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Universidade Federal do Rio de Janeiro
ATITUDE LINGÜÍSTICA E MUDANÇA: UM ESTUDO SOBRE
AS VARIANTES DE OBJETO DIRETO ANAFÓRICO
Marcia Dias Lima da Silva
2008
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ATITUDE LINGÜÍSTICA E MUDANÇA: UM ESTUDO SOBRE
AS VARIANTES DE OBJETO DIRETO ANAFÓRICO
Marcia Dias Lima da Silva
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Lingüística da Universidade
Federal do Rio de Janeiro como quesito para a
obtenção do título de Doutor em Lingüística.
Orientadora: Professora Doutora Christina Abreu
Gomes.
Rio de Janeiro
Agosto de 2008
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3
Atitude lingüística e mudança: um estudo sobre as variantes de objeto direto
anafórico
Marcia Dias Lima da Silva
Orientadora: Professora Doutora Christina Abreu Gomes
Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Lingüística da
Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do título de Doutor em Lingüística.
Examinada por:
Presidente: Profa. Doutora Christina Abreu Gomes
Profa. Doutora Claudia Roncarati - UFF
Profa. Doutora Maria Eugenia Lamoglia Duarte – UFRJ
Profa. Doutora Maria Cecília de Magalhães Mollica – UFRJ
Profa. Doutora Maria da Conceição A. de Paiva - UFRJ
Professora Doutora Helena Gryner – UFRJ, Suplente
Profa. Doutora Célia Regina dos Santos Lopes – PPG Letras Vernáculas – UFRJ,
Suplente
Rio de Janeiro
Agosto de 2008
4
In Memorian,
A meu pai, aquele que sempre acreditou que eu era capaz.
5
A Ailton,
companheiro inseparável, que me mostrou que
nenhuma estrada é longa demais.
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, luz da minha vida, por ter me permitido chegar ao fim de mais esta jornada.
À minha orientadora, Professora Christina Abreu Gomes, por ter tão sabiamente
conduzido este trabalho, sempre com amizade e paciência.
À minha mãezinha, pelas palavras de apoio, acreditando sempre que eu chegaria
lá.
À Maria e Lana, amigas incondicionais, que conseguiram me ensinar que amizade é
casa.
À Carolina, a filha que a vida, ainda que por caminhos meio tortos, generosamente,
me concedeu.
À minha prima Irany, por todos os cafezinhos que aqueceram minhas manhãs.
À minha família, pela torcida, quase organizada, em prol do meu sucesso.
À Professora Mônica Maria Rio Nobre, incentivadora de todas as horas.
À Professora Maria Cecília Mollica, cujas aulas iluminaram minhas tardes.
Às professoras que, gentilmente, aceitaram fazer parte da banca avaliadora deste
trabalho.
À Mônica Roque, minha fiel escudeira, por suas orações ao nosso Deus.
A Ezequiel, meu sobrinho postiço, responsável pelo apoio logístico para a conclusão
deste trabalho.
Aos meus primos Celso elio, companheiros na dura estrada que é a vida
acadêmica.
Aos alunos da Universidade Estácio de e do Colégio Militar do Rio de Janeiro
que, com tanto carinho, concordaram em fazer parte desta pesquisa.
A todos aqueles que, embora não mencionados, contribuíram de alguma forma para
a realização deste trabalho.
7
O tema aqui é a gramática. E o tema é o usuário. O tema
é, afinal o homem. Porque, afinal, se o homem fala de
linguagem, ele fala do homem. (Maria Helena de Moura
Neves)
8
SINOPSE
Estudo de atitude lingüística em relação às
estratégias de retomada do objeto direto.
Pressupostos teóricos da Sociolingüística
Laboviana. Considerações sobre a relação entre
atitude lingüística e escolaridade.
9
ATITUDE LINGÜÍSTICA E MUDANÇA: UM ESTUDO SOBRE AS VARIANTES DE
OBJETO DIRETO ANAFÓRICO
Marcia Dias Lima da Silva
Orientadora: Professora Doutora Christina Abreu Gomes
Resumo da tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em
Lingüística da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do título de Doutor em Lingüística.
RESUMO
Pesquisas sobre a língua portuguesa no Brasil têm indicam mudança nas
representações do objeto direto anafórico, sendo a variante padrão, o pronome
clítico, substituído por outras estratégias como o pronome lexical e a categoria
vazia. Embora tais pesquisas apontem essa mudança, pouco se sabe sobre a
atitude dos indivíduos diante dessas variantes: do pronome clítico, dotado de certo
prestígio, do pronome lexical, estigmatizado pela escola ou da variante considerada
neutra, a categoria vazia. Assim, a partir dos pressupostos da Sociolingüística e do
problema da avaliação conforme postulado por Labov (1966), o objetivo do presente
trabalho é investigar a atitude lingüística de alunos dos Ensinos Fundamental,
Médio e Superior em relação ao objeto direto anafórico. Para tanto, foram
escolhidas algumas das variáveis lingüísticas postuladas por Duarte (1986) com as
quais foram elaborados dois testes: um teste de áudio, com as variantes menos
perceptíveis e um teste escrito, com as variantes mais visíveis, ambos checando a
modalidade falada quanto a modalidade escrita. Acredita-se que essa metodologia
permitirá compreender o papel da escola no desenvolvimento da atitude lingüística
desses estudantes. Independente do tipo de teste ou da modalidade a que foi
aplicado, os informantes da série não diferenciaram significativamente as
variantes. Os alunos do Ensino Médio e os Universitários apresentaram
comportamento diferenciado para o pronome clítico e para o pronome lexical,
dependendo do tipo de teste, da modalidade avaliada e da estrutura, mantendo-se,
no entanto, neutros em relação à categoria vazia, o que aponta influência da
escolaridade no comportamento dos informantes.
Palavras chave: Sociolingüística, atitude lingüística,objeto direto anafórico.
Rio de Janeiro
Agosto de 2008
10
LINGUISTIC ATTITUDE AND CHANGE: A STUDY OF THE ANAPHORIC DIRECT
OBJEC VARIANTS
Marcia Dias Lima da Silva
Orientadora: Professora Doutora Christina Abreu Gomes
Abstract da tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em
Lingüística da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do título de Doutor em Lingüística.
ABSTRACT
Studies about Brazilian Portuguese have shown a change in the representations of
anaphoric direct object, being the standard clitic pronoun replaced by other
strategies as the lexical pronoun and empty category. Although these researches
point this linguistic change, there is a lack of information about the social evaluation
of these variants: the clitic pronoun, the prestige form, the lexical pronoun,
stigmatized by school and the empty category, a neutral variant. Hence, following
the sociolinguistic framework and the evaluation problem proposed by Labov, the
purpose of this study is to analyze the linguistic attitudes of 5
th
. graders, High Scholl
and College students in relation to the anaphoric direct object. To do that, some of
the linguistic variables proposed by Duarte(1986) were selected in order to design
two tests: an audio test, with the variants less perceptible and a written one, with the
variants more noticeable, both dealing with written and spoken language. It is
assumed that through this methodology it will be possible to measure how school
has influenced on the development of the students linguistic attitudes. The results
show that for the students of 5
th
graders there is no influence from the type of the
test, as they did not show a tendency to any of the variants. High School and
College students show different behaviours through the clitic pronoun and the lexical
pronoun, depending on the kind of test, keeping a neutral attitude towards the empty
category, what seems to point out the influence of schooling in their behaviour.
Key-words: Sociolinguistics, Linguistic attitude, anaphoric direct object.
Rio de Janeiro
Agosto de 2008
11
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS .................................................................................................i
ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................ii
INTRODUÇÃO .........................................................................................................19
CAPÍTULO 1 – O OBJETO DE ESTUDO ................................................................24
1.1 O objeto direto anafórico ....................................................................................24
1.2 Neves e Azeredo: duas gramáticas descritivas e o objeto direto Anafórico .....27
1.3 O tratamento do objeto direto anafórico em livros preparatórios.
e gramáticas pedagógicas.................................................................................29
1.4 Estudos sobre a modalidade falada da língua ...................................................32
1.4.1 O estudo pioneiro de Omena...........................................................................32
1.4.2 Os estudos de Duarte .....................................................................................33
1.4.3 O português brasileiro na Amostra NURC ......................................................41
1.5 O objeto direto anafórico na língua escrita .........................................................42
1.5.1 Estudos sobre a escrita de escolares .............................................................42
1.5.2 O clítico acusativo na escrita semiformal .......................................................46
1.6 O princípio da saliência revisto no trabalho de Bortoni, Gomes e Malvar ..........47
CAPÍTULO 2 - SUPORTE TEÓRICO ......................................................................52
2.1 O problema da avaliação ....................................................................................55
2.2 Os estudos de Labov ..........................................................................................59
2.3 Milroy e a questão da padronização lingüística .................................................65
2.4 Conceituando atitude ..........................................................................................69
2.4.1 Estudos sobre atitude lingüística no PB ..........................................................72
2.4.1.1 Santos (1972): o primeiro trabalho sobre atitude lingüística
em relação ao português brasileiro ..............................................................73
2.4.1.2 Mollica (1995): estudo sobre atitudes ...........................................................76
2.4.1.3 Pinto (2001): um estudo de atitude sobre tu e você.....................................78
12
CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA E HIPÓTESES DE TRABALHO..........................82
3.1 Objetivos .............................................................................................................83
3.2 Hipóteses ...........................................................................................................84
3.3 A elaboração dos testes ....................................................................................85
3.3.1 Os testes: o teste de áudio e o teste escrito ...................................................89
3.4 Estruturas selecionadas para a elaboração dos testes .....................................94
3.4.1 Referente [+animado] e verbo no infinitivo ......................................................94
3.4.2 Referente [+animado] e verbo no imperativo ...................................................96
3.4.3 Referente [-animado] e verbo no infinitivo........................................................97
3.4.4 Referente [+animado] e verbo flexionado ........................................................98
3.4.5 Referente. [-animado] e verbo flexionado ........................................................99
3.4.6 Referente [+ animado] e estrutura complexa .................................................100
3.4.7 Referente [- animado] e estrutura complexa ...............................................101
3.5 A composição da amostra ................................................................................102
3.6 A ficha social .....................................................................................................106
CAPÍTULO 4 - ANÁLISE DOS TESTES DE AVALIAÇÃO PARA
A FALA ESPONTÂNEA .........................................................................................108
4.1 A Ferramenta estatística – o chi-square test ..................................................108
4. 2 Análise das estruturas ....................................................................................109
4.2.1 Análise da estrutura com referente [+animado] e verbo no infinitivo ............109
4.2.2 Análise da estrutura com referente [+animado] e verbo no imperativo..........111
4.2.3 Análise da estrutura com referente [–animado] e verbo no infinitivo.............112
4.2.4 Análise da estrutura com referente [+animado] e verbo flexionado ..............113
4.2.5 Análise da estrutura com referente [-animado] e verbo flexionado...............114
4.2.6 Análise da estrutura com referente [+animado] em estrutura complexa ......116
4.2.7 Análise da estrutura com referente [-animado] ou oracional em
estrutura complexa(19+21) ............................................................................116
4.2.8 Análise da estrutura com referente oracional em estrutura complexa ..........117
4.3 Conclusões Parciais para o teste de áudio – fala espontânea..........................118
13
CAPÍTULO 5 - ANÁLISE DOS TESTES DE AVALIAÇÃO PARA A ESCRITA
FORMAL ................................................................................................................124
5.1 Análise da estrutura com referente [+animado] e verbo no infinitivo ...............124
5.2 Análise da estrutura com referente [+animado] e verbo no imperativo.............125
5.3 Análise da estrutura com referente [–animado] e verbo no infinitivo ................126
5.4 Análise da estrutura com referente [+animado] e verbo flexionado ................128
5.5 Análise da estrutura com referente [-animado] e verbo flexionado .................130
5.6 Análise da estrutura com referente [+animado] em estrutura complexa..........133
5.7 Análise da estrutura com referente [-animado]
ou oracional em estrutura complexa (19+21) .........................................................135
5.8 Análise da estrutura com referente oracional em estrutura complexa ............135
5.9 Conclusões preliminares para o teste de áudio – escrita formal .....................136
CAPÍTULO 6 - ANÁLISES DO TESTE ESCRITO .................................................143
6.1 Análises relativas à avaliação de uso na fala informal .....................................143
6.1.1 Análise da sentença 2: estrutura com referente [- animado] e
verbo no infinitivo ....................................................................................................144
6.1.2 Análise da sentença 3: estrutura com referente [+ animado] e
verbo flexionado ...........................................................................................145
6.1.3 Análise da sentença 4: estrutura com referente [- animado] e
verbo flexionado .................................................................................146
6.1.4 Análise da sentença 5: referente [+ animado]
em estrutura complexa .......................................................................148
6.1.5 Análise da sentença 6: referente [- animado]
em estrutura complexa........................................................................149
6.2 Análises relativas à avaliação de uso na modalidade escrita...........................150
6.2.1 Análise da sentença 2: estrutura com referente [- animado] e
verbo no infinitivo ...........................................................................................151
6.2.2 Análise da sentença 3: estrutura com referente [+animado] e
verbo flexionado.............................................................................................153
6.2.3 Análise da sentença 4: estrutura com referente [- animado] e
verbo flexionado ............................................................................................154
6.2.4 Análise da sentença 5 referente [+animado] e estrutura complexa ..............155
6.2.5 Análise da sentença 6: referente [- animado] e estrutura complexa..............156
14
6.3 Conclusões parciais para o teste escrito ..........................................................158
CONCLUSÃO .........................................................................................................168
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................174
ANEXOS .................................................................................................................179
15
i
LISTA DE QUADROS
Quadro 3.1. Distribuição dos informantes por teste................................................104
Quadro 4.1. Teste de áudio: Resumo do comportamento dos alunos do ano (Fala
informal) ..................................................................................................................119
Quadro 4.2. Teste de áudio: Resumo do comportamento dos Universitários (fala
informal) ..................................................................................................................121
Quadro 5.1 Teste de áudio: Resumo do comportamento dos alunos da 5ª série
(Escrita formal) .......................................................................................................137
Quadro 5.2 Teste de áudio: Resumo do comportamento dos alunos do 1
o
ano
(Escrita formal) .......................................................................................................138
Quadro 5.3 Teste de áudio: Resumo do comportamento dos Universitários
(*Escrita formal) .....................................................................................................140
Quadro 6.1 – Teste escrito: Resumo do comportamento dos alunos da 5ª série (Fala
informal) .................................................................................................................159
Quadro 6.2 - Teste escrito: Resumo do comportamento dos alunos do ano (Fala
informal) ..................................................................................................................160
Quadro 6.3 - Teste escrito: Resumo do comportamento dos Universitários (Fala
informal) ..................................................................................................................161
Quadro 6.4 - Teste escrito: Resumo do comportamento dos alunos da série
(Escrita formal) .......................................................................................................162
Quadro 6.5 - Teste escrito: Resumo do comportamento dos alunos da 1º ano
(Escrita formal) .......................................................................................................163
Quadro 6.6 - Teste escrito: Resumo do comportamento dos Universitários (Escrita
formal) ...................................................................................................................165
16
ii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1.1. Reprodução da tabela de Duarte (1986): distribuição dos dados
computados segundo a variante usada .................................................................35
Tabela 1.2. Adaptada de Duarte (1986) condicinamentos morfológicos no estudo
da retomada de objeto direto .................................................................................35
Tabela 4.1 – 1º ano: referente [+animado] e verbo no infinitivo ..........................110
Tabela 4.2 – Universitários: referente [–animado] e verbo no infinitivo................113
Tabela 4.3 – Universitários: referente [+animado] e verbo flexionado .................114
Tabela 4.4 – 1º ano: referente [-animado] e verbo flexionado .............................115
Tabela 4.5 – Universitários: referente [-animado] e verbo flexionado...................115
Tabela 4.6 – Universitários: referente [-animado] ou oracional
em estrutura complexa ..................................................................117
Tabela 4.7 – 1º ano: referente oracional em estrutura complexa .........................118
Tabela 4.8 – 5ª. série: referente [+animado] e verbo no infinitivo ................Anexo 4
Tabela 4.9 – 5ª. série: referente [+animado] e verbo no imperativo .............Anexo 4
Tabela 4.10 – 5ª série: referente [–animado] e verbo no infinitivo ............... Anexo 4
Tabela 4.11 – 5ª série: referente [+animado] e verbo flexionado ................Anexo 4
Tabela 4.12 – 5ª série: referente [-animado] e verbo flexionado ..................Anexo 4
Tabela 4.13 – 5ª série: referente [+animado] em estrutura complexa ..........Anexo 4
Tabela 4.14 – 5ª série: referente [-animado] ou oracional
em estrutura complexa .......................................................... Anexo 4
Tabela 4.15 – 5ª série: referente oracional em estrutura complexa ............ Anexo 4
Tabela 4.16 – 1º ano: referente [+animado] e verbo no imperativo ..............Anexo 4
Tabela 4.17 – 1º ano: referente [–animado] e verbo no infinitivo.................. Anexo 4
Tabela 4.18 – 1º ano: referente [+animado] e verbo flexionado ...................Anexo 4
Tabela 4.19 – 1º ano: referente [+animado] em estrutura complexa ............Anexo 4
Tabela 4.20 – 1º ano: referente [-animado] ou oracional
em estrutura complexa ..........................................................Anexo 4
Tabela 4.21 – Universitários referente [+animado] e verbo no infinitivo .... Anexo 4
Tabela 4.22 – Universitários: referente [+animado] e verbo no imperativo....Anexo 4
17
Tabela 4.23 – Universitários: referente [+animado] em estrutura complexa..Anexo 4
Tabela 4.24 – Universitários: referente oracional em estrutura complexa.....Anexo 4
Tabela 5.1 – Universitários: referente [+animado] e verbo no infinitivo...............125
Tabela 5.2 – Universitários: referente [+animado] e verbo no imperativo.............125
Tabela 5.3 – 1º ano: referente [–animado] e verbo no infinitivo .......................... 127
Tabela 5.4 – Universitários: referente [–animado] e verbo no infinitivo ...............128
Tabela 5.5 – 1º ano: referente [+animado] e verbo flexionado ............................129
Tabela 5.6 – Universitários: referente [+animado] e verbo flexionado .................130
Tabela 5.7 – 5ª série: referente [-animado] e verbo flexionado ...........................131
Tabela 5.8 – 1º ano: referente [-animado] e verbo flexionado .............................132
Tabela 5.9 – Universitários: referente [-animado] e verbo flexionado ..................132
Tabela 5.10 – 5ª série: referente [+animado] em estrutura complexa .................134
Tabela 5.11 – Universitários: referente [+animado] em estrutura complexa.........134
Tabela 5.12 – Universitários: referente oracional em estrutura complexa............134
Tabela 5.13 – 5ª série: referente [+animado] e verbo no infinitivo ..................... 136
Tabela 5.14 – 5ª série: referente [+animado] e verbo no imperativo ............Anexo 5
Tabela 5.15- 5ª série: referente [–animado ]e verbo no infinitivo ..................Anexo 5
Tabela 5.16 – 5ª série: referente [+animado] e verbo flexionado ................ Anexo 5
Tabela 5.17 – 5ª série: referente [+animado] em estrutura complexa...........Anexo 5
Tabela 5.18 – 5ª série: referente [-animado] ou oracional
em estrutura complexa .......................................................... Anexo 5
Tabela 5.19 – 5ª série: referente oracional em estrutura complexa .............Anexo 5
Tabela 5.20 – 1º ano: referente [+animado] e verbo no infinitivo ................ Anexo 5
Tabela 5.22 – 1º ano: referente [+animado] e verbo no imperativo ..............Anexo 5
Tabela 5.22 – 1º ano: referente [+animado] em estrutura complexa ............Anexo 5
Tabela 5.23 – 1º ano: referente [-animado] ou oracional
em estrutura complexa .......................................................... Anexo 5
Tabela 5.24 – 1º ano: referente oracional em estrutura complexa ...............Anexo 5
Tabela 5.25 – Universitários: referente [-animado] ou oracional
em estrutura complexa ...........................................................Anexo 5
Tabela 6.1 – 5ª série: referente [- animado] verbo no infinitivo ............................144
Tabela 6.2 – Universitários: referente [- animado] verbo no infinitivo ..................145
Tabela 6.3 – 5ª série: referente [+ animado] e verbo flexionado ..........................145
18
Tabela 6.4 – Universitários: referente [+ animado] e verbo flexionado ................146
Tabela 6.5 – 1º grau: referente [- animado] e verbo flexionado ..........................147
Tabela 6.6 – Universitários: referente [- animado] e verbo flexionado ................147
Tabela 6.7 – 5ª série: referente [+ animado] em estrutura complexa ................148
Tabela 6.8 – 1º ano: referente [+ animado] em estrutura complexa ..................148
Tabela 6.9 – 1º ano: referente [- animado] em estrutura complexa .....................149
Tabela 6.10 – Universitários: referente [- animado] em estrutura complexa .......150
Tabela 6.11 – 5ª série: referente [- animado] e verbo no infinitivo .......................151
Tabela 6.12 - 1º ano: referente [- animado] e verbo no infinitivo..........................151
Tabela 6.13 – Universitários: referente [- animado] e verbo no infinitivo .............152
Tabela 6.14 – 5ª série: referente [+animado] e verbo flexionado ........................153
Tabela 6.15 – Universitários: referente [+animado] e verbo flexionado ...............153
Tabela 6.16 - 1º ano: referente [- animado] e verbo flexionado ..........................154
Tabela 6.17 – Universitários: referente [- animado] e verbo flexionado ...............155
Tabela 6.18 – 1º ano: referente [+animado] e estrutura complexa.......................155
Tabela 6.19 – Universitários: referente [+animado] e estrutura complexa ...........156
Tabela 6.20 – 5ª série: referente [-animado] e estrutura complexa ....................157
Tabela 6.21 – 1º ano: referente [-animado] e estrutura complexa.......................157
Tabela 6.22 – Universitários: referente [-animado] e estrutura complexa.............158
Tabela 6.23 – 5ª série: referente [- animado] e verbo flexionado ............... Anexo 6
Tabela 6.24 - 5ª série: referente [- animado] em estrutura complexa ...........Anexo 6
Tabela 6.25 – 1º ano: referente [- animado] verbo no infinitivo ....................Anexo 6
Tabela 6.26 – 1º grau: referente [+ animado] e verbo flexionado .................Anexo 6
Tabela 6.27 –Universitários: referente [+ animado] em estrutura complexa .Anexo 6
Tabela 6.28 – 5ª série: referente [- animado] e verbo flexionado .................Anexo 6
Tabela 6.29 – 5ª série: referente [+animado] e estrutura complexa..............Anexo 6
Tabela 6.30 – 1º ano: referente [+animado] e verbo flexionado .................. Anexo 6
19
INTRODUÇÃO
Segundo Labov (1966), em toda comunidade de fala existem formas
lingüísticas em variação, ou seja, variantes lingüísticas que representam as várias
maneiras de se dizer algo em um mesmo contexto e com o mesmo valor de
verdade. É fato que todas as línguas exibem variações, e, que, portanto, nenhuma
língua se apresenta como uma entidade homogênea. Conforme Paiva e Duarte
(2003)
A atividade humana da linguagem caracteriza-se por um conflito entre
duas fases aparentemente contraditórias: de um lado, uma aparência de
estabilidade e, de outro, a constante mudança tanto no indivíduo quanto
na comunidade. [...] as línguas humanas estão em constante mudança,
que se propaga de forma gradativa e implica períodos mais ou menos
longos de variação em diversos eixos sociais. (p.13)
A Sociolingüística Variacionista postula que a ngua possui uma
heterogeneidade estruturada que pode ser coerentemente explicada a partir de
uma pesquisa empírica que possibilite a observação do comportamento lingüístico.
Em “Empirical Foundations of a Theory of Language Change”, Weinreich, Labov e
Herzog apresentam, entre as cinco questões centrais para o estudo da mudança
lingüística, a questão da avaliação das estruturas por parte dos falantes, ou seja,
“The Evaluation Problem”. Labov (1972:247) afirma que as reações subjetivas dos
falantes a determinadas estruturas são julgamentos inconscientes sobre a língua
que podem ser medidos através de testes. Conforme Labov (1972), “[...] atitudes
sociais para com a língua são extremamente uniformes através de uma
comunidade de fala.” (p. 248, minha tradução). Essas atitudes são reveladoras do
senso comum disseminado pelas instituições que a compõem.
20
Assim, a partir da questão da avaliação, pensa-se na relação entre a atitude
lingüística e mudança, mais especificamente, no que se refere ao objeto direto
anafórico. Diversos trabalhos mostraram que a variação observada na realização
do objeto direto anafórico é um processo de mudança na língua, com o pronome
clítico sendo substituído pela categoria vazia, pelo pronome lexical e pelo sintagma
nominal, sobrevivendo em alguns contextos específicos. Pesquisas como as de
Omena (1978), Duarte (1986; 1989), Averbug (2000), Oliveira (2005) indicam
mudança nas representações do objeto direto anafórico no Português do
Brasil(doravante PB). No português arcaico, o pronome ele era usado como
acusativo, mas com a evolução da língua portuguesa, esse uso passou a ser
considerado errado, ficando somente o pronome clítico como a forma prescrita.
Analisando-se a língua falada, as pesquisas apontam que o pronome clítico
acusativo de terceira pessoa, estratégia prescrita pelas gramáticas normativas,
apresenta baixa freqüência mesmo quando os informantes são indivíduos
altamente escolarizados, independente de fatores lingüísticos ou extralingüísticos.
Observou-se o uso do sintagma nominal anafórico, da categoria vazia e do
pronome lexical como estratégias anafóricas e, em relação a essa última
estratégia, apesar de marcada por forte estigma, foi considerada por informantes
de Duarte (1989) mais ‘natural’ e ‘menos pernóstica’ que a estratégia prescrita,
para algumas das estruturas.
Estudos que lidaram com a modalidade escrita da língua (Averbug: 2000;
Oliveira: 2005) mostraram que a escola atua na manutenção do uso do pronome
clítico acusativo, mas não é suficiente para recuperar seu uso de forma
consistente. Assim, conclui-se que tanto no que diz respeito à modalidade falada
quanto no que diz respeito à modalidade escrita do PB, há um processo de
21
mudança em curso que aponta para o cancelamento do pronome clítico acusativo
como estratégia em prol da categoria vazia e do sintagma nominal, além do
pronome lexical.
Ainda que estudos anteriores como os de Duarte (1986; 1989), Tarallo e
Duarte (1988) e Bortoni, Gomes e Malvar (2003) tenham lidado com a questão da
avaliação do objeto direto anafórico, pouco se sabe sobre a atitude dos falantes
frente a esse tema. Segundo Mollica (2007:12,) embora o falante seja competente
na variedade coloquial, o se sente conhecedor de sua língua. Cabe analisar
suas atitudes. Acredita-se que a escola desenvolva nos indivíduos a sensibilidade
lingüística para as variantes de prestígio (pronome clítico) e estigmatizada
(pronome lexical), mas, até o presente momento, não foram realizados testes de
avaliação e de percepção como os aqui propostos.
Desse modo, o presente estudo objetiva analisar a relação entre a estrutura
lingüística e a maior ou menor aceitação das variantes do objeto direto anafórico
nesse contexto de mudança. Utilizando-se um corpus composto por alunos dos
ensinos Fundamental, Médio e Superior pretende-se estudar a avaliação desse
fenômeno que ocorre, principalmente, no Português Brasileiro, tanto na língua
falada quanto na língua escrita.
A avaliação será observada no continuum fala e escrita. Através de um
teste de áudio, em que as variantes fiquem menos perceptíveis, e um teste escrito,
em que elas aparecerão agrupadas, espera-se observar se haverá mudança no
comportamento dos alunos diante de variantes consideradas mais ou menos
privilegiadas. Além disso, a questão das formas consideradas ‘neutras’: ainda
que consciente do valor positivo de uma variante como o clítico acusativo, o
falante opta, por exemplo, pelo uso do sintagma nominal ou pela categoria vazia,
22
conforme demonstrado nos trabalhos que utilizaram dados de produção oral e
escrita acima mencionados. Acredita-se que a diferença de resultados entre as
modalidades falada e escrita da língua será indicativa da forma como as escolhas
dos indivíduos são moldadas. Embora a escola seja um espaço em que as regras
são passadas, enfocando-se, principalmente, as propriedades da língua escrita,
pretende-se observar se diferença entre o comportamento que os alunos
apresentaram em testes de produção e a atitude desses alunos, principalmente,
quando compararmos os resultados dos testes de áudio e do escrito
O presente texto segue a seguinte organização: o capítulo um irá tratar do
objeto de estudo. Nele, será, primeiramente, comentada a abordagem tradicional
do tema. Sabendo-se que as atitudes avaliativas dos alunos podem ser
influenciadas pela escola, foi feita uma pesquisa acerca do objeto direto anafórico
em gramáticas tradicionais, livros didáticos e materiais de origens diversas,
destinados a preparar o indivíduo para concursos públicos, ou, simplesmente tirar
dúvidas de língua portuguesa. O objetivo é observar como esses materiais tratam
as estruturas aqui estudadas e que tipo de informação eles fornecem aos alunos.
Nesse capítulo também serão retomados estudos sociolingüísticos anteriores
sobre o tema aqui estudado e que serviram de base para esta pesquisa.
No capítulo dois, será tratada a questão da avaliação conforme proposta por
Labov (1972), com a conceituação de atitude e a discussão de trabalhos que
trataram sobre atitude lingüística em relação ao português brasileiro. O capítulo
três apresentará o tratamento dos dados, além dos objetivos e das hipóteses
levantadas para o tratamento do tema, além de descrever a metodologia e os
testes aplicados.
23
A análise dos dados virá dividida em três capítulos: o capítulo quatro trará a
análise dos dados do teste de áudio para a fala, o capítulo cinco trará as análises
do teste de áudio para a escrita, o capítulo seis trará as análises do teste escrito,
após o qual virá a conclusão.
24
CAPÍTULO 1 - O OBJETO DE ESTUDO
A proposta desta pesquisa é estudar a atitude dos falantes acerca das
estratégias do objeto direto anafórico. Para isso, o presente capítulo irá apresentar
o tratamento dado a essas estruturas em três gramáticas normativas da língua
portuguesa, apresentando também os comentários de alguns livros didáticos e
materiais de origens diversas que pretendem ‘tirar dúvidas’ em relação à língua
portuguesa. A seguir, serão apresentados os trabalhos de Omena (1978) e o de
Duarte (1986; 1989), bases da presente pesquisa, além de outros, que trataram da
retomada do objeto direto seja na língua falada seja na língua escrita.
1.1. O objeto direto anafórico
De acordo com a visão tradicional, o pronome ele é um pronome pessoal do
caso reto, funcionando como sujeito ou como predicativo, sendo esse último
exemplificado em Bechara (1999) na frase “Eu não sou ele” (p. 173). Segundo
Bechara (op.cit: 164) ”A cada um desses pronomes pessoais retos corresponde
um pronome pessoal oblíquo que funciona como complemento[...]”. (p.164)
Segundo Rocha Lima (1972), as formas o, a, os, as podem substituir um
substantivo que complete o regime de um verbo não preposicionado conforme o
exemplo “Vi o menino (ou Vi-o)” (p. 111). Não nessa gramática referência à
possibilidade de o pronome pessoal ele funcionar como objeto direto.
Bechara (1999), assim como Cunha e Cintra (1985: 281) admitem o uso do
pronome nico pelo átono quando o primeiro vier preposicionado (a ele, a ela),
funcionando, portanto, como objeto indireto. Para o uso do pronome ele como
25
objeto direto, Bechara afirma que, “[...] no português moderno, aparece como
objeto direto quando precedido de todo ou (adjetivo) ou se dotado de
acentuação enfática em prosa ou verso” Para ilustrar, tem-se os seguintes
exemplos em Bechara: “No latim eram quatro os pronomes demonstrativos. Todos
eles conserva o português.” e “Olha ele” (BECHARA:1999, 175).
O autor apresenta a sentença “Nem ele entende a nós, nem nós a ele”
como um exemplo da possibilidade de o pronome tônico funcionar como objeto
direto preposicionado, caso em que a preposição não atua na significação do
verbo, sendo usada para fortalecer o contraste entre o sujeito e o complemento
(op. cit., p. 418).
Em tópico sobre Construções particulares com o infinitivo, Bechara trata dos
verbos causativos e perceptivos e sua relação com o objeto direto. Quando os
verbos exprimem percepção física (cf. ver, ouvir) e atuação ou ordenação (cf.
mandar, deixar, fazer) , eles podem apresentar construções como O professor
mandou o aluno saltar / O professor mandou-o saltar. Essa construção não possui
objeto direto próprio, mas ele pode aparecer em O professor mandou o aluno fazer
o exercício / O professor mandou-o fazê-lo, caso em que os dois complementos
podem ser substituídos pelo pronome o. (p. 530-531).
Em um item de sua gramática intitulado “Equívocos e incorreções”, Cunha &
Cintra (1985) afirmam que “Na fala vulgar e familiar do Brasil é muito freqüente o
uso do pronome ele(s), ela(s) como objeto direto em frases do tipo Vi ele [...]
Embora esta construção tenha raízes antigas no idioma [...] deve ser evitada.” (p.
281)
Bechara (2002), em artigo sobre a norma literária do modernismo brasileiro,
comenta que, apesar de Mário de Andrade ter dito que sua obra Memórias
26
Sentimentais de João Miramar seria “o primeiro cadinho da nossa nova prosa”
(p.63), no que tange ao uso do pronome ele como objeto direto, o autor modernista
somente o fez em uma passagem de seu livro e, ainda assim, quando o pronome
era sujeito de um infinitivo (Cf, Vi ele fazer.). O mesmo aconteceu com outros
escritores modernistas e, segundo Bechara, “[...] não se deve confundir a língua do
combatente [...] com a língua literária do modernismo brasileiro.” (p. 64)
Uma gramática normativa prende-se à norma considerada oficial e aos fatos
da língua escrita, considerando uma variedade da língua como a língua a ser
usada. Ainda que ela não tenha objetivos precipuamente pedagógicos, haja vista o
número de concursos que indicam sua gramática como fonte de consulta, é
contraditório o discurso do referido autor. Em uma versão de sua gramática agora
intitulada Gramática Escolar da língua portuguesa, o tratamento dado ao objeto
direto anafórico é o mesmo que se encontra em sua Moderna Gramática, havendo,
inclusive, o mesmo texto nas duas obras no que se refere ao uso do pronome ele
como objeto direto (p.145 e 175 respectivamente).
Elia (2003), em artigo intitulado Brasileirismos 1: Eu vi ele 1, analisa a
estrutura “Eu vi ele” como “[...] infratora da linguagem formal, mas de uso corrente
na fala coloquial brasileira, a ponto de ser usada nos diálogos entre personagens
de novelas de televisão, ainda quando entre pessoas educadas.” (p. 45, grifo do
autor).
No entanto, ao estudar o uso do pronome ele como objeto direto, Sousa de
Silveira (1942; apud ELIA, 2002) condena o uso do termo ‘brasileirismo’, que,
segundo ele, essa sintaxe vem do português arcaico, fato que ele comprova com
os exemplos “Perdi ela que foi Arrẽ milhor” e “desque vi ela”. Isso mostra que essa
estratégia de retomada do objeto direto se encontrava em uso nessa época.
27
Omena (1978) apresenta em seu trabalho uma revisão bibliográfica da qual
depreende que o pronome lexical tanto é considerado uma herança histórica
quanto algo específico à sintaxe do português brasileiro.
1.2. Neves e Azeredo: duas gramáticas descritivas e o objeto direto anafórico
Neves (2000) afirma na apresentação de seu livro que ele se constitui em
[...] uma obra de referência que mostra como está sendo usada a língua
portuguesa atualmente no Brasil. Para isso, ela parte dos próprios itens
lexicais e gramaticais da língua e, explicitando o seu uso em textos reais,
vai compondo a ‘gramática’ desses itens. [...]
