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ESPECIFICIDADES DO USO DE INGLÊS (LE) NA ÁREA
TÉCNICA EMPRESARIAL
: A RELAÇÃO ENTRE
NECESSIDADES
, PLANEJAMENTO DE CURSO E MATERIAL
DIDÁTICO
.
J
AQUELINE LOPES
SÃO CARLOS
2008
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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
L864ei
Lopes, Jaqueline.
Especificidades do uso do inglês (LE) na área técnica
empresarial : a relação entre necessidades, planejamento
de curso e material didático / Jaqueline Lopes. -- São
Carlos : UFSCar, 2008.
181 f.
Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São
Carlos, 2008.
1. Língua inglesa – ensino e aprendizagem. 2. Material
didático. 3. Língua inglesa – inglês técnico. I. Título.
CDD: 428 (20
a
)
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BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Eliane Hércules Augusto Navarro
Profa. Dra. Denise Campos Kuhn
Profa. Dra. Sandra Regina Buttros Gattolin de Paula
~6 /02- ~
----
~
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGÜÍSTICA
ESPECIFICIDADES DO USO DE INGLÊS (LE) NA ÁREA TÉCNICA
EMPRESARIAL: A RELAÇÃO ENTRE NECESSIDADES, PLANEJAMENTO DE
CURSO E MATERIAL DIDÁTICO.
Jaqueline Lopes
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Lingüística da Universidade
Federal de São Carlos, como parte dos requisitos
para obtenção do Título de Mestre em Lingüística.
Área de Concentração: Ensino-Aprendizagem de
Línguas
Orientadora: Profª. Drª. Eliane Hércules Augusto-
Navarro
São Carlos
2008
Dedico este trabalho ao meu esposo, Robson,
aos meus pais José Maria e Tânia,
e à minha irmã, Janaina.
I keep six honest serving-men.
(They taught me all I knew.)
Their names are What and Why and When
And How and Where and Who.
Rudyard Kipling
AGRADECIMENTOS
Agradeço à professora Eliane Hércules Augusto-Navarro não apenas pela
orientação, mas pelo apoio, amizade, compreensão e conselhos valiosos.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Lingüística da Universidade
Federal de São Carlos, em especial às professoras Sandra Regina Buttros Gattolin de Paula e
Maria Silvia Cintra Martins pelas contribuições para o aprimoramento deste trabalho.
Ao meu esposo, Robson, por toda compreensão e apoio em todos os momentos.
À minha família por apoiar e incentivar minhas escolhas.
À minha prima, Monique, e à minha irmã, Janaina, por me ajudarem a revisar este
trabalho em pleno dia de Natal.
Às amigas Daniela Terenzi e Luciana Marchetti por terem compartilhado minhas
incertezas e angústias.
À minha tia, Maria Elena, pelo apoio e incentivo durante a graduação e o
mestrado.
E a Deus que me deu a motivação necessária para eu terminar este trabalho de
pesquisa.
RESUMO
Este estudo objetiva comparar os cursos de inglês de duas empresas a fim de
avaliar qual o tratamento dado às especificidades de uso da língua no desempenho das funções de
seus funcionários-alunos em suas rotinas de trabalho. Embasados, principalmente, nos achados de
Hutchinson e Waters (1984, 1987) e Dudley-Evans e St John (1998), discutimos a relevância da
análise de necessidades como instrumento essencial para o planejamento de um curso para
propósitos específicos mais adequado às necessidades e aos interesses de um público-alvo. A
análise de dados mostra a importância que o conhecimento teórico sobre o ensino de línguas para
propósitos específicos tem no trabalho de profissionais que se propõem a atuar nessa, fértil e
crescente, área do ensino de línguas. Esta pesquisa pode ser utilizada como um embasamento
teórico inicial para professores de língua estrangeira, sobretudo língua inglesa, que queiram
conhecer ou saber mais a respeito do planejamento de um curso para propósitos específicos.
Palavras-chave: Inglês para Propósitos Específicos, análise de necessidades, material didático.
ABSTRACT
This study presents a comparison of the English as a Foreign Language courses
offered at two companies. Our purpose is to evaluate what is the treatment of the language use
specificities in these companies’ employees peformance of their functions in their daily work
routine. We discuss the key role of needs analysis in the design of effective LSP courses, as
stated by Hutchinson and Waters (1984, 1987) and Dudley-Evans and St John (1998), among
other reserchers in the field. Our data analysis shows how important it is that professionals who
decide to work in this area search for solid theoretical information on this fruitful and progressive
branch of EFL/ESL, more specifically. Our study can provide initial theoretical basis for those
language teachers, especially the ones working with EFL,who wish to be introduced or to obtain
more information on LSP course design and development.
Key-words: Language for Specific Purposes, English for Specific Purposes, needs analysis,
teaching material.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Amostra do material didático utilizado por na empresa I ....................................117
Figura 2 – Amostra do material didático utilizado por na empresa I ....................................118
Figura 3 - Amostra do material didático utilizado por na empresa II ....................................119
Figura 4 – Amostra do material didático utilizado por na empresa II ...................................120
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Função exercida pelos funcionários da empresa I e o tempo que estão
na empresa ..........................................................................................................................69
Tabela 2 – Função exercida pelos funcionários da empresa II e o tempo que estão
na empresa ..........................................................................................................................70
Tabela 3 – Motivos pelos quais os funcionários da empresa II procuraram o seu curso ......... 85
Tabela 4 - Motivos pelos quais os funcionários da empresa II procuraram o seu curso.......... 87
Tabela 5 – O que é recebido e/ou produzido em inglês dentro da empresa I...........................89
Tabela 6 - O que é recebido e/ou produzido em inglês dentro da empresa II ..........................91
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CI Coordenador I
CII Coordenadora II
ILE Inglês como Língua Estrangeira
ISL Inglês como Segunda Língua
F1I, II, III... Funcionário I, II, III... da empresa I
F2I, II, III... Funcionário I, II, III... da empresa II
IPE Inglês para Propósitos Específicos
IPEN Inglês para Propósitos Específicos de Negócios
IPG Inglês para Propósitos Gerais
IPGN Inglês para Propósitos Gerais de Negócios
IPN Inglês para Propósitos de Negócios
LE ngua Estrangeira
PA, B... Professora A, B...
RH Recursos Humanos
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... V
RESUMO ....................................................................................................................................V
ABSTRACT ................................................................................................................................V
LISTA DE FIGURAS..............................................................................................................VIII
LISTA DE TABELAS ................................................................................................................IX
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ...................................................................................X
I
NTRODUÇÃO ........................................................................................................................14
PROBLEMA E JUSTIFICATIVA ...................................................................................................17
O
BJETIVOS ................................................................................................................................19
P
ERGUNTAS DE PESQUISA .........................................................................................................19
CAPÍTULO 1 REFERENCIAL TEÓRICO..........................................................................22
1.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE INGLÊS PARA PROPÓSITOS ESPECÍFICOS (IPE)......................22
1.2
O INSTRUMENTAL NO BRASIL.........................................................................................24
1.3
CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE IPE ..................................................................................26
1.3.1 Os papéis desempenhados pelo profissional de IPE...................................................30
1.4
INGLÊS PARA PROPÓSITOS DE NEGÓCIOS...........................................................................34
1.4.1 Professores de inglês para negócios .............................................................................36
1.5 A ANÁLISE DE NECESSIDADES.............................................................................................37
1.5.1 O papel da análise de necessidades no ensino de inglês para negócios.....................42
1.5.2 Como realizar a análise de necessidades .....................................................................43
1.5.2.1 Questionários e Listas de checagem.............................................................................44
1.5.2.2 Entrevistas Estruturadas ...............................................................................................45
1.5.2.3 Observação ...................................................................................................................45
1.5.2.4 Análise de textos autênticos .........................................................................................45
1.5.2.5 Avaliação......................................................................................................................46
1.5.2.6 Discussões ....................................................................................................................46
1.6
PLANEJAMENTO DO CURSO PARA PROPÓSITOS ESPECÍFICOS............................................47
1.6.1 Intensivo ou extensivo ...................................................................................................49
1.6.2 Avaliar ou não................................................................................................................50
1.6.3 Necessidades imediatas ou posteriores ........................................................................51
1.6.4 O professor enquanto fornecedor ou facilitador/consultor .......................................51
1.6.5 Foco amplo ou restrito ..................................................................................................52
1.6.6 Pré-experiência ou paralelamente à experiência ........................................................53
1.6.7 Materiais para fins gerais ou materiais para fins específicos....................................53
1.6.8 Grupos homogêneos ou heterogêneos e motivação.....................................................54
1.6.9 Planejamento de curso fixo ou negociado e flexível ...................................................55
1.6.10 Desenvolvendo o planejamento de um curso ............................................................ 56
1.7
O PAPEL DOS MATERIAIS ....................................................................................................58
CAPÍTULO 2 METODOLOGIA ..........................................................................................62
2.1
NATUREZA DA PESQUISA.....................................................................................................62
2.2
CONTEXTOS DE PESQUISA...................................................................................................64
2.2.1 Empresa I .......................................................................................................................64
2.2.1.1 Curso de inglês da empresa I........................................................................................64
2.2.2 Empresa II...................................................................................................................... 65
2.2.2.1 Curso de inglês da empresa II.......................................................................................65
2.3
PARTICIPANTES DA PESQUISA............................................................................................. 66
2.3.1 Coordenadores dos cursos ............................................................................................67
2.3.2 Professoras do curso da empresa I...............................................................................67
2.3.3 Professoras do curso da empresa II.............................................................................68
2.3.4 Funcionários – alunos da empresa I ............................................................................69
2.3.5 Funcionários – alunos da empresa II...........................................................................69
2.4
INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ..............................................................................70
2.5
PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE ............................................................................................72
CAPÍTULO 3 ANÁLISE DOS DADOS.................................................................................75
3.1 AS NECESSIDADES DAS EMPRESAS E DOS FUNCIONÁRIOS-ALUNOS.................................... 75
3.1.1 As necessidades das empresas sob o ponto de vista dos coordenadores I e II .........76
3.1.2 A consciência dos funcionários em relação as suas necessidades lingüísticas
para seu
desempenho profissional.........................................................................................84
3.1.3 A relação entre as necessidades e interesses dos funcionários ..................................93
3.2 O MATERIAL DIDÁTICO ADOTADO NOS CURSOS E AS NECESSIDADES E INTERESSES DOS
FUNCIONÁRIOS
-ALUNOS.........................................................................................................108
CONCLUSÃO E POSSIBILIDADES DE PESQUISAS FUTURAS ........................................123
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................126
BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................................128
APÊNDICES...........................................................................................................................129
14
INTRODUÇÃO
Conforme discutido por Hutchinson e Waters (1987), com a enorme expansão
científica, tecnológica e econômica que se iniciou no final da Segunda Guerra Mundial, o
mundo passou a ser dominado pela tecnologia e pelo comércio, havendo a necessidade de
uma língua internacional. Principalmente em razão do poder econômico exercido pelos
Estados Unidos, a língua inglesa adquiriu o papel de língua internacional.
A partir desse desenvolvimento comercial e tecnológico, uma grande
quantidade de pessoas passou a aprender inglês por necessidades específicas e logo os
profissionais do ensino de línguas foram pressionados a produzirem cursos desenvolvidos
com objetivos claramente definidos, os quais foram denominados cursos de Inglês para
Propósitos Específicos (IPE).
Salientamos que adotamos a terminologia IPE, proposta por Augusto (1997),
por concordarmos com a visão da autora de que o termo inglês instrumental, como ficou
conhecido no Brasil, não expressa com clareza o propósito dessa metodologia de ensino.
Augusto chegou a essa conclusão ao propor e investigar um curso de ensino de escrita
acadêmica em inglês a alunos e funcionários de duas universidades públicas do interior do
estado de São Paulo. Ao desenvolver sua pesquisa, a autora observou que o termo inglês
instrumental estava muito ligado à idéia de ensino de estratégias de leitura, optando, então,
pelo termo IPE por acreditar que ele define melhor o ensino de inglês voltado para atender as
necessidades e as expectativas específicas de um público-alvo.
Acrescentamos que, como não há um consenso entre pesquisadores da área
sobre o ensino de línguas para propósitos específicos tratar-se de uma abordagem ou de uma
metodologia, optamos pelo termo metodologia, conforme Augusto (1997), já que o definimos
como os meios pelos quais se dará o ensino-aprendizagem de uma língua, ou seja, os
15
objetivos gerais de um curso, os conteúdos lingüísticos a serem estudados, entre outros. A
nosso ver, o ensino de IPE é uma metodologia de ensino que está inserida em algo maior que
é a abordagem comunicativa, pois definimos abordagem como a teoria a respeito da natureza
e da aprendizagem de línguas.
Para Hutchinson e Waters (1987), o ensino de IPE é uma metodologia de
ensino de língua que tem como finalidade atender às necessidades dos aprendizes.
Segundo Johns (1991) e Dudley-Evans e St John (1998), o IPE tem se
preocupado com a análise cuidadosa de necessidades, bem como tem feito parte de sua
metodologia o desenvolvimento de um currículo e a adoção e/ou confecção de material
didático (MD).
Conforme proposto por Dudley-Evans e St John, o ensino de IPE para
empresas se enquadra no que é chamado de IPO (Inglês para Propósitos Ocupacionais).
Dentro dessa área insere-se o ensino de Inglês para Propósitos de Negócios (IPN) que pode
ser dividido em dois ramos: o Inglês para Propósitos Gerais de Negócios (IPGN) e Inglês para
Propósitos Específicos de Negócios (IPEN)
1
.
Em termos gerais, podemos dizer que o IPN engloba o ensino de inglês para
atender as necessidades de funcionários de empresas os quais lidam com linguagem e tarefas
específicas da área de negócios, tais como escrita de e-mails, negociações comerciais, entre
outros.
Cabe ressaltar que não são somente funcionários dessa área que necessitam
aprender inglês para desempenharem sua rotina de trabalho. Há também aqueles que
trabalham na área técnica da empresa e muitas vezes lidam com linguagem e tarefas muito
específicas, sendo que em livros didáticos disponíveis no mercado geralmente não há uma
previsão de trabalho com esse tipo de linguagem.
1
Discutimos todos esses termos no capítulo 1 deste trabalho.
16
É por isso que, para que se conheçam as necessidades e os interesses dos
aprendizes, é preciso que se realize uma análise de necessidades antes do planejamento do
curso e da seleção, adoção e/ou confecção de um MD. Além disso, segundo Braine (2001),
projeto de currículos de língua inglesa sem alguma consideração das necessidades dos
aprendizes é quase impensável hoje.
Essa análise é um instrumento bastante reconhecido (BRAINE, 2001; DUDLEY-
EVANS; ST JOHN, 1998; HUTCHINSON; WATERS, 1984,1987) como essencial para o
desenvolvimento de um curso mais adequado aos objetivos do público-alvo. De acordo com
Dudley-Evans e St John (1998), a análise de necessidades é o alicerce do IPE.
Acrescentamos que Augusto-Navarro e outros (no prelo) avaliou o processo de
realização de análise de necessidades em um curso de IPE em uma empresa da área da
aviação e observou que essa avaliação deve ser realizada continuamente para o
aperfeiçoamento de um curso de IPE, isto é, não basta realizá-la no início do curso, a
avaliação deve ser repetida diversas vezes ao longo do curso, dependendo da duração do
mesmo.
Nesse sentido, uma das preocupações centrais deste trabalho é apresentar uma
reflexão sobre o papel da análise de necessidades e interesses no cenário de IPE. Para tanto
nos propomos a refletir sobre a relação entre o desenvolvimento de dois cursos de IPE na área
empresarial e a análise de necessidades e de interesses realizadas em razão do oferecimento
dos mesmos. Em vista disso, apresentamos, nesta pesquisa, resultados da comparação dos
cursos de IPE desenvolvidos nessas duas empresas, analisando o que seus funcionários-alunos
descrevem como suas necessidades e seus interesses, procurando verificar a coerência entre as
necessidades em cada um desses contextos e as propostas de cada um dos cursos.
O propósito deste estudo é justamente analisar se existe algum desencontro,
levantar possíveis razões e verificar a adequação dos materiais didáticos adotados nessas duas
17
empresas para o ensino de IPE com relação às necessidades e aos interesses apresentados
pelos funcionários-alunos.
Problema e Justificativa
Nosso primeiro contato com o ensino de inglês em contexto empresarial
ocorreu durante a graduação quando trabalhávamos em um projeto de extensão que integrava
uma universidade pública e uma empresa de uma cidade do interior do estado de São Paulo.
Exercíamos a função de professora de IPE e a habilidade focada era a leitura. Os funcionários
necessitavam compreender os manuais técnicos que utilizavam na realização de seu trabalho.
Trabalhávamos em uma equipe de sete professores e éramos coordenados por duas docentes
do departamento de Letras da universidade citada. Produzíamos todo o material a partir dos
manuais técnicos fornecidos pelos próprios funcionários-alunos e fazíamos uma análise de
necessidades prévia ao início do curso.
Ao terminarmos a graduação fomos indicados para trabalhar em outra empresa
dessa cidade. Quando iniciamos nossa atuação, percebemos que o curso desta era muito
diferente daquela. O tradutor técnico da empresa era o responsável por contratar os
professores, selecionar o material didático utilizado, assim como dividir os grupos, tarefa
realizada sem ao menos avaliar o nível de proficiência de cada funcionário.
Ao notarmos que eram necessárias mudanças na organização e estrutura do
curso dessa segunda empresa e não sabíamos como efetivá-las, buscamos por embasamento
teórico sobre o ensino de inglês em contexto empresarial.
18
Nessa busca, observamos que, de acordo com Nickerson (2005), estudos
realizados em diferentes países confirmaram que o inglês é parte intrínseca da comunicação
em contextos multinacionais e é uma realidade na vida de profissionais da área empresarial
2
.
Além disso, esses profissionais possuem necessidades e interesses específicos
em relação à aprendizagem de inglês, haja vista que precisam do conhecimento da língua-alvo
para melhor desempenharem suas tarefas de trabalho. Entretanto, geralmente, as necessidades
dos funcionários-alunos não são levadas em consideração nem no planejamento dos cursos e
nem na sala de aula (H
UTCHINSON; WATERS, 1984; VIAN JR, 2002).
Em vista do que observamos durante o período que trabalhamos em contexto
empresarial, bem como em nossa busca por pressupostos teóricos sobre o ensino de inglês
para fins específicos, notamos a importância de conhecermos as necessidades e os interesses
de nosso público-alvo, constatando a relevância da análise de necessidades como instrumento
essencial para o planejamento de um curso de inglês mais adequado aos propósitos
específicos de um grupo de aprendizes.
Apontando para a mesma direção, verificamos que, alguns autores, como
Augusto e outros (no prelo), Braine (2001), Dudley-Evans e St John (1998) e Hutchinson e
Waters (1984, 1987), já indicavam o importante papel que a avaliação de necessidades tem no
desenvolvimento de cursos de inglês voltados a atender os objetivos específicos de
aprendizes. Além disso, Hutchinson e Waters (1987), especificamente, afirmam que
necessidades e interesses são diferentes e podem coincidir ou não.
Percebido as diferenças entre os cursos de inglês ministrados em duas
empresas, um no qual uma análise de necessidades é realizada e outro em que essa avaliação é
desconhecida, optamos por investigar esses dois cursos, comparando-os a fim de avaliar qual
2
Tradução nossa: Studies around the world, (...) all confirm that English is an intrisic part of communication in
multinational settings and a fact of life for many business people.
19
o tratamento dado às especificidades de uso da língua no desempenho das funções dos
funcionários-alunos em suas rotinas de trabalho. Dispusemo-nos também a analisar em que
medida o material didático utilizado nos cursos dessas empresas atende ás necessidades e aos
interesses desses funcionários bem como se essas necessidades e interesses coincidem ou
diferem haja vista o que apontam Hutchinson e Waters (1987).
Objetivos
Temos como objetivo investigar os cursos de inglês de duas empresas,
comparando-os com a finalidade de avaliar qual o tratamento dado às especificidades de uso
da língua no desempenho das funções dos alunos (funcionários) em suas rotinas de trabalho.
Avaliamos, também, em que medida o material utilizado atende às necessidades e aos
interesses desses aprendizes e se suas necessidades e interesses coincidem ou não.
Visamos a comparar os dois cursos de inglês nos contextos mencionados
acima tendo em vista a relevância de se realizar uma análise de necessidades prévia ao início
de cursos de inglês para propósitos específicos, bem como processual no desenvolvimento do
curso, e a importância da conscientização dos alunos funcionários de empresas em relação as
suas necessidades sobre a língua inglesa na execução de seu trabalho, conforme discutido por
Augusto-Navarro e outros (no prelo), assim como a necessidade de se relacionar essas
necessidades, o planejamento do curso e o material didático.
Perguntas de pesquisa
20
Interessa-nos, assim, observar e analisar a relação estabelecida entre a análise
de necessidades e de interesses com o planejamento dos cursos e a adoção ou
desenvolvimento de material didático. Para tal, desenvolvemos quatro perguntas norteadoras
deste trabalho:
1) Em que medida os coordenadores dos cursos de inglês das empresas por nós
investigadas sabem explicar as necessidades dessas empresas?
2) Em que medida os funcionários das empresas I e II estão conscientes de suas
necessidades lingüísticas em LE para seu melhor desempenho profissional?
3) Em que pontos as necessidades e interesses dos funcionários-alunos tanto da empresa I
quanto da empresa II:
a) coincidem?
b) diferem?
4) Qual a relação do material didático adotado nos cursos das empresas I e II com as
necessidades e aos interesses apontados pelos funcionários-alunos?
Em seguida, descrevemos a organização deste trabalho.
No primeiro capítulo, trazemos resenhas sobre as principais teorias que
embasam esta investigação: Inglês para Propósitos Específicos – IPE, análise de necessidades,
Inglês para Propósitos de Negócios.
O segundo capítulo apresenta a metodologia desta pesquisa, explicitando a sua
natureza, seu contexto, seus participantes e seus instrumentos.
No terceiro capítulo tratamos da análise dos dados, discutindo respostas às
entrevistas, aos questionários e as amostras do material adotado nos dois cursos.
Nas considerações finais, apresentamos uma reflexão sobre teoria e prática
retomando as especificidades de cada curso decorrentes dos dados e oferecemos sugestões de
21
encaminhamentos e pesquisas futuras. Além disso, discorremos sobre as contribuições e
limitações deste trabalho.
22
Capítulo 1 - REFERENCIAL TEÓRICO
Apresentaremos ao longo deste capítulo algumas discussões a respeito de IPE
(Inglês para Propósitos Específicos) por tratar da questão central deste estudo; IPN (Inglês
para Propósitos de Negócios) por tratarmos do ensino de inglês em contexto empresarial e
análise de necessidades por ser o cerne do ensino de inglês para propósitos específicos.
1.1 Breve Histórico sobre Inglês para Propósitos
Específicos (IPE)
Como mencionamos anteriormente, em discussão sobre o histórico do
surgimento do IPE, Hutchinson e Waters (1987) informam que com o final da Segunda
Guerra Mundial iniciou-se, internacionalmente, uma era de enorme expansão científica,
tecnológica e econômica. Essa expansão deu origem a um mundo dominado por duas forças -
a tecnologia e o comércio – necessitando de uma língua internacional. Por várias razões,
principalmente pelo poder econômico dos Estados Unidos, o inglês adquiriu este papel de
língua internacional.
Uma grande quantidade de pessoas começou a aprender inglês não por prazer
ou prestígio, mas porque essa língua era a chave para as tendências tecnológicas e comerciais.
Diferentemente do que acontecia anteriormente, o inglês era procurado por uma nova geração
de pessoas que sabiam especificamente porque estavam aprendendo essa língua, haja vista
homens de negócios que precisavam vender seus produtos, mecânicos os quais precisavam ler
manuais de instrução, médicos que precisavam ficar a par dos desenvolvimentos de sua área,
além de estudantes cujo curso incluía livros e revistas acadêmicas somente em inglês.
23
Todo esse desenvolvimento comercial e tecnológico logo começou a
pressionar os profissionais do ensino de línguas a produzirem cursos desenvolvidos com
objetivos claramente definidos. O inglês passava a fazer parte dos desejos e necessidades de
pessoas que não professores de língua.
Conforme Hutchinson e Waters (1987), ao mesmo tempo em que a demanda
por cursos de inglês planejados para necessidades específicas crescia, novas idéias surgiam no
estudo de língua. Tradicionalmente, o objetivo da lingüística era descrever as regras do uso da
língua. Todavia, os novos estudos passaram a descobrir formas nas quais a língua é usada na
comunicação real. Uma das descobertas desses estudos foi a de que a língua que falamos e
escrevemos varia consideravelmente de um contexto para outro. Essas idéias harmonizaram
muito bem com o desenvolvimento de cursos de inglês para grupos específicos de aprendizes.
A idéia era simples: se a língua varia de uma situação de uso para outra, seria possível
determinar as características de situações específicas e então fazer dessas características a
base do curso dos aprendizes. Resumindo, o inglês necessitado por um grupo particular de
aprendizes poderia ser identificado por meio da análise das características lingüísticas da área
de estudo ou trabalho desse grupo.
Novos desenvolvimentos na psicologia educacional também trouxeram
contribuições para o IPE. Os aprendizes passaram a ser vistos como tendo diferentes
necessidades e interesses os quais poderiam ter uma importante influência na motivação para
aprender além da eficácia na aprendizagem desses alunos. A suposição que sustentava essa
metodologia era a de que a clara relevância de um curso de inglês voltado para as
necessidades dos aprendizes melhoraria a motivação destes, tornando o aprendizado melhor e
mais rápido.
O crescimento do IPE veio à tona por uma combinação de três fatores: a
expansão da demanda por inglês que suprisse necessidades específicas e os desenvolvimentos
24
nas áreas da lingüística e da psicologia educacional (HUTCHINSON; WATERS, 1987, p. 8).
De acordo com Johns e Dudley-Evans (1991), através da história do IPE, seus
profissionais têm se preocupado com as necessidades dos aprendizes, com a identificação dos
desejos e propósitos do aprendiz como elementos obrigatórios e essenciais na confecção de
materiais.
Segundo Widdowson (1998), o termo English for Specific Purposes (Inglês
para Propósitos Específicos) pressupõe que é um inglês próprio da gama de princípios e
procedimentos os quais definem uma profissão particular. Dessa forma, temos um inglês que
é específico, associado a um tipo de atividade institucional a qual é também concebida
enquanto específica. Ainda de acordo com esse autor, o inglês para propósitos específicos é
que traz em seu cerne um propósito comunicativo. Ele afirma que esse reconhecimento levou
ao desenvolvimento de princípios gerais sobre o ensino de uma língua comunicativa no início
dos anos 70.
A despeito do caráter comunicativo de IPE, já nos anos 70, para Hutchinson e
Waters (1984), o planejamento de um curso de IPE tradicional tem duas desvantagens
principais: primeiramente, o desenvolvimento da capacidade de se comunicar do aprendiz é
negligenciado e, segundo existe uma falha ao analisar e levar em consideração as realidades
da situação de aprendizagem do IPE. Segundo esses autores, para a metodologia clássica do
IPE, o aprendiz precisa estudar a sua especialidade em inglês para que se sinta mais motivado.
Seria aconselhável que o problema, a seleção do que e como ser ensinado fosse comunicado
aos estudantes e juntamente com eles se procurasse a melhor maneira de satisfazer todas as
partes envolvidas não só o professor e os aprendizes, mas também, a universidade, o sistema
educacional e a sociedade em geral.
1.2 O “Instrumental” no Brasil
25
A metodologia de ensino de IPE surgiu no Brasil na década de 70,
primeiramente com trabalhos na área do francês. No fim dessa década, a língua inglesa
começou a despertar para essa área e teve início em 1978 um projeto de ensino de inglês para
fins específicos nas universidades brasileiras (AUGUSTO, 1997; CELANI, 1998; CELANI E
HOLMES, 2006; RAMOS, 2005).
Diversos fatores contribuíram para a criação de um centro de excelência em
IPE que oferecesse conselhos, recursos e educação de professores nas universidades
brasileiras (CELANI E OUTROS 1984, apud AUGUSTO 1997; RAMOS 2005). O primeiro desses
fatores era o grande número de professores que estavam cursando mestrado em Lingüística
Aplicada e que demonstraram forte interesse por IPE já que não se sentiam confiantes para
oferecerem cursos especializados de inglês aos departamentos de suas universidades. Um
segundo fator era a forma como o ensino de IPE era considerado pela maioria dos professores
de inglês: uma atividade menos nobre. Um terceiro fator foi a pressão que os departamentos
de inglês começaram a sofrer para que oferecessem cursos especializados dessa língua.
Segundo Celani (1998), o projeto nacional de IPE objetivava melhorar o uso
do inglês de pesquisadores brasileiros, professores da área de ciências e técnicos,
principalmente, em relação à leitura especializada e técnica. Ainda de acordo com essa autora,
o projeto priorizou algumas áreas tais como: a preparação de materiais, a fundação desse
centro nacional de recursos, o desenvolvimento de pesquisa e a educação de professores.
Uma análise de necessidades foi realizada em algumas universidades
brasileiras e constatou-se que os alunos necessitavam da leitura de literatura especializada.
Decidiu-se focalizar essa habilidade por ter sido a única identificada.
Conforme Ramos (2005, p.15), para que os professores aprendessem a ensinar
a compreensão escrita, criou-se uma metodologia de ensino de leitura no país. “Essa
26
metodologia enfatizava o uso de textos autênticos, o aprendizado de estratégias de leitura e
buscava fazer com que os alunos pudessem lidar rapidamente com textos escritos em inglês,
já que os cursos eram de curta duração (um a dois semestres letivos)”.
Celani (1998) afirma que se percebeu a necessidade de mudanças na prática
dos professores participantes do projeto. Esses professores tinham uma característica comum:
eram todos professores de inglês para fins gerais.
Essa metodologia contribuiu para o ensino de leitura por meio do uso de
estratégias de leitura, conscientização no processo envolvido nessa atividade entre outros.
Capacitou também o professor a elaborar seus próprios materiais ou seu próprio curso sem ter
que usar um livro didático.
Parece-nos que, devido ao foco no ensino somente da leitura, o IPE ficou
conhecido no Brasil como ensino de inglês instrumental e se criou o mito de que esse ensino
está relacionado somente a essa habilidade. Entretanto, denominam-se instrumental um curso
planejado para atender a fins e a necessidades específicos de um aluno ou grupo de alunos.
Para Ramos (2005), os termos inglês instrumental e Inglês para Propósitos
Específicos “querem dizer a mesma coisa”. No entanto, instrumental é um termo não muito
compreendido pelas pessoas. Além disso, aqueles que o conhecem já têm em mente um curso
de inglês voltado para o ensino de leitura. Por isso, acreditamos que o termo Inglês para
Fins/Propósitos Específicos é mais claro e define melhor o que um curso que utiliza essa
metodologia propõe.
