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CONSUELO CHAVES JONCEW
A PARTICIPAÇÃO DAS FONTES FORMAIS
NA QUALIFICAÇÃO DA NOTÍCIA
Belo Horizonte
Universidade Federal de Minas Gerais
Novembro de 2005
CONSUELO CHAVES JONCEW
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A PARTICIPAÇÃO DAS FONTES FORMAIS
NA QUALIFICAÇÃO DA NOTÍCIA
Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação
em Ciência da Informação da Escola de Ciência da
Informação da Universidade Federal de Minas
Gerais, como requisito parcial à obtenção do título
de doutora em ciência da informação.
Linha de pesquisa: Informação, Cultura e
Sociedade
Orientadora: Profa. Beatriz Valadares Cendón
Belo Horizonte
Universidade Federal de Minas Gerais
NOV 2005
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A Danielle e Henrique, minhas eternas fontes inspiradoras,
pela compreensão e tolerância
À Nilza, pela lição sobre a importância da humildade e
perseverança na luta.
Ao Gedi, pelo ensinamento de que as pequenas ou grandes
vitórias dependem essencialmente de nosso esforço pessoal.
Agradecimentos
Dentre tantas virtudes, a gratidão é das mais importantes. Ser grato requer
humildade para reconhecermos o papel dos outros em nossas vidas. São eles
que nos apoiam e a quem devemos creditar grande parte de nossos méritos.
Difícil é mencionar todos a quem devemos gratidão, pois aprendemos sempre
com pessoas, professores, colegas, amigos, escritores, trocando experiências
e saberes.
Ficarei certamente em débito com Beatriz Valadares Cendón, minha
orientadora, cuja postura séria, competência, paciência e, sobretudo,
confiança foram essenciais para que eu conseguisse transpor os inúmeros
obstáculos que se apresentaram.
Lembro as valorosas contribuições de Valdir Oliveira, professor do
Departamento de Comunicação Social da UFMG, que se revela comprometido
com a pesquisa na área do jornalismo.
Aos professores Ana Cabral, Ana Maria Cardoso, Helena Crivellari, Isis Paim,
Jorge Tadeu, Marta Ferreira e Simone Duflot, agradeço as críticas recebidas
no momento da qualificação do projeto e as contribuições feitas por ocasião da
defesa da tese.
Meus especiais agradecimentos aos alunos dos diversos seminários e
disciplina que ministrei nesta academia, oportunidade de grande aprendizagem
e em que nos envolvemos em interessantes discussões.
Não poderia deixar de mencionar Gorete e Viviane, costumeiramente
competentes e dedicadas, sempre prestativas e bem humoradas.
Ressalto, ainda, a receptividade dos profissionais do Estado de Minas, Hoje
em Dia, O Tempo, SBT e Rádio Itatiaia e a contribuição de todos os que me
concederam entrevistas nas diversas organizações.
Agradeço a Felipe Nunes dos Santos, pelas críticas e troca de idéias, e a
Bruno Faria, pela parceria.
Não teria conseguido sem o suporte logístico da Vilma. A meus parentes,
amigos mais próximos, agradeço a torcida e peço perdão pelos momentos de
ausência involuntária, imposta pelos sacrifícios que uma jornada deste tipo
requer.
Enfim, devo agradecer à família que tenho, pela compreensão e pelo privilégio
de ter em quem confiar nos momentos mais difíceis.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................
01
1.1 Escolha do tema.................................................................................... 02
1.2 Problema................................................................................................. 06
1.3 Justificativa ...........................................................................................
16
1.4 Objetivos.................................................................................................
19
1.5 Considerações metodológicas.............................................................
20
1.6 Estrutura da tese...................................................................................
21
2 PRINCIPAIS CONCEITOS .....................................................................
22
2.1 Informação : à procura de um conceito...............................................
32
2.2 Qualidade da informação: conceito ou fenômeno? ..........................
50
3 SISTEMA JORNALÍSTICO E SEUS AGENTES ....................................
69
3.1 O jornalista: formação, atuação e bastidores ..................................
72
3.2 Fontes formais nesta pesquisa............................................................
87
3.2.1 Comunicação empresarial e fontes: breve histórico..............................
93
3.2.2 Classificação das fontes jornalísticas.....................................................
96
3.2.3 Importância da fonte formal....................................................................
104
3.2.4 Relação entre fontes e jornalistas..........................................................
106
3.2.5 Interação social das fontes.....................................................................
112
3.2.6 Avaliando as fontes ................................................................................
117
3.2.7 Novas perspectivas..................................................................................
128
3.2.8 Pensando um pouco sobre questões éticas............................................
132
4. METODOLOGIA.....................................................................................
136
4. 1 Abordagem teórica ..............................................................................
136
4. 2 O método .............................................................................................
147
4. 3 Etapas, técnicas e instrumentos........................................................
155
4.3.1 Painel .....................................................................................................
155
4.3.2 Análise documental ................................................................................
157
4.3.3 Observação participante ........................................................................
160
4.3.4 Entrevistas com as fontes ......................................................................
163
4.3.5 Entrevistas com os jornalistas................................................................ 167
4.3.6 Acompanhamento de fatos polêmicos....................................................
170
4.3.7 Compilação e análise dos dados............................................................
172
4.3.8 O modelo de avaliação de fontes........................................................... 175
4.3.9 Pré-teste................................................................................................ 176
5 APRESENTAÇÃO E ALISE DOS RESULTADOS ..........................
177
5.1 Os entrevistados ..................................................................................
178
5.2 Perfil do profissional entrevistado .....................................................
183
5.3 O mercado profissional ......................................................................
188
5.4 Necessidades e interesses envolvidos ............................................. 197
5.5 Comportamento de busca ...................................................................
209
5.6 Classificação e seleção de fontes ......................................................
211
5.7 Fatores intervenientes .........................................................................
214
5.8 Estratégias das fontes .........................................................................
216
5.9 Avaliação das fontes ...........................................................................
221
5.10 Participação nos atributos de qualidade ...........................................
224
5.11 Modelo de avaliação de fontes ...........................................................
229
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 245
7 ANEXOS ................................................................................................
263
ANEXO I...............................................................................................
263
ANEXO II...............................................................................................
264
ANEXO III...............................................................................................
269
ANEXO IV...............................................................................................
270
ANEXO V...............................................................................................
276
ANEVO VI...............................................................................................
277
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................
278
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 PARADIGMA TRADICIONAL E ALTERNATIVO ....................................
38
FIGURA 2 USO DA INFORMAÇÃO E MERCADOS ................................................
56
FIGURA 3 PROCESSO COMPORTAMENTAL DE BUSCA DE INFORMAÇÃO .....
58
FIGURA 4 ATRIBUTOS DE QUALIDADE DA INFORMAÇÃO ..............................
65
FIGURA 5 FENÔMENO MULTIMENSIONAL DA QUALIDADE DA INFORMAÇÃO
67
FIGURA 6 CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS...............................................
92
FIGURA 7 CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES............................................................
102
FIGURA 8 EXEMPLOS DE PREENCHIMENTO DAS COLUNAS DO MODELO.....
242
TABELAS
TABELA 1 HÁBITOS DE LEITURA DO JORNALISTA................................................
08
TABELA 2 HÁBITOS DE LEITURA DO LEITOR........................................................
08
TABELA 3 GRUPOS DE REFERÊNCIA DO JORNALISTA........................................
09
TABELA 4 PERCENTUAL DE RELEASE EM MATÉRIAS PUBLICADAS..................
11
TABELA 5 AS PRINCIPAIS ABORDAGENS TEÓRICAS NAS CIÊNCIAS SOCIAIS..
24
TABELA 6 FATORES INTERVENIENTES NA PRODUÇÃO DA NOTÍCIA.................
79
TABELA 7 GRUPOS DE REFERÊNCIA DO JORNALISTA........................................
85
TABELA 8 HÁBITOS DE LEITURA E PRINCIPAIS FONTES DOS JORNALISTAS.
98
TABELA 9 CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO......
122
TABELA 10 PRINCIPAIS DEFEITOS DAS INFORMAÇÕES JORNALÍSTICAS ..........
123
TABELA 11 SUGESTÕES PARA MELHORIA DE INFORMAÇÕES.............................
124
TABELA 12 VISÕES NAS DIFERENTES ABORDAGENS METODOLÓGICAS ..........
150
TABELA 13 BASE PARA AVALIAÇÃO DAS FONTES JORNALÍSTICAS...................
156
TABELA 14 RELAÇÃO DE MATÉRIAS E FONTES UTILIZADAS................................
158
TABELA 15 APARIÇÃO DE FONTES NAS CAPAS......................................................
159
TABELA 16 ROTEIRO PARA OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE...................................
161
TABELA 17 TIPOS DE EMPRESAS DE BELO HORIZONTE.......................................
164
TABELA 18 EMPRESAS DE BELO HORIZONTE, POR ATIVIDADE...........................
164
TABELA 19 PLANO AMOSTRAL...................................................................................
165
TABELA 20 ENTREVISTADOS NA IMPRENSA..........................................................
170
TABELA 21 ACOMPANHAMENTO DE FATOS POLÊMICOS.....................................
172
TABELA 22 VISIBILIDADE DAS FONTES NA IMPRENSA..........................................
199
TABELA 23 VISIBILIDADE DAS FONTES NA PRIMEIRA PAGINA............................ 199
TABELA 24 VISIBILIDADE POR ESPAÇO OCUPADO NA CAPA...............................
199
TABELA 25 MANCHETES SOBRE CONSELHO FEDERAL JORNALISMO...............
205
TABELA 26 QUADRO RESUMO DOS RESULTADOS................................................ 230
TABELA 27 MODELO PARA AVALIAÇÃO DAS FONTES JORNALÍSTICAS..............
234
TABELA 28 PESO POR CLASSIFICAÇÃO DE FONTE...............................................
237
TABELA 29 PESO POR INTERESSE EXPLICITADO...................................................
237
TABELA 30 PESO POR MISSÃO ATENDIDA...............................................................
238
TABELA 31 PESO POR CRITÉRIO DE SELEÇÃO ADOTADO...................................
239
TABELA 32 PESO POR ATRIBUTO GERADO.............................................................
240
TABELA 33 EXEMPLO DE PREENCHIMENTO DO MODELO – ETAPA 1..................
241
TABELA 34 MODELO PREENCHIDO...........................................................................
243
RESUMO
O boom informacional provocado, em parte, pelo desenvolvimento
das novas tecnologias, leva profissionais de diversas áreas a se preocuparem
com a ‘qualidade da informação’, como os cientistas da informação e
jornalistas. Dentre as diversas questões que se apresentam, a discussão
sobre o papel das fontes no processo qualificação da informação merece
especial atenção, pois são agentes ativos no enquadramento da realidade
retratada na mídia. Por isto, com objetivo de ampliar os horizontes sobre o
assunto, essa tese, recorrendo a uma pesquisa teórica e a uma pesquisa de
campo, procurou investigar de forma exploratória a participação das ‘fontes
formais’ no processo de construção e qualificação da informação jornalística. A
pesquisa procura estudar o fenômeno da nocia dentro do contexto de
produção (newsmaking). Por ‘fontes formais’ compreendemos organizações e
especialistas, que detém poder e conhecimento perito e legitimado
socialmente. Como o tema é escasso na literatura, orientando-nos pela
abordagem teórica, elaboramos um referencial de literatura sobre conceituação
de informação, qualidade da informação e fontes. Na pesquisa de campo,
ouvimos 19 pessoas que trabalham como ‘disseminadores de informação nas
fontes formais’, três especialistas (também fontes formais) e 15 jornalistas de
Belo Horizonte, em entrevistas em profundidade, com tratamento qualitativo.
Propusemos um modelo de avaliação de fontes, para ser utilizado no ambiente
jornalístico ou em qualquer contexto envolvido com o processo informacional.
Apresentamos, ao final, as principais contribuições da pesquisa, falamos
sobre suas limitações e sugerimos novos temas de estudo. Assim, trouxemos
contribuições teóricas e práticas para a academia, acreditando que ela deva
estar sempre comprometida com o papel da informação na construção do
desenvolvimento social sustentável.
ABSTRACT
The informational boom, caused by the development of
communication technology, leads to the concern, by information scientists and
journalists, about the ´information quality’. The discussion about the influence of
“formal sources of information in the information quality process deserves
special attention, because these sources are active agents in the reality
showed by the media. By “formal sources of information” we mean the
organizations and experts, whose knowledge is formally validated and
recognized by society. With the objective of enlarging the discussion about this
subject, the current dissertation investigated the participation of the formal
sources in two processes: the news production and the quality of the news
produced. We explored the subject in a theorical and practice way. The
investigation approached the phenomenon in the context of the newsmaking.
Because the theme is seldom present in literature, we begin by following
theorical approach in order to help us think about the concepts of information,
information quality and information sources. Next, we interviewed 19
professionals, called by us as “information disseminators of the formal sources”,
three experts and 15 journalists in Belo Horizonte, Brazil. We chose this small
sample in order to be able to lead with it in depth qualitative data collection. We
suggest a model for resources evaluation of information sources, which can be
used by newspapers, students, educators or others involved with the process
of information production. Finally, we pointed out the main contributions of the
research, its limitations and presented suggestions for further research. It is
important to emphasize that this dissertation has both theorical and practical
contributions, in tune with our thought that scholarly research has the
responsibility to help the holistic social development.
1 INTRODUÇÃO
“A principal finalidade do jornalismo é fornecer aos cidadãos
informações de que necessitam para serem livres e se auto
governarem”.(KOVACH, 2003:31)
Este capítulo sintetiza aspectos básicos, como o contexto da
escolha do tema, a descrição do problema da pesquisa, as justificativas para
tê-lo tomado como objeto científico, os objetivos almejados, as considerações a
respeito da metodologia, além de expormos a estrutura da tese ao final.
Nossa investigação sobre ‘qualidade da informação jornalística’
originou-se em 1998, quando desenvolvemos pesquisa exploratória sobre seu
conceito em estudo de mestrado. Naquela oportunidade, a questão das fontes
mostrou-se atrativa para aprofundamento em tese de doutorado. O ambiente
jornalístico e seus atores tecem complexa teia de fatores que levam a mídia a
retratar a realidade que influencia processos de socialização nas mais diversas
comunidades, interferindo em suas organizações políticas, culturais e
econômicas. Nesse contexto, a ação das fontes é de suma relevância, embora
poucos estudos foquem a questão de forma sistemática. Objetivamos ampliar a
discussão sobre ‘qualidade da informação, incluindo a participação das ‘fontes
formais’ no processo. Embora alguns autores da ciência da informação, de
forma não consensual, considerem ‘fontes formais’ como ‘documentais e
escritas’, tomamos o termo ‘fontes formais’ para designar especialistas ou
organizações que são legitimadas pela sociedade como formais, por
apresentarem conhecimento validado por uma instituição universitária ou por
deterem registro legal de estatuto burocrático. Em ambos os casos, essas
fontes foram representadas em nossa pesquisa por pessoas: especialistas,
autoridades ou representantes de organizações perante a imprensa, indivíduos
que denominamos ‘disseminadores de informação’. Produzimos quadro teórico
1
sobre fontes, dentro dos campos da ciência da informação e da comunicação,
alicerçados pelos paradigmas das ciências sociais.
Utilizando argumento construtivista, conduzimos a maior parte da
pesquisa de forma qualitativa e quisemos fomentar a visão crítica sobre o
problema eleito, por entendermos a informação como um bem público, que
merece reflexões aprofundadas e constantes.
1.1 Escolha do tema
Orientam muitos autores das ciências sociais que a exposição de
um problema deve começar pela contextualização da escolha do tema. Assim,
iniciamos por afirmar que, ao nos lançarmos exaustivamente em uma pesquisa,
finalizamos a jornada com grande inquietação. No lugar de respostas claras,
chegamos a uma encruzilhada de dúvidas e novas questões a perseguir. Isso
nos sucedeu por ocasião da defesa da dissertação A qualidade da informação
jornalística
1
, em abril de 2000, no curso de mestrado em ciência da informação
da UFMG, em que investigamos o conceito de ‘qualidade da informação’ de
forma exploratória entre leitores e profissionais da imprensa de Belo Horizonte.
Tomados por uma feliz angústia, constatamos que o trabalho do pesquisador
só tem início.
Naquela investigação, o conceito de ‘qualidade de informação’
baseou-se em “atributos” elencados por MARCHAND (1990) e reclassificados
por PAIM e NEHMY (1996), agrupados em três veis: o transcendente,
entendido como uma esfera mais filosófica; o intrínseco, que engloba atributos
de qualidade priorizados pelo sistema de informão e o nível contingencial,
que envolve os ‘atributos de valor’ percebidos pelo usuário. Nesta tese,
1
CHAVES, Consuelo. A qualidade da informação jornalística. Belo Horizonte: UFMG, 2000,
313p.
2
consideramos ‘qualidade da informação’ um fenômeno multidimensional, cujo
conceito se forma na interação de seis contextos: histórico (1), filosófico (2),
cultural (3), potico (4), econômico-produtivo (5) e do usuário da informação
(6), que permeiam a dinâmica social, perpassada pela matriz tridimensional,
cujos eixos que a sustentam são o tempo, o espaço e o indivíduo.
Explicaremos essas idéias mais à frente.
Sobre conceitos de informação, as abordagens focam ora
sistemas, ora usuários. A abordagem focada no sistema, pertencente ao que
DERVIN (1986) chama de “paradigma tradicional”, privilegia o gerenciamento,
no qual a informação tende a ser conceituada de forma objetiva, e, em muitos
casos, um produto a ser oferecido. O usuário deve, preferencialmente,
adaptar-se às condições proporcionadas pelo sistema, que lhe oferece serviços
de recuperação de informação segundo suas possibilidades. A abordagem
com foco no usuário, enquadrada no “paradigma alternativo” de DERVIN
(1986), ao contrário, parte do princípio de que a informação derive da
necessidade subjetiva do sujeito inserido em determinado contexto social (e
comunicacional), devendo o sistema adaptar-se a ele para estabelecer
políticas informacionais e disponibilizar estratégias de busca, seleção,
disseminação e recuperação.
Sob esse fogo cruzado, adotamos o meio termo, defendendo que
a informação jornalística, a notícia, se torna real na interação do sistema
jornalístico com o usuário (o leitor), e que o caminho rumo à qualidade da
informação passa pela connua interação entre as partes, pela otimização do
sistema, pela capacitação dos produtores (jornalistas) e pelo fomento ao
espírito crítico de jornalistas e leitores. As empresas jornalísticas constituem
relevante sistema de informação, que deve ser gerido com competência, desde
o estabelecimento de políticas diretrizes claras e de estratégias bem definidas
a planos de ação eficazes e controle sobre a dinâmica de produção, da coleta à
disseminação de informação. O olhar consciente e independente do jornalista
crítico favorece sua interferência na otimização da rotina produtiva nas diversas
etapas da construção da notícia, desde a escolha de assuntos e seleção de
fontes até a reflexão contínua sobre todo o processo. Por outro lado, leitores
exigentes, cujo espírito de reflexão pode ser estimulado, cobram mais
3
‘qualidade’ dos órgãos de imprensa, demandam mais informações e fomentam
o mercado editorial. Nesse contexto, outro ator surge: representado pela ação
das fontes, que, mais exigidas, precisam investir em capacitação.
Pressupomos que a fonte, ao se considerar sua importância no processo de
concepção da notícia, deve preocupar-se com a ‘qualidade’, o que significa,
entre outras coisas, desenvolver auto crítica e assumir o compromisso da
responsabilidade social.
Dentre as questões sugeridas na concluo do mestrado, fomos
atraídos pelo estudo das fontes, sua relação com os jornalistas e sua
interferência no processo de construção e qualificação da notícia. O assunto é
pouco presente na literatura, apesar de se constituir ponto sensível para a
confiabilidade das notícias. Consideradas importantíssimas para 96% dos
jornalistas e para 86% dos leitores
2
, as fontes conferem credibilidade ao
“sistema perito
3
” jornalístico.
Para elegermos o tema no doutorado, tomamos por base cinco
critérios elencados por SINGLETON (1997): a estrutura e o estágio de
cientificidade da disciplina (1); os problemas sociais (2); os valores pessoais
(3); o prestígio do tema para a sociedade (4) e aspectos de praticidade como
tempo e custo (5).
No que diz respeito à estrutura e ao estágio de cientificidade (1),
o autor diz que um problema pode apresentar-se como tese, se a área de
estudo em que está inserido for reconhecidamente científica. Sob esse ponto
de vista, temos a justificar que o tema das fontes é de interesse da ciência da
informação, cuja cientificidade pode ser contextualizada em duas perspectivas.
Segundo a concepção de KUHN (1994), a ‘ciência da informação’ seria uma
disciplina emergente sob a abordagem tradicional da ciência, não podendo ser
classificada como madura porque, dentre outros fatores, não se guia por
métodos exatos e comprováveis e seus pesquisadores não apresentam
2
CHAVES, 2000: questões sugeridas: a informação jornalística como instrumento pedagógico;
o clareamento do conceito de relevância; a imparcialidade no jornalismo; percepções sobre
ética entre os atores envolvidos na produção da notícia; o comportamento de ‘não leitura’ e
necessidades de informação do ‘não leitor’; interação entre jornais e leitores; análise de
contéudo, focando cada atributo; impacto de manchetes sobre o conteúdo da informação;
aspectos qualitativos das agências de notícia; a participação e interferência das fontes no
processo de percepção de atributos qualitativos da notícia.
3
Tomamos aqui o termo de GIDDENS (1991).
4
conceitos consensuais, não conseguindo constituir paradigmas próprios.
Nessa ótica, a ciência da informação carece de debates sobre problemas
significativos ou mesmo prioritários para construir seus conceitos. Esse olhar
conservador da ciência motivou muitos pesquisadores da área a apelarem
para o alcance de base de conceitos consensuais, como é o caso de BELKIN
(1978) e tantos outros. Já, para SANTOS (1989), a pertinência da
problemática (2) apresentada para a sociedade é fundamental para conferir
cientificidade a um campo, o que acreditamos ser o caso de nosso estudo.
SANTOS (1989) atribui lugar de destaque para a metodologia das ciências
sociais. Se, por um lado, essa é inexata, por outro, prioriza aspectos
qualitativos e a análise em profundidade, conferindo grande importância às
contradições e complexidades inerentes ao contexto humano. Esse método
impreciso e qualitativo, mas completo em suas considerações, antes alvo de
críticas, tem sido tomado de empréstimo pelas ciências físicas e biológicas.
A ‘biografia pessoal (3) influencia a orientação de um trabalho”
(BOGDAN e BIRLEN, 1994:85). Nossa formação em comunicação e atuação
na área por 25 anos interferiram na escolha. A especialização teórica e prática
da autora em comunicação integrada, marketing cultural, marketing,
planejamento e endomarketing possibilitaram contato constante com a
imprensa, facilitando a compreensão de suas rotinas produtivas. Além disto, o
cargo gerencial ocupado pela autora possibilitaram o entendimento e a análise
das empresas jornalísticas e outras organizações (muitas delas “fontes da
imprensa”) como universos envoltos em processos administrativos
normatizados e pré-definidos segundo culturas e identidades próprias, conjunto
de características comum às instituições modernas.
O prestígio do tema (4) retrata-se nos inúmeros debates sobre a
responsabilidade do jornalismo, fonte de informação de gestores e sociedade.
Programas de TV, rádios, sites da internet e livros discutem a problemática,
mas, como lembra MEDINA (1990), são poucas as abordagens científicas.
Por fim, adotamos os critérios de praticidade, custo e tempo (5),
que a investigação foi desenvolvida em Belo Horizonte, onde reside a
pesquisadora.
5
1.2 Problema
Defendem os diversos autores de metodologia em ciências
humanas que um problema deva ser contextualizado sucintamente no campo
da pesquisa, no nosso caso, ciência da informação e da comunicação. É
imprescindível expor sua relevância. Além disso, para clareá-lo, tornou-se útil
explicitar algumas hipóteses e questões paralelas pertinentes, que compõem
a problemática. Seguindo essas orientações, afirmamos que há uma tendência
de abordarmos o termo “fonte” com certa naturalidade e constatação óbvia.
Inspirados em PINTO (1999), podemos buscar explicação para isso, fazendo a
analogia de fonte como local onde “nasce a água pura e fresca, associada à
idéia de origem da vida e de fecundação”, que natural e continuamente jorra,
fazendo-nos gratos à sua existência. Criticar a dinâmica, a natureza e o modus
operandi torna-se, assim, algo aparentemente inútil.
A ciência da informação preocupa-se com problemas que
permeiam o processo informacional (origem, coleta, seleção, organização,
armazenamento, interpretação, recuperação, disseminação e utilização da
informação), considerando as variáveis de ambiente, do sistema e do usuário.
A questão ‘das fontes’ é focada no contexto da pesquisa científica e aparece
em estudos sobre “comportamento informacional
4
do usuário, critérios de
seleção de obras, bibliometria, dentre outras. ‘Fonte’ é muitas vezes entendida
na sua concepção de documento, obra ou acervo, sendo analisada,
geralmente, em termos de classificação ou atributos. O desenvolvimento
tecnológico, sobretudo o surgimento da internet, vem desafiando os autores na
revisão dos conceitos sobre o assunto. Segundo CENDÓN (2000), a rede
tende a concentrar continuamente mais informações, incluindo as científicas,
permitindo maior interatividade do usuário com o sistema.
Quando procuramos pelo tema, encontramos menção às
classificações descritivas das fontes, sendo a mais comum: “primárias,
4
Tomamos o termo de empréstimo de WILSON (1997) .
secundárias ou terciárias” (CAMPELLO, 2000)
5
. Tentativas de análise
qualitativa de fontes o encontradas, em sua maioria, em estudos
bibliométricos, que valorizam, sobretudo, atributos como autoridade
institucional, número de citações, autoria, layout, a acessibilidade, atualidade
dentre outros. A importância de alguns atributos chega a superar o conteúdo. A
produção de um autor famoso e com citações de vários outros tende a ser
considerada qualitativamente superior à de um autor desconhecido, mesmo
que este demonstre brilhantismo intelectual, profundidade e originalidade. Uma
tese de doutorado, por exemplo, tenderá a ser julgada pela instituição do aluno,
a bibliografia que utilizou e seu próprio prestígio pessoal. Citar autores
clássicos é sempre mais nobre. É arriscado citar alunos e colegas, mesmo que
esses se empenhem em teses mais atuais. Não nos aprofundamos no
assunto, já que ele é abordado mais adiante. Interessa-nos aqui salientar que,
em meio a tantas pesquisas, a literatura na ciência da informação carece de
aprofundamento sobre a participação da fonte no processo de construção da
notícia e, conseqüentemente, na qualidade da informação.
A questão das fontes também parece ser superficialmente
explorada no campo da comunicação, que engloba o jornalismo. Constata-se a
mesma tendência descritiva de classificação de fontes, sem maiores
aprofundamentos e considerações críticas. Na academia, os estudos são
escassos. cerca de cinco anos, autores têm chamado a atenção para o
tema, com especial destaque para os portugueses. O assunto vem sendo
debatido em congressos e seminários, inspirando vários artigos, dispersos em
universidades de comunicação e na internet.
Certo é que, ao utilizarem as fontes, os usuários moldam
percepções, elaboram a representação da realidade, opinam, posicionam-se.
Estudantes e professores aprimoram conhecimento, jornalistas constróem
notícias, cientistas analisam fatos, indivíduos e gestores, dos mais diversos
ramos, tomam decisões. Ou seja, as fontes contribuem para que os usuários
5
Certamente, esta classificação é padronizada internacionalmente e poderíamos citar outros
autores. No entanto, procurando valorizar a produção da academia da UFMG, privilegiamos
citações do que é produzido no âmbito de nossa realidade. Fala-se, também de fontes
pessoais ou informais, formais ou documentais, como é abordado mais adiante na revisão de
literatura.
7
interfiram na realidade, embora essa interferência possa ser passiva ou ativa.
Segundo LAGE (2003), são as fontes os primeiros ‘enunciadores e
enquadradores’ da realidade: “a percepção da realidade não é tarefa de um
homem. Começa exatamente no nível da fonte, que formula uma primeira
representação que será levada adiante”.
No jornalismo, a afirmativa de LAGE (2003) leva-nos a concluir
que a questão da fonte seja de extrema relevância, por várias razões.
Primeiramente, pelo fato de ser o jornalista uma categoria especial de usuário
de informação, que, em seu cotidiano, está sempre em busca de fontes. Em
segundo lugar, pelo fato de ele ser um ‘construtor’ de informações (notícias,
reportagens ou críticas), que transformam o jornal em outra importante fonte de
informação da comunidade e, curiosamente, da imprensa. Conforme dados da
pesquisa desenvolvida por CHAVES (2000), a maior fonte de informação dos
jornalistas é a própria mídia
6
, o mesmo acontecendo com os leitores, embora
muitos tenham explicitado que não confiam totalmente nela (TAB. 1 e 2, p.8)
7
.
TABELA 1 TABELA 2
HÁBITOS DE LEITURA DO JORNALISTA HÁBITOS DE LEITURA DO LEITOR
Publicações %
Publicações %
Jornais e periódicos nacionais 93,33
Jornais e periódicos nacionais 73,96
Jornais locais 88,00
Jornais locais 33,14
Literatura de ficção 80,00
Publicações especializadas 27,22
Biografias 58,67
Literatura de ficção 16,57
Livros sobre jornalismo 38,67
Literatura científica 9,47
Literatura científica 22,67
Nada 9,47
Publicações especializadas 17,33
Não opinou 0,59
Outros 10,67
Base: 169, com respostas múltiplas.
Base: 75, com respostas múltiplas.
Fonte: CHAVES, 2000 Fonte: CHAVES, 2000.
6
Usamos o termo mídia para designar os meios de comunicação de massa, em inglês media.
O substantivo seria usado no plural, mas o uso popular já o toma no singular, como consta nos
atuais dicionários de língua portuguesa.
7
FERREIRA (2003) demonstra em pesquisa junto a médicos de Belo Horizonte, que as
informações da mídia, embora muito procuradas, não são necessariamente as mais confiáveis.
8
Considerando que, não raro, a mídia se paute por ela própria,
novas preocupações deparam-nos. Forma-se um ciclo vicioso endógeno,
comprometendo a inovação do conhecimento, que, se devidamente
compartilhado e socializado, seria fundamental na busca das soluções para os
problemas que se apresentam às diversas comunidades.
Devido ao duplo papel do jornalista, como usuário de fontes (na
maioria, organizações, agências de notícia, testemunhas dos acontecimentos
ou especialistas com conhecimentos legitimados em determinados assuntos)
e como participante de um sistema de informação (o jornal), esperar-se-ia que
o assunto fosse tratado com grande cuidado no cotidiano da sala de redação e
abordado com maior profundidade na literatura científica sobre a imprensa.
Mas não é o que acontece. Apesar de haver desconfiança consensual na
postura “desinteressada” da fonte, as organizações jornalísticas não primam
por se planejarem ou adotarem políticas de seleção de fontes, que incitem a
reflexão crítica sobre a questão. O fato requer atenção especial, uma vez que,
como vimos, o desencadeamento social assume várias dimensões. A situação
agrava-se ao considerarmos as fontes como um grupo especial de referências
8
dos jornalistas, fato que constatamos em nossa pesquisa do mestrado, como
mostra a TAB.3, p.9.
TABELA 3 – GRUPO DE REFERÊNCIAS DO JORNALISTA
Base: 75, com respostas múltiplas.
Fonte: Elaborado pela autora 1999
8
Chamamos ‘grupo de referências’ aquelas pessoas (organizações, grupos ou literatura), a
quem o jornalista normalmente recorre para compor a matéria, buscando informações e
sugestões de enquadramento.
Interlocutor Repórter Editor Dirigente TOTAL %
Editor 59 6 1
88
Colegas 53 9 1
84
Fontes/especialistas 48 8 0
75
Amigo 10 2 0
16
Família 9 1 0
13
Diretoria 3 5 2
12
Leitor 6 2 0
11
No jornalismo o conceito de ‘fonte’ assume também concepções
naturalistas. Como alerta PINTO (1999), “as fontes têm o poder de manar, de
continuar manando e de deixar de manar”. Ou seja, as fontes são as primeiras
a moldarem a representação social da realidade. Elas são pessoas, grupos,
instituições, ou vestígios - falas, documentos, dados - por aqueles preparados,
construídos. ‘Fontes’, muitas vezes, preparam os releases
9
para a imprensa,
que os publica, enquanto outras informações permanecem resguardadas.
Neste jogo, as fontes manipulam (ou querem manipular) a opinião pública a
seu favor.
As fontes jornalísticas normalmente são pessoas, testemunhas
de acontecimentos, gestores de organizações, profissionais que atuam como
seus disseminadores de informação perante a imprensa, especialistas ou
demais autoridades legitimadas pela sociedade. Determinantes na
noticiabilidade, expressam a ação social objetivada
10
sobre a produção da
informação, validam dados, conferem confiabilidade à nocia e credibilidade
ao jornalismo como um sistema perito.
Dentre as fontes, organizações públicas, com ou sem fins
lucrativos, são chamadas pela imprensa de ‘fontes oficiais’. Na ciência da
informação, CAMPELLO (2000) denomina instituições em geral de “fontes
organizacionais”. Em nosso trabalho, consideramos ’fontes formais’ o conjunto
das organizações do setor público e privado e os especialistas das categorias
profissionais liberais, diplomados em curso superior. Um levantamento feito em
setembro de 2003 junto aos três jornais de Belo Horizonte, O Tempo, Hoje em
Dia e Estado de Minas, sugere que, pelo menos, 43% (58%, se incluídas as
suspeitas) das notícias publicadas (TAB.4, p.11) originam-se em releases, o
que ilustra o prestígio e a interferência das ‘fontes formais’ na noticiabilidade.
9
Releases. são informações enviadas à imprensa por assessorias de órgãos públicos,
privados, promotores de eventos, artistas, especialistas, dentre outros, que podem ou não ser
aproveitadas pelos jornais. Os informativos têm forma de relato jornalístico, podendo ser
impresso ou eletrônico.
10
BERGER e LUCKMANN entendem por ação objetivada a forma como a realidade é
social e continuamente construída. Compartilhando hábitos, crenças e valores, a comunidade
estabelece padrões de legitimação e aceitação de regras. Gera-se um olhar coletivo
hegemônico sobre a realidade, interferindo nas opiniões e tomadas de decisão.
TABELA 4 – PERCENTUAL DE RELEASE EM MATÉRIAS PUBLICADAS
Foi usado release para a produção da notícia?
Respostas Quantidade
Percentual
Não 189
42
Sim 195
43
Sim, mas não identificado 71
15
Total 455
100
Base: 455
Fonte: Elaborado pela autora, 2005. Dados coletados junto aos jornais: Hoje em Dia, O
Tempo e Estado de Minas, de 21 a 24 de setembro de 2003.
11
A ‘fonte formal’ obtém seu status como tal ao representar o poder
constituído ou por se tratar de especialista (médico, jurista e outros) com
conhecimento técnico reconhecido e legitimado. Por isso, é aceita socialmente
para expressar opiniões sobre determinados assuntos. Normalmente, as
organizações designam uma pessoa responsável pelo relacionamento com a
imprensa, que assessora os dirigentes de alto escalão e técnicos, interferindo
diretamente no conteúdo que chega aos jornais, detendo poder significativo de
expressão e de acesso às informações. Imagina-se que essa pessoa tenha
formação superior em comunicação social: relações públicas, publicidade ou
jornalismo, mas nem sempre a prática comprova isso. Não estudo que
identifique o perfil e a formação desse profissional
12
, que denominamos de
‘disseminador de informação das fontes formais’.
Nem todas as fontes formais’ têm a mesma visibilidade. Algumas
são mais passivas perante a imprensa, outras mais ativas. Algumas têm mais
ou menos sucesso na disseminação de informações. Algumas são mais ou
menos assediadas. Entre as mais procuradas estão os órgãos dos poderes
executivo, legislativo, judiciário e as secretarias públicas de saúde, obras,
fazenda, transporte e outras, que fornecem, preponderantemente, informações
utilitárias ou divulgam decisões políticas. Levado a redigir relatos superficiais, o
jornalista não costuma explorar a riqueza de conteúdo de fontes como a
11
A obtenção desses dados é explicada mais adiante, quando expomos os procedimentos
metodológicos
12
Esse tema é sugerido por SOUSA (2000) para a investigação científica
.
universidade, cuja produção científica apresenta maior potencial para
contribuir no aprofundamento da notícia.
Lembra OLIVEIRA (1996:25) que três instâncias fundamentais no
jornalismo contribuem para o conhecimento alcançar a esfera pública: as
fontes, os jornalistas e o público. Essas três instâncias interagem
dialeticamente e indicam um jogo de forças, de estratégias ou mesmo de
astúcias para instaurar filtros, censuras ou dar publicidade a um fato”. Ou seja,
o embate entre a defesa de interesses públicos e privados é inerente à
problemática das fontes. Abordar o assunto remete-nos a considerar posições
e relações sociais, interesses e pontos de vista, que podem ser
mercadológicos, políticos ou outros, interferindo em quadros espaços-
temporais situados.
Mas afinal o que contribuiria para a falta de reflexão sobre as
fontes nas salas de redação e que reflexos trariam para a qualificação da
notícia? Como isso se relaciona com nossa problemática? Para responder às
perguntas, poderíamos sugerir algumas suposições.
As empresas de jornalismo, nosso foco, inserem-se no cenário
organizacional como muitas das instituições surgidas no período moderno, em
contextos de dominação e relações de poder, cujo modus operandi pauta-se
pelo racionalismo burocrático, tão bem descrito por WEBER (1999). Possuem
normas, regras, valores, cultura, sistema meritocrático de recompensa,
próprios de uma categoria profissional que vive processo peculiar de
socialização, mas que interfere diretamente nos demais processos sociais. O
trabalho jornalístico começa pela subordinação ao compartilhamento de
critérios de ‘noticiabilidade’, que entendemos como tudo o que interfere na
seleção de um acontecimento e de fatos alusivos a ele e contribui para
transformá-lo em notícia. Quanto mais critérios um acontecimento reunir, maior
chance tem de se materializar em relato. Na dissertação de mestrado,
tomamos o termo ‘fatores intervenientes na noticiabilidade’ para representar o
conceito de critérios, dividindo-os em ‘fatores externos’ e ‘fatores internos’ à
organização jornalística, classificação puramente pragmática, uma vez que
todos interagem e operam simultaneamente. Pertencem aos ‘fatores externos’:
o ‘contexto sócio-cultural e histórico’; a ‘ideologia’ e a ‘estrutura de poder’; a
‘concorrência’; as ‘fontes’; a ‘audiência’; ‘aspectos geográficos’; o ‘tempo’; o
‘negativismo’ e a ‘probabilidade de ocorrência’. Entre os fatores internos’,
destacam-se: ‘processo de gestão’, as ‘relações de poder’ internas do jornal; a
‘influência dos editores’ e dos colegas como ‘grupo de referência’, o ‘tempo’, as
‘implicações técnicas’ e os ‘critérios de objetividade’ compartilhados pela
classe.
A produção de nocias visa à busca de resultado em curto
espaço de tempo. Envolto nas rotinas produtivas, o cotidiano do jornalista é
invadido pela ruptura de acontecimentos, dos quais tomam conhecimento sob
diversas formas, dentre elas: releases, agências de notícias, concorrentes ou
outras fontes. As informações são filtradas por editores, apuradores,
produtores ou pauteiros para compor a ‘pauta’
13
diária. Observados os fatores
intervenientes de ‘noticiabilidade’, os jornalistas produzem relatos
14
. Para isso,
recorrem às fontes diversas, hierarquizadas, padronizadas e classificadas a
partir de critérios que guardam muito da racionalidade moderna. Ao procurar
uma instituição, ouvirá a pessoa de maior nível hierárquico, ocupante de cargo
formal validado, que, supostamente, assume responsabilidade maior que os
demais membros daquela organização.
A rotina diária do repórter é desgastante. A pressão do tempo e
espaço transforma-se em rolo compressor. O jornalista internaliza a obrigação
de ‘ter que fazer e rápido, de forma automatizada, preocupando-se em
produzir o necessário para o recebimento do salário mensal, com o qual paga
suas contas. Essa postura poderia ser contextualizada nos conceitos de
alienação, em Marx; da jaula de ferro, em Weber; da prisão institucional, em
Foucault; ou da acomodação à zona de conforto da administração racional, em
Adorno. Raramente questiona o por quê da escolha de uma fonte em
detrimento de outra. Não há reflexão mais aprofundada sobre os critérios
adotados para conferir ou não visibilidade a determinados acontecimentos em
detrimento de outros. Mesmo assim, a relação entre fontes e jornalistas ocorre
sob constante conflito, numa ciranda que incomoda a consciência profissional.
13
Pauta é a agenda diária que traz os assuntos que serão cobertos pelos jornalistas.
14
Matéria é o nome dado ao relato jornalista. A reportagem caracteriza-se por maior
profundidade e tamanho.
Ao obedecer aos critérios de noticiabilidade, o repórter sublima a cadeia de
conflitos. Na verdade, como lembra HABERMAS (1982), as empresas de
jornalismo expressam uma teia de interesses, em que temos, de um lado, as
fontes e a mídia e, de outro, os cidadãos.
Outra suposição pela aparente passividade do repórter brasileiro
remonta a fatores históricos. Nos EUA, cujo modelo de ‘fazer’ jornalismo
estende-se ao mundo, o jornalista lida com certa liberdade de expressão e
autonomia para negociar com as fontes. Mesmo assim, lembra GANS (2005),
os lobbies
15
junto aos órgãos de imprensa são constantes. No Brasil, a
subserviência à política governamental é secular. Teve início no império e
chegou à república, com destaque para intervenções em vários períodos
ditatoriais. Tal fato colaborou para a atuação submissa da imprensa às fontes
do governo. Jornais instituíram a auto censura como mecanismo de defesa de
retaliações. No Império, com Bonifácio Andrada, na ‘Era Vargas’ e no pós 64,
com os militares, a imprensa foi rigidamente controlada e manipulada. A
concessão de licença para órgãos de comunicação acontecia em troca de
favores. Após a abertura política dos anos 1980, problemas de censura foram
minimizados, mas outros surgiram. Dificuldades orçamentárias desencadearam
a busca da redão de custos, que ocupa hoje outro tipo de papel de censor.
Com isso, o quadro pouco se alterou. O investimento em jornalismo
investigativo, por exemplo, que representaria um salto qualitativo nas
coberturas noticiosas, continua restrito. A contenção de despesas levou à
diminuição do quadro de pessoal. Driblando os empecilhos decorrentes do
enxugamento de pessoal, editores utilizam releases, verdadeiros enunciados
de fontes e notícias de agências, para facilitar a prodão de notícias. Tudo o
que venha a agilizar o processo produtivo é acolhido, tecendo silenciosamente
acordos de cumplicidade entre as partes.
Os aumentos do número de acontecimentos e do cio advindo
das rotinas produtivas e dos cortes orçamentários repercutem em relatos
superficiais, muito criticados por alguns. A mídia parece não compreender que
15
Lobby sintetiza a pressão exercida por grupos sociais diversos, organizados ou não, políticos
ou econômicos, interessados em influenciar as decisões governamentais.
14
contribuir para a formação de leitores críticos, com notícias mais bem
trabalhadas, significaria aumentar a demanda por informações, aquecendo seu
mercado de atuação.
Por outro lado, as fontes capacitam-se e aprimoram sua
competência em lidar com a imprensa, de forma a favorecer sua imagem
pessoal ou a posição da instituição que representa perante a comunidade.
Dependendo da habilidade de atrair o interesse popular, chegam a criar
acontecimentos (CHAPARRO,1994), ou pseudo acontecimentos (MILOTCH e
LESTER, 1993). Por isso, alguns autores afirmam que o debate sobre ética em
jornalismo se estende às fontes.
Outro fator que favorece a falta de reflexão crítica é que, embora
o senso comum indique que a contribuição da fonte seja essencial para a
qualidade da informação, a imprecisão em torno do conceito de ‘qualidadeé
muito grande.
Caminhando nessa linha de raciocínio e considerando a
relevância das fontes no processo de noticiabilidade, seria pertinente refletir:
como as ‘fontes formais’ contribuem para a construção da informação
jornalística e seu processo qualitativo? Tomando conceitos em comunicação e
ciência da informação, podemos elaborar algumas questões. O que permeia,
afinal, o conceito de qualidade da informação? O que vem a ser fonte? Como o
assunto está sendo tratado na academia? Como as ‘fontes formais’ interferem
na elaboração da pauta jornalística? Como se comporta o profissional da
imprensa em relação à fonte: passiva ou ativamente? Por que algumas fontes
são mais ou menos utilizadas? Quem são e qual é a formação das pessoas
que representam as ‘fontes formais’ perante a imprensa? Que estratégias de
disseminação de informação utilizam? As informações disponibilizadas pelas
fontes e publicadas pela imprensa priorizam efetivamente os interesses da
sociedade? Enfim, “como as ‘fontes formais‘ contribuem para a qualidade da
informação jornalística’?
1.3 Justificativa
Além das considerações tecidas na descrição do problema,
muitas auto explicativas, apresentamos sete argumentos para propor nossa
pesquisa.
Primeiramente, destacamos a relevância teórica do tema ‘fontes’,
sentida na literatura, mas que carece de aprofundamento. Além do mais, como
lembra OLIVEIRA (1996), “as fontes tornam-se fator determinante para a
qualidade da informação, embora seja esta uma questão pouco discutida pelos
profissionais de comunicação.
Em segundo lugar, insistimos em um estudo que provoque o
avanço na discussão sobre qualidade da informação, tema que preocupa
intelectuais, gestores e comunidade em geral, devido à explosão documental
das últimas décadas. A tecnologia tem proporcionado interatividade entre
fontes organizacionais e usuários, assim como acesso destes a um número
maior de fontes, trazendo novos desafios. A edição diária de um jornal contém
mais informação do que pode ser assimilado por um cidadão, que tem, ainda,
acesso a internet, intranet, livros e outros tipos de mídia. Especialistas
buscam evitar os conflitos trazidos pela “sobre informação”
16
com novas formas
de filtrar tanta oferta. Análises são cada vez mais requisitadas.
No terceiro momento, justificamos o jornalismo como objeto de
estudo. Como afirmamos, ele é um sistema de seleção e produção de
informação e importante fonte para leitores e instituições, interferindo
diretamente nos processos sociais. A informão jornalística é um dos
elementos definidores na organização da vida cotidiana. Conteúdos abordados
pela imprensa pautam discussões entre amigos, estudantes e colegas de
trabalho. Faltaria explicar a pertinência de um estudo sobre jornalismo na
ciência da informação. Os fatos de o jornalismo se constituir um sistema de
16
O termo utilizado é de Jorge Pedro de SOUSA (2000), significando o excesso de informação,
nem sempre assimilado pelo usuário, ou seja: “sobre informação”.
informação e de o jornalista representar um profissional de informação (LE
COADIC, 1996) já bastariam para situar a problemática naquele campo.
Inúmeros teóricos, tanto de comunicação como de ciência da informação,
recomendam estudos interdisciplinares. Inerente ao ser humano, a
comunicação é alvo de interesse de quase todos os campos das ciências
sociais e necessita recorrer a disciplinas auxiliares para se interpretar e
explicar. a informação é tanto objeto da área de comunicação como de
ciência da informação. A inter-relação é defendida por autores tais como
Belkin, Dervin, Saracevic, Wersig, Vakkari e outros. Em sua essência, a
informação é inerente a três processos: o da construção do conhecimento, o
processo decisório e o de comunicação (CHAVES, 2000), sendo razoável
propor pesquisas sobre ‘informação’ em qualquer uma dessas áreas.
Como quarto argumento, destacamos que, dentre tantos
interesses em comum, os estudos sobre fontes são pertinentes tanto para a
comunicação como para a ciência de informação. A relevância das fontes
torna-se grande desafio para estudiosos que avaliam a eficiência dos sistemas,
política de seleção e disseminação de informação. No jornalismo, lembra
PINTO (1999) que as rotinas produtivas e a sofisticação do abastecimento
noticioso das redações podem levar a mitificar as fontes jornalísticas, a relação
dos jornalistas com elas e a relação delas com os jornalistas As fontes são
interessadas, desenvolvem atividades a partir de estratégias e táticas bem
determinadas, merecendo especial atenção em reflexões apuradas.
Como quinto argumento, destacamos a relevância da
problemática sobre fontes e qualidade da informação. Testemunhamos
fervorosos debates sobre a responsabilidade e a influência da mídia nos
processos sociais. A literatura sobre o assunto é essencialmente genérica,
complexa e dispersa. “O jornalismo, enquanto forma de conhecer e registrar o
mundo, tem sido pouco discutido nos meios universitários. Os cursos de
comunicação
17
estão tão absorvidos com a transmissão de técnicas, que não
sobra tempo para discutir o “fazer jornalístico” (BUITONI, 1990: 175). Enquanto
a ciência quer explicar partes ou descrever leis do mundo, o jornalismo quer
17
As três mais tradicionais especialidades dos cursos de comunicação são: relações públicas,
jornalismo e publicidade e propaganda.
mostrar o mundo. Com essa pretensão, merece análises mais aprofundadas.
Sendo o jornalismo um campo fundamental na produção e reprodução da vida
social, torna-se necessário analisar a relação com as fontes num quadro mais
vasto e complexo (PINTO, 1999).
Evocamos como sexta justificativa a tendência do jornalismo à
especialização. A mídia expõe banalidades, superficialidades e contribui para
desviar a atenção dos homens de seus reais problemas. Angustiado com esse
quadro, o repórter vive o dilema: como melhorar a qualidade de seu trabalho?
Para CHAVES (2000) seria útil recorrer a um setor (ou central) especializado
em gerir informações e pesquisa, conduzido por profissionais capacitados, o
que poderia abrir mercado de trabalho aos cientistas da informação. Seus
teóricos trazem contribuições importantes para gerenciamento de sistemas,
estabelecimento de políticas informacionais, desenvolvimento de pesquisas
para identificação de necessidades do usuário e outras áreas. Sustentando
esse argumento, afirma SOUSA (2000) que o futuro do jornalismo dependerá
de sua capacidade de especialização, correspondendo às expectativas e
necessidades do público, o que significa dizer que o futuro do jornalismo
repousa na capacidade de selecionar fontes, interpretar e analisar a informação
bruta, oferecendo um produto de qualidade, de forma rigorosa e honesta,
distinguível entre as inúmeras doses de “sobre informação”.
Resta-nos, enfim, justificar a escolha das ‘fontes formais’ dentre
outras disponíveis. De setembro a outubro de 2003, como descrevemos na
metodologia, capítulo 4, fizemos levantamento junto à imprensa mineira e
nacional, em que identificamos que a recorrência às ‘fontes formais’ aparece
em quase 58%
18
materiais jornalísticas (TAB.4, p.11), o que sugere sua
importância como objeto de pesquisa.
18
Entre releases identificados (48%) e não identificados (15%).
1.4 Objetivos
Situada e justificada a problemática, nossos objetivos gerais
foram de: (1) ‘investigar a participação das ‘fontes formais’ no processo de
construção da ‘informação jornalística’ e na concepção qualitativa e (2)
produzir revisão densa e teórica sobre o assunto. Por ‘fontes formais’
(esclarecemos mais uma vez), entendemos as organizações do setor público
ou privado, representadas pelas pessoas (autoridades que a representam) ou
profissionais responsáveis pela disseminação de informação e os especialistas
(profissionais liberais com curso superior
19
).
Como objetivos específicos, buscamos: mapear a graduação,
investigar necessidades e comportamento de busca de informação e os
objetivos de produção de informão dos ‘disseminadores de informação’ das
‘fontes formais’, ‘especialistas’ e ‘jornalistas’, identificando sua relevância para
a comunidade; investigar os fatores que interferem na busca e produção de
informações, relacionando-os; identificar políticas de seleção de fontes de
informação no ambiente jornalístico e nas fontes; identificar e estabelecer
categorias de fontes utilizadas; identificar os atributos de qualidade
conferidos às fontes, que as levam a ser consideradas como tal; descobrir por
que algumas são mais utilizadas que outras; identificar indicadores de
avaliação utilizados na prática; identificar, na percepção dos envolvidos, em
que a fonte contribui para a qualidade da notícia e propor, ao final, um
modelo de avaliação crítica de fontes para uso da imprensa, que vise contribuir
para que o assunto seja tratado de forma mais crítica pelos atores que
participam desse processo, especificamente: fontes e jornalistas.
19
Artistas, atletas e outros podem ser considerados especialistas. Mas, como não têm
conhecimento formal validado em curso superior, não o consideramos fontes formais.
1.5 Considerações metodológicas
Como veremos no capítulo 4, a pesquisa envolveu considerável
complexidade metodológica, obrigando-nos a utilizar métodos ora
quantitativos, ora qualitativos.
Enquanto revisávamos a literatura, pensávamos em adotar a
estratégia do estudo de caso, para alcançar os objetivos. Observamos e
conversamos com fontes formais, especialistas, e jornalistas da rádio Itatiaia,
TV Alterosa e dos três mais tradicionais representantes da imprensa escrita de
Belo Horizonte, _ os jornais Estado de Minas, O Tempo e Hoje em Dia. O
estudo de caso foi desenvolvido de setembro de 2004 a dezembro de 2004 e
constituiu-se de várias etapas. Em cada uma delas desenvolvemos
instrumentais próprios para colher dados.
Começamos por levantar estatisticamente quais fontes e, dentre
estas, quais fontes formais’, figuravam nos três jornais de Belo Horizonte.
Esta etapa foi desenvolvida de setembro a novembro de 2003.
Após esta etapa, recorrendo a auxílios de documentos de arquivo
do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, delineamos nossa
amostragem. A seguir, elaboramos instrumentais como roteiros de entrevistas,
roteiro para registrar impressões na observação participante, planilhas e outros.
Partimos, então para a pesquisa de campo, em que os dados foram coletados
ora em fontes documentais (jornais, revistas e publicações produzidas nas
instituições), ora em entrevistas com jornalistas da imprensa escrita (Estado de
Minas, O Tempo, Hoje em Dia, Rádio Itatiaia e TV Alterosa), especialistas e
profissionais que trabalham como disseminadores de informação de
organizações diversas em Belo Horizonte.
A análise de dados guiou-se pelo referencial teórico.
1.6 Estrutura da tese
Abrigando-se na metodologia qualitativa, sob o paradigma
sociológico e argumentação construtivista, a presente pesquisa foi composta
de duas etapas: elaboração de referencial teórico sobre fontes e estudo de
caso junto às fontes e órgãos de imprensa em Belo Horizonte, versando sobre
‘a participação das fontes formais no processo de construção da notícia’.
Traçamos uma estrutura para formatação da tese que facilitasse tanto a
exposição do percurso do trabalho como a leitura dos mais leigos.
No capítulo 2, revisamos a literatura sobre os principais conceitos
pertinentes à problemática: informão e qualidade da informação.
Introduzidos os conceitos, discorremos, no capítulo 3, sobre o
jornalismo e as fontes formais, relacionando os olhares aos campos da ciência
da informação e da comunicação.
O capítulo 4 foi dividido em três partes. Primeiramente,
discorremos sobre a abordagem teórica que conduziu a elaboração de
conceitos e revisão de literatura apresentados, assim como a interpretação e
análise dos dados. Posteriormente, apresentamos a metodologia utilizada no
estudo de caso. A seguir, expomos as técnicas, os instrumentos utilizados na
coleta de dados e as etapas da pesquisa, explicando o universo investigado, a
composição da amostragem, a tabulação e a análise dos dados.
No capítulo 5, apresentamos e analisamos os dados, guiados por
roteiro, em que tentamos relacionar os resultados obtidos junto às fontes e à
imprensa. Apresentamos, também o modelo para avaliação crítica das fontes,
em princípio no ambiente jornalístico, mas que pode ser adaptado para
qualquer contexto relativo ao fenômeno informacional.
As considerações finais constam do capítulo 6 da tese, no qual
discorremos sobre as principais contribuições e limitações do trabalho,
discutindo questões consideradas pertinentes para futuras investigações
teóricas.
2 PRINCIPAIS CONCEITOS
“Information is a phenomenon as basic as energy and matter”
(SARACEVIC, 1981)
As raízes do jornalismo remontam à Antigüidade e vigoraram
após a Revolução Comercial. Hoje, o jornalismo é conhecido como disciplina
autônoma, ramo da comunicação
20
. Embora suas funções clássicas sejam
educar, informar, entreter e interpretar, questões políticas e comerciais sempre
permearam seus bastidores. Um panorama de sua história é traçado por
HABERMAS (1998), que descreve o jornalismo em três fases. Num primeiro
momento, as informações divulgadas pelos jornais correspondiam
principalmente às limitadas necessidades econômicas e comerciais geradas
pelo capitalismo nascente. Numa segunda fase, a “imprensa de informação”
evoluiu para a :imprensa de opinião” ou para o chamado “jornalismo literário”.
Os jornais tornaram-se instrumentos de lutas políticas e partidárias,
coadjuvantes na conquista do poder e contribuíram para a legitimação da
esfera pública burguesa em oposição à velha sociedade feudal, favorecendo,
ainda, a expansão do nacionalismo e a formação do estado. A terceira fase
seria o retorno ao espírito comercial, em novas bases de capital e tecnologia.
Os peodos das Grandes Guerras instigaram investigações em
todos os campos, com um ímpeto especial do fenômeno da comunicação de
massa, envolvendo considerações complexas, como aspectos filosóficos,
políticos, econômicos e sociais. Nos Estados Unidos, cuja história ergueu-se
sob a filosofia liberal e a égide do espírito protestante e a ética capitalista
21
,
Lasswell, Lazarsfeld, Lewin e Hovlan, trabalhando em pesquisas
encomendadas por lideranças políticas e empresariais, criaram os pilares que
20
Lembramos outros dois importantes ramos: a ‘publicidade e propaganda’ e relações
públicas‘. Mas há outros: cinema, teatro etc.
21
Estudo sobre a influência do “Espírito Protestante e a Ética Capitalista” na sociedade está
na obra de WEBER (1996).
direcionariam as pesquisas na área, numa corrente marcada pelo
funcionalismo positivista (TAB.5, p.24). Na década de 1940 e 1950, o modelo
de LasswellL, “Quem diz o que, para quem, com que efeito”, e a Teoria da
informação de Shannon e Weaver
22
ilustram o papel desempenhado pela
informação na estrutura funcional da sociedade. A percepção sobre a
comunicação rendia-se ao cartesianismo e desprezava a complexidade que
envolve o fenômeno, embora alguns autores já despontassem com novas
abordagens. No processo, a informação não passava de uma mensagem
transmitida de um emissor a um receptor, por um canal, podendo a
transmissão conter ruído, visto como problema técnico a ser neutralizado.
Na década de 1950, a Escola de Frankfurt trouxe novo foco aos
estudos da comunicação. Criticada, hoje, pelo radicalismo e teor apocalíptico, é
incontestável sua contribuição, ao injetar a riqueza do olhar marxista sobre a
questão. As contradições, os aspectos ideológicos e políticos passaram a ser
considerados. Os estudos em comunicação destacaram o poder da mídia e a
manipulação de interesses nos bastidores. Denunciaram que, com o respaldo
do poder do estado, empresas de comunicação concentraram-se em
conglomerados econômicos, passando a agir como um “aparelho ideológico”,
que defende interesses das elites dominantes, revelando-se muitas vezes
nada democráticas.
Com o tempo, novas abordagens acadêmicas surgiram, revelando
a tendência complexa do fenômeno comunicacional, trazendo marcas do
racionalismo positivista ou do marxismo. Nos anos 1960 e 1970, intensificam-
se estudos sobre a semiótica e assiste-se à ascensão da influência da
etnometodologia, do interacionismo simbólico, e da antropologia social nas
investigações científicas. Discussões sobre cultura revelam a força dos
22
O conceito de SHANNON e WEAVER, formulado em 1949, é conhecido como Teoria
Matemática da Informação, onde a informação, valiosa em sua novidade, é destacada como
algo que reduz a incerteza de um receptor. A teoria exata destinava-se a auxiliar a solução de
certos problemas de otimização do custo da transmissão de sinais. A definição de quantidade
de informação ou redução de incerteza é axiomática e equacionada a partir de dois conceitos
matemáticos : a probabilidade e a função logarítmica. A informação é um conceito físico, onde
a queso central da teoria é o desempenho do canal, da transmissão do canal elétrico. As
disciplinas envolvidas são a lógica matemática, a física, a psicologia e a engenharia elétrica.
(LE COADIC, 1996).
TABELA 5 – AS PRINCIPAIS ABORDAGENS TEÓRICAS NAS CIÊNCIAS SOCIAIS
Linhas/ Autores Resumo das idéias
Positivismo
Autores:
Condorcet
Comte,
Durkheim
Para Durkheim, a sociedade é compreendida como “coisa”, um organismo funcional, morfológico, fisiológico. É um fenômeno moral, onde os modos coletivos de pensar, perceber, sentir e agir
incluíam elementos de coerção e obrigação. Motivado pelo projeto científico, procurou legitimar as ciências sociais, propondo que os métodos e técnicas seguissem os empregados nas
ciências naturais. Buscava o conhecimento objetivo e neutro, sem prever a intervenção da ação humana na sociedade. Defendia que as ciências humanas deveriam se acercar dos fenômenos,
tais como eles se ofereciam à observação e experimentação, tomando-os como fatos (DOMINGUES, 2004). Privilegiando as dicotomias, a metodologia deveria prever o estabelecimento de
correlações entre fenômenos observáveis, exaltando seus nexos causais, procurando confirmações que corroborassem estes nexos, comprovando, enfim, leis totalizantes. O cientista social
deveria se guiar pela objetividade e neutralidade perante o objeto, livrando-se dos “pré-juízos” e as pré-noções” provenientes da ideologia, eliminando suas visões subjetivas. Seriam cinco as
principais tarefas do pesquisador: descrever as características dos fatos sociais; demonstrar suas origens; relacioná-los entre si; encontrar sua organicidade; e separar as representações dos
fatos entre ‘a coisa real’ e as ‘idéias que o sociólogo faz deles’.
Funcionalismo
Talcott Parsons
Alberto Salomon
Variante do positivismo, o “funcionalismo sociológico” incorporou, nos anos 1950 conceitos advindos sobretudo da biologia, como: sistema, subsistema, estrutura, função, adaptação, integração e
desvio. Marcou profundamente a produção intelectual nas ciências sociais. Parsons destacou-se com a obra The social system (1951), centrada no funcionamento das estruturas das instituições,
consideradas mecanismos integradores fundamentais dos sistemas sociais, definidos ora como uma pluralidade de interação de agentes individuais, ora como uma rede de relações entre
agentes. O ‘funcionalismo’ diferenciava-se do ‘positivismo, na medida em que negou leis gerais reguladoras da sociedade. Desenvolve teoria aplicável à compreensão da estrutura social e da
diversidade cultural segundo quatro princípios: a ‘interação’, ‘controle’, ‘integração’ e ‘adaptação’. Pela ’interação total’, as sociedades são totalidades que se constituem como organismos vivos,
compostas por elementos que interagem, se relacionam e são interdependentes. Por controle’, entende-se que cada sociedade tem seus mecanismos para regular as eventuais influências de
elementos externos ou internos, corrigindo desvios e disfunções recorrentes no próprio sistema. A ‘integração’ é atingida pelo consenso de crenças, valores e normas, compartilhados
socialmente pelos subsistemas e que se reforçam mutuamente. O prog
resso, desenvolvimento e mudança são frutos da ‘adaptação’ às inovações e tensões absorvidas no interior do sistema que
se revitaliza, reproduz e conserva, tendendo ao equilíbrio.
Sociologia
Compreensiva
Dilthey, Max
Weber
A paternidade é atribuída a Weber, para quem “sociologia significa a ciência que quer compreender interpretativamente a ação social e explicá-la casualmente em seu curso e efeitos, requer
abordagem diferente das ciências naturais. Parsons e Salomon foram os responsáveis pela popularização da obra de Weber nos EUA e no mundo, ao traduzirem para o inglês a obra A Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo, nos anos 1930. Sua obra se debruça sobre os problemas de racionalização, da secularização, da burocracia das estruturas e dos comportamentos das
pessoas como traços específicos da civilização ocidental” (TRAGTENBERG, in WEBER, 2001: introdução, p. XII). Weber retoma o tema central das ciências sociais: a relação entre indivíduos e
sociedade, privilegiando a elaboração conceitual e não o objeto como fim. A compreensão liga-se à verificação empírica vinculada a uma forma de causalidade. Admirador de Nitzche e Marx,
recebeu influência de Dilthey, Simmel, Ricouert, nnies e Windelband, extraindo deles seus principais conceitos. Por “ação”, entende-se um comportamento humano, um fazer ou não fazer, em
que o(s) agente(s) o relaciona(m) a um sentido subjetivo. A ação social significa “uma ação que, quanto a seu sentido visado pelo(s) agente(s), se refere ao comportamento de outros, orientando-
se por este em seu curso” pela representação da existência de uma ordem legítima (WEBER, 1999:3-19)”. A ação social seria, pois, a inter relação de atores, os indivíduos, onde as ações de uns
são reciprocamente orientadas em direção às ações dos o
utros, seja no passado, presente ou esperado como futuro, processo em que o ator influencia e é influenciado pelo ambiente,
descrevendo-o, explicando-o e justificando suas ações conforme causas racionais, tradicionais ou sentimentos afetivos. O conceito de “ação social” é tanto aberto e objetivo quanto subjetivo,
englobando o comportamento humano e sua geração de significados. Privilegia a compreensão e a inteligibilidade como propriedades específicas dos fenômenos sociais que se separam dos
naturais pela “intencionalidade e significado”, este criado na intervenção da ação humana sobre a realidade. As bases teórico-metodológicas focam a interpretação da “ação social” para explicar
a causa e efeito de seu curso. A pesquisa empírica justifica as formulações teóricas e seus dados derivam do modo da vida dos atores sociais. As realidades são construídas “nos e através dos”
significados e podem ser identificadas na linguagem significativa da interação social. A linguagem, as práticas, as coisas e os acontecimentos são inseparáveis. O pesquisador guia-se pela
neutralidade de valor, mas recebe interferência de valores pessoais, inclusive na seleção do objeto de estudo. Para munir o investigador de instrumento racional e teórico de aproximação da
realidade, sugere “a teoria dos tipos ideais”, artifício de que norteia a ordenação dos fenômenos, suas articulações e sentido. O tipo ideal é uma generalização exagerada, que não interessa
como fim, mas como meio de conhecimento, criada para captar os fenômenos em sua singularidade: “obtém-se um tipo ideal, acentuando-se unilateralmente um ou vários pontos de vista,
encadeando uma multidão de fenômenos isolados, difusos e discretos que se encontram ora em grande número, ora em pequeno número até o mínimo possível, que se ordenam segundo os
anteriores pontos de vista escolhidos unilateralmente para formarem um quadro de pensamento homogêneo (WEBER, 1999: 138). As idéias do autor influenciaram várias abordagens teóricas.
Etnometodo-
logia
Privilegia a história oral, da vida e o cotidiano. Na experiência direta com os indivíduos, o pesquisador compreende a realidade, interpretada em primeira instância pelos atores sociais. O senso
comum expressa o sentido da realidade objetiva. A sociedade constitui-se de estruturas, regras e conhecimentos compartilhados, que tornam a interação social possível e aceitável. As
características da sociedade são inseparáveis dos processos interpretativos pelos quais o mundo é constituído, realizado e explicado. O papel do cientista é descobrir os modelos de racionalidade
subjacentes à ação dos indivíduos e dos grupos, estudando o cotidiano do homem comum.
Linhas/ Autores Resumo das idéias
Interacionismo
simbólico
Thomas, Mead,
Coley, Goffman
e Blumer
Batizada por Blumer, considera a vida humana um vasto processo de interpretação, no qual o povo, individual e coletivamente, guia a si mesmo para definir objetivos, acontecimentos e situações.
As relações sociais fundamentam-se no princípio de que o comportamento humano é auto dirigido e observável em dois sentidos: o simbólico e o interacional. O ser humano ou grupo conferem
significados aos objetos, conforme seus planos. A vida social estabelece o consenso nas inter-relações. O processo interpretativo acontece no consenso do grupo, que manipula o sentido
conferido às ações redefinindo e modificando-as. Os mbolos e a interação são os principais elementos a se apreender na investigação científica, onde o pesquisador deve fugir do objetivismo,
substituindo seu olhar pelo do grupo estudado. Inspirou análises de conteúdo e do discurso.
Fenomenologia
Husserl (deu o
nome), Schultz,
Berger e
Luckmann
HERRERO
(1986) enquadra
Habermas nesta
corrente
É considerada a “sociologia da vida cotidiana”. Toma idéias de Dilthey, Weber e Mead. As realidades sociais diferenciam-se de acordo com o contexto e são construídas ‘nos’ e ‘através’ dos
significados, podendo ser identificadas na linguagem significativa da interação social. Atos sociais envolvem o significado, propriedade ausente nas ciências naturais. O espaço-tempo
privilegiado é a vida presente e a relação face-à-face. A descrição fenomenológica é tarefa principal da sociologia, apresentando-
a como crítica radical ao objetivismo, pois demonstra ser a
subjetividade constituinte do ser social e inerente à construção da realidade. O conhecimento divide-se em três categorias: o vivido e experimentado no cotidiano; o da epistemologia clássica,
que investiga o mundo físico; e estudado pelo método sociológico. No primeiro nível, o mundo cotidiano é experimentado pelo homem em atitude natural e aceito como tal, não havendo
questionamento sobre sua estrutura significativa. Ele apresenta-se através de tipificações, construídas consensualmente pelos atores sociais. Se, para Weber, o tipo ideal é uma construção
analítica, para Schultz, o ato social tipifica o mundo, oferecendo aos homens condições de compreendê-lo e, assim, se comunicarem. Defende que os objetos das ciências sociais partam da
apreensão do senso comum, conhecimento tido como nem superior nem inferior ao científico, distinguindo-se pela consistência lógica e pela possibilidade de descrever e interpretar o vivido. O
papel do cientista é revelar os significados subjetivos implícitos do universo dos atores sociais, compreendendo a ação da realidade objetiva. A categoria central de análise para compreender o
mundo é a intersubjetitividade entre indivíduos, sendo relevante a apreensão das coisas sociais como significativas, marcadas pela racionalidade e interacionalidade, ou seja: o mundo social é
constituído por ações e interações que obedecem a usos, costumes e regras ou que conhecem meios, fins e resultados. A abordagem é criticada por alguns por atomizar a realidade, como se
cada fato ou grupo constituísse um mundo social independente, desconhecendo os fenômenos estruturais e excluindo a discussão sobre as questões do poder, da dominação, da força, da
estratificação social.
Marxismo
Marx, Engels,
Lênin, Lukács,
Goldman,
Gramsci,
Althusseur
Buscando a marca da totalidade, o marxismo compõe grande influência na sociologia. Marx debruçou-se exaustivamente a investigar o capitalismo industrial, enveredando-se pelo caminho da
economia política. Criticou vorazmente as teses de Ricardo, Adam Smith, Proudhon, Feuerbach, Hegel e outros. Elegeu o trabalho como categoria essencial de observação e imortalizou-se como
um dos mais brilhantes teóricos de todos os tempos, tornando-se referência obrigatória nos estudos da economia, política e sociologia. Para chegar à sua grande obra, O capital, Marx seguiu
severo rigor metodológico, elegendo a dialética como a ciência das leis gerais do movimento, tanto do mundo exterior como do pensamento humano, buscando a essência atrás das aparências:
meu método dialético, por seu fundamento, difere do método hegeliano, sendo-lhe oposto. Para Hegel, o processo do pensamento, -que ele transforma em sujeito autônomo sob o nome de
idéia, - é criador do real, e o real é a apenas sua manifestação externa. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais do que o material transposto para a cabeça do ser humano e por ela
interpretado (MARX, 1980,14-17)”. Ele parte da idéia feuerbachiana do homem como ser genérico, pensando a sociedade civil como lugar de sua alienação, que “nasce da forma de trabalho a
que o sistema de produção, orientado para a posse e para o mercado, submete o trabalhador (MARX, 1978: XIV) ”. O autor observa o movimento social como processo histórico-natural
governado por leis independentes da vontade, da consciência e das intenções dos seres humanos, e que, ao contrário, determinam a vontade, a consciência e as intenções. Além da lei que rege
os fenômenos pesquisados, importa descobrir a lei de sua transformação e de seu desenvolvimento. Desvendada esta lei, investiga ele os efeitos pelos quais ela se manifesta na vida social.
Tenta cercar o objeto de conhecimento pela compreensão de todas suas mediações e correlações e integra a dialética à explicação do social, situando-o historicamente. Prega a interpretação da
realidade no todo e apreende a prática social empírica dos indivíduos como condicionada a um “modo de produção” específico e integrada a fatores visíveis, como as representações sociais, e
invisíveis, como a ideologia. Os princípios fundamentais explicativos do processo de desenvolvimento social podem ser resumidos nos termos “materialismo histórico e materialismo dialético”. O
“materialismo histórico” representa o caminho teórico que aponta a dinâmica do real na sociedade. O “materialismo dialético” refere-se ao método de abordagem deste real e apresenta dois
conceitos fundamentais: o “modo de produção e a formação social”. Por “modo de produção” entende-se uma abstração formal, que pretende ser modelo teórico de aproximação da realidade.
Para Marx, a sociedade compunha-se de uma estrutura global formada por estruturas regionais: uma econômica, uma jurídica-
política e outra ideológica. A estrutura econômica global determina
historicamente as demais. A formação social” constitui-se unidade complexa de articulação das várias instâncias da organização social, processo em que a dominação e relações de poder são
inerentes. O estudo de uma “formação social” inclui as mudanças, transformações, permanências e suas condições estruturais. No marxismo, encontramos também as noções de “forças
produtivas”, relações sociais de produção”, “classes sociais básicas”, “luta de classes”, “divisão do trabalho”, “formas de produção”, “circulação”, “consumo de bens”, população”, migrações”,
“estado”, “desenvolvimento da sociedade civil”,
“relações nacionais e internacionais de comércio”, “produção”, “dominação”, formas de consciência real e possível dos diferentes grupos sociais”,
“modo de vida” e outros.
