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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE TECNOLOGIA
MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
SÂNZIA BEZERRA RIBEIRO
ANÁLISE DOS RISCOS ERGONÔMICOS DOS
TRABALHADORES RURAIS NO PROCESSO DE COLHEITA
DO ABACAXI
JOÃO PESSOA - PB
2005
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SÂNZIA BEZERRA RIBEIRO
ANÁLISE DOS RISCOS ERGONÔMICOS DOS TRABALHADORES
RURAIS NO PROCESSO DE COLHEITA DO ABACAXI.
Dissertação apresentada à banca examinadora do
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção, (área de Ergonomia), promovido pela
Universidade Federal da Paraíba, como requesito final
para obtenção do título de Mestre em Engenharia de
Produção.
Orientador: Prof. Dr. Paulo José Adissi
Co-orientador: Prof. Phd. Francisco Soares Másculo
JOÃO PESSOA - PB
2005
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R484a Ribeiro, Sânzia Bezerra
Análise dos riscos ergonômicos dos trabalhadores rurais no
processo de colheita do abacaxi / Sãnzia Bezerra Ribeiro - João
Pessoa, 2005.
158f. il.:
Orientadora: Prof..Dr. Paulo José Adissi
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Programa de
Pós graduação em Engenharia de Produção / UFPB.
1 Análise Ergonômica do Trabalho 2. Trabalhador Agrícola 3.
Abacaxicultura I. Título.
CDU: 614.8:634.774 (043)
SÂNZIA BEZERRA RIBEIRO
ANÁLISE DOS RISCOS ERGONÔMICOS DOS TRABALHADORES
RURAIS NO PROCESSO DE COLHEITA DO ABACAXI
Dissertação apresentada e aprovada em _____ de ____________ de 2005, como requisito
parcial para obtenção do grau de mestre em Engenharia de Produção.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Paulo José Adissi (UFPB)
(Orientador)
Prf. PhD Francisco Soares Másculo (UFPB)
(Co-orientador)
Dra. Eliane Araújo de Oliveira (UFPB)
(Examinadora Externa)
A minha mãe que nunca deixou de
acreditar em mim e me deu todo
incentivo desde os primórdios da minha
formação educacional.
AGRADECIMENTOS
A Deus meu Criador e Redentor pela força e amor a mim dispensado ao longo
dessa jornada;
A minha mãe que nunca desiste de acreditar em mim e fez tudo que estava ao seu
alcance para que hoje eu estivesse aqui!
Meu pai (in memorian) por ter sido meu exemplo de luta e determinação enquanto
esteve comigo;
Minha família pelo apoio sempre;
Meu orientador Paulo Adissi que caminhou comigo a segunda milha dessa jornada
ao meu lado sempre, como um verdadeiro “PAIFRESSOR”;
Aos professores Francisco Másculo, Eliane Araújo e Claúdia Gatto pela orientação
em todas as etapas desse estudo;
À Professora Márcia Souto por sua amizade e colaboração em meu estágio
docência;
Aos demais professores desse departamento por terem contribuído para meu
desenvolvimento científico e também pessoal;
Aos colegas do mestrado pelo companherismo;
Aos funcionários do departamento pela disposição de servir;
A Rosangela Herculano que não mede esforços quando se trata de proporcionar o
melhor;
A Rosangela Gonçalves pela amizade e pelo apoio na normatização desse trabalho;
Ao colega Ivan pela sua participação e grande colaboração no inicio desse estudo;
Aos amigos Jackson e Rêmulo e meu aluno Idiel pela colaboração na finalização
desse trabalho;
Aos trabalhadores rurais da colheita do abacaxi que como voluntários contribuíram
para o progresso dessa área de pesquisa;
A minha amada igreja adventista do 7º dia/central de João Pessoa pelo apoio
espiritual e em especial os amigos Carlos Narciso, Claúdia Virginia e ao Grupo Dedic’art pelo
apoio através da sua amizade e orações;
A todos que direta e indiretamente contribuíram para que esse estudo pudesse ser
realizado.
“Das fructas do paiz a mais
louvada é o régio ananás, fructa
tão boa que a mesma natureza
namorada quis como rei cingi-la de
coroa”.
Santa Rita Durão, 1781 – Caramuru
RESUMO
O trabalho agrícola, apesar do processo de modernização experimentado, onde os maquinários
cada vez mais substituem a força humana, ainda exige o carregamento de elevadas cargas e a
adoção de posturas que podem comprometer a saúde dos trabalhadores. Isto ocorre tanto nos
sistemas operacionais manuais como nos mecanizados. A atividade abacaxizeira, objeto de
análise desse estudo, emprega sistemas mecanizados apenas nas pontas do processo de
produção, quais sejam: a preparação do terreno para o plantio e o transporte do produto
colhido. As demais fases são realizadas em sistemas manuais, onde elevadas cargas físicas são
exigidas dos trabalhadores. Este estudo procurou realizar uma análise ergonômica do trabalho
com ênfase na identificação das posturas e cargas solicitadas aos trabalhadores da colheita de
abacaxi a fim de verificar os riscos potenciais de comprometimentos fisiológicos
ocupacionais. A pesquisa baseou-se na observação direta do trabalho de duas típicas turmas
de colheita formada por 14 trabalhadores (cada turma) sendo 4 catadores, 6 balaieiros, 2
arrumadores e 2 contadores. No tratamento e análise dos dados posturais registrados foram
utilizados os programas WinOwas (Ovako Working Postures Analysing System) e o HARSim
(Humanoid Articulation Reaction Simulation) para analisar estaticamente a atividade do
balaieiro,por ser identificada como a mais crítica da colheita no que diz respeito a
carregamento de cargas. Na análise, observou-se que para as cargas de 803N, 549N e 525N
correspondentes à média das cargas nas colheitas do tipo A, B e C respectivamente, as forças
axiais encontraram-se acima do limite de segurança (750N) em todos os segmentos vertebrais
lombares e a maioria dos segmentos torácicos. Quanto à força de cisalhamento, o limite
(500N) foi ultrapassado em T2, T12 e L5 para a carga de 803N.As pressões intervertebrais
para a carga de 803N estiveram acima do limite de segurança (2MPa) entre T10 – T6 e C7-
C3, enquanto que, para as cargas de 549N e 525N encontraram-se acima dos limites de
segurança entre C7-C4. Dessa forma, os resultados apontaram um conjunto de posturas
críticas e cargas que podem comprometer a saúde dos trabalhadores verificando-se a
necessidade de se redesenhar as tarefas para evitar agravos profissionais e promover o
enquadramento legal da atividade.
Palavras-chave: Análise Ergonômica do Trabalho. Trabalhador Agrícola. Abacaxicultura
ABSTRACT
Despite the modernization process that there has been experienced, in which machines have
substituted the human force, rural work still requires the loading of heavy loads and the
adoption of postures that can compromise the health of workers. This happens both in manual
operational systems as in mechanized ones. The pineapple crop activity, subject matter of
analysis of this study, employs mechanized systems only in the extremities of the production
process, which are: terrain preparation for planting and transportation of the harvested
produce. The other phases are done in manual systems, in which elevated physical loads are
required from workers. This study had the objective to do an ergonomic analysis of the work
with emphasis on the identification of postures and loads required from workers in the
pineapple harvest process in order to verify the potential risks of occupational physiological
problems. This research was based on direct observation of the work of two typical harvest
groups formed by 14 workers (each group), being 4 catchers, 6 basket carriers, 2 organizers
and 2 counters. For treatment and analysis of postural data it was used the WinOwas (Ovako
Working Postures Analysing System) program, whereas for the data related to the activities
of the basket carriers it was used o HARSim ( Humanoid Articulation Reaction Simulation)
since these activities were identified as the most critical when it comes to the loading of
loads. In the analysis, it was observed that for the loads of 803N, 549N and 525N
corresponding to the average of loads in the harvest types A, B, and C, respectively, the axial
forces were found to be above the safety limit (750N) in all the lombar vertebral segments and
in the majority of the thoraxical segments. In relation to the force of attrition, the limit
(500N) was surpassed in T2, T12 and L5 for the load of 803N. The intervertebral pressures
for the load of 803N were above the safety limit (2MPA) between T10 – T6 and C7 – C3,
whereas for the loads of 549N and 525N those pressures were above the safety limits
between C7 – C4. Thus, the results pointed out a group of critical postures and loads that can
compromise the health of workers. Furthermore, it was verified a need to redraw the tasks in
order to avoid professional problems and in order to promote the legal fitting of the pineapple
harvest activities.
Key words: Ergonomic Analysis of Work. Rural Worker. Pineapple Crop
LISTA DE FIGURAS
Figura 2 - Colheita semi-mecanizada.......................................................................................43
Figura 3 - Vista anterior e perfil da coluna vertebral ...............................................................57
Figura 4 - Disco intervertebral..................................................................................................59
Figura 5 - Deslocamento do núcleo pulposo do disco intervertebral .......................................59
Figura 6 - Resultante do peso corporal na postura ereta...........................................................60
Figura 7 - Forças de reação num levantamento de peso...........................................................75
Figura 8 - Força de reação e força de cisalhamento (L5/S1) com carga ..................................76
Figura 9 - Agentes sociais do processo produtivo da cultura do abacaxi na Paraíba...............92
Figura 11 - Chegada dos trabalhadores no campo: transporte irregular...................................95
Figura 12 - “Mesada” ...............................................................................................................96
Figura 13 - Trabalhador bebendo água.....................................................................................97
Figura 14 - Relação 2:1 (catador-balaieiro)............................................................................101
Figura 15 - Catação do fruto...................................................................................................102
Figura 16 - Colocação do fruto no balaio...............................................................................102
Figura 17 - Fases da atividade do balaieiro............................................................................104
Figura 18 - Descarregamento do fruto pelo contador.............................................................110
Figura 19 - Arrumação da carga.............................................................................................110
Figura 20 - Equipamentos de proteção individual..................................................................112
Figura 21 - Postura inadequada dos arrumadores...................................................................114
Figura 22 - Postura inadequada do catador e balaieiro...........................................................114
Figura 23 - Ilustração do software HARSim do balaieiro com um balaio cheio de abacaxi
sobre a cabeça.........................................................................................................................121
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Porcentagem da produção nacional........................................................................33
Gráfico 2 - Gráfico das forças que agem na coluna vertebral a 90
o
de flexão anterior do
tronco: atividade do borracheiro de afrouxar ou apertar a roda com chave em cruz. ..............78
Gráfico 3 - Classificação das posturas do cortador. ...............................................................117
Gráfico 4 - Classificação das posturas do balaieiro...............................................................118
Gráfico 5 - Classificação das posturas do arrumador.............................................................119
Gráfico 6 - Força axial sobra a coluna vertebral de um balaieiro submetido a uma carga de
1000N – Perfil antropométrico: 1,70m e 90kg.......................................................................122
Gráfico 7 - Forca de cisalhamento sobre a coluna vertebral de um balaieiro submetido a uma
cargade1000N. Perfil antropométrico: 1,70m e 90 kg............................................................123
Gráfico 8 - Pressão intradiscal da coluna vertebral de um balaieiro submetido a uma
cargade1000N.– Perfil antropométrico: 1,70m e 90 kg. ........................................................124
Gráfico 9 - Força de cisalhamento da coluna cervical para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e
52,5Kg. ...................................................................................................................................125
Gráfico 10 - Força de cisalhamento na coluna torácica para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e
52,5Kg. ...................................................................................................................................126
Gráfico 11 - Força de cisalhamento na coluna lombar para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e
52,5Kg. ...................................................................................................................................126
Gráfico 12 - Força axial no segmento cervical para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg.
................................................................................................................................................127
Gráfico 13- Força axial no segmento torácico para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg.
................................................................................................................................................128
Gráfico 14 - Força axial no segmento lombar para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg. 129
Gráfico 15 - Pressão intradiscal de C1 a C7...........................................................................130
Gráfico 16 - Pressão intradiscal de T1 a T12. .......................................................................131
Gráfico 17 - Pressão intradiscal de L1 a L5. .........................................................................132
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Dados mundiais da área colhida, produção e produtividade do abacaxi em 2003. 31
Quadro 2 - Dados sobre produção, área plantada, e produtividade da cultura do abacaxi dos
principais produtores do Brasil entre 90 e 2002.......................................................................32
Quadro 3 - Produção anual do abacaxi em n
o
frutos, caminhões e hectare da região do Baixo-
Paraíba/PB. ...............................................................................................................................34
Quadro 4 - Produção em 2003 em n
o
de frutos e área plantada em hectare dos principais
produtores da região do Baixo-Paraíba/PB. .............................................................................34
Quadro 5 - Peso do fruto conforme o tipo................................................................................45
Quadro 6 - Cargas sobre o Disco L-3 em um indivíduo com 70kg..........................................63
Quadro 7 - Pressão intradiscal e forças compressivas em L3-L4.............................................66
Quadro 8 - Localização das dores no corpo provocadas por posturas inadequadas.................71
Quadro 9 - Codificação da postura com o método OWAS. .....................................................73
Quadro 10 - Descrição dos objetivos da pesquisa e as respectivas variáveis e instrumentos
e/ou técnicas utilizados para alcançá-los...............................................................................86
Quadro 11 - No de turmas por município da região do Baixo-Paraíba/PB.............................93
Quadro 12 - Cronometragem das atividades do balaieiro na colheita de abacaxi tipo A.......106
Quadro 13 - Cronometragem das atividades do balaieiro na colheita do Tipo B...................107
Quadro 14 - Cronometragem das atividades do balaieiro na colheita do abacaxi Tipo C. ....107
Quadro 15 - Tempos seguros e inseguros com permanência da carga nos tipos de colheita. 108
Quadro 16 - Média de tempo total (min) do ciclo..................................................................109
Quadro 17 - Riscos presentes na colheita do abacaxi relatados pelos componentes de uma
turma.......................................................................................................................................113
Quadro 18 - Classificação das categorias do WinOWAS ......................................................119
Quadro 19 - Medidas antropométricas dos balaieiros ............................................................121
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 - GÊNESE DA PESQUISA...........................................................................13
1.1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................14
1.2 OBJETIVOS.......................................................................................................................16
1.2.1 Objetivo Geral .................................................................................................................16
1.2.2 Objetivos Específicos ......................................................................................................16
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO .......................................................................................16
CAPÍTULO 2 - O TRABALHO AGRÍCOLA E A CULTURA DO ABACAXI..............18
2.1 DEFINIÇÃO DE TRABALHO .........................................................................................19
2.2 TRABALHO AGRÍCOLA.................................................................................................20
2.3 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO AGRÍCOLA ....................................................21
2.4 O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA.......................................................22
2.5 HIGIENE E SEGURANÇA DO TRABALHO .................................................................24
2.5.1 Definição de Risco ..........................................................................................................25
2.5.2 Classificação dos Riscos..................................................................................................25
2.5.3 Saúde do Trabalhador......................................................................................................27
2.5.4 Saúde do Trabalhador Agrícola.......................................................................................27
2.6 CULTURA DO ABACAXI ...............................................................................................28
2.6.1 Origem.............................................................................................................................28
2.6.2 Dados Estatísticos da produção Mundial, Nacional e do Estado da Paraíba...................30
2.7 SISTEMA DE PRODUÇÃO DO ABACAXI....................................................................34
2.7.1 Preparação do Terreno.....................................................................................................36
2.7.2 Plantio..............................................................................................................................36
2.7.3 Tratos Culturais ...............................................................................................................38
2.7.3.1 Limpas ..........................................................................................................................38
2.7.3.2 Adubação......................................................................................................................39
2.7.3.3 Indução floral................................................................................................................40
2.7.3.4 Controle de Pragas e Doenças ......................................................................................41
2.7.3.5 Colheita.........................................................................................................................42
2.8 SISTEMA DE COMERCIALIZAÇÃO .............................................................................43
2.8.1 Aspectos Econômicos e de Comercialização ..................................................................44
CAPÍTULO 3 - ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO E BIOMECÂNICA
OCUPACIONAL....................................................................................................................48
3.1 ERGONOMIA....................................................................................................................49
3.2 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO .................................................................50
3.3 BIOMECÂNICA OCUPACIONAL ..................................................................................52
3.3.1 Trabalho Estático x Trabalho Dinâmico..........................................................................53
3.3.2 Trabalho Pesado ..............................................................................................................55
3.3.3 Biomecânica da Coluna Vertebral...................................................................................56
3.3.4 Unidade Funcional da Coluna Vertebral .........................................................................58
3.3.5 Forças Aplicadas .............................................................................................................60
3.4 LEGISLAÇÃO...................................................................................................................66
3.5 POSTURA HUMANA.......................................................................................................67
3.5.1 A Postura Adequada e a Postura Inadequada ..................................................................69
3.6 ANÁLISE ERGONÔMICA/BIOMECÂNICA..................................................................71
3.7 REGISTRO E ANÁLISE DA POSTURA .........................................................................72
3.7.1 Sistema OWAS (Ovako Working Posture Analising System)........................................72
3.7.2 Modelo Biomecânico.......................................................................................................74
CAPITULO 4 - METODOLOGIA .......................................................................................80
4.1 NATUREZA DA PESQUISA............................................................................................81
4.2 TIPO DE PESQUISA.........................................................................................................81
4.3 UNIVERSO E AMOSTRA DA POPULAÇÃO PESQUISADA ......................................82
4.4 IDENTIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS..............................................................................82
4.5 INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS .........................................83
4.6 ETAPAS DO ESTUDO .....................................................................................................84
4.8 QUADRO DE SÍNTESE DAS ETAPAS DA PESQUISA................................................85
4.9 ASPECTOS ÉTICOS .........................................................................................................86
CAPITULO 5 - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.....................87
5.1 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO NA COLHEITA DO ABACAXI............88
5.1.1 Produtores Rurais da Cultura do Abacaxi .......................................................................88
5.1.2 Agentes Sociais da Atividade..........................................................................................88
5.2 PERFIL DOS TRABALHADORES RURAIS DA COLHEITA DO ABACAXI ............92
5.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .................................................................................94
5.3.1 Jornada de Trabalho.........................................................................................................94
5.3.2 Pausas ..............................................................................................................................96
5.3.3 Forma de Pagamento .......................................................................................................98
5.3.4 Previdência Social ...........................................................................................................99
5.3.5 Treinamento.....................................................................................................................99
5.3.6 Motivação e Satisfação no Trabalho .............................................................................100
5.4 PROCESSO DE COLHEITA NA REGIÃO DO BAIXO – PARAÍBA..........................101
5.5 CONDIÇÕES DE TRABALHO ......................................................................................111
5.6 SEGURANÇA NO TRABALHO - RISCOS PRESENTES NA COLHEITA DO
ABACAXI..............................................................................................................................112
5.7 DOR NAS COSTAS ........................................................................................................115
5.8 ANÁLISE BIOMECÂNICA............................................................................................116
CAPITULO 6 - CONCLUSÕES E SUJESTÕES..............................................................133
6.1 CONCLUSÕES................................................................................................................135
6.2 SUGESTÕES ...................................................................................................................139
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................141
APÊNDICE A – Formulário da Pesquisa..............................................................................147
APÊNDICE B – Roteiro de Entrevista..................................................................................150
APÊNDICE C – Roteiro da Organização do Trabalho do Balaieiro na Colheita do Abacaxi
................................................................................................................................................152
APÊNDICE D – Quadros das forças de cisalhamento, axiais e pressões intradiscais nos três
segmentos da coluna vertebral para as cargas de 803N, 549N e 525N..................................154
ANEXO A - Certidão do Comitê de Ética.............................................................................157
CAPÍTULO 1 - GÊNESE DA PESQUISA
14
1.1 INTRODUÇÃO
De acordo com Rodrigues (2001), os riscos ergonômicos são introduzidos no
processo de trabalho devido a uma inadequação de máquinas, métodos, do ambiente de
trabalho entre outros agentes, gerando limitações dos seus usuários provocando lesões
crônicas de origem física ou ainda, psicofisiológica. São exemplos de riscos ergonômicos as
posturas inadequadas desenvolvidas na realização do trabalho, levantamento e transporte
manual de peso, ritmo excessivo de trabalho, monotonia, repetitividade, trabalhos em turnos,
etc.
Os riscos ergonômicos podem estar presentes em qualquer situação de trabalho
seja ele estruturado ou não. As atividades agrícolas são situações de trabalho não-estruturadas
onde devido à mobilidade física e funcional dos trabalhadores torna-se difícil definir o posto
de trabalho e os mesmos são expostos a vários riscos, dentre eles os riscos ergonômicos, uma
vez que executam suas atividades em posturas inconvenientes, exercendo grandes forças
musculares, em ambientes que oferecem condições desfavoráveis como a exposição direta ao
sol, chuva e ventos (IIDA, 1990).
Os estudos realizados na área de Ergonomia aplicada à Agricultura em nível
nacional e internacional têm contribuído de forma satisfatória na análise desse ramo de
atividade trazendo inovações importantes quanto à ergonomia de produtos (maquinários,
equipamentos e instrumentos agrícolas), bem como novas metodologias que facilitam a
realização do trabalho agrícola. Porém especificamente quanto aos estudos em ergonomia
agrícola da cultura do abacaxi a existência de pesquisas nessa área é escassa.
Em nosso estado, contamos com as contribuições científicas do GEA - Grupo de
Ergonomia Agrícola e Gestão Ambiental - do Departamento de Engenharia da Produção da
15
UFPB, que desde 1996 tem realizado estudos com os trabalhadores rurais das principais
culturas da região do Baixo-Paraíba/PB, inclusive da cultura do abacaxi.
Estudos têm demonstrado que os riscos ergonômicos contribuem para o
surgimento de problemas osteomusculares, principalmente as lombalgias, no ambiente de
trabalho sendo essa atualmente a principal causa dos altos índices de absenteísmo nas
empresas dos diversos setores produtivos, incluindo o setor agrícola.
Tem-se conhecimento de alguns estudos relacionados ao campo da biomecânica
ocupacional em trabalhadores manuais, que objetivaram quantificar o estresse postural dos
mesmos. Cartaxo (1997) realizou um estudo ergonômico do posto de trabalho do armador de
laje quantificando os esforços da coluna vertebral a partir das posturas adotadas pelos
mesmos na realização de sua atividade laboral. Em estudo similar, Santos (2002) estudou a
relação entre o estresse postural e a exigência muscular na região lombar em borracheiros.
Porém, não temos conhecimento de estudos semelhantes realizados com trabalhadores rurais,
bem como trabalhadores rurais da colheita do abacaxi que é o objeto do nosso estudo.
Sendo a Paraíba um dos maiores produtores de abacaxi do Brasil e reconhecendo
sua importância econômica no cenário nacional e mundial, percebe-se a necessidade de
aprofundar estudos nessa área de pesquisa, buscando melhorias no processo, na relação
homem x tarefa e conseqüentemente, na produtividade dessa cultura em nossa região.
Apesar da mecanização agrícola existente nas diversas fases dos processos
agrícolas de várias culturas, o processo produtivo da cultura do abacaxi ainda é realizado
quase que totalmente de forma manual.
As atividades desenvolvidas na fase da colheita fazem uso essencialmente do
trabalho manual e costumam ser as que mais expõem os trabalhadores a riscos ergonômicos,
exigindo elevados esforços físicos e posturas inadequadas às condições humanas, decorrentes
da retirada, carregamento e arrumação dos produtos colhidos.
16
Diante do exposto, esse estudo buscou responder os seguintes questionamentos:
A que riscos ergonômicos se encontram submetidos os trabalhadores rurais da
colheita do abacaxi?
As cargas demandadas pelas atividades da colheita contribuem para o aumento
do estresse postural desses trabalhadores?
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Analisar os riscos ergonômicos dos trabalhadores rurais da colheita do abacaxi.
1.2.2 Objetivos Específicos
Identificar e descrever o processo de colheita da cultura do abacaxi realizado
no município de Santa Rita/PB.
Fazer análise ergonômica da atividade da colheita do abacaxi.
Analisar a biomecânica da coluna vertebral dos trabalhadores rurais da
colheita do abacaxi.
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO
Essa dissertação, para efeito de melhor compreensão, encontra-se dividida em seis
capítulos, além das referências, dos apêndices e anexos que a compõem.
17
Neste Capítulo foi abordada a gênese da pesquisa apresentando-se a problemática
do estudo e seus objetivos.
No Capítulo II, apresenta-se a revisão bibliográfica sobre o trabalho agrícola e
suas características, Higiene e Segurança do Trabalho com enfoque na classificação dos
riscos ocupacionais, a Cultura do Abacaxi destacando todas as fases do processo produtivo
dessa cultura, bem como seu Sistema de Comercialização.
No Capitulo III, explana-se sobre a Análise Ergonômica do Trabalho e a
Biomecânica Ocupacional enfatizando a biomecânica da coluna vertebral e os estudos
realizados no que diz respeito as forças impostas a essa estrutura, em atividades de vida
diária, esportiva e trabalho, apresentando ainda os softwares utilizados na realização desses
estudo.
O Capitulo IV apresenta a metodologia empregada nesse estudo discriminando a
caracterização da amostra, natureza e tipo de pesquisa, as variáveis e os procedimentos para
coleta e análise dos dados.
No Capítulo V, apresenta-se e discute-se os resultados da pesquisa, descrevendo o
processo de colheita do abacaxi do município de Santa Rita/PB, bem como, analisando as
posturas adotadas pelos trabalhadores ao longo da jornada de trabalho e a biomecânica das
forças da coluna vertebral do balaieiro.
Finalmente, no Capitulo VI, fez-se as conclusões e sugestões tanto para superação
dos problemas estudados, como em temas de desenvolvimento de novos trabalhos.