1.3 Considerações Gerais sobre IPE
27
Conforme Dudley-Evans e St John (1998), o IPE se preocupa principalmente,
desde o seu surgimento até a contemporaneidade, com a análise de necessidades, a análise de
texto e a preparação de aprendizes para se comunicarem eficazmente nas tarefas que realizam
em suas situações de estudo ou trabalho. Cabe salientar que essa análise de texto consiste na
avaliação de textos das áreas de estudo ou trabalho dos aprendizes de IPE com o objetivo de
analisar a linguagem especificamente utilizada nesses textos. Com isso, os professores de IPE
podem desenvolver seus cursos de Inglês para Propósitos Específicos guiados tanto pela
análise de necessidades quanto pelo material utilizado por esses aprendizes. Talvez seja essa
uma das razões pela qual se criou o mito de que IPE é um curso para o ensino de uma única
habilidade – a leitura – já que seu planejamento é pautado também na análise e uso de textos.
Segundo Hutchinson e Waters (1984), o objetivo de um curso de IPE deveria
ser fornecer ao aprendiz a capacidade de manter a comunicação no contexto em que deseja
utilizar a língua. Além disso, o material do curso deveria ser escolhido baseado no quanto ele
poderia ajudar a desenvolver a competência do aprendiz. É necessária, então, uma
interpretação dos tipos de discurso do contexto desejado para descobrir que competência é
exigida para lidar com eles. Essa competência deveria formar a base do curso de IPE.
Esses estudiosos resumem essa discussão argumentando que apesar da análise
do contexto-alvo nos guiar ao decidirmos o que ensinar; como ensinar e que materiais utilizar,
esses aspectos devem ser deliberados a partir das restrições e do potencial da situação de
ensino-aprendizagem.
Para Dudley-Evans e St John, o ensino de IPE se baseia em uma metodologia
que difere daquela utilizada no ensino de Inglês para Propósitos Gerais. Esses autores
consideram, enquanto metodologia, a natureza da interação entre o professor de IPE e seus
aprendizes. O professor às vezes se torna um consultor de língua, obtendo um status igual ao
dos aprendizes os quais possuem sua própria especialidade no assunto que embasa o curso.
28
Conforme Johns e Price-Machado (2001), Inglês para Propósitos Específicos
(IPE) é um movimento baseado na suposição de que todo ensino de língua deveria ser
feito sob medida para as necessidades de uso da língua e aprendizagem específicas de
grupos de alunos. Além disso, esse ensino deve ser sensível aos contextos sócio-culturais
nos quais esses alunos usarão o inglês. Para as autoras, essa é uma das virtudes do IPE.
Assim como Johns e Price-Machado, Hutchinson e Waters (1987) descrevem o
ensino de IPE como uma metodologia de ensino de língua que tem como finalidade atender às
necessidades dos aprendizes. Além disso, para eles, grande parte do trabalho realizado pelos
professores de IPE está associado ao planejamento de cursos para diferentes grupos de
aprendizes.
Flowerdew e Peacock (2001), em seu artigo The EAP curriculum: Issues,
Methods, and Challenges”, discutem as questões envolvidas no ensino de Inglês para
Propósitos Acadêmicos (IPA). Segundo os autores, o ensino e a aprendizagem de IPA possui
seus próprios desafios, problemas, oportunidades, falhas e sucessos. Além disso, aqueles que
desenvolvem um curso e um currículo têm que aceitar e atender a esses desafios e
oportunidades. Flowerdew e Peacock acrescentam que um passo vital no processo de
planejamento de um curso de IPA é produzir uma descrição ampla das necessidades e desejos
do estudante de inglês para fins acadêmicos; outro é descrever detalhadamente a natureza do
processo de ensino e aprendizagem de IPA; um terceiro passo é aceitar que as metodologias e
abordagens válidas em outra área de Inglês como Segunda Língua (ISL) não são
necessariamente as mais apropriadas para o IPA.
Corroboramos os achados desses autores, bem como acreditamos que suas
ponderações são relevantes para nossa discussão sobre IPE, em razão do ensino de Inglês para
Propósitos Acadêmicos fazer parte da metodologia de ensino de inglês para fins específicos.
29
Segundo Johns (1991, p. 72), a maior contribuição do IPE para o ensino de
língua tem sido seu apelo à relevância da realização de análises cuidadosas e amplas de
necessidades e tarefas para o desenvolvimento do currículo de um curso. Os profissionais de
IPE sustentam que devemos constantemente desenvolver novas técnicas para que
examinemos as tarefas que estudantes desempenham em inglês a fim de que entendamos as
situações – alvo nas quais eles operam, bem como para determinar as estratégias de
aprendizagem do aprendiz.
A autora afirma que em vista da crença dos profissionais de IPE em análises
cuidadosas e amplas, eles freqüentemente descordam daqueles que fazem parte da
comunidade de ensino de IPG e que desenvolvem e publicam materiais os quais são muito
amplos e inapropriados para qualquer grupo de aprendizes, além de currículos que são
desenvolvidos sem serem embasados em uma avaliação cuidadosa da língua, tarefas e cultura
da situação-alvo.
Ainda conforme Johns (1991), a segunda maior contribuição do IPE é o seu
trabalho com o desenvolvimento do programa ou currículo de um curso. Ela ressalta que
grande parte do trabalho criativo em desenvolvimento de materiais para o ensino de Inglês
como segunda língua ou como língua estrangeira (ISL/ILE) teve origem com os profissionais
de IPE, os quais estão preocupados com atividades e discurso para populações específicas.
Essa metodologia sobre organização de currículos influenciou muito do ensino de língua e
representa uma grande mudança de paradigma de materiais em que elementos gramaticais
eram o foco.
Por fim, Johns apresenta como a terceira contribuição do IPE a questão da
autenticidade, questão essa intimamente ligada a decisões sobre avaliação de necessidades e
planejamento de currículo. Para o profissional de IPE não se deveria simplificar o discurso
real para propósitos pedagógicos. Esse profissional sustenta que textos orais e escritos
30
autênticos e não-modificados devem ser fornecidos para alunos de qualquer nível de
proficiência. Segundo essa autora ao enfatizar o processo de aprendizagem, surgiu uma nova
definição de autenticidade a qual considera a autenticidade das estratégias e atividades em vez
de autenticidade do discurso. Essa nova visão de autenticidade considera importante o uso de
atividades e estratégias que contribuam para o processo de aprendizagem do aluno, ou seja,
além de um discurso autêntico o aprendiz também precisa de atividades que estimulem a
aprendizagem da língua-alvo.
1.3.1 Os papéis desempenhados pelo profissional de IPE
Conforme Dudley - Evans e St John (1998), o profissional de IPE teria cinco
papéis principais: professor; planejador de cursos e fornecedor de materiais; colaborador;
pesquisador; avaliador.
Para Hutchinson e Waters (1987), professores de IPE têm que se esforçar para
dominar a linguagem e o assunto específicos que estão além de seus domínios. Professores os
quais foram treinados para o ensino de IPG ou literatura se depara com o ensino de textos cujo
conteúdo eles conhecem pouco ou até mesmo desconhecem.
Carver (1983) e Strevens (1988), citados por Flowerdew e Peacock (2001),
descreveram as qualidades que professores de Inglês para Propósitos Acadêmicos deveriam
possuir para que um curso de IPA seja bem sucedido. Segundo esses autores, os professores
deveriam estar dispostos a ajustarem os materiais e atividades de ensino às necessidades dos
estudantes; a se familiarizarem com a linguagem da área de estudo dos alunos e se interessar e
adquirir o conhecimento do mundo dos aprendizes.
Como já salientamos, as discussões a respeito do ensino de Inglês para
Propósitos Acadêmicos cabem aqui, uma vez que este está inserido na área de ensino de IPE.
31
Sullivan e Girgener (2002) afirmam que professores de inglês sem experiência
(novatos) no ensino de IPE, por não estarem, de alguma forma, familiarizados com as
necessidades específicas de seus alunos, freqüentemente, buscam por materiais tanto didáticos
quanto profissionais. As autoras sugerem que eles também entrevistem ou observem seu
público-alvo trabalhando. Elas ressaltam que entrevistas, observação e exame dos materiais
escritos representam procedimentos comuns de análise de necessidades que foram
sistematizados já nos anos 70. Além disso, Sullivan e Girgener vêem a coleta de dados
autênticos como crucial para a análise de necessidades de um curso de IPE já que esses dados
podem proporcionar uma visão mais interna daquilo que não está evidente para o professor de
inglês para fins específicos, para os alunos, ou talvez até mesmo para os próprios
profissionais.
De acordo com Dudley-Evans e St John, o IPE utiliza uma metodologia de
ensino que não difere radicalmente da metodologia do Inglês para Propósitos Gerais, porém
há uma diferença básica que afeta essa metodologia e se torna mais visível quando o ensino é
mais específico: o professor não é quem detém o conhecimento primário do conteúdo
profissional do material. Os alunos podem, em muitos casos, saber mais sobre o conteúdo do
que o professor. Isso ocorre certamente nos cursos especificamente orientados para o
conteúdo da área de estudo ou trabalho desses alunos.
Segundo Hutchinson e Waters (1987), para haver comunicação significativa na
sala de aula, é essencial que haja um interesse e conhecimento comuns entre o professor e o
aprendiz. Isso implica que o professor de IPE deve conhecer, até certo ponto, o assunto dos
materiais de IPE. No entanto, ao se embasar em uma abordagem de ensino centrada na
aprendizagem, isso não é visto como um movimento unilateral com o professor tendo que
aprender um assunto muito específico.
32
Dudley-Evans e St John (1998) discutem que, comumente, o professor de IPE
precisará de um entendimento razoável do assunto, exercendo o papel de organizador da sala
de aula. Ele tem objetivos claros para a aula e um bom entendimento do conteúdo profissional
do material de ensino. Todavia, quando se ensina em um curso mais específico, é essencial
que o professor adote a postura de um consultor que negocia com seus alunos a melhor
maneira de explorar o conteúdo para que seus objetivos sejam alcançados.
Conforme Hutchinson e Waters (1987), o professor de IPE deve exercer
também o papel de negociador. Afinal, esses professores podem, por exemplo, ter que
trabalhar em cooperação com patrocinadores (sponsors) ou especialistas os quais são
responsáveis pelo trabalho ou estudo dos aprendizes fora da sala de aula de IPE. Nessa área de
ensino, é importante que o professor estabeleça claras diretrizes sobre os papéis e
responsabilidades que tanto ele quanto os especialistas exercem. Para esses autores, o papel
dos professores de IPE aqui é o de adaptabilidade e flexibilidade.
Dudley-Evans e St John afirmam que profissionais de IPE freqüentemente
planejam o curso que ensinam e fornecem materiais para esse ensino. É raramente possível
usar um livro sem a necessidade de material complementar e às vezes não existem materiais
publicados que atendam a certas necessidades identificadas. O papel dos professores enquanto
fornecedores de material envolve a escolha de material publicado adequado, a adaptação de
material quando o publicado não é adequado ou até mesmo a confecção de um material
quando nada adequado existe. Professores de IPE também precisam avaliar a eficácia do
material utilizado no curso, seja ele encontrado no mercado ou auto-produzido. Para esses
autores, o papel de planejador de cursos e fornecedor de materiais descrito aqui parece um
papel difícil e exigente para alguém novo em IPE. Porém, eles acreditam que essas exigências
é que tornam o ensino de IPE interessante.
33
Nesse sentido, conforme demonstram Augusto-Navarro e outros (no prelo), a
constante análise de necessidades e interesses e a reflexão contínua sobre a eficácia de um
curso de IPE em desenvolvimento e dos materiais didáticos nele utilizados tornam-se
fundamentais para um trabalho adequado e coerente com o que há de específico em cada
contexto.
Apesar de existirem poucas pesquisas na área de Inglês para Propósitos de
Negócios (IPN), há um interesse crescente na investigação dos gêneros, linguagem e
habilidades envolvidas na comunicação dessa área (D
UDLEY-EVANS; ST JOHN, 1998, p. 15).
Conforme esses mesmos autores, os professores de IPE têm que estar
conscientes e em contato com essas pesquisas. Os profissionais que estão realizando uma
análise de necessidades, planejando um curso ou escrevendo materiais, precisam estar aptos a
incorporar os resultados desses estudos. Para os autores, quando se trabalha com um assunto
específico, seja acadêmico ou de trabalho, ele é mais bem abordado por meio da colaboração
entre professores de IPE e especialistas do assunto trabalhado.
Tanto Hutchinson e Waters (1987) quanto Dudley-Evans e St John ressaltam
que o profissional de IPE está freqüentemente envolvido em vários tipos de avaliação,
incluindo os testes feitos por alunos e a avaliação de cursos e materiais. Aplicam-se testes
para avaliar se os alunos têm o nível de língua e as habilidades necessárias para participarem
de um curso acadêmico ou profissional para fins específicos. O professor de IPE também
precisa aplicar testes que avaliem o quanto os aprendizes aproveitaram de um curso.
Conforme Dudley-Evans e St John (1998), a avaliação do planejamento de um
curso deveria ser feita enquanto o curso está sendo desenvolvido, no final do curso e após o
curso ter sido encerrado.
Além disso, segundo esses estudiosos, a avaliação por meio da discussão e a
análise de necessidades contínua podem também ser usadas na adaptação do currículo de um
34
curso. Em diversas situações a avaliação forma a base da negociação com alunos sobre seus
sentimentos a respeito do curso, suas necessidades e prioridades, os quais serão adicionados
no próximo estágio do curso.
Concordamos com os pesquisadores previamente citados, que um professor de
Inglês para propósitos Específicos deve estar sempre atento às necessidades e aos interesses
de seu público-alvo para então planejar o curso que oferecerá aos seus alunos, selecionar e/ou
confeccionar um material didático que atendam aos propósitos de seus aprendizes.
Acrescentamos que a avaliação do desenvolvimento do curso e dos alunos também é relevante
para o aperfeiçoamento do trabalho do profissional ou da equipe responsável por um curso de
IPE. Lembramos que, para que isso ocorra, é necessária a realização de uma análise de
necessidades processual e contínua, como salientam Augusto e outros (no prelo).
1.4 Inglês para Propósitos de Negócios
Trataremos nesta seção do Inglês para Propósitos de Negócios, haja vista que
em um curso de uma das empresas investigadas nesta pesquisa há o ensino desse tipo de
inglês, já que alguns de seus funcionários precisam utilizá-lo na realização de suas tarefas de
trabalho.
Dudley-Evans e St John (1998, p. 53) definem Inglês para Propósitos de
Negócios (IPN) como a área de maior atividade e crescimento em IPE. Conforme esses
autores, essa área teria crescido enormemente nos últimos tempos, em vista da grande
expansão dos negócios internacionais. Juntamente com IPE, o maior setor de materiais
publicados é o de inglês para negócios, além disso, existe um crescente interesse de
professores, editoras e empresas nessa área.
35
Harris e Bargiela-Chiappini (2003) afirmam que se tem argumentado que a
linguagem de negócios é um campo de estudo relativamente novo e está emergindo de
maneira variada tanto interdisciplinarmente quanto metodologicamente. Para as autoras, há
um desafio em questionar não somente o valor, mas até mesmo a existência de uma variedade
ensinável e universalmente relevante do inglês de negócios para ser utilizado em contextos
pluriculturais. Elas acrescentam que o grande crescimento no uso do computador e outras
tecnologias na comunicação dentro e fora das empresas significa que a comunicação por meio
de novas mídias na área de negócios tem um papel significante em pesquisas recentes.
Nickerson (2005) descreve duas mudanças nas tendências das pesquisas sobre
IPN. Primeiramente, analisavam-se a linguagem usada em textos escritos ou discursos
isolados e passaram a investigar gêneros comunicativos contextualizados. Segundo, passou-se
a se preocupar mais com a identificação de estratégias de linguagem, como por exemplo, a
preocupação com a identificação dessas estratégias que podem ser associadas à comunicação
eficiente nos negócios, independente de o falante/escritor ser um falante nativo ou não.
Ocupando-se mais especificamente do ensino de IPN no Brasil, Heberle e
Salm (2002) discutem que pesquisas realizadas neste país demonstraram que cursos de inglês
para negócios surgiram devido a uma grande demanda de instituições públicas e privadas.
Dudley-Evans e St John (1998) distinguem o ensino de Inglês para Propósitos
Gerais de Negócios (IPGN) e Inglês para Propósitos Específicos de Negócios (IPEN). Cursos
de IPGN são geralmente para aprendizes sem experiência ou no início de suas carreiras. Esses
cursos são similares aos cursos de ILE e utilizam materiais focados em contextos de negócios.
Muitos aprendizes freqüentam esses cursos em uma escola de línguas e os grupos são
formados com base no nível de língua e não no nível de experiência profissional de seus
aprendizes.
36
Além disso, os livros publicados são designados principalmente para o uso em
cursos extensivos os quais têm uma aula ou duas por semana por um longo período de tempo.
A maioria das unidades trabalha com as quatro habilidades, com uma gramática específica e o
desenvolvimento de vocabulário.
Cursos de IPEN são freqüentados por aprendizes com experiência no seu
trabalho, os quais trazem conhecimento e habilidades da área de negócios para a situação de
aprendizagem. Esses cursos são cuidadosamente feitos sob medida e focam uma ou duas
habilidades da língua e eventos comunicativos específicos da área de negócios. Os materiais
freqüentemente incluem seleções de uma gama de livros, materiais – modelo e principalmente
atividades escritas originárias provavelmente do próprio contexto de trabalho dos aprendizes.
Os cursos são geralmente intensivos, os grupos são pequenos e os funcionários de alto escalão
podem optar por cursos individuais.
1.4.1 Professores de Inglês para Negócios
Conforme Dudley-Evans e St John (1998, p. 59), personalidade, conhecimento
e experiência são importantes para o professor de inglês para negócios. Além disso,
professores bem-sucedidos de inglês para negócios têm a flexibilidade e a adaptabilidade de
qualquer professor de IPE.
Muitos professores de IPE não têm conhecimento e nem experiência no
conteúdo e contexto dos negócios. Um professor de inglês para negócios, como ponderam os
autores acima citados, não precisa ser uma pessoa de negócios, mas sim entender a interface
entre os princípios dos negócios e a sua linguagem. Esses professores têm que ler, às vezes
observar as pessoas trabalhando, e até mesmo participar de cursos e conferências da área
específica de atuação de seus alunos.
37
Ao investigarem o uso de materiais didáticos de inglês para negócios no Brasil,
Heberle e Salm (2002) observaram algumas questões sobre a avaliação desses materiais por
professores brasileiros. Primeiramente, muitos professores de inglês são recrutados para
ensinarem IPN utilizando livros de turmas que têm objetivos diferentes daquelas dos
aprendizes de inglês da área de negócios ou impostos pelas instituições. Outra questão é a
falta de informação prática relacionada a materiais de inglês para negócios.
Entendemos que é necessário que o professor exerça aqui o papel de
investigador, buscando até mesmo em outras pesquisas informações que o ajudem no
entendimento do conteúdo e contexto específicos do cenário em que está ensinando. Além
disso, professores de IPE enquanto avaliadores e/ou fornecedores de MD devem optar por
materiais que sejam adequados às necessidades e aos interesses de seu público-alvo.
1. 5 A Análise de Necessidades
Conforme Dudley – Evans e St John, a análise de necessidades é o alicerce do
IPE e sua utilização proporciona a criação de um curso bem direcionado aos seus propósitos
específicos. Segundo esses autores, com o ensino de IPE, a definição de necessidades e
análise de necessidades foi ampliada devido à experiência e pesquisa. Nos anos 60 e início
dos anos 70, professores de língua e literatura tiveram que ensinar inglês a estudantes da área
de ciências para apoiar estudos em áreas específicas. Os professores de língua conheciam
muito pouco sobre o funcionamento dessas áreas e concomitantemente sobre a linguagem da
ciência e tecnologia.
Hutchinson e Waters (1987) identificaram a fase da análise de necessidades
como a chegada da maturidade em IPE, porque Johns e Dudley-Evans (1991), ao definirem as
38
necessidades dos aprendizes como os elementos identificáveis das situações-alvo do inglês,
identificaram o que parece ser a base óbvia para o planejamento de cursos de IPE. Esses
estudiosos afirmam que qualquer planejamento de curso deveria ser baseado na análise de
necessidades do aprendiz. Para esses autores, a unidade mais básica da metodologia de ensino
de IPE seria a análise de necessidades, haja vista que esta é a consciência de uma situação-
alvo – uma necessidade definível para se comunicar em inglês – e é esse aspecto que
distingue o aprendiz de IPE de um aprendiz de IPG. Os autores acrescentam que se pode
chamar de análise de necessidades o tipo de necessidade determinado pelas exigências da
situação-alvo, ou seja, o que o aprendiz tem que saber para atuar eficazmente na situação-
alvo. Além disso, ressaltam que é uma questão de observar em quais situações o aprendiz
precisará atuar e então analisar as partes que as constituem.
Flowerdew e Peacock (2001) discutem que há um consenso de que a análise de
necessidades, a qual é definida como a coleta e aplicação de informações sobre as
necessidades dos aprendizes, é uma característica que define o IPE. De acordo com esses
autores, a análise de necessidades é o ponto de partida necessário para desenvolver o
conteúdo, as tarefas e os materiais, bem como tem a preocupação de afinar o currículo às
necessidades específicas do aprendiz. Eles afirmam ainda que independente da metodologia
utilizada para definir as necessidades do aprendiz, os alunos precisam fazer parte do processo
de planejamento de um curso de IPE e os professores deveriam se assegurar de que esses
aprendizes têm uma visão geral dos objetivos do curso e de cada lição. Isso encoraja a
participação do aluno no processo de aprendizagem e reduz a possibilidade de uma frustração.
De acordo com Braine (2001), o projeto de currículos de língua inglesa sem
alguma consideração das necessidades dos aprendizes é quase impensável hoje.
Segundo Nunan (1999, p. 49), citado por Vian Jr (2002), a análise de
necessidades é definida como o conjunto de ferramentas, técnicas e procedimentos para se
39
determinar o conteúdo lingüístico e o processo de aprendizagem para grupos de aprendizes
específicos.
Conforme Johns e Price-Machado (2001), em todo curso genuíno de IPE, a
avaliação de necessidades é obrigatória e, em muitos programas, a análise processual
(AUGUSTO E OUTROS, no prelo; FLOWERDEW; PEACOCK, 2001) de necessidades é essencial ao
desenvolvimento e avaliação de um currículo.
Quando Munby (1978), citado por Dudley – Evans e St John, (1998) publicou
Communicative Syllabus Design a área de ensino de língua inglesa havia começado a
reconhecer que função e situação eram também fundamentais. Munby forneceu listas
detalhadas sobre microfunções e seu processador de necessidades comunicativas. De acordo
com Dudley – Evans e St John, Munby não escreveu sobre como priorizar estes aspectos nem
considerou qualquer fator afetivo que nos dias de hoje reconhecemos ser tão importantes
quanto os demais aspectos.
Segundo Dudley – Evans e St John (1998), atualmente, professores e
“treinadores”
3
que se propõem a determinar as necessidades de aprendizes, começam a fazê-lo
a partir de uma base diferente e mais ampla. Antes de eles procurarem alunos e clientes, eles
podem procurar por análise de necessidades utilizadas previamente, materiais disponíveis e
resultados de pesquisas. Os autores afirmam que esses profissionais não são só capazes de
fazer essa pesquisa como também acreditam que eles devem fazê-la. De acordo com esses
autores, necessidades objetivas são derivadas por estranhos a partir de fatos, do que é
conhecido e pode ser verificado, enquanto necessidades subjetivas são derivadas pelas
próprias pessoas e correspondem a fatores cognitivos e afetivos. Ser capaz de seguir
instruções precisamente é uma necessidade objetiva, já se sentir confiante é uma necessidade
subjetiva. Similarmente, necessidades orientadas para um produto derivam de uma situação-
3
Os autores utilizam a palavra trainers para descrever profissionais que orientam a prática pedagógica de
professores.
40
alvo e necessidades orientadas para um processo derivam da situação de aprendizagem. Esses
pares podem ser vistos como correspondentes à análise da situação-alvo e análise da situação
de aprendizagem. Uma terceira peça do quebra-cabeça, de acordo com esses autores, é o que
os aprendizes já conhecem: análise da situação do presente a partir da qual podemos deduzir
suas lacunas.
Conforme Hutchinson e Waters (1987), não basta identificar as necessidades
dos aprendizes. Também é necessário que se saiba o que os aprendizes já sabem em relação à
língua, assim podem-se decidir quais são as lacunas das necessidades desses aprendizes.
Dessa forma, a proficiência-alvo precisa ser comparada à proficiência que os aprendizes já
possuem.
Além da identificação das necessidades e das lacunas no conhecimento da
língua-alvo, esses autores ressaltam a importância de se identificar os desejos dos aprendizes
a respeito da língua-alvo. Hutchinson e Waters (1987) afirmam que tendo em mente a
importância da motivação do aprendiz no processo de aprendizagem, os desejos dos
aprendizes não podem ser ignorados. De acordo com esses autores, não é relevante utilizar a
metodologia de ensino de IPE, a qual é fundamentada no princípio de envolvimento do
aprendiz, e ignorar os desejos e opiniões do público-alvo.
Conforme discutido por Augusto-Navarro e outros é importante dizer
claramente que necessidade é uma coisa e interesse (desejo) outra e que esses fatores podem
estar combinados ou não na mente do aprendiz dependendo de cada caso particular.
Costa (2002) ao investigar os cursos de inglês oferecidos em duas empresas,
observou que quando se determina a razão pela qual os alunos precisam de inglês, todo o
trabalho envolvendo o conteúdo lingüístico e o material será influenciado positivamente, já
que o ensino-aprendizagem será direcionado às metas de aprendizagem delineadas com base
na identificação das necessidades dos aprendizes. A autora acrescenta que essas necessidades
41
estão relacionadas à conscientização dos envolvidos no desenvolvimento de um curso de IPE
(aluno, contratante e professor), assim como à compatibilidade das mesmas com as situações
reais em que o aluno fará uso do idioma aprendido.
Concordamos com a proposta de análise de necessidades de Dudley - Evans e
St John (1998, p. 125), uma vez que, para esses autores, ela deve ser realizada abrangendo os
seguintes aspectos:
A: informação profissional dos aprendizes: as tarefas e atividades nas quais os aprendizes
utilizam ou irão utilizar a língua inglesa;
B: informação pessoal dos aprendizes: fatores que podem afetar a forma como eles aprendem
tais como experiências de aprendizagem anteriores, informação cultural, razões para
freqüentar o curso e expectativas a respeito dele, atitude em relação à língua inglesa;
C: informação sobre o uso que os aprendizes fazem da língua inglesa: em quais habilidades os
aprendizes utilizam a língua;
D: o que precisa ser desenvolvido nos aprendizes: a diferença (gap) entre (C) e (A);
E: informação sobre o perfil do aprendiz com relação ao aprendizado de língua: formas
eficazes de aprender as habilidades e a língua no (D);
F: informação sobre a comunicação profissional a respeito do item (A): conhecimento sobre
como a língua e as habilidades são utilizadas na situação – alvo.
G: o que se quer do curso
H: informação sobre o ambiente no qual o curso será desenvolvido.
Conforme esses mesmos autores, o objetivo da análise de necessidades é
conhecer os aprendizes enquanto pessoas, enquanto usuários e aprendizes da língua; para
saber como a aprendizagem da língua e das habilidades pode ser maximizada para um
determinado grupo de aprendizes; e finalmente conhecer as situações – alvo e o ambiente de
aprendizagem a fim de que possamos interpretar os dados apropriadamente. Ainda de acordo
42
com Dudley – Evans e St John (1998), os resultados da análise de necessidades não são
absolutos, mas sim relativos e não há um único conjunto de necessidades. Os resultados
dependem de quem e o que se pergunta e como as respostas são interpretadas. Teoricamente,
a análise de necessidades é o primeiro passo realizado antes do início de um curso para que o
delineamento do curso, os materiais e outros recursos estejam prontos antes do ensino
começar. Em uma situação em que o curso é repetido com um grande número de alunos
bastante análise prévia pode ser possível e justificada.
1.5.1 O Papel da Análise de Necessidades no Ensino de
Inglês para Negócios
Segundo Dudley-Evans e St John (1998), a análise de necessidades muitas
vezes é mais fundamental para o inglês para negócios uma vez que as necessidades dos
aprendizes podem ser muito mais variadas e a linguagem e as habilidades menos previsíveis.
É importante que essa análise seja conduzida para que aspectos lingüísticos e
afetivos, entre outros, sejam levantados e assim o curso planejado sob medida.
Conforme St John (1996), a análise de necessidades visa a compreender os
aprendizes e também os eventos de comunicação dos quais eles participam. Para a autora,
analisar amostras de textos é parte do processo de análise de necessidades.
St John (1984), citada por St John (1996), afirma que com profissionais é
também necessário estabelecer o que eles requerem de um curso e não somente suas
necessidades de linguagem, pois as duas podem não ser idênticas.
Nesse sentido Hutchinson e Waters (1987) e Augusto e outros (no prelo)
demonstram em seus estudos que as necessidades e os interesses dos aprendizes nem sempre
43
coincidem, por isso a importância de uma análise cuidadosa dessas necessidades e interesses
antes e durante o desenvolvimento de um curso de IPE.
No entanto, de acordo com os achados de Acosta (1999), apesar da maioria dos
alunos-funcionários de empresas terem motivos específicos para aprenderem inglês, muitas
empresas utilizam cursos de inglês geral para ensinar esse idioma a aprendizes que necessitam
de inglês para propósitos específicos. Essa autora ressalta que algumas empresas “optam por
coordenar os programas de inglês internamente”, ou seja, o departamento de RH (Recursos
Humanos) se responsabiliza pela contratação de escolas ou profissionais autônomos. Há ainda
aquelas empresas que indicam várias escolas de idiomas para que o funcionário escolha o
curso que deseja fazer.
Segundo Dudley-Evans e St John (1998, p. 58), o custo-efetividade é uma
importante razão para se realizar uma análise meticulosa no desenvolvimento de um programa
amplo de uma empresa o qual pode cobrir centenas de empregados durante alguns anos.
Há relatos de que em cursos extensivos de IPGN os professores alegam não ter
tempo para realizarem uma análise de necessidades meticulosa, assim como afirmam que seus
alunos estariam contentes com o livro utilizado, provavelmente contentes por ignorarem
outras possibilidades.
Em vista disso, reiteramos a relevância de uma análise de necessidades
cuidadosa afim de que os professores de IPE saibam com clareza as necessidades reais de seus
alunos e adequem o MD a essas necessidades, assim como, na medida do possível, aos
interesses dos aprendizes.
1.5.2 Como realizar a análise de necessidades
44
Conforme Dudley – Evans e St John (1998), as principais fontes para a
realização da análise de necessidades são: os aprendizes; pessoas que trabalham ou estudam
na área; ex-alunos; documentos relevantes para a área; clientes; empregadores; colegas;
pesquisa sobre o ensino de IPE na área.
Hutchinson e Waters (1987) e Dudley-Evans e St John listam os principais
métodos de coleta de dados para a análise de necessidades: questionários; análise de textos
escritos e orais autênticos; discussões; entrevistas estruturadas; observações; avaliações.
