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André Queiroz de Andrade
A Tomada de Decisão e os Sistemas de
Informação em Saúde
Belo Horizonte
Escola de Ciência da Informação / UFMG
2008
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Livros Grátis
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André Queiroz de Andrade
A Tomada de Decisão e os Sistemas de
Informação em Saúde
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação da Escola de
Ciência da Informação da
Universidade Federal de Minas
Gerais, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em
Ciência da Informação.
Área de Concentração: Gestão da Informação e
do Conhecimento (GIC)
Orientador: Profª Drª Marta Macedo Kerr
Pinheiro
Belo Horizonte
2008
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Aos meus pais e irmãos, que sempre me
apoiaram em qualquer
empreitada
À Alline, minha companheira de todas
as horas
AGRADECIMENTOS
À Prof.ª Marta Macedo Kerr Pinheiro, por ter aceitado a difícil
tarefa de introduzir um médico pragmático na Ciência da Informação
Aos professores Maurício Almeida Barcellos e Renato Rocha
Souza, pelas dicas e puxões de orelha na qualificação
A todos os professores e colegas de mestrado da Escola de
Ciência da Informação, em especial ao Prof. Ricardo Rodrigues
Barbosa, pela transmissão inestimável de seu conhecimento tácito
Aos amigos e colegas do NUPAD, em especial aos Prof. José
Nélio Januário e Arminda Lúcia Siqueira, pelo apoio e oportunidade
de explorar caminhos desconhecidos
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS...........................................................................................................................................4
LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................................................... 4
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ..........................................................................................................5
RESUMO ............................................................................................................................................................... 6
ABSTRACT ...........................................................................................................................................................7
1
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................ 8
1.1
P
ROBLEMA
............................................................................................................................................... 12
1.2
P
RESSUPOSTO
.......................................................................................................................................... 12
1.3
J
USTIFICATIVA
.........................................................................................................................................12
1.4
O
BJETIVO
G
ERAL
..................................................................................................................................... 13
1.5
O
BJETIVOS
E
SPECÍFICOS
.......................................................................................................................... 14
1.6
P
ROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
......................................................................................................... 14
2
A INFORMAÇÃO E AS ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE.....................................................................15
2.1
A
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
............................................................................................................... 18
2.1.1
O ambiente na sociedade da informação ...................................................................................... 20
2.1.2
A mudança do modelo de saúde .................................................................................................... 22
2.2
O
PAPEL DA INFORMAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES
....................................................................................... 26
3
O PROCESSO DECISÓRIO....................................................................................................................31
3.1
A
T
EORIA
C
LÁSSICA DO
P
ROCESSO
D
ECISÓRIO
....................................................................................... 32
3.2
A
I
NFORMAÇÃO E O
P
ROCESSO
D
ECISÓRIO
.............................................................................................. 35
3.3
A
O
RGANIZAÇÃO E O
P
ROCESSO
D
ECISÓRIO
............................................................................................38
3.4
O
I
NDIVÍDUO E O
P
ROCESSO
D
ECISÓRIO
.................................................................................................. 43
3.5
A
DECISÃO NÃO ESTRUTURADA
............................................................................................................... 46
3.6
A
BORDAGENS ALTERNATIVAS DO PROCESSO DECISÓRIO
.........................................................................49
4
OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO ....................................................................................................... 55
4.1
U
M BREVE HISTÓRICO
.............................................................................................................................. 55
4.2
S
ISTEMAS DE
I
NFORMAÇÃO E AS ORGANIZAÇÕES
.................................................................................... 57
4.3
T
IPOS DE
S
ISTEMAS DE
I
NFORMAÇÃO
...................................................................................................... 60
4.4
S
ISTEMAS DE INFORMAÇÃO E A TOMADA DE DECISÃO
............................................................................. 64
4.5
O
S
S
ISTEMAS DE
I
NFORMAÇÃO
E
XECUTIVOS
...........................................................................................69
4.6
O
S
S
ISTEMAS DE
I
NFORMAÇÃO EM
S
AÚDE
.............................................................................................. 72
5
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS .............................................................................................76
6
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................80
6.1
O
N
UPAD E SEU
S
ISTEMA DE
I
NFORMAÇÃO
.............................................................................................. 80
6.2
O
FLUXO INFORMACIONAL E O PROCESSO DECISÓRIO NO
NUPAD........................................................... 82
6.2.1
A importância das informações estruturadas na tomada de decisão ............................................ 82
6.2.2
A importância do conhecimento organizacional na tomada de decisão ....................................... 86
6.2.3
Vieses cognitivos relacionados ao conceito de urgência............................................................... 92
6.2.4
Aplicabilidade do modelo de tomada de decisão na realidade da organização ........................... 93
6.2.5
Relevância das informações do sistema para o processo decisório.............................................. 94
7
CONCLUSÕES E PROPOSTAS ............................................................................................................. 97
8
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................................103
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Habilidades na construção da capacidade analítica.................................................40
Tabela 2 - Diferenças entre Sistemas Operacionais e Sistemas de Informação Gerencial.......61
Tabela 3 - Características dos sistemas de informação ............................................................64
Tabela 4 - Nível organizacional e sistemas de suporte à decisão.............................................66
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Modelo de uso da informação nas organizações .....................................................27
Figura 2 – Modelo de tomada de decisão racional...................................................................35
Figura 3 - Quatro modos de tomada de decisão organizacional...............................................49
Figura 4 - Modelo da tomada de decisão..................................................................................51
Figura 5 - Funções de um sistema de informação ....................................................................58
Figura 6 - Tipos de sistemas de informação de acordo com o nível organizacional................60
Figura 7 - Tipos de sistema de informação por funcionalidade ...............................................63
Figura 8 – Fases do processo decisório e o apoio dos sistemas de informação .......................86
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Abreviatura Significado
CEHMOB Centro de Educação e Apoio para Hemoglobinopatias
MS Ministério da Saúde
NUPAD Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico
OMS Organização Mundial de Saúde
PNIIS Política Nacional de Informação e Informática em Saúde
SES-MG Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais
SI Sistemas de Informação
SIE ou SSE Sistemas de Informação Executivos ou Sistemas de Suporte Executivos
SIG Sistemas de Informação Gerenciais
SIS Sistemas de Informação em Saúde
SSD Sistemas de Suporte à Decisão
SSDG Sistemas de Suporte à Decisão de Grupos
SUS Sistema Único de Saúde
TIC Tecnologias da Informação e Comunicação
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
RESUMO
Nos últimos anos, as mudanças no setor de saúde do Brasil têm levado a grandes
transformações na maneira como as instituições são gerenciadas. Isto se deve principalmente
ao aumento pronunciado do custo da atenção à saúde, com o surgimento de novas técnicas
diagnósticas, e à descentralização das ações públicas de saúde. O aumento da efetividade e
eficácia das decisões tornou-se imperativo para a sobrevivência das instituições de saúde.
Nesse contexto, os sistemas de informação para apoio à decisão se mostram como uma
ferramenta particularmente adequada para aperfeiçoar os sistemas de saúde.
O presente trabalho teve como objetivo estudar o fluxo informacional do NUPAD, como
organização de saúde. O NUPAD, órgão da UFMG, é o responsável pela coordenação da
triagem neonatal no Estado de Minas Gerais.
O estudo de caso realizado foi norteado por três perguntas: qual é a influência da informação,
organização e da cognição no processo decisório; qual é a melhor descrição do processo
decisório na organização; como criar um sistema de informação para apoio à tomada de
decisão em instituições de saúde, como o NUPAD.
A estrutura organizacional possui importantes formas de influência como os mecanismos de
governança corporativa e a identidade organizacional. O estudo evidenciou a natureza
colaborativa das decisões e a importância dos aspectos cognitivos dos gestores para tratar dos
temas delicados comuns no setor de saúde. Várias descrições do processo decisório foram
adequadas para explicar a tomada de decisão na organização, demonstrando a complexidade
do trabalho gerencial. Sugere-se que os sistemas de suporte à decisão contemplem o aspecto
colaborativo das decisões. Profissionais que fazem a ponte entre as necessidades dos usuários,
desenvolvedores e a realidade das organizações de saúde podem diminuir as chances de falha
na construção destes sistemas. Por fim, propõem-se novos estudos para melhor compreensão
da área.
PALAVRAS-CHAVE: Sistemas de informação. Tomada de decisão. Saúde.
ABSTRACT
In the last few years, the Brazilian healthcare environment has forced a change in the way
organizations are managed. This is due to the rise in healthcare cost, with the appearance of
new diagnostic techniques, and to the decentralization of public health initiatives. Therefore,
the increase in decision-making efficiency and efficacy has become necessary for the survival
of healthcare organizations. In this context, decision support systems are regarded as
particularly suitable tools to promote improvements in the healthcare system.
This dissertation intended to study the informational flow of NUPAD, as a healthcare
organization. NUPAD, an UFMG department, is responsible for the coordination of neonatal
screening in Minas Gerais State.
The case study was directed by three questions: Which is the influence of information,
organization and cognition on decision-making; Which is the best description for the
decision-making process that occur in the organization; How can we create an information
systems for decision support in healthcare organizations.
Organizational structure has important mechanisms of influence, through corporate
governance rules and through sharing of cultural identity. The collaborative nature of
decisions and the relevance of managers’ cognitive aspects in dealing with sensitive health
themes were also demonstrated. Finally, the study suggests that many descriptions of the
decision-making processes are suitable to explain organizational decision, showing the
complexity of managers’ job. Decision support systems should cover the collaborative aspect
of decisions. Professionals that can bridge the needs of users, developers and the reality of
healthcare organizations can decrease the probability of failures in the creation of such
systems. The study ends with suggestions for new studies.
KEY WORDS: Information systems. Decision making. Healthcare
8
1 Introdução
O modelo de saúde brasileiro é um modelo particular no ambiente mundial. O Sistema
Único de Saúde (SUS), idealizado na constituição de 1988 e gradualmente implantado desde
então (QUEIROZ; VIANNA, 1992), traz consigo os princípios da equidade, universalidade,
descentralização e controle social. Sua meta é fornecer acesso à saúde para todas as camadas
da população, em um modelo semelhante ao modelo inglês de saúde estatizada
1
. No entanto,
sua aplicação sempre contou com dificuldades, sendo uma delas, talvez a mais importante, a
relativa falta de recursos destinados à saúde. Esta falta de recursos se reflete no pequeno
número de investimentos em infra-estrutura (área física e equipamentos) e no baixo valor
pago por procedimento realizado. As instituições que prestam atenção à saúde, pagos pelo
Estado, vivem com grandes restrições orçamentárias e, portanto, oferecem serviços de
qualidade aquém do ideal. Como conseqüência, a maior parte da população que pode pagar
auxílio particular se filiou aos planos de saúde. Com isso, possuímos na saúde duas realidades
concorrentes: uma medicina pública que precisa melhorar a atenção para abranger toda a
população e uma medicina privada que luta para demonstrar sua superioridade e conseguir
mais clientes.
As unidades de saúde - hospitais e centros de atenção públicos ou privados - o as
instituições responsáveis pela implementação plena da atenção à saúde. Estas instituições
passam neste início do século XXI por uma situação delicada. Os avanços na área médica
criam um grande número de novos equipamentos e procedimentos, todos de alto custo. A
regulamentação da área e os princípios da ética em saúde, com os quais o SUS está alinhado,
recomendam que todo paciente deve sempre receber a melhor atenção médica possível. Dado
que o aumento no custo operacional é superior aos valores repassados pelo governo e bem
maior do que a maior parte da população brasileira pode pagar, a gestão de recursos é
essencial para qualquer instituição.
A gestão de recursos é um dos principais problemas enfrentados pelos gestores
públicos e privados, mas não é o único enfrentado pelas organizações da saúde. Thorpe
(2005) argumenta que mesmo os planos de saúde devem investir na promoção à saúde para
diminuir seus custos e possibilitar a sobrevivência no mercado. Iniciativas incipientes de
penetração dessas instituições (não formuladoras de políticas) na saúde pública podem ser
1
O modelo de atenção à saúde da Inglaterra é baseado no General Practitioner (médico generalista). Este
médico se responsabiliza pela saúde da população de uma região e controla os encaminhamentos ao atendimento
secundário (especialistas médicos) e terciário (hospitais).
9
vistas, por exemplo, com a contratação de médicos de saúde da família por convênios
privados e pelo crescente número de projetos de saúde pública criados por hospitais públicos.
Por último, deve-se destacar o papel da regulamentação e da ética médica. Esta
regulamentação deve ser acompanhada com extrema atenção, pois pode determinar a falência
de uma organização. O impacto destas mudanças é sentido pelas organizações e também pela
população, sendo muitas vezes fruto de ações políticas (ALVES FILHO, 2006).
O gestor de instituições de saúde precisa de estar atento ao sistema em que está
inserido. Em um mundo crescentemente competitivo, o desenvolvimento de uma estratégia e
a implementação desta são essenciais para manutenção da organização. O gestor toma
decisões levando em conta a efetividade e eficácia de suas ações, o impacto no sistema e o
cenário político e social do momento.
Considerando a complexidade e o impacto da definição da estratégia e tomada de
decisão em instituições de saúde, é perceptível a necessidade de informações que embasem as
ações. Inseridas na sociedade da informação, as organizações de saúde são profundamente
dependentes de informações precisas, coletadas e distribuídas entre os múltiplos níveis
organizacionais. No entanto, para manejar grandes quantidades de informação, as
organizações necessitam de uma estrutura integrada e de um sistema de informação que
possam rapidamente distribuí-las para os gestores e profissionais de saúde (ANDERSSON;
HALLBERGA; TIMPKAA, 2003). Desta forma, é essencial um bom desenho do sistema de
informação para o ótimo desempenho da organização(VELDE, 2000).
O sistema de informação não possui uma existência independente do usuário. Os
dados são elementos brutos, sem significado, desvinculados da realidade. São segundo
Davenport e Prusak (DAVENPORT; PRUSAK, 1998, pg.2), "conjuntos de fatos indivisíveis
e objetivos sobre os eventos”
2
. São símbolos e imagens que não dissipam nossas incertezas.
Eles constituem a matéria-prima da informação. Dados sem qualidade levam a informações e
decisões da mesma natureza.
As informações "são dados dotados de relevância e propósito”
3
(Drucker apud
DAVENPORT; PRUSAK, 1998, pg.4). Elas são o resultado do encontro de uma situação de
decisão com um conjunto de dados, ou seja, são dados contextualizados que visam fornecer
uma solução para determinada situação de decisão (ANGELONI, 2003). Choo (2003) propõe
um modelo de três arenas para o estudo da influência das informações nas ações de uma
organização: a) formação de sentido; b) criação de conhecimento; c) tomada de decisão. A
2
Data is a set of discrete, objective facts about events
3
data endowed with relevance and purpose”
10
formação de sentido para qualquer organização depende do conteúdo e formato dos dados que
são adquiridos, além da história da organização (experiências passadas), crenças, fatores
emocionais, etc. (CHOO, 2003). Este processo afeta a criação de conhecimento e por
conseqüência influi na tomada de decisão.
A complexidade do mundo que cerca o usuário impede que este domine todos os
aspectos relevantes a uma tomada de decisão. Como Simon (1979) aponta, os estímulos e a
forma como estes se apresentam são relevantes na determinação da ação humana, em vista da
racionalidade limitada do ser humano. Sem dúvida, a forma de coleta e tratamento das
informações modifica decisivamente o retrato do mundo (BACKLUND, 2002) e afeta o
processo de decisão. Um aspecto relevante dos sistemas de informação é, portanto, considerar
a forma como o usuário vê o mundo e interpreta os acontecimentos.
Outro aspecto relevante para a tomada de decisão é a cognição do indivíduo, que altera
a forma como este interpreta a informação. Devido à complexidade do mundo, o homem se
utiliza de diversos atalhos mentais para tomadas de decisão (heurísticas cognitivas). Porém,
muitas vezes estes atalhos contradizem a gica e a racionalidade, sendo chamados de vieses
cognitivos. Sentimentos como compaixão e solidariedade muitas vezes determinam a decisão
médica, sendo que o conteúdo emocional das decisões em saúde é parte curricular do ensino
médico (transferência e contratransferência
4
). De fato, foi demonstrado que o peso
emocional do ambiente pode alterar o desempenho de uma decisão em diferentes papéis
decisórios (KAUFMAN, 1999).
O desenvolvimento de um sistema de informação deve considerar estes aspectos
inerentes ao usuário. Rai e Bajwa (1997, pg.964) apontam que
“o desafio está não apenas em fornecer acesso a fontes (de informação,
internas e externas), mas em integrar e transformar os dados e mostrar a
informação de uma forma adequada para a tomada de decisão pelo executivo.
(...) Questões como ‘Nós identificamos a informação que construirá,
desafiará ou reforçará os modelos mentais dos executivos em situações
específicas de resolução de problemas?’ devem ser perguntadas durante o
desenvolvimento e evolução de aplicativos”
5
.
4
Transferência é o deslocamento de desejos e sentimentos do paciente em outras pessoas. Por exemplo, quando
o paciente espera que o médico seja o grande curador e forma um laço afetivo. É importante durante a
psicanálise. A contratransferência é o deslocamento dos desejos e sentimentos do médico (ou terapeuta) no
paciente. Por exemplo, quando o médico desenvolve sentimentos negativos contra o paciente devido à sua
personalidade (às vezes até causada pela própria doença). O psicanalista Sigmund Freud criou estes termos
(SADOCK; SADOCK, 2000).
5
The challenge rests not in merely providing access to these sources, but in actually integrating and
tansforming dta, and presenting information in a suitable form for executive decision making.(…) Questions
such as “Have we identified models in specific problem-solving situations?” need to be posed during application
development and evolution.”
11
Em suma: a) para que a informação seja de alta qualidade e tenha impacto, é
necessário considerar a estratégia, as capacidades da empresa, a cultura da empresa e a
tecnologia (DAVENPORT et al., 2001); b) os sistemas de informação modernos devem
considerar o alinhamento estratégico (MARR, 2005) e o ambiente onde a organização está
inserida; c) a participação do usuário no design de um sistema de informação é essencial para
seu sucesso (FURNIVAL, 1995); d) a análise do processo decisório e do impacto do sistema
de informação nas escolhas dos gestores é essencial para o desenvolvimento adequado do
sistema.
Para estudar a interação entre estes aspectos e as particularidades do setor da saúde, a
instituição escolhida foi o Núcleo de Pesquisa em Apoio Diagnóstico (NUPAD). O NUPAD
desde 1993 é o serviço de referência da triagem neonatal em Minas Gerais e responsável pelo
acompanhamento das crianças identificadas pelo programa. As doenças triadas são:
Hipotireoidismo Congênito, Fenilcetonúria, Anemia Falciforme e Fibrose Cística. O NUPAD
é um órgão da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e
como tal possui grande interesse na pesquisa científica. Além disso, a organização possui
grande penetração em ações de saúde pública, funcionando muitas vezes como órgão
implementador de políticas financiadas pelo Estado. Estes fatores fazem com que o NUPAD
seja uma organização propícia para o objetivo do estudo
O NUPAD possui um sistema de informação instalado desde 1998, criado pela própria
organização. Este sistema permite a entrada de dados laboratoriais e clínicos da população
triada, além de dados cadastrais das instituições colaboradoras (Secretarias Municipais de
Saúde, Hospitais, etc.). Foi percebido, no entanto, que várias informações geradas pela
triagem não são utilizadas eficientemente pelos gestores, seja na elaboração de estratégias de
longo prazo, como na coordenação de ações de curto prazo.
Seguindo a proposta de Heeks (2006), ressalta-se a importância de conhecer as
diferentes perspectivas de todos os envolvidos em um sistema de informação. No caso de
sistemas de informação executivos, é importante a compreensão dos aspectos cognitivos dos
gestores (no caso, administradores e médicos ao mesmo tempo) e do fluxo informacional e
decisório desta organização.
12
1.1 Problema
Quais são as particularidades do fluxo informacional do Núcleo de Ações e Pesquisa
em Apoio Diagnóstico (NUPAD) que impactam o processo decisório e a construção de um
sistema de informação de apoio à decisão?
1.2 Pressuposto
A compreensão da perspectiva cognitiva dos gestores e do fluxo informacional e
decisório do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (NUPAD) é um determinante
do sucesso de um sistema de informação para apoio à decisão.
1.3 Justificativa
O estudo de Sistemas de Informação em saúde (SIS) é ainda incipiente no mundo
inteiro, especialmente no Brasil. Desde o início, as publicações e pesquisas sobre os SIS
sempre focaram a tecnologia em computação como o ponto central. Segundo a Conferência
de Heidelberg, alguns dos objetivos principais das conferências iniciais sobre informática em
saúde não foram alcançados e esta falha pode ser atribuída à excessiva orientação tecnológica,
ao invés de uma orientação social e ligada à comunicação (GIUSE; KUHN, 2003). Estas
conclusões não são exclusivas da saúde. A compreensão da realidade social para o
desenvolvimento de sistemas de informação é essencial para o sucesso destes sistemas.
Porém, o setor de saúde possui algumas peculiaridades que tornam ainda maior o desafio.
A primeira peculiaridade é a natureza instável do trabalho em saúde. A própria
definição da palavra saúde é, de certa forma, ambígua. Definida por “bem estar bio-psico-
social”, a saúde abrange todos os aspectos da vida de cada ser humano. Fica evidente que a
complexidade de tal tarefa impede a compreensão exata de todos os processos necessários
para o resultado desejado. Além disso, o objeto de trabalho, o paciente, é ao mesmo tempo o
cliente do serviço. Como cada serviço é personalizado para cada cliente, e cada cliente possui
necessidades e demandas diferentes, é evidente que a avaliação da qualidade dos serviços pelo
cliente é muito difícil. Tamanha complexidade exigiu a extensa regulamentação do setor, seja
pelo Estado (que determina a forma como as organizações públicas de saúde devem se
comportar), seja pelos conselhos profissionais (que determinam a forma como os profissionais
de saúde devem se comportar, ética e cientificamente).
13
A segunda peculiaridade do setor da saúde é relativa aos seus atores, os profissionais
de saúde. Desde a formação profissional, os alunos são estimulados a perceber os efeitos da
relação profissional-paciente. Para a compreensão da doença, os profissionais precisam se
colocar na pele do paciente, para ver o mundo na perspectiva do paciente e poder selecionar
as medidas mais adequadas para seu tratamento. De fato, toda a cultura da saúde exige que o
profissional tenha compaixão e sensibilidade, muitas vezes à custa da racionalidade científica
formal. Porém, quando os profissionais passam a outras posições nas organizações, percebe-
se grande dificuldade na adaptação desta visão para a perspectiva organizacional. Em
particular, o gestor continua a pensar em cada caso individualmente, em detrimento de uma
visão mais abrangente. As peculiaridades do setor foram os motivadores do presente estudo.
Ao aplicarmos, nos sistemas de saúde, os conceitos de SI adquiridos em instituições
comerciais, ajustando-os ao contexto, novos relacionamentos e idéias podem surgir,
propiciando o avanço do conhecimento (CHIASSON; DAVIDSON, 2004).
Este trabalho se propõe então a estudar a influência das particularidades do fluxo
informacional das empresas de saúde na construção de sistemas de apoio à decisão. A
importância da decisão em saúde é um grande motivador para pesquisa devido à mudança
recente dos modelos de atenção à saúde. Esta mudança é feita muitas vezes de forma caótica e
desordenada, ocasionando a perda de vidas humanas e recursos materiais.
O presente trabalho visa compreender melhor a perspectiva dos gestores sobre a
realidade do NUPAD, além de entender o fluxo informacional e o processo decisório da
organização. Pretende-se, com isso, contribuir na construção de sistemas de informação
executivos específicos para o setor de saúde.
Espera-se que os resultados possam sugerir uma abordagem efetiva e eficaz dos
gestores para a criação de sistemas de informação em saúde para serviços públicos ou
privados, ligados à saúde pública ou particular. Esta nova abordagem pretende diminuir as
falhas tão comumente associadas a sistemas de informação em saúde e realizar os objetivos de
sistemas de informação executivos na disponibilização de informação e auxílio ao processo
decisório.
1.4 Objetivo Geral
Analisar as particularidades do fluxo informacional no NUPAD que impactam a
construção de um sistema de informação para apoio à decisão.
14
1.5 Objetivos Específicos
A. Verificar o impacto de informações formalizadas (dados - números, gráficos e
relatórios padronizados) e não formalizadas (informações - relatórios e gráficos
não-padronizados) no processo decisório;
B. Analisar o uso do conhecimento organizacional no processo decisório;
C. Verificar a presença e a importância dos vieses cognitivos relacionados ao
conceito de urgência no processo decisório;
D. Verificar a adequação dos diversos modelos de tomada de decisão
organizacional (racionalidade limitada, político, procedural e anárquico) para
descrever o processo decisório de administradores chave do NUPAD;
E. Analisar o impacto das observações empíricas na construção de um sistema de
informação para apoio à decisão.
1.6 Procedimentos metodológicos
População Estudada e Coleta de Dados
Devido à complexidade dos assuntos tratados, sistemas de informação e processos
decisórios, considera-se necessário uma metodologia que aborde com profundidade o objeto
de estudo. Propõe-se para isto um estudo qualitativo através de um estudo de caso.
A coleta de dados foi feita através da análise de registros históricos do NUPAD, da
análise do sistema de informação e entrevistas semi-estruturadas com os diretores da
instituição e gerentes, pessoas chave para a implementação da estratégia da organização. Foi
também entrevistado um dos profissionais envolvidos com a concepção e desenvolvimento do
atual sistema de informação.
Para complementar a análise, foram buscados documentos que continham o histórico
de decisões da organização, como projetos enviados ao Ministério da Saúde ou memorandos
internos. Os registros históricos foram analisados na procura de informações provenientes do
Sistema de Informação. Além dos pontos previamente mencionados, foi analisado se a
informação foi utilizada como justificativa ou como auxiliar no planejamento das ações.
Os pesquisadores contaram com total apoio da instituição, que se mostrou interessada
nos propósitos da pesquisa.
15
2 A informação e as organizações de saúde
“A coisa mais importante em comunicação é escutar o que não
está sendo dito”
Peter Drucker
6
A informação está intimamente ligada a todas as atividades humanas. Na segunda
metade do século XX, esta relação se tornou mais visível. A revolução da tecnologia da
informação não apenas aumentou o volume de informação disponível em documentos e outras
mídias, mas também elevou exponencialmente a quantidade de estímulos a que as pessoas são
submetidas.
A informação é o contato entre o sistema interno e o ambiente. Handy (apud
HAYWARD; PRESTON, 1999, pg.173) escreve:
“A vida jamais será fácil, nem perfeita, nem completamente previsível. Ela
será mais bem compreendida retrospectivamente, mas nós precisamos viver
prospectivamente. Para se tornar vivível, em todos os veis, nós temos que
aprender a usar estes paradoxos, para balancear as contradições e as
inconsistências e usá-las como um convite a encontrar uma maneira melhor”
7
.
