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MARCELO RENNÓ BRAGA
COMPOSIÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E VARIAÇÃO TEMPORAL DE PEIXES
RECIFAIS NAS ILHAS ITACOLOMIS, SC.
CURITIBA
2008
Tese apresentada como requisito parcial à obtenção do
grau de Doutor em Ciências Biológicas área de
concentração Zoologia. Programa de Pós-Graduação
em Ciências Biológicas, Zoologia, Setor de Ciências
Biológicas da Universidade Federal do Paraná.
Orientador:
Prof. Dr. José Marcelo Rocha Aranha
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ii
DEDICATÓRIA
Ao meu pai Mozart Rocha Braga e à
minha mãe Maria Aparecida Rennó
Braga, que sempre me incentivaram a
estudar, aos quais devo, em grande parte,
o que hoje sou. Aos meus irmãos, Raul
Rennó Braga e Raquel Rennó Braga, pela
compreensão e ajuda. A minha noiva
Cristian Carla Cruppeizaqui, pelas
palavras positivas. A todos os colegas e
educadores, que acreditaram neste
trabalho. E enfim, aos amigos de maré
cheia e vazante, de águas calmas,
bravias, quentes, frias, transparentes ou
sombrias.
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iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao professor orientador Doutor José Marcelo Rocha
Aranha, pelo acompanhamento e revisão do estudo. Meu especial
agradecimento a todas as pessoas que colaboraram direta ou indiretamente
para a realização deste trabalho dentre elas: Jean Ricardo Simões Vitule,
Simone Camargo Umbria, Simone Dala Rosa, Maria Antônia
Michels de Souza,
Gislaine Fatima Filla, Luiz Augusto Moreira Plassmann, Reinaldo Alberti,
Carolina Schrappe, Allan Soares da Silveira, Raul Rennó Braga e Mozart
Rocha Braga. Agradeço também a Instituição Universidade Federal do Paraná
e ao Curso de Pós-Graduação em Zoologia pela excelência em estudo
oferecida e ao CNPq pelo apoio financeiro em forma de bolsa de estudo.
iv
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS....................................................................................VII
LISTA DE TABELAS ...................................................................................XI
RESUMO GERAL ........................................................................................13
ABSTRACT..................................................................................................14
PREFÁCIO...................................................................................................15
REFERÊNCIAS............................................................................................17
ÁREA DE ESTUDO .....................................................................................18
REFERÊNCIAS............................................................................................27
CAPÍTULO I
COMPOSIÇÃO DE PEIXES RECIFAIS NAS ILHAS ITACOLOMIS, SANTA
CATARINA, BRASIL
RESUMO......................................................................................................29
ABSTRACT..................................................................................................30
INTRODUÇÃO.............................................................................................31
MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................34
RESULTADOS.............................................................................................40
DISCUSSÃO................................................................................................53
REFERÊNCIAS............................................................................................59
v
CAPÍTULO II
DISTRIBUIÇÃO DE PEIXES RECIFAIS NAS FACES LESTE E OESTE DAS
ILHAS ITACOLOMIS, SANTA CATARINA, BRASIL
RESUMO......................................................................................................66
ABSTRACT..................................................................................................67
INTRODUÇÃO.............................................................................................68
MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................71
RESULTADOS.............................................................................................80
DISCUSSÃO................................................................................................92
REFERÊNCIAS............................................................................................99
CAPÍTULO III
VARIAÇÕES SAZONAIS NA COMUNIDADE DE PEIXES RECIFAIS DAS
ILHAS ITACOLOMIS SANTA CATARINA, BRASIL
RESUMO......................................................................................................107
ABSTRACT..................................................................................................108
INTRODUÇÃO.............................................................................................109
MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................112
RESULTADOS.............................................................................................116
DISCUSSÃO................................................................................................125
REFERÊNCIAS............................................................................................128
vi
CONCLUSÕES GERAIS .............................................................................135
REFERÊNCIAS GERAIS.............................................................................139
ANEXO I.......................................................................................................141
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa com a localização das Ilhas Itacolomis, Santa Catarina....... 18
Figura 2: Profundidade no entorno das Ilhas Itacolomis (Carta Nº 1809 do
Serviço de Hidrografia e Navegação da Marinha Brasileira). ........................ 19
Figura 3: Ilhas Itacolomis, a) vista da face voltada para oeste, b) vista da face
voltada para leste. ......................................................................................... 20
Figura 4: Instalação das transecções para realização do censo visual nas Ilhas
Itacolomis, SC. ............................................................................................... 34
Figura 5: Visualização de características distintivas com auxílio de foto
identificação. Desenhos modificados de HOSTIM-SILVA et al. (2006) e
CARPENTER (2002b). .................................................................................. 35
Figura 6: Armadilha tipo covo utilizada durante as amostragens e suas
respectivas dimensões. ................................................................................. 36
Figura 7: Número de espécies de peixes recifais por família nas Ilhas
Itacolomis, Santa Catarina. ........................................................................... 45
Figura 8: Categoria de presença das espécies nas Ilhas Itacolomis, Santa
Catarina. ........................................................................................................ 46
Figura 9: Proporções das categorias tróficas nas ilhas Itacolomis. .............. 37
Figura 10: Quadrado amostral usado para registro de cobertura bentônica.
....................................................................................................................... 73
Figura 11: Representação da amostragem de rugosidade do fundo (elementos
representados fora de proporções). .............................................................. 74
viii
Figura 12: Representação da amostragem de inclinação ilustrando os rumos
das transecções (elementos representados fora de proporções). ................. 75
Figura 13: Representação da amostragem de inclinação vista de perfil
(elementos representados fora de proporções). ............................................ 75
Figura 14: Representação das transecções(elementos representados fora de
proporções). ................................................................................................... 76
Figura 15: Tipos de substratos predominantes nas faces Leste e Oeste das
Ilhas Itacolomis. ............................................................................................. 80
Figura 16: Proporções de cobertura bentônica nas faces Leste e Oeste das
Ilhas Itacolomis. * = diferenças significativas. ................................................ 81
Figura 17: Índice de rugosidade médio e desvio padrão nas faces leste e oeste
da Ilhas Itacolomis sc. ................................................................................... 82
Figura 18: Inclinação média e desvio padrão nas faces leste e oeste da Ilhas
Itacolomis sc. ................................................................................................. 83
Figura 19: Representação dos resultados de índice de rugosidade e inclinação
nas Ilhas Itacolomis, SC. ............................................................................... 83
Figura 20: Densidade média nas Faces Leste e Oeste das Ilhas Itacolomis.
....................................................................................................................... 84
Figura 21: Biomassa média nas Faces Leste e Oeste das Ilhas Itacolomis.
* = diferenças significativas. .......................................................................... 85
Figura 22: Análise de agrupamentos das abundâncias relativas entre as faces
Leste e Oeste das ilhas Itacolomis, utilizando-se coeficiente de Bray-Curtis.
....................................................................................................................... 87
Figura 23: Abundancia relativa de jovens e adultos de Abudefduf saxatilis.
* = diferença significativa. .............................................................................. 89
ix
Figura 24: Abundancia relativa de jovens e adultos de Anisotremus virginicus.
* = diferença significativa. .............................................................................. 89
Figura 25: Abundancia relativa de jovens e adultos de Chaetodon striatus. .
....................................................................................................................... 90
Figura 26: Abundancia relativa de jovens e adultos de Diplodus argenteus.
....................................................................................................................... 90
Figura 27: Abundancia relativa de jovens e adultos de Stegastes fuscus. ....
....................................................................................................................... 90
Figura 28: Abundancia relativa de jovens e adultos de Odontoscion dentex.
....................................................................................................................... 91
Figura 29: Variação de temperatura superficial da água nas Ilhas itacolomis.
....................................................................................................................... 116
Figura 30: Variação de densidade de Abudefduf saxatilis.............................
....................................................................................................................... 117
Figura 31: Variação de densidade de Anisotremus virginicus. .....................
....................................................................................................................... 118
Figura 32: Variação de densidade de Chaetodon striatus............................. .
....................................................................................................................... 118
Figura 33: Variação de densidade de Diplodus argenteus. ..........................
....................................................................................................................... 119
Figura 34: Variação de densidade de Odontoscion dentex...........................
....................................................................................................................... 119
Figura 35: Variação de densidade de Stegastes fuscus. ..............................
....................................................................................................................... 120
x
Figura 36: Variação de Biomassa de Abudefduf saxatilis..............................
....................................................................................................................... 121
Figura 37: Variação de Biomassa de Anisotremus virginicus........................
....................................................................................................................... 121
Figura 38: Variação de Biomassa de Chaetodon striatus. ............................
....................................................................................................................... 122
Figura 39: Variação de Biomassa de Diplodus argenteus.............................
....................................................................................................................... 122
Figura 40: Variação de Biomassa de Odontoscion dentex............................
....................................................................................................................... 123
Figura 41: Variação de Biomassa de Stegastes fuscus. ..............................
....................................................................................................................... 125
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Escala de vento Beaufort, utiliza o aspecto do mar (superfície e
ondas) para estimar a velocidade do vento. .................................................. 38
Tabela 2: Escala de Estado do Mar de acordo com a altura das ondas........
....................................................................................................................... 39
Tabela 3: Lista de taxa registradas nas Ilhas Itacolomis, Santa Catarina. ....
....................................................................................................................... 40
Tabela 4: Lista de taxa, n amostral, abundância relativa, freqüência de
ocorrência nas fases de campo, categoria de presença e categoria trófica de
peixes recifais nas Ilhas Itacolomis. ............................................................... 48
Tabela 5: Informações de campo para cada mergulho realizado nas Ilhas
Itacolomis. Número do mergulho, data, transparência da água, temperatura
mínima durante o mergulho, profundidade máxima, escala de vento Beaufort,
escala de estado do mar, direção do vento, direção das ondas, clima e fase da
lua. ................................................................................................................. 51
Tabela 6: Descrição das categorias de substrato registradas no período de
2005 a 2007 nas Ilhas Itacolomis, Santa Catarina (as descrições são visuais e
não geotécnicas). .......................................................................................... 71
Tabela 7: Freqüência absoluta e abundância relativa de peixes recifais no
período no período de 2005 a 2007 nas Ilhas Itacolomis, Santa Catarina.. ...
....................................................................................................................... 88
Tabela 8:. comparação sazonal entre densidades de peixes recifais, valores do
teste Kruskal-Wallis (KW) e valores de p.
xii
...................................................................................................................... 124
Tabela 9:. comparação sazonal entre biomassas de peixes recifais, valores do
teste Kruskal-Wallis (KW) e valores de p.
....................................................................................................................... 124
13
RESUMO GERAL
As ilhas e arquipélagos localizados na plataforma continental brasileira
constituem um rico reservatório natural da fauna oceânica. As ilhas apresentam
elevado atrativo turístico. A pesca artesanal, esportiva o mergulho autônomo e
o mergulho livre para prática de caça submarina são algumas das atividades de
maior relevância econômica realizadas nestas ilhas. Tendo em vista não o
aspecto econômico, mas também o valor ecológico destas formações torna-se
de fundamental importância à realização de estudos com o fim de caracterizar
estes ambientes particulares. O presente trabalho teve como objetivos:
determinar a composição distribuição e abundancia da comunidade de peixes-
recifais nas Faces leste e oeste das Ilhas Itacolomis, Enseada do Itapocorói,
Santa Catarina. As Ilhas Itacolomis estão localizadas no município de Piçarras,
Santa Catarina a 4,3 milhas náuticas da Ponta da Penha e estão dispostas
entre as isóbatas de 10 e 20 metros. As fases de campo foram realizadas
mensalmente entre janeiro de 2005 e janeiro de 2007. Para determinação da
composição ictiofaunística foram feitas observações subaquáticas utilizando a
técnica de busca intensiva com mergulho autônomo. Para auxiliar a
identificação dos exemplares observados por meio de mergulho, uma máquina
fotográfica digital foi utilizada e as fotografias foram analisadas posteriormente
com auxílio de bibliografia própria para identificação visual bem como consulta
a especialistas. A distribuição da comunidade de peixes nas faces leste e oeste
das ilhas e sazonalmente foi analisada através de transectos com 25m de
comprimento e com distância variável. Assim foram estimados parâmetros
como a densidade e biomassa. Durante os transectos os peixes foram
contados e seus tamanhos foram estimados. Foram identificadas 60 espécies,
distribuídas em 33 famílias e 14 ordens. Serranidae foi à família mais
representativa (seis espécies), seguida das famílias Carangidae e Haemulidae
com cinco espécies e Pomacentridae com quatro espécies. De acordo com a
lista vermelha de espécies da IUCN (2007) foram registradas na área
estudada: uma espécie criticamente ameaçada (Epinephelus itajara), uma
espécie ameaçada (Epinephelus marginatus), uma espécie vulnerável
(Epinephelus niveatus), uma espécia próxima de ameaça (Aetobatus narinari) e
uma espécie com dados insuficientes (Carcharhinus porosus). Houve diferença
significativa entre as densidades médias nas faces leste e Oeste para todas as
espécies analisadas. As espécies Stegastes fuscus, Anisotremus virginicus e
Chaetodon striatus apresentaram diferenças significativas entre as biomassas
na face leste e Oeste. A proporção de jovens e adultos nas faces leste e Oeste
foram significativamente diferentes para as espécies Abudefduf saxatilis e
Anisotremus virginicus. Quanto às variações temporais nas ilhas Itacolomis as
espécies Anisotremus virginicus e Chaetodon striatus não apresentaram
variações significativas de densidade e biomassa. Por outro lado à espécie
Diplodus argenteus apresentou diferença significativa entre os valores de
densidade da primavera e do verão. Nas espécies Odontoscion dentex e
Stegastes fuscus e Abudefduf saxatilis ocorreram variações significativas de
biomassa entre as estações do ano.
Palavras-Chaves: Peixes recifais, Ilhas costeiras, censo visual.
14
ABSTRACT
Islands and small archipelagoes located at the Brazilian continental shelf are a
rich reservoir of oceanic life in the proximity of the coast. The islands have high
appealing to tourists. Scuba diving, free diving, spear fishing, sport fishing and
small scale commercial fishing are the most relevant economic activities
realized at these islands. Considering not only the economic aspect but also
the ecologic value of those formations, it is of great importance the
accomplishment of studies with the objective of characterizing those unique
environments. The present study had as objective to determine the composition
distribution and abundance of the reef fish community at the east and west
faces of Itacolomis islands, Itapocorói inlet, Santa Catarina state. The
Itacolomis islands are located in the Piçarras district at about 4.3 miles of the
coast, between the isobaths of ten and twenty meters. The samples were made
monthly from January of 2005 to January of 2007. To determine the reef fish
composition SCUBA dives were conducted aiming to cover the greatest
diversity of micro-habitats. Underwater photography was used to support the
visual identification of species. The distribution of the reef fish community
between the east and west faces and seasonally were made using visual
census technique. It was utilized a twenty five meters transects with variable
wideness, in an average depth of eight meters, that way density and biomass
parameters could be estimated. Sixty species distributed in thirty three families
and fourteen orders of reef fish were identified. Serranidae was the most
representative family (six species), followed by Carangidae and Haemulidae
with five species and Pomacentridae with four species. According with the IUCN
(2007) red list one critically endangered species was found (Epinephelus
itajara), one endangered (Epinephelus marginatus), one vulnerable
(Epinephelus niveatus), one near threatened (Aetobatus narinari) and one with
deficient data (Carcharhinus porosus). The average densities were distinct in
the west and east face for all species analyzed. The species Stegastes fuscus,
Anisotremus virginicus and Chaetodon striatus showed a significant difference
between the biomass of the two zones. And the proportion of young and adult
between the east and west faces were distinct to the Abudefduf saxatilis and
Anisotremus virginicus species. At Itacolomis Islands the species Odontoscion
dentex and Diplodus argenteus presented a significant correlation between
density variation and young abundance, indicating that the reproductive cycle
and the consequent ingress of young in the population is a major fact to
determinate density variations of this species. The species Anisotremus
virginicus and Chaetodon striatus do not presented significant seasonal
variations of density and biomass. Diplodus argenteus showed a significant
variation of density between spring and summer. Seasonal variations of
biomass were significant for the species: Odontoscion dentex, Stegastes fuscus
and Abudefduf saxatilis.
Key words: Reef fish, coastal islands and visual census.
15
PREFÁCIO
Os oceanos vêm sendo explorados pela humanidade desde os seus
primórdios e, dentro dos processos de colonização humana, as áreas costeiras
têm servido como canal natural para o comércio, favorecendo o
estabelecimento de assentamentos humanos e o desenvolvimento industrial.
Atualmente mais da metade da humanidade vive a uma distância de até 50
quilômetros da costa e estimativas projetam este número para dois terços da
humanidade por volta do ano 2020 (
O’DOR, 2003). Esta concentração da
população próxima ao mar nas últimas centenas de anos tem acarretado uma
demanda cada vez maior por recursos provenientes do mar. Entre os recursos
marinhos mais explorados estão os recursos pesqueiros que correspondem a
12% de toda proteína animal consumida no mundo (PINTO, 1997).
O desenvolvimento tecnológico, por sua vez, contribui para uma
eficiência cada vez maior na obtenção de recursos causando declínio de
populações de interesse comercial e afetando o equilíbrio de toda a biocenose.
Modelos de impacto em recifes de coral sugerem que 1200 espécies marinhas,
a maioria ainda não descrita, podem ter se tornado extintas nas últimas
centenas de anos e muitas outras de espécies podem se extinguir em um
futuro próximo (MALAKOFF, 1997). Por outro lado, à grande extensão e
relativa inacessibilidade dos ecossistemas marinhos, resulta em conhecimento
escasso e irregular. Áreas de fácil acesso, geralmente rasas e próximas à
costa, são mais conhecidas do que regiões profundas e distantes do litoral.
Vertebrados em geral e principalmente os peixes são mais conhecidos do que
outros táxons (LEWINSOHN & PRADO 2004).
16
A necessidade de informação e conhecimento dos oceanos vem sendo
abordada em escala global através de estudos como o “Marine Life Census”.
Paises também direcionam esforços para o conhecimento de seus mares
territoriais, como o Brasil através do projeto REVIZEE. A carência de estudos
abrangentes dos taxa, e do entendimento dos processos que controlam a
diversidade torna as respostas às causas de perda, e mecanismos de
preservação da biodiversidade, difíceis de serem detectados (SEELIGER et al.,
1998).
Existe, portanto uma necessidade crescente por conhecimento sobre os
oceanos e sobre os processos que afetam e determinam características das
comunidades. Tal conhecimento é fundamental para uma exploração
inteligente e sustentável dos recursos marinhos. Novas abordagens
interdisciplinares são necessárias, sendo essencial o monitoramento local da
biodiversidade marinha, ao mesmo tempo em que inventários regionais
deveriam ser incentivados. É neste contexto que este trabalho se insere e tem
como principais objetivos realizar um inventário das espécies de peixes recifais
nas Ilhas Itacolomis (CAPÍTULO I), investigar e comparar a estrutura de
populações de peixes recifais nas faces Leste (desabrigada) e Oeste
(abrigada) das Ilhas Itacolomis (CAPÍTULO II) e por fim abordar variações
sazonais da estrutura da comunidade de peixes recifais (densidade e
biomassa) nas ilhas Itacolomis (CAPÍTULO III).
