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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA
DA PRODUÇÃO - PPGEP
Impactos Ambientais e Operacionais da
Industrialização do Algodão Colorido:
Os Casos da Fiação e Malharia da
Indústria Têxtil Paraibana
SIBELE THAISE VIANA GUIMARÃES DUARTE
João Pessoa
Junho de 2005
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2
SIBELE THAISE VIANA GUIMARÃES DUARTE
Impactos Ambientais e Operacionais da Industrialização do
Algodão Colorido : Os Casos da Fiação e Malharia da Indústria
Têxtil Paraibana
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção do Centro
de Tecnologia da Universidade
Federal da Paraíba, como requisito à
obtenção do grau de Mestre em
Engenharia de Produção.
Sub-área de Concentração:
Organização, Trabalho e Tecnologia
Orientador: Prof. Dr. Paulo José
Adissi
João Pessoa
Junho / 2005
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SIBELE THAISE VIANA GUIMARÃES DUARTE
Impactos Ambientais e Operacionais da Industrialização do
Algodão Colorido: Os casos da Fiação e Malharia da Indústria
Têxtil Paraibana
Dissertação apresentada em 21 de Junho de 2005 perante a banca
examinadora integrada pelos seguintes membros:
__________________________________________
Prof. Dr.Paulo José Adissi
Universidade Federal da Paraíba - Orientador
__________________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Aurelia Altemira Acunã Idrogo
Universidade Federal da Paraíba - Examinadora Interna
__________________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Sandra Leandro Pereira
Universidade Federal da Paraíba- Examinadora Externa
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a
Minha Mãe, Josirene Viana e
ao meu esposo, Wellington Duarte,
dois exemplos de coragem , força e determinação.
5
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho, resulta do incentivo, do apoio e da colaboração
de muitos, assim, quero expressar de forma gratificada meus mais sinceros
e reconhecidos agradecimentos:
A Deus pelo dom da vida e da inteligência
A minha mãe, Josirene Coelho Viana que através de sua conduta
serviu-me de espelho na trajetória da minha vida;
A meu esposo, Wellington Martins Duarte que me incentivou e me
apoiou incondicionalmente nos momentos mais críticos do meu caminhar;
Ao meu orientador, José Paulo Adissi e meu amigo Givanildo Freire
pelas seguras contribuições neste trabalho;
Aos professores, Aurélia Idrogo, Geraldo Maciel e Sandra Pereira.
integrantes da banca examinadora que com suas cticas e sugestões
ajudaram no aperfeiçoamento deste;
Aos Amigos da Coteminas, em especial, Edmilson Carneiro, Evane
de Melo e Silva, Francisco Girleno Filgueiras, José Amilton Cunha, José
Edílson de Oliveira e Roberto Torreão Viana de Melo, os quais me
estenderam a mão e estiveram sempre dispostos a me ajudar, tanto na minha
trajetória profissional, quanto acadêmica;
Ao diretor da Matesa Têxtil, Sr. Francisco J. C. Gonçalves que abriu
as portas de sua empresa para a realização deste trabalho; em especial ao Sr.
Carlos Cunha que me atendeu prontamente sempre muito amável e solícito
tirando-me todas as dúvidas que apareciam;
A Angélica Rodrigues, que dedicou pouco de seu tempo para
esclarecer-me dúvidas;
6
Ao pessoal da Embrapa Algodão que me orientou nas dúvidas quanto
ao cultivo do algodão colorido;
Aos professores de engenharia agrícola, Maria Elita Duarte e Mário
Eduardo que contribuíram no aperfeiçoamento de idéias contidas neste
documento;
A Rosângela Herculano, sempre muito meiga e prestativa atendendo-
me nas horas de precisão;
Aos professores do Departamento de Engenharia de Produção que
direta ou indiretamente se fizeram presentes nesta conquista;
Enfim, a todos os colegas e amigos que contribuíram com incentivo e
força.
7
DUARTE, Sibele Thaise V.G. Impactos Ambientais e Operacionais do
Algodão Colorido: Os Casos da Fiação e Malharia da Indústria Têxtil
Paraibana. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Engenharia da Produção. João Pessoa. Junho de 2005.
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo identificar os impactos
ambientais e operacionais da industrialização do algodão de fibra colorida
nos segmentos de fiação e malharia da indústria têxtil paraibana. Para isto,
buscou-se descrever o processo produtivo têxtil dos dois tipos de algodão: o
comum (branco) e o colorido (natural), comparando-se os processos e
identificando seus impactos. Duas foram às empresas estudadas, uma na
cidade de Campina Grande e a outra na cidade de João Pessoa
caracterizando-se, desta forma, como um estudo de caso descritivo-
comparativo-explicativo. As variáveis analisadas foram: tempo de setup,
percentagem de perda no processo, produtividade, tempo de
processamento, consumo de água e energia, utilização de mão-de-obra e
quantidade de máquinas envolvidas, dentre outras; para tal, utilizaram-se
instrumentos no levantamento dos dados, como: pesquisa bibliográfica,
coleta documental, observação direta e entrevista informal com os
respectivos responsáveis pelo processo produtivo. O processo de
beneficiamento têxtil, que envolve etapas como o tingimento e o
acabamento, foi o mais observado na indústria de malharia, pois é através
dele que se verificam os maiores impactos ambientais devido à toxicidade de
efluentes. O algodão colorido desponta como solução para minimização
desses despejos têxteis, contribuindo com o meio ambiente pois, além de
não fazer uso de produtos químicos como corantes, peróxidos, amaciantes e
outros, ainda reduz o consumo de água e energia das indústrias têxteis. Em
contrapartida, observa-se maior percentagem de perda no processo em
razão da sua quantidade ainda estar sob parâmetros artesanais.
Palavras-chave: Algodão colorido, impacto ambiental, indústria-têxtil
8
DUARTE, Sibele Thaise V.G. Impactos Ambientais e Operacionais do
Algodão Colorido: Os Casos da Fiação e Malharia da Indústria Têxtil
Paraibana. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Engenharia da Produção. João Pessoa. Junho de 2005.
ABSTRACT
The present work has for objective to identify the environmental and
operational impacts of the industrialization of the colored cotton in the spinning
followings and mill of the industry textile paraibana. For that it was looked for to
describe the textile productive process of the two cotton types: the common
(white) and color (natural), comparing the processes and identifying your
impacts.
Two, went to the studied companies, one in the city of Campina Grande and the
other, in the city of João Pessoa, being characterized this way as a study of
descriptive-comparative-explanatory case. The analyzed variables were time of
setup, loss in the process, productivity, time of processing, consumption of
water and energy, labor use, amount of involved machines, among other, for
that, was used instruments in the rising of the data, as: he/she/you researches
bibliographical, it collects documental, direct observation and glimpses informal
with the respective ones responsible for the productive process. The process of
textile improvement that it involves stages as the tingiment and finish, it was it
more observed in the mill industry, because it is where it is verified the largest
environmental impacts due to eflluents toxicity. The colored cotton blunts as a
solution for minimizing of these textile spillings contributing with the
environment, because besides not doing use of chemical products as colors
and other, it still reduces the consumption of water and energy of the textile
industries. In against departure, there is a larger loss in the due process your
amount still to be under handmade parameters.
Key words: Colored cotton, Environmental Impacts, industry textile
9
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFCG
D812i Duarte, Sibele Thaise Viana Guimarães
Impactos ambientais e operacionais da industrialização do algodão
colorido: os casos da fiação e malharia da indústria têxtil paraibana /
Sibele Thaise Viana Guimarães. João Pessoa: UFPB, 2005.
164f. : il. col.
Inclui bibliografia.
Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) Universidade
Federal da Paraíba, Centro de Tecnologia.
Orientador: Paulo José Adissi.
1 Indústria Têxtil-Algodão 2 Meio Ambiente-Impactos 3 Algodão
Colorido I Título
CDU
677.21
10
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01
Cadeia produtiva da indústria têxtil – confecção
..........
35
FIGURA 02 Fluxo de comercialização do algodão
..........................
41
FIGURA 03
Esquema do processo têxtil de fiação open end e
fiação anel
....................................................................
46
FIGURA 04
Áreas funcionais afetadas em relação à questão
ambiental
......................................................................
77
FIGURA 05
Modelo ambiental na indústria têxtil
...........................
99
FIGURA 06
Organograma da empresa de fiação
...........................
103
FIGURA 07
Organograma simplificado da empresa de malharia
...
105
FIGURA 08
Fluxograma do processo produtivo do fio de algodão
colorido e branco
..........................................................
109
FIGURA 09
Fluxograma do processo produtivo da malha de
algodão comum
............................................................
121
FIGURA 10
Fluxograma do processo produtivo da malha de
poliéster
........................................................................
123
FIGURA 11
Fluxograma do processo produtivo da malha de
algodão colorido
...........................................................
126
FIGURA 12
Fluxograma do beneficiamento têxtil e seus impactos
ambientais
....................................................................
131
11
FIGURA 13
Fluxograma do processo de tingimento
.......................
136
FIGURA 14 Balanço hídrico das unidades geradoras de despejos
138
FIGURA 15
Esquema da estação de tratamento de efluentes da
indústria estudada
144
12
LISTAS DE QUADROS
QUADRO 01 Produção Brasileira de Algodão em Pluma. 25
QUADRO 02 Aplicação de conceitos de aspectos ambientais . 28
QUADRO 03 Ranking dos países produtores de artigos têxteis 34
QUADRO 04 Classificação das tecnologias de fiar. 42
QUADRO 05 Medidas de resistência da fibra do algodão . 49
QUADRO 06 Categorias de comprimento da fibra de algodão 50
QUADRO 07
Interpretação da uniformidade de comprimento de
fibra
51
QUADRO 08 Perdas mínimas de corantes no tingimento .. 59
QUADRO 09 Fatores de desequilíbrio para os ecossistemas . 61
QUADRO 10 Variáveis analisadas no processo produtivo. 92
QUADRO 11 Esquema geral da pesquisa 100
QUADRO 12 Características físicas do algodão colorido 110
QUADRO 13 Características físicas do algodão branco. 111
QUADRO 14
Valores comparativos para produção de fio
utilizando os dois tipos de algodão
115
QUADRO 15
Valores comparativos da malha do algodão comum
127
13
e colorido.
QUADRO 16
Impactos ambientais verificados nas etapas do
processo produtivo dos dois tipos de algodão
132
QUADRO 17
Constituintes dos despejos gerados no processo
produtivo
139
QUADRO 18
Produtos auxiliares utilizados pela indústria de
malharia
141
14
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 01
Consumo mundial de fibras têxteis naturais e
sintéticas
......................................................................
33
GRÁFICO 02
Evolução mundial da oferta e do consumo de
algodão no mundo
.....................................................................
39
SIGLAS E ABREVIATURAS
ABAPA Associação Baiana de Produtores de Algodão
ABIQUIM Associação Brasileira da Indústria Química
BRS Brasil
CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
CNPA Centro Nacional de Pesquisa de Algodão
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
EMBRAPA
Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias
EIA Estudos de Impactos Ambientais
g/TEX Nomenclatura Americana para designar número de título do fio
HVI High Volume Instruments
IA Impacto Ambiental
IBAMA
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
ICAC Internacional Cotton Advisory Comitee
INDEA Instituto Nacional de Defesa Ambiental
15
ISO International Organization Standardization
MIP Manejo Integrado de Pragas
MO Mão-de-obra
MP Matéria-prima
Ne Nomenclatura inglesa para designar número de título do fio
OCDE Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico
ONG Organização Não Governamental
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
RIMA Relatórios de Impacto sobre o Meio Ambiente
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SGA Sistema de Gestão Ambiental
SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente
SL Span Length – Comprimento Médio
TMB Tubo Mata Bicudo
UHM Upper Half Mean – Média da Metade Superior
UI Uniformidade Index
UR Uniformidade Ratio
USDA United States Department of Agriculture
16
SUMÁRIO
CAPÍTULO I – ASPECTOS GERAIS ....................................................
16
1.1 INTRODUÇÃO .................................................................................
16
1.2 DEFINIÇÃO DO TEMA ....................................................................
18
1.3 JUSTIFICATIVA ...............................................................................
21
1.4 OBJETIVOS .....................................................................................
26
1.4.1 Objetivo Geral ........................................................................
26
1.4.2 Objetivos Específicos ............................................................
26
CAPÍTULO II – ESTADO DA ARTE .....................................................
27
2.1 IMPACTO AMBIENTAL: DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO ............
27
2.2 A INDÚSTRIA TÊXTIL......................................................................
30
2.3 O ALGODÃO: UM BREVE HISTÓRICO .........................................
36
2.3.1 O Ecossistema e a Agricultura Tradicional ............................
36
2.3.2 A Fibra do Algodão na Indústria Têxtil ...................................
37
2.3.3 A Competitividade do Algodão no Cenário Mundial ..............
38
2.3.4 Industrialização da Fibra do Algodão ....................................
42
2.3.5 Características Intrínsecas da Fibra do Algodão ...................
47
2.4 A FIBRA DO ALGODÃO COLORIDO .............................................
51
2.4.1 Benefícios ..............................................................................
53
2.4.2 O Ecobusiness .......................................................................
53
2.5 O TINGIMENTO NA INDÚSTRIA TÊXTIL .......................................
54
2.6 EFLUENTES LÍQUIDOS .................................................................
59
2.7 PRÁTICAS LIMPAS NA INDÚSTRIA TÊXTIL .................................
65
2.8 PROTEÇÃO AO SER HUMANO E AO MEIO AMBIENTE ..............
67
2.9 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA
COMPETITIVA ......................................................................................
69
2.10 GERENCIAMENTO AMBIENTAL NAS INDÚSTRIAS ..................
70
2.10.1 Histórico ...............................................................................
70
2.10.2 Benefícios ............................................................................
74
2.10.3 Repercussões
......................................................................
75
17
2.10.4 Influencias nas Demais Áreas Administrativas ....................
77
2.11 EIA / RIMA .....................................................................................
78
2.12 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL ...........................................................
80
2.13 IMPACTO AMBIENTAL NA COTONICULTURA ...........................
83
2.13.1 O Peso dos Inseticidas ........................................................
84
2.13.2 Equilíbrio Ambiental na Lavoura de Algodão .......................
85
CAPÍTULO III – METODOLOGIA APLICADA ......................................
89
3.1 NATUREZA DA PESQUISA ............................................................
90
3.2 VARIÁVEIS ......................................................................................
91
3.2.1 Quanto ao Processo na Indústria de Fiação ........................
92
3.2.2 Quanto ao Processo na Indústria de Malharia ......................
94
3.2.3 Quanto ao Impacto Ambiental ...............................................
95
3.3 INSTRUMENTOS DE PESQUISA ...................................................
96
3.4 SUJEITOS DA PESQUISA ..............................................................
97
3.5 MODELO DE GESTÃO AMBIENTAL NA INDÚSTRIA TÊXTIL ......
98
3.6 ESQUEMA GERAL DA PESQUISA ................................................
100
CAPÍTULO IV – RESULTADOS ALCANÇADOS .................................
101
4.1 DESCRIÇÃO DAS EMPRESAS OBJETO DO ESTUDO ................
101
4.1.1 Empresa Têxtil 1 - Fiação ......................................................
102
4.1.2 Empresa Têxtil 2 - Malharia ..................................................
105
4.2 DESCRIÇÃO DOS PROCESSOS PRODUTIVOS NAS
INDÚSTRIAS PESQUISADAS ..............................................................
107
4.2.1 Produção do Fio – Empresa 1 ...............................................
107
4.2.2 Produção da Malha – Empresa 2 ..........................................
116
4.2.3 O Processo de Beneficiamento Têxtil e seus Impactos
Ambientais .............................................................................................
128
4.2.4 Processos que Envolvem o Consumo de Água na Indústria
de Malharia ............................................................................................
134
18
4.2.5 Processos que o Produzem Efluentes Líquidos na
Indústria de Malharia .............................................................................
136
4.2.6 Despejos Líquidos Provenientes da Produção .....................
137
4.2.7 Descrição da Estação de Tratamento de Efluentes – E.T.E .
143
CAPÍTULO V – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .....................
146
5.1 CONCLUSÕES ................................................................................
146
5.2 RECOMENDAÇÕES .......................................................................
152
REFERÊNCIAS ....................................................................
154
GLOSSÁRIO ..................................................................
162
APÊNDICES ........................................................................
165
Apêndice A Roteiro de entrevista para a fiação ..............
166
Apêndice B Roteiro de entrevista para a malharia ...........
167
19
A verdadeira função do homem
é viver e compartilhar,
não apenas existir.”
Jack London
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O
No Brasil, a implantação da indústria têxtil se deu em caráter
industrial, somente após a proclamação da independência, em 1822, mais
precisamente no período que vai de 1844 até o final da 1
a.
Grande Guerra
(OLIVEIRA & MEDEIROS, 1996).
Apresentando, de início, aspectos meramente artesanais, a
indústria xtil observava a tendência à evolução econômica gerada pela
garantia da matéria-prima nativa ou de fácil adaptação às condições locais.
Esta atividade estava ligada diretamente às culturas de fibras naturais, seu
insumo básico, como o algodão, a juta, a lã, o rami, o linho, a seda, o sisal e
outros.
Na década de 70 a tendência mundial se voltou para a
substituição das matérias-primas naturais pelas sintéticas, porém surgiram
medidas governamentais para garantir o uso obrigatório de fibras naturais na
20
composição dos tecidos, como forma de preservação da matéria-prima
nativa e da reação dos tradicionais produtores de tecidos naturais,
procurando mostrar as vantagens de seu uso para determinadas condições.
A indústria têxtil se modernizou com máquinas e equipamentos.
Observou-se o desenvolvimento e a inserção das fibras sintéticas e
artificiais, além do seu elevado grau de utilização, mas o algodão continua a
ser o carro chefe no beneficiamento e industrialização das fibras naturais.
No final do ano 2000 a Empresa Brasileira de Pesquisas
Agropecuária EMBRAPA, lançou, para a cotonicultura nordestina, a
cultivar
1
BRS 200 Marrom, primeira cultivar de algodão de fibras coloridas no
Brasil, despontando como nova opção de matéria-prima para a manufatura
têxtil, constituindo-se em um produto destinado a consumidores de
consciência ecológica, por dispensar o uso de corantes artificiais no
acabamento do fio e da malha.
Em virtude dos inúmeros problemas relacionados ao meio
ambiente e que preocupam o mundo, como a degradação ambiental, o
desmatamento, a contaminação da água, a poluição do ar, do solo e da
água, sugere-se trabalhar os aspectos ambientais direcionados à indústria
têxtil no processo produtivo do Algodão de fibra colorida, uma vez que se
verifica sua contribuição ao meio ambiente tendo em vista não utilizar, em
alguns casos, agrotóxicos no combate às pragas nem, tampouco, utilizar-se
de corantes artificiais para tingir os tecidos, evitando o lançamento de
efluentes provindos do processo de tingimento do fio e/ou da malha.
1
Nome genético para qualquer variedade de planta cultivada
21
Portanto, esta dissertação tem, como objetivo, a identificação dos impactos
ambientais e operacionais na industrialização do algodão colorido no/do
parque industrial têxtil paraibano.
22
1
1
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2
2
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E
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M
M
A
A
A indústria têxtil utiliza, como matéria-prima, as fibras têxteis,
que são elementos delgados caracterizados pela flexibilidade, finura,
resistência e grande comprimento em relação à sua seção transversal, cujas
propriedades as tornam possíveis de serem transformadas em fios, malhas e
tecidos comuns.
A partir do culo XX foram incorporadas as fibras produzidas
quimicamente pelo homem, pois durante muito tempo a indústria têxtil utilizava
apenas as fibras oriundas dos reinos vegetal, animal e mineral.
Dentre as fibras vegetais, o algodão é uma das plantas de
aproveitamento mais completo, em razão da enorme gama de aplicação dos
seus produtos e subprodutos, especialmente a fibra que, em virtude das
características intrínsecas, se transfere para os fios, tecidos, malhas e
confecções, dando-lhes diversidade de aplicação ganhando, com isto, grande
aceitação no mercado.
As pesquisas com os algodões de fibra colorida vêm sendo
realizadas pioneiramente no Brasil desde 1984, pelo Centro Nacional de
Pesquisa de Algodão, de Campina Grande CNPA, na Paraíba, através do
melhoramento genético convencional, por meio do método de seleção
genealógica das plantas; entretanto, há indícios de que, tanto nos EUA, mais
precisamente no Oeste do Arizona, com cerca de 7000ha de plantações do tipo
“coyote” (cor vermelha), “palo verde” (verde claro) e “búfalo” (marrom), como na
França, na região Languedoc-Roussillon com 1500ha, também estejam
sendo cultivadas plantações do algodão colorido (MARTINS, 1997).
23
Foram avaliadas, no Brasil, em 1997, 87 progênies, 14 novas
linhagens e 13 linhagens avançadas de algodão colorido, em duas regiões
da Paraíba (Seridó e Cariri). As linhagens estudadas apresentam
produtividade que superam a cultivar comercial de algodão arbóreo”
(FREIRE, 1998:06).
As variáveis climatológicas proporcionam a formação e a
obtenção de fibra de excelente qualidade, de valores excepcionais iguais aos
dos melhores algodões do mundo, como no Peru, Egito e Sudão (SANTANA et
al. 1997; BELTRÃO et al. 1995; BANCO DO NORDESTE DO BRASIL, 1962).
É nesta região, especialmente na região fisiográfica do Seridó,
que envolve parte dos Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, onde
praticamente não se usam agrotóxicos e a pressão por insetos-praga é
pequena, que se pode cultivar o algodoeiro arbóreo em sistemas
agroecológicos de cultivo totalmente orgânico (SANTANA et al. 2000;
BELTRÃO et al. 1995; FREIRE, et al. 1995).
Apesar das pesquisas terem sido iniciadas na década de oitenta,
em dezembro de 2000 ocorreu o lançamento oficial da primeira cultivar de
algodão de fibra colorida.
Além das fibras comumente utilizadas, o algodão de fibra colorida
natural desponta como uma nova opção de matéria-prima para a manufatura
têxtil, podendo o setor utilizá-lo para fabricação de fios, malhas e,
posteriormente, de tecidos comuns.
A fibra do algodão colorido natural dispensa o uso de corantes
artificiais no acabamento do fio e da malha, constituindo-se em um produto
destinado a consumidores de consciência ecológica aproveitando, desta
24
maneira, nichos de mercado que valorizam os produtos naturais e sem
química.
O meio ambiente é uma nova oportunidade de negócio, tanto do
ponto de vista tecnológico quanto organizacional e na consolidação do
mercado consumidor verde; logo, existe uma preocupação nítida em contribuir
para a minimização da degradação ambiental ou pelo menos mantê-la num
nível compatível com os objetivos da sociedade (MAIMON, 1996;
PANAYOTOU 1994).
É necessário que a sociedade acorde para o grave problema de
degradação ambiental e busque soluções para reverter esta situação.
Atualmente, o que se tem observado é o interesse pelas causas ambientais,
porém pouco se tem feito.
A complexidade dos efluentes têxteis e sua redução no processo
produtivo constituem-se em imensa fonte de estudos para os que lidam com as
questões ambientais. Em várias partes do mundo estão sendo pesquisadas e
adaptadas diversas soluções para minimizar, ou até mesmo resolver, as
demandas industriais têxteis evitando, desta forma, que danos irreversíveis ao
meio ambiente continuem sendo cometidos.
Hoje, soluções do tipo: conservação e economia de energia,
recuperação de lixívias da mercerização
2
, reúso do efluente, automação no
processo de beneficiamento têxtil e a utilização do algodão colorido, são
soluções que parecem promissoras e que têm sido pesquisadas com o intuito
de garantir maior conservação ao meio ambiente. Todavia, faz-se necessário
2
Importante operação na fabricação de artigos de algodão onde são
consumidas grandes quantidades de soda cáustica
25
dizer que, embora essas sejam possíveis soluções, muitas vezes faltam
recursos para se poder implementá-las, restando aos interessados pelo
assunto buscar junto às empresas, meios para se desenvolver e/ou aprimorar
técnicas que venham a contribuir tanto para o meio ambiente quanto para a
empresa interessada em otimizar seus processos e seus produtos. Sendo
assim, pretende-se levantar o seguinte questionamento consoante nosso
objeto de estudo:
Quais os impactos ambientais e operacionais presentes na
industrialização do algodão colorido, nos segmentos de fiação e malharia da
indústria têxtil paraibana?
1
1
.
.
3
3
J
J
U
U
S
S
T
T
I
I
F
F
I
I
C
C
A
A
T
T
I
I
V
V
A
A
O algodão de fibra colorida natural existe na natureza vários
séculos e em vários continentes (Américas, Áustria e África); era utilizado pelos
Incas 4.500 a.C, para tecerem artesanalmente seus produtos têxteis
(FREIRE et al. 2000).
Conforme estudos realizados por Santana et al. (1997) existe, no
Brasil registro do uso do algodão de fibra colorida natural nos Estados de
Minas Gerais e Bahia, de forma artesanal e ornamental. No Nordeste foi
encontrado em 1984, em meio a plantas asselvajadas de algodão arbóreo,
conhecido como mocó, nas cores marrom claro e escuro.
O cultivo do algodão colorido não permite a proximidade com
outras variedades de algodão, ou seja, a área cultivada tem que ser de uma
variedade (branca) ou de outra (marrom), para que, assim, não haja o risco
26
de transferência de gens pelos insetos polinizadores participantes da
fecundação, o que dificilmente interessará aos grandes produtores, uma vez
não se conhecer, ao certo, o seu potencial de mercado; em contrapartida, no
entanto, para os pequenos produtores é uma grande vantagem.
O cultivo do algodão colorido traz, além de benefícios
ecológicos e vantagens econômicas, benefícios sociais: seu cultivo mantém
os agricultores no campo, oferecendo oportunidade de renovação da
produção algodoeira, criando um novo cidadão consciente da preservação
da natureza e dos lucros d provenientes. Entre outras vantagens, esta
variedade reduz o consumo de água das grandes indústrias e o impacto
ambiental gerado pelo tingimento artificial, operação que representa 30%
dos custos finais de fabricação dos tecidos.
Sabendo-se que a água é um elemento imprescindível aos seres
vivos, especialmente ao homem que dela necessita inclusive para a maioria de
seus processos industriais, é que, do final do século passado até os dias
atuais, o homem se ver preocupado mais com este assunto. Hoje, a água é
tida como o ouro azul do século XXI pois, além de ser fonte de vida, garante a
sustentabilidade das espécies, percebendo-se, então, a grande importância
deste recurso para a humanidade, ou seja, quanto mais se reduzir o consumo
de água, mais se estará contribuindo com o meio ambiente e com os seres que
nele habitam.
O algodão pode ser produzido na ausência de agroquímicos,
como fertilizantes, herbicidas, inseticidas, reguladores de crescimento e
desfolhantes, o que poderá garantir o certificado de organização
27
reconhecida. Por outro lado, a indústria reduzirá a poluição (SANTANA et al.