Hutchinson e Waters ressaltam que é desejável que se utilize mais de um
desses métodos já que a identificação de necessidades é um processo complexo. Além disso, é
importante lembrar que a análise de necessidades deve ser um processo contínuo no qual as
conclusões são constantemente checadas e reavaliadas. A importância de reiteradas e variadas
formas de se proceder a análise de necessidades é também destacada por Augusto-Navarro
entre outros (no prelo) ao relatarem e analisarem uma experiência de cinco anos
desenvolvendo cursos de IPE para uma mesma empresa.
Passamos agora ao detalhamento de cada um desses métodos sob a visão de
Dudley Evans e St John (1998), pois esses autores discorrem sobre cada um deles
separadamente.
1.5.2.1 Questionários e Listas de checagem
De acordo com Dudley – Evans e St John, questionários são geralmente mais
abrangentes do que listas de checagem e como são usados para obter informação quantitativa,
eles precisam ser construídos cuidadosamente. Listas de checagem têm um escopo mais
limitado e são mais usadas para obter informações qualitativas podendo determinar fatos e
atitudes. Quando usadas em grandes quantidades, somente respostas objetivas podem ser
analisadas restringindo a informação coletada. Todos os questionários devem ser pilotados
45
antes de serem muito utilizados e técnicas estatísticas devem ser utilizadas na análise dos
resultados.
1.5.2.2 Entrevistas Estruturadas
Segundo Dudley – Evans e St John, entrevistas estruturadas são constituídas
por questões cuidadosamente pensadas e selecionadas. Questões adicionais podem ser feitas
para esclarecimento e mais detalhes. Deveria haver um tempo limitado para a entrevista e ser
gravada para que o entrevistador possa realmente ouvir ao invés de anotar muita coisa.
1.5.2.3 Observação
Conforme Dudley – Evans e St John, para a análise de necessidades, a
observação pode abranger uma gama de atividades desde assistir a uma tarefa específica
sendo realizada até seguir (shadow) pessoas durante o trabalho. Os autores explicam que
shadow alguém significa acompanhar tudo que ele faz por um período de tempo como um dia,
vários dias consecutivos ou um dia por mês. Um bom trabalho de campo (groundwork) é uma
parte crucial do processo assim como explicar o objetivo, dar garantias de confidencialidade,
mostrar talvez resultados das observações prévias e assim ganhar a confiança das pessoas.
1.5.2.4 Análise de Textos Autênticos
46
Segundo Dudley – Evans e St John, analisar textos autênticos é um estágio
crucial da análise de necessidades. Os textos podem ser documentos escritos ou gravações em
áudio e vídeo de eventos tais como palestras, reuniões, conversas ao telefone, atividades de
sala de aula. Assim como na observação, neste estágio a confidencialidade é uma questão
importante; as pessoas podem desejar omitir informações tais como quantias e o nome de
empresas. Textos autênticos têm um valor inestimável na aprendizagem sobre o conteúdo
geral e profissional. Eles podem também formar a base dos materiais utilizados em sala da
aula com três condições: o cliente ou a fonte ter permitido; fatos fictícios substituírem os
confidenciais; e qualquer coisa que possa identificar o autor deve ser retirada.
1.5.2.5 Avaliação
Dudley – Evans e St John afirmam que a avaliação inclui julgamentos formais
e informais sobre o desempenho e o progresso dos alunos por meio de trabalho em sala de
aula, trabalhos e testes. Nesse caso, os dados obtidos a partir da avaliação serão utilizados
para o estabelecimento das necessidades e dos interesses desses alunos.
1.5.2.6 Discussões
As discussões são mais informais e podem ser planejadas, mas freqüentemente
são mais espontâneas. Conversar informalmente com os alunos enquanto tomam um café ou
durante alguns minutos da aula pode promover intravisões (insight) sobre como as atividades
foram realizadas, o que foi mais benéfico, em que pontos as dificuldades surgiram, o que mais
precisa ser suprido.
47
Como vimos, todos esses métodos podem ser utilizados para a coleta de
informações sobre as necessidades e os interesses de um grupo específico de aprendizes.
Entretanto, cada professor ou grupo de professores de IPE pode avaliar se esses métodos são
adequados ao contexto-alvo ou não, bem como criar outros de acordo com seu público-alvo.
Ressaltamos que muitas vezes são necessários diferentes métodos para que se obtenham
informações claras sobre as necessidades e expectativas dos aprendizes e, então, se
desenvolva um curso que as atenda.
1.6 Planejamento do Curso para Propósitos Específicos
Após a aplicação da análise de necessidades, é preciso que o planejamento do
curso seja realizado. Segundo Dudley – Evans e St John (1998, p. 145), a análise de
necessidades faz questões sobre as necessidades e interesses dos aprendizes, sobre as
expectativas da instituição e sobre as características da atual situação de ensino. Para os
autores, ao desenvolver o delineamento de um curso, há perguntas adicionais a serem feitas e
questões a serem enfrentadas. Além disso, há um número de parâmetros que precisam ser
investigados.
Eles sugerem os seguintes parâmetros a serem questionados:
a) O curso deveria ser intensivo ou extensivo?
b) O desempenho dos aprendizes deveria ser avaliado ou não?
c) O curso deveria lidar com necessidades imediatas ou posteriores?
d) O professor deveria ser aquele que fornece o conhecimento e as atividades ou aquele que é
um facilitador das atividades provenientes dos interesses dos aprendizes?
e) O curso deveria ter um foco amplo ou restrito?
48
f) O curso deveria ser pré-estudo ou pré-experiência ou ser conduzido paralelamente ao
estudo ou experiência?
g) O material deveria ser geral ou específico aos estudos ou trabalho do aprendiz?
h) O grupo de alunos deveria ser homogêneo ou heterogêneo?
i) O planejamento do curso deveria ser feito pelo professor depois de consultar os aprendizes
e a instituição ou deveria ser um processo de negociação com os aprendizes?
Conforme Hutchinson e Waters (1987), o planejamento de um curso envolve o
uso de informações teóricas e empíricas disponíveis para produzir um currículo (syllabus),
selecionar, adaptar e escrever materiais de acordo com esse currículo com o objetivo de
desenvolver uma metodologia para o ensino com esses materiais e estabelecer procedimentos
de avaliação pelos quais o progresso será medido.
Diferentemente de Dudley – Evans e St John (1998), Hutchinson e Waters
descrevem três tipos de abordagem para o desenvolvimento de um curso de IPE: uma
abordagem centrada no ensino da língua, uma abordagem centrada no ensino de habilidades e
uma abordagem centrada na aprendizagem.
Segundo Hutchinson e Waters (1987), o processo de desenvolvimento de um
curso centrado na língua objetiva estabelecer uma conexão entre a análise da situação-alvo e o
conteúdo do curso de IPE. Para os autores, o apelo lógico e direto dessa abordagem é sua
fraqueza.
De acordo com esses autores, a abordagem de ensino centrada nas habilidades
tem sido muito utilizada em diversos países principalmente na América Latina. Isso ocorre
porque alunos de universidades têm que ler textos de suas áreas em inglês, haja vista que não
estão disponíveis em suas línguas maternas. Dessa forma, vários projetos de IPE foram
criados com o objetivo específico de desenvolver a habilidade leitura. Reiteramos que o
projeto brasileiro de IPE é um exemplo de cursos de inglês para fins específicos que tem
49
desenvolvido a leitura em inglês de estudantes e profissionais que têm essa necessidade
(Augusto, 1997; Celani, 1998; Celani e Holmes, 2006; Ramos, 2005). Eles afirmam que a
hipótese teórica básica dessa abordagem é que sustentando qualquer comportamento da língua
estão certas habilidades e estratégias, as quais o aprendiz utiliza para produzir ou
compreender um discurso.
Por fim, Hutchinson e Waters (1987) discutem a diferença entre uma
abordagem centrada no aprendiz (learner-centred approach) e aquela centrada na
aprendizagem (learning-centred approach). Conforme esses estudiosos, a primeira
abordagem é embasada no princípio de que a aprendizagem é totalmente determinada pelo
aprendiz. Contudo, no processo de aprendizagem há mais do que simplesmente o aprendiz a
se considerar. Em razão disso, os autores defendem que um curso de IPE deve ser centrado na
aprendizagem, uma vez que se preocupa em maximizá-la.
Avaliando essas três abordagens, corroboramos os autores quando defendem o
ensino de IPE centrado na aprendizagem, já que essa abordagem engloba todos os elementos
que fazem parte do processo de ensino e não apenas uma estratégia, habilidade ou somente o
aprendiz. Ressaltamos que um curso de ensino de língua, principalmente para fins específicos,
deve ser organizado com base em uma análise de necessidades cuidadosa com o propósito de
se avaliar tudo que está envolvido no processo de ensino-aprendizagem de um contexto e
público-alvo específicos.
Isso posto, passemos agora à descrição de cada um dos parâmetros a serem
investigados no planejamento de um curso de IPE segundo Dudley-Evans e St John (1998). A
nosso ver, essa descrição se faz necessária, pois é relevante que professores de IPE conheçam
os aspectos constituintes de um curso que segue essa metodologia.
1.6.1 Curso Intensivo ou Extensivo
50
Conforme Dudley – Evans e St John (1998, p. 146 e 147), durante um curso
intensivo de inglês para propósitos específicos, o tempo dos aprendizes está comprometido
com o curso. Entretanto, um curso extensivo ocupa uma pequena parte da agenda de
estudantes ou de profissionais. Eles afirmam que, freqüentemente, cursos de inglês para
propósitos específicos são intensivos. As empresas enviam seus gerentes, secretárias ou
técnicos para participarem de um curso intensivo e curto na expectativa de que a concentração
exclusiva em certas habilidades ou linguagem melhorará o desempenho deles em atividades
que requerem o uso da língua inglesa. Para esses autores, em um curso intensivo, os alunos
estão totalmente focados no seu propósito para aprender inglês e se o curso for residencial,
eles podem ser imersos em um ambiente de língua inglesa mesmo fora da sala de aula. No
entanto, sem reforço o que é aprendido em um curso intensivo pode permanecer dormente.
Um curso extensivo pode ser desenvolvido em paralelo com a atividade profissional e ser
relacionado a isso e adaptado ao acontecerem mudanças na experiência ou necessidade dos
aprendizes. De acordo com Robinson (1991), citada por Dudley – Evans e St John (1998), a
principal desvantagem desse tipo de curso é a potencial falta de continuidade das aulas
principalmente se as aulas não forem freqüentes.
Finalmente, Dudley – Evans e St John afirmam que a escolha entre cursos
intensivos ou extensivos é geralmente determinada pelas condições da empresa para a qual o
curso está sendo conduzido.
1.6.2 Avaliar ou Não
51
Segundo Dudley – Evans e St John, cursos intensivos curtos de Inglês para
Propósitos de Negócios, por exemplo, não estão preocupados em testar a proficiência global
dos aprendizes. Todavia, existem diversos testes padronizados de proficiência para a
comunicação profissional e de negócios. E muitos aprendizes acreditam que passar em um
desses exames melhora as possibilidades de suas carreiras.
É importante considerarmos a relevância pedagógica da avaliação não somente
como um instrumento que mede o quanto um aluno sabe utilizar o conteúdo lingüístico
estudado em um curso, mas também como um meio de permitir que o aprendiz analise o seu
desempenho como um todo e não apenas acerca da estrutura da língua. Além disso, é
necessário que o professor e o aprendiz avaliem o desempenho do próprio professor, do curso
e do material didático nele utilizado.
1.6.3 Necessidades Imediatas ou Posteriores
Dudley – Evans e St John definem necessidades imediatas como aquelas que
os alunos têm no momento em que fazem o curso (concomitante) e necessidades posteriores
aquelas que se tornarão mais significativas depois, isto é, quando o curso prepara o aprendiz
para uma necessidade vindoura.
1.6.4 O Professor Enquanto Fornecedor ou
Facilitador/Consultor
52
Dudley – Evans e St John definem um professor fornecedor de insumo e
atividades como aquele que controla a aula e as atividades, fornece informações sobre
habilidades e linguagem. Em outras situações o professor de inglês para propósitos
específicos gerencia e não controla. Esse professor não toma decisões sobre o planejamento
do curso, ele negocia com os aprendizes sobre o que é mais apropriado a ser incluído e
quando. Esse é o tipo de professor que os autores chamam de facilitador ou consultor.
Conforme Dudley – Evans e St John, este papel de facilitador é difícil de adotar
principalmente por um professor inexperiente. Contudo, onde for possível adotá-lo, é um
papel muito apropriado e produtivo para aprendizes sofisticados os quais possuem um
conjunto de propósitos específicos e claros.
Acreditamos que um professor de IPE pode se mover entre esses dois papéis
de fornecedor de conhecimento e facilitador/consultor. Concordamos com os autores quanto à
dificuldade de um professor inexperiente especialmente em IPE em exercer o papel de
consultor no ensino de língua inglesa para propósitos específicos, pois muitas vezes sua
formação inicial não oferece o embasamento teórico nem prático relacionado ao ensino de
inglês para propósitos específicos.
1.6.5 Foco Amplo ou Restrito
Ainda conforme Dudley – Evans e St John, um foco amplo pode ocorrer em
uma situação na qual concentramos em uma gama de eventos alvo tais como habilidades de
estudo e profissional ou em uma variedade de gêneros. O foco é amplo devido à gama de
eventos-alvo envolvidos, mas isso não significa que as habilidades são ensinadas de um modo
geral e superficial. As habilidades são vistas detalhadamente e o material pode incluir até
53
mesmo algum conteúdo profissional específico. Esse foco pode ser mais útil se a motivação
for um problema já que geralmente os aprendizes gostam de um foco específico em cursos
IPE, porém também se sentirão mais confortáveis com uma mudança na rotina normal como
um trabalho de conversação geral ou uma apresentação sobre o contexto de outros países.
O foco restrito é definido como a concentração em poucos eventos – alvo
como, por exemplo, somente a compreensão oral ou apenas um ou dois gêneros. Um foco
restrito é apropriado quando as necessidades são limitadas e os aprendizes convencidos da
importância da concentração nestas necessidades.
1.6.6 Cursos Pré-Experiência ou Paralelamente à
Experiência
Dudley – Evans e St John definem como curso pré-experiência aqueles
destinados a aprendizes que não têm experiência na situação-alvo no momento em que cursam
IPE. Já paralelamente à experiência é definido como um curso conduzido concomitantemente
com a atividade profissional. Os autores argumentam que existe sempre vantagem em ensinar
IPE a aprendizes que já têm algum conhecimento profissional. O professor pode se apoiar no
conhecimento dos aprendizes, pedir para que eles dêem exemplos a partir do conhecimento
que têm e usar certas estratégias de aprendizagem que são familiares à aprendizagem sobre
sua profissão.
1.6.7 Materiais Para Fins Gerais ou Materiais Para Fins
Específicos
54
Dudley-Evans e St John (1998) definem materiais para fins gerais como
aqueles que usam conteúdo profissional o qual pode ser de natureza geral. Material específico
é definido pelos autores como aquele que utiliza conteúdo profissional o qual faz parte da área
profissional do aprendiz. Eles citam como exemplo estudos de caso relacionados a aprendizes
de IPN. Para os autores, utilizar algum trabalho específico na aula de IPE, seja como foco
principal do curso ou complemento de aspectos gerais do curso é geralmente benéfico.
Todavia, a possibilidade de introduzir mais trabalho específico depende do tempo de curso, de
restrições institucionais assim como da motivação dos aprendizes.
1.6.8 Grupos Homogêneos ou Heterogêneos e Motivação
De acordo com Dudley-Evans e St John, um outro fator a se considerar é se a
aula de IPE é constituída por um grupo homogêneo de uma profissão ou heterogêneo com
aprendizes de diferentes profissões ou níveis de gerenciamento. Segundo esses autores se um
grupo é heterogêneo é difícil introduzir muito trabalho específico sendo mais apropriado
procurar por tópicos e atividades que são mais comuns aos vários interesses dos grupos. Já, se
o grupo é homogêneo é possível utilizar trabalho específico. A principal questão é sobre a
motivação dos aprendizes. A maioria se entusiasma sobre a aula de IPE que está relacionada
diretamente às suas necessidades, entretanto, há situações em que aprendizes ficarão menos
entusiasmados ao estudarem tópicos mais específicos. Para Dudley-Evans e St John, é
importante considerar fatores motivacionais e afirmam que muitas vezes, na análise de
55
necessidades, ignoramos os interesses dos aprendizes. Além disso, afirmam que se houver a
possibilidade de escolha, é melhor formar grupos homogêneos para aulas de IPE.
Um outro aspecto da questão homogêneo ou heterogêneo é o nível de língua
dos alunos. No trabalho com IPE, é muito difícil assegurar que os grupos também sejam
homogêneos no nível de língua. É geralmente vantajoso no aprendizado de língua dividir
grupos por nível, mas em IPE a homogeneidade nos propósitos específicos dos aprendizes é
mais importante.
1.6.9 Planejamento de Curso Fixo Versus Curso Negociado
e Flexível
Dudley-Evans e St John (1998) afirmam que um planejamento de curso fixo é
realizado antes do início do curso e raramente modificado. Um planejamento de curso
negociado e flexível permite que haja mudanças baseadas no feedback dos aprendizes. Muitos
aprendizes esperam seguir um currículo fixo. Outros realmente gostam de opinar ou até
mesmo controlar o que lhes é ensinado. Segundo esses autores, um curso seguindo um
planejamento mais ou menos fixo, o qual permite que algum tempo seja utilizado para o
ensino de tópicos ou questões levantadas pelos alunos, é possível. Assim como um curso
negociado também pode incluir alguns componentes pré-planejados.
Cursos também podem ser repetidos ou ministrados somente uma vez. Aqueles
são cursos que são aplicados novamente depois de um período de tempo específico. O
delineamento do curso e os materiais são preparados e, mesmo sendo revisados depois do
curso, eles permanecem essencialmente similares cada vez que são usados. Estes são
conduzidos para um grupo particular e não são repetidos. Um planejamento de curso e
materiais pode ser preparado, porém é mais provável que o curso utilize fontes específicas
56
fornecidas pelos aprendizes ou pelo professor para atender a uma necessidade ou interesse
expressado pelos alunos.
1.6.10 Desenvolvendo o Planejamento de um Curso
Segundo Hutchinson e Waters (1987), desenvolver o currículo de um curso de
IPE é a primeira etapa para o planejamento deste. Os autores descrevem currículo como um
documento no qual é definido o que será ou pelo menos deveria ser aprendido durante o
desenrolar do curso. Ressaltamos que entendemos currículo enquanto o conteúdo lingüístico a
ser ensinado durante o desenvolvimento de um curso de inglês.
Hutchinson e Waters acrescentam que existem diferentes currículos envolvidos
ao se planejar um curso: avaliativo; organizacional; de materiais; do professor; da sala de aula
e do aprendiz. Eles afirmam que cada um desses currículos carrega certas suposições sobre a
natureza da língua e da aprendizagem. Ressaltam que os materiais didáticos deveriam utilizar
diversos currículos ao mesmo tempo. Entretanto, comumente, apenas um deles será utilizado
como a base para a organização desse material.
Acreditamos que assim como os materiais didáticos podem fazer uso de
diversos currículos, um curso de IPE também possa. Acrescentamos que concordamos com
Hutchinson e Waters quando dizem que qualquer currículo que objetiva ensinar as pessoas
como se comunicarem deveria reconhecer a complexidade da comunicação.
Conforme Dudley-Evans e St John (1998), com a gama de cursos de IPE que
foram ensinados pelo mundo e materiais publicados, mesmo para um curso novo, não
deveríamos criar tudo novo. Com a análise de necessidades, uma parte importante do processo
57
é aprender a partir do que nós e outros já fizemos. A rota para inovação pode ser a evolução e
não a revolução ou invenção.
Segundo esses autores, no planejamento de um curso é importante que se
relacionem todos os seus componentes em uma tabela. O primeiro componente é constituído
por situações-alvo e tarefas que os aprendizes de IPE necessitam e desejam desempenhar
juntamente com as necessidades de consciência retórica. A partir disso, podemos considerar
as habilidades e realizações lingüísticas associadas - gêneros, gramática, vocabulário - e
micro-habilidades. Entretanto o curso não é somente sobre realizações lingüísticas e
habilidades. Ele também precisa de materiais, tópicos profissionais, processos de
aprendizagem e interações de sala de aula. Esses componentes devem ter seu lugar na tabela.
Alguns itens que compõem a tabela resultarão da análise de necessidades,
outros itens surgirão de cursos existentes e materiais disponíveis. Quando se acredita ter todos
os itens principais, deve-se agrupá-los e ordená-los de uma maneira que se melhore a
aprendizagem. Quando já estiverem ordenados, dever–se-á ter uma tabela para checar se tudo
está incluso e bem balanceado.
Hutchinson e Waters (1987) descrevem o papel que o currículo desempenha no
processo de desenvolvimento de um curso de acordo com a abordagem utilizada. Assim como
vimos acima, esses autores citam e definem três tipos de abordagem: aquela centrada na
língua, a centrada nas habilidades e a centrada na aprendizagem, sendo esta última a
abordagem mais defendida pelos autores.
Conforme esses autores, na abordagem centrada na língua, o currículo é que
fundamenta um material didático. Nesse caso, ele é a inspiração para a produção de textos e
exercícios e a base na qual a proficiência do aprendiz será avaliada. Já na abordagem centrada
nas habilidades, o currículo é desenvolvido de forma que se promovam oportunidades para os
aprendizes empregarem e avaliarem as habilidades e estratégias consideradas necessárias para
58
a execução de tarefas na situação-alvo e, por fim, na abordagem centrada na aprendizagem, o
currículo e os materiais evoluem juntos. Dessa forma, ele é o gerador de boas e relevantes
atividades de aprendizagem.
A nosso ver, a mistura de abordagens e currículos é mais relevante para o
planejamento de um curso de IPE, uma vez que todos os aspectos positivos de cada um deles
podem ser utilizados na produção de atividades significativas para a aprendizagem do
público-alvo. Reiteramos que todo esse planejamento será realizado com base em uma análise
de necessidades.
1.7 O Papel dos Materiais
Para Dudley-Evans e St John (1998), pesquisar em materiais existentes
publicados ou não é parte do processo de analisar o que está envolvido na comunicação eficaz
na situação-alvo e na aprendizagem também. É por meio dessa pesquisa que podemos
aprender sobre as habilidades e a linguagem associada. A escolha final de alguns tópicos a
serem ensinados e a ordem em que serão ensinados virão dos materiais que os professores
selecionam.
Conforme Dudley-Evans e St John há quatro razões para se usar materiais os
quais parecem significantes no contexto de IPE:
1- como fonte de língua
2- como apoio para aprendizagem
3- para motivação e estímulo
4- para referência
59
Segundo esses autores, em situações nas quais o inglês é uma língua
estrangeira, a aula de IPE é provavelmente a única fonte de inglês. Portanto, materiais têm um
papel crucial em expor os aprendizes à língua, implicando na necessidade de que esses
materiais apresentem uma linguagem real, como ela é usada, e tudo aquilo que os aprendizes
requerem. Onde a sala de aula é a principal fonte de língua, os materiais precisam maximizar
a exposição à língua, fornecendo material adicional. É importante também que ao ensinar
aprendizes com nível baixo de língua, o professor utilize tanto a língua materna quanto a
estrangeira e gradualmente pare de utilizar a materna.
Para os autores, enquanto apoio de aprendizagem, os materiais precisam ser
confiáveis, isto é, funcionar, ser consistentes e ter algum padrão reconhecível. Para melhorar a
aprendizagem, os materiais devem envolver os aprendizes no pensar sobre a linguagem e
como utilizá-la. As atividades precisam estimular os processos cognitivos e não mecânicos.
Os autores acrescentam que para estimularem e motivarem, os materiais
precisam ser desafiadores e alcançáveis; oferecer novas idéias e informações enquanto são
baseados na experiência e conhecimento dos aprendizes; encorajar a diversão e a criatividade.
O insumo deve conter conceitos e/ou conhecimento que são familiares, mas deve oferecer
também algo novo, um motivo para comunicar, se envolver. O propósito e a conexão com a
realidade dos aprendizes precisam ser claros.
Além disso, os autores afirmam que o material é uma referência para muitos
aprendizes de IPE os quais têm pouco tempo para aula e dependem de um misto de aulas,
auto-estudo e material de referência. Para propósitos de auto-estudo ou referência, os
materiais têm que ser completos, bem organizados e auto-explicativos.
Conforme Hutchinson e Waters (1987), professores de IPE podem avaliar e
fazer adaptações em materiais já publicados ou até mesmo desenvolver seus próprios
materiais. Para esses autores, a avaliação de um material consiste em relacionar as
60
necessidades dos aprendizes ao que pode saná-las. Esses autores ressaltam que um material de
ensino de IPE tem que atender às necessidades de professores, aprendizes e patrocinadores.
De acordo com Dudley-Evans e St John, um dos mitos do IPE é que o
professor tem que escrever seus próprios materiais. Isso leva ao mito de que todo professor de
IPE é também bom em planejar materiais. Para esses autores, todos os profissionais de IPE
têm que ser bons fornecedores de materiais. Um bom fornecedor de materiais é capaz de:
1) selecionar apropriadamente a partir do que já está disponível;
2) ser criativo com o que já está disponível;
3) modificar atividades para atender às necessidades dos aprendizes;
4) complementar fornecendo atividades extras.
Conforme esses autores, para selecionar materiais e fazer boas escolhas
precisamos ter bons critérios tais como fatores sobre os aprendizes, o papel dos materiais, os
tópicos, a linguagem e a apresentação. Esses critérios devem ser considerados na análise de
materiais. Muito freqüentemente precisamos avaliar uma unidade ou uma atividade e não um
livro inteiro. Identificar e separar o conteúdo real e o profissional de atividades específicas é
crucial nesse processo. O conteúdo profissional deve ser apropriado e o conteúdo real deve
atingir os objetivos do curso. Para os autores, a única forma de verificar isso é sendo um aluno
e fazendo as atividades.
De acordo com Hutchinson e Waters (1987), a criação de materiais é um dos
aspectos mais característicos do IPE. Eles argumentam que o processo de escrita de materiais
pode ajudar os professores a se tornarem mais atentos ao que está envolvido no ensino-
aprendizagem. Todavia, também afirmam que a produção de materiais seria a última opção
para professores de IPE.
Segundo Dudley-Evans e St John (1998), o desenvolvimento de um novo
material poderia partir de dois pontos iniciais: (A) ter bom insumo/conteúdo profissional ou
61
(B) quando existe uma lacuna no material. No primeiro ponto, o próximo passo é analisar o
conteúdo profissional e determinar qual conteúdo real poderia ser explorado. No segundo
ponto, há um objetivo, algum conteúdo real para o qual não há material disponível apropriado.
Nesse caso, o primeiro passo é procurar por conteúdo profissional apropriado.
A nosso ver todo professor, não só de IPE, é capaz de desenvolver um
material, se for necessário, se ele é capaz de avaliar, selecionar, ser criativo, modificar
materiais disponíveis no mercado, bem como fornecer atividades extras. Considerando que o
professor de IPE se depara com contextos muito específicos de aprendizagem, nem sempre é
possível apenas utilizar o que está disponível, mas sim necessário que ele desenvolva, muitas
vezes, um material voltado para as necessidades e interesses de seu público-alvo.
Celani e outros (2005) julgam relevantes não só a produção de material por
professores, como também a troca de materiais e experiências entre esses profissionais. Para
os autores isso é importante para o crescimento profissional dos professores, diminuindo o
isolamento profissional desses docentes. Conforme Celani e outros, no início da década de 80,
a forma como a metodologia de ensino de IPE chegou ao Brasil, teria originado esse
isolamento profissional uma vez que o fato de cada aprendiz ser único gerou a produção
isolada de materiais. Isso ocorreu porque os professores de IPE começaram a criar materiais
para seus alunos com propósitos específicos, entretanto não os compartilhavam com ninguém.
Para que esse isolamento fosse amenizado, os autores relatam a criação e a organização de um
centro de recursos
4
onde professores de IPE poderiam procurar por materiais já preparados e
até mesmo fornecer ao centro seus próprios materiais.
Concordamos com Celani e outros (2005) com relação à relevância da criação
de materiais e a troca destes e de experiências entre professores. Nesse sentido é importante a
organização e a participação de/em seminários e encontros de profissionais da área.
4
CEPRIL – localizado até hoje na PUC - SP
62
Capítulo 2 - Metodologia
2.1 Natureza da Pesquisa
Conforme Merriam (1998), todos os tipos de pesquisa qualitativa são baseados
na concepção de que a realidade é construída por indivíduos interagindo com seus mundos
sociais. Os pesquisadores qualitativos estão interessados no significado construído pelas
pessoas, ou seja, na maneira pela qual elas vêem o mundo e as experiências que elas têm.
Segundo essa autora, uma pesquisa qualitativa apresenta cinco características:
1) Preocupa-se fundamentalmente em entender o fenômeno de interesse a partir dos
pontos de vista dos participantes e não dos pesquisadores;
2) O pesquisador é o instrumento principal para a coleta e análise dos dados. Os dados
são mediados por meio deste instrumento humano, o pesquisador;
3) Envolve, geralmente, trabalho de campo;
4) Emprega principalmente uma estratégia de pesquisa indutiva. Isto é, este tipo de
pesquisa permite a construção de abstrações, conceitos, hipóteses ou teorias ao invés
de testar teorias existentes;
5) Foca o processo, o significado e a interpretação, logo seu produto é ricamente
descritivo.
Merriam afirma ainda que em um estudo qualitativo o investigador é o
principal instrumento para reunir e analisar os dados e, como tal, pode se responsabilizar pela
situação, proporcionando maiores oportunidades para a coleta e produção de informação
significativa. Conforme a autora, o papel do investigador na pesquisa qualitativa pode ser
comparado ao de um detetive. No início, tudo é importante e todo mundo é suspeito. Leva
63
tempo e requer paciência para buscar e seguir pistas, encontrar as peças que faltam e montar o
quebra-cabeça.
Conforme Holmes (1992), a pesquisa qualitativa ou interpretativista objetiva
descrever fenômenos para então compreendê-los ou interpretá-los.
De acordo com Merriam (1998, p. 11), o termo estudo qualitativo básico ou
genérico se refere a estudos que exemplificam as características da pesquisa qualitativa
discutida anteriormente. Pesquisadores que conduzem estudos deste tipo simplesmente
buscam descobrir e entender um fenômeno, um processo, ou as perspectivas e visões de
mundo das pessoas envolvidas.
O investigador também deve ter sensibilidade ou ser altamente intuitivo neste
tipo de pesquisa. Ele deve ser sensível ao contexto e sua variável, incluindo o cenário físico,
as pessoas e os seus planos declarados e secretos e o comportamento não-verbal. Ele deve ser
sensível à informação que está sendo coletada. Finalmente, deve estar atento a qualquer
preconceito (viés) pessoal e como ele pode influenciar a investigação.
É importante lembrar que uma das suposições filosóficas que permeia esse tipo
de pesquisa é a de que a realidade não é uma entidade objetiva, pois há múltiplas
interpretações dela. O pesquisador traz sua construção da realidade para a pesquisa,
construção a qual interage com as construções ou interpretações de outras pessoas do
fenômeno em estudo.