A palavra informação tem várias significados de acordo com o tema estudado e a
escola que a conceitua. Shannon (1948, pg.379) foi um dos primeiros autores contemporâneos
a conceituar a informação, propondo uma teoria matemática da informação. Segundo este
autor, “o aspecto significante (do problema da comunicação) é que a mensagem verdadeira é
selecionada de um conjunto de possíveis mensagens”
8
. De acordo com esta visão, a
quantidade de informação é relacionada à quantidade de significados que o receptor pode
conferir a uma mensagem. Imagine que o receptor fez uma pergunta para a qual as únicas
respostas possíveis fossem “sim” e “não”. As palavras “sim” e “não” podem adquirir várias
simbologias dentro da nossa linguagem (S/N, Sim e Não, Afirmativo e Negativo, etc.). Porém,
para que a mensagem seja veiculada ela apenas precisa fazer com que o receptor faça a
diferença entre sim e não. Caso, para o receptor, a simples presença de uma mensagem
6
(1909-2005) Escritor austríaco, estudioso da administração e professor universitário
7
Life will never be easy, nor perfectible, nor completely predictable. It will be best understood backwards, but
we have to live it forwards. To make it liveable, at all levels, we have to learn to use the paradoxes, to balance
the contradictionsand the inconsistencies and to use them as an invitation to find a better way”
8
The significant aspect is that the actual message is one selected from a set of possible message.”
16
signifique “sim”, qualquer complexidade no conteúdo da mensagem seria desnecessário. O
conteúdo que não servir para diferenciar entre as mensagens possíveis é denominado ruído.
A concepção de Shannon era focada em aspectos matemáticos para calcular emissores
e receptores perfeitos, propondo formas de calcular a menor mensagem possível para veicular
determinada mensagem, desde que certos pressupostos fossem atendidos (por exemplo, a
linguagem da mensagem). Apesar de muito útil para aspectos práticos de instrumentos de
comunicação, esta concepção explica mal a interpretação social do conceito de informação.
Braman (1989), em seus estudos de política de informação, define o conceito dividindo- o em
quatro níveis hierárquicos, do menos abrangente para o mais abrangente:
informação como um recurso: a autora aponta que os criadores e processadores
de informação são tratados como entidades isoladas, e a informação é tratada
como coisa.
informação como commodity: Existe uma cadeia de criação da informação que
adiciona valor a ela, e dá à informação um valor econômico.
informação como percepção de um padrão: o conceito de informação é mais
abrangente, envolvendo o contexto onde ela é criada e compartilhada.
informação como uma força constitutiva da sociedade: a autora afirma que a
“informação não é apenas afetada pelo ambiente, mas é ela mesma uma atriz
afetando os outros elementos do ambiente” (BRAMAN, 1989, pg.239).
A cibernética, fortemente influenciada pela teoria dos sistemas e pela teoria
matemática da informação, também contribui com outras definições da informação. Segundo
Bateson (2000, pg.459), a essência da comunicação e da informação reside na presença de
diferença entre as mensagens. O autor chega a afirmar que informação é “uma diferença que
faz diferença”, de forma que o aspecto mais importante de uma informação é aquele que a
distingue das outras. Além disso, para que a informação seja informação ela precisa causar
uma diferença no processamento da mensagem por parte do receptor.
Bateson (2000, pg.9-13), no texto “Why Do Frenchmen?” explora melhor estes
conceitos em uma suposta conversa entre o autor e sua filha. No diálogo, a filha pergunta por
que os franceses balançam seus braços enquanto falam, e o autor compara o balançar dos
braços ao sorriso da filha: “Bem, por que você sorri?No decorrer do texto, o autor leva a
concluir que, dado que este movimento dos franceses é constante, sua ausência levaria o
receptor a suspeitar que algo errado aconteceu. Já a filha, que raramente balança os braços
enquanto fala, emitiria uma mensagem sobre seu estado emocional ao balançar os braços.
17
Portanto, não é a forma da mensagem que importa, mas a mudança no estado da mensagem
(de braços balançando para braços parados) que transporta seu sentido e permite que o
receptor algum significado a ela. Este conceito não é trivial e o leitor deve se referir aos
livros supracitados para maiores informações.
Na teoria organizacional, a informação é comumente vista como um bem e um recurso
das empresas, que deve ser gerenciada assim como os outros recursos materiais e humanos
(SAVIC, 1992). Nessa visão, a informação adquire o sentido de “coisa” e deve ser
contabilizada dentro do inventário das organizações.
Mais recentemente, a informação tem sido vista no meio administrativo de forma
menos objetiva. Davenport e Prusak (1998, pg.3) afirmam que “a informação deve mudar a
forma como o receptor percebe algo, deve ter um impacto em seu julgamento e
comportamento”
9
. A informação difere do dado pela presença de um propósito e um
significado. Os autores argumentam que dados se transformam em informação quando
(DAVENPORT; PRUSAK, 1998):
a) contextualização – sabemos o propósito com que a informação foi gerada;
b) categorização sabemos as unidades de análise ou os principais componentes
dos dados;
c) lculo – os dados foram analisados matematicamente;
d) correção – os erros foram retirados dos dados;
e) condensação – os dados foram resumidos.
A multiplicidade de definições da informação reflete as diferentes perspectivas sobre a
informação. Cada uma das definições tem sua aplicação e várias devem ser consideradas nos
estudos da informação, para que a união destas perspectivas crie uma visão abrangente do
fenômeno informacional.
9
Information is meant to change the way the receiver perceives something, to have an impact on his judgment
and behavior.
18
2.1 A sociedade da informação
“A informação pode nos dizer tudo. Ela possui todas as
respostas. Mas são respostas para questões que nós não
fizemos, e que, aparentemente, nem são feitas”
10
Jean Baudrillard
Desde a antiguidade a informação teve papel essencial na vida do homem.
Inicialmente com a comunicação oral e depois com os registros escritos, a transmissão de
informação passava a tecnologia, determinava a cultura da sociedade e suas transformações.
Essas transformações são sentidas na maioria das vezes de forma gradual, com a lenta
transformação nos arranjos sociais e na tecnologia.
No entanto, segundo Castells (2002) o final do século XX é um período onde eventos
importantes ocorrem com grande rapidez, “um intervalo cuja característica é a transformação
de nossa ‘cultura material’ pelo mecanismo de um novo paradigma tecnológico que se
organiza em torno da tecnologia da informação”. Segundo Aun (2001, pg.42),
“as últimas três décadas caracterizaram-se não somente pelas grandes
transformações que nela ocorreram, mas pela velocidade que estas mudanças
se deram e cujos efeitos ainda não se esgotaram”.
Várias iniciativas de melhorar compartilhamento de informações (inicialmente para
fins de defesa, depois para colaboração científica) surgem desde então, em um boom
tecnológico iniciado após a Segunda Guerra Mundial e vivido com grande intensidade em
todo mundo, em especial no Vale do Silício (CASTELLS, 2002). O desenvolvimento do
transistor e do circuito integrado permitiu capacidades crescentes de processamento de dados
pelas máquinas. Estes e outros desenvolvimentos na microeletrônica permitiram que as visões
dos pesquisadores se concretizassem, culminando na globalização, o surgimento da Internet e
da sociedade em rede.
A era da informação transformou inúmeros aspectos da sociedade, exigindo a
mudança da maneira como se enxerga a sociedade (TOURAINE, 2006). Dentre as mudanças
que diferem esta era da era industrial, Aun (2001) aponta algumas das mudanças.
a) a informação usada como recurso econômico: as empresas e o serviço blico
utilizam a informação como vantagem para aumentar a eficácia, a competitividade e estimular
a inovação. Assim apresentam melhores resultados na qualidade dos bens e serviços que
10
L’information peut tout nous dire. Elle possède toutes les réponses. Mais ce sont des réponses à des
questions que nous n’avons pas posées, et qui, de toute évidence, ne se posent même pas.
19
produzem. E as que estão agregando valor à informação são as empresas que mais vem se
destacando nos países e internacionalmente;
b) maior utilização da informação pelo grande público, tornando os cidadãos mais
independentes. Uso intensivo da informação nas atividades de consumo, no conhecimento de
direitos no serviço público. Os sistemas informacionais eletrônicos vêm abrindo mais
amplamente o acesso à educação e à cultura;
c) a economia e a sociedade desenvolvem um setor de informação tendo por
função responder à demanda geral dos meios e serviços de informação. Assim é necessário
que se tenha uma infra-estrutura tecnológica composta de redes de telecomunicações e de
computadores;
d) pertencer à Sociedade da Informação para um país significa que o setor de
informação, incluindo serviços e produtos, cresce mais e mais rápido que todo o conjunto da
economia deste país.
A explosão informacional causada pela ubiqüidade que a tecnologia da informação
adquiriu nas últimas décadas do século XX fez com que as organizações criassem
mecanismos de gestão desta informação. Porter e Millar (1985, pg.149-150) advertem que
“a tecnologia da informação é mais que apenas computadores. Hoje, a
tecnologia da informação precisa ser entendida de forma abrangente para
cobrir a informação criada e utilizada pelo negócio assim como um amplo
espectro de tecnologias convergentes e ligadas que processam informação”
11
.
Na opinião destes autores, a tecnologia da informação afeta a competição de três
maneiras:
a) transforma a estrutura da indústria alterando as regras da competição;
b) cria vantagem competitiva possibilitando às companhias novas formas de trabalhar
melhor que seus rivais;
c) cria novos negócios, geralmente a partir das operações existentes nas empresas devido
à aplicação de conhecimentos e tecnologia na criação de novos conhecimentos e
tecnologias, em um ciclo infinito. Desta forma, o desenvolvimento se com a
evolução da tecnologia e na inovação na forma de utilizar esta tecnologia.
Petit (1998) afirma que a democratização das tecnologias da informação e
comunicação (TICs), o crescimento da indústria de serviços, a globalização e o aumento da
quantidade de conhecimentos são os alicerces desta mudança estrutural. Aun (2001) ressalta
algumas características da globalização:
11
“information technology is more than just computers. Today, information technology must be conceived of
broadly to encompass the information that businesses create and use as well as a wide spectrum of increasingly
convergent and linked technologies that process information”
20
a) é um fato e sua importância não deve ser subestimada;
b) não consiste em um processo único ou novo;
c) não é um processo realmente global, trata-se de um movimento restrito a
poucos países de primeiro mundo e a limitadas mega-corporações. Empresas realmente
globais são pouco numerosas sendo que a maioria centraliza suas operações em suas bases
domésticas;
d) não é processo inclusivo, homogeneizador, nem convergente;
e) trata-se de um processo polarizador dentro e entre países e regiões.
A importância econômica da informação fez com que as empresas, antes baseadas na
posse dos meios de produção, buscassem construir sua nova base no conhecimento. Como
conseqüência, as empresas aumentaram o investimento em pesquisa e desenvolvimento para
acompanhar o desenvolvimento do mercado (LASTRES; CASSIOLATO; ARROIO, 2005).
2.1.1 O ambiente na sociedade da informação
A era da informação teve um importante impacto no ambiente político. A informação
usada como recurso econômico possibilita que a qualidade dos serviços públicos aumente
com diminuição dos custos operacionais, melhores decisões e criação de novas metodologias
de trabalho. A informação também está mais acessível ao grande público, o que aumenta a
pressão sobre a formação de políticas e permite que a população influencie na sua construção.
A infra-estrutura de tecnologia da informação precisa acompanhar estes desenvolvimentos e
pode-se perceber o aumento nos investimentos em infra-estrutura tecnológica, com
crescimento dos serviços que se apóiam em informação para sua existência.
O governo, embora necessite, encontra dificuldades em controlar a criação e
distribuição de conteúdo. Aun (2001, pg.60) aponta que:
“a perspectiva internacional direciona para a equação do lucro imediato,
competitividade e curto prazo, minando as possibilidades das perspectivas
sociais e culturais, da elaboração de conteúdos regionalizados, que exigem
políticas de longo prazo”.
O fosso econômico entre os países aumentou e o fornecimento de acesso às
informações se transformou em uma questão de grande importância a vel nacional. O foco
dos governos não é mais proteger seu espaço, mas adaptar-se ao poder do capital
(CHESNAIS, 1996).
Chesnais (1996, pg.39) afirma que
21
“o movimento de mundialização é excludente. Com exceção de uns poucos ‘novos
países industrializados’ que haviam ultrapassado, antes de 1980, um patamar de
desenvolvimento industrial que lhes permite introduzir mudanças na produtividade
do trabalho e se manterem competitivos, está em curso um nítido movimento
tendente à marginalização dos países em desenvolvimento.”
Diante deste cenário, o Estado é forçado a se adaptar-se. Segundo Aun (2001), “A
eficácia da ação do Estado não depende apenas da capacidade de tomar decisões, mas de
adequar as suas políticas a partir de arenas de discussão e de negociação, implementando uma
gestão articulada”. Devido à busca constante por inovação, a pressão popular e a mudança
contínua da economia e da sociedade, o Estado se encontra em uma situação de grande
incerteza. A incerteza se reflete na transformação do processo de formação de políticas.
Browne (1997) identifica seis sentidos para a palavra política:
1) política como teoria ou modelo: a política envolve aquilo que os governos podem fazer e
esperam conseguir; implica em um modelo de causa e conseqüência
2) política como expressão de propósito ou estado desejado das coisas: implica na palavra
política sendo utilizada mais como retórica e manifesto de intenções.
3) política como nome de um campo de atividade: foca na atividade governamental em
diferentes áreas, como política exterior e política econômica
4) política como decisões do governo: decisões do governo podem ser descritas como
política.
5) política como proposta específica: são afirmativas sobre atividades e direções que grupos
de interesse gostariam que o governo tomasse
6) política como processo: é a visão dominante na literatura política
A política como processo vem sendo substituída pela política como ação. Aun (2001,
pg.66) aponta:
“Tendo os novos fluxos financeiros como modelo, (o mercado) tenta ganhar
tempo passando a perseguir a orientação desgovernada desses fluxos em
busca de ‘oportunidades’ que vão a cada dia ganhando o aspecto do
oportunismo. As inúmeras possibilidades dos fluxos em redes deixam em
insegurança quem não tem seu ‘norte’ determinado, uma direção apontada
normalmente pelas políticas de longo prazo. De forma generalizada,
seguindo a mão única do tecno-mercado, vão realizando altos investimentos
tecnológicos sem uma seleção prévia das tecnologias mais apropriadas às
necessidades da sua sociedade. Assim são estabelecidos planos de curto
prazo, atendendo à urgência”
O critério da urgência tem impactado em todos os âmbitos da gestão governamental,
inclusive a saúde. Este critério tem sido, segundo Aun, um substituto para o vazio ideológico
22
que domina a decisão política do Estado moderno. Aun cita Moyonner-Smith
12
, que
argumenta que:
a urgência se coloca de forma obrigatória dentro do discurso político, para
assim agir mais livremente em resposta à esfera econômica. Por outro lado, a
situação de “começo” é então apresentada como ruim, dramatizada pelo
discurso do atraso. Numa situação colocada de urgência permanente, a lógica
das ões pidas e planos de curto prazo vêm livremente substituir as
políticas de longo prazo.”
O processo de decisão política tem impacto direto na vida de milhões de pessoas e é
de capital importância para a manutenção da estabilidade social. A orientação por políticas é
substituída por uma gestão por projetos, embasada por critérios de urgência e eficácia. A
argumentação técnica e racional criada por este modelo, por sua vez, justifica os esforços no
sentido da automatização dos processos de produção e processamento da informação levando
ao surgimento de uma política específica para a informação.
Braman (2007, pg.70) define política de informação “como um termo “guarda-chuva”
que se refere a toda lei e regulamento que trata da criação, processamento, fluxo e uso da
informação”. Segundo esta autora, a política de informação deve considerar a cadeia de
produção da informação para orientar seus estudos. A cadeia é composta da criação,
processamento, transporte, distribuição, armazenamento, destruição e busca da informação.
O impacto destas mudanças na sociedade possui um grande impacto na mudança no
modelo de atenção à saúde (no setor público e privado) assim como na mudança na gestão das
instituições de saúde. Este reconhecimento crescente da centralidade da informação e das
tecnologias da informação levou ao desenvolvimento de uma política de informação e
informática em saúde. Estes temas serão mais bem tratados na próxima seção.
2.1.2 A mudança do modelo de saúde
A atual conformação do sistema público de saúde, universal, íntegro e gratuito,
começou a ser construído com o processo de redemocratização do país e antes de sua criação
pela Constituição de 1988. (NEGRI, 2002)
O Movimento da Reforma Sanitária, contrário ao modelo de saúde considerado
desestatizante e centralizador, surge nos anos 80, congregando acadêmicos ligados à Saúde
Pública, profissionais da saúde e setores da sociedade. A Constituição incorpora sua visão de
12
MONNOYER – SMITH, Laurence. L’urgence en politique: temps d’action en temps du discours. Sciences de
la société, Toulouse, n.44, mai, p.63-81, 1998.
23
saúde como direito social e dever do Estado. São definidas pelo texto constitucional as
principais características do SUS: universalidade; gratuidade; integridade; organização
descentralizada com direção única em cada esfera de governo; prioridade das atividades
preventivas e sem prejuízo das atividades de assistência; participação da comunidade;
financiamento público das três esferas de governo e participação da iniciativa lucrativa e
filantrópica de modo auxiliar.
As dificuldades de financiamento do início da década, mencionadas anteriormente,
restringiam a capacidade de ação do setor público. A prioridade com a atenção básica e com a
prevenção está algum tempo no discurso da área da saúde. O extraordinário avanço da
descentralização abre perspectivas de grande desenvolvimento na gerência do SUS, pela
inserção de atores e pela maior possibilidade de participação social. E a desarticulação
excessiva da assistência, a necessidade de garantia de qualidade e a fortificação dos
mecanismos de referência e contra-referência, são dificuldades num quadro fragmentado, que
não podem ser subestimadas (NEGRI, 2002)
.
Segundo o Ministério da Saúde
(2003, pg.1-2)
:
“Em nosso país, a saúde é o setor que vem sendo submetido ao mais
significativo processo de reforma de Estado, protagonizado por importantes
segmentos sociais e políticos, cuja ação é fundamental à continuidade e
avanço do movimento pela Reforma Sanitária, bem como para a
concretização do SUS. Por essa razão, as várias instâncias do SUS devem
cumprir um papel indutor no sentido das mudanças, tanto no campo das
práticas de saúde como no campo da formação profissional.”
A multiplicidade de segmentos participantes na reforma reflete o aumento da
participação social na definição dos rumos do Estado, discutido na seção anterior. A
dificuldade na coordenação da política é então substituída pela ênfase em projetos. A política
se refere então à definição dos princípios que regem os projetos. O Ministério da Saúde edita
regularmente estes princípios que afetam todas as instituições que sobrevivem destes recursos
(como por exemplo, a instituição estudada).
Na definição do destino dos recursos a serem investidos em saúde, três itens são
fundamentais segundo documento do Ministério da Saúde (2005):
a) a distribuição do montante de recursos disponíveis por região, unidade da
federação e municípios, de forma a garantir a redução das desigualdades
regionais;
b) os critérios de seleção, priorização e aprovação de projetos pontuais, de
modo que eles reflitam a política nacional de saúde, revertam em maior
oferta de serviços, apresentem resolutibilidade e qualidade satisfatórias,
24
promovam a integralidade das ações e sejam sustentáveis do ponto de vista
econômico e da rede de serviços de saúde; e
c) a coordenação da ação de saúde de forma integrada, sem a qual a eficiência
e a eficácia da ação social estarão comprometidas, assim como o
desenvolvimento do setor (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1993).
Estas diretrizes demonstram a importância da excelência na gestão das organizações e
da integração entre as ações das diferentes instituições que prestam atenção à saúde. Refletem
também a ênfase no tecnicismo, uma vez que enfatizam a importância da eficiência e eficácia,
e a urgência, quando enfatizam a prioridade na diminuição das desigualdades regionais.
A mudança da orientação do Estado serviu como impulso para o desenvolvimento e
implantação das TIC nas instituições financiadas pelo setor público, uma vez que estas
tecnologias são essenciais no planejamento, execução, justificativa e avaliação dos projetos
em saúde. O Ministério da Saúde (MS), consciente da relevância da tecnologia da informação
na melhoria da atenção à saúde, criou em 2003 uma política nacional de informação e
informática em saúde (PNIIS). Neste documento, fica clara a importância dada à informação
na criação do novo modelo de gestão do SUS:
"Há um consenso sobre a importância central da informação para avaliar o
sucesso das políticas de saúde. Este consenso se manifesta não apenas na
literatura especializada (...), mas também em relatórios e recomendações de
Conferências de Saúde, oficinas de trabalho do SUS e eventos de sociedades
científicas. Informações epidemiológicas, financeiras, orçamentárias, legais,
normativas, sócio-econômicas, demográficas e sobre recursos físicos e
humanos, oriundas de dados de qualidade são capazes de revelar a realidade
de serviços e ações de saúde e a situação de saúde da população,
evidenciando vantagens e problemas de prioridades e investimentos
definidos." (FACCHINI et al., 2004, pg.21)
Em sua declaração de propósito, o MS afirma que seu propósito é:
"Promover o uso inovador, criativo e transformador da tecnologia da
informação, para melhorar os processos de trabalho em saúde, resultando em
um Sistema Nacional de Informação em Saúde articulado, que produza
informações para os cidadãos, a gestão, a prática profissional, a geração de
conhecimento e o controle social, garantindo ganhos de eficiência e qualidade
mensuráveis através da ampliação de acesso, eqüidade, integralidade e
humanização dos serviços e, assim, contribuindo para a melhoria da situação
de saúde da população."(FACCHINI et al., 2004, pg.15)
O MS admite neste documento que a informação e a informática em saúde devem ser
elevadas ao nível estratégico das organizações. Além dos benefícios citados acima, um
sistema de informação nacional permite a integração das informações de diferentes fontes e
permite a coordenação das ações inter-setoriais. Pois, "combinadas de modo criativo e
inovador, a tecnologia da informação e a integração do sistema de informações em saúde
25
constituirão uma poderosa ferramenta na promoção da eqüidade na atenção integral à saúde
(FACCHINI et al., 2004, pg.21)."
O reconhecimento da importância da informática no apoio à decisão de saúde fica
claro nas diretrizes. O MS aponta que deve "apoiar a prática profissional, através de uso de
telecomunicações na assistência à saúde, ensino à distância, sistemas de apoio à decisão,
protocolos clínicos e programáticos e acesso eletrônico à literatura especializada (FACCHINI
et al., 2004)."
Além disso, o MS afirma que “a tecnologia da informação e a integração dos sistemas
de informação em saúde contribuirão para aperfeiçoar e consolidar a gestão descentralizada
do SUS”, unindo a gestão e a informação. A tecnologia serve para fortalecer o “comando
único do sistema em cada esfera de governo, aprimorando a descentralização progressiva dos
recursos e contribuindo para a orientação das ações de saúde segundo as necessidades e
demandas locais”. Segundo o MS, a informática e a informação são recursos importantes para
a tomada de decisão, sendo utilizadas “para o planejamento e a avaliação de ações de
promoção, prevenção e reabilitação, capazes de reduzir a morbimortalidade decorrente das
doenças e agravos prevalentes, levando em conta as diversidades locais e regionais, bem
como os grupos ou segmentos populacionais mais expostos (FACCHINI et al., 2004, pg.22).”
A tecnologia da informação deve facilitar o acesso do usuário (população) aos
serviços de saúde. Também deve servir à educação em saúde, facilitando o auto-cuidado e
autonomia. Para os profissionais, a tecnologia deve facilitar os processos de trabalho
(agendamento, referência e contra-referência, etc.) e melhorar a qualidade do trabalho. O
comitê criador da PNIIS cita recursos como registro eletrônico em saúde (prontuário
eletrônico), sistemas de apoio à decisão e tele medicina para facilitar e melhorar o serviço dos
profissionais de saúde. A tecnologia também deve ajudar o gestor público, para aperfeiçoar e
consolidar a descentralização da gestão do SUS.
Os autores afirmam ainda que a informação e a informática dinamizam a gestão da
saúde pública, por vários mecanismos:
a) facilitam o acompanhamento financeiro, administrativo e das políticas de
saúde;
b) subsidiam o planejamento e programação de ações e o estabelecimento de
prioridades;
c) monitoram as ações do SUS, avaliando desempenho, processos e impacto dos
serviços;
d) qualificam as atividades de controle, avaliação, regulação e auditoria
26
e) agilizam o acesso ao conhecimento;
f) possibilitam a realização de consultas e relatórios sobre informações em saúde
e agilizam a troca de informação com outras esferas do SUS.
Apesar desta declaração, a realidade do uso da informação ainda não é ideal. Cohn et
al (2005) estudaram três cidades com sistemas de informação governamentais implantados e
analisaram a utilização destes dados na tomada de decisão dos gestores. Os resultados
encontrados sugeriram que as informações geradas são pouco utilizadas pelos servidores
locais. Dentre as causas, os autores apontam a falta de interesse na obtenção dos dados, a
diferença entre os bancos de dados e a realidade local dinâmica, a falta de familiaridade dos
servidores com análise dos dados e estrutura computacional deficiente. As conclusões da
pesquisa ressaltam a importância de estudos sobre o processo decisório e a realidade local
para implantação de sistemas de informação em saúde.
Enfim, a complexidade da sociedade, da informação e da política impede que esses
temas sejam tratados de forma resumida e adequada, simultaneamente. Ressalta-se o papel da
informação na mudança que se observa na sociedade atual e no modo como as decisões são
tomadas. A tecnologia da informação teve papel essencial nesta transformação e será vista em
maior detalhe em seções subseqüentes.
2.2 O papel da informação nas organizações
Independente da definição adotada, a importância da informação para a sobrevivência
das organizações é inegável. Choo (2003, pg.27) afirma que “a informação é um componente
intrínseco de quase todas as atividades na organização”. A informação é um dos recursos
centrais das organizações modernas (COOPER; FOLTA; WOO, 1995) e fornece vantagem
competitiva (TEO; CHOO, 2001).
A teoria organizacional reconhece o papel central da informação nas organizações.
Choo (1991) aponta duas formas de analisar o papel das informações nas organizações.
A primeira forma vê as organizações como processadores de informação. O foco desta
teoria está na disponibilização da informação para que os empregados tomem as decisões
mais adequadas para as diversas situações encontradas. Segundo esta teoria, a organização
processa a informação para diminuir a incerteza relacionada à execução de determinada
tarefa. Desta forma a organização determina hábitos e procedimentos, relaciona graus
27
hierárquicos adequados e dissemina os objetivos por toda a organização. Esta visão está
fortemente ligada à idéia da racionalidade limitada de Herbert Simon, discutida abaixo.
A segunda as organizações como “construtores” do ambiente (através do
enactment). O foco não é mais na tomada de decisão, mas na redução de ambigüidade do
ambiente externo à organização. Os atores da organização agem no ambiente externo para
criar um sentido para as informações e interpretar o ambiente.
Mais tarde, Choo (2003) tentou unificar estas duas correntes, criando um modelo que
combina a criação de significado, a construção do conhecimento e a tomada de decisão. Estas
três fases ajudam na compreensão do papel da informação nas organizações (Figura 1).
Figura 1 - Modelo de uso da informação nas organizações
FONTE: (CHOO, 2003)
A primeira fase do modelo é a criação de significado. O autor argumenta que “as
pessoas (...) estão sempre tentando entender o que acontece à sua volta”. Para ele, a atividade
central na interação entre informação e organização é a resolução da ambigüidade da
informação. Mais que perceber o ambiente externo, as pessoas estão sempre tentando criar sua
realidade subjetiva.
28
Weick
13
(apud CHOO, 2003, pg.32) afirma que, o objetivo das organizações, vistas
como sistemas de criação de significado, é criar e identificar fatos recorrentes, de modo a
estabilizar o ambiente e torná-los mais previsíveis”. Este autor propõe que a organização dá
sentido às mudanças através de três processos: interpretação, seleção e retenção. Daft e
Weick (1984) dividem a interpretação em duas fases: redução de ambigüidade e criação de
regras. De forma resumida, ambas as proposições dizem que a chegada de novas informações
suscita um diálogo até que as várias interpretações possíveis para uma dada mudança estejam
colocadas em um vocabulário comum. Em seguida, ocorre uma seleção entre as interpretações
que melhor descrevem a situação e a criação de regras (retenção) que parecem se adequar a
situações deste tipo. Estas regras serão reutilizadas na próxima vez que uma informação
semelhante chegar à organização.
