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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Ronaldo Frederico
Criatividade e inovação nas organizações
Uma crítica a literatura do management pela abordagem
político-econômica
MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
SÃO PAULO
2008
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Ronaldo Frederico
Criatividade e inovação nas organizações
Uma crítica a literatura do management pela abordagem
político-econômica
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
como exigência parcial para obtenção do título
de Mestre em Administração pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, sob a
orientação da Professora Dra. Maria Cristina
Sanches Amorim.
SÃO PAULO
2008
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BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
_______________________________________
_______________________________________
A Deus,
por tudo.
Aos meus pais, Matheus e Isolina,
meus exemplos de vida.
Aos meus filhos, Giovana e Henrique,
meu exemplo para a vida.
À Eloiza,
minha vida.
Agradecimentos
Agradeço aos meus pais, Matheus e Isolina, que me mostraram ao longo dos
anos os valores morais que devem reger nossa vida, e a importância do
trabalho e do estudo em nosso aprimoramento como homem.
À Eloiza, que me deu total apoio neste trabalho e em todos os momentos de
nossa vida. Sem ela, jamais teria sequer iniciado esta jornada.
Agradeço aos meus filhos, Giovana e Henrique, pela compreensão em
abdicar da minha atenção por diversas vezes para que este trabalho pudesse
ser concluído.
À Professora Maria Cristina Sanches Amorim, pela paciência na orientação e
por ter acreditado no desafio de transformar minhas idéias iniciais em um
trabalho organizado. Sem ela, não seria possível realizá-lo.
Aos Profs. Drs. Arnaldo José França Mazzei Nogueira e Eleutério Fernando
da Silva Prado pelas valiosas críticas e observações construtivas no momento
da qualificação.
Quero para mim o espírito desta frase,
transformada a forma para a casar com o
que eu sou : Viver não é necessário; o que é
necessário é criar.
Fernando Pessoa
Resumo
Este trabalho tem por objetivo analisar a criatividade e inovação nas
organizações como foco privilegiado do controle sobre a força de trabalho
quando se trata da produtividade do trabalhador não repetitivo. Pretendendo-
se um ensaio teórico e exploratório, a metodologia consistiu na crítica de
parte da bibliografia voltada para o management, segundo a qual, autonomia
e liberdade são bases para a criatividade. Por meio do estudo e revisão
bibliográfica sobre as abordagens históricas da criatividade e alguns trabalhos
existentes sobre inovação, o autor lança mão da literatura schumpeteriana e
marxista e suas interlocuções com Weber, Foucault e Gorz para uma análise
da criatividade e inovação nas empresas capitalistas. A criatividade,
característica da força de trabalho, e a inovação, como resultado da produção
de bens e serviços com valor mercadológico, são imprescindíveis para a
acumulação capitalista. A criatividade é imaterial, não mensurável em termos
de trocas relativas, enquanto que a inovação assume a forma de processos e
produtos. As organizações focam na inovação, definida neste trabalho como
criatividade transformada em forma de mercadoria, e desenvolvem controles
crescentemente intensos, nas intermináveis relações de poder e contra-poder.
Sistemas de recompensa e avaliação por desempenho são exemplos de
métodos para evitar o desperdício de esforços e investimentos nas “linhas” de
inovação. Motivação e prazer, base subjetiva para a cooperação e
produtividade em altos níveis, também são necessários para a apropriação da
criatividade da força de trabalho. Dito de outra forma, a alienação também
conta. Uma pesquisa por amostragem com executivos de alto escalão ilustra
as análises existentes neste trabalho e aproxima a teoria da prática de nossas
empresas. As considerações finais apontam que enquanto aumenta a taxa
de inovação, são ampliados simultaneamente a dominação e a subsunção do
capital sobre o trabalho, a alienação dos ditos “executivos” e o acirramento da
ética individualista, com sérias conseqüências para a sociedade.
Palavras-chave
Criatividade, Inovação, Management, Marx, Economia Política, Crítica.
Abstract
This work aims to examine the creativity and innovation in the capitalist
organizations as the prime focus of control over the workforce when it comes
to non-repeatable worker productivity. Wishing to be a theoretical and
exploratory academic essay, the methodology used was the criticism about
part of the management literature, according to which, autonomy and freedom
are the basis for creativity. Through the bibliography research and review
about historical approach of creativity and some works and existing papers
about innovation, the author makes use of schumpeterian and marxist
literature and with their interlocution with Weber, Foucault and Gorz for the
creativity and innovation analysis in the capitalist corporations. The creativity,
a characteristic of the workforce, and the innovation, as the result of goods
and services production with marketing value, are essential to the capitalist
accumulation. Creativity is immaterial, not measurable in terms of relative
trades, while the innovation assumes the form of processes and products. The
organizations focus on the innovation, defined in this work as creativity
transformed in the form of goods, and develop controls increasingly intense, in
the endless relations of power and counter-power. Performance evaluations
and reward systems are examples of methods to avoid the waste of efforts
and investments in "lines" of innovation. Motivation and pleasure, subjective
basis for cooperation and productivity at high levels, are also required for the
appropriation of the workforce creativity. In other words, the alienation also
counts. A sample research of high-level executives from companies of various
industries illustrates the analyses in this work and brings the theory and
practice together. The final considerations point that while increasing the rate
of innovation, are simultaneously expanded the domination and subsuntion of
labour to the capital, the alienation of such "executives" and the incitement of
individualistic ethics, with serious consequences to the society.
Key words
Creativity, Innovation, Management, Marx, Political Economy, Criticism.
Sumário
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................10
Objetivo da dissertação : problema de pesquisa ............................................................................ 10
Metodologia do trabalho..................................................................................................................... 11
Estrutura da dissertação .................................................................................................................... 11
CAPÍTULO 1 – DIFERENTES ABORDAGENS DA CRIATIVIDADE E DA INOVAÇÃO......17
1.1) Criatividade................................................................................................................................... 17
1.1.1)
Abordagem filosófica histórica....................................................................................................... 17
1.1.2)
Abordagem biológica....................................................................................................................... 19
1.1.3)
Abordagem psicológica................................................................................................................... 19
1.2) Inovação........................................................................................................................................ 23
CAPÍTULO 2 - CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES : A LITERATURA.....
DO MANAGEMENT.............................................................................................................25
CAPÍTULO 3 – INOVAÇÃO : FERRAMENTA PARA ACUMULAÇÃO DE CAPITAL .........34
3.1) Destruição criadora ou criação da destruição......................................................................... 34
3.2) O duplo caráter da inovação...................................................................................................... 44
3.3) Inovação, conhecimento e valor : um novo capitalismo empresarial................................... 52
3.4) Libertação da criatividade ou apropriação do capital............................................................. 57
CAPÍTULO 4 – O PARADOXO DA INOVAÇÃO : FATORES LIMITANTES E .......................
ALAVANCADORES DENTRO DA ORGANIZAÇÃO...........................................................61
4.1)
As ferramentas de controle................................................................................................... 61
4.2)
Poder : Weber, Foucault e Marx............................................................................................ 66
CAPÍTULO 5 – ALIENAÇÃO INDUZIDA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS...............................74
CAPÍTULO 6 – PESQUISA COM EXECUTIVOS DE EMPRESAS NO BRASIL..................86
6.1) Conteúdo da pesquisa................................................................................................................. 87
6.2) Principal objetivo da criatividade e inovação ........................................................................... 90
6.3) Controle da criatividade e inovação : o paradoxo inexistente................................................ 91
6.4) Alienação executiva..................................................................................................................... 92
CONCLUSÃO ......................................................................................................................94
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................98
ANEXOS............................................................................................................................109
10
Introdução
As relações entre criatividade, inovação e desenvolvimento econômico são
intensamente discutidas. De acordo com a literatura do management,
organizações e profissionais são estimulados a criar ambientes propícios à
criatividade, ou à inovação sem, no entanto, mostrar que em nome da
ampliação da lucratividade, principal objetivo das empresas capitalistas,
intensificam os instrumentos de controle sobre o processo, o resultado e a
força de trabalho. Inúmeras e sofisticadas são as formas e técnicas para
evitar o desperdício financeiro e de esforços em criatividade e inovação tendo
como principal métrica o retorno sobre o capital investido. Sistemas de
recompensa e avaliação por desempenho e competência, “balanced
scorecard”, são exemplos das ferramentas utilizadas pelas empresas para a
apropriação da criatividade e inovação da força de trabalho.
Diferenciamos criatividade e inovação: a primeira é geração de idéias, e a
segunda é prática, implementação das idéias. Característica da força de
trabalho, a criatividade é imaterial, subjetiva e intangível. Ao capital não
interessa qualquer criatividade, apenas aquela considerada, no contexto
sócio-econômico, capaz de solucionar problemas relevantes ou criar o novo.
Na incapacidade de subordinar a criatividade, a organização volta-se para seu
resultado, a inovação, considerada como tal quando assume a forma de
mercadoria.
Objetivo da dissertação : problema de pesquisa
O objetivo central desta dissertação é discutir o tema criatividade e
inovação nas organizações com foco na crítica de parte da bibliografia voltada
para o management, segundo a qual autonomia e liberdade são essenciais
para o desenvolvimento e aplicação do tema.
11
Sendo preponderantemente subjetivas, criatividade e inovação o
elementos estratégicos das companhias capitalistas para alcançar os
objetivos de negócios, incluindo o aumento da lucratividade, maior satisfação
dos clientes e vantagem competitiva sobre a concorrência. Para que as
metas corporativas sejam atingidas, desenvolve-se nas empresas um
ambiente controlado, mensurável e com permanente auditoria, utilizando-se
técnicas e ferramentas explícitas além de elementos tácitos, colocando esta
realidade em contradição com a liberdade proposta por parte da literatura do
management analisada neste trabalho.
Metodologia do trabalho
A metodologia consistiu na revisão bibliográfica das abordagens históricas
da criatividade e alguns trabalhos sobre inovação, análise da literatura
schumpeteriana e marxista e suas interlocuções com outros autores como
Weber, Foucault e Gorz, bem como a revisão e análise bibliográfica de alguns
dos principais autores da área de administração de empresas. Também foi
realizada uma pesquisa por amostragem com alguns executivos de alto
escalão de empresas de variados segmentos que ilustra as análises
existentes neste trabalho e aproxima a teoria da prática de nossas empresas.
As considerações resultantes da análise qualitativa e subjetiva e as
contribuições do autor procuram demonstrar ao longo do texto uma análise
crítica da literatura do management no que tange ao tema criatividade e
inovação nas organizações, e fornecer elementos para melhor entendimento
do assunto à luz da economia política.
Estrutura da dissertação
O capítulo 1 expõe as diferenças entre criatividade e inovação. Por meio
da evolução histórica no estudo da criatividade em especial, as abordagens
histórico-filosófica, biológica e psicológica fornecem a dimensão da
complexidade que envolve o tema. A inovação, por sua vez, não apresenta
12
estudos aprofundados na mesma quantidade quando comparado ao tema
criatividade, sendo que a abordagem é realizada, inúmeras vezes,
associando-se o termo a um resultado concreto de uma mercadoria, produto
ou serviço, que possui valor de troca.
O capítulo 2 traz o que parte da literatura do management, representada
por autores renomados e best-sellers, apresenta sobre o tema criatividade e
inovação. Tanto na literatura como na prática empresarial, existe um
problema conceitual sobre criatividade e inovação. Por vezes são tratados
como sinônimos. Em outras ocasiões são abordados com diferencial apenas
semântico.
Por meio de análise sobre a importância e pertinência da criatividade e
inovação nas empresas, veremos se a organização capitalista está
interessada somente em criatividade, em inovação ou ambos, e quais os
principais objetivos e instrumentos utilizados para que uma corporação possa
ser caracterizada como criativa e inovadora.
