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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
JOSÉ PEREIRA DE OLIVEIRA
COMPENCIAS DO ENGENHEIRO CIVIL
NECESSÁRIAS PARA ATUAR NA INDÚSTRIA DA
CONSTRUÇÃO: estudo focado no subsetor de edificações
JOÃO PESSOA - PB
2007
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JOSÉ PEREIRA DE OLIVEIRA
COMPENCIAS DO ENGENHEIRO CIVIL
NECESSÁRIAS PARA ATUAR NA INDÚSTRIA DA
CONSTRUÇÃO: estudo focado no subsetor de edificações
Dissertação submetida à apreciação da banca
examinadora do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção da Universidade
Federal da Paraíba, como parte dos requisitos
necessários, para obtenção do grau de Mestre
em Engenharia de Produção.
Área de concentração: Gestão da Produção
Subárea: Tecnologia, Trabalho e Organizações
Professora orientadora: Maria do Socorro Márcia Lopes Souto - DSc
JOÃO PESSOA - PB
2007
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JOSÉ PEREIRA DE OLIVEIRA
COMPENCIAS DO ENGENHEIRO CIVIL
NECESSÁRIAS PARA ATUAR NA INDÚSTRIA DA
CONSTRUÇÃO: estudo focado no subsetor de edificações
Dissertação submetida à apreciação da banca
examinadora do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção da Universidade
Federal da Paraíba, como parte dos requisitos
necessários, para obtenção do grau de Mestre
em Engenharia de Produção.
Área de concentração
: Gestão da Produção
JOÃO PESSOA - PB
2007
048e Oliveira, José Pereira de
Competências do Engenheiro Civil necessárias para atuar na Indústria
da Construção: estudo focado no subsetor de edificações. / José Pereira de
Oliveira – João Pessoa: UFPB, 2007.
213f.: il.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria do Socorro Márcia Lopes Souto
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade
Federal da Paraíba – Centro de Tecnologia.
1. Gestão do Conhecimento. 2. Competências do Engenheiro Civil.
3. Indústria da Construção Civil.
CDU: 658.5:69
JOSÉ PEREIRA DE OLIVEIRA
COMPENCIAS DO ENGENHEIRO CIVIL
NECESSÁRIAS PARA ATUAR NA INDÚSTRIA DA
CONSTRUÇÃO: estudo focado no subsetor de edificações
Dissertação julgada e aprovada em 24 de maio de 2007, como parte dos requisitos necessários
para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção no Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal da Paraíba.
Área de concentração: Gestão da Produção
Subárea: Tecnologia, Trabalho e Organizações
BANCA EXAMINADORA
Profa.
Maria do Socorro Márcia Lopes Souto – DSc.
Universidade Federal da Paraíba
Orientadora
Profa.
Sandra Leandro Pereira – DSc.
Universidade Federal da Paraíba
Examinadora Externa
Profa.
Ana Cristina Taigy - DSc.
Universidade Federal da Paraíba
Examinadora
Ao meu pai (in memorium) sr. Eliziário que,
com muita força e dedicação, sempre me deu
forças e me ensinou que nunca devemos
desistir.
À minha mãe dona Zilda pelo seu exemplo de
amor, carinho e religiosidade, sempre presente
ao meu lado.
Aos meus irmãos Beth e Edson pela ajuda e
apoio constantes nas minhas ausências.
À minha esposa Maurinha, às minhas filhas
Jéssica e Jeanine e ao meu filho João Pedro
pela paciência, renúncia e compreensão nas
horas mais difíceis.
AGRADECIMENTOS
Não poderia deixar de agradecer inicialmente ao meu Senhor Deus que sempre me
abençôo e me protegeu durante todos os momentos de minha vida.
À minha orientadora professora Maria do Socorro Márcia Lopes Souto, por sua
paciência e seus ensinamentos valiosos na orientação acadêmica e profissional desse
trabalho, sempre acreditando no meu potencial.
Às professoras Ana Cristina Taigy e Sandra Leandro Pereira pela participação
na Banca Examinadora e contribuições técnicas e científicas para a melhoria do
conteúdo dessa dissertação.
Aos profs. João Medeiros Tavares Júnior e Lydia Maria Pinto Brito, por suas
contribuições valiosas sempre que delas precisei.
A todos os colegas professores que fazem parte da Faculdade Evolutivo, o meu muito
obrigado.
Aos meus colegas de curso José Ramalho, Alexandre Diniz e Ernesto dos Santos que
sempre estiveram dispostos a contribuir com o engrandecimento de minha pesquisa.
À Organização Educacional Evolutivo, na pessoa de seus diretores, que sempre me
apoiaram para a realização desse trabalho.
Aos meus familiares minha mãe dona Maria Zilda Pereira de Oliveira e aos meus
irmãos Maria Elizabeth e José Edson pelo apoio, carinho e companheirismo que sempre me
dedicaram.
Aos meus filhos Jéssica Morais Pereira, Jeanine Morais Pereira e João Pedro Morais
Pereira, e a minha esposa Anemaura de Sousa Morais, pela dedicação, compreensão,
paciência, renúncia e carinho que sempre me deram nas horas mais difíceis durante todos
esses anos de muito trabalho, o meu muito obrigado.
“O futuro não é o que acontecerá; o futuro é o que está
acontecendo. Somente aqueles capazes de imaginar e
criar de forma preemptiva sobreviverão para desfrutar o
futuro. Nada é mais libertador do que ser autor de seu
próprio destino”.
Hamel & Prahalad
“O destino não é uma questão do acaso. É uma questão
de escolha: não é algo a ser esperado, é algo a ser
alcançado”.
Williams Jennings Bryan
OLIVEIRA, José Pereira de.
COMPETÊNCIAS DO ENGENHEIRO CIVIL
NECESSÁRIAS PARA ATUAR NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO: estudo focado
no subsetor de edificões
. 2007. 213f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia
de
Produção) - Programa
de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção,
UFPB, Jo Pessoa.
RESUMO
As mudanças tecnológicas ocorridas mundialmente e que hoje são encaradas naturalmente,
estão mudando valores, hábitos e sobrepondo culturas. Informação e conhecimento serão as
principais fontes de riqueza. É sob esta ótica que os engenheiros precisam enxergar os
desafios da nova economia na sociedade do conhecimento. Novas competências, que não
especificamente somente as técnicas, mas também, e principalmente, as gerenciais, sociais e
organizacionais, têm sido exigidas tanto pela sociedade como pelo mercado de trabalho e
precisam ser desenvolvidas pelos engenheiros, para que possam exercer suas atividades.
Assim como os demais segmentos da indústria, a construção civil, subsetor de edificações,
também tem exigido novas competências de seus engenheiros civis, que são o
desenvolvimento de novas habilidades, conhecimentos e atitudes. Este trabalho teve como
objetivo principal identificar as competências profissionais requeridas atualmente dos
engenheiros civis para atuar na indústria da construção civil. A pesquisa foi constituída de
uma pesquisa bibliográfica e de campo. Construiu-se um instrumento de coleta de dados
semi-estruturado, dividido em quatro unidades. A amostra da pesquisa foi constituída de 12
(doze) empresas de médio e grande porte, num total de 45 (quarenta e cinco) engenheiros
civis que trabalham na indústria da construção civil, subsetor de edificações, na cidade de
Fortaleza, Estado do Ceará. Como resultado da pesquisa, constatou-se que há uma carência
significativa das competências gerenciais. As competências técnicas são as mais
representativas nos engenheiros ingressantes, entretanto, para o desenvolvimento das
atividades diárias desses engenheiros observou-se que há uma predominância das
competências gerenciais. Constatou-se, também, expressiva ausência dos conhecimentos de
gestão de pessoal, administrativa e financeira, assim como também a necessidade de
desenvolvimento das habilidades gerenciais. Observou-se, ainda, total desconhecimento das
competências sociais e organizacionais, embora todos reconheçam sua importância.
Palavras-chave:
G
estão do Conhecimento, Competências do Engenheiro, Indústria da
Construção Civil.
OLIVEIRA, José Pereira de. NECESSARY COMPETENCES FOR A CIVIL ENGINEER
IN ORDER TO WORK AT A CONSTRUCTION INDUSTRY: this study is focused on the
sub-sector of edifications. 2007. 213p. Dissertation (Production Engineering Master Degree
Program) – Production Engineering Pos-Graduation Program, UFPB, João Pessoa.
ABSTRACT
The technological changes that have occurred worldwide and that have been faced naturally
so far, have caused changes in some values, habits and have been superimposing cultures as
well. Information and knowledge are the main sources of richness at the present time.
Considering all the mentioned changes, the engineers need to perceive the challenges of the
new economy knowledge. New competences, not only the technical ones, but also and mainly,
the management, the social and organizational ones, have been required by the modern
society, as well as, by the labor market. As a consequence, these competences have to be
developed by engineers in order to do their activities in a satisfactory way. Although
considering all the other segments of an industry, the civil engineering, including the sub-
sector of edifications, has required new competences from the civil engineers nowadays.
Because of this, civil engineers have to know how to get and develop new abilities, knowledge
and attitudes. This paper has as its main purpose to identify the major professional
competences of civil engineers who are supposed to work at the civil engineering industry.
This paper research was constituted by a bibliographic and “in loco” researches. For the
accomplishment of this research, it was made a semi-structured data collecting instrument
that it was divided into four units. The sample of this research was constituted by twelve
companies, including a number of forty-five civil engineers civil engineers who work at big or
medium-sized civil engineering companies, in the sub-sector of edifications, in the city of
Fortaleza-Ceará-Brazil. As a result, we concluded that there is a significant lack of the
management competences. The technical competences are the most representative showed by
the new engineers – the beginners. However, to the development of their daily activities, they
will mostly need a great knowledge and ability related to the management competences. We
also realized that there is a great lack concerning to the knowledge about the personal
management, financial and administrative ones, as well as, a necessity of the development of
the management abilities. Besides this, we still realized a complete lack of knowledge related
to the social and organizational competences; although all the interviewed engineers are
concerned about the importance of this knowledge.
Key-words: knowledge management, competences of an engineer, civil construction industry.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Competências como fonte de valor para o indivíduo e para a
organização 57
Figura 2: O conceito de competência individual 59
Figura 3: Construção das competências e da estratégia por meio da aprendizagem 61
Figura 4: Conceito de competência individual segundo Hipólito 67
Figura 5: Conceito de competência individual segundo Sveiby 71
Figura 6: Modelo de processo da filosofia gerencial tradicional 124
Figura 7: Modelo de processo da Construção Enxuta 125
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Estrutura do Macrosetor - 1998 98
Gráfico 2: Comparativo das fontes de emprego diretos no Brasil – 1998 a 2001 110
Gráfico 3: Demanda da Construção Civil – 1998 a 2001 111
Gráfico 4: Pessoal ocupado na cadeia da construção – 2001 111
Gráfico 5: Participação da ICC na formação bruta de capital nacional – 1996 a
2001 113
Gráfico 6: PIB da Indústria do Ceará – 1º. Trimestre/2006 117
Gráfico 7: Tempo de existência da empresa 138
Gráfico 8: Número de colaboradores 138
Gráfico 9: Número de colaboradores efetivos 139
Gráfico 10: Número de colaboradores terceirizados 139
Gráfico 11: Número de engenheiros 141
Gráfico 12: Número de engenheiros civis 141
Gráfico 13: Processo de comunicação 152
Gráfico 14: Autonomia 153
Gráfico 15: Delegação de poderes de negociação com intervenientes externos 154
Gráfico 16: Tipos de negociação 155
Gráfico 17: Processo de seleção para novos engenheiros 156
Gráfico 18: Processo de seleção interna para engenheiros 156
Gráfico 19: Programas para trainee/estagiários 158
Gráfico 20: Tipos de documentos 159
Gráfico 21: Adaptação ao ambiente organizacional 162
Gráfico 22: Investimento no crescimento profissional e pessoal do engenheiro 163
Gráfico 23: Investimento no funcionário 163
Gráfico 24: Incentivo a participação dos engenheiros em novos projetos 166
Gráfico 25: Grau de envolvimento dos engenheiros nos novos projetos 167
Gráfico 26: Ascensão profissional do engenheiro 167
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Comparação de suposições básicas nas economias industrial e do
conhecimento 34
Quadro 2: Características das empresas da sociedade do conhecimento 36
Quadro 3: Dois tipos de conhecimento 41
Quadro 4: Os princípios da organização baseada no conhecimento 43
Quadro 5: As vinte e uma competências de Boyatzis 47
Quadro 6: Mapa conceitual de competências 49
Quadro 7: Comparação entre Competency e Competence 52
Quadro 8: Tipos de recursos de competência 54
Quadro 9: Níveis de competências organizacionais 62
Quadro 10: Desdobramento de competências 62
Quadro 11: Competências identificadas por setores segundo a MRG 63
Quadro 12: Elenco de competências adotadas pela MRG 64
Quadro 13: Competências empresariais e organizacionais 64
Quadro 14: Categorias diversas de competências 70
Quadro 15: Competências do profissional 73
Quadro 16: Comparativo dos perfis dos engenheiros civis x Competências
requeridas pelas Diretrizes Curriculares 88
Quadro 17: Critério de classificação de Empresas 106
Quadro 18: Número de estabelecimentos e estoque de trabalhadores segundo os
grandes grupos da Construção Civil – 2000 a 2001 107
Quadro 19: Número de estabelecimentos e tamanho por empregados ativos na
Construção Civil – Total Brasil 2001 108
Quadro 20: Número de estabelecimentos e estoque de trabalhadores – Brasil –
1991 – 2000 e 2001 108
Quadro 21: PIB Trimestral – Ceará e Brasil – 1º. Trimestre/2006 117
Quadro 22: Empresas industriais ativas, por tipo – Ceará e Fortaleza – 2003/2004 118
Quadro 23: Estrutura do instrumento de pesquisa utilizado 131
Quadro 24: Esquema Geral de Pesquisa 135
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Pessoal ocupado no setor da construção civil em relação ao total das
pessoas ocupadas no Estado do Ceará no período de 1994 a 1999 114
Tabela 2: PIB Brasil e da Construção Civil – 1994 a 2002 115
Tabela 3: Evolução do PIB a preços básicos – Ceará e Brasil – 2004/2005 116
Tabela 4: PIB do 1º. Trimestre – Ceará e Brasil - 2005/2006 116
Tabela 5: Tempo de existência da empresa x Número de colaboradores 138
Tabela 6: Número de colaboradores efetivos x Número de colaboradores
terceirizados 140
Tabela 7: Número de engenheiros x Número de colaboradores 142
Tabela 8: Faixa etária 143
Tabela 9: Escolaridade 144
Tabela 10: Tempo de empresa 144
Tabela 11 Função na empresa x Tempo de empresa 145
Tabela 12 Tempo de empresa x Idade 145
Tabela 13 Função na empresa 146
Tabela 14 Função na empresa x Idade 147
Tabela 15 Relação das atividades desenvolvidas pela função 148
Tabela 16 A quem o engenheiro se reporta no nível hierárquico superior 150
Tabela 17 A quem o engenheiro se reporta no nível hierárquico inferior 151
Tabela 18 Meio utilizado para comunicação interna 152
Tabela 19 Atividades que o engenheiro tem poder de decisão 154
Tabela 20 Formas de processos de seleção para engenheiros 157
Tabela 21 Formas de processos de seleção para trainees/estagiários 158
Tabela 22 Dificuldades técnicas engenheiro ingressante x Função na empresa 160
Tabela 23 Dificuldades gerenciais engenheiro ingressante x Função na empresa 161
Tabela 24 Tipos de crescimento profissional e pessoal 164
Tabela 25 Mecanismos de transferência de conhecimento 164
Tabela 26 Políticas de reconhecimento e valorização 166
Tabela 27 Competências técnicas necessárias à função na sua empresa x Função
na empresa 169
Tabela 28 Competências gerenciais necessárias à função na sua empresa x
Função na empresa 172
Tabela 29 Competências sociais e/ou organizacionais necessárias à função na
sua empresa x Função na empresa 173
Tabela 30 Conhecimentos técnicos necessários à função na sua empresa x
Função na empresa 176
Tabela 31 Conhecimentos gerenciais necessários à função na sua empresa x
Função na empresa 179
Tabela 32 Competências fortes x Função na empresa 178
Tabela 33 Competências fracas x Função na empresa 180
Tabela 34 Competências predominantes x Função na empresa 181
Tabela 35 Competências engenheiro ingressante a serem desenvolvidas x
Função na empresa 182
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ART - Anotação de Responsabilidade Técnica
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CAD - Computer Aided Design
CBIC - Câmara Brasileira da Indústria da Construção
CEE - Comissão de Economia e Estatística
CES - Comissão de Ensino Superior
CNE - Conselho Nacional de Ensino
CREA - Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura
CTE - Centro de Tecnologia de Edificações
EPI - Equipamento de Proteção Individual
FESA - Consultoria em Recursos Humanos
FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
FIBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
FORGRAD - Fórum Nacional de Pró-Reitores de Graduação das Universidades
Brasileiras
GQT - Gestão da Qualidade Total
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICC - Indústria da Construção Civil
ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IES - Instituição de Ensino Superior
ILGC - International Group for Lean Construction
INOVACON - Programa de Inovação da Indústria da Construção Civil
IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Antigo IPLANCE)
IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados
IPLANCE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
ISO - International Standard Organization
ISS - Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza
JIT - Just in Time
MEC - Ministério da Educação e Cultura
MRG - Maria Rita Gramigna
MTE - Ministério do Trabalho e Emprego
NBR - Norma Regulamentadora Brasileira
PAIC - Pesquisa Anual da Indústria da Construção
PAR - Programa de Arrendamento Residencial
PBQP-H - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat
PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais
PIB - Produto Interno Bruto
RAIS - Relação Anual de Informações Sociais
RH - Recursos Humanos
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SEFAZ - Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará
SINDUSCON - Sindicato das Indústrias de Construção Civil
TQM - Total Quality Management
USP - Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação do tema 19
1.2 Definição do problema 23
1.3 Objetivos 27
1.3.1 Objetivo geral 27
1.3.2 Objetivos específicos 27
1.4 Justificativa 27
CAPÍTULO 2 – BASE TEÓRICA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO CENÁRIO
2.1 A Nova Economia do Conhecimento 30
2.1.1 Características da Economia do Conhecimento 31
2.1.2 A Economia e as Organizações na Sociedade do Conhecimento 34
2.1.3 Dados, Informação e Conhecimento 37
2.1.4 Gestão do Conhecimento 41
2.2 Competências 46
2.2.1 Origem e Evolução do Conceito de Competências 46
2.2.2 Abordagens Diferentes sobre Competências 50
2.2.3 Noções de Qualificação 54
2.2.4 Competências Organizacionais 58
2.2.5 Competências Profissionais ou Individuais 66
2.3 Competências do Engenheiro Civil 75
2.3.1 Perfil do Engenheiro Civil 78
2.3.2 O Engenheiro e o Mercado de Trabalho 87
2.3.3 A Formação do Engenheiro e as Diretrizes Curriculares 89
2.4 A Indústria da Construção Civil - ICC 96
2.4.1 A Força da Construção Civil 97
2.4.2 Características do Subsetor Edificações 100
2.4.3 Subempreiteiros e Fornecedores 102
2.4.4 Importância do setor para a economia nacional 105
2.4.5 Cultura e Estrutura Organizacional da ICC 118
2.4.6 Panorama atual da ICC 120
CAPÍTULO 3 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 Classificação da pesquisa 128
3.2 Universo e amostra 129
3.3 Coleta de dados 130
3.4 Tratamento dos dados 133
3.5 Dimensões e indicadores 134
3.6 Delimitações/Limitações da Pesquisa 136
CAPÍTULO 4 – APRESENTAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE DOS
RESULTADOS
4.1 Perfil das empresas pesquisadas 137
4.2 Perfil do engenheiro civil que atua nas médias e grandes empresas do subsetor
de edificação de Fortaleza/CE
143
4.2.1 Funções desenvolvidas pelos engenheiros civis 146
4.3 Aspectos da Estrutura Organizacional das empresas 150
4.4 Gestão de RH 155
4.5 Competências do Engenheiro Civil 168
4.5.1 Competências Técnicas 169
4.5.2 Competências Gerenciais 171
4.5.3 Competências Sociais/Organizacionais 173
4.5.4 Conhecimentos Técnicos 175
4.5.5 Conhecimentos Gerenciais 177
4.5.6 Competências do Engenheiro Civil ingressante no mercado 179
4.5.6.1Competências Fortes ao Término do Curso 179
4.5.6.2Competências Fracas ao Término do Curso 180
4.5.6.3Competências Predominantes para o exercício da função 181
4.5.6.4Competências a serem desenvolvidas engenheiro ingressante 182
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
5.1 Conclusões 184
5.2 Recomendações 188
5.2.1 Recomendações para as empresas 188
5.2.2 Recomendações para as IES 189
5.2.3 Recomendações para futuros trabalhos 190
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
191
APÊNDICE
APÊNDICE A – Fax e e-mail encaminhado aos diretores das empresas 204
APÊNDICE B – Carta ao entrevistado 205
APÊNDICE C – Instrumento de pesquisa aplicado aos diretores 206
APÊNDICE D - Instrumento de pesquisa aplicado aos engenheiros 210
19
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
Este capítulo apresenta a problemática de pesquisa a ser estudada, tendo sua
estruturação dividida em quatro tópicos: o primeiro faz uma contextualização do tema a ser
apresentado. O segundo tópico apresenta a problemática a ser tratada no estudo. No terceiro
tópico são apresentados os objetivos (geral e específicos). O quarto finaliza este capítulo com
a justificativa da pesquisa.
O trabalho foi desenvolvido de acordo com a seguinte estrutura:
O capítulo 1, introdutório, apresenta a contextualização do tema, a problemática
da pesquisa, os objetivos (geral e específicos) e justificativa da pesquisa.
O capítulo 2 enfoca a revisão bibliográfica, ou seja, o suporte teórico no qual essa
pesquisa foi fundamentada e está dividido em quatro tópicos: gestão do conhecimento,
competências organizacionais e profissionais, competências do engenheiro civil e indústria da
construção civil.
O capítulo 3 apresenta os procedimentos metodológicos que serão utilizados para
consecução dos objetivos da pesquisa.
O capítulo 4 apresenta a análise e interpretação dos dados levantados na pesquisa
de campo.
O capítulo 5 apresenta as conclusões e recomendações para as empresas, as IES e
para trabalhos futuros.
1.1 - Apresentação do tema
Vive-se hoje em um mundo notadamente influenciado pela ciência e tecnologia.
As sociedades modernas passaram a confiar na ciência e na tecnologia, de modo imperativo,
como se confia em um deus. A lógica do comportamento humano passou a ser a lógica da
eficiência tecnológica e suas razões passaram a ser as da ciência. (BAZZO, 1998).
As mudanças tecnológicas ocorridas mundialmente hoje encaradas naturalmente,
estão mudando valores, hábitos e sobrepondo culturas. As exigências da sociedade, impostas
por esses avanços tecnológicos são conseqüências de ações de uma rede, entrelaçada por
complexos conhecimentos científicos, tecnológicos e humanísticos.
20
A tecnologia não alterou a natureza humana, mas lançou definitivamente uma
nova forma para abordagem de temas como produtividade, eficiência, espírito de equipe e
crescimento de empresas e funcionários, temas presentes num ambiente de trabalho cada vez
mais competitivo e internacionalizado.
A rapidez com que a tecnologia toma conta de interesses e prioridade da
humanidade nos induz à busca de alternativas de compreensões das suas repercussões sociais.
Cada vez mais a sociedade compreende que apenas dominar e ampliar as técnicas representa
muito pouco, e que é preciso seguir além de uma visão utilitarista com relação aos produtos e
aos serviços ou mesmo ultrapassar as análises técnicas pretensamente neutras que hoje são
empreendidas.
Num passado muito recente exigia-se do engenheiro basicamente habilidades
técnicas e capacidade de desenvolver projetos específicos de cada área. Entretanto, com o
mercado globalizado, a estas habilidades devem-se adicionar outras qualificações que, às
vezes, não estão inseridas nos cursos de engenharia. Neste terceiro milênio há a necessidade
de acrescentarem-se mais conhecimentos de aspectos administrativos, comunicação oral e
escrita e relações humanas aos conhecimentos técnicos, de matemática e física, para abrir o
leque de informações de quem deseja seguir sua carreira com eficácia. (ROMPELMAN,
2001).
De acordo com Levy (1996), informação e conhecimento são doravante as
principais fontes de riqueza. Na economia da informação, o sucesso é determinado pelo saber
e não mais somente pelo que se possui.
Para as empresas, a competição pela competência no futuro pode ser visualizada
em três estágios: pela liderança intelectual, pela competição na definição dos caminhos e pela
participação no mercado. (HAMEL; PRAHALAD, 2000).
É sob esta ótica que os engenheiros precisam enxergar os desafios da nova era.
Exame (2000) publicou que há pessoas preparadas para se adaptar ao novo cenário, ou seja,
pessoas que absorvem rapidamente os novos conhecimentos e seguem sua caminhada
profissional nesse novo mundo. Estas pessoas, ao corrigirem a própria rota, irão passar,
provavelmente, pela tempestade com a sua empregabilidade intacta. Mas, há pessoas que não
têm a mesma capacidade de adaptação. Algumas não perceberam a nova direção do vento.
Outras não estão dispostas ou não estão conseguindo se reciclar.
Essa dura realidade é mais desafiadora para o engenheiro recém-formado, porque
DSHVDU GH SRVVXLU SRXFD H[SHULrQFLD SURILVVLRQDO R VHX WÕWXOR OKH FRQIHUH SUHUURJDWLYDV
supostamente dominadas, que muitas vezes precisam ser melhor desenvolvidas. Espera-se que
21
o futuro engenheiro seja capaz de confrontar-se com problemas típicos, bem como com
problemas originais de engenharia, empregando de forma eficiente os fundamentos
científicos, conhecimentos tecnológicos e os métodos da sua profissão. Ele deve, portanto,
mostrar competência na formulação de tais problemas, na escolha dos métodos para a sua
solução, na crítica dos resultados e na sua comunicação oral e escrita. (NASCIMENTO,
1993).
O engenheiro do novo século precisa estar bem mais preparado para enfrentar os
desafios, caso contrário seu novo emprego estará cada vez mais longe de ser conquistado, pois
seus conhecimentos específicos dificilmente se enquadrarão nas exigências do mercado. Seu
sucesso e crescimento profissional dependem, na maioria das vezes, da educação continuada.
Sua permanência na função e no trabalho dependerá muito desse crescimento.
Nos últimos anos aconteceram profundas transformações no mundo do trabalho,
principalmente no que tange à globalização de mercado e às novas formas de organização do
trabalho. O ponto central dessas mudanças, cujos reflexos no Brasil culminaram nos anos 90,
consistiu na chegada das novas tecnologias e diante das inúmeras mudanças que vêm
ocorrendo no contexto social e econômico, as organizações sentem a necessidade de se
adaptarem a essas novas exigências, exigindo das empresas uma capacidade de aprendizagem
organizacional cada vez maior.
A melhoria do desempenho das organizações, de qualquer ramo ou porte, passa
necessariamente pela melhoria na formação e desenvolvimento dos profissionais requeridos
pelas empresas, principalmente em função da alta competitividade e de inéditas mudanças de
comportamento das novas gerações de profissionais.
Capacitar os líderes e gestores para estes novos desafios, e com a necessária
urgência, implica em desenvolver suas competências de forma mais objetiva e suficiente.
As competências constituem uma importante força potencial capaz de melhorar o
desempenho e os resultados das equipes, da gerência e das organizações e esta descoberta não
acontece por acaso. A crescente demanda por aumento de competências num mundo cada vez
mais competitivo nos leva a aprofundar o conhecimento das possibilidades de
desenvolvimento e das especificidades de aplicação das muitas competências potenciais das
organizações e das pessoas.
As pessoas e as organizações possuem e sempre aplicaram competências em todas
as suas atividades, mas nem sempre de maneira objetiva e produtiva. Há, entretanto, nesses
tempos de alta competitividade empresarial, de muitas mudanças de paradigmas
organizacionais e de novos e grandes desafios profissionais, uma certa urgência para que as
22
empresas, as gerências e os profissionais aumentem suas competências e as coloquem em
prática.
No final do século passado, o “novo desemprego” não demonstrava ser apenas um
ciclo, fruto de uma característica passageira de períodos de desaceleração econômica para
controle inflacionário, como em experiências anteriores. Tornava-se indiscutível que o
desemprego tinha como base problemas de natureza estrutural existentes no País. Fábricas
obsoletas e mal administradas fechavam porque não resistiam às pressões externas,
independentemente da vontade dos sindicalistas, dos empresários e até mesmo do governo. A
tecnologia e a gestão passaram a ser condicionantes à sobrevivência das empresas.
A necessidade de mudanças tecnológicas impunha novas “regras” para a
manutenção dos empregos. Os sistemas flexíveis de produção passaram a demandar um perfil
completamente novo de estrutura produtiva e, consequentemente, de mão-de-obra. A primeira
característica desse perfil era a exigência de quantidade menor de trabalhadores no local de
trabalho. Paralelamente, a especialização de função – típica dos primeiros momentos da
introdução de novas tecnologias, começou a ser abandonada. Com a redução do número de
postos de trabalho, iniciou-se o processo de procura pelo trabalhador multifuncional, com
várias habilidades, que melhor adaptar-se-ia às novas plantas industriais automatizadas.
Diante dessa nova demanda, o perfil do engenheiro está mudando e aqueles que
pretendem criar e desenvolver projetos para a sociedade devem integrar seus conhecimentos
técnicos a outras áreas de atuação, apostando em um aperfeiçoamento multidisciplinar.
A integração da engenharia com outras áreas de conhecimento é uma mudança
fundamental na formação do engenheiro. Hoje, o mercado de trabalho exige profissionais
altamente qualificados. Isso implica em uma integração tanto das áreas de atuação, como de
conhecimentos específicos.
O novo engenheiro deve ser um profissional que atenda as necessidades de um
mercado globalizado ao mesmo tempo que trabalha aliado à sociedade para disseminar seu
conhecimento. O engenheiro faz engenharia para as pessoas, portanto, ele precisa saber se
comunicar com essas pessoas e transferir o seu conhecimento, a fim de que elas possam
utilizar melhor sua criação, seu projeto.
Além de aplicar os conhecimentos técnicos adquiridos ao longo de sua formação,
o engenheiro tem um compromisso com a sociedade, pois ele é responsável pela
transformação da tecnologia pura em produto que será utilizado pelas pessoas, sem esquecer a
responsabilidade social e ambiental que devem estar presentes em todos os momentos dessa
transformação tecnológica.
23
Diante da nova conjuntura, o engenheiro precisa desenvolver competências
individuais: conhecimentos, habilidades e atitudes, até então não assimiladas em suas
atividades. A competência do indivíduo, segundo Lê Boterf (1994), não é um estado de
formação educacional ou profissional, nem tampouco um conjunto de conhecimentos
adquiridos ou de capacidades aprendidas, mas a mobilização e aplicação de conhecimentos,
recursos e habilidades, em um contexto profissional determinado.
Partindo do contexto empresarial e da visão conceitual de competências, percebe-
se que atualmente, não basta que o profissional adquira conhecimentos da área técnica. Passa
a ser uma condição sine qua non que outras competências sejam desenvolvidas e adquiridas,
permitindo ao indivíduo a possibilidade de interpretar o que acontece no mundo, de se adaptar
às mudanças facilmente, demonstrando visão empreendedora. É necessário que outras
competências e habilidades sejam desenvolvidas e adquiridas, promovendo sua inserção em
um contexto de trabalho amplo e globalizado.
Dentre os diversos tipos de empresas que sentem a necessidade de criar
conhecimento e desenvolver suas competências organizacionais e profissionais destacam-se
as empresas de construção civil e inseridos nelas estão os engenheiros civis.
1.2 Definição do Problema
É pouco provável e não há evidência na literatura consultada de que, seguindo-se
uma receita de preceitos, uma empresa possa alcançar um melhor desempenho e melhores
resultados. Admite-se, como condição necessária, ter regras bem definida. Entretanto,
salienta-se a necessidade de outras condições, quando se trata de melhorar o desempenho e o
resultado de uma organização. Nesse sentido, a primeira questão que se levanta é se o sistema
de gestão existente nas empresas de construção civil é capaz ou não de fornecer o contexto
apropriado para o aprendizado organizacional.
Considerando que a realidade contemporânea impõe às empresas uma conduta
organizacional calcada no trabalho em rede, na criação e compartilhamento do conhecimento,
ou seja, aquilo que Senge (2001) chama de organizações que aprendem, então surge a
segunda questão: caso o sistema de gestão desenvolvido pelas empresas de construção civil
não forneça o contexto apropriado para o aprendizado, é possível, para as empresas que se
encontram alicerçadas neste tipo de sistema de gestão, evoluir para uma organização de
aprendizagem?
24
Nesse sentido, deve-se considerar também, tomando como apoio Nonaka e
Takeuchi (1997, p. 139), que [...] “a criação do conhecimento organizacional é um processo
interminável que exige criação contínua. Como o ambiente competitivo e as preferências do
cliente mudam constantemente, o conhecimento existente logo se torna obsoleto”.
Além disto, Senge (2001, p. 39), por sua vez, afirma que [...] “o que distinguirá
fundamentalmente as organizações que aprendem das ‘organizações controladoras’ e
autoritárias tradicionais será o domínio de determinadas disciplinas básicas”. Por isso as
“disciplinas da organização que aprende” são vitais.
Todavia, as respostas para estas questões não são fáceis de serem obtidas. Apesar
da Resolução do CNE – 48/76 ter sido avançada para a época, onde já contemplava às
questões de formação humana e social, no entanto, na prática, o que se tem visto é que as IES
através de suas estruturas curriculares presentes atualmente nos cursos de engenharia, ainda
não têm demonstrado a devida importância com as contextualizações sociais, a história, o
meio ambiente e, sobretudo, com as relações sociais presentes atualmente na formação de
profissionais especificamente engenheiros civis. Ainda há uma ênfase muito forte nos
conteúdos eminentemente técnicos.
A resolução do CNE/CES No. 11, que instituiu as Diretrizes Curriculares
Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia, definem claramente, em seu Art. 3º. , o
perfil do profissional de engenharia, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva,
capacitado a absorver e desenvolver novas tecnologias, estimulando a sua atuação crítica e
criativa na identificação e resolução de problemas, considerando seus aspectos políticos,
econômicos, sociais, ambientais e culturais, com visão ética e humanística, em atendimento às
demandas da sociedade. Portanto, a lei mais uma vez é clara, entretanto, vê-se atualmente que
apesar da implantação das Diretrizes Curriculares ter ocorrido há mais de quatro anos, os
currículos ainda encontram-se, na sua maioria, apresentando bastante ênfase na formação
técnica do engenheiro.
As mudanças ocorridas na organização do trabalho passaram a utilizar, em maior
escala, o componente intelectual do trabalhador, em detrimento do componente físico-manual.
Dessa forma, articula-se uma nova base técnica, com a lógica sistêmica de organização da
produção e formas participativas de atuação. O engenheiro, nesse contexto, ocupa posição
estratégica assumindo responsabilidades de gerenciamento de pessoas e processos que lhe
exigem conhecimentos econômicos e sociais somados àqueles de cunho puramente técnicos.
Os cursos universitários, outrora baseados numa lógica instrumental e tecnicista, vêm
discutindo a urgência de um novo modelo que possibilite uma formação do engenheiro mais
25
ampliada, envolvendo questões que incluam as dimensões humana, social, econômica e
política. Discute-se, ainda, a necessidade da educação continuada, entendendo-se a
qualificação profissional como um movimento dinâmico e em permanente evolução.
Trabalha-se em tempos inquietantes. Às vezes, o mercado de trabalho é forte, a
taxa de desemprego é baixa e as empresas estão competindo por talento. Em outras vezes,
uma economia desaquecida, fusões, consolidações e iniciativas de diminuição de custos
aumentam a ameaça de dispensas para os trabalhadores. Uma coisa é certa: a segurança no
emprego e a lealdade à empresa pertencem ao passado. Já não se pode mais ter controle sobre
a vida profissional, nem muito menos sobre o destino profissional. A única alternativa que
resta é tornar-se mais valioso para a empresa, através da melhoria das habilidades,
conhecimentos e atitudes. Em outras palavras, necessita-se urgentemente desenvolver novas
competências.
As mudanças no conteúdo do trabalho dos engenheiros e conseqüente amplitude
de suas atribuições são bastante enfatizadas:
Até recentemente, o engenheiro exercia atividades predominantemente técnicas,
sendo responsável pela realização de pareceres técnicos, cálculos de projetos,
desenho de peças e componentes, pela logística de processo. Atualmente com as
mudanças na organização da empresa que eliminaram muitos níveis hierárquicos
intermediários e com o aumento da terceirização e redução de trabalhadores,
inclusive engenheiros, suas atribuições foram ampliadas e tornaram-se mais
diversificadas, incluindo conhecimentos administrativos, de marketing, de técnicas
gerenciais participativas, de liderança e de estrutura de custos. (BRUNO, 2000,
p.143).
Essas mudanças têm como conseqüência necessidades qualificacionais
específicas. Conhecimentos na área de informática e de administração são cada vez mais
necessários, assim como o saber vinculado à gestão de custos, de tempo e de recursos
humanos. Somam-se a esses conhecimentos os aspectos comportamentais e atitudinais
especialmente a capacidade de comunicação, de adaptar-se a situações novas que envolvem
responsabilidades crescentes, capacidade de crítica e de autocrítica, de suportar trabalho sob
tensão, capacidade de negociação, de convencimento e de raciocínio analítico. Tais
habilidades tornam-se necessárias para integrar uma multiplicidade de aspectos decorrentes de
outras áreas de atuação, que não a meramente técnica.
Pode-se observar que embora a dimensão técnica já não seja a preponderante no
conjunto de elementos em que se define a qualificação dos engenheiros, ela continua sendo a
dimensão a partir da qual se inter-relacionam as demais: a econômica e a sócio-
administrativa. Na verdade, o desenvolvimento de suas funções atuais, principalmente no
canteiro de obras, exige que a dimensão técnica seja associada a componente gerencial e
26
comunicacional muito grande. Afinal de contas, muitas das vezes, ele precisa comandar a
obra sozinho, tendo que relacionar-se com empregados, clientes, fornecedores e órgãos
reguladores.
Finalmente, a trajetória de construção da qualificação profissional do engenheiro
passa pela formação acadêmica, pela ação no trabalho e se consolida pelos programas de
educação continuada. A requalificação se faz pelos novos processos da organização e gestão
do trabalho, que trazem nos seus parâmetros conceptivos e operacionais exigências de
competências que privilegiam, além do domínio técnico, habilidades e conhecimentos da
administração da produção, habilidades comportamentais do trabalho cooperado e da
interação originada pela descentralização produtiva presentes nos atuais modelos de gestão.
Dentro deste contexto, o estudo e a análise da dicotomia entre a formação e o
exercício profissional dos engenheiros civis, passam a ser motivo de interesse para as
empresas e as instituições de ensino superior (IES).
Esta realidade é um desafio para as IES e as empresas. Uma, no sentido de
aprimorar o projeto pedagógico sob a perspectiva do mercado de trabalho, com o intuito de
melhor contribuir nas mudanças no campo social, econômico, cultural e tecnológico; a
outra, no sentido de encontrar o profissional certo, diante da nova conjuntura de mercado
globalizado. Inúmeras são as vantagens para as empresas que investem na formação de
competências de seus engenheiros: profissionais com visão de mercado dispostos a enfrentar
desafios e descobrirem novos nichos de negócios com conhecimentos, habilidades e
qualificações profissionais.
Baseado no exposto acima o problema da dissertação a ser apresentada é: Quais as
competências necessárias ao engenheiro civil, para atuar na indústria da construção, subsetor
de edificações?
27
1.3 – Objetivos
1.3.1 - Objetivo geral
Estudar as competências do Engenheiro Civil necessárias para atuar na
indústria da construção, focalizando o subsetor de edificações.
1.3.2 - Objetivos específicos
Para atingir o objetivo geral do presente trabalho, foram traçados os seguintes
objetivos específicos:
identificar as áreas de atuação, atividades e funções desenvolvidas pelos
engenheiros civis;
levantar, junto às empresas de construção civil locais, subsetor de edificações,
as necessidades de competência do engenheiro civil frente ao seu novo papel
profissional no mercado;
descrever os conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para o
exercício profissional do engenheiro civil.
1.4 – Justificativa
Os grandes desafios enfrentados pelas sociedades, e em particular, pelas empresas
decorrem das transformações sociais causadas pela velocidade com que têm sido gerados
novos conhecimentos, concretizados através da introdução, no mercado, de novos produtos.
Esses novos produtos, frutos do avanço científico e tecnológico, modificam as complexas
relações sociais, tornando-as, ao mesmo tempo, mais intensas e mais efêmeras. (SILVA,
1999).
Segundo Moraes (1999), hoje, a competição ultrapassa fronteiras nacionais e
deixa a economia do país muito vulnerável às mudanças econômicas internacionais. O
conhecimento científico vem sendo gerado muito rapidamente e crescendo de maneira
extraordinária. Ao mesmo tempo, crescem e se diversificam os meios de distribuição dessas
informações.
28
Longo e Telles (1998) afirmam que as mudanças têm afetado profundamente o
homem, o meio ambiente e as instituições sociais sem precedentes na história da humanidade.
Particularmente as instituições têm sofrido enormes impactos provocados pelo freqüente
emprego de novas tecnologias que, via de regra, alteram hábitos, valores e tradições que
pareciam imutáveis. A engenharia industrial, particularmente, sofreu e continua sofrendo
profundas alterações, tanto na sua concepção e na sua operação, quanto no seu relacionamento
com os serviços correlatos.
As grandes mudanças industriais e econômicas aumentaram os requisitos para a
competitividade das empresas num mundo globalizado, onde a concorrência está cada vez
mais acirrada. Paralelamente, os profissionais dessas organizações também precisam se
adequar ao novo cenário, onde as competências exigidas tornam-se cada vez mais elevadas.
Várias pesquisas colocam que o engenheiro, além do seu lado técnico, precisa ter noção e
conhecimentos em diversas áreas como finanças, economia, marketing, psicologia do trabalho
e muitas outras, que antes não eram tão consideradas. Mas, isto também já não é o suficiente
para garantir que esse profissional esteja preparado para enfrentar o mercado de trabalho. Ele
precisa desenvolver características e habilidades para trabalhar em grupo, liderar pessoas,
trabalhar com diversos tipos de conflitos e pressões.
Nesta nova realidade, tornam-se cada vez mais elevadas as competências e
habilidades exigidas para os postos de trabalho em qualquer setor de produção, fato que
coloca uma grande pressão sobre as necessidades educacionais da população.
Assim, as empresas vão moldando o perfil do engenheiro (e dos outros
profissionais) ao mesmo tempo em que as mudanças vão alterando o seu comportamento e
desenvolvimento.
Devido à globalização e o avanço da tecnologia, entre outros fatores, a economia
deixou de ter uma dimensão territorial para ganhar uma dimensão global. Agora, empresas
localizadas em diferentes países podem estar competindo pelos mesmos clientes, disputando
os mesmos mercados e vislumbrando as mesmas oportunidades.
Neste contexto social e econômico, as atividades cognitivas passaram a ser mais
importantes que as atividades físicas e o conhecimento passou a ser um dos principais fatores
de produção, competitividade e lucratividade das organizações. Diante deste cenário, as
organizações se depararam com uma nova necessidade: elas precisam saber aprender.
A identificação das competências possibilitará o melhor norteamento nas tomadas
de decisões, no aprendizado coletivo das organizações e, sobretudo, em coordenar as
inúmeras habilidades de produção e integrar as múltiplas correntes tecnológicas.
29
Este trabalho poderá também contribuir para a arquitetura estratégica e a formação
de novas competências visando assegurar, ainda mais, o futuro das organizações. Além disso,
os resultados obtidos permitirão à área de gestão de pessoas um melhor desempenho de seu
papel em descobrir, aprimorar e ampliar o capital humano, permitindo uma melhor gestão nas
ações de recrutamento, seleção, treinamento, desenvolvimento e deslocamento da mão-de-
obra para outras funções e adaptação às novas tecnologias de produção.
Ainda dentro do contexto organizacional este trabalho apresenta a importância do
engenheiro civil como gestor de obras, responsável pelo sucesso ou insucesso de um
empreendimento. Esse engenheiro também é responsável pela:
liderança de toda equipe envolvida no canteiro de obra;
produtividade do empreendimento;
negociações com clientes, sub-empreiteiros e fornecedores;
gestão dos contratos;
aumento ou diminuição dos lucros do empreendimento, através da redução de
desperdícios e aumento da produtividade.
Todas as funções acima relacionadas só serão desenvolvidas com êxito, se esse
profissional tiver as competências técnicas, gerenciais, sociais e organizacionais identificadas,
desenvolvidas e aprimoradas.
No âmbito acadêmico, a presente investigação apresenta uma ampla
fundamentação teórica sobre as competências organizacionais e individuais, gestão do
conhecimento, formação e perfil profissional do engenheiro civil, diante da nova economia
mundial e da competitividade no mercado da construção civil. Este trabalho pode ser utilizado
pelas instituições de ensino superior como mais um dos meios para estimular e desenvolver
novas linhas de pesquisas, ou seja, novos estudos de casos direcionados ao mesmo tema, que
poderão validar, refutar ou aprimorar as propostas desta pesquisa.
Em síntese, pode-se dizer que o estudo das competências permite direcionar o
foco e, concentrar energias no desenvolvimento de atividades que gerem vantagem
competitiva, agregue valor e aumente a capacidade de expansão das empresas. Considerando
que o subsetor de edificações da indústria da construção poderá oferecer bens e serviços com
maior qualidade e padrões de excelência mundial, as competências identificadas no presente
estudo são de importância fundamental para esta finalidade.
30
CAPÍTULO 2 – BASE TEÓRICA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO
CENÁRIO
Este capítulo está constituído da fundamentação teórica utilizada para realização
da pesquisa e compõe-se de quatro partes: gestão do conhecimento, competências
organizacionais e profissionais, competências do engenheiro civil e indústria da construção
civil.
2.1 A Nova Economia do Conhecimento
Durante toda a existência da humanidade, até então, ainda não se tinha vivenciado
um período de mudanças tão grande e tão rápido. Após a década de 60, as mudanças ocorridas
nos campos tecnológicos, econômicos e sociais possibilitaram o ressurgimento de países até
então adormecidos. Durante esse tempo empresas desapareceram, fusões aconteceram e
outras surgiram com uma força competitiva até então não vivenciada.
Os países do terceiro mundo ainda estão passando pelo processo de
industrialização, enquanto que as economias mais desenvolvidas como o Japão, América do
Norte e Europa Ocidental passam por um processo de transformação de economias indústrias
para economias pós-industriais baseadas em conhecimentos. Esta nova economia trás a
informação e o conhecimento como substitutos do capital físico e financeiro, tornando-se
assim uma das maiores vantagens competitivas nos negócios, sendo que a riqueza da nova
sociedade é constituída pela inteligência criadora.
As dramáticas mudanças econômicas, sociais e políticas que vêm ocorrendo no
mundo são explicadas por Crawford (1994, p.16) através do modelo de desenvolvimento de
como as economias e as sociedades evoluem. O modelo é o seguinte: “novos conhecimentos
levam a novas tecnologias, as quais, por sua vez, levam a mudanças econômicas; que,
conseqüentemente, geram mudanças sociais e políticas, as quais, em última instância, criam
um novo paradigma ou visão de mundo”.
Para Crawford (1994, p. 17), as mudanças que vêm ocorrendo são tensas e
turbulentas para muitas pessoas, mas transformar o mundo numa economia baseada em
conhecimentos é, provavelmente, o passo com maior probabilidade de sucesso já dado na
31
história do desenvolvimento econômico do mundo. Para a maior parte da população mundial,
este desenvolvimento irá melhorar sensivelmente a condição de vida, libertando-as do
excessivo trabalho, esforço físico de sobrevivência, permitindo que desenvolvam seu
potencial humano de maneira plena.
Essas grandes mudanças fazem com que as empresas pensem em como chegar ao
futuro em primeiro lugar. Segundo Hamel e Prahalad (1995), para chegar ao futuro em
primeiro lugar é necessário enfrentar grandes e novos desafios: o primeiro desafio com os
quais as empresas irão se defrontar “surge à medida que instituições públicas e privadas lutam
para traçar um caminho em um ambiente cada vez mais inconstante, onde a experiência perde
rapidamente seu valor e referências familiares já não servem mais como exemplo”.
O segundo desafio apresentado pelos autores é “como as forças opostas da
entropia organizacional destroem a vitalidade institucional. Nunca antes estratégias sólidas
atrofiaram-se com tanta rapidez. Nunca antes a tradição foi tão perigosa e a gestão teve tão
pouco valor”.
O último e terceiro desafio apresentado por Hamel e Prahalad é “como deter a
maré de estranhamento individual que ameaça devastar aqueles que suportaram a dor do
downsizing, da eliminação de níveis, do desinvestimento e da redefinição do foco
organizacional”.
2.1.1 Características da economia do conhecimento
Segundo Crawford (1994, p. 29) conforme a economia passa de industrial para
economia do conhecimento, ela experimenta uma série de mudanças, incluindo:
a automação do trabalho – atividades intensivas de manufatura, bem como um
incremento da automação de uma vasta gama de atividades de serviços;
um crescimento generalizado na indústria de serviços, particularmente na
saúde, educação, produção de software e entretenimento;
a redução de tamanho das grandes empresas tanto de manufatura quanto de
serviços, devido ao maior estímulo ao espírito empreendedor;
uma mudança na força de trabalho, com um crescimento acentuado da
participação das mulheres (que são ao mesmo tempo o segmento de
32
crescimento mais rápido da força de trabalho e também o que progride mais
aceleradamente em termos de status econômico);
transformações demográficas substanciais causadas pela queda na taxa de
nascimento e uma população mais velha;
substituição do centro geográfico da economia, antes centrada em matérias-
primas e bens de capital para se concentrar em informações e conhecimentos,
particularmente pesquisa e educação.