Linhas/ Autores Resumo das idéias
Marxismo
(continuação)
A vida humana é social, mutável, perecível e construída historicamente, existindo uma correlação entre o “modo de produção”, as “estruturas de classe” e as maneiras de pensar.O Estado é a
forma ampliada de socialização, responsável pela regulação social e gestão de recursos públicos. Ao contrário dos positivistas, que acreditavam em leis invariáveis, a lógica dialética introduz o
princípio do conflito e da contradição na compreensão da realidade como algo permanente e que explica a transformação. Os fenômenos econômicos e sociais são produtos da ação e da
interação, da produção e da reprodução da sociedade pelos indivíduos. A significação humana é impossível de ser compreendida fora da estrutura social. A sociologia marxista tem como objeto a
compreensão das atitudes fundamentais dos indivíduos e dos grupos em face dos valores, da comunidade e do universo; a compreensão das transformações do sujeito da ação no
relacionamento dialético homem/mundo e da sociedade humana, fazendo a síntese entre o passado e o presente; e, como conseqüência, a compreensão das ações humanas de todos os tipos e
de todos os lugares que tiveram impacto na existência, na estrutura de determinado grupo humano, e, mais globalmente, na sociedade humana presente e futura (MINAYO, 1996: 68). A
metodologia marxista situa historicamente o objeto, sendo que cada período histórico é regido por suas próprias leis (MARX, 1980: 14). A indução e dedução são obrigatoriamente
complementares e harmônicas. Só se pode conhecer algo decompondo-o, para a seguir recompô-la, reconstruí-la e reagrupar suas partes. É imprescindível a compreensão da consciência dos
agentes sociais e a aceitação de que os fatores sociais são inevitáveis, sejam quais forem as intenções dos atores e as significações que eles lhe atribuam. Marx fala, também, que é importante
separar o método da pesquisa do método da exposição. Se é impossível a análise ser neutra, é imperativo que seja coerentemente relatada, considerando a relação dialética entre as
consciências individuais e a realidade objetiva (MARX, 1980). Os fenômenos devem ser apreendidos com suas múltiplas relações, interpretados sob mais diversos ângulos, avaliando diferenças
e aspectos ideológicos explícitos e implícitos ao processo. As etapas são: compreender as diferenças numa unidade ou totalidade parcial; buscar a compreensão das conexões orgânicas, do
modo de relacionamento das várias instâncias da realidade e o processo de constituição da totalidade parcial; explorar ao máximo a análise do parcial, suas determinações essenciais, condições
e efeitos de manifestação. Apreendendo-se o particular, chega-se ao universal, porque a parte contém o todo e vice-versa. A observação deve recair sobre o concreto, a práxis, ponto de vista
reforçado por Lênin (sendo esta sua principal contribuição para o marxismo). É sobre a práxis e na perspectiva dialética, que se dá a emancipação subjetiva e objetiva do homem, a destruição
da opressão enquanto estrutura e transformação da consciência. Como objeto e sujeito fazem parte da mesma totalid
ade, o conhecimento gerado será sempre relativo, mas capaz de apreender
a realidade, levando a ações práticas, caminho da transformação social. Integrando teoria e prática, o marxismo elege as relações de trabalho como categoria de análise por excelência. O campo
ideológico é revalorizado por Gramsci, como forma de dominação e também de conhecimento. Ao introduzir o conceito de “hegemonia” à perspectiva marxista, permite analisar as relações entre
as classes fora do plano da produção econômica e trabalhar separadamente aspectos culturais e políticos.
Hermenêutica-
dialética
Habermas,
Gadamer
Santos,
Minayo
Surgiu nos anos 1960, através de debate entre Habermas e Gadamer. Tem-se mostrado tendência em vários autores atuais. Como exemplo, citamos os trabalhos de SANTOS (2000).
Englobando várias correntes, sobretudo a marxista e a fenomenologia, abraça a interdisciplinaridade, a relatividade, a reflexividade, a complexidade, o conceito de auto-organização e auto-
poiesis, conferindo o “status” de cientificidade às ciências sociais e, por conseqüência, à ciência da informação, pelo fato de os problemas sociais serem de extrema relevância para a sociedade.
A hermenêutica também traz as condições cotidianas para primeiro plano e tenta esclarecer suas estruturas profundas. A intersubjetividade é núcleo orientador da ação. A compreensão do
sentido orienta-se por consenso possível entre o sujeito agente e aquele que busca compreender. Pelos pressupostos metodológicos da hermenêutica, o pesquisador tem que aclarar o contexto
de análise; supor a respeito de todos os documentos que tiver contato; conhecer as razões de elaboração do documento para a compreensão de seu conteúdo; entender, julgar e tomar posição
sobre o conteúdo estudado; e imaginar-se num diálogo com o autor ao tentar interpretar uma obra. A abordagem é adequada para a comunicação, pois busca compreender os sentidos criados
na interação entre seres humanos, tendo a linguagem como núcleo central. A hermenêutica relaciona retórica com a práxis e prega que os meios de linguagem são suficientes para esclarecer o
sentido de quaisquer contextos simbólicos.
Estruturalismo
Saussure,
Jakobson,
Chomsky,
Barthes, Deleuze,
Gatarri e Lévi-
Strauss
Conceito novo. Muitos autores o se assumem como estruturalistas. dificuldades conceituais sobre a própria abordagem estruturalista. DOMINGUES (1999, 145), por exemplo, lembra que
“não existe em filosofia uma escola abordagem estruturalista propriamente dita..., mas podemos dizer um conjunto mais ou menos disperso de autores e de abordagens que se servem, de uma
maneira ou de outra, de certos esquemas que podem ser aproximados do método estrutural e isto bem antes que o estruturalismo e a moda estruturalista tivesse aparecido”. Em linhas gerais, o
foco é a linguagem como um estatuto simbólico, segundo preceitos lingüísticos, filosóficos e psicanalíticos, razão pela qual alguns teóricos a consideram herdeira do interacionismo simbólico. O
discurso é reificado. Segundo SOUZA (in MARI, Hugo e al. Estruturalismo: memória e repercussões. Rio de Janeiro: Diadorim, 1999), seus princípios teóricos metodológicos incluem “a ruptura
com o descentramento do sujeito cartesiano e a descoberta do inconsciente freudiano, a dissolução da idéia do autor e o apagamento da noção de origem”. Saussure entende estrutura como um
sistema binário de tensão que substitui o equilíbrio e a lógica dialética. Já, para o antropólogo Lévi-Strauss, cujo trabalho apresenta a principal tendência de evolução da abordagem, o
estruturalismo é entendido como um sistema de esquemas mentais, que apresenta aspectos fixos e imutáveis e aspectos variáveis, a que chama de sensibilização contextual. Enquanto WEBER
(1999) opera com o tipo ideal como instrumental metodológico, Lévi-Strauss trabalha com o conc
eito de mito como uma construção social, que precisa ser apreendida, para, depois, ser
desconstruída. Estudos em comunicação, sobretudo a semiologia, têm explorado bastante as sugestões do estruturalismo, complementando-as com vieses marxista e weberiano.
Fonte: Elaborado pela autora, NOV 2005.
símbolos e da linguagem na reprodução da ideologia, valores e costumes da
sociedade, uma vez que contribuem para a formação dos hábitos
compartilhados. Nesse caminho, misturando conceitos de vários autores,
surgem as contribuições de Baudrillard, Bourdieu, Morin e outros, que, com
suas particularidades, trouxeram ricas reflexões para a comunicação,
deslocando a cultura, mídia e o discurso para um plano privilegiado, semeando
a corrente da construção do sentido.
No final dos anos 1970, com traços da fenomenologia, surge a
teoria agenda setting, concentrada na explicação do fenômeno da opinião
pública. Com antecedências em Lippmann e Lang e, tendo como expoentes
Shaw, Cohen e Mccombs, a abordagem propõe a mídia como promotora de
agendamento de notícias, através de inúmeras negociações nos bastidores,
hierarquizando assuntos a serem discutidos pelo público:
“Em conseqüência da ação dos jornais, da televisão e dos outros
meios de informação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou
descura, realça ou negligencia elementos específicos dos cenários
públicos. As pessoas têm tendência para incluir ou excluir dos seus
próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou
excluem do seu próprio conteúdo. Além disso, o público tende a
atribuir àquilo que esse conteúdo inclui uma importância que reflete
de perto a ênfase atribuída pelos mass media aos acontecimentos,
aos problemas, às pessoas” (SHAW, 1997,96, citado por WOLF,
1995: 130)
NEUMANN (1993), nos anos 90, inspirada em Lippmann, expõe
a teoria: a espiral do silêncio”, também alusiva à opinião pública. Em linhas
gerais, ela discorre sobre as pressões dos códigos morais e sociais sobre os
indivíduos que, temendo a solidão, aderem a um pacto não explícito,
negligenciando discussões sobre assuntos que possam ferir o código dos
costumes e abalar a harmonia do convívio social. A mídia insere-se nesse
jogo, num acordo subliminar.
Hoje, outras linhas de estudo têm surgido, trazendo influências de
todas as correntes anteriores. Visões de autores dividem-se entre pessimistas,
otimistas ou moderados. Os pessimistas mostram descrença e tendem a ver a
comunicação como inevitável instrumento manipulador do poder instituído.
Outros vislumbram a possibilidade de ela expressar espontaneamente a
diversidade cultural, gerando sentido e construindo o real. Os moderados
unem as possibilidades, focando a comunicação como meio de reproduzir,
expressar ou de instituir a própria realidade. HABERMAS (1998) entende a
comunicação como uma arena de interesses, permeando o processo de
socialização e político.
Buscamos resposta para a questão central que queremos discutir,
ou seja: em que as fontes formais’ contribuem para a qualidade da informação
jornalística, baseando-nos em uma corrente focada no processo prático da
produção da notícia: o newsmaking“. A abordagem vem alargar a perspectiva
do gatekeeping, ambas centradas no processo de produção da nocia, com
expoente em FISHMAN (1990), TRAQUINA (1993), TUCHMAN (1993), WOLF
(1995) e MOUILLAUD (2002), que trazem olhares do interacionismo simbólico,
da fenomenologia, do marxismo e da hermenêutica dialética.
Por gatekeeping, entende-se o processo através do qual as
mensagens passam por filtragens em áreas de decisão até chegarem ao
destinatário ou consumidor. O termo gatekeeper, introduzido pelo psicólogo
Kurt Lewin, refere-se à pessoa que decide, incorporado no jornalismo por
Manning White. Nessa perspectiva, ”o processo de produção da informação é
concebido como uma série de escolhas, onde um fluxo de notícias tem de
passar por diversos portões, gates, áreas de decisão, em que o jornalista tem
de decidir se vai produzir uma nocia ou não (TRAQUINA, 1997:134)”. “As
decisões do gatekeeper são tomadas menos a partir de uma avaliação
individual da ‘noticiabilidade’ do que em relação a um conjunto de valores que
incluem critérios quer profissionais, quer organizativos, como eficiência,
produção de notícia e rapidez (WOLF,1995:162)”. Por ‘noticiabilidade’
entendemos uma série de fatores que contribuem para a imprensa conferir
visibilidade a um ou outro acontecimento, assunto abordado mais adiante.
O newsmaking analisa o fenômeno jornalístico dentro de dois
limites: a cultura profissional dos jornalistas e sua organização do trabalho, o
que engloba uma rie de processos produtivos. Ou seja, estuda os fatores
que interferem na produção da ‘informação jornalística’, desde o romper do
acontecimento à sua notificação ao público. Dessa forma, a ‘noticiabilidade’, o
comportamento do jornalista e a seleção de fontes estariam relacionados com
as rotinas das práticas produtivas, submetidos a padrões e valores próprios de
uma categoria profissional, que se forma sob um processo de socialização
peculiar. A notícia pode ser compreendida como o produto de um processo
organizado, enquadrada pelo jornalista.
Se, em nosso trabalho, o marco teórico do fenômeno jornalístico
fundamenta-se nos estudos da comunicação, procuremos na ciência da
informação o referencial para nos aprofundarmos nas questões das fontes.
Como vimos, a modernidade assistiu à explosão da divulgação
do conhecimento e dedicação às pesquisas. Estudos desenvolvidos pelo
método cartesiano de análise, sujeitos às regras do rigor científico e
embriagados da concepção positivista, surgiram em todas as áreas,
agrupadas nas chamadas Ciências Físicas, Naturais e Biológicas. Seguia-se a
lógica matemática, a observação, a experimentação e a mensuração,
sujeitando-se a leis claras e inquestionáveis. As ciências sociais surgem com
especificidades próprias, mas tentam se adequar inicialmente aos métodos
pautados pelo positivismo ou funcionalismo. De para cá, várias abordagens
metodológicas surgem, com especial influência de Durkheim, Weber e Marx.
Nesse contexto
,
em meio a tantas abordagens, estudos na ciência
da informação revelam-se ora preponderantemente funcionalistas e
positivistas, ora incorporam traços da sociologia compreensiva e do marxismo.
A confusão se instaura na própria elaboração dos conceitos básicos. KUHN
(1994) explica que os pressupostos da metodologia da ciência compõem uma
prática social, cujo alicerce não es assentado sobre uma lógica ou uma
racionalidade imanente a esta atividade, mas no consenso de uma
determinada comunidade de cientistas sobre problemas da área e forma de
resolvê-los. O desenvolvimento de qualquer ciência caracteriza-se pela
aceitação de um paradigma, que esclarece com sucesso a maior parte das
observações e experiências facilmente acessíveis a seus praticantes.
Enquanto as ciências naturais atingiam o status de “maduras, por oferecer
pressupostos metodológicos e conceitos claros, as ciências sociais enfrentam
crises de auto-afirmação.
Nesse contexto, a ciência da informação, pelos conflitos
apresentados anteriormente, não seria classificada como madura, mas como
disciplina emergente, que seus cientistas, ainda hoje, não convergem em
suas abordagens. Processo semelhante vive o campo de comunicação, cuja
interdisciplinaridade tem provocado complexa diversidade de conceitos (LIMA,
2001). Uma das divergências é a falta de consenso sobre sua própria história,
não havendo acordo sobre suas origens.
Uma linha tem Shera, Borko e Le Coadic como expoentes e defende
a evolução da biblioteconomia para a bibliografia, desta para a documentação
e, enfim, para a ciência da informação (COSTA, 1990). BORKO (1968) afirma
que “a ciência da informação trata do conjunto de conhecimentos relativos à
origem, coleta, organização, armazenamento, interpretação, recuperação,
transferência, transformação e utilização da informação”. Seu contexto é
interdisciplinar e seus estudos relacionam-se a outros campos, como a
matemática, a lógica, a psicologia, a lingüística, a comunicação, a tecnologia, a
computação, administração, artes gráficas e, intrinsecamente com a
biblioteconomia e documentação. Outra linha acredita que a ciência da
informação surgiu com os desafios do avanço tecnológico e a explosão
informacional, no pós-guerra (SARACEVIC, 1996 e WERSIG, 1993). Estes
autores afirmam que a ciência da informação não pode ser comparada à
biblioteconomia, documentação ou outra disciplina. De caráter interdisciplinar, a
conceituam-na como “estudo dos fenômenos da comunicação e das
propriedades do sistema de comunicação, investigando técnicas e métodos
que possibilitem a melhor compreensão das propriedades e comportamento do
fluxo informacional (REES e SARACEVIC, 1972)”.
Na busca de consenso, em 1976, BELKIN conclama a comunidade
científica para a procura de conceitos que pudessem orientar as pesquisas na
área. Seus seguidores, dentre eles, Dervin e Nilan, Wersig, Ingwersen, Menou,
ratificaram o caráter interdisciplinar da ciência da informação. O
30
panorama do que é considerado atualmente profissional da informação ilustra a
interdisciplinaridade. Para LE COADIC (1996:106), as primeiras disciplinas da
ciência da informação foram biblioteconomia, museoconomia, documentação e
jornalismo, sendo atividades informacionais: avaliação; planejamento; venda de
redes locais de comunicação; confecção de manuais; gerenciamento de
informação em biblioteca, museus ou centros de documentação; implantação
de serviços audiovisuais ou eletrônicos de comunicação; preparar, reunir e
editar informações; administrar aquisições; redigir revistas cientificas e
administrar arquivos
23
.
A busca de conceitos em ciência da informação é, pois, mais um
legado do processo de racionalização do modernismo. Ela se enquadraria, na
concepção de SANTOS (1996), como s-moderna. A informação é
entendida como fenômeno central dos pesquisadores, dizendo respeito à
condição humana, e relaciona-se constantemente a três processos: ‘processo
de comunicação’; ‘processo de construção de conhecimento’; e ‘processo
decisório’, posição que norteia a concepção de informação neste trabalho.
Sugerindo movimento, dinamismo, mudança contínua, incorporamos a seu
conceito as noções de ação exercício de cidadania (WERSIG (1993), CABRAL
(1994) e HABERMAS(1982).
O processo da comunicação, responsável pela transmissão de
símbolos e ideologias, pressupõe a transmissão da informação, através da qual
os homens adquirem conhecimento para aplicá-lo em suas práticas. Ou seja, a
finalidade da comunicação é levar à ação, sendo esse conceito que norteia o
presente trabalho, assumindo-nos mais próximos aos seguidores de Saracevic,
Belkin, Dervin e outros.
23
LE COADIC agrupa os profissionais de informação em três níveis: “especialistas”
(profissionais de marketing, analistas, investidores, gerentes e planejadores de sistemas de
informação); “empresários”, (firmas e institutos de pesquisa que disponibilizam fontes primárias
e secundárias ou empresas que desenvolvem produtos e serviços de informação, como
prestadoras de serviços e organizadores de seminários e conferência). Num último nível,
estariam os “cientistas da informação” e comunidade cientifica, formada por pesquisadores e
docentes da área.
2.1 Informação: à procura do conceito
Atendendo aos pressupostos da metodologia científica, na qual o
pesquisador deve explicitar adequadamente os termos que compõem o tema
de sua problemática, tentaremos nos lançar ao desafio de conceituar
‘informação’ nos campos da ciência da informação e da comunicação.
Reconhecemos que a dificuldade seja ímpar. Como precisar o conceito
‘informação’ nos limites dos dois campos, que nem sequer são
consensualmente reconhecidos como científicos? É viável falar de limites entre
eles? Presenciamos debates sobre essas questões na literatura, que ainda não
trouxeram esclarecimentos significativos (SARACEVIC, 1996), constituindo, por
si só, um problema a ser discutido em investigação teórica específica. O
obstáculo induz-nos a pensar que seria prudente identificarmos o problema
central nos dois campos para, depois, decidirmos sobre qual deles eleger para
construirmos nosso conceito.
Segundo BELKIN (1978: 58), o problema central da ciência da
informação é facilitar a efetiva comunicação de informações desejadas entre
geradores e usuários. Isso implicaria entender os diversos sistemas de
informação no contexto da comunicação humana, com seus quadros sociais,
culturais e institucionais, que interferem no processo de construção de
conhecimento dos usuários de informação. É de suma importância considerar
as relações entre informação e produtor, entre informação e usuário, trabalhar
a idéia de necessidade e “eficiência da informação” e “efetividade de
transmissão da informação”. CAPURRO (1990), LIEVROUW (1994), DERVIN
(1994) e outros ampliam os debates para as implicações políticas, relevando a
importância da informação ao exercício democrático da cidadania.
Para SARACEVIC (1996), o problema central que emana dos
estudos acadêmicos na comunicação é entender a comunicação humana
como “o processo através do qual os indivíduos em relação, grupos,
organizações e sociedades criam, transmitem e usam a informação para
organizar a interação com o ambiente em si”, posição ratificada por vários
teóricos do campo da comunicação, embora esses últimos enfatizem bastante
o papel de transmissão de bens simbólicos. Ou seja, também seriam inerentes
ao processo comunicacional as reflexões sobre construção e partilhamento do
conhecimento, efetividade, necessidades de informações do usuário, questões
relativas ao produtor, dentre outras.
As relações entre o fenômeno informacional e o processo
comunicacional definiriam, segundo SARAVEVIC (1996), as especificidades
entre os campos da ciência da informação e da comunicação. Mas
encontramos mais semelhanças substanciais do que diferenças no âmbito da
problemática entre a ciência da informação e a comunicação, não nos
convencendo, ainda, sobre qual delas seria melhor para nos orientar na
conceituação de informação.
Prestando mais atenção aos estudiosos da área de
comunicação
24
, veríamos que o foco se volta à socialização, aos interesses
políticos em jogo na produção de informação (pela mídia e suas fontes) e aos
efeitos da disseminação da informação sobre a opinião pública, sendo seus
estudos muito úteis, por exemplo, na apreensão do conceito de fontes. a
literatura da ciência da informação concentra-se no fenômeno informacional,
procurando apreendê-lo nas etapas que lhe são tradicionalmente pertinentes,
como a origem, coleta, seleção, organização, armazenamento, recuperação e
disseminação e uso da informação. A forma de conceituar informação varia
conforme o olhar do profissional e sua área de atuação ou do ponto de vista
do usuário, mas as abordagens tendem a assumir três correntes principais:
foco no usuário, foco no sistema ou no foco no produto. Observando os tipos
de abordagens num campo e no outro, constatamos que os estudos na área
da ciência da informação oferecem metodologia bastante útil e mais
abrangente para se apreender o fenômeno da informação.
Pensamos, também, que seria oportuno utilizar a estratégia
discursiva da descrição (DOMINGUES, 2004) e tomar de empréstimo o recurso
24
Venício LIMA (2001) classifica os estudos em comunicação em oito escolas: manipulação,
persuasão, função, informação, linguagem, mercadoria, cultura e diálogo.
metodológico de WEBER (1999) para tentar construir um tipo ideal de conceito
de informação nos dois campos. Para isso, nos baseamos na revisão de
literatura desenvolvida por CHAVES (2000) sobre informação, tomando o
cuidado de proceder às atualizações que julgamos pertinentes.
Segundo STEVENS (1988), inúmeros autores debruçaram-se a
estudar o fenômeno informacional, em diversos períodos: a pré-história, em
que a ênfase recai sobre a arqueologia e antropologia; a era da escrita, com
destaque para as transformações trazidas pela escrita ao desenvolvimentos
dos impérios do Egito, Babilônia, Grécia e Roma; e a era da imprensa,
advinda do impacto dos tipos móveis de Gutenberg, que recebeu atenção em
publicações de Febvre e Martin, Mcluhan e EISENSTEIN (1998). A partir da II
Guerra, com a aceleração do desenvolvimento das tecnologias de
comunicação, a conceituação de informação despertaria interesse
multidisciplinar. Ensaios sobre o assunto foram escritos, dentre outros, por
Foucault, Machlup, Shera, Wersig, Saracevic, Belkin, Schrader, Buckland,
Ingwersen, Olson, Havelock, Willimas, Graff, Cohen, Mcluhan, Moore e
Brookes. Esses trabalhos transmitem tanto a visão positivista de Shannon e
Weaver como as influências claras da sociologia compreensiva, interacionismo
simbólico, marxismo e até o estruturalismo, expressos nos olhares de
psicólogos, antropólogos e lingüistas. Foca-se a informação nos processos das
relações institucionais, comunicacional e cognitivo. Como tantos estudos
confundem conceitos, consideremos alguns autores mais significativos.
Preocupados com a busca de conceitos necessários à legitimação
e avanços da ciência da informação, BELKIN e ROBERTSON desenvolveram
em 1978 importante revisão, resultando em contribuições importantes.
Sugeriram que a informação devesse ser considerada consensualmente como
fenômeno de interesse da ciência da informação, concebida no contexto da
comunicação humana, no qual os indivíduos estão dirigidos para ações,
devidamente dotadas de sentido
25
. BELKIN e ROBERTSON (1978) exploraram
vários conceitos de informação, com destaque para: 1) informação como
propriedade da matéria, 2) redução de incerteza, 3) como probabilidade de um
fenômeno, 4) como dado valioso no processo decisório, 5) como documento, 6)
mercadoria, 7) processo de representação de conhecimento, 8) contexto,
dentre outros. Inspirados em Brookes, Farradane, Filmam e Marzocco
26
,
alegaram que a informação passa a existir, quando um usuário, levado por um
distúrbio em seu estado cognitivo, sente necessidade de buscá-la, assimilá-la
e processá-la, o que o leva a modificar seu estado anterior de conhecimento.
A teoria de BELKIN ficou conhecida como ASK, Anomalous State of
knowlegde, traduzido como Estado Anômalo do Conhecimento. Nessa
concepção, a noção básica explicita a vontade objetiva do usuário de obter
informação e a ênfase está na qualidade da interação entre ele e o gerador da
informação
27
. BELKIN e ROBERTSON (1978) propuseram cinco áreas de
interesse para a ciência da informação: transferência de informação em
sistemas humanos de comunicação cognitiva; a idéia de informação desejada;
a efetividade dos sistemas e da transferência da informação; a relação entre
informação e gerador; e a relação entre informação e usuário. Propuseram três
abordagens para a conceituação de informação: a de definição (D),
comportamental (C) e a metodológica (M), resultando em oito requisitos,
elencados a seguir, sendo os de 1 a 6 os relevantes e os 7 e 8 operacionais:
1. Considerar intenção e significado da informação no contexto comunicacional (D)
2. Relacionar a informação ao processo de comunicação entre seres humanos (D)
3. Considerar a existência da informação requisitada ou desejada (D)
4. Relacionar o efeito da informação no meio ambiente (D/C)
5. Considerar a relação entre informação e estado do conhecimento (D/C)
6. Considerar o efeito variável das mensagens em diferentes formas (C)
7. Procurar generalizações entre casos individuais (M)
8. Oferecer um meio de prever o efeito da informação (M)
25
Os autores argumentam a relevância de suas reivindicações em Kuhn, Goffman, Yovits,
Otten, Miklailov, Chernyl, Giliarevskii , Barnes, Fairthorne, Wersig e Artandi.
26
Brookes, citado por BELKIN, afirmou que determinado estado de conhecimento é afetado por
um incremento de informação, resultando em novo estado de conhecimento. Farradane
discorreu sobre a correspondência da informação à representação do estado cognitivo.
Hilmann e Marzoco defenderam que o conceito de informação deve focar o comportamento do
usuário em seu contexto.
27
Percebemos nas diversas abordagens as influências dos guarda-chuvas paradigmáticos de
Weber (indivíduos voltados para a ão e geração de sentido), Durkheim (informação como
coisa, dado, para redução de incerteza e efetividade dos sistemas) e Marx (informação no
contexto de relações de produção).
HORTON JR (1979) propôs um ciclo de vida da informação.
Esse ciclo se inicia com entrada de dados. Os dados, por sua vez, são
trabalhados e transformados no processo comunicacional, gerando a
informação, que, quando assimilada, produz o conhecimento, atingindo o pico
de maturidade do ciclo. Ou seja, a informação, no início de seu ciclo de vida, é
‘dado’. A partir do momento em que seja requerida para reduzir a incerteza a
respeito de algo, ela é processada em contexto simbólico-comunicacional,
incorporando objetivo, valores, lógica e percepções de indivíduos, tomando a
forma de informação: recordações, reportagens, registros, arquivos ou
mensagens. O fim do processo resulta em conhecimento, que, ao se tornar
verdade absoluta, pode voltar a ser dado, reiniciando-se novo ciclo.
SARACEVIC (1981) expôs que várias disciplinas empenham-se
em explicar a e lidar com a explosão da informação, tentando defini-la, sem
consenso. Para o autor, o ponto de partida para solucionar o problema é
entender informação como o fenômeno sico, processado por qualquer
sistema de informação. A ciência da informação poderia estabelecer um
enfoque científico homogêneo para o estudo dos vários fenômenos que cercam
a noção de informação, sejam eles referentes à existência humana ou nas
máquinas. SARACEVIC propôs uma abordagem diferenciada, sugerindo
interfaces com a biblioteconomia, comunicação, computação e inteligência
artificial, mas que guardariam quatro definições funcionais:
1. Informação é uma seleção de mensagens, avaliáveis, que reduz incerteza, na
qual informação é propriedade da mensagem, podendo existir livremente.
2. Informação é o significado que o indivíduo atribui aos dados, através de
representações convencionais. A definição, aceita pela ANSI (American National
Standards Institute), mostra o papel das convenções de representações e
aspectos lingüísticos e incorpora a noção de significado e significância.
3. Informação é estrutura de qualquer texto capaz de mudar a estrutura de imagem
no receptor. Texto é compreendido como coleção de signos propositadamente
estruturada pelo emissor. O receptor, por sua vez, modifica a estrutura.
4. Informação é um dado de valor em um processo decisório, seja estético, moral,
ético, econômico ou social, voltado para decisões de qualquer natureza, que se
relaciona com o conhecimento, sendo por isso imensurável. A utilização da
informação no processo decisório define sua valorização, seja em abrangência
pessoal, institucional, nacional ou internacional. Mesmo uma informação, que
não tenha sido utilizada num processo decisório, conserva recursos para
melhorá-lo.
SCHRADER (1996) criticou o foco tradicional e a pretensão de
objetividade de definições em alguns autores da área, mais preocupados com
acessibilidade, recuperação e gerenciamento de informação em detrimento da
natureza social do campo. Estudou as variações de conceitos de informação,
segundo cinco elementos: domínio, natureza, conteúdo, foco e função. No
“domínio”, as descrições variam da prática profissional à disciplina científica.
Quanto à “natureza”, não existe consenso, varia de acordo com o campo de
estudo. Em relação ao “conteúdo”, a informação é vista como conhecimento,
dado, informação armazenada e uso. O foco centrado na prática é
considerado limitador e ele propôs sua extensão aos comportamentos e
contextos da interação humana. Quanto às “funções”, seriam elas:
acessibilidade, recuperação, transferência, processamento, criação, uso,
organização e disseminação.
Em 1978, DERVIN e NILAN debruçaram-se em exaustiva revisão
bibliográfica, abarcando 300 autores, publicada em 1986. A exemplo de
BELKIN, os autores apelaram para um ajuste na conceituação sobre a
informação entre os pesquisadores e dividiram os conceitos em duas correntes,
que denominaram de paradigmas tradicional e alternativo (FIG.1, p.38). O
paradigma tradicional abriga autores de tradição funcionalistas e positivistas,
como Lancaster, Buckland, Ballard, Martin, Shinebrown, Beal, Blackie, Smith,
Bishop, Bremer, Leggaie, Chen, Burger, Hernon, Fischer, Hibberd e Meadows,
cujos estudos focaram o desenvolvimento de sistemas de informação, aos
quais os usuários se adaptam para resolver suas necessidades de informação.
A informação é entendida como algo objetivo, de significado constante e
generalizável. A visão do sistema é mecanicista, sendo o usuário um receptor
passivo e mero processador de informações. As pesquisas são direcionadas ao
ambiente externo, investigando variáveis demográficas e dimensões
sociais
observáveis e quantificáveis. A individualidade é percebida como ameaça, a
ser desprezada para não provocar o caos na organização do sistema.
PARADIGMA TRADICIONAL
Informação objetiva: significado constante, expressão do real.
Mecanicismo: usuário como receptor passivo; processador de
informação no esquema INPUT-OUTPUT; pressuposto da utilidade
a priori do sistema de informações;
Proposições trans-situacionais sobre natureza do uso da informação:
comportamento de uso válido para todas as situações; busca de
variáveis demográficas e dimensões sociológicas observáveis que
predizem o uso do sistema;
Atomismo: estudo do comportamento do usuário exclusivamente no
contexto da interseção usuário-sistema;
Foco no comportamento externo do usuário: contato com fontes e
uso do Sistema de Informação como indicadores de necessidade;
Percepção da individualidade como caótica, sua introdução
significaria desintegração no sistema;
Pesquisa quantitativa: aspiração a sofisticadas técnicas estatísticas.
Influências metodológicas: positivismo, funcionalismo e marxismo
(Durkheim, Marx)
PARADIGMA ALTERNATIVO
Informação construída pelo ser humano;
Construtivismo: usuário ativo, construindo necessidades,
situações de ajuda e pontes fora do sistema;
Uso da informação em situações particulares; busca de
dimensões universais da produção de sentido;
Holismo: foco na totalidade das interações sociais externas ao
sistema de informação;
Foco no comportamento interno, na dimensão cognitiva;
Individualidade sistemática: inclusão de valores que possuem
dimensões comuns;
Suplemento das abordagens quantitativas por abordagens
qualitativas,
Influências metodológicas: sociologia compreensiva (Weber),
interacionismo simbólico, fenomenologia, marxismo e
antropologia
FIGURA 1- PARADIGMA TRADICIONAL E ALTERNATIVO
Fonte: CHAVES (2005) Atualização do quadro de CHAVES e NEHMY (1998), com base no texto DERVIN e NILAN (1978)
O paradigma alternativo já se fazia presente, segundo DERVIN e
NILAN (1986), em autores como Belkin, Wilson, Stone, White, Hernon, Mendez,
Stieg, Cooper, Maron, Garvey, Taylor, Macmullin, Mick, Maron, Breener, Jarvelin,
Bladgen, Stevens, Krilelas e Maguire, que, denunciando a baixa utilização dos
sistemas de recuperação pelos usuários, reivindicavam que os estudos na ciência
da informação privilegiassem suas necessidades de informação, a natureza de seu
uso, seu comportamento e variáveis externas aos sistemas. Nessa abordagem,
três correntes se sobressaíam: a do “estado anômalo do conhecimento” de BELKIN,
abordada anteriormente
28
, a do “valor agregado” e a da sense making ou
“produção de sentido.
A corrente do “valor agregado” trouxe grande contribuição para a
reflexão sobre qualidade da informação e encontra seus expoentes em Taylor e
Macmullin, que, ao lado, de Farradane e Hall, focam a percepção de utilidade e
valor que os usuários levam ao sistema de informação. Essa abordagem interessa-
se em identificar diferentes classes de problemas e tenta estabelecer vínculos entre
os sistemas e os valores que lhes são conferidos. A relevância da informação
depende do contexto e dos critérios de julgamento. As considerações dos usuários
definem a forma como a informação deve ser tratada, ou seja, o valor é o
parâmetro e ele difere de acordo com o contexto. Especificidade, profundidade,
intensidade e atualidade variam de acordo com a situação e objetivo. TAYLOR
(1986) examina diferentes tipos de usos, interfaces e processamento de sistema,
argumentando que seja necessário construir procedimentos de indexação baseados
em análise de processos de pensamento e em mapas cognitivos.
Trazendo influências da sociologia compreensiva, fenomenologia,
interacionismo simbólico e antropologia, DERVIN sugere uma abordagem
multidisciplinar para focar a informação a partir do usuário, entendido como ator
28
Entre o ASK e o sense making, situam-se KULTHAU e MORRIS, que vêm pesquisando
comportamento de estudantes.
dinâmico, dotado de postura crítica e responsável pela construção da informação
de que precisa, em contraposição ao objetivismo e ao positivismo da visão
tradicional que a informação como algo independente, a ser decodificada por
diferentes pessoas com os mesmos resultados (SAVOLAINEN, 1993). Distante da
noção da “tábula rasa’ de Locke, DERVIN (1986) afirma que o intelecto do receptor
não pode ser considerado como um recipiente vazio, no qual informações são
jogadas aleatoriamente. Ao contrário, considera o intelecto do usuário como
recipiente cheio de pensamentos, emoção e subjetividade, que realizam
construções diversas com as unidades de informação recebidas, moldando-as
segundo sua percepção. O indivíduo não apenas se adapta ao sistema de
informação com que interage, mas navega entre o micro e o macro ambiente,
construindo sentidos, continuamente compartilhados e modificados socialmente.
Dervin trabalhou em bibliotecas audiovisuais, desenvolvendo várias pesquisas
qualitativas, que subsidiaram redesenhos de sistemas de informação. Utilizou uma
matriz comportamental de 54 elementos, extraída do cruzamento de seis
estratégias e nove cnicas de comunicação para estudar as lacunas de
necessidades de informação no usuário, que surgem em tensões de inquietude,
confusão, incerteza e desencadeiam a busca de informação (SAVOLAINEN:1993).
O trabalho de DERVIN conquistou seguidores e provocou críticas
entre os tradicionalistas, que o julgam de difícil operacionalização. Dentre os
críticos, destaca-se BUCKLAND (1991). O autor divide as abordagens do conceito
de informação em três princípios: “informação como processo”; “informação como
conhecimento” (que reduz incerteza e é intangível, devido às implicações de ,
contexto individuais, subjetividade); e a “informação como coisa” (dados,
documentos, objeto ou representação com conteúdo informacional). Apesar de
reconhecer que seja preciso existir uma situação processual para haver informação,
BUCKLAND (1991) pensa que é produtivo para o sistema lidar com a
informação como “coisa”, que a preocupação central é e a disponibilização e a
recuperação da informação ao usuário. Essa informação precisa estar materializada
de alguma forma (expressa, descrita ou representada), para ser comunicada e
conhecida. O autor argumenta que, se entendida como representação do
conhecimento, a informação precisa ser tangível e mensurável, como o conteúdo de
um livro. Seriam consideradas informões: dados, registros processados no
computador, fotos textos, livros, documentos, objetos ou eventos, desde que
adquiram relevância documental em determinada situação, com probabilidade
significativa de evidência, recuperação e uso.
MEADOW (1992) também afirma que a informação é uma ‘coisa’,
representada por um símbolo, contendo alguma estrutura, que pode ser lida e
compreendida pelos usuários. Segundo ele, símbolo, assim como informação, é
uma palavra com tantos significados, que perdemos pouco se dissermos que um
possa representar o outro
.
MCGEE (1994) declara que uma boa definição de
informação é a que a define de forma ampla e deve abranger dados, conhecimento,
notícia e inteligência em estruturas variadas e em diversas mídias. ARAÚJO (1994)
diz que informação é tudo aquilo que altera estruturas cognitivas, ou seja, no
contexto da ação acabada, isto é, no contato efetivo entre uma mensagem, um
potencial de informação e um usuário.
INGWERSEN (1993:304) propõe a substituição do foco sobre
informação em “texto e documentação” para o foco de sua transformação em
“conhecimento” no contexto da dimensão humana, no qual a tecnologia assumiria
papel secundário. O autor defende o entendimento de informação de forma mais
geral e não apenas científica, em que não pode separar uso e acessibilidade. A
abordagem sugerida é interdisciplinar e o conceito de informação deve ser
compreendido pela sua finalidade: a ação humana, conceito com que WERSIG
(1993) também trabalha.
Em 1994 é a vez de VAKKARI rever os conceitos, tentando delimitar
e clarear o foco da ciência da informação, assumindo sua concepção no contexto
da comunicação. A ciência da informação, para ele, não pode ser considerada
como substância, mas como uma categoria de retórica sob perspectiva cultural
própria, uma disciplina que requer metodologia formal de estudo, cuja abordagem
deve ser interdisciplinar. Os esforços devem ser dirigidos no sentido de seguir a
tradicional missão da área: garantir acesso à informação a quem dela necessite.
Em seu artigo Information concepts reexamined, KANDO (1997)
propõe que as definições partam do entendimento de informação como fenômeno
visto sob diversos ângulos. Consensualmente, segundo ele, pode-se afirmar que a
informação diz respeito à comunicação humana. Sugere que os objetos de
investigação se centrem nas relações de informação, mídia, representação e
relação com o conhecimento. KANDO (1997) agrupou as conceituações de diversos
autores em três grupos: “objetivo” (BUCKLAND); “subjetivo” (BELKIN, WERSIG) e
processual” (DERVIN, INGWERSEN). Na categoria “informação objetiva”, os
conceitos pautam-se pelo paradigma tradicional, são generalizáveis, “tangíveis” e
fundamentais para a área de bibliometria, produção, organização e recuperação da
informação. Nesse sentido, a informação pode ser medida e observada, gravada,
armazenada e comunicada. Na segunda categoria, “subjetiva”, a identificação de
conceitos centra-se nos usuários, pauta-se pela subjetividade e intangibilidade e
enfoca situações individuais, estágios cognitivos do receptor e intencionalidades. A
terceira categoria é vista como “processo” e tem a ver com o paradigma alternativo
de DERVIN, já mencionada anteriormente.
LOSEE (1997) desenvolveu outra interessante tentativa de consolidar
conceitos. Para ele, por trabalharem com informação, um fenômeno comum a
várias áreas (de natureza técnica, comunicacional ou cognitiva), autores têm
adotado definições específicas ou interdisciplinares. Caberia à ciência da
informação focar as definições no todo, procurando um conceito genérico para
servir a todas as áreas. A informação, concebida como fenômeno humano, é
sempre informativa sobre algo, sendo um componente ou resultado de um processo
de produção. Entender a informação como produção em vários processos requer do
pesquisador conhecimento sobre a dinâmica da natureza desses processos, o que
o torna um hermeneuta e analista processual por excelência.
Considerando as reflexões dos cientistas sobre conceito de
informação, percebemos alguns pontos em comum entre os autores ou mesmo
algumas repetições. Podemos concluir que a informação seja entendida como
fenômeno central dos pesquisadores, dizendo respeito à condição humana, sendo
relacionada constantemente a três processos: ‘processo de comunicação’;
‘processo de construção de conhecimento’; e ‘processo decisório’. Ou seja, a
informação perpassa geralmente processos, posição que norteia a concepção de
informação neste trabalho, lembrando que processo sugere movimento, mudaa,
fluxo e significa a transição ou série de transições entre uma condição social e
outra, sendo essencialmente caracterizado pelo dinamismo.
Podemos também nos apoiar nessas reflexões e chegar a algumas
consolidações sobre os conceitos de “dados”, “informação” e “conhecimento”.
Entendemos ‘dado numa visão objetiva, como “algo que pode ser processado e
com potencial para se transformar em informação, existindo independentemente do
indivíduo”, tal como o define BUCKLAND (1991): “do latim datum, coisas dadas,
que podem ser processadas”. Para o dado transformar-se em informação seria
necessária uma situação processual, em que sua relevância e pertinência
documental fosse destacada, com probabilidade significativa de evidência e uso.
Essa materialização e sua disponibilização para ser recuperada implicariam
entender a informação como produto, inserida, consequentemente, num contexto
de relações de produção, em que nos é útil abrigarmos sob o paradigma marxista.
A passagem do dado à informação implicaria a consideração de o
usuário (despertado por uma necessidade ou anomalia subjetiva em seu estado
cognitivo) ser agente voltado para a ão social, conferindo-lhe constantemente
significação e sentido. Nesse sentido, a informação é uma construção subjetiva do
usuário’, posição defendida por BELKIN (1978), DERVIN (1986), os expoentes do
chamado paradigma alternativo da informação”, e respaldada na definição da
American National Standards Institute (SARACEVIC,1981:11): “Informação é o
significado que indivíduo atribui aos dados, através de representações
convencionais”. Procede, ainda, relacionar informação ao conhecimento. Por
conhecimento entendemos a ‘alteração produzida pela informação na estrutura
cognitiva do indivíduo’, em que tendemos a concordar com a teoria do Anomalous
State of Knowlegde de BELKIN (1978). Nesse sentido, a informação toma a forma
de “motor” desse processo dinâmico. Segundo BARRETO (1994: 84),
“a informação sintoniza o mundo. Como onda ou partícula, participa na
evolução e da revolução do homem em direção a sua história. Como
elemento organizador, a informação referencia o homem ao seu destino;
mesmo antes de seu nascimento, através de sua identidade genética, e,
durante sua existência, pela sua competência em elaborar a informação
para estabelecer a sua odisséia individual através da divulgação de
informações.”
Esclarecendo os limites entre informação e conhecimento, BARRETO
(1996) discorre sobre informação como “estruturas significantes, com a
competência de gerar conhecimento no indivíduo em seu grupo ou na sociedade. A
informação é qualificada como instrumento modificador da consciência do homem e
de seu grupo social. A relação entre informação e conhecimento se realiza, se a
informação for percebida ou aceita como tal, colocando o indivíduo em estágio
cognitivo mais avançado, demonstrando sua visão otimista. Alertamos, porém, que
essa interação nem sempre é positiva. De qualquer forma, conhecimento é toda
alteração provocada no estado cognitivo do indivíduo, isto é, no seu estoque mental
de saber acumulado, proveniente de sua interação com uma estrutura de
informação.
Por fim, lembramos que alguns autores entendem a informação
dirigida à ação humana, como CAPURRO (1990), CABRAL (1995 e LIEVROUW
(1994) incorporando a não de cidadania ao seu conceito. A comunicação seria
um processo que deve favorecer a acessibilidade aos meios informacionais,
permitindo aos indivíduos discernirem, refletirem e obterem juízo crítico sobre a
realidade, posturas imprescindíveis para o exercício da cidadania.
Podemos relacionar o fenômeno informacional com o processo da
comunicação, o responsável pela transmissão de símbolos e ideologias,
pressupondo a transmissão da informação, através da qual os homens adquirem
conhecimento para aplicá-lo em suas pticas. Essa preocupação está presente no
âmbito de um dos focos básicos da ciência da informação: a disseminação. Refletir
nesse sentido nos leva a pensar que os conceitos de dado, informação,
conhecimento no contexto da comunicação humana estão inter-relacionados e
devem ser considerados no ambiente cultural. Por cultura entendemos o processo
de práticas sociais compartilhadas em contextos social, político histórico e
geográfico, permeados por processos de comunicação, em que se trocam idéias e
símbolos de determinada ideologia, ou seja,: “cultura é o conjunto das práticas, das
técnicas, dos símbolos e dos valores que se devem transmitir às novas gerações
para garantir a reprodução de coexistência social” BOSI (1992:16).
A literatura no campo da comunicação é, sem dúvida, fecunda,
influenciada em suas origens pela famosa proposta de Lasswell para orientar os
estudos da área: “quem diz o quê, para quem com que efeito”. Assim,
concentrando-se no processo e não no fenômeno informacional, o foco das
pesquisas é bastante complexo, volta-se para a mídia, a linguagem e sua estrutura
como bem simbólico, sobre audiência em todos os seus níveis, seus efeitos, o
contexto sócio cultural político, dentre outros. Exemplifiquemos como são
diferenciados
os conceitos de informação e comunicação no âmbito dos estudos
comunicativos.
A comunicação, segundo RODRIGUES (1994:21-22), “é um processo
que ocorre entre as pessoas dotadas de razão e de liberdade, entre si relacionadas
pelo fato de fazerem parte, não do mundo natural, com as suas regras brutais e os
seus mecanismos automáticos, mas de um mesmo mundo cultural”. A comunicação
não seria “um produto mas um processo de troca simbólica generalizada”, que
alimenta a sociabilidade e gera laços sociais, _sobrepondo-se às relações
naturais_, que os homens estabelecem com o meio ambiente. Segundo o autor, a
comunicação é competência prévia não em relação ao conteúdo concreto e ao
sentido das suas manifestações, mas também ao valor informativo das mensagens
que os sujeitos trocam entre si ".
a ‘informação’ é entendida por RODRIGUES (1994:20-21) como
“uma realidade que pode ser teoricamente medida pelo lculo de probabilidades,
sendo o valor informativo de um acontecimento inversamente proporcional à sua
probabilidade de ocorrência“, conceito extraído de Shannon e Weaver. A natureza
do processo da informação não é recíproca e reversível, mas irreversível e consiste
na transmissão unilateral ou unidirecional de um saber entre alguém que é ”um
destinador”, e “um ou mais destinatários”. A esfera da informação seria uma
“realidade relativa que compreende o conjunto de acontecimentos que ocorrem no
mundo, e forma o nosso meio ambiente. Os acontecimentos são tanto mais
informativos quanto menos previsíveis e, portanto, mais inesperados. Para o autor,
a informação estaria intimamente associada à natureza relativamente inexplicada e
inexplicável dos fenômenos, os acontecimentos, que ocorrem sem aviso prévio, fora
do controle e do domínio da liberdade e da intervenção humana.
Podemos concluir que informação para RODRIGUES (1997:98) seria
uma espécie de descrição de um acontecimento, que constitui o “referente de que
se fala, o efeito de realidade da cadeia de signos, uma espécie de ponto zero da
significação... tudo aquilo que irrompe na superfície lisa da história entre uma
multiplicidade aleatória de fatos virtuais”. Ou seja, o conceito de informação na
comunicação traz implicitamente a noção de gravação de um acontecimento.
Nesse sentido, MOUILLAUD (2002:56) alerta que, no jornalismo, o acontecimento
seja um recorte do real, emoldurado sob olhares contextualizados culturalmente (do
jornalismo e seu grupo de referência), com valores e referências demarcados social
e historicamente. Daí decorre ser a ‘notícia’ entendida como aquilo que é posto
em visibilidade, uma representação, “o que é possível e o que é legítimo mostrar,
mas também o que devemos saber, o que está marcado para ser percebido”
(MOUILLAUD, 2002:38). A informação jornalística, a notícia, seria mais uma
subtração do que uma adição ao real, pois, ao se destacar algo, outros aspectos
permanecem ocultos. Promover uma imagem ou uma informação é destacar do real
uma superfície, um simulacro, que vem à tona sob um fundo sem imagem.
As considerações anteriores levam-nos a duas conclusões.
Primeiramente, percebemos a inter-relação feita entre informação, acontecimento e
realidade. Essa associação é bem visível no contexto do jornalismo, cujas missões
clássicas são de informar, interpretar, educar e entreter o público, no qual o
conceito de informação equivale ao de notícia, que pode ser entendida como aquilo
que é posto em visibilidade, “o que é possível e o que é legítimo mostrar, mas
também o que devemos saber, o que está marcado para ser percebido”
(MOUILLAUD, 1997:38). Sob essa ótica, a ‘informação jornalística’ será sempre
caracterizada pela incompletude, pois, ao se destacar algo, outros aspectos
permanecem ocultos e “não há, não pode haver, um todo informativo”
29
.
Em segundo lugar, observamos a separação dos conceitos
‘informação e o processo comunicativo’. O fenômeno informacional guarda
resquícios de Shannon e Weaver e o recebe aprofundamentos maiores em
comunicação, ao contrário da literatura na ciência da informação, na qual
preferencialmente nos baseamos para construirmos o conceito que orienta esta
tese. a comunicação foca os processos de produção e transmissão da
29
Atualmente, duas correntes teóricas abordam o fenômeno da notícia. A primeira delas alinha-se
mais ao funcionalismo americano e defende que o jornalismo, ao oferecer visibilidade a
acontecimentos diversos, expõe a realidade refletida pelas relações sociais, oferecendo ao público
meios de discernir e refletir sobre os fatos, formando livremente suas opiniões. A segunda, com viés
da Escola de Frankfurt, defende a notícia sofre influência das rotinas produtivas do órgão de
comunicação. Essas rotinas, lembra TUCHMANN (1986), influenciadas pelo contexto sócio cultural,
retratam os interesses das elites. A mídia elege como verdade a realidade socialmente instituída,
emoldurada por convenções e representações ideológicas, através de vários mecanismos, como: a
visibilidade conferida às fontes formais, que simbolizam o poder legal. Para a autora, a produção da
notícia converte-se, então, em objeto de interesse investigativo, sendo necessário agregar reflexões
sobre critérios de noticiabilidade, inseparáveis da notícia, recomendação que aceitamos como
procedente, dedicando ao assunto uma reflexão mais adiante.
informação jornalística, preocupando-se em atender aos interesses dos diversos
autores envolvidos como, proprietários, fontes, jornalistas e os usuários.
De qualquer forma, agrupando os olhares, tanto da ciência da
informação como da comunicação, podemos perceber as influências dos quatro
paradigmas das ciências sociais. Ao tomar a informação como coisa (BUCKLAND)
ou a informação jornalística como representação de algo (MOUILLAUD), um
produto que pode ser recuperado, evidenciamos o paradigma positivista. Ao
conceber o fenômeno informacional como interação entre sistemas e usuários de
informação, presenciamos a influência do paradigma orgânico e funcionalista de
DURKHEIM. Por outro lado, muitos autores, sobretudo da comunicação, têm
trabalhado com o conceito de informação como representação simbólica,
mensagem, em que são claras as influências do paradigma da linguagem de
Saussure e Lévi-Strauss. Finalmente, ao compreender a informação no contexto da
ação humana e na busca de construção de sentido (Dervin, Belkin e outros),
evidenciam o paradigma da ação social de WEBER (1999) .
Resta-nos, enfim, evocar a concepção de GIDDENS(1991), que
descreve interessante visão da dinâmica social. O autor parte do pressuposto de
que certa ambigüidade cerca a noção de sociedade, normalmente considerada
como associação social de modo genérico ou como sistema específico de relações
sociais. Propõe a análise da sociedade baseada em três princípios: a “relação
espaço-tempo”, o “escopo globalizante” e uma “ordem descontinuísta”, em que o
conhecimento é circular e “reflexivo”. Para ele, os indivíduos constroem sua
identidade no contato com os outros, em contextos espaços-temporais específicos,
a partir da conquista da “segurança ontológica”, que está intimamente ligada às
relações de tradição e à confiança depositada no que chama de “sistemas
abstratos”, constituídos de “sistemas peritos” e “fichas simbólicas”. A partir da
modernidade, a relação dos indivíduos com os sistemas no escopo global
alteraram significativamente a relação tempo versus espaço. “Sistemas peritos” o
sistemas em que aplicação de conhecimento técnico legitimado pelas normas e
48
tradições sociais, como o da engenharia, medicina e outros. As fichas simbólicas
permitem a comunicação entre os sistemas peritos, como o dinheiro, por exemplo.
A confiança deriva da e da crença no funcionamento dos sistemas peritos, que
persiste mesmo em ausência de informação entre atores, consistindo o que
GIDDENS chama de “mecanismo de desencaixe”. Por outro lado, a confiança é
ratificada por uma série de mecanismos de “reencaixe”, em que os indivíduos
entram em contato com os sistemas, trocando informações, constituindo o que
GIDDENS denomina de “compromissos com rosto ou sem rosto”.
O processo de reencaixe consolida-se nas ações compartilhadas, que
sustentam ou solapam os mecanismos de desencaixe, no caso dos compromissos
sem rosto, ou quando se obtém informações diretas desses sistemas, nos
“compromissos com rosto”. Neste último caso, aumenta-se o risco de se
descobrirem falhas no sistema. Apesar de GIDDENS considerar a linguagem em si
fator intrínseco à ação social e não “ficha simbólica”, o autor reconhece que as
atitudes de confiança podem se alternar para falta de confiança, em experiências
nos pontos de acesso com os sistemas abstratos. Por esta razão, o desafio dos
profissionais de relações públicas (ou da comunicação empresarial, se preferirmos)
é contribuir para que os sistemas peritos mantenham sua credibilidade perante a
maioria leiga da população. Ou seja, explicitamos o caráter dialético da linguagem,
tal como descrito por BERGER e LUCKMANN (1986) e, por conseqüência, a
natureza também dialética da informação, se a considerarmos fator intrínseco da
linguagem.
Entendemos a informação numa conotação altamente simbólica que
favorece socialização entre indivíduos, que gera ações dirigidas a outros,
procurando formas de adaptação seus contextos. Nesse processo, GIDDENS
(1997) chama a atenção para o papel da tradição, que atua em repetições rituais,
levando os indivíduos a construir sua identidade na contínua identificação com o
outro. Assim, podemos finalmente assumir que, levados pelo paradigma weberiano,
tomamos a informação no contexto da ação social, em que temos como principais
atores, no caso da informação jornalística, o sistema burocrático de produção da
informação, o jornalista, as fontes e o usuário. Por outro lado, ao concordarmos
que o jornalismo seja um sistema, tendemos a aceitar o paradigma orgânico de
Durkheim, que se concilia com a análise de GIDDENS (1991). Finalmente, ao
entendermos a informação jornalística como produto no contexto de sua
produção em um sistema e ao elegermos o processo de seu trabalho como
ambiente para colhermos dados da pesquisa, nos colocamos sob luzes marxistas,
o que significa que buscamos entender as contradições e fatores que interferem na
concepção da nocia.
2.2 Qualidade da informação: conceito ou fenômeno?
“A noção de ‘qualidade’ é extensa e não se reduz a um conceito
unitário” (ABBAGNANO, 1999:816). Para respondermos à pergunta qual?”,
utilizamos “uma família de conceitos”, da qual Aristóteles distinguiu quatro gêneros
e cujas idéias sofreram pouco acréscimo na história, moldando, ainda hoje, a
percepção sobre ‘qualidade’ na sociedade ocidental. O primeiro nero é o da
“qualidade de hábitos” (temperança, ciência, virtudes) e de “disposições (saúde,
doença, calor e frio); o segundo gênero engloba a “capacidade ou incapacidade
natural “; o terceiro gênero é constituído pelas ”afeições e suas conseqüências”; e o
quarto gênero engloba as formas. ABBAGNANO simplifica a classificação
aristotélica em três grupos de determinações: disposicionais” (1), que constituem
as possibilidades do objeto e compreendem disposições, hábitos, costumes,
capacidades, faculdades e virtudes, tendências; “as determinações sensíveis”(2),
simples ou complexas dos instrumentos orgânicos: cores, sons, sabores; e “as
determinações mensuráveis” por métodos objetivos (3), como número, extensão,
figura e movimento. Algumas determinações são facilmente tratadas pela ciência,
outras não.
A ‘qualidade’ é considerada essencial às nossas vidas, muito embora
não saibamos definí-la. Por incluir o reino do emotivo, imensurável e por muitos de
seus aspectos serem intangíveis e impossibilitarem manipulações emricas, a
ciência tem-se revelado insegura para lidar com o fenômeno, relegando-o
comumente ao plano filosófico (DEMO, 1985). A ‘qualidade’ é impregnada de
subjetividade, outro dificultador para a tradicional metodologia científica.
No plano social, o olhar do senso comum sobre a qualidade’,
engloba equilíbrio entre forças da natureza, brincadeiras, sonhos, alegria e coisas
positivas, busca da felicidade, liberdade, crescimento espiritual, alcance de estágios
mais avançados do conhecimento, saúde, educação, igualdade, justiça, dignidade,
solidariedade e qualidade de vida. Esses valores ressoam influências de remotas
culturas, filosofias e religiões ocidentais e orientais.
Com a modernidade, sob o paradigma cartesiano, incorporamos ao
conceito de ‘qualidade’ noções como racionalidade, ordem, legitimidade,
produtividade e funcionalidade, que, compartilhadas socialmente, expressam-se na
valorização de atributos pelo senso comum, como praticidade, objetividade,
precisão, validade, coerência, confiabilidade e outros, frutos de construção social.
Nesse cenário, podemos refletir sobre o conceito de ‘qualidade de informação’.
Evocamos novamente algumas idéias de GIDDENS (1991, 1997 e 2004), para
melhor compreensão do que hoje norteia nosso olhar sobre ‘qualidade’. Quando
trocam informações com os sistemas peritos, indivíduos ratificam a confiaa nos
sistemas abstratos, com amparo na foa e na organização do aparelho de
vigilância do estado, que atua como regulador da ordem social e institucional.
Compramos, por exemplo, bilhetes e entramos em aviões, acreditando que
chegaremos ao destino final, pois confiamos nos sistemas de engenharia e de
administração da rota, que aplicam conhecimento perito. Os guardiões desse
conhecimento são os especialistas, cuja atuação legitimada constitui-se
possibilidade permanente de mudança
30
. Inferimos que a noção de “qualidade”
relacione-se ao perfeito funcionamento e a harmonia dos sistemas. A crença na
excelência permite aos indivíduos confiarem na dinâmica dos sistemas,
proporcionando-lhes a estabilidade necessária para conquistarem a “segurança
ontológica” e construírem continuamente sua identidade, como já explicamos.
Nessa perspectiva, a informação assume o caráter de ficha simbólica”
um de seus papéis é o de contribuir para que os sistemas alcancem um de seus
principais objetivos: a excelência administrativa. Aqui, a comunicação, em suas três
principais ramificações (as ‘relações blicas’, a ‘publicidade e propaganda’ e o
‘jornalismo’), merece destaque. Cuidando da imagem e do relacionamento das
organizações com seus diversos públicos, a principal missão das relações públicas
é conquistar a credibilidade das instituições perante a sociedade, fornecendo
informações que consolidem a confiança gerada nos diversos “pontos de encontro”.
A ‘publicidade e propaganda’
31
busca fortalecer a imagem das instituições e garantir
o consumo de suas idéias, produtos ou serviços, reforçando o ciclo produtivo e o
sistema econômico, que não deixa de ser uma forma de aceitação à legitimidade do
conhecimento perito dos sistemas abstratos. O jornalismo atua como vigilante da
excelência dos sistemas. Também pode ser considerado um ‘sistema perito’, que
leva informações diversas do universo das instituições aos indivíduos, através da
cobertura de acontecimentos. As notícias tanto podem ratificar como abalar a
confiança dos indivíduos nos sistemas. Ao denunciarem, por exemplo, um erro, um
30
GIDDENS a saída da jaula de ferro (WEBER, 1999) através da possibilidade de atuação dos
especialistas, que têm poder de alterar processos. A questão abre-se aberta a discussões frutíferas.
31
Em comunicação, a diferença básica entre ‘publicidade’ e ‘propaganda’ é de que o conceito de
publicidade liga-se à divulgação de cunho comercial. O conceito de ‘propaganda’ liga-se à
divulgação de idéias, mais apropriadamente usado nos âmbitos potico, filosófico e religioso.
Existem, porém, muitas semelhanças entre os conceitos, sobretudo nas técnicas. O olhar do campo
da comunicação, ao nosso ver, tem prática e autoridade legítimas para legislar sobre os conceitos.
Há outras noções, às vezes conflitantes, em outros campos, que, por ora, nada nos acrescentam.
caso de corrupção ou algo anormal, as informações podem alertar sobre os desvios
dos sistemas peritos, pondo em perigo a crença (ou fé) na excelência de seu
funcionamento, o que abala sua “segurança ontológica”.
Os conceitos desenvolvidos por GIDDENS (1991) ajudaram-nos a
entender porque o conceito de ‘qualidade de informação’ na literatura da ciência da
informação e outras áreas está tão impregnado pela noção de excelência
administrativa’, com destaque especial para princípios de redução de incerteza na
tomada de decisão e para a finalidade de assegurar a manutenção da ordem e da
dinâmica dos “sistemas abstratos”.
Para NEHMY (1998), a noção da excelência permeia muitos estudos
na ciência da informação. Entre os estudiosos dessa área, a preocupação com
‘qualidade da informação’ ganhou força na década de 50, através da reflexão
sobre os problemas práticos enfrentados, principalmente pela biblioteconomia, nas
áreas de seleção, classificação, descrição, organização, armazenamento,
recuperação, disseminação e avaliação de documentos e de sistemas de
informação. Os problemas traziam seus próprios desafios e buscavam-se
soluções para a eficiência e eficácia dos sistemas de informação.
O constante crescimento de arquivos levou ao aumento das
preocupações com outros aspectos qualitativos e à defesa do papel de um
especialista como filtrador, revisor bibliográfico e comentarista crítico na seleção de
documentos e dados, contribuindo para a otimização do controle da qualidade da
literatura cienfica e de coleções. Essas questões são abordadas pelos teóricos das
áreas de seleção, avaliação de sistemas, disseminação da informação e gestão de
processos informacionais. Chama-se a atenção para critérios de correção,
imparcialidade, tratamento, abrangência, conveniência, idioma, estilo, precisão,
linguagem, prestígio do editor, prestígio do autor ou da instituição, autoridade
cognitiva e custo. Esses critérios e a ‘análise de citações’ foram tomados pela
bibliometria
32
, que faz algumas tentativas de mensuração de qualidade de
documentos (WORMELL, 1999)
33
, e nortearam o conceito de qualidade de
informação’ até a década de 70.
TAYLOR (1985) contribui para as reflexões sobre ‘qualidade’ em
estudos sobre gestão de processos informacionais nas empresas e seu papel como
ferramenta de apoio à tomada de decisão em cenários de mudanças ambientais.
Considerou vários fatores na avaliação de sistemas, além dos custos e da
racionalização de procedimentos. Propôs o diálogo do sistema com o usuário
como forma de gerar o “valor agregado”, nome pelo qual sua teoria ficou conhecida.
Cabe ao usuário desencadear o processo de valorização, em variadas situações,
com motivações, problemas e padrões éticos específicos. Atendendo a essas
necessidades, o sistema responde, agregando valor. Baseados em TAYLOR,
podemos dizer que o conceito de qualidade diz respeito à interação do sistema
(que vise à excelência) com o usuário, que quer sua necessidade atendida.
REPO (1989) auxilia-nos a entender as tendências de estudos sobre
‘qualidade da informação’ nos diversos campos científicos. Tomando a economia
como disciplina piloto de suas idéais, o autor a informação como bem público
necessário à interação social, que assume um ‘valor de uso’ e de ‘troca’, ambos
imprecisos pela natureza sempre situacional que apresentam. Ele agrupa em cinco
as abordagens mais comuns sobre o fenômeno. A primeira delas é a do “equilíbrio”,
na qual a informação é vista pelo valor de troca, figurando sobretudo em estudos
32
A utilização de critérios bibliométricos, mensuração de citações são, na verdade, métodos
quantitativos e supostamente objetivos, que, até pouco, nortearam o conceito de qualidade da
informação. para CORACINI (1991), COMPAGNON (1994) e DARNTON (1990), o uso de
citações camufla a subjetividade do autor. Ao citar outro, o autor apropria-se da citação, muda seu
contexto e lhe confere outro significado, carregado de sua subjetividade. O leitor vai, por sua vez,
modificar novamente o significado (ECO,1998).
33
Desenvolvendo metodologia para análise de citações em jornais científicos internacionais,
WORMELL (1990) estudou a correlação entre autores, segundo distribuição geográfica no mundo,
baseando-se nas publicações da LIS, Library and Information Science. Os resultados revelaram
predominância de publicações e citações de autores norte-americanos e europeus, em detrimento de
africanos, asiáticos e sul-americanos. A alta representatividade explica a hegemonia de padrões e
conceitos norte-americanos e europeus na literatura.
da economia
34
. Muito usada pela ciência da informação e pela administração, a
segunda abordagem implica a “concepcção da informação no processo decisório”,
que contribui para reduzir incertezas. A terceira abordagem, também tomada pela
administração e pela ciência da informaçao é a “multidimensional” , em que se
elencam atributos para a informação como certeza, impacto, aplicabilidade,
conteúdo e relevância, transcendência temporal, atualização, exatidão, quantidade,
poder, suficiência, compreensão, imparcialidade, tempestividade, confiabilidade,
relevância, compatibilidade e quantidade. A quarta abordagem refere-se à linha
“cognitiva” e foca o uso da informação no processo comunicativo, norteando
estudos em comunicação e psicologia. A quinta abordagem é a “análise de
custo/benefício”, usada na administração e economia. Considerando impossível
criar um modelo genérico, o autor propõe um método dual para analisar a questão,
como na FIG. 2, p.56. As abordagens centram-se no valor de troca, com aplicação
em estudos clássicos econômicos (análise de produtos e serviços), e a que explora
o valor de uso, são tomados em campos, como psicologia, gestão do
conhecimento, comunicação e outros.
Em 1990, Irene WORMELL coordenou a publicação de materiais
apresentados no Seminário da NORDINFO, realizado em Kopenhagen, Dinamarca,
em 1989, em que foram vários autores abordaram temas alusivos à ‘qualidade de
informação’, como Wagner, Hämäläinen, Schwuchow, Capurro, Olaisen, Marchand,
Ginman e Casanova. Os estudos ilustram as tendências de abordagem citadas por
REPO, em especial as dedicadas à redução de incerteza e mutidimensional com
base em atributos. Permeado pelo paradigma da excelência, o evento debateu o
tema em diversas dimensões como: gerenciamento (avaliação de sistemas, preço,
custo, nichos de mercado, produtividade, lucratividade);credibilidade e
confiabilidade de serviços on line e aspectos qualitativos de bancos de dados
34
MARCONDES FILHO (1985:25) expôs que a notícia é altamente perecível e assume valor de
troca ao se transformar em mercadoria à venda.
(database), ora focando gestão de sistemas, políticas de seleção, a importância da
informação no contexto social ou atributos e satisfação de usuários, demonstrando
sua complexidade.
Alguns autores criticaram os debates como infrutíferos, dentre eles,
WAGNER (1990), que denunciou a confusa terminologia dos estudos sobre
‘qualidade’, problema esse extensível aos conceitos de informação. Segundo ele,
‘qualidade’ era utilizada de diferentes formas, alternando-se entre senso comum,
mercadoria, grau de excelência de sistemas e estudo de documentos. Afirmou
também terem sido pouco produtivas as tentativas de se elencarem atributos para o
Mundo do valor de uso
Mundo do valor de troca
FIGURA 2 - USO DA INFORMAÇÃO E MERCADOS.
Fonte: REPO (1989:74)
Comentários: descreve os papéis do valor de troca e de uso da informação em geral. Consideramos o modelo de REPO adequado
para o sistema jornalístico, que compreende: empresas jornalísticas, fontes e comunidade, estando as fontes inseridas no
‘mundo da troca’. Mencionando a informação como bem público, que indivíduos e organizações trocam entre si, o modelo
de REPO sugere o acréscimo das dimensões política, econômica e social ao conceito de qualidade da informação,
incorporadas desde os primórdios pelos estudos em comunicação.
Produtos e serviços de informação
Fontes de informação
Recursos de informação
Tradição
Mercado de informações
Uso da informação
Instâncias
deliberadoras
Organizações e
comunidade
Produção da informação
Tarefas de informação
fenômeno, sugerindo a sintetização de trabalhos teóricos como caminho para a
construção do conceito de qualidade’, etapa que deveria preceder as propostas de
pesquisa. Apesar disso, considerava duas linhas de abordagens mais consistentes: -
a primeira seria a de Taylor, orientada para o uso e usuário, e a segunda seria
direcionada ao comportamento da informação no processo decisório.
OLAISEN (1990) pesquisou o uso da informação no meio eletrônico.
Sua abordagem é interessante, pois elenca fatores intervenientes no processo de
‘qualidade da informação’, que podemos entender como reflexos de ações sociais
diversas. Os fatores se inter-relacionam e enfrentam barreiras impostas por aspectos
situacionais O autor fala de naturezas cognitiva e técnica da informação. Denomina
o primeiro grupo de “autoridade cognitiva”, enfatizando fatores como “valor
percebido”, “relevância”, “transcendência temporal” e aspectos ligados diretamente às
fontes como “validade”, “confiabilididade”, “credibilidade” e “influência e competência
da fonte e do meio institucional”. Admite a interferência da subjetividade, como
aspectos afetivos e psicológicos, e do senso comum, que, ao lado do contexto
histórico, geo-político, do papel das convenções sociais e da tecnologia, influem na
percepção sobre ‘qualidade’. O segundo grupo engloba fatores técnicos, composto de
padrões de atributos aceitos como indicadores de qualidade, como linguagem, forma,
custo, novidade, acessibilidade, transcendência temporal, velocidade, flexibilidade,
completeza, disponibilidade, seletividade e métodos de busca. Usuários e
organizações tomam decisões com informações incompletas e sob interferência da
e da ideologia, nas quais diferentes contextos envolveriam diferentes fatores. Propôs
o modelo comportamental de busca, descrito na FIG.3, p.58, que se tornou
interessante, na medida em que estimula reflexões para compreender o fenômeno na
visão macro, incorporando a ação dos fatores intervenientes no ambiente
informacional na sociedade. Posiciona critérios e atributos de qualidade como frutos
de padronização construída socialmente e mostra a interveniência das fontes formais
e informais no processo, lembrando que a concepção de ‘fontes’ no texto refere-se a
canais formais e informais de divulgação de informação no ambiente organizacional.
FIGURA 3 - PROCESSO COMPORTAMENTAL DE BUSCA DE INFORMAÇÃO
Fonte: OLAISEN (1990:98)
Comentários: O esquema leva-nos a inferir que ‘qualidade da informação seja um conceito testado no
comportamento de busca do usuário, que colhe informações de acordo com suas necessidades e
critérios de seleção. A ‘qualidade da informação é pensada como processo, em que vários fatores
interferem. Dentre esses, os atributos de qualidade socialmente aceitos guiam a escolha do usuário.
Notamos a grande influência das fontes, quer sejam formais ou informais. No ambiente organizacional,
fonte formal equivale a que está registrada ou à declaração de alguém que detenha cargo institucional
representativo. Fonte informal refere-se aos meios verbais, dentre eles, a famosa ‘rádio peão’
.
Conseqüências intencionais/não intencionais
Conseqüências intencionais/não intencionais
feedback
feedback
Sistemas
interpessoais
Sistemas interpessoais
Psicológicos
Afetivos
Cognitivos
Desempenho
Nível
Papel no trabalho
Papel social
Sócio-cultural
Processos
Político-econômico
Sistema/Meio ambiente
Ambiente físico
Trabalho formal
Organização
Experiências pessoais
Experiências interpessoais
Experiência ambiente
organizacional
Barreiras pessoais
Barreiras do meio ambiente organizacionais
Comportamento
de
busca
de
informação
Fontes
informais
Credibilidade
Confiabilidade
Relevância
Validade
Forma
Acessibilidade
Valor real
Seletividade
Completeza
Fontes
formais
CAPURRO (1990) discorreu sobre o impacto poluidor das novas
tecnologias de informação na sociedade, reivindicando que profissionais e
pesquisadores se pautem pela ética e competência, atuando como ecologistas e
guardiões da qualidade ambiental da informação. Os desafios dos cientistas e
profissionais da informação seriam: a procura por soluções de acesso democrático à
informação; diagnóstico de suas implicações no desenvolvimento de cada país;
pesquisas de variáveis econômicas (produção, uso e distribuição da informação); e
levantamento da repercussão do fenômeno informacional no ambiente educativo.
Buscar-se-ia, assim, assegurar desenvolvimento igualitário entre as nações. Seu
discurso afina-se com as idéias de autores da área de comunicação.
MARCHAND (1990), cuja abordagem baseou-se em atributos de
qualidade, aponta cinco formas de definição. A primeira forma é a “transcendente”,
ligada à excelência extra-temporal, em que cita a obra República de Platão como
exemplo de conteúdo, que ainda hoje desperta interesse na sociedade. A segunda
definição, baseada no usuário, é sempre situacional, que consumidores de
informação diferentes m desejos, necessidades e estilos cognitivos diferentes,
julgando a qualidade conforme suas preferências. A terceira forma de agrupamento é
baseada no produto” e favorece a mensuração por especificações técnicas, como
peso, composição química. A quarta maneira de definição centra-se na “produção da
informação”, que traduz preocupações com o processo de gestão, voltado para
satisfazer clientes através de racionalização de rotinas e custos. A quinta forma de
agrupamento é a do “valor percebido”, no qual a subjetividade e a perceão do
usuário são essenciais na distinção de atributos como layout e linguagem. A
existência simultânea das cinco formas, todas com problemas a solucionar, resulta
em pontos de vista conflitantes e parciais sobre ‘qualidade de informação entre
públicos variados. Assim, o consenso sobre seu conceito é de difícil alcance. Sugere,
então, oito dimensões para se pensar a ‘qualidade da informação’: “valor real,
padrões, confiabilidade, transcendência temporal, relevância, validade, estética e
valor percebido. A dimensão do “valor realrefere-se à utilidade da informação no
processo decisório. A segunda dimensão relaciona-se aos padrões e especificações
do produto ou serviço de informação, enquadrando atributos de exatidão e clareza. A
terceira dimensão refere-se à “confiabilidade” do produto ou serviço e relaciona-se
diretamente com às fontes. A quarta dimensão é a “transcendência temporal”, dizendo
respeito à vida útil da informão. A quinta dimensão corresponde à relevância” e
liga-se ao grau de utilidade da informação para o usuário. A sexta dimensão,
“validade”, relaciona-se com a forma de obtenção da informação e todos de
validação. A sétima dimensão é a “estética” e diz respeito ao layout, aparência e
apresentação, envolvendo questões subjetivas. A oitava dimensão é a do “valor
percebido”, em que o contexto muito interfere. A complexidade e ocorrência
simultânea das dimensões dificulta a mensuração da ‘qualidade da informação’, mas
a abordagem facilita o estudo do fenômeno.
PAIM e NEHMY (1996), retomando as considerações sobre atributos de
qualidade, elencados, em especial por MARCHAND, propõem nova classificação,
que norteou a investigação de CHAVES (2000). Segundo as autoras, os atributos
guardam estreita correlação entre si e podem ser pragmaticamente divididos em três
níveis: “transcendente, intrínseco e contingencial”. O nível “transcendenteretrata o
nível filosófico e metafísico. “A qualidade considerada nessa ótica implica o
reconhecimento do valor da informação como absoluta e universalmente aceitável,
próxima da idéia de excelência” (PAIM e NEHMY, 1996:114). A essência da
‘qualidade da informação’ independeria do tempo e do espaço histórico. CHAVES
(2000), adaptando o conceito ao jornalismo, englobou nesse nível a ‘ética’, a
‘contribuição da informação para o exercício da cidadania, educação, lazer,
entretenimento’ e para o ‘desenvolvimento social’.
Os atributos “intrínsecos” são os principais aspectos focados pelos
sistemas de informação e referem-se aos valores inerentes à informação
documentada (PAIM e NEHMY, 1996). Incluem as dimensões de ‘confiabilidade’
(credibilidade de conteúdo, autoridade cognitiva da fonte, prestígio do autor ou
instituição), “precisão” (registro fiel ao fato ou acontecimento), a “validade” (método de
checagem e apuração) , a “imparcialidade/parcialidade” (inerentes à informação, pois
o relato incorpora a objetividade e subjetividade), “atualidade” (consonância com o
ritmo de produção da informação), a “novidade” (o novo, o recente
35
), “completeza” e
a “transcendência temporal” (vida útil da informação
36
), a “pertinência” (o fato de a
informação dizer ou não respeito à realidade do público a que se dirige), a
“repercussão” (capacidade de a informação se desdobrar em outras e ressoar tanto
em abrangência geográfica como em impacto sobre as diversas esferas sociais
37
) e o
“impacto” (capacidade de impacto, sensibilizar o usuário, liga-se ao sensacionalismo).