O que está abrigado nas lições é, portanto, a língua viva, funcionando e,
assim, exibindo todas as possibilidades de composição que estão sendo
aproveitadas pelos usuários para obtenção do sentido desejado em cada
instância. (p. 13)
Ao apresentar os dois objetivos de sua obra, a autora afirma que:
Pretende-se que haja uma apropriação dos resultados por parte de toda
a comunidade de usuários da língua:
a) o falante comum, que, nas diversas situações em que utiliza a
linguagem, pode obter orientação sobre o uso eficiente dos recursos de
sua língua;
b) o estudioso da língua portuguesa, que pode assentar suas
explorações no conhecimento das investigações efetuadas, evitando
atuar de modo repetitivo e assegurando a seu trabalho o caráter do
avanço e do aprimoramento.(p. 14)
Contudo, a referida obra ao apresentar os pronomes mencionados o trata
da possibilidade do pronome ele funcionar como objeto direto, restringindo-se a
apresentar os conhecidos pronomes oblíquos como aqueles que exercem essa
função sintática (p. 452-53). A ausência dessa estrutura seria compreensível que
ela, teoricamente, não pertenceria ao padrão culto da língua portuguesa no Brasil,
embora pesquisas citadas neste trabalho, apontem uma direção diferente. No
entanto, ao apresentar as formas que o objeto direto pode assumir, não menção
28
à categoria vazia, estrutura utilizada pelos falantes cultos do PB, seja na
modalidade falada, seja na modalidade escrita da língua.
A autora apresenta, ainda, construções em que a forma oblíqua do pronome
pessoal é sujeito de uma oração infinitiva com função de objeto direto como em
“Faça-o subir, tenha a bondade.” (p. 453) Mais adiante, a autora afirma que é
comum “[...] na conversação [...]” (p. 453, grifo meu) o emprego de pronomes
tônicos como sujeito do infinitivo em construções como “Manda ele fugir daqui!” e
“Nem vi ela gemer.” (exemplos da autora) Ainda que Neves relegue as ocorrências
do pronome lexical à fala, ela o faz em apenas dois ambientes, deixando de
elencar todas as outras possibilidades expostas em trabalhos anteriores sobre o
tema como o de Duarte (1986).
Azeredo (2002), também na Apresentação do seu livro, admite que “[...] a
língua se apresenta, na realidade de seu uso concreto, como algo dinâmico e
flutuante, parcialmente redutível [...]”(p. 12) a um modelo de descrição formal
do conhecimento que o falante tem acerca de suas estruturas. considerando as
limitações de um modelo descritivo, o autor afirma que “[...] toda análise está
sujeita à reformulação.”(p. 12)
Desse modo, Azeredo (2002) trata os pronomes pessoais do caso reto
apenas como capazes de exercer as funções de sujeito e predicativo, deixando
para os pronomes oblíquos átonos a possibilidade de aparecerem como objeto
sem preposição, enquanto os tônicos viriam em complementos preposicionados
(p. 122).
Ao tratar do objeto direto, mais uma vez comenta sobre as formas oblíquas
átonas como passíveis de exercerem essa função sintática, nada comentando
acerca da ocorrência da variante nula quando da retomada desse tipo de objeto (p.
29
179-80). A ausência dessa estrutura fere o que o próprio autor propõe ao afirmar
que a norma por ele descrita será aquela que “[...] se deduz fundamentalmente
dos usos da língua em textos escritos de recepção coletiva, preferencialmente
não-literários, e que podemos considerar a variedade padrão escrita do
português do Brasil.” (p. 31, grifo do autor)
1.3. O tratamento do objeto direto anafórico em livros preparatórios e
gramáticas pedagógicas
Pelo exposto no item 1.1, percebe-se que as gramáticas normativas
consideram apenas o pronome clítico acusativo como a forma correta de
realização do acusativo anafórico de terceira pessoa. O consenso é de que as
gramáticas não são atualizadas e, por isso, apresentam idéias consideradas
‘desatualizadas’. Se isso é verdade, como se comportam diante das variantes
estudadas nesta tese livros preparatórios para concursos e gramáticas
pedagógicas, materiais que, a princípio, são constantemente revisados por seus
autores?
A proposta desses materiais é descomplicar a aprendizagem de língua
portuguesa. No entanto, esse descomplicar’ reduz-se a dicas e à memorização
de regras, com conteúdos apresentados sob o eixo certo e errado. Reproduz-se a
ideologia presente nas gramáticas normativas de que há um modelo a ser seguido,
não levando em consideração a verdadeira dimensão da diversidade lingüística,
que mostra os fenômenos de variação e mudança como inerentes aos sistemas
lingüísticos, como dotados de usos lógicos, tendo sido, muitos deles, já analisados
por pesquisas lingüísticas.
30
Pimenta (1998), em livro que se propõe a ensinar aos alunos a elaborar um
texto escrito sem erros, ao tratar dos pronomes da língua portuguesa, afirma que
“Pronomes pessoais nunca funcionam como objeto direto.”(p. 91, grifo meu)
apresentando o exemplo “Eu encontrei ela” precedido pelo desenho L, enquanto
a versão “Eu encontrei-a” vem precedida pelo desenho J. Como exercício
proposto, o autor pede que o aluno “Assinale as frases em que erro” e
apresenta sentenças como “Fiz ele devolver todas as mercadorias” como uma das
sentenças a ser marcada negativamente (conforme gabarito anexo ao livro). Essa
obra, assim como outras de mesmo estilo, perpetua naquele que a consulta a
tão disseminada idéia de que, em língua, há algo certo e algo errado, deixando de
mostrar que entre esses dois pólos há possibilidades de uso ajustadas à situação.
Faraco e Moura (1998:289), em gramática pedagógica direcionada ao
Ensino Médio, apresentam exemplos de uso do pronome pessoal ele como objeto
direto em textos como o de Érico Veríssimo (“Desamarrem este homem e levem
ele para minha barraca” ou de Carlos Drummond de Andrade (“ Nós chamamos
ela de Pipoca porque é doida por pipoca.”). Os autores comentam a freqüência
desse tipo de uso como algo próprio da fala vulgar e familiar do português usado
no Brasil, mas, ainda assim, é interessante a inserção desses exemplos da
literatura que podem levar o aluno a refletir que a prescrição não é tão absoluta.
Infante (1999), ao tratar dos pronomes pessoais do caso reto, afirma que
eles não devem ser usados como complemento verbal. Frases comuns na “[...]
língua oral cotidiana [...]” (p. 288) tais como “Vi ele na rua” e “Encontrei ela na
praça”, não devem aparecer na língua formal escrita ou falada devendo o pronome
pessoal ser substituído pelo pronome clítico correspondente de modo que as
sentenças ficariam, respectivamente, “Vi-o na rua” e “Encontrei-a na praça”. Autor
31
amplamente utilizado em escolas de Ensino dio, Infante mostra o uso do
pronome lexical como objeto direto anafórico na fala cotidiana e, ainda que não
trate o tema com a devida profundidade, é um dos poucos autores que o
apresenta.
Em uma publicação vendida nas bancas de jornal denominada Português
sem complicação, Sérgio Nogueira argumenta no volume VI, dedicado ao uso dos
pronomes, que “Os pronomes pessoais retos sempre exercem a função de sujeito.
Os pronomes pessoais oblíquos exercem as funções de complemento [...]” (p. 13,
s.d., grifo meu). Segundo o autor a frase “eu encontrei ele” está errada já que “[...]
Não podemos usar um pronome pessoal reto (=ele) na função de objeto” (p. 13,
s.d.), sequer comentando a grande ocorrência do pronome lexical na fala.
Na coleção Nossa Língua em Letra e Música, cujos fascículos foram
oferecidos como parte da edição de domingo do Jornal O Globo, Pasquale Cipro
Neto afirma que os pronomes pessoais do caso reto “[...] se prestam basicamente
à função de sujeito, ou seja, conjugam o verbo [...]” (p. 130). Apesar disso, o autor
comenta:
É por isso que, na língua culta, esses pronomes não desempenham
papel de complemento direto de verbos, ou seja, não aparecem em
frases como “Faz tempo que o vejo ela” ou Procurei ele a noite toda”.
Na língua falada, no entanto, essas formas são muito comuns,
independentemente da classe social e da escolaridade do falante.
O que seria usado nesses casos, então, em se tratando da linguagem
formal,? Em vez de “Faz tempo que não vejo ela”, dir-se-ia “Faz tempo
que não a vejo; em vez de “Procurei ele a noite toda”, dir-se-ia “procurei-
o a noite toda”. Os pronomes “o” e a” pertencem ao rol dos pronomes
oblíquos, cujo papel básico é justamente complementar verbos ou
nomes. (p. 130)
O conceito de língua culta exposto acima está em conformidade a Britto
(1997:75) que afirma ser essa língua uma “[...] idealização de uma certa
modalidade do português, fortemente enviesada e normativa [...]” que se confunde
com o padrão escrito, o que leva a norma , segundo Britto, a funcionar como “[...]
32
prática ideológica e de construção de uma representação de correção lingüística
[...] (idem, 58).
Pasquale possui uma visão estática de língua, considerando que as formas
da língua são fixas, de forma que o falante não atua sobre elas, ou seja, o tipo de
informação que ele veicula é desprovida de base lingüística. Além disso, ele
considera que a língua falada é sempre informal, ignorando os diferentes níveis de
registro, em função das situações de fala e dos tipos de discurso.
Publicações como as do professor Sérgio Nogueira e a do Professor
Pasquale pretendem popularizar o acesso a conhecimentos acerca da língua
portuguesa. Dado o grande número de pessoas que as compram devido ao fácil
acesso, perde-se a oportunidade de discutir a língua portuguesa, não em termos
de certo e errado, mas sim através de um gradiente que mostrasse aos indivíduos
as várias possibilidades de uso. Sabe-se através de pesquisas lingüísticas que os
indivíduos não têm controle sobre muitos dos seus usos da língua, mas, ainda
assim refletir sobre a língua seria o primeiro passo na direção de se olhar para ela
de forma menos prescritiva e mais científica.
1.4. Estudos sobre a modalidade falada da língua
1.4.1. O estudo pioneiro de Omena
Através da análise de 4 horas e meia de gravação da fala de um
universitário de Uberlândia e de 24 horas de gravação da fala de quatro
estudantes analfabetos, alunos de um projeto de alfabetização do Governo
Federal, o Mobral, Omena (1978) realizou o primeiro trabalho em sociolingüística
variacionista acerca do objeto direto anafórico no português do Brasil. Segundo a
33
autora, a retomada do objeto direto anafórico através de pronome lexical e de
categoria vazia pode ser encontrada em textos medievais, o que atesta a
existência dessas estratégias há muito tempo na língua portuguesa.
Em um primeiro momento, a autora gravou a fala de um universitário em
busca de ambientes favorecedores do apagamento do objeto direto. Após a
separação desses ambientes e a baixa freqüência do pronome clítico acusativo de
pessoa na fala desse informante (apenas três ocorrências), Omena decidiu
analisar o condicionamento social do uso do pronome clítico trabalhando
unicamente com alunos pertencentes ao Movimento Brasileiro de Alfabetização,
MOBRAL.
Através de gravações da fala de quatro informantes, dois homens e duas
mulheres, a pesquisadora observou que na fala dos alunos do Mobral, não houve
ocorrência do pronome clítico, tendo sido a estratégia preferencial desses
informantes para a anáfora do objeto direto a categoria vazia (76%), havendo
também 24% de preenchimento com pronome nominativo/lexical. Esses resultados
foram indicativos para Omena que o uso do pronome clítico acusativo é fortemente
relacionado ao condicionamento social que não ocorre na fala de indivíduos não
escolarizados do Rio de Janeiro.
1.4.2. Os estudos de Duarte
Duarte (1986), ao estudar a realização do objeto direto anafórico, buscou, a
partir dos pressupostos teóricos da sociolingüística conforme Labov (1972),
apresentar os contextos lingüísticos e extralingüísticos que estariam atuando na
realização das variantes, além de investigar a avaliação por parte dos informantes
sobre cada uma dessas formas variantes.
34
Para a realização de sua pesquisa, Duarte (1986) utilizou um corpus com 50
entrevistas com paulistanos nativos, tendo sido levados em conta fatores como o
nível de escolaridade (1º grau completo ou incompleto, e graus) e a faixa
etária composta por informantes com idades entre 15 e 17 anos, 22 a 33 anos, 34
a 46 anos e acima de 46 anos. Além desse material, a autora gravou a fala
veiculada pela televisão totalizando 4 horas de gravação de episódios de novelas
e 4 horas de entrevistas. Segundo Duarte (1986) esse corpus diversificado
proporcionaria a análise de [...] dois diferentes níveis de formalidade de uma
modalidade de fala que atinge o país de ponta a ponta e tem, sem dúvida, uma
força a um só tempo inovadora e normalizadora.”(p. 12)
O envelope de variação utilizado pela autora compreendeu as variantes a
seguir cujos exemplos foram fornecidos por Duarte (p.15-16):
a) uso do clitico acusativo: “Ele veio do Rio pra me ver. Então eu fui ao
aeroporto buscá-lo.”
b) uso do pronome lexical: “Eu amo o seu pai e vou fazer ele feliz.”
c) uso de SNs anafóricos, representados por:
SNs lexicais plenos: “Ele vai ver a Dondinha e o pai da Dondinha manda
a Dondinha entrar, ele pega um facão.”
SNs lexicais com determinante modificado: “Então o meu filho ficou
morando no apartamento, mas ele reclamava muito do barulho, e a
gente foi na onda dele de vender esse apartamento.”
demonstrativo isso: No cinema a ação vai e volta. No teatro você o
pode fazer isso.”
35
d) uso da categoria vazia objeto [SNe]: “(O Sinhozinho Malta está tentando
convencer o das Medalhas a matar o Roque. . .) Mas ele é muito
medroso. Quem tentou matar [e] foi o empregado da Porcina. Ontem ele
quis matar [e], a empregada é que salvou [e]. Ele estava prontinho pra dar
o tiro, quando a Mina chegou lá, passou um pito nele e convenceu [e] que
ele não devia matar [e].”
Reproduz-se a seguir a tabela 1.4 de Duarte (p. 17) com os dados
encontrados pela autora.
Variante Ocorrências %
Clítico 97 4,9
Pronome lexical 304 15,4
[SNe] 1235 62,6
Outras 338 17,1
Total 1974 100,0
Tabela 1.1. Reprodução da tabela de Duarte (1986): distribuição dos dados computados
segundo a variante usada
Pela tabela acima, pode-se observar que a categoria vazia é a mais
freqüente estratégia utilizada em seus corpora, assim como percebe-se pela tabela
acima a baixa ocorrência de pronomes clíticos. A autora apresentou a forma em
que se encontra o verbo da oração em que o objeto direto anafórico ocorre um
condicionamento morfológico para estudar a freqüência do aparecimento das
variantes. Observe-se a tabela a seguir adaptada de Duarte (1986:22):
Forma Verbal Variante
Clítico Pronome lexical [SNe]
Tempo simples 4 % 20% 76%
Imperativo - 26,4% 73,6%
Tempo Composto - 10% 90%
Infinitivo 16,7% 11,9% 71,4%
Loc. Verbal com infinitivo 9,3% 15,6% 75,1%
Gerúndio 10% 40% 50%
Locução verbal com
gerúndio
- 20,6% 79,4%
Tabela 1.2. Adaptada de Duarte (1986) – condicionamentos morfológicos no estudo da retomada
de objeto direto
36
A freqüência no uso do pronome clítico posposto ao verbo dá-se,
preferencialmente, quando o verbo está no infinitivo (59,8%), seguido pela
ocorrência do pronome anteposto ao verbo quando este se encontra em um tempo
simples do indicativo, seja presente ou passado, principalmente, com os verbos
ver e conhecer (40,2%). Em relação ao pronome lexical, ainda que apareça com
todas as formas verbais, maior número de ocorrências com os tempos simples,
o imperativo e as locuções com infinitivo e gerúndio.
A autora observou como condicionamentos sintáticos a regência verbal e a
estrutura projetada pelo verbo, organizadas conforme os exemplos a seguir (1986:
23-24):
1) o verbo é transitivo direto e a frase se constrói com objeto direto (SN ou S):
a) Ele foi levar um carro em Guarujá pra filha dele que estava noiva e. na volta, um
carro mata ele, sabe?
b) Em vez de vir curar brasileiro, vem matar brasileiro. Ele não pode fazer o que
não sabe e ele quer fazer [e].
2) o verbo é transitivo direto e a frase se constrói com objeto direto (SN ou S) e
um predicativo:
c) Eu não tenho nada pra reclamar dela não. Eu acho ela sensacional.
d) Eu queria ter uma irmã. Eu acho [cl tão bom!
3) o verbo é transitivo direto e indireto e a frase se constrói de uma das três
formas: OD(SN) + OI (SN), OD (S ) + OI(SN), OD(SN) + 0I(S):
e)Conta essa história do seu avó de novo. Você já contou [e] pra ele?
OD OI (SN)
f) Eu fui ganhar a chave de casa com dezenove anos. Eu conto [e] pra todo
mundo. OD (S) + OI (SN)
37
g) Uma parou agora porque o marido dela está bem demais. Então o marido
proibiu ela de trabalhar.
OD (SN) + OI (S)
4) o verbo é transitivo direto e a frase se constrói da seguinte forma: OD (SN) + S
(infinitivo ou gerúndio):
h) Ontem ele foi ao cardiologista. Eu deixei ele ir ao cardiologista sozinho
muito tempo. OD (SN) + S
i) Quando nós estávamos assim saindo da loja nós vimos eles quase parando o
carro. OD (SN) + S
Os resultados do condicionamento sintático indicam que predominância
no uso de categoria vazia quando ocorrem estruturas simples acompanhadas de
SN como objeto (62,3%). Segundo a autora, quando estruturas simples são
construídas com objeto direto e indireto, apagamento de 78% que passa a ser
categórico (100%) quando se tem objeto sentencial (p. 23).
Em estruturas sintaticamente complexas, em que o objeto e o predicativo
constituem uma mini-oração, a realização fonológica do objeto, particularmente
com o uso do pronome lexical (35.6%), além de haver 46,6 % de ocorrências de
categoria vazia. Nos casos em que o referente é uma sentença, o corpus de
Duarte apresenta 84% de categoria vazia.
Das 97 ocorrências de pronome clítico, 78,4% dessas estruturas
apareceram condicionadas pelo traço [+animado] do objeto. Em relação ao
pronome lexical, dos 304 dados coletados, 98,4% também tinham o referente
38
[+animado]. As ocorrências de SN anafórico e categoria vazia o-se,
preferencialmente, com o referente [-animado], já que esse traço favorece ao
apagamento do objeto direto anafórico independentemente da estrutura sintática, o
que explica os casos de apagamento, categórico ou quase categórico, dos
referentes representados por S.
Os condicionamentos extralingüísticos observados por Duarte (1986)
mostram que relação entre a estratégia usada para retomada do objeto direto e
as variáveis idade e escolaridade. Informantes mais jovens, quando optam pela
realização fonológica do objeto direto, fazem-no com maior freqüência usando o
pronome lexical que aqueles que conjugam maior idade e maior escolaridade.
Esses últimos têm o uso dessa variável condicionado à maior complexidade da
estrutura da frase que seu estigma diminui nesse contexto. No entanto, os
fatores idade e escolaridade mostraram que, independente da idade, os
informantes que possuem 1º. Grau apresentaram maior uso do pronome lexical
que outros de mesma faixa etária.
Duarte trata do condicionamento estilístico através da comparação entre a
fala dos informantes e a fala das novelas e entrevistas de TV. Essa comparação
mostra que baixo percentual de cliticos e preferência pela categoria vazia em
ambas as amostras. Além disso, a fala das entrevistas de TV, ao mesmo tempo
em que não favorece o uso do clítico acusativo, evita o pronome lexical,
preferindo os SNs lexicais anafóricos, que aqui competem com a categoria vazia.
Os testes de produção de Duarte com o objetivo de comparar fala
espontânea com fala realizada em situação mais formal, foram realizados através
da realização de nove perguntas que deveriam ser respondidas com uma
resposta completa (p.40). Seus resultados mostraram que fatores extralingüísticos
39
como o grau de formalidade do contexto atuam na realização das variáveis. Se
bem que os fatores lingüísticos levantados pela autora tenham favorecido as
mesmas variantes apontadas por ela, Duarte (1986) mostra que enquanto dois
grupos, o de jovens e o de informantes acima de 46 anos com grau se
comportaram da mesma forma que durante a entrevista. Os demais grupos
aumentaram o uso de clíticos e de SNs anafóricos e diminuiram o uso de
pronomes lexicais e de categoria vazia, proporcionalmente à elevação da faixa
etária e nível de escolaridade, chegando-se, com o grupo acima de 46 anos e 3º.
grau, a 31,1% de clíticos, 2,2% de pronomes lexicais, 51,1 % de SNs anafóricos e
15,6% de objetos nulos.
Segundo Duarte, os resultados de seus testes de produção indicam que a
escola
é um instrumento que municia o indivíduo com a habilidade de usar o cli-
tico e esse fator, associado à idade, é relevante na realização desta
variante. Mas fica também claro que, mesmo habilitado a usá-la, o fa-
lante o faz de modo parcimonioso, buscando formas substitutivas, como
SNs e [SNe]. (1989:p.29)
Em relação à percepção da variável, Duarte realizou um teste durante o
qual se lêem ao informante sentenças ou fragmentos de diálogos contendo as
variantes de modo a que ele emita juízos sobre a boa formação das sentenças. Os
informantes com grau, à exceção do grupo de jovens, não distinguiram as
variantes, enquanto o restante dos informantes julgou as variantes de acordo com
os condicionamentos lingüísticos já apontados, de modo que o pronome clítico, por
exemplo, foi mais aceito em estruturas simples, com tempos simples do indicativo
Algumas frases em que o pronome clítico aparece como o exemplo citado a
seguir “[...] são consideradas pedantes, podendo trazer estigma sobre os que as
utilizam. Para os informantes, ainda que não seja certo, é muito mais coloquial
40
e natural dizer: “Coitada da menina! Deixa ela em paz!” [...] Sem consciência das
pressões lingüísticas, o falante aceita o pronome lexical exatamente naquelas
configurações de processamento sintático mais complexo (a mini-oração e as
orações com sujeito de oração completiva reduzida de infinitivo), considerando-as
menos sofisticadas do que aquelas em que ocorre o clítico. (1989: p.31)
A ocorrência da variante nula é aceita de forma natural independente da
animacidade do objeto, o que corrobora o encontrado por Duarte (1986) quanto
ao fato de a categoria vazia se encontrar implementada no sistema lingüístico.
Apenas informantes com maior escolaridade rejeitaram construções com traço [+
animado] como a sentença “No princípio ele não concordava comigo, mas depois
eu convenci [e] de que ele não devia agir assim. “ (DUARTE:1986, p.31)
Partindo dos resultados de Duarte (1986), Tarallo e Duarte (1988)
realizaram um trabalho acerca da saliência de variantes, considerando que ao se
lidar com a mudança lingüística em progresso é possível que haja “[...] sub-fatores
internos menos salientes, enveredando a fala (e, por decorrência, a língua) por
caminhos totalmente despercebidos por seus usuários.” (p. 45)
Observando a atuação de variáveis não-salientes, os autores consideraram
que os testes de percepção realizados por Duarte (1986) possibilitariam observar o
peso dos condicionamentos internos na manutenção do pronome lexical. Em
relação à categoria vazia, observou-se que ela é aceita praticamente em todos os
ambientes pelos falantes.
Segundo os autores, uma variante estigmatizada como o pronome lexical
pode ter seu estigma reduzido quando se observam configurações internas como
a complexidade da estrutura, que ele é mais aceito em configurações mais
complexas e rejeitado pelos falantes em estruturas do tipo SVO: “É como se o
41
pronome ele não se constituísse em uma variante, isto é: que a variável fosse,
na realidade, a configuração sintática em si mesma, simples vs. complexa.” (p. 55)
No que tange ao clítico acusativo, percebeu-se que, quando os falantes
possuem nível de escolaridade baixo, não apresentam diferença na produção da
variável em contexto mais formal. O restante dos informantes mostrou melhor
aceitação ao clítico acusativo quando o referente possuía o traço [+animado] em
estruturas simples, com tempos simples do indicativo do que quando ele possuía o
traço [- animado] acompanhado de estruturas complexas, o que aponta para a
relevância dos condicionamentos internos apresentados.
Em relação ao pronome lexical, Tarallo e Duarte (1988) mostram que seu
uso é relacionado aos fatores idade e escolaridade. Foi possível observar que os
falantes consideram as estruturas com clítico acusativo “[...] pernósticas, distantes
do ‘coloquial’, podendo trazer estigma sobre os que as utilizam na fala.” (p. 53).
Mesmo reconhecendo que o pronome lexical não é a forma prescrita, os
informantes preferem usá-lo em ambientes com traço [-animado] e estruturas
complexas enquanto em estruturas simples, com tempos simples no indicativo, é
menor a aceitação do pronome lexical por parte dos indivíduos com nível de
escolaridade mais alto.
1.4.3. O português brasileiro na Amostra NURC
Freire (2000), em sua dissertação de mestrado analisou, entre outras
estruturas, as estratégias de substituição do clítico acusativo a partir de amostras
do Português Brasileiro e do Português Europeu (doravante PE), utilizando como
variantes o pronome clítico, o pronome lexical, o SN anafórico e a categoria vazia.
42
As amostras selecionadas para análise foram a amostra recontato do
Projeto NURC, constituída por 12 informantes com nível superior e uma amostra
de inquéritos transcritos em Nascimento et.al. (1987, apud FREIRE:2000)
composta por 28 informantes portugueses, também universitários.
Comparando-se os resultados encontrados para o PB e o PE, enquanto a
presença de clíticos no primeiro é de apenas 4%, em relação ao segundo 44%
de aparecimento dessa estrutura. O pronome lexical apresenta baixa freqüência
entre os informantes brasileiros (4%) e não aparece entre os europeus. A
categoria vazia e os SNs anafóricos aparecem em ambas as variedades,
constituindo, segundo a opinião do autor, “[...] variantes tão importantes quanto o
uso do clítico.”(p. 47-48). A categoria vazia apareceu no PB em 59% dos casos
enquanto no PE as ocorrências forma de 31%; o SN anafórico apareceu no PB em
34% dos dados e no PE em 25% deles.
Freire (2000) conclui que os resultados encontrados em seu trabalho
corroboram os encontrados em pesquisas anteriores que os SNs anafóricos e
os objetos nulos estão substituindo o uso do clítico como estratégia para retomada
do objeto direto no PB. Embora no PE tenha havido uma grande freqüência no
uso do clítico, também há um uso considerado pelo autor expressivo (p. 95)
dessas variantes.
1.5. O objeto direto anafórico na língua escrita
1.5.1. Estudos sobre a escrita de escolares
Averbug (2000), utilizando as mesmas variáveis postuladas em Duarte
(1986), apresenta um estudo sobre o desempenho escrito dos usuários, a partir de
43
um corpus constituído pela própria pesquisadora contendo a produção escrita de
cem alunos dos Ensinos Fundamental, Médio e Superior. O objetivo da autora era
observar o comportamento da língua escrita tanto no que se refere ao objeto direto
anafórico quanto ao sujeito pronominal pleno, fenômenos já implementados na fala
do brasileiro. Como para a presente tese, apenas o objeto direto anafórico é
relevante, os comentários sobre o trabalho de Averbug (op.cit.) se restringirão a
essa estrutura.
A autora postula que textos de indivíduos menos escolarizados
apresentariam maior freqüência da variante estigmatizada, ou seja, do pronome
nominativo ele, assim como da categoria vazia, variante não-estigmatizada, mas
igualmente não prescrita pelas gramáticas normativas. Averbug (2000) acredita
que a escola atua na manutenção do pronome clítico acusativo de modo que o
tempo de permanência dos estudantes na escola aumentaria o uso de clíticos,
diminuiria a freqüência da categoria vazia, e a estratégia de SNs anafóricos
aumentaria, que esta última é considerada pela autora estratégia de esquiva (p.
34), para fugir ao pronome clítico, variante prescrita mas considerada muito formal.
Para a produção escrita, Averbug (2000) adaptou um texto de Stanislaw
Ponte Preta - “A Velha Contrabandista” - levando os informantes a recontar por
escrito a narrativa ouvida. As análises de Averbug mostraram que, em relação ao
fator escolaridade, a categoria vazia, presente na língua oral atinge também a
língua escrita. Essa variante foi a estratégia preferida até a série do Ensino
Médio, apenas sendo superada pelo clítico acusativo no último estágio de
escolaridade, quando este atingiu a freqüência de 40%.
Em relação ao traço semântico do referente, Averbug (2000) menciona que
o traço [+ animado] atua no preenchimento da categoria em 93% das ocorrências,
44
principalmente com o clítico (44%). Quando o traço do referente é [-animado] por
outro lado, a estratégia do SNs anafóricos (53%) divide com o apagamento do
objeto (45%) a preferência dos usuários, o que confirma os dados encontrados por
Duarte (1986). Com o traço [neutro], ou seja, com o antecedente sob forma de
oração, o uso da categoria vazia atinge 84%.
Averbug (2000) conclui que os SNs anafóricos e os objetos nulos são as
variantes mais utilizadas para representar o objeto direto anafórico na escrita.
Seus dados revelam que
Quando investigado o fator escolaridade [...], o emprego de SNs
anafóricos, que gira entre 30% e 37%, traz mais alto índice entre os
universitários. Portanto, parece se configurar como um recurso
expressivo, seja para fugir a formalidade do clítico, seja para evitar, em
parte, o objeto nulo igualmente expressivo, com percentual de 23%
nesse mesmo segmento.(p. 114)
O pronome clítico acusativo é uma estratégia aprendida na escola, que
também atua na diminuição do uso da estratégia do pronome lexical que este
decresce a partir do Ensino Médio e desaparece na produção escrita dos
universitários. A autora conclui que suas pesquisas “[...] confirmam o emprego do
clítico acusativo de e de pessoa como uma estratégia bem pouco natural, o
que torna a aprendizagem complexa, ou até mesmo, em certas circunstâncias,
artificial, pouco compreensível pelos alunos.“ (p. 118)
Averbug (2000) cita o estudo de Corrêa (1991) que desenvolveu uma
pesquisa a partir do exame de textos orais e escritos, elaborados por estudantes,
após a apresentação de uma peça teatral com exclusiva utilização de linguagem
gestual. Seu corpus foi composto por cinco alunos de cada série do Ensino
Fundamental, cinco informantes com formação universitária e cinco adultos não-
escolarizados.
45
As quatro variantes estudadas foram: clítico acusativo, pronome lexical, SN
e categoria vazia. Os resultados apresentados mostram uma semelhança entre o
comportamento dos informantes não-escolarizados e os alunos das séries iniciais,
demonstrando o quanto a escola atua na manutenção de variantes prestigiadas.
Serão comentados a seguir apenas os resultados das variantes estudadas nesta
pesquisa.
O pronome clítico não possui alta freqüência em textos orais, somente
aparecendo a partir da 5ª/6ª série. Com esses alunos, o uso do clítico aumenta de
3 % em textos para 12% em textos escritos, crescimento que acontece em todas
as séries. Para os universitários, por exemplo, a porcentagem aumenta dos 7,7%
dos textos orais, para 75% nos textos escritos, ou seja, seu uso aumenta quase
dez vezes.
O uso do pronome lexical, ao contrário do que acontece com o pronome
clítico, decresce. Aparecendo em textos orais de todos os informantes, seu uso no
texto escrito decresce para os alunos da 1ª/2ª série que passam de 24,4% para
7,5% nos textos escritos. Os universitários não apresentam uso dessa variante em
seus textos escritos.
Os valores para a categoria vazia diminuem para todas as séries. No
entanto, enquanto para todas as ries esse decréscimo fica entre 14 e 22%, o
valor percentual dos universitários chama a atenção, pois passa de 48,7% em
textos orais para 8,3% nos escritos.
Ao citar o trabalho de Corrêa e de Cordeiro, Oliveira (2005) afirma que
esses trabalhos encontraram resultados semelhantes aos de Averbug (2000)
indicando o aumento do uso de clíticos e o decréscimo do pronome tônico,
paralelamente ao aumento da escolaridade. Corrêa afirma ainda que o clítico
46
aparece para o aluno primeiro na língua escrita para somente depois surgir na
língua falada. Ao citar Kato, a autora comenta que ao aprendermos uma estrutura
via instrução formal, há uma monitoração no seu uso, de tal forma que, no caso do
clítico, é possível encontrar usos como “[...] para o identificá-lo [...]”, causado pela
hipercorreção. (p. 232)
Oliveira (2005) estudou duas das estratégias do objeto direto anafórico, a
saber, o sintagma nominal e o clítico acusativo. Segundo a autora, o clítico
acusativo está ausente na língua-E, ou seja, não está presente nos enunciados
aos quais a criança está exposta para construir sua gramática. Segunda a autora,
são precisos textos escritos, em geral oferecidos durante a escolarização, para
que a criança seja exposta a essa estrutura.
1.5.2 O clítico acusativo na escrita
Freire (2005), em sua tese de doutorado, analisou as estratégias de
retomada do objeto direto em textos por ele classificados como ‘semiformais’,
descritos pelo autor como “[...] aquele que tem pontos de contato com a fala, uma
vez que, em tese, não tem um compromisso tão direto com a norma codificada nas
gramáticas, ao contrário dos textos estudantis.” Para a realização de sua pesquisa,
utilizou 21 textos de entrevistas curtas para o PB e sete entrevistas longas para o
PE, todas transcritas em revistas e jornais do Rio de Janeiro e em Lisboa.
A partir dos dados coletados, o autor definiu como variantes o pronome
clítico acusativo, o SN anafórico e a categoria vazia. Seus resultados mostraram
que o clítico acusativo é uma estratégia importante na retomada do objeto direto
na língua escrita dos dois países. No entanto, enquanto nos textos do PE houve
47
78% de uso dessa estratégia, nos textos do PB a freqüência era de 48%.
Somando-se os usos de categoria vazia e SN anafórico no PB tem-se 52%, o que
é indicativo de que essas formas já se infiltraram na escrita semiformal.
Suas análises mostram que diferenças significativas entre o PB e o PE,
pois enquanto no PE o maior uso recai sobre a estratégia prescrita no PB a escrita
apresenta estratégias amplamente utilizadas na língua falada. Segundo Freire,
seus resultados apontam que PB e PE constituem dois sistemas gramaticais
distintos, de tal modo que o PB apresenta uma gramática sem clíticos de terceira
pessoa, enquanto o PE mantém essa estratégia.
1.6.O princípio da saliência revisto no trabalho de Bortoni, Gomes e Malvar
Bortoni, Gomes e Malvar (2003) estudaram as reações subjetivas a três
regras variáveis do PB: o apagamento do –r final em nomes e verbos, a
concordância nominal e a neutralização de caso do objeto direto anafórico de
terceira pessoa, sendo que somente esse último será comentado no presente
trabalho. As autoras utilizaram o conceito de saliência formulado por Lemle e Naro
em 1976, segundo o qual as mudanças da língua começam em um ponto em que
a diferença entre a velha e a nova variante é menos saliente.
A hipótese geral postulada pelas autoras é a de que as escalas de saliência
que direcionam a implementação das mudanças lingüísticas são um fenômeno de
natureza extralingüística, baseado tanto no prestígio quanto no quadro de
referência da língua padrão, sendo a exposição à língua padrão muito importante
no desenvolvimento da sensibilidade dos falantes a essas escalas de saliência.
