo-se, em seguida, o material fônico
copiado em forma de afixo. No caso do Samoano, o plural dos verbos é formado a partir de
material reduplicado, que pode ser um prefixo (verbos dissílabos) ou um infixo (verbos
trissílabos). No último caso, o infixo é uma estrutura CV subespecificada na camada
esqueletal, inserida antes da segunda sílaba da base, da qual é cópia. Para uma melhor
explanação, observem-se as formalizações abaixo:
(12) Cópia em Samoano
C V
C
V
C
V
C
V -C V-
C V
C
V
C
V
C
V
C
V
C
V
s a v a l i
s a v a
l i
s a
v a v a l
i
Fica claro, portanto, que várias formas de reduplicar segmentos, graças à
subespecificação envolvida no processo. No tipo de fenômeno analisado neste trabalho, a
Reduplicação em situações de baby-talk, também acontece uma prefixação a partir de uma
estrutura subespecificada, como será demonstrado no capítulo 4.
23
2.2 – Caráter Marginal da Reduplicação nas línguas naturais e em português
O fenômeno da Reduplicação encontra-se na lista dos processos marginais de
formação de palavras do português, não apenas por apresentar escassez de análises
lingüísticas e dificuldades em sua definição, mas também porque faz parte da Morfologia
Não-Concatenativa da língua (GONÇALVES, 2004). Os processos não-concatenativos
(MCCARTHY, 1981) não se enquadram totalmente ao padrão aglutinativo, baseado na
noção de “item”, tradicionalmente preferido nos estudos morfológicos de línguas naturais.
Tais processos não envolvem apenas informações morfológicas, mas também fonológicas
para sua execução, integrando primitivos de ambos os tipos. Logo, operações morfo-
fonológicas como a Reduplicação ampliam a noção de “item”, levando, nesse caso, a um
processo de Afixação Não-Linear (GONÇALVES, 2004). Esse processo da Reduplicação
pode ser entendido como misto, já que, a partir da cópia, verificamos seu status não-
concatenativo e no reduplicante afixado, no baby-talk um prefixo, percebemos mostras de
um modelo aglutinativo.
O reduplicante envolvido no padrão de Reduplicação neste trabalho contemplado é
uma estrutura vazia, subespecificada, que engatilha um processo automático de cópia dos
segmentos da base, comportando somente informações prosódicas. Para analisar tal
fenômeno, modelos teóricos como a Morfologia Prosódica (MACCARTHY & PRINCE,
1990), com uma abordagem não-linear, são extremamente relevantes.
Na literatura referente à Morfologia Prosódica (doravante MP), a Reduplicação tem
destaque, havendo diversos trabalhos a esse respeito, embora não em língua portuguesa, o
que demonstra a contribuição do estudo aqui desenvolvido.
24
2. 3 – A Reduplicação em Português
A Reduplicação é um fenômeno pouco analisado por possuir status marginal dentre
os processos de formação de palavras, como adiantamos acima. Através de uma consulta na
literatura de cunho prescritivo (LIMA, 2000; BECHARA, 1998 e CUNHA & CINTRA,
1985), percebemos que tal fenômeno não é tratado adequadamente, sendo muitas vezes
confundido com outros processos, como a Composição, por exemplo. Dessa forma, é
necessário:
(a) apresentar algumas análises normativas sobre o processo em questão e
(b) procurar desfazer os equívocos referentes a essa questão para dar curso à análise com
um objeto de estudo bem definido.
Focalizando o primeiro ponto, demonstrar o tratamento dado à Reduplicação nos
compêndios gramaticais, foram consultadas as gramáticas de Lima (2000), Bechara (1998)
e Cunha & Cintra (1985). No primeiro compêndio, o fenômeno da Reduplicação não
aparece na lista dos processos de formação de palavras; no entanto, o vocábulo “corre-
corre”, uma Reduplicação de base verbal, é indicado como resultado do processo de
Composição.
Na segunda obra, embora seja apresentada a Reduplicação, esta é indicada como o
fenômeno responsável pela formação de onomatopéias e, novamente, “corre-corre” é
25
apontado como uma Composição vocabular, assim como na primeira obra anteriormente
destacada.
No terceiro compêndio consultado, o referido processo não é mencionado,
apresentando o vocábulo reduplicado acima apontado como fruto de uma Composição.
Entretanto, uma importante observação que consta nessa gramática: o fato de que uma
palavra composta é formada por um Determinante (adjunto, modificador) e um
Determinado (núcleo, cabeça lexical). Nesse sentido, é preciso destacar que na palavra
”corre-corre”, apontada como composta em todas as gramáticas prescritivas consultadas,
não é possível depreender tal informação, que se trata, na verdade, de uma cópia fiel de
uma base e não, como estabelecido, de uma composição de vocábulos. A partir disso, é
possível perceber que uma confusão referente a essa questão, evidenciando, inclusive,
uma escassez de referência ao processo.
Tomando por base essas informações e tentando desfazer alguns equívocos, é
possível elaborar uma definição para a Reduplicação como processo formador de palavras.
Dessa forma, propomos que, para se caracterizar um processo como Reduplicação, é
preciso:
(i) reconhecer sincronicamente a base copiada e haver relação de
significado entre base e produto. Nesse caso, bebelo é uma
Reduplicação, porque a base cabelo é reconhecida sincronicamente. O
mesmo não acontece, por exemplo, com mamão, em que a
isolabilidade do suposto prefixo reduplicativo destruiria as relações de
26
significado no interior da palavra, uma vez que a noção de mão não
está contida em mamão;
(ii) ter o resultado do processo uma forma com função lexical ou
expressiva de avaliação (BASÍLIO, 1987), como ocorre,
respectivamente, em corre-corre, que denomina um evento, e em
Dedé, hipocorístico do antropônimo André, marcado pela expressão de
afeto;
(iii) que a forma resultante não tenha valor onomatopaico, o que
caracterizaria simplesmente a reprodução de um som e não uma cópia
feita a partir de uma base, como fonfom e auau. Essas formações são
casos de Reduplicação bem motivados onomatopaicamente, ao
contrário de bate-bate e pega-pega, entre outros.
Tendo definido o que é, de fato, uma Reduplicação, é preciso determinar as
possíveis formas que esse processo pode assumir. Dessa maneira, é possível dividi-lo em
quatro tipos, como proposto em Gonçalves & Albuquerque (2004), que rastrearam dados a
partir de fontes variadas, como, por exemplo, dicionários eletrônicos, como o Aurélio
(Ferreira, 2000) e o Houaiss (2001), e diferentes situações de interação oral:
(a) Reduplicação em início de palavra, utilizado, sobretudo, em
relações de parentesco: papai, mamãe, titio, vovó, vovô;
27
(b) Reduplicação no final de palavra, quase sempre vinculada à
expressão da intensidade: bololô, chororô;
(c) Reduplicação de base verbal: pega-pega, mata-mata, quebra-
quebra, bate-bate, puxa-puxa, pula-pula, cai-cai;
(d) Reduplicação em situações de baby-talk: pepeta, bebelo,
quequeta, cocoto, pipito, neneca, dedera, ninico, lilito.
Os tipos (a) e (b) são os menos produtivos, não havendo um volume considerável de
palavras desse tipo na língua. Os mais produtivos em língua portuguesa são (c) e (d). Em
(c), a base a partir da qual atua a cópia é um verbo, levando a uma mudança de classe e
especificação de significado. em (d), encontram-se formas utilizadas por crianças em
fase de aquisição da linguagem e por adultos que tentam reproduzir a fala infantil (o que
chamamos de situação de baby-talk). No presente trabalho, é feito um recorte: analisa-se o
padrão apresentado em (d), a Reduplicação no baby-talk, segundo um modelo teórico que
descreve com mais precisão a Morfologia Não-Concatenativa: a Morfologia Prosódica
(MCCARTHY & PRINCE, 1990 e 1993).
O fenômeno da Reduplicação é tratado, aqui, por meio de uma perspectiva que alia
princípios fonológicos e morfológicos, tratando a interface desses dois componentes da
Gramática. Para isso, foi preciso, portanto, traçar as regularidades do processo.
Em uma primeira análise, podemos perceber que o input envolvido nesse tipo de
Reduplicação é a forma realizada pelo adulto e o reduplicante apresenta-se como um
28
prefixo, para o qual a parte mais importante a ser copiada será a sílaba tônica do input.
Outro ponto importante para o processo de cópia é o onset da laba: reduplicantes sempre
apresentam ataque, priorizando sílabas CV (papato). Algumas vezes, podemos encontrar
sílabas terminadas em coda (CVC), que podem ser nasais ou vocálicas, como em
dindinha’ e ‘pepéu’, respectivamente.
Outro aspecto importante para a formação do output é o tamanho da palavra, que
a forma final será, no máximo, um trissílabo. O output final equivale, em significado, à
forma adulta e pode ser usado tanto pelas próprias crianças quanto pelos adultos que se
comunicam com elas. A apresentação mais detalhada dos diversos padrões silábicos será
feita em 4.4. Antes, porém, convém explicitar o que entendemos por baby-talk.
2.4 – Baby-talk (BT)
Segundo Crystal (1980: 38), o fenômeno denominado de baby-talk (também
conhecido como motherese ou caregiver speech) partiu de uma extensão nos estudos da
aquisição da linguagem, procurando sempre mostrar características distintivas no discurso
entre adultos e crianças.
Adultos, ao falar com crianças muito pequenas, ou mesmo mães, situação na qual é
mais comum o baby-talk, fazem uso de um tipo de linguagem altamente distintiva. No
entanto, o baby-talk não se caracteriza apenas pelo uso de determinada pronúncia, como
freqüentemente é descrito o caregiver speech; estruturas frasais simplificadas também são
contempladas no baby-talk, como quando um adulto completa uma sentença pronunciada
29
por uma criança, por exemplo: Papá brincá
Sim, papai vai brincar; ou como
exemplificado por Crystal em inglês, Dadda gone
Yes, daddy’s gone. Dessa forma,
Crystal
3
refere-se ao baby-talk como:
“Uma extensão nos estudos da AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM, no sentido
tradicional do termo, mostrando toda uma gama de características
LINGÜÍSTICAS DISTINTIVAS encontradas no discurso adulto endereçado a
crianças pequenas. Desse modo a Baby-talk inclui muito mais do que o uso
freqüentemente estereotipado de pronúncia e palavras (como doggie, /den/ para
then, etc.) e é primariamente caracterizado com referência ao uso de
ESTRUTURAS FRASAIS simplificadas e certos tipos de interação lingüística”.
(CRYSTAL, 1997, p. 38)
Logo, a Reduplicação na linguagem infantil é um tipo de baby-talk, posto que se
trata de um vocabulário altamente específico utilizado, sobretudo, em um discurso em que
um adulto se comunica com uma criança, esta estando em fase de aquisição da linguagem.
A partir desse tipo de linguagem, podemos perceber padrões prosodicamente bem
organizados, de forma que uma abordagem morfo-fonológica é a mais apropriada para dar
conta desse processo.