CAPÍTULO 2 - O TRABALHO AGRÍCOLA E A CULTURA DO
ABACAXI
19
2.1 DEFINIÇÃO DE TRABALHO
O trabalho é a mola mestra da atividade humana, da dinâmica produtiva. É um dos
poucos fatores essenciais na criação de recursos e de desenvolvimento das sociedades. Dele
nascem a tecnologia, as organizações produtivas, os sistemas de troca que constituem os
mercados, os recursos que possibilitam a vida individual e coletiva. Ele encontra-se no âmago
da possibilidade de satisfação de um sem número de necessidades humanas, das mais básicas
às mais fúteis (RIO, 1998).
A ampliação dessas necessidades favorece o desenvolvimento das relações sociais
que irão determinar a visão histórica do trabalho e dessa forma, subordinar o trabalho às
formas sociais (escravismo, feudalismo, capitalismo) historicamente limitadas e às
correspondentes organizações técnicas que caracterizam o chamado modo de produção
(BRAVERMAN, 1987 apud DELIBERATO, 2002).
Fialho e Santos (1997) mostram alguns pontos de referência sobre o trabalho entre
eles, o ponto de vista bíblico onde se pode perceber o envolvimento do trabalho com a noção
geral de pena, de sofrimento: “... maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o
sustento durante os dias de tua vida” (Gên.3:17).
Esse pensamento permaneceu por muito tempo ao longo da história onde na
antiguidade até a Idade Média o trabalho foi primeiramente considerado coisa de escravos, e
depois de serviçais, ou seja, de seres considerados inferiores na sociedade e na natureza.
Dessa forma, os nobres eram responsáveis por criar, planejar o trabalho (trabalho-ergon-
realização) enquanto que os escravos e servos eram responsáveis pela execução do mesmo
(trabalho-ponos-sofrimento).
Tal visão negativa do trabalho só foi transformada em uma forma positiva pelos
mercadores burgueses da alta idade média e início da idade moderna.
20
Estes homens enriqueceram quando passaram a financiar as guerras dos reis
europeus e permitiram que fossem formados os primeiros estados nacionais com regras de
comércio exterior baseadas no monopólio (MACHADO; SCHIRMER, 2000).
Porém, a definição geral que os autores citados descrevem é a que o trabalho
refere-se a uma atividade obrigatória que engloba o trabalho assalariado, o trabalho produtivo
individual (artesão, agricultor, escritor, etc), o trabalho familiar e escolar.
2.2 TRABALHO AGRÍCOLA
A agricultura é uma atividade em que freqüentemente se encontram todos os tipos
de trabalho humano: trabalho primário, propriamente dito sobre a terra e seus produtos,
trabalho secundário de fabricação e reparo de ferramentas; e o trabalho terciário de
comercialização (SANTOS; FIALHO, 1997).
Através da agricultura o homem pôde ampliar seu ambiente, aumentou a utilização
de recursos naturais, provocando mudanças de valores nas sociedades, além de induzir a
criação de ambientes artificiais (LIMA, 1995 apud MONTEIRO, 2001). Sendo uma das
práticas mais antigas realizadas pelo homem, a agricultura marca o início da produção
racional de alimentos e a fixação do homem à terra que deixa a sua condição nômade e a
relação extrativista com a natureza, para manter uma relação mais ativa, transformadora e
realizadora com a mesma (RIBEIRO, 1983 apud ADISSI, 1997).
Apesar da aquisição da consciência de sua participação ativa no trabalho, o homem
percebe não ser o único agente do processo de transformação de semente em fruto: as suas
ações de acompanhamento da vida vegetal e busca de novas técnicas e recursos na melhoria
do processo estariam subordinados às leis naturais, consideradas como de origem divina
(FREYER, 1965 apud ADISSI, 1997).
21
2.3 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO AGRÍCOLA
As atividades agrícolas são situações de trabalho não-estruturadas onde, devido à
mobilidade física e funcional dos trabalhadores, torna-se difícil definir o posto de trabalho.
Os trabalhadores rurais, em geral, executam suas atividades em posturas inconvenientes,
exercendo grandes forças musculares durante o manuseio e transporte de cargas, em
ambientes que oferecem más condições de trabalho sob vários aspectos, além de propiciar a
exposição direta do trabalhador ao sol, chuva e ventos entre outras intempéries da natureza
no caso do trabalho realizado a céu aberto (IIDA, 1990).
Além dessas características mais comuns podemos ainda citar que as
irregularidades dos solos, o aumento do esforço físico dos trabalhadores, o desconforto
ambiental, as dificuldades de higienização e a força de trabalho altamente heterogênea
(idosos, crianças, homens, mulheres...) apresentam elevados diferenciais entre os indicadores
de produtividade do trabalho como características presentes no trabalho agrícola.
No trabalho agrícola ainda é possível observar grandes variações (culturas com
ciclo produto mais curto ou mais longo) conforme os períodos em particular do ciclo sazonal
das diversas culturas e das mudanças climáticas em áreas geográficas diferenciadas, bem
como da locação de material de custo elevado nas várias fases do processo produtivo
(WISNER, 1987).
A existência de grandes diferenciais entre o tempo de produção e o tempo de
trabalho é outra característica importante do trabalho agrícola. Na maioria das situações
agrícolas, os tempos de espera são bastante superiores ao tempo de trabalho. Técnicas
implantadas para diminuir o tempo de trabalho, em geral, não resultam na diminuição do
tempo de produção, acarretando em um aumento maior do tempo de espera (GRAZIANO DA
SILVA:1981 apud ADISSI, 1997).
22
Adissi (1997) relata que o tempo do ciclo vegetativo da cultura também caracteriza
o trabalho agrícola onde esse pode ou não coincidir com o tempo de produção sendo
dependente das características de cada cultura. Sendo assim, as culturas temporárias vivem
apenas um ciclo produtivo (crescem, florescem, frutificam e morrem), enquanto que as
culturas permanentes ou semi-permanentes sobrevivem vários ciclos produtivos (florescem e
frutificam todos os anos, ou até mesmo mais de uma vez no mesmo ano).
Apesar do avanço da mecanização em várias culturas, grande parte do trabalho
agrícola ainda é realizado manualmente, de forma artesanal, onde o trabalhador fabrica seus
próprios instrumentos, adequando-os às suas próprias condições corporais e de manejo.
A biotecnologia na produção de espécies geneticamente modificadas para
suportarem melhor as modificações climáticas, o ataque de pragas e a própria melhora da
qualidade do produto não é utilizada de forma generalizada pelos produtores brasileiros. Essa
característica, aliada ao fato de que o conhecimento de métodos e técnicas que favoreçam o
aumento da qualidade e produtividade das culturas é privilégio de poucos produtores
(CUNHA, 2004).
As tentativas de prescrever os modos operatórios do trabalho agrícola, geralmente
são mal-sucedidas, fato esse que permite uma relativa liberdade na execução do trabalho por
parte dos trabalhadores rurais. Isso é devido à grande diversidade das situações do trabalho,
dependente das variações naturais de relevo, clima, solo, espaçamento das lavouras entre
outros fatores que exige adaptações nos modos operatórios, bem como, dificulta à supervisão
e controle do trabalho agrícola (ADISSI,1997).
2.4 O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA
De acordo com Adissi (1997) cinco vertentes tecnológicas participam do processo
de modernização da agricultura: a mecanização, a quimificação, o domínio das águas, o
23
domínio biológico e as mudanças gerenciais, estando presentes na agricultura desde os
primórdios.
A mecanização agrícola através da utilização de mecanismos movidos pelo
próprio homem, por animais, por outras máquinas ou por eles próprios (autopropulsados),
favorece a diminuição da energia humana consumida no processo de trabalho. Tal processo de
modernização dá-se por sucessivas substituições de sistemas mecânicos por outros que
necessitam de uma menor participação da força humana, por exemplo, quando ocorre a
substituição das ferramentas manuais por tração animal e esta por tratores e máquinas
agrícolas com implementos.
A eliminação de operações manuais, bem como a exigência de outras, a
intensificação e elevação do ritmo de trabalho, a introdução de novos padrões de qualidade de
produção e o aumento da produtividade são algumas das alterações presentes no conjunto das
operações agrícolas quando o trabalho manual é substituído pelo mecanizado. Porém, em
algumas atividades agrícolas o trabalho mecanizado, apesar de ser mais produtivo, apresenta-
se qualitativamente inferior ao trabalho manual.
Além disso, existe o impacto da mecanização sobre a mão-de-obra que
desemprega trabalhadores manuais e exige trabalhadores com novas qualificações. Esse
processo agrava, ainda mais a demanda de mão-de-obra agrícola já condicionada a
sazonalidade das culturas.
Na quimificação, a potencialização das ações humanas acontece com a utilização
de produtos químicos que modificam as condições naturais de todo eco-sistema responsável
pelo desenvolvimento da fauna e flora. Assim como a mecanização, a quimificação ao
substituir operações manuais exige novas qualificações operárias, além de reduzir a oferta de
emprego.
24
Adissi (1997), cita como exemplo, a utilização de herbicidas que combatem as
ervas daninhas dispensando as capinas manuais com enxada, o que, em termos de emprego,
pode significar 30 trabalhadores manuais substituídos por um aplicador, podendo esta relação
aumentar significativamente quando se tratar de herbicidas pré-emergenciais que evitam o
nascimento das ervas e têm um efeito mais prolongado que os pós-emergenciais. Nesse
exemplo, a quimificação reduz o tempo de trabalho sem alterar o tempo de produção.
A partir da necessidade de melhor distribuir a água para as plantações, o domínio
das águas foi uma das primeiras intervenções técnicas do homem sobre a produção agrícola.
As técnicas modernas de irrigação apresentam-se nos sistemas: de canais, de inundação, por
aspersão, por gotejamento e as modernas técnicas de hidroponia, podendo a irrigação ser
combinada a operação de adubação ou de controle de pragas.
Outra vertente tecnológica da modernização seria o domínio biológico onde um
conjunto de conhecimentos das diversas áreas da Biologia e da Engenharia Genética passaram
a ser, progressivamente, incorporados pela agricultura, através da seleção de variedades, do
desenvolvimento genético de novas variedades e do controle biológico de pragas.
Finalmente, ao discorrer sobre a vertente das mudanças gerenciais, o autor
supracitado, relata que seu principal objetivo seria viabilizar as inovações procedentes das
demais vertentes atuando sobre a forma de organização do trabalho. Preocupações típicas
dessa vertente são a elevação da produtividade e o controle da mão-de-obra, através do
desenvolvimento de métodos de trabalho e da imposição de regras disciplinares que buscam a
intensificação e a subordinação real do trabalho (ADISSI,1997).
2.5 HIGIENE E SEGURANÇA DO TRABALHO
Conforme Faria (1984), a Higiene do Trabalho tem por objetivo estudar os fatores
determinantes do meio físico que envolve o trabalho do homem, visando a melhoria de suas
25
condições, bem como a preservação da saúde humana, individual e coletiva, além da
prevenção de acidentes adotando um conjunto de normas e técnicas específicas, para cumprir
suas finalidades, sendo importante para isso, o conhecimento dos principais riscos à saúde do
homem no trabalho.
2.5.1 Definição de Risco
A norma OHSAS (Occupational Health and Safety Assessment Series) 18001
(1999) define risco como a combinação da probabilidade de ocorrência e da(s) conseqüência
(s) de um determinado evento perigoso.
Conforme a classificação da FUNDACENTRO (1978), podemos considerar os
seguintes fatores como constituintes dos riscos profissionais tanto de trabalhadores urbanos,
como dos trabalhadores rurais:
¾ Fatores endógenos – como a fadiga do trabalhador, o desconhecimento do
risco que o trabalho representa, a falta de treinamento, entre outros.
¾ Fatores exógenos – relacionados ao ambiente em que o trabalho se
desenvolve: tempertura, vento, umidade, vapores, fumaça, gases, etc.
2.5.2 Classificação dos Riscos
Segundo Rodrigues (2001) a legislação trabalhista brasileira classifica os riscos em
de acidentes, físicos, químicos, biológicos e ergonômicos. Os riscos de acidentes são aqueles
gerados pelos agentes que demandam o contato físico direto com a vítima manifestando
26
assim, sua nocividade. Pode-se citar exemplos de riscos de acidentes ou mecânicos ao
trabalhador rural os instrumentos perfuro-cortantes como facões, enxadas, ansinhos.
Os riscos físicos representam uma troca brusca de energia entre o organismo e o
ambiente em uma quantidade acima daquela suportável pelo organismo humano podendo
levar ao desenvolvimento de uma doença profissional. São exemplos de riscos físicos as
temperaturas extremas, frio ou calor, ruído, vibrações e pressões elevadas. Os trabalhadores
rurais estão expostos a esses de maneira intensa, uma vez que desenvolvem suas atividades a
céu aberto e os maquinários agrícolas são caracteristicamente, agentes geradores de ruídos e
vibrações.
Os riscos químicos são aqueles gerados por agentes que modificam a composição
química do meio ambiente, como por exemplo, a utilização de tintas em algumas atividades,
agroquímicos, substâncias tóxicas que prejudicam o organismo. A aplicação de agrotóxicos e
demais agroquímicos utilizados nos tratos culturais são exemplos de riscos químicos que os
trabalhadores rurais estão expostos.
Os riscos biológicos são aqueles que apresentam organismos vivos como
geradores de doenças ocupacionais tais como: vírus, bactérias, fungos e parasitas. . No
trabalho rural podemos citar a exposição dos trabalhadores aos animais peçonhentos e a
precária higienização corpórea como situação de riscos biológicos.
Finalmente, os riscos ergonômicos são aqueles introduzidos no processo de
trabalho por agentes (máquinas, métodos, etc.) inadequados às limitações dos seus usuários
sendo caracterizados por atuarem sobre os indivíduos que utilizam esses agentes geradores de
risco, provocando lesões crônicas podendo ser de origem psicofisiológica. São exemplos de
riscos ergonômicos as posturas inadequadas desenvolvidas na realização do trabalho,
levantamento e transporte manual de peso, ritmo excessivo de trabalho, monotonia,
repetitividade e os trabalhos em turnos (RODRIGUES, 2001).
27
2.5.3 Saúde do Trabalhador
As doenças ocupacionais/profissionais ou do trabalho são aquelas decorrentes de
exposições os trabalhadores aos riscos ambientais, ergonômicos ou de acidentes
caracterizando-se assim quando se estabelece o nexo causal entre os danos observados na
saúde do trabalhador e a exposição a determinados riscos ocupacionais levando a uma
alteração na sua qualidade de vida. Tais alterações podem ocorrer de várias formas
dependendo do tipo de agentes que estão atuando, do tempo de exposição, das condições
particulares de cada indivíduo e de fatores do meio em que se vive.
A saúde ocupacional ou profissional, conforme Deliberato (2002) implicaria no
conjunto de todas as estratégias utilizadas para melhorar a saúde dos trabalhadores, não
apenas no seu ambiente laboral, como também na comunidade. O autor complementa que a
eficácia de estratégias preventivas na relação saúde-doença do trabalhador depende do
conhecimento da história natural de cada distúrbio ocupacional.
A partir da ótica risco/dano deve-se levar em consideração cada agente envolvido
no processo, a importância e influência das manifestações ambientais, como também os
impactos que os mesmos exercem sobre o ser humano.
2.5.4 Saúde do Trabalhador Agrícola
A agricultura atualmente é reconhecida como um dos setores econômicos que
apresentam os mais elevados índices de riscos ocupacionais, acidentes e doenças. Sabe-se que
a exploração agrícola situa-se entre as mais perigosas, juntamente com a indústria da
construção civil e a petrolífera, representando um alto custo em relação ao tratamento médico,
28
indenizações, perdas de produção, entre outros, além dos agravos que trás ao acidentado e sua
família.
Como já comentado, no trabalho rural as cargas físicas (interação do corpo do
trabalhador em atividade e o ambiente de trabalho) são representadas pela grande variação de
atividades executadas ao longo da jornada de trabalho, a exposição a diferentes condições
climáticas (calor, frio, chuva), a exposição a ruídos e vibrações, posturas incorretas
transporte, inadequado e exposições a agrotóxicos.
O relatório da Agência Européia para Segurança do Trabalho (2001) informa que
as taxas de distúrbios sacrolombares provenientes de fatores de riscos existentes no local de
trabalho encontra elevadas taxas de prevalência entre os trabalhadores agrícolas, tendo o
trabalho físico pesado, elevação e movimentação de cargas, posturas incorretas e vibração por
todo o corpo como os principais riscos que levam a esses distúrbios.
2.6 CULTURA DO ABACAXI
2.6.1 Origem
O abacaxizeiro é uma planta de origem tropical, originalmente cultivada em terras
recém–desmatadas, sendo por isso considerada uma planta rústica que requer poucos tratos
culturais pra seu crescimento e produção. Consiste de um caule curto e grosso, circundado por
folhas em forma de caneleta, rígidas, cerosas e protegidas por uma camada de pêlos. Seu
sistema radicular é fibroso e superficial com a maioria de suas raízes sendo encontradas nos
primeiros 15cm do solo (CUNHA et al, 1999).
Pertencente a família botânica das bromeliáceas, com nome científico de Ananas
comosus, sua origem não é confirmada ao certo. Alguns pesquisadores acreditam ser um fruto
originário do Brasil, outros da América Central e do México, e ainda, sul da América do Sul,
29
e a partir daí, foi levado para toda América pelos índios guaranis até a região da América
Central e Caribe muito antes da chegada dos europeus. É uma planta que possui um ciclo
natural variando de 16 a 30 meses, porém após a primeira safra, propaga-se vegetativamente
através de mudas como: filhotes, rebentões e coroa. (ADISSI, 2001).
Cunha et al (1999) relata que em diversos países tropicais principalmente na
América Latina, as principais cultivares plantadas tanto para a utilização in natura, como para
a industrialização são:
9 Smooth Cayenne mais conhecido como abacaxi havaiano, é a cultivar mais
plantada no mundo. É um planta robusta, de porte ereto, as folhas não apresentam espinhos, a
não ser algumas encontradas nas extremidades apicais. A coroa é relativamente pequena e
apresenta poucos filhotes. O fruto tem forma cilíndrica e chega a pesar entre 1,5 kg a 2,5kg.
9 Singapore Spanish segunda cultivar em importância para a industrialização,
cultivada amplamente na Malásia pela boa adaptação aos solos desse país. O fruto é pequeno
pesando de 1,0kg a 1,5kg, cilíndrico e com baixo teor de açúcar e baixa acidez.
9 Queen cultivada na Ásia, na África do Sul e na Austrália. O fruto é pequeno,
0,5kg a 1,0kg, pouco ácido e de excelente sabor.
9 Española Roja fruto de tamanho médio, com 1,2kg a 2,0kg em forma de barril.
9 Pérola cultivada exclusivamente no Brasil, a planta desta cultivar é também
conhecida como “Pernambuco” ou “Branco-de-pernambuco”. O fruto pesa de 1,0kg a 1,5kg,
possui coroa grande e é pouco apropriado para a industrialização e a exportação in natura.
9 Jupi cultivar que se assemelha à Pérola, da qual difere apenas pelo formato
cilíndrico do fruto. É comum aparecer em mistura, em lavouras de Pérola, sendo mais
conhecidas nos estados da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
30
2.6.2 Dados Estatísticos da produção Mundial, Nacional e do Estado da Paraíba
O Brasil oferece excelentes condições para o cultivo do abacaxi sendo cultivado
praticamente em todos os Estados, observando-se nos últimos anos, um crescimento
significativo da produção nacional que coloca o país como terceiro produtor mundial.
Conforme dados da FAO (Organics Agriculture) a produção mundial abacaxizeira
em 2003 foi de 14.724.684 toneladas, distribuídas pelos cincos continentes. O Brasil ocupa o
3
o
lugar entre os maiores produtores mundiais apresentando uma produção de 1.404.210
toneladas, produtividade de 26,14 t/ha e uma área colhida de 53.724 ha.
O consumo acentuado de frutas nos últimos anos tem contribuído para o aumento
do cultivo de várias espécies, inclusive o abacaxizeiro, uma vez que esse fruto é apreciado
tanto por consumidores do mercado interno, como do mercado externo.
O Quadro 1 apresenta os dados da área colhida (ha), produção (t) e produtividade
(t/ha) no mundo em 2003, distribuídos pelos cinco continentes, bem como os dez maiores
países produtores de abacaxi.
31
CONTINENTES Area Colhida (ha) Produção (t) Produtividade (t/ha)
África 218.867 2.630.582 12,02
Ásia 389.415 6.935.175 17,81
Europa 160 2.000 12,50
Américas 168.573 4.991.110 29,61
Oceania 4.385 165.817 37,81
Mundo 781.400 14.724.684 18,84
PAÍSES Área Colhida (ha) Produção (t) Produtiviadade(t/ha)
Tailândia 80.000 1.700.000 21,25
Filipinas 46.000 1.652.000 35,91
Brasil 53.724 1.404.210 26,14
China 62.100 1.316.280 21,20
India 70.000 1.100.000 15,71
Costa Rica 15.000 1.060.000 70,67
Nigeria 115.000 881.000 7,66
México 17.906 720.900 40,26
Kenia 13.500 600.000 44,44
Indonésia 57.800 462.623 8,00
Quadro 1 - Dados mundiais da área colhida, produção e produtividade do abacaxi em 2003.
Fonte: FAO (2003)
Porém, Cunha et al (1999) destacam que mesmo tendo um crescimento
considerável nos últimos anos, a produção do abacaxi no Brasil ainda está bem aquém de
outros produtores mundiais a exemplo das Filipinas, Costa Rica, México e Kénia como
mostra o Quadro 1. Dentre as causas que contribuem para essa “baixa” produtividade estão:
9 A ocorrência de pragas e doenças;
9 A deficiência no uso de tratos culturais;
9 A escassez de mudas de boa qualidade e sadias;
9 A inexistência de programas de produção de mudas fiscalizadas;
9 O manejo inadequado do fruto na colheita e na pós-colheita;
9 A inexistência de legislação eficaz sobre a padronização e classificação de
frutos;
32
9 Pequeno aproveitamento industrial;
9 Instabilidade e falta de informação de mercado;
9 Imperfeições no entrosamento/funcionamento dos sistemas de pesquisa e
assistência técnico-credentícia, dificultando a transferência e a adoção de tecnologias;
9 Pequena ou nenhuma participação dos abacaxicultores em cooperativas ou
associações de classe.
Além dessas causas, os autores também citam a existência de limitações
tecnológicas em algumas áreas como no combate as pragas, manejo de mudas, florescimento
natural, nutrição mineral e adubação (quantidades, micronutrientes, adubação verde), manejo
do solo sob cultivo intensivo com abacaxi, irrigação, consorciação e rotação de culturas,
manejo e conservação do fruto para exportação in natura.
O Estado da Paraíba nos anos de 2000 a 2002 como o segundo maior estado
produtor de abacaxi, responsável por 20% da produção do país em 2000, 20,9% em 2001 e
19,1% em 2002, apenas sendo superada por Minas Gerais com 24,1%, 25,8% e 22% no
mesmo período. Uma análise mais detalhada dos maiores produtores do Brasil pode ser feita
pelo Quadro 2:
UF
Quantidade Produzida (mil frutos)
Área Plantada
(ha)
Produtividade
(mil frutos/ha)
1990 1995 2000 2001 2002 1990 1995 2000 2001 2002 1990 1995 2000 2001 2002
MG 186.993 311.079 322.964 369.622 315.682 10.037 15.623 13.263 14.004 11.134 18,63 19,91 24,35 26,39 28,35
PB 284.168 235.757 268.080 299.404 274.208 12.718 10.107 10.226 10.444 9.344 22,34 23,33 26,22 28,67 29,35
PA 15.807 91.918 233.758 208.974 212.511 1.003 5.234 10.502 10.461 10.836 15,76 17,56 22,26 19,98 19,61
BA 45.643 58.977 98.538 118.940 116.557 2.288 2.769 4.326 4.934 4.747 19.95 21,30 22,78 24,11 24,55
RN 28.504 30.204 70.119 52.724 93.936 1.394 1.299 3.359 2.129 3.772 20,45 23,25 20,87 24,76 24,90
GO 16444 19.728 54.495 49.599 64.481 935 1.296 2.308 2.298 2.653 17,58 20,89 17,13 23,94 25,17
SP 19.731 16.335 37.260 65.120 57.730 974 782 2.175 2.720 1.980 20,26 15,22 23,61 21,58 24,30
BRASIL 735.931 950.907 1.335.792 1.430.018 1.433.234 37.151 47.967 62.976 63.282 62.862 19,81 19,82 21,21 22,60 22,80
Quadro 2 - Dados sobre produção, área plantada, e produtividade da cultura do abacaxi dos principais
produtores do Brasil entre 90 e 2002.
Fonte: IBGE - Levantamento Sistemático da Produção Agrícola
33
Dados de 2004 confirmam que a Paraíba continua sendo o 2º maior produtor com
258 milhões de frutos colhidos sendo que o 1º lugar ocupado pelo estado do Pará com
314.978 milhões de frutos colhidos. O Estado de Minas passou a ocupar o 3º lugar na
produção nacional com 219 milhões de frutos colhidos.
Assim, a Paraíba é responsável atualmente por 18,7% da produção nacional
conforme dados apresentados no gráfico 1. Porém, a maioria dos frutos produzidos no Estado,
cerca de 60% da produção é comercializada na região Sudeste.
Produção do abacaxi em número de frutos colhidos dos
principais estados produtores em 2004
314
258
219
0
50
100
150
200
250
300
350
Estados Produtores
Número de frutos (milhões)
Pará Paraíba Minas Gerais
Gráfico 1 - Porcentagem da produção nacional.