Ainda para Crawford (1994, p.29) um dos aspectos mais dramáticos à
transformação da economia industrial para a economia do conhecimento é a velocidade com
que as mudanças ocorrem. Alguns pontos-chaves diferenciam a economia do conhecimento
de suas predecessoras, incluindo os seguintes:
o conhecimento científico básico e a pesquisa tornaram-se a força propulsora
da economia, gerando nova tecnologia, promovendo oportunidades para
inovações e criando novas indústrias;
a educação tem um papel fundamental quando os serviços de informações são
o maior segmento da economia;
a participação das mulheres na força de trabalho aumenta sensivelmente e estas
buscam igualdade de salário com os homens;
as ideologias políticas decaem e as forças econômicas e políticas se dispersam;
novas formas de administração de organizações são desenvolvidas, utilizando-
se tecnologia intensiva e enfatizando os recursos humanos.
Sem dúvida, a característica mais marcante da economia do conhecimento é o
aparecimento do capital humano, ou seja, pessoas educadas e habilitadas, preparadas para
assumir um novo papel como força dominante da nova economia. O principal investimento de
uma sociedade na economia do conhecimento deve ser o de melhorar as habilidades e talento
de sua população. Como exemplo de um povo preocupado com essa nova economia, tem-se o
Japão cuja economia foi construída baseada no capital humano. Em menos de cinqüenta anos,
após a Segunda Grande Guerra Mundial, a população japonesa tornou-se a mais alfabetizada
do mundo. E com certeza esse é o grande diferencial atual do Japão.
No final do século XX e início do século XXI, as grandes transformações
mundiais fizeram com que muitos dos valores sociais, até então intocáveis, fossem repensados
e muitos sofreram uma alteração abrupta. A maioria das mudanças no âmbito econômico
como: a fusão de empresas, a transformação de grandes empresas em pequenas, o surgimento
33
dos tigres asiáticos, os escritórios virtuais, as transformações das economias regionais e o
avanço tecnológico todos, de uma forma ou de outra, interferiram no padrão social até então
vivido.
Diante de todas essas transformações na nova economia, segundo Crawford
(1994, p. 125-126) o profissional do conhecimento deseja:
trabalhar com pessoas que as tratem com respeito;
fazer um trabalho interessante;
serem reconhecidas por um bom trabalho;
ter uma chance de desenvolver suas habilidades;
trabalhar para pessoas que ouçam idéias de como fazer as coisas de uma forma
melhor;
ter uma chance de pensar por elas mesmas;
ter uma oportunidade de ver os resultados de seu trabalho;
trabalhar para um gerente eficiente;
trabalhar num emprego que apresente desafios;
sentirem-se bem informados sobre o que está ocorrendo.
É claro que além de todas essas expectativas o profissional do conhecimento
espera muito mais que simplesmente o seu salário no final do mês. Eles desejam expressar
suas idéias e valores, ser diferentes na sociedade e combinar, de forma harmoniosa, o trabalho
com outras prioridades, como família, educação, saúde, lazer e espiritualidade. Crawford
apresenta no Quadro 1 uma comparação das suposições básicas das economias industrial e do
conhecimento.
34
Sociedade Industrial Sociedade do Conhecimento
A maioria das pessoas deseja sucesso econômico
para atender as necessidades materiais; assim, o
modo de motivá-las é através de recompensas
econômicas.
A partir do momento em que as necessidades de
subsistência foram satisfeitas, as recompensas
unicamente econômicas não são suficientes para
motivar a maioria das pessoas.
O trabalho, para a maioria das pessoas deve ser
rotineiro e padronizado.
O trabalho, para a maioria das pessoas, deve ser
variado, não repetitivo e responsável, desafiando a
capacidade individual de discernimento, avaliação
e julgamento.
Quanto maior a empresa, melhor, mais forte e
mais lucrativa será.
Há limites superiores para as economias de escala,
tanto para corporações quanto para organizações
governamentais.
Mão-de-obra, matérias-primas e capital são os
elementos básicos da produção.
Informação e conhecimento são os elementos
básicos da produção.
A produção de bens e serviços padronizados é
mais eficiente que uma produção artesanal, na
qual cada unidade produzida difere da próxima.
A produção de bens e serviços orientados para o
cliente, através de um novo sistema artesanal ou a
produção artesanal baseada na informação e na
tecnologia avançada é mais eficaz do que a
produção em massa.
A organização mais eficiente é a burocracia, na
qual cada suborganização tem um papel
permanente, claro e definido na hierarquia. Uma
burocracia é uma máquina organizacional para a
produção de decisões padronizadas.
A melhor maneira de organização não é a
burocracia, mas adhocracia. Numa organização
ad
hoc
, cada componente organizacional é modular e
disponível, cada unidade interage com muitas
outras lateralmente e as decisões são adequadas a
cada cliente e não padronizadas.
Os avanços tecnológicos ajudam a padronizar a
produção e levam ao progresso
Os avanços tecnológicos não necessariamente
trazem o progresso e podem, se não forem
controlados cuidadosamente, destruir o progresso
já alcançado.
Quadro 1 – Comparação de suposições básicas nas economias industrial e do conhecimento
Fonte: Crawford (1994, p. 126)
2.1.2 A Economia e as Organizações na Sociedade do Conhecimento
Nas últimas décadas, a sociedade passou por profundas transformações devido,
principalmente, ao acúmulo de conhecimento que possibilitou a evolução da tecnologia da
comunicação facilitando sobremaneira a transmissão de dados e, conseqüentemente, de
informações e conhecimento.
Um dos autores que comenta essas transformações afirma o seguinte:
[...] as mudanças que nos cercam não são meras tendências, mas fruto de forças
poderosas e incontroláveis: a globalização, que abriu enormes novos mercados mas
também, como corolário necessário, gerou uma gigantesca quantidade de
concorrentes; a disseminação da tecnologia da informação e o crescimento das
redes de computadores [...]. Em torno de tudo isso surge a economia da nova Era da
Informação, cujas fontes fundamentais de riqueza são o conhecimento e a
comunicação, e não os recursos naturais ou o trabalho físico. (STEWART, 1998, p.
6).
Além disto, Drucker (2001, p. 93) também comenta que:
35
[...] nos últimos quarenta anos, a economia mundial tem crescido mais depressa do
que em qualquer época desde a ‘Revolução Comercial’ do século XVIII [...]. Vinte
anos atrás ninguém falava da ‘economia mundial’. O termo então era ‘comércio
internacional’. A mudança do termo – e todos hoje falam da economia mundial –
indica uma profunda mudança na realidade econômica.
Comentando sobre a dimensão global da economia, Drucker (2001, p. 93) afirma
que há:
[...] vinte ou trinta anos atrás, a economia além das fronteiras de uma nação – em
especial de tamanho médio ou grande – ainda podia ser vista como sendo diferente,
separada, como algo que podia ser ignorado com segurança no trato da economia e
da política econômica domésticas. Hoje isso é pura ilusão, mas ainda é a posição
básica de muitos economistas, políticos e do público em geral [...].
O desenvolvimento das tecnologias de comunicação possibilitou um grande
aumento do fluxo de informações, que provocaram um grande impacto econômico. Conforme
Drucker (2001, p. 95),
[...] poucas coisas estimulam tanto o crescimento econômico como o
desenvolvimento rápido da informação, seja em telecomunicações, dados de
computador, redes de computadores ou no acesso (embora distorcido) ao mundo
exterior proporcionado pelos veículos de entretenimento.
Um fato importante a ser observado, é o de que alguns autores, ao se referirem ao
atual contexto econômico, utilizam-se do termo “economia do conhecimento”. Isto deve-se,
sem dúvida, ao fato de que no atual contexto econômico o conhecimento passou a ser o
principal fator econômico.
Nesse sentido, Cavalcanti et al (2001, p. 27), definem o termo economia do
conhecimento (knowledge-based economy) como sendo:
[...] uma economia na qual a criação
e o uso do conhecimento é o aspecto central das decisões e do crescimento econômico. O
valor de produtos e serviços depende cada vez mais do percentual de inovação, tecnologia e
inteligência a eles incorporados.
Para melhor caracterizar a economia na sociedade do conhecimento, estes autores
escolheram três leis básicas da economia capitalista, predominantes na sociedade industrial,
fazendo uma análise comparativa entre ambas, para evidenciar as mudanças que ocorreram.
Estas três leis referem-se à utilização da matéria-prima, às relações de mercado e ao custo do
valor do produto.
Com base no que foi exposto até aqui, é possível afirmar que a nova economia do
conhecimento exige, das organizações, o desenvolvimento de novas características para
poderem sobreviver no novo contexto econômico.
Nesse sentido, estes autores apresentam uma demonstração comparativa entre as
empresas da sociedade industrial e as empresas da sociedade do conhecimento, tomando por
base cinco atributos. Esta demonstração está reproduzida no Quadro 2.
36
ATRIBUTOS
SOCIEDADE
INDUSTRIAL
SOCIEDADE DO
CONHECIMENTO
COMENTÁRIOS
Modelo de
Produção
Escala
Flexível
Os produtos e serviços passam a ser
customizados, ou seja, no lugar do
consumidor se adaptar ao produto, é o
produto que deve se adaptar ao
consumidor.
Pessoal Especializados
Polivalentes e
empreendedores
O trabalhador deixa de ser especialista em
uma única área e passa a ser proativo, ou
seja, em vez de ficar esperando uma
resposta, deve buscar uma solução, mesmo
que esteja fora de sua especialidade ou que
esta atribuição seja, formalmente, de outra
pessoa.
Tempo
Grandes tempos
de resposta
Tempo real
O tempo passa a ser uma das
commodities
(mercadorias) mais valiosas. Com isto, está
se constituindo uma certa intolerância com
o que é considerado desperdício de tempo.
Isto reflete-se também no tempo de vida
dos produtos, que passa a ser bem menor,
devido às exigências dos consumidores e às
inovações tecnológicas.
Espaço
Limitado e
definido
Ilimitado e indefinido
O comércio passa a ser,
predominantemente, eletrônico: o
ecommerce
. Ou seja, as empresas deixam
de ter um endereço fixo para terem um
endereço virtual, sem uma sede fixa ou
endereço real. Assim, as empresas
enfrentarão concorrentes que podem estar
localizados em qualquer lugar do planeta.
Grande volume e mercado de massa.
Massa dos
Produtos
Tangível Intangível
Os produtos intangíveis, ou seja, aqueles
que não podem ser vistos ou tocados,
passam a ser mais valorizados do que os
tangíveis, que podem ser vistos e tocados.
Quadro 2 – Características das empresas da sociedade do conhecimento
Fonte: Cavalcanti ( 2001, p. 31)
É de se esperar que, assim como o novo contexto econômico exige uma nova
postura organizacional, isto também se estenda aos funcionários destas novas organizações.
Sveiby (1998, p. 23) afirma que:
[...] a maioria dos funcionários das empresas do conhecimento são profissionais
altamente qualificados e com alto nível de escolaridade – isto é, são trabalhadores do
conhecimento. Seu trabalho consiste, em grande parte, em converter informação em
conhecimento [...].
Assim, atualmente a vantagem competitiva e o sucesso das empresas residem na
capacidade que as mesmas têm de lidar com dados, informações e conhecimentos,
convertendo-os em conhecimento e competência organizacional.
37
Diante disto, saber o que é dado, informação e conhecimento passa a ser
indispensável para que se possa entender um processo muito maior, que ocorre no interior das
empresas, que é a criação do conhecimento organizacional.
2.1.3 Dados, Informação e Conhecimento
Nas palavras de Sveiby (1998, p. 31),
[...] todos concordam que estamos abandonando a maneira industrial de ver o
mundo, mas ninguém pode afirmar com certeza o que está por vir. O novo ‘sei lá o
que’ parece ser intangível e caótico, individual e global, pequeno e grande, mecânico
e humano, tudo ao mesmo tempo.
A leitura ou observação da história recente da humanidade permite constatar que a
mesma experimentou um grande aumento do fluxo de dados, informações e conhecimento,
nas últimas décadas. Este aumento deve-se, principalmente, à sofisticação dos meios de
comunicação e de transmissão de dados, como rádio, televisão, telefone, internet e satélites.
Sendo assim, entender o que é dado, informação e conhecimento torna-se
indispensável para que se possa ter uma melhor noção sobre as transformações pelas quais a
humanidade está passando.
Segundo Setzer (1999, p. 2), dado pode ser definido:
[...] como uma seqüência de símbolos quantificados ou quantificáveis. [...] Isto
significa que os dados podem ser totalmente descritos através de representações
formais, estruturais [...] Como são símbolos quantificáveis, dados podem
obviamente ser armazenados em um computador e processados por ele.
No mesmo sentido, Drucker (2001, p. 67) afirma que “[...] uma ‘base de dados’,
por maior que seja, não é informação. Ela é minério de informação. Para que a matéria-prima
se transforme em informação, ela precisa ser organizada para uma tarefa, dirigida para
desempenho específico, aplicada a uma decisão”. Ou seja, o dado é descrito formalmente e
não possui significado podendo, inclusive, ser armazenado em computador. Já a informação, é
descrita informalmente e possui significado.
Segundo Davenport e Prusak (1998, p. 2), dados são um conjunto de fatos
distintos e objetivos, relativos a eventos. Num contexto organizacional, dados são
utilitariamente descritos como registros estruturados de transações. Isto quer dizer que os
dados são meros registros de um evento. Eles por si só não revelam muita importância ou
propósito.
38
Muitas empresas dependem fortemente dos dados que são armazenados em seus
sistemas de processamento de dados. Até mesmo porque para essas empresas segundo
Davenport e Prusak (1998, p. 3), os dados são importantes, em grande medida, certamente,
porque são matéria-prima essencial para a criação da informação. Esses autores identifiquem
dois falsos aspectos da importância dos dados para as organizações.
Primeiro, dados demais podem dificultar a identificação e a extração de significado
de dados que realmente importam. Segundo, e mais fundamental, dados não têm
significado inerente. Dados descrevem apenas parte daquilo que aconteceu; não
fornecem julgamento nem interpretação e nem qualquer base sustentável para a
tomada de ação. Embora a matéria-prima do processo decisório possa incluir dados,
eles não podem dizer o que fazer. (DAVENPORT E PRUSAK, 1998, p. 3).
Sveiby (1998, p. 48-49) afirma que:
[...] toda interpretação de informações está baseada na experiência, no contexto e nas
situações e contém nuances das emoções. Assim, cada interpretação é única para
cada indivíduo. A informação é um método não confiável e ineficiente transferência
de conhecimento de pessoa para pessoa porque os receptores – não os transmissores
– imprimem à informação o seu significado. O significado que uma pessoa expressa
nunca é o mesmo que aquele gerado na mente da pessoa que o recebe.
Segundo Nonaka e Takeuchi, (1997, p. 63-64) “a informação é um meio ou
material necessário para extrair e construir o conhecimento”.
Também no mesmo sentido, Nonaka e Takeuchi, (1997, p. 63-64) afirmam que:
“[...] a informação proporciona um novo ponto de vista para a interpretação de eventos ou
objetos, o que torna visíveis significados antes invisíveis ou lança luz sobre conexões
inesperadas. [...] informação é um fluxo de mensagens [...]”.
Novamente, isto pode ser confirmado em Sveiby (1998, p. 51), o qual afirma que:
“[...] a informação é desprovida de significado e vale pouco. [...] o valor não está na
informação armazenada, mas na criação de conhecimento de que ela pode fazer parte”.
Seguindo no mesmo sentido, Crawford (1994, p. 21) define a informação como:
“[...] matéria-prima para o conhecimento”.
Para Stewart (1998, p. 37): “a informação provavelmente é a matéria-prima mais
importante de que precisamos para realizar nosso trabalho. Isso costumava ser verdadeiro para
um número reduzido de pessoas; hoje, aplica-se à maioria delas”.
Segundo Davenport e Prusak (1998, p. 4):
a informação tem por finalidade mudar o modo como o destinatário vê algo, exercer
algum impacto sobre seu julgamento e comportamento. Ela deve informar; são os
dados que fazem a diferença. O significado original da palavra “informar” é “dar
forma a”, sendo que a informação visa a modelar a pessoa que a recebe no sentido
de fazer alguma diferença em sua perspectiva ou insight.
Ainda para Davenport e Prusak (1998, p. 5) “os dados tornam-se informação
quando o seu criador lhes acrescenta significado”. A transformação de dados em informações
39
é possível a partir do momento que algum valor seja agregado ao conteúdo. Esse valor pode
ser agregado através da contextualização, categorização, cálculo, correção e/ou condensação.
Tomando como base os conceitos destes autores, é possível afirmar que uma
informação é constituída por um fluxo de dados, os quais devem conter semântica ou
significado em potencial e devem representar algo significativo para a pessoa que os receber.
Ou seja, a informação por si só (enquanto um conjunto de dados) não tem significado, pois é a
pessoa que a recebe que lhe dará significação. Só nesse momento é que um fluxo de dados se
torna informação e matéria-prima para a criação do conhecimento.
Para Davenport e Prusak (1998, p. 6) conhecimento é:
uma mistura fluída de experiência condensada, valores, informação contextual e
insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação e
incorporação de novas experiências e informações. Ele tem origem e é aplicado na
mente dos conhecedores. Nas organizações, ele costuma estar embutido não só em
documentos ou repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas
organizacionais.
Na realidade o que se vê, atualmente, é que a palavra conhecimento é
freqüentemente associada a vários significados e sua utilização muitas vezes pode causar
dúvidas no leitor ou no interlocutor, conforme o meio de expressão utilizado.
Nesse sentido, Sveiby (1998, p. 35) afirma que:
[...] em português, a palavra conhecimento parece ter vários significados. Pode
significar informação, conscientização, saber, cognição, sapiência, percepção,
ciência, experiência, qualificação, discernimento, competência, habilidade prática,
capacidade, aprendizado, sabedoria, certeza e assim por diante.
Diante de todos estes possíveis significados, torna-se difícil estabelecer uma
conceituação precisa para o termo conhecimento.
Buscou-se em Sveiby (1998, p. 35) uma primeira conceituação de conhecimento.
Este autor conceitua o conhecimento “[...] como uma capacidade de agir”. O conceito dado
por Karl E. Sveiby é bastante sucinto e a única interpretação que se pode tirar dele é a de que
o conhecimento tem um caráter dinâmico, o que fica implícito quando este autor fala em
capacidade de agir.
O conhecimento também pode ser conceituado, segundo Nonaka e Takeuchi
(1997, p. 63) como: “[...] crença verdadeira justificada [...] como um processo humano
dinâmico de justificar a crença pessoal com relação à “verdade”. [...] o conhecimento é criado
por um fluxo de informação, ancorado nas crenças e compromissos de seu detentor”.
Novamente, a exemplo de Karl E. Sveiby, na conceituação dada por Ikujiro
Nonaka e Hirotaka Takeuchi aparece o caráter dinâmico do conhecimento, neste caso de
forma explícita. Porém, estes autores vão mais longe em sua conceituação, afirmando que o
40
conhecimento advém do confronto que um indivíduo faz entre um fluxo de informações, por
ele percebido, e as suas crenças pessoais.
Analogamente a estes autores japoneses, Crawford (1994, p. 21) diz que: “[...] A
informação é a matéria-prima para o conhecimento [...] o conhecimento é a capacidade de
aplicar informação a um trabalho ou a um resultado específico”.
Em todas estas citações pode-se observar que os autores ressaltam, além do
caráter dinâmico do conhecimento, que o mesmo advém de um processo de abstração mental,
realizado por uma pessoa, quando esta confronta estímulos recebidos do exterior (por
exemplo, dados e informações) com seus conteúdos internos.
Além disto, as citações descritas até aqui permitem identificar que o
conhecimento pode ser classificado em duas formas básicas: o conhecimento empírico,
também conhecido como tácito, e o conhecimento teórico, também conhecido como explícito.
Nesse sentido, no que diz respeito aos tipos de conhecimento humano, encontrou-
se em Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi (1997) uma classificação pertinente:
[...] classificamos o conhecimento humano em dois tipos. Um é o conhecimento
explícito, que pode ser articulado na linguagem formal, inclusive em afirmações
gramaticais, expressões matemáticas, especificações, manuais e assim por diante.
Esse tipo de conhecimento pode ser então transmitido, formal e facilmente, entre os
indivíduos. Esse foi o modo dominante de conhecimento na tradição filosófica
ocidental. Argumentamos, contudo, que o conhecimento tácito, difícil de ser
articulado na linguagem formal, é um tipo de conhecimento mais importante. É o
conhecimento pessoal incorporado à experiência individual e envolve fatores
intangíveis como, por exemplo, crenças pessoais, perspectivas e sistemas de valor.
No Quadro 3, são apresentadas algumas distinções entre o conhecimento tácito e o
conhecimento explícito.
Conhecimento Tácito
(Subjetivo)
Conhecimento Explícito
(Objetivo)
Conhecimento da experiência
(corpo)
Conhecimento simultâneo
(aqui e agora)
Conhecimento análogo
(prática)
Conhecimento da racionalidade
(mente)
Conhecimento seqüencial
(lá e então)
Conhecimento digital
(teoria)
Quadro 3 – Dois tipos de conhecimento
Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997, p. 67).
Segundo Nonaka e Takeuchi (1997, p. 7) o conhecimento tácito pode ser
segmentado em duas dimensões. Sobre estas duas dimensões, os autores afirmam que:
[...] a primeira é a dimensão técnica, que abrange um tipo de capacidade informal e
difícil de definir ou habilidades capturadas no termo ‘Know-how’. Um artesão, por
exemplo, desenvolve uma riqueza de habilidades, suas ‘mãos maravilhosas’ depois
41
de anos de experiência. Mas, freqüentemente, é incapaz de articular os princípios
técnicos ou científicos subjacentes ao que sabe.
Toda a teoria da criação do conhecimento de Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi
está alicerçada na interação entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito.
Embora de forma implícita, Levy (1993, p. 84) também faz comentários sobre a
importância do conhecimento tácito. Segundo o autor:
[...] a maior parte dos conhecimentos em uso em 1990, aqueles de que nos servimos
em nossa vida cotidiana, nos foram transmitidos oralmente, e a maior parte do tempo
sob a forma de narrativa (histórias de pessoas, famílias ou empresas). Dominamos a
maior parte de nossas habilidades observando, imitando, fazendo, e não estudando
teorias na escola ou princípios nos livros.
2.1.4 Gestão do Conhecimento
No novo milênio uma outra forma de riqueza está se impondo. O conhecimento e
a busca incessante da atualização tornam-se a exigência maior de um mundo que quer a
superação dos obstáculos econômicos e sociais através da educação, através de maiores
investimentos em seres humanos tendo, desta forma, a capacidade de atingir as qualidades
econômicas, científicas e tecnológicas. Segundo Senge (1990, p. 3) organizações onde as
pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados que elas realmente
desejam, onde maneiras novas e expansivas de pensar são encorajadas, onde a aspiração
coletiva é livre, e onde as pessoas estão constantemente aprendendo a aprender coletivamente.
A partir de 1994 a idéia ganha mais força com Tom Stewart nos Estados Unidos e
Leif Edvinsson na Suécia. De fato, há pouco menos de uma década seria, por exemplo,
absolutamente proibido para uma empresa multinacional interligar todos os seus milhares de
funcionários ao redor do mundo através de uma rede corporativa. Atualmente, com o advento
da internet, isto é muito simples, rápido e barato. A conseqüência disto e de outros avanços
tecnológicos, para os modelos de gestão das empresas do terceiro milênio ainda está
começando a se manifestar e ser analisado. A era do computador e da informação nos permite
fazer as coisas de maneira mais rápida.
A gestão do conhecimento nas organizações passa pela compreensão das
características e demandas do ambiente competitivo e, também, pelo entendimento das
necessidades individuais e coletivas associadas aos processos de criação e aprendizado. Pode
ser vista como um processo que governa a criação, disseminação e utilização do
conhecimento para atingir de forma mais eficaz os objetivos da organização. Os projetos ou
42
iniciativas de gestão do conhecimento estão apoiados numa tríade formado por pessoas,
tecnologias e processos de negócio. Existe uma forma de capital mais valiosa do que o capital
financeiro ou os capitais imobilizados, que não é facilmente visualizado e muito raramente
incorporado ao valor de mercado de uma empresa. Trata-se do Capital Intelectual que reside
no intelecto das pessoas que compõem a organização, na experiência acumulada, nos bancos
de dados corporativos, nas metodologias de trabalho, no esforço de pesquisa em novos
métodos, no domínio de tecnologias de ponta e no constante aprimoramento dos processos.
As conseqüências destas mudanças para as organizações são que se aceleram as
taxas de criação e mortalidade de empresas, ao mesmo tempo em que a inovação e a
renovação de habilidades e desenhos organizacionais tornam-se uma constante necessidade
para a sobrevivência no mercado. Já para os trabalhadores, as conseqüências são a valorização
da inovação, do original e da imaginação e a desvalorização da repetição, das cópias e da
automação. A nova percepção do conhecimento provoca grandes mudanças na economia:
muda o capital e trabalho. Capital está ligado a capital intelectual, de relações, de marca, de
informação. O trabalho é cada vez mais a capacidade de gerir e gerar idéias, conectar-se a
outros trabalhadores e clientes. O mundo corporativo está sendo repensado, reestruturado,
reinventado, desde a relação com funcionários, trabalhadores e fornecedores até o uso da
tecnologia.
A essência do novo contrato de trabalho nas empresas além do pagamento de
salário pelo tempo de trabalho é uma troca: iniciativa por oportunidades. A empresa oferece a
oportunidade e os meios educacionais para o funcionário obter sucesso pessoal e profissional,
e em troca o profissional cede a iniciativa na criação de valor para clientes e
conseqüentemente o lucro. Os novos funcionários só prosperarão se desenvolverem seu
capital intelectual.
Para que o conhecimento produza vantagem competitiva sustentável, as empresas
precisam gerenciá-lo de forma pró-ativa, tornando-o independente de qualquer funcionário.
Isto só acontece, de fato, no momento em que as organizações são capazes de capturá-lo
através de seus sistemas, processos, produtos, regras e cultura. A conseqüência para as
empresas e países deste novo ambiente, é que quem quiser ser competitivo e,
conseqüentemente, pagar altos salários, manter altas taxas de lucratividade e elevado padrão
de vida, terá que desenvolver capacidades e habilidades para participar destas indústrias do
poder “cerebral”, contrariando aspectos da era industrial e agregando um novo paradigma da
era do conhecimento conforme Quadro 4, a seguir.
43
ITEM
PARADIGMA DA ERA
INDUSTRIAL
PARADIGMA DA ERA DO
CONHECIMENTO
Pessoas Geradores de custos ou recursos. Geradores de receita.
Fonte de poder dos
gerentes
Nível hierárquico na organização. Nível de conhecimento.
Luta de poder Operários versus capitalistas. Trabalhadores do conhecimento
versus gerentes.
Principal
responsabilidade da
gerência
Supervisionar os subordinados. Apoiar os colegas.
Informação Instrumento de controle. Ferramenta para comunicação,
recursos.
Produção Operários processando recursos físicos
para criar produtos tangíveis.
Trabalhadores do conhecimento
convertendo conhecimento em
estruturas intangíveis.
Fluxo de informação Através da hierarquia organizacional. Através de redes colegiadas.
Gargalos na produção Capital financeiro e habilidades humanas. Tempo e conhecimento.
Fluxo de produção Direcionado pelas máquinas, seqüencial. Direcionado pelas idéias, caótico.
Efeito do tamanho Economia de escala no processo de
produção.
Economia de escopo das redes.
Relações com os
clientes
Unidirecional através dos mercados. Interativa através de redes
pessoais.
Conhecimento
propósito do
aprendizado
Uma ferramenta ou recurso entre outros.
Aplicação de novas ferramentas.
O foco do negócio.
Criação de novos ativos.
Valores de mercado
(de ações)
Devidos, em grande parte, aos ativos
tangíveis.
Devidos em grande parte, aos
ativos intangíveis.
Economia Baseada em retornos decrescentes. Baseada em retornos crescentes e
decrescentes.
Quadro 4 – Os princípios da organização baseada no conhecimento
Fonte: Sveivy (1998, p.32)
A economia da era do conhecimento oferece recursos ilimitados porque a
capacidade humana de gerar conhecimentos é infinita. Ao contrário dos recursos físicos, o
conhecimento cresce quando é compartilhado. Entretanto, a distinção entre as organizações
que vendem derivativos de conhecimento e aquelas que vendem conhecimento como um
processo é de vital importância, porque a arte de alcançar lucros cada vez maiores é diferente
para uma delas. No primeiro caso, essa arte é regida pela informação; no segundo, pelo
conhecimento.
A Gestão do Conhecimento Organizacional é a capacidade de gerenciar, distribuir
e criar conhecimento com eficiência e eficácia para que uma organização se coloque em
posição de vantagem competitiva em relação às outras.
A partir dos anos de 1990, num mercado cada vez mais competitivo, o sucesso
nos negócios depende basicamente da qualidade do conhecimento que cada organização
aplica nos seus processos corporativos/empresariais. Hoje, as novas possibilidades técnicas e
44
o conhecimento de mercados determinam as inovações dos produtos; operações funcionais
advêm do conhecimento combinado entre como as coisas funcionam e como poderiam
funcionar; a participação no mercado cresce com um maior conhecimento dos clientes atuais e
potenciais e de como melhor atendê-los. Nesse contexto, o desafio de utilizar o conhecimento
residente na empresa com o objetivo de criar vantagens competitivas, torna-se mais crucial.
Atualmente, o mundo do trabalho está vivenciando a emergência da Era do
Conhecimento. Está se deixando para trás um mundo econômico cujas principais riquezas
eram físicas; nessa nova era a riqueza é o produto do conhecimento – não apenas o
conhecimento científico, mas a notícia, a opinião, a diversão, a comunicação, as idéias e os
serviços – tornaram-se matérias-primas básicas e os produtos mais importantes da economia.
O conhecimento tornou-se o principal ingrediente do que se produz, faz, compra e vende.
Administrá-lo, ou seja, encontrar e estimular o que se chama capital intelectual, armazená-lo,
vendê-lo e compartilhá-lo, tornou-se a tarefa econômica mais importante dos indivíduos, das
empresas e dos países.
Na era do conhecimento as organizações são desafiadas a dar um tratamento
diferenciado e personalizado a cada cliente, as indústrias têm que produzir em série, mas
produtos que tragam características diferentes de acordo com o perfil de cada tipo de
consumidor, o banco de dados, as informações sobre os clientes e sobretudo a habilidade de
transformar essas informações em ações é que fazem a diferença competitiva.
Considerando essa mudança de paradigma, os mercados recompensam e criam
valor e ignoram ou castigam quem não cria. Não é apenas o fato de que um número maior de
pessoas está executando trabalho do conhecimento, é que está aumentando também o
conteúdo de conhecimento de todo trabalho, sejam eles agrícolas, industriais, operários,
administrativos, financeiros, educacionais ou profissionais liberais – a principal habilidade é
intelectual.
A idéia é disseminar o conhecimento e propiciar um ambiente de aprendizagem
constante, tendo as pessoas como diferencial fundamental para a gestão de negócios de
aumento da competitividade organizacional. Então, a partir dessa necessidade, foi criado o
que se chama Gestão do Conhecimento.
Assim, pode-se afirmar que o conhecimento não é algo novo. Novo é o fato de se
reconhecer o conhecimento como um ativo corporativo e de se entender a necessidade de
geri-lo e cercá-lo do mesmo cuidado dedicado à obtenção de valor de outros ativos mais
tangíveis.
45
Diferentes autores tratam sobre o tema gestão do conhecimento, mas em síntese a
definição básica que todos eles apresentam diz respeito a organizar um conjunto de processos
e ferramentas para a criação, disseminação e utilização do conhecimento individual e
organizacional, a fim de que sejam atingidos os objetivos organizacionais e assegurada à
competitividade no mercado.
O conceito de gestão do conhecimento deve-se ao fato de que a capacidade de
uma organização para resolver problemas e para agir como um todo, não pode ser explicado,
exclusivamente, em função das habilidades individuais de seus membros. O potencial de uma
empresa para resolver problemas, muitas vezes, depende imensamente dos componentes
coletivos de sua base de conhecimento. O conhecimento coletivo, que é mais do que a soma
do conhecimento individual, é, particularmente, importante para a sobrevivência das
organizações no longo prazo.
No entanto, poucas empresas têm entendimento claro de quais são os ativos de
conhecimento importantes para seu sucesso e como esses ativos estão distribuídos em partes
diferentes da empresa e entre diferentes funções e funcionários. Há quem pense que gerir
conhecimento restringe-se ao fato de dar acesso a maior número de informações, pois não
percebe a distinção entre dados, informações e conhecimento. Contudo, sem tal entendimento,
a gestão racional dos trabalhadores do conhecimento como um recurso organizacional vital,
torna-se impossível.
Portanto, gerir conhecimento não se limita a compreender e interligar dados,
informações e conhecimentos. Os projetos e iniciativas de gestão do conhecimento estão
apoiados numa tríade formada por processos de negócios, pessoas e tecnologias.
46
2.2 Competências
2.2.1 Origem e Evolução do Conceito de Competência
A utilização do termo competência vem do fim da idade média. Na época, a
expressão competência era associada basicamente à linguagem jurídica. Dizia respeito à
faculdade atribuída a alguém ou a uma instituição para apreciar e julgar certas questões.
Os juristas declaravam que determinada corte ou indivíduo era competente para um
dado julgamento ou para realizar certo ato. Por extensão, o termo veio a designar o
reconhecimento social sobre a capacidade de alguém pronunciar-se a respeito de
determinado assunto. Mais tarde, o conceito de competência passou a ser utilizado
de forma mais genérica para qualificar o indivíduo capaz de realizar determinado
trabalho. (ISAMBERT-JAMATI APUD BRANDÃO E GUIMARÃES, 1999).
Posteriormente, o termo passou a ser utilizado também para designar alguém
capaz de se pronunciar sobre certos assuntos. Com o tempo, começou-se a utilizar a
expressão para qualificar pessoas capazes de realizar um trabalho bem feito.
Um dos principais responsáveis pelo surgimento e desenvolvimento do conceito
de competência, de forma estruturada dentro do contexto organizacional, foi David
McClelland em 1973, a partir do “Movimento voltado para as Competências”, em Gestão de
Pessoas. As questões que desafiavam McClelland eram: 1) de que depende o sucesso futuro
de um profissional em determinada organização? 2) o que prediz, com maior probabilidade, a
perfomance futura no trabalho ou na sociedade? Na realidade, McClelland buscava uma
abordagem mais efetiva que os testes de inteligência utilizados nos processos de seleção de
pessoas para as organizações. Para McClelland, os critérios utilizados nos processos de
seleção eram insuficientes e ineficazes para garantir os resultados esperados. Os critérios de
seleção mais utilizados eram sobretudo: o desempenho escolar anterior do candidato, os
resultados de Testes de Aptidão e as credenciais dos candidatos.
Pesquisas existentes não apresentavam relação positiva entre o desempenho
acadêmico e os resultados desses testes, e o desempenho profissional das pessoas.
McClelland apontava dois grandes problemas nessa forma tradicional de selecionar e
contratar pessoas: não conseguiam predizer o futuro profissional e eram discriminadores com
relação a minorias, mulheres e pessoas de segmentos socioeconômicos inferiores.
Rapidamente o conceito foi ampliado para dar suporte a processos de avaliação e
para orientar ações de desenvolvimento profissional.
No contexto gerencial, o conceito de competência começou a ser construído com
47
Richard Boyatzis. Segundo Wood e Payne (1998, p. 23) apud Bitecourt (2004), “Boyatzis foi
a primeira pessoa a usar o termo competência. Seu livro, The Competent Manager: a Model
for Effective Performance iniciou o debate acerca do tema competências”.
O modelo de Boyatzis baseia-se na explicitação de 21 atributos que norteiam a
construção de um perfil ideal de gestor. O Quadro 5 apresenta uma síntese desse construto.
1. Metas e Gestão pela Ação 1. Orientação eficiente
2. Produtividade
3. Diagnóstico e uso de conceitos
4. Preocupação com impactos (pró-ativo)
2. Liderança 5. Autoconfiança
6. Uso de apresentações orais
7. Pensamento lógico
8. Conceitualização
3. Recursos Humanos 9. Uso de poder socializado
10. Otimismo
11. Gestão de grupo
12. Auto-avaliação e senso crítico
4. Direção de Subordinados 13. Desenvolvimento de outras pessoas
14. Uso de poder unilateral
15. Espontaneidade
5. Foco em outros clusters 16. Autocontrole
17. Objetividade perceptual
18. Adaptabilidade
19. Preocupação com relacionamentos próximos
6. Conhecimento especializado 20. Memória
21. Conhecimento especializado
Quadro 5
– As Vinte e Uma Competências de Boyatzis
Fonte: Adaptado de Wood e Payne (1998) apud Bitecourt (2004)
Boyatzis centralizava o seu trabalho em “comportamentos observáveis”, baseados
numa concepção behaviorista. Seu modelo prevê, ainda, aspectos psicológicos relacionados a
três fatores: motivação, auto-imagem e papel social e habilidades.
Com base nesta construção inicial, muitos conceitos e abordagens surgiram. O
Quadro 6, apresentado a seguir, busca analisar os diversos conceitos ligados à questão das
competências e suas respectivas ênfases.
48
Autor Conceito Ênfase
1. Boyatzis
(1982, p. 23)
“Competências são aspectos verdadeiros ligados à natureza humana.
São comportamentos observáveis que determinam, em grande parte,
o retorno da organização”.
Formação,
comportamentos,
resultados.
2. Hamel e
Prahalad (1990,
p. 82)
“Conjunto de conhecimentos, habilidades, tecnologias, sistemas
físicos, gerenciais e valores que geram um diferencial competitivo
para a organização”.
Organizacional e
aprendizado coletivo.
3. Boog
(1991, p. 16)
“Competência é a qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver
certo assunto, fazer determinada coisa; significa capacidade,
habilidade, aptidão e idoneidade”.
Aptidão, valores e
formação.
4. Spencer e
Spencer
(1993, p. 9)
“A competência refere-se a características intrínsecas ao indivíduo
que influencia e serve de referencial para seu desempenho no
ambiente de trabalho”.
Formação e
resultado.
5. Sparrow e
Bognanno
(1994, p. 3)
“Competências representam atitudes identificadas como relevantes
para a obtenção de alto desempenho em um trabalho específico, ao
longo de uma carreira profissional, ou no contexto de uma estratégia
corporativa”.
Estratégias, ação e
resultados.
6.Moscovicci
(1994, p. 26)
“O desenvolvimento de competências compreende os aspectos
intelectuais inatos e adquiridos, conhecimentos, capacidades,
experiência, maturidade. Uma pessoa competente executa ações
adequadas e hábeis em seus afazeres, em sua área de atividade”.
Aptidão e ação.
7. Cravino
(1994, p. 161)
“As competências se definem mediante padrões de comportamentos
observáveis. São as causas dos comportamentos, e estes por sua vez,
são a causa dos resultados. É um fator fundamental para o
desempenho”.
Ação e resultados.
8. Parry
(1996, p.48)
“Um agrupamento de conhecimentos habilidades e atitudes
correlacionados, que afeta parte considerável da atividade de
alguém, que se relaciona com o desempenho, que pode ser medido
segundo padrões preestabelecidos e que pode ser melhorado por
meio de treinamento e desenvolvimento”.
Resultado, formação.
9. Sandberg
(1996, p. 411)
“A noção de competência é construída a partir do significado do
trabalho. Portanto, não implica exclusivamente na aquisição de
atributos”.
Formação e
interação.
10. Bruce
(1996, p. 6)
“Competência é o resultado final da aprendizagem”. Aprendizagem
individual e
autodesenvolvimento.
11. Boterf
(1997, p. 267)
“Competência é assumir responsabilidades frente a situações de
trabalho complexas buscando lidar com eventos inéditos,
surpreendentes, de natureza singular”.
Mobilização e ação.
12. Magalhães et
al. (1997, p. 14)
“Conjunto de conhecimentos, habilidades e experências que
credenciam um profissional a exercer determinada função”.
Aptidão e formação.
13. Perrenoud
(1998, p.1)
“A noção de competência refere-se a práticas do quotidiano que se
mobilizam através do saber baseado no senso comum e do saber a
partir de experiências”.
Formação e ação.
14. Durand
(1998, p.3)
“Conjuntos de conhecimentos, habilidades e atitudes
interdependentes e necessárias à consecução de determinado
propósito”.
Formação e
resultados.
15. Hase et al.
(1998, p.9)
“Competência descreve as habilidades observáveis, conhecimentos
e atitudes das pessoas ou das organizações no desempenho de suas
funções [...] A competência é observável e pode ser mensurada por
meio de padrões”.
Ação e resultados.
16. Dutra et al.
(1998, p. 3)
“Capacidade da pessoa gerar resultados dentro dos objetivos
estratégicos e organizacionais da empresa, se traduzindo pelo
mapeamento do resultado esperado (
output
) e do conjunto de
conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para o seu
atingimento (
input
)”.
Aptidão, resultados,
formação.
17. Ruas
(1999, p. 10)
“É a capacidade de mobilizar, integrar e colocar em ação
conhecimentos, habilidades e formas de atuar (recursos de
competências) a fim de atingir/superar desempenhos configurados
na missão da empresa e da área”.
Ação e resultados.
49
Autor Conceito Ênfase
18. Fleury e
Fleury
(2000, p. 21)
“Competência: um saber agir responsável e reconhecido, que
implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos,
habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor
social ao indivíduo”.
Ação e resultados.
19. Hipólito
(2000, p. 7)
“O conceito de competência sintetiza a mobilização, integração e
transferência de conhecimentos e capacidades em estoque, deve
adicionar valor ao negócio, estimular um contínuo questionamento
do trabalho e a aquisição de responsabilidades por parte dos
profissionais e agregar valor em duas dimensões: valor econômico
para a organização e valor social para o indivíduo”.
Formação, resultados,
perspectiva dinâmica.
20. Davis (2000,
p. 1 e 15)
“As competências descrevem de forma holística a aplicação de
habilidades, conhecimentos, habilidades de comunicação no
ambiente de trabalho [...]. São essenciais para uma participação
mais efetiva e para incrementar padrões competitivos. Focaliza-se
na capacitação e aplicação de conhecimentos e habilidades de forma
integrada no ambiente de trabalho”.
Ação e resultados.
21. Zarifian
(2001, p. 66)
“A competência profissional é uma combinação de conhecimentos,
de saber-fazer, de experiências e comportamentos que se exerce em
um contexto preciso. Ela é constatada quando de sua utilização em
situação profissional a partir da qual é passível de avaliação.
Compete então à empresa identificá-la, avaliá-la, validá-la e fazê-la
evoluir”.
Aptidão, ação
resultado.
22. Becker et al.
(2001, p. 156)
“Competências referem-se a conhecimentos individuais, habilidades
ou características de personalidade que influenciam diretamente o
desempenho das pessoas”.
Formação e
desempenho.
Quadro 6
– Mapa conceitual de competências
Fonte: Bitencourt e Barbosa (2004), com adaptações
Tomando como base a análise das várias correntes de estudos (americana,
latino-americana, francesa e australiana) sobre a questão de competências, Bitencourt e
Barbosa (2004) expressam essas correntes permitindo relacionar o seu conceito aos
seguintes pontos:
1. Desenvolvimento de conceitos, habilidades e atitudes (
formação
)- Boyatzis
(1982), Parry (1996), Boog (1991), Becker (2001), Spencer e Spencer (1993),
Magalhães et al. (1997), Hipólito (2000), Dutra et al. (1998),Sandberg (1996);
2.
Capacitação
(aptidão) – Moscovicci (1994), Magalhães et al. (1997), Dutra
et al. (1998), Zarifian (2001);
3. Práticas de trabalho, capacidade de mobilizar recursos, fato esse que a difere
do conceito de potencial (
ação
) - Sparrow e Bognanno (1994), Durand
(1998), Hase et al. (1998), Cravino (2000), Ruas (1999), Moscovicci
(1994), Boterf (1997), Perrenoud (1998), Fleury e Fleury (2000), Davis
(2000), Zarifian (2001);
4.
Articulação
de recursos (mobilização) – Boterf (1997);
5. Busca de melhores desempenhos (
resultados
) - Boyatzis (1982), Sparrow e
Bognanno (1994), Parry (1996), Hase et al.(1998), Becker et.al. (2001),
50
Spencer e Spencer (1993), Cravino (200 0), Ruas (1999), Fleury e Fleury
(2000), Hipólito (2000), Dutra et al. (1998), Davis (2000), Zarifian (2001);
6. Questionamento constante (perspectiva dinâmica) – Hipólito (2000);
7. Processo de aprendizagem individual no qual a responsabilidade maior desse
processo deve ser atribuída ao próprio indivíduo (autodesenvolvimento) -
Bruce (1996);
8. Relacionamento com outras pessoas ( interação) – Sandberg (1996).
A partir da década de 90, diversos autores procuraram estruturar o
desenvolvimento do conceito de competência ou então efetuar uma revisão bibliográfica sobre
o mesmo.
Uma definição muito comum no meio dos profissionais de RH e que também é de
fácil operacionalização pelos responsáveis pela gestão de RH nas empresas é:
Conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes que afetam a maior parte do
trabalho de uma pessoa, e que se relacionam com o desempenho no trabalho; a
competência pode ser mensurada, quando comparada com padrões estabelecidos e
desenvolvida por meio do treinamento. (PARRY APUD FLEURY e FLEURY,
2004, p. 27).
Para o presente trabalho, o conceito de competência seguirá a linha definida por
Fleury e Fleury (2004, p. 30): “um saber agir responsável e reconhecido, que implica
mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor
econômico à organização e valor social ao indivíduo”.
2.2.2 Abordagens Diferentes sobre Competências
Há basicamente duas linhas de pensamentos sobre o termo “competência”: a linha
americana sob a denominação “competency”, através das consultorias The Hay Group e
Coopers e Lybrand que tem como premissa as determinações do mercado e o atrelamento do
desenvolvimento de competência à remuneração variável e a linha européia sob a
denominação “compentence”, em discussão na França com Zarifian, Le Boterf e Hirata e na
Suíça com Perrenoud e Thurler, que considera o desenvolvimento integral do homem a partir
da escola. A principal diferença entre os estudos sobre competência refere-se à forma com que
esta é vista: como inputs (conhecimentos) ou outputs (resultados) do comportamento humano.
(CONDE, 2001).
51
Uma terceira linha de discussão é desencadeada pelas Faculdades de
Administração e consultorias empresariais brasileiras e que têm como conteúdo uma
combinação da discussão americana e francesa e é desencadeada por professores como Fleury
e Dutra da Universidade de São Paulo – USP, que tradicionalmente trabalharam a questão da
cultura organizacional e administração de carreiras respectivamente; Mendes da Universidade
Cândido Mendes e da Petrobrás e consultores de empresas como Gramigna e Resende.
(BRITO, 2005, p. 62).
Para este trabalho, o enfoque abordado é o gerencial, ou seja, o foco da pesquisa
está centrado sobre as competências individuais ou profissionais. Entretanto, as competências
organizacionais são analisadas no intuito de oferecer um direcionamento à abordagem
estratégica relativa à questão das competências gerenciais.
Quinn (1996) refere-se, a combinação dessas competências (organizacional e
gerencial) como o meio de promover “the knowledge-based service activities ” que é “o
coração de uma empresa inteligente”, ou seja, as atividades não podem simplesmente ser
duplicadas pelos competidores. Por essa razão, a real vantagem competitiva
sustentável deriva-se, normalmente, de um conjunto de habilidades, fatores ligados a
experiência da empresa, capacidade de inovação, know-how, compreensão do mercado, dados
e informações distribuídas e acessíveis.
Conforme Boterf (1997, p. 22),
“O que de fato irá diferenciar a competência de uma empresa ou de uma unidade
(divisão, departamento, serviço) não é a competência de seus membros. O
diferencial não depende tanto de seus elementos, mas da qualidade da combinação
ou articulação entre seus elementos”.
No que se refere à gestão de competências (voltadas às pessoas), a visão de
competence e competency parece ser relevante. Esse esclarecimento identifica não
somente a diferença entre terminologia e conceitos, mas também aborda ainda, noções e
concepções específicas que orientam as práticas e processos de trabalho.
A diferença básica refere-se à ênfase na pessoa (processo intrínseco) ou no cargo
(processo extrínseco).
O Quadro 7, apresentado a seguir, sintetiza e caracteriza as duas abordagens em
questão.
52
Competency Competence
Origem Estados Unidos Inglaterra
Noção Conjunto de conhecimentos, habilidades e
atitudes.
Resultados, produtos.
Abordagem Soft Hard
Propósito Identificar desempenhos superiores
(processo educacional).
Identificar padrões mínimos
(desempenho no trabalho).
Foco A pessoa (características pessoais). O cargo (expectativas
ligadas à função).
Ênfase Características pessoais (input, learning
and development of competency).
Tarefas e resultados (output,
workplace, perfomance).
Público-alvo Gerentes Nível operacional
Quadro 7
– Comparação entre competency e competence
Fonte: Fleury e Fleury (2004) e Bitencourt (2001)
No tocante ao desenvolvimento de competências, Swieringa e Wierdsma (1992)
apud Bitecourt (2001) contribuem para essa reflexão destacando as três dimensões principais
que consideram.
1. O SABER - refere-se ao conhecimento. Implica questionamentos e esforços
voltados à informação que possa agregar valor ao trabalho. Conforme Ruas (1999), o
conhecimento é o que se deve saber para desenvolver com qualidade aquilo que lhe é
atribuído (conhecimento acerca das ferramentas de qualidade, de sistemas de custos, de
segmentação de mercados, de atendimento aos clientes, de sistematização e organização das
informações etc.).