O “impacto” poderia ser enquadrado na terceira categoria, a
”contingencial”, que se refere aos aspectos situacionais ou pticos da ‘qualidade da
informação’, mais percebidos pelo usuário. Enquadram-se nesta categoria o “valor
percebido”, aeficácia”, “formato (layout) (PAIM e NEHMY, 1996), a “relevância”
(quanto a informação é útil ou faz sentido ao usuário), “interesse” , a “abrangência”, a
redundância (repetição de fatos ou idéias que visam à melhor assimilação) e a
“objetividade” (esfoo de eliminar as inferências subjetivas para conservação da
fidelidade ao fato). Encontramos também neste nível a “linguagem”, acessível, clara,
correta, exemplo de eficácia e padrão moderno de redação. Sendo difícil estabelecer
linhas divisórias entre os atributos, os três níveis devem ser considerados, para
melhor compreensão do fenômeno informacional.
NEHMY (1996, 106) reforça a noção política da informação e acredita
que o cientista deva exercer o papel de hermeneuta, sugerindo a inserção da
informação em princípios éticos, morais e políticos. Isso implicaria repercussões na
agenda de pesquisa da ciência da informação e no currículo de formação básica do
35
O culto ao novo é herança moderna (KUMAR,1997) e, na ausência de outros critérios, ressalta
OLAISEN (990), valoriza positivamente a informação. O novo seria melhor que o velho. ECO (1998)
defende que a noção de novidade é relativa, pois muitas vezes o antigo reveste-se de diferentes
roupagens para parecer algo novo. A novidade ficaria por conta da interpretação do leitor que lhe
confere novo significado, pois, como num bosque, tem várias opções de caminhos a escolher e o faz
como lhe convém em determinado momento.
36
A informação jornalística prima pelo factual e efêmero. À exceção dos ensaios críticos, as notícias
são descartáveis.
37
A repercussão é uma das intenções da notícia. Quanto maior, melhor.
profissional, que deveria incorporar denso conteúdo em ciências humanas, de modo a
sensibilizá-lo para grandes questões filosóficas.
No âmbito do jornalismo, o debate sobre a ‘qualidade da informação’
toma emprestado teorias e abordagens da filosofia, sociologia, história, antropologia,
política, economia e psicologia. Revendo alguns autores da área, encontramos
atributos de qualidade similares aos elencados pelos da ciência da informação e
podemos analisá-los também nos três níveis elencados por NEHMY e PAIM (1996) e
CHAVES (2000), a partir de MARCHAND (1990).
As funçõestradicionais do jornalismo referem-se às preocupações no
nível “transcendental” e englobam ‘universalidade, ecletismo (falar de tudo),
educação, informaçãor, interpretação e entretenimento’. Nesse nível, as reflexões
sobre ‘qualidade de informação’ envolvem amplas considerações e incluem aspectos
filosóficos, políticos, econômicos, culturais e sociais. São inevitáveis as discussões
relacionando informação à cidadania. Muitas dessas reflexões começaram cerca
de 50 anos, quando intelectuais, comprometidos com a questão da informação nos
meios de comunicação de massa, se uniram em torno da NOMIC- Nova Ordem
Mundial de Informação e Comunicação, para denunciar o fluxo desigual de
informação do norte para o sul no Planeta, com preponderância maior para o norte
38
,
representando a submissão de países menos desenvolvidos aos interesses dos EUA
e países europeus. O auge da discussão aconteceu nas décadas de 70 a 80 do
século XX, quando vários projetos de pesquisa foram patrocinados pela UNESCO.
Embora a NOMIC tenha-se desorganizado, hoje, voltam à tona muitas de suas
reivindicações. DANTAS (1998) defendeu que as políticas informacionais são
estratégicas, sustentáculos importantes da soberania de uma nação. Denunciou a
ausência de debate e a negligência das lideranças no Brasil em torno dessas
questões. Privatizações de empresas de telecomunicações, mineradoras, setores
38
Em 1980, o norte produzia cem vezes mais informação para o sul do que vice-versa.
energéticos e órgãos de imprensa ocorreram sem crítica, reforçando nossa
submissão informacional aos países hegemônicos, fato agravado pela significativa
utilização de agências de notícias como fontes pelos jornais, notícias pautadas em
esferas de interesses de seus pses de origem. CANCLINI (1995) discorreu sobre o
fluxo desequilibrado de bens culturais entre norte e sul e mencionou o descaso com
que as regras para a comercialização desses bens são tratadas no GATT pelos
EUA, cujos produtos culturais invadem o mercado mundial, em especial o ‘terceiro
mundo”, enquanto que o contrário não ocorre. Esse problema poderia ser contornado
pela ação do estado, que deve favorecer a organização e a participação sociais.
Apelos para essa idéia encontram respaldo entre os cientistas da informação, como
em DERVIN (1995), CAPURRO (1990), NEHMY (1996) e LIEVROUW (1994), que
sugeriu que a mídia aproveite as contribuições das novas tecnologias para incentivar
interatividade e participação de usuários. As centrais de telemarketing e a internet
são caminhos viáveis para registrar sugestões de usuários e desenvolvimento de
pesquisas de opinião.
Também compõe o conceito de ‘informação jornalística’ o caráter
comercial, já que relações capitalistas envolvem sua produção:
“Notícia é a informação transformada em mercadoria, com todos os seus
apelos estéticos, emocionais e sensacionais; para isso, a informação sofre
um tratamento que a adapta às normas mercadológicas de generalização,
padronização, simplificação e negação do subjetivismo... ela é um meio de
manipulação ideológica de grupos de poder social e uma forma de poder
política. Ela pertence ao jogo das forças da sociedade e é compreensível
por meio de sua lógica. Essa lógica supõe três dimensões: a) a inserção da
notícia como fator de sobrevivência econômica (infra-estrutural, portanto) do
veículo (como mercadoria); b) como veiculador ideológico ; e c) como
estabilizador político”. MARCONDES FILHO (1986:13)
O caráter comercial e a universalidade são criticados por BOURDIEU
(1997), para quem a mídia, sobretudo a televisão, com seu ecletismo, aliena o
público, desviando-o das discussões políticas pertinentes à sua realidade. As
banalidades e os espetáculos expostos não contribuem para a melhoria da ‘qualidade
de vida’ da comunidade, desviando o jornalismo de seus objetivos de informar e
educar.
Os teóricos do jornalismo também mencionam atributos de qualidade.
Referem-se à mercadoria notícia’, que enquadraríamos na categoria “baseada no
produto” de MARCHAND (1990), ou no nível “intrínseco” de NEHMY (1997). São
eles: a ‘validade, confiabilidade, precisão, imparcialidade, pertinência, completeza,
novidade, atualidade, transcendência temporal, impacto e a repercussão’. Também
são lembrados aspectos técnicos como a ‘periodicidade’, difusão’, o ‘tamanho’, a
‘novidade’ e a ‘raridade’ (ou ‘curiosidade’). Dois desses atributos merecem destaque.
O compromisso com a fidelidade ao acontecimento elege a ‘precisão’ da notícia
como meta prioritária, a ponto de originar o termo Precision Jornalism, de Philip
Meyer, que orientou a prática da imprensa nos anos 1970. o atributo da
‘confiabilidade’ guarda relação mais restrita com as fontes e é essencial para a
credibilidade do jornalismo. Outros atributos podem ser enquadrados como
contingenciais”. É o caso da ‘linguagem’ e seu ‘poder explicativo’ (redundância), do
‘formato’, da ‘objetividade’, da importância” para o leitor (‘relevância’), ‘interesse’,
objetividade e da abrangência. A linguagem simples, clara, bem escrita, deve seguir
padrões de correção gramatical, contendo certo grau didático de ‘redundância’. Os
atributos de ‘repercussão’ e ‘interesse’ (proximidade, oportunidade de alcançar a
audiência) são eleitos, muitas vezes, como parâmetros de valorizar a notícia e
balizam a tomada de decisão sobre onde as informações vão figurar no jornal
impresso, por exemplo. As de maior repercussão e interesse tendem a ocupar as
primeiras páginas, local mais nobre do periódico. Percebemos que as características
e funções da notícia guardam afinidades com os atributos elencados por TAYLOR,
OLAISEN e MARCHAND, sintetizados por PAIM e NEHMY (1996), os quais CHAVES
(2000) adaptou na FIG.4, p.65, classificando-os em atributos dequalidade da
Nível transcendente: aspectos filosóficos e universais
Ética Seguir as normas de boa conduta e profissionalismo
Contribuição para o
desenvolvimento social.
Contribuir positivamente para o exercíco da cidadania, educação,
lazer e entretenimento
Ecletismo Falar de tudo
Nível intrínseco: atributos focados pelo sistema jornalístico
Confiabilidade Nível de credibilidade de conteúdo , da fonte e do meio.
Precisão Exatidão, correção, relato fiel ao fato representado
Validade Checagem, forma de apuração dos dados, legitimidade
Imparcialidade Apresentação do fato sob diversos ângulos
Parcialidade Apresentação do fato com posicionamento político definido
Atualidade Relato no ritmo de produção da informação
Conteúdo rico Análises, relacionamentos com o contexto
Completeza Inclusão de detalhes, profundidade
Pertinência Dizer respeito ao público a que se dirige
Novidade Recente, inédito, um furo jornalístico
Repercussão Repercussão em novas informações ou nas diversas esferas sociais
Transcendência temporal Vida útil maior
Impacto Capacidade de sensibilizar a audiência
Nível contingencial: atributos mais ligados aos usuários
Linguagem Coloquial, formal, correta, elegância de estilo
Formato Eletrônico, impresso, oral, visual e microforma. Pode ser agradável,
uso de fotos, cores, diagramação etc.
Relevância ‘Útil idade, fazendo sentido para a comunidade
Interesse Despertar interesse no público
Objetividade Relato sem inferências subjetivas, ser sintético ou analítico.
Abrangência Repercussão sobre um grande espaço geográfico
Redundância Repetição de informações para facilitar compreensão
FIGURA 4 - ATRIBUTOS DE QUALIDADE DA INFORMAÇÃO
Fonte: CHAVES (2000): adaptação de PAIM e NEHMY (1996:115)
65
informação’ denominados também de transcendentes, intrínsecos e contingenciais.
Percebemos que a busca de conceitos de ‘qualidade’, assim como o de
informação, tanto na ciência da informação como na comunicação é legado dos
requisitos de legitimidade exigidos pelo paradigma científico. O tema é complexo e as
discussões refletem os problemas da prática dos profissionais, em especial nas áreas
de seleção, avaliação de sistemas e gerenciamento de informação. As abordagens
variam com o foco no sistema (excelência), informação como produto (atributos),
produção (fatores intervenientes) e foco no usuário (aspectos subjetivos e culturais).
No jornalismo, a preocupação com aspectos qualitativos inclui aspectos políticos,
econômicos e técnicos, com destaque para o papel ativo das fontes.
As várias formas de se discutir o conceito de ‘qualidade de informação’
sugerem aprofundamento em pesquisas. Ressaltamos que os atributos e critérios
usados para defini-los são compartilhados socialmente, sendo frutos da ação do
senso comum sobre os indivíduos. Nessa perspectiva, poderíamos enquadrá-los,
mais apropriadamente, como fatores intervenientes na percepção sobre ‘qualidade da
informação’. A abordagem é frutífera, pois permite caminho metodológico para se
discutir o assunto. Como o processo da informação se estabelece na dinâmica social,
a reflexão sobre ‘qualidade de informação’ deve englobar ampla discussão, por ser
holístico e complexo. Concordamos com TAYLOR, quando defende que a percepção
sobre ‘qualidade’ é sempre situacional e envolve, inevitavelmente, a interação entre
usuário e sistema. Dessa forma, o consenso sobre algum conceito de ‘qualidade da
informação’ é impossível. Acreditamos, enfim, ser mais adequado abordar ‘qualidade
da informação’ como um fenômeno.
Tomando as idéias dos autores vistos anteriormente, propomos o
modelo descrito da FIG.5, p.67, a que denominamos FENÔMENO
MULTIDIMENSIONAL DA QUALIDADE DA INFORMAÇÃO, inserido na base
tridimensional da sociedade: espaço, tempo e usuário. Na dimensão espaço’
perpassa a dinâmica das relações sociais, políticas (relações de poder) e econômicas
(modos e meios de sobrevivência). A dimensão ‘tempo’ envolve o contexto histórico,
FIGURA 5- FENÔMENO MULTIDIMENSIONAL DA QUALIDADE DA INFORMAÇÃO
Fonte: Elaborado pela autora em AGO 2005
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ética
educação,
cidadania
linguagem
formato
relevância
interesse
abrangência
objetividade
redundância
precisão
validade
confiabilidade
conteúdo/ completeza
Impacto/repercussão
atualidade
transcendência temporal
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Cognitivos
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experiências
interpessoais
Barreiras
pessoais,
fé, conhecimento
Meio
ambiente
desempenho
nível no trabalho
meio ambiente
sócio-cultural
meio
ambiente físico
trabalho formal
organização
contexto
político
Fontes
Fontes
Fontes Fontes
contexto
econômico
subjetividade
67
os sistemas de valores, éticos e filosóficos. A dimensão ‘usuário’ diz respeito às
necessidades de informação e aspectos subjetivos.
O fenômeno contempla a interveniência contínua dos contextos
‘histórico’ e ‘filosófico’, ‘necessidades do usuário’, a ‘sociabilidade’, a ‘política’ e o
‘modo de sobrevivência’, que envolvem processos dialéticos de comunicação,
permeados por fluxos de Informação. Na esfera das ‘necessidades do usuário’ (leitor,
jornalista e representante da fonte), consideramos questões que influenciam a
apreensão subjetiva da realidade, como a experiência pessoal, aspectos afetivos,
psicológicos e cognitivos. Na esfera da ‘sociabilidade’, salientamos aspectos que
interferem na apreensão objetiva da realidade, como o ambiente sócio-cultural, a
experiência compartilhada dos indivíduos, a linguagem, sistema de crenças e valores.
Na esfera da ‘política’, destacamos a interação das ações sociais e as relações de
poder. Por fim, na esfera do ‘modo de sobrevivência’, consideramos as formas como
os indivíduos organizam a sobrevivência, o ambiente econômico, o sistema de
trabalho. Interessam-nos três atores que interferem na percepção sobre qualidade da
informação: o sistema jornalístico, as organizações e os especialistas.
O modelo engloba as idéias de Capurro, Paim e Nehmy, Taylor, Olaisen,
Marchand, Repo e Chaves. O fenômeno da ‘qualidade de informação’ é holístico,
situacional e enquadra diversos fatores intervenientes. Dentre eles, os atributos,
espécie de construção objetiva sobre qualidade, configuram perspectiva metodológica
viável para fomentar a discussão sobre o assunto. as fontes encontram-se em
todas as dimensões, influenciando e sendo influenciadas pela dinâmica processual. O
conhecimento sociológico perpassa as dimensões institucionais e a ação dos
especialistas. A abordagem, compatível com o conceito de sociedade adotado,
norteou este trabalho, justificou os objetivos específicos e orientou a análise dos
dados. A elaboração de instrumentos de coleta de dados baseou-se nos atributos
elencados na FIG.4, p.65. Identificamos a maneira como as ‘fontes formais’
contribuem para cada atributo e investigamos os fatores que interferem no processo
de produção da notícia, assunto que abordamos mais adiante.
68
3 O SISTEMA JORNALÍSTICO E SEUS AGENTES
“Quanto aos jornais, nós precisamos estar de bem com eles. Fama,
reputação, ser constantemente mencionado publicamente, isso não passa
do feijão-com-arroz do detetive. Ele precisa que se divulguem suas
informações, caso contrário, vão achar que não tem informação nenhuma”
MARK TWAIN (2001:204)
Segundo WEBER (1999: 141), na essência da ação social encontram-se
atores e jogos de dominação, que classifica em três principais tipos puros ideais: a
“dominação racional”, baseada na crença na legitimidade das ordens estatuídas e do
direito de mando de quem detém a autoridade legal; a “dominação tradicional”,
alicerçada no respeito cotidiano às tradições; e a “dominação carismática”,
fundamentada na veneração de um poder extra terreno ou heróico de um ser. Ao
longo de milênios, a humanidade tem testemunhado todos esses tipos de dominação,
puros ou mistos, sendo que um deles, o “racional”, tende a prevalecer sobre os
demais. A principal razão para que isso ocorra é o fato de vivermos progressivamente
sob o regime estrutural burocrático, que se vem fortalecendo desde os primórdios da
civilização, chegando a seu estado típico ideal com a modernidade. “A burocracia é
de caráter racional: regras, finalidade, meios, impessoalidade objetiva dominam suas
atitudes (WEBER, 1999)”. O aparato da burocracia, permeado de processos de
dominação, admite várias ramificações, tecendo uma malha ou “jaula de ferro”, que
aprisiona a estrutura social. A burocracia está presente no estado, nas empresas,
escolas, igrejas e organizações das mais diversas, pressupondo alguns princípios
básicos em seu modus operandi, que caracterizam o processo administrativo
institucional. São eles: o “princípio de competências”, segundo o qual as atividades e
responsabilidades podem ser planejadas e distribuídas de acordo com regras, leis ou
69
regulamentos, devidamente registrados por escrito, que delimitam deveres, direitos,
poder e competência de cada ator da instituição; princípio da “hierarquia de cargos”,
em que ocupantes de níveis mais altos detêm poder de mando, recebem maiores
salários, enquanto os que ocupam níveis mais baixos se subordinam à autoridade
legítima; princípio da “comunicação formalizada”, em que tudo deve ser formalmente
registrado por escrito; e o princípio da “qualificação profissional”, segundo o qual o
diploma valida o conhecimento técnico e o exercício de uma profissão. Tudo isso para
garantir a eficiência” organizacional. Esse tipo de administração racional pressupõe
que o exercício da autoridade seja impessoal (protegendo contra abusos e injustiças),
delegações justas e transparentes, acatadas por todos por rígida disciplina e
obediência às normas, que estão acima de tudo e de todos. A burocracia pode
assumir formas muito diversas, mas, de modo geral, conduz ao funcionalismo e ao
utilitarismo. Os membros de uma comunidade burocrática, integrados nesse
mecanismo e querendo perpetuá-la, garantem a connua aderência às regras,
fortalecendo a burocracia. Segundo WEBER (1999:222) a “burocracia, uma vez
plenamente realizada, pertence aos complexos sociais mais dificilmente destrutíveis”.
Forma-se, pois, uma espécie de “jaula”, que aprisiona os atores à sua dinâmica.
“Onde quer que a burocratização da administração tenha sido levada a cabo, cria-se
uma forma praticamente inquebrantável das relações de dominação (WEBER, 1999:
222)”. Assim, seria difícil, ou quase impossível, ocorrer mudança profunda, pois uma
organização burocrática tende a excluir o blico externo. Uma rara forma possível
de inovação aconteceria, segundo o autor, através do lento avanço tecnológico que
acontece quando este se adapta lentamente às malhas da burocracia. Uma vez
consolidado o avanço, a mudança é irreversível, de qualquer forma, adaptada à
ordem da lógica burocrata, que continua prevalecendo.
Podemos pensar o jornalismo na perspectiva burocrática weberiana,
acrescentando que ele pode ser também visto como um sistema perito
(GIDDENS,1991), dentre tantos que compõem o modelo funcional e orgânico da
70
sociedade
39
. Podemos extrapolar e olhar para toda organização social e econômica
sob o prisma do modelo racional burocrático. Não apresentam as empresas
jornalísticas processos de gestão burocratizados? E não estariam perfeitamente
encaixados nesse modelo os dois principais agentes que nos interessam: os
jornalistas e as fontes? Não têm os jornalistas um diploma que os qualificam para o
exercício da profissão? Não estão submetidos à administração racional, trabalhando
em obediência às normas e regulamentos de seus empregadores? E as fontes? Não
seriam elas, porta-vozes primeiros dos interesses de instituições burocratizadas?
Nesse sentido, caminhamos para o raciocínio de que o sistema jornalístico, a
imprensa, ao dar visibilidade às diversas formas de organizações, funciona como
porta-voz do complexo burocrático, imprimindo-lhe o ritmo a ser seguido e
consolidando as suas bases (WEBER, 1999:212). São as vozes dos especialistas,
guardiões do conhecimento, que espiralam na mídia.
No entanto, apesar do brilhantismo do pensamento de WEBER, a
burocracia, como processo, não es ilesa à dialética e às contradições, nem às
inovações revolucionárias trazidas pela prática, mesmo que quase imperceptíveis,
como acredita MARX (1978), e nem é isenta de subversões instituídas pelas
subjetividades individuais. Um dos principais ‘locus’ de conflitos é a comunicação,
cujo campo “não é apenas um repasse de conteúdos, mas ela também se converte
em dispositivo de produção de realidade e conhecimento (FAUSTO NETO, 1991:
14)”. Ou seja, as diversas vozes e pontos de vista, que o jornalismo evidencia,
reforçam toda a ordem dominante e, de alguma forma, a ordem dos dominados.
No contexto descrito, entendemos o jornalismo como um sistema de
informação, que compreende três atores principais: jornalistas, as fontes (promotores
de notícia) e o público ou, como prefere OLIVEIRA (1996:25), as “três instâncias
fundamentais para fazer com que um acontecimento alcance a esfera pública através
39
WEBER (1999) considera que os jornais não são simplesmente empresas capitalistas com a ânsia
do lucro, mas também organizações que funcionam como clubes políticos. Ou seja, ele entende que
falar de notícias é falar de política no âmago da sociedade.
do sistema informativo”.
Centramos nossas atenções nos jornalistas e nas fontes, os
entrevistados no desenrolar da pesquisa. Interessava-nos entender seu campo
profissional, seu comportamento busca de informação e os fatores que interferem em
sua rotina de trabalho.
3.1 O jornalista: formação, atuação e bastidores
O jornalista insere-se no mercado de trabalho após concluir quatro anos
de graduação
40
. Na UFMG, por exemplo, o ingresso acontece pela aprovação para o
curso de ‘comunicação social’, que, após o ciclo básico, oferece a opção por quatro
especialidades: ‘jornalismo, publicidade e propaganda, radialismo ou relações
públicas’
41
. A grade curricular oferece disciplinas técnicas, que auxiliam a prática do
profissional no mercado de trabalho. As diferenças básicas estão nas especificidades.
Os alunos de ‘publicidade e propaganda’ e ‘relações públicas’ cursam disciplinas
técnicas de criatividade, planejamento de campanhas e marketing. Os alunos de
‘relações públicas’ cursam algumas disciplinas ligadas à área de gestão empresarial.
Enquanto freqüentam a escola, estudantes de jornalismo e radialismo
acreditam estar-se preparando para ingressarem como repórteres em veículos de
comunicação. Os estudantes de ‘relações públicas esperam trabalhar em empresas
como empregados ou consultores e os alunos de ‘publicidade’ imaginam-se
40
A exigência de diploma superior específico para o exercício da profissão de jornalista, em Belo
Horizonte, aconteceu a partir de 1979, quando os que atuavam na área obtiveram registro por tempo
de prática. O mesmo processo não foi uniformemente estendido ao interior de Minas Gerais, uma vez
que muitas cidades não ofereciam o curso superior. A questão é polêmica no País e no mundo.
41
Outras escolas prevêem mais especializações, pois o leque da comunicação é amplo. Temos, como
exemplo, teatro, radialismo e cinema, dentre outros.
trabalhando em agências de propaganda, desenvolvendo campanhas diversas. No
entanto, ao ingressarem no mercado, a realidade mostra-se diferente. O número de
empregos de jornalistas nos veículos de comunicação e de publicitários nas agências
é bem menor do que nas organizações diversas, que empregam profissional de
qualquer uma das modalidades para dirigirem as assessorias de comunicação,
também invadida por administradores, psicólogos, assistentes sociais e outros, o que
sugere alta competitividade no segmento. Segundo dados do Sindicato dos
Jornalistas de Minas Gerais, as empresas e instituições empregam 70% da mão de
obra ativa, normalmente em assessorias ligadas à alta administração
42
. As
denominações dos cargos e os salários variam muito, mesmo com atribuição de
atividades semelhantes.
Apesar de haver no Brasil o Conselho Nacional de Comunicação, esse
não atua como órgão regulamentador unificado da categoria profissional, a exemplo
do CREA, CRA, CFC, CRM, CRO
43
e outros. A inserção no mercado de trabalho
acontece, teoricamente, sob a fiscalização e acompanhamento do CONREP,
Conselho Nacional de Relações Públicas, ou da FENAJ, Federação Nacional de
Jornalismo, que atua em conjunto com os sindicatos espalhados pelo País, e o
CONAR, Conselho Nacional de Auto-regulamentação de Publicidade. Cada um
desses órgãos descreve as atividades dos profissionais, muitas delas comuns a
todos. A divisão traz como conseqüência a ausência de espírito de corporação, tal
como Durkheim descrevia, em que um grupo procura obter legitimidade pública e
consensual para o desempenho de suas atividades. Uma das conseqüências é a
desunião entre os profissionais de comunicação, razão pela qual, se buscássemos na
sociologia das profissões uma abordagem para a prática dos comunicadores,
42
Ó envolvimento com a alta administração exige desses profissionais grande conhecimento e
domínio do processo de gestão.
43
CREA, Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura; CRA, Conselho Regional de Administração;
CFC, Conselho Regional de Contabilidade; CRM, Conselho Regional de Medicina; CRO, Conselho
Regional de Odontologia.
encontraríamos muitas dificuldades
44
, fenômeno agravado pela natureza
interdisciplinar da área, que vem trazendo ao campo da comunicação um complexo
de discussões prolixas e desconcertantes (LIMA, 2001).
De qualquer forma, o que nos interessava nesta tese foi o ‘tipo ideal do
jornalista”, aquele que se graduou, habilitou-se com diploma. Com estes requisitos,
conquistou o poder legítimo de exercer sua perícia técnica como profissional da
imprensa, acreditando ter como missão informar, entreter e educar a comunidade. A
identidade do jornalista perante a opinião pública varia muito: de sentinela, super
star’, justiceiro a boêmio
45
. Ele também é um operário, inserido numa organização
burocrática, vivenciando a complexidade de seu ambiente de trabalho. Sua obrigação
diária: obter informações para compor a notícia, segundo a pauta diária pré
estabelecida por seu editor
46
. É o comportamento do jornalista nesse contexto que
nos interessava. Queríamos compreender como ele busca as informações e os
fatores que interferem na produção da notícia.
Para entendermos o comportamento de busca do jornalista, recorremos
à ajuda na ciência da informação, que, preocupando-se com problemas que
permeiam o processo informacional, prioriza estudos sobre usuários na interação
com sistemas prontos ou acabados, informatizados ou não. Interessa-lhe
compreender complexas questões, como motivação, contexto, subjetividade do
usuário e outros. Procedemos a uma rápida revisão sobre o assunto, tentando inserir
o jornalista.
Segundo BOHMERWALD (2002), entre várias propostas metodológicas,
quatro abordagens de estudo de comportamento de busca de informação se alternam
ou misturam: a centrada na descrição de etapas (1), tipos (2), fatores intervenientes
44
Segundo BARBOSA (1993, 3-30), há duas principais tendências para a legitimação das profissões.
Uma defende o espírito corporativo e a atuação de conselhos regulamentadores como forma de
defesa dos profissionais. Outra, deixa a critério do mercado a delimitação do campo profissional,
permitindo maior flexibilidade à sua atuação.
45
A identidade do jornalista é abordada por TRAVANCAS (1993) e OLIVEIRA (1996).
46
Com algumas variações, há cinco cargos principais na hierarquia de uma empresa jornalística: o
diretor de jornalismo, secretário de redação, editores, apuradores e repórteres.
na busca (3) e levantamento de necessidades de informação (4). Em todos os
estudos, as fontes posicionam-se com destaque.
As descrições das etapas são feitas considerando os diversos tipos de
sistemas e meios de informação ou os vários grupos ou categorias de usuários, como
o faz ELLIS (1989), para quem a ocupação profissional é decisiva. Seu modelo de
comportamento de busca compreende oito etapas
47
, conforme se segue:
1) Início: Atividades que formam a fase inicial, identificação de fontes de interesse que
servem como ponto de partida para a busca;
2) Encadeamento: identificação de novos documentos e fontes de informação;
3) Varredura: busca semidirecionada em áreas de interesse potencial, após a identificação
de fontes;
4) Diferenciação: filtro de acordo com a natureza e qualidade de informação;
5) Monitoramento: consulta periódica às fontes de informação mais usadas, contatos
pessoais e publicações especializadas, para atualização;
6) Extração: utilização de uma fonte em particular para localizar materiais de interesse,
podendo a consulta ser direta ou indireta (bibliografia, índices, bases de dados on-line
etc;
7) Verificação: verificação da exatidão e precisão, para correção de erros;
8)
Finalização: no caso do jornalismo, a finalização é a produção de outra informação.
Baseando-se nessas etapas e, a partir da avaliação das necessidades
de informação do usuário, WILSON (1997) fala de “comportamento informacional” e
propõe estudar o modo como as pessoas acessam e usam a informação, assim
como fatores que as inibem ou encorajam. Descreve o comportamento em quatro
tipos de busca: atenção passiva (1), que ocorre quando a aquisição da informação
ocorre ao acaso; busca passiva (2), encontro acidental de outra informação relevante
que não a especificamente procurada; busca ativa (3), quando o usuário sabe
exatamente o quer; e busca contínua (4), que ocorre após o estabelecimento da
estrutura sica de idéias, crenças ou valores. O ciclo pode ou não terminar com o
47
A menção às etapas não varia muito entre os autores da área.
processamento e uso da informação. Quando ocorrem o processamento e uso da
informação, altera-se o estágio de conhecimento do usuário. Os tipos de busca
variam de acordo com as necessidades de informação, conhecimento ou atividades
do usuário. O jornalista apresenta todos eles, que, por hábito, se mantém atento a
tudo. O comportamento de ‘busca de informação das fontes formais’ tende a se
enquadra comobusca ativa”.
BROWN (1991) ressalta a interveniência da experiência e do tempo no
comportamento de busca, que pode ser analisado em termos de padrões
diferenciados segundo três dimensões. São elas: as condições (1) (exposição aos
estímulos iniciais e avaliação do processamento dos estímulos pelos indivíduos); o
contexto (2) (própria pessoa, sua ocupação e o ambiente em que se encontra); e o
processo de busca (3) (percebida a necessidade de informação, a pessoa reage a
estímulos, de acordo com o contexto e ativa diversas formas de buscá-la). Todas as
dimensões interagem e apresentam barreiras à busca de informação. Como exemplo,
comparemos um mesmo aluno, cursando o primeiro grau e, posteriormente, uma
universidade, na busca de informação para um trabalho escolar. No primeiro grau,
com nível de conhecimento menor, será estimulado pelo professor e procurará por
títulos com conteúdo menos profundo, recorrendo a jornais e periódicos da imprensa,
até como fonte única. Como universitário, tende a se conduzir por motivos pessoais e
a optar por fontes múltiplas, com maior profundidade de conteúdo, como teses,
dissertações, livros, baseando-se em atributos como nome do autor, legitimidade da
fonte, a data de publicação, completeza , dentre outros. No caso do jornalista,
presenciamos um fato peculiar: sua exigência sobre o conteúdo é grande, mas,
paradoxalmente, às vezes relata informações mais genéricas e superficiais.
Para CHOO (2000), a compreensão do comportamento do usuário
começa por sua contextualização no ambiente sócio-cultural, abordagem que
colabora para melhores projetos de processos e sistemas de informação.
Considerando modelos de outros teóricos, o autor refere-se a formas, que denomina
“modo de exploração e de busca de informação”, que podem ser de quatro tipos. O
primeiro tipo é a “busca não direcionada”, contexto em que o indivíduo é exposto a
várias fontes e a uma série de informações sem nenhuma necessidade específica. O
segundo tipo é a “busca direcionada”, quando o usuário tem certo foco de interesse e
avalia as informações encontradas de acordo com suas expectativas. O terceiro tipo
é a “busca informal”, quando o indivíduo tem interesse para aprofundar em alguma
questão, mas não de forma estruturada. O quarto tipo é a busca formal”, em que o
usuário se planeja e estabelece um método para abordar uma queso claramente
explicitada, caso de um pesquisador. O jornalista se caracteriza, em teoria, pelas
“buscas direcionadas e formais”. CHOO fala também de seis etapas, não muito
diferentes das de ELLIS: “início”, “encadeamento”, “varredura”, “diferenciação”,
“monitoramento” e extração”.
Em face dessa breve exposição, podemos concluir que o estudo do
comportamento de busca de informação envolve várias questões, pois se trata de
processo dinâmico e complexo, alavancado, sobretudo, por necessidades de
informação do usuário, cujo perfil e demais variáveis interferem no tipo de busca, no
seu posicionamento com a fonte e nas suas exigências qualitativas sobre informação.
Como todas essas variáveis se inter-relacionam, é pertinente estudarmos o perfil e o
comportamento dos usuários que nos interessam, em especial os jornalistas. Como
vimos, o comportamento de busca de informação do repórter é peculiar, pois usa
informações para produzir outra, que, por sua vez vai ser fonte para a comunidade.
Sua procura por informação abrange todas etapas e tipos descritos anteriormente,
embora tenda a ser mais formal, sistematizada e profissional. Devido à tendência ao
“almanaquismo, costume de a imprensa evidenciar qualquer fato pitoresco, mesmo
que esteja trabalhando numa reportagem ou investigação específica e focar
determinadas fontes, o repórter desenvolve o hábito de estar sempre alerta para
captar informações que possam gerar interesse no público.
Segundo NICHOLAS (1997), alguns aspectos são bem característicos
do comportamento informacional do jornalista. Demandando grandes volumes de
informação, com os mais variados atributos de qualidade e em diversas fontes,
precisam recuperá-la com extrema rapidez. O autor distingue cinco necessidades
básicas de informação dos jornalistas: “a checagem de dados”, “atualização de
dados”, “a pesquisa”, “contextualização” e a “inspiração”. Os fatores que interferem
na sua busca são: a natureza e peculiaridade de seu trabalho, escolaridade e seu
nível intelectual, as fontes, sua subjetividade, a quantidade, a qualidade da
informação, a atualidade e a velocidade com que a acessa. Outros fatores costumam
apresentar-se como barreiras para a busca como o tempo, os recursos, o acesso às
fontes e, a “sobre-informação”, excesso de informação disponível (SOUSA , 2000).
Podemos afirmar que o comportamento varia de acordo com o contexto,
tipo de órgão de imprensa e editoria em que o jornalista trabalhe. Ao escrever para
um periódico semanal, a pressão do tempo é menor, podendo o profissional se
planejar e pesquisar previamente. Num diário, a produção é atropelada pela pressa.
Valoriza-se, sobretudo, o “furo de reportagem”. Os horizontes geográficos cobertos
pelo veículo de comunicação interferem na busca de assuntos e fontes: quanto maior,
maior a diversidade a ser explorada. Os jornais convencionais têm formato
padronizado, enquanto outros (semanais, quinzenais ou mensais) são mais flexíveis.
O tipo de ‘informação jornalística’, estruturando-se em nota (informação
curta), reportagem (informão mais detalhada), matéria (notícia padrão) ou editorial
(matéria que expressa a opinião do jornal)
48
, também é determinante no
comportamento de busca de informação. O ecletismo (falar de tudo a todos) contribui
para que as notícias produzidas se pautem por generalizações e superficialidades.
Mas, entre tantos fatores que interferem no comportamento e no interesse pela busca
de informação, um é determinante: o acontecimento.
A importância do acontecimento é tal que WOLF (1994) destaca que “a
qualidade da nocia vem da qualidade do próprio acontecimento”. Mas afinal, por que
alguns acontecimentos o transformados em notícia e outros não? Tentando
responder a essa pergunta, CHAVES (2000) discorreu sobre critérios de
48
Esses são os principais tipos de informações jornalísticas.
‘noticiabilidade’, aquilo que interfere na seleção de um acontecimento e os fatos
alusivos a ele, que contribuem para transformá-lo num relato por um profissional da
imprensa. Os critérios justificam a escolha para conferir visibilidade a um
acontecimento. São vários e agem em conjunto. Quanto mais critérios um
acontecimento reunir, maior chance tem de se converter em notícia. Preferimos
tomar o termo ‘fatores intervenientes na ‘noticiabilidade’, dividindo-os em ‘fatores
externos’ e ‘fatores internos’ à organização jornalística (TAB.6, p.79) .
TABELA 6 - FATORES INTERVENIENTES NA PRODUÇÃO DA NOTÍCIA
Fonte: CHAVES (2000)
Elaborado pela autora em out/99
A ‘ideologia’ é condicionante da ‘noticiabilidade’ e os meios de
comunicação reforçam a ordem estabelecida e o status quo. Uma editoria de cultura
confere tratamento diferenciado às fontes de maior poder econômico. Um artista
Notas: 1) J= Jornalistas L= Leitores
2) A tabela refere-se a fatores que interferem
na produção da notícia, e quanto são percebidos por
jornalistas e leitores. Perguntou-se, sem induzir, que
fatores interferem na produção na notícia. As
respostas demonstraram que a percepção sobre os
fatores era maior entre os profissionais da imprensa.
A baixa percepção pelo leitor sinaliza a ausência de
senso crítico sobre a questão. Uma das principais
fontes é a pauta dos concorrentes, seguida das fontes
e das agências.
3) O conceito de fontes de informação na
tabela é genérico, utilizado pela autora na época em
que desenvolveu sua dissertação de mestrado, não
coincidindo com o conceito descrito nesta tese.
Fatores
J L
A - Externos
%
%
Acontecimento
83
4,73
Tempo
77,8
8,88
Concorrência de outros jornais
74,4
8,88
Interação com o público
72
3,53
Fontes de informação
60,8
26,04
Agências de notícia
58,8
4,73
Concorrência da TV
51,4
8,88
Anunciantes/Estrutura de poder
51,2
26,63
B - Internos
Preparo e experiência do repórter
88,2
30,77
Infraestrutura
79,2
8,28
Linha editorial
72,8
21,30
Tecnologia
70,2
1,18
Subjetividade do editor
68
11,24
Impreso, layout
66,4
2,96
Relações de poder
63,4
21,30
Subjetividade do repórter
62,6
22,49
Gestão
61,8
5,33
Espaço
58,8
Não soube informar
0
15,38
apoiado por grande esquema comercial de divulgação tem maior visibilidade na mídia
do que um emergente. Os ‘valores sócio-culturais’ e a ‘ideologia’ chegam a formar
um filtro de ‘noticiabilidade’, que se mostra na própria diagramação e no formato dos
jornais (MOUILLAUD, 2002), geralmente divididos, com algumas variações, em
seções de “política”, “economia”, “esportes”, “artes e diversão”, “cidades” e outras.
Os ‘padrões e valores sociais’ refletem a ‘estrutura de poder’, que se
converte em outro fator interveniente na ‘noticiabilidade’. Toda a notícia publicada
coloca em ação forças sociais e mecanismos de poder que justificam sua existência.
Um exemplo é a predominância de notícias oriundas de ‘países de elite’, onde se
localizam as maiores agências provedoras de informação dos meios de
comunicação, como a API, UPI, Reuters e a Francepress, que dividem o mundo em
mercados, conforme acordos estabelecidos entre si. Os fatos são veiculados sob a
ótica de interesses dos pses hegemônicos, trazendo como conseqüências naturais
a imposição de seus valores e a aculturação. Além dos “países de elite”, “pessoas de
elite” são noticiáveis, mesmo em rotinas cotidianas. A morte de alguém se converte
em nocia conforme seu status na sociedade (WOLF, 1994). Fatos alusivos a Bush
(EUA), por exemplo, são notícias em qualquer jornal do mundo, o mesmo não
acontecendo com o presidente do Equador, Panamá, Quênia e outros países
considerados subdesenvolvidos. Um desastre ou acidente com uma celebridade tem
considerável valor noticiável. Da mesma forma, fatos ligados às pessoas de países
dominantes são mais noticiáveis que os ligados a cidadãos de países periféricos.
A ‘estrutura de poder’ reflete-se no status da ‘fonte’, fator unanimemente
considerado como interveniente na noticiabilidade. Quanto mais elitizada, maior
influência sobre a ‘noticiabilidade’. As fontes exemplificam a força da ‘estrutura do
poder da sociedade’, pois emanam dela. Representam autoridades política,
econômica ou cognitiva. Especialistas que dominam as diversas esferas do
conhecimento, as assessorias de grandes empresas ou órgãos públicos tendem a
figurar com freqüência na mídia. Os anunciantes recebem tratamento diferenciado
pelos órgãos de comunicação.
80
Pelo poder, as instituições jornalísticas competem entre si e adotam o
monitoramento da ‘concorrência’ como critério de ‘noticiabilidade’. O conteúdo que
grandes veículos de comunicação incluem é referência obrigatória para elaboração
da pauta dos demais. A rotina produtiva pressupõe o nivelamento com os
concorrentes. Esses, por sua vez, também se orientam pelo mesmo benchmarking
reflexivo. Baseando-se uns nos outros, agendam assuntos comuns, utilizam fontes
comuns e geram relatos semelhantes, dificultando o ‘furo’, a exclusividade. Na
batalha competitiva, aumenta-se o espaço para notícias sensacionalistas, que
garantem audiência e sobrevivência aos órgãos de comunicação.
‘Fatores relacionados com o público’ compõem os ‘critérios de
audiência’ e correspondem a tudo o que seja feito para atingir a comunidade. As
notícias devem despertar ‘interesse’, impactar’. Paradoxalmente, o público tem
pouco contato com os produtores das informações, sendo raramente ouvido como
fonte. O surgimento de centrais de telemarketing e da internet vem, aos poucos,
colaborando para uma aproximação. Na medida em que as pessoas comuns sejam
vistas como clientes a serem seduzidos, elas exercem influência na forma de
apresentação da notícia. É ao público que o jornal busca entreter, sua linguagem se
adaptar e a quem o layout deve agradar. Caso um acontecimento seja ambíguo e
complexo, melhor não ser noticiado, prejudicando, diga-se de passagem, a formação
da consciência crítica do cidadão.
Um acontecimento será tanto mais noticiável quanto mais próximo da
comunidade. É a interferência de ‘aspectos geopolíticos’. A ‘quantidade de pessoas
envolvidas’ em também condiciona seu grau de ‘noticiabilidade’. Quanto mais
pessoas, maior é a ‘abrangência’ e audiência, trazendo prestígio e anunciantes para
a sobrevivência do jornal. Um acontecimento terá também maior probabilidade de se
transformar em informação jornalística conforme sua ‘repercussão’, possibilidade de
se desdobrar em novas interessantes reportagens. A queda de um grande avião
provoca notícias sobre quedas de aviões menores. Um escândalo sexual alusivo a
um famoso suscita narração de outros casos.
O ‘tempo’ tanto é fator externo’ aos jornais quanto ‘interno’. Sua
escassez é elemento fundamental das rotinas produtivas. A falta de tempo acentua a
importância dos critérios de noticiabilidade, que acabam por nortear o processo de
produção da notícia. Externamente, ele demarca a ‘atualidade’ de um fato.
Internamente, condiciona o conteúdo da notícia e o próprio comportamento de busca
do jornalista. Domá-lo é demonstrar competência perante os colegas.
O “negativismo” dos acontecimentos é outro fator externo aos MCM
(meios de comunicação de massa) que intervém na noticiabilidade. “O jornalismo gira
em torno do conflito, sendo esse um acontecimento noticioso” (GALTUNG e RUDGE,
1993). As notícias negativas, desde que consensuais e o ambíguas, são
interpretados harmonicamente pela audiência. Escândalos ou acidentes apresentam
princípio, meio e fim, adequando-se à narrativa jornalística. O ‘acontecimento positivo’
exige acompanhamento mais planejado, incompatível com a rotina de trabalho da
imprensa. Por que a audiência se sensibiliza tanto com o negativo e o sensacional?
Uma tentativa de análise para a compreensão do fenômeno vem de GIDDENS
(1991). Como vimos, em seu modelo de sociedade, o perfeito funcionamento dos
“sistemas abstratos” mune os indivíduos da confiança necessária para sobreviverem
sem ansiedade. Qualquer acontecimento que coloque em risco esse ‘perfeito
funcionamento’ atinge a estabilidade psíquica e emocional das pessoas, colocando
em risco a “segurança ontológica”. Os acontecimentos negativos desestruturam a
confiança na lógica dos projetos funcional, racional e científico moderno, ameaçando
a sobrevivência humana. A força do impacto está no medo e na ansiedade que
causa.
A mesma análise explica a existência de critérios de ‘noticiabilidade’
advindos da ‘probabilidade de ocorrência’ dos acontecimentos. Tudo o que colabora
para romper ou denunciar a eficiência de um “sistema perito” contém alto potencial
para se transformar em notícias. Estariam nessa categoria acontecimentos
‘inesperados, imprevisíveis, as corrupções, a escassez, a falha, a anormalidade, a
inversão’ (um homem morder um cão), a ‘quebra de rotina e o acidente’.
Entre os ‘fatores internos’ à organização jornalística que interferem na
‘noticiabilidade’, destacam-se: ‘processo de gestão’, as ‘relações de poder’ internas
do jornal; a ‘influência dos editores’; a ‘socialização’ e colegas como ‘grupo de
referência’; o ‘tempo’; as ‘implicações técnicas’; a subjetividade do repórter e os
‘critérios de objetividade’.
As organizações jornalísticas são empresas como outras que integram a
economia capitalista. Em toda a instituição, a gestão’ influencia a produção de
mercadorias e é de se esperar que o mesmo aconteça numa empresa jornalística.
Respaldam essa posição pesquisadores da perspectiva do newsmaking.
MOUILLAUD (1997:206), por exemplo, afirma que “as redes de informação
comportam processos de regulação que produzem ordem, selecionando, separando e
orientando as mensagens conforme seus níveis e suas destinações”, com políticas
editoriais próprias, focando, cada uma delas, a busca de seus próprios objetivos e
interesses. Inúmeros exemplos de articulações e manobras nos bastidores da notícia
são encontrados em biografias, como as de Assis Chateaubriand e Samuel Wainer.
Para PAGÉS et al (1987), ZALESNICK e DE VRIES (1981) e CHANLAT
(1993), é impossível conceber organizações sem se considerarem as relações de
poder, processo dinâmico, dialético e naturalmente conflituoso, situação presente no
cotidiano de uma empresa jornalística, mesmo que, como vimos, dentro da
concepção da burocracia weberiana. O ambiente apresenta constante manipulação,
jogos e conchavos de poder. Apesar de o jornalismo pressupor certa liberdade para a
busca de informação, uma rígida hierarquia prevalece internamente. O exercício do
poder gera conflitos e tensões, muitas vezes sublimados em nome da segurança no
emprego ou da aspiração à ascensão profissional. A submissão à linha editorial é
conseqüência de conformismo com a autoridade institucional e sanções da chefia.
Estabelece-se pelo sentimento de obrigação e respeito aos superiores, pelas
ambições de mobilidade profissional, pela omissão de posicionamento dos colegas
frente a conflitos, pelo prazer na atividade e pela própria sublimação à adoção dos
critérios de noticiabilidade.
Alterações profundas na estrutura do poder’ de determinada
organização jornalística afetam ao estilo de redação dos repórteres, embora eles
não saibam exatamente o que se passa entre editores e executivos. A redistribuição
do poder, a modificação dos quadros funcionais e das normas influem na forma de
redação das notícias. Repórteres escrevem para agradar editores, que controlam o
sistema de recompensas nas salas de redação
i49
. O ‘poder do editor sobre o repórter’
assim como o do ‘diretor sobre o editor’, provoca o surgimento de certo estilo de
redigir as notícias, evidenciando a subjetividade dos superiores. Não é raro o editor
distribuir, segundo critérios pessoais, as melhores coberturas aos repórteres que mais
se afinam com sua personalidade (DARNTON, 1990).
Estabelecem-se critérios de competência para a ascensão profissional.
O reconhecimento entre os pares é fundamental. Assim, o processo de socialização’
torna-se outro critério de ‘noticiabilidade’. A ‘influência do grupo de pares’ supera em
muito a influência do público e das fontes, conforme identificado por CHAVES (2000)
(TAB.7, p.85). O sentimento de pertencer cria simbiose entre seus membros, do que
resultam atitudes corporativas e conservadoras. Integram o círculo íntimo de um
repórter os profissionais de outros jornais, ampliando seu ‘grupo de referência’, que
segue pades e rituais compartilhados pela cultura profissional, formando uma
moldura sobre o real, responsável pela angulação das notícias.
Como afirmamos, o ‘tempo’ é tão determinante na produção jornalística
que se constitui fator interveniente tanto ‘externo quanto ‘interno’ na noticiabilidade.
A temporalidade inspira nomes de jornais: O Tempo, Hoje em Dia, O Dia, Diário da
Tarde, Folha da Tarde , Folha da Manhã , Tempo e outros.
49
Para PAGÈS (1987), as lideranças organizacionais manipulam os subordinados por um sistema de
recompensa, cujo critério de participação é a obediência às normas de conduta, tidas como parâmetros
objetivos mas que, na verdade, expressam uma forma rígida de a empresa impor seus próprios valores
em detrimento das aspirações dos empregados. As lideranças, em busca de poder, tecem conchavos
políticos, compactuando com as regras estabelecidas.
TABELA 7 - GRUPOS DE REFERÊNCIA DO JORNALISTA
O domínio sobre o tempo gera satisfação ímpar e reconhecimento pelos
pares, mas a obrigação de se submeter a um limite de horas diárias gera algumas
armadilhas para a qualificação positiva da notícia. O trabalho reflexivo fica prejudicado
e a ‘notícia’ tende à superficialidade. Opta-se por versões narrativas mais simplistas e
breves, por "caberemno tempo, sem o devido cuidado de se analisar a complexidade
que um fato pode envolver.
Outro ‘fator interno’ às rotinas produtivas que intervêm na
‘noticiabilidade’ é a série de ‘implicações técnicas’ na cobertura de um acontecimento,
que operam de diversas maneiras. Uma delas é a “forma”, o layout. A disposição e a
diagramação configuram um padrão a ser seguido. As informações são elaboradas
para preencher os espaços destinados à seção de cultura, economia, política,
esportes e outras editorias. Outro exemplo são as diferenças de exigências técnicas
entre o jornal e a TV. A televisão trabalha com temas mais previsíveis e controláveis,
preocupando-se com o enquadramento no tempo. No jornal escrito, o enquadramento
obedece ao espaço físico. O conteúdo dramático é apelo televisivo, enquanto a
linguagem do jornal impresso procura prender-se aos fatos e ser mais objetiva. São
também ‘implicações técnicas’: administração de ‘custos’, ‘praticidade’, aspectos que
REFERÊNCIAS %
Editor
88,00%
Colegas
84,00%
Fontes
45,33%
Especialista
29,33%
Amigo
16,00%
Família
13,33%
Diretoria
13,33%
Leitor
10,67%
Ninguém
2,67%
Base: 75
Fonte: CHAVES, 2000.
Comentários: As respostas referem-
se à opinião de
jornalistas entrevistados por CHAVES
sobre os principais grupos d
e referência
que exercem influência em seu cotidiano
de trabalho. Os dados demonstram a
força do processo de socialização no
trabalho do jornalista, muito mais do que
as ‘fontes formais’ (fontes e
especialistas) e reforçam a pressão dos
fatores subjetiv
os sobre a noticiabilidade.
nos remete novamente à gestão. DARTNON (1990) considera alguns aspectos da
linguagem como ‘implicações técnicas’. O contexto do trabalho modela o conteúdo da
notícia e os textos produzidos moldam-se às técnicas herdadas de se contarem
histórias. O relato jornalístico segue o padrão do lead
50
, ou da pirâmide invertida, tese
segundo a qual o relato da notícia deve caminhar do mais importante para o menos
importante. Por fim, a ‘disponibilidade de recursos’ é outra ‘implicação técnica’.
Significa a existência de recursos humanos, técnicos e materiais disponíveis para a
cobertura de um acontecimento (máquina, carro, número de repórteres empregados).
A ‘subjetividade do repórter’ expressa-se de diversas formas. Muitos
dizem que é inerente ao exercício da profissão, como GENRO FILHO (1989) e
DARNTON (1990). BENJAMIN (1969) ressalta que a tendência dos narradores é
começar sua história, apresentando as circunstâncias em que eles tomaram
conhecimento daquilo que narram, quando não as relatam pura e simplesmente
como experiência pessoal. Além da subjetividade do jornalista, a subjetividade de
todo o seu grupo de referência está presente na produção da notícia.
Como último fator interveniente na ‘noticiabilidade’ destacamos a
‘objetividade’, mito que a imprensa herdou do paradigma positivista. Em nome da
‘objetividade’, jornalistas estabelecem uma série de critérios, alguns paradoxalmente
subjetivos, para selecionar um acontecimento e transformá-lo em notícia, como a
novidade, a atualidade, a singularidade. DARNTON (1990) alega que, em nome da
‘objetividade’, profissionais perseguem furos, mas, inúmeras vezes, fatos muito
semelhantes são contados com ‘nova roupagem’. Reportagens sobre assassinatos
hediondos e desastres chamam a atenção do público com conteúdos quase idênticos.
Cadernos de turismo trazem narrações parecidas sobre um mesmo lugar, em épocas
diferentes. TUCHMANN (1993) ressalta a busca da ‘objetividade’ como ritual
estratégico do cotidiano jornalístico, interessado em se defender de qualquer
acusação de parcialidade pela sociedade ou em se resguardar juridicamente em
50
O uso do “lead” é uma prática criada pelos americanos, disseminada e assimilada pelo mundo
inteiro (TRAQUINA, 1993).
situações mais pomicas. No entanto, autores consensualmente defendem que a
subjetividade seja inerente à prática de redigir e se expresse de diversas formas,
como no uso de citações, na seleção de fontes, na formação e na experiência de
vida do redator e na subjetividade do editor. Ao privilegiar as aparências e reordená-
las num texto, incluindo alguns pontos e suprimindo outros, enquadrando alguns
detalhes primeiro, outros depois, o jornalista deixa-se levar inevitavelmente por
fatores subjetivos, revelando maneira própria de perceber e produzir “seus fatos, que
não existem previamente como tais, ao mesmo tempo, em que se submete ao fluxo
objetivo da realidade, de onde os fatos são recortados e construídos.
Neste capítulo, abordamos o ‘comportamento de busca’ do usuário de
informação, em especial do jornalista. Vimos que o assunto é complexo, dialético e
interfere na ‘qualidade da informação’. São quatro as abordagens metodológicas para
estudos científicos: a primeira centra-se na ‘descrição das etapas’; a segunda volta-se
para ‘formas ou tipos de busca’; a terceira identifica ‘atores intervenientes’ e a quarta
focaliza ‘necessidades e perfil’ do usuários.
3. 2 Fontes formais nesta pesquisa
Segundo CAMPELLO (2000), organizações são importantes fontes de
informação de seus públicos internos ou da sociedade em geral. O acesso a elas
acontece através de fontes pessoais (indivíduos que nela trabalham) ou por fontes
documentais (documentos gerados internamente). É mais comum a imprensa
procurar as fontes pessoais. Na ciência da informação, as organizações são
identificadas tradicionalmente pelos diretórios, que as classificam em comerciais,
educacionais e de pesquisa, governamentais, profissionais e sociedades científicas,
internacionais e as ONG (organizações não governamentais). Com algumas
variações, decorrentes do processo de gestão e da estrutura, instituições produzem
documentos e sistemas de informações, tais como: “publicações para distribuição
externa”, “documentos internos”, “documentos de arquivo”, bibliotecas e/ou centros
de informação” e “redes de informação”. As “publicações para distribuição externa
são documentos vendidos ou disponibilizados gratuitamente ao público, como
relatórios, resultados de pesquisas, balanços, revistas sobre produtos e serviços,
além de material publicitário, como folders, malas diretas e outros. “Documentos
internos” são geralmente arquivados e acessíveis aos funcionários da empresa,
contendo graus de sigilo diferenciados, como é caso de processos jurídicos.
“Documentos de arquivos” são produzidos no cotidiano das organizações, como
ofícios, memorandos, ordens de serviço, cujo conteúdo não é sigiloso, por não
comprometer a organização. As “bibliotecas e centros de informação” disponibilizam
informações das mais diversas em livros, jornais, revistas, oferecendo uma série de
serviços aos usuários. Poucas empresas investem na manutenção de bibliotecas e
centros de informação. Com isso, informações de valioso conteúdo histórico se
perdem em meio a arquivos improvisados e mal conservados. As “redes” são
criações sofisticadas de organizações que produzem informações de grande utilidade
para a comunidade científica, que normalmente precisam de cooperação mútua.
Além das descritas, acrescentaríamos informações voltadas ao público interno, como
instruções sobre novos procedimentos, house organs (informativos internos), murais,
registros de eventos e convites.
Em nossa pesquisa, adotamos o conceito de ‘fontes formais’,
incorporando organizações dos setores público e privado e também os especialistas,
dotados de conhecimento perito específico, que legitima seu status de fonte perante
a sociedade. Seria, por exemplo, ‘fonte formal’ uma pessoa ou organização com
representação formal de poder constituído, seja ele político, intelectual, econômico ou
outro. Assim, procura-se um especialista em febre amarela para um depoimento
sobre a doença ou a secretaria de Saúde para verificação das medidas tomadas pelo
poder público para combater o mal.
Sob a égide do positivismo, a partir das revoluções científica e industrial,
as organizações, tais como as conhecemos hoje, aprimoraram seus modelos de
gestão com base nos princípios da administração, moderna e racional. WEBER
(1999) via esse processo como campo rtil para consolidar a burocracia como
modelo estrutural da sociedade. As diversas instituições do complexo mundo
organizacional passaram a ser administradas segundo estatutos e regulamentos, com
descrição de atribuições e cargos, ocupados formalmente por critérios racionais de
competência, como, por exemplo, o diploma escolar ou experiência comprovada para
seu desempenho. Normalmente, a hierarquia p-estabelecida prevê que o
ocupante do cargo mais importante represente a instituição formalmente perante a
imprensa e sociedade, segundo o critério que podemos traduzir como “autoridade
institucional”. Se essa autoridade não detém todo o conhecimento necessário para
passar informações aos jornalistas, cerca-se de assessores técnicos. Ou seja, o
critério de autoridade institucional é validado por outro: o do conhecimento técnico.
Ambos, como vimos, são completamente compreensíveis e coerentes na perspectiva
de análise social weberiana.
Concluímos que podemos enquadrar as fontes formais, ou seja,
organizações e profissionais com expertise de conhecimento legitimado, na
concepção de burocracia weberiana e no modelo funcionalista de GIDDENS (1996),
uma vez que as diversas instituições e saberes compõem o universo dos sistemas
peritos, todos eles permeados pelas malhas burocráticas, com suas regras,
regulamentos, critérios de competência e de legitimação. Até mesmo induzidas pela
lei
51
, ao divulgarem informações, as organizações, através de suas fontes formais,
ganham visibilidade na mídia, que, por sua vez, transforma-se numa espécie de porta
51
É normalmente previsto em leis federais que as organizações devam prestar contas à sociedade,
divulgando balanços e informações pertinentes na imprensa.
voz oficial da burocracia. Agindo dessa forma, lembra OLIVEIRA (1996:144) que a
imprensa institui ou reforça a jogos de dominação existentes. Como dissemos, o
layout enquadra antecipadamente os tipos de acontecimento a serem cobertos,
segundo as categorias de economia, política, cultura, esportes e outras, pré definindo
o que é ou não relevante para a sociedade. Esse layout favoreceria a repetição de
assuntos e acontecimentos, que nos levam à ação da tradição descrita por GIDDENS
(1997), essencial para a construção da identidade dos atores sociais. Normalmente,
os cadernos de economia versam sobre o mundo organizacional e o da política sobre
partidos e representações políticas, reino da burocracia legal e racional de WEBER
(1999). Nesses cadernos, as fontes mais presentes, quer sejam procuradas quer
procurem a imprensa, são escolhidas segundo o critério de representação ou
autoridade institucional. Os cadernos de editoria local trazem muitas notícias alusivas
às áreas de saúde, trânsito e outras utilidades, nas quais se ouvem também
autoridades institucionais e especialistas, cujo conhecimento é também legitimado
pelo modelo burocrático racional. os acontecimentos presentes nos cadernos de
cultura referem-se ao contexto da tradição e valores culturais da comunidade,
enquanto os cadernos de lazer e esportes versam sobre acontecimentos que
envolvem os ídolos do usuário da informação, leitor ou telespectador.
Com os exemplos acima, presenciamos ao reforço a diversos tipos de
dominação elencados por WEBER (1999) no jornalismo. A dominação legal e
racional, a mais presente, é reforçada quando se ouve uma autoridade institucional
ou um especialista numa reportagem sobre política, economia ou fato da vida
cotidiana. A dominação carismática se reforça na visibilidade dos líderes religiosos e
dos ídolos e heróis populares.
Tenderíamos a afirmar que a dominação tradicional fosse inerente ao
próprio layout, comum à maioria dos jornais. Cabe aqui, porém uma pequena
reflexão, inspirada novamente em GIDDENS (1997). Segundo o sociólogo inglês, no
contexto atual globalizado, a super valorização dos especialistas é a tônica que,
apesar de legitimar a dominação legal racional descrita por WEBER (1999), leva à
descentralização da autoridade tradicional, o que pode desencadear uma crise
generalizada dos valores morais de uma comunidade. Os indivíduos constróem sua
identidade, hoje, baseando-se na confiança em sistemas abstratos globalizados, que
pode ser continuamente revista, ao contrário da tradição que se baseia em e
crença em verdades incorporadas socialmente, em determinado tempo e no espaço.
Em outras palavras, a tradição, entre outras coisas, “é efetivamente uma maneira de
evitar choques entre diferentes valores e modos de vida” (GIDDENS, 1997:128). Essa
é uma das razões que levam o autor a afirmar que a ordem social torna-se
descontinuísta. Ao contrário do que WEBER (1999) previu, para ele, os indivíduos não
se enjaularam na gaiola da burocracia. Pequenas tradições podem ser reinventadas.
Não queremos aqui nos aprofundar na questão, mesmo porque as próprias reflexões
de GIDDENS, como ele próprio assume, carecem de maiores aprofundamentos.
Explicitamos essas idéias para demonstrar a face dialética da comunicação.
Voltamos a essa discussão na análise dos dados.
Fato é que, o indivíduo adere como cúmplice. Sujeita-se ao desenho dos
jornais, pela segurança de se localizar em contexto conhecido (dominação
tradicional). Levado por critérios subjetivos, busca por informações, por exemplo, por
apreciar estar mais perto de quem admira (dominação carismática), por ver seus
valores repetidamente reforçados (dominação tradicional) ou para se sentir mais
confiante num sistema mais eficiente (dominação legal e racional), ao qual se sente
obrigado, por questões de sobrevivência, a se adaptar continuamente.
O jornalismo, acreditando guiar-se pela precio, imparcialidade e
honestidade, tal como estabelece seu código de ética (FIG.6, p.92), inspirado nos
ideais na Revolução Francesa e na Declaração dos Direitos Humanos, empreende-se
na batalha de conquistar mentes e corações dos leitores, ouvintes e telespectadores
(ROSSI,1986). Espera conquistar a credibilidade, sua moeda fundamental de troca
(VIZEU, 2004), confundindo-se com a credibilidade das fontes.
1. O acesso à informação pública é um direito inerente à condição de vida em
sociedade, que não pode ser impedido por nenhum tipo de interesse.
2. A divulgação da informação, precisa e correta, é dever dos meios de comunicação
pública, independente da natureza de sua propriedade.
3. A informação divulgada pelos meios de comunicação pública pautar-se-á pela real
ocorrência dos fatos e terá por finalidade o interesse social e coletivo.
4. A prestação de informações pelas instituições públicas, privadas e particulares, cujas
atividades produzam efeito na vida em sociedade, é uma obrigação social.
5. O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos e o seu
trabalho pauta-se no apuramento preciso dos acontecimentos e sua correta
divulgação.
6. Sempre que considerar correto e necesrio, o jornalista resguardará a origem e
identidade das suas fontes de informação.
7. A constituição brasileira assegura o direito de acesso e transmissão das informações
(art 5. Inciso XXXIII: “...todos têm o direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo
sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade do Estado).
FIGURA 6 CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEIROS
FONTE: Extraído de GOMES, 2002.
Segundo BOURDIEU (1987: 105), “o sistema de produção e circulação
de bens simbólicos compreende o sistema de relações objetivas entre diferentes
instâncias, definidas pela função que cumprem na divisão do trabalho de produção,
de reprodução e de difusão de bens simbólicos”. Para ele, o campo da difusão
pode ser compreendido, considerando-se o sistema das relações constitutivas do
campo de produção, de reprodução e de circulação dos bens simbólicos e a
especificidade de seus produtos. A linha de raciocínio do autor leva-nos a pensar que
um bem simbólico não é apenas um produto cultural, uma obra de arte ou um livro,
mas qualquer mensagem que traga a presença de um enunciador, com seus
interesses a defender, como é o caso das “fontes”, cuja visibilidade na mídia espelha
jogos de poder dos diversos campos.
Dessa forma, “a produção da nocia é entendida como processo
caracterizado por constante tensão, um cabo de guerra disputado por forças
desiguais, mas também por contínua negociação entre essas forças”
(ALBUQUERQUE, 1998). Porém, apesar da tendência de se conferir maior
visibilidade às fontes, segundo o lugar que ocupam na hierarquia da estrutura
burocrática, uma relação naturalmente se estabelece, fazendo da mídia uma teia de
faticidade (TUCHMAN, 1983). Ou seja, a mídia retrata diferenças diversas, assumindo
papel de intermediador de conflitos e de agente de mudanças, fato que merece
considerável atenção entre intelectuais e analistas sociais.
3. 2.1 Comunicação organizacional e fontes: breve histórico
A representação das fontes formais nas organizações perante a
imprensa normalmente compete à área da comunicação organizacional
52
, cujo
primeiro modelo foi criado pelo americano Yve Lee em 1906. Denominando-se uma
espécie de advogado de empresas e órgãos governamentais para os quais prestava
consultoria, Lee investia no relacionamento com a imprensa, de modo a favorecer a
imagem de seus clientes. Após a Segunda Guerra Mundial, assessorias de imprensa,
inicialmente integradas em departamentos de relações públicas, difundiram-se e
deram origem às atuais assessorias de comunicação (LAGE:2003), passando estas a
intermediarem contatos entre a mídia e as instituições.
Espera-se que esses profissionais de comunicação incorporem os
valores e a cultura organizacional e que zelem pelos interesses e imagem de seus
empregadores. Atuando com esse foco, a comunicação organizacional consolida os
52
As delimitações conceituais no emprego dos termos ‘comunicação institucional, comunicação
corporativa e comunicação empresarial’ não o consensuais, pois outras terminologias.
Adotaremos a noção de ‘comunicação institucional’ como aquela cujas atividades focam a imagem da
organização junto ao público externo, e ‘comunicação interna’ as iniciativas de endomarketing que
visam integração do público interno, como apoio no alcance de resultados. Também há confusão entre
‘comunicação empresarial, marketing, assessoria de imprensa, relações públicas’. Preferimos reuni-las
como comunicação organizacional, por ser mais abrangente.
valores e ordem vigentes. Por outro lado, o processo é dialético. Na medida em que a
comunicação, através de ações de endomarketing, incentiva a participação de todos
na busca dos interesses organizacionais, abre, também, espaço para o diálogo e
sugestões, que podem contribuir para inovações e redesenhos de gestão
53
.
No Brasil, principalmente nos órgãos do governo, razões diversas
(favorecimento político) levaram cargos de relações públicas a serem ocupados por
amadores, o que contribuiu para depreciar significativamente a profissão. O processo
de criação de assessorias de comunicação, de uma forma mais profissional, foi
alavancado pela vinda das multinacionais no final da cada de 1950. A partir da
década de 70, com o oferecimento de cursos superiores em comunicação social e
suas diversas especializações, o mercado viu-se definitivamente abastecido de
profissionais competentes para conduzir a comunicação organizacional. Outro salto
qualitativo para o exercício da profissão, segundo BUENO (2003), deveu-se à
abertura política dos anos 80. Com a democratização, a comunidade passou a exigir
das instituições maior transparência e compromisso com a responsabilidade social e
divulgação de informações. A criação de assessorias representou, pois, “uma vertente
moralizadora e ética, ajudando a transformar a mentalidade dos administradores,
contribuindo decisivamente para a profissionalização do setor de informação pública”
(LAGE, 2003).
O cargo de ‘disseminador de informação da fonte formal’, aquele que
faz o elo entre sua empresa e a mídia, assume várias nomenclaturas em níveis
hierárquicos diversos como: assessor institucional, assessor de imprensa, assessor
de comunicação, superintendente de comunicação, gerente de marketing,
coordenador de comunicação e inúmeros outros. Esses cargos, mesmo com
atribuições semelhantes, são diferentemente remunerados e exercidos por
profissionais de formação acadêmica diversas como administradores, psicólogos,
53
Da mesma forma que a imprensa, a comunicação atua como porta voz da burocracia e da ordem da
organização, e espelha uma teia de interesses dos diversos conluios internos (PAGÉS, 1987).
assistentes sociais ou bibliotecários, apesar de as representações dos diferentes
profissionais de comunicação (relações públicas, jornalismo e publicitários)
reivindicarem para si a exclusividade para a ocupação dos cargos. De fato, as
assessorias se transformaram no principal mercado profissional para eles. No
entanto, durantes anos, no Brasil e no mundo, o fato de um jornalista trabalhar em
empresa, gerou polêmicas e marginalização pelos colegas de veículos. Para BUCCI
(2000: 80), “o assessor de imprensa se encarrega de intermediar as relações entre
seu patrão e os repórteres”, sendo um artífice e divulgador da boa imagem da fonte,
não sendo, na prática, jornalista. Alguns ainda defendem que jornalista é aquele que
trabalha na mídia. “Nega-se a condição de jornalista aos profissionais de assessorias
e é comum repórteres considerarem os assessores de imprensa mais como
antagonistas do que como colaboradores no processo de produção de informação
(LAGE, 1993)”. Mas, há outros, como LARA (2003), que reconhecem que o assessor
de imprensa pode ser jornalista, pois ele tem a responsabilidade de gerir a informação
para a comunidade onde seu empregador esteja inserido.
Com todas essas controvérsias, vivemos hoje o que CHAPARRO (1994)
chama de “revolução das fontes’, um processo de institucionalização e mesmo
profissionalização de determinadas fontes de informação, que garanta a elas a
presença contínua e controlada na mídia:
“As assessorias de imprensa (estruturadas profissionalmente em
departamentos importantes nos organogramas das organizações, ou
atuando, como empresas prestadoras de serviço, pela via da terceirização)
formam hoje, nas principais cidades brasileiras, redes de grande porte e
enorme poder de influência nos sistemas e processos jornalísticos.
(CHAPARRO, 1994: 69)."
PINTO (1999) acredita ser a revolução das fontes descrita por
CHAPARRO (1994) o evento mais significativo ocorrido nos últimos tempos,
referindo-se às diversas formas de comunicação institucional, de assessorias de
comunicação, de gabinetes de imprensa, de conselheiros de imagem, de porta-vozes
e adidos. As fontes, segundo ele, instituem uma “teia de mecanismos, de instituições
e de saberes, cujo propósito assumido é utilizar e, se possível, marcar a agenda da
mídia, jogar o seu jogo, tirar partido da sua lógica de funcionamento e, por essa via,
atingir os objetivos que são, em primeiro lugar, os dos interesses que servem”. O
poder de influência das fontes sobre a opinião pública é tal, que LAGE (2003) chega a
afirmar que “a percepção da realidade não é tarefa de um só homem. Começa
exatamente no nível da fonte, que formula uma primeira representação que será
levada adiante”. “A guerra da informação é, hoje, uma guerra de assessorias, na qual
se contrapõem habilidades profissionais de empresas e entidades empresariais, de
um lado, e sindicatos de trabalhadores e organizações sociais, de outro”.
3.2.2 Classificação das fontes jornalísticas
As fontes são classificadas de forma descritiva por muitos cientistas da
informação em “primárias, secundárias ou terciárias”. São “fontes primárias”:
trabalhos oficialmente inscritos e apresentados em congressos e conferências;
legislação’; fontes de registro de nomes, marcas comerciais, normas técnicas e
patentes; periódicos, projetos e pesquisas em andamento, relatórios técnicos, teses e
dissertações e traduções. As “fontes secundárias” englobam bases e bancos de
dados, bibliografias e índices, biografias, catálogos de bibliotecas, centros de
pesquisa e laboratórios, dicionários e enciclopédias, diciorios bilíngües e
multilingües, feiras e exposições, filmes e vídeos, fontes históricas, livros, manuais,
internet, museus, herbários, arquivos e coleções científicas, registro de prêmios e
honrarias, redação técnica e metodologia científica, siglas, abreviaturas e tabelas.
São consideradas “fontes terciárias” as bibliografias de bibliografias, bibliotecas,
centros de informação e diretórios (CUNHA, 2001). Há, também, classificações
segundo as formas como se apresentem, se escrita, audiovisual, localização ou
canal, se formal ou informal, pessoal ou impessoal.
CHOO (1994), estudando o ambiente organizacional, classifica as fontes
de acordo com usuários, dividindo-as em “pessoais ou impessoais” ou “externas ou
internas” às organizações. TAYLOR (1985), também se referindo à utilização das
fontes em tomadas de decisão, fala de “fontes informais” e “formais”, que divide em
quatro categorias: “bibliotecas e centros de documentação” (1); ”informações de
escritório” (2) (memorandos, ofícios, relatórios, clippings de jornais); “centros de
inteligência” (3) (análises de marketing, informações sobre pesquisa,
desenvolvimento e planejamento); e “bancos de dados” (4).
No jornalismo brasileiro, o manual da Folha de São Paulo é referência
para a conceituação de fontes e suas instruções visam padronizar o comportamento
do jornalista na busca de informações. Classificam as fontes em “tipo zero”, “tipo
um”, “tipo dois” e “tipo três”. Das quatro, apenas a primeira é documental, sendo as
restantes fontes pessoais. A fonte tipo zero encontra-se escrita ou gravada, sem
deixar margem à dúvida, como enciclopédias renomadas, documentos emitidos por
instituição com credibilidade, videoteipe etc. A ”fonte tipo um é tida como a mais
confiável e diz respeito a uma pessoa, que deve ser especialista e apresentar
histórico de credibilidade. a “fonte tipo dois” tamm vem de uma pessoa, mas
não necessariamente de histórico confiável: um desconhecido, por exemplo. As
fontes tipo trêssão as menos confiáveis e geradoras de conflitos, embora muito se
recorra a elas, por terem interesse político ou econômico explícito, como empresas,
Instituições e órgãos oficiais, por exemplo. No caso da Folha de São Paulo,
recomenda-se que o jornalista cruze diversas fontes para validar as informações
recebidas. A TAB.8, p.98, ilustra as principais fontes utilizadas pela imprensa,
conforme verificação de CHAVES (2000).
TABELA 8 - HÁBITOS DE LEITURA E FONTES DOS JORNALISTAS
Base: 75, com respostas múltiplas Fonte: CHAVES,2000.
Notas: 1) Os jornais são fontes de conhecimento importantes dos repórteres, ilustrando a força do grupo de
referência e sobre a noticiabilidade.