3
An extension in LANGUAGE ACQUISITION studies of the traditional sense of this term, to refer to the
whole range of DISTINCTIVE LINGUISTIC characteristics found in adult speech addressed to young
children. Baby-talk thus includes far more than the often stereotyped use of endearing pronunciations and
words (such as doggie, /den/ for then, etc.) and is primarily characterized with reference to the use of
simplified SENTENCE STRUCTURES, and certain types of linguistic interaction”. (CRYSTAL, 1997, p. 38)
30
3 – QUADRO TEÓRICO ADOTADO: A MORFOLOGIA PROSÓDICA
Neste capítulo, serão explicitadas as bases do modelo teórico aqui utilizado para a
análise da Reduplicação em situações de baby-talk. Para uma melhor apresentação da
Morfologia Prosódica, o capítulo descreve, primeiramente, as bases desse modelo na
Fonologia Autossegmental, valendo-se de exemplificações necessárias à compreensão do
paradigma em questão. Logo após, detalhamos os fundamentos básicos da Morfologia
Prosódica, tecendo considerações gerais sobre noções como moldes, circunscrições e
filtros.
3.1 – Bases da Morfologia Prosódica
A Morfologia Prosódica é um modelo que se desenvolve com base no aparato
teórico e no formalismo de outro, conhecido como Fonologia Autossegmental. Este, por
sua vez, é um modelo que descende diretamente da Teoria Fonológica Gerativa
(CHOMSKY & HALLE, 1968).
Segundo Katamba (1990), a Fonologia Autossegmental propõe que as
representações fonológicas consistem em partículas independentes, camadas paralelas e
níveis de representação (KATAMBA,1990: 154). Porém, muito embora essas camadas
sejam autônomas, elas acabam por interagir. Um exemplo pertinente é o acento, que não é
uma propriedade fonológica inerente a consoantes ou vogais, mas a elementos com
autonomia na palavra. Podemos ilustrar esse caso com alguns exemplos em português. Os
31
dados em (13) mostram que o acréscimo de sufixos promove a reaplicação da regra de
acento:
(13) Autonomia acentual no Português
Demo’crata Democra’cia
Pom’poso Pomposi’dade
Adje’tivo Adjeti’val
Katamba (1990: 155) ainda fornece um outro exemplo para comprovar essa
autonomia dos elementos prosódicos: o caso do tom em Luganda. Nesse dialeto, vigora
uma regra gramatical que, no caso do encontro de duas vogais, leva ao apagamento da
primeira delas. No entanto, o tom anteriormente atribuído à vogal deletada não é perdido,
como se pode perceber no exemplo em (14), abaixo, que apresenta as seguintes
convenções: H marca um tom alto; L marca um tom baixo; HL marca um falling contour
tone; LH marca um rising contour tone; e o espaço em branco marca uma sílaba sem tom.
(14) Autonomia tonal em Luganda
Camada
Segmental
K u s a E b y o K u s e: b y o ‘triturá-los’
Camada
tonal
L H L H L H L H
32
Em (14), a vogal final de kusa é deletada; entretanto, o tom pertencente a essa vogal
não se perde. Se o tom fosse uma propriedade inerente à vogal, ele se perderia com esse
apagamento. A preservação desse tom é, portanto, a prova de sua independência da vogal
na qual ele pode recair. Logo, fica clara a denominação desse modelo como Fonologia
Autossegmental, pois as representações fonológicas consistem em categorias, como acento,
tom, vogais e consoantes, divididas em camadas autônomas. No entanto, tais camadas não
são isoladas; ao contrário, interagem em estruturas hierárquicas complexas.
Para que a interação das categorias fonológicas aconteça, as camadas às quais
pertencem devem estar ligadas de alguma forma por uma espécie de força que as una
(KATAMBA, 1990: 156). Tal força de ligação é chamada de camada esqueletal (ou CV-
camada). Essa camada é a responsável por manter juntas diferentes camadas fonológicas,
como um livro faz com suas páginas. Assim, é dessa forma que acontece a associação entre
acento ou tom e vogais, por exemplo.
A camada esqueletal pode ser representada por X (Hyman, 1985) ou, como proposto
por Clements & Keyser (1983), por C e V para consoantes e vogais, respectivamente.
Ambas as representações são ilustradas abaixo, nos exemplos em (15):
33
(15) Representação da camada esqueletal
(A)
Camada
Esqueletal
X X X X X X
Camada
Segmental
a f i A f i
(B)
Camada
Esqueletal
V C V V C V
Camada
Segmental
a f i A f i
No entanto, deve-se lembrar que essa teoria não requer uma associação de um-para-
um de elementos em camadas diferentes, cada um pertencendo a uma única camada. Nesse
caso, um mesmo elemento prosódico pode ligar-se a várias camadas segmentais, assim
como também é possível que vários elementos estejam ligados a apenas uma camada.
Nesse sentido, existem tons com nomenclaturas diferentes para cada aplicação; eles são
chamados rising ou falling contour tones. Em (16), os exemplos são de Mende:
Camada
Tonal
H L L H
Camada
Tonal
H L L H
34
(16) Representação de rising e falling contour tones
(A)
K æ B b=ä=b
M b û M b a M a
H L H L
L H
(B)
kæ
‘guerra’
kæ
‘em guerra’
bblb
‘calças’
bblb
‘nas calças’
mbû ‘coruja’ mbûmà ‘na coruja’
mba ‘arroz’ mbamá ‘no arroz’
Nesses casos, podemos perceber que o morfema –ma não é associado a nenhum
tom. Isso quer dizer que a teoria permite que uma dada camada não esteja associada a
nenhuma outra. O morfema –ma acaba por receber, ao final do processo de sufixação do
qual faz parte, o último tom do radical por espraiamento.
No entanto, segundo Katamba (1990), esses diversos tipos de associações possíveis
não acontecem de forma desordenada. Apesar de algumas camadas estarem juntas na
produção da fala, como exemplificado acima, isso não acaba com a independência dos
elementos proposta anteriormente. Entretanto, tal questão nos leva a outra: existem
restrições que governam essas ligações? Certamente, esse tipo de conjunto de restrições
existe como parte da Gramática Universal; são os chamados Princípios de Boa Formação
35
(fonotáticos) ou WFC (Well-formedness Condictions condições de boa-formação) e estão
representados em (17).
(17) WFC (fonotático)
4
(a) Uma seqüência de autossegmentos deve estar ligada a uma série de elementos na
camada esqueletal que seja capaz de comportá-la;
(b) A associação dos segmentos deve ir do início ao fim da palavra, a menos que instruções
específicas sejam dadas na Gramática da língua para que se modifiquem. Autossegmentos
devem estar ligados a unidades que sejam capazes de suportá-los individualmente.
(c) As linhas de associação não devem se cruzar no processo de ligação.
É importante ressaltar que, ainda assim, violações a WFC podem surgir, mas, nesses
casos, as mesmas engatilham regras de reparação para sanar o problema. Deve-se ressaltar,
no entanto, que a melhor estratégia é sempre aquela na qual se utiliza um menor número de
regras de reparação possível.
Como demonstrado até aqui, originalmente a Fonologia Autossegmental ocupou-se
da análise do tom. Entretanto, posteriormente percebeu-se que essa abordagem poderia
estender-se a outros fenômenos fonológicos, como a harmonia vocálica e a harmonia nasal.
Katamba (1990) afirma que, geralmente, no léxico, toda vogal é associada a um
espaço V e toda consoante a um espaço C na camada esqueletal (isso pode ser observado
em (3-B)). Em Luganda, existem vogais e consoantes geminadas, que, se comparadas às
vogais breves e às consoantes simples, são mais longas e exigem maior força de articulação
4
Esses princípios são baseados em Pulleyblank (1986) e Archangeli (1983).
36
para serem produzidas. Consoantes geminadas surgem quando há mais de um espaço C
para um segmento consonantal simultaneamente. Da mesma forma, isso acontece com as
vogais, o que leva à violação à regra de associação de um-para-um exposta anteriormente:
quando mais de um espaço V para apenas um segmento vocálico, surge a geminação. O
surgimento das geminadas pode ser observado em (18).
(18) Surgimento das Geminadas em Luganda
(A) Consoantes Geminadas
C C V C V
t a tta t a ta
‘matar’ ‘vamos’
(B) Vogais Geminadas
C V V C V C V C V
s i g a siiga s i g a siga
‘pintar’
‘plantar’
37
3.2 – Morfologia Prosódica: histórico e fundamentos
Todas as inovações feitas pela Fonologia Autossegmental a respeito da organização
das representações fonológicas tornaram-se a matéria-prima do modelo adotado na presente
análise: a Morfologia Prosódica.
O fenômeno da Reduplicação no baby-talk é aqui analisado com base na Morfologia
Prosódica, numa abordagem que envolve estratos derivacionais. Indo além de operações
aglutinativas e comprovando que os moldes envolvidos no processo acessam primitivos
prosódicos e devem, portanto, respeitar as condições de boa-formação, o modelo em
questão prevê a atuação de filtros sobre um molde para formar uma base.
Segundo McCarthy & Prince (1998), a Morfologia Prosódica nasce no estudo de
línguas com profunda interação de constituintes fonológicos com morfológicos. Nesse
sentido, pode-se afirmar que estruturas prosódicas têm papel relevante na construção de
moldes e na formação da circunscrição morfológica.
Segundo tal premissa, definem-se os princípios da Morfologia Prosódica:
(i) Hipótese geral da MP
Os moldes identificam a formação possível para determinados processos
morfológicos e são expressos por unidades prosódicas, como mora (µ), sílaba (σ), (Σ) e
palavra prosódica (ω);
38
(ii) Satisfação do Molde
Processos morfológicos atuam em favor de um molde específico. O molde deve
satisfazer obrigatoriamente às condições de boa formação (restrições), determinadas pelos
princípios da prosódia universalmente definidos e levando em conta as nguas específicas
às quais forem aplicadas.
(iii) Circunscrição Prosódica
Processos morfológicos atuam sobre um domínio que pode ser identificado por
primitivos prosódicos. Dessa forma, operações morfológicas podem ser circunscritas
segundo critérios prosódicos e levando em conta também critérios morfológicos da língua
em questão.
A maioria dos trabalhos produzidos com base na Morfologia Prosódica adota o
conceito morfológico de morfema-base, amplamente difundido sob a denominação do
modelo item-e-arranjo. Esse modelo teórico é baseado na conhecida hierarquia prosódica,
esboçada abaixo, em (19):
(19) Hierarquia Prosódica (SELKIRK, 1980)
Palavra Prosódica PrWd
Ft
Sílaba
σ
Mora
µ
39
Com isso, sabemos que a menor unidade prosódica é a mora, a partir da qual
formamos as sílabas e assim sucessivamente, até chegar à palavra prosódica no topo da
hierarquia. É exatamente pela diferença em termos moraicos que podemos estabelecer a
distinção entre labas leves e pesadas. De acordo com a teoria moraica, as sílabas podem
ser leves, sendo abertas e contando apenas uma mora, como em do (consoante + vogal
CV), ou pesadas, sendo fechadas ou contendo uma vogal longa, como em dor e paa,
respectivamente (CVC ou CVV). A ilustração em (20), abaixo apresentada, exemplifica
como se dá essa contagem:
(20) Sílabas em Teoria Moraica – Peso Silábico
LEVES PESADAS
σ σ σ
µ
µ µ
µ µ
d o
d o r
p a
O peso silábico é fundamental para determinar metricamente o tipo de pé. Dessa
forma, os pés são definidos moraica e silabicamente e divididos em três tipos distintos
(HEYES, 1991): (a) troqueus silábicos, (b) troqueus moraicos e (c) iambos, como apontado
em (21) a seguir.