17
REFERÊNCIAS
LEWINSOHN, T.M. & PRADO, P.I.Biodiversidade brasileira: síntese do
estado atual do conhecimento. 2. ed. São Paulo: Contexto, 176 p. 2004.
MALAKOFF, D. Extinction on the high seas. Science, 277: 486–488, 1997.
O’DOR, R.K. The Unknown Ocean: The Baseline Report of the Census of
Marine Life Research Program. Consortium for Oceanographic Research
and Education: Washington DC, 28pp. 2003.
PINTO, M. P. Recursos pesqueiros estuarinos e marinhos do Brasil.
Fortaleza: EUFC, 286p. 1997.
SEELIGER, U.; ODEBRECHT, C. & CASTELLO, J.P. Os ecossistemas
costeiro e marinho do extremo sul do Brasil. Rio Grande: Ecoscientia,
341 p. 1998.
18
ÁREA DE ESTUDO
As Ilhas Itacolomis estão localizadas no município de Piçarras, litoral
norte de Santa Catarina, mais precisamente na região próxima a enseada do
Itapocorói. Encontram-se a uma distância de 4,3 milhas náuticas (8 km) da
Ponta da Penha, ponto do continente mais próximo e suas coordenadas são:
26º 42´ 38.2´´ S / 048º 37´ 04.8´´ W (Figura 1).
Figura 1: Localização das Ilhas Itacolomis, Santa Catarina.
19
As ilhas estão dispostas entre as isóbatas de 14 e 15 metros e a
profundidade em seu entorno varia de 3 a 17 metros (Figura 2). São formadas
por dois promontórios rochosos em forma de cone e as porções superiores
apresentam gramíneas e vegetação arbustiva. A ilha maior apresenta uma
altura aproximada de 35 metros e a ilha menor uma altura aproximada de 25
metros, sendo que um canal de aproximadamente 12 metros as separa (Figura
3) (BRANCO, 2004).
Figura 2: Batimetria no entorno das Ilhas Itacolomis (Carta Nº 1809 do
Serviço de Hidrografia e Navegação da Marinha Brasileira).
20
Figura 3: Ilhas Itacolomis, a) vista da face voltada para oeste, b) vista da face
voltada para leste.
Dentre os municípios que possuem influência sobre a área de estudo
estão Barra Velha, Piçarras e Penha. Esta influência ocorre principalmente
através da pesca artesanal que ocorre durante o ano todo e pela pesca
esportiva, de linha e submarina, que atingem seu pico de atividade no verão
com o aporte de turistas de diversos estados. A população flutuante de turistas
também provoca incremento do aporte de nutrientes devido ao aumento de
21
despejos de esgotos municipais, tal efeito de eutrofização é reforçado pela
maior drenagem de águas continentais durante o verão (ADAIR-ARAGÃO et
al., 1980).
A área de estudo encontra-se no Litoral Centro Norte Catarinense
(LCNC) que compreende a faixa marinha entre o Rio Itapocú no município de
Barra Velha e a Baía de Tijucas, no município de mesmo nome (CARVALHO et
al. 1998). Esta porção do litoral encontra-se inserida na Plataforma Continental
Sudeste do Brasil (PCSE), de acordo com a divisão do litoral brasileiro
proposta por CASTRO-FILHO, 1990.
A PCSE é limitada ao norte pelo Cabo Frio (23º S), ao sul pelo Cabo de
Santa Marta Grande (28º 40’S), a oeste pela linha de costa e a leste pela
quebra da plataforma localizada em profundidades variando entre 120 e 180
metros (CASTRO-FILHO, 1990). A orientação geral da linha de costa é NE-
SW, mas em toda a porção referente ao litoral catarinense a linha da costa
assume a direção N-S. Uma das principais características da PCSE é a pouca
influência direta do aporte continental, uma vez que os grandes rios da Região
Sul do Brasil fluem para a Bacia do Prata. Os três maiores rios do LCNC
possuem vazões médias superiores a 50 m³/s: o rio Itajaí-Açu (247m³/s), o Rio
Itapocú (77 m³/s) e o rio Tijucas (58 m³/s) (CARVALHO et al., 1998). Em
épocas de grande pluviosidade os picos de descarga podem aumentar
significativamente (5180 m³/s em 1957 e 4.900 m³/s em1984 no Rio Itajaí)
(INPH, 1985).
De acordo com EMILSON (1961) as massas d’água que ocorrem na
região são a Água Tropical (AT) (temperatura>20,0ºC e salinidade>36,40) que
é transportada para o sul pela Corrente do Brasil; Água Costeira (AC), bastante
22
influenciada pelo aporte continental de água doce principalmente do rio Itajaí-
Açu; Água Subtropical (temperatura<20,0ºC e salinidade<36,40),
posteriormente redefinida como ACAS (Água Central do Atlântico Sul),
originada na convergência subtropical e Água da Plataforma (AP), resultante da
mistura da ACAS com a AT e AC sobre a PCSE. A plataforma continental ainda
pode ser subdividida em Plataforma Interna (PI), limitada pela costa e as
isóbatas de 40 e 50 metros, e Plataforma Externa (PE), limitada por estas
isóbatas e a quebra da plataforma continental (CASTRO-FILHO, 1987). Na PI a
estratificação de salinidade e temperatura apresenta grande variação sazonal e
na PE não são observadas variações sazonais significativas.
De acordo com CARVALHO et al. 1998 a distribuição de massas d’água
no LCNC pode ser resumida nos seguintes padrões: Situação de primavera-
verão: Coluna d’água em duas camadas com a presença de uma termoclina
bastante acentuada. Os ventos vindos do quadrante norte provocam a
ressurgência costeira da ACAS. os ventos de sul provocam a subsidência
de águas junto à costa com afundamento da termoclina. Situação de outono-
inverno: temperaturas menores, coluna d’água homogênea causada tanto pela
subsidência costeira devido ao aumento da magnitude e persistência dos
ventos de sul, como pela advecção de águas de origem subantártica
influenciada pelo aporte continental do Rio da Prata e Lagoa dos Patos.
A influência dos rios da região ocorre nas camadas superficiais podendo
alcançar maiores profundidades caso esteja havendo um evento de
subsidência de águas junto à costa. Os rios Itapocú e Tijucas tem uma
influência limitada às proximidades do estuário. O rio Itajaí-Açu influencia uma
área maior, tanto para o norte quanto para o sul, seguindo a direção do vento
23
predominante. A descarga do Rio Itajaí-Açu forma uma pluma fluvial que
origina uma massa de água importante localmente, caracterizada pela
salinidade extremamente baixa e elevada carga de sedimento em suspensão.
A pluma fluvial formada a partir da barra do Rio Itajaí-açu é uma feição de
mesoescala costeira de caráter efêmero, ocorrendo em função das condições
hidrológicas na bacia de drenagem do rio. A dispersão da pluma ocorre
predominantemente para nordeste, porém diferentes padrões podem ser
observados em função da variação de condições meteorológicas e
oceanográficas (SCHETTINI et al., 1999). Uma característica da pluma fluvial é
a formação de frontes bem definidas separando diferentes massas de água. A
contribuição da pluma fluvial do Rio Itajaí-açu provavelmente mantém os níveis
de produção primária costeira regional elevados (SCHETTINI et al., 1999).
O regime de ondas para a região sul do Brasil ainda não é
suficientemente conhecido, porém alguns padrões podem ser definidos
(SCHETTINI et al., 1999). Em resposta ao regime de ventos, ondas
provenientes de nordeste predominam durante a maior parte do tempo com
alturas modestas (0,5 a 1,5 m) e períodos inferiores a 8 s. Ondas provenientes
do sul originadas em tempestades de altas latitudes, por sua vez, apresentam
alturas maiores e com períodos de até 16 s. A região também recebe
esporadicamente ondulações provenientes de leste, popularmente
denominadas de lestadas.
De acordo com NIMER (1989), o sul do Brasil possui um clima
predominantemente mesotérmico, superúmido, sem estação seca e com um
ritmo climático característico de regiões temperadas. As Ilhas Itacolomis, por
sua localização junto à costa oriental do continente apresentam clima com
24
características subtropicais úmidas com verões quentes. Conforme
classificação climática de Köppen (KÖPPEN & GEIGER, 1936) a região é
classificada como Cfa, onde, C” significa clima temperado quente com
temperatura do mês mais frio entre 18ºC e - 3ºC, “f" representa a ausência de
estação seca com a precipitação média do mês mais seco superior a 60 mm, e
por fim, “a” indica que a temperatura do mês mais quente é superior a 22ºC.
As precipitações são bem distribuídas por todo o ano, não apresentando
deficiências hídricas e exibindo bons índices de excedente hídrico. A média
anual de precipitação da região sul do Brasil varia entre 1250 a 2000 mm. O
litoral Centro-Norte de Santa Catarina possui uma precipitação média anual de
1690 mm (ARAÚJO et al., 2006). Uma análise da precipitação no período de
1912 a 2003 apresenta uma precipitação dia mensal de 128,8 mm. Os
meses de maior regime pluviométrico são: janeiro, fevereiro e março e o
período de menor regime pluviométrico são os meses de maio, junho, julho e
agosto. O mês mais chuvoso é janeiro (média de 204,6 mm) e o mês menos
chuvoso é junho (média de 89,1 mm) (ARAÚJO et al., 2006).
Estudos climatológicos realizados entre 1912 e 2003 apresentaram as
seguintes características para temperatura do ar e características dos ventos. A
temperatura dia mensal do ar na região é de 20,3ºC. Os meses de janeiro e
fevereiro apresentam as maiores médias de temperatura (24,5ºC) e o mês de
julho a menor média (15,8ºC). Os meses mais quentes são; janeiro, fevereiro e
março e os meses mais frios são os de Junho, Julho e Agosto (ARAÚJO et al.,
2006). A análise dos ventos demonstra uma média mensal de 5,5 km/h. A
velocidade máxima foi registrada em fevereiro (55,6 km/h) e a média das
velocidades máximas foi de 48,5 km/h. Dados das estações meteorológicas de
25
Camburiú e Itajaí indicam o predomínio de ventos de Nordeste (NE) para a
maioria dos meses do ano, principalmente no verão e em estações
intermediárias, nos meses de inverno ocorre o predomínio de ventos de
Sudoeste (SW) (ARAÚJO et al., 2006).
Quanto à nebulosidade na região de Itajaí e Penha predomina céu
encoberto, principalmente na primavera e verão devido à circulação marítima.
A análise da média mensal de horas de insolação apresenta os meses de
janeiro e fevereiro como os de maiores índices e os meses de agosto e
setembro como os de menores índices de insolação (ARAÚJO et al., 2006).
A região estudada encontra-se em zona de transição entre as Massas
de Ar Tropicais e Polares e Linhas de Instabilidades originadas na Baixa do
Chaco (Paraguai). A área é atingida pelos principais centros de ação
meteorológica da América do Sul. As Massas de Ar Tropical que invadem
Santa Catarina pelo continente e pelos oceanos Atlântico e Pacífico podem ser
denominadas Atlântica e Pacífica respectivamente. As Massas de Ar Polar
também podem ser classificadas de maneira similar, isto é, Continental,
Pacífica e Atlântica, obedecendo ao mesmo sistema de invasão (ARAÚJO et
al., 2006). A Massa de Ar Quente que mais frequentemente atua em Santa
Catarina é a tropical, tanto a Continental como as Marítimas. Essa Massa de Ar
tem o seu desenvolvimento mais acentuado durante o verão e nas estações
intermediárias, enquanto que a Massa de Ar Polar tem seu o desenvolvimento
mais acentuado durante o inverno e também durante as estações
intermediárias. Durante o verão, ocorrem invasões das linhas de Instabilidades,
que se formam sobre a Região do Chaco, no período da manhã, e rapidamente
desenvolvem-se atingindo o litoral com aguaceiros e trovoadas, ventos fortes e
26
por vezes granizo, sendo esta manifestação meteorológica sempre de curta
duração. A região das ilhas Itacolomis é influenciada por massas de ar quente
no verão e as instabilidades são formadas junto às frentes e linhas de
Instabilidades, em virtude do forte aquecimento solar, característico da estação.
Nesta estação do ano, predominam ventos do quadrante Nordeste. No inverno,
a instabilidade cede espaço para estabilidade, mais freqüente em função da
presença constante do Anticiclone Polar. Essa situação é modificada somente
quando ocorre o encontro das massas Tropicais e Polares, originando as
Frentes e, nesse caso, os ventos passam a ser do quadrante Sudoeste, com
constantes Calmarias. Nessa estação do ano, as médias mensais de
velocidade do vento diminuem. No entanto, podem ocorrer ventos mais
intensos na passagem de sistemas frontais, mais ocorrentes nessa época do
ano, embora estes ventos raramente ultrapassam os 50 km/h (ARAÚJO et al.,
2006).
A influência das frentes frias (Sistemas Frontais) vindas do sul do
continente é constante. Em média, ocorrem quatro eventos a cada mês do ano,
influenciando as atividades humanas tanto no continente como no mar
(ARAÚJO et al., 2006).
27
REFERÊNCIAS
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concentração de clorofila-a na costa brasileira. São Paulo, Bolm Inst.
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28
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hidrodinâmicos da enseada da armação do Itapocoroy, SC. Notas Téc.
FACIMAR, 3:99-109. 1999.
29
_______________________________________________________________
CAPÍTULO I
COMPOSIÇÃO DE PEIXES RECIFAIS NAS ILHAS ITACOLOMIS, SANTA
CATARINA, BRASIL
_______________________________________________________________
RESUMO
Os ambientes recifais o considerados produtivos e diversificados
fazendo parte de um sistema costeiro do qual muitas pessoas dependem.
Entretanto predomina nestes ambientes uma situação de falta de manejo e
exploração desordenada, sendo clara a necessidade de estudos sobre a
ictiofauna recifal brasileira. O objetivo deste trabalho foi elaborar uma lista de
espécies de peixes recifais nas Ilhas Itacolomis no litoral Norte de Santa
Catarina, enfatizando aspectos como a presença de espécies ameaçadas,
riqueza de famílias e de espécies. O principal método utilizado foi o censo
visual com uso de técnicas de mergulho autônomo. Os mergulhos foram
conduzidos nas faces leste e oeste das Ilhas, em profundidades que variaram
entre quatro e dezessete metros, buscando amostrar a maior variedade de
micro-habitats. Para auxiliar a identificação visual das espécies de peixes foram
utilizadas fotografias subaquáticas e também foram empregados métodos para
captura: quatro armadilhas tipo covo, puçás, anzóis e pesca submarina. Foram
identificadas 60 espécies, distribuídas em 33 famílias e 14 ordens. Serranidae
foi à família mais representativa (seis espécies), seguida das famílias
Carangidae e Haemulidae com cinco espécies e Pomacentridae com quatro
espécies. De acordo com a lista vermelha de espécies da IUCN (2007) foram
registradas na área estudada: uma espécie criticamente ameaçada
(Epinephelus itajara), uma espécie ameaçada (Epinephelus marginatus), uma
espécie vulnerável (Epinephelus niveatus), uma espécie próxima de ameaça
(Aetobatus narinari) e uma espécie com dados insuficientes (Carcharhinus
porosus).
Palavras-chave: levantamento, Ilhas costeiras, costão rochoso.
30
_______________________________________________________________
CHAPTER I
REEF FISH COMPOSITION AT ITACOLOMIS ISLANDS, SANTA CATARINA,
BRAZIL
_______________________________________________________________
ABSTRACT
Reef environments are considered productive and diversified being part of a
coastal system which many people depends. However, in Brazilian reefs, lack
of management and uncontrolled exploration prevails. So it is clear the
necessity to study Brazilian reef-fish. The objectives of this work were to
elaborate a reef fish list of Itacolomis Islands, north coast of Santa Catarina
state, emphasizing aspects such as the presence of threatened fish, species
and family richness. The main method utilized was the visual census using
S.C.U.B.A. (Self Contained Underwater Breathing Apparatus
)
techniques. The
dives were conducted in the east face and west face of the islands at depths
from four to seventeen meters, aiming to cover the greatest diversity of micro-
habitats. Underwater photography was used to support the visual identification
of species and capturing methods such as line and hook, traps, small nets and
spear fishing were used to improve the visual sample. Sixty species distributed
in thirty three families and fourteen orders of reef fish were identified.
Serranidae was the most representative family (six species), followed by
Carangidae and Haemulidae with five species and Pomacentridae with four
species. According with the IUCN (2007) red list one critically endangered
species was found (Epinephelus itajara), one endangered (Epinephelus
marginatus), one vulnerable (Epinephelus niveatus), one near threatened
(Aetobatus narinari) and one with deficient data (Carcharhinus porosus).
Key words: survey, coastal islands, rocky coast.
31
INTRODUÇÃO
Os ambientes recifais o considerados produtivos e diversificados
fazendo parte de um sistema costeiro, do qual muitas pessoas dependem
(ROCHA et al., 1998), sendo que os setores pesqueiro e turístico são as
principais fontes de emprego e renda nestas áreas. Nas ilhas Itacolomis as
principais atividades econômicas são a pesca, realizada pelas comunidades
locais e que ocorre durante o ano todo, a caça submarina e a pesca esportiva
que são praticadas de forma mais intensa durante o verão.
Existe nas Ilhas Itacolomis assim como na maior parte dos ambientes
recifais da costa brasileira, uma situação de falta de manejo e exploração
desordenada. Apesar do pouco conhecimento sobre a pesca e o estado de
conservação dos peixes recifais brasileiros, existem estudos que apontam
para os impactos das atividades humanas sobre estes ambientes (FLOETER et
al., 2006). FRÉDOU (2004) e GASPARINI et al. (2005), por exemplo, apontam
para o pesca comercial e artesanal como responsáveis por alterações no
tamanho e estrutura de populações de peixes e LEÃO & DOMINGUEZ (2000)
apontam para as ameaças derivadas do desenvolvimento urbano e agricultura
na região costeira.
Contrastando com o quadro de exploração, existe uma relativa falta de
conhecimento sobre a ictiofauna recifal brasileira, de acordo com GUIMARÃES
et al. (2001) para muitas formações recifais da costa brasileira não existem
levantamentos ictiofaunísticos satisfatórios e pouco se sabe sobre o estado de
conservação ou disponibilidade de exploração comercial da maior parte das
espécies. É, portanto clara e urgente à necessidade de estudos sobre a
32
ictiofauna recifal brasileira, como evidenciam diversos autores: ROCHA et al.
(1998), MOURA et al. (1999), GUIMARÃES et al. (2001) e FLOETER et al.
(2006).