As autoras se basearam nos estudos de Omena (1978) e Duarte (1986)
para estudar a neutralização de caso do objeto direto anafórico. Na realização da
48
pesquisa, selecionaram 80 (oitenta) informantes homens e mulheres residentes
em Brasília: 40 (quarenta) para o teste de disfarces combinados
1
e 40 (quarenta)
para o teste complementar, divididos em 5 (cinco) grupos: 5 (cinco) alunos de uma
escola pública com idades variando entre 11 e 15 anos; 10 (dez) alunos da
série de uma escola pública (13 e 18 anos); 10 (dez) universitários (17 e 22 anos)
e 10 (dez) analfabetos ( 14 a 57 anos).
Para o teste de disfarces combinados, o estímulo foi gravado por três
adultos jovens da classe média, nascidos e criados em Brasília. Os três estímulos
de cada variável independente estrutural foram gravados pelo mesmo falante e,
então, dispostos ao acaso na fita a ser ouvida pelos informantes. Foi dito aos
informantes que as sentenças tinham sido produzidas por homens com diferentes
profissões e, após cada estímulo, era perguntado ao julgador Você acha que o
homem que disse essa sentença é um advogado, um motorista de táxi ou um
ajudante de pedreiro?” Essas três profissões representam três níveis em uma
escala de status ocupacional, variando de 1 (um) (a profissão de mais alto status)
até 3 (três) (a profissão de mais baixo status). O motorista de táxi representa o
meio entre os dois.
O teste de percepção direta foi usado para validar a avaliação do prestígio
social de cada variante no primeiro experimento. Ele continha pares de sentenças,
uma com a variante padrão e outra com a variante não-padrão, que foram
apresentadas oralmente ao sujeito pelo entrevistador e as seguintes perguntas
foram feitas após cada apresentação:”Qual dessas duas sentenças você prefere?”
“ Qual você usa em situações informais?”
1
Esse termo encontra-se assim traduzido em WLH (2006:102).
49
As variantes estudadas foram o pronome lexical ‘ele’ (variante não-padrão)
e o pronome clítico ‘o’. As variáveis estruturais independentes utilizadas para o
estudo do objeto direto anafórico foram (1) a estrutura sintagmática da sentença:
simples (SVO) e complexa; (2) O tipo da estrutura complexa: sentença com uma
oração reduzida e sentença com um pronome portmanteau, em que o verbo da
subordinada (forma reduzida) projeta um sujeito agente, que vem a ser o objeto da
oração matriz e (3) A posição do pronome: proclítico ou enclítico.
A análise estatística mostrou o efeito do fator escolaridade, do pronome
lexical, da estrutura sintagmática da sentença e da posição do clítico. O teste
Tukey indicou que a dia do grupo analfabeto foi estatisticamente diferente dos
outros três. Houve também uma significante relação entre escolaridade e pronome
lexical.
O comportamento dos analfabetos é similar ao apresentado por estudos
anteriores, que na estrutura SVO, a variante não-padrão (‘ele’) não recebeu
avaliação negativa e os alunos da série foram mais favoráveis ao pronome
lexical que ao pronome clítico acusativo, a variante padrão. Conforme
comentado nesse trabalho, Duarte (1986) mostrou que o pronome clítico não foi
encontrado na fala de jovens com idades entre 15 e 17 anos.
Os alunos da rie do estudo de Bortoni, Gomes e Malvar (op.cit.) não
tinham adquirido ainda os padrões avaliativos dos adultos da classe média. Esses
padrões tornam-se mais consistentes à medida que os níveis de escolaridade
aumentam e parecem ser mais consistentemente estabelecidos para as estruturas
complexas que para as estruturas SVO. Esses resultados são validados pelo teste
de percepção direta que os estudantes universitários mostram um padrão de
percepção que difere do encontrado nos grupos mais jovens, sendo, inclusive,
50
menos rigorosos na avaliação do pronome lexical em estruturas complexas. Esses
resultados estão de acordo com os encontrados por Tarallo e Duarte (1988) no
que se refere à aceitação desse pronome em estruturas complexas por falantes
escolarizados, já que essa estrutura é menos saliente que a estrutura SVO.
As autoras concluem com suas análises que têm evidência suficiente para
acreditar que o princípio da saliência está baseado no prestígio e no quadro de
referência da língua padrão. Alguma exposição ao padrão é, portanto, requisito
para o desenvolvimento da sensibilidade às escalas de saliência. Além disso,
dada a estreita relação entre graus de saliência, a produção das regras e o curso
evolucionário dessas regras na gramática do PB, o estudo delas proporciona
novas visões na questão da influência do letramento nas mudanças lingüísticas.
De acordo com o exposto nesse capítulo, percebe-se que tanto as
gramáticas tradicionais, quanto outros materiais destinados à aprendizagem de
língua portuguesa consideram apenas o pronome clítico como estratégia de
retoma do objeto direto. Mesmo gramáticas descritivas afirmam ser o pronome
lexical uma estratégia para a modalidade falada da língua, ignorando-se ou
evitando-se comentar sobre a possibilidade de essa retomada dar-se através da
categoria vazia.
Esse comportamento diverge do encontrado em pesquisas lingüísticas
como as de Omena (1978), Duarte (1986), Tarallo e Duarte (1988), Averbug
(2000), Freire (2000), Bortoni, Gomes e Malvar (2003) que apontam a crescente
substituição do pronome clítico por outras estratégias como a substituição pelo
sintagma nominal correspondente ou pela categoria vazia, tanto para a
modalidade falada quanto para a modalidade escrita da língua.
51
Esses trabalhos sinalizam também que o aumento da escolaridade diminui
o uso do pronome lexical, estratégia considerada estigmatizada. Embora o número
de clíticos aumente com a escolaridade, sabe-se que ele não é a preferência dos
indivíduos, que chegam a considerá-la ‘pernóstica’, optando por outras estratégias
menos marcadas. Percebe-se, também, pelos estudos apresentados, que
fatores lingüísticos atuando nesses usos, como as variáveis estruturais que
favorecem até o uso do pronome lexical em certos ambientes.
Comparando-se o português brasileiro ao português europeu é possível
perceber que o número de pronomes clíticos é maior no segundo. Mas, apesar
dessa ser a estratégia preferencial dos indivíduos portugueses, aparecem a
categoria vazia e o Sn anafórico como possibilidades de substituição. Somente o
pronome lexical não encontra espaço nessa língua, diferenças que parecem estar
ligadas a questões paramétricas.
De modo a analisar a atitude lingüística diante do objeto direto anafórico, no
próximo capítulo serão discutidas questões relativas ao problema da avaliação
proposto por Weinreich, Labov e Herzog, assim como a definição de atitude e a
apresentação de estudos que lidaram com atitude em relação a estruturas do
português brasileiro.
52
CAPÍTULO 2 - SUPORTE TEÓRICO
Após publicação do livro de Ferdinand de Saussure, Curso de Lingüística
Geral, iniciam-se os primeiros estudos lingüísticos com enfoque na estrutura da
língua. Ao formular sua teoria, Saussure postulou que o objeto da lingüística era o
estudo da língua que, segundo ele, é “[...] de natureza homogênea” (p. 23). Ainda
segundo Saussurre, a fala, dado o seu caráter heterogêneo e assistemático,
deveria ficar fora dos estudos lingüísticos.
Os estudos que antecederam Saussure tratavam a mudança lingüística do
ponto de vista eminentemente histórico. Após o surgimento dos estudos
estruturalistas, o estudo da mudança lingüística retorna, não com o objetivo
comparatista de antes, mas sim analisando a mudança do ponto de vista do
sistema da língua.
Após os estudos de William Labov realizados em Martha’s Vineyard e Nova
Iorque, publica-se, em 1968, Empirical Foundations for a Theory of Language
Change de autoria de Uriel Weinreich, William Labov e Marvin Herzog. Weireich,
Labov e Herzog (doravante WLH), tendo sido usada para compor este texto a
tradução de Bagno (2006). Eles afirmam ser possível estudar a mudança
lingüística e acreditam que “[...] o uso do falante nativo de estruturas
heterogêneas não é uma questão de multidialetalismo ou ‘mero’ desempenho’,
mas é parte de um sistema unilíngüe de competência lingüística.” (p. 101) Além
disso, os autores mencionam que dada a complexidade das comunidades de fala,
a ausência de variação lingüística é que seria algo disfuncional. Eles argumentam
quanto à importância do estudo da mudança lingüística sob o ponto de vista de
suas motivações sociais e acreditam que a mudança lingüística deva ser
53
avaliada em termos de seus efeitos sobre a estrutura lingüística e sobre a
eficiência comunicativa.
WLH propõem cinco princípios importantes relacionados aos fundamentos
empíricos para uma teoria da mudança: o problema dos condicionamentos, o
problema da transição, o problema do encaixamento, o problema da avaliação e o
problema da implementação. Segundo WLH (p 121), uma teoria sobre a mudança
lingüística deve definir quais as condições que favorecem ou restringem as
mudanças e, por conseguinte, qual o conjunto das mudanças lingüísticas
possíveis. Assim, o problema das restrições (The Constraints Problem) aponta
para a necessidade em se determinar qual é o conjunto de possíveis mudanças e
as possíveis condições para mudança.
Segundo WLH (p. 122), “[...] todas as mudanças submetidas ao exame
empírico cuidadosos até agora têm mostrado distribuição contínua através de
sucessivas faixas etárias da população.” Desse modo, estudar o problema da
transição (The Transition Problem), ou seja, compreender como essa transição
ocorre auxiliaria o estudo da mudança lingüística que permitia definir e analisar
o percurso através do qual cada mudança se realiza.
Os autores consideram que “[...] as mudanças lingüísticas deve ser visto
como encaixados no sistema lingüístico como um todo.” (p.122) O estudo dessa
questão, ou seja, o problema do encaixamento (The Embedding Problem) é feito
sob dois pontos de vista: o encaixamento na estrutura lingüística e o encaixamento
na estrutura social. Entre outros fatores, em relação à estrutura lingüística,
acredita-se que a mudança deva ser encaixada no sistema da comunidade de fala
e não no sistema lingüístico do indivíduo. Esse sistema, apesar de heterogêneo, é
54
de tal forma estruturado, que faz parte da competência lingüística dos membros da
comunidade.
Dizer que a mudança lingüística encaixa-se na estrutura social é de suma
importância para o modelo de análise da sociolingüística, que significa mostrar
que o valor de uma variável é determinado por fatores lingüísticos e sociais e que
a interpretação dos dados sob a ótica da mudança lingüística depende em grande
parte da estrutura sociolingüística. Para WLH: “A estrutura lingüística mutante está
ela mesma encaixada em um contexto mais amplo da comunidade de fala, de tal
modo que variações sociais e geográficas são elementos intrínsecos da
estrutura.” (p. 123) Esse princípio tenta explicar a variação lingüística através da
covariação com fatores sociais, demandando uma análise mais completa das
relações sociais em que a língua se constitui.
Em relação ao problema da implementação, (The actuation problem), eles
questionam o fato de as mudanças em um traço estrutural ocorrerem em uma
língua em particular e em um dado momento, mas não em outras línguas com o
mesmo traço, ou nessa mesma língua em outras épocas. WLH acreditam que a
mudança lingüística é uma mudança no comportamento e afirmam que
[...] uma mudança lingüística começa quando um dos muitos traços
característicos da variação na fala se difunde através de um subgrupo
específico da comunidade de fala. Este traço lingüístico então assume
uma certa significação social [...] Uma vez que a mudança lingüística
está encaixada na estrutura lingüística, ela é gradualmente generalizada
a outros elementos do sistema [...] a completação da mudança e a
passagem da variável para o status de uma constante se fazem
acompanhar pela perda de qualquer significação social que o traço
possuía. (p. 124-125)
55
2.1. O problema da avaliação
Resolveu-se tratar o problema da avaliação (The evaluation problem) em
separado, haja vista ser tema central do presente trabalho. O problema da
avaliação constitui, desde a publicação do texto programático de 68 (WEINREICH,
LABOV e HERZOG, 1968), um dos aspectos fundamentais para o entendimento
da questão da mudança. Tratar da avaliação dos falantes frente a estruturas em
mudança na língua traz um questionamento quanto ao papel dos indivíduos diante
da mudança lingüística.
Ao estudar o problema da avaliação, Labov leva os estudiosos da língua a
analisar as funções tanto sociais quanto ideológicas que esse sistema representa.
Além de ser meio de comunicação, a língua é um instrumento de controle social,
pois a escolha de uma variedade para ser o ‘padrão’ tem conseqüências políticas
e ideológicas: as demais variedades ficam excluídas, isto é, são estigmatizadas, e
no senso comum passam a receber o rótulo de ‘erradas’, ‘feias’, ‘aquelas que
soam mal’. Na verdade, não é a noção de erro, mas o grupo social ao qual o
falante pertence que dita o preconceito lingüístico. Possenti (1996) coloca o
caráter ideológico dessa postura quando aponta que é a “[...] mudança de gosto
[...]” das classes mais favorecidas que dita a história de uma língua. Ou seja, os
valores atribuídos às formas lingüísticas, no caso, variantes sociolingüísticas,
estão intimamente ligadas à dinâmica do funcionamento da sociedade, e essa
dinâmica tem relação com o que ocorre na mudança lingüística.
No âmbito da avaliação podem ser destacados dois processos que, tanto do
ponto de vista social quanto do nível de consciência dos falantes, podem ser
definidos quanto à natureza do seu movimento, ou de cima para baixo e de fora
para dentro, ou vice-versa.
56
Assim, como exemplo do primeiro caso, tem-se de um lado um padrão
institucionalizado, que define as formas de prestígio e atua de forma interessante
no nível da consciência dos falantes (o que não quer dizer que seja sempre
consciente).
De outra parte, como movimento de baixo para cima e de dentro para fora,
temos um processo de difusão de uma determinada variante dentro de um ou mais
de um grupo social. Ao se expandir, essa variante adquire um determinado
significado social e os falantes desse ou desses grupos passam a utilizá-la, de
forma mais ou menos consciente, para afirmar sua identidade social. Segundo
Lucchesi (2002), ao estudar a avaliação dos falantes frente a estruturas em
mudança na língua, a sociolingüística “[...] conduz a uma revisão do princípio
saussuriano de que o indivíduo aceita o processo de estruturação da língua
passivamente.” (p.193) Acredita-se, portanto, que diferentemente da idéia
saussuriana de que “Ela [a língua] é a parte social da linguagem, exterior ao
indivíduo que, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la [...]”(SAUSSURE:
1995, p. 22), a mudança das línguas está relacionada às reações dos indivíduos
que compõem a comunidade de fala em relação ao item em mudança, de tal
modo que o curso do processo de mudança pode ser alterado.
Conforme Mollica (2007:37)
[...]o valor atribuído às estruturas lingüísticas é relativo. em geral,
conferimos positividade ou negatividade à linguagem do usuário segundo
crenças e atitudes, em razão de fatores e propriedades fora da linguagem,
e a avaliação que fazemos tem como ponto de partida um modelo cujos
critérios de configuração são parciais e não abrangem todas as variedades
lingüísticas. Eis as principais razões pelas quais criamos estigmas
sociolingüísticos e avaliamos pré-concebidamente os falantes.
Giles & Niedzielski (1998) afirmam que crianças falantes da variedade não-
padrão, aos seis anos de idade riam de pessoas que falavam a variedade de
57
prestígio, mas, aos nove, na escola, imitavam essas formas, o que comprova a
influência da escola na manutenção da crença de que há, em termos de usos da
língua algo melhor ou pior, digno de ser imitado ou de ter seu uso execrado. Na
verdade, tem-se aqui um dos pontos mais debatidos pela sociolingüística: o valor
não é intrínseco a estrutura lingüística e sim ao grupo social que a utiliza, de tal
modo que a avaliação positiva ou negativa é social, que a avaliação é sobre o
grupo que a utiliza.
A escola, através de suas aulas pautadas na gramática normativa cumpre
seu papel de disseminadora de crenças, apresentando uma variedade lingüística
com se fosse a única correta, a que deveria ser usada em todas as situações.
Neves (2001) apresenta resultados de entrevistas feitas com professores que
mostram que eles, de modo geral, acreditam que a gramática ensinada é usada
para que os alunos melhorem seu desempenho lingüístico de modo a alcançar
sucesso na vida prática (p. 11) Apesar disso, a autora mostra que as aulas são
centradas em exercícios classificatórios que não priorizam o desenvolvimento de
capacidade reflexiva nos alunos.
Muitos dos professores do estudo de Neves (2001) fizeram cursos de
atualização que lhes proporcionaram conhecimento sobre novas propostas para o
ensino de gramática. Segundo a autora, essa postura mais moderna de ensino
“[...] entra em conflito com a cobrança que a sociedade e a família fazem da escola
[...]” (p. 46). Mesmo tentando incorporar novas metodologias às suas aulas,
muitos desses profissionais ainda reproduzem um modelo baseado na ideologia
da Gramática Tradicional, em que um uso considerado certo e outro
considerado errado. Neves (2001) mostra que embora incorporando a gramática
descritiva às suas aulas, os professores não compreendem a validade desse
58
ensino e terminam por acreditar que “[...] o ensino de gramática o serve para
nada.”(p. 48)
Pensando-se na questão da ideologia, vale citar a conceituação de Chaui
(2001:108):
A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de
representações (idéias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que
indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e
como devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o
que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem
fazer.
Bagno (2000) acredita que ao se relacionar o conceito ‘idéias’ ao de
‘variedades lingüísticas’, compreende-se melhor o quão ideológicas são as
gramáticas normativas, que descrevem uma variedade da língua como sendo o
padrão a ser seguido em todas as situações, entendendo-se aqui a palavra
‘ideologia’ “[...] no sentido de pensamento hegemônico, que constrói formas de
impor uma representação da realidade.” (BRITTO: 2003, 62)
O padrão de correção é acima de tudo uma representação ideológica, mas
nem todo desvio desse padrão é avaliado da mesma maneira. pontos
considerados mais estigmatizadores que outros, embora, naturalmente, não haja
uma razão lógica para essa escolha. O caráter dessas escolhas é eminentemente
preconceituoso. Analisando-se as variantes da presente pesquisa, tanto o
pronome lexical quanto a categoria vazia o estratégias não prescritas, sendo o
primeiro a versão estigmatizada e o segundo a versão neutra, na retomada do
objeto direto.
59
2.2. Os estudos de Labov
A pesquisa realizada por Labov na comunidade de Martha’s Vineyard, um
estudo da mudança em seu contexto social, é considerada revolucionária por
estabelecer uma correlação entre traços lingüísticos e traços sociais. Ainda que
sua pesquisa não tivesse, em um primeiro momento, o objetivo de avaliar a atitude
dos informantes, em função das variáveis extralingüísticas (sair ou não da ilha) foi
possível identificar a atitude dos falantes através dela.
Essa comunidade fica numa ilha no estado de Massachussetts e, à época
da realização da pesquisa, possuía pouco mais de 5500 habitantes, a maior parte
deles vivendo em uma área da ilha chama Down-Island. A população consistia de
três grupos étnicos: pessoa de origem indiana, inglesa e portuguesa com grande
fluxo de turistas na época do verão.
Esse fluxo de turistas levou para a ilha padrões culturais do continente e
uma mudança no comportamento dos habitantes que passaram a se dividir, de um
lado, em um grupo desfavorável a essa influência, e do outro, naqueles que
queriam se integrar aos padrões culturais do continente.
Ao observar nessa comunidade a realização dos ditongos /ay/ e /aw/, ele
analisou se essas variantes apontariam para a estruturação do grupo social. Para
Labov, centralizar os ditongos era a marca dos habitantes que resistiam à
influência cultural do continente, daí ter observado em seu estudo a variável
orientação cultural. A hipótese para investigações posteriores foi que as pessoas
que viam a ilha de Martha’s Vineyard de forma positiva apresentariam maior
centralização dos ditongos que aquelas que tinham uma atitude negativa para com
ela.
60
Analisando a situação social da ilha à época de sua pesquisa, Labov
percebeu que os ilhéus se dividiam em dois grupos: os que queriam buscar
emprego no continente e aqueles que queriam permanecer na Ilha. Partindo dessa
observação, Labov estabeleceu três grupos de atitudes: a positiva (ilhéus que
desejam permanecer na ilha), a neutra (indivíduos sem opinião formada) e a
negativa (aqueles que querem partir). Para suas investigações, Labov entrevistou
69 pessoas forçando o aparecimento dos ditongos com perguntas cujas respostas
seriam right ou life.
Um dos resultados encontrados foi que os moradores da parte mais alta
(Up-Islanders) centralizam mais os ditongos que os da parte mais baixa (Down-
Islanders), e que os pescadores centralizavam os ditongos mais que outros grupos
de trabalhadores. Além disso, os habitantes indianos e ingleses centralizavam
mais os ditongos do que os portugueses. Esses resultados não incluem uma
explicação, mas parecem fornecer evidência suficiente de que as gerações,
ocupações e grupos étnicos podem ser a primeira categorização com respeito a
dimensão social do uso da língua.
Após analisar seus dados, o autor concluiu que há, na realização dos
ditongos, um componente social, que os indivíduos que desejam continuar na
ilha adotam a pronúncia típica da ilha, enquanto os que desejam deixá-la optam
pela pronúncia característica do continente. Conforme resume Lucchesi (2002)
Através da variável orientação cultural, o estudo conseguiu integrar o
processo da mudança lingüística em curso no cerne do processo social
ou seja, no plano da disputa ideológica, em que se expressam de forma
mais dramática as relações de classe. Com isso, passou-se do plano da
análise quantitativa para o patamar superior da interpretação qualitativa [...]
Uma análise desse tipo, que permite uma compreensão globalizante da
interação entre o processo lingüístico e o processo social, é, portanto,
muito mais esclarecedora [...] que se trata de uma representação
adequada de um processo histórico e cultural, o que extrapola as
generalizações derivadas do indutivismo empiricista [...]. (p. 204)
61
Em um novo estudo, ciente do fato de que os novaiorquinos têm seu próprio
sotaque, Labov (1972) observou a pronúncia do /r/, acreditando ser sua adoção
em ambiente pós-vocálico, uma marca de prestígio. Segundo ele, através dessa
pesquisa ele poderia testar se essa variável seria um diferenciador em todos os
níveis da fala da cidade de Nova Iorque e mostrar que é possível coletar dados em
eventos de fala anônimos (p. 40, minha tradução). Ao realizar sua pesquisa sobre
o inglês falado na cidade de Nova Iorque, Labov mostrou-se consciente de que
grandes diferenças em relação à pesquisa que ele realizou em Martha’s Vineyard
e postulou novos métodos para coleta de dados.
Dado o grande número de habitantes da cidade de Nova Iorque, era preciso
que ele escolhesse uma variável lingüística que ocorresse com freqüência e fosse
mapeada com mais facilidade. Como /r/ é um som freqüente, adequava-se à
necessidade de Labov em obter dados através de entrevistas curtas. Ele escolheu
como informantes empregados de 3 lojas de departamentos em Nova Iorque que
deveriam responder a perguntas simples cuja resposta seria uma palavra
contendo a variável estudada. Labov supôs que as pessoas que trabalhavam em
lojas mais caras e que, portanto, serviam a pessoas das classes mais altas,
apresentariam a mesma pronúncia que seus clientes, o que seria uma estratégia
dos vendedores para fazer com que seus clientes ficassem mais à vontade.
Seguindo a hipótese de que diferentes lojas têm diferentes clientes, Labov
escolheu para sua pesquisa 3 famosas lojas de departamentos nos Estados
Unidos: a Saks, uma loja freqüentada por clientes da classe alta; a Macy’s, uma
loja de classe média e a S. Klein, a loja freqüentada por cliente da classe menos
prestigiada. Labov (1972:43) acredita que as diferenças entre as lojas afetam os
62
empregados no que se refere ao prestígio da loja e as condições de trabalho,
que em termos de salário, não há diferença entre elas.
Para obter resultados comparáveis, Labov fazia uma pergunta cuja resposta
seria um departamento no quarto piso (fourth floor). Após a primeira resposta, o
entrevistador forçava o funcionário a repetir a resposta, o que levava a uma
resposta considerada por Labov como ‘mais cuidada’. Depois dessa segunda
resposta, Labov tomava notas quanto ao sexo e idade aproximada do informante,
além de anotar em um bloco a transcrição do /r/ nas duas ocorrências.
Labov confirmou através dos dados coletados que um componente
social na realização da variável que os empregados da Saks mostram o mais
alto nível de ocorrência de /r/ constritivo, os empregados da S. Klein mostraram o
menor enquanto os da Macy’s ficaram na média, padrão que ocorreu tanto na fala
casual quanto na fala cuidada, ou seja, quanto mais prestigiada a loja, maior a
freqüência da variante prestigiada.
Sua pesquisa observou duas pronúncias do /r/ pós-vocálico, a ausência ou
a presença desse segmento, sendo essa última a forma prestigiada. Falantes de
mais alto status (e todos os falantes quando são mais cuidadosos em suas falas)
são mais propensos a pronunciar o fonema /r/ em ‘car’, ‘here’ e ‘door’, palavras em
que esse fonema aparece em posição final. Tarallo (2000) afirma que “Não
nada inerente ao /r/ pós-vocálico que o defina como “bom”, “ruim”, “correto” ou
“incorreto”. Trata-se somente de uma questão de atitude sociolingüística dos
membros de uma comunidade.”(p.12) A hipótese de Labov era a de que um
significado social na forma de produzir aquele som, quer dizer, há uma diferença
distinta no ambiente social das pessoas com e sem o apagamento de /r/ pós-
63
vocálico. De acordo com sua teoria, as pessoas que têm a mesma avaliação da
pronúncia do /r/ pertenceriam ao mesmo grupo social.
A pesquisa de Labov nessas lojas apontou que diferentes contextos podem
resultar em pronúncia diferente. Ao agir como se não tivesse compreendido a
resposta, ele conseguiu uma ocorrência de uma fala que ele de considerar
como mais cuidada, havendo assim possibilidade de avaliar a mudança de
comportamento do falante nas duas. Como estilos diferentes não compartilham o
mesmo prestígio e a mudança lingüística é o resultado do prestígio crescente de
um sotaque sobre outro.
Labov afirma que, no geral, dentro de uma comunidade, a avaliação social
das variantes é mais uniforme do que as suas freqüências de uso, tanto que ele
propõe uma definição de comunidade de fala como um conjunto de falantes que
compartilham o mesmo sistema de valores sobre a língua, e não como pessoas
que falam do mesmo modo. Por outro lado, a avaliação subjetiva ou julgamento
social das variantes, além de atuar sobre o comportamento lingüístico dos
falantes, pode servir como indicador das mudanças em curso na comunidade,
pois, em muitos casos, a uniformidade dos padrões de avaliação se antecipa à
uniformização dos padrões de uso, refletindo tendências de mudança dentro da
comunidade.
Desde que Labov apresentou a gravação das vozes de falante de Nova
York para novaiorquinos, pode-se ainda perguntar que papel os detalhes
lingüísticos têm no reconhecimento e na avaliação de uma grande variedade de
vozes, particularmente quando a avaliação pode ser feita ao longo de escalas cujo
objetivo era demarcar a capacidade daqueles indivíduos para ocuparem certos
cargos.
64
Preston (2004) considera que uma pesquisa lingüística deve coletar dados
de modo a não mascarar os dados obtidos sobre a atitude lingüística dos
informantes. Segundo esse autor, as pessoas, em geral, evitam demonstrar
quaisquer atitudes preconceituosas e, desse modo, perguntas diretas sobre tais
características permitiram aos informantes disfarçar os seus verdadeiros
sentimentos, projetando a imagem que eles consideravam que o entrevistador
aprovaria mais. A esse tipo de testes, Preston chama de métodos suspeitos para
coleta de dados (minha tradução).
Um método usado para prevenir essas manipulações de atitudes pelos
informantes foi uma técnica usada por Lambert (apud Preston), chamada matched
guise ou disfarces combinados.
2
Os informantes eram levados a julgar o mesmo
falante em diferentes maneiras. Para tanto, tocavam-se gravações do mesmo
falante de modo a evitar a interferência da qualidade da voz nos julgamentos em
francês e inglês para determinar respostas de atitudes a essas duas línguas em
falantes canadenses do francês. Embora tenha sido criticado por sua
artificialidade, esse tipo de coleta de dados foi usado por muito tempo e
proporcionou a primeira importante generalização nos estudos de atitude
lingüística, tais como conceitos de integridade pessoal e de atração social na
avaliação da voz dos falantes.
Labov (1972) afirmou que os testes de disfarces combinados foram bem
sucedidos em avaliar dialetos da mesma língua. No entanto, ele considerou que
esses testes apresentam um problema que não se sabe quais variáveis
produziram o efeito para o julgamento dos informantes (p. 271-272).
2
Esse termo encontra-se assim traduzido em WLH (2006:102).
65
2.3. Milroy e a questão da padronização lingüística
Milroy (2001), em seu artigo, aponta que a ideologia acerca do que é o
padrão afeta a atitude dos falantes diante de estruturas da língua que se
encontrem em variação.
Segundo essa ideologia, define-se uma variante como pertencente ao
padrão ou aoo-padrão de acordo com o critério do prestígio e, a partir daí, cria-
se o senso comum, ou seja, uma atitude que pertence aos membros de uma
determinada comunidade, ainda que eles não estejam conscientes disso. Esse
senso comum torna-se a base para julgamentos das estruturas da língua por parte
dos indivíduos que, em sua maior parte, desconhecem fatores como variação
lingüística e adequação.
Aplicando-se essa questão às variáveis estudadas nesta pesquisa, chega-
se a seguinte análise: se, em textos do português arcaico, havia ocorrências do
pronome acusativo ‘ele’, esse pronome poderia ter sido ‘escolhido’ como a
estrutura da variedade prestigiada. O senso comum incorpora uma série de
crenças sobre o que é gramática tal como a crença de que ela é algo pronto e
acabado e de que ela é inacessível aos falantes. Britto (1997) comenta que o
senso comum ignora a variedade de registros lingüísticos que compõem a fala e
até mesmo a escrita, assumindo que há ‘a’ língua correta decorrente de
[...] uma ação normativa difusa, de forte conotação ideológica, que incide
sobre as situações blicas de uso da linguagem principalmente da
escrita, mas também de fala [...] vendo no domínio do português
considerado correto uma garantia de ascensão social. Deste modo,
estigmatizam-se e excluem-se as expressões propriamente populares,
seja caracterizando-as como erradas, seja tornando-as folclóricas. (p.
185)
66
MCGroaty (1996) afirma que a noção de padrão está fortemente
relacionada à língua escrita. Britto considera que
A escrita caracteriza-se como um sistema simbólico [...]. Em conseqüência,
do modo com se constituiu, é uma modalidade específica, com regras
próprias [...] e, neste sentido, não corresponde a nenhuma das variedades
lingüísticas do português, ainda que interaja com elas [...] Foi devido aos
saberes que veicula e ao valor social que lhe foi agregado que a escrita se
transformou em paradigma de correção de todas as formas de fala. (1997,
174)
Segundo MCGroaty (op. cit.) “uma variedade padrão é aquela que se
submeteu ao processo de padronização, o qual inclui quatro estágios: seleção de
uma norma, elaboração para diferentes uso, restrição de diversidade e codificação
em gramáticas e dicionários. A língua padrão é desse modo o resultado final de
um processo histórico. (p.23)
Desse modo, sua promoção em uma grande gama de funções leva à
desvalorização das outras variedades. Conquanto se saiba que essa variedade
não possui nenhuma propriedade que lhe confira essa suposta superioridade, a
forma padrão passa a ser considerada a única legítima. Sendo a padronização
historicamente definida, Fishman (1970) afirmou que cada época determina o
que é o padrão, ou seja, uma estrutura pode deixar de pertencer à variedade
padrão por inúmeras razões.
Fishman (1970) também comenta sobre o fenômeno da ‘estandardização’
ou ‘padronização’, que, segundo ele, é a ‘codificação’ e aceitação, dentro da
comunidade lingüística, de um conjunto de normas que definem o uso ‘correto’ da
língua. Este comportamento é típico de grupos sociais tais como os gramáticos
normativos e determinados escritores, além de ser reforçado por autoridades como
o governo e instituições sociais de prestígio como as religiosas, a escola e os
meios de comunicação.
67
O fator mais comumente utilizado para avaliar uma estrutura como
pertencente à variedade padrão é o prestígio do grupo social que a utiliza, tanto
que ela é comumente chamada de variedade padrão ou variedade de prestígio,
enquanto a variedade não-padrão também é chamada de variedade
estigmatizada. Apesar dessa relação variedade padrão/variedade prestigiada,
Milroy (2001) comenta que pode acontecer de uma forma, embora pertencente a
essa variedade padrão, não ser dotada de prestígio. Essa idéia também é exposta
por Mollica (2002), em um artigo que discute a questão da diversidade lingüística e
da mobilidade social, no qual a autora afirma que:
[...] nem sempre variedades de prestígio, com alta cotação de mercado,
são necessariamente assimiladas pelos falantes. casos que, por
razões outras, uma regra pode encontrar-se em mudança em curso no
sistema da língua, de modo que os padrões lingüísticos devem ser
compreendidos também por sua natureza dinâmica. (p. 7)
Isso se aplica, no caso do português brasileiro, ao pronome clítico acusativo
que, embora prescrito, é considerado ‘pedante’ por muitos falantes
(DUARTE,1986) e tem seu uso substituído no objeto direto anafórico por
estratégias como o sintagma nominal ou a categoria vazia. Na verdade, o fator
que atua na seleção dessas variantes é aquilo que Milroy (2001) chama de ‘senso
comum’. Segundo ele,
Embora atitudes baseadas no senso comum sejam atitudes
ideologicamente alimentadas, aqueles que as possuem não as vêem
dessa maneira de jeito nenhum: eles acreditam que seus julgamentos
contrários sobre pessoas que usam a ngua ‘incorretamente’ são
julgamentos puramente lingüísticos sancionados pelas autoridades da
língua e essa crença é ela própria parcialmente uma conseqüência da
padronização. (p. 536)
Conforme Milroy (op.cit.), o fato de haver uma variedade tida como padrão,
desenvolve entre os falantes a idéia de que uma forma ‘correta’, canônica, da
língua. Milroy mostra que “[...] você não é aceito pelo grupo se pensa de outra
68
forma: vonão é um participante na cultura comum, e assim suas visões podem
ser desconsideradas.” (p. 536) Para esses indivíduos, a variedade padrão é a
língua, que eles não reconhecem que ela é apenas uma dentre as muitas
variedades existentes. Essa noção resulta na crença, alimentada pela prática
normativa, que conhecer e usar essa modalidade evitaria o uso de estruturas
estigmatizadas, sendo garantia de inclusão lingüística e, portanto, de inclusão
social.
Britto (2003:38) aponta dois diferentes tipos de estigma: o estigma
lingüístico social e o estigma gramatical escolar. O primeiro, caracteriza-se por
relacionar uma marca à condição social do falante e o segundo por marcar
lingüisticamente de forma negativa uma estrutura de uso corrente, que apesar de
aparecer entre os falantes de norma culta, é objeto de correção sistemática.
Segundo o autor, essa correção, executada por uma das instâncias de poder
lingüístico, no caso do presente trabalho, a escola, condena certas formas de uso
como o pronome lexical ‘ele’ em função de objeto direto, ainda que esse uso seja
freqüente e generalizado.
Segundo Preston (2004), a maior parte da população elabora suas atitudes
em relação às línguas a partir do julgamento que tem dos grupos de pessoas dos
quais elas o representativas, de modo que o poder das ideologias da língua é
mantido e espalhado na sociedade. Essas posições ideológicas estão enraizadas
nas sociedades de tal forma que a tendência dos não lingüistas é rejeitar discursos
que tentem demonstrar uma simples questão como a da existência da variedade
lingüística.
69
Aléong (2001:145) afirma que
[...] a observação do comportamento lingüístico estabelece a existência
de uma distância maior ou menor entre o sistema socialmente dominante
das prescrições lingüísticas e a realidade dos desempenhos diários. Isso
significa que, de um lado, um conjunto de julgamentos de valores
amplamente difundidos- uma ideologia lingüística preconiza o emprego
de certas formas com a exclusão de outras em nome da correção
lingüística, ao passo que, de outro lado, as realizações concretas se
apresentam sob o aspecto de uma notável diversidade de formas.