2) conceito de fontes, que figura no título da tabela, é genérico, adotado pela autora na época em que
desenvolveu sua dissertação de mestrado, não coincidindo com o conceito descrito nesta tese.
Nesse sentido, PINTO (1999, 277-294) tem-se preocupado com a
categorização das fontes de informação. Para ele, fontes são pessoas, grupos ou
instituições (ou vestígios discursivos da sua atividade) que podem ser classificadas
em várias abordagens. O autor português fala de oito formas de categorizar as
fontes. Segundo a natureza, elas podem ser fontes pessoais ou documentais (1).
Segundo a origem (2) elas podem ser fontes públicas ou privadas. Quanto à duração
(3), elas podem ser episódicas ou permanentes. Em relação ao âmbito geográfico (4),
temos as fontes locais, nacionais ou internacionais. Segundo o grau de envolvimento
nos fatos (5) podem ser oculares (primárias) ou indiretas (secundárias). Segundo a
atitude em face do jornalista (6), podem ser ativas (espontâneas, ávidas) ou passivas
(abertas e resistentes). Sob o critério de identificação (7) no discurso jornalístico e na
interação com os jornalistas, as fontes podem ser anônimas (confidenciais) ou
explícitas (assumidas). Finalmente, sob o ponto de vista da metodologia ou estratégia
de atuação (8), as fontes seriam pró-activas ou reativas, preventivas ou defensivas.
Também GRADIM (2000) define fonte de informação como qualquer
entidade detentora de dados que sejam suscetíveis de geração de notícia,
classificando-a sob três perspectivas. 1) Pelo relacionamento que estabelecem com
Leitura %
Jornais e periódicos nacionais
97,33%
Jornais locais
88,00%
Literatura de ficção
80,00%
Biografias
58,67%
Livros sobre jornalismo
38,67%
Literatura científica 22,67%
Publicões especializadas 17,33%
Outros 10,67%
Fontes
%
Testemunhas dos acontecimentos 92,00
Oficiais 84,00
Especialistas 81,33
ONGs em formação 69,33
Agências de notícia 50,67
Internet 46,67
Público 9,33
os jornais, elas podem ser internas ou externas. Por fontes internas entendem-se os
jornalistas, o arquivo ou centro de documentação do jornal. Fontes externas são os
outros meios de comunicação e empresas informativas, como agências, assessorias
de comunicação social de entidades oficiais e outras. 2) Sob a perspectiva do seu
estatuto, as fontes podem ser oficiais, advindas de órgãos do Governo, ou oficiosas,
de entidades com representatividade reconhecida, como os sindicatos, empresas,
associações, clubes desportivos e instituições não estatais (ONG), que contribuem
para a vida social e cultural do país. 3) Em relação às suas características: humanas
(contatos pessoais, suas fontes privadas, e o público em geral) ou documentais.
Ainda MILOTCH e LESTER (1993) discorrem sobre as fontes
promotoras de acontecimentos, que podem ser de rotina, acidente, escândalo ou
acaso. Para eles, as fontes, na procura de visibilidade, chegam a promover os
eventos, “pseudo-acontecimentos”, interferindo na construção da realidade.
OLIVEIRA (1996) prefere falar de relação e grau de influência das
fontes sobre o sistema de produção da nocia, agrupando-as em três tipos: “(a) os
de total independência entre fontes e jornalistas, (b) os que são caracterizados pela
cooperação entre fontes e jornalistas e (c) a fonte como promotora de notícia na luta
para prevalecer seus interesses”. Exemplifiquemos o primeiro caso com uma suposta
reportagem sobre economia, em que o repórter recorre aos dados do IBGE através
do centro de documentação daquele órgão. A segunda hipótese acontece numa
reportagem sobre um acidente de trânsito, em que o repórter precisa de uma ‘fonte
formal’ para o fornecimento de dados, enquanto esta fonte aproveita para esclarecer à
comunidade sobre as providências tomadas pelo poder público. No último caso,
encontramos os “pseudo-acontecimentos” mencionados por MILOTCH e LESTER
(1993), em que uma organização promove agenda de eventos para serem cobertos
pela mídia.
OLIVEIRA (1996) cita o professor José Marques de Melo, que categoriza
as fontes em “próprias” (correspondentes e arquivos dos jornais), “contratadas”
(agências de notícia) e asvoluntárias (fontes formais”).
LAGE (2003), professor da Universidade Federal de Santa Catarina,
classifica as fontes segundo a natureza (1) ou o distanciamento com o acontecimento
(2). Quanto à “natureza” (1), as fontes podem ser mais ou menos confiáveis, sendo
pessoais, institucionais ou documentais. Classificam-se em “oficiais”, “oficiosas” e
“independentes”. As fontes oficiais” são mantidas pelo estado ou por instituições que
preservam algum poder legitimado, como as juntas comerciais, os cartórios de ofício,
empresas (ou instituições diversas), sindicatos, associações etc. Segundo ele,
embora sejam consideradas as mais confiáveis
54
, fontes oficiais podem falsear a
realidade quando os interesses do país estão em jogo, sonegando informações ou
destacando aspectos da realidade que convêm às instituições governamentais.
Erros às vezes acontecem por motivos estritamente subjetivos. Assim, o hábito de
julgar as fontes oficiais como as mais confiáveis trata-se, segundo LAGE (2001, 63),
de um vício porque a mentira pode ocupar lugar estratégico nas intervenções de
personalidades ou instituições vinculadas aos poderes. Mesmo com a comprovação
da parcialidade dos poderes sociais, a estrutura centralizada do jornalismo
convencional gera supremacia absoluta das fontes oficiais. “Fontes oficiosas” são
pessoas ligadas a uma entidade oficial, que o estão, pom, autorizadas a serem
porta-vozes perante a imprensa. Fontes oficiosas podem ser preciosas porque
esclarecem em off
55
o que se passa nas organizações, ajudando na análise
contextual dos fatos cobertos. As fontes independentes” são as organizações não-
governamentais (ONG) e as sociedades sem fins lucrativos, embora muitas sejam
mantidas pelo poder público. Quanto ao critério de “distância do acontecimento” (2),
LAGE (2003) classifica as fontes em “primárias e secundárias”. As “fontes primárias”
são aquelas em que o jornalista se baseia para colher o essencial de determinada
matéria, fornecendo fatos, versões e números. Enquadramos aqui as testemunhas
dos acontecimentos, que, dependendo da situação, podem se deixar levar pela
54
Como vimos, o Manual da Folha afirma o contrário, elas são tidas como menos confiáveis.
55
Em off, é a informação passada ao repórter sem identificação da fonte.
emotividade no repasse das informações, o que impõe ao repórter procurar ouvir
outros relatos. As “fontes secundárias” são consultadas para a preparação de uma
pauta, a construção das premissas genéricas ou contextos ambientais. É o caso das
consultas aos experts, que não presenciaram o acontecimento, mas podem analisá-
los tecnicamente. Outra forma de categorização de fontes por LAGE (2003) é
encontrada no jornalismo investigativo, podendo ser: “informantes, implicados e
adjacentes (especialistas).
O sociólogo americano GANS (1980), cujas idéias têm grande
repercussão nos estudos jornalísticos, observa que existem vários tipos de fontes
informativas: ‘institucionais, oficiosas, provisórias, passivas e ativas, conhecidos e
desconhecidos e muitas outras’. Em meio a tantas formas de classificação, os
órgãos jornalísticos escolhem as fontes de acordo com suas necessidades produtivas.
Aquelas que antecipam informações tendem a ser mais ouvidas. De maneira geral, a
imprensa avalia as fontes conforme o posicionamento que ocupam na estrutura
social. GANS (1980) destaca o fato de que, mais importante do que classificar as
fontes, é a análise dos fatores que interferem na sua seleção. Dentre esses fatores,
um dos mais importantes é a ‘proximidade social e geográfica’ entre o jornalista e
fontes, cujo acesso à mídia seria maior ou menor conforme o lugar ocupado na
estrutura de poder da sociedade. Outros fatores que pesam para os jornalistas
escolherem as fontes são a ‘conveniência, autoridade aferida, fiabilidade,
respeitabilidade e capacidade de produção de informação’.
Concluímos que as formas de classificação das fontes dos diversos
autores variam e esboçam parâmetros diversos, como formato, critérios de avaliação,
proximidade com o jornalista ou com o acontecimento, natureza jurídica, seleção e os
usos mais comuns (FIG.7, p.102), o que comprova a sua complexidade. Quanto ao
‘formato’, as fontes diferem entre pessoais, impessoais, documentais. Quanto à
natureza jurídica, as fontes variam entre públicas, privadas, oficiais e oficiosas. Outro
critério de classificação utilizado é a estratégica de atuação da fonte, se ativa e
interessada ou passiva.
AUTOR CLASSIFICAÇÃO CRITÉRIO EXEMPLOS
CUNHA Primárias/Secundárias/Terciárias
Escrita, audiovisual,
Externa, interna.
Formal ou informal,
Pessoal ou impessoal
Distanciamento da autoria
Formato
Localização
Canal
Contato humano
Congressos/Livros/Bibliografia de
bibliografia
CHOO “pessoais ou impessoais”
“externas ou internas”
Usuário
Localização
TAYLOR “fontes informais”
“formais”
Ambiente organizacional Bibliotecas, centros de documentação,
”informações de escritório”
(memorandos, ofícios), relatórios,
clippings, bancos de dados etc.
MANUAL
DA FOLHA
Zero
Um
Dois
Três
Legitimidade documental
Proximidade acontecimento
Conhecimento
Autoridade Institucional
Testemunha
MANUEL
PINTO
Pessoais / documentais
Públicas / privadas
Episódicas/ permanentes
Locais/Nacionais/Internacionais
Oculares (primárias)
/indiretas (secundárias)
ativas (espontâneas, ávidas) ou
passivas (abertas e resistentes).
anônimas (confidenciais) ou
explícitas (assumidas).
pró-activas ou reativas, preventivas
ou defensivas.
Natureza
Origem
Duração
Âmbito Geográfico
Envolvimento nos fatos
Atitude
Identificação
Estratégia de atuação
GRADIM Internas ou e externas
Oficiais/Oficiosas
Pessoais
documentais
Relacionamento
proximidade
Estatuto
Características humanas
Jornalistas, arquivos dos jornais.
Órgãos públicos / Sindicatos, ONGS.
Contatos pessoais
Documentos
MILOTCH
LESTER
Pseudo-eventos
Acontecimentos
promovidos
OLIVEIRA Independentes
Cooperadoras
Promotora de notícias
Relacionamento e grau de
influência com os
repórteres
Arquivos e centros de documentação
Órgãos públicos
Fontes promotoras de notícias
MELO Próprias
Contratadas
Voluntárias
Relacionamento com os
jornais
Arquivos, correspondentes.
Agências
Fontes formais
NILSON
LAGE
Oficiais
Oficiosas
Independentes
Primárias
Secundárias
Natureza
Distância do acontecimento
Autoridades das fontes do governo
Empregados de fontes oficiais
ONG
Testemunhas
Especialistas
GANS Proximidade
Conveniência
Autoridade institucional
Fiabilidade
Capacidade de produção
Fatores Intervenientes
FIGURA 7 - CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES
Fonte: Elaborada pela autora
102
Percebemos que as fontes pessoais, as oficiais e as mais próximas do
repórter são mais mencionadas e utilizadas nos sistemas convencionais de
jornalismo. Alguns autores argumentam que a preferência pelas fontes ’pessoais
formais e oficiais’
56
constitui estratégia para obtenção de dados fidedignos de
personalidades conhecidas e respaldadas pelo exercício de função pública,
conferindo ao jornalismo o caráter “ïnformativo e não formativo”, tornando a imprensa
porta-voz da estrutura dominante. A ‘fonte’’ é decisiva para a ‘noticiabilidade’ e
responsável pela ‘confiabilidade’, um dos atributos mais importantes da qualidade da
informação, segundo leitores e repórteres. Um bom filtro de fontes auxilia no avanço
qualitativo da nocia (CHAVES,2000). Segundo levantamento da autora, entre as
fontes elencadas como mais significativas pela imprensa, destacam-se: as
testemunhas dos acontecimentos, as fontes oficiais (organização do setor público,
representantes do poder legislativo, executivo ou judiciário), os especialistas (técnico
perito em algum ramo profissional ou científico como dico, dentista, advogado,
professor etc), algum tipo de sociedade em formação (ONG), as agências de notícia e
a Internet . As duas últimas configuram-se também como mídia e veiculam
informações de ‘fontes oficiais’. O público é considerado fonte importante, mas, na
prática, recorre-se muito pouco a ele. Podemos considerar, ainda, as leituras
habituais do jornalista como fontes em que a própria mídia se destaca.
56
Lembramos que os critérios de classificação de fontes variam muito. Na ciência da informação,
quem, mesmo sem consenso, diferencie fontes pessoais (informais) e documentais (formais).
Ratificamos que, nesta pesquisa, adotamos o conceito de ‘fontes formais’ para designar pessoas
(autoridades ou disseminadores de informação), que representem instituições pelos cargos que
ocupem na estrutura burocrática ou especialistas, que detenham poder legitimado na sua área de
conhecimento por uma instituição universitária.
3.2.3 A importância da fonte formal
As fonte formais’ tanto podem ‘ser procuradas’ como tomarem a
iniciativa de procurar’ a imprensa. Podem ser ‘naturalmente’ ou ‘deliberadamente’
acessíveis. Tanto as ‘fontes’ se valem dos jornalistas para expressar seus interesses,
como são procuradas para suprir necessidades de informação dos repórteres, que,
por sua vez, podem usá-las para ratificar um posicionamento particular ou dar ao
público o que ele quer ver, ouvir ou ler (DARTON, 1990). Quanto mais disponível,
mais chance tem a fonte de se tornar rotineira. Assim, o cotidiano da imprensa é
invadido por uma avalanche de releases, elaborados por instituições públicas ou
privadas, organizações o governamentais (ONG), assessorias de especialistas ou
grupos à procura de promão (como parlamentares que ‘plantam notícias’ e artistas
que provocam escândalos em troca de publicidade).
Entre tantos paradoxos, uma pesquisa portuguesa detectou que a
confiança do público na imprensa aumentou nos últimos tempos, ficando à frente dos
políticos, da política, da justiça e da igreja católica, perdendo apenas para os correios
VIZEU (2004). Exagero ou não, a mídia influencia processos sociais. Para
GRIZOTTI (2000), a rede de fontes dos órgãos de comunicação é instrumento
essencial para o funcionamento social. Organizando-se a partir das exigências dos
procedimentos produtivos, a rede reflete a estrutura social, sua hierarquia de poder,
tradições e valores. Por um processo reflexivo, a primeira realidade das notícias não é
a realidade tal como se mostra ou como aconteceu, mas encaixa-se na natureza e no
tipo de relações sociais e culturais que se desenvolvem entre jornalistas e suas fontes
(SANTOS,1997:124). Dessa forma, a cobertura jornalística tende a confirmar a
preponderância das fontes ligadas às elites do poder. “A forte ligação entre os
jornalistas e entidades oficiais conduz a mídia a apresentar uma imagem muito
específica da sociedade e das suas instituições” (GANS, 1980). Determinantes na
noticiabilidade, a interveniência da ‘fonte’ expressa a ação social objetivada sobre a
produção da notícia, tendo o poder de validação de dados.
Outro exemplo da importância da fonte formal é o fato de ela representar
conhecimento formal e legítimo, ratificado pela redundância na mídia. Para
SERRANO (2003), “nas sociedades contemporâneas, o conhecimento constitui um
princípio de hierarquização social. Ambos, jornalista e as suas fontes, contribuem
para articular e definir os contornos da sociedade do conhecimento, reproduzindo as
estruturas do poder e do saber”.
Hoje, a vida política é influenciada por um conjunto de técnicas (a mídia
e as pesquisas), de atores (os jornalistas e os conselheiros de comunicação) e de
práticas do marketing político, sendo suas atividades organizadas em torno das
regras de funcionamento das rotinas produtivas da imprensa. Por outro lado, as
fontes tornam-se grandes criadores de eventos, atraindo jornalistas em coletivas
57
programadas. Organizações bancam transporte e alimentação para repórteres
cobrirem seus eventos. O profissionalismo dos "promotores" de acontecimentos e a
sofisticação de suas estratégias, aliados às pressões do tempo e à própria natureza
do trabalho jornalístico, podem tornar os jornalistas dependentes de suas fontes.
Dentre as várias fontes formais, os órgãos do governo merecem especial
atenção. A política vigente costuma levar jornalistas a espelharem consensos,
marginalizando os protestos contra a guerra e as posições minoritárias, que
ecoam quando divisões no seio dos meios oficiais. Em caso de conflitos, como
Guerra do Vietnã, Malvinas e Golfo., a imprensa precisa de apoio das autoridades
oficiais para cobrir os fatos. Como conseqüência, seus relatos privilegiam os olhares
de quem lhes concede as autorizações. Para TUCHMAN (1993), os jornalistas
associam a credibilidade de uma fonte à sua posição hierárquica. Conferem status
57
Segundo SERRANO, foi McCarthy o
inventor da coletiva: o costume de chamar a imprensa pela
manhã para anunciar a conferência de imprensa da tarde.
diferenciado a uma fonte oficial. Assim, a notícia apoia-se nas estruturas
institucionais, ao mesmo tempo em que a reproduz.
Certo é que, para qualquer profissional que desenvolva atividades
especializadas, a questão da fonte é importante. Informações precisas e relevantes
colaboram para a qualidade de seu trabalho. Quando o relacionamento com o público
é constante, a responsabilidade recai sobre o disseminador da informação. Por isso, a
relação com a fonte merece especial atenção.
3.2.4 A relação entre fontes e jornalistas
Como vimos, no relacionamento com a imprensa, as organizações
estabelecem processo formal de representação. O repasse de informações é feito
pelo ocupante de cargo mais elevado na hierarquia ou a quem ele delegar a
atividade, geralmente apoiado pela pessoa que monitora o contato com jornalistas, no
caso chamado de ‘disseminador de informação’. Este profissional pode ser jornalista,
relações públicas, publicitário ou outro qualquer, que o mercado é invadido por
várias áreas. De qualquer forma, o disseminador de informação’ é um intermediador,
que tenta pensar e agir como jornalista, valorizando a informação como um bem
público a ser disponibilizado para a comunidade. No entanto, conduzindo a cultura
organizacional de onde trabalha, esse profissional também atua como gerente e
“marqueteiro”, responsável pela imagem interna e externa de sua instituição.
Os canais de contato das fontes com a imprensa são diversos e podem
ser passivos ou ativos. Comunicam-se pessoalmente, por telefone, por mail , fax etc.
Na forma passiva, quando requisitado por algum órgão jornalístico, o assessor
agenda horário para entrevista, colhe (normalmente em contatos verbais) as
informações necessárias junto às diversas áreas da empresa e produz breve relatório
para quem for entrevistado. Ao mesmo tempo, prepara um release para o jornalista.
Na forma ativa, o assessor envia à imprensa um release, relatando algum evento
voltado ao público externo ou alguma medida de interesse público tomada pela
organização e aguarda o contato dos jornalistas. Caso vários repórteres tenham
interesse, o assessor pode organizar uma “entrevista coletiva’”, com horário e espaço
definidos previamente.
GANS (1980), como vários autores, afirma que existe relação negociosa
entre os jornalistas e as fontes, na qual se estabelecem direitos e obrigações
recíprocas. As fontes tentam passar a informação que mais lhes interessa, segundo o
ângulo pretendido, enquanto que os jornalistas procuram obter informações que as
fontes, por vezes, pretenderiam esconder, explorando ângulos alternativos. Neste
processo, as organizações noticiosas tendem as ser passivas diante das fontes,
geralmente interessadas e ativas na construção da notícia. Por outro lado, os
jornalistas procuram obter autonomia para definir o que seja notícia, criando novos
significados. A dominância de determinadas fontes sobre outras no jornalismo é
explicada como dissemos, pela sua posição hierárquica na burocracia institucional,
sua credibilidade e a proximidade em relação aos jornalistas.
A relação entre ‘fonte’ e jornalista é dialética e conflituosa, pois envolve
seres humanos e instituições com diferentes interesses, visões de mundo e níveis de
conhecimento. Segundo PINTO (1999), as fontes e jornalistas têm objetivos distintos.
As primeiras procuram visibilidade e atenção da mídia, impondo temas à agenda
pública, agregando às informações que publicam a aderência às suas idéias, produtos
e serviços. Almejam a prevenção problemas e a neutralização de ações de
concorrentes ou adversários, criando uma imagem positiva de quem representam
perante a opinião pública. Por outro lado, os jornalistas querem conferir publicidade
aos fatos, eventos e declarações, que considerem interessar ao público. o objetivos
dos jornalistas, ao procurarem as fontes: obter informações inéditas, confirmar ou
desmentir informações obtidas noutras fontes, dissipar dúvidas, desenvolver matérias,
lançar idéias e debates, fornecer avaliações e recomendações de peritos e atribuir
credibilidade e legitimidade às informações colhidas.
As fontes, ao procurarem a visibilidade na mídia, movem-se, de acordo
com a lógica privada e a legítima, quer se trate de instituições juridicamente
privadas, como empresas, associações e grupos da sociedade civil, quer se trate de
entidades públicas, como partidos políticos, instituições de utilidade pública e órgãos
do Estado. Nesse processo, as fontes traçam estratégias e tácticas, que PINTO
(1999) agrupa em dois grandes eixos: por um lado, a conquista do acesso à mídia
(1); e, por outro, o esforço de manipular as formas de acesso da imprensa a seus
bastidores (2). Os jornalistas, por sua vez, precisam dos serviços das fontes. É vital
para eles conciliarem a colaboração da fonte com as rotinas que o trabalho
jornalístico supõe. Para terem acesso às fontes, os jornalistas procuram manter
relações de proximidade e intimidade com elas. Essa proximidade agrada aos
jornalistas, que se sentem privilegiados por circular livremente entre os informantes, já
que muitos têm prestígio e poder. Por outro lado, gratificados pela “compreensão”
das fontes (quando essas, conhecedoras de suas rotinas, facilitam seu trabalho), os
repórteres correm o risco de exagerarem e interiorizarem a lógica das fontes e mesmo
de se identificarem com elas, criando cumplicidade tal, que perdem de vista o
interesse do público. SERRANO (2003) sugere que essa identificação leva à
confluência de posicionamento entre fontes e jornalistas, fato que pode ser checado
em análise das matérias de opinião dos jornais. Nessa linha de raciocínio, o
historiador DARNTON (1990:82), em sua experiência como repórter no New York
Times, relata que, depois de mais ou menos um ano na mesma área, os repórteres
tendem imperceptivelmente a adotar o ponto de vista das pessoas sobre as quais
escrevem. Ao ganharem familiaridade com elas, os jornalistas arriscam-se a ser
prisioneiros de seus informantes. Instaura-se a simbiose, em que os repórteres se
auto censuram para cultivar as fontes convencionais, enquanto essas, principalmente
as do governo, acostumam-se ao “toma lá da cá” com eles. Os assessores de
imprensa e encarregados das relações públicas adotam um tom de “estamos todos no
mesmo barco” e tentam parecer francos ou a irreverentes em seus comentários
oficiosos. Desse modo, influenciam o “ângulo” ou o “ponto de vista” de uma
reportagem, a maneira como ela é tratada e a impressão geral criada por ela. O
noticiário corre em círculos fechados: é escrito sobre e para as mesmas pessoas, e,
às vezes, em código privado.
Dessa forma, os problemas dos jornalistas podem tanto nascer da
convivência com as fontes, sujeitando-se às suas manobras de manipulação em
zonas de acessos seletivo e reservado, como também sofrer influências de questões
subjetivas ou das condições de trabalho que lhe são oferecidas. Os recursos e a
organização da redão, o tempo para a apresentação dos textos, os interesses e as
pressões dos grupos donos dos órgãos de comunicação limitam ou potencializam o
posicionamento dos profissionais em face das suas fontes de informação. Há, ainda,
o lobby dos anunciantes. Por outro lado, por simples falta de hábito, acontece de o
jornalista não explorar a riqueza de conteúdo de determinada ‘fonte formal’, como a
universidade, por exemplo, onde se critica e cria conhecimento. O repórter não tem
costume de consultá-la, por falta de tempo ou mesmo por desconhecimento do que
ela tenha a oferecer, perdendo a chance de aprofundar o conteúdo de seus textos. A
formação cultural, a experiência, a técnica, a ética do jornalista, o estatuto da
profissão e de sua empresa e a vigilância de seus pares como grupo de referência
são aspectos que pesam significativamente na qualidade de trabalho jornalístico e
na qualidade da informação disponibilizada ao público (PINTO, 1999).
Por outro lado, os jornalistas mantêm autonomia em relação às fontes,
sendo constantemente pressionados pela responsabilidade assumida perante o
público. Enquanto as fontes têm o poder de gerir e direcionar a informação, de modo
a conquistar visibilidade positiva na mídia, “encantando” repórteres ao facilitarem
sua rotina produtiva, também os jornalistas, individualmente ou em grupo
profissional, detêm poder considerável, que não são meros intermediários. Eles
109
podem desempenhar papel ativo na seleção do que divulgar, no enquadramento,
contextualização ou destaque das informações obtidas junto às fontes, que podem ser
compreendidas como patrimônio do próprio jornalista. A notícia pode ser gerada, pois,
no contexto da fonte ou das testemunhas de acontecimento, mas é reformulada
segundo as normas do discurso noticioso.
No relacionamento entre fontes e jornalistas, há que se considerarem,
ainda, as ações sociais, cuja natureza é essencialmente dialética. É o caso dos
movimentos sociais, exemplificados no surgimento das atuais organizações não
governamentais, que adotam outras estratégias para ganhar visibilidade na imprensa,
fazendo dela um jogo de espelhos. Mesmo que tenda a conferir maior visibilidade às
fontes de maior poder político e econômico, a mídia abre espaço para posições
alternativas e contestatórias. A ateão dos jornalistas, imprevisíveis em suas
escolhas e necessidades de fontes, é arduamente disputada, tornando-se arena
para a luta ideológica inerente à sociedade. A qualidade do jornalismo é, portanto, o
resultado de luta permanente. Por isso, o poder e a responsabilidade da imprensa nos
planos político e sócio-cultural impõem-lhe a definição clara e consciente de linhas de
atuação, o estabelecimento de critérios do que incluir e excluir e a competência
para analisar aquilo a que atribuir importância.
Segundo LAGE (2003), alguns pressupostos devem conduzir a
conversação entre fontes e jornalistas. As fontes podem mentir, mas é de se esperar
que não mintam, pois a mentira tem alto custo, operacional, moral e físico, sendo a
disseminação de informações corretas um princípio geral da conduta humana. Os
envolvidos devem agir de boa-fé, praticando a empatia, para que se consiga atender
a real necessidade da comunidade. A fonte, levada pela responsabilidade social, deve
fornecer ao repórter informações que sejam relevantes. Por outro lado, é comum
constatar que fontes e repórter desenvolvem estratégias discordantes, cada qual
pretendendo levar a conversa para o ponto que considere mais importante.
Os conflitos são minimizados por critérios de legitimação criados pela
imprensa e são sublimados pela obediência aos ‘critérios de noticiabilidade’,
consolidados na prática, o que BOURDIEU (2001) chama de habitus. A pressão leva
repórteres a adequarem o material a ser produzido ao layout pré-determinado em
tempo limitado, seguindo, de preferência, o caminho mais curto e cil. A pauta é
elaborada com base na concorrência, nos releases enviados com informações já
filtradas pelas ‘fontes formais’, por depoimentos de especialistas e pelas ‘referências
do grupo’ de jornalistas, rotina que leva a vícios de circularidade e a repetições. Tudo
isso contribui para a acomodação do repórter às suas rotinas, o que pode
comprometer o aprofundamento da informação jornalística que produz.
Vale destacar a dependência dos jornais com as agências de notícias e
a Internet, canais cada vez mais utilizados por pouparem tempo e minimizarem
custos de produção. A submissão das editorias às agências de nocias
internacionais, aparentemente aceita sem crítica, instaura outro conflito, uma vez que
aumenta a visibilidade de acontecimentos dos chamados países do primeiro mundo,
consolidando o desequilíbrio do fluxo de informações entre sul e norte. As
conseqüências são várias e afetam o exercício da cidadania. Ao privilegiar fatos
externos, a imprensa pode desviar a atenção do público para um mundo longínquo e
poderoso, ao invés de fomentar a discussão sobre as implicações políticas dos
problemas locais, o que facilitaria os processos de mobilização e organização sociais,
fundamentais para reverter as adversidades enfrentadas por um país como o Brasil.
Concluímos que a relação entre fontes e imprensa é conflituosa,
complexa e merecedora de investigações apuradas. Abrange aspectos como fatores
sócio culturais, econômicos, práticas e rotinas das organizações formais, dentre
estas, as fontes e empresas jornalísticas (como sistemas de produção e recuperação
da informação). A comunicação parece mesmo ser uma arena de jogos de interesse
(HABERMAS, 1998), na qual se determina a visibilidade dos acontecimentos e aquilo
que seja real. que se discutir, ainda, a relação entre a responsabilidade da mídia
e a responsabilidade do mundo das fontes formais, tendo por base o compromisso
de ambas as instâncias com a sociedade. Segundo PINTO (1999), falta-nos
aprofundar e consolidar o esforço de compreensão da gênese e do florescimento da
institucionalização das fontes, da sua lógica de funcionamento e das suas práticas
sociais. As inevitáveis relações de tensão ou conflito que decorrem entre fontes e
imprensa não podem ser entendidas como lutas entre bons e maus, mas entre lógicas
de ações sociais autônomas e distintas e, em qualquer caso, legítimas.
3.2.5 Interação social das fontes
Vimos, pelo exposto, que o relacionamento entre fontes e jornalistas
acontece sob o impacto da interação entre jornalistas, fontes e sociedade, sendo que
esta muitas vezes se manifesta no fenômeno da opinião pública.
BOURDIEU (1997:22) assume que “o jornalista é uma entidade
abstracta que não existe”; o que existe são jornalistas de diferentes idades, de um e
de outro sexo, com diversos graus de formação, diversos estatutos na profissão e
trabalhando em quadros institucionais bastante distintos, fatos que não podem deixar
de ser considerados na análise de sua relação com as fontes. Como seres dotados
de subjetividade, os jornalistas pretendem tomar suas próprias decisões e receiam
ser manipulados pela fontes ou por seus assessores. Para compor uma "estória", o
repórter precisa saber a quem fazer perguntas e quem pode ou tem competência para
falar, sendo a entrevista um instrumento de trabalho e de pesquisa (SERRANO, 2003)
Se o jornalista é um ator, ele esinserido em processo específico de
trabalho. Seus meios de produção são os recursos oferecidos pela empresa que o
emprega. As relações de produção pressupõem a submissão à hierarquia burocrática
de sua empresa, a obediência aos superiores e à influência de seus pares. Na busca
por informação junto às fontes, os jornalistas recorrem a algumas estratégias. Dentre
elas, destacam-se a recorrência às fontes “anônimas” ou aos “disfarces” para
obtenção de dados, como a prática do off the record
58
e do embargo, o recurso aos
rumores e boatos e a realização de sondagens investigativas (PINTO, 1999).
O recurso às fontes anônimas ou off the record, que designa aquilo
que se diz confidencialmente ao jornalista e que não pode ser publicado, constitui
destacado ponto de conflito no relacionamento entre as partes. Recomenda-se a
prática apenas quando o repórter tem plena confiança na fonte, com base em seu
histórico de credibilidade (BUCCI, 2000:133). A informação fornecida anonimamente
deve ser publicada se for de extrema relevância e a fonte pode ser omitida em
casos extremos, como punição ou risco de vida. O caso mais famoso de utilização de
fonte anônima aconteceu na década de 1970, em uma rie de reportagens
investigativas empreendidas por Bob Woodward e Carl Bernstein a respeito do Caso
Watergate, que culminou com a rencia do presidente Richard Nixon em 1973. O
principal informante, Mark Felt, ex-integrante do FBI, só teve sua identidade revelada
em 2005. Para exemplificar o nível de conflito, em 2004, a repórter americana do
New York Times, Judith Miller, foi condenada a três anos de prisão, por não ter
cedido à pressão do governo americano para revelar a fonte que, numa reportagem
sobre o Iraque, teria denunciado manipulações de informação por ordem do
presidente Bush. A mesma pessoa foi fonte de Matthew Cooper, da revista Time ,
que a identificou como a agente da CIA, Valerie Miller.
O produto final gerado pelo jornalista não é uma matéria científica.
Assim, o é costume colocar referências bibliográficas ou fontes em notas de rodapé
ou num quadro “saiba mais”, fato que tende a isentar as fontes de qualquer
responsabilidade com o que é publicado (SABBATINI, 2003). As matérias geradas
58
Off é o recurso de destacar que a fonte não quis ser identificada, enquanto o embargo é a total
omissão de que determinada fonte foi ouvida.
precisam ser aceitas pelo público. Uma "estória" depende do repórter conseguir ou
não que as fontes digam qualquer coisa com valor noticiável. Mas, em muito casos,
os repórteres limitam-se a verificar informação que recebem, ler o que outros
jornalistas escreveram sobre o mesmo assunto, relacionar os fatos, ouvir os
intervenientes e tentar publicar primeiro que os outros. A elaboração da matéria,
ressente-se de investigação apurada, fenômeno explicado por vários autores como
resultado da pressão imposta pelos deadlines
59
, tipo de constrangimento que
caracteriza o processo produtivo jornalístico, sobretudo nos jornais diários.
Outro fato que caracteriza a ação do jornalista é a recorrência às fontes
pessoais e orais. Numa cobertura política, por exemplo, os jornalistas fazem pouco
uso dos documentos dispoveis nos centros de documentação e arquivos das
redações, construindo suas "estórias" com base nos contatos com as assessorias de
imprensa ou com os próprios políticos. O jornalista pode, também, gerar informações,
sendo comum solicitar comentários às fontes em situações hipotéticas, criando
notícias completamente fictícias do ponto de vista da sua espontaneidade. É o que
se chama "fazer render as notícias". Ao solicitar reações e comentários de figuras
institucionais sobre acontecimentos, o jornalista privilegia os líderes legitimados,
deixando de fora o "homem da rua" (TUCHMAN, 1993).
A principal característica da ação das fontes é o próprio poder formal e
legitimado que lhes é conferido pela sociedade, em que pese duas variáveis:
conhecimento técnico que detém e a autoridade institucional conferida pelo seu
estatuto profissional burocrático. Segundo GENTILLE (2001), quando as fontes
dominam um saber que os jornalistas desconhecem, a tensão tende a tornar-se muito
mais intensa. Fontes diferentes apresentam requisitos diferentes, em termos de
exposição e de reserva de conhecimento, as estratégias de atuação das fontes são
59
Deadline é o momento, hora limite, a partir do qual não se pode mais esperar para que a matéria
seja finalizada.
bem diversas, mas podemos agrupar algumas: as fugas, a promoção dos pseudo-
eventos e o investimento em ações de relacionamento com a mídia.
Definimos como "fuga" o meio, através do qual a fonte, com propósito
bem definido, fornece uma informação, preparando ela mesma perguntas e respostas
sobre o fato a ser coberto pela imprensa, chamando (ou desviando) a atenção para
seus interesses. Mais que um anúncio direto, a "fuga" pode esconder determinados
objetivos. A "fuga" é um “pseudo-evento por excelência e pode acontecer na prática
ocasional de a fonte oficial confidenciar informação a alguns jornalistas, querendo
criar um clima de confiança mútua entre as partes (SERRANO, 2003).
Quanto aos “pseudo-eventos”, eles podem ser classificados como
eventos culturais e esportivos, divulgação de projetos, inauguração de obras,
declaração de decisões sobre políticas e estratégias de relacionamento com a
comunidade. Os “pseudo-eventos” confundem bastante os papéis de fontes e
jornalista, a ponto de não sabermos quem de fato cria o acontecimento, compõe e faz
a notícia. Os eventos parecem aparentemente espontâneos e pode existir relativa
transparência em suas ocorrências. Nesse caso, o relato dos acontecimentos satisfaz
ao jornalista. Mas, caso contrário, se os eventos são construídos e reconstruídos por
indivíduos e instituições, o jornalista limita-se a reportar as notícias, tarefa incompleta
que fere sua ética profissional (SERRANO, 2003).
Outra estratégia utilizada pelas fontes são os investimentos no
relacionamento com a mídia, o que inclui programação de gastos com almoços,
encontros, patrocínios de prêmios jornalísticos e outras práticas. Incluímos como uma
dessas ações a técnica da conversa de background, em que os políticos fornecem
enquadramentos de fatos aos jornalistas, por exemplo. Essa estratégia é eficaz, pois,
nem todas as fontes oferecem as mesmas facilidades de acesso (SERRANO, 2003).
As fontes que melhor se posicionam junto à mídia são aquelas que estabelecem
relações habituais e freqüentes com os jornalistas, isto é, as que produzem fluxos de
115
informação freqüentes, enviando briefing
60
e releases diários. Essas fontes o, em
geral, organizadas e profissionalizadas, constituindo importante sustentáculo das
relações de poder instituídas na estrutura da burocracia social (TUCHMAN, 1993).
A potica de relacionamento institui a cultura da sala de imprensa. Os
jornalistas aderem a ela devido ao pouco tempo de que dispõem para confirmar e
trabalhar as informações e à dificuldade de acesso rápido a outras fontes
documentais ou pessoais. No caso de uma coletiva, a informação fornecida é
assimilada por todos os presentes, de forma padronizada e única.
Se, como vimos, a mídia contribui para a reprodução, transformação ou
criação de determinada ordem social, as nocias devem, em última instância, agradar
ao público. Assim, a terceira e grande ação que envolve a notícia encontra-se no
fenômeno da opinião pública, que precisamos mencionar, mas, de forma alguma,
detalhar, devido à sua complexidade. Se, como relata SERRANO (2003), a mídia
decide o que seja importante para ser noticiado, se algumas pessoas e instituições
são aceitas como "fontes de informação" e se alguns eventos são considerados de
interesse para o público, ou seja, se os jornalistas e fontes são atores políticos não
desprezíveis, é o público que ambos querem atingir e é ele que sofre toda a sorte de
manipulações de informações ocorridas até a publicação das notícias .
BOURDIEU (1998) ironiza que os jornalistas agendam uma série de
pensadores como "fast-food", fato que passa desapercebido ao público, alienado à
ordem vigente. No imaginário popular, espera-se que o jornalista seja guardião dos
interesses da comunidade. Devido a essa responsabilidade, cabe principalmente à
mídia o patrocínio do jornalismo crítico e ativo (SERRANO, 2003).
60
Briefing, por exemplo, é a publicação diária da agenda de um executivo, como prefeito, governador
ou presidente.
3.2.6 Avaliando as fontes
Na literatura da ciência da informação, alguns estudos inspiram formas
de avaliar a qualidade das fontes. As maiores contribuições estão na área de
avaliação de sistemas e políticas de seleção. VILELA (2002), por exemplo, procurou
identificar formas de avaliar os sites governamentais, que, por serem voltados à
comunidade e por favorecerem o exercício da cidadania, mereceram ser
investigados. A dedicação de uma pesquisa sobre o tema justificar-se-ia, entre outras
coisas, para esclarecer as “netiquetas”, regras do que se publica na WEB, que
deveria veicular informações realmente relevantes para o público. As considerações
da autora são indícios para se pensar na qualificação das fontes e nelas nos
baseamos para estabelecer categorias para coletar dados e analisá-los
61
.
VILELA (2002) sugere que, de diferentes formas, os autores chegam a
algum consenso sobre os requisitos básicos para avaliar um site, extensíveis às
demais ‘fontes’ de informação. O uso de critérios para avaliar sistemas e fontes de
informações será sempre contingencial. A análise deve iniciar-se no diálogo com os
usuários, que precisam ser estimulados a adotar posturas crítica e objetiva sobre o
que procuram. A ausência dessa interação pode desencadear usos de fontes
inadequadas. Podemos agrupar pragmaticamente os critérios elencados por VILELA
como: autoria, acuidade, objetividade, clareza de posicionamento, atualidade, vida
útil, abrangência, aspectos visuais, conteúdo, precisão, relevância, interesse, fator
de diferenciação, linguagem, conectividade (disponibilidade, custo), interatividade
(navegabilidade, amigabilidade e mecanismos de feedback), diversidade de serviços,
referências bibliográficas e aceitação pelo público. Os critérios relacionam-se entre si.
Estudos bibliométricos, tendência que permeia a avaliação de qualidade de fontes
61
Lembremos que o universo desses sites englobam nossas fontes formais.
escritas, tomam muitos deles para atestarem a “qualidade de uma obra”, como,
nível de legitimidade de um autor da comunidade, currículo, índice de utilização pelo
público, número de citações de outros autores, linguagem, clareza, densidade de
informações e atualidade. WEBSTER (1972), ao discorrer sobre política de seleção,
faz referência praticamente aos mesmos critérios. A decisão do usuário por um ou
outro critério de escolha da fonte vai depender de seus interesses.
A autoria diz respeito aos responsáveis pela disponibilização das
informações e devem ser claramente identificados. Em caso de trabalho em equipe, a
ficha técnica das pessoas que a compõe também deve ser divulgada. O usuário deve
perguntar-se: que imagens externas possuem essas pessoas, que grau de
legitimidade ocupam na sociedade? Qual é a formação dos autores, que grau de
conhecimento têm? Fazemos as mesmas perguntas ao comprar um livro. Num jornal,
a autoria diz respeito aos currículos dos jornalistas. Poderíamos inferir que, para se
avaliar uma ‘fonte formal’, deve-se questionar além da autoridade de seus gestores, o
nível de conhecimento que estes possuem. Que imagem apresentam? Por que são
representativas como fontes?
Ligada à acuidade, está o conhecimento, o grande instrumento de
superioridade da administração burocrática, cuja indispensabilidade absoluta está
condicionada pela moderna técnica econômica da produção de bens, esteja ela
organizada de modo capitalista ou socialista (WEBER, 1999: 146).
A acuidade relaciona-se às fontes disponíveis e aos mecanismos de se
aferir sua credibilidade ou validá-las. Como identificar as fontes disponíveis, seu grau
de especialização e conhecimento? coerência nas informações oferecidas,
quando checadas junto a outras fontes?
Como objetividade, entendemos a forma como o usuário interage com a
fonte, a simplicidade dos caminhos percorridos para chegar ao que ele quer. No caso
de um site, o excesso de publicidade compromete a objetividade do repasse de
informações, pois, sendo desequilibrada, ela conturba a busca de informação por
parte do usuário. Nesse sentido, a objetividade estaria ligada à clareza do layout e à
facilidade de acesso. No caso de uma ‘fonte formal’, poderíamos pensar a
objetividade como a capacidade de ela fornecer as informações que foram realmente
solicitadas e à atitude de responder prontamente ao jornalista. muitos releases
com informações que extrapolam o que interessa à imprensa, contendo até
publicidade disfarçada.
Estritamente relacionada a esse fator, a clareza de posicionamento
da fonte, em todos os níveis. Na avaliação de uma fonte, eletrônica ou não, são
consideradas a identificação de sua identidade, seu propósito e sua eventual posição
política. A existência de patrocinadores deve estar explícita. Esse critério liga-se ao
atributo de parcialidade da fonte.
Atualidade relaciona-se à preocupação com a constante reciclagem das
informações no tempo. A ‘fonte formal’ pode ser avaliada pela manutenção de
programas de treinamento e reciclagem para seus empregados. Deve-se questionar
se sua atuação está compatível com as necessidades atuais do público.
A vida útil também é indicativo de confiabilidade da fonte. Um repórter
sempre pode perguntar-se: “há quanto tempo esta fonte existe? Ela se preocupa
constantemente com sua otimização? Qual é a sua história?”
A abrangência refere-se à área de cobertura das informações prestadas,
ao seu escopo. Os “aspectos gráficos” dizem respeito ao design, ao layout, à clareza
dos aspectos visuais.
O quesito conteúdo é uma espécie de ‘ponto de checagem’ dos vários
atributos. Sua avaliação procura analisar, por exemplo: a autoria, validade,
credibilidade, a adequação da informação ao público alvo, sua relevância (em que é
útil) para a comunidade, que interesse gera, seu nível de precisão, atualidade e
profundidade. Se o conteúdo reúne a consolidação de uma série de atributos, o
critério de diferenciação busca descobrir o que uma fonte apresenta e o que a torna
única perante as demais. Seria o que é chamado na literatura da administração como
‘diferencial competitivo’.
A linguagem diz respeito à clareza, correção e simplicidade dos textos e
sua adequação ao público. Ela deve ser amigável e acessível, considerando o nível
de conhecimento prévio do usuário. O repórter, por exemplo, ao procurar ouvir
especialista, deve fazer pesquisa prévia para conversar com ele, de forma que possa
traduzir seu conhecimento ao público leigo. O âmbito da influência da linguagem,
com caráter de dominação sobre as relações sociais e os fenômenos culturais, é
muito maior do que parece à primeira vista. Por exemplo, a imposição de normas de
linguagem expressa a dominação que se exerce na escola. Os dialetos que
funcionam como linguagem oficial das associações poticas auto céfalas, portanto, de
seus regentes, vieram a ser formas ortodoxas de linguagem, oral e escrita, e levaram
às separações nacionais. (WEBER, 1999: 141).
A conectividade refere-se a aspectos relativos a como o usuário pode
usar a fonte e à relação de “custo e benefício” para o acesso. Nesse caso, o
jornalista de pergunta: que recursos são exigidos para acessar a fonte? Que
programas e equipamentos são necessários para a captura de informações? Ela
estará acessível por site de internet, por mail, telefone ou pessoalmente.
Hoje, a rede é um dos principais meios de comunicação entre fontes e
imprensa. No meio eletrônico, a “interatividade” é fator importante na avaliação da
fonte. Reúne aspectos como a navegabilidade, amigabilidade e relacionamento
fonte/usuário. Na navegabilidade, destacamos a organização, funcionalidade e
racionalidade dos links. As ferramentas de busca devem ser eficientes e levar a
fontes confiáveis e pertinentes sobre o assunto que o usuário procura. A
amigabilidade é mais uma conseqüência de vários aspectos, como a clareza da
linguagem dos textos, a facilidade de se compreender o visual gráfico, a existência
ou não de instrução de uso, à facilidade com que o usuário tramita e outros.
Além dos fatores apresentados, propomos também a ‘qualidade dos
resumos’ que a fonte disponibiliza, seja em sites de internet ou publicações diversas.
Atualmente, com a abundância de informações, o resumo torna-se referência
imprescindível durante a seleção de uma fonte de informação.
Para DARNTON (1990:87), “quaisquer que sejam suas imagens e
fantasias subliminares, os jornalistas têm pouco contato com o público em geral” e
não recebem quase nenhum retorno deles. O ‘relacionamento da fonte com usuário’ é
decisivo na avaliação da fonte, principalmente se ela é um sistema de informações,
como no caso da internet. Que mecanismos de interação propõe? Ela desenvolve
pesquisa de satisfação? Retorna tempestivamente os questionamentos feitos? Quais
são os mecanismos de feedback? Respeita a privacidade, ou cadastra seu código
de acesso para envio de mala direta e mensagens sem autorização prévia do
usuário? A otimização do sistema vai depender muito dessa relação.
No caso de site de um órgão público, que geralmente se propõe a
contribuir para o exercício da cidadania, destaca-se também a ‘diversidade dos
serviços’ oferecidos como fator de avaliação. O mesmo critério pode ser tomado para
avaliar empresas do setor de serviços, como bancos. A menção às ‘referências
bibliográficas’ colabora para a avaliação de qualquer fonte de informação. No caso da
internet, a referência bibliográfica torna-se diferencial competitivo de alguns sites. O
índice de ‘aceitação pelo público’, número de visitas ao site, também deve ser
considerado na avaliação da fonte.
A TAB.9, p.122, consolida os critérios de avaliação desenvolvidos por
vários autores. Com os dados obtidos, tentamos mapear e identificar os indicadores
de avaliação da ‘qualidade de informação’ das ‘fontes formais’, pelo público que
entrevistamos.
No jornalismo, a fonte é considerada confiável por vários fatores: pelo seu
reconhecido conhecimento, por ter participado de um acontecimento, pela autoridade
que possua na sociedade ou pelo cargo que ocupe numa organização. O trabalho de
CHAVES (2000) ajuda-nos a entender por quê, para o público, o maior defeito das
informações jornalísticas reside na parcialidade, conforme TAB.10, p.123, sinalizando
conflito entre fontes e jornalistas.
121
TABELA 9 - CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
ALEXANDE
R & TATE
NETFIRST
OCLC
AMERICAN
LIBRARY
ASSOCIATION
SOUTH WEST /
MARYLAND/
NEW MEXICO
UNIVERSITY
ALBANY
UNIVERSITY
SMITH
HARRIS
BARBOZA
ET AL
ESCHENFELDER
ET AL.
EVANS
RESUMO DA AUTORA
autoria
Responsável
Autoria
Reconheci
mento
Autoria Autoria Autoria
Prêmios e
reconhecimento
Autoria Autoria
Responsável
técnico
Autoria Autoria
Responsável
técnico
Autoria: Exposição clara dos
responsáveis, ficha técnica,
legitimidade (imagem externa),
formação, conhecimento.
Acuidade
Fontes
Fontes Fontes Acuidade
Fontes
Fonte Diversidade Acuidade
Fontes
Acuidade/ Fonte
Credibilidade
Fonte
Acuidade
Fontes
Acuidade/ Fontes disponíveis/
Credibilidade/ Verificação
Objetividade
Publicidade
Objetivo
Publicidade
apropriada
Objetividade
Publicidade
equilibrada
Objetividade Objetividade/ Publicidade
equilibrada
Clareza de
objetivos
Clareza de
propósitos /
Imparcialidade
Imparcialidade
Clareza de missão e
propósitos
Imparcialidade Clareza de
propósitos
Clareza de
propósitos/
imparcialidade e
transparência
Metas e
objetivos
Clareza de posicionamento:
identificação de identidade,
propósito, posição política.
Atualidade Atualidade Atualidade Atualidade Ciclo- Atualidade
Novidades
Atualidade Atualidade Atualidade Atualidade Atualidade: exposição clara de
sua atualização.
Vida útil Vida útil.
Cobertura Cobertura Cobertura/ escopo Cobertura/
Escopo
Cobertura/
escopo/abrangência.
Design Design Design Planejamento
Gráfico e
Visual
Design Design Layout - Aspectos gráficos e
visuais.
Conteúdo
Veracidade
Adequação à
audiência
Conteúdo/
Precisão/
Adequação à
audiência
Conteúdo/ Adequa-
ção à audiência/
Volume de
informação
Conteúdo
Precisão
Conteúdo
Nível de
profundidade
Conteúdo
Coerência com
missão/ relevância
Conteúdo Conteúdo: adequação ao
público alvo/ precisão/ nível de
profundidade/ interesse
relevância/ quantidade.
Estilo diferente
Exclusividade
Fator de diferenciação
Linguagem
correta e clara
Linguagem
correta e clara
Linguagem correta
e clara
Qualidade da
redação
Correção
gramatical
Qualidade da
linguagem
Linguagem do texto e visual:
clareza, correção simplicidade,
e adequação.
Conectividade
Estabilidade
Conectividade/
Custo/Disponi-
bilidade Velocidade
de acesso/ tempo
de resposta
Recursos de
multimídia
requeridos
Recursos
técnicos
Conectividade
Velocidade de
acesso
Acessibilidade
Disponibilidade
Sustentabilida
de / Acesso
Disponibi-
lidade
Custo
Conectividade:
Velocidade de acesso
Retorno de resposta
Disponibilidade
Custo - Recursos exigidos.
Links Links
Clareza da
interatividade
Navegabilidade
Links funcionam?
Interatividade
Navegabilidade
Links/
Funcionalidade
Navegação
Organização de links
Interatividade Navegabilidade/
links/organização, funciona-
lidade, racionalidade dos links.
Ferramentas de busca
Compreensi-
bilidade
Amigabilidade
Compreensibilidade/
Instruções
Compreensibilida
de
Interatividade
Compreensibilidade/
instruções de uso
Amigabilidade/ instrução/
linguagem.
Mecanismos de
feedback / Respeito
à privacidade dos
usuários
Audiência
Suporte para
reclamações e
retorno
Suporte para
retorno
Privacidade
aos usuários
Mecanismos de
feedback
Suporte
interação c/
usuário
Relacionamento com usuário/
mecanismos de interação/
retorno/ pesquisa de satisfação.
Diversidade de
serviços oferecidos
Uso cidadão Diversidade de
serviços
Diversificação de serviços
oferecidos
Controle bibliográfico Referências bibliográficas
Número de visitantes
visível
Índice de visitas ao site
Avaliação de
performance
Preocupação com constante
otimização
Fonte: Elaborado pela autora, a partir da leitura de VILELA, Renata M. Governo Eletrônico: uma avaliação dos portais estaduais
brasileiros na Internet.
UFMG, 2002.
TABELA 10 - PRINCIPAIS DEFEITOS DAS INFORMAÇÕES JORNALÍSTICAS
Fonte: CHAVES (2000)
Respostas múltiplas
Os defeitos e as sugestões de melhoria apontados (TAB.11, p.124)
oferecem-nos pistas de como o sistema de informação é avaliado pelo usuário.
Percebemos que muitos critérios se assemelham aos propostos pela avaliação de
fontes discutidos anteriormente, como: clareza de posicionamento, conteúdo,
relevância, objetividade, linguagem, formato, abrangência, atualidade e outros. As
preocupações com o conteúdo superam aspectos técnicos, que pouco foram
lembrados. Diríamos que o fato de nos nortearmos pela literatura da ciência da
informação procede, pois tentamos estabelecer os critérios de avaliação das
’fontes formais’. Ela conduziu nossos procedimentos metodológicos, como, por
exemplo, no desenvolvimento de instrumentos de coleta de dados. Se, na ciência
da informação, as sugestões de avaliação de fontes sugerem preocupação maior
com o conteúdo, vejamos como o assunto é abordado na literatura do jornalismo.
DEFEITO
RESPOSTAS
%
Parcialidade: Manipulação, autopromoção
111
65,68
Falta de conteúdo:
profundidade, análise, relacionamentos
78
46,15
Impacto: sensacionalismo
57
33,73
Imprecisão e distorção de fatos 33 19,53
Abrangência limitada, tanto nacional como do interior 27 15,98
Problemas de linguagem, estilo, erros, revisão 23 13,61
Completeza: manchetes sem complemento, continuidade de cobertura 21 12,43
Problemas no layout das páginas ou dos cadernos 19 11,24
Redundância de informações 19 11,24
Notícias desatualizadas 16 9,47
Relevância: Falta de interação com o público 9 5,33
Falta de novidade: veiculam mesmo que outros jornais 7 4,14
Falta de ética 5 2,96
Pertinência: uso de agências, com notícias que não têm a ver 5 2,96
Não contribuir p/ educação e desenvolvimento da comunidade 4 2,37
Imparcialidade: não toma partido, fica em cima do muro 4 2,37
Subjetividade: Editorias desinteressantes 3 1,78
Entretenimento que aliena 2 1,18
Falta de objetividade (extraída de outros) 1 0,59
Outros 5,00
TABELA 11- SUGESTÕES PARA MELHORIA DE INFORMAÇÕES
Sugestões Respostas
%
Checar e pesquisar mais, melhorar fontes 28
20,29
Maior precisão 20
14,49
Aprofundamento e análise 19
13,77
Pesquisar necessidades do leitor, aproximar comunidade
Ombudsman
15
10,86
Mais imparcialidade e isenção 13
9,42
Melhorar nível do profissional 12
8,70
Mais independência 12
8,70
Menos sensacionalismo 11
7,97
Melhorar a linguagem 10
7,25
Comportamento mais ético 10
7,25
Maior abrangência 9
6,52
Melhorar layout 8
5,79
Planejamento e melhoria da linha editorial 6
4,35
Ser mais didático e contribuir para a educação 6
4,35
Menos interferência comercial 5
3,62
Maior especialização, segmentação 5
3,62
Posicionar-se politicamente 3
2,17
Diminuir redundância 2
1,45
Denunciar órgãos públicos e acompanhar seus feitos 2
1,45
Mais objetividade 2
1,45
Mais independência econômica do governo 2
1,45
Menos politicagem 2
1,45
Textos mais enxutos 2
1,45
Notícias mais atrativas 1
0,72
Não copiar concorrência, variar mais 1
0,72
Notícias mais atualizadas 1
0,72
Mais subjetividade 1
0,72
Aumentando a concorrência 1
0,72
Diminuir número de matérias, com seleção de conteúdo 1
0,72
Colocar o índice 1
0,72
Mais variedade 1
0,72
Não usar tanta agência de notícia 1
0,72
Fonte: CHAVES (2000)
Respostas múltiplas
Segundo CORREIA (2003), “a indústria jornalística prescindiu da
crítica e da reflexão, aderindo facilmente aos estereótipos e preconceitos
dominantes ou julgados como tal”. Esse fato ocorreu, como vimos, porque a mídia
utiliza fontes, que tendem a reproduzir a estrutura social em todas as suas
dimensões e diferenças. No aspecto qualitativo, as maiores exigências do
jornalismo referem-se ao fato de que as nocias sejam produzidas conforme as
normas:1) correção gramatical e simplicidade estilística da linguagem, 2)
objetividade, compreendida como mera descrição dos fatos; 3) seleção da
temática que gere "interesse humano”. Do lado da produção, prevalecem os
valores de aceitabilidade que façam a notícia coincidir com o gosto médio do
público, que deve compreendê-la de forma direta e rápida, em detrimento de um
raciocínio crítico e temporalmente dispendioso. Como resultado de tudo isso, o
jornalismo tende a disponibilizar informações, simplistas e superficiais, traduzidas
como o conhecimento epidérmico do mundo. O autor insiste, então, na pergunta:
como evitar o canto da sereia e compatibilizar a vocação da mídia para reforçar os
valores dominantes com o exercício da racionalidade crítica, levando-se em
consideração a liberdade e a inteligência dos indivíduos, usuários da informação?
Uma das respostas pode ser encontrada na otimização do processo de avaliação
das fontes jornalísticas. É uma proposta desafiadora, pois
“o desenvolvimento dos sistemas de produção de bens simbólicos, em
particular, do jornalismo, é paralelo a um processo de diferenciação cujo
princípio reside na diversidade dos públicos aos quais as diferentes
categorias de produtores destinam seus produtos e cujas condições de
possibilidades residem na própria natureza dos bens simbólicos.”
BOURDIEU (1987: 102)”.
O caminho pode começar, por exemplo, pelo monitoramento da
imprensa pelo público ou pela própria mídia, através do trabalho de ombudsman,
que compõe, hoje, a estrutura de grandes jornais, cujos objetivos foram
explicitados pela ONO, Organization of News Ombudsman, em 1982: cuidar do
aperfeiçoamento contínuo, equidade, exatidão e responsabilidade do jornal,
aumentar sua credibilidade, investigar todas as queixas, recomendar ações
corretivas quando for o caso, alertar o diretor de redação sobre todas as queixas,
fazer conferências e escrever para o público sobre linhas, posições e atividades do
jornal e/ou para particulares, quando oportuno. No Brasil, as principais adesões
125
por parte da imprensa aconteceram após a publicação da lei do Código de Defesa
do Consumidor, em 1990.
Nesse sentido, LUCAS (2003), analisou a experiência no jornal O
Povo, de Fortaleza, que, de 1994 a 2003, teve o cargo de ombudsman ocupado
por sete diferentes profissionais. Percebeu vários conflitos no exercício do cargo.
Apesar de se visar ao acompanhamento crítico do trabalho e a consideração o
posicionamento dos leitores, o que ajudaria o jornal a promover salto qualitativo no
processo de produção da notícia, a maioria relatou que a experiência como
ombudsman foi extremamente desgastante, uma vez que os colegas se
mostravam resistentes e desconfortáveis por se sentirem vigiados. A minoria
considerou a experiência válida, compreendendo que jornalista e leitor não têm o
mesmo olhar, fato que, sendo detectado, colaboraria para otimizar as rotinas.
Embora os erros de qualidade mais percebidos pelos leitores fossem os
gramaticais, esses se posicionavam abertamente sobre os vícios de
superficialidade, redundância de uso de fontes, excesso de sensacionalismo e
ofereciam sugestões
62
. A proposta do cargo de ombusdman era pertinente e talvez
seria interessante que, nos diversos órgãos de imprensa, cada jornalista ocupasse
o cargo, em sistema de rodízio, vivenciando toda a sua dimensão. A partir dele,
poder-se-ia pensar num programa de relacionamento com o leitor, de forma a
otimizar o entendimento entre as partes.
GRADIM (2004) defende que a seleção e o acesso às fontes são
importantes para qualquer publicação. Para isso, ela propõe planejamento para
que o jornalista se relacione com as fontes, baseado em algumas premissas: 1) a
boa fonte deve ser competente e qualificada, mas só se deve recorrer a ela na sua
área de conhecimento; 2) as fontes podem ser “profissionais”, especializadas em
lidar com jornalistas, o caso dos profissionais de relações públicas e assessores
de imprensa; 3) nenhuma fonte, profissional ou não, é desinteressada; 4) o
jornalista atento sabe constituir uma tipologia das fontes, 5) se houver vítima e ela
estiver em condições, deverá ser ouvida; 6) selecionadas, localizadas e avaliadas
62
Muito próximas aos dados colhidos e sintetizados em nossas TAB.10 e 11, p. 123 e 124.
126
as fontes, a coleta de informação deve ocorrer de forma sistemática, com rigor
metodológico e todos os dados devem ser verificados e confirmados por outras
fontes; 7) o jornalista deve adotar regras para se relacionar com as fontes;
preparando cuidadosamente as entrevistas a serem realizadas, documentando-se
e esboçando mentalmente as perguntas; 8) as fontes, sem exceção, devem ser
citadas; 9) dados obtidos em off the record devem ser usados para confirmar
informações de outras fontes ou vice-versa; 10) é necessário especial cuidado com
as rotinas e as relações que estabelece com as fontes, que devem ser tratadas
com cordialidade e cortesia; 11) se houver falha na coleta de dados, todo o
trabalho fica comprometido, sendo melhor reconhecer o erro e recomeçar; 12) se a
coleta for competente, obtêm-se os dados necessários para elaboração da matéria,
podendo até, em caso de dificuldades, ser auxiliado por um editor ou um colega;
13) o jornalista deve permanecer sempre no local até o final do acontecimento; 14)
quando relevante, deve-se relatar a circunstância da produção da notícia ou do
próprio acontecimento; 15) o jornalista deve ter consciência de sua
responsabilidade e não provocar acontecimento; 16) o jornalista deve saber
selecionar entre as miríades de press releases e anúncios de informações que
recebe, aqueles que são verdadeiramente importantes, negligenciando os demais;
17) o repórter não deve aceitar questões prévias, nem escritas antecipadamente
pelas fontes; 18) ao reescrever um discurso, deve permanecer fiel ao que ouviu;
19) as entrevistas devem ser preparadas com antecedência; 20) o jornalista deve
sempre identificar-se e ser pontual; 20) apesar de utilizar o gravador como
suporte, o jornalista deve prestar a máxima atenção ao que o entrevistado falar ou
fizer, guardando as declarações importantes; 21) as entrevistas devem ser
presenciais; 22) o jornalista deve guiar-se por regras para conduzir as entrevistas,
preparando-se para cada pergunta que fizer, agrupando as questões por temas;
23) o jornalista deve evitar a timidez, colocar todas as questões pertinentes e não
deixar o entrevistado fugir às perguntas; 24) o jornalista deve reconhecer que é um
estranho a quem entrevista, devendo pautar-se pela discrição, expressando-se
com humildade e simplicidade e evitando expressões que insultem a inteligência do
entrevistado; e, 25) finalmente, depois de iniciada a entrevista, o jornalista deve
observar respeitar as convicções religiosas do entrevistado, não expor ou deixar
transparecer sua opinião, nunca discutir e nem cultivar familiaridade com
entrevistados, tratar autoridades pelo nome do cargo (senhor ministro, corretor, e
outros), conduzir-se com seriedade e honestidade, não atribuir declarações
fictícias ao entrevistado, não formular perguntas que possam ser respondidas por
sim ou não, ter cautela com dados ou afirmações que possam gerar controvérsias,
não submeter a matéria à aprovação do entrevistado e não corrigir os
entrevistados. Essas premissas são importantes, pois levam o repórter a perguntar
as coisas certas, da maneira certa, às pessoas certas.
Podemos ver que, ao tentarmos discorrer sobre avaliações de fontes,
alguns caminhos são apontados como: a auto crítica ao trabalho pela criação de
cargos como o de ombudsman, análise do conhecimento ou autoridade da fonte,
os cuidados no relacionamento com ela e código de conduta para a execução de
entrevistas. Ou seja, chegamos à própria complexidade da problemática das
fontes. Esse “embaralhamento” de temas pode ser explicado pelo fato de haver,
ainda, pouca discussão e produção acadêmica a respeito da questão.
3.2.7 Novas perspectivas
A expansão dos meios de comunicação trouxe profundos impactos às
relações sociais, sobretudo o surgimento da televisão. As informações veiculadas
pela mídia destacam a experiência dos que nela têm visibilidade e ocupam a
agenda do debate nas diversas comunidades. Famílias deixam de discutir seus
problemas para conversar sobre suas novelas favoritas ou noticiários. Revistas
semanais inspiram bate-papos em barzinhos e encontros informais. Assim, a mídia,
sobretudo a televisão, “substitui a experiência e constitui o simulacro da realidade
(SANTOS, 1997).
“Outro fenômeno que parece relevante analisar é o das novas
tecnologias da comunicação: multimídia, redes, telemática, ampliação das
capacidades das bases de dados” (GRADIM, 2004), que impactam sensivelmente
as rotinas jornalísticas e o compromisso das fontes no fornecimento de informação
à sociedade. O computador alterou significativamente o trabalho nas redações, as
formas de interação com as fontes e se integrou à difusão de informação e,
principalmente, possibilitou a interatividade da comunidade. Por outro lado, a
informática alterou o trabalho de gestão das fontes organizacionais, que têm agora
a possibilidade, através da internet, de se comunicarem diretamente com a
imprensa e o público.
GONÇALVES (2002) e LIMA (2000) entendem que encontramos hoje
uma crítica ao conceito de jornalismo de precisão, elaborado no começo dos anos
70. Apesar de preservar a função clássica, o jornalismo vive um momento de
expansão do processo de produção, circulação e consumo de conteúdos nas redes
telemáticas. O novo conceito é o de jornalismo assistido por computador, nas
reportagens, pesquisa, referência e relacionamento com o público e com as fontes.
O jornalista conta com programas para cálculos complexos, elaboração de tabelas,
que ajudam a composição das matérias. Com o acesso a intranet e à internet, a
coleta de dados pode incluir fontes secundárias como relatórios, artigos e demais
publicações. É possível participar de encontros nas listas ou nos grupos de
discussão. Nos sistemas convencionais de jornalismo, a preferência pelas fontes
oficiais é estratégia dos profissionais para obter dados fidedignos de
personalidades reconhecidas. À medida que a arquitetura descentralizada do
ciberespaço desarticula o modelo clássico, incluindo novas fontes e a interatividade
com o próprio público, novos critérios são necessários para conferir confiabilidade
ao sistema de apuração de informações.
Ao mesmo tempo, a multiplicação das fontes, produtoras de discursos
e iniciativas, traz novos atores à cena social e exige uma reestruturação das
organizações jornalísticas (PINTO, 1999). Para MATTELARD (1999:9), “a
proliferação das tecnologias e a profissionalização das práticas acrescentaram
novas vozes à polifonia dos múltiplos sentidos gerados pela comunicação”. Assim,
necessidade de treinamento connuo dos jornalistas, principalmente no
trabalho de levantamento dos dados necessários para elaborar a notícia ou
reportagem. Se no jornalismo convencional, a notícia consiste da própria
declaração, no jornalismo atual, a declaração é apenas um dos elementos que
reforça a credibilidade da notícia, por conferir aos envolvidos o direito de se
expressarem. Um dos grandes segredos do sucesso de uma rede de comunicação
reside no investimento em consulta às fontes disponíveis. Com o exame cuidadoso
dos bancos de dados existentes na rede, o jornalista pode descobrir fatos de
enorme relevância muito antes de serem divulgados pelas fontes.
Sob essa ótica, cresce a importância dos centros de pesquisa e
documentação como suportes ao trabalho do repórter, muito comuns , por
exemplo, nos Estados Unidos. Para PINTO (1999), esse investimento não deve ser
encarado como custo, mas um aperfeiçoamento de gestão para que o jornalismo
reduza a tecnologia ao uso instrumental e de aperfeiçoamento, sem desestabilizar
os fundamentos da prática da profissão.
Com a perspectiva de maior interatividade entre fontes e usuários;
fontes e jornalistas; e jornalistas e usuários, novos critérios de eficiência são
solicitados à mídia. Segundo NOVACH e ROSENSTIEL (2003:41), “os jornalistas
necessitam de “habilidade para olhar as coisas sob ltiplos pontos de vista e
habilidade para chegar ao fundo”. Ele não decide mais o que o público deve saber
mas o ajuda a por ordem nas coisas.
Navegar num oceano cada vez mais vasto e mais denso pressupõe,
para jornalistas e para os blicos, novas competências de discernimento e de
avaliação (GONCALVES, 2002). A diluição do papel de intermediário dos
jornalistas, através da seleção e da hierarquização da informação, sugere que ele
tenha o potencial cada vez maior de interferir no processo de produção da notícia,
juntamente com os editores. Não basta descrever os fatos e incluir novas fontes; o
público tende a exigir capacidade analítica competente, imparcial e inteligente.
Com as novas tecnologias, a visibilidade das fontes, tradicionais ou
alternativas, formais ou informais, extrapola a própria mídia. As fontes clássicas
como prefeituras, câmaras de vereadores, assembléias legislativas, gabinetes de
governos estadual ou federal, câmara federal, senado, federações, empresas,
sindicatos e, ainda, as variadas fontes independentes estão acessíveis ao
público e zelam por seus interesses e imagem no ciberespaço, que se torna uma
arena de disputa de comunicação (GONCALVES, 2002). Para favorecer a
visibilidade de modo mais competente, multiplica-se a contratação de assessores
de imprensa por empresas, celebridades, especialistas e outros. Com a “sobre
informação” existente, exige-se, cada vez mais, que a mídia faça o papel de
filtrador e analista contextual (SOUSA, 2000).
Em meio a tantas ofertas, o grau de compromisso da fonte com o bem
público passa a constituir importante filtro para a imprensa. Nesse contexto, novos
desafios se apresentam às fontes formais. O trabalho de especialistas e das
assessorias de comunicação requer maior reflexão sobre o papel social das
empresas a que servem e a consciência ampliada do que representam as
informações que disponibilizam. As fontes formais, ao manterem contato direto
com o público, são obrigadas a assumirem maior responsabilidade com o que
divulgam, exigindo maior competência de seu quadro de assessores. Assim, a
‘revolução das fontes’, fenômeno estudado por CHAPARRO (1994), adquire
características e alcance ainda mais amplos.
Se, as fontes formais ocupam o ciberespaço, possibilitando o contato
direto com os usuários, também estes se incorporam ao circuito de produção de
conteúdos pela rede. Assim,
“o estabelecimento de uma relação sem intermediários entre as fontes e
os usuários decorrente das caractesticas da tecnologia digital permite
concluir que a pesquisa sobre as fontes não se circunscreve mais às
relações dos jornalistas com as fontes oficiais ou com fontes
institucionalizadas pautadas por uma lógica de ação estratégica,
comportando como elemento estrutural não menos importante, os
usuários como fontes para o jornalismo. A inclusão dos usuários como
fontes coloca na agenda da pesquisa sobre o campo jornalístico um
aspecto até agora negligenciado pelos códigos de ética do jornalismo
convencional: as responsabilidades dos usuários das redes como fontes
para os jornalistas”. (PINTO, 2003).
O impacto das novas tecnologias da comunicação impõe, pois, a
revisão no código de ética profissional do jornalista e a criação de código de ética
para fontes e usuários, com a definição dos direitos e deveres de cada um,
“ampliando um compromisso antes restrito aos jornalistas e órgãos públicos oficiais
(PINTO, 1999)”.
A inclusão das fontes e do usuário no ciberespaço diminui, de certa
forma, o trabalho de intermediação do jornalismo. Porém, a mídia tende a analisar
e a interpretar os fatos. Os cidadãos, com acesso direto às instituições públicas e
privadas, através de canais como internet ou de telemarketing, podem checar a
veracidade das informações publicadas pela imprensa.
Por todas as exposições anteriores, concluímos que a pesquisa sobre
as fontes extrapola o trabalho jornalístico, pois inclui os usuários, sendo essas
dimensões integradas e merecedoras de abordagem crítica mais ampla. Ao
jornalismo, cabe se ater à questão, refletindo sobre seu papel no atual cenário e as
responsabilidades que lhes são inerentes como sistema de informação de ampla
repercussão na configuração social. Por parte das fontes, cabe a reflexão sobre
seu papel no espaço público e a conscientização sobre sua responsabilidade
social. Em relação ao usuário, cabe-lhe o papel de eterno aprendiz, estando alerta
para analisar a informação que recebe, observando seu conteúdo, sua origem, o
sistema de produção e circulação, tendo ciência dos agentes envolvidos nesse
processo, seus interesses e lógicas.
3.2.8 Pensando um pouco sobre questões éticas
Tendo em vista os apelos dos autores que reivindicam a discussão
sobre novo código de ética que norteie a conduta do jornalismo e das fontes no
cenário atual, no qual ambos tendem a assumir novas responsabilidades e
atribuições, incluímos nesta tese a reflexão sobre o assunto.
Essa proposta é pertinente porque somos sugestionados a pensar
que ela interfira diretamente nos atributos qualitativos da informação. Podemos
apontar dois princípios lógicos que permeiam a ética jornalística. O primeiro é o
enunciado de sua própria missão clássica; informar, interpretar, educar e entreter.
O segundo princípio gico da ética dos profissionais que produzem ou disseminam
a informação é apresentado por BUCCI (2000, 56), quando afirma que “o acesso à
informação pública é um direito inerente à condição de vida em sociedade, que não
pode ser impedido por nenhum outro tipo de interesse”. Esse ideal deve guiar o
comportamento dos jornalistas e, como diz, LARA (2003), a conduta das fontes.
BUCCI (2000) defende que o jornalismo cumpra sua missão social,
antes de ser entendido como um negócio qualquer, e reivindica uma ética para o
jornalismo, que “não se resume a uma normatização do comportamento de
repórteres e editores, encarna valores que fazem sentido se forem seguidos
tanto por empregados da mídia como seus empregadores” (BUCCI, 2000:12).
Declaram KOVACH e ROSENSTIEL (2003: 206) que os jornalistas têm a
responsabilidade de ser conscientes e “o jornalismo deve prover um fórum para a
crítica e o comentário público”.
Para BUCCI (2000:11), a ética pode ser proposta porque “a
comunicação social é o lugar por excelência do conflito”. Porém, o autor afirma
que “onde conflito de interesses (e sabemos que eles são inerentes à
informação jornalística), não se gera informação de qualidade possível“. Como
vimos, o discurso jornalístico expressa interesses diversos: das fontes, sejam elas
partidos políticos, organizações públicas ou privadas, dos próprios jornalistas, do
público e das grandes empresas de comunicação, embora exista hoje tendência
ao monopólio dos grupos que controlam a mídia (BAGDIKIAN, 1999). Para
começarmos a pensar em ética em mídia e comunicação, precisamos reconhecer
essa arena de interesses. Lembra DOWING (2002) que, ao longo da história,
vários grupos se organizaram e precisaram comunicar-se através da imprensa para
conquistar suas reivindicações. Ele apresenta vários exemplos, como a revolução
francesa, os revolucionários americanos na luta da independência, lutas operárias
e movimentos feministas.