A criação de sentido para uma informação é, portanto, dependente das experiências
prévias dos membros da organização e da composição atual da mesma. Porém, é dependente
também da forma como a perturbação chega à empresa. Alguns autores demonstraram que o
formato em que a informação é apresentada pode alterar a ambigüidade percebida na
informação (LIM; BENBASAT, 2000). A acessibilidade preferencial a algumas informações
também pode criar um viés na decisão (GLAZER; STECKEL; WINER, 1992).
Para que a organização processe a informação para criar o significado, é necessário
que esta seja percebida pelos integrantes da empresa. Esta percepção pode ocorrer de duas
formas: através da exposição à informação ou através da busca direcionada (AUSTER;
CHOO, 1994). Esta etapa também está sujeita a vieses.
a) As mudanças do ambiente não são claras, direcionadas e objetivas. O reconhecimento
da informação (diferença) como relevante exige um filtro. As organizações precisam
filtrar, dentre todas as perturbações, aquelas mais importantes para uma ação efetiva.
Esta seleção é dependente de fatores intrínsecos ao mecanismo, como a rigidez de
sistemas computadorizados e a subjetividade dos seres humanos. Habilidades
analíticas específicas podem fazer com que dados ganhem uma perspectiva ou
interpretação particular (DAVENPORT; CRONIN, 1994). Diante de ambientes com
grande ambigüidade, as organizações podem participar ativamente do processo de
criação de informação para obter dados mais significativos (DAFT; WEICK, 1984);
13
Weick, K. E. - Sensemaking in Organizations , Sage Publications , London , 1995
29
b) As organizações estão imersas em um ambiente formado por clientes, governo,
competidores e recursos. Este ambiente está em constante mudança. Segundo Barbosa
(2006.), essa mudança ocorre em duas dimensões: o crescimento da complexidade do
mundo dos negócios e o aumento da velocidade das mudanças. O mundo é dinâmico e
as mudanças constantes: se pode analisar o passado. Portanto, é importante
considerar a atualidade das informações para que a reação seja feita em tempo hábil
(HOHHOF, 1994);
c) A visão altera o objeto. Desdobramento filosófico da clássica Teoria da Incerteza de
Heisenberg
14
, este fenômeno ocorre quando a simples presença do observador altera o
comportamento dos atores. Por exemplo, quando uma empresa, ao se ver copiada,
reage com aumento do incentivo à inovação ou políticas de informação mais
restritivas.
A segunda fase do modelo é a construção do conhecimento. Segundo Choo (2003)
esta fase servirá para converter a informação interpretada e criar novo conhecimento. Nonaka
e Takeuchi (1995), propositores da mais influente teoria de criação do conhecimento,
argumentam que estudar o conhecimento é muito difícil por ser um “conceito multifacetado
com sentidos em rias camadas
15
”(NONAKA, 2002, pg.438). Definem conhecimento como
uma “crença verdadeira justificada”. Davenport e Prusak descrevem uma definição mais
específica:
“Conhecimento é uma mistura fluida de experiências contextualizadas,
valores, informações contextuais, e insight de especialistas que fornecem um
arcabouço para avaliar e incorporar novas experiências e informação. Ele se
origina e é aplicado nas cabeças dos conhecedores. Nas organizações,
geralmente se torna embutido não apenas nos documentos e repositórios, mas
também nas rotinas, processos, rotinas, práticas e normas
organizacionais”(DAVENPORT; PRUSAK, 1998, pg.5)
16
.
Fica claro que, para estes autores, informação é diferente de conhecimento, sendo que
o último é subjetivo e implícito, assim quase intransferível. O conhecimento é ainda dividido
em dois tipos principais. Conhecimento tácito é o conhecimento pessoal, complexo,
desenvolvido e internalizado pelo conhecedor durante um longo período de tempo.
14
A teoria da incerteza postula que é impossível saber a velocidade e a localização de uma partícula em um dado
momento, pois a luz emitida para que possamos ver a partícula modifica sua trajetória. Filosoficamente, sugere
que o observador ao realizar sua observação necessariamente entra e modifica o sistema que abriga o objeto,
modificando-o.
15
“Knowledge is a multifaceted concept with multilayered meanings.”
16
“Knowledge is a fluid mix of framed experience, values, contextual information, and expert insight that
provides a framework for evaluating and incorporating new experiences and information. It originates and is
applied in the minds of knowers. In organizations, it often becomes embedded not only in documents or
repositories but also in organizational routines, processes, practices, and norms.”
30
Conhecimento explícito é aquele codificado, e pode ser facilmente transmitido sem a presença
física do conhecedor. Choo (2002) cita um terceiro tipo de conhecimento, o conhecimento
cultural que seria demonstrado em crenças, valores e pressupostos de uma organização.
Nonaka e Takeuchi (1995) afirmam que a criação do conhecimento ocorre através da
interação do conhecimento tácito e explícito. Estes autores propuseram quatro formas para a
conversão de conhecimento: socialização, externalização, combinação e internalização.
O primeiro modo de conversão, a socialização, consiste na conversão do
conhecimento tácito em conhecimento tácito, através do processo de experiências
compartilhadas. Para tal, é necessário que exista a aprendizagem através da interação entre
indivíduos. O segundo modo, a combinação, consiste na conversão do conhecimento
explícito em conhecimento explícito. Este processo ocorre com a interação formal entre as
pessoas (telefone, reuniões) e resulta da reordenação, adição, recategorização e
recontextualização do conhecimento.
O terceiro modo, a externalização, consiste na codificação do conhecimento tácito
para uma forma compreensível e formalizada. Este modo permite a disseminação do
conhecimento sem a presença física do conhecedor, mas faz com que o conhecimento perca
sua nuances e detalhes. O último modo, a internalização, consiste na absorção e
transformação do conhecimento codificado através de uma experiência de aplicação prática
deste conhecimento. Desta forma, o conhecimento explícito é adaptado para a realidade tácita
do novo conhecedor, adquirindo novas características. Todas estas etapas estão interligadas e
formam uma espiral. Cada vez que o conhecimento passa pelo ciclo, existe a criação de novos
conhecimentos.
Após a criação do conhecimento, a organização precisa utilizar este conhecimento
tomando decisões e executando ações. Esta próxima etapa do modelo proposto por Choo será
estudada em mais detalhes, pois é o objetivo do presente estudo.
31
3 O processo decisório
“Em teoria, não diferença entre a teoria e a prática. Mas, na
prática, há.
17
Jan L. A. van de Snepscheut
18
se tornou senso-comum o conceito que a decisão é um momento essencial na vida
das organizações. No entanto, suas definições são provavelmente tão abrangentes e múltiplas
como as definições vistas para o conceito informação. A forma mais consensual de definir a
tarefa decisória postula que a decisão compreende as etapas que antecedem a ação
propriamente dita, desde a identificação do problema até a escolha da ação.
A análise do processo decisório é milenar e passou por rias transformações até os
dias de hoje (BUCHANAN; O'CONNELL, 2006). A decisão tem sua origem com os filósofos
gregos e chineses. Após a Idade Média, o processo decisório passa por uma grande mudança
com a importância capital da análise racional introduzida por Descartes. Vários matemáticos
contribuíram com o desenvolvimento da teoria, com avanços em probabilidade e risco. Neste
ponto, a pesquisa sobre o processo decisório consistia no estudo das escolhas do ser humano,
considerada um processo inteiramente racional em busca do melhor desfecho possível.
O século XX assistiu a mudanças importantes na análise decisória. Chester Barnard
19
introduziu o tema da análise decisória organizacional, explicando por que alguns indivíduos
agem de acordo com os interesses da firma e não com seus próprios. Na segunda metade do
século XX, o surgimento da teoria comportamental da firma deu grande impulso à análise
decisória, principalmente devido aos estudos de Herbert Simon
20
, Allen Newell
21
, James
March
22
e outros.
17
In theory, there is no difference between theory and practice. But, in practice, there is.”
18
(1953-1994) Cientista da computação e educador
19
(1886-1961) Executivo, escreveu o livro intitulado “Funções do Executivo”, onde aborda a função da
comunicação na eficácia e efetividade da organização.
20
(1916-2001) Cientista americano, ganhador do prêmio Nobel de Economia em 1978.
21
(1927-1992) Cientista americano, pioneiro nas pesquisas em inteligência artificial e cognição.
22
(1928-*) Cientista americano, pioneiro nas pesquisas sobre tomada de decisão administrativa
32
3.1 A Teoria Clássica do Processo Decisório
Herbert Simon foi o pesquisador mais significativo do estudo do processo decisório do
homem administrativo (POMEROL; ADAM, 2004). Na época em que Simon começou seus
estudos, o processo decisório sofria grande influência da teoria de jogos (de von Newmann e
Morgenstern
23
) e das teorias econômicas. Porém, os modelos introduzidos pela teoria dos
jogos, apesar do grande refinamento matemático, não se aplicavam muito bem ao homem
administrativo no dia-a-dia de suas decisões. Simon (1979) aponta que:
“Na ciência social, (...) nós temos os economistas que atribuem ao homem
econômico uma racionalidade onisciente absurda. O homem econômico
possui um sistema completo e consistente de preferências que sempre
permitem escolher entre as alternativas abertas a ele; ele tem a percepção
completa de quais são estas alternativas; não existem limites para a
complexidade de cálculos que ele pode fazer para determinar quais
alternativas são as melhores; cálculos probabilísticos não são nem
amedrontadores ou misteriosos para ele.”
A teoria econômica do processo decisório não considera as características inerentes às
organizações, nem a motivação que inspira as decisões de gestores e empregados ou o
processo que leva à decisão “ótima”. Para solucionar este problema, Simon pretendia nos seus
estudos compreender as organizações e sua gestão, através do estudo das ações das pessoas no
ambiente diário, e do processo decisório que as antecede (POMEROL; ADAM, 2004).
Os estudos de Simon, profundamente ligados à escola comportamental da
administração, apontaram para o problema da escolha (consciente ou não) e da influência
dessas decisões no comportamento dos empregados. De forma geral, Simon(1979) dividiu o
processo decisório nas seguintes partes:
a) identificar todas as alternativas possíveis
b) determinar todas as conseqüências possíveis para estas alternativas
c) avaliar todas as possíveis conseqüências
Segundo este modelo, o processo decisório ideal seria aquele de completa
racionalidade objetiva, em que cada alternativa seria comparada com a próxima para a
determinação da alternativa ótima. Choo (2003, pg.41) aponta que “Num mundo ideal, a
escolha racional exigiria uma análise de todas as alternativas disponíveis, informações
confiáveis sobre suas conseqüências e preferências consistentes para avaliar essas
conseqüências”. Na prática, porém, é impossível alcançar este ideal da racionalidade objetiva.
Do ponto de vista mais simplista, os processos decisórios são limitados pela incapacidade
23
Autores do livro “Teoria dos Jogos e Comportamento Econômico” de 1944.
33
mental de processar informações e pela velocidade de resposta mental. O comportamento real
não alcança a racionalidade objetiva devido a pelo menos três aspectos segundo Simon(1979):
a) a racionalidade requer um conhecimento completo de todas as conseqüências
resultantes de cada opção, mas o conhecimento em geral é fragmentado;
b) como a conseqüência é um evento futuro, a imaginação supre a falta de dados,
mas sempre de forma imperfeita;
c) o ser humano é incapaz de levar em consideração todas as alternativas
possíveis.
Além disso, Simon destaca duas outras limitações ao processo decisório
administrativo racional (POMEROL; ADAM, 2004): a influência organizacional e a limitação
causada pela informação.
As decisões dentro da organização são dispersas e sub-decisões não são mutuamente
excludentes. Várias pequenas decisões não formam necessariamente uma decisão consistente.
Mintzberg et al (1998, pg.157-159) descrevem um interessante caso em que uma firma
automobilística contratou consultores para determinar quem decidiu sobre a introdução de um
novo modelo. A conclusão foi que não houve um único indivíduo tomador de decisão, mas a
soma de várias pequenas decisões interligadas, como uma “bola de neve”.
Os indivíduos organizacionais também são limitados por seus valores e pelos
conceitos de propósito que os influenciam a tomar decisões. Mahoney (2004, pg.16)
exemplifica com uma interessante metáfora: “três pedreiros enquanto montavam uma parede
de tijolos foram perguntados sobre o que faziam: “colocando tijolos”, ”construindo uma
parede” e “ajudando a construir uma grande catedral” foram as respostas respectivas”
24
. Se a
lealdade a uma organização for alta, suas decisões podem evidenciar aceitação sincera dos
objetivos. Se for baixa, as motivações pessoais podem comprometer a utilidade da decisão
para a organização.
A outra limitação é a informação disponível e a forma como ela afeta o processo
decisório. Esta limitação é particularmente evidente na consideração das limitações cognitivas
que o tomador de decisão enfrenta para determinar quais são as alternativas disponíveis. A
atenção tem uma participação importante na delimitação de problemas, uma vez que é um
recurso raro. A atenção, segundo Simon, “refere-se ao conjunto de elementos que entram no
consciente a qualquer momento”. Simon (1979, pg.107) ressalta, entretanto, que “a
consciência não constitui uma precondição necessária à (aptidão a aprender) e que mesmo
24
Three bricklayers were asked what they were doing. “Laying bricks,” “Building a wall,” “Helping to build
a great cathedral” were their respective answers
.”
34
aqueles comportamentos que não são objeto da atenção são capazes de ajustamento
deliberado.”
Como saída para estas limitações, Simon propôs que o conceito de “maximização de
ganhos” (decisão ótima) deveria ser substituído pelo conceito de “suficientemente bom”
(decisão satisfatória). Enquanto o homem econômico “maximiza”, o homem administrativo
“satisfaz”. Na prática o processo decisório termina quando os tomadores de decisão atingem
uma solução que parece razoável dentro das hipóteses que consideram mais prováveis. A
importância da limitação cognitiva no processo seletivo das alternativas, levou Simon a
propor a divisão do processo decisório em três fases, posteriormente adicionando uma quarta
fase (POMEROL; ADAM, 2004):
1. fase de inteligência ou investigação: exploração do ambiente, processamento
dos dados, identificação de problemas e oportunidades, variáveis relacionadas
ao problema são colocadas em evidência;
2. fase de desenho ou concepção: criação, desenvolvimento e análise dos
prováveis cursos de ação pelo tomador de decisão;
3. fase de escolha: seleção da alternativa ou do curso de ação;
4. fase da revisão e implementação: fase em que acontece a avaliação de decisões
passadas e a implementação dos cursos de ação selecionados
A informação e a atenção são fundamentais nas duas primeiras fases do processo
decisório, uma vez que os gestores só podem escolher entre “alternativas que eles conhecem e
que podem documentar” (POMEROL; ADAM, 2004). A organização e as características
individuais do tomador de decisão, que permeiam todas as fases do processo, também têm
grande influência nas ações de uma organização.
35
Figura 2 – Modelo de tomada de decisão racional
FONTE: (CHOO, 2003)
Estudar-se a com mais profundidade estes três aspectos na tentativa de evidenciar o
impacto de cada uma delas no processo e na construção de sistemas de informação.
3.2 A Informação e o Processo Decisório
A importância da informação para o processo decisório é consensualmente
reconhecida e bem documentada nos estudos sobre decisão. Vandenbosch e Huff (1997)
resumem a posição de diversos autores da literatura científica que demonstram a importância
da informação. Segundo estes autores, a informação permite aos executivos decidir onde,
quando e em qual sentido devem dirigir sua atenção. Permite também a melhor compreensão
do problema e a formulação de hipóteses e seleção de cursos de ação. Feldman e March
(1981) afirmam que as decisões são provenientes da previsão incerta sobre as conseqüências
de ações possíveis e sobre a previsão de como serão as preferências sobre estes desfechos. A
informação é buscada e utilizada visando à melhoria na qualidade destas previsões. Seguindo
esta linha de raciocínio, a informação possui valor se é esperado que ela modifique a escolha.
Para Choo (2003), por exemplo, o elemento determinante do sucesso ou do fracasso
organizacional é a capacidade das organizações e seus trabalhadores do conhecimento de
desenvolver a compreensão sobre como criar, identificar e usar informação.
36
Uma vez que a informação é essencial para a decisão, é fácil verificar que
características da informação têm grande impacto na qualidade da decisão (entendido aqui
como um bom desfecho para as ações tomadas). Pode-se dividir em quatro os aspectos
relativos à informação que impactam o processo decisório: na definição dos problemas
decisórios; qualidade da informação; busca da informação; uso da informação.
A informação tem um papel primordial na primeira fase do processo decisório. Como
a atenção do ser humano é limitada, a forma como são percebidos os estímulos que
identificam o problema decisório impactam todo o processo.
A qualidade da informação pode ser definida como a acessibilidade, quantidade
adequada, credibilidade, completude, representação concisa, representação consistente,
facilidade de operação, sem erros, interpretabilidade, objetividade, relevância, reputação,
segurança, temporalidade, compreensibilidade da informação (LEE et al., 2002).
Além da qualidade da informação, o modo como a informação é buscada e utilizada
impacta na decisão. Goodman (1993, pg.14) aponta alguns achados sobre a busca de
informação que prejudicam a decisão:
a) a busca da informação é feita fora do processo de tomada de decisão;
b) a informação buscada para suportar o processo decisório é coletada após as
decisões serem tomadas;
c) a informação buscada para embasar o processo decisório não é tomada
desta forma;
d) mais informação é requisitada mesmo quando há informação suficiente
para a tomada de decisão;
e) a informação é considerada insuficiente enquanto dados disponíveis são
ignorados;
f) organizações e indivíduos adquirem mais informação que são capazes de
processar.
Enquanto informações relevantes e no momento certo permitem aos gestores fazer
decisões acertadas, informações irrelevantes dificultam o processo decisório, adicionam
confusão e afetam o desempenho da empresa (ALWIS; HIGGINS, 2001). Alguns autores
inclusive demonstraram que existe uma quantidade ótima de informação para tomada de
decisão, sendo que informação de menos ou de mais prejudica a qualidade da decisão
(HWANG; LIN, 1999).
37
Bazerman e Chugh (2006) argumentam que mesmo com a informação correta e
disponível, muitos tomadores de decisão não utilizam a informação. Estes autores apontam
quatro situações em que a informação não contribui para a decisão:
a) falha em ver a informação: as pessoas se concentram em alguns aspectos da
realidade e freqüentemente têm dificuldade em ver coisas que não estavam
preparadas para ver (ou não estavam acostumadas a ver). Os autores afirmam
que questionar sua própria visão ou chamar outras pessoas para adicionar
novas perspectivas aumenta a possibilidade de ver informações “ocultas”;
b) falha em procurar a informação: Os tomadores de decisão muitas vezes
consideram que possuem informação suficiente para tomar uma decisão e
fecham os olhos para informação adicional. Ainda pior, os tomadores de
decisão podem possuir informação que convenientemente suporta a decisão
que é politicamente ou pessoalmente boa. Os autores recomendam procurar
informações contraditórias (ao invés de confirmatórias) sobre um ponto de
vista para evitar erros na tomada de decisão;
c) falha em utilizar a informação: Tomadores de decisão muitas vezes se
concentram em alguns aspectos da realidade e decidem ignorar informações
que consideram menos importantes. Como exemplo, os autores citam o caso do
Citibank do Japão que considerou informações financeiras tão importantes que
ignorou informações legais que causaram grande prejuízo à empresa. Analisar
a situação conscientemente e em sua totalidade previne tais erros;
d) falha em compartilhar a informação: As decisões são tomadas em conjunto,
mas cada integrante possui informações diferentes que não são compartilhadas
entre eles. Os autores recomendam a criação de mecanismos de
compartilhamento para melhorar a qualidade das decisões.
Um fator de sucesso crítico para uma gestão competente é o uso estratégico da
informação e correlação positiva foi encontrada entre o sucesso da gestão e a avaliação das
necessidades da informação, sua coleta e uso (GOODMAN, 1993).
38
3.3 A Organização e o Processo Decisório
A organização afeta todas as fases da decisão. Além de modificar a informação que
chega à organização, ela determina a forma como ela seapresentada. Além disso, como já
foi demonstrado, a organização influencia a escolha. A decisão se mostra desta forma um
processo complexo e multifatorial. Segundo Davenport et al (2001), “decisões não são feitas
em um vácuo. São feitas no contexto de uma estratégia de negócios particular, um conjunto de
experiências e habilidades particulares, uma cultura e estrutura organizacional particular e um
conjunto de tecnologias particulares”
25
.
A influência organizacional permeia todas as fases do processo decisório e influencia
a decisão de várias formas. Simon (1979, pg.121) aponta cinco formas de controle da
organização:
a) a organização divide o trabalho entre seus membros, e ao atribuir a cada um o
cumprimento de determinada função, dirige e limita a atenção do indivíduo
exclusivamente àquela tarefa;
b) a organização estabelece padrões de desempenho;
c) a organização comunica as decisões de cima para baixo (assim como
lateralmente e para o alto) através de seus vários escalões, estabelecendo
sistemas de autoridade e influenciação;
d) a organização proporciona canais de comunicação que se estendem em todas as
direções e através dos quais fluem as informações para a tomada de decisão;
e) a organização treina e doutrina seus membros.
A organização também determina a forma como a informação será recebida e
interpretada pelos atores. A estrutura e a cultura da organização interferem na utilização e no
descarte dos dados para análise e decisão. Desde a chegada da perturbação à organização, a
organização participa da construção de sentido (sense-making). O processo de sense-making
descrito acima é, segundo Weick et al (2005), um processo de interpretação compartilhada
através da comunicação entre os diversos atores da organização. Esta comunicação afeta o
fluxo da informação, a forma como a organização percebe e transmite esta informação, e cria
vários pressupostos que a organização assume como verdade e baseia suas decisões. No
momento da tomada de decisão, dado que todas as pessoas o restritas pela racionalidade
25
Decision are not made in a vacuum. They are made in the context of a particular business strategy, a
particular set of experience and skills, a particular culture and organizational structure, and a particular set of
technology and data capabilities”
39
limitada, o indivíduo organizacional assume um ambiente de premissas (aceitas pelo
indivíduo como base para escolha) e o comportamento se adapta apenas de acordo com os
limites determinados por estas premissas (MAHONEY, 2004). Ocorre então o surgimento de
rotinas pré-estabelecidas no sentido de simplificar o processo decisório.
O processo de simplificação do processo decisório possui forte relação com o
desenvolvimento de sistemas de informação. À medida que a empresa amadurece sua
concepção da realidade, este conhecimento pode ser embutido nas rotinas (processos) e no
sistema de informação. Por exemplo, suponha que um determinado tipo de empregado seja
responsável pela colocação de uma peça. Ao longo do tempo, a organização descobre a
melhor forma da colocação desta peça e transforma este conhecimento em uma rotina. Em
seguida, instala um sistema para avaliação da qualidade da colocação da peça. As decisões
sobre bonificação e promoção do empregado ficam então relacionadas às informações
disponibilizadas pelo sistema de informação para os gerentes. Pode-se verificar, neste
momento, que a simplificação da decisão (relacionada à adequação do processo de colocação
da peça de acordo com o padrão da organização) será modificada caso exista uma nova
interpretação da realidade (a peça na verdade deveria ser colocada e avaliada de outra forma).
O sistema de informação é, portanto, capaz de solidificar uma interpretação.
A união entre sistemas de informação e os papéis interpretativos dos atores da
organização é essencial para possibilitar ao administrador a aproximação adequada da
realidade. É comum a presença de grandes bancos de dados transacionais que pela ausência de
uma estrutura analítica são descartados pelos administradores (DAVENPORT et al., 2001).
Segundo Davenport et al (2001), a transformação dos dados em informação se em um
contexto de estratégia, habilidades e experiência, organização e cultura, e tecnologia e dados.
Enquanto várias organizações se concentram apenas nos dados e tecnologia, os outros
elementos permitem o foco na tarefa analítica e a adição do conhecimento da organização na
interpretação dos dados. As habilidades necessárias para a conversão dos dados em
informação estão listadas na Tabela 1.
.
40
Tabela 1 - Habilidades na construção da capacidade analítica
Administrador de
Banco de Dados
Analista de Negócio
/ Modelador de
Dados
Tomador de
Decisão / Gerente de
Desfecho
Habilidades
Tecnológicas
Extração de dados
Importação/exportação de
dados
Formato de dados e
registro
Encontrar dados perdidos
Extração de dados
Importação/exportação de
dados
Teste de arquivos
Software de relatório
estatístico
Consultas ao sistema de
informação
Visualização dos dados
Habilidades
Analíticas e de
Modelagem
Estatística
Requisitos de dados
Validação de dados
Qualidade dos dados
Estatística descritiva
Modelagem
multidimensional
Regressão
Análise fatorial/cluster
Redes neurais
Data mining
Relatórios e apresentação
dos dados
Conceitualização analítica
Interpretação dos achados
Limitações da análise
estatística
Conhecimento dos
Dados
Distribuição dos registros
Fontes dos dados
Formato dos dados
Mudanças nos campos e
formatos
Agendamento de
atualizações
História dos arquivos
Disponibilidade dos
dados
Forças e fraquezas dos
dados
Atualidade dos dados
Definição dos campos
Validade dos dados
Forças e fraquezas dos
dados
Definição dos campos
Validade dos dados
Conhecimento do
Negócio
Estratégia do negócio
Conhecimento geral do
setor
Estratégia do negócio
Modelo do negócio
Motivações do negócio
Objetivos do negócio
Termos do negócio
Estratégia do negócio
Modelo do negócio
Motivações do negócio
Temas críticos
Fatores competitivos
Limitação de recursos
Implementação e
aceitação
Habilidades de
Comunicação e
Companheirismo
Escuta
Ensino
Coordenação
Escuta
Persuasão
Ensino
Colaboração
Apresentações à gerência
Ensino
Aprendizagem
Colaboração
Persuasão
Apresentações
FONTE: Modificado de (DAVENPORT, HARRIS et al, 2001)
Dentro do contexto das organizações, outros fatores que não o problema e os objetivos
são de grande importância. Mintzberg (1985) ressalta o papel da política nas organizações e
seu papel da decisão. Esse autor propõe um modelo em que vários tipos de jogos políticos
(alguns legítimos, outros ilegítimos) evoluem de conflitos até a resolução ou a destruição da
organização. Esses jogos têm uma grande importância para uma decisão, pois muitas vezes
decidem o curso de ação em prol de um grupo, e não em prol da empresa. No entanto, estes
41
jogos políticos também têm um papel importante na qualidade da decisão, pois “assegura que
todos os lados de um assunto serão plenamente debatidos, enquanto outros sistemas de
influência tendem a promover apenas um”
26
(MINTZBERG, 1985).
Nesse contexto do jogo político e da discussão sobre o controle de uma organização, o
momento mostra-se propício para uma pequena revisão sobre governança corporativa.
Governança corporativa pode ser entendida como “o conjunto de princípios e processos
associados ao controle e administração das empresas, que tem no conselho de administração o
ponto nevrálgico do sistema de governança”(STAUB; MARTINS; RODRIGUES, 2002,
pg.38). Segundo Braman (2006, pg.3) governança é o conjunto de “processos de decisão,
formais ou informais, com efeito constitutivo (estrutural), seja na esfera pública ou privada”.
