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como poucos, tanto na roça capinando, roçando, plantando, como na
pesca e na arte de entalhar rede.Morava no Ubatumirim e quando
vinha pra cidade, vinha a pé, sempre trazendo alguns de seus produtos
(farinha, banana, balaios etc.), coisa que ele fazia muito mais rápido
do que muitos jovens. Quando vinha de canoa, remava como qualquer
outro; puxava rede de arrastão, tirava marisco na costeira, guaiamu no
mangue e até nos sítios de banana, em Santos e na Fazenda dos
Ingleses em Caraguatatuba ele trabalhou.Depois de um certo tempo, já
com mais idade, mudou-se para a cidade. Continuou trabalhando do
mesmo jeito, era um grande profissional, fazia tudo quanto era tipo de
rede de pesca, como puçás, tarrafas, picaré, cabo, tresmalhos etc. A
rede, nas mãos dele, saía pronta pra pescar, nada de ficar fazendo
acertos depois. Seria comum todas essas referências se o nosso
homenageado não fosse um deficiente físico, um homem que fazia
tudo com apenas uma das pernas. Estou falando, com muito respeito e
que Deus o tenha, daquele que foi meu amigo, o homem de uma perna
só, Tomaz João do Santos, conhecido também como Tomaz Sarapuca,
o Tomaizinho do Ubatumirim. E como ele mesmo dizia: “Eu sô do
Batomeriiiiiiim”. “Sô marenhero”. Com dois paus de araçarana fazia
sua própria muleta, onde sabia, o peso e a altura de encaixar o sovaco
e o apoio das mãos.
Em 1554, Hans Staden definia os caiçaras, primeiros habitantes do litoral
paulista, como “gente bonita de corpo e estatura, homens e mulheres, igualmente [...]
apenas, são queimados de sol, pois andam todos nus, moços e velhos...” (MARCÍLIO,
1986, p. 27).
Os primeiros moradores de Ubatuba, antes uma aldeia, eram os índios
Tupinambás que, de acordo com Marcílio (1986, p.21), “eram de forte complexão física
e saúde, e tinham suas formas de organização, de produção e de sociedade, antes do
contato com os brancos”. Ainda, segundo Marcílio (1986, p.21), “esses moradores, à
época da abordagem do europeu, formavam uma ‘pequena aldeia de choças’, no local
aproximado do atual município, em outras espalhadas pelo seu território”. Sua
sociedade era voltada para o campo e era uma coletividade calcada na família.
Os primeiros caiçaras, assim como nos dias atuais, embora em uma quantidade
menor, eram exímios pescadores, não apenas usavam flechas, mas também
desenvolveram técnicas melhores de grande pescaria. Como se pode observar em
Marcílio (1986, p.21), “...utilizavam pequenas redes feitas de cipó tucum e, em mutirão,
recolhiam grande porção de peixes”.
A vida dos primeiros caiçaras de Ubatuba era baseada na organização,
coletividade e harmonia, tanto entre seus componentes como na natureza, à qual,
respeitavam muito. Essa harmonia se desestruturou quando apareceram os primeiros