Em vista disso, optamos por uma pesquisa de cunho qualitativo, uma vez que
investigamos os elementos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem de inglês para
propósitos específicos em contexto empresarial. Para tal, consideramos os relatos dos
participantes como fonte de coleta de dados e buscamos descrevê-los para então interpretá-
los.
64
2.2 Contextos de Pesquisa
Descrevemos nesta seção o perfil das duas empresas por nós investigadas, bem
como dos dois cursos de inglês, um em cada uma delas, oferecidos em suas instalações.
2.2.1 Empresa I
A empresa I produz compressores herméticos para refrigeração doméstica e
comercial desde 1972. Ela é subsidiária de uma empresa norte-americana que está no mercado
desde os anos 30. Em razão de ser uma multinacional, há a necessidade de que seus
funcionários aprendam a língua inglesa. Entretanto, essa empresa não custeia o curso por
motivos financeiros, permitindo o uso de suas instalações pelos professores e funcionários.
2.2.1.1 Curso de Inglês da Empresa I
O curso de inglês oferecido na empresa I tem um preço mais acessível do que
nas escolas de idiomas da cidade onde a empresa está sediada e é coordenado pelo tradutor
técnico dessa empresa. As aulas são realizadas durante o horário de almoço, antes do início ou
depois do fim do turno dos funcionários e geralmente duas vezes por semana, tendo cada aula
a duração de uma hora e trinta. Não há a aplicação de um teste de nível para que os grupos
sejam formados, por isso eles são divididos informalmente de acordo com os próprios
funcionários-alunos, ou seja, um funcionário freqüenta a turma do nível que ele acredita
acompanhar. Há grupos de nível básico, intermediário e avançado, existindo alguns
intitulados como “conversação” e “business”.
65
Não há a realização de uma análise de necessidades formal prévia ao
planejamento do curso. O coordenador do curso descreve as necessidades da empresa e dos
funcionários embasado naquilo que observa durante sua rotina de trabalho, já que é o tradutor
técnico da empresa I e tem contato direto com as tarefas executadas pelos funcionários dessa
empresa. Declara que o objetivo desse curso é preparar os alunos para atenderem ligações
internacionais, participarem de “conference calls” e elaborarem relatórios e documentos em
geral
5
. Além disso, o material adotado é selecionado geralmente pelo coordenador e pelas
professoras. As professoras, participantes deste estudo e aqui denominadas A e B, utilizam
tanto materiais didáticos disponíveis no mercado quanto materiais e atividades que
confeccionam, esses materiais, criados pelas próprias docentes, podem ser os principais ou
apenas complementares, isso depende do foco de cada turma e do desejo de cada professora.
2.2.2 Empresa II
A empresa II é uma das filiais de uma das principais empresas aéreas do Brasil.
Nela é realizada a manutenção de aeronaves. Os manuais técnicos utilizados na realização do
trabalho de seus funcionários estão em inglês. Essa empresa custeia o curso e cede suas
instalações, pois necessita que seus funcionários aprendam a língua inglesa para que ela
receba uma certificação internacional. Deixa claro que está interessada em que seus
funcionários-alunos aprendam a ler os manuais e não a falar, a escrever ou a ouvir.
2.2.2.1 Curso de Inglês da Empresa II
5
Salientamos que na empresa I funcionários da produção também freqüentam o curso de inglês e, de acordo com
o que eles declararam receber e/ou produzir durante sua rotina de trabalho, não parecem ter as mesmas
necessidades que aquelas citadas pelo coordenador (vide apêndice 4 e Capítulo 3).
66
Esse curso é o resultado de uma parceria entre uma universidade pública do
interior do estado de São Paulo e a empresa II. Ele é coordenado por duas docentes do
departamento de Letras dessa universidade, responsáveis pelo projeto que integra a empresa II
e essa universidade.
Ele tem sido oferecido por cinco anos e, nesta empresa, é realizada uma análise
de necessidades
6
prévia ao planejamento do curso, os professores trabalham em equipe,
participando de reuniões semanais com suas coordenadoras, e o material é desenvolvido
baseado nos manuais técnicos utilizados pelos funcionários-alunos. Como a necessidade da
empresa II e de seus funcionários é a leitura de manuais, a habilidade focada nesse curso é a
leitura.
Os funcionários–alunos fazem um teste de nível para serem separados em
módulo A, B ou C
7
. O módulo A tem como objetivo introduzir as estratégias de leitura que
ajudarão os alunos a compreender os manuais de manutenção utilizados na execução de sua
rotina de trabalho. No módulo B, as professoras fazem uma revisão das estratégias
previamente estudadas no módulo A, bem como apresentam outras por meio de textos mais
difíceis. Já no módulo C, há a consolidação das estratégias vistas nos módulos anteriores e o
desenvolvimento de novas estratégias por meio da leitura de textos ainda mais difíceis.
O chefe de cada oficina decide quem pode fazer o teste para então fazer o
curso, a fim de que a execução das tarefas de trabalho não seja prejudicada. As aulas são
realizadas de segunda a quinta-feira (quatro vezes por semana) e têm duração de 1 hora e 30
minutos cada. Os módulos duram dois meses (64 horas-aula).
2.3 Participantes da Pesquisa
6
O processo de análise de necessidades realizado na empresa II está descrito no apêndice 41.
7
A descrição dos conteúdos dos módulos A, B e C estão nos apêndices 38, 39 e 40.
67
Participaram desta pesquisa os coordenadores do curso das empresas I e II (CI
e CII), duas professoras do curso da empresa I (PA e PB), duas professoras do curso da
empresa II (PC e PD), oito funcionários-alunos da empresa I (F1I, F1II, F1III, F1IV, F1V,
F1VI, F1VII E F1VIII) e dez funcionários-alunos da empresa II (F2I, F2II, F2III, F2IV, F2V,
F2VI, F2VII, F2VIII, F2IX E F2X).
2.3.1 Coordenadores dos Cursos
O coordenador do curso da empresa I cursou licenciatura em Letras em uma
universidade pública do interior do estado de São Paulo; residiu dois anos nos Estados Unidos
e está contratado como tradutor técnico dessa empresa. Em razão de sua experiência no ensino
de língua inglesa, responsabilizou-se pela coordenação do curso oferecido dentro dessa
empresa. É ele quem seleciona os professores, divulga o curso e escolhe, juntamente com os
docentes, o material didático a ser utilizado.
A coordenadora informante do curso da empresa II também cursou licenciatura
em Letras em uma universidade pública do interior do estado de São Paulo; é docente no
departamento de Letras de uma universidade pública e é uma das coordenadoras do projeto de
extensão por meio do qual a universidade presta serviço à empresa. É uma das responsáveis
pela escolha dos professores (alunos do curso de Letras em que leciona), pela orientação na
criação do material utilizado e por fazer contato com a direção da empresa.
8
2.3.2 Professoras do Curso da Empresa I
8
A outra coordenadora do curso não participa deste trabalho, pois é orientadora desta pesquisadora, evitando
então uma suposta manipulação dos dados.
68
A professora A cursou licenciatura em Letras em uma universidade pública do
interior do estado de São Paulo e está formada há quase dois anos. Leciona em diferentes
contextos tais como em escolas de idioma, em cursinho pré-vestibular, na empresa em estudo,
além de dar aulas particulares em casa. Na empresa I leciona para um grupo de nível básico,
um intermediário e um avançado. Nunca havia lecionado em empresas e vê essa experiência
como um aprendizado.
A professora B cursou licenciatura em Letras em uma universidade pública do
interior de São Paulo e está formada há dez anos. Também trabalha em diferentes contextos:
escolas de idioma, nesta empresa e em casa dando aulas particulares. Na empresa I leciona em
dois grupos de nível básico, um avançado e um conversação.
2.3.3 Professoras do Curso da Empresa II
A professora C dava aula já aos 15 anos e concluiu o curso de licenciatura em
Letras em uma universidade pública do interior do estado de São Paulo no final do ano de
2006. Atua, também, em uma escola de idiomas e iniciou seu mestrado no início do ano de
2007. Participa deste projeto de extensão há três anos e atualmente leciona para um grupo do
módulo A.
A professora D está no último semestre da graduação em uma universidade
pública do interior do estado de São Paulo. Nunca havia lecionado em empresa. Assim como
a professora C leciona para um grupo de módulo A.
69
2.3.4 Funcionários-Alunos da Empresa I
Participaram da pesquisa oito funcionários da empresa I. Esses oito
funcionários são trabalhadores da produção da fábrica e trabalham em sistema de turnos. Têm
necessidade de aprender a língua inglesa, uma vez que a empresa I é uma multinacional e
deseja que seus funcionários estudem essa língua.
Organizamos a função que esses funcionários exercem nessa empresa e há
quanto tempo eles trabalham nela no quadro abaixo:
Funcionários-alunos da
empresa I
Função exercida dentro da
empresa I
Há quanto tempo trabalha
na empresa I
F1I Analista de processos 3 anos
F1II Coordenador de
ferramentaria
5 anos e meio
F1III Preparador e ajustador de
máquinas
10 anos
F1IV Trainee Industrial 14 anos e 4 meses
F1V Não Informou 7 anos
F1VI Eletricista 21 anos
F1VII Analista de processo 3 anos
F1VIII Técnico 7 anos
Tabela 1 – Função exercida pelos funcionários da empresa I e o tempo que estão na empresa
2.3.5 Funcionários-Alunos da Empresa II
Participaram da pesquisa dez funcionários da empresa II. Esses funcionários
trabalham com a manutenção de aeronaves e utilizam os manuais de manutenção na execução
de suas tarefas de trabalho.
70
As funções exercidas por esses funcionários e há quanto tempo eles trabalham
na empresa II estão descritas abaixo:
Funcionários-alunos da
empresa II
Função exercida dentro da
empresa II
Há quanto tempo trabalha
na empresa II
F2I Mecânico 10 meses
F2II Trabalha na oficina de
material composto (não
especificou sua função)
8 meses
F2III Mecânico 1 ano
F2IV Mecânico 1 ano
F2V Auxiliar técnico 4 anos
F2VI Mecânico 2 anos
F2VII Trabalha na manutenção e
fabricação de componentes
6 meses
F2VIII Trabalha no setor de
estruturas
6 meses
F2IX Trabalha no hangar 6 meses
F2X Técnico em eletrotécnica 5 anos
Tabela 2 - Função exercida pelos funcionários da empresa I e o tempo que estão na empresa
2.4 Instrumentos de Coleta de Dados
Para que a coleta de dados fosse realizada, utilizamos os seguintes
instrumentos:
1) Entrevistas semi-estruturadas com os coordenadores e professores (roteiros
nos apêndices 1 e 2): realizamos uma entrevista com os coordenadores CI e CII e uma
entrevista com cada professora participante de nossa pesquisa.
71
A entrevista realizada com os coordenadores CI e CII continha questões sobre
o número de grupos de alunos que cursam inglês dentro das empresas I e II, a necessidade que
a empresa e os funcionários têm em aprender a língua-alvo, o perfil do professor que as
empresas procuram, bem como se o material utilizado nas aulas é adequado às necessidades e
aos interesses das duas empresas. Em suma, as questões feitas forneceram o perfil do curso,
do professor e do material de cada empresa que investigamos.
Realizamos também uma entrevista com as professoras PA, PB, PC e PD.
Nessa entrevista, foram feitas questões sobre a seleção do material didático, se elas procuram
ou não atender os propósitos e as expectativas das empresas I e II e dos seus funcionários,
além do número de grupos em que lecionam nesses contextos. A partir dos dados coletados
com essas perguntas, pudemos traçar o perfil das professoras e dos cursos oferecidos nas
instalações das empresas I e II, mas agora a partir do ponto de vista dessas docentes.
2) Questionários respondidos pelos funcionários-alunos das empresas I e II
(roteiro no apêndice 3): Os questionários foram respondidos por oito funcionários-alunos do
curso de inglês da empresa I. Desses oito, quatro são alunos da professora A e quatro são
alunos da professora B. Responderam também dez funcionários-alunos da empresa II. Desses
dez, cinco são alunos da professora C e cinco são alunos da professora D.
9
As questões contidas nesse roteiro nos proporcionaram conhecer as
necessidades e os interesses dos funcionários-alunos das duas empresas, se o material que
utilizam em suas aulas atende ou não a essas necessidades e interesses, bem como o que
produzem e/ou recebem em inglês dentro dos locais onde trabalham.
3) Amostras do material adotado nos cursos de inglês das empresas I e II
(apêndices 28 ATÉ 37): Amostras do material adotado nos cursos dessas empresas foram
fornecidas pelas professoras A, B, C e D e são analisadas porque o MD faz parte do processo
9
Os funcionários não foram entrevistados devido à incompatibilidade de horário entre eles e a pesquisadora, por
isso, pedimos às professoras que entregassem e recolhessem o questionário a seus alunos.
72
de ensino-aprendizagem de uma língua e como tal é um dos aspectos importantes de um curso
de inglês tanto para propósitos gerais quanto para propósitos específicos, assim como para
que respondamos à terceira pergunta de pesquisa deste trabalho.
2.5 Procedimentos de análise
Para respondermos a primeira questão de pesquisa, a respeito da forma pela
qual os coordenadores I e II sabem explicar as necessidades das empresas I e II, foi
considerada a entrevista semi-estruturada concedida por esses participantes.
Para tal, consideramos as respostas de CI e CII às perguntas: Por que os
funcionários precisam ou procuram o curso de inglês? e Que tipo de documentos a empresa
recebe e/ou produz em inglês?.
Com o objetivo de avaliar se as empresas I e II têm consciência das
necessidades de seus funcionários em relação à aprendizagem da língua inglesa, utilizamos as
respostas desses coordenadores às perguntas: Qual o perfil do professor que a empresa
procura? e A empresa custeia o curso? Por quê?.
No que diz respeito à segunda questão, para respondê-la utilizamos os dados
constantes no questionário respondido pelos funcionários-alunos das empresas I e II, a fim de
discutirmos em que medida os funcionários têm consciência de suas necessidades lingüísticas
para o melhor desempenho de sua rotina de trabalho. Dessa forma, utilizamos as respostas
desses funcionários às perguntas: Por que você procurou o curso de inglês da empresa? e O
que você recebe e/ou produz em inglês dentro da empresa?.
No que tange à terceira questão, em relação à existência de pontos nos quais as
necessidades e interesses dos funcionários-alunos, tanto na empresa I quanto na II, coincidem
ou diferem, fazemos uso, primeiramente, das respostas dos funcionários à pergunta: O curso e
73
o material atendem aos seus interesses? Por quê?. Também utilizamos as respostas das
professoras A, B, C e D às perguntas: Você procura atender aos interesses e necessidades da
empresa e dos seus funcionários-alunos? e Quais são os interesses dos funcionários?. Por
fim, retomamos a análise dos dados provenientes das respostas dos coordenadores às
perguntas: Qual o perfil do professor que a empresa procura? e A empresa custeia o curso?
Por quê?.
Salientamos que utilizamos novamente as respostas de CI e CII à pergunta
citada acima, com o propósito de triangular os dados provenientes das respostas dos
funcionários, professores e coordenadores para que discorramos sobre a consciência das duas
equipes envolvidas nos cursos das empresas I e II a respeito das necessidades lingüísticas em
LE para o melhor desempenho profissional de seus funcionários.
A fim de responder a quarta questão, a qual busca analisar a relação entre o
material didático adotado nos cursos de inglês das duas empresas participantes deste trabalho
e as necessidades e os interesses citados pelos funcionários-alunos, fazemos uso dos dados
provenientes das respostas das professoras A e B à pergunta: Você produz o seu próprio
material de acordo com as necessidades dos alunos?. Também utilizamos as respostas das
professoras C e D à pergunta: Como e por quem o material didático é selecionado?. Além
disso, utilizamos as respostas dos funcionários-alunos das duas empresas à pergunta: O curso
e o material adotado atendem às suas necessidades? Por quê?
Apresentamos, ainda, uma breve análise de alguns exercícios constituintes dos
materiais adotados pelas professoras dos cursos de inglês das empresas I e II.
Reiteramos que as amostras do material adotado pelas professoras desses
cursos foram utilizadas como instrumento de coleta de dados, haja vista que o MD é parte
importante do processo de ensino de IPE. Não é nosso objetivo avaliar a abordagem e o tipo
74
de exercício que constituem esses materiais, mas a relação deles com as necessidades e os
interesses apontados pelos funcionários-alunos das duas empresas por nós investigadas.
No próximo capítulo, procedemos à análise dos dados coletados.
75
Capítulo 3 - ANÁLISE DOS DADOS
Neste capítulo apresentamos os dados coletados para que respondamos as
questões que norteiam esta pesquisa. No decorrer do texto utilizamos as teorias apresentadas
no referencial teórico deste trabalho embasando, assim, nossa discussão.
Primeiramente, retomamos as quatro questões propostas:
1. Em que medida os coordenadores dos cursos de inglês das empresas por nós
investigadas sabem explicar as necessidades dessas empresas?
2. Em que medida os funcionários das empresas I e II estão conscientes de suas
necessidades lingüísticas em LE para seu melhor desempenho profissional?
3. Em que pontos as necessidades e interesses dos funcionários-alunos tanto da
empresa I quanto da empresa II:
a) coincidem?
b) diferem?
4. Qual a relação do material didático adotado nos cursos das empresas I e II
com as necessidades e interesses apontados pelos funcionários-alunos?
Para respondermos as questões, utilizamos as respostas dadas pelos
participantes desta investigação (coordenadores I e II; professoras A, B, C e D; funcionários-
alunos das empresas I e II) durante as entrevistas semi-estruturadas e no questionário
respectivamente. Além disso, analisamos alguns exercícios dos materiais didáticos utilizados
e fornecidos pelas professoras dos cursos de inglês das duas empresas.
3.1 As Necessidades das Empresas e dos Funcionários-
Alunos
76
Discorremos nesta seção sobre as necessidades das empresas e de seus
funcionários-alunos a partir dos relatos dos participantes desta pesquisa. Por meio dessa
discussão, respondemos as questões de pesquisa norteadoras deste trabalho.
3.1.1 As Necessidades das Empresas sob o Ponto de Vista
dos Coordenadores I e II
Para avaliarmos de que maneira os coordenadores dos cursos de inglês das
empresas I e II sabem explicar as necessidades da empresa, bem como se esses coordenadores
têm consciência das reais necessidades em cada um desses contextos, utilizamos,
primeiramente, as respostas obtidas com as perguntas Por que os funcionários precisam ou
procuram o curso de inglês? e Que tipo de documentos a empresa recebe e produz em
inglês?. Reiteramos que as respostas foram obtidas a partir da entrevista semi-estruturada
realizada com os coordenadores I e II.
Os coordenadores I e II responderam a essa primeira questão da seguinte
forma:
CI (vide apêndice 4): A (empresa I) é uma empresa americana, portanto, toda
documentação que circula nos departamentos todos os dias é em inglês e os funcionários
então precisam saber ler esses documentos, responder mensagens de e-mails, tradução de
normas técnicas. Muitas vezes têm que atender (...) eles têm que atender o telefone e a pessoa
que está do outro lado é um americano daí a necessidade deles terem que saber inglês.
77
CII (vide apêndice 5): Os funcionários têm que lidar com um vocabulário
muito específico em seu ambiente de trabalho e em todas as seções da empresa as peças estão
em inglês, bem como os manuais de manutenção de cada seção
10
.
Analisando a fala de CI, observamos que a empresa I, por ser uma
multinacional, tem em sua rotina de trabalho a presença de documentos, normas técnicas em
inglês, entre outros. Podemos inferir que os funcionários dessa empresa precisam saber ler
esses documentos e normas, assim como ler e escrever e-mails e conversar com estrangeiros
ao telefone. Portanto, concluímos que esses funcionários precisariam desenvolver todas as
habilidades: a leitura, a escrita e as orais.
CII afirma que na empresa II as peças e os manuais de manutenção com os
quais os funcionários lidam todos os dias na execução de suas tarefas de trabalho estão em
inglês. Explica também que o vocabulário, provavelmente desses manuais, é muito específico.
Até aqui, acreditamos que os funcionários dessa empresa têm a necessidade de desenvolver a
leitura para que compreendam esses manuais e sua linguagem peculiar, bem como as peças
que estão na língua – alvo.
CI e CII responderam a segunda questão de maneiras diferentes. CI reiterou
sua primeira resposta dizendo que na empresa I são recebidos e produzidos em inglês e-mails,
normas técnicas e acrescentou que há manuais de máquinas nessa língua.
CI: A empresa produz e recebe em inglês e-mails, normas técnicas, manuais
de máquinas, principalmente isso.
Já CII reafirma que a empresa recebe manuais de manutenção na língua inglesa
e explica que esses manuais são emitidos para diversos países, uma vez que o inglês é a língua
franca.
Pesquisadora: Que tipo de documentos a empresa recebe e produz em inglês?
10
As seções de trabalho da empresa II apresentam manuais de manutenção diferentes porque as partes da
aeronave assim como as tarefas executadas por seus funcionários são diferentes.
78
CII: Os manuais de manutenção. Como esses manuais são emitidos para
vários países, o inglês é a língua franca e todas as oficinas, no mundo inteiro, recebem
manuais versados em inglês.
Retomamos Nickerson (2005) em sua afirmação de que estudos realizados em
diferentes países confirmam que o inglês é parte intrínseca da comunicação em contextos
multinacionais e é uma realidade na vida de profissionais da área empresarial.
Verificamos essa realidade nas empresas por nós investigadas, haja vista que
nesses dois contextos há a necessidade de que seus funcionários aprendam a língua-alvo para
executar suas tarefas. No caso da empresa I, o fato de ser multinacional é que faz do inglês
necessário à comunicação dentro da empresa. Entretanto, a empresa II tem a necessidade de
que seus funcionários aprendam a língua-alvo em razão de que os manuais de manutenção
utilizados na realização do trabalho dos funcionários são escritos em inglês. Além disso, essa
empresa precisa que seus funcionários aprendam a língua-alvo para que possa receber uma
certificação internacional.
Isso posto, avaliamos também se as empresas I e II têm consciência das
necessidades de seus funcionários, já que elas escolheram esses coordenadores para
planejarem os cursos, assim como selecionarem os professores que lecionam neles. Para tal,
utilizamos as respostas frente às questões: Qual o perfil do professor que a empresa procura?
E A empresa custeia o curso?Por quê?. A nosso ver essas informações são relevantes porque
contribuem para avaliarmos até que ponto os coordenadores sabem explicar as necessidades
da empresa, uma vez que quando a empresa sabe claramente suas reais necessidades em
relação à língua toda a equipe que organiza e oferece o curso também tem isso mais claro e
consegue, assim, planejar um curso que atenda a essas necessidades (AUGUSTO; OUTROS, no
prelo).
79
Concluímos, a partir da resposta de CI à pergunta sobre o perfil do professor,
que esse coordenador apresenta a visão de que o professor de língua estrangeira deva ser
fluente, ter vivido em um país onde o inglês é a língua nativa e que essas características (se
presentes no professor) ajudam o funcionário-aluno a se tornar independente ao utilizar essa
língua.
CI: O perfil do professor tem que ser o professor (...) tem que ser uma pessoa
fluente no idioma, de preferência que tenha morado em um país onde o inglês é a língua
nativa porque o que se procura no professor é que ele seja capaz de passar os conhecimentos
para o funcionário de modo que o funcionário se torne autônomo, se torne independente
quando se precisa aplicar o inglês.
Notamos na fala de CI, que professor fluente e com experiência de vida em um
país estrangeiro seria capaz de tornar um aluno autônomo no uso da língua-alvo. A nosso ver
“passar os conhecimentos” e tornar o aluno autônomo são idéias contraditórias, uma vez que
se o aluno apenas recebe o conhecimento e o reproduz, ele não tem autonomia nem
independência para utilizar o que lhe foi “passado”. Gostaríamos de relembrar que esse
coordenador é o tradutor técnico dessa empresa e como ele mesmo afirma com uma
experiência de aproximadamente uns trinta anos no ensino de idiomas, por isso acreditamos
que tenha sido escolhido pela empresa I para ser o responsável pelo curso de inglês. Além
disso, salientamos que não é nosso intuito criticar sua função dentro da empresa I, mas sim
atentar para o fato de que sendo o tradutor técnico dessa empresa, provavelmente, não tenha
tempo para se dedicar ao planejamento do curso de inglês oferecido nas instalações da
empresa I. Reiteramos que o desenvolvimento de um curso de IPE requer um trabalho de
equipe, a realização de uma análise de necessidades cuidadosa, o planejamento do currículo a
ser ensinado durante o curso, além da seleção e/ou confecção de um material didático e isso
tudo exige tempo e dedicação por parte daqueles envolvidos no curso. Ademais, o
80
conhecimento de teorias contemporâneas sobre o ensino-aprendizagen de LE e mais
especificamente de IPE no caso de empresas parece fundamental para um trabalho menos
intuitivo.
A nosso ver, a administração da empresa I por apenas desejar que seus
funcionários aprendam a língua inglesa (por se tratar de uma multinacional), não parece ter
consciência das necessidades específicas de todos seus funcionários. Parece-nos que, para a
empresa I e para CI, todos os funcionários devem aprender o que já definimos anteriormente
como Inglês para Propósitos de Negócios, ou seja, eles não parecem notar que funcionários de
cargos diferentes têm necessidades diferentes. Portanto, os funcionários da área técnica da
empresa, os quais precisam compreender os manuais de máquinas e normas técnicas, não
teriam suas necessidades atendidas.
A coordenadora II afirma não saber o perfil de professor que a empresa II
procura, já que essa empresa deixa essa escolha por conta da mesma. Entretanto, notamos que
a empresa II procurou essa coordenadora porque ela faz cursos específicos os quais atendem a
necessidades específicas de um público-alvo. Logo, podemos inferir que a empresa II parece
ter consciência de que é preciso o ensino da língua inglesa para seus funcionários focando
suas necessidades específicas para a execução de seu trabalho. Como mencionamos
anteriormente, suas necessidades seriam desenvolver a compreensão escrita da língua-alvo de
seus funcionários, haja vista os manuais de manutenção que utilizam no seu trabalho.
CII: A empresa nos procurou inicialmente por saber que fazemos cursos
específicos para as necessidades do público-alvo, uma das características do inglês
instrumental. (...) Não sei o que a empresa pensa ou gostaria de ter como professor, pois essa
função ela deixa pra nós decidirmos.
Podemos dizer que a coordenadora II parece saber explicar as necessidades da
empresa II de forma mais clara porque, como já explicitamos no capítulo 2 deste trabalho, ela
81
é quem comumente se reúne com a direção dessa empresa para discutirem sobre o andamento
do curso de inglês, mantendo-se sempre informada daquilo que a empresa e seus funcionários
necessitam.
Para comprovarmos nossa suposição de que a empresa I e o CI aparentam não
estar conscientes de todas suas necessidades e que, todavia, a empresa II e a CII parecem estar
mais adequadamente envolvidas com essa questão, utilizamos suas respostas à pergunta sobre
o financiamento dos cursos.
Pesquisadora: A empresa custeia o curso?
CI: Não, a empresa não paga. Até o ano passado a empresa subsidiava 50%
do valor da mensalidade. Aí então ela decidiu que o curso de inglês seria cortado, não mais
haveria o curso de inglês. Então, nós sugerimos que o funcionário pagasse do próprio bolso e
a empresa apenas cedesse as instalações e ela (a empresa) concordou. (...)
Pesquisadora: Por quê?
CI: Devido à crise que se instalou na empresa e nas empresas brasileiras em
geral que trabalhavam com exportação por causa da cotação do dólar (...) caiu muito (...)
então eles resolveram cortar e começaram cortando o curso de inglês e outros benefícios
importantes para o funcionário.
Diante dessas respostas, podemos afirmar que a administração da empresa I
aparenta não estar consciente de que é importante que ela valorize mais o curso, pois assim
seus funcionários prestarão maior atenção à relevância de se estudar a língua para executarem
seu trabalho.
No entanto, CII relata que a empresa II custeia o curso porque precisa obter
uma certificação internacional a qual só é possível se seus funcionários aprenderem inglês.
Pesquisadora: A empresa custeia o curso? Por quê?
82
CII: Sim, porque para ela é fundamental que os alunos tenham conhecimento
da língua, porque sem isso a empresa não pode receber certificação internacional.
Confirmamos com essa resposta que a empresa II parece ter consciência de que
seus funcionários precisam aprender a língua inglesa. A nosso ver, essa consciência seria
transmitida para os funcionários, como veremos na seção seguinte.
Para finalizarmos essa discussão, utilizamos as resposta de mais uma pergunta
O material didático utilizado nas aulas é selecionado de acordo com as necessidades dos
funcionários?.
Ao analisarmos a resposta do coordenador I a essa quarta questão, observamos
que este apresenta a visão de que o “método” (ao que nos parece o material didático na visão
desse participante) a ser utilizado deve ser selecionado de acordo com o nível cultural dos
alunos e de que o material utilizado no curso da empresa I atende sim às necessidades dos
funcionários.
CI: Sim, o material didático é escolhido de acordo com a necessidade da
empresa e do funcionário, por exemplo, é da produção, nós aplicamos o método que ele tenha
acesso a ele pra que isso não se torne difícil, desmotivador (...) para os funcionários
administrativos, o método é outro porque o nível cultural deles é um pouco mais alto.
Com base nessa resposta, reiteramos que o coordenador não parece saber
claramente quais as necessidades dos funcionários da empresa I. Além disso, seleciona o
material didático de acordo com o “nível cultural” dos alunos e, a nosso ver, não sabe
distinguir método e MD. Concluímos, então, que o material utilizado, provavelmente, não
atenda às necessidades dos funcionários da “produção”
11
. Gostaríamos de atentar para o
comentário de CI a respeito do “nível cultural” dos funcionários-alunos da empresa I, pois não
concordamos quando diz que um método de ensino deve ser escolhido de acordo com a
11
Funcionários da produção são aqueles que trabalham no setor onde o trabalho é mais técnico e mecânico.
83
cultura dos aprendizes, principalmente, porque CI parece acreditar que funcionários da área
técnica têm menos cultura e por isso materiais utilizados com funcionários de outras áreas da
empresa seriam difíceis para os técnicos acompanharem, logo materiais considerados fáceis
seriam mais adequados a esses profissionais. A nosso ver, um material deve ser escolhido de
acordo com as necessidades e o nível de proficiência já adquirido pelo aprendiz.
A coordenadora II descreve que o material utilizado na empresa II tem sido
elaborado a partir dos manuais utilizados pelos funcionários.
CII: Cada vez mais o material tem sido elaborado com base nos manuais que
os funcionários utilizam, utilizando tanto atividades de compreensão como de produção.
Cabe lembrarmos que a coordenadora II e a empresa II relatam que nesse
contexto há a necessidade da leitura dos manuais de manutenção. Observamos novamente que
a coordenadora II aparenta saber explicar com maior clareza as necessidades dessa empresa e
de seus funcionários.
Ressaltamos que, provavelmente, a consciência ou não das empresas I e II
esteja relacionada às suas origens, ou seja, a empresa I por ser americana deseja que seus
funcionários aprendam a língua inglesa, porém parece acreditar que isso é de total
responsabilidade desses funcionários. Já a empresa II, por ser brasileira precisa comprovar
que é capaz de se manter no mercado, para tal precisa que seus funcionários aprendam a
língua-alvo a fim de que receba uma certificação internacional. Portanto, aparentam estar
conscientes de suas necessidades lingüísticas em LE e conscientizariam também seus
funcionários.