40
(21) Padrões Acentuais (BISOL, 2005)
5
(a) Troqueu Silábico
É um dissilábico, com proeminência acentual à esquerda. Insensível ao peso
silábico, esse sistema acentual conta sílabas.
( *
.
)
σ σ
(b) Troqueu Moraico
Trata-se de um sistema sensível ao peso silábico, em que, a cada duas moras, forma-
se um com proeminência acentual à esquerda. Nesse caso, quando ocorre uma sílaba
pesada, ou seja, que já possua duas moras, também há a formação de um pé. Portanto, nesse
sistema, duas estruturas são possíveis:
( *
.
)
( * )
σ( σ(
σ#
(c) Iambo
Este é o sistema acentual mais singular, pois, embora também leve em consideração
o peso silábico, como o moraico, tem proeminência acentual à direita. Ele pode ser
representado pelas seguintes estruturas:
5
Como a autora está interessada em observar a posição da cabeça, são omitidas da representação as
informações acerca do peso das sílabas. Na apresentação a seguir, utilizaremos o símbolo ( para sílabas leves
e # para as pesadas.
41
(
.
*
)
( * )
σ( σ#
σ#
Dessa forma, percebe-se que um formado por apenas uma laba leve é barrado
pela teoria, evitando o surgimento de pés desgarrados. Isso é corroborado pela condição
geral de formação de pés, exposta em (22):
(22) Pés Binários: Pés são binários sob análise silábica ou moraica.
Ora, se de acordo com a hierarquia prosódica toda palavra prosódica deve ser
constituída de, no mínimo, um e, ainda, segundo a condição destacada em (22), afirma-
se que pés devem ser bimoraicos ou dissilábicos, isso quer dizer que toda palavra prosódica
deve conter, pelo menos, duas moras ou sílabas, sendo estas monomoraicas.
Segundo McCarthy & Prince (1998), a Reduplicação é um caso clássico para a
Morfologia Prosódica, no qual seus princípios são muito visíveis. Nesse tipo de fenômeno,
o material prosodicamente depreendido é uma cópia de segmentos da base, à qual o mesmo
será adicionado como uma espécie de afixo. Há exemplos clássicos da Reduplicação
analisados à luz do modelo em questão, como o caso do plural reduplicativo do Ilokano,
descrito em (23) a seguir. Nessa língua, um prefixo é adicionado à base para formar o
plural; entretanto, tal afixo é sempre uma sílaba pesada copiada da própria base.
42
(23) Reduplicação para formação de plural em Ilokano
kaldín ‘bode’
Kal-kaldín ‘bodes’
Púsa ‘gato’
Pus-púsa ‘gatos’
kláse ‘aula’
Klas-kláse ‘aulas’
Constata-se, com esse caso, que no Ilokano o molde a partir do qual se forma o
plural é sempre uma sílaba pesada, ou seja, bimoraica (σ
µµ
.) e que para tal formação é
irrelevante a complexidade do onset envolvido no processo (veja kal vs klas). Por essa
razão, esse pode ser considerado um caso clássico da Morfologia Prosódica, que,
segundo essa teoria, os moldes devem sempre ser definidos em termos autênticos da
prosódia, exatamente como o Ilkoano faz, ao definir como reduplicante uma sílaba pesada.
Outro ponto que torna esse caso ainda mais ilustrativo é o fato de o reduplicante tornar-se
um afixo, como na maioria dos casos envolvendo Reduplicação.
A Hipótese da Morfologia Prosódica, em conjunto com a Hierarquia Prosódica,
considera a existência de um sem número de moldes possíveis para a formação de um
reduplicante. A sílaba pesada do Ilokano, anteriormente analisada, é apenas um deles, pois
até mesmo nessa língua podemos encontrar outros casos de Reduplicação nas construções
morfológicas envolvendo moldes diferentes, como o caso da sílaba leve usada como molde
(veja o exemplo em 24). Isso contraria a idéia inicial de que toda Reduplicação envolve
simplesmente a cópia da primeira sílaba da base.
43
(24) Ilokano si + σµ ‘coberto com’
jyaket ‘jaqueta’
si-jya-jyaket ‘usando uma jaqueta’
pandilin saia’
si-pa-pandilin ‘usando uma saia’
Logo, levando em conta a satisfação ao molde, não será permitido, durante o
processo, o surgimento de segmentos que não tenham sido anteriormente selecionados pela
atuação da circunscrição prosódica. Entretanto, isso não quer dizer que não possa haver
material fônico a ser descartado presente no molde. Segmentos que não satisfazem as boas
condições de formação (restrições) podem estar presentes no molde; no entanto, os mesmos
sofrerão a atuação dos filtros.
Para uma melhor compreensão das instâncias envolvidas na Reduplicação, convém
deter-se ainda em seus princípios com mais detalhes e exemplos em português. Nesse
sentido, as análises feitas por Gonçalves (2004 e 2008) são importantes, posto que tratam
de fenômenos marginais em português, como o caso da Reduplicação aqui desenvolvido.
Dessa forma, sabe-se que a função selecionar os elementos mais indicados para uma
boa formação dos vocábulos, é dos filtros. Essas condições podem ser referentes ao
bloqueio de algum segmento no processo ou, até mesmo, à obrigatoriedade de outros.
Outro princípio da Morfologia Prosódica citado a circunscrição revela que
critérios prosódicos e morfológicos circunscrevem as operações morfológicas. É por meio
44
da circunscrição que é localizada uma seqüência prosódica determinada, sempre menor que
a base, através da função de parseamento (F).
Segundo McCarthy & Prince (1990), a circunscrição pode ser negativa ou positiva.
Circunscrição Negativa
Quando ativada, mapeia uma parte da palavra-matriz, apagando-a. É uma circunscrição que
envolve subtração dos segmentos mapeados, daí sua denominação como negativa. Logo, o
material aproveitado será aquele não circunscrito, como no exemplo a seguir.
(25) Circunscrição Negativa no Truncamento (GONÇALVES, 2008)
circunscrição
B A T E R I S T A
(B A T E R) + A BATERA
Esse caso de Truncamento em português é um exemplo de circunscrição negativa. O
Truncamento é um processo através do qual se encurta uma base com o intuito de expressar
carga emocional determinada; nele, o material circunscrito é subtraído. Aqui, a
circunscrição é ativada da direita para a esquerda com o objetivo de mapear um troqueu
moraico (-rista) e dissociar o onset da rima na segunda sílaba rastreada (r-is). O material
fonológico restante, formado após a atuação da circunscrição no Truncamento em
45
português, é aproveitado junto com o onset mencionado (bater-). A esse produto é
adicionada a vogal –a, tendo como forma final batera.
Circunscrição Positiva
Quando ativada, mapeia uma parte da palavra-matriz, selecionando-a. É uma circunscrição
que aproveita apenas os segmentos mapeados, rejeitando os que ficarem de fora. Um
exemplo típico desse tipo de circunscrição é encontrado na Hipocorização em português,
como destacado a seguir.
(26) Circunscrição Positiva na Hipocorização (GONÇALVES, 2008)
circunscrição
F E L I P E
A Hipocorização é o processo por meio do qual se formam nomes afetivos a partir
de antropônimos. No exemplo acima, o material circunscrito é aproveitado, gerando a
forma final Lipe. Nesse caso, a circunscrição mapeia um troqueu moraico, dissociando-o da
parte restante (Fe), já que o molde deve ter o formato da circunscrição.
É importante ressaltar que o processo pode não estar completamente terminado com
a produção de um molde. É nesse momento que os filtros podem atuar, no sentido de
corrigir um molde que esteja infringindo alguma condição de boa-formação (McCARTHY
& PRINCE, 1990). Portanto, pode existir um nível intermediário de representação nos
L I P E
46
processos, pois a diferença entre a forma de molde e a final significa a atuação dos filtros.
O esquema a seguir, extraído de Gonçalves (2008), demonstra como se a atuação dos
filtros.
(27) INPUT Circunscrição Prosódica
(Condições de Minimalidade)
Condições de Boa- molde
Formação
OUTPUT
Os pontos principais da Morfologia Prosódica (MP) podem ser resumidos no quadro
a seguir:
47
MP
Dispositivos de naturezas diferentes vão regular a gramaticalidade das formas
(circunscrição, filtro, restrições).
Condições de boa formação são invioláveis e atuam no molde, materi
al rastreado pela
circunscrição prosódica.
Há, pelo menos, três instâncias derivacionais:
Input palavra-matriz;
Molde material lingüístico aproveitado após a atuação da circunscrição prosódica
.
Ao molde podem ser ainda aplicados os filtros, caso haja a necessidade de satisf
azer
alguma condição de boa-formação;
Forma final produto final do processo.
Em casos de Reduplicação
, o material filtrado no molde constitui a base para o
acréscimo de reduplicante. Nesse caso, quatro instâncias são necessárias:
Input palavra-matriz;
Molde material lingüístico aproveitado após a atuação da circunscrição prosódica
e sujeito à atuação de condições de boa-formação;
Base material lingüístico filtrado pelas condições de boa-
formação e passível de
afixação;
Forma final produto final do processo.
48
4 – A REDUPLICAÇÃO NO BABY-TALK EM UMA ANÁLISE MORFO-PROSÓDICA
Como anteriormente exposto, a Reduplicação é um fenômeno clássico para a
literatura que enfoca os casos de não-concatenação morfológica. No português brasileiro, o
tipo de Reduplicação efetuado no baby-talk é analisado no presente capítulo com base nos
pressupostos da Morfologia Prosódica, um modelo chamado por Gonçalves (2004) de
transderivacional. Antes de apresentar a análise, descrevemos as estratégias metodológicas
adotadas.
4.1 – Metodologia e Recolha de Dados
A recolha dos dados, realizada em dois momentos específicos, foi feita, em sua
maioria, sob controle, dada a especificidade do tema. Para tanto, foram utilizadas três
fontes, fundamentalmente:
(a) Dados extraídos em situação de fala real, através do
acompanhamento de 15 crianças (8 do sexo feminino e 7 do sexo
masculino) em fase de aquisição da linguagem, de 2 a 4 anos de idade;
(b) Entrevistas com os pais e parentes que conviviam com as crianças
acompanhadas. A distribuição dos informantes foi articulada com o intuito
de controlar distintas variáveis sociais, como classe social (baixa e média-
49
alta) e escolaridade (ensino fundamental, dio e superior). Nessas
entrevistas, conduzidas sempre separadamente para que um informante não
tivesse acesso às respostas dos demais, foram feitas perguntas relacionadas
à produção verbal de cada criança, como:
i. Quais são as palavras que seu filho (a) costuma dizer?
ii. Como seu filho (a) costuma pronunciar essas palavras?
iii. Você sempre se comunica (ao pronunciar as palavras) com seu
filho (a) da mesma forma que o faz com adultos? Em caso
negativo, de que forma você pronuncia tais palavras?
iv. Existe alguma palavra ou frase que você pronuncie de maneira
diferente da normal ao se dirigir a seu filho(a)? Em caso
afirmativo, que palavras são essas e de que forma são pronunciadas
nesse contexto?