O capítulo 3 é centrado no processo de acumulação capitalista, em duas
visões: a primeira de Joseph Schumpeter, que basicamente associa o
desenvolvimento econômico à inovação tecnológica, à introdução e difusão
de novas invenções, gerando uma verdadeira mudança estrutural
denominada por este autor como “destruição criativa”, substituindo antigos
hábitos de consumo por novos: é, contudo, o produtor que, via de regra,
inicia a mudança econômica, e os consumidores são por ele ‘educados’; eles
são, por assim dizer, ensinados a desejar novas coisas, ou coisas que
diferem de alguma forma daquelas que têm o hábito de consumir”.
(SCHUMPETER, 1982, p.48).
A segunda visão, de Karl Marx, relaciona a acumulação às instituições que
permitem o exercício do poder pelos capitalistas. Veremos, ao longo do
capítulo 3 que, a flexibilização do trabalho existente em diversas empresas,
13
tendo como ícone precursor a Toyota (de onde derivou o neologismo
toyotismo”), não alterou a forma de acumulação. Para um melhor
entendimento, faz-se necessária a recuperação da distinção marxista feita
entre trabalho concreto e trabalho abstrato : Todo trabalho é, de um lado,
dispêndio de força humana de trabalho, no sentido fisiológico, e nessa
qualidade de trabalho humano igual ou abstrato, cria o valor das
mercadorias. Todo trabalho, por outro lado, é dispêndio de força humana de
trabalho, sob forma especial, para um determinado fim, e, nessa qualidade de
trabalho útil e concreto, produz valores-de-uso(MARX, 2006, p.68). De um
lado temos o caráter útil do trabalho produzindo coisas socialmente úteis
(trabalho concreto). Do outro lado temos a dimensão abstrata do trabalho,
gerando valores de troca no universo da sociedade produtora de bens e
serviços.
Marx chama a atenção para o fato de que os capitalistas utilizam-se de
duas estratégias para ampliar a taxa de lucro : uma vez pago o salário de
mercado pelo uso da força de trabalho, a primeira estratégia, chamada de
mais-valia absoluta, diz respeito à extensão da duração da jornada de
trabalho mantendo o salário constante. A segunda estratégia visa a
ampliação da produtividade física do trabalho através da mecanização, o que
Marx chama de mais-valia relativa. Com esta distinção, Marx abandona a
idéia de David Ricardo do lucro como "resíduo" e verifica a possibilidade dos
capitalistas ampliarem autonomamente suas taxas de lucro sem dependerem
dos custos da simples reprodução física de mão-de-obra. (NAPOLEONI,
2000).
Tanto Schumpeter como Marx tratam a inovação como matéria-prima para
o aumento da acumulação, sendo que Marx foca na produtividade quando
trata da mais-valia relativa.
Em contrapartida a Marx, a análise de André Gorz contida no livro “O
Imaterial” (2005), aponta que criatividade e inovação não podem ser
14
reduzidas a uma quantidade de trabalho abstrato. De acordo com o autor “a
crise da medição do trabalho engendra inevitavelmente a crise da medição do
valor. Quando o tempo socialmente necessário a uma produção se torna
incerto, essa incerteza não pode deixar de repercutir sobre o valor de troca do
que é produzido. O caráter cada vez mais qualitativo, cada vez menos
mensurável do trabalho, põe em crise a pertinência das noções de
“sobretrabalho” e de “sobrevalor”. A crise da medição do valor põe em crise a
definição da essência do valor. Ela põe em crise, por conseqüência, o
sistema das equivalências que regula as trocas comerciais” (GORZ, 2005,
p.30).
À luz destas correntes de pensamento, analisaremos qual o impacto da
imaterialidade, subjetividade e intangibilidade do chamado “capital humano”
na determinação da medida de regulação interna do capitalismo : o valor.
Uma vez que, qualquer empresa capitalista possui como principal objetivo a
acumulação e aumento da lucratividade (mais-valia), torna-se essencial
entendermos os fatores que influenciam a criação de valor.
A acumulação de capital das empresas é perfeitamente aceitável no
sistema econômico em vigor, sendo que os esforços criativo e inovador são
concentrados para o aumento da acumulação e desenvolvem-se em um
ambiente burocrático, controlado e com métricas bem definidas.
O capítulo 4 concentra-se na análise dos fatores limitadores, dentro de
uma organização capitalista, da criatividade e inovação. Analisaremos de que
maneira a abordagem da burocracia feita por Max Weber é utilizada na
estrutura das empresas e como as distorções geradas por uma aplicação
prática simplificada de sua essência afetam o elemento criativo e inovador
destas organizações. O poder, como elemento intrínseco de nossa sociedade,
direciona o escopo no qual criatividade e inovação deverão permanecer para
que o controle existente possa, através de métricas pré-determinadas,
exercer sua influência inibidora e geradora de capital.
15
Para o filósofo francês Michel Foucault o poder é exercido pelos indivíduos
de forma circunstancial não estando centralizado em uma instituição ou no
próprio Estado. Ele emerge das inter-relações sociais, em qualquer nível.
Conforme o autor rigorosamente falando, o poder não existe; existem sim
práticas ou relações de poder. O que significa dizer que o poder é algo que
se exerce, que se efetua, que funciona ” (FOUCAULT, 2005)
1
.
Sendo o poder tão diluído, nesta visão de Foucault, existem diversas
resultantes, positivas e negativas, do seu uso em uma organização capitalista.
A maneira pela qual a empresa está estruturada organizacional e
burocraticamente afeta em algum grau seu nível de criatividade e inovação. A
concentração do poder, em contrapartida a microfísica apresentada por
Foucault, tenta de alguma forma tornar a organização melhor equilibrada pois,
segundo o próprio Foucault, somente a disciplina leva à produção.
A busca do retorno financeiro no curto prazo, levando os executivos a
exercerem, por diversas vezes, atividades meramente operacionais, sem
profundidade de análise e de questionamento será o foco do capítulo 5.
Como em um quadro impressionista de Van Gogh, os executivos preocupam-
se com seu dia-a-dia, enxergando na pintura apenas borrões sem significado.
Incapazes de alterarem o ponto de referência de sua análise, através de uma
visão mais ampla, perdem a referência contextual e não conseguem observar
o quadro de maneira a deleitarem-se com a beleza de sua construção. O
foco no microcosmo das atividades diárias impede que tenham a consciência
do todo organizacional e transferem esta maneira de agir para toda a
empresa, comprometendo paradoxalmente o ambiente criativo e inovador a
que se propõem conceber. Porém, esta atitude é uma conseqüência da
divisão do trabalho e da alienação do trabalhador que, de acordo com Marx,
como homem, está entre outras coisas, alienado de si mesmo, de sua própria
1
O texto em itálico foi retirado da introdução do livro “Microfísica do Poder” de Michel Foucault, feita por
Roberto Machado (2005, p. VII).
16
atividade.
O sexto e último capítulo traz os resultados de uma pesquisa realizada por
amostragem com executivos de alto escalão (diretores, vice-presidentes e
presidentes de empresas) a respeito da maneira como entendem, gerenciam
e trabalham com a criatividade e a inovação nas corporações onde atuam.
Mais do que a própria área de economia, a administração é um locus
privilegiado para entender as transformações do capitalismo. É neste
contexto onde verificamos que a literatura existente do management, bem
como os debates, estão relacionados com o papel da empresa em nossa
sociedade, citando casos de criatividade e inovação em produtos e
processos, os quais contribuíram de forma contundente para o aumento da
lucratividade nestas corporações. Porém, é preciso ressaltar que existe um
objetivo específico em se direcionar (e restringir) o processo de pensar e criar
ao caráter capitalista da sua aplicação.
17
Capítulo 1 – Diferentes abordagens da criatividade e da inovação
De acordo com a etimologia das palavras, o termo criatividade deriva do
latim “creare” que significa criar, inventar, fazer algo novo. a palavra
inovação vem do latim “innovare” que significa tornar novo, mudar ou alterar
as coisas introduzindo-lhes novidades, renovar (PAROLIN, 2001).
A literatura, de uma forma geral, diferencia a criatividade da inovação
como sendo a primeira geração de idéias, através de conceitos, teorias e
processos que se apresentam ao longo da história, e a segunda como a
prática, o fazer, a implementação das idéias geradas pela criatividade.
O estudo de ambas, criatividade e inovação, tem um aspecto
multidisciplinar e recebe contribuições de diversas áreas das ciências
humanas como a filosofia, psicologia, sociologia e administração.
As teorias sobre a criatividade podem ser apresentadas sob um prisma de
diferentes faces : abordagem filosófica-histórica, biológica e por fim
psicológica.
1.1) Criatividade
1.1.1) Abordagem filosófica histórica.
De acordo com Wechsler (1998) podemos dividir cronologicamente as
teorias filosóficas da criatividade :
1.1.1.1) Criatividade como inspiração divina. Wechsler (1998)
menciona que uma das primeiras e mais antigas concepções sobre
criatividade origina-se da crença de que o processo ocorre por
inspiração divina, noção que se deve ao pouco conhecimento existente
18
na época sobre o ser humano, em especial, o pensamento. Assim
sendo, aquilo que não se podia explicar era atribuído aos deuses. Este
mesmo autor cita Platão (428 a.C.) para mostrar que a concepção
vigente era de uma visão diferente e superior, pois se podia sentir e
compreender melhor o mundo quando havia criatividade. Conforme
declarou Platão “o artista, durante sua criação, é agente de um poder
superior, perdendo o controle de si mesmo” (KNELLER, 1978, p.32).
1.1.1.2) Criatividade como forma de intuição. Ao mencionar a
criatividade no século XVI, Wechsler, citando Descartes, indica que a
criatividade também foi concebida como forma de intuição. Com a
proposição do dualismo, sendo corpo e mente nitidamente distintos,
Descartes acreditava que as idéias verdadeiras teriam causas inatas,
intrínsecas ao próprio espírito humano. Assim sendo, o sujeito criativo
teria uma capacidade incontrolável, ou uma capacidade de intuição
cujo dom lhe seria dado. O indivíduo criativo, segundo essa visão
teórica, não é mais percebido como louco; ao contrário, é uma pessoa
saudável com uma capacidade de intuição altamente desenvolvida.
Entretanto, a pessoa criativa continuará ainda sendo vista como
diferente por possuir um dom raro (WECHSLER, 1998).
1.1.1.3) Criatividade como loucura. A espontaneidade do artista,
a irracionalidade, a originalidade de pensamento, a ruptura com
maneiras tradicionais de agir, levam a pessoa criativa a destoar
das regras e dos comportamentos estabelecidos e esperados pela
sociedade, fazendo com que ele seja julgado anormal ou louco: “a
criatividade seria como uma espécie de purgativo emocional que
mantinha mentalmente são os homens” (KNELLER, 1978, p.34).
No século XX, Wechsler (1998) aponta o filósofo francês Michel
Foucault como o grande estudioso deste aspecto “insano” da
criatividade ao demonstrar e explicar que, apesar de diversos
ambientes (como cárceres e manicômios) não apresentarem as
19
“condições adequadas para o exercício da criatividade e inovação”,
ambas se faziam presentes. Podemos citar como exemplos
Graciliano Ramos e Antonio Gramsci que escreveram obras -
primas reclusos na prisão.
1.1.2)
Abordagem biológica.
Esta abordagem é fortemente marcada pela teoria evolucionista de
Darwin, segundo a qual a criatividade humana é inerente à vida. A evolução
orgânica é por si mesma criadora, pois está sempre gerando novas espécies,
sem repetições, precedentes, com inesgotáveis variedades de formas. É uma
força vital (WECHSLER, 1998). O componente principal da criatividade era a
hereditariedade. Para diversos biólogos, não era possível educar uma
pessoa de modo a estimular a criatividade, pois era percebida como algo fora
do controle social, transmitida geneticamente.