1997; ICAC RECORDER, 1994).
O algodão ainda é conhecido como algodão limpo, natural, verde
ou não agressivo ao ambiente. Para que seja reconhecido e certificado, o
algodão deve ser produzido sem utilização de químicas, pelo período de três
anos (ICAC RECORDER, 1994; BELTRÃO et al. 1995).
Segundo Balan (2002), a ecologia desempenha, hoje, papel
significativo nas negociações entre as nações e na formação de blocos
econômicos, podendo tornar-se, em muitos casos, fator decisivo em acordos
comerciais.
Os compromissos ambientais exige no momento atual: manter um
sistema de gestão ambiental em consonância com os princípios de
desenvolvimento sustentável; assegurar o enquadramento das atividades aos
requisitos vigentes da legislação de proteção ao meio ambiente; minimizar a
geração de resíduos e seu impacto; reduzir, nas atividades produtivas, o
consumo de recursos naturais e a utilização de substâncias agressivas;
prevenir a poluição nas atividades produtivas e melhorar a eficiência dos
sistemas de tratamento (BALAN, 2002).
Com as novas tendências mundiais, as empresas precisam
encontrar soluções que harmonizem ecologia com economia, pois o que não
for lucrativo não terá continuidade em seu desenvolvimento, ainda que
beneficie o meio ambiente. No Brasil há empresas, particularmente no Sul e
Sudeste, que exportam têxteis para a Europa e se ajustam ao padrão
ecologicamente correto; esses produtos não possuem, em sua estrutura,
elementos cancerígenos ou que provoquem alergia no corpo. Os consumidores
28
europeus solicitam a fabricação dentro das normas internacionais de xteis
ecológicos (STEFFENS, 1994).
Sabe-se que causas relativas ao meio ambiente merecem lugar
de destaque. É notória a preocupação que o mundo tem, hoje, com a gestão
ambiental, o que outrora não se via, talvez pelo próprio desconhecimento do
assunto ou até mesmo por falta de interesse. Entretanto, a situação se
mostra, hoje, bem diferente; as pessoas estão cada vez mais interessadas
em fazer sua parte, isto é, em contribuir, de alguma forma, para o bem-estar
do planeta. O desenvolvimento da fibra do algodão colorido é um exemplo
de contribuição ao meio ambiente, visto que, se trata de uma fibra de
coloração natural, dispensará o uso de corantes para tingimento de fios,
malhas ou tecidos pela indústria têxtil, fazendo com que a poluição
ambiental seja minimizada justificando, desta maneira, a necessidade de
realização deste estudo.
Todavia, ressalta-se que esta pesquisa es apenas em seu
momento inicial, ou seja, o algodão colorido é, sim uma possibilidade futura
de contribuição ao meio ambiente, porém em virtude da área cultivada
comercialmente ainda ser muito pequena, representando apenas cerca de
5% da lavoura no sertão nordestino, é que, a priori, serão levantados apenas
seus impactos ambientais e operacionais na indústria têxtil.
Segundo Carvalho (2004), calcula-se que tenham sido
plantados, na safra de 2003/2004, em torno de dois mil hectares de algodão
marrom cuja colheita na Paraíba chegou a 96 toneladas de pluma colorida,
dentro do universo de 4,9 mil toneladas da produção total no Estado,
29
conforme números da Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB,
publicado no Anuário Brasileiro do Algodão, mostrados no Quadro 01.
ÁREA (EM MIL HA)
PRODUTIVIDADE
(EM kg/HA)
PRODUÇÃO (EM MIL
T)
REGIÃO/
UF
02
/0
3
03/04
Var
%
02
/0
3
03
/0
4
Var
%
02/
03
03/04
Var
%
NORTE 2,
4
3,8 58,
3
83
3
1.
15
8
39 2 4,4 12
0
Tocantins 2,
4
3,8 59,
2
85
4
1.
15
0
34,
7
2 4,4 12
0
NORDES
TE
16
7
272,9
63,
4
81
0
1.
00
4
24 135
,2
274,1
12
0,7
Maranhão 3,
3
6,9 110 1.
29
4
1.
40
6
8,7 4,3 9,7 12
5,6
Piauí 9,
8
12,4 26,
2
15
2
27
2
78,
9
1,5 3,4 12
6,7
Ceará 14
16,8 20 28
5
28
5
0 4 4,8 20
R. G.
Norte
20
,5
24,6 20 19
5
19
5
0 4 4,8 20
Paraíba 12
,3
14,8 20 33
0
33
0
0 4,1 4,9 19,
5
Pernambu
co
6,
2
4,7 -25 16
5
16
5
0 1 0,8 -20
Alagoas 14
,6
10,6 -
27,
4
16
2
16
2
0 2,4 1,7 -
29,
2
Bahia 86
,3
182,1
111 1.
32
0
1.
34
0
1,5 113
,9
244 11
4,2
C. OESTE
44
1,
3
588,7
33,
4
1.
34
2
1.
38
2
3 592
,2
813,4
37,
4
M. Grosso
30
0,
3
399,4
33 1.
37
4
1.
41
5
3 412
,6
565,2
37
30
M. G. Sul 43
,6
54,5 25 1.
43
2
1.
41
5
-1,2
62,
4
77,1 23,
6
Goiás 95
,4
131,7
38 1.
19
7
1.
26
5
5,7 114
,2
166,6
45,
9
D. Federal
2 3,1 55 1.
52
1
1.
46
3
-3,8
3 4,5 50
SUDESTE
95
,1
120,7
26,
9
98
4
97
3
-1,1
93,
6
117,4
25,
4
Minas
Gerais
35
,2
48,2 36,
9
91
1
96
8
6,3 32,
1
46,7 45,
5
São Paulo
59
,9
72,5 21 1.
02
6
97
5
-5 61,
5
70,7 15
SUL 29
,3
43,7 49,
1
83
6
70
5
-
15,
7
24,
5
30,8 25,
7
Paraná 29
,3
43,7 49,
1
83
7
70
4
15,
9
24,
5
30,8 25,
7
NORTE/
NORDES
TE
16
9,
4
276,7
63,
3
81
0
1.
00
7
24,
3
137
,2
278,5
10
3
CENTRO/
SUL
56
5,
7
753,1
33,
1
1.
25
6
1.
27
7
1,7
710
,3
961,6
35,
4
BRASIL
73
5,
1
1.029
,8
40,
1
1.
15
3
1.
20
4
4,4
847
,5
1.240
,1
46,
3
Quadro 01: Produção Brasileira de Algodão em Pluma
Fonte: Anuário Brasileiro do Algodão, 2004:12
Conforme o Quadro 01, a Paraíba registrou de fato, o 4
o
maior
crescimento no processo produtivo de algodão da região Nordeste, passando
de 12,3 mil hectares de área plantada na safra anterior, para 14,8 mil hectares
na safra de 2003/2004, representando um incremento de 20%; todavia, chama-
se a atenção para o fato de que nesses números não estão inclusos os dois mil
hectares de algodão colorido plantados no Estado.
31
1
1
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4
4
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G
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l
l
Identificar os impactos ambientais e operacionais da industrialização
do algodão de fibra colorida, nos segmentos de fiação e malharia da
Indústria Têxtil Paraibana.
1
1
.
.
4
4
.
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2
2
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Descrever o processo produtivo têxtil do algodão comum e do
algodão colorido, em cada etapa do processo de fiação e
malharia.
Comparar o processo produtivo do algodão comum com o
algodão colorido, nos segmentos de fiação e malharia.
Identificar os impactos ambientais do algodão comum em todas
as etapas do processo produtivo dos segmentos de fiação e
malharia.
Verificar os benefícios ambientais ocorridos com a
industrialização do algodão colorido.
32
“A paixão de saber o que você quer fazer e
onde quer ir já é meio caminho andado
para o império que existe em sua mente.
Denis Waitley
C
C
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O
O
Impacto numa acepção mais genérica com derivação em sentido
figurado, é “impressão ou efeito muito fortes deixados por certa ação ou
acontecimento” (HOUAISS, 2005).
De acordo com definição da Norma ISO 14001:1996 apud Moreira
(2001), “impacto ambiental é caracterizado por qualquer modificação do meio
ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das
atividades, produtos ou serviços de uma organização”.
Em outras palavras, o impacto é uma alteração no meio ambiente,
seja no ar, na água, no solo, nos recursos naturais, fauna, flora e seres
humanos. O Quadro 02 apresenta uma idéia básica deste conceito:
33
Aspectos (causas) Impactos prováveis (efeitos)
Geração e disposição de resíduos
Contaminação do solo e alteração da
paisagem
Lançamento de efluentes líquidos Alteração da qualidade da água
Emissão de poluentes atmosféricos
Alteração da qualidade do ar e danos à
saúde da comunidade
Emissão de ruído
Danos à saúde do empregado e da
comunidade
Emissão de odor Incômodo à comunidade
Emissão de vibrações
Danos à saúde do empregado, incômodo
à comunidade, comprometimento de
estruturas naturais e/ou edificações,
monumentos, patrimônio histórico
Geração de calor Alteração da temperatura ambiente
Consumo de recursos naturais
Comprometimento da conservação dos
recursos
Consumo de água/ consumo de energia
Comprometimento da disponibilidade do
recurso
Quadro 02: Aplicações de conceitos de aspectos e impactos ambientais
Fonte: MOREIRA (2001:108)
Na definição do Valle (1995), impacto ambiental é qualquer
alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia e resultante das atividades
humanas que direta ou indiretamente afetam a segurança, saúde, bem-estar,
atividades socioeconômicas, biota, condições estéticas e sanitárias e qualidade
dos recursos ambientais.
Brito (1997) apud Baccelli nior (2004), define que os variados
tipos de impactos ambientais, podem ser assim definidos e descritos:
1. Natural: quando o impacto é conseqüência da dinâmica do meio. Artificial:
quando o impacto é resultante de uma atuação humana.
2. Simples: aqueles que atuam isoladamente, sem inter-relação com outros
elementos e cujos efeitos não variam com o tempo. Sinérgico: quando, ao
34
ocorrer, reforça ou desencadeia outros impactos. Cumulativo: aqueles
cujos efeitos crescem a medida em que o tempo passa.
3. Imediatos: quando o prazo de manifestação é simultâneo. Médio prazo:
quando os impactos aparecem depois de algum tempo e Longo prazo:
manifestado muito tempo depois do fato ocorrido.
4. Permanentes: aqueles que se manifestam por todo o tempo. Temporários:
aqueles em que a manifestação é por um período de tempo.
5. Reversíveis: aqueles em que, uma vez cessado, o entorno, de forma natural,
se recupera sem as intervenções artificiais. Irreversíveis: aqueles que nem
com os meios artificiais o entorno se recupera, e Recuperáveis: aqueles
passíveis do entorno voltar à situação inicial com a intervenção artificial.
6. Positivos: quando resultam em benefícios para o meio ambiente, e
Negativos: quando resultam em malefícios para o meio ambiente.
7. Os impactos ainda podem ser extensos, quando são grandes, e Localizados:
quando atingem pequena área.
8. Diretos: se a ação do impacto for diretamente sobre os fatores ambientais, e
Indiretos: quando resultam de alterações produzidas sobre outros fatores
ambientais.
9. Crítico: o impacto cuja magnitude é superior a um limite aceitável. Severo:
aquele cuja recuperação exige medidas e os resultados levam tempo.
Moderados: quando a recuperação não necessita de fortes medidas
corretivas, e Compatíveis: os impactos cuja recuperação é imediata.
10. Sociais: aqueles que incidem diretamente sobre os indivíduos da
comunidade. Econômicos: os que produzem sobre as relações econômicas
35
da comunidade, e Físicos: aqueles que atuam sobre o território, em sua
estrutura material e sobre os seres vivos (com exceção do homem).
Tendo em vista todas essas definições sobre impacto ambiental e
salientando que este trabalho não tem, como característica principal, a análise
do impacto ambiental e, sim, apenas a identificação deste e do impacto
operacional nos segmentos de fiação e malharia da indústria têxtil paraibana, é
que se faz necessário, agora, definir o impacto operacional como sendo
qualquer alteração na operacionalidade do processo, resultante de mudanças;
no caso específico, seriam as alterações ocorridas no processo produtivo em
virtude da mudança de matéria-prima, como: tempo de setup, tempo de
processamento e produtividade, dentre outros.
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2
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A Indústria têxtil é considerada uma das mais antigas do mundo,
pois sua história remota a períodos antes de Cristo. O Egito, com suas múmias
revestidas de tecido, e a Índia, com os famosos panos para vestimenta,
constituíram o berço da indústria têxtil.
A foi a primeira fibra têxtil que se fiou, admitindo-se o início da
sua utilização na pré-história. Os primeiros agasalhos confeccionados pelo
homem primitivo foram feitos à base de folhas vegetais e de pêlo de animais,
sobretudo a lã do carneiro, por se tratar de um animal doméstico por excelência
e pelo ótimo abrigo que sua fibra proporcionava.
Segundo Ribeiro (1984) apud Carneiro (2001) depois da lã se fiou
o linho e o cânhamo e depois se começou a fiar algodão, devido à
dificuldade, na época, de se separar a fibra da semente. O algodão era
36
cultivado próximo às povoações, fiado e tecido para o próprio consumo, de
forma artesanal. Com o tempo, o homem passou a utilizar instrumentos que lhe
proporcionaram maior rapidez na produção do fio, em que o primeiro deles foi o
fuso manual e a roca; esses instrumentos datam de quatro mil anos e com eles
se deu o início da evolução da fiação.
A partir do século XVII, com o advento da Revolução Industrial,
o mundo passa por grandes transformações nas mais diversas áreas. A
indústria têxtil continua sua evolução e uma série de descobertas e
aperfeiçoamentos promoveram seu amplo desenvolvimento.
Atualmente, a moderna indústria têxtil adota automatismo e
dispositivos eletroeletrônicos para fins de controle e de autocompensação,
facilitando sobremaneira a operação de suas máquinas mais sofisticadas e
reduzindo a intervenção do operador.
Conforme Ribeiro (1984) apud Carneiro (2001), assim como as
demais indústrias, o setor têxtil vem incorporando novas tecnologias,
embutidas num processo de renovação e expansão industrial, provocando
fortes modificações na força de trabalho quanto ao aspecto quantitativo,
exigindo a formação de pessoal provido de aptidões adequadas e em
diferentes níveis de perícia profissional e grau de instrução.
O setor têxtil é um dos segmentos de maior tradição dentro do
segmento industrial, contando com uma posição de destaque na economia dos
países mais desenvolvidos e carro-chefe do desenvolvimento de muitos dos
chamados países emergentes, que devem à sua indústria têxtil o papel de
destaque que exercem, hoje, no comércio mundial de manufaturas. No Brasil, a
sua importância não é menor, tendo desempenhado papel de grande
37
relevância no processo de desenvolvimento econômico e social do País
(TEXTÍLIA, 2004).
Até a década de 80 a indústria têxtil brasileira, detentora de um
mercado interno cativo e em expansão, fechado às importações, tanto de
produtos acabados quanto de insumos e equipamentos, não encontrou
estímulo para realizar os investimentos necessários ao acompanhamento do
processo de modernização que ocorria em outros países. A partir dos anos 90,
com a abertura do mercado local à concorrência internacional e, mais tarde,
com a estabilização da moeda brasileira (em 1994 com o Plano Real), viu ser
modificado por completo o cenário econômico que a havia levado a instalar-se
e a crescer no País. Exposta de forma abrupta e mal planejada a um novo
padrão de concorrência, teve de empreender um árduo esforço para se
reposicionar e voltar a ser competitiva, só que, desta vez, em termos globais.
Atualmente, verifica-se que o mercado têxtil mundial vem
registrando significativa expansão, tanto no que se refere aos montantes
produzidos quanto ao comércio entre os grandes países produtores e
consumidores; isto tem sido possibilitado pela expansão do número de
consumidores em todo o mundo, seja pelo aumento da renda em alguns países
mais desenvolvidos ou pela abertura dos mercados ao comércio internacional
(Id Ibid, 2004).
A partir de 2005, com o término do sistema de quotas para
exportação de xteis, é provável que o comércio mundial possa apresentar
uma expansão ainda maior. Outros fatores importantes neste crescimento
devem ser considerados, como o uso de novas matérias-primas e processos
de acabamento, possibilitando maior uso de fibras artificiais e sintéticas que,
38
dentre outras vantagens, têm sua produção livre de problemas relativos a
safras e climas; hoje, seu consumo supera o de fibras naturais, tendo
representado mais de 57% do total consumido em 2000, como pode ser
observado no Gráfico 01:
6,4
10,1
20,8
24,9 25,1
24,4
25,3
25,7
1,6
8,6
27,2
30,3 31,2
32,8
34,7
16,8
13,4
13,2
3,9
19,2
0
10
20
30
40
50
60
70
1950 1960 1970 1980 1990 1996 1997 1998 1999 2000
Fibras Químicas Fibras Naturais
Gráfico 01 – Consumo Mundial de Fibras Têxteis Naturais e Sintéticas (milhões de
ton.)
Fonte: Textília (2004)
Como país produtor de artigos têxteis, o Brasil exerce significativo
papel no cenário mundial, posicionando-se em lugar na produção de fios,
filamentos e tecidos planos; em 2º lugar no que se refere aos tecidos de malha,
e em 5º, em confeccionados; entretanto, em termos de comércio internacional,
a presença do Brasil ainda é muito pequena, situando-se o país apenas entre
os 35 maiores exportadores e 31 maiores importadores de têxteis e
confeccionados do mundo, o que lhe confere papel secundário neste mercado.
O Quadro 03 mostra o ranking dos países produtores de artigos
têxteis.
39
Paises Fios/Filam. Tecidos Malhas
Confecções (1)
1. EUA 4.949.550 3.467.730 892.398
3.954.787
2. China 4.481.400 5.924.160 n.i.
5.331.744
3. Taiwan 4.074.7243.186.354 (1) 211.603
1.376.321
4. Índia 4.098.390 4.446.715 168.956
3.922.768
5. Coréia do Sul (1) 2.200.000 2.209.483 n.i.
891.665
6. Brasil (2) 1.750.331 1.090.710 505.002
1.286.826
7. Paquistão (1) 1.626.664 1.092.518 n.i.
641.716
8. Japão 1.098.473 654.580 111.252
631.490
9. México (1) 1.008.380 1.008.437 n.i.
1.111.738
10. Turquia 1.005.000926.790 (1) n.i.
785.324
11. Alemanha 589.800 278.000 61.500
415.836
12. Rússia 345.430 339.400 11.500
315.810
Outros (1) 1.454.020 1.291.516 131.330
1.384.786
Total 28.682.762 25.916.3932.093.541
22.050.810
Fonte ITMF - Paises membros
Notas: (1) - estimativa
(2) - em tecidos de malha o Brasil é o 2º. maior produtor mundial
Quadro 03: Ranking dos países produtores de artigos têxteis
Fonte: Têxtília 2004
A Figura 01 mostra a estrutura da cadeia produtiva têxtil e
confecção, na qual é possível observar a interação entre os segmentos
fornecedores (equipamentos, produtos químicos, fibras e filamentos), e os
produtores de manufaturas (fios, tecidos, malhas), e bens acabados
(confeccionados e têxteis):
De acordo com a Figura, verifica-se que a indústria têxtil é
constituída dos segmentos de fiação, tecelagem e acabamento de fios e
tecidos. As fibras têxteis são convertidas em fios, através da fiação. Fibras de
tipos diferentes podem ser fiadas conjuntamente como, por exemplo, o
poliéster e o algodão, ou lã e náilon. Os fios dão origem aos tecidos, através da
tecelagem. Processos têxteis de acabamento são então aplicados para
conferir, ao tecido, propriedades particulares. Alguns desses processos, como
40
o tingimento, podem ser aplicados nas fibras cruas, nos fios ou nos artigos
acabados.
Importador
e
exportador
de insumos
Mercado
Externo
Importador
e
Exportador
Têxteis
Algodão,
lã e linho
Benefic.
Fibras
Naturais
Tecelagem
Atacadista
Têxtil
Varejista
Especializ
Fiação
Acabamento
Atacadista
Vestuário
Nylon
Fabricação
Fibras
Sintéticas
Malharia
Confecção
Varejista
não
especializ
Insumos
Transformação
Mercado Interno
Indústrias
de
equiptos.
especiais
Serviços
prestados
as
empresas
Infraestrutura e outros
serviços
Figura 01: Cadeia Produtiva da Indústria Têxtil-Confecção
Fonte : SEBRAE (2004)
O segmento de tecelagem se subdivide, por sua vez, em
tecelagem plana e malharia. Cada um desses segmentos pode oferecer ao
mercado um produto acabado e pode estar desconectado dos demais. A
descontinuidade do processo produtivo é uma característica marcante da
indústria têxtil. Embora os segmentos ou etapas do processo se interliguem
pelas características técnicas do produto a ser obtido (neste caso, o tecido a
ser obtido determina o tipo de fibra, as especificações do fio e as
41
características do acabamento), essas etapas não precisam, necessariamente,
ser todas internalizadas pelas empresas, pois é comum a especialização em
apenas um ou dois segmentos, o que torna as relações cliente-fornecedor
especialmente relevantes, em toda a cadeia produtiva.
2
2
.
.
3
3
O
O
A
A
L
L
G
G
O
O
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D
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V
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I
I
S
S
T
T
Ó
Ó
R
R
I
I
C
C
O
O
A instabilidade do mercado de gado acentuou-se a partir de
1950, gerando grandes dificuldades para as unidades de produção que
tinham, como base de sustentação, a criação de gado. A busca por uma
alternativa econômica para a situação, fez-se necessária, surgindo então, a
possibilidade de exploração da cultura do algodão, não imobilizando nem,
tampouco, exigindo capital, e o mais importante, apresentando produção em
poucos meses.
Segundo Abreu (1994:34), “a cultura do algodão desempenhou
papel importante para a sociedade local, permitiu que um número considerável
de agricultores tivesse acesso ao mercado”.
Ainda Abreu (1994), a expansão da cotonicultura ocorreu em duas
etapas distintas: na primeira, as técnicas agrícolas utilizadas eram de natureza
tradicional, onde se exigia um trabalho cooperativo envolvendo todos os
membros da família; na segunda, quando se consolidou a agricultura
comercial, ou seja, quando as técnicas utilizadas passaram a modernizar-se,
não sendo mais necessário, na época da colheita, o envolvimento de todos os
42
membros da família, uma vez a relação de trabalho ter passado a estabelecer-
se, predominantemente, com trabalhadores assalariados.
2.3.1 O Ecossistema e a Agricultura Tradicional
O processo de trabalho rural apresenta-se inteiramente
associado ao ecossistema; dele dependem a reprodução da força de
trabalho e a reprodução dos instrumentos de trabalho. “A autonomia do
agricultor em relação às condições ambientais do meio: relevo, fertilização
natural dos solos, distribuição das chuvas etc. atinge seu mais alto grau no
modelo tradicional, restringindo ou favorecendo o mesmo” (ABREU,
1994:43).
Percebe-se, daí, que no modelo tradicional, o sistema de
produção é verdadeiramente equilibrado no tocante à ecologia, uma vez
existirem muitas espécies animais e vegetais estabelecendo, entre elas,
relações de complementaridade e de simbioses naturais.
2.3.2 A Fibra do Algodão na Indústria Têxtil
“Do ponto de vista têxtil, fibra é tudo aquilo que, de uma forma
ou de outra, pode ser transformada em fio; é, então, um material possível de
ser fiado e tecido” (CARNEIRO, 2001).
O algodão é a fibra de semente vegetal mais utilizada no
mundo; seu cultivo está distribuído, atualmente, em mais de 70 países,
encontrando-se em todos os continentes, com concentração de área no
hemisfério norte, notadamente China, Estados Unidos da América do Norte,
Índia, Uzbequistão e outros.
43
O agronegócio do algodão é uma das grandes ocupações do
homem, ao lado do automóvel e do petróleo movimentando somente em
produtos manufaturados, mais de 190 bilhões de dólares por ano, enquanto
a fibra movimenta em torno de 30 bilhões de dólares/ano, dependendo do
preço por tipo no mercado internacional (OLIVEIRA & MEDEIROS, 1996).
A indústria têxtil exige uma fibra com boas características,
físicas e químicas, pois isto facilita os processos têxteis e permite a
obtenção de um produto final de melhor qualidade. Até o momento tem sido
levado em conta, para se identificar a qualidade da fibra, somente o aspecto
relativo à “qualidade intnseca”, inerente à cultivar, mas também
desempenha papel importante na comercialização e na linha de produção da
fiação, o aspecto identificado como “qualidade extrínseca”, resultante de
interferências externas, como condições de colheita, beneficiamento e
armazenamento.
Segundo Beltrão (1999), a indústria têxtil brasileira é,
atualmente, a sexta maior do planeta, consumindo em média 850.000T de
pluma de algodão/ano, constituindo-se principal insumo da indústria têxtil
nacional. A fibra de algodão é composta de 88% a 96% de celulose e
contém, ainda, pequenas porções de proteína, pectina, cera, cinzas, ácidos
orgânicos e pigmentos. As proteínas são importantes, especialmente nas
fases de tinturaria, pois são fixadoras das cores do fio e do tecido.
2.3.3 A Competitividade do Algodão no Cenário Mundial
O histórico da grande oscilação da produção de algodão no
Brasil na década de 90 e todas as suas nuances, é tema para muitas teses;
44
afinal, é um retrato cruel da ausência de uma política agrícola de longo prazo
no País, na qual o algodão é mais um figurante e o produtor uma vítima.
Conforme o Boletim de Pesquisa de Algodão (2001), na
década de 90 o Brasil colhia 717 mil toneladas de algodão em pluma e
importou 100 mil toneladas. Na safra 95/96, apenas cinco safras depois,
necessitou importar 472 mil toneladas de pluma para abastecer o seu
consumo interno enquanto sua safra fora reduzida para apenas 410 mil
toneladas.
Foi nesta época que a cultura algodoeira começou a ganhar
nova vida em terras brasileiras: uma verdadeira injeção de tecnologia foi
dada à lavoura, ao conquistar o produtor do Centro-Oeste.
Ainda segundo o Boletim (2001), com o crescimento
exponencial de produção e produtividade em Mato Grosso, Goiás e Mato
Grosso do Sul, que em uma de suas safras registraram contratos de
exportação acima de 100 mil toneladas em pluma, é tempo de olhar, com
mais acuidade, os principais agentes de produção e consumo no mundo,
uma vez que os supridores de fibras de outrora, poderão vir a ser
competidores.
O Gráfico 02 mostra a evolução de oferta e demanda da safra
de algodão em pluma no mundo. A produção se mostra bem irregular; afinal,
o clima é sempre uma incógnita quando se trata de agricultura. De qualquer
maneira, nos últimos 15 anos a safra de algodão no mundo vem crescendo a
uma taxa de 2% ao ano; além disso, por se tratar de uma fibra de custo de
produção elevado, sofrendo ampla competição das fibras sintéticas, quando
os preços internacionais cedem abruptamente, acabam desestimulando
45
naturalmente o plantio em países cuja tecnologia de produção ainda é tão
elevada.