(c) Observação dos momentos de interação entre as crianças,
acompanhadas de seus respectivos pais e parentes, assim como também
com outras crianças;
(d) Testes propostos aos falantes com o intuito de verificar a
regularidade do fenômeno. Os referidos testes continham 3 questões a fim
de buscar dados distintos acerca do fenômeno, como (não necessariamente
na mesma ordem, ver Anexos 1, 2, 3 e 4):
50
i. Reconhecimento pelos falantes do fenômeno estudado;
ii. Criação de formas reduplicadas seguindo o modelo de baby-talk
para a observação de suas regularidades;
iii. Escolha da melhor forma reduplicada para a constatação de
entraves ao processo.
Em seguida a essa etapa do trabalho, verificamos, ainda, como se dava a escolha do
input, tendo como base o output do adulto, assim como também a escolha da forma final,
baseando-se na maior semelhança possível com a forma de input.
Outro ponto importante foi a constatação da situação prefixal do reduplicante e,
mais adiante, de sua forma esqueletal, ao copiar segmentos da base formada a partir de
determinadas condições de boa-formação. Para tanto, uma outra etapa extremamente
valiosa foi a análise das regularidades do fenômeno e a formulação dos filtros envolvidos
no processo.
Os aspectos metodológicos acima citados estenderam-se por dois momentos
específicos da análise: durante o período de Iniciação Científica, subvencionado pela
FAPERJ, e, mais tarde, no período de Pós-Graduação, agora com o auxílio do CNPq. A
recolha de dados, no segundo momento, foi necessária para, além de expandir o corpus
coletado anteriormente, elucidar algumas dúvidas a respeito de filtros envolvidos no
processo à luz de novo modelo e proposições (sobretudo aquela que envolve a presença da
consoante geminada). Dessa forma, estão divididos a seguir os dois momentos da pesquisa,
com seus respectivos detalhes a respeito da coleta de dados:
51
(A) Iniciação científica (FAPERJ)
Durante essa fase, foram coletados dados gerais para a análise, em sua maioria
reunidos sob controle através dos questionários anteriormente citados e aqui anexados.
Houve coletas feitas através do contato com crianças em idade de aquisição da linguagem e
observação junto aos pais e parentes para uma melhor identificação do baby-talk e
confirmação das estruturas obtidas nos testes propostos, como explicado. Nesse caso, a
pesquisa teve como foco a Teoria da Otimalidade. A distribuição dos informantes foi feita
da seguinte forma, nesse momento da pesquisa
6
:
BEBÊS (entre 2 e 4 anos)
SEXO . DE INFORMANTES
M 5
F 5
6
CLASSE SOCIAL: A média-alta
B baixa
ESCOLARIDADE: FUND fundamental
MED médio
SUP superior
52
Família
CRIANÇAS (5 informantes)
6 – 10 anos
CLASSE
SOCIAL
ESCOLARIDADE
S
E
X
O
TOTAL
A B
FUND
MED
SUP
M
2 1 1 2 -- --
F 3 2 1 3 -- --
ADOLESCENTES / JOVENS (10 informantes)
11 – 25 anos
CLASSE
SOCIAL
ESCOLARIDADE
S
E
X
O
TOTAL
A B
FUND MED SUP
M 3 2 1 1 1 1
F 7 3 4 4 2 1
ADULTOS (12 informantes)
+ 25 anos
CLASSE
SOCIAL
ESCOLARIDADE
S
E
X
O
TOTAL
A B
FUND
MED
SUP
M
6 4 2 2 2 2
F 6 4 2 2 2 2
IDOSOS (3 informantes)
+ 60 anos
CLASSE
SOCIAL
ESCOLARIDADE
S
E
X
O
TOTAL
A B
FUND
MED
SUP
M
1 -- 1 1 -- --
F 2 1 1 2 -- --
(B) Pós-Graduação (Mestrado)
Com o início da atual fase em que se encontra o trabalho, foi necessária uma nova
recolha de dados, pois percebemos que os filtros envolvidos no processo, agora focalizado
pela Morfologia Prosódica, precisavam ainda ser testados e confirmados. Com isso, foram
53
feitos novos questionários e entrevistas com pais e filhos para determinar os últimos
detalhes do processo. A distribuição dos informantes foi feita da seguinte forma, nesse
momento da pesquisa:
BEBÊS (entre 2 e 4 anos)
SEXO . DE INFORMANTES
M 2
F 3
Família
CRIANÇAS (5 informantes)
6 – 10 anos
CLASSE
SOCIAL
ESCOLARIDADE
S
E
X
O
TOTAL
A B
FUND
MED
SUP
M
5 3 2 2 1 2
F 5 3 2 2 1 2
4.2 – Dificuldades Enfrentadas
Durante o desenvolvimento do trabalho, houve muitas dificuldades a serem
superadas:
54
(1) A primeira e a mais evidente foi relativa ao acesso às crianças na fase
requerida pelo baby-talk. Ter acesso a crianças tão pequenas pode ser muito difícil,
inclusive em escolas e creches, onde o fenômeno podia ser observado amplamente
no ambiente de interação entre elas.
(2) A Reduplicação é um fenômeno muito específico na língua. Às vezes, era
necessário observar as crianças por um longo período de tempo para conseguir
apenas um dado, mesmo propondo algum teste de forma lúdica.
(3) As palavras envolvidas pertencem sempre ao universo infantil ou devem ser
passíveis de uso por crianças, sendo ouvidas em ambiente familiar. Isso acaba por
restringir bastante o número de possibilidades, o que nos leva a um corpus mais
limitado, já que não há muita diversidade.
(4) As classes de palavras envolvidas nesse tipo de Reduplicação são sempre
substantivos (a maioria) e verbos. Esses dados devem sempre estar contidos no
universo infantil, tornando-se mais um fator de limitação do corpus.
(5) A constituição das palavras envolvidas também restringe as possibilidades
de verificação do processo. A maioria das palavras envolvidas é trissilábica, com
predomínio do formato CV (consoante + vogal).
Como é possível perceber, coletar dados ou mesmo imaginar quais podem ser
considerandos nesse processo foi um empecilho. Dessa maneira, mesmo a formulação dos
testes para a obtenção de dados sob controle foi bastante dificultada, dadas as limitações
acima definidas. Apesar das dificuldades, chegamos a um corpus constituído de 57 formas
(anexo 5) e é com base nelas que a análise morfo-prosódica sedesenvolvida na próxima
seção.
55
4.3 – Análise de Dados
O processo de Reduplicação no baby-talk, como já definido nos capítulos anteriores,
faz parte de um tipo de discurso entre adultos e crianças em fase de aquisição da
linguagem. É um processo de formação de palavras visto como marginal, tratando-se de um
fenômeno que faz parte da Morfologia Não-concatenativa, pois acessa, além de
informações morfológicas, também informações fonológicas.
O referido processo tem como forma de input (palavra-matriz, forma derivante) a
saída fonética do adulto, ou seja, o input desse fenômeno não é uma forma subjacente, mas
uma realização fonética, como argumentaremos mais adiante. De acordo com a Morfologia
Prosódica (modelo aqui utilizado), o fenômeno envolve desde o rastreamento de um molde
por meio de uma circunscrição positiva, tipo de scanneamento que, como vimos em 3.2,
aproveita apenas os elementos mapeados, até o processo de Reduplicação através de uma
estrutura esqueletal subespecificada.
A circunscrição prosódica envolvida no processo tem como meta principal rastrear a
sílaba tônica, informação importante para a formação do molde, que, em seguida, sofrerá a
atuação dos filtros.
Nesse tipo de Reduplicação, o reduplicante é sempre uma forma prefixal e o output
final será equivalente, em significado, à forma adulta, ou seja, esse é um caso em que não
alteração semântica, ao contrário de muitos outros em diversas nguas naturais e na
própria língua portuguesa, como a Reduplicação de base verbal (corre-corre, pega-pega,
bate-bate). Predomina, nesse tipo de processo, a função expressiva de avaliação, nos termos
de Basílio (1987), uma vez que o produto é marcado pela expressão de carinho, afeto.
56
Para a formação da base que sofre Reduplicação, algumas condições de boa-
formação devem ser atendidas. Nesse momento da derivação, atuam 5 filtros (restritores
que dão conta das condições de boa-formação). Para uma melhor observação e definição
das etapas pertinentes ao processo em questão, seguem, abaixo, o modelo e as devidas
explicações a respeito de cada estágio de formação:
(28) Etapas do Processo de Reduplicação no baby-talk
INPUT Forma de entrada, realização fonética do adulto;
CIRCUNSCRIÇÃO Mapeia segmentos do input (saída fonética do adulto). A
circunscrição envolvida nesse processo é positiva, pois aproveita apenas os elementos
mapeados do input para formar o molde, deixando de fora os que restarem. Um marco
importante para a circunscrição é a sílaba tônica, pois é a partir dela que se decidirá quais
elementos serão mapeados;
INPUT
CIRCUNSCRIÇÃO POSITIVA
MOLDE
BASE
CV(C)
NASAL
RED
FORMA FINAL
1
FILTROS
ONSET
2
*COMPLEX
3
CODA INT
[sibilante,nasal]
4
CODA-FINAL[vocálica]
5
*
Pwd
[R, ¥, ¯
57
MOLDE Parte formada através do mapeamento feito pela circunscrição positiva e que
sofrerá atuação dos filtros;
FILTROS
7
Restritores que têm como função dar conta das condições de boa-formação
envolvidas no processo. Eles corrigem os moldes que infringem essas condições. No caso
da Reduplicação no baby-talk, há 5 filtros:
1. ONSET (Sílabas são iniciadas por consoantes) Condição de boa-
formação que exige onset para todas as sílabas do molde, o que torna impossível
a Reduplicação de uma palavra em que a laba envolvida se inicie por vogais,
como toalha. Nesse caso, a tonicidade recai exatamente na vogal a, razão pela
qual, nos testes aplicados durante o desenvolvimento do trabalho, os
informantes afirmaram ser impossível reduplicar essa palavra.
2. *COMPLEX (ONSETs são simples) Condição de boa-formação que
proíbe complexidade na margem esquerda da sílaba. É por esse motivo que
palavras como bicicleta geram formas como kekéta: o segundo filtro as corrige,
de maneira que possam servir de base à anexação do prefixo, efetuada mais
tarde, após todo o processo de filtragem.
3. CODA INT[sibilante, nasal] (codas internas são nasais ou sibilantes)
Condição de boa-formação que restringe o tipo de coda interna no processo.