1.1.3)
Abordagem psicológica.
Existem diversas teorias nesta abordagem, entre elas a teoria
comportamental, a teoria associativa e a teoria da Gestalt.
1.1.3.1) Teoria Comportamental. Como o próprio nome sugere, a
teoria comportamental ou behaviorista está centrada na
predição e no controle do comportamento. Segundo Sens “a
escola behaviorista de hoje, ainda conserva marcas de seu
antecessor. Para os behavioristas o processo criativo é
decorrente de combinações mentais, isto é, para se encontrar
uma idéia nova a pessoa necessita estabelecer ligações com
idéias armazenadas pelas experiências vivenciadas pela
pessoa. As novas idéias surgem a partir dessas conexões por
um processo de tentativa e erro. A solução ou a idéia original é
encontrada após várias tentativas” (SENS, 1998, p.56). Ou
20
seja, criatividade é o resultado de uma associação com algo
concreto de sua vida.
1.1.3.2) Teoria Associativa. Segundo Wechsler (1998), as raízes
do associacionismo remontam a John Locke, no século XIX,
baseada na visão empirista que percebia as idéias como
derivadas da experiência. “Quanto mais freqüente, recente e
vividamente forem relacionadas duas idéias, mais provável se
torna que, ao apresentar-se uma delas à mente, a outra a
acompanhe” (KNELLER, 1978, p.36), Para solucionar um
problema, o sujeito pensante realiza uma combinação de idéias,
até encontrar um arranjo ou modelo que resolva a situação.
1.1.3.3) Teoria da Gestalt. Nesta abordagem a criatividade é
encarada como a procura de uma solução para uma Gestalt, ou
seja, uma forma incompleta, uma situação problemática, de
desequilíbrio onde é necessário encontrar soluções. De acordo
com o psicólogo tcheco Max Wertheimer (1959) o processo não
consiste em associar informações, mas em compreender a
visão do todo. Esta teoria deu início às pesquisas sobre o
insight, ou seja, aquele momento do processo criativo em que
surge, usualmente de maneira repentina, uma nova idéia ou
solução para um problema. Conforme Sens “(..) o impulso
criativo é justamente essa procura, essa busca do indivíduo por
sua resposta ao problema, que de certo modo, seria inerente ao
indivíduo. O impulso para a criação, para a solução de
problemas inacabados, visa o fechamento da gestalt. O criador
seria alguém sensível à percepção de problemas.” (SENS,
1998, p.58).
1.1.3.4) Teoria Psicanalítica. Freud apud Kneller (1978)
apresenta a criatividade como resultado de um conflito no
21
inconsciente (id) que resulta em um comportamento de criação
ou de neurose. Outros autores colocam a criatividade ligada à
imaginação do indivíduo que, quando criança, produz um mundo
imaginário com o qual interage. Quando adulto, o “sujeito
criativo” comporta-se de maneira semelhante, criando fantasias
sobre uma realidade, a qual despreza, para gerar um mundo
imaginário.
1.1.3.5) Psicologia Humanista. Três representantes da
Psicologia Humanista, Rogers, Maslow e Rollo May, também
realizaram incursões sobre a origem da criatividade e
condições necessárias para a sua expressão. Para eles, a
tendência humana em direção à auto-realização é a força que
move a criatividade. Além disto, consideram indispensável um
ambiente que propicie a liberdade de escolha, o livre arbítrio
para cada indivíduo, não bastando somente o impulso interno
para se auto-realizar. Levam em consideração as motivações
intrínsecas de cada indivíduo e as extrínsecas do meio em que
vivem.
1.1.3.6) Abordagem Cognitiva. Busca conhecer e compreender
os processos cognitivos envolvidos no processo do
comportamento criativo. Diversos autores consideram que a
criatividade se associa a inteligência e à solução de problemas.
Neste contexto, os hemisférios cerebrais atuam de forma
diferente no processo criativo. Segundo Alencar “o que tem
sido proposto é que cada hemisfério cerebral teria sua
especialidade: o esquerdo seria mais eficiente nos processos de
pensamento descrito como verbais, lógicos e analíticos,
enquanto o hemisfério direito seria especializado em padrões de
pensamento que enfatizam a percepção, síntese e o rearranjo
geral de idéias” (ALENCAR, 1993, p.53).
22
Uma das abordagens mais utilizadas no campo cognitivo foi
criada pelo psicólogo norte americano Howard Gardner. Ele
conduziu um grupo de pesquisadores da Universidade de
Harvard no acompanhamento do desempenho profissional de
um grupo de pessoas que, segundo as métricas vigentes, foram
considerados alunos fracos. Surpreendendo-se com os
resultados, questionou a centralidade da inteligência nas
competências lógico-matemáticas e lingüísticas, resultando
assim na Teoria das Inteligências Múltiplas. Esta teoria é uma
explicação da cognição humana através de uma maior
abrangência da inteligência a qual definiu como a capacidade
de resolver problemas ou de elaborar produtos que sejam
valorizados em um ou mais ambientes culturais ou comunitários
(GARDNER, 1995, p.14). Gardner sistematizou sete
inteligências a princípio : lingüística ou verbal, lógico-
matemática, espacial, musical, corporal-cinestésica, interpessoal
e intrapessoal, todas na mesma condição de importância.
A abordagem cognitiva de Gardner é uma das mais utilizadas nas
organizações uma vez que este pesquisador direcionou seus estudos para a
aplicação das múltiplas inteligências dentro dos parâmetros capitalistas, para
a capacidade de criar produtos e solucionar problemas. Porém, sua
efetividade depende dos resultados financeiros obtidos, a saber : redução de
custos/despesas e aumento de receita, pois ambos contribuem para o
aumento da lucratividade. Trata-se da capacidade de criar produtos
“rentáveis” e solucionar problemas que tragam incremento do lucro.
Apesar dos estudos sobre a criatividade e as diferentes abordagens
existentes, a empresa não se preocupa em observar e estudar quais os
fatores que contribuem para desencadear o processo criativo das pessoas. O
ambiente empresarial define quais os objetivos a serem perseguidos e
23
direciona seus esforços para que todas as atividades existentes na
companhia possam colaborar direta ou indiretamente no cumprimento destes
objetivos. Veremos mais adiante que a criatividade nas organizações é
apenas um meio para se alcançar determinados objetivos plenamente
mensuráveis, não importando a qual escola pertença o processo criativo.
1.2) Inovação
A inovação, ao contrário da criatividade, não apresenta estudos históricos
mais aprofundados, baseados em aspectos subjetivos do ser humano e sua
interação com a sociedade e o meio em que vivem. As abordagens sobre
inovação são baseadas, principalmente, no aspecto concreto de seu
resultado, como um novo produto ou serviços bem como o meio utilizado para
produzi-lo (tecnologia, por exemplo).
A chamada Teoria da Inovação foi formulada pelo economista austríaco
Joseph Alois Schumpeter, ao observar que as longas ondas dos ciclos do
desenvolvimento no capitalismo resultam da conjugação ou da combinação
de inovações, que criam um setor líder na economia, ou um novo paradigma,
que passa a impulsionar o crescimento rápido dessa economia
(KLEINKNECHT,1990, p.89).
Segundo Schumpeter O impulso fundamental que inicia e mantém o
movimento da máquina capitalista decorre de novos bens de consumo, dos
novos métodos de produção ou transporte, dos novos mercados, das novas
formas de organização industrial que a empresa capitalista cria (...)
A abertura de novos mercados estrangeiros ou domésticos e o
desenvolvimento organizacional, da oficina artesanal aos conglomerados (...)
ilustram o mesmo processo de mutação industrial (...) que incessantemente
revoluciona a estrutura econômica a partir de dentro, incessantemente
destruindo a velha, incessantemente criando uma nova. Esse processo de
24
Destruição Criativa
1
é o fato essencial do capitalismo. É nisso que consiste o
capitalismo e é que têm de viver todas as empresas capitalistas
(SCHUMPETER, 1984, p.112).
Por diversas vezes, os termos criatividade e inovação são utilizados como
sinônimos, confundindo-se mutuamente no universo empresarial capitalista e
sua aplicação nas organizações é limitada pelo contexto corporativo,
propositalmente construído, para que se possa ter total controle sobre seus
resultados e, desta forma, extrair o máximo proveito dos esforços criativos e
inovadores para que o principal objetivo empresarial seja atingido : o lucro.
1
Grifo do autor
25
Capítulo 2 - Criatividade e inovação nas organizações : a literatura
do management
Os estudos sobre a criatividade e inovação na área das organizações são
relativamente recentes. Muitos deles procuram enquadrar na área
organizacional as teorias e pesquisas existentes nos campos das artes,
psicologia, educação, história, ciência, entre outros.
Inúmeros são os livros e artigos na área do management que tratam do
tema criatividade e inovação. Profissionais de todas as origens e
especialidades tornam-se parte do universo da administração, sejam por meio
de palestras, workshops, publicações ou pesquisas. Médicos, advogados,
jornalistas, psicólogos, esportistas, entre outros, falam e escrevem sobre
criatividade e inovação aplicadas às organizações com a propriedade de
quem mostra, a cada nova edição ou apresentação pública, o caminho da
terra prometida, um novo horizonte que nos levará a uma vida profissional e
pessoal muito melhor.
A literatura sobre criatividade e inovação aplicada às organizações tem
basicamente foco em três dimensões : 1) as características das pessoas
altamente criativas e inovadoras; 2) o ambiente favorável à expressão da
criatividade e inovação; 3) as habilidades cognitivas do pensamento criativo e
inovador. Todas as três dimensões possuem uma abordagem
sóciointeracionista da criatividade, a qual inclui as seguintes condições para
que o processo criativo ocorra : a pessoa que cria, as relações interpessoais,
o ambiente organizacional e as relações do sujeito criativo com a organização
(Parolin, 2001).
Um exemplo desta abordagem é o livro “O Processo da Criatividade”
(2000) da autora Eunice Soriano de Alencar, que enfatiza a criatividade como
sendo inerente ao indivíduo e suas habilidades criativas passíveis de estímulo
26
e desenvolvimento através de treino. Sugere ainda que as organizações
desenvolvam um ambiente favorável à criatividade, inclusive com políticas de
incentivo além da valorização do profissional como ser humano e confiança
nas competências individuais.
Além de vasta, a bibliografia sobre o tema criatividade e inovação aplicada
às organizações é também ampla, desde uma abordagem atitudinal até
relatos de experiência prática sobre possíveis erros e acertos em empresas,
por meio de modelos de processos criativos.
Podemos dividir a literatura sobre criatividade e inovação nas empresas
em três tipos básicos :
1) Baseada em casos reais. A partir de uma análise empírica de
fatos que ocorreram em diversos casos, os autores constroem
modelos que se sustentam por meio dos resultados obtidos nas
empresas, conceituando-os como certos e errados. Verifica-se
o contexto em que os resultados foram obtidos e busca-se
extrair quais as razões que levaram ao sucesso ou ao
insucesso. Podemos citar os seguintes livros como parte deste
grupo :
- CHESBROUGH, Henry W. Open Innovation. Boston:
Harvard Business School Press, 2003;
- CHRISTENSEN, Clayton M. O Crescimento pela
Inovação. Rio de Janeiro: Campus, 2003;
- KANTER, Rosabeth Moss; KAO, John; WIERSEMA,
Fred. Inovação: pensamento inovador na 3M, DuPont,
GE, Pfizer e Rubbermaid. São Paulo: Negócio Editora,
27
1998;
- KELLEY, Tom; LITTMAN, Jonathan. As 10 Faces da
Inovação: Estratégias para Turbinar a Criatividade. Rio
de Janeiro: Campus, 2007;
- ROBINSON, Alan G.; STERN, Sam. Corporate
Creativity: how innovation and improvement actually
happen. San Francisco: Berret-Koehler Publishers.