Constatações, concluiríamos: que não seria possível pensar em
informação jornalística de qualidade, na linha de raciocínio de BUCCI; ou, melhor,
que interesses de terceiros permeiam todo o fenômeno qualitativo da produção e
disseminação da informação, precisando ser explicitados e debatidos pela
sociedade. Nessa linha de raciocínio, pensar em ética remete-nos ao conceito de
comunicação dialógica de Paulo Freire, recuperado por LIMA (2000: 64):
“no momento em que as potencialidades das tecnologias interativas
acenam para a quebra da unidirecionalidade e da centralização das
comunicações, o conceito de comunicação dialógica, relacional e
transformador oferece mais referência normativa revitalizada, criativa
e desafiadora para todos aqueles que acreditam na prevalecência de
um modelo social comunicativo e libertador”.
O diálogo sobre ética requer que se entendam os interesses dos
principais atores e os fatores que interferem no processo. Reconhecendo que
poucos grupos controlam a mídia, _no caso do Brasil: famílias, organizações
políticas e grupos religiosos
63
_, e que os editoriais são “a alma de um jornal, um
reflexo de seu caráter e filosofia” (TALESE, 2000: 90), fica mais fácil compreender
alguns eventos. Por exemplo, entendemos o fato de um jornal assumidamente
democrata, como o The New York Times, ter amparado sua repórter Judith Miller
(condenada a três anos de prisão, por o ter cedido à pressão do governo Bush
para revelar a fonte que denunciara manipulações de informação na invasão do
Iraque). o jornalista: Matthew Cooper sentiu-se pressionado pelo grupo Time,
assumidamente republicano, mesmo partido do presidente, e acabou entregando a
agente da CIA, Valerie Miller.
63
VENICIO LIMA (2001) aborda o assunto, leitura que recomendamos pela riqueza de conteúdo.
Seria, ainda, útil entender outra sugestão, vinda de TALESE (2000,
87). Ele assume que não se podem separar jornalismo e publicidade, pois são duas
matérias primas essenciais aos veículos de comunicação. Enquanto as notícias
veiculadas informam ou perseguem denúncias, assumindo caráter negativo, a
publicidade oferece um retrato positivo da economia, dos sonhos dos cidadãos
comuns, estando “a verdade em algum lugar entre os dois”.
Devem-se considerar as pressões internas, as rotinas produtivas, as
influências dos grupos de referência, da subjetividade dos jornalistas e das fontes.
Faltaria, ainda, inserir o público, que se circunscreve nessa arena como os grandes
legitimadores dos interesses explicitados. Os públicos, organizados ou não, têm
suas necessidades e aspirações, que podem ou não coincidir com os interesses
dos demais. Ocorre, eno, uma ciranda de barganhas, que caracteriza o bom
exercício da democracia. Explicitados todos os interesses, caminhamos para uma
antiga reivindicação de Paulo Freire: que a mídia assuma com vigor seu papel
educativo, esforçando-se para oferecer ao público esse nível de consciência,
favorecendo sua participação no processo (LIMA, 2002). Essa discussão, com
certeza, requer uma política governamental facilitadora, defendida também por
CANCLINI, BARBERO e tantos outros.
4 METODOLOGIA
“Os modelos não se constituem diretamente como meio de demonstração
ou de prova, mas propriamente como meio de conhecimento, seja ao
orientar a pesquisa a ensejar uma descoberta, seja ao objetivar aspectos
da realidade e ao formalizar os vaticínios do pensamento sobre ela
DOMINGUES (2004:55)."
Neste capítulo abordamos aspectos fundamentais da metodologia
como embasamento teórico, o método e as etapas da pesquisa, com descrição dos
instrumentos e técnicas utilizadas.
4.1 Abordagem teórica
Pelo rigor científico, todo o trabalho que se preze, seja monografia,
dissertação ou tese, deve apresentar uma revisão de literatura, que auxilie na
exposição dos termos utilizados e guie o pesquisador na eleição de categorias
para coleta e análise da pesquisa de campo. Mesmo porque, segundo WEBER
(2001, 115), é necessário indicar aos leitores e ao próprio autor, “em que
momento cessa a fala do pesquisador e começa a fala do homem que está sujeito
a intenções e vontades, em que momento os argumentos se dirigem ao intelecto,
em qual se dirigem o sentimento”.
Como um dos objetivos gerais da pesquisa foi desenvolver uma
elaboração teórica que colaborasse para o avanço da discussão sobre o tema das
‘fontes formais’ e sua participação no processo de produção e qualificação da
136
notícia, pensamos que seria recomendável esclarecer que caminho epistemológico
nos conduziu em tal empreitada. Os conceitos que apresentamos se basearam
nos pressupostos das ciências sociais. Embora seja grande o número de
pensadores que contribuíram para a evolução de conceitos que buscam
compreender a dinâmica social, fomos particularmente inspirados por autores
como SANTOS (2000), DOMINGUES (2004), MARX (1980), MINAYO (1996) e
WEBER (1999). Com auxílio deles desenvolvemos a TAB 5 (p.34-36) e
procuramos entender o ‘quê’ (1) seria nossa abordagem teórica dentro da história
dos estudos nas ciências sociais, o ‘por quê’ (2) um problema social pode ser
considerado científico, o ‘para quê’ (3) o cientista social trabalha e ‘como’ (4)
elaborar um trabalho científico.
Respondendo à pergunta ‘o quê?’ (1), afirmamos que, ao
apresentarmos os conceitos de ‘informação’, ‘qualidade da informação’ e ‘fontes
jornalísticas’, a pesquisa contextualizou-se no campo das ciências sociais, cujos
paradigmas conduziram nossas reflexões.
De modo geral, o cientista justifica o ‘por quê’ (2) da pesquisa como o
meio mais eficaz de se buscar a verdade, pois “ciência” é o conhecimento com
“garantia de validade (ABBAGNANO, 1971:137), sujeito a regras de observação
sistemática. Mas a questão permanece. Por que é tão importante chegar-se a uma
suposta verdade, que essa é, de certa forma, relativa? Historicamente,
considerando pressupostos religiosos e filosóficos, percebemos que uma aura
positiva cerca o conceito de conhecimento, permeado pela noção de crescimento e
libertação
64
. Começamos a responder à pergunta ‘por que fazer ciência?’,
64
Citemos alguns. A doutrina hindu do carma pregava ser “possível a via do sacrifício, do
conhecimento e da devoção (GAARDER, 2000:45) como três meios diferentes para obtenção da
graça. A ignorância do homem o amarraria ao ciclo de reencarnação, enquanto que compreender a
verdadeira natureza da existência seria o caminho para a salvação. Confúcio via o homem como
naturalmente bom, atribuindo o mal como conseqüência da ignorância. Educar, portanto, significaria
“a transmissão dos conhecimentos corretos (GAARDER, 2000:79)”. Os conhecimentos incorretos
representariam perigo, levando à noção de pecado no judaísmo, à falta de submissão no
islamismo, ou à ação indesejada e prejudicial no taoismo. No cristianismo, os valores da gratidão
pela vida, a alegria de viver e a obediência a Deus viriam em primeiro plano e direcionariam a
educação dos fiéis. A aura positiva que permeia o conceito de conhecimento através dos tempos
constituiu-se valor ético e moral, retratado em pensamentos de rios filósofos, desde Tales de
Mileto, como precursor, e Sócrates, como o grande marco da filosofia, que passa a ser entendida
como “um conjunto de reflexões que vão do uso do saber em proveito do homem, sua validade,
natureza, origem à crítica de sua essência (ABBAGNANO, 1997)”. A crença helenística de que a
afirmando que concordamos com esses valores positivos pregados desde nossos
mais remotos antepassados. Como a educação leva ao crescimento e favorece
um ambiente livre e democrático, as pesquisas científicas justificar-se-iam na
implícita contribuição que prestam para o saudável progresso sustentável da
humanidade. Resposta simples, não fossem as contradições e conflitos que nos
deparam. Para SANTOS (1988), o projeto sociocultural da modernidade (do qual
somos herdeiros), sustentado pela ciência, mostrou-se rico, complexo, ambicioso e
revolucionário, capaz de muitas possibilidades. A tecnologia evoluiu, a expectativa
de vida humana ampliou-se, trouxe mais conforto, mas nem todos usufruíram
igualmente dos aspectos positivos do progresso, que, teoricamente, teria se
assentado em dois pilares fundamentais: o da “regulação” e o da “emancipação”,
ambos inter-relacionados e baseados em três princípios: o “princípio do estado”
(articulado em Hobbes); o “princípio do mercado” (dominante na obra de Locke); e
o “princípio da comunidade” (presente na filosofia política de Rousseau). As
contradições surgiram, quando a submissão à lógica cartesiana do mercado
prejudicou a emancipação social, comprometendo o senso ético da humanidade.
Embora a educação tenha colaborado para libertar alguns indivíduos, a supremacia
de know-how tecnológico trouxe força e poder para quem o detém, em detrimento
de interesses de vários povos. Degradou-se o meio ambiente, a distribuição de
renda ocorreu de forma heterogênea, provocando novas formas de violência social.
Em meio aos benefícios trazidos, nunca os homens se mataram tanto. Nossa
pergunta, pois, não é tão fácil de ser respondida, levando-nos a concluir que não
razão humana, através da reflexão e aprendizado, contribuiria para o direcionamento de ações
corretas, foi retomada pelos iluministas e pelo humanismo renascentista no mundo ocidental, para
quem os homens seriam animais racionais diferenciados, moldados segundo um processo
civilizatório e educativo. O positivismo pregava que a razão e o conhecimento se expandiriam rumo
ao progresso contínuo (GAARDER, 2000:234)”. A partir da idade moderna, a subserviência da
educação católica cedeu espaço às doutrinas reformadoras e protestantes, sobretudo em países
europeus não latinos. Para Lutero, o conhecimento, a consciência, a devoção aproximariam o
homem de Deus. Novamente o tom positivo cerca a noção de educação. A busca da verdade, livre
de dogmas, expressaria o espírito da modernidade, outro marco na história da filosofia, quando foi
dividida, segundo Kant e Hegel em “filosofia universal” e “filosofia acadêmica” (HABERMAS,
1998:58). O surgimento da “filosofia acadêmica” alavanca o que se entende por conhecimento
científico e coincide com a demarcação dos diversos campos do saber, legitimadores e legitimados
pela comunidade, apoiando-se no paradigma da racionalidade.
basta o “por quê”. Temos que indagar: ‘para quê’ (3), então, fazer ciência e de que
forma?
Ora, o que todos buscamos é solucionar os problemas advindos das
contradições modernas. As ciências de todas as áreas procuram reverter a
defasagem descrita por SANTOS (1988), buscando contribuir para o
desenvolvimento sustentável da comunidade, levando em considerão a
complexidade que envolve o meio ambiente, incluindo o homem e suas relações
sociais. Visa-se, pois a qualidade social, que entendemos como “a capacidade de
identificação comunitária, local e regional, bem como com relação ao problema do
desenvolvimento (DEMO, 1985: 38)“. Para isto, o diálogo e a interdisciplinaridade
adquirem uma grande importância, já que
“A nova configuração do saber é, assim, a garantia do desejo e o desejo da
garantia de que o desenvolvimento tecnológico contribua para o
aprofundamento da competência cognitiva e comunicativa e, assim, se
transforme num saber prático e nos ajude a dar sentido e autenticidade à
nossa existência” SANTOS (2000: 42).
Caminhamos, então, para um diálogo entre os diversos campos
científicos, onde o indeterminismo das ciências sociais, sua flexibilidade e
preferência pelo qualitativo são tomados emprestados nas análises das ciências
tradicionais. Cada vez mais, investir em pesquisas científicas se justifica para
solucionar os problemas diversos das comunidades de todos os planetas, tendo
todos eles cunho social.
Pela proposta da ciência contemporânea, a postura política e
comprometida com o bem estar social do cientista é central na discussão,
produzindo o que SANTOS (1998 e 2000) chama de “conhecimento-emancipação”
crítico, voltado para fomentar nova ordem participativa de ação e solidariedade.
Nesse sentido, percebemos que a distinção entre as ciências ditas sociais e as
ciências ditas exatas não depende de qualquer critério epistemológico, mas é
essencialmente ideológica (LEVY-LEBLOND,1984:17-18). Não que as
responsabilidades dos pesquisadores em ciências humanas sejam tão diferentes e
mais importantes que as dos investigadores de ciências naturais. Mas, trabalhando
com problemas sociais, os primeiros sentem mais seu peso, embora nenhuma
deles possa controlar os resultados e sua repercussão (LAVILLE e DIONNE, 1999).
Fazer ciência justifica-se, pois, pela sua contribuição para o
desenvolvimento sustentável, sendo sua finalidade interferir na solução dos
problemas sociais. A postura reforça o pensamento de Marx, para quem, a
pesquisa deve contribuir para a prática da contínua transformação social. Como
DEMO (1983)
65
, acreditamos que as ciências sociais devem se preocupar,
essencialmente, com a questão da qualidade social, que ele entende como a
capacidade de identificação comunitária, local e regional, bem como com relação
ao problema do desenvolvimento, em todos os sentidos.
Esclarecido nosso contexto (o por quê e o para quê fazer ciência),
resta-nos indagar como conduzi-la (4). Somos levados a crer que, ao colocarmos
em prática os fundamentos descritos, temos como suporte nosso contexto
intelectual e nos baseamos em três pilares: a)posicionamento frente ao senso
comum, a partir do qual delimitamos o objeto; b) exploração de uma forma de
argumentação e c) a utilização de estratégias discursivas.
Se o fundamental na investigação científica é a relevância do
problema para a comunidade, torna-se pertinente falarmos em ‘ciência da
informação’, uma vez que seu objeto por excelência (o fenômeno informacional e
suas implicações) afeta substancialmente as relações sociais em várias
dimensões, especialmente o espaço e o tempo. O processo dialético da
comunicação coloca em evidência o senso comum, hoje revalorizado como
campo de observação científica, tendo vocação “solidarista” e “transclassista”
SANTOS (1988). Ele representa o conservadorismo, o conhecimento superficial e
ilusório da sociedade burguesa, sendo o menor denominador comum daquilo que
um grupo ou povo coletivamente acredita. O senso comum foi, assim,
redescoberto em seu caráter conciliatório, na medida em que se estabelece na
65
DEMO (1983: 2) critica a imitação que as ciências sociais fazem das ciências naturais,
denominando-a de “conto do vigário”. A insistência na neutralidade e coletas de dados quantitativas
levou muitos pesquisadores a despenderem energia em estudos condenáveis, dispersos e
inconsistentes, num desfile de números sem sentido e relatos superficiais.
busca de consensos das interações sociais, expressando uma teia de discursos
interessados, processo em que se presencia a conversa, a interlocução de
subjetividades, a explosão de conflitos e contradições. Como defendem SANTOS
(1996) e HABERMAS (1998), o grande desafio das ciências sociais é caminhar
para uma nova relação entre a ciência e o senso comum, na qual um se faz do
outro e ambos se inovam. Nosso estudo nasceu na identificação do problema no
senso comum que, como objeto cienfico, se ampliou pela análise qualitativa,
querendo contribuir para o aprofundamento da discussão sobre o assunto, tão
relevante para a sociedade. A complexidade dos fatos abordados comprovou que
o tema não se reduz ao nível de controle, carecendo de novas investigações.
Pretendemos colaborar para a lógica existencial da ciência, que é promover a
“situação comunicativa”, caminho viável para a democracia e a transformação,
procurando abordar o tema de forma holística, considerando o contexto, texto e a
biografia do autor, abraçando a interdisciplinaridade, a relatividade, a reflexividade,
a complexidade, o conceito de auto-organização ou auto-poiesis
66
.
Delimitada a origem de nosso tema, em meio à complexidade
metodológica que caracteriza o percurso histórico das ciências sociais, algumas
questões ainda permanecem centrais: o argumento (b) e as estratégias
discursivas (c), que configuram o ‘como fazer pesquisa’. DOMINGUES (2004)
identificou a tendência de uso de estratégias discursivas no texto científico, que se
constrói sob orientação de paradigmas, entendidos aqui como modelos a serem
seguidos, partindo de argumentos e de esquemas de explicação.
Nas ciências sociais (b), o argumento mais utilizado é o do criador,
segundo o qual do real podemos conhecer efetivamente aquilo que nós
mesmos construímos, pois não em verdade uma fórmula canônica, mas um
66
Autopoieses significa literalmente a “auto produção” (do grego auto e poiesis, criação ou
produção) e expressa uma relação complementar fundamental entre estrutura e função, que ora se
cria, se adapta, reproduz, modifica, recria-se, adapta-se e, assim, sucessivamente. O termo foi
introduzido nos anos 70 pelos chilenos Varela e Maturana, referindo-se às dinâmicas dos distúrbios
estruturais dos seres vivos. Nesta abordagem, os sistemas viventes são entidades auto poiéticas,
com uma estrutura dinâmica que lhes permite interagir entre si de modo recorrente, gerando um tipo
de acoplamento estrutural ontogênico chamado domínio consensual, ou interatual com seu meio
ambiente, ampliando outro tipo de acoplamento estrutural chamado adaptação ontogênica
(MATURANA, 1992, 54).
conjunto de idéias e proposições mais ou menos implícitas” (DOMINGUES,
2004)
67
. Nossa investigação pretendeu contribuir para o aprofundamento da
discussão sobre o tema. Levantamos o problema a partir do senso comum e
demostramos sua complexidade. Identificamo-nos mais com o argumento
construtivista, considerando-o mais apropriado para o campo das ciências sociais.
A utilização dos argumentos pressupõe que nos guiemos por alguns paradigmas e
princípios ordenadores do discurso e disciplinas-piloto, como o fizeram Marx,
Durkheim, Weber e vi-Strauss. Para DOMINGUES (2004) esses heróis
fundadores das ciências humanas, sem direito à exclusividade, produziram obras
paradigmáticas para os estudos da história, sociologia, economia e antropologia.
68
67
O autor descreve cinco tipos ideais, agentes de operacionalização nas ciências: o realismo
epistemológico, o pragmatismo, o construtivismo, o instrumentalismo e o operacionalismo(os dois
últimos predominantes nas ciências naturais), que pressupõem: “1) tomar o conhecimento e a ação
como simétricos e reciprocamente dependentes; 2) possibilidade de decompor o conjunto da ação,
gerando conhecimento e criação da realidade; e 3) possibilidade de decidir a “questão da verdade
do conhecimento”, por critérios da verdade/falsidade. No realismo epistemológico (Marx, com viés
materialista, e Durkheim, com viés positivista) o valor verdade do conhecimento se decide pelo
mundo que existe ao redor e independente de nós e quanto nele interferimos. O “realista” indaga
do real e se satisfaz em apontá-lo, estabelecendo uma relação conveniente entre o conhecimento e
a coisa (realidade). O “operacionalista” não pergunta pela natureza da realidade, mas se atém à
necessidade de fazer algo para verificar o significado de algum enunciado e decidir sobre sua
veracidade. O “pragmatismo” (argumento de Pearce) pergunta-se sobre o que fazer, partindo da
crença no enunciado. O “instrumentalista” indaga que instrumentos deve empregar para conhecer
alguma coisa, não fazendo sentido perguntar pela verdade do conhecimento. O “construtivismo”
(Weber, com viés hermenêutico, e Levi-Strauss, com viés estrutural) distingue o conhecimento da
realidade, fazendo dele uma construção, através de instrumentos e operações, tendendo a
relativizar a noção de verdade.
68
Marx, orientado pela disciplina piloto da economia, utilizou o paradigma da produção e os modelos
da economia mercantil simples e concorrência perfeita. Elegeu a esfera da produção como objeto
de estudo, usou a economia (teoria do valor-trabalho) como princípio ordenador do discurso,
elencou categorias analíticas (contradição das relações de produção, forças produtivas, trabalho
etc) e escolheu a dialética como método de análise. Marx fez da economia uma ciência modelo,
através do paradigma-objeto, do paradigma-teoria e do paradigma-disciplina. Em Durkheim, o
paradigma é o corpo, tomado de empréstimo da biologia. Ele obtém seu objeto de estudo: o
organismo social com suas nuances de consciência coletiva, normas e valores morais. Escolhe o
método positivista para fazer observações objetivas e coletas de dados, elegendo como categorias
de análise os grupos sociais, as funções, as causas e as regras que lhes dizem respeito. A obra de
Durkheim torna-se paradigmática para a sociologia. Lévi-Strauss serve-se do paradigma da
linguagem, servindo-se da lingüística como disciplina ordenadora de seu discurso. Elege o mito
como objeto de investigação e utiliza o método estrutural, tendo como categorias de análise a lógica
binária, e as ordens da conjugação, disjunção e mediação. Weber utiliza o paradigma da ação, o
princípio ordenador de seu discurso. Suas investigações recaíram sobre vários objetos, como
formas de racionalidades e moralidades das diversas atividades humanas. Seu método de análise
é o da interpretação, criando tipos ideais para estabelecer categorias analíticas. Não disciplina
piloto em Weber, que explora várias como meio de conhecimento e campo de observação, tendo
sua obra tornado-se paradigmática nas ciências sociais e política (DOMINGUES, 2004).
Em nossa tese, admitimos que a disciplina piloto é a sociologia,
extraindo dela o princípio ordenador de nosso discurso. É com o viés sociológico,
sob o “guarda-chuva”
69
paradigmático das idéias de Durkheim, Weber e Marx, que
procedemos à revisão teórica sobre os assuntos relacionados à comunicação e
ciência da informação.
Reconhecidos os paradigmas, DOMINGUES (2004) distingue quatro
possibilidades de estratégias discursivas (c): a “descrição”, a “explicação”, a
“interpretação” e a “prescrição”. Nenhuma delas se basta nem são facilmente
diferenciadas uma da outra, pois se misturam e são todas úteis para o cientista. O
pesquisador apreende recortes do real, que, por serem limitados, são incompletos.
Por outro lado, ele pretende que sua análise penda para a completude,
esforçando-se ao máximo para tal, o que justifica o uso simultâneo das estratégias
discursivas, assim como da tipologia dos argumentos descritos anteriormente.
A “descrição” consiste em relatar os recortes, as seleções feitas e as
abstrações do real, podendo operar num nível sistêmico e macro, como num
detalhe em particular
70
. Ela é bastante útil como primeiro elemento da estratégia
discursiva.
“Uma vez delimitada a base descritiva, que se atém ao “quê” dos
fenômenos observados (“descritos”), a próxima tarefa vai consistir em
organizar (ordenar) tal base, com a ajuda de coordenadas espacio-
temporais (envolvendo um conjunto de relações de coordenação e de
subordinação- no espaço: ordem da simultaneidade; no tempo: ordem
da sucessão)_, e indagar não o que os fenômenos (descritos) são, mas
como eles se comportam , à luz de uma origem, de uma estrutura ou de
um fim (teologia) (DOMINGUES, 2004:116)
Entramos no nível da explicação, que, apesar de tentar buscar leis e
esquemas de causa e efeito, com ajuda de observação racional, é invadida pela
imaginação subjetiva do cientista, passando da ordem do visível ao invisível. Ou
69
DOMINIGUES (2004) utiliza o termo para a ação de interveniência de um paradigma.
70
Para DOMINGUES (2004) , diferentes olhares sobre um mesmo cenário podem gerar descrições
completamente distintas
seja, podemos encontrar explicações diferentes para um mesmo efeito
71
. Mesmo
porque, na passagem do ‘como ao por quê’, abre-se à porta ao infinito. D, a
necessidade de contextualização, da descrição das hipóteses, das postulações de
sentido, que, ao serem introduzidas, recaem sobre o nível da interpretação, ou,
para muitos, da compreensão, já que é difícil diferenciar um conceito do outro.
Pode-se dizer que o deslizamento dos fatos à significação, ao se passar
do nível explicativo ao interpretativo, ocorre, portanto, no plano da
natureza ou do mundo das coisas. Isto porque, se é verdade que a
explicação se volta para o modus operandi dos fenômenos e indaga
como eles se comportam, uns funcionando como causa outros como
efeito, em contrapartida a interpretação, mais descolada do empírico e
se pondo num nível mais teórico ou mesmo mais “subjetivo”, se volta
para o modus significandi dos fenômenos (vale dizer: o modo como nós
afetam) e pergunta não pelo como, mas pelo por quê e para quê das
coisas ou seu sentido. (DOMINGUES, 2004: 120).
A interpretação não vai parar no ‘como’ e no ‘por quê’. Como é difícil
capturar o sentido e decifrá-lo, ela flutua obrigando o pesquisador a se perguntar
também o ‘para quem, incluindo-o como ator no processo da pesquisa. Apesar de
ser uma das estratégias mais ricas de apresentação dos fatos, uma mesma base
descritiva e explicativa, pode gerar diferentes interpretações.
As estratégias discursivas de descrição, explicação e interpretação
são usuais entre estudiosos, embora uns pendam mais para um ou outro lado. Os
fundadores das ciências sociais utilizaram todas (DOMINGUES, 2004: 132-133). O
aspecto prescritivo encontra-se presente nos elementos normativos da ciência, na
utilização dos métodos de investigação e nas propostas de solução para os
problemas que os pesquisadores procuram cercar, recaindo sobre a práxis, sobre o
que Marx tanto pregava: a ação do cientista para a transformação social.
No nosso caso, as quatro estratégias foram bastante úteis à tese. A
tática de descrição auxiliou-nos na exposição dos procedimentos adotados para a
pesquisa e dos principais conceitos e categorias analíticas. A explicação e a
71
DOMINGUES (2004) narra as diferentes causas apontadas pela decadência do Império Romano,
segundo diversos autores.
144
interpretação tornaram-se fundamentais na análise. A prescrição fez-se presente
na forma de expor as idéias, obedecendo ao rigor científico e na proposta do
modelo para avaliação de fontes.
Enfim, ratificamos que a exposição dos principais conceitos neste
trabalho (informação, sociedade, qualidade e fontes) foi orientada pelos guarda-
chuvas paradigmáticos dos quatro heróis fundadores das ciências sociais, assim
chamados por DOMINGUES (2004)
72
, e de seus seguidores: os teóricos da ciência
da informação, sociologia e comunicação. Não poderia ser diferente, pois grande
parte da formação intelectual da pesquisadores originou-se das ciências humanas.
Posicionamo-nos, de antemão, que entendemos a sociedade como
um complexo de relações sociais, cujos membros interagem historicamente de
acordo com códigos culturais, de conduta, morais, valores, crenças compartilhados,
processo permeado por contradições, conflitos e relações de poder. Três
dimensões suportam a estrutura social: o espaço, o tempo e os indivíduos, cuja
interação gera inúmeras complexidades. Os indivíduos tendem a organizar sua
sobrevivência em torno de processos produtivos, que passaram a serem regidos, a
partir da modernidade, por instituições diversas. O modus operandi da sociedade é
legitimado pelo paradigma racional e científico, que rege todo o complexo de
socialização dos seres humanos. Três principais forças participam da construção
da realidade: a ação social objetiva, a ação subjetiva e os diversos contextos. Em
cada um deles, indivíduos administram subjetividades e tecem acordos de
convivência, segundo suas necessidades e interesses. Sujeitam-se a uma ordem
reguladora, estabelecida e aceita consensualmente. Partilham, assim, códigos
lingüísticos, padrões de conduta, leis, normas e regras. As negociações são feitas
pela busca do consenso, que passa a atuar como força objetiva no processo de
socialização e na construção da realidade. Esse consenso está longe de ser
absoluto e estável, pois se altera nas práticas transformadoras estimuladas pelos
conflitos. A comunicação é o locus por excelência da mediação de interesses e sua
72
DURKHEIM, WEBER, MARX e LÉVI-STRAUSS.
145
natureza é dialética. Ao mesmo tempo em que colabora para consolidar as forças
objetivas, possibilita a interação de subjetividades que levam às ações inovadoras.
O cientista é um hermeneuta, a quem todos os fenômenos sociais
são potencialmente objetos de interesse de estudos, em especial aqueles em que
os conflitos estiverem mais evidentes. A principal justificativa da cientificidade de
uma investigação é a relevância social da problemática. Inserido em determinado
contexto histórico, dialético e dinâmico, deve ter a consciência de suas limitações,
das intervenções das ações objetivas e subjetivas no processo de investigação,
ser engajado e comprometido com os problemas de sua comunidade. O papel das
ciências sociais é compreender os fenômenos e as relações sociais em todas as
suas dimensões, colaborando para a busca de soluções práticas para os
problemas, contribuindo para o desenvolvimento holístico da sociedade.
Na inexistência de um modelo de abordagem único e completo,
admitimos que todos são úteis. Os fenômenos devem ser apreendidos em suas
múltiplas relações, sob os mais diversos ângulos de interpretação epodem ser
entendidos sob sua perspectiva histórica. A melhor abordagem para a análise é a
hermenêutica-dialética, na qual todos os aspectos que envolvem o objeto devem
ser elucidados em sua singularidade e universalidade. O conhecimento gerado
será relativo, pois o próprio conhecimento é uma construção consensual e está
sujeito a mudanças. São importantes: a consideração dos aspectos ideológicos
explícitos e implícitos, a compreensão do contexto do objeto, o levantamento as
variáveis envolvidas, os conflitos e contradições, as conexões orgânicas e seus
modos de relacionamento. Em relação à metodologia, consideramos o tratamento
qualitativo essencial, para tentar dar conta da complexidade, mas assumimos
várias influências em nosso olhar, pois, como vimos, a história tem mostrado que
os métodos nas ciências sociais mais se complementam do que se contrapõem.
Nossa concepção de sociedade evidencia, pois, traços marxistas e
weberianos, da mesma forma que nossa concepção da dinâmica da realidade
guarda vestígios da visão orgânica de Durkheim. Admitimos a intervenção da ação
humana sobre a realidade, com geração de sentido, relevamos o papel da
burocracia no contexto social e elegemos a prática do trabalho jornalístico e das
146
fontes como meio de observação. Tendemos a tomar o materialismo histórico como
caminho teórico de análise e a hermenêutica–dialética para interpretação.
Defendemos o comprometimento do cientista social com o processo de
transformação social. Nosso olhar sobre o sistema jornalístico e as fontes, que
veremos mais à frente, não deixa de ser fortemente marcado pelo funcionalismo.
Ao tentarmos nos enquadrar aos critérios cienficos tradicionais, racionais,
recorremos ao positivismo, colhendo dados estatísticos para definição de
amostragem, assim como obtivemos dados quantitativos para facilitar a análise.
É nesse quadro que propusemos desenvolver a pesquisa. O estudo
teve natureza exploratória, obedecendo, como tal, a três princípios: satisfazer a
curiosidade do pesquisador e seu desejo de contribuir para o melhor entendimento
do assunto; testar a viabilidade de realização de um estudo mais cuidadoso e
exaustivo e desenvolver os métodos a serem aplicados em estudo posterior
73
.
Para atingir esse objetivo, utilizamos a metodologia de estudo de caso, conforme
explicitado no item que se segue.
4.2 O método
Com a palavra “metodologia”, podemos designar quatro coisas
diferentes: 1ª) lógica ou parte da lógica que estuda os todos; 2ª) gica
transcendental aplicada; 3ª) conjunto de procedimentos metódicos de uma ou mais
ciências; 4ª) a análise filosófica de tais procedimentos (ABBAGNANO, 1998:669).
Nosso trabalho enquadra-se na terceira possibilidade. Utilizamos o termo
73
Este três princípios foram exposto mais detalhadamente por VILELA, 2000.
147
‘metodologia’ para indicar o conjunto de técnicas de averiguação ou verificação de
determinada disciplina, sendo elaborada com o objetivo de lhe garantir o uso eficaz
dessas técnicas e de lhe conferir status de cientificidade.
A primeira significativa reificação do todo (do grego ”methodos
ou caminho para a verdade) no mundo ocidental ocorreu à época do iluminismo
grego, com Sócrates. Considerando a doxa, opinião, insatisfatória para o
entendimento de uma questão, com a proposta do “conheça a ti mesmo”, o grego
criou um método de análise conceitual conhecido como maiêutica
74
, ideal de busca
da verdade, modelo inspirador para a história da filosofia e ciência que o sucedeu.
A busca de qualquer explicação deveria ser fundamentada por observações e
reflexões exaustivas e sistemáticas. Seus dois maiores discípulos: Platão e
Aristóteles criaram as duas principais tendências para a investigação, observação e
interpretação: o racionalismo e o empirismo, não necessariamente antagônicos
mas complementares, que se arrastariam ao longo dos séculos, chegando a
Descartes e Francis Bacon
75
. A revolução científica moderna instaurou a primazia
das ciências naturais, priorizando pesquisas com métodos experimentais e
quantitativos, com contribuições da matemática e estatística. O positivismo
76
74
Maiêutica significa literalmente a arte de fazer o parto, uma analogia com o ofício de parteira que
sua mãe exercia. MARCONDES (1997:48)
75
Descartes inaugurou, juntamente com o empirismo inglês, o pensamento moderno. O modelo
cartesiano racional contribuiu para a consolidação da atual metodologia científica em diversas
áreas. Bacon é considerado, como Descartes, um dos iniciadores do pensamento moderno.
Defende o método experimental, o pensamento crítico, a utilização da técnica. Locke, que trabalhou
os conceitos de conhecimento demonstrativo e a teoria da tabula rasa, e Hume, na filosofia, são
outros grandes expoentes do empirismo.
76
O
positivismo originou-se na filosofia das luzes do século XVIII, em Condorcet, ministro francês
que advogava ser a ciência uma “Matemática Social”, trazendo contínuo progresso para a
humanidade, além de contribuir para consolidar o projeto político burguês da revolução francesa.
Como as épocas históricas tendem a se dividir em “épocas críticas”, necessárias para eliminar
fossializações sociais, e as “épocas orgânicas“, momentos históricos de estabilidade e consolidação
de mudanças (Saint-Simon, citado por CAMBI, 1999), o positivismo passou de revolucionário a
conservador. Sua ’’época orgânica” começou para consolidar a vencedora revolução burguesa. Era
imperativo manter a política vigente e afastar idéias subversivas. Como uma ética religiosa, com
cega na luz da razão, o positivismo desdobrava-se em normas, procedimentos padronizados
racionais, consolidando o racionalismo burocrático mais tarde descrito por WEBER (1999). O
modelo que a ciência quer perseguir é o físico. Os distintivos do espírito positivista seriam o senso
de realidade, a utilidade, a certeza, a aptidão orgânica, o bom senso prático. Comte, como muitos
homens de seu tempo, acreditava que uma ordem interna, com leis naturais e invariáveis, regia a
sociedade em todas as suas dimensões (social, econômica, política e cultural), levando-a
harmonicamente ao desenvolvimento e à prosperidade. Ao cientista social, se quisesse colaborar de
alguma forma, caberia descobrir e explicitar essa ordem
constituiu-se o princípio ético norteador de atitudes e procedimentos, enquanto
que o estado-nação consolidou-se como entidade reguladora e as instituições
tornaram-se locais de trabalho e de socialização secundária dos indivíduos
77
.
A busca da legitimação das ciências sociais iniciou-se com Durkheim,
que buscou fundamentar os pressupostos teórico-metodológicos no contexto
positivista De para cá, a visão sobre sua metodologia vem-se alterando,
passando pelo que MINAYO (1996) identifica como sete correntes
predominantes, resumidas na TAB.12, p.150. São elas: o positivismo, o
funcionalismo, a sociologia compreensiva, a etnometodologia, o interacionismo
simbólico, a fenomenologia e o marxismo. Inspirados em SANTOS (2000) e outros,
acrescentamos a hermenêutica-dialética. Alguns autores agrupam as sete
correntes em três: o positivismo (dela derivando o funcionalismo), a sociologia
compreensiva (dela derivando a etnometodologia, o interacionismo e a
fenomenologia) e o marxismo. Bourdieu fala de três tipos de conhecimento teórico:
o objetivista, que estrutura as práticas e representações das práticas, o
fenomenológico, apreensão do mundo com relação de significação, e o
praxiológico, que abrange as relações dialéticas das estruturas sociais. O
surgimento de uma não implica a extinção de outra. Elas coexistem até hoje,
completam-se e orientam o desenvolvimento de pesquisas. “As diversas correntes
para abordar questões metodológicas atestam que visões de mundo e práticas
científicas diferenciadas. Não há, pois, normas consagradas para apreensão do
real e as abordagens, na verdade, mais se completam do que se contrapõem.
Nenhuma linha de pensamento tem o monopólio de compreensão total da
realidade, pois no processo de conhecimento não há consenso ou ponto de
chegada. o limite de nossa capacidade de objetivação e a certeza de que a
ciência se faz numa relação dinâmica entre razão e experiência e não admite a
redução de um termo a outro (MINAYO, 1996: 227)”.
77
BERGER E LUCKMANN falam de socialização primária, ocorrida na infância com alto grau de
afetividade, e a socialização secundária, nas diversas instituições.
TABELA 12 – VISÕES NAS DIFERENTES ABORDAGENS METODOLÓGICAS
Linhas
Positivismo Funcionalismo Sociologia
Compreensiva
Etnometodologia Interacionismo
simbólico
Fenomenologia Marxismo Hermenêutica-dialética
Autores
Condorcet, Comte,
Durkheim
Parsons Dilthey, Max Weber. Robert Park, Garfinkel,
Harrison e Madge.
Thomas, Mead, Coley,
Goffman e Blumer.
Husserl, Schultz, Berger
e Luckmann
Marx, Engels, Lênin, Lukács,
Gramsci, althusseur
Habermas, Gadamer
Santos, Minayo
Conceito
de
sociedade
Explicações totali-
zantes. Sociedade é
"coisa”, regida por uma
ordem interna com leis
invariáveis, levando à
prosperidade.
Nega leis gerais p/
sociedade, compos-
ta de organismos
que interagem e são
interdependentes.
Progresso é fruto da
adaptação do
sistema às
mudanças
Relação entre indivíduos
e sociedade é fruto da
inter-relação de atores.
Privilegia compreensão
e inteligibilidade como
propriedades específicas
de fenômenos sociais.
Influencia a “etnometolo-
gia”, “interacionismo” e a
“fenomenologia“.
Sociedade constituída de
estruturas, regras e conhe-
cimentos partilhados e -
citos que possibilitam a
interação social. Carac-
terísticas inseparáveis de
processos interpretativos
que constituem o mundo.
Foca a história oral e da
vida cotidiana.
Nas relações sociais,
o comportamento
humano é auto
dirigido e observável
nos sentidos simbólico
e interacional. Proces-
so interpretativo
acontece no consenso
do grupo.
Mundo constituído por
ações e interações sub-
metidas a usos, costu-
mes e regras. Realidade
é objetiva e socialmen-
mente construída, com
regras partilhadas cultu-
ralmente. a realidade
subjetiva, modificadora.
Sociedade complexa, com estru-
turas econômica, jurídica, política
e ideológica, vivendo em épocas
históricas de modo e relações de
produção, onde o estado é agen-
te regulador. Dominação, rela-
ções de poder e conflitos o
inerentes. Fenômenos apreen-
didos em suas múltiplas relações
e sob diversos ângulos,
Une visão marxista da e
a fenomenológica, assu-
mindo dinâmica histó-
rica, dialética, conflituo-
sa, complexa e a intera-
ção da objetividade e
subjetividade na cons-
trução da realidade.
Consenso objetivo.
Principais
conceitos
Senso de realidade,
utilidade, certeza,
aptidão orgânica, bom
senso prático.
Sistema, subsistema,
estrutura, função,
adaptação,
integração, desvio,
consenso.
“Ação social”: Indivíduo
é ator social, interferindo
na realidade e gerando
significados. Fenômenos
sociais diferem dos
naturais.
Quer conhecer atitudes,há-
bitos rituais e tabus de um
grupo. Preconiza experiên-
cia direta com indivíduos
para compreensão da rea-
lidade, interpretada por
atores sociais e expressa
no senso comum.
Ser humano confere
significado a objetos.
Seu comportamento é
auto dirigido e obser-
vável pelo simbólico e
interacional.
Ato social tipifica o mun-
do, para homens se co-
municarem e o compre-
enderem. Conhecimen-
to em tipificações cons-
truídas no consenso de
atores sociais. Critica
objetivismo tradicional.
Modo de produção, formação
social, relações de produção,
forças produtivas, classes sociais,
luta de classes, divisão do
trabalho, consciência de classe,
formas de produção. Fenômenos
sociais, em especial, relações de
trabalho.
Senso comum valo-
rizado como locus de
negociação, assim como
a comunicação, vista
como racionalização de
interesses.
Visão da
dinâmica
da
realidade
Coerção da sociedade
sobre o indivíduo, por
modos coletivos de
pensar, perceber, sentir
e agir. Não prevê
intervenção da ação
humana.
Instituições são me-
canismos integra-
dores dos sistemas
sociais, que absor-
vem tensões, se
reproduzem e com-
servam, tendendo
ao equilíbrio.
Leis sociais variam
conforme contexto. Rea-
lidades construídas “nos
e através dos” significa-
dos, identificadas na lin-
guagem da interação so-
cial. Práticas, coisas e
acontecimentos são
inseparáveis.
Separa pensamento e
ação. A realidade é criada
pelos significados sub-
jetivos, e reduz a estrutura
social a procedimentos
interpretativos. Desco-
nhece fatores que dete-
rminam ou condicionam as
visões das pessoas.
Vida social estabelece
consenso nas inter-
relações e é vasto
processo de inter-
pretação, no qual o
indivíduo ou povo guia
a si mesmo para de-
finir objetivos, aconte-
cimentos e situações.
Vida humana compreen-
dida na linguagem sig-
nificativa da interação
social. Linguagem, práti-
cas, coisas e aconteci-
mentos são insepará-
veis. ões e interações
obedecem a usos,
costumes e regras.
Interpreta a realidade no todo,
com suas contradições, dialética
e dinâmica histórica,
considerando as relações sociais.
É na prática que a sociedade se
transforma. Aceita a intervenção
da consciência dos agentes
sociais e fatores sociais.
Realidade é construção
social, com intervenção
de intersubjetividades.
Interdisciplinaridade, re-
latividade, reflexivi
dade,
auto-poesis. Interpreta
realidade, contradições, e
história, considerando
relações sociais.
Papel das
ciências
sociais e
postura do
cientista
Descobrir e explicitar
leis que regem a
sociedade, contribuindo
para manter ordem.
Cientista neutro, livre de
juízos de valor, deve 1)
descrever caracterís-
ticas de fatos; 2) desco-
brir sua origem; 3)
relacioná-los; 4) encon-
trar organicidade e 5)
separar coisa real’ das
‘idéias que faz dela’.
Compreender dinâ-
mica dos sistemas e
subsistemas e cola-
borar para seu per-
feito funcionamento.
Aspira a conheci-
mentos objetivos.
Cientista deve ser
neutro
Focar a interpretação da
“ação social para
explicar a causa e efeito
de seu curso. Acredita
que se chegar ao
conhecimento objetivo.
Cientista busca
neutralidade, mas
reconhece intervenção
dos valores na seleção
do objeto de estudo.
Pesquisa empírica
justifica teoria.
Descobrir os modelos de
racionalidade subjacentes
à ação dos indivíduos e
dos grupos. Quer
compreender cotidiano do
homem comum. Não
neutralidade real do
cientista. Deve-se buscá-
la, mas a realidade é fruto
da intersubjetividade.
Imprecisão metodológica.
Compreender os
processos simbólicos,
seus conteúdos e
interações. Símbolos
e a interação como
principais elementos
de apreensão. Deve
fugir do objetivismo e
adotar perspectiva do
grupo que estuda.
Vertente da
etnometodologia.
Descrição fenomenológi-
ca. Significados subjeti-
vos implícitos no uni-
verso de atores so-ciais,
compreendendo ação da
realidade objetiva, apre-
endendo coisas sociais
como significativas. Pes-
quisador deve entender
sua subjetividade e a do
grupo. Submete ciência
aos princípios da ética e
moral da sociedade
Observação recai sobre a práxis,
na perspectiva dialética, onde se
a emancipação subjetiva e
objetiva do homem. Conhecimen-
to gerado é relativo, mas capaz
de apreender a realidade, levan-
do a ações práticas. Missão de
contribuir para a transformação
social. Pesquisador, inserido no
contexto, tenta separar o que
pensa das coisas do que elas
são. Dialética entre consciências
individuais e realidade objetiva
Compreender relações
sociais em todas as suas
dimensões, contribuindo
para a busca de soluções
práticas dos problemas
da sociedade.
O cientista é hermeneuta,
inserido no contexto
dialético e dinâmico.
Objeto Leis sociais. Seque
ciências naturais.
Fatos sociais. Modo da vida dos atores
sociais. Evita “pré-juí-
zos” e “pré-conceitos”.
Ênfase na subjetividade.
Mundo inseparável dos
processos interpretativos.
Ênfase na linguagem. Intersubjetividade. Obje-
tos apreendidos a partir
do senso comum.
Objeto decomposto e reconstruí-
do. Consideram-se aspectos
ideológicos explícitos e implícitos.
Condições cotidianas e
tenta esclarecer suas
estruturas profundas.
Método de
abordagem
Métodos quantitativos:
chave de objetividade e
da validação do
conhecimento.
Quantitativos. Forte
influência da
biologia. Tratamento
estatístico dos
dados.
“Tipos ideais” como ins-
trumento racional e teó-
rico de aproximação
com realidade.
Abordagens qualitativas.
Métodos qualitativos
imprecisos.
Estudos semióticos
Métodos qualitativos.
Análise de conteúdo,
mas utiliza dados
estatísticos.
Métodos qualitativos.
Conhecimento divide-se
em: vivido e experimen-
tado no cotidiano e o e
estudado.
Materialismo histórico: é caminho
teórico e Materialismo dialético
para abordar real. Análise deve
ser coerente. Métodos
quantitativos e qualitativos.
Todos os métodos são
válidos. A análise é
qualitativa.
Fonte: Elaborado pela autora, a partir de MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. São Paulo. Hucitec, 1996, p.59.
Compreendemos que, no passado e no presente, “entrar no campo
da metodologia da pesquisa social é penetrar num mundo polêmico” (MINAYO,
1996:20), pois seus métodos fogem aos padrões das ciências físicas e naturais,
tradicionais detentoras do status de cientificidade. A divergência preponderante
está na natureza dinâmica, dialética e histórica das problemáticas das ciências
sociais, que podem suscitar pesquisas não conclusivas, com métodos qualitativos,
às vezes confusos, não tendo como separar a relação sujeito e objeto. Não
bastasse a natureza refratária do objeto das ciências sociais, também os
obstáculos, segundo DOMINGUES (2004: 86), talvez mais poderosos, dentre eles:
as barreiras de cunhos religioso e filosófico. Impregnado de universalidade em sua
particularidade, seu objeto histórico traz em si todo seu contexto político,
ideológico, econômico, cultural e social (WEBER, 1999). Nas ciências sociais, a
investigação carrega a marca da intangibilidade, inexatidão, relatividade e
complexidade. O pesquisador aproxima-se do objeto por idéias e fatos imprecisos,
imperfeitos e parciais, não seguindo padrões ortodoxos de objetividade. Apesar do
esforço de se postar neutro, a subjetividade e interesses próprios do pesquisador
acompanham suas atitudes.
A discussão metodológica de todo trabalho exige que algumas etapas
sejam esclarecidas, de forma que todo o processo de pesquisa, desde a
elaboração do projeto até a fase de análise, seja melhor compreendida. “A
metodologia é, enfim, uma disciplina instrumental a serviço da pesquisa; nela, toda
questão técnica implica uma discussão teórica” (MARTINS, 2004: 291).
O primeiro desafio com o qual nos deparamos se relaciona com o
método a utilizar. uma discussão acirrada dentro das ciências sociais aplicadas
sobre que tipo de método responde melhor às nossas perguntas. A escolha dessa
ferramenta tem por obrigação responder às dúvidas e inquietações do investigador.
Consideramos que o método adequado seja aquele que, em vista da discussão
apresentada, consegue da melhor forma possível dar conta de responder ao nosso
problema.
A primeira polêmica com a qual nos deparamos foi a de decidir entre
o uso de metodologia quantitativa ou qualitativa. Esse dilema se estabelece
devido à diferença com que se constróem os resultados das duas técnicas.
A pesquisa quantitativa se baseia na premissa de que os objetos de
investigação precisem ser encarados sob um ponto de vista objetivo. Segue-se
nessa metodologia a idéia de que devam ser formuladas hipóteses, construídas
variáveis, e estipuladas relações causais entre as variáveis. A lógica “positivista” se
baseia na possibilidade da existência da verdade objetiva que pode ser descoberta,
utilizando-se o método cienfico e é herdeira das ciências físicas e naturais, que
mais facilmente se prestam às observações quantificáveis. Claro que tudo isso se
baseia na premissa da confiabilidade dos dados e da mensuração, que devem ser
feitos, utilizando-se instrumentos válidos e passíveis de generalização.
Nas ciências sociais, porém, a crítica à crença única nos métodos
quantitativos é enorme. DEMO (1989), por exemplo, é um dos autores que mais
abertamente se contrapõe à sua utilização nos estudos da área de ciências
humanas. Para ele, estudos de abordagens quantitativas tendem a ser meramente
descritivos e desprovidos de qualquer significado ou utilização prática. À sua
época, apesar de ter usado e abusado de coleta de dados quantificáveis, MARX
(1980) apontava a importância de avaliações críticas e profundas, tendo incluído
a dialética em suas análises. Adotando certa cumplicidade com ele, WEBER (1999)
ampliou consideravelmente a abordagem metodológica para a base qualitativa.
Resumindo, a pesquisa quantitativa é útil na medida em que subsidie o
pesquisador com dados e estatísticas observáveis, mas são insuficientes na
análise de problemas nas ciências sociais.
a pesquisa qualitativa é definida de forma muito mais ampla,
mesmo que aparentemente mais complexa, em comparação à quantitativa. Ela é
caracterizada, de modo geral, pela não sujeição absoluta dos resultados à análise
quantitativa. A pesquisa qualitativa pode ser usada para analisar as atitudes, os
sentimentos e as motivações do nosso objeto. A abordagem qualitativa deriva de
um trabalho do historiador Giambattista Vico datado de meados do século XVIII.
VICO (1999) escreveu que somente pessoas podem entender as pessoas e que
elas fazem isso por meio da faculdade chamada compreensão intuitiva. Na
sociologia e em outras ciências sociais aplicadas, o conceito de verstehen, do
alemão “compreender”, ou o experimento intuitivo, e o uso da empatia estiveram
associados com as principais descobertas nessa área, em que pesem as grandes
contribuições vindas da psicologia.
Para essa abordagem, “a coleta de dados não é um processo
acumulativo e linear, cuja freqüência, controlada e mensurada, autoriza o
pesquisador, exterior à realidade estudada e dela distanciado, a estabelecer leis e
prever fatos“ (CHIZOTTI, 1995: 89). ”Outra característica importante consiste na
heterodoxia no momento da análise dos dados” (MARTINS, 2004:192). A variedade
de material obtida exige do pesquisador capacidades integrativa e analítica que,
por sua vez, dependem de sua criatividade e intuição. Em síntese, a metodologia
qualitativa define-se como um conjunto de técnicas interpretativas, que buscam
descrever, decodificar e traduzir o significado dos fenômenos, acontecimentos,
ações que ocorrem no mundo social, com foco nos processos e nos significados.
críticas à abordagem qualitativa. Uma delas é a de que a
proximidade do pesquisador com o objeto põe em risco a neutralidade e a
objetividade do trabalho científico. Outra diz respeito à representatividade da
amostra, feita de modo casual e aleatória, o que compromete a possibilidade de
generalização. Nesse caso, nem se usa o termo amostra como definidor dos
indivíduos ou grupos pesquisados; o ideal é utilizar o termo “entrevistados”,
“participantes”, ou “escolhidos”, pois é o que são afinal de contas. E, finalmente,
mais do que em qualquer outra abordagem, as considerações éticas são muito
mais relevantes.
Segundo LAVILLE e DIONNE (1999: 86), duas grandes categorias de
pesquisa relacionam-se entre si: a primeira, de natureza exploratória e denominada
“fundamental”, tem por motivação preencher uma lacuna nos conhecimentos,
sendo destinada a aumentar a soma dos saberes disponíveis, para, em algum
momento, contribuir para a solução de um problema. A outra categoria destina-se a
colaborar para a resolução de um problema específico e presente, tratando-se,
pois, de uma pesquisa “aplicada”. A proposta deste trabalho enquadra-se na
primeira categoria mencionada por LAVILLE e DIONNE, justificando-se o próprio
objetivo geral da pesquisa: “de forma exploratória, 1) ‘investigar a participação das
‘fontes formais’ no processo de construção da ‘informação jornalística’ e sua na
concepção qualitativa e 2) produzir uma revisão densa e teórica sobre o assunto,
sugerindo um modelo de avaliação crítica de fontes para uso da imprensa.
Dadas essas explicações preliminares, justificamos nossas escolhas.
Decidimos focar o relacionamento dos jornalistas da mídia de Belo Horizonte com
as ‘fontes formais’ (disseminadores de informação e especialistas) e suas
implicações na qualidade da informação, desenvolvendo um estudo de caso, por
julgarmos ser esta a metodologia mais adequada à presente pesquisa. LAVILLE e
DIONNE (1999: 333) definem ‘estudo de caso como “uma estratégia de pesquisa
com dados existentes através da qual o pesquisador se concentra num caso,
geralmente escolhido por seu caráter considerado típico, a fim de investigá-lo com
profundidade”.
Utilizando o argumento, melhor enquadrado na abordagem
construtivista, combinamos as duas técnicas (quantitativa e qualitativa) dando
maior ênfase à técnica qualitativa. A escolha das duas técnicas se fez necessária
em momentos diferentes da pesquisa de campo
78
. O primeiro momento, como
vemos no cronograma seguido, foi aquele em que precisávamos definir o universo
de pesquisa e determinar nossos limites. Essa etapa acabou por privilegiar o
método quantitativo, tendo ele sido de grande utilidade. A partir dela,
prosseguimos utilizando majoritariamente o método qualitativo.
Passaremos a descrever como construímos e conduzimos nosso
estudo de caso. Falaremos de cada etapa da investigação separadamente, como
as conduzimos metodologicamente, que técnicas e instrumentos utilizamos.
Também explicaremos como definimos o universo e a composição do plano
amostral para as entrevistas.
78
Segundo GOLDENBERG (1997:62), é o conjunto de diferentes pontos de vista e maneiras de
coletar e analisar dados (qualitativa e quantitativamente) que permite a idéia mais ampla e inteligível
da complexidade de um problema. Segundo a autora, o cruzamento das análises qualitativas e
quantitativas asseguram conclusões mais confiáveis.
4.3 Etapas, técnicas e instrumentos
A pesquisa, desenvolvida de janeiro de 2003 a janeiro de 2005,
contemplou oito fases: ‘levantamento bibliográfico‘, promoção de um ‘painel’,
‘levantamento inicial de uso de fontes na imprensa’, ‘observação participante’,
‘entrevistas com as fontes’, ‘entrevistas com imprensa’, ‘acompanhamento de um
fato polêmico’ e a “compilação e análise dos dados’. Cada fase contemplou o uso
de técnicas e instrumentos diferenciados para coleta e tabulação dos dados.
Revisitamos dados colhidos de 1999 a 2000 em nossa pesquisa de mestrado, que
nos foram muito úteis. Antes de darmos início a ela, realizamos um ‘pré-teste’.
4.3.1 Painel
Com objetivo de elaborarmos nossos roteiros de entrevista e de
observação participante, promovemos um painel em setembro de 2003, como fase
exploratória e qualitativa, versando sobre o tema ‘A relação entre fontes e
jornalistas e sua participação para a qualificação da notícia’. Por painel
entendemos, segundo LAVILLE e DIONNE (1999: 44), um tipo de pesquisa de
opinião que visa interrogar em uma ou várias ocasiões um grupo de pessoas a
respeito de determinado tema, ao longo do desenvolvimento da investigação. A
tática é a estratégia de pesquisa que visualiza opiniões, intenções ou até
comportamentos de uma população muito grande. Não regras numéricas na
definição de amostragem nem para coleta de dados, tendo em vista o
aprofundamento que se pretenda, conforme depoimento de Ludmila ROSSETI
79
(1997), diretora do ‘Instituto Vox Populi’ de Belo Horizonte. Entretanto, os
participantes precisam ser parte representativa do universo pesquisado.
Para registrarmos os dados colhidos no painel, revisitamos VILELA
(2002), TAB.13, p.156, tentando estabelecer categorias de análise, para que,
através delas, elaborássemos possíveis perguntas para cercar a questão no
TABELA 13 - BASE PARA AVALIAÇÃO DAS FONTES JORNALÍSTICAS
VARIÁVEIS
TIPO PERGUNTAS
Autoria: Exposição dos responsáveis, ficha
técnica, legitimidade (imagem externa),
formação e grau de conhecimento.
Conteúdo Quem ou que organização fornece as informações?
O que as tornam legítimas e confiáveis?
Qual o grau de conhecimento da fonte?
Acuidade/ Fontes disponíveis/ Credibilidade/
Verificação
Conteúdo É possível checar as informações?
As fontes são acessíveis ao público?
Objetividade/ Publicidade equilibrada Conteúdo Qual o grau de redundância das informações?
Os anexos são pertinentes? Agregam valor?
Clareza de posicionamento: identificação de
identidade, propósito.
Conteúdo A redundância é intencional? Percebe posicionamento explícito? A
fonte explicita este posicionamento?
Atualidade: exposição cata da atualização. Conteúdo A informação é datada?
Vida útil. Conteúdo Por quanto tempo considera que a informação será útil?
Cobertura/ escopo e abrangência. Conteúdo Em que área a informação é pertinente?
Aspectos gráficos e visuais. Conteúdo O layout é claro e agradável?
Conteúdo: precisão
Adequação ao público alvo
Nível de profundidade/ interesse /
Relevância/quantidade.
Conteúdo O conteúdo das informações é adequado às necessidades do
público? São precisas, relevantes? Elas são superficiais ou
profundas? Ajudam para a reflexão sobre o assunto? São
relevantes? Por que?
Fator de diferenciação Conteúdo O que a fonte tem que a torna melhor que outras?
Linguagem do texto e visual: clareza,
correção simplicidade, e adequação.
Conteúdo Por que a linguagem é de qualidade?
Conectividade:
Velocidade de acesso x Retorno de resposta
Disponibilidade
Custo - Recursos exigidos.
Processo A fonte é acessível? Qual o tempo de resposta? É disponível?
Retorna sempre? Se não, por que continua sendo uma boa fonte?
Que recursos lhe são exigidos para acessar a fontes. Isto pesa
sobre sua decisão?
Interatividade /Navegabilidade/
Racionalidade e organização dos links,
Funcionalidade das ferramentas de busca
Processo Como a fonte interage com a imprensa? Ela utiliza recursos?
Amigabilidade/ instrução/ linguagem. Processo
A fonte é amigável ou requer que se instrua ante
riormente para
procurá
-la? Isto é um dificultador?
Relacionamento com usuário/ mecanismos
de interação e retorno/ pesquisa de
satisfação.
Processo A fonte é mais procurada ou procura a imprensa? Qual a
proporção? Isso interfere na credibilidade?
Diversificação de serviços oferecidos Conteúdo A fonte atende a um tipo de informação específica ou a várias?
Referências bibliográficas Processo A fonte coloca seu acervo à disposição para consulta?
Índice de visitas ao site Processo A fonte é solicitada por outros órgãos de imprensa ou por alunos?
Preocupação com constante otimização Processo Sente preocupação com o contínuo aprimoramento de atualização e
conhecimento da fonte?
Fonte: Elaborado pela autora, 2003
79
A pesquisadora foi aluna de Ludmilla Rosseti, diretora do instituto Vox Populi, na disciplina de
‘Metodologia de Pesquisa’ no curso de especialização da PUC/MG, em Comunicação e Gestão
Empresarial, em 1997.
contexto das fontes e do jornalismo. Queríamos verificar se esse instrumento
poderia ser o primeiro suporte para a elaboração do roteiro final de entrevistas.
Felizmente, ele foi de grande utilidade.
Promovemos o evento na Escola da Ciência da Informação da UFMG,
durante três dias de seminário, ministrado pela pesquisadora como estágio
docente. Foram nove horas de discussão dos alunos de graduação matriculados na
disciplina com o editor Almerindo Camilo, então secretário de redação do jornal O
Tempo; Rogério Bertho, assessor do América Futebol Clube e Carlos José dos
Campos ximo, jornalista da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, que
expuseram suas percepções livremente. De espontânea, registrávamos livremente
os principais pontos surgidos nos debates, que foram gravados e transcritos para
que pudessem ser recuperados na análise dos dados.
4.3.2 Análise documental
Após o painel, para garantir confiabilidade à pesquisa e possibilitar
comparabilidade de resultados, antes de definirmos as empresas e pessoas a
serem abordadas, fizemos um levantamento de 21 a 24 de setembro de 2003
sobre o aparecimento de ‘fontes formais’ em três jornais impressos de Belo
Horizonte. Para a escolha dos periódicos, priorizamos jornais de circulação na
Capital com mais de 10 anos de atuação: Estado de Minas, Hoje em Dia e O
Tempo. Tabulamos todas as informações veiculadas, tendo identificando todas as
fontes mencionadas, se públicas ou privadas. Aqui, utilizamos, pois, a metodologia
quantitativa da análise estatística, em que “o número nos permitiu apanhar uma
parte da significação de um conteúdo através das freqüências e outros índices da
importância relativa de seus elementos (LA VILLE e DIONNE, 1999:226).
Utilizamos a TAB.14, p.158, para registrarmos os dados.
TABELA 14 - RELAÇÃO DE MATÉRIAS E FONTES UTILIZADAS
PAG CAPA
Sim/Não
Assunto Tamanho
2
Cm
Foto/
Legenda
Sim/Não
Fonte
Nome e cargo
Origem
Órgão / Instituição/ Especialidade ou
testemunha
Uso de
Release?
Editoria Tipo
Pública/
Privada
Atributo de
qualidade
Critério de avaliação Nu
m
Fonte: elaborado pela autora em SET 2003
O prazo obedecido de quatro dias foi recomendado pela Unesco,
segundo a qual, este período representa adequadamente a pauta de informações
de um veículo de comunicação (OLIVEIRA, 1998). Registramos os assuntos
tratados por editoria, tipo (autoridade, testemunhas ou especialistas) e origem (se
pública ou privada) das fontes, cargos ou especialidades ocupados pelas fontes,
espaço ocupado, uso de fotos e legendas, aparição ou não na capa e indícios de
uso de release. Tentamos identificar para que atributos de qualidade da
informação as fontes contribuíram (FIG.4, p.65) e perceber quais critérios de
seleção (TAB.9, p.122) teriam levado o jornal a recorrer a essas fontes.
Posteriormente, repetimos o levantamento, de 06 a 09 de novembro,
elegendo o conteúdo das primeiras páginas de todas as editorias para
acompanhar, acrescendo aos veículos Estado de Minas, Hoje em Dia e O Tempo,
jornais nacionais como O Globo, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e Correio
Brasiliense. Tínhamos o objetivo de checar as percepções e a procedência de
propormos os três diários mineiros como amostra representativa da categoria.
Queríamos descobrir a incidência das fontes do poder público ou privado nas
matérias dos três jornais e que fontes tinham maior visibilidade na capa, o espaço
mais nobre da mídia, dedicado às informações de maior qualidade (MOUILLAUD,
2002). Nos veículos de Belo Horizonte, observamos, ainda, a incidência de
matérias que se repetiam na primeira página.
Este levantamento resultou num relatório de 50 páginas, arquivado
com os demais dados da pesquisa. Percebemos ligeira preponderância das fontes
públicas nas capas, como mostra a TAB.15, p.159, e constituiu-se em
importante subsídio para a montagem do plano amostral das fontes.
TABELA 15 – APARIÇÃO DE FONTES NAS CAPAS
TIPO NÚMERO DE CITAÇÕES %
Privada 331 52
Pública 306 48
Total 637 100
Fonte: Elaborado pela autora, nov 2003.
4.3.3 Observação participante
A observação participante é uma técnica oriunda da abordagem
antropológica, prevendo que “o pesquisador se integre e participe na vida de um
grupo para compreender-lhe o sentido de dentro (LA VILLE e DIONNE, 1999:
178). É obtida “por meio do contato direto do pesquisador com o fenômeno
observado, para recolher as ações dos atores em seu contexto natural, a partir de
sua perspectiva e seus pontos de vista (CHIZOTTI, 1995: 90)”.
Na observação, o instrumento de coleta de dados varia, devido à
natureza do problema abordado e às condições de investigação, podendo optar-se
pela “forma estruturada”, na qual o pesquisador se guia por um roteiro
previamente elaborado, ou pela “forma pouco ou não estruturada”. “Às vezes é
muito aberto, deixando ao observador grande margem na escolha e maneira de
anotar as informações”. Outras vezes, o instrumento pode assumir a forma de
uma grade fechada, em que os comportamentos se vêem previamente definidos,
de tal modo que o observador deve apenas assinalá-los para registrar sua
presença (LA VILLE e DIONNE, 1999: 177), podendo improvisar e se permitir
inferências subjetivas.
A observação foi feita em etapas, de outubro de 2004 a janeiro de
2005. Antes de entrevistarmos os profissionais da imprensa (editores e
repórteres), acompanhamos por uma semana o trabalho em cada órgão de
comunicação eleito para estudo, onde permanecemos em horários previamente
estabelecidos. O jornal O Tempo autorizou-nos a acompanhar as reuniões de
editores. Nos demais acompanhamos os repórteres em suas rotinas. Procuramos
entender a forma como ‘a pauta’ era definida, tendo acompanhado a produção de
notícias. Utilizamos um roteiro (formulário) para o registro de nossas observações,
conforme TAB.16, p.161, optando por um instrumento que nos norteasse, assim
como nos conferisse liberdade para anotar nossas impressões.
TABELA 16 - ROTEIRO PARA OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
Data Veículo Editoria Impressões subjetivas Fatores
intervenientes
Atributo de
qualidade focado
Registros de Fontes Formas de acesso às fontes
Telefone/ internet/ releases
Critério de seleção de avaliação das fontes
Fonte: elaborado pela autora em SET 2003
Após o encerramento das entrevistas, contamos com a parceria de
Bruno Faria, que desenvolveu pesquisa monográfica sobre ‘seleção de fontes no
jornalismo’ para o curso de especialização em gestão estratégica da informação
na Escola da Ciência da Informação da UFMG. O aluno realizou uma observação
participante no Hoje em Dia, TV Alterosa e Rádio Itatiaia, veículos onde abordou
os profissionais para conhecer os filtros de seleção das informações publicadas,
munindo-se de instrumentos de coleta de dados discutidos conosco anteriormente.
Trocamos idéias sobre as impressões colhidas.
Pensamos, também, em realizar um survey com os jornalistas,
aproveitando o período em que desenvolvíamos a observação participante.
Chegamos a abordar 10 repórteres. No entanto, à medida que respondiam aos
questionários, percebíamos que a percepção sobre o problema não se tinha
alterado desde nossa pesquisa de mestrado desenvolvida em 2000, oportunidade
em que ouvimos 73 profissionais de imprensa em Belo Horizonte sobre diversos
assuntos alusivos à qualidade de informação, dentre eles, fontes. As respostas
coincidiam muito com os dados que tínhamos e julgamos ser procedente
simplificar o processo abortando o survey. Nesse sentido, revisitamos os dados
coletados na investigação de mestrado e procuramos formas de atualizá-los.
Dessa maneira, fomos levados a outro tipo de observação
participante: utilizamos a estratégia de acompanhar sistematicamente, de fevereiro
de 2004 a agosto de 2005 o “Projeto Primeira Terça”, que aconteceu toda primeira
terça-feira do mês à noite, na sede do Sindicato dos Jornalistas em Belo
Horizonte, evento em que jornalistas e profissionais de assessorias de
comunicação das ‘fontes formais’ debateram temas diversos ligados à área de
comunicação. Nessa etapa, não elaboramos roteiro para registrar os dados.
Registrávamos os eventos em relatórios para posterior recuperação.
A experiência foi fundamental para checarmos impressões colhidas
durante a pesquisa. Estivemos, ainda, presentes no Congresso Mineiro de
Jornalismo, ocorrido em junho de 2004, em Mariana, Minas Gerais. Por fim, outra
estratégia de atualização foi o acompanhamento da discussão sobre o tema na
internet.
162
Entre as fontes, não desenvolvemos outra observação participante.
Acreditávamos que nossa experiência de 20 anos da pesquisadora como
comunicadora de uma organização estatal e consultora de algumas empresas
seria suficiente para nos possibilitar a compreensão do cotidiano do trabalho dos
‘disseminadores de informação’ das fontes formais. Além do mais, o
acompanhamento do Seminário Primeira Terça possibilitou-nos perceber a
atualização do trabalho das fontes.
4.3.4 Entrevistas com as fontes
Nosso universo compunha-se das ‘fontes formais’ dos setores
público e privado de Belo Horizonte: especialistas e organizações, representadas
por seus dirigentes e profissionais responsáveis pelo relacionamento com a
imprensa, aqui denominados ‘disseminadores de informações’. Sabíamos que
desenvolver uma pesquisa quantitativa com as fontes seria impraticável. A
complexidade do universo impunha uma disponibilidade de tempo que não
tínhamos. Decidimos optar pela metodologia qualitativa, colhendo dados em
entrevistas em profundidade. Precisávamos, porém, conhecer bem o universo das
‘fontes formais’ que necessitávamos abordar, de forma a tornar nossa amostra
bem representativa’, essencial para conferir a sustentação à proposta de estudo
.
Para isto, coletamos dados junto ao IBGE, disponibilizados na
internet em 2003. Primeiramente, identificamos as empresas por tipos, calculando
a proporção de empresas públicas e privadas, firmas individuais (que incluem
nossos especialistas) e associações (sindicatos, associações, conselhos,
entidades etc) que eram reconhecidas como fontes formais de informação da
população em Belo Horizonte, conforme está demonstrado na TAB.17, p.164.
TABELA 17 – TIPOS DE EMPRESAS DE BELO HORIZONTE
Universo
SEDES DE EMPRESAS COM CNPJ 77.454
Administração pública/ sociedade de responsabilidade limitada ou com fins lucrativos 59.441
Firma individual/pessoa física – especialistas 9.217
Associação/sindicatos/ Sociedades sem fins lucrativos 8.796
Fonte: IBGE, Cadastro Central de Empresas 1998; Malha municipal digital do Brasil: situação em 1997. Rio de Janeiro:
IBGE, 1999, disponibilizado pela Internet em 2003.
Identificado nosso universo de pesquisa, ou seja, quem nos
interessava ouvir: as fontes de notícia em Belo Horizonte, justamente, as que
definimos como ‘formais’. Depois disso, consideramos o desdobramento feito pelo
IBGE do universo de empresas da TAB. 17, resumidos na TAB.18, p.164. Ou seja,
até então, procurávamos teoricamente 15 pessoas que representavam as fontes
que constituíam os 15 tipos das empresas que constavam na TAB.18.
TABELA 18 – EMPRESAS DE BELO HORIZONTE, POR ATIVIDADE.
TIPO DE EMPRESA POR ATIVIDADE Número %Universo
1- agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal 260 0,335683
2- pesca 6 0,007747
3- indústrias extrativas 139 0,179461
4 - indústrias de transformação 6.849 8,842668
5 - produção e distribuição de eletricidade, gás e água. 16 0,020657
6 - construção 3.921 5,06236
7- comércio; reparação de veículos, objetos pessoais e domésticos 30.433 39,29171
8- alojamento e alimentação 5.864 7,570945
9- transporte, armazenagem e comunicações 1.884 2,432411
10 - intermediação financeira 1.244 1,606115
11 - atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas 18.608 24,02458
12- administração pública, defesa e seguridade social 111 0,143311
13- educação 1.438 1,856586
14- saúde e serviços sociais 1.788 2,308467
15 - outros serviços coletivos, sociais e pessoais 4.893 6,317298
TOTAL 77.454 100
Fonte: IBGE, Cadastro Central de Empresas 1998; Malha municipal digital do Brasil: situação em 1997. Rio de
Janeiro: IBGE, 1999, disponibilizado pela Internet em 2003.
Acrescentamos aos 15 tipos de empresas, as categorias de firmas
individuais e entidades associativas, conforme TAB.19 (p 165). Esta decisão foi
respaldada pelos resultados da análise documental, onde aferimos grande
presença destes dois tipos de fonte na imprensa. A partir daí e considerando a
visibilidade das fontes, compusemos a mostra conforme a TAB.19, que incluiu 21
pessoas, dentre elas, 03 especialistas e 18 disseminadores de informação de
instituições diversas.
TABELA 19 –PLANO AMOSTRAL
TIPO Universo
% Amostra
qualitativa
Respondentes NATUREZA
Administração pública/ sociedade de
responsabilidade limitada ou com fins lucrativos
59.441 76,74
- agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal 260 0,335 0 Secretaria de Saúde
Pública
- pesca 6 0,007 1 ONG Meio ambiente
Pública
- indústrias extrativas 139 0,179 0 Ind Cachaça Privada
- indústrias de transformação 6.849 8,842 1 Fiat (Especialista) Privada
- produção e distribuição de eletricidade, gás e água 16 0,0207 1 Cemig Pública
- construção 3.921 5,062 0
- comércio; reparação de veículos, objetos pessoais e
domésticos
30.433 39,291 1 Micro Ágil Privada
- alojamento e alimentação 5.864 7,570 1 Big Pizza Privada
- transporte, armazenagem e comunicações 1.884 2,432 1 Bh Trans Pública
- intermediação financeira 1.244 1,606 1 CEF blica
- atividades imobiliárias, aluguéis e prestação serviços 18.608 24,024 1 Estúdio Privada
- administração pública, defesa e seguridade social 111 0,143 3 Polícia Civil
ALMG
PBH
Pública
Pública
Pública
- educação 1.438 1,856 2 PUC
UFMG
Privada
- saúde e serviços sociais 1.788 2,308 2 Materdei/
Hosp. Clínicas
Privada
Pública
- outros serviços coletivos, sociais e pessoais 4.893 6,317 1
IBGE
Privada
Pública
Firma individual/pessoa física – especialistas 9.217 11,899 2 01 médico
01 advogado
Pública
Privada
Associação/sindicatos/ Sociedades sem fins
lucrativos
8.796 11,356 3
CAM
CDL
Sind. Bancários
Privada
Privada
Pública
Sedes de empresas com CNPJ 77.454 100 21
Fonte: IBGE, Cadastro Central de Empresas 1998; Malha municipal digital do Brasil: situação em 1997. Rio
de Janeiro: IBGE, 1999, disponibilizado pela Internet em 2003.
O próximo passo foi cruzar os registros do IBGE com os dados obtidos
em nosso levantamento juntos aos jornais. Sabíamos que a proporção das fontes
privadas (52%) era um pouco maior que as fontes públicas (48%), mas que as
últimas apresentavam maior visibilidade na imprensa, principalmente na primeira
página, espaço reconhecido como o mais nobre pela mídia. Priorizamos, para a
participação na pesquisa, as empresas com maior número de empregados, tempo
de fundação e freqüência de aparição na Imprensa, respectivamente.
Considerando as observações por ocasião da análise documental,
chegamos à amostra qualitativa de 21 entrevistas, sendo 11 ligadas ao poder
público e 10 ao setor privado, o que nos levaria finalmente, ao que nos
interessaria como base amostral da pesquisa, representada pela TAB.19, p.165.