Fonte: IBGE
No Estado da Paraíba, 37 municípios produzem o fruto do abacaxizeiro sendoo
Baixo – Paraíba a região de maior concentração da produção com destaque para o município
de Santa Rita. De acordo com os dados da EMATER/PB (Empresa de Extensão Rural), o
município de Santa Rita foi o maior produtor no ano de 2000 tendo uma produção estimada
de 103.500 mil frutos em uma área plantada de 3.500Ha (ADISSI, 2001).
Dados fornecidos pela COPAGRO (Cooperativa dos Produtores Agrícolas de
Abacaxi) informam no Quadro 3 a produção anual em frutos, caminhões carregados e
34
hectares plantados, movimentada pela cooperativa na região do Baixo-Paraíba/PB entre 2001
e 2003:
ANO \ PRODUÇÃO EM
FRUTOS
EM CAMINHÕES EM HECTARE
2001 1.143.688 144 43,98
2002 2.147.627 268 82,60
2003 (1
o
semestre) 316.732 40 12,18
2003 (2
o
semestre-previsão) 664.000 83 25,53
Total 4.329.047 543 166.3
Quadro 3 - Produção anual do abacaxi em n
o
frutos, caminhões e hectare da região do Baixo-Paraíba/PB.
Fonte: COPAGRO
Em 2003, conforme dados da EMATER/PB, apesar da queda da produção, Santa
Rita continua com o posto de maior produtor da região do Baixo-Paraíba/PB com 79,8
milhões de frutos colhidos em uma área plantada de 2660Ha como observado no Quadro 4.
MUNICÍPIO N
O
DE FRUTOS COLHIDOS ÁREA PLANTADA (HA)
Santa Rita 79,8 milhões 2660
Itapororoca 54 milhões 1800
Araçagi 31 milhões 970
Pedras de Fogo 23.280 milhões 77
Sapé 13.390milhões 43
Quadro 4 - Produção em 2003 em n
o
de frutos e área plantada em hectare dos principais produtores da região do
Baixo-Paraíba/PB.
Fonte: EMATER/PB
.
2.7 SISTEMA DE PRODUÇÃO DO ABACAXI
Descrevendo o processo produtivo da cultura do abacaxi no Baixo Paraíba, Adissi
(2001) o divide basicamente em quatro etapas: preparação do terreno, plantio, tratos culturais
e colheita. A Figura 1 apresenta as principais atividades que compõem cada fase do processo
produtivo da cultura do abacaxi na região do Baixo-Paraíba.
35
Preparo do solo
Preparação do Terreno
Desmatamento
1
Planeamento
1
Aragem
Gradagem
Abertura dos sulcos
1
Plantio
Colheita das mudas
1
Seleção das mudas
1
Tratamento das mudas
1
Cavagem
Adubação
1
Semeio
Cobertura
Tratos culturais
Irrigação
1
Adubações
Controle a ervas invasoras
Indução floral
Controle de pragas e
doenças
Colheita
Aplicação de maturador
1
Catação
Arrumação da carga no
carre
g
amento do veículo
1
Operação nem sempre realizada.
Figura 1 - Processo de produção do abacaxi.
Fonte: Adissi e Almeida
(
2002
)
36
2.7.1 Preparação do Terreno
Oliveira (2001) descreve esta operação como muito importante, pois o abacaxi tem
seu sistema radicular frágil e superficial. Em áreas nunca cultivadas recomenda-se o
desmatamento, a limpeza da área, aração e gradagem. Em áreas onde já houve o plantio, a
gradagem é a atividade mais comum. Pode-se realizar mais de uma operação de gradagem
dependendo da área a ser preparada.
Após o revolvimento da terra ser completado, a última operação é a da abertura
dos sulcos que, como as demais desta fase, costuma ser realizada com trator. Na maioria das
situações da produção da região do Baixo-Paraíba/PB essa operação é substituída por abertura
nas covas com enxada.
Adissi e Almeida (2002) informam que nessa atividade, o tratorista se expõe,
principalmente, aos ruídos e vibrações do maquinário, além das poeiras e irradiação solar.
2.7.2 Plantio
Para que o produtor inicie o processo de plantio, de acordo com Oliveira (2003)
faz-se necessário que haja um planejamento, quanto à variedade de cultivar que o mercado
está consumindo, a quantidade do produto que será absorvida pelo mercado e a área que será
plantada para atender a este mercado. Além disso, o produtor de abacaxi precisa observar a
qualidade do fruto, peso, tamanho e as características internas e externas como cor, acidez,
entre outros.
O período mais indicado para o plantio do abacaxi é entre janeiro e julho, porém
nos locais onde a precipitação é melhor distribuída, ou se houver boa irrigação, o plantio
37
estende-se até o mês de dezembro. A fase do plantio inicia-se com o corte, carregamento e
seleção das mudas.
As distâncias mais comuns entre linhas são de 70 cm e entre plantas de 30 cm para
terrenos arenosos e 80 x 30 cm, 80 x 40 cm ou 90 x 30 cm em terrenos argilo-arenosos. O
talhão de plantio deve ter uma largura que facilite a retirada da produção, dependendo do
método a ser utilizado na plantação. As ruas entre os talhões devem ser suficientes para
transitar um caminhão, sem que o mesmo prejudique as plantas. O plantio poderá se feito em
covas, fendas e sulcos.
O plantio sulcado é indicado para grandes áreas e além disso, para terrenos que
retêm muita água, pois a muda é plantada no leirão entre os sulcos, e não da forma
convencional entre as fendas.
Com relação as mudas, são selecionadas as mais vigorosas, colhidas em campos
que tenham sido bem conduzidos isentos de pragas e doenças, sendo sadias e de tamanho
uniforme Recomenda-se plantar as mudas de peso e tamanhos diferentes, em talhões também
diferentes, para se evitar a concorrência entre plantas maiores e menores, assim como, a
floração natural dispersa pela área plantada, que dá origem ao "temporão", o fruto florado
naturalmente. O tamanho médio indicado é de 50 cm e peso entre 250 a 300g para as
variedades Pérola e Jupi e de 300 a 600g para as variedades Smooth Cayenne.
Após a colheita das mudas, em algumas produções faz-se um tratamento a base de
organofosforado no combate de fungos, bactérias e cochonilha. As mudas são imersas em
solução, contendo 200 ml do produto / 200 L de água, durante 1 a 3 minutos, após esse
tratamento deverão ficar armazenadas com o olho para cima cerca de 10 a 15 dias, para
efetuar-se o plantio.
38
O processo do plantio é de operações simultâneas realizadas por turmas
especialistas, envolvendo a cavagem, colocação da muda e cobertura.. Uma turma formada de
10 homens planta um hectare em 1,5 dias (OLIVEIRA, 2001).
Durante a fase do plantio, o trabalhador se expõe a riscos de acidentes como corte,
devido à utilização de instrumentos cortantes na colheita, além das próprias folhas do
abacaxizeiro e aos riscos químicos no caso de se empregar tratamento químico das mudas
com os organofosforados. Além disso, o trabalhador fica exposto ao risco ergonômico, como
a postura inadequada, ou seja, permanece, por um longo intervalo, em flexão anterior do
tronco durante o ato de semear (colocação da muda) e de plantar (cobertura com terra)
(ADISSI; ALMEIDA, 2002).
2.7.3 Tratos Culturais
2.7.3.1 Limpas
Segundo Oliveira (2001), o abacaxizeiro, por ser uma planta de desenvolvimento
lento, defende-se muito mal dos invasores, o que repercute grandemente no seu rendimento.
Os prejuízos oriundos das ervas daninhas não se limitam somente à concorrência pela água e
nutrientes, algumas espécies servem de hospedeiros de diferentes parasitas do abacaxizeiro.
Daí a importância em deixar o plantio sempre isento de ervas daninhas. Mediante tal fato, a
limpa acontece normalmente antes das adubações e consiste na remoção das ervas por meio
da utilização da enxada. A tarefa manual é considerada um trato alternativo ao uso de
herbicidas, contornando assim a contaminação do meio ambiente e diminuindo a degradação
da composição nutricional do solo.
A limpa é a atividade que mais emprega na cultura do abacaxi, chegando em um
ciclo a ocupar cerca de 104 dias/homem em um hectare de área plantada.
39
Nesta atividade o trabalhador está exposto principalmente a riscos de acidentes,
tais como o corte, impactos e quedas. Além do risco químico da inspiração intensa de poeiras
(ADISSI; ALMEIDA, 2002).
2.7.3.2 Adubação
A preocupação inicial no planejamento do plantio de abacaxi é conhecer a
fertilidade do solo. De um modo geral a planta do abacaxizeiro necessita principalmente dos
macronutrientes como nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mn),
enxofre (S) e matéria orgânica. Entre os micronutrientes os mais importantes para a cultura do
abacaxi são: cobre, zinco, ferro, molibdênio, boro. A matéria orgânica em forma de esterco
costuma ser adicionada no interior dos sulcos das covas ou ainda logo após ao plantio.
A adubação química de macronutrientes (N,P,K) é realizada manualmente pelo
menos uma vez e depende das condições individuais de cada roçado, na maioria das vezes a
primeira aplicação costuma ser realizada com agrotóxicos para controle da cochonilha.Em
solos arenosos, pobres em matéria orgânica, é aconselhável complementar a adubação mineral
com adubos orgânicos como a torta de filtro, torta de mamona, torta de oiticica, esterco de
galinha e esterco de vaca (OLIVEIRA, 2001).
Para facilitar o trabalho é comum os trabalhadores utilizarem um funil de gargalho
comprido e uma vasilha apropriada, que fica pendurada acima da cintura pélvica. Como
ferramenta de dosagem, há quem utilize uma colher caseira ou a própria mão.
Esses equipamentos evitam as posturas indesejáveis de flexão anterior da coluna,
porém o fato dos trabalhadores não utilizarem luvas possibilita a ação corrosiva dos adubos
sintéticos (OLIVEIRA, 2001).
40
Além desse risco químico, a atividade expõe os trabalhadores aos riscos de
acidentes especificamente com as folhas das plantas e a riscos biológicos, quando a adubação
de adubos orgânicos pela possibilidade de vários tipos de contaminações (ADISSI;
ALMEIDA, 2002).
2.7.3.3 Indução floral
Oliveira (2001) expõe que a época de floração do abacaxizeiro pode ser antecipada
mediante à aplicação de fitorreguladores na roseta foliar ou com pulverizações da planta. A
indução floral torna homogênea a floração trazendo economia de mão-de-obra no controle da
broca do fruto e na colheita, além de facilitar a programação da mesma em função do
mercado consumidor. Deve ser realizada em plantas bem desenvolvidas, com idade variando
entre 7 a 14 meses, dependendo do manejo da cultura e principalmente do uso ou não de
irrigação.
Várias substâncias podem ser utilizadas com o fim de induzir a floração, como o
carbureto de cálcio (acetileno) {por ser mais barato é o mais utilizado no Brasil} -, o
Ethephon (ácido 2-cloroetilfosfônico) e o etileno. O carbureto de cálcio é aplicado na roseta
foliar de 1 a 2 gramas por planta, desde que tenha água no centro da roseta foliar; já os
produtos a base de ethephon podem ser pulverizados sobre a planta, na dosagem de 24 a 48g
do ingrediente ativo para 100 litros de água, aplicando 30 a 40 mililitros da calda, por planta,
no centro da roseta foliar, com adição de uréia a 2%. Esses produtos devem ser aplicados de
preferência pela manhã ou à noite. Em dias nublados, podem ser aplicados durante o dia todo.
Um acidente que ocorre com freqüência é a queimadura causada pelo contato de
carbureto com partes molhadas do corpo do trabalhador, por exemplo, quando pequenas
pedras do produto caem no interior das botas do aplicador (ADISSI; ALMEIDA, 2002).
41
2.7.3.4 Controle de Pragas e Doenças
Após o aparecimento dos frutos, 45 dias depois da indução floral, inicia-se o
controle da broca do abacaxi e da fusariose, também chamada de resina. As aplicações
repetem-se semanalmente durante todo o ciclo das flores, ao longo de cerca de 5 semanas,
empregando cerca de 18 dias/homem para um hectare (OLIVEIRA, 2001).
Pela indicação da EMATER-MG (2001 apud OLIVEIRA, 2002) pode-se combater
as pragas e doenças do abacaxi da seguinte forma:
Cochonilha: pulverizações nas plantas em desenvolvimento com inseticidas
Parathion metilico, Ethion, Diazinon ou similares, registrados para a cultura.
Broca-do-fruto: pulverizações ou tratamento dos frutos em formação, com
inseticidas à base de Carbaril, Triclorfon, Ethion, Parathion Metilico, Bacillus Thuringiensis,
Piretroides, registrados para a cultura.
Fusariose nos frutos: Pulverizações preventivas no período de florescimento
com fungicidas à base de Benomyl ou similares, registrados para a cultura.
Segundo Adissi e Almeida (2002), a ausência das roupas de proteção, como as
luvas, máscaras e aventais, não são as únicas responsáveis pelas elevadas e perigosas
exposições aos agrotóxicosdos trabalhadores da região do Baixo-Paraíba/PB. A estocagem
dos produtos em locais freqüentados, muitas vezes até por crianças, os vazamentos nas
bombas, a contaminação dos alimentos e a ausência de água limpa para higienização pessoal
junto aos locais de manuseio dos agrotóxicos, são fatores de risco de relevância que, com
alguma atenção dos agricultores, seriam facilmente evitados.
E além desses riscos o trabalhador expõe-se aos produtos (agrotóxicos) em seu
estado mais concentrado durante o momento da diluição, sendo este o momento mais crítico
do controle das pragas e doenças para o trabalhador.
42
2.7.3.5 Colheita
De um modo geral, segundo Cunha et al.(1999), a catação do fruto é realizada com
o auxílio de um facão, devendo o colhedor (catador) proteger as mãos com luvas de lona
grossa. O catador segura, com a mão esquerda, o fruto pela coroa e com a direita secciona o
pedúnculo 3 a 6cm abaixo do fruto ou dos filhotes. Na Paraíba, este tipo de colheita é
denominado colheita sangrada e é utilizada quando as cargas de abacaxi destinam-se para
distantes mercados, servindo os filhotes para a proteção dos frutos.
Piza Junior (1967 apud CUNHA et al, 1999) refere que para cada catador
(colhedor) necessita-se de três carregadores (balaieiros), porém essa relação pode variar de
acordo com o treino dos trabalhadores e a especificidade da colheita.
Após o transporte dos frutos pelo balaieiro que conduz o balaio em sua cabeça até
o veículo, os frutos são descarregados e arrumados pelos arrumadores. A arrumação da carga
consiste numa técnica ainda pouco conhecida.
Em países onde a cultura do abacaxi é altamente tecnificada, como acontece no
Havaí, os trabalhos de colheita do fruto são realizados de forma semimecanizada, o qual é
facilitado pelo uso de esteiras rolantes, acopladas aos caminhões de transporte, que
transportam os frutos imediatamente para fora dos talhões como representado na Figura 2
(CUNHA et al., 1999).
43
Figura 2 - Colheita semi-mecanizada
Fonte: Cunha, (1999)
Os trabalhadores rurais da colheita do abacaxi encontram-se expostos a vários
riscos ocupacionais. Aprofundaremos esse tema mais adiante quando tratarmos das
conceituações dos tipos de riscos, exemplificando com os riscos presentes no trabalho
agrícola, bem como, na fase da colheita do abacaxi.
2.8 SISTEMA DE COMERCIALIZAÇÃO
Como em qualquer outra cultura, a comercialização é a etapa final do processo
produtivo e no caso da cultura do abacaxi, a produção pode ser comercializada in natura nas
vizinhanças da região produtora, ou regiões mais distantes, para a industrialização e para o
mercado externo.A maior parte da produção brasileira de abacaxi é consumida pelo mercado
interno, uma vez que 99% da produção é comercializada internamente (CUNHA, 1999).
Quanto ao abacaxi produzido na Paraíba, 23% da produção fica no estado, 21% é
vendida para São Paulo, 15% para Bahia, 10% Rio de Janeiro e Minas gerais, 8% Rio Grande
do Sul, 6% Sergipe, 4% Santa Catarina e 1% para Pernambuco (CUNHA, 2004).
44
Devemos considerar a cultura do abacaxi, como uma atividade que absorve mão-
de-obra no meio rural, contribuindo para o mercado de trabalho e para fixação do homem ä
terra, fato esse de grande importância socioeconômica.
Mesmo existindo grandes plantações de abacaxi nas principais regiões produtoras,
essa cultura é em sua maioria explorada por pequenos produtores que desenvolvem sua
produção adquirindo crédito rural através de programas de incentivo como o PRONAF
(Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar).
2.8.1 Aspectos Econômicos e de Comercialização
Segundo o relatório da Emepa/PB em 2002, o custo de produção de abacaxi na
região foi superior ao montante de R$ 4.137 por ha (valor bruto sujeito ao desconto de várias
taxas, tais como: tarifa de cadastro – R$ 30 a 60; seguro – R$ 90 a 140; jornada de
capacitação do produtor – R$ 60; fundo de aval – valor variável, de até 10% do valor do
financiamento) propiciado ao pequeno produtor pelo PRONAF. Tal custo se deve,
principalmente, ao material de plantio (cerca de R$ 600 a 1.000 por ha, correspondendo a 2,5
caminhões de mudas), e ao arrendamento da terra, que varia de R$ 200/ha a R$ 600/ha (na
média, R$ 400/ha) por 2 anos, tempo necessário para completar o ciclo da cultura. Existem
casos em que o valor do arrendamento corresponde aos frutos comercializados em uma
“conta” (1/13 do hectare).
Uma outra problemática existente diz respeito ao valor financiado que não leva em
conta os custos da colheita que, a depender do número de frutos colhidos, pode chegar a
R$1.000/ha (4 caminhões a R$ 250 cada). Esse fato faz com que muitos compradores
(atravessadores) assumam essas despesas, o que leva os produtores venderem a sua produção,
sob a forma de “roça fechada”, muitas vezes, bem antes da época de maturação dos frutos.
45
Esse fato dificulta a ampliação das vendas via Bolsa do Abacaxi, em atuação na
região, situação em que essas despesas precisam ser assumidas pelo produtor ou pela sua
organização (cooperativa ou associação).
A demanda de mão-de-obra é bastante elevada (em torno de 01
homem/hectare/ano), pois o nível de mecanização é baixo, restringindo-se, em geral, ao
preparo do solo e ao transporte de insumos. A mão-de-obra nas pequenas produções é
predominantemente familiar, mas, em áreas de cultivo maiores parece haver escassez de mão-
de-obra, tentando-se superar tal problema mediante a aplicação de herbicidas no controle do
mato, pois as capinas (“limpas”) absorvem a maior parte da mão-de-obra não qualificada,
durante grande parte do ciclo da cultura do abacaxi.
A COPAGRO comercializa através da Bolsa de Comercio de Pernambuco o
abacaxi tipo Pérola, sendo este dividido em cinco classes de frutos conforme o Quadro 5:
Tipo Peso do Fruto (Kg)
D Menor que 0,900
C De 0,900 a 1,200
B De 1,200 a 1,500
A De 1,500 a 1,800
Exportação Maior que 1,800
Quadro 5 - Peso do fruto conforme o tipo.
Fonte: COPAGRO
A área de ação da COPAGRO para atendimento de produtores compreende o
município de Santa Rita e os municípios vizinhos sendo os principais: Bayeux, Cabedelo,
Lucena, Conde, Capim, Rio Tinto, Alhandra, Cruz do Espírito Santo, Pedras de Fogo e Sapé
compondo assim, a região do Baixo-Paraíba. Atua ainda com produtores da capital, João
Pessoa.
Conforme Cunha (2003), a distribuição sazonal da produção ocorre entre
janeiro/abril (19%), maio/agosto (22%) e setembro/dezembro (59%).
46
No período de 1999/2003, de acordo com o tipo de abacaxi, a comercialização do
abacaxi pela Bolsa de Comércio de Pernambuco obteve a seguinte distribuição:
9 Tipo A – 7,8 milhões de frutos (R$ 0,53 a unidade);
9 Tipo B – 8,9 milhões (R$ 0,35/fruto);
9 Tipo C – 4,3 milhões (R$0,24/fruto).
O autor supracitado nos informa ainda que o custo do frete da Paraíba ao Rio de
Janeiro é de R$1.900,00 a R$2.000,00/caminhão com 7.500 frutos, cerca de R$0,05 por fruto,
inferior ao frete pago pelos produtores de Tocantins.
A Bolsa de Comércio de Pernambuco atende aproximadamente 840 produtores de
abacaxi, organizados em 15 associações e 8 cooperativas de vários Estados, obtendo preços
47% superiores aos de atravessadores.
Isso tem contribuído para o aumento de 376% do consumo de abacaxi ‘Pérola’ em
São Paulo, que hoje corresponde a 71% do consumo geral de abacaxi, e para a crescente
participação de frutos tipo B nas vendas do Sudeste e Sul do país (CUNHA, 2003).
Destaca-se ainda que, a renda computada pelo produtor regional de abacaxi é
bastante variável, sendo muito dependente da qualidade dos frutos produzidos, sobretudo das
parcelas de frutos do tipo A (pesos variando entre 1.500g e 1.800g); e do tipo exportação
(pesos acima de 1800g), que alcançam preços muito superiores aos menores, cujos pesos são
inferiores a 1,5 kg (tipo B e C).
Atualmente, os preços de frutos tipo A estão girando em torno de R$ 0,60/unidade,
enquanto os das classes B e C atingem valores em volta de R$ 0,30 e R$ 0,15,
respectivamente.
Apresenta ainda dados, segundo informação dos produtores visitados de que a
produção tem sido de cerca de 2.000 a 2.500 frutos por conta
1
(26.000 a 32.500 frutos/ha),
1
Uma conta equivale a 755,04 m
2
.
47
vendida aos atravessadores por R$ 300,00 a R$ 1.000,00 por conta (R$ 3.900,00 a R$
13.000.00 por hectare), que pode proporcionar, no caso da estimativa mais alta para a renda
bruta, uma rentabilidade líquida superior a RS$ 8.000,00 por ha/ciclo, que é bem expressiva.
No extremo oposto, a estimativa de receita em torno de R$ 4.000,00 (normalmente
associada a frutos de qualidade inferior e/ou comercializados inadequadamente) pode gerar
renda líquida inexpressiva, ou mesmo prejuízo, que comprometem a atividade.
CAPÍTULO 3 - ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO E
BIOMECÂNICA OCUPACIONAL
49
3.1 ERGONOMIA
A Ergonomia é uma área de pesquisa que estuda fatores que podem interferir no
desempenho do trabalhador. Busca, portanto, eliminar fatores de desequilíbrio presentes no
trabalho através de um estudo minucioso do posto de trabalho tanto em nível operacional
como ambiental objetivando assim, “adaptar o trabalho ao homem” (IIDA, 1990).
A IEA (International Ergonomics Association) define a Ergonomia como sendo a
disciplina científica que trata da compreensão das interações entre os seres humanos e outros
elementos de um sistema e a profissão que aplica teorias, princípios, dados e métodos, a
projetos que visam otimizar o bem estar humano e a performace global dos sistemas (VIDAL,
2001,).
Discorrendo sobre a definição do termo Ergonomia descrita por Wisner (1987), de
que a Ergonomia é o conjunto de conhecimentos científicos relacionados ao homem e
necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados
com o máximo de conforto, segurança e eficiência. Deliberato (2002, p.123) destaca três
pontos importantes onde:
1) A Ergonomia constrói suas bases a partir de conhecimentos científicos sobre
o ser humano abrangendo suas características psicofisiológicas, e a partir deles,
conceber equipamentos ou modificá-los e não o inverso.
2) A verdadeira ergonomia seria aquela que atuasse na fase de concepção de
equipamentos, ferramentas, máquinas e postos de trabalhos, planejando,
estruturando e desenvolvendo todo o projeto de concepção a partir dos dados
referentes ao ser humano, porém essa é uma realidade ainda pouco praticada em
nosso país.
3) Qualquer estudo ergonômico deve primar pelo alcance simultâneo e
indissociável da tríade conforto, segurança e eficiência do trabalhador, para não
suceda uma concepção ergonômica inadequada.
50
De maneira simplificada, Peres (1999) relata os seguintes objetivos da Ergonomia:
Selecionar a técnica mais adequada ao pessoal disponível
Controlar o entorno do posto de trabalho
Detectar os riscos de fadiga física e mental
Analisar os postos de trabalho para definir os objetivos da formação
Otimizar a inter-relação das pessoas disponíveis e da tecnologia utilizada
Favorecer o interesse dos trabalhadores pela tarefa e pelo ambiente de trabalho.
3.2 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO
A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) seria uma forma de sintetizar os
esquemas (atividades) a que nos referimos, ou seja, é uma análise quantitativa ou qualitativa
que nos permite descrever e interpretar o que acontece na realidade da atividade enfocada
(VIDAL, 2004).
Arueira (2000 apud VIDAL, 2004, p.18) descreve algumas situações de trabalho
em que a AET se faz necessária:
Atividades que requeiram grande esforço físico, posturas rígidas (somente de
pé ou somente sentado) e movimentos aparentemente repetitivos;
Tarefas com elevados requisitos de precisão e qualidade final;
Introdução de novas tecnologias físicas ou organizacionais;
Elevadas taxas de absenteísmo, rotatividade, acidentes e queixas;
Atividades em turnos;
Conflito entre empregados e setores;
Existência de contenciosos e notificações.
Fialho e Santos (1997) subdividem a AET em três fases: a análise da demanda, da
tarefa e das atividades. Tal abordagem permite ao pesquisador uma metodologia coerente e a
minimização das intercorrências comuns em qualquer estudo de campo.
Para Vidal (2004), a AET se caracteriza por cinco fases típicas onde num primeiro
momento existe a escolha de situações características, análise focais dessas situações que
51
permite o estabelecimento de um pré-diagnóstico. Em seguida com base no pré-diagnóstico
pode-se organizar os estudos sistemáticos que darão subsídios a produção de um diagnóstico
ergonômico em um caderno de encargos ergonômicos.
