brasileiro
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” e outros comportamentos similares, constituindo uma sociedade cindida
entre o arcaico e o moderno.
Divergem, por exemplo, em relação à idéia de mudança em nossa sociedade,
que, para DaMatta (1989), seria dificultada pela herança portuguesa em aspectos
relevantes da vida social, como o comportamento do brasileiro diante das leis. Para
Almeida (2007), por outro lado, mudanças no perfil do brasileiro poderiam advir
facilmente de uma futura elevação da taxa de escolaridade, que atenuaria as
diferenças internas de nossa sociedade e nos aproximaria de outros grupos
humanos, numa época em que as culturas
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nacionais coexistem com as de grupos
sociais transnacionais ligados pela escolarização formal.
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Embora seja esta uma expressão de domínio público entre nós, brasileiros, do nosso tempo, cabe
explicar a expressão “jeitinho brasileiro”: trata-se, de acordo com DaMatta (1989), de um modo de
navegação social, de uma forma das pessoas burlarem normas e leis para conseguirem alguma
vantagem, favor, etc. Almeida (2007, p. 17) acrescenta ser o “jeitinho” uma forma de o indivíduo, ou
pela sua importância ou “(...) por meio de uma boa conversa, persuadir os demais de que se deve ser
tratado como exceção”, e ressalta que o problema se deve à forte hierarquização da sociedade
brasileira.
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O termo “cultura”, como tantos outros na área das ciências, tem sido motivo de muita discussão e de
desencontro de opiniões entre pesquisadores. Se, por um lado, pode-se dar-lhe significado de
abrangência tal que o torna vago, por outro, pode-se atribuir-lhe tantos significados de tantas áreas
distintas que sua utilização pode trazer problemas de interpretação. De acordo com Viana (2003),
Kluckhohn e Kroeber, na década de cinqüenta do século passado, chegaram a reunir mais de
trezentas definições para o termo. Geertz (1989), ao comentar a obra de Kluckhohn (Mirror for Man),
afirma que, em um capítulo de apenas 27 páginas, esse pesquisador apresentou 11 definições
diferentes para “cultura”. Marconi e Presotto (2005) referem-se a mais de 160 definições e afirmam
ainda não se ter chegado a um consenso a respeito do significado do termo. O levantamento das
pesquisadoras culmina com a colocação de Clifford Geertz, em 1973, que difere dos demais e propõe
que cultura seja um “mecanismo de controle do comportamento” (MARCONI; PRESOTTO, 2005, 43).
DaMatta (1989, p. 17) considera cultura como “um estilo, um modo e um jeito de fazer as coisas”,
estilo, modo e jeito estes “escolhidos” dentre elementos universais, advindos de “uma zona
indeterminada”, que condicionam a existência humana. Dentre as centenas de definições levantadas
pelos pesquisadores citados, para atingir os nossos propósitos, neste trabalho, e como fizemos dos
estudos de DaMatta um de seus pontos de partida, aceitamos a perspectiva de cultura apresentada
pelo antropólogo.