Levantamentos da ictiofauna associada a ambientes recifais vêem
sendo executados em diversas localidades da costa brasileira: BRAGA &
GOITEIN (1984) elaboraram uma lista prévia das espécies de peixes
demersais na região da Ilha Anchieta em Ubatuba, litoral norte do estado de
São Paulo; PAIVA-FILHO et al. (1989) contribuíram para o conhecimento da
ictiofauna da região da ilha de Alcatrazes no litoral de São Paulo; FERREIRA et
al. (1995) realizaram um levantamento inicial das comunidades de peixes
recifais da região de Tamandaré em Pernambuco; ROCHA et al. (1998)
executaram um levantamento de peixes recifais da costa da Paraíba; MOURA
et al. (1999) publicaram novos registros de espécies e comentaram sobre a
distribuição de peixes recifais ao longo da costa brasileira; ROCHA & ROSA
(2001) realizaram um estudo inicial sobre a comunidade de peixes recifais no
Parque Estadual Marinho de Manuel Luiz no Maranhão e GASPARINI &
FLOETER (2001) efetuaram um levantamento das espécies de peixes da Ilha
de Trindade. PINHEIRO (2005) analisou a ictiofauna do arquipélago de Currais
no litoral do Paraná e em Santa Catarina HOSTIM-SILVA et al. (2006)
elaboraram uma lista de espécies de peixes de costão rochoso da Reserva
Biológica Marinha do Arvoredo.
Tais estudos contribuem para um incremento de informações sobre a
riqueza de peixes recifais brasileiros suas distribuições e padrões
biogeográficos. De acordo com SUTHERLAND (1996) os estudos de
levantamento são essenciais para determinar áreas de interesse para grupos
33
de organismos contribuindo para estabelecer áreas com prioridade para ações
conservacionistas.
Tendo em vista o fato de que as ilhas e pequenos arquipélagos
localizados na plataforma continental brasileira constituem um rico reservatório
natural da ictiofauna recifal, apresentam elevado atrativo turístico e são através
da pesca, uma importante fonte de renda para comunidades locais, torna-se de
fundamental importância a realização de estudos com o fim de caracterizar
estes ambientes particulares. Portanto o principal objetivo deste trabalho é
elaborar uma lista de espécies de peixes recifais nas Ilhas Itacolomis no litoral
norte de Santa Catarina, enfatizando aspectos como a presença de espécies
ameaçadas, riqueza específica e de famílias.
34
MATERIAL E MÉTODOS
Para realização do levantamento de espécies de peixes recifais nas
Ilhas Itacolomis foram utilizados principalmente métodos de censo visual com
uso de técnicas de mergulho autônomo. Foram realizados 56 mergulhos de
janeiro de 2005 a janeiro de 2007. Os mergulhos de busca intensiva foram
conduzidos durante o dia nas faces leste e oeste das Ilhas em profundidades
que variaram entre quatro e dezessete metros buscando amostrar a maior
variedade de micro-habitats. Também foram realizados mergulhos percorrendo
transecções (método descrito no capítulo II) (Figura 4).
Figura 04: Instalação das transecções para realização do censo visual nas
Ilhas Itacolomis, SC.
Utilizaram-se dois conjuntos completos de equipamento S.C.U.B.A. (Self
Contained Underwater Breathing Apparatus), incluindo cilindros de alumínio de
80 pés cúbicos (2266 litros), equipamento básico (máscara, snorkel, nadadeira
e roupa úmida de neoprene), cinto de lastro, regulador completo (primeiro
estágio, segundo estágio, octopus, manômetro, profundímetro), colete
equilibrador, entre outros acessórios como: relógio de mergulho, bússola e
35
instrumentos de sinalização. Para o registro de informações subaquáticas
foram utilizados lápis e pranchetas de PVC.
Para auxiliar a identificação visual das espécies de peixes foram
utilizadas fotografias obtidas com máquina digital em caixa estanque. A foto-
documentação é um componente importante em estudos principalmente de
ambientes rasos e com águas claras, sendo usada principalmente para
identificações taxonômicas, registros comportamentais e de metodologias
(HEINE, 1999). As fotografias muitas vezes permitiram identificar
características específicas que não foram observadas durante o mergulho
tornando possível o uso de bibliografia adequada e identificação mais precisa
de muitas espécies (Figura 5).
Figura 5: Visualização de características distintivas com auxílio de foto
identificação. Desenhos modificados de HOSTIM-SILVA et al. (2006) e
CARPENTER (2002b).
36
Nem todas as espécies observadas podem ser identificadas
visualmente, portanto foram utilizados outros métodos para capturar
exemplares de peixes recifais, dentre eles, quatro armadilhas tipo covo (Figura
6), um puçá retangular (30x20cm), anzóis (1/0, 2/0, 3/0, 6/0, 10/0, 10, 12 e 14)
e arbalete longo (100 cm), permitindo melhor identificação e complementando a
amostragem visual. Os exemplares capturados foram fixados em solução
formalina 10% e conservados em álcool 70% sendo posteriormente levados ao
laboratório para identificação até o menor nível taxonômico, utilizando
bibliografia adequada (FIGUEIREDO, 1977; FIGUEIREDO & MENEZES, 1978;
FIGUEIREDO & MENEZES, 1980; MENEZES & FIGUEIREDO, 1980;
MENEZES & FIGUEIREDO, 1985; BARLETTA & CORRÊA, 1992;
FIGUEIREDO & MENEZES, 2000; HUMANN & DELOACH, 2002;
CARPENTER, 2002a; CARPENTER, 2002b; CARPENTER, 2002c; HOSTIM-
SILVA et al. 2006).
Figura 6: Armadilha tipo covo utilizada durante as amostragens e suas
respectivas dimensões.
37
Com o objetivo de obter informações adicionais sobre a ictiofauna local
foram conduzidas entrevistas informais com caçadores submarinos e
pescadores que utilizam a área de estudo. Informações relevantes no contexto
científico podem ser obtidas por meio do conhecimento empírico de populações
locais como demonstrado por SÁENZ-ARROYO et al. (2005) e
GERHARDINGER et al. (2006). Os principais questionamentos realizados
foram quais espécies são capturadas e com que freqüência. As entrevistas
foram conduzidas na própria área de estudo abordando as embarcações dos
entrevistados. Alguns exemplares de peixes recifais considerados relevantes
foram comprados no local e transportados para laboratório onde foram
identificados.
Durante cada fase de campo, variáveis ambientais foram registradas em
fichas (ANEXO 1). A velocidade do vento foi descrita de acordo com a escala
Beaufort (Tabela 1), o estado do mar de acordo com a altura das ondas foi
descrito de acordo com escala apresentada na Tabela 2. Foram registrados a
direção do vento e das ondas, fase da lua e condição de tempo (sol,
parcialmente encoberto, nublado e chuvoso). A temperatura da água foi
registrada através de um computador de mergulho.
A transparência da água foi mensurada utilizando-se um disco de Secchi
com 20 cm de diâmetro alternado em cada quarto com as cores preta e branca
de acordo com metodologia descrita em JONES & REYNOLDS (1996).
38
Tabela 1: Escala de vento Beaufort, utiliza o aspecto do mar (superfície e
ondas) para estimar a velocidade do vento.
Força
Descrição
Velocidade
média em
nós
Velocidade
média em
m/seg
Velocidade
média em
km/h
Estado do Mar
0 Calmaria < 1 0 a 0,5 < 1 Mar espelhado
1 Rafagem 1 a 3 0,6 a 1,7 1 a 5
Algumas
rugosidades
2
Aragem (leve
brisa)
4 a 6 1,8 a 3,3 6 a 11
Pequenas
ondulações
3 Fraco 7 a 10 3,4 a 5,2 12 a 19
Ondulações e alguns
carneiros
4 Moderado 11 a 16 5,3 a 7,4 20 a 28
Pequenas vagas,
carneiros freqüentes
5 Fresco 17 a 21 7,5 a 9,8 29 a 38
Vagas moderadas,
carneiros, borrifos
6 Muito frescos
22 a 27 9,9 a 12,4
39 a 49
Grandes vagas,
cristas espumosas
brancas, borrifos
7 Forte 28 a 33 12,5 a 15,2
50 a 61
Vagalhões pequenos
com espuma em
faixas
8 Muito forte 34 a 40 15,3 a 18,2
62 a 74
Vagalhões
moderados com
espuma em faixas
definidas
9 Duro 41 a 47 18,3 a 21,5
75 a 88
10 Muito duro 48 a 55 21,6 a 25,1
89 a 102
11 Tempestuoso
56 a 63 26,2 a 29 103 a 117
12 Furacão >=64 >=30 >=118
Vagalhões grandes a
enormes e
excepcionais,
visibilidade reduzida
a seriamente afetada
39
Tabela 2: Escala de Estado do Mar de acordo com a altura das ondas.
Termos descritivos Altura das ondas
Calmo 0
Pouco agitado 0,5 a 1,5 m
Agitado 1,5 a 2,5 m
Muito Agitado 2,5 a 4 m
Grosso Acima de 4 m
40
RESULTADOS
Foram identificadas 56 espécies, distribuídas em 33 famílias e 14
ordens, listadas na Tabela 3 e organizadas em forma de lista sistemática, de
acordo com BUCKUP & MENEZES (2003).
Tabela 3: Lista de taxa e nomes populares das espécies registradas no
período de 2005 a 2007 nas Ilhas Itacolomis, Santa Catarina.
_______________________________________________________________
Ordem Charcharhiniformes
Família Charcharhinidae
Carcharhinus porosus (Ranzasni, 1840); Cação-azeiteiro.
Ordem Torpediniformes
Família Narcinidae
Narcine brasiliensis (Olfwea, 1831); Treme-treme.
Ordem Myliobatiformes
Família Myliobatidae
Aetobatus narinari (Euphrasen, 1790); Raia-chita.
Ordem Anguilliformes
Família Muraenidae
Gymnothorax moringa (Cuvier, 1829); Moréia-pintada.
Gymnothorax vicinus (Castelnau, 1855); Moréia-amarela.
Ordem Clupeiformes
Família Clupeidae
Harengula clupeola (Cuvier, 1829); Sardinha-cascuda.
Opisthonema oglinum (Lesueur, 1818); Sardinha-lage.
41
Ordem Aulopiformes
Família Synodontidae
Synodus synodus (Linnaeus, 1758); Peixe-lagarto.
Ordem Batrachoidiformes
Família Batrachoididae
Porichthys porosissimus (Valenciennes, 1837); Peixe-sapo.
Ordem Mugiliformes
Família Mugilidae
Mugil platanus Günther, 1880; Tainha.
Ordem Beryciformes
Família Holocentridae
Holocentrus adscensionis (Osbeck, 1765); Jaguareçá.
Ordem Gasterosteiformes
Família Syngnathidae
Syngnathus folletti Herald, 1942; Peixe-cachimbo.
Ordem Scorpaeniformes
Família Scorpaenidae
Scorpaena sp. Linnaeus, 1758; Mangangá.
Ordem Perciformes
Família Centropomidae
Centropomus undecimalis (Bloch, 1792); Robalo-flexa.
Família Serranidae
Diplectrum formosum (Linnaeus, 1766); Michole-da-areia.
Epinephelus itajara (Lichtenstein, 1822); Mero.
Epinephelus marginatus (Lowe, 1834); Garoupa-verdadeira.
42
Epinephelus niveatus (Valenciennes, 1828); Cherne.
Mycteroperca acutirostris (Valenciennes, 1828); Badejo-mira.
Serranus flaviventris (Cuvier, 1829); Mariquita.
Família Carangidae
Caranx crysos (Mitchill, 1815); Xarelete.
Chloroscombrus chrysurus (Linnaeus, 1766); Palombeta.
Pseudocaranx dentex (Bloch & Schneider, 1801); Guaracimbora.
Selene vomer (Linnaeus, 1758); Galo-de-penacho.
Trachinotus carolinus (Linnaeus, 1766); Pampo-verdadeiro.
Família Gerreidae
Eucinostomus melanopterus (Bleeker, 1863); Carapicu-branco.
Diapterus rhombeus (Cuvier, 1829); Carapeba.
Família Haemulidae
Anisotremus surinamensis (Bloch, 1791); Sargo-de-beiço.
Anisotremus virginicus (Linnaeus, 1758); Salema.
Haemulon aurolineatum Cuvier, 1830; Cotinga.
Haemulon steindachneri (Jordan & Gilbert, 1803); Cororoca-boca-
larga
Orthopristis ruber (Cuvier, 1830); Cocoroca-jurumirim.
Família Sparidae
Diplodus argenteus (Valenciennes, 1830); Marimbá.
Família Sciaenidae
Odontoscion dentex (Cuvier, 1830); Pescada-dentuça.
Pareques acuminatus (Bloch & Schneider, 1801); Mria-nagô.
Família Mullidae
43
Pseudopeneus maculatus (Bloch, 1793); Trilha.
Família Pempheridae
Pempheris schomburgki Müller & Troschel, 1848; Piaba-do-mar.
Família Chaetodontidae
Chaetodon striatus Linnaeus, 1758; Borboleta-listrado.
Família Kyphosidae
Kyphosus sp. Lacepède , 1801; Piranjica.
Família Pomacentridae
Abudefduf saxatilis (Linnaeus, 1758); Sargento.
Chromis multilineata (Guichenot, 1853); Donzela-marrom.
Stegastes fuscus (Cuvier, 1830); Maria-mole.
Stegastes variabilis (Castelnau, 1855); Donzela-cacau.
Família Labridae
Halichoeres poeyi (Steindachner, 1867); Bodião-rei.
Família Scaridae
Sparisoma sp. Swainson, 1839; peixe-papagaio.
Família Labrisomidae
Labrisomus nuchipinnis (Quoy & Gaimard); Guavina.
Malacoctenus delalandii (Valenciennes, 1836); sem nome popular.
Paraclinus sp. Mocquard , 1888; sem nome popular.
Família Blenniidae
Parablennius pilicornis (Cuvier, 1829); Macaco.
Família Gobiidae
Coryphopterus glaucofraenum Gill, 1863; Maria-da-toca.
44
Gobiosoma hemigymnum (Eigenmann & Eigenmann, 1888); sem
nome popular.
Família Ephippidae
Chaetodipterus faber (Broussonet, 1782); Enxada.
Família Acanthuridae
Acanthurus chirurgus (Bloch, 1787); Cirurgião.
Família Sphyraenidae
Sphyraena guachancho Cuvier, 1829; Bicuda.
Família Scombridae
Scomberomorus brasiliensis Collette, Russo & Zavala-Camin,
1978; Sororoca.
Ordem Pleuronectiformes
Família Paralichthyidae
Syacium papillosum (Linnaeus, 1758); Linguado-da-areia.
Ordem Tetraodontiformes
Família Balistidae
Balistes vetula (Linnaeus, 1758); Cangulo-rei.
Família Monacanthidae
Stephanolepis hispidus (Mitchill, 1818); Peixe-porco.
Família Tetraodontidae
Sphoeroides spengleri (Bloch, 1785); Baiacu-pinima.
Família Diodontidae
Cyclichthys spinosus (Linnaeus, 1758); Baiacu.
_______________________________________________________________
45
Quanto ao número de espécies por família, Serranidae foi à família mais
representativa (seis espécies), seguida das famílias Carangidae e Haemulidae
com cinco espécies e Pomacentridae com quatro espécies (Figura 7). Dentre
os taxa observados quatro o puderam ser identificados ao nível específico
Paraclinus sp., Sparisoma sp., Scorpaena sp. e Kyphosus sp.
Tendo como referência a lista vermelha de espécies da IUCN (2007)
(The International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources)
foram registradas na área estudada: uma espécie criticamente ameaçada (CR,
critically endangered - Epinephelus itajara), uma espécie ameaçada (EM,
endangered - Epinephelus marginatus), uma espécie vulnerável (VU,
vulnerable - Epinephelus niveatus), uma espécia próxima de ameaça (NT, near
threatened - Aetobatus narinari) e uma espécie com dados insuficientes (DD,
data deficient - Carcharhinus porosus).
Figura 7: Número de taxa de peixes recifais por família nas Ilhas Itacolomis,
Santa Catarina.
A comunidade de peixes foi composta por espécies residentes: aquelas
que foram registradas em praticamente todas as fases de campo. Espécies
0
1
2
3
4
5
6
7
S
e
r
r
a
n
i
d
a
e
C
a
r
a
n
g
i
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s
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m
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d
a
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C
l
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p
e
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a
e
G
o
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d
a
e
M
u
r
a
e
n
i
d
a
e
S
c
i
a
e
n
i
d
a
e
G
e
r
r
e
i
d
a
e
de espécies
46
Residentes em parte do ciclo de vida, ex: Epinephelus niveatus. Espécies
Visitantes Frequentes: aquelas espécies que não são típicas de ambiente
recifal, mas foram avistadas com freqüência, ex: Clupeidae. E por fim espécies
Visitantes Ocasionais: espécies que não são típicas de ambiente recifal e
avistadas com pouca freqüência, ex: Chaetodipterus faber. E de acordo com
estas categorias foram registradas 40 espécies de peixes residentes (67%),
duas espécies foram consideradas residentes em parte do ciclo de vida (3%),
três espécies visitantes freqüentes (5%) e 15 espécies visitantes ocasionais
(25%) (Figura 8) (Tabela 4).
*Residente em parte do ciclo de vida.
Figura 8: Categoria de presença das espécies no período de 2005 a 2007 nas
Ilhas Itacolomis, Santa Catarina.
Quanto às proporções das categorias tróficas, apresentadas de acordo
com FROESE & PAULY (2007), foram consideradas planctívoras três espécies
*
25%
5%
3%
67%
Visitante Ocasional Visitante Frequente Residente PCV Residente
47
correspondendo à proporção de 5%, piscívoras três espécies (5%), onívoras 11
espécies (18%), invertívoras 15 espécies (25%), herbívoras três espécies (5%)
e carnívoras 25 espécies (42%) (Figura 9).
A abundância relativa, freqüência de ocorrência em cada fase de campo,
categoria de presença e categoria trófica das espécies estão apresentadas na
Tabela 4. As condições ambientais durante as fases de campo estão
representadas na Tabela 5.
Houve registro de cardume misto de Haemulon aurolineatum, Haemulon
steindachneri e Orthopristis ruber (adultos). Também foi constatada a presença
e permanência de uma estação de limpeza durante dois anos e exatamente no
mesmo local. Indivíduos jovens de Anisotremus virginicus efetuando limpeza
em indivíduos principalmente de Chaetodon striatus adultos que chegam a
formar um grupo com mais de 20 indivíduos.
Figura 9: Proporções das categorias tróficas no período de 2005 a 2007 nas
Ilhas Itacolomis, Santa Catarina, segundo FROESE & PAULY (2007).