Conforme Fialho e Santos (1997), quando se define o trabalho a ser analisado,
levando-se em consideração todos os atores sociais envolvidos realiza-se a análise da
demanda. Nessa fase pretende-se identificar a origem da demanda, os problemas, se esses são
aparentes ou fundamentais, as perspectivas de ação e os meios disponíveis sendo assim uma
fase de estudos preliminares que antecede a AET propriamente dita. É de extrema importância
uma vez que, se a mesma for mal conduzida, poderá gerar resultados insatisfatórios
(WISNER, 1987).
De acordo com Fialho e Santos (1997), a análise da tarefa é o estudo das
atribuições do trabalhador, o que ele deve realizar, bem como as condições ambientais,
técnicas e organizacionais desta realização. Para analisar a tarefa, num primeiro momento
necessita-se delimitar o sistema homem-tarefa que será analisado. Em seguida, deve-se
proceder a uma descrição de todos os elementos que compõem este sistema, ou seja,
identifica-se os componentes do sistema que condicionam as exigências do trabalho. Por fim,
realiza-se uma avaliação dessas exigências (FIALHO; SANTOS, 1997).
A análise da atividade seria o estudo e observações do trabalhador para executar a
tarefa, sendo, portanto, a análise do comportamento do homem no trabalho. Sendo uma
situação de trabalho um conjunto de condicionantes ou de cargas de trabalho, de diversas
naturezas como econômicas, sociais, técnicas e organizacionais, o homem, ao realizar uma
tarefa frente a essa situação, coloca em funcionamento mecanismos de adaptação e regulação.
Sendo assim, o que se mede da atividade refere-se á avaliação que pode ser
estabelecida dessas cargas de trabalho, suportadas pelo indivíduo na realização dessa tarefa.
Cada uma dessas análises necessita de uma descrição que seja a mais precisa possível e ainda
52
de observações e medidas sistemáticas de variáveis pertinentes com relação às hipóteses
formuladas (FIALHO; SANTOS, 1997).
Analisando o processo produtivo das atividades agrícolas pode-se perceber a
presença dos riscos ergonômicos em todas as fases que compõe o processo, desde a
preparação do terreno até a fase da pós-colheita onde os aspectos biomecânicos caracterizados
por repetitividade de movimentos, emprego de força no levantamento e transporte manual de
peso, posturas viciosas, pressão mecânica, trabalho estático, ritmo excessivo de trabalho, uso
inadequado de ferramentas manuais, bem como outros riscos presentes nas máquinas
agrícolas. Contribuindo com os aspectos biomecânicos no desenvolvimento de doenças
ocupacionais, encontra-se presente no trabalho rural, uma grande variedade de atividades
executadas ao longo da jornada de trabalho que expõem o trabalhador a diferentes condições
climáticas (calor, frio, chuva), às vibrações e ruídos presentes nas máquinas agrícolas e outros
equipamentos, além do uso incorreto de agrotóxicos.
3.3 BIOMECÂNICA OCUPACIONAL
O estudo da biomecânica surgiu há muito tempo, desde o século XVI com a
utilização do conceito de período constante de oscilação para medir freqüência cardíaca com
um pêndulo, pelo físico Galileu Galilei. Os aspectos biomecânicos relacionados ao sistema
músculo-esquelético foram demonstrados por Leonardo da Vinci e a preocupação de
minimizar os traumas ao ser humano mecanicamente, induzido pela atividade laboral foi
concluída por Tichauer citado em Chaffin e Anderson (2001).
A partir daí houve avanços necessários da biomecânica ocupacional como base
científica e aplicação para que os trabalhadores sejam capazes de executar suas tarefas sem
riscos de lesão.
53
De acordo com Chaffin (2001), essa evolução tem ocorrido significativamente nas
últimas décadas dando apoio à variedade de aplicações práticas demandada atualmente.
Segundo Iida (1990) pode-se definir biomecânica como sendo o ramo da
ergonomia que estuda as relações existentes entre o trabalho e o homem de acordo com os
movimentos músculos – esqueletais e as suas conseqüências onde basicamente se analisa a
questão das posturas corporais no trabalho e a aplicação de forças é a Biomecânica
Ocupacional Visando a adaptação do posto de trabalho, dos instrumentos, das máquinas, dos
horários e do meio ambiente às exigências do homem (GRANDJEAN, 1998), e tendo em
vista os danos que os riscos ergonômicos podem causar a saúde, segurança e produtividade do
trabalhador (FERNANDES et al, 1989 apud CARTAXO, 1997) a ergonomia, através da
Biomecânica Ocupacional, tem produzido muitos conhecimentos específicos sobre a atividade
do trabalho humano nos últimos anos.
Conforme Marras (1997), as avaliações de biomecânica são muito úteis quando
suspeita-se que a magnitude das cargas impostas no corpo excede a tolerância do mesmo.
3.3.1 Trabalho Estático x Trabalho Dinâmico
De acordo com Couto (1995), o organismo humano possui características
mecânicas que o permitem desenvolver pouca capacidade de força física no trabalho, uma vez
que o sistema osteomuscular o habilita a desenvolver movimentos de grande velocidade e de
grande amplitude, porém contra pequenas resistências.
Para realizar um determinado movimento, diversas combinações de contrações e
descontrações podem ser utilizadas onde cada uma terá diferentes características de
velocidade, precisão e força. Essa combinação de músculos para efetuar o movimento é que
determinará características e custos energéticos diferentes (IIDA, 1990).
54
Iida (1990) descreve o trabalho estático como um tipo de trabalho que exige a
contração contínua de alguns músculos para manter uma determinada posição enquanto que
Grandjean (1998), refere que o trabalho dinâmico caracteriza-se por uma seqüência rítmica de
contração e descontração, ou seja, tensão e relaxamento do músculo em atividade.
A nutrição muscular ocorre no período de relaxamento, uma vez que com o
esforço muscular, a pressão interna do músculo ultrapassa o valor da pressão arterial do
sangue, ocorrendo uma vasoconstricção (“fechamento” dos vasos) os vasos que nutrem os
músculos (COUTO, 1995). Na contração dinâmica, ao ocorrer a contração muscular, o
músculo deixa de receber sangue, porém no relaxamento, quando o músculo se alonga o fluxo
sanguíneo volta ao normal.
No trabalho estático, Deliberato (2002), informa que não existe mecanismo que
facilite a circulação sanguínea por ação da “bomba muscular”, uma vez que o músculo contrai
e permanece contraído, comprimindo os vasos sanguíneos musculares por um período maior
de tempo. O autor afirma que essas características criam uma dificuldade adicional tanto
para a nutrição do músculo como para a retirada dos resíduos metabólicos, favorecendo
conseqüentemente a fadiga muscular.
Complementando essas afirmativas, Grandejean (1998) relata que quando
comparado com o trabalho dinâmico, o trabalho muscular estático leva a um consumo maior
de energia, freqüências cardíacas maiores, períodos de restabelecimento mais longos, sendo
proveniente da deficiência de oxigênio, que levará conseqüentemente a depressão do grau de
eficiência muscular.
Sendo assim, o trabalho estático é um trabalho altamente fatigante devendo ser
evitado sempre que possível, podendo-se utilizar pausas curtas durante a realização da
atividade, favorecendo assim, um relaxamento muscular e alívio da fadiga.
55
3.3.2 Trabalho Pesado
Atualmente, embora a mecanização e inovações tecnológicas paulatinamente têm
sido incorporadas à realidade dos diversos setores de trabalho gerando conseqüentemente
maior produtividade sobre vários aspectos na economia brasileira, ainda encontramos alguns
setores que se caracterizam pela utilização do trabalho fisicamente pesado. Essa é uma
realidade que provavelmente fará parte da nossa economia por muito tempo e, portanto, se faz
necessário conhecer as características físicas do corpo humano e os processos de trabalhos
que ainda utilizam o trabalho físico propriamente dito, para que, dessa forma, ajustes sejam
feitos buscando o máximo de melhorias nesses processos, sem desconsiderar a produtividade
do trabalho. Dentre os setores que ainda utilizam o trabalho físico pesado na maioria de suas
atividades, destaca-se o setor agrícola, onde os trabalhadores rurais realizam a maior parte de
suas atividades em processos não mecanizados.
Conforme Grandjean (1998), com a mecanização das atividades, a relação que se
fazia entre trabalho pesado e consumo de energia praticamente perdeu o sentido, uma vez que
esse tipo de trabalho, o trabalho pesado, encontra-se restrito a algumas poucas atividades
como a indústria de minas, construção civil e agricultura. Porém, atualmente relaciona-se o
trabalho pesado no sentido de alta carga de curta duração do aparelho locomotor e nesse caso,
as atividades que possuem essa característica existem em número significativo.
Sendo assim, o trabalho pesado não se encontra relacionado apenas com atividade
manuais que despendem um alto consumo energético, como na agricultura, mas também
aquelas que demandam alta carga, pela repetitividade de movimentos em curtos períodos de
tempo, como na indústria.
O autor supracitado afirma ainda que, a freqüência cardíaca, quando relacionada
com a carga de trabalho, aumenta mais rapidamente quanto mais quente for o ambiente,
56
quanto maior for a parcela de trabalho estático e quão menor o número de músculos
envolvidos no trabalho.
O limite de trabalho contínuo para homens é alcançado quando a freqüência média
do pulso durante o trabalho for de 30 batidas/minuto acima do pulso de repouso (= 30 pulsos
de trabalho) e para se obter essa medida, deve-se medir o pulso na mesma posição em que é
realizado o trabalho.
Foram realizados alguns estudos com base nesses conceitos dentre eles citamos os
de Brundke (ano apud Grandjean, 1998) no qual foi medida a freqüência de pulso de um
fruticultor, um leiteiro e um agricultor por uma semana, no período da noite, durante o sono e
constatou-se que os valores ultrapassaram a faixa critica dos 40 pulsos por minuto várias
vezes durante o período de medição.
O manuseio de cargas especialmente o levantamento de cargas, também é
considerado por Grandjean (1998) como um trabalho pesado. O autor explica que o problema
de se manusear cargas não é tanto a exigência dos músculos, mas sim o desgaste dos discos
intervertebrais, que trás conseqüências à coluna, limitando fortemente a mobilidade e
vitalidade das pessoas. Ainda segundo o autor, algumas profissões expõem mais facilmente
seus trabalhadores à ocorrência de doenças dos discos intervertebrais como no caso dos
trabalhadores rurais.
3.3.3 Biomecânica da Coluna Vertebral
A coluna vertebral representa o eixo ósseo do corpo humano, onde sua estrutura
apresenta-se de tal forma que oferece ao mesmo tempo a resistência de um pilar rígido de
sustentação e a flexibilidade suficiente para a ocorrência de livre movimentação do tronco
(DELIBERATO, 2002).
57
Hamil e Knutzen (1999) descrevem que a coluna vertebral é constituída por 33
vértebras, sendo 24 delas móveis que participam dos movimentos do tronco. As vértebras
encontram-se dispostas formando quatro curvaturas que facilitam o suporte da coluna
oferecendo uma resposta à carga semelhante à de uma mola. Sete vértebras cervicais formam
a primeira curvatura, no sentido céfalo-caudal, a lordose cervical que se desenvolve à medida
que o bebê inicia a sustentação cefálica. As doze vértebras torácicas constituem a cifose
torácica que é convexa no lado posterior do corpo e encontra-se presente no nascimento.
As 5 vértebras lombares formam a lordose lombar que se desenvolve em resposta
ao apoio do peso e é influenciada pelo posicionamento da pelve e dos membros inferiores. A
curvatura sacrococcígea é formada pela fusão das 5 vértebras do sacro e das 4 vértebras do
cóccix como observado na Figura 3.
Figura 3 - Vista anterior e perfil da coluna vertebral
Fonte: Hall (1993)
58
Resumidamente Couto (1995) relaciona as seguintes funções da coluna vertebral:
Serve de eixo de sustentação para o corpo humano;
Apresenta-se como uma estrutura de mobilidade entre a parte superior e inferior
do corpo;
Permite o amortecimento de cargas, tanto decorrentes de peso colocado sobre a
cabeça quanto aqueles suportados pelos próprios membros superiores, bem como
os impactos decorrentes de forças externas;
Proteção da medula espinhal a partir da superposição das vértebras (canal
vertebral).
3.3.4 Unidade Funcional da Coluna Vertebral
Grieve (1994), Couto (1995), Calliet (1998), Hamill e Knutzen (1999), comentam
que a unidade funcional da coluna vertebral consiste de duas vértebras adjacentes e um disco
que as separa.
Tal segmento pode ser dividido em anterior e posterior desempenhando ambos
papéis diferenciados na função vertebral. A porção anterior contém os corpos de duas
vértebras, um disco intervertebral e os ligamentos longitudinais anterior e posterior.
O disco intervertebral é uma estrutura fibrocartilaginosa, formada por um anel
fibroso e um núcleo pulposo hidrodinâmico (80 a 90% de água e 15-20% de colágeno), sendo
responsável pelo suporte de peso e a mobilidade da unidade e da coluna vertebral como um
todo (Figura 4). O colágeno é menos abundante na porção posterior do disco o que torna essa
região mais susceptível à lesão por haver uma força tensiva reduzida (HAMIL; KNUTZEN,
1999). As fibras de colágeno que compõem o disco intervertebral proporcionam a estabilidade
e flexibilidade da unidade funcional. A deteriorização e/ou destruição das fibras de colágeno é
a base de muitas lesões sintomáticas da coluna (CALLIET, 1998).
59
Figura 4 - Disco intervertebral.
Fonte: Hall, (1993)
De acordo com Kapandji (2000), as forças de compressão sobre o disco vertebral
aumentam com o aumento do peso do corpo acima do disco vertebral, considerando o peso
dos membros superiores, tronco e cabeça.
Num movimento de flexão anterior do tronco ocorre um aumento na tensão dos
ligamentos do arco posterior (A). Num movimento de extensão do tronco, o núcleo pulposo
do disco é deslocado para frente e ocorre um aumento na tensão dos ligamentos do arco
anterior (B). Na flexão lateral ou inflexão lateral da coluna vertebral, o núcleo pulposo se
desloca para o lado da convexidade (C); esquematizadas na Figura 5. Esses movimentos em
excesso ou repetidos, principalmente com carga, induzem a formação das hérnias de disco.
Figura 5 - Deslocamento do núcleo pulposo do disco intervertebral
Fonte: Kapandji, (2000).
60
3.3.5 Forças Aplicadas
No estudo da Biomecânica Ocupacional a postura é uma variável das mais
importantes, afetando tanto a força dinâmica quanto a força estática de um indivíduo. Quando
os músculos esqueléticos agem em torno das articulações, girando os segmentos corpóreos
adjacentes, o fator biomecânico pode ser observado, pela ação da força muscular através dos
braços de alavanca. Com a modificação do ângulo articular, os braços de potência também
alteram, modificando assim a ação da força muscular na produção do movimento de acordo
com o comprimento do braço de alavanca.
Os aspectos biomecânicos posturais são relevantes na capacidade de realização de
tarefas extenuantes dos trabalhadores (CHAFFIN, 2001).
O peso corporal, a tensão nos ligamentos vertebrais e nos músculos circundantes, a
pressão intra-abdominal e qualquer carga externa aplicada são forças que atuam sobre a
coluna vertebral (Figura 6). Na postura ereta a principal carga que age sobre a coluna é axial,
contribuindo para a compressão vertebral. Para manter a posição ereta do corpo, o torque deve
ser contrabalançado pela tensão nos músculos tensores do tronco (HALL, 2000).
Figura 6 - Resultante do peso corporal na postura ereta
Fonte: Hall, (2000)
61
Na coluna vertebral existem forças compressivas, de tensão e cisalhamento que
agem nos três planos ortogonais e dão origem aos principais movimentos desenvolvidos pela
mesma. A intensidade, freqüência, tempo de exposição dessas forças sobre a coluna entre
outros fatores, pode implicar na deformação de sua estrutura.
Com respeito aos conceitos de força de cisalhamento Hamil e Knutzen (1999) a
definem como uma força aplicada paralelamente à superfície de um objeto que cria
deformação interna em uma direção angular.
Os mesmos autores trazem a definição de força de curvamento como sendo uma
força aplicada em uma área que não tem suporte direto oferecido pela estrutura ocorrendo
uma deformação em convexidade de um lado (pela presença de forças tensivas) e uma
deformação em concavidade do outro (pela presença de forças compressivas).
Na flexão do tronco ou dos braços, os braços do momento se tornam maiores e
contribuem para aumentar o torque flexor e isto explica porque é aconselhável levantar ou
conduzir peso o mais próximo possível do tronco. Em flexão plena, a tensão no ligamento
interespinhoso contribui muito para a força de cisalhamento anterior aumentando a sobrecarga
nas articulações facetarias. Em flexão lateral e torção axial, é necessário um padrão mais
complexo de ativação dos músculos do tronco para flexão e extensão. A coluna em flexão
lateral e em torção axial gera uma força de compressão de 1400N e 2.500 N, respectivamente
(HALL, 2000).
O termo momento de força (M) ou torque é descrito por Enoka (2000), como a
capacidade de uma força para produzir rotação de um corpo em relação a um eixo, e definido
como o produto da Força (F), em Newton, pela distância perpendicular entre a linha de ação
da força e o eixo de rotação (d), em metros, representada pela equação: M= Fxd.
De acordo com Knutzen e Hamill (1999), a carga nas vértebras lombares durante
uma atividade de levantamento de peso aumenta, principalmente com o aumento da distância
62
entre o peso e o tronco, isto é, ao se levantar um objeto, deve-se aproximá-lo do corpo de
maneira que, o braço de alavanca, seja o mais curto possível para favorecer a execução do
movimento.
Segundo Looze et al (1998), a carga deve ser mantida na coluna vertical, isto é, o
centro de gravidade deve passar o mais próximo possível ao eixo longitudinal do corpo.
Também menciona que as cargas aplicadas na coluna vertebral são produzidas pelo peso
corporal, pela força muscular que age sobre cada segmento móvel, pelas cargas externas que
estão sendo manipuladas e pelas forças de pré-carga que estão presentes devido às forças dos
discos e ligamentos.
De acordo com Grieve (1994), a grande maioria dos estudos biomecânicos enfatiza
a importância da compressão ou carga de torção sobre a coluna vertebral, porém pouco se
desenvolveu sobre a determinação das propriedades mecânicas do segmento de movimento na
inclinação do tronco. E os movimentos fisiológicos da coluna vertebral, raramente são puros
em torno de um único eixo, mas sim numa combinação destes.
Essa abordagem biomecânica é necessária, pois o estudo ergonômico da fase de
colheita do abacaxi está muito relacionado a análise postural e biomecânica dos trabalhadores
envolvidos na colheita do abacaxi.
Definindo pressão e estresse, Hall (1991) refere que a pressão seria a distribuição
externa da força sobre o corpo enquanto que, o estresse a distribuição interna da força,
aplicada externamente sobre o corpo.
O estresse e/ou pressão são criados quando o osso é exposto a forças
compressivas, tensivas, de cisalhamento, torção e encurvamento em repouso ou movimento.
O Quadro 6 apresenta resultados dos estudos de Nachemson (1976) apud Hamill e
Knutzen (1999) quanto às cargas sobre o disco L3 em indivíduos com 70kg realizando
algumas atividades.
63
ATIVIDADE CARGA SOBRE O DISCO
L3 (N)
Decúbito Dorsal 294
Em pé 686
Sentado Ereto 980
Andando 833
Rodando o tronco 882
Inclinando-se lateralmente 931
Tossindo 1078
Saltando 1078
Espreguiçando-se 1176
Erguendo 20 Kg com a coluna ereta, joelhos
fletidos
2058
Erguendo 20 Kg com a coluna curvada, joelhos
estendidos
3332
Quadro 6 - Cargas sobre o Disco L-3 em um indivíduo com 70kg
Fonte: Nachemson (1976 apud HAMILL; KNUTZEN, 1999).
Quando uma grande força compressiva é aplicada sobre uma estrutura e as cargas
ultrapassam os limites de estresse dessa estrutura existe maior possibilidade de ocorrer fratura
(HAMIL; KNUTZEN, 1999).
Hamill e Knutzen (1999) comentam que o disco intervertebral consegue suportar
forças compressivas, forças de torção e de curvamento aplicadas sobre a coluna, bem como
distribuir essas cargas na mesma, além de restringir o excesso de movimento presente no
segmento vertebral.
Porém quando o mesmo encontra-se degenerado, torna-se menos viscoelástico,
perdendo sua capacidade de absorver as cargas de choques, produz uma carga assimétrica no
disco, concentrada na região do anel (GRIEVE, 1994).
64
O autor ainda acrescenta que altas pressões, aplicadas constantemente sobre a
coluna, além de degenerarem o disco, podem desgastar as superfícies das facetas articulares
das vértebras.
Hamil e Knutzen (1999) no que diz respeito a fraturas nas vértebras cervicais
destacam que as mesmas podem ocorrer em várias atividades que provoquem compressão
excessiva. Isso deve-se ao fato da coluna cervical normalmente encontrar-se numa posição de
lordose (convexidade anterior da curvatura) e ao modificar essa posição para uma situação de
retificação cervical (abaixamento da cabeça realizando uma flexão de aproximadamente 30
o
)
e aplicar-se uma força no topo da cabeça, as vértebras cervicais recebem uma carga para
baixo em sua extensão provocada por essa força compressiva, originando uma luxação ou
fratura luxação das facetas articulares.
Ferreira e Vieira (1997) apud Santos (2002), relatam que as cargas na coluna
vertebral são produzidas, principalmente, pelo peso corporal, tensão dos músculos vertebrais
que possuem origem e inserção na coluna e cargas externas tais como: força de reação do solo
(FRS) e pesos transportados no trabalho, em atividades da vida diária (AVDs) ou em sessões
de treinamento físico (academias de ginástica).
O NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health) em 1981
desenvolveu uma equação para avaliar a manipulação de cargas no trabalho. Essa equação foi
revista em 1991 e em 1994 onde a partir da complementação de alguns critérios, criou-se uma
ferramenta para na identificação dos riscos de lombalgia associados à carga física que um
trabalhador encontra-se submetido em sua atividade laboral.
Recomendou-se, posteriormente, um limite de peso para cada tarefa em questão
onde o trabalhador realizasse sua atividade sem risco elevado de desenvolver lombalgia.
Conforme a última revisão, o Limite de Peso Recomendado (LPR) é determinado á partir do
quociente de sete fatores (constante de carga, fator de distância horizontal, fator de altura,
65
fator de deslocamento vertical, fator de assimetria, fator de freqüência e fator de pega)
levando em consideração também os critérios biomecânicos que limita o estresse na região
lombo-sacra, o critério fisiológico que limita o estresse metabólico e a fadiga associada a
tarefas de caráter repetitivo e o critério psicofísico, que limita a carga baseando-se na
percepção que o trabalhador tem da sua própria capacidade. Após todas essas considerações, o
LPR estabelecido segundo o método de NIOSH, foi estipulado em 23kg (MINISTÉRIO DO
TRABALHO, 2002).
Segundo os critérios da NIOSH, o Limite Máximo Permitido de compressão discal
L5-S1 é de 3.400N para mulheres e de 4300N para homens. Já os limites da carga axial sobre
as vértebras lombares na posição de pé é de 700N. De acordo com estudos de Broberg (1983)
apud Santos (2002) esse valor pode atingir os valores de 3000N quando um indivíduo levanta
uma carga pesada a partir do solo, ou 300N se o mesmo encontra-se na posição de decúbito
dorsal. Porém, Nachemson (1976 apud SANTOS, 2002), informa que a coluna lombar suporta
uma carga vertical de aproximadamente 9800N sem risco de fraturar.
Em relação ao momento de força, Hamil e Knutzen (1999) descreve que no
movimento de extensão desenvolve-se uma maior produção dessa grandeza com valores
médios de 210Nm para homens. Com relação a flexão, a força encontrada foi de
aproximadamente 150Nm o equivalente a 70% da força dos extensores. Quanto à flexão
lateral, os autores relatam que foram encontrados os valores de 145Nm (69% da força
extensora) e para força de rotação 90Nm (43%).
No que diz respeito à pressão intradiscal, o Quadro 7 apresenta valores para essa
grandeza de 2Mpa encontrados em estudos de Nachemson (1964 apud HAMILL;
KNUTZEN, 1999).
66
ATIVIDADE
PRESSÃO
INTRADISCAL (KPA)
FORÇA COMPRESSIVA
ESPINHAL (N)
Em pé 270 380
Flexão (414 Nm) 710 990
Extensão (28Nm) 720 1010
Flexão Lateral (43 Nm) 620 870
Rotação de tronco (28Nm) 480 670
Flexão de 30
o
com 4kg em cada
mão
1620 2270
Quadro 7 - Pressão intradiscal e forças compressivas em L3-L4.
Fonte: Nachehmson, & Morris, (1964 apud HAMILL; KNUTZEN 1999).
Finalmente, em se tratando da força de cisalhamento, os estudos de Adams (1994
apud SANTOS, 2002) encontraram valores de 500N para o limite de ocorrência de lesões.
3.4 LEGISLAÇÃO
O artigo 198 da CLT (Consolidação das Leis de Trabalho) limita em 60kg para
homens e 40kg para mulheres o levantamento de peso com meios auxiliares . Para o
transporte individual de carga o limite encontra-se em torno dos 40kg. Porém, conforme
considerações de Vidal (2002), tanto a Constituição Federal, como outros instrumentos legais
possuem determinações que primam pela saúde do trabalhador em seu ambiente de trabalho
penalizando, portanto, aqueles que não cumprem essas exigências e expõem as pessoas a
riscos no trabalho.