Vários atores internos e externos à organização atuam na definição e delegação de
poder, desde acionistas, executivos, até fornecedores, clientes e a própria opinião pública. A
interação entre dirigentes e atores organizacionais é complexa e multifacetada. Segundo a
teoria da agência, enquanto o proprietário visa o lucro e a maximização do valor da empresa,
o dirigente, “dotado de interesses individuais, pode não perseguir os objetivos dispostos pelos
proprietários (...) ou não empregar todo o esforço necessário para a condução do
negócio”(FONTES FILHO, 2003). Como os interesses dos proprietários e administradores
não são coincidentes, cabe aos proprietários a criação de mecanismos de controle e estímulo
para a convergência destes interesses. A formulação das práticas de governança corporativa
surge, então, para regulamentar e organizar a forma como o controle sobre a organização é
exercida pelos diversos atores.
A governança corporativa é pautada por dois pilares: transparência e accountability
(prestação pública de contas) (EECKLOO et al., 2004). Existem dois modelos principais de
governança corporativa, o modelo anglo-saxão e o modelo nipo-germânico. No primeiro
modelo, as práticas visam o fortalecimento do proprietário no controle e seleção das
estratégias da empresa, objetivando aumentar o valor econômico da empresa (FONTES
FILHO, 2003). O segundo modelo visa à formação de estratégias de longo prazo, fontes
estáveis de capital e grande participação dos stakeholders, dentre bancos, clientes e governo
(STAUB; MARTINS; RODRIGUES, 2002). Como pode ser visto, a orientação das práticas é
determinada eminentemente pelo capital, e sua aplicação nas organizações estatais é
relativamente limitada. Fontes Filho(2003) afirma que:
26
assures that both sides of a subject will be fully discussed, while other systems of influence tend to promote
just one”
42
“A difusão desses modelos tem contribuído para ampliar a discussão
da governança para as demais organizações, as não mercantilistas, tais como
organizações sem fins lucrativos, organizações sociais e do terceiro setor,
além de outras como hospitais e escolas e mesmo organizações públicas que
estão sujeitas a padrões de aceitação social tão importantes à sua
sobrevivência quanto o próprio lucro.”
Enquanto o aumento do valor da empresa para o acionista é um parâmetro razoável
para a formulação de práticas de governança para empresas privadas, dificilmente pode ser
aplicado em empresas públicas. De fato, é a ausência de parâmetros fidedignos de
desempenho e produtividade a grande dificuldade na criação de práticas de controle dos
dirigentes. A falta de concorrência e a primazia da efetividade sobre a eficiência também são
dificultadores deste processo fácil perceber que a avaliação de um hospital é realizada
principalmente sobre o cumprimento de determinada missão, por exemplo, o atendimento de
pacientes de determinada região, e não por sua eficiência na aplicação de recursos).
Como o controle externo é de difícil aplicação, o controle interno se mostra uma boa
solução para os problemas de agência. As empresas públicas devem prestar contas a diversos
grupos, como empregados, fornecedores, clientes e comunidade em geral, e esta pressão por
prestação de contas é um mecanismo de controle importante. A introdução de mecanismos de
votação por representantes destes grupos favorece ainda mais o exercício do controle das
ações do conselho de administração, diminuindo os efeitos de agência.
O grande problema do controle interno, uma vez que o Estado é o principal
controlador das suas organizações, é a dificuldade na definição de objetivos claros. O
conselho de administração das empresas freqüentemente é subordinado às orientações
políticas do grupo que controla a organização, o que pode mitigar a influência da sociedade.
Para resolver tal problema, é necessária uma análise ampla das práticas de cada organização,
para a criação de leis (controles externos) que causem impacto nos mecanismos de controle
interno sem impor restrições danosas ao Estado, sociedade e organização. Segundo
Braman(2006, pg.3),
“o campo abrangente no qual sistemas legais específicos aparecem, mudam e
desaparecem inclui normas éticas e comportamentais, hábitos de discurso,
práticas culturais, estruturas de conhecimento, formas organizacionais,
processos de decisão no setor privado, público e individual, e as tecnologias
em si mesmas, assim como as formas de legislação e regulamentação de
governos oficialmente reconhecidos”
27
27
“The broad field within which particular legal systems appear, change, and disappear includes ethical and
behavioral norms, discourse habits, cultural practices, knowledge structures, organizational forms, private
sector and individual decision-making, and technologies themselves as well as the formal laws and regulations
of officially recognized governments.”
43
Em suma, a influência organizacional na tomada de decisão pode ser sentida através
de inúmeras formas. A organização influencia a recepção e o processamento da informação,
cria mecanismos de padronização do comportamento (através de rotinas, processos e cultura)
e cria mecanismos de controle das ações individuais (prestação de contas, estruturação da
hierarquia de poder). Apesar de todos estes controles, é necessário sempre ter em mente que é
o indivíduo que, em última instância, fará a escolha e tomará a decisão. Este último aspecto
será visto no próximo item.
3.4 O Indivíduo e o Processo Decisório
A análise de Simon pressupõe que o tomador de decisão avaliará diferentes opções de
ação baseado na informação disponível e limitado por condições organizacionais e pessoais.
Este conceito da racionalidade limitada foi expandido por diversos pesquisadores, em especial
por Kahneman e Tversky que estudaram a utilização de heurísticas na tomada de decisão.
Estes autores argumentam que rias decisões são tomadas de acordo com
pressupostos sobre a probabilidade de eventos incertos. Para chegar a uma conclusão, é
necessário reduzir a complexidade inerente à realidade a tarefas de julgamento mais simples e
factíveis(TVERSKY; KAHNEMAN, 1974). Estes procedimentos de simplificação são
coletivamente chamados de heurísticas e podem ser definidos como regras práticas ou
estratégias de raciocínio informais, ao contrário de fórmulas matemáticas calculáveis.
Kahneman (2003, pg.707) define que “um julgamento é mediado por uma heurística quando a
avaliação individual de um atributo-alvo especificado sobre o objeto de julgamento é
substituído por um atributo heurístico relacionado que chega mais facilmente à mente”
28
.
Os procedimentos heurísticos são essenciais à vida humana, mas podem incorrer em
diversos vieses que se afastam da decisão mais apropriada (considerando o conhecimento em
teoria da probabilidade e estatística bayesiana). As classes principais de heurísticas e os vieses
associados são:
1. heurística de representatividade - Ocorre quando a pessoa não considera
adequadamente as características probabilísticas do problema. Por exemplo, se
uma determinada doença possui a probabilidade um em um milhão, a presença
de uma apresentação típica da doença não faz com que seja o diagnóstico mais
28
A judgment is said to be mediated by a heuristic when the individual assesses a specified target attribute of a
judgment object by substituting a related heuristic attribute that comes more readily to mind.”
44
provável (valendo a máxima de é mais comum uma apresentação atípica de
uma doença comum que uma apresentação típica de uma doença rara). São
considerados heurísticas de representatividade os erros atribuídos à
desconsideração de amostras pequenas (onde a variação é muito grande), erros
de percepção de chance (um processo aleatório não garante uma distribuição
uniforme) e erros de concepção sobre regressão à média (para avaliação de
associação entre variáveis).
2. heurística de disponibilidade - A facilidade de acessar um evento pregresso faz
com que as pessoas pensem que é mais provável a ocorrência de um evento
parecido do que um evento de difícil lembrança. Por exemplo, o risco
envolvido em uma expedição é calculado de acordo com a forma como se
imagina contingências para as quais a equipe não está equipada, mesmo que a
chance imaginada de ocorrência destes eventos não reflita a probabilidade real.
3. heurística de ajustamento e ancoragem Um valor esperado é estimado em
relação a um valor inicial dado. Por exemplo, ao demandar a estimativa rápida
de duas multiplicações sendo o primeiro:
1 X 2 X 3 X 4 X 5 X 6 X 7 X 8
e o segundo:
8 X 7 X 6 X 5 X 4 X 3 X 2 X 1
a estimativa da resposta à primeira pergunta foi em média 512 e da segunda foi
2.520 (a resposta correta é 40.320). É possível que a âncora aja como uma
sugestão, tornando mais disponível a informação que é mais consistente com a
âncora. Ou seja, a presença da âncora pode determinar qual informação será
recuperada pelo indivíduo(TONETTO et al., 2006).
Outro aspecto relevante dos estudos de Kahneman e Tversky é o efeito de “moldura”
(framing effect). Segundo os autores, a formulação do problema modifica significativamente a
resposta. Um simples problema exemplifica bem este conceito(KAHNEMAN, 2003, pg.702):
“Problema 1 – A Doença Asiática
Imagine que (o seu país) está se preparando para um surto de uma doença
asiática incomum que, acredita-se, matará 600 pessoas. Dois programas
alternativos para combater a doença foram propostos. (...)
Se o programa A for adotado, 200 pessoas serão salvas.
Se o programa B for adotado, existe a chance de 1/3 de 600 pessoas serão
salvas e a chance de 2/3 que nenhuma pessoa será salva.
Qual dos dois programas você favoreceria?
Nesta versão do problema, uma maioria substancial dos respondentes
favoreceu o programa A, indicando aversão ao risco. Outros respondentes,
45
selecionados aleatoriamente, receberam um questão que cobria a mesma
história, mas seguida de uma descrição diferentes das opções:
Se o programa A’ for adotado, 400 pessoas morrerão.
Se o programa B’ for adotado, existe uma chance de 1/3 que ninguém
morrerá e uma chance de 2/3 que 600 pessoas morrerão.
Uma “clara maioria dos respondentes agora favorecia o programa B’, a opção
ligada ao risco.”
29
.
É possível observar, no exemplo acima, que o problema é exatamente o mesmo, e as
probabilidades também. Porém, ao diferenciar o “salvamento” da “morte”, o entrevistador
induziu uma clara mudança no comportamento da maioria das pessoas. Trazendo este
exemplo para o domínio organizacional, suponha que um sistema de apoio à decisão não
aponte não apenas a possibilidade de lucros com determinado investimento, mas a
probabilidade de prejuízos caso o investimento seja mal sucedido. De acordo com estes
autores, o comportamento do decisor será diferente mesmo que o problema seja o mesmo!
Das e Teng (1999) estudam outros vieses cognitivos, mais aplicados ao terreno dos
negócios. Em seus estudos, quatro vieses cognitivos são considerados importantes:
a) hipóteses anteriores e foco em alvos limitados: Os gestores tendem a trazer
idéias pré-concebidas para o processo decisório. Ao mesmo tempo, eles focam
em aspectos que mais diretamente apontam para seus objetivos, ignorando
outros aspectos importantes à decisão;
b) exposição a alternativas limitadas: A informação é geralmente incompleta em
situações de decisão e foca em um número limitado de opções. Os tomadores
de decisão prestam atenção seqüencial às alternativas e usam a intuição como
ferramenta de análise. Portanto, ao invés de enumerar todas as possibilidades,
os tomadores de decisão se limitam a poucas opções;
c) insensibilidade a probabilidade dos resultados: Os tomadores de decisão não
entendem, não confiam e não utilizam o conceito de probabilidade de
resultados. Os gestores acreditam mais na importância dos resultados do que
29
Assume that the exact scientific estimates of the consequences of the programs are as follows:
If Program A is adopted, 200 people will be saved.
If Program B is adopted, there is a one-third probability that 600 people will be saved and a two-thirds
probability that no people will be saved.
Which one of the two programs would you favor?
In this version of the problem, a substantial majority of respondents favor Program A, indicating risk aversion.
Other respondents, selected at random, receive a question in which the same cover story is followed by a
different description of the options:
If Program A_ is adopted, 400 people will die.
If Program B_ is adopted, there is a one-third probability that nobody will die and a two-thirds probability that
600 people will die.
A clear majority of respondents now favor Program B, the risk-seeking option.”
46
na probabilidade de obtenção destes resultados. Além disso, vêem cada
problema como único, desconsiderando o conhecimento dos resultados
anteriores;
d) ilusão de gerenciamento: Gestores percebem a probabilidade de sucesso de
forma irracionalmente otimista, dando uma sensação de controle. Eles também
acreditam que os problemas de cada decisão podem ser tratados depois da
decisão, falsamente diminuindo a importância atribuída a uma determinada
decisão.
Como foi discutido acima, a presença de heurísticas leva a vieses cognitivos
importantes determinando o comportamento do indivíduo frente aos problemas decisórios.
Apesar da importância destes vieses, eles raramente são considerados durante a tomada de
decisão(DAS; TENG, 1999). Ainda assim, a pesquisa sobre os vieses cognitivos assume uma
característica importante: a racionalidade do tomador de decisão. Como será visto em seções
posteriores, nem sempre este pressuposto é verificado na realidade.
3.5 A decisão não estruturada
O desenvolvimento da teoria da decisão por Simon teve grande influência nas
pesquisas posteriores. Além de possibilitar a união entre a teoria administrativa e a
comportamental, Simon descreveu uma seqüência lógica para o processo decisório e permitiu
que a racionalidade (ainda que limitada) fosse considerada. Este processo faz especial sentido
para tarefas ordenadas e estruturadas, onde os objetivos são claros e a forma de atingir estes
objetivos é conhecida. Estes problemas são denominados estruturados e são muito comuns nas
decisões operacionais (definidas aqui como decisões com impacto em alguns dias ou
semanas) ou táticas (definidas como decisões válidas para alguns meses)(SHIMIZU;
CARVALHO; LAURINDO, 2006).
No entanto, pesquisas empíricas posteriores demonstraram que esta ordenação era
relativamente incomum na prática, especialmente em decisões estratégicas (definidas como
decisões importantes e de longa duração e impacto sobre a organização). Mintzberg et al
(1976) relatam que grande parte dos processos decisórios executados pela alta gerência é não
estruturada, ou seja, são processos que “não foram encontrados da mesma maneira
(anteriormente) e para os quais um conjunto de repostas ordenadas predeterminadas e
47
explícitas não existe na organização”
30
. Estes processos refletem a definição clara de objetivos
com incerteza quanto à forma de atingir estes objetivos (CHOO, 2003).
Para contemplar as decisões não estruturadas, Mintzberg et al (1976) propuseram
outra divisão de fases do processo decisório, em muitos aspectos semelhante à definição de
Simon.
A primeira fase é a identificação do problema, formada por duas rotinas principais, o
reconhecimento da decisão e o diagnóstico. Para originar uma decisão, o estímulo precisa
chegar ao tomador de decisão e ser identificado como um problema, oportunidade ou crise.
Este estímulo pode ser originário de dentro ou fora da organização e freqüentemente é
ambíguo e mal definido. Durante a rotina de reconhecimento da decisão o tomador de decisão
recebe os estímulos e avalia se merecem ou não sua ação. A segunda rotina é o diagnóstico,
que ocorre uma vez que o problema e/ou oportunidade e/ou crise são considerados dignos de
uma decisão. Neste momento o tomador de decisão buscará definir o problema, seja através
de um diagnóstico formal (criação de uma equipe de investigação) ou informal.
A segunda fase é o desenvolvimento, onde uma ou mais soluções serão criadas para
resolver o problema decisório. É composta por duas rotinas, a rotina de busca e a rotina de
projetar. Durante a busca, o tomador de decisão procura informações que embasem sua
decisão. Isto pode ser feito através de busca direta de soluções pré-existentes ou informações
relacionadas. Durante a segunda rotina, o tomador de decisão cria, modifica ou utiliza
alternativas prontas para a solução do problema decisório. Caso a organização decida por
desenvolver sua solução, em geral apenas uma solução é apresentada aos decisores,
minimizando a importância da seleção de alternativas (MINTZBERG; RAISINGHANI;
THEORET, 1976).
A terceira fase é a da seleção, onde as diferentes alternativas serão escolhidas e
posteriormente implementadas. Apesar da idéia que a seleção é a última etapa do processo
decisório, a complexidade das decisões não estruturadas muitas vezes faz com que esta etapa
seja quase indistinguível da etapa de desenvolvimento. Pode ser dividida em três rotinas, a
rotina de triagem, a rotina de avaliação-escolha e a rotina de autorização. Durante a triagem, o
tomador de decisão irá classificar superficialmente, dentre as alternativas apresentadas,
aquelas que podem ou não ser implementadas. A segunda rotina é a mais estudada pela
literatura, uma vez que é a mais suscetível de tratamento matemático, e consiste na seleção de
uma das alternativas apresentadas ou no retorno a rotinas anteriores para modificar uma
30
Unstructured refers to decision processes that have not been encountered in quite the same form and for
which no predetermined and explicit set of ordered responses exists in the organization
.”
48
alternativa inaceitável. Esta ênfase não se reflete no dia a dia dos tomadores de decisão, visto
que este processo parece menos significante que as rotinas de diagnóstico e projeto.
Mintzberg et al (1976) ressaltam que no caso de soluções criadas pela própria empresa, a
tarefa de escolha é um processo de “ratificação da solução que foi explicitamente determinada
durante o projeto e em parte implicitamente durante o diagnóstico”
31
. A terceira rotina é a
autorização, que ocorre quando a decisão é tomada em níveis hierárquicos inferiores e precisa
da aprovação da alta chefia.
Estas rotinas propostas por Mintzberg et al (1976) têm uma distinção importante das
fases de Simon, pois pressupõem a iteratividade. O processo pode ser interrompido e retornar
ao início caso a seqüência perca a lógica. Por exemplo, quando a comunicação entre o gestor
e sua equipe é deficiente, o diagnóstico pode centrar em aspectos considerados pouco
importantes pelo gestor. Ou ainda, as pressões políticas que se impõe podem criar um
ambiente que exija a retomada do processo de identificação do problema.
A resolução dos problemas não estruturados é diretamente dependente da forma como
a organização faz sentido das perturbações do ambiente, para o reconhecimento do problema
decisório e nas rotinas do diagnóstico e levantamento de alternativas. A estrutura da
organização também é decisiva na resolução, visto que a hierarquia modifica inteiramente o
fluxo de informação dentro da empresa e a falta dela praticamente elimina a visão de um
tomador de decisão individual e racional.
De fato, até agora a discussão pressupôs a existência de um tomador de decisão ou ao
menos de uma equipe minimamente coesa para a discussão, análise e escolha das alternativas.
Cohen et al (1972) propõem outro modelo para explicar a tomada de decisão, estudando
organizações que eles denominaram anárquicas. Segundo estes autores, organizações
anárquicas seriam caracterizadas por três propriedades: preferências problemáticas, pouco
claras ou inconsistentes; falta de clareza sobre a tecnologia utilizada em seus processos;
participação fluida, resultando em mudança dos tomadores de decisão para cada escolha. Este
modelo foi denominado modelo organizacional em lata de lixo.
De acordo com este modelo, os processos decisórios consistem em correntes
relativamente independentes de problemas, escolhas, soluções e participantes. A decisão
acontece quando soluções são ligadas a problemas, os problemas são ligados às escolhas e os
participantes possuem energia para prevalecer este arranjo na organização. Quando tal
coincidência não acontece, os problemas são jogados na lata de lixo e ficam à espera de um
31
evaluation-choice often appeared to be a kind of trimming on the process, a ratification of the solution that
was determined explicitly during design and in part implicitly during diagnosis as well
.”
49
participante com energia para recolocá-las na pauta da escolha e uma solução que esteja
disponível. As análises anteriores pressupunham que o problema fosse identificado antes da
escolha. No caso de organizações anárquicas, os “problemas são trabalhados no contexto de
alguma escolha, mas as escolhas são feitas quando uma combinação dinâmica de
problemas, soluções e tomadores de decisão coincide em fazer a ação possível”
32
(COHEN;
MARCH; OLSEN, 1972, pg.16). Assim como o problema busca soluções, as soluções
buscam um problema.
Choo (2002) resume os diferentes modelos de processo decisório em quatro partes
(Figura 3): o modo racional-limitado (baseado na redução da complexidade e análise da
decisão); o modo procedural (baseado no modelo de Mintzberg, com iteratividade do processo
decisório); o modo político (baseado na disputa entre grupos dentro da organização, cada um
lutando para que sua alternativa seja a vencedora); e o modo anárquico (baseado no modelo
de Cohen). A organização precisa dominar os diferentes processos para se adaptar às
diferentes situações impostas pelo ambiente.
Pequeno conflito/ambigüidade de
objetivos
Grande
conflito/ambigüidade de
objetivos
Incerteza
procedural baixa
Modo racional-limitado Modo político
Incerteza
procedural alta
Modo procedural Modo anárquico
Figura 3 - Quatro modos de tomada de decisão organizacional
FONTE: modificado de (CHOO, 2002)
3.6 Abordagens alternativas do processo decisório
As diversas contribuições da pesquisa administrativa contribuíram para explorar o
papel de abordagens alternativas à racionalidade, como a racionalidade limitada, procedural,
política ou situada. Como visto anteriormente, a racionalidade também é a grande motivadora
da pesquisa decisória normativa utilizada pela pesquisa econômica. Durante os últimos anos,
32
“Problems are worked upon in the context of some choice, but choices are made only when the shifting
combinations of problems, solutions and decision makers happen to make action possible”
50
a pesquisa em tomada de decisão organizacional tem se movido em direção à humanização e
contextualização do processo decisório, com o questionamento sobre a racionalidade objetiva
do tomador de decisão. Este movimento propõe a substituição do frio homo oeconomicus
agindo como um robô por um processo de tomada de decisão descrevendo humanos de carne
e osso experimentando sentimentos e aplicando estratégias políticas (LANGLEY et al., 1995).
Segundo Motta (1994), as pesquisas sobre o trabalho dos altos dirigentes de empresas
(públicas ou privadas) retratam o processo decisório como um “processo fluido, variado,
fragmentado de curto prazo e não-programável”. Os gestores passam muito mais tempo
discutindo em reuniões, encontrando novos desafios e negociando interesses que realmente
realizando escolhas. O imenso número de interrupções encontrados no trabalho de gerência
dificulta ainda mais o processo de análise racional. Como Motta (1994, pg.63) aponta, “o
dirigente recebe pessoas, participa ou conduz reuniões, fala ao telefone, lê relatórios, redige
documentos, supervisiona trabalhos, controla resultados, analisa dados, emite diretrizes,
mantém contatos informais, busca informações em conversas ao pé do ouvido, assiste a
conferências, enfrenta pequenos conflitos, dita ou escreve cartas e bilhetes, solicita dados,
planeja agenda, viaja, etc.”.
Neste contexto, o papel da análise formal não se limita à demonstração do melhor
curso de ação. Langley (1989) aponta que a análise formal é utilizada nas organizações como
busca de informação e criação de conhecimento, como forma de comunicação, como forma de
controle e direção e como forma de simbolismo dentro da organização. Uma vez que a
racionalidade é muito importante para a sociedade, a análise formal justifica e promove uma
decisão que muitas vezes já tinha sido feita antes da análise. A autora cita um entrevistado em
sua pesquisa que afirma que “(ele) já tinha preparado um relatório porque sabia que teria que
justificar o projeto”
33
(LANGLEY, 1989, pg.613). Isto reforça a visão que a análise racional é
intrinsecamente conectada à realidade social da organização, aos jogos políticos e à hierarquia
da empresa.
O trabalho do dirigente moderno é complexo e multifacetado, muito além de um
tomador de decisões. Isto faz com que a análise seqüencial das informações para a tomada de
decisões seja substituída por um processo fluido e contínuo de criação de sentido
compartilhado seguido por um processo de reflexão individual muitas vezes inconsciente.
Este processo intuitivo considera muitas outras variáveis, como fatores emocionais, políticos,
de oportunidade e de sensibilidade do tomador de decisão (MOTTA, 1994).
33
“I prepared the report because I knew we had to justify the project”
51
Klein e Calderwood (1991) ressaltam que a aplicabilidade dos estudos de tomada de
decisão em laboratório é limitada na prática devido à riqueza do contexto em que vivem as
pessoas. Enquanto a análise parece racionalmente a melhor forma de lidar com a vida, nem
sempre ela é factível devido à ambigüidade de objetivos e falta de clareza de escolhas. Os
autores ressaltam que decisões baseadas no reconhecimento podem ser tão ou mais eficazes
que aquelas baseadas na análise. Como exemplo os autores citam que bombeiros, quando
enfrentam situações de perigo emergencial, não levantam hipóteses ou fazem escolhas, mas
agem imediatamente de acordo com a experiência anterior e o desenrolar dos eventos.
Kuo (1998), em seu estudo sobre a intuição dos administradores, aponta que a maior
parte da atividade dos tomadores de decisão é fragmentada e pouco estruturada. Como saída,
os dirigentes se apóiam na percepção e intuição para tomar as decisões. Esta autora aponta
que a “percepção é de importância chave para a avaliação imediata da situação”
34
, criando
sentido que não pode ser desconectado da ação em si (KUO, 1998, pg.98).
Kahneman e Tversky adotaram um modelo que unia a percepção, a intuição e o
raciocínio. Este modelo é descrito na figura abaixo.
Figura 4 - Modelo da tomada de decisão
FONTE: modificado de (KAHNEMAN, 2003)
Algumas idéias importantes podem ser analisadas a partir da figura. A primeira é que a
intuição também trabalha sobre eventos passados e não é inteiramente ligada à percepção
34
Perception is key to reaching immediate situation assessment.
52
momentânea. O segundo é a associação entre o raciocínio como um sistema de
monitoramento sobre a intuição.
A dificuldade em explicar a intuição não impediu o reconhecimento da sua
importância na vida das empresas. Várias histórias de sucesso no mundo dos negócios são
atribuídas ao instinto do tomador de decisão. Buchanan e O’connel (2006) citam uma
pesquisa feita por um aluno de Harvard que realizou um inquérito em executivos sobre a
questão da intuição. Os respondentes afirmaram que usavam suas habilidades intuitivas na
mesma quantidade que suas habilidades analíticas, mas que creditavam 80% do seu sucesso
ao instinto.
Mintzberg et al (1998) argumentam que o processo de criação de uma estratégia é uma
tarefa muito mais criativa que derivada da análise formal das variáveis. O indivíduo preparado
é capaz de ter um insight onde outros vêem apenas a possibilidade da análise formal.
Uma linha de pesquisa em tomada de decisão estuda a influência das emoções na
decisão. A presença das emoções é vista em geral como prejudicial à qualidade da decisão,
por ser impulsiva e passional. Kaufman (1999) relata alguns exemplos se baseando na lei de
Yerkes-Dodson (que postula que a qualidade da decisão é pior com níveis muito baixos ou
muito altos de excitação emocional).
Esta conotação de irracionalidade das emoções é questionada por outros autores.
Surpreendentemente, essas pesquisas têm encontrado que as emoções são essenciais mesmo
para decisões racionais (MORSE, 2006). O neurologista português Antônio Damásio em seus
estudos com pacientes com lesões neurológicas demonstra que os pacientes com deficiência
emocional têm muita dificuldade em realizar análises racionais (DAMÁSIO, 1996). Na
realidade, o mesmo autor questiona se a consciência em si é um fenômeno puramente
cerebral. Em seus estudos, Damásio encontrou indícios que o corpo todo interfere na
consciência, por conseqüência na tomada de decisão (DAMÁSIO, 2000).
Damásio exemplifica a relação entre emoção e razão com o paciente Elliot. Após a
retirada de um tumor cerebral, seus amigos e parentes começaram a perceber que algo havia
mudado no comportamento do paciente. Apesar da preservação da linguagem e inteligência,
Elliot não conseguia mais trabalhar corretamente. Ao ser submetido a uma simples tarefa
administrativa, Elliot gastava horas sobre a melhor forma de abordar o problema: deveria
ordenar os papéis por data, hora, relevância? A preciosidade dos detalhes impedia que ele
realizasse o trabalho, pois era incapaz de desprezar tarefas menores por um objetivo maior.