5%
5%
18%
25%
5%
42%
Planctívoros Piscívoros onívoros invertívoros
herbívoros carnívoros
48
Tabela 4: Lista de taxa, n amostral, abundância relativa, freqüência de ocorrência nas fases de campo, categoria de presença e
categoria trófica de peixes recifais no período no período de 2005 a 2007 nas Ilhas Itacolomis, Santa Catarina.
taxa n Abundância (%)
Freqüência (%)
Categoria de presença Categoria Trófica
Clupeidae 2100 20,94 29,41 Visitante frequente Planctivoro
Stegastes fuscus
1676 16,71 100,00 Residente Omnivoro
Odontoscion dentex
1082 10,79 100,00 Residente Invertivoro
Abudefduf saxatilis
1063 10,60 100,00 Residente Omnivoro
Haemulidae jovens 586 5,84 35,3 Residente Invertivoro
Anisotremus virginicus
534 5,32 100,00 Residente Invertivoro
Diplodus argenteus
441 4,40 88,24 Residente Omnivoro
Orthopristis rubra
343 3,42 94,12 Residente Carnívoro
Pareques acuminatus
330 3,29 100,00 Residente Carnívoro
Haemulon aurolineatum
251 2,50 88,24 Residente Invertivoro
Chaetodon striatus
232 2,31 100,00 Residente Omnivoro
Malacoctenus delalandii
208 2,07 100,00 Residente Invertivoro
Serranus flaviventris
167 1,67 100,00 Residente Carnívoro
Chloroscombrus chrysurus
146 1,46 47,06 Visitante frequente Carnívoro
Pempheris schomburgki
132 1,32 29,41 Residente Invertivoro
Haemulon steindachneri
117 1,17 82,35 Residente Invertivoro
Parablennius pilicornis
107 1,07 94,12 Residente Omnivoro
Anisotremus surinamensis
88 0,88 29,41 Residente Invertivoro
Pseudopeneus maculatus
78 0,78 100,00 Residente Invertivoro
Holocentrus adscensionis
53 0,53 88,24 Residente Carnívoro
Mycteroperca acutirostris
35 0,35 58,82 Residente Planctivoro
Sphyraena guachancho
33 0,33 5,88 Visitante ocasional Carnívoro
Stegastes variabilis
28 0,28 64,71 Residente Omnivoro
49
Continuação da Tabela 4
taxa n Abundância (%)
Freqüência (%)
Categoria de presença Categoria Trófica
Epinephelus niveatus
23 0,23 41,18 Residente em parte do ciclo de vida
Carnívoro
Labrisomus nuchipinnis
21 0,21 64,71 Residente Carnívoro
Chaetodipterus faber
15 0,15 5,88 Visitante ocasional Invertivoro
Epinephelus marginatus
14 0,14 52,94 Residente Carnívoro
Stephanolepis hispidus
13 0,13 47,06 Residente Invertivoro
Centropomus undecimalis
12 0,12 5,88 Visitante ocasional Carnívoro
Chromis multilineata
12 0,12 29,41 Residente Planctivoro
Sparisoma sp.
12 0,12 5,88 Visitante ocasional Herbívoro
Coryphopterus glaucofraenum
10 0,10 11,76 Residente Omnivoro
Caranx crysos
7 0,07 11,76 Visitante ocasional Carnívoro
Kyphosus sp.
7 0,07 5,88 Residente Herbívoro
Mugil platanus
5 0,05 5,88 Visitante ocasional Omnivoro
Sphoeroides spengleri
5 0,05 23,53 Residente Omnivoro
Trachinotus carolinus
5 0,05 5,88 Visitante ocasional Carnívoro
Eucinostomus melanopterus
4 0,04 11,76 Visitante ocasional Carnívoro
Scomberomorus brasiliensis
4 0,04 11,76 Visitante ocasional Carnívoro
Diplectrum formosum
3 0,03 5,88 Residente Piscivoro
Gymnothorax vicinus
3 0,03 5,88 Residente Carnívoro
Acanthurus chirurgus
2 0,02 5,88 Visitante ocasional Herbívoro
Carcharhinus porosus
2 0,02 5,88 Visitante ocasional Carnívoro
Gymnothorax moringa
2 0,02 5,88 Residente Piscivoro
Pseudocaranx dentex
2 0,02 11,76 Visitante ocasional Invertivoro
Syacium papillosum
2 0,02 5,88 Residente Carnívoro
Synodus synodus
2 0,02 11,76 Residente Piscivoro
50
Continuação da tabela 4
taxa n Abundância (%)
Freqüência (%)
Categoria de presença Categoria Trófica
Aetobatus narinari
1 0,01 5,88 Visitante ocasional Invertivoro
Balistes vetula
1 0,01 5,88 Residente Omnivoro
Cyclichthys spinosus
1 0,01 5,88 Residente Invertivoro
Diapterus rhombeus
1 0,01 5,88 Visitante ocasional Omnivoro
Epinephelus itajara
1 0,01 5,88 Residente em parte do ciclo de vida
Carnívoro
Gobiosoma hemigymnum
1 0,01 5,88 Residente Carnívoro
Halichoeres poeyi
1 0,01 5,88 Residente Carnívoro
Narcine brasiliensis
1 0,01 5,88 Residente Carnívoro
Paraclinus sp.
1 0,01 5,88 Residente Invertivoro
Porichthys porosissimus
1 0,01 5,88 Residente Carnívoro
Scorpaena sp.
1 0,01 5,88 Residente Carnívoro
Selene vomer
1 0,01 5,88 Visitante ocasional Carnívoro
Syngnathus folletti
1 0,01 5,88 Residente Carnívoro
Total
10030
51
Tabela 5: Informações de campo para cada mergulho realizado no período de 2005 a 2007 nas Ilhas Itacolomis, Santa. Número do
mergulho, data, transparência da água, temperatura mínima durante o mergulho, profundidade máxima, escala de vento Beaufort,
escala de estado do mar, direção do vento, direção das ondas, clima e fase da lua.
Data Transp. Temp. Prof. Max.
Beaufort Estado do Mar Dir. Vento
Dir. Ondas
Clima Lua
1 11/1/2005 4 26 17 4 Agitado Leste Leste Nublado Nova
2 16/2/2005 4,5 25 15 1 Pouco Agitado Leste Sudeste Sol Crescente
3 16/2/2005 4,5 25 12 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Crescente
4 18/2/2005 4,5 26 8 3 Agitado Leste Leste Parcialmente Nublado Crescente
5 18/2/2005 4,5 26 9 3 Agitado Leste Leste Parcialmente Nublado Crescente
6 8/3/2005 4 25 14 2 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
7 8/3/2005 4 25 11 2 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
8 9/3/2005 5 25 12 2 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
9 9/3/2005 5 25 13 2 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
10 12/4/2005 8 25 11 2 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
11 12/4/2005 8 24 12 2 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
12 3/5/2005 9 23 14 2 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
13 3/5/2005 9 23 12 2 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
14 4/5/2005 9 23 16 2 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
15 8/6/2005 6 22 13 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Nova
16 8/6/2005 6 22 9 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Nova
17 9/6/2005 6 22 13 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Nova
18 9/6/2005 6 22 7 3 Pouco Agitado Leste Leste Sol Nova
19 13/7/2005 6 18 14 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Nova
20 13/7/2005 6 19 9 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Nova
21 3/9/2005 6 17 13 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Nova
22 3/9/2005 6 17 10 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Nova
23 12/10/2005
6 17 9 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Crescente
24 12/10/2005
6 18 10 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Crescente
25 18/11/2005
6 22 12 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Cheia
26 18/11/2005
6 22 12 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Cheia
52
Continuação da tabela 5
Data Transp. Temp. Prof. Max.
Beaufort Estado do Mar Dir. Vento
Dir. Ondas
Clima Lua
27 27/12/2005
6 23 11 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
28 27/12/2005
6 23 9 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
29 3/1/2006 6 24 11 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Nova
30 3/1/2006 6 24 9 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Nova
31 14/1/2006 3 21 11 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Cheia
32 14/1/2006 3 21 11 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Cheia
33 15/1/2006 3 23 8 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Cheia
34 21/2/2006 5 25 12 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
35 21/2/2006 5 25 12 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
36 22/2/2006 5 25 12 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
37 22/2/2006 5 26 9 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
38 28/2/2006 4 26 11 1 Pouco Agitado Leste Leste Parcialmente Nublado Nova
39 21/3/2006 8 26 9 3 Agitado Sudeste Leste Sol Cheia
40 21/3/2006 8 27 6 3 Agitado Sudeste Leste Sol Cheia
41 22/3/2006 5 26 11 1 Pouco Agitado Oeste Leste Parcialmente Nublado Minguante
42 22/3/2006 5 26 11 1 Pouco Agitado Oeste Leste Parcialmente Nublado Minguante
43 20/4/2006 4,5 24 12 2 Pouco Agitado Oeste Leste Nublado Nova
44 21/4/2006 4,5 24 9 2 Pouco Agitado Oeste Leste Nublado Nova
45 20/7/2006 5 19 11 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
46 20/7/2006 5 19 10 1 Pouco Agitado Leste Leste Sol Minguante
47 26/8/2006 4 17 11 2 Pouco Agitado Nordeste Sudeste Nublado Nova
48 26/8/2006 4 17 8 2 Pouco Agitado Nordeste Sudeste Nublado Nova
49 10/11/2006
5 18 12 2 Pouco Agitado Leste Leste Sol Cheia
50 10/11/2006
5 18 10 2 Pouco Agitado Leste Leste Sol Cheia
51 26/12/2006
5 22 11 1 Calmo Oeste Leste Sol Nova
52 26/12/2006
5 22 12 1 Calmo Oeste Leste Sol Nova
53 10/3/2007 7 19 11 2 Pouco Agitado Leste Leste Sol Cheia
54 10/3/2007 7 20 11 2 Pouco Agitado Leste Leste Sol Cheia
55 20/6/2007 4 17 11 1 Calmo Oeste Leste Nublado Nova
56 20/6/2007 4 17 9 1 Calmo Leste Leste Nublado Nova
53
DISCUSSÃO
As técnicas de censo visual subaquático vêem sendo amplamente
utilizadas para amostragens em ambientes rasos com substrato heterogêneo
como os recifes de corais, rochas e recifes artificiais (SANDERSON &
SOLONSKY, 1986; THRESHER & GUNN, 1986; GIROLAMO & MAZZOLDI,
2001). De acordo com SALE (1980) a amostragem em ambientes complexos
como corais, rochas e recifes artificiais é mais eficiente quando se utilizam
técnicas de censo visual em relação ao uso de metodologia de pesca
tradicional (redes, anzóis e armadilhas). O uso do censo visual também é de
particular importância para o estudo de habitats sensíveis como as reservas
marinhas e pequenas ilhas, pois não há necessidade de captura de espécimes,
causando mínimo impacto na comunidade local (SALE, 1980). No entanto as
técnicas de censo visual, assim como qualquer método, apresentam erros
sistemáticos (HARMELIN-VIVIEN et al., 1985). É, por exemplo, descrita a
tendência de se produzirem dados que subestimam a presença de espécies
bentônicas e crípticas (BROCK, 1982; ACKERMAN & BELLWOOD, 2000;
WILLIS, 2001). A presença do mergulhador pode afetar positivamente
(atraindo) ou negativamente (afastando) as espécies de peixes (HARMELIN-
VIVIEN et al., 1985). Outros fatores que são citados como tendo influência
sobre a precisão dos resultados obtidos em censos visuais são: visibilidade,
temperatura, riqueza da comunidade, atividade dos peixes e pressão de pesca
(BELL, 1983; GIROLAMO & MAZZOLDI, 2001).
Estudos apontam para a existência de tendências latitudinais na
composição de peixes recifais dentro da província brasileira, sendo que tais
54
diferenças estão provavelmente relacionadas à salinidade, tipo de recife e
temperatura da água (MOURA et al., 1999; FLOETER & GASPARINI, 2000;
FLOETER et al., 2001). De acordo com MOURA et al. (1999) e FLOETER et al.
(2001) ocorre um empobrecimento gradual da ictiofauna associada a
ambientes de recifes ao sul de São Paulo. Santa Catarina é o limite sul dos
fundos rochosos sobre a influência da corrente quente do Brasil e
consequentemente de espécies de peixes recifais tropicais. Portanto na região
Sul a maior parte das espécies de peixes recifais permanece restrita a ilhas
continentais do Paraná e Santa Catarina.
A riqueza específica associada às Ilhas Itacolomis foi de 56 espécies
distribuídas em 33 famílias. A comparação com riquezas específicas de outras
áreas é restrita, pois tais estudos apresentam variados esforços amostrais e
foram realizados em áreas de dimensões diferentes. Porém, cabe aqui citar
alguns estudos ao longo da costa brasileira. Levantamentos ictiofaunísticos de
peixes recifais no Parcel Manuel Luiz no litoral do Maranhão constataram 132
espécies pertencentes a 52 famílias (ROCHA & ROSA, 2001); na costa da
Paraíba foram registradas 157 espécies distribuídas em 59 famílias (ROCHA et
al., 1998); na região de Tamandaré em Pernambuco ocorreram 103 espécies
distribuídas em 43 famílias (FERREIRA et al., 1995); na ilha oceânica de
Trindade em levantamento publicado por GASPARINI & FLOETER (2001)
ocorreram 97 espécies pertencentes a 44 famílias; e mais ao sul na Reserva
Biológica Marinha do Arvoredo HOSTIM-SILVA et al. (2006) apontam para 157
espécies distribuídas em 60 famílias. Além da variação latidudinal outros
fatores devem influenciar a composição e riqueza específica encontrados. A
biota é geralmente afetada de maneira acentuada pelo grau de isolamento da
55
ilha, ou seja, pela freqüência em que organismos colonizadores chegam à ilha
e o grau de isolamento por sua vez depende da distância e da riqueza da fonte
colonizadora (COX & MOORE, 2000).
A área é um fator muito relevante na composição da biota em ilhas.
Existem hoje muitas evidências que suportam a influência da área sobre o
número de espécies de uma ilha, e isto ocorre como resultado da maior
variedade de ambientes e maiores populações, sendo que a última reduz a
taxa de extinção (COX & MOORE, 2000).
As ilhas Itacolomis estão localizadas relativamente próximas à costa
(aproximadamente 8 km), onde os costões rochosos são abundantes. Portanto,
quando comparada a outras ilhas, o grau de isolamento das ilhas Itacolomis é
baixo em relação à costa e a área emersa é pequena. A área do promontório
maior, estimada a partir da Carta 1809 do Serviço de Hidrografia e
Navegação da Marinha Brasileira, é de aproximadamente 3150 e a área do
promontório menor é de aproximadamente 950 m². A estimativa da área
submersa das ilhas até a isóbata dos 10 m é de 97150 m². A área limitada,
portanto a disponibilidade limitada de ambientes recifais, deve ser um dos
principais fatores limitantes da riqueza específica encontrada nas Ilhas
Itacolomis.
Quanto à riqueza das famílias de acordo com FLOETER et al. (2001) as
famílias Haemulidae e Labridae o mais ricas em localidades do nordeste
enquanto Serranidae e Scaridae atingem seu pico de diversidade em
localidades do SE. Nas ilhas Itacolomis, a família Serranidae foi a mais rica
seguindo a tendência da região Sudeste, porém a família Scaridae foi
representada apenas por uma espécie. Entre as famílias mais ricas do estudo
56
está a família Haemulidae que é uma das mais ricas da região Nordeste do
Brasil. Entretanto, distintamente do Nordeste, a família Labridae é pouco
representada nas Ilhas Itacolomis. Cabe salientar que apesar de Haemulidae
estar entre as famílias mais ricas nas ilhas Itacolomis o número de espécies da
família na região Nordeste é maior. FERREIRA et al. (1995) e ROCHA et al.
(1998) encontraram nove espécies contra as cinco espécies neste estudo.
Comparando-se a composição específica de cada família, notou-se que são
encontradas menos espécies nas Ilhas Itacolomis e que as espécies presentes
são as mesmas de estudos na região Nordeste e Sudeste. Apenas duas
espécies registradas neste estudo apresentam distribuição mais restrita em
relação à costa brasileira: Mugil platanus que ocorre no Atlântico Sul ocidental,
desde o Rio de Janeiro aa Argentina (MENEZES & FIGUEIREDO, 1985), e
Epinephelus marginatus que ocorre nas regiões Sudeste e Sul do Brasil,
chegando até o Uruguai e Argentina (HOSTIM-SILVA et al., 2006).
Notou-se a ausência de espécies da família Pomacanthidae que
normalmente possui representantes em ambientes recifais ao longo de toda
costa brasileira. De acordo com JONES et al. (2006),
existem amplas
evidências de que a disponibilidade de recursos e a predação podem limitar
populações de peixes recifais. É provável que a disponibilidade de habitat e
recursos nas Ilhas Itacolomis sejam fatores limitantes para presença de
espécies de Pomachantidae.
Foram registradas nas Ilhas espécies consideradas ameaçadas e
vulneráveis da família Serranidae e que são residentes nas Ilhas pelo menos
em parte de seu ciclo de vida. Tal aspecto salienta a importância das Ilhas
costeiras para preservação destas espécies.
É por outro lado preocupante a
57
presença de grande número de embarcações de pescadores submarinos
durante todo o ano nas Ilhas Itacolomis. Tal atividade ocorre de maneira
intensa e é possível que tenha impacto sobre a comunidade de peixes recifais
(MEYER, 2006).
Os peixes da família Serranidae estão entre os principais alvos da pesca
submarina, são considerados como peixes de alto valor econômico e estão
entre as espécies mais ameaçadas em ambientes recifais temperados e
tropicais de todo o globo (TUYA, 2006). São predadores de topo, possuem
hábito sedentário, vida longa e apresentam crescimento lento demorando a
atingir a maturidade. São, portanto espécies sensíveis à pesca e que
necessitam cuidados para que não sejam super-exploradas (MORRIS et al.,
2000; LEVIN & GRIMES, 2006).
De acordo com SALE (1991) e NYBAKKEN, & BERTNESS (2005) a
categoria trófica mais abundante em ambientes recifais é a dos carnívoros, que
constituem de 50 a 70% das espécies de peixes. Nas ilhas Itacolomis a
categoria mais abundante foi a de Carnívoros que incluindo invertívoros e
piscívoros constituíram 72% das espécies registradas. Em recifes coralinos os
herbívoros são o segundo grupo mais abundante correspondendo a 15% das
espécies, sendo seguido de onívoros. Os planctívoros geralmente
correspondem a apenas algumas espécies (SALE, 1991; NYBAKKEN, &
BERTNESS, 2005). Nas Ilhas Itacolomis as espécies onívoras foram à
segunda categoria mais abundante em número de espécies (18%) os
herbívoros corresponderam a 5% e os planctívoros 5%. Tais diferenças
sugerem características tróficas distintas entre recifes coralinos e recifes
rochosos do litoral sul brasileiro.
58
Dentre as espécies registradas nas Ilhas Itacolomis existe uma
proporção de 30% de espécies visitantes freqüentes e ocasionais o que
evidencia as relações de troca entre as ilhas e ambientes adjacentes como à
região costeira próxima, região de mar aberto e estuários. Os visitantes
freqüentes foram Clupeidae e Chloroscombrus chrysurus. As sardinhas
(Clupeidae) foram registradas sempre em grandes cardumes representando a
maior abundância dentre as espécies observadas. Grande parte dos visitantes
ocasionais é típica de regiões costeiras e de estuários: Trachinotus carolinus,
Eucinostomus melanopterus, Mugil platanus, Selene vomer, Diapterus
rhombeus e Chloroscombrus chrysurus (FROESE & PAULY, 2007); o que
evidencia a importância destes ambientes para composição de peixes das Ilhas
Itacolomis. Estudos em recifes de coral destacam a importância da proximidade
de manguezais na estrutura da comunidade de peixes recifais
(NAGELKERKEN et al., 2000; MUMBY, 2006), no entanto as interações entre
os recifes rochosos de ilhas costeiras brasileiras e estuários necessitam
investigações.