1997;
- TAFFINDER, Paul. Big Change : A Route-Map for
Corporate Transformation. Londres: John Wiley &
Sons, 1998.
2) Baseada em Teorias Médicas Neurológicas e da Psicologia.
Uma vez que criatividade e inovação são fenômenos inerentes
ao ser humano, aplicam-se as diversas teorias da neurologia e
da psicologia para melhor entender e conceituar o tema. Alguns
autores abordam primeiro a psicologia aplicada à organização
para depois inserir a criatividade e inovação no contexto. Como
parte deste grupo, podemos citar :
- ALENCAR, Eunice M. L. Soriano. Criatividade. Brasília:
EdUnB, 1993;
- GARDNER, Howard. A Nova Ciência da Mente. São
Paulo: Edusp, 2003;
28
- GARDNER, Howard. Mentes que Criam. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1996.
- LAND, George; JARMAN, Beth. Ponto de Ruptura e
Transformação. São Paulo: Cultrix, 1992;
- MAY, Rollo. A Coragem de Criar. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1982.
3)
Baseada em processos e procedimentos. Conceitua-se
criatividade e inovação como algo tácito, possível de se
aprender e ensinar, sendo gerado uma rie de processos os
quais consistem de diversos passos para se obter os resultados
esperados. Criam-se fórmulas para sua aplicação prática.
Como exemplo, temos :
- AYAN, Jordan. AHA! - 10 Maneiras de Libertar Seu
Espírito Criativo e Encontrar Grandes Idéias. São Paulo:
Negócio, 2001;
- CLEGG, Brian; BIRCH, Paul. Criatividade: modelos e
técnicas para geração de idéias e inovação em
mercados altamente competitivos. São Paulo: Makron
Books, 2000;
- DRUCKER, Peter. Inovação e Espírito Empreendedor
(entrepreneurship) : prática e princípios. São Paulo :
Pioneira, 1987.
- PREDEBON, José. Criatividade Hoje. 3ª ed. São Paulo :
Atlas, 2003;
29
- SENGE, Peter M. A quinta disciplina: arte e prática da
organização que aprende. São Paulo: Best Seller, 2003.
O best-seller “As 10 Faces da Inovação” (2007) dos autores Tom Kelley e
Jonathan Littman, apresenta as estratégias utilizadas por sua empresa de
design, a IDEO, localizada em Palo Alto (EUA), para estimular o pensamento
criativo através da construção de 10 diferentes personagens rotulados como
“o antropólogo”, “o saltador de obstáculos”, entre outros. Por meio de
exemplos práticos, as diversas situações envolvendo várias empresas são
apresentadas individualmente, de forma específica, e assumem a forma dos
personagens criados passando a ser um modelo de solução para o contexto
global, em um processo simples de indução. A abordagem dos autores
possui como fio condutor o aumento da receita e da lucratividade como
métricas de sucesso do processo criativo, sendo um exemplo dentro do
contexto de casos reais.
Porém, o ponto crucial da abordagem utilizada no livro “As 10 Faces da
Inovação”, é apresentada por um dos autores, Tom Kelley, em uma entrevista
realizada em 2001 para a revista Executive Digest : “este livro é para
desmistificar o processo criativo. Não falamos de meia zia de geniozinhos.
Falamos de inovação coletiva. É uma ferramenta de gestão”. Ou seja,
apesar da característica sóciointeracionista da criatividade e inovação
existente nas organizações, utilizando as dimensões de individualidade das
pessoas, ambiente favorável e habilidades cognitivas como uma cnica
direcionada para a gestão, demonstra que as abordagens da criatividade e
inovação apresentadas, desde a filosófica histórica até a psicológica, são
pouco aplicadas nas empresas e, quando isto ocorre, apenas partes de cada
uma são incorporadas na empresa, formando uma espécie de colcha de
retalhos, com o propósito específico de aumento da lucratividade. Sendo
uma ferramenta de gestão, é necessário que os objetivos estejam claramente
30
definidos, bem como as métricas. Como identificar se uma idéia ou atitude é
mais criativa do que outra ? Como saber se um indivíduo é mais inovador
que seu colega ? As respostas dadas pelas organizações a estes
questionamentos partem sempre do princípio da definição de objetivos e
métricas quantitativas e, preferencialmente, financeiras.
O famoso mestre da administração, Peter Drucker, no livro “Inovação e
Espírito Empreendedor”, apresenta uma visão sobre processos existentes em
diversas empresas que, baseados em suas experiências e observação de
casos reais podem ser desenvolvidos e constantemente melhorados para se
obter o máximo do que chama de “fontes de oportunidades inovadoras”. De
acordo com Drucker, A inovação é o instrumento específico dos
empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como uma
oportunidade para um negócio diferente ou um serviço diferente. Ela pode
bem ser apresentada como uma disciplina, ser apreendida e ser praticada.
Os empreendedores precisam buscar, com propósito deliberado, as fontes de
inovação, as mudanças e seus sintomas que indicam oportunidades para que
uma inovação tenha êxito. Os empreendedores criam algo novo, algo
diferente; eles mudam ou transformam valores”. (DRUCKER, 1987, p.39).
Estas fontes ou princípios da inovação são enumerados pelo autor como,
entre outros, o inesperado, as incongruências, mudanças demográficas,
percepção, conhecimento novo, idéia brilhante.
As conclusões são obtidas por Drucker após uma análise superficial dos
objetos que compõem suas observações. Os inúmeros casos reais que cita
durante as passagens do livro, demonstram um foco no resultado obtido e
não nas conseqüências mais amplas (fundamentalmente não indicam um
método). Por exemplo, o número de patentes é uma informação importante
para Drucker na análise das oportunidades de inovação, independentemente
de quais os benefícios (ou malefícios) estas patentes possam socialmente
trazer. A propósito deste assunto, Drucker é bastante enfático em sua teoria :
“Os empreendedores inovam. A inovação é o instrumento específico do
31
espírito empreendedor. É o ato que contempla os recursos com a nova
capacidade de criar riqueza. A inovação, de fato, cria um recurso. Não existe
algo chamado de “recurso” até que o homem encontre um uso para alguma
coisa na natureza e assim o dote de valor econômico. Aentão, cada planta
é uma erva qualquer e cada mineral apenas uma outra rocha” (DRUCKER,
1987, p.39). E segue em sua análise:“.... O mesmo é verdadeiro para as
esferas social e econômica. Não existe maior recurso em uma economia do
que o “poder aquisitivo”. E o poder aquisitivo é criação do empreendedor
inovador” (DRUCKER, 1987, p.40).
Portanto, apesar da abordagem de Drucker ser capitalista, parece-me que
o autor se olvida (ou desconhece) de que o sociometabolismo do capital, por
sua natureza, concentra e acumula a geração de riqueza, exclui milhões de
pessoas do processo, não podendo ser então, o poder aquisitivo considerado
o maior recurso para a esfera social, como afirma Drucker.
Mais uma demonstração da conexão entre criatividade, inovação e
resultados financeiros da organização é o termo inovatividade. Criado nos
anos 90, o termo alia a competência em inovação à capacidade produtiva da
empresa verificando em que medida uma empresa é mais inovadora em
comparação com outras. (BONELLI; FLEURY; FRITSCH, 1994). Essa
medição é feita por meio de indicadores, tais como novos produtos lançados
por uma empresa em um determinado período, participação de mercado
destes produtos, além da redução de custos, principalmente em processos,
feita pela organização.
Desta forma, verificamos que, por inúmeras vezes, os termos criatividade
e inovação são utilizados pelas organizações como tendo um único
significado : o processo criativo através do qual a pessoa gera um produto ou
serviço de reconhecível valor econômico para a empresa.
32
Howard Gardner, em estudos sobre as inteligências múltiplas, apresenta a
inovação como produto da criatividade, sendo a última matéria-prima
necessária para que a inovação possa existir.
O americano Peter Senge, autor de diversos livros, entre eles “A Quinta
Disciplina”, baseia sua teoria no processo constante de inovação nas
empresas. Segundo ele, “a raiz da inovação está na teoria e nos métodos,
não na prática. Absorver as melhores práticas, como tem estado na moda,
não gera aprendizagem real. A organização que aprende não é uma máquina
de “clonagem” das melhores práticas de outros. As cinco disciplinas são hoje
fundamentais para enfrentar tempos de crise” (SENGE, 1998). Senge
compreende que a empresa deve trabalhar como um organismo pensante,
com processos e métodos bem definidos para que os objetivos sejam
atingidos. Não é suficiente ter apenas algumas “cabeças pensantes” e copiar
modelos de sucessos de outras empresas. que se construir uma
metodologia empresarial que canalize os esforços da companhia, de acordo
com suas características, para o seu sucesso (maximização do lucro).
Desta forma, podemos afirmar que as empresas estão interessadas na
criatividade ou na inovação ? Ou em ambas ? Os diversos esforços e ações
existentes nas empresas levam em consideração todas as teorias
apresentadas anteriormente ? Qual o principal objetivo da criatividade e
inovação nas organizações ?
Tendo por base a literatura examinada, assume-se, nos limites deste
trabalho, que as respostas para as questões acima encontram-se na definição
de que inovação é a criatividade transformada em forma de mercadoria
1
, algo
que possa ser trocado, comercializado. Dentro do sistema capitalista, o
principal objetivo das organizações é maximizar o lucro. Portanto, a utilização
da criatividade e inovação deve servir a este objetivo e, assim sendo, o foco é
na inovação que gera valor de troca para a empresa.
33
Temos assim, além das abordagens anteriormente mencionadas, um
estreito relacionamento entre criatividade e inovação nas organizações com a
economia política, em especial a teoria do valor e da acumulação de capital
de Karl Marx e do desenvolvimento econômico de Joseph Schumpeter. O
próximo capítulo aprofunda este estudo e o entrelaçamento dos interesses
organizacionais em um contexto capitalista e a abordagem político-econômica
da criatividade e inovação.
1
Grifo do autor.
34
Capítulo 3 – Inovação : ferramenta para acumulação de capital
3.1) Destruição criadora ou criação da destruição
Não é recente o uso da inovação como ferramenta para o aumento da
acumulação de capital e lucratividade das empresas. Schumpeter (1982)
cunhou o termo “destruição criadora” utilizando-o juntamente com o conceito
de ciclo econômico, para explicar o capitalismo e o próprio desenvolvimento
econômico.
Schumpeter demonstrou que a razão para que a economia saia de um
estado de equilíbrio e entre em um processo de expansão é o aparecimento
de alguma inovação, a qual pode surgir como um novo bem, características
adicionais a este bem, novos hábitos de consumo, novo método de produção,
abertura de mercados, entre outros. Ou seja, “novas combinações” de meios
produtivos as quais são iniciadas por parte do capitalista (produtor) que
procura ensinar os consumidores (atuais e novos) a desejar novas coisas e
mudar hábitos de consumo (SCHUMPETER, 1982).
Segundo Schumpeter, os ciclos econômicos - períodos de crescimento,
prosperidade e recessão econômica existentes no processo de
desenvolvimento capitalista - não são resultados do aumento da população,
renda ou riqueza. Rubens Vaz da Costa, na introdução do livro Teoria do
Desenvolvimento Econômico”, explica : Schumpeter relaciona os períodos de
prosperidade ao fato de que o empreendedor inovador, ao criar novos
produtos, é imitado por um verdadeiro “enxame” de empreendedores não
inovadores que investem recursos para produzir e imitar os bens criados pelo
empresário inovador. Conseqüentemente, uma onda de investimentos de
capital ativa a economia, gerando a prosperidade e o aumento do nível de
emprego” (SCHUMPETER, 1982, p.XIV).