2. O SABER FAZER - refere-se a habilidades. Centraliza-se no desenvolvimento
de práticas e consciência da ação tomada. As habilidades são o que se deve saber para obter
um bom desempenho (habilidade para motivar, orientar e liderar uma equipe em torno de
metas e objetivos, habilidade para negociar com clientes, com fornecedores, e clientes
internos, habilidade para planejar, para avaliar desempenhos etc.). (RUAS, 1999).
3. O SABER AGIR - refere-se a atitudes. Busca um comportamento mais
condizente com a realidade desejada. Neste momento realiza-se a união entre discurso e ação.
Deve-se saber agir para se poder empregar adequadamente os conhecimentos e habilidades
(iniciativa e empreendedorismo, confiabilidade, espírito inovador, flexibilidade para
considerar opiniões diferentes das suas, flexibilidade para reconhecer erros, disposição para
aprender, persistência etc.). (RUAS, 1999).
Na realidade, as dimensões saber, saber fazer e saber agir estão inter-relacionadas
e por vezes se confundem. Trata-se de uma análise múltipla de dimensões que se referem ao
indivíduo, ao grupo e à organização, uma vez que estes conceitos podem ser amplamente
53
analisados sob os diferentes prismas citados.
Um aspecto fundamental para o desenvolvimento de competências refere-se à
apropriação do conhecimento (saber) em ações no trabalho (saber agir). Acredita-se que, por
meio do desenvolvimento dos elementos (conceitos, princípios e práticas) de Aprendizagem
Organizacional, seja possível desenvolver as competências, viabilizando práticas condizentes
com o conhecimento adquirido. Destaca-se que é neste momento que o desenvolvimento de
competências agrega valor às atividades e à organização. Isto é, o conhecimento, se não for
incorporado às atitudes e manifestar-se por meio de ações ou práticas no trabalho, não trará
benefícios à organização nem estimulará o desenvolvimento das pessoas. Esta idéia básica de
relacionar o conhecimento às práticas organizacionais refere-se ao aprender a aprender.
Para (SANDBERG, 1996), existem três visões prevalecentes a respeito de
competências que envolvem a identificação e a construção de atributos de competências:
1. Orientação para o trabalhador (worker-oriented) – Tem como ponto de partida a
definição de conhecimentos, habilidades e atitudes que tem como base os
requisitos individuais dos trabalhadores para se desenvolver as tarefas;
2. Orientação para o trabalho (work-oriented) – Primeiramente analisam-se as
atividades envolvidas no trabalho ou na tarefa e, tendo como base essa
compreensão constroem-se os atributos de competência requeridos para o
desenvolvimento de tarefas;
3. Combinações das abordagens anteriores (multimethod approach) –
Considerando-se ambas as visões, tanto os atributos dos trabalhadores quanto às
características do trabalho que está sendo avaliado.
Em síntese, Sandberg (2000) propõe a “compreensão do significado do trabalho”
como a primeira fase para a definição de competências. Para o autor, o desenvolvimento
desse conjunto de conhecimentos e habilidades envolve a mudança na compreensão do
trabalho. Então para a definição da visão de competência parte-se da compreensão ou da
forma como os gestores enxergam competências (way of seeing).
Boterf (1997), por sua vez, situa a competência valendo-se de três eixos
principais que consideram a formação da pessoa (biografia, socialização), formação
educacional e experiência profissional. Ressalta, ainda, os aspectos referentes à
responsabilidade e legitimidade na construção da noção de competências. A responsabilidade
implica o domínio do metier e o engajamento responsável na atividade, enquanto que a
legitimidade associa-se ao reconhecimento por parte dos superiores, pares, subordinados, em
relação a sua capacidade de agir e de responder às situações que aparecem. (RUAS, 2000).
54
Ruas (2000) trata a questão de competências em termos de recursos de
competências, destacando a importância da articulação. Os recursos de competência são
destacados no Quadro 8.
Tipo / Recurso
de Competência
Função
Principal modo de
aquisição
Conhecimento do
ambiente
Conhecer os elementos do ambiente a fim
de adaptar-se a ele e poder atuar
adequadamente.
Formação contínua e
experiência profissional.
Conhecimento
teórico
Saber compreender, descrever e
interpretar.
Educação formal.
Formação continuada.
Conhecimento
operacional
Conhecer os métodos e procedimentos
adequados à realização daquilo que é
esperado.
Educação formal.
Formação continuada.
Conhecimento
tácito
Saber perceber e conhecer aspectos que
não são explicados nos métodos e
procedimentos.
Experiência profissional.
Saber-fazer
operacional
Saber realizar um método ou
procedimento.
Experiência profissional.
Saber-fazer
atitudinal
Saber agir,
Saber comprometer-se.
Saber relacionar-se.
Educação formal.
Formação continuada.
Experiência social e
profissional apoiada em
reflexão.
Saber-fazer
cognitivo
Saber tratar a informação.
Saber refletir e pensar.
Saber conceituar o que está fazendo.
Saber aprender.
Educação formal.
Formação continuada.
Experiência social e
profissional apoiada em
reflexão.
Quadro 8 – Tipos e Recursos de Competência
Fonte: Ruas (2000, p. 13) (adaptado de Boterf)
2.2.3 Noções de qualificação
As transformações em curso nas sociedades brasileira e mundial, decorrentes das
mudanças técnico-organizacionais no mundo do trabalho, estão fazendo ressurgir, com muita
ênfase, grandes debates relativos a temas e problemas que nos remetem às relações entre
trabalho, qualificação e educação (especialmente a formação profissional). Estudos nacionais
e internacionais envolvendo tais questões têm envolvido pesquisadores de vários segmentos
acadêmicos e empresariais. Tais discussões têm navegado pelos mais diferentes campos de
estudos, principalmente nos sociais e econômicos, traduzindo uma preocupação de
educadores, engenheiros, administradores, dentre outros profissionais cujo fim é o tratamento
das questões relativas ao trabalho humano e às suas mudanças durante os últimos anos.
55
Diversos conceitos têm ocupado destaque nos discursos e documentos dos mais
diferentes agentes, instituições sociais, acadêmicas e profissionais, inclusive os
governamentais, tais como qualificação, competência, formação profissional, gestão do
conhecimento, educação continuada, dentre outros. Os conceitos qualificação e competência,
segundo a literatura consultada, parecem ter matrizes distintas. A noção de qualificação está
associada ao repertório das ciências sociais, ao passo que o de competência está
historicamente ancorado nos conceitos de capacidades e habilidades, constructos herdados das
ciências humanas – da psicologia, educação e lingüística.
Inicialmente durante as décadas de 50 e 60, a noção de qualificação nasceu
associada à concepção de desenvolvimento socioeconômico. Seu surgimento deu-se em
função da necessidade de planejar e racionalizar os investimentos do Estado no que diz
respeito à educação escolar, visando, no nível macro, garantir uma maior adequação entre as
demandas dos sistemas ocupacionais e do sistema educacional, de forma a expandir
quantitativa e qualitativamente seus sistemas escolares. Sua elaboração foi fundamentada a
partir da “Teoria do Capital Humano”, tendo como principais defensores os americanos
Schultz (1974) e Harbison (1974). Eles defendiam a importância da instrução e do progresso
do conhecimento como ingredientes fundamentais para a formação do chamado capital
humano, de recursos humanos, isto é, a solução para a escassez de pessoas possuidoras de
habilidades-chave para atuarem nos setores em processo de modernização.
O modelo taylorista traz uma concepção de qualificação baseada no modelo
job/skills definido a partir da posição a ser ocupada no processo de trabalho e previamente
estabelecida nas normas organizacionais da empresa, de acordo com a lógica do modelo
taylorista/fordista de organização do trabalho. Para este modelo, “a qualificação é concebida
como sendo ‘adstrita’ ao posto de trabalho e não como um conjunto de atributos inerentes ao
trabalhador”. (MANFREDI, 1998).
Dentro da ótica dessa concepção da qualificação o que importa é que o
trabalhador seja preparado exclusivamente para desempenhar tarefas/funções específicas e
operacionais. Para Manfredi (1998) esta concepção de formação profissional está alicerçada
numa concepção comportamental rígida, por meio da qual ensino/aprendizagem das
tarefas/habilidades deve-se dar uma seqüência lógica, objetiva e operacional, enfatizando os
aspectos técnico-operacionais em detrimento de sua fundamentação mais teórica e abrangente.
Essa concepção de qualificação, ancorada nos modelos taylorista e fordista de
organização da produção e do trabalho, entra em crise devido a nova reestruturação e
56
reorganização do sistema capitalista, em função dos novos sistemas de produção mais
flexíveis e da criação de novas formas de organização do trabalho.
Um novo modelo designado de competência vem substituindo a concepção de
qualificação tecnicista (modelo job/skills). O novo processo de reorganização da economia
mundial e as transformações técnico-organizacionais não só têm afetado as condições, os
meios e as relações de trabalho, como também estão associadas à construção de novas formas
de representação ou ressignificação das noções de trabalho, qualificação, competência e
formação profissional.
A partir da década de 90, vários estudos empíricos têm sido desenvolvidos no
Brasil, cujo foco é voltado para as transformações que estão ocorrendo nos diferentes setores
da economia.
Segundo Hirata (1994), a noção de competência é oriunda do discurso empresarial
dos últimos anos do século passado, na França, e retomada em seguida por economistas e
sociólogos. É uma noção ainda bastante imprecisa e decorreu da necessidade de avaliar e
classificar novos conhecimentos e novas habilidades gestadas a partir das novas exigências de
situações concretas de trabalho, associada, portanto, aos novos modelos de produção e
gerenciamento, e substituta da noção de qualificação ancorada nos postos de trabalho e das
classificações profissionais que lhes eram correspondentes.
De acordo com Ropé e Tanguy (1997), este movimento observado nas empresas
francesas de introduzir novas práticas de codificação de trabalho em termos de competências
está se verificando em outros países da Comunidade Européia, como Alemanha, Itália,
Inglaterra e outros, no sentido de romper com os modos preexistentes de designação,
promoção e de remuneração do trabalho, tais como eram difundidos com o nome job skills e
job evaluation. Seu uso e difusão é baseado no modelo centrado em saberes e habilidades
possuídos pelos trabalhadores, tendo iniciado nas grandes empresas multinacionais ou
transnacionais e vêm acompanhados de um conjunto de operações e práticas sociais que lhe
dão forma e objetividade.
Segundo Fleury e Fleury (2004, p. 28), “a qualificação é usualmente definida
pelos requisitos associados à posição, ou ao cargo, ou pelos saberes ou estoque de
conhecimentos da pessoa, os quais podem ser classificados e certificados pelo sistema
educacional”.
Entretanto o conceito de competência procura ir além do conceito de qualificação:
“refere-se à capacidade de a pessoa assumir iniciativas, ir além das atividades prescritas, ser
57
capaz de compreender e dominar novas situações de trabalho, ser responsável e ser
reconhecido por isso”. (ZARIFIAN, 2001, p. 65).
“A competência não limita, portanto, a um estoque de conhecimentos teóricos e
empíricos detidos pelo indivíduo, nem se encontra encapsulada na tarefa”. (FLEURY e
FLEURY, 2004, p. 28).
Para Fleury e Fleury (2004), o trabalho deixou de ser um conjunto de tarefas
definidas para um determinado cargo, e passou a ser definido em função das necessidades das
competências exigidas pelo mercado, visto constantes mudanças determinadas pela nova
economia do conhecimento.
“Definimos, assim, competência: um saber agir responsável e reconhecido, que
implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem
valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”. (FLEURY e FLEURY, 2004, p.
30). Tanto a organização como as pessoas, propiciam um processo contínuo de troca de
competências. A empresa enriquece e prepara seus colaboradores para enfrentar novas
situações profissionais e pessoais, dentro ou fora da organização. As pessoas, por outro lado,
ao desenvolverem suas capacidades individuais, transferem para a organização seu
aprendizado, dando-lhe condições para enfrentar novos desafios. São as pessoas que, ao
colocarem em prática o patrimônio de conhecimentos da organização, concretizam as
competências organizacionais e fazem sua adequação ao contexto. Ver Figura 1.
Figura 1
– Competências como fonte de valor para o indivíduo e para a organização.
Fonte: FLEURY e FLEURY (2004, p. 30)
Indivíduo
saber agir
saber mobilizar
saber transferir
saber aprender
saber engajar-se
ter visão estratégica
assumir res
p
onsabilidades
Organização
Conhecimentos
Habilidades
Atitudes
Agregar valor
58
2.2.4 Competências Organizacionais
Em 1990 Gary Hamel e C. K. Prahalad publicaram na Harvard Bussiness Review
um artigo intitulado “The Core Competence of the Corporation”. Nesse texto os autores
defendem que o básico da estratégia empresarial é o gerenciamento da “competência
essencial”, ou seja, “a combinação de tecnologias individuais e habilidades de produção que
servem de base a uma infinidade de linhas de produtos em uma empresa”. (PRAHALAD e
HAMEL, 1995, p. 233).
Zarifian apud Fleury e Fleury (2004, p. 35) diferencia as seguintes competências
em uma organização:
competências sobre processos
: os conhecimentos sobre os processos de
trabalho;
competências técnicas
: conhecimentos específicos sobre o trabalho que deve ser
realizado;
competências sobre a organização
: saber organizar os fluxos de trabalho;
competências de serviço
: aliar a competência técnica à pergunta: qual o impacto
que este produto ou serviço terá sobre o consumidor final?;
competências sociais
: saber ser, incluindo atitudes que sustentam os
comportamentos das pessoas. O autor identifica três domínios dessas
competências: autonomia, responsabilização e comunicação.
As competências essenciais “core competences” são as portas para as
oportunidades futuras. A liderança de uma competência essencial no mercado representa uma
potencialidade que é deflagrada quando uma empresa prevê novas formas criativas de
explorar essa competência. Para Hamel e Prahalad (1995) uma competência essencial “é um
conjunto de habilidades e tecnologias que permite a uma empresa oferecer um determinado
benefício ao cliente”, isto é, alcançarem vantagem competitiva sobre seus concorrentes (ver
Figura 2).
59
Figura 2
– O conceito de competência individual
Fonte: Hamel e Prahalad (1995)
Diante do contexto organizacional, instável e competitivo marcado pelos
conhecimentos “perecíveis” Hamel e Prahalad, destacam como as empresas de sucesso que,
nos anos 90, identificaram suas core competencies adotaram uma estratégia corporativa
disseminada através de suas unidades de negócios. Por exemplo, na Sony, esse benefício é o
“tamanho do bolso” de seus produtos e a competência essencial é a miniaturização. Na
Federal Express, o benefício é a entrega rápida e a competência essencial, em nível macro é a
gestão logística. (PRAHALAD e HAMEL, 1995, p. 234).
Dentro desse contexto, Conde (2001, p.35) ressalta que “a clareza na definição da
estratégia adotada e o desenho organizacional têm peso decisivo no desempenho da empresa,
pois permitem um reconhecimento das competências essenciais aos negócios da empresa”.
Definir o posicionamento estratégico e formular uma visão torna-se difícil quando
é preciso diferenciar as competências essenciais das não essenciais. De acordo com Hamel e
Prahalad (1995), as “core competencies” passam por três testes:
1. valor percebido pelo cliente: as competências essenciais da empresa permitem
à empresa oferecer aos seus clientes um benefício real;
2. diferenciação de seus concorrentes: tornar a empresa única, que suas
competências essenciais estejam sempre acima da média do mercado;
3. capacidade de expansão: as competências essenciais propiciam à empresa a
vazão de novos produtos e serviços.
Ainda segundo Hamel e Prahalad (1995), as competências essenciais precisam ser
o principal assunto da estratégia corporativa. A alta gerência precisa saber se as atuais
CORE
COMPETENCE
TECNOLOGIAS
COMPETÊNCIAS
HABILIDADES
60
competências da empresa estão sendo lentamente enfraquecidas ou fortalecidas e deve ser
capaz de diferenciar um negócio que precisa de desinvestimento das competências que devem
ser mantidas. A cúpula da empresa precisa também estar muito consciente dos esforços de
desenvolvimento de competências dos concorrentes e reconhecer que os concorrentes das
competências da empresa talvez não sejam os mesmos concorrentes de seus produtos finais.
Dentro desta visão, uma empresa deve ser vista não apenas como um “portfólio”
de produtos e serviços, mas também como um “portfólio” de competências. Assim, para que a
perspectiva das competências essenciais crie raízes dentro de uma organização, toda a equipe
de gerência precisa compreender detalhadamente e participar das tarefas fundamentais da
administração das competências tais como identificar as competências essenciais existentes,
definir uma agenda de aquisição de competências essenciais, desenvolver as competências
essenciais e proteger e defender a liderança das competências essenciais da empresa no
mercado.
Para Hamel e Prahalad (1995), a competência essencial da empresa é o grande
foco orientador da definição do perfil de competência profissional necessário para a
organização se projetar para o futuro.
Para os autores, as competências essenciais de uma empresa “são resultantes do
aprendizado coletivo de uma organização, especialmente de como coordenar aptidões de
produção diversa e integrar múltiplas correntes de tecnologia”. (PRAHALAD e HAMEL,
1995). Elas vão muito além da simples harmonização de tecnologias, envolvendo a
organização do trabalho e a criação de valor para o cliente. Envolvem muitos níveis e funções
da empresa e estão relacionadas à comunicação e ao comprometimento das pessoas ao longo
de toda a organização. Elas não estão nos recursos físicos ou humanos, mas naquilo que as
mantêm unidas, isto é, nos padrões de coordenação, harmonização e aprendizagem próprios
da empresa. Elas também não diminuem com o uso, aumentando à medida que são aplicadas
ou compartilhadas dentro da organização.
Para que a criação de raízes das competências essenciais dentro de uma
organização aconteça, é necessário, segundo Hamel e Prahalad (1995) que a equipe de
gerência compreenda detalhadamente e participe das cinco tarefas fundamentais da
administração das competências: “(1) identificar as competências essenciais existentes; (2)
definir uma agenda de aquisição de competências essenciais; (3) desenvolver as competências
essenciais; (4) distribuir as competências essenciais e (5) proteger e defender a liderança das
competências essenciais”.
61
A verdadeira competência organizacional é apresentada pelas competências
humanas individuas e pelos recursos disponíveis para a consecução dos objetivos estratégicos
empresariais. Um dos importantes aspectos considerados pelas empresas no desenvolvimento
do planejamento estratégico é a formação de competências. Segundo Fleury e Fleury (2004),
o aumento da competitividade e da instabilidade econômica e política dos mercados têm
levado as empresas a se especializarem em seu core business, criando mais competência
interna (Figura 3). Desta forma, é por meio do processo de aprendizagem e de gestão do
conhecimento que as organizações podem desenvolver as competências necessárias para a
realização de sua estratégia competitiva.
Figura 3
– Construção das competências e da estratégia por meio da aprendizagem.
Fonte: Fleury e Fleury (2004, p. 25)
A identificação da competência organizacional fornece ótimos subsídios para a
definição das estratégias e das potencialidades da empresa, ao mesmo tempo em que viabiliza
uma gestão de pessoas mais eficiente e coerente baseada na obtenção dos resultados
propostos.
Ramos (2001, p.66), destaca que a noção de competência propõe o saber-fazer
proveniente da experiência ao invés de somente os saberes teóricos tradicionais valorizados
na lógica da qualificação. Basicamente, desloca a atenção para a atitude, o comportamento e
os saberes tácitos dos trabalhadores devido às novas concepções do trabalho baseado na
flexibilidade, na autonomia, responsabilidade, capacidade de comunicação e polivalência.
Fleury et al. (2004, p. 34), baseado nos conceitos propostos por Mills et al (2002),
definem os níveis de competências organizacionais, conforme Quadro 9.
ESTRAT
É
GIA
APRENDIZAGEM
COMPET
Ê
NCIAS
62
Competências Noções
Essenciais
Competências e atividades mais elevadas, no nível corporativo, que são
chave para a sobrevivência da empresa e centrais para sua estratégia.
Distintivas
Competências e atividades que os clientes reconhecem como diferenciadores
de seus concorrentes e que provêm vantagens competitivas.
Organizacionais Competências coletivas associadas às atividades-meios e às atividades-fins.
Individuais
Saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar
transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor
econômico à organização e valor social ao indivíduo.
Quadro 9 – Níveis de Competências Organizacionais
Fonte: Fleury et al. (2004, p. 34).
Já, Gramigna, outra autora que também aborda este assunto, classifica as
competências em quatro tipos, conforme o Quadro 10.
Competências
Conceito
Diferenciais Consideradas estratégicas, estabelecem a vantagem competitiva da empresa. São
identificadas no estabelecimento da missão empresarial e descritas de forma
genérica. São constituídas por um conjunto de capacitações que auxiliam a
empresa a alcançar seus resultados e fazer o diferencial no mercado.
Essenciais São aquelas identificadas e definidas como as mais importantes para o sucesso
do negócio e devem ser percebidas pelos clientes.
Básicas As necessárias para manter a organização funcionando. São percebidas no
ambiente interno, estimulam e alicerçam o clima de produtividade.
Terceirizáveis As que não estão ligadas a atividade-fim da organização e que podem ser
repassadas a fontes externas com maior competência e valor agregado.
Quadro 10 – Desdobramento de competências
Fonte: Gramigna (2002, p. 17-18).
Nota-se que estas duas propostas de dimensionamento da competência guardam
uma estreita relação entre si e, tanto uma quanto a outra, guardadas as devidas diferenças, tem
o mérito de dimensionar as competências de forma adequada.
É oportuno destacar o elenco de 15 competências essenciais adotadas como
modelo pela MRG – Consultoria e Treinamento Empresarial, da qual Maria Rita Gramigna é
diretora-presidente, e utilizadas por esta empresa para mapear as competências, conforme o
Quadro 11.
Com base nestas 15 competências essenciais, a MRG mapeou as competências de
vários setores de negócios, após a verificação de mais de 4.500 perfis. O Quadro 11
demonstra as competências de alguns destes setores.
63
Competências Indicadas por Setores (1997 a 2000)
Indústria Comércio Varejista Prestação de Serviços
1 - Capacidade
Empreendedora
1 - Capacidade
Empreendedora
1 - Capacidade
Empreendedora
2 - Capacidade de Trabalhar
sob Pressão
2 - Capacidade de Trabalhar
sob Pressão
2 - Capacidade de Trabalhar
sob Pressão
3 – Comunicação 3 - Comunicação 3 – Comunicação
4 – Criatividade 4 - Criatividade 4 – Criatividade
5 - Cultura da Qualidade 5 - Cultura da Qualidade 5 – Dinamismo
6 – Flexibilidade 6 - Flexibilidade 6 – Liderança
7 - Liderança 7 - Liderança 7 – Motivação
8 - Negociação 8 - Negociação 8 – Negociação
9 - Relacionamento
Interpessoal
9 – Organização 9 - Planejamento
10 - Tomada de Decisão 10 - Planejamento 10 - Visão Sistêmica
11 - Visão Sistêmica 11 - Relacionamento
Interpessoal
12 - Tomada de Decisão
13 - Visão Sistêmica
Quadro 11 – Competências identificadas por setores segundo a MRG
Fonte: Gramigna (2002, p. 57-58)
No Quadro 12, são demonstradas as competências essenciais adotadas pela MRG
para identificar as competências por setores, citadas no Quadro anterior.
Competência Descrição
Empreendedorismo
Facilidade para identificar novas oportunidades de ação, propor e implementar
soluções aos problemas e necessidades que se apresentam, de forma assertiva,
inovadora e adequada.
Tolerância à pressão
Capacidade para selecionar alternativas de forma perspicaz e implementar soluções
tempestivas diante de problemas identificados, considerando suas prováveis
conseqüências.
Comunicação
Capacidade de ouvir, processar e compreender o contexto da mensagem, expressar-
se de diversas formas e argumentar com coerência usando respostas de forma
adequada, para facilitar a interação entre as partes.
Criatividade
Capacidade para conceber soluções inovadoras viáveis e adequadas para as
situações apresentadas.
Cultura da qualidade
Postura orientada para a busca contínua da satisfação das necessidades e superação
das expectativas dos clientes internos e externos.
Dinamismo e
iniciativa
Capacidade para atuar de forma proativa e arrojada diante de situações diversas.
Flexibilidade
Facilidade para adaptar-se oportunamente às diferentes exigências do meio e de
rever posturas pessoais diante de argumentações convincentes.
Liderança
Capacidade para catalisar os esforços grupais, a fim de atingir ou superar os
objetivos organizacionais, estabelecendo um clima motivador, formando parcerias e
estimulando o desenvolvimento da equipe.
Motivação-energia
para o trabalho
Capacidade de demonstrar interesse pelas atividades a serem executadas, tomando
iniciativas e mantendo atitude de disponibilidade, e de apresentar postura de
aceitação e tônus muscular, que indica energia para os trabalhos.
Negociação
Capacidade de expressar e de ouvir o outro, buscando equilíbrio de soluções
satisfatórias nas
p
ro
p
ostas a
p
resentadas
p
elas
p
artes,
q
uando há conflitos de
64
interesse, e de observar o sistema de trocas que envolve o contexto.
Organização
Capacidade de organizar as ações de acordo com o planejado, para facilitar a
execução.
Planejamento
Capacidade para planejar o trabalho, atingindo resultados por meio do
estabelecimento de prioridades, metas tangíveis, mensuráveis e dentro de critérios
de desempenho válidos.
Relacionamento
interpessoal
Capacidade para interagir com as pessoas de forma empática, inclusive diante de
situações conflitantes, demonstrando atitudes positivas, comportamentos maduros e
não combativos.
Tomada de decisão
Capacidade para selecionar alternativas de forma sistematizada e perspicaz, obtendo
e implementando soluções adequadas diante de problemas identificados,
considerando limites de risco.
Visão sistêmica
Capacidade para perceber a integração e interdependência das partes que compõem
o todo, visualizando tendências e possíveis ações capazes de influenciar o futuro.
Quadro 12
– Elenco de competências adotadas pela MRG
Fonte
:
Gramigna (2002, p. 54-56).
Por sua vez, Resende (2000) conceitua competências empresariais e
organizacionais como sendo “[...] as competências aplicadas a diferentes objetivos e formas
de organização e gestão empresarial”.
Este autor afirma que estas competências podem ser classificadas de acordo com o
Quadro 13, montado com base em sua obra.
Competências Conceito
Core competencies
ou competências
essenciais
Principais de gestão empresarial, comuns a todas as áreas ou a um conjunto delas.
Exemplos: competência estratégica, competência logística.
De gestão
Específicas do nível gerencial, de áreas ou atividades fins e de apoio das empresas.
Exemplos: competência de gestão de pessoas; competência de gestão da qualidade.
Gerenciais
Capacitações mais específicas da competência de gestão, compreendendo
habilidades pessoais e conhecimentos de técnicas de administração ou
gerenciamento, de aplicação em situações de direção, coordenação ou supervisão.
Exemplos: capacidade de conduzir reuniões de trabalhos produtivas, saber
administrar, convergir ações para resultados comuns.
Requeridas pelos
cargos
São as competências gerais e específicas requeridas aos ocupantes dos diversos
cargos da empresa. Exemplos: saber dimensionar peças (inspetores, técnicos ou
mecânicos de manutenção), saber classificar documentos contábeis (auxiliar de
tesouraria).
Quadro 13
– Competências empresariais e organizacionais
Fonte
:
Resende (2000)
Contudo, segundo Fleury e Fleury (2004) e Gramigna (2002), as competências
podem ainda ser desdobradas em três componentes básicos:
atitudes, habilidades
e
conhecimentos.
65
Para Gramigna, atitude é “[...] o início de tudo e o principal componente da
competência. Está relacionada com “querer ser e querer agir”. [...] O conjunto de valores,
crenças e princípios, formados ao longo da vida, [...] determinam nossas atitudes”.
A habilidade é conceituada pela autora como o “[...] agir com talento, capacidade
e técnica, obtendo resultados positivos”.
Finalmente, o conhecimento é definido por ela como um “[...] conjunto de
informações que a pessoa armazena e lança mão quando precisa”.
Para Durand (2000), o conhecimento corresponde a uma série de informação
assimiladas e estruturadas pelo indivíduo, que lhe permitem “entender o mundo”. Refere-se
ao saber que a pessoa acumulou ao longo da vida. Enquanto habilidade está relacionada ao
saber como fazer algo (GAGNÉ et al., 1998) ou à capacidade de fazer uso produtivo do
conhecimento, ou seja, de instaurar conhecimentos e utilizá-los em uma ação (DURAND,
2000). E por último, atitude refere-se a aspectos sociais e afetivos relacionados ao trabalho
(DURAND, 2000). São estados complexos do ser humano que afetam o comportamento em
relação a pessoas, coisas e eventos, determinando a escolha de curso de ação pessoal.
(GAGNÉ et al., 1998).
A respeito destas conceituações, é oportuno se fazer algumas considerações de
ordem comparativa, em relação a outras conceituações já citadas neste trabalho.
No que diz respeito a atitudes e habilidades, pode-se afirmar que a autora está se
referindo aos conhecimentos tácitos, pois as conceituações propostas pela mesma podem ser
apreendidas ou capturadas na conceituação proposta por Nonaka e Takeuchi (1997, p. 7-8),
que afirmam que o conhecimento tácito:
[...] pode ser segmentado em duas dimensões: técnica e cognitiva. A dimensão
técnica é o “saber como”. A dimensão cognitiva consiste em esquemas, modelos
mentais, crenças e percepções do mundo. Reflete a imagem da realidade (o que é) e
a visão do futuro (o que deveria ser) e é de difícil articulação.
Já, no que diz respeito ao conhecimento, pode-se afirmar que a conceituação
proposta pela autora refere-se aos conhecimentos explícitos, embora a mesma limite-se a
defini-lo apenas como “um conjunto de informações que a pessoa armazena e lança mão
quando precisa”.
Porém, conhecimento explícito é muito mais abrangente. Nonaka e Takeuchi
(1997, p. 63) conceituam o conhecimento explícito como: “[...] crença verdadeira justificada
(....) como um processo humano dinâmico de justificar a crença pessoal com relação à
‘verdade’. [...] o conhecimento é criado por um fluxo de informação, ancorado nas crenças e
compromissos de seu detentor”.
66
É importante frisar que uma organização cria seus ativos intangíveis e vantagem
competitiva a partir da utilização das competências dos seus funcionários.
Nesse sentido, Sveiby (1998, p. 9-11) afirma que:
[...] as pessoas são os únicos verdadeiros agentes na empresa. Todos os ativos e
estruturas – quer tangíveis ou intangíveis – são resultado das ações humanas. [...] a
competência do funcionário envolve a capacidade de agir em diversas situações para
criar tanto ativos tangíveis como intangíveis.
Hamel e Prahalad (1995) acreditam que a vantagem competitiva surge de
capacidades profundamente enraizadas que estão por trás de produtos de uma empresa
permitindo, assim, a diversificação em novos mercados através da aplicabilidade daquilo que
faz melhor. Portanto, o segredo não está em fazer grandes produtos, mas sim em um conjunto
de competências únicas capazes de criar grandes produtos, e como as competências são
“ocultas”, nada fácil de imitá-las.
Ao definir sua estratégia competitiva, a empresa identifica também suas
competências essenciais e, consequentemente as competências individuais de cada função. A
identificação dessas competências possibilita as escolhas estratégicas feitas pela empresa,
levando a um círculo vicioso de construção de competências. (CONDE, 2001, p. 42).
A construção do futuro de uma empresa baseia-se na competência essencial a fim
de que sua estratégia organizacional possa reinventar seu mercado, criando e dominando as
oportunidades emergentes.
A partir do momento que uma empresa compreende e distingue melhor suas
competências, ela pode conquistar inúmeros benefícios. Quando os gerentes têm opiniões
similares sobre as competências mais importantes de sua empresa, tendem a ser mais coerente
nas decisões voltadas a desenvolver e fortalecer essas competências, indicando áreas em que é
preciso investir para aumentar a condição competitiva da empresa.
2.2.5 Competências Profissionais ou Individuais
Trazendo o conceito de competência para o nível individual, constata-se que as
habilidades, potencialidades e atitudes do funcionário são influenciadas pelas competências da
organização. Atualmente, segundo Hipólito (2001, p.81), o conceito de competência ampliou-
se. Além de considerar o estoque de conhecimentos, habilidades e atitudes de um indivíduo,
considera também resultados, produção e entrega decorrentes de sua mobilização, isto é,
incorpora o valor adicionado pelo empregado ao negócio. (Ver Figura 4).
67
Figura 4
– Conceito de competência individual segundo Hipólito
Fonte: Hipólito (2001)
O modelo das competências profissionais começa a ser discutido no mundo
empresarial a partir dos anos oitenta, no contexto da crise estrutural do capitalismo que se
configura, nos países centrais, no início da década de setenta. Esta crise se expressa pelo
esgotamento do padrão de acumulação taylorista/fordista; pela hipertrofia da esfera financeira
na nova fase do processo de internacionalização do capital; por uma acirrada concorrência
intercapitalista, com tendência crescente à concentração de capitais devido às fusões entre as
empresas monopolistas e oligopolistas; e pela desregulamentação dos mercados e da força de
trabalho, resultantes da crise da organização assalariada do trabalho e do contrato social.
As respostas do capital à sua crise estrutural podem ser dimensionadas pelas
reestruturações empreendidas no próprio processo produtivo, por meio da constituição das
formas de produção flexíveis, da inovação científico-tecnológica aplicada aos processos
produtivos, e de novos modos de gerenciamento da organização do trabalho e do saber dos
trabalhadores. Este amplo processo de reestruturação teve como objetivos não só reorganizar
em termos capitalistas o processo produtivo tendo em vista a retomada de seu patamar de
acumulação, mas gestar um projeto de recuperação da hegemonia do capital não só na esfera
da produção, mas nas diversas esferas da sociabilidade, que se confrontasse ao contra-poder
que emergira das lutas sociais e sindicais dos anos sessenta e setenta.
As novas concepções gerenciais que surgem no bojo desse processo de
reestruturação empresarial estão ancoradas, assim, numa lógica de recomposição da
hegemonia capitalista e das relações capital-trabalho e têm como objetivos racionalizar,
otimizar e adequar a força de trabalho face às demandas do sistema produtivo. Na década de
COMPET
Ê
NCIA
INDIVIDUAL
PRODUÇÃO E
ENTREGA
Resultados
ATITUDES
Querer fazer
POTENCIALIDADES
Conhecimentos
HABILIDADES
Saber como
68
90, o aprofundamento da globalização das atividades capitalistas e a crescente busca de
competitividade levaram ao "alinhamento definitivo das políticas de recursos humanos às
estratégias empresariais, incorporando à prática organizacional o conceito de competência,
como base do modelo para se gerenciarem pessoas", apontando para novos elementos na
gestão do trabalho.
A competência profissional é uma combinação de conhecimentos, de saber-fazer, de
experiências e comportamentos que se exerce em um contexto. Preciso. Ela é
constatada quando de sua utilização em situação profissional a partir da qual é
passível de validação. Compete então à empresa identificá-la, avaliá-la, validá-la e
fazê-la evoluir.(MEDEF APUD ZARIFIAN, 2001, p. 66)
Essa definição indica claramente a mudança que é necessária implementar no
tocante ao novo modelo do posto de trabalho. Para o autor a competência é realmente a
competência do indivíduo (e não a qualificação de um emprego) e se manifesta e é avaliada
quando de sua utilização em situação profissional.
Os novos perfis de competência profissional de uma empresa são compostos dos:
a) espaços organizacionais (substitutos dos cargos e funções especializadas) e que consistem
no conjunto de atribuições e responsabilidades conferidas a cada empregado, são o “lugar”
integrador de atividades consideradas essenciais para a instituição e que dão consistência à
nova dinâmica de funcionamento, pois eles possibilitam os relacionamentos transversais que
concretizam o processo de trabalho; e b) da definição da competência profissional que é o
conjunto de conhecimentos (saber conceitual), habilidades (componente comportamental que
se refere à capacidade de aplicar os conhecimentos, ou seja, de saber fazer: liderança,
negociação, gestão de conflitos, comunicação etc.) e atitudes (componente comportamental
que se refere ao querer fazer a partir do desejo e motivação pessoal) que permite a empresa
manter-se atualizada e projetar para o futuro a eficácia de sua competência essencial.
Alguns autores discutem com propriedade o conceito de competência, a interação
do indivíduo com sua equipe e com seu ambiente de trabalho.
Zarifian (2001) tem uma visão bastante crítica quanto às práticas organizacionais
referentes ao assunto. Propõe um outro conceito de competência, mais amplo, incluindo a
interação do indivíduo com o seu ambiente: o assumir responsabilidades, ser reconhecido e
recompensado como uma pessoa hábil, como inteligência prática dirigida à situação de
trabalho.
Dejours (1997) reforça que a competência humana depende do contexto ético e
social, depende tanto do sujeito quanto do outro, ou seja, depende do coletivo. A competência
é coletiva antes de ser individual, o que causa impactos significativos no conceito de fator
69
humano. Segundo o autor, o fator humano não pode ser completamente conceituado pela
ciência, no mundo cotidiano do trabalho, suas três dimensões irredutíveis são:
a biológica preocupada com o conhecimento das exigências e dos limites do
funcionamento do corpo biológico, nem todos os desempenhos são possíveis;
a social refere-se ao trabalho, supõe uma ação coordenada de pessoas que se
compreendem, se opõem, lutam entre si ou concordam, não só sobre a base de
princípios técnicos, mas também éticos;
e a subjetiva que inclui a mobilização subjetiva das personalidades e das
inteligências da pessoa nos atos de trabalho.
No âmbito individual, a competência pode ser conceituada segundo Setzer (1999,
p. 5-6), o qual afirma que a mesma é:
[...] uma capacidade de executar uma tarefa no ‘mundo real’. [...]Uma pessoa é
competente em alguma área se demonstrou, através de realizações passadas, a
capacidade de executar uma determinada tarefa. [...] competência é uma habilidade
de produzir algo em uma certa área de conhecimento. [...] Competência exige
conhecimento e habilidade pessoal [...].
Pode-se abstrair desta conceituação que a competência tem uma natureza
dinâmica e decorre de experiências passadas. Isto pressupõe o domínio de certos
conhecimentos e habilidades concernentes à área onde se desenvolveu uma competência. Isto
implica dizer que não existe competência absoluta.
Esta abstração baseia-se em outra conceituação importante, dada por Teixeira
(2002, p. 33), o qual diz que a “[...] competência é um estado quantitativo e temporal de uma
pessoa para executar uma tarefa ou missão. Isto quer dizer que toda competência é relativa
[...]”.
Uma característica importante é que a exemplo do conhecimento a competência
também não pode ser transmitida formalmente ou processada por um computador.
Sveiby (1998, p. 46) afirma que “[...] A competência não pode ser copiada com
exatidão. Todos nós desenvolvemos nossa própria competência – por meio do treinamento, da
prática, de erros, da reflexão e da repetição. A competência é transferida pela prática”.
Ainda Sveiby (1998, p. 52-53) afirma também que o método mais eficaz de
transmissão de competência é através da tradição, que consiste no:
[...] processo no qual o aprendiz recria pessoalmente as habilidades do mestre. [...]
Embora mais lenta que a informação para transferir fatos, a tradição é uma forma
muito mais eficaz de transferir competência porque lança mão de todos os sentidos,
inclusive o sexto sentido.
70
Para Resende (2000, p. 38), competência “é a aplicação prática de conhecimentos,
aptidões, habilidades, valores, interesse – no todo ou em parte – com obtenção de resultados”.
Para o autor, que entende o desenvolvimento de competências com o desenvolvimento
integral dos indivíduos, existem várias categorias de competências (Ver Quadro 14).
Competências
Descrição
Técnicas São de domínio de alguns especialistas. Exemplo: saber como dirigir carretas
conforme o tipo de carga – competência específica de motoristas de transporte de
carga.
Intelectuais Relacionadas com aplicação de aptidões mentais. Exemplos: ter presença de
espírito; ter capacidade de percepção e discernimento das situações.
Cognitivas Competência que é um nicho de capacidade intelectual com domínio de
conhecimento. Exemplos: saber lidar com conceitos e teorias; saber
generalizações; saber aplicar terminologia e elaborar classificações.
Relacionais Que envolvem habilidades práticas de relações e interações. Exemplos: saber
relacionar-se em diversos níveis; saber interagir com diferentes áreas.
Sociais e
políticas
Que envolvem simultaneamente relações e participações em sociedade. Exemplos:
saber manter relações e convivências com pessoas, grupos, associações; saber
exercer influência em grupos sociais para objetivos de interesses de associações,
comunidades e regiões.
Didático-
pedagógicas
Voltadas para educação e ensino. Exemplos: saber ensinar e treinar obtendo
resultado de aprendizagem; saber tornar interessante as apresentações; saber
planejar aulas de acordo com preceitos pedagógicos.
Metodológicas Competências na aplicação de técnicas e meios de organização de atividades e
trabalhos. Exemplos: saber organizar o trabalho da equipe; saber definir roteiros e
fluxos de serviços; saber elaborar normas de procedimentos.
De liderança Que reúnem habilidades pessoais e conhecimentos de técnicas de influenciar e
conduzir pessoas para diversos fins ou objetivos na vida profissional ou social.
Exemplos: saber obter adesão para causas filantrópicas; saber organizar e conduzir
grupos comunitários.
Empresariais e
organizacionais
Que se referem à organização e gestão empresarial. Exemplos: capacidade de
definir estratégias empresariais, gerir pessoas, gerir ferramentas que possibilitem a
realização de negócios ou realizar especializadas específicas fundamentais para a
empresa.
Quadro 14 – Categorias diversas de competências
Fonte: Resende (2000)
Segundo Sveiby (1998, p. 42) a competência individual consiste em cinco
elementos mutuamente dependentes (ver Figura 5):
Conhecimento Explícito – o conhecimento explícito envolve o conhecimento dos
fatos e é adquirido principalmente pela informação, quase sempre pela educação
formal.
• Habilidade – esta arte de “saber fazer” envolve uma proficiência prática – física e
mental – e é adquirida sobretudo por treinamentos e prática. Inclui o conhecimento
de regras de procedimento e habilidades de comunicação.
• Experiência – a experiência é adquirida principalmente pela reflexão sobre erros e
sucessos passados.
• Julgamentos de valor – são percepções que o indivíduo acredita estar certo. Eles
agem como filtros conscientes e inconscientes para o processo de saber de cada
indivíduo.
• Rede social – é formada pelas relações do indivíduo com outros seres humanos
dentro de um ambiente e uma cultura transmitidos pela tradição.
71
Figura 5
– O conceito de competência individual segundo Sveiby
Fonte: Sveiby (1998)
Sveiby chama a atenção também para o fato de que a competência, em grande
parte, depende do ambiente. Segundo o autor (1998, p. 43),
[...] isto vale em especial para os componentes empíricos e da rede social da
competência. Se uma pessoa se muda para um novo ambiente, ela perde
competência. [...] Assim, nos setores de produção, a competência dos trabalhadores
está intimamente relacionada a um determinado ambiente físico – ao que chamo de
estrutura interna. Eles têm poucas alternativas fora deste ambiente.
Para Brandão e Guimarães (2001):
O conceito de competência profissional ou do indivíduo envolve três dimensões: a
dimensão do conhecimento, que trata da informação, dos saberes de fatos e de suas
razões; a dimensão das habilidades, que envolve a técnica, a capacidade e o
conhecimento dos métodos de ação; e a dimensão das atitudes, relacionada ao
interesse, à identidade e à determinação. Estas dimensões são interdependentes entre
si, de modo que não há sentido, por exemplo, na competência de um profissional que
possua todas as informações importantes sobre uma atividade (conhecimento), mas
que não possui a capacidade (habilidade) e o interesse (atitude) em realizar tal
atividade.
Da mesma forma não se admite o profissional que detêm o conhecimento para si,
pois uma competência só é reconhecida quando disponibilizada. Não adianta alguém saber
que sabe. Para obter o reconhecimento, precisa demonstrar que sabe. “Algumas pessoas
acumulam um ‘baú’ de informações teóricas e têm dificuldade de abri-lo para uso. Com o
tempo, o baú é esquecido e ninguém se beneficiou de seu conteúdo”. (GRAMIGNA, 2002, p.
COMPET
Ê
NCIA
INDIVIDUAL
CONHECIMENTO
EXPLÍCITO
Informação
HABILIDADE
Saber fazer
EXPERI
Ê
NCIA
Sucessos/erros
REDE SOCIAL
Ambiente/cultura
JULGAMENTOS
DE VALOR
Percepções
72
20). Por isso é necessário que haja um compartilhamento desse conhecimento e que as
empresas reconheçam as competências e a importância da sua disseminação.
Substituindo os antigos cargos especializados adequados aos modelos de gestão
focados na organização do trabalho pela especialidade, os novos perfis de competências
profissionais surgem definidos a partir das competências essenciais das empresas compostos
dos conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para a viabilização e expansão do
negócio empresarial. Cada setor de trabalho exige conhecimentos específicos e
conhecimentos essenciais. Os processos de decisão, planejamento e organização,
comunicação, controle de resultados, negociação e administração de conflitos, entre outros,
são afetados pelo nível de conhecimentos básicos – aqueles que fazem parte das exigências
específicas para o desempenho das funções. O domínio de procedimentos, conceitos, fatos e
informações relevantes interferem diretamente na qualidade desses processos.
Segundo Zarifian (2001, p. 66), “a competência profissional é constatada quando
de sua utilização em situação profissional, a partir da qual é passível de validação. Compete
então à empresa identificá-la, avaliá-la, avalidá-la e fazê-la evoluir”. A competência do
indivíduo não se reduz somente a um conhecimento específico. A competência está situada
numa encruzilhada, com três eixos formados pela pessoa (sua biografia, socialização), por usa
formação educacional e por sua experiência profissional (FLEURY e FLEURY, 2004, p. 29).
Ainda segundo esses autores (ver Quadro 15), a competência individual pode ser definida
como:
um saber agir responsável e que é reconhecido pelos outros. Implica saber mobilizar,
integrar e transferir os conhecimentos, recursos e habilidades, num contexto
profissional determinado. A competência profissional implica também em
desenvolver e propiciar o desenvolvimento dos outros, saber assumir
responsabilidades, engajar-se e comprometer-se com os objetivos da empresa.
73
Saber agir
Saber o que e por que faz.
Saber julgar, escolher, decidir.
Saber mobilizar
Saber mobilizar recursos de pessoas, financeiros,
materiais, criando sinergia entre eles.
Saber comunicar
Compreender, processar, transmitir informações e
conhecimentos da mensagem pelos outros.
Saber aprender
Trabalhar o conhecimento e a experiência.
Rever modelos mentais.
Saber desenvolver-se e propiciar o desenvolvimento dos
outros.
Saber comprometer-se
Saber engajar-se e comprometer-se com os objetivos da
organização.
Saber assumir
responsabilidades
Ser responsável, assumindo os riscos e as conseqüências
de suas ações, e ser, por isso, reconhecido.
Ter visão estratégica
Conhecer e entender o negócio da organização, seu
ambiente, identificando oportunidades, alternativas.
Quadro 15
- Competências do profissional
Fonte: Fleury e Fleury (2004, p. 31)
A competência individual encontra seus limites, mas não sua negação no nível dos
saberes alcançados pela sociedade, ou pela profissão do indivíduo, numa época
determinada. As competências são sempre contextualizadas. Os conhecimentos e o
“know-how” não adquirem status de competência a não ser que sejam comunicados
e trocados. A rede de conhecimento em que se insere o indivíduo é fundamental para
que a comunicação seja eficiente e gere competência. (FLEURY e FLEURY, 2004,
p. 29-30).
As competências individuais também dependem do ambiente e da rede social, são
difíceis de serem copiadas com exatidão e são adquiridas por meio de treinamento, da prática,
de erros, da reflexão e da repetição. Durand (1998) afirma que, nos tempos medievais, os
alquimistas procuravam transformar metais em ouro; hoje, os gerentes e as empresas
procuram transformar recursos e ativos em lucro. Dessa forma as empresas que desejarem
manter-se no mercado competitivo deverão considerar o conhecimento, as competências e a
aprendizagem organizacional como recursos importantes para criar e sustentar suas vantagens
competitivas, é importante identificar como criar esse conhecimento na empresa, desenvolver
essas competências e estimular a aprendizagem organizacional.
Fleury e Fleury (2004) classificam ainda as competências individuais em três
grandes blocos, quando a empresa é analisada como um todo dentro de uma visão sistêmica:
Competências de negócio: competências relacionadas à compreensão do negócio,
seus objetivos na relação com o mercado, clientes e competidores, assim como o
ambiente político e social. Exemplo: conhecimento do negócio, orientação para o
cliente.
Competências técnico-profissionais: competências específicas para certa
operação, ocupação ou atividade, como, por exemplo, desenho técnico,
conhecimento do produto, finanças.
Competências sociais: competências necessárias para interagir com as pessoas,
como, por exemplo, comunicação, negociação, mobilização para mudança,
sensibilidade cultural, trabalho em times.
74
A partir da apresentação de vários autores abordando a questão da competência, o
conceito de competência, discutido neste trabalho, envolve diretamente o indivíduo inserido
em sua equipe de trabalho através de sua atividade prática, uma vez que sua rotina diária
implica num saber aprender e desaprender constante. O indivíduo deve mostrar-se apto a
tomar iniciativa e a assumir responsabilidades diante das situações profissionais com as quais
se depara. A responsabilidade é, sem dúvida, a contrapartida da autonomia e da
descentralização das tomadas de decisão. Não se trata mais de executar ordens, mas de
assumir em pessoa a responsabilidade pela avaliação da situação, pela iniciativa exigida e
pelos efeitos que vão decorrer dessa situação.
Dessa forma, uma pessoa ou equipe ao aceitar assumir suas responsabilidades,
aceita ser julgada e avaliada pelos resultados obtidos no campo dos desempenhos pelos quais
é responsável. Compromete-se e torna-se, explicitamente, devedora dos resultados de sua
atividade.