59
REFERÊNCIAS
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66
_______________________________________________________________
CAPÍTULO II
DISTRIBUIÇÃO DE PEIXES RECIFAIS NAS FACES LESTE E OESTE DAS
ILHAS ITACOLOMIS, SANTA CATARINA, BRASIL
______________________________________________________________
RESUMO
Os ambientes recifais são considerados complexos, com grande
variedade de micro-habitats e com capacidade de suportar uma rica
comunidade biológica. Obviamente a aplicação de um desenvolvimento
sustentável nestes ambientes depende do conhecimento da área e seus
recursos. No entanto a ictiofauna associada a formações recifais do Atlântico
Sul ocidental é considerada uma das menos conhecidas. Portanto foram
objetivos deste trabalho investigar a distribuição de peixes recifais em relação
às faces Leste e Oeste das Ilhas Itacolomis, Santa Catarina. Estimando
parâmetros como a densidade, biomassa e abundância das espécies. Foram
realizados 48 mergulhos diurnos sendo que 24 foram realizados na face Oeste
e 24 na face Leste. As amostragens foram realizadas mensalmente entre os
meses de janeiro de 2005 a janeiro de 2007. Foi estimada a composição
percentual dos tipos de substrato e de cobertura de organismos bentônicos,
índice de rugosidade e grau de inclinação nas faces Leste e Oeste das ilhas. A
abundância e as estimativas de densidade e biomassa foram realizadas
através de Censo visuais utilizando transecções de 25 metros a uma
profundidade média de 8m. Quanto aos tipos de substratos encontrados, na
face Leste houve predomínio da categoria rocha, seguido de matacões de 30 á
100 cm. Na face Oeste houve predomínio de matacões de 30 á 100 cm
seguido de matacões de 5 a 30 cm. As proporções das categorias de
organismos bentônicos entre as faces Leste e Oeste apresentou diferenças
significativas para Zoanthidea que predominou na face Oeste, Octacorallia na
face leste e Actiniaria na face Leste. A face Oeste apresentou rugosidade
significativamente maior do que a face Leste. A inclinação média na face Leste
foi de 16,8º e na face Oeste de 12,8º. Houve diferença significativa entre as
densidades médias nas faces leste e Oeste para todas as espécies analisadas.
As espécies Stegastes fuscus, Anisotremus virginicus e Chaetodon striatus
apresentaram diferenças significativas entre as biomassas na face leste e
Oeste. A proporção de jovens e adultos nas faces leste e Oeste foram
significativamente diferentes para as espécies Abudefduf saxatilis e
Anisotremus virginicus.
Palavras Chave: zonação, costão rochoso, densidade, biomassa.
67
_______________________________________________________________
CHAPTER II
REEF FISH DISTRIBUTION IN THE EAST AND WEST FACES OF
ITACOLOMIS ISLANDS, SANTA CATARINA, BRAZIL
_______________________________________________________________
ABSTRACT
Reefs are considered to be complex environments, with a great variety of micro-
habitats and with the capacity to support a rich biological community. It’s
evident that the applicability of a sustainable development in these places
depends upon the knowledge of the areas and its resources. However, the fish
associated with reefs in the South Western Atlantic Ocean are considered to be
one of the least know in the world. The objectives of this work were to
investigate the distribution of reef fish in the East and West faces of the
Itacolomis Islands in Santa Catarina Brazil, estimating parameters such as
density, biomass and abundance. Forty eight dives were conducted, twenty four
in the west face and twenty four in the east face. Samples were made monthly
from January of 2005 to January of 2007. It was estimated the percentage of
substrate types, the percentage and of benthonic organisms, rugosity index and
the inclination angle for the two zones. The abundance and the estimative of
density and biomass were made using visual census technique, utilizing twenty
five meters transects in an average depth of eight meters. In the east face there
was a predominance of big rock blocks and gravel with thirty to one hundred
centimeters. In the west face there was a predominance of gravel with thirty to
one hundred centimeters and smaller gravels with five to thirty centimeters. The
proportions of benthic organisms showed a predominance o Zoanthidea in the
west face. Octacorallia and Actiniaria predominated in the east face. The
rugosity was statistically greater in the east face. The average inclination in the
east face was 16.8º and in the west face was 12.8º. The average densities
were distinct in the west and east face for all species analyzed. The species
Stegastes fuscus, Anisotremus virginicus and Chaetodon striatus showed a
significant difference between the biomass of the two zones. And the proportion
of young and adult between the east and west faces were distinct to the
Abudefduf saxatilis and Anisotremus virginicus species.
Key words: Zonation, rocky coast, density, biomass.
68
INTRODUÇÃO
A fauna de peixes tropicais do Atlântico Oeste se estende de 35ºN até 28ºS,
sendo que na costa brasileira os ambientes recifais estão localizados ao Sul da
desembocadura do rio Amazonas, nos recifes Manuel Luiz, no litoral do
Maranhão (0º52’S) e se distribuem ao longo da costa até Santa Catarina
(27º30’S) (FLOETER et al., 2001). De acordo com CARVALHO-FILHO et al.
(2005) é considerado como ambiente de recife toda e qualquer formação de
fundo consolidado, de origem orgânica e/ou inorgânica, cujo topo esteja
distante, no máximo a 30 metros da superfície na maré mais baixa da região e
são incluídas nesta definição, a área do fundo de areia, cascalho ou mista,
adjacente ao recife, considerando uma distância de até 30 metros e um
gradiente de profundidade limitado aos 70 metros. Também foram definidas
como espécies de peixes recifais, quaisquer espécies de peixes que utilizem ou
se aproximem de recifes e/ou de suas proximidades imediatas, para quaisquer
atividades, inclusive refúgio, alimentação, reprodução ou apenas passagem
(CARVALHO-FILHO et al., 2005; HOSTIM-SILVA et al., 2006).
Os ambientes recifais o considerados complexos, com grande variedade
de micro-habitats e com capacidade de suportar uma rica comunidade
biológica (LUCKHURST & LUCKHURST, 1978). Portanto, são fontes de
recursos econômicos principalmente por meio da pesca e do turismo, que
ocorre principalmente através de passeios de barco, pesca esportiva
(submarina e de linha) e mergulho autônomo. A busca de um desenvolvimento
sustentável nestes ambientes depende do conhecimento da área e seus
recursos. No entanto a ictiofauna associada a formações recifais do Atlântico
69
Sul ocidental é considerada uma das menos conhecidas e inúmeras espécies
vêm sendo descritas recentemente como, por exemplo: Prognathodes
brasiliensis (BURGESS, 2001), Platygillellus brasiliensis (FEITOZA, 2002),
Sparisoma tuiupiranga (GASPARINI et al., 2003). Grande parte da literatura de
peixes recifais brasileiros é direcionada a recifes de corais e existe pouca
literatura a respeito da fauna de peixes associados aos costões rochosos
(FERREIRA et al., 2001).
Uma das características mais marcantes dos ambientes recifais é a
complexidade estrutural de habitat em diversas escalas, desde metros até
milhares de quilômetros. O ambiente físico e biológico, assim como as
assembléias de peixes, variam de forma acentuada em todas as escalas
espaciais e a maneira como os peixes respondem à complexidade do habitat é
uma questão fundamental no estudo da ecologia de peixes recifais (WILLIAMS,
1991; MORA et al. 2003). Generalizações sobre estratégias de manejo e
conservação de peixes recifais devem levar em consideração as variações das
estruturas populacionais em diversas escalas espaciais (WILLIAMS, 1991).
Diversos estudos têm investigado a distribuição de peixes recifais em ampla
escala no oceano atlântico. FLOETER & GASPARINI (2000) investigaram
padrões de distribuição zoogeográfica de peixes recifais no Sudoeste do
Atlântico. JOYEUX et al. (2001) estudou a distribuição de peixes recifais no
Atlântico Sul, FLOETER et al. (2001) discutiram a variação geográfica de
assembléias de peixes recifais ao longo da costa brasileira e ROCHA (2003)
examinou os padrões de distribuição e processos de especiação em peixes
recifais no Brasil. Em uma escala espacial mais restrita e localizada CHOAT et
al. (1988) estudaram padrões de distribuição espacial de peixes recifais em
70
uma ilha na Nova Zelândia, ADRIM & HUTOMO (1989) analisaram a
composição, distribuição e abundância de Chaetodontidae ao longo de um
recife na Indonésia e AUSTER et al. (2005) investigou padrões de co-
ocorrência de peixes de recifes de coral na costa de Bonaire nas Antilhas
Holandesas. No Brasil, padrões de distribuição espacial e temporal de peixes
recifais foram estudados em Cabo Frio (ORNELLAS & COUTINHO, 1998), a
estrutura da comunidade de peixes de recife foi analisada em três pontos
amostrais distintos em Arraial do Cabo no Rio de Janeiro (FERREIRA et al.,
2001) e a distribuição de cinco espécies de Lutjanidae e suas implicações para
a pesca foram discutidos por FRÉDOU & FERREIRA (2005).
Os objetivos deste trabalho são investigar a distribuição de peixes recifais
em relação às faces Leste e Oeste das Ilhas Itacolomis, Santa Catarina.
Estimando parâmetros como a, densidade e biomassa e abundância das
espécies.
71
MATERIAL E MÉTODOS
Foram realizados 48 mergulhos diurnos sendo que 24 foram realizados
na face Oeste e 24 na face Leste das Ilhas Itacolomis. As amostragens foram
realizadas mensalmente entre os meses de janeiro de 2005 a janeiro de 2007.
Uma caracterização geral de aspectos físicos e biológicos foi realizada
nas faces Leste e Oeste das Ilhas Itacolomis. Para estimar a composição
percentual dos tipos de substrato e de cobertura de organismos bentônicos
foram instaladas duas transecções com 100 m de comprimento marcadas de
cinco em cinco metros, uma em cada face das Ilhas. As transecções foram
instaladas em uma profundidade média de oito metros coincidindo
espacialmente com as transecções utilizadas para o censo visual de peixes. A
cada cinco metros foram registrados o tipo de substrato e a cobertura
bentônica e enquadrados em categorias adaptadas de HODGSON et al.
(2004). O registro de substrato foi pontual, ou seja, apenas um tipo de
substrato foi registrado em cada ponto amostrado. As categorias de substrato
são descritas na tabela 6:
Tabela 6: Descrição das categorias de substrato registradas no período de
2005 a 2007 nas Ilhas Itacolomis, Santa Catarina (as descrições são visuais e
não geotécnicas).
Substrato Caracterização
Lama Sedimento fino que com distúrbio permanece em suspensão.
Areia Sedimento maior e mais pesado que a lama e que com distúrbio
não permanece em suspensão.
Cascalho Sedimento menor do que cinco centímetros, porém maior do que
areia.
Matacão I Rochas com diâmetro entre cinco e trinta centímetros.
Matacão II Rochas com diâmetro entre trinta e um e cem centímetros.
Rocha Rochas maiores do que um metro normalmente formando
lajeados.
72
Para o registro da cobertura bentônica foi utilizado um amostrador com
trinta centímetros quadrados (Figura: 10), desta forma mais do que uma
categoria pode ocorrer no mesmo ponto amostrado. As categorias de
organismos bentônicos utilizadas foram as seguintes:
Algas folhosas: macro algas de diversos grupos taxonômicos.
Algas incrustantes: algas completamente aderidas ao substrato.
Porífera: esponjas das mais variadas formas.
Hidrozoa: cnidários da classe Hidrozoa
Zoanthidea: cnidários antozoários da Subclasse Hexacorallia, Ordem
Zoanthidea, pólipos coloniais sem presença de esqueleto calcário na base da
colônia, porém algumas espécies apresentam impregnação de areia na parede
corporal.
Actiniaria: cnidários antozoários da Subclasse Hexacorallia, Ordem
Actiniaria, são pólipos solitários sem qualquer esqueleto rígido.
Octacorallia: cnidários antozoários da Subclasse Octacorallia, são
pólipos colôniais onde a maioria das colônias são ramificadas, rígidas e fixas
ao substrato rochoso. Apresentam oito tentáculos com projeções laterais
denominadas pínulas.
Bryozoa: celomados colôniais que são geralmente encontrados fixos em
rochas e algas que apresentam diversas formas.
Equinoidea: classe de equinodermos representado principalmente por
ouriços e bolachas-do-mar.
Asteroidea: classe de equinodermos representada pelas estrelas do
mar.
Crinoidea: classe de equinodermos representada pelos lírios-do-mar.
73
Figura 10: Quadrado amostral usado para registro de cobertura bentônica nas
Ilhas Itacolomis, Santa Catarina.
Como parte de uma análise da complexidade topográfica nas faces
Leste e Oeste das Ilhas Itacolomis foi utilizado um índice de rugosidade
segundo método proposto por RISK (1972). Ao longo dos mesmos locais onde
foram instaladas as transecções de censo visual de peixes, substrato e
cobertura bentônica, foi colocada uma corrente com sete metros de
comprimento acompanhando o contorno do fundo e em seguida com uma fita
métrica foi obtido o comprimento alcançado pela corrente sobre o fundo (Figura
11). O índice de rugosidade é obtido utilizando-se o comprimento obtido e o
comprimento real da corrente (7 metros) de acordo com a fórmula abaixo:
Índice de rugosidade = 1-(Comprimento obtido/comprimento da corrente)
74
Figura 11: Representação da amostragem de rugosidade do fundo (elementos
representados fora de proporções).
O grau de inclinação médio das faces Leste e Oeste das ilhas itacolomis
foi obtido utilizando-se transecções com 10 metros de comprimento. As
transecções foram instaladas com início na isóbata dos seis metros, na face
leste seguiram o rumo de 90º e na face Oeste seguiram o rumo de 270º (Figura
12). As medições foram feitas nos mesmos locais das demais amostragens e
foram elaboradas para cruzarem a isóbata dos oito metros (profundidade das
transecções para censo visual de peixes). Ao final da transecção através da
profundidade atingida obtinha-se o valor de altura de um triângulo retângulo
(cateto) e o comprimento da transecção (10 metros) representava a hipotenusa
do triângulo. Utilizando a razão trigonométrica seno e com o auxílio de uma
tabela trigonométrica encontrava-se o ângulo que corresponde ao grau de
inclinação (Figuras 12 e 13). Formula representada abaixo:
Seno A = Cateto oposto
= ___Diferença entre profundidades____
Hipotenusa comprimento da transecção (10 m)
75
Figura 12: Representação da amostragem de inclinação ilustrando os rumos
das transecções (elementos representados fora de proporções).
Figura 13: Representação da amostragem de inclinação vista de perfil
(elementos representados fora de proporções).
As estimativas de densidade e biomassa foram realizadas através de
censo visuais metodologia adaptada de LABROSSE et al. (2002) (Figura 13). A
76
adaptação foi realizada em relação ao comprimento da transecção, que na
metodologia descrita originalmente é de 50 m enquanto neste trabalho as
transecções foram de 25 metros. O método utiliza o conceito de contagem com
distância variável, onde o observador registra a distância perpendicular do
peixe em relação à transecção. No caso de cardumes duas distâncias são
registradas: a distância do peixe mais próximo e a distância do peixe mais
afastado em relação à transecção (Figura 14). Este método possibilita uma boa
estimativa de peixes com baixa mobilidade e limita o erro que ocorre quando
peixes de movimento rápido passam através de uma transecção com distância
fixa e acabam não sendo contados. O método também limita a influência da
largura da transecção sobre os resultados obtidos. Quanto mais larga é a
transecção menores são os valores obtidos na estimativa de densidade, isto
ocorre porque quanto mais distante estiver o peixe, menores são as chances
de este ser observado.
Figura 14: Representação das transecções(elementos representados fora de
proporções).
.
Figura 14: Representação das transecções vista de perfil (elementos
representados fora de proporções).
77
Carretilhas foram utilizadas para instalação das transecções. Foram
percorridas 16 transecções com 25 m de comprimento, oito na face Leste e oito
na face Oeste em cada mês.
A profundidade média das transecções foi de 8m. Cada transecção foi
percorrida no tempo dio de 6 minutos. Durante as transecções os peixes
foram: Identificados visualmente, contados (nº de indivíduos para cada
espécie), estimada a distância em relação à transecção e estimados em
tamanho. A calibragem para estimativa de tamanho foi realizada principalmente
utilizando referências (régua). Durante as contagens o observador trabalhava
em seções de aproximadamente 3 metros cada, este procedimento diminui as
chances de se contar o mesmo peixe mais do que uma vez. Foi estipulada uma
visibilidade mínima de 4 metros, medida com disco de secchi, para que fossem
realizadas as observações, visibilidades menores prejudicariam a capacidade
do observador de detectar os peixes. Todas as observações foram realizadas
no período entre 9 horas da manhã e uma hora da tarde, desconsiderando-se
horários de verão, minimizando assim influências relacionadas ao ciclo diário
de atividade dos peixes recifais. Para melhor precisão das estimativas de
tamanho e distância antes de cada mergulho foram realizadas calibragens
estimando distâncias e tamanhos de objetos e conferindo com auxilio de trena.
As estimativas de densidade e biomassa são calculadas baseadas na distância
média ponderada (dm) dos indivíduos em relação à transecção. Para o cálculo
a transecção é dividida em corredores com um metro de largura, o mais
próximo de 0 a 1 metro, o segundo de um a dois metros, etc. Dependendo da
distância perpendicular do peixe em relação a transecção, registrada no
momento da observação o peixe será associado a um destes corredores e a
78
seu valor médio. Um exemplar registrado a uma distância perpendicular de dois
metros em relação à transecção será associado ao corredor dois a três metros.
O valor de distância usado para cálculo se 2 + 0,5 = 2,5 metros,
correspondendo à média da categoria dois a três metros. A distância média de
uma espécie é dada pela fórmula:
Onde p: é o número total de observações (ocorrência) da espécie j (uma
observação pode estar relacionada a vários indivíduos); n
ij:
corresponde ao
número de peixes na observação (ocorrência) i (geralmente i = I, mas podem
ser diferentes em caso de cardumes); dij: distância perpendicular do peixe i em
relação à transecção, no caso de cardumes se torna:
A densidade estimada é obtida pela fórmula:
2
21 dd
dij
+
=
=
+
=
nij
dijnij
dmj
p
i 1
)5,0(
dmjL
nij
Dj
p
i
=
=
1
79
A estimativa de biomassa foi obtida utilizando se as relações de peso e
comprimento de cada espécie (BOHNSACK & HARPER, 1988; FROESE &
PAULY, 2007) aplicadas à fórmula:
Onde Wi: é o peso estimado para a espécie i utilizando-se a relação
entre peso e comprimento.