35
Conforme estas inovações ou modificações vão sendo absorvidas pelo
mercado, generalizando o consumo, tem início um processo recessivo na
economia, com a diminuição da taxa de crescimento e redução dos
investimentos. Isto permanecerá até que uma “nova combinação” de um
empreendedor inovador ocorra, dando início a um novo ciclo. Temos assim a
relação entre inovação, empreendedorismo e desenvolvimento econômico.
A acumulação de capital e a obtenção de lucros são dois fatores cruciais
no capitalismo e em seu processo de desenvolvimento. Ambos são parte de
um ciclo interdependente no qual acumula-se capital para aumentar a taxa de
lucros e reinvestem-se os lucros para aumentar o capital acumulado.
Na teoria de Schumpeter, o capitalista inovador (empresário) e a inovação
são fatores que modificam o “fluxo circular” liberando a economia de um
estado estacionário para iniciar um ciclo de desenvolvimento. Com isto o
capitalista inovador pode investir os lucros auferidos e acumulados em termos
de capital para gerar novas combinações de fatores e tornar-se
empreendedor (SCHUMPETER, 1982).
Entretanto, a visão de Schumpeter, coloca o capitalista (no caso o
empresário ou empreendedor) como uma espécie de herói ou um ser
diferenciado que, com sua capacidade de visão, liderança espírito inovador
investe não para sua própria sobrevivência, mas por características de sua
personalidade e necessidades psicológicas.
Schumpeter foi muito influenciado em sua formação científica pela obra do
economista francês Léon Walras. Não obstante, as idéias de Karl Marx
também tiveram grande importância em seu desenvolvimento intelectual.
Uma destas influências de Marx foi a observação e possível ocorrência do
declínio das oportunidades de investimento que ocasionariam a asfixia do
capitalismo : “... segundo Marx, o capitalismo, antes de seu colapso efetivo,
entraria numa fase de crise permanente, interrompido temporariamente por
36
débeis melhoras ou por circunstâncias casuais favoráveis. E isso não é tudo :
um modo de colocar a questão do ponto de vista marxista consiste em pôr o
acento sobre os efeitos da acumulação e da concentração do capital sobre a
taxa de lucro, sobre as oportunidades de investimento. que o processo
capitalista sempre se baseou numa ampla massa de investimentos correntes,
uma eliminação dos mesmos, ainda que parcial, bastaria para tornar plausível
a previsão de que o processo corre o risco de estancar.” (SCHUMPETER,
1984, p.142).
A teoria Schumpeteriana é baseada no lucro e nos reinvestimentos de
parte dos lucros (ou por meio do acesso ao crédito) e têm como cerne a
inovação como elemento motriz que rompe com uma situação de estagnação
econômica que denominou “fluxo circular”. Vemos assim que o uso da
inovação para o capitalismo e, o conseqüente acúmulo de capital para as
organizações, há muito vem sendo estudado e aplicado em nossa sociedade.
Peter Drucker também nos oferece contribuição na mesma linha de
pensamento de Schumpeter : A inovação e o espírito empreendedor o
portanto necessários na sociedade tanto quanto na economia; na instituição
de serviço público tanto quanto em empresas privadas. E precisamente
porque a inovação e o empreendimento não constituem algo radical, mas um
passo de cada vez, um produto aqui, uma diretriz lá, um serviço público acolá;
são enfocados nesta oportunidade e naquela necessidade; o empreendimento
é pragmático e não dogmático, e se propõe manter qualquer sociedade,
economia, indústria, serviços públicos, ou empresas, flexíveis e auto-
renovadoras. O espírito empreendedor e a inovação realizam o que Jefferson
esperava realizar por meio de uma revolução em cada geração, e eles fazem
isso sem derramamento de sangue, guerra civil, ou campos de concentração,
sem catástrofe econômica, deliberadamente, com direcionamento, e sob
controle.” (DRUCKER, 1987, p.349). Infelizmente, sabemos que não
necessariamente as inovações na sociedade são realizadas sem guerras ou
sem sofrimento maior para determinados povos ou comunidades.
37
Uma outra abordagem sobre o aspecto da inovação como ferramenta para
acumulação de capital é feita por Karl Marx. Para melhor entender os
conceitos e idéias de Marx sobre a relevância e características da inovação
na economia e nas organizações, faz-se necessária uma explanação mais
detalhada sobre alguns de seus conceitos mais importantes: o de trabalho
concreto e abstrato, valor e mais-valia.
Em sua concepção de mundo, Marx (e Engels) adotou a filosofia dialética
de Hegel como a melhor e mais vasta doutrina do desenvolvimento. A idéia
básica parte do princípio que o mundo não é um conjunto de coisas
acabadas, as quais, aparentemente estáveis, passam por um processo
constante de modificações e transformações, assim como nosso
entendimento (conceitos) destas coisas. Refere-se a um movimento
ininterrupto de auto-dinamismo dentro do sistema. Conforme escreve Engels
para a dialética não nada de definitivo, de absoluto, de sagrado;
apresenta a caducidade de todas as coisas e em todas as coisas e, para ela,
nada existe além do processo ininterrupto do devir e do transitório" (ENGELS
apud POLITZER, 1979, p.200).
A dialética de Marx é materialista. Para ele, a importância é dada à
matéria porque o universo e as idéias estão em constante mutação, mas são
as coisas que nos dão as idéias, ou seja, as idéias modificam-se porque as
coisas se modificam. Conforme escreve Marx para Hegel o processo do
pensamento - que ele transforma em sujeito autônomo sob o nome de idéia
é o criador do real, e o real é apenas sua manifestação externa. Para mim, ao
contrário, o ideal não é mais do que o material transposto para a cabeça do
ser humano e por ela interpretado" (MARX, 2006, p.28).
Marx procurou analisar o movimento da sociedade moderna através do
materialismo histórico-dialético. Como se o relacionamento do homem
com as coisas, com a natureza através da explicação da história das
38
sociedades pelos fatos materiais. Conforme descreve Marx “as relações
sociais são inteiramente interligadas às forças produtivas. Adquirindo novas
forças produtivas, os homens modificam o seu modo de produção, a maneira
de ganhar a vida, modificam todas as relações sociais. O moinho a braço vos
dará a sociedade com o suserano; o moinho a vapor, a sociedade com o
capitalismo industria” (MARX, 1977, p.30). Entre as forças produtivas,
encontramos a teoria do valor-trabalho, um dos pilares de sua principal obra
“O Capital”.
Marx iniciou as considerações em “O Capital” pela mercadoria. Segundo
ele a riqueza das sociedades onde rege a produção capitalista configura-se
em imensa acumulação de mercadorias, e a mercadoria, isoladamente
considerada, é a forma elementar dessa riqueza (MARX, 2006, p.57) e
percebeu que a mercadoria é algo (um objeto, por exemplo) que possui duplo
valor : o valor de uso e o valor de troca. O valor de uso refere-se à utilidade
da mercadoria, tornando-a um bem. O valor de troca (ou simplesmente valor)
é a proporção, a relação quantitativa na troca de valores de uso de diferentes
espécies (MARX apud ANTUNES, 2005). Porém, como podemos determinar
o valor de uma mercadoria ? Como se regulam as proporções em que as
mercadorias são trocadas por outras ? Uma vez que estas proporções variam
ao infinito, por exemplo, um quilo de milho pode ser trocado por diferentes
mercadorias em uma série praticamente infinita de possibilidades. O que
então de comum nestas coisas diferentes que diariamente tornamos
equivalentes em um determinado sistema social ? É o trabalho. Todas são
produtos do trabalho. Para produzir uma mercadoria, deve-se investir nela
ou a ela incorporar uma determinada quantidade de trabalho. E não
simplesmente trabalho, mas trabalho social. Aquele que produz um objeto
para seu uso pessoal e direto, para seu consume, produz um produto, mas
não uma mercadoria(MARX, 2002, p.13). Uma mercadoria tem valor porque
é uma cristalização de um trabalho social e tem de estar subordinado à
divisão do trabalho dentro da sociedade. Desta forma, os valores relativos
das mercadorias são determinados pelas correspondentes quantidades ou
39
somas de trabalho investidas, realizadas, incorporadas nelas(MARX, 2002,
p.14).
Marx não se refere ao trabalho como um tipo específico e concreto, por
exemplo, a manufatura de uma peça. Para encontrar a medida de valor do
trabalho contido em uma mercadoria, devemos abstrair o trabalho de sua
forma concreta : “...um valor de uso ou um bem possui valor, apenas, porque
nele está objetivado ou materializado trabalho humano abstrato (MARX,
2006, p.60).
O que um trabalhador vende ao capitalista o é propriamente o seu
“trabalho” mas sua “força de trabalho”. O capitalista compra esta força de
trabalho pelo seu valor que, de acordo com Marx, é determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessário para a sua produção (ou seja, pelo custo
da manutenção do trabalhador e da sua família). Mas o valor da força de
trabalho é completamente diferente do “uso da mesma. Por exemplo,
durante o tempo de trabalho “necessário”, digamos seis horas, o trabalhador
cria um produto e recompõe o seu salário. Porém, o capitalista, tendo
comprado a força de trabalho, adquire o direito de usar a força de trabalho
durante todo o dia, por exemplo, 12 horas. A estas seis horas adicionais
(suplementares) Marx chama de “horas de sobretrabalho”, sendo que este se
traduzirá em um “sobreproduto” e uma ‘mais-valia” não retribuído pelo
capitalista ao trabalhador.
Outra forma de entendermos a mais-valia é através da transformação do
dinheiro em capital. A rmula da circulação de mercadorias é : M
(mercadoria) D (dinheiro) M (mercadoria), ou seja, a comercialização de
uma mercadoria para a compra de outra. Em um determinado momento do
desenvolvimento da produção de mercadorias, o dinheiro se transforma em
capital, onde a fórmula é dada por D (dinheiro) M (mercadoria) D
(dinheiro), ou seja, compra para a venda objetivando-se o lucro. É exatamente
40
a este acréscimo do valor inicial do dinheiro colocado em circulação que Marx
chama de mais-valia.
O aumento da mais-valia é possível graças a dois processos
fundamentais: o prolongamento da jornada de trabalho, chamada por Marx de
"mais-valia absoluta" e à redução do tempo de trabalho necessário
denominada "mais-valia relativa".
A acumulação do capital na visão de Marx é claramente definida : "A
expropriação dos produtores diretos faz-se com o vandalismo mais impiedoso
e sob a pressão das paixões mais infames, mais ignóbeis, mesquinhas e
odiosas. A propriedade privada, ganha como trabalho pessoal (do camponês
e do artesão), e que o indivíduo livre criou, identificando-se de certo modo
com os instrumentos e as condições do seu trabalho, é substituída pela
propriedade privada capitalista que assenta na exploração do trabalho de
outrem, o qual não tem mais que uma aparência de liberdade” (MARX, 2005,
p.875).
Para Marx, um dos principais problemas da acumulação de capital está
em se acreditar piamente que existe uma conexão mútua entre acumulação e
divisão do trabalho, onde somente a propriedade privada possibilita uma
divisão do trabalho economicamente compensadora (MÉSZÁROS, 2002).
Conforme descreve Marx : O que se trata agora de expropriar não é o
operário que explora ele próprio a sua própria propriedade, mas o capitalista
que explora numerosos operários. Esta expropriação efetua-se pelo jogo das
leis imanentes da própria produção capitalista, pela centralização dos capitais.