7
Esses restritores não devem ser vistos como regras ordenadas intrinsecamente; são condições que devem ser
atendidas em conjunto para que se gere a forma de base. Dessa forma, não há prioridade de uma sobre a outra
– todas são igualmente importantes e devem ser sempre obedecidas.
58
Nesse caso, estão licenciados apenas segmentos consonantais nasais e sibilantes,
como em madrinha
dindinha e revista
vivista.
4. CODA-FINAL[vocálica] (codas finais são vocálicas) Condição de boa-
formação que restringe o preenchimento da coda final no molde, proibindo
qualquer segmento consonantal nessa posição. Devido a isso, é possível a
formação de chapéu
pepéu.
5. Palavras Prosódicas não podem começar por [R
RR
R, ¥
¥¥
¥, ¯
¯¯
¯] Condição de
boa-formação que proíbe os segmentos [R, ¥, ¯] de preencher a posição de onset
em início de palavra prosódica (PWd) na língua portuguesa, como mostram
Gonçalves (2004: 27) e Monaretto, Quednau & Hora (2005:208). Os segmentos
bloqueados serão substituídos por aqueles articulatoriamente mais próximos.
Esse filtro será atuante apenas nos casos excepcionais, contemplados em 4.4.
BASE Forma que surge após a atuação dos filtros e que sofrerá a Reduplicação. Resulta
da porção segmental que obedece as condições de boa-formação; é a base para a forma
final.
REDUPLICANTE (RED) CV(C)
NASAL
É uma estrutura esqueletal subespecificada, que
copiará sempre a primeira seqüência CV da base e também um segmento em coda, desde
que seja nasal. Quando não houver coda nasal, essa cópia não acontecerá; daí o segundo C
entre parênteses, convenção que indica opcionalidade. O reduplicante atuará como prefixo,
do mesmo modo que na maioria dos processos de Reduplicação descritos no capítulo 2;
59
FORMA FINAL É a forma que resulta do acréscimo de reduplicante, após a cópia, à
direita da base, finalizando o processo.
algumas restrições sobre as palavras que podem sofrer o processo, para o qual
não estão licenciadas todas as formas da língua; apenas aquelas que preenchem os
requisitos necessários. Dessa maneira, um padrão pré-definido para a formação desses
vocábulos reduplicados, a saber:
(29) Restrições que atuam sobre os derivantes da Reduplicação no baby-talk
1. Trissílabos e polissílabos geram trissílabos, como em chinelo
nenelo, biscoito
cocoto, estante
tantante, boneca
neneca, sabonete
nenete, telefone
fofone,
gelatina
titina;
2. Dissílabos oxítonos geram dissílabos igualmente oxítonos, como em chapéu
pepéu,
xampu
pupú, pastel
tetéu, dormir
mimi;
3. Monossílabos e dissílabos paroxítonos não são reduplicados, porque isso levaria a um
produto com maior extensão e complexidade que a palavra derivante;
4. O processo é raro em proparoxítonas, seguindo a tendência geral da própria língua
portuguesa, que evita, desde de sua gênese, palavras proparoxítonas. Há, no entanto, um
único caso desse tipo helicóptero
cocopi que será analisado com mais detalhes em
4.4.
60
A partir do estabelecimento dos dispositivos gerais que regem o processo, isto é,
que norteiam a escolha da palavra-matriz (derivante) habilitada para esse operação morfo-
fonológica, podem-se enumerar quais os tipos de bases
8
reconhecidos nesse tipo de
fenômeno. No caso da Reduplicação no baby-talk, existem 5 tipos estruturais distintos; são
eles:
(30) Bases envolvidas na Reduplicação no baby-talk
1ª BASE
»
»»
»CV
2ª BASE
»
»»
»CVV
3ª BASE
»
»»
»CV.CV
4ª BASE
CV.CVV
5ª BASE
»
»»
»CVC.CV
Cada base gera reduplicantes e seqüências distintas. A seguir, o processo é mostrado
em detalhes para cada tipo de base. Em razão de ser atuante apenas em casos excepcionais,
o filtro 5 será levado em conta somente nas análises feitas em 4.4.
1ª BASE
CV
É o caso de xampu
pupu e dormir
mimí. Nessas palavras, a circunscrição
prosódica copia apenas a sílaba tônica, com o intuito de formar um outro dissílabo, que
vocábulos maiores que a palavra-matriz são bloqueados no processo, conforme as
condições expressas em (29). O esquema a seguir ilustra como se desenvolve esse tipo de
8
Lembramos que o termo ‘base’ se aplica, aqui, ao material fonológico filtrado no molde pelas condições de
boa-formação. Desse modo, a base é o molde que satisfaz as restrições fonotáticas.
61
base. Nele e nos demais, o ponto indica fronteira de sílaba e mbolo », antes do ponto, a
sílaba proeminente.
(31)
Na situação apresentada em (31), como a base é uma sílaba CV, ela será totalmente
copiada pelo reduplicante CV(C)
nasal
por isso a formação de um dissílabo oxítono, como
a palavra-matriz. Depois de demonstrado o modelo do processo para uma base CV,
passemos à testagem com os dados adquiridos durante a pesquisa. Comecemos com
‘xampu’, em (32):
INPUT
CV.’CV(C)
CIRCUNSCRIÇÃO
MOLDE
CV(C)
BASE
C V
RED
Forma final CV.’CV
1
FILTROS
ONSET
2
*COMPLEX
3
CODA
INT
[sibilante,
nasal]
4
CODA-FINAL[vocálica]
5
*
Pwd
[R, ¥, ¯
CV(C)
NASAL
62
(32)
Em (32), é ilustrado o mecanismo derivacional com um dos dados recolhidos
durante a fase de rastreamento. Em xampu
pupu, a circunscrição parte da direita para a
esquerda, rastreando e mapeando a sílaba tônica pu. Em seguida, a seqüência mapeada é
jogada para o molde, no qual os filtros atuarão, de modo a satisfazer as condições de boa-
formação. A forma de molde passa por todos os filtros, pois é (1) uma sílaba iniciada por
consoante, (2) não possui complexidade no onset e não apresenta coda de nenhuma espécie,
atendendo, com isso, os filtros (3) e (4). Dessa forma, o molde é inteiramente fiel à base e,
a partir daí, sofrerá a cópia, engatilhada pela estrutura subespecificada do reduplicante. O
reduplicante, por sua vez, copia a consoante e, logo após, a vogal, não havendo uma
consoante nasal a ser copiada. Logo, a forma final é pupu, um caso de Reduplicação total.
Com ‘dormir’, ocorre simplificação do molde, como se vê em (33):
INPUT
[
S
ã
»
pu]
CIRCUNSCRIÇÃO
MOLDE
[
»
pu]
BASE
[
»
p u]
RED
Forma final [pu
»
pu]
1
FILTROS
2
3
4
5
CV(C)
NASAL
63
(33)
Em (33), a circunscrição prosódica também rastreia a sílaba tônica do input
9
, mi,
levando-a para o molde. Aqui, apenas um filtro tem atuação, pois o molde não infringe
nenhuma outra condição de boa-formação, que a sílaba mir (1) começa por consoante,
(2) não possui complexidade no ataque e (3) o apresenta coda interna. O filtro (4) age
corrigindo o molde, pois este possui uma coda proibida pelo processo, para o qual estão
licenciados segmentos vocálicos. Logo, a base sofre a cópia da consoante e da vogal,
levando à forma final mimi. Passemos, agora, à análise das bases CVV.
9
Nesse caso, a forma adulta é durmir, devido ao fenômeno do alteamento da pretônica por harmonia vocálica,
típico do português brasileiro.
INPUT
[du
ƒ
»
mix]
CIRCUNSCRIÇÃO
MOLDE
[
»
miX]
BASE
[
»
m i]
RED
Forma final [mi
»
mi]
1
FILTROS
2
3
4
5
CV(C)
NASAL
64
2ª BASE
CVV
É o caso de chapéu
pepéu e pastel
tetéu. Nessas palavras, da mesma forma
que nas anteriores, a circunscrição prosódica copia apenas a sílaba nica do input, com o
intuito de formar um outro dissílabo. A seguir, é ilustrada a generalização do processo para
esse tipo de base.
(34)
Dessa vez, ocorre uma coda vocálica, o único tipo permitido pelo processo em
posição final. Logo, apenas a primeira consoante e a primeira vogal sofrerão a cópia pelo
reduplicante. A forma final será um dissílabo oxítono, como é demonstrado com os dados,
a seguir.
INPUT
CV.’CVV
CIRCUNSCRIÇÃO
MOLDE
»
CVC
BASE
»
C V C
RED
Forma final CV.’CVV
1
FILTROS
ONSET
2
*COMPLEX
3
CODA
INT
[sibilante,
nasal]
4
CODA
-
F
INAL[vocálica]
5
*
Pwd
[
R
,
¥
,
¯
CV(C)
NASAL
65
(35)
Em (35), a circunscrição positiva rastreia a sílaba tônica péu, lançando-a para o
molde. Em seguida, o molde passa sem correções pelos filtros, pois (1) começa por
consoante, (2) não possui complexidade na margem esquerda da sílaba, (3) não apresenta
codas internas, por se tratar de um monossílabo, e (4) apresenta uma coda final vocálica,
permitida pelo processo. Dessa forma, a base é idêntica ao molde e dela são copiados os
dois primeiros segmentos pelo reduplicante, formando pepéu. Nesse caso, a consoante em
coda presente na estrutura esqueletal do reduplicante não copia nenhum elemento, que,
apesar de haver uma coda na base, esta é vocálica, sendo necessária uma coda nasal para
haver a cópia. Situação idêntica ocorre com ‘pastel’, como se vê em (36):
INPUT
[
S
a
»
p
E
u]
CIRCUNSCRIÇÃO
MOLDE
[
»
p
E
u]
BASE
[
»
p
E
u]
RED
Forma final [p
E
»
p
E
u]
1
FILTROS
2
3
4
5
CV(C)
NASAL
66
(36)
Em (36), a circunscrição positiva rastreia e mapeia a sílaba tônica tel
10
. Ao passar
para o molde, a sílaba mapeada passa sem alterações pelos filtros por (1) começar por
consoante, (2) não apresentar complexidade no ataque, (3) não possuir coda interna, em se
tratando de apenas uma sílaba, e (4) possuir uma coda final vocálica. Assim, a mesma
forma passa para a base e sofre a cópia do reduplicante, por meio da qual apenas os dois
primeiros segmentos CV são contemplados. A forma final é, portanto, tetéu. Passemos, a
seguir, à análise das bases ‘CV.CV.
10
Ocorre a vocalização da lateral no contexto final, como em animal animau, o que corrobora a afirmativa
de que o input do processo é uma forma de output.
INPUT
[pa
S
»
t
E
u]
MOLDE
[
»
t
E
u]
BASE
[
»
t
E
u]
RED
Forma final [t
E
»
t
E
u]
1
FILTROS
2
3
4
5
CV(C)
NASAL
67
3ª BASE
‘CV.CV
Este tipo de base mostrou-se o mais interessante no fenômeno, apresentando o
maior número de atuação dos filtros, como em boneca
neneca, bicicleta
quequeta e
cobertor
bebetô. Agora, a circunscrição prosódica mapeia todos os segmentos até a
sílaba tônica e os lança para o molde. É uma base que forma trissílabos.
