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várias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma
sociedade” (TYLOR, 1871, p.1).
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Significa que cada sociedade estabelece suas
regras lingüísticas, conversacionais etc; e tem uma visão de mundo, como no
Cairo, no Egito, em que os moradores de cobertura são aqueles indivíduos cujo
poder aquisitivo é baixo, ao contrário, do Brasil.
Numa interação, quando os indivíduos são de contextos culturais
diferentes, há maior probabilidade de conflito (isso porque há casos em que surge
um problema na comunicação que foge ao nosso controle, como gafe, lapso,
mal-entendido, etc; causadores da transmissão de uma impressão incompatível
com a que se pretendia). Para diminuir a sua ocorrência é preciso que os
indivíduos compartilhem os mesmos acordos sociais. Por exemplo, num estágio
de verão de professores de francês, por não conhecer a cultura marroquina, a
brasileira não foi capaz de captar a intenção do professor (que, ao realizar tal ato,
almejava elogiá-la):
- Você vale muitos camelos.
- Mal-educado, retruca a gaúcha.
(fato relatado em agosto de 2001)
Ao longo das trocas, os participantes criam e mantêm uma relação
interpessoal de solidariedade e de poder
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(BROWN; LEVINSON, 1978, p. 252-
259). Quanto à dimensão do poder ou da dominação, esses autores estabelecem
que um indivíduo “pode ter poder sobre o outro na medida em que é capaz de
controlar o comportamento do outro” (ibid., 254), como é o caso das relações
assimétricas (relacionamentos entre pai e filho, patrão e empregado, professor e
aluno). Dessa forma, uma ordem ou uma ameaça numa relação de poder não
configura uma gafe, porque quem ameaça ou ordena, numa determinada situação
interlocutiva, desempenha um papel (assunto a ser tratado posteriormente) que
lhe confere o poder de fazê-lo. Por exemplo, o papel desempenhado pela mãe
autoriza-a a dirigir-se ao filho utilizando este ato de linguagem: “nunca mais diga
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A noção de cultura é de origem inglesa, posto que se deve a Tylor tê-la definido pela primeira vez.
Posteriormente, outros autores trataram do assunto no campo da Antropologia. É uma palavra chave para a
interpretação da vida social. Levis-Strauss, na obra Antropologia estrutural (1975), adota a definição de
Tylor; e Damatta, na obra Carnavais, malandros e heróis, a define como "os valores, relações, grupos sociais
e ideologias que pretendem estar ao lado e acima do tempo” (1997).
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Numa análise sobre a mudança dos pronomes com foco no interlocutor, “T” (tu) e “V” (vós) em línguas
européias, os autores vinculam o uso de pronomes recíprocos à solidariedade, em relacionamentos simétricos,
com igualdade social e associam o poder ao uso de pronomes não recíprocos em relacionamentos