A NR17 (Norma Regulamentadora 17) que trata das recomendações ergonômicas
no trabalho, nos artigos 17.2.2 à 17.2.7, reafirma a necessidade de não se exigir, nem admitir
o transporte manual de cargas por um trabalhador cujo peso comprometa sua saúde e
segurança e ainda, recomenda o uso de meios técnicos apropriados, bem como a utilização de
maquinários e instrumentos, com treinamento adequado, facilitando assim, o manuseio e
transporte dessas cargas sem causar danos a saúde do trabalhador.
67
Os limites definidos pela CLT estão bem acima dos limites recomendados
internacionalmente, a exemplo do limite recomendado pelo método de NIOSH (23kg) e como
as legislações internacionais de segurança e conforto no trabalho não são superiores as do
nosso sistema jurídico, mesmo estando próximas do ideal, infelizmente nada pode-se fazer
pelos trâmites legais enquanto mudanças não ocorrerem na CLT, afirma Vidal (2002).
A atividade abacaxizeira, objeto de análise desse estudo, emprega sistemas
mecanizados apenas nas pontas do processo de produção, quais sejam: a preparação do
terreno para o plantio e o transporte do produto colhido. As demais fases são realizadas em
sistemas manuais, onde elevadas cargas físicas são exigidas dos trabalhadores. Tais cargas
conseguem em muitos momentos serem superiores aos próprios limites recomendados pela
CLT, limites esses, que já se encontram fora dos padrões internacionais, razão essa que nos
motivou a escolher essa fase do processo agrícola da cultura do abacaxi, como objeto do
nosso estudo.
3.5 POSTURA HUMANA
Em se tratando de postura, Kisner (1992) define como sendo a posição ou atitude
do corpo, a maneira como as partes do corpo se harmonizam para uma determinada atividade,
ou ainda a maneira como alguém sustenta seu corpo de forma equilibrada, sendo a má
postura, a postura que está fora do alinhamento normal, porém não leva a limitações
estruturais.
Tanaka e Farah (1997) definem postura como o arranjo que os segmentos
corporais mantêm entre si, numa posição específica, considerando o conforto, harmonia,
economia e a sustentação do corpo.
68
Para Cartas, Nordin e Frankel (1992) e, Chilton e Niesenfeld (1993 apud
SANTOS, 2002) a lombalgia é um problema que tem se tornado comum em países
industrializados, e os estudos demonstram que 80% da população sofrerão de disfunções
lombares, pelo menos uma vez na vida. Esse é um problema de ordem mundial e atualmente
se constitui numa das maiores causas de sofrimento humano com repercussões desastrosas
para aqueles que sofrem desse mal.
Acomete trabalhadores de diversos setores produtivos e classes sociais e suas
queixas dolorosas podem estar diretamente relacionadas às dificuldades de adaptação de
certas atividades, as cargas existentes no trabalho, bem como às atividades repetitivas
(SANTOS, 2002).
Couto (1995) complementa que as lombalgias em grande parte dos casos, são
precipitadas por condições de trabalho desfavoráveis, onde o trabalhador realiza suas
atividades laborais em posturas inadequadas, por longos períodos, por não ter conhecimento
sobre a utilização correta da biomecânica da coluna vertebral. Tais condições podem
desencadear dor, fadiga, aumentar a incidência de acidentes e doenças ocupacionais, diminuir
a produtividade e o aumento do absenteísmo.
Dados encontrados nos estudos de Ksan (2003) afirmam que no ambiente de
trabalho, a dor lombar é considerada atualmente a principal causa de absenteísmo
ocupacional, ocupando o 2
o
lugar na procura por assistência médica.
Sicard (1973 apud MERINO, 1996) refere que o manuseio e a movimentação de
cargas, o trabalho prolongado em posição inclinada do tronco e trepidações contínuas são as
causas de maior freqüência no aparecimento de diferentes tipos de lombalgias, sendo
encontrada principalmente em trabalhadores braçais como: serventes, mineiros, pedreiros,
carpinteiros agricultores e estivadores.
69
3.5.1 A Postura Adequada e a Postura Inadequada
A postura normal é mantida por músculos fortes e flexíveis, articulações
funcionando apropriadamente uma linha de gravidade equilibrada e bons hábitos posturais. As
alterações no alinhamento postural podem ser secundárias à má formação estrutural do
músculo mesmo durante a execução de tarefas simples (GROSS, 2001).
Músculos, ligamentos e tendões são especialmente vulneráveis aos efeitos de
forças tensoras repetitivas, enquanto que os ossos e cartilagens são suscetíveis a lesões por
aplicação de forças compressoras (NORKIN, 2001).
De acordo com Nokin (2001), um grande número de pesquisas sugere que vários
dos problemas de dor nas costas podem ser evitados uma vez que, resultam de uma tensão
mecânica produzida por posturas estáticas prolongadas em posição sentada ou de pé e
repetido levantar de cargas pesadas.
Deliberato (2002) descreve que as atividades de levantamento, transporte e
deposição de cargas encontram-se entre as principais causas de lesões nos discos vertebrais e
na estrutura ósteo-articular-ligamentar, tanto do esqueleto axial como do esqueleto
apendicular.
Iida (1991) ressalta que devido a sua estrutura, que é composta pelos discos
intervertebrais superpostos, a coluna vertebral apresenta pouca resistência a forças que não
tenham a direção do seu eixo.
Em estudos realizados por Nachenson e Anderson ( apud IIDA 1991) apontam que
a pressão exercida no disco intervertebral entre L3 e L4 é 100% maior quando o levantamento
de cargas é feito com flexão anterior do tronco e com os joelhos em extensão em relação A
pressão existente quando o mesmo levantamento é feito com tronco em extensão e joelhos
fletidos.
70
Corroborando com esses resultados, Chaffin (1991 apud DELIBERATO, 2002)
demonstrou em estudo utilizando modelos biomecânicos, a relação existente entre a carga
suspensa e sua distância da coluna vertebral, com a força de compressão resultante nos níveis
de L5/S1. Ele encontrou como resultado um aumento de 1000N (aproximadamente 100kg) na
força de compressão sobre o disco, a cada 10 cm de distância horizontal entre a mão e a
coluna.
Dessa forma, sempre que possível, a carga sobre a coluna deve ser feita no sentido
vertical, evitando-se assim, as cargas com as costas curvadas.Quanto ao transporte manual de
cargas, a coluna vertebral deve ser mantida o máximo possível na vertical, o que significa que
o centro de gravidade da carga deve passar o mais próximo possível do eixo longitudinal.
Evita-se assim, pesos muito distantes do corpo ou cargas assimétricas que tendem
a provocar momento, exigindo um esforço adicional da musculatura dorsal para manter o
equilíbrio. O trabalho em equipe deve ser usado quando a carga for excessiva para uma única
pessoa (IIDA, 1991).
A postura de pé, parada, é muito fatigante uma vez que exige muito trabalho
estático da musculatura envolvida para a manutenção dessa posição, além de existir uma
maior dificuldade para bombear o sangue para os extremos do corpo (IIDA,1991). Porém,
segundo o mesmo autor, as pessoas que executam trabalhos dinâmicos, geralmente
apresentam menos fadiga que as que permanecem estáticas ou realizando poucos
movimentos.
Se o trabalhador executa suas atividades numa postura estática prolongada, seja ela
de pé ou sentada, terá um índice de dor e desconforto menor com a alternância de postura.
Couto (1995) relata ainda que trabalhar com os braços elevados acima do nível do
ombro também apresenta alguns pontos críticos. Além da contração estática, existe a
dificuldade dinâmica de chegada do sangue até as extremidades dos membros, por encontrar-
71
se distantes do coração. Pode ocorrer ainda compressão do tendão do músculo supra-
espinhoso, com possibilidade de desenvolver tenosinovite ou bursite no ombro.
O Quadro 8 apresenta a localização de áreas dolorosas do corpo provocadas por
posturas inadequadas.
POSTURA RISCOS DE DORES
Em pé Pés e pernas (varizes)
Sentado sem encosto Músculos extensores do dorso
Assento muito alto Parte inferior das pernas, joelhos e pés
Assento muito baixo Dorso e pescoço
Braços esticados ombros e braços
Pegas inadequadas em ferramentas Antebraços
Quadro 8 - Localização das dores no corpo provocadas por posturas inadequadas
Fonte: IIDA, (1990; p.85).
3.6 ANÁLISE ERGONÔMICA/BIOMECÂNICA
Analisar ergonomicamente um posto de trabalho significa estudar uma parte do
sistema onde atua o trabalhador sendo realizada através da análise da tarefa, da postura, dos
movimentos do trabalhador, como também através de observações sobre as exigências físicas,
psicológicas e mental ou cognitiva (IIDA, 1990).
Várias são as técnicas utilizadas para realizar a análise ergonômica do trabalho que
podem ser classificadas em :
9 Técnicas objetivas ou diretas onde os registros das atividades são realizados ao
longo de um período, por exemplo, através de filmagem em vídeo.
9 Técnicas subjetivas ou indiretas – técnicas que tratam do discurso do operador
fornecendo uma gama de dados que favorecem uma análise preliminar. São exemplos as
observações diretas, questionários, check-lists e as entrevistas.
72
3.7 REGISTRO E ANÁLISE DA POSTURA
Ao longo de uma jornada de trabalho, várias são as posturas assumidas pelo
trabalhador e fazer uma análise ergonômica observando as posturas adotadas, torna-se uma
tarefa difícil, uma vez que, o trabalhador tende a alterar seu comportamento habitual. Fazer
uma simples observação não é suficiente devido sua subjetividade e as técnicas fotográficas
também são falhas por fazerem registros apenas instantâneos, sem fornecer informações sobre
a duração da postura e forças empregadas. (IIDA, 1990).
Sendo assim, algumas técnicas de análise de postura foram desenvolvidas e são
utilizadas como metodologia em várias pesquisas para se fazer o registro postural.
3.7.1 Sistema OWAS (Ovako Working Posture Analising System)
O OWAS (Ovako Working Posture Analising System) é um sistema prático de
registro que foi proposto por três pesquisadores finlandeses em 1977, com o objetivo de
analisar posturas de trabalho na indústria do aço (IIDA, 1991).
No método OWAS a atividade pode ser subdividida em várias fases e
posteriormente categorizada para a análise das posturas no trabalho.
Na análise das atividades aquelas que exigem levantamento manual de cargas são
identificadas e categorizadas de acordo com o sacrifício imposto ao trabalhador, embora não
seja este o enfoque principal do método. Não são considerados aspectos como vibração e
dispêndio energético.
Posteriormente as posturas são analisadas e mapeadas a partir da observação dos
registros fotográficos e filmagens do indivíduo em uma situação de trabalho (IIDA, 1991).
73
Codificação da Postura
1-Ereta
2-Inclinada
3-Ereta e torcida
Dígito
Costas
4-Inclinada e torcida
1-Braços abaixo dos ombros
2-Um braço no nível ou acima dos ombros
Dígito
Braços
3-Ambos no nível ou acima dos ombros
1-Sentado
2-De pé com ambas as pernas esticadas
3-De pé com o peso em uma das pernas
esticadas
4-De pé ou agachado com os joelhos
dobrados
5-De pé ou agachado com um dos joelhos
agachados
6-Ajoelhado em um ou ambos joelhos
Posições típicas do Método OWAS
Dígito
Pernas
7-Andando ou se movendo
1-Força ou peso igual ou menor que 10Kg
2- 10Kg < Força ou peso < 20Kg
Dígito
Carga
3-Força ou peso > 20Kg
Quadro 9 - Codificação da postura com o método OWAS.
Fonte: Adaptado de Freitas (2000)
Guimarães (2002, p.2) informa que o método classifica o esforço físico em 4
categorias de acordo com as posturas adotadas no trabalho e a força exercida em uma ação
específica:
Classe 1 – Postura normal, não é exigida nenhuma medida corretiva;
Classe 2 – Postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos
métodos de trabalho; carga de trabalho levemente prejudicial;
Classe 3 – A carga física da postura é prejudicial, sendo necessárias medidas para
mudar a postura o mais rápido possível;
Classe 4 – A carga física da postura é extremamente prejudicial, necessitando de
medidas imediatas para mudar as posturas.
74
3.7.2 Modelo Biomecânico
Dentre essas técnicas, os modelos biomecânicos vem sendo utilizados por muitos
pesquisadores onde a utilização de um software calcula os esforços máximos em cada
articulação da coluna provocados pelas posturas inadequadas permitindo a obtenção de dados
mais quantitativos.
Alguns estudiosos desenvolveram modelos biomecânicos para avaliar as forças
que agem sobre diferentes estruturas do corpo humano e algumas vezes estimar a magnitude
máxima permissível para o manuseio de uma carga em várias posturas, o tamanho adequado
das ferramentas de trabalho e a configuração menos estressante de postos de trabalho.
Conforme Chaffin (2001), esses modelos podem auxiliar na obtenção de dados
sobre a capacidade músculo-esquelética, provenientes de diferentes fontes, como referência
para projetos de postos de trabalho. Há situações de trabalho em que os modelos são a única
forma de estimar as condições de risco em potencial em certos tecidos do sistema músculo-
esquelético. Os modelos biomecânicos foram desenvolvidos para representar os fenômenos
cuja complexidade se reduz no conhecimento do funcionamento dos componentes das funções
músculo-esqueléticas de um sistema biomecânico, com avaliação de situações reais.
Alguns modelos foram utilizados para calcular forças e momentos sobre o disco
intervertebral L5/S1, pois há um grande número de trabalhadores incapacitados por dores
lombares associadas ao trabalho manual, surgimento de lesões do punho por esforços manuais
repetitivos, especialmente quando realizadas em posturas inadequadas extremas, e ainda para
a determinação das forças musculares em diferentes posturas, que fornecem a base para
diretrizes em relação ao número esperado de pessoas capazes de realizar uma determinada
tarefa.
75
No modelo apresentado na Figura 7 as forças examinadas são as de cisalhamento
(Fs) do disco intervertebral (L5/S1), a força de compressão do disco (Fc), e o momento
resultante, em M1 é maior que em M2, devido a distância entre a carga (P) e o ponto de
encontro das forças atuantes (L5/S1).
Figura 7 -
Forças de reação num levantamento de peso
Fonte: Chaffin, (2001).
Na Figura 8, observa-se as Forças de Reação e a Força de Cisalhamento em L5-S1
produzidos pela carga.
76
Figura 8 - Força de reação e força de cisalhamento (L5/S1) com carga
Fonte: Chaffin, (2001).
Uma vez que boa parte das análises posturais é realizada de maneira subjetiva, não
se tem certeza se determinadas posturas exercidas durante uma jornada de trabalho de fato,
geram estresse na coluna vertebral, prejudicando dessa forma a saúde do trabalhador e
conseqüentemente sua produtividade laboral.
Grandjean (1998) comenta que vários autores desenvolveram modelos
biomecânicos para se calcular a carga da coluna vertebral.
O Departamento de Engenharia da Produção da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB) vem otimizando um pacote com três softwares (Behavior Vídeo, Digita e HARSim)
desenvolvidos pelo professor Francisco Rebelo e sua equipe na Faculdade de Motricidade
Humana em Lisboa, Portugal que tem sido utilizados como ferramentas na analise e
intervenção ergonômica de varias situações de trabalho fornecendo dados quantitativos que
ajudam na melhor compreensão da realidade do trabalho.
77
O Behavior Vídeo tem como objetivo a quantificação sistemática da freqüência e
seqüência dos modos operatórios (posturas, tarefas, seqüências, comunicações, cargas
transportadas, etc). È um sistema flexível que fornece indicadores na compreensão de uma
realidade de trabalho, na simulação de novas situações de trabalho, para ações de formação
profissional entre outras aplicações, por um longo período de tempo (REBELO, 2003).
Para Rebelo (2003), o sistema Digita propõe um levantamento
antropométrico através da fotogrametria, com baixo custo de material técnico e
resultados em tempo infinitamente curto, se comparado a outros métodos
convencionais.
O HARSim (Humanóide Articulation Reaction Simulation), tem como objetivo
avaliar o comportamento articular humano em carga, realizando a quantificação das forças, o
calculo das forças e dos momentos que incidem sobre determinado segmento do corpo através
de modelos que utilizam a técnica dos elementos finitos (REBELO, 2003).
Santos (2002) salienta que os elementos finitos há muito tempo têm sido validado
internacionalmente como um meio eficaz de calcular certos esforços no corpo humano, a
exemplo das forças que agem numa vértebra, sujeita a diversos regimes de cargas, sem
introduzir sensores no interior dos discos intervertebrais.
Conforme explanação de Rebelo (2002), o HARSim de forma geral permite:
Gerar qualquer percentil antropométrico, masculino ou feminino;
Gerar percentil antropométrico de uma pessoa que apresente deficiência;
Atribuir limites articulares de movimento às 40 articulações corporais;
Gerar seqüências de postura por cinemática direta através da utilização dos
menus interativos;
Introduzir o peso corporal dos segmentos corporais;
Introduzir restrições as articulações resultantes de apoios dos segmentos
corporais;
Gerar primitivas gráficas simples (esferas, retângulos, caixas) com as quais o
manequim interage;
Calcular para cada espaço intervertebral e para outras articulações do corpo, uma
força axial, duas forças de corte e três momentos flexores, além da pressão entre os
espaços intervertebrais;
78
Com base no método matemático de elementos finitos, O software HARSim
calcula as forças axiais em Newtons (N), os momentos flexores em (Nm) e as forças de corte
ou cisalhamento (N) da tarefa em estudo, mostrando em megapascais (MPa) as pressões
intradiscais em todas as regiões da coluna, de cada postura crítica, construindo um gráfico,
dinâmico, para cada uma destas forças conforme o Gráfico 2.
Gráfico 2 - Gráfico das forças que agem na coluna vertebral a 90
o
de flexão anterior do tronco:
atividade do borracheiro de afrouxar ou apertar a roda com chave em cruz.
Fonte: Santos (2001; p.136)
Para efeito de análise Santos (2002) afirma que o HARSim leva em consideração
certas variáveis, como as distâncias e ângulos intersegmentares, área seccional das vértebras e
segmentos corporais, além do momento de inércia geométrico para calcular as forças atuantes
em 38 segmentos (24 na coluna, 8 nos membros superiores 6 nos membros inferiores)
somando 108º de liberdade (72º na coluna vertebral, 22º nos MMSS e 14º nos MMII).
Após o processamento dos gráficos, o programa permite a escolha dos tipos de
gráficos que se deseja visualizar ou ainda exportar os resultados em forma de texto ou para
serem tratados em programas de análise estatística.
79
Sendo assim, os cálculos fornecidos pelo HARSim permitem avaliar as exigências
físicas das tarefas de trabalho prescritas ou ainda elabora propostas para concepção das
mesmas.
Santos (2002), utilizou HARSim em sua análise ergonômica do trabalho dos
borracheiros relacionando o estresse postural e a exigência muscular na região lombar e pode
concluir que a partir das variáveis calculadas da pressão intradiscal, momento flexor, força de
cisalhamento, força axial, momento de torção e o momento de flexão lateral observou-se que
quanto maior o grau de flexão anterior do tronco dos borracheiros ao realizarem suas
atividades, maior o valor apresentado pelas variáveis da pressão intradiscal, do momento
flexor e da força de cisalhamento que quase sempre ultrapassavam os limites de segurança,
principalmente quando ocorria a aplicação de uma força ou carga externa.
Em seu trabalho sobre a quantificação dos esforços físicos da coluna do armador
de laje, Cartaxo (1997) analisou as posturas desses trabalhadores, utilizando uma versão do
referido software, onde considerou-se as posturas em equilíbrio estático, sendo a coluna
modelada como uma estrutura contínua, com geometria e propriedades elásticas variáveis.
Esse trabalho analisou biomecanicamente as posturas de trabalho dos
trabalhadores rurais da colheita do abacaxi utilizando o WinOWAS e afim de quantificar as
forças que incidem sobre a coluna vertebral do balaieiro devido ao transporte de cargas
elevadas (balaio cheio) e sendo o WinOWAS insuficiente para fornecer esses dados foi
utilizado o software HARSim.
CAPITULO 4 - METODOLOGIA
81
4.1 NATUREZA DA PESQUISA
Essa pesquisa conteve em sua metodologia uma abordagem tanto qualitativa,
quanto quantitativa. Dentre as variáveis escolhidas para a caracterização do processo de
colheita e das condições de trabalho destacaram-se as qualitativas utilizadas na identificação
dos riscos ergonômicos e sua relação com o manejo inadequado da carga, porém o estudo do
ritmo de trabalho e do carregamento das cargas exigiu medições de variáveis quantitativas
independentes.
4.2 TIPO DE PESQUISA
Essa pesquisa caracterizou-se como do tipo exploratória, pois permitiu ao
investigador aprofundar seus estudos a partir de questões investigativas presentes no mesmo,
em uma realidade específica fornecendo posteriormente subsídios para o planejamento de
uma pesquisa do tipo descritiva ou experimental (TRIVIÑOS, 1990).
Também teve um caráter descritivo uma vez que o cerne desse estudo é a busca do
conhecimento e descrição do processo atual da colheita do abacaxi levando em consideração
as características organizacionais da tarefa, as condições operacionais e ambientais do
trabalho, saúde e segurança do trabalhador, especificamente quanto aos riscos ergonômicos
que esses trabalhadores estão expostos em seu ambiente de trabalho.
Quanto aos meios, essa pesquisa foi do tipo pesquisa de campo onde para se
cumprir os objetivos propostos, o estudo realizou-se em condições reais.
Tratando-se de um estudo de caso onde se estudou o processo de colheita do
abacaxi desenvolvido no município de Santa Rita, a pesquisa bibliográfica que embasou este
82
estudo lançou mão de publicações em livros, revistas científicas, jornais, anais de eventos,
internet entre outras fontes para embasar a metodologia utilizada, a coleta e análise dos dados.
4.3 UNIVERSO E AMOSTRA DA POPULAÇÃO PESQUISADA
O universo da pesquisa foi composto 81 turmas de colheita, sendo cada turma
composta de 14 trabalhadores, o universo desse estudo corresponde a 1134 trabalhadores
rurais envolvidos no processo de colheita do abacaxi da região do Baixo-Paraíba/PB. Cada
turma de 14 pessoas é subdivida conforme a função que desempenha na colheita sendo 4
catadores, 6 balaieiros, 2 arrumadores e 2 contadores. Para a observação do processo
produtivo da colheita, a amostra foi composta por quatro turmas que trabalhavam no
município de Santa Rita/PB.
4.4 IDENTIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS
Este estudo apresentou como variáveis independentes ou de entrada os modos
operatórios das atividades de trabalho da fase da colheita, as posturas de trabalho, tempos dos
deslocamentos, ritmos, tipo de processo, espaço de trabalho, jornada de trabalho, variações
dos espaçamentos dos talhões x dificuldade para realizar o trabalho, tipo de fruto x diferença
no processo de colheita (facilidades e dificuldades), condições climáticas, sistema de
pagamento, aquisição e uso de EPIs, preferência de atividades quanto à facilidade entre
outras. A análise postural qualitativa e quantitativa foi a variável dependente ou de saída
manipulada neste estudo.
83
4.5 INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
Utilizou-se a técnica subjetiva ou indireta como técnica de análise ergonômica do
trabalho através das observações diretas e utilização de formulários e roteiros para registro das
informações conforme discurso dos atores envolvidos no processo.
Como instrumentos de pesquisa foi construído um formulário semi-estruturado
(Apêndice 1) contendo questões abertas e fechadas referentes ao perfil dos trabalhadores
rurais da colheita do abacaxi como: idade, sexo, estado civil, tempo de serviço, grau de
instrução, fatores organizacionais da atividade (carga horária, vinculo empregatício,sistema de
pagamento, ritmo, motivação e satisfação), segurança no trabalho (riscos no trabalho,
aquisição e uso de EPIs – Equipamentos de Proteção Individual), condições operacionais e
ambientais do trabalho e treinamento. Esse roteiro foi aplicado a uma turma de trabalhadores
formada por 14 indivíduos.
Desenvolveu-se ainda um roteiro de entrevista (Apêndice 2) aplicado ao presidente
da COPAGRO e especialistas da EMEPA e da EMATER para traçar o perfil dos produtores
rurais da colheita do abacaxi, bem como conhecer os agentes sociais envolvidos no processo
produtivo dessa cultura.
Para coleta dos dados referentes aos tempos gastos pelos balaieiros em cada fase
de sua atividade e o peso dos balaios cheios foi utilizado um roteiro de organização de
trabalho (Apêndice 3) sendo observados 20 ciclos da atividade de um balaieiro quando o fruto
colhido foi do Tipo A, 4 ciclos quando o fruto colhido foi do Tipo B e 12 ciclos para a
colheita do fruto Tipo C. Dessa forma, foram observados 3 trabalhadores balaieiros sendo um
em cada tipo de colheita.
84
4.6 ETAPAS DO ESTUDO
Para cumprir os objetivos desse estudo realizou-se as seguintes etapas:
1
o
Uma pesquisa bibliográfica sobre assuntos referentes à cultura do abacaxi, e as
metodologias aplicadas para descrição do processo produtivo, identificação e descrição dos
riscos, com ênfase nos riscos ergonômicos, a biomecânica ocupacional, estresse mecânico da
coluna vertebral e registro da postura.
2
o
Preparação e aplicação de um formulário semi-estruturado, que foi preenchido
pelo próprio investigador e aplicado em uma turma com 14 trabalhadores.
3
o
Realização das entrevistas coletivas e individuais com os trabalhadores rurais,
com especialistas e o presidente da COPAGRO.
4
o
Estudo de Métodos das atividades desenvolvidas na colheita do abacaxi com
especial atenção para a atividade do balaieiro onde foram necessárias medidas de tempo e
pesagem das cargas transportadas.