Cabe aqui retomarmos Hutchinson e Waters (1987) e Augusto e outros (no
prelo) quando discutem a questão da consciência em um curso de IPE. Para os primeiros
estudiosos, o que difere um curso de IPE de um de IPG é a consciência que o aprendiz tem de
suas necessidades, portanto não basta ter necessidade de aprender uma língua, tem que estar
84
consciente dela. Augusto e outros (no prelo) demonstraram que, muitas vezes, a própria
empresa não tem consciência das necessidades reais de seus funcionários em relação à língua-
alvo e conseqüentemente esses profissionais também não têm. Concordamos com esses
pesquisadores e acreditamos que a conscientização de todos aqueles envolvidos no processo
de ensino de um curso de IPE é importante para que o curso atenda a essas necessidades e seja
aperfeiçoado à medida que é desenvolvido.
3.1.2 A Consciência dos Funcionários em Relação às suas
Necessidades Lingüísticas para seu Desempenho
Profissional
Discutimos aqui em que medida os funcionários têm consciência de suas
necessidades lingüísticas para melhor desempenhar suas funções dentro das empresas I e II.
Essa discussão nos auxilia a responder a segunda questão de pesquisa proposta neste trabalho,
a qual reescrevemos:
2. Em que medida os funcionários das empresas I e II estão conscientes de suas
necessidades lingüísticas em LE para seu melhor desempenho profissional?
Utilizamos as respostas dadas pelos funcionários-alunos das empresas por nós
investigadas às perguntas: Por que você procurou o curso de inglês da empresa? E O que
você recebe e/ou produz em inglês dentro da empresa?, por ocasião do questionário entregue
e recolhido pelas professoras A, B, C e D.
Iniciamos nossa investigação a partir das respostas dos funcionários-alunos da
empresa I à primeira pergunta. Verificamos essas respostas no quadro abaixo:
85
Funcionários da empresa I Por que procurou o curso de inglês da
empresa
F1I Custo menor; melhor aproveitamento do
horário de almoço.
F1II Por ser na própria empresa; horário das
aulas.
F1III Por gostar e porque hoje em dia é
necessário.
F1IV Por comodidade e preço.
F1V Necessidade e por ser na própria
empresa.
F1VI O inglês é importante porque trabalha
com manuais e painéis de comando.
F1VII Custo viável e horário flexível.
F1VIII Custo menor; por ser na própria empresa
e horário das aulas.
Tabela 3 – Motivos pelos quais os funciorios da empresa I procuraram seu curso
Como podemos observar, sete desses funcionários (F1I, F1II, F1III, F1IV,
F1V, F1VII e F1VIII) citaram mais de um motivo para freqüentar o curso da empresa.
Utilizamos as respostas de alguns deles enquanto exemplo.
Pesquisadora: Por que você procurou o curso de inglês da empresa?
F1I (apêndice 10): 1
o
) Custo menor quando comparado ao mercado
2
o
) Aproveitar melhor o horário de almoço
F1II (apêndice 11): Devido meu horário de trabalho e a facilidade de ser na
própria empresa, pois as aulas são 2x por semana, 1 hora antes do meu horário de entrada p/
o trabalho.
F1IV (apêndice 13): Comodidade e preço.
Diante dessas respostas, notamos que o custo menor foi citado por quatro
funcionários (F1I, F1IV, F1VII e F1VIII), como podemos observar abaixo:
F1VII (Apêndice 16): Custo benefício viável, disponibilidade, horário flexível.
F1VIII (apêndice 17): Por estar enquadrado no meu orçamento, ser nas
dependências da empresa e em horário que concilia o meu horário de serviço e de estudo.
86
Também aparece quatro vezes (F1II, F1IV, F1V e F1VII) o fato de ser na
empresa uma das razões pelas quais eles escolheram esse curso. O fator horário das aulas
também foi mencionado por três funcionários (F1II, F1VII e F1VIII). F1III e F1VI
apresentaram razões diferentes dos outros funcionários.
Por que você procurou o curso de inglês da empresa?
F1III (vide apêndice 12): Por que gosto e nos dias de hoje é necessário.
F1VI (vide apêndice 15): O inglês é importante para diversas área, pois
trabalho com painéis de comando e o esquema elétrico e os manuais são na maioria em
inglês.
Com base nessas respostas, podemos dizer que, em sua maioria, os
funcionários da empresa I afirmam freqüentar o curso de inglês nessa empresa, uma vez que o
custo é menor, o horário das aulas é mais flexível e é cômodo o curso ser na própria empresa.
Observamos a influência da cultura norte-americana nos depoimentos desses participantes,
uma vez que alegam freqüentar o curso oferecido nessa empresa já que eles podem
“aproveitar melhor o horário de almoço”, por exemplo. O fato de o curso ter preço menor do
que o de mercado também atrai esses funcionários, todavia essa característica significa,
geralmente, menor tempo de dedicação da equipe envolvida com o oferecimento do curso e,
conseqüentemente, menor qualidade de ensino e, portanto, o não sucesso na aprendizagem de
uma LE.
Um funcionário (F1III) alega que gosta de estudar a língua-alvo e acredita que
nos dias de hoje é necessário, mas não dá exemplos concretos da relação de seu desempenho
profissional com a língua. A nosso ver, essa é uma idéia difundida pela mídia de que
atualmente é necessário que aprendamos o inglês ou até mesmo outros idiomas para que
tenhamos um melhor emprego, por exemplo. Apenas F1VI afirma ter procurado o curso da
87
empresa por que precisa do inglês para executar suas tarefas de trabalho, haja vista que se
depara com painéis de comando e manuais nessa língua.
Diante desses relatos, concluímos que esses funcionários parecem ter a mesma
visão que a própria empresa I de que precisam aprender inglês porque trabalham em uma
multinacional que, como tal, recebe e produz e-mails, normas, documentos, entre outros nessa
língua. Além disso, parecem reproduzir o discurso veiculado, tanto por empresas quanto pela
mídia, de que aprender uma LE “nos dias de hoje é necessário”.
Em vista disso, como mencionamos na seção anterior, os funcionários, assim
como a própria empresa e CI, aparentam não ter a consciência de que precisam do inglês, não
somente porque a mídia ou o mercado de trabalho exige, mas principalmente, porque se
deparam com a língua-alvo durante a execução de suas tarefas de trabalho e que os gêneros
com que trabalham são específicos, assim como a existência de uma metodologia própria e
adequada para esses casos, o IPE. Dessa forma, a aprendizagem dessa língua seria importante
para o melhor desempenho lingüístico em LE na realização da rotina de trabalho desses
funcionários. Lembramos que é relevante que todos os envolvidos no desenvolvimento de um
curso de IPE estejam conscientes das necessidades a respeito de uma LE.
Passemos à análise das respostas dos funcionários da empresa II a essa
primeira pergunta.
Funcionários da empresa II Por que procurou o curso de inglês da empresa
F2I Necessidade.
F2II Dificuldade para compreender os manuais.
F2III Convite da empresa.
F2IV Convite da empresa.
F2V Aperfeiçoar os conhecimentos sobre os
manuais.
F2VI Pelo fato dos manuais serem em inglês.
88
F2VII Melhorar a leitura e compreensão dos
manuais e baixar fichas de reparo.
F2VIII Conhecer o inglês instrumental.
F2IX Aprender a traduzir os manuais.
F2X Conhecer melhor os manuais.
Tabela 4 - Motivos pelos quais os funcionários da empresa II procuraram seu curso
Ao analisarmos a tabela 2, verificamos que seis funcionários (F2II, F2V, F2VI,
F2VII, F2IX e F2X) afirmam ter procurado o curso da empresa II porque precisam
compreender os manuais, como podemos verificar abaixo:
Pesquisadora: Por que você procurou o curso de inglês da empresa?
F2II (apêndice 19): Pela dificuldade em entender os manuais.
F2VII (apêndice 24): Para melhorar a leitura, o entendimento dos manuais, e
baixar fichas de reparo.
F2IX (apêndice 26): Melhorar e aprender a traduzir manuais.
Dois funcionários (F2III e F2IV) alegam terem sido convidados pela empresa
para freqüentarem o curso; F2I alegou que tem necessidade, por isso procurou o curso e
F2VIII afirmou ter procurado o curso para conhecer o “inglês instrumental”.
F2III (apêndice 20): Fui convidado a fazer o curso.
F2IV (apêndice 21): Fui convidado a fazer o curso pela empresa.
F2VIII (apêndice 25): Para conhecer o inglês instrumental e aprender esta
linguagem.
A nosso ver, a maioria desses funcionários parece ter consciência de suas
necessidades lingüísticas para o melhor desempenho de seu trabalho. A partir das respostas de
F2III e F2IV, podemos observar a consciência da empresa ao convidá-los para fazerem o
curso, mas eles não deixam claro se atenderam ao convite por receio ou por consciência,
provavelmente pela primeira razão, já que não elegeram relatar necessidade e sim o convite da
89
empresa. Reiteramos que os funcionários são selecionados para fazerem o curso de uma
forma que isso não atrapalhe o andamento das atividades dentro dessa empresa, por isso os
funcionários não freqüentam o curso todos de uma vez.
Em relação à afirmação de F2VIII sobre ter procurado o curso para conhecer o
“inglês instrumental”, inferimos que saiba de sua necessidade em estudar inglês e por isso
teria decidido conhecer a metodologia utilizada no curso dentro da empresa. Em vista disso,
parece-nos que os funcionários da empresa II estão mais conscientes sobre suas necessidades
em relação à língua-alvo. Reiteramos que, como discutimos na seção anterior, a empresa II e a
coordenadora II parecem saber com maior clareza quais as necessidades dos funcionários,
portanto seus funcionários também parecem estar mais conscientes dessas necessidades.
Isso posto, avaliamos as respostas dos funcionários à segunda pergunta.
Primeiramente, verificamos as respostas dos funcionários da empresa I, como podemos
observar no quadro abaixo:
Funcionários da empresa I O que recebe e/ou produz em inglês dentro
da empresa
F1I Nada.
F1II E-mails e relatórios.
F1III Mensagens de erros e manuais de
equipamentos.
F1IV Gráficos, planilhas e relatórios.
F1V E-mails.
F1VI Não respondeu.
12
F1VII Normas, cotações, programas de
máquinas, catálogos, e-mails.
F1VIII Desenhos, manuais e encartes de
equipamentos e instrumentos.
10 FVI respondeu da seguinte forma: O meu conhecimento de inglês atualmente é voltado para o meu próprio
interesse, pois é para meu próprio desenvolvimento profissional.
90
Tabela 5 – O que é recebido e/ou produzido em inglês dentro da empresa I
A partir dessas respostas, observamos que os funcionários da empresa I mesmo
não tendo mencionado, em sua maioria, que precisam estudar inglês para executarem suas
tarefas de trabalho, ao mencionarem o que recebem e/ou produzem em inglês dentro da
empresa, indicam, em sua maioria, que há a necessidade de que desenvolvam sobretudo a
leitura para que compreendam e-mails, relatórios, programas de máquinas, manuais, encartes
de equipamentos, entre outros.
Relembramos que F1I afirma ter procurado o curso da empresa I pelo fato de
ser mais barato e para aproveitar melhor seu horário de almoço (ver tabela 3). Ao responder a
segunda pergunta, alega não receber e/ou produzir “nada” em inglês dentro dessa empresa.
Portanto, esse funcionário parece freqüentar o curso por interesse, comodidade e por
reproduzir a cultura norte-americana de melhor aproveitar seu horário de almoço.
Gostaríamos de atentar para F1VI (ver tabela 3), já que nos informou que
trabalha com painéis de comando e o esquema elétrico e os manuais são em inglês, por isso
teria procurado o curso da empresa I. Entretanto, ao responder a segunda pergunta, afirma que
faz o curso de inglês porque é de seu interesse, uma vez que almeja o próprio
desenvolvimento profissional. Parece-nos que esse funcionário tem consciência de que precisa
do inglês para executar seu trabalho e, ao mesmo tempo, acredita que aprender a língua-alvo
vai ajudá-lo a se desenvolver profissionalmente, ou seja, talvez o ajude a crescer dentro da
empresa e não somente a executar suas tarefas. Observamos também que ele associa
necessidade com interesse, uma vez que precisa do curso porque se depara com manuais em
inglês no seu trabalho e declara que faz o curso por interesse e para seu desenvolvimento
profissional. Nesse caso, necessidades e interesses parecem estar integrados, o que nem
sempre ocorre, como nos lembram Augusto-Navarro e outros (no prelo).
Avaliamos então as respostas dos funcionários da empresa II à segunda
pergunta. Verificamos suas respostas no quadro que segue:
91
Funcionários da empresa II O que recebe e/ou produz em inglês
dentro da empresa
F2I Tarefas e respostas sobre o trabalho
feito.
F2II Tudo.
F2III Tarefas e respostas sobre a tarefa.
F2IV Tarefas e respostas sobre a tarefa.
F2V Manuais e fichas de serviço.
F2VI Manuais.
F2VII Fichas de peças.
F2VIII Manuais.
F2IX Pouco.
F2X Fichas sobre as tarefas executadas.
Tabela 6 - O que é recebido e/ou produzido em inglês dentro da empresa II
Diante dessas respostas, notamos que a maioria dos funcionários também tem a
necessidade de desenvolver a produção escrita, haja vista que recebem e preenchem fichas
sobre as tarefas que executam em sua rotina de trabalho. Todavia, com base nos dados
coletados a partir das respostas desses funcionários à primeira pergunta (ver tabela 1),
inferimos que os manuais sejam a base primária para que eles realizem seu trabalho. Podemos
observar que esses funcionários parecem estar conscientes de suas necessidades lingüísticas
para melhor desempenharem suas tarefas.
Gostaríamos de comentar a resposta de F2IX à segunda pergunta, pois afirma
receber e/ou produzir “pouco” em inglês dentro da empresa. No entanto, alegou ter procurado
o curso da empresa II porque precisa aprender a traduzir os manuais. Então, parece-nos que
esse funcionário não recebe nem preenche fichas de serviço, apenas tem que compreender os
manuais, o que para ele seria “pouco”. Além disso, esse funcionário acredita ter que traduzir
os manuais e não compreendê-los, o que viria contra a metodologia de ensino de IPE.
92
A partir do que discutimos anteriormente, os funcionários da empresa I
parecem acreditar que necessitam aprender a língua inglesa porque a empresa I é uma
multinacional e essa aprendizagem os ajudaria a crescer dentro da empresa. Por isso, parece-
nos que, com base nas respostas desses funcionários à pergunta - O que você recebe e/ou
produz em inglês dentro da empresa? – os funcionários-alunos aparentam não ter consciência
de suas necessidades lingüísticas em LE para seu melhor desempenho profissional, tais como
desenvolver a compreensão e produção escrita em inglês.
Acreditamos que seria relevante um trabalho direcionado nessa empresa, pois
sabem que aprender inglês pode fazer diferença na carreira, mas não parecem saber que há a
necessidade de que freqüentem um curso que seja voltado para aquilo que declararam receber
e/ou produzir durante a execução de suas tarefas de trabalho (vide tabela 5). Além disso,
possuem o imaginário de que precisam aprender a falar, quando não necessitam,
principalmente os técnicos, diretamente dessa habilidade.
Já os funcionários da empresa II parecem ter mais consciência de suas
necessidades lingüísticas para seu melhor desempenho profissional, pois mencionaram em
suas respostas às perguntas a necessidade que têm em compreender os manuais utilizados
durante seu trabalho. Podemos dizer também que há a necessidade de que desenvolvam a
produção escrita, haja vista que recebem e preenchem fichas de serviço.
Ressaltamos que a consciência da empresa em relação a suas necessidades
lingüísticas em LE é essencial para que os funcionários também a tenham. Pudemos observar
que a empresa I, o coordenador I e os funcionários-alunos dessa empresa vêem a
aprendizagem da língua-alvo enquanto necessária porque essa empresa é uma multinacional e
seus funcionários poderiam se desenvolver profissionalmente. Salientamos que a empresa I
não é a única a apresentar essa visão.
93
Já a empresa II, a coordenadora II e os funcionários-alunos dessa empresa
aparentam estar conscientes de que é necessário que seus profissionais aprendam essa língua,
em razão dos manuais de manutenção utilizados na execução das tarefas de trabalho estarem
em inglês. Portanto, parece-nos que esses participantes estariam mais atentos às necessidades
lingüísticas em LE específicas da empresa II. Contudo, não podemos afirmar com certeza que
todos os funcionários-alunos dessa empresa teriam sido sinceros ao responderem ao
questionário talvez por recearem que suas respostas caíssem nas mãos da diretoria da empresa
na qual trabalham. Além disso, há a possibilidade de que esses funcionários apenas estejam
repetindo o discurso tanto da empresa II quanto da equipe de professores que atuam nesse
contexto de que a necessidade da empresa seja aprender a língua para compreender os
manuais, da mesma forma que os funcionários-alunos da empresa I parecem reproduzir o que
pregam as multinacionais, o mercado de trabalho e a mídia.
3.1.3 A Relação entre as Necessidades e Interesses dos
Funcionários-Alunos
Após analisarmos as necessidades lingüísticas em LE para o melhor
desempenho profissional dos funcionários-alunos das empresas I e II, bem como se eles estão
conscientes ou não dessas necessidades, avaliamos se há pontos nos quais as necessidades e
interesses desses alunos coincidem ou diferem.
Fazemos essa avaliação com o objetivo de respondermos a terceira questão
proposta nesta pesquisa:
3. Em que pontos as necessidades e interesses dos funcionários-alunos tanto da
empresa I quanto da empresa II:
94
a) coincidem?
b) diferem?
Para tal, utilizamos os dados oriundos das respostas dos funcionários à
pergunta: O curso e o material adotado atendem aos seus interesses? Por quê?. Também
fazemos uso das respostas das professoras às perguntas: Você procura atender aos interesses
e necessidades da empresa e dos funcionários-alunos? e Quais são os interesses dos
funcionários?. Utilizamos essas duas perguntas, pois somente PC nos informou os interesses
dos funcionários ao responder a primeira pergunta. PA e PD descreveram os interesses desses
alunos ao responderem a segunda pergunta e PB parece ter confundido os termos interesses e
necessidades como veremos no seu relato.
Por fim, retomamos a análise dos dados provenientes das respostas dos
coordenadores I e II às perguntas Qual o perfil do professor que a empresa procura? e A
empresa custeia o curso? Por quê?.
Devemos lembrar, primeiramente, que além de necessidades, os funcionários-
alunos também possuem interesses em relação à aprendizagem da língua inglesa. Além disso,
a consciência que esses alunos têm sobre suas necessidades e interesses é importante para que
eles atinjam seus objetivos de aprendizagem. Segundo Hutchinson e Waters (1987), também é
necessário que se identifique as lacunas no conhecimento dos aprendizes em relação à língua,
bem como os desejos dos aprendizes sobre a língua-alvo.
Iniciamos nossa análise avaliando as respostas dos alunos à pergunta O curso e
o material adotado atendem aos seus interesses? Por quê?.
Diante de suas respostas, notamos que os interesses de dois funcionários da
empresa I são diferentes de suas necessidades. Esses funcionários parecem estar interessados
em idéias veiculadas como cruciais pela mídia, como conversação, compreensão oral e
pronúncia. Esses informantes aparentam não perceber a inconsistência entre o que apontam
95
como necessidade e o que revelam querer aprender, conforme podemos observar nas
transcrições abaixo.
Funcionário 1VI (apêndice 15): No momento atendem e espero esforçar-me
para chegar a falar um inglês fluente, pois acredito que o importante é educar o ouvido para
entender.
Funcionário 1VII (apêndice 16): (...) viso melhorar principalmente a
conversação e a gramática.
Provavelmente essa situação seja fruto de uma possível falta de consciência de
que existem várias maneiras de estudar LE que venha ao encontro de suas necessidades
específicas.
Ressaltamos que dois funcionários (F1I e F1VIII) afirmam que o curso e o
material atendem aos seus interesses, uma vez que as professoras fornecem materiais
complementares.
F1I (apêndice 10): Sim, pois a professora consegue atender outros temas que
o livro não aborda.
F1VIII (apêndice 17): Sim, pois sempre estamos utilizando materiais
complementares.
A partir desses relatos, inferimos que o material atende parcialmente a todos os
interesses desses funcionários, por isso as professoras complementariam com atividades
extras. Sabemos que a maioria dos materiais didáticos encontrados no mercado não atende a
todas as necessidades e interesses, principalmente, de profissionais da área técnica das
empresas. Esse fato é confirmado por Dudley-Evans e St John (1998), ao afirmarem que é
raramente possível usar um livro sem a necessidade de material complementar e às vezes não
existem materiais publicados que atendam a certas necessidades identificadas.
96
Entretanto, esses aprendizes não parecem ver claramente que suas
necessidades não são atendidas pelo curso e pelo material adotado por este. Além disso,
alguns desses aprendizes realmente parecem acreditar que seus interesses são atendidos, já
que têm a idéia, muito difundida pela mídia e por escolas de idioma, de que precisam ter boa
pronúncia, compreensão oral, enfim, falar fluentemente.
Os funcionários F1II, F1III e F1V também afirmam que o curso e o material
adotado atende aos seus interesses, mencionando razões diferentes daquelas dos funcionários
já citados.
F1II (apêndice 11): Sim, porque está atualizado, mas deveríamos ter o CD e o
Vídeo em sala como auxiliares.
F1III (apêndice 12): Sim. É a forma ideal p/ estudar.
F1IV (apêndice 13): Sim, em partes.
F1V (apêndice 14): Sim. Porque o conteúdo é de boa qualidade.
Avaliando essas respostas, podemos observar que F1II e F1V acreditam que o
material “está atualizado” e é “de boa qualidade”. Contudo F1II pensa que é necessário que se
use CD e vídeo como auxiliares do material. Podemos observar que esses alunos aparentam
ter a concepção de que material com temas atuais e conteúdos os quais consideram
interessantes atende aos seus interesses, assim como F1II acredita que há a necessidade de
exercícios de compreensão oral, provavelmente, por meio de músicas, diálogos e filmes. Já
F1IV alega que o material atende parcialmente aos seus interesses, assim como F1I e F1VIII
afirmaram, porém F1IV não explicita suas razões. É importante ressaltar que não objetivamos
criticar as opiniões desses funcionários, mais sim descrevê-las.
Reiteramos que, de acordo com esses mesmos funcionários, eles recebem e/ou
produzem em inglês dentro da empresa I relatórios, e-mails, manuais de equipamentos, entre
outros. Logo, a nosso ver, seria necessário que o curso e o material adotado nesse contexto
97
objetivassem atender os propósitos específicos dessa empresa e de seus funcionários, tais
como a leitura e a produção escrita. As outras habilidades podem ser trabalhadas
colateralmente tendo sempre em mente os objetivos principais.
Salientamos que na empresa I também cabe um curso voltado para propósitos
de negócios, uma vez que os diretores necessitam desenvolver as quatro habilidades devido a
tarefas de trabalho. Segundo Dudley-Evans e St John (1998), o ensino de Inglês para
Propósitos de Negócios (IPN) é a área de maior crescimento em IPE. Isso se deve à expansão
dos negócios internacionais, entretanto, parece-nos que nessa empresa o ensino de IPN não é
adequado para todos os funcionários, já que aqueles da área técnica têm necessidades
diferentes desses diretores, por exemplo. Acrescentamos que, conforme esses autores, a
análise de necessidades é também fundamental para o ensino de inglês para negócios.
Contudo, podemos inferir que na empresa I não há a realização dessa análise em momento
algum do curso.
Por fim, podemos dizer que F1II também acredita que o curso e o material
atendam aos seus interesses de forma incompleta, assim como outros já disseram, uma vez
que alegaram que as professoras utilizam materiais ou atividades complementares.
A nosso ver, as necessidades e os interesses desses alunos diferem à medida
que, em sua rotina de trabalho, precisam ler e alguns, até mesmo, escrever utilizando a língua
inglesa. Todavia, declaram ter interesse em se tornar fluentes, obterem uma pronúncia melhor,
assim como uma melhor compreensão oral. Ressaltamos que muitos aprendizes de língua
inglesa, até mesmo de outras línguas estrangeiras, têm esses objetivos ao procurarem por
cursos de idiomas. Apesar disso, esses funcionários parecem acreditar que suas necessidades e
interesses coincidem, já que não parecem perceber a inconsistência entre o que apontam como
necessidade e o que revelam ter vontade de aprender. Cabe salientarmos que é importante que
o aprendiz tenha claros suas necessidades e expectativas para que esteja consciente de seus
98
objetivos ao aprender uma LE. Assim, saberá conciliar os dois durante seu processo de
aprendizagem.
Isso posto, passemos à análise das respostas dos funcionários da empresa II.
Conforme o que dissemos na seção anterior, constatamos que os funcionários da empresa II
mencionam suas necessidades de aprendizagem do inglês para executarem seu trabalho. Ao
avaliarmos suas respostas à pergunta - O curso e o material adotado atendem aos seus
interesses? Por quê? - podemos dizer que todos afirmam que sim. Contudo, quatro
funcionários (F2III, F2IV, F2V e F2VIII) não explicaram o porquê, por isso não utilizaremos
suas respostas, já que não temos condições de explorá-las.
O funcionário I também acredita que o curso atende aos seus interesses porque
ele está interessado em aprender a língua.
F2I (apêndice 18): Sim, porque eu quero aprender inglês.
Podemos inferir que esse aprendiz além de saber de sua necessidade em
aprender a língua-alvo, também se interessa pela língua. Já que o curso busca suprir as
necessidades da empresa ao ensinar inglês, ele também atende aos interesses de F2I,
integrando necessidade e interesse. Quando existe essa integração para o aprendiz,
acreditamos que se estabeleça uma oportunidade bastante rica de se atingir os objetivos de um
curso de língua para propósitos específicos, uma vez que se instaura uma motivação para o
alcance do conhecimento de que se necessita.
Ressaltamos que três funcionários (F2II, F2VI e F2VII) afirmam que têm os
seus interesses atendidos pelo curso e pelo material, haja vista que estes são voltados para
suas necessidades ao realizarem suas tarefas de trabalho.
F2II (apêndice 19): Sim, ensina o que necessito durante a execução do meu
trabalho.
99
F2VI (apêndice 23): Sim, são voltados especificamente para uso dentro da
empresa.
F2VII (apêndice 24): Sim, quero aprender muito sobre os manuais.
Com base nessas respostas, inferimos que esses funcionários têm necessidade e
interesse em aprender a língua para desempenhar melhor suas funções dentro da empresa.
Dessa forma, parece-nos que as necessidades e interesses desses funcionários coincidem.
Todavia, reiteramos que talvez por recearem que suas respostas fossem lidas pelos diretores
da empresa II, esses funcionários-alunos teriam respondido de tal maneira. Além disso,
também há a possibilidade de que eles estejam apenas repetindo o discurso da empresa e de
toda a equipe de professores sobre a necessidade de compreenderem os manuais de
manutenção utilizados em sua rotina de trabalho.
Os funcionários 2IX e 2X também confirmam que têm seus interesses
atendidos, porém apresentam razões diferentes.
F2IX (apêndice 26): Sim. Conhecimento nunca é demais.
F2X (apêndice 27): Sim, são métodos que eu já utilizava sem saber.
Lembramos que F2IX declarou ter procurado o curso da empresa II por
necessidade (ver tabela 4), o que nos faz supor que precisa do inglês para desempenhar seu
trabalho. No entanto, afirma que o curso e o material atendem aos seus interesses porque
fornecem conhecimento, entretanto a utilização da palavra “nunca”, ao relatar que
“conhecimento nunca é demais”, dá um sentido negativo a sua resposta. Talvez esse
funcionário se sinta obrigado a fazer o curso ou, então, suas necessidades sejam diferentes
daquelas da empresa II.
Já F2X afirma que os “métodos” utilizados no curso da empresa II são os
mesmos que ele sempre utilizou, provavelmente, para ler os manuais. Entendemos, então, que
100
as necessidades e interesses desse aprendiz coincidem, uma vez que declarou ter procurado o
curso para conhecer melhor os manuais da empresa (ver tabela 4).
Isso posto, analisamos as respostas das professoras às perguntas Você procura
atender aos interesses e necessidades da empresa e dos funcionário-alunos? e Quais são os
interesses dos funcionários?.
Avaliamos primeiro as respostas das professoras A e B da empresa I à primeira
pergunta.
PA (vide apêndice 6), ao respondê-la, declara que procura atender aos
interesses e necessidades tanto da empresa quanto de seus funcionários, contudo afirma que
não leciona sempre assuntos relacionados à empresa.
PA: Sim, procuro. Dependendo do nível dos meus alunos. Não é integral,
somente voltado para a empresa. As aulas não são totalmente voltadas para a empresa. Tem
mais o ensino de inglês (...) assim, às vezes curso, não no contexto da empresa.
PB (vide apêndice 7) não respondeu claramente a essa questão, apenas citou o
cronograma o qual deve ser seguido em uma empresa, bem como o tempo de curso
geralmente adotado em escola de idioma no qual PB também leciona.
PB: Geralmente sim, né? Porque é uma combinação dos interesses dos alunos
porque na empresa você tem que seguir um cronograma, tem um número de aulas exatas.
Quando os alunos vão lá pra ter informação sobre quanto tempo de duração tem o curso de
inglês (...) principalmente têm duração de quatro anos ou quatro anos e meio (...). Tem que
ter então uma concordância.
Podemos observar que a professora associa necessidade e interesse ao tempo
de duração de um curso. Provavelmente, esteja habituada a trabalhar com cursos de inglês
para propósitos gerais os quais comumente abrangem todas as habilidades (listening,
speaking, reading e writing).
101
Ao analisarmos as respostas das professoras C e D, podemos dizer que os
funcionários da empresa II aparentam ter interesse na aprendizagem de outras habilidades,
além da leitura.
PC (apêndice 8): (...) o aluno se interessa por outras habilidades da língua
como a fala, pronúncia.
PD (apêndice 9): Pelo que eu percebo com os meus alunos, alguns se
interessam por inglês e gostariam de praticar speaking também nas aulas, (...)
Diante dessas respostas, notamos que os funcionários da empresa II também
têm interesse em aprender outras habilidades e aspectos da língua-alvo que são enfatizadas
pela mídia tais como speaking e pronúncia. Nesse ponto, aprendizes das empresas I e II teriam
os mesmos interesses em relação à aprendizagem da língua inglesa. Entretanto, como vimos
acima, os alunos da segunda empresa não afirmam ter esses interesses ao responderem ao
questionário (vide apêndice 3). Porém, de acordo com o relato de PC e PD, esses funcionários
também parecem possuir outros interesses.
Provavelmente, em razão do trabalho de conscientização realizado na empresa
II, ainda que os funcionários tenham outros interesses ditados pela mídia, eles parecem ter
uma noção mais precisa de qual é o objetivo do curso que fazem na empresa. Segundo
Augusto-Navarro e outros (no prelo), um trabalho contínuo de conscientização é crucial em
casos em que empresas, ou outras entidades promovem cursos de línguas para propósitos
específicos, já que uma vez conscientes da proposta terão maiores chances de aceitá-la e de
não criar expectativas que poderão frustrá-los no decorrer curso.