15
16
17
18
19
20
21
22
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
milhões de toneladas
Consumo
Produção
Entre as variáveis que impulsionaram o consumo, estão:
1. Menor poder de competição do poliéster, que tem seu custo de
produção associado ao petróleo,
2. A situação de crescimento econômico exuberante dos EUA e
China.
Quanto ao Brasil, afirma Beltrão (1999) que a produção de
algodão está atualmente sendo desenvolvida sob dois cenários: o primeiro, é
a típica produção das pequenas propriedades, que cobriram cerca de 80%
de produção da safra de 1994; o segundo vem dos agricultores profissionais,
responsáveis no mesmo ano por 20% da produção, os quais investem
maciçamente em tecnologia de produção, logística e beneficiamento.
Gráfico 02: Evolução mundial da oferta e do consumo de algodão
Fonte: Boletim de Pesquisa de Algodão, 2001:215
46
Tem-se, no Brasil, um custo de produção relativamente baixo
comparado a outros países, o que torna a pluma brasileira competitiva
internacionalmente.
A partir de 1989, o produto importado passou a responder por
parcela crescente do algodão consumido no Brasil, com tarifa de importação
zero, passando o Brasil de exportador de algodão em pluma para importante
importador, importando mais da metade do seu consumo de matéria-prima;
nas safras de 1992/93 e 1993/94, a média das importações brasileiras de
algodão em pluma representou 6,8% das importações mundiais (URBAN et
al 1995).
Urban et al (1995), abordam detalhadamente os efeitos
socioeconômicos da crise instalada na cotonicultura nacional; a partir de
1990, a abertura do mercado acelerou o processo da queda nos preços
internos, uma vez que já eram decrescentes antes da adoção dessa medida.
Dentre os problemas estruturais e conjunturais que têm afetado
a comercialização do algodão, destacam-se preços artificiais no mercado
internacional, gerados pela concorrência desleal, ainda reduzido, de subsídio
governamental à produção e à comercialização nacional, políticas de
restrições às importações de pluma, via altas taxações ao produto importado
e juros altos praticados no mercado interno (Figura 02).
47
O desafio da cotonicultura é a retomada, a recuperação da
produção nacional, pois a continuação deste cenário de importações
maciças agrava a situação de desestímulo interno com reflexo no emprego e
na renda (BELTRÃO, 1999).
Produtores proprietários
Produção de algodão em
caroço
Produtores sem terra
Intermediário
s
Proprietários
Usina de beneficiamento
(algodão em pluma)
Exportadores
Corretores
estrangeiros
Corretores
nacionais
Formas
comerciais
Corretores
Mercado
Nordestino
Fábricas de
tecidos
Mercado Externo
(fábricas de tecidos e
firmas comerciais)
Mercado Nacional
(Centro Sul e outras
regiões fora do
Nordeste)
Figura 02: Fluxo de comercialização do algodão
Fonte: SEBRAE apud BELTRÃO
(1999:1021)
48
2.3.4 Industrialização da Fibra do Algodão
Da industrialização dos capulhos do algodão são obtidos 37 a
43% de fibra e 57 a 63% de caroço; a fibra é utilizada na indústria xtil,
através do processamento conhecido como fiação, e o caroço também é
processado industrialmente, originando 5,5% de línter, 15,2% de óleo bruto,
47,7% de torta, 25,7% de casca e 5,9% de resíduos (CORREIA,1965 apud
BELTRÃO, 1999)
A fibra do algodão é fornecida às indústrias têxteis em fardos
prensados. O processamento dos fardos é efetuado pelas indústrias
identificadas pelo processamento principal utilizado como fiações.
Existem vários tipos de tecnologia dentre as quais as principais
estão no Quadro 04.
Tipo de
tecnologia
Procedimento de
torção
Aspecto do fio
Toque
do fio
Limites teóricos do
título (NE)
Anel
Torção com fibras
não liberadas ou sem
“extrema aberto”
Homogeneidade
de torção sobre
seção e
longitude do fio
Pouco
rígido
1 a 120
Jato-de-ar
Torção com fibras
parcialmente liberada
ou com “extremo
parcialmente aberto”
Núcleo sem
torção ligado por
fibras
espiraladas
Muito
rígido
20 a 100
Rotor open
end
Torção com fibras
totalmente liberadas
ou com “extremo ou
cabo aberto”
Homogeneidade
de torção com
fibras
espiraladas,
formadas
sistematicament
e
Rígido 4 a 40
Fricção
Homogeneidade
de torção sobre
seção e
longitude do fio
Rígido 10 a 65
Quadro 04: Classificação das tecnologias de fiar
Fonte: SENAI apud BELTRÃO (1999: 901)
49
Conforme Beltrão (1999), as tecnologias de fiação estão
classificadas nos quatro tipos a seguir: tecnologia anel, jato de ar, rotor open
end e fricção.
1. Anel: O sistema denominado anel apresenta uma seqüência de passagens
das fibras de algodão, através do trem de estiragem das máquinas* o qual
pode ser descrito como uma série de cilindros de ferro e de borracha
superpostos, cujas fibras são pinçadas e estiradas através da aplicação de
diferentes velocidades entre um par de cilindros e o par imediatamente à
frente. Em alguns desses locais de estiragem, a passagem das fibras é
auxiliada por manchões e o espaçamento adotado entre os pares de
cilindros deverá ser absolutamente compatível com o comprimento das
fibras. Após deixarem o trem de estiragem, na maçaroqueira e no filatório, as
fibras são submetidas, também, a torção o que, neste tipo de tecnologia, é
fundamental para que haja uma perfeita agregação entre as fibras para a
formação do fio.
2. Rotor open end: Aqui, o fio é obtido diretamente da fita de fibras após a sua
passagem pelo rotor; e a estiragem é obtida através da desagregação e da
recomposição do arranjo inicial das fibras. Esta tecnologia tem, como
características, a possibilidade da utilização de fibras curtas, tanto oriundas
dos fardos quanto provenientes de reaproveitamento, ou aumento de
produtividade e o aproveitamento menor da resistência da fibra, ainda que o
fio apresente boa elasticidade final devido à conformação interna.
A fiação open - end que é também conhecida como “fiação
aberta” ou “fiação interrompida”, teve seu princípio desenvolvido, primeira
vez, em 1807; seus estudos foram retomados após a 1ª. Guerra Mundial
50
(década de 1920 – 1930) e a primeira patente a ser registrada data de 1950
(USA, Krupp).
Tempos atrás, o termo “open – end” confundia-se com “fiação a
rotor”, porém no final dos anos 70 surgiram duas novas tecnologias de fiar,
que são: a fiação a fricção (ou atrito) e a fiação a jato de ar, ambas se
enquadrando dentro das características principais da fiação open – end.
Sendo assim, pode-se dizer que os filatórios open end se
apresentam sob três formas:
Filatório Open End a Rotor;
Filatório Open-end a Fricção (ou atrito);
Filatório Open end a Jato de ar.
Como todo e qualquer filatório, os filatórios open-end a rotor
têm por finalidade estirar e torcer, definitivamente, a massa de fibras,
transformando-a em fio.
Suas vantagens em relação à fiação convencional, são:
Eliminação das máquinas maçaroqueiras, responsáveis pela
torção e formação do pavio,
Eliminação da última passagem dos passadores (em alguns
casos),
Eliminação das enroladeiras (conicaleiras, bobinadeiras, etc.),
Embalagens de alimentação e de saída com maior
capacidade,
Redução de mão-de-obra,
Maior produção e produtividade,
51
Menor espaço ocupado,
Maior quantidade de fios sem emendas,
Menor custo operacional e de instalação,
Menor manutenção etc.
3. Jato de ar: É utilizado uma combinação de trem de estiragem e sistema de
desagregação recomposição da massa de fibras com a utilização de uma
jato de ar. As manchas formadas por algodão – fibras sintéticas, se adaptam
muito bem a esta tecnologia.
4. Fricção: Apresenta a combinação de um fio que vai ser envolvido por fibras
oriundas de uma fita que passa através do trem de estiragem. Um aspecto
interessante é que parece não haver limite de velocidade para este tipo de
fiação; por outro lado, há bem pouco aproveitamento da resistência das
fibras, já que, devido à geometria do fio, existe pouquíssima amarração entre
elas.
Segundo Garcia (1996), a diferença básica e fundamental entre
o filatório open end a rotor do filatório open end a fricção, é que este não
trabalha com rotor, substituindo-o por dois cilindros perfurados, responsáveis
pela formação do fio e pela aplicação da torção ao mesmo; o filatório a
jato de ar, possui, no lugar do rotor, um tubo de aspiração especial, onde o
ar, juntamente com as fibras, é obrigado a descrever um percurso helicoidal,
que é responsável pela formação do fio e pela aplicação da torção ao
mesmo.
A Figura 03 mostra um esquema ilustrativo do processo têxtil
de fiação a rotor open-end e fiação a anel.
52
LEGENDA:
Tecnologia Open-end
Tecnologia a Anel
Tecnologia de Penteagem para Fiação Open-End e Anel
Figura 03: Esquema do Processo Têxtil de Fiação Open-end e Anel
Fonte: Garcia (1996: 21)
O processo têxtil de fiação ilustrado na Figura 03, representa
os dois tipos de tecnologia mais utilizados para se fiar algodão: a tecnologia
a anel, que trabalha com mais máquinas e produz um fio de melhor
qualidade com um toque mais agradável; conseqüentemente, seu custo se
torna mais alto e a tecnologia de rotor open-end, que tem uma produtividade
superior e custos menores. Quanto à tecnologia de penteagem, esta é
utilizada quando solicitada pelo cliente, ou seja, esta tecnologia penteia os
fios, tornando o produto final como, por exemplo, os lençóis de cama, mais
SALA DE ABERTURA
MAÇAROQUEIRA
PASSADOR DE 2ª
PASSAGEM
PASSADOR DE 1ª
PASSAGEM
CONICALEIRA
FILATÓRIO À ANEL
CARDA
REUNIDEIRA
LAMINADEIRA
PENTEADEIRA
OPEN END
PRÉ
-
PASSAGEM
UNILAP
53
macios e sedosos; todavia, cabe frisar que esta tecnologia encarece muito o
produto.
2.3.5 Características Intrínsecas da Fibra do Algodão
As transformações ocorridas no setor da indústria xtil
mundial, visando reduzir os custos de unidade de peso do fio produzido,
resultam no aparecimento de novos princípios de fiação cada vez mais
rápidos e automatizados (CAVALERI & FERREIRA, 1987).
Para se ter uma idéia desses avanços tecnológicos, consegue-
se, na fiação convencional a anel, velocidade xima de 19 a 25m de
fio/minuto, enquanto nos processos industriais inovadores, como nos rotores
e/ou open end”, 130m de fio/minuto, jato de ar e/ou air-jet 180m de
fio/minuto e, na fiação por fricção, 300m de fio/minuto.
No sistema tradicional de fiação a anel são exigidas as
seguintes características, em ordem de importância, para a fibra do algodão:
comprimento, uniformidade de comprimento, resistência e finura. Para o
sistema de fiação a rotor, open end, a ordem de importância dos requisitos é
completamente diferente: resistência, finura, comprimento e pureza (limpeza
da fibra). Na fiação por fricção, a ordem é fricção, resistência, finura,
comprimento e pureza e, no caso da fiação a jato de ar, as exigências o
as seguintes: finura, pureza, resistência, comprimento e fricção
(GUTKNEETCH, 1987).
54
Supõe-se que a arte de avaliar ou classificar o algodão de acordo com suas
características intrínsecas (físicas), remonta aos anos de 1775 a 1785 na
Inglaterra (BELTRÃO, 1999).
Outrora, o valor do algodão era mencionado apenas em função do
comprimento e do tipo. Nas últimas cadas, porém, as tecnologias
passaram a compreender a importância de outras características de
interesse na determinação do valor final da fibra de algodão e, desta forma,
passou-se a estudar métodos que permitem avaliar, com precisão e rapidez,
as principais características físicas da fibra de algodão (KONDO & SABINO,
s. d)
De início, a classificação da fibra era feita manualmente, por classificadores
treinados e experientes que classificavam o algodão pelo tipo, levando em
consideração, entre outros, os seguintes aspectos: limpeza, aparência e cor,
além do comprimento da fibra, também manual, o que requeria muita
habilidade por parte do classificador.
Posteriormente, foram desenvolvidos e aperfeiçoados diversos aparelhos
para analisar as características físicas da fibra havendo, hoje, a
necessidade de se modernizar e tornar mais rápidos esses equipamentos
de análises físicas da fibra, a fim de atender à demanda mundial para se
classificar, em curto período, uma demanda de mais de 86 milhões de
fardos/ano (BELTRÃO, 1999).
Em um mercado cada vez mais exigente, as indústrias de fiação são
equipadas com os mais modernos equipamentos de laboratório,
obedecendo a normas internacionais, a fim de manter a produtividade e a
55
qualidade de seus produtos; um exemplo disto são os aparelhos Afis e o
HVI.
O sistema HVI é a combinação de aparelhos de medição usados para
acessar quantitativamente as características físicas das fibras de algodão,
que podem fornecer informações de forma mais rápida, em maior
quantidade e com tanta precisão quanto as classificações e ensaios
laboratoriais (LUNA, 1994; NABAS, 1997; BOLSA DE MERCADORIAS &
FUTUROS, s.d.).
O HVI High Volume Instruments, é o principal aparelho de determinação
das características tecnológicas das fibras. Após a devida climatização da
amostra, o aparelho determina as várias características tecnológicas da
fibra em curto espaço de tempo e de forma precisa. Demonstram-se, a
seguir, algumas características de sua análise:
1. Resistência: é obtida pela medição da força requerida para romper uma
amostra de fibra; é o alongamento e o comprimento médio da distância, à
qual as fibras se distendem antes da ruptura (ZELLWENGER USTER, apud
BELTRÃO 1999). Segundo Ribeiro apud Carneiro (2001), a resistência das
fibras é a capacidade que elas têm de suportar uma carga, até seu
rompimento. A resistência da fibra tem relação direta com a resistência do
fio e seu tingimento como, também, no desempenho e produtividade dos
processos de fiação e malharia. O Quadro 05 apresenta as medidas de
resistência da fibra.
56
RESISTÊNCIA
(g/TEX)
GRAU DE
RESISTÊNCIA
Abaixo de 20,0 Muito Fraca
21,0 a 23,0 Fraca
24,0 a 26,0 Média
27,0 a 29,0 Resistente
Acima de 30,0 Muito Resistente
Quadro 05: Medidas de Resistência da Fibra
Fonte: Boletim de Pesquisa de Algodão (2001:197)
2. Comprimento da fibra: é definido como a dimensão da fibra em seu estado
natural, interfere diretamente no título (Ne) relação entre o comprimento e
a massa de uma fibra, filamento, pavio ou fio têxtil. Aparência/aspecto, na
fiabilidade e regularidade do fio. Esta característica é muito importante
porque fornece dados para ajustagem das máquinas.
Pode ser apresentado da seguinte forma:
Comprimento a 2,5% SL (Span Lenght) é o comprimento médio
que atinge 2,5 das fibras distribuídas ao acaso, em um pente ou pinça
especial,
Comprimento a 50% SL é o comprimento médio que atinge 50%
das fibras distribuídas ao acaso, em um pente ou pinça especial,
UHM – Upper Half Mean ou em português, Média da Metade
Superior do comprimento das fibras distribuídas as acaso.
57
O resultado das medições é expresso em mm ou polegadas.
Apresenta-se no Quadro 06, a interpretação das categorias de comprimento
de fibra.
COMPRIMENTO
CATEGORIA
UHM (polegadas)
UHM (mm) SL 2,5% (m)
COMERCIAL
(mm)
Muito
Curta
Abaixo de
0,94
Abaixo de
25,1
Abaixo de
23,6
Abaixo
de 28
Curta 0,97 a 1,03
25,2 a 26,9
24,6 a 26,2
28 a 30
Média 1,06 a 1,09
27,0 a 28,8
27,0 a 27,8
30 a 32
Longa 1,13 a 1,19
28,9 a 30,5
28,6 a 30,2
32 a 34
Média a
Longa
1,22 a 1,25
30,6 a 32,0
30,9 a 31,7
34 a 36
Muito
Longa
Acima de
1,28
Acima de
32,1
Acima de
32,5
Acima
de 36
Quadro 06: Categorias de comprimento de fibra
Fonte: Boletim de Pesquisa de Algodão (2001:198)
3. Uniformidade: o comprimento da fibra pode variar em função de diferentes
fatores: variedade, condições climáticas, fertilidade, colheita, beneficiamento,
entre outros. O índice de uniformidade mede a variação desde o
comprimento. Baixo índice de uniformidade compromete a resistência da
fibra favorecendo a sua ruptura aumentando, assim, o desperdício no
processo de fiação.
A uniformidade de comprimento pode ser medida de duas formas, como
mostra o Quadro 07.
58
Uniformidade Index (UI); é a relação entre o comprimento médio e
o comprimento em UHM x 100.
Uniformidade Ratio (UR): é a relação entre os comprimentos de
SL 50% e SL 2,5% x 100.
UNIFORMIDADE (%)
CATEGORIA
UI UR
Muito
Irregular
Abaixo de 77 Abaixo de 41
Irregular
Média
77 a 79 41 a 42
Média 80 a 82 43 a 45
Uniforme 83 a 85 45 a 46
Quadro 07: Interpretação da uniformidade de comprimento de fibra
Fonte: Boletim de Pesquisa de Algodão (2001:199)
2
2
.
.
4
4
A
A
F
F
I
I
B
B
R
R
A
A
D
D
O
O
A
A
L
L
G
G
O
O
D
D
Ã
Ã
O
O
C
C
O
O
L
L
O
O
R
R
I
I
D
D
O
O
De acordo com o Anuário Brasileiro do Algodão (2002), a
cadeia produtiva do algodão da região de Campina Grande, na Paraíba, está
encontrando um horizonte promissor, de modo a deixar para trás a crise em
que vive a cotonicultura nordestina e que se reflete em toda a economia
regional. Através da tecnologia da Embrapa Algodão e seu potencial de
organização, o setor está dando um passo decisivo para assumir
integralmente um nicho de mercado, que inventou a exportação de
confecções à base de algodão marrom (tonalidades bege, creme e marrom)
plantadas no Nordeste.
59
O uso do algodão colorido não é tão recente assim. Os incas e
outros povos das Américas já o utilizavam em artesanato. No Brasil, a Embrapa
conseguiu melhorar o algodão arbóreo nordestino, conhecido como mocó,
combinando seus genes com outras variedades. Surgiu então a BRS 200
Marrom, variedade com vida produtiva de quatro anos e fibras de boa
qualidade.
Sua produtividade é 30% menor que a das tradicionais cultivares
do branco, mas a organização da cadeia produtiva e a demanda asseguram
melhores preços e garantem também rentabilidade aos produtores. Tornou-se,
portanto, alternativa viável para a cotonicultura do semi-árido. Segundo Beltrão
(2002), trata-se de uma variedade que atende às necessidades do produtor, do
beneficiador, das indústrias têxteis e de confecções, além de satisfazer o
consumidor.
A fibra colorida apresenta características físicas ideais para as
fiações modernas do tipo open-end, obtendo-se malha de toque agradável.
Entre as variedades coloridas existe no mundo atualmente, (concentradas em
países como Peru, EUA e Israel), a BRS 200 Marrom é a que tem
características únicas e vantajosas, como o ciclo de quatro anos e melhor
qualidade da fibra (ANUÁRIO BRASILEIRO DO ALGODÃO, 2002). Testes com
fiação a rotor open-end demonstraram que a fibra resiste até 120 mil rpm.
Conforme Beltrão (2002), ainda falta ordenar a cadeia produtiva e
verticalizar a cultura para alcançar garantia de produção e diferencial de preço;
além disso, é preciso transferir tecnologia, qualificando o cotonicultor
nordestino.
60
A BRS 200 Marrom, ou algodão colorido, é um bulk constituído
pela mistura, em partes iguais, de sementes das linhagens CNPA 94-362 e
CNPA 95-653, que possuem fibras de coloração marrom claro. Essas
linhagens foram selecionadas a partir de matrizes do algodoeiro arbóreo,
coletadas nos municípios de Acari; RN, e Milagres; CE (FREIRE, 1999). Enfim,
a cultivar BRS 200 Marrom é resultado de um trabalho de pesquisa de uma
década e meia, cujo desempenho foi testado em nível de campo e de
laboratório, estudando-se as características agronômicas e tecnológicas da
fibra e do fio atendendo, assim, ao produtor e ao beneficiador de algodão.
2.4.1 Benefícios
Conforme Santana et al (1999), os benefícios sociais e econômicos
para a região do semi-árido nordestino serão de grande relevância, visto que
existe um mercado consumidor em potencial bastante promissor e a cotação
para a pluma colorida é de 30% superior à da coloração normal.
A pesquisa encontra-se na fase de aumentar as quantidades de
sementes em áreas irrigadas nos municípios de Touros e Ipanguaçu no Rio
Grande do Norte, e Patos, na Paraíba. De 1998 a 2000, dentre nove linhagens
coloridas foram escolhidas duas de coloração creme para o plantio no campo
experimental de Patos, e Barbalha, no Ceará, visando a sua apresentação aos
produtores de algodão do Nordeste.
2.4.2 O Ecobusiness
“O ecobusiness é um mercado relacionado às novas
oportunidades de negócios, cuja demanda depende da difusão da
consciência ecológica” (MAIMON, 1996). Este mercado é constituído por
61
pequenas e grandes empresas voltadas para um mercado local e/ou
internacional.
O mercado para o algodão colorido, classificado como
ecoproduto, em virtude de ser vendido a partir do conteúdo e da imagem
ecológica, ainda é restrito, sendo um produto consumido por pessoas
alérgicas a corantes químicos, grupos ambientalistas e organizações não
governamentais que desenvolveram trabalhos com agricultura orgânica
(SANTANA et al. 1997; FREIRE et al. 2000).
O consórcio Natural Fashion, cuja razão social é Associação de
Promoção à Exportação de Produtos Têxteis e Afins, da Região de Campina
Grande, é formado por dez empresas de confecção, tecelagem e artefatos
de micro e pequeno porte que têm, como objetivo, conforme explica Carneiro
(2001), divulgar, promover e comercializar os produtos confeccionados com
o algodão colorido e revitalizar, daí, a cultura algodoeira do Estado da
Paraíba, através desta nova tecnologia desenvolvida pela Embrapa Algodão
de Campina Grande, que traz o algodão de fibra colorida desde o campo até
a manufatura industrial, dispensando qualquer espécie de tingimento.
Uma das principais preocupações do consórcio é não
comercializar a matéria-prima e sim, beneficiá-la no local e transformá-la em
produto final gerando, desta forma, riqueza na região. Além da preocupação
com a qualidade da matéria-prima, o consórcio ainda busca agregar outros
materiais e valores culturais típicos da região, uma vez que os toques
étnicos são muito valorizados no exterior.
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O tingimento consiste em fixar o corante sobre a fibra. Portanto, a
tintura depende da qualidade da fibra e da composição química do corante
(SEBRAE, 2004).
Para os materiais de fibras mistas, além de se levar em conta o
modo como cada fibra se comporta sob a ação dos diversos corantes, também
se consideram as proporções relativas dos componentes da mescla; assim
sendo, os corantes, dependendo do seu grau de afinidade, poderão ser
colocados com algum acréscimo porque, além de proporcionais aos pesos dos
componentes da mistura, deve-se levar em conta que se trabalhará em banhos
mais longos que os previstos em relação a cada fibra isoladamente, visto ser o
banho único calculado proporcionalmente ao peso total do material. Obter-se-á,
então, ao final da tintura, uma só cor (tingimento tom-sobre-tom), ou duas
cores, podendo permanecer uma das fibras em branco, dizendo-se então que a
mesma foi reservada.
Para um tingimento é necessário observar quatro itens:
- Afinidade: a matéria corante passa a fazer parte integrante da fibra,
- Uniformização: grau de uniformidade na cor aplicada, dependendo do
poder de uniformização do corante, da sua velocidade e temperatura
de montagem e de dificuldades inerentes ao material,
- Solidez: grau de resistência aos diversos agentes de alteração e
desgaste,
- Economia: capacidade de tingir peso relativamente elevado de material.
63
A arte dos tinteiros, dominante até metade do culo XX, não
pôde suportar as pressões ecológicas e econômicas, que foram aumentando
ao longo da segunda metade do referido século, que a sobrevivência das
indústrias está ligada a dois conceitos chaves:
- Correção de primeira
- Resposta rápida
Conceitos inter-relacionados, uma vez que o segundo é, em parte,
conseqüência do primeiro (VALLDEPERAS, 1998).
Não é de surpreender, desta forma, que,
simultaneamente a estas premissas, se consiga a redução de
resíduo em um setor industrial considerado, tradicionalmente, de
elevada contaminação, principalmente pela imagem impactante que
produz a cor dos banhos residuais nos leitos e rios públicos.
“Entende-se por tingimento o fenômeno que se produz, quando
um corante solúvel ou dispersível em uma fase líquida, é
absorvido por um substrato, no caso em questão, fibras têxteis,
de forma que as moléculas de corante penetram no interior do
substrato e ficam unidas a este, em virtude de forças de tipo
químico ou físico-químico, de tal maneira que o substrato
tingido apresenta certa resistência à reabsorção do corante
quando se encontra de novo na fase líquida” (VALLDEPERAS,
1998:87).
Seguindo, pois, o percurso de cada molécula de corante, se
poderá avaliar-se-á o ponto ideal no tingimento têxtil, propondo, desta maneira,
possíveis vias de evolução, sempre com o objetivo final de se obter:
- mais rápido
- mais barato
- qualidade constante
- menor contaminação.
64
Pode-se dizer que a evolução da sistemática de preparação
dos banhos de tintura é pelo menos espetacular, pois sendo o cozimento de
cores, um elemento auxiliar, este, se converteu na peça chave para a
obtenção da cor desejada, com probabilidade superior a 90%, donde se
conclui que, realmente, o tingimento é uma atividade que merece destaque
para a questão de “política verde”, até porque não é nenhuma novidade que
um dos principais motivos e causas das inovações produzidas nos últimos
anos, no campo de tingimento têxtil, foi a pressão social relativa ao meio
ambiente, que se converteu em leis mais restritivas, cujas conseqüências
incidiram não apenas na produção mas, também, no uso de fibras, corantes
e produtos auxiliares e no desenho de máquinas.
As cores são utilizadas há mais de 20 mil anos, pelo homem. O
primeiro corante a ser conhecido pela humanidade foi o negro-de-fumo, por
volta de 3.000
a.C. Com o tempo, muitos corantes naturais foram sendo
descobertos.