Ser competente é, sem dúvida, agir localmente, tendo a preocupação e a visão dos
efeitos globais. É compartilhar conhecimento e mobilizar recursos diante de situações
complexas a fim de se atingir metas propostas. Uma unidade de produção deve cumprir,
simultaneamente, um conjunto de desempenhos relacionados, com redução de custos,
qualidade, prazo, capacidade de inovação, e muito mais.
Na prática, a competência das pessoas manifesta-se na capacidade de julgar e
tomar decisões, privilegiando a autonomia frente à observância estrita da disciplina; a
responsabilidade frente à obediência cega, e o espírito de equipe e de cooperação frente aos
comportamentos egoístas. (ZARIFIAN, 2000, p.163).
75
2.3 Competências do Engenheiro Civil
2.3.1 Perfil do Engenheiro Civil
Os conceitos de “engenheiro” ou de “engenho” teriam suas origens na Europa da
Renascença (SACADURA, 1999). Seriam derivados da palavra latina ingenium, que
significava gênio, talento criativo, potencial inventivo, isto é, segundo o Dicionário da Língua
Portuguesa, um dom inato próprio aos grandes artistas e sábios. Com esta definição a
engenharia entrou desde o início no círculo restrito das artes que, segundo a tradição
humanística daquela época, implicavam o ingenium, ou seja, a eloqüência, a poesia e, mais
tarde, a arquitetura.
Apesar de não constituírem ainda uma profissão, os engenheiros da época da
Renascença já apresentavam algumas características comuns. Eram quase todos homens de
projeto, apoiando sua arte sobre sólidos conhecimentos de geometria e de mecânica herdados
das épocas da Antiguidade e da Idade Média. Desde o início a engenharia encontrou-se
estreitamente associada a uma ambição intelectual de combinar os conhecimentos teóricos
com o know-how das artes aplicadas, e a cultura humanística como conhecimento e o
manuseio da matéria. (SACADURA, 1999).
A história guardou memória dos mais brilhantes e ilustres engenheiros, como
Leonardo da Vinci, mas na realidade a arte da engenharia desenvolveu-se sobretudo na
Europa, durante os séculos XVI e XVII, como especialidade militar. Como profissão, a
engenharia começou a estruturar-se através da criação de corpos de engenharia militar,
encarregado das fortificações e do desenvolvimento de novos armamentos.
Atualmente, a profissão de engenheiro inclui uma grande diversidade de
competências: conhecimentos, habilidades e atitudes. O engenheiro pode desenvolver as mais
variadas funções dentro de uma organização: administrador, chefe de produção, gerente de
obras, pesquisador, professor, vendedor de produtos e serviços, seja qual for a função, do
funcionário público ao assalariado, as situações profissionais dos engenheiros mostram uma
grande diversidade, embora para a maioria da população, segundo Sacadura (1999), o
engenheiro ainda encontre-se ligado à noção de chefia de alguma atividade técnica, na qual é
detentor de competências científicas e tecnológicas superiores às dos outros profissionais da
produção e exerce sobre eles certa autoridade.
O contexto social e econômico onde os engenheiros atuam, mudou radicalmente
desde a criação dos cursos destinados à sua formação, no final do século XVIII, mudança que
76
se acelerou nos últimos decênios do século XX. Novas tecnologias, como a pesquisa
operacional, a informática, as telecomunicações e as biotecnologias, não só deram origem a
novas ferramentas exigindo uma formação complementar, mas alteraram profundamente os
processos de suas representações. Novas questões passaram a afetar esta atuação, como as
relacionadas aos impactos sociais das atividades produtivas, criando novos problemas e novas
áreas de trabalho e novas regulamentações a serem consideradas (ou construídas). O mercado
de trabalho estendeu-se para o setor de serviços – seja porque este foi trazido para dentro do
planejamento da produção pela busca da “qualidade total”, pelo uso intensivo das redes de
telecomunicação e da informática e pela modularização e terceirização de parte dos sistemas
de gerenciamento e produção, seja porque os serviços em geral estão cada vez mais
dependentes da capacidade de formalização e organização próprias à engenharia. (SILVEIRA,
2005).
No início desse novo século, são inúmeras as interrogações que vem à mente
quando tenta-se definir ou traçar um perfil profissional para o engenheiro. De acordo com
Moraes (1999) quais são os atuais atributos culturais e as qualificações técnicas do engenheiro
recém-formado que estão sendo requeridos pela comunidade empresarial? Qual é o perfil
profissional ideal do engenheiro do novo século? Como formar este novo engenheiro que vem
sendo requerido pela sociedade atual? Como educá-lo para uma sociedade em transformação,
para um mundo globalizado que, ao mesmo tempo, exige a preparação para o mundo do
trabalho mutante e, acima de tudo, requer a sua preparação para dialogar com o mundo e com
a vida? São perguntas que estão cada vez mais presentes no ambiente organizacional e que
nem sempre têm sido respondidas de forma mais eficaz.
O mundo passa por grandes transformações, principalmente no tocante à
tecnologia da informação e a nova forma de gestão das empresas. O nosso cotidiano está
sendo marcado por mudanças socioeconômicas e culturais, assim como também pela maneira
de como pensamos, conhecemos e aprendemos o mundo. As novas tecnologias e formas de
gestão trazem novas ferramentas computacionais e gerenciais que alteram a maneira de ser,
viver e de aprender.
Diante dessa nova sociedade informatizada, das mudanças de paradigmas e do
novo papel que o engenheiro precisa desenvolver nas organizações, particularmente nas
empresas de construção civil, não mais somente técnico, mas principalmente gerencial, será
que ele está preparado para esses novos desafios? Segundo Moraes (1999), o que se percebe é
que, diante das transformações tecnológicas que varrem o planeta de ponta a ponta, o mundo
educacional parece estar meio distante de tudo isto.
77
Para Bazzo et al (1999) nesta nova realidade, tornam-se cada vez mais elevadas as
qualificações exigidas para os postos de trabalho em qualquer setor de produção, fato que
coloca uma grande pressão sobre as necessidades educacionais da população. Com as
constantes mudanças tecnológicas, os indivíduos que não as acompanharem ficarão
prematuramente inabilitados para o trabalho.
Além das preocupações citadas acima, tratando-se de Brasil e especificamente da
construção civil, existe outra preocupação que não pode deixar de ser colocada. Existe um
déficit habitacional imenso e a construção civil tem uma responsabilidade muito grande nessa
área, principalmente por ser um dos setores que mais promove a transformação da natureza, e
que mais consome recursos naturais, utilizando cerca de 1.000 Kg de materiais para a
construção de um metro quadrado de habitação. Dentro desse raciocínio o engenheiro civil
tem um papel fundamental: produzir mais, com menos custo e melhor utilização dos recursos
naturais, evitando assim desperdícios e preservação à natureza.
Em estudo realizado pelo CTE (Centro de Tecnologia de Edificações - São Paulo)
junto a uma série de empresas construtoras, identificou-se algumas características desse novo
perfil do engenheiro:
• Foco em resultados a serem gerados pela obra em termos de custos, prazos,
qualidade do produto final e grau de satisfação do cliente. A obra deve ser vista
pelo engenheiro como uma unidade de negócios, como uma filial da empresa que
deve gerar resultados. Esses resultados por sua vez devem ser compatíveis com as
metas empresariais da construtora que deve negociar um Plano de Resultados com
seus engenheiros, avaliando seu desempenho, promovendo as ações corretivas
necessárias em casos de não-conformidades. Por isso a importância da definição
de metas por parte da empresa e de uma clara visão global por parte do engenheiro
em relação às características do empreendimento, condições contratuais,
condições de financiamento, custos e prazo previstos, projeto, especificações e
exigências do cliente.
• Ação gerencial do engenheiro que tendo a visão sistêmica do empreendimento
deve concentrar suas atribuições na gestão dos macro-processos da obra: projeto e
implantação do canteiro de obras; planejamento, programação e controle da obra;
suprimentos de materiais e equipamentos; contratação de mão-de-obra e gestão de
empreiteiros; gestão da segurança do trabalho; gestão da qualidade da obra através
do controle da qualidade de materiais, execução da obra e entrega da obra. Este
perfil gerencial se contrapõe ao atual papel do engenheiro que tem consumido a
78
maior parte do seu tempo em atividades operacionais e administrativas que não
agregam valor à função e não se constituem em suas atividades essenciais.
• Domínio de metodologias de planejamento e controle de obras permitindo a
utilização de instrumentos que permitem planejar, programar e controlar os
serviços de execução obras de forma integrada com os processos de planejamento
e custos da empresa. Essa habilidade é fundamental, pois permite além do
controle gerencial do andamento da obra, a geração de indicadores de
produtividade e de custos próprios da empresa que medem seu desempenho real.
• Conhecimento de inovações tecnológicas buscando a familiaridade com os
processos construtivos racionalizados e as inovações tecnológicas que estão sendo
implementadas no setor. Após a abertura do mercado brasileiro várias novas
tecnologias de produto e processo (formas metálicas, dry-wall, painéis pré-
moldados de fachada, sistema PEX para instalações, equipamentos à laser para
controle geométrico de obras) adentraram ao mercado. O domínio dessas novas
tecnologias está se tornando fator de diferencial competitivo das empresas
permitindo a melhoria dos processos construtivos e promovendo ganhos de
produtividade e redução dos custos.
• Habilidades em gestão de pessoas desenvolvendo competência para exercício da
liderança, comunicação, negociação, trabalho em equipe, treinamento e motivação
de forma a gerenciar o pessoal próprio e empreiteiros, obtendo comprometimento,
melhor desempenho e maior produtividade. Tais habilidades são essenciais em
ambientes de trabalho onde a implantação de novas tecnologias e procedimentos
padronizados são uma tônica.
• Espírito empreendedor do engenheiro permitindo a tomada de decisões e de
iniciativas como representante da alta administração da empresa dentro da obra e
combatendo um certo comodismo onde o engenheiro adota uma postura reativa
face às cobranças feitas pelo coordenador de obras ou pelo diretor técnico da
empresa.
Essas habilidades segundo Souza (2005), são habilidades essenciais em ambientes
onde a implantação de sistemas de gestão da qualidade e a introdução de inovações
tecnológicas introduzem mudanças significativas nas formas de trabalho. “São processo de
mudanças organizacionais que dependem da motivação e do comprometimento das pessoas
para que efetivamente aconteçam na prática.”
Diante dos diversos cenários expostos neste trabalho, bem como da
79
internacionalização dos mercados e das culturas, para Bazzo et al (1999) o novo profissional
deve ser preparado para raciocinar e agir sem fronteiras, o que exige dele o entendimento de
outras culturas e idiomas. Deve ser empreendedor e estar preparado para trabalhar em equipe
e gerenciar complexos empreendimentos. Deve cultivar a liderança, ser criativo, estar
profissionalmente e mentalmente preparado para, eventualmente, ter trabalho e não
necessariamente um emprego. Finalmente, deve ter a consciência que jamais estará formado e
de que a disposição e a capacidade de aprender continuamente sejam talvez os principais
requisitos para o seu sucesso e o de sua empresa. (LONGO e TELLES, 1998).
Ainda dentro do perfil apresentado por Bazzo et al (1999) fazem parte do perfil
ideal do engenheiro:
conhecimento técnico específico;
sólido embasamento nas ciências físicas e matemáticas;
domínio de um idioma mais universal – o inglês;
facilidade no uso das ferramentas da informática;
capacidade de comunicação oral e escrita;
habilidade de relacionamento interpessoal;
espírito de liderança;
conhecimento de gestão;
capacidade de disposição para aprender por conta própria;
curiosidade e disposição para pesquisar, inventar, criar, experimentar;
compromisso com sua profissão, com a sua empresa e com a sociedade.
Bazzo e Pereira (2003) defendem que é errôneo supor que a Engenharia, por se
enquadrar no domínio das Ciências Exatas, não depende, nas suas atividades, de um bom
nível de relacionamento humano, até porque, o engenheiro passa a maioria de seu tempo
lidando com pessoas, muito mais do que muita gente possa imaginar. Mais uma vez é válido
salientar o dia-a-dia dos engenheiros de obra, na maioria das vezes, sendo mais gerencial do
que somente técnico.
Além das características gerenciais citadas anteriormente, o engenheiro necessita
interagir com clientes, fornecedores, agentes financeiros e do poder público, e para isto
precisará ter um bom nível de diálogo em várias áreas do conhecimento. Sendo assim, a
capacidade de manter boas relações pessoais é uma qualidade extremamente importante, até
mesmo porque, para que suas soluções tenham boa aceitação, ele deve saber o que pensa e
quais são as necessidades e aspirações da sociedade.
80
Nesse sentido, do engenheiro civil, enquanto gerente de projetos e de recursos
humanos, conforme Valeriano (1998) além dos conhecimentos (técnicos, nem tanto como
possuidor deles, mas como quem sabe onde estão), são requeridas também, atitudes
(motivação e envolvimento com o projeto, assunção de riscos, comportamento de estímulo e
delegação à equipe), e habilidades (gerenciais, de relações humanas e políticas). “Dos
engenheiros do século XXI exigir-se-á, muito menos domínio do conteúdo de suas áreas de
atuação e muito mais capacidade em resolver problemas, tomar decisões, trabalhar em equipe
e se comunicar”. (BORGES e AGUIAR NETO, 2000).
Tradicionalmente, espera-se que o engenheiro, recém-formado, exerça uma
função técnica de execução na empresa sob o controle de um engenheiro experiente, com
formação complementar. Tendo sucesso, passa a “chefe de equipe técnica” encarregada de
tarefas de produção ou de manutenção, ou a de “gerente de estoque”, estas duas funções
também citadas como “engenheiro de obra” ou “engenheiro de chão-de-fábrica”. Outra
possibilidade, mais rara, é passar a “projetista” dentro de uma equipe especializada. Em
ambos os casos o engenheiro utiliza a linguagem das plantas, diagramas técnicos, planilhas e
tabelas de especificação (de produtos, de processos, de operações). Muito poucos ocupam a
função de “projetista” em níveis mais altos, até chegar a dirigir equipes ou empresas
especialmente dedicadas. A maioria dos engenheiros passa a “gerente técnico”, encarregado
de comandar as equipes técnicas, traçar as grandes linhas de projetos, tomar decisões sobre
compras ou vendas. Nesta função o engenheiro ainda usa a linguagem das plantas, embora
ocupe o seu tempo com estudos, relatórios e contratos. Finalmente, o engenheiro tendo
sucesso passa à função de “administrador técnico” (e, depois, a de “administrador”,
simplesmente), tendo que tomar decisões políticas, técnicas e financeiras, administrar recursos
humanos no seu dia-a-dia, principalmente no caso dos engenheiros de obra e relacionar-se
com o público (no caso do engenheiro civil com as comunidades nas quais o projeto está
inserido, bem como com as entidades políticas envolvidas no projeto, como os órgãos das
prefeituras, dentre outros). A atividade, neste caso passa pela direção de reuniões de técnicos
e assessores, pela preparação de memorando e contratos e pelas negociações empresariais
(dentro da empresa ou com seus clientes).
No entanto, sob a denominação de “função técnica” aparecem ocupações não
contempladas nas escolas de engenharia. Depois de um período circulando pela empresa
(trainees ou estagiários) ou participando de cursos internos de formação, grande parte dos
engenheiros passam a trabalhar em vendas, atendimento aos clientes ou a analisar,
desenvolver e integrar sistemas. Nestas atividades utilizam seriamente o conhecimento e
81
capacidades associadas atualmente à função de “engenheiro”, porém são tratados com pouca
ou quase nenhuma ênfase pelas universidades.
Novas funções aparecem como conseqüência das mudanças apontadas acima. Elas
giram em torno da capacidade que tem o engenheiro bem formado de enfrentar problemas
pensando com clareza e considerando as possibilidades e os limites técnicos.
Segundo Silveira (2005), no Brasil, até recentemente, o engenheiro era visto como
um gerente técnico, comandando técnicos ou operários. Engenheiros trabalhando em funções
essencialmente técnicas (mesmo na pesquisa) ou na área de desenvolvimento comercial de
produtos são ainda mais vistos como “fora de profissão”.
A seguir, será mostrado o perfil desejado do engenheiro, de acordo com diferentes
autores. É importante estar atento a vários aspectos comuns que serão encontrados em todos
os perfis, independente da fonte. Além disso, é de igual importância verificar que a maioria
desses conhecimentos, habilidades e atitudes estão mais relacionados com o “SER” e menos
com o “SABER técnico”, demonstrando uma nova visão para o profissional do novo século.
a) Perfil do engenheiro na abordagem de MORAES
No trabalho desta autora é apresentado uma pesquisa feita pela Escola de
Engenharia da USP em 1995, financiada pela Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo (FIESP), com o objetivo de conhecer o perfil profissional ideal do novo engenheiro
para o ano 2002.
De acordo com a conclusão da pesquisa realizada, os 17 atributos mais destacados
foram:
• Indivíduo comprometido com a qualidade do que faz;
• Com habilidade para trabalhar em equipe;
• Com habilidade para conviver com mudanças;
• Com visão clara do papel cliente consumidor;
• Com iniciativa para tomada de decisões;
• Usuário de ferramentas básicas de informática;
• Com domínio do inglês;
• Fiel para a organização em que trabalha;
• Que valoriza a ética profissional;
• Com ambição profissional/vontade de crescer;
• Capacitado para o planejamento;
• Com visão das necessidades do mercado;
• Que valoriza a dignidade/tem honra pessoal;
82
• Com visão do conjunto da profissão;
• Com habilidades para economizar recursos;
• Preocupado com a segurança no trabalho;
• Com habilidade para conduzir homens.
Resumindo, Moraes afirma que o mercado de trabalho está exigindo um
profissional capaz de continuar aprendendo, participando e interagindo com os outros e,
principalmente, um indivíduo capaz de sentir-se feliz como pessoa e como profissional,
vivendo num mundo em permanente mobilidade e evolução. Ainda, que deve ser um cidadão
com um potencial cognitivo ampliado, versátil, autônomo, capaz de transitar, emocional e
intelectualmente, pelos diversos caminhos da sociedade do conhecimento, que possua visão
de totalidade, associada à formação de competências básicas, com os pré-requisitos
necessários para que seja membro de uma cultura pós-moderna, capaz de integrar um sistema
produtivo, ser consumidor consciente e tomar posse de informações presentes no mundo que
afetam sua vida como cidadão ou cidadã.
b) Perfil do engenheiro na abordagem de FERREIRA
Segundo este autor, os atributos indispensáveis aos engenheiros do ano 2000 são:
• Ser portador de conhecimentos sólidos das ciências básicas, para a compreensão
das novas tecnologias;
• Ser capaz de atuar em equipes multidisciplinares envolvendo especialistas tanto
das ciências básicas quanto das ciências aplicadas;
• Estar convencido da realidade da educação continuada para acompanhar a
dinâmica das novas tecnologias;
• Ser capaz de projetar e conduzir experimentos e com visão científica analisar e
interpretar resultados;
• Estar convencido da importância de atuar profissionalmente com
responsabilidade e dentro da ética;
• Ser capaz de se comunicar efetivamente nas modalidades oral e escrita;
• Ser capaz de antever e entender o impacto das soluções de engenharia no
contexto social e ambiental;
• Ser capaz de integrar conhecimentos técnico-científicos no sentido da inovação e
da solução dos problemas tecnológicos;
• Ter a iniciativa de fazer e de realizar na prática;
• Ter tido a oportunidade de convivência em um ambiente científico e
tecnológico;
83
• Ser capaz de utilizar a informática como instrumento do exercício da engenharia;
• Ser capaz de analisar criticamente os modelos empregados tanto no estudo como
na prática da engenharia;
• Ser capaz de gerenciar e operar sistemas complexos de engenharia;
• Ter a oportunidade de aprender sozinho e, com isso, executar sua capacidade
criativa;
• Ter tido a oportunidade de exercitar seu espírito empreendedor.
c) Perfil do engenheiro na abordagem de LONGO e TELLES
No trabalho de Longo e Telles também foi traçado um perfil genérico para o
engenheiro. Segundo esses autores, o novo profissional deve ser preparado para raciocinar e
agir sem fronteiras, o que exige do mesmo o entendimento de outras culturas, principalmente
idiomas e ambiências nas quais ocorre a produção. Adicionalmente, devem ser
empreendedores e estarem preparados para trabalhar em equipe, gerenciar complexos
empreendimentos que podem envolver muitos indivíduos, mas também uma empresa de uma
só pessoa: eles mesmos. Em outras palavras, eles devem cultivar a liderança, serem criativos,
estarem profissionalmente e mentalmente equipados para, eventualmente, terem trabalho e
não necessariamente um emprego, e serem prestadores de serviços autônomos. Devem ter a
consciência de que jamais estarão “formados”. Deve estar claro que, profissionalmente, os
futuros imediato e longínquo, dependem de sua capacidade de atualização contínua de
conhecimentos face ao vertiginoso avanço das tecnologias, crescentemente apoiadas em
aplicações de descobertas científicas.
d) Perfil do engenheiro na abordagem de SALUM
A autora cita em seu trabalho alguns atributos que seriam necessários ao
profissional no atual mercado de trabalho, globalizado, altamente competitivo e de
tecnologias com vida útil cada vez mais curta. São eles:
• Conhecimento científico e tecnológico para vencer os desafios da constante e
rápida evolução do conhecimento;
• Conhecimento de informática e gerência;
• Capacidade para a solução de problemas;
• Capacidade para a aquisição autônoma e permanente da informação e do
conhecimento;
• Capacidade empreendedora e de liderança;
• Capacidade para o trabalho em equipe multidisciplinar;
• Capacidade de comunicação oral e escrita em mais de um língua, uma delas
84
sendo necessariamente o inglês;
• Capacidade para perceber e exercer o papel social e ambiental de engenharia.
O Quadro 16 mostra um comparativo entre as competências apresentadas segundo
os autores citados acima e as Diretrizes Curriculares para os cursos de Engenharia.
87
Pode-se identificar, a partir do Quadro 16, que fazem parte do perfil "ideal" do
engenheiro: conhecimento técnico específico; sólido embasamento nas ciências físicas e
matemáticas; domínio de um idioma mais universal; facilidade no uso das ferramentas da
informática; capacidade de comunicação oral e escrita; habilidade de relacionamento
interpessoal; espírito de liderança; conhecimento de gestão; capacidade e disposição para
aprender por conta própria; curiosidade e disposição para pesquisar, inventar, criar,
experimentar; compromisso com a sua profissão, com a sua empresa, com a sociedade e com
o meio ambiente.
2.3.2 O Engenheiro e o Mercado de Trabalho
O mercado de trabalho pode ser tomado em sentido estendido, considerando o
conjunto de ocupações que podem ou vem sendo ocupados pelos egressos do curso de
engenharia, ou sentido estrito, considerando o conjunto de posições ocupadas por estes
egressos no setor industrial correspondendo à especialização técnica. As demandas podem ser
explicitadas em termos de competências (gerais e específicas), conhecimentos, savoirs-faire e
atitudes esperadas do engenheiro. Nesta lista costuma estar implícito o papel do engenheiro na
empresa e no mercado de trabalho. (SILVEIRA, 2005).
Uma estatística britânica (http://www.univap.br/iasee2003), assinala que apenas
30% dos engenheiros graduados ocupa posições no mercado de trabalho que lhe é peculiar
(especializado). Os demais 70% trabalham no mercado estendido.
Ainda, segundo esse estudo inglês não houve relação direta entre o "sucesso"
profissional e o desempenho escolar nem com eventuais pós-graduações, mas com a
confiabilidade, capacidade de trabalho intensivo, força de caráter, iniciativa, entusiasmo,
motivação, capacidade de comunicação, aptidão para o gerenciamento, para o trabalho em
equipe, aparência física, ambição etc.
Neste mesmo estudo, empresas sugeriram uma melhor formação nas seguintes
áreas: gerenciamento, metodologia de solução de problemas e trabalho de equipe. Um
engenheiro deve tomar consciência dos limites dos seus conhecimentos e, sobretudo, saber
utilizar de maneira otimizada os conhecimentos dos outros.
Assim, a formação dos engenheiros procurados pelas empresas aparece como um
conjunto de três exigências: posse de sólidos conhecimentos científicos e tecnológicos em
geral; profunda capacidade de observação e de entendimento da realidade, que não é virtual e
88
exige flexibilidade e poder de adaptação; capacidade de abstração, modelagem, que levem a
resultados fáceis de serem explorados e comunicados. Estas capacidades devem ser possuídas
e combinadas pelo engenheiro do terceiro milênio sob a ajuda das instituições de ensino e das
empresas.
Sacadura (1999) lembra que algumas das qualidades que as empresas desejam
encontrar nos engenheiros que procuram empregar não são unicamente adquiridas nas
universidades e nas empresas, mas bem mais cedo, pela educação que as famílias e o ensino
anterior dão aos jovens antes de eles ingressarem nas universidades.
Segundo Silveira (2005) o mercado de trabalho tem seus próprios mecanismos de
levantamento dos perfis profissionais procurados. Existem, atualmente, empresas
especializadas nesses tipos de levantamento. Vê-se claramente que o perfil exigido para
ocupar essas vagas existentes no mercado de trabalho necessita ter uma visão gerencial.
Entretanto, esse é um perfil um pouco conhecido no país.
Em pesquisa realizada entre outubro de 2002 e agosto de 2003 pela RH Manager,
empresa de consultoria de São Paulo, indica que a engenharia aparece em primeiro lugar entre
as formações mais solicitadas pelo mercado. Na média do número de vagas oferecidas, os
setores que mais procuram engenheiros são, respectivamente, o de produção, o de compras, o
comercial, o administrativo, o de informática e o financeiro. Entretanto, a idéia de que há vaga
para todo engenheiro é, contudo, falsa, segundo Lúcia Pinto da RH Manager. Para Renata
Fabrini, vice-presidente da FESA (consultoria de recolocação de executivos em São Paulo),
embora a formação em engenharia seja um diferencial pelo conjunto de conhecimentos
proporcionados pelo curso e aumente as chances de contratação, não é receita de bolo. Não
basta o título de engenheiro para impressionar os selecionadores. É necessário investir
também em estudos mais aprofundados na área almejada.
As grandes mudanças industriais e econômicas aumentaram os requisitos para a
competitividade das empresas num mundo globalizado, onde a concorrência está cada vez
mais acirrada. Paralelamente, os profissionais dessas organizações também precisam se
adequar ao novo cenário, onde as competências exigidas tornam-se cada vez mais elevadas.
Várias pesquisas colocam que o engenheiro, além do seu lado técnico, precisa ter noção e
conhecimentos em diversas áreas como finanças, economia, “marketing”, psicologia do
trabalho e muitas outras, que antes não eram tão consideradas. Mas, isto também já não é o
suficiente para garantir que esse profissional esteja preparado para enfrentar o mercado de
trabalho. Ele precisa desenvolver competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) para
trabalhar em grupo, liderar pessoas, trabalhar com diversos tipos de conflitos e pressões.
89
Assim, as empresas vão moldando o perfil desse profissional ao mesmo tempo em que as
mudanças vão alterando o seu comportamento e desenvolvimento.
Desta forma, os grandes desafios enfrentados pelas sociedades, e em particular,
pelas empresas decorrem das transformações sociais causadas pela velocidade com que têm
sido gerados novos conhecimentos, concretizados através da introdução, no mercado, de
novos produtos. Esses novos produtos, frutos do avanço científico e tecnológico, modificam
as complexas relações sociais, tornando-as, ao mesmo tempo, mais intensas e mais efêmeras.
(SILVA,1999).
Segundo Moraes (1999), hoje, a competição ultrapassa fronteiras nacionais e
deixa a economia do país muito vulnerável às mudanças econômicas internacionais. O
conhecimento científico vem sendo gerado muito rapidamente e crescendo de maneira
extraordinária. Ao mesmo tempo, crescem e se diversificam os meios de distribuição dessas
informações.
Longo e Telles (1998) afirmam que as mudanças têm afetado profundamente o
homem, o meio ambiente e as instituições sociais sem precedentes na história da humanidade.
Particularmente as instituições têm sofrido enormes impactos provocados pelo freqüente
emprego de novas tecnologias que, via de regra, alteram hábitos, valores e tradições que
pareciam imutáveis. A engenharia industrial, particularmente, sofreu e continua sofrendo
profundas alterações, tanto na sua concepção e na sua operação, quanto no seu relacionamento
com os serviços correlatos.
2.3.3 A Formação do Engenheiro e as Diretrizes Curriculares
A resolução 48/76 do extinto Conselho Federal de Educação foi o determinante
para a formação do engenheiro no Brasil.
Revisando a bibliografia recente de diversos autores sobre as novas competências
básicas, qualidade dos currículos escolares e aprendizado organizacional encontram-se as
bases teóricas que norteiam a nova formação técnico-científica necessária para enfrentar os
atuais e futuros paradigmas industriais e sócio-técnicos.
A perspectiva, já consolidada de globalização produtiva, acarretou profundas
mudanças nas formas de organização dos sistemas produtivos, bem como nas relações de
trabalho. Essas mudanças justificam reformas significativas nos perfis profissionais para o
90
novo século, norteando a necessidade de mudanças tanto nas metodologias de ensino quanto
nas estruturas curriculares.
Especificamente em relação à formação do Engenheiro, Fleury (1996) se refere ao
"analista simbólico" uma nova categoria indicada por Reich, dizendo: "a formação de
analistas simbólicos, em geral, deve enfatizar quatro aptidões: capacidade de abstração,
raciocínio sistêmico, experimentação e colaboração". É evidente que no caso de formação de
engenheiros, conhecimentos na área específica constituem a base fundamental sobre sua
formação.
Assim, os novos perfis desenvolvidos, segundo Fleury (1996), seriam os
"Engenheiros Sistêmicos - Desenvolvimentistas e os Engenheiros Sistêmicos - Operacionais".
O primeiro se concentraria em gerar novos modelos administrativos, novos processos e
capacitação tecnológica; o segundo, teria sua atuação concentrada na gestão dos processos,
sem perder de vista as relações sistêmicas.
As principais características do Engenheiro Sistêmico - Operacional seriam:
• Visão sistêmica, integrada, de sistemas de operação (indústria, serviços);
• Capacitação para trabalhar com as técnicas de processamento de informações,
especialmente de tratamento numérico (ex.: simulação);
• Formação de tecnologias básicas - materiais e processos;
• Capacitação para especificar e dialogar/negociar com empresas fornecedoras;
• Habilidade para o trabalho em grupo;
• Liderança e criatividade.
As características do Engenheiro Sistêmico Desenvolvimentista seriam:
• Formação em tecnologias básicas, com ênfase em disciplinas específicas, mas
com capacidade de transitar entre áreas de produção de conhecimentos comuns;
• Visão do progresso tecnológico que ocorre fora e dentro da empresa;
• Capacitação para rápida absorção de conhecimento, através de pesquisas,
projetos, visitas e uso de consultores;
· Capacitação para especificar produtos e processos de manufatura.
De acordo com Fleury (1996), dois grandes campos de atuação da engenharia
civil são: projeto e gerência de empreendimentos. O primeiro há muito tempo privilegiado
pela grande demanda de obras de infra-estrutura, que ocorreu nas décadas de 60 e 70
influenciou sobremaneira o desenho curricular dos cursos de engenharia civil no Brasil. Das
suas cinco ênfases de quinto ano: estruturas, obras hidráulicas, transportes, mecânica dos
solos e construção civil; as quatro primeiras têm seu foco no projeto, sendo somente a última
91
ênfase focada no gerenciamento.
O desenvolvimento das tecnologias de informação tem propiciado o auxílio de
ferramentas como o CAD e pacotes numéricos cada vez mais versáteis e rápidos, resultando
na redução da demanda de tantos engenheiros de projeto. Há dez anos, um projeto de
estruturas de uma obra de arte precisava em média de 15 engenheiros recém formados para
dar conta dos cálculos de verificação de um pré-dimensionamento; hoje, provavelmente dois
engenheiros e uma potente estação de trabalho, não somente é capaz de executar as mesmas
tarefas do passado, como também pode gerar várias alternativas de projeto, simulá-las, e
avaliá-las num tempo menor e numa precisão superior.
No entanto, no campo da gerência de empreendimentos o impacto da informática
foi menor, porque apesar dos novos sistemas de informações gerenciais acelerarem o processo
de tomada de decisão, a indústria da construção civil continua sendo complexa,
interdisciplinar e intensiva em mão-de-obra; sendo seu fator chave de sucesso a gestão das
equipes e das pessoas.
Vive-se em uma sociedade baseada em tecnologias, equipamentos e necessidades
muito diferentes daquelas que havia há alguns anos atrás. A sociedade atual apresenta novos
produtos e serviços continuamente, em uma velocidade vertiginosa, sem que possa-se, muitas
vezes, aperceber-se das defasagens que tem-se experimentando. Nesse contexto, formar um
profissional técnico, que há cerca de vinte anos era uma questão mais ligada à quantidade de
informações e conhecimentos acumulados, pois na época podia permanecer trabalhando no
mercado por algumas décadas com aquela formação da academia, exige atualmente
habilidades, conhecimentos e atitudes muitos distintas.
Existe um conjunto de documentos oficiais que afirmam que o profissional de
engenharia, hoje, precisa ir além do mero conhecimento técnico, sendo capaz de aplicar estes
conhecimentos de maneira crítica e criativa. O mais importante deles é a RESOLUÇÃO
CNE/CES 11, DE 11 DE MARÇO DE 2002 que institui as Diretrizes Curriculares
Nacionais para os
Cursos de Graduação em Engenharia.
Em seu art. 2º as Diretrizes Curriculares definem os princípios, fundamentos,
condições e procedimentos da formação de engenheiros, estabelecidas pela Câmara de
Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, para aplicação em âmbito nacional na
organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos Cursos de Graduação
em Engenharia das Instituições do Sistema de Ensino Superior.
Em seu art. 3º as Diretrizes Nacionais explicitam que o Curso de Graduação em
Engenharia tem como perfil do formando egresso/profissional o engenheiro, com formação
92
generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a absorver e desenvolver novas
tecnologias, estimulando a sua atuação crítica e criativa na identificação e resolução de
problemas, considerando seus aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais,
com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da sociedade.
O art. 4º diz que a formação do engenheiro tem por objetivo dotar o profissional
dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades
gerais:
I - aplicar conhecimentos matemáticos, científicos, tecnológicos e instrumentais à
engenharia;
II - projetar e conduzir experimentos e interpretar resultados;
III - conceber, projetar e analisar sistemas, produtos e processos;
IV - planejar, supervisionar, elaborar e coordenar projetos e serviços de
engenharia;
V - identificar, formular e resolver problemas de engenharia;
VI - desenvolver e/ou utilizar novas ferramentas e técnicas;
VI - supervisionar a operação e a manutenção de sistemas;
VII - avaliar criticamente a operação e a manutenção de sistemas;
VIII - comunicar-se eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica;
IX - atuar em equipes multidisciplinares;
X - compreender e aplicar a ética e responsabilidade profissionais;
XI - avaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto social e
ambiental;
XII - avaliar a viabilidade econômica de projetos de engenharia;
XIII - assumir a postura de permanente busca de atualização profissional.
Através do art. 6º identificamos que todo curso de Engenharia, independente de
sua modalidade, deve possuir em seu currículo um núcleo de conteúdos básicos, um núcleo de
conteúdos profissionalizantes e um núcleo de conteúdos específicos que caracterizem a
modalidade.
§ 1º O núcleo de conteúdos básicos, cerca de 30% da carga horária mínima,
versará sobre os tópicos que seguem:
I - Metodologia Científica e Tecnológica;
II - Comunicação e Expressão;
III - Informática;
IV - Expressão Gráfica;
93
V - Matemática;
VI - Física;
VII - Fenômenos de Transporte;
VIII - Mecânica dos Sólidos;
IX - Eletricidade Aplicada;
X - Química;
XI - Ciência e Tecnologia dos Materiais;
XII - Administração;
XIII - Economia;
XIV - Ciências do Ambiente;
XV - Humanidades, Ciências Sociais e Cidadania.
§ 2º Nos conteúdos de Física, Química e Informática, é obrigatória a existência de
atividades de laboratório. Nos demais conteúdos básicos, deverão ser previstas atividades
práticas e de laboratórios, com enfoques e intensividade compatíveis com a modalidade
pleiteada.
§ 3º O núcleo de conteúdos profissionalizantes, cerca de 15% de carga horária
mínima, versará sobre um subconjunto coerente dos tópicos abaixo discriminados, a ser
definido pela IES:
I - Algoritmos e Estruturas de Dados;
II - Bioquímica;
III - Ciência dos Materiais;
IV - Circuitos Elétricos;
V - Circuitos Lógicos;
VI -Compiladores;
VII - Construção Civil;
VIII - Controle de Sistemas Dimicos;
IX - Conversão de Energia;
X - Eletromagnetismo;
XI - Eletrônica Analógica e Digital;
XII - Engenharia do Produto;
XIII - Ergonomia e Segurança do Trabalho;
XIV - Estratégia e Organização;
XV - Físico-química;
XVI - Geoprocessamento;
94
XVII - Geotecnia;
XVIII - Gerência de Produção;
XIX - Gestão Ambiental;
XX - Gestão Econômica;
XXI - Gestão de Tecnologia;
XXII - Hidráulica, Hidrologia Aplicada e Saneamento Básico;
XXIII - Instrumentação;
XXIV - Máquinas de fluxo;
XXV - Matemática discreta;
XXVI - Materiais de Construção Civil;
XXVII - Materiais de Construção Mecânica;
XXVIII - Materiais Elétricos;
XXIX - Mecânica Aplicada;
XXX - Métodos Numéricos;
XXXI - Microbiologia;
XXXII - Mineralogia e Tratamento de Minérios;
XXXIII - Modelagem, Análise e Simulação de Sistemas;
XXXIV - Operações Unitárias;
XXXV - Organização de computadores;
XXXVI - Paradigmas de Programação;
XXXVII - Pesquisa Operacional;
XXXVIII - Processos de Fabricação;
XXXIX - Processos Químicos e Bioquímicos;
XL - Qualidade;
XLI - Química Analítica;
XLII - Química Orgânica;
XLIII - Reatores Químicos e Bioquímicos;
XLIV - Sistemas Estruturais e Teoria das Estruturas;
XLV - Sistemas de Informação;
XLVI - Sistemas Mecânicos;
XLVII - Sistemas operacionais;
XLVIII - Sistemas Térmicos;
XLIX - Tecnologia Mecânica;
L - Telecomunicações;
95
LI - Termodinâmica Aplicada;
LII - Topografia e Geodésia;
LIII - Transporte e Logística.
§ 4º O núcleo de conteúdos específicos se constitui em extensões e
aprofundamentos dos conteúdos do núcleo de conteúdos profissionalizantes, bem como de
outros conteúdos destinados a caracterizar modalidades. Estes conteúdos, consubstanciando o
restante da carga horária total, serão propostos exclusivamente pela IES. Constituem-se em
conhecimentos científicos, tecnológicos e instrumentais necessários para a definição das
modalidades de engenharia e devem garantir o desenvolvimento das competências e
habilidades estabelecidas nestas diretrizes.
No art. 7º pode-se notar que a formação do engenheiro incluirá, como etapa
integrante da graduação, estágios curriculares obrigatórios sob a supervisão direta da
instituição de ensino, através de relatórios técnicos e acompanhamento individualizado
durante o período de realização das atividades. A carga horária mínima do estágio curricular
deverá atingir 160 (cento e sessenta) horas. Em seu parágrafo único, é obrigatório o trabalho
final de curso como atividade de síntese e integração de conhecimento.
Na mesma linha, existem os FORGRAD (Fórum Nacional de Pró-Reitores de
Graduação das Universidades Brasileiras) que afirmam:
Os cursos de graduação devem propiciar a oferta de referenciais teórico-básicos que
possibilitem o trâmite em múltiplas direções, instrumentalizando o indivíduo para
atuar de forma criativa em situações imprevisíveis.
A graduação não deve restringir-se à perspectiva de uma profissionalização estrita,
especializada. Há que propiciar a aquisição de competências de longo prazo, o
domínio de métodos analíticos, de múltiplos códigos e linguagens, enfim, uma
qualificação intelectual de natureza suficientemente ampla e abstrata para constituir,
por sua vez, base sólida para a aquisição contínua e eficiente de conhecimentos
específicos.
Pode-se notar que as Diretrizes Curriculares foram definidas pensando nesse novo
engenheiro que o mercado está requisitando, porém, segundo Oliveira (2005), no caso
específico das universidades cearenses, poucas ou quase nenhuma mudanças ocorreram nos
currículos de engenharia nesses quatro últimos anos, embora o novo perfil requisitado pelo
mercado e apontado pelos estudos realizados e citados neste trabalho indiquem a necessidade
de um engenheiro civil com forte formação nas áreas gerenciais, financeiras e tecnológicas,
habilidades para trabalhar em equipe e forte capacidade empreendedora, de liderança e
comunicação oral e escrita.
96
2.4 A Indústria da Construção Civil (ICC)
A Indústria da Construção Civil, objeto dessa pesquisa, é de suma importância
para o desenvolvimento de um país, tanto do ponto de visto econômico, tendo como destaque
a quantidade de atividades que intervêm em seu ciclo produtivo, gerando bens e serviços de
outros setores, assim como também do ponto de vista social, pela grande capacidade que tem
de absorver a mão-de-obra.
A Construção Civil é um ramo da indústria que agrega um conjunto de atividades
complexas, ligadas entre si por uma gama diversificada de produtos, cujos processos
produtivos e de trabalho mantém elevado grau de originalidade e se vinculam a diferentes
tipos de demanda.
Classificada como tradicional e conservadora, a Indústria da Construção Civil,
doravante identificada como ICC, tem buscado, nos últimos anos, acompanhar a evolução de
outros setores da indústria na adoção de novas e modernas tecnologias em busca de maior
qualidade, eficiência e produtividade.
O setor mostra-se como uma poderosa alavanca para o desenvolvimento,
impactando a produção, os investimentos, o emprego e o nível geral de preços. A ICC tem
uma importante participação no PIB e contribui para o equilíbrio da balança comercial
brasileira.
Esta cadeia produtiva, mais intensiva em mão-de-obra e uma das menos
dependentes de produtos importados vem, ao longo dos últimos anos, apresentando um
avanço na adoção de novas tecnologias e significativo aumento de produtividade. Além disso,
é a maior contribuinte na formação de capital bruto e representa um dos principais fatores de
distribuição de renda do País. Segundo informações do setor, para cada R$ 1 milhão de
demanda de unidades imobiliárias são gerados 101 novos postos de trabalhos diretos,
indiretos e induzidos.
Se por um lado a Construção Civil representa dois terços do investimento da
economia brasileira (CONSTRUBUSINESS, 2003), por outro, ainda possui enormes desafios
que passam pela eficiência, qualidade e escala produtiva, sobretudo em se considerando o
déficit habitacional, estimado em mais de 5 milhões de moradias (urbanas e rurais),
concentrando em 95,5% na faixa de renda de até cinco salários mínimos.
97
2.4.1 A força da construção civil
A construção civil é o ramo de atividade que mais capacidade apresenta dentre
todos para criar empregos. Para cada 1 ponto porcentual de sua participação no Produto
Interno Bruto (PIB), o setor acrescenta 5% em novas vagas de trabalho, e com a singular
característica, cada vez mais rara na moderna economia, de absorver mão-de-obra pouco
exigente em qualificação profissional, ou seja, é o setor que mais absorve trabalhadores com
baixa escolaridade, para os quais o estreitamento do mercado de trabalho é ainda mais agudo.
O macrosetor da construção, de acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas,
gera 9,089 milhões de empregos diretos, indiretos e induzidos em toda a economia nacional.
Emprega diretamente cerca de 5,424 milhões de trabalhadores, o que representa cerca de 9%
do total do pessoal ocupado na economia brasileira. Absorve, ainda, de forma indireta outros
1,136 milhão de trabalhadores e de forma induzida 2,529 milhões de trabalhadores.
A cada 100 empregos diretos gerados nesta área, surgem automaticamente outros
21 indiretos e 47 induzidos, conforme aponta o estudo da Fundação Getúlio Vargas. O
coeficiente de empregos diretos, indiretos e induzidos do macrosetor da construção é 0,0645,
ou seja, a cada R$ 1 milhão aplicado na sua produção são gerados 65 empregos na economia.
Para uma comparação, basta verificar que o setor de automóveis, caminhões e ônibus registra
um coeficiente de empregos de 0,0468, o que faz com que a cada R$ 1 milhão investido se
consiga criar 47 novos postos de trabalho (diretos, indiretos e induzidos).
Os empregos diretos são os imediatamente criados pela atividade em si. Os
indiretos são gerados pela cadeia produtiva que surge e envolve esta mesma atividade. Os
empregos induzidos nascem dos reflexos da renda paga aos trabalhadores diretos e indiretos e
que vão consumir e pagar por bens e serviços em outras esferas de produção.
Cabe destacar também que o maior integrante do macrosetor da construção, a
construção civil, absorve grande contingente de trabalhadores com baixa qualificação.
Amplia-se, portanto, ainda mais a importância social e econômica do macrosetor da
construção, uma vez que o Brasil possui grande parte de sua população economicamente ativa
ainda com baixo nível de instrução.
O macrosetor tem uma participação importante no total de salários pagos na
economia brasileira. Do total dos salários de todos os trabalhadores, 5,6% são de
responsabilidade do macrosetor da construção, enquanto 12,47% dos rendimentos dos
autônomos também são provenientes deste setor.
98
A atividade de construção civil impacta a economia brasileira de forma bem mais
ampla do que aquela diretamente visualizada pelas atividades de edificações, obras de
engenharia civil e de infra-estrutura, construção autônoma e demais obras (construção civil
propriamente dita).
O Macrosetor da Construção é composto pelas atividades de construção civil,
pelas atividades industriais associadas à construção (que fornecem matérias-primas e
equipamentos para o seu processo construtivo) e pelos serviços que apóiam a sua cadeia
produtiva (comércio dos produtos da construção, corretagem e aluguel de equipamentos e
máquinas). Ver Gráfico 1.
20,34%
73,45%
6,21%
Indústria Associada à Constrão
Constrão Civil
Serviços Associados à Constrão
Gráfico 1
- Estrutura Macrosetor - 1998
Fonte: FGV/CBIC
O processo de urbanização do Brasil, embora tenha pulado de 40% há cinco
décadas para 80% no ano passado, tende ainda a prosseguir em ritmo acelerado. A
modernização da agricultura e a inevitável expansão do agronegócio, a despeito dos esforços
para evitar o êxodo, vai liberar muitos milhões de brasileiros que ainda hoje vivem no meio
rural. Este fenômeno significará um considerável aumento de demanda por novas moradias
nas cidades e, conseqüentemente, precisará de mão-de-obra para atendê-la.
Mesmo com esse ritmo acelerado, de acordo com o Relatório da Câmara
Brasileira da Indústria da Construção apresentado em dezembro de 2005, no 3º. trimestre de
2005, a construção civil cresceu apenas 0,7%, atingida em cheio pela política monetária
restritiva, pelo fraco desempenho da economia nacional e pelo ajuste fiscal que tem
privilegiado a contenção de gastos públicos direcionados aos investimentos em transporte,
saneamento e infra-estrutura básica. Ademais, o setor público ainda pecou pela má gestão dos
99
créditos públicos e privados direcionados à habitação popular. Praticamente não houve
liberação de recursos públicos para subsídios à Habitação de Interesse Social e os recursos do
FGTS (que são privados sob gestão pública) ficaram novamente concentrados em operações
com financiamento preferencial para aquisição de unidades usadas, reformas, ampliação e
cestas de materiais de construção. Tais financiamentos além de não contribuir para o
enfrentamento do déficit habitacional ainda não geram novos empregos formais na economia.
Atualmente, o Brasil já apresenta um déficit de moradias no meio urbano
calculado em mais de 5 milhões de unidades. É o número necessário para substituir a grotesca
realidade das favelas que caracteriza a periferia e até mesmo regiões centrais da totalidade das
capitais e das grandes cidades brasileiras. Há, portanto, desta forma, uma frente enorme de
empregos a serem criados – sem falar no desafio social que é suplantar o estigma da
subabitação que corrói a dignidade das famílias obrigadas pela pobreza a suportá-la.
A ICC tem um papel sócio-econômico muito importante no Brasil. Segundo a
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (2002) o setor tem uma participação em torno
de 5,6% do total dos salários pagos a trabalhadores na economia brasileira, 9% do pessoal
ocupado e em torno de 19% do PIB brasileiro. Apesar de toda essa significância, é um dos
setores menos desenvolvidos e mais tradicionais da indústria brasileira e mundial. No entanto,
no contexto da “Era da Informação” ou Infoera (ZUFFO, 2002), onde o capital intelectual é o
mais valorizado num mercado globalizado e competitivo, este cenário tende a se modificar, já
que, para sobreviverem, as empresas precisam ser dinâmicas, utilizando recursos,
profissionais e estratégias que permitam tomadas de decisões oportunas e eficazes. Para isso
as organizações, inclusive as do setor da construção civil, precisam acompanhar a evolução
mundial do mercado, modernizando-se, seja investindo no quadro funcional ou em
equipamentos, em prol de alavancar seus lucros ou simplesmente sobreviver. Os profissionais
também precisam se atualizar, criando dispositivos para que obtenham o conhecimento
necessário para tomadas de decisões corretas e no tempo certo.
Grandes mudanças estão sendo acompanhadas na ICC. As empresas estão
adotando várias inovações tecnológicas e algumas delas estão se consolidando como uma
estratégia competitiva para as organizações. Entretanto, dois problemas têm sido
identificados: o primeiro retrata uma preocupação com os conhecimentos, habilidades e
atitudes necessárias para trabalhar com essas inovações tecnológicas, o segundo é que uma
tecnologia só é consolidada depois de ser adotada por um número significante de empresas,
devido aos riscos e incertezas inerentes às inovações tecnológicas não serem aceitáveis para
boa parte do setor. (TOLEDO et al., 2000).