(37)
Nesse caso, as formas de input e molde são estruturalmente diversificadas, como
assinalam os diversos parênteses, que, como dissemos, indicam constituintes que podem
não estar presentes. No entanto, em todos os casos os filtros atuarão corrigindo-as e
uniformizando o processo para gerar sempre o mesmo tipo de forma final. Os detalhes são
demonstrados a seguir. Comecemos com ‘boneca’:
INPUT
(CV).(
C
)
V.
C
(C)
V.CV
CIRCUNSCRIÇÃO
MOLDE
»
C(C)V.CV
BASE
»
C V
CV(C)
NASAL
RED
Forma final CV.’CV.CV
1
FILTROS
ONSET
2
*COMPLEX
3
CODA INT
[sibilante,
nasal]
4
CODA
-
F
INAL[vocálica]
5
*
Pwd
[R, ¥, ¯
68
(38)
Em (38), a circunscrição prosódica rastreia a sílaba tônica da direita para a esquerda,
mapeando toda a seqüência de segmentos até ela. Logo, a forma levada para o molde é
neca, que passa incólume pelos filtros, pois (1) todas as suas sílabas são iniciadas por
consoante, (2) nenhuma delas possui complexidade no onset ou apresenta codas (3 e 4).
Portanto, a base é igual ao molde, sofrendo a cópia de apenas os dois primeiros segmentos
CV. A forma final é neneca. Em ‘bicicleta’, molde e base são diferentes, como é visto em
(39):
CIRCUNSCRIÇÃO
INPUT
[bu
»
n
E
ka]
MOLDE
[
»
n
E
ka]
BASE
[
»
n
E
k a]
CV(C)
NASAL
RED
Forma final [n
E
»
n
E
ka]
1
FILTROS
2
3
4
5
69
(39)
Em (39), a circunscrição prosódica parte igualmente da direita para a esquerda,
rastreando toda a seqüência de segmentos até a sílaba tônica. Logo, o molde será kleta, que
passa pelo primeiro filtro, pois começa por uma consoante. No entanto, infringe o segundo
filtro, que possui um onset complexo. Dessa forma, essa infração é corrigida, de modo
que a líquida lateral é apagada. Os filtros (3) e (4) não apresentam atuação, pois o molde
não possui codas. A base, keta, sofre a cópia da seqüência CV inicial, levando à forma final
quequeta. Vejamos, a seguir, o mecanismo derivacional que gera ‘bebetô’ a partir de
‘cobertor’:
INPUT
[bisi
»
kl
E
ta]
MOLDE
[
»
k l
E
ta]
BASE
[
»
k
E
t a]
CV(C)
NASAL
RED
Forma final [k
E
»
k
E
ta]
1
FILTROS
2
3
4
5
70
(40)
Em (40), a circunscrição prosódica rastreia a sílaba tônica tor. No entanto, ela não
pára o mapeamento, já que, como esclarecido nas restrições das bases para o processo (29),
trissílabos gerarão sempre trissílabos
11
. Isso garante o prosseguimento da circunscrição até
a sílaba seguinte, jogando para o molde a seqüência bertor. O filtro (1) não é atuante nesse
caso, pois as sílabas começam por consoantes, assim como (2), uma vez que não há
complexidade no onset. O filtro (3) atua nesse molde, já que existe uma coda interna e esta
não é nasal ou sibilante, sendo eliminada para a satisfação dessa condição de boa-formação.
O filtro (4) também atua, corrigindo a coda final não-vocálica no molde em questão. Logo,
a base é Betô, da qual apenas os dois primeiros segmentos CV são copiados, gerando a
forma final bebetô. Passemos, agora, à descrição das bases com formato CV.CVV.
11
Entendemos, dessa forma, que a circunscrição prosódica é regida de algum modo por condições de
tamanho, pois quando bases oxítonas são trissílabos ou polissílabos não é apenas a sílaba tônica que se projeta
para o molde, mas também a pretônica. Acreditamos, então, que alguma instrução quanto à fidelidade es
contida na circunscrição prosódica, pois o rastreamento apenas da tônica pode gerar uma forma opaca.
Deixaremos essa questão em aberto para uma posterior reanálise.
CIRCUNSCRIÇÃO
INPUT
[kobex
»
tox]
MOLDE
[be X
»
to X ]
BASE
[ b e
»
t o]
CV(C)
NASAL
RED
Forma final [bebe
»
to]
1
FILTROS
2
3
4
5
71
4ª BASE
CV.CVV
Este é o caso de remédio
memédio e algodão
gogodão. A forma final será um
trissílabo, terminado em coda vocálica, como na generalização a seguir.
(41)
Em (41), omitiu-se a informação referente ao acento, uma vez que as bases podem
ser oxítonas (‘algodão’) ou paroxítonas (‘remédio’). Comecemos com remédio’,
analisando a formalização apresentada em (42), a seguir:
INPUT
CV.CV.CVV
CIRCUNSCRIÇÃO
MOLDE
CV.CVV
BASE
C V .CVV
CV(C)
NASAL
RED
Forma final CV.CV.CVV
1
FILTROS
ONSET
2
*COMPLEX
3
CODA INT
[sibilante,
nasal]
4
CODA
-
F
INAL[vocálica]
5
*
Pwd
[
R
,
¥
,
¯
72
(42)
Em (42), a circunscrição positiva rastreia a sílaba tônica, mapeando toda a seqüência
de segmentos até ela. Logo, o molde mediu sofre a ação dos filtros e passa irretocável por
todos eles, que (1) começa por consoante, (2) não possui complexidade no onset, (3) não
apresenta codas internas e (4) apresenta apenas uma coda final vocálica, permitida pelo
processo. Portanto, a base mediu passa para a próxima etapa: a cópia. O reduplicante copia
a primeira seqüência CV da base, levando à forma final memédio. No caso de ‘algodão’,
como em ‘cobertor’, a circunscrição avança além da tônica, como é visto em (43):
CIRCUNSCRIÇÃO
INPUT
[xe
»
m
E
diu]
MOLDE
[
»
m
E
diu]
BASE
[
»
m
E
diu]
CV(C)
NASAL
RED
Forma final [me
»
m
E
diu]
1
FILTROS
2
3
4
5
73
(43)
Em (43), a circunscrição prosódica também rastreia a sílaba tônica; no entanto,
prossegue no mapeamento até a sílaba seguinte para formar um trissílabo. O molde godão
passa sem correções pelos quatro filtros, pois (1) começa por consoante, (2) não possui
complexidade no onset, (3) não apresenta codas internas e (4) apresenta, como no caso
descrito anteriormente, em (42), uma coda final vocálica, permitida pelo processo. A base,
idêntica ao molde, sofre a cópia CV do reduplicante e forma, finalmente, gogodão.
Apresentemos, por fim, o último tipo de base: »CVC.CV.
CIRCUNSCRIÇÃO
INPUT
[augo
»
dãu]
MOLDE
[go
»
dãu]
BASE
[g o
»
dãu]
CV(C)
NASAL
RED
Forma final [gogo
»
dãu]
1
FILTROS
2
3
4
5
74
5ª BASE
CVC.CV
É o caso de revista
vivista e madrinha
dindinha, únicos casos em que ocorre
uma coda interna. A forma final sesempre um trissílabo. No segundo exemplo, que, em
princípio, não apresenta o formato »CVC.CV, podemos perceber a ocorrência de uma
geminada, proposta por Wetzels (2000), para o português. Os detalhes desse fenômeno,
assim como a proposta do referido autor, são descritos adiante. A generalização para essa
base não é apresentada, como foi feito nas anteriores, pois aqui a cópia de segmentos pelo
reduplicante será distinta em cada caso. Passemos diretamente à exemplificação,
começando com ‘revista’.
(44)
Em (44), a circunscrição prosódica rastreia a sílaba tônica, mapeando toda a
seqüência de segmentos até ela. Em seguida, o molde vista passa sem correções pelos
INPUT
[xe
»
vi
S
ta]
MOLDE
»
[vi
S
ta]
BASE
[
»
v i
S
ta]
CV(C)
NASAL
RED
Forma final [vi
»
vi
S
ta]
1
FILTROS
2
3
4
5
75
filtros, pois (1) começa por consoante, (2) não apresenta complexidade no onset, (3) possui
uma coda interna preenchida por sibilante e permitida pelo processo, e (4) não possui coda
final, passando ileso por esse último filtro. Logo, a base vista sofre a atuação do
reduplicante, que copia a sua primeira seqüência CV. A forma final será, portanto, vivista.
Passemos, então, para o último dado desta seção: madrinha
dindinha. Esse par
representa uma parte muito importante da análise, pois é através dele que se pode confirmar
a presença de uma geminada fonológica /¯¯/, como propõe Wetzels (2000). Antes de
proceder à análise, é necessária uma revisão da proposta de Wetzels a respeito de tal
geminação.
Segundo Wetzels (2000), a nasal palatal // em português tem um comportamento
diferente das não palatais. O autor estabelece as principais peculiaridades de tal segmento:
(a) comportamento da nasal palatal // como consoante-coda, mesmo estando sempre
posição intervocálica;
(b) criação de um hiato quando do surgimento de seqüências Vogal + Vogal Alta antes
das mesmas soantes palatais (moinho, tainha). Em outros casos, como antes de /m,
n/, aparecem os ditongos decrescentes (queima, andaime);
(c) caso uma nasal palatal esteja em posição de onset de uma sílaba em final de palavra
(alcunha), tal palavra nunca será uma proparoxítona, já que no português não
existem palavras proparoxítonas com sílaba pesada pré-final.
76
Para Wetzels, a explicação para tais ocorrências é que, na verdade, a nasal palatal é
uma geminada em português. No entanto, para discutir essa questão, é necessário rever
determinados conceitos, como o da estrutura silábica do português.
Levando em conta a Teoria da Sílaba, o molde silábico do português pode ser
definido nos seguintes termos:
(45) Estrutura Silábica do Português
σ
C L R
V C s
Em língua portuguesa, a estrutura da laba segue os parâmetros expostos em (45).
As sílabas possuem ataque, C, podendo ou não haver complexidade, isto é, após a
consoante inicial pode haver uma líquida (L). Em seguida, temos a rima, que consiste em
um núcleo vocálico V, podendo ser seguido de coda, C, e /s/. Todas essas categorias podem
ser vazias, menos o núcleo V.
Observa-se, ainda, que a posição C, na Rima, é sempre reservada para segmentos
soantes (vogais, líquidas e nasais) ou /s/. Isso leva a uma representação mais precisa da
rima em português, como em (46):
77
(46) Rima Silábica no Português
Rima
Núcleo Coda
Vogal C C
[+soante] s
Em português, pode-se usar a não de sílaba pesada de modo mais geral: sempre que
houver duas posões de rima preenchidas. Nesse caso, o portugs possui sílabas abertas (leves)
e travadas (pesadas), tendo em vista a teoria moraica de peso sibico, como explicado no
catulo 3. As vogais nasais também acabam por comportar-se como rimas pesadas no portugs.