Continuando nossa análise, apresentamos as respostas da professora PA face à
pergunta: Quais são os interesses dos funcionários?.
PA afirma que a maioria de seus alunos faz o curso porque a empresa pede e
que alguns deles freqüentariam o curso por estarem cursando a faculdade ou mestrado.
102
Acrescentamos que PA nos informou, ao responder a segunda pergunta da entrevista (vide
apêndice 6) que seus alunos da empresa I têm necessidade de aprender a língua-alvo por que
precisam ler manuais e falar inglês. O que confirmaria o que os funcionários teriam citado ao
descreverem o que é recebido e/ou produzido em inglês dentro da empresa I (vide tabela 3).
Entretanto, ela parece acreditar que as necessidades e interesses desses aprendizes coincidem,
pelo menos em sua maioria.
PA: É (...) de todos os meus alunos dois ou três só que têm interesse também
pra fora, pra faculdade que eles tão fazendo, pra mestrado (...), mas a maioria dos meus
alunos são interessados somente pra empresa. Fazem porque a empresa pede pra que tenha o
inglês apesar de não incentivar financeiramente.
Contudo, como já dissemos, segundo nossa análise, suas necessidades e
interesses diferem, porém para esses funcionários coincidem, uma vez que não parecem
perceber que o curso por eles freqüentado não seria adequado para suprir suas necessidades.
Esse fato é lamentável, já que na maioria dos casos parece haver necessidade e interesse
integráveis, o que poderia gerar resultados mais frutíferos.
PB não nos informou quais os interesses dos funcionários que são seus alunos
na empresa I, pois parece ter descrito os interesses de seus alunos de outros contextos nos
quais leciona (vide apêndice 7). No entanto, utilizamos sua resposta na pergunta - Então você
faz o material de acordo com o que eles precisam? De acordo com as necessidades dos
alunos? - com o intuito de avaliarmos como PB explica as necessidades de seus aprendizes.
PB: Exatamente. Mais assim, por exemplo, eu tenho turmas variadas (...) é
pessoal de chefia, mestre, diretor é mais ênfase em conversação pra praticar o inglês, pra ter
fluência. Agora os funcionários operários é mais pra atender o que eles nunca viram na vida.
Eles estão lá pra tentar se comunicar mais pra também aprender.
103
Podemos observar que PB, assim como PA, afirma que nesse contexto de
ensino há funcionários que têm necessidades diferentes em utilizar o inglês na execução de
seu trabalho. Aqueles que ocupam postos mais altos precisam desenvolver principalmente a
conversação, já que, provavelmente, recebem a visita de estrangeiros, bem como viajam para
outros países a trabalho. Diferentemente de PA, PB tem a visão de que seus alunos operários
freqüentam o curso para “tentar” se comunicar utilizando a língua-alvo, ou seja, esses
aprendizes teriam um conhecimento mínimo ou nulo de inglês e, com dificuldade, eles
estariam tentando progredir e se comunicar em inglês. Lembramos que esses funcionários da
área técnica possuem necessidades diferentes dos diretores da empresa I, haja vista que
precisam ler manuais, encartes, interpretar erros, entre outros. Parece-nos que PB não percebe
essa diferença e que, por isso, ensina outras habilidades que não a leitura. Dessa forma, acaba
atendendo aos interesses de seus alunos, pois eles declararam desejar aprimorar sua fluência
oral da língua.
Finalizamos esta análise discutindo, novamente, as respostas dos
coordenadores I e II face às perguntas: Qual o perfil do professor que a empresa procura? e A
empresa custeia o curso? Por quê?. Faremos essa retomada para triangularmos os dados
provenientes das respostas dos funcionários, professores e coordenadores a fim de que
discorramos sobre a consciência das duas equipes dos cursos das empresas I e II a respeito das
necessidades lingüísticas em LE para o melhor desempenho profissional de seus funcionários.
A partir disso, podemos analisar os reflexos dessa consciência na conscientização desses
funcionários sobre suas necessidades e interesses em relação à aprendizagem da língua
inglesa.
A partir da resposta do coordenador I face à primeira pergunta, podemos
observar que ele, representando a empresa I, tem a visão de que um professor deve tornar o
104
aluno independente no uso da língua-alvo e para tal deve ser fluente na língua e ter vivido em
um país onde o inglês seja o primeiro idioma.
PA: O perfil do professor tem que ser o professor (...) tem que ser uma pessoa
fluente no idioma, de preferência que tenha morado em um país onde o inglês é a língua
nativa porque o que se procura no professor é que ele seja capaz de passar os conhecimentos
para o funcionário de modo que o funcionário se torne autônomo, se torne independente
quando se precisa aplicar o inglês.
Notamos também que CI tem a visão de professor enquanto transmissor de
conhecimento, logo o aluno seria um mero receptor desse conhecimento, aplicando-o em suas
atividades de trabalho. Reiteramos que nem a empresa I nem CI parece ter conhecimento
teórico e/ou prático sobre IPE, além disso, parecem ter uma visão tradicional sobre o ensino-
aprendizagem de línguas.
Ressaltamos que essa visão já está ultrapassada e um professor de inglês para
propósitos específicos seria um gerenciador, aquele que organiza e coordena os aspectos
envolvidos no ensino-aprendizagem de LE para fins específicos. Além disso, segundo a
metodologia do IPE (DUDLEY-EVANS; ST JOHN, 1998; HUTCHINSON; WATERS, 1987) o
professor pode exercer diferentes papéis tais como consultor, analista, escritor e fornecedor de
materiais, entre outros, tendo sempre em mente atender às necessidades específicas de seus
alunos. Além disso, conforme Dudley-Evans e St John, no ensino de IPE o professor não é
quem detém o conhecimento primário do conteúdo profissional do material. Contudo não
parece que a empresa I e CI tenham conhecimento dos diversos papéis que um professor, e
principalmente ele – coordenador, pode (e deve) exercer.
Isso posto, passamos agora à análise da resposta da coordenadora II face a essa
primeira pergunta.
105
Conforme sua resposta, ela foi contratada pela empresa devido aos seus
conhecimentos sobre o ensino de inglês para fins específicos. Todavia, afirma que as crenças
que os gerentes da empresa têm a respeito da aprendizagem de uma língua podem ser
contrárias ao que o IPE pressupõe.
Coordenadora II (apêndice 5) A empresa nos procurou inicialmente por saber
que fazemos cursos específicos para as necessidades do público-alvo, uma das características
do inglês instrumental. Entretanto, dependendo da chefia que nos atende, percebemos que as
crenças de como se aprende uma língua acaba afetando a visão que podem ter do nosso
trabalho. Eles querem, muitas vezes, que se ensine por tradução ou pela gramática,
metodologia essa que vai de encontro com o que o inglês instrumental pressupõe. Não sei o
que a empresa pensa ou gostaria de ter como professor, pois essa função ela deixa pra nós
decidirmos.
Com base nessa resposta, parece-nos que a empresa II sabe das necessidades
específicas de seus funcionários e que para supri-las é relevante que se organize um curso que
atenda a essas necessidades, todavia suas concepções sobre o ensino de língua e até mesmo a
falta de conhecimento sobre a metodologia de ensino de inglês para propósitos específicos,
contrariam essa metodologia.
A nosso ver, a coordenadora II, por ter o conhecimento teórico e prático dessa
metodologia, aparenta ter consciência da importância de se planejar um curso voltado para os
fins específicos de seu público-alvo a partir de uma prévia análise de necessidades. Além
disso, toda a equipe de professores que leciona nessa empresa é orientada por ela, e por mais
uma coordenadora
13
para atenderem às necessidades da empresa. Portanto, todo o material
utilizado também seria preparado com esse propósito. Para Hutchinson e Waters (1987), o
ensino de IPE é uma metodologia de ensino de língua que objetiva atender às necessidades
13
Escolhemos apenas uma das coordenadoras do curso da empresa II, haja vista que uma delas também é
orientadora desta pesquisa. Portanto, para que houvesse um certo distanciamento na coleta de dados, escolhemos
apenas uma para que fosse nossa informante.
106
dos aprendizes. Além disso, grande parte do trabalho realizado por profissionais que adotam
essa metodologia está relacionado ao planejamento de cursos para diferentes aprendizes.
Lembramos que, conforme Widdowson (1998), o termo Inglês para Propósitos
Específicos (IPE) pressupõe que é um inglês próprio da gama de princípios e procedimentos
os quais definem uma profissão particular. Dessa forma, temos um inglês que é específico,
associado a um tipo de atividade institucional a qual é também concebida enquanto específica.
A respeito da importância da realização de uma análise de necessidades,
Dudley-Evans e St John (1998) afirmam que essa análise é o alicerce de um curso de inglês
para propósitos específicos e sua utilização proporciona a criação de um curso bem
direcionado a esses propósitos. A esse respeito, Augusto-Navarro e outros (no prelo)
ressaltam que a análise de necessidade deve ser processual, repetida ao longo do
desenvolvimento de um curso de IPE e que ao longo do processo novas informações e
detalhes vão surgindo, assim, segundo as autoras, a análise de necessidades repetida
periodicamente contribui para o desenvolvimento de cursos mais eficazes.
Por fim, analisamos as respostas dos coordenadores face à segunda pergunta, a
qual reescrevemos: A empresa custeia o curso? Por quê?
Como vimos anteriormente, CI afirma que a empresa I não custeia mais o
curso para seus funcionários por motivos financeiros.
CI: Não, a empresa não paga. (...)
Pesquisadora: Por quê?
CI: Devido à crise que se instalou na empresa e nas empresas (...)
Considerando que não parece haver qualquer tipo de análise formal na empresa
I, inferimos que a empresa possa ter desistido de subsidiar parte do custo do curso de língua
inglesa para os seus funcionários em razão de não estar vendo o resultado deste em atender às
necessidades da mesma.
107
Dudley-Evans e St John (1998) e Hutchinson e Waters (1987) ressaltam que o
profissional de IPE também está comumente envolvido em vários tipos de avaliação,
incluindo os testes feitos por alunos e a avaliação de cursos e materiais. No entanto, como na
empresa I não parece haver a realização de um teste de nível para separar os funcionários de
acordo com sua proficiência. Afinal, segundo PB (apêndice 7), e como explicitamos no
capítulo 2 deste trabalho, os funcionários informam a CI em que nível acreditam estar e CI
permite que eles assistam aula na turma que estaria neste nível. Se o aluno achar que
acompanha a turma, ele continua nela, se não tenta seguir outra turma.
Com base no que já vimos, quando observamos a resposta de CII à segunda
pergunta, inferimos que a empresa II aparenta ter consciência de suas necessidades
lingüísticas em LE, uma vez que, para obter uma certificação internacional, seus funcionários
precisam aprender a língua-alvo. Nesse caso a empresa tem um interesse direto, claro e
objetivo de ter suas necessidades bem delimitadas e atendidas, acompanha mais assiduamente
o trabalho da equipe que desenvolve o curso, arca com as despesas, enfim, está intimamente
envolvida nesse processo. Entretanto, como veremos na próxima seção, essa empresa não
permite que o conteúdo dos manuais de manutenção seja divulgado, por isso não pudemos
utilizá-los em nossa investigação. Além disso, como já mencionamos, a empresa II também
não autoriza que as professoras foquem habilidades que não a leitura, bem como façam uso de
textos que fujam ao tema aviação.
CII: Sim, porque para ela é fundamental que os alunos tenham conhecimento
da língua, porque sem isso a empresa não pode receber certificação internacional.
Diante desses dados, podemos inferir que a empresa I, CI, PA e PB não estão
conscientes das reais necessidades dos funcionários dessa empresa. Em razão disso, esses
funcionários também não aparentam estar conscientes de suas necessidades lingüísticas em
LE para realizarem seu trabalho, por isso suas reais necessidades diferem daquelas que
108
declaram ter em relação à língua inglesa. Todavia, essas necessidades apontadas por esses
funcionários coincidem com seus interesses em aprender uma LE para aproveitarem melhor
seu horário de almoço e desenvolverem sua carreira profissional. Reiteramos que se a
empresa tem consciência de suas necessidades, ela provavelmente conscientiza seus
funcionários, assim todos sabem o porquê de aprender a língua inglesa.
No que tange à empresa II, ela parece estar consciente de suas necessidades e,
juntamente com a equipe que coordena e organiza o curso em suas instalações, aparentam ter
conscientizado seus funcionários. Entretanto, relembramos que talvez esses funcionários
estejam apenas repetindo o discurso da empresa e das professoras sobre a necessidade de
desenvolver a leitura em inglês para compreenderem os manuais de manutenção e assim
melhor desempenharem seu trabalho. Em razão disso, podemos dizer que aparentemente as
necessidades e os interesses profissionais dos funcionários-alunos da empresa II coincidem,
entretanto seus interesses pessoais a respeito da aprendizagem de inglês (conversação,
pronúncia) diferem da necessidade que têm em ler os manuais de manutenção. Provavelmente
se a administração da empresa fosse menos rígida com relação ao foco exclusivo na
habilidade de leitura poder-se-ia conseguir um grau de satisfação ainda maior entre os
funcionários-aprendiz.
3.2 O Material Didático Adotado nos Cursos e as
Necessidades e Interesses dos Funcionários-Alunos
Analisamos nesta seção a relação entre o material didático adotado nos cursos
das empresas I e II e as necessidades e os interesses citados pelos funcionários-alunos. Essa
análise é feita para que respondamos à quarta questão desta pesquisa, a qual reescrevemos:
109
4. Qual a relação do material didático adotado nos cursos das empresas I e II
com as necessidades e interesses apontados pelos funcionários-alunos?
A fim de responder a essa questão, utilizamos as respostas das professoras A e
B à pergunta: Você produz o seu próprio material de acordo com as necessidades dos
alunos?.
14
Utilizamos também as respostas das professoras C e D à pergunta: Como e por
quem o material didático é selecionado?. Analisamos também as respostas dos funcionários-
alunos à pergunta: O curso e o material adotado atendem às suas necessidades? Por quê?.
Além disso, fazemos uso de alguns exercícios constituintes dos materiais adotados pelas
professoras dos cursos de inglês das empresas I e II.
Ressaltamos que durante nossa análise, retomamos as necessidades e os
interesses apontados pelos funcionários-alunos os quais discutimos nas seções anteriores.
Analisamos primeiramente as respostas das professoras A e B à pergunta
citada anteriormente.
Pesquisadora: Você produz o seu próprio material de acordo com as
necessidades dos alunos?
PA: Sim, eu dou muito material extra porque os materiais escolhidos não são
voltados pra empresa. Então, esses materiais (...) aí sim eu procuro exercícios extras e textos
e atividade extra
15
, porém eu tenho uma turma de business que o material é ótimo e ele é
especialmente pra empresa. É uma turma mais avançada e eles têm conversação (...) eles já
se dão bem mesmo no inglês.
Pesquisadora: Então você faz o material de acordo com o que eles precisam?
De acordo com as necessidades dos alunos?
14
Como a entrevista era semi-estruturada, surgiram questões diferentes daquelas estabelecidas no roteiro durante
a entrevista. Portanto, ao observarmos a entrevista de PII, notamos que há alguns termos diferentes nessa mesma
pergunta: Então você faz o material de acordo com o que eles precisam? De acordo com as necessidades dos
alunos?.
15
PI não nos forneceu essas atividades complementares.
110
PB: Exatamente. Mais assim, por exemplo, eu tenho turmas variadas: é
pessoal da chefia, mestre, diretor é mais ênfase em conversação pra praticar o inglês, pra ter
fluência. Agora, os funcionários operários é mais pra atender o que eles nunca viram na
vida. Eles estão lá pra tentar se comunicar mais pra também aprender.
Ao observarmos o relato de PA, inferimos que apenas o material didático
utilizado na turma de nível avançado é que atende aos interesses e necessidades dos
funcionários-alunos, pois, segundo essa professora, essa turma precisa desenvolver a
conversação e esse material teria os elementos necessários para o desenvolvimento dessa
habilidade. Cabe lembrarmos que PA (vide apêndice 6) declarou ter alunos também com a
necessidade da leitura de manuais. Já que alega que, apenas o material utilizado na turma mais
avançada é que é “voltado pra empresa”, provavelmente, o material utilizado no ensino de
suas turmas de funcionários da área técnica não seja adequado às necessidades e aos
interesses deles.
Quando avaliamos o depoimento de PB, notamos que essa professora também
possui alunos com necessidades diferentes, uma vez que afirma ter alunos de diversos cargos.
O material utilizado com os diretores, por exemplo, parece atender às necessidades e aos
interesses desses aprendizes, os quais precisam praticar a conversação e melhorar a fluência.
Contudo, não atenderia aos interesses e às necessidades reais dos operários, haja vista que PA
e esses funcionários declaram que estes precisam ler manuais, normas técnicas, encartes de
máquinas, entre outros.
A partir das respostas das professoras C e D, concluímos que o material
didático adotado na empresa II parece atender às necessidades e aos interesses dos
funcionários-alunos, já que é produzido a partir dos manuais fornecidos e utilizados pelos
funcionários.
Pesquisadora: Como e por quem o material didático é selecionado?
111
PC: A gente não utiliza material didático pronto porque é difícil você
encontrar um material bem direcionado pra esse contexto. (...) A gente pega os próprios
manuais e transforma esses manuais em uma apostila. Como assim? A gente recolhe manuais
que os próprios alunos dão pra gente. Aí, com os manuais, a gente prepara exercício de
compreensão, tem exercício de gramática, tem tudo que ajude ele a compreender melhor o
que tá escrito e aí a gente faz reunião de várias atividades assim coleta, agrupa e coloca
numa apostila. Essas atividades são desenvolvidas por nós alunos da graduação ou da pós
que trabalham que atuam como professores no projeto, mas são supervisionadas, orientadas
e corrigidas por duas professoras do departamento que são orientadoras do projeto de
extensão.
PD: Todos os professores em conjunto montam o material com base nos
manuais de manutenção que os próprios alunos fornecem pra gente.
Podemos observar que o material é produzido pelas professoras do curso que,
por sua vez, são orientadas por duas professoras coordenadoras do projeto de extensão que
integra uma universidade pública e a empresa II. A nosso ver, o ensino de inglês nesse
contexto é planejado e organizado por uma equipe a qual trabalha em conjunto para o melhor
desempenho dos funcionários-alunos na execução de seu trabalho. Além disso, como
mencionamos anteriormente, essas coordenadoras possuem um conhecimento teórico-prático
da metodologia de ensino de IPE, logo o curso e o material didático parecem ser voltados para
atender às necessidades e aos interesses dos funcionários-alunos. Reiteramos que além do
aparente interesse em aprender a compreender os manuais de manutenção, os funcionários da
empresa II também possuem outros interesses como desenvolver a conversação, a pronúncia,
entre outros. Nesse ponto, podemos dizer que o material não atende completamente esses
interesses, pois seu objetivo principal é a leitura.
112
Isso posto, passemos à análise das respostas dos funcionários-alunos à
pergunta O curso e o material adotado atendem às suas necessidades? Por quê?.
Avaliamos primeiro as respostas dos funcionários da empresa I.
Diante dessas respostas, podemos observar que cinco (F1I, F1II, F1V, F1VII e
F1VIII) funcionários da empresa I afirmam que o material atende as suas necessidades,
entretanto eles apresentam diferentes razões para isso.
F1I: Sim, pois o material é focado para as necessidades profissionais.
F1II: Sim, porque o livro trata do cotidiano. Temos também atividades
paralelas ao livro, como músicas e outros.
F1V: Sim. Porque é bem abrangente.
F1VII: Sim, porque é um material que explora leitura, gramática, conversação
e listening, como vocabulário aplicado a negócios e a situações de trabalho.
F1VIII: Sim, mas todo material de apoio e buscas de recursos são sempre bem
vindas.
Provavelmente, sem o conhecimento de uma metodologia de ensino
desenvolvida para atender a necessidades específicas, da mesma forma como justificam que o
material atende aos seus interesses (ver seção anterior), eles explicam que o material atende às
suas necessidades, uma vez que é voltado para “as necessidades profissionais”, “trata do
cotidiano”, “é abrangente” e explora as diferentes habilidades. Verificamos que, mais uma
vez, os funcionários mencionam a relevância de atividades extras que complementam o
conteúdo do material adotado, reproduzindo o discurso de que é importante o uso de diversos
recursos na aprendizagem de uma língua.
Destacamos os relatos de F1I e F1VII, pois F1I justifica sua resposta
afirmando que o material é voltado para as necessidades profissionais, todavia declarou não
receber e/ou produzir “nada” (ver tabela 3) em inglês dentro da empresa I. Portanto, inferimos
113
que esse funcionário esteja freqüentando o curso porque acredita que aprender outra língua
ajude-o a se desenvolver profissionalmente, idéia veiculada pela mídia, escolas de língua e
empresas. Já F1VII, apesar de afirmar receber e/ou produzir em inglês descritivos e normas
técnicas, cotações, programas de máquinas (ver tabela 3), entre outros, justifica sua resposta
alegando que o material abrange diferentes habilidades e aspectos da língua-alvo como
leitura, gramática, conversação, listening e vocabulário específico da área de negócios.
Parece-nos que esse funcionário realmente acredita que suas necessidades são atendidas pelo
material didático.
Os funcionários F1III e F1IV afirmam que o material atende “parcialmente” às
suas necessidades.
F1III: Parcialmente. Havia necessidade de um DVD p/ melhorar.
F1IV: Parcialmente, pois não temos aulas com DVDs e CDs.
Com base nessas respostas, notamos que esses funcionários também
reproduzem o discurso da necessidade de se usar recursos como “dvd” e “cd” no ensino-
aprendizagem de uma língua, justificando que por essa razão o material não atenderia
completamente as suas necessidades. Lembramos que F1III afirma que o material atende aos
seus interesses, uma vez que “é a forma ideal p/ estudar” (ver seção anterior). A nosso ver,
F1III parece ter a visão de que o uso de livros didáticos é a melhor maneira de se estudar uma
língua, logo seus interesses seriam atendidos. Já F1IV afirma que o material atende aos seus
interesses também parcialmente (ver seção anterior), contudo não explica o porquê.
Por fim, analisamos a resposta de F1VI.
F1VI: Depois deste tempo 1 ano e seis meses eu parei e estou retornando, por
isso eu não sei se o curso e o material estão atendendo às minhas necessidades.
Diante dessa resposta, inferimos que esse funcionário não sabe se o material
atende ou não as suas necessidades porque não parece estar consciente de quais são suas reais
114
necessidades, haja vista que afirmou ter procurado o curso oferecido na empresa I por
trabalhar com esquemas elétricos e manuais em inglês (ver tabela 1). Entretanto, esse aluno
afirma que seus interesses são atendidos pelo material (ver seção anterior), uma vez que
deseja falar inglês fluentemente e “educar o ouvido para entender”. Podemos observar que
F1VI também reproduz o discurso veiculado pela mídia de que é importante falar
fluentemente e ter uma boa compreensão oral da língua-alvo.
A partir do que discutimos anteriormente, podemos dizer que, conforme a
maioria dos funcionários da empresa I, o material atende as suas necessidades e aos seus
interesses lingüísticos em LE para seu melhor desempenho profissional. Contudo, inferimos
que o material parece atender à necessidade de aprenderem inglês porque precisam para
crescer profissionalmente, bem como o interesse de falar fluentemente, melhorar sua
pronúncia e ouvir melhor.
Isso posto, iniciemos a análise das respostas dos funcionários da empresa II.
Ao observarmos as respostas desses funcionários, podemos notar que a maioria
(F2II, F2III, F2IV, F2V, F2VI, F2VII, F2VIII e F2X) afirma que o material atende as suas
necessidades. Demonstramos abaixo suas justificativas a essa afirmação com exceção de F2V
que não justificou sua resposta.
F2II: Sim, como o nome diz é um Inglês para Fins Específicos.
F2III: Sim, Porque tem tudo a ver com o que eu faço dentro da empresa.
F2IV: Sim, porque o material adotado tem a ver com o meu serviço.
F2VI: Sim. São voltados especificamente p/ uso dentro da empresa.
F2VII: Sim, ajuda muito no entendimento dos textos.
F2VIII: Sim, no módulo A atendeu um pouco, mas precisaria terminar outros
módulos.
F2X: Sim, foca o assunto requerido.
115
Diante dessas respostas, podemos concluir que o material parece atender às
necessidades desses funcionários, bem como reiteramos que eles parecem estar conscientes de
suas necessidades lingüísticas em LE, haja vista que seis funcionários afirmam que o material
é voltado para aquilo que fazem dentro da empresa II. Apenas F2VIII relata que o “módulo A
atendeu “um pouco” as suas necessidades”. A nosso ver, isso é normal, já que o curso é
constituído por três módulos (A, B e C) e F2VIII cursou apenas o primeiro.
Dois funcionários (F2I e F2IX) afirmam que o material atende “mais ou
menos” às suas necessidades.
F2I: Mais ou menos, porque o material estava mais direcionado a reparos
estruturais.
F2IX: Mais ou menos. Pode ser melhorado.
Podemos observar que F2I alega que o material não atende completamente as
suas necessidades porque, provavelmente, as professoras estavam utilizando manuais
específicos de uma oficina da empresa em que F2I não trabalha. Parece-nos que os manuais
utilizados no trabalho dessa empresa são diferentes, ou seja, cada oficina lida com diferentes
peças e procedimentos, havendo a necessidade de que o material abranja a todas elas.
Contudo, mesmo não tendo atendido a essa necessidade específica do funcionário 2I, notamos
que o material aparenta ser voltado para as necessidades da empresa e dos funcionários.
F2IX afirma que o material não atende completamente as suas necessidades,
porém não explica com clareza o porquê. Alega que o material “pode ser melhorado”, mas
não esclarece o motivo. Talvez, F2IX também tenha observado que haviam textos de manuais
utilizados em oficinas diferentes de onde trabalha e por isso acreditaria que o material pode
ser melhorado com o acréscimo de manuais que ele faz uso na execução de seu trabalho.
Relembramos que, como vimos na seção anterior, a maioria dos funcionários
da empresa II afirmam que o material também atende aos seus interesses. Cabe ressaltar que
116
em sua maioria esses funcionários parecem ter interesse em aprender inglês para melhor
realizarem seu trabalho, bem como parecem ter outros interesses, como desenvolverem a fala
e a pronúncia, conforme relato das professoras III e IV.
Conforme o que discutimos até aqui, podemos inferir que o material adotado
no curso da empresa I atende aos interesses e às necessidades apontados pelos funcionários –
alunos. Todavia, segundo os dados que analisamos e discutimos nas seções anteriores, as reais
necessidades lingüísticas em LE para melhor desempenharem suas funções dentro da empresa
parecem não ser atendidas pelo material adotado no curso. Além disso, esses funcionários
aparentam estar contentes com o curso que freqüentam, uma vez que utilizam o horário de
almoço e o período antes de iniciarem ou depois de encerrarem seu turno de trabalho.
A respeito da empresa II, verificamos que o material adotado no seu curso
parece atender às necessidades e aos interesses apontados explicitamente pelos funcionários-
alunos, haja vista que o material é produzido com o objetivo de desenvolver a compreensão
escrita dos manuais que os funcionários utilizam durante sua rotina de trabalho. No entanto,
esse material não atenderia aos interesses que foram apontados pelas professoras C e D.
Isso posto, passemos à análise de alguns exercícios dos materiais utilizados
pelas professoras dos cursos das empresas I e II.
117
Figura 1 – Amostra do material utilizado na empresa I
Ao avaliarmos alguns dos exercícios de uma unidade de um livro utilizado por
PA no curso da empresa I, verificamos que é um material voltado para atividades realizadas
por funcionários de uma empresa os quais têm a necessidade de redigir e-mails, por exemplo.
Como podemos observar, essa unidade tem o objetivo de desenvolver a escrita de e-mails e
para isso apresenta o vocabulário e aspectos gramaticais que podem ser utilizados na escrita
desse tipo de texto. A nosso ver, esse material atende às necessidades e aos interesses
apontados explicitamente pelos funcionários da empresa I, entretanto não atende às reais
necessidades desses funcionários tais como a leitura de manuais de equipamentos, encartes,
normas técnicas, entre outros tipos de contato com a língua apontados por estes, conforme
figura 5. Para aqueles funcionários que alegam receber e-mails, essa unidade atende
especificamente a essa necessidade de aprendizagem.
Como já mencionamos, nessa empresa parece haver o ensino de IPN e toda a
equipe, assim como os funcionários, parece acreditar que esse tipo de curso seja o mais
adequado para suprir suas necessidades lingüísticas em LE para seu desempenho profissional.
Isso ocorre porque o coordenador I, as professoras A e B e os funcionários não aparentam
118
estar conscientes daquilo que os diferentes cargos necessitam, pois funcionários da área
técnica da empresa utilizam a mesma metodologia de ensino que os funcionários os quais
precisam desenvolver habilidades como conversação e audição (listening), já que estes
recebem a visita de estrangeiros e também viajam para outros países a trabalho.
Recebemos o material abaixo como exemplo de exercícios extras utilizados na empresa I.
Figura 2 – Amostra do material utilizado na empresa I
Diante desses exercícios, inferimos que o material extra utilizado também
aparenta atender às necessidades e aos interesses apontados explicitamente pelos funcionários
dessa empresa. Contudo, não parece suprir às reais necessidades de todos os funcionários. A
nosso ver, o estudo da gramática pode ser utilizado no ensino-aprendizagem de língua, porém
119
é necessário que ela seja relevante e significativa para o aprendiz a fim de que ele perceba o
uso da língua dentro de cada contexto e não apenas analise a estrutura dessa língua.
Retomamos Hutchinson e Waters (1987) ao defenderem o ensino de LE a partir de uma
abordagem centrada na aprendizagem e não somente na língua. No entanto, observamos que o
material acima foca apenas a estrutura da língua-alvo por meio de exercícios mecânicos de
produção de sentenças a partir de um vocabulário e tópico gramatical previamente estudados.
Passemos agora à análise do material utilizado no curso da empresa II.
Figura 3 – Amostra do material utilizado na empresa II
120
Figura 4 – Amostra do material utilizado na empresa II
Podemos observar que o material utilizado na empresa II parece ser voltado
para o ensino da leitura, uma vez que, em seus exercícios de compreensão de texto, aparenta
buscar a conscientização dos funcionários-alunos a respeito do que é importante na leitura de
um texto, bem como ensiná-los a utilizarem as estratégias de leitura.
Além disso, como discutimos anteriormente, nessa empresa, segundo os
participantes deste trabalho, o material é confeccionado a partir dos manuais
16
fornecidos
pelos próprios funcionários-alunos, logo são criados exercícios com base nesses textos. A
partir desses exercícios, podemos notar que o material produzido pelas professoras da
empresa II aparenta ter o objetivo de atender às necessidades e interesses apontados pelos
funcionários-alunos: a leitura de manuais Porém, os interesses pessoais dos alunos não
recebem atenção, em consonância com o que ocorre em diversas situações em IPE, conforme
16
Não nos foram fornecidos exemplos dos manuais utilizados na empresa II, uma vez que no contrato entre essa
empresa e a universidade pública que desenvolve o curso de inglês nesse contexto não é permitida a divulgação
do conteúdo desses manuais.