O primeiro corante orgânico sintetizado com técnica mais
apurada foi o Mauve, obtido em 1856 (SHREVE & BRINK JR, 1977 )
Após esta descoberta, foi notória a corrida dos químicos para
sintetizar outros corantes, fato cuja repercussão foi tamanha, a ponto de, até
hoje, se utilizar o termo anilina, para designar qualquer substância corante,
apesar de, em si, não ser um corante, mas, sim, o ponto de partida para a
elaboração de corantes (ABIQUIM, 2004).
No intuito de suprir as necessidades das indústrias que
fabricavam tecidos, couro e papel, no fim do século XIX, fabricantes de
65
corantes sintéticos estabeleceram-se na Alemanha, Inglaterra, França e
Suíça.
Só nos anos de 1994 e 1995 grandes corporações implantaram
unidades fabris próprias com fabricantes locais em diversos países asiáticos,
como China, Índia e Indonésia.
Os corantes têxteis são compostos orgânicos cuja finalidade é
conferir, a determinada fibra (substrato) certa cor, sob condições de
processo preestabelecido. Os corantes têxteis são substâncias que
impregnam as fibras de substrato têxtil, reagindo ou não com ao material,
durante o processo de tingimento (ABIQUIM, 2004; SEBRAE, 2004).
Para cada tipo de fibra existe uma categoria de corante; assim,
para fibras celulósicas, como o algodão e o rayon, são aplicados os corantes
reativos, diretos, azóicos, a tina e sulfurosos; para fibras sintéticas, deve-se
distinguir entre as fibras e os corantes aplicados, como no caso do poliéster
(corantes dispersos), acrílicos (corantes básicos) e nylon (poliamida)
corantes ácidos.
No tingimento os processos podem ser divididos em categorias
(contínuo, semicontínuo e por esgotamento), o que define a escolha do
corante adequado.
Conforme dados da Abiquim (2004), no Brasil a utilização de
corantes se concentram principalmente nos corantes reativos para fibras
celulósicas, correspondendo a 57% do mercado, seguido dos corantes
dispersos, com 35%, poliamida com 3% e acrílico com 2%.
66
A poluição, devida principalmente às perdas de corantes e
produtos auxiliares (sais, ácidos) no processo de tingimento, representa 30 a
40% do conjunto da poluição orgânica de uma indústria de beneficiamento
(Martins, 1997). O quadro 08 apresenta alguns valores das perdas
observadas nos banhos não completamente esgotados e dos corantes o
fixados às fibras, saídos na lavagem após o tingimento.
CORANTES
PERDAS (Parte não
fixada)
Enxofre (algodão)
20%
Diretos (algodão)
15 a 20%
Azoícos – naftóis
(algodão)
< 5%
Reativos (algodão)
20 a 25%
Dispersos (plastosolúveis)
poliéster
< 5%
Pigmentados (todas as
fibras)
1%
Metálicos (lãs e
poliamidas)
< 5%
Básicos (acrílico)
2 a 3%
Ácidos (lãs e poliamidas)
< 5%
Quadro 08: Perdas mínimas de corantes no tingimento
Fonte: Gros (1979) apud Martins (1997)
Outro composto orgânico capaz de conferir cor a diferentes
materiais e substratos, são os pigmentos, visto que a versatilidade de suas
aplicações se devem às nuances de cores, como também de todos os níveis
de resistência solicitados pelos materiais onde serão aplicados.
67
Materiais de escritório, cosméticos, fertilizantes e sementes,
sabões e detergentes e, no setor de têxteis e de couros, são alguns campos de
aplicação deste composto.
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“Efluentes líquidos o poluentes que se apresentam na forma
líquida, por estarem dissolvidos, em suspensão ou emulsionados (em forma de
pequenas partículas) na água” ( MOREIRA, 2001).
Os efluentes líquidos, assim como os detritos, quando lançados
nos corpos d’água poluem e contaminam o meio ambiente. Os corpos d’água
têm a capacidade de autodepuração; entretanto, mudanças significativas
extrapolam esta capacidade, provocando ruptura do equilíbrio do inter-
relacionamento dos organismos vivos com o seu meio ambiente não vivo
caracterizando, desta maneira, a poluição do corpo receptor aquático.
Os principais fatores de desequilíbrio para os ecossistemas
aquáticos estão relacionados no quadro 09.
68
Fator de desequilíbrio Impactos potenciais nos corpos d’água
Efluentes que contêm óleos e graxas
Inibição da fotossíntese, redução da
quantidade de oxigênio gerada, intoxicação
dos organismos vivos.
Efluentes que contêm sólidos em
suspensão
Inibição da fotossíntese, redução da
quantidade de oxigênio gerada, obstrução
das vias respiratórias dos peixes.
Efluentes que contêm substâncias que
causam cor
Inibição da fotossíntese, redução da
quantidade de oxigênio gerada e
conseqüentes danos aos organismos vivos.
Efluentes que contêm material
sedimentável (finos de minério, areia
etc).
Morte de organismos aquáticos, por
soterramento.
Efluentes que contêm substâncias
biodegradáveis (esgotos domésticos e
diversos efluentes industriais,
constituídos de matéria orgânica
biodegradável)
Em concentrações superiores aos limites
aceitáveis, gera aumento excessivo de
bactérias, exaurindo as reservas de oxigênio
da água e causando a morte dos organismos
aquáticos.
Efluentes com temperatura elevada
Redução da concentração de oxigênio
dissolvido na água, enquanto aumenta a
necessidade de oxigênio por parte dos
peixes, devido à aceleração de seu
metabolismo. Isto pode causar a morte de
muitas espécies.
Efluentes que contêm detergentes
sintéticos, desengraxantes, sabões
naturais
Redução da tensão superficial da água,
permitindo que ela se misture a óleos e
graxas. Inibição da fotossíntese devido à
formação de espuma, causando a depleção
do oxigênio e conseqüentes danos aos
organismos vivos.
Efluentes industriais de alta salinidade
Mortandade de peixes e outros organismos
aquáticos de água “doce”, por murchamento.
Efluentes ácidos ou alcalinos (pH
abaixo de 5 ou acima de 9)
Mortandade de peixes e outros organismos
aquáticos.
Efluentes industriais que contêm
cianeto e/ou metais pesados
Mecanismos intensos e rápidos de
intoxicação aguda e crônica dos organismos
vivos por contaminação da cadeia alimentar,
atingindo o homem. A ação tóxica se
propaga ao longo do curso d’água e
permanece atuando por longo tempo.
Quadro 09: Fatores de desequilíbrio para os ecossistemas
Fonte: MOREIRA (2001:103)
A contaminação das águas pode ser de caráter físico, químico,
bioquímico ou biológico, caracterizando-se das seguintes formas:
- Pela poluição orgânica
69
- Pela presença de nutrientes, como nitratos e fosfatos (alguns
detergentes e sabões em pó)
- Pela presença de produtos tóxicos lançados principalmente pelas
indústrias
- Pela poluição térmica causada pelo lançamento de águas de
resfriamento em temperaturas superiores à do corpo d’água receptor
(VALLE, 1995).
Portanto, é necessário fazer-se o tratamento das águas usadas,
removendo seus contaminantes dentro dos limites impostos pela legislação,
antes de lançá-las de volta ao meio ambiente.
O problema da poluição ambiental tem caráter mundial.
Originou-se na revolução industrial, intensificou-se com a explosão
populacional humana e perpassa pelo modelo socioeconômico-cultural do
nosso século. Em muitas regiões brasileiras que abrigam pólos industriais e
densa população, o ecossistema aquático vem sofrendo uma degradação
efetiva, causada pelos esgotos domésticos e industriais. Para conduzir a
poluição a níveis aceitáveis e manter a qualidade de vida, é imprescindível a
implantação de medidas preventivas e corretivas.
Segundo Balan (2002:16), “com o aumento da população
urbana e o desenvolvimento industrial, novos compostos foram sintetizados
e continuamente introduzidos no meio ambiente”.
Os processos têxteis o grandes consumidores de água e de
corantes sintéticos, geradores de efluentes volumosos e complexos, com
elevada carga orgânica, aliada ao também elevado teor de sais inorgânicos
(DUESER, 1992).
70
Nos anos 70, as fábricas de beneficiamento têxtil usavam cerca
de 1000 m
3
de água para cada tonelada de tecido trabalhado. As facilidades de
captação de água de rios e lagos, levaram rapidamente às contaminações
tóxicas e poluições de toda ordem desses mananciais devido aos deságües de
despejos (DESCHLER, 1990).
A distribuição mundial da água revela apenas 2,6% de água doce
no planeta e, dela, só 0,6% disponível em lagos, rios, subterrâneo e atmosfera.
Os maiores consumidores são a agricultura e as indústrias, sendo que, dentro
desta última o setor têxtil consome 15%, devolvendo-a depois dos processos,
porém altamente contaminada (Sanin, 1997). O controle da água na indústria
começa pela luta contra o desperdício (GROS, 1979).
As operações de limpeza, tingimento e acabamento na indústria
têxtil são grandes consumidores de água e, conseqüentemente, grandes
responsáveis pelos efluentes líquidos. O tratamento e a recirculação desses
despejos e a recuperação de produtos e subprodutos constituem, hoje, os
maiores desafios pela indústria têxtil (COELHO, 1996).
Gros (1979), CEPIS/GTZ (1992), Bettens & Van Lancker (1992,a),
apontam que a recuperação de banhos, embora pouco usada, leva a uma
economia no consumo da água mas não dos produtos químicos e corantes
para os tons claros e médios.
Os despejos de indústrias têxteis são tóxicos à vida aquática,
diminuem o conteúdo de oxigênio dissolvido e modificam as propriedades e
características físicas dos cursos d’água.
71
Na indústria têxtil, as águas residuais das seções de
tingimento e acabamento contêm grande variedade de
produtos químicos que resultam numa ampla gama de
problemas para o gerenciamento de efluentes. Com
relação à presença dos corantes, a entrada potencial
desses no meio ambiente se basicamente por quatro
vias, a saber: pelas emissões ou descargas de efluentes
nos processamentos rotineiros; através do descarte de
sobras e resíduos do processo; através do descarte de
embalagens usada e através da eliminação acidental
(BALAN, 2002:17).
Nos efluentes líquidos, o efeito do corante é fácil à percepção
visual, mesmo em pequenas concentrações, e atrai a atenção do público e das
autoridades ligadas à proteção ambiental. Os parâmetros relativos aos
corantes se relacionam, na avaliação dos efluentes, ao conteúdo de metais
pesados, coloração, biodegradabilidade e toxidade para organismos aquáticos.
Conforme Balan (2002:18), “há estimativas de que 80 a 90% do
câncer humano podem ter causa ambiental. Testes rápidos, fáceis e
cuidadosos predizem sobre a segurança ou risco à exposição humana e de
outros organismos vivos, a compostos puros ou complexas misturas químicas”.
O levantamento de dados fornecidos pela Textile World Atlanta,
(Cook,1980), aponta os corantes como cancerígenos, sobretudo para os
trabalhadores que os usam indiretamente; como prevenção, deve-se usar
roupas protetoras a cada dia, equipamentos de proteção individual, lavatórios
separados, chuveiros,não se esquecendo, ainda, de um bom acompanhamento
médico, incluindo exames regulares de urina e do nível de exposição.
Segundo Coelho (1996), os efluentes gerados pela indústria
variam à medida que a pesquisa e o desenvolvimento produzem novos
72
reagentes, novos processos, novos maquinários, novas técnicas, conforme a
demanda do consumidor por outros tipos de tecidos e cores.
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Ressalta-se a grande preocupação com o meio ambiente por
parte dos empresários, procurando adequar-se à legislação ambiental, evitando
os desastres ecológicos que denigrem a imagem da empresa.
Para o controle da poluição causada por efluentes industriais, o
procedimento mais comum tem sido a adoção de tecnologias de tratamento de
despejos, as quais representam despesas de investimentos improdutivos
suplementares e custos de operação elevados (15 a 20% do investimento
inicial), que aumentam sempre que as instalações envelhecem.
Outro modo de encarar a questão é admitir que a poluição não é
obrigatória e procurar soluções internas para a poluição gerada. Esta
"prevenção ou minimização da poluição", é feita nos próprios processos de
fabricação, conhecida como adoção de "práticas limpas".
O conceito de tecnologia limpa (prática limpa) foi desenvolvido
pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e significa
utilizar-se continuamente de uma estrutura ambiental integrada, preventiva e
aplicada, visando aumentar a eco-eficiência e reduzir riscos para os seres
humanos e para o meio ambiente (MAIMON, 1996; VALLE, 1995).
Assim, uma prática limpa pode ser a introdução de um novo
processo menos poluidor, ou a recuperação de matéria-prima perdida e
recirculada na fabricação ou ainda, a valorização de um resíduo que poderá
dar origem a um subproduto.
73
O interesse da aplicação de práticas limpas apresenta-
se sob dois aspectos:
1. Do ponto de vista ambiental, uma vez que elas geram menos poluição,
podendo mesmo chegar ao nível zero de poluição; além do que, trazendo
maior conhecimento do processo, elas reduzem os riscos ambientais
causados por acidentes ou quebra de equipamentos.
2. Do ponto de vista econômico, por haver maior preocupação com os
desperdícios; economia de energia e de matérias-primas, conduzindo a
períodos mais curtos de retorno dos investimentos.
As práticas limpas se constituem, então, em fatores de inovações
tecnológicas, pois melhoram a produtividade e a qualidade dos produtos sob o
ponto de vista ambiental, promovendo uma competitividade melhor nos
mercados interno e externo (MARTINS, 1997).
Essas inovações, segundo Maimon (1996), são de caráter
preventivo e constituem tanto a redefinição dos processos de produção quanto
a composição de insumos.
Como comentado, os maiores volumes de despejos têxteis o
gerados nas operações de lavagens, tingimentos e acabamento. Atualmente,
tem sido procurada a redução da poluição no processo industrial, não com
relação ao tratamento dos efluentes, no seu ponto final, que é a estação de
tratamento, mas em toda a sua geração, dentro da indústria, nas diversas
etapas do processo industrial (Martins,1997). A recirculação desses despejos e
a recuperação de produtos químicos e de subprodutos, constituem um desafio
para a redução de custos com o tratamento dos efluentes.
74
No início dos anos 70, algumas indústrias da Bélgica visaram,
através de um único e mesmo investimento, a economia energética, a
economia de água e a redução da poluição. Os estudos foram iniciados com o
conhecimento necessário, porém sem nenhuma referência técnica sobre
pesquisas. Houve desilusões e confusões; com o passar do tempo, as idéias
se tornaram realidade, foram difundidas e pesquisadas em outros países
(Bettens & Lancker, 1992); hoje, as chamadas tecnologias limpas são
empregadas em larga escala, na indústria xtil dos países da Europa e
Estados Unidos e seu interesse vem crescendo quanto a aplicá-las nos países
do Terceiro Mundo, a exemplo do Brasil (MARTINS, 1997).
A redução da poluição em uma indústria têxtil pode ser trabalhada
através de:
a) controle do uso da água e, conseqüentemente, redução do
volume dos despejos
b) modificações nos processos produtivos
c) produtos químicos e matérias-primas.
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As considerações ambientais estão cada vez mais exercendo
papel de destaque nos desenvolvimentos ocorridos no setor xtil. Na
maioria dos países desenvolvidos, as legislações ambientais estão ficando
mais consistentes e restritivas. O setor é um grande consumidor de água,
utilizando aproximadamente 15% do volume total gasto por todo o setor
industrial. O efluente gerado pelo setor é extremamente complexo, com
elevada carga orgânica aliada a um alto teor de sais inorgânicos (Duenser,
75
apud Balan, 2002). Os grandes desafios enfrentados pelo setor residem no
tratamento e diminuição desses despejos e na recuperação de produtos.
No sub-setor de acabamento da indústria têxtil, Hilden (1999)
considera que as tendências de desenvolvimento estarão cada vez mais
concentradas na utilização de produtos químicos que não agridam o meio
ambiente. As melhorias da área de tinturaria estão centradas na pesquisa e no
desenvolvimento de corantes, cujas estruturas causem o menor dano ecológico
(corantes biodegradáveis).
A evolução da tecnologia dos processos de tingimento está
direcionada à otimização dos processos, com o objetivo de eliminar/diminuir o
impacto sobre o meio ambiente (MORELL, 1999).
As substâncias químicas utilizadas na produção de artigos têxteis
têm, ou podem, ter impactos toxicológicos e ecológicos. O efeito de
determinados produtos na saúde humana está sendo estudado por organismos
internacionais, com o intuito de criar uma legislação de uso bastante restrita.
Com o objetivo de criar normas que protejam a saúde das pessoas e do meio
ambiente, alguns organismos internacionais criaram ao que se chamou selo
verde. Esta etiqueta é dada aos artigos têxteis produzidos por sistemas que
respeitem os aspectos ecológicos e toxicológicos. Existem três tipos de
etiqueta ecológica (FREY, 1998):
etiquetas que consideram balanços ecológicos amplos e
análises de produto
etiquetas que consideram a produção ecológica
etiquetas para avaliação das características humano-
toxicológicas.
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A industrialização é irreversível, razão por que é tempo de se
buscar o desenvolvimento industrial ecologicamente sustentável, que se
baseia em três premissas: crescimento econômico, eqüidade social e
equilíbrio ecológico.
O desenvolvimento sustentável visa atender às necessidades
do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
atender às suas necessidades em relação aos recursos naturais (MOREIRA,
2001; VALLE, 1995)
A indústria têxtil dispõe de dois recursos para buscar uma
atuação ambiental mais responsável:
Um de caráter administrativo, representado pela implantação
do SGA – Sistema de Gestão Ambiental e possível certificação
pela ISO 14.001
Outro, de gestão de processo industrial, representado pela
adoção dos critérios de Produção limpa ou de Produção Mais
Limpa.
No processo produtivo, a Produção Mais Limpa inclui a
conservação de matérias-primas, água e energia, a eliminação de materiais
tóxicos e a redução da quantidade e da toxicidade de todas as emissões e
resíduos de fim de processo, buscando a reciclagem e a reutilização. Nos
produtos, a estratégia enfoca a redução dos impactos, ao longo de todo o
ciclo de vida do produto, da extração da matéria-prima à disposição final.
77
Segundo Pittoli (2000), deve-se ter em mente que o controle
ambiental gera prejuízo no final do processo e lucro durante o processo. No
final do processo gera custos com o tratamento de efluentes, desperdício de
matéria-prima, água, energia e, durante o processo, o controle ambiental gera
economia de matéria-prima, produtos auxiliares, água e energia, otimização
dos recursos produtivos e não há o custo de tratamento no final da linha (...).
A idéia é prevenir, tanto quanto possível, a geração de resíduos.
O que não for possível eliminar, deve-se reutilizar, fazer uma contenção
responsável, possível de reduzir os riscos de impactos ambientais.
Ainda conforme Pittoli (2000), a certificação pela ISO 14.001 é
importante para as empresas, pois traz vantagens mercadológicas e melhora
sua imagem institucional, sendo um diferencial positivo no caso de uma
licitação pública, um contrato de exportação ou de prestação de serviços.
Todavia, a adoção da norma ISO 14.001, não é suficiente para
que a empresa desenvolva sua atividade produtiva sem prejuízo ao meio
ambiente; tampouco, basta cumprir a legislação ambiental; é preciso que a
empresa tenha uma posição pró-ativa frente às questões ambientais.
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2.10.1
Histórico
Segundo Valle (1995), o histórico sobre o tema ambiental
começa a surgir cerca de 65 milhões de anos, quando um meteorito
atingiu a terra, alterando profundamente os ecossistemas; entretanto,
apenas no século passado, para ser mais preciso, na década de 60,
observaram-se os primeiros movimentos ambientalistas nos países
78
industrializados, por causa da contaminação das águas e do ar; contudo, foi
na década de 70 que realmente ocorreram a regulamentação e o controle
ambiental, após a Conferência de Estocolmo, na qual as nações começaram
a estruturar seus órgãos ambientais e estabelecer legislações com o intuito
de controlar a poluição ambiental.
Foi nesta mesma época que se levantou a discussão sobre a
racionalização do uso da energia, buscando-se combustíveis mais puros.
Em 1978 surge, na Alemanha, o primeiro selo ecológico destinado
a rotular produtos considerados ambientalmente corretos.
Na década de 80 desenvolvem-se empresas especializadas na
elaboração de Estudos de Impacto Ambiental e de Relatórios de Impacto sobre
o Meio Ambiente (EIA/RIMA), encerrando-se esta década com a globalização
das preocupações com a conservação do Meio Ambiente; a exemplo disto,
tem-se o protocolo de Montreal e o relatório da Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento.
na década de 90, entraram em vigor as normas internacionais
de gestão ambiental, conhecidas, hoje, como a série ISO 14000 que,
associadas às normas ISO 9000, constituem o coroamento da extensa
caminhada em prol da conservação ambiental e do desenvolvimento
sustentável.
Hoje, a preocupação com o meio ambiente é, sem dúvida, geral.
A constatação da degradação ambiental num ritmo crescente alertou as
comunidades, a sociedade e se refletiu nos governos, a quem cabe a
responsabilidade de elaborar as leis. Nos países mais industrializados do
Ocidente, ações legais de controle ambiental começam a surgir e, como
79
decorrência, a instituição dos órgãos de controle e estabelecimento de padrões
de qualidade ambiental e de emissões gasosas.
Como bem coloca Ostronoff (1993), antes das indústrias terem
sido impactadas pelas medidas legais ambientais, haviam atividades
relacionadas à preservação do meio ambiente como, por exemplo, tratamento
de esgotos, coleta e disposição de lixo doméstico.
Para a maior parte das organizações industriais que,
praticamente, não controlavam adequadamente, ou mesmo de forma
incipiente, seus rejeitos para o ambiente, a legislação trouxe um forte impacto
econômico. É fato sabido que controlar e corrigir emissões de forma reativa,
por exemplo, numa indústria, é mais oneroso que seu controle na fase de
concepção do projeto.
No Brasil, ou pelo menos em alguns estados brasileiros, a
consciência do problema existe de longa data, o que não é notório nos países
subdesenvolvidos.
“Há algum tempo atrás, o senhor Edgar Woolard Júnior,
principal executivo da Du Pont nos Estados Unidos, afirmou
que o verdadeiro desafio ambiental não é responder às
próximas propostas de regulamentação; não é fazer com que
ambientalistas vejam coisas sempre sob o prisma da indústria,
nem educar o público a apreciar os benefícios de nossos
produtos. O verdadeiro desafio ambiental, segundo ele, é a
necessidade da indústria adotar toda uma nova cultura, um
ambientalismo corporativo, definido como uma atitude e
compromisso de desempenho, o qual coloca as preocupações
de meio ambiente da empresa totalmente alinhadas com os
desejos e as expectativas do público” (OSTRONOFF, 1993:51).
80
Atuação Responsável
O conceito de Atuação Responsável surgiu no Canadá, na
década de 80, sob o nome de Responsible Care Program .
O programa tem, como um dos seus objetivos, resgatar a imagem
da indústria química em âmbito mundial. No Brasil, ele é conhecido como
Atuação Responsável, coordenado pela Associação Brasileira da Indústria
Química – ABIQUIM (OSTRONOFF,1993).
Para se ter uma idéia de como era a imagem da indústria química
em uma pesquisa feita em 1986, pela Chemical Manufacturers Association
Associação de Fabricantes Químicos, constatou-se que perdia para a
indústria do cigarro e até mesmo para a indústria nuclear. A opinião norte-
americana, também através de uma pesquisa, expressou que a poluição era o
pior crime empresarial e apenas 37% dos entrevistados achavam que a
indústria química era essencial (Id. ibid., 1993).
No Brasil, uma pesquisa na qual se procurava averiguar as
indústrias que acarretavam maior número de problemas, indicou a indústria
química na liderança, com 57%. O mesmo percentual de entrevistados
expressou que a indústria química não respeitava as leis ambientais, ou seja,
havia uma imagem altamente desgastada.
A atuação responsável traz soluções para os problemas
ambientais, enfocando a busca de melhoria contínua, antecipando a própria
legislação e utilizando sua visão sistêmica para trabalhar com a preocupação
com a segurança, saúde ocupacional e meio ambiente (DONAIRE, 1999;
VALLE, 1995; OSTRONOFF, 1993).
81
“Dentre os inúmeros problemas que afligem a indústria, um é o equilíbrio entre
o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental, e as relações
desses problemas com os órgãos de controle” (ORTH, 1993: 209).
2.10.2 Benefícios
Embora grande parte do empresariado ainda não se sinta à
vontade para implantar um Sistema de Gestão Ambiental em sua empresa,
devido à informação ou a percepções equivocadas do tipo: é um sistema
caro que não oferece retorno, demanda muito tempo e esforço e exige altos
investimentos. Algumas empresas estão perdendo mercado por ter esta visão.
Moreira (2001) coloca que “a sociedade continua evidenciando
sua necessidade quanto a produtos e serviços, porém passa a valorizar cada
vez mais a proteção do meio ambiente”.
Assim, as empresas que ficarem por último nesta corrida pela
sobrevivência, terão que arcar com o prejuízo do atraso e tomar as devidas
providências por mera obrigação de retardatário, sem qualquer ganho de
imagem.
São muitos os benefícios para a empresa com a implantação de
um Sistema de Gestão Ambiental; entre eles, estão:
- um desempenho ambiental melhor
- redução nos desperdícios
- prevenção nos riscos ambientais
- disseminação da responsabilidade sobre o problema ambiental para
toda a empresa
- homogeneização da forma de gerenciamento ambiental em toda a
empresa
82
- maior consciência ambiental aos mercados nacional e internacional
- boa imagem junto aos órgãos ambientais, à comunidade e ONGs
- maior facilidade para se obter financiamentos a taxas reduzidas
- viabilidade de diminuir os custos de seguro
- benefícios intangíveis (melhoria de gerenciamento etc.) (MOREIRA,
2001).
Já Donaire (1999), cita seus benefícios divididos entre:
- econômicos (com economia de custos e no incremento das receitas)
- estratégicos (melhoria da imagem institucional, aumento da
produtividade, melhoria nas relações de trabalho, melhoria das relações
com os órgãos governamentais, comunidade, grupos ambientalistas
etc.).
2.10.3 Repercussões
Conforme Donaire (1999), as primeiras indústrias surgiram em
uma época em que os problemas ambientais eram de pequena expressão, em
virtude das reduzidas escalas de produção e das populações
comparativamente menores e pouco concentradas. As exigências ambientais
eram raras e a fumaça das chaminés era um símbolo de progresso, estampada
orgulhosamente na propaganda de várias indústrias.
O agravamento dos problemas ambientais alterou profundamente
este quadro, gerando um nível crescente de exigências. A nova consciência
ambiental, surgida a partir das transformações culturais nas décadas de 60 e
70, ganhou dimensão e situou a proteção do meio ambiente como um dos
princípios mais fundamentais do homem moderno. Na nova cultura, a fumaça
passou a ser vista como prejuízo e não mais como vantagem.
83
Desta forma, as respostas da indústria a este novo desafio
ocorrem em três fases, de acordo com o grau de conscientização da empresa:
controle ambiental nas saídas, integração do controle ambiental nas práticas e
processos industriais e integração do controle ambiental na gestão
administrativa.