Os estudos de Damásio demonstraram que o paciente possuía um distúrbio na
evocação de emoções. Ao ser deparado com fotos de desastres e pessoas machucadas, Elliot
53
afirmava que estas imagens não passavam nenhuma emoção. Estudando pacientes com lesões
semelhantes, Damásio concluiu que lesões no sistema límbico afetavam a tomada de decisão.
No artigo “Decisions and Desire” (Decisões e Desejo), Morse (2006) revisa várias pesquisas
sobre a influência das emoções (medo, desejo, ódio, etc.) na tomada de decisão. Este autor
pontua, por exemplo, a importância da excitação da conquista (citando o exemplo de Sartre,
conhecido mulherengo) para a determinação de ações arriscadas sobre investimentos e
vendas. No final do artigo, o autor recomenda que, dado a importância das emoções na
decisão, os tomadores de decisão devem conhecer suas emoções e não suprimi-las. Ele aponta
que ao conhecer suas emoções, as pessoas podem utilizar seus instintos de forma mais
produtiva e efetiva.
Todas estas particularidades do processo decisório aumentam a importância da
informação para a tomada de decisão. Além do problema, soluções e objetivos, outros
aspectos influenciam a tomada de decisão. Como foi visto o conteúdo emocional da decisão e
as pressões políticas da organização também são importantes. Porém estes últimos, como são
pouco estruturados, muitas vezes afetam o processo analítico e impossibilitam que o tomador
de decisão avalie corretamente a causa e conseqüência de suas ações.
Segundo Mintzberg e Westley (2001), a melhor abordagem para a tomada de decisão é
dependente da natureza do problema. A análise formal, ou thinking first (pensando
primeiro) como dizem os autores, é adequada quando o problema é claro, os dados são
confiáveis, o contexto é estruturado, pensamentos podem ser explicitados e disciplina pode
ser aplicada. Esta abordagem se assemelha à abordagem científica e seria adequada em
processos gerenciais simples, rotineiros e bem estabelecidos. A abordagem do seeing first
(vendo primeiro) é composta por insights e é adequada quando muitos elementos precisam ser
combinados em soluções criativas, compromisso com as soluções é necessário e a
comunicação sem barreiras é essencial. Esta abordagem se assemelha ao processo artístico e
seria adequada nos processos ligados à inovação. A última abordagem proposta é a do
empreendedorismo, ou doing first(fazendo primeiro), e é adequada quando a situação é
inédita e confusa, quando especificações complicadas ocorrem e quando algumas regras
simples de relacionamento ajudam as pessoas a moverem para frente.
A perda do papel onipresente da análise formal nas organizações não diminui a
importância da tecnologia da informação no auxílio às tarefas administrativas. No entanto, os
fatores não racionais precisam ser mais bem compreendidos para que a toda a complexidade
inerente ao processo decisório seja considerada e adicione valor para a organização. Na
próxima seção, os sistemas de informação, em especial os sistemas de apoio à decisão, serão
54
descritos. Sua relação com os diversos tipos de decisão será traçada e as particularidades da
tecnologia melhor exploradas.
55
4 Os sistemas de informação
“Opinião é o exercício da vontade humana que nos ajuda a
tomar decisões sem informação.”
35
John Erskine
36
4.1 Um breve histórico
A primeira aparição do termo sistemas de informação ocorreu em 1945, com o texto
de Vannevar Bush (1945) “As we may think”. Neste texto, o autor propôs uma máquina capaz
de armazenar e buscar a informação para promover o desenvolvimento da ciência. Nesta
época ainda não havia o aparato tecnológico que possibilitasse a criação de tal máquina, mas
o rápido desenvolvimento técnico logo proporcionou o aparecimento dos primeiros
computadores e sistemas de informação.
O papel dos SI nas organizações sofreu algumas mudanças desde seu surgimento.
Todo o processamento era centralizado nos mainframes e o custo da tecnologia e
desenvolvimento era muito alto. As empresas inicialmente utilizaram os recursos
computacionais para facilitar e automatizar suas tarefas operacionais. A primeira
conseqüência foi a gradual substituição de profissionais pouco qualificados executando
tarefas simples por profissionais altamente qualificando que desenvolviam os SI para as
organizações (GALLIERS; LEIDNER, 2003). Com a evolução dos sistemas de automatização
transacional
37
, as organizações foram acumulando dados sobre seus processos internos. As
bases de dados transacionais contêm todas as informações operacionais da empresa, tais
como: cadastros de clientes, produtos, fornecedores, pessoal, representantes, movimentos de
faturas, notas fiscais, documentos de cobrança, entradas e saídas de estoque, lançamentos
financeiras, registros fiscais, lançamentos contábeis, eventos de pagamento, registro de
serviços, atendimento a clientes, etc. Resumindo, são todas as informações históricas
armazenadas ao longo do tempo de vida da empresa. Através dos dados recolhidos das tarefas
operacionais, as empresas lentamente construíram o conhecimento sobre mecanismos de
35
Opinion is that exercise of the human will, which helps us to make a decision without information
36
(1896–1954) Estudioso literário americano
37
Transação é um acordo, comunicação ou movimento feito por duas entidades separadas, geralmente
envolvendo a troca de itens de valor como informação, bens, serviços ou dinheiro.
56
controle, permitindo que os desenvolvedores criassem algoritmos de alerta para erros e
exceções operacionais. Ward e Peppard (2002, pg.15-17) classificam estes sistemas de
informação baseados em sistemas operacionais (tarefas) e controle em dois tipos:
Monitoramento – automação de tarefas transacionais e controle;
Exceção – notificação de problemas e/ou ações automáticas.
Os autores completam que “apesar de fornecer informações para a gerência, eles (os
sistemas de informação) são focados (nesta época) primariamente no processamento de
dados”
38
(WARD; PEPPARD, 2002, pg.15). O avanço nos sistemas de processamento de
dados logo demonstrou a potencialidade da análise destes dados para tomada de decisão. Com
a descentralização do processamento (com o surgimento do Personal Computer, o PC),
apareceu um novo usuário: o gerente intermediário. Com a crescente disponibilidade de
informações transacionais (já bem estabelecidos na década de 70) e a facilidade de
manipulação introduzida pelos PCs, os gerentes perceberam que a utilização desta informação
poderia acrescentar valor às suas decisões. Os management information systems - MIS
(sistemas de informação gerencial) possibilitaram ao gerente analisar o comportamento do seu
departamento e tomar as decisões operacionais e táticas adequadas (definidos acima). Os SI
adquiriram duas novas funções:
Investigação – o acesso rápido ao dado e informação pelo usuário;
Análise – suporte à decisão, com processamento flexível dos dados e informação.
Os MIS possuíam algumas características marcantes, como o foco na informação,
direcionamento ao gerente intermediário e a facilidade na investigação e geração de
relatórios(GALLIERS; LEIDNER, 2003). No entanto, seu uso para tomada de decisão
estratégica era extremamente limitado. Durante o desenvolvimento dos sistemas não havia
qualquer preocupação sobre a necessidade de informação dos altos executivos ou mesmo o
relacionamento entre o desenvolvimento do sistema e a estratégia da organização.
Na década de 80, os custos de hardware e de desenvolvimento de software
diminuíram significativamente com os avanços tecnológicos. As empresas foram
praticamente “inundadas” com tecnologia da informação. A importância da informação como
fonte de vantagem competitiva para a empresa se disseminou pelo mundo e os sistemas de
informação eram a principal forma de facilitar este uso da informação (PORTER; MILLAR,
1985).
38
Although these provide management with information, they are primarily focused on the processing of data
57
O surgimento de SI para apoio à estratégia da organização se seguiu ao surgimento
dos MIS. A essência do SI estratégico é a mudança na forma como a organização realiza seu
negócio.
Através de alguns exemplos de utilização bem-sucedida de SI, alguns autores
concluíram que, para possibilitar vantagem competitiva, era necessário que o SI estivesse
incorporado com o fluxo de negócios da empresa e, principalmente, que estivesse
intimamente ligado à estratégia da empresa(WARD; PEPPARD, 2002).
Por fim, a revolução da internet modificou a forma como os sistemas de informação
são pensados e desenhados. As limitações geográficas para interconexões e comunicação
entre as pessoas tiveram sua importância reduzida, e o número de SI distribuídos se
multiplicou. Outro grande impacto foi o surgimento de inúmeros negócios baseados nos
sistemas de informação (como vendas on-line).
4.2 Sistemas de Informação e as organizações
Os sistemas de informação (SI) estão presentes em quase todas as empresas modernas
em todos os ramos de atividade (saúde, manufatura, comércio, etc.). Laudon e Laudon (2005)
apontam que os SI adicionam valor à empresa de várias formas. Em geral, o retorno sobre o
investimento em SI é proveniente de aumentos na produtividade, aumentos nos lucros, ou
melhoria na capacidade competitiva.
A presença atual dos SI nas empresas é tão importante, que alguns ramos dependem da
tecnologia da informação para sobreviverem. Pode-se citar como exemplo a automatização
ocorrida no setor bancário, que determinou a forma de realizar negócio de praticamente todos
os bancos, mesmo os pequenos(LAUDON; LAUDON, 2005). Gurbaxani e Whang (1991)
apontam cinco atividades principais dos SI dentro das organizações:
a) aumento de eficiência operacional da empresa;
b) processamento de transações básicas;
c) coleta e transmissão de informações gerenciais;
d) monitoramento e registro do desempenho dos empregados e setores;
e) manutenção do registro de status e mudanças nas funções centrais do negócio
da empresa.
Apesar de sua ubiqüidade nos serviços, a definição do termo “Sistemas de
Informação” não é simples nem consensual. Avisson e Fritzgerald
39
(apud PAUL, 2002)
39
AVISON D,. FITZGERALD,. G,. Information Systems. In International Encyclopaedia of Information and Library Science
58
definem os SI como a “análise, design, entrega e uso efetivos da informação para
organizações e para a sociedade utilizando a tecnologia da informação”
40
. A Academia de
Sistemas de Informação do Reino Unido (UKAIS) define os SI como os “meios pelos quais as
pessoas e organizações, utilizando tecnologia, adquirem, processam, guardam, usam e
disseminam informação
41
”(WARD; PEPPARD, 2002, pg.3). Laudon e Laudon (2005, pg.16)
definem como “um conjunto de componentes inter-relacionados que coletam (...), processam,
guardam e distribuem informação para apoiar a tomada de decisão e o controle na
organização
42
”. Estes últimos autores dividem em três as funções de um SI: entrada,
processamento e saída (Figura 5). A retroalimentação seria direcionada para os funcionários
ou atividades relacionadas para refinamento e melhoramento da entrada de informação no
sistema.
Figura 5 - Funções de um sistema de informação
FONTE: modificado de (LAUDON E LAUDON, 2005)
(Feather J and Sturges P, eds), Routledge, London., 2002.
40
the effective analysis, design, delivery and use of information for organisations and society using
information technology
41
the means by which people and organizations, utilizing technology, gather, process, store, use and
disseminate information.”
42
An information system can be defined technically as a set of interrelated components that collect (or
retrieve), process, store, and distribute information to support decision making and control in an organization.”
59
Realmente, as pesquisas na área de SI coincidem com o grande desenvolvimento na
ciência da computação e a evolução da tecnologia da informação, que possibilitaram
capacidades computacionais cada vez maiores para buscas rápidas e eficazes. Porém, apesar
de altamente dependente da tecnologia, o conceito de SI é diferente de tecnologia da
informação. Apesar das definições citadas acima incluírem o uso da tecnologia da
informação, alguns autores argumentam que SI abrangem o universo da comunicação, sem
necessariamente utilizar a tecnologia. A tecnologia possibilita o surgimento de sistemas de
informação, mas, como nota Mingers (apud WARD; PEPPARD, 2002, pg.3),
“sistemas de informação são na verdade parte de um domínio muito mais
abrangente da linguagem e da comunicação humana, e que sistemas de
informação permanecerão em um estado de mudança e desenvolvimento
contínuo em resposta à inovação tecnológica e à interação mútua com a
sociedade humana como um todo”
43
.
Nesta concepção, os computadores são ferramentas para possibilitar e estimular a
troca de informação entre as pessoas. Desta forma, o uso depende mais das características
culturais da organização que das características funcionais do sistema computadorizado.
Marchand et al (2000, pg.69-70) apontam que
“empresas precisam fazer mais que investir e fornecer TI. Elas precisam
combinar estas capacidades com excelência na coleta, organização e
manutenção da informação, e fazendo seus empregados abraçarem os
comportamentos e valores corretos para trabalhar com informação”
44
.
De fato, a visão dos sistemas de informação como ferramentas para implementação da
estratégia da organização demonstra a importância do foco na informação, não nos
computadores. Ward et al (2002) apontam sete fatores de sucesso para SI estratégicos:
a) foco externo, não interno: O SI deve olhar para clientes, competidores,
fornecedores e para o ambiente da organização;
b) adicionar valor, não reduzir custo: “fazer melhor, não mais barato”;
c) dividir os benefícios: dentro da organização, com fornecedores, clientes, etc.;
d) entender os clientes: Saber o que é importante para o cliente;
43
IS actually is part of the much wider domain of human language and communication, that
IS will remain in a state of continual development and change in response both to technological innovation and
to its mutual interaction with human society as a whole
44
Companies must do more than excel at investing in and deploying IT. They must combine those capabilities
with excellence in collecting, organizing and maintaining information, and with getting their people to embrace
the right behaviors and values for working with information
60
e) inovar pelo negócio, não pela tecnologia: A nova tecnologia oferece
possibilidades de mudança, mas a mudança deve ser direcionada pelos
benefícios para o negócio;
f) desenvolvimento incremental: Começar com protótipos e implementar
melhorias progressivamente;
g) utilizar a informação adquirida pelos sistemas para melhorar o negócio.
4.3 Tipos de Sistemas de Informação
Para atender aos vários interesses dos diferentes atores da organização, existem vários
tipos de sistema de informação. Os SI podem ser divididos de acordo com o nível da
organização a que servem: sistemas operacionais, sistemas gerenciais e sistemas estratégicos
(Figura 6).
Figura 6 - Tipos de sistemas de informação de acordo com o nível organizacional
FONTE: modificado de (LAUDON; LAUDON, 2005)
Cada tipo é especializado em realizar funções adequadas para o grupo de usuários-
alvo. Os sistemas operacionais apóiam os gerentes operacionais através de monitoramento de
transações, controle do estoque, controle da produção, etc. A principal função deste tipo de
sistema é ajudar na rotina da empresa, respondendo a questões como “quantas peças X
existem no estoque”.
61
Os sistemas gerenciais visam apoiar os gerentes médios através de ferramentas de
monitoramento, controle e tomada de decisão. Estes sistemas geralmente fornecem dados
sumarizados de uma faixa de tempo e respondem à questão geral se “as coisas estão
funcionando bem” (LAUDON; LAUDON, 2005). As perguntas a serem respondidas são em
geral definidas previamente de acordo com a função do gerente, mas alguns sistemas apóiam
decisões menos estruturadas. As principais diferenças entre estes dois tipos de sistema podem
ser vistas na Tabela 2.
Tabela 2 - Diferenças entre Sistemas Operacionais e Sistemas de Informação Gerencial
Sistemas operacionais e de
controle (Processamento de
dados)
Sistemas de planejamento
e controle (sistemas de
informação gerencial)
Objetivos
Manejo eficiente das
transações e controle efetivo
dos recursos
Resolução efetiva de
problemas e suporte para
tomada de decisão
Ciclo de vida
3-12 anos, dependendo da
taxa de mudança
De horas a meses
Janela de tempo da
informação
História recente, presente e
futuro de curto prazo
História consolidada,
presente e futuro
extendido
Fontes de informação
Transações internas e
externas
Dados de “pesquisa”
internos e externos
Processamento lógico
Estritamente algoritmos Probabilístico e fuzzy
45
Usuários
Operadores, funcionários de
escritório (secretárias,
assistentes, etc.) e
supervisores de linha
Profissionais e gerentes
médios e seniores
Tecnologias
Processamento nas estações
de trabalho controlado pelo
mainframe
Processamento local
ligado aos recursos
informacionais
FONTE: modificado de (WARD E PEPPARD 2002)
45
A lógica fuzzy é derivada da teoria de conjuntos fuzzy, ou conjuntos nebulosos, iniciada por Lotfi Zadeh em
1965. Segundo esta teoria, os elementos possuem diferentes graus de pertencimento a um determinado conjunto.
Por exemplo, um recém-nascido tem um grau de pertinência 1 ao conjunto “jovem”, um adolescente teria um
grau de pertinência 0,8 e um idoso 0,1.
62
Os sistemas estratégicos ajudam os gerentes seniores a compreenderem e trabalharem
temas estratégicos e tendências de longo prazo, na firma e no ambiente externo. As perguntas
são tipicamente não-estruturadas e dependem de grande número de informações externas à
organização. Fontes variadas de dados como índices financeiros, sociais e outros, devem ser
somados a informações sobre necessidade do cliente e tendências do setor em que a
organização trabalha. A concepção do sistema de informação estratégico é ainda mais
abrangente. Segundo Ward e Peppard (2002), estes sistemas almejam a mudança da forma
como a organização conduz seu negócio. Portanto, nesta categoria estariam os sistemas que
efetuam as seguintes tarefas:
1. aqueles que dividem a informação com consumidores e/ou fornecedores via
sistemas baseados em tecnologia, modificando a natureza de seu
relacionamento;
2. aqueles que produzem integração efetiva do uso da informação em processos
que adicionam valor à organização;
3. aqueles que possibilitam que a organização desenvolva, produza, promova e
entregue produtos ou serviços novos ou melhorados baseados em informação;
4. aqueles que fornecem a gestão executiva com informação para auxiliar o
desenvolvimento e implementação da estratégia (em particular, onde
informações internas e externas são integradas na análise).
O presente trabalho dedicará especial atenção nesta última tarefa. Considerando que os
SIG também se propõem a auxiliar a decisão gerencial, é importante ressaltar uma diferença
essencial entre os dois sistemas. Enquanto o foco do SIG é o usuário e suas tarefas - daí a
importância da avaliação dos sistemas baseado no usuário, conforme apontado por (DIAS,
2006) – o foco dos sistemas de informação estratégicos é a organização. O alinhamento
estratégico destes sistemas se torna um item essencial no desenvolvimento, tão importante
quanto o estudo do usuário e suas necessidades informacionais.
Como pode ser visto cada um dos níveis possui necessidades especiais. Laudon e
Laudon (2005) apontam quatro tipos de sistemas para atender aos diferentes níveis
organizacionais: sistemas transacionais, sistemas de suporte à decisão, sistemas de informação
gerenciais e sistemas de suporte executivo (ou sistema de informação executivo
46
) (Figura 7).
Na Tabela 3 estão descritas as funções de cada um dos sistemas.
46
Os dois termos serão utilizados indistintamente ao longo do trabalho.
63
Figura 7 - Tipos de sistema de informação por funcionalidade
FONTE: modificado de (LAUDON; LAUDON, 2005)
Uma grande miríade de SI convive simultaneamente na organização. Como foi visto
anteriormente a tomada de decisão dentro da empresa muitas vezes segue rumos pouco
estruturados (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998) e, portanto, os SI podem
influenciar a decisão final de várias formas. Este assunto será mais bem explorado no próximo
item.
64
Tabela 3 - Características dos sistemas de informação
Tipo de Sistema Entrada de
Informação
Processamento Saída de
Informação
Usuários
Sistemas de
Suporte
Executivo
Dados
agregados
externos e
internos
Gráficos,
simulações,
interativo
Projeções;
resposta a
perguntas
Gestores
seniores
Sistemas de
Suporte à
Decisão
Pequeno volume
de dados ou
grandes bases
otimizadas para
análise de dados;
modelos
analíticos e
ferramentas de
análise de dados
Interativo;
simulações;
análise
Relatórios
especiais;
análises de
decisão; resposta
a perguntas
Profissionais;
Gerentes de
pessoal
Sistemas de
Informação
Gerencial
Resumo de
dados
transacionais;
grande volume
de dados;
modelos simples
Relatórios de
rotina; modelos
simples; análise
baixo-nível
Relatórios de
exceções
(problemas) e
resumo das
operações
Gerentes médios
Sistemas de
Processamento
Transacional
Transações;
eventos
Ordenação;
listagem; união;
atualização
Relatórios
detalhados;
listas; resumos
Supervisores
operacionais
FONTE: modificado de (LAUDON; LAUDON, 2005)
4.4 Sistemas de informação e a tomada de decisão
Os sistemas de suporte à decisão são um tipo de SI estratégico. Segundo Keen e
Scott Morton (apud POMEROL; ADAM, 2003, pg.51-52) “sistemas de suporte à decisão
implicam no uso de computadores para: (1) ajudar os gerentes em seu processo decisório em
tarefas semi-estruturadas, (2) apoiar ao invés de substituir o julgamento administrativo e (3)
melhorar a efetividade da tomada de decisão e ao invés da eficiência”.
O surgimento destes sistemas se deu na década de 70 (POWER, 2007) devido ao
reconhecimento do potencial dos dados transacionais na definição de decisões importantes e
de longo prazo (estratégicas). Galliers e Leidner (2003) listam várias formas como a TI
(tecnologia da informação) pode ajudar a tomada de decisão. Os sistemas de informação
auxiliam a decisão ampliando as formas de comunicação (e-mail, transmissão de imagens,
videoconferência, etc.) e através de ferramentas de apoio à decisão sofisticadas e fáceis de
65
usar (sistemas especialistas, sistemas de suporte à decisão, ferramentas de gerenciamento
online, etc.)(GALLIERS; LEIDNER, 2003). No contexto da comunicação, a TI pode:
a) facilitar a comunicação e torná-la mais barata, mesmo com grandes
distâncias geográficas;
b) comunicar mais rapidamente e com precisão para grupos específicos;
c) gravar e indexar o conteúdo e natureza de situações de comunicação;
d) controlar o acesso e a participação em eventos;
No contexto do suporte à decisão, os autores listam:
a) guardar e recuperar grandes quantidades de informação;
b) acessar mais rapidamente informações criadas fora da organização;
c) combinar de forma rápida e acurada as informações para criar nova
informação;
d) guardar de forma compacta e utilizar de forma ágil os modelos decisórios
desenvolvidos na mente dos experts e guardados nos sistemas;
e) gravar e recuperar de forma confiável e barata as informações
transacionais.
Os SI para suporte à decisão podem ser divididos de várias formas. Laudon e
Laudon(2005) dividem os SI de suporte à decisão de acordo com o nível organizacional do
tomador de decisão (ver acima) e o nível de estruturação da decisão (ver seção 0- O processo
decisório). Nesta classificação, os SI podem ser classificados em quatro tipos (alguns
introduzidos acima): Sistemas de Informação Gerenciais (SIG), Sistemas de Suporte à
Decisão (SSD), Sistemas de Suporte Executivos (SSE) e Sistemas de Suporte à Decisão de
Grupos (SSDG). Esses últimos se referem a sistemas especializados que fornecem ambientes
em que os tomadores de decisão e suas equipes podem se encontrar e resolver problemas
coletivamente.
66
Tabela 4 - Nível organizacional e sistemas de suporte à decisão
Nível
organizacional
Tipo de decisão Tipo de sistema de
suporte à decisão
Exemplos
Gestores seniores Não estruturada Sistemas de Suporte
Executivos (SSE)
Decidir a entrada ou saída
de mercados
Decidir objetivos
corporativos de longo prazo
Gestores médios/
Times de projetos
Semi-
estruturada
Sistemas de Informação
Gerenciais (SIG)
Sistemas de Suporte à
Decisão (SSD)
Sistemas de Suporte à
Decisão de Grupos
(SSDG)
Alocar recursos para
gestores e departamentos
Projetar um novo Web site
corporativo
Desenvolver um plano de
marketing
Projetar um orçamento
departamental
Gestores
operacionais /
Empregados e
Times de projetos
Semi-
estruturada /
Estruturada
Sistemas de Informação
Gerenciais (SIG)
Sistemas de Suporte à
Decisão (SSD)
Sistemas de Suporte à
Decisão de Grupos
(SSDG)
Avaliar o desempenho de
um empregado
Re-estocar o inventário
Decisões rotineiras de
crédito
Determinar ofertas
especiais aos clientes
FONTE: modificado de (LAUDON E LAUDON, 2005)
Power (2003) divide os sistemas de suporte à decisão (SSD) em cinco classes, de
acordo com o princípio norteador da tecnologia:
SSD baseado em comunicação: são sistemas que promovem a comunicação e a
colaboração através de tecnologia.
SSD baseado em dados: enfatizam o acesso e manipulação de grandes bases de
dados estruturados, especialmente dados históricos de uma empresa. Incluem
desde gerenciador de arquivos e gerador de relatórios até data warehouse,
sistemas de informação executivos e sistemas de informação geográficos. As
ferramentas de processamento analítico online (Online analytical processing,
67
ou OLAP) permitem o manuseio destes dados em tempo-real para simulação e
descoberta de padrões nos dados. Outra ferramenta utilizada é o data-mining,
onde um algoritmo é utilizado para identificação automática de padrões em
grandes volumes de dados. Estas ferramentas são muito populares para
mapeamento do comportamento de consumidores.
SSD baseado em documentos: integram uma grande variedade de tecnologias
de processamento e armazenamento para possibilitar a análise e recuperação de
documentos. Mecanismos de busca por relevância são as funcionalidades de
suporte à decisão mais freqüente neste tipo de sistema.
SSD baseado em conhecimento: são sistemas que podem sugerir ou
recomendar ações aos gestores. Segundo o autor “estes sistemas possuem
capacidade de resolução de problemas. Esta capacidade consiste em
conhecimento sobre um domínio particular, a compreensão dos problemas e a
habilidade em resolver estes problemas” (POWER, 2003).
SSD baseado em modelos: são sistemas que promovem o acesso e
manipulação de modelos de decisão. Estes sistemas permitem a pergunta “e-
se?” e dependem da acurácia do modelo para efetuar uma boa previsão da
realidade. Um exemplo são sistemas que utilizam modelos de faturamento para
suporte à decisão, onde o usuário pode simular eventos como o aumento nos
turnos de trabalho e verificar o impacto na produção e folha de pagamento.
Ferramentas estatísticas e analíticas simples possibilitam as funcionalidades
básicas.
Atualmente, os sistemas mais comumente vistos são os baseados em dados e os
baseados em modelos (Dhar e Stein apud Laudon e Laudon, 2005). Devido à coleta de dados
em grande escala realizada pelas grandes corporações atuais, o data-mining é cada vez mais
utilizado. Esta ferramenta permite detectar associações (ocorrências ligadas a um único
evento, como a compra de um item relacionado à compra de outro), seqüências (eventos são
conectados ao longo do tempo, como a compra de um item alguns dias após a busca inicial),
classificações (reconhecimento de padrões que descrevem um determinado grupo, como o
comportamento geral de consumidores que possuem determinadas características) e clusters
(agrupamento automático). Permite também a previsão de valores futuros, como o
faturamento ou quantidade de vendas.
Uma categoria especial de SSD são os sistemas de informação geográficos
(geographic information systems, ou GIS). Estes sistemas utilizam tecnologias de
68
visualização para analisar e demonstrar os dados graficamente, na forma de mapas. Estes
sistemas permitem a análise de tendências considerando o local de ocorrência dos eventos.
Este tipo de sistema é especialmente importante na medicina, pois permite a detecção de
epidemias, regiões com determinadas doenças e regiões de difícil acesso da população ao
auxílio médico.
