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de um modo de vida global, manifesto por todo o âmbito das atividades
sociais, porém mais evidente em atividades “especificamente culturais” –
uma certa linguagem, estilos de arte, tipos de trabalho intelectual; e (b)
ênfase em uma ordem social global no seio da qual uma cultura específica,
quanto a estilos de artes e tipos de trabalho intelectual, é considerada
produto direto ou indireto de uma ordem primordialmente constituída por
outras atividades sociais. Essas posições são freqüentemente classificadas
como (a) idealista e (b) materialista, embora se deva observar que em (b) a
explicação materialista habitualmente fica reservada às outras atividades
“primárias”, deixando a “cultura” para uma versão do “espírito formador”,
agora, naturalmente, em bases diferentes, e não primária, mas secundária.
Contudo a importância de cada uma dessas posições, em contraposição a
outras formas de pensamento, é que leva, necessariamente, ao estudo
intensivo das relações entre as atividades “culturais” e as demais formas de
vida social. Cada uma dessas posições implica um método amplo: em (a),
ilustração e elucidação do “espírito formador”, como nas histórias nacionais
de estilos de arte e tipos de trabalho intelectual que manifestam,
relativamente a outras instituições e atividades, os interesses e valores
essenciais de um “povo”; em (b), investigação desde o caráter conhecido ou
verificável de uma ordem social geral até as formas específicas assumidas
por suas manifestações culturais. (WILLIAMS, 2007, p. 11-12).
Compreendem-se manifestações culturais como um conjunto de atividades e
práticas distintamente humanas, simbólicas, que ultrapassam a materialidade dos
objetos produzidos, e englobam tanto a produção quanto o próprio produtor. Assim,
como nos assevera Geertz:
Nossas idéias, nossos valores, nossos atos, até mesmo nossas emoções
são, como nosso próprio sistema nervoso, produtos culturais – na verdade,
produtos manufaturados a partir de tendências, capacidades e disposições
com as quais nascemos, e, não obstante, manufaturados. Chartres
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é feita
de pedra e vidro, mas não é apenas pedra e vidro, é uma catedral, e não
somente uma catedral, mas uma catedral particular, construída num tempo
particular por certos membros de uma sociedade particular. Para
compreender o que isso significa, para perceber o que é isso exatamente,
você precisa conhecer mais do que as propriedades genéricas da pedra e
do vidro e bem mais do que é comum a todas as catedrais. Você precisa
compreender também – e, em minha opinião, da forma mais crítica – os
conceitos específicos das relações entre Deus, o homem e a arquitetura
que ela incorpora, uma vez que foram eles que governaram a sua criação.
Não é diferente com os homens: eles também, até o último deles, são
artefatos culturais. (1989, p. 62-63).
Geertz propõe “a interpretação das culturas”, defendendo a idéia de que a
cultura é uma ação simbólica, e que a preocupação analítica do pesquisador deve
ser o “significado”. Ele assim o resume:
O conceito de cultura que eu defendo, [...], é essencialmente semiótico.
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Catedral francesa localizada na cidade de Chartres, cuja construção data do Século XII, cujo conjunto de
mais de 150 vitrais, extremamente elaborados são considerados dos mais lindos do mundo.