100
A caracterização da ICC como tradicional e conservadora no Brasil se dá
principalmente pelo fato de que até o final da década de 70 ela teve grandes investimentos
financiados pelo Governo, que não possuía nenhum programa de qualidade para o setor,
fazendo com que muitas empresas não procurassem inovações. Outro fator importante é que
as inovações no setor se dão ao longo de anos (TOLEDO et al., 2000). Esta situação é
agravada pelo fato de boa parte da mão-de-obra ser semi-analfabeta, sendo mais despreparada
e desqualificada do que, por exemplo, a da indústria de transformação. Isto dificulta a
implementação de inovações em níveis básicos, porém, mesmo nas hierarquias superiores,
costuma-se adotar métodos de gestão ultrapassados (MELHADO, 2001). Apesar das
mudanças ocorridas nas últimas décadas, o setor ainda não conseguiu se igualar ao nível de
eficiência, produtividade e qualidade de outros setores da indústria.
Nos últimos anos, a ICC sofreu várias influências políticas e econômicas como as
privatizações das empresas estatais, os efeitos da globalização, a diminuição da intervenção
do Estado no mercado, a variação da moeda, o aumento da competitividade, diminuição dos
riscos nos investimentos e a diminuição das margens de lucros das empresas.
Não há índices históricos de produtividade da indústria da construção brasileira,
até por que somente na década de 90 surgem estudos importantes para definição de tais
índices (LANTELME, 1994). As grandes mudanças ocorridas na indústria da construção no
Brasil surgiram após o boom da construção de Brasília. Neste intervalo houve dois picos: na
época de Juscelino Kubitschek (“50 anos em 5”) e o início da década de 70 com o “milagre
econômico”. A partir da década de 80 o setor entrou em uma grande recessão que de certo
modo continua até hoje. (NASCIMENTO e SANTOS, 2003).
2.4.2 Características do Subsetor de Edificações
A indústria da construção é marcada por uma grande heterogeneidade interna,
sendo necessário, portanto, considerar as especificidades presentes em cada subsetor
(construção pesada, montagem industrial e edificações).
O subsetor de construção pesada tem como atividades principais a construção de
infra-estrutura viária, urbana e industrial; obras estruturais, obras de arte e saneamento;
barragens hidroelétricas e usinas atômicas, dentre outras. A sua atividade produtiva vincula-se
nitidamente às demandas do Estado. Frente ao tamanho significativo das obras neste subsetor,
101
concentram-se nele empresas de grande porte, apresentando um quadro menos relativamente
homogêneo.
O subsetor de montagem industrial executa montagens de estruturas destinadas a
instalações industriais; de sistema de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica;
de sistemas de telecomunicações e de sistemas de exploração de recursos naturais. Este
subsetor atende às demandas do Estado e da iniciativa privada. Atua no subsetor um número
reduzido de empresas de grande e médio porte, que guardam entre si um maior grau de
homogeneidade.
O subsetor de edificações concentra suas atividades na construção de edifícios
(residenciais, comerciais, institucionais e industriais); construção de conjuntos habitacionais;
realização de partes ou etapas de obras (fundações, estruturas e instalações) e execução de
serviços complementares (reformas). Da diversidade e complexidade das atividades
desenvolvidas pelas empresas de edificações em seus respectivos segmentos de atuação,
conclui-se que este subsetor é marcado pela heterogeneidade no porte e na capacitação
tecnológica e empresarial de suas empresas.
O subsetor de edificações, objeto desta pesquisa, diferencia–se internamente
segundo o tipo de atividade desenvolvida pelas empresas e segundo o tipo de edificação
produzida. Segundo Farah (2001), as empresas, conforme os tipos de atividade desenvolvida,
podem ser:
a) responsáveis pela atividade de incorporação;
b) responsáveis pela construção de edificações;
c) especializadas na execução de determinadas etapas da obra;
d) responsáveis por atividades complementares.
A construção de edificações caracteriza-se por ser uma indústria tradicionalmente
fragmentada, pois nenhuma empresa possui uma parcela de mercado significativa e nem
influencia fortemente o resultado da indústria (PORTER apud BARROS NETO, 1999). Para
corroborar com esta afirmação de que o subsetor de edificações é fragmentado, têm-se os
dados do Estudo Setorial da Construção Civil, realizado pelo Senai (1995), segundo o qual
57,92% das empresas podem ser consideradas como microempresas; 32,96% pequenas;
7,46% médias e apenas 1,13% grandes.
Além das características de fragmentação do subsetor de edificações mencionados
acima, pode-se mostrar as causas para esta fragmentação (PORTER, 1999) e caracterizá-las
na construção de edificações: possui baixas barreiras de entrada, aumentando a rivalidade
entre os concorrentes, porém não disputa em preço; os fornecedores têm grande poder de
102
barganha, pois constituem um setor oligopolizado nos insumos básicos para a construção; já
os clientes possuem também algum poder, visto que as prestações para pagamento do imóvel
absorvem grande parcela de sua renda e, conseqüentemente, a escolha tende a ser seletiva; e
quanto à ameaça de produtos substitutos, não existe substituto de moradia.
O subsetor de edificações é caracterizado pela ausência de padronização de processo
de produção, onde não só as edificações são diferentes umas das outras, como os
ambientes de trabalho se alteram permanentemente. O processo de produção não se
destacou ainda de seus fatores humanos, ou seja, uma quantidade enorme de
operários com pouca qualificação subdivide as funções motora e operacional, a força
do servente alimenta a operação manual do pedreiro, carpinteiro, armador ou
qualquer outro. (MELO, 2001).
As empresas vêm trabalhando na busca de melhorar a qualificação da mão-de-
obra e simultaneamente investindo em novas tecnologias, procurando, principalmente reduzir
o número de operações e transferir o conhecimento do operário para o sistema construtivo. Da
mesma forma, ocorre um crescente investimento em programas de qualidade (certificação
NBR ISO 9000, PBQP-H), procurando ordenar, entre outras coisas, o sistema de produção.
É preciso destacar ainda em relação ao perfil do setor, que o mesmo apresenta um
alto índice de absorção de força de trabalho. A potencialidade na geração de emprego que o
setor possui contribui para a diminuição do índice de desemprego nos momentos de crise, em
decorrência do uso intensivo da força de trabalho no processo produtivo, face à inexpressiva
utilização do sistema de máquinas.
Se, do ponto de vista da capacidade de absorção de força de trabalho, a indústria
da construção ocupa uma posição destacada, mais significativa ainda é a participação do
subsetor de edificações.
2.4.3 Subempreiteiros e fornecedores
A Indústria da Construção Civil, Subsetor de Edificações, caracteriza-se por
trabalhar com uma grande quantidade de subempreiteiros e fornecedores de porte, capacidade
técnica e conhecimento administrativo diferenciado e heterogêneo. Isto acaba provocando
uma variedade na qualidade dos produtos e dos serviços, dificultando o processo de
gerenciamento dos empreendimentos e tornando-se necessário a montagem de uma equipe
considerável para acompanhar a qualidade, os prazos e as quantidades de entrega dos
materiais e serviços.
103
Para Barros Neto (1999), é necessário por parte das construtoras definirem
critérios de escolha de fornecedores e processo de avaliação dos mesmos. Para isso, elas estão
utilizando algumas estratégias: definição de critérios rigorosos de seleção e avaliação de
fornecedores; redução do número de fornecedores e empreiteiros através de parcerias
duradouras; e desenvolvimento de fornecedores de sistemas, que passaram a entregar partes
da obra.
Atualmente, segundo Cardoso (1996), há uma tendência, na construção de
edificações, à subcontratação da mão-de-obra. Esta valorização surgiu em função do aumento
da complexidade e variabilidade crescente das operações, fazendo com que as empresas
procurassem transferir o par variabilidade-complexibilidade para outros atores do canteiro:
seja para indústrias, através da produção fora do canteiro; seja fazendo apelo à subempreitada.
A partir deste momento, as empresas passam a gerenciar esta complexidade da construção,
aumentando ou diminuindo-a em função do contexto competitivo que a empresa esteja
inserida no momento.
Sendo assim, as empresas buscam diminuir o reflexo das incertezas existentes ao
longo do processo construtivo (sazonalidade, flutuações da economia, variações no volume de
produção etc.) sobre as suas operações, repassando-as, em grande parte, para os empreiteiros e
fornecedores. À medida que este processo se efetiva, as empresas contratantes diminuem seus
custos financeiros, custo de administração e de logística e os custos indiretos (encargos
trabalhistas, por exemplo).
Cardoso (1996), por sua vez, amplia a importância dos subempreiteiros e
fornecedores além da questão das incertezas. Para ele, em função das condicionantes já
mencionadas, é importante a empresa melhorar o domínio dos aspectos técnicos relativos aos
processos de produção. Porém, como os subempreiteiros e industriais/fornecedores estão
diretamente ligados com a execução do empreendimento, então, esta questão do domínio
técnico passa forçosamente por eles. Em virtude disso, as empresas contratantes têm que
buscar estreitar o relacionamento com as empresas contratadas.
Deste modo, este processo de transferência de responsabilidades faz com que os
empreiteiros e industriais/fornecedores tenham uma papel estratégico fundamental, sendo
responsável direto pelo desempenho competitivo da empresa contratante. Ele será responsável
pela gestão da logística externa (transporte e suprimento dos recursos) e do canteiro
(coordenação dos fluxos físicos de produção através dos fluxos de informação), afetando
diretamente os critérios competitivos custo, prazo, qualidade e flexibilidade.
104
Segundo Cardoso (1996), atualmente, existe um misto de empreiteiras: há as que
são especializadas em determinados serviços (pintura, instalações, impermeabilizações) e que
trabalham fornecendo mão-de-obra, materiais e equipamentos; e as que fornecem apenas
mão-de-obra e alguns equipamentos (EPI, carros-de-mão, betoneiras). Estas são responsáveis
pelos serviços menos especializados e que exigem menor qualificação dos executores
(alvenaria, revestimento). Para as empresas contratantes restam, portanto, as atividades
consideradas nobres do ponto de vista estratégico: elaboração de projetos, compras e
suprimentos, fornecimento de equipamentos pesados.
“No entanto, esta política de subcontratação “sem medidas”, em virtude do
enfoque exclusivamente financeiro e comercial que visa à rentabilidade de curto prazo, tem
apresentado um grave problema: a forte dependência de certos empreiteiros para com algumas
empresas contratantes”. (CARDOSO, 1996). Observa-se também outros problemas: os
principais critérios de escolha das contratadas são o custo e a facilidade de negociação
(parcelamento dos pagamentos, repasse de imóveis na transação), a fraca competência
técnica, organizacional e gerencial das subempreiteiras, e a perda do controle do
empreendimento por parte dos contratantes, ficando as mesmas sobre o comando das
empreiteiras e seus mestres.
Em função dos diversos problemas apresentados, é preciso melhorar o processo de
subcontratação por parte da contratante, através do estabelecimento de modos de contratação
coerentes, com os objetivos estratégicos da empresa e do desenvolvimento de formas
eficientes de gestão das empresas contratadas que propicie a melhoria da logística externa e
de canteiro, possibilitando assim que a contratante mantenha o controle e o domínio técnico
sobre o empreendimento.
Com relação aos fornecedores de materiais, a heterogeneidade dos mesmos e a
grande quantidade de insumos existentes na ICC dificultam o estabelecimento de um padrão
de relacionamento empresa-fornecedor. Além disso, “a descontinuidade no emprego dos
mesmos materiais ao longo do processo produtivo, em função das fases da obra, representa
mais um fator complicador na manutenção de contatos duradouros entre as empresas e seus
fornecedores”. (ISATTO, 1996). Observa-se, então, que existe a mesma dificuldade em
formação de parcerias não apenas comerciais, tanto para fornecedores de materiais quanto
para fornecedores de serviços e materiais (empreiteiros).
Em virtude disso, é necessário se definir, por parte das construtoras, critérios de
escolhas de fornecedores e o processo de avaliação dos mesmos. Verifica-se que não há uma
decisão única ou exata com relação a este assunto e, sendo assim, elas devem ser tomadas
105
dentro de uma perspectiva estratégica. Deste modo, as empresas devem analisar
criteriosamente a necessidade de subcontratar, quais atividades devem ser subcontratradas e
como deve ser a administração desta subcontratação, como deve ser o relacionamento com os
fornecedores de materiais, que tipos de parcerias poderiam existir entre empresa e
fornecedores.
A verdade é que as empresas têm buscado melhorar o relacionamento com os seus
fornecedores. Para isso, elas estão se utilizando de algumas estratégias: definição de critérios
rigorosos de seleção e avaliação dos fornecedores; redução do número de fornecedores e
empreiteiros através de parcerias duradouras; e desenvolvimento de fornecedores de sistemas,
que passaram a entregar partes da obra
e não mais apenas materiais ou serviços. Com isso,
verifica-se, a partir deste último exemplo, que a empresa aproxima os fornecedores de
materiais de um mesmo sistema, diminui o tempo e as despesas com as negociações com
fornecedores, agrega valor ao produto, libera os diretores da construtora para a busca de
novos empreendimentos que mantenham o sistema funcionando, proporcionando, desta
forma, uma melhoria na competitividade da construtora e dos fornecedores.
2.4.4 Importância do setor para a economia nacional
A ICC é inegavelmente importante no processo de crescimento e desenvolvimento
econômico, favorecida por uma série de características, como: elevado efeito multiplicador,
reduzido coeficiente de importação, reduzida relação capital/produto, ou seja, as necessidades
relativas de investimento são menores. É intensiva em mão-de-obra, inclusive não qualificada,
tem forte componente social, além de responder por uma parceria significativa dos
investimentos.
No cenário econômico brasileiro a predominância é de micro, pequenas e médias
empresas, que exercem a importante função social de produtoras de bens e serviços e grandes
geradoras de empregos. Nas últimas décadas, o modelo empresarial das micro, pequenas e
médias empresas é que tem tido o melhor desempenho em termos de absorção da mão-de-
obra, até mesmo por serem menos intensivas em capital.
Considerando-se o porte das empresas pelo critério do número de trabalhadores
adotado pelo SEBRAE (ver Quadro 17), o Cadastro Central de Empresas (IBGE, 2000) indica
que as micro, pequenas e médias empresas correspondem a mais de 99% do total das unidades
econômicas do país, sendo responsáveis, em conjunto, pela geração de 62,51% dos postos de
106
trabalhos no mercado doméstico. De um total de 4.124.343 empresas, apenas 5.569 são
classificadas como de grande porte e ocupam 37,49% do estoque de trabalhadores.
INSTITUIÇÃO MICRO PEQUENA MÉDIA GRANDE
SEBRAE Até 19 20 a 99 100 a 499 Acima de 499
Quadro 17
– Critério de classificação de Empresas
Fonte
:
SEBRAE (2000)
Para a Indústria da Construção, a mesma pesquisa indica um total de apenas
186 grandes empresas em 2000, responsáveis pela geração de 20,91% dos postos de
trabalhos no setor. As micros, pequenas e médias empresas somam igualmente mais de 99%
do total das construtoras nacionais e empregam 79,09% dos trabalhadores ocupados no
setor (CEE/CBIC, 2003).
Para a Câmara Brasileira da Indústria da Construção - CBIC, a estratificação do
pessoal ocupado é igual à adotada por outras instituições, como o SEBRAE. A CBIC adota a
conceituação pelo número de trabalhadores empregados para definir o porte das empresas
atuantes na indústria da construção nacional. O uso de tal critério justifica-se por ser este o
mais predominante na maioria das legislações, organismos oficiais e instituições de pesquisa
no país.
A pesquisa RAIS, para o ano de 2001, indicou um total de 96.968 empresas
formalmente estabelecidas e atuantes na construção civil em todo o Brasil, das quais
76.098 estão concentradas no segmento de construção de edifícios e obras de engenharia
civil. Este subsetor de atividades é também o responsável pelo maior volume de emprego
na indústria da construção. Do estoque total de trabalhadores formalmente empregados em
2001, que correspondeu a 1.120.882 pessoas, 74,3% concentravam-se nas atividades deste
segmento (ver Quadro 18).
107
No. DE
ESTABELECIMENTOS
ESTOQUE DE
TRABALHADORES
GRANDES GRUPOS DA
CONSTRUÇÃO CIVIL
2000 2001 2000 20001
Preparação do terreno 3.151 3.160 30.919 32.053
Construção de edifícios e obras de
engenharia civil
75.856 76.098 803.336 832.968
Obras de infraestrutura para
engenharia elétrica, eletrônica e
mecânica
1.679 1.819 89.275 80.695
Obras e instalações 6.085 6.158 83.498 83.575
Obras de acabamento e serviços
auxiliares da construção
9.746 9.349 83.822 87.993
Aluguel de equipamentos de
construção e demolição com
operários
350 384 3.678 3.598
Quadro 18 - Número de Estabelecimentos e Estoque de Trabalhadores, segundo os Grandes Grupos da
Construção Civil – 2000 a 2001
Fonte: RAIS 2000 E RAIS 2001 (Preliminar) – MTE
Elaboração: Banco de Dados da CBIC
É interessante notar também que, classificando o tamanho dos estabelecimentos
em termos de número de empregados, 98% das empresas existentes na construção civil se
caracterizam como micro e pequenas empresas, que empregam até 99 empregados e têm
estrutura administrativa menos complexas. De acordo com a CBIC as micro e pequenas
empresas de construção somavam em 2001 95.148 estabelecimentos.
Outras 1.628 empresas de construção são estabelecimentos considerados de
médio porte, que empregam entre 100 a 499 trabalhadores, perfazendo 1,68% do total das
empresas existentes. Ou seja, é possível dizer que atua na construção brasileira um número
muito reduzido de empresas de grande porte. Para o total do Brasil, são apenas 192
estabelecimentos classificados como grandes empresas da construção, que empregam de
500 a mais trabalhadores.
Ainda de acordo com a RAIS-2001 (ver Quadro 19), as micro e pequenas
empresas de construção são responsáveis pela absorção de 55,69% do contingente de mão-
de-obra empregada no setor, enquanto as médias empresas absorvem sozinhas os outros
27,20% do estoque total de trabalhadores.
108
CONSTRUÇÃO CIVIL TAMANHO DO
ESTABELECIMENTO POR
EMPREGADOS ATIVOS
BRASIL
0 empregados 27.441
Até 4 empregados 33.775
De 5 a 9 empregados 12.859
De 20 a 49 empregados 8.515
De 50 a 99 empregados 2.190
De 100 a 249 empregados 1.304
De 250 a 499 empregados 324
De 500 a 999 empregados 139
1000 ou mais empregados 53
Quadro 19 – Número de estabelecimentos e tamanho por empregados ativos na Construção
Civil – Total Brasil - 2001
Fonte: RAIS 2001(Preliminar) – MTE
Elaboração: Banco de Dados da CBIC
Os dados da PAIC 2001 também confirmam esta característica da construção.
Na distribuição por classes de pessoal ocupado, as micro, pequenas e médias empresas do
setor constituem 95,4% do universo investigado e detêm parcela do emprego
correspondente a 72,1%. As construtoras consideradas de grande porte somam apenas
4,62% do total das empresas e ocupam 27,93% do estoque de trabalhadores, embora
sejam responsáveis por quase 43% do valor das construções executadas e do valor
adicionado.
Entre 1991 e 2001 (ver Quadro 20), observa-se que houve uma sensível
redução no número total de empresas na construção civil, que pode ser justificada pelo
crescimento pouco expressivo do setor na última década e também pela tendência a
uma maior terceirização de algumas atividades e à fusão ou aquisição de empresas.
ANO
No. DE
ESTABELECIMENTOS
ESTOQUE DE
TRABALHADORES
1991 204.855 1.059.691
2000 96.867 1.094.528
2001 96.968 1.120.882
Quadro 20 – Número de Estabelecimentos e Estoque de Trabalhadores - Brasil – 1991 -
2000 e 2001
Fonte: RAIS 2000 E RAIS 2001 (Preliminar) – MTE
Elaboração: Banco de Dados da CBIC
Por outro lado, ressalta-se que o estoque de trabalhadores no setor permaneceu
praticamente no mesmo patamar. Embora tenha havido no período em questão uma maior
incorporação de novas tecnologias, estas não necessariamente significaram uma substancial
queda no volume de emprego. Em se tratando do setor da construção civil, o desemprego está
109
muito mais relacionado ao menor ritmo das atividades econômicas per si do que à introdução
de tecnologias poupadoras de mão-de-obra. A construção civil brasileira continua sendo uma
atividade predominantemente de mão-de-obra intensiva.
São notórios a importância e o papel estratégico que a indústria da construção
exerce no cenário econômico nacional. Tomada em toda a extensão de sua cadeia produtiva, a
construção civil participa diretamente com 14,04% do Produto Interno Bruto, de acordo com
dados da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção). Isto equivale a dizer que, em
2001, o Macrosetor gerou riqueza para a economia nacional no valor aproximado de R$166
bilhões. Somando-se os efeitos diretos e indiretos esta participação sobe para 15,55%. E se,
além dos efeitos diretos e indiretos, forem considerados também os efeitos induzidos a
participação do Macrosetor é da ordem de 19,26% .
Outra característica relevante é o seu extraordinário poder de geração e
distribuição de renda, que ocorre devido a grande massa salarial criada. Além disso, a
construção civil caracteriza-se por um reduzido coeficiente de importação, utilizando-se
basicamente de capital, tecnologia e insumos locais, regionais ou nacionais. Portanto, ao se
expandir, o setor não pressiona a balança comercial, pois apenas 2% de seus insumos são
importados.
Mesmo no atual cenário de abertura econômica e incremento das importações
nacionais, o setor permanece com um pequeno impacto sobre a balança comercial. Um
aumento nas atividades de construção pressiona pouco as importações brasileiras. Apenas
7,11% do total dos insumos importados destinam-se ao Macrosetor da Construção.
Em princípio, a construção é uma indústria que não depende de financiamentos
externos. Sendo assim, o crescimento do setor não pressiona a balança comercial e, por
conseqüência, o balanço de pagamentos do país.
É também notável o poder de geração e distribuição de renda do setor, que se dá
em termos da massa salarial criada e da cadeia de relações intersetoriais que o mesmo
provoca. Em média, a construção participa com 6% do total dos salários pagos na economia
e com 12,47% dos rendimentos dos trabalhadores autônomos.
Em especial, vale destacar a potência do setor da construção na geração de
empregos na economia: para cada um milhão de reais a mais aplicados na produção do setor,
29 novos postos de trabalho são gerados diretamente. E para cada 100 empregos diretos são
criados 21 novos empregos indiretos e 47 novos empregos induzidos.
O número de pessoas ocupadas diretamente nas atividades do Macrosetor da
Construção totaliza mais de 5,424 milhões de trabalhadores, o que representa cerca de 9% do
110
total do pessoal ocupado na economia. Se somarmos a geração de empregos diretos e
indiretos este total é de 6,560 milhões de trabalhadores. E acrescentando-se ainda os
empregos derivados dos efeitos induzidos, o Macrosetor da Construção gera ao todo 9,089
milhões de postos de trabalho.
Em termos absolutos, o segmento é o maior empregador da construção civil, pois
gera quase 1,145 milhões de empregos diretos. Mas, relativamente ao volume do produto
gerado, as obras civis podem ser elencadas em segundo lugar na capacidade de absorção de
mão-de-obra, ficando atrás do segmento de construção por trabalhadores autônomos.
De acordo com os dados apresentados no 5º. Seminário da Indústria Brasileira da
Construção a cadeia representou 15,5% do PIB brasileiro em 2001. Emprega 15 milhões de
pessoas, 4 milhões diretos. Tem um expressivo poder multiplicador sobre a demanda
doméstica, com mínimo viés importador. Tem um superávit comercial de cerca de US$ 2,5
bilhões ao ano com bens e serviços. Nota-se que existe uma pequena diferença nos números
apresentados pelos estudos realizados pelo 5º. Seminário da Indústria Brasileira da
Construção e pela CBIC.
Conforme o Construbusiness 2003 a Indústria da Construção é, isoladamente, a
maior fonte de empregos diretos e constitui a mais poderosa fonte indutora de empregos e
renda (ver Gráficos 2 e 3).
Gráfico 2
- Comparativo das fontes de empregos diretos no Brasil - 1998 e 2001
Fonte: IBGE – Contas Nacionais. Elaboração LCA Consultores
3,63
3,92
1,39
1,70
0,80
0,92
0,64
0,79
0,22
0,20
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
Em milhões
Construção
Civil
Vestuário
Madeira e
mobiliários
Máquinas e
tratores
Material
elétrico
Fonte de Empregos
1998
2001
111
Gráfico 3
– Pessoal Ocupado na Cadeia da Construção – 2001
Fonte: IBGE – Contas Nacionais. Elaboração LCA Consultores
A Construção Civil possui elevado e crescente poder multiplicador de demanda. A
cada ano, 66,8 bilhões de reais de seus fornecedores (minerais, metalúrgicos, material elétrico,
madeira) demandam da Construção Civil (ver Gráfico 4).
Gráfico 4
– Demanda da Construção Civil - 1998 e 2001
Fonte: IBGE – Contas Nacionais. Elaboração LCA Consultores
A pujança dessa indústria também pode ser demonstrada pela sua enorme
participação na formação dos investimentos nacionais. Em 2000, os investimentos em
construção contabilizaram cifras de R$142,4 bilhões, representando mais da metade dos
investimentos globais do país.
Além disso, 61,26% da produção do Macrosetor da Construção se orienta à
3,92
2,43
8,75
15,10
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
Ocupados Diretos
Ocupados Indiretos
Ocupados
Induzidos
Pessoal total
ocupado
Categorias de Ocupação
Em milhões
20,5
9,0
11,2
5,3
5,7
4,2
5,3
3,3
4,0
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
R$ bilhões
Produtos
minerais não
metálicos
Outros
produtos
metalúrgicos
Produtos de
construção
civil
Material
elétrico
Madeira e
mobiliário
Tipo de Demandas
1998
2001
112
demanda final, principalmente, à formação bruta de capital fixo. O Macrosetor contribui com
82,50% dos investimentos totais do país e 67,05% do valor da sua produção destinam-se aos
investimentos da economia.
O Macrosetor da Construção possui elevada capacidade de geração de impostos.
Os impostos gerados pelos produtos consumidos pelo Macrosetor (importação; ICMS;
IPI/ISS) totalizam aproximadamente 26,0% do total dos impostos indiretos sobre produtos
para o consumo intermediário da economia.
Para cada unidade monetária a mais na demanda final da atividade do Macrosetor
da Construção são gerados 0,0525 centavos de impostos pagos pelas atividades considerando-
se os efeitos diretos; 0,0668 centavos de impostos nos efeitos diretos + indiretos e 0,0786
centavos considerando-se os efeitos induzidos.
O setor da construção civil isoladamente, que participa com 73,45% no
Macrosetor da Construção, contribuiu em 2000 com 9,12% para a geração do produto
nacional, tendo adicionado valor à economia no montante de R$ 88,227 bilhões.
A Construção Civil, propriamente dita, também pode ser desagregada em vários
subsetores de atividades: preparação do terreno; construção de edifícios (inclui instalações e
acabamentos); construção de obras de engenharia civil; obras de infra-estrutura para
engenharia elétrica e de telecomunicações; construção por trabalhadores autônomos.
Para cada um destes subsetores de atividades componentes da indústria da
construção é possível identificar também todos os coeficientes de impacto econômicos e
sociais (diretos, indiretos e induzidos), a exemplo da participação relativa no PIB, geração de
emprego, coeficientes de impacto salarial e tributário.
Além de toda a importância da ICC no desenvolvimento do País, ela é um peso
decisivo na formação bruta de capital nacional. Dois terços dos investimentos produtivos da
economia passam pela Construção Civil (ver Gráfico 5).
113
Gráfico 5
- Participação da ICC na formação bruta de capital nacional - 1995 a 2001
Fonte: IBGE – Contas Nacionais. Elaboração LCA Consultores
Conforme dados da CBIC (2005), no acumulado do 3º. Trimestre de 2005, a
construção civil havia crescido apenas 0,7%, tendo como causas a restrição da política
monetária, o fraco desempenho da economia nacional e o ajuste fiscal que vinha privilegiando
a contenção de gastos públicos direcionados aos investimentos em transporte, saneamento e
infra-estrutura básica.
Ainda de acordo com o Relatório da Câmara Brasileira da Indústria da Construção
apresentado em dezembro de 2005, o saldo da construção civil no acumulado de outubro de
2005 foi de 118.906 trabalhadores formais, superando um pouco a marca do mesmo período
de 2004 (99.809 vagas). Desde o início do ano passado observou-se uma tendência de queda
na ocupação do setor medida pela Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE. Em outubro de
2005 registrou-se estabilidade na taxa de ocupação da construção em 7,2%. O contingente de
ocupados foi de 1.445 milhões de pessoas no conjunto das 6 (seis) regiões metropolitanas
(Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre). Na média do
ano, o nível de ocupação no setor de 7,2%, contra 7,35% em iguais meses de 2004. Na
comparação com o mesmo mês de 2004, a distribuição das pessoas ocupadas também foi
maior no ano de 2004 (7,3%).
Dados mais recentes divulgados em junho deste ano pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE, referente à Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC)
para 2004 indicam que as empresas de construção civil, em relação a 2003, apresentaram um
crescimento nominal de 24,8% no valor total das obras e/ou serviços executados,
correspondendo a um aumento real de 12,2%.
62,26
67,35
68,38
70,33
70,27
67,06
64,01
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
(%)
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
Anos
Maquinas e
Equipamentos
Construção
Civil
114
A PAIC 2004 registrou 109 mil empresas de construção em atividade , 98% delas
de pequeno porte. Apesar deste total ser inferior a 2003, (119 mil construtoras) aumentou-se o
número de pessoas ocupadas. Em 2004 1,6 milhão de pessoas estavam ocupadas na
construção, apresentando um acréscimo de 6,3% em relação a 2003. Conforme o IBGE, essas
empresas pagaram salário médio mensal de 3 salários mínimos (mesma média de 2003), num
montante de R$ 15,3 bilhões em salários no ano. A receita proveniente de obras e serviços no
exterior alcançou 2,2 bilhões de reais.
Ainda de acordo com a PAIC 2004, a distribuição regional do setor construtor não
apresentou alteração. A região Sudeste ainda continua sendo a responsável por mais da
metade tanto do emprego como do valor construído: passou de 50,9% para 51,2% no pessoal
ocupado e manteve sua participação no valor das construções realizadas (de 55,9% para
55,5%).
É válido frisar que, segundo a PAIC 2004, o PIB da Construção Civil registrou
incremento de 5,7% em relação a 2003, enquanto a economia como um todo cresceu 4,9%, no
mesmo período.
No Ceará, conforme dados obtidos junto ao IPLANCE, a construção civil foi
responsável, em média por 5,6% do pessoal ocupado no período de 1994 a 1999, conforme
mostra a Tabela 1.
Tabela 1
- Pessoal ocupado no setor da construção civil em relação ao total
das pessoas ocupadas no Estado do Ceará no período de 1994 a 1999.
Pessoas Ocupadas
Ano Construção Total Part. %
1994 231.891 3.881.343 5,97
1995 197.780 4.102.211 4,82
1996 201.337 3.955.543 5,09
1997 204.665 4.105.324 4,99
1998 292.595 4.101.818 7,13
1999 209.345 3.800.515 5,51
Fonte: IPLANCE
Embora muito aquém do esperado, o saldo do Real é positivo para a construção
civil. A taxa de expansão acumulada do setor entre junho de 1994 e junho de 2002 é de
11,77%. Ou seja, a construção cresceu a uma taxa media anual de apenas 1,40% no período
( ver Tabela 2).
115
Tabela 2
- PIB do Brasil e da Construção Civil – 1994 a 2002
PIB (Valor Adicionado
Bruto pb – em R$
milhões)
Taxa de crescimento
real do PIB (em %)
Período
PIB BRASIL
(a preços de
mercado – em
R$ milhões)
BRASIL
CONST.
CIVIL
BRASIL
CONST.
CIVIL
Partic. PIB
Const. X
PIB Brasil
(%)
1994 349.205 309.207 28.296 5,85 6,99 9,15
1995 646,192 571.818 52.708 4,22 (0,43) 9,22
1996 778.887 694.966 66.143 2,66 5,21 9,52
1997 870.743 780.422 77.359 3,27 7,62 9,91
1998 914.188 820.788 83.181 0,13 1,54 10,13
1999 963.869 860.258 81.100 0,81 (3,76) 9,43
2000 1.086.700 967.306 88.227 4,36 2,98 9,12
2001 1.184.769 1.050.950 -- 1,51 (2,62) --
2002* 1.276.000 -- -- 1,70 (2,80) --
Fonte: Sistema de Contas Nacionais Brasil – 1999-2000 (IBGE) e Boletim Conjuntural IPEA – Junho a
Agosto/2002.
Elaboração: Banco de Dados da CBIC.
(*) Previsão IPEA
O setor da Construção Civil representa 20% do PIB do Ceará, 57% do PIB do
setor secundário cearense, e empregou 7,13% da força de trabalho ocupada em 1998 e,
mesmo com a recessão de 1999, empregou 5,51% da mão-de-obra ativa do Estado, ou seja,
cerca de 210 mil pessoas dos 3,8 milhões trabalhadores cearenses segundo FIBGE e
IPLANCE. Portanto, a Construção Civil direta e indiretamente contribuiu com cerca de 800
mil empregos em 1999 no Ceará, isto é, aproximadamente 22% da população empregada do
Estado neste ano.
Em 2005, as condições externas mostraram-se favoráveis e a economia mundial
apresentou expansão no consumo, beneficiando as economias de países em desenvolvimento,
a exemplo do Brasil. Apesar do desconforto da taxa de juros ainda elevada, o mercado interno
foi favorecido pelo acréscimo na oferta de crédito e na melhora do mercado de trabalho, que
também contribuíram para o aumento nas vendas de bens duráveis. De modo geral, a indústria
cresceu 1,9% em 2005. O aumento da indústria foi sustentado, sobretudo, pelos resultados da
construção civil, que apresentou recuperação em suas atividades ao longo de 2005, após
quedas nos anos de 2002 e 2003 e estagnação em 2004. Neste segmento, o Ceará registrou um
aumento de 5,2% sobre 2004, enquanto o Brasil registrou uma queda de 5,7% para 1,3%.
Alguns fatores influenciaram a construção civil em 2005, como a oferta de crédito e o avanço
do emprego e da renda (ver Tabela 3).
116
Tabela 3
– Evolução do PIB a preços básicos - Ceará e Brasil – 2004/2005
Ceará Brasil
ATIVIDADES
2004 2005 2004 2005
Agropecuária 10,7 3,4 6,3 0,8
Indústria 7,0 1,9 6,2 2,6
Extrativa Mineral -3,4 2,9 -,07 10,9
Transformação 11,8 0,0 7,7 1,3
Construção Civil 0,9 5,2 5,7 1,3
SIUP 16,1 1,2 4,6 3,6
Serviços 3,9 4,8 3,3 2,0
Comércio 9,9 13,9 7,9 3,3
Alojamento e Alimentação 4,3 7,6 4,9 3,2
Transportes 8,0 10,1 - -
Instituições Financeiras 4,5 3,6 4,2 2,4
Aluguéis 3,8 5,0 1,8 2,5
Outros Serviços 3,2 1,8 5,6 1,3
Valor Adicionado pb(*)
4,5 3,6 4,6 2,1
Impostos s/Produtos - - 8,2 3,9
PIB a pm (**) - - 4,9 2,3
Fonte
:
IPECE e IBGE
(*) O valor adicionado a preços básicos não inclui os impostos
(**) No PIB a preços de mercado estão computados os impostos líquidos de subsídios
Esse aumento não foi mantido nas mesmas proporções (ver Tabela 4) quando o
período analisado é o 1º. Trimestre de 2005. Notou-se que foi um aumento bastante
significante das atividades de construção civil no Brasil, na ordem de 6,4%, enquanto o Cesrá
teve uma queda de 3,6%.
Tabela 4
– PIB do 1º. Trimestre – Ceará e Brasil - 2005/2006
1º. Trimestre
Ceará Brasil
ATIVIDADES
2005 2006 2005 2006
Agropecuária -1,9 12,2 2,6 -0,5
Indústria 5,0 5,4 3,1 5,0
Extrativa Mineral 11,3 -16,4 3,7 12,6
Transformação 0,2 8,5 3,6 3,0
Construção Civil 10,8 7,2 0,6 7,0
Eletricidade, Gás e Água 7,7 -5,2 3,3 4,3
Serviços 4,4 3,8 2,2 2,8
Comércio 9,8 8,1 4,2 4,8
Alojamento e Alimentação 8,6 1,0 - -
Transportes 14,1 11,6 3,9 3,6
Instituições Financeiras 4,4 4,8 2,8 2,9
Aluguéis 4,4 3,7 3,7 2,4
Administração Pública 1,6 1,6 0,6 2,6
Outros Serviços 1,4 3,3 2,2 2,9
PIB (Valor adicionado) (*) 4,4 4,8 2,6 3,2
Fonte
:
IPECE e IBGE
(*) Sem os impostos e subsídios
117
O PIB da indústria cearense teve um aumento de 5,4% durante o 1º. Trimestre de
2006 (ver Quadro 21). Ao ser estratificado o PIB de todos os segmentos da indústria
verificou-se que o crescimento da indústria da construção civil (7,2%) só ficou abaixo da
indústria de transformação (8,5%). (Ver Gráfico 6).
ATIVIDADES CEARÁ BRASIL
AGROPECUÁRIA 12,2% -0,5%
INDÚSTRIA 5,4% 5,0%
SERVIÇOS 3,8% 2,8%
PIB a preços básicas (*) 4,8% 3,2%
Quadro 21 – PIB Trimestral – Ceará e Brasil – 1º. Trimestre/2006
Fonte: IPECE e IBGE
(*) Sem os impostos e subsídios
-16,4%
8,5%
7,2%
-5,2%
-20%
-15%
-10%
-5%
0%
5%
10%
Extrativa Mineral Transforma
ç
ão Constru
ç
ão Civil Eletricidade, Gás e
Á
gua
Atividades
%
Gráfico 6 – PIB da Indústria no Ceará – 1º. Trimestre/2006
Fonte: IPECE
De acordo com o Anuário Estatístico do Ceará (2005) o crescimento apresentado
pela indústria da construção civil entre os anos de 2003 e 2004 (ver Quadro 22) foi quase
imperceptível, somente de 2,4%. Na realidade, durante esse período, somente a indústria
extrativa mineral teve um crescimento significativo (11,8%). O maior número de indústrias
está localizado na capital Fortaleza, representando em 2003 – 67,3¨% e em 2004 – 67,6% do
total instalado.
118
Empresas Industriais
Extrativa Mineral Construção Civil Utilidades Públicas Transformação
LOCALIDADE
2003 2004
2003 2004 2003 2004 2004 2004
CEARÁ 143 162 2.231 2.285 47 49 10.561 10.873
FORTALEZA 12 13 1.502 1.544 21 25 4.921 5.118
Quadro 22 – Empresas industriais ativas, por tipo - Ceará e Fortaleza – 2003 - 2004
Fonte: Secretaria da Fazenda (SEFAZ)
2.4.5 Cultura e Estrutura Organizacional da ICC
Segundo Torres (1997), cultura organizacional “é o conjunto de valores, crenças.,
ideologias, normas, regras, representações, rituais, símbolos, hábitos, rotinas, mitos,
cerimônias, formas de interação, formas de comunicação e até mesmo as práticas dos atores
localizados em determinada organização”.
Para Schein (1997) a cultural organizacional é:
o modelo dos pressupostos básicos que determinado grupo tem inventado,
descoberto ou desenvolvido no processo de aprendizagem pata lidar com os
problemas de adaptação externa e integração interna. Uma vez que os pressupostos
tenham funcionado bem o suficiente para serem considerados válidos, são ensinados
aos demais membros como a maneira correta para se perceber, se pensar e sentir-se
em relação àqueles problemas.
De acordo com Chiavenatto (1981) e Neves (1996), cada organização tem sua
cultura própria e característica. Essa cultura permite a adaptação quer dos indivíduos à
organização como um todo, quer da organização ao seu meio envolvente, assumindo a cultura
um estatuto de variável independente.
A ICC, especificamente o subsetor de edificações, representa uma atividade de
construir caracterizada pela ausência de padronização do processo de produção, onde não só
as edificações são diferentes umas das outras, como os ambientes de trabalho se alteram
permanentemente. De acordo com Melo (2001):
a base técnica e organizacional deste subsetor é geralmente rudimentar e o trabalho
precariamente organizado, existindo barreiras para a sua evolução. O processo de
produção não se destacou ainda de seus fatores humanos, ou seja, uma quantidade
enorme de operários com pouca qualificação subdivide as funções motora e
operacional. A operação manual de diversos profissionais como pedreiro,
carpinteiro, auxiliares, dentre outros é alimentada pela força do servente. Desta
forma, cada etapa da obra pressupõe outra terminada e os serviços se sucedem no
tempo, com o desenvolvimento do processo construtivo, dando condições às
empresas construtoras de cumprirem o seu principal objetivo, qual seja, a obtenção
de um produto final que é colocado à venda.
119
Em função dessa falta de padronização dos processos, há uma necessidade
premente de uma mudança cultural no ambiente organizacional das ICC. Segundo Melo
(2001) mudança cultural é “a definição de um outro rumo, uma nova maneira de fazer as
coisas, alicerçada em novos valores, símbolos e rituais, se constituindo em um grande desafio,
pois engloba alterações fundamentais nos padrões de trabalho, nos valores e
consequentemente no comportamento das pessoas”.
Já a estrutura organizacional representa a forma como são agrupados e
coordenados os recursos (humanos, físicos e financeiros) empregados nos seus diversos
processos desenvolvidos na organização com o intuito de se atingirem seus objetivos.
A estrutura organizacional de uma empresa é definida a partir de como as tarefas
(dentro das empresas) serão alocadas, quem se reporta a quem e quais os mecanismos formais
de coordenação e padrões de interação que obrigatoriamente serão seguidos. (MELO, 2001).
Segundo Júnior (2001), a estrutura de ofício marca a dinâmica de trabalho do
subsetor em tela e os mestres, pedreiros e serventes dividem hierarquicamente o canteiro de
obras, onde se persegue a produção e a produtividade através de extensas jornadas de trabalho
(incluindo serões), com um rígido controle técnico (efetuado pelo engenheiro supervisor ou
pelo mestre-de-obras) e outro rígido controle administrativo disciplinar (realizado pelos
apontadores e encarregados dos processos administrativos).
O setor da construção civil organiza o ambiente interno de trabalho, tomando como
princípios norteadores a divisão do trabalho; a racionalização de custos, materiais e
trabalho; a unidade de comando e direção; a centralização ou descentralização das
decisões; a delegação e supervisão das funções e atividades. Nesse contexto, a
construção civil elabora a estrutura organizacional seguindo a concepção funcional,
por projetos ou matricial, em conformidade com os seus objetivos e posturas
políticas do nível estratégico da empresa. (TAIGY, 2000).
De acordo com Taigy (2000), a construção civil, geralmente, faz uso de uma
estrutura funcional, que consiste em agrupar o tamanho pela especialidade da ação
desenvolvida (comercial, administrativa e de produção), visando estabelecer uma unidade de
comando e responsabilidade em três níveis: estratégico, tático e operacional. Desta forma
pode-se constatar que se trata de estrutura centralizada.
Ainda segundo Taigy (2000), no nível estratégico, encontram-se os proprietários
ou diretores da empresa, que são responsáveis pela tomada das grandes decisões. São eles que
definem as metas e estratégias a serem utilizadas pela organização. Numa linha intermediária,
chamada de gerencial ou tática, encontram-se os profissionais de gerenciamento, comando e
supervisão das atividades-fim de apoio da empresa. Na maioria dos casos, são engenheiros,
administradores e/ou técnicos que se situam nesse nível. No nível operacional encontram-se
120
todas as funções ligadas diretamente à produção. São profissionais qualificados ou não e seus
supervisores que executam tarefas de realização do produto do empreendimento: obra e
serviços.
As empresas da ICC, na maioria dos casos, são bastante capazes de rever
estratégias de ação e possuem estruturas flexíveis, o que lhes permite adaptação às variações
de demanda tão corriqueiras no setor. Apesar de ainda trabalharem com produtos e
tecnologias tradicionais. Embora não possuam estruturas especializadas, a busca pela
terceirização de atividades garante-lhes a velocidade e flexibilidade necessária ao bom
funcionamento da empresa. Entretanto, estas empresas ainda estão iniciando a incorporação
de inovações tecnológicas e gerenciais, pressupostos essenciais para o sucesso empresarial.
As diversas funções da ICC são alocadas em departamentos agrupados
funcionalmente em três setores principais: administrativo/financeiro, comercial e técnico.
Cada uma das obras da empresa é tratada como um projeto para o qual são formadas equipes
técnicas temporárias, cuja duração corresponde à duração do projeto. Tratam-se de estruturas,
via de regra, centralizadas nas quais predomina a comunicação formal no sentido vertical
descendente, de modo que os gerentes e engenheiros de obras têm pouca liberdade para
decidir, restringindo-se sua atuação mais às questões operacionais.
Para Souto (2003), há uma diversidade estrutural muito grande na ICC, sendo
marcado por uma heterogeneidade no porte e na capacitação tecnológica e empresarial de
suas empresas. Há no subsetor de edificações, “desde um reduzido número de empresas de
grande porte, com estruturas administrativas complexas, até um elevado número de pequenas
e microempresas, praticamente sem estrutura organizacional formalizada”. (SOUTO, 2003).
Segundo Souto (2003), as empresas de pequeno porte caracterizam-se por uma
atuação local, mas voltadas às atividades desenvolvidas dentro do próprio município. Na
maioria das vezes, tornam-se prestadoras de serviços das grandes construtoras,
principalmente devido a sua especialidade em determinadas fases do processo construtivo.
Essas empresas apresentam uma estrutura muito simples. Raramente apresentam os três
níveis hierárquicos da pirâmide organizacional, geralmente só apresentam dois níveis.
Havendo uma junção dos níveis estratégico e tático. Tais empresas apresentam uma
centralização de poder muito grande nesse nível hierárquico, até mesmo porque todas as
decisões da empresa são emanadas do sócio-proprietário.
Já as empresas de médio e grande porte do subsetor de edificações, geralmente,
apresentam diversidade de produtos e mercado. Para Souto (2003), essas características
conduzem a uma estrutura de alta complexidade que se demonstra através dos seguintes
121
aspectos:
a) alta diferenciação horizontal, organizada por funções, mercado e ou produto;
b) alta diferenciação vertical, considerando que existem os níveis
hierárquicos da sede ou administração da empresa (com pelo menos três níveis
hierárquicos) e os da produção/canteiro (geralmente com três níveis);
c) alta dispersão espacial devido à grande área de atuação, até mesmo para as
empresas que atuam no âmbito regional, considerando o tamanho dos estados
e regiões brasileiras.
De uma forma geral, é possível afirmar que embora a ICC tenha procurado
implementar mudanças na estrutura organizacional de suas empresas, ela é ainda muito
complexa, apresentando um baixo nível de formalização e muito centralizada.
Segundo Cardoso (2001), é extremamente difícil a ocorrência de mudanças
culturais em empresas construtoras civis no sentido de descentralização do poder, sendo elas
geralmente dominadas por culturas centralizadas em seus proprietários cujos objetivos e
crenças pessoais se confundem com os organizacionais.
2.4.6 Panorama atual da ICC
O mercado da construção civil passou e ainda passa por uma série de mudanças
no Brasil. Isto compreende desde a forma da comercialização do metro cúbico de cimento até
como as construtoras se relacionam com seus clientes, fornecedores e funcionários, passando
pelo modo de filtrar informações que se tornaram rentáveis ao longo do processo de
negociação com o uso de tecnologia ou de uma simples consulta à previsão do tempo, por
exemplo. Hoje, uma empresa do setor da construção deve estar preparada para enfrentar o
mercado, pois este deixou de ser agressivo e tornou-se qualitativo e exigente. Além disso,
adotou uma postura sólida, que transmite uma imagem de credibilidade e de resultados,
contribuindo para a construção de negócios duradouros diretamente com o cliente.
Os avanços no gerenciamento da construção civil podem ter ocorrido
historicamente diante da grandiosidade das obras do passado. A existência de enormes
contingentes de mão-de-obra não devem ter arrefecido o entusiasmo com que transformações
da natureza eram criadas pelo homem. Da mesma forma, obras militares agregavam um
componente de velocidade e execução de edificações que o racionalismo do gerenciamento
poderia ter tornado exeqüível. Foi somente após o advento do Taylorismo que as ferramentas
para a organização do trabalho se tornaram disponíveis.
122
Embora o mercado da construção civil aponte otimismo para os próximos anos,
uma empresa de engenharia deve estar mais do que preparada para enfrentar todos os
obstáculos do setor. Além disso, precisa saber lidar com o cenário político-econômico que,
neste ano de 2006, poderá ser mais turbulento por causa das eleições presidenciais. Por isso, a
grande preocupação em identificar as competências necessárias ao engenheiro civil diante das
necessidades desse novo mercado da construção civil, já que o capital humano passa a ser o
maior diferencial competitivo das empresas.
A globalização, a redução de linhas de financiamento, o achatamento da base
monetária no País e o conseqüente incremento da concorrência na indústria da construção
civil têm levado o setor a buscar maior qualificação junto aos programas de certificação da
qualidade ISO 9000 e PBQPH - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do
Habitat, como forma de atender às exigências crescentes dos clientes. Especificamente no
Ceará, 14 empresas cearenses da ICC têm participado de um programa chamado de
INOVACON.
Institucionalizado a partir de 1997, o Programa de Inovação da Indústria da
Construção Civil do Estado do Ceará (INOVACON-CE), encontra-se em sua terceira edição.