Os sistemas de suporte à decisão de grupos (SSDG) são baseados na comunicação.
Sua grande função é permitir a resolução de perguntas não-estruturadas, que necessita da
participação de vários atores. Os SSDG são mais que a vídeo-conferência, que enfatiza a
comunicação. Os SSDG fornecem ferramentas específicas direcionadas para a manutenção da
qualidade e efetividade das reuniões e fazem com que as reuniões sejam mais produtivas
fornecendo ferramentas que possibilitam o planejamento, geração, organização e avaliação de
idéias, estabelecimento de prioridades e documentação das reuniões. Existem várias
ferramentas possíveis.
a) Questionários eletrônicos: facilitam o planejamento da reunião;
b) Brainstorming (tempestade de idéias) eletrônico: permite a adição de idéias
simultâneas e anônimas;
c) Organizadores de idéias: facilita a integração das idéias surgidas na reunião;
d) Ferramentas para votação: facilita a votação de prioridades de várias formas,
de acordo com a cultura da equipe;
e) Identificação dos stakeholders: ferramentas de análise que avaliam de forma
estruturada o impacto de uma proposta na organização e identificam os
stakeholders e seu impacto para determinado projeto;
f) Ferramentas de criação de políticas: fornecem suporte estruturado para acordo
em torno de declarações de política organizacional;
g) Dicionários coletivos: documentam as definições coletivas sobre termos e
palavras importantes para um determinado projeto.
A tomada de decisão, como foi visto acima, raramente é ordenada como sugerido por
esta categorização. A influência informal exercida pelos gestores médios na alta gerência
desafia os limites impostos pela hierarquia nas organizações. A utilização dos SI também
segue esta fluidez nos limites, sendo muitas vezes difícil definir qual o tipo de sistema de uma
organização. Power (2003) ainda sugere algumas perguntas para identificação do tipo de
sistema de suporte à decisão:
69
Qual é o componente dominante e o motivador do suporte à decisão? Qual é
o grupo de usuários alvo? Qual é o propósito do sistema de suporte à
decisão? e Qual é a tecnologia utilizada para implementação do sistema? (p
24-25)”
47
4.5 Os Sistemas de Informação Executivos
Como visto na seção anterior, o processo de definição de estratégia na empresa é um
processo fluido, influenciado por diversos fatores organizacionais e ambientais. Como a
complexidade da firma e do ambiente é muito grande, os executivos são um público
particularmente apropriado para a construção de sistemas computadorizados de apoio à
decisão. Porém, foi visto que o uso de SIG não é adequado, pois estes sistemas são incapazes
de fornecer dados completos, acurados, legíveis e no momento correto que os executivos
precisam para a tomada de decisão (ELAM; LEIDNER, 1995). Os Sistemas de Informação
Executivos (SIE) foram desenvolvidos para resolver este problema.
Os SIE, ou sistemas de suporte executivos (SSE), são direcionados a ajudar a alta
gerência a resolver problemas não-estruturados ou semi-estruturados. Podem ser definidos
como sistemas de informação computadorizados projetados para fornecer a um gerente sênior
(alto-executivo) o acesso a informações relevantes durante suas atividades de gestão (ELAM;
LEIDNER, 1995). Um SIE tem como objetivo fornecer uma visão global da empresa e do
ambiente, possibilitando tanto a busca por informações específicas (search) como a busca
livre não direcionada (browse). Estes sistemas são projetados para transformar a informação
contida em sistemas de níveis inferiores em informação manuseável de forma fácil e ágil e
que permite a resposta a perguntas variadas. Segundo Allison (1996), os objetivos de um SIE
são:
a) reduzir a quantidade de dados bombardeando o executivo;
b) aumentar a relevância, temporalidade e usabilidade continuada da informação
que chega ao executivo;
c) aumentar a compreensibilidade dos dados apresentados;
d) facilitar sua comunicação com outros.
Para responder a estas necessidades, estes sistemas podem oferecer várias
funcionalidades. Eles podem ser utilizados para monitoramento de desempenho, análise de
47
What is the dominant component and driver of decision support? Who is the targeted user group?
What is the purpose of the DSS? and What is the enabling technology used for implementing the
system?”
70
tendências, identificação de problemas, etc. (VANDENBOSCH; HUFF, 1997). Para que
realizem todo seu potencial, alguns aspectos devem ser observados durante a implantação do
sistema. Allison(1996) lista 5 critérios essenciais para o sucesso de um SIE:
a) um patrocinador dentre os executivos, comprometido e informado;
b) ligação entre os requisitos de informação e os objetivos do negócio;
c) asseguração que a disponibilidade dos dados é factível;
d) uso de recursos apropriados de desenvolvimento;
e) gestão da implementação e evolução do sistema.
Os SIE devem permitir uma busca abrangente e sintética ao mesmo tempo, visto que o
tempo dos alto-executivos é geralmente bastante escasso. Um grande desafio na construção
destes sistemas é a integração de diferentes bases de dados de diferentes (LAUDON;
LAUDON, 2005). Além de informações organizacionais, os SIE devem permitir a
visualização de dados externos como cotação de moedas estrangeiras, índices das bolsas de
valores, indicadores de mercado, notícias, etc. Estes dados podem vir de fontes extremamente
heterogêneas, como sistemas de processamento de transações, fontes de informação
comerciais, arquivos texto e entrada de dados manual (VANDENBOSCH; HUFF, 1997).
Outro aspecto relevante dos SIE é sua usabilidade. Esta usabilidade possui duas
grandes implicações. Primeiro, que o projeto de um SIE deve possibilitar que o usuário utilize
plenamente seus recursos mesmo sem grande treinamento. Em segundo lugar, que as
necessidades informacionais dos usuários devem ser respondidas pelo sistema.
A determinação dos requisitos informacionais é uma das partes mais difíceis e cruciais
do trabalho de desenvolvimento de um SIE. Uma vez que o tempo dos executivos é escasso e
suas decisões são em geral pouco estruturadas, a identificação dos requisitos tem que ser feita
por múltiplos métodos. Watson e Frolick (1993) listam quatro estratégias para a determinação
de requisitos informacionais:
a) perguntando;
b) derivando informações de outros sistemas existentes na organização;
c) síntese das características dos sistemas em utilização;
d) descobrindo através da experiência com a evolução com o sistema de
informação.
Apesar da abordagem inicial geralmente ser uma pergunta simples “que informações
você precisa”, esta pergunta em geral é ineficiente e frustrante. A desestruturação da atividade
administrativa raramente permite ao executivo a descrição precisa de sua necessidade de
informação. Watson e Frolick (1993) descrevem outros métodos utilizados com sucesso,
71
como reuniões de planejamento com os executivos, discussões com equipe de suporte
(secretárias e assistentes), presença em reuniões de gestão, análise de informações estratégicas
e informações não-informatizadas, etc. A união dos métodos permite a compreensão da forma
como a decisão se processa na organização e dos requisitos informacionais de um
determinado executivo.
Os aspectos cognitivos dos tomadores de decisão também têm grande impacto na
determinação dos requisitos informacionais. Cada pessoa possui um determinado conjunto de
regras e princípios (conscientes e inconscientes) que norteia o comportamento e a tomada de
decisão. Referindo-se aos trabalhadores do conhecimento, Heinrichs e Lim (2005, pg.622)
postulam que seu “modelo mental é a agregação das compreensões (sobre o funcionamento da
empresa) e da regras organizacionais embutidas que prescrevem um ponto de vista
particular”
48
, apontando que é através deste modelo que os “insights” são gerados, a
competência do pensamento estratégico aparece e o conhecimento organizacional é
distribuído. Portanto, além das ferramentas tecnológicas, é necessário considerar o modelo
analítico e decisório e a motivação dos funcionários (HEINRICHS; LIM, 2005). Rai e Bajwa
(1997) apontam que os projetistas de sistemas de informação devem considerar o modelo
mental dos tomadores de decisão para planejar sistemas de apoio à decisão.
Porém, a determinação do modelo mental e dos requisitos informacionais é uma tarefa
complexa e ardilosa. Podem-se listar quatro fontes de dificuldade no levantamento de
requisitos informacionais (BROWNE; RAMESH, 2002):
limitações dos homens como processadores de informação;
a variedade e complexidade dos requisitos informacionais;
problemas de comunicação entre os analistas e os usuários;
a má-vontade dos usuários em fornecer os requisitos.
A primeira limitação é particularmente relevante ao presente trabalho. Browne e
Ramesh dissecam o problema subdividindo em vieses cognitivos, “satisficing(satisfatório,
bom o suficiente), raciocínio falho, automaticidade e problemas na evocação. Estas
dificuldades ressaltam a importância em se conhecer o modo como a decisão se processa na
cabeça dos decisores, para fornecer a informação com conteúdo e forma adequada.
Por último, a distribuição da decisão dentro de uma organização também tem grande
impacto no desenvolvimento de um SIE. A idéia de um presidente sentado na frente de um
48
“As the knowledge workers continually learn and understand, they develop their understanding of how the
organization operates within its environment. Each knowledge worker’s mental model is an aggregation of these
understanding and of the embedded organizational rules that prescribes a particular viewpoint
72
computador, planejando o futuro da empresa enquanto acessa rapidamente os dados
financeiros globais é confortável, mas improvável. Como foi visto na seção anterior, vários
modelos para a tomada de decisão organizacional são propostos, incluindo modelos quasi-
caóticos como o “modelo em lata de lixo” (garbage can model). O SIE deve, então,
acompanhar o modelo decisório da organização onde seus usuários estão inseridos e auxiliá-
los nas tarefas decisórias. Isto pode significar simplesmente facilitar a organização de idéias e
a interação entre os executivos. Rai e Bajwa (1997) apontam que a disseminação destes
sistemas para outros executivos é fundamental em organizações com grande quantidade de
decisões colaborativas.
4.6 Os Sistemas de Informação em Saúde
A informação é um recurso crítico para a gestão das organizações de saúde (AUSTIN;
HORNBERGER; SHMERLING, 2000), assim como para os outros setores econômicos. O
desenvolvimento da tecnologia da informação e o aumento da demanda por estas informações
impulsionaram a aplicação de sistemas de informação na indústria da saúde. Os sistemas de
informação em saúde (SIS) têm os mesmos objetivos de processar dados, fornecer dados para
gestão e modificar o modelo de negócios para implementação da estratégia. A grande
diferença de SI em saúde para os outros SI é que o objetivo final é, segundo Haux (2006),
“tão simples quanto relevante: contribuir com o cuidado ao paciente de alta-qualidade e
eficiente. Este foco é primariamente centrado no paciente, (…) no cuidado médico e de
enfermagem, e nas tarefas administrativas e gerenciais necessárias para tal cuidado”
49
. Esta
visão freqüentemente é conflitante com a realidade das empresas, que constantemente lutam
contra os altos e crescentes custos do auxílio à saúde.
Os SIS podem ser categorizados da mesma forma que os outros SI. Denominam-se
sistemas de informação hospitalar os SIS que possuem como ambiente central o hospital. Esta
nomenclatura se justifica por critérios históricos (os hospitais foram as primeiras instituições
de saúde a se informatizar) e por um conjunto relativamente uniforme de funcionalidades e
objetivos. Tais sistemas fazem, entre outras funções, a automatização de processos
hospitalares (prescrição e dispensação de medicamentos, análises laboratoriais, etc.) e o
49
The aim of health information systems was and is as simple as relevant: to contribute to a high-quality,
efficient patient care. This aim is primarily centered towards the patient, (…) and towards medical and nursing
care, and the administrative and management tasks needed to support such care.
73
registro das evoluções médicas (prontuário eletrônico). Os SIS são utilizados com vários
objetivos dentro do sistema de saúde.
Melhora do cuidado ao paciente - Os SIS possibilitam o fluxo das informações
clínicas e administrativas do paciente para todos os pontos de assistência
(hospitais, clínicas, consultórios médicos, etc.) em que o paciente esteja sendo
atendido. Isto significa que informações como alergias, doenças atuais,
medicamentos podem ser disponibilizadas com rapidez para o corpo clínico e
modificar as ações tomadas. O paciente se beneficia também da maior rapidez
na realização de procedimentos e na diminuição da burocracia necessária para
marcação de procedimentos, pagamento e disponibilização dos resultados
laboratoriais.
Benefícios operacionais para as instituições de saúde – Este é o principal
motivo da adoção generalizada de sistemas de gestão hospitalar no Brasil e no
mundo. Os SIS, em especial os sistemas de informação hospitalar, permitem o
controle sobre quase todas as operações do hospital, desde o controle de
estoque e faturamento, até o controle de administração de medicamentos e
distribuição dos leitos. Isto permite a diminuição do papel, aumento da
eficiência dos funcionários e detecção de gargalos no atendimento levando ao
aumento no tempo de espera.
Geração de informações estratégicas A introdução dos SIS nacionais e
regionais possibilitou a automatização de atividades da saúde pública, antes
trabalhosas ou mesmo impossíveis. Sistemas de abrangência nacional, como o
SINASC (Sistema de Informações de Nascidos Vivos) disponibiliza para os
governos municipal, estadual e federal, informações sobre as condições de
nascimento das crianças, mortalidade infantil, etc., permitindo o planejamento
de ações regionalizadas. Para o setor privado, os SIS fornecem informações de
custo assistencial de determinadas doenças, o benefício de determinados
medicamentos, etc. Ainda é importante ressaltar a facilitação para a pesquisa
clínica, elemento essencial na determinação nas políticas públicas de saúde ou
na determinação de guias de conduta médica.
Os objetivos dos SIS nos pontos de assistência à saúde (hospitais, clínicas, etc.)
diferem um pouco dos objetivos da gestão da saúde pública. Enquanto os sistemas de gestão
hospitalar propõem o controle do fluxo de trabalho e faturamento, os sistemas de informação
74
em saúde pública visam à notificação de doenças e indicadores de saúde (mortalidade,
morbidade, etc.). Vários serviços de saúde (incluindo o governo brasileiro através do
DATASUS) possuem um sistema de informação implantado. A OMS sugere que, em termos
de demanda, um sistema de informação em saúde (pública) deve incluir os seguintes aspectos
(ABOUZAHR; BOERMA, 2005):
a) determinantes de saúde (socioeconômico, comportamento ambiental e fatores
genéticos) e o ambiente legal e contextual no qual o sistema de saúde opera;
b) entradas e processos relacionados para o sistema de saúde incluindo política e
organização, infra-estrutura de saúde, equipamentos e instalações, custos,
recursos humanos e financeiros e sistemas de informação em saúde;
c) o desempenho e saídas do sistema de saúde como disponibilização, qualidade e
uso de informações e serviço em saúde;
d) indicadores de saúde (mortalidade, morbidade, deficiências, bem-estar,
epidemias e status de saúde;
e) iniqüidades em saúde em determinantes de saúde, cobertura e uso dos serviços,
e resultados estratificados, por exemplo, por sexo, status socioeconômico,
grupo étnico e localização geográfica.
Apesar da grande promessa desses sistemas, iniciados há 25 anos, poucas são as
histórias de sucesso. No entanto, existem vários relatos de falhas com graves e caras
conseqüências (GIUSE; KUHN, 2003). Heeks (2006) estima, através dos relatos recentes de
implementação de sistemas de informação, que entre um quarto e um quinto dos projetos são
falhas completas (não instalados ou imediatamente abandonados) e entre um terço e três
quintos são falhas parciais (pelo menos um objetivo maior não é alcançado).
Durante a conferência de Heidelberg
50
, constatou-se a necessidade de maior
consideração do arcabouço social em que os sistemas de saúde estão inseridos para o sucesso
de SI em saúde (GIUSE; KUHN, 2003). Berg (2001) ressalta que a única forma de sucesso na
implantação de sistemas de informação é a sinergia entre as pessoas que utilizam o sistema
(profissionais de saúde e administradores) e os designers dos sistemas.
Heeks (2006) propõe um modelo para analisar as falhas nos SIS, baseado no hiato
(gap) entre a realidade e o projeto. Este modelo possui sete dimensões: informação,
tecnologia, processo, objetivos e valores, equipe e habilidades, sistemas e estruturas de gestão,
e outros recursos. Por exemplo, caso o projeto do sistema seja todo projetado por profissionais
50
Conferência do grupo de trabalho em sistemas de informação em saúde realizada em abril de 2002 na cidade
de Heidelberg, Alemanha.
75
técnicos, o mundo será visto como racional e objetivo. O conflito com a realidade na saúde
(muitas vezes dominada por interesses pessoais conflitantes) gera a propensão do projeto ao
fracasso. O autor sugere que o projeto de SIS deve contemplar as diversas perspectivas dos
diferentes stakeholders (clínicos, gestores, cnicos) assim como das diferentes realidades em
curso (clínicos visando somente o bem-estar do paciente versus gestores que estão atentos não
apenas para a satisfação do cliente como para a sobrevivência financeira da instituição) para
diminuir estes hiatos. O autor propõe ainda, que a equipe de desenvolvimento do projeto seja
capaz de improvisação durante o desenvolvimento (visto que grande número de requisitos e
restrições aparece no curso do projeto). Para tal, os envolvidos no projeto precisam ser
capazes de agir como “híbridos”, ao mesmo tempo desenvolvedores e usuários, para servir
como ponte para traduzir os requisitos dormentes que aparecem e a realidade técnica do
projeto.
Visando contribuir para a compreensão dos requisitos de sistemas de informação em
saúde, o presente trabalho estuda a perspectiva dos gestores de um serviço de saúde enquanto
profissionais de saúde e administradores. Propõe-se, portanto, estudar os modelos cognitivos
dos gestores e o fluxo de informação e decisão da instituição para diminuir o hiato entre a
realidade da empresa e o projeto de um sistema de informação executivo.
76
5 Considerações metodológicas
Como apontado no capítulo 2, as mudanças da era da informação modificaram a forma
como as organizações trabalham ao elevar exponencialmente a importância da informação. O
presente estudo objetiva explorar melhor a relação entre a informação e a tomada de decisão
em organizações de saúde. Ressalta-se a importância de conhecer as diferentes perspectivas
de todos os envolvidos em um sistema de informação. No caso de sistemas de informação
executivos, é importante a compreensão dos aspectos cognitivos dos gestores (no caso,
administradores e médicos ao mesmo tempo) e do fluxo informacional e decisório desta
organização.
Devido à complexidade dos assuntos tratados, sistemas de informação e processos
decisórios, considera-se necessário uma metodologia que aborde com profundidade o objeto
de estudo. Propõe-se para isto um estudo qualitativo através de um estudo de caso. O estudo
de caso permite que seja feita uma avaliação de aspectos contingenciais da organização que
passariam despercebidos em estudos quantitativos. Segundo Yin (1994, pg.13), o estudo de
caso é:
“uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo em
seu contexto da vida real, quando os limites entre o fenômeno e o contexto
não são claramente evidentes, e em que múltiplas fontes de evidência são
usadas. É particularmente valioso na resposta de perguntas como quem, por
que e como na pesquisa administrativa”.
Caracteriza-se pela "capacidade de lidar com uma completa variedade de evidências
documentos, artefatos, entrevistas e observações" (YIN, 1994, pg.19). O estudo de caso é,
portanto, adequado para o estudo de fenômenos abrangentes e complexos, quando uma
investigação profunda e completa é necessária e quando o contexto não pode ser separado do
objeto
.
Um dos aspectos importantes a ser considerado durante o estudo de caso é o protocolo
de pesquisa, para manter o rigor científico durante a investigação. Yin(1994) propõe que o
protocolo de pesquisa deve conter uma visão geral do projeto de pesquisa (incluindo
objetivos), o procedimento de coleta de dados (entrevistas, acesso aos documentos), as
questões específicas formuladas através das categorias de análise e um guia para a análise dos
dados.
77
Observou-se, durante a realização da pesquisa, que a manutenção do rigor científico é
um dos maiores desafios do estudo de caso, uma vez que a inserção do pesquisador no objeto
de pesquisa induz a uma interpretação precoce dos fatos. De fato, em uma revisão de
literatura, Dubé e Paré (2003) encontraram um grande número de artigos contendo estudos de
caso em sistemas de informação em revistas respeitadas que não seguiram ou descreveram a
forma de coleta ou de análise dos dados. Os autores resumiram as recomendações para estes
estudos, listados abaixo.
Área um: Problemas de projeto
o Identificar questões de pesquisa bem definidas;
o Especificar uma razão clara para a seleção de um único caso, assim como para
a seleção de múltiplos casos;
o Aproveitar casos pilotos para ajudar a definir o desenho e os planos de coleta
de dados;
o Conduzir casos longitudinais e, portanto, explorar a riqueza de rios métodos
de coleta de dados enquanto os fenômenos acontecem;
o Considerar teorias rivais ou alternativas para aumentar a validade e poder
preditivo de estudo de caso explanatórios;
Área dois: Coleta de dados
o Fornecer informações detalhadas a respeito do método e procedimento de
coleta de dados;
o Usar tabelas para resumir o processo de coleta de dados;
o Triangular os dados para aumentar a validade interna dos achados e fornecer
explicações claras de como o processo de triangulação foi conseguido;
Área três: Análise dos dados
o Fornecer explicações claras dos métodos e procedimentos analíticos
(especialmente sobre o modo dominante de análise) e fornecer observadores
externos com informação relevante suficiente para que eles possam seguir a
linha de evidências das questões de pesquisa para a conclusão e vice-versa;
o Fazer maior uso de técnicas e ferramentas de análise de dados preliminares
incluindo notas de campo, codificação e demonstração de dados como forma
de refletir sobre os dados;
78
o Apresentar citações suficientes para que observadores externos possam chegar
a um julgamento independente sobre os méritos da análise;
o Comparar os achados com a literatura existente em pesquisa de casos
exploratória para aumentar a confiabilidade dos achados.
Todas estas recomendações foram levadas em consideração durante o
desenvolvimento do trabalho, apesar de características inerentes à pesquisa dificultarem o
seguimento de todas.
O objeto de pesquisa, NUPAD, reúne em uma mesma organização vários aspectos
apontados como propícios para estudo. É uma organização de saúde que possui ações de
saúde pública (triagem neonatal) e de atenção individualizada (atendimento das crianças
identificadas). É uma organização de fundo blico (sendo um órgão complementar da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais), porém cujo financiamento
é em grande parte proveniente da venda dos serviços laboratoriais e de projetos de saúde
pública ou pesquisa. A complexidade destas relações tem grande impacto nos processos de
governança, que por sua vez impactam a tomada de decisão individual dos administradores.
A presença de um sistema de informação instalado permite o estudo de seu impacto na
organização. Apesar do foco da pesquisa ser voltado principalmente para a relação entre
indivíduo, organização e informação, o autor pressupõe que apenas com a introdução de
sistemas de informação (no caso, informatizados) esses conceitos podem ser relacionados
efetivamente. Os entrevistados puderam, portanto, exprimir suas opiniões sobre a influência
dos sistemas na sua tomada de decisão e opinar sobre possíveis melhorias.
A coleta de dados foi realizada através de análise de documentos e entrevistas com os
membros da diretoria. A primeira etapa deste estudo consistiu na análise do sistema de
informação através de da análise de documentos descritivos e dos processos de trabalho
envolvidos com o sistema. Os pontos principais de observação foram a análise do
processamento de dados e os relatórios gerenciais e operacionais gerados pelo sistema. Os
dados foram complementados por dados colhidos após a primeira análise dos dados, incluindo
a verificação de insights desenvolvidos durante a realização da pesquisa. A análise do sistema
foi guiada pela divisão supracitada dos sistemas de informação (ver seção 4.3). O sistema de
informação foi classificado em transacional (operacional), gerencial ou estratégico
(executivo).
A segunda etapa foi realizada através de entrevistas semi-estruturadas com pessoas
chave para tomadas de decisão que influenciem o destino da organização. Estas entrevistas
visaram determinar a influência do sistema de informação na tomada de decisão e o impacto
79
dessas informações na formulação de políticas e implementação da estratégia. Foram
entrevistados o diretor do NUPAD (que também atuou ativamente no desenvolvimento do
software) e outro gestor componente do conselho diretor do NUPAD. Foram também
conduzidas entrevistas com um gerente médio e um responsável pelo desenvolvimento do
atual sistema, para detalhamento dos requisitos e evolução do sistema.
O projeto inicial contemplava um número maior de entrevistas para avaliar o impacto
externo das decisões tomadas dentro do NUPAD. Porém, por limitação de prazo, restringiu-se
o escopo para contemplar somente a realidade interna da organização. Além do escopo
reduzido, o autor reconhece a complexidade do objeto de pesquisa e não possui a pretensão de
haver esgotado o estudo. Portanto, este estudo pode ser considerado um piloto para próximas
pesquisas.
O roteiro de entrevista e a análise dos dados foram baseados nas seguintes categorias
de análise:
1. a importância das informações estruturadas (relatórios padronizados, gráficos
gerados pelo sistema, etc.) na tomada de decisão gerencial e estratégica;
2. a importância do conhecimento organizacional na tomada de decisão gerencial
e estratégica;
3. a presença de vieses cognitivos relacionados ao conceito de urgência como
embasamento para a tomada de decisão no NUPAD;
4. os tipos de tomada de decisão conforme as propostas de Simon (1979),
Mintzberg et al (1976) e Cohen et al (1972), considerando a aplicabilidade
destes modelos na realidade da organização (LANGLEY et al., 1995);
5. a relevância das informações obtidas através do sistema de informação para a
justificativa de projetos e políticas, (verificadas através das entrevistas e da
presença destas informações nos documentos oficiais).
80
6 Apresentação dos resultados e discussão
6.1 O Nupad e seu Sistema de Informação
O NUPAD possui um sistema de informação instalado desde 1998, criado pela própria
organização. Este sistema permite a entrada de dados laboratoriais e clínicos da população
triada, além de dados cadastrais das instituições colaboradoras (Secretarias Municipais de
Saúde, Hospitais, etc.).
Segundo seu regimento, o “Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico
NUPAD é Órgão Complementar da Faculdade de Medicina da UFMG responsável pela
gestão e realização de projetos e ações de ensino, de pesquisa e de extensão relacionados ao
desenvolvimento, difusão e aplicação de técnicas de apoio diagnóstico em programas e ações
de assistência integral à saúde” (grifo do autor). O regimento ainda especifica que “No
cumprimento de sua missão, o NUPAD deve atuar no fortalecimento das atividades de ensino,
pesquisa e extensão, na Faculdade de Medicina e na UFMG” (UFMG, 2006).
A principal fonte de financiamento da organização é o teste de triagem neonatal (teste
do pezinho). No entanto, nos últimos anos a organização diversificou sua atuação, se
transformando em um órgão implementador de políticas públicas (principalmente políticas
relativas a doenças triadas, como a anemia falciforme) e um órgão captador de recursos para
projetos de pesquisa científica. Essa mudança de perfil foi possível devido ao cuidado
diferenciado dado aos recursos informacionais gerados na organização.
O NUPAD hoje efetua várias atividades de saúde pública. A principal delas é relativa
à triagem de doenças neonatais. O NUPAD efetua a coordenação da coleta e transporte,
juntamente com a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerias, do sangue da criança em
papel-filtro (coleta do sangue seco), o processamento destas amostras e o envio dos resultados
ao posto de referência do paciente. Também é responsável pela coordenação do transporte dos
pacientes identificados até os pontos de assistência (que pode ser descentralizado nos
municípios ou centralizado em grandes cidades como Belo Horizonte e Uberlândia). Por
último, é responsável direto pela assistência à saúde de algumas das doenças triadas e por
programas de educação em saúde. Para a realização de todas estas tarefas em coordenação
com os vários serviços de saúde dos municípios e Estado, criou-se no serviço uma equipe
especializada no programa de triagem que utiliza os recursos disponíveis, incluindo o sistema
de informação, para realização do trabalho.