Cada capitalista mata muitos outros. E paralelamente a esta centralização,
isto é, à expropriação de muitos capitalistas por alguns, desenvolve-se, numa
escala cada vez maior e mais ampla, a forma cooperativa do processo de
trabalho, desenvolve-se a aplicação técnica consciente da ciência, a
exploração sistemática do solo, a transformação dos meios de trabalho em
41
meios que não podem ser utilizados senão em comum, a economia de todos
os meios de produção pela sua utilização como meios de produção de um
trabalho social combinado, a incorporação de todos os povos na rede do
mercado mundial e, por conseguinte, o caráter internacional do regime
capitalista." (MARX, 2005, p.876).
Retomando a definição de que “inovação é a criatividade transformada
em forma de mercadoria”, podemos aplicar os conceitos marxistas e
schumpeterianos para analisar de forma mais abrangente ambos os
fenômenos.
Conforme Schumpeter, a inovação é o cerne do desenvolvimento
econômico e possui como fim a busca pelo capitalista (o empreendedor com
acesso ao capital) de novas combinações de recursos (mais abrangentes que
somente os meios produtivos) para que um novo mercado seja desenvolvido,
um processo mais eficiente de produção seja implementado ou para criar
algum tipo de vantagem, mesmo que momentânea, para o capitalista. Porém,
se repetirmos esse processo de inovação infinitamente, haveria um
desequilíbrio entre produção e consumo uma vez que não haveria
consumidores suficientes para a produção existente. Este descompasso é
possível, pela análise de Marx, devido à aceleração da substituição dos
operários por máquinas o que gera riqueza em um pólo e miséria em outro.
Formam-se então os chamados “exércitos de reserva de trabalho” ou
“excedente relativo” de operários o que dá ao capital a possibilidade de
rapidamente ampliar a produção sem a necessidade de aumento de salários.
Com acesso ao crédito e incentivo à inovação faz-se necessário aumentar
o nível de consumo para que a produção possa ser comercializada, ou
consumida. Temos então o que István Mészáros chama de “sociedade dos
descartáveis” pois um decréscimo na taxa de utilização no capitalismo
recente :a taxa de utilização decrescente está, em certo sentido, diretamente
implícita nos avanços realizados pela própria produtividade. Ela se manifesta,
42
em primeiro lugar, na “proporção variável segundo a qual uma sociedade
tem que alocar quantidades determinadas de seu tempo disponível total para
a produção de bens de consumo rápido (por exemplo, produtos alimentícios),
em contraponto aos que continuam utilizáveis (isto é, reutilizáveis) por um
período de tempo maior” (MÉSZÁROS, 2002, p.639).
Assim sendo, a “sociedade dos descartáveis” somente conseguirá
equilíbrio entre produção e consumo, estritamente necessário para sua
reprodução, se puder consumir em grande velocidade, ou seja, descartar
prematuramente.
O princípio dialético da inovação no contexto do consumo crescente se
alimenta deste último e gera um dilema entre capital e trabalho, pois o
impulso capitalista para a expansão da produção não está ligado à
necessidade humana, mas sim à “realização” do capital. Marx havia
previsto, assim como fez Schumpeter anos depois :a produção de mais-valia
relativa, isto é, a produção de mais-valia baseada no crescimento e no
desenvolvimento das forças produtivas, exige a produção de um novo
consumo; exige que o círculo de consumo no interior da circulação se amplie
como o fez previamente o círculo de produção. Primeiro : a ampliação
quantitativa do consumo existente; segundo : criação de novas necessidades
pela propagação das existentes por um amplo círculo; terceiro : produção
de novas necessidades e descoberta e criação de novos valores de uso.
(MARX apud MÉSZÁROS, 2002, p.677).
Para Schumpeter, o capitalista inovador era como um herói, que buscava
inovar a acumular capital devido à sua personalidade e características
pessoais. Para Marx, porém, o capitalista ativo (e inovador) investe por
sobrevivência, pois se não o fizer, será ultrapassado por novos métodos de
produção, novas tecnologias e novos produtos, sendo expulso do mercado
pela concorrência.
43
A inovação, aplicando-se uma visão marxista, interessa ao capitalista
para gerar valor de troca. O distanciamento cada vez maior entre o valor de
uso e o valor de troca das mercadorias gera em parte, o consumismo
desenfreado cuja mola propulsora é a inovação, a qual está subordinada ao
capital. De acordo com Mészáros O capital não trata meramente como
separados valor de uso (que corresponde diretamente à necessidade) e valor
de troca, mas o faz de modo a subordinar radicalmente o primeiro ao último.
Como mencionado, na sua própria época e lugar, isto representou uma
inovação radical que abriu horizontes antes inimagináveis para o
desenvolvimento econômico. Uma inovação baseada na percepção prática
de que qualquer mercadoria, num extremo da escala, pode estar
constantemente em uso ou, no outro extremo das possíveis taxas de
utilização, absolutamente nunca ser usada, sem perder com isso sua utilidade
no que se refere às exigências expansionistas do modo de produção
capitalista”. (MÉSZÁROS, 2002, p.660).
Como Marx assinala “o valor de troca de uma mercadoria não aumenta se
o seu valor de uso for mais consumido e com maior proveito(MARX apud
MÉSZÁROS, 2002, p.661). Porém, o mesmo se aplica ao inverso. Se
baixarmos o valor de uso de uma mercadoria consumindo-a, por exemplo,
apenas de forma parcial, isto não afetará seu valor de troca. Uma vez
realizada a transação comercial, nada mais existe para se preocupar do ponto
de vista do capital.
Schumpeter não levou em consideração esta taxa de utilização da
mercadoria, que pode ser um bem ou serviço. Para ele, ao inovar, o
empreendedor descobriria novas combinações de fatores produtivos (e
humanos) porém, o ciclo de desenvolvimento não seria propositalmente
estimulado pelas empresas, através da inovação, a ser o mais curto possível.
44
3.2) O duplo caráter da inovação
Estando a inovação nas organizações a serviço e subordinada ao capital,
ela também possui um duplo caráter. Primeiro, temos a função de
direcionamento da inovação para a acumulação de capital, conforme
mencionado. Segundo, o caráter de ferramenta de gestão, para que a perda
de energia direcionada e aplicada à inovação seja a mínima possível, o que
maximiza o resultado esperado, ou seja, a mais-valia.
A inovação contribui tanto para o aumento da mais-valia absoluta como
para a mais-valia relativa. As empresas procuram aumentar ao máximo o
número de horas trabalhadas dos seus funcionários, bem como a
produtividade, sob o pretexto do chamado horário flexível. Os inúmeros
debates e artigos sobre o balanço entre trabalho e tempo disponível (worklife
balance) demonstram o ápice que se atingiu da mais-valia absoluta. Cobra-
se de cada elemento da corporação uma “atitude inovadora” diária, sob a
ameaça do não cumprimento dos objetivos financeiros crescentes pré-
estabelecidos para um determinado período. É a lógica do sistema
capitalista: Os imperativos da lucratividade em escala inexoravelmente
crescente, trazem consigo a desconcertante conseqüência de que, no
interesse de sua própria sobrevivência no mercado, o sistema como um todo
é absolutamente perdulário, e tem de continuar a sê-lo em proporções sempre
crescentes” (MÉSZÁROS, 2002, p.662).
Marx também tratou deste problema ao afirmar se o capital aumenta de
100 para 1.000, então 1.000 é agora o ponto de partida, do qual o aumento
tem de começar; sua decuplicação para 1.000 não significou nada; o lucro e a
renda eles próprios se tornam capital por sua vez. O que apareceu como
mais-valia agora aparece como uma simples pressuposição, como incluída na
sua simples composição” (MARX apud MÉSZÁROS, 2002, p.662).
45
A pressão por maior produtividade para o constante aumento de
acumulação de capital alimenta a competição desenfreada que existe hoje
nas organizações onde o colaborador (conceito que inclui tanto empregados,
fornecedores, prestadores de serviços, entre outros) é desafiado a ultrapassar
diariamente seu “recordesob o pretexto de perder o emprego (ou o cliente,
no caso dos fornecedores e terceiros) ou sofrer sanções.
O conceito de inovatividade, definido anteriormente, retrata este
cenário. Aliando-se inovação à produtividade, busca-se o aumento da mais-
valia relativa, pois será possível produzir com menos gastos e tempo o
mesmo tipo de produto ou serviço. Temos então, a inovação como atividade
de suma importância para o aumento da mais-valia.
Sob o ponto de vista de ferramenta de gestão torna-se imprescindível o
controle e a definição do chamado “processo de inovação”. Kaplan e Norton
definem este processo por meio do trabalho dos gestores que investigam as
necessidades do cliente e depois criam produtos ou serviços que
correspondem a essas necessidades. Como indicadores pode-se ter :
percentagem de vendas de novos produtos e tempo para desenvolver uma
nova geração de produtos (KAPLAN; NORTON, 1997). Os controles do
processo de criação, para que os indicadores sejam atingidos, existem nas
mais variadas formas. O sistema de avaliação e recompensa por
desempenho e o balanced scorecard são exemplos de maneiras para se
evitar que esforços e investimentos no processo de inovação sejam
desperdiçados na geração de mais-valia.
A inovação como ferramenta de gestão tem como um de seus alicerces o
ambiente de trabalho, fundamental para que uma organização seja criativa.
Segundo Alencar se as pessoas percebem que estão trabalhando em um
ambiente onde os objetivos dos projetos são claros, desafiadores e
interessantes, onde m autonomia em decidir como trabalham em direção a
essas metas, onde as novas idéias são recebidas com encorajamento e
46
entusiasmo, onde elas não são pressionadas com prazos impossíveis ou
limitações de recursos, onde outros estão dispostos a cooperar no alcance
dos objetivos, onde os melhores esforços são reconhecidos, certamente
trabalharão em níveis mais altos de motivação intrínseca e produzirão idéias
criativas” (AMABILE apud ALENCAR, 1996).
Dessa forma, a organização define claros objetivos e controla, por meio
de mecanismos gerenciais, a atuação e os esforços de todos os envolvidos
para que possam cooperar no alcance destas metas.
O primeiro equívoco desta linha de raciocínio, comum entre diversos
autores, é não perceber o paradoxo entre ambiente com autonomia e
favorável a novas idéias e o controle organizacional, realizado pela
burocracia, divisão do trabalho, política, ferramentas de gestão, entre outros.
Não existe autonomia, na acepção da palavra, dentro de uma organização
capitalista. Ela é sempre controlada, pois o principal objetivo é a acumulação,
a mais-valia. Todo o direcionamento de idéias, esforços, investimentos,
produção devem ser feitos visando alcançar os objetivos financeiros
claramente definidos, dentro de um certo espaço de tempo. Todo e qualquer
desperdício será devidamente punido pela empresa, também através dos
mecanismos de controle, como avaliações de desempenho. É a aplicação da
teoria de Foucault, vigiar e punir (FOUCAULT, 2001).
Portanto, a autonomia apregoada por empresas ditas criativas e
inovadoras, enumeradas na literatura da administração, não passa de uma
ideologia do capitalismo. O encorajamento e entusiasmo para novas idéias
somente existirão caso tenham grande possibilidade de resultar em lucros
financeiros efetivos com o menor risco possível.
O segundo equívoco sobre a possibilidade de cooperação e produtividade
em altos níveis, devido à motivação e prazer das pessoas em sua realização
no trabalho, está exatamente na relação capital-trabalho e no conceito de
47
alienação de Marx. Apresentado nos Manuscritos Econômico-Filosóficos,
este conceito de alienação, conforme nos é mostrado por Mészáros, possui
quatro aspectos principais : 1) o homem está alienado da natureza; 2) está
alienado de si mesmo (de sua própria atividade); 3) está alienado de seu “ser
genérico” (de seu ser como membro da espécie humana) e 4) o homem está
alienado do homem (dos outros homens) (MÉSZÁROS, 2006).