Ao tratar a função social da linguagem como marcadora da identidade do
indivíduo e, sendo, portanto, um meio de distinção social, o pensamento de Aléong
(op.cit.) lembra a questão discutida neste trabalho: a atitude dos indivíduos diante
de diferentes estratégias de retomada do objeto direto, em que uma forma
claramente considerada pela escola como prestigiada, o pronome clítico; uma
forma por ela estigmatizada, o pronome lexical; uma forma não considerada por
ela, a categoria vazia.
2.4. Conceituando atitude
Santos (1996), em trabalho pioneiro sobre atitudes e crenças no ensino de
língua portuguesa, apresenta, em um primeiro momento, crença como “[...] uma
disposição, propósito ou manifestação de intento [...]” (p.8) e atitude como “[...]
uma convicção íntima, uma opinião que se adota com e certeza.”(p.8)
Considerando insuficientes esses significados, o autor aprofunda o conceito de
atitude relacionando-o à dimensão avaliativa (p.9) e afirmando que “[...] as atitudes
podem ser de três tipos (positivas, negativas ou neutras) [...] daí se infere que
qualquer crença sobre um objeto possui um aspecto avaliativo positivo, negativo
ou neutro.”(p.13)
70
Santos (1996) relaciona crenças e atitudes afirmando que ao assumir uma
ou mais crenças acerca de um objeto, o indivíduo adota uma atitude em relação a
ele, avaliando-o. Desse modo, o autor acredita que uma crença forte é associada a
uma atitude proporcionalmente forte.
Outro conceito de atitude é apresentado por Ferreira (1986): atitude é
“Modo de proceder ou agir; comportamento; procedimento.” (p.193) Trazendo-se
esse conceito para os estudos lingüísticos, tem-se que os falantes possuem para
com as variedades de uma língua um conjunto de atitudes positivas ou negativas
que, embora inconscientes, são importantes para a mudança lingüística que
direcionam a permanência ou não de uma determinada estrutura da língua em
questão. Conforme certificado por Labov (1972), a estratificação social e a
avaliação social das variantes são responsáveis pelos padrões que governam as
estruturas da língua.
Em sua dissertação de Mestrado, Barbosa (2004) adota a noção de atitude
lingüística que advém da psicologia social. Conforme a autora:
[...] a atitude social compreende-se como um posicionamento do sujeito
frente a determinado objeto. Não se confunde com o comportamento ou
ação concretizada por esse sujeito em determinada situação, nem
tampouco é somente um conjunto de crenças. É um estado mental, não
observável, mas previsível a partir dos comportamentos do indivíduo na
sociedade ou a partir de seus relatos [...]. (p. 33)
No campo da psicologia social, as atitudes sociais são cognitivamente
aprendidas pela criança na medida em que esta interage com seu ambiente
sociocultural, podendo ser reforçadas ou o (p.29). Segundo Braghirolli et al.
(2000:74-75) a associação, o reforço e a imitação atuam na formação das atitudes
sociais dos indivíduos que, respectivamente, explicam a relação da criança com
os valores de seus pais, o modo como essa criança constrói suas atitudes em
71
seus contatos sociais e como imita atitudes de seu grupo social. Assim, a
psicologia social acredita que as atitudes do indivíduo mudam ao logo de sua vida,
e no caso da presente tese, a escola seria um agente de mudanças.
Ladegaard (2000:216, minha tradução), ao realizar um estudo sobre atitude
e comportamento em relação à língua, reporta-se a Kristiansen (1991:46) que
estabelece que um estudo que envolva atitude lingüística envolve três
componentes: o conhecimento, a emoção e o comportamento dos falantes diante
da língua estudada.
Segundo ele, o conhecimento corresponde àquilo que o indivíduo considera
como verdade e é, portanto, uma categoria formadora do seu pensamento, sendo
reforçado, na maior parte das vezes, pelas atitudes coercitivas da escola. No
entanto, quando se têm estruturas em mudança no sistema da língua, trabalhos
anteriores já apontam uma resistência por parte dos indivíduos.
A emoção é responsável por essa resistência, que leva os indivíduos a
desenvolver atitudes positivas ou negativas diante de um determinado objeto,
nesse caso, a língua. Portanto, a motivação para a ação ou conduta de um
indivíduo na sociedade, ou seja, seu comportamento em relação ao objeto em
questão acaba por depender desses sentimentos.
O conhecimento e a emoção envolvem a experiência do informante com
variedades lingüísticas e com o seu próprio uso da língua. Um questionário para
testar o conhecimento do falante deve checar a habilidade desse indivíduo em
reconhecer amostras de fala e caracterizar os informantes que as proferiram, além
de checar a capacidade desse indivíduo em descrever a maneira como ele próprio
fala. No entanto, um questionário cujo objetivo seja checar a emoção deve
72
fornecer subsídios que permitam ao pesquisador avaliar características como o
informante avalia características lingüísticas pessoais e seu próprio uso da língua.
Ainda que o estudo de Fishman (1967) seja sobre comunidades bilíngües,
cabe comentar interessantes aspectos por ele abordados sobre atitude lingüística.
Ao estudar as conseqüências das atitudes lingüísticas na sociedade, ele observa
que essa atitude pode levar a manutenção e a mudança da estrutura na língua.
Para ele, o componente afetivo, ou seja, a existência de ‘atitudes e emoções
orientadas à língua’, pode ser analisado através de um continuum que pode ir
desde a lealdade até a aversão a uma língua. Segundo ele, os sentimentos dos
indivíduos em relação a uma língua são semelhantes aos sentimentos que eles
nutrem por seus falantes, ou seja, se uma língua é considerada ‘feia’ ou bonita’,
assim serão considerados os sujeitos que a falam. A atitude lingüística, para
Fishman, é uma das responsáveis pelas mudanças e/ou estabilidades lingüísticas
em uma comunidade.
2.4.1. Estudos sobre atitude lingüística no PB
poucos trabalhos que mapeiam a atitude lingüística dos indivíduos em
relação ao português brasileiro. Apresentam-se a seguir três estudos encontrados
nessa área: a pesquisa de Santos (1972), pioneiro nessa área, o estudo de Mollica
(1995) e o trabalho de Pinto (2001).
73
2.4.1.1 Santos (1972): trabalho inaugural sobre atitude lingüística em relação
ao português brasileiro
Santos (1998) apresenta parte do conteúdo da sua dissertação de Mestrado
na qual desenvolveu um estudo sobre atitudes lingüísticas de adolescentes em
relação a variantes fonológicas, de modo a avaliar o valor social das estruturas
selecionadas.
Para o autor, a escola é disseminadora de várias crenças, inclusive de
natureza lingüística, reproduzindo aquilo que ele chama de crenças escolares: “[...]
a maneira como a escola considera os objetos lingüísticos, a imagem que ele
faz da linguagem e das línguas sob seu interesse.” (p.16) Essas crenças
expressam a ideologia lingüística da escola, portadora de idéias como a de que a
mudança lingüística é negativa e a variedade prestigiada deve ser defendida.
Ao chegar à escola, o aluno possui um conjunto de idéias acerca do que
ele considera certo e errado em termos de usos lingüísticos, aceitando com mais
facilidade as atitudes prescritivistas da escola. Apesar disso, o autor afirma que
testes de avaliação subjetiva mostram que, em alguns casos, os alunos não
assumem certas crenças escolares negativas. Assim, o objetivo do seu trabalho é
observar a percepção dos informantes em relação ao valor social das variantes
escolhidas.
Sua amostra foi constituída por 115 informantes com idades entre 12 e 18
anos, todos cursando uma das séries do antigo ginasial mais 18 informantes
adultos, pais e mães desses alunos. Para a seleção das variantes, foram
realizadas entrevistas com professores para que eles apontassem o que era
74
problemático, ou seja, “[...] os “erros” que os alunos cometiam e que eram de difícil
erradicação.” (SANTOS: 1996,32; grifo do autor).
O autor selecionou as estruturas a serem analisadas através de entrevistas
com professores e da literatura gramatical tradicional, chegando ao seguinte
conjunto de variantes: 1) a presença ou não de ( R ) final em vocábulos oxítonos
como Guiomar e pintor, por exemplo; 2) a palatalização ou não da lateral e uma
palavra como colheres que passa a coleres; 3) nasalização ou não da vogal átona
final de modo que a palavra homem é pronunciada homi; 4) a epêntese da vogal
que se desenvolve em uma palavra como p[i]neu; 5) a realização do (i) como vogal
nasal em contextos em que essa vogal é oral, como por exemplo a ocorrência de
ingnorante em lugar de ignorante; 6) a presença ou não do ditongo (ay) em
palavras como baixa e caixinha, por exemplo.
Para a realização dos testes, foram escolhidos três contextos a saber:
contexto A, em que as variantes aparecem concentradas (cf. “Em briga de marido
e mulher não se deve meter a colher; ”Ele é muito ignorante”); contexto B em que
se tem a leitura de um texto com as palavras formando pares mínimos (cf. A
velinha está velhinha; O pintor pintou bem) e o contexto C em que a leitura
de lista de palavras (cf. jogador; folhinha).
Na aplicação do teste, o sujeito ouvia uma gravação e dava uma nota a
cada uma das apresentações, de modo a estabelecer uma relação entre a nota e o
que ele considera falar bem. Cada uma dessas notas correspondia a uma
profissão alinhada em uma escala construída a partir de informações colhidas dos
próprios alunos, que, antes de montar sua escala, o autor apresentou as
profissões aos alunos e pediu que eles as organizassem de acordo com a
necessidade de ‘falar bem’ que cada uma delas teria.
75
Segundo o autor, “[...] estabelecer o que era falar bem ficava por conta
deles.” (p. 37). Além disso, os informantes foram avisados de que ele não deveria
adivinhar a profissão da pessoa cuja voz era ouvida e sim avaliar qual profissão
ela poderia exercer (p. 38). A escala ficou organizada da seguinte maneira: 5)
Locutora de rádio ou televisão; 4) Secretária de direção; 3) Recepcionista; 2)
Balconista; 1) Operária; 0) Não serve para nenhuma profissão acima.
A segunda bateria de avaliação subjetiva foi composta por testes de
comparação binária, o que levava o informante a ter apenas as opções de aprovar
ou não estigmatizar o que ouviu, atribuindo as falas a uma professora-patroa ou a
sua empregada de pouca instrução. Para a terceira bateria, a leitura de listas de
palavras, embora o contexto fosse mais formal que no teste B, os dados foram
computados da mesma forma.
Os resultados de Santos mostraram que os informantes adolescentes eram
sensíveis às variantes fonológicas estudadas, mas que também o nível sócio-
econômico e a exposição à pressão escolar foram fatores que influenciaram nos
resultados finais. Segundo o autor,
[...] os jovens constituem um grupo em ascensão social, muito atento,
pois, ao comportamento dos estratos superiores. [...] com o aumento da
idade e da instrução, os adolescentes dos estratos mais altos tenderão a
se aproximar das atitudes dos pais, mais idosos e mais instruídos. E que
os jovens dos estratos mais baixos tenderão a o mais se aproximar
dos padrões de atitudes dos seus responsáveis. (p. 43)
Segundo Santos (1998), os jovens de camadas menos favorecidas
estigmatizavam mais as variantes à medida que sua escolaridade aumentava, o
que mostrou que o tempo de exposição à escola leva à diminuição da diferença de
atitudes entre grupos sociais diferentes. Apesar disso, Santos (ib.) considerou que
a escolha das variantes fonológicas da sua pesquisa não lhe permitiu avaliar a
76
evolução das atitudes ao longo das séries escolares. Isso porque, segundo ele
mesmo afirma, elas
[...] não teriam necessariamente o mesmo status dentro do universo
escolar ou fora dele. Portanto, umas poderiam receber aprovação dentro
e/ou fora da escola, enquanto outras seriam estigmatizadas ou
receberiam um julgamento neutro.(p. 45)
Sua insatisfação diante dos resultados encontrados, levou-o a um segundo
trabalho sobre atitudes, com a ampliação do grupo de informantes e das variáveis
a serem estudadas. O grupo de alunos dividiu-se em alunos do primário, alunos
do ginásio, alunos do curso superior, professores e, com a divisão do grupo adulto,
anteriormente estudado, em adultos mais escolarizados e adultos menos
escolarizados. Às seis variantes utilizadas no trabalho anterior, foram
acrescentadas às realizações dos ditongos (ey) e (ow), ambas em processo de
redução, incluindo um teste sob o nome de Bateria D. Nesse teste, os informantes
deveriam ouvir uma lista de pares de vocábulos, de modo a avaliar se havia ou
não diferença entre eles.
Santos (1998) conclui que a escola atinge seu objetivo de conscientizar o
educando, pois “[...] mesmo que isso não ocorra no Primeiro Grau, ou mesmo no
Segundo Grau, termina ocorrendo no Terceiro Grau e com os universitários
apresentando altos índices de percepção.”(p. 109)
2.4.1.2. Mollica (1995): estudo sobre atitudes
Mollica (1995), em estudo sobre a atitude de falantes do Rio de Janeiro,
afirma que, ainda que haja estudos sobre atitude, ainda não uma pesquisa que
aponte leis gerais e universais que regulem a tríade uso/sensibilidade/valor social
77
de fatos da língua. (p. 121). A autora considera que tanto atitudes previstas
quanto atitudes imprevistas em relação a certos padrões sociolingüísticos
analisados anteriormente e, para suas análises, estabeleceu os seguintes
pressupostos:
a) o certo e o errado não são absolutos;
b) aos enunciados da língua atribuem-se valores;
c) alguns usos são mais percebidos e/ou estigmatizados que outros;
d) apenas em alguns casos, estabelece-se uma equiparação entre
produção/percepção/avaliação lingüística. (p. 122)
Para coletar seus dados, Mollica (1995) aplicou testes de atitudes em
relação aos seguintes fenômenos: concordância nominal e verbal; variação a
gente/nós; anáforas pronominais em estruturas de tópico e em estruturas relativas.
Cada um dos fenômenos foi apresentado sob a forma de pares de sentenças e,
após a audição delas, os informantes deveriam responder sim/não para os testes
de percepção e correto/não/correto para o teste de avaliação das estruturas.
A autora considera que seus resultados apontam que para a concordância
nominal e para a concordância verbal certa equivalência entre as variáveis
idade e escolaridade:
[...] relacionar sintagmas através de marcas flexionais é importante para
os nativos em português, porque: (a) quanto maior o tempo de vida,
maior a intimidade com sua língua materna; (b) quanto maior o
conhecimento acerca da variedade culta, maior contato e necessidade
do padrão historicamente mais tradicional. (p. 124)
Em relação à alternância s/a gente, Mollica (op.cit.) mostra que, embora
não haja nas gramáticas normativas comentários claros acerca da questão
norma/desvio, seus resultados confirmam que falantes mais velhos e no segundo
grau preferem o pronome nós, variante mais formal, atingindo a percepção do
pronome a gente 90% com esse grupo.
78
Os testes de atitude em relação ao emprego de pronomes anafóricos não
previstos pela norma em construções relativas e em construções de tópico
também mostram que a idade dos falantes e o contato com as estruturas na
escola, atuam, segundo a autora, “[...] de modo natural e espontâneo.” (p. 125)
Assim, também nesse caso, ainda que as diferenças entre as formas culta e
popular não sejam prescritas, a escolarização cumpre seu papel.
Em suas conclusões gerais, Mollica (1995) afirma que certa equivalência
“[...] entre determinado perfil sociolingüístico dos indivíduos e suas crenças e
atitudes lingüísticas.” (p.127) A autora postula como princípios gerais sobre a
questão produção/percepção/avaliação que
1. estruturas menos notadas são menos estigmatizadas, que, no entanto,
nem são necessariamente as mais freqüentes, nem exatamente as
variantes padrão;
2. estruturas mais notadas são mais estigmatizadas, que, no entanto,
nem são necessariamente as menos freqüentes, nem exatamente as
variantes não padrão;
3. as estruturas mais notadas (salvo os casos de variante não padrão
sujeitas permanentemente à atenção dos indivíduos mais escolarizados)
são envolvidas por condições estruturais especiais, que implicam quase
sempre forte e nítida relevância do ponto de vista de sua funcionalidade
sócio-pragmática;
4. as estruturas mais estigmatizadas (salvo os casos de variante não
padrão sujeitas permanentemente à atenção dos indivíduos mais
escolarizados) recebem avaliação negativa dos falantes quando são
percebidas, e isso só se verifica se presentificam as condições
estabelecidas em 3. (p. 128)
.
2.4.1.3. Pinto (2001): estudo de atitude sobre tu e você
Pinto (2001) apresenta um trabalho no qual analisa a atitude lingüística em
relação à variação tu/você na posição de sujeito com o verbo na pessoa do
singular, observando a relação entre o grau de escolaridade e a percepção em
relação a essas estruturas. Não serão aprofundados aqui aspectos teóricos
79
abordados pela autora em relação às estruturas estudadas, haja vista não estarem
relacionadas à atual pesquisa, mas sim àqueles que se referem à questão da
atitude lingüística, assim como os testes e resultados por ela encontrados.
A hipótese principal da autora é a de que a escolaridade exerceria influência
na atitude dos falantes em relação a estruturas em variação na língua. Para a
realização da coleta de dados, foram aplicados a dois grupos de informantes o
mesmo teste: um grupo era composto por 76 falantes de língua portuguesa com
idades variando entre 10 e 50 anos e com a escolaridade indo do antigo Primário
até o Terceiro Grau; o outro era formado por dez professores de língua
portuguesa.
Para ambos os grupos, foram analisadas as respostas dadas a quatro
questões na primeira etapa da coleta de dados. Na primeira e na segunda
questões, o informante deveria avaliar subjetivamente as variantes tu e você,
escolhendo a variante que ele considerasse mais correta. A terceira pergunta
propiciava ao informante uma estrutura através da qual ele deveria avaliar duas
sentenças em termos de formalidade, prestígio do usuário, idade e sexo do
usuário. A quarta questão perguntava de forma direta, diante de duas amostras de
fala, qual a forma que ele considerava mais correta.
Embora a autora tenha analisado os resultados das variáveis sexo, idade e
escolaridade, somente os resultados em relação a essa última serão comentados,
por serem considerados os mais relevantes para o presente trabalho. Segundo
ela, a escola tem um importante papel na definição de atitudes, pois, na medida
em que cresce a escolaridade, aumenta a percepção da variável. Pode-se
observar, por exemplo, que os alunos do curso primário demonstraram a não-
percepção das variantes já que 73,7 % deles responderam em relação à questão 1
80
que ambos conseguiriam o emprego. À medida que a escolaridade aumenta,
decresce o número de informantes com resposta semelhante: 47,4% para os
alunos do ginásio, 20% para o 2º. Grau e 6,25% para os universitários.
Segundo a autora, os resultados gerais encontrados em relação ao fator
escolaridade mostraram que os informantes do primário acreditavam ser “tu a
forma correta dada a alta incidência desse pronome na fala das pessoas que os
cercavam. No entanto, em relação aos outros níveis de escolaridade, quando essa
forma foi escolhida, esse fato se deu graças à formalidade dessa estrutura, que
ela faz parte do quadro pronominal prescrito pelas gramáticas normativas, não
tendo sido observado pelos informantes a ausência de marcas de concordância
com o verbo. Desse modo, os resultados apresentados pela autora mostram que a
escola provoca nos alunos, principalmente, atitudes conservadoras.
A segunda etapa dos testes, realizada com os professores, mostrou que
você foi a forma preferencial para a maioria das respostas, ainda que, segundo a
autora, em alguns casos, ele fizessem “[...] distinção entre adequação e
correção.”(p. 60) Uma segunda entrevista composta por quatro perguntas foi
realizada com os professores de modo a compreender como esses profissionais
percebem as estruturas tu e vo na fala dos alunos e a checar como eles
trabalham a questão da variação lingüística em sala de aula.
Os resultados encontrados pela autora mostram que pesquisas que
realizem testes de atitude demonstram a necessidade da reavaliação das práticas
de ensino do professor que seu discurso é contraditório. Todos afirmaram que
tratam da variação lingüística em suas aulas, mas, apesar dessa unanimidade,
demonstraram preconceito lingüístico, pois a maior parte deles vincula o uso do
pronome você aos seus alunos por considerá-los de “[...] nível cultural superior
81
[...]”, que são alunos de um colégio com tradição no ensino, o Colégio Pedro II.
Desse modo, segundo a pesquisadora, a escola tende a tornar o aluno
conservador, dada a importância conferida à gramática normativa em detrimento
dos fenômenos de variação que ocorrem na língua.
Retomando-se o exposto nesse capítulo, o problema da avaliação conforme
proposto por Weireich, Labov e Herzog é uma importante ferramenta no estudo da
mudança lingüística. Compreender porque uma estrutura passa a integrar a
chamada variedade prestigiada da língua, passa, em primeiro lugar, pela análise
do comportamento dos falantes diante dela.
Labov, ao realizar suas pesquisas em Martha’s Vineyard e em Nova Iorque,
traz para a pesquisa lingüística novas metodologias de coleta de dados. Ainda
que, em um primeiro momento, não tenha sido esse seu principal objetivo, seus
trabalhos mostraram o quanto o componente social influencia subjetivamente a
atitude dos indivíduos.
Sabe-se do papel da escola como disseminadora de crenças acerca da
língua e do enfoque dado por essa instituição à modalidade escrita da língua. No
entanto, observa-se que a escolaridade também altera a atitude dos indivíduos
diante de variáveis fonológicas, conforme atesta a pesquisa de Santos (1972).
Compreender como se formam esse e outros tipos de atitude lingüística esbarra
em fatores como o maior ou menor estigma das estruturas estudadas e incorre na
análise de variáveis estruturais e sociais que atuem, ainda que de forma
inconsciente, na avaliação dos falantes.
82
CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA E HIPÓTESES DE TRABALHO
No presente capítulo, serão apresentados, primeiramente, os objetivos e as
hipóteses que nortearam este trabalho. A seguir, serão explicados os dois testes, o
de áudio e o escrito, utilizados para coletar os dados, as variáveis escolhidas na
sua elaboração, a metodologia de aplicação, além da ficha social.
Trabalhos anteriores, apresentados no Capítulo 1, mostraram não somente
a baixa ocorrência de pronomes clíticos acusativos nas modalidades falada e
escrita da língua portuguesa, mas também as estratégias de realização do objeto
direto anafórico utilizadas pelos falantes sendo elas a categoria vazia, o sintagma
nominal e o pronome lexical.
Acredita-se que a coleta de dados realizada através de testes permita
estudar a atitude dos falantes. Escolheram-se para elaboração dos testes apenas
três variantes: o pronome clítico, considerado a forma prestigiada de retomada do
objeto direto; o pronome lexical, variante considerada estigmatizada pela escola e
a categoria vazia, considerada uma variante neutra nos estudos lingüísticos,
que, na maior parte dos casos, não é avaliada positiva ou negativamente. O
comportamento da escola diante dessa última, encontra respaldo em Mollica
(2000) quando ela afirma que “[...] a significação social de formas lingüísticas pode
em certos casos até ser ignorada pela escola, na hipótese de que esta não as
perceba e/ou não as absorva como fatos do sistema lingüístico.” (p. 28)
Essas palavras levam a considerar que uma variante considerada ‘neutra’
como a categoria vazia pode ser a estratégia perfeita: de um lado, há o valor
positivo atribuído pela escola a uma variante como o clítico acusativo, mas que é
83
considerada ‘pernóstica’ por muitos falantes (cf. TARALLO e DUARTE, 1988); de
outro, a possibilidade de usar uma variante como a categoria vazia, bem aceita
pelos falantes na maior parte dos ambientes.
A avaliação dos falantes (variável dependente), através da categoria do tipo
de resposta (sempre, às vezes, raramente, nunca), será analisada em função das
variáveis independentes animacidade do referente combinada com a estrutura
sintática da sentença e da faixa de escolaridade dos informantes. As variáveis
idade e sexo foram desconsideradas, sendo que esta última não seestudada
devido ao exposto por Santos (1972 e 1996) e Mollica (1995) quanto à irrelevância
dessa variável para estudos sobre atitude lingüística. Conforme Mollica (2002):
Em princípio, estruturas de maior valor de mercado nos termos de
Bourdieu (1977) parametrizam-se com grau alto de monitoramento e de
letramento. Maior sensibilidade, percepção e planejamento lingüístico são,
via de regra, pré-condição à produção das formas de prestígio e disposição
adequada para eliminarem-se estigmas sociolingüísticos seja na fala seja
na escrita. Os lingüistas brasileiros têm-se voltado para analisar essas
relações e o preconceito lingüístico tem sido um ponto muito debatido na
área (conferir, por exemplo, Bagno 2000), na medida em que predominam
as práticas pedagógicas assentadas em diretrizes maniqueístas do tipo
certo/errado, tomando-se como referência o padrão culto.
3.1.Objetivos
O poder da gramática normativa dissemina crenças e valores, tornando
‘reais’ aos falantes regras que não são usadas de fato, o que é comprovado pelos
testes de produção. O teste de atitude mostra, na verdade, a influência da escola e
da gramática, com suas regras posto que o falante sabe que está sendo testado.
Acredita-se também que ele reagirá de forma diferente se o teste seja em áudio ou
escrito, havendo nesse último maior visibilidade da estrutura.
Mollica (2000), ao discutir a relação entre estigma e escola, comenta o fato
de que poucos trabalhos cujo objetivo seja avaliar a forma como a escola
84
reproduz a visão dominante de língua (p. 24). Mais adiante a autora pondera que a
escola atua como um freio às mudanças. Somando-se isso ao problema da
avaliação formulado por WLH pretende-se:
1. Avaliar se a atitude do falante em relação à estratégia utilizada estará
relacionada a condicionamentos internos, ou seja, se a freqüência mais alta de uso
de uma determinada variante pode fazer com que essas estruturas tenham
avaliação mais positiva.
2. Avaliar se, a atitude em relação a formas mais sujeitas a correção, muda em
função da complexidade da estrutura.
3. Analisar o comportamento de alunos nas três escolaridades escolhidas de modo
a observar se a escola é capaz de desenvolver no falante uma idéia valorativa
sobre estruturas da língua que se encontrem em mudança.
3.2. Hipóteses
Segundo Labov (1972) em testes de percepção o falante deve escolher
entre várias formas aquela que ele utiliza e suas respostas incorrem sobre formas
de maior prestígio, ainda que eles não as usem efetivamente. Após a elaboração
do último teste piloto, elaboraram-se as seguintes hipóteses:
1. Quanto maior for o tempo de permanência do indivíduo na escola, maior será
sua percepção do pronome clítico como variante prestigiada.
2. O pronome lexical apresentará:
a) julgamento diferenciado para as modalidades falada e escrita da língua, sendo
mais aceito para a primeira que para a segunda;
85
b) julgamento diferenciado dependendo da escolaridade do informante.
3. O objeto direto anafórico representado pela categoria vazia, dado seu baixo
estigma, terá avaliação mais positiva.
3.3. A elaboração dos testes
Sendo a atual pesquisa um trabalho acerca das atitudes dos sujeitos face
às variantes do objeto direto anafórico, foram usadas variáveis apontadas por
Duarte (1986), e retomadas em outras pesquisas como as de Averbug (2000) e
Freire (2000) para a montagem dos testes. Cabe comentar que a pesquisa de
Duarte coletou dados de fala natural a partir dos quais as variáveis foram
selecionadas, tendo sido o trabalho de Averbug a confirmação do efeito dessas
variáveis na produção escrita de alunos.
Escolheram-se apenas as variáveis estruturais consideradas mais
produtivas pelas autoras: o traço de animacidade do referente e a complexidade
da estrutura para a montagem das frases a serem usadas nos testes 1 e 2. As
estruturas presentes nos dois tipos de testes serão avaliadas pelos informantes
em relação à fala informal e à escrita formal.
Conceituam-se fala e escrita neste trabalho de forma ampla ficando a
primeira como “[...] uma forma de produção textual discursiva para fins
comunicativos na modalidade oral, sem a necessidade de uma tecnologia além do
aparato disponível pelo próprio ser humano[...]” e a segunda “[...] seria um modo
de produção textual-discursiva para fins comunicativos com certas especificidades
materiais e se caracterizaria por sua constituição gráfica [...]” (MARCUSCHI:2004,
25).
86
Segundo Marcuschi (op.cit., p. 41) fala e escrita apresentam um continuum
de variações. Para a fala, esse autor divide o contínuo dos gêneros textuais em
conversações, constelações de entrevistas, apresentações e reportagens e
exposições acadêmicas. Para a escrita, tem-se as comunicações pessoais, as
comunicações públicas, os textos instrucionais e os textos acadêmicos.
Para a realização da presente pesquisa optou-se por trabalhar os dois
pólos, analisando-se a fala informal, situada no nível conversações, e a escrita
formal, situada no nível textos acadêmicos.
Para todos ambientes descritos a seguir, haverá três sentenças distribuídas
no teste 1 em seus modelos 1, 2 e 3 (Transcrições no anexo 1), sendo que em
cada um dos modelos do teste, a referida sentença aparecerá com uma variante
diferente. Assim, se no modelo 1 a sentença aparece com a retomada do objeto
direto anafórico realizada através do pronome clítico, nos modelos 2 as retomadas
serão feitas através das outras variantes. Para as demais sentenças, essa
alternância entre as variantes também será respeitada.
A estrutura do teste 1 segue a do quadrado latino, proposta em Greene e
D’Oliveira (1999) em que os sujeitos são submetidos às mesmas condições, no
caso, estruturas com controle de animacidade do referente e o tipo de estrutura
sintática com as três variantes, objeto desse estudo, mas recebem estímulos
diferentes. Ou seja, todos os sujeitos submetidos ao teste nunca receberão a
mesma sentença em três versões diferentes (com clítico, pronome lexical e
categoria vazia). O objetivo é evitar o efeito da estrutura repetida na percepção
das variantes Por exemplo, a sentença no modelo 1 aparece sob a forma “Carolina
adora brincar com meus livros. Acho que quer conhecê-los de perto” . No modelo
2, tem-se uma versão com pronome lexical: “Carolina adora brincar com meus
87
livros. Acho que quer conhecer eles de perto.” e no modelo 3 a versão com
categoria vazia que gerou a sentença “Carolina adora brincar com meus livros.
Acho que quer conhecer de perto.”
Conforme será explicado a seguir, as sentenças 1, 2 e 3 foram usadas
como treino, não sendo contabilizadas e, portanto, não descritas abaixo. O teste
de áudio, conforme transcrição dos três modelos (anexo 1), apresentou diferentes
versões das sentenças distribuídas da seguinte forma:
a) sentenças 4 e 6:
§ sentença 4 teste 1: versão com pronome clítico; teste 2: versão com
pronome lexical; teste 3: versão com categoria vazia;
§ sentença 6 teste 1: versão com pronome lexical; teste 2: versão com
categoria vazia; versão com pronome clítico.
b) sentença 5 teste 1: versão com categoria vazia; teste 2: versão com
pronome clítico; teste 3: versão com pronome lexical.
c) sentenças 7,8,9:
§ sentença 7 - teste 1: versão com pronome clítico; teste 2: versão com
pronome lexical; teste 3: versão com categoria vazia;
§ sentença 8 teste 1: versão com pronome lexical; teste 2: versão com
pronome clítico; teste 3 - versão com categoria vazia;
§ sentença 9 teste 1: versão com categoria vazia; teste 2: versão com
pronome lexical; teste 3: versão com pronome clítico.
d) sentenças 10,11,12:
§ sentença 10 teste 1: versão com a categoria vazia; teste 2: versão com o
pronome lexical; teste 3: versão com pronome clítico;
88
§ sentença 11 – teste 1: versão com pronome lexical; teste 2: versão com
pronome clítico; teste 3: versão com categoria vazia.
§ sentença 12 – teste 1: versão com pronome clítico; teste 2: versão com
categoria vazia; teste 3 - versão com pronome lexical.
e) sentenças 13,14,15:
§ sentença 13 – teste 1: versão com pronome clítico; teste 2: versão com
categoria vazia; teste 3 - versão com pronome lexical.
§ sentença 14 – teste 1: versão com categoria vazia; teste 2: versão com
pronome lexical; teste 3: versão com pronome clítico;
§ sentença 15 – teste 1: versão com pronome lexical; teste 2: versão com
pronome clítico; teste 3 - versão com categoria vazia.
f) sentenças 16,17,18:
§ sentença 16 – teste 1: versão com pronome lexical; teste 2: versão com
categoria vazia; teste 3: versão com pronome clítico;
§ sentença 17 – teste 1: versão com categoria vazia; teste 2: versão com
pronome clítico; teste 3: versão com pronome lexical;
§ sentença 18 – teste 1: versão com pronome clítico; teste 2: versão com
pronome lexical; teste 3: versão com categoria vazia.
g) sentenças 19 e 21:
§ sentença 19 – teste 1: versão com pronome clítico; teste 2: versão com
categoria vazia; teste 3: versão com pronome lexical;
§ sentença 21 – teste 1: versão com categoria vazia; teste 2: versão com
pronome lexical; teste 3: versão com pronome clítico.
h) sentença 20: teste 1: versão com categoria vazia; teste 2: versão com pronome
clítico; teste 3: versão com categoria vazia.
89
3.3.1 Os testes: o teste de áudio e o teste escrito
O teste 1 é um teste auditivo desenvolvido a partir da leitura do capítulo The
study of language in its social context (LABOV:1972). Não há no referido capítulo a
proposta de um teste exatamente igual ao que se segue, mas acredita-se que
através desse teste será possível analisar a influência dos ambientes selecionados
sobre as variantes estudadas, criando-se, assim, um teste de avaliação subjetiva
para uma estrutura sintática. Segundo Labov (2006:266), um teste de avaliação
subjetiva possibilita análises diferentes das obtidas quando se fazem perguntas
de forma direta. Isso porque, segundo o autor, a maior parte das respostas acerca,
por exemplo, de variantes fonológicas
[...] ocorrem como parte de um conjunto de reações a muitas variáveis.
Não há vocabulário de termos socialmente significativos através dos
quais nossos informantes possam avaliar a fala para nós. Nós
precisamos, portanto, proceder, não com perguntas diretas, mas
elicitando algum tipo de comportamento avaliativo que seja sensível o
suficiente para para refletir a influência de muitas variáveis [...]
Espera-se com o teste auditivo proposto observar o comportamento dos
alunos diante das estratégias de retomada do objeto direto, analisando a relação
entre a atitude dos informantes e a escolaridade destes. Labov (1972) afirma que
“De fato, parece plausível definir uma comunidade de fala como um grupo de
falantes que compartilham um conjunto de atitudes para com a língua” (p. 248,
minha tradução).
Na mesma página, o autor comenta que certos marcadores lingüísticos
tornam-se estereótipos e que pode ou não haver uma relação entre eles e o uso
real. Desse modo, torna-se interessante à presente pesquisa avaliar qual seo
comportamento dos informantes em relação ao pronome lexical, variante
90
considerada estigmatizada, e em relação à categoria vazia, o prescrita pelas
gramáticas normativas mas apresentado no estudo de Duarte como
amplamente utilizada pelos falantes do português brasileiro utilizados para compor
seu corpus.
Para a realização do teste de áudio, gravou-se um cd com os três modelos
de teste (Transcritos no anexo 1) e deixou-se claro para os informantes que eles
deveriam marcar na ficha distribuída (Anexo 2) a alternativa de acordo com a
freqüência de uso da estrutura presente na segunda sentença.
As turmas foram divididas em dois grupos: metade dos informantes deveria
observar a freqüência de uso para a fala informal a outra metade para a escrita
formal. Após essa explicação, tocava-se o cd, usando-se as três primeiras faixas
como treino, checando-se, sempre, se os informantes realmente haviam
compreendido como deveriam encaminhar suas respostas. Entre uma e outra
faixa de treino, deu-se um intervalo com a tecla pause, de modo a checar a
compreensão dos alunos quanto aos procedimentos a serem por eles adotados.