O INOVACON tem como metodologia de atuação, a criação de módulos de transferência de
conhecimento, com duração típica de 4 meses. Durante este período, consultores ministram
palestras sobre o tema de sua especialidade e uma equipe técnica atua junto às empresas,
para implantar as inovações. Em particular, algumas empresas colocam-se como voluntárias,
para investir recursos na aplicação das novas metodologias.
O INOVACON tem uma característica complementar em relação aos programas
da qualidade. Seus objetivos são a transformação dos canteiros de obras, a racionalização
dos procedimentos, a agilidade das obras, o aumento da produtividade, o desenvolvimento
de novas técnicas de construção em confronto com o aspecto burocrático, o gerenciamento
do empreendimento a partir do escritório central.
Nos últimos anos há uma incessante busca pela melhoria da qualidade dos
produtos e processos desenvolvidos não só pela indústria da construção civil, mas por todos
os seguimentos industriais.
O cenário nacional necessita acompanhar o cenário internacional, assim como
seus acontecimentos. Guardadas as devidas proporções. A partir da década de 80 observa-se
um grande movimento no setor da construção civil no sentido de aplicar os princípios e
ferramentas da Qualidade. Mais recentemente, muitas empresas do setor voltaram-se ao
desenvolvimento de sistemas de gestão da qualidade, tanto como meio para alcançar um
123
maior nível de controle sobre seus processos produtivos, como também com o objetivo final
de obter certificação segundo as normas da série ISO 9000.
Embora tenha trazido importantes benefícios para o setor, segundo Isatto et al.
(2000) a filosofia do TQM (Total Quality Management), atende apenas de forma parcial as
necessidades das empresas, na medida que os seus conceitos, princípios e ferramentas não
contemplam, com a devida profundidade, questões relacionadas à eficiência e eficácia do
sistema de produção. “Em função destas limitações e também pelo fato de que erroneamente
tentou-se disseminar o TQM na indústria como uma solução global para toda a organização,
esta filosofia vem sofrendo um relativo desgaste entre as empresas nos últimos anos”.
(ISATTO et al., 2000).
A partir da década de 90, um novo referencial teórico vem sendo construído para a
gestão de processos na construção civil, envolvendo o esforço de um grande número de
acadêmicos tanto no país como no exterior, com o objetivo de adaptar alguns conceitos e
princípios gerais na Gestão da Produção às peculiaridades do setor. Este esforço tem sido
denominado de Lean Construction, por estar fortemente baseado no paradigma da Lean
Production (Produção Enxuta), que se contrapõe ao paradigma da produção em massa (Mass
Production), cujas raízes estão no Taylorismo e Fordismo.
O surgimento dessas novas idéias não é recente. Surgiram desde a década de 50,
no Japão, tendo como partida duas filosofias básicas: TQM (Total Quality Management) e o
JIT (Just in Time). Seus conceitos e princípios surgiram na própria indústria automobilística –
Sistema de Produção da Toyota no Japão. Entretanto, somente nos últimos anos é que iniciou-
se uma preocupação dos acadêmicos no sentido de entender este novo paradigma, com o
objetivo de disseminá-lo nos mais diversos setores de atividade econômica.
Especificamente na ICC, o grande marco da Lean Construction foi iniciado pela
publicação do trabalho Application of the new production philosophy in the construction
industry por Laui Koskela (1992) do Technical Research Center da Finlândia. A partir desta
publicação foi criado o ILGC (International Group for Lean Construction), com o objetivo de
disseminar esse novo paradigma no setor da construção civil em diversos países.
A diferença básica entre a filosofia gerencial tradicional e a Lean Production é
principalmente conceitual. A mudança mais importante para a implantação do novo
paradigma é a introdução de uma forma de entender os processos.
O modelo conceitual dominante na construção civil costuma definir a produção
como “um conjunto de atividades de conversão, que transformam os insumos (materiais e
informação) em produtos intermediários (alvenaria, estrutura, revestimentos) ou final
124
(edificação)”. (FORMOSO, 2000). Por esta razão, o mesmo é também denominado de modelo
de conversão (ver Figura 6).
Figura 6
– Modelo de processo na filosofia gerencial tradicional
Fonte: Formoso (2000)
O modelo apresentado por Formoso (2000) apresenta as seguintes características:
a) O processo de conversão pode ser subdividido em sub-processos, que também são
processos de conversão. Por exemplo, a execução da estrutura pode ser subdividida
em execução de formas, corte, dobragem e montagem de armaduras e lançamento do
concreto;
b) O esforço de minimização do custo total de um processo em geral é focado no
esforço de minimização do custo de cada sub-processo separadamente; e
c) O valor do produto (output) de um sub-processo é associado somente ao custo (ou
valor) dos seus insumos.
Este é o modelo adotado, por exemplo, nos orçamentos convencionais, que são
tipicamente segmentados por produtos intermediários (por exemplo, vigas, paredes,
portas, etc.), e também nos planos de obra, nos quais são normalmente representadas apenas
as atividades de conversão. Assim, tanto os orçamentos quanto os planos de obra em geral
representam explicitamente a seqüência de atividades que agregam valor ao produto,
também denominada de fluxo de montagem de uma edificação. Para Formoso (2000), as
principais deficiências do modelo de conversão são as seguintes:
a) Existe uma parcela de atividades que compõem os fluxos físicos entre as
atividades de conversão (fluxos de materiais e de mão-de-obra), as quais não são
explicitamente consideradas. Ao contrário das atividades de conversão, estas
atividades não agregam valor. Em processos complexos, como é o caso da
construção de edificações, a maior parte dos custos é originada nestes fluxos físicos.
b) O controle da produção e esforço de melhorias tende a ser focado nos sub-
processos individuais e não no sistema de produção como um too. Uma excessiva
ênfase em melhorias nas atividades de conversão, principalmente através de
inovações tecnológicas, pode deteriorar a eficiência dos fluxos e de outras atividades
Subprocesso A
Processo de produção
Subprocesso B
Produtos Matérias primas
125
de conversão, limitando a melhoria da eficiência global.
c) A não consideração dos requisitos dos clientes pode resultar na produção, com
grande eficiência, de produtos que são inadequados. Neste sentido, deve-se
considerar os requisitos tanto dos clientes finais como internos.
Ainda segundo Formoso (2000), pode-se produzir um edifício de apartamentos
com grande eficiência, mas que não tem valor de mercado por não atender aos requisitos de
potenciais compradores (clientes finais). Da mesma forma, uma equipe de estrutura pode
executar com eficácia o desempenamento perfeito da superfície de concreto das lajes, o
que, ao invés de facilitar o trabalho das equipes subseqüentes (clientes internos), vai
dificultá-lo, pois existe a necessidade de aderência entre as lajes e a argamassa de
assentamento do piso a ser colocado.
Por outro lado, o modelo de processo da Construção Enxuta assume que um
processo consiste em um fluxo de materiais, desde a matéria prima até o produto final, sendo
o mesmo constituído por atividades de transporte, espera, processamento (ou conversão) e
inspeção (Figura 7). As atividades de transporte, espera e inspeção não agregam valor ao
produto final, sendo por esta razão denominadas atividades de fluxo.
Nem toda a atividade de processamento agrega valor ao produto. Por exemplo,
quando as especificações de um produto não foram atendidas após a execução de um
processo e existe a necessidade de retrabalho, significa que atividades de
processamento foram executadas sem agregar valor. (FORMOSO, 2000).
Fica evidente que os itens definidos nos orçamentos convencionais e nos planos
de obra implicitamente contêm as referidas atividades de fluxo. Entretanto, o fato de que as
mesmas não são explicitadas dificulta a sua percepção prejudicando, desta forma, a
gestão da produção.
Figura X – Modelo de processo da Construção Enxuta (Kostela, 1992)
Figura 7
- Modelo de processo da Construção Enxuta
Fonte: Formoso (2000)
A geração de valor é outro aspecto muito importante que caracteriza os processos
na Lean Construction. O conceito de valor está diretamente vinculado à satisfação do cliente,
Processa-
mento
Espera
Inspeção
Movimento
Movimento
Rejeitos
126
não sendo inerente à execução de um processo. Desta forma, só ocorre a geração de valor de
um processo quando as atividades de processamento transformam as matérias primas ou
componentes nos produtos requisitados pelos clientes, sejam eles internos ou externos.
É perfeitamente aproveitável a processos de natureza gerencial, tais como
planejamento e controle, suprimentos, projetos, etc., o modelo de processo mostrado na
Figura 7, ele não se aplica necessariamente somente a processos de produção. Quando da
utilização por processos gerenciais, o transporte de materiais é substituído pelo fluxo de
informações.
Não se pode esquecer que além dos fluxos de montagem, materiais e informações
existe o fluxo de trabalho que necessita ser devidamente gerenciado. Este fluxo refere-se ao
conjunto de operações realizadas por cada equipe no canteiro de obras.
No Ceará, no entanto, apenas 28% das empresas do setor, ou seja, 36 das 170
construtoras cadastradas junto ao Sinduscon (Sindicato da Construção Civil) no ano de 2006,
operam com sistemas de gestão da qualidade de sistemas operacionais e dos produtos. No
Brasil são 1.272 empresas qualificadas e no Nordeste, apenas 154 construtoras estão
certificadas pelo série ISO 9000 ou pelo PBQPH.
De acordo com o CBIC (2005) a expectativa é que o ano de 2006 seja mais
promissor para a construção, com expansão na dotação dos recursos e mais agilidade na
execução orçamentária. Uma estimativa preliminar deste dimensionamento pode chegar perto
de R$ 59,155 bilhões. O orçamento do BNDES para empréstimos em 2006 é da ordem de R$
60 bilhões (bem acima dos R$ 35 bilhões aprovados para 2005), dos quais estima-se que a
área de infra-estrutura receberá R$ 25,8 bilhões (cerca de 43%, o mesmo montante destinado
na média dos últimos 2 anos).
No Ceará, a indústria de construção civil espera que o crédito imobiliário cresça
em 2006, impulsionando os lançamentos e as vendas. As obras públicas também devem
aquecer o segmento. Principalmente porque é um ano de eleição. O setor imobiliário acredita
que este ano será melhor que 2005 por uma série de fatores. O aumento dos financiamentos
bancários para imóveis, por exemplo, será um fator preponderante para um maior volume de
negócios, de acordo Carlos Fujita, presidente do Sindicato das Indústrias de Construção Civil
do Estado (Sinduscon). A queda da taxa de juros também é outro fator muito importante.
Ainda segundo Carlos Fujita outro aspecto de grande expectativa para o setor é a
aplicação dos recursos do FGTS, que em 2005 foi de menos de 50% do previsto, e atender à
população mais carente através do Programa de Arrendamento Residencial (PAR). "Nesse
aspecto da moradia de interesse popular, nós obtivemos grande sensibilização da Prefeitura de
127
Fortaleza - através da Semam - e do Governo do Estado - por meio da Seinfra. Esperamos
entregar pelo menos cinco mil unidades habitacionais em 2006".
Especialmente no setor de obras públicas, temos uma grande expectativa com
relação a projetos como o Sanear, edificações como o Museu do Mar, reforma do
Castelão (estádio local) e do Liceu (Colégio Estadual), além da recuperação das
estradas estaduais. Com isso, esperamos que haja um fortalecimento das empresas
cearenses e um crescimento na geração de empregos. (CARLOS FUJITA, 2006).
Além de toda expectativa, o Estado do Ceará dispõe de uma excelente infra-
estrutura de transportes aéreo, rodoviário e marítimo, bem como de telecomunicações,
saneamento, energia, abastecimento de água, hotelaria e educacional.
No caso do setor de Construção Civil, por tratar-se de um setor muito dependente
de insumos externos, o novo Porto do Pecém desempenha um papel fundamental para a
competitividade deste e de outros setores que dependem de insumos importados ou mercados
consumidores fora do Estado, ou ambos.
Outro fator de grande relevância para o crescimento da ICC no Ceará,
especificamente na cidade de Fortaleza e sua grande região metropolitana, abrangendo
cidades como Aquiraz, Eusébio e Caucaia (região das praias) é a injeção de capital
estrangeiro, principalmente de países europeus. Investidores da Itália, Alemanha, Suíça e de
maior porte da Espanha e Portugal têm injetado seus “euros” a todo vapor em
empreendimentos imobiliários. Uma das construtoras de grande porte que participou da
pesquisa deste estudo, dos seus 10 empreendimentos imobiliários atuais na capital do Ceará, 4
estão localizados no Porto das Dunas, cidade de Aquiraz/Ce, com mais 2 projetados ainda
para esse ano serem iniciados no mesmo local. Sem se falar que existem empreendimentos
totalmente gerenciados por portugueses e/ou espanhóis.
Os dados apresentados são eloqüentes em si mesmos para demonstrar que o
crescimento da indústria da construção tem efeitos econômicos e sociais significativos sobre a
economia nacional e local. Pode-se notar que a globalização, assim como também os avanços
tecnológicos não são necessariamente a mola propulsora dessa cadeia produtiva. O capital
humano passa a ser a maior diferença nessas empresas, tendo à frente o Engenheiro Civil
perpassando todas as etapas da cadeia produtiva. Sendo assim, fica evidente que para o
crescimento da indústria da construção civil, levando em conta as necessidades do mercado
atual, é condição importantíssima a identificação das competências profissionais do
engenheiro civil, para que o mesmo possa contribuir ainda mais com o crescimento dessa
indústria.
128
CAPÍTULO 3 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este capítulo faz uma abordagem sobre os procedimentos metodológicos que
foram utilizados para levantar os dados necessários à realização da pesquisa de campo. Neste
sentido, é apresentada a classificação da pesquisa, o universo e a amostra, a coleta de dados
utilizadas, o tratamento dos dados, as dimensões e indicadores utilizados e a delimitação da
área de estudo.
3.1 Classificação da pesquisa
Para Vergara (2003, p. 46-47) uma pesquisa pode ser classificada quanto aos fins
e quanto aos meios. Quanto aos fins, a autora classifica-a em: exploratória, descritiva,
explicativa, metodológica, aplicada e intervencionista. Quanto aos meios ela classifica-a em:
pesquisa de campo, pesquisa de laboratório, documental, bibliográfica, experimental, ex post
facto, participante, pesquisa-ação e estudo de caso.
No que diz respeito aos fins, esta pesquisa classifica-se como exploratória e
descritiva. É exploratória porque explorar é tipicamente a primeira aproximação de um tema e
visa criar maior familiaridade em relação a um fato ou fenômeno. Quase sempre se busca essa
familiaridade pela prospecção de materiais que possam informar ao pesquisador a real
importância do problema, o estágio em que se encontram as informações já disponíveis a
respeito do assunto, e até mesmo, revelar ao pesquisador novas fontes de informação.
A pesquisa exploratória pode ser realizada mediante levantamento bibliográfico e
por entrevistas com profissionais das empresas objeto de estudo.
Esta pesquisa é descritiva, porque após a primeira aproximação (pesquisa
exploratória), o interesse é descrever um fato ou fenômeno. Por isso a pesquisa descritiva é
um levantamento das características conhecidas, componentes do fato/fenômeno/problema e
pode ser realizada mediante levantamentos e observações sistemáticas dos componentes da
pesquisa.
No tocante aos meios de investigação, esta pesquisa é bibliográfica, porque foram
utilizadas diversas fontes bibliográficas para fundamentar e auxiliar raciocínios e conclusões a
respeito dos fatos/fenômenos da pesquisa.
129
Segundo Santos (1999), a bibliografia constitui-se numa preciosa fonte de
informações, com dados já organizados e analisados. Na atualidade, praticamente qualquer
necessidade humana, conhecida ou pressentida, possui algo escrito a seu respeito. Por isso a
pesquisa com base em uma bibliografia deve encabeçar qualquer processo de busca científica
que se inicie.
Esta pesquisa é de campo, porque os dados foram recolhidos in natura, como
percebidos pelo pesquisador, através das entrevistas que foram realizadas. Uma vez que se
realizou uma investigação junto aos engenheiros civis e empregadores da indústria da
construção civil, subsetor de edificações, para obter dados sobre os aspectos perceptíveis a
respeito das competências profissionais dos engenheiros civis.
3.2 Universo e amostra
Segundo Lakatos e Marconi (2001, p. 108) universo ou população é o conjunto de
seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum.
Para Vergara (2003, p. 50) população é um conjunto de elementos (empresas,
produtos, pessoas, por exemplo) que possuem as características que foram objeto de estudo.
População amostral ou amostra é uma parte do universo (população) escolhida segundo algum
critério de representatividade.
Os sujeitos participantes da pesquisa foram os engenheiros civis,
estagiários/trainees de engenharia civil e empregadores das indústrias de construção civil,
subsetor de edificações, localizadas na cidade de Fortaleza/CE. O instrumento de pesquisa
utilizado foi aplicado a todos os sujeitos da pesquisa.
Os dados amostrais foram selecionados por critério de disponibilidade,
conveniência e acessibilidade. A amostragem utilizada foi intencional devido a grande
dificuldade de realização da pesquisa. Durante os meses de maio e junho de 2006, com o
objetivo de obter-se autorização para realização da pesquisa junto às empresas, foi enviado
fax e e-mails a mais de 30 empresas da construção civil, subsetor de edificações, conforme
dados obtidos junto ao SINDUSCON/CE. Entretanto, somente 3 empresas prontamente deram
o aceite para realização da pesquisa, as demais assim o fizeram mediante a sensibilização por
intermédio de colegas junto aos proprietários e/ou diretores das demais empresas do
segmento. Sendo assim, somente durante o mês de julho de 2006 é que foi possível iniciar a
pesquisa de campo.
130
Quanto ao universo da pesquisa consideraram-se as empresas de médio e grande
porte que atuam no subsetor de edificações, na cidade de Fortaleza/CE e que são filiadas ao
SINDUSCON-CE.
O critério que foi utilizado para definição do tamanho da empresa foi o do
SEBRAE: pequena empresa (até 99 funcionários), média empresa (entre 100 e 499
funcionários) e grande empresa (acima de 499 funcionários).
É válido salientar que o número de funcionários de uma construtora é muito
sazonal. Ele é definido para maior ou menor em função do número de obras que a empresa
está desenvolvendo naquele momento. Para o cálculo do número de funcionários foi
considerado também, além da mão-de-obra efetiva, a mão-de-obra terceirizada.
Conforme dados obtidos pelo SINDUSCON-CE existem atualmente cerca de 600
construtoras cearenses, dentre elas 170 são cadastradas no sindicato. Dessas, somente 30 são
consideradas de médio porte e apenas 4 são consideradas de grande porte, de acordo com a
classificação do SEBRAE.
A amostra foi composta de 12 empresas, tendo 45 respondentes no total. Para o
instrumento de pesquisa aplicado no nível de direção obteve-se a participação de 12
profissionais, sendo 10 diretores e 2 supervisores que responderam pelos seus diretores, visto
que os mesmos encontravam-se em viagem. Já para o instrumento de pesquisa aplicado aos
engenheiros obteve-se a participação de 33 profissionais. Dentre as empresas pesquisadas, três
são consideradas de grande porte e nove de médio porte, conforme classificação do SEBRAE
citada anteriormente neste estudo.
3.3 Coleta de Dados
Para Lakatos e Marconi (2001), as técnicas correspondem à parte prática de coleta
de dados e são consideradas um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma
ciência, e a habilidade para usar esses preceitos ou normas na obtenção dos propósitos.
Lakatos e Marconi (2001) citam como técnicas de coleta de dados a documentação indireta,
documentação direta e observação direta intensiva. A documentação indireta obtida através da
pesquisa documental (ou de fontes primárias) e pesquisas bibliográficas (ou de fontes
secundárias). A documentação direta pode ser obtida através de pesquisa de campo ou de
laboratório. A observação direta intensiva é realizada através de duas técnicas: observação e
entrevista.
131
Ainda segundo as autoras, a coleta de dados é a etapa da pesquisa em que se inicia
a aplicação dos instrumentos elaborados e das técnicas selecionadas, a fim de se efetuar a
coleta dos dados previstos.
No que se refere à pesquisa bibliográfica foi realizada uma revisão da literatura
que trata da formação do engenheiro civil, das competências individuais e organizacionais,
considerando a classificação das competências proposta por Fleury (2004, p. 21), da gestão do
conhecimento, da indústria da construção civil e das interações entre a formação e as
atividades desenvolvidas ou necessidades do mercado.
Quanto à pesquisa de campo utilizou-se como instrumento de coleta de dados, um
roteiro de entrevista semi-estruturada composto de perguntas fechadas e abertas que foi
aplicado aos profissionais formados e/ou formandos dos cursos de Engenharia Civil e aos
empregadores das organizações nas quais os mesmos estão exercendo suas atividades
profissionais.
O roteiro de entrevista semi-estruturado aplicado aos engenheiros foi dividido em
quatro partes e o aplicado aos diretores foi dividido em cinco partes, conforme detalhamento
no Quadro 23:
Profissional pesquisado Partes do instrumento de pesquisa
No. de
questões
Perfil do Engenheiro Civil 5
Aspectos da Estrutura Organizacional 8
Gestão de RH 15
Engenheiros civis,
trainees
, estagiários de
engenharia civil
Competências do Engenheiro Civil 10
Perfil do Engenheiro Civil 5
Dados da Empresa 6
Estrutura Organizacional 8
Gestão de RH 15
Diretores
Competências do Engenheiro Civil 10
Quadro 23 – Estrutura do instrumento de pesquisa utilizado
Fonte: Elaboração própria
Segundo Richardson (1989), questionários de perguntas fechadas:
[...] são aqueles instrumentos em que as perguntas ou afirmações apresentam
categorias ou alternativas de respostas fixas e preestabelecidas. O entrevistado deve
responder a alternativa que mais se ajusta às suas características, idéias ou
sentimentos. Existem diversos tipos de perguntas fechadas. As mais utilizadas são
[...]: dicotômicas, tricotômicas e com múltiplas respostas.
Já, os questionários de perguntas abertas de acordo com Richardson (1989) “[...]
caracterizam-se por perguntas ou afirmações que levam o entrevistado a responder com frases
ou orações. O pesquisador não está interessado em antecipar respostas, deseja uma maior
elaboração das opiniões do entrevistado”.
132
A pesquisa em estudo utilizou o tipo de questionário com múltiplas escolhas e
com base nestas considerações, todas as perguntas do roteiro de entrevista foram elaboradas
no sentido de se levantar informações sobre as competências profissionais dos engenheiros
civis, com base na fundamentação teórica e nas dimensões, componentes e indicadores
apresentadas no Quadro 24.
Na aplicação do roteiro de entrevista, foi utilizado o método do contato direto.
Segundo Richardson (1989, p. 149), neste método:
[...] o próprio pesquisador, ou pessoas especialmente designadas por ele, aplicam o
questionário diretamente. [...] No contato direto, o pesquisador pode explicar e
discutir os objetivos da pesquisa e do questionário, responder dúvidas que os
entrevistados tenham em certas perguntas.
A aplicação dos roteiros de entrevista ocorreu durante o período compreendido
entre os meses de julho a novembro de 2006. Na coleta dos dados foram respeitados os
direitos de privacidade e a garantia de que as informações prestadas pelo entrevistado seriam
utilizadas exclusivamente na pesquisa. Quando da aplicação dos instrumentos de pesquisa
utilizou-se o método de comunicação face a face, ocasião em que foram esclarecidas aos
respondentes algumas dúvidas sobre as perguntas, bem como colocado a relevância de sua
participação nessa pesquisa.
O roteiro de entrevista semi-estruturado foi aplicado individualmente com cada
engenheiro civil, estagiário/trainee e empregadores de cada construtora participante da
pesquisa.
Inicialmente foram encaminhados faxs e e-mails aos diretores das empresas, (ver
cartas anexadas - Apêndices A e B), solicitando autorização para realização da pesquisa.
Como muitos não deram nenhum retorno sobre a solicitação, houve a necessidade do contato
via telefone, e em alguns casos foi necessária uma visita preliminar à empresa, para falar
diretamente com o diretor a fim de obter autorização para realização da pesquisa. Alguns
diretores solicitaram o envio do ferramental de pesquisa via e-mail, para um conhecimento
prévio da entrevista. Os mesmos responsabilizaram-se de encaminhar aos seus engenheiros,
cabendo ao pesquisador marcar o dia da visita in loco. Duas empresas, das consideradas de
grande porte, mostraram um interesse muito grande na pesquisa, até mesmo porque servirá de
subsídio para implantação da GQT (Gestão da Qualidade Total) em sua empresa, já que elas
estão passando pelo processo de certificação da ISO 9000.
O instrumento de coleta de dados, roteiro de entrevista (Apêndices C e D), foi
elaborado em blocos de temas ou assuntos, possibilitando com isto facilitar a leitura e o
tratamento dos dados.
133
Inicialmente, o instrumento de pesquisa foi aplicado, preliminarmente, em duas
empresas, objetivando sua validação, assim como também corrigir possíveis falhas,
principalmente quanto à interpretação das perguntas por parte dos sujeitos da pesquisa.
3.4 Tratamento dos Dados
Concluída a coleta de dados, foram feitas a identificação, transcrição e a
codificação dos roteiros de entrevista. O material foi organizado e agrupado por empresa
pesquisada, tendo sido mantido o conteúdo original das entrevistas realizadas. Objetivando
facilitar o tratamento desses dados, assim como também a elaboração de gráficos e tabelas
utilizou-se o software chamado Sphinx, versão Plus2.
Os softwares Sphinx são potentes ferramentas para apoiar o processo de pesquisa
e para análise de dados gerenciais e acadêmicos. Figurando hoje entre uma das mais respeitas
ferramentas para esta área no país, permite a realização de análises quanti e qualitativas e
possibilita publicação de questionários (coleta) e relatórios (análise) na web.
Principais aplicações dos softwares Sphinx:
1. Criação de questionários personalizados, definindo conjuntos de questões.
2. Formulários multimídia, com a possibilidade de introdução de sons,
imagens, vídeos.
3. Diferentes interfaces para coleta/inserção de dados.
4. Importação e Exportação de dados de outros bancos de dados.
5. Controle de integridade dos dados.
6. Criação de perfis dinâmicos para análise de segmentos da amostra.
7. Criação de tabelas simples, cruzadas, de médias e de grupos.
8. Gráfico de relação entre variáveis e segmentação em árvore.
9. Consulta/alteração individual das respostas.
10. Análise léxica (palavras, expressões, etc.) e Análise de Conteúdo.
11. Criação de tabelas de palavras e tabelas de respostas e cruzamento destas
com outras variáveis.
12. Interpretação de códigos e datas gerando novos dados e informações.
Para efeito desta pesquisa utilizou-se a criação de questionários personalizados,
definindo os conjuntos de questões, conforme apresentado nos Apêndices C e D, criação de
134
tabelas simples e cruzadas, consulta/alteração individual de respostas, controle de integridade
dos dados, análise léxica (palavras, expressões).
Em se tratando de uma ferramenta de tratamento de dados do tipo qualitativo, a
escolha do software Sphinx se justifica na medida em que esse recurso tecnológico pôde
converter facilmente a grande massa de dados gerada na pesquisa de campo, por intermédio
da criação de categorias. Em termos de desdobramentos, a escolha dessa ferramenta
tecnológica é também pertinente devido à necessidade de se familiarizar com os diferentes
níveis de agregação das categorias geradas, notadamente, pelo volumoso número de
indicadores incluídos no protocolo de pesquisa. A ferramenta possibilitou o uso da estatística
descritiva por meio de freqüência e porcentagem, objetivando a construção dos gráficos e
tabelas apresentados.
As perguntas foram analisadas uma a uma e agrupadas as respostas por
semelhança possibilitando uma compreensão sobre os blocos temáticos. Deste modo, os
resultados foram apurados e evidenciados no Capítulo 4.
3.5 Dimensões e Indicadores
O presente estudo trata de uma investigação que busca identificar as diversas
competências profissionais (técnicas, gerenciais, sociais e organizacionais) do engenheiro
civil requeridas pelo mercado atual da construção civil, subsetor de edificações.
Não só no âmbito acadêmico, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN) e das Diretrizes Curriculares instituídos pelo MEC, o tema competências também tem
sido uma constante no âmbito organizacional. Grande parte dos autores, que tratam do tema
competências, são unânimes quanto às características de conhecimentos, habilidade e atitudes,
como atributos de um profissional ou um grupo de pessoas, gerando diferencial competitivo
que agrega valor econômico e social à organização.
Uma competência é caracterizada pelas idéias claras ou implícitas de saber fazer,
saber aplicar e saber agir. O significado de competência está relacionado com uma condição
diferenciada de qualificação e capacitação das pessoas, das equipes, das unidades de negócio
e da organização.
O Quadro 24 apresenta a estrutura geral da pesquisa com base nos estudos
realizados (referencial teórico) e técnicas de pesquisa científica adotadas no escopo do
trabalho.
135
OBJETIVO GERAL –
Estudar as competências do Engenheiro Civil necessárias para atuar na indústria
da construção, focalizando o subsetor de edificações.
QUESTÕES
ROTEIRO DE
ENTREVISTA
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
DIMENSÕES COMPONENTES INDICADORES
1 2
Identificar as áreas de
atuação, atividades e
funções desenvolvidas
pelos engenheiros civis.
Ambiente
interno
Estrutura
Organizacional
Função
Hierarquia
Processos de
comunicação
Delegação
Autonomia
Processo decisório
Tomada de decisão
Poder de negociação
1;2;3;
4;5;6;
7;8;9;
10;11;
12;13;
14;15;
16;17;
18;19
1;2;3;4;
5;6;7;8;
9;10;11;
12;13
Levantar, junto às
empresas de construção
civil locais, as
necessidades de
competência do
engenheiro frente ao seu
novo papel profissional
no desenvolvimento de
suas funções.
Ambiente
interno
Gestão do
Profissional de
Engenharia
Formação
Competências
necessárias
Recrutamento e
seleção
Capacitação e
treinamento
Políticas de RH
Ambiente de trabalho
Reconhecimento e
valorização do
engenheiro
Educação continuada
Planos de cargos e
salários
20;21;
22;23;
24;25;
26;27;
28;29;
30;31;
32;33;
34
14;15;1
6;17;18;
19;20;2
1;22;23;
24;25;2
6;27;28
Profissionais
(competências
específicas para
certa operação,
ocupação ou
atividade)
Sociais
(competências
necessárias para
interagir com as
pessoas)
Descrever os
conhecimentos,
habilidades e atitudes
necessárias para o
exercício profissional do
engenheiro civil.
Competências
do Engenheiro
Civil
Organizacionais
(competências
coletivas
associadas às
atividades- meios
e às atividades-
fim)
Conhecimentos
Atitudes
Habilidades
35;36;
37;38;
39;40;
41;42;
43;44
29;30;3
1;32;33;
34;35;3
6;37;38
Quadro 24 – Esquema Geral de Pesquisa
Fonte: Elaboração própria do autor.
1- Roteiro de Entrevista Aplicado aos Diretores – Apêndice A
2- Roteiro de Entrevista Aplicado aos Engenheiros – Apêndice B
136
3.7 Delimitações/Limitações da pesquisa
Segundo Barros e Lehfeld (2000, p. 26) delimitar a pesquisa trata-se de se definir
os elementos particulares que serão abordados no trabalho em pauta, dispensando a realidade
geral, embora esta seja a área de opção do assunto.
É muito difícil uma pesquisa contemplar todos os aspectos pertinentes a um tema,
principalmente, devido a algumas restrições que poderão dificultar a realização da pesquisa,
como o tempo, localização geográfica, tamanho e diversidade da amostra e recursos. A
delimitação da pesquisa objetiva estabelecer limites para a investigação que foi realizada.
Dentro deste contexto, o tema desta pesquisa delimita-se:
O setor da indústria da construção pesquisado refere-se apenas ao subsetor de
edificações, compreendido pelos segmentos da construção de edifícios
residenciais e não-residenciais.
O foco da pesquisa é a identificação das competências dos engenheiros civis
que trabalham no subsetor de edificações na indústria da construção. Aqui não foi
limitado a apenas os que estão situados no nível estratégico e tático, mas todos
que trabalham na organização, inclusive trainee e estagiários.
Foi analisado especificamente o ambiente interno das organizações. O
ambiente externo foi considerado apenas do ponto de vista de suas variáveis que
influenciam o ambiente interno.
137
CAPÍTULO 4 – APRESENTAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Este capítulo representa os resultados e análises da pesquisa de campo. Em
atendimento aos objetivos da pesquisa, esse capítulo aborda os seguintes itens: perfil das
empresas pesquisadas; perfil dos engenheiros civis, apresentando as funções desenvolvidas
pelos mesmos nas empresas pesquisadas; aspectos da estrutura organizacional das empresas;
gestão de RH; competências do engenheiro civil, apresentando as competências técnicas,
gerenciais, sociais/organizacionais, os conhecimentos técnicos e gerenciais e as competências
do engenheiro civil ingressante no mercado, subdividindo-as em fortes, fracas e as que
necessitam serem desenvolvidas finalizando pelas competências necessárias ao engenheiro
civil de acordo com a área de atuação.
4.1 Perfil das empresas pesquisadas
Os dados apresentados a seguir, Gráficos 7, 8, 9, 10, 11 e 12 e tabelas 5, e 6 fazem
parte, exclusivamente, do instrumental de pesquisa aplicado aos diretores. Nele foram
acrescentado 4 perguntas, objetivando confirmar o porte da empresa, conforme classificação
do SEBRAE, tendo em vista que o estudo apresentado foi aplicado somente às empresas de
médio e grande porte da cidade de Fortaleza e que essas informações quanto ao porte não
estavam disponíveis no CREA/CE, nem no SINDUSCON/CE.
Esse bloco da pesquisa retrata dados das empresas quanto ao tempo de existência
das mesmas, número de colaboradores efetivos e terceirizados, assim como também o número
de engenheiros das empresas. A pesquisa demonstrou que 58,3% das empresas pesquisadas
(ver Gráfico 7) têm mais de 20 anos de existência. Sendo que 75% das empresas pesquisadas
são de médio porte (ver Gráfico 8) e que 25% são de grande porte. Ao cruzar o tempo de
existência da empresa com o número de colaboradores (ver Tabela 5), notou-se que somente
uma empresa, 8,3% das pesquisadas, tem entre 1 e 5 anos e é de grande porte, as demais de
grande porte têm mais de 20 anos de mercado. Todas as empresas de médio porte têm acima
de 5 anos de existência no mercado.
138
Tempo de existência da empresa
8,3%
8,3%
25,0%
58,3%
Menos de 1 ano
Entre 1 e 5 anos
Entre 5 e 10 anos
Entre 10 e 20 anos
Mais de 20 anos
Gráfico 7
– Tempo de existência da empresa
Fonte: Dados da pesquisa
33,3%
41,7%
25,0%
Entre 100 e 200
Entre 200 e 500
Mais de 500
Gráfico 8
– Número de colaboradores
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 5
– Tempo de existência da empresa x Número de colaboradores
Número de colaboradores
Tempo de existência da empresa
Entre 100
e 200
(%)
Entre 200
e 500
(%)
Mais de
500
(%)
TOTAL
(%)
Menos de 1 ano 0,0 0,0 0,0 0,0
Entre 1 e 5 anos 0,0 0,0 8,3 8,3
Entre 5 e 10 anos 0,0 8,3 0,0 8,3
Entre 10 e 20 anos 8,3 16,7 0,0 25,0
Mais de 20 anos 25,0 16,7 16,7 58,3
TOTAL 33,3 41,7 25,0 100
Fonte: Dados da pesquisa
O que define um número maior ou menor de colaboradores numa empresa é o
número de empreendimentos que a mesma está executando naquele momento. O número de
colaboradores numa empresa de construção civil, do subsetor de edificações varia muito a
cada ano. Ao concluir uma obra, as empresas encerram seus contratos com as
Número de colaboradores
139
subempreiteiras. Esse número também varia em função da fase na qual a obra se encontra.
Algumas atividades tais como colocação de gesso, revestimento interno e externo, pintura,
colocação de piso, dentre outras são, na sua maioria, terceirizadas, desta forma a mão-de obra
é considerada temporal.
O número de colaboradores efetivos e terceirizados podem ser visualizados
através dos Gráficos 9 e 10, enquanto a Tabela 6 faz o cruzamentodo do número de
colaboradores efetivos versus o número de colaboradores terceirizados. A pesquisa mostrou
que 33,3% das empresas de médio porte que possuem entre 100 e 200 colaboradores têm
menos de 50 colaboradores terceirizados em seu quadro, enquanto 25% das grandes empresas
terceirizam entre 100
e 200 colaboradores. Nenhuma das empresas pesquisadas tem mais de
200 colaboradores terceirizados e somente 16,7% tem entre 50 e 100.
16,7%
16,7%
66,7%
0,0%
Entre 50 e 100
Entre 100 e 200
Entre 200 e 500
Mais de 500
Gráfico 9
– Número de colaboradores efetivos
Fonte: Dados da pesquisa
41,7%
16,7%
41,7%
0,0%
0,0%
Menos de 50
Entre 50 e 100
Entre 100 e 200
Entre 200 e 500
Mais de 500
Gráfico 10
– Número de colaboradores terceirizados
Fonte: Dados da pesquisa
Colaboradores efetivos
Colaboradores terceirizados
140
De acordo com os pesquisados os colaboradores terceirizados apresentam uma
maior dificuldade em assimilarem a cultura da empresa, até mesmo porque não fazem parte
do seu quadro permanente de colaboradores. Outra grande dificuldade apresentada é a
resistência à utilização dos EPIs. Os terceirizados também necessitam de uma maior
vigilância para o cumprimento das normas de higiene e segurança do trabalho. Embora
existam algumas dificuldades quanto aos terceirizados, as empresas adotam essa prática visto
que a busca pela terceirização de atividades no subsetor de edificações garante-lhes a
velocidade e flexibilidade necessárias ao bom funcionamento da empresa. Outro ponto em
destaque é a dificuldade que as empresas têm de manter equipes qualificadas e especializadas
dentro de todas as áreas, assim como também o alto custo de manutenção dessa mão-de-obra
quando da queda dos serviços especializados, visto gerar despesas altas com a folha de
pagamento.
As grandes empresas costumam terceirar mais que as médias. Supõe-se que essa
prática sobrecarrega as atividades do engenheiro gestor de obras, tendo em vista que um
maior número
de terceirizados poderá significar um maior número de empresas e contratos a
serem gerenciados, necessitando, portanto, de maior planejamento, coordenação e controle
desses contratos. Para o desenvolvimento dessas atividades, ele necessitará desenvolver
bastante as habilidades de coordenar, liderar e negociar.
Tabela 6
– Número de colaboradores efetivos x Número de colaboradores terceirizados
Número de colaboradores efetivos
Número de colaboradores terceirizados
Entre 100 e
200
(%)
Entre 200 e
500
(%)
Mais de
500
(%)
TOTAL
(%)
Menos de 50 33,3 8,3 0,0 41,7
Entre 50 e 100 0,0 16,7 0,0 16,7
Entre 100 e 200 0,0 16,7 25,0 41,7
Entre 200 e 500 0,0 0,0 0,0 0,0
Mais de 500 0,0 0,0 0,0 0,0
TOTAL 33,3 41,7 25,0 100
Fonte: Dados da pesquisa
A pesquisa apresentou, através dos Gráficos 11 e 12, o número de engenheiros
totais das empresas e o número de engenheiros civis. Não foi identificado nenhum outro
engenheiro além do engenheiro civil. Na maioria dos casos, o engenheiro civil, com
especialização em segurança do trabalho, também desenvolve essa função, mas ele não é
exclusivamente um engenheiro de segurança do trabalho. Das empresas pesquisadas 25%
141
possuem menos de 3 engenheiros civis em seu quadro. Nesses casos identificou-se que essas
empresas possuem um sócio-proprietário, que desempenha o cargo de diretor técnico, sendo
responsável pelos empreendimentos e um engenheiro civil responsável, na maioria das vezes,
por mais de uma obra. Das empresas pesquisadas, 41,7% possuem entre 6 e 10 engenheiros
civis em seu quadro. A responsabilidade de gerenciar mais de uma obra poderá sobrecarregar
os engenheiros civis nas suas atividades, assim como também exigirá um esforço físico muito
grande devido aos vários deslocamentos que são feitos entre as obras, muitas vezes mais de
um diariamente, principalmente se não existir um engenheiro por obra. Desta forma, alguns
problemas podem deixar de serem solucionados de imediato devido a falta do engenheiro na
obra naquele momento.
25,0%
16,7%
41,7%
16,7%
Menos de 3
Entre 3 e 6
Entre 6 e 10
Mais de 10
Gráfico 11
– Número de engenheiros
Fonte: Dados da pesquisa
Número de engenheiros civis
25,0%
16,7%
41,7%
16,7%
Menos de 3
Entre 3 e 6
Entre 6 e 10
Mais de 10
Gráfico 12
– Número de engenheiros civis
Fonte: Dados da pesquisa
Número de en
g
enheiros
142
Um dado preocupante que a pesquisa mostrou (ver Tabela 7), foi que 25% das
empresas pesquisadas que têm entre 200 e 500 funcionários, portanto, classificada como de
médio porte, possuem menos de 3 engenheiros civis em seu quadro. Os dados indicam que,
possivelmente, falta gerenciamento nos seus processos, ou por outro lado o papel que deve ser
desempenhado por um engenheiro civil está sendo feito pelo mestre de obra ou então por
estagiários de engenharia e/ou técnico de edificações. Uma informação importante sobre o
quadro de colaboradores identificado durante a aplicação da pesquisa foi que algumas das
empresas pesquisadas, inclusive uma das de grande porte, vem substituindo, gradativamente,
seus mestres de obra por técnicos de edificações. A pesquisa ainda mostrou (ver Tabela 7)
que 66,7% das empresas de grande porte possuem entre 6 e 10 engenheiros civis em seu
quadro. Apenas uma das grandes empresas pesquisadas, 33,3%, possui mais de 10
engenheiros civis em seu quadro, embora tenha mais de 500 funcionários.
Tabela 7
– Número de engenheiros civis x Número de colaboradores
Número de colaboradores
Número de engenheiros civis
Entre 100 e
200
(%)
Entre 200 e
500
(%)
Mais de
500
(%)
Menos de 3 50,0 20,0 0,0
Entre 3 e 6 50,0 0,0 0,0
Entre 6 e 10 0,0 60,0 66,7
Mais de 10 0,0 20,0 33,3
TOTAL 100 100 100
Fonte: Dados da pesquisa
De uma forma geral, pode-se afirmar que mais de 50% das empresas pesquisadas
estão no mercado há mais de 20 anos. Isso demonstra a solidez dessas empresas no mercado
local, assim como também a importância das mesmas para a indústria da construção civil
local, subsetor de edificações. Como a maioria das empresas da ICC no Brasil são de micro e
pequenas empresas, esse setor tem sempre recebido a ameaça de novos entrantes. Entretanto,
na amostra utilizada para a pesquisa, médias e grandes, essa ameaça não existe com tanta
frequência, principalmente no caso das grandes empresas. O que pode acontecer é a separação
dos sócios gerando uma nova empresa, a fusão entre duas empresas ou aquisição de uma delas
por outra. Quanto ao número de engenheiros caso a empresa trabalhe com um número
excessivamente pequeno poderá ocorrer queda na qualidade dos serviços prestados, falta de
acompanhamento das etapas da obra, falta de disponibilidade de tempo para visitar as próprias
obras, muitas das vezes só chegando a visitá-la quando um problema grave não consegue ser
143
solucionado e ainda o comando das obras é delegado aos mestres de obra, estagiários de
engenharia ou aos técnicos de edificações.
4.2 Perfil do engenheiro civil que atua nas ICC pesquisadas
Esse bloco da pesquisa apresenta o perfil etário e educacional dos respondentes. A
pesquisa demonstrou que 42,4% dos engenheiros possuem entre 20 e 30 anos de idade e que
39,4% possuem entre 30 e 40 anos. Nota-se que mais de 80% dos pesquisados possuem entre
20 e 40 anos de idade, demonstrando assim que o quadro de engenheiros das empresas não
apresenta idade elevada (ver Tabela 8). Os dados apresentados na Tabela 8 são de grande
relevância, principalmente para as empresas que investem em seu capital intelectual. Há a
possibilidade de desenvolver um programa de educação continuada, investimento em
capacitação e treinamento de longo prazo. Por outro lado, uma mão-de-obra mais jovem,
possivelmente, terá mais motivação para batalhar por melhores oportunidades, objetivando
sua ascensão profissional dentro da organização.
Tabela 8
– Faixa etária
Engenheiro Direção
Idade
Qte. (%) Qte. (%)
Até 20 anos 1 3,0 0 0,0
Entre 20 e 30 anos 14 42,4 1 8,3
Entre 30 e 40 anos 13 39,4 0 0,0
Acima de 40 anos 5 15,2 11 91,7
TOTAL 33 100 12 100
Fonte: Dados da pesquisa
Quanto à escolaridade a pesquisa aplicada aos engenheiros (ver Tabela 9)
apresentou que 33,3% dos respondentes possui curso de especialização ou ainda estão
cursando e que 30,3% possuem nível superior completo. Apenas 12,1% da amostra possui
mestrado ou está cursando. É válido salientar que a pesquisa foi composta de 24,2% de
estagiários/trainees do curso de Engenharia Civil, desta forma se esses respondentes fossem
excluídos, os respondentes com especialização ou cursando subiriam para 40%. Como os
respondentes ainda são jovens para o mercado de trabalho existe uma grande possibilidade
144
dos graduados e futuros engenheiros virem a cursar uma especialização. Principalmente pela
necessidade do mercado que requer profissionais atualizados e em educação continuada.
Tabela 9
– Escolaridade
Engenheiro Direção
Escolaridade
Qte. (%) Qte. (%)
Nível Superior incompleto 8 24,2 0 0,0
Nível Superior completo 11 33,3 4 33,3
Especialização (concluído ou cursando) 10 30,3 6 50,0
Mestrado (concluído ou cursando) 4 12,1 2 16,7
Doutorado (concluído ou cursando) 0 0,0 0 0,0
TOTAL 33 100 12 100
Fonte: Dados da pesquisa
O bom nível de especialização apresentado pelos dados da Tabela 9, corroboram
com Ruas (2000). Para Ruas, os principais modos de aquisição de recursos de competência
estão centrados na formação continuada, na educação formal e na experiência profissional do
indivíduo. Portanto, quanto maior a escolaridade e o tempo de empresa, maiores serão as
chances de desenvolvimento das competências.
No tocante ao tempo de empresa (ver Tabelas 10 e 11), a grande maioria dos
engenheiros pesquisados 48,5% têm entre 1 e 5 anos, enquanto 27,5% têm menos de um ano
de empresa, 21,2% têm entre 5 e 10 anos e apenas 3%, ou seja, apenas um engenheiro tem
mais de 10 anos de empresa. Grande parte dos profissionais que estão com menos 1 ano de
empresa, 24,2%, são estagiários/trainees (ver Tabela 9). Já os diretores, 83,3% têm mais de
10 anos. Somente 1 engenheiro de obra tem mais de 10 anos, os demais 42,5% têm menos de
10 anos de empresa.
Tabela 10
– Tempo de empresa
Engenheiro Direção
Tempo de empresa
Qte. (%) Qte. (%)
Menos de 1 ano
9 27,3 0 0,0
Entre 1 e 5 anos
16 48,5 2 16,7
Entre 5 e 10 anos
7 21,2 0 0,0
Mais de 10 anos
1 3,0 10 83,3
TOTAL
33 100 12 100
Fonte: Dados da pesquisa
145
Tabela 11
– Função na empresa x Tempo de empresa
Função na empresa
Tempo de empresa
Diretor
(%)
Eng.
Superv.
(%)
Eng. de
Obra
(%)
Eng.
Trainee
(%)
Estagiário
(%)
Outra(s)
(%)
Menos de 1 ano 0,0 0,0 12,1 0,0 12,1 3,0
Entre 1 e 5 anos 16,7 6,1 15,2 6,1 6,1 15,2
Entre 5 e 10 anos 0,0 0,0 15,2 3,0 0,0 3,0
Mais de 10 anos 83,3 0,0 3,0 0,0 0,0 0,0
TOTAL
100
6,1 45,5 9,1 18,2 21,2
Fonte: Dados da pesquisa
Ao somar os engenheiros com menos de 1 ano e os entre 1 e 5 anos tem-se que
aproximadamente 76% têm menos de 5 anos na empresa. Além de ser uma população jovem,
possui pouco tempo de empresa. Mais uma vez deve-se salientar que o número de
estagiários/trainees que participaram da pesquisa foi de 24,2%, contribuindo desta forma para
esse resultado. O pouco tempo de permanência nas empresas dos estagiário deve-se ao fato
que, por lei, o tempo máximo de permanência de um estagiário na mesma empresa deve ser
de dois anos. Embora dois anos não seja muito tempo, a contratação de estagiários e trainees
é de vital importância para as empresas. A inserção desses profissionais no ambiente
organizacional possibilita às empresas um intercâmbio de novas tecnologias e conhecimentos
adquiridos no âmbito acadêmico e que serão permutados com o ambiente empresarial.
Tabela 12
– Tempo de empresa x Idade
Menos de 1
ano
Entre 1 e 5
anos
Entre 5 e
10 anos
Mais de 10
anos
TOTAL
Tempo de empresa
Idade
Eng.
(%)
Dir.
(%)
Eng.
(%)
Dir.
(%)
Eng.
(%)
Dir.
(%)
Eng.
(%)
Dir.
(%)
Eng.
(%)
Dir.
