Relações sociais e consumo
A indústria cultural, numa sociedade dominada pelo valor de troca,
juntamente com a publicidade, que é sua seiva, transforma-se em
importantes mecanismos reprodutores...A indústria cultural sacia e conduz
à apatia os consumidores, o que num sistema de produção de mercadorias
e, portanto, de necessidade de consumidores, poderia significar algum
risco. Mas a publicidade contorna esse perigo. A indústria cultural satisfaz
por meio de um movimento aparentemente contraditório: satisfaz porque
promete simplesmente, mas não realiza a sua promessa. A publicidade
ocupa esse vazio, uma vez que compensa a não-fruibilidade completa,
propondo, ao contrário, um desfrute real. (ARMINDA: 2004, 32).
A questão apresentada por Arruda é extremamente relevante por equacionar a
dimensão do poder da publicidade na perpetuação do modo de produção capitalista. Ao
prometer, insistentemente, a satisfação despertada pelo desejo da posse da mercadoria,
nega-a, também, insistentemente. O ato do consumo da mercadoria deveria, conforme o
prometido na publicidade, satisfazer o consumidor, encerrando o ciclo produtivo. No
entanto a não-satisfação o faz de maneira muito mais eficiente, pois, ao proporcionar o
sentimento de vazio no consumidor, leva-o a consumir novamente outras mercadorias,
iniciando, mais uma vez, o movimento cíclico do capitalismo.
Ambos os autores são categóricos ao afirmar a onipotência da indústria cultural.
Mesmo não tendo condições de negar a capacidade de influenciar os consumidores,
gostaria de ponderar a esse respeito. Ao analisar a construção das campanhas publicitárias,
segundo a visão de seus produtores, um fato peculiar chamou-me a atenção. Os autores por
mim pesquisados
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também são categóricos ao afirmar sua impotência ante o consumidor.
Explico melhor. Para os publicitários, o enfoque recai sobre o consumidor e não sobre a
mercadoria a ser publicizada. A máxima “num anúncio o que menos importa é o produto
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”
é senso comum entre eles. Apresentam-se como “reféns” dessa figura endeusada, que é o
consumidor. Para os publicitários, volume algum de recursos, financeiros e materiais, é
suficiente se, e somente se, a propaganda não buscar no imaginário social seu significado.
O consumidor reconhece-se, no anúncio, e, por conseqüência, na mercadoria, à
medida que o anúncio lhe seja, de algum modo familiar, e desperte-lhe o desejo de possuir
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Para maiores informações, ver referências bibliográficas os autores: Blackwell, Maynard, Engel, Ries,
Trout.
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É interessante ressaltar que nos compêndios de publicidade não aparece a denominação de mercadoria,
aparece comumente produto. Não há a distinção entre os termos.