A distinção entre jovens e adultos foi determinada por distinções
morfológicas e de coloração para as espécies Stegastes fuscus, Anisotremus
virginicus e Chaetodon striatus e para as espécies Abudefduf saxatilis,
Diplodus argenteus e Odontoscion dentex a distinção foi realizada baseada na
estimativa de tamanho comparada a informações de comprimento de primeira
maturação e comprimento máximo encontrados em literatura (MENEZES &
FIGUEIREDO, 1980; MENEZES & FIGUEIREDO, 1985; HUMANN &
DELOACH, 2002; HOSTIM-SILVA et al., 2006; FROESE & PAULY, 2007).
Para análise dos dados foram aplicados os testes qui-quadrado, qui-
quadrado para duas amostras e o teste o paramétrico Mann-Whitney.
Também foi aplicada uma análise multivariada de agrupamentos utilizando
como medida de similaridade o coeficiente de Bray-Curtis.
dmjL
Wijnij
Bj
p
j
=
=
1
)(
80
RESULTADOS
Quanto aos tipos de substratos encontrados nas Ilhas Itacolomis, na
face Leste houve claro predomínio da categoria rocha, correspondendo a 86%
dos pontos amostrados, seguido de matacões de 30 á 100 cm (14%). Na face
Oeste houve predomínio de matacões de 30 á 100 cm correspondendo a 71%
dos pontos amostrados seguido de matacões de 5 a 30 cm que
corresponderam a 29 % dos pontos amostrados (Figura: 15). Foram
amostrados um total de 40 pontos, 20 na face leste e 20 na face Oeste.
Figura 15: Tipos de substratos predominantes nas faces Leste e Oeste das
Ilhas Itacolomis.
Dentre os organismos bentônicos comumente encontrados nas Ilhas
Itacolomis estão Poríferas como: Aplysina caissara, Dragmacidon reticulatus,
Haliclona mammillaris, Polymastia janeirensis; Hidrozoários do gênero
Sertularia; Zoanthidea: Palythoa caribaeorum, Protopalythoa sp., Zoanthus sp.,
Parazoanthus sp.; Actiniaria: Bunodosoma cangicum, Bunodosoma caissarum.;
0
20
40
60
80
100
Face Leste Face Oeste
%
rocha
matacão II (30-100 cm)
matacão I (5-30 cm)
n = 40
81
Octacorallia: Lophogorgia punicea, Crijoa riisei. Bryozoa: Schizoporella sp.,
Bugula sp.; Equinoidea: Lytechinus variegatus, Echinometra lucunter, Arbacia
sp.; Asteroidea: Echinaster brasiliensis.; Ascidiaceae: Didemnum sp. e
Clavelina oblonga. A comparação entre as proporções das categorias de
organismos bentônicos entre as faces leste e oeste apresentou diferenças
significativas para Zoanthidea (x²=6,23 significância 5%), que predominou na
face oeste, Octacorallia que predominou na face leste (x²=6,00, significância
5%) e Actiniaria que predominou na face Leste (x²=5,00, significância 5%). As
demais categorias não apresentaram diferenças significativas entre suas
proporções (Figura: 16).
Figura 16: Proporções de cobertura bentônica nas faces Leste e Oeste das
Ilhas Itacolomis. * = diferenças significativas
Quanto ao índice de rugosidade, foram realizadas 36 transecções 18 na
face Leste e 18 na face oeste. O índice de rugosidade médio para a face leste
0
20
40
60
80
100
Alg
a
s
f
o
lh
o
s
a
s
Alg
a
s encrustrant
e
s
Zoan
t
hide
a
As
c
idiacea
B
r
yo
z
o
a
Po
r
if
e
r
a
Equin
o
idea
Hidrozoa
As
t
eroi
d
e
a
Octacorallia
Crinoid
e
a
Ac
t
in
ia
r
ia
%
% Leste
% Oeste
*
*
*
*
n = 40
82
foi de 0,1713 e para face oeste foi de 0,2522 (Figura 17). Foi aplicado o teste
não paramétrico de Mann-whitney ou teste U sendo que a diferença entre as
duas amostras foi considerada estatisticamente significativa (p = 0,0001).
Figura 17: Índice de rugosidade médio e desvio padrão nas faces leste e oeste
das Ilhas Itacolomis sc.
Para a estimativa do grau de inclinação, foram realizadas 40
transecções, 20 na face Leste e 20 na face Oeste. A inclinação média na face
Leste foi de 16,8º e na face Oeste de 12,8º (Figura 18). Foi aplicado o teste não
paramétrico de Mann-whitney ou teste U sendo que a diferença entre as duas
amostras foi considerada estatisticamente significativa (p = 0,00001). Na Figura
19 estão resumidos os resultados de índice de rugosidade e de grau de
inclinação encontrados nas duas faces das Ilhas Itacolomis.
n = 36
83
Figura 18: Inclinação média e desvio padrão nas faces leste e oeste das Ilhas
Itacolomis sc.
Figura 19: Representação dos resultados de índice de rugosidade e inclinação
nas Ilhas Itacolomis, SC.
n=40
84
São apresentados aqui os valores densidade média e desvio padrão
encontrados para seis das principais espécies encontradas nas Ilhas
Itacolomis. Na face Oeste a espécie de maior densidade foi Odontoscion
dentex que apresentou uma densidade média de 0,141 i/m² (indivíduos/m²),
seguido de Stegastes fuscus (0,132 i/m²), Abudefduf saxatilis (0,124 i/m²),
Chaetodon striatus (0,044 i/m²), Anisotremus virginicus (0,032 i/m²) e Diplodus
argenteus (0,021 i/m²) (Figura 21). Na face Leste a espécie de maior densidade
foi Abudefduf saxatilis que apresentou uma densidade média de 0,066 i/m²,
seguido de Diplodus argenteus (0,058 i/m²), Odontoscion dentex (0,054 i/m²),
Anisotremus virginicus (0,046 i/m²) Stegastes fuscus (0,033 i/m²) e Chaetodon
striatus (0,025 i/m²) (Figura 20).
Figura 20: Densidade média e desvio padrão das principais espécies de peixes
recifais nas Faces Leste e Oeste das Ilhas Itacolomis, no período de 2005 a
2007.
Foi aplicado o teste não paramétrico Mann-Whitney, comparando as
densidades nas faces Leste e Oeste para cada espécie. Houve diferença
nº de transectos realizados = 192
nº de transectos realizados = 192
85
significativa para todas as espécies analisadas. Odontoscion dentex
(p=0,00001), Stegastes fuscus (p=0,00001), Abudefduf saxatilis (p=0,00001),
Chaetodon striatus (0,0148), Anisotremus virginicus (0,0462) e Diplodus
argenteus (0,0011).
Foi estimada a biomassa média para as principais espécies de peixes
recifais nas ilhas Itacolmis. Na face Oeste a espécie com maior biomassa foi
Abudefduf saxatilis (3,978 g/m²) seguido de Odontoscion dentex (3,089 g/m²),
Anisotremus virginicus (2,545 g/m²), Chaetodon striatus (2,517 g/m²), Diplodus
argenteus (2,300 g/m²) e Stegastes fuscus (2,278 g/m²). Na face leste a
espécie com maior biomassa média estimada foi Anisotremus virginicus (7,174
g/m²), seguido de Diplodus argenteus (5,575 g/m²), Abudefduf saxatilis (4,875
g/m²), Odontoscion dentex (2,727 g/m²), Chaetodon striatus (21,366 g/m²) e
Stegastes fuscus (0,809 g/m²) (Figura 21).
Figura 21: Biomassa média e desvio padrão das principais espécies de peixes
recifais nas Faces Leste e Oeste das Ilhas Itacolomis, no período de 2005 a
2007.
* = diferenças significativas.
nº de transectos realizados = 192
nº de transectos realizados = 192
86
Foi aplicado o teste não paramétrico Mann-Whitney, comparando as
biomassa nas faces Leste e Oeste para cada espécie. As espécies
Odontoscion dentex, Abudefduf saxatilis e Diplodus argenteus não
apresentaram diferenças significativas (p>0,05) entre as biomassas nas faces
Leste e Oeste. As espécies Stegastes fuscus (p=0,00001), Anisotremus
virginicus (p=0,0027) e Chaetodon striatus (p=0,0234) apresentaram diferenças
significativas entre as biomassas na face leste e Oeste das Ilhas Itacolomis.
Utilizando os valores de abundância (número de indivíduos observados)
e suas proporções (Tabela 7) foi realizada uma análise multivariada de
agrupamentos. Como medida de similaridade foi utilizado o coeficiente de Bray-
Curtis, (Figura 22). Utilizando uma linha de corte ao nível de 75%, foram
identificados três grupamentos principais, que foram denominados grupo A:
não apresentando preferência por nenhuma das faces, ou seja, com uma
distribuição aproximadamente uniforme; grupo B: espécies que apresentam
uma distribuição preferencial em relação à face Oeste e grupo C: com uma
distribuição preferencial em relação à face Leste.
87
Figura 22: Análise de agrupamentos das abundâncias relativas entre as faces Leste e Oeste das ilhas Itacolomis, utilizando-se
coeficiente de Bray-Curtis.
E. neveatus
M. aacutirostris
H. aurolineatum
P. pilicornis
H. clupeola
H. adscensionis
M. delandii
O. ruber
P. maculatus
S. brasiliensis
S. synodus
H. steindachneri
P. acuminatus
C. striatus
A. saxatilis
C. multilineata
D. formosum
P. schomburgki
P. dentex
E. melanopterus
S. flaviventris
L. nuchipinnis
O. dentex
S. fuscus
C. glaucofraenum
A. chirurgus
A. surinamensis
G. hemigymnum
G. moringa
K. incisor
Sparisoma sp.
S. spengleri
D. argenteus
S. picudilla
S. variabilis
C. chrysurus
A. virginicus
S. hispidus
E. marginatus
C. crysus
A
B
C
88
Tabela 7: Freqüência absoluta e abundância relativa de peixes recifais no
período no período de 2005 a 2007 nas Ilhas Itacolomis, Santa Catarina.
ESPÉCIE Nº OESTE
Nº LESTE TOTAL % OESTE % LESTE
Abudefduf saxatilis
596 467 1063 56,07 43,93
Acanthurus chirurgus
0 2 2 0,00 100,00
Anisotremus surinamensis
0 88 88 0,00 100,00
Anisotremus virginicus
122 412 534 22,85 77,15
Caranx crysos
1 6 7 14,29 85,71
Chaetodon striatus
139 94 233 59,66 40,34
Chloroscombrus chrysurus
27 119 146 18,49 81,51
Chromis multilineata
12 0 12 100,00 0,00
Coryphopterus glaucofraenum
0 10 10 0,00 100,00
Diplectrum formosum
1 0 1 100,00 0,00
Diplodus argenteus
28 413 441 6,35 93,65
Epinephelus marginatus
3 11 14 21,43 78,57
Epinephelus niveatus
8 15 23 34,78 65,22
Eucinostomus melanopterus
3 1 4 75,00 25,00
Gobiosoma hemigymnum
0 1 1 0,00 100,00
Gymnothorax moringa
0 1 1 0,00 100,00
Haemulon aurolineatum
110 141 251 43,82 56,18
Haemulon steindachneri
77 40 117 65,81 34,19
Harengula clupeola
1070 1030 2100 50,95 49,05
Holocentrus adscensionis
27 26 53 50,94 49,06
Kyphosus incisor
0 7 7 0,00 100,00
Labrisomus nuchipinnis
20 2 22 90,91 9,09
Malacoctenus delalandii
107 101 208 51,44 48,56
Mycteroperca acutirostris
11 24 35 31,43 68,57
Odontoscion dentex
977 105 1082 90,30 9,70
Orthopristis ruber
177 166 343 51,60 48,40
Parablennius pilicornis
46 61 107 42,99 57,01
Pareques acuminatus
218 112 330 66,06 33,94
Pempheris schomburgki
132 0 132 100,00 0,00
Pseudocaranx dentex
2 0 2 100,00 0,00
Pseudopeneus maculatus
39 39 78 50,00 50,00
Scomberomorus brasiliensis
2 2 4 50,00 50,00
Serranus flaviventris
132 35 167 79,04 20,96
Sparisoma sp.
0 12 12 0,00 100,00
Sphoeroides spengleri
0 5 5 0,00 100,00
Sphyraena picudilla
1 30 31 3,23 96,77
Stegastes fuscus
1441 235 1676 85,98 14,02
Stegastes variabilis
1 27 28 3,57 96,43
Stephanolepis hispidus
3 10 13 23,08 76,92
Synodus synodus
1 1 2 50,00 50,00
TOTAIS
5534 3851
9385
89
Foi também realizada uma comparação entre as abundâncias de jovens
e adultos das principais espécies nas faces Leste e Oeste (Figuras: 23 a 28).
Foi aplicado um teste qui-quadrado para duas amostras comparando as
proporções entre jovens e adultos nas duas faces, sendo que as espécies
Abudefduf saxatilis (p<0,00001) e Anisotremus virginicus (p=0,02757)
apresentaram diferenças significativas entre a proporção de jovens e adultos
nas faces leste e Oeste.
Figura 23: Abundancia relativa de jovens e adultos de Abudefduf saxatilis nas
Ilhas Itacolomis, no período de 2005 a 2007. * = diferença significativa.
Figura 24: Abundância relativa de jovens e adultos de Anisotremus virginicus
nas Ilhas Itacolomis, no período de 2005 a 2007. * = diferença significativa.
0
20
40
60
80
100
Face Oeste Face Leste
%
Adultos
Jovens
*
n = 1063
0
20
40
60
80
100
Face Oeste Face Leste
%
Adultos
Jovens
*
n = 534
90
Figura 25: Abundância relativa de jovens e adultos de Chaetodon striatus nas
Ilhas Itacolomis, no período de 2005 a 2007.
Figura 26: Abundância relativa de jovens e adultos de Diplodus argenteus nas
Ilhas Itacolomis, no período de 2005 a 2007.
Figura 27: Abundância relativa de jovens e adultos de Stegastes fuscus nas
Ilhas Itacolomis, no período de 2005 a 2007.
0
20
40
60
80
100
Face Oeste Face Leste
%
Adultos
Jovens
n = 233
0
20
40
60
80
100
Face Oeste Face Leste
%
Adultos
Jovens
n = 441
0
20
40
60
80
100
Face Oeste Face Leste
%
Adultos
Jovens
n = 1676
91
Figura 28: Abundância relativa de jovens e adultos de Odontoscion dentex nas
Ilhas Itacolomis, no período de 2005 a 2007.
Foi aplicado teste qui-quadrado para independência entre as
abundâncias de adultos e de jovens nas faces Leste e Oeste. Todas as
espécies com exceção de C. striatus apresentaram diferenças significativas
entre as abundâncias de adultos e jovens = 0,05). Chaetodon striatus não
apresentou diferença significativa para as abundâncias comparadas. Foi
aplicado o coeficiente de similaridade de Jaccard que leva em consideração
apenas o número de taxas, sendo que a similaridade entre as faces Leste e
Oeste foi de 0,61. Como medida de diversidade foi aplicado o Índice de
Shannon que considera o número de indivíduos e o número de taxa. O valor
obtido pelo índice Shannon foi de 0,83349 para face Leste e 0,83767 para face
oeste. O número de táxons nas faces leste e oeste foi comparado através do
método de rarefação. A fauna de peixes recifais da face oeste foi estimada
entre 28 a 30 se consideradas amostras de mesmo, menos que as 34 espécies
que ocorreram na face leste.
0
20
40
60
80
100
Face Oeste Face Leste
%
Adultos
Jovens
n = 1082
92
DISCUSSÃO
Abordando uma escala de variação dentro de um recife é evidente que
existe uma distribuição desigual das espécies entre diferentes zonas
(WILLIAMS, 1991). O entendimento destas variações é de grande valor para o
manejo de áreas recifais. As ilhas Itacolomis em Santa Catarina apresentam
algumas características que facilitam os estudos de distribuição entre zonas.
São ilhas relativamente pequenas e de forma pouco complexa, o que
proporciona uma zonação simples e evidente entre a face voltada para o mar
aberto (face Leste) e a face voltada para o continente (face Oeste).
De forma geral a distribuição de peixes recifais tem sido relacionada a
diversos fatores, dentre eles: complexidade do habitat, disponibilidade de
alimento, correnteza, qualidade da água, exposição à ação das ondas,
cobertura bentônica, e disponibilidade de abrigo (HOBSON & CHESS, 1978;
WILLIAMS, 1982; THRESHER, 1983; HOURIGAN et al., 1988; ADRIM &
HUTOMO, 1989; HIXON & BEETS, 1989; SALE, 1991; ORNELLAS &
COUTINHO, 1998; LARA & GONZALEZ, 1998; GUIDETTI et al., 2002).
As Ilhas Itacolomis estão localizadas na plataforma continental em
águas rasas, até 17 metros no entorno das Ilhas. De acordo com NYBAKKEN
& BERTNESS (2005) um dos fatores que atua como um dos mais importantes
é a turbulência, ou ação das ondas. Nestas águas rasas a interação de ondas,
correntes e ressurgências criam turbulência, o que dificulta que a coluna de
água se estratifique termicamente, exceto por curtos períodos. Como resultado
os nutrientes são raramente limitados ou presos em depósitos no fundo. A
produtividade é grande devido à abundância de nutrientes provenientes do
93
continente. As ondulações oceânicas e tempestades possuem efeitos que
podem se estender até o fundo nestas áreas rasas, provocando a suspensão
de partículas, que combinada a fragmentos do continente e a alta densidade
planctonica, devido à abundância de nutrientes, podem reduzir a penetração de
luz a apenas alguns metros (NYBAKKEN & BERTNESS, 2005). Na região da
área de estudo, devido ao regime de ventos, as ondas provenientes de leste e
nordeste predominaram durante a maior parte do tempo (SCHETTINI et al.,
1999), portanto a Face voltada para o leste e Nordeste recebe as ondulações
com mais intensidade do que a face voltada o continente (Oeste).
Estudos sobre a influência da exposição das ondas sobre assembléias
de peixes recifais tem demonstrado que o distúrbio físico provocado por ondas
pode ser um dos mecanismos primários no controle da estrutura da população
de peixes recifais (DOLLAR, 1982; GRIGG, 1983). CHAVE & ECKERT (1974),
por exemplo, fizeram estimativas da abundância em diversas zonas de um
recife no Pacífico, concluindo que a arrebentação forte e as correntezas de
maré estão entre os principais fatores que influenciam a distribuição de peixes.
A altura das ondas e o grau de exposição têm demonstrado uma correlação
negativa com diversos aspectos da comunidade de peixes recifais sugerindo
que habitats protegidos da energia das ondas mantêm maiores populações de
peixes, maiores biomassas, com maior riqueza e diversidade de espécies
(FRIEDLANDER & PARRISH, 1998; FRIEDLANDER et al. 2003).