(%)
Até 20 anos 3,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3,0 0,0
Entre 20 e 30 anos 15,2 0,0 21,2 0,0 6,1 0,0 0,0 0,0 42,4 0,0
Entre 30 e 40 anos 6,1 0,0 21,2 0,0 12,1 0,0 0,0 8,3 39,4 8,3
Acima de 40 anos 3,0 0,0 6,1 16,7 3,0 0,0 3,0 75,0 15,2 91,7
TOTAL 27,3 0,0 48,5 16,7 21,2 0,0 3,0 83,3 100 100
Fonte: Dados da pesquisa
Os engenheiros pesquisados, em torno de 80% (ver Tabela 12), estão na faixa
etária entre 20 e 40 anos, enquanto os diretores , mais de 90%, têm acima de 40 anos. Embora
as empresas pesquisadas tenham mais de 20 anos, na sua maioria, o mesmo não acontece com
o tempo de empresa dos engenheiros. Em torno de 75% dos pesquisados têm até 5 anos de
empresa. Isso pode demonstrar uma grande rotatividade de engenheiros nessas empresas, o
que não pode ser comprovado pela pesquisada realizada. Outro dado relevante é que em torno
de 40% dos engenheiros pesquisados têm ou estão cursando pós-graduação, sendo que esse
146
número é mais significante quando se trata do nível de direção, em torno de 67% têm ou estão
cursando pós-graduação.
4.2.1 Funções desenvolvidas pelos engenheiros civis
Embora constasse no instrumento de pesquisa aplicado a opção da função de
Engenheiro Auxiliar, a mesma foi retirada da análise dos dados tendo em vista que nenhuma
das empresas pesquisadas possuía essa nomenclatura em seu quadro funcional de engenheiro.
Os dados apresentados na Tabela 13, demonstraram que 45,5% dos engenheiros
pesquisados executam a função de engenheiro de obra. As outras funções citadas foram
engenheiro de planejamento, gerente de projetos, gerente de suprimentos e logística e
engenheiro coordenador. Quanto à pesquisa junto aos diretores 83,3% eram diretores e 16,7%
atuam como supervisores e eventualmente substituem os diretores nas suas ausências.
Tabela 13
– Função na empresa
Engenheiro Direção
Função na empresa
Qte. % Qte. %
Diretor 0 0,0 10 83,3
Engenheiro Supervisor 2 6,1 2 16,7
Engenheiro de Obra 15 45,5 0 0,0
Engenheiro
Trainee
3 9,1 0 0,0
Estagiário 6 18,2 0 0,0
Outra(s) 7 21,2 0 0,0
TOTAL 33 100 12 100
Fonte: Dados da pesquisa
O supervisor se encontra no nível tático da organização e, é ele que se relaciona
com o maior número de pessoas em decorrência da natureza do seu trabalho. Tal trabalho lhe
obriga a realizar visitas/vistoria em todas as obras que estão sob sua supervisão e ainda
dedicar uma parcela do seu tempo a negociações e contratos nos escritórios da empresa,
quando também tem oportunidade de se relacionar com as pessoas que ali trabalham, além de
subempreiteiros, projetistas, clientes, fornecedores, etc. Desta forma, este profissional pode
desempenhar um papel chave, no sentido de liderar, aglutinar pessoas e reunir idéias, que
circulam nos canteiros e na sede da empresa.
147
Na obra, ele se relaciona diretamente com o engenheiro responsável pela obra, na
companhia de quem faz a visita técnica à obra propriamente dita. Nesta ocasião, aproveita
para transmitir seus conhecimentos ao engenheiro de obra. O engenheiro supervisor faz o
acompanhamento das suas obras com ênfase no cumprimento de contrato com os clientes,
principalmente quando se trata de construção em grupo, em termos de prazo, custo e
qualidade da obra.
O engenheiro de obra é o principal responsável pela execução da obra, a quem
compete tomar todas as decisões referentes aos aspectos técnicos da edificação e a gestão
daquele empreendimento. Este gestor conta, para o desempenho da sua tarefa, com o apoio no
nível hierárquico superior, do supervisor que atua muito mais como instrutor e orientador do
que como seu superior hierárquico; no nível hierárquico inferior, com o engenheiro trainee
e/ou estagiário, os técnicos de edificações (no cado das empresas de grande porte), os mestres
de obra e o almoxarife.
Através da Tabela 14 notou-se que a maioria dos engenheiros de obra encontra-se
na faixa etária entre 30 e 40 anos – 46,7%. Já os engenheiros supervisores todos têm acima de
30 anos. Entre os engenheiros trainees, 100% deles, têm entre 20 e 30 anos, na mesma faixa
etária encontram-se 83,3% dos estagiários. A função outros engenheiros apresentou que
71,4%, possuem idade entre 30 e 40 anos, ficando somente 28,6% entre 20 e 30 anos. A
maioria desses engenheiros é de planejamento.
Tabela 14
– Função na empresa x Idade
Função na empresa
Idade
Diretor
(%)
Eng.
Superv.
(%)
Eng. de
Obra
(%)
Eng.
Trainee
(%)
Estagiário
(%)
Outra(s)
(%)
Até 20 anos
0,0 0,0
0,0 0,0 16,7 0,0
Entre 20 e 30 anos
0,0 0,0
26,7 100 83,3 28,6
Entre 30 e 40 anos
10,0
50,0 46,7 0,0 0,0 71,4
Acima de 40 anos
90,0
50,0 26,7 0,0 0,0 0,0
TOTAL
100
100 100 100 100 100
Fonte: Dados da pesquisa
Um engenheiro civil da ICC, subsetor de edificações poderá chegar à função de
supervisor, conforme informações obtidas nas entrevistas, após 5 ou 6 anos, no mínimo, de
atividades desenvolvidas na função de engenheiro de obra, ou então quando ele já é
contratado como engenheiro supervisor. O engenheiro supervisor necessita ter uma visão
sistêmica e conhecimento de todos os empreendimentos da organização, enquanto o
engenheiro de obra, na maioria dos casos, tem uma visão e conhecimento específicos à sua
148
obra. Exceção aqueles engenheiros que são responsáveis por mais de uma obra, conforme
dados da pesquisa. Nesses casos, a função do engenheiro supervisor não faz parte da estrutura
hierárquica da empresa. O diretor técnico, muitas das vezes, o próprio dono, é quem
supervisiona todas as obras.
A Tabela 15 relaciona as atividades desenvolvidas pelos engenheiros civis de
acordo com a função exercida pelos mesmos. Embora exista uma diversificação muito grande
dessas atividades, a pesquisa mostrou que as atividades de gestão são as mais desenvolvidas
pelos engenheiros de obra. Os engenheiros supervisores concentram seus esforços nas
atividades de gestão, principalmente as financeiras, administrativas, de projetos e no
planejamento e acompanhamento técnico das obras. Os engenheiros trainees desenvolvem,
na sua maioria, as atividades de apoio à gestão da obra, como inspeção dos serviços
realizados, gestão de pessoas no sentido de acompanhamento e controle de funcionários,
conferências de materiais e acompanhamento do cronograma físico da obra. Os estagiários
ficam responsáveis pelas medições de tempo (cronometragem), conferências de materiais,
formas e ferragens, acompanhamento da concretagem e alvenaria. Por último os demais
engenheiros, em sua maioria, os de planejamento visitam às obras periodicamente, elaboram o
orçamento das obras, tendo como carro chefe o planejamento das obras. Pode-se constatar que
o setor de planejamento faz parte da estrutura organizacional da maioria das empresas
pesquisadas, chegando a ser de 100% nas empresas de grande porte.
Tabela 15
- Relação das atividades desenvolvidas pela função
Atividades desenvolvidas pela
função
Diretor
(%)
Eng.
Superv.
(%)
Eng. de
Obra
(%)
Eng.
Trainee
(%)
Estag.
(%)
Outra(s)
(%)
Planejamento das obras
12,1 20,0 8,7 0,0 0,0 25,3
Coordenação geral das obras
18,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Definição estratégica e análise de
viabilidade de novos
empreendimentos
27,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Direção técnica de todos os
empreendimentos
9,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Direção geral de todos os
empreendimentos
12,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Fiscalização das obras
3,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Responsável pelas vendas
3,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Responsável técnico pelas obras
3,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Gestão da obra
0,0 0,0 13,0 0,0 0,0 9,9
Gestão financeira da obra
6,1 20,0 8,7 0,0 5,0 9,9
Gestão de pessoas
0,0 0,0 9,8 28,6 0,0 0,0
Gestão de suprimentos
0,0 0,0 10,9 0,0 5,0 0,0
149
Atividades desenvolvidas pela
função
Diretor
(%)
Eng.
Superv.
(%)
Eng. de
Obra
(%)
Eng.
Trainee
(%)
Estag.
(%)
Outra(s)
(%)
Atendimento ao cliente
0,0 0,0 8,7 0,0 0,0 0,0
Acompanhamento do cronograma
físico da obra
0,0 0,0 4,3 14,3 5,0 0,0
Inspeção dos serviços realizados
0,0 0,0 4,3 7,1 10,0 0,0
Controle da produtividade dos
funcionários
0,0 0,0 5,4 0,0 0,0 0,0
Controle do cronograma físico da
obra
0,0 0,0 4,3 0,0 5,0 0,0
Gestão de projetos
0,0 20,0 4,3 0,0 0,0 0,0
Acompanhamento de
cronometragem
0,0 0,0 0,0 0,0 10,0 4,4
Conferência de formas e ferragens
0,0 0,0 0,0 0,0 15,0 0,0
Conferência de materiais
0,0 0,0 0,0 7,1 10,0 4,4
Elaborar cronograma físico da
obra
0,0 0,0 2,2 0,0 5,0 0,0
Gestão administrativa da obra
6,1 20,0 2,2 0,0 0,0 0,0
Gestão de contratos
0,0 0,0 2,2 0,0 0,0 4,4
Supervisão da obra
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Acompanhamento alvenaria
0,0 0,0 0,0 0,0 10,0 0,0
Acompanhamento técnico da obra
0,0 20,0 1,1 0,0 0,0 0,0
Controle da obra
0,0 0,0 1,1 14,3 0,0 0,0
Elaboração do orçamento das
obras
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 9,9
Treinamento dos operários
0,0 0,0 1,1 0,0 5,0 0,0
Visita às obras
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 9,9
Acompanhamento na concretagem
0,0 0,0 0,0 0,0 5,0 0,0
Aquisição de materiais
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,4
Autorização pedidos de compra
0,0 0,0 1,1 0,0 0,0 0,0
Compatibilização do projeto com o
arquiteto
0,0 0,0 1,1 0,0 0,0 0,0
Controle de processos
0,0 0,0 1,1 0,0 0,0 0,0
Controle de qualidade da obra
0,0 0,0 1,1 0,0 0,0 0,0
Gestão de suprimentos e logística
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,4
Inovações Tecnológicas
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,4
Manutenção do PCMAT
0,0 0,0 0,0 0,0 5,0 0,0
Planejamento de recursos humanos
para a obra
0,0 0,0 1,1 0,0 0,0 0,0
Recebimento de materiais
0,0 0,0 0,0 14,3 0,0 4,4
Responsável pela folha de
pagamento da obra
0,0 0,0 1,1 0,0 0,0 0,0
Responsável pela implantação do
Lean Construction
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,4
Suporte aos núcleos de
planejamento/projeto /suprimento
0,0 0,0 1,1 0,0 0,0 0,0
TOTAL
100 100 100 100 100 100
Fonte: Dados da pesquisa
150
Pôde-se constatar que na sua grande maioria, 45,5% dos engenheiros civis
executam a função de engenheiro de obra (ver Tabela 13). Dentre as principais atividades
desenvolvidas por esses engenheiros estão o planejamento e o controle da obra. Baseado nos
dados, vê-se claramente que as funções de gestor são altamente requistadas aos engenheiros
de obra que trabalham na indústria da construção civil, subsetor de edificações.
Notou-se ainda que as principais atividades desenvolvidas pelos diretores das
empresas pesquisadas são o estudo estratégico objetivando analisar a viabilidade de novos
empreendimentos, seguida pelo planejamento e coordenação das obras. Em algumas
empresas de médio porte, aquelas que figuram entre 100 e 200 colaboradores (ver Tabela 6),
as atividades de planejamento e coordenação são desenvolvidas pelos diretores técnicos. Na
maioria desses casos o diretor técnico é o proprietário.
4.3 Aspectos da Estrutura Organizacional das empresas
O terceiro bloco da pesquisa apresenta informações sobre a estrutura
organizacional das empresas pesquisadas.
A estrutura hierárquica das empresas pesquisadas é horizontalizada e
centralizada. Não existem muito níveis hierárquicos. As ordens obedecem uma hierarquia pré-
definida, os engenheiros de obra se reportam ao nível hierárquico superior, na sua maioria,
diretamente aos diretores técnicos, mesmo nas empresas que existem a figura do engenheiro
supervisor, existe essa liberdade, enquanto no nível inferior se reportam aos mestres de obra e
estagiários (ver Tabelas 16 e 17).
Tabela 16
– A quem o engenheiro se reporta no nível hierárquico superior
Engenheiro Direção
Se reporta no nível hierárquico superior
Qte. % Qte. %
Conselho Diretivo 0 0,0 8 61,5
Vice-Presidência 0 0,0 1 7,7
Diretor Técnico 19 54,3 3 23,1
Engenheiro de Obra 10 28,6 0 0,0
Engenheiro Supervisor 4 11,4 0 0,0
Gerente de Projetos 1 2,9 0 0,0
Gerente Técnico 1 2,9 0 0,0
Mestre de obra 0 0,0 0 0,0
Não existe nível hierárquico superior 0 0,0 1 7,7
TOTAL 35 100 13 100
Fonte: Dados da pesquisa
151
Tabela 17
– A quem o engenheiro se reporta no nível hierárquico inferior
Engenheiro Direção
Se reporta no nível hierárquico inferior
Qte. % Qte. %
Engenheiro de Obra 7 12,3 10 62,5
Engenheiro Supervisor 0 0,0 2 12,5
Coordenação e Planejamento Geral 0 0,0 1 6,3
Engenheiros de Planejamento 0 0,0 1 6,3
Grupo de Trabalho 0 0,0 1 6,3
Mestre de obra 29 50,9 1 6,3
Supervisor de produção 3 5,3 0 0,0
Técnico de edificações 3 5,3 0 0,0
Estagiários/
Trainees
6 10,5 0 0,0
Operários 6 10,5 0 0,0
Almoxarife 3 5,3 0 0,0
TOTAL 57 100 16 100
Fonte: Dados da pesquisa
Corroborando com o trabalho de Taigy (2000), notou-se que as empresas
pesquisadas fazem uso de uma estrutura funcional que visa estabelecer uma unidade de
comando e responsabilidade dividida em três níveis hierárquicos: estratégico, tático e
operacional, constatando-se dessa forma que a estrutura é centralizada, na qual, via de regra,
predomina a comunicação formal no sentido vertical descendente, de modo que os
supervisores e engenheiros de obras têm pouca liberdade para decidir, restringindo-se sua
atuação mais às questões operacionais.
No nível estratégico, encontram-se os proprietários ou diretores da empresa, que
são responsáveis pela tomada das grandes decisões. São eles que definem as metas e
estratégias a serem utilizadas pela organização. Numa linha intermediária, chamada de
gerencial ou tática, encontram-se os profissionais de gerenciamento, comando e supervisão
das atividades-fim de apoio da empresa. Na maioria dos casos, são engenheiros,
administradores e/ou técnicos que se situam nesse nível. No nível operacional encontram-se
todas as funções ligadas diretamente à produção. São profissionais qualificados ou não e seus
supervisores que executam tarefas de realização do produto do empreendimento: obra e
serviços.
Por possuir uma estrutura flexível, essas empresas são capazes de rever estratégias
de ação e adaptar-se às variações de demanda tão comuns ao subsetor de edificações.
152
87,90%
12,10%
100%
0,00%
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
En
g
enheiros Dire
ç
ão
Processo de Comunica
ç
ão
SIM
N
Ã
O
Gráfico 13
– Processo de Comunicação
Fonte: Dados da pesquisa
Notou-se que no processo de comunicação (ver Gráfico 13), em função das
estruturas apresentadas pelas empresas serem centralizadas, há uma predominância da
comunicação no sentido vertical. De acordo com a pesquisa realizada entre os diretores,
100% informaram que a comunicação é eficiente em todos os níveis, enquanto que para os
engenheiros, 87,9% informaram que era eficiente e somente 12,1% que não era eficiente.
Quanto à forma utilizada para a comunicação informal, para ambos grupos de pesquisados
(diretores e engenheiros), a pesquisa mostrou que o meio mais utlizado para que a informação
flua (ver Tabela 18), é através de reuniões, seguida por comunicações via e-mail, telefones e
comunicados, resultando em mais de 80% dos meios informados pelos engenheiros.
Tabela 18
– Meio utilizado para comunicação interna
Engenheiro Direção
Meio utilizado para comunicação interna
Qte. % Qte. %
Através de reuniões 25 29,1 10 30,3
Através de e-mails 20 23,3 9 27,2
Através de telefone 18 20,9 4 12,1
Através de comunicados 10 11,6 6 18,2
Pessoalmente 7 8,1 2 6,1
Através de sistema integrado 2 2,3 0 0,0
Através de comunicação on-line 1 1,2 0 0,0
Através de formulários 1 1,2 0 0,0
Através de instruções internas 1 1,2 0 0,0
Através de relatórios 1 1,2 0 0,0
Intranet 0 0,0 1 3,0
Via jornal interno 0 0,0 1 3,0
TOTAL 86 100 33 100
Fonte: Dados da pesquisa
153
Para os diretores, a pesquisa demonstrou que 100% dos engenheiros têm
autonomia para a tomada de decisão (ver Gráfico 14), enquanto a dos engenheiros mostrou
que 78,80% têm autonomia e 21,20% não. Os tipos de atividades que o engenheiro tem poder
de decisão (ver Tabela 19), são as que estão relacionadas ao planejamento, programação e
controle da obra, à gestão de pessoas, à gestão de suprimentos, à g
estão de projetos e da
produção e à negociação com atores externos e gestão de contratos
. Embora 100% dos diretores
tenham dito que os engenheiros têm total autonomia, os engenheiros que disseram não,
colocaram que essas decisões não são livres, a maioria delas precisam ser consultadas à
Diretoria Técnica. Mais uma vez tem-se um elemento que vem a confirmar que a estrutura
organizacional das indústrias de construção civil, subsetor de edificações é centralizada.
Corroborando com os estudos de Cardoso (2001) no qual segundo o autor é extremamente
difícil a ocorrência de mudanças culturais em empresas construtoras civis no sentido de
descentralização do poder, sendo elas geralmente dominadas por culturas centralizadas em
que seus proprietários cujos objetivos e crenças pessoais se confundem com os
organizacionais.
78,80%
21,20%
100%
0,00%
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
Engenheiros Direção
Autonomia
SIM
N
Ã
O
Gráfico 14
– Autonomia
Fonte: Dados da pesquisa
154
Tabela 19
– Atividades que o engenheiro tem poder de decisão
Engenheiro Direção
Atividades que o engenheiro tem poder de decisão
Qte. % Qte. %
Planejamento, programação e controle da obra 16 32,0 10 66,7
Gestão de pessoas 9 18,0 1 6,7
Gestão de suprimentos 7 15,0 0 0,0
Gestão de projeto 6 12,0 2 13,3
Nenhuma 6 12,0 0 0,0
Negociação com atores externos e gestão de contratos 5 10,0 0 0,0
Gestão da produção 1 2,0 2 13,3
TOTAL 50 100 15 100
Fonte: Dados da pesquisa
A pesquisa mostrou (ver Gráficos 15 e 16) que os poderes de negociação que são
delegados aos engenheiros estão focados nas negociações com subempreiteiros, fornecedores
e clientes. Existe uma pequena parcela que realiza negociação com órgãos governamentais,
visto que, em quase todas as empresas existe um setor responsável por essas negociações, por
outro lado, notou-se que há uma preocupação muito grande no tocante a regularização inicial
de todos os empreendimentos. Segundo os pesquisados, toda obra só começa depois da
documentação estar totalmente regularizada.
66,70%
33,30%
83%
16,70%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
Engenheiros Dire
ç
ão
Delegação de poderes de negociação
SIM
N
Ã
O
Gráfico 15
– Delegação de poderes de negociação com intervenientes externos
Fonte: Dados da pesquisa
155
88,20%
85,20%
84,50%
88,30%
68,50%
70,20%
13,50%
0,00%
36,40%
20,30%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
Com
subempreiteiros
Com
fornecedo res
Com clientes Com órgãos
go v er nament ais
Nenhuma
Tipos de Ne
g
ocia
ç
ão
Engenheiros
Direção
Gráfico 16
– Tipos de negociação
Fonte: Dados da pesquisa
Através dos dados desse bloco constatou-se que as empresas pesquisadas possuem
uma estrutura hierárquica horizontalizada e centralizada, com baixo nível de formalização. As
médias empresas com mais de 200 colaboradores e as grandes empresas apresentaram os três
níveis hierárquicos da pirâmide organizacional, o mesmo não ocorrendo com as médias
empresas que possuem entre 100 e 200 colaboradores. Nessas empresas há a junção dos níveis
estratégicos e tático. O fluxo de informações, tanto no nível hierárquico superior como no
inferior é bastante definido e obedece uma estrutura padrão verticalizada. O processo de
comunicação é formal no sentido vertical descendente e ocorre em todos os níveis funcionais.
Aproximadamente 80% dos pesquisados disseram que existe autonomia para as tomadas de
decisão, embora os engenheiros de obra, em função da estrutura organizacional centralizada
tenham pouca liberdade para decidir, restringindo-se sua atuação mais às questões
operacionais. Constatou-se também que existe delegação de poderes, cujo fim é permitir que
os engenheiros possam estar realizando negociações com os atores externos.
4.4 Gestão de RH
O quarto bloco da pesquisa apresenta os dados sobre a Gestão de RH
desenvolvida pelas empresas pesquisadas. O Gráfico 17 mostrou que 83% dos diretores
indicaram a existência de processo seletivo para os novos engenheiros, enquanto na pesquisa
aplicada aos engenheiros esse percentual foi de 78,8%. Quando há o surgimento de uma nova
vaga para engenheiro 92% dos diretores disseram que primeiramente é feito um processo
seletivo interno (ver Gráfico 18). Os engenheiros indicaram um percentual de 87,9%. Caso a
156
vaga não seja preenchida pelo processo interno, o processo seletivo externo é aplicado. Os
processos de seleção, na visão dos engenheiros, acontecem na sua grande maioria através de
entrevistas (22,6%), por indicação (28,3%) e através de análise curricular (18,9%). A análise
curricular é feita, principalmente, objetivando a confirmação da experiência profissional. Em
algumas empresas a seleção é feita pelo RH ou por empresas externas (terceirizadas).
78,80%
21,20%
83%
16,70%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
En
g
enheiros Dire
ç
ão
Processo de sele
ç
ão para novos en
g
enheiros
SIM
N
Ã
O
Gráfico 17
– Processo de seleção para novos engenheiros
Fonte: Dados da pesquisa
87,90%
12,10%
92%
8,30%
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
En
g
enheiros Dire
ç
ão
Processo de sele
ç
ão interna para engenheiros
SIM
N
Ã
O
Gráfico 18
– Processo de seleção interna para engenheiros
Fonte: Dados da pesquisa
Grande parte dos entrevistados respondeu que existe processo de seleção para
novos engenheiros, embora existam várias categorias de técnicas de seleção de pessoal
(entrevista, provas de conhecimentos ou de capacidade, testes psicológicos, testes de
personalidade e técnicas de simulação), a pesquisa mostrou (ver Tabela 20) que dentre essas
categorias citadas somente a entrevista aparece como uma das formas adotadas. O processo de
seleção por indicação ou somente análise curricular não são consideradas, por si só, categorias
de técnicas de seleção. A entrevista de seleção, corroborando com os estudos de Chiavenato
(2004), é o método mais utilizado em seleção de pessoal, mesmo podendo apresentar algumas
vantagens como permitir um contato face a face com o candidato, proporcionando uma
157
interação direta com o mesmo, permitindo avaliar como o candidadto se comporta e suas
reações, apresenta também desvantagens por exigir bastante experiência e treinamento do
entrevistador, exige conhecimento a respeito do cargo e suas características básicas. É uma
técnica muita subjetiva e contém forte margem de erro de variação. Portanto, realizar um
processo de seleção somente através da entrevista não seria o mais aconselhável.
O processo de seleção utilizado pelas empresas pesquisadas também pode não ser
o mais correto quando se é feito somente por indicação. Neste caso, a empresa corre o risco de
não selecionar o melhor candidato para o cargo, visto ser a seleção um processo pelo qual
uma organização escolhe de uma lista de candidatos, aquele profissional que melhor alcançar
os critérios de seleção para a função disponível, considerando as atuais condições de mercado,
ou seja , aquele candidato que apresentar o melhor conjunto de competências exigidas pela
função.
Tabela 20
– Formas de processos de seleção para engenheiros
Engenheiro Direção
Formas de processos de seleção
Qte. % Qte. %
Por indicação 15 28,3 4 17,4
Através de entrevista 12 22,6 9 39,1
Através de análise curricular 10 18,9 9 39,1
Através do RH 4 7,5 0 0,0
Seleção externa 4 7,5 0 0,0
Avaliação durante o período de estágio 3 5,7 0 0,0
Através de provas escritas 2 3,8 0 0,0
Não existe 2 3,8 0 0,0
Através de testes psicotécnicos 1 1,9 0 0,0
Consulta banco de dados empresas do grupo INOVACON
0 0,0 1 4,3
TOTAL 53 100 23 100
Fonte: Dados da pesquisa
Pode-se confirmar (ver Gráfico 19), que as empresas pesquisadas adotam
programas para trainees e/ou estagiários. Embora não exista uma política definida para esses
programas, dentre as empresas pesquisadas, somente duas adotam o programa para trainees,
as demais informaram que o programa só existe para estagiários. Quanto à seleção para esse
tipo de programa (ver Tabela 21), aproximadamente 60%, tanto para os diretores quanto para
os engenheiros, informaram que ela é feita através de entrevista e por indicação. Embora
22,7% dos diretores tenham informado que o processo é feito através de convênios com as
IES, somente 1,9% dos engenheiros fez essa referência, o que demonstra que, mesmo
existindo o convênio, os engenheiros o desconhecem ou então não usam desse mecanismo
158
para captação de estagiários. Mais uma vez ficou evidenciado que a técnica de seleção
utilizada também para o processo de seleção de trainees e/ou estagiários é a entrevista.
90,90%
9,10%
83%
16,70%
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
En
g
enheiros Dire
ç
ão
Programas de trainee/estagiários
SIM
N
Ã
O
Gráfico 19
– Programas para trainees/estagiários
Fonte: Dados da pesquisa
Ficou evidente que a técnica de seleção utilizada em todos os processos de
seleção pelas empresas pesquisadas não configura, por si só, como a mais completa,
principalmente em função da necessidade de se identificar se as competêncais profissionais
exigidas pela função fazem parte do portfólio do candidato. Portanto, faz-se necessário
melhorar o processo seletivo utilizado atualmente pelas empresas de construção civil, subsetor
de edificações, através da utilização das demais técnicas de seleção citadas anteriormente,
assim como também definindo critérios de seleção, a fim de selecionar o melhor dentre todos
os candidatos.
Tabela 21
– Formas de processos de seleção para trainees/estagiários
Engenheiro Direção
Tipos de processo de seleção
Qte. % Qte. %
Através de entrevista 18 34,0 7 31,8
Por indicação 14 26,4 6 27,3
Através de análise curricular 9 17,0 2 9,1
Não existe 3 5,7 2 9,1
Através de empresas especializadas 2 3,8 0 0,0
Através de provas escritas 2 3,8 0 0,0
Seleção externa 2 3,8 0 0,0
Através de convênios com as IES 1 1,9 5 22,7
Processo externo de seleção 1 1,9 0 0,0
Provas psicotécnicas 1 1,9
0 0,0
TOTAL 53 100 22 100
Fonte: Dados da pesquisa
159
Os dados apresentados no Gráfico 20 demonstram que as empresas pesquisadas,
embora estejam, em sua maioria, buscando a certificação da ISO 9000 e algumas já sendo
portadoras dessa certificação, não possuem manuais que descrevam as competências
necessárias ao desenvolvimento da função de engenheiro. Desta forma fica difícil definir as
competências requisitadas pelo cargo de engenheiro civil. Certamente a falta de manuais,
inclusive de normas internas, possivelmente seja um dos elementos dificultador para
realização do processo de seleção de candidatos, assim como também do processo de
adaptação do novo colaborador ao ambiente organizacional. O que poderá ser constado mais
adiante através do Gráfico 21.
41,7%
51,4%
33,3%
37,1%
25,0%
0,0%
0,0%
11,4%
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
Manual da ISO
9000
o existe Manual de
normas internas
Manual descrição
de cargos
Tipos de documentos
Engenheiros
Direção
Gráfico 20
– Tipos de documentos
Fonte: Dados da pesquisa
A pesquisa mostrou (ver Tabela 22) que as principais dificuldades técnicas
encontradas pelos engenheiros ingressantes residem, exatamente, da falta de praticidade nas
disciplinas dos cursos de Engenharia Civil. Os cursos não possibilitam experiências que
retratem a realidade profissional de um canteiro de obra. Dos engenheiros pesquisados, 30%,
informaram ter dificuldades para leitura de projetos, assim como também nos sistemas
utilizados pelas empresas. Falta inclusive conhecimento dos materiais e ferramentas utilizados
no dia-a-dia. Para os diretores, a falta de experiência e de praticidade representam 80% das
grandes dificuldades encontradas.
160
Tabela 22
– Dificuldades técnicas engenheiro ingressante x Função na empresa
Função na empresa
Dificuldades Técnicas
Diretor
(%)
Eng.
Superv.
(%)
Eng.
Obra
(%)
Eng.
Trainee
(%)
Estag.
(%)
Outra(s)
(%)
Colocar em prática a teoria adquirida
20,0 0,0 26,3 33,3 9,1 18,2
Leitura de projetos
0,0 0,0 15,8 33,3 36,4 0,0
Conhecimento dos sistemas
(softwares) utilizados pela empresa
0,0 50,0 15,8 0,0 0,0 36,4
Falta de experiência/contato com o
ambiente profissional
66,7 0,0 0,0 33,3 9,1 18,2
Nenhuma
0,0 50,0 15,8 0,0 0,0 0,0
Conhecer as ferramentas de trabalho
0,0 0,0 0,0 0,0 27,3 0,0
Conhecimento dos materiais
0,0 0,0 0,0 0,0 9,1 18,2
Conhecimento do fluxo de
atividades de uma obra
0,0 0,0 5,3 0,0 0,0 0,0
Conhecimento dos processos
construtivos
0,0 0,0 5,3 0,0 0,0 0,0
Conhecimento dos serviços
realizados na obra
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 9,1
Conhecimentos e prática em
instalações elétricas e hidrosanitárias
0,0 0,0 0,0 0,0 9,1 0,0
Conhecimentos em logística
0,0 0,0 5,3 0,0 0,0 0,0
Conhecimentos em planilhas
eletrônicas
0,0 0,0 5,3 0,0 0,0 0,0
Dimensionamento da mão-de-obra
0,0 0,0 5,3 0,0 0,0 0,0
Adaptação aos novos processos
organizacionais
13,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
TOTAL
100 100 100 100 100 100
Fonte: Dados da pesquisa
Uma das maiores dificuldades apresentadas, principalmente pelos engenheiros
supervisores é a falta de conhecimento para utilização dos novos sistemas informacionais
adotados pelas empresas, corroborando desta forma com os estudos de Bazzo (1999) sobre
essa nova realidade com que se depara o engenheiro, mais notadamente em função das
constantes mudanças tecnológicas implementadas pelo mercado.
Quanto às dificuldades gerenciais, os problemas foram mais gritantes. Dos
engenheiros pesquisados, 63%, (ver Tabela 23), informaram que as grandes dificuldades estão
na área de gestão, de comunicação e de trabalhar em equipe. Quando a mesma pergunta foi
feita aos diretores, 57% tiveram as mesmas dificuldades. Outras dificuldades relevantes
detectadas pela pesquisa foram o relacionamento interpessoal e a falta de conhecimentos das
normas da ISO 9000. A pesquisa apontou que a gestão de pessoas, gestão financeira, gestão
administrativa, a comunicação e o trabalho em equipe são as maiores dificuldades gerenciais
encontradas pelos profissionais.
161
Tabela 23
– Dificuldades gerenciais engenheiro ingressante x Função na empresa
Função na Empresa
Dificuldades Gerenciais
Diretor
(%)
Eng.
Superv.
(%)
Eng.
Obra
(%)
Eng.
Trainee
(%)
Estag.
(%)
Outra(s)
(%)
Gestão de pessoas
7,5 25,0 12,8 0,0 23,8 15,8
Gestão financeira
22,5 0,0 19,1 0,0 4,8 21,1
Gestão administrativa
27,5 0,0 17,0 0,0 4,8 15,8
Comunicação
10,0 25,0 8,5 11,1 23,8 0,0
Trabalhar em equipe
2,5 25,0 2,1 22,2 28,6 5,3
Gestão da obra
0,0 0,0 4,3 11,1 0,0 5,3
Gestão da Qualidade
12,5 0,0 0,0 22,2 4,8 15,8
Relacionamento interpessoal
5,0 0,0 4,3 0,0 0,0 10,5
Fluxo de informação
0,0 0,0 6,4 0,0 0,0 0,0
Gestão ambiental
0,0 0,0 0,0 22,2 0,0 5,3
Gestão de suprimentos
0,0 0,0 2,1 11,1 0,0 5,3
Adaptar-se à cultural
organizacional da empresa
0,0 25,0 2,1 0,0 0,0 0,0
Gestão de contratos
0,0 0,0 2,1 0,0 4,8 0,0
Gestão de projetos
0,0 0,0 4,3 0,0 0,0 0,0
Nenhuma
0,0 0,0 4,3 0,0 0,0 0,0
Conhecimentos em folha de
pagamento
0,0 0,0 2,1 0,0 0,0 0,0
Conhecimentos nas leis
trabalhistas
0,0 0,0 0,0 0,0 4,8 0,0
Delegação de tarefas
0,0 0,0 2,1 0,0 0,0 0,0
Dificuldades de planejamento
0,0 0,0 2,1 0,0 0,0 0,0
Liderança
2,5 0,0 2,1 0,0 0,0 0,0
Sistemas de informática
2,5 0,0 2,1 0,0 0,0 0,0
Conhecimentos em
contabilidade
2,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Empreendedorismo
2,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Dinamismo
2,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
TOTAL
100 100 100 100 100 100
Fonte: Dados da pesquisa
As dificuldades gerenciais apresentadas pela pesquisa vem a confirmar os estudos
realizados pelo CTE (Centro de Tecnologia de Edificações – São Paulo), o novo perfil do
engenheiro apresentado por Bazzo et al (1999), a pesquisa sobre o perfil do engenheiro
realizada por Moraes (1999), através da Escola de Engenharia da USP, o perfil do engenheiro
nas aboradagens de Ferreira, Longo e Telles e Salum, todas apontando um novo perfil do
engenheiro no qual as competências gerenciais são as mais requisitadas pelo mercado.
Outro ponto que merece destaque é que as dificuldades gerenciais apresentadas,
assim como as demais, já foram objeto de estudo do REENGE e do FORGRAD e que as
lacunas deixadas pelos cursos de graduação já são contempladas pelas Diretrizes Curriculares
para os cursos de Engenharia, implantadas desde 2002, cujo objetivo (ver Art. 4o. da
Resolução CNE/CES 11) é dotar esse novo profissional, dos novos conhecimentos,
162
habilidades e atitudes requeridas para o exercício profissional, mas que até o presente
momento, conforme estudos de Oliveira (2005), ainda não foram implantadas em sua
plenitude pelas IES da cidade de Fortaleza/Ce.
57,60%
42,40%
83%
16,70%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
En
g
enheiros Dire
ç
ão
Adapta
ç
ão ao ambiente or
g
anizacional
SIM
N
Ã
O
Gráfico 21
– Adaptação ao ambiente organizacional
Fonte: Dados da pesquisa
Enquanto a pesquisa realizada com os diretores apontou que 83% dos
profissionais passam por um processo de adaptação ao ambiente profissional, a dos
engenheiros somente 57,6% disseram passar por essa adaptação (ver Gráfico 21). Esses
dados levam a crer que os engenheiros ingressam suas atividades profissionais nas empresas
sem uma preparação adequada. Isso pode criar dificuldades principalmente em função da falta
de conhecimentos sobre como a empresa trabalha e a falta de conhecimento dos sistemas
utilizados pela empresa. Consequentemente, o profissional levará mais tempo para adaptação
ao ambiente organizacional.
Um fato que merece destaque na pesquisa é o referente ao investimento pessoal e
profissional, 100% dos diretores disseram haver esse investimento, enquanto os engenheiros
84,8% (ver Gráficos 22 e 23 e Tabela 24). Notou-se, portanto, que existe uma grande
preocupação das empresas em investir no crescimento profissional e pessoal. Embora, não
exista, na maioria das empresas, um programa institucionalizado com esse fim, mais de 90%
dos engenheiros pesquisados disseram que esse investimento ocorre principalmente através de
cursos, treinamentos e palestras.
163
84,80%
15,20%
100%
0,00%
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
En
g
enheiros Dire
ç
ão
Investimento no crescimento profissional/pessoal
SIM
N
Ã
O
Gráfico 22
– Investimento no crescimento profissional e pessoal do engenheiro
Fonte: Dados da pesquisa
69,70%
30,30%
83%
16,70%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
En
g
enheiros Dire
ç
ão
Investimento no funcionário
SIM
N
Ã
O
Gráfico 23
– Investimento no funcionário
Fonte: Dados da pesquisa
O investimento profissional é demasiadamente importante, principalmente devido
a dificuldade de manter os bons profissionais nas empresas. Num mercado tão competitivo, as
empresas que não investem no crescimento pessoal e profissional de seus engenheiros,
costumam ocorrer perdas de funcionários para empresas concorrentes, visto que o profissional
consegue visualizar no concorrente, uma possibilidade de crescimento maior ou diferenciada
da que ele tem. Isso pode gerar uma vantagem competitiva imensa em relação aos seus
concorrentes. Também pode ocorrer que o profissional sinta-se desmotivado ou sem
prespectivas de crescimento e então resolva montar seu próprio negócio, tornando-se um
empreendedor.
O profissional do conhecimento espera muito mais da sua empresa que
simplesmente o seu salário no final do mês. Corroborando com Crawford (1994), esse
profissional deseja, acima de tudo, fazer um trabalho interessante, ter uma chance de
164
desenvolver suas habilidades, ter uma oportunidade de ver os resultados de seu trabalho e isso
tudo só vai acontecer se houver investimento no profissional.
Tabela 24
– Tipos de crescimento profissional e pessoal
Engenheiro Direção
Tipos de crescimento profissional e pessoal
Qte. % Qte. %
Através de cursos 28 39,4 11 35,5
Através de treinamentos 23 32,4 11 35,5
Através de palestras 14 19,7 4 12,9
Através de reuniões técnicas 0 0,0 1 3,2
Através de seminários 1 1,4 2 6,4
Participação de projetos junto ao CEFET e à UFC 0 0,0 1 3,2
Participação no INOVACON 0 0,0 1 3,2
Não existe 5 7,0 0 0,0
TOTAL 71 100 31 100
Fonte: Dados da pesquisa
As empresas pesquisadas utilizam de mecanismos de transferência de
conhecimento (ver Tabela 25). As transferências ocorrem através de reuniões, treinamentos,
cursos e seminários, em sua grande maioria. Entretanto, não existe um programa
institucionalizado desses mecanismos. Eles acontecem à medida que surgem uma
necessidade.
Tabela 25
– Mecanismos de transferência de conhecimento
Engenheiro Direção
Mecanismos de transferência de conhecimento
Qte. % Qte. %
Através de reuniões 23 37,7 5 18,5
Através de treinamentos 11 18,0 7 25,9
Através de cursos 9 14,8 6 22,2
Através de seminários 8 15,2 7 25,9
Não existe 7 11,5 1 3,7
Através de palestras 2 3,3 0 0,0
Instruções normativas 1 1,6 0 0,0
Procedimentos técnicos 1 1,6 0 0,0
TOTAL 62 100 26 100
Fonte: Dados da pesquisa
Inicialmente, as empresas precisam reconhecer que o conhecimento é originado e
existe na mente dos indivíduos, mas as organizações podem possuir conhecimento em várias
formas que são compreendidas por mais de um indivíduo na organização, por isso a
necessidade de possuir mecanismos de transferência de conhecimento. As empresas não
165
podem estar preocupadas somente com o processo de criação do conhecimento, não adianta
só criar é necessário possuir mecanismos que possibilitem a transferência desses
conhecimentos.
O sucesso da empresa está baseado em sua capacidade de criar e transferir
conhecimento de forma mais eficaz que seus competidores, entender os mecanismos pelos
quais o conhecimento pode ser criado e transferido na empresa é ponto de partida para se
atingir resultados superiores aos desejados.
As empresas possuem conhecimento disseminado e compartilhado por todos,
entretanto, existem também diversos estoques ou conjuntos de conhecimentos pertencentes a
indivíduos, pequenos grupos ou áreas funcionais que não necessariamente significam que são
conhecimento da empresa. As empresas necessitam codificar e simplificar esse conhecimento
de indivíduos e grupos para torná-lo acessível a toda organização.
A transferência de conhecimento é uma estratégia desejada e necessária para a
manutenção e o desenvolvimento das empresas; no entanto, a facilidade de imitação por parte
de competidores é algo a ser evitado, pois leva à corrosão da vantagem competitiva
estabelecida pela empresa.
A criação de conhecimento de uma empresa é resultado de interações específicas
ocorridas entre indivíduos na organização, é um processo, segundo Nonaka e Takeuchi (1995)
em espiral, que começa no nível individual e vai subindo, ampliando comunidades de
interação que cruzam fronteiras entre setores, departamentos e organizações. Esse
conhecimento organizacional enraíza as competências essenciais de uma empresa e são
resultados do processo de compartilhamento do conhecimento. À medida que são conectados
à prática de trabalho , tornam-se peculiares às empresas e mais fáceis de serem protegidos,
gerando assim vantagem competitiva sustentável.
A pesquisa mostrou através da Tabela 26, que 26,2% dos engenheiros disseram
que a empresa não tem políticas de reconhecimento e valorização do ser humano. Enquanto
que para os diretores, esse percentual foi de 18,8%. As empresas que têm essa política a
fazem através de gratificações – 31%, participação nos resultados – 21,4%. Quanto às
respostas dos diretores, os que disseram que sua empresa tem essa política, ela acontece
através de premiações – 37,5% e promoções – 18,8%.
166
Tabela 26
– Políticas de reconhecimento e valorização
Engenheiro Direção
Políticas de reconhecimento e valorização
Qte. % Qte. %
Através de gratificações 13 31,0 2 12,5
Não existe 11 26,2 3 18,8
Participação nos resultados 9 21,4 1 6,3
Aumento salarial 4 9,5 0 0,0
Através de premiações 2 4,8 6 37,5
Mudança de cargo 2 4,8 0 0,0
Através de promoções 1 2,4 3 18,8
Funcionário padrão do mês 0 0,0 1 6,3
TOTAL 42 100 16 100
Fonte: Dados da pesquisa
Foi possível identificar que as políticas de valorização e reconhecimento adotadas
atualmente pelas empresas de construção civil, subsetor de edificações visam,
exclusivamente, a premiações financeiras, sejam através de bônus, gratificações ou
premiações. O pré-requisito necessário para adquirir essas premiações é o cumprimento das
etapas previstas nos cronogramas das obras. Não se pode deixar de comentar que mesmo
sendo somente dessa forma, não deixa de ser um mecanismo utilizado pelas empresas para
reconhecimento e valorização do trabalho profissional dos engenheiros.
Notou-se que existe uma grande preocupação das empresas em incentivar a
participação dos engenheiros em novos projetos. Os engenheiros apontaram (90,9%) que suas
empresas incentivam a participação dos mesmos em novos projetos (ver Gráfico 24),
enquanto que para os diretores esse percentual foi de 100%. O grau de envolvimento dos
engenheiros nesses projetos é considerado alto – 50% (ver Gráfico 25).
90,90%
9,10%
100%
0,00%
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
Engenheiros Dirão
Incentiva participa
ç
ão em novos projetos
SIM
N
Ã
O
Gráfico 24
– Incentivo a participação dos engenheiros em novos projetos
Fonte: Dados da pesquisa
167
50,0%
24,2%
33,3%
39,4%
16,7%
27,3%
0,0%
9,1%
0,0%
5,0%
10,0%
15,0%
20,0%
25,0%
30,0%
35,0%
40,0%
45,0%
50,0%
ALTO M
É
DIO BAIXO NENHUM
Grau de envolvimento nos projetos
En
g
enheiros
Dire
ç
ão
Gráfico 25
– Grau de envolvimento dos engenheiros nos novos projetos
Fonte: Dados da pesquisa
Quanto à ascensão profissional (ver Gráfico 26), a pesquisa apontou que a
experiência e o tempo de casa (37,8%) e o cumprimento de metas (37%) são os principais
indicadores utilizados pelas empresas. Entretanto, essa questão não ficou bem definida, já que
26,1% dos pesquisados disseram que não existe ascensão profissinal. A inexistência de
ascensão profissional também pode ser confirmada, de forma mais acentuada, segundo a visão
dos diretores – 41,7%.
37,0%
0,0%
26,1%
41,7%
17,4%
0,0%
17,4%
0,0%
2,2%
0,0%
0,0%
58,3%
0,0%
10 ,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
Cumprimento
de metas
Não exis te E xperiência T empo de
cas a
Dedicação P romoção
funcional
Ascensão profissional
Engenhei ro s
Direção
Gráfico 26
– Ascensão profissional do engenheiro
Fonte: Dados da pesquisa
Em resumo, constatou-se que a Gestão de RH presente atualmente nas empresas
de construção civil, subsetor de edificações, participantes da pesquisa, ainda desenvolve uma
política de seleção bastante centrada no processo informal por indicação. Embora, na maioria
dessas empresas exista um órgão de RH, a seleção ainda é feita exclusivamente pelos
engenheiros, através somente de entrevistas. As empresas procuram efetivar os estagiários e
168
trainees como engenheiros, mesmo não possuindo um programa específico para
trainees/estagiários. Por outro lado, não existe um acompanhamento do desenvolvimento
profissional de trainees/estagiários. As grandes dificuldades encontradas no início das
atividades dos engenheiros são exatamente as da área de gestão. Essas atividades são as mais
requisitadas no dia-a-dia dos engenheiros. A maioria das empresas investe no crescimento
profissional do engenheiro, mesmo não tendo também um programa definido para capacitação
e treinamento. As empresas não possuem uma política bem definidade de reconhecimento e
valorização do ser humano. Esse processo é centrado em premiações, condicionado ao
cumprimento dos prazos definidos pelos cronogramas da obra. A ascensão profissional é
centrada na experiência e tempo de casa. Existe uma grande preocupação das empresas em
fazer com que o engenheiro participe de novos projetos.
4.5 Competências do Engenheiro Civil
O último bloco de perguntas da pesquisa procurou identificar quais as
competências técnicas, gerenciais, sociais e organizacionais necessárias ao engenheiro civil
para o desenvolvimento de suas atividades diárias, assim como também os conhecimentos
necessários à função, bem como as competências fortes e fracas e as predominantes para a
realização de suas atividades diárias. Ainda buscou-se identificar os mecanismos de
transferência de conhecimento que a empresa utiliza, as dimensões de competência mais
utilizadas nas suas atividades. E por último as competências profissionais dos engenheiros
civis ingressantes que precisam ser desenvolvidas.
4.5.1 Competências Técnicas
Dentre as competências técnicas assinaladas pelos pesquisados as que
apresentaram menor percentual, tanto para os engenheiros de obra (46,7%) como para os
diretores (33,3%) foram a de desenhar e/ou coordenar a execução de esboços, esquemas e
desenhos técnicos (ver Tabela 27), seguida por efetuar os cálculos técnicos e econômicos
adequados à elaboração do projeto, do caderno de encargos e execução da obra, engenheiros
(57,6%) e diretores (58,3%). Notou-se muita similaridade nas respostas apresentadas por
ambas categorias. Ao questionar porque essas competências não eram tão necessárias, a
169
resposta foi simplesmente porque, atualmente, os projetos já saem prontos dos escritórios ou
das empresas contratadas para desenvolvê-los. As correções necessárias a serem feitas não
dizem mais respeito a essas fases de projeto. As competências técnicas (ver Tabela 27) que
apresentaram percentual mais elevado foram: verificar, comparar e corrigir os métodos de
execução em função do estudo detalhado da obra ou das restrições à sua execução; interpretar
o anteprojeto e integrar os dados de várias ordens (arquitetônicos, ambientais, exigências de
qualidade, segurança, restrições de custo); aconselhar tecnicamente o cliente, técnicos e
outros profissionais da construção civil.
As competências técnicas que apresentaram maior percentual estão voltadas à
interpretação, identificação e análise dos processos produtivos utilizados pelas empresas
pesquisadas. Embora sejam mais técnicas, elas dificilmente são exploradas pelos cursos de
graduação. O desenvolvimento dessas competências exige experiência e conhecimentos que
vão além do estritamente técnico, e capacidades associadas à função do engenheiro civil.
Tabela 27
– Competências técnicas necessárias à função na sua empresa x Função na empresa
Função na empresa
Competências técnicas
Diretor
(%)
Eng.
Superv.
(%)
Eng. de
Obra
(%)
Eng.
Trainee
(%)
Estag.
(%)
Outra(s)
(%)
Interpretar o anteprojeto e integrar os dados
de várias ordens (arquitetônicos, ambientais,
exigências de qualidade, segurança,
restrições de custo).
91,7 100 73,3 100 100 100
Aconselhar tecnicamente o cliente, técnicos
e outros profissionais da construção civil.
91,7 100 86,7 100 100 71,4
Interpretar e transpor para dados técnicos
dados expressos sob outra forma (por
exemplo: exigências do cliente).
66,7 100 73,3 100 83,3 71,4
Desenhar e/ou coordenar a execução de
esboços, esquemas e desenhos técnicos.
33,3 100 46,7 0,0 66,7 0,0
Efetuar os cálculos técnicos e econômicos
adequados à elaboração do projeto, do
caderno de encargos e execução da obra.