Nesse sentido, Wetzels propõe uma lista de rimas do português brasileiro:
(47) Rimas Pesadas no PB
Rimas possíveis Ilustrações
Final de palavra Pré-final
Vr abajur aberto
Vl anel asfalto
Vs cortês adestro
Ditongos orais herói eleito
Ditongos nasais irmão cãibra
Vogais nasais irmã macumba
78
Tendo em vista a estrutura da rima em português, quando sílabas terminam em
líquidas, não podem ser seguidas de nasais e o contrário também é verdadeiro, ou seja,
quando terminadas por nasais, não podem ser seguidas por líquidas.
Outro ponto importante esclarecido por Wetzels é sobre a assimetria na regra da
nasalização alofônica no português. Ele explica que o português possui um tipo de
nasalização alofônica, além das vogais nasais contrastivas (campo, lenda, minto, lombo,
mundo), desencadeada por uma consoante nasal intervocálica, que passa o traço nasal para
a vogal precedente, como em c[ã]ma, l[ã]ma, men[i
)
]na. No entanto, existem diferenças na
utilização dessas regras, que a nasalisação contrastiva é obrigatória, fazendo o acento
recair sempre na sílaba pré-final, e a alofônica é uma regra variável na ngua. Um bom
exemplo dessa variabilidade é o verbo amar, pois, para muitos falantes de português, a
nasalização alofônica, muito embora não aconteça com a forma infinitiva, acontece na
forma conjugada [ã]mo. Outros exemplos desse fenômeno são mostrados abaixo:
(48) Nasalização alofônica
(48.a) Acentuada antes de /n, m/
[»si)nu]
sino
[»fu)mu]
fumo
[»le)mi]
leme
[»dõnu]
dono
[»kãma]
cama
79
(48.b) Não-acentuada antes de /n, m/
[pi»nçja]
pinóia
[kuma»ri]
cumari
[te»nas]
tenaz
[bo»nEka]
boneca
[ta»mãku]
tamanco
(48.c) Acentuadas antes de /¯/
[ko»zia]
cozinha
[aw»kua]
alcunha
[a»zea]
azenha
[se»go))¯a]
cegonha
[a»¯a]
aranha
(48.d) Não-acentuadas antes de /¯/
[di»)¯ejru]
dinheiro
[ku»)¯adu]
cunhado
[se»)¯ox]
senhor
[vexgo»)¯ozu]
vergonhoso
[ka)»¯otu]
canhoto
Como demonstrado acima, a nasalização da vogal precedente acontece sempre antes
de /¯/; o mesmo não se pode dizer de /n,m/, para os quais a regra é bem menos geral.
Portanto, a nasalização alofônica diante da nasal palatal independe do acento, tal como a
80
nasalização contrastiva
12
. Wetzels retoma Abaurre & Pagotto (1996:24) para corroborar sua
afirmação:
“A nasalização é categórica quando a vogal precede uma consoante nasal
palatal, independentemente do contexto tônico ou átono”. (ABAURRE &
PAGOTTO, 1996:24).
Wetzels admite que tal nasalidade acontece em posição de coda, como em campo, e
propõe considerar a palatal como uma geminada lexical /¯¯/, o que torna a sílaba
precedente sempre pesada. Isso explica porque uma nasal palatal não é precedida por sílaba
pesada no português. Observemos os exemplos abaixo:
(49)
alma alcunha
arma caminho
abismo cozinha
teimar desenho
andaime façanha
Como pode ser observado em (49), uma sílaba pesada pode preceder /m,n/, mas não
/¯/. Isso pode ser explicado porque, admitindo-se que a nasal palatal é, na verdade, uma
geminada, a primeira parte da mesma ocuparia a posição de coda da sílaba precedente,
12
Com /m, n/, a nasalização depende do acento como um a priori para sua aplicação, já que em determinados
falares, como o nosso, vogais se realizam nasais diante de nasais em sílaba tônica, como mostram os
exemplos em (47.a) e (47.b).
81
impossibilitando o surgimento de outra consoante nessa sílaba. A isso também se deve o
fato de que, quando tal consoante palatal ocorre entre as duas últimas vogais de uma
palavra trissilábica, esta nunca será proparoxítona, que no português não existem
proparoxítonas com uma sílaba pesada pré-final.
Outra evidência em favor da geminação é o fato de /¯/ não ser licenciado para início
de palavras no português, como evidencia o filtro (5) da Reduplicação no baby-talk. Tal
proibição mostra-se ainda mais clara quando se observa a pronúncia brasileira de uma
palavra como nhoque, empréstimo do italiano. Os falantes de português pronunciam
[i»)¯çki], provando que a complexidade da nasal palatal é suportada em posição
intervocálica.
Ainda, a nasal palatal pode ser precedida por uma seqüência de Vogal + Vogal Alta.
No entanto, não se formarão ditongos, mas sim hiatos, devido à situação de coda na qual se
encontrará uma das geminadas. Da mesma forma, isso também explica porque nesses casos
o acento nunca recai na antepenúltima sílaba.
Dessa forma, fica comprovado que, na verdade, a geminada /¯¯/ deixa sempre a
sílaba precedente pesada. Isso fica bastante claro na análise a seguir.
82
(50)
Em (50), a circunscrição prosódica rastreia novamente a laba tônica, mapeando
toda a seqüência de segmentos até ela. O molde drinha sofre a ação dos filtros, passando
incólume pelo primeiro por começar por consoante. no segundo filtro, acontece uma
correção, devido à complexidade do onset, o que leva à eliminação do tepe. Os filtros (3) e
(4) não são atuantes, pois o referido molde não possui coda final e a coda interna é nasal.
Logo, a base é dinha. É no momento de o reduplicante copiar os segmentos da base que
podemos perceber melhor a importância da geminada nesse processo. Além dos dois
primeiros segmentos CV, será copiada também uma das geminadas, por se tratar de um
segmento consonantal nasal, sendo apropriado para a cópia da consoante nasal prevista pela
estrutura esqueletal do reduplicante. Essa geminada implica, na verdade, um ganho de
nasalidade para a forma final, gerando dindinha.
INPUT
[ma
»
d
R
i
)
¯
¯
a]
MOLDE
[
»
d
R
i
)
¯
¯
a]
BASE
[
»
d i
)
¯
¯
a]
CV(C)
NASAL
RED
Forma final [d i
)
»
d i
)
¯
¯
a]
1
FILTROS
2
3
4
5
83
4.4 - Análise de Casos Excepcionais
Alguns casos, como citado anteriormente, enfrentam mais atuação dos filtros no
processo, devido à maior dessemelhança input-output. Nesses casos, há mais ajustes.+-
no molde e correções mais acentuadas, fazendo algumas estratégias de reparo, que não
aparecem nos demais casos, surgirem. No entanto, esse é um importante fato para o
fenômeno; tal capacidade de correção e adequação o torna bastante regular, como
percebido nos dados, e prova a total eficácia de seus mecanismos. Ainda, mais uma vez, a
base se mostra a mais rica, pois é com ela que esses casos aparecem. Veja-se o
mecanismo envolvido em ‘palhaço’, na formalização em (51):
(51)
Este é um exemplo de trissílabo paroxítono, cuja seqüência copiada pela
circunscrição vai até a sílaba tônica. O molde
¥
açu passa sem dificuldades até o filtro 5,
CIRCUNSCRIÇÃO
INPUT
[pa
»
¥
asu]
MOLDE
[
»
¥
asu]
BASE
»
[l asu]
CV(C)
NASAL
RED
Forma final [la
»
lasu]
1
FILTROS
2
3
4
5
84
pois (1) começa por consoante, (2) não possui complexidade no onset e (3/4) não apresenta
coda de nenhuma espécie. Entretanto, esse molde tem uma sílaba iniciada por ¥, segmento
proibido em início de palavra no português e corrigido pelo filtro 5, sendo substituído pelo
segmento fônico articulatoriamente mais próximo, l, formando a base laçu. A base sofre
cópia de seus dois primeiros segmentos pelo reduplicante, gerando a forma final lalaçu.
Processo semelhante ocorre em (52):
(52)
Este caso é bastante semelhante ao anterior. A circunscrição copia todos os
segmentos até a sílaba tônica. O molde
R
ede sofre a ação dos filtros e é bloqueado apenas
no quinto, assim como o anterior. O segmento R é substituído por l e a base do processo será
lede. O reduplicante copia o CV inicial da base, gerando a forma final lelede. Terminemos
a análise com o único caso de palavra-matriz proparoxítona, ‘helicóptero’:
CIRCUNSCRIÇÃO
INPUT
[pa
»
R
ed
Z
i]
MOLDE
[
»
R
ed
Z
i]
BASE
[
»
l ed
Z
i]
CV(C)
NASAL
RED
Forma final [le
»
led
Z
i ]
1
FILTROS
2
3
4
5
85
(53)
Este é o caso mais excepcional de todos. Como observado nas restrões que atuam nas
bases do processo, o fenômeno da Reduplicação no baby-talk é raro em proparotonas. A
curiosidade aqui repousa na atuação da circunscrão, que rastreia a laba nica normalmente.
No entanto, ao fazer esse rastreamento, ela engloba uma seência de 4 labas
13
, o que seria
imposvel para o processo, já que geraria um polislabo (o fenômeno gera, noximo,
trissílabos). Portanto, a circunscrição mapeia apenas a laba tônica e a adjacente a ela envolvida
no rastreamento, jogando somente essa seqüência para o molde. Logo, o molde copi passa sem
problemas por todos os filtros, chegando intacto à base e sofrendo a cópia dos dois primeiros
segmentos. A forma final se cocopi.
13
Ocorre a formação de 4 sílabas, pois como a Reduplicação no baby-talk tem como input o output do adulto,
existe a inserção de [i] diante do p mudo, caso típico do português brasileiro.
CIRCUNSCRIÇÃO
INPUT
[eli
»
k
ç
pite
R
u]
MOLDE
[
»
k
ç
pi]
BASE
[
»
k
ç
pi]
CV(C)
NASAL
RED
Forma final [k
ç
»
k
ç
pi ]
1
FILTROS
2
3
4
5
86
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, foi investigado o fenômeno da Reduplicação no baby-talk segundo
os moldes da Morfologia Prosódica, um modelo que envolve princípios morfológicos e
fonológicos, procurando contemplar fenômenos não explicados pela morfologia tradicional,
como a Reduplicação – processo não-concatenativo considerado marginal em português.
A primeira preocupação deste estudo foi procurar uma definição mais apropriada
para a Reduplicação, que as demais pareciam insuficientes ou equivocadas. Os diversos
tipos de Reduplicação também foram abordados e divididos em quatro grupos: em início de
palavra (mamãe, papai, titio, titia), em final de palavra (chororô, bololô), de base verbal
(corre-corre, pega-pega, bate-bate, puxa-puxa) e no baby-talk (brinquedo
quequedo,
boneca
neneca, panela
nenela, peteca
teteca). Nesta Dissertação, apenas o último
tipo foi focalizado.