A fase um compreende a instalação de equipamentos de controle
da poluição nas saídas, como redes de esgotos, chaminés, mantendo a
estrutura produtiva existente. A indústria, assim como o público, questionam a
respeito do alto custo e da elevada eficiência dos equipamentos instalados,
desde que esta solução não se mostre eficaz.
A fase dois tem, como princípio básico, a prevenção da poluição,
envolvendo a seleção das matérias-primas, o desenvolvimento de novos
processos e produtos, o reaproveitamento da energia, a reciclagem de
resíduos e a interação com o meio ambiente.
Como a preocupação com o meio ambiente é constante, o
mercado acabou sendo atingido tendo, portanto, que ser redesenhado,
tornando o consumidor o temível quanto os órgãos de meio ambiente. Com
isto, a proteção ao meio ambiente deixa de ser uma exigência punida com
multas e sanções e se inscreve em um quadro de ameaças e oportunidades,
em que as conseqüências passam a significar posições na concorrência e na
própria permanência ou saída do mercado.
Como bem aponta Maimon (1996), neste contexto se consolidam
e se difundem as inovações de Tecnologias Limpas e o conceito de excelência
ambiental, avaliando a organização pelo seu desempenho produtivo e
econômico, por seus valores éticos e pela performance ambiental.
84
2.10.4 Influência nas Demais Unidades Administrativas
Com a evolução da função ambiental na organização, algumas
empresas passam a integrar a responsabilidade ambiental na sua gestão
administrativa, atingindo as mais altas esferas de decisão. A função ambiental
deixa de ser uma função exclusiva da produção e se torna uma função
administrativa, interferindo no planejamento estratégico, no desenvolvimento
das atividades de rotina e na discussão dos cenários alternativos, gerando
políticas, metas e planos de ação (MAIMON, 1996).
Em virtude de uma ligação funcional maior ou menor com a área
ambiental, as demais unidades administrativas são afetadas de forma
diferenciada, segundo mostra uma pesquisa realizada pelo Ministério Federal
do Ambiente, na Alemanha, com cerca de 600 empresas, ocasião em que
demonstra que a questão ambiental tem maior impacto na área de produção e
quase nenhuma influência no setor de Contabilidade, como pode se verificar na
Figura 04.
85
Neste sentido e para que a causa ambiental da empresa atinja
seus objetivos, a atividade de meio ambiente na organização deve potencializar
ao máximo sua atuação junto aos demais setores da empresa, buscando
integração profissional, responsável e perfeita sintonia de interesses.
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Foi na cada de 30 que os estudos dos impactos ambientais-
EIA começaram a ser sistematizados para avaliar a influência que alguns
grandes projetos exerciam sobre as populações; todavia, só na década de 70 é
que o Estudo de Impacto Ambiental passa a ser identificado e exigido em
alguns países industrializados.
O EIA e o RIMA – Relatório de Impacto Ambiental, tornaram-se
peças importantes nos processos de aprovação e licenciamento de novos
empreendimentos e de ampliação e empreendimentos existentes,
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Relaçõ
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Figura 04: Áreas funcionais afetadas diferen
temente em relação à questão ambiental (em
%)
Fonte: Ministério Federal do Ambiente da Alemanha com a participação do BAUM, apud
DONAIRE (1999:92)
Administraç
ão
86
incluindo alternativas e propondo soluções para minimizar ou abrandar
eventuais prejuízos que possam ser causados ao ambiente (VALLE, 1995).
Segundo Santos (1993), os Estudos de Impacto nos Estados
Unidos foram definidos em congresso, nos anos 70, e passaram a ser
obrigatórios para empreendimentos não de cunho governamental mas,
também, para empreendimentos que envolvessem a iniciativa privada. Em
1973, o Canadá também adotou os EIA’s, seguido pela Alemanha, em 1975,
e a França, em 1976. Apenas em 1989 foi que o Brasil começou com um
programa de conscientização ambiental, para que se fizessem avaliações
ambientais, tanto de programas governamentais como de iniciativa privada.
Em 1986 surge a Resolução Conama N
o.
1, que teve por objetivo
implantar a obrigatoriedade dos Estudos de Impacto Ambiental, pretendendo
que o empreendedor fizesse um relatório, qualificando o ambiente.
A Resolução Conama, elaborada em janeiro de 1976, tem a
seguinte definição:
Artigo 1º.: Para efeito desta resolução, considera-se impacto
ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas
do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente, afetam
segurança, saúde, bem-estar, atividades socioeconômicas, biota, condições
estéticas e sanitárias, qualidade dos recursos ambientais.
Isto significa que qualquer empreendimento pode estar
enquadrado dentro deste artigo. Apesar de haver uma listagem de
empreendimentos que necessitam de RIMA, com área de atuação de definição,
é sempre conveniente que o empreendedor faça uma consulta ao órgão
87
licenciador, no sentido de saber se aquele empreendimento necessita ou não
de EIA/RIMA.
Conforme Santos (1993), ao se iniciar um Estudo de Impacto
Ambiental deve-se procurar descobrir qual a ideologia por detrás desse
empreendimento e quais os ecologismos nele envolvidos, assim como
identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados na fase
de implantação e operação das atividades.
O grande problema dos EIA’s se refere às técnicas experimentais,
não se têm dados reais das áreas e muito menos dados contínuos, além de se
trabalhar muito mais com o saber ecológico que com a ciência da ecologia. O
saber ecológico é o conhecimento de relação direta que existe, por exemplo,
entre o pescador e o peixe. Ele sabe onde dá peixe, a época, qual o peixe que
existe naquele rio, mas ele não conhece toda a relação que ocorre no estrato
nos diferentes níveis: o que acontece com o rio, com a água, com o peixe, com
o homem etc; ele não fecha o ciclo, porque não tem o domínio da ciência (Id.
ibid., 1993).
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No Brasil, até o início da década de 70 não havia uma legislação
específica que abordasse o tema ambiental, mas apenas algumas normas e
regulamentos que tratassem da proteção à fauna e à flora, da segurança e
higiene industrial e da saúde pública (VALLE, 1995).
A Constituição de 1988 inovou realmente, dando uma conotação
global ao meio ambiente que, inclusive, afeta o ambiente no trabalho. E foram
introduzidos, também, na Constituição, princípios norteadores dessa proteção,
88
os quais que devem ser seguidos não apenas pelo Estado mas pelo Poder
Público, tendo em vista que compromete toda a coletividade. A preservação do
meio ambiente e das espécies, o desenvolvimento sustentado, tudo isto foi
introduzido na nossa legislação e vem sendo aprimorado a cada dia, dentro da
Constituição Federal, e nas constituições dos estados que, espelhando-se na
Constituição Federal, repetiram uma série de princípios.
“Ao instalar uma obra, um empreendimento, uma atividade que
seja efetiva ou potencialmente poluidora, é necessário a realização prévia de
um Estudo de Impacto Ambiental” (OLIVEIRA, 1993:61).
A lei 6938, de 1981, versava sobre isto, e posteriormente foi
introduzida na Constituição Federal na qual também prevê o crime ecológico,
imputável não somente à pessoa física mas também à pessoa jurídica.
A Constituição Federal estabelece, em artigos simples, que os
Estados e Municípios podem, em determinados casos, legislar em matéria
ambiental. Assim, o Artigo 23 da Constituição Federal estabelece a
competência comum dos estados, Distrito Federal e municípios para cuidar da
saúde, proteger o meio ambiente, o consumidor, bens e direitos de valor
artístico, estético, turístico e paisagístico.
No caso das indústrias, efetiva ou potencialmente poluidoras,
encontra-se uma série de normas além daquelas ditadas pelas constituições.
Tais normas traçam uma série de diretrizes a serem seguidas pelas empresas
na implantação dos seus processos produtivos. Conforme relato de Oliveira
(1993), desde 1975 existia uma norma que tratava das indústrias
efetivamente poluidoras. O decreto-lei 1.413 é um exemplo disto, pois obriga as
indústrias instaladas a corrigirem fontes de poluição existentes e as indústrias a
89
serem instaladas a adotarem medidas preventivas. Portanto, a prevenção
era fator de preocupação em 1975, com este Decreto-lei, que também criava o
zoneamento urbano para as áreas críticas de poluição objetivando, inclusive,
para situações existentes, viabilizar alternativa adequada de nova localização,
nos casos mais graves.
Ainda Oliveira (1993), observou-se um avanço nas leis
ambientais. A lei 6803 de 1980, por exemplo, introduziu o processo de
avaliação de Impacto Ambiental permitindo estabelecer-se a confiabilidade da
solução a ser adotada.
O Artigo 14 recai de alguma forma, sobre o princípio do poluidor-
pagador, estabelecendo penalidades aos infratores das normas e causadores
de degradação ambiental; estabelece penalidades, sobretudo nos casos de
omissão da autoridade pública e cria a figura do crime ecológico; também
estabelece o princípio segundo o qual os órgãos financiadores públicos não
podem conceder incentivos às empresas que não obedecem às normas de
prevenção e preservação do meio ambiente.
No tocante aos resíduos sólidos, a Portaria Ministerial 53, de
1979, traça diretrizes sobre o lixo, os projetos de tratamento e disposição de
resíduos sólidos, assim como a fiscalização da sua implantação, operação e
manutenção.
Ainda na área dos reduos sólidos, encontra-se a Resolução do
Conama N
o.
6, 1989, que estabelece que as indústrias geradoras de resíduos
com orientação do órgão ambiental deverão, no prazo de 90 dias a partir da
publicação da resolução ou a partir de 60 dias após a notificação, apresentar
ao órgão ambiental competente informações sobre a geração, características e
90
destino final dos seus resíduos. Determina, ainda, que, no processo de
licenciamento ambiental, os resíduos gerados ou existentes devem ser objeto
de controle específico.
Conforme Valle (1995), como órgãos federais executores da
política do meio ambiente, tem-se: o Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA), o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), como órgão
consultivo e normativo, e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
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Conforme artigo publicado no Anuário Brasileiro do Algodão
(2002), a preocupação ambiental e a redução de custos, expedientes que
podem assegurar mais competitividade à pluma brasileira no mercado
internacional, estão motivando os cotonicultores do cerrado a buscarem a
diminuição dos volumes de agrotóxicos usados na lavoura. O setor se esforça
para conseguir o equilíbrio entre as exigências do pacote tecnológico para a
região do cerrado, dependente de fertilização química diante da incidência de
pragas e doenças em grandes plantações, e o comprometimento ambiental
decorrente desse sistema produtivo.
A busca de competitividade e a redução de riscos ambientais
constituem os dois principais argumentos para que os produtores do cerrado
defendam, com muita ênfase a liberação do cultivo de variedades de algodão
geneticamente modificado no País.
91
Zandonadi (2002), comenta a respeito do programa estadual de
fomento à cultura (o Proalmat) que fixa procedimentos de preocupação
ambiental, como requisitos para que o produtor tenha direito a incentivo fiscal.
Uma dessas medidas é o recolhimento de embalagens vazias de agrotóxicos,
encaminhadas a centrais regionalizadas de onde ganham, posteriormente,
destino adequado.
Além disso, os cotonicultores fazem adequações possíveis em
aspectos como tecnologia e meio ambiente. Em conjunto com o escritório do
Instituto Nacional de Defesa Ambiental (INDEA), o setor promove levantamento
para conhecer a realidade estadual nessas áreas.
2.13.1 O Peso dos Inseticidas
O peso econômico e ambiental dos inseticidas é, cada vez mais,
uma preocupação dos produtores e do setor de pesquisas da cotonicultura
brasileira. Preocupante ou não, a verdade é que, afora alguns pesquisadores e
raros produtores, pouco tem sido feito na prática para a redução de
agroquímicos no controle de pragas. A Associação Baiana (ABAPA) estima em
20% a participação dos inseticidas na composição do custo de produção da
lavoura algodoeira.
Conforme Silva (2002), os obstáculos para reduzir esses volumes
começam pelas dimensões da cultura no cerrado, que varia de 100 a 03 mil
hectares. O controle biológico, ou através de técnicas pouco ou não-agressivas
ao meio ambiente, torna-se difícil por se tratar de uma cultura de larga escala.
92
Em regiões de agricultura familiar ainda é possível realizar-se alguns projetos
neste sentido.
Ainda Silva (2002), na região do cerrado o foco do agricultor está
no lucro e a preocupação com o meio ambiente ainda é baixa. Os produtores
voltam os olhos para esta questão mas por outro motivo: a necessidade de
reduzir o custo de produção, que aumenta na mesma proporção da demanda
por inseticidas nessas regiões, e de viabilizar economicamente o seu
agronegócio.
Esta condição de altos custos de produção e a necessidade de
viabilizar economicamente a atividade algodoeira, levam os agricultores,
mesmo que de maneira incipiente, a se preocuparem com a otimização do uso
desses insumos, principalmente os inseticidas.
Nas áreas de agricultura familiar, em especial no Nordeste e em
regiões muito particulares do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas
Gerais e Goiás, a situação é diferente. Os recursos disponíveis são menores e,
por isso, tendem a ser bem aplicados. Esta situação força a baixa utilização de
inseticidas. Às vezes, deste procedimento resulta uma produtividade menor,
mas se cria uma condição de maior equilíbrio ambiental no sistema produtivo.
2.13.2 Equilíbrio Ambiental na Lavoura de Algodão
Silva (2002), explica que, para alcançar bom nível de equilíbrio
ambiental e reduzir os custos com a utilização de agroquímicos na lavoura de
algodão, principalmente de inseticidas, existem alguns caminhos que podem
ser seguidos. Uma das principais tecnologias está disponível aos produtores há
93
mais de 20 anos; trata-se do Manejo Integrado de Pragas na Cultura do
Algodão (MIP), que se baseia na utilização de diversas técnicas de controle
que não somente a química. São elas:
1. Controle Biológico: consiste na utilização de predadores patogénos e
parasitórios para o controle de pragas. Cria condição propícia de controle
cultural com maior presença de organismos benéficos. Muitos produtores
estão adotando este sistema, mesmo que em áreas menores e
experimentais, delimitadas em suas lavouras.
2. Controle Cultural: trata-se de um pacote de práticas e ações com reflexo
direto na condição de manejo da cultura. Observa, com rigor, quesitos como
a época do plantio, a manipulação de cultivar (podendo optar por ciclo
produtivo mais curto, reduzindo tempo de exposição para o ataque da
praga). Ao planejar a lavoura, o produtor também pode escolher variedades
resistentes às viroses transmitidas pelo pulgão, por exemplo, com bons
resultados.
3. Densidade de Plantio: é uma observação importante que o cotonicultor deve
fazer. Se adensar muito a disposição das plantas na lavoura, a calda do
inseticida não atingirá o inseto; se, no entanto, ele preferir distanciar demais
as plantas, perderá produção por área.
4. Armadilhas: a utilização de planta-isca ou cultura-armadilha, também integra
o pacote do MIP. Trata-se de uma estratégia de plantio antecipado de
algumas faias de algodão, permitindo que diversas pragas colonizem essas
áreas bem antes e, através de pulverização com inseticida químico, sejam
94
eliminadas. Assim, é possível evitar que as pragas atinjam a lavoura
comercial. Uma das armas disponíveis neste esquema de controle é o tubo
mata bicudo (TMB), desenvolvido nos Estados Unidos. O dispositivo
contém feromônio para atrair os insetos e é formado por cilindro impregnado
com malation (inseticida) e óleo de algodão. outras armadilhas de
feromônio utilizadas tanto para o controle do bicudo quanto de lagartas que
atacam o algodoeiro.
5. Rotação de Culturas: a rotação de culturas é mais uma prática recomendada
no MIP, como forma de controlar a presença de insetos no algodoeiro e nas
outras alternativas de produção. No Nordeste, os produtores preferem fazer
rotação com o milho. Nas regiões do cerrado, usa-se também a soja como
alternativa importante. Alterando as culturas e utilizando grupos
diferenciados de inseticidas, torna-se mais fácil o controle.
6. Monitoramento: o monitoramento de pragas também é uma ferramenta do
MIP que apresenta grande vantagem. Uma amostragem no campo para
identificar os níveis populacionais das pragas pode determinar os volumes
de inseticidas e a hora da aplicação. O MIP prevê um nível de aplicação
para cada praga, de acordo com uma escala técnica.
A Educação, também é um fator significativo para se trabalhar o
equilíbrio ambiental na cotonicultura; todavia, conforme Silva (2002), um dos
entraves para a redução dos volumes de agroquímicos utilizados na lavoura do
algodão, é cultural, ou seja, as pessoas não têm consciência, ou mesmo não
são treinadas e/ou informadas para utilizar quantidades exatas de
agroquímicos havendo, assim, uma necessidade represada de programas que
95
eduquem os produtores para identificar, com sua assistência técnica, os
volumes necessários.
O fato da cultura do algodão não ter função alimentar, talvez
facilite este procedimento abusivo de uso de agrotóxicos; em outras palavras,
a ignorância, ou melhor, a falta de consciência, faz com que as pessoas
abusem das quantidades de agrotóxicos utilizados na lavoura quando, na
realidade, se houvesse um esforço maior em treinar essas pessoas no intuito
de conscientizá-las para o uso padronizado desses inseticidas, o impacto
ambiental seria, necessariamente, evitado.
Outro equívoco muito observado é quanto às misturas de vários
produtos químicos na realização de diversas pulverizações. Às vezes, o
produtor pode utilizar apenas um produto, mas utiliza adez. As pessoas não
compreendem bem e acabam utilizando mais produtos nas misturas que o
necessário, razão por que precisam ser bem treinadas e/ou educadas,
principalmente quanto aos riscos à saúde.
96
“As tempestades fazem os carvalhos
aprofundarem suas raízes.”
George Herbet
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A metodologia científica pode ser definida como o conjunto das
atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia,
permite alcançar o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as
decisões do cientista (LAKATOS & MARCONI, 1999).
“A busca da realização humana induz o homem a uma
postura racional de perquirição que o leva
necessariamente a adotar um conjunto organizado de
métodos, técnicas e instrumentos capazes de ajudá-lo na
materialização daquele objetivo. Assim, a pesquisa
científica pode ser caracterizada como atividade
intelectual que visa responder à necessidade humana do
conhecer” (SILVA, 2002:98).
Desta forma, a metodologia permite que se obtenham dados
através da utilização de técnicas e instrumentos de pesquisa em um campo de
observação, objetivando confrontá-los, posteriormente, com bases teóricas
capazes de descrever e explicar os fenômenos estudados.
Na metodologia utilizada neste trabalho, foram descritos os
seguintes aspectos: 1. Natureza da Pesquisa; 2. Variáveis; 3. Instrumentos de
Pesquisa; 4.Sujeitos da Pesquisa e 5. Esquema Geral da Pesquisa.
97
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Realizou-se um estudo de caso em duas indústrias têxteis de
segmentos distintos; fiação e malharia; a primeira, localizada na cidade de
Campina Grande, com cerca de 1200 funcionários e destinada à fabricação de
fio e a segunda, sediada na cidade de João Pessoa, ambas na Paraíba, com
80 funcionários e destinada à fabricação de malhas. Essas empresas foram as
escolhidas visto que, além de serem as mais representativas dentro da cadeia
têxtil, são as únicas que trabalham no seu processo com o algodão colorido.
Este estudo se caracterizou descritivo-comparativo-explicativo,
tendo
c
como forma de argumentação, os processos de indução e dedução, pois
foram processos que se complementaram, uma vez que na prática, recorreu-se
a ambos os instrumentos para demonstrar a verdade das proposições
submetidas à análise.
O estudo descritivo-comparativo caracterizou-se pelo fato de
descrever o processo produtivo do algodão colorido, confrontando-se com o
algodão branco; explicativo, porque visou identificar e explicar os impactos
ambientais e operacionais da industrialização do algodão de fibra colorida nos
segmentos de fiação e malharia da indústria têxtil paraibana.
Conforme Oliveira (1997) apud Silva (2002), o estudo descritivo
possibilita o desenvolvimento de um nível de análise em que se permite
identificar as diferentes formas dos fenômenos, sua ordenação e classificação,
dando margem também à explicação das relações de causa e efeito dos
fenômenos, ou seja, analisa o papel das variáveis que, de certa maneira,
influenciam ou causam o aparecimento dos fenômenos.
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Com o objetivo de estudar os reflexos ambientais e operacionais
decorrentes do processo de industrialização do algodão de fibra colorida, fez-
se necessário considerar algumas variáveis que influenciaram no resultado
dessa pesquisa. Alguns aspectos estão apresentadas no Quadro 10:
VARIÁVEIS
INDICADOR
Resistência da fibra g/tex
Comprimento da fibra
UHM (polegadas) e
SL (mm)
Características
intrínsecas da fibra
no processo de
fiação
Uniformidade da fibra UI e UR
Tempo de setup h
Porcentagem de perda (%)
Custo de industrialização R$
Tempo de processamento dias
Quanto ao Processo
na Indústria de
Fiação
Produtividade (%)
Produtividade (%)
Consumo de mão-de-obra n
o
de operadores
Máquinas envolvidas quantidade
Tempo de processamento h
Porcentagem de perda (%)
Quanto ao Processo
na Indústria de
Malharia
Tempo de setup h
Consumo de água L / kg malha tingida
Consumo de energia Kw / kg malha tingida
Toxicidade dos efluentes
Quais produtos
utilizados
Quanto ao Impacto
Ambiental (I.A)
Nível de ruído decibel
Quadro 10: Variáveis analisadas no processo produtivo têxtil
Fonte: Pesquisa direta, 2004
99
3.2.1 Quanto ao Processo na Indústria de Fiação
A priori, as variáveis estudadas neste tipo de indústria foram
variáveis intrínsecas a matéria-prima utilizada no processo de fiação, conforme
especificado no estado da arte. Fez-se necessário seu estudo para garantir que
o fio produzido (produto acabado da indústria de fiação) chegasse à indústria
de malharia como matéria-prima de boa qualidade garantindo, assim, um
produto final qualificado; essas variáveis foram: resistência, comprimento e
uniformidade da fibra do algodão, todas estas analisadas nos equipamentos do
laboratório físico da empresa. Os outros tipos de variáveis estudadas foram:
- Tempo de setup: através de documentação da empresa
fornecida pelo gerente de produção, obteve-se o tempo gasto
em horas para preparar as máquinas para fazer o fio colorido
e depois o fio branco e vice-versa.
- Percentagem de perda: por meio de entrevista com o gerente
de produção, obteve-se a percentagem de perda no processo
envolvendo os dois tipos de algodão.
- Custo de industrialização: por meio de entrevista com o
gerente geral e o contador da empresa, apurou-se quanto
custava para industrializar os dois tipos de algodão. Neste
custo estava incluso o custo de mão-de-obra (M.O), matéria-
prima (M.P), impostos e energia.
- Tempo de processamento: também através de entrevista com
o gerente de produção e de documentação, obteve-se quanto
100
tempo, em dias, eram necessários para produzir o fio do
algodão colorido e do algodão branco.
- Produtividade: obteve-se, por meio de protocolo da própria
máquina, fornecido pelo gerente de produção, a percentagem
de produtividade alcançada no processo com os dois tipos de
algodão.
Para levantamento de todos esses dados, utilizou-se de um
roteiro de entrevista (apêndice A).
3.2.2 Quanto ao Processo na Indústria de Malharia
As variáveis estudadas neste tipo de indústria se diferenciaram
um pouco das estudadas na indústria de fiação pois, uma vez observado todo o
processo produtivo na malharia, pôde-se perceber que alguns parâmetros são
eminentemente significativos como, por exemplo, mão-de-obra e número de
máquinas, que na indústria de fiação não se tinha quantidade diferenciada.
Outro ponto importante que não se pode deixar de comentar, é que na malharia
se pôde apurar dados mais significativos em relação aos impactos ambientais.
Desta forma, as variáveis pesquisadas foram:
- o-de-obra empregada: por meio de entrevista com o
gerente de produção (beneficiamento) obteve-se a quantidade
de operadores necessários para trabalharem na fabricação da
malha com o algodão tingido e com o algodão colorido.
- quinas envolvidas: ainda em entrevista com o gerente de
produção e observação direta, verificou-se a quantidade de
máquinas necessárias para se trabalhar nos dois tipos de
101
processos, independentemente da quantidade de matéria-
prima processada.
- Produção: por meio de documentação cedida pela empresa
coletou-se quanto se produzia por dia de malha, nos dois
processos.
- Produtividade, tempo de processamento, porcentagem de
perda e tempo de setup foram variáveis pesquisadas e
trabalhadas da mesma forma nas duas empresas visitadas.
Para levantamento desses dados, utilizou-se um roteiro de
entrevista (apêndice B).
3.2.3 Quanto ao Impacto Ambiental (I.A)
No tocante aos impactos ambientais, procurou-se obter variáveis
comparativas relacionadas à fabricação do fio e da malha do algodão comum e
do algodão colorido. As variáveis foram:
- Consumo de água: por meio de entrevista com o gerente de
produção e através de documentação da empresa, apurou-se a
quantidade de água (litros) gasta no processo de
beneficiamento têxtil da malha do algodão comum e se fez uma
comparação, também por meio de documentação, com o
mesmo processo, utilizando-se a malha de algodão colorido.
- Consumo de energia: através de documentação e entrevista
com o gerente de produção, apurou-se a quantidade (Kilowatts)
gasta com energia no processo de beneficiamento têxtil da
102
malha do algodão comum e se fez uma comparação com o
mesmo processo, utilizando-se a malha do algodão colorido.
- Toxicidade de efluentes: a toxicidade dos efluentes é definida
tanto pelos produtos químicos utilizados no beneficiamento
têxtil que gera resíduo, quanto pela sua quantidade; assim, ao
se trabalhar com esta variável, procurou-se identificar, por meio
de entrevista com o gerente de produção, os produtos
utilizados em cada etapa do processo produtivo do
beneficiamento têxtil, e quais as etapas que geram resíduos
líquidos e em que quantidade.
- Ruídos: através de observação direta e por meio de entrevista
com o gerente de produção, obteve-se o nível de ruído em
cada etapa do processo na indústria de fiação e na indústria de
malharia.
Impactos como nível de poeira e calor foram observados apenas
diretamente, mas não medidos; quanto aos resíduos sólidos e/ou gasosos,
estes foram coletados através de documentação da empresa.
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- Pesquisa bibliográfica: através de consultas a trabalhos técnicos
publicados em revistas científicas, livros têxteis, jornais regionais
e/ou nacionais, que ofereceram informações sobre o algodão de
fibras coloridas etc.
103
- Coleta documental: por meio de documentação direta
(procedimentos e registros fornecidos pela própria empresa).
- Pesquisa de Campo: fazendo-se o levantamento de dados no
próprio local onde os fenômenos ocorreram.
- Observação direta: através de informações, utilizando-as no sentido
de se obter determinados aspectos da realidade.
- Entrevista por pauta: com auxílio de gravador, buscando-se
informações do entrevistado acerca do assunto estudado como, por
exemplo, explicitar o processo de tingimento realizado, a quantidade
de malha tingida, o tratamento dispensado à água depois do
processo de tingimento etc.