Teve-se o cuidado de explicar com a maior clareza possível o que seria
‘freqüência’. Além disso, em todas as turmas em que o teste foi realizado, houve,
pelo menos por parte de um aluno, a pergunta “É para olhar certo/errado?”. Foi
interessante, no momento da coleta de dados, observar o comportamento dos
alunos, pois, ainda que o comando fosse para que os alunos indicassem a
freqüência com que usavam certa estrutura, eles insistiam em perguntar se
deveriam “olhar o certo e o errado”.
As três primeiras sentenças, usadas para exemplificar o procedimento do
teste, possuíam instruções gravadas, forçando, assim, que em todas as turmas de
coleta, o procedimento não variasse. O texto da gravação era o seguinte: “Vocês
91
vão ouvir duas sentenças relacionadas entre si. Diga com que freqüência você usa
a segunda. Por exemplo, 1. Eu gosto muito de andar de bicicleta com meus
primos. Todo sábado eu vou chamar eles para ir ao calçadão. A sentença a ser
avaliada é a segunda “Todo sábado eu vou chamar eles para ir ao calçadão”.
vocês marcam com que freqüência vocês usam a sentença. Outro exemplo 2.
Comprei o DVD do homem Aranha 3 por trinta e quatro reais. Meu colega o
comprou por trinta e nove reais. A sentença a ser avaliada é “Meu colega o
comprou por trinta e nove reais”. De novo, vocês marcam com que freqüência
usam a sentença. Outro exemplo 3. Ganhei um tênis novo. Ainda não usei. De
novo, vocês marcam com que freqüência usam a sentença. Todos entenderam?”
Conforme dito anteriormente, durante a execução dessas três primeiras
sentenças, o indivíduo que aplicou os testes interagia com os alunos, verificando o
entendimento dos alunos quanto à realização do teste. O procedimento adotado foi
o seguinte:
a) tocava-se a faixa 1;
b) parava-se a reprodução através da tecla pause;
c) perguntava-se: “Todos entenderam? Alguém tem dúvida quanto ao que deve
ser feito?”
Caso houvesse alguma pergunta, essa era respondida e tocava-se a faixa 2,
repetindo-se as etapas de (a) a (c) acima. O mesmo procedimento era adotado
para a faixa três. Da sentença quatro em diante, não havia nenhum tipo de
interação com os informantes, fato que também foi avisado aos alunos antes de
prosseguir com a aplicação do teste. O cd não foi tocado mais de uma vez, o que
significa que, se o informante não marcasse a categoria escolhida logo após a
audição, não o faria. Para a montagem das sentenças foram selecionadas as
92
variáveis a seguir distribuídas pelas seguintes estratégias; pronome clítico,
pronome lexical e categoria vazia.
Na ficha, o informante deveria assinalar a freqüência de uso da estrutura
ouvida. Na escolha das freqüências tem-se, de um lado, as possibilidades de uso
“sempre” e “às vezes” indicando a aceitação na escolha da variante, e de outro,
“nunca” e “raramente” indicativas de rejeição.
Para a elaboração do teste escrito, escolheram-se seis sentenças do teste
anterior, que foram apresentadas nas três possibilidades de retomada do objeto
direto aqui estudadas (Anexo 3). Como esse teste foi aplicado logo após o teste
de áudio, não se fizeram necessárias maiores explicações quanto ao que seria
‘freqüência’ de uso. Manteve-se a separação anterior, de modo que os alunos que
realizaram o teste de áudio para a fala, fizeram o teste escrito para a mesma
modalidade. O comando foi “Marque com que freqüência você usa a segunda
sentença dos conjuntos de sentença abaixo”.
Diferentemente do teste de áudio, para o teste escrito os alunos ficaram
mais livres em relação ao tempo, tendo quinze minutos para fazê-lo e entregando-
o quando terminaram. Cabe comentar, que esses quinze minutos foram apenas
usados como controle do aplicador do teste, o sendo dito aos alunos o tempo
que teriam, embora todos os alunos tenham-no entregado antes do tempo
previsto.
A intenção do teste escrito foi promover uma situação em que as variantes
ficassem mais visíveis, que apareceriam em três versões diferentes de uma
mesma frase. Com as estratégias de retomada mais perceptíveis, seria possível
contrastar o comportamento dos informantes com o teste de áudio, em que elas
ficaram menos visíveis. A idéia para a elaboração desse teste surgiu a partir da
93
leitura de dois capítulos diferentes do livro Sociolinguistic Patterns. No capítulo 3,
Labov comenta sobre quatro diferentes tipos de testes, e encaminha seus testes
de um modelo mais informal para o modelo mais formal, indo, assim, da situação
da entrevista até a leitura de pares mínimos, sendo esse último um contexto que
favorece maior visibilidade das variantes da variável estudada.
Desse modo, o teste escrito foi elaborado de forma a deixar o objeto de
estudo em questão, as variantes do objeto direto anafórico, visível ao informante,
de modo a analisar qual seria a influência da variável escolaridade diante do
comportamento dos informantes. Além desse teste, a leitura sobre o teste de
correção vernacular proposto por Labov reforçou a necessidade de investigar qual
seria a resposta dos informantes diante das sentenças apresentadas, variando-se,
apenas, a estratégia de retomada do objeto direto.
As análises dos testes de áudio serão apresentadas nos capítulos 4 e 5 ;
as análises do teste escrito, tanto para a modalidade falada, quanto para a
modalidade escrita serão apresentadas no capítulo 6. Para melhor visualização
dos resultados, optou-se por manter nos capítulos apenas as tabelas que
apresentaram valores relevantes para as análises, ficando as demais organizadas
nos anexos 4, 5 e 6. A numeração das tabelas nos anexos manteve a seqüência
de numeração do capítulo ao qual se refere. Por exemplo: que a última tabela
do capítulo 4 foi a de número 4.7, a primeira tabela do anexo 4 possui número 4.8,
raciocínio utilizado também nos capítulos 5 e 6.
94
3.4. Estruturas selecionadas para a elaboração dos testes
Todos os seis ambientes mencionados a seguir, serão cruzados com o fator
escolaridade, que é objetivo dessa pesquisa avaliar até ponto a escola
desenvolve no indivíduo a sensibilidade lingüística. Apresentam-se a seguir as
variáveis estruturais baseadas no trabalho de Duarte (1986), mas, no presente
trabalho, agrupadas de maneira particular, além das respectivas sentenças
montadas a partir desse agrupamento. A estrutura presente nas primeiras três
frases usadas como treino não será comentada.
3.4.1. Referente [+animado] e verbo no infinitivo
Os estudos de Duarte (1986) apontam que quando o referente é [+animado]
e o verbo encontra-se no infinitivo tem-se um ambiente favorecedor da realização
do objeto como pronome acusativo na forma lo e suas variantes.
§ Sentença 4
Meu filho quebrou o braço fazendo esportes radicais. Tive que proibi-lo de andar
de skate.
Meu filho quebrou o braço fazendo esportes radicais. Tive que proibir ele de andar
de skate.
Meu filho quebrou o braço fazendo esportes radicais. Tive que proibir de andar de
skate.
§ Sentença 6
Patrícia adora brincar com meus filhos. Toda tarde ela vem chamá-los para a
pracinha.
Patrícia adora brincar com meus filhos. Toda tarde ela vem chamar eles para a
pracinha.
Patrícia adora brincar com meus filhos. Toda tarde ela vem chamar para a
pracinha.
95
Para as análises das sentenças 4 e 6, apresenta-se nas tabelas (4.1, 4.8,
4.21, 5.1, 5.2, 5.12) uma diferença no número total de informantes nem cada
célula. Essa diferença ocorreu porque, ao serem separadas as sentenças 4, 5, e 6,
a distribuição das variantes pelos testes ficou: pronome clítico: teste 1 e teste 3;
pronome lexical: teste 1 e teste 2; categoria Vazia: teste 2 e teste 3. Como o
número de informantes que realizou cada um dos testes foi diferente (cf. tabela p.
102), o número total de alunos também varia.
Assim, para as análises da modalidade falada:
1. para a 5ª. série, a avaliação:
a) do pronome clítico teve o total de alunos foi de 25 porque essa variante
apareceu no teste 1, feito por 11 alunos e no teste 3 feito por 14 alunos;
b) do pronome lexical teve o total de 24 alunos porque o teste 1 foi feito por 11
alunos e o teste 2 foi feito por 13 alunos;
c) da categoria vazia teve o total de 27 alunos porque o teste 2 foi feito por 13
alunos e o teste 3 por 14 alunos.
2. para o 1º ano, a avaliação:
a) do pronome clítico teve o total de alunos foi 23 porque essa variante apareceu
no teste 1, feito por 13 alunos e no teste 3 feito por 10 alunos;
b) do pronome lexical teve o total de alunos foi de 27: 13 alunos realizaram o
teste 1 e 14 alunos realizam o teste2;
c) da categoria vazia teve o total foi de 24 alunos: 14 alunos fizeram o teste 2 e
10 fizeram o teste 3.
3) Para os universitários, o número de informantes em cada célula foi igual a 3º,
pois 15 informantes realizaram cada um dos testes.
96
Para as análises da modalidade escrita, os valores, mais uma vez foram
diferentes:
1. para a 5ª. série, a avaliação:
a) do pronome clítico o total de alunos foi de 21 porque essa variante apareceu no
teste 1, feito por 11 alunos e no teste 3 feito por 10 alunos;
b) do pronome lexical teve o total de 23 alunos porque o teste 1 foi feito por 11
alunos e o teste 2 foi feito por 12 alunos;
c) da categoria vazia teve o total de 22 alunos porque o teste 2 foi feito por 12
alunos e o teste 3 por 10 alunos.
2. para o 1º ano, a avaliação:
a)do pronome clítico teve o total de alunos foi 18 porque essa variante apareceu
no teste 1, feito por 7 alunos e no teste 3 feito por 11 alunos;
b)do pronome lexical teve o total de alunos foi de 18: 7 alunos realizaram o teste 1
e 11 alunos realizam o teste2;
c)da categoria vazia teve o total foi de 22 alunos: 11 alunos fizeram o teste 2 e 11
fizeram o teste 3.
3) Para os universitários, o número de informantes variou: para os testes 1 e 2
houve quinze informantes e para o teste 13 informantes.
3.4.2. Referente [+animado] e verbo no imperativo
A sentença 5 fazia, originalmente, parte com as sentenças 4 e 6 um único
conjunto de sentenças. Em sua primeira versão, tinha-se “Mariana terminou com
o namorado de novo. Eu tento conversar com ela, mas ela pede para eu deixá-
la viver como ela acha melhor.” Essa versão fugiu ao padrão das anteriores por
97
fugir ao padrão de um período composto por apenas duas orações necessário à
realização do teste.
Para adequar as estruturas ao teste de modo que ficasse mais claro qual
sentença os sujeitos deveriam avaliar, as modificações envolvidas na
reestruturação transformaram a sentença numa versão apenas com o imperativo
“Mariana está triste. Deixe-a em paz”.
A mesma diferença no número de informantes em cada célula que ocorreu
com as sentenças 4 e 6, (tabelas 4.10, 4.17, 4.23, 5.2, 5.13, 5.19) irá ocorrer aqui.
Para a frase 5, as variantes foram distribuídas da seguinte forma: pronome clítico
(teste 2); pronome lexical (teste 3) e categoria vazia (teste 1). Desse modo, o
número total de informantes irá variar, tanto para a fala quanto para a escrita,
conforme o exposto na tabela da página 104.
§ Sentença 5
Mariana está triste. Deixe-a em paz.
Mariana está triste. Deixa ela em paz.
Mariana está triste. Deixa em paz.
3.4.3. Referente [-animado] e verbo no infinitivo
Nas sentenças de 7 a 9, o referente é do tipo [- animado] e o verbo
encontra-se no infinitivo. Os resultados encontrados por Duarte apontam que a
categoria vazia é a estratégia mais utilizada pelos informantes independente da
estrutura. Apesar disso, a autora comenta que 76,3% dos apagamentos do objeto
direto ocorreram com o referente [-animado]. que o verbo no infinitivo favorece
a ocorrência do pronome clítico, pretende-se avaliar o comportamento dos
informantes diante dessa estrutura mista.
98
§ Sentença 7
Carolina adora brincar com meus livros. Acho que quer conhecê-los de perto.
Carolina adora brincar com meus livros. Acho que quer conhecer eles de perto.
Carolina adora brincar com meus livros. Acho que quer conhecer de perto.
§ Sentença 8
Meu filho não gosta de levar o lixo para fora. Toda vez que eu peço para levá-lo é
uma briga.
Meu filho não gosta de levar o lixo para fora. Toda vez que eu peço para meu filho
levar ele é uma briga.
Meu filho não gosta de levar o lixo para fora. Toda vez que eu peço para meu filho
levar é uma briga.
§ Sentença 9
O jardineiro nunca molha roseira da minha mãe. Por mais que eu peça, ele sempre
esquece de molhá-la.
O jardineiro nunca molha roseira da minha mãe. Por mais que eu peça, ele sempre
esquece de molhar ela..
O jardineiro nunca molha roseira da minha mãe. Por mais que eu peça, ele sempre
esquece de molhar.
3.4.4. Referente [+animado] e verbo flexionado
Apesar de não ser a estratégia preferencial de retomada, os estudos de
Duarte (1986) atestam que o traço de animacidade do referente favorece a
ocorrência do pronome clítico. No primeiro e no segundo conjuntos de sentenças,
foram escolhidos, propositalmente, os verbos conhecer e ver, que segundo
Duarte (ib.) grande ocorrência de pronome clítico, “[...] quando se tem um
tempo simples do indicativo (notadamente o presente e o passado dos verbos ver
e conhecer).”(p. 21) Devido a um novo agrupamento, a sentença 16 teve que ser
99
analisada juntamente às sentenças 10,11 e 12, alterando-se novamente o número
de informantes conforme exposto à tabela na página 104.
Como o referente [+animado] favorece também o pronome lexical, espera-
se que nas sentenças 10, 11, 12 e 16 haja maior aceitação dessas estruturas que
da categoria vazia.
§ Sentença 10
Sempre via Pedro correndo na lagoa. Depois que casou, não o vejo mais.
Sempre via Pedro correndo na lagoa. Depois que casou, não vejo ele mais.
Sempre via Pedro correndo na lagoa. Depois que casou, não vejo mais.
§ Sentença 11
Júlia arranjou um namorado novo. Eu já o conheci.
Júlia arranjou um namorado novo. Eu já conheci ele.
Júlia arranjou um namorado novo. Eu já conheci.
§ Sentença 12
Camila passou dois meses fora do Brasil. Eu a encontrei no shopping ontem.
Camila passou dois meses fora do Brasil. Eu encontrei ela no shopping ontem.
Camila passou dois meses fora do Brasil. Eu encontrei no shopping ontem.
§ Sentença 16
Meu irmão voltou para casa. Meus avós levaram-no para o aeroporto.
Meu irmão voltou para casa. Meus avós levaram ele para o aeroporto.
Meu irmão voltou para casa. Meus avós levaram para o aeroporto.
3.4.5. Referente. [-animado] e verbo flexionado
Nas sentenças 13,14 e 15 a seguir tem-se o referente [- animado], ambiente
que desfavorece o aparecimento do clítico e do pronome lexical.
100
§ Sentença 13
Comprei o 6º. Livro do Harry Potter no ano passado. Eu ainda não o li.
Comprei o 6º. Livro do Harry Potter no ano passado. Eu ainda não li ele.
Comprei o 6º. Livro do Harry Potter no ano passado. Eu ainda não li.
§ Sentença 14
O técnico consertou meu MP3. Meu pai o apanhou na loja.
O técnico consertou meu MP3. Meu pai apanhou ele na loja.
O técnico consertou meu MP3. Meu pai apanhou na loja.
§ Sentença 15
A professora já corrigiu minha prova. Ainda não a peguei.
A professora já corrigiu minha prova. Ainda não peguei ela.
A professora já corrigiu minha prova. Ainda não peguei.
3.4.6. Referente [+ animado] e estrutura complexa
Juntando-se o condicionamento sintático e o condicionamento semântico
tem-se que a presença de estrutura complexa aliada a um referente [+animado]
favoreceria a aceitação do pronome lexical. Nesse ambiente, em Duarte (1986),
70,4% das retomadas do objeto direto foram com o pronome lexical, 21,1% foram
da categoria vazia e 6% foram com o pronome clítico.
§ Sentença 17
Estudei com essa professora no ano passado. Achei-a maravilhosa.
Estudei com essa professora no ano passado. Achei ela maravilhosa.
Estudei com essa professora no ano passado. Achei maravilhosa.
101
§ Sentença 18
Minha avó morreu há mais de dois anos. Às vezes, a sinto por aí.
Minha avó morreu há mais de dois anos. Às vezes, sinto ela por aí.
Minha avó morreu há mais de dois anos. Às vezes, sinto por aí.
3.4.7. Referente [- animado] e estrutura complexa
Segundo Duarte (1986), o referente [-animado] aliado à complexidade da
estrutura complexa da sentença favorece o apagamento do objeto direto, posto
que houve 100% de apagamento do objeto nesse ambiente. Assim, postula-se
mais uma vez que esse seria um ambiente em que haja mais rejeição ao pronome
clítico e ao pronome lexical do que à categoria vazia.
As sentenças 19 e 21 são no presente trabalho classificadas como
portadoras de estrutura complexa, que ambas possuem predicativo dos objeto.
Esse predicativo é na verdade sujeito de uma mini-oração: eu acho [que ele é] tão
prático. A sentença 20, formada por verbo transitivo direto e indireto com objeto
direto oracional, também foi considerada como complexa.
A diferença no número de informantes em cada célula que ocorreu com a
separação para análise das frases 4,5 e 6 ocorrerá nas sentenças 19, 20 e 21.
Nas sentenças 19 e 21: o pronome clítico aparece nos testes 1 e 3; o pronome
lexical, nos testes 2 e 3; a categoria vazia, nos testes 1 e 2. Conforme exposto
anteriormente, o número total de alunos que executou cada um dos testes, para a
modalidade falada e para a modalidade escrita, está discriminado na tabela da
página 104.
102
§ Sentença 19
Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu o acho tão prático!
Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu acho ele tão prático!
Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu acho tão prático!
§ Sentença 20
Aline contou para Márcia que está grávida. Márcia contou para todo mundo.
Aline contou para Márcia que está grávida. Márcia o contou para todo mundo.
Na sentença acima, não foi escrita uma versão em que a retomada do
objeto direto fosse realizada pelo pronome lexical, haja vista o estranhamento que
causaria a sentença “Aline contou para Márcia que está grávida. Márcia contou ele
para todo mundo.” Assim, para a sentença 21, a categoria vazia apareceu nos
testes 1 e 3 e o pronome clítico no teste 2.
§ Sentença 21
Usei essa roupa na festa. Todos acharam-na linda.
Usei essa roupa na festa. Todos acharam ela linda.
Usei essa roupa na festa. Todos acharam linda.
3.5. A composição da amostra
Como o objetivo da presente pesquisa foi realizar um estudo de caso,
escolheu-se apenas uma instituição para a coleta de cada tipo de amostra: as
turmas de quinta-série, atualmente chamada de 6ª. série do Ensino Fundamental,
e do primeiro ano do Ensino Médio são do Colégio Militar do Rio de Janeiro,
enquanto os universitários do curso de Letras pertencem ao curso de graduação
da Universidade Estácio de Sá.
103
A Universidade Estácio de Sá foi escolhida por ser a maior instituição
particular de ensino superior do país e o Colégio Militar por reunir características
consideradas interessantes para um estudo de atitude. Essa instituição de ensino
é tradicional no Rio de Janeiro e caracteriza-se por receber alunos de duas
formas: via concurso blico ou via vaga fornecidas a filhos de militares, que
tenham sido transferidos para a cidade do Rio de Janeiro.
A amostra compõe-se de 38 informantes da sexta série do Ensino
Fundamental (antiga quinta-série) para a modalidade falada e 33 para a
modalidade escrita; 37 informantes do Ensino Médio para a modalidade falada e
28 para a modalidade escrita; 45 universitários para a modalidade falada e 43 para
a modalidade escrita. Esses informantes dividiram-se da seguinte forma:
104
Escolaridade Modalidade Teste No. de
informantes
Grupo 1 5ª série Fala Teste 1 11
Grupo 1 5ª série Escrita Teste 1 11
Grupo 2 5ª série Fala Teste 2 13
Grupo 2 5ª série Escrita Teste 2 12
Grupo 3 5ª série Fala Teste 3 14
Grupo 3 5ª série Escrita Teste 3 10
Grupo 4 1
o
ano Fala Teste 1 13
Grupo 4 1
o
ano Escrita Teste 1 7
Grupo 5 1
o
ano Fala Teste 2 14
Grupo 5 1
o
ano Escrita Teste 2 11
Grupo 6 1
o
ano Fala Teste 3 10
Grupo 6 1
o
ano Escrita Teste 3 11
Grupo 7 Universitários Fala Teste 1 15
Grupo7 Universitários Escrita Teste 1 15
Grupo 8 Universitários Fala Teste 2 15
Grupo 8 Universitários Escrita Teste 2 15
Grupo 9 Universitários Fala Teste 3 15
Grupo 9 Universitários Escrita Teste 3 13
Quadro 3.1. Distribuição dos informantes por teste.
O número de informantes do Colégio Militar foi variado porque essa escola
fornece aos alunos muitas atividades extra-curriculares. Assim, como a coleta foi
sempre realizada em horários vagos, apenas os alunos livres puderam participar.
Como foi estabelecido um prazo para que a coleta se realizasse, foi necessária a
seguinte estratégia: usando a mesma sala de aula, dividia-se a turma em dois
grupos, pedindo-se que um determinado grupo realizasse o teste em relação à fala
e outro grupo em relação à escrita.
Como os valores encontrados serão submetidos ao teste estatístico descrito
no capítulo 4 (item 4.1.) e os valores percentuais é que foram considerados, o
105
número diferente de informantes em cada célula não prejudicará a análise.
Embora tenha sido considerada a possibilidade de se suprimirem alguns alunos
para igualar o numero de informantes, decidiu-se mantê-los, pois todos os
informantes preencheram uma ficha social. Retirar um informante aleatoriamente
poderia retirar também uma informação interessante contida na ficha social por ele
preenchida.
A variável independente escolaridade dos informantes possibilitará a análise
da relação entre os valores que norteiam o julgamento subjetivo dos falantes para
as variáveis estudadas em relação ao papel da escola. Considerou-se apenas a
variável escolaridade na escolha dos informantes, que é ela a que comanda
parte das hipóteses deste trabalho. Não foi considerada a variável sexo, que o
trabalho pioneiro de atitude de Santos (1996) considerou-a irrelevante. O controle
das estruturas lingüísticas permitirá observar se ambientes em que,
independente da escolaridade, o informante não perceba a realização da variante.
Para integrar o grupo com escolaridade de nível universitário, escolheram-se
apenas alunos do curso de Letras devido ao exposto em Santos em seu capítulo
Reflexões Finais quando comenta a atuação dos alunos de curso superior
Eles mostraram [...] um grande consenso de atitudes, não apenas sobre
a heterogeneidade lingüística em geral, mas também sobre todas as
variantes particulares pesquisadas e nas quais a escola estava
interessada. Isto, [...]mostra que esses alunos estão em condições de,
eventualmente, usar os valores que a escola prescreve.
Entre esses alunos de cursos superiores estão os estudantes de Letras,
futuros professores de português [...] sem condições de levar o aluno a
realizar, por treinamento, os valores que a escola prescreve, mas
perfeitamente aptos a transmitir ao aluno as informações sobre as
crenças e atitudes escolares tradicionais. (p. 109)
Assim, alunos do curso de Letras representam um tipo especial de
Universitários, cujas atitudes, trazidas da vida escolar e, provavelmente,
modificadas pelo contato com a Lingüística ao longo da graduação, e a reflexão
106
objetiva sobre as estruturas da língua nas disciplinas de Língua Portuguesa,
influenciarão seu comportamento quando atuarem como professores de Língua
Portuguesa.
Durante a coleta realizada no Colégio Militar, um fato curioso aconteceu
antes do início dos testes. Durante a distribuição das fichas a serem preenchidas
pelos alunos, em todas as turmas houve alunos que perguntavam se o teste era
para marcar certo e errado. Mesmo após ser explicado que eles deveriam
observar as freqüências de uso das estruturas, alguns ainda insistiam, ignorando
as freqüências de uso escritas no alto das colunas (sempre, às vezes, raramente,
nunca). Esse comportamento demonstra a ideologia propagada pelo ensino de
que, em termos de uso de língua, algo é ‘bom’, e ‘correto’ e tudo que não preencha
esse requisito enquadra-se no pólo oposto do ‘ruim’ e ‘incorreto’.
3.6. A ficha social
Além dos dois testes realizados, foi elaborada uma ficha social (Anexo 7),
com o objetivo caracterizar os informantes. A idéia dessa ficha surgiu após a leitura
do texto abaixo escrito por Mollica (2002)
A busca de variáveis sociais não convencionais para o entendimento da
variação lingüística numa sociedade tão complexa como a brasileira, em
que a categorização por classe social segundo parâmetros como renda,
local de moradia, escolarização e profissão não é claramente delimitada,
tem motivado o controle de aspectos mais sutis da ambientação material e
cultural dos indivíduos e do seu grau de integração aos valores veiculados
pelos meios de comunicação de massa.” (p.12)
A análise da ficha social foi realizada de forma qualitativa e serão
comentadas apenas as respostas em relação à pergunta 6 - “O que na sua fala faz
107
com que você pense que você fala bem?”- por ter essa pergunta gerado as
respostas mais interessantes.
Através dessa pergunta, foi possível observar que os três grupos de
informantes estudados acreditam “falar bem” (cf. pergunta 6) por obedecerem às
regras de concordância, tanto nominal quanto verbal. Os alunos da 5ª série, de
modo geral, acreditam que não usar gírias faz deles melhores falantes da língua
portuguesa. Houve três respostas particularmente curiosas em relação à questão 6.
Um aluno considerou que falava bem por “[...] aplicar pronome oblíquos
adequadamente[...]”; outro disse esclarecer o seu falar e um terceiro porque usava
palavras que a maioria não conhece.
Os alunos do ano vincularam “falar bem” a quatro itens básicos: falar com
sentido, utilizar palavras sofisticadas, utilizar a norma culta para falar e não usar
gírias. Três informantes acreditaram falar bem por usar os sons corretos da língua,
usando um critério fonético.
Para os universitários, foi quase unânime o uso de dois critérios: a
concordância nominal/verbal e o vocabulário, ou seja, o uso de palavras
rebuscadas. Essa questão do vocabulário foi a tal ponto presente que mais de um
informante afirmou que Acho que não bem porque tenho um vocabulário muito
pequeno.” Uma informante disse que acreditava “falar bem” pelo uso dos pronomes
la-lo-las-los”.
108
CAPÍTULO 4 - ANÁLISE DOS TESTES DE AVALIAÇÃO PARA A FALA
ESPONTÂNEA
4.1. A Ferramenta estatística – o chi-square test
Greene e D’Oliveira (1999), em um livro sobre o uso de testes estatísticos
em experimentos da psicologia, mostram o quanto as pesquisas nessa área
precisam de instrumentos estatísticos adequados para avaliar os resultados de
seus dados. Na pesquisa experimental, as previsões são formuladas como
hipóteses que precisam ser testadas para que se saiba se a previsão irá ou não se
confirmar. Essa hipótese experimental faz uma previsão sobre um evento e o
comportamento dos informantes acerca dele, mas, é importante observar que esse
comportamento ‘esperado’ pode não acontecer, ou seja, uma hipótese é sempre
testada contra uma hipótese nula. (p. 7, minha tradução, grifo meu)
Segundo as autoras, a hipótese nula mostrará que o experimentador não irá
encontrar os resultados que esperava, que quaisquer resultados encontrados
em um experimento podem flutuar aleatoriamente devido ao comportamento dos
indivíduos.
Desse modo, para as análises preliminares foi escolhido o chi-square test,
ou teste de qui-quadrado, um teste que não lida com valores e que é usado
somente quando os informantes são apresentados a uma ou mais categorias,
como, no caso do teste do presente trabalho. A freqüência de uso distribuída pelas
categorias sempre, às vezes, raramente, nunca é adequada a esse tipo de teste já
que ele faz previsões sobre quantos informantes irão ficar em cada categoria.
109
Os resultados apresentados pelo chi-square test mostrarão se os resultados
encontrados pelo pesquisador são ‘significativos’. As autoras afirmam que as
diferenças nos valores se devem a uma variabilidade aleatória causada por fatores
não previstos. Essa é a base dos testes estatísticos de significância que mostram
se as diferenças encontradas nos valores são realmente aleatórias. Quando a
probabilidade é baixa, rejeita-se a hipótese nula de que as diferenças sejam
aleatórias, já que seus resultados são estatisticamente significantes.
Greene e D’Oliveira (op.cit.) afirmam que é uma convenção em pesquisa no
campo da psicologia aceitar resultados de 1 por cento ( p < 0.01) ou 5 por cento (p
< 0.05) como índices para se rejeitar a hipótese nula. Isso significa que a
probabilidade (p) de um resultado ocorrer ao acaso é de menos (expresso pelo <)
que 1 por cento (0.01) ou 5 por cento (0.05). Nas ciências humanas em geral e na
lingüística especificamente, também se adota esse nível de significância como
parâmetro (cf. Naro, 2003).
4. 2. Análise das estruturas
Seguem-se a seguir as análises de cada uma das estruturas, apresentando-
se apenas as tabelas cujos valores apresentaram p valor significativo. As demais
tabelas encontram-se no anexo 4, organizadas por série.
4.2.1 Análise da estrutura com referente [+animado] e verbo no infinitivo
Os estímulos distribuídos nos três modelos do teste para a avaliação das
três variantes, clítico, pronome lexical e categoria vazia, na estrutura sintática em
110
que o objeto direto anafórico tem referente [+animado] e o verbo está no infinitivo
foram:
4a - Patrícia adora brincar com meus filhos. Toda tarde ela vem chamá-los para a
pracinha.
4b- Patrícia adora brincar com meus filhos. Toda tarde ela vem chamar eles para a
pracinha.
4c. Patricia adora brincar com meus filhos. Toda tarde ela vem chamar para a
pracinha.
6 a - Meu filho quebrou o braço fazendo esportes radicais. Tive que proibi-lo de
andar de skate.
6 b - Meu filho quebrou o braço fazendo esportes radicais. Tive que proibir ele de
andar de skate.
6 c - Meu filho quebrou o braço fazendo esportes radicais. Tive que proibir de
andar de skate.
Os alunos da 5
a
série e os universitários não apresentaram valores
significativos com relação a esses estímulos (Tabelas 4.8 e 4.21, anexo 4). No
entanto, os alunos do 1
o
ano apresentaram valores relevantes como pode ser
observado a seguir.
Tabela 4.1 – 1º ano: referente [+animado] e verbo no infinitivo
3
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 0 2 9% 7 30% 14 61% 23
P.Lexical 4 15% 6 22% 14 51% 3 12% 2
Categoria
Vazia
4 17% 11 46% 2 8% 7 29% 24
Observa-se na tabela 4.1, em função da distribuição dos percentuais, que
os alunos do ano do Ensino Médio avaliaram diferentemente as variantes na
estrutura com referente [+animado] e verbo no infinitivo. O resultado do teste do
qui-quadrado indica que a diferença de distribuição das respostas é significativa do
ponto de vista estatístico, sendo obtido o p-valor=0.000.
3
A diferença para os valores totais da tabela 4.1 está discriminada nas páginas 95-96.
111
O pronome clítico foi o que prevaleceu na avaliação de uso com a categoria
“sempre” com 61%. As respostas em relação ao pronome lexical concentraram-se
na categoria “às vezes”. a distribuição das respostas para a categoria vazia
parece demonstrar uma indeterminação quanto a essa variante, ou seja, o clítico
foi o único em que claramente se demonstrou uma preferência na estrutura
avaliada.
Se as respostas são agrupadas em dois níveis, “nunca+raramente” e “às
vezes+sempre”, observa-se uma concentração de respostas que indicam uma
maior aceitação do clítico e do pronome lexical. Os valores correspondem a 91% e
63% respectivamente para a junção das categorias às vezes+sempre, e 37% para
a categoria vazia. Novamente, caracteriza-se uma preferência clara pelo clítico
nessa estrutura, mas havendo também uma aceitação do pronome lexical, mas
não como preferencial.
4.2.2. Análise da estrutura com referente [+animado] e verbo no imperativo
Conforme explicado anteriormente, a frase 5, após várias modificações,
gerou uma frase no imperativo, fugindo à versão inicial com verbo no infinitivo e
referente [+animado]. Além disso, sua versão com a categoria vazia causa
estranhamento já que gerou a sentença “Mariana está triste. Deixa em paz.”
Apesar disso, o trio de estímulos gerados foi mantido com o objetivo de avaliar o
comportamento dos alunos diante do verbo deixar com o pronome clítico, o
pronome lexical e a categoria vazia, gerando as seguintes sentenças:
112
5a - Mariana está triste. Deixe-a em paz.
5 b – Mariana está triste. Deixa ela em paz.
5 c – Mariana está triste. Deixa em paz.
Para o trio de sentenças acima, nenhum dos grupos de alunos estudados
apresentou valores significativos, conforme pode ser observado nas tabelas 4.9,
4.16 e 4.22 (Anexo 4).
4.2.3. Análise da estrutura com referente [-animado] e verbo no infinitivo
Para a análise da estrutura com referente [- animado] e verbo no infinitivo,
distribuíram-se nos três modelos do teste de áudio os seguintes estímulos:
7 a - Carolina adora brincar com meus livros. Acho que quer conhecê-los de perto.
7 b - Carolina adora brincar com meus livros. Acho que quer conhecer eles de
perto.
7 c – Carolina adora brincar com meus filhos Acho que quer conhecer de perto.
8 a - O jardineiro nunca molha roseira da minha mãe. Por mais que eu peça, ele
sempre esquece de molhá-la.
8 b - O jardineiro nunca molha roseira da minha mãe. Por mais que eu peça, ele
sempre esquece de molhar ela.
8 c - O jardineiro nunca molha roseira da minha mãe. Por mais que eu peça, ele
sempre esquece de molhar.
9
a - Meu filho não gosta de levar o lixo para fora. Toda vez que eu peço para
levá-lo é uma briga.
9
b - Meu filho não gosta de levar o lixo para fora. Toda vez que eu peço para
levar ele é uma briga.
9
c - Meu filho não gosta de levar o lixo para fora. Toda vez que eu peço para
levar é uma briga.
Com as sentenças acima, somente os universitários apresentaram valores
significativos, conforme pode ser observado nas tabelas referentes à 5
a
série e ao
1
o
ano presentes no anexo 4 (4.10 e 4.17 respectivamente).
113
Tabela 4.2 – Universitários: referente [-animado] e verbo no infinitivo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 4 9% 10 22% 5 11% 26 58% 45
P.Lexical 4 9% 18 40% 17 38% 6 13% 45
Categoria
Vazia
7 15% 8 18% 13 29% 17 38% 45
Submetendo-se os valores encontrados na tabela 4.2 ao teste estatístico
encontra-se o p-valor igual a 0,000, o que significa que a diferença da distribuição
do tipo de resposta em função da variante é significativa. Analisando-se os valores
percentuais observa-se a avaliação positiva do pronome clítico, 58% na categoria
“sempre”, e da categoria vazia com percentuais de 38% e 29%, respectivamente
nas categorias “sempre” e “às vezes”, enquanto os valores encontrados para o
pronome lexical o se diferenciam muito, sendo muito próximos para respostas
que estão em direções opostas.
4.2.4. Análise da estrutura com referente [+animado] e verbo flexionado
A estrutura acima gerou as seguintes sentenças:
4
10 a - Sempre via Pedro correndo na lagoa. Depois que casou, não o vejo mais.