Optávamos por uma “amostra típica” representativa da população (LA VILLE e
DIONE, 1999: 170), formada em função explícita da escolha do pesquisador, a
partir das necessidades do estudo. Separamos as fontes por categorias de tipo de
atividade, seguindo a classificação do IBGE (TAB.17 e TAB.18, p.164), tentando
incluir uma de cada para ser entrevistada. Excluímos os ramos de construção civil
e de transporte, por termos observado que figuravam geralmente em jornais
através de publicidade paga, o que poderia enviesar a análise e,
conseqüentemente, nossos resultados. Descartamos a Secretaria de Saúde e
uma indústria de bebidas, por terem sido ouvidas no pré-teste, razão pela qual
não foram consideradas na TAB.19, p.165.
Em fevereiro de 2004, começamos as entrevistas com as ‘fontes
formais’ e as concluímos em março do mesmo ano. As entrevistas em
profundidade, nos moldes em que pretendíamos realizar, basearam-se no roteiro
de entrevista, ANEXO I, p.263. O roteiro possibilitou entrevistas parcialmente
estruturadas, cujos temas são particularizadas, e questões abertas
antecipadamente preparadas, nas quais tínhamos tem plena liberdade para
inverter ou tirar algumas perguntas, acrescentando outras de improviso, se
julgássemos necessário, como orientam LA VILLE e DIONNE (1999: 188). Para
compor as perguntas deste roteiro, elegemos como guia algumas diretrizes
preliminares, a saber: 1) mapear graduação e cargo dos disseminadores de
informação; 2) investigar necessidades e comportamento de busca de informação
dos responsáveis pela disseminação de informação das fontes;3) investigar os
objetivos de produção de informação por parte das fontes; 4) identificar estratégias
de disseminação de informão fornecida à imprensa; 5) clarear nossa percepção
sobre os fatores que interferem na busca e na produção de informações; 6)
identificar estratégias de seleção de informação enviada à imprensa; 7) identificar
a percepção das fontes sobre os atributos de qualidade a elas conferidos; 8)
verificar percepção das fontes sobre indicadores de avaliação que jornalistas
usam para abordá-las; e 9) identificar, na percepção da fonte, em que ela contribui
para a qualidade da informação jornalística. Tudo o que consideramos importante
foi perguntado e respondido, lembrando que o roteiro definitivo acabou por ser
refeito baseado nas experiências que havíamos tido no pré-teste.
Para marcação das entrevistas agendávamos previamente horários
por telefone, encaminhando ofício, conforme ANEXO V, p.276. Todas as
conversas foram gravadas e transcritas
80
. Nossa preocupação era a de que o
entrevistado respondesse aquilo que precisávamos.
4.3.5 Entrevistas com os jornalistas
Considerando os critérios de tempo e praticidade, elegemos para
investigar
81
, do lado da imprensa, três órgãos de mídia impressa da Capital com
mais de 10 anos de atuação, foram eles: Hoje em Dia, O Tempo e Estado de
80
As transcrições com as fontes e com os jornalistas não serão expostas nesta tese, pois
totalizaram cerca de 400 páginas. Sua verdadeira utilidade foi facilitar a análise dos dados
coletados.
81
Segundo alguns autores, as unidades de análise podem ser classificadas como indivíduos,
grupos, organizações ou artefatos sociais (objetos como livros, poemas, pinturas, esculturas etc).
Minas. Queríamos desenvolver pesquisa qualitativa nos três jornais. Como
conseguimos incluir uma emissora de rádio e uma emissora de TV: rádio Itatiaia e
TV Alterosa/SBT, respectivamente, tivemos uma visão mais ampla do
relacionamento da mídia com as fontes. Além dos editores, ouvimos profissionais
com experiência nas editorias local, política ou econômica, reconhecidas como as
mais importantes na área de jornalismo.
A amostra na imprensa incluiu representantes legítimos de nosso
objeto de pesquisa. Baseando-nos no argumento antropológico
82
, nosso critério de
representatividade baseou-se na escolha de profissionais que tinham em comum
valores e rotinas produtivas, em práticas compartilhadas por toda uma categoria.
Mesmo não precisando encontrar representatividade mensurável, requisito da
pesquisa quantitativa, providenciamos que todos os tipos de veículos de
comunicação se fizessem representados, para que pudéssemos visualizar as
diferenças e as similitudes de cada um.
Assim como procedemos com relação às fontes, tínhamos em mente
desenvolver uma metodologia qualitativa utilizando como instrumento de coleta de
dados entrevistas em profundidade, que CHIZOTTI (1995:93) denomina de
abordagem clínica. Ela
“pressupõe que o informante é competente para exprimir-se com
clareza sobre questões de sua experiência e comunicar representações
e análises suas, prestar informações fidedignas, manifestar em seus
atos o significado que m no contexto em que se realizam, revelando
tanto a singularidade, quanto a historicidade dos atos, concepções e
idéias. “
O termo ‘entrevistas em profundidade’ historicamente significa
entrevistas individuais relativamente, o organizadas e estruturadas, pois as
perguntas procuram seguir um roteiro previamente planejado sem que este
precise ser seguido verticalmente. O pesquisador é exaustivamente treinado para
82
A abordagem antropológica, ou clínica, prevê a vivência do pesquisador no ambiente do
universo de entrevistados.
investigar e extrair respostas detalhadas de cada pergunta
83
. Às vezes, utilizam-se
psicólogos como entrevistadores. Chegam-se até a usar técnicas clínicas não-
direcionadas para descobrir motivações ocultas dos informantes. A direção da
entrevista em profundidade é orientada pelas respostas do entrevistado. À medida
que a conversa flui, o entrevistador investiga as respostas e as usa como base
para fazer perguntas adicionais. Essa técnica nos foi útil para descobrirmos traços
e comportamentos, valores e ações dos indivíduos.
Descrito o universo e definida a amostragem, que também
denominamos “típica”, como no caso das fontes, cuidamos da elaboração do
instrumento de coleta de dados: o roteiro de entrevistas, que apresentamos no
ANEXO III, p.279, preparado de forma a nos conferir liberdade para alterá-lo. As
perguntas que compuseram os roteiros de entrevistas, tanto para as fontes como
para a imprensa, buscaram atender aos objetivos da pesquisa. Para se chegar a
elas, como explicamos no item sobre o pré-teste, cruzamos as informações
contidas nas TAB.6 (p.79), TAB.15 (p.159) e FIG.4 (p.65), com algumas
diretrizes-guias, a saber: 1) Identificar a graduação dos jornalistas; 2) investigar
necessidades e comportamento de busca de informação do jornalista; 3)
investigar os objetivos de produção de informação no jornalismo; 4) investigar os
fatores que interferem na busca e na produção de informações; 5) identificar
políticas de seleção de fontes de informação; 6) identificar e estabelecer
categorias de fontes utilizadas; 7) investigar os atributos de qualidade conferidos
às fontes ; 8) identificar aspectos intrínsecos das fontes, que as levam a ser
consideradas como tal e algumas a serem mais utilizadas que outras; 9)
identificar indicadores de avaliação utilizados na prática; e 10) identificar, na
percepção do jornalista, em que a fonte contribui para a qualidade da informação.
Assim como procedemos com as fontes, na realização do pré-teste
com a imprensa, descobrimos alguns problemas, como redundância de
informações, corrigidas no roteiro definitivo. Através de contato telefônico, e,
munidos de carta de apresentação (ANEXO VI, p.277), marcamos horário para
83
No nosso caso, a experiência da investigadora no trabalho de pesquisa, tanto qualitativa como
quantitativa, por mais de 10 anos, dispensou o treinamento
entrevistar um editor geral e um repórter de cada veículo. Os agendamentos
sofriam várias alterações, uma vez que o tempo é moeda bastante escassa nas
salas de redação. Percebíamos que o roteiro de entrevistas teria que ser utilizado
apenas como guia, cumprindo sua missão metodológica, pois o nível de reflexão
variava muito de um profissional a outro
.
Vale acrescentar que, no jornal O Tempo
e na TV Alterosa/SBT conseguimos conversar em reunião programada pela chefia
com mais de uma pessoa, como mostra a TAB. 20, p.170.
TABELA 20 - ENTREVISTADOS NA IMPRENSA
LOCAL CHEFIA
JORNALISTA
TOTAL
ESTADO DE MINAS 01
01
02
O TEMPO 04
01
05
HOJE EM DIA 01
01
02
SBT 02
01
03
RÁDIO ITATIAIA 01
01
02
TOTAL 10
05
15
Fonte: Elaborado pela autora, JUN 2004.
Para tabulação, nos orientamos no ANEXO IV (p.270), no qual
procuramos categorizar as respostas, registrando observações pessoais em
questões abertas.
4.3.6 Acompanhamento de fatos polêmicos
Acompanhamos dois assuntos polêmicos, para verificarmos como
seriam abordados pelos diferentes jornais de Minas, incluindo a mídia nacional,
para melhor efeito comparativo. Nosso objetivo era identificar se o uso de fontes
em um mesmo acontecimento relatado variava de um veículo para outro, que
fatores intervenientes e que atributos de qualidade se diferenciavam.
Ao contrário da análise documental, em que registramos tudo, em
coleta de dados quantitativa, nesta etapa, optamos pela análise qualitativa de
conteúdo, em que “as maneiras de proceder são menos codificadas do que na
abordagem anterior, não tendo regras formalmente definidas ainda que análise e
interpretação se confundem” ( LA VILLE e DIONNE, 1999:227).
Acompanhamos os dois assuntos polêmicos nos três jornais de Belo
Horizonte. Foram eles: a repercussão da proposta da criação do Conselho
Nacional de Jornalismo, em 2004, encaminhada à Câmara dos Deputados pela
FENAJ, e o episódio do pagamento de mensalão, que repercutiu na renúncia do
deputado Jose Dirceu do cargo de Chefe da Casa Civil do Governo Lula e
contribuiu para desencadear uma grande crise política. Os dois acontecimentos
converteram-se em exemplos da ação dos interesses nos bastidores da mídia.
No primeiro caso, acompanhamos as publicações alusivas à
proposição da criação do Conselho de agosto a dezembro de 2004, através dos
arquivos do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, onde fomos gentilmente
recebidos por Aluísio Lopes, presidente da entidade, que também ouvimos. O
segundo episódio ainda estava em evidência por ocasião da redação da tese.
Optamos por acompanhá-lo sistematicamente até o dia 10 de agosto de 2005. Os
episódios foram selecionados, ou por estarem diretamente ligados à atuação
profissional do jornalista (Conselho Federal do Jornalismo) ou por ser fato político
relevante (denúncias de Roberto Jefferson), que expressa diversos interesses nos
bastidores da imprensa. Acompanhamos os dois casos nos jornais locais,
anotando as impressões colhidas, tendo como guia modelo da TAB.21, p.172.
TABELA 21 - ACOMPANHAMENTO DE FATOS POLÊMICOS
VEÍCULO PERÍODO
FONTES FATORES
INTERVENIENTES
ATRIBUTOS DE
QUALIDADE
CAPA
CM2
OBSERVAÇÕES
Fonte: Elaborado pela autora, JUN 2004.
4.3.7 Compilação e análise dos dados
Além da coleta de dados, a compilação e tabulação dos dados
foram etapas trabalhosas. Os dados foram compilados conforme os
procedimentos metodológicos expostos. Registramos dados da análise
documental, observação participante e as observações sobre os fatos polêmicos
nos instrumentos apresentados neste capítulo. Transcrevemos as entrevistas
gravadas, tanto das fontes como da imprensa, recorrendo à ajuda de um
estagiário do curso de ciências sociais e de um profissional para nos auxiliar na
transcrição. Registramos em relatórios os eventos acompanhados no Primeira
Terça e os debates do Congresso de Jornalismo, como já explicamos.
Para facilitar a síntese, relemos os depoimentos transcritos e, com
auxílio do software de pesquisa Survey, tentávamos preencher os questionários,
ANEXOS II (p.264) e IV (p.270), nos quais as categorias analíticas estavam
previstas. Como as entrevistas eram qualitativas, cada pergunta possibilitou o
registro de respostas livres (questões abertas). Um relatório sintético oferecia-nos
o panorama, por categoria de análise das respostas e as observações dos
entrevistados. Todo o material, devidamente tabulado e registrado soma cerca de
700 páginas. Guardamos todos os jornais pesquisados, com exceção dos
clippings sobre a divulgação da proposta do Conselho Federal de Jornalismo, que
consultamos no arquivo do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais.
A tabulação permitiu fazer alguns cruzamentos, que nos foram úteis
como suporte na análise. Já alguns dados revisitados em nossa pesquisa de
mestrado (CHAVES, 2000) nos subsidiaram na elaboração do referencial teórico.
Para a análise dos dados, optamos pela metodologia qualitativa, em
que “o pesquisador decide prender-se às nuanças de sentido que existem entre as
unidades, aos elos lógicos entre essas unidades ou entre as categorias que as
reúnem” (LA VILLE e DIONNE, 1999: 227). Nesse tipo de abordagem, não
regras específicas: análise e interpretação muitas vezes se confundem. Apesar
das inferências subjetivas, buscamos ser objetivos nas exposições, explicando
como procedemos e tomamos decisões. LA VILLE e DIONNE distinguem três
principais modos de análise e interpretação qualitativa: o “emparelhamento”, “a
análise histórica” e a “construção iterativa de uma explicação”.
O “emparelhamento” originou-se dos anglo-saxões, consistindo em
associar os dados colhidos a um modelo teórico, com a finalidade de compará-los.
É utilizado, por exemplo, por um pesquisador que traça um “tipo ideal” weberiano
do objeto observado para pô-lo à prova à luz dos resultados colhidos em campo,
identificando coerências ou contradições da teoria. Neste tipo de abordagem, “a
qualidade da organização do quadro operacional é primordial, pois a grade de
análise torna-se não o instrumento de classificação, mas também o de toda a
análise-interpretação dos conteúdos” (LA VILLE e DIONNE, 1999: 227).
A “análise histórica” caracteriza-se como um caso particular do
“emparelhamento”. O pesquisador baseia-se em quadro teórico explícito para
elaborar o roteiro sobre a evolução de um fenômeno ou da situação em estudo, e
submete suas previsões à prova da realidade dos dados colhidos. Esse tipo de
análise é muito utilizado no acompanhamento de um discurso. Se pudéssemos ter
acompanhado um mesmo fato polêmico por prolongado período de tempo, essa
metodologia teria sido a ideal para analisá-lo. No entanto, especificamente
173
as estratégias de análise de conteúdo de dados estão ainda bastante dispersas,
tendo muito ainda a ser inventado (LA VILLE e DIONNE, 1999: 228).
Na “construção iterativa de uma explicação”, é dispensada a
presença prévia de um ponto de vista teórico.
“O processo de análise e interpretação é aqui fundamentalmente
iterativo, pois o pesquisador elabora pouco a pouco uma explicação
lógica do fenômeno ou da situação estudados, examinando as unidades
de sentido, as inter-relações entre essas unidades e entre as categorias
em que elas se encontram reunidas. Essa modalidade de análise e de
interpretação, que lembra a construção da grade aberta, convém
particularmente aos estudos de caráter exploratórios quando o domínio
de investigação não é bem conhecido do pesquisador, a ponto de este
julgar preferível não elaborar hipótese a priori. Esta é, então,
simultaneamente desenvolvida, verificada, ainda que, em parte, um vai-
e-vem entre reflexão, observação e interpretação, à medida que a
análise progride” (LA VILLE e DIONNE, 1999: p.227-228).
Consideramos que nossa análise enquadrar-se-ia majoritariamente
entre a primeira estratégia e a última abordagem. Ela é coerente com a
abordagem do “emparelhamento”, pois o referencial teórico conduziu toda nossa
pesquisa. Em várias ocasiões, foi a teoria que orientou a construção e elaboração
dos instrumentos de coleta de dados. Não poderíamos, também, analisar, explicar
e interpretar os dados sem os recursos possibilitados pelo referencial teórico.
a estratégia “iterativa” adequou-se ao caráter exploratório da investigação e
justifica nossa opção pela abordagem dialética, posição defendida
anteriormente.
Lembramos que, adotamos algumas “estratégias discursivas”
(DOMINGUES, 2004) na apresentação e análise dos dados. Utilizamos a
“descrição” para expor os resultados, explicando-nos e interpretando-os a seguir,
sempre à luz dos principais paradigmas que abrigam as ciências sociais: o
“orgânico” de Durkheim, o do contexto produtivo marxista, o da ação social
weberiano e o antropológico.
A grande quantidade de material demandou-nos esforço de síntese
considerável. rios seriam os caminhos para apresentarmos e analisarmos os
dados. No entanto, buscando mais objetividade, optamos por cercar a interação
entre fontes e jornalistas, guiando-nos pelo roteiro, a saber: 1) relacionar
formação e grau de instrução entre fontes e jornalistas; 2) relacionar as
necessidades e estratégias de busca de informação de jornalistas e
‘disseminadores de informação das fontes’; 3) relacionar objetivos de produção de
informação de fontes e jornalistas; 4) relacionar os fatores intervenientes na
produção da informação jornalística com os fatores intervenientes na produção de
informação pela fontes; 5) relacionar políticas de seleção de informação de fontes
e jornalistas; 6) relacionar a percepção dos jornalistas e fontes sobre atributos de
qualidade das fontes formais’; 7) relacionar a percepção de jornalistas e fontes
sobre critérios de avaliação’; 8) identificar em que atributo de qualidade a fonte
mais interfere, como e por que.
4.3.8 Modelo de avaliação das fontes
Para atingir o último dos objetivos específicos: propor um modelo
crítico para avaliação de fontes pelos jornalistas ou qualquer profissional do
contexto informacional, consideramos prudente aguardarmos as conclusões.
Após ouvirmos os atores envolvidos, tanto nas fontes como na imprensa, e
refletirmos sobre as questões relativas à problemática, estávamos melhor
alicerçados para fundamentar a proposta, apresentada no próximo capítulo. Sua
criação inspirou-se no modelo do fenômeno multidimensional da qualidade da
informação apresentado na FIG.5, p.67, levando em consideração os fatores que
apontamos, conforme explicamos posteriormente.
4.3.9 Pré-teste
Antes de iniciarmos a realização das entrevistas segundo nosso
plano amostral para imprensa e fontes, realizamos um “pré-teste”. Nesta etapa,
tínhamos os esboços dos instrumentos de coleta de dados para entrevistas, os
roteiros, e queríamos verificar se estavam adequada, se as perguntas seriam bem
entendidas pelo informante e se os dados seriam colhidos de forma eficiente.
Tínhamos em mãos questionários semi-estruturados, em que
tentávamos apresentar questões, com respostas fechadas e abertas. A
elaboração destes questionários baseou-se nos fatores que interferem na
produção da nocia (TAB.7, p.85), nos critérios de avaliação ( TAB.9, p.122) e
nos atributos de qualidade descritos na revisão de literatura (FIG.4, p.65). As
perguntas comporiam nosso roteiro de entrevistas e as respostas continham
categorias analíticas, que serviriam para uma posterior tabulação dos resultados
colhidos. Ou seja, tínhamos intenção, apenas, de verificar a pertinência das
perguntas, não mostrando ao informante as respostas.
Do lado da imprensa, abordamos um repórter do SBT e um jornalista
do Estado de Minas. Do lado da fonte, ouvimos uma assessoria de um banco, de
uma secretaria de saúde e um coordenador de comunicação de uma indústria de
bebida. Descartamos as entrevistas para efeito de coleta de dados, uma vez que a
funcionalidade operacional do pré-teste foi a redefinição dos roteiros definitivos de
entrevistas, a que chegamos conforme ANEXO I (p.263) e ANEXO III (p. 269).
Também preparamos os ANEXOS II (p.264) e IV (p.270), que usaríamos como
guia na tabulação analítica dos dados.
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
“Não soro da verdade. Informantes jogam com suas próprias regras.
Os melhores informantes não dizem quais o essas regras
(WOODWARD, 2005: 123)".
Partimos do pressuposto de que a informação pode ser apreendida
sob o “guarda-chuva” paradigmático das quatro correntes majoritárias das ciências
sociais: o “orgânico, de Durkheim, que nos leva a refletir sobre a informação no
contexto de gerenciamento e excelência dos sistemas; o “marxista”
84
, pelo qual
podemos analisar a informação dialeticamente no ambiente de relações de
trabalho e produção; o “weberiano”, em que podemos considerar seu conceito na
visão de ação social da qual participam os indivíduos e instituições como atores,
construindo, reproduzindo e recriando significados; e o “estruturalista”, onde a
linguagem e o discurso ocupam o centro das discussões.
De fato, induzidos pelos aspectos citados, apreendemos o conceito
de ‘qualidade da informação’ como fenômeno muldimensional permeado por
contextos políticos filosóficos, sociais, econômicos e culturais, que têm como
protagonistas dois grupos principais de atores: os usuários (que alternativamente
podem assumir os papéis de produtores e fontes), com suas necessidade e
interesses latentes; e os diversos sistemas peritos (sendo o jornalístico um deles),
por sua vez, com necessidades e interesses, também específicos. Nesse
sentido, o conceito de qualidade estará sempre em contínua construção.
A abordagem teórica influenciou nossa elaboração conceitual, a
coleta e análise de dados. Pela complexidade do tema, poderíamos apresentá-los
de várias formas. Buscando coerência de raciocínio, exporemos os resultados
84
Há quem atualmente o denomine “marxiano”.
aferidos na pesquisa de campo, seguindo o roteiro previsto na metodologia.
Procuraremos resumir objetivamente as impressões colhidas, permitindo-nos, em
cada tópico, a inserção de um comentário analítico.
Começamos por mencionar quem entrevistamos, expondo as
impressões da observação participante. Falamos sobre o perfil e a graduação
dos jornalistas e dos ‘disseminadores’ das fontes. Discorremos sobre o mercado
de trabalho do comunicador, tendo em vista que atuam como ‘disseminadores de
informação das fontes’. Abordamos os objetivos perseguidos na produção de
informação, as necessidades de informação e os interesses de fontes e
jornalistas, relacionando-os, para melhor entender suas motivações. Refletimos
sobre o comportamento de busca e a prática desses atores no processo de
produção da informação. Buscamos identificar as políticas de seleção de fontes
e checar se os critérios seletivos conferem com a literatura. Analisamos as
estratégias de disseminação de informação das fontes e suas formas de interação
com a imprensa. Procuramos compreender as categorias de fontes utilizadas, os
indicadores de avaliação e como as fontes interferiam nos atributos qualitativos
da informação produzida. Queríamos descobrir o nível de consciência crítica de
nossos atores, reflexões que nos ajudaram a compreender melhor suas formas de
atuação e sua contribuição na qualificação da notícia. Procuramos perceber se
faziam sentido algumas suposições apresentadas na exposição da problemática.
5.1 Entrevistados
Por uma questão ética e sigilo, identificamos as pessoas entrevistadas
pelos cargos que ocupam ou profissão que exercem. Mencionaremos nomes,
apenas quando se tratarem de pessoas de cargo público, como presidente de
entidade ou participantes de eventos que foram abertos à presença do público.
Do lado dos jornais, conversamos três diretores de jornalismo, sete
editores e cinco repórteres das empresas Estado de Minas, Hoje em Dia, Rádio
Itatiaia e TV Alterosa. O dia-a-dia destes profissionais costuma começar com
reunião entre os editores, que recebem dos “apuradores” o material recebido de
fontes externas. Avaliam o que a concorrência está noticiando e discutem a pauta.
Após a reunião, repassam o roteiro para cada jornalista de suas equipes.
No O Tempo, a entrevista foi coletiva, para o prejudicar a rotina da
redação, que emprega assalariados e terceirizados. As conversas nos demais
órgãos de imprensa foram mais tensas. Apesar da boa receptividade e de o
horário ter sido marcado de acordo com a conveniência dos entrevistados, estes
se demonstravam preocupados com o tempo parado. Várias vezes fomos
interrompidas pelo telefone. Alguns demoravam a focar o assunto do
relacionamento com as fontes, gerando-nos a impressão de que não estavam
acostumados a refletir sobre o assunto. “Você sabe, a redação é uma loucura,
vivemos em função do deadline, mal para a gente parar e pensar sobre o
trabalho”, declarou um repórter de TV. No Estado de Minas, que conta com
melhor estrutura, conversamos com mais calma.
A rádio Itatiaia destacou-se pela maior interatividade com o público. A
mesma percepção teve Bruno Faria, com quem estabelecemos parceria na etapa
de observação participante. Ele visitou o Hoje em Dia, TV Alterosa e Rádio Itatiaia,
todos por quatro dias consecutivos. Em sua monografia, relata que, a cada
visita, procurava: 1) conversar livremente com os jornalistas, tentando captar a
percepção que tinham do fluxo de informações nas redações; 2) acompanhar o
volume das informações que chegavam e 3) compará-las com as que eram
veiculadas. Sua abordagem inicial gerou desconfiança, o que o obrigou a optar
por uma mudança de tática: aplicou 24 questionários a jornalistas. Bruno
observou que os canais de acesso mais usuais aos jornalistas são telefone e mail.
Uma repórter lhe confessou receber diariamente 200 cartas, via mail. A maioria
dos releases recebidos originavam-se de órgãos públicos, que, segunda ela, são
as fontes mais procuradas, seguidas de especialistas e setores representativos da
comunidade. A monitoração da concorrência o impressionou, assim como a
interveniência da subjetividade do apurador na noticiabilidade. Bruno percebeu
que os repórteres se demonstravam mais à vontade, quando abordados fora do
ambiente de trabalho. Concluiu que “se o material descartado no processo de
seleção das notícias perde seu lugar na mídia por critérios puramente qualitativos,
então podemos dizer que contamos com um sistema do mais alto nível. Se ao
contrário, existem outros elementos pertinentes ao processo, interessa-nos
conhecê-los e analisá-los”. Essa ressalva corrobora nossa pesquisa.
O repórter, exceto quando recebe relatórios de pesquisa (o caso do
IBGE), tem absoluta preferência pelas fontes pessoais, sendo a entrevista oral
seu principal instrumento de trabalho, o que ratifica o que apuramos na revisão de
literatura. Geralmente, dirige-se aos ‘disseminadores de informação’ das fontes
para agendar entrevistas com as autoridades de maior nível hierárquico das
instituições ou com quem estas autoridades delegarem. Segundo um dirigente, “o
jornalista tem que ter suas fontes, construir com ela um histórico de confiança”.
Nesse caso, a fonte pode aparecer rotineiramente na mídia. Corroborando essa
afirmação, Bruno Faria registrou que alguns repórteres assumiram recorrer
repetidamente a uma ou outra fonte, geralmente autoridade de órgão público ou
especialista, fenômeno denominado por TRAQUINA (2003) como “rotinização”.
Como explicamos na exposição dos procedimentos metodológicos, a
escolha das fontes baseou-se em classificações do IBGE e em criterioso
levantamento de conteúdo junto aos três jornais: Estado de Minas, Hoje em Dia e
O Tempo, em setembro de 2003, quando decidimos sobre que percentual de
fontes públicas e privadas a selecionar. As instituições que gentilmente nos
receberam foram: ALMG (Assembléia Legislativa de Minas Gerais), BH Trans, Big
Pizza, CEF (Caixa Econômica Federal), CAM (Clube Atlético Mineiro), CDL (Clube
de Diretores Lojistas), CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais), Em
Comum Estúdio Livre, Fiat Automóveis (onde entrevistamos um especialista),
Hospital das Clínicas, Hospital Mater Dei, IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), Micro Agil Informática Ltda, PBH (Prefeitura Municipal de Belo
Horizonte), Polícia Civil de Minas Gerais, PUC Minas (Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais), Sindicato dos Bancários, UFMG e Visão Mundial.
Conversamos, também, com o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas
Gerais, além de ter colhido diversos depoimentos de repórteres e ‘disseminadores
de informação das fontes’ que participaram dos seminários do Primeira Terça,
promovidos por aquele Sindicato em 2004 e 2005.
Ao abordarmos os representantes das fontes formais, percebemos
que a infra-estrutura da área responsável pela disseminação da informação varia
muito de lugar para lugar. A Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, a Cemig, a
Assembléia Legislativa e a PUC são bem supridas de recursos humanos e
materiais. A Cemig tem políticas, diretrizes e as atribuições das áreas
formalmente descritas. as demais contam com estrutura reduzida. É o caso
da Polícia Civil e o Hospital das Clínicas da UFMG, fontes que, mesmo muito
assediadas pela imprensa, driblam dificuldades para conduzir o trabalho diário.
Para nos receber, a jornalista da Polícia Civil, abdicou de seu horário de almoço:
“se não for assim, você fica sem falar comigo”, disse ela.
O cotidiano desses profissionais é corrido. As atividades são bem
versáteis, mas, em geral, englobam: relacionamento com a imprensa, elaboração
de jornais internos, gestão de comunicação por internet, coordenação de
cerimonial, elaboração de pas publicitárias, promoção de eventos internos e
externos, apoio a RH, suporte à gestão e campanhas de marketing. São
responsáveis pela imagem de suas instituições perante as comunidades interna e
externa. Em geral, coordenam os centros culturais. Em duas instituições,
constatamos que as bibliotecas se subordinam à área de comunicação. Em outra,
presenciamos o contrário: a biblioteca coordena as atribuições de comunicação.
Durante as entrevistas, os ‘disseminadores de informação das fontes
formais’ eram muitas vezes interrompidos por autoridades ou pela imprensa,
geralmente, pelo telefone. Demonstraram possuir visão sistêmica e crítica sobre o
papel da disseminação da informação. A preocupação com a imagem
institucional ficou evidente. Muitos desenvolvem atividades polivalentes: “a
comunicação numa empresa, ou instituição qualquer, parece uma caixinha de
mágica: todo mundo quer , todos palpitam e, às vezes, pensam entender mais do
que s, os responsáveis pela área. Corremos o risco de assumir atividades que
nada nos acrescentam ou pouco tenham a ver conosco”, declarou uma assessora.
Uma explicação para seu depoimento pode vir de LIMA (2001), que lembra que,
de fato, a comunicação é onipresente e extremamente interdisciplinar. O trabalho
da comunicação, tanto interna quanto externa, abre-se aos limites da criatividade,
ou seja, a espaços ilimitados.
As fontes do poder público mais demandadas sobressaem-se pelo
interesse que suas atividades geram junto à população, por produzirem
informações utilitárias que precisam ser socializadas; por prestarem serviços em
áreas de grande relevância ou por tomarem decisões que afetam a vida dos
cidadãos, como é o caso das instâncias deliberativas de órgãos públicos do
executivo e legislativo. Essas fontes também são procuradas diretamente pela
população. Como exemplo, citamos o IBGE, a Cemig, Hospital das Clínicas,
Caixa Econômica Federal, Polícia Civil e Prefeitura, instituições, que estão
envolvidas com a otimização de sites na internet. Vários jornalistas ingressam
atualmente no mercado de trabalho pelo espaço cibernético. As atividades dessas
instituições incluem: pesquisa e estatísticas, energia elétrica, saúde, habitação,
segurança e serviços de utilidade pública, como: trânsito, educação, saneamento
básico e tributação. Tal fato lembrou-nos a tendência de desintermediação das
fontes, descrita na revisão de literatura.
As fontes da iniciativa privada vivem situações distintas. Algumas
têm grande visibilidade na mídia por gerarem interesse instantâneo na população,
como é o caso do Clube Atlético Mineiro e da PUC, conforme declarações de dois
representantes dessas instituições. Outras se destacam pela tecnologia
diferenciada (Hospital Mater Dei), pela perícia e impacto econômico (Fiat
Automóveis), ou utilizam de recursos estratégicos para figurarem na mídia:
anunciam, promovem eventos, treinamentos ou empreendem outras iniciativas.
Constatamos que algumas entidades são procuradas regularmente
pela imprensa: a Polícia, a Copasa, a Prefeitura, o Hospital das Clínicas, fazendo
parte da ‘ronda’ dos repórteres que apuram os acontecimentos a serem cobertos.
182
Impressionou-nos a monitoração constante da concorrência: canais de TV
ligados, sites de agências de notícia e outros órgãos de imprensa.
Dentre os especialistas entrevistamos um ginecologista (professor
doutor da Faculdade de Medicina da UFMG); um advogado, empresário e
especialista em direito imobiliário, e um engenheiro mecânico (Fiat Automóveis).
Esses profissionais dedicaram-nos mais tempo, atendendo-nos fora de seus
horários de trabalho. Segundo eles, tornam-se fontes pelo seu conhecimento
perito, pela instituição que integram ou relevância do assunto que dominam. O
contato com a imprensa não faz parte de seu cotidiano: eles atendem aos
repórteres quando solicitados.
5.2 Perfil do profissional entrevistado
Procuramos identificar a qualificação do repórter e do profissional
que atuam como ‘disseminadores de informação’ das fontes formais, pois
supúnhamos ser este um dos fatores intervenientes na qualificação da notícia.
Tanto os repórteres, quanto as fontes são atores importantes no processo de
construção da informação que chega ao público pela mídia.
Nossos entrevistados da imprensa, cujo piso salarial em Belo
Horizonte é de R$1.124,00
85
, possuem graduação em jornalismo, obedecendo às
normas previstas para o exercício da profissão, sendo fiscalizados pelo Sindicato
de Jornalistas de Minas Gerais. A média salarial entre produtores e editores é
maior, girando em torno de R$8.000,00, com algumas variações. Com pouco
tempo para se dedicarem a cursos de especialização e pós-graduação, eles têm
85
Dado da Fenaj, jul. de 2004, extraído do site www.fenaj.org.br. O salário mínimo vigente era de
R$240,00 (duzentos e quarenta reais).
na própria mídia (leitura de jornais, acesso a sites de agências de notícias e
revistas) a principal forma de atualização e reciclagem de conhecimento,
ratificando dados de pesquisa de CHAVES (2000), quando foi desenvolvido um
survey com os jornalistas das empresas Estado de Minas, Hoje em Dia e O
Tempo (TAB.9, p.122) . Essa prática, segundo um dos investigados “é um perigo,
pois tendemos a nos considerar tão cultos em conhecimentos gerais, que nos
acomodamos muitas vezes e não prosseguimos nos estudos”. A maioria ressaltou
a importância do acesso à internet, ainda incipiente há cerca de cinco anos
(CHAVES, 2000). Poucos declararam participar regularmente de treinamentos
internos. Alguns aproveitam os cursos promovidos pelo Sindicato dos Jornalistas
de Minas Gerais, que vem-se empenhando em colaborar para o aprimoramento
profissional de seus filiados. A agenda dos cursos em 2004 incluiu os temas:
“Ética Jornalística, Comunicação, Mobilização Social e Cidadania, Como fazer
Jornalismo Econômico para o Cidadão, Jornalismo Investigativo, Assessoria de
Comunicação, Jornalismo e Política, Reflexões sobre o jornalismo cultural e
Gestão de Negócios”. Professores e profissionais das diversas áreas de
comunicação ministraram os módulos.
Uma produtora de rádio concluiu a graduação em RP, relações
públicas, para, posteriormente, complementar com o jornalismo. Acreditando
que as graduações em jornalismo e publicidade sejam mais técnicas, declarou: “foi
ótimo eu ter optado primeiramente pelo curso de RP, pois me possibilitou cultivar
uma visão mais sistêmica sobre a comunicação e processo de gestão. O
jornalismo veio mesmo como complemento”. Porém, a preocupação com a
qualificação evidenciou-se por vários repórteres, como uma que confessou viver
angustiada pela latente necessidade de estudar mais: “é um conflito, não temos
tempo e somos conscientes de que devemos procurar saber sempre um pouco
mais que a maioria das pessoas. Em algumas circunstâncias, ficamos
constrangidos. Por exemplo, quando precisamos entrevistar um especialista e não
sabemos nada sobre o que vai falar. É ruim, parece que não somos preparados e
competentes. Ficamos sem saber se as informações estão à altura do que o
público merece ou precisa. Quando conhecemos mais o assunto, sentimo-nos
mais à vontade com a fonte, podendo explorá-la em profundidade. Neste caso,
impomos mais respeito e produzimos uma informação de melhor qualidade”.
Ao analisarmos o perfil técnico dos entrevistados na imprensa, fomos
levados a supor que tendem a se tornarem especialistas em generalidades, com
um conhecimento superficial, próprio da mídia, na qual buscam seu principal meio
de atualização. O imaginário popular também contribui para seu comportamento.
Muitas vezes, em que pese a imagem de boêmio, o jornalista é visto como alguém
que vigia as instituições, principalmente as governamentais, um guardião que age
em benefício da comunidade (TRAVANCAS, 1993).
Já, entre as ‘fontes formais’, os especialistas recebem os maiores
salários e têm níveis mais elevados de graduação acadêmica. Com treinamentos
diversos em seus ramos de atividade, um cursou doutorado na Inglaterra e os
outros cursaram especialização latu sensu. Trabalham, obviamente, com foco em
suas especialidades, não sendo o relacionamento com a imprensa uma de suas
atribuições rotineiras. Lêem mais literatura técnica e muito pouco jornal.
Costumam assistir noticiários pela televisão.
A falta de melhor preparo dos repórteres constituiu uma das
principais críticas apontadas pelos demais ‘disseminadores de informão’ das
fontes formais, cujo salário variou de R$2.500,00 a R$18.000,00 por mês valores
maiores que os dos jornalistas que trabalham nos veículos de mídia. “Quando
somos procurados, o cenário é quase sempre o mesmo. Fornecemos sempre
informações básicas, para que o repórter tenha condições de produzir a matéria
pautada na redação”, declarou uma gerente de comunicação. Essa posição foi
corroborada pela maioria das fontes entrevistadas.
Identificamos em 19 casos
86
, 13 denominações diferentes de cargos,
a saber: ‘assessor de imprensa’ (sete), ‘analista de comunicação’, ‘gerente de
comunicação e marketing’, ‘assessor de comunicação (dois)’, ‘relações públicas’,
‘chefe de setor de disseminação da informação’, ‘assessor adjunto de imprensa’,
‘superintendente de comunicação empresarial’, ‘diretor de comunicação social’,
86
Dos 21 entrevistados nas fontes, 03 eram especialistas e 19 disseminadores de informação das
fontes.
‘coordenador de comunicação social’, ‘gerente de marketing’ e “gerente de
comunicação corporativa’. A graduação dos ‘disseminadores de informação’
responsáveis pelo contato com a imprensa variou entre jornalistas, relações
públicas, publicitários, administradores e outras formações. Uma coordenadora
de comunicação social não tinha curso superior. O conteúdo da mídia foi apontado
como a principal forma de atualização, com foco específico no negócio da
empresa a que servem. A maioria recebe treinamentos internos e vários cursaram
especialização, com destaque para marketing, comunicação e gestão
empresarial. A necessidade de reciclagem é latente e sensivelmente identificada
nos depoimentos dos profissionais, o que indica a importância da qualificação
contínua.
Cabe-nos ressaltar que os cursos latu sensu o geralmente
formulados a partir de uma demanda de mercado. O fato de vários profissionais
procurarem a especialização em marketing e gestão indicaria uma possível
lacuna na grade curricular dos cursos de graduação, fato sobre o qual um
publicitário se posicionou: “a universidade está muito distante da realidade do
mercado. “De fato, qualquer assessor de comunicação precisa entender de
gestão”, declarou um assessor. “As escolas querem formar separadamente
jornalistas, relações públicas e publicitários, enquanto o mercado requer
profissionais polivalentes”, ressaltaram alguns entrevistados. Eles desconhecem
as necessidades práticas do mercado e não preparam o estudante de uma forma
mais holística, como é o caso de um profissional de comunicação”. Duas
entrevistadas são tanto ‘jornalistas’ como ‘relações públicas’ por formação.
À primeira vista, percebemos uma dualidade na postura dos
entrevistados que trabalham como ‘disseminadores de informação das fontes
formais’. Ao mesmo tempo em que se declaram satisfeitos com a profissão, vários
expuseram as dificuldades de infra-estrutura e a necessidade constante de provar
que são importantes e necessários”, como afirmou uma entrevistada. ”Nosso
papel é de bastidores e, às vezes, sinto-me quase invisível”, declarou uma
jornalista. Percebemos melhor auto estima entre os que ocupam formalmente
altos cargos hierárquicos onde trabalham, sendo, também, melhor remunerados.
Indagamos a vários ‘disseminadores das fontes formais’ se os
repórteres lhes questionam sobre sua formação acadêmica. A maioria respondeu
que não. As informações colhidas comprovam a nossa suposição de que, nas
organizações, a área de relacionamento com a imprensa e endomarketing estaria
entregue a comunicadores, não necessariamente jornalistas, e a profissionais de
outros campos, (administradores, psicólogos e outros), em cargos de diferentes
denominações e níveis hierárquicos, com diferentes recursos, infra-estruturas e
remunerações das mais díspares.
Façamos aqui uma reflexão. Por que a qualificação profissional
impacta a ‘qualidade da informão’ propriamente dita? Diretamente, somos
induzidos a responder. Pelo lado da imprensa, porque são os responsáveis pela
produção da informação e, pelo lado das fontes, porque são também gestores da
informação que vai ser disponibilizada ao público. Um jornalista mais preparado,
possivelmente, amplia sua visão e capacidade analítica, além de abordar suas
fontes com mais segurança, como nos lembrou uma das entrevistadas. O mesmo
acontece com o profissional que trabalha como ‘disseminador da informação’. O
especialista, por outro lado, é extremamente qualificado em sua profissão, razão
pela qual auxilia a imprensa na interpretação dos acontecimentos.
No entanto, pouco adianta a qualificação, seja do repórter, do
‘disseminador de informação’ ou do especialista, se eles não assumirem a
responsabilidade de lidar com a informação como bem público e o compromisso
de divulgar não apenas o que lhes interessa pessoalmente ou à empresa a que
são subordinados, seja jornal ou outra organização qualquer. O horizonte ético de
todos há de ser o bem estar da comunidade em que se insere (LARA, 2003).
Lembramos que outros fatores, além do conhecimento e da
capacidade, interferem na ‘qualidade de informação’ divulgada pela fonte, ou
elaborada pelo jornal: as condições de trabalho, razão pela qual abordamos o
mercado profissional do ‘disseminador de informação’, conforme se segue.
5.3 Mercado profissional
Até a década de 1970, o ingresso no mercado de trabalho não
contemplava a obrigatoriedade do diploma superior. Estudantes da UFMG, por
exemplo, diplomavam-se em curso polivalente de Comunicação Social, estando
aptos a exercer qualquer habilitação da área. Hoje, as graduações variam em
“jornalismo”, relações públicas, publicidade e propaganda ou radialismo. Em
outras universidades do País, a variedade de especializações é ainda maior. Em
Belo Horizonte, algumas universidades incluem graduações específicas em
Marketing, Comunicação Empresarial e Comunicação Integrada, que preparam
profissionais para o mesmo mercado.
Os representantes das ‘fontes formais’ definem-se, em maioria,
como profissionais de imagem e que lidam com ‘comunicação integrada’,
posicionando-se favoravelmente a uma possível unificação entre as diversas
especializações (jornalismo, relações públicas, publicidade) como forma de
valorização do campo, retornando à proposta de graduação polivalente. “até para
barrarmos a proliferação de cursos que aparecem por aí”. A cada ano, a
concorrência aumenta absurdamente”, ressaltou um dos que prestaram
depoimento, graduado em publicidade e propaganda. “Os profissionais da área de
comunicação não têm união, se vêem como concorrentes num mercado escasso.
Vejo uma burrice as pessoas fazerem a distinção entre as três especializações. Só
perdemos força”, declarou outra entrevistada, formada em RP, jornalismo, que,
ainda, cursa publicidade e propaganda: “quero ser profissional de comunicação e,
para não ter dúvidas, pego os três diplomas”, acrescentou . Por outro lado, quatro
graduados em jornalismo defenderam que a delimitação das áreas espeficas é
muito clara, embora concordem que seja impossível trabalhar a comunicação, a
não ser de forma integrada.
Um entrevistado, formado em publicidade, que chefia a assessoria
de imprensa da instituição em que trabalha, pediu-nos sigilo sobre sua graduação
acadêmica, pois a imprensa o tem como jornalista. Quatro entrevistados, todos
jornalistas, defenderam que as assessorias de comunicação devem ser
comandadas ’naturalmente’ por jornalistas. Uma entrevistada, formada em
relações públicas, aceitou a divisão entre as diversas áreas, pelas especificidades
de cada uma, salientando que a assessoria de comunicação é ‘naturalmente’ o
terreno dos relações públicas, como defende o CONRERP, Conselho Nacional de
Regulamentação Profissionais dos Relações Públicas. Por outro lado, uma
jornalista, responsável pela assessoria de imprensa de um hospital, declarou-nos
que recebeu carta do CONRERP alertando que seu nome não poderia constar
como responsável pelo jornal de sua empresa, por não ser qualificada em
relações públicas
87
. A publicação é encaminhada, também, aos clientes. Por
exigência legal do Sindicato dos Jornalistas, quando isso acontece, é obrigatório
explicitar o editor responsável, devidamente cadastrado como jornalista naquele
sindicato.
Os exemplos anteriores ilustraram a confusão sobre a legitimidade
do perfil do profissional que ocupa a área de comunicação no ambiente das ‘fontes
formais’. A quem pertence este território: aos jornalistas, aos relações públicas,
aos publicitários, aos administradores?
Os entrevistados da mídia consideram-se ‘jornalistas’, na concepção
clássica da profissão. Entre eles, o corporativismo é mais acentuado. A maioria
acredita que os cargos de chefia de comunicação nas ‘fontes formais’ devam ser
assumidos por jornalistas, com o argumento de que estes compreendem melhor
as rotinas da imprensa. No entanto, não desaprovam o exercício de um
publicitário ou relações públicas, se o profissional demonstrar competência e
familiaridade com o trabalho das redações.
O corporativismo entre os jornalistas evidenciou-se em vários
debates do Projeto Primeira Terça. Tomemos como exemplo o evento ocorrido em
04 de junho de 2004, que teve como tema O mercado de trabalho do jornalista
assessor de imprensa”. Participaram como expositores Aloísio Soares Lopes,
presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, o jornalista Lélio
87
Todo jornal interno deve ter, por exigência do Sindicato dos Jornalistas, um jornalista
responsável. O CONRERP defende que a publicação deva ter um relações públicas responsável.
Fabiano, diretor de uma empresa de comunicação, o jornalista Américo Antunes,
que atualmente trabalha como publicitário, e Rita Louback, jornalista e relações
públicas. Indagados sobre a viabilidade da unificação das profissões de
jornalismo, relações públicas e publicidade em comunicação integrada,
posicionaram-se contrários. lio Fabiano declarou que, para ele, as diferenças
entre as diversas especialidades da comunicação social eram bastante claras:
“costumo dizer que o jornalista é o verbo, o RP a ação e o publicitário é o
predicado”. A afirmativa foi aclamada com louvor pelos companheiros de mesa,
recebendo um adendo de Américo Antunes: “eu acrescentaria um quarto: o
coordenador e planejador do trabalho da comunicação”. Uma pessoa do auditório
questionou-lhe: “e que formação teria este coordenador?”, que foi prontamente
respondida por Américo: “qualquer uma: jornalismo, relações públicas ou
publicidade”. Afinal, existe uma hierarquia de uma especialidade sobre a outra?
Vale perguntarmos se os limites de atuação entre as três áreas estariam claros.
Para TALESE (2000), ao relatar a história do The New York Times, mesmo as
especialidades de comunicação aparentemente mais antagônicas, publicidade e
‘jornalismo’ têm ambos caráter informativo e são duas faces da mesma moeda.
De qualquer forma, deparamo-nos com um dos graves problemas
que afetam os profissionais envolvidos na produção da notícia: a disputa no
mercado de trabalho. Até bem pouco tempo, como nos reportamos na revisão de
literatura, o ambiente organizacional representava o terreno dos ‘relações
públicas’, cujo exercício profissional seria, em tese (a prática era outra),
regulamentado e fiscalizado pelo CONRERP, Conselho Nacional de
Regulamentação Profissionais dos Relações Públicas. Os jornalistas trabalhariam
em órgãos de imprensa e os publicitários, por sua vez, em agências de
propaganda. Como vimos, historicamente, assessores de imprensa jornalistas
recebiam severas críticas e, não raro, sentiam-se discriminados pelos pares da
mídia. A realidade, porém, impôs a todos uma revisão de conceitos.
Com o surgimento da internet, o universo institucional mostra-se
diretamente à comunidade, o que o levou a investir na profissionalização e na
contratação de mão-de-obra mais competente. Independentemente da graduação
de quem vai gerir a área, a comunicação tem dois focos principais: o
endomarketing, voltado para integrar os empregados no alcance dos objetivos
organizacionais, e preservação da imagem institucional externa. “Somos,
sobretudo, profissionais de imagem. Num grande evento, por exemplo, eu não
posso me dar ao luxo de contar com apoio de pessoas formadas em A, B ou C.
Preciso de profissionais de comunicação, que saibam fazer de tudo”, declarou um
‘superintendente de comunicação empresarial’ de uma grande empresa, graduado
em jornalismo, mas com ampla experiência na área de publicidade. Outro
depoimento, que corrobora a posição anterior, veio de Andréa Margit, em 02 de
agosto de 2005, durante o seminário Primeira Terça, promovido pelo Sindicato dos
Jornalistas. A jornalista, que integra uma ONG ambientalista sediada em
Washington, destacou: “internacionalmente, nós não nos denominamos
assessores mas comunicadores, quer sejamos RP, jornalistas ou publicitários.”
“Penso que a universidade se distancia muito do mercado de
trabalho, fomentando uma separação sem sentido”, analisou uma jornalista,
coordenadora de comunicação, que elogiou a criação do curso de Comunicação
Integrada da PUC Minas. Talvez, todos esses conflitos possam causar a
disparidade de salários e trazer, como conseqüência, obstáculos para a
construção da identidade do comunicador.
Outro exemplo concreto dos conflitos é a confusão em torno das
instituições que representam, regulamentam ou defendem os direitos dos
profissionais. Além da FENAJ (Federação Nacional de Jornalismo) e dos
sindicatos regionais filiados, lembramos a ABERJE (Associação Brasileira de
jornalismo Empresarial), ABI (Associação Brasileira de Imprensa), ABRACOM
(Associação Brasileira de Comunicação), ANJ (Associação Nacional de
Jornalismo), CONAR (Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária,
que, na prática, fiscaliza conteúdo de anúncios e propagandas), o CONRERP,
Conselho Nacional de Regulamentão Profissionais dos Relações Públicas, e o
CNC (Conselho Nacional de Comunicação, criado três anos). A descrição das
atividades coincide muitas vezes ou mesmo se sobrepõem.
Em 2004, a FENAJ apresentou projeto de lei para a criação do
Conselho Nacional de Jornalismo. Por envolver diretamente nossos atores,
acompanhamos atentamente o fato. Conforme declarou-nos Aloísio Lopes,
presidente dos Sindicatos dos Jornalistas de Minas Gerais e 1
o
Secretário da
FENAJ, a proposta vem sendo reeditada há mais de 40
anos, tendo como principal
objetivo zelar pelo exercício ético do jornalismo e pela defesa dos interesses da
classe, além de exigir o diploma superior para o cargo de jornalista e assessor de
imprensa nas empresas. A proposta de criação do Conselho fora apresentada em
dois congressos nacionais da categoria, em 2000 e 2002. Ele atuaria na
regulamentação das escolas, normatização de estágios, ampliaria poderes dos
conselhos regionais e influenciaria positivamente a qualidade da informação
produzida. “Temos várias preocupações urgentes” esclareceu Aluísio, “estudantes
ocupam vagas de profissionais formados, surgem novos cursos de qualidade
duvidosa, que o são fiscalizados, e há muitos veículos de imprensa que
dispensam o diploma para o exercício do cargo de jornalista”. Ressaltou que a
exigência do ‘diploma’ já constitui uma batalha no mundo inteiro, pois é contestada
por outras faões políticas, geralmente ligadas aos empregadores. Após
verdadeira peregrinação nas instâncias deliberativas em Bralia, a formatação
final entregue ao Governo foi divulgada no dia 06 de agosto de 2004, durante 31
o
Congresso Nacional de Jornalismo, ocorrido em João Pessoa, na Parba. O
projeto, discutido durante anos, que atenderia às reivindicações da classe, previa,
dentre outras coisas, a fiscalização dos empregadores e a obrigatoriedade de
filiação profissional, a exemplo do que acontece com o CRM, Conselho Regional
de Medicina, CREA, Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, CFC,
Conselho Federal de Contabilidade, e tantos outros. No entanto, ao se tornar
pública, a proposta desencadeou enorme polêmica na mídia, que o apresentou à
sociedade como iniciativa do governo petista para controlar a liberdade de
expressão e coibir o uso democrático da imprensa. De agosto a dezembro, jornais
locais e nacionais foram bombardeados por severas críticas à criação do
Conselho, através de editoriais e reportagens, a grande maioria fazendo menção
à ‘atitude autoritária‘ do governo federal.
Tal fato impôs aos representantes da FENAJ, como o fez Aloísio
Lopes, a cumprirem intensa agenda de debates em níveis estadual e federal com
órgãos de imprensa, políticos, escolas, jornalistas e entidades de classe, visando
esclarecer detalhes da proposta e discuti-la. Em face da enxurrada de críticas, a
FENAJ recuou, promoveu modificações no texto e recentemente encaminhou ao
deputado federal (PP/SP), Celso Russomano, o projeto de lei 5235/05, desta vez
propondo a criação da OJB, Ordem dos Jornalistas Brasileiros, que atuaria a
exemplo da OAB. Voltaremos ao assunto oportunamente.
Os dirigentes que entrevistamos posicionaram-se todos contra a
criação do conselho: “nossa atividade é diferenciada e não procede qualquer tipo
de controle”, declarou um deles. Os repórteres preferiram não se pronunciar. Os
que trabalham como ‘disseminadores de informação’ nas ‘fontes formais’
posicionaram-se, na maioria, favoráveis. Vários colunistas explicitaram-se contra a
proposta do Conselho, postura justificada por um jornalista: “é enorme a
quantidade de colunistas que têm graduação em outras áreas, a quem o
interessa discutir a questão”, salientou.
Além das polêmicas discussões na mídia, o projeto recebeu duras
críticas dos representantes dos relações públicas. O CONREP contestou a
exigência do diploma de jornalista para o assessor de imprensa, defendendo a
reserva de mercado institucional das ‘fontes formais’ para os relações públicas.
Tal fato inspirou Ângelo Sastre, em matéria publicada no Observatório da
Imprensa, em 14 de setembro de 2004, a sugerir uma comissão paritária entre
FENAJ e CONRERP, com participantes da ABERJE e ABRACOM para negociar
acordo que beneficiasse ambos os lados. “Com inteligência, as duas instituições
vão descobrir que o confronto vai pôr a perder tudo o que historicamente se
conseguiu de bom até hoje, enfraquecendo tanto uns quanto outros”. Também
salientou: “tão certo como essa briga não dar em nada, é pensar que jornalistas
ou relações públicas vão abrir mão de sua atuação nessa área. Es mais claro
que isso não acontecerá. Se o mercado assimilou bem esta situação e, se na
prática, esse convívio existe é, na maioria dos casos, extremamente salutar,
por que jogar as entidades numa guerra como essa, sem sentido?” Por fim,
defendeu:
...”que as atividades editoriais de cunho institucional e corporativo e a
assessoria de imprensa sejam atividades inerentes às duas categorias,
possibilitando que tanto os formados em relações públicas quanto em
jornalismo possam exercê-las. Se nos dermos as mãos, ao invés de
trocarmos tapas, tanto RP quanto jornalistas vão ganhar, pois as somas
de forças engrandecerá e dignificará ainda mais as duas atividades.
..Quanto ao futuro, ai sim, há belos desafios pela frente, inclusive, quem
sabe, o de repensar essa atividade profissional. (SASTRE, 09/2004)
O pronunciamento de Ângelo Sastre corrobora as impressões
evidenciadas em nossa pesquisa, através das falas dos entrevistados e das
afirmações de TALESE (2000): existe rivalidade entre os profissionais de
comunicação, quer sejam relações públicas, publicitários ou jornalistas, num
mercado que é invadido por outros campos, o que colabora para enfraquecer toda
a categoria.
Pelos depoimentos dos entrevistados, de Ângelo Sastre e dos
expositores dos eventos promovidos pelo Sindicato dos Jornalistas de Belo
Horizonte, constatamos que jornalistas trabalham em veículos de comunicação,
mas desempenham atividades de publicitários e relações públicas. Outras
combinações são todas possíveis e reais. Ficou claro que o mercado exige
flexibilidade e diferentes habilidades de um profissional de comunicação, quer ele
seja um empregado ou contratado como empresa terceirizada. Segundo a
empresária Flávia Rios da RC2 Comunicação Empresarial (Seminário Primeira
Terça, 04 de maio de 2005), o cenário se estende ao mercado paulista, com
algumas variações. Segundo a empresária, o assessor de imprensa tem muito a
ver com jornalismo, com a peculiaridade de que é o grande responsável pela
condução e pela consolidação da cultura organizacional. A diferença básica é que
a comunicação seja valorizada como instrumento de gestão, o que desafia o
profissional da área a se aprimorar nesse campo.
Perguntamos a Aluísio Lopes se ele vislumbraria a possibilidade de
se propor um conselho de comunicação integrada em substituição ao conselho de
jornalistas. Respondeu que essa discussão não caberia aos representantes do
Sindicato e da FENAJ, focadas na defesa da categoria dos jornalistas. A análise
de se proceder ou não à unificação curricular caberia à universidade.
O cenário anterior afeta o trabalho das ‘fontes formais’, pois, como
vimos, na maioria, são os profissionais de comunicação, os mesmos que vivem
sob os conflitos de representação profissional descritos anteriormente, os
responsáveis pela produção, disseminação e gestão da informação dessas
fontes.
A defesa da representação de uma profissão é questão estudada
pela sociologia das profissões. Hoje, duas tendências prevalecem: a que
considera de suma importância a busca da legitimação pelo diploma e pela
representação corporativa por uma entidade de classe, e outra, que defende a
flexibilização imposta pelas necessidades do mercado (BARBOSA, 1993 e
CRIVELLARI, 2004)
88
. A atuação de conselhos é comum em áreas técnicas como
engenharia, medicina, odontologia e menos usual nas ciências sociais aplicadas,
pelo próprio caráter interdisciplinar dos vários campos que as compõem, fato que
se reflete nas suas atribuições práticas (LIMA, 2001). As profissões tidas como
“novas”, entre elas as diversas áreas da ciência da informação e da comunicação,
enfrentam dificuldades de serem reconhecidas com identidade específica,
problema agravado pelo impacto das novas tecnologias. As linhas de pesquisa
na comunicação estão longe de atingir consenso (LIMA, 2001).
O quadro descrito merece atenção dos pesquisadores na academia,
pois acreditamos estar diante de um problema. Não detendo o monopólio das
atividades e com condições diversas de remunerações de trabalho, a atuação do
profissional é marcada por conflitos de representação e rivalidades, estando ele
sempre às voltas com a preocupação de se auto afirmar perante os demais
88
Troca de informações em entrevistas informais.
195
profissionais da empresa. Busca a legitimação, provando continuamente sua
importância. A construção de sua identidade fica, pois, comprometida.
Uma complexa discussão envolve a relação entre vocação,
identidade profissional e competência na sociologia das profissões. Segundo
alguns sociólogos ligados à corrente antropológica, a identidade profissional é
uma construção baseada em valores e práticas compartilhados por uma categoria,
normalmente representada por sua entidade de classe. Contribuem, também, para
viabilizá-la os contínuos processos de socialização, pois esses proporcionam a
identificação com os grupos de refencia. A construção, para ser harmônica,
assenta-se no reconhecimento legítimo do tipo ideal do profissional, cujas
competências são normalmente descritas e valorizadas publicamente. Como
resultado dessa contínua relação, o profissional conquista certa estabilidade e
auto confiança que lhe permitem atuar buscando formas de aperfeiçoamento. Se
atingido esse resultado, pode ocorrer um avanço para toda categoria. Tomando
esse conceito de ‘identidade profissional’, identificamos um problema em nossa
pesquisa. Na imprensa, o profissional se sente ‘jornalista’, embora a exigência do
diploma ainda não seja totalmente respeitada e sua obrigatoriedade ainda gere
polêmica. Mesmo assim, apesar das ‘richas’ com os publicitários, a quem acusam
de intervir na pauta, os jornalistas possuem situação mais confortável em relação
à construção de sua identidade profissional. Por outro lado, a impossibilidade de
uma identidade uniforme do perfil de comunicador nas ‘fontes formais’ é retratada
na grande variação de recursos, atribuições, salários e níveis hierárquicos do
cargo. Muitos declararam sentirem-se obrigados a provar continuamente sua
competência, para atestar a importância da comunicação. Esta busca da auto-
afirmação sinaliza que os conflitos podem trazer repercuses emocionais,
dificultando a concentração no trabalho entre os profissionais que atuam como
‘disseminadores de informação’ nas ‘fontes formais’. Não é difícil, portanto,
perceber que o quadro afeta a gestão, a produção e a disseminação da
informação, repercutindo em todo o processo qualitativo da construção da notícia.
196
5.4 Necessidades e interesses envolvidos
Afinal, que necessidades e interesses envolvidos são os motivadores
das ações de nossos atores? Segundo BUCCI (2000, 42),
“o jornalismo não lida prioritariamente com divulgação de relatos. a
sua justificativa é descobrir o segredo que não é difundir aquilo que
governos, igrejas, grupos de comunicação e políticos desejam contar
ao público, embora também se sirva disto, mas aquilo que o cidadão
quer, precisa e tem direito de saber e que não necessariamente
coincide com o que os outros querem contar.”
O posicionamento do autor sugere que as informações veiculadas
pela imprensa deveriam, em primeiro lugar, atender às necessidades do público,
embora reflitam os interesses das fontes e das empresas que controlam a mídia.
Resta saber quando todos esses interesses convergem ou não.
Ao perguntarmos sobre necessidades de informação e ao
observarmos as fontes selecionadas, percebemos que grande importância é
conferida às informações sobre saúde, educação, habitação, saneamento,
trânsito, poder público e segurança. Ou seja, na percepção da imprensa, parece
que o conceito de ‘relevância’ se associe à idéia de informações utilitárias,
essenciais.
Questionados sobre que necessidades e objetivos procuram atingir,
quando buscam informações para compor as notícias, as respostas dos jornalistas
apontam para uma confluência: acreditam buscar, em primeiro lugar, as que
sejam de interesse da comunidade. Resultados semelhantes foram apurados por
FARIA (2005) em sua pesquisa monográfica, embora ele tenha ouvido de alguns
entrevistados que essa regra é muitas vezes desrespeitada. Reconhecem que
atendem, também, aos objetivos e interesses das ‘fontes formais’, constituindo ‘um
conflito natural’, como externaram vários jornalistas. Há, ainda, a interferência
pessoal do próprio repórter, que, não raro, tenta influenciar a pauta, como
observou FARIA.
As declarações revelaram que os profissionais de imprensa
acreditam seguir a missão clássica do jornalista, que é a de interpretar as
informações pelo interesse coletivo, educando, entretendo e informando a
comunidade, embora o relacionamento com ela o seja tão estreito: “não temos
condições, pelo corre-corre, de parar o que estamos fazendo para atender
ligações e ler mails enviados pelo público. Isto fica por conta dos apuradores”,
declarou uma repórter. FARIA (2005) percebeu que a participação do público varia
de um veículo para outro. Na rádio, as cartas e ligações são dirigidas aos
apresentadores dos programas, enquanto que, nos jornais, elas se destinam à
redação. O conteúdo gira em torno de curiosidades, denúncias e reclamações,
fatos que levam os apuradores a recorrerem às suas fontes para checarem a
procedência dos fatos relatados. “Com a internet, cresceu demais o número de
pessoas que nos escrevem, o que favorece a participação popular”, declarou uma
repórter. De fato, jornais e revistas vêm aumentando o espaço dedicado às cartas
dos leitores. Indagamos se algum profissional especializado acompanha e analisa
criteriosamente as informações passadas pelo público, mas a resposta foi
negativa. Não existe o cargo de ombudsman em nenhum dos órgãos de
imprensa envolvidos na nossa pesquisa. O filtro cabe aos critérios pessoais de
editores e apuradores.
“Sabemos que as fontes têm interesse, mas a visibilidade na imprensa
sempre será balizada pelo interesse coletivo”, declarou uma jornalista. A partir
desse depoimento e tomando-o como coerente com o ideal da ética profissional,
poderíamos supor que a visibilidade das fontes blicas, por representarem
órgãos públicos, seria maior na mídia. Essa suposição foi parcialmente
comprovada no levantamento feito junto aos jornais impressos em 2003, conforme
resumimos na TAB.22, p.199. Parcialmente porque, com exceção das editorias de
política e economia, as fontes privadas são mais mencionadas e ocupam maior
área no jornal por centímetro quadrado, considerando todos os
TABELA 22 – VISIBILIDADE DAS FONTES NA IMPRENSA
CADERNOS x AGRO
CULTURA
ECONOMIA
ESPORTES
LOCAL INTER TURISMO OPINIAO POLÍTICA VEÍCULOS TOTAL
FONTES %
%
%
%
%
%
%
%
%
%
%
Arquivos 15,38
9,74
6,83
12,64
13,38
1,51
6,90
20,83
6,84
13,33
10,74
Agência 23,08
7,12
9,94
19,54
5,02
34,67
0,00
4,17
15,10
6,67
12,53
Especialistas 0,00
13,86
4,35
44,25
4,01
3,52
3,45
25,00
6,27
20,00
12,47
Testemunhas 0,00
5,24
4,35
4,02
18,39
6,53
3,45
0,00
5,41
0,00
4,74
Privada/Autoridade 23,08
50,19
11,49
13,79
15,05
8,54
75,86
16,67
7,41
40,00
26,21
Privada/total 69,14
86,14
36,96
94,25
55,85
54,77
89,66
66,67
41,03
80,00
67,45
Agência Pública 0,00
0,00
3,11
0,57
0,33
0,50
0,00
4,17
3,42
0,00
1,21
Especialistas 0,00
0,00
1,86
0,57
0,33
1,01
0,00
4,17
0,85
6,67
1,55
ONG 7,69
4,12
6,83
2,30
4,01
1,51
0,00
8,33
4,84
0,00
3,96
Pública/autoridade 30,77
9,74
50,93
2,30
38,13
42,21
10,34
16,67
49,57
13,33
26,40
Pública 30,77
9,74
62,73
8,07
42,81
45,23
10,34
33,33
58,69
20,00
32,17
Fonte: elaborado pela autora em D
TABELA 23 - VISIBILIDADE AS FONTES NA PRIMEIRA PÁGINA
EDITORIAS X CULTURA
ECONOMIA
ESPORTES
LOCAL
INTER
POLÍTICA
TOTAL
FONTES
%
%
%
%
%
%
%
TABELA 24 – VISIBILIDADE X ESPAÇO
OCUPADO NA CAPA
Arquivos 16,67
5,23
22,22
9,62
2,17
6,54
10,41
EDITORIA
ESPAÇO /
CM2
%
Agência 2,38
10,80
4,94
9,62
34,78
19,63
13,69
POLÍTICA
143298
30,91
Especialistas 21,43
4,53
49,38
0,96
2,17
4,67
13,86
ECONOMIA
93085,5
20,08
Testemunhas 21,43
3,48
13,58
30,77
9,78
9,35
14,73
ESPORTE
71157
15,35
Privada/autoridade 19,05
10,45
9,88
8,65
4,35
4,21
9,43
CULTURA
57494
12,40
Privada/total 80,95
34,49
100
59,62
53,26
44,39
62,12
INTER
56131
12,11
Agência Pública 0,00
2,79
0
0,96
0,00
0,93
0,78
GERAIS
38744
8,36
Especialistas 7,14
2,44
0
1,92
4,35
0,93
2,80
OUTRAS
3670
0,79
ONG 0,00
5,92
0,00
5,77
1,09
3,27
2,68
TOTAL
463579,5
100
Pública/autoridade 11,90
54,70
0
32,69
41,30
50,47
31,85
Fonte: elaborado pela autora em DEZ/2003.
Pública 19,05
65,85
0
41,35
46,74
55,61
38,10
Fonte: elaborado pela autora em DEZ/2003.
cadernos, quadro que se ampliaria com a inclusão dos anúncios. Porém, as duas
editorias, política e economia, que utilizaram preponderantemente fontes públicas,
representaram 51% da área ocupada na primeira página (TAB.224, p.199), o
que, conforme MOIULLAUD (2002), constitui o espaço mais nobre do jornal,
destinado às notícias de maior importância e qualidade. Já o espaço reservado às
cartas dos leitores fica em página interna, de pouca visibilidade.
Sabemos que os cadernos especiais, como ‘Feminino, Turismo, Fim
de Semana, Vculos, Agropecuária’ e outros são financiados pela iniciativa
privada. Os cadernos de cultura e de esportes trazem muitos depoimentos de
ídolos e artistas. O caderno de editoria local recorre muito às fontes públicas e
privadas, representadas, basicamente, por testemunhas e especialistas.
Os depoimentos dos disseminadores de informação das ‘fontes
formais’ também convergem: suas necessidades de informação representam os
interesses das organizações para as quais trabalham, tendo como objetivo a
preservação de sua boa imagem perante a comunidade. Entretanto, acreditam
que as informações produzidas devam ser de interesse social, pela relevância
pública de suas atividades ou pelo tipo de serviço prestado à população. Os
representantes das empresas públicas acreditam ter maior visibilidade na mídia
pela responsabilidade social que detêm. “Reportar-nos à imprensa é uma forma de
prestarmos conta à população”, declarou uma entrevistada da Prefeitura Municipal
de Belo Horizonte. “O público precisa saber de informações, principalmente
utilitárias, como trânsito, impostos, políticas públicas, medidas de segurança,
saúde e educação”, acrescentou outra entrevistada.
Os representantes das ‘fontes formais’ da iniciativa privada
concordaram que suas necessidades de informação buscam atender aos objetivos
de seus empregadores e posicioná-los de forma positiva na imprensa. Uma
entrevistada salientou: “Por representarmos uma organização privada, é muito
difícil conseguirmos espaço na mídia, mesmo que atuemos em área de
necessidade básica, como é o caso da saúde. Para conseguirmos visibilidade,
bolamos um jeito de conferir um cunho social às nossas iniciativas e eventos”,
confidenciou. Corroborando essa posição, Andréa Margit, gerente de uma
200
organização internacional ambientalista, em sua palestra no dia 02 de agosto de
2005 (no Sindicato dos Jornalistas), salientou: “como não somos da área de
saúde ou qualquer área de utilidade pública, temos que ter estratégias de
penetração da mídia. Precisamos seduzi-la. Não écil, pois nosso papel é muito
mais educativo do que informativo”. O depoimento de Andréa leva-nos a
desconfiar de que uma das missões clássicas da imprensa, educar, o é
priorizada. Matérias com conteúdo positivo e otimista são denominadas soft e não
são bem vistas nas salas de redação Para SERPA (2001), duas frases
emblemáticas configuram o fazer jornalístico, tornando-se quase ditados
populares. “O homem que morde o cão” gera notícia, enquanto good news is no
news” (traduzindo, “notícia boa não é notícia”). Existe uma inclinação às
denúncias, como nos confidenciou um repórter e como lembram vários teóricos do
jornalismo.
A dificuldade levantada por Andréa pode ser explicada por Franklin
Martins, ex-diretor de jornalismo da Rede Globo de televisão. Em debate com o
público no Programa Sempre Um Papo coordenado pelo jornalista Afonso
Borges, que aconteceu no dia 01 de agosto de 2005 no auditório do edifício-sede
da Cemig, ele afirmou que a missão do jornalismo reduz-se, basicamente à ação
de informar. A declaração gerou polêmica entre os presentes, dentre eles, vários
estudantes. Muito possivelmente, se o palestrante tivesse refletido antes, sua
resposta teria sido diferente. Mesmo porque, em seu livro Jornalismo político”,
MARTINS (2005) explicita a importância do repórter interpretar’ a notícia,
recorrendo ao maior número de fontes possível. Porém, agindo de forma
impulsiva, ilustrou que, na prática, a pressão do tempo e a busca de resultados
(terminar uma matéria), automatiza o trabalho jornalístico, levando-o a ser mais
informativo que interpretativo ou educativo.
A percepção dos especialistas é a de que as informações que
divulgam atendam aos interesses, primeiramente, dos repórteres que os
procuram: “geralmente eles querem conferir alguma informação técnica ou que
façamos uma análise superficial dos fatos, de forma que fique claro para o
público”, declarou um dos entrevistados. Perguntamos a um engenheiro se ele,
ao conceder entrevistas, reflete sobre os interesses e necessidades da
comunidade, ao que respondeu: “não necessariamente, fico restrito ao que me
pedem”.
Quando se fala de interesses, outras vozes se fazem presentes no
discurso jornalístico: a dos anunciantes. Compram anúncios e espaço publicitário
nos jornais, mas, não raro, a publicidade se disfarça de matéria jornalística. São
os casos de reportagens em cadernos de turismo, agropecuários, veículos e
vários outros. “O caderno de economia está repleto de matéria paga”, denunciou
um entrevistado de uma ‘fonte formal’.
Para TALESE (2000), isso é fato natural, pois jornalismo e
publicidade são ‘farinha do mesmo saco’, já que um não vive sem o outro. O autor
afirma que ambos tem caráter informativo, sendo o jornalismo usualmente
denunciante e negativo, enquanto a publicidade tem natureza otimista e positiva.
Sustentando financeiramente as organizações jornalísticas, os anunciantes
interferem muito no conteúdo dos jornais. “De vez em quando, por exemplo, temos
atrito com a área de jornalismo, pois temos que pedir para não criticarem nossos
bons anunciantes”, confidenciou um contato publicitário, durante a etapa de
observação participante.
Podemos concluir que as informações colhidas e as notícias
produzidas, antes de atenderem às necessidades do público, balizam-se, em
primeira instância, pelos interesses envolvidos, sejam eles das fontes, dos órgãos
de imprensa ou dos jornalistas. Isso nos leva a constatar que a parcialidade seja
uma das características implícitas à informação jornalística, ratificando que os
interesses dos atores sociais sejam inerentes à qualidade da informação.
Concordando conosco, o professor Wilson Bueno, em seminário realizado no dia
02 de agosto de 2005 no Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, ressaltou
que “não é possível acreditar em neutralidade da imprensa”. Para ele, os
jornalistas brasileiros recorrem muito a especialistas como fontes, muitas vezes
ouvindo apenas um, criando o que chama de vício de “monofonte”. Também
MARTINS (2005: 55) declara:
Por que alguém decide passar informação para um repórter? Por que
alguém vira fonte? Os motivos variam, mas, de uma forma ou de outra, a
fonte sempre age movida por interesse, pessoal ou público, individual
ou coletivo, legítimo ou escuso. O mais comum é o sujeito dar a
informação porque acredita que a divulgação irá beneficiá-lo. Com muita
freqüência, acontece também o contrário: ele quer prejudicar um
desafeto. casos em que as fontes têm razões mais nobres:
depararam com uma safadeza, uma negociata, um abuso e querem
lançar luz sobre o fato. também pessoas que passam informação
porque, de alguma forma, se sentem poderosas ou influentes quando a
notícia aparece no jornal. No fundo, gostariam de ser jornalistas, e não
fontes. Há de tudo um pouco. (MARTINS, 2005: 55).
Ratificamos que o interesse coletivo parece ser uma diretriz ética
para a imprensa, por missão, e para as fontes, por responsabilidade ou
conveniência de posicionamento de imagem. Estão igualmente presentes os
interesses específicos das fontes, dos especialistas, dos anunciantes, das
organizações jornalísticas e dos próprios repórteres. Em algumas situações, as
necessidades de divulgação de informação voltam-se para categorias específicas,
como no caso do jornal de sindicatos e entidades.
Os exemplos comprovam a idéia de HABERMAS (1998) de que a
mídia expressa uma teia de interesses, razão pela qual o conflito seja inevitável.