O trabalho foi realizado in loco, analisando-se cada etapa do
processo produtivo da indústria têxtil, precisamente a parte de fiação na
indústria 1, desde a abertura de fardos até a fiação propriamente dita, e o
beneficiamento têxtil na indústria 2, desde a malharia até o acabamento. A
partir daí, obtiveram-se informações necessárias e se fez uma descrição e
análise dos processos.
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Para se obter os dados necessários às análises, foram
entrevistados os gerentes das empresas objeto de estudo, mais precisamente
o gerente de processos, responsável pela análise da matéria-prima utilizada na
fiação, o gerente de produção, que responde pela fabricação do fio de algodão,
o gerente geral e o de contabilidade, para se saber os custos de
104
industrialização, e o gerente de beneficiamento, responsável por todo o
processo de fabricação das malhas, os quais são detentores da mais completa
informação acerca do tema objeto da pesquisa.
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Conforme Moreira (2001), a identificação dos impactos ambientais
é feita a partir da análise das atividades da organização.
Cada etapa de um determinado processo deve ser analisada
buscando-se identificar os aspectos associados, tais como: consumo de água,
de energia, geração de resíduos, efluentes, ruídos, poeira, temperatura, etc. Ao
se identificar um aspecto importante, deve-se especificar ao máximo suas
características ou seus elementos básicos de composição e, sempre que
possível, suas quantidades ou volumes. Em outras palavras, saber os resíduos
gerados; quais efluentes; se as quantidades são excessivas, dentre outros. A
análise subseqüente vai depender muito desta especificação.
Diante disso, verifica-se que uma mesma etapa pode gerar um ou
vários aspectos que, por sua vez, podem gerar um ou vários impactos. Para
cada aspecto devem-se identificar os impactos reais ou potenciais no meio
ambiente.
Com o intuito de propor desdobramentos futuros em consonância
com o modelo teórico adotado, aponta-se na Figura 05 um modelo de gestão
ambiental utilizado nesta pesquisa, onde a política ambiental é diagnosticada
105
por meio das prioridades identificadas; os programas ambientais analisam
variáveis como: poluição sonora, poluição do ar, recursos hídricos, resíduos
sólidos, consumo de energia, etc.
Analisadas estas variáveis, implementam-se ações no intuito de
diminuir o impacto ambiental. Após a implementação, os resultados devem ser
medidos e monitorados para daí, poder aperfeiçoar o processo e encaminhá-
los a política ambiental da organização.
Figura 05: Modelo de Gestão ambiental para a indústria têxtil
Fonte: Pesquisa direta, 2005
Política ambiental
Diagnóstico
Prioridades identificadas
Programas ambientais / Planos
operacionais
Poluição
sonora
Poluição
do ar
R
ecurso
s
hídricos
Resíduo
s sólidos
Consum
o de
energia
Implementar ações para diminuição do
impacto ambiental
Medir resultados / Monitorar as etapas
Aperfeiçoar o
processo
106
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Instrumentos de Pesquisa
Objetivos Pretendidos
Variáveis Utilizadas
Pesq.
Bibl.
Col.
Doc.
Pesq.
Camp.
Obs.
Dir.
Ent.
- Resistência,
comprimento e
uniformidade da fibra
x x x x x
-Perda no processo x x x
- Qt. de máquinas
envolvidas
x x x x
- Produtividade x x x
- Tempo de
processamento
x x x x
- Energia x x x
- Água x x x
1
1
.
. Descrever o
processo produtivo
têxtil do algodão
comum e do algodão
colorido em cada
etapa do processo de
fiação e malharia
- Mão-de-obra envolvida
x x x x
- Resistência,
comprimento e
uniformidade da fibra
x x x x x
- Tempo de setup x x x x
- Perda no processo x x x
- Custo no processo
x x
- Tempo de
processamento
x x x x
- Mão-de-obra envolvida
x x x x
- Qt. de máquinas
envolvidas
x x x x
- Energia x x x
- Água
x x x
- Produção (dia)
x x x
2. Comparar o
processo produtivo do
algodão comum com o
algodão colorido nos
segmentos de fiação e
malharia como um
todo
- Produtividade
x x x
- Consumo de água x x x x
- Consumo de energia x x x
- Toxicidade dos
efluentes
x x x x x
3. Identificar os
impactos ambientais
do algodão comum em
todas as etapas do
processo produtivo
das indústrias
pesquisadas
- Nível de ruído x x x x x
- Consumo de água x x x x
- Consumo de energia x x x x
4. Verificar os
benefícios ambientais
ocorridos com a
industrialização do
algodão colorido
- Toxicidade dos
efluentes
x x x x x
Quadro 11: Esquema geral de pesquisa nas indústrias objeto de estudo
Fonte: Pesquisa direta, 2004
107
Muitas pessoas devem a grandeza de suas vidas
aos problemas e obstáculos que tiveram de vencer
Spurgeon
CAPÍTULO IV – RESULTADOS ALCANÇADOS
Este capítulo apresenta os resultados da pesquisa realizada
conforme os procedimentos metodológicos relatados no capítulo antecedente.
A priori, far-se-á uma exposição das características mais gerais
das empresas objeto do estudo, procurando-se expor, aos leitores, o processo
produtivo que cada uma das empresas utiliza deixando-os, assim, mais
familiarizados com a pesquisa.
Esta estrutura de apresentação foi escolhida com o propósito de
se alcançar cada objetivo específico pretendido, tornando o documento mais
consistente e compreensível.
Deseja-se que o objetivo geral seja atingido como resultante do
alcance dos objetivos específicos, reservando-se o capítulo posterior para as
conclusões e recomendações.
4.1 DESCRIÇÃO DAS EMPRESAS OBJETO DO ESTUDO
O setor têxtil é constituído dos segmentos de fiação, tecelagem e/ou
malharia e acabamento de malhas e tecidos. A descontinuidade do processo
produtivo é uma característica marcante da indústria têxtil, razão pela qual
108
suas etapas não precisam ser, necessariamente, internalizadas pelas
empresas. É comum a especialização em apenas um ou dois segmentos,
como é o caso das empresas objeto de estudo.
A pesquisa foi realizada em duas empresas, uma de pequeno porte,
destinada apenas ao seguimento de malharia, e a outra, multinacional
destinada apenas à fabricação do fio (fiação), identificando-se, em cada
uma, as peculiaridades do seu sistema produtivo.
4.1.1 Empresa Têxtil 1 – Fiação
A empresa de fiação está localizada na cidade de Campina Grande,
Paraíba, com área total de 670.640 m
2
e área construída de 132.531 m
2
,
enquadrando-se no segmento tradicional por se inserir no gênero industrial
têxtil. Seu quadro de funcionários é de 1.170, estando, assim, distribuídos:
164 no setor administrativo e 1.006 no setor produtivo. Seu regime de
trabalho obedece a dois turnos: o primeiro se inicia às 6:00h e termina às
18:00h e o segundo, das 18:00h às 06:00h. Esses trabalhadores trabalham
quatro dias consecutivos e folgam dois, por semana. Sua estrutura
organizacional se apresenta conforme o organograma exposto na Figura
06:
109
Figura 06: Organograma da Empresa de Fiação
Fonte: Documentação cedida pela empresa, 2004
Este organograma apresenta a complexidade de seus
departamentos. Sua estrutura organizacional está assim distribuída: no topo
encontra-se o diretor geral, que comanda toda a organização; logo abaixo,
estão as gerências dos departamentos, comandadas por engenheiros que têm,
sob sua responsabilidade, alguns subsetores, como o gerente da controladoria
que responde pela contabilidade e patrimônio, a divisão da engenharia,
responsável pela manutenção elétrica, mecânica, predial, térmica e por novos
projetos.
A seguir, vê-se a divisão do financeiro com contas a pagar,
importação e exportação; depois se tem a divisão de suprimentos, encarregada
Divisão
Controladoria
Divisão da
Produção
Contas a
Pagar
Contabilidade
Patrimônio
Divisão de
Processo
Têxtil
Divisão de
Suprimentos
Di
visão do
Financeiro
Divisão da
Engenharia
Importação
Exportação
Laboratório
Físico
Qualidade
PCP
D
ivisão de
Recursos
H
umanos
Compras
Elétrica
Civi
l
Térmica
Mecânica
Novos
Projetos
Almoxarifado
Expedição e
Faturamento
Matéria
Prima
Setor de
Pessoal
Setor de
Medicina e
Segurança
do Trabalho
Setor de
Transporte
Segurança
Patrimonial
RS
T
DIRETOR
110
por setores como compras, expedição e faturamento, almoxarifado e matérias-
primas.
Na divisão do processo têxtil encontram-se o laboratório físico, o
PCP e a gestão da qualidade e, nos recursos humanos, o setor de pessoal, o
setor de medicina e segurança do trabalho, a segurança patrimonial, o setor de
transporte e o recrutamento, seleção e treinamento de pessoal. A única
gerência que não tem nenhum outro setor sob sua responsabilidade, é a
produção, que fabrica produtos como fios de algodão e poliéster, divididos em:
100% algodão, 100% poliéster, 50/50% (poliéster/algodão), 67/33%
(poliéster/algodão), 45/55% (algodão/poliéster), 90/10% (poliéster/algodão),
dentre outros. Sua capacidade de produção/dia é de 152 toneladas, variando
de acordo com o artigo fabricado.
A empresa destina 96% de sua produção de fio a todo o Brasil e
apenas 4% à exportação; sua produção é contínua, sofrendo paradas apenas
duas vezes ao ano, ou seja, na Sexta-feira Santa e no Dia do Trabalho.
É uma empresa muito organizada, porém ainda não tem
certificação ISO 9000, estando em processo de padronização de seus
procedimentos. Na área de segurança existe a Comissão Interna de Prevenção
de Acidentes CIPA, renovada a cada ano e cuja meta primordial é a
segurança de seus funcionários. Quanto à gestão ambiental, esta também não
tem certificação ISO 14000, mesmo porque neste tipo de empresa não há nada
que venha verdadeiramente comprometer o meio ambiente; no tocante à
responsabilidade social, ela trabalha dois anos com uma escola de
formação profissionalizante para jovens entre 15 e 16 anos, que estão na faixa
de risco.
111
4.1.2 Empresa Têxtil 2 – Malharia
A empresa de malharia localiza-se na cidade de João Pessoa, Paraíba, e
ocupa 44.000 m
2
de área, sendo 4.730 m
2
de área construída para tinturaria
e 200 m
2
de área destinada ao sistema de tratamento de efluentes; se
enquadra no segmento tradicional por se inserir no gênero industrial têxtil;
seu quadro de funcionários é pequeno, se comparada à empresa de fiação,
contando apenas com 80 funcionários no total, dentre os quais: 14 no setor
administrativo e 66 no setor produtivo. Seu regime de trabalho obedece a
três turnos: o primeiro das 6:00h às 14:00h; o segundo das 14:00h às 22:00h
e o terceiro das 22:00h às 6:00h, trabalhando-se seis dias e folgando um por
semana.
Sua estrutura organizacional se apresenta conforme o
organograma representado na Figura 07:
Figura 07 Organograma Simplificado Empresa de Malharia
Fonte: Documentação cedida pela empresa, 2004
DI
RETORIA
Gerente Geral
S.A.C
RH
Contabilidade
Sistema
Financeiro
Supervisor
de
Produção
Secretaria
Vendas
112
O organograma desta empresa é bastante simplificado, contando com uma
diretoria e um gerente geral, que coordena os setores de produção,
financeiro, vendas, contabilidade e recursos humanos.
O serviço de atendimento aos clientes, e a secretaria, estão
ligados à diretoria e à gerência, como órgãos de assessoria.
O setor de produção, foco desta pesquisa, fabrica
as linhas de produtos finais, como a meia malha, divididas em: cotton,
malha piquê, moletinho, helanca, camisaria trabalhada e outros.
A indústria processa 06 toneladas de malha por dia, o equivalente a: 150
toneladas/mês e a 1800 toneladas/ano.
Quanto ao tipo de produção, esta é contínua.
A empresa destina 95% de sua produção a todo o Brasil e 5% à exportação.
Apesar de se tratar de uma pequena empresa, seu nível de organização é
muito grande, tudo é muito padronizado; todavia, ainda não existe
certificação ISO 9000. Na área de segurança sua preocupação é notória e
se estende a todos, principalmente àqueles que compõem a CIPA. Quanto à
questão ambiental, também não certificação ISO 14000, apesar da
empresa estar inteiramente preparada; porém, devido os custos serem
efetivamente altos, não como absorvê-los nem repassá-los aos
consumidores.
Embora seja uma pequena indústria, existe trabalho realizado na
área de responsabilidade social que consiste em um projeto de tratamento de
efluente avançado e de última geração.
113
4.2 DESCRIÇÃO DOS PROCESSOS PRODUTIVOS NAS
INDÚSTRIAS PESQUISADAS
Esta pesquisa foi realizada em duas empresas têxteis, isto é, nas duas
unidades mais típicas da cadeia têxtil: fiação e malharia. Neste sub-capítulo
serão discutidos melhor os processos produtivos que lhes são peculiares.
4.2.1 Produção do Fio - Empresa 1
A fibra do algodão é fornecida às indústrias têxteis em fardos
prensados, em torno de 210 kg. O processamento dos fardos é efetuado pelas
indústrias de fiações, podendo-se encontrar indústrias verticalizadas que, além
de fiação, apresentam também tecelagem e acabamento, não sendo o caso,
porém, da indústria visitada.
Pode-se iniciar a descrição do processo de industrialização das
fibras de algodão no processo de produção têxtil, da seguinte forma: o
algodão em pluma chega à fábrica em forma de fardo prensado; um grupo
predeterminado de fardos é aberto para alimentação das máquinas que
formam um conjunto de máquinas chamado abertura e limpeza que tem,
como finalidade, promover a separação e a limpeza das fibras; o algodão
assim trabalhado é conduzido em forma de manta ou de flocos, para um
outro componente do sistema de abertura, denominado carda. Esta
máquina, composta de cilindros com guarnição de metal e barras de grelha,
promove uma separação maior e limpeza das fibras; a partir deste ponto, o
material em processo assume a forma de fita, aparentemente cilíndrica.
114
Através de um sistema mecânico chamado trem de estiragem, as
máquinas subseqüentes promovem um afinamento programado e constante no
material, até a obtenção do fio. Este processo de estiragem aplicado à fita, é
acompanhado de duplicação nos passadores e de torção, onde é formado o
pavio, que passa para o filatório, onde é finalmente formado o fio, com diâmetro
correspondente ao que se chama título.
A embalagem do fio saído da sala de fiação poderá ser destinada
a qualquer um dos sistemas formadores de tecido, malha ou plano, após
passar pelos processos de preparação. Dependendo da destinação final do
tecido, o mesmo poderá passar ou não por processos químicos, tornando-se
tinto ou estampado.
Em todo o processo de fabricação do fio observa-se a automação
do sistema, uma vez que a cada etapa em que se realiza a operação a própria
máquina faz um prévio controle de qualidade, rejeitando o material que não
serve.
O fluxograma do processo indicado na Figura 08, apresenta, de
forma compactada, esta descrição, identificando ainda os impactos ambientais
no processo com os dois tipos de algodão.
115
Símbolos do Gráfico Descrição do Processo
Transporte do fardo de algodão à fábrica
Inspecionar e abrir fardo na linha de abertura
Impactos verificados: poeira, ruído de 89Db
Algodão transportado para as cardas
Inspecionar e paralelizar as fibras nas cardas
Impactos verificados: poeira, ruído de 89Db
Transporte de fitas aos passadores de 1a.
Inspecionar e afinar o material
Impactos verificados: poeira, ruído de 85Db e
calor
Transporte de fitas aos passadores de 2a.
Inspecionar e afinar o material
Impactos verificados: poeira, ruído de 85Db e
calor
Transporte de fitas mais afinadas
Inspecionar e formar o fio
Impactos verificados: ruído de 97Db e calor
Transporte do fio
Inspecionar e embalar o fio
Impactos verificados: ruído de 80Db e calor
Armazenamento do fio para futuro destino
Figura 08: Fluxograma do processo produtivo do fio de algodão colorido e branco
Fonte: Pesquisa direta, 2004
Dentro da seqüência de produção citada diz-se que o fio é o
primeiro produto acabado na linha de produção, já que pode ser comercializado
após sofrer um processo de bobinagem, em se tratando de sistema anel, ou
em sua embalagem original, em se tratando de fio a rotor open end.
116
Em resumo, o algodão é processado na sala de abertura, nas
cardas nos passadores de primeira e segunda passagem e no filatório open-
end. Não há despejo industrial em nenhum desses processos; observam-se,
entretanto, alguns impactos ambientais nesta área, como os níveis de ruído,
chegando a 97 decibéis na etapa de fiação, o calor gerado pelas máquinas,
apesar de haver climatização, e o oriundo das partículas de algodão
resultantes do processo de fiação.
No tocante às características intrínsecas do algodão colorido x
algodão branco, conforme dados coletados por meio de documentação
fornecida pela empresa objeto de estudo e testes realizados no aparelho HVI
da mesma empresa, tem-se os seguintes parâmetros quanto às características
físicas do algodão colorido, mostrados no Quadro 12.
Características Algodão Colorido (Marrom) Classificação
Resistência da fibra 25,9 gtex
Média
Comprimento da fibra 26,3 em SL 2,5% (m) Média
Uniformidade da fibra 80,0% (UI) Média
Quadro 12: Características físicas do algodão colorido
Fonte: Pesquisa direta, 2004
De acordo com os resultados expressos no Quadro 12, observa-
se que a resistência do algodão de fibra colorida é considerada boa para se
obter rendimento satisfatório no processo; da mesma forma, seu comprimento
e uniformidade média garantem um resultado também satisfatório para fiação
do tipo open-end.
117
Segundo o gerente de processo, após ter observado os números
fornecidos pelo aparelho HVI no tocante ao algodão colorido, esses valores de
resistência e comprimento podem ter sofrido interferência direta da umidade
relativa do ar que, de acordo com sua observação, estava com cerca de 48%
fora do laboratório (local onde foi colhida a amostra para teste) e cerca 65%
dentro do laboratório, ou seja, caso não tivesse havido interferência deste fator
sobre as variáveis, os números observados seriam outros garantindo,
possivelmente, melhor característica física à fibra do algodão colorido.
Todavia, para se fazer um estudo comparativo dessas
características, foi necessário se obter dados do algodão branco (comum),
cujas características estão representadas no Quadro 13.
Características Algodão Branco (Goiás) Classificação
Resistência da fibra 27,8 gtex
Resistente
Comprimento da fibra 28,78 em SL 2,5% (m) Longa
Uniformidade da fibra 83,1% (UI) Uniforme
Quadro 13: Características físicas do algodão branco
Fonte: Pesquisa direta, 2004
Analisando-se o Quadro 13, verifica-se que a resistência do algodão comum
é um pouco melhor que a indicada no Quadro 12 comparando-se com o
algodão colorido, o que lhe confere melhor rendimento, com comprimento da
fibra mais longo e mais uniforme, garantindo-lhe um desempenho melhor na
fiação.
Para efeito de análise comparativa no processo envolvendo o algodão
branco e o colorido, faz-se necessário, a priori, tecer alguns comentários a
118
respeito dos indicadores utilizados na pesquisa, com o intuito de garantir
uma melhor compreensão da mesma.
Assim, esclarece-se que:
1. O comparativo no processo envolvendo os dois tipos de
algodão foi realizado nas mesmas máquinas; apresentando,
entretanto, maior e melhor ênfase ao processo de fiação
propriamente dito, mais precisamente nas máquinas open-
end, uma vez que as demais dariam resultados puramente
técnicos, dificultando ainda mais a compreensão daqueles
que não estão diretamente envolvidos com a pesquisa
2. Em relação à quantidade de quina observada, aponta-se
que dentro de um universo de 06 linhas de abertura, 96
cardas, 56 passadores e 94 open-ends, utilizaram-se, na
pesquisa, apenas 01 linha de abertura, 08 cardas, 01
passador e 1,5 open-end, devido à pouca quantidade de
material a ser trabalhada
3. Quanto à mão-de-obra empregada no processo completo,
tem-se 06 operadores para cada linha de abertura, 01
operador para 16 cardas, 01 operador para 04 passadores e
01 operador para 07 open-ends.
Para iniciar o processo de fabricação do fio colorido, é conveniente parar a
linha de abertura (06 máquinas) até as cardas (08 máquinas) e fazer uma
limpeza minuciosa para retirada de todo o material antes utilizado; neste
processo estão envolvidas 07 pessoas, das quais uma é encarregada pela
119
seção e as outras seis operadoras, também da seção. Enquanto essas
máquinas estão sendo limpadas, o processo nos passadores e na fiação
está em andamento para finalização do fio comum. Essas duas máquinas
não vão precisar da limpeza minuciosa, pois o grau de contaminação de um
algodão (branco) com outro (colorido) é praticamente nulo. Ressalta-se que
este mesmo processo é realizado para troca da fabricação do fio colorido
para o branco.
Assim, de acordo com a pesquisa realizada in loco entre os dias 09/12/04 a
11/12/04 no processo de fiação open-end na indústria têxtil de Campina
Grande, uma vez neste período ter havido boa produção em quilos
envolvendo o algodão colorido, cerca de doze toneladas, verificou-se que o
tempo de setup
3
do algodão colorido e do algodão comum fica em torno de 1
hora, ou seja, neste tempo as máquinas da abertura e cardas são limpas
para processar o novo produto não havendo, portanto, diferença entre o
tempo de setup para utilização do algodão colorido e tempo de setup
envolvendo o algodão comum, independentemente da quantidade de
algodão que será processada.
A quantidade de máquinas envolvidas no processo é indicada pela urgência
no pedido; assim, pode-se processar X toneladas de fio em uma única
máquina ou esta mesma quantidade pode ser processada num grupo inteiro
de máquinas, ou seja, envolvendo as 08 máquinas do grupo.
3
Nesta indústria só existe setup na troca de matéria-prima (algodão – poliéster) ou para manutenção
preventiva (perda programada); todavia, como cerca de 99% dos fios fabricados são de algodão, este
tempo de setup só é realmente medido quando se trabalha, eventualmente, com a fabricação do fio
colorido
120
Quanto à perda de material no processo produtivo, nota-se que esta, por ser
uma questão de escala, é bem mais intensificada com a utilização do
algodão colorido, sua quantidade ser ainda muito pequena para se trabalhar
nesta indústria, onde a capacidade de produção/dia é de 152 toneladas e a
maior quantidade processada deste algodão foi, até hoje, de 15 toneladas.
Para se ter uma idéia, cerca de 10% do algodão colorido são perdidos
dentro das máquinas e não podem ser reprocessados devido à sua pequena
quantidade, diferentemente do algodão branco, que retorna ao processo
garantindo uma perda entre 5% e 7%, considerada normal para este tipo de
indústria.
Este índice de perda pôde ser conferido nesta pesquisa, ao verificar que no
dia 09/12/04 entraram doze toneladas de pluma de algodão colorido e
saíram 10,8 toneladas de fio, no dia 11/12/04, dia em que se finalizou a
produção do artigo com este tipo de algodão.
Segundo o gerente da contabilidade da indústria estudada, quanto ao custo
de industrialização este valor fica em torno de R$ 6,58 para cada quilo de
algodão branco; para o algodão colorido, este custo não é medido de vez
que a matéria-prima não é comprada e, sim, doada pela Embrapa Algodão,
para que se realizem experimentos. Ele garante que a grande vantagem na
redução dos custos é verificada no processo de beneficiamento xtil,
quando não se necessita utilizar corantes no processo de tingimento.
Quanto ao tempo de processamento, este é determinado pela quantidade de
matéria-prima e pelo artigo a ser produzido; assim, o tempo para se fabricar
um fio para malha do algodão colorido será o mesmo observado para se
fabricar um fio para malha do algodão branco, desde que as quantidades de
121
matérias-primas sejam as mesmas; entretanto, como se sabe que a
quantidade do algodão colorido é bem menor que a do branco, certamente a
confecção deste fio será em menor tempo, se comparado ao comum; logo,
para uma linha de abertura a quantidade de doze toneladas será consumida
em cerca de 4 horas e, na fiação, conforme o tipo de fio pedido, este tempo
ficará em torno de dois dias.
Quanto à produtividade, esta determinada pela eficiência das máquinas; ou
seja, produção real dividida pela produção teórica; não diferença no uso
dos dois tipos de algodão, verificando-se uma produtividade de 93% para o
algodão branco e para o colorido (Quadro 14).
VARIÁVEIS Algodão comum Algodão colorido
1. Tempo de setup 1hora 1 hora
2. Perda no processo
(%)
10% 5 a 7%
3. Custo de
industrialização
R$ 6,58 (M.P + M.O
+ impostos +
energia)
Valor não calculado
pela empresa
4. Tempo de
processamento
P/ 12 ton = 2 dias P/ 12 ton = 2 dias
5. Produtividade 93% 93%
Quadro 14: Valores comparativos para produção de fio utilizando-se os dois tipos de
algodão
Fonte: Pesquisa direta, 2004
Conforme o exposto, observa-se que em termos de fiação pouca
diferença no processo envolvendo os dois tipos de algodão; a única
diferença encontrada foi quanto à perda no processo, que se explica pelo
fato de ainda se estar trabalhando com uma quantidade ínfima de algodão
122
colorido, impossibilitando que o material perdido no processo possa retornar.
Em outras palavras, esta perda verificada seria uma perda por escala que, a
medida em que fosse sendo aumentada a quantidade de algodão colorido
no processo, provavelmente esta porcentagem de perda se equiparia com a
do algodão comum, entre 5 e 7%.
Outro importante ponto que não se pode deixar de comentar, é que esta é
uma realidade específica, ou seja, a indústria estudada tem capacidade de
produção gigantesca que, talvez, nunca se equivalha à quantidade
produzida desta nova matéria-prima; sendo assim, é oportuno dizer que
esses dados obtidos podem, em outra realidade, ou até mesmo, em uma
indústria de menor porte, por exemplo, apresentar uma porcentagem de
perda menor na fiação.
4.2.2 Produção da Malha – Empresa 2
A indústria têxtil em questão, inicia seu processo produtivo com
a compra dos fios para fabricação das malhas
4
, os quais são comprados de
indústrias locais, como a Ficamp, Norfil, Coteminas e Brastex, dentre outras.
Desses fios, 80% são de algodão (Co), 15% de poliéster (Pes) e 5% do fio
50/50 (Co/Pes), ou seja, a malha tem na sua composição, 50% algodão e
50% poliéster.
Comprados os fios, estes são levados para o processo de
malharia e, por meio de 15 teares circulares e 05 retilíneos, inicia-se o
processo produtivo propriamente dito. Os teares circulares são todos
4
Quanto ao algodão colorido, esta indústria comprou em 2004, toda a produção deste algodão, cerca de
80 toneladas, para produzir malhas; todavia, ressalta-se que as 80 toneladas compradas não foram
processadas em uma única vez
123
automatizados assim como as demais máquinas do processo, carecendo
apenas que os operadores tenham controle sobre a hora de início da
operação e a hora final e os problemas ocorridos durante o processo, ou
seja, um histórico da máquina para em qualquer eventualidade de erro,
poder saber de onde surgiu.
