enquadramento do texto em complexos maiores, até chegar em sua configuração última, dentro
do contexto literário atual”
137
. Como se percebe, na prática, é muito difícil diferenciar a história
redacional da crítica literária. Ainda de acordo com Kirst, “quanto à relação com a crítica
literária, a história redacional toma os resultados que aquela obteve num procedimento
analítico, e os trabalha sinteticamente, reconstruindo o caminho percorrido por um texto na fase
da transmissão escrita”
138
. Em síntese, a tarefa da história redacional é determinar como o
editor (ou redator) de um texto utilizou suas fontes, o que omitiu e o que acrescentou. Embora
as limitações da história redacional sejam as mesmas da crítica literária, seu trabalho tem dado
bons frutos, especialmente no que diz respeito ao estudo dos Evangelhos.
Acrescenta Lopes:
Esse método centralizou suas atenções na figura dos escribas, arquivistas,
editores ou colecionadores que haviam combinado as fontes para formar o texto
escrito em sua forma final. Para os críticos das fontes e da forma, as fontes
originais e o processo histórico e social da formação do texto final eram de
inestimável valor para se recuperar a teologia das comunidades que produziram
esses textos. Da mesma forma, os motivos teológicos que levaram um editor a
colecionar determinados documentos, utilizar-se de várias fontes e colocá-las
juntas no mesmo trabalho, certamente revelaria também muita coisa sobre a
teologia do período em que ele elaborou a sua obra. E assim, dos meros
técnicos literários desajeitados, os editores passaram a ser vistos como
escritores, com suas próprias crenças, preocupações teológicas e habilidades
literárias. E tornou-se tarefa da crítica da redação descobrir a “teologia” destes
redatores, os princípios teológicos que controlaram sua redação das fontes e
das tradições, alcançando a forma final que hoje temos.
139
Mueller aponta como quinto passo metódico a história da forma. A ênfase é
colocada na compreensão metodicamente adequada da disposição e intenção do texto. “Para
tanto, ela apura a forma e a configuração lingüística específica de uma unidade textual,
determinando o seu gênero e perguntando por seu lugar vivencial. Ao fazê-lo, pressupõe que
existe uma correlação entre forma e conteúdo”
140
. Segundo Nicodemus, a crítica da forma:
Vai mais além que a crítica das fontes e ocupa-se com a pré-história das fontes
escritas que compuseram o texto. De acordo com a crítica da forma, boa parte
dos livros que compõem o Antigo e o Novo Testamento são, em sua forma final,
o resultado de um processo de coleção, edição e harmonização de tradições
antigas, fontes anteriores (escritas ou orais) por parte de editores e escribas.
Essas fontes adquiriram sua forma, como sagas, lendas, ditos dominicais,
parábolas, etc., no processo de reflexão, evangelização e apologia por parte da
igreja, e refletem a teologia da igreja (Gemeindetheologie). A crítica da forma,
portanto, preocupa-se com o estágio oral pelo qual o texto passou antes de
adquirir forma escrita. O alvo do intérprete é reconstruir o ambiente vivencial
137
Ibid., p. 258.
138
Cf. FEE; STUART, Op.cit., p. 258.
139
LOPES, Op.cit., p. 193.
140
FEE; STUART, Op.cit., p. 259.