Nas Ilhas Itacolomis a diversidade foi considerada igual para as duas
zonas (faces Leste e Oeste) e a riqueza de espécies foi considerada maior na
face mais exposta as ondas, contrariando o esperado de acordo com os
trabalhos citados acima. No entanto, de acordo com JONES & SYMS (1998) e
94
BROKOVICH et al. (2006) espécies diferentes de peixes respondem de formas
distintas as diferenças do ambiente, e os índices de diversidade não
necessariamente refletem as verdadeiras diferenças para todas as espécies
consideradas.
A associação entre peixes recifais e o habitat físico tem sido
demonstradas por diversos autores: LUCKHURST & LUCKHURST (1978),
CARPENTER et al. (1981), FRIEDLANDER & PARRISH (1998), GRIGG
(1994). Frequentemente o habitat influencia os padrões de distribuição
espacial de organismos e diferentes estruturas, como fendas e buracos, muitas
vezes determinam variações no recrutamento larval e na mortalidade
diferenciada para cada substrato distinto (BARRETO, 1999).
Habitats complexos de ambientes marinhos sustentam maior número de
espécies do que habitats mais simples (BARRETO, 1999). Além da riqueza
específica, estudos apontam para um aumento da diversidade, abundância e
biomassa dos peixes em relação ao aumento da complexidade dos habitats
(GLADFELTER et al.,1980; SEBENS, 1991; LOWE-McCONNELL, 1999;
FRIEDLANDER et al. 2003;
BROKOVICH et al., 2006). De acordo com CHOAT
& BELLWOOD (1991) existe uma relação direta entre estrutura do habitat e
abrigos, sendo mais óbvia em termos de peixes de pequeno porte e de uma
forma geral, a alta diversidade específica é atribuída à maior disponibilidade de
refúgio e outros recursos que reduzem as perdas para os competidores,
predadores e eventos de perturbações físicas (BARRETO, 1999).
Nas Ilhas Itacolomis a análise dos tipos de substrato revelou uma maior
proporção de matacões na face Oeste e de rochas de grande porte ou lages na
face Leste. Em conseqüência desta distribuição desigual de substrato parece
95
haver um maior grau de complexidade topográfica na face Oeste em relação à
face Leste. Tal diferença não se refletiu em diferenças significativas nos valores
de riqueza específica e diversidade entre as duas zonas. No entanto as
diferenças entre as estruturas de peixes nas faces Leste e Oeste são evidentes
e os valores de densidade, biomassa e abundâncias analisadas revelam uma
distribuição desigual entre as duas zonas.
A análise das principais espécies revelou uma maior densidade na zona
mais abrigada e com maior complexidade do fundo (face Oeste) para as
espécies Stegastes fuscus, Chaetodon striatus, Abudefduf saxatilis e
Odontoscion dentex. Quanto à biomassa as espécies Stegastes fuscus e
Chaetodon striatus apresentaram valores significativamente maiores na Face
Oeste. Portanto as espécies citadas apresentam uma distribuição de densidade
e/ou biomassa preferencial, em diferentes graus, pela face Oeste a mais
abrigada e com maior complexidade de habitat. Em contraste, a densidade
média de Diplodus argenteus e Anisotremus virginicus foi significativamente
maior na face mais exposta as ondas e de menor complexidade (Leste) e a
biomassa de Anisotremus virginicus também foi significativamente maior na
face Leste. Demonstrando uma distribuição preferencial pela Face Leste.
Em superfícies rochosas abaixo da linha de maré, a composição das
comunidades é determinada em grande parte pela inclinação e pelo tipo de
rocha (NYBAKKEN & BERTNESS, 2005) geralmente as macroalgas dominam
as áreas horizontais e de inclinação suave, enquanto as faces verticais de
rochas são dominadas por epifauna de invertebrados. De acordo com WITMAN
& COOPER (1983) diversos fatores contribuem para estas diferenças. Um fator
é que as superfícies horizontais possuem maior incidência de luz favorecendo
96
o crescimento de algas. Outro fator é a foto negatividade de larvas de
invertebrados que são, portanto atraídas para as faces verticais que são mais
sombreadas. É muito provável que a distribuição de Stegastes fuscus, maior
densidade e biomassa na face Oeste, esteja relacionada à menor inclinação e
conseqüente ao favorecimento do crescimento de algas. As algas
compreendem em torno de 70% da dieta de Stegastes fuscus e o restante é
composto por invertebrados marinhos como copépodos, esponjas, poliquetas,
além de ovos de peixes, larvas e águas-vivas (MENEZES & FIGUEIREDO,
1985; FERREIRA et al., 1998).
Também existem interações de alimentação envolvendo peixes e a biota
séssil, incluindo algas. Alguns estudos investigaram a relação entre peixes
recifais, e suas presas. Por exemplo, o estudo de HOURIGAN et. al. (1988) em
que na escala de um recife, a distribuição de peixes borboleta generalistas teve
relação com a cobertura total de corais e a distribuição de peixes-borboleta
especialistas teve relação muito próxima com a de suas presas preferenciais.
Nas ilhas Itacolomis a face Oeste apresentou uma proporção significativamente
maior de zoantídeos, de fato tais organismos ocupam uma grande proporção
do fundo nesta zona. É possível que tais organismos tenham influência direta
na distribuição de algumas espécies de peixes recifais. Tais influências devem
ocorrer em conseqüência de disponibilidade de alimento podendo ocorrer de
forma direta, os zoantídeos como fonte de alimento e de forma indireta, através
de invertebrados associados aos zoantídeos ou mesmo limitando a presença
de outros invertebrados ou algas e, portanto limitando a disponibilidade de
alimento.
97
A densidade indica a capacidade do meio ambiente em suportar uma
população em particular e de forma geral os indivíduos são mais numerosos
onde os recursos são mais abundantes (RICKLEFS, 1996). As diferenças na
estrutura do habitat nas faces leste e oeste podem ter levado as diferenças na
distribuição das espécies nas áreas estudadas assim como no número
absoluto de ocorrências. Desta forma, ficou evidente para um padrão claro de
distribuição compreendendo um grupo com com preferência pela face Leste,
um grupo com preferência pela face Oeste e um sem preferência que ocorreu
nas duas faces.
Quanto à distribuição de jovens e adultos em relação às faces Leste e
Oeste, observou-se que os juvenis na maior parte das espécies de peixes
recifais estudados, tendem a ter uma distribuição entre zonas semelhante a
dos adultos corroborando informações de CHOAT & BELLWOOD (1991). No
entanto Abudefduf saxatilis apesar de apresentar valores de abundância
semelhantes para as duas zonas apresentou uma segregação espacial entre
jovens e adultos, sendo que jovens predominaram na face Oeste e adultos
predominaram na face Leste. A espécie Anisotremus virginicus também
apresentou maior proporção de jovens na face Oeste, sendo que a distribuição
de abundância como um todo foi maior na face Leste.
Os padrões de distribuição de densidade, biomassa e abundância
apresentadas no costão rochoso das Ilhas Itacolomis refletem uma distribuição
desigual para as espécies analisadas. As espécies analisadas estão entre as
mais abundantes dos costões rochosos da região sul e os padrões
apresentados devem ser verificados em outras ilhas costeiras da região,
sempre considerando diferenças particulares de cada área de estudo. A
98
distribuição entre jovens e adultos e a compreensão da zonação de peixes nos
ambientes recifais da região sul fornecem embasamento para tomada de
decisões para o manejo e preservação destes ambientes. Com os dados
obtidos foi possível identificar um padrão complexo de distribuição para os
peixes recifais nas Ilhas Itacolomis onde as características físicas do ambiente
parecem ter papel preponderante.
99
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107
_______________________________________________________________
CAPÍTULO III
VARIAÇÕES SAZONAIS NA COMUNIDADE DE PEIXES RECIFAIS DAS
ILHAS ITACOLOMIS SANTA CATARINA, BRASIL
______________________________________________________________
RESUMO
Para que a medidas de conservação em ambientes recifais sejam efetivas é
necessário o conhecimento das variações temporais naturais. Para aqueles
preocupados com o manejo as variações naturais de grande amplitude são
complicações para interpretação de dados e qualquer monitoramento ambiental
deve levar este tipo de variação em consideração. E a análise de distúrbios
provocados pelo homem em ambientes recifais necessita ser avaliada contra
um conhecimento do ambiente e suas variações naturais. Neste capítulo as
variações temporais de densidade e biomassa das principais espécies de
peixes recifais das Ilhas Itacolomis serão analisadas e comparadas
principalmente com as variações de temperatura da água e com a variação da
proporção de indivíduos jovens. Foram realizados 48 mergulhos diurnos
mensalmente no período entre os meses de janeiro de 2005 a janeiro de 2007.
As estimativas de densidade e biomassa foram realizadas através de Censo
visuais Foram percorridas transecções com 25 m de comprimento, a
profundidade média de 8m. Durante cada fase de campo, variáveis ambientais
foram registradas. A menor temperatura da água registrada durante o estudo
foi de 17,35 ºC e ocorreu no mês de setembro de 2005, a maior temperatura
registrada durante o estudo foi de 26,26ºC e ocorreu no Mês de fevereiro de
2006. Foi aplicado o teste de correlação linear de Pearson para
estabelecimento de correlações. Nas ilhas Itacolomis As espécies Odontoscion
dentex e Diplodus argenteus apresentaram uma correlação significativa entre a
variação de densidade e a abundância de jovens. Tal correlação indica que o
ciclo reprodutivo e a conseqüente entrada de coortes de jovens na população é
um dos principais fatores determinantes na variação de densidade das
mesmas. A espécie Abudefduf saxatilis apresentou correlação significativa
entre sua variação de biomassa e a variação de temperatura. E, por fim, as
espécies Stegastes fuscus, Anisotremus virginicus e Chaetodon striatus não
apresentaram correlação significativa entre as variações dos caracteres
analisados.
Palavras-chave: variação temporal, sazonalidade, densidade, biomassa
108
_______________________________________________________________
CHAPTER III
SEASONAL VARIATION OF ITACOLOMIS REEF FISH COMUNITY, SANTA
CATARINA, BRAZIL
______________________________________________________________
ABSTRACT
To accomplish effective conservation measures in reef environments, it’s
necessary to understand the natural temporal variations of the community. For
the people concerned with management of ecosystems, high amplitude
variations can be a complication to interpretation of data, and any
environmental management program must take this kind of variation into
account. And the analysis of human impacts in reef environments needs to be
evaluated against natural temporal variation knowledge. In this work temporal
variations of density and biomass of the most abundant species of Itacolomis
Islands were analyzed and compared with water temperature and young
abundance variations. Forty eight dives were conducted monthly from January
of 2005 to January of 2007. The estimative of density and biomass were made
using visual census technique, utilizing twenty five meters transects at an
average depth of eight meters. During each sample dive, environmental
variables were measured. The lower water temperature registered during the
study was 17,35 ºC in September of 2005 and the higher water temperature
registered was 26,26ºC in February of 2006. it was applied the Pearson
correlation test to establish correlations between the collected data. At
Itacolomis Islands the species Odontoscion dentex and Diplodus argenteus
presented a significant correlation between density variation and young
abundance, indicating that the reproductive cycle and the consequent ingress of
young in the population is a major fact to determinate density variations of this
species. Abudefduf saxatilis showed a significant correlation between biomass
variations and water temperature variation. And the species Stegastes fuscus,
Anisotremus virginicus and Chaetodon striatus presented no significant
correlations between the characters analyzed.
Key words: temporal variations, sazonality, density, biomass
109
INTRODUÇÃO
De acordo com CARVALHO-FILHO et al., (2005) existem no Brasil em
torno de 522 espécies de peixes recifais. Esta ictiofauna particular apresenta
algumas características que as unifica e estas podem ser de natureza
ecológica, associações com o habitat, padrões de distribuição e características
taxonômicas e estruturais, além de apresentar alta diversidade de espécies e
também grande diversidade morfológica (CHOAT & BELLWOOD, 1991). Os
Peixes recifais apresentam interações reprodutivas e ecológicas dependentes
da visão, nadadeiras e músculos adaptados para nadar em ambiente com alta
complexidade estrutural, corpo comprimido lateralmente. Sendo que tais
características estão geralmente associadas à necessidade de sobrevivência
em um ambiente estruturalmente diversificado e com água normalmente clara
(HOSTIM-SILVA et al., 2006).
Segundo LOWE-McCONNELL (1999) as águas mais claras e
geralmente quentes de ambientes recifais oferecem condições ideais para
observações subaquáticas e desde a popularização do mergulho autônomo,
houve um aumento de informações sobre ecologia e comportamento de peixes
de recifes, principalmente de recifes de coral. Por outro lado as ameaças aos
ecossistemas marinhos são cada vez mais discutidas e evidenciadas
(POWLES et al., 2000; JACKSON et al., 2001; ARLINGHAUS et al. 2002;
DULVY et al., 2003; AMARAL & JABLONSKI, 2005; SCHEFFER et al., 2005;
SYVITSKI, et al., 2005; LOTZE et al., 2006). A grande extensão e relativa
inacessibilidade da maior parte dos ambientes marinhos restringem estudos
abrangentes de taxa, e o entendimento dos processos que controlam a
110
diversidade. Isto torna as respostas às causas de perda, e mecanismos de
preservação da biodiversidade, difíceis de serem detectados (SEELIGER et
al.,1998).
Os ambientes recifais, por sua vez, têm sofrido aumento da freqüência,
diversidade, e escala dos impactos causados pelo homem, o que os torna
ameaçados em todo o globo (HUGHES et al. 2003). De acordo com PANDOLFI
et al. (2003) os ecossistemas recifais ao longo de séculos vêem apresentando
declínio de abundância e diversidade devido à sobrepesca e poluição. No
Brasil existe relativamente pouca informação sobre a pesca e a conservação
de peixes recifais, tornando urgente a busca de conhecimento sobre esta
região biogeográfica única (FLOETER et al., 2006).
Para que as medidas de conservação em ambientes recifais sejam
efetivas é necessário o conhecimento das variações temporais naturais. Para
aqueles preocupados com o manejo, as variações naturais de grande
amplitude são complicações para interpretação de dados e qualquer
monitoramento ambiental deve levar este tipo de variação em consideração. E
a análise de distúrbios provocados pelo homem em ambientes recifais
necessita ser avaliada contra um conhecimento do ambiente e suas variações
naturais (CHOAT et al., 1998; SEELIGER et al., 1998).
Os fatores responsáveis por variações temporais no número de peixes
recifais tem sido objeto de muitos debates (STEPHENS et al. 1986; CHOAT et
al., 1998). A magnitude e a periodicidade das mudanças temporais podem
fornecer indícios sobre os mecanismos responsáveis pelas flutuações
numéricas. Portanto devido a sua importância os padrões de variação sazonal
em comunidades de peixes recifais têm sido objetos de estudo de diversos
111
autores (COLES & TARR, 1990; ZAPATA & MORALES, 1997; BARREIROS et
al. 2004).
Neste capítulo as variações temporais de densidade e biomassa das
principais espécies de peixes recifais das Ilhas Itacolomis serão analisadas e
comparadas com as variações de temperatura superficial da água e com a
variação da proporção de indivíduos jovens.
112
MATERIAL E MÉTODOS
Foram realizados 32 mergulhos mensalmente no período diurno entre os
meses de março de 2005 a fevereiro de 2006. As estimativas de densidade e
biomassa foram realizadas através de censos visuais metodologia adaptada de
LABROSSE et al. (2002) (Figura 29). A adaptação foi realizada em relação ao
comprimento da transecção, que na metodologia descrita originalmente é de 50
m enquanto neste trabalho as transecções foram de 25 m. O método utiliza o
conceito de contagem com distância variável, onde o observador registra a
distância perpendicular do peixe em relação à transecção. No caso de
cardumes duas distâncias são registradas: a distância do peixe mais próximo e
a distância do peixe mais afastado em relação à transecção. Este método
possibilita uma boa estimativa de peixes com baixa mobilidade e limita o erro
que ocorre quando peixes de movimento rápido passam através de uma
transecção com distância fixa e acabam o sendo contados. O método
também limita a influência da largura da transecção sobre os resultados
obtidos. Quanto mais larga é a transecção menores são os valores obtidos na
estimativa de densidade, isto ocorre porque quanto mais distante estiver o
peixe, menores são as chances de este ser observado.
Carretilhas foram utilizadas para instalação das transecções. Foram
percorridas 16 transecções com 25 m de comprimento, oito na face Leste e oito
na face Oeste em cada mês.
A profundidade média das transecções foi de 8m. Cada transecção foi
percorrida no tempo dio de 6 minutos. Durante as transecções os peixes
foram: Identificados visualmente, contados (nº de indivíduos para cada
113
espécie), estimada a distância em relação à transecção (Fig 13 do Cap II) e
estimados em tamanho. A calibragem para estimativa de tamanho foi realizada
principalmente utilizando referências (régua). Durante as contagens o
observador trabalhava em seções de aproximadamente 3 metros cada, este
procedimento diminui as chances de se contar o mesmo peixe mais do que
uma vez. Foi estipulada uma visibilidade mínima de 4 metros, medida com
disco de secchi, para que fossem realizadas as observações, visibilidades
menores prejudicariam a capacidade do observador de detectar os peixes.
Todas as observações foram realizadas no período entre 9 horas da manhã e
uma hora da tarde, desconsiderando-se horários de verão, minimizando assim
influências relacionadas ao ciclo diário de atividade dos peixes recifais.
As estimativas de densidade e biomassa foram calculadas baseadas na
distância média ponderada (dm) dos indivíduos em relação à transecção. Para
o cálculo a transecção é dividida em corredores com um metro de largura, o
mais próximo de 0 a 1 metro, o segundo de um a dois metros, etc. Dependendo
da distância perpendicular do peixe em relação a transecção, registrada no
momento da observação o peixe será associado a um destes corredores e a
seu valor médio. Um exemplar registrado a uma distância perpendicular de dois
metros em relação à transecção será associado ao corredor dois a três metros.
O valor de distância usado para cálculo se 2 + 0,5 = 2,5 metros,
correspondendo à média da categoria dois a três metros. A distância média de
uma espécie é dada pela fórmula:
114
Onde p: é o número total de observações (ocorrência) da espécie j (uma
observação pode estar relacionada a vários indivíduos); n
ij:
corresponde ao
número de peixes na observação (ocorrência) i (geralmente i = I, mas podem
ser diferentes em caso de cardumes); dij: distância perpendicular do peixe i em
relação à transecção, no caso de cardumes se torna:
A densidade estimada é obtida pela fórmula:
A estimativa de biomassa é obtida utilizando se as relações de peso e
comprimento de cada espécie:
Onde Wi: é o peso estimado para a espécie i utilizando-se a relação
entre peso e comprimento.
2
21 dd
dij
+
=
=
+
=
nij
dijnij
dmj
p
i 1
)5,0(
dmjL
nij
Dj
p
i
=
=
1
dmjL
Wijnij
Bj
p
j
=
=
1
)(
115
As comparações entre os valores sazonais de densidade e biomassa
para cada espécie foram realizadas através do teste não paramétrico Kruskal-
Wallis, e complementadas pelo teste de comparações múltiplas de Dunn.