Para compor o grupo amostral, foram escolhidas crianças em fase de aquisição da
linguagem e adultos que conviviam com as mesmas para a observação do fenômeno da
Reduplicação no baby-talk, que este se caracteriza pelo discurso de adultos endereçado a
crianças. Algumas entrevistas e testes foram aplicados aos adultos para chegar às bases do
processo.
Com a aplicação dos testes e a observação do fenômeno, foi percebido que o
processo era bastante regular, dando grande importância à tonicidade (a parte reduplicada
envolve a sílaba tônica) e a restrições em relação à coda. Algumas restrições que atuam na
escolha das bases do processo também foram detectadas, pois se formam, nesse tipo de
Reduplicação, apenas trissílabos paroxítonos e dissílabos oxítonos.
87
O input envolvido na Reduplicação no baby-talk é uma forma de output do adulto e
não uma representação subjacente. Isso permite que formas como helicóptero
cocopi
possam surgir, na qual percebemos a inserção de [i] após a consoante oclusiva em coda. A
circunscrição atuante no processo é positiva e tem como principal alvo a sílaba tônica:
mapeia os segmentos a partir dela e os leva para um molde.
Os filtros, que dão conta das condições de boa-formação e corrigem as formas, são
5: ONSET, que proíbe sílabas não iniciadas por consoantes; *COMPLEX, que determina
que onsets sejam simples; CODA INT[sibilante, nasal], que proíbe codas internas que não
sejam nasais ou sibilantes; CODA-FINAL[vocálica], que determina que codas finais devem
ser vocálicas, e palavras prosódicas não podem começar por [R, ¥, ¯] (
PWD
*[R, ¥, ¯ ), um tipo
de restrição para início de palavra existente em língua portuguesa.
Por último, o reduplicante envolvido no processo é uma estrutura esqueletal
subespecificada que copia os segmentos da base após a atuação dos filtros. Isso significa
que o reduplicante CV(C)
NASAL
copiará sempre os primeiros segmentos da base, já que neste
processo ele é um prefixo. A coda será copiada no caso de haver uma consoante nasal
nos primeiros segmentos da base, como é o caso de madrinha
didinha e chapinha
pinpinha. Seguindo esse modelo, foram encontradas e analisadas, finalmente, as 5 bases
pertinentes ao processo: 1ª BASE »CV, 2ª BASE »CVV, 3ª BASE »CV.CV, 4ª BASE
CV.CVV e 5ª BASE »CVC. CV.
Embora algumas questões ainda tenham permanecido em aberto, reservadas para
estudos posteriores, esse trabalho mostra-se extremamente relevante, posto que são poucos
os estudos em língua portuguesa com base na Morfologia Prosódica e, sobretudo,
88
envolvendo baby-talk. Esse estudo dá, então, sua contribuição para outras pesquisas na
área, deixando mais um caminho aberto para novas descobertas sobre a língua.
89
6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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V. (Ed.). Gramática do português falado VI. Campinas: Editora da UNICAMP, 1996.
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and Linguistic Theory 1, 347-384. 1983.
AURÉLIO, F. Dicionário Eletrônico Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2000.
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BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
BISOL, Leda. Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. Porto Alegre:
EDIPUCRS. Ed. 4ª. 2005.
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review 3. p. 25-88, 1983.
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1968.
CLEMENTS, G. M. & KEYSER, S. J. CV Phonology: a generative theory of the syllable.
Linguistic Inquiry Monograph. Cambridge, Mass: MIT Press, nº 9, 1983.
CRYSTAL, David. A Dictionary of Linguistics and Phonetics. Copyright. Ed. 4ª. 1997.
CUNHA, C. F. & CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira. Ed. 2ª, 1985.
90
GONÇALVES, C. A. V. ; ALBUQUERQUE, L. R. . Análise da reduplicação em dados de
aquisição: uma abordagem otimalista. In: VIII Congresso Nacional de Filologia e
Lingüística, 2005, Rio de Janeiro. Questões de morfossintaxe. Rio de Janeiro : CiFeFil,
2004, v. 8, p. 45-53.
GONÇALVES, C. A. V. A morfologia prosódica e o comportamento transderivacional da
hipocorização no português brasileiro. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte,
v. 12, p. 7-38, 2004.
GONÇALVES, C. A. V. Retrospectiva dos estudos em Morfologia Prosódica: das
circunscrições e regras à abordagem por ranking de restrições 2008 (Artigo inédito).
HEYES, Bruce. Metrical stress theory. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.
HOUAISS, A. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Lisboa: Objetiva.
2001.
HYMAN, Larry M. A theory of phonological weight. Dordrecht: Foris. 1985.
KATAMBA, Francis. Prosodic Morphology. Morphology. New York: Maxmillian, p.154-
200, 1990.
LIMA, R. Gramática normativa da língua portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio. Ed.
39ª, 2000.
McCARTHY, J. & PRINCE, A. Generalized alignment. In: BOOIJ, G. E.; MARLE, J.
(Ed.). Yerbook of morphology. Dordrecht: Kluwer, 1993.
McCARTHY, J. A prosodic theory of nonconcatenative morphology. Linguistic
Inquiry,v.12, n.1, p. 373-418, 1981.
McCARTHY, J.& PRINCE, A. Foot and word in prosodic morphology. Natural language
and Linguistic Theory, v.8, n.1, p. 209-84, 1990.
McCARTHY, J.& PRINCE, A. Prosodic Morphology. In: SPENCER, A. & ZWICKY, A.
The Handbook of Morphology. Cambridge: Cambridge University Press.1998.
91
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In: BISOL, Leda (org.). Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. Porto
Alegre: EDIPUCRS. Ed. 4ª. 2005. p 207-238.
PULLEYBLANK, Douglas. Tone in Lexical Phonology. Reidel: Dordrecht, 1986.
SELKIRK, E. On prosodic structure and its relation to syntactic structure. Bloomington:
IULC, 1980.
WETZELS. W. Leo. Consoantes Palatais como Geminadas Fonológicas no Português
brasileiro. In: Revista de Estudos da Linguagem. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da
UFMG. v. 9, p. 5-15, 2000.
92
ANEXO 1
Idade:
Sexo:
Escolaridade:
QUESTIONÁRIO
1. Dirigindo-se a uma criança / bebê como poderiam ser ditas essas palavras?
(a) rodapé
(b) telefone
(c) tapete
(d) ônibus
(e) música
(f) xampu
2. Crianças aprendendo a falar se expressam através das seguintes palavras:
(a) papato
(b) pepéu
(c) neneca
(d) nenelo
(e) bebelo
O que essas palavras significam?
3. Como uma criança aprendendo a falar diria as palavras abaixo? Assinale todas as
opções possíveis.
I. banheira
(a) nhenhera
(b) nenera
(c) nenela
(d) banera
II. cobertor
(a) cobebetô
(b) bebeto
(c) berbertô
(d) bebertô
III. caderno
(a) dederno
(b) cadedeno
(c) derderno
(d) dedeno
IV. algodão
(a) gogodão
(b) algodão
(c) godãodão
(d) dãodão
V. abajur
(a) abajuju
(b) ababaju
(c) bubuju
(d) babaju
93
ANEXO 2
Idade:
Sexo:
Escolaridade:
QUESTIONÁRIO
1. Dirigindo-se a uma criança / bebê como poderiam ser ditas essas palavras?
(a) pastel
(b) escova
(c) bermuda
(d) carteira
(e) mágico
(f) papel
2. Crianças aprendendo a falar se expressam através das seguintes palavras:
(a) teteca
(b) neneca
(c) tetelo
(d) ninico
(e) neneta
O que elas tentaram falar?
3. Como uma criança aprendendo a falar diria as palavras abaixo? Assinale todas as
opções possíveis.
I. chuveiro
(a) vevero
(b) chuvero
(c) chuvelo
(d) vevelo
II. parede
(a) palede
(b) palelede
(c) rerede
(d) lelede
III. panela
(a) nenela
(b) panenela
(c) panpanela
(d) nelala
IV. estante
(a) estate
(b) tantante
(c) tatante
(d) estantante
V. sabonete
(a) nenete
(b) babonete
(c) bobonete
(d) sabobonete
94
ANEXO 3
Idade:
Sexo:
Escolaridade:
QUESTIONÁRIO
1. Como uma criança aprendendo a falar diria as palavras abaixo? Assinale todas as opções
possíveis.
I. revista
(a) visvista
(b) rerevista
(c) vivista
(d) tatá
II. cobertor
(a) totô
(b) bebetô
(c) berbertô
(d) betotô
III. banheira
(a) nenheila
(b) nenela
(c) inheinhela
(d) nenera
IV. parede
(a) rerede
(b) palelede
(c) papalede
(d) lelede
2. Crianças aprendendo a falar se expressam através das seguintes palavras:
(a) nenete
(b) pepelho
(c) nenela
(d) dindinha
(e) bibide
O que essas palavras significam?
3. Dirigindo-se a uma criança / bebê como poderiam ser ditas essas palavras?
(a) vitamina
(b) telefone
(c) buzina
(d) remédio
(e) música
(f) artista
95
ANEXO 4
Idade:
Sexo:
Escolaridade:
QUESTIONÁRIO
1. Como uma criança aprendendo a falar diria as palavras abaixo? Assinale todas as opções
possíveis.
I. hamburguer
(a) bubugue
(b) bugueguê
(c) buburgue
(d) bubú
II. chapinha
(a) pipinha
(b) pimpinha
(c) chachapinha
(d) pumamá
III. palhaço
(a) lalaço
(b) lalhaço
(c) lialiaço
(d) papalhaço
IV. artista
(a) tistista
(b) artitista
(c) titista
(d) tatá
2. Crianças aprendendo a falar se expressam através das seguintes palavras:
(a) quequeta
(b) neneco
(c) titina
(d) guguti
(e) teteca
O que essas palavras significam?
3. Dirigindo-se a uma criança / bebê como poderiam ser ditas essas palavras?
(a) espuma
(b) menina
(c) cachoeira
(d) toalha
(e) aquário
(f) lâmpada
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ANEXO 5
Lista de Dados
abajur babaju
alfinete nenete
algodão gogodão
apito pipito
artista titista
banheira nenera
bicicleta quequeta
biscoito cocoto
boneca neneca
brinquedo quequedo
buzina zizina
cabelo bebelo
cabide bibide
cadeira dedera
caneco neneco
caneta neneta
cebola bobola
chapéu pepéu
chapinha pimpinha
chiclete quequeti
chinelo nenelo
chocalho cacalho
chupeta pepeta
cobertor bebetô
cortina titina
dormir mimi
elefante fanfante
escada cacada
espelho pepelho
espuma pupuma
estante tantante
gelatina titina
hamburguer bubugue
helicóptero cocopi
iogurte guguti
janela nenela
madrinha dindinha
mamadeira dedera
martelo tetelo
menina ninina
palhaço lalaço
panela nenela
papel pepéu
parede lelede
pastel tetéu
peteca teteca
pinico ninico
remédio memédio
revista vivista
sabonete nenete
sandália dadálha
sapato papato
tapete pepete
telefone fofone
televisão vivisão
vitamina mimina
xampu pupu
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