121
discutido por Hutchinson e Waters (1984 e 1987), assim como por Dudley-Evans e St Johns
(1998).
Conforme Augusto-Navarro e outros (no prelo), baseando-se na necessidade de
se considerar as necessidades dos aprendizes, as coordenadoras do curso de inglês da empresa
II, mudaram o planejamento desse curso com o propósito de atender as expectativas dos
alunos e, conseqüentemente, aumentar a motivação deles. Como resultado, enfatizaram-se
bastante os desejos e não as necessidades desses alunos, o que fez com que os patrocinadores
questionassem a metodologia utilizada. A direção da empresa afirmou que o curso vinha
dando muita atenção à compreensão e expressão oral, quando a prioridade deles era a leitura.
Dessa forma, também não foi autorizado que fossem utilizados textos que contivessem
assunto diferente do que é visto dentro da empresa II. Considerando que essa atitude seja
comum, e até compreensível, em razão de questões financeiras, as autoras salientam que
aprendizes em contextos semelhantes devam ser claramente informados sobre os motivos
pelos quais a metodologia será aplicada da maneira solicitada pelo patrocinador.
Diante da discussão dos dados apresentados nesta seção, podemos inferir que o
material adotado na empresa I aparenta atender às necessidades e aos interesses apontados por
seus funcionários-alunos. Todavia, não parece suprir às reais necessidades de todos os
funcionários, haja vista que se oferece um curso de IPN a todos eles. Reiteramos que os
participantes desta pesquisa são funcionários da área técnica dessa empresa e por isso, de
acordo com o que declararam produzir e/ou receber em inglês na empresa I, sugerimos que
seria necessário um curso de inglês que procurasse suprir as necessidades específicas desse
grupo de aprendizes. Inferimos também que o material utilizado na empresa II parece atender,
principalmente, às necessidades e aos interesses da empresa II, bem como às necessidades e
aos interesses apontados por seus funcionários-alunos uma vez que é produzido embasado nos
manuais que esses utilizam na execução de suas tarefas dentro da empresa. Acrescentamos
122
que aparenta não suprir as necessidades e os interesses explicitados pelas professoras C e D
como demonstraram Augusto-Navarro e outros (no prelo).
123
CONCLUSÃO E POSSIBILIDADES DE PESQUISAS
FUTURAS
1 Conclusão
Os objetivos deste trabalho consistiram, primeiramente, em investigar os
cursos de inglês de duas empresas, comparando-os com a finalidade de avaliar qual o
tratamento dado às especificidades de uso da língua no desempenho das funções dos alunos
(funcionários) em suas rotinas de trabalho. Avaliamos, também, em que medida o material
utilizado atende às necessidades e aos interesses desses aprendizes e se suas necessidades e
interesses coincidem ou não.
Reiteramos que esses objetivos foram estabelecidos tendo em vista a relevância
de se realizar uma análise de necessidades prévia ao início de cursos de IPE, assim como a
necessidade de se relacionar essas necessidades, o planejamento do curso e o material
didático. Ademais, discutir com maior profundidade o conceito de análise de necessidades e
interesses.
Salientamos que os dados foram avaliados à luz dos questionamentos de
autores como Augusto (1997), Augusto-Navarro e outros (no prelo), Dudley-Evans e St John
(1998), Hutchinson e Waters (1984, 1987), Johns (1991), Johns e Price-Machado (2001),
Nickerson (2005), entre outros.
Analisando o caso da empresa I em nosso estudo, chegamos à conclusão de
que a falta de conhecimento sobre a metodologia de ensino de línguas para propósitos
específicos pode limitar os resultados de cursos de LE em empresas e outros contextos em que
exista a necessidade de domínio de um escopo delimitável da língua-alvo. Com base nos
resultados da investigação na empresa II verificamos que uma equipe com conhecimento
124
prático e, sobretudo, teórico, sobre IPE pode conseguir um resultado mais satisfatório para
fins profissionais. Porém, observamos, também, que os interesses pessoais de alunos-
funcionários são geralmente desconsiderados, o que poderia ter efeitos negativos na
motivação dos alunos.
Como bem nos lembram Augusto-Navarro e outros (no prelo) funcionários ou
alunos que necessitam freqüentar cursos de IPE por razões profissionais devem receber
orientações explícitas e ter a oportunidade de serem esclarecidos sobre os objetivos dos cursos
e o porquê será conduzido com uma ênfase pré-determinada e, por vezes, exclusiva em
alguma (s) habilidade (s) da língua-alvo, por exemplo.
Este trabalho traz uma revisão abrangente de características e conceitos do
ensino de línguas, mais precisamente a inglesa, para fins específicos. Nesse sentido, este
estudo pode ser utilizado como um embasamento teórico inicial para professores de língua
estrangeira, especialmente língua inglesa, que queiram conhecer ou saber mais a respeito do
planejamento de um curso para fins específicos.
A nosso ver, o que parece crucial é que os profissionais que se disponham a
trabalhar com essa metodologia estudem com bastante profundidade suas peculiaridades,
busquem embasamento teórico prévio para a sua prática profissional, o que nos parece
requerer alguma orientação durante o processo de formação de professores de línguas. Essa
orientação é relevante para que professores de língua estrangeira sejam aptos a atuarem em
diferentes contextos e entendam as especificidades de cada um deles, uma vez que as
possibilidades de atuação desses professores, sobretudo aquele de língua inglesa, no mercado
de trabalho, são várias, incluindo o ensino de IPE, devido ao seu contínuo crescimento.
No que tange às limitações desta pesquisa, pelo fato de não termos
entrevistado os funcionários-alunos das empresas I e II, não podemos afirmar com certeza que
as necessidades e os interesses apontados pelos alunos do curso I são realmente diferentes
125
daquelas inferidas a partir do que declaram receber e/ou produzir em suas rotinas de trabalho.
Além disso, também não sabemos até que ponto as necessidades e os interesses citados pelos
funcionários-alunos da empresa II coincidem ou não.
Por fim, no que diz respeito ao material didático utilizado nos cursos das
empresas por nós investigadas, não pudemos avaliá-los completamente, uma vez que não
acompanhamos o uso desse material em sala de aula.
2 Possibilidades de Pesquisas Futuras
Nossa pesquisa investigou os cursos de inglês de duas empresas, avaliando a
relação das necessidades lingüísticas em LE desses dois contextos com o planejamento do
curso e o material didático. Essa relação foi analisada tendo em vista a importância da
realização de uma análise de necessidades prévia ao início de cursos de inglês para propósitos
específicos (IPE), bem como a relevância da conscientização dos alunos funcionários de
empresas em relação as suas necessidades sobre a língua inglesa na execução de seu trabalho.
Ao empreendermos tal estudo, pudemos observar por meio dos dados
avaliados, assim como das discussões feitas por outros estudiosos que a formação inicial dos
professores de LE também é parte importante da formação de um profissional de IPE. Como
já mencionamos, há a necessidade de que professores e formadores de professores estejam
atentos aos elementos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem de línguas para
propósitos específicos ao se proporem a trabalhar com essa metodologia.
Em razão disso, acreditamos que seria interessante uma pesquisa sobre qual o
papel que um curso de licenciatura em Letras deveria exercer na formação de professores de
língua estrangeira, sobretudo de língua inglesa para fins específicos.
126
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129
APÊNDICES
APÊNDICE 1 - ROTEIRO PARA A ENTREVISTA COM OS COORDENADORES DOS CURSOS DAS
EMPRESAS INVESTIGADAS
Nome/ O que faz/ Há quanto tempo
1) Por que os funcionários precisam ou procuram o curso de inglês? Quantos subgrupos
existem? Você pode comentar as características ou especificidades de cada grupo?
2) Que tipo de documentos a empresa recebe e produz em inglês?
3) Qual o perfil do professor que a empresa procura para atender às necessidades dos
funcionários?
4) O material didático utilizado nas aulas é selecionado de acordo com as necessidades
dos funcionários? Quem o seleciona?
5) Quantos funcionários fazem o curso de inglês atualmente? Quantos já fizeram?
130
APÊNDICE 2 - ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM AS PROFESSORAS DOS CURSOS DE INGLÊS DAS
EMPRESAS EM
ESTUDO
Nome/formada ou não/ onde/há quanto tempo/que curso fez ou está fazendo
1) Você procura atender aos interesses e necessidades da empresa e dos funcionários-
alunos? Por quê? Quais são elas?
2) Como e por quem o material didático é selecionado?
3) Você já havia lecionado inglês em contexto empresarial? Fale sobre essas experiências
anteriores.
4) Quantos e quais grupos você dá aula? Qual a carga horária total? E por grupo? Como
os grupos são formados? Quem escolhe os participantes? Em que hora o curso é
realizado?
5) A sua formação inicial proporcionou a você saberes necessários para dar aula em
contexto empresarial?
6) Como você pensa que deve ser a formação de professores de inglês para lecionar em
empresas? Por quê?
7) Conte algum incidente crítico que tenha ocorrido no tempo que você leciona inglês em
empresas.
8) Como é o interesse, a participação e o aprendizado dos alunos? Por quê?
9) Como você foi selecionada para trabalhar nesta empresa?
131
APÊNDICE 3 QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELOS FUNCIONÁRIOS-ALUNOS DOS CURSOS DE
INGLÊS DAS DUAS EMPRESAS EM ESTUDO
Perguntar primeiramente:
Nome (facultativo)
O que faz na empresa e há quanto tempo trabalha nesta empresa
1) Por que você procurou o curso de inglês da empresa?
2) Você já havia estudado inglês antes? Se sim, onde e durante quanto tempo?
3) O curso e o material adotado atendem às suas necessidades? Por quê?
4) O curso e o material adotado atendem aos seus interesses? Por quê?
5) Quais as suas dificuldades em relação à língua inglesa?
6) O curso e o material adotado ajudam você a superar essas dificuldades?
7) O que você recebe e/ou produz em inglês dentro da empresa?
132
APÊNDICE 4- ENTREVISTA COM O COORDENADOR DO CURSO DE INGLÊS OFERECIDO NA EMPRESA
I (CI)
1) Por que os funcionários precisam ou procuram o curso de inglês?
CI: A empresa I é uma empresa americana, portanto, toda documentação que circula nos
departamentos todos os dias é em inglês e os funcionários então precisam saber ler esses
documentos, responder mensagens de e-mails, tradução de normas técnicas; muitas vezes tem
que atender, eles têm que atender o telefone e a pessoa que está do outro lado é um
americano daí a necessidade deles terem que saber inglês.
2) Que tipo de documentos a empresa recebe e produz em inglês?
CI: A empresa produz e recebe em inglês e-mails, normas técnicas, manuais de máquinas,
principalmente isso.
3) Qual o perfil do professor que a empresa procura?
CI: O perfil do professor tem que ser o professor (...) tem que ser uma pessoa fluente no
idioma, de preferência que tenha morado em um país onde o inglês é a língua nativa por que
o que se procura no professor é que ele seja capaz de passar os conhecimentos para o
funcionário de modo que o funcionário se torne autônomo, se torne independente quando se
precisa aplicar o inglês.
4) Quantos subgrupos existem? Você pode comentar as características ou especificidades de
cada grupo?
CI: Atualmente, o número de alunos gira em torno de 80. É pouco. Poderia haver mais, mas
devido às dificuldades que os funcionários têm, limitações de horários, muitos deixam de
fazer. Seria em torno de uns 80 hoje.
5) A empresa custeia o curso?
CI: Não, a empresa não paga. Até o ano passado a empresa subsidiava 50% do valor da
mensalidade. Aí, então, ela decidiu que o curso de inglês seria cortado, não mais haveria o
curso. Então, nós sugerimos que o funcionário pagasse do próprio bolso e a empresa apenas
cedesse as instalações e ela concordou. Então, a empresa não paga um centavo para o
funcionário. O que é uma grande pena.
6) Por quê?
CI: Devido à crise que se instalou na empresa e nas empresas brasileiras em geral que
trabalham com exportação por causa da cotação do dólar (...) caiu muito(...) não manteve o
valor que eles esperavam, então eles resolveram cortar e começaram cortando o curso de
inglês outros benefícios importantes para o funcionário.
7) O material didático utilizado nas aulas é selecionado de acordo com as necessidades dos
funcionários?
CI: Sim, o material didático é escolhido de acordo com a necessidade da empresa e do
funcionário sendo que se o funcionário, por exemplo, é da produção, nós aplicamos o método
que ele tenha acesso a ele pra que isso não se torne difícil, desmotivador (...) para os
funcionários administrativos, o método é outro por que o nível cultural deles é um pouco
mais alto.
8) Quem o seleciona?
133
CI: Eu mesmo. (primeira resposta depois deu uma mais completa)
CI: Eu próprio seleciono o material. Com uma experiência de aproximadamente uns trinta
anos no ensino de idiomas, já tenho familiaridade com os diversos métodos disponíveis no
mercado então toda vez que uma turma se forma, eu vou buscar aquele método que mais se
adequa à necessidade daquele grupo. As publicadoras Oxford, Cambridge todas têm métodos
os mais variados possíveis, então, eu vou e procuro aquele método que se encaixa exatamente
a necessidade do aluno, visando o sucesso do curso.
Pesquisadora: E os professores não influenciam nessa escolha do material?
CI: Ao escolher o material, eu coloco a disposição do professor pra que ele dê também o seu
ponto de vista. Nenhum professor usa o método com o qual ele não concorda. Eu coloco a
disposição dele os diversos métodos e ele vai selecionar aquele que ele achar melhor também
e muitas vezes eu aceito sugestão do professor. Se ele me diz, por exemplo, que determinado
método é bom, que ele já usou que ele conhece, eu vou atrás, pesquiso e nós aplicamos. Foi o
caso com o espanhol. Por eu não ter experiência com o ensino de espanhol, eu pedi aos
professores de espanhol que me sugerissem um método e assim nós fizemos a escolha.
Pesquisadora: Então é material, livro didático encontrado no mercado? Não é um material
produzido, voltado para a empresa?
CI: Não, mas o que nós fazemos é sempre incorporar nas aulas um material adicional que vá
ajudar o aluno no seu dia-a-dia na empresa, por exemplo, há uma professora que treina os
alunos como preparar mensagens de e-mail e pra isso ela usa as situações que o funcionário
encontra no dia-a-dia. Como, por exemplo, fazer uma cotação do preço de uma máquina,
mandar um e-mail para um representante fora do país, um e-mail para um gerente, então nós
adaptamos. Não existe um método próprio só para a empresa I, não. Os métodos que estão aí
são ótimos e nós podemos utilizá-los. Nós acrescentamos algo a mais aí.
P.S: O coordenador quis complementar a resposta da questão 8.
CI: Também após o professor juntamente comigo decidirmos sobre o método, nós o
colocamos para que o aluno veja o método que vai ser aplicado com ele para que ele também
dê sua opinião se ele gosta ou não, se ele tem alguma sugestão e nós levamos isso em conta
na hora da aplicação do método.
Pesquisadora: As necessidades do aluno, as lacunas de aprendizagem, o que ele tem interesse
também é levado em consideração?
CI: Sim, a opinião do aluno e do professor são importantíssimas por que depois são eles que
vão trabalhar com o método. Se você escolher um método que só agrade o professor e
desagrade o aluno, você não vai ter alunos lá. Por outro lado, se o aluno quiser que seja um
método só do gosto dele com o qual o professor não (...) que acha que o aluno não terá
progresso também não pode. Tem que haver uma decisão em comum para que o curso seja,
alcance os objetivos estabelecidos.
134
APÊNDICE 5 - ENTREVISTA COM A COORDENADORA DO CURSO DE INGLÊS OFERECIDO NA
EMPRESA
II (CII)
1) Por que os funcionários precisam ou procuram o curso de inglês?
CII: Os funcionários têm que lidar com um vocabulário muito específico em seu ambiente de
trabalho e em todas as seções da empresa as peças estão em inglês, bem como os manuais de
manutenção de cada seção.
2) Que tipo de documentos a empresa recebe e produz em inglês?
CII: Os manuais de manutenção. Como esses manuais são emitidos para vários países, o
inglês é a língua franca e todas as oficinas, no mundo inteiro, recebem manuais versados em
inglês.
3) Qual o perfil do professor que a empresa procura?
CII: A empresa nos procurou inicialmente por saber que fazemos cursos específicos para as
necessidades do público-alvo, uma das características do inglês instrumental. Entretanto,
dependendo da chefia que nos atende percebemos que as crenças de como se aprende uma
língua acaba afetando a visão que podem ter do nosso trabalho. Eles querem, muitas vezes,
que se ensine por tradução ou pela gramática, metodologia essa que vai de encontro com o
que o inglês instrumental pressupõe. Não sei o que a empresa pensa ou gostaria de ter como
professor, pois essa função ela deixa pra nós decidirmos.
4) Quantos subgrupos existem? Você pode comentar as características ou especificidades de
cada grupo?
CII: Desde o início temos 3 tipos de subgrupos mais frequentes: básico, ou módulo 1 ou A,
intermediário, ou módulo 2 ou B e avançado, ou módulo 3 ou C. Como fazemos um teste de
suficiência no início do período para termos noção de quanto de compreensão o aluno pode
ter do texto da área e de textos em geral, conseguimos classificá-los nesses 3 níveis.
Geralmente colocamos no primeiro grupo alunos que não têm conhecimento de língua ou
muito pouco, no segundo grupo quem já tem algum conhecimento, mas ainda apresenta
problemas de compreensão e no terceiro grupo quem apresenta condições de
aprofundamento na língua.
5) A empresa custeia o curso? Por quê?
CII: Sim, porque para ela é fundamental que os alunos tenham o conhecimento da língua,
porque sem isso a empresa não pode receber certificação internacional.
6) O material didático utilizado nas aulas é selecionado de acordo com as necessidades dos
funcionários?
CII: Cada vez mais o material tem sido elaborado com base nos manuais que os funcionários
utilizam, utilizando tanto atividades de compreensão como de produção.
7) Quem o seleciona?
CII: Os próprios estagiários, professores do curso. São eles que, junto com os alunos
(funcionários) selecionam o que é mais importante para ser trabalhado em sala de aula.
135
APÊNDICE 6 - ENTREVISTA COM A PROFESSORA A (PA) DA EMPRESA I
1) Você procura atender aos interesses e necessidades da empresa e dos funcionários –
alunos?
PA: Sim, procuro. Dependendo do nível dos meus alunos. Não é integral, somente voltado
para a empresa. As aulas não são totalmente voltadas para a empresa. Tem mais o ensino de
inglês assim, às vezes, não no contexto da empresa.
2) Quais são as necessidades dos alunos?
PA: Eles (...) a empresa pede por ser uma multinacional, eles pedem o inglês por que eles
lêem muito o manual, eles precisam falar muito o inglês e eles têm interesse por que eles
realmente usam.
3) Quais são os interesses dos funcionários?
PA: É (...) de todos os meus alunos dois ou três só que têm interesse também pra fora, pra
faculdade que eles tão fazendo, pra mestrado (...), mas a maioria dos meus alunos são
interessados somente pra empresa. Fazem por que a empresa pede pra que tenha o inglês
apesar de não incentivar financeiramente.
4) Quais as necessidades da empresa?
PA: Então, eu tenho... depende da turma. Eu tenho uma turma que precisa muito pra dar
palestras. Eles conversam e eles que fecham negócio com o pessoal de fora que fala inglês,
então, esses precisam mais pra conversação e pra dar palestras. Agora, tem outras turmas
que eles usam na leitura mesmo (...) é (...) em máquinas, em manual e é na parte de produção
mesmo que eles usam.
5) Por que você procura atender aos interesses e necessidades e interesses da empresa e dos
funcionários – alunos?
PA: Pela procura (...) como é que eu vou te dizer?(...) É (...) eles têm os seus interesses em
saber o inglês por que eles precisam e eu procuro atender os pedidos deles.
6) Como e por quem o material didático utilizado é selecionado?
PA: Quando eu entrei, ele (o coordenador I) já tinha escolhido os materiais. O (...) os
professores anteriores já tinham escolhido os materiais e eu continuei. Mas o nosso chefe ele
dá liberdade pra que os próprios professores escolham os materiais.
Pesquisadora: Você produz o seu próprio material de acordo com as necessidades dos alunos?
PA: Sim, eu dou muito material extra por que os materiais escolhidos não são voltados pra
empresa. Então, esses materiais (...) aí sim eu procuro exercícios extras e textos e atividade
extra, porém eu tenho uma turma de business que o material é ótimo e ele é especialmente
pra empresa. É uma turma mais avançada e eles têm conversação (...) eles já se dão bem
mesmo no inglês.
7) Você já havia lecionado inglês em contexto empresarial?
PA: Não, nunca.
8) Quantos e em quais grupos você dá aula?
PA: Eu tenho três grupos. Um grupo é o avançado (...) é o de business, o segundo grupo é
básico tão começando agora (...) e o terceiro grupo (...) eles fazem o New Interchange azul
136
(...) vamos dizer que é intermediário só que eles são muito básico. Eu não vejo progresso
nessa turma.
9) Qual a carga horária total?
PA: Eles têm duas horas semanais. Seria seis meses cada módulo.
10) Como os grupos são formados? Quem escolhe os participantes?
PA: Não tem uma seleção. Se o aluno acha que ele é básico, ele entra na turma de básico; se
ele acha que é avançado, ele entra na turma de avançado. Então, ele chega pra mim: posso
assistir sua aula pra ver se eu acompanho? Se gosto, ele continua, se não, ele tenta outra
turma. E quem faz isso são os próprios professores. E o coordenador não. Ele divulga, ele
pede (...) fala pros alunos que ta tendo aula, fala os horários (...) os alunos que procuram os
professores e os professores que acabam selecionando os alunos.
11) Que horas o curso é realizado?
PA: No horário de almoço deles. As aulas que eu dô. Durante o almoço.
12) A sua formação inicial proporcionou a você saberes necessários para dar aula em contexto
empresarial?
PA: Não em contexto empresarial. O meu curso ajudou muito em dar aula em geral. Certo
(...) em lecionar (...), mas empresa não especificamente em empresas é uma aula nova pra
mim dar aula em empresas.
13) E suas outras práticas?
PA: Não, me ajudaram só na prática de ensino de língua. Me ajudaram na parte de entender
as diferenças dos alunos. Como é dar aulas pra aluno de empresa, pra aluno de seja lá do
sindicato seja lá pessoas que trabalham o dia inteiro ou pra cursinho. Cada um tem o seu
objetivo então isso me ajudou só pra diferenciar tipos de alunos mais não em relação à
empresa.
14) Como você pensa que deve ser a formação de professores de inglês para lecionar em
empresas?
PA: Ah (...) talvez até uma disciplina a respeito de empresa. Isso falta (...) não tem uma
disciplina própria.
15) É preciso ser licenciado ou basta saber falar bem?
PA: Não. Tem muita gente que sabe falar bem, mas não sabe ensinar. Então, você precisa ter
toda sua didática e além de falar bem também o inglês.
16) Como você foi selecionada para trabalhar lá na empresa I?
PA: Foi por classificados. Eu tinha colocado no jornal... no Primeira Página e o
coordenador I me ligou.
17) Quais características suas foram apontadas por ele como necessárias para trabalhar nesta
empresa?
PA: Ele depois de ter visto o meu currículo que ele gostou, ele falou: você fala bem? Por que
eu tô procurando uma pessoa que fala bem por que a entrevista foi em inglês. Então,
começou assim. O segundo ponto (...) ele queria uma pessoa bonita (...) ele falou que eu era
bonita então ele queria uma pessoa bem apresentável pra dar aula lá na empresa e mais,
137
enfim, a necessidade maior dele era falta de professor ele tava com muita pressa para
arranjar um professor.
Pesquisadora: Então você acha que ele te escolheu por que você fala bem ou por que você é
formada em letras?
PA: Também formada em letras. Ele enfatizou isso. Ele queria alguém que fosse da área.
18) Como você decidiu dar aulas de inglês nesse segmento do mercado de trabalho?
PA: Por que é uma (...) por que ia me ensinar muito (...) por que eu ia aprendê coisas novas.
Em empresa eu nunca tinha trabalhado, eu nunca tinha tido experiência. A primeira coisa
que eu falei: agora eu vou aprender mais o inglês.
19) Que outras atividades relacionadas ao ensino de inglês você exerce?
PA: Eu dou aula em cursinho pré-vestibular, dou aula em duas escolas de idioma e na
empresa e dou aula particular também.
20) Por quê?
PA: Por que eu preciso financeiramente. Não tem como trabalhar em uma só.
21) Conte algum incidente crítico que tenha ocorrido no tempo que você leciona inglês em
empresas.
PA: Já tive problema. É (...) com os alunos nunca tive problema. A (...) sim eu tive problemas
com alunos sim. Turma que os alunos não são assíduos, que eles faltam muito devido à carga
deles de trabalho. Eles sempre tão em reunião então, eles faltam muito de aula. Isso é normal
e não deveria ser, mas isso é o que pesa por que eles não seguem as aulas direitinho. E agora
também já tive problema fora da sala de aula com coordenação a respeito de salário.
22) Que facilidades/dificuldades encontra em seu trabalho?
PA: Facilidade (...) eu tenho liberdade de fazer, de ensinar do jeito que eu quero (... )a
metodologia que eu quero, o material que eu quero, o material que eu preparo do jeito que eu
dou aula. Fora também a respeito de falta. Se um dia eu precisar, os alunos aceitam mudar o
dia e tal (...) isso eu não tenho tanta liberdade nas outras escolas. Lá, eu tenho a total
liberdade de ensinar do jeito que eu acho que deveria ensinar.
23) E quanto às dificuldades?
PA: A falta dos alunos. Os alunos faltarem das aulas (...) a coordenação a respeito de salário
atrasado. Outra coisa também é falta de material (...) falta de equipamentos pra dar aula (...)
falta de televisão, dvd, som. O som eu tenho que leva todos os dias carregando então, não
tem som lá pra mim. É e dvd também é muita burocracia ter que pedir um dvd, colocá o dvd
numa sala. É tem muitas burocracias dentro da empresa que eles não facilitam isso pra gente
poder dar aula.
24) Como é o interesse, aprendizado, participação dos alunos?
PA: Essa é a minha pergunta freqüente. De três em três meses eu tenho uma reunião com
eles. Eu paro e falo assim: que que vocês aprenderam até agora? Eu gostaria que vocês
parassem um pouquinho pra pensar. Vocês aprenderam alguma coisa nesse tempo?
Principalmente pra aquela minha turma que eu não vejo evolução por que eles não têm tanto
interesse. Eles fazem por que os chefes deles estão ali vendo eles fazendo aula, então, eles
procuram tá ali pra talvez (...) por estar fazendo inglês, mas não vejo interesse nessa turma.
138
As outras turmas são muito interessadas (...) têm consciência assim do que eles tão
aprendendo. Essa pergunta que eu faço pra eles sempre faz eles pensarem.
Pesquisadora: Você acha que seria melhor, em contexto de empresa, o material didático ser
todo criado para aquele contexto específico?
PA: A gente não tá satisfeita com todo o material (...) seguir aquilo que ta na lição, aquilo
que ta no livro. Sempre a gente pula por que às vezes não tem interesse. Se aquele exercício é
irrelevante ou então traz uma atividade a mais, mas eu acho que pra falar a verdade, eu já
tive experiência com dois livros de business. É que eu dei uma olhada e tal e fora o que eu
trabalho agora (...) eles são bons sim, atendem ao que a empresa pede.
Pesquisadora: Atendem às necessidades de todos os alunos?
PA: Não. Essa parte de business é mais pros funcionários (...) engenheiro (...) a parte de
administração.
139
APÊNDICE 7 - ENTREVISTA COM A PROFESSORA B (PB) DA EMPRESA I
1)Você procura atender aos interesses e necessidades da empresa e dos funcionários – alunos?
Por quê? Quais são elas?
PB: Geralmente sim, né? Por que é uma combinação dos interesses dos alunos por que na
empresa você tem que seguir um cronograma, tem um número de aulas exatas. Quando os
alunos vão lá pra ter informação sobre quanto tempo de duração tem o curso de inglês
principalmente tem duração de quatro anos ou quatro anos e meio dependendo do curso tem
que ter um acordo entre ambos por que você também não pode falar pro aluno que o nível
básico vai durar seis meses se acaba sendo um ano. Tem que ter então uma concordância.
2) Quais são as necessidades dos alunos?
PB: Os alunos buscam mais conversação e a maioria faz faculdade, estudam em uma
universidade federal do interior do estado de São Paulo e na USP. Eles têm necessidade por
causa do mestrado ou por que têm textos em inglês que já tem dificuldade e alguns já
pararam de fazer o curso e voltam por que têm dificuldade de compreensão. É pra ajudar nos
estudos mesmo, e alguns conversação mesmo, pra aprimorar coisas de serviço. Eu dou aulas
pra secretária pra estar mais atualizada.
3)Como e por quem o material didático utilizado é selecionado?
PB: É (...) o material eu estou usando só pra nível avançado que é o New Interchange. Agora
pro básico eu vou preparando em casa tipo uma apostilinha. Eu tenho no meu computador,
eu vou preparando e passando pros meus alunos.
Pesquisadora: Então você faz o material de acordo com o que eles precisam, de acordo com as
necessidades dos alunos?
PB: Exatamente. Mais assim, por exemplo, eu tenho turmas variadas é pessoal da chefia,
mestre, diretor é mais ênfase em conversação pra praticar o inglês, pra ter fluência. Agora os
funcionários operários é mais pra atender o que eles nunca viram na vida. Eles estão lá pra
tentar se comunicar mais pra também aprender.
4)Você já havia lecionado inglês em contexto empresarial? Fale sobre essas experiências
anteriores.
PB: Não, é a primeira vez.
5)Quantos e em quais grupos você dá aula? Qual a carga horária total? E por grupo?
PB: Eu tenho dois grupos de básico, um avançado e um conversação. Dez alunos são básico,
dois nesse nível avançado e mais cinco na conversação, então dezessete. A carga horária
semanal é de duas horas.
6)Como os grupos são formados? Quem escolhe os participantes?
PB: É na verdade assim não tem um teste de classificação. Numa escola comum aplicaria-se
um teste, né? Nunca fiz por que lá eles conversam com não seria bem um coordenador. Ele é
tradutor técnico lá na empresa I e ele que vai selecionando. Então, coloca pra básico.
Através de uma conversa informal mesmo ele organiza e aí depois passa pra gente.
7)Em que horas é realizado?
140
PB: Varia, é variado por que, por exemplo, pra nível básico é das 13 e 30 até 14 e 30 ou das
15 às 16. É quando tem a troca de turno. E o avançado também é das 15 às 16 e também na
hora do almoço.
8) A sua formação inicial proporcionou a você saberes necessários para dar aula em contexto
empresarial? E práticas?
PB: Não muito não. Por que eu não sei agora, mas quando eu me formei em 96 até lá,
naquela época, neste período não tinha muita coisa assim, entendeu? Agora pode ser que
tenha, né? Mais não tinha não, era mais formação pra escola pública ou particular.