Durante cada fase de campo, variáveis ambientais foram registradas em
fichas (Anexo 1). A velocidade do vento foi descrita de acordo com a escala
Beaufort, foram registrados a direção do vento e das ondas, fase da lua e
condição de tempo (sol, parcialmente encoberto, nublado e chuvoso). A
temperatura da água foi registrada através de um computador de mergulho.
A transparência da água foi mensurada utilizando-se um disco de Secchi
com 20 cm de diâmetro alternado em cada quarto com as cores preta e branca.
O disco é baixado através de uma linha calibrada e quando desaparece,
marca-se a sua profundidade. Depois o disco é baixado mais alguns
centímetros e então vagarosamente puxado para cima até reaparecer, a
profundidade em que reaparece é marcada. A média entre estas duas
profundidades equivale à leitura de visibilidade do disco de Secchi (JONES &
REYNOLDS, 1996).
116
RESULTADOS
A menor temperatura da água registrada durante o estudo foi de 17,35
ºC e ocorreu no mês de setembro de 2005, a maior temperatura registrada
durante o estudo foi de 26,26ºC e ocorreu no Mês de fevereiro de 2006. As
médias de temperatura por estações do ano foram de 24,29ºC no outono de
2005, 19,21ºC no inverno de 2005, 19,23ºC na primavera de 2005 e 24,44ºC
no verão 2005/2006. No mês de Janeiro de 2006 foi registrada a termoclina
mais acentuada com uma diferença de 3,13ºC entre a temperatura mínima e a
temperatura máxima registradas durante um mergulho (Figura 29).
Figura 29: Variação de temperatura superficial da água no período de janeiro
de 2005 a março de 2006 nas Ilhas itacolomis, SC.
Dentre as espécies de peixes recifais registrados nas ilhas Itacolomis,
somente as espécies com maior abundância foram utilizadas em uma análise
sazonal da variação de densidade. Abudefduf saxatilis apresentou a maior
densidade média no outono de 2005 (0,136 i/m²) e a menor densidade média
16
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Temperatura ºC
Min.
Média
Max.
117
no inverno de 2005 (0,065 i/m²) (Figura 30). Anisotremus virginicus apresentou
a maior densidade média no verão 2005/2006 (0,043 i/m²) e a menor
densidade média no outono de 2005 (0,026 i/m²) (Figura 31). Chaetodon
striatus apresentou a maior densidade média no verão 2005/2006 (0,042 i/m²) e
a menor densidade média no outono de 2005 (0,026 i/m²) (Figura 32). Diplodus
argenteus apresentou a maior densidade média no verão 2005/2006 (0,084
i/m²) e a menor densidade média na primavera de 2005 (0,018 i/m²) (Figura
33). Odontoscion dentex apresentou a maior densidade média no Outono de
2005 (0,126 i/m²) e a menor densidade média no inverno de 2005 (0,022 i/m²)
(Figura 34). Stegastes fuscus apresentou a maior densidade média no verão de
2005/2006 (0,104 i/m²) e a menor densidade média no inverno de 2005 (0,066
i/m²) (Figura 35).
Figura 30: Densidade média e desvio padrão de Abudefduf saxatilis durante o
período de estudo. Total de mergulhos = 32.
118
Figura 31: Densidade média e desvio padrão de Anisotremus virginicus
durante o período de estudo. Total de mergulhos = 32.
Figura 32: Densidade e desvio padrão de Chaetodon striatus durante o
período de estudo. Total de mergulhos = 32.
119
Figura 33: Densidade média e desvio padrão de Diplodus argenteus durante o
período de estudo. Total de mergulhos = 32.
Figura 34: Densidade média e desvio padrão de Odontoscion dentex durante o
período de estudo. Total de mergulhos = 32.
120
Figura 35: Densidade média e desvio padrão de Stegastes fuscus durante o
período de estudo. Total de mergulhos = 32.
Foi estimada a biomassa média para as principais espécies de peixes
recifais nas ilhas itacolomis. Abudefduf saxatilis apresentou a maior biomassa
média no outono de 2005 (5,713 g/m²) e a menor biomassa média no inverno
de 2005 (1,503 g/m²) (Figura 36). Anisotremus virginicus apresentou a maior
biomassa média na primavera 2005 (8,033 g/m²) e a menor biomassa média no
inverno de 2005 (3,203 g/m²) (Figura 37). Chaetodon striatus apresentou a
maior biomassa média na primavera de 2005 (1,983 g/m²) e a menor biomassa
média no inverno de 2005 (1,336 g/m²) (Figura 38). Diplodus argenteus
apresentou a maior biomassa média inverno de 2005 (8,575 g/m²) e a menor
biomassa média no verão de 2005/2006 (4,934 g/m²) (Figura 39). Odontoscion
dentex apresentou a maior biomassa média no Outono de 2005 (5,799 g/m²) e
a menor biomassa média no inverno de 2005 (2,354 g/m²) (Figura 40).
121
Stegastes fuscus apresentou a maior biomassa média no verão de 2005/2006
(2,067 g/m²) e a menor biomassa média no inverno de 2005 (1,027 g/m²)
(Figura 41).
Figura 36: Média de biomassa e desvio padrão de Abudefduf saxatilis durante
o período de estudo. Total de mergulhos = 32.
Figura 37: Média de biomassa e desvio padrão de Anisotremus virginicus
durante o período de estudo. Total de mergulhos = 32.
122
Figura 38: Média de biomassa e desvio padrão de Chaetodon striatus durante
o período de estudo. Total de mergulhos = 32.
Figura 39: Média de biomassa e desvio padrão de Diplodus argenteus durante
o período de estudo. Total de mergulhos = 32.
123
Figura 40: Média de biomassa e desvio padrão de Odontoscion dentex durante
o período de estudo. Total de mergulhos = 32.
Figura 41: Média de biomassa e desvio padrão de Stegastes fuscus durante o
período de estudo. Total de mergulhos = 32.
Os resultados do teste Kruskal-Wallis para comparação sazonal entre os
valores de densidade e biomassa são apresentados nas Tabelas 8 e 9:
124
Tabela 8: comparação sazonal entre densidades de peixes recifais, valores do
teste Kruskal-Wallis (KW) e valores de p.
* = diferenças significativas
O teste de comparações múltiplas de Dunn para D. argenteus
determinou uma diferença significativa (p<0,05) entre a primavera e o verão.
Tabela 9: comparação sazonal entre biomassas de peixes recifais, valores do
teste Kruskal-Wallis (KW) e valores de p.
* = diferenças significativas
O teste de comparações múltiplas de Dunn para A. saxatilis não
apresentou diferenças significativas entre as estações. A espécie O. dentex
apresentou diferenças significativas entre o outono e o inverno (p<0,01) e entre
o inverno e a primavera (p<0,05). Para os valores de biomassa de S. fuscus
houve diferença significativa (p<0,05) entre o inverno e o verão.
Espécie KW p
A. saxatilis
0,8071 0,8478
A. virginicus
6,391 0,0941
C. striatus
3,235 0,3568
D. argenteus
7,823 0,0498*
O. dentex
3,936 0,2685
S. fuscus
5,404 0,1445
Espécie KW p
A. saxatilis
11,225 0,0106*
A. virginicus
7,512 0,0572
C. striatus
2,146 0,5427
D. argenteus
2,328 0,5072
O. dentex
13,461 0,0037*
S. fuscus
10,686 0,0136*
125
DISCUSSÃO
Um dos objetos fundamentais de estudos ecológicos é explicar
variações temporais no tamanho e distribuição de populações e estruturas de
comunidades (ORNELLAS & COUTINHO, 1998). Padrões de diversidade de
peixes podem ser monitorados acessando e quantificando o grau das variações
temporais de fatores populacionais como a abundância. As reduções
duradouras de abundância podem indicar ameaças à comunidade de peixes
recifais (HUTCHINGS & BAUM, 2005). De acordo com LOWE-McCONNELL
(1999), as populações de peixes de recife o mantidas em estado de não
equilíbrio principalmente por fatores como a predação e pela incerteza das
variações sazonais do recrutamento. Como conseqüência evita-se a
monopolização de recursos por qualquer uma das espécies, contribuindo para
uma alta diversidade dentro do hábitat.
A área do ambiente recifal é um fator determinante para sua
estabilidade. Os fatores causais que afetam o recrutamento parecem mais
importantes para comunidades de peixes em pequenos recifes do que nos
grandes recifes. Estudos sugerem que comunidades de pequenas manchas de
recife são altamente instáveis e que o equilíbrio de espécies persistentes nunca
é alcançado (LOWE-McCONNELL, 1999). Tais ambientes são considerados
mosaicos espaço-temporais, com seus componentes em um contínuo estado
de fluxo e provavelmente com espécies dominantes abaixo de suas
capacidades de sustentação. Por outro lado existe uma diferença de escala e
parece que comunidades estruturadas se desenvolvem em grandes recifes
126
com maior estabilidade (LOWE-McCONNELL, 1999). As ilhas Itacolomis
apresentam pequena área e devem apresentar instabilidade elevada, no
entanto existe a necessidade de um monitoramento por períodos maiores de
tempo. Dentre as espécies analisadas A. saxatilis, D. argenteus, O. dentex e S.
fuscus apresentaram variações significativas de densidade ou biomassa ao
longo do período de estudo enquanto as espécies A. virginicus e C. striatus não
demonstraram variações significativas de densidade e biomassa ao longo das
estações.
As variações temporais no estabelecimento e recrutamento podem ser
uma forte influência na composição da fauna de peixes recifais (CHOAT et al.,
1988). SALE (1977) salientou o papel do acaso nas combinações de espécies
de peixes que têm acesso aos recifes, a partir de vagas que ocorrem
provenientes de um conjunto (assembléia) de espécies que podem ser
ecologicamente similares. E de acordo com COWEN (1985) a presença de
numerosas larvas dispersivas que colonizam o ambiente pelágico é uma fonte
potencial de mudanças numéricas. De fato, muitos pesquisadores têm sugerido
que a estrutura da comunidade de peixes recifais varia consideravelmente
através do tempo, devido à alta variabilidade no recrutamento de larvas
planctônicas (DOHERTY & WILLIAMS, 1988; SALE, 1991; POTTER et al.,
1997; SALE, 2006).
Outro fator citado como fonte de variação temporal é a temperatura.
CHOAT et al. (1988) sugerem que variações da temperatura superficial do mar
podem ter influência sobre as mudanças temporais na fauna de peixes em
ilhas. Estudos de ZAPATA & MORALE (1997) demonstraram um claro padrão
de variação sazonal na riqueza e diversidade de peixes recifais e argumentam
127
que variações temporais da fauna de peixes recifais tem sido frequentemente
relacionados ao aumento do recrutamento durante períodos com temperatura
mais elevada. Diversos estudos relacionam maiores abundâncias de peixes
durante os meses mais quentes, e um decréscimo de abundância com a
diminuição da temperatura (ROSS et al., 1987; GIBSON et al., 1993; CLARK et
al., 1996; GODEFROID et al., 2003).
Outros fatores, não analisados, também podem influenciar variações
temporais de populações de peixes recifais. CONNELL (1978) salientou o
papel das instabilidades locais causadas por eventos imprevisíveis, nas
sucessões dos animais de recifes. As tempestades, por exemplo, são
consideradas como eventos importantes na variação da estrutura de peixes em
recifes e alguns estudos associaram declínios na abundância de espécies de
peixes recifais com tais eventos (EBELING et al., 1985; CHEAL et. al., 2002).
As variações sazonais de abundância e diversidade também podem estar
relacionadas a movimentos de migração sazonais (COLES & TARR, 1990;
ZAPATA & MORALE, 1997). LOWE-McCONNELL (1999) argumenta que existe
um fluxo contínuo de espécies que vão e vêm, e existem muitas evidências de
que membros de assembléias de peixes com hábitos alimentares e outros
requisitos ecológicos semelhantes, espécies de substituição ecológica, podem
ter acesso ao recife.
Neste estudo a espécie O. dentex apresentou menores valores de
biomassa no inverno em relação à primavera e S. fuscus menores valores de
biomassa no inverno em relação ao verão, para as duas espécies as menores
temperaturas durante os meses de inverno devem ter papel preponderante
sobre as variações de biomassa encontradas. A espécie A. saxatilis apresentou
128
variações significativas de biomassa para o teste Kruskal-Wallis, no entanto o
teste de comparações múltiplas de Dunn não determinou diferenças
significativas entre as estações. Houve diferença significativa de densidade
entre a primavera e o verão para a espécie D. argenteus, neste caso fatores
não relacionados à temperatura, como variações no recrutamento devem ser
determinantes.
129
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135
CONCLUSÕES GERAIS
Por todo o mundo as assembléias de peixes recifais fornecem
importantes recursos alimentares para comunidades costeiras (SALE, 2006). O
uso destes recursos em conjunto com outras atividades humanas, está
reduzindo a produtividade destes ambientes e colocando em risco até mesmo
sua sustentabilidade (RUSS, 1991; DALZELL, 1996, WATSON et. al., 1996;
SALE, 2006).
No Brasil a ictiofauna de ambientes recifais é considerada pouco
conhecida e até meados da década de oitenta acreditava-se que fosse pobre e
composta por espécies Caribenhas com ampla distribuição geográfica no
oceano Atlântico Ocidental (MOURA et al., 1999; FLOETER & GASPARINI,
2000; FLOETER et al., 2001). Hoje, se considera que apesar da similaridade
com a ictiofauna do Atlântico Norte Ocidental existe considerável endemismo
para os peixes recifais da costa brasileira (GREENFIELD, 1989; ROCHA &
ROSA, 1999; FLOETER & GASPARINI, 2000). Pouco se sabe também sobre
os impactos humanos sobre os peixes recifais no Brasil (FLOETER et al.,
2006). Neste contexto grande parte dos esforços para produzir informações é
concentrada em ambientes de recife de coral (FERREIRA et al., 2001). O que
enfatiza ainda mais a necessidade de estudos em recifes rochosos.
O Brasil, considerado um dos países com Megadiversidade, ainda luta
para conhecer sua diversidade e ao mesmo tempo possui a responsabilidade
de conservar espécies, ecossistemas naturais e processos biológicos. Sem a
documentação das espécies existentes, os passos seguintes de propor
medidas de conservação não podem ser realizados de maneira eficaz. Portanto
136
a realização de novos inventários é, sem dúvida, uma demanda crítica
(LEWINSOHN & PRADO, 2004).
Este trabalho contribui para o reconhecimento das espécies que
habitam os costões rochosos em ilhas da região sul do país, mais
especificamente na região de Santa Catarina o limite sul de distribuição de
peixes recifais (MOURA et al.,1999; FLOETER et al., 2001). Sendo que
espécies consideradas ameaçadas em diversos níveis foram registradas:
Epinephelus itajara (criticamente ameaçada), Epinephelus marginatus (espécie
ameaçada), Epinephelus niveatus (uma espécie vulnerável) e Aetobatus
narinari (próxima de ameaça) destacando o papel destes promontórios para
conservação das mesmas.
De acordo com WILLIAMS (1991) e MORA et al. (2003) em ambientes
de recife as assembléias de peixes e o ambiente físico e biológico podem variar
de forma acentuada em todas as escalas espaciais e a maneira como os
peixes respondem a tais variações do habitat é uma questão fundamental no
estudo da ecologia de peixes recifais. Sendo que quaisquer generalizações
sobre estratégias de manejo e conservação necessitam levar em consideração
as variações das estruturas populacionais em diversas escalas espaciais
(WILLIAMS, 1991). Foram analisadas neste trabalho variações de aspectos
populacionais como a densidade, biomassa e abundância de jovens das
principais espécies de peixes recifais das Ilhas Itacolomis em duas zonas: face
Oeste (zona mais abrigada das ondas) e face Leste (zona mais exposta à ação
das ondas). Foram encontradas diferenças significativas entre a estrutura das
duas zonas. Na face leste houve predomínio de rochas de tamanhos
significativamente maiores do que na face Oeste. Organismos bentônicos como
137
Zoanthideos predominaram na face Oeste enquanto Octacorallia e Actiniaria
predominaram na face Leste. A rugosidade do substrato foi maior na face
Oeste e a inclinação foi maior na face Leste.
As populações de peixes recifais apresentaram estruturas distintas em
relação a zonas mais expostas e menos expostas das ilhas. Houve diferença
significativa entre as densidades médias nas faces leste e Oeste para todas as
espécies analisadas. As espécies Stegastes fuscus, Anisotremus virginicus e
Chaetodon striatus apresentaram diferenças significativas entre as biomassas
na face leste e Oeste.
Observando as proporções de abundância relativa entre as duas
zonas é possível reconhecer alguns padrões. A proporção de jovens e adultos
nas faces leste e Oeste foram significativamente diferentes para as espécies
Abudefduf saxatilis e Anisotremus virginicus. Em ambas as espécies ocorre
uma segregação ontogenética, os jovens são mais abundantes na face Oeste e
os adultos são mais abundantes na face Leste.
As espécies Odontoscion dentex e Stegastes fuscus apresentam uma
distribuição preferencial de abundâncias na face Oeste. A abundancia relativa
de Diplodus argenteus foi maior na face leste. E Chaetodon striatus não
apresentou diferença de abundância para as duas faces.
Quanto às variações temporais nas ilhas Itacolomis as espécies
Anisotremus virginicus e Chaetodon striatus não apresentaram variações
significativas de densidade e biomassa. Por outro lado à espécie Diplodus
argenteus apresentou diferença significativa entre os valores de densidade da
primavera e do verão. Nas espécies Odontoscion dentex e Stegastes fuscus e
Abudefduf saxatilis ocorreram variações significativas de biomassa.
138
Os padrões descritos neste trabalho devem ser verificados e
reforçados por meio de estudos em áreas diferentes e sendo assim poderão
contribuir para agregar conhecimento sobre ecossistemas recifais brasileiros
fazendo parte do conteúdo necessário para tomada de decisões de manejo em
ilhas costeiras.
139
REFERÊNCIAS
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Fisheries. Polunin, N.V.C. & Roberts, C.M. p. 161-192, 1996.
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936. 2003.
140
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ROCHA, L. A. & ROSA, I. L. New species of Haemulon (Teleostei: Haemulidae)
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Fishes. In: Sale, P.F. The Ecology of Fishes on Coral Reefs. San
Diego, Academic Press, p. 437-474, 1991.
141
ANEXO 1
Data:
Horário de Início do mergulho:
Horário do fim do mergulho:
PERFIL DOS MERGULHOS
1-LOCAL: 2- LOCAL:
1-OBJETIVO: 2-OBJETIVO:
1- MERGULHADORES: 2-MERGULHADORES:
1-Tempo de fundo: 2-Tempo de fundo:
1-Profundidade máxima: 2-Profundidade máxima:
1-Profundidade média: 2-Profundidade média:
PARÂMETROS FÍSICOS
Direção do vento:
Intensidade do vento escala Beaufort:
Estado do Mar:
Direção da ondulação:
Tamanho da ondulação:
Fase da lua:
Transparência da água:
Temperatura da água:
Obs:
Livros Grátis
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