81
O sistema de informação do NUPAD foi criado em 1998 frente a uma necessidade
urgente de tratamento de dados operacionais. Seu desenvolvimento foi feito pela própria
instituição com a contratação de profissionais para o projeto e programação do sistema. O
sistema foi desenvolvido em Visual Basic
51
, com arquitetura cliente-servidor. O sistema do
laboratório é integrado com o sistema de cadastro e controle de pacientes. Os relatórios são
gerados através do aplicativo Crystal Reports
52
.
Inicialmente, o objetivo foi apenas de automatizar os processos operacionais da
empresa, entre outros:
a) automatizar a impressão de dados cadastrais dos pacientes para envio dos
resultados do teste de triagem neonatal;
b) automatizar o processamento dos dados laboratoriais (incluindo impressão dos
resultados);
c) auxiliar na identificação dos exames alterados;
À medida que o banco de dados operacional se tornou essencial para a operação da
empresa, novas oportunidades de melhoria da gestão e controle dos processos foram surgindo.
A criação de relatórios gerenciais, como por exemplo, relatórios sobre o número de crianças
identificadas com as doenças, número de crianças em tratamento, porcentagem de amostras
com problemas de envio e qualidade, etc. A equipe de desenvolvimento do programa, então,
se concentrou no aprimoramento e adaptação do sistema às necessidades gerenciais crescentes
e a mudanças nos processos decorrentes do crescimento da instituição.
A estruturação do sistema foi feito em torno de conceitos comuns à triagem neonatal e
das diretrizes nacionais da triagem neonatal. O Ministério da Saúde implementou alguns
relatórios de envio mensal e anual sobre o desempenho do programa, que são utilizados para
definição da estratégia nacional do Programa de Triagem Neonatal. Estes relatórios, que em
parte foram criados a partir da experiência adquirida com o programa em Minas Gerais,
evidenciam os principais conceitos presentes no sistema de informação.
No momento do estudo, foi verificado que a forma de utilização dos dados do SI
atualmente ultrapassa as tarefas operacionais. Os dados gerados são utilizados em reuniões
da diretoria e são utilizados no desenvolvimento e implementação da estratégia da
organização. Porém, os gestores-seniores não entram em contato direto com o sistema. Existe
uma equipe especializada na retirada e tratamento dos dados, formada por estatísticos,
51
Linguagem de programação produzida pela empresa Microsoft
52
Aplicação que permite a geração de diversos relatórios a partir de um banco de dados
82
analistas de sistema e epidemiologistas, que é responsável pela análise e geração dos
relatórios para a alta gerência.
Este sistema pode ser categorizado como um SIG (sistema de informação gerencial).
Dado que não existe um sistema específico para o apoio à decisão estratégica (como um
Sistema de Informação Executivo), o presente trabalho estudará os aspectos cognitivos dos
gestores (no caso, administradores e médicos ao mesmo tempo) e do fluxo informacional e
decisório desta organização que impactam na criação de um sistema e modificação do sistema
existente.
6.2 O fluxo informacional e o processo decisório no NUPAD
6.2.1 A importância das informações estruturadas na tomada de decisão
Em um artigo de 2001, Davenport et al.(2001) clamam pela construção do que
chamam de capacidade analítica pelas organizações, para a criação de vantagem competitiva e
sustentabilidade. Segundo eles,
“uma corporação na era da informação tem acesso sem precedentes a dados
transacionais, mas raramente estes dados são transformados em
conhecimento que pode informar decisões de negócio e criar resultados
positivos.”
53
(DAVENPORT et al., 2001, pg.117)
Um dos aspectos levantados para esta construção é a criação de uma cultura analítica.
Este clamor encontra ressonância na estrutura do NUPAD. De fato, a cultura analítica no
NUPAD, estimulada por sua associação com a pesquisa e a clara vocação para a tríade
pesquisa-ensino-extensão (discutida mais à frente), fez com que a própria estrutura da
organização refletisse a cultura. Atualmente, existe um setor dedicado ao levantamento de
informações (seja através de consultas específicas ao banco de dados ou através de
negociação entre os setores), além de um setor de estatística para apoiar as análises internas e
demandas de pesquisadores. A estruturação analítica do NUPAD é muito semelhante àquela
proposta por Davenport et al (2001). Segundo estes autores, a estrutura mínima contaria com
um administrador de banco de dados, um analista de negócio e modelador de dados (função
cumprida pelo setor de estatística), um tomador de decisão e um gerente de desfecho (funções
executadas pela diretoria e gerência média).
53
“A corporation in the information age has unprecedented Access to transaction data, but all too rarely is that
data sifted into the sort of knowledge that can inform business decisions and create positive results
83
Os diretores e gerentes entrevistados foram unânimes em afirmar que a presença de
evidências documentadas para basear as decisões é essencial para uma boa gestão do serviço.
Segundo um dos diretores:
“A importância dos dados estatísticos? Ah é tudo! Se você não
tiver a estatística, não tiver um diagnóstico, você não vai a
lugar nenhum. Você fica patinando. Não tem como tomar uma
decisão sem ter dado.”
Significa que os dados falam por si mesmo. Me apresente os
dados que eu falo como é que ta o programa” [gerente]
Como principais funções dos relatórios gerenciais, eles apontam o reconhecimento de
problemas e o auxílio para implementação das alternativas. À medida que a organização
adquire maturidade na realização de suas atividades, os parâmetros que indicam a adequação
dos processos se tornam cada vez mais explícitos e podem ser reconhecidos com facilidade.
“Por exemplo, problemas em relação às ações de diversos
acadêmicos no Centro de Atenção e Promoção da Saúde. Nos
relatórios, por exemplo, relatório geral do NUPAD, eu vejo que
determinados alunos tiveram uma produção muito grande
outros não tiveram, então eu reconheço, eu vejo que tem um
problema aí.” [diretor 1]
A percepção da importância da informação na fase de reconhecimento do problema
condiz com a descrição do processo decisório de vários autores (MINTZBERG;
RAISINGHANI; THEORET, 1976, ; POMEROL; ADAM, 2004, ; SIMON, 1979). Segundo
Elam e Leidner (1995), somente as organizações que valorizam a análise verão grande
benefício na criação de sistemas de informação executivos. O NUPAD é, portanto, uma
organização particularmente adequada para a ampliação dos sistemas atuais para o suporte à
decisão executiva. O atual sistema, juntamente com a estrutura analítica, já responde em parte
por esta necessidade de dados.
Eu diria que nós temos um sistema de informação
relativamente bem estruturado,(...) e isso nos ajuda bastante na
tomada de decisão. Pelo menos em termos de diagnóstico, nós
conseguimos produzir o material em curto espaço de tempo.
Isso acaba sendo nosso dia-a-dia.” [diretor 2]
É uma das características dos Sistemas de Informação Gerenciais o fornecimento de
informação para decisão, especialmente na fase de reconhecimento do problema (ver Figura
8, pg 86). As informações disponibilizadas são de origem interna, oriundas dos bancos de
dados transacionais. Existem vários tipos de relatórios disponíveis sob demanda, a maioria
referente às operações do NUPAD, como os exames laboratoriais e o controle do tratamento
84
das crianças identificadas. Estes relatórios estão intimamente ligados à padronização dos
processos operacionais para permitir a identificação mais fácil e automática dos vícios e erros.
Nós podemos ter mecanismos, se você tiver seus processos de
trabalho mais organizados, você é capaz de identificar
problemas ou tendências mais rápido. Tendências que você às
vezes não percebe, não tem registrado. A principal vantagem de
um processo de qualidade total é você checar e avaliar seu
trabalho.” [diretor 2]
Este último ponto é essencial para a definição do papel de sistemas de informação no
trabalho dos administradores. Através dos relatórios automatizados, eles conseguem perceber
alterações nos processos bem estabelecidos e identificar com menor ambigüidade a
presença de falhas. Essas informações dirigem a atenção do administrador para alguns
parâmetros já conhecidos anteriormente e de alguma forma tornam o processo decisório
programável. Dentre os relatórios disponíveis, os relatórios financeiros têm um papel de
destaque na tomada de decisão.
“(Sobre o reconhecimento dos problemas) principalmente na
área financeira. Porque na área de atividades fins nossa, a
gente tem um domínio. Às vezes, pode errar um pouco, mas a
área financeira é muito cheia de surpresas. (...) E esse relatório
consegue mostrar pra gente, em determinados momentos,
situações que eram desconhecidas e nos obriga a tomar
decisões mais adiante.” [diretor 2]
Dentre as funções dos dados financeiros, os diretores apontam que é através dele que é
possível avaliar a viabilidade dos projetos. Segundo um diretor: Não adianta você tomar
uma decisão política se não tiver base financeira para isso.” Foi citado um caso que
exemplifica bem este ponto. dois anos, foi enviado à Secretaria de Estado da Saúde de
Minas Gerais um projeto para a introdução do teste de triagem neonatal de Toxoplasmose
Congênita, na forma de um piloto de seis meses. Esta decisão, segundo os coordenadores do
projeto, se deveu à disponibilidade de profissionais qualificados para a coordenação do
projeto, da vontade de SES-MG e à disponibilidade de recursos do NUPAD para
financiamento do projeto. Atualmente, a SES-MG está deliberando sobre a incorporação da
doença na triagem regular dos recém-nascidos de Minas Gerais. Um diretor foi incisivo:
“(Sobre as várias informações que recebem no dia-a-dia) As
questões vão acontecendo no dia a dia, umas mais outras
menos, e muitas vezes não depende da gente essas decisões.
Por exemplo, a toxoplasmose. Agora depende da secretaria.
Mas foi importante ter o recurso para fazer o piloto. Se (a
gente) não tivesse o recurso, ninguém ia ficar sabendo da
prevalência.” [diretor 2]
85
É importante ressaltar que a forma como a instituição é financiada altera o processo de
tomada de decisão. O NUPAD é muito dependente de atores externos para a viabilização de
mudanças estratégicas, uma vez que seu financiamento é proveniente prioritariamente da
realização de serviços ao Estado (exames laboratoriais, atendimentos médicos) e de projetos
enviados ao Ministério da Saúde ou ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPQ). Diferentes modalidades de financiamento terão impacto diferente ao
modificar os atores influentes no processo de alocação e disponibilização de recursos.
Além do reconhecimento do problema, os entrevistados foram unânimes ao apontar a
importância dos relatórios para a implementação da solução. A partir dos dados gerenciais, os
gestores têm capacidade de avaliar o cumprimento das metas e o impacto de suas decisões.
“Ao mesmo tempo auxilia a implementação, porque ele tem uma
série histórica. Você não pode tomar uma decisão baseada
numa oscilação temporária.” [diretor 2]
Estes relatórios também são utilizados como forma de sensibilização interna e,
principalmente, externa. Isso se deve à grande interação entre o NUPAD, a UFMG e os
órgãos estatais de saúde. Para tal, os relatórios o gerados não somente para a análise, mas
para divulgação e embasamento das decisões.
E também, você embasa essa informação na estatística e
explicita nos relatórios pra ver se vai ter recursos e
possibilidades (de implementar a decisão). Eu vou na
informação para tomar a decisão, e através de relatórios
qualitativos e quantitativos eu vou tentar sensibilizar os órgãos
da secretaria.” [diretor 1]
A percepção dos tomadores de decisão do NUPAD sobre a importância do sistema de
informação condiz com a atuação dos SIG nas organizações (Figura 8). Foi percebida uma
lacuna (gap) no suporte às outras funções decisórias. No entanto, alguns diretores
perceberam o potencial de outras ferramentas para a tomada de decisão e iniciaram um
trabalho para sua construção. Existe uma ferramenta de previsão (forecasting) de dados
financeiros que já é considerada essencial para a tomada de decisão.
Nós temos aqui um relatório gerencial, na área financeira, que
faz uma projeção de 6 meses. (...) Então hoje eu tenho condição
de fazer uma projeção do que vai ocorrer nos próximos 6 meses
a partir da série histórica.(...) Esse relatório te permite
antecipar decisões que são muito importantes. Mas é
financeiro.” [diretor 2]
Apesar da cultura analítica, os entrevistados reconhecem as limitações dos dados
explícitos na atual tomada de decisão do NUPAD. amplo reconhecimento que o banco de
86
dados é extremamente rico, porém sub-utilizado. Além de oferecer inúmeras oportunidades
não aproveitadas para pesquisa científica, os dados são pouco utilizados para o
aperfeiçoamento e avaliação dos processos. Segundo um diretor, eu acho que nós temos um
banco de dados enorme e o utiliza. A gente não tem conhecimento para usar as
ferramentas disponíveis para a gente.”
Fica claro no discurso que existe na organização uma avidez por informação. Porém, a
informação não possui uma vida isolada da organização. A influência organizacional no fluxo
da informação será tratada na próxima seção.
Figura 8 – Fases do processo decisório e o apoio dos sistemas de informação
FONTE: modificado de (LAUDON E LAUDON, 2005)
6.2.2 A importância do conhecimento organizacional na tomada de decisão
O termo organização se refere a um complexo padrão de relacionamentos e
comunicações humanas. Esse padrão fornece a maior parte das informações, pressupostos,
87
objetivos e atitudes que interferem nas decisões. Essas informações são essenciais à
sobrevivência da organização, pois induzem a estabilidade das ações (restringindo o leque de
opções e objetivos do administrador) e estimulam e prendem a atenção dos membros que
direcionam seu comportamento(SIMON, 1979).
A importância da influência organizacional para a tomada de decisão ficou evidente
no estudo de caso. Em primeiro lugar, a posição do NUPAD como órgão da UFMG traz um
conjunto de atribuições que constituem a identidade da organização. Essa identidade é
partilhada por toda a organização e chega a fazer parte do negócio da empresa. Essa
identidade, pautada pelas funções de ensino-pesquisa-extensão, orienta a análise e
conseqüentemente as necessidades de informação para a tomada de decisão. A força desta
identidade é perceptível, por exemplo, na análise dos recursos humanos. Além de inúmeros
professores oriundos da Faculdade de Medicina da UFMG como coordenadores das unidades
de atendimento, o NUPAD conta com grande número de acadêmicos de diversas escolas
(letras, biblioteconomia, fonoaudiologia, nutrição, etc.).
Esta identidade está refletida nos mecanismos de governança corporativa da
instituição. O NUPAD possui um regimento interno que determina os papéis corporativos dos
diretores. O alinhamento da organização com as diretrizes da UFMG é, portanto, assegurado
por este mecanismo. O regimento é considerado um importante mecanismo de controle
corporativo do NUPAD. Um diretor aponta que “a gente faz muita questão que nossas
atividades sejam coordenadas pelo regimento interno. Ele não é formal figurativo, a gente
se baseia por ele.”
Para orientar a prestação de contas, a instituição desenvolveu um relatório,
denominado “Relatório de Atividades”, que visa explicitar tudo que foi feito durante o ano e
justificar a concordância das ações aos requisitos da universidade.
O outro mecanismo importante de controle do NUPAD é o Manual de Normas
Técnicas e Rotinas Operacionais do Programa Nacional de Triagem Neonatal (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2004). Este manual especifica as normas vigentes para a realização dos testes, a
busca ativa e controle do tratamento dos pacientes identificados. Para tal, existe também um
relatório de produção enviado anualmente para um setor do Ministério da Saúde responsável
pelo controle dos serviços estaduais de triagem neonatal.
É lógico que tem o fator político. Como o programa está em
nível nacional, ele tem sua legislação nacional, tem suas
normas. Isso freia um pouco essas decisões muito grandes,
como criação de novos centros, deslocamento.” [gerente]
88
A complexidade das estruturas de governança de instituições de saúde havia sido
percebida por Eeckloo et al (2004). Segundo estes autores, a governança de instituições de
saúde (particularmente hospitais) não-lucrativas possui duas importantes diferenças com
outras corporações: estrutura de posse pouco clara (prestação de contas a múltipos
stakeholders); e a falta do princípio de maximização de lucros. A avaliação da qualidade das
decisões, geralmente feita de acordo com o aumento do valor das ações (STAUB; MARTINS;
RODRIGUES, 2002), fica então prejudicada. A contrapartida encontrada foi pela criação de
diversos relatórios de produção da organização, baseados nos princípios dos regimentos e
manuais reguladores.
Esses achados possuem grande influência na construção de sistemas de informação,
uma vez que as informações captadas, processadas e disponibilizadas por estes formam um
dos pilares da accountability (prestação de contas) da organização estudada. De fato, foi
percebido na análise do sistema, que a maior parte da terminologia utilizada no sistema é a
mesma contida no Manual de Normas Técnicas e Rotinas Operacionais do Programa Nacional
de Triagem Neonatal. A prestação de contas é cada vez mais presente na saúde mundial, por
possibilitar a aproximação do cliente com os serviços de saúde através da transparência.
Porém, esta prestação de contas também se presta a melhorar a qualidade dos serviços,
direcionando a construção dos parâmetros de desempenho. Nas palavras do presidente do
importante hospital americano Beth Israel Deaconess Medical Center, Paul Levy(2007):
“o principal valor da transparência não é necessariamente possibilitar a
escolha pelo consumidor ou dar vantagem competitiva a um hospital. É
fornecer tensão criativa dentro dos hospitais para que eles se responsabilizem.
Esta prestação de contas é o que motivará médicos, enfermeiros e
administradores para procurar melhorias constantes na qualidade e segurança
no cuidado ao paciente. Portanto, mesmo que nós não consigamos comparar
hospital a hospital em vários tipos de procedimentos, nós podemos
recomendar hospitais que publicam seus resultados pelo sinal que eles são
sérios sobre melhoria contínua
54
O negócio da organização (triagem neonatal) também tem papel importante na
definição da identidade da organização.
“(Sobre as informações de prevalência de doenças) ele é
importantíssimo pelo foco, que é de triagem. O seu foco na
triagem é “essa doença é prevenível, ela é tratável, você vai
54
the main value of transparency is not necessarily to enable easier consumer choice or to give a hospital a
competitive edge. It is to provide creative tension within hospitals so that they hold themselves accountable. This
accountability is what will drive doctors, nurses, and administrators to seek constant improvements in the
quality and safety of patient care. So, even if we can't compare hospital to hospital on several types of surgical
procedures, we can still commend hospitals that publish their results as a sign that they are serious about self-
improvement
89
fazer alguma coisa a respeito dela” porque também fazer o
diagnóstico não faz parte de quem trabalha com triagem
neonatal. Você tria e atua.” [diretor 1]
A identificação dos membros com a empresa da qual são parte é um importante
mecanismo de influência organizacional. A criação de normas da organização simplifica a
decisão e torna possível a avaliação racional das prioridades de ação. Sobretudo, as normas
organizacionais dirigem a atenção do administrador para as variáveis mais importantes,
direcionando a análise. Simon (1979, pg.15) argumenta que,
“se um administrador sempre que se defrontasse com uma decisão, tivesse
que avaliá-la de acordo com toda a gama de valores humanos, a racionalidade
(...) tornar-se-ia impossível. Por outro lado, se ele necessita considerar a
decisão apenas à luz dos objetivos restritos de sua organização, sua tarefa
torna-se mais compatível com os poderes humanos”.
No caso do NUPAD, o foco na prevenção de doenças é um direcionador importante na
tomada de decisão. Tomando o exemplo citado acima, a escolha de uma nova doença para ser
incluída no programa de triagem requer a consideração se a doença é prevenível ou tratável.
Este requisito independe do papel administrativo, da bagagem educacional ou mesmo das
características cognitivas do tomador de decisão, estando associado à identidade da
organização. Esta identidade é presente em todos os processos e é rapidamente percebida
pelos novos colaboradores da empresa.
Se entrar alguém novo, ele pode não ter não ter todos os
instrumentos facilitadores para ele, principalmente porque
(ainda não entramos num processo de qualidade). No atual
momento, eu diria que existe certa identidade coletiva com a
nossa missão e isso ajuda muito. Ele vai rapidamente entender
qual é o fio da meada, o que é que nós fazemos. Exames, tratar,
isso todo mundo faz. O resto ele aprende. Agora, como isso está
dentro de um espírito, dentro da identidade, do modo de
trabalhar, o fato do nosso trabalho aparecer de maneira
concreta, na hora que previne o retardo mental, isso influencia
positivamente todo mundo, desde os funcionários mais simples
até diretoria.” [diretor 2]
A importância do conhecimento organizacional também foi percebida através da
análise da dinâmica das decisões. Quando algum problema é percebido, os coordenadores de
setor são chamados e sua percepção é tida como tão importante quanto as informações que
embasam as conclusões sobre o problema:
Eu diria que a vivência em um determinado problema é
extremamente importante para analisar determinada estatística.
Se você não tem vivência disso, você pode, por um pequeno
erro, soltar um relatório absolutamente fora de contexto. Por
90
outro lado, você não pode colocar com um dado para inglês ver
e ficar contando com a experiência pessoal.” [diretor 2]
Segundo Choo (2003), existem três modelos para explicar o uso da informação
organizacional: criação de significado, construção de conhecimento e tomada de decisão. O
estudo de caso evidenciou que os modelos são adequados para explicar o processamento de
informação no NUPAD. Inicialmente, a informação é interpretada de acordo com a “vivência
em um determinado problema”. A partir de alguns parâmetros historicamente válidos, os
atores interpretam os dados correntes, criando sentido para as alterações. Quando as
informações contradizem o senso corrente, existe um conflito organizacional. Segundo
Weick, Sutcliffe e Obstfeld (2005), o processo de criação de sentido (sensemaking) se
desenvolve a medida que as pessoas percebem as alterações do ambiente e fazem sentido
retrospectivo para os eventos. O início do processo se quando os membros da organização
percebem uma variação do “normal”, e constroem um novo significado para o evento. A
experiência pessoal e os modelos mentais auxiliam o reconhecimento dos eventos anômalos e
facilitam esta construção de sentido.
Como aponta Weick, Sutcliffe e Obstfeld, (2005) a criação de sentido não significa
exatamente encontrar a verdade, mas em reescrever continuamente a história para torná-la
mais abrangente, incorporar os novos dados e torná-la mais resistente a críticas. Segundo estes
autores, a plausibilidade dos dados, portanto, é mais importante que a acurácia. Esta
observação foi reforçada pelo estudo de caso do NUPAD.
Aqui no NUPAD, com aquela famosa leitura diagonal. Eles
falam “mas você erros”. Mas eu sou treinado para isso,
para ver o que aquelas pessoas que tem menos vivência
erraram. Eu olho o resultado final, se ele está discrepante do
que eu tenho como perspectiva acende a luz vermelha. O erro
pode ser do sistema ou do NUPAD, daí eu olho os dados com
mais atenção.” [diretor 2]
Esta concepção que a formação de sentido é direcionada pela plausibilidade, mais que
acurácia, é discordante da literatura administrativa, que aponta que a percepção dos gerentes
determina a efetividade dos resultados (WEICK; SUTCLIFFE; OBSTFELD, 2005). Porém,
em vista da complexidade dos temas tratados na organização, é impossível realizar uma
análise completamente racional. Espera-se que os atores da organização promovam o
consenso e, portanto, as percepções individuais se prestam principalmente para contribuir na
criação de novas histórias compartilhadas ao invés de orientar exclusivamente as ações da
organização. Uma vez que o problema tenha sido reconhecido, existe a interação entre os
91
diferentes atores para selecionar a interpretação mais adequada. A percepção da gerência
também é semelhante. Sobre as reuniões entre diretoria e gerência média:
Você permite que mais pessoas envolvidas e que são
responsáveis pelas competências de cada setor, que elas possam
contribuir, participar, avaliar e propor elementos para uma
nova decisão. (...) Os números da análise não andam sozinhos.”
[gerente]
Fica evidente no discurso que a organização valoriza o conhecimento tácito. Após o
reconhecimento do problema, seja através do sistema de informação ou através de outros
meios de comunicação, existe uma construção compartilhada do problema e das alternativas
para sua resolução.
Segundo Nonaka e Takeuchi (1995) a construção do conhecimento se através da
conversão do conhecimento explícito em tácito, tácito em tácito, tácito em explícito e
explícito em explícito. A concepção da construção do conhecimento encontra respaldo na
diretoria:
Eu acho que o conhecimento não é gerado desse jeito. Eu acho
que o conhecimento é uma determinada teoria e esse
conhecimento vai gerar outro conhecimento.” [diretor 2]
A importância do conhecimento tácito foi verificada em todos os níveis decisórios,
seja operacional, gerencial ou estratégico.
“(Sobre a pergunta 2.2 - ver anexo- onde são buscadas as
informações para diferentes tipos de situação, das informações
explícitas formalizadas, informais ou tácitas) é mais dos dois
últimos itens para todas as situações. Nós não temos uma
prática de ter relatórios formais periódicos que a gente pode se
basear neles.” [diretor 1]
Foi demonstrado, portanto, que a organização é uma influência extremamente
importante no processo decisório na instituição estudada. Este dado reforça a teoria que a
complexidade da área da saúde promove a natureza compartilhada da formação de sentido,
visto que existe grande incerteza sobre os mecanismos necessários para atingir os objetivos
desejados. O impacto destes aspectos na criação de sistemas de informação será mais bem
explorado na seção 6.2.5.
92
6.2.3 Vieses cognitivos relacionados ao conceito de urgência
O presente estudo de caso foi motivado, além de outros motivos, pela percepção que
os sistemas de informação na área da saúde seriam potencialmente diferentes dos sistemas de
outros setores. O autor propõe que isto se deve a dois motivos principais:
1. à natureza instável da ciência da saúde, uma área extremamente complexa e
incerta que tem no paciente o consumidor e objeto de trabalho ao mesmo
tempo. Surgem então diversos problemas relacionados à coleta e
processamento da informação, em especial no que concerne a representação
das informações clínicas;
2. à natureza do trabalho dos profissionais de saúde que, ao lidar com a doença
são submetidos a uma realidade cultural que desencoraja e às vezes até impede
o racionalismo impessoal.
Foi percebido durante as entrevistas e análise históricas das decisões que, de fato,
alguns relatos de casos ditos trágicos influenciam, de forma desproporcional, a tomada de
decisão. Segundo um dos diretores:
esses relatos de casos trágicos, eles mexem muito com a parte
humana e médica da gente. E faz com que a decisão seja
tomada mais relacionada a (ele).(...) Nós estamos fazendo um
diagnóstico, esse relato trágico muda seu foco.” [diretor 1]
“Se eu vi e tomei alguma decisão baseada num caso trágico?
Já. (...) Eu vejo acontecendo, um médico viu um caso e quer
resolver o próximo caso do mesmo jeito. Isso é freqüente
[gerente]
Os estudos de Kahneman e Tversky (ver seção 3.4) sobre as heurísticas oferecem um
excelente referencial sobre este problema. Segundo estes autores, a incapacidade do homem
de apreender tudo que o cerca nos obriga a tomar alguns atalhos mentais, denominados
heurísticas. Dentre estas heurísticas, Kahneman (2003) aponta duas heurísticas que permitem
a explicação deste achado. A primeira é o efeito de moldura (framing effect). A forma como
um problema é formulado pode afetar a resposta, mesmo que os critérios objetivos para sua
resolução não sejam alterados. A segunda é a heurística de afeto. Segundo esta proposta, toda
questão passaria por uma avaliação afetiva que poderia ser utilizada como substituta para
avaliações mais complexas.
Apesar do presente estudo não ter um desenho apropriado para a avaliação das
heurísticas, alguns achados sugerem que o afeto é muito importante para a tomada de decisão.