10 b - Sempre via Pedro correndo na lagoa. Depois que casou, não vejo ele mais.
10 c - Sempre via Pedro correndo na lagoa. Depois que casou, não vejo mais.
11
a - Júlia arranjou um namorado novo. Eu já o conheci.
11
b - Júlia arranjou um namorado novo. Eu já conheci ele.
11
c - Júlia arranjou um namorado novo. Eu já conheci.
12 a - Camila passou dois meses fora do Brasil. Eu a encontrei no shopping
ontem.
12 b - Camila passou dois meses fora do Brasil. Eu encontrei ele no shopping
ontem.
12 c - Camila passou dois meses fora do Brasil. Eu encontrei no shopping ontem.
4
A sentença 16 e suas versões foram aqui analisadas conforme explicação à página 99.
114
16 a - Meu irmão voltou para casa. Meus avós levaram-no para o aeroporto.
16 b - Meu irmão voltou para casa. Meus avós levaram ele para o aeroporto.
16 c - Meu irmão voltou para casa. Meus avós levaram para o aeroporto.
Para a estrutura com referente [+animado] e verbo flexionado, novamente, os
universitários foram o único grupo de alunos que apresentaram dados relevantes
(cf. tabelas 4.11 (5ªsérie) e 4.18 (1o ano)).
Tabela 4.3 – Universitários: referente [+animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 3 5% 13 22% 17 28% 27 45% 60
P.Lexical 15 25% 19 32% 12 20% 14 23% 60
Categoria
Vazia
8 13% 8 13% 25 42% 19 32% 60
A distribuição dos valores da tabela acima mostra que os universitários
avaliaram diferentemente as variantes (p-valor=0,001), revelando uma preferência
clara pelo estímulo com clítico, 45% das respostas na categoria “sempre”, seguida
da categoria vazia, 42% na categoria “às vezes”, e sendo irrelevante a presença
do pronome lexical. Essa última distribuição pode ser entendida como uma não
rejeição do pronome lexical nesse contexto.
4.2.5. Análise da estrutura com referente [-animado] e verbo flexionado
Para os estímulos gerados a partir da estrutura acima, os alunos da 5
a
série
não apresentaram escolhas significativas (cf. tabela 4.12, anexo 4).
13
a - Comprei o 6º. Livro do Harry Potter no ano passado. Eu ainda não o li.
13b - Comprei o 6º. Livro do Harry Potter no ano passado. Eu ainda não li ele.
13c - Comprei o 6º. Livro do Harry Potter no ano passado. Eu ainda não li.
14 a - A professora já corrigiu minha prova. Ainda não a peguei.
14b - A professora já corrigiu minha prova. Ainda não peguei ela.
14c - A professora já corrigiu minha prova. Ainda não peguei.
115
15a - O técnico consertou meu MP3. Meu pai o apanhou na loja.
15b - O técnico consertou meu MP3. Meu pai apanhou ele na loja.
15c - O técnico consertou meu MP3. Meu pai apanhou na loja.
Tabela 4.4 – 1º ano: referente [-animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 8 22% 11 29% 10 27% 8 22% 37
P.Lexical 7 19% 10 27% 12 32% 8 22% 37
Categoria
Vazia
4 11% 6 17% 5 13% 22 59% 37
Os valores percentuais encontrados para a tabela 4.4 se apresentaram
significativamente diferentes estatisticamente (p-valor=0,013). Do ponto de vista
percentual, somente os valores encontrados para a categoria vazia apresentaram
uma tendência clara nos tipos de resposta “sempre”, 59%, revelando que os
estímulos com a categoria vazia foram majoritariamente considerados como mais
usados. a distribuição do tipo de resposta em função da variante ser clítico ou
pronome lexical não revelou nenhuma tendência clara.
Tabela 4.5 – Universitários: referente [-animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 6 13% 5 11% 17 38% 17 38% 45
P.Lexical 14 31% 17 38% 10 22% 4 9% 45
Categoria
Vazia
5 11% 7 15% 14 31% 19 43% 45
Os universitários avaliaram diferentemente as variantes na estrutura com
referente [-animado] e verbo flexionado. O resultado do teste do qui-quadrado
revela que a diferença é relevante do ponto de vista estatístico (p-valor=0,006). As
respostas se concentraram nas categorias “sempre” e “às vezes” para os
estímulos com clítico e categoria vazia e “nunca” e “raramente” para as sentenças
116
com pronome lexical. Essa distribuição indica uma maior aceitação ou melhor
avaliação das sentenças com clítico e categoria vazia e a rejeição do pronome
lexical nas sentenças em que o objeto anafórico tem referente [-animado] e verbo
flexionado.
4.2.6. Análise da estrutura com referente [+animado] em estrutura complexa
Conforme explicado à página 99, a sentença 16 foi retirada desse grupo de
análise, passando a compor o grupo das sentenças 10,11 e 12.
17
a - Estudei com essa professora no ano passado. Achei-a maravilhosa.
17b - Estudei com essa professora no ano passado. Achei ela maravilhosa.
17c – Estudei com essa professora no ano passado. Achei maravilhosa.
18 a - Minha avó morreu há mais de dois anos. Às vezes, a sinto por aí.
18b - Minha avó morreu há mais de dois anos. Às vezes, sinto ela por aí.
18c - Minha avó morreu há mais de dois anos. Às vezes, sinto por aí.
Para os estímulos acima, nenhum dos grupos de alunos apresentou escolhas
relevantes do ponto de vista estatístico (cf. tabelas 4.13, 4.19 e 4.23).
4.2.7. Análise da estrutura com referente [-animado] ou oracional em
estrutura complexa (19+21)
19
a - Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu o acho tão prático.
19b - Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu acho ele tão prático.
19c - Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu acho tão prático.
21 a - Usei essa roupa na festa. Todas acharam-na linda.
21b - Usei essa roupa na festa. Todas acharam ela linda.
21c - Usei essa roupa na festa. Todas acharam linda.
117
Tabela 4.6 – Universitários: referente [-animado] ou oracional em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 6 20% 11 37% 6 20% 7 23% 30
P.Lexical 8 27% 4 13% 10 23% 8 27% 30
Categoria
Vazia
0 0 13 43% 17 57% 30
A distribuição das respostas na tabela 4.6 revelou-se estatisticamente
relevante (p=0,000), o que indica que os universitários avaliaram diferentemente
as variantes. Com relação ao clítico e o pronome lexical, parece não ter havido
preferência ou rejeição das sentenças com essas variantes, mas aquelas com a
categoria vazia foram mais bem avaliadas na estrutura que tem um referente [-
animado].
4.2.8. Análise da estrutura com referente oracional em estrutura complexa
20 a - Aline contou para Marcia que está grávida. Marcia contou-o para todo
mundo.
20 c - Aline contou para Marcia que está grávida. Marcia contou para todo mundo.
Embora os dados da estrutura 20 possuam estrutura complexa, serão
analisados separadamente das sentenças 19 e 21, uma vez que não há o estímulo
com o pronome lexical.
118
Tabela 4.7 – 1º ano: referente oracional em estrutura complexa
5
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 0 6 60% 2 20% 2 20% 10
Categoria
Vazia
2 7% 3 11% 4 14% 19 68% 28
Os valores brutos encontrados na tabela acima mostraram-se relevantes
quando foram agrupados (p=0,005). Percentualmente, o pronome clítico
apresentou 60% na categoria “raramente”, enquanto as escolhas em relação à
categoria vazia incidiram em maior número na categoria “sempre”, o que aponta
rejeição ao uso do primeiro com os estímulos apresentados e aceitação do
segundo.
4.3. Conclusões Parciais para o teste de áudio – fala espontânea
Os alunos da 5
a
série não apresentaram diferença significativa no
julgamento das variantes independente da estrutura conforme observado nas
tabelas de 4.8 até 4.24 (Anexo 4).
Observando-se o quadro 4.1 a seguir, percebe-se que os alunos do ano
não avaliaram significativamente as variantes em cinco das sete estruturas
propostas, enquanto os universitários deixaram de fazê-lo em apenas três (Quadro
4.2). Esse comportamento parece apontar a relação entre a variável escolaridade
e a escolha das variantes.
5
As diferenças nos valores da tabela 4.7 encontram-se explicadas à página 102.
119
Quadro 4.1. Teste de áudio: Resumo do comportamento dos alunos do 1º ano
(Fala informal)
Aceito Neutro Rejeitado
Clítico
[+animado] e verbo no
infinitivo
[-animado] e
verbo
flexionado
Oracional em
estrutura
complexa
Pronome
lexical
[+animado] e verbo no
infinitivo
[-animado] e
verbo
flexionado
Categoria
vazia
[-animado] e verbo flexionado
Oracional em estrutura
complexa
[+animado]
e verbo no
infinitivo
[+animado]
e verbo no
imperativo
[-animado] e
verbo no
infinitivo
[+animado]
e verbo
flexionado
[+animado]
em
estrutura
complexa
[-animado]
ou oracional
em
estrutura
complexa
Em relação ao pronome clítico, os alunos do 1
o
ano apresentaram
comportamento interessante. O pronome clítico foi claramente aceito uma única
vez com referente [+animado] e verbo no infinitivo (tabela 4.1), ambiente
considerado por Duarte (1986) favorecedor da realização do objeto como pronome
acusativo na forma lo e suas variantes. Essa preferência foi confirmada por
Averbug em seus testes de produção que o traço [+ animado] favoreceu o
preenchimento da categoria em 93% das ocorrências, principalmente o clítico, que,
apesar da baixa ocorrência no cômputo geral, quando apareceu, veio favorecido
por esse traço (44%).
Os alunos do 1
o
ano somente rejeitaram o pronome clítico com o referente
oracional em estrutura complexa (tabela 4.7), ambiente comprovado nos
120
trabalhos de Duarte (1986) e Averbug (2000) como favorecedor da categoria vazia.
Esse comportamento parece apontar uma relação entre a estrutura da sentença e
a atitude dos informantes. Com as demais estruturas, a avaliação do pronome
clítico não apontou tendência.
O pronome lexical não foi avaliado positivamente pelos alunos do 1
o
ano
com nenhuma das estruturas.
A categoria vazia não foi rejeitada pelos informantes do Ensino Médio: ou foi
avaliada de forma indiferente ou foi aceita. Os ambientes em que essa variante
teve avaliação positiva foram com o referente [-animado] e verbo flexionado
(tabela 4.4) e com referente oracional em estrutura complexa (tabela 4.7). Esse
último ambiente foi o único em que esses informantes rejeitaram o pronome clítico.
Embora Duarte (1986) apresente resultados que confirmam ser a ocorrência da
categoria vazia independente da estrutura, o ambiente de referente oracional em
estrutura complexa ocorreu na sua pesquisa três vezes e sempre acompanhado
de categoria vazia.
Encontram-se no anexo 4, as tabelas referentes aos dados coletados com
os informantes do Ensino Médio, nas quais a avaliação das três variantes foi
irrelevante: referente [+animado] e verbo no imperativo (tabela 4.16); referente [–
animado] e verbo no infinitivo (tabela 4.17); referente [+animado] e verbo
flexionado (tabela 4.18); referente [+animado] em estrutura complexa (tabela 4.19);
referente [-animado] ou oracional em estrutura complexa (tabela 4.20).
121
Quadro 4.2. Teste de áudio: Resumo do comportamento dos Universitários
(Fala informal)
Aceito Neutro Rejeitado
Clítico
[_animado] e verbo no
infinitivo
[+animado] e verbo
flexionado
[ -animado] e verbo
flexionado
[-animado]
ou oracional
em
estrutura
complexa
Pronome
lexical
[_animado]
e verbo no
infinitivo
[+animado]
e verbo
flexionado
[-animado]
ou oracional
em
estrutura
complexa
[ -animado] e
verbo flexionado
Categoria vazia
[_animado] e verbo no
infinitivo
[+animado] e verbo
flexionado
[ -animado] e verbo
flexionado
[-animado] ou oracional em
estrutura complexa
[+animado]
e verbo no
infinitivo
[+animado]
e verbo no
imperativo
[+animado]
em
estrutura
complexa
Referente
oracional
em
estrutura
complexa
Os universitários o rejeitaram o pronome clítico com nenhuma das
estruturas: ou foi avaliado positivamente ou teve avaliação indiferente junto às
outras variantes. O pronome clítico foi avaliado positivamente pelos universitários
com o referente [–animado] e verbo no infinitivo (tabela 4.2), referente [+animado]
e verbo flexionado (tabela 4.3) e com referente [-animado] e o verbo flexionado
(tabela 4.5). Embora nos testes de produção, o referente [-animado] não tenha
122
sido favorecedor do pronome clítico, acredita-se que o fato dele ter sido aceito
pelos alunos do Ensino Superior parece apontar o reconhecimento do valor social
dessa estrutura.
O pronome lexical não teve nenhuma avaliação positiva, mas foi
claramente rejeitado com o referente [-animado] e o verbo flexionado (tabela 4.5).
Com as demais, o comportamento dos universitários foi indiferente.
Os universitários não avaliaram as variantes significativamente com os
seguintes ambientes: referente [+animado] e verbo no infinitivo (tabela 4.21);
referente [+animado] e verbo no imperativo (tabela 4.22); referente [+animado] em
estrutura complexa (tabela 4.23), mesma estrutura em que a categoria vazia foi
claramente aceita pelos universitários, e referente oracional em estrutura complexa
(tabela 4.24).
Para os alunos do 1
o
ano e os universitários, o único caso de rejeição ao
pronome clítico ocorreu em um ambiente favorecedor à categoria vazia. Embora o
pronome lexical, variante considerada estigmatizada, não tenha sido avaliado
positivamente por nenhum grupo de informantes, foi rejeitado uma única vez pelos
universitários, o que parece apontar mudança de comportamento dos informantes.
A categoria vazia não foi rejeitada: foi claramente aceita ou foi avaliada de forma
indiferente junto às outras variantes.
As primeiras conclusões obtidas em relação à modalidade falada confirmam
a hipótese número um que correlaciona tempo de permanência na escola e
percepção do pronome clítico como variante prestigiada. Enquanto os alunos do 1º
ano rejeitaram o pronome clítico com o referente oracional em estrutura complexa,
os universitários mantiveram-se sem apresentar tendência para nenhuma das
variantes envolvidas.
123
O comportamento dos alunos no que diz respeito ao pronome lexical
corrobora parcialmente a hipótese 2. Para essa variante, havia nas sentenças
traços que favoreciam sua ocorrência como o referente [+ animado] ou a junção
desse traço de animacidade à estrutura complexa. Nesse ambiente com os dois
traços combinados, Duarte (1986) teve 70,4% de ocorrência do pronome lexical.
Havia também sentenças com referente [-animado], traço com o qual essa variante
apresentou em Duarte apenas 7,6%. Desse modo, com ambientes favoráveis ou
não ao seu aparecimento, os alunos da 5ª série e do ano não apresentaram
valores que permitissem apontar tendência. Os universitários rejeitaram-no em
apenas um ambiente com o referente [-animado].
O comportamento dos alunos diante da categoria vazia confirma a hipótese
3. Considerada uma variante com pouco ou nenhum estigma, ou alunos não
rejeitaram claramente essa estratégia para a modalidade falada da língua: ou ela
foi avaliada positivamente ou foi avaliada de forma indiferente.
124
CAPÍTULO 5 - ANÁLISE DOS TESTES DE AVALIAÇÃO PARA A ESCRITA
FORMAL
Para realização do teste de aúdio em relação à modalidade escrita, o
comando foi semelhante ao apresentado para a modalidade falada dangua.
Pediu-se aos alunos que ouvissem as sentenças apresentadas e as avaliassem
quanto à freqüência de uso para a escrita formal, já explicada no capítulo 3.
5.1. Análise da estrutura com referente [+animado] e verbo no infinitivo
Conforme dito no capítulo 3, os estímulos apresentados para a estrutura
com referente [+animado] e verbo no infinitivo foram as sentenças 4 e 6, com suas
respectivas variações.
4a - Patrícia adora brincar com meus filhos. Toda tarde ela vem chamá-los para a
pracinha “.
4b- Patrícia adora brincar com meus filhos. Toda tarde ela vem chamar eles para a
pracinha.
4c. Patricia adora brincar com meus filhos. Toda tarde ela vem chamar para a
pracinha.
6 a - Meu filho quebrou o braço fazendo esportes radicais. Tive que proibi-lo de
andar de skate.
6 b - Meu filho quebrou o braço fazendo esportes radicais. Tive que proibir ele de
andar de skate.
6 c - Meu filho quebrou o braço fazendo esportes radicais. Tive que proibir de
andar de skate.
Para essas sentenças, os alunos da 5
a
série e do Ensino Médio não
apresentaram diferenças significativas nas suas escolhas, conforme pode ser
observado nas tabelas 5.13 e 5.19 (Anexo 5).
125
Tabela 5.1 – Universitários: referente [+animado] e verbo no infinitivo
6
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 3 11% 2 7% 11 60% 12 20% 28
P.Lexical 10 2% 10 32% 9 31% 2 6% 31
Categoria
Vazia
5 18% 4 31% 8 23% 10 15% 27
A análise estatística da distribuição dos valores encontrados nas quatro
colunas da tabela acima forneceu, no teste do qui-quadrado, o p-valor igual a
0,007, o que aponta para uma diferença na distribuição das respostas em função
da variante, comportamento diferente do encontrado para a fala, quando não
houve tendência para nenhuma das variantes. Enquanto para o pronome clítico, a
escolha se concentrou na categoria “às vezes”, a distribuição para o pronome
lexical e para a categoria vazia não se apresentou relevante.
5.2 Análise da estrutura com referente [+animado ] e verbo no imperativo
A sentença 5, analisada separadamente das sentenças 4 e 6 por razões
comentadas no capítulo 3, gerou os seguintes estímulos:
5a - Mariana está triste. Deixe-a em paz.
5 b – Mariana está triste. Deixa ela em paz.
5 c – Mariana está triste. Deixa em paz.
Tabela 5.2 – Universitários: referente [+animado] e verbo no imperativo
7
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 1 7% 0 5 33% 9 60% 15
P.Lexical 8 61% 0 2 16% 3 23% 13
Categoria
Vazia
4 27% 3 20% 5 33% 3 20% 15
6
A diferença no número total de alunos encontra-se explicada nas páginas 95 e 96.
7
A diferença no número total de alunos encontra-se explicada na página 97.
126
Repetindo o acontecido com a estrutura analisada no item 5.1, os alunos da
5
a
série do Ensino Médio não apresentaram respostas significativas (cf. tabelas
5.14 e 5.20).
Para os universitários, submetendo-se os valores brutos da tabela 5.2 ao
teste estatístico o p-valor foi igual a 0,006. Diferentemente do comportamento
encontrado com os dados da fala, para a modalidade escrita é possível observar a
avaliação positiva do pronome clítico por parte dos informantes, 60% das
respostas na categoria “sempre”, e a rejeição ao pronome lexical com 61% das
respostas na categoria “nunca”, ficando a avaliação da categoria vazia
relativamente neutra com o referente [+ animado] e o verbo no imperativo.
5.3 Análise da estrutura com referente[ –animado] e verbo no infinitivo
Em relação à estrutura com referente [-animado] e verbo no infinitivo,
somente os alunos da 5
ª
série não apresentaram escolhas significativas. (cf. tabela
5.15, anexo 5). Os estímulos usados para a análise foram as sentenças de 7 a 9:
7 a - Carolina adora brincar com meus livros. Acho que quer conhecê-los de perto.
7 b - Carolina adora brincar com meus livros. Acho que quer conhecer eles de
perto.
7 c – Carolina adora brincar com meus filhos Acho que quer conhecer de perto.
8 a - O jardineiro nunca molha roseira da minha mãe. Por mais que eu peça, ele
sempre esquece de molhá-la.
8 b - O jardineiro nunca molha roseira da minha mãe. Por mais que eu peça, ele
sempre esquece de molhar ela.
8 c - O jardineiro nunca molha roseira da minha mãe. Por mais que eu peça, ele
sempre esquece de molhar.
127
9
a - Meu filho não gosta de levar o lixo para fora. Toda vez que eu peço para
levá-lo é uma briga.
9
b - Meu filho não gosta de levar o lixo para fora. Toda vez que eu peço para
levar ele é uma briga.
9
c - Meu filho não gosta de levar o lixo para fora. Toda vez que eu peço para
levar é uma briga.
Tabela 5.3 – 1º ano: referente [–animado] e verbo no infinitivo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 1 3% 4 14% 11 38% 13 45% 29
P.Lexical 11 38% 8 28% 5 17% 5 17% 29
Categoria
Vazia
7 24% 4 14% 9 31% 9 31% 29
Embora os alunos do 1
o
ano não tenham avaliado de forma diferente as
variantes ao analisá-las em relação à modalidade falada da língua, a tabela 5.8
acima mostra que houve diferença no comportamento desses informantes quando
examinaram a estrutura com referente [-animado] e verbo no infinitivo na
modalidade escrita. Os valores da tabela acima, quando submetidos ao teste
estatístico, resultaram em p-valor igual a 0,014, quando analisamos as quatro
colunas separadamente e igual a 0,000 quando agrupamos os valores positivos e
negativos.
Analisando-se os valores percentuais, percebe-se uma diferença de
avaliação das variantes. As escolhas para o pronome clítico concentraram-se nas
categorias positivas, com 45% na categoria “sempre” e 38% em “às vezes”. A
categoria vazia também apresentou escolhas concentradas nessas categorias com
o mesmo valor de 31% distribuídos para as duas. As escolhas do pronome lexical,
no entanto, concentraram-se na categoria “nunca”, com 38% das escolhas, o que
indica rejeição ao uso dessa variante quando o referente é [-animado] e o verbo
encontra-se no infinitivo.
128
Tabela 5.4 – Universitários: referente [–animado] e verbo no infinitivo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 4 10% 5 12% 14 32% 20 46% 43
P.Lexical 22 51% 9 21% 9 21% 3 7% 43
Categoria
Vazia
9 21% 8 19% 17 39% 9 21% 43
Ao analisarem-se estatisticamente os valores das quatro colunas, o p-valor
é de 0,000, o que aponta para significância na escolha das variantes. As escolhas
para o pronome clítico concentraram-se nas categorias “sempre” (46%) e “às
vezes” (32%). Embora tenha havido 39% de escolha para a categoria “às vezes”
em relação à categoria vazia, a preferência dos universitários foi pelo uso do
pronome clítico, conforme haviam apresentado para a fala. O pronome lexical,
diferentemente das outras variantes, apresentou escolhas que mostraram uma
tendência de rejeição, com 51% das escolhas na categoria “nunca”. O
comportamento dos alunos para com o pronome lexical divergiu do encontrado
para a modalidade falada em que os valores encontrados não apontaram
nenhuma tendência.
5.4. Análise da estrutura com referente [+animado] e verbo flexionado
As sentenças 10, 11, 12 e 16
8
foram utilizadas para examinar o
comportamento dos alunos diante de referente [+animado] com o verbo flexionado.
Pelo exposto na tabela 5.16 (anexo 5), observa-se que os alunos da 5
a
série,
repetindo comportamento já encontrado, não apresentaram escolhas significativas.
8
A sentença 16 foi aqui analisada conforme explicação à página 99.
129
10 a - Sempre via Pedro correndo na lagoa. Depois que casou, não o vejo mais.
10 b - Sempre via Pedro correndo na lagoa. Depois que casou, não vejo ele mais.
10 c - Sempre via Pedro correndo na lagoa. Depois que casou, não vejo mais.
11
a - Júlia arranjou um namorado novo. Eu já o conheci.
11
b - Júlia arranjou um namorado novo. Eu já conheci ele.
11
c - Júlia arranjou um namorado novo. Eu já conheci.
12 a - Camila passou dois meses fora do Brasil. Eu a encontrei no shopping
ontem.
12 b - Camila passou dois meses fora do Brasil. Eu encontrei ele no shopping
ontem.
12 c - Camila passou dois meses fora do Brasil. Eu encontrei no shopping ontem.
16 a - Meu irmão voltou para casa. Meus avós levaram-no para o aeroporto.
16 b - Meu irmão voltou para casa. Meus avós levaram ele para o aeroporto.
16 c - Meu irmão voltou para casa. Meus avós levaram para o aeroporto.
Tabela 5.5 – 1º ano: referente [+animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 2 5% 7 18% 11 28% 19 49% 39
P.Lexical 14 40% 11 31% 8 23% 2 6% 35
Categoria
Vazia
7 18% 11 28% 11 28% 10 26% 39
Para a tabela 5.5, quando são submetidos os valores ao teste estatístico,
encontramos o p-valor igual a 0,000. As análises para a modalidade falada da
língua não permitiram avaliar uma tendência para o pronome clítico e para o
pronome lexical. No entanto, para a escrita, observando-se os valores percentuais,
percebe-se uma tendência em relação ao pronome clítico e ao pronome lexical,
polarizando opiniões diferentes com 49% de respostas na categoria “sempre” para
o clítico, e 40% para o pronome lexical, na categoria “nunca”. Se agrupadas as
categorias nunca+raramente o valor percentual foi de 71% de rejeição ao pronome
lexical. Para a categoria vazia, encontraram-se valores iguais nas categorias
“sempre” e “raramente”, não evidenciando nenhuma tendência, o que diverge da
130
aceitação encontrada para essa variante quando os informantes examinaram a
estrutura com referente [+animado] e verbo flexionado em relação à fala.
Tabela 5.6 – Universitários: referente [+animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 3 5% 6 11% 11 20% 36 64% 56
P.Lexical 33 57% 11 19% 8 14% 6 10% 58
Categoria
Vazia
22 38% 14 24% 11 19% 11 19% 58
Ao serem analisados estatisticamente os valores brutos encontrados para
todas as variáveis, o p valor foi de 0,000, o que aponta relevância na escolha das
variantes, comportamento diferente do encontrado para a fala em relação ao
pronome lexical e à categoria vazia, que nela as respostas dos alunos não
demonstraram preferência ou rejeição por nenhuma das variantes. As escolhas do
pronome clítico e do pronome lexical concentraram-se em direções opostas,
reafirmando o encontrado para a fala em relação ao clítico: o primeiro, na
categoria “sempre”, com 64% das escolhas, o segundo, na categoria “nunca” com
57% das opções. Para a categoria vazia, o houve significância nas respostas
encontradas.
5. 5 Análise da estrutura com referente [-animado] e verbo flexionado
Para análise da estrutura com referente [-animado] e verbo flexionado, os
seguintes estímulos foram apresentados aos alunos:
13
a - Comprei o 6º. Livro do Harry Potter no ano passado. Eu ainda não o li.
13b - Comprei o 6º. Livro do Harry Potter no ano passado. Eu ainda não li ele.
13c - Comprei o 6º. Livro do Harry Potter no ano passado. Eu ainda não li.
131
14 a - A professora já corrigiu minha prova. Ainda não a peguei.
14b - A professora já corrigiu minha prova. Ainda não peguei ela.
14c - A professora já corrigiu minha prova. Ainda não peguei.
15a - O técnico consertou meu MP3. Meu pai o apanhou na loja.
15b - O técnico consertou meu MP3. Meu pai apanhou ele na loja.
15c - O técnico consertou meu MP3. Meu pai apanhou na loja.
Tabela 5.7 – 5ª. série: referente [-animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 11 33% 12 37% 5 15% 5 15% 33
P.Lexical 18 55% 7 21% 1 3% 7 21% 33
Categoria
Vazia
10 30% 5 15% 10 30% 8 25% 33
A distribuição dos valores fornecidos pelos alunos da 5a. série com o
referente [- animado] e verbo flexionado, mostrou-se estatisticamente relevante
com o p valor de 0,024. Esse valor aponta que para a escrita houve diferença no
julgamento das variantes, fato que não ocorreu quando os informantes avaliaram a
estrutura presente nas frases 13,14 e 15 em relação à fala.
Os índices apresentados para o pronome clítico encontram rejeição na
escrita, atingindo 33% na categoria “nunca” e 37% para “raramente”. O pronome
lexical apresentou altos índices de rejeição na categoria “nunca” (55%) e, apesar
dos valores para as opções “raramente” e “sempre” serem os mesmos, os valores
considerados negativos atingem 76%. A categoria vazia apresenta valores
idênticos para as categorias “nunca” e “às vezes” não havendo, portanto,
tendência no que se refere a essa variante.
132
Tabela 5.8 – 1º ano: referente [-animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 2 7% 7 24% 8 28% 12 41% 29
P.Lexical 14 48% 4 14% 4 14% 7 24% 29
Categoria
Vazia
7 24% 8 28% 8 28% 6 20% 29
Os valores brutos presentes na tabela 5.8 apresentaram-se relevantes
estatisticamente com p valor de 0,020. As respostas para o pronome clítico
concentraram-se na categoria “sempre” (41%), enquanto o pronome lexical teve
suas escolhas concentradas na categoria “nunca” (48%), o que aponta a tendência
de aceitação do primeiro e rejeição ao segundo. Essas variantes não foram
avaliadas significativamente pelos informantes do 1
o
ano quando examinadas em
relação à modalidade falada. Para a categoria vazia, os valores percentuais não
demonstraram resultados relevantes, o que diverge da aceitação dessa estrutura
encontrada para a fala.
Tabela 5.9 – Universitários: referente [-animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 5 12% 7 16% 13 30% 18 42% 43
P.Lexical 25 58% 5 12% 5 12% 8 18% 43
Categoria
Vazia
7 17% 8 19% 17 39% 11 25% 43
Analisando-se estatisticamente os valores brutos encontrados para os
universitários, obtém-se o valor de p igual a 0,000 quando utilizamos os valores
para todas as variáveis nas quatro colunas e 0,000 quando agrupamos os valores.
As escolhas para o pronome clítico concentraram-se nas categorias “sempre”
133
(42%) e “às vezes” (30%). Diferentemente desse comportamento, a categoria
“nunca” concentrou as escolhas para o pronome lexical com 58% das escolhas.
Repete-se para a escrita a avaliação encontrada para a fala, com aceitação
do pronome clítico e rejeição ao pronome lexical. Somando-se as categorias de
aceitação e de rejeição, os valores percentuais encontrados para o pronome
lexical e para o pronome clítico mostram a aceitação do primeiro (72%) e a
rejeição ao segundo (70%). Para a categoria vazia, no entanto, diferença no
comportamento dos informantes, pois, avaliada significativamente para a fala, a
categoria vazia apresenta valores que não apontam tendência para a modalidade
escrita.
5. 6. Análise da estrutura com referente [+animado] em estrutura complexa
As sentenças 17 e 18 apresentaram estímulos que permitiram avaliar o
comportamento dos informantes diante de estrutura com referente [+animado] em
estrutura complexa.
17
a - Estudei com essa professora no ano passado. Achei-a maravilhosa.
17b - Estudei com essa professora no ano passado. Achei ela maravilhosa.
17c – Estudei com essa professora no ano passado. Achei maravilhosa.
18 a - Minha avó morreu há mais de dois anos. Às vezes, a sinto por aí.
18b - Minha avó morreu há mais de dois anos. Às vezes, sinto ela por aí.
18c - Minha avó morreu há mais de dois anos. Às vezes, sinto por aí.
134
Tabela 5.10 – 5ª série: referente [+animado] em estrutura complexa
9
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 14 61% 6 26% 2 9% 1 4% 23
P.Lexical 6 27% 4 18% 7 32% 5 23% 22
Categoria
Vazia
13 62% 2 9% 5 24% 1 5% 21
Submetendo-se os valores da tabela 5.10 ao teste estatístico encontra-se o
p valor igual a 0,050. Para o pronome clítico e para a categoria vazia os valores
encontrados para a categoria “nunca” indicam rejeição a essas variantes,
enquanto os valores encontrados para o pronome lexical não apontam tendência.
Tabela 5.11 – Universitários: referente [+animado] em estrutura complexa
10
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 2 7% 8 27% 13 43% 7 23% 30
P.Lexical 15 53% 6 22% 3 11% 4 14% 28
Categoria
Vazia
7 25% 5 18% 9 32% 7 25% 28
Os valores encontrados na tabela acima, submetidos ao teste do qui-
quadrado, apresentaram p-valor igual a 0,005. Isso significa diferença relevante na
distribuição das respostas, fato não encontrado para os dados da modalidade
falada.
Analisando-se os valores percentuais presentes na tabela acima, percebe-
se que as avaliações para o pronome clítico e para o pronome lexical
concentraram-se em direções diferentes. O pronome clítico foi avaliado
positivamente pelos alunos com 23% das respostas na categoria “sempre” e 43%
“às vezes’’. Os valores do pronome lexical concentram-se nas categorias de
rejeição com 53% na categoria “nunca”, atingindo-se o valor total de 75% de
9
A retirada da sentença 16 desse grupo de análise gerou a diferença no número de informantes
conforme explicado à página 99.
10
10
A retirada da sentença 16 desse grupo de análise gerou a diferença no número de informantes
conforme explicado à página 99.
135
rejeição quando agrupamos as colunas “nunca” e “raramente’’. Os valores
encontrados para a categoria vazia não apontam tendência.
5.7 Análise da estrutura com referente [-animado] ou oracional em estrutura
complexa (19+21)
Embora as sentenças 19, 20, 21 apresentem estrutura complexa, optou-se
por analisar a sentença 20 separadamente, por essa última não possuir estímulo
com pronome lexical, conforme detalhado. Assim, as sentenças 19 e 20 foram
apresentadas conforme segue:
19
a - Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu o acho tão prático.
19b - Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu acho ele tão prático.
19c - Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu acho tão prático.
21 a - Usei essa roupa na festa. Todas acharam-na linda.
21b - Usei essa roupa na festa. Todas acharam ela linda.
21c - Usei essa roupa na festa. Todas acharam linda.
5.8. Análise da estrutura com referente oracional em estrutura complexa
A sentença 20 por apresentar uma estrutura com referente oracional não
apresentou estímulo com pronome lexical. Desse modo, os estímulos
apresentados foram:
20 a - Aline contou para Marcia que está grávida. Marcia contou-o para todo
mundo.
20 c - Aline contou para Marcia que está grávida. Marcia contou para todo mundo.
136
Tabela 5.12 – Universitários: referente oracional em estrutura complexa
11
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 1 7% 6 40% 5 33% 3 20% 15
Categoria
Vazia
1 4% 0 7 25% 20 71% 28
Os valores brutos presentes na tabela acima foram relevantes do ponto de
vista estatístico que os valores presentes para as duas variantes mostraram que
o p valor foi 0,000. O pronome clítico apresenta valores próximos nas colunas
“raramente” e “às vezes”, o que não permite avaliar com clareza uma tendência de
aceitação ou rejeição dessa variante. Para a categoria vazia, no entanto, houve
71% das escolhas concentradas na categoria “sempre”, o que aponta aceitação
dessa variante com a estrutura presente na sentença 20.
5.9. Conclusões preliminares para o teste de áudio – escrita formal
Os alunos da série apresentaram comportamento diferenciado com duas
estruturas: referente [-animado] e verbo flexionado (Tabela 5.7) e referente
[+animado] em estrutura complexa. Com a primeira, rejeitaram o uso do pronome
clítico e do pronome lexical, com a segunda rejeitaram o pronome clítico e a
categoria vazia, mantendo-se neutros em relação ao pronome lexical. Com as
demais estruturas, esses informantes avaliaram as variantes de forma pouca
significativa, conforme o quadro 5.1 a seguir.
11
A diferença no número de informantes encontra-se explicada à página 102.
137
Quadro 5.1 – Teste de aúdio:
Resumo do comportamento dos alunos da 5ª série (Escrita formal)
Aceito Neutro Rejeitado
Clítico [-animado] e
verbo
flexionado]
[+animado] em
estrutura
complexa
Pronome lexical
[+animado] em
estrutura
complexa
[-animado] e
verbo
flexionado]
Categoria vazia
[-animado] e
verbo flexionado]
[+animado] e
verbo no
infinitivo
[+animado] e
verbo no
imperativo
[-animado] e
verbo no
infinitivo
[+animado] e
verbo flexionado
[-animado] ou
oracional em
estrutura
complexa
racional em
estrutura
complexa
[+animado] em
estrutura
complexa
Os alunos do Ensino Médio apresentaram comportamento resumido no
quadro 5.2 a seguir.