Esses teares circulares são responsáveis pela fabricação das
malhas, enquanto os teares retilíneos fazem as golas das camisas piquê.
A produtividade deste setor é, na realidade é o rendimento do
fio ou do produto, comparando-se a relação entre o fio consumido para
determinada ordem de tingimento e o produto final. Esta diferença é a perda
no processo em virtude da poeira de malharia, resíduos de sujeiras retiradas
na preparação da malha e resíduos que saem durante o tingimento nas
máquinas. Para malha de algodão comum, esta produtividade é, em média
92%; para a malha do algodão colorido 85% e, para o poliéster, 98%, este
último índice considerado melhor por se tratar de uma fibra plástica e não
ocorrer tanto rompimento quanto na fibra natural (algodão).
Após a malha ficar pronta o operador se encarrega de pesá-la,
etiquetá-la e colocá-la em um estoque provisório para, logo em seguida, ser
levá-la para outra máquina, a revisadeira, que, como o próprio nome sugere,
revisará todas as peças de malha prontas, detectando ou não algum tipo
de defeito, como: fio cortado e pontos grossos, entre outros.
Necessariamente, estes não serão empecilhos para serem colocados na
próxima etapa do processo, uma vez que referidos defeitos são anotados e
passados em uma Ordem de Beneficiamento (OB), para os processos
124
posteriores, que tomam conhecimento, antecipadamente, do que ocasionou
determinada falha.
A próxima etapa é a preparação para o beneficiamento da
malha que, de acordo com os pedidos dos clientes, irá para a Estabilizadora
I ou para o Hidro-relaxador, em que a primeira trabalha com soda cáustica,
realizando uma pré-limpeza da malha, proporcionando aumento da
densidade da malha e, conseqüentemente, melhorando o processo de
beneficiamento; a segunda, utilizando outros produtos químicos, exceto a
soda cáustica, realiza também, uma pré-limpeza da malha e proporciona um
toque bem mais agradável, uma vez que a soda deixa o tecido mais áspero.
O tempo deste processo gira em torno de 8 a 24h, dependendo dos produtos
utilizados; na máquina em que se faz uso da soda cáustica, o processo
dura, em média, uma hora.
Ressalva-se que o tempo durante o qual a malha absorve tais
produtos, ela não permanece na quina e, sim, em um recipiente coberto
ao lado; desta forma, a máquina realiza seu trabalho normalmente em
relação às demais malhas. Depois desta preparação é que se inicia o
processo de tingimento que, dependendo da cor, demorará em média de 03
a 6,5h.
Existem 06 máquinas de tingimento, das quais três trabalham
com 300kg em cada partida e as outras três com 150kg também em cada
partida.
De acordo com dados fornecidos pelo gerente de produção,
gastá-se, em média, 1m
3
de gás natural/kg malha tingida; 1,13 kW de
125
energia/1kg malha tingido e 120L de água/kg
malha tingida, sendo 112L/m
3
de malha na tinturaria e 8L de água/m
3
malha na caldeira.
A água utilizada neste processo é enviada por meio de
tubulação para a Estação de Tratamento de Efluentes ETE, que depois de
tratada é devolvida ao meio ambiente, com pH, DBO e DQO normais e a
temperatura ambiente. As faixas ideais especificadas segundo a Resolução
do Conama N
o.
20, são: entre 6.0 e 9.0 para o pH; até 5mg/l O
2
para DBO e
para DQO; não há um valor quantificado para ser lançado no meio ambiente.
A empresa não utiliza o reúso d’água nos setores de tinturaria e
acabamento, em razão deste processo ser ainda muito caro, preferindo, daí,
tratamento biológico na ETE.
A cor da malha é definida de acordo com a quantidade de
corantes utilizados; por exemplo, se se quer tingir uma malha, para que esta
adquira cor laranja é necessário ter uma quantidade x de um corante e outra
quantidade y de outro corante; essas quantidades são previamente
determinadas pelos próprios fornecedores do produto, cabendo-lhes a
responsabilidade, caso a cor o saia de acordo com o pedido do cliente.
Para se garantir a quantidade precisa de corantes faz-se uso de uma
balança. Os demais produtos químicos utilizados são separados por uma
pessoa específica, da própria fábrica.
Por fim, tem-se a etapa do acabamento da malha, que se
diferencia pelo tipo, ou seja, para o acabamento da malha de algodão será
dado um acabamento tubular, em que a quina (hidro-extrator) faz uma
abertura tubular e coloca o amaciante, levando-o em seguida para o secador
a gás, que secará a malha a cerca de 150
o
C; depois, passará por um
126
vaporizador, uma calandra para dar compactação, forma, largura e
gramatura (gr/m
2
) ao tecido; por fim, o bobinador.
Nesta fase, o próprio operador faz a inspeção de cada peça
produzida, sendo permitidos de 03 a 05 defeitos em até 10% dos rolos de
malha fabricados; depois, os rolos são plastificados e levados ao estoque
para serem embalados em caixas de papelão e enviados aos seus
respectivos destinos.
Para todo o processo, desde a fabricação da malha até a fase
de inspeção, o necessários 20 operadores por turno, assim divididos: 08
para malharia e revisadeira (sendo 1 líder e 7 operadores); 01 líder para a
preparação do beneficiamento; 01 operador para o estabilizador e hidro-
relaxador (no caso do algodão colorido não há necessidade deste operador);
03 no processo de tingimento e 07 no acabamento, sendo 03 para o
acabamento aberto e 04 para o acabamento tubular. Neste quadro de
funcionários ainda se conta com 01 programador, 01 supervisor de produção
e 04 pessoas na manutenção.
Nominalmente, a produção dia de produto acabado é de 06
toneladas, com perda no processo girando em torno de 5 a 7% de algodão e
3 a 4% no poliéster.
A Figura 09 apresenta o fluxograma do processo produtivo da
malha do algodão comum:
127
Símbolos do Gráfico Descrição do Processo
Fios são levados para malharia
Fabricação da malha
Transporte para a balança
Pesar e etiquetar a malha
Malha levada para um estoque provisório
Esperar para ser inspecionado
Malha sendo levada para revisadeira
Inicia-se a inspeção na revisadeira
Malha encaminhada para a preparação para o
beneficiamento
Armazenamento intermediário de malha
Malha sendo beneficiada na estabilizadora (mercerizadeira)
e/ou hidro-relaxador
Malha esperando para ser tingida
Tingir
Transporte da malha tingida para o acabamento
Acabamento sendo realizado no hidro-extrator
Transporte para o secador
Secar malha
Transporte para o vaporizador
Malha esperando ser vaporizada
Vaporizar malha
Transporte para a calandra
Malha esperando receber compactação, forma, largura e
gramatura
Compactar malha nas calandras
Inspecionar, bobinar e plastificar os rolos das malhas
Transporte para embalagem
Malhas embaladas em caixas
Armazenamento dos rolos de malha
Figura 09: Fluxograma do processo produtivo da malha do algodão comum
Fonte: Pesquisa Direta, 2004
128
Concernente ao processo produtivo do poliéster, este difere
quanto ao princípio de tingimento pois, por se tratar de uma fibra sintética
derivada do petróleo, seu tingimento não penetra nas fibras e, sim, apenas
de forma superficial. Outra etapa diferente é o acabamento que, a uma
temperatura dá estabilidade à fibra com memória plástica do material.
A Figura 10 mostra o fluxograma do processo produtivo do
poliéster.
129
Símbolos do Gráfico Descrição do Processo
Fios são levados para malharia
Fabricação da malha
Transporte para a balança
Pesar e etiquetar a malha
Malha levada para um estoque provisório
Esperar para ser inspecionado
Malha sendo levada para revisadeira
Inicia-se a inspeção na revisadeira
Malha encaminhada para armazenamento
intermediário
Estoque de malha para ser tingida
Tingir
Transporte da malha tingida para o acabamento
Acabamento sendo realizado no abridor e na rama para
amaciamento, secagem e dimensionamento
Inspecionar, bobinar e plastificar os rolos das malhas
Transporte para embalagem
Malhas embaladas em caixas
Armazenamento dos rolos de malha
Figura 10: Fluxograma do processo produtivo da malha do poliéster
Fonte: Pesquisa Direta, 2004
130
Comparando-se o processo do algodão comum com o do
algodão colorido, observa-se o suprimento das fases da preparação para o
beneficiamento e do tingimento, que esta matéria-prima não necessita de
coloração nenhuma nem, tampouco, de qualquer produto químico, uma vez
sua coloração já ser natural.
Outro ponto a se observar diz respeito ao tempo de
processamento da malha de algodão comum que, com a utilização do
beneficiamento mais o processo de tingimento, leva em torno de 4h no
tempo mínimo e 30h no ximo para ser colocado na última etapa do
processo, que é o acabamento, ou seja, a malha de algodão colorido ganha,
no mínimo, 4h de trabalho.
Conforme relato do gerente geral da fábrica, cerca de 15% do
custo de produção estão relacionados diretamente aos produtos químicos
utilizados no processo de tingimento; todavia, embora sobre a malha do
algodão colorido não recaia nenhum custo químico e seu processo seja
reduzido em cerca de 20%, em outras palavras, 2/3 do processo não são
executados, pode-se dizer que o custo final do colorido é maior que o do
algodão normal, tendo em vista os volumes e estoques que se tem que ter
de fios e malhas prontas que não giram em estoque.
Outro dado que não pode passar despercebido é o fato de que,
antes do algodão colorido entrar na máquina, é imprescindível que esta
esteja verdadeiramente limpa, sem nenhum vestígio de corante utilizado em
outros tingimentos, para que assim se garanta sua qualidade de
ecologicamente correto.
131
Quanto ao processo de acabamento, que dura em média 2h,
este se dará da mesma forma como ocorre com o algodão comum, exceto a
aplicação de amaciante.
O tempo de setup verificado, in loco, no processo de
tingimento, foi de 15 minutos (em média) partindo de cores mais escuras
para mais claras e de 25 minutos partindo de cores mais claras para o
branco, que é o caso do algodão colorido; no processo de acabamento
com limpeza mais severa no hidro-extrator e secador, este tempo é de 1hora
para o algodão colorido e de 10 minutos para a malha do algodão comum,
isto é, o tempo de setup para se fabricar a malha do algodão colorido se
torna maior pelo fato das máquinas terem que ser muito bem lavadas para a
retirada de todos os resquícios de corantes deixados no processo anterior;
assim, enquanto se demora em média, 25 minutos para se preparar a
máquina para fabricação de malha com o algodão normal, este tempo se
eleva para 1h e 25 min; em se tratando do algodão colorido, ou seja, o seu
tempo de setup é 3,4 vezes maior.
Em termos de mão-de-obra empregada verificou-se ser
reduzida em 5% ao se trabalhar com a malha do algodão colorido.
A Figura 11 apresenta o fluxograma do processo produtivo da
malha do algodão colorido.
132
Símbolos do Gráfico Descrição do Processo
Fios são levados para malharia
Fabricação da malha
Transporte para a balança
Pesar e etiquetar a malha
Malha levada para um estoque provisório
Esperar para ser inspecionado
Malha sendo levada para revisadeira
Inicia-se a inspeção na revisadeira
Malha encaminhada para lavação
Malha sendo lavada no hidro-extrator, sem adição de
amaciantes
Transporte da malha lavada para o acabamento
Secar malha no secador
Transporte para o vaporizador
Vaporizar a malha
Transporte para caldeira
Compactar malha nas calandras
Inspecionar, bobinar e plastificar os rolos das malhas
Transporte para embalagem
Malhas embaladas em caixas
Armazenamento dos rolos da malha
Figura 11: Fluxograma do processo produtivo da malha do algodão colorido
Fonte: Pesquisa Direta, 2004
133
O Quadro 15, apresenta, de forma sucinta, uma comparação
de ganhos e perdas no processo, com a utilização da malha do algodão
colorido
VARIÁVEIS
Malha do algodão
comum
Malha do algodão
colorido
1. Produtividade 92% 85%
2. Mão-de-obra total
envolvida
20 operadores 19 operadores
3. Quantidade de
máquinas envolvidas
09 ou 10 07
4. Tempo de
processamento
5 a 7 horas 4,8 horas
5. Energia
1,13KW / kg malha
tingida
0,80 kw / kg malha
6. Água
120L / kg de malha
tingida
40L /kg
7. Produção 06 toneladas (dia) Volumes artesanais
8. (%) Perda no
processo
5 a 7% 10%
9. Tempo de setup 25 min 1h 25 min
Quadro 15: Valores comparativos da malha do algodão comum com a malha do algodão
colorido
Fonte: Pesquisa direta, 2004
De acordo com os dados indicados no Quadro 16, observa-se
que a industrialização do algodão colorido tem suas vantagens,
principalmente no que se refere à economia de água, energia e tempo de
processamento, cujos 2/3 do processo não são realizados; todavia, não se
pode deixar de comentar sua produtividade que ainda é um pouco inferior,
comparando-se ao algodão branco, uma vez que sua produção está em
volumes artesanais; quanto à sua perda no processo, gira em torno de
134
10% e o número de operadores envolvidos é de 5% a menos. Seu tempo de
setup acaba sendo 3,4 vezes superior, em virtude das máquinas de
processamento terem de ser muito bem preparadas para garantir que o
produto saia realmente com a especificação de ecologicamente correto.
4.2.3 O Processo de Beneficiamento Têxtil e seus Impactos
Ambientais
Na tentativa de elucidar tudo o que foi comentado até o
momento. pode-se dizer que as indústrias têxteis pesquisadas são
constituídas de etapas que podem ser assim descritas:
Fio: produzido em máquinas especiais denominadas filatórios.
Malharia: processo pelo qual os fios são transformados em
malha.
Mercerização: consiste em embeber a malha em solução forte
de soda cáustica. A mercerização visa aumentar o brilho e a resistência à
tração e melhora a estabilidade dimensional da malha. Em alguns casos, as
sobras são bombeadas para os tanques de recuperação de soda, onde é
feita nova diluição para o reaproveitamento na máquina ou novamente para
mercerização. Caso o processo de recuperação não exista, ocorrerá o
descarte de um efluente com elevada alcalinidade. Com a recuperação da
soda tem-se um ganho neste componente e o tratamento de efluentes
economiza CO2 para o controle de pH. O processo garante maior
estabilidade dimensional; utilizam-se menos corantes, uma vez que eles
135
aderem melhor às fibras, proporcionando resistência superior à malha ou
tecido.
Pré-alvejamento: processo de branqueamento inicial da malha
através de limpeza das impurezas, como retirada de gorduras e outros
componentes ou compostos químicos. Em média, sua duração é de 1 hora e
meia. O pré-alvejamento é um processo prévio para tintura do tecido.
Alvejamento: consiste no branqueamento da malha de forma
mais apurada, com a função de se obter uma malha ou tecido com bastante
nitidez e uniformidade. Busca-se o branco ótico e condições para tintura em
cores claras. Esses processos de pré-alvejamento e alvejamento, são
seguidos de lavagem com água limpa. O peróxido de hidrogênio é um
exemplo de produto químico bastante agressivo usado nesta etapa.
Tingimento: consiste em um processo de tinturas de tecidos ou
malhas, variando sobre uma infinidade de cores muitas vezes semelhantes,
com pouca diversidade no tom, havendo uma especificação própria para sua
confecção, ou seja, a malha é passada por uma solução tinta, fixada a cor e
lavada. São utilizadas receitas únicas para cada cor, apresentando
quantidades exatas de corantes ou sua mistura; cada receita específica é
fator determinante para obtenção do resultado esperado. O banho preparado
para cada etapa de tingimento é desenvolvido em processo contínuo ou
descontínuo; no processo contínuo, o tecido, depois de impregnado num
banho contendo tinta e produtos químicos, é espremido entre rolos e
secado, enquanto os corantes e os auxiliares têm que ser específicos para o
tingimento contínuo; no processo descontínuo ou de esgotamento, a
malha ou tecido é tingido por cargas, colocado nas máquinas e se espera a
136
conclusão da operação para tingir nova carga, isto é, a malha vai sendo
passada pelo banho até se obter, gradativamente, a coloração do tecido. Se
o processo não é contínuo, os corantes podem ser diretos (tingimento por
cobertura da área a ser tingida) ou reativos, que consiste na reação química
entre o corante e a superfície a ser tingida. A quantidade de corante fixada
no tecido depende do artigo; por exemplo, para poliéster o esgotamento é
100%, para o algodão chega nominalmente a 85 ou 90%, dependendo da
máquina e do processo. Os efluentes do tingimento são variados devido aos
diferentes tipos de corantes e da maneira, pela qual são aplicados; em
grandes volumes, com forte coloração, alguns até podendo ser tóxicos.
Lavagem: as malhas tingidas são lavadas em lavadoras que
podem ser de fluxo contínuo e nas quais a malha vai entrando e passando
por câmaras, de onde sai lavada no final. A lavagem pode ser feita nas
próprias máquinas de tingimento, para depois as malhas seguirem direto
para as secadoras.
Amaciamento ou Acabamento: é a última fase de produção
úmida do beneficiamento e consiste na aplicação de gomas e resinas, que
são secadas ou fixadas sob temperaturas controladas, a fim de que o tecido
receba o toque solicitado pelo cliente, realizado por meio de processos
químicos e mecânicos.
Estas etapas podem ser melhor visualizadas na Figura 12 com
o fluxograma do processo, onde se encontram identificados e discriminados
os impactos ambientais.
137
Símbolos do Gráfico Descrição do Processo
Produção do fio na fiação
Impactos verificados: ruídos, calor, poeira do algodão processado
Transporte do fio da fiação para a malharia
Malha sendo fabricada a partir do fio
Impactos verificados: ruídos, penugens do fio de algodão e resíduos sólidos
como embalagens de papelão e plástico
Transporte da malha para a preparação para beneficiamento
Malha sendo embebida de soda cáustica no processo de mercerização.
Impactos verificados: ruídos, consumo de água e energia e geração de resíduos
líquidos, ainda que com pequena carga poluidora
Malha saindo do estabilizador I (mercerização) para o alvejamento
Malha sendo pré-alvejada e alvejada
Impactos observados: ruídos, consumo de água e energia e geração
de resíduos líquidos com percentagem de peróxido de hidrogênio
Malha sendo tingida e lavada para retirar o excesso de tinta
Impactos observados: ruídos, elevado consumo de água e energia e
geração de resíduos líquidos com grandes cargas de corantes
Transporte da malha tingida para o acabamento para ser amaciada
Malha sendo amaciada e secada
Impactos observados: ruídos, calor provocado pelo vapor das
máquinas e geração de resíduos líquidos como amaciantes, e de
resíduos gasosos, que são dispersos na atmosfera através de
ventilação do prédio
Inspeção e embalagem do produto
Transporte do produto pronto para ser armazenado
Armazenamento do produto final
Figura 12: Fluxograma do beneficiamento têxtil e seus impactos ambientais
Fonte: Pesquisa direta, 2004
138
O Quadro 16 faz uma comparação melhor definida em termos
de impactos ambientais verificados no processo produtivo, envolvendo os
dois tipos de algodão.
ETAPAS DO
PROCESSO
PRODUTIVO
Algodão comum Algodão colorido
1. Fiação
Ruídos, calor, poeira do
algodão processado e
consumo de energia
Ruídos, calor, poeira
do algodão
processado e
consumo de energia
2. Malharia
Ruídos, penugens do fio,
resíduos sólidos como
embalagens de papelão e
consumo de energia
Ruídos, penugens do
fio, resíduos sólidos
como embalagens de
papelão e consumo e
energia
3. Mercerização
Ruídos, consumo de
energia e geração de
resíduos líquidos (soda
cáustica)
Não existe este
processo
4. Pré-
alvejamento e
alvejamento
Ruídos, consumo de água
e energia e geração de
resíduos líquidos com
percentagem de peróxido
de hidrogênio
Não existe este
processo
5. Tingimento
Ruídos, elevado consumo
de água e energia e
geração de resíduos
líquidos com grandes
cargas de corantes
Não existe este
processo
6. Lavagem
Ruídos, consumo de água
e energia e geração de
resíduos líquidos como
resquícios de corantes do
tingimento
Ruídos, consumo de
água e energia
7. Acabamento
Ruídos, calor, consumo de
água e energia, geração de
resíduos líquidos como
amaciantes e resíduos
gasosos como o vapor das
máquinas
Ruídos, calor,
consumo de energia e
resíduos gasosos,
como o vapor das
máquinas
Quadro 16: Impactos ambientais verificados nas etapas do processo produtivo dos dois
tipos de algodão (branco e colorido)
Fonte: Pesquisa direta, 2004
139
Os impactos ambientais verificados dentro do processo
produtivo desde a fiação até a malha pronta, devidamente tingida e
amaciada são bastante diferenciados, partindo de impactos como ruídos,
calor e poeira, como os encontrados na fiação, até resíduos líquidos e,
muitas vezes, tóxicos, encontrados no processo de tingimento.
De todas as etapas que envolvem o processo de fabricação da
malha, a mais preocupante é a fase do tingimento, na qual se encontram
despejos tóxicos oriundos da manipulação dos corantes; a mercerização
que se utiliza de solução com soda cáustica, contribui com pequena carga
poluidora. O pré-alvejamento e o alvejamento também são preocupantes
com os impactos provocados, uma vez que são utilizados produtos químicos
muito agressivos, como o peróxido de hidrogênio. A lavagem, mesmo não se
utilizando nenhum produto químico agressivo gera, em seus despejos
líquidos, águas contaminadas com o restante dos corantes não impregnados
na etapa do tingimento, o que contribui para a toxicidade nos efluentes
têxteis.
Por fim, tem-se a etapa do amaciamento, na qual são
aplicadas, deslizantes e amaciantes que também contribuem para a
toxicidade dos efluentes têxteis, uma vez que despejam, no meio ambiente,
grandes quantidades de água com alta carga poluidora. Nesta mesma etapa,
se encontram também, despejos atmosféricos oriundos da secagem,
vaporização e calandragem.
Com o exposto, salienta-se a grande importância para a
indústria têxtil moderna trabalhar com o algodão colorido, uma vez que sua
140
contribuição para o meio ambiente se torna cada vez mais notória por não
utilizar produto químico na fabricação de seus produtos.
Conforme o Quadro 16, o processo fabril têxtil com o algodão
colorido não necessitará de etapas como mercerização, pré-alvejamento,
alvejamento e tingimento, o que reduz seus custos em torno de 15% em
relação aos produtos químicos; no tocante à quantidade de água e
energia gasta, ocorrerá também redução de 66,34% para água e de 29,21%
para energia.
Por o utilizar produto químico não haverá geração de
resíduos líquidos, a não ser a água utilizada para lavagem das máquinas de
tingimento, cuja contribuição é mínima para a toxicidade de efluentes têxteis.
Os únicos resíduos gerados com a fabricação de produtos de
algodão colorido são as embalagens de papelão em que vêm os fios e suas
bobinas, coletados e vendidos a terceiros. Quanto aos despejos
atmosféricos oriundos da secagem, também são dispersos na atmosfera, por
meio de ventilação do prédio.
4.2.4 Processos que Envolvem o Consumo de Água na Indústria
de Malharia
a) Preparação ou Beneficiamento
Destina-se à separação em lotes de malha, de acordo com a
capacidade do maquinário existente.
b) Tingimento
141
O processo por esgotamento é o que se pode chamar de
Processo Universal de Tingimento, pois se pode tingir com qualquer corante
e qualquer tipo de fio. O processo por esgotamento do banho permite
numerosas variações quanto à regulagem de temperatura, adição de
produtos químicos auxiliares, sua ordem de adição, dosagem e, por
conseqüência, melhor adaptação às condições mecânicas e práticas.
O tingimento, como explicado em capítulo anterior, consiste em
fixar o corante sobre a fibra, tendo dois aspectos a considerar:
- manter o material a ser tingido em contato com o corante, a
fim de que este seja absorvido pelas fibras
- obedecer irrestritamente aos processos e padrões praticados
para se obter um tingimento perfeito, lembrando-se de que, quanto à fixação
do corante sobre as fibras, para cada classe de corantes existe um tipo de
fixador ou um processo de fixação.
c) Lavagem Final e Amaciamento
O objetivo deste processo é eliminar todo o corante não fixado,
proporcionando solidez com cores limpas e brilhantes, conferindo também
excelentes condições de desempenho nas operações subseqüentes.
As características desejáveis numa boa lavagem final, são: boa
lubrificação da malha, perfeito deslizamento, maciez e resistência da malha.
d) Hidro-extração
Processos pelo qual é extraído o excesso de água da malha
tingida antes de ser encaminhada ao processo de secagem.
e) Cozinha de Cores
142
Na cozinha de cores são preparados os produtos químicos
auxiliares utilizados nos processos de tingimento e amaciamento.
f) Laboratório Químico
Destina-se a desenvolver amostras de cores para os processos
de tingimento, análises dos produtos químicos utilizados e análises de
controle de águas.
A Figura 13 mostra o fluxograma do processo de tingimento.
Figura 13: Fluxograma do Processo de Tingimento
Fonte: Documentação fornecida pela gerência, 2004
O processo de tingimento se inicia com a pesagem dos
produtos a serem utilizados, como corantes, sais, seqüestrantes e outros;
logo após, são levados aos tanques dosadores encontrados nas próprias
máquinas; em seguida, realiza-se um tratamento prévio, que consiste em
eliminar todos os resíduos de produtos utilizados na preparação através de
lavagens; depois, inicia-se o tingimento propriamente dito e, por fim, realiza-
Pesar os produtos auxiliares para utilizá-los no
tingimento e amaciamento
Levar os produtos para os tanques dosadores das
próprias máquinas de tingimento
Realizar tratamento prévio na máquina para retirada
dos resíduos da malha
Realizar o tingimento
Fazer a lavagem final utilizando amaciante e secar
no secador, vaporizador e calandras
LEGENDA
Despejos
sólidos
Despejos
Líquidos
Despejos
gasosos
143
se uma lavagem final com amaciante, para depois secar, vaporizar e passar
pelas calandras, dando compactação ao produto.
4.2.5 Processos que não produzem Efluentes Líquidos na
Indústria de Malharia
a) Secagem
Tem por finalidade secar o material tinto centrifugado.
b) Calandragem
Acabamento final dado à malha, objetivando-se maior
estabilidade dimensional e brilho.
c) Malharia
Produz a malha a partir do fio.
4.2.6 Despejos Líquidos provenientes da Produção
Mercerização .......................................192,00 m
3
/dia
Tingimento ...........................................252,00 m
3
/dia
Lavagem ...............................................537,12 m
3
/dia
Hidro-extração ........................................38,40 m
3
/dia
Cozinha de tintas ..................................7,20 m
3
/dia
Laboratório químico ..............................4,08 m
3
/dia
Caldeira ..................................................1,20 m
3
/dia
144
Esses despejos o coletados e conduzidos às unidades de
tratamento; os esgotos sanitários provenientes dos banheiros, são
coletados independentemente dos efluentes industriais e tratados por
processo de fossa séptica; após este tratamento é que são enviados ao
tanque de neutralização dos efluentes industriais.