A primeira característica, das quatro apresentadas, da alienação do
trabalho, diz respeito à relação entre o trabalhador e o produto do seu
trabalho, a relação do homem com os objetos da natureza.
A segunda refere-se à relação entre o homem e o ato de produção.
Conforme Mészáros “a relação do trabalhador com sua própria atividade
como uma atividade alheia que não lhe oferece satisfação em si e por si
mesma, mas apenas pelo ato de vendê-la a outra pessoa. (Isso significa que
não é a atividade em si que lhe proporciona satisfação, mas uma propriedade
abstrata dela : a possibilidade de vendê-la em certas condições)
(MÉSZÁROS, 2006, p. 20).
O terceiro aspecto refere-se ao entendimento de que o objeto do trabalho
é a objetivação da vida da espécie humana. Segundo Marx, o homem se
duplica não apenas na consciência, intelectual, mas operativa, efetiva,
contemplando-se, por isso, a si mesmo num mundo criado por ele (MARX
apud MÉSZÁROS, 2006, p.20).
A quarta e última característica, leva em consideração a relação do
homem com outros homens, diferentemente da terceira que trata da relação
do homem com a humanidade em geral. Marx bem explica a concepção do
quarto aspecto : uma conseqüência imediata disto, de o homem estar
estranhado do produto do seu trabalho, de sua atividade vital e de seu ser
genérico é o estranhamento do homem pelo homem. Quando o homem está
frente a si mesmo, defronta-se com ele e outro homem. O que é produto da
48
relação do homem com o seu trabalho, produto de seu trabalho e consigo
mesmo, vale como relação do homem com outro homem, como o trabalho e o
objeto do trabalho de outro homem” (MARX apud MÉSZÁROS, 2006, p.21).
Pela análise de Marx, não existe nenhum tipo de autonomia no trabalho
humano exercido sob o sistema capitalista. A alienação humana foi realizada
por meio da transformação de todas as coisas em objetos alienáveis,
vendáveis, ou seja, a reificação do ser humano. Ao vender ao capitalista sua
força de trabalho, o trabalhador cede os direitos de utilizá-la não sendo
proprietário do produto de seu trabalho, mas sim o capitalista. Pela existência
da subsunção do trabalho ao capital, a inovação também está a serviço deste
último.
Na tradição marxista, a aparente liberdade do trabalhador em um
ambiente propício ao seu desenvolvimento é parte da manipulação exercida
pelas empresas, legitimamente executada pela venda da força de trabalho
que o homem realiza, cedendo à organização a possibilidade de utilizá-la
como bem entender.
No capítulo 5 trataremos com mais detalhes do relacionamento entre o
conceito de alienação de Marx e seus impactos e conseqüências para a
inovação nas empresas.
O ambiente de trabalho que em parte substitui o papel da família, igreja e
vizinhança na vida das pessoas (PAROLIN, 2001) possui fundamental
importância e é estritamente necessário para a reprodução do capital.
Segundo Alencar o local de trabalho passou a ter um significado especial em
que as necessidades de envolvimento, apoio, apreço e reconhecimento social
devem ser satisfeitas, havendo espaço para a pessoa crescer e amadurecer
(ALENCAR, 1996, p.90). Porém, esta realização e crescimento aplicam-se
somente ao chamado “homus economicus”. O reconhecimento social dá-se
pelos parâmetros do capitalismo, pela alienação. De acordo com Mészáros
49
A alienação caracteriza-se, portanto, pela extensão universal da
“vendabilidade” (isto é, a transformação de tudo em mercadoria); pela
conversão dos seres humanos em “coisas”, para que eles possam aparecer
como mercadorias no mercado (em outras palavras: a reificação” das
relações humanas); e pela fragmentação do corpo social em “indivíduos
isolados”, que perseguem seus próprios objetivos limitados, particularistas,
“em servidão à necessidade egoísta”, fazendo de seu egoísmo uma virtude
em seu culto da privacidade”. (MÉSZÁROS, 2006, p.39).
As organizações dominam e direcionam as atividades de inovação de
acordo com seus interesses de acumulação capitalista. Os homens,
individualizados e sem a noção coletiva, propositadamente desfeita e diluída
pela empresa, são conduzidos por um caminho de competição diária com
seus pares, induzidos a trabalhar cada vez mais para que possam sentir
prazer do resultado deste esforço, o qual pertence somente ao capitalista. As
necessidades dos homens, para as quais ele procura a satisfação, também
são produtos da auto-expansão capitalista. É a completa subordinação das
necessidades humanas à reprodução do valor de troca.
Marx estabelece que Na antiguidade ... a riqueza não aparece como a
finalidade da produção... A questão é sempre que modo de propriedade cria
os melhores cidadãos. A riqueza aparece como um fim em si mesmo apenas
entre os poucos povos comerciais – monopolistas do comércio de longa
distância que viviam nos interstícios do mundo antigo, como os judeus na
sociedade medieval. ... Portanto, a antiga visão na qual o ser humano
aparece como a finalidade da produção, que não leva em consideração o seu
limitado caráter nacional, religioso ou político, parece muito grandioso quando
comparada ao mundo moderno, no qual a produção aparece como o objetivo
da humanidade e a riqueza como o objetivo da produção (MARX apud
MÉSZÁROS, 2002, p.606). É diferença entre a produção de riqueza e a
riqueza da produção
50
A inovação acompanha e colabora sobremaneira para esta expansão do
capitalismo. Não basta para as empresas criar e inovar, sendo a primeira
subordinada à última, de maneira controlada, no intuito de aumento da mais-
valia. Também não é suficiente utilizar a inovação como aparelho gestor,
conduzindo todos os recursos da corporação para a lucratividade, tampouco
apenas aumentar a produtividade através da inovação. É preciso aumentar a
produtividade da própria inovação. É preciso permitir que o índice de
inovação” seja o mais alto possível, através de medições que incluam o
número de lançamentos de novos produtos, vendas, market share,
lucratividade, faturamento ou qualquer outro índice financeiro. As
características cognitivas da inovação, os aspectos socioculturais, a
abordagem sóciointeracionista não são os principais objetos de concentração
de esforços para o processo de inovação. Estes apenas são estudados e
trabalhados para que haja aumento no “índice de inovação”, como se fossem
superpostos aos processos cognitivos ou como se as interações humanas
estivessem única e exclusivamente a serviço da inovação e esta, a serviço da
expansão do capital.
Uma demonstração sobre a linha de raciocínio da inovação como
mecanismo de geração de mais-valia, subordinando os aspectos sociais aos
econômicos é a afirmação de Peter Drucker, segundo o qual é a mudança
que sempre proporciona a oportunidade para o novo e o diferente. A inovação
sistemática, portanto, consiste na busca deliberada e organizada de
mudanças, e na análise sistemática das oportunidades que tais mudanças
podem oferecer para a inovação econômica ou social” (DRUCKER, 2002,
p.45). Mas o que Drucker chama de inovação social é simplesmente o
comportamento de compra e de produção do ser humano, ou seja, o que
Mészáros nos apresenta como “sociometabolismo do capital”. De acordo com
uma declaração de Drucker feita em 1974 : inovação é um termo econômico
e social. Seu critério não é a ciência ou tecnologia, mas uma mudança no
ambiente econômico e social, uma mudança no comportamento das pessoas,
51
como consumidores ou produtores (DRUCKER apud HOLSAPPLE, 2002,
p.344).
Porém, devemos nos deter com um pouco mais de reflexão quando o
produto da inovação (criatividade transformada em forma de mercadoria) é o
conhecimento. Não se trata de um produto tangível, como um automóvel ou
uma mesa. É algo subjetivo, tido como “a principal força produtiva” (GORZ,
2005), e que não se submete mais à determinação de seu valor pelo quantum
de trabalho equivalente. Conforme menciona André Gorz o conhecimento,
diferentemente do trabalho social geral, é impossível de traduzir e de
mensurar em unidades abstratas simples. Ele não é redutível a uma
quantidade de trabalho abstrato de que ele seria o equivalente, o resultado ou
o produto. Ele recobre e designa uma grande diversidade de capacidades
heterogêneas, ou seja, sem medida comum, entre as quais o julgamento, a
intuição, o senso estético, o nível de formação e de informação, a faculdade
de aprender e de se adaptar a situações imprevistas; as capacidades elas
mesmas operadas por atividades heterogêneas que vão do cálculo
matemático à retórica e à arte de convencer o interlocutor; da pesquisa
técnico-científica à invenção de normas estéticas” (GORZ, 2005, p. 29).
André Gorz passou por diversas metamorfoses na concepção de suas
idéias. No início, foi influenciado pelo jovem Marx nos temas sobre alienação
e libertação da humanidade e, sendo amigo de Marcuse, também recebeu
influência da escola de Frankfurt. Tempos depois, Gorz rompeu com diversas
correntes, inclusive com Sartre, passando a criticar o marxismo entendendo
que a noção do proletariado enquanto classe social está superada (GORZ,
1982).
Após dar adeus ao proletariado, Gorz as boas vindas ao
conhecimento, diferenciando-o da definição do trabalho em Marx. Como, na
sociedade atual, um dos principais componentes, subprodutos e resultados da
52
inovação refere-se à chamada “economia do saber”, é necessário um estudo
mais aprofundado sobre este tema.
3.3) Inovação, conhecimento e valor : um novo capitalismo
empresarial
Percebeu-se, no início da década de 80, que três elementos combinados -
inovação, conhecimento e valor - poderiam mudar o eixo do capitalismo
tradicional e iniciar uma nova era, com regras e variáveis próprias, como um
subsistema do capitalismo industrial. A inovação, como vimos, é a
criatividade transformada em forma de mercadoria, produto ou serviço, com
valor de uso e de troca. Este produto ou serviço, em grande parte das vezes,
possuía métricas muito bem definidas e mensuradas pelos resultados obtidos.
O valor de uso e de troca de um automóvel é alterado ao longo do tempo pela
mudança (ou criação) das necessidades dos consumidores e pela utilidade
que os mesmos vislumbravam no produto, neste caso o veículo. Passou o
automóvel a ser um meio de transporte rápido para uma demonstração de
status e de reconhecimento social por parte de quem o possui. Seu valor de
uso foi alterado, tornando-se um objeto de desejo e não uma necessidade de
locomoção.
Mas, não é tão difícil perceber que, no caso do automóvel e de outros
bens, o valor está intrinsecamente ligado ao produto final. O caráter
psicológico da realização social é visual e tangível. O carro deve possuir
características especiais para que esta realização seja completa. É possível
tocá-lo, vê-lo, utilizá-lo de forma cita e, o mais importante, é possível
mostrá-lo visualmente à sociedade.
Mas, como é possível determinar o valor do saber e do conhecimento ?
Como mensurá-lo se, por diversas vezes, o resultado é apenas uma
53
expectativa, um potencial ? Sendo intangível, será possível determinar seu
valor de uso e seu valor de troca pelo quantum de trabalho existente ?
De acordo com André Gorz, “o valor de um serviço é, pois, tão menos
mensurável quanto maior seja a parcela de doação e de produção de si, ou
seja, quanto mais seu caráter incomparavelmente pessoal lhe confira um
valor intrínseco que prevalece sobre seu valor de troca normal” (GORZ, 2005,
p. 33). O conhecimento, base da inovação, não somente atua para o acúmulo
do capital, como contribui para desenvolver a subsunção do capital sobre o
trabalho. Porém, o conhecimento é um produto por si próprio como também é
peça fundamental para a produção de determinados bens.