Apesar de pertinente, desconfiamos que a ausência do cargo de ombudsman nos
veículos de comunicação representaria um entrave ao fomento de postura mais
crítica entre os jornalistas. Porém, as informações advindas das fontes e da
comunidade não são catalogadas e analisadas sistematicamente por profissional
especializado. As análises são feitas de forma improvisada e intuitiva pelos
apuradores e editores.
Voltemos aos dois episódios que acompanhamos na imprensa como
fatos polêmicos. Eles ilustram, com maestria que, no jornalismo político, mais do
que em qualquer outro, a ação das fontes não se desvincula de interesses
(MARTINS, 2005): a divulgação da proposta de criação do Conselho Federal de
Jornalismo e a crise desencadeada pelas denúncias de corrupção do governo
Lula. Em ambos os casos, a maioria das fontes usadas para compor as matérias
publicadas pela imprensa constituiu-se de: políticos (deputados e senadores),
juristas e advogados (normalmente ligados a alguma instituição) e representantes
de entidades de classe.
Vejamos a proposta de criação do Conselho Nacional de Jornalismo.
Enquanto a FENAJ insistia na importância de um órgão que atuasse em defesa do
profissional da imprensa, os empregadores defendiam que o jornalismo merecia
autonomia e tratamento diferenciado de outras profissões. Visivelmente rejeitada
pela mídia, a proposta recebeu severas críticas em diversos editoriais e matérias,
tendo como um dos principais argumentos a ameaça à liberdade de expressão e
ao espírito democrático. As fontes mais ouvidas foram deputados, senadores,
representantes de órgãos de classe como OAB, ABI, ANJ, teóricos, críticos e
dirigentes da FENAJ. Editores, chargistas, colunistas também colaboraram nas
manifestações contrárias à criação do Conselho. A maioria das cartas de leitores
publicadas corroborava a posição dos veículos de comunicação. Em levantamento
junto a clippings
89
do Sindicato dos Jornalistas sobre o assunto, constamos que
85% das matérias externavam posição contrária à criação do Conselho, com
visibilidade, também, maior. As manchetes de primeira capa ou das matérias
internas ilustravam o teor das críticas. Reproduzimos algumas delas na TAB.25,
p.205. Além dos títulos, cujo teor volta-se muitas vezes contra Lula e seus aliados,
charges criticavam a proposta. A opinião da classe jornalística dividiu-se. A ANJ e
ABI posicionaram-se contra. Dois comitês apareceram: um contra e outro a favor
da criação do Conselho. As falas dos dirigentes da imprensa entrevistados,
quando questionados a respeito do assunto, ratificaram o posicionamento de
repúdio ao projeto; utilizaram-se expressões como “absurda”, “inconseqüente”,
“radicalmente contra”, “oportunismo político”, “coisa de fascista” e por aí vai.
Lembramos que os editores e repórteres optaram por não se expressarem. A
maioria dos representantes das ‘fontes formais’ posicionou-se a favor de um
Conselho, não especificamente de jornalismo, que atuasse na defesa do
profissional de comunicação.
89
Clipping é uma coletânea de recortes sobre um assunto, veiculados pelos diversos jornais
escritos. Há, tamm, os clippings eletrônicos, quando se trata de TV e rádio.
TABELA 26 – MANCHETES SOBRE CONSELHO FEDERAL JORNALISMO
VEÍCULO DATA MANCHETE
O GLOBO 06/08/04
Projeto cria o Conselho Federal de Jornalismo: (Subtítulo: A partir da aprovação da lei, o
jornalista terá que pagar à entidade para poder trabalhar).
Folha 06/08/04
Lula quer conselho para fiscalizar jornalismo
Estado de Minas 07/08/04
Conselho já é condenado
Folha 07/08/04
Fenaj apóia conselho de jornalismo; ABI veta.
O Tempo 07/08/04
“Jornalistas condenam criação de Conselho” e “ Adeus Lênin”
Folha 08/08/04
Entidades dos EUA condenam conselho de jornalismo no país
Folha 08/08/04
Profissão não pode ter nenhuma forma de pressão, diz promotor.
O Globo 08/08/04
Pecado original
O Tempo 08/08/04
“Dirceu defende controle da imprensa” e “ Declaração de presidente é criticada”
Folha 08/08/04
A mão sinistra
Diário da Tarde 09/08/04
Mordaça
Folha 10/08/04
Escreveu não leu, o pau comeu.
Folha 10/08/04
Associação de magistrados condena criação do Conselho de Jornalismo
Hoje em Dia 11/08/04
Mais uma polêmica no ar
O Tempo 11/08/04
Onda de obscurantismo
Estado de Minas 11/08/04
Liberdade em discussão
Correio Braziliense 11/08/04
Conselho que desafia a inteligência
Correio Braziliense 11/08/04
Cuidado com a vida alheia
Correio Braziliense 11/08/04
Projeto antidemocrático
Estado de SP 11/08/04
Governo mostra sua face autoritária
Estado de SP 11/08/04
Cercear jornalista fere Constituição, diz Vidigal.
Estado de SP 11/08/04
Desprezo pela democracia: Hora de pagar uma dívida
Folha 12/08/04
Juízes condenam CFJ
Diário da Tarde 12/08/04
Mordaça que querem colocar na imprensa
Correio Braziliense 12/08/04
A atração totalitária
O Globo 12/08/04
Imprensa fiscalizada
Correio Braziliense 13/08/04
Cala a boca jornalista
Veja 18/08/04
O fantasma do autoritarismo ( faz paralelo com Lênin e governo Lula)
O Tempo 18/08/04
Organização repórteres sem fronteira pede fim do Conselho
Folha 19/08/04
Stalin não morreu
Estado de Minas 21/08/04
As entranhas da ofensiva de Lula contra a imprensa
Hoje em Dia 21/08/04
ANJ critica Conselho de Jornalismo
O Tempo 31/08/04
Denuncismo, mordaça e liberdade de imprensa.
O Tempo 31/08/04
Carta do leitor: Estamos na ditadura
O Tempo 13/0/049
Conselhos profissionais paradoxos
Estado e Minas 09/10/04
Entre Lula e Che Guevara
Revista Imprensa 10/04
Maioria dos jornalistas é contra a criação do CNJ
Folha 09/11/04
A inconstitucionalidade do CFJ
Correio Braziliense 16/12/04
Câmara enterra de vez do CFJ
Fonte: Elaborada pela autora, ago 2005.
O segundo episódio referiu-se à série de denúncias de corrupção
feitas pelo deputado Roberto Jefferson, PTB/RJ, ainda em evidência na época em
que escrevemos sobre o assunto. Acuado na mira de uma série de acusações de
irregularidades, o político contra-atacou atirando para vários lados.
Acompanhamos o assunto junto aos três jornais de Belo Horizonte e alguns
periódicos nacionais. Constatamos que as fontes utilizadas constituíram-se,
principalmente de parlamentares, deputados, senadores, advogados, juristas e
cientistas políticos. O jornal Estado de Minas, que em 2003 parecia se opor
explicitamente a Lula, aproveitou o uso de manchetes e legendas de fotos para
compor tom de denúncia ao governo. Eis alguns exemplos: “Corrupção derruba
popularidade de Lula”, “PT mantém dirigentes acusados de corrupção”,
“Popularidade de Lula cai com a corrupção”, “Cúpula do PT defende Delúbio”.
Outros veículos apresentavam-se inicialmente neutros. À medida que
os depoimentos na CPI confirmavam as denúncias e pesquisas apontavam a
queda da popularidade do governo, abriram-se às críticas. O jornal O Tempo, por
exemplo, de propriedade do deputado Vitório Mediolli, optou inicialmente pela
discrição acompanhando o tom de cobertura da Folha de São Paulo, cuja posição
no início do episódio enquadramos como neutra. Na época, consideramos
curiosa a postura deste jornal, pois esperávamos que combatesse o governo,
que o deputado era filiado ao PSDB, partido que, ao lado do PFL, muitos atribuem
ser o orquestrador da publicação das denúncias. A explicação veio no dia 09 de
julho, quando soubemos que o deputado mudara para o Partido Verde. Com o
passar o tempo, o veículo também adotou postura ofensiva ao governo. Fato
semelhante ocorreu no jornal Hoje em Dia, de propriedade de um grupo religioso,
que inicialmente transpareceu abordar o episódio com certa neutralidade, quando
comparamos sua cobertura com os demais jornais.
Porém, nenhum veículo expressou tão bem parcialidade e interesse
próprios como a revista Veja, da Editora Abril, que, reconhecidamente, não mediu
esforços, com usos de fotos, manchetes, colunistas e cartas aos leitores, no
combate ao Partido dos Trabalhadores. A edição 1916, de 03 /08/2005, trouxe na
capa a foto do rosto de José Dirceu, metade na sombra e metade na luz, com o
título: “O risco Dirceu: os recados ameaçadores que ele manda ao governo, seu
secretário particular foi autorizado a sacar dinheiro de uma conta de Valério”.
Percebíamos a sugestão clara de aquele político ser uma personalidade de duas
faces, desmerecedora de confiança. Entre as primeiras páginas, encontramos o
editorial intitulado “A favor do Brasil”, cujo teor dizia que a revista adotara posição
de imparcialidade na cobertura da crise política. Porém, a edição publicou uma
série de outras reportagens em que as fontes ouvidas voltavam-se contra o
governo, incluindo as cartas dos leitores. Quase ao final do exemplar, o colunista
Diogo Mainardi escrevia artigo com a manchete: “Quero derrubar Lula”, que
parecia sintetizar o recado que o Grupo Abril queria passar. Testamos a redação,
enviando uma carta de repúdio à postura parcial da linha editorial, mas ela não foi
publicada. Na edição seguinte, a capa da revista trazia o nome do presidente
como “LULLA”, tendo os dois “L” em cores verde e amarela, como o fizeram à
época do impeachment de Fernando Collor de Mello, deposto em 1992. Na
edição, as matérias foram também sugestivas ao afastamento do Presidente Lula.
Ratificamos os resultados da pesquisa de CHAVES (2000): o
conteúdo das reportagens, à exceção dos editoriais, procuram guiar-se por certa
isenção e imparcialidade. As estratégias de posicionamento são percebidas: pela
forma com que o jornal confere visibilidade às notícias, pelas fontes selecionadas
e, principalmente, pela composição de manchetes, fotos e legendas. CHAVES
(2000) identificou que 57% dos leitores de Belo Horizonte lêem primeiro as
manchetes. No entanto, 26% deles em apenas os títulos, que
conseqüentemente, interferem bastante na formação da opinião pública.
A investigação das denúncias desencadeadas por Roberto Jefferson
ilustra a interveniência das fontes no trabalho do jornalismo investigativo. Resta
saber que interesses nos bastidores induziram a inseão dessas fontes.
Normalmente, a mídia não esclarece como inicia os trabalhos de investigação. No
caso da crise política, supõe-se que tenha sido o deputado a fonte inicial, um
homem que, pelos indícios, pode ser corrupto e mentiroso, mas que continuou
207
sendo fonte pelo critério da representatividade
90
, que pode ser enquadrado no
quesito “autoria”.
Os motivadores do agir jornalístico, em que pese os interesses dos
veículos nos quais trabalham e ação das fontes, são alicerçados pelas
necessidades de informação da comunidade, quer seja por missão filosófica quer
por objetivos puramente mercadológicos. Essa visão pode ser possibilitada pela
formação universitária humanista que recebem. Entre as fontes, os interesses
organizacionais vêem em primeiro lugar, sendo seu objetivo conquistar a
legitimidade e apoio da comunidade.
Ao contrário dos jornalistas, autoridades e especialistas podem ser
superficialmente preparados na academia no que diz respeito à formação
humanista, dependendo da formação acadêmica cursada. Disciplinas como
economia e sociologia são consideradas como “quase irrelevantes” por estudantes
de ciências exatas, por exemplo. Surge para nós a preocupação: os especialistas
têm consciência do que significa o comprometimento da informação como bem
público? Como eles se comportam em relação aos problemas sociais? Os
especialistas têm noção da própria responsabilidade social que assumem? E os
artistas, os ídolos, os religiosos? Como se inserem nesse processo? A mídia
poderia contribuir para o papel de conscientização das fontes? Por missão
(jornalística) ou por possibilidade de projeção (fontes), os valores do público
parecem operar como horizontes éticos de ambos os grupos que entrevistamos.
Assim, somos induzidos a defender que as fontes carecem de aprimorar seu
pensamento crítico em relação à sua inserção na sociedade.
90
Na época em que revisávamos este texto, o deputado lutava contra pedido de cassação de
mandato, pedido por seus colegas parlamentares, em 14 de setembro de 2005.
208
5.5 Comportamento de busca
Os jornalistas acreditam que o principal motivador para a produção
da notícia seja o acontecimento, fato conferido nas entrevistas. Ao conversarmos
sobre postura de busca de informação, percebemos certa acomodação à rotina
produtiva dos jornais. Os repórteres estão acostumados a aguardar a prévia da
elaboração da pauta, esperando diariamente o roteiro que devam seguir.
Quando os repórteres apresentam sugestões coletadas, vindos das
ruas, essas são discutidas informalmente com apuradores e editores. Nesse caso,
podem ser acatadas. Ou seja, o grupo influencia seu comportamento.
Segundo a maioria ouvida, toma-se ciência de um acontecimento
através de releases, agências de notícia ou outros órgãos de imprensa, filtrados
pelos apuradores e editores. Muitas vezes, o acontecimento é preliminarmente
mediatizado, recebendo moldura prévia, submetida aos interesses e às
necessidades de quem o tenha enquadrado, seja uma pessoa ou instituição.
Outra forma, menos usual, mas freqüente, é a denúncia do leitor, ouvinte ou
telespectador. “O cidadão comum ajuda muito nas matérias de curiosidades”,
afirmou uma editora. Alguns entrevistados salientaram que acontece de tudo: de
denúncias reais e comprováveis à tentativa de um cidadão comum simplesmente
querer aparecer de alguma forma e conquistar seus minutos de fama.
A forma de checagem é quase sempre a mesma. A recorrência às
fontes é diária e demanda bastante tempo. Ouvem-se as fontes “qualificadas -
pessoas com representatividade institucional; especialistas, de preferência ligados
a alguma instituição pública”; e testemunhas. Segundo um editor, “as informações
jornalísticas são, em 70% dos casos, factuais e a utilização de personagens visa
conferir maior precisão ao relato.
Uma assessoria de comunicação foi bastante elogiada por
encaminhar matérias prontas, em formato de jornal ou de reportagem de televisão,
com todos os depoimentos necessários de personagens
91
, devidamente
autorizadas para a imprensa usá-las: “Facilita demais. Neste caso, precisamos
apenas checar e achar um gancho para compor a matéria”, ressaltou. Vários
palestrantes ouvidos na série de eventos que acompanhamos no Programa
Primeira Terça, no Sindicato dos Jornalistas, adotam e sugeriram a prática.
Podemos concluir que o comportamento de busca dos jornalistas é
diretamente afetado pelas rotinas produtivas estabelecidas pelos órgãos de
imprensa para os quais trabalham, pelo grupo de referência e pela ação das
fontes. O grande vilão, a ‘escassez do tempo’, tende a contribuir para adotarem
postura passiva em face da pauta estabelecida e a instituírem o fenômeno de
“rotinização” de fontes descrita por TRAQUINA (2003) ou ao cio do
“monofonismo” identificado por BUENO (2005).
De fato, os depoimentos colhidos na imprensa atestam a importância
do release como grande motivador da produção de uma notícia. Na investigação
sobre conteúdo feito em 2003, suspeitávamos que 57% das notícias fossem
publicadas após recebimento de releases, principalmente os advindos de órgãos
públicos, os maiores insumos de informação do jornal (FARIA, 2005). Esses
fatos comprovam a pró-atividade das fontes e a suposição de que a mídia,
envolta às pressões de tempo, enxugamento de quadro funcional e exigências de
produtividade, acolha informações e sugestões de pauta que favoreçam a
elaboração da notícia. Fazem isso de forma habitual, sem maiores
questionamentos críticos. o gratos quando as fontes entendem seus horários e
rotinas, por providenciarem previamente testemunhas e personagens, sem se
darem conta de que abrem espaço para a angulação interessada da informação.
Pelo lado das fontes, a procura por informações acontece de quatro
formas. (1) A primeira, menos citada, é quando o responsável pela divulgação e
relacionamento com a imprensa analisa o que se passa de relevante em sua
instituição e elabora release para encaminhamento às salas de redação, levando
em consideração o interesse social. (2) Outra forma, pouco usual, é quando
91
Personagens: pessoas que testemunham ou podem ter alguma ligação com os acontecimentos.
especialistas internos procuram as assessorias de comunicação pedindo-lhes
para divulgarem algum fato que consideram ser inédito. “Alguns desses
especialistas querem aparecer”, lembrou uma assessora de imprensa. As duas
outras formas mais usuais que desencadeiam a procura de informações são: (3) a
solicitação pela alta direção ou (4) quando procurados pelos jornalistas. A forma
de checagem de informações é quase a mesma: ouvem-se pessoas que ocupam
cargos de direção ou especialistas internos. A maioria dos entrevistados afirmou
ser abordada diariamente pela imprensa.
Somos induzidos a concluir que o comportamento de busca das
fontes submete-se à exposição dos interesses das instituições. Os jornalistas, por
sua vez, checam as informações e acabam por explicitá-las ao público,
legitimando aqueles interesses. Por outro lado, ficou bastante evidente a
preocupação de alguns desses profissionais em empreenderem conciliação de
interesses com a comunidade. “Nem que seja para atingirmos visibilidade na
imprensa, precisamos investir na responsabilidade social”, declarou uma pessoa
que trabalha em uma empresa privada. De fato, como vimos, o caráter público da
informação transforma-se em uma espécie de filtro seletivo da imprensa.
5.6 Classificação e seleção de fontes
Pelos depoimentos colhidos junto aos jornalistas, a categoria segue
padrão intuitivo de classificação de fontes, no qual as mais citadas foram: públicas
(ou oficiais), especialistas, testemunhas dos acontecimentos, internet, agências de
notícia e jornais e revistas. Ou seja, a classificação tem como padrão: natureza
jurídica da fonte, nível de conhecimento, envolvimento com o episódio relatado e o
meio onde buscam mais informações, coincidindo com nossa revisão de literatura
feita nos capítulos 2 e 3. Uma produtora de dio salientou a importância da
habilidade verbal da fonte: “costumo classificar as fontes em carinhas felizes ou
tristes. As mais felizes voltam, as tristes não”. De fato, no caso de rádio e TV, a
apresentação e facilidade de expressão verbal da fonte é bastante valorizada.
Outra categoria mencionada foram os “marqueteiros”, aqueles assessores que
incansavelmente querem promover seus empregadores.
Para selecionar a fonte, o jornalista se baseia, principalmente, em
julgamento próprio, construindo suas “próprias fontes”, como relatou um dirigente,
criando histórico de relacionamento aparentemente confiável. Essa relação,
porém, será sempre conflituosa na opinião dos entrevistados da imprensa,
atestando o que vimos no referencial teórico. Exemplificamos com alguns
depoimentos: “Tem hora que a fonte extrapola, manda muito”... “a fonte colabora
no aprofundamento do conteúdo das matérias, mas tem muita manipulação”....
“precisamos manter certo distanciamento da fonte”.
A opinião dos editores e dos colegas é muito importante, ressaltando
a influência dos pares, ou seja, do grupo de referência. De qualquer forma, a
procura é basicamente por fonte pessoal.
Entre os entrevistados como disseminadores das fontes formais’, as
informações são pré-selecionadas conforme os interesses da alta direção, sendo
as fontes pessoais internas preferidas a arquivos e documentos. Ouvem-se muito
os especialistas e, em caso de divergências entre eles, busca-se consenso, para
que apenas uma posição seja divulgada à imprensa.
Três fatores foram apontados, pelas fontes e jornalistas, como os
mais importantes na seleção de uma fonte pessoal: a autoridade institucional ou
de projeção (ídolos e famosos), o conhecimento e o fato de estar envolvido no
acontecimento. Dois dos fatores: a autoridade institucional, associada à
credibilidade da instituição, e a confiabilidade advinda do conhecimento técnico
perito, convertem-se nos principais critérios de seleção apontados pelos
entrevistados. As fontes públicas (oficiais) de grande representatividade e
credibilidade têm maior status que outras.
212
Muitos ressaltaram a facilidade de acesso, a tempestividade de
respostas e o interesse público das informações geradas como importantes filtros
seletivos das fontes formais. Vale salientar que os critérios de seleção apontados
pelos jornalistas foram espontaneamente ratificados pelas fontes quando
indagados sobre o que a imprensa espera delas. A grande exceção ficou para a
imparcialidade e a transparência, bastante mencionadas, apenas, por parte dos
repórteres. Também foram lembrados: o bom relacionamento, tecnologia de
ponta, boa expressão verbal (comunicabilidade), atualidade, raridade, proximidade
geográfica e dados estatísticos confiáveis. “A imprensa adora números”, declarou
uma gerente de comunicação. Muitos atributos que complementam o conceito de
credibilidade foram destacados, como: idoneidade, verdade, objetividade, domínio
de conteúdo e coerência.
Repórteres como os ‘disseminadores de informação’ das ‘fontes
formais’ lembraram a importância de se compreenderem as rotinas produtivas da
imprensa. “Uma boa fonte sabe até o horário em que a informação deve chegar à
redação”. Indagados sobre os motivos que os levam a conferir tamanha
relevância a esse fator, a maioria apontou a pressão do tempo. Um dirigente
mencionou as dificuldades orçamentárias e a busca da redução de custos.
Perguntamos às ‘fontes’ por que os critérios de seleção seriam
considerados como tal, as respostas convergiram bastante, tendo a maioria
apontado a legitimidade, o reconhecimento social de sua autoridade e a
representatividade. “Tenho absoluta consciência de que sou considerado uma boa
fonte, primeiro, porque faço parte de um quadro de professores da UFMG, depois,
pela minha formação e especialidade, que me conferem representatividade”,
afirmou um médico ginecologista, que acrescentou: “o fato de ser comunicativo,
saber traduzir meu conhecimento em linguagem simples e acessível, me
favorecem bastante. Mas penso que conquistei a credibilidade como fonte depois
de uma série de abordagens, quando os jornalistas passaram a confiar em mim”.
Um engenheiro considerou o conhecimento perito que detém como seu
diferencial, embora a mídia não lhe cobre tanto: “acho que sou abordado
enquanto fonte por causa de minha especialidade, mas as informações que
repasso são superficiais, genéricas, representando muito pouco do que sei”,
declarou. Outro especialista em direito habitacional afirmou: “considero-me fonte
porque conheço a fundo o direito imobiliário, assunto de grande apelo popular.
Tenho, ainda, a prática no mercado e um ótimo relacionamento com a imprensa.“
Tentamos averiguar, entre as fontes, se, além da imprensa, outros
públicos as procuravam. Queríamos checar o efetivo interesse coletivo das
informações geradas pelas fontes formais. Todos responderam que suas
instituições são abordadas pela população, estudantes e outras instituições.
Algumas fontes são também procuradas por especialistas e lojistas, como os
hospitais, prefeitura, as universidades e o CDL. Entre todas as fontes, o IBGE
destacou-se como o órgão mais assediado pela população. Uma invejável aura de
credibilidade gira em torno daquele Instituto. Gerando dados estatísticos, colhidos
em pesquisas quantitativas balizadas por métodos científicos, a confiabilidade do
órgão parece inquestionável aos olhos da imprensa. “Nossa responsabilidade é
muito grande, por isto temos um cuidado especial na divulgação, totalmente
centralizada na Matriz, que fica no Rio de Janeiro”, declarou a responsável pela
disseminação de informação, que acrescentou: “É comum os jornalistas nos
pedirem para analisar o que publicamos, mas não podemos. Temos que nos ater
aos dados.
5.7 Fatores intervenientes na noticiabilidade
CHAVES (2000) buscou identificar que fatores os jornalistas
apontavam como intervenientes na noticiabilidade e na produção da notícia. As
respostas indicaram todos os itens mencionados na TAB.6, p.79, presentes em
todas as fases do processo produtivo. Os mais lembrados, em ordem decrescente
de freqüência foram: 1) preparo e experiência do jornalista; 2) acontecimento; 3)
infra-estrutura; 4) tempo; 5) concorrência; 6) interação com o público; 7) linha
editorial; 8) tecnologia; 9) subjetividade do editor; 10) relações internas de poder;
11) subjetividade do repórter; 12) gestão; 13) fontes; 14) agências de notícia; 15)
layout e 16) anunciantes.
A presente pesquisa ratificou que os fatores discutidos interferem no
comportamento de busca e seleção das informações a serem produzidas pela
imprensa”, impactando, conseqüentemente a qualificação da notícia. No entanto,
houve recorrência espontânea às menções do ‘acontecimento’ e das ‘fontes’
como determinantes na noticiabilidade. O destaque conferido à internet
demonstrou que a expansão da rede impactou o trabalho nas salas de redação.
Identificamos o peso da concorrência em diversos momentos de
nosso levantamento de dados. A análise documental de setembro de 2003
apontou que, num determinado dia, o percentual de assuntos repetidos nas capas
dos jornais variou de 25% a 45%. Considerando-se as páginas internas, o índice
aumentou. 70% de notícias veiculadas coincidiram entre os jornais. As maiores
exceções ficaram por conta dos cadernos de cultura e específicos.
As menções às fontes oficiais e blicas comprovam as raízes
históricas da interferência de fontes do governo na noticiabilidade, evidenciando
a ação do contexto ideológico, cultural e político.
Entre os fatores intervenientes, as rotinas de trabalho e a pressão
por resultados, lembrou MARTINS (2005), são significativos, por conduzirem todo
o modus operandi produtivo da imprensa.
Ouvimos das fontes que o desencadeamento das notícias enviadas
aos jornais é ocasionado por ‘um fato ocorrido na organização’, o que, mais uma
vez, evidenciou que são, primeiramente, seus interesses os geradores de
informações.
Depoimentos de 17 pessoas levaram-nos a crer que o stress da
pressão do tempo também é sentido pelas fontes. “Tudo nosso é muito corrido.
Precisamos atender a imprensa tempestivamente. Com a estrutura enxuta,
corremos atrás dos técnicos internos, que não têm muito tempo, é uma luta...”,
declarou um assessor de comunicação. As fontes, a exemplo da imprensa, estão
envoltas nas rotinas produtivas e na ação burocrática, com suas normas,
regulamentos e hierarquia de cargos. A valorização do conhecimento perito de
especialistas já expressa o reflexo da burocracia na ação social das fontes.
Como a fonte eleita pelo jornalista é, com pouquíssimas variações,
pessoal, acresceríamos seu carisma e subjetividade como outro fator interveniente
no processo de construção da notícia. Esse fato ratifica a importância da contínua
qualificação desse profissional para colaborar de forma competente e consciente
no processo de construção da notícia, posição salientada por uma relações
públicas de um órgão público. Ele deve desenvolver postura crítica e censo ético
perante a disseminão da informação.
5.8 Estratégias das fontes
Vimos que as fontes capacitam-se e aprimoram sua competência
em lidar com a imprensa, de forma a atingir seu principal objetivo: favorecer sua
imagem pessoal ou a posição da instituição que representa perante a
comunidade, propósito ratificado repetidamente pelas declarações dos
entrevistados.
As estratégias mencionadas variaram bastante. Alguns relataram que
o próprio cuidado no relacionamento com a imprensa já é, em si, uma
estratégia. Para isso, o trabalho envolve desde a estruturação da área de
comunicação até a elaboração de cursos voltados a preparar autoridades e
técnicos internos para o contato com jornalistas. Tal empreendimento não é fácil,
devido às dificuldades estruturais e às inúmeras atribuições do profissional da
área de comunicação. Lembrou uma assessora: “estamos sempre apagando
incêndios, sendo chamados a toda hora, a imprensa nos procura constantemente.
Em meio a isto tudo, tentamos ser pró-ativos e treinar nossas fontes internas”.
Do total de representantes das fontes formais entrevistados, 16
lembraram o envio de release como principal estratégia, facilmente percebida
pelos jornalistas que abordamos. Um especialista ponderou que sua principal
estratégia é manter-se atualizado em sua expertise, de forma que seu
conhecimento seja sempre um diferencial. Cursa jornalismo para facilitar o
relacionamento com a imprensa, que é bom. O especialista em direito
imobiliário é fonte rotineira de vários veículos de comunicação e escreve
gratuitamente colunas para jornais.
O médico ginecologista entrevistado, consciente da relevância de
sua área de sde, ao falar sobre o relacionamento com a imprensa, externou
preocupação quase didática no repasse da informação à comunidade: “Fiz até
curso para melhor me expressar e favorecer o relacionamento com a mídia.
Preciso fazer com que o repórter me entenda para repassar corretamente minhas
declarações ao público”.
“O domínio de conteúdo e de conhecimento, maior entre os
especialistas que trabalham nas empresas, torna-se uma estratégia subliminar das
fontes”, declarou uma gerente de comunicação. “Os repórteres chegam aqui muito
desinformados. Nossos técnicos preparam verdadeiras aulinhas para eles, para
que esses possam se embasar e construir o texto jornalístico. Assim, o que é
publicado, muitas vezes, é o que nós mesmos selecionamos para sair”, declarou
uma representante das ‘fontes formais’. E acrescentou: “como os jornalistas
gostam de números, neutralizamos a ansiedade deles, ao esperá-los com alguma
estatística”. Outra assessora destacou: “o mais incrível é que não questionam os
números, embora eles não sejam necessariamente reproduzidos fielmente nas
matérias ”. De fato, como lembra OLIVEIRA (1996), apesar do culto à exatidão dos
números, é comum constatarmos na imprensa distorções estatísticas em relatos
sobre o mesmo acontecimento, como passeatas, manifestações e acidentes.
Outra estratégia bastante citada foi a promoção de eventos para
serem acompanhados pela mídia. Esses eventos tornam-se “pseudo-
acontecimentos”, interferindo na produção da notícia. Uma entrevistada destacou
que, “para uma empresa particular, é difícil chamar a atenção da imprensa. Temos
sempre que inventar um motivo “social” para o evento. Se planejamos um curso,
por exemplo, abrimos um dia para a população carente. As empresas públicasm
maior visibilidade, pois nós somos encarados como anunciantes. Não gostam nem
que nossa logomarca apareça nos vídeos de TV. Para atrairmos a atenção,
procuramos sempre um diferencial: no conhecimento ou em tecnologia”. Tal
declaração nos leva a suspeitar que, em face da crescente competição pela busca
de visibilidade na mídia, o cunho social do evento tenda a ser um diferencial
seletivo.
Como comentamos, uma sofisticada estratégia é o fornecimento das
informações no formato desejável pela imprensa. As fontes procuram entender as
rotinas produtivas da imprensa, para se mostrarem colaboradoras. Assim, pode-
se elaborar um release em forma de matéria jornalística, colhendo-se, de
preferência, o depoimento de uma testemunha. Algumas assessorias publicam
revistas, periódicos e vídeos. A Assembléia Legislativa, por exemplo, tem um
canal de televisão. “Os repórteres nos pedem para arrumar personagens e eles
adoram quando está tudo prontinho esperando por eles”, declarou uma gerente de
comunicação. Outras assessorias utilizam técnicas bem avançadas, produzindo
coberturas para televisão e rádio, amplamente aceitas pelos veículos. Andréa
Margit
92
denominou essa estratégia de elaboração de videonews release. Ela
ressaltou que a ONG ambientalista que gerencia procura trabalhar a
padronização da marca em impressos. A assessoria de comunicação da ONG
distribui fotos à imprensa e mantém banco de fontes de especialistas, pois, como
trabalha com comunicação científica, preocupa-se com o caráter educativo das
informações produzidas.
Devido a relatos como esse, perguntamos às fontes se elas não se
sentiam no domínio da condução das entrevistas, fato com que a maioria
92
Em palestra proferida no Seminário Primeira Terça na sede do Sindicato dos Jornalistas, em 02
de agosto de 2005.
concordou. No entanto, essa postura das fontes é interpretada paradoxalmente
pela imprensa. Uma jornalista criticou os releases impressos, afirmando que eles
demandam checagem de informações. Porém, salientou a elaboração de
videonews do Ministério da Saúde como prova de competência e profissionalismo.
Cabe então uma pergunta: em que um release eletrônico difere de escrito?
Os repórteres demonstram-se mais gratos do que conduzidos,
quando as fontes providenciam um “personagem” ou fornecem imagens e fotos,
favorecendo a produção da matéria. SERRANO (2003) denominou esses
artifícios de “fuga”. Outro exemplo de “fuga” que testemunhamos é a elaboração
prévia de perguntas e respostas que as fontes preparam para os jornalistas,
prática condenável, segundo LAGE (2003). Afinal, além do fenômeno de
“rotinização” das fontes, uma assessora de imprensa lembrou o contrário:
“podemos dizer que há, de certa forma, a rotinização das perguntas. Às vezes,
adivinhamos os questionamentos dos repórteres”.
Aparentemente, os jornalistas aceitam o que lhe favoreça a
produção da notícia. Acreditam, como declarou um repórter, que mantêm o
controle da situação, que são eles os redatores e os anguladores da notícia
produzida. Tal reflexão ratifica nossa suposição de que a busca de resultados
influencia bastante o comportamento do jornalista, numa submissão subliminar às
rotinas produtivas. Isso nos leva a suspeitar que as redações carecem de debater
a questão das fontes sob um ponto de vista mais crítico.
Outra estratégia mencionada refere-se ao acesso. A criação das
centrais de atendimento e o avanço da Internet foram destacados por muitos
como ferramentas importantes de interação entre imprensa e público. “É
impossível trabalharmos hoje sem pensar em disponibilizar informações nos sites,
para atender aos interesses de nossos clientes ou da comunidade”, destacou
uma assessora de imprensa. Os depoimentos dos jornalistas demonstraram que
valorizam o fato de a fonte estar disponível na rede. “A internet mudou muito o
jornalismo e as assessorias de imprensa, que fornecem informações diretamente
à população”, disse um dirigente, confirmando depoimentos de vários autores.
“Sentimos que nossa responsabilidade hoje é maior e que há necessidade de
demonstrarmos competência também na internet”, relatou um chefe de
comunicação, que atualiza diariamente informações de caráter utilitário no site
oficial da instituição onde trabalha.
Entre as fontes do setor privado, foram também destacados o
patrocínio e os gastos com publicidade como estratégias para atrair a imprensa.
“Minha estratégia é pagar. A mídia escreve aquilo que pagamos. É olhar os
cadernos de economia”, salientou um empresário
93
. Alguns entrevistados, como a
Polícia e o Hospital das Clínicas, mencionaram que não precisam de estratégia,
além de cuidar da relação amistosa com a imprensa, pois se constituem fontes
naturais. Para entidades como IBGE e o CDL, a publicação de resultados de
pesquisas, com grande embasamento estatístico, já é, em si, a estratégia.
Uma iniciativa interessante foi desenvolvida pela assessoria de
imprensa da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Através de
comunicação formal encaminhada pela reitoria daquela universidade, perguntou-
se ao corpo docente quem estaria disponível para falar com a imprensa, sobre que
assunto e em que forma de contato. A idéia simples materializou-se na
publicação de um banco de fontes, disponibilizado também no site da Instituição, o
que aumentou significativamente sua visibilidade na imprensa .
Entre tantas estratégias, o cuidado no contato com a imprensa foi
reiteradamente mencionado: o uso do telefone e a conversa com o editor são
fundamentais para confirmarem se a informação (que se quer passar) chega às
redações dos jornais, rádios ou TV. Gil Carvalho, coordenadora de produção da
TV Globo, em seminário realizado no dia 06 de abril de 2004 na sede do Sindicato
dos Jornalistas, afirmou: “Nada substitui o lembrete. Recebemos mais de 100
mails por dia. Por isto, é fundamental que nos liguem”. Ela, ainda, recomendou
aos presentes, assessores de fontes organizacionais, que visitassem os veículos.
Também orientou que, ao prepararem os releases para a imprensa, colhessem
antecipadamente as informações com especialistas internos, para posterior
checagem pelos repórteres. Em nossa observação participante, ficou bastante
evidente o uso de mails e telefone.
93
Esse empresário acompanhou a entrevista que fizemos com sua consultora de comunicação.
220
Revendo as estratégias apresentadas, diríamos que elas se
diversificam. Focam o preparo para falar, a acessibilidade, o bom relacionamento
com os jornalistas, o uso de publicidade e o favorecimento das rotinas produtivas
da imprensa, o que requer competência, habilidade e conhecimento técnico do
trabalho e horários das salas de redação. Por outro lado, um ditado popular diz
que “quem conta um conto, aumenta um ponto”. Os atores da mídia também têm
suas armas de contra-ataque, podem deliberadamente conferir visibilidade maior a
uns do que a outros, favorecer ou não uma imagem positiva das fontes ou induzir
um posicionamento político, por artimanhas como o uso de títulos, fotos,
legendas, charges e outras estratégias.
Os depoimentos colhidos parecem evidenciar a tendência de as
fontes formais caminharem para assumir maior responsabilidade social, seja para
conquistarem melhor visibilidade na mídia, seja pela imposição das novas
tecnologias de comunicação, que propiciam maior interatividade com o público,
em concordância com as observações de PINTO (1999) e GONCALVES (2004).
5.9 Avaliação das fontes
Perguntamos aos jornalistas em que se baseiam para avaliar uma
fonte enquanto que, às fontes, indagamos por que critérios se percebem avaliadas
pela imprensa. Chamou-nos a atenção o posicionamento auto crítico das fontes,
que apontaram quase todos os quesitos de avaliação identificados na revisão de
literatura, conforme TAB.10, p.123, que se resumem em: ‘autoria’ (exposição
clara dos responsáveis, ‘fichacnica’, ‘legitimidade’, ‘imagem externa’, ‘formação’
e ‘grau de conhecimento’); ‘acuidade’ (fontes disponíveis para checar,
credibilidade); objetividade’; ‘clareza de posicionamento’; ‘atualidade; ‘vida útil’;
221
‘cobertura, escopo e abrangência’; ‘layout”
;
conteúdo’: adequação ao público
alvo’, ‘precisão’, ‘nível de profundidade’; ‘interesse’, ‘relevância’; ’fator de
diferenciação’; ‘clareza, correção’, ‘simplicidade e adequação de linguagem’;
‘acessibilidade (tempestividade); ‘retorno’; disponibilidade; ‘custo’; ‘Interatividade’;
‘amigabilidade; e o ‘relacionamento com usuário’.
As respostas de ambos os públicos convergiram bastante. Quase
todos os jornalistas declararam que a credibilidade, conquistada pelo histórico de
bom relacionamento e confiança, a idoneidade, a reputação da fonte constituem
os fatores de avaliação mais importantes. Da mesma forma, quase todas as fontes
sente-se avaliada pelos mesmos critérios.
Os jornalistas conferiram grande importância ao conhecimento e à
perícia da fonte. Pelas declarações colhidas, o conhecimento é o valorizado
como a representatividade institucional da fonte. “Claro que ouvimos sempre a
autoridade máxima em um órgão, empresa ou instituição, pois pressupomos que
ele tenha o maior nível de responsabilidade sobre o repasse da informação”,
salientou um dirigente. E uma assessora de imprensa lembrou que “a autoridade
ouvida sempre se apóia nos técnicos”. De fato, as fontes mais ouvidas nos
assuntos polêmicos que acompanhamos variaram entre políticos e especialistas.
Com exceção de um especialista, cuja visibilidade pessoal na
imprensa ultrapassa a da organização que dirige, os ‘disseminadores de
informação’ das fontes também conferiram mais importância à representatividade
institucional do que ao conhecimento. “Acho que a representatividade pesa mais
porque o repórter ouve um técnico ou especialista interno, com a anuência
expressa da autoridade”, justificou um assessor de imprensa, que complementou:
“a imprensa não demanda tanta profundidade, as informações repassadas são
superficiais. Se não fosse pela Instituição, não seríamos considerados fontes.
Até aqui, podemos enquadrar os critérios descritos nas categorias de
‘autoria’ e acuidade’. A ‘autoria’ envolve a exposição clara de quem detém a
responsabilidade (autoridade institucional), a reputação, a imagem externa e o
grau de conhecimento da fonte. A ‘acuidade’ envolve a credibilidade, a
possibilidade de conferir a validação por outras fontes, sustentando a
222
confiabilidade da informação repassada. Geralmente, essa aferição é feita
juntamente com outras autoridades ou outros especialistas.
Outra convergência foi a importância conferida à compreensão das
fontes sobre as rotinas produtivas da imprensa, que poderíamos classificar como
‘fator de diferenciação’ segundo a revisão de literatura. Compreendemos, assim,
porque o repasse da informação como matéria pronta foi tão valorizado pela
imprensa. Essa prática, ratificamos, pode tornar-se estratégia de controle de
conteúdo pela fonte, endossada pela postura passiva do repórter. Lembramos
que o contrário pode acontecer: o jornal pode alterar a formatação da matéria e
distorcer a informação passada, sendo essa uma das grandes preocupações dos
‘disseminadores de informação’ das fontes, conforme relatou Vanessa Fagundes,
da FAPEMIG (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais), em
palestra proferida no Seminário Primeira Terça, em 02 de agosto de 2005.
O ‘conteúdo da informação, o interesse gerado na comunidade e a
relevância da informão foram critérios mais citados pela imprensa do que pela
fonte. Quase não ouvimos menção à qualidade áudio ou visual do layout das
informações, talvez pelo fato de as novas tecnologias nivelarem as possibilidades
de qualidade de apresentação das informações.
Além dos fatores já mencionados, as fontes destacaram que os
jornalistas valorizam muito: a acessibilidade, a tempestividade de resposta, o
relacionamento. Os especialistas ressaltaram a importância de utilizarem
linguagem simples e clara. “Se alguém detém conhecimento indiscutível sobre
algum assunto e não sabe traduzir numa linguagem simples, ele não é boa fonte”,
lembrou um repórter.
A preocupação com a internet ficou evidente entre as fontes, o que
nos remeteu ao “fenômeno de desintermediação da mídia perante as fontes”,
descrito por GONÇALVES (2002). Concordamos com o autor: as fontes tendem a
assumir maior responsabilidade pela divulgação de informações, que atingem
diretamente a comunidade.
As declarações confirmaram a interferência do julgamento pessoal
que jornalistas fazem de suas fontes, o que deixa claro que é imperativo existir o
clima de confiança recíproco entre as partes. Por outro lado, esse fato pode levar,
segundo LAGE (2003), à cumplicidade promíscua entre fonte e jornalista, a uma
relação de fidelidade à toda prova, levando a trocas de favores.
Além do grande peso conferido ao julgamento pessoal, a influência do
grupo de referência na avaliação de fontes ficou evidenciada nos pronunciamentos
dos jornalistas entrevistados. Percebemos que aceitação dos pares é questão de
honra, idéia defendida por DARNTON (1990) e outros. BERGER e LUCKMAN
(1985) explicam que a influência do grupo faz parte do processo de socialização
secundária de um indivíduo, que é o caso do ambiente de seu trabalho.
Resumindo, embora os jornalistas não utilizem algum parâmetro
normatizado para avaliação, as fontes declararam sentir-se avaliadas por todos os
critérios que elencamos na revisão de literatura. Observamos que os critérios de
classificação, seleção e avaliação se confundem. Isso nos sugere que podemos
propor um modelo de avaliação, até como forma de promover um esforço crítico
sobre a questão. Os quesitos mais valorizados foram: a autoria e acuidade,
ligados à autoridade, conhecimento legítimo e credibilidade.
5.10 Participação das fontes nos atributos de qualidade
De maneira geral, as fontes posicionaram-se criticamente sobre sua
participação na qualificação da notícia. Se tomarmos os atributos de qualidade
elencados na FIG.4, p.65
94
, os mais salientados pertencem ao nível intrínseco,
que MARCHAND (1990) afirmou serem os mais valorizados pelo sistema
94
Resumidamente: Contribuição para o desenvolvimento social; ecletismo; confiabilidade;
precisão; validade; imparcialidade; parcialidade; atualidade; conteúdo rico; completeza; pertinência;
novidade; repercussão; transcendência temporal; impacto; linguagem; formato; relevância;
interesse; eficácia; objetividade; abrangência; redundância.
produtor e disseminador da informação. Os entrevistados mencionaram de forma
recorrente: a ‘confiabilidade’ e a ‘validade da informação. Outros atributos citados
foram a precisão’ e o ‘conteúdo’.
Entre os jornalistas, a participação das fontes é crucial nos quesitos
que consideram mais importantes na produção da notícia: a ‘confiabilidade’,
‘validade’ e ‘precisão’ da notícia, embora reconheçam a existência de lobbies
95
nos bastidores. Por outro lado, acreditam que resguardem os interesses da
comunidade e que conferem o tom de relevância ao que escrevem.
Cabe-nos a ressalva de que a noção de ‘precisão’ difere entre o olhar
das fontes e o da imprensa. Para as fontes, a “precisão diz respeito à publicação
fiel da informação que repassam, produzida de forma a atingir o público de
maneira que obtenham bom posicionamento de imagem. Essa preocupação
cresce, segundo um dos depoimentos, quando a informação se refere a assuntos
complexos ou científicos. Entre os jornalistas, o conceito de ‘precisão’ está ligado
ao fiel relato de um acontecimento.
As fontes percebem que contribuem para a parcialidade das
informações, cientes de que agem de acordo com seus objetivos organizacionais.
Preocupam-se mais com a ‘repercussão’ do que com a ‘relevância’ da
informação. Isso indica que a fonte age motivada por interesses próprios,
divulgando informações irrelevantes, mesmo que possam gerar informações
relevantes. Pelo lado da imprensa, identificamos fatos semelhantes. Dessa forma,
somos levados a crer que os interesses e a busca de grande repercussão perante
o público, induzida pelo uso de manchetes, fotos, legendas e estudadas
angulações, contribuem para alterar, em várias situações, o atributo de ‘precisão’
da notícia. BIAL (2005) relata que o empresário Roberto Marinho aconselhava
que a geração de notícias devesse se balizar pela aceitação do público.
Em relação ao ‘conteúdo’, uma assessora da imprensa e professora
universitária destacou que a responsabilidade do aprofundamento da informação é
da fonte e não do jornalista, que “não tem tempo para isto”. Esta declaração e o
95 L
obby consiste na pressão de um grupo para o alcançar seus interesses.
fenômeno de desintermediação do jornalismo perante a fonte, em que esta se
coloca mais diretamente em contato com o público através das novas tecnologias
(GONÇALVES, 2002), representam defesa da proposta de PINTO (1999) e outros
autores: caminhamos para nova relação de senso de ética e responsabilidade
das fontes perante a comunidade.
Por outro lado, lembramos que um dos maiores problemas das
notícias apontados pelos leitores (CHAVES, 2000) seja a superficialidade de
conteúdo. Um exemplo é o crescente recurso ao “retranquismo, publicação de
notas pidas, justificado pela intenção de levar ao leitor informações mais
objetivas e sintéticas, que ele tem pouco tempo para absorver tudo o que a
mídia publica (BUCCI, 2000). Corroborando essa posição, citemos o depoimento
de um engenheiro, especialista de uma multinacional, designado algumas vezes
pela área de “comunicação corporativa’ para conceder entrevistas à imprensa:
“parece que o público quer apenas uma instrução básica de uma fonte confiável”.
Este fato exemplifica com maestria a análise descrita por GIDDENS (1997)
sobre a atuação dos profissionais de comunicação das fontes formais. Nos pontos
de acesso, para ratificar a confiança no sistema perito, o indivíduo comum não vai
tomar contato, e nem pode, com o conhecimento profundo do perito. Se isso
acontecesse, ele poderia descobrir eventuais “furos”, o que poderia abalar sua
confiança e, conseqüentemente, sua segurança ontológica.
Cabe-nos aqui tecer algumas reflexões. Que tipo de conhecimento
está sendo socializado? O que ele traz à população? Que utilidade tem para o
cidadão? Como ele contribui para que o cidadão atue de forma crítica na solução
dos problemas da comunidade a que pertence? Ora, será que autoridades e
especialistas têm consciência desse nível de responsabilidade social ao
concederem entrevistas? Os cursos de graduação contribuem para desenvolver
nos especialistas e gestores a visão crítica de seu papel perante a sociedade?
Como? Conversamos sobre isso com o engenheiro entrevistado. Ele confessou
que nunca refletira sobre o assunto. Quando estudante, cursou disciplinas de
economia e sociologia, que, teoricamente, colaborariam para que alcançasse uma
visão mais ampla de sua profissão. “Nem me lembro direito do que vi.
Considerávamos estas disciplinas exóticas, pois supúnhamos que fugiam ao
nosso foco. Fazíamos os trabalhos em grupo que, na verdade, eram elaborados
por um ou outro colega, enquanto os outros assinavam” , confidenciou. Ora, esse
cenário é comum nos cursos de graduação. E, se são os estudante de hoje os
futuros especialistas a prestarem (ou interpretarem) amanhã informações à
comunidade através da imprensa e, se toda a profissão tem seu cunho social,
que dependem em última instância da legitimação do público, poderíamos
reivindicar às universidades que colaborassem na preparação da visão holística
dos alunos, possibilitando-lhes atuação mais consciente em seu contexto social.
Um entrevistado como fonte formal, lembrou-nos, porém, que os
especialistas o têm necessariamente, graduação universitária: “Você está
ouvindo especialista com nível superior porque quer ouvir fontes formais, mas ele
pode ser um desportista, um artista, até um analfabeto”. Com razão, figuras de
extrema popularidade têm grande visibilidade na mídia, que não se poupa de
publicar amenidades, detalhes irrelevantes a respeito da intimidade dos ídolos.
Suspeitamos que, quando o assunto é científico e a fonte tem mais
conhecimento, a informação tende à superficialidade, fazendo-se compreensível
ao cidadão comum. Ao contrário, as banalidades sobre a vida de um ídolo popular
são redundantemente expostas. “O que seria mais relevante para a comunidade:
a cobertura detalhada sobre a ação de um remédio para a cura de um câncer ou a
cobertura do casamento do Ronaldinho
96
? Qual dos fatos tem mais visibilidade na
mídia? Claro que o casamento, pois a mídia é imediatista. Em primeira instância,
ela publica o que ibope”, criticou e lembrou, ainda, a morte de Ayrton Senna,
ídolo do automobilismo, que morreu em 1992, cujo enterro foi explorado por dias
pela imprensa brasileira, com elevados índices de audiência.
Os especialistas estão comprometimento da informação como bem
público? Como eles se comportam em relação aos problemas sociais? Têm
noção clara de sua própria responsabilidade perante a comunidade? E como os
artistas, os ídolos, os religiosos se inserem nesse processo? A mídia poderia
contribuir para a conscientização dessas fontes?
96
Jogador da seleção brasileira de futebol muito popular à época em que redigimos a tese.
Não caberia à imprensa a função mais pedagógica e interpretativa?
Afinal, o tem o jornalismo como horizonte ético a missão de educar, interpretar,
informar ou entreter? Alguns acreditam que a mídia penda para os dois últimos
focos, embora a atual realidade lhe exija mais interpretação analítica. Andréa
Margit, externou essa preocupação. Trabalhando com comunicação científica
alusiva ao meio ambiente, ela confessou que a visibilidade das informações que
passa à imprensa é dificultada justamente porque têm cunho educativo.
Ao expormos que a mídia tende à superficialidade (uso de “retranca”
ou exposição de banalidades sobre ídolos populares) e, ao defender que a fonte
seja a responsável pelo aprofundamento das informações, chegamos a paradoxo.
Afinal, qual é a tendência, a superficialidade ou o aprofundamento? Podemos
dizer que ambas. A maioria doblico assimila as informações genericamente, até
por falta de tempo. Por outro lado, cresce a interação do usuário com a fonte e
com a imprensa. Por bem ou por mal, a conscientização dos usuários tende a
aumentar. que se considerar, ainda, a crescente segmentação da mídia. Fatos
como esses sinalizam algumas transformações no cenário da mídia, que precisa
rever seu papel, como advogam alguns teóricos. A revisão certamente passaria
pela análise de necessidade de informações do público.
Conforme descrevemos, as novas tecnologias de informação
impuseram maior profissionalização às fontes. Através dos sites, elas
disponibilizam informações com conteúdo mais profundo do que através da
imprensa. O processo de desintermediação descrito por GONÇALVES (2002), a
proximidade com o público cada vez mais exigente,_amparado por leis de defesa
do consumidor_, e a concorrência induzem as fontes a assumirem maior
responsabilidade na disseminação de informação. Nessa perspectiva, acreditamos
que haja, também, uma tendência de as fontes reverem seu processo de gestão
de informação, sendo esse profícuo campo de pesquisa e atuação prática para
os cientistas da informação.
Se, segundo alguns autores, a imprensa deve buscar ser mais
interpretativa, essa preocupação foi evidenciada por alguns repórteres
entrevistados. Vale salientar que, caminhando nessa linha, a atuação das fontes,
sobretudo de especialistas, tende a se acentuar, pois é com o auxílio desses que
os jornalistas buscam analisar os acontecimentos.
Jornalistas e fontes consideram importantes os atributos do nível
‘transcendente’ (MARCHAND, 1990), que envolvem aspectos filosóficos como a
contribuição para o desenvolvimento social, exercício da cidadania e
entretenimento. Esses atributos atuam como orientação ética. A participação
desses atores no processo é sempre interessada. “Se você pensar bem, até atrás
do entretenimento interesse, pois o que se quer vender é o que se publica”,
relatou um repórter.
A adequação da ‘linguagem’, clara, acessível e objetiva destacou-se
como uma das preocupações das fontes e jornalistas, atributo do vel
“contingencial” segundo MARCHAND (1990). Caber-nos-ia perguntar se as
escolas preparam adequadamente os futuros especialistas no que se refere à
expressão e as fluências, verbal e escrita.
Transcrevemos didaticamente os principais resultados apurados para
a TAB 26, p.230 e 231, que contempla quatro colunas, sendo jornalistas (1), fontes
(2), especialistas (3) e observações (4). Criamos códigos numéricos, para que
fique claro a que se referem às observações da última coluna.
5.11 Um modelo de avaliação de fontes
Um dos objetivos desta pesquisa foi conceber um modelo aplicável
para que os jornalistas, como produtores de informação, se norteassem para
refletir sobre a avaliação de suas fontes. Queríamos propor algo dialógico,
interativo e aberto à manipulação por esses usuários.
TABELA 26 – QUADRO RESUMO DOS RESULTADOS
ITENS JORNALISTAS (1) FONTES (2) ESPECIALISTAS (3) OBSERVAÇÃO
Entrevistados
Estado de Minas, Tempo, Hoje em
Dia, TV Alterosa e Rádio Itatiaia
ALMG, BH TRANS, Big Pizza, CEF, CAM,
CDL, CEMIG, Fiat, Mater Dei, IBGE, Hospital
das Clínicas, Visão Mundial, UFMG
Médico
Engenheiro
Advogado
Dia a dia corrido (1,2,3)
Escolhidos pelo interesse social (2)
Maior visibilidade para fontes públicas (2)
Perfil
Graduação em jornalismo. Atualizam-
se basicamente pela mídia
Graduações diversas. Atualizam-se pela mídia
e treinamentos internos.
Latu sensu em Marketing e Gestão Empresarial
Maior nível acadêmico
Atualizam-se pouco pela mídia
Especialistas não são preparados para
lidarem com a informação como bem
público
Indício de defasagem entre formação
acadêmica e necessidades impostas pelo
mercado profissional (2)
Especialistas não têm, necessariamente
curso superior, como celebridades (3)
Mercado
Profissional
Jornalistas trabalham em veículos de
comunicação, empresas e agências
de publicidade.
Os veículos de comunicação só
empregam jornalistas nas salas de
redação.
Cargos com diferentes denominações, níveis
hierárquicos e salários
Rivalidades e invasão de outras formações
Atuam com comunicação integrada.
Busca contínua da auto-afirmação
Foco em suas especialidades
à exceção de celebridades, o contato
com a imprensa não é rotina
Mercado do comunicador marcado por
conflitos (2)
Representatividade confusa (2)
Conflitos de construção de identidade (2)
Entraves à qualidade da informação (2)
Problema para pesquisa (2)
Necessidades
Acreditam atender necessidades do
público
Acreditam atender, primeiramente,
necessidades das instituições que representam
Acreditam atender necessidades dos
repórteres
As necessidades são várias, mas o público
é o horizonte ético (1,2)
Interesses
Acreditam priorizar interesses do
público
Reconhecem interesses de
anunciantes e de donos de empresas
de mídia
Priorizam os interesses das organizações, com
objetivo principal de posicionamento de
imagem.
Alguns reconhecem a responsabilidade social
como diferencial de visibilidade
São procurados por interesses de
jornalistas ou de seus jornais
Alguns são apontados como
marqueteiros
Interesse e parcialidade são inerentes ao
fenômeno qualitativo da informação (1,2,3)
Não profissional especializado para
analisar necessidades de informação do
público (1,2,3)
Comportamento
de Busca
Passivo
Sujeitam-se à pauta
Intervenção sobre a pauta acontece,
discutida com o grupo
Postura depende da estrutura da área
Iniciativa privada mais ativa
Áreas muito assediadas (saúde e polícia), mais
passivas
Passivos, embora alguns adotem
estratégias
Comportamento de busca é afetado pelo
tempo e pelas rotinas e condições de
trabalho (1)
Classificação
Natureza (Pública ou privada/
Especialidade Conhecimento ou
celebridade), Acesso ao episódio (
testemunha ou analista), acesso
(internet, mail )
Não tem Não tem Classificação intuitiva de fontes (1)
Seleção
A autoridade institucional ou de
projeção (ídolos e famosos), o
conhecimento e o fato de estar
envolvido no acontecimento.
Acreditam serem selecionados pela
acessibilidade, disponibilidade e pela instituição
que representam.
São selecionados pelo histórico de
confiança construído com os repórteres
Especialistas de instituições públicas são
priorizados aos ligados à iniciativa
privada
Grande ênfase à representatividade,
conhecimento, principalmente de fontes
ligadas ao poder público (1
Fatores
intervenientes
Preparo e experiência do jornalista;
acontecimento; infra-estrutura;
tempo; concorrência; público; linha
editorial; tecnologia; subjetividade do
editor; relações internas de poder;
subjetividade do repórter; gestão;
fontes; agências de notícia; layout; e
anunciantes.
Preparo e experiência do profissional,
acontecimentos internos, decisões da cúpula,
público a ser atingido; relações internas de
poder; subjetividade dos especialistas internos
Demanda da cúpula para concessão de
entrevistas
Confiança que repórter deposita no
especialista
Disponibilidade
Conhecimento e imagem externa
Tempo, a pressão por resultados e
condições de trabalho destaca-se entre os
principais fatores intervenientes de todos
os atores (1,2,3)
Na imprensa: ação da influência
concorrência é enfática (1)
ITENS JORNALISTAS (1) FONTES (2) ESPECIALISTAS (3) OBSERVAÇÃO
Estratégias
Uso de mail e telefone para acessar
as fontes
Construção de banco de fontes, de
acordo com histórico de credibilidade
construído
Uso de releases, impressos e eletrônicos
Relacionamento
Promoção de eventos
Facilitação das rotinas da imprensa
Acesso /Internet
Deter controle de conteúdo
Cursos para falar com a imprensa
Escrita de colunas
Controle de conteúdo
Imprensa percebe estratégias, gerando
conflitos (1).
Valoriza-se a compreensão das rotinas e
favorecimento da produção pela fonte é
vista com gratidão pela imprensa (1, 2)
Avaliação
‘Autoria’ (responsáveis, ficha técnica,
legitimidade, imagem externa,
formação e grau de conhecimento);
‘acuidade’, credibilidade,
‘objetividade’; ‘clareza de
posicionamento’; ‘atualidade’; ‘vida
útil’; ‘cobertura, escopo e
abrangência’; ‘layout’’; ‘conteúdo’:
adequação ao público alvo/ precisão/
profundidade;‘interesse’, relevância’;
’fator de diferenciação’; ‘clareza,
correção, simplicidade e adequação
de linguagem’;‘ acessibilidade:
‘retorno’; disponibilidade; ‘custo’;
‘Interatividade’; amigabilidade; e o
‘relacionamento com usuário’.
Acreditam ser avaliados:
Pela acessibilidade, tempestividade
relacionamento, conhecimento dos técnicos
internos, credibilidade institucional,
confiabilidade, imagem externa, abrangência
de atuação
Procuram compreender as rotinas produtivas
do repórter, facilitando a produção da
informação, providenciando até personagens
para a as entrevistas
Acreditam serem avaliados pelo
conhecimento que detêm
Ênfase na autoria, acuidade e acesso (1,2)
Compreensão das rotinas produtivas como
importante fator de diferenciação,
convertendo-se em critério de avaliação
(2)
Critérios de avaliação confundem-se com
os de classificação e seleção (1)
Não existe Ombudsman (1)
Não analistas de sugestões do público,
para embasar decisões organizacionais (2)
Especialista distante do público (3)
Atributos
Transcendente: da missão
jornalística: educar, interpretar,
informar e entreter, a imprensa
destaca-se nas duas últimas, mas
procura a interpretação,
principalmente com ajuda dos
especialistas
Intrínseco: Conceito de precisão
ligado ao relato fiel do fato
Interesse na repercussão
Imparcialidade utópica
Contingencial: Layout e linguagem
acessíveis ao público. A relevância
retrata-se nas informações utilitárias
Transcendente: São geralmente informativas
As de caráter educativo têm pouco espaço
Intrínseco: Participam na validação da
informação
Conceito de precisão: quando a imprensa
publique o que quer
Interesse na repercussão
Contingencial: Interferem no formato e na
linguagem.
O tipo de atividade da fonte formal é que lhe
confere relevância (saúde, segurança,
transporte, serviços essenciais, impacto
econômico etc)
Transcendentes
: Auxiliam na
interpretação dos fatos.
Intrínseco: Validam a informação
Completeza e conteúdo
Especialistas: divulgam superficialmente
seus conhecimentos
Celebridades: Redundância de
banalidades, ligam-se aos interesses de
impacto e repercussão
Contingencial: Procuram utilizar uma
linguagem mais popular, adequando seus
conhecimentos ao público. Necessidade
de utilizar recursos de redundância
Nível transcendente: Imprensa mais
informativa e entretenitiva. (1)
Intrínseco: Maior ênfase aos atributos deste
nível: validação, repercussão; (1)
Conceito de precisão difere entre
jornalistas e fontes (1, 2 )
Interesses inerentes (1,2,3)
Conteúdo: tendência à superficialidade
(1,3)
Impacto: Exposição de banalidades de
celebridades e sensacionalismo (1)
Contingencial: Relevância como critério de
seleção de fontes (1)
Rotinas produtivas fator interveniente (1)
Tendências
Necessidade de formação da
consciência crítica
Papel de colaborador, também, na
formação da consciência crítica do
público
Papel tende a ser mais interpretativo
Novos desafios éticos
Necessidade de encarar a
informação como bem público
Fenômeno da desintermediação das fontes traz
novos desafios e impõe novo código de ética
Conturbado mercado profissional prejudica a
construção de identidade e gestão do processo
informacional
Maior responsabilidade na disseminação da
informação e necessidade de encarar a
informação como bem público
Uso de internet
Carece de consciência crítica sobre o
caráter público da informação
Necessidade de encarar a informação
como bem público
Participa ativamente da interpretação da
realidade
Necessidade do cultivo à consciência
crítica de todos os atores (1,2,3)
Fontes e jornalistas podem fomentar a
consciência crítica do usuário (1,2)
Novo código de ética para imprensa,
fontes, especialistas e usuários (1,2,3)
Academia pode contribuir (1,2,3)
Fonte: Elaborada pela autora, SET 2005.
Precisávamos, primeiramente, esclarecer uma dúvida: deveríamos
chamá-lo de ‘instrumento ou modelo’? Segundo ABBAGNANO (1998:571), a
palavra “instrumento foi ampliada por Dewey, designando todos os meios capazes
de obter um resultado em qualquer campo da atividade humana, prático ou
teórico”. Ou seja, usamos um instrumento para chegar a resultados esperados.
Por “modelo”, entende-se a disposição ordenada de elementos que compõem um
conceito científico, devendo caracterizar-se pela simplicidade, possibilidade de ser
expresso por meio de parâmetros suscetíveis de tratamento matemático e pela
semelhança ou analogia com a realidade que se destina a explicar. Em outras
palavras, podemos entender que um “modelo” se presta à análise de um
fenômeno ainda não totalmente compreendido por determinada comunidade, quer
ele seja biológico, físico, matemático ou social.
Buscamos, também, ajuda em RYDER (2005) para quem um
modelo fornece diretrizes de interpretação, a serem compartilhadas com os
usuários, que podem propor mudanças:
“modelos, como mitos e metáforas, auxiliam-nos a apreender nosso
contexto. Derivando-se de intuições ou pesquisas formais, um modelo
oferece ao usuário meios de se olhar um problema. O desenho de um
modelo fornece estrutura e sentido para possibilitar a compreensão
negociada entre o que se propõe e o que o usuário interpreta. Modelos
nos auxiliam a visualizar um problema, através de sua decomposição em
categorias menores e manipuláveis. A validade de um modelo específico
é determinado pelo seu contexto de uso. Como qualquer outro
instrumento, um modelo adapta-se à intenção específica de seu usuário.
Ele pode ser avaliado pela capacidade de mediação que proporciona,
pela possibilidade de ser compartilhado e pela efetividade como foca o
fenômeno a ser observado”.
97
97
Original: “models, like myths and metaphors, help us to make sense of our world. Whether it is
derived from whim or from serious research, a model offers its user a means of comprehending an
otherwise incomprehensivible problem. An instructional design model gives structure and meaning
to an I.D. problem, enabling the would-be designer to negotiate her design task with a semblance of
conscious understanding. Models help us to visualize the problem, to break it down into discrete,
manageable units. The value of a specific model is determined within the context of use. Like any
other instrument, a model assumes a specific intention of its user. A model should be judget by how
it mediates the designer’s intention, how well it can share a work load, and how effectively it shits
focus away itself toward the object of the design activity.
A proposta visa suprir os profissionais que lidam com coleta e
produção de informação de alguma metodologia interativa e participativa, que os
auxilie na busca de compreensão crítica e consciente do processo de avaliação de
fontes, cabendo a eles, como usuários, propor mudanças que se fizerem
necessárias. Esta é uma das condições que RYDER (2005) elege para o
enquadramento de um modelo. Assim, pelas considerações apresentadas,
pensamos que nossa sugestão se enquadraria melhor como “modelo”, concebido
sob a visão construtivista do que como “instrumento”.
Desfeita a dúvida, apresentamos o “modelo para avaliação de fontes
jornalísticas”
98
na TAB.27, p.234, que tem a pretensão de colaborar para a
discussão sobre o tema no ambiente jornalístico ou em qualquer cenário
compreendido pelo fenômeno informacional, auxiliando na reflexão sobre escolha
das fontes e sua participação na qualidade da informação produzida, contribuindo
na formação de leitura crítica sobre o assunto.
Trata-se de uma planilha simples, que pode ser automatizada, se o
grupo de usuários preferir. Ela foi criada para ser preenchida conjuntamente por
grupos individualizados de editores e suas equipes, em reuniões participativas,
com periodicidade que atenda às rotinas dos veículos de comunicação.
O preenchimento geraria, ao final, um ‘fator indicativo de qualidade’
da informação avaliada, cujo máximo alcançável é 100 pontos. Esse número (100,
cem) foi escolhido por estar associado à idéia de completude no senso comum.
Recomendaríamos uma discussão mensal. Alternativamente, o analista de gestão
de informação ou cientista da informação poderia coordenar o processo. A forma
de condução dos encontros deveria sempre se diversificar, estimulando-se um
ambiente agradável e produtivo. O modelo foi concebido a partir da discussão
apresentada ao longo deste trabalho.
Elegemos como categorias cinco fatores pertinentes à avaliação de
fontes, esporadicamente mencionados pelos entrevistados: a classificação
98
Cabe lembrar o modelo avalia fontes formais. Seria interessante incluir, posteriormente, o olhar
do cidadão comum.
233
TABELA 27 - MODELO PARA AVALIAÇÃO DE FONTES JORNALÍSTICAS
VEÍCULO: DATA:
EDITORIA: MATÉRIA/REPORTAGEM OU NOTA
: FATOR INDICATIVO DE QUALIDADE:
1
FONTE
2.
TIPO
PESO
3.
INTERESSE
PESO
4
MISSÃO
PESO
5
CRITÉRIO
DE
SELEÇÃO
PESO
6
ATRIBUTO
GERADO
PESO
7
TOTAL
Soma
Total itens
MÉDIA:
Fonte: Elaborado pela autora NOV/2005
de fontes, os critérios de seleção, o interesse atendido, a missão cumprida e os
atributos de qualidade gerados pela produção da informação. Como os profissionais
misturam ou confundem classificação com critérios de seleção e avaliação,
quisemos chamar a atenção dos usuários para que pensem sobre cada processo
separadamente. Os ‘fatores intervenientes na noticiabilidade’, apesar de sua
relevância, foram excluídos na elaboração do modelo, por entendermos que mais
justificam do que colaboram na avaliação da escolha de fontes. O modelo é aplicável
à matéria, notícia, editorial, reportagem ou qualquer forma de informação jornalística.
Ele é útil para se comparar diferentes relatos de um jornal ou coberturas de um
mesmo acontecimento em veículos de mídia diferentes. Ou seja, ele viabiliza aos
participantes avaliarem seu trabalho perante a concorrência. Eventualmente, o
modelo pode ser utilizado em discussões com estudantes ou em reuniões
comunitárias. Debates semelhantes podem acontecer entre as fontes
organizacionais e especialistas, com vistas a se criar a consciência de que a
informação é um bem público, o que traz responsabilidades a quem a divulga.
Inspirando-nos ideais de GENRO FILHO (1989), o modelo, destinado,
pois, a fomentar uma cultura de posicionamento crítico sobre a questão das fontes,
pretende ser flexível. A forma de sua aplicação é, essencialmente, interativa,
permitindo que os usuários promovam modificações quando as julgarem
procedentes. Isto tende naturalmente a acontecer, à medida que a metodologia for
apreendida e internalizada pelos usuários. Pressupomos que a participação levaria
ao envolvimento contínuo e consciente com o fenômeno qualitativo da informação.
Após as considerações preliminares, procedamos ao detalhamento do
modelo propriamente dito. Em alguns momentos, utilizamos intencionalmente a
redundância, para facilitar assimilação de nossas explicações.
O cabeçalho traz espaço para se registrarem: nome do veículo, data,
editoria, a informação jornalística posta em observação e o ‘fator indicativo de
qualidade’ da matéria, a ser computado após o preenchimento da planilha. Como
múltiplas fontes podem ser utilizadas na mesma notícia, ela contempla rias linhas,
sendo cada uma delas destinada ao registro de uma fonte específica.
A seguir, a planilha contempla o preenchimento de sete colunas: 1)
Fonte, 2) Tipo (Classificação); 3) Interesse, 4) Missão, 5) Critério de Seleção, 6)
Atributo de Qualidade Gerado e 7) Total . Na primeira coluna, registra-se a fonte a
ser analisada. As demais colunas devem ser preenchidas em conjunto com a
equipe, durante a reunião, como dissemos, participativa e interativa. As colunas dois,
três, quatro, cinco e seis prevêem a aferição de pesos, sendo que os próprios
participantes conferem os pesos às colunas, justamente para que se envolvam
efetivamente na reflexão sobre as fontes e internalizem sua responsabilidade no
processo. Destacamos que a aferição de pesos em todas as colunas não visa à
comparação matemática, mas à reflexão crítica sobre a participação das fontes na
qualidade da informação.
Obtém-se o total de cada coluna e, ao final, divide-se o somatório dos
pontos obtidos pela aferição de pesos pelo número de itens apontados, que
corresponde ao número de fontes avaliadas. Cada coluna pode alcançar a média
máxima de 20 pontos. Dessa forma, a soma máxima de todas as colunas resulta no
‘fator indicativo de qualidade da informação, cujo teto, repetimos, é de 100 pontos.
Obtém-se o mesmo valor, tirando-se a média simples das linhas, que representa a
pontuação de cada fonte avaliada.
A segunda coluna diz respeito à classificação das fontes escolhidas.
Dividimos os especialistas em ‘especialistas’ e ‘celebridades’, por concordarmos com
a observação de um dos entrevistados, que ambos figuram na imprensa, sendo
um fonte formal e o outro não. Como vimos, a classificação é intuitiva e sua
figuração no modelo visa alertar os profissionais de informação a refletirem sobre o
assunto. Assim, a coluna deve ser preenchida conforme o tipo de fonte utilizada,
sendo os pesos definidos em equipe, sendo o máximo de 20, gerando o
preenchimento do gabarito da TAB.28, p.237. Se uma mesma fonte receber várias
denominações de classe, pontua-se apenas a de maior peso.
TABELA 28 - PESO POR CLASSIFICAÇÃO DE FONTE
TIPO CONCEITO PESO
Autoridade Fonte tem cargo representativo na instituição
Celebridade Desportista, artista, nome show business etc.
Documental Fonte advinda de arquivo escrito, livro etc.
Especialista Profissional liberal, formado em curso superior.
Pessoal Fonte pessoal, contatada em entrevista.
Privada Ligada ao setor privado
Pública Ligada ao setor público
Testemunha Ocular Fonte que participou do acontecimento
Fonte: Elaborada pela autora AGO/2005
A terceira coluna registra o interesse preponderante a ser atendido pela
publicação da notícia. Por ser prioritário, entendemos que a escolha recairia sobre,
apenas, um tipo de interesse. Mas se a equipe mencionar mais de um interesse,
pontua-se apenas o de maior peso, de forma que a coluna atinja a pontuação
máxima de 20 pontos. A equipe deve preencher gabarito descrito na TAB.29, p.237.
TABELA 29 - PESO POR INTERESSE ATENDIDO
TIPO CONCEITO PESO
Anunciante
Grupo político
Quando um interesse de um lobby político
nos bastidores, levando à uma parcialidade
explícita na publicação da informação
Empresa de
Comunicação
Quando o interesse atingido é apenas no
veículo, numa estratégia de autopromoção ou
defesa de interesse próprio.
Fonte Quando a fonte é a grande beneficiada pela
publicação da notícia, porém se reconhece sua
preocupação com qualidade da informação.
Jornalista
Editor
Quando ele age imbuído da intenção de
produzir a melhor matéria possível.
Público Quando a informão produzida é pertinente e
relevante à comunidade, sendo importante que
ela chegue ao público.
Fonte: Elaborada pela autora AGO/2005
A seguir, os participantes preenchem a quarta coluna, em que
conferem peso às quatro missões clássicas do jornalismo– educar, entreter, informar
ou interpretar-, elegendo qual delas é prioritariamente atingida com a publicação da
informação, gerando o gabarito da TAB.30, p.238. Lembramos que a missão traduz
o nível transcendente (MARCHAND, 1990), que inclui atributos filosóficos e
valorativos como a contribuição da informação para o desenvolvimento social
sustentável. Se mais de uma missão seja mencionada, pontua-se apenas a de maior
peso, de forma que o total possível da coluna atinja, no máximo, 20 (vinte) pontos.
TABELA 30 - PESO POR MISSÃO ATENDIDA
MISSÀO CONCEITO PESO
Educar A informação repassada pela fonte colabora na educação e
formação da consciência crítica do leitor,
Entreter A informação visa estritamente ao entretenimento do usuário
ou foi pré-interpretada de forma parcial e tendenciosa
Informar O caráter é eminentemente informativo
Interpretar A informação repassada pela fonte foi de antemão
interpretada por um especialista ou pelo próprio jornalista, de
forma transparente.