A seguir, a Figura 14 apresenta o balanço hídrico das unidades
geradoras de despejos.
Q = 08,00 m
3
/h Q = 08,00 m
3
/h
Q = 10,50 m
3
/h
Q = 10,50 m
3
/h
Q = 24,00 m
3
/h Q = 22,38 m
3
/h
Q = 01,60 m
3
/h
Q = 01,10 m
3
/h Q = 0,30 m
3
/h
Q = 01,20 m
3
/h Q = 0,17m
3
/h
Q = 04,00 m
3
/h Q = 0,05 m
3
/h
Q = 0,20 m
3
/h Q = 0,20 m
3
/h
Q = 49,00 m
3
/h Q = 43,20 m
3
/h
Figura 14: Balanço hídrico das unidades geradoras de despejos
Fonte: Documentação cedida pela gerência de produção, 2004
Laboratório
Cozinha de
Tintas
Hidro-Extração
Lavagem
Sanitário
Caldeira
Tingimento
LEGENDA:
Resíduos sólidos
Resíduos gasosos
Resíduos líquidos
Mercerização
145
Os despejos gerados no processo produtivo têm composição
variada, dependente da etapa. O Quadro 17 especifica os principais
constituintes de despejos em relação a cada etapa de geração.
ETAPAS Constituintes dos Despejos
Mercerização
Soda cáustica, auxiliares, detergentes e
deslizantes
Pré-alvejamento
Umectantes, sais, soda cáustica,
seqüestrantes e peróxidos
Alvejamento
Umectantes, sais, soda cáustica,
seqüestrantes e peróxidos
Tingimento
Corantes, seqüestrantes, sais, soda
cáustica e/ou barrilha, fixadores (cor
escura), neutralizadores, deslizantes
Lavagem Detergentes
Amaciamento ou Hidro-
extração
Amaciantes
Cozinha de cores
Detergentes, deslizantes, seqüestrantes e
umectantes.
Laboratório químico
Detergentes, deslizantes, seqüestrantes e
umectantes.
Quadro 17: Constituintes dos despejos gerados no processo produtivo
Fonte: Pesquisa direta, 2004
A caracterização dos despejos têxteis é um fator de difícil
descrição absoluta, por ser descontínuo e diverso. O processo de
beneficiamento é periódico mas descontínuo no que se refere à vazão;
portanto, na indústria pesquisada as percentagens referentes a cada produto
químico, auxiliares e corantes despejados nos efluentes, se tornam
impossíveis de serem feitas, uma vez não se realizar este tipo de
146
procedimento na indústria estudada, por ser muito dispendioso; todavia,
cabe tecer aqui, algumas definições para diferentes constituintes desses
despejos:
- soda cáustica: reage com a água oxigenada e, juntas,
alvejam o tecido, eliminando a coloração acastanhada.
- umectantes: melhoram a hidrofilidade
5
da malha.
- seqüestrantes: eliminam minerais presentes no algodão e na
água, como lcio e magnésio, conhecidos como dureza; eliminam o ferro.
Esses minerais são prejudiciais aos corantes.
- deslizantes: evitam que o tecido cole suas faces; permitem
que o tecido se movimente mais livremente, evitando o atrito na máquina com
ele mesmo; fazem com que as dobras mudem de posição dentro da máquina e
melhoram a acomodação do tecido na máquina.
- detergentes: removem óleos do substrato
6
; proporcionam
molhabilidade
7
no algodão; não deixam que o óleo removido se aglomere
novamente; dispersam sujeiras sólidas.
- neutralizadores: corrige o pH
-
fixadores: utilizados para fixar a cor, principalmente as
escuras.
Quanto aos produtos auxiliares utilizados nas operações de
beneficiamento, tingimento e acabamento tem-se, no Quadro 18, suas
quantidades médias, espeficas para uso diário, mensal e anual da
5
Capacidade de absorção de água pelo artigo
6
Refere-se ao artigo: fibra, fio, tecido, malha
7
O mesmo que hidrofilidade
147
empresa; contudo, é importante esclarecer que referidas quantidades variam
de acordo com a cor a ser utilizada no tingimento.
Quadro 18: Produtos auxiliares utilizados pela indústria de malharia
Fonte: Documentação cedida pela empresa, 2004
Sabendo-se que os corantes se destacam como elementos
que contribuem para altas cargas poluidoras nos despejos têxteis, com
diversidade de especificações que se destinam a resultados específicos
tecem-se aqui, algumas definições para os mais usados:
Reativos: usados principalmente para o tingimento e estamparia
de fibras celulósicas, reagindo quimicamente com o algodão, viscose, lã, seda
e linho; são os corantes mais populares na manufatura têxtil, devido
principalmente às suas características favoráveis à rapidez na reação de
tingimento, facilidade de operação e baixo consumo de energia na aplicação. O
maior problema com relação a esses corantes reside na competição entre a
reação de tingimento com o substrato têxtil e a reação do corante com a água.
As taxas de fixação do corante variam entre 60 a 90%, lançando grandes
concentrações de corantes não fixados para os despejos (Camp e Sturrock,
1990 apud Martins 1997). Infelizmente, os processos de tratamento de
Produto Consumo Dia
em kg
Consumo mês
em kg
Consumo Ano
em kg
Amaciantes 60 1.400 17.000
Detergentes 20 600 7.500
Dispersantes 36 900 11.000
Ácido acético 20 500 6.000
Soda cáustica 2.000 50.000 600.000
Peróxido de hidrogênio 160 4.000 48.000
Barrilha leve 200 5.000 60.000
Sal comum 800 20.000 240.000
Corantes 80 2.000 24.000
148
despejos atualmente empregados, não removem esses corantes de forma
satisfatória.
azo pigmentos: usados especialmente em cores vermelha,
amarela e laranja; são empregados em fibras celulósicas e apresentam grau de
difícil remoção no tratamento de efluente.
ácidos: são corantes cujo nome se deve à presença, em suas
moléculas, de um ou mais ácidos sulfônicos ou outros grupos de ácidos.
Contribuem para o pH do efluente com valores entre 3,5 e 6,0.
básicos ou catiônicos: possuem cores brilhantes porém têm baixa
fixação; são empregados basicamente para fibras sintéticas como acrílico,
seda e e, em menor quantidade, em fibras naturais, como o algodão;
contribuem com despejos alcalinos nas estações de tratamento.
diretos: usados sobre fibras celulósicas, são conhecidos como
corantes substantivos; aplicados em banhos neutros ou ligeiramente alcalinos,
próximos da ebulição, à qual foi adicionado cloreto de sódio ou sulfato.
índigo: obtido de Indigoferal, aplicado a 5000 anos antes da
introdução do Índigo sintético comercial; é um dos mais antigos corantes
conhecidos, obtido de moluscos encontrados nas pedras do Mar Mediterrâneo;
aplicado principalmente em fibras celulósicas.
dispersos: são pigmentos e, portanto, insolúveis, comumente
usados no tingimento do poliéster, nylon e acrílico e nos banhos, sob a forma
de dispersão aquosa fina.
ao enxofre: empregados geralmente para obtenção da cor preta e
em fibras celulósicas; produzem odor desagradável ao efluente além de
dificultarem a remoção final da sua cor.
149
Em relação aos corantes, evidencia-se que muitos contêm metais pesados em
sua composição (CETESB apud MARTINS 1997). Conforme Martins (1997),
através de estudos junto à Cetesb, e se levando em conta a DQO e a eficiência
de diversos tipos de corantes, chegou-se a um grau de potencial poluidor para
os mesmos, como se segue: 1º - Ao Enxofre, - Naftol, 3º - Reativo, -
Índigo, 5º - Direto.
As maiores perdas acontecem quando se usam os corantes no
enxofre, os diretos e os reativos.
4.2.7 Descrição da Estação de Tratamento de Efluentes ETE
Todos os despejos industriais líquidos provenientes da
tinturaria, são reunidos para efetuar seu tratamento.
O sistema de tratamento adotado pela indústria tem a
finalidade primordial de enquadrar os efluentes líquidos gerados pela
indústria estudada, dentro dos padrões de emissão estabelecidos pela
legislação vigente.
Este sistema se constitui por:
pré-tratamento com gradeamento, caixa de areia e peneira,
tanque de equalização e neutralização,
tanque de aeração e floculador,
decantador secundário,
adensador de lodos,
prensa desaguadora.
150
A seguir tem-se, na Figura 15, o esquema mostrando o
sistema de tratamento adotado.
Figura 15: Estação de Tratamento de Efluentes da Industria Estudada
Fonte: Documentação cedida pela empresa, 2004
Todos os despejos líquidos provenientes da tinturaria são
reunidos para efetuar seu tratamento. As águas de chuva e de lavagem de
Efluente Frio Efluente
Quente
Tanque de
Aeração
Tanque de Equalização e
Neutralização
Caixa de
Passagem
Gradeamento
Ponto de
Coleta
Peneira
Floculador
Medidor de
Vazão
Adensador de
Lodos
Decantador
Secundário
Aterro Sanitário
Prensa
desaguadora
Corpo
Receptor
Descarte do Lodo
Recirculação
de lodo
151
ruas e calçadas não são tratadas mas conduzidas e despejadas pelo
sistema de drenagem pluvial.
A equalização e neutralização das águas de despejo evitam o
desequilíbrio de caráter alcalino ou ácido, no sistema de tratamento.
As vazões de máximo e mínimo são eliminadas para evitar
impactos sobre o sistema de tratamento em relação à qualidade da água no
corpo receptor.
As misturas das descargas de efluentes quentes com efluentes
frios, além do tempo de retenção adequado no tanque de equalização,
baixam a temperatura dos despejos, que sofrem tratamento posterior; a
temperatura máxima de emissão dos efluentes líquidos é de 35
o
C;
eliminando partículas sólidas em suspensão e decantáveis; assim, a água
perde parte da carga poluidora, que se origina das fibrilas e microfibilas de
algodão, de difícil degradação.
Os produtos responsáveis pela carga orgânica são reduzidos
por tratamento biológico, através do sistema de lodos ativados.
Submetidas ao processo de tratamento biológico, as águas
residuárias perdem sua putrescibilidade após um tempo de depuração,
condições em que podem ser encaminhadas a um curso de água sem lhes
causar danos. Na estação de tratamento fica retido um lodo aquoso, cuja
quantidade pode ser avaliada em cerca de 1% do volume do efluente
tratado. Como disposição final, o lodo pode ser, regra geral, utilizado na
agricultura ou disposto em aterro sanitário, de modo a não produzir danos ao
ambiente.
152
“O destino não é uma questão de sorte;
é uma questão de escolha.
Não é algo pelo que se espera
mas algo a alcançar”
William Jennings Bryan
CAPÍTULO V – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
5.1 CONCLUSÕES
Quanto aos impactos operacionais na fiação:
A produtividade para o algodão branco e colorido é a mesma, girando
em torno de 93%, ou seja, a mudança de matéria-prima não resulta em
elevação de paradas ou queda do ritmo de produção.
O custo de industrialização é de R$ 6,58/kg de algodão branco; o
algodão colorido não tem esse valor calculado em virtude da matéria-
prima ser doada pela Embrapa Algodão, para experimentos.
O tempo de setup e o tempo de processamento é o mesmo para ambos
os processos, uma vez que as máquinas utilizadas e as operações
realizadas são as mesmas.
A principal diferença verificada foi quanto à perda no processo. Para o
algodão branco, verificou-se perda entre 5 e 7%, considerada normal
para este tipo de indústria, enquanto para o algodão colorido a perda foi
de 10%; todavia, faz-se necessário dizer que esta perda verificada seria
153
uma perda por escala que, a medida em que fosse sendo aumentada a
quantidade de algodão colorido no processo, provavelmente esta
porcentagem de perda se equipararia com a do algodão comum; outro
importante ponto que não se pode deixar de comentar é que esta é uma
realidade espefica, isto é, a indústria estudada tem grande capacidade
de produção que, talvez, nunca se adeqüe à quantidade produzida desta
nova matéria-prima; sendo assim, esses dados obtidos poderão, em
outra realidade, em uma indústria de menor porte, por exemplo,
apresentar uma porcentagem de perda menor na fiação.
Houve pequena perda das características intrínsecas do fio no algodão
colorido, uma vez que sua resistência, o comprimento e uniformidade, se
classificaram como medianos, garantindo-lhe apenas um rendimento
satisfatório no processo de fiação e, posteriormente, na malharia,
enquanto o algodão branco possui melhores características, como boa
resistência, maior comprimento e melhor uniformidade, favorecendo
melhor desempenho e rendimento na fiação.
Quanto aos impactos ambientais na fiação:
As condições internas, como nível de ruído, alta temperatura e a poeira
das partículas do algodão, estão presentes com a mesma intensidade,
tanto no processamento do algodão branco como no colorido.
O consumo de energia das etapas analisadas apresentaram padrões
semelhantes.
154
Quanto aos impactos operacionais na malharia:
A produtividade verificada com o processamento do algodão branco foi
de 92% e a produtividade do algodão colorido, 85%.
Comparando-se os dois tipos de algodão no processo, vê-se que a
quantidade de máquinas envolvidas é 30% menor ao se trabalhar com o
algodão colorido.
Ocorreu uma redução de 20% do tempo de processamento do algodão
colorido e 5% de redução na mão-de-obra, uma vez que menos
máquinas são utilizadas.
Com o uso do algodão colorido o custo de produção é 15% inferior,
que não se realiza a etapa de tingimento na qual são utilizadas grandes
quantidades de produtos químicos, como corantes, sais, detergentes e
amaciantes, entre outros.
A perda de material no processo não difere muito da fiação, visto que
cerca de 10% do algodão colorido também são perdidos, tendo em vista
sua característica de comprimento ser menor que a do algodão branco.
Verificou-se maior tempo de setup para o algodão colorido, em média
3,4 vezes maior, uma vez que as máquinas utilizadas no processo
realizam paradas para lavagens e retirada de todos os resquícios de
corantes deixados na etapa de tingimento porém, caso existisse uma
linha exclusiva para o processamento do algodão colorido, este tempo
de setup seria nulo; em outras palavras, existiria setup para
manutenção preventiva e/ou corretiva.
155
Quanto aos impactos ambientais na malharia:
Existe grande contribuição do algodão colorido na não toxicidade de
efluentes têxteis, visto que etapas como mercerização, pré-alvejamento,
alvejamento e tingimento, nas quais se encontram enormes cargas de
despejos tóxicos oriundos da manipulação de corantes e outros produtos
auxiliares, não são realizadas. Para se ter uma idéia da dimensão da
quantidade de produtos químicos utilizados ao ano, e se tomando como
exemplo a indústria estudada, gastam-se, em dia, 1.013.500 kg de
produtos químicos para 1800 toneladas de malhas, ou seja, para cada
kg de malha beneficiada (tingida e/ou alvejada), usa-se cerca de 0,563
kg de produtos químicos. Sabendo-se que a produção anual de malhas
no Brasil é de 505.002 toneladas (Quadro 03, pg. 34) e se supondo que
toda a malha produzida no Brasil seja fabricada, em padrões
semelhantes, pela indústria pesquisada, a quantidade em produtos
químicos consumida seria de 238.316,12 toneladas, um número
alarmante que, com o uso contínuo do algodão colorido nas indústrias
têxteis e confecções em geral, sofreria alto decréscimo contribuindo,
assim, com o meio ambiente. Ressalta-se que este número é apenas
uma projeção e que cada indústria têxtil tem um padrão específico de
consumo de produtos químicos, podendo ser maior ou menor que a
verificada, tendo em vista o tamanho de sua estrutura organizacional e a
tecnologia empregada.
Embora a etapa do amaciamento seja realizada no processamento de
algodão colorido, ele é feito, neste caso específico, de forma que não
agrida o meio ambiente, isto é, não se utilizam amaciantes ou qualquer
156
outro tipo de produto químico que contribua para a toxicidade dos
efluentes têxteis.
Verificou-se redução de 66,34% no consumo de água e 29,21% no
consumo de energia, com o uso do algodão colorido. Esta redução se
torna considerável pois, partindo-se do pressuposto de que esta foi
percebida numa realidade específica, ou seja, para uma quantidade
ínfima de matéria-prima pode-se, a partir daí, fazer uma projeção e
verificar a grande contribuição deste algodão para o ambiente, caso a
produção desta nova matéria-prima estivesse sendo utilizada em longas
escalas, pois se para cada kg de malha tingida se gasta 120L de água
(Quadro 15, pg.127) e sendo o Brasil o segundo maior produtor mundial
em malhas, produzindo 505.002 toneladas/ano, verifica-se um gasto de
60.600.240 litros d’água para o algodão comum e de 20.200.080 litros
d’água para o algodão colorido, um valor três vezes menor. Quanto ao
valor gasto com energia, este seria de 570.652,26 Kw para o algodão
branco e 404.001,60 Kw para o algodão colorido. Vale lembrar que esta
é uma realidade voltada para a empresa analisada e que esta redução
poderá ser maior ou menor que o valor encontrado, dependendo da
capacidade de produção de cada indústria.
Quanto aos resíduos sólidos, embalagens de papelão provenientes dos
fios e das bobinas dos fios, estes são coletados e vendidos a terceiros;
as embalagens plásticas dos produtos químicos observadas apenas
no processamento do algodão branco, são coletadas pelo sistema de
limpeza pública e enviadas ao aterro sanitário.
157
Os despejos atmosféricos, oriundos da secagem e vaporização, são
dispersos na atmosfera por meio de ventilação predial, nos dois tipos de
processos.
O nível de ruído está presente em todas as etapas de produção, entre
75 e 85 decibéis na malharia e entre 80 e 97 decibéis na fiação, para
ambos os processos.
A alta temperatura, principalmente nas etapas de secagem e
vaporização, está presente também, nos dois processos.
Por fim, a poeira das partículas de algodão presente apenas na
fabricação da malha, também foi observada nos dois processos, tanto
com algodão branco quanto com algodão colorido.
Ante os resultados da pesquisa aqui realizada, pode-se concluir
que o algodão colorido se apresenta como solução para minimização de
despejos têxteis e uma promessa futura de contribuição ao meio ambiente, nas
grandes indústrias têxteis. Diz-se futura devido à sua pequena produção, se
comparada com a produção do algodão branco que, na última safra, foi de 4,9
mil toneladas da produção total do Estado, enquanto o algodão colorido não
passou de 96 toneladas, ou seja, 4,86% da produção agrícola paraibana;
entretanto, em termos de processamento industrial a participação do algodão
colorido é bem inferior, repercutindo negativamente para as indústrias têxteis
que trabalham com este tipo de matéria-prima, sobretudo em se tratando das
grandes indústrias, como foi o caso da empresa de fiação estudada cuja
capacidade de produção atinge 152 toneladas/dia, enquanto a máxima
quantidade enviada para ser processada até hoje de algodão colorido nesta
indústria, foi de 15 toneladas.
158
Teme-se, desta forma, que esta matéria-prima, não se estabeleça nem se
concretize nas produções mais largas, visto que ainda existe uma pequena
produção; pouca variedade de cores e, conseqüentemente, de artigos; além
disso, é uma matéria-prima ainda pouco comercializada, uma vez que
tem quatro anos de lançamento e seu mercado ainda é extremamente
específico.
Acredita-se, pois, que o algodão colorido é apenas uma grande
promessa de redução de custos e de impactos ambientais que, para se
concretizar, depende da elevação da oferta, tanto em quantidade como em
diversificação de cores.
5.2 RECOMENDAÇÕES
A pesquisa realizada pode servir de subsídio para realização de várias
pesquisas acadêmicas ou empresariais, relacionadas ao tema. Por se tratar
de uma matéria nova, visto que só em dezembro de 2000 foi lançada
oficialmente, o algodão colorido ainda pode ser mais explorado em diversas
áreas, como:
- na engenharia agrícola ou agronomia, focalizando os impactos
ambientais dos agrotóxicos no plantio do algodão colorido.
- na engenharia química e engenharia ambiental, trabalhando os
aspectos referentes à toxicidade dos efluentes, e à biodegradação,
apontando os tratamentos de resíduos e efluentes com
microrganismos.
159
- na área de inovação tecnológica, enfatizando a inovação na
cotonicultura, com a descoberta do algodão colorido.
- na área de qualidade, procurando verificar, ou até mesmo propondo
algum sistema de gestão da qualidade, para se trabalhar com o
algodão natural.
- na área social, de logística e de custos, dentre outras.
Por ter sido trabalhada a fibra do algodão de Goiás, haja vista a
indústria pesquisada não utilizar o próprio algodão do Estado (Paraíba), deixa-
se aqui a recomendação para que futuras pesquisas possam ser realizadas
focalizando o algodão paraibano e suas características intrínsecas.
Ressalta-se, aqui, que não se pretendeu, no presente trabalho, esgotar o
conteúdo; muito longe disto, apenas foi uma pesquisa realizada com o intuito
de melhor identificar e compreender os impactos operacionais e ambientais
dentro de dois segmentos da cadeia têxtil: o de fiação e o de malharia,
servindo de contribuição para que outros estudos possam ser realizados
seja nesta direção ou em segmentos distintos, como tecelagem e/ou
confecção.
160
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168
GLOSSÁRIO
Afis Aparelho utilizado nos laboratórios físicos para análise das
características intrínsecas da fibra do algodão.
Algodão Arbóreo – Algodão de grande porte, parecido com uma árvore.
Algodão Herbáceo – Algodão de pequeno porte
Anel – Tipo de tecnologia de fiação.
Artefatos – Produtos da indústria.
Bobina – Cilindro de plástico ou papelão para enrolar o fio.
Bobinadeira – Máquina que faz a passagem de fio de uma bobina para outra.
Cardas – Máquina que faz o paralelamento de fibras.
Compactação – Redução.
Conicaleira – Máquina que faz a passagem das bobinas do filatório a anel.
Consórcio Associação de pessoas com patrimônio e interesses comuns em
determinados negócios.
Corpo receptor Meio físico aquático (rio, lago ou mar) em que são lançados
efluentes.
Corpos d’água – Meio físico aquático
Cotonicultura – Cultura de algodão.
Depleção do oxigênio na água – Redução da quantidade (massa) de oxigênio
dissolvido em um determinado volume de água.
Enroladeiras – Máquina que faz o enrolamento do fio.
Fertilidade – Produtividade
Feromônio – Hormônio dos insetos para atrair os outros insetos
Fiação Conjunto de máquinas necessárias para transformação da fibra do
algodão em fio.
169
Fibras Cada um dos filamentos que, dispostos em feixes, constituem tecidos
animais e vegetais ou certas substâncias minerais.
Filamentos – Fibra; fio de diâmetro muito pequeno.
Filatório – Máquina de fiação
Fricção – Tipo de tecnologia de fiação.
Gramatura – Peso em grama do tecido (malha) por metro quadrado.
Helicoidal – Que tem a forma de hélice.
HVI Principal aparelho de determinação das características tecnológicas das
fibras.
Jato de ar – Tipo de tecnologia de fiação.
Linhagens – Genealogia, geração.
Línter – Resíduo do algodão remanescente das sementes.
Maçaroqueira – Máquina responsável por torcer e formar o pavio.
Mocó – Mesmo que arbóreo
Open end Tipo de tecnologia de fiação, mais produtiva do que a anel, porém
de menor qualidade.
Passadores Máquina que faz o processo de equalização do título da fita de
algodão.
Pectina – enzima de ligação existente nas frutas que mantém as células
grudadas uma nas outras.
Penteagem Processo avançado de paralelamento de fibras e qualificação,
onde o retiradas fibras de pequenos tamanhos, restando apenas, fibras de
alta qualidade e ótimo índice de fiabilidade (fibras longas).
Pigmentos Nome de diversas substâncias que impregnam certos tecidos
orgânicos ou dão aos líquidos do organismo a sua coloração especial.
170
Rotor – Componente técnico da máquina open end responsável pela torção do
fio.
Ruptura – Rompimento
Tecelagem – Indústria onde são fabricados os tecidos como; cama mesa,
banho, brin, etc.
Título – Relação entre o comprimento e a massa de uma fibra, filamento, pavio
ou fio têxtil.
Torta Resíduo proveniente da prensa do caroço de algodão utilizado para
alimentação de ruminantes (Caprinos e bovinos).
171
APÊNDICES
172
APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA INDÚSTRIA
DE FIACÃO
1. Como é realizado o processo produtivo xtil do algodão comum e do
colorido?
2. Qual a capacidade de produção dia?
3. Quantidade máxima de fio colorido que foi produzida até hoje?
4. Quantidade de máquinas envolvidas no processo?
5. Quantidade de mão-de-obra envolvida em cada etapa do processo
produtivo têxtil? Difere do algodão colorido?
6. Qual o custo (R$) para se industrializar o algodão comum e o colorido?
7. diferença de tempo de processamento entre o algodão colorido e o
algodão branco? Por quê?
8. Qual a percentagem de perda no processo envolvendo os dois tipos de
algodão?
9. Existe diferença de produtividade entre os algodões? Como é medida
esta produtividade?
10. Qual o tempo de setup na troca do algodão colorido para o branco e
vice-versa?
11. Qual o nível de ruído encontrado em cada etapa do processo?
12. Qual a resistência, o comprimento e a uniformidade da fibra do algodão
colorido? O significa?
173
APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA INDÚSTRIA
DE MALHARIA
1. Como é realizado o processo produtivo têxtil do algodão comum?
1.1 Descrever o processo de tingimento.
1.1.1 Existe uma quantidade mínima de tecido e/ou malha para
ser tingido?
1.1.2 Qual a quantidade de água utilizada no processo?
1.1.3 Qual a quantidade de energia utilizada no processo?
1.1.4 O tempo gasto na operação de tingimento?
1.1.5 Quais os corantes utilizados e a quantidade?
2. Como é realizado o processo produtivo têxtil do algodão colorido?
3. Quantidade de mão-de-obra envolvida em cada etapa do processo
produtivo têxtil? Difere do algodão colorido? Qual percentagem?
4. Existe outro processo que esteja envolvido na fabricação da malha do
algodão comum que não se aplica ao algodão colorido?
5. Qual a produção dia do algodão comum? E do colorido?
6. Qual a produtividade do processo com o algodão colorido e com o
branco? Como é definida esta produtividade?
7. Qual a percentagem de perda no processo envolvendo os dois tipos de
algodão?
8. Tempo de setup do algodão comum e do algodão colorido?
9. Quais os resíduos decorrentes ou gerados depois do processo de
tingimento e acabamento têxtil?
10. Faz-se o reuso de água nos setores da tinturaria e acabamento dos
tecidos?
11. Quais os resíduos sólidos e gasosos gerados com no processo de
beneficiamento têxtil?
12. Qual a variação de nível de ruído verificada no processo produtivo?
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