tenha vivido a infância e parte da adolescência na vila coimbrã, o autor de O Trigo e o Joio
era de origem campesina e passava as férias na aldeia de Vale Florido, terra natal de seus pais,
onde possuíam uma propriedade. Desde muito jovem, o escritor demonstrou interesse pelas
artes, pois além de escrever, também gostava muito de pintar.
3
Fernando Namora cursou a
Faculdade de Medicina em Coimbra, formando-se no ano de 1942.
A primeira publicação de Fernando Namora foi o volume coletivo Cabeças de Barro
(1937)
4
, em parceria com Artur Varela e Carlos de Oliveira. A partir de então, foram cerca de
quarenta livros publicados entre poesia, narrativa, ensaio e biografia, muitos títulos ganharam
edições estrangeiras, sem contar com as publicações em jornais e revistas. As primeiras
publicações individuais de Fernando Namora têm certa influência do movimento presencista,
o escritor chegou a colaborar, assim como João José Cochofel, na última fase da revista. Em
1938, publicou o livro de poemas Relevos e o romance As Sete Partidas do Mundo; em 1940,
Mar de Sargaços (poemas). A respeito dessas publicações, Cochofel afirmou que nelas o
aprendizado de Fernando Namora “junto da Presença /.../ transparece por igual na temática,
no confessionalismo introspectivo” (apud SACRAMENTO, 1967, p. 34); porém destacou
também o fato de já se poder perceber nesses primeiros livros as preocupações que estariam
presentes no Neo-Realismo. Sobre os primeiros indícios de distanciamento por parte de
Fernando Namora da estética presencista, Alexandre Pinheiro Torres observa que haveria em
Relevos “sinais de ruptura em relação ao presencismo” (1990, p. 42). O crítico salienta que
esse livro de poemas contraria a tradição bíblica de alguns livros presencistas, pois no poema
3
Em muitos dos jornais onde foi colaborador, Fernando Namora atuou não só como escritor, mas também como
ilustrador. Em 1938, ganhou o Prêmio Antonio Augusto Gonçalves, de artes plásticas e, em 1964, obteve outro
prêmio de pintura na Exposição Coletiva de Artistas Médicos, realizada na cidade do Porto.
4
Pequeno volume que inclui três contos de cada um dos autores e mais dois poemas: “Pântano”, de Fernando
Namora, e “Lamentação”, de Carlos de Oliveira. Embora Ferreira de Castro já apresentasse em suas obras, no
início dos anos 30, uma tentativa de “consciencialização de alguns problemas sociais” (SERRÃO,1972, p. 28) do
povo português, parece-nos importante destacar que, em Cabeças de Barro, o conto “Terra Alheia”, de Carlos de
Oliveira, à época com apenas dezesseis anos, apresentava “a noção concreta da alienação camponesa”
(TORRES, 1977, p. 74). Os jovens Namora e Carlos de Oliveira se tornariam, alguns anos depois, duas das
principais figuras do Neo-Realismo português.