5º Registro fotográfico e de vídeo para análise do processo de trabalho dos
trabalhadores rurais. Sendo essas realizadas durante um período correspondente a meio
período de execução de suas tarefas, no campo de colheita, observando-se as posturas
assumidas, tempo de permanência nestas posições e os movimentos executados.
6ª Análise biomecânica das atividades da colheita do abacaxi utilizando o software
WinOWAS para todos os tipos de atividades dos trabalhadores rurais e o HARSim para as
atividades dos balaieiros.
85
4.7 Tratamento dos Dados
A ferramenta utilizada para as análises e avaliações biomecânicas da postura foi o
modelo Ovako de análises de posturas no trabalho (“Working Postures Analysing System” –
OWAS).
As posturas foram escolhidas a partir da observação dos registros fotográficos e
filmagens do indivíduo na situação de trabalho em seguida foram registradas no software pela
escolha de uma das posições básicas descritas no modelo para cada segmento corporal e
codificadas conforme apresentação do Quadro 9.
Além disso, o software WinOwas forneceu as informações a respeito do
movimento e da massa manuseada ou do esforço necessário. Baseado nesses resultados foi
possível desenvolver medidas preventivas para evitar sobrecargas articulares especialmente na
coluna dos trabalhadores.
O HARSim foi utilizado para analisar de forma mais precisa o impacto das cargas
transportadas ou manuseadas pelos balaieiros sobre a coluna vertebral. Esse software
associado com o WinOWAS quantificou os esforços físicos da coluna do balaieiro permitindo
uma análise mais abrangente das posturas e cargas de trabalho desse trabalhador.
4.8 QUADRO DE SÍNTESE DAS ETAPAS DA PESQUISA
O Quadro 10 apresenta de forma simplificada que instrumentos e/ou técnicas de
pesquisas foram utilizados nesse estudo associando-os às respectivas variáveis presentes em
cada um dos objetivos específicos do mesmo.
86
OBJETIVOS VARIÁVEIS INSTRUMENTOS/
TÉCNICAS DE PESQUISA
Identificar e descrever o
processo de colheita da cultura
do abacaxi realizado na região
do Baixo-Paraiba
Tipo de processo, Espaço de trabalho,
Jornada de trabalho, atividades dos
trabalhadores rurais (catadores,
arrumadores, contadores e balaieiros), tipo
de fruto, diferença no processo de colheita
(facilidades e dificuldades), sistema de
pagamento e uso de EPIs.
Observação direta, aplicação do
formulário semi-estruturado,
gravação de áudio de entrevistas
coletivas e individuais.
Fazer análise ergonômica do
trabalho dos trabalhadores
rurais da colheita do abacaxi
Posturas de trabalho,
Freqüência das posturas de trabalho
1) Observação direta, Formulário,
Registro fotográfico e vídeo
Fazer análise biomecânica dos
trabalhadores rurais da colheita
do abacaxi
Deslocamentos do balaieiro e os
respectivos tempos, em cada etapa de sua
atividade, posturas de trabalho, freqüência
das posturas, Peso dos Balaios.
Observação Direta
Cronometragem (Roteiro e
cronometro)
Registro Fotográfico, Filmagem
Software WinOWAS
Quantificar o esforço físico na
coluna do balaieiro, como
conseqüência das posturas
assumidas na sua atividade
laboral.
Momentos flexores, força de cisalhamento,
pressão intradiscal, forças axiais.
Software HARSim
Quadro 10 - Descrição dos objetivos da pesquisa e as respectivas variáveis e instrumentos e/ou técnicas
utilizados para alcançá-los.
4.9 ASPECTOS ÉTICOS
Todo o procedimento experimental com os indivíduos participantes da pesquisa,
está de acordo com a Resolução 196 / 96, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), uma vez
que este projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do CCS -
Centro de Ciências da Saúde sendo aprovado pelo mesmo para realização do estudo (Anexo
A).
CAPITULO 5 - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
88
5.1 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO NA COLHEITA DO ABACAXI
5.1.1 Produtores Rurais da Cultura do Abacaxi
A cultura do abacaxi na região do Baixo-Paraíba, em especial no município de
Santa Rita/PB é em sua maioria explorada por pequenos produtores, que foram trabalhadores
ativos do processo produtivo da cana-de-açúcar ou mesmo da cultura do abacaxi em outros
municípios, conseguindo desenvolver sua produção adquirindo crédito rural através de
programas de incentivo como o PRONAF (Programa Nacional de Apoio à Agricultura
Familiar).
5.1.2 Agentes Sociais da Atividade
Destaca-se o papel da COPAGRO (Cooperativa dos Produtores Agrícolas) que
desde a sua fundação proporciona uma organização da cadeia produtiva do abacaxi, garantido
o mercado, podendo dessa forma negociar os valores do produto sem intervenientes, bem
como a facilitação do acesso ao crédito rural do pequeno e médio produtor.
Em parceria com a USAC (União Santarritense de Associações Comunitárias) que
agrega e coordena todas as associações e cooperativas do município de Santa Rita/PB e
contando com o apoio da secretaria municipal da Educação que cedeu a estrutura física, teve
inicialmente associados em seu quadro 186 produtores rurais.
Como primeira preocupação, a cooperativa buscou meios de estimular o
financiamento da produção, uma vez que esses produtores utilizavam-se de recursos próprios
para levar adiante o sistema produtivo do abacaxi.
Para ganhar espaço no mercado e ter garantias de um preço justo da produção se
89
fez necessário investir e foi a partir desses objetivos que se conseguiu facilitar junto ao Banco
do Nordeste o acesso às linhas de crédito para pequenos empreendedores rurais como o
PRONAF (Programa Nacional de Agricultura Familiar).
Conforme informações do presidente da COPAGRO, a cooperativa no inicio de
sua formação, cumpriu seus objetivos de fortalecer todos os produtores de abacaxi porém
apesar da maioria permanecer com o espírito de união e de crescimento coletivo, alguns
associados queriam usufruir os benefícios conquistados pela cooperativa individualmente,
abandonando a cooperativa.
Apesar da atitude desses cooperados, a COPAGRO continuou seu trabalho,
conquistando o mercado e através da assistência técnica da EMATER a cooperativa começa a
se desenvolver sentindo a necessidade de obter uma maior segurança no produto a ser
comercializado firmando posteriormente um contrato com a bolsa de comércio de
Pernambuco que faz a intermediação do abacaxi produzido na Paraíba com o mercado interno
principalmente do Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina, o que garante uma certa
estabilidade no mercado.
Devido a problemas estruturais da cadeia produtiva, armazenagem,
acondicionamento e padronização, o abacaxi produzido na Paraíba ainda é insuficiente suprir
o mercado interno e alcançar o competitivo mercado mundial. Tal dificuldade é justificada
pela precariedade de políticas agrícolas que não permitem aos produtores captar os recursos
necessários a sua capacidade de produção.
Atualmente a COPAGRO é constituída por apenas 92 cooperados, entre pequenos
e médios produtores e trabalhadores rurais de todas as fases da cultura do abacaxi, que se
encontram devidamente regularizados.
90
Essa diminuição no número de associados regularizados desde o inicio de sua
fundação, justifica a queda da comercialização do abacaxi conforme Quadro 3 na p.40, uma
vez que fica difícil para a COPAGRO obter dados da produção de produtores não-associados.
O presidente da COPAGRO nos relata ainda a preocupação social da cooperativa
com os seus cooperados trabalhando a partir da sensibilização e da capacitação temas
relativos à educação, saúde, segurança e moradia buscando dessa maneira melhorias na
qualidade de vida de seus associados.
Tal responsabilidade social é compartilhada com o SENAR (Serviço Nacional de
Aprendizado Rural) e outros órgãos de apoio, que promovem cursos de capacitação dos
produtores e trabalhadores rurais. A segurança no manuseio de agrotóxicos também é um dos
assuntos abordados nesses programas de capacitação.
Através dessas iniciativas, a COPAGRO tem conseguido firmar convênios com o
PSF (Programa Saúde da Família) de algumas comunidades para atender as esposas e filhos
desses cooperados, instituições assistenciais através do projeto COOPERAR para construção
de creches que assistam os filhos de trabalhadoras rurais da cultura do abacaxi entre outras
iniciativas.
Com respeito aos projetos de introdução de novas tecnologias no sistema
produtivo da cultura do abacaxi, foi expresso a falta de expectativas quanto à possibilidade de
mecanização do processo tanto por parte de órgãos de apoio técnico, como a EMATER e
também por parte dos próprios trabalhadores rurais que vêem a mecanização como fonte de
desemprego pela baixa qualificação desse trabalhador rural.
Em se tratando de melhorias propostas pela cooperativa para aliviar em parte o
trabalho pesado realizado pelos trabalhadores rurais principalmente na fase de colheita do
abacaxi, algumas adaptações estão sendo estudadas para eliminar o carregamento a granel
buscando o acondicionamento do abacaxi em caixotes que acomodem de 8 a 12 frutos,
91
tornando o trabalho mais leve, diminuindo, portanto, o trabalho atual dos balaieiros que
chegam a carregar balaios de até 100kg na cabeça, várias vezes, ao longo de uma exaustiva
jornada de trabalho, gerando riscos a sua saúde.
O presidente da cooperativa nos relata ainda que apesar do acesso aos
financiamentos acontecerem de forma individualizada, a cooperativa facilita o acesso desse
produtor ao recebimento do crédito, uma vez que a instituição financiadora recebe garantias
da cooperativa através da Bolsa de Pernambuco, de que a produção dos produtores será
comercializada.
A programação da Bolsa de Pernambuco é baseada na comercialização do ano
anterior levando em consideração a absorção do produto pelo mercado, cada período, ao
longo do ano. Dessa forma, quando se termina uma produção se faz uma pré-programação,
uma estimativa de venda, com base nos registros de consumo dos clientes cadastrados no ano
anterior.
Por fornecer garantias no mercado, a comercialização pelo sistema de cooperativas
permite facilidades na negociação dos preços, negociação essa intermediada pela Bolsa que
tem interesse que os melhores negócios sejam fechados para que a sua parte na comissão seja
acrescida.
Relata-se ainda que a cooperativa pretende criar um banco de dados de empresas
produtoras de insumos e possibilitar a intermediação da cooperativa na compra desses
produtos a preços mais acessíveis ao produtor.
A participação dos agentes sociais pertencentes ao processo produtivo da cultura
do abacaxi na Paraíba, pode-se ver de forma simplificada no esquema da Figura 13:
92
BNB/PRONAF
PRODUTORES
(órgãos governamentais)
COPAGRO
Demanda
Produtores
Oferta
Doc. dos
I
n
s
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m
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SENAR
Ações de Formação
Conhecimento Tecnológico
I
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f
o
r
m
a
ç
õ
e
s
C
r
é
d
i
t
o
Pacote Tecnológico
EMATER
Bolsa de Mercadoria
Proprietários de Caminhões
Transporte
Turmas de
Empreiteiras
e Chefes de
Colheita
Turmas
Arrendador
Fornecedores
EMEPA,
EMBRAPA,UNIVERSIDADE
Figura 9 - Agentes sociais do processo produtivo da cultura do abacaxi na Paraíba.
Fonte: Pesquisa de Campo
5.2 PERFIL DOS TRABALHADORES RURAIS DA COLHEITA DO ABACAXI
O processo de colheita do abacaxi da região do Baixo –Paraíba/PB apresenta as
funções representadas no organograma da figura 13, onde existe um produtor que contrata
uma turma de carregamento dividida em quatro grupos de trabalhadores: os catadores,
balaieiros, contadores e arrumadores.
93
Entre o produtor e os trabalhadores encontra-se a figura do chefe de turma. Cada
chefe de turma é responsável por uma turma de carregamento e dentro do processo de
colheita, geralmente ele exerce a função de contador ou arrumador. O número de
trabalhadores por turma pode variar entre 10-14 trabalhadores, porém as 2 turmas visitadas
em nossa pesquisa eram formadas por 14 trabalhadores sendo 4 catadores, 6 balaieiros, 2
contadores e 2 arrumadores.
Atualmente existem 81 turmas de carregamento distribuídas por 6 municípios da
região do Baixo-Paraíba/PB conforme o Quadro 11, onde destaca-se o município de Sapé por
contar com mais de 60% das turmas.
MUNICÍPIO N
o
DE TURMAS
Sapé 50
Mari 10
Pedras de Fogo 10
Itapororoca 5
Mamanguape 4
Araçagi 2
Quadro 11 - No de turmas por município da região do Baixo-Paraíba/PB.
Fonte: Pesquisa de Campo
Chefe de Turma
Balaieiro Catador
Contador/Arrumador
Figura 10 - Divisão do trabalho no processo de colheita do abacaxi da região do
Baixo-Paraiba/PB
Fonte: Pesquisa de Campo.
Produtor
94
O formulário de pesquisa foi aplicado em uma turma com 14 trabalhadores do
sexo masculino com média de idade de 35,4 anos e tempo de serviço de 16,0 anos. A maioria
é casada e não possui escolaridade.
São residentes no município de Sapé/PB, contratados pelos produtores de abacaxi
para realizarem o trabalho da colheita de abacaxi no município de Santa Rita onde não
existem turmas especializadas nessa atividade.
Todos trabalham na cultura do abacaxi, qualquer dia da semana desde que haja
carregamento previamente marcado. Se não estão no “roçado”, realizam “bicos” em
atividades agrícolas das outras fases do processo de trabalho da cultura do abacaxi.
“Nós só não faz vender; o resto nós faz de tudo”.(trabalhador rural)
5.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
5.3.1 Jornada de Trabalho
Conforme a distância da propriedade em que será realizado o trabalho e o seu
município de origem e as próprias condições de acesso rodoviário da mesma, a jornada de
trabalho pode iniciar muito cedo. Costumam despertar 4:00hs para chegar no campo entre
6:00 e 7:00hs.
Esses trabalhadores são transportados em caminhões para as propriedades de
maneira irregular estando expostos a riscos de acidentes provenientes dessa atitude (Figura
11):
95
“É arriscado demais nós andar em cima do carro... tudo é arriscado... nós sabe
que sai, mas não sabe se chega” (trabalhador rural – catador).
Figura 11 - Chegada dos trabalhadores no campo: transporte irregular
Fonte: Pesquisa de Campo
A Figura 12 apresenta um momento que antecede o início da “lida” (trabalho)
onde os trabalhadores realizam o que eles chamam de “mesada”, ou seja, um desjejum
coletivo onde cada um compartilha seu alimento com o outro. Alguns contratantes oferecem o
café-da-manhã para esses trabalhadores, porém essa não é uma prática comum.
96
Figura 12 - “Mesada”
Fonte: Pesquisa de campo
O trabalho propriamente dito inicia aproximadamente às 8:00hs, sendo finalizado
ao término do carregamento do caminhão, conforme o pedido do cliente. Geralmente é
concluído no final da tarde, às 16:00hs, podendo ser finalizado no inicio da tarde se a “roça é
boa”, ou seja, se a propriedade consegue contemplar todo o pedido do carregamento sem
haver necessidade de deslocamento para outras áreas.
Além disso, o término da jornada é dependente do próprio ritmo de trabalho
imposto pela turma, que geralmente é intenso uma vez que a maioria dos trabalhadores
prefere que não ocorram pausas durante a jornada exceto a pausa do almoço, para que o
trabalho seja concluído o mais rápido possível.
5.3.2 Pausas
“Se nós para, o enfado é maior e demora mais pra terminar o carrego”
(Balaieiro).
97
Os trabalhadores rurais da colheita de abacaxi não realizam pausas regulares ao
longo da jornada de trabalho uma vez que preferem manter um ritmo intenso que é justificado
pela ansiedade de terminarem o quanto antes o trabalho.
“Quanto mais rápido nós terminar o trabalho melhor pra nóis receber o dinheiro
na hora”. (Arrumador)
A pausa do almoço pode coincidir com o deslocamento da turma de uma área do
campo para outra ou com o término da colheita de uma categoria de fruto e o inicio da
colheita de outro tipo.
No que diz respeito à reposição hídrica, relatam ingerirem durante a jornada de
trabalho, aproximadamente até 5 litros de água em dias quentes, sendo essa quantidade
diminuída em dias frios (Figura 13).
Figura 13 - Trabalhador bebendo água.
Fonte: Pesquisa de Campo
98
5.3.3 Forma de Pagamento
Conforme Adissi, (2001) na região do Baixo-Paraíba, a colheita é a segunda,
atividade do processo da produção de abacaxi que mais emprega mão-de-obra, com
aproximadamente 70 dias/homem para um hectare, sendo superada pela limpa de mato que
paga em média 104dias/homem ao longo do ciclo produtivo.
Na época de safra chegam a realizar até quatro carregamentos (um carregamento
geralmente equivale a um dia de trabalho) por semana sendo remunerados por cada caminhão
carregado.
O arrumador e o contador são os trabalhadores melhores remunerados recebendo
R$ 40, 00 por caminhão enquanto que o balaieiro e o catador recebem R$ 25,00 reais por dia
de trabalho. Esse valor não é reajustado a aproximadamente 10 anos segundo relato dos
próprios trabalhadores.
O pagamento é realizado ao final da jornada de trabalho e se o período é de safra
pode ser negociado com o produtor para o final da semana. A remuneração mensal fica em
torno de dois salários mínimos, porém nos períodos de baixa produtividade a realidade é
outra:
“Tem mês que não dá pra tirar nem R$100,00 reais!”.(Catador)
Essa situação é decorrente do desemprego característico da sazonalidade da cultura
onde apesar de haver colheita ao longo de todo ano a safra concentra-se entre os meses de
setembro a dezembro (59%) e isso é sentido pelos trabalhadores.
Em um dia produtivo, podem chegar a carregar dois caminhões, porém, isso só é
possível se o roçado contemplar toda a carga do pedido, não havendo necessidade de se
deslocarem para outra propriedade, o que demandaria perda de tempo e quebra no ritmo de
trabalho.
99
5.3.4 Previdência Social
‘”No abacaxi não "ficha” carteira...Trabalho há mais de 10 anos e nunca fui
fichado’” (Catador).
Apesar de ter seu direito a assinatura de carteira de trabalho e Previdência Social,
conforme a Lei Complementar n
o
11, de 1971, nenhum dos trabalhadores entrevistados
encontra-se assegurado por essa instituição. Essa situação de desamparo social reflete uma
realidade comum em nosso país:
“Deus me livre um dia agente cair, levar um acidente! Aquele que tiver alguma
condição pode fazer uma feira; o que não tiver...lá mesmo fica; ou pede esmola ou vai morrer
de fome porque nós não tem direito nenhum e o patrão não quer dá” (Balaieiro).
Os únicos benefícios relatados pelos trabalhadores é o fato de alguns contratantes
fornecerem a alimentação e pagarem ao final da jornada não deixando para o fim da semana.
5.3.5 Treinamento
“Comecei no abacaxi balaiando. Depois que terminava eu ia ajudar a amarrar a
carga. O camarada via meu interesse e aí eu comecei contando e depois fui entortar
(arrumar) a carga” (Arrumador).
100
Os trabalhadores relataram não receber nenhum tipo de treinamento no que diz
respeito a realização de suas atividades laborais informando terem aprendido todo processo
por observação de trabalhadores mais experientes.
5.3.6 Motivação e Satisfação no Trabalho
Os trabalhadores rurais foram unânimes em justificar como maior motivador para
realização de seu trabalho a necessidade de sobrevivência:
“O que eu mais gosto e do dinheiro. Gosto de fazer meu trabalho certo, não
prejudicar ninguém e quando termino recebo o dinheiro... Como eu gosto da minha vida é
como eu gosto de meu trabalho porque eu vivo dele” (Balaieiro).
Apesar de reconhecerem as dificuldades dessa atividade de elevado esforço físico
e exaustivo declaram ser mais “privilegiados” com relação ao pagamento que outros
trabalhadores rurais, que trabalham no abacaxi como por exemplo os trabalhadores da limpa
de mato:
“Não gosto de limpar mato porque ganha pouco... O trabalho no abacaxi é
pesado, mas ganha melhor” (Balaieiro).
Contudo algo precisa ser destacado quanto a forma que esses trabalhadores
administram o cansaço, o grande esforço físico, a repetitividade, a falta de perspectivas, a
apreensão quanto ao ter trabalho no dia seguinte, ou de sofrer algum acidente ou mesmo o
101
próprio direito de adoecer e não conseguirem cumprir o seu papel de mantenedores de seus
lares: o clima de alegria e companheirismo presente em cada dia de carregamento:
Aqui é todo mundo trabalhando alegre o dia todinho...Não tem esse negócio de ta
trabalhando com raiva um do outro. Aqui é todo mundo amigo(Arrumador).
5.4 PROCESSO DE COLHEITA NA REGIÃO DO BAIXO – PARAÍBA
O trabalho entre os catadores e balaieiro é realizado de forma conjunta e essa
relação, balaieiro-catador no município de Santa Rita, acontece em 1:2 trabalhadores (Figura
18), respectivamente, sendo que em alguns momentos essa relação pode aumentar para 1:3 ou
diminuir para 1:1 a depender a geometria do terreno e da concentração dos frutos requeridas
pela colheita no interior da lavoura. Isso acontece porque os balaieiros que atuam junto aos
catadores é apenas uma parcela dos balaieiros da turma uma vez que, os demais ou estão se
deslocando para o caminhão de carregamento ou retornando para a lavoura.
Figura 14 - Relação 2:1 (catador-balaieiro)
Fonte: Pesquisa de Campo
102
Os catadores, primeiramente retiram o fruto das plantas, segundo a especificação
desejada para a qualidade dos frutos que é classificado em 5 faixas de peso. Essa atividade
demanda do catador uma experiência e uma destreza prática para escolher somente os frutos
requeridos uma vez que a seleção acontece simultaneamente à retirada do fruto (Figuras 15 e
16). O catador deve também dispensar os frutos que apresentem defeitos indesejados, como
doenças ou má formação. A catação pode ser realizada com a quebra manual dos frutos ou
com o corte com facão, do fruto juntamente com as filhações, que protegerão os frutos na
arrumação das cargas. Essa variante, denominada por catação “sangrada”, ocorre no caso de
cargas que viajarão longas distâncias. Em nosso estudo, analisamos o processo de colheita do
tipo “não-sangrada”.
A catação sem facão é mais rápida, uma vez que possibilita a utilização das duas
mãos. Por outro lado, a ausência de filhações no interior dos balaios possibilita um maior
número de frutos por balaio e conseqüentemente elevação da sobrecarga dos balaieiros.
Em seguida, os catadores colocam o fruto selecionado no interior do balaio situado
sobre a cabeça do balaieiro que acompanha o catador por toda área plantada.
Figura 15 - Catação do fruto
Fonte: Pesquisa de Campo
Figura 16 - Colocação do fruto no balaio
Fonte: Pesquisa de Campo
103
Quanto à atividade do balaieiro, a mesma compreende quatro fases sendo que a 1ª
fase corresponde ao deslocamento do balaieiro ao caminhão com o balaio vazio, a 2ª fase
representa o momento em que inicia o enchimento do balaio, a 3ª fase compreende o
deslocamento do balaieiro com o balaio cheio e a 4ª fase corresponde ao descarregamento do
balaio conforme a Figura 17.
104
Fase 1- Deslocamento ao campo com o balaio
vazio
Fase 3 – Deslocamento do balaio cheio p/ o
caminhão
Figura 17 - Fases da atividade do balaieiro
Fonte: Pesquisa de Campo
Fase 2 – Enchimento do balaio
Fase 4 – Descarregamento do balaio
105
Para uma turma de balaieiros foram feitas 20 observações (cronometragem) do
tempo (em segundos) durante a realização da colheita do abacaxi do tipo A, 4 observações
para colheita tipo B e 12 observações para colheita do abacaxi tipo C onde cada ciclo
(observação). O Quadro 12 mostra a cronometragem das fases da atividade do balaieiro em
segundos, o tempo total em minutos, número de frutos por balaio, peso do balaio e a
freqüência de permanência do balaieiro com a carga em cada fase da colheita tipo A.
Considerando-se que em média um balaio vazio pesa 6 kg e o abacaxi do tipo “A”
colhido por esse trabalhador possui em média 1,5 kg e sendo a média do número de frutos
colhidos de 49,55 frutos, a partir da multiplicação do peso do fruto pelo número de frutos no
balaio somado ao peso do balaio vazio, na colheita tipo A obteve-se o valor de 80,3 Kg para o
peso do balaio cheio. A média do tempo dos ciclos da atividade foi de 5,57 minutos para a
colheita do tipo A.
Quanto a freqüência do balaieiro em cada fase da colheita (tipo A), 21,40% do
tempo ele encontra-se na fase de deslocamento com o balaio vazio, 33,78% na fase de
enchimento do balaio, 23,33% na fase de deslocamento com o balaio cheio e 21,50% na fase
de descarregamento.
106
Tempos das Atividades em (s) por ciclo observado CARGA
Ciclos Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 4
Total
do
ciclo
(min)
N
o
de
Abacaxis
por balaio
PESO
TOTAL
(KG)
C
1
15 138 57 79 4,82
45
73,5
C
2
67 128 89 38 5,37
44
72
C
3
88 173 73 96 7,17
47
76,5
C
4
78 114 29 98 5,32
46
75
C
5
13 94 41 52 3,33
52
84
C
6
25 72 49 52 3,30
45
73,5
C
7
164 123 53 99 7,32
49
79,5
C
8
57 60 25 36 2,97
43
70,5
C
9
111 152 106 54 7,05
48
78
C
10
84 103 114 35 5,60
48
78
C
11
72 100 100 86 5,97 47 76,5
C
12
130 136 110 47 7,05 54 87
C
13
74 82 58 101 5,25 58 93
C
14
18 130 13 83 4,07 48 78
C
15
166 41 113 37 5,95 46 75
C
16
125 93 147 73 7,30 58 93
C
17
54 148 49 117 6,13 62 99
C
18
41 137 118 62 5,97 60 96
C
19
36 143 151 115 7,42 54 87
C
20
13 92 65 78 4,13 37 61,5
MEDIAS 71,55 112,95 78 71,9 5,57 49,55 80,33
Freqüência
%
21,40 33,78 23,33 21,50
Quadro 12 - Cronometragem das atividades do balaieiro na colheita de abacaxi tipo A.