138
Quadro 5.2 – Teste de aúdio: Resumo do comportamento dos alunos do 1
o
ano
(Escrita formal)
Aceito Neutro Rejeitado
Clítico
[-animado] e verbo no
infinitivo
[+animado] e verbo
flexionado
[-animado] e verbo
flexionado
Pronome lexical [-animado] e
verbo no infinitivo
[+animado] e
verbo flexionado
[-animado] e
verbo flexionado
Categoria vazia
[-animado] e verbo no
infinitivo
[+animado]
e verbo
flexionado
[-animado] e
verbo
flexionado
[+animado]
e verbo no
infinitivo
[+animado]
e verbo no
imperativo
[+animado]
em
estrutura
complexa
[-animado]
ou oracional
em
estrutura
complexa
Oracional
em
estrutura
complexa
Os alunos do 1
o
ano avaliaram positivamente o pronome clítico com o
referente [– animado] e verbo no infinitivo (Tabela 5.3), com o referente [+
animado] e verbo flexionado (Tabela 5.5) e referente [-animado] e verbo flexionado
(Tabela 5.8), mesmos ambientes em que o pronome lexical foi rejeitado.
Comparando-se esse comportamento ao encontrado para o teste de áudio em
relação à fala informal, o pronome lexical não apresentou tendência clara nesses
ambientes.
Para a categoria vazia, o teste de áudio para a modalidade escrita mostrou
que as respostas dos alunos do 1
º
ano apresentaram tendência com referente
139
[-animado] e verbo no infinitivo, enquanto, na avaliação dessa variante para a fala
informal, demonstraram aceitá-la com o referente [- animado] e o verbo flexionado
e com o referente oracional em estrutura complexa.
Os universitários apresentaram comportamento diferente do apresentado
para a fala informal. Observe-se o quadro a seguir:
140
Quadro 5.3 – Teste de aúdio: Resumo do comportamento dos Universitários
(Escrita formal)
Aceito Neutro Rejeitado
Clítico [+animado] e verbo no
infinitivo
[+animado] e verbo no
imperativo
[-animado] e verbo no
infinitivo
[+animado] e verbo
flexionado
[-animado] e verbo flexionado
[+animado] em estrutura
complexa
[-animado] em
estrutura
complexa
Pronome
lexical
[+animado] em estrutura
complexa
[+animado] e
verbo no
infinitivo
[+animado] e verbo no
imperativo
[-animado] e verbo no
infinitivo
[+animado] e verbo
flexionado
[-animado] e verbo
flexionado
[+animado] em estrutura
complexa
Categoria
vazia
[+animado] e
verbo no
infinitivo
[+animado] e
verbo no
imperativo
[-animado] e
verbo no
infinitivo
[+animado] e
verbo
flexionado
[-animado] e
verbo
flexionado
[+animado]
em estrutura
complexa
[ -animado]
ou oracional
em estrutura
complexa
141
Os universitários avaliaram positivamente o pronome clítico: com referente
[+animado] e verbo no infinitivo (Tabela 5.1); com o referente [+ animado] e verbo
no imperativo (Tabela 5.2); referente [- animado] e verbo no infinitivo (Tabela 5.4);
referente [ + animado] e verbo flexionado (Tabela 5.6); referente [- animado] e
verbo flexionado (Tabela 5.9) e com referente [+ animado] em estrutura complexa
(Tabela 5.11). Esse comportamento reforça, de certo modo, o encontrado para a
fala, já que o pronome clítico não foi rejeitado. A diferença em relação à escrita é o
maior número de ambientes em que essa variante foi aceita, o que aponta para o
reconhecimento do valor do pronome clítico como um traço característico dessa
modalidade.
Os informantes de Ensino Superior avaliaram neutramente o pronome
lexical em dois ambientes; com referente [+animado] e verbo no infinitivo e com
referente [-animado] ou oracional em estrutura complexa, mesmo ambiente em
que avaliaram o pronome clítico e a categoria vazia também de forma neutra. O
pronome lexical foi rejeitado em outros cinco: referente [+animado] e verbo no
imperativo (Tabela 5.2); com referente [–animado] e verbo no infinitivo (Tabela
5.4); referente [+animado] e verbo flexionado (Tabela 5.6); referente [-animado] e
verbo flexionado (Tabela 5.9); referente [+animado] em estrutura complexa (Tabela
5.11).
Quando foram analisados os dados de áudio para a fala informal, o
pronome lexical foi claramente rejeitado com o referente [-animado] e o verbo
flexionado. Para a escrita formal, o número de ambientes de avaliação negativa
aumentou, o que parece demonstrar o reconhecimento desses informantes da
formalidade da língua escrita e do maior estigma da variante nessa modalidade.
142
Repetindo o encontrado para os alunos do 1
o
ano, os universitários não
apresentaram tendência no que diz respeito à categoria vazia.
143
CAPÍTULO 6 - ANÁLISES DO TESTE ESCRITO
Conforme comentado no capítulo 3, foi apresentado aos informantes um
teste escrito (Anexo 3) em que os estímulos apareceram em seqüência com o
objetivo de verificar se o comportamento dos indivíduos seria diferente do
encontrado para o teste de áudio. Primeiramente, serão apresentadas as tabelas
para a avaliação dos estímulos em função do uso na fala informal com suas
respectivas análises; posteriormente, virão os resultados e respectivas análises
relacionados à avaliação dos estímulos em relação ao uso na escrita formal e,
fechando o capítulo, considerações parciais.
A titulo de esclarecimento, lembra-se que cada conjunto de sentenças
utilizadas no teste escrito, corresponde a sentenças encontradas no teste de
áudio. Assim, tem-se que: a sentença 2 do teste escrito equivale a sentença 7 do
teste de áudio; a sentença 3 corresponde à sentença 10 do teste de áudio; a
sentença 4 corresponde, no áudio, à sentença 13; a sentença 5 equivale no teste
de áudio à sentença 17 e, finalmente, a sentença 6 corresponde à sentença 10 do
teste de áudio.
6.1.Análises relativas à avaliação de uso na fala informal
Para cada seção de análise do teste escrito em relação à fala, serão
apresentadas as sentenças que compuseram o trio de estímulos e três tabelas,
uma para cada grupo de informantes, com as respectivas análises. Conforme
explicado anteriormente, para a coleta de dados com o teste escrito, manteve-se a
144
divisão previamente estabelecida nas turmas Desse modo, os alunos que
haviam feito o teste de áudio para a fala, realizaram o teste escrito avaliando a
freqüência de uso das variantes também para a fala.
6.1.1. Análise da sentença 2: Estrutura com referente [- animado] verbo no
infinitivo
2 a - Carolina adora brincar com meus livros. Ela tem a mania de pegar minhas
coisas para conhecê-las de perto.
2 b - Carolina adora brincar com meus livros. Ela tem a mania de pegar minhas
coisas para conhecer elas de perto.
2 c - Carolina adora brincar com meus livros. Ela tem a mania de pegar minhas
coisas para conhecer de perto.
Tabela 6.1 – 5ª. série: referente [- animado] e verbo no infinitivo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 7 18% 10 16% 6 16% 15 40% 38
Lexical 18 48% 8 21% 8 21% 4 10% 38
Categoria 9 23% 10 27% 8 21% 11 29% 38
Analisando-se estatisticamente os valores encontrados na tabela acima o p-
valor obtido foi é igual a 0,044, o que aponta que houve diferença no julgamento
das variantes. Os alunos da 5
a
série apresentaram valores percentuais
significativos para o pronome clítico e para o pronome lexical. Para o pronome
clítico, ainda que as colunas “raramente” e “às vezes” apresentem o mesmo valor
(16%), a categoria “sempre” tem 40% de escolhas. O mesmo aconteceu com o
pronome lexical que também apresentou o mesmo valor nas colunas “raramente” e
“às vezes” (21%), mas apresentou na coluna “nunca” o valor de 48%, indicando
uma tendência à rejeição. Para a categoria vazia, os valores não apontam
tendência.
145
Tabela 6.2 – Universitários: referente [- animado] verbo no infinitivo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 2 5% 4 9% 16 37% 21 49% 43
Lexical 13 30% 15 35% 11 26% 4 9% 43
Categoria
Vazia
5 12% 7 16% 19 44% 12 28% 43
O p-valor obtido para os valores da tabela acima é de 0,000, o que
demonstra que os informantes avaliaram as variantes de forma diferente. Percebe-
se para o pronome clítico e para a categoria vazia a concentração dos valores nas
categorias consideradas positivas. As escolhas para o clítico concentraram-se nas
colunas “sempre” (49%) e “às vezes” (37%), o mesmo tendo acontecido para a
categoria vazia. O pronome lexical, no entanto, teve escolhas nas categorias
“nunca” (30%) e “raramente” (35%), apontando, portanto, rejeição ao uso dessa
variante pelos informantes universitários.
6.1.2. Análise da sentença 3: estrutura com referente [+ animado] e verbo
flexionado
3 a - Sempre via Pedro correndo na lagoa. Depois que casou, não o vejo mais.
3 b - Sempre via Pedro correndo na lagoa. Depois que casou, não vejo ele mais.
3 c - Sempre via Pedro correndo na lagoa. Depois que casou, não vejo mais.
Tabela 6.3 – 5ª série: referente [+ animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 6 16% 7 18% 8 21% 17 45% 38
Lexical 10 26% 11 29% 7 19% 10 26% 38
Categoria
vazia
15 39% 7 18% 13 34% 3 8% 38
146
O teste estatístico dos valores da tabela 6.3 revelou o p-valor igual a 0,008.
Somente para o pronome clítico uma tendência à aceitação que as escolhas
dos informantes foram nas categorias “sempre” (45%) e “às vezes” (21%). Para o
pronome lexical, os valores das colunas “sempre”, “raramente” e “nunca” são
próximos. Da mesma forma, para a categoria vazia, as colunas “às vezes” e
“nunca” também apresentam valores que não permitem avaliar uma tendência.
Tabela 6.4 – Universitários: referente [+ animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 1 2% 2 5% 13 30% 27 63% 43
Lexical 14 32% 14 32% 11 26% 4 10% 43
Categoria
vazia
14 32% 8 19% 16 37% 5 12% 43
Os valores da tabela 6.4 geraram o p valor de 0,000, indicando, portanto,
diferença relevante nas escolhas. A coluna “sempre” apresenta para o pronome
clítico o valor de 63%, o que demonstra avaliação positiva dessa variante. As
escolhas para o pronome lexical concentraram-se nas colunas “nunca e
“raramente”, indicando rejeição à variante. Os valores para a categoria vazia
apresentam-se próximos nas categorias “às vezes” e “nunca” o que não permite
avaliar uma tendência.
6.1.3. Análise da sentença 4: estrutura com referente [- animado] e verbo
flexionado
4 a - Comprei o sexto livro do Harry Potter no ano passado. Ainda não o li.
4 b - Comprei o sexto livro do Harry Potter no ano passado. Ainda não li ele.
4 c - Comprei o sexto livro do Harry Potter no ano passado. Ainda não li.
147
Tabela 6.5 – 1º grau: referente [- animado] e verbo flexionado
12
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 8 23% 7 19% 13 36% 8 22% 36
Lexical 10 28% 12 32% 12 32% 3 8% 37
Categoria
vazia
4 11% 4 11% 9 24% 20 54% 37
Submetendo-se os valores fornecidos pelos alunos do 1
o
grau ao teste
estatístico obtém-se o p-valor de 0,001, o que indica que houve diferença na
avaliação das variantes. Embora os valores encontrados para os pronomes clítico
e lexical não apontem tendência, a categoria vazia obteve 54% das escolhas na
categoria “sempre”. Somando-se esse valor aos 24% encontrados para “às vezes”
chega-se ao valor de 78% de avaliação dessa variante com o referente [-animado]
e a estrutura simples.
Tabela 6.6 – Universitários: referente [- animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 1 2% 7 17% 15 36% 19 45% 42
Lexical 27 63% 5 12% 6 13% 5 12% 43
Categoria
vazia
3 7% 7 16% 21 49% 12 28% 43
Analisando-se estatisticamente os valores encontrados para os
universitários na tabela 6.6 o p-valor foi 0,000, ou seja, houve diferença na
avaliação das variantes. O pronome clítico e o pronome lexical polarizaram
tendências opostas. Para o clítico, os valores das colunas “sempre” (45%) e “às
vezes” (36%) indicam clara tendência de aceitação dessa variante. O pronome
lexical, ao contrário, teve suas escolhas concentradas nas categorias de rejeição
com 63% de valor para “nunca”. A categoria vazia apresentou concentração de
12
A diferença nos valores totais das tabelas 6.8 e 6.9 deve-se ao fato de, em cada teste, um aluno
ter deixado de responder a uma determinada coluna.
148
respostas na categoria “às vezes” com 49% das escolhas, apontando aceitação
dessa variante com a estrutura simples e o referente [-animado].
6.1.4. Análise da sentença 5: referente [+ animado] em estrutura complexa
5 a - Estudei com essa professora no ano passado. Achei-a maravilhosa.
5 b - Estudei com essa professora no ano passado. Achei ela maravilhosa.
5 c - Estudei com essa professora no ano passado. Achei maravilhosa.
Tabela 6.7 – 5ª série: referente [+ animado] em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 6 16% 11 29% 8 21% 13 34% 38
Lexical 3 8% 8 21% 11 29% 16 42% 38
Categoria
vazia
15 39% 8 21% 9 24% 6 16% 38
Os informantes da 5
a
rie apresentaram valores na tabela 6.7 que,
analisados estatisticamente, geraram o p-valor igual a 0,017, o que indica que os
valores são relevantes estatisticamente. Os valores presentes para o pronome
clítico não apontam tendência. Os valores para o pronome lexical indicam
tendência à aceitação com 42% na coluna “sempre”. Para a categoria vazia a
tendência é de rejeição com 39% na categoria “nunca”.
Tabela 6.8 – 1º ano: referente [+ animado] em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 8 22% 17 46% 9 24% 3 8% 37
Lexical 1 2% 8 22% 11 30% 17 46% 37
Categoria
vazia
12 32% 9 24% 7 19% 9 25% 37
Os informantes do 1
o
ano apresentaram valores estatisticamente relevantes
que o p-valor foi de 0,000. O pronome clítico apresentou tendência à rejeição
com 46% de escolhas em “raramente” que, somados aos 22% da coluna “nunca”,
149
resultam em 68% de avaliação negativa dessa variante com referente [-animado]
e estrutura complexa. O pronome lexical apresentou tendência a aceitação com a
estrutura da sentença 5 com 46% de respostas na categoria “sempre” e 30% em
“às vezes”. Os dados para a categoria vazia não expõem nenhuma avaliação
dessa variante com a estrutura avaliada.
6.1.5. Análise da sentença 6: referente [- animado] em estrutura complexa
6 a - Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu o acho tão prático.
6 b - Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu acho ele tão prático.
6 c - Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu acho tão prático.
Tabela 6.9 – 1º ano: referente [- animado] em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 5 17% 5 17% 9 31% 10 35% 29
Lexical 13 45% 7 24% 7 24% 2 7% 29
Categoria
vazia
4 14% 8 27% 8 27% 9 32% 29
Submetendo-se os valores da tabela 6.9 ao teste estatístico encontra-se o
p-valor de 0,042, o que indica diferença na avaliação das variantes. O pronome
clítico e o pronome lexical apresentaram tendências diferentes, o primeiro, sendo,
aceito pelos informantes e o segundo, rejeitado. As escolhas para o pronome
concentraram-se nas categorias “sempre” (35%) e “às vezes”(31%). Para o
pronome lexical, embora as colunas “às vezes” e “raramente” apresentem o
mesmo valor (24%), a categoria “nunca” apresentou 45% das escolhas. Esse
valor, somado aos 24% da categoria “raramente” atingem 69% de rejeição ao
pronome lexical com a estrutura complexa e o referente [- animado].
150
Tabela 6.10 – Universitários: referente [- animado] em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 6 14% 8 19% 13 30% 16 37% 43
Lexical 11 26% 10 23% 12 28% 10 23% 43
Categoria
vazia
0 6 14%
19 44%
18 42% 43
Os valores da tabela 6.10 apresentaram p-valor igual a 0,015. Para o
pronome lexical, o é possível perceber uma tendência que os valores
percentuais das quatro categorias são próximos. Para o pronome clítico e para a
categoria vazia, percebe-se uma tendência à aceitação dessas variantes, pois as
escolhas em relação a elas concentraram-se nas categorias consideradas
positivas, principalmente no que se refere à categoria vazia que apresentou nas
categorias “sempre” e “raramente” os valores de 42 e 44%, respectivamente.
6.2. Análises relativas à avaliação de uso na modalidade escrita
Para cada seção de análise do teste escrito em relação à modalidade
escrita da língua, serão apresentadas as sentenças que compuseram o trio de
estímulos e três tabelas, uma para cada grupo de informantes, com as respectivas
análises.
Mais uma vez, manteve-se, para a coleta de dados com o teste escrito, a
divisão previamente estabelecida nas turmas em relação aos alunos que
avaliariam a freqüência de uso para a fala e a freqüência de uso para a escrita no
teste de áudio. Desse modo, os alunos que haviam feito o teste de áudio para a
escrita, realizaram o teste escrito avaliando a freqüência de uso das variantes para
a modalidade escrita da língua.
151
6.2.1. Análise da sentença 2: estrutura com referente [- animado] e verbo no
infinitivo
2 a - Carolina adora brincar com meus livros. Ela tem a mania de pegar minhas
coisas para conhecê-las de perto.
2 b - Carolina adora brincar com meus livros. Ela tem a mania de pegar minhas
coisas para conhecer elas de perto.
2 c - Carolina adora brincar com meus livros. Ela tem a mania de pegar minhas
coisas para conhecer de perto.
Tabela 6.11 – 5ª série: referente [- animado] e verbo no infinitivo
13
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 5 17% 7 24% 7 24% 10 35% 29
Lexical 19 59% 5 15% 5 15% 4 12% 33
Categoria
vazia
10 31% 9 27% 7 21% 7 21% 33
Analisando-se estatisticamente os valores encontrados na tabela acima,
encontra-se o p-valor de 0,046. Tanto o pronome clítico quanto a categoria vazia
não foram analisados significativamente. O pronome lexical, no entanto, apresenta
59% na categoria “nunca” o que indica sua rejeição com a estrutura presente na
sentença 2, isto é, referente [- animado] e verbo no infinitivo.
Tabela 6.12 - 1º ano: referente [- animado] e verbo no infinitivo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 0 7 24% 7 24% 15 52% 29
Lexical 1 3% 8 28% 4 14% 16 55% 29
Categoria
vazia
6 21% 10 34% 10 34% 3 11% 29
Os valores apresentados na tabela 6.12 mostram que os alunos do 1
o
ano
avaliaram de forma diferente as variantes estudadas, já que tanto o pronome
clítico quanto o pronome lexical foram avaliadas positivamente, apresentando,
13
A diferença no valor para a coluna do pronome lexical ocorreu porque quatro alunos deixaram de
responder a um teste.
152
respectivamente, valores de 52% e 55% na categoria “sempre”. Ainda que para o
pronome clítico, os valores das colunas “às vezes” e “raramente” seja o mesmo
(24%), somando-se as colunas consideradas positivas atinge-se 76% de aceitação
do pronome clítico com o referente [ - animado] e o verbo no infinitivo. A categoria
vazia não forneceu distribuição que permita avaliar uma tendência.
Tabela 6.13 – Universitários: referente [- animado] e verbo no infinitivo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 1 2% 5 12% 15 35% 22 51% 43
Lexical 29 67% 9 21% 0 5 12% 43
Categoria
vazia
3 7% 8 19% 18 42% 14 32% 43
Submetendo-se os valores apresentados pelos universitários na tabela 6.13,
o p-valor de 0,000 indica que a escolha dos informantes frente às variantes
estudadas não foi aleatória. As escolhas para o pronome clítico e para a categoria
vazia apontam aceitação dessas variantes, enquanto o pronome lexical apresenta
escolhas que indicam rejeição a essa variante com a estrutura da sentença 2. Para
o clítico, a coluna “sempre” apresentou 51% das respostas que somados aos 35%
da categoria “às vezes” mostram a avaliação positiva dessa variante. As escolhas
para o pronome lexical, em oposição, concentram-se nas categorias de rejeição
com 67% para “nunca” e 21% para a categoria “raramente”, demonstrando a
rejeição a essa variante. Para a categoria vazia, da mesma forma que aconteceu
com o pronome clítico, as escolhas das categorias “raramente” com 42% e
“sempre” com 32% indicam a aceitação da variante.
153
6.2.2. Análise da sentença 3: estrutura com referente [+animado] e verbo
flexionado
3 a - Sempre via Pedro correndo na lagoa. Depois que casou, não o vejo mais.
3 b - Sempre via Pedro correndo na lagoa. Depois que casou, não vejo ele mais.
3 c - Sempre via Pedro correndo na lagoa. Depois que casou, não vejo mais.
Tabela 6.14 – 5ª série: referente [+animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 7 22% 4 12% 11 33% 11 33% 33
Lexical 18 55% 8 24% 5 15% 2 6% 33
Categoria
vazia
17 52% 8 24% 3 9% 5 15% 33
Apresentando relevância estatística com p-valor igual a 0,003, os alunos da
5
a
série julgaram de forma diferenciada os itens estudados, avaliando
positivamente o pronome clítico e rejeitando as demais variantes, na tabela acima.
Os valores mais relevantes para o pronome clítico repetem-se nas categorias
consideradas positivas, sendo 33% para cada uma das categorias. Para o
pronome lexical, a coluna “nuncaconcentra 55% das respostas, que, juntamente
com o valor da coluna “raramente” soma 79% de rejeição. Fato semelhante
aconteceu com a categoria vazia, que atingiu 76% de avaliação negativa.
Tabela 6.15 – Universitários: referente [+animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 1 2% 2 5% 8 19% 32 74% 43
Lexical 28 65% 10 23% 3 7% 2 5% 43
Categoria
vazia
12 28% 6 14% 18 42% 7 16% 43
Para a tabela 6.15, os universitários julgaram as variantes de forma
diferente, o que é comprovado estatisticamente pelo p-valor igual a 0,000. O
154
pronome clítico foi avaliado positivamente pelos informantes com 74% das
escolhas na categoria “sempre”. Quando somadas as categorias positivas atinge-
se 93% de aceitação dessa variante. O pronome lexical foi rejeitado pelos
universitários com 65% das opções na categoria “nunca” que somados aos 23%
da categoria “raramente” chegam a 88% de avaliação negativa dessa variante com
o referente [+animado] e o verbo flexionado. Embora a categoria vazia tenha
apresentado 42% para a categoria “às vezes”, os valores das colunas “sempre” e
“raramente” são próximos, o que não permite avaliar uma tendência.
6.2.3.Análise da sentença 4: estrutura com referente [- animado] e verbo
flexionado
4 a - Comprei o sexto livro do Harry Potter no ano passado. Ainda não o li.
4 b - Comprei o sexto livro do Harry Potter no ano passado. Ainda não li ele.
4 c - Comprei o sexto livro do Harry Potter no ano passado. Ainda não li.
Tabela 6.16 - 1º ano: referente [- animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 0 3 10% 8 28% 18 62% 29
Lexical 21 72%
4 14% 4 14% 0 29
Categoria
vazia
5 18% 7 24% 16 55% 1 3% 29
Os alunos do 1
o
apresentaram, na tabela 6.16, valores estatisticamente
relevantes, pois, ao serem expostos ao teste estatístico, o p-valor foi 0,000. Para o
pronome clítico, as escolhas concentram-se nas categorias positivas com 62% na
categoria “sempre” e 28% na categoria “às vezes”, alcançando 90% de avaliação
positiva. O pronome lexical, no entanto, polariza suas escolhas na direção da
rejeição com 72% de escolhas na categoria “nunca”. Os valores para a categoria
vazia não indicam tendência para essa variante.
155
Tabela 6.17 – Universitários: referente [- animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 1 2% 2 5% 9 21% 31 72% 43
Lexical 31 72% 6 14% 5 12% 1 2% 43
Categoria
vazia
7 16% 5 12% 23 53% 8 19% 43
A distribuição dos tipos de respostas dos universitários na tabela 6.17
apresentou p-valor igual a 0,000 para as avaliações das variantes, o que indica
diferença relevante nas respostas fornecidas. O valor das categorias “sempre”,
para o pronome clítico, e “nunca”, para o pronome lexical, é o mesmo, ou seja, os
informantes aceitaram o clítico e rejeitaram o pronome lexical com 72% de
escolhas. Para o pronome clítico, somando-se o valor da categoria “sempre” ao de
“às vezes” tem-se 93% de avaliação positiva e para o pronome lexical atinge-se
86% de rejeição. A categoria vazia não apresenta valores que apontem uma
tendência.
6.2.4. Análise da sentença 5: referente [+animado] e estrutura complexa
5 a - Estudei com essa professora no ano passado. Achei-a maravilhosa.
5 b - Estudei com essa professora no ano passado. Achei ela maravilhosa.
5 c - Estudei com essa professora no ano passado. Achei maravilhosa.
Tabela 6.18 – 1º ano: referente [+animado] e estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 1 3% 4 14% 6 21% 18 62% 29
Lexical 12 42% 5 17% 7 24% 5 17% 29
Categoria
vazia
13 45% 8 28% 5 17% 3 10% 29
Analisando-se a tabela acima, as respostas fornecidas pelos informantes do
1
o
ano mostraram-se relevantes do ponto de vista estatístico com p-valor igual a
0,000. Avaliando-se os valores percentuais, percebem-se valores interessantes em
relação ao pronome clítico e à categoria vazia. As respostas para o pronome clítico
156
apontam aceitação dessa variante com 62% na categoria “sempre”. A categoria
vazia polariza escolhas nas opções “nunca” (45%) e “raramente”(28%), sendo,
portanto, avaliada negativamente. Os valores apresentados para o pronome lexical
não permitem avaliar uma tendência clara, pois, embora o pronome lexical
apresente 42% de escolhas na categoria “nunca”, os valores das colunas
“raramente” e “às vezes” são idênticos.
Tabela 6.19 – Universitários: referente [+animado] e estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 4 9% 7 16% 12 28% 20 47% 43
Lexical 15 35% 7 16% 17 40% 4 9% 43
Categoria
vazia
9 21% 8 19% 19 44% 7 16% 43
Quando os valores presentes na tabela 6.19 são analisados
estatisticamente o p-valor é 0,001, demonstrando que houve significância nas
escolhas dos universitários. Somente em relação ao pronome clítico é possível
perceber uma tendência à aceitação dessa variante com 47% em “sempre” e 28%
em “às vezes”. Para o pronome lexical, as categorias “às vezes” e “nunca” são
próximos, o que não permite avaliar uma tendência. Para a categoria vazia
também não é possível avaliar tendência, já que, embora haja 44% de escolhas na
categoria “às vezes”, os valores das demais categorias são próximos.
6.2.5. Análise da sentença 6: referente [-animado] e estrutura complexa
6 a - Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu o acho tão prático.
6 b - Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu acho ele tão prático.
6 c - Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu acho tão prático.
157
Tabela 6.20 – 5ª série: referente [-animado] e estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 7 21% 8 25% 6 18% 12 36% 33
Lexical 18 55% 6 18% 4 12% 5 15% 33
Categoria
vazia
9 27% 5 15% 11 61% 8 24% 33
Submetendo-se os valores da tabela 6.20 ao teste estatístico, o p-valor é
0,036. Os valores para o pronome clítico não apontam tendência. O pronome
lexical e a categoria vazia, no entanto, apresentam tendências opostas, sendo o
primeiro tendência à rejeição e o segundo à aceitação. Para o pronome lexical,
somente a categoria “nunca” apresenta 55% de rejeição; a categoria vazia
apresenta na categoria “às vezes” 61% que somados aos 24% da categoria
“sempre” atinge 85% de aceitação dessa variante.
Tabela 6.21 – 1º ano: referente [-animado] e estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 14 38% 12 32% 7 19% 4 11% 37
Lexical 7 19% 14 38% 9 24% 7 19% 37
Categoria
vazia
1 2% 4 11% 9 24% 23 63% 37
Os valores da tabela 6.21, ao serem submetidos ao teste estatístico,
apresentaram p-valor igual a 0,000, indicando relevância nas respostas fornecidas.
Ainda que os valores percentuais não apontem tendência para o pronome lexical,
os valores para o clítico e para a categoria vazia demonstram rejeição ao primeiro
e aceitação do segundo com a estrutura complexa e o referente [-animado].
As escolhas do pronome clítico foram, respectivamente, 38% e 32% para as
categorias “nunca” e “raramente”. A categoria vazia teve 63% em “sempre”, que,
somados aos 24% de “às vezes” alcança 87% de avaliação positiva dessa variante
com o ambiente da sentença 6.
158
Tabela 6.22 – Universitários: referente [-animado] e estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 2 5% 11 26% 14 32% 16 37% 43
Lexical 24 56% 8 19% 7 16% 4 9% 43
Categoria
vazia
4 9% 0 19 44% 20 47% 43
O p-valor encontrado para a tabela acima (p=0,000) demonstra que os
universitários avaliaram significativamente as variantes estudadas, apresentando
tendências diferentes que o pronome clítico e a categoria vazia foram avaliados
positivamente e o pronome lexical teve seu uso rejeitado com a estrutura da
sentença 6.
Os valores para o pronome lexical, quando agrupados, atingem 69% de
aceitação da variante. Para o pronome lexical, a coluna “nunca” obteve 56% das
escolhas que, somados aos 19% da coluna “raramente”, apresentam 75% de
rejeição à variante. Os valores para a categoria vazia foram acima de 40% nas
categorias “sempre” e “às vezes”, atingindo 93% de aceitação.
6.3.Conclusões parciais para o teste escrito
Para o teste escrito, em relação à fala informal, os alunos da 5ª série
apresentaram comportamento resumido no quadro a seguir.
159
Quadro 6.1 – Teste escrito: Resumo do comportamento dos alunos da 5ª série
(Fala informal)
Aceito Neutro Rejeitado
Clítico [-animado] e verbo no
infinitivo
[+animado] e verbo
flexionado
[+animado]
em estrutura
complexa
Pronome
lexical
[+animado] em estrutura
complexa
[+animado] e
verbo
flexionado
[-animado] e verbo no
infinitivo
Categoria
vazia
[-animado] e
verbo no
infinitivo
[+animado] e
verbo
flexionado
[+animado]
em estrutura
complexa
[_animado] e
verbo
flexionado
[-animado] em
estrutura
complexa
Como pode ser observado no quadro acima, para as análises relativas à
fala, os informantes da 5a série avaliaram positivamente o pronome clítico com o
referente [- animado] e verbo no infinitivo (Tabela 6.1) e com referente [+animado]
e verbo flexionado (tabela 6.3) . Com as demais estruturas, os alunos da 5a rie
avaliaram essa estrutura de forma neutra.
O pronome lexical foi avaliado positivamente com referente [+animado] em
estrutura complexa (Tabela 6.7), ambiente em que as demais estruturas não
sofreram avaliação significativa. Essa estrutura somente foi rejeitada com referente
[-animado] e verbo no infinitivo (Tabela 6.1), tendo sido, portanto, avaliado
neutramente com as demais estruturas. Para a categoria vazia, não foi possível
avaliar tendência.
160
Quadro 6.2 – Teste escrito: Resumo do comportamento dos alunos do 1º ano
(Fala informal)
Aceito Neutro Rejeitado
Clítico
[-animado] e verbo
flexionado
[-animado] em
estrutura complexa
[-
animado]
e verbo
flexionado
[+animado] em estrutura
complexa
Pronome lexical [+animado] em
estrutura complexa
[-
animado]
em
estrutura
complexa
Categoria vazia
[-animado] e verbo
flexionado
[+animado
] em
estrutura
complexa
[-
animado]
em
estrutura
complexa
[-
animado]
e verbo
no
infinitivo
[+animado
] e verbo
flexionado
Os alunos do 1o ano aceitaram o pronome clítico com o referente [-
animado] em estrutura complexa (Tabela 6.9) e rejeitaram-no com o referente
[+animado] em estrutura complexa (Tabela 6.8), mesmo ambiente em que o
pronome lexical foi avaliado positivamente. Esses informantes aceitaram a
categoria vazia com o referente [- animado] e o verbo flexionado (Tabela 6.5),
avaliando-a de forma pouco significativa nos demais casos.
161
Quadro 6.3 – Teste escrito: Resumo do comportamento dos Universitários
(Fala informal)
Aceito Neutro Rejeitado
Clítico [-animado] e verbo no
infinitivo
[+animado] e verbo
flexionado
[-animado] e verbo
flexionado
[-animado] em estrutura
complexa
Pronome
lexical
[-
animado]
em
estrutura
complexa
[-animado] e verbo no infinitivo
[+animado] e verbo flexionado
[-animado] e verbo flexionado
Categoria
vazia
[-animado] e verbo no
infinitivo
[-animado] e verbo
flexionado
[-animado] em estrutura
complexa
[+animado
] e verbo
flexionado
[+animado
] em
estrutura
complexa
Para a fala, os universitários avaliaram positivamente o pronome clítico com
todas as estruturas, à exceção do referente [+animado] em estrutura complexa
(tabela 6.27, Anexo 6), estrutura em que não houve tendência clara para nenhuma
das variantes estudadas. O pronome lexical não foi rejeitado com as estruturas
complexas. A categoria vazia foi avaliada de forma pouco significativa com
referente [+ animado] e verbo flexionado (Tabela 6.4) e com o referente [+
animado] em estrutura complexa (tabela 6.27, Anexo 6), tendo sido avaliada
positivamente nas demais.
Quando o teste escrito buscou analisar os informantes em relação à escrita
formal, os alunos da série comportaram-se conforme o exposto no quadro 6.4 a
seguir.
162
Quadro 6.4 – Teste escrito: Resumo do comportamento dos alunos da 5ª série
(Escrita formal)
Aceito Neutro Rejeitado
Clítico
[+animado] e verbo flexionado
[-animado] e
verbo no
infinitivo
[-animado] e
estrutura
complexa
Pronome
lexical
[-animado] e verbo no
infinitivo
[+animado] e verbo
flexionado
[-animado] e estrutura
complexa
Categoria
vazia
[-animado] e estrutura complexa
[-animado] e
verbo no
infinitivo
[-animado] e
verbo
flexionado
[+animado]
e estrutura
complexa
[+animado] e verbo
flexionado
O pronome clítico foi positivamente avaliado e o pronome lexical e a
categoria vazia foram rejeitados com o referente [+animado] e verbo flexionado
(Tabela 6.14).
163
Quadro 6.5 – Teste escrito: Resumo do comportamento dos alunos da 1º ano
(Escrita formal)
Aceito Neutro Rejeitado
Clítico [+animado] e verbo no
infinitivo
[-animado] e verbo
flexionado
[+animado] e estrutura
complexa
[-animado] e estrutura complexa
Pronome lexical [+animado] e verbo no
infinitivo
[+animado
] e
estrutura
complexa
[-
animado]
e
estrutura
complexa
[-animado] e verbo flexionado
Categoria vazia
[-animado] e estrutura
complexa
[+animado
] e verbo
no
infinitivo
[-
animado]
e verbo
flexionado
[+animado
] e verbo
flexionado
[+animado] e estrutura complexa
Para a escrita, os alunos do 1
o
ano avaliaram positivamente o pronome
clítico com o referente [- animado] e o verbo no infinitivo (Tabela 6.12); com o
referente [- animado] e o verbo flexionado (Tabela 6.16) e com o referente
[+animado] e estrutura complexa (Tabela 6.18). Com o referente [-animado] em
estrutura complexa (Tabela 6.21), essa variante foi rejeitada, tendo sido
avaliada de forma pouco significativa com o referente [+animado] e verbo
flexionado (Tabela 6.30, anexo 6).
