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trogloxenos obrigatórios. Os troglóbios são os cavernícolas estritos, ocorrem unicamente em
cavidades subterrâneas e apresentam um alto grau de especialização que os tornam capazes de
completar seus ciclos de vida no interior da caverna, encontrar alimentos e indivíduos da
mesma espécie (Barr 1968). Trogloxenos obrigatórios são aquelas espécies cujos indivíduos
necessitam não apenas passar parte da vida no meio epígeo, mas que também dependem da
permanência por certo tempo no meio subterrâneo, seja para amadurecer glândulas, hibernar,
colocar ovos ou cuidar da prole. Assim, ambos os grupos são em geral pouco tolerantes a
fatores de estresse (alteração de habitat, flutuações ambientais não-naturais, poluição química,
eutrofização) e, no caso dos troglóbios, dependem de nutrientes importados do meio epígeo e
possuem populações freqüentemente pequenas com baixa capacidade de recuperação, como
conseqüência de suas estratégias de vida. Desta maneira, todos os troglóbios, assim como os
trogloxenos obrigatórios, podem ser considerados, a princípio, pelo menos na categoria
vulnerável de espécies ameaçadas, segundo os critérios da IUCN (Internacional Union for
Conservation Nature).
Em 1986 foi realizado o primeiro levantamento bioespeleológico na Serra da
Bodoquena, ocasião em que nove cavernas foram estudadas no município de Bonito (Godoy
1986). Neste momento, entre os vertebrados, seis espécies de mamíferos (entre as ordens
Masupialia, Rodentia e Edentata) e uma espécies de ave, Tyto alba Scopoli 1769 (Strigiformes:
Tytonidae), foram registradas. A presença de quirópteros é citada apenas pela observação dos
diferentes tipos de guano e peixes foram identificados superficialmente como “bagres e
lambaris”. Entre os invertebrados, foram catalogadas 25 famílias de Hexapoda, 11 famílias de
Arachnida, uma de Crustacea, duas famílias de Mollusca e um Nematomorpha. Foram
identificados ao nível específico apenas Drosophila repleta Wharton 1942 (Diptera);
Ornithodoros talaje Guérin et Meneville 1849 (Acari); Potiicoara brasiliensis Pires 1987
(Crustacea); Solaropsis johnsoni Pilsbry 1933; Solaropsis paravicinii Ancey 1897; e Poteria
inca d´Orbygny (Mollusca).
No Brasil existem cerca de 80 táxons de invertebrados troglóbios descritos, sendo
encontrados, até o momento, apenas oito na Serra da Bodoquena: quatro espécies de
Collembola, uma de Diplopoda, uma de Araneae e duas de Crustacea (Gnaspini & Trajano
1994). Destaca-se pela importância paleogeográfica Potiicoara brasiliensis Pires 1987
(Crustacea: Peracarida), pois pertence à ordem
Spelaeogriphacea que possuía anteriormente
somente um gênero monoespecífico que ocorre nas cavernas da África do Sul. Trata-se, de
uma espécie descendente provavelmente de um grupo gonduânico (Godoy 1986), relacionando
a fauna africana com a sul-americana.