Fonte: Elaborada pela autora AGO/2005
A coluna cinco registra os critérios adotados na seleção de fontes,
também baseados na revisão de literatura, conforme TAB.31, p.239. Agrupamos
alguns dos critérios por estarem mais intimamente ligados entre si, como ‘conteúdo e
conhecimento’; ‘retorno e tempestividade de resposta. Os pesos, em pontos, são
atribuídos previamente pelos participantes, que moldam o gabarito da coluna. A
pontuação de cada critério pode variar de 01 a 20 pontos. O objetivo dessa
metodologia é sensibilizar os jornalistas para a responsabilidade que têm do início
ao fim do processo da produção da informação. Como a seleção das fontes pode
seguir múltiplos critérios, a equipe opta entre mencionar vários ou, como
orientamos, por eleger um principal. De qualquer forma, será registrado apenas o de
maior peso, a exemplo do procedimento padrão adotado nas colunas anteriores.
TABELA 31 - PESO POR CRITÉRIO ADOTADO DE SELEÇÃO
CRITÉRIOS DE
SELEÇÃO
CONCEITO PESO
Acessibilidade A fonte é acessível, fácil e pida de ser contactada,
pessoalmente, telefone ou mail.
Acuidade/ Credibilidade
Validação
Relaciona-se às fontes disponíveis, às quais se tem
mecanismos de aferição de credibilidade.
Atualidade Informação são pertinentes por serem atuais ou, caso
contrário, se o momento requer que seja novamente
publicada.
Bibliografia Fonte é acessível por bibliografia ou ela própria cita
bibliografia e demais fontes documentais utilizadas no
repasse da informação.
Autoria/Conhecimento/
Conteúdo
Fonte tem representatividade ou detém conhecimento
legítimo e reconhecido no assunto sobre o qual presta
informação.
Formato/Design/ Layout Formato da informação é de qualidade ou favorece a
produção da notícia
Objetividade Tem clareza de expressão, e objetividade
Posicionamento Fonte demonstra-se imparcial, ou parcial desde que
explicite seu posicionamento
Proximidade ou
participação no
acontecimento
Fonte está envolvida no acontecimento coberto
Relacionamento Cordialidade, atenção no relacionamento
Retorno/Tempestividade
de resposta
Fonte presta a informação no tempo certo necessário às
rotinas da mídia
Fonte: Elaborada pela autora AGO/2005
Enfim, a sexta coluna, TAB.32, p.240, destina-se ao registro dos
atributos de qualidade gerados na produção da notícia, com o uso das fontes
abordadas, tendo por base os níveis intrínsecos e contingenciais de MARCHAND
(1990), pois o nível transcendente foi contemplado na coluna 03 (três), que diz
respeito à missão jornalística. Agrupamos alguns atributos por estarem estritamente
ligados entre si, conforme literatura vista e nossa percepção na análise de dados.
Deixamos de fora a ‘parcialidade’, por entendermos que ela seja inerente à
qualidade da informação. Como vários autores defendem que a ‘objetividade’ se
expressa na ‘linguagem’ (atributos contingenciais), unimos os dois atributos em uma
categoria. A aferição de pesos por atributo, que pode variar de 01 a 20 pontos,
deve ser discutida pelo grupo, gerando um gabarito prévio, que norteará o
preenchimento da coluna ‘seis’ do modelo de avaliação. Pontuar-se-á, também
apenas o atributo mencionado de maior peso, conforme procedimento padrão.
TABELA 32 – ATRIBUTO DE QUALIDADE GERADO
ATRIBUTO
GERADO
CONCEITO PESO
Abrangência A informação repassada pela fonte, pelo caráter público,
diz respeito a uma extensa região geográfica.
Atualidade Relato no ritmo de produção da informação.
Confiabilidade/
Validade
Nível de credibilidade e legitimidade da fonte e do meio.
Possibilidade de apurar dos dados.
Conteúdo/Completeza/
Aprofundamento
Análises, relacionamentos com o contexto, inclusão de
detalhes, profundidade.
Formato/Design/
Layout
Formato agradável, uso de fotos, cores, diagramação
etc.
Linguagem/
Objetividade
Coloquial, formal, clara, correta, elegância de estilo,
conduzida pela objetividade
Pertinência Dizer respeito ao público a que se dirige
Precisão Exatidão, correção, relato fiel ao fato representado
Relevância Ser útil ou fazer sentido para a comunidade
Repercussão/ Impacto Informação da fonte causa grande impacto junto ao
público e pode desdobra-se em novos relatos
Fonte: Elaborada pela autora AGO/2005
Após o preenchimento de todas as colunas, com base nos seus
respectivos gabaritos, soma-se o total de cada coluna e apura-se a média final. O
máximo que cada uma das cinco colunas pode atingir é 20 pontos Enfim, a coluna
sete trará o somatório de cada linha, sinalizando que fonte contribuiu mais
positivamente para o alcance final do ‘fator indicativo de qualidade’ da última célula,
que representa a soma das médias de cada coluna. Os resultados devem, enfim,
ser discutidos pela equipe.
Forjaremos um exemplo para melhor compreensão do funcionamento
do modelo de avaliação. Suponhamos que um jornal tenha optado por promover a
discussão avaliativa sobre fontes em debates a serem conduzidos pelos editores
com suas equipes, com periodicidade e horário pré-estabelecida: 9h da manhã da
penúltima terça-feira de cada mês. O processo inicia-se com o editor. Cabe a ele,
ou a quem delegar, selecionar uma notícia para debater. Imaginemos que tenha
sido escolhida uma reportagem sobre as condições de saúde da população de Belo
Horizonte, em que as fontes utilizadas tenham sido: IBGE, médico especialista,
presidente de uma entidade de classe e uma testemunha, conforme TAB. 33, p.241.
TABELA 33- EXEMPLO DE PREENCHIMENTO DO MODELO – ETAPA 1
VEÍCULO: JORNAL AGORA DATA: 25/08 FATOR INDICATIVO DE QUALIDADE:
EDITORIA: LOCAL MATÉRIA/REPORTAGEM OU NOTA: Condições de saúde na Grande BH
1
FONTE
2
TIPO
PESO
3
INTERESSE
PESO
4
MISSÃO
PESO
5
CRITÉRIO DE
SELEÇÀO
PESO
6 ATRIBUTO
GERADO
PESO
7
TOTAL
IBGE
Médico
Presidente
Entidade
Testemunha
SOMA
Total itens
Média Final
Fonte: elaborada pela autora NOV 2005
O editor pede a alguém para preparar as planilhas para aferição de
pesos, que se constituirão os gabaritos (TAB.28 a 32, p. 237 a 240) das colunas 02
a 06, em cinco folhas de cartolinas, disponibilizados de forma bem visível no local
da reunião. Em seguida ele prepara a planilha, preenchendo o cabeçalho e a
primeira coluna, conforme quadro a seguir. Providencia tantas cópias quanto forem
os integrantes de suas equipes. Ou seja, no início da reunião, os participantes têm
em mãos o quadro anterior. Discutem os gabaritos das colunas 02 (dois) à 06 (seis),
registrando um por um. Suponhamos que os gabaritos acordados tenham sido os
relacionados na FIG 8, p.242, extraídos conforme TAB. 28 a 32, p. 237 a 240.
COLUNA DOIS COLUNA TRÊS COLUNA QUATRO
TIPO PESO TIPO PESO ATRIBUTO GERADO
PESO
Autoridade 15 Anunciante
Grupo político
05 Educar 20
Celebridade 05 Empresa de Comunicação 05 Entreter 05
Documental 20 Fonte 10 Informar 10
Especialista 15 Jornalista ou editor 10 Interpretar 15
Pessoal 05 blico 20
Privada 05
Pública 20
Testemunha Ocular 20
COLUNA CINCO COLUNA SEIS
CRITÉRIOS DE SELEÇÃO PESO ATRIBUTO GERADO PESO
Acessibilidade 10 Abrangência 10
Acuidade/ credibilidade/validação 20 Atualidade 10
Atualidade 10 Confiabilidade/ Validade 20
Bibliografia 05 Conteúdo/Completeza/Aprofundamento 20
Autoria/Conhecimento/ Conteúdo 20
Formato/Design/ Layout
10
Formato/Design/ Layout
05 Linguagem/ Objetividade 10
Objetividade 05 Pertinência 15
Posicionamento 10 Precisão 20
Participação no acontecimento 20 Relevância 20
Relacionamento 10 Repercussão/ Impacto 10
Tempestividade de resposta/ favo-
recimento das rotinas produtivas
20
FIGURA 8 - EXEMPLOS DE PREENCHIMENTO DAS COLUNAS DO MODELO
Fonte: elaborada pela autora NOV 2005
A seguir, a equipe
discute o preenchimento das linhas da planilha final,
registrando os itens de cada coluna, de forma bem participativa e interativa. Apura-
se a soma de pontos por coluna, assim como as médias. Deve-se somar o total de
cada coluna e divide-se o resultado pelos número de itens ou fontes avaliadas.
Suponhamos que o preenchimento tenha ocorrido conforme TAB 34, p.243 a seguir:
TABELA 34 – MODELO PREENCHIDO
VEÍCULO: JORNAL AGORA DATA: 25/08 FATOR INDICATIVO DE QUALIDADE: 81,25
EDITORIA: LOCAL MATÉRIA/REPORTAGEM OU NOTA: Condições de saúde na Grande
BH
1
FONTE
2
TIPO
PESO
3
INTERESSE
PESO
4
MISSÀO
PESO
5
CRITÉRIO
DE
SELEÇÀO
PESO
6 ATRIBUTO
GERADO
PESO
7
TOTAL
IBGE
Documental
Pública
20
Comunidade
20
Informar
10
Acuidade
20
Validade
20
90
Médico
especialista
Especialista/
15
Jornalista
10
Interpretar
15
Conhecimen
to
20
Conteúdo
20
80
Presidente
Entidade
Autoridade
pessoal
Privada
15
Fonte
10
Informar
10
Autoria
20
Validade
20
75
Testemunha Ocular
20
Jornalista
10
Informar
10
Precisão
20
Precisão
20
80
SOMA 70 50
45
80
80
Total de
fontes
04 04
04
04
04
Média Final
17,5 12,5 11,25
20 20
81,25
Fonte: elaborada pela autora NOV 2005
Apurou-se um fator indicativo de qualidade’ de
81,25
pontos. A
coluna sete trouxe um somatório simples de cada linha, referente a cada fonte, cujos
números auxiliam nas reflexões. No caso da matéria acima, por exemplo, a
comparação entre as fontes leva-nos a crer o IBGE tenha contribuiu mais
positivamente para a qualificação da notícia.
Uma vez completado o preenchimento, a equipe discutiria os
resultados apurados. O ‘indicador qualitativo’ estaria satisfatório? O que fazer para
melhorá-lo? Estariam corretos na aferição de pesos? Que modificações são
necessárias? Em seguida, a cobertura do mesmo assunto feito pela concorrência
poderia ser posta em avaliação por iguais critérios, para efeito comparativo. Nesse
caso, o modelo de avaliação passaria a fazer ainda mais sentido, fomentando
melhor reflexão sobre o papel da fonte.
Enfim, lembramos que a criação do modelo visa fomentar o
posicionamento crítico perante a questão do processo seletivo de fontes e sua
contribuição para o processo de qualificação da informação, propondo-se ajustes às
necessidades do usuário.
Alternativamente, as reuniões de avaliação de fontes poderiam ser
acompanhadas por um especialista, para que, continuamente, analisasse a
percepção dos profissionais sobre o fenômeno da qualidade da informação,
confrontando-a com análise sobre as necessidades e interesse dos usuários,
manifestadas nos contatos que esses estabelecem com os órgãos de imprensa.
A apresentação do modelo buscou o formato mais simples possível, de
forma a possibilitar sua aplicação com recursos facilmente dispoveis. No entanto,
sua apresentação visual pode sofisticar-se O cuidado visual poderia contar com a
colaboração de publicitários e designers da empresa de comunicação, o que
ampliaria a discussão para além da sala de redação.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
“A comunicação implica um diálogo entre sujeitos mediado pelo objeto
de conhecimento que, por sua vez, decorre da experiência e do trabalho
cotidiano. Ao limitar a comunicação a uma relação entre sujeitos
necessariamente iguais, toda relação de poder fica excluída. O próprio
conhecimento gerado pelo diálogo comunicativo será verdadeiro e
autêntico quando comprometida com a justiça e a transformação social.
A comunicação é, portanto, dialógica. (LIMA, 2003:64)
A presente tese refletiu sobre a participação das ‘fontes formais’ no
processo de produção da notícia e, conseqüentemente, na qualidade da informação
jornalística. A jornada impôs vários desafios, dentre eles: a escassez de referências
na literatura sobre ‘fontes’ e a imprecisão dos conceitos: ‘qualidade de informação’ e
‘informação’. Esse cenário motivou-nos a contemplar, entre nossos objetivos o
esforço de uma elaboração teórica, que colaborasse para o avanço da discussão
sobre o tema. Nesse sentido, buscando atender ao rigor científico, elaboramos um
referencial teórico, às luzes dos principais paradigmas que regem as ciências
sociais, que sustentou toda a argumentação da tese, que enquadramos como
construtivista. Com isso, podemos dizer que, dentre as contribuições trazidas pela
investigação, destacam-se a elaboração de teoria analítica sobre ‘qualidade de
informação’ e ‘fontes jornalísticas’.
Ao propormos a investigação sobre a problemática das fontes,
acreditávamos estar diante um dos mais significativos fatos que interferem no o
sonhado avanço qualitativo da informação disponibilizada para a sociedade.
Queríamos investigar como asfontes formais’ participam do processo de construção
da notícia e, conseqüentemente, como colaboram para os atributos de qualidade de
‘informação jornalística’ percebidos pelo senso comum. Por ‘fontes formais’,
denominamos as organizações dos setores público ou privado, representadas por
profissionais responsáveis pela disseminação de informação nas organizações e os
especialistas (profissionais liberais com curso superior ou com notório saber em
algum assunto).
Defendendo o comprometimento do cientista social com o processo de
transformação social, esclarecemos, através da abordagem teórica, o caminho
epistemológico que conduziu nosso percurso, permitindo-nos: contextualizar os
conceitos com os quais lidamos, elaborar uma revisão teórica e analítica sobre o
tema das fontes, tão pouco explorado na academia, de forma a contribuir para
investigações futuras; propor um metodologia para pesquisa de campo e analisar os
dados obtidos.
Entendemos que a elaboração de conceitos na ciência da informação
deve incorporar elementos de ciências sociais, sobretudo na questão das fontes,
uma vez que são atores que interagem e participam ativamente da construção
objetiva e subjetiva da realidade social.
Ao revermos historicamente os caminhos tomados pela metodologia
das ciências sociais, ficou claro que os conceitos com os quais os cientistas
trabalham são fortemente influenciados por sua época. Em que pese a profusão de
linhas existentes a partir da modernidade, as visões de Durkheim, do funcionalismo
sociológico, de Marx, de Weber e da visão antropológica de Lévi-Strauss, ainda
hoje, conduzem nossos pensamentos e a construção de conceitos, fenômeno
explicado pelo fato de a “sociologia ter-se tornado a “disciplina- piloto” das
pesquisas na área social, guiando-nos nas ‘estratégias discursivas” e na
“argumentação” que utilizamos.
Como é essencial no campo das ciências sociais, começamos por
expor nosso conceito de sociedade. Assumimos entendê-la na concepção de
sistemas, sob o paradigma ‘durkheimiano’, cuja dinâmica é regida pelo modus
operandi burocrata, tão bem descrito por Weber, e tecida por ações interativas
voltados para a geração de sentido entre atores que interagem em contextos
materializados de relações de produção, tal como descreve Marx. Assim,
compreendemos a sociedade como um complexo de relações sociais, cujos
membros interagem historicamente de acordo com códigos culturais, de conduta,
morais, valores, creas compartilhados em ambiente permeado por contradições,
conflitos e relações de poder. Em nosso ponto de vista, três dimensões suportam a
estrutura social: o espaço, o tempo e os indivíduos, em suas diversas formas de
associações, que contratam acordos de convivência, segundo suas necessidades e
seus interesses. Três tipos principais de forças permeiam a construção da realidade:
a ação social objetiva, a ação subjetiva e as ações dos diversos contextos. Os
atores sujeitam-se à consensual ordem reguladora, partilham códigos lingüísticos,
padrões de conduta, leis, normas e regras. As práticas sociais, ao mesmo tempo em
que se guiam pela ordem estabelecida e a perpetuam, são foas potencialmente
transformadoras. Nesse sentido, a geração, a disseminação e o consumo de
informação caracterizam o processo comunicacional, locus da mediação de
interesses, que, dialeticamente, colabora para consolidar as foas objetivas e
promover a interação de subjetividades que levam às ações inovadoras. Assim, o
papel das ciências sociais é compreender os fenômenos e as relações sociais em
todas as suas dimensões, colaborando para a busca de soluções dos problemas
que se apresentam à sociedade.
Nosso conceito de informação foi construído sob a visão de sociedade
que apresentamos. De acordo com a revisão de literatura, percebemos que a
procura de conceitos em ciência da informação busca atender a um pré-requisito
metodológico. Mas, de maneira geral, ela é entendida como fenômeno da
comunicação humana. Propusemos que a informação pudesse assumir conotações
simbólicas, mas que, via de regra, favorecesse a socialização entre indivíduos. A
ação social visaria integrar os atores ao ambiente social. Amparando-nos em
GIDDENS (1997:2002), defendemos que a informação, gerada na interação dos
grupos sociais com os diversos sistemas abstratos, fortalecesse a confiança dos
indivíduos no conhecimento perito e na funcionalidade do macro-sistema. Assim,
eles conquistariam a segurança ontológica, essencial para construírem sua
identidade. Tomando o paradigma weberiano, compreendemos a informação no
contexto da ação social, podendo ser entendida como um dos fios com que se tecia
a construção da realidade, sendo o resultado, tanto da interlocução de ações
sociais objetivas como de ações subjetivas. Amparamo-nos, também, no
paradigma marxista (ou marxiano), focando a ‘informação jornalística’ no contexto
das relações de produção, em que os principais atores são: sistema jornalístico, as
‘fontes formais’ e os jornalistas, todos eles envoltos nos meandros burocráticos e
relações de poder.
Trouxemos um olhar alternativo para se abordar o conceito de
‘qualidade da informação’. Preferimos trabalhar com o conceito de ‘qualidade’ como
‘fenômeno multidimensional’, inserido na base tridimensional da sociedade,
composta pelo espaço, tempo e usuário. Este fenômeno está compreendido entre
as dimensões do ‘espaço’, do ‘tempo’, e da ‘teia intersubjetiva’ de usuários: os
sistemas de informação, as fontes, os jornalistas e os demais indivíduos dispersos
no contexto social. Cada um desses atores apresenta necessidades e interesses,
que comem intrinsecamente o conceito de ‘qualidade de informação’. Na
dimensão ‘espaço’ enquadramos a dinâmica das relações sociais, políticas (relações
de poder) e econômicas (modos e meios de sobrevivência). A dimensão ‘tempo’
envolve o contexto histórico e sistema de valores éticos, morais e filosóficos. A
dimensão ‘usuário’ envolveu os diversos atores sociais (fossem eles produtores,
fontes ou usuários), seus interesses e necessidades de informação, todos eles
sujeitos à influência da ação objetiva da realidade, na qual projetavam sua
subjetividade, em ações significativas. O fenômeno contempla a interveniência
intermitente das ts dimensões e suas ramificações, numa teia de capilaridade
complexa de possibilidades, que envolvem processos contínuos e dialéticos de
comunicação, permeados por fluxos de informação, nos quais a ação das fontes é
uma constante. Essa visão nos foi muito útil, pois esclarece porque os estudos que
248
exploram o tema de ‘qualidade da informação’ tendem a se concentrar em
excelência de sistemas, fatores intervenientes; informação como produto; ou na
sua relação com sociabilidade e como instrumento político. Todas essas abordagens
merecem ser eleitas como categorias analíticas de pesquisa. Compreendemos
melhor porque os atributos de qualidade de informação são, na verdade, uma
construção social, que guarda forte influência do paradigma moderno.
Pelo exposto, podemos dizer que várias formas de procurarmos o
aprofundamento sobre a questão da ‘qualidade da informação’, principalmente
quando a abordagem se abrigar sob qualquer um dos quatro paradigmas centrais
das ciências sociais: o durkheimiano, o weberiano, o marxista (marxiano) ou o
estruturalista. No entanto, nosso olhar considerou a construção da realidade
objetiva e subjetiva, tal como apregoam BERGER e LUCKMANN (1985), permeada
continuamente por fluxos comunicacionais, que expressam uma teia de interesses.
Assim, acreditamos que o avanço na reflexão sobre ‘qualidade de informação’
pode ser possibilitado, de fato, pela compreensão, diálogo e interação dos vários
atores envolvidos em seu processo, quer eles sejam produtores, disseminadores ou
usuários de informação. Partimos ainda, do pressuposto de que todos esses atores
devessem buscar o comprometimento com o desenvolvimento social auto-
sustentável, missão em que a academia muito pode colaborar .
Nossa pesquisa demonstrou que a concepção de qualidade de
informação’, por parte das ‘fontes formais’, liga-se intimamente à preservação de
imagem dos sistemas peritos. Por parte da imprensa, a preocupação com a
produção é grande, sendo a notícia o resultado de um trabalho. Dessa forma, a
visão predominantemente concebe a ‘informação’ como um ‘produto’. A noção de
qualidade liga-se a alguns atributos considerados essenciais: precisão,
confiabilidade, validade, relevância, linguagem e formato.
No jornalismo, a discussão sobre qualidade passa, ainda, pelo
cumprimento de sua missão: informar, entreter, interpretar e educar a população,
que se enquadra nos atributos transcendentes na classificação de MARCHAND
(1990). No entanto, percebemos que as nocias geradas tendem a ser mais
informativas e “‘entretenitivas”. Quando se busca a interpretação, recorre-se às
fontes, principalmente aos especialistas de nível de escolaridade universitária. Já as
preocupações com o caráter educativo demonstram ser mais teóricas do que
práticas.
A tese levanta a questão das fontes e une a discussão com uma teoria
para conhecer o jornalista. Revelou o repórter como um trabalhador de um sistema
perito, sujeito à toda sorte de contradições e relações de poder do processo
produtivo nas redações dos jornais. Procurou preencher uma lacuna deixada pelo
paradigma da manipulação de Tuchmann, demonstrando que o ritual estratégico na
busca da verdade jornalística pertence a um contexto social mais amplo, que é
permeado pela da teia relações de interesses de diversos atores. Percebemos que
dentre vários os interesses envolvidos estão: os da organização jornalística e suas
múltiplas fontes. Isto nos levou a concluir que a noção de interesse fosse inerente ao
conceito de ‘qualidade de informação’. Seus pontos de vista, objetivos e resultados
a alcaar eram os verdadeiros motivadores das ações desses sistemas. Para as
fontes, ‘ qualidade é a informação publicada na mídia, com formatação, conteúdo e
posicionamento que lhe favoreçam. Sua noção de precisão é referendada pelos
seus interesses. Por outro lado, para a imprensa, ‘qualidade da informação’ é, em
tempo limitado, relatar fielmente um acontecimento, de forma preservar sua
precisão, validando-a com o depoimento de uma fonte confiável. Podemos pensar,
ainda, que os donos das empresas de mídia, cujos interesses políticos e econômicos
confiram outra noção de ‘qualidade’: “a informação controlável’.
No entanto, a dinâmica da comunicação é dialógica e dialética. Tanto
as fontes como a imprensa declararam que se guiavam por um horizonte ético
comum: os interesses da comunidade. Dessa forma, entendemos que a discussão
sobre o conceito de qualidade da informação pode avançar através de contínuo
processo de negociação entre as partes. Para isso, é necessário que tanto os
sistemas jornalísticos como as fontes, incluindo os especialistas, estimulem o
diálogo com seus públicos, de forma que a teia de interesses seja evidenciada e
possa ser discutida. Infelizmente, apuramos que, apesar do crescente contato do
público com a imprensa e com as fontes formais, nenhum profissional especializado
analisa as necessidades do seu público.
Em nossa pesquisa de campo, entendendo que os atores
investigados,_ as fontes formais e os jornalistas_, inserem-se na perspectiva
burocrática weberiana
99
, constituindo cada um deles um sistema perito (GIDDENS,
1991), dentre tantos que compõem o modelo funcional e orgânico da sociedade.
Procuramos mapear a graduação dos profissionais abordados; investigar
necessidades e comportamento de busca de informação; compreender os objetivos
de produção de informação e sua relevância para a comunidade; identificar os
fatores que interferem na busca e produção de informações; identificar as políticas
de seleção de fontes de informação; descobrir as categorias de fontes utilizadas,
descobrir os indicadores de avaliação de fontes utilizados na prática e visualizar
como as fontes contribuem para os atributos de qualidade da notícia .
A prática comprovou várias suposições, o que esperávamos, uma
vez que nos abrigamos no paradigma do newsmaking, que elege o estudo das
rotinas produtivas como categoria de análise. Acreditamos que a abordagem
marxista nos tenha permitido refletir criticamente sobre a pxis, munindo-nos de
uma mente crítica sobre o processo observado, postura essencial para apreendê-lo
e propor inovações. Tomando de empréstimo a abordagem do newsmaking,
desenvolvemos reflexão teórica e analítica sobre fontes de informação, sendo a
presente contribuição trazida por este estudo. Vimos que as ‘fontes formais
participam decisivamente no processo de produção jornalística, sejam elas
organizações ou especialistas. Tanto fontes como os jornalistas guiam-se pelo
interesse da comunidade como horizonte ético. Esse compromisso aumenta
99
WEBER (1999) considera que os jornais não sejam simplesmente empresas capitalistas com a
ânsia do lucro, mas também organizações políticas que funcionam como clubes políticos. Ou seja, ele
entende que falar de notícias é falar de política no âmago da sociedade.
gradativamente, à medida que cresce a proximidade do público com os sistemas de
informação jornalística e com o ambiente organizacional, possibilitado pelo avanço
das tecnologias interativas de comunicação. Esse cenário parece favorecer o tão
sonhado debate entre fontes, imprensa e comunidade, essencial para que a
informação contribua para a comunicação democrática e politicamente
comprometida com o desenvolvimento social holístico e sustentável entre os
diversos atores sociais.
Os depoimentos comprovaram algumas suposições. Apurados os
resultados, a análise dos dados coletados, às luzes do referencial teórico,
possibilitou-nos apresentar ‘modelo de avaliação de fontes’, que pudesse colaborar
no debate e aprofundamento crítico sobre o tema no ambiente jornalístico.
Acreditamos que esta se tenha constituído outra contribuição do estudo. O ‘modelo
de avaliação de fontes’, apresentado na pretende ser flexível, aberto a sugestões e
modificações de seus usuários, a princípio, jornalistas. Porém, ele pode ser
adaptado para o ambiente das ‘fontes formais’ ou ser utilizado nas escolas ou em
programas de conscientização com a comunidade, pois vimos que o compromisso
ético com a ‘qualidade da informação’ é desafio para todos.
Ao investigarmos a formação de jornalistas e dos ‘disseminadores de
informação’ nas fontes, descobrimos que a maioria é graduou-se em comunicação
social. A busca do reconhecimento do espaço é uma preocupação recorrente. A
categoria de comunicadores carece de órgão regulamentador unificado, que zele
pelo exercício profissional no mercado, invadido por profissionais de outros campos.
As razões para isso podem começar na academia, que, afastada do mercado,
apresenta possíveis deficiências em sua grade curricular, formando “jornalistas,
relações públicas e publicitários, radialistas e outras especialidades, separações
que, aparentemente, não se justificam, visto que são, na verdade, profissionais de
imagem e comunicação. Segundo LIMA (2002) a profusão conceitual caracteriza o
campo da comunicação na academia. Por ser de natureza interdisciplinar, as teorias
252
são muito amplas, dificultando o avanço de conceitos consensuais ordenadores de
um discurso acadêmico mais consistente, que repercuta na prática profissional.
A confusão em torno dos órgãos que representam as categorias pode
explicar porque alguns entrevistados demonstraram estar envoltos em problemas de
auto-estima e de construção de identidade, questão que mereceria aprofundamento
em pesquisa no campo da sociologia das profissões. Suspeitamos que a identidade
bem definida favorecesse a atuação de um profissional e o foco na otimização de
suas atividades, dentre elas a responsabilidade de gerir e produzir a informação. As
pessoas entrevistadas, que possuem uma posição formal reconhecida e legitimada,
demonstraram postura pró-ativa, competência na gestão da informação, além de
possuírem aguçado senso ético e crítico da dimensão social do papel que
desempenham, repercutindo em avanço qualitativo considerável de seu trabalho.
Os vários especialistas que se fazem visíveis na mídia, os guardiões do
conhecimento na expressão de GIDDENS (1997: 2002), assumem-se como técnicos
e peritos em determinados assuntos. Ao disseminarem parte de seu conhecimento à
imprensa, eles o fazem sem maiores reflexões sobre as repercussões sociais e
políticas de suas declarações. Muitos se alienam no domínio de um saber técnico,
esquecendo-se da dimensão social do conhecimento que acumulam.
Nesse sentido, a universidade assumiria papel fundamental para suprir
essa lacuna, oferecendo disciplinas humanísticas nas grades curriculares dos
futuros especialistas, elaboradas de forma a incentivar o espírito crítico e a
responsabilidade social daqueles que ingressam no mercado de trabalho. Não tendo
sido enquadrados por nós como ‘fontes formais’, há ainda os especialistas não
acadêmicos- atletas, artistas e demais celebridades-, cuja visibilidade na imprensa é
enorme, incorporando as informações de caráter de entretenimento.
A classificão das fontes é feita de forma bem dispersa,
despadronizada e assistemática. Prevalece, no entanto, a classificação intuitiva de
fontes, segundo: a natureza estatutária, se “pública” ou da iniciativa “privada”;
hierarquia de cargos (se autoridade ou não); o histórico de relacionamento com o
repórter (se confiável e acessível ou não); especialidade por conhecimento perito
(se legítimo), ou por grau de participação no acontecimento midiático (se
testemunha, personagem ou analista). A classificação orienta a seleção de fontes.
Fontes ligadas ao poder público, autoridades, especialistas de mais cil acesso e
pessoas envolvidas nos fatos são priorizadas para serem ouvidas pela imprensa.
A investigação comprovou que a imprensa tem declarada prefencia
pelas fontes ‘pessoais’. Por isso, somos levados a crer que o carisma das pessoas
que prestam depoimentos à imprensa torna-se, também, fator interveniente na
noticiabilidade. Até então, trabalhávamos com a idéia de subjetividade apenas entre
os profissionais de imprensa, por parte da disseminação, e os usuários, por parte da
interpretação. No entanto, podemos dizer que a interlocução subjetiva abrange
fontes, produtores e usuários, gerando uma ação social intersubjetiva, que não
pode ser alijada do conceito de ‘qualidade de informação’.
A seleção evidencia a valorização da autoridade institucional formal e o
conhecimento técnico perito legitimado da fonte, pois são essenciais para validar
uma informação. Fatos pitorescos, porém, acontecem. Algumas fontes, como
Roberto Jefferson, mentem, ferindo um dos atributos de qualidade da informação
mais valorizado pela imprensa: a precisão. No entanto, a representatividade do
cargo de deputado o perpetuou como fonte. Dessa forma, outra reflexão nos depara.
Até que ponto as declarações das fontes, reconhecidamente legítimas, mas de
credibilidade duvidosa, podem interferir sobre a validade e a precisão dos
acontecimentos, ou seja, sobre a verdade dos fatos jornalísticos?
Os critérios de avaliação evidenciaram a importância de autoria,
acuidade e acessibilidade da fonte. Chamou-nos a atenção que a atualização não é
um dos requisitos básicos cobrados da fonte. Ao contrário, quanto mais tradicional e
sólida, mais confiável. Para o jornalismo, a atualidade centra-se no acontecimento.
Este fato é aparentemente contraditório, pois a atualidade constitui um dos mitos da
informação jornalística.
O conhecimento procurado nos especialistas e socializado pela mídia
tende a ser superficial. GIDDENS (1991, 1997, 2002) explica que as informações
dos sistemas abstratos são repassadas de forma a não torná-los vulneráveis.
Sabendo apenas o mínimo, os indivíduos continuam confiando na perícia técnica do
sistema, que conserva sua imagem e legitimidade. No entanto, o próprio GIDDENS
(1997, 2002) afirma que os especialistas, por deterem o conhecimento perito,
dividem o poder na estrutura interna de um sistema, sendo, por isto, potenciais
agentes de mudanças. Para ele, essa seria a alternativa para se abrir a “jaula de
ferro” da burocracia descrita por WEBER (1999)
100
. Resta-nos perguntar como seria
desencadeado o processo de mudança? Um dos caminhos seria através da
interação com o público? As fontes não deveriam rever a superficialidade com que
passam seus conhecimentos, contribuindo para educar a comunidade e gerar
usuários críticos e conscientes? As informações de feedback, fornecidas nos pontos
de acesso pelos indivíduos, poderiam ser analisadas pelos especialistas e
subsidiarem a otimização dos processos do universo dos sistemas peritos, dentre
eles, fontes formais’ e o sistema jornalístico. Dessa forma, tornar-se-ia possível a
revisão de normas e procedimentos burocráticos. Se escaparíamos da “jaula de
ferro”, não sabemos, mas inovações no seu interior seriam viáveis.
Enquanto o conhecimento de peritos tende a ser relatado de forma
superficial, depoimentos das vidas cotidianas de ídolos e artistas, assim como suas
intimidades, tendem a ser explorados em profundidade pela mídia, atendendo a
propósitos sensacionalistas. A prática de conferir grande visibilidade às banalidades
corrobora a denúncia de BOURDIEU (1997), para quem a mídia exagera na missão
de entreter a comunidade, desviando os indivíduos de agir sobre os problemas reais
que os afetam. Nessa linha de raciocínio, os indivíduos estariam vulneráveis, por
acomodação, que poderíamos chamar de ‘alienação informacional’.
100
Não nos cabe analisar as críticas de GIDDENS a WEBER, pois a reflexão extrapola a proposta de
nosso trabalho.
As ‘fontes formais’ desenvolvem estratégias de relacionamento com a
imprensa, cuidando atentamente do contato com os jornalistas. Procuram facilitar as
rotinas produtivas dos repórteres. As mais ativas chegam a oferecer informação em
formato pronto para ser veiculado, como vimos. Fatos como esses são considerados
pela imprensa como competência e não como estratégia interessada de
disseminação de informação, o que sinaliza falta de postura mais crítica da imprensa
no tratamento com as fontes.
De maneira geral, a fala de nossos entrevistados, tanto fontes como
jornalistas, externaram que o relacionamento é, aparentemente, cortês e,
essencialmente, conflituoso. Amparados pela escassez do tempo, essa é uma
contradição sublimada pela acomodação às rotinas produtivas, o que explica porque
percebemos o comportamento de busca de informação entre os jornalistas mais
passivo do que esperávamos.
A ação das ‘fontes formais’ chamou-nos a atenção sob diversos
aspectos. Além de serem as portadoras e aplicadoras do conhecimento perito,
suportam todo o aparelho de dominação que caracteriza a esfera social. Cabe-nos
propor uma reflexão. Como as ‘fontes formais’, ao ganharem visibilidade na mídia,
interferem nos três tipos ideais de dominação descritos por WEBER (1999): a
racional, carismática e a tradicional? Em qual delas haveria uma preponderância?
Tentemos esboçar uma resposta, permitindo-nos algumas reflexões.
Vimos que a imprensa prioriza a autoridade e o conhecimento perito e
legitimado da pessoa ouvida. Lembramos que a dominação racional apóie-se,
justamente, em regras, normas, descrição de atribuições e hierarquia de cargos.
Ora, se o conhecimento transmitido é superficial, ao agir dessa forma, fica claro que
a mídia prioriza a validação ao conteúdo. Portanto, ela evidencia e igualmente
valida a dominação racional. Por outro lado, a imprensa trabalha diversos mitos em
heróis religiosos, artistas, desportistas e em outros ídolos populares-, o que reforça a
dominação carismática.
A dominação tradicional merece atenção especial. Ela se faz de certa
forma presente no formato (layout) pré-determinado dos jornais ou no fato de o
agendamento de notícias seguir o calendário cultural e hábitos repetitivos e
tradicionais da sociedade. No entanto, o culto ao “novo”, ao “bizarro”, às
curiosidades e o trato sensacionalista com que alguns acontecimentos são
relatados, como, por exemplo, crimes e denúncias, revelam que a mídia favorece a
quebra da ação de valores éticos, pertencentes à esfera da dominação tradicional.
Alguns acontecimentos, denominados pela imprensa de soft”, são desprezados por
não gerarem impacto. Iniciativas comunitárias bem sucedidas na área de educação
também não têm muita visibilidade. A preferência pela denúncia caracteriza o
jornalismo, como lembram TALESE e BUCCI (2000). Ao denunciar os sistemas
peritos, o jornalismo pode abalar a segurança ontológica dos indivíduos, razão pela
qual o sensacionalismo gera tanta repercussão
101
.
Se as fontes formais, por um lado, contribuem para reforçar a
dominação racional, por outro, a contínua recorrência às suas autoridades e aos
especialistas internos evidencia duas tradições: o culto à figura da autoridade e a
perpetuação da autoridade das instituições acadêmicas como instâncias
legitimadoras do conhecimento perito dos especialistas, fatos previstos por
WEBER (1999). A universidade é, pois, a instância fundante de legitimação, o que
implica grande carga de responsabilidade social.
Segundo GIDDENS (1997:2002), nos últimos tempos, vivemos o
fenômeno de “destradicionalização”, com surgimentos de várias possibilidades de
101
A pesquisa de CHAVES (2000) abordou o impacto do negativismo sobre a ‘noticiabilidade’.
Segundo muitos entrevistados, os jornais abusam da veiculação de notícias negativas, como forma
de garantir um mercado consumidor, pois a audiência se sensibiliza muito com o sensacional. A
autora buscou compreender esse fenômeno com ajuda de GIDDENS (1991). Como a sociedade
ocidental passou a conviver na modernidade numa nova relação espaço X tempo, em que os
indivíduos adquirem a “segurança ontológica” através da confiança nos “sistemas abstratos”,
qualquer acontecimento que coloque em risco o perfeito funcionamento’ desses “sistemas” atingiria a
estabilidade psíquica e emocional das pessoas. Elas se veriam ansiosas e sentiriam sua “segurança
ontológica” ameaçada. Assim, o impacto de acontecimentos negativos decorre, na verdade, da
quebra da confiança na lógica do modelo funcional e racional do projeto da modernidade ocidental, o
que é interpretado como ameaça à própria sobrevivência dos seres humanos.
constituição de novas tradições. A modernização tardia trouxe o fenômeno da
individualização, com amplos reflexos na construção da identidade, impondo
desafios e a reconstrução radical de poticas públicas emancipatórias. De seu
ângulo, BOURDIEU (1998) alerta que os indivíduos enfrentam, hoje, dificuldades
para se organizarem e exercerem sua cidadania, de forma a se engajarem na
solução dos problemas sociais que lhe são pertinentes. Pela responsabilidade social
das universidades, elas devem estar atentas a este cenário.
Os depoimentos dos entrevistados comprovaram a máxima de
Habermas, segundo a qual a comunicação midiática tece uma teia de interesses. O
advento das novas tecnologias tem possibilitado maior interatividade entre o público
e a imprensa, assim como entre o público e as fontes. Tal fato traz novos desafios
à agenda de todos os atores.
Como vimos, o jornalismo investigativo exemplifica com maestria a
atuação de fontes interessadas. Há alguns anos atrás, os interesses mais evidentes
presentes na mídia pertenciam ao universo das fontes, das organizações jornalistas,
dos anunciantes e dos próprios repórteres, em que pese o horizonte ético ser o
público. Mas este praticamente o tinha acesso às fontes nem à mídia. O advento
das novas tecnologias trouxe esse ator à cena, até então visado como um mercado
puramente consumidor. A interatividade possibilitada pela internet e centrais de
atendimento abre espaço para que os interesses dos usuários recebam tratamento
diferenciado pela mídia. O debate, tão esperado e apoiado por uma série de
intelectuais, traz novas possibilidades para a democratização da informação e maior
responsabilidade da mídia perante a comunidade. Justifica-se, dessa forma, a
reivindicação de BOURDIEU (1997), de que a mídia estimule o diálogo e favoreça a
conscientização da comunidade.
Pelo lado das fontes, as novas tecnologias da comunicação têm
possibilitado o fenômeno da ‘desintermediação’ da mídia como porta-voz das fontes,
que se reportam diretamente a seus públicos. As informações repassadas podem
ser mais trabalhadas e aprofundadas. A interação aumenta a responsabilidade das
fontes para com a gestão da informação como bem público. Por isso, acreditamos
que exista uma tendência à contratação de profissionais especializados no
tratamento da informação. Inspirando-nos em CAPURRO (1990), podemos
reivindicar que esses profissionais assumam de forma competente o papel de
ecologistas, analistas e gestores informacionais. Vale ressaltar que é o campo para
o qual os cientistas de informação muito têm a contribuir.
Diante os fatos, alguns autores defendem que a mídia precise rever
seu papel. Alguns acreditam que a tendência gire em torno de uma postura mais
analítica, em que pese a decisiva participação das fontes formais, sobretudo a dos
especialistas. Mas, recorrendo à missão clássica do jornalismo, poderíamos dizer
que os desafios de informar, entreter, educar e interpretar permanecem. Cabe às
organizações jornalísticas reverem que desafios elas têm realmente cumprido e
como as fontes podem colaborar no cumprimento de sua missão.
Por fim, apoiando-nos em LIMA (2002), defendemos que a discussão
sobre ‘qualidade’ passa pela revisão crítica das fontes, dos jornalistas e do público
sobre o papel da informação na sociedade. Nesse sentido, resta-nos perguntar:
como os diversos atores se posicionam em relação à informação como bem público?
Nossa investigação demonstrou que não existem políticas de gestão e análise de
informação nos jornais. É necessário, pois, estimular este debate, com o qual os
cientistas da informação muito podem colaborar.
Todas essas considerações lembram o apelo de PINTO (1999), que
destaca a importância de se colocar em pauta a discussão sobre novo código de
ética para fontes, jornalistas e usrios. Acreditamos que o local para se
materializar esse debate esteja na academia. Cabe à universidade como instância
preparatória e legitimadora, fomentar a consciência crítica nos alunos dos cursos de
graduação, os futuros especialistas, dentre eles, os profissionais de comunicação e
os cientistas da informação, cujo compromisso ético com a informação mais do que
nunca é imprescindível. Acreditarmos que as pesquisas acadêmicas sobre
qualificação profissional sejam cada vez mais pertinentes.
A postura crítica das fontes, dos profissionais e gestores das empresas
de mídia deve-se estender aos usuários, a serem educados pelos provedores de
informação. Nesse sentido, é válida a atuação de um profissional que acompanhe o
comportamento e a interação desses públicos, com vistas a propor estratégias de
ação em conjunto. Como recorte, pesquisamos as ‘fontes formais’ e os jornalistas,
que atuam em sistemas de informações. Advogamos, porém, que a dimensão do
usuário (público) não pode ser esquecida e merece, sem dúvida, ser priorizada como
campo de estudo pelos cientistas da informação. Ao usuário, caberá, pois, o papel
de eterno aprendiz, estando alerta para analisar a informação que recebe,
observando seu conteúdo, sua origem, o sistema de produção e circulação, tendo
ciência dos agentes, interesses e lógicas envolvidos nesse processo. Tudo isso
requer que o usuário seja educado para os processos necessários, auxiliado por
alguns agentes facilitadores: a mídia, as escolas, as fontes e, como lembra
CANCLINI, o próprio estado. Mas, até que a academia, o estado e as fontes
consigam atender às nossas sugestões, como podemos contribuir para que esta
postura crítica seja alcançada? Inspirando-nos nesta investigação que
desenvolvemos, podemos propor um modelo para avaliação de fontes pela
imprensa, por estudantes de jornalismo ou por profissionais do processo
informacional.
A concepção de ‘qualidade de informação’ que apresentamos leva-nos,
ainda, a compreender que nosso estudo apresentou limitações. Dentre elas,
assumimos que o foco escolhido procurou refletir sobre a participação da ‘fonte
formal’ para a qualidade positiva, e talvez elitista, da informação. Tal postura foi
influenciada pela nossa defesa de que o comportamento do cientista deva contribuir
para a melhoria da qualidade de vida da comunidade a que serve.
Assim, como em qualquer pesquisa, identificamos várias lacunas que
mereceriam outras investigações acadêmicas, ampliando nosso olhar sobre o
fenômeno da qualidade da informação. Mesmo porque, ao lidarmos com a ‘ciência
da informação’ e da ‘comunicação’, pelo caráter interdisciplinar de ambas,
mergulhamos sempre emrteis campos de estudo. Podemos propor alguns temas
para pesquisa na ciência da informação.
Como primeira questão, sugeriríamos uma investigação sobre como a
comunidade avalia as fontes de informação e em que meios a procura. Como
defendemos, a inserção crítica sobre a questão da ‘qualidade da informação’
contempla a participação de todos os atores envolvidos em seu processo. Poderia
ser desenvolvido outro modelo de avaliação de fontes, a partir do olhar cidadão
comum, com suas necessidades e interesses expressos, contrapondo-se ao que
apresentamos. Tal fato colaboraria para enriquecer o debate sobre o assunto.
Sugerimos o segundo tema: investigar como a prática docente
universitária colabora na formação crítica e consciente dos estudantes para que
estes lidem com a informação como um bem público, ao ingressarem no mercado de
trabalho, seja como produtores, fontes ou disseminadores da informação. Vimos que
a responsabilidade da universidade é grande, pois assume o papel de autoridade
legitimadora do conhecimento dos especialistas que se convertem em ‘fontes
formais’, auxiliando muitas vezes na interpretação dos acontecimentos mediáticos.
Como terceira questão, sugerimos investigações que se proponham a
estudar a qualificação e as condições de trabalho do profissional que atua como
responsável pela gestão e disseminação da informação das ‘fontes formais’, sendo
a abordagem aberta, tanto para a ciência da informação como para a comunicação.
No nosso caso, identificamos que muitos enfrentam problemas de auto estima e
construção de identidade, o que requer atenção especial da academia. São várias
as perspectivas possíveis, dentre elas, o mapeamento das funções e análise das
diversas entidades que representam os profissionais de informão.
Trazemos o quarto tema para aprofundamento teórico. Vimos, como
muitos defendem, e a prática comprova, que caminhamos para uma nova relação de
responsabilidades entre ‘fontes e comunidade’ e entre sistemas jornalísticos e
comunidade, o que, impõe um código de ética para as fontes, jornalistas e usuários.
Nesse sentido, vale à pena pesquisar como as políticas públicas incentivam (ou não)
o diálogo entre o público, ‘fontes formais’ e empresas de comunicação.
Para os que apreciam investigações teóricas, sugerimos o quinto
estudo: o aprofundamento analítico da relação dos paradigmas das ciências sociais
e conceito de ‘qualidade da informão’.
Na perspectiva estruturalista, insistimos na sexta proposta: um
trabalho de pesquisa sobre uso estratégico das manchetes, sua interferência no
conteúdo da informação, seu impacto sobre a opinião pública e, conseqüentemente,
sua interveniência sobre o comportamento dos cidadãos. Nesse sentido, essa
proposta poderia ser indicada aos estudiosos de ciências sociais e comunicação,
relacionando os reflexos das informações da mídia sobre a tradição e na recriação
de novos valores culturais.
Vimos que, muitas vezes, o cientista da informação pode colaborar no
avanço qualitativo do processo informacional. Ele pode analisar as sugestões
colhidas junto ao público, tentando, pela conciliação de interesses, contribuir para
otimizar os sistemas de produção e disseminação de informação. Porém, apesar de
necessário, constatamos que ele está quase sempre ausente. Por isso, sugerimos à
academia a sétima proposta de pesquisa, que vise identificar as formas de inserção
do cientista de informação no mercado de trabalho.
Tanto a academia, como os jornais e as ‘fontes formais’ têm como
missão buscar a aproximação com os usuários da informação. O envolvimento de
todos pode promover debates que estimulem a postura crítica entre os usuários em
face do processo informacional, que vai auxiliá-los no exercício do direito de
cidadania, intervindo ativamente na solução dos problemas sociais que lhe sejam
pertinentes. Dessa forma, trazemos nossa última sugestão para pesquisa, na
ciência da informação: como estabelecer estratégias e diretrizes que favoreçam a
formação de postura ctica do público? Enfim, terminamos no exato ponto em que
começamos. Encontramo-nos frente à encruzilhada de novos caminhos, que ratifica
nosso posicionamento: o trabalho do pesquisador tem apenas início.
7. ANEXOS
ANEXO I - ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A FONTE
Bloco 1- Mapear a escolaridade, graduação e cargo
Nome: Cargo: Sexo: Tempo de profissão
Empresa: Empregados: Ramo:
Graduação: Escola: Ano conclusão: Especialização?
Como costuma se atualizar e aprimorar o conhecimento?
Bloco 2- Investigar comportamento de busca de informação dos representantes.
Quais são suas necessidades de informação?
Como busca as informações solicitadas pela imprensa?
Quando procura as fontes internas?
Checa as informações?
Bloco 3 Investigar os objetivos de produção de informação das fontes
Que objetivos atendem quando produz informação para a imprensa?
Identificar estratégias de disseminação de informação fornecida à imprensa;
Com qual periodicidade procura? Quais as estratégias de disseminação de informação à
imprensa?
Com qual periodicidade são procurados pela imprensa?
Quais as estratégias utilizadas para atrair a imprensa?
Bloco 4 - Investigar os fatores que interferem na busca e produção de informações;
Quais os fatores que interferem na produção de informações para a imprensa?
Bloco 5 Identificar estratégias de seleção de informação à imprensa;
Como seleciona as informações que vão para a imprensa?
Bloco 6 - Identificar a percepção das fontes sobre os atributos de qualidade a elas
conferidos pela imprensa;
Que atributos de qualidade lhe são exigidos da imprensa?
Bloco 7 - Verificar percepção das fontes sobre indicadores de avaliação que
jornalistas usam para abordá-las;
Que indicadores a imprensa utiliza para elegê-la como fonte?
Bloco 8- Identificar, na percepção da fonte, em que ela contribui para a qualidade da
informação jornalística
Em que atributo de qualidade de informação interfere?
ANEXO II
QUESTIONÁRIO PARA A FONTE
Bloco 1- Mapear a escolaridade, graduação e cargo das “fontes formais”
Nome: Cargo: Sexo: Tempo de profissão
Empresa: Empregados: Ramo:
Graduação: Escola: Ano conclusão: Especialização?
Como costuma se atualizar e aprimorar o conhecimento?
a1) Cursos externos em comunicação
b1) Treinamentos internos sobre assuntos pertinentes à empresa
c1) Cursos de pós-graduação
d1) Leitura especializada
e1) Outras
Bloco 2- Investigar comportamento de busca de informação dos representantes.
Quais são suas necessidades de informação?
a2) Informações que sejam de interesse do público
b2) Que sejam relevantes para a comunidade
c2) Informações buscadas pela imprensa
d2) informações pertinentes à realidade a organização que trabalha
e2) informações relativas a sua profissão
f2) Outras
Como busca as informações solicitadas pela imprensa?
a3) Dentro da organização, em contatos verbais com a CEO ou a quem a cúpula delegar
b3) Em arquivos escritos da empresa
c3) Mantém arquivo atualizado de informações que possam interessar à imprensa
d3) internet
e3) Outras
Quando procura as fontes internas?
a4) Ao ser solicitado pela imprensa
b4) Ao ser solicitado pelo CEO, com interesse de divulgar algo à imprensa.
c4) Outros
Checa as informações?
a5) Sim, internamente
b5) Não vê necessidade
c5) Outros
Bloco 3 Investigar os objetivos de produção de informação das fontes
Que objetivos atende quando produz informação para a imprensa?
a6) Aos da organização
b6) Aos da imprensa
c6) Aos da comunidade
d6) Outros
264
Identificar estratégias de disseminação de informação à imprensa;
Com qual periodicidade procuram a imprensa?
A7) Diariamente
B7) Semanalmente
C7) Quinzenalmente
D7) Mensalmente
E7) Outros
Com qual periodicidade são procurados pela imprensa?
A8) Diariamente
B8) Semanalmente
C8) Quinzenalmente
D8) Mensalmente
E8) Outros
Quais as estratégias utilizadas para atrair a imprensa?
A9) Enviando ‘releases
B9) Promovendo coletivas
C9) Promovendo eventos para serem cobertos pela midia: Periodicidade
D9) Convidando para almoços
E9) Enviando mensagem no correio eletrônico
F9) Oferece possibilidade de a imprensa checar as informações?
G9) Como vê a relação com a imprensa?
H9) Que recursos o destinados à publicidade?
I9) Outras
Bloco 4 - Investigar os fatores que interferem na busca e produção de informações;
Quais os fatores que interferem na produção de informações para a imprensa?
a10) Um fato ocorrido na organização
b10) Tempo
c10) Concorrência entre empresas
d10) Fontes de informação
e10) Contexto sócio econômico e cultural, estrutura de poder externa
f10) A comunidade
g10) Estrutura de poder interna, gestão e interesses da organização
h10) Infra estrutura/ Tecnologia
i10) Subjetividade da fonte, preparo e experiência
j10) Interesses pessoais
k10) Interesses do governo
l10) outros
Bloco 5 - Identificar política e estratégias de seleção de informação à imprensa
;
Como seleciona as informações que vão para a imprensa?
A11) Aquelas que são previamente demandadas pela imprensa
B11) Produz informações que querem fazer chegar à imprensa
C11) Produz regularmente informações que interessam à comunidade
D11) Não existem políticas definidas
E11) Dá preferência a fontes pessoais internas
F11) Dá preferência a arquivos internos G11) Outros
Em que se baseia para escolher as fontes?
a12) Na autoridade interna da fonte
b12) No conhecimento da fontes
c12) As que testemunham os acontecimentos
d12) Julgamento pessoal
e12) Outras
Como vê a relação com a imprensa?
a13) Tranqüila
b13) Conflituosa
c 13) Outras
Bloco 6 - Investigar os atributos de qualidade que a imprensa exige das fontes;
Que atributos de qualidade lhe são exigidos da imprensa?
a14) Confiabilidade
b14) Tipo de atividade/Conhecimento perito.
c14) Idoneidade.
d14) Imparcialidade/ isenção.
e14) Credibilidade
f14) Interesse público
g14) Legitimidade
h14) Acessibilidade
i14) Tempestividade de resposta
j14) Amigabilidade.
k14) Abrangência de atuação
l14) Proximidade geográfica
m14) Linguagem.
n14) Contéudo e profundidade das informações?
o14) Layout
p14) Relevância das informações para a comunidade q14) Outros
Identificar aspectos intrínsecos que a levam a ser considerada como fonte
O que a leva a (o) ser considerada(o) como fonte ?
a15) Posição formal no contexto social, político e econômico/ fama/status e prestígio
b15) Conhecimento perito legitimado
c15) Representatividade
d15) Hierarquia na organização
e15) Pela facilidade de acesso
f15) Outros
Por que é mais procurada que outra fonte?
a16) Por ser uma empresa pública
b16) Por ser grande anunciante
c16) Porque temos estratégia de acesso à imprensa
d16) Pelo reconhecimento e legitimidade social
e16) Outras
Quem mais procura essa fonte?
a17) Concorrência
b17) Estudantes
c17) População em geral
d17) Especialistas
e17) Instituições em geral
f17) Outras
Bloco 7- Identificar indicadores de avaliação das fontes utilizados na prática
;
Na sua opinião, em que o jornalista se baseia para avaliar as informações das fontes?
a18) Julgamento próprio
b18) Opinião dos colegas
c18) Opinião dos editores
d18) Histórico das fontes
e18) Cruzando com outras fontes
f18) Critérios já estabelecidos e comumente usados na redação:
g18) outras:
Por que
critérios percebe serem avaliados pela imprensa?
a19) Confiabilidade Histórico/Imagem/ Reputação
b19) Tipo de atividade/Conhecimento perito.
Preocupação com o contínuo aprimoramento e atualização da fonte? ___Sim ____Não
c19) Idoneidade. Processo transparente de gestão (balanço) ___Sim ____Não
d19) Imparcialidade/ isenção.
A imprensa percebe mecanismos de manipulação? ___Sim ____Não
Coletivas forçadas ___Sim ____Não
Eventos programados para chamar atenção da midia ___Sim ____Não
Pressão por ser anunciante do órgão de imprensa. ___Sim ____Não
e19) Credibilidade. As informações são corretas e ratificadas por outras fontes? ___Sim ____Não
f19) Interesse público . As informações são de interesse? ___Sim __Não
g19) Legitimidade . Tem autoridade institucional? ___Sim __Não
h19) Acessibilidade
Considera-se acessível? ___Sim ___Não Se não, por que continua sendo uma boa fonte?
É mais procurada ou procura a imprensa? ___Mais procurada ____Procura mais
Isso interfere na credibilidade?
___Sim ____Não
A fonte coloca seu acervo à disposição para consulta? ___Sim ____Não
i19) Tempestividade de resposta .Qual o tempo e constância de retorno?
___Imediato
___Retorna quase sempre a tempo de atender as necessidades
___Retorna quando quer
___Nunca retorna
j19) Amigabilidade.
Considera-se é amigável?
Sim
Sim, mas requer pré requisitos para melhor assimilar a informação
Não, o que favorece a fonte
Não, o que desfavorece a fonte
Outras
k19) Abrangência de atuação
As informações fornecidas são pertinentes? ___Sim ____Não
Abrangentes? ___Sim ____Não
Agregam valor? ___Sim ____Não
A fonte atende a um tipo de informação específica ou a várias? ____Específicas ___Várias
l19) Proximidade geográfica. O escopo é __local ___estadual ___nacional ____internacional
m19) Linguagem correta e clara
n19) Contéudo e profundidade das informações?
A informação é datada? ___Sim ____Não
Elas são precisas? ___Sim ____Não
São relevantes? ___Sim ____Não
Exemplifique o que considera relevante?
Qual a vida útil? ___Curta ____Longa
Elas são superficiais ou profundas? ___ Profundas ____ Superficiais
Ajudam o leitor a refletir sobre o assunto? ___Sim ____Não
o19) Layout. Como ela apresenta as informações prestadas? __Textos ___Informatizada __Outros
Bloco 8- Identificar em que atributo de qualidade de informação a fonte mais interfere
Em sua percepção, para qual atributo de qualidade de informação contribui ou interfere?
Nível transcendente
Aspectos filosóficos e universais
Ética Seguir as normas de boa conduta e profissionalismo 20a
Contribuir para o
desenvolvimento social.
Contribuir positivamente para o exercíco da cidadania, educação, lazer
e entretenimento
20b
Ecletismo Falar de tudo 20c
Nível intrínseco
Atributos focados pelo sistema jornalístico
Confiabilidade Nível de credibilidade de conteúdo , da fonte e do meio. 20d
Precisão Exatidão, correção, relato fiel ao fato representado 20e
Validade Checagem, forma de apuração dos dados, legitimidade 20f
Imparcialidade Mostrar os fatos sob diversos ângulos 20g
Parcialidade Apresentar o fato com posicionamento político definido 20h
Atualidade Relato no ritmo de produção da informação 20i
Conteúdo rico Análises, relacionamentos com o contexto 20j
Completeza Inclusão de detalhes 20k
Pertinência Dizer respeito ao público a que se dirige 20l
Novidade Recente, inédito, um furo jornalístico 20m
Repercussão Repercutir geograficamente ou nas diversas esferas sociais 20n
Transcendência temporal
Vida útil maior 20o
Impacto Capacidade de sensibilizar a audiência
Nível contingencial
Atributos mais ligados aos usuários
Usuário/ valor percebido
Linguagem Coloquial, formal, correta, elegância de estilo 20p
Formato Eletrönico, impresso, oral, visual e microforma. Pode ser agradável,
uso de fotos, cores, diagramação etc.
20q
Relevância Ser útil ou fazer sentido para a comunidadde 20r
Interesse Despertar interesse no público 20s
Eficácia
Objetividade Relato sem inferências subjetivas, ser sintético ou analítico. 20t
Abrangência Repercutir sobre um grande espaço geográfico 20u
Redundância Repetição de informações para facilitar compreensão 20v
ANEXO III
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA IMPRENSA
Bloco I- IDENTIFICAÇÃO e FORMAÇÃO:
Nome: Sexo: Empresa: Cargo:
Graduação: Escola: Ano conclusão: Editoria
Bloco 2 - Investigar comportamento de busca e necessidades de informação;
Quais são suas necessidades de informação?
Como busca as informações?
Como checam as informações?
Quando procura a fonte?
Bloco 3 - Investigar os objetivos de produção de informação no jornalismo;
Quais os objetivos procura alcançar quando produz uma notícia?
Bloco 4. Investigar os fatores que interferem na busca e produção de informação;
Que fatores influenciam a busca e produção da informação?
Bloco 5 - Identificar políticas de seleção de fontes de informação;
Qual a política de seleção para escolha de fontes?
Em que se baseia para escolher as fontes?
Identificar e estabelecer as categorias de fontes utilizadas;
Quais as fontes mais utilizadas e por que?
Existem profissionais que pesquisam todas as fontes existentes?
Sugere uma classificação de fontes por categoria?
Compreender as formas de acesso às fontes;
Como vê a relação com a fonte?
Com qual periodicidade procuram as fontes?
Quais as estratégias utilizadas para acessar a fonte?
Como a fonte interage com a imprensa?
Bloco 6 - Identificar os atributos de qualidade
Que atributos deve reunir uma fonte?
Identificar aspectos intrínsecos que levam as fontes a serem consideradas
O que leva uma fonte a ser considerada como tal ?
Alguma fonte é mais utilizadas que outra?
Quem mais procura essa fonte?
Bloco 7- Identificar indicadores de avaliação das fontes utilizados na prática
;
Em que se baseia para avaliar as informações das fontes?
Como checam os atributos conferidos às fontes?
Bloco 8 - Identificar em que atributo de qualidade a fonte mais interfere;
Em que a fonte contribui para a qualidade da informação
ANEXO IV
QUESTIONÁRIO PARA IMPRENSA
Bloco I- IDENTIFICAÇÃO e FORMAÇÃO:
Nome: Sexo: Empresa: Cargo:
Graduação: Escola: Ano conclusão: Editoria
Bloco 2 - Investigar comportamento de busca e necessidades de informação;
Quais são suas necessidades de informação?
a1) Informações que sejam de interesse do público
b1) Informações requisitadas pela editoria
c1) Informações para complementar/checar releases
d1) Informações técnicas
e1) Outras
Como busca as informações?
a2) Releases enviados pelas fontes
b2) Testemunhas dos acontecimentos
c2) Sugestões de leitores
d2) Centro de pesquisa
e2) Internet
f2) Outras
3. Como checam as informações?
a3) Cruzando várias fontes
b3) Consultando especialistas
c3) Consultando pessoas envolvidas
d3) Em centros de pesquisa
e3) Relacionando e analisando fatos
f2) Outras
Quando procura a fonte?
a4) Ao receber a pauta e ver o que tem a escrever/release
b4) Quando é procurado pela fonte/ coletivas
c4) Quando preciso de opinião de especialista em uma matéria
d4) Em assuntos de interesse comunitário
e4) Periodicamente, em busca de novidade
f4) Outras
Bloco 3 - Investigar os objetivos de produção de informação no jornalismo;
Quais os objetivos procura alcançar quando produz uma notícia?
a5) Atender interesse do público
b5) Atender necessidades do público
c5) Atender interesses do jornal
d5) Atender interesses pessoais
e5) Atender interesses definidos pela pauta e editor
f5) Atender interesses de grupos de poder (anunciantes, políticos, empresas etc)
g5) Outras
Bloco 4. Investigar os fatores que interferem na busca e produção de informação;
Que fatores influenciam a busca e produção da informação?
a6) O acontecimento
b6) Tempo
c6) Concorrência entre jornais
d6) Fontes de informação
e6) Contexto sócio econômico e cultural, estrutura de poder externa
f6) A comunidade
g6) Estrutura de poder interna, gestão e interesses do jornal
h6) Infra-estrutura/ Tecnologia
i6) Subjetividade do repórter, preparo e experiência
j6) Espaço/ layout pré-definido
k6) Outros
Bloco 5 - Identificar políticas de seleção de fontes de informação;
Qual a política de seleção para escolha de fontes?
a5) As que são definidas pela linha editorial do jornal
b5) Priorizar fontes oficiais, de grande representatividade e credibilidade pública
c5) Priorizar grandes anunciantes como fontes
e5) As mais acessíveis
f5) Não existem políticas definidas
g5) Outras
Em que se baseia para escolher as fontes?
a6) Na autoridade institucional
b6) No conhecimento das fontes
c6) As que testemunham os acontecimentos
e6) Julgamento pessoal
f6) As sugeridas pela pauta/ editor
g6) No prestígio/status ou fama da fonte
h6) Outras
Como vê a relação com a fonte?
a7) Tranqüila
b7) Conflituosa
c 7) Outras
Com qual periodicidade procuram as fontes?
a8) Diariamente
b8) Semanalmente
c8) Quinzenalmente
d8) Mensalmente
e8) Quando procurado pela fonte
f8) Outras
271
Compreender as formas de acesso às fontes;
Quais as estratégias utilizadas para acessar a fonte?
a9) Contato telefônico
b9) Correio eletrônico
c9) Entrevista pessoal agendada
d9) Entrevista pessoal, sem agendamento
e9) Em coletivas organizadas pelas fontes
f9) Outras
Como a fonte interage com a imprensa?
a10) Enviando ‘releases
b10) Promovendo coletivas
c10) Promovendo eventos para serem cobertos pela midia
d10) Convidando para almoços
e10) Enviando mensagem no correio eletrônico
f10) Outras
Identificar e estabelecer as categorias de fontes utilizadas;
Quais as fontes mais utilizadas e por que?
a11) Fontes oficiais
b11) Instituições privadas
c11) ONGS
d11) Especialistas
e11) Agências de notícia
f11) Literatura
g11) A concorrência
h11) Testemunhas dos acontecimentos:
Existem profissionais que pesquisam todas as fontes existentes?
a12) Sim, de forma sistemática
b12) Não
c12) Usamos as mais comuns e de mais fácil acesso
d12) não, mas seria bom se tivesse
e12) Outras
Sugere uma classificação de fontes por categoria?
a13) Oficiais
b13) Públicas
c13) Anunciantes/Pagas
d13) Pessoais
f13) Outras
Bloco 6 - Identificar os atributos de qualidade
Que atributos deve reunir uma fonte?
a14) Confiabilidade
b14) Tipo de atividade/Conhecimento perito legítimo.
c14) Idoneidade/ Imparcialidade/ clareza de posicionamento
d14) Credibilidade
e14) Interesse público
g14) Legitimidade
h14) Acessibilidade (Ter mail, atender prontamente ao telefone)
i14) Tempestividade de resposta
j14) Amigabilidade
( que agilize ou facilite o acesso)
k14) Abrangência de atuação
l14) Proximidade geográfica.
m14) Linguagem
( que agilize ou facilite o acesso)
n14) Contéudo e profundidade das informações?
o14) Layout ( que agilize ou facilite o acesso)
p14) Relevância das informações para a comunidade q14) Outros
272
Identificar aspectos intrínsecos que levam as fontes a serem consideradas
O que leva uma fonte a ser considerada como tal ?
a15) Posição formal no contexto social, político e econômico/ fama/status e prestígio
b15) Conhecimento perito legitimado
c15) Testemunha de acontecimentos
d15) Outros
Alguma fonte é mais utilizadas que outra?
a16) Sim, as empresas públicas
b16) Sim, os anunciantes
c16) Sim, as que têm estratégia de acesso à imprensa
d16) Sim, as mais próximas, de acesso mais prático e barato
e16) Sim, as agências de notícia.
f16) Outras
Quem mais procura essa fonte?
a17) Concorrência. A midia em geral
b17) Estudantes
c17) População em geral
d17) Especialistas
e17) Instituições em geral
f17) Outras
Bloco 7- Identificar indicadores de avaliação das fontes utilizados na prática
;
Em que se baseia para avaliar as informações das fontes?
a18) Julgamento próprio
b18) Opinião dos colegas
c18) Opinião dos editores
d18) Histórico das fontes
e18) Cruzando com outras fontes
f18) Critérios já estabelecidos e comumente usados na redação:
g18) outras:
Como checam os atributos conferidos às fontes?
a19) Confiabilidade Histórico/Imagem/ Reputação
b19) Tipo de atividade/Conhecimento perito.
Sente preocupação da fonte com o contínuo aprimoramento de atualização? ___Sim____Não
A fonte tem conhecimento legítimo para se expressar? ___Sim ____Não
c19) Idoneidade.
Processo transparente de gestão (balanço) ___Sim ____Não
d19) Imparcialidade/ isenção. Percebem mecanismos de manipulação? ___Sim ____Não
Coletivas forçadas
Eventos programados para chamar atenção da midia
Pressão por ser anunciante do órgão de imprensa
e19) Credibilidade. As informações são corretas e ratificadas por outras fontes? ___Sim __Não
f19) Interesse público . As informações das fontes são de interesse? ___Sim __Não
g19) Legitimidade . As fontes têm autoridade institucional? ___Sim __Não
h19) Acessibilidade
As fontes são acessíveis e disponíveis ao público e à imprensa? ___Sim ___Não
Se não, por que continua sendo uma boa fonte?
A fonte é mais procurada ou procura a imprensa? ___Mais procurada ____Procura mais
Isso interfere na credibilidade?
___Sim ____Não
A fonte coloca seu acervo à disposição para consulta? ___Sim ____Não
i19) Tempestividade de resposta .Qual o tempo e constância de retorno?
___Imediato
___Retorna quase sempre a tempo de atender as necessidades
___Retorna quando quer
___Nunca retorna
j19) Amigabilidade.
A fonte é amigável?
Sim
Sim, mas requer que se instrua anteriormente para procurá-la
Sim, mas exige equipamentos ou dispêndio de dinheiro
Não
Outras
k19) Abrangência de atuação
As informações são pertinentes? ___Sim ____Não
Abrangentes? ___Sim ____Não
Agregam valor? ___Sim ____Não
A fonte atende a um tipo de informação específica ou a várias?____Específica ___Várias
l19) Proximidade geográfica. O escopo é __local ___estadual ___nacional ____internacional
m19) Linguagem.
Gosta da linguagem da fonte?
É correta e segue os padrões gramaticais
Qual o grau de redundância?
n19) Contéudo e profundidade das informações?
A informação é datada? ___Sim ____Não
O conteúdo é adequado às necessidades do público? ___Sim ____Não
Elas são precisas? ___Sim ____Não
São relevantes? Exemplifique ___Sim ____Não
O que considera relevante?
Qual a vida útil? ___Curta ____Longa
Elas são superficiais ou profundas? ___ Profundas ____ Superficiais
Ajudam o leitor a refletir sobre o assunto? ___Sim ____Não
o19) Layout. Como ela apresenta as informações prestadas? __Textos ___Informatizada __Outros
Bloco 8 - Identificar em que atributo de qualidade a fonte mais interfere;
Em que a fonte contribui para a qualidade da informação
Nível transcendente
Aspectos filosóficos e universais
Ética Seguir as normas de boa conduta e profissionalismo 20a
Contribuir para o
desenvolvimento social.
Contribuir positivamente para o exercíco da cidadania, educação, lazer
e entretenimento
20b
Ecletismo Falar de tudo 20c
Nível intrínseco
Atributos focados pelo sistema jornalístico
Confiabilidade Nível de credibilidade de conteúdo , da fonte e do meio. 20d
Precisão Exatidão, correção, relato fiel ao fato representado 20e
Validade Checagem, forma de apuração dos dados, legitimidade 20f
Imparcialidade Mostrar os fatos sob diversos ângulos 20g
Parcialidade Apresentar o fato com posicionamento político definido 20h
Atualidade Relato no ritmo de produção da informação 20i
Conteúdo rico Análises, relacionamentos com o contexto 20j
Completeza Inclusão de detalhes 20k
Pertinência Dizer respeito ao público a que se dirige 20l
Novidade Recente, inédito, um furo jornalístico 20m
Repercussão Repercutir geograficamente ou nas diversas esferas sociais 20n
Transcendência temporal
Vida útil maior 20o
Impacto Capacidade de sensibilizar a audiência
Nível contingencial
Atributos mais ligados aos usuários
Usuário/ valor percebido
Linguagem Coloquial, formal, correta, elegância de estilo 20p
Formato Eletrönico, impresso, oral, visual e microforma. Pode ser agradável,
uso de fotos, cores, diagramação etc.
20q
Relevância Ser útil ou fazer sentido para a comunidadde 20r
Interesse Despertar interesse no público 20s
Eficácia
Objetividade Relato sem inferências subjetivas, ser sintético ou analítico. 20t
Abrangência Repercutir sobre um grande espaço geográfico 20u
Redundância Repetição de informações para facilitar compreensão 20v
Outros:
ANEXO V
Ilmo(a) Sr(a)
Prezado(a) Senhor(a),
Apresento-me como estudante de doutorado em Ciência da informação da
Universidade Federal de Minas Gerais. Graduada em Comunicação Social, com
especializações
em
marketing
, planejamento estratégico, comunicação empresarial e
mestrado em Ciência da Informação, em que trabalhei o tema “Qualidade da informação
jornalística”, junto a leitores e jornalistas dos jornais impressos de Belo Horizonte, cuja cópia
lhe foi encaminhada via
mail
.
Prosseguindo os estudos, elegi no doutorado o tema a
“Participação das fontes
formais na construção e qualificação da notícia
”, cujo projeto foi aprovado em dezembro,
habilitando-me a conduzir pesquisa em campo, a ser desenvolvida em cinco órgãos de
imprensa e fontes formais da Capital mineira.
Desta forma, solicito uma entrevista com a pessoa responsável pelo relacionamento
com a imprensa.
Agradeço desde a valorosa contribuição de V.S, colocando-me inteiramente à
disposição para eventuais esclarecimentos no endereço e telefones abaixo indicados. Tão
logo a tese seja defendida, essa Instituição receberá cópia.
Atenciosamente,
CONSUELO CHAVES JONCEW
Consuelochav[email protected]
30821042 – 97068789
ANEXO VI
Ilmo(a) Sr(a) Secretário de Redação /Editor
Prezado(a) Senhor(a),
Apresento-me como estudante de doutorado em Ciência da informação da
Universidade Federal de Minas Gerais. Graduada em Comunicação Social, com
especializações
em
marketing
, planejamento estratégico, comunicação empresarial, cursei
o mestrado em Ciência da Informação, trabalhando o tema “Qualidade da informação
jornalística”, junto a leitores e jornalistas dos jornais impressos de Belo Horizonte, cuja pia
lhe foi encaminhada via
mail
.
Para o doutorado, escolhi estudar o tema a
“Participação das fontes formais na
construção e qualificação da notícia
”, cujo projeto foi aprovado em dezembro último,
habilitando-me a conduzir pesquisa em campo, a ser desenvolvida em alguns órgãos de
imprensa e fontes formais da Capital.
Desta forma, venho solicitar a essa conceituada Empresa permissão para
acompanhar por uma semana o trabalho do jornalismo, das 7 às 8h30min e a partir das
17h30min, em agenda a combinar. Acompanharei a sistemática de elaboração da pauta e
elegerei para entrevistar um dirigente (um editor) e um repórter (pauteiro).
Esta foi a solução mais simples e imediata encontrada para a coleta de dados. Outra
forma viável para aplicar o questionário seria a cessão de 30min em reunião geral
promovida pela chefia de redação.
Agradeço desde a valorosa contribuição de V.S, colocando-me inteiramente à
disposição para eventuais esclarecimentos no endereço e telefones abaixo indicados. Tão
logo a tese seja defendida, esse jornal receberá cópia.
CONSUELO CHAVES JONCEW
Consuelochaves@terra.com.br
30821042 – 97068789
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