Fonte: Pesquisa de Campo
O Quadro 13 apresenta os dados da cronometragem das atividades do balaieiro na
Colheita Tipo B. Um fruto tipo B pesa em média 1,2 kg sendo que a média do número de
frutos colhidos foi de 40,75 frutos e o peso médio do balaio cheio foi de 54,9Kg. A média do
tempo dos ciclos da atividade foi de 5,25 minutos.
Quanto a freqüência, 37,10% do tempo ele encontra-se na fase de deslocamento
com o balaio vazio, 45,60% na fase de enchimento do balaio, 6,7% na fase de deslocamento
com o balaio cheio e 10,5% na fase de descarregamento.
107
Ciclos
Tempo
(
Fase 1
Tempo (s)
Fase 2
Tempo
(
Fase 3
Tempo
(
Fase 4
Tempo Total
d
Ciclo (min)
Abacaxis
por balaio
Peso
d
balaio
frutos
C
1
40 347 10 45
7,37
44 58,8
C
2
16 122 15 95
4,13
38 51,6
C
3
28 173 30 40
4,52
33 45,6
C
4
28 193 67 12
5,00
48 63,6
Médias
28,2 208,8 30,6 48
5,25 40,75 54,90
f (%)
37,1 45,6 6,7 10,5
Quadro 13 - Cronometragem das atividades do balaieiro na colheita do Tipo B.
Fonte: Pesquisa de Campo
Um fruto do tipo C pesa aproximadamente 1kg sendo que a média de frutos por
balaio desse tipo de colheita foi de 46,58 frutos. O peso médio do balaio cheio do fruto Tipo
C foi de 52,5Kg e a freqüência de tempo em cada fase foi respectivamente, 21,4% do tempo
na fase de deslocamento com o balaio vaio, 53,7%na fase de enchimento do balaio, 12,7% na
fase de deslocamento com o balaio cheio e 12,0% na fase de descarregamento. Os dados da
cronometragem da colheita do Tipo C encontram-se especificados no Quadro 14.
Ciclos
Tempo(s)
Fase 1
Tempo (s)
Fase 2
Tempo (s)
Fase 3
Fase 4 Total do
tempo de cada
Ciclo (min)
Abacaxis
por balaio
Peso do
balaio +
frutos (kg)
C
1
16 6 40 57 1,98 37 43
C
2
6 290 56 36 6,47 38 44
C
3
48 153 35 50 4,77 44 50
C
4
72 187 32 20 5,18 44 50
C
5
76 145 22 41 4,73 45 51
C
6
14 286 25 34 5,98 50 56
C
7
65 120 54 29 4,47 60 66
C
8
113 197 49 22 6,35 55 61
C
9
134 162 32 40 6,13 54 60
C
10
105 135 58 33 5,52 46 52
C
11
115 134 37 30 5,27 40 46
C
12
27 83 29 53 3,20 46 52
Médias 66 158,4 39 37,2 5,00 46,58 52,58
f (%)
21,4 53,7 12,7 12,0
Quadro 14 - Cronometragem das atividades do balaieiro na colheita do abacaxi Tipo C.
Fonte: Pesquisa de Campo
108
Para termos uma análise mais detalhada, a partir dos dados da cronometragem,
obteve-se ainda os tempos de trabalho seguros e inseguros em relação a carga transportada
nos três tipos de colheita. Para a realização desses cálculos considerou-se a carga de
segurança 23Kg, apontado pelo NIOSH em 1994. Desta forma, o trabalho seguro considerado
foi composto pelo tempo de deslocamento com balaio vazio, acrescido do tempo de
enchimento até atingir o limite de segurança de 23Kg, o tempo final de descarregamento
relativo ao período em que o balaio se esvaziou totalmente.
Colheita do
Abacaxi Tipo
Tempo
Seguro
(min)
Tempo Inseguro
(min)
%
TS
%
TI
Tempo Total
do Ciclo
(min)
A 1,89 3,67 34 66
5,57
B 1,96 3,30 37 63
5,25
C 2,45 2,55 49 51
5,00
Quadro 15 - Tempos seguros e inseguros com permanência da carga nos tipos de colheita.
Fonte: Pesquisa de Campo
Conforme o Quadro 15, percebe-se ainda que os balaieiros encontram-se a maior
parte da jornada de trabalho sobre condições inseguras, uma vez que, o tempo inseguro foi
maior que o tempo de segurança durante os ciclos de atividade, independente do tipo de
abacaxi colhido.
De acordo com a geometria do terreno, quanto maior a distância entre a área de
colheita e o caminhão, maior serão os tempos de deslocamentos. Também quanto maior for a
homogeneidade da lavoura em relação a presença do tipo de fruto a ser colhido, mais rápido
ocorre o enchimento do balaio. Já o tempo de descarregamento não está condicionado a
nenhuma dessas características ou variáveis.
Dessa forma, o Quadro 16, apresenta a média de tempo gasto por ciclo pelo
balaieiro em cada fase da atividade onde podemos perceber que na 2ª fase, o tempo de
enchimento do balaio foi maior quando a colheita foi do Tipo B, onde atribuiu-se esse
109
aumento de tempo ao fato do campo em que foi realizado a pesquisa ser restrito quanto a esse
tipo de abacaxi necessitando um maior deslocamento pela área do campo.
Na 1ª, 3ª e 4ª fases, o tempo de deslocamento com o balaio vazio, o tempo de
deslocamento campo-caminhão e o descarregamento do balaio foram maiores na colheita do
abacaxi Tipo A.
Atribui-se o aumento ao próprio peso dos balaios ter sido superior a colheita dos
outros tipos de abacaxi, o que demanda em maior equilíbrio por parte do balaieiro para
transportá-lo e conseqüentemente maior tempo do contador para descarregar uma maior
quantidade de frutos. Ainda atribui-se esse aumento no valor pela maior distância do campo
ao caminhão nesse tipo de colheita.
Fases da Atividade Tipo A Tipo B Tipo C
1ª fase - Média do tempo (min) de
deslocamento do caminhão-campo
(balaio vazio)
1,2 0,47 1,10
2ª fase - Média do tempo (min) de
enchimento do balaio
1,88 3,48 2,64
3ª fase -Média do tempo (min)de
deslocamento do campo-caminhão
(balaio cheio)
1,30 0,51 0,65
4ª fase- Média do tempo (min) de
descarregamento do balaio
1,20 0,8 0,62
Quadro 16 - Média de tempo total (min) do ciclo.
Fonte: Pesquisa de Campo
Após o deslocamento dos frutos pelo balaieiro, ocorre o descarregamento do
balaio cheio pelos contadores (Figura 18) e arrumação dos frutos no caminhão pelos
arrumadores conforme especificações do comprador da safra.
110
Figura 18 - Descarregamento do fruto pelo contador.
Fonte: Pesquisa de Campo
Os contadores ao retirarem o fruto do balaio realizam uma segunda seleção
eliminando algum fruto que não esteja compatível com especificações e em seguida repassam
aos arrumadores.
A arrumação da carga (Figura 23) requer uma técnica conhecida por poucos, sendo
que essa condição está ameaçada de desaparecer devido à introdução do uso de caixas de
papelão para embalar os frutos que poderá alterar por completo essas e as demais fases da
atividade.
Figura 19 - Arrumação da carga
Fonte: Pesquisa de Campo
111
5.5 CONDIÇÕES DE TRABALHO
Desde o transporte dos trabalhadores ao campo de trabalho até o término da
jornada, percebem-se as precárias condições físicas e organizacionais a que esses
trabalhadores estão expostos.
Além da longa jornada de trabalho podemos destacar a exposição desses
trabalhadores a diferentes condições climáticas, contatos com animais peçonhentos, grandes
distâncias percorridas em transportes irregulares e inadequados, bem como o grande esforço
físico demandado por essa atividade Todos os trabalhadores entrevistados relataram que
consideram as atividades da colheita repetitivas e que se sentem cansados fisicamente ao final
da jornada de trabalho.
Relataram ainda que das quatro atividades, a atividade do balaieiro é reconhecida
pelos mesmos como a mais pesada, e por isso é considerada a mais inferior. Os trabalhadores
vêem a função do arrumador como a mais elevada por exigir além da técica específica, grande
atenção na contagem dos frutos.
“Não gosto de carregar balaio porque não agüento. É mais fácil empilhar a
carga” (Arrumador).
Em se tratando da realização de suas refeições e da reposição hídrica, bem como
necessidades fisiológicas, os trabalhadores utilizam-se algumas vezes da carroceria do
caminhão como ponto de apoio, uma vez que não costuma existir próximas às áreas de plantio
próximas edificação para esse fim.
As condições de higiene desses trabalhadores também são precárias pelo fato de
estarem expostos ao sol causticante, com muitas roupas para protegerem-se dos espinhos, que
dificultam a transpiração e favorecem o acúmulo de sujeiras.
112
5.6 SEGURANÇA NO TRABALHO - RISCOS PRESENTES NA COLHEITA DO
ABACAXI
Quanto aos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) os trabalhadores utilizam-
se da improvisação, pois não recebem nenhum incentivo financeiro para aquisição dos
mesmos. Camisas de mangas compridas gastas, calças jeans rasgadas, aventais feitos de resto
de tecido grosso, botas furadas e luvas rasgadas, espumas que protegem a cabeça do balaieiro
do contato direto com o balaio; esses são os EPIs utilizados por esses trabalhadores para sua
proteção contra os agentes físicos, biológicos, químicos e mecânicos existentes nesse processo
produtivo (Figura 24).
Figura 20 - Equipamentos de proteção individual
Fonte: Pesquisa de Campo
É uma mão-de-obra que não apresenta conhecimentos das técnicas de prevenção e
poucos consideram que a sua atividade laboral pode acarretar graves conseqüências a sua
saúde. Porém algumas situações de risco foram relatadas pelos trabalhadores como as mais
presentes no processo produtivo e dentre elas, o risco de quedas devido a irregularidade do
terreno ao transportar os balaios foi a mais citada (Quadro 17).
113
Pode acontecer da gente vir com um balaio desse de 60 a 70kg na cabeça, bate
dentro de um buraco, cai, ás vezes dá um jeito no pé... ás vezes no pescoço” (Balaieiro).
RISCOS N
O
DE
TRABALHADORES
%
Quedas devido ao terreno acidentado do
campo.
4 28,5
Problemas de coluna 3 21,4
Acidente com o caminhão (“virada”) 3 21,4
Agrotóxico (aspersão no balaio) 1 7,1
Não apresenta risco 3 21,4
TOTAL 14 100
Quadro 17 - Riscos presentes na colheita do abacaxi relatados pelos componentes de uma turma.
Fonte: Pesquisa de Campo
Podemos citar ainda como agente de risco mecânico ou de acidente, as folhas das
plantas (devido a sua forma serrilhada) que podem atingir partes descobertas do corpo do
trabalhador. A possibilidade de ocorrer cortes na pele pelo contato com as folhas do
abacaxizeiro está presente mesmo utilizando as roupas de proteção. Esse é o risco mais
percebido e evitado pelos trabalhadores, porém os riscos químicos, por não serem percebidos,
dificilmente são evitados.
Quanto aos riscos químicos, o tratamento químico utilizando o maturador químico
Ethrel e o fungicida Benlate constitui-se em práticas nocivas a saúde dos trabalhadores e dos
consumidores. Essas práticas costumam ser encomendadas pelos compradores,
principalmente os mais distantes. O maturador Ethrel usado para promover o amarelamento
do fruto, simulando seu amadurecimento precoce é utilizado na pré ou pós colheita. Na pré-
colheita a aplicação ocorre 2 ou 3 dias antes da colheita e a manipulação do fruto
contaminado constitui-se uma fonte de contaminação para toda turma da colheita,
principalmente para os catadores e arrumadores. A aplicação do Ethrel na pós –colheita é
realizada no momento do descarregamento do balaieiro, junto ao veículo de transporte. A
pulverização do produto é feita quando ainda está na cabeça do trabalhador atingindo não
apenas o balaieiro, como também os demais que atuam no caminhão ou próximo a ele.
114
Quanto ao fungicida Benlate é preparado e aplicado pelo contador sem nenhuma
proteção, o que acarreta em risco de contaminação. O preparo da calda consiste na diluição do
produto que costuma receber algum corante para comprovar o tratamento aos compradores da
produção.
Os trabalhadores da colheita do abacaxi, não utilizam maquinários geradores de
ruídos e vibrações, uma vez que esse processo é manual, porém a exposição à radiação solar é
uma constante. Fazendo uso de vestimentas que não facilitam a transpiração, uma vez que o
vestuário é utilizado principalmente para proteção dos espinhos, o desconforto térmico é
notório nesses trabalhadores.
Na fase de colheita do abacaxi, podemos citar a exposição dos trabalhadores aos
animais peçonhentos e a precária higienização corpórea como situação de riscos biológicos.
Os trabalhadores rurais da colheita do abacaxi encontram-se expostos a muitos
riscos ergonômicos como posturas inadequadas por longos períodos, manuseio e transporte
das cargas representadas pelos balaios, um ritmo intenso, repetitividade dos movimentos de
corte do fruto pelos catadores e da contagem dos mesmos, entre outros conforme as Figuras
21 e 22.
Figura 21 - Postura inadequada dos arrumadores
Fonte: Pesquisa de Campo
Figura 22 - Postura inadequada do catador e balaieiro.
Fonte: Pesquisa de Campo
115
A atividade dos balaieiros requer grande força e equilíbrio durante a sustentação
dessa carga elevada (próximo dos 80kg/balaio) e seu transporte. A atividade de colheita exige
ainda uma atenção cognitiva bem elevada, tanto por parte dos catadores ao selecionar os
frutos, como pelos arrumadores ao arrumar a carga nos veículos.
5.7 DOR NAS COSTAS
“Agente carregando um peso desse pode correr o risco de ofender a espinha
(coluna) da gente, ofender os ossos” (Balaieiro).
A dor nas costas foi sintoma presente em 4 trabalhadores (28,5%) principalmente
nos balaieiros onde os mesmos associam a dor nas costas com o transporte do balaio muito
cheio, o tempo de permanência com o balaio na cabeça no momento do descarregamento e a
distância percorrida com o mesmo no campo.
“A pessoa trazer balaio muito cheio, a pessoa sente quando demora pra
descarregar e dependendo do tombo (desequilíbrio) e da distância a coluna pode prejudicar
(Balaieiro).
Os efeitos dos riscos biomecânicos pela manutenção de posturas inadequadas e o
transporte das elevadas cargas são sentidos ao final do dia onde todos os trabalhadores
relataram sentir-se cansados fisicamente no fim da jornada de trabalho.
A dor nas costas não foi citada como motivo de faltas ao trabalho. Percebe-se que
esses trabalhadores não se permitem o direito de adoecerem por qualquer que seja o motivo e
116
mesmo doentes, vão para o campo, pois sem trabalho, não há dinheiro e conseqüentemente
não há alimento para si e sua família, relataram os trabalhadores.
5.8 ANÁLISE BIOMECÂNICA
A partir das informações de campo, observa-se que no transcurso da atividade
realizada, a tarefa desenvolvida pelos trabalhadores é submetida a uma considerável exigência
física. O software WinOWAS foi utilizado nesse estudo para análise das posturas dos
catadores,arrumadores/contadores e balaieiros.
No tocante ao catador, percebe-se pelas Figuras 19 e 20 p.111, que o mesmo
apresenta duas posições freqüentes durante a realização de sua atividade. A primeira postura
adotada é no momento em que é realizado o corte ou catação do fruto onde apresenta-se com
as costas inclinadas, os braços abaixo do ombro, pernas em apoio bilateral com uma carga
menor que 10KG correspondendo ao código 2141. A segunda postura adotada pelo catador
ocorre no momento do lançamento do fruto ao balaio, onde apresenta-se com as costas
inclinada, um braço acima do ombro, caminhando e carga menor que 10kg correspondendo ao
código 2271. O Gráfico 3 apresenta a classificação das posturas do catador conforme
visualizado no software WinOWAS.
117
Gráfico 3 - Classificação das posturas do cortador.
Fonte: Dados da Pesquisa
Analisando a postura do balaieiro verificou-se uma postura básica presente em
toda jornada de trabalho diferenciada apenas pelo valor da carga transportada pelo trabalhador
durante as 4 etapas de sua atividade. Em 26% do tempo de jornada de trabalho, o balaieiro
apresenta uma postura ereta da coluna, com ambos os braços acima do ombro, caminhando e
com carga menor que 10kg (1271). Durante 10% do tempo da jornada, apresenta a coluna
ereta, ambos os braços acima do ombro e caminhando, porém com a carga entre 10 e 20kg
(1272). 64% do tempo da jornada apresenta a mesma postura da coluna, braços e pernas já
descrita e carga acima de 20kg (1273). O Gráfico 4 apresenta a representação gráfica no
WinOWAS da postura do balaieiro.
118
Gráfico 4 - Classificação das posturas do balaieiro.
Fonte: Dados da Pesquisa
Para o arrumador também foram verificadas três posições assumidas durante a
realização de sua tarefa. A primeira, como pode ser visualizada na Figura 25; p.124 ocorre na
maior parte da jornada de trabalho (50%) tendo como código 4141 apresentando as costas
inclinada e rodada, ambos os braços abaixo do ombro, estando parado com joelhos fletidos e
carga menor que 10kg. A segunda postura tem como código 2121, onde o arrumador está com
as costas inclinada, ambos os ombros abaixo dos ombros, pernas fixa e carga menor do que
10kg e ocorre 25% da jornada de trabalho. A terceira postura é adotada em períodos de
pausa, quando o arrumador aguarda a chegada do balaieiro para descarregar junto ao
caminhão. Ocorre numa freqüência de 25% onde o mesmo apresenta-se com a coluna ereta,
ambos os braços abaixo do ombro, pernas fixas e carga abaixo de 10kg (1121). Os resultados
do WinOWAS para a postura do arrumador são apresentados no Gráfico 5.
119
Gráfico 5 - Classificação das posturas do arrumador
Fonte: Dados da Pesquisa
A classificação das categorias é apresentada no Quadro 18 com suas respectivas
ações.
CATEGORIA
1
Não são necessárias medidas corretivas
2 São necessárias correções futuras
3 São necessárias correções logo que possível
4 São necessárias correções imediatas
Quadro 18 - Classificação das categorias do WinOWAS
Fonte: Adaptado de Freitas (2000)
Diante dos resultados obtidos, nota-se que para a atividade do balaieiro as
demandas das costas enquadram-se na categoria 1, não havendo necessidades de correções
120
futuras, já para o catador e o arrumador enquadram-se na categoria 3, necessitando de
correções logo que possível.
No que se diz respeito a postura dos braços, o catador está enquadrado na categoria
2, onde correções futuras são necessárias, o balaieiro na categoria 3 e o arrumador na
categoria 1.
Em relação às pernas, o catador enquadra-se na categoria 1, não havendo nenhum
desconforto ao trabalhador. Já o balaieiro encontra-se enquadrado na categoria 2 e o
arrumador na categoria 3.
As correções das categorias 2 e 3 são necessárias para evitar a exposição contínua
dos trabalhadores a posturas inadequadas evitando que os mesmos adquiram problemas de
saúde ocupacional a longo prazo.
A análise quantitativa das forças de cisalhamento, axial e a pressão intradiscal
sobre a coluna vertebral do balaieiro foi realizada através do software HARSim.
Não houve necessidade de se utilizar medidas antropométricas específicas
(comprimento de membro superior e inferior, por exemplo) como variáveis de entrada uma
vez que considerou-se as forças externas cujos os trabalhadores estariam submetidos como
axiais, ou seja, a antropometria específica seria necessária se essa força externa não fosse
axial, ocasionando assim a existência de momentos fletores. Quando isso ocorre a
antropometria torna-se uma variável essencial para o estudo realizado.
As medidas antropométricas mais inerentes ao estudo como peso e estatura foram
mensuradas. Estas medidas relacionadas no quadro 12, aproximam-se das medidas
antropométricas adotadas para a análise do HARSim, um tipo de padrão mediano masculino
de 1,70m com 90kg.
121
Indivíduos Altura (m) Peso (kg)
A 1,74 98
B 1,85 81
C 1,65 77
D 1,63 75
E 1,68 85
F 1,71 90
Média 1,71 84,3
Quadro 19 - Medidas antropométricas dos balaieiros
Fonte: Pesquisa de Campo
No tocante a análise estática, faz-se notório a análise da atividade do balaieiro
devido à elevada carga (de 80 a 100kg) transportada sobre sua cabeça. A situação analisada é
a do momento que o balaio está cheio (Figura 23).
Figura 23 - Ilustração do software HARSim do balaieiro com um balaio cheio de abacaxi
sobre a cabeça.
Fonte: Dados da Pesquisa
Os Gráficos 6, 7 e 8, apresentam os resultados fornecidos pelo HARSim no cálculo
das forças axiais, de cisalhamento e da pressão intradiscal da coluna
vertebral,respectivamente, para a situação de trabalho de um balaieiro com suas respectivas
122
características, em relação com perfil antropométrico masculino de 1,70m e 90kg e carga de
100Kg, próxima a situação de maior gravidade dentre as observadas.
Gráfico 6 - Força axial sobra a coluna vertebral de um balaieiro submetido a uma carga de 1000N – Perfil
antropométrico: 1,70m e 90kg.
Fonte: Dados da Pesquisa
De acordo com Santos (2002) o limite da força axial, que a coluna vertebral de
uma pessoa pode suportar sem correr risco à saúde é de 750N. De acordo com o gráfico 6, a
força imposta em todas as cervicais, dorsais e lombares, principalmente, ultrapassam a faixa
do risco de lesão, ocasionando a exposição do trabalhador a comprometimentos fisiológicos.
No que se diz respeito a força de cisalhamento, segundo Santos (2002), a partir de
500N há elevado risco de lesão. De acordo com o gráfico 7, a situação analisada indica que as
vértebras que estão expostas a sofrerem lesão são as T11 e T12 e as L1 e L5.
Já para o perfil antropométrico de menor porte com apenas as vértebras D9 e C3
apresentaram-se sob risco de lesão.
Risco de Lesão
123
Gráfico 7 - Forca de cisalhamento sobre a coluna vertebral de um balaieiro submetido a uma cargade1000N.
Perfil antropométrico: 1,70m e 90 kg.
Fonte: Dados da Pesquisa
No tocante a pressão intradiscal (PID), segundo Santos (2002), o limite que a
coluna vertebral pode suportar uma PID sem correr risco de lesão é de 2 MPa. Observamos na
Figura 33 que da vértebra C3 até a vértebra T9 este valor é ultrapassado sendo o ponto crítico
em C5 e C6. Resultado semelhante também ocorreu para o caso do perfil antropométrico
menor.
Risco de Lesão
124
Gráfico 8 - Pressão intradiscal da coluna vertebral de um balaieiro submetido a uma cargade1000N.–
Perfil antropométrico: 1,70m e 90 kg.
Fonte: Dados da Pesquisa
A análise com o HarSIM foi realizada também para as cargas médias quando o
balaio cheio pesa 83,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg pesos correspondentes quando o tipo de fruto
colhido é do Tipo A, B e C, respectivamente, conforme observado na pesquisa de campo.
Quanto à força de cisalhamento (limite de 500N), as vértebras cervicais
encontram-se livres de risco de lesão para todas as cargas conforme o gráfico 9.
Ri
sco
de
L
esão
125
__________________________________________________________________
Gráfico 9 - Força de cisalhamento da coluna cervical para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg.
Fonte: Dados da Pesquisa
No segmento torácico, as vértebras que se encontram em risco de lesão são T6 e
T12 e L5 no segmento lombar para a carga 80,3Kg (803N) sendo que o ponto crítico localiza-se
na vértebra L5 com 543,1N. Para as cargas de 54,9Kg (549N) e 52,5Kg (525N) a coluna
vertebral, em todos os segmentos, encontra-se livre de risco de lesão conforme apresentado nos
gráficos 10 e 11.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
80,3 54,9 52,5
PESO do BALAIO em KG
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7
F
O
R
Ç
A
E
M
N
E
W
T
O
N
Limite de Segurança
126
___________________________________________________________________________
_
______________________________________________________________________
Gráfico 10 - Força de cisalhamento na coluna torácica para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg.
Fonte: Dados da Pesquisa
________________________________________________________________________
Gráfico 11 - Força de cisalhamento na coluna lombar para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg.
Fonte: Dados da Pesquisa
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
80,3 54,9 52,5
PESO do BALAIO em KG
L1 L2 L3 L4 L5
Limite de Segurança
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
80,3 54,9 52,5
Limite de Segurança
PESO do BALAIO em KG
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8
T9 T10 T11 T12
127
Quanto a força axial, O limite de segurança no segmento cervical esteve
ultrapassado apenas para a carga de 80,3Kg sendo o ponto crítico C7 apresentando uma
carga de 819,5N (Gráfico 12) .
________________________________________________________________________
Gráfico 12 - Força axial no segmento cervical para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg.