93
Quando solicitado a responder a pergunta dois da seção “Urgência e Tomada de Decisão”, um
diretor apontou que no caso é a morte da criança. O relatório pode estar correto, mas é um
dado, a estatística às vezes pode apontar uma tendência, mas não te mostra toda a realidade.
Se eu tiver que optar entre uma é a informação do óbito. Tem um relatório dizendo, mas na
prática não está funcionando.”
Além disso, foi percebido que existe uma tendência à consideração da urgência como
critério para a priorização das ações. Apesar da missão do NUPAD na extensão enfatizar a
triagem e tratamento (ou seja, na prevenção de complicações da doença), os relatos de
mortalidade por falta de treinamento dos médicos foi um motivador para uma mudança de
rumo em 2006. Um diretor aponta que
os casos trágicos (...) eu acho que pesa. Por exemplo, o projeto
mais importante em 2006, que foi o CEHMOB (Centro de
Educação e Apoio para Hemoglobinopatias), qual foi a nossa
primeira decisão: fazer treinamento de urgência. Porque tava
morrendo criança. (...) Foi estratégico saber que tava morrendo
muita gente por doença falciforme. por desconhecimento dos
médicos. Nessa hora você não vai ficar fazendo prevenção e
tal.”
Observa-se, portanto, a primazia dos projetos de curto prazo sobre as políticas de
longo prazo, mesmo em uma organização estruturada para cumprir uma função de longa
duração. Este achado é condizente com a discussão de Aun (2001) sobre o critério da urgência
nas decisões governamentais. Uma vez que uma das fontes de recurso do NUPAD é o
financiamento estatal de projetos de pesquisa e extensão, é razoável estimar que a organização
já se colocou em sintonia com os critérios governamentais de liberação de recursos.
6.2.4 Aplicabilidade do modelo de tomada de decisão na realidade da
organização
Devido à natureza multifacetada da organização, o encontro dos vários modos de
decisão organizacional não foi surpreendente. O modo racional-limitado está presente em
todos os momentos e em todos os níveis da organização e pode ser evidenciado pela
importância percebida da padronização dos processos e dos parâmetros de desempenho. A
influência institucional através de rotinas é uma das formas apontada por Simon(1979) de
controle organizacional.
O modo procedural também pode ser verificado na dinâmica das decisões e na
demanda de informações diferenciadas não por problema, mas por grupo de influência.
94
Nós temos alguns relatórios padronizados (...). Quase que
sempre lançamos mão desses relatórios porque, como nós temos
grupos diferentes trabalhando, as dinâmicas são diferentes, os
parceiros são diferentes, então você tem que tomar decisões
diferentes”. [diretor 2]
O modo político também é claramente percebido e envolve pessoas internas e externas
à organização. Segundo um diretor:
no NUPAD, como a gente depende muito das pessoas de fora
tanto pra operacionalizar quanto para gerenciar, mas
principalmente para as questões estratégicas, eu posso no
NUPAD decidir que uma nova doença deve ser triada mas pra
que eu coloque isso na rede eu preciso do pessoal de fora. A
coisa é muito intrincada, muito imbricada, muito junta, muito
dependente do pessoal de fora.” [diretor 1]
A forma como a pesquisa foi conduzida dificulta a averiguação do modo anárquico,
pois este é caracterizado por uma combinação contingencial de soluções, problemas e
participantes que deve ser observado durante o acontecimento. O estudo priorizou questões
retrospectivas, mas vários achados sugerem que este modo é onipresente na organização. Os
entrevistados sugeriram em vários momentos que a escolha das doenças a serem triadas é
dependente da presença e disponibilidade de um profissional suficientemente articulado para
coordenação de equipe e captação de recursos. Segundo um diretor a questão de ter recursos
e financiamento, depende da articulação, isso você não coloca em normas. Existem algumas
situações (...) que dependem (...) de outras habilidades’’.
A presença de vários modos de tomada de decisão sugere que um sistema para apoio
ao processo decisório deve ser flexível para comportar as diferentes necessidades dos
usuários. O atual sistema de informação gerencial responde parcialmente à necessidade
informacional da organização. Dado a natureza difusa da construção de significado e
construção do conhecimento no NUPAD, a criação de sistemas colaborativos permitiria o
aumento da efetividade do processo decisório(SHIM et al., 2002).
6.2.5 Relevância das informações do sistema para o processo decisório
Este último tema de análise teve como objetivo avaliar a satisfação dos
administradores do NUPAD com o sistema e identificar o rumo de sua evolução. O sistema é
considerado satisfatório na geração de informações gerenciais e na automatização das
operações do NUPAD, conforme discutido nas seções anteriores. A grande falha percebida no
95
sistema é a atual intratabilidade dos dados clínicos. Isso foi consenso entre todos os
entrevistados, que almejam brevemente corrigir esta falha com o desenvolvimento de um
novo projeto para informatização dos ambulatórios em 2009.
Durante o estudo, foi percebido a falta de um profissional que servisse como ponte
entre a informação e os requisitos de negócio. Particularmente em relação às informações
clínicas (oriundas do contato médico-paciente), a modelagem do banco de dados não se
mostra adequada e problemas de comunicação entre médicos e profissionais de tecnologia da
informação agravam ainda mais o problema. Atualmente a organização possui um projeto de
informatização dos ambulatórios de atendimento aos pacientes identificados pela triagem para
capturar os dados. Porém, os coordenadores do projeto estão encontrando dificuldade na
determinação exata dos requisitos e da abordagem correta ao projeto.
“(Sobre este projeto) eles querem que eu fale quanto vai custar.
Mas eu preciso de mais informações sobre o que eles (esperam
do sistema). (...). Às vezes o que eles pedem é muito diferente do
que eles precisam” [gerente de informação]
Essa constatação também foi feita por Heeks (2006) em seu estudo de falhas e sucesso
de sistemas de informação em saúde. Segundo este autor, a diferença entre realidade e projeto
de sistemas de informação é inerente à complexidade e dinamismo da área da saúde. Uma das
soluções para diminuir esta diferença é a capacidade de improvisação no decorrer do projeto,
adaptando o sistema para as diferentes necessidades dos usuários, gerentes e desenvolvedores.
O autor aponta que o papel do profissional híbrido, parte usuário, parte desenvolvedor, é umas
das peças chave para esta improvisação.
“A expressão máxima do híbrido é alguém que combine desenvolvedor e
usuário em uma pessoa: como no caso de desenvolvimento por usuário final.
Por colocar o projeto diretamente nas mãos daqueles que compreendem a
realidade do usuário, o desenvolvimento por usuário final facilita o
fechamento do espaço entre projeto-realidade e a improvisação: qualquer
mudança na realidade é rapidamente detectada e rapidamente respondida por
re-projeto.”
55
(HEEKS, 2006, pg.134)
A possibilidade de manipulação dos dados também foi vista como muito importante,
por permitir a identificação e diagnóstico dos problemas de forma independente da
intervenção de profissionais técnicos. Os ganhos de eficiência foram percebidos como um
55
The ultimate expression of the hybrid is someone who combines both developer and user within one
individual: as found in the case of end-user development. By placing design directly into the hands of those who
understand user reality, end-user development greatly facilitates both design—reality gap closure overall and
continuing improvisations: any changes in reality are readily detected and readily responded to through HIS re-
design.”
96
dos grandes benefícios de sistemas de informação executivo por Vandenbosch e Huff (1997),
sobrepujando os ganhos em efetividade.
Houve durante o estudo de caso, apenas uma menção a um sistema de inteligência
competitiva. Os dados externos são considerados pouco relevantes, e possuem pouca
influência no processo decisório. A exceção foi a criação de um processo sistemático de
procura de ofertas de financiamento para pesquisa.
Curiosamente, apesar dos vários indícios sobre a importância da colaboração para a
tomada de decisão, os mecanismos colaborativos não foram considerados ferramentas
prioritárias. O estudo de caso evidenciou o limite da automatização simples da coleta,
processamento e disponibilização da informação. Sobre a informação para decisões
estratégicas, um diretor aponta:
Mas isso não chega automaticamente. Esse mecanismo nós
não temos. Eu acho que um mecanismo assim é possível de
construir em parte, não totalmente. Isso seria muito automático
na minha cabeça. Se fosse assim, era melhor ir pra casa e ligar
alguma coisa e deixar acontecer.” [diretor 2]
Existem inúmeras ferramentas para suporte à decisão de grupo, como apontado na
seção 4.4. A tecnologia é utilizada para facilitar a interação entre os membros do grupo, seja
de forma síncrona ou assíncrona. Além disso, as ferramentas de colaboração de grupo
impõem limitações na forma de comunicação visando a aumentar a ordem do processo (SHIM
et al., 2002).
Percebe-se, portanto, que existem várias oportunidades para a melhoria dos sistemas
de informação no NUPAD, visando melhorar a eficiência e eficácia do processo decisório.
97
7 Conclusões e propostas
Nos últimos anos, as mudanças no setor de saúde do Brasil têm forçado à
transformação na forma como as instituições são gerenciadas. Em primeiro lugar, o
surgimento constante de novas técnicas de diagnóstico e tratamento das doenças tem
aumentado de forma assustadora o custo da atenção à saúde. Como todas as pessoas possuem
direito, garantido pelo Estado, à realização de todos os procedimentos necessários ao seu
tratamento, pode-se perceber que este custo tende a aumentar com o envelhecimento da
população e com o avanço tecnológico. Tal aumento levou as organizações de saúde a
enfatizarem a prevenção sobre os procedimentos curativos (THORPE, 2005).
Em segundo lugar, a falta de recursos exigiu a melhoria da gestão das organizações.
Esta mudança foi motivada pela mudança do modelo estatal de saúde, o SUS. O SUS traz,
como um de seus princípios, a descentralização das ações (antes federais e agora exercidas em
grande parte pelos municípios). O grande objetivo da descentralização, que é trazer a gestão
dos serviços para perto da comunidade, exigiu novos mecanismos de gestão para o controle
das ações.
O aumento da efetividade e eficácia das decisões tornou-se imperativo para a
sobrevivência das instituições de saúde. Isto só foi possível devido aos avanços tecnológicos
ocorridos na segunda metade do século XX, que mudaram a forma como as pessoas
trabalham. O desenvolvimento dos sistemas de informação permitiu a disponibilização da
informação para a melhoria do processo decisório.
A tecnologia da informação é presente em praticamente todos os setores econômicos e
se tornou, em alguns desses, uma condição sine qua non para a sobrevivência das empresas. O
setor da saúde não é diferente e sofreu grande influência, apesar de tardia, dos avanços
tecnológicos.
A instituição estudada parece conter bons exemplos da influência da tecnologia no
setor de saúde. A partir de 1998, o NUPAD vem automatizando progressivamente seus
processos operacionais e hoje conta com o uso extensivo dos computadores no processamento
das amostras para exame laboratorial e no controle das crianças identificadas. Esses avanços
somente foram possíveis devido a grandes mudanças nos processos de desenvolvimento de
software (com o desenvolvimento de metodologias e ferramentas de engenharia de software)
e ao baixo custo dos computadores pessoais (WARD; PEPPARD, 2002).
98
Apesar dos avanços tecnológicos, os sistemas de informação em saúde ainda não
atingiram a maturidade no setor. Os relatos de insucesso na criação destes sistemas são vários
e já se tornou um consenso que estes sistemas falharam em cumprir as expectativas. Durante a
Conferência de Heidelberg, ficou claro que a excessiva orientação tecnológica deveria ser
complementada por uma orientação social, comportamental e ética, estimulando a
convergência de diferentes disciplinas (GIUSE; KUHN, 2003). Conclui-se, portanto, que o
desenvolvimento da tecnologia deve ser acompanhado por uma compreensão dos processos,
dos fenômenos comunicativos e das expectativas em torno do desenvolvimento de novos
sistemas.
Este trabalho foi motivado por duas particularidades (expostas na seção 1.3): a
primeira peculiaridade é a natureza instável do trabalho em saúde (que possui uma alta
complexidade e exige a normatização das condutas e padrões de desempenho) e a formação
profissional de seus atores (a cultura da saúde exige que o profissional tenha compaixão e
sensibilidade, muitas vezes à custa da racionalidade científica formal). O autor, através de sua
experiência pessoal e profissional, percebeu que os membros das instituições de saúde vivem
submetidos a uma grande dicotomia: a ênfase na análise formal, orientados por normas éticas,
legais ou científicas; e a importância da experiência pessoal e coletiva na compreensão da
complexidade da saúde.
Visando melhorar a compreensão da realidade das instituições de saúde e o impacto na
criação de sistemas de informação, o presente trabalho se propôs a estudar o fluxo
informacional no NUPAD. A escolha foi motivada pelas características únicas da instituição,
que é uma instituição de pesquisa e assistência, e que possui características próprias de gestão,
com características públicas e privadas.
O estudo foi norteado por três perguntas: qual é a influência da informação,
organização e cognição no processo decisório; qual é a melhor descrição do processo
decisório na organização; considerando a influência e o processo decisório, como criar um
sistema de informação para apoio à tomada de decisão em instituições de saúde. A revisão
teórica seguiu estes passos.
O capítulo dois revisou, de forma geral, o papel da informação nas organizações de
saúde. A era da informação e seu impacto na gestão das organizações foram explorados, com
especial atenção para as políticas de informação (AUN, 2001) e políticas de informação em
saúde (FACCHINI et al., 2004). Mostrou-se a centralidade da informação na melhoria dos
processos em saúde, na avaliação das ações e, na melhoria da tomada de decisão de todos os
99
profissionais. Foram identificadas várias correntes teóricas que estudam este processo. O
modelo de Choo foi utilizado como base para esta revisão (CHOO, 2003).
O capítulo três abordou as teorias mais importantes da tomada de decisão nas
empresas. Evidenciou-se que, a partir de Herbert Simon (1979) e sua proposta da
racionalidade limitada, a imagem do ser humano como completamente racional vem sendo
progressivamente posta em cheque (DAMÁSIO, 1996, ; MINTZBERG; RAISINGHANI;
THEORET, 1976). Os estudos cognitivos complementam esta percepção, ao demonstrar os
procedimentos heurísticos para limitar a complexidade da realidade e o papel da emoção na
tomada de decisão (TVERSKY; KAHNEMAN, 1974). No entanto, é papel dos membros e
consultores da organização trazer novamente a racionalidade para dentro das organizações,
seja na promoção da capacidade analítica, seja na construção compartilhada do conhecimento
organizacional(DAVENPORT et al., 2001).
O capítulo 4 explorou a teoria envolvendo os sistemas de informação e os sistemas de
informação em saúde. Foi possível demonstrar a importância destes sistemas na melhoria dos
processos organizacionais, em especial aqueles referentes à tomada de decisão nas instituições
(POWER, 2003).
Vários aspectos recorrentes na literatura foram verificados durante o estudo. Ficou
claro, em especial, o papel central da informação nas organizações. Os administradores são
sedentos por informação no seu dia-a-dia e embasam muitas de suas ações nos relatórios
gerenciais e nas informações dos sistemas de informação. Enfim, os administradores querem
que os sistemas auxiliem na tomada de decisão, alavancando sua capacidade de análise e
compreensão da situação.
O estudo evidenciou também as inúmeras formas como a organização influencia o
processo decisório. A criação de padrões de desempenho, através dos mecanismos de
governança corporativa, direciona a avaliação das ações. A identidade corporativa que no
caso do NUPAD era pautada pela identidade universitária (pesquisa-ensino-extensão) e pela
missão da organização na triagem neonatal (identificação e prevenção de doenças) direciona a
seleção das opções e oportunidades.
Mostrou-se que o modelo de Choo é adequado para descrever o uso da informação na
organização estudada. A organização utiliza os dados para a formação de sentido, porém esta
formação é compartilhada e difusa pela organização. Foram verificados alguns elementos da
teoria da formação de sentido de Karl Weick, em especial a ênfase da plausibilidade sobre a
acurácia e a valorização do contexto histórico para interpretação dos dados.
100
Ficou claro que a organização valoriza o conhecimento tácito como essencial para a
compreensão do trabalho, muitas vezes em detrimento dos dados explicitados no sistema. O
conhecimento é visto de forma cumulativa (“conhecimento gera conhecimento”), compatível
com as teorias correntes sobre sua criação(NONAKA; TAKEUCHI, 1995).
Estes achados sugerem que um dos motivadores, a proposta que a complexidade da
medicina exigiria a natureza difusa e compartilhada das decisões, é compatível com a
realidade das instituições de saúde. Esta natureza é presente em todos os níveis decisórios,
seja operacional, gerencial ou estratégico.
O estudo também sugere que os aspectos cognitivos do gestor em saúde influenciam
decisivamente a tomada de decisão. Foi verificado que os casos individuais são valorizados de
forma desproporcional no processo decisório dos gestores. Ao contrário de ser tido como uma
ação irracional, os gestores apontam conscientemente esta valorização como um aspecto
importante a ser considerado. Esta “racionalidade médica” condiz com a proposição que a
carga educacional dos profissionais de saúde é relevante na análise de seu processo decisório.
Em vista da valorização de informações explícitas e analíticas concomitantemente à
importância do conhecimento tácito e da construção compartilhada de conhecimento, não é
surpreendente a aplicação de vários modelos diferentes de decisão em diferentes momentos da
organização. É digna de nota a característica política de algumas decisões. Enquanto o foco da
pesquisa foi centrado na importância das informações na decisão, o estudo sugere que existem
pessoas com habilidades chave, especialmente de articulação, que são essenciais na
implementação das ações. A simples presença destas pessoas influencia a decisão.
Por fim, o estudo demonstrou as forças e deficiências do atual sistema. A
automatização dos processos operacionais e a geração de informações gerenciais são
essenciais para o funcionamento da organização. Existe a percepção da necessidade de
inclusão de dados clínicos na tomada de decisão e da possibilidade da manipulação dos dados
pelos administradores. Ainda é importante ressaltar que nenhum dos administradores apontou
a necessidade de sistemas colaborativos, mesmo que a colaboração tenha sido considerada
essencial para o funcionamento da organização.
O estudo rias sugestões para construção de sistemas de informação em
instituições de saúde. Em primeiro lugar, as organizações de saúde são propícias ao
desenvolvimento de sistemas de suporte à decisão, que por sua vez são dependentes de bons
sistemas de informação gerenciais e operacionais. Em segundo lugar, as características
próprias de cada organização devem ser refletidas no sistema de informação, orientando para
os parâmetros de sucesso e falha e para o cumprimento da missão da empresa. O aspecto
101
colaborativo é extremamente importante e deve ser apoiado pelo sistema. Em terceiro lugar, a
decisão em instituições de saúde é influenciada de forma importante pelos casos individuais
eventualmente sobrepujando os dados estatísticos e probabilísticos. A análise destes casos
deve ser auxiliada pelo sistema de informação, para permitir que o gestor se decida pela visão
individual, coletiva ou ambas.
Finalmente, o estudo endossa a visão sugerida por Heeks (2006) que a ausência de
ponte entre o conhecimento médico, a necessidade dos gestores, a concepção dos
desenvolvedores e a realidade das organizações é uma grande dificuldade à criação de
sistemas de informação na saúde. Sugere-se que, antes do desenvolvimento de tais sistemas,
seja feito um estudo aprofundado dos processos operacionais, processos de comunicação e de
decisão de uma organização. Este estudo deve ser realizado por profissionais que sejam
capazes de compreender as várias facetas das organizações de saúde, incluindo o dinamismo
da criação de consenso e das decisões nas organizações. Na prática, observa-se que estas
sugestões não são respeitadas devido ao aumento de custos de desenvolvimento e limitação
dos prazos. Porém, deve-se ressaltar que estas tarefas são essenciais no desenvolvimento de
sistemas de boa qualidade e prevenir contra as falhas na implantação, além de poupar esforços
na manutenção.
Embora seja um estudo de caso e não permita a generalização, o presente trabalho
explorou diversos aspectos relacionados à informação e a tomada de decisão. Para aprofundar
o conhecimento destes aspectos, o autor propõe que novos estudos sejam feitos, para
compreender estes temas na profundidade que eles merecem. Também propõe que outras
instituições de saúde sejam estudadas, para verificar a generalidade das conclusões.
Dos aspectos interessantes que surgiram durante o estudo e não puderam ser estudados
em profundidade, foi percebido uma grande dificuldade no processo de informatização dos
ambulatórios. Segundo os coordenadores do projeto, a medicina oferece grande dificuldade na
tratabilidade dos dados devido a sua complexidade. A representação do conhecimento médico
é um assunto extremamente amplo e interessante, mas que fugiu ao escopo do presente
trabalho. Recomenda-se maiores estudos no assunto visto que os administradores explicitaram
claramente a grande importância destas informações na decisão.
Foi percebido também que o jogo político interno e externo à organização é de
extrema importância no processo decisório das organizações de saúde (em especial,
organizações públicas) e merece maiores estudos.
Outro aspecto digno de nota é a ampliação dos estudos do processo decisório para
contemplar novos paradigmas sobre a decisão. Em especial, o paradigma do estudo decisório
102
naturalista está se demonstrando apropriado para explicar grande número de decisões médicas
(PATEL; KAUFMAN; AROCHA, 2002). Este assunto merece ser mais bem estudado para
que seja possível avaliar a adequação desta teoria na decisão administrativa em instituições de
saúde.
Espera-se que este trabalho possa contribuir positivamente para a diminuição das
falhas na criação de sistemas de informação e para a melhoria dos processos de decisão na
instituição estudada, o NUPAD.
103
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115
ANEXOS
116
ANEXO 1 – Questionário para os gerentes e diretores
Nome da Pesquisa: A TOMADA DE DECISÃO E OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
EM SAÚDE
Pesquisador: André Queiroz de Andrade
Orientador: Marta Macedo Kerr Pinheiro
ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE
MINAS GERAIS
Prezado entrevistado(a),
Na tentativa de conhecer melhor a interação entre os sistemas de informação e a
tomada de decisão em instituições de saúde, estamos realizando esta pesquisa no Núcleo de
Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico, NUPAD. O NUPAD é uma instituição de
excelência em sua área e tem grande influência na criação e implementação de políticas de
saúde pública, justificando a importância em estudar o que acontece na instituição. Para a
pesquisa, estaremos entrevistando alguns profissionais importantes no processo decisório que
ocorre dentro da instituição, dentre os quais o(a) senhor(a) foi escolhido(a).
A entrevista terá duração de no máximo 2 horas e será gravada e transcrita. O
anonimato completo será mantido. Em anexo, o roteiro que será utilizado durante a entrevista.
Desde já, agradecemos sua colaboração e garantimos que tal ajuda será muito
importante no avanço da ciência na área.
Atenciosamente,
ANDRÉ QUEIROZ DE ANDRADE
Médico e mestrando em Ciência da Informação / UFMG
MARTA MACEDO KERR PINHEIRO
Professora da Escola de Ciência da Informação
Doutora em Ciência da Informação pelo IBICT/RJ
Contato: André Queiroz de Andrade
Tel. 9731-9753
UFMG, 2007
117
TEMA: CONHECIMENTO EXPLÍCITO VERSUS TÁCITO
1) Em qual ou quais momentos os relatórios gerenciais são utilizados? Cite exemplos.
a. Reconhecimento do problema
b. Levantamento das alternativas para solução do problema
c. Análise das conseqüências de cada alternativa
d. Auxílio para implementação da alternativa escolhida
e. Justificativa para decisões já tomadas
f. Feedback sobre alternativas tomadas
2) Qual é a função dos dados estatísticos na tomada de decisão estratégica?
TEMA: NÍVEL DE ESTRUTURAÇÃO DO PROBLEMA DECISÓRIO
1. Durante o processo de definição ou priorização de projetos estratégicos, é possível determinar
com objetividade quais são as informações importantes?
2. No seu dia-a-dia você tem que lidar com 3 tipos de situação:
Situações operacionais (ex. escolha do número de pontos de atendimento para
determinada doença, ou a escolha do número de médicos necessário para atender a
demanda);
Situações gerenciais (ex. controle sobre o número de amostras examinadas em
determinados dias, ou o controle sobre o tratamento das crianças);
Situações estratégicas (ex. definição sobre quais projetos serão priorizados, ou a
criação de um novo serviço para a população).
Para cada uma delas, ou para todas elas, onde é buscado o embasamento para decisões:
Das informações já explícitas e formalizadas nos relatórios estatísticos;
Das informações explicitadas de modo informal como resultado de relatórios qualitativos;
Ou das informações tácitas, obtidas de seu contato pessoal com a equipe?
3. O que acontece quando as informações são contraditórias? Quais tipos de informação são
considerados mais importantes, as contidas no sistema ou as de experiências pessoais dos
membros da equipe?
TEMA: CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL
1) Define-se por conhecimento organizacional todo o conhecimento que existe nas pessoas,
documentos, processos e rotinas da empresa. Em quais das situações abaixo este
conhecimento é mais importante e por que?
a. Nas rotinas do NUPAD (realização de exames, atendimento das crianças
identificadas, etc.)
b. Nas tarefas de gestão das ações, pessoas e sistemas do NUPAD
c. Criação e desenvolvimento de projetos estratégicos para o NUPAD (ex. projetos
ministeriais de educação em saúde)
2) Existem rotinas documentadas ou protocolos que influenciam a definição e construção dos
projetos a serem executados pelo NUPAD? Quais são e como se dá esta influência?
118
TEMA: URGÊNCIA E TOMADA DE DECISÃO
1) Como as situações informacionais abaixo influenciam a tomada de decisão? Qual é a
importância desta influência?
a. Relatório apontando a prevalência de doenças preveníveis (ex. relatório que aponta a
prevalência de toxoplasmose congênita no Estado);
b. Comunicação oral de pessoas influentes (ex. políticos, pessoas com grande influência
científica, etc.);
c. Situações de risco iminente (ex. aumento na mortalidade de determinados pacientes);
d. Relatos de casos trágicos (ex. Relato de uma criança com anemia falciforme que
morreu devido ao não reconhecimento de um seqüestro esplênico por médicos do
interior);
e. Relatórios financeiros demonstrando perspectivas de não-sustentabilidade (prejuízo),
sustentabilidade ou geração de recursos.
2) Considere a seguinte situação: chega a seu conhecimento que uma criança com fibrose cística
faleceu aos 5 anos de idade devido a problemas relacionados a seu transporte até o centro de
atenção médica mais próxima. No mesmo momento, você recebe um relatório apontando para
a diminuição da mortalidade da doença devido a melhorias no acesso. Qual das duas
informações tem mais peso para a tomada de decisão? Por quê?
TEMA: INFORMAÇÕES DO SISTEMA PARA PRIORIZAÇÃO DE PROJETOS E
DETERMINAÇÃO DE POLÍTICAS
1) Em uma escala de 0 a 100%, em que grau as informações explicitadas no atual sistema de
informação do NUPAD auxiliam a criação e implementação de políticas e projetos? Como se
dá essa influência?
2) Quais seriam as melhorias mais importantes para que o sistema atendesse às necessidades
informacionais do processo de decisões sobre políticas e projetos?
a. Ampliação do escopo de captura de dados, incluindo dados clínicos;
b. Possibilidade de manipulação dos dados (ex. determinação de parâmetros estatísticos
como média e cruzamento de dados);
c. Inclusão de dados externos (ex. notícias do governo, notícias de cotação de moedas,
etc.);
d. Inclusão de informações não-formalizadas (relatos de experiências documentados,
relatos clínicos);
e. Mecanismos de colaboração (ex. chat, fórum, vídeo-conferência, etc.).
f. Outros de sua sugestão
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