9) Como você pensa que deve ser a formação de professores de inglês para lecionar em
empresas? É preciso sr licenciado ou basta falar bem? Pq?
PII: Ah, o que poderia ser acrescentado seria assim, por exemplo, o inglês técnico, então
talvez tivesse que ter tipo uma matéria optativa ou assim que desse alguma idéia de alguma
coisa que fosse trabalhar. Por que a gente vê como você dar uma aula de gramática, como
você utilizar livro, escolha de material didático, mas às vezes esse material não se aplica
assim exatamente no mesmo período do curso normal, regular. Por exemplo, o curso de
inglês que tem lá na empresa I. É (...) os alunos de básico geralmente vão demorar um pouco
quem nunca viu vai ter uma certa dificuldade vai demorar um pouco mais. Não dá é (...) tem
o cronograma montado, mas às vezes ultrapassa um, pouquinho.
Pesquisadora: Você acha então que o material didático que você tá usando lá nem sempre
atende às necessidades dos alunos?
PB: Não, atende. Só que, por exemplo, se o aluno tem muita dificuldade então tem que ir um
pouco mais devagar. Não dá pra correr muito com eles por que tem uns que têm muita
dificuldade mesmo. Tem que começar desde o alfabeto. Acho assim que talvez poderia ter nos
cursos um acerta introdução é (...) digamos como você é (...) por que são diferentes (...)
vamos supor (...) se você faz uma faculdade de letras, você vai poder dá aula, coisas do tipo.
Mas se você vai dar aula numa escola de idioma, você já tem aquele método, entendeu? Se
você não tem aquele método próprio, e tipo se você pega esses alunos é (...) com dificuldade
no básico então o material que você usaria numa escola pública ou pra uma escola
particular não funcionaria pra esses alunos. Então, talvez pudesse ter um direcionamento
assim: não então com operários ou então funcionários que teriam mais dificuldades teria que
ser um pouco mais prolongado.
Pesquisadora: Então, você acha que os cursos pra empresa poderiam ser feitos pra empresa,
por exemplo, não talvez seguir esses livros. Você acha que poderia ser feito um material
específico pra cada contexto?
PB: É que, por exemplo, esses que eu já tenho montado que eu já tô fornecendo pros alunos.
No ano que vem já vai ser montado uma apostila com esses exercícios. Você já chega lá já
tem apostila por que tem exercício, exercício de gramática. E aos poucos já tem os textos. De
acordo com o nível, né?
Pesquisadora: É preciso ser licenciado pra trabalhar em empresa ou basta saber só falar bem
inglês?
PB: Eu creio que precisa ter uma formação, né? Por que você pode às vezes saber falar
muito bem inglês, mas você pode não ter a didática pra passar pros alunos. De repente você
sabe pra você e os alunos não entendem.
10) Como você foi selecionada pra trabalhar lá na empresa I?
141
PB: Na verdade ele (o coordenador) fez uma entrevista por telefone em inglês, né? Ligou pra
minha casa e conversou comigo e acabou me selecionando através disso. Mas antes disso, ele
já tinha visto meu currículo.
Pesquisadora: Mas então você acha que pra ele é mais importante você ser formada em letras
ou você falar bem?
PB: Acho que foi os dois por que ele viu também a experiência que eu tenho e quanto tempo
que eu dou aula, né?Ele viu que eu sou formada. Eu acredito que lê tenha me selecionado por
que eu fiz o curso e pela minha experiência. E pra confirmar ou pra ver mesmo como tava o
meu nível de inglês, ele fez a entrevista por telefone.
11) Como você decidiu dar aulas de inglês nesse segmento do mercado de trabalho?
PB: É (...) como eu trabalho em outra escola, eu tava com horário vago. E como eu gosto
também, eu não teria problema ou imprevisto, eu aceitei.
12) Que outras atividades relacionadas ao ensino de inglês você exerce? Pq?
PB: Dou aula em escola de idioma, faço traduções e dou aula particular em casa. É (...) por
que eu sempre gostei de fazer tradução na verdade. Mas eu terminei a faculdade e assim por
incompatibilidade de horário. Então eu teria que deixar umas aulas pra fazer o curso. Por
que aqui não tem na universidade federal do interior do estado de São Paulo, não tem
matéria relacionada à tradução. Então tinha na Unicamp e em São Paulo, mas aí eram três
vezes por semana a aula. Aí, eu teria que ir e voltar. Como a carga horária da escola já tava
formada, eu acabei optando por trabalhar e não ir. Mas agora eu to pensando em fazer.
13) Conte algum incidente crítico que tenha ocorrido no tempo que você leciona inglês em
empresas.
PB: Até agora não teve assim nenhum incidente não. Por que faz pouco tempo que eu estou
dando aula lá.
14) Que facilidades/dificuldades encontra em seu trabalho?
PB: Facilidades (...) é o acesso que eu tenho ao coordenador. Eu to sempre conversando com
ele. Ele é acessível, então eu não tenho nenhum problema não. Agora, alguns problemas é
por parte da empresa mesmo. Do gerenciamento da empresa. Não com relação aos
professores, com relação ao coordenador. Por que, por exemplo, é como se fosse uma
prestação de serviço. Então tem os alunos que vão uma hora antes do serviço e eles são
barrados na portaria. Então, eu precisei fazer um requerimento pra eles com o nome de
todos, com o RE de todos pra que eles pudessem entrar. Em relação a material não por que
lá na empresa I tem a biblioteca.
15) Como é o interesse, a participação, o aprendizado dos alunos?
PB: Ah, eles estão interessados. Eles não faltam, dificilmente. Se faltam, é por assim algum
motivo de doença ou por que não pode. Mas eu percebo pelo menos no nível básico que eles
têm muita dificuldade, mas tão sempre assim interessados em saber o por quê das coisas. O
pessoal do avançado vão nas aulas mais pra praticar conversação. É difícil faltar. Mas agora
os chefes e mestres têm reuniões, tem levantamento, inventário essas coisas.
Pesquisadora: E como é o aprendizado?
PB: Depende do nível. O básico tá indo mais lento. Por exemplo, eu tenho duas turmas de
básico. Uma já é um pouco melhor que a outra. Não sei se é pelo fato (...) eles são sempre
dedicados. Ms como eles já trabalham (...) eles entram 15 pras três e saem às 11 e 9 da noite,
142
já vão uma hora antes, quer dizer que eles estão motivados. Mas tem uma turma que eles têm
um pouco mais de dificuldade. Mas são as mesmas lições, mas uns estão mais adiantados em
termos de evolução.
143
APÊNDICE 8- ENTREVISTA COM A PROFESSORA C (PC ) DA EMPRESA II
1)Você procura atender aos interesses e necessidades da empresa e dos funcionários-alunos?
Por quê? Quais são elas?
PC: Sim. Eu acho que eu procuro atender às necessidades da empresa quando eles solicitam
que os alunos devem aprender a ler o manual de uma maneira mais rápida e eficiente. Então
durante as aulas o foco de ensino é esse, a leitura. Então a gente trabalha com as estratégias
de leitura pra que eles possam desenvolver essa habilidade. Com o interesse eu também
procuro atingir os interesses do aluno principalmente quando eles perguntam coisas que não
estão diretamente relacionadas à matéria ou ao conteúdo ou coisas assim eu procuro
atender. Mas no momento atender aos interesses do aluno, está sendo uma tarefa mais difícil.
Por que o aluno se interessa por outras habilidades da língua como a fala, pronúncia, eles
querem falar tal e a empresa pede pra que a gente não enfatize essas habilidades por que pra
eles nesse momento não é necessário. Então, eu acho que aí tem um ponto de divergência por
que não dá pra você atender o que a empresa ta pedindo como necessidade e o interesse do
aluno sendo que a empresa manda cortar uma parte do conteúdo ou uma forma de trabalhar
que o aluno se interessa.
Pesquisadora: Então, a necessidade da empresa é que ele saiba ler o manual?
PC: Isso.
Pesquisadora: E as necessidades do aluno?
PC: Eles precisam ler. Só que eh (...) inclusive eles precisam ler a mando da empresa pra que
eles sigam o procedimento do manual pra efetuar a atividade que eles estão desenvolvendo.
Só que aí tem outros problemas por que pesquisando lá com os alunos a gente percebe que a
maioria deles não lê o manual por que eles já têm décor o que ele tem que fazer. Então, eu
investiguei, né? Vocês eh (...) se tem alguma construção ou palavra que vocês não conhecem,
vocês procuram? Eles falaram: ah não a gente já sabe o que tem que fazer. Então, a
necessidade dele é compreender aquilo, então ele precisa estudar pra compreender aquilo.
Só que eu acho que também engloba a necessidade de falar e de produzir por que eles
recebem muitas visitas estrangeiras e às vezes não conseguem se comunicar nem explicar o
próprio trabalho. Então, sempre precisa ficar chamando o supervisor pra auxiliar nessa
tarefa, então fica bem limitado quem pode acompanhar alguém e quem não pode. Então eu
acho que falta ainda essa parte pra gente atender às necessidades do aluno.
2) Como e por quem o material didático é selecionado?
PC: A gente não utiliza material didático pronto até por que é difícil você encontrar um
material bem direcionado pra esse contexto. E (...) qual é o contexto que a gente tem?
Manuais. Onde a gente encontra esse tipo de material? Só dentro da empresa. Ninguém mais
trabalha com isso a não ser nesses tipos de empresa. Então, a gente não trabalha com livro
didático. A gente pega os próprios manuais e transforma esse manual em uma apostila. Como
assim? A gente recolhe manuais que os próprios alunos dão pra gente. Aí, com os manuais a
gente prepara exercício de compreensão, tem exercício de gramática, tem tudo que ajude ele
a compreender melhor o que tá escrito e aí a gente faz uma reunião de várias atividades
assim coleta, agrupa e coloca numa apostila. Essas atividades são desenvolvidas por nós
alunos da graduação ou da pós que trabalham, que atuam como professores no projeto, mas
são supervisionadas, orientadas e corrigidas por duas professoras do departamento que são
as orientadoras do projeto de extensão.
144
Pesquisadora: Então, é um material feito pra essa empresa?
PC: É pra essa empresa. É bem específico. A gente recolhe o material deles e transforma em
material didático de sala de aula pra essa empresa.
3) Você já havia lecionado inglês em contexto empresarial? Fale sobre essas experiências
anteriores.
PC: Não, nunca.
Pesquisadora: Onde você trabalhou antes?
PC: Em escolas de idioma e em projetos de extensão na própria universidade federal do
interior do estado de São Paulo. Então, são outros dois contextos diferentes e que também
são diferentes entre si, mas em empresa desse jeito que a gente trabalha lá é a primeira
experiência.
4) Quantos e quais grupos você dá aula? Qual a carga horária total? E por grupo? Como os
grupos são formados? Quem escolhe os participantes? Em que hora o curso é realizado?
PIII: Dou aula em 1 grupo chamado de A. A carga horária total é de 48 horas sendo 6 horas
semanais. É realizado um teste de proficiência para que os grupos sejam formados, mas que
escolhe quem vai fazer o teste é a empresa. O curso é realizado de segunda à quinta das
16:30 às 18:00.
5) A sua formação inicial proporcionou a você saberes necessários para dar aula em contexto
empresarial?
PC: Não. Eu acho que se eu não tivesse participado desse projeto, só as aulas da graduação
não me explicam tudo que tem que ser feito dentro de uma empresa. Por que eu acho que
dentro da empresa além de você atender às necessidades e aos interesses da empresa e dos
alunos, ainda tem o funcionamento de uma empresa que acaba te afetando. Apesar da gente
não ser funcionário direto da empresa por que pra gente é um estágio então quem nos
supervisiona e coordena são as professoras da Letras, a gente é (...) encontra não é
dificuldades são fatores com os quais a gente tem que lidar que são empresariais, por
exemplo, eles precisam terminar um trabalho, então não vão à aula, eles precisam viajar e
não vou à aula. Isso é muito específico do contexto empresarial. Coisa que na escola não é
assim. Dificilmente o aluno falta ou se ele trabalha, ele já tem o horário reservado pra ir pra
aula então marca aula no horário que ele não vai trabalhar. Na empresa não. Às vezes ele
tem que sair de dentro da aula pra resolver um problema ali dentro e aí a gente também
trabalha com o pessoal que tem a questão hierárquica. Às vezes numa mesma sala tem
diferentes pessoas com diferentes níveis, diferentes posições dentro da empresa então você
trabalha com o chefe com o subordinado dele e isso você só encontra na empresa por que
dentro da escola todo mundo é igual né? Você não tem muito isso nítido. Dentro da empresa
é nítido. Todo mundo se conhece, trabalha junto e vão pra aula juntos.
6) Como você pensa que deve ser a formação de professores de inglês para lecionar em
empresas? Por quê?
PIII: Eu acho que o que deveria realmente ter é uma experiência dessa. Ou como forma de
projeto de extensão ou como um estágio. Eu sei que isso é meio utópico por que nem toda
faculdade vai poder ter esse convênio. Às vezes os professores né? Talvez os professores da
graduação pudessem incentivar e também aceitar o estágio em empresa por que no nosso
curso eles só aceitam estágio em escola pública. Então por que não aceitar o estágio numa
empresa, numa escola particular por que eu acredito que se os alunos fossem oferecer um
estágio ou fosse acompanhar um professor na empresa, a empresa até abriria as portas pra
145
esses estagiários. Coisa que a gente não pode fazer por que nosso estágio só é válido se for
feito na escola pública. Então eu acho que isso seria uma opção por que também acredito
que seja difícil incluir dentro da grade algo mais específico voltado pra empresas. A não ser
que fosse uma palestra, um mini-curso alguma coisa assim, um relato de experiência que
ajudasse quem ta na graduação, mas talvez o estágio seria a melhor forma.
7) Conte algum incidente crítico que tenha ocorrido no tempo que você leciona inglês em
empresas.
PC: Eu nunca deixei de dar aula por algum desses problemas, mas a gente já teve assim de
chegar lá e o rádio não tá ou chegar lá e a sala tá trancada, então atrasou um pouco a aula,
mas eu nunca deixei de dar aula. Até por que quando acontece um problema muito grande
que a gente não vai poder dar aula, eles avisam. Eles avisam antes. Não muito antes, mas
eles avisam.
Pesquisadora: Lá, as salas são para curso de inglês?
PC: Não, são salas de treinamento. Então, serve pro curso de inglês, serve pra cursos que
eles fazem de qualificação cada um na sua área. É pra qualquer curso eles utilizam a sala.
Mas é que geralmente os cursos lá são dados durante o expediente e o curso de inglês é após
o expediente dos funcionários então não choca e quando choca, eles avisam.
8) Como é o interesse, a participação e o aprendizado dos alunos? Por quê?
PC: Uma pergunta de cada vez.
Pesquisadora: Tá. Então como é o interesse dos alunos em aprender a língua?
PC: Eu colocaria assim é (...) aproximadamente uns 80% da sala têm muito interesse por que
eles vêem que o idioma é muito importante hoje em dia não só pro trabalho deles, mas por
outras questões. Até por isso que até eles pedem: ai a gente não vai ter conversação ou
alguma coisa assim? Porque eles percebem essa necessidade. Pela necessidade eles se
interessam. Eu acho que tem essa parte. Também tem a parte que eles vão lá buscando um
curso de idiomas assim talvez, então eles são interessados, o interesse a gente vê. Alguns
alunos não. Achando que por eles já saberem como realizar o procedimento, eles não
precisam de inglês. Então, esses alunos são mais difíceis assim pra trabalhar em sala, mas de
maneira geral eles são interessados.
Pesquisadora: E a participação deles como é em sala de aula?
PC: Eu acho que é interligado com interesse né? Os mais interessados têm uma ótima
participação em sala. Eles discutem, eles querem saber, perguntam, eles questionam e aquela
parte menos interessada eu diria assim deixa até o cansaço influenciar por que como eles
não estão tão interessados e tão cansados pelo dia de trabalho, eles acabam não
participando muito, né? Não interagindo muito. A maioria da sala é interessada e é
participativa, mas há sempre alguns alunos não são muitos. Numa sala de 20 talvez uns dois
ou três não correspondam a essa interação na hora da aula.
Pesquisadora: E o aprendizado está interligado com o interesse e a participação?
PC: Sim. Até eu percebo que esses alunos que são menos interessados e participam menos
têm mais dificuldade ou até assim eles fazem uma pergunta que a gente já viu na aula
passada principalmente em relação à aquisição de vocabulário. Por que o vocabulário do
manual ele é um tanto quanto repetitivo. Ele não costuma ter várias palavras pro mesmo
significado. Se ele precisa falar primeiro, ele vai usar “first” todas às vezes. Ele não vai ficar
usando outras palavras possíveis. Então, o aluno viu isso uma vez duas vezes, aquilo já fica
146
com ele, ele já vai aprendendo. E esses alunos menos motivados que participam menos, você
percebe que não tem essa aquisição. Demoram mais. Eles ai o que é essa palavra? Ué a
gente não viu na aula passada? A é deixa eu ver. Volta pra procurar, mas isso acontece com
mais freqüência do que com os alunos que estão ali motivados, interessados, então eu acho
que acaba prejudicando a aprendizagem do aluno.
9) Como você foi selecionada para trabalhar nesta empresa?
PC: Fiquei sabendo do projeto de extensão por outras alunas da graduação e procurei as
professoras responsáveis para me informar. Acompanhei algumas aulas como ouvinte e
algumas reuniões. Quando algumas das professoras se formaram, entrei no projeto no lugar
delas.
147
APÊNDICE 9 - ENTREVISTA COM A PROFESSORA D (PD) DA EMPRESA II
1)Você procura atender aos interesses e necessidades da empresa e dos funcionários-alunos?
Por quê?
PD: Sim. Por que isso é o que o projeto se propôs a fazer e como eu entrei no projeto eu
pretendo seguir exatamente o que é proposto.
2) Quais são elas?
PD: Bom, como os manuais de manutenção são todos em inglês, os alunos têm a necessidade
de entender pra fazer o serviço corretamente e de reportar o serviço que eles fizeram em
fichas de serviço que também tem que ser reportados em inglês e eles têm muita dificuldade
nisso (...) pra interpretar em português e em inglês mais ainda. Realmente eles precisam do
inglês.
Pesquisadora: Mas essa é a necessidade que a empresa tem do funcionário? Ou é a
necessidade do funcionário em si? Ou eles têm outros interesses?
PIV: Pelo que eu percebo com os meus alunos, alguns se interessam por inglês e gostariam
de praticar speaking também nas aulas, mas não é possível por que a empresa não dá esse
tempo pra fazer um curso mais extenso né? O que eles querem é estratégia de leitura e que os
funcionários fiquem aptos a lerem os manuais e fazer o serviço corretamente, mas eu percebo
o interesse dos alunos em fazer outras atividades sim.
3) Como e por quem o material didático é selecionado?
PD: Todos os professores em conjunto montam o material com base nos manuais de
manutenção que os próprios alunos fornecem pra gente.
4) Você já havia lecionado inglês em contexto empresarial?Fale sobre essas experiências
anteriores.
PD: Empresarial não.
5) Quantos e quais grupos você dá aula?
PD: Grupo do módulo A. É o primeiro módulo que eu to dando e é o único.
6) Qual a carga horária total?
PD: Eles têm 1hora e meia por dia, quatro vezes por semana. O que dá 6 horas por semana.
E eles fazem durante dois meses e meio.
7) Como os grupos são formados?
PD: Os chefes de seção eles selecionam os funcionários que podem não estar precisando do
serviço na hora que o curso é oferecido, então eles selecionam um de cada oficina mais ou
menos e aí depois vai rodando pra que outros alunos possam fazer o curso.
Pesquisadora: Mas antes deles entrarem no curso, como que os grupos são divididos?
PD: Ah, então. Nós aplicamos um teste de nível que é o placement logo no início que é um
teste igual pra todo mundo. Aí, dependendo das notas aí eles se encaixam nos módulos A, B e
C.
8) Em que hora o curso é realizado?
PD: Das 4 e 40 às 6 horas da tarde de segunda à quinta.
148
9) A sua formação inicial proporcionou a você saberes necessários para dar aula em contexto
empresarial?
PD: Ah, com certeza. Por que nós tivemos muita teoria lingüística a respeito de ensino e
aprendizagem de línguas então mesmo sendo uma aprendizagem parcial, a gente percebe a
necessidade dos alunos, a gente consegue sentir o que eles estão pedindo e o que não está
encaixando bem.
Pesquisadora: Mas você aprendeu especificamente para dar aula em empresa?
PD: Pra dar aula em empresa não. Eu tive um pouco de inglês instrumental no primeiro ano
então isso me deu um pouco de base. Aí, agora eu to fazendo a disciplina de metodologia de
ensino de inglês instrumental e aí aplicando o que eu to aprendendo nessa disciplina agora
que eu já tô na prática também.
10) Como você pensa que deve ser a formação de professores de inglês para lecionar em
empresas? Por quê?
PD: É acho que poderia haver uma disciplina de inglês voltada para contextos empresariais
em geral. Não sei como que ela seria designada, mas acho que ajudaria bastante assim pra
gente não chegar meio de pára-quedas.
11) Conte algum incidente crítico que tenha ocorrido no tempo que você leciona inglês em
empresas.
PD: Não, assim (...) de atrapalhar algumas vezes eu chego e a sala de aula tá fechada não sei
por que motivos, mas assim poucas vezes que aconteceu mais só.
12) Como é o interesse dos alunos? Por quê?
PD: Alguns alunos se interessam bastante por que eu percebo que eles gostam de inglês e
queriam fazer um curso extra em escolas de idiomas. Outros alunos que tão lá só por que a
empresa quer que faça o curso, então eles sabem que têm que fazer e eles tão lá simplesmente
por isso.
13) Como é a participação deles?
PD: Eles participam bem. Os alunos da minha turma pelo menos (...) alguns (...) eles ficavam
meio tímidos, inseguros. De modo geral tem uma participação boa na minha turma.
Pesquisadora: E o aprendizado?
PIV: Os alunos que se dedicam mais é clara a evolução, o aprendizado deles. Agora tem uns
que não tão nem aí pra curso e realmente não se interessam (...) têm uma evolução mínima.
14) Como você foi selecionada para trabalhar nesta empresa?
PD: Uma das coordenadoras me falou (...) falou pro pessoal da minha turma que tava no
quarto ano que tava precisando de alunos pra trabalhar nesse projeto. E como eu sempre me
interessei pela área de língua inglesa, e achava esse projeto bem interessante por ser um
contexto diferente dos quais eu já havia trabalhado, eu resolvi começar a assistir as aulas.
149
APÊNDICE 10 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F1I AO QUESTIONÁRIO
150
APÊNDICE 11 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F1II AO QUESTIONÁRIO
151
APÊNDICE 12 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F1III AO QUESTIONÁRIO
ANEXO 10 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F1IV AO QUESTIONÁRIO
152
APÊNDICE 13 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F1IV AO QUESTIONÁRIO
ANEXO 11 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F1V AO QUESTIONÁRIO
153
APÊNDICE 14 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F1V AO QUESTIONÁRIO
154
APÊNDICE 15 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F1VI AO QUESTIONÁRIO
155
APÊNDICE 16 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F1VII AO QUESTIONÁRIO
156
APÊNDICE 17 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F1VIII AO QUESTIONÁRIO
157
APÊNDICE 18 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F2I AO QUESTIONÁRIO
158
APÊNDICE 19 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F2II AO QUESTIONÁRIO
159
APÊNDICE 20 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F2III AO QUESTIONÁRIO
160
APÊNDICE 21– RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F2IV AO QUESTIONÁRIO
161
APÊNDICE 22 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F2V AO QUESTIONÁRIO
162
APÊNDICE 23 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F2VI AO QUESTIONÁRIO
163
APÊNDICE 24 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F2VII AO QUESTIONÁRIO
164
APÊNDICE 25 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F2VIII AO QUESTIONÁRIO
165
APÊNDICE 26– RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F2VIX AO QUESTIONÁRIO
166
APÊNDICE 27 RESPOSTAS DO FUNCIONÁRIO F2X AO QUESTIONÁRIO
167
APÊNDICE 28 EXCERTO DO MATERIAL UTILIZADO NO CURSO DA EMPRESA I
168
APÊNDICE 29 EXCERTO DO MATERIAL UTILIZADO NO CURSO DA EMPRESA I
I
169
APÊNDICE 30 EXCERTO DO MATERIAL UTILIZADO NO CURSO DA EMPRESA I
170
APÊNDICE 31 EXCERTO DO MATERIAL UTILIZADO NO CURO DA EMPRESA
171
APÊNDICE 32 EXCERTO DO MATERIAL UTILIZADO NO CURSO DA EMPRESA I
172
APÊNDICE 33 EXCERTO DO MATERIAL UTILIZADO NA EMPRESA II
173
APÊNDICE 34 - EXCERTO DO MATERIAL UTILIZADO NA EMPRESA II
174
APÊNDICE 35 - EXCERTO DO MATERIAL UTILIZADO NA EMPRESA II
175
APÊNDICE 36 - EXCERTO DO MATERIAL UTILIZADO NA EMPRESA II
176
APÊNDICE 37 - EXCERTO DO MATERIAL UTILIZADO NA EMPRESA II
177
APÊNDICE 38- MÓDULO A CURSO DA EMPRESA II
MODULE A
General Objectives
Introduction of reading strategies that help students in comprehending specific texts in
their work area, in this case, airplane maintenance manuals.
Development of strategies through the reading of texts in the aviation area and
maintenance manuals of various sectors provided by the company.
Content
Unit 1: Introduction to Reading and Presentation of Reading Strategies
Introduction to the reading comprehension process and the ESP approach, and
presentation of reading strategies to be developed during the module.
Unit 2: Cognates and False Cognates
Definition of cognates and false cognates, presentation of types of cognates in the
English language, and practice through exercises in area texts.
Unit 3: Verb Tenses
Presentation of verb tenses (past, present, and future), recognition of the importance
of verb tenses for text comprehension. Practical exercises with manuals.
Unit 4: Modals
Presentation and recognition of modal verbs and their importance in manuals, mainly
in relation to comprehension of meaning.
Unit 5: Prepositions
Introduction to main prepositions of place/position found in maintenance manuals of
various work sectors.
Unit 6: Reference Devices
Explanation of what reference devices are, practice in identifying reference devices in
texts, analysis of pronouns most commonly used in maintenance manuals.
Unit 7: Nominal Groups
Identification of types and constituents of nominal groups and practice with exercises
with nominal groups in manuals.
Unit 8: Writing Practice
Writing practice for filling out forms and service orders most commonly found in
each sector of students’ work and identification of recurring linguistic structures.
Unit 9: Dictionary Use
Use of characteristics and tools present in dictionaries, making the most use of
dictionaries for text comprehension.
178
APÊNDICE 39 MÓDULO B CURSO DA EMPRESA II
MODULE B
General Objectives
Review of reading strategies introduced in the previous module
Introduction of new strategies through the reading of more difficult texts in the
aviation area and maintenance manuals of various sectors in the company.
Content
Unit 1: Review of Reading Strategies
Review of reading strategies and practice with exercises involving manuals.
Unit 2: Word Formation
Study of word formation (prefixes and suffixes) and their importance in vocabulary
development.
Unit 3: Keywords
Identification of keywords in manuals and recognition of their importance for text
comprehension.
Unit 4: Main Ideas
Development of the ability to identify the main idea in a text to assist in text
comprehension.
Unit 5: Topic Sentences
Identification of topic sentences that show the main idea or topic and their importance
for comprehension of written language.
Unit 6: Textual Markers
Identification of types of textual markers and their importance for text comprehension
such as sequence, addition, comparison, contrast, negation etc present in manuals.
Unit 7: Instructions
Recognition and use of imperative verbs in instructional texts exemplified and
practiced through specific parts of manuals.
Unit 8: Writing Practice
Writing practice for filling out forms and service orders most commonly found in
each sector of students’ work and identification of recurring linguistic structures.
179
APÊNDICE 40 MÓDULO C CURSO DA EMPRESA II
MODULE C
General Objectives
Consolidation of reading strategies seen in previous modules with the objective of
stimulating students’ autonomy to optimize their learning.
Development of new strategies through the reading of more difficult texts in the
aviation area and maintenance manuals of various sectors in the company.
Content
Unit 1: Review of Reading Strategies
Review of reading strategies presented in Modules A and B and practice with
exercises involving manuals.
Unit 2: Verb Tenses
Review of verb tenses (past, present, and future), recognition of the importance of
verb tenses for text comprehension. Practical exercises with manuals.
Unit 3: Passive Voice
Use of verbs in passive voice in sample texts and practice with texts from manuals
with a focus on comprehension and production.
Unit 4: Dictionary Use
Elaboration on the use of dictionaries as a reading strategy seen in previous modules
with a focus on the use of aviation technical dictionaries.
Unit 5: Phrasal Verbs
Presentation and recognition of phrasal verbs, their meanings and importance for
comprehension of manuals.
Unit 6: Video Activity: RADAR
Video activity provided by the aviation company involving the development of
vocabulary about weather conditions.
Unit 7: Vocabulary Development
Elaboration and development of specific vocabulary in the area of tools and
equipment present in manuals in students’ work environment.
Unit 8: Linguistic Functions
Identification and practice of linguistic functions utilized for talking about work in the
aviation field with in locu classes.
Unit 9: Video Activity: Auxiliary Power Unit (APU)
Video activity provided by the aviation company involving the development of
vocabulary about APU.
180
Unit 10: Writing Practice
Writing practice for filling out forms and service orders most commonly found in
each sector of students’ work, writing emails as well as formal and informal letters
and identification of recurring linguistic structures.
181
APÊNDICE 41 ANÁLISE DE NECESSIDADES REALIZADA NA EMPRESA II
Needs Analysis and Implications
Needs
Analysis
Instrument Goals Procedures Results and
Implications
1st
Company
Management
Staff
Interview To determine
company needs
Every
beginning of
term,
coordinators
and
management
staff get
together to
determine the
goals to be
reached
2nd
Employees
Written test/
Questionnaire
To evaluate
employees’ FL
knowledge and
language
learning
experience
Every
beginning and
ending of each
term
employees take
the same tests
to compare
their
improvement
and opinions
about their
learning
process
3rd
EFL teachers
Class Reports To evaluate the
course
effectiveness
in responding
to students’
needs.
The EFL
teachers write
class reports at
the end of each
class
4th
Onsite target
situation
analysis
Onsite
observation
To determine
real needs for
using the target
language by
workers
Teachers walk
through
different
sectors at the
company,
observing
work routine,
job shadowing,
taking detailed
notes of
workers’ use of
the FL
Administrative Changes
1. A teaching assistant
was hired to help
coordinators follow the
course development and
improve students’
awareness and
motivation in the
classroom, enabling
constant reflection about
the program efficacy.
2. A management
employee was designated
to follow and support the
ESP course development.
Pedagogical Changes
1. Development of more
appropriate activities, as
the team was more aware
of the students’ jobs.
2. Reading activities
involved a variety of
texts besides AMM and
written activities about
maintenance reports were
included.
3. Course organization
changed to smaller
groups based on student
proficiency.
4. After the 4
th
needs
analysis, teachers
increased shared
knowledge with their
students; students made
reference to things and
events that teachers had
observed, improving the
classroom pedagogy.
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