Fonte: Dados da Pesquisa
Na coluna torácica a maioria das vértebras encontra-se acima do limite de
segurança para os três tipos de cargas com exceção das vértebras T1 e T2 para a carga de
52,5Kg e T1 para a carga de 54,9Kg que encontram-se fora de risco de lesão (Gráfico 13). O
ponto crítico para o segmento torácico encontra-se na vértebra T6 com 1105,3N para carga
de 80,3Kg, T8 com 867,1N para a carga de 54,9Kg e novamente T8 com 844,1N para a
carga de 52,5Kg.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
700
750
800
850
900
80,3 54,9 52,5
PESO do BALAIO EM KG
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7
Limite de Segurança
128
______________________________________________________
Gráfico 13- Força axial no segmento torácico para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg.
Fonte: Dados da Pesquisa
No segmento lombar, a força axial esteve acima do limite de segurança em todas
as vértebras para todas as cargas sendo o ponto crítico na vértebra L3 apresentando 1215N,
960,9N e 936,9N para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg respectivamente (Gráfico 14).
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
700
750
800
850
900
950
1000
1050
1100
1150
80,3 54,9 52,5
Limite de Segurança
PESO DO BALAIO EM KG
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8
T9 T10 T11 T12
129
_________________________________________________________________________
Gráfico 14 - Força axial no segmento lombar para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg.
Fonte: Dados da Pesquisa
Quanto a pressão intradiscal, no segmento cervical de C3 a C7 o limite de
segurança de 2MPa foi ultrapassado quando a carga foi de 80,3Kg. Para as demais cargas, o
limite de segurança esteve acima de C4 a C7 (Gráfico 15). O ponto crítico para todas as
cargas foi no disco intervertebral de C5/C6 apresentando os valores de 3,87MPa, 2,70MPa e
2,59MPa, respectivamente.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
700
750
800
850
900
950
1000
1050
1100
1150
1200
1250
80,3 54,9 52,5
PESO do BALAIO em KG
L1 L2 L3 L4 L5
130
________________________________________________________________________________________
Gráfico 15 - Pressão intradiscal de C1 a C7.
Fonte: Dados da Pesquisa
No segmento torácico, o limite foi ultrapassado das vértebras T1 a T10 para a
carga de 80,3Kg sendo o ponto crítico entre o disco intervertebral de T1/T2 com 3,96MPa
de pressão. Para as cargas de 54,9Kg e 52,5Kg de T1 a T6 as vértebras estiveram acima do
limite de segurança apresentando com valores do ponto crítico também entre T1 e T2
2,58MPa e 2,49MPa de pressão intradiscal, respectivamente conforme gráfico 16.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
80,3 54,9 52,5
PESO do BALAIO em KG
C7/C6 C6/C5 C5/C4 C4/C3 C3/C2 C2/C1
S
T
R
E
S
S
M
p
a
Limite de Segurança
131
______________________________________________________________________
Gráfico 16 - Pressão intradiscal de T1 a T12.
Fonte: Dados da Pesquisa
No segmento lombar o limite de segurança não foi ultrapassado em nenhum disco
intervertebral em todas as respectivas cargas como visualizado no gráfico 17.
Os valores das forças de cisalhamento, axial e pressão intradiscal de cada vértebra
para cada uma das cargas médias analaisadas podem ser verificados no Apêndice 4 desse
estudo.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
80,3 54,9 52,5
T12 / T11 T11/T10 T10/T9 T9/T8 T8/T7 T7/T6 T6/T5 T5/T4 T4/T3 T3/T2 T2/T1 T1/C7
Limite de Segurança
S
T
R
E
S
S
M
p
a
132
_________________________________________________________________________
Gráfico 17 - Pressão intradiscal de L1 a L5.
Fonte: Dados da Pesquisa
Finalizando, neste capítulo pode-se observar em detalhes o quadro de riscos que os
trabalhadores da colheita do abacaxi estão submetidos, notadamente o balaieiro devido as
elevadas cargas que suportam ao longo da jornada de trabalho. No próximo capítulo serão
apresentadas as conclusões e sugestões desse trabalho.
PRESSÃO INTRADISCAL DE T12 A S1
0
0,5
1
1,5
2
2,5
80,3 54,9 52,5
PESO do BALAIO em KG
S
T
R
E
S
S
M
p
a
S1 / L5 L5 / L4 L4 / L3 L3 / L2 L2 / L1 L1 / T12
Limite de Segurança
CAPITULO 6 - CONCLUSÕES E SUJESTÕES
6.1 CONCLUSÕES
135
6.1 CONCLUSÕES
Apesar da mecanização e inovações tecnológicas que pouco a pouco foram
incorporadas à realidade dos diversos setores de trabalho gerando conseqüentemente maior
produtividade em vários aspectos, ainda encontramos alguns setores que se caracterizam
pela utilização do trabalho fisicamente pesado a exemplo do setor agrícola. Essa é uma
realidade que provavelmente fará parte da nossa economia por muito tempo e, portanto se
faz necessário conhecer as características físicas do corpo humano e os processos de
trabalhos que ainda utilizam-se do trabalho físico propriamente dito para que, dessa forma,
ajustes sejam feitos buscando o máximo de melhorias nesses processos, diminuindo os
riscos de lesões e comprometimentos músculo-esqueléticos.
Esse trabalho teve como objetivo fazer um estudo dos riscos ergonômicos que
os trabalhadores rurais da colheita do abacaxi da região do município de Santa Rita/PB
estão expostos e propôs melhorias para que os mesmos sejam eliminados ou pelo menos
controlados ou minimizados.
Na avaliação ergonômica do trabalho constatou-se que a colheita do abacaxi é
uma atividade agrícola, caracteristicamente pesada, realizada por indivíduos do sexo
masculino, residentes principalmente no município de Sapé, que realizam a colheita em
toda região do Baixo-Paraíba, com média de idade 35,4 anos, nível baixo de escolaridade e
ausência de direitos sociais.
A maioria dos trabalhadores nunca trabalhou em outra atividade nem mesmo em
outra cultura agrícola apresentando como média de tempo de serviço na colheita do abacaxi
16 anos.
A atividade da colheita caracteriza-se pela presença de movimentos repetitivos
no corte, contagem e arrumação dos frutos, posturas inadequadas adotadas pelos
136
trabalhadores ao longo da jornada, sustentação (trabalho estático) e transporte de cargas
excessivas (balaios com fruto), em um ambiente de desconforto térmico (ambiente ao céu
aberto), realizado ao longo de um período com pausas de trabalho escassas.
O resultado de péssimas condições de trabalho geradoras de riscos biomecânicos
reflete-se na presença de dor nas costas 42,8% (6) dos trabalhadores.
Quantos aos riscos presentes no ambiente de trabalho, 28,5% dos trabalhadores
destacarem ser as quedas nos terrenos acidentados como conseqüência de desequilíbrio ao
transportar o balaio o maior risco de acidente presente no processo de colheita.
Apesar do alto índice de inadimplência a COPAGRO tem buscado cumprir o
seu papel econômico e social no processo produtivo da cultura do abacaxi no município de
Santa Rita/PB, proporcionando uma melhor organização da cadeia produtiva do abacaxi,
garantido o mercado para os produtores através das intermediações com a Bolsa de
Pernambuco, podendo negociar os valores do produto sem intervenientes, bem como a
facilitação do acesso ao crédito rural do pequeno e médio produtor junto ao
PRONAF/BNB.
Na avaliação das características posturais a partir das observações sistemáticas e
do uso do software WinOWAS, empregado como ferramenta de análise de posturas,
possibilitou avaliar que as posturas dos catadores, balaieiros e arrumadores, praticamente
não variam ao longo do tempo.
Segundo a análise do softaware WinOWAS, a postura das costas do balaieiro se
enquadra na categoria 1, não havendo necessidades de correções futuras, enquanto o
cortador e o arrumador enquadram-se na categoria 3, necessitando de correções logo que
possível.
137
No que se diz respeito aos braços, os arrumadores estão enquadrados na
categoria 1, os catadores na categoria 2, onde correções futuras são necessárias e os
balaieiros na categoria 3, necessitando de correções logo que possível.
Em relação as pernas, o cortador enquadra-se na categoria 1, não havendo
nenhum desconforto ao trabalhador. Já para o balaieiro e o arrumador, ambos enquadram-se
na categoria 3, exigindo correções logo que possível.
As correções das categorias 2 e 3 são necessárias para evitar a exposição
contínua dos trabalhadores a posturas inadequadas prevenindo que os mesmos não
adquiram problemas de saúde ocupacional a longo prazo.
De acordo com os resultados apresentados pelo software HARSim, o balaieiro
está exposto a um alto grau de risco de lesão da coluna vertebral, por estar exposto a uma
elevada carga axial, variável ao longo do ciclo operacional, podendo chegar até 1000N
(balaio cheio com 100kg), a distâncias e períodos de tempo tamm variáveis.
Para a carga máxima de 100Kg (1000N), as forças axiais (750N) imposta em
todas as cervicais, dorsais e lombares, principalmente, ultrapassam a faixa do risco de lesão,
ocasionando a exposição do trabalhador a comprometimentos fisiológicos.
Em relação a força de cisalhamento (500N), as vértebras que estão expostas a
sofrerem lesão são as T-11 e T-12 e as L1 e L5 p/ o perfil de maior porte. Já, para o perfil
antropométrico de menor porte, apenas as vértebras T9 e C3 apresentaram-se sob risco de
lesão.
O ponto crítico de pressão intradiscal (2MPa) da coluna dos balaieiros encontra-
se entre as vértebras C3 e D9 sendo o valor ultrapassado em C5 e C6.
As médias das cargas correspondente ao peso do balaio cheio e conforme o tipo
de fruto colhido foram 80,3Kg para o fruto Tipo A, 54,9Kg para o fruto Tipo B e 52,5Kg
para o fruto Tipo C.
138
As forças axiais encontraram-se acima do limite de segurança em todos os
segmentos vertebrais lombares e a maioria dos segmentos torácicos. Quanto à força de
cisalhamento, o limitefoi ultrapassado em T6, T12 e L5 para a carga de 803N. As pressões
intervertebrais para a carga de 803N estiveram acima do limite de segurança entre T10 – T6
e C7-C3, enquanto que, para as cargas de 549N e 525N encontraram-se acima dos limites
de segurança entre C7-C4.
A geometria do campo, largura do talhão, qualidade do roçado quanto a
presença dos tipos de fruto segundo a categoria especificada pelo cliente e o peso do balaio
interferem no tempo de cada fase da atividade do balaieiro.
Os balaieiros encontram-se a maior parte da jornada de trabalho sobre condições
inseguras. A cronoanálise realizada pode estimar o tempo inseguro é maior que o tempo de
segurança durante os ciclos de atividade, independente do tipo de abacaxi colhido.
Observamos assim, que esse processo produtivo contribui para geração de riscos
ergonômicos que conseqüentemente contribuirão para geração de distúrbios ósteo-
musculares, fadiga muscular, entre outros problemas nos trabalhadores rurais desse ramo de
atividade agrícola.
Conforme Couto, (2002) A diminuição do peso dos objetos manuseados deve
ser uma prioridade constante em qualquer trabalho de ergonomia, reduzindo-se o esforço
humano no trabalho, onde deve-se adotar o peso máximo de materiais e caixas de até 25kg,
evitando-se materiais que pesem entre 25 e 70Kg para transporte manual individual.
Acima de 70kg a movimentação é feita por equipamento mecânico. Segundo o
autor, o ideal é que se aumente o número de carga manuseada, porém com redução de peso
e sempre que possível, criar facilidades mecânicas no trabalho.
De acordo com essa afirmativa o ideal na atividade da colheita do abacaxi seria
a mudança do sistema manual para o mecanizado ou pelo menos semi-mecanizado como
139
ocorre no Havaí (CUNHA, 1999). Porém entramos em um dilema que já se tornou comum
para a ergonomia: Sistemas mecanizados eliminam postos de trabalho, principalmente de
mão-de-obra com baixa qualificação como ocorre na colheita do abacaxi.
Por último, verificamos que a urgência de se reprojetar as tarefas da colheita que
mesmo para as leis brasileiras encontra-se acima do limite permitido de acordo com o
artigo 198 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) afirma que: É de 60 kg o peso
máximo que um empregado pode remover individualmente, ressalvadas as disposições
especiais relativas ao trabalho do menor e da mulher. Além disso, a NR17, no art. 17.2.1,
ao tratar do tema transporte e manuseio de cargas descreve queNão deverá ser exigido
nem admitido o transporte manual de cargas, por um trabalhador, cujo peso seja
susceptível de comprometer sua saúde ou sua segurança”.
6.2 SUGESTÕES
Para a melhoria das condições da atividade sugere-se:
Desenvolvimento de uma cartilha informativa ou realização de palestras
educativas, explorando o aspecto visual, uma vez que essa é uma classe de
trabalhadores de baixo nível de escolaridade no sentido de corrigir posturas
inadequadas de trabalho desses trabalhadores.
Orientar os catadores a realizarem a colocação do fruto no balaio evitando os
movimentos de inclinação lateral e rotação do tronco;
Reduzir as dimensões do balaio para que diminua a sobrecarga na coluna
desses trabalhadores, bem como minimizar o risco de quedas no transportes
de balaios excessivamente pesados;
140
Orientar os contadores a evitarem a flexão do tronco utilizando um banco
para assento que os mantenha no nível do balaio a descarregar ou uma
plataforma da madeira localizada próximo ao caminhão que eleve o balaieiro
o mais próximo do contador evitando assim a flexão de tronco do mesmo.
A mesma recomendação anterior se aplica ao arrumador enquanto a carga
se mantém baixa. A medida que a carga for se elevando, manter o tronco
ereto e evitar elevar os braços acima do ombro, ficando na ponta dos dedos
para arrumá-la no nível mais superior do caminhão. Pode-se utilizar uma
plataforma improvisada de madeira que eleve o trabalhador ao nível mais
alto de arrumação da carga.
Adotar pausas de descanso mais regulares ao longo da jornada de trabalho
para que haja tempo de recuperação das estruturas ósteo-mio-articulares
minimizando assim os efeitos da fadiga física;
Orientar o trabalhador quanto a reposição hídrica adequada ao longo da
jornada de trabalho;
Conscientizar os motoristas do caminhão a estacionarem os mesmos o mais
próximo do campo de colheita para evitar excessos de deslocamentos.
Redimensionar as quadras de cultivo para reduzir os deslocamentos.
Por último, ao longo da realização desse trabalho sentiu-se a necessidade da
realização de outros estudos como:
O redesenho da atividade da colheita do abacaxi;
O aprofundamento dos estudos das demais fases da colheita do abacaxi;
E a aplicação de metodologia semelhante em outras situações de trabalho
agrícola.
141
REFERÊNCIAS
ADISSI, Paulo José; ALMEIDA, Carmen Verônica Barbosa Riscos na produção do
abacaxi. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DA PRODUÇÃO, 20, 2002,
Curitiba. Anais... Curitiba, 2002. CD ROOM.
ADISSI, Paulo José et al. Processo de trabalho agrícola do abacaxi na Paraíba. João
Pessoa, 2001. CD ROOM.
ADISSI, Paulo José. Processo de trabalho agrícola canavieiro: proposição de uma
taxonomia das unidades produtivas e análise dos riscos associados. Rio de Janeiro:
COPPE/UFRJ, 1997. Tese (Doutorado).
BRASIL. Ministério do Trabalho. Manual de aplicação da norma regulamentadora n.
17. Brasília: Secretaria de Inspeção do Trabalho, 2002.
ARAÚJO, Nelma Miriam Chagas de. Proposta de sistema de gestão da segurança e
saúde no trabalho, baseado na OHSAS 18001, para empresas construtoras de
edificações verticais. João Pessoa, 2002. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção)
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção/ Centro de Tecnologia /UFPB.
CALLIET, René. Doenças dos tecidos moles. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
CARTAXO, Cristiana. Estudo ergonômico do posto de trabalho do armador de laje:
uma avaliação quantitativa dos esforços físicos na coluna vertebral decorrentes da postura
de trabalho. João Pessoa, 1997. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção)
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção/ Centro de Tecnologia /UFPB.
CARTAXO, Cristiana; MÁSCULO, Francisco Soares. Estudo ergonômico do posto de
trabalho do armador de laje: uma avaliação quantitativa dos esforços físicos na coluna
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APÊNDICE A – Formulário da Pesquisa
148
FORMULÁRIO– PESQUISA
ANÁLISE DOS RISCOS ERGONÔMICOS DOS TRABALHADORES RURAIS DA
COLHEITA DO ABACAXI DA REGIÃO DO BAIXO-PARAÍBA/PB
Pesquisadora: Sânzia Bezerra Ribeiro
Nome: ________________________________________________Idade: ______________
Sexo: Masc. ( ) Fem ( ) Estado Civil: ____________ Profissão: ___________________
Grau de Instrução: ____________________ Tempo de Serviço:______________________
Carga Horária de Trabalho: Dias da Semana: _______________Horário: ______________
Vinculo Empregatício: ______________________
Peso: _______kg Estatura: _________m
1) Tem outra atividade profissional? ( ) SIM ( ) NÃO Qual? ____________________
2) Recebeu algum treinamento para realizar sua atividade? ( ) SIM ( ) NÃO
3) Recebe treinamento ainda? ( ) SIM ( ) NÃO
4) Gosta do seu trabalho? ( ) SIM ( ) NÃO Por que?
_________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
5) O que mais gosta na atividade da colheita e por que?
6) O que menos gosta e por que?
_________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
7) O que é mais fácil na realização de sua atividade e por que?
_________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
8) O que é mais difícil e por que?
_________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
9) Qual sua maior motivação para o trabalho?
_________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
10) Sente alguma pressão para realizar seu trabalho? ( ) SIM ( ) NÃO
Que tipo? _______________________________________________________________
11) Você bebe? ( ) sempre ( ) às vezes ( ) raramente ( ) nunca ( )
12) Você fuma? ( ) sempre ( ) às vezes ( ) raramente ( ) nunca ( )
13) Sente-se cansado fisicamente quando?
( ) Inicio da jornada trabalho ( ) durante a jornada de trabalho ( ) final da jornada de
trabalho ( ) não se sente cansado fisicamente
149
14) Tem dificuldade pra durmir? ( ) sempre ( ) às vezes ( ) raramente ( ) nunca ( )
15) Acha seu trabalho repetitivo? ( ) SIM ( ) NÃO
16)Você recebe algum tipo de equipamento de proteção para realizar seu trabalho?
( ) SIM ( ) NÃO
16) Se sim, qual (ais)?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________
17) Recebeu algum treinamento sobre segurança, de como deve usar corretamente esse
equipamento? ( ) SIM ( ) NÃO
18) Considera importante utilizar esses equipamentos? ( ) SIM ( ) NÃO
19) Acha que seu trabalho pode trazer riscos a sua saúde? ( ) SIM ( ) NÃO
20) Que tipo de riscos?
_________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
21) Já sofreu algum acidente no trabalho? ( ) SIM ( ) NÃO O que?
________________________________________________________________________
22) È melhor trabalhar com chuva ou sol? Por que?
23) Existe diferença no tipo de fruto quanto às facilidades e dificuldades para realizar o
trabalho?
24) ) Você sente dor nas costas ( ) SIM ( )NÃO
O que acha que poderia ser melhorado para realizar melhor sua atividade?
APÊNDICE B – Roteiro de Entrevista
151
ROTEIRO DE ENTREVISTA – PRESIDENTE DA COPAGRO
1. Quem são os produtores rurais da colheita do abacaxi?
2. Quem são os trabalhadores rurais da colheita do abacaxi?
3. Qual a relação dos produtores com o BNB? O que o crédito rural cobre? Quanto
é financiado?
4. Como são liberados os recursos? Existe fiscalização? E quanto á assistência?
Como esta é realizada?
5. Como os produtores pagam o financiamento? Eles têm conseguido (existe
inadimplência?)
6. Como se poderia melhorar o PRONAF?
7. Ainda se realizam arrendamentos?
8. Qual é o processo de colheita?
9. Os esforços dependem do tipo de talhão e do abacaxi, quantidade de fruto (tipo)
na área?
10. Dados gerais de produtividade e ganhos
11. Qual a composição da turma (origem, moradia, faixa etária, sexo,
arregimentação, etc)?
12. Como é feita a contratação do serviço?
13. Qual a forma de pagamentos e divisão dos ganhos?
14. Quais as oportunidades de trabalho e condições de vida?
15. De quanto é o volume de abacaxi comercializado pela cooperativa? O que isso
representa em reais?
16. Quantos cooperados vendem através da Cooperativa? (%)
17. Como é o processo de comercialização da bolsa?
18. Como é o processo de aquisição de insumos agrícolas através da COAGRO?
19. Quais os riscos dessas operações?
20. Qual é a relação da cooperativa/bolsa com os bancos que fornecem crédito?
APÊNDICE C – Roteiro da Organização do Trabalho do
Balaieiro na Colheita do Abacaxi
153
Organização do Trabalho do Balaieiro na Colheita do Abacaxi
Dia - Local - Pesquisador
Chefe de turma -
Composição: __Balaieiros __Facões __Contadores __Arrumadores
Nº e composição dos frutos na área –
Composição do caminhão –
Tipo de colheita - comum sangrada
Aplicação de fungicida: sim não produto: _____________
Aplicação de maturador: sim não produto: _____________
Croqui da área de colheita
Tempo (min)
Atividade C
1
C
2
C
3
C
4
C
5
C
6
C
7
C
8
C
9
C
10
Deslocamento caminhão campo (balaio vazio)
Enchimento do balaio
Deslocamento campo caminhão
Descarregamento do balaio
Peso do balaio (Kg)
Tempo (min)
Atividade C
1
C
2
C
3
C
4
C
5
C
6
C
7
C
8
C
9
C
10
Deslocamento caminhão campo (balaio vazio)
Enchimento do balaio
Deslocamento campo caminhão
Descarregamento do balaio
Peso do balaio (Kg)
Observações:
APÊNDICE D – Quadros das forças de cisalhamento, axiais e
pressões intradiscais nos três segmentos da coluna vertebral
para as cargas de 803N, 549N e 525N.
155
Força de Cisalhamento em cada vértebra da coluna cervical
PESO T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12
80,3 367,987 327,01 275,588 230,584 131,768 506,182 63,4731 154,889 295,675 368,79 439,485 523,055*
54,9 279,134 248,474 210,149 176,934 100,923 38,9638 48,5451 123,918 229,95 288,077 343,648 410,717
52,5 270,463 241,174 203,782 171,377 97,8404 38,0144 47,3622 120,275 223,724 280,434 334,652 400,086
Força de Cisalhamento em cada vértebra da coluna torácica
PESO L1 L2 L3 L4 L5
80,3 473,24 267,554 1,60691 217,739 543,142*
54,9 372,392 210,788 1,27752 172,462 431,796
52,5 362,695 205,029 1,24638 168,261 421,275
Força de Cisalhamento em cada vértebra da coluna lombar
Força Axial em cada vértebra da coluna cervical
PESO T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12
80,3 979,547 1006,51 1033,41 1056,83 1085,59 1105,36 1016,14* 1017,94 1003,56 1092,78 1080,2 1055,04
54,9 742,073 764,818 788,958 808,888 834,476 851,536 862,908 867,173* 858,644 852,957 844,428 827,368
52,5 719,382 341,559 765,123 785,914 810,864 827,497 838,586 844,13* 843,428 830,269 823,339 806,706
Força Axial em cada vértebra da coluna torácica
_________________________________________________________________________
* Ponto Crítico
PESO C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7
80,3 88,3811 89,7845 181,583 245,86 271,571 287,64 305,716
54,9 60,0426 61,3201 125,834 171,185 190,348 202,484 216,537
52,5 57,3332 58,5796 120,275 164,521 183,217 194,434 208,145
PESO C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7
80,3 798,016 808,8 805,206 801,611 808,206 812,395 819,584*
54,9 544,471 557,265 558,687 558,687 564,373 572,903 581,432*
52,5 521,171 533,646 535,032 535,032 541,962 550,279 558,595*
156
Força Axial em cada vértebra da coluna lombar.
Pressão Intradiscal de C1 a C7.
PESO T12 / T11 T11/T10 T10/T9 T9/T8 T8/T7 T7/T6 T6/T5 T5/T4 T4/T3 T3/T2 T2/T1 T1/C7
80,3 1,07829 1,654809 2,211079 2,633586 2,880681 2,965917 3,025829 3,11281 3,177681 3,451623 3,969998* 3,569003
54,9 0,397951 0,667055 1,086442 1,489035 1,796369 1,976015 2,039234 2,081375 2,132414 2,150726 2,586109* 2,506406
52,5 0,641464 1,048047 1,433816 1,735784 1,909656 1,97096 2,012006 2,061265 2,077954 2,2179 2,494696* 2,406004
Pressão Intradiscal de T1 a T12.
PESO S1 / L5 L5 / L4 L4 / L3 L3 / L2 L2 / L1 L1 / T12
80,3 0,487557 0,251512 0,187066 0,39539 0,537652 0,703634
54,9 0,306901 0,265771 0,227026 0,381061 0,533822 0,397951
52,5 0,296117 0,262852 0,225358 0,375378 0,526799 0,380761
Pressão Intradiscal de T1 a T12.
_________________________________________________________________________
* Ponto Crítico
PESO L1 L2 L3 L4 L5
80,3 1090,98 1171,76 1215* 1206,06 1112,55
54,9 858,644 928,037 960,0* 956,734 884,232
52,5 837,2 900,96 936,0* 932,84 863,536
PESO C7/C6 C6/C5 C5/C4 C4/C3 C3/C2 C2/C1
80,3 3,831359 3,878181* 3,256883 2,0873 1,122306 0,912638
54,9 2,679891 2,703049* 2,260042 1,441208 0,77063 0,6121
52,5 2,571091 2,592012* 2,165853 1,38016 0,7374 0,596681
ANEXO A - Certidão do Comitê de Ética
158
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