58,3 50,0 80,0 0,0 33,3 57,1
Identificar/selecionar/aprovisionar
materiais/equipamentos necessários à
realização da obra, segundo especificações
técnicas e fases da obra.
66,7 100 100 100 100 85,7
Verificar, comparar e corrigir os métodos de
execução em função do estudo detalhado da
obra ou das restrições à sua execução.
91,7 100 93,3 100 100 85,7
OUTRAS COMPETÊNCIAS NÃO
MENCIONADAS ANTERIORMENTE
0 0 0 0 0 0
Fonte: Dados da pesquisa
170
Esses resultados são coerentes com a função de diretoria técnica à qual se envolve
mais diretamente com as atividades de gestão de projetos, buscando compatibilizar os vários
projetos, efetuando correções, discutindo e se relacionando com clientes, fornecedores e
outros profissionais da construção civil.
No tocante ao grupo de engenheiros (supervisor, de obra, trainee, estagiários e
outros), cabe destacar que 100% dos pesquisados, assinalaram a competência -
identificar/selecionar/aprovisionar materiais/equipamentos necessários à realização da obra,
segundo especificações técnicas e fases da obra. Os dados apresentados enfatizam a função de
gestão de suprimentos que é intrínseca à gestão de obra, na qual todos os engenheiros atuam
em maior ou menor grau de envolvimento.
Nenhum dos engenheiros trainees assinalou as competências desenhar e/ou
coordenar a execução de esboços, esquemas e desenhos técnicos e efetuar os cálculos técnicos
e econômicos adequados à elaboração do projeto, do caderno de encargos e execução da obra.
Na realidade, o engenheiro trainee dificilmente terá a oportunidade de participar de atividades
nas quais irá necessitar de competências para elaboração de cálculos técnicos e econômicos.
Por outro lado, raramente um engenheiro trainee irá ter atribuições de executar desenhos
técnicos, tendo em vista que, num canteiro de obras, os projetos de engenharia chegam já
concluídos dos escritórios da empresa.
Corroborando com a definição de competências técnicas na visão de Zarifian na
qual são conhecimentos específicos sobre o trabalho que deve ser realizado, identificou-se que
os cálculos e os desenhos técnicos, por serem atividades eminentemente técnicas, já não são
mais fortemente requisitadas pela função atual desenvolvida pelo engenheiro civil,
principalmente no caso dos engenheiros de obra.
As competências técnicas também são bastante enfatizadas por Resende (2000) e
Fleury e Fleury (2004). São competências consideradas essenciais para o desenvolvimento
integral dos profissionais. São específicas e necessárias à operação, ocupação e
desenvolvimento das atividades dos engenheiros civis.
171
4.5.2 Competências Gerenciais
As competências gerenciais (ver Tabela 28) mais citadas foram: demonstrar
capacidade para planejar o trabalho, atingindo resultados por meio do estabelecimento de
prioridades, metas tangíveis e mensuráveis; demonstrar capacidade de organizar as ações de
acordo com o planejado, para facilitar a execução; Demonstrar capacidade de catalisar
esforços grupais, a fim de atingir ou superar objetivos organizacionais, estabelecendo um
clima motivador na equipe e demonstrar capacidade para selecionar alternativas de forma
sistematizada e perspicaz, obtendo e implementando soluções adequadas diante de problemas.
Na visão dos engenheiros supervisores todas as competências gerenciais citadas
são imprescindíveis para o desenvolvimento da função de engenheiro civil, com exceção da
capacidade de organizar as ações de acordo com o planejado, para facilitar a execução, que
apresentou um percentual de 50%. Enquanto que para os engenheiros trainees a única
competência citada que não foi uma unanimidade foi a capacidade para perceber a integração
e interdependência das partes que compõem o todo, visualizando tendências e possíveis aços
futuras (66,7%).
A competência gerencial mais citada tanto pelos engenheiros como por 100% dos
diretores (ver Tabela 28) foi: “demonstrar capacidade para planejar trabalho, atingindo
resultados por meio do estabelecimento de prioridades, metas tangíveis e mensuráveis.” Esse
resultado é perfeitamente justificado.
Dependendo da estrutura organizacional da empresa, existem basicamente três
cargos ocupados por engenheiros civis: o supervisor, o engenheiro de obra e o trainne ou
estagiário. Estes engenheiros se relacionam, entre si, com seus superiores hierárquicos e com
os seus subordinados no nível hierárquico inferior, todos buscando alcançar o mesmo objetivo
- executar a obra atendendo aos parâmetros de prazo, custo e qualidade.
172
Tabela 28
– Competências gerenciais necessárias à função na sua empresa x Função na empresa
Função na empresa
Competências gerenciais
Diretor
(%)
Eng.
Superv.
(%)
Eng. de
Obra
(%)
Eng.
Trainee
(%)
Estag.
(%)
Outra(s)
(%)
Detectar erros de execução e introduzir as
correções necessárias.
83,3 100 100 100 83,3 85,7
Demonstrar capacidade para selecionar
alternativas de forma sistematizada e
perspicaz, obtendo e implementando
soluções adequadas diante de problemas.
91,7 100 86,7 100 100 71,4
Demonstrar capacidade para perceber a
integração e interdependência das partes que
compõem o todo, visualizando tendências e
possíveis ações futuras.
91,7 100 60,0 66,7 100 100
Demonstrar capacidade de organizar as
ações de acordo com o planejado, para
facilitar a execução.
100 50,0 100 100 100 85,7
Demonstrar capacidade para planejar o
trabalho, atingindo resultados por meio do
estabelecimento de prioridades, metas
tangíveis e mensuráveis.
100 100 93,3 100 100 100
Identificar e quantificar os recursos humanos
necessários à execução da obra.
75,0 100 100 100 83,3 100
Demonstrar capacidade de catalisar esforços
grupais, a fim de atingir ou superar objetivos
organizacionais, estabelecendo um clima
motivador na equipe.
83,3 100 93,3 100 83,3 100
OUTRAS COMPETÊNCIAS NÃO
MENCIONADAS ANTERIORMENTE
0 0 0 0 0 0
Fonte: Dados da pesquisa
Corroborando com pesquisas realizadas anteriormente por Fleury, Bazzo,
Oliveira, Moraes, Ferreira, Salum, Longo e Telles e pelo CTE, já citadas anteriormente neste
trabalho, para o desenvolvimento das competências gerenciais identificadas na pesquisa faz-se
necessário que os engenheiros das empresas de construção civil, subsetor de dificações
tenham habilidades para trabalhar em equipe, para comunicar-se efetivamente nas diversas
modalidades, oral e escrita, capacidade criativa de análise e tomada de decisão, e acima de
todas saber planejar.
As competências gerenciais, conforme dados da pesquisa, são as mais requisitadas
pela função de engenheiro civil, embora, conforme trabalho apresentado por Oliveira (2005),
elas ainda não estejam sendo plenamente contempladas pelos cursos de Engenharia
ministrados pelas IES da cidade de Fortaleza/Ce, mesmo depois de terem sido
institucionalizadas desde 2002, pelas Diretrizes Curriculares para os cursos de Engenharia.
A rede social e a experiência, elementos da competência individual na visão de
Sveiby, são outros requisitos importantes para o sucesso do desenvolvimento dessas
173
competências pelos engenheiros civis. A pesquisa apontou uma necessidade emergente de
aplicação dessas competências na área de gestão. Hoje, o engenheiro de obra, principalmente,
precisa gerenciar recursos (humanos e materiais), sendo imprescindível uma capacitação mais
específica das competências de gestão, compreendendo habilidades pessoais e conhecimentos
de técnicas de administração ou gerenciamento, objetivando aplicá-las em situações de
direção, planejamento, coordenação, controle e supervisão.
4.5.3 Competências Sociais/Organizacionais
Quanto às competências sociais e/ou organizacionais (ver Tabela 29), quase todas,
foram unanimidades entre os pesquisados. Dentre as principais relacionam-se: agir em
conformidade e fazer cumprir normas e regulamentos (higiene e segurança no trabalho,
qualidade e ambiente); demonstrar iniciativa e autonomia; trabalhar em equipe; liderar e gerir
equipes de trabalho multidisciplinares (engenheiros, técnicos de construção e demais
profissionais). Notou-se, portanto, uma coerência com as dificuldades gerenciais encontradas
pelos engenheiros e que foram citadas na Tabela 23.
Tabela 29
– Competências sociais e/ou organizacionais necessárias ao cargo na sua empresa x Função na
empresa
Função na empresa
Competências
sociais/organizacionais
Diretor
(%)
Eng.
Superv.
(%)
Eng. de
Obra
(%)
Eng.
Trainee
(%)
Estag.
(%)
Outra(s)
(%)
Demonstrar grande abertura
(flexibilidade) com vista à adoção de
soluções construtivas e inovações
tecnológicas.
91,7 100 93,3 100 100 100
Agir em conformidade e fazer cumprir
normas e regulamentos (higiene e
segurança no trabalho, qualidade,
ambiente, etc.).
100 100 100 100 100 100
Trabalhar com orientação para objetivos e
sob pressão de prazos.
91,7 100 86,7 100 83,3 71,4
Demonstrar iniciativa e autonomia.
100 100 100 100 100 100
Tomar decisões de forma rápida,
partindo de dados e informações variadas.
91,7 100 86,7 100 100 85,7
Trabalhar em equipe.
100 100 100 100 100 100
Liderar e gerir equipes de trabalho
multidisciplinares (engenheiros, técnicos
de construção e demais profissionais).
100 100 93,3 100 100 100
Comunicar e estabelecer relações
funcionais com interlocutores variados
(clientes, fornecedores, orgãos públicos,
subempreiteiros e outros profissionais).
91,7 50 93,3 100 100 71,4
174
Função na empresa
Competências
sociais/organizacionais
Diretor
(%)
Eng.
Superv.
(%)
Eng. de
Obra
(%)
Eng.
Trainee
(%)
Estag.
(%)
Outra(s)
(%)
Demonstrar capacidade para conceber
soluções inovadoras viáveis e adequadas
para as situações apresentadas.
83,3 0 86,7 100 100 85,7
Demonstrar facilidade para identificar
novas oportunidades de ação, propor e
implementar soluções aos problemas e
necessidades que se apresentam.
91,7 100 93,3 33,3 83,3 71,4
Demonstrar capacidade para selecionar
alternativas de forma perspicaz e
implementar soluções tempestivas diante
de problemas identificados.
83,3 0 73,3 100 100 42,9
Demonstrar capacidade de ouvir, processar
e compreender o contexto da mensagem,
expressar-se de diversas formas e
argumentar com coerência.
91,7 50 93,3 100 83,3 85,7
Ter postura orientada para a busca
contínua da satisfação das necessidades e
superação das expectativas dos clientes
internos e externos.
91,7 100 100 100 83,3 85,7
Demonstrar capacidade para atuar de
forma proativa e arrojada diante de
situações diversas.
100 50 93,3 100 100 100
Ter facilidade para adaptar-se
oportunamente às diferentes exigências do
meio e de rever posturas pessoais diante de
argumentações convincentes.
100 50 86,7 100 100 57,1
Demonstrar capacidade de interesse pelas
atividades a serem executadas, tomando
iniciativas e mantendo atitude de
disponibilidade.
83,3 50 93,3 100 83,3 71,4
Demonstrar capacidade de expressar e
ouvir o outro, buscando equilíbrio de
soluções satisfatórias nas propostas
apresentadas pelas partes envolvidas.
100 50 100 33,3 100 100
Demonstrar capacidade para interagir com
as pessoas de forma empática, inclusive
diante de situações conflitantes,
demonstrando atitudes positivas.
75 100 93,3 100 100 85,7
OUTRAS COMPETÊNCIAS NÃO
MENCIONADAS ANTERIORMENTE
0 0 0 0 0 0
Fonte: Dados da pesquisa
Embora tenha sido bastante enfatizada pelos pesquisados, a necessidade de
cumprimento das normas e regulamentos voltados à higiene e segurança no trabalho, não foi
possível identificar, em nenhuma das empresas pesquisadas, a existência de um setor, nem
muito menos um profissional responsável especificamente por essa área. As atividades
desenvolvidas nessa área são também de responsabilidade de um engenheiro civil, ou seja,
175
além de suas atividades diárias, ele também fica responsável por higiene e segurança do
trabalho.
Outra competência de bastante relevância apresentada pela pesquisa, trabalhar em
equipe, é um dos objetivos previstos na formação do engenheiro pelas Diretrizes Curriculares
para os cursos de Engenharia. Também é uma componente sempre presente nos trabalhos já
desenvolvidos anteriormente, cujo objetivo era identificar o perfil do novo engenheiro.
Corroborando com essa afirmação pode-se citar os trabalhos de Fleury (1996), Moraes
(1995), Ferreira (2000), Longo e Telles (1999) e Salum (1999).
Demonstrar iniciativa e autonomia, liderar e gerir equipes de trabalho são
competências, de acordo com a pesquisa, consideradas também imprescindíveis para o
trabalho do engenheiro civil que atua no subsetor de edificações. Além dos trabalhos já
citados no parágrafo anterior, essas competências também estão presentes nos trabalhos de
Bazzo et al (1999), nos estudos do CTE (Centro de Tecnologia de Edificações – São Paulo) e
fazem parte dos objetivos previstos pelas Diretrizes Curriculares para os cursos de engenharia.
Embora sejam competências fortemente requisitadas no dia-a-dia dos engenheiros
civis, de acordo com Oliveira (2005), ainda são contempladas com pouca relevância pelos
projetos pedagógicos dos cursos de Engenharia locais.
Não se aprende liderança única e exclusivamente numa disciplina de Introdução à
Administração. Portanto, são competências que necessitam ser melhor exploradas e
trabalhadas, tanto pelas IES, assim como também pelas empresas, tendo em vista o seu alto
grau de utilização no ambiente organizacional.
4.5.4 Conhecimentos Técnicos
Quanto aos conhecimentos necessários à função (ver Tabela 30), houve quase
uma unanimidade de que conhecimentos em línguas estrangeiras não são necessários, seguido
por conhecimentos profundos de matemática, estatística, física, química, mecânica, hidráulica,
geologia e topografia, aplicados à construção civil e conhecimentos profundos de desenho
técnico (análise de projetos e métodos gráficos computacionais). Os conhecimentos mais
necessários citados foram: conhecimentos sólidos das normas de higiene e segurança no
trabalho, aplicáveis ao setor; conhecimentos sólidos dos princípios e processos de controle da
qualidade, aplicáveis ao setor; conhecimentos profundos de tecnologias, materiais e processos
de construção aplicados a vários tipos de obra, fases da obra e produtos de construção;
176
conhecimentos sólidos de técnicas de liderança e de gestão de equipes e conhecimentos
profundos de organização e instalação de canteiros, respectivamente a engenheiros e diretores.
Tabela 30
– Conhecimentos técnicos necessários à função na sua empresa x Função na empresa
Função na empresa
Conhecimentos técnicos necessários
Diretor
(%)
Eng.
Superv.
(%)
Eng. de
Obra
(%)
Eng.
Trainee
(%)
Estag.
(%)
Outra(s)
(%)
Conhecimentos profundos de tecnologias,
materiais e processos de construção
aplicados a vários tipos de obra, fases da
obra e produtos de construção.
83,3 100 80 100 100 100
Conhecimentos profundos de análise
econômica e da qualidade da construção.
75 50 80 0 33,3 28,6
Conhecimentos profundos de desenho
técnico (análise de projetos e métodos
gráficos computacionais).
25 50 60 0 66,7 0
Conhecimentos profundos de matemática,
estatística, física, química, mecânica,
hidráulica, geologia e topografia, aplicados à
construção civil.
41,7 50 33,3 0 16,7 0
Conhecimentos fundamentais de arquitetura
e urbanismo.
75 100 80 100 66,7 57,1
Conhecimentos sólidos de legislação e
regulamentação aplicável ao setor.
83,3 50 73,3 66,7 100 71,4
Conhecimentos sólidos de processos e
métodos de proteção ambiental.
75 50 60 33,3 83,3 14,3
Conhecimentos sólidos das normas de
higiene e segurança no trabalho, aplicáveis
ao setor.
91,7 50 100 66,7 100 85,7
Conhecimentos sólidos dos princípios e
processos de controle da qualidade no setor.
91,7 100 100 100 100 85,7
Conhecimentos fundamentais de línguas
estrangeiras (em especial, inglês técnico).
16,7 0 20 0 0 0
Conhecimentos profundos de organização e
instalação de canteiros.
91,7 50 86,7 100 100 100
OUTROS CONHECIMENTOS NÃO
MENCIONADOS ANTERIORMENTE
0 0 0 0 0 0
Fonte: Dados da pesquisa
Embora os conhecimentos técnicos ainda sejam a componente de maior ênfase
existente atualmente nos cursos de Engenharia, eles, sozinhos, já não são mais responsáveis
pelo sucesso profissional dos engenheiros, nem muito menos são os mais requisitados pelo
mercado da construção civil, subsetor de edificações.
Diferentemente do perfil apresentado pelos estudos de Bazzo et al (1999), o
domínio de um idioma mais universal, como o inglês e o sólido embasamento nas ciências
físicas e matemáticas, não foi identificado pela pesquisa como sendo um conhecimento
técnico necessário ao bom desenvolvimento das atividades do engenheiro civil que trabalha
177
no subsetor de edificações. Os trabalhos de Moraes (1995) e Salum (1999) apresentam
também o domínio do inglês como sendo um atributo imprescindível às atividades do novo
engenheiro.
Outro ponto que merece destaque é que, embora seja uma necessidade e uma
exigência atual, principalmente para os projetos de construção civil, subsetor de edificações, a
pesquisa não apresentou um percentual significativo dos conhecimentos na área ambiental.
Dentre os profissionais pesquisados aquele que demonstrou maior importância para os
conhecimentos ambientais foram os estagiários. Provavelmente, em função desse tema já ser
mais debatido e trabalhado pelos cursos de Engenharia com projetos pedagógicos mais
recentes do que há dez anos atrás. Embora estudar somente uma disciplina de Meio Ambiente
não faça com que os profissionais de engenharia adquiram conhecimentos sólidos sobre o
tema, a questão ambiental também é bastante enfatizada nos trabalhos citados anteriormente,
assim como também é um dos objetivos presentes nas Diretrizes Curriculares para os cursos
de Engenharia.
Um dos conhecimentos técnicos mais destacados pela pesquisa foi o
conhecimento sólido em gestão da qualidade. Notou-se claramente que existe uma
preocupação dos profissionais de engenharia acerca desse tema, embora esse seja também
uma das lacunas encontradas pelos projetos pedagógicos dos cursos de Engenharia locais.
Principalmente em função da globalização, da alta competitividade do setor e impulsionados
pelo sucesso do PBQP-H (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat) as
empresas de construção civil, mais precisamente o subsetor de edificações passaram a
implementar mudanças significativas no ambiente organizacional, objetivando a certificação
da ISO-9000. Afinal, os grandes objetivos das empresas, independentemente da área, todas
buscam minimizar custos, aumentar a produtividade e maximizar os lucros. Dificilmente esses
objetivos conseguirão ser atingidos se a empresa não tiver constantemente em busca da
qualidade.
4.5.5 Conhecimentos Gerenciais
Uma observação importante é que, embora a grande maioria dos pesquisados
tenham colocado que a falta de conhecimentos em gestão financeira seja uma das grandes
dificuldades encontradas por eles no início das atividades (ver Tabela 24) apresentada
anteriormente, a necessidade de conhecimentos sólidos de economia para avaliar a viabilidade
178
econômica dos projetos de engenharia não teve um percentual alto de escolha entre os
pesquisados (ver Tabela 31). Uma unanimidade entre os pesquisados foi a necessidade de
conhecimentos fundamentais de técnicas de gestão aplicadas à construção civil (gestão de
prazos, custos, recursos, da qualidade e da segurança). Confirmando mais uma vez a carência
já apresentada anteriormente pela área de gestão.
Tabela 31
– Conhecimentos gerenciais necessários à função na sua empresa x Função na empresa
Função na empresa
Conhecimentos gerenciais
Diretor
(%)
Eng.
Superv.
(%)
Eng. de
Obra
(%)
Eng.
Trainee
(%)
Estag.
(%)
Outra(s)
(%)
Conhecimentos sólidos de teorias e modelos
de decisão e gestão de projetos.
83,3 50 73,3 100 100 28,6
Conhecimentos fundamentais de técnicas de
gestão aplicadas à construção civil (gestão de
prazos, custos, recursos, da qualidade, da
segurança, etc).
100 100 100 100 100 100
Conhecimentos sólidos de técnicas de
liderança e de gestão de equipes.
91,7 100 80 100 100 100
Conhecimentos fundamentais de gestão de
recursos humanos.
83,3 50 86,7 100 66,7 42,9
Conhecimentos sólidos de economia para
avaliar a viabilidade econômica dos projetos
de engenharia.
83,3 0 46,7 33,3 50 71,4
OUTROS CONHECIMENTOS NÃO
MENCIONADOS ANTERIORMENTE
0 0 0 0 0 0
Fonte: Dados da pesquisa
Embora a avaliação de viabilidade econômica de qualquer projeto de engenharia
seja um dos componentes fortes na decisão final sobre um empreendimento, e também a
gestão financeira ter sido identificada como uma das grandes dificuldades gerenciais
apresentadas pela pesquisa, notou-se que os conhecimentos sólidos em economia, segundo a
pesquisa, não são consideradas imprescindíveis para o desenvolvimento da função de
engenheiro civil, no subsetor de edificações. Possivelmente em função dessa componente
ficar mais sob a responsabilidade a nível de direção. Essa componente, além de ser um dos
objetivos presentes nas Diretrizes Curriculares, também está presente na maioria dos estudos
aqui apresentados no referencial teórico, como sendo pré-requisito indispensável para a
formação do portfólio do novo engenheiro civil.
Corroborando com os trabalhos de Fleury sobre os Engenheiros Sistêmicos –
Desenvolvimentistas e Operacionais, com o estudo realizado pelo CTE, com o trabalho de
Bazzo e com os trabalhos de Salum, Longo e Telles, Ferreira e Moraes, os conhecimentos de
gestão, liderança, trabalho em equipe são os que aparecem com maior frequência nestes
179
estudos. Notou-se ainda que esses conhecimentos são fortemente necessários para o
desenvolvimento das atividades dos engenheiros civis, subsetor de edificações.
O novo engenheiro, de acordo com a pesquisa, deve cultivar a liderança, gerenciar
pessoas e conflitos. O ambiente de trabalho da construção civil, subsetor de edificações exige
do engenheiro civil que ele seja capaz de atuar em equipes multidiciplinares, gerenciando e
operando sistemas de alta complexidade, sendo capaz de integrar conhecimentos técnicos-
científicos no sentido da inovção e da solução de problemas tecnológicos.
O maior ponto de destaque apontado pela pesquisa foi a necessidade de
conhecimentos de técnicas de gestão aplicadas à construção civil. Todos os pesquisados foram
unânimes ao colocar que esses conheciemntos são essenciais para o desenvolvimento de suas
atividades. Pode-se confirmar esssa necessidade através do conceito de competência de gestão
apresentado por Resende (2000) : são competências específicas do nível gerencial, de áreas ou
atividades fins e de apoio das empresas, portanto, são necessárias a todos os níveis
hierárquicos presentes nas empresas de construção civil, subsetor de edificações. Elas são as
mais requisitadas, embora sejam ainda, também, pouco exploradas pelos cursos de graduação
em Engenharia, de acordo com estudos de Oliveira (2005).
4.5.6 Competências do Engenheiro Civil ingressante no mercado
4.5.6.1 Competências fortes ao término do curso
Competências fortes são as que foram mais trabalhadas, exploradas e
desenvolvidas nos profissionais egressos dos cursos de engenharia durante a graduação.
Tabela 32
– Competências fortes x Função na empresa
Função na empresa
Competências fortes
Diretor
(%)
Eng.
Superv.
(%)
Eng. de
Obra (%)
Eng.
Trainee
(%)
Estag.
(%)
Outra(s)
TÉCNICAS 100 100 100 100 100 100
GERENCIAIS 0,0 0,0 6,7 0,0 16,7 0,0
SOCIAIS 8,3 0,0 33,3 0,0 0,0 0,0
ORGANIZACIONAIS 8,3 0,0 20,0 0,0 0,0 0,0
Fonte: Dados da pesquisa
A pesquisa mostrou que as competências classificadas como mais fortes, (ver
Tabela 32) ao término do curso, foram as técnicas, apresentando um percentual de 100% das
180
respostas. Todos os pesquisados enfatizaram que seus cursos de engenharia possuíam uma
vertente fortíssima nas áreas técnicas e muito pouca nas áreas gerenciais. Entretanto, para o
desenvolvimento de suas atividades atuais as competências técnicas já não são mais as
predominantes. Essa constatação pode ser feita através dos objetivos propostos pelas
Diretrizes Curriculares para os cursos de Engenharia. Preocupada também com essa
predominância das competências técnicas vigente atualmente nos projetos pedagógicos dos
cursos de Engenharia, as Diretrizes Curriculares objetivam a formação de um profissional
com competências técnicas, gerenciais e sociais/organizacionais mais voltada para o
atendimento das necessidades atuais de mercado, ou seja, uma formação mais completa do
aluno, na qual abrange todas as áreas possíveis de relacionamento dos cursos de engenharia.
4.5.6.2 Competências fracas ao término do curso
Competências fracas são as que foram menos trabalhadas, exploradas e
desenvolvidas nos profissionais egressos dos cursos de engenharia durante a graduação.
Tabela 33
– Competências fracas x Função na empresa
Função na empresa
Competências fracas
Diretor
(%)
Eng.
Superv.
(%)
Eng. de
Obra (%)
Eng.
Trainee
(%)
Estagiário
(%)
Outra(s)
(%)
TÉCNICAS
0,0
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
GERENCIAIS
100
100 93,3 66,7 66,7 100
SOCIAIS
83,3
100 66,7 100 83,3 42,9
ORGANIZACIONAIS
75,0
100 80,0 66,7 66,7 71,4
Fonte: Dados da pesquisa
As competências mais fracas apresentadas pela pesquisa foram as gerenciais,
sociais e organizacionais (ver Tabela 33). Pelos dados apresentados, pode-se constatar,
segundo os diretores, a inexistência total das competências gerenciais no engenheiro civil
ingressante no mercado de trabalho. O número não fica muito distante quando se refere a
opinião dos engenheiros. A falta dessas competências traz grandes dificuldades no
desenvolvimento das atividades diárias dos engenheiros, visto que, em sua maioria, a
componente gerencial é a mais requisitada.
181
4.5.6.3 Competências predominantes para o exercício da função
Competências predominantes para o exercício da função são aquelas mais
requisitadas para o desenvolvimento diário das atividades do engenheiro civil nas empresas de
construção civil, subsetor de edificações.
Tabela 34
– Função na empresa x Competências predominantes
Competências predominantes
Função na empresa
TÉCNICAS
(%)
GERENCIAIS
(%)
Diretor 25,0 75,0
Engenheiro Supervisor 40,0 60,0
Engenheiro de Obra 33,3 66,7
Engenheiro
Trainee
80,0 20,0
Estagiário 90,0 10,0
Outra(s) 57,1 42,9
Fonte: Dados da pesquisa
Embora as competências gerenciais tenham sido indicadas como as mais fracas
nos engenheiros ingressantes (ver Tabela 33), atualmente elas aparecem como as
predominantes, tanto para os engenheiros de obra (60,6%) como para os diretores (75%), ver
Tabela 34. Para as atividades diárias desenvolvidas pelos engenheiros
trainees
esse percentual
(100%) foi ainda mais significativo, sendo as competências gerenciais as mais requisitadas.
Durante toda a pesquisa ficou notório o quanto são importantes, para o desenvolvimento
diário das atividades dos engenheiros civis da indústria da construção, subsetor de
edificações, as competências gerenciais.
A predominância das competências gerenciais para as funções de diretores,
engenheiros supervisores e de obra pode ser justificada exatamente através da Tabela 15, que
relaciona as atividades desenvolvidas diariamente por essas funções. Esses dados também
podem ser confirmados através dos estudos já realizados anteriormente por Fleury e pelo
CTE. Atualmente, o engenheiro do subsetor de edificações desempenha um papel muito mais
voltado às gestões administrativa e financeira, do que técnico.
182
4.5.6.4 Competências a serem desenvolvidas engenheiro ingressante
Quanto às competências profissionais dos engenheiros ingressantes que precisam
ser desenvolvidas (ver Tabela 35), as mais citadas foram as competências gerenciais, tanto
para os engenheiros como para os diretores. Mais uma vez notou-se uma carência e,
consequentemente, uma necessidade de aprimoramento da área de gestão (gestão de RH,
gestão administrativa e gestão financeira). Um dado importante é que na visão dos diretores,
as competências sociais/organizacionais ficaram em segundo lugar, só perdendo para as
gerenciais, possivelmente por eles desenvolverem mais atividades coletivas associadas às
atividades-meios e às atividades-fins da empresa. Necessitando interagir com as pessoas,
sejam elas clientes internos ou externos, buscando comunicação, negociação ou alguma
mobilização para mudança.
Tabela 35
– Competências profissionais engenheiro ingressante a serem desenvolvidas x Função na empresa
Função na empresa
Competências
profissionais engenheiro ingressante
Diretor
(%)
Eng.
Superv.
(%)
Eng.de
Obra
(%)
Eng.
Trainee
(%)
Estag.
(%)
Outra(s)
(%)
Competências gerenciais
37,5 0,0 10,4 14,3 33,3 66,7
Conhecimentos de gestão de pessoas
0,0 11,1 12,5 42,9 16,7 22,2
Conhecimentos de gestão financeira
0,0 11,1 14,6 0,0 8,3 0,0
Conhecimentos de gestão administrativa
4,2 0,0 14,6 0,0 8,3 0,0
Comunicação
4,2 0,0 8,3 14,3 8,3 0,0
Trabalhar em equipe
0,0 11,1 6,3 14,3 0,0 0,0
Conhecimentos de planejamento
0,0 11,1 6,3 0,0 0,0 0,0
Liderança
8,4 11,1 4,2 14,3 0,0 0,0
Gestão de obras
0,0 0,0 6,3 0,0 0,0 0,0
Gestão de projetos
0,0 33,3 4,2 0,0 8,3 0,0
Relacionamento interpessoal
4,2 0,0 6,3 0,0 0,0 0,0
Competências sociais/organizacionais
20,9 0,0 4,2 0,0 0,0 0,0
Gestão de contratos
0,0 11,1 0,0 0,0 8,3 0,0
Adaptar-se às normas da empresa
0,0 0,0 2,1 0,0 0,0 0,0
Conhecimentos das leis trabalhistas
0,0 0,0 0,0 0,0 8,3 0,0
Conhecimentos em materiais e
equipamentos da construção civil
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 11,1
Conhecimentos das normas da ISO 9000
0,0 0,0 1,2 0,0 0,0 0,0
TOTAL
100 100 100 100 100 100
Fonte: Dados da pesquisa
Em resumo, o quinto e último bloco da pesquisa possibilitou confirmar o que
Oliveira (2005) já havia colocado em seu trabalho, os currículos atuais dos cursos de
engenharia civil das IES da cidade de Fortaleza, Estado do Ceará, ainda possuem uma
vertente muito forte nas áreas técnicas, dando pouca ênfase às áreas gerenciais. Pode-se
183
constatar que a maior carência dos engenheiros está na área de gestão. Ao cruzar os dados
desse bloco com os dados obtidos referente às funções desenvolvidas pelos engenheiros
notou-se que todos necessitam de conhecimentos nas áreas adminitrativas e financeiras,
principalmente porque o perfil atual do engenheiro civil requer uma componente muito mais
gerencial, do que técnica. Além do mais, os empreendimentos necessitam de uma análise da
sua viabilidade econômica. Por outro lado, os gestores fazem quase que diariamente a gestão
financeira das obras. Ficou evidente também que existe uma carência no processo de
comunicação e no relacionamento interpessoal, principalmente em função da necessidade de
se trabalhar em equipes multidisciplinares. Também ficou claro que há necessidade do
desenvolvimento das competências sociais e organizacionais.
A partir dos resultados encontrados nesse capítulo, e das análises efetuadas, torna-
se possível a descrição das conclusões a que se chegou, e a elaboração de recomendações para
as empresas pesquisadas, para as IES e para a execução de futuros trabalhos, todos
apresentados no capítulo 5.
184
CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Este capítulo objetiva apresentar as conclusões da dissertação, a partir da análise
dos resultados encontrados pela pesquisa realizada, assim como também, apresentar uma série
de recomendações para as empresas, IES e futuras pesquisas e investigações relevantes à área
temática.
5.1 Conclusões
O presente trabalho teve como objetivo maior a identificação das competências
profissionais do engenheiro civil, para atuar na indústria da construção civil, subsetor de
edificações. A pesquisa foi realizada com os engenheiros civis, inclusive trainees e
estagiários, que trabalham nas empresas de médio e grande porte na área de construção civil,
subsetor de edificações, localizadas na cidade de Fortaleza, no Estado do Ceará.
Durante a realização do estudo pôde-se comprovar as informações obtidas através
do referencial bibliográfico sobre a importância da força da Indústria da Construção Civil,
subsetor de edificações para o desenvolvimento e crescimento local e nacional. A ICC
desenvolve um importante papel na captação de mão-de-obra, assim como também na
participação do PIB cearense e brasileiro. No Ceará, ao lado das indústrias de confecções e
calçados, a ICC é uma das que apresenta maior taxa de crescimento.
Segundo pesquisas realizadas pelo IPECE, a indústria cearense cresceu 5,38%, no
terceiro trimestre/2006, relativamente ao terceiro trimestre/2005. Para este desempenho a
contribuição da indústria da construção civil foi de 13,36% contra 2,71% da indústria da
transformação. Particularizando o desempenho da indústria da construção civil, esta registrou,
até 2002, resultados negativos e somente no final de 2003, a atividade inicia um período
de recuperação, acumulando até setembro de 2006 uma taxa positiva de 10,20%. Este
comportamento é explicado, em parte, pelo aumento de obras privadas, associado à redução
da taxa de juros Selic, maior disponibilidade de recursos para financiar a aquisição de imóveis
à população, além da recuperação na renda pessoal que influenciam positivamente as
pequenas construções e reformas em residências, que têm peso no segmento.
Porém, esse crescimento só é possível devido à busca de qualificação dos
profissionais que compõem as empresas cearenses de construção civil. Um fato marcante que
185
a pesquisa demonstrou é que a grande maioria das empresas pesquisadas, se ainda não são
certificadas pela ISO 9000, estão se preparando para a mesma. Ficando patente a preocupação
das empresas pesquisadas pela busca dessa certificação. E como não poderia deixar de ser, o
crescimento das empresas passa necessariamente pelo crescimento profissional de seus
recursos humanos.
As conclusões do trabalho podem ser resumidas nos seguintes tópicos:
 Na sua grande maioria, 45,5% dos engenheiros civis que trabalham nessas
empresas executam a função de engenheiro de obra. Dentre as principais atividades
desenvolvidas por esses engenheiros estão o planejamento e a gestão da obra. As atividades
de gestão são altamente requisitadas aos engenheiros de obra que trabalham na indústria da
construção civil, subsetor de edificações. Entretanto, elas são as que apresentam as maiores
deficiências encontradas nos cursos, isto é, o mercado exige, mas elas ainda não são
plenamente exploradas pelos cursos de Engenharia local;
 Dentre as atividades desenvolvidas pelo engenheiro civil a gestão
administrativa, financeira e de pessoal são as que consomem maior tempo dos engenheiros de
obra. Uma atividade que foi bastante citada foi a de gestão de suprimentos. Porém, apenas
uma das empresas pesquisadas possue um engenheiro especialista na área de Logística. O que
leva a acreditar que essa área ainda tem muito a desenvolver nessas empresas, ela ainda é
considerada simplesmente o antigo almoxarifado;
 De uma forma geral, é possível afirmar que embora a ICC tenha procurado
implementar mudanças na estrutura organizacional de suas empresas, ela é ainda muito
complexa, apresentando um baixo nível de formalização e muito centralizada;
 As médias empresas com até 200 colaboradores apresentam uma estrutura
muito simples. Raramente apresentam os três níveis hierárquicos da pirâmide
organizacional, geralmente só apresentam dois níveis. Havendo uma junção dos níveis
estratégico e tático. Tais empresas apresentam uma centralização de poder muito grande
nesse nível hierárquico, até mesmo porque todas as decisões da empresa são emanadas do
sócio-proprietário.
 As médias empresas acima de 200 colaboradores e as grandes apresentam uma
estrutura hierárquica dividida em três níveis: estratégico, tático e operacional;
 O fluxo de informações, tanto no nível hierárquico superior como no inferior é
bastante definido e obedece a uma estrutura padrão;
186
 Apesar dos novos sistemas de informações gerenciais que aceleram o processo
de tomada de decisão, a indústria da construção civil continua sendo complexa,
interdisciplinar e intensiva em mão-de-obra, sendo seu fator chave de sucesso a gestão das
equipes e das pessoas;
 O processo de comunicação ocorre em todos os níveis funcionais das mais
variadas formas, desde a tradicional, via telefone até a mais atual via internet;
 Na maioria das empresas o engenheiro civil tem autonomia para as tomadas de
decisão. A maioria dos engenheiros realiza negociações com os subempreiteiros, fornecedores
e clientes. Dificilmente se relacionam com órgãos governamentais;
 A Gestão de RH presente nas empresas de construção civil, subsetor de
edificações desenvolve uma política de recrutamento ainda por indicação. Não existe um
processo seletivo que defina os parâmetros da seleção, tanto para engenheiros, como para
trainee e estagiários. Quando da seleção uma única análise é feita: a curricular, com o
objetivo de comprovar se o candidato tem experiência ou não na área;
 A maioria das empresas investe no crescimento profissional do engenheiro,
porém não existe uma política definida de reconhecimento e valorização do ser humano,
ficando a ascensão profissional centrada na experiência e tempo de casa. Entretanto, existe
um ponto bastante positivo, há uma preocupação muito grande das empresas em fazer com
que o engenheiro participe de novos projetos;
 Não existem programas de treinamento e capacitação institucionalizados. O
que ocorre na maioria das empresas são reuniões técnicas. Todo o processo de transferência
de conhecimento resume-se a esses encontros técnicos. Embora algumas das empresas
procure investir na educação continuada de seus engenheiros;
 Embora haja uma participação maciça dos engenheiros em novos projetos, não
existe uma equipe multidisciplinar, com o objetivo de estar permanentemente desenvolvendo
novos estudos ou em busca de soluções para os problemas. Os encontros acontecem à medida
que a necessidade surge ;
 Não existem parcerias visando o intercâmbio entre o ambiente organizacional e
o acadêmico.
A falta de interesse, de disponibilidade e de visão dos empresários em mensurar a
importância de uma pesquisa dessa natureza para o próprio crescimento organizacional de
uma empresa foi um fato real e que não pode deixar de ser retratado. Isto vem a confirmar que
no Brasil a cultura por pesquisas de caráter acadêmico-científico ainda é insignificante do
187
ponto de vista de aceitação por parte da sociedade, muitas dificuldades foram encontradas
para a realização da mesma.
No entanto, o presente trabalho não perde o seu valor acadêmico e profissional,
contribuindo assim para estimular e ampliar o debate teórico na academia, assim como
também despertar o interesse das empresas de construção civil para a descoberta e o
desenvolvimento de suas competências, mesmo diante de algumas limitações apresentadas em
razão do nível amostral e pelas grandes dificuldades encontradas na aplicação da pesquisa
pela falta de interesse dos atores envolvidos.
Em resumo, pode-se afirmar que para o desenvolvimento das atividades diárias
dos engenheiros civis pesquisados a componente gerencial se sobrepõe à componente técnica.
A pesquisa apresentou uma fragilidade muita grande dos engenheiros quando o assunto é
gestão, principalmente quando é financeira ou de pessoal. A dificuldade no relacionamento
interpessoal, no processo de comunicação e em trabalhar em equipe demonstrou que existe
uma necessidade do engenheiro desenvolver urgentemente essas habilidades. Embora a
maioria das empresas invista no crescimento profissional e pessoal dos engenheiros, foi
possível identificar que esse investimento é exclusivamente técnico. Não existe uma
preocupação no desenvolvimento de competências gerenciais, sociais e/ou organizacionais. A
componente humana, embora seja a mais requisitada, é a menos trabalhada.
Portanto, diante das exigências profissionais impostas pela nova economia do
conhecimento, pode-se concluir que o engenheiro civil necessita, urgentemente, através de
uma educação continuada, desenvolver as competências gerenciais, sociais e/ou
organizacionais requisitadas pelo mercado da indústria da construção civil, a fim de suprir as
lacunas deixadas pelos cursos. Para os que estão iniciando suas atividades profissionais que já
tenham concluído seus cursos ou ainda estão nas IES, e para os que ainda não iniciaram, mas
que continuam nos bancos escolares, existe ainda uma possibilidade de, pelo menos, iniciarem
a descoberta dos conhecimentos necessários para o desenvolvimento dessas competências, se
as IES reformularem seus projetos pedagógicos, a fim de atender as necessidades impostas
pelo mercado. Para tanto, faz-se necessário uma reestruturação curricular dos cursos que hoje
estão sendo ofertados pelas IES, sob pena de estarem formando um profissional obsoleto para
o mercado.
Diante do exposto, é possível afirmar que os objetivos propostos nesta pesquisa
foram atingidos em sua integralidade. Diante da problemática tratada pela pesquisa obteve-se
como resposta que as competências profissionais necessárias para atuar no mercado da
construção civil são uma combinação das técnicas, gerenciais, sociais e organizacionais, com
188
maior ênfase para as gerenciais, especificamente as das áreas de gestão administrativa,
financeira e de pessoal.
5.2 Recomendações
Levando-se em consideração os diversos resultados obtidos na pesquisa realizada,
e as conclusões relatadas no tópico anterior, é possível fazer algumas recomendações para as
empresas pesquisadas, com o objetivo de fornecer subsídios para que as mesmas possam
implementá-las, visando a melhoria (ou até mesmo a criação) de seus processos gerenciais,
assim como também o desenvolvimento e crescimento pessoal e profissional de seus
engenheiros civis. Para as IES, as recomendações objetivam proporcionar melhorias em seus
projetos pedagógicos, procurando caminhar junto às empresas, formando profissionais
atualizados e em consonância com as necessidades de competências requeridas pela indústria
da construção civil, subsetor de edificações e as recomendações para futuros trabalhos
visando o desenvolvimento de novas pesquisas que contribuam para a melhoria da ICC.
5.2.1 Recomendações para as empresas
 Desenvolver programas de treinamento e capacitação de seus funcionários,
visando principalmente o crescimento e desenvolvimento profissional dos mesmos;
 Criar e implantar programa de desenvolvimento e acompanhamento de
estagiários e trainees visando a preparação dos mesmos como futuros engenheiros em suas
empresas;
 Melhorar mecanismos de seleção e contratação de engenheiros e estagiários;
 Desenvolver programa de educação continuada para seus engenheiros, visando
mantê-los atualizados com as inovações tecnológicas, bem como suprir as lacunas gerenciais
oriundas das IES;
 Realizar treinamentos multidisciplinares com os gestores da empresa, a fim de
discutir as competências gerenciais relacionadas à missão da empresa e sua relação com as
atividades que cada gestor executa;
 Desenvolver intercâmbio entre as empresas, a fim de possibilitar a troca de
experiência entre seus profissionais;
189
 Criar e implantar um programa de valorização e reconhecimento pessoal e
profissional para seus engenheiros;
 Criar um manual que especifique as competências profissionais necessárias ao
engenheiro civil para trabalhar na sua empresa;
 Criar um sistema de comunicação e informação que seja responsável pelo
fornecimento de uma infra-estrutura básica que facilite o fluxo de informação e conhecimento
por todos os níveis hierárquicos da empresa;
 Estreitar o relacionamento com as IES, através de workshops, seminários,
encontros técnicos, dentre outros, possibilitando a troca de experiência entre o meio
empresarial e o acadêmico;
 Firmar convênios com as IES, objetivando melhorar o processo seletivo de
estagiários e trainees;
 Melhorar as condições de trabalho, assim como também as instalações
provisórias dos escritórios nas obras.
5.2.2 Recomendações para as IES
 Atualizar suas grades curriculares dos cursos de Engenharia, embasada nos
dados obtidos na pesquisa, levando em conta as necessidades requisitadas pelo mercado;
 Incluir na proposta pedagógica do curso de Engenharia Civil atividades
práticas e de pesquisa em conjunto com as empresas de construção civil;
 Desenvolver laboratórios experimentais objetivando a aplicação prática dos
conhecimentos adquiridos durante o curso;
 Ampliar o tempo do estágio supervisionado, devendo o mesmo ter
acompanhamento sistemático dos professores durante as atividades de estágio dos alunos,
procurando fazer com que os alunos realizem rodízios setoriais dentro das empresas;
 Estreitar o relacionamento com as empresas de construção civil, através de
workshops, seminários, encontros técnicos, dentre outros, possibilitando a troca de
experiência entre o meio acadêmico e o empresarial;
 Incluir, urgentemente, nas suas grades curriculares, disciplinas que trabalhem
os conhecimentos e as habilidades gerenciais necessárias ao profissional do século XXI, assim
como também questões emergentes demandadas pela contemporaneidade como o trabalho em
190
equipe, relacionamento interpessoal, processo de comunicação, relações trabalhistas,
empreendedorismo e meio ambiente;
 Institucionalizar a interdisciplinariedade entre os ciclos básicos e
profissionalizantes dos cursos, de forma que as disciplinas não sejam vistas de modo
separado, sem nenhum relacionamento entre si, afinal, elas pertencem a um mesmo currículo;
 Possibilitar, ao professor, a adoção de novas metodologias de ensino, baseadas
nas inovações tecnológicas;
 Implantar, em sua totalidade, o que está previsto nas Diretrizes Curriculares
para os cursos de Engenharia.
5.2.3 Recomendações para futuros trabalhos
O estudo concentrou-se nas atividades desenvolvidas pelos engenheiros civis na
Indústria da Construção Civil, subsetor de edificações, sendo assim, os resultados obtidos não
devem servir de parâmetro para outros setores e/ou profissionais de outras áreas.
Como o estudo sobre competências, e principalmente no Brasil, ainda encontra-se
numa fase de descoberta, com muito a ser explorado, e considerando a necessidade de
ampliação de estudos científicos sobre o tema, a seguir são apresentadas algumas sugestões
para futuros estudos:
Ampliar o estudo para demais segmentos que compõem o Macrosetor da
Construção;
Aplicar a pesquisa às empresas de pequeno porte;
Aplicar a pesquisa a outros setores da economia que têm o engenheiro como
mola propulsora;
Ampliar os estudos para outras cidades, estados e regiões brasileiras;
Identificar as competências essenciais às empresas da Indústria da Construção
Civil, em seus diversos subsetores;
Desenvolver estudo comparativo das Diretrizes Curriculares e grades
curriculares dos cursos de engenharia junto às IES;
Desenvolver estudo comparativo entre as competências profissionais
apresentadas pela pesquisa e as grades curriculares ofertadas pelos cursos de engenharia local;
Investigar a competitividade das empresas que adotam mecanismos de
transferência de conhecimento e valorização pessoal e profissional de seus engenheiros.
191
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Getúlio Vargas. São Paulo, 2006.
203
APÊNDICE
204
APÊNDICE A – Fax e e-mail encaminhado aos diretores das empresas
Prezado(a) sr(a).
Sou aluno de pós-graduação do curso de mestrado em Engenharia de Produção da
Universidade Federal da Paraíba. Sou Engenheiro Elétrico, trabalhei mais de 13 anos na
CHESF e há 10 anos trabalho na área de educação. Necessito desenvolver uma pesquisa cujo
objetivo é estudar as competências do Engenheiro Civil necessárias para atuar na indústria da
construção, focalizando o subsetor de edificações.
Esse estudo é parte integrante de minha dissertação de mestrado no Programa de Pós
Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal da Paraíba.
Gostaria, portanto, da autorização de V. Sa. para que pudesse aplicar essa pesquisa com os
engenheiros civis dessa empresa.
Suas respostas serão mantidas em absoluto sigilo e são muito importantes para identificarmos
as competências necessárias ao engenheiro civil, diante da nova realidade do mercado e
consequentemente possibilitar a conclusão de meu curso.
Desde já, agradeço a sua valiosa contribuição à consecução desse trabalho científico.
Atenciosamente,
Prof. José Pereira de Oliveira
Mestrando PPGEP/UFPb
Contato:
jjpopereira@yahoo.com.br
3244-0436
4008-8310
9969-3787
205
APÊNDICE B – Carta encaminhada ao entrevistado
Prezado(a) sr(a).
A presente pesquisa visa estudar as competências do Engenheiro Civil necessárias para atuar
na indústria da construção, focalizando o subsetor de edificações.
Esse estudo é parte integrante de minha dissertação de mestrado no Programa de Pós
Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal da Paraíba.
Suas respostas serão mantidas em absoluto sigilo e são muito importantes para identificarmos
as competências necessárias ao engenheiro civil, diante da nova realidade do mercado e
possibilitar a conclusão de meu curso.
Desde já, agradeço a sua valiosa contribuição à consecução desse trabalho científico.
Atenciosamente,
Prof. José Pereira de Oliveira
Mestrando PPGEP/UFPb
Instruções para responder o questionário
Neste questionário existem perguntas abertas aquela em que você terá que escrever a sua
resposta, de acordo com seu entendimento) e perguntas fechadas (aquela em que você terá que
escolher somente uma das alternativas).
Você também irá encontrar quadros com diversas opções. Neles, você deverá assinalar com
“X” aquelas competências e conhecimentos que você achar necessários para o
desenvolvimento das atividades dos engenheiros civis.
Caso você cometa algum erro, ao assinalar alguma resposta com “X”, anule a resposta
fazendo um círculo em torno do “X” e assinale a alternativa correta.
206
207
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210
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212
213
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