O pronome lexical foi avaliado positivamente, para a escrita, pelos alunos
do 1
o
ano com o referente [-animado] e o verbo no infinitivo (Tabela 6.12). Essa
164
estrutura foi rejeitada com o referente [-animado] e o verbo flexionado (Tabela
6.16), tendo sido avaliado de forma pouco significativa quando isso ocorreu a
todas as variantes.
Os alunos do 1
o
ano somente avaliaram positivamente a categoria vazia
com referente [-animado] e estrutura complexa (tabela 6.21) e rejeitaram-na
quando a estrutura complexa apresentava referente [+animado]. Os estudos de
Duarte (1986) apontaram e os de Averbug (2000) confirmaram que, embora a
categoria vazia seja uma estratégia muito utilizada pelos seus informantes, o
referente [-animado] influencia seu uso e a avaliação dessa estrutura.
165
Quadro 6.6 – Teste escrito: Resumo do comportamento dos Universitários
(Escrita formal)
Aceito Neutro Rejeitado
Clítico
[-animado] e verbo no
infinitivo
[+animado] e verbo
flexionado
[-animado] e verbo
flexionado
[+animado] e estrutura
complexa
[-animado] e estrutura
complexa
Pronome lexical
[+animado] e estrutura
complexa
[-animado] e verbo no
infinitivo
[+animado] e verbo
flexionado
[-animado] e verbo
flexionado
[-animado] e estrutura
complexa
Categoria vazia
[-animado] e verbo no
infinitivo
[-animado] e verbo
flexionado
[-animado] e estrutura
complexa
[+animado] e verbo flexionado
[+animado] e estrutura
complexa
O pronome clítico foi avaliado positivamente pelos universitários com todas
as estruturas. O pronome lexical foi rejeitado em praticamente todas as estruturas,
sendo a única exceção aquela em que ocorreu o referente [+animado] e estrutura
complexa (Tabela 6.19), ambiente em que sua avaliação foi pouco significativa. A
categoria vazia foi aceita com referente [- animado] e verbo no infinitivo (Tabela
6.13) e com a estrutura complexa e referente [- animado] (Tabela 6.21), tendo sido
avaliada de forma pouco significativa com as demais estruturas.
166
Comparando-se o comportamento dos alunos da 5
a
série com os dois tipos
de teste, o teste de áudio e o teste escrito, observa-se que, houve pouca diferença
na maneira como perceberam as variantes. À exceção do ambiente com referente
[+animado], esses informantes não avaliaram as variantes de maneira diferente,
independente do tipo de teste.
Para o pronome clítico, os alunos do 1
o
ano apresentaram comportamento
semelhante ao encontrado para os testes de áudio quando realizaram o teste
escrito. Ainda que com estrutura diferente, o pronome clítico foi claramente
aceito uma vez para a fala informal. Quando o teste escrito objetivou verificar o
comportamento desses alunos para a escrita formal, esses informantes ampliaram
os ambientes de aceitação do pronome clítico de um para três ambientes,
repetindo-se, o ambiente em que ele foi aceito no teste de áudio (referente [-
animado] e verbo no infinitivo).
No teste escrito, quando os informantes deveriam avaliar o pronome lexical
em relação à fala informal, ele somente foi claramente rejeitado uma vez. Para o
teste de áudio, as respostas não permitiram avaliar tendência de aceitação ou
rejeição a essa variante.
No teste escrito, o pronome lexical foi aceito uma vez e rejeitado uma vez,
ao serem analisadas as respostas em relação à escrita formal. No teste de áudio,
o pronome lexical foi rejeitado três vezes, o tendo sido avaliado positivamente
nenhuma vez. Essa inconsistência no comportamento dos informantes do primeiro
ano parece apontar que o estigma dado a essa variante, gradativamente,
Para a categoria vazia, o comportamento dos alunos assemelhou-se ao
teste de áudio: independente da avaliação do teste escrito ser para a fala informal
ou para a escrita formal, essa variante foi claramente aceita uma vez para a
167
modalidade falada e uma vez para a modalidade escrita, não sendo possível
avaliar uma tendência nos demais casos.
Comparando-se o comportamento dos universitários nos dois testes,
observa-se que os universitários, ao realizarem o teste escrito e se depararem
com as variantes expostas, agora de maneira óbvia, alteraram a forma de julgá-
las. Essa alteração no julgamento pode ser observada pela alta freqüência de p
valor significativo encontrada no teste escrito.
Enquanto no teste de áudio, o pronome clítico só foi claramente aceito com
três das estruturas quando foi analisado em relação à fala informal, no teste
escrito, ele foi rejeitado com a estrutura complexa. Esse aumento na aceitação
também aconteceu em relação à modalidade escrita: se no teste de áudio, os
universitários avaliaram positivamente essa variante em sete dos nove ambientes,
no teste escrito, ela foi aceita em todos eles.
O pronome lexical, ao ser analisado no teste de áudio, foi claramente
rejeitado uma vez em relação à fala. No entanto, no teste escrito, ao contrário, ele
foi aceito uma vez. Para a modalidade escrita, o índice de rejeição a essa
variante foi alto, independente do tipo de teste. Acredita-se que esse
comportamento se deva ao fato de os universitários serem mais conscientes da
formalidade da língua escrita e, portanto, seja o teste auditivo ou escrito, rejeitaram
a variante considerada estigmatizada.
Para a categoria vazia, o comportamento dos universitários manteve para o
teste escrito, o encontrado para o áudio: independente da análise ser para a
modalidade falada ou para a modalidade escrita, esse informantes avaliaram a
categoria vazia, na maior parte das vezes, de forma pouco significativa.
168
CONCLUSÃO
Estudando-se um fenômeno lingüístico como as estratégias de retomada do
objeto direto através de testes de atitudes, espera-se observar o comportamento
dos informantes de maneira a compreender como os alunos escolhidos para a
presente pesquisa avaliam formas lingüísticas em processo de mudança.
Conhecem-se até hoje os resultados de testes de produção e de percepção direta
como o realizado por vários estudiosos.
Corroborando a hipótese 1(um), que associa o tempo de permanência dos
indivíduos na escola à percepção do pronome clítico como variante prestigiada, os
resultados encontrados revelaram que, independentemente do tipo de teste a que
foram submetidos, os alunos da 5
a
série não avaliaram diferentemente as variantes.
Não houve diferença para esses sujeitos na avaliação das variantes, seja em
relação ao uso na modalidade falada informal, seja na modalidade escrita formal da
língua. Também foi indiferente a eles o fato do teste ter sido apenas de áudio ou
escrito. Recém-saídos do antigo Ensino Primário, independentemente de terem ou
não estudado em cursos preparatórios, esses alunos não demonstraram preferência
por nenhuma das variantes.
Os alunos do Ensino Médio, ainda que cursando o 1
o
ano, haviam sido
expostos a quatro anos de aulas de língua portuguesa, seja no Colégio Militar, seja
em outra instituição de ensino. Observando-se o comportamento deles, percebe-se
uma diferença no comportamento em relação á fala informal e à escrita formal.
Para o teste de áudio, o pronome clítico foi mais aceito quando foi analisado
em relação à escrita formal, enquanto o pronome lexical foi mais rejeitado para uso
com essa modalidade, o que aponta reconhecimento da formalidade da escrita, com
169
aceitação da variante prestigiada e rejeição à variante estigmatizada nesses
contextos.
No teste escrito, em que as variantes ficam mais evidentes, uma vez que
estão expostas como alternativas para a mesma sentença, o comportamento dos
alunos do Ensino Médio mostrou pouca diferença em relação ao teste de áudio.
Esperava-se maior aceitação do pronome clítico e conseqüente rejeição ao
pronome lexical, dada a visibilidade das estruturas e a questão prestígio/estigma a
elas atribuída pela escola. No entanto, as análises mostraram que, novamente, o
pronome clítico foi mais aceito ao ser avaliado em relação à escrita formal, assim
como o pronome lexical foi mais rejeitado. Isso aponta que o fato de a avaliação ser
realizada em relação à língua escrita atua com ampliadora dos contextos de
aceitação e de rejeição das variantes mencionadas.
Para ambos os testes, o grande número de ambientes em que essa variante
foi avaliada neutramente sugere mudança no comportamento dos informantes.
Comparando-se ao teste de percepção realizado por Duarte (1986) e aos resultados
de Bortoni, Gomes e Malvar (2003), percebe-se uma ampliação nos ambientes de
sua aceitação. Acredita-se que o comportamento dos informantes tenha mudado e,
ainda que a escola a trate com a variante estigmatizada, os alunos não a vêem
dessa forma.
O comportamento dos alunos do Ensino Médio contraria a hipótese 3 (três),
que estabelece que a categoria vazia teria avaliação mais positiva por parte dos
informantes, dado seu baixo estigma. A categoria vazia, independentemente do tipo
de teste ou da modalidade da língua, foi, na maior parte das vezes, avaliada de
forma pouca significativa pelos alunos do Ensino Médio.
170
Mais uma vez, a hipótese 1 (um) é confirmada pelo comportamento dos
universitários. Esses informantes, alunos de três diferentes períodos do curso de
Letras, apresentam comportamento diferenciado dos outros informantes em vários
momentos. Para o teste de áudio em relação à modalidade falada, o pronome clítico
foi positivamente avaliado em três dos ambientes, número maior que o encontrado
para os informantes do Ensino Médio. Para a análise do áudio em relação à
modalidade escrita, o mero de avaliações positivas ao clítico foi ainda maior,
que ele foi aceito em 6 (seis) dos 8 (oito) os ambientes.
No teste escrito, para a fala, o pronome clítico, uma única vez, não foi
significativamente avaliado e, mesmo assim, com o referente [+animado] em
estrutura complexa, ambiente que segundo Duarte (1986) favorece a aceitação do
pronome lexical, mas que no caso dos universitários não favoreceu nenhuma das
variantes; para a modalidade escrita, foi aceito em todos os ambientes.
O pronome lexical foi avaliado de forma neutra pelos universitários no teste
de áudio em relação à fala, em quase todas as estruturas, excetuando-se com o
referente [-animado] e o verbo flexionado. Nesse ambiente, em Duarte (1986) houve
apenas 7,6% de ocorrências dessa variante no teste de produção e 20% de
aceitação no teste de percepção realizado pela autora. Para o teste de áudio em
relação à escrita, o pronome lexical foi rejeitado duas vezes: com referente
[+animado] e verbo no infinitivo, ambiente favorecedor do pronome clítico; com
referente [-animado] em estrutura complexa, ambiente favorecedor da categoria
vazia. Nos demais ambientes, essa variante não foi avaliada significativamente.
Para o teste escrito, no entanto, o comportamento dos universitários mudou:
se antes, a variante estigmatizada teve avaliação pouco relevante, agora, a rejeição
a essa variante aumentou de forma significativa. Quando as análises do teste
171
escrito foram para a modalidade falada da língua, o pronome lexical foi rejeitado
com três estruturas e avaliado neutramente com a estrutura complexa,
independente do traço de animacidade do referente.
Quando as análises foram para a modalidade escrita, ele foi rejeitado em 4
(quatro) estruturas e neutramente avaliado em 1(um) dos ambientes encontrados
para a modalidade falada: a estrutura complexa e o referente [+animado], ambiente
que em Duarte favoreceu o seu aparecimento.
O comportamento dos alunos diante do pronome lexical corrobora a hipótese
2 (dois), segundo a qual haveria julgamento diferenciado para a avaliação dessa
estrutura para a fala informal e para a escrita formal com maior aceitação na
primeira que na segunda.
Além disso, cruzando-se variáveis sociais e lingüísticas, percebe-se que a
escolaridade aliada à estrutura da sentença fez com que esses alunos avaliassem
neutramente o pronome lexical no mesmo ambiente apontado por Duarte como
favorecedor ao seu aparecimento e à aceitação do pronome lexical. Repetindo essa
tendência, acredita-se que esse comportamento neutro aponte para a diminuição do
estigma dessa variante, pois, embora conscientes do estigma atribuído pela escola
a essa variante, os universitários apontam uma nova tendência: não a aceitam, mas
também não a rejeitam.
A categoria vazia também foi analisada de forma diferente pelos
universitários dependendo do tipo de teste. Para o teste escrito, seja para a
modalidade oral da língua, seja para a modalidade escrita, ela foi pouco avaliada
positivamente pelos universitários, tendo sido avaliada neutramente na maior parte
das vezes.
172
Para o teste escrito, no entanto, aumenta-se sua aceitação se ela está sendo
avaliada para uso na fala informal dos indivíduos. Para a modalidade falada, os
universitários aceitaram a categoria vazia em quatro ambientes, avaliando-a de
forma pouco significativa nos demais. Esses dois ambientes não foram
favorecedores em Duarte ao aparecimento dessa variante. Para a modalidade
escrita, a categoria vazia foi avaliada de forma pouco significativa em cinco
ambientes, sendo aceita em dois ambientes em que referente [-animado]: um
com verbo no infinitivo e outro com estrutura complexa.
Retomando-se o objetivo 3 (três), proposto no capítulo “Metodologia e
hipóteses de trabalho”, percebe-se que tanto para o teste de áudio quanto para o
teste escrito, à medida que a escolaridade aumenta, a avaliação positiva do
pronome clítico também aumenta. Essas diferenças no comportamento dos
estudantes parecem confirmar a hipótese 1 (um) que relaciona o tempo de
permanência do indivíduo na escolha e o reconhecimento do pronome clítico como
variante prestigiada. Pesquisas que lidaram com a produção de textos
mostraram que a escola consegue intervir de tal modo que o número de clíticos
aumenta enquanto cai o uso de pronome lexical, à medida que a escolaridade
aumenta.
Assim, tem-se que apesar de estudos anteriores terem mostrado a influência
da escola na manutenção de certas estruturas em mudança na língua, os tipos de
testes aqui aplicados permitiu observar a diferença entre aquilo que os alunos
efetivamente usam e aquilo que pensam que usam no que se refere à retomada de
objeto direto.
Retomando-se Ladegaard (2002), conclui-se que os informantes apontam
que seu conhecimento acerca da língua portuguesa, reforçado pela escola não é
173
suficiente para deter o processo de mudança em que se encontra a retomada do
objeto direto. Segundo esse autor, mesmo que haja esse conhecimento, é a
emoção dos informantes diante do objeto a responsável por suas atitudes.
Em relação ao objeto direto anafórico, percebe-se que esse conhecimento e
essa emoção atuaram no comportamento dos informantes de tal modo que,
independente da escolaridade, a categoria vazia, tão presente em testes de
produção, foi agora avaliada neutramente, independente do tipo de teste e da
estrutura lingüística envolvida.
Conclui-se essa pesquisa com Labov (1966) que afirma que a atitude
lingüística dos indivíduos é de tal forma importante para o sistema de uma língua
que é ela a responsável pela manutenção ou pela mudança desse sistema. Para as
estratégias de retomada aqui estudadas, o pronome clítico, o pronome lexical e a
categoria vazia, percebe-se uma mudança no comportamento. Os informantes que
compuseram esta pesquisa, ainda que formando um pequeno grupo para este
estudo de caso, apontam mudança. Ainda que o comportamento em relação ao
pronome clítico tenha sido, em alguns casos, condicionado pela escolaridade e pela
modalidade, sua avaliação positiva não foi tão absoluta quanto se esperava.
No que se refere ao pronome lexical, variante estigmatizada pela escola, ela
encontra na emoção dos informantes uma atitude, que embora em alguns
momentos tenha sido negativa, em muitos outros, um comportamento foi neutra,
indicativa de que o conhecimento disseminado pela escola não é mais suficiente
para deter a mudança no processo de retomada do objeto direto.
174
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179
ANEXOS
180
ANEXO 1
TRANSCRIÇÃO DOS TESTES DE ÁUDIO
181
Transcrição do teste de áudio – Modelo 1
1.Eu gosto de andar de bicicleta com meus primos. Todo sábado eu vou chamar
eles para a ciclovia.
2.Comprei o dvd do Homem Aranha 3 por R$ 34,00. Meu colega o comprou por R$
39,00.
3.Ganhei um tênis novo. Ainda não usei.
4. Patrícia adora brincar com meus filhos. Toda tarde ela vem chamá-los para a
pracinha.
5. Mariana está triste. Deixa em paz.
6. Meu filho quebrou o braço fazendo esportes radicias. Tive que proibir ele de
andar de skate.
7. Carolina adora brincar com meus livros.Acho que quer conhecê-las de perto.
8.O jardineiro nunca molha a roseira da minha mãe. Ele sempre esquece de molhar
ela.
9. Meu filho não gosta de levar o lixo para fora. Toda vez que eu peço para levar é
uma briga.
10 Sempre via pedro correndo na Lagoa. Depois que casou não vejo mais.
11 Júlia arranjou um namorado novo. Eu já conheci ele.
12. Camila passou dois meses fora do Brasil. Eu a encontrei no shopping ontem.
13 Comprei o sexto livro do Harry Potter no ano passado. Eu ainda não o li.
14 A professora já corrigiu minha prova. Ainda não peguei.
15 O técnico consertou meu MP3. Meu pai apanhou ele na loja.
16 Meu irmão voltou para casa. Meus avós levaram ele para o aeroporto.
17. Estudei com essa professora no ano passado. Achei maravilhosa.
18 Minha avó morreu há mais de dois anos. Às vezes a sinto por aí.
19. Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu o acho tão prático!
20. Aline contou para Márcia que está grávida. Márcia contou para todo mundo..
21. Usei essa roupa na festa. Todos acharam linda.
182
Transcrição do teste de áudio – modelo 2
1. Eu gosto de andar de bicicleta com meus primos. Todo sábado eu vou chamar
eles para a ciclovia.
2. Comprei o dvd do Homem Aranha 3 por R$ 34,00. Meu colega o comprou por R$
39,00.
3. Ganhei um tênis novo. Ainda não usei.
4. Patrícia adora brincar com meus filhos. Toda tarde ela vem chamar eles para a
pracinha..
5. Mariana está triste. Deixe-a em paz.
6. Meu filho quebrou o braço fazendo esportes radicais.. Tive que proibir de andar
de skate.
7. Carolina adora brincar com meus livros. Acho que quer conhecer elas de perto.
8. Meu filho não gosta de levar o lixo para fora. Toda vez que eu peço para levá-lo
é uma briga.
9. O jardineiro nunca molha a roseira da minha mãe. Ele sempre esquece de molhar
ela.
10. Sempre via Pedro correndo na Lagoa. Depois que casou não vejo ele mais.
11. Júlia arranjou um namorado novo. Eu já o conheci.
12. Camila passou dois meses fora do Brasil. Eu a encontrei no shopping ontem..
13. Comprei o sexto livro do Harry Potter no ano passado. Eu ainda não li.
14. A professora já corrigiu minha prova. Ainda não peguei ela.
15. O técnico consertou meu MP3. Meu pai o apanhou na loja.
16. Meu irmão voltou para casa. Meus avós levaram para o aeroporto.
17. Estudei com essa professora no ano passado. Achei-a maravilhosa.
18. Minha avó morreu há mais de dois anos. Às vezes, sinto ela por aí.
19. Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu acho tão prático!
20. Aline contou para Márcia que está grávida. Márcia contou-o para todo mundo.
21. Usei essa roupa na festa. Todos acharam ela linda.
183
Transcrição do teste de áudio – modelo 3
1.Eu gosto de andar de bicicleta com meus primos. Todo sábado eu vou chamar
eles para a ciclovia.
2.Comprei o dvd do Homem Aranha 3 por R$ 34,00. Meu colega o comprou por R$
39,00.
3.Ganhei um tênis novo. Ainda não usei.
4. Patrícia adora brincar com meus filhos. Toda tarde ela vem chamar para a
pracinha.
5. Mariana está triste. Deixa ela em paz.
6. Meu filho quebrou o braço fazendo esportes radicais. Tive que proibi-lo de andar
de skate.
7. Carolina adora brincar com meus livros. Acho que quer conhecer de perto.
8. Meu filho não gosta de levar o lixo para fora. Toda vez que eu peço para levar é
uma briga.
9. O jardineiro nunca molha a roseira da minha mãe. Ele sempre esquece de
molhá-las.
10. Sempre via Pedro correndo na Lagoa. Agora não o vejo mais.
11. Júlia arranjou um namorado novo e eu conheci ontem.
12. Camila passou dois meses fora do Brasil. Encontrei ela no shopping ontem.
13. Comprei o sexto livro do Harry Potter no ano passado. Ainda não li ele.
14. A professora já corrigiu minha prova só que ainda não a peguei.
15. O técnico consertou meu MP3. Meu pai apanhou na loja.
16. Meu irmão voltou para casa. Meus avós levaram-no para o aeroporto.
17. Estudei com essa professora no ano passado. Achei ela maravilhosa.
18. Minha avó morreu há mais de dois anos. Às vezes, sinto por aí.
19. Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu acho ele tão prático!
20. Aline contou para Márcia que está grávida. Márcia contou para todo mundo.
21 .Usei essa roupa na festa. Todos acharam-na linda.
184
ANEXO 2 – FICHA DE RESPOSTAS PARA O TESTE DE ÁUDIO
185
Nome da Instituição de Ensino: _____________________________________________________
Nome do aluno: _________________________________________________________________
Série: _________________
Sempre Às vezes Raramente Nunca
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
186
ANEXO 3 – TESTE ESCRITO
187
Nome da Instituição de Ensino: __________________________________________________________
Nome do aluno: _________________________________________________________________ Série: _________________
Sempre Às vezes
Raramente Nunca
1a
Patrícia adora sair com meus filhos. Toda tarde ela vem chamá-los para a padaria.
1b Patrícia adora sair com meus filhos. Toda tarde ela vem chamar eles para ir à
padaria.
1c Patrícia adora sair com meus filhos. Toda tarde ela vem chamar para ir à padaria.
2 a Carolina adora brincar com meus livros. Ela tem a mania de pegar minhas coisas
para conhecê-las de perto.
2b Carolina adora brincar com meus livros. Ela tem a mania de pegar minhas coisas para
conhecer elas de perto.
2c Carolina adora brincar com meus livros. Ela tem a mania de pegar minhas coisas para
conhecer de perto.
3 a Sempre via Pedro correndo na Lagoa. Depois que casou não o vejo mais.
3 b Sempre via Pedro correndo na Lagoa. Depois que casou não vejo ele mais.
3 c Sempre via Pedro correndo na Lagoa. Depois que casou não vejo mais.
4 a Comprei o sexto livro do Harry Potter no ano passado. Ainda não o li.
4 b Comprei o sexto livro do Harry Potter no ano passado. Ainda não li. ele
4 c Comprei o sexto livro do Harry Potter no ano passado.Ainda não li.
5 a Estudei com essa professora no ano passado.Achei-a maravilhosa.
5 b Estudei com essa professora no ano passado. Achei ela maravilhosa.
5 c Estudei com essa professora no ano passado. Achei maravilhosa.
6 a Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu o acho tão prático!
6 b. Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu acho ele tão prático!
6 c. Eu queria comprar um carro com direção hidráulica. Eu acho tão prático!
188
ANEXO 4 – TABELAS DO CAPÍTULO 4
(P VALOR NÃO SIGNIFICATIVO)
189
5
a
SÉRIE
Tabela 4.8 – 5ª. série: referente [+animado] e verbo no infinitivo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 10 40% 6 24% 5 20% 4 16% 25
P.Lexical 13 54% 5 21% 2 8% 4 17% 24
Categoria
Vazia
10 37% 8 30% 4 15% 5 18% 27
P valor = 0,86
Tabela 4.9 – 5ª. série: referente [+animado] e verbo no imperativo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 4 31% 2 15% 2 15% 5 39% 13
P. Lexical 2 14% 5 36% 4 29% 3 21% 14
Categoria
vazia
2 18% 3 27% 5 46% 1 9% 11
P valor = 0,414
Tabela 4.10 – 5ª série: referente [–animado] e verbo no infinitivo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 14 37% 5 13% 8 21% 11 29% 38
P.Lexical 13 35% 10 26% 7 18% 8 21% 38
Categoria
Vazia
16 43% 11 29% 4 10% 7 18% 38
P-valor = 0,053
Tabela 4.11. – 5ª série: referente [+animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 19 37% 12 23% 10 19% 11 21% 52
P.Lexical 14 28% 15 30% 9 18% 12 24% 50
Categoria
Vazia
22 43% 9 18% 11 21% 9 18% 51
P valor = 0, 687
Tabela 4.12 – 5ª série: referente [-animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 12 32% 8 21% 11 29% 7 18% 38
P.Lexical 11 29% 9 24% 10 26% 8 21% 38
Categoria
Vazia
14 37% 5 13% 12 32% 7 18% 38
P valor = 0,934.
190
Tabela 4.13 – 5ª série: referente [+animado] em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 13 54% 2 8% 5 21% 4 17% 24
P.Lexical 13 48% 3 11% 11 41% 0 27
Categoria
Vazia
10 40% 5 20% 4 16% 6 24% 25
P valor = 0,078
Tabela 4.14 – 5ª série: referente [-animado] ou oracional em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 7 28% 2 8% 9 36% 7 28% 25
P.Lexical 10 36% 4 15% 4 15% 9 34% 27
Categoria
Vazia
6 25% 3 12% 9 38% 6 25% 24
P valor = 0,671
Tabela 4.15 – 5ª série: referente oracional em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 6 46% 0 3 23% 4 31% 13
Categoria
Vazia
11 44% 7 28% 2 8% 5 20% 25
P valor = 0,136
1
O
ANO
Tabela 4.16 – 1º ano: referente [+animado] e verbo no imperativo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 4 29% 3 21% 4 29% 3 21% 14
P.Lexical 1 10% 3 30% 3 30% 3 30% 10
Categoria
Vazia
1 8% 8 61% 3 23% 1 8% 13
P valor = 0,329
Tabela 4.17 – 1º ano: referente [–animado] e verbo no infinitivo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 6 22% 8 30% 8 30% 5 18% 27
P.Lexical 3 13% 3 13% 8 35% 9 39% 23
Categoria
Vazia
3 13% 4 17% 12 53% 4 17% 23
P valor = 0,236
191
Tabela 4.18 – 1º ano: referente [+animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 6 13% 9 19% 10 21% 22 47% 47
P.Lexical 8 16% 16 32% 9 18% 17 34% 50
Categoria
Vazia
7 14% 6 12% 15 29% 23 45% 51
P valor = 0,163
Tabela 4.19 – 1º ano: referente [+animado] em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 6 22% 8 30% 8 30% 5 18% 27
P.Lexical 3 13% 3 13% 8 35% 9 39% 23
Categoria
Vazia
3 13% 4 17% 12 53% 4 17% 23
P valor = 0,440
Tabela 4.20 – 1º ano: referente [-animado] ou oracional em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 1 4% 1 4% 6 25% 15 66% 23
P.Lexical 2 8% 3 12% 9 38% 10 42% 24
Categoria
Vazia
1 7% 1 7% 2 27% 22 80% 26
P valor = 0,129
UNIVERSITÁRIOS
Tabela 4.21 – Universitários referente [+animado] e verbo no infinitivo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 1 3% 4 13% 11 37% 14 47% 30
P.Lexical 4 3% 4 13% 12 40% 10 34% 30
Categoria
Vazia
3 10% 6 20% 9 30% 12 40% 30
P valor = 0,753
Tabela 4.22 – Universitários: referente [+animado] e verbo no imperativo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 1 7% 5 33% 8 53% 1 7% 15
P.Lexical 2 13% 4 27% 5 33% 4 27% 15
Categoria
Vazia
3 20% 3 20% 4 27% 5 33% 15
P valor = 0,466
192
Tabela 4.23 – Universitários: referente [+animado] em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 7 23% 9 30% 11 37% 11 37% 30
P.Lexical 11 37% 5 16% 10 34% 10 34% 30
Categoria
Vazia
12 40% 6 20% 7 23% 7 23% 30
P valor = 0,846
Tabela 4.24 – Universitários: referente oracional em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 2 13% 0 2 13% 11 74% 15
Categoria
Vazia
0 0 20 67% 10 33% 30
P valor = 0,201
193
ANEXO 5 – TABELAS DO CAPÍTULO 5
(P VALOR NÃO SIGNIFICATIVO)
194
5
a
série
Tabela 5.13 – 5ª. série: referente [+animado] e verbo no infinitivo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 12 57% 2 9,5% 6 28,5% 1 5% 21
P.Lexical 18 78% 2 9% 3 12% 0 0% 23
Categoria
Vazia
14 66% 4 15% 1 5% 3 14% 22
P valor = 0,146
Tabela 5. 14 – 5ª série: referente [+animado] e verbo no imperativo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 1 8% 3 25% 5 42% 3 25% 12
P.Lexical 1 10% 5 50% 4 40% 0 0% 10
Categoria
Vazia
1 9% 4 36% 4 36% 2 19% 11
P valor = 0,764
Tabela 5.15 - 5ª série: referente [-animado] e verbo no infinitivo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 12 37% 7 21% 5 15% 9 27% 33
P.Lexical 14 43% 9 27% 1 3% 9 27% 33
Categoria
Vazia
14 43% 7 21% 6 18% 6 18% 33
P valor = 0,57
Tabela 5.16 – 5ª. série: referente [+animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 13 30% 11 26% 12 28% 7 16% 43
P.Lexical 19 43% 9 21% 12 27% 4 9% 44
Categoria
Vazia
20 44% 8 18% 12 27% 5 11% 45
P valor = 0,807
Tabela 5.17 – 5ª série: referente [-animado] ou oracional em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 6 29% 7 33% 5 24% 3 14% 21
P.Lexical 7 32% 5 23% 4 18% 6 27% 22
Categoria
Vazia
3 13% 5 22% 5 22% 10 43% 23
P valor = 0,224
195
Tabela 5.18 – 5ª série: referente oracional em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 4 33% 4 33% 2 17% 2 17% 12
Categoria
Vazia
11 53% 4 19% 4 19% 2 9% 21
P valor = 0,659
1º ano
Tabela 5.19 – 1º ano: referente [+animado] e verbo no infinitivo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 1 6% 5 30% 6 32% 6 32% 18
P.Lexical 4 20% 2 11 % 5 30% 7 39% 18
Categoria
Vazia
5 23% 5 23% 5 23% 7 31% 22
P valor = 0,689
Tabela 5.20 – 1º ano: referente [+animado] e verbo no imperativo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 2 18% 0 3 27% 6 55% 11
P.Lexical 3 27% 2 18% 2 18% 4 37% 11
Categoria
Vazia
0 2 29% 2 29% 3 42% 7
P valor = 0,504
Tabela 5.21 – 1º ano: referente [+animado] em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 2 1% 4 2% 5 28% 7 39% 18
P.Lexical 5 21% 7 29% 7 29% 5 21% 24
Categoria
Vazia
4 22% 4 22% 4 22% 6 34% 18
P valor = 0,876
Tabela 5.22 – 1º ano: referente [-animado] ou oracional em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 0 7 50% 4 28% 3 22% 14
P.Lexical 6 27% 5 23% 6 27% 5 23% 22
Categoria
Vazia
4 18% 5 23% 10 45% 3 14% 22
P valor =0,224
196
Tabela 5.23 – 1º ano: referente oracional em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 4 36% 3 28% 4 36% 0 0% 11
Categoria
Vazia
5 28% 6 33% 6 33% 1 6% 18
P valor = 0,832
UNIVERSITÁRIOS
Tabela 5.24 – Universitários: referente [-animado] ou oracional em estrutura
complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 6 20% 5 17% 12 40% 7 23% 30
P.Lexical 13 46% 3 11% 7 24% 5 19% 28
Categoria
Vazia
4 13% 4 13% 14 47% 8 27% 30
P valor = 0,147
197
ANEXO 6 – TABELAS DO CAPÍTULO 6
(P VALOR NÃO SIGNIFICATIVO)
198
ANEXO 6 – TABELAS DO TESTE ESCRITO
FALA INFORMAL
5
ª
série
Tabela 6.23 – 5ª série: referente [- animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 10 26% 11 29% 7 19% 10 26% 38
Lexical 14 37% 5 13% 13 34% 6 16% 38
Categoria
vazia
8 21% 5 13% 13 34% 12 32% 38
P valor = 0,105
Tabela 6.24 - 5ª série: referente [- animado] em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 17 45% 5 13% 8 21% 8 21% 38
Lexical 12 32% 6 16% 11 29% 9 24% 38
Categoria
vazia
5 13% 8 21% 9 24% 16 42% 38
P valor = 0,085
1
o
ano
Tabela 6.25 – 1º ano: referente [- animado] verbo no infinitivo
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 8 22% 10 27% 10 27% 9 24% 37
lexical 8 22% 7 19% 15 40% 7 19% 37
Escrito 5 14% 7 19% 13 35% 12 32% 37
P valor = 0,705
Tabela 6.26 – 1º grau: referente [+ animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 4 11% 6 16% 9 24% 18 49% 37
Lexical 7 19% 10 27% 14 38% 6 16% 37
Categoria
vazia
10 27% 4 11% 11 30% 12 32% 37
P valor = 0,051
199
UNIVERSITÁRIOS
Tabela 6.27 – Universitários: referente [+ animado] em estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 3 7% 12 28% 16 37% 12 28% 43
Lexical 9 21% 6 14% 13 30% 15 35% 43
Categoria
vazia
9 21% 8 19% 19 44% 7 16% 43
P valor = 0,143
Modalidade escrita
Tabela 6.28 – 5ª série: referente [- animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 8 25% 5 15% 9 27% 11 33% 33
Lexical 17 52% 4 12% 8 24% 4 12% 33
Categoria
vazia
10 30% 7 21% 10 30% 6 19% 33
P valor = 0,194
Tabela 6.29 – 5ª série: referente [+animado] e estrutura complexa
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 10 31% 7 21% 4 12% 12 36% 33
Lexical 8 24% 8 24% 5 15% 12 36% 33
Categoria
vazia
12 36% 9 27% 7 21% 5 16% 33
P valor = 0,505
Tabela 6.30 – 1º ano: referente [+animado] e verbo flexionado
Nunca Raramente Às vezes Sempre Total
Clítico 0 1 3% 6 21% 22 76% 29
Lexical 0 4 14% 8 28% 17 58% 29
Categoria
vazia
0 4 14% 8 28% 17 58% 29
P valor = 0,515
200
ANEXO 7 – FICHA SOCIAL
201
Ficha social
Instituição de Ensino: _________________________________________
Nome: ________________________________ Série: ______________
Sexo: ( ) feminino ( ) masculino Idade: ______________
1.Você lê revistas?
( ) Não ( ) Mais de uma por semana ( )1 por semana ( ) 1 por mês
Qual é a sua preferida? ___________________
2. Você lê gibis?
( ) Não ( ) Mais de uma por semana ( ) 1 por semana ( ) 1 por mês
3. Você lê livros?
( ) Não ( ) Mais de uma por semana ( ) 1 por semana ( ) 1 por mês
4. Você lê jornais?
( ) Não ( ) Mais de uma por semana ( ) 1 por semana ( ) 1 por mês
Qual jornal você lê? _____________________
Qual sua seção preferida? ___________________
5. Você avaliaria que alguém que fala português como você é:
( ) Muito bom ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
6. O que na sua fala faz com que você pense que você fala bem?
__________________________________________________________________
___________________________________________________________________
7. Você conhece alguém que você diria que ‘Fala bem’? O que você acha que essa pessoa
fala para que você pense assim?
___________________________________________________________________________
________________________________________________________________
8. Quando você precisa escrever um texto, como você se avalia?
( ) Muito bom ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
9.O que você considera como bom ou ruim na maneira como você escreve?
___________________________________________________________________________
________________________________________________________________
10. Como você avalia a aula de gramática do colégio?
( ) Muito difícil ( ) Difícil ( ) Mais ou menos ( ) Fácil
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