Na segunda metade dos anos 90, a bolsa de valores experimentou uma
quantidade jamais vista de investimentos em ativos intangíveis, os quais
representavam, e continuam ainda hoje, expectativas de lucros e potencial de
desenvolvimento de determinadas empresas com base em crescimento
futuro. O desempenho das empresas nas bolsas ultrapassou cem vezes o
valor estimado dos ativos existentes, reais, concretos.
Porém, o caráter imaterial do capital é que norteia a lógica das invenções
transformadas em forma de mercadorias sem lastro físico, sendo apenas uma
promessa de lucro sobre um valor incomensurável. É a separação do capital
material e do capital imaterial que alimenta e possibilita ao mundo o lucro
através de compra e venda de valores fictícios milhares de vezes por dia.
Como é possível explicar o cálculo do valor de uma marca, sendo esta
apenas a explicitação de um símbolo, não mensurável ? A resposta pode ser
encontrada em Schumpeter. O capital imaterial é utilizado como um meio
para produzir novos consumidores. É a releitura do conceito da destruição
criativa. Entretanto, os novos consumidores serão, invariavelmente
individuais. Conforme Gorz, “o consumidor, individual por definição, foi
concebido desde a origem como o contrário do cidadão; como o antídoto da
54
expressão coletiva de necessidades coletivas, contrário ao desejo de
mudança social, à preocupação com o bem comum” (GORZ, 2005, p. 49).
O que realmente conta, de acordo com Gorz “é principalmente
transformar a invenção em mercadoria, e pô-la no mercado como um produto
de marca patenteada” (GORZ, 2005, p. 42). Sendo uma propriedade
protegida, esta nova mercadoria, objeto de uma invenção, cria uma situação
monopolista essencial para a expectativa de ganhos. E é exatamente neste
ponto que se encontra um dos maiores diferenciais da produção do
conhecimento como mercadoria.
Para se produzir um bem, digamos uma cadeira, o custo existente de
produção (matéria-prima, mão-de-obra, entre outros) ocorre em cada peça
produzida. Se produzirmos milhares de cadeiras, será possível uma
economia de escala nos custos individuais, porém os mesmo continuarão a
existir para cada unidade produzida.
Este tipo de lógica não ocorre na produção de conhecimento. O custo de
produção existente é apenas inicial, ocorre no desenvolvimento do “produto”.
Quando se torna uma mercadoria pronta para o comércio, passa-se então a
cobrar pelo acesso. Um claro exemplo é o desenvolvimento de softwares
para computadores. O investimento inicial é grande na criação do produto.
A partir deste momento, a venda é baseada no vetor da patente e a empresa
que investiu na criação cobra um determinado valor para que os
consumidores tenham acesso. Este tópico é tratado no livro de Jeremy Rifkin,
“A Era do Acesso”, onde o autor afirma que a propriedade de bens em uma
economia hipercapitalista tende a desaparecer, sendo substituída pelo acesso
aos mesmos. Desta forma o lucro advém da quantidade de acessos de um
“produto” cujo custo basicamente existiu durante sua criação e
desenvolvimento, mas não no acesso individual. Produtos materiais e uma
parcela considerável de serviços apresenta esta lógica de geração da mais-
valia, não mais baseada na quantidade de trabalho, mas no monopólio e no
55
preço que os consumidores devem pagar para poder utilizar estes produtos e
serviços. Esta lógica, cada vez mais presente em nossa sociedade, gera uma
“indústria do pedágio”, onde nos é cobrada uma taxa, pois a empresa
fabricante detém o que chamamos de monopólio de conhecimento. Desta
forma, a rapidez da inovação que a empresa possuir pode perpetuar sua
mais-valia, pois gerará características e qualidades exclusivas para o produto
ou serviço em questão, mantendo-se à frente de seus concorrentes. Esta
nova lógica do capitalismo empresarial é resultado da combinação de
inovação, conhecimento e valor. Uma drástica conseqüência deste processo
de substituição da propriedade pelo acesso é que, quando a cultura é
absorvida pela economia, somente os vínculos comerciais restarão para
manter a sociedade unida (RIFKIN, 2000).
Para que o acesso seja cada vez maior, diversas empresas passaram a
se interessar não mais em vender seus produtos e serviços, mas em alugá-
los, transformando os compradores em usuários. Desta forma, a inovação
sendo criatividade transformada em forma de mercadoria, passa a gerar um
novo tipo de produto e passa a ser o fator determinante de sucesso e geração
de mais-valia. Tanto projetos imateriais resultados da inovação, como os
vários existentes na bolsa de valores, geram valor (muito menos de uso e
principalmente de troca) quanto à quantidade de conhecimento necessário
para a produção de um novo medicamento, o qual, como produto final, será o
objeto da comercialização.
As empresas não somente inovaram em processos e métodos para
conseguir a chamada produtividade, mas também alteraram o capitalismo
empresarial para um novo contexto onde seu valor simbólico prevalece sobre
o valor de troca ou de uso.
O conhecimento e o saber não são uma mercadoria qualquer. Podem se
multiplicar indefinidamente, ao serem digitalizados, sem custo nem controle.
Sua propagação infinita aumenta a possibilidade de acesso gratuito por
56
grande parte da sociedade e, sua privatização (contrária à sua essência)
permite o controle sobre esta propagação e permite ao detentor da patente a
cobrança do acesso (GORZ, 2005).
Em tese, a ênfase da inovação nas empresas é uma forma de
sobrevivência neste novo modelo de mercado, onde ativos e bens intangíveis
são mensurados por valores simbólicos, gerados pela criação e pelo
aumento das necessidades individuais humanas, e associados muito menos
aos valores utilitários do que aos valores de troca. A quantidade de trabalho,
aparentemente não é mais um fator determinante deste valor.
Mas, o conhecimento não é obra humana e coletiva ? Não é derivado dos
inúmeros esforços na busca de um objetivo ? Não é o princípio do trabalho
abstrato ? Além disto, o conhecimento não é por si uma maneira de
trabalho e também um produto do mesmo ? Não é exatamente a definição de
trabalho concreto de Marx que inclui o trabalho intelectual ?
O autor Eleutério Prado, em seu livro “A Desmedida do Valor”, elucida
esta questão : “eis que o trabalho imaterial para Gorz é simplesmente aquele
que produz valores de uso imateriais e que requer, por isso, comunicação,
inteligência, etc. Daí, se segue que o trabalho material é aquele que produz
valores de uso materiais. Os primeiros o valores de uso em virtude das
suas qualidade significativas e intangíveis enquanto tais, e os segundos o são
em função de sua qualidade sensíveis ou tangíveis em ambos os casos,
entretanto, para que essas qualidades possam existir é preciso obviamente
que sejam casados elementos naturais com elementos sociais. Ora, quando
esse autor fala em trabalho material ou imaterial está se referindo,
obviamente, a modalidades de trabalho concreto, já que o trabalho abstrato
enquanto trabalho reduzido de um modo anônimo pelo processo social é, nos
termos de Marx, um conteúdo do inconsciente social” (PRADO, 2005, p. 74).
57
Na verdade, segundo Eleutério, o que se mede não é o conhecimento,
mas o trabalho de produzi-lo e transmiti-lo. Daí a dificuldade em aferi-lo.
Sendo então, a inovação e o conhecimento objetos do trabalho concreto,
não vidas de que estão sob o direcionamento dos objetivos corporativos
de aumento da mais-valia. Paradoxalmente, não podem se expandir sem
controle e fora de um dos princípios norteadores do capital, o lucro, o que
gera uma contradição na essência da liberdade de criação e inovação. Sem
os controles corporativos, realizados através de diferentes formas como
burocracia, avaliação de desempenhos, balanced scorecard, entre outros, os
esforços e investimentos em inovação para a geração de mercadorias não
seriam maximizados e, conseqüentemente, a mais-valia não atingiria seu
ápice.
Além de todos os controles empresariais explícitos, outros implícitos e
decorrentes da inter-relação humana nas empresas, como o poder, que são
determinantes na produção da inovação e em seus resultados. Estes fatores
implícitos não aparecem como limitadores, mas como alavancas que
propiciam a maior produtividade possível das iniciativas de inovação. Aliás,
esta é mais uma mostra de que a inovação, mesmo tendo caráter imaterial e
intangível, é parte e produto do trabalho concreto, no qual determina-se o
resultado perfeitamente mensurável para a avaliação de sua contribuição na
parcela da mais-valia da corporação.
3.4) Libertação da criatividade ou apropriação do capital
Existe a possibilidade de libertação da criatividade onde o capital não há de
se apropriar desta ? vimos como a inovação colabora para a aceleração
da acumulação de capital, porém podemos imaginar que possamos seguir
com esta situação sem que haja a subsunção da criatividade sobre o capital ?
58
Sabemos que as bases do sistema capitalista são a divisão do trabalho, a
propriedade privada e a subsunção do trabalho ao capital. O contexto em que
as organizações se encontram, traz como principal elemento o capital sendo
que as mesmas possuem, desde o seu nascedouro, o objetivo primeiro de
aumento da lucratividade. A criatividade, aplicada à geração de bens com
valores de uso e não de valores de troca, não gera como conseqüência uma
mercadoria. A interação mútua entre troca (mercadoria) e divisão do trabalho
gera o valor de troca. Para que a criatividade não seja apropriada pelo capital
é necessário quebrar este ciclo. Porém, é exatamente ele que move o
sistema capitalista.
Na concepção de Marx, podemos observar um ciclo diferente, onde a
propriedade privada está mais como um resultado da interação entre divisão
do trabalho e troca do que como causa da mesma. Além disto, de acordo
com Marx, é preciso opor o caráter social do trabalho à condição histórica da
divisão do trabalho, pois uma vez que a atividade deixa de ser regulada com
base na propriedade privada e na troca, o caráter social do trabalho irá
manifestar-se sem a mediação da divisão do trabalho (MÉSZÁROS, 2006).
Em outras palavras, a criatividade somente poderá se libertar da
subsunção ao capital, quando deixar de ser apenas uma matéria prima para a
geração de mercadorias. Conforme definimos, o sistema capitalista
transforma a interação entre criatividade e inovação, fazendo com que esta
última seja a transformação da criatividade em forma de mercadoria.
“Toda a vida social é essencialmente prática”, (MARX apud VASQUEZ,
2007, p.265). Corresponde à ação propriamente dita. É a práxis (termo
usado pelos gregos para designar a ação). Diferencia-se do significado
apenas utilitário, predominante em seu uso cotidiano. A práxis aborda um
conceito filosófico da atividade prática. Como então inserir este contexto
filosófico na dimensão do capitalismo ?
59
De acordo com Vasquez : “O homem é o ser que tem de estar inventando
ou criando constantemente novas soluções. Uma vez encontrada uma
solução, não lhe basta repetir ou imitar o resolvido; em primeiro lugar, por que
ele mesmo cria novas necessidades que invalidam as soluções alcançadas,
e, em segundo, porque a própria vida, com suas novas exigências, se
encarrega de invalidá-las.” (VÁSQUEZ, 2007, p. 267).
A produção de um objeto ideal é inseparável da produção do objeto real.
O resultado final foi previamente imaginado idealmente, porém o resultado
definitivo é o real e não o ideal, pois inúmeras são as variáveis que atuam na
elaboração deste produto. Comenta Vasquez “A atividade prática criadora
não pode ser concebida como uma série contínua de atos de consciência que
tenham de traduzir-se em outra rie também contínua de atos materiais
que se sucedem no processo prático na mesma ordem em que se deram na
consciência” (VÁSQUEZ, 2007, p. 268).
Portanto, existe um nível de incerteza e indeterminação na atividade
criadora. No decorrer do processo de transformação do ideal no real, a
imprevisibilidade faz com que tenhamos que modificar o plano, as ações, no
intuito de aproximar ao máximo o subjetivo (ideal) do objetivo (real). Esta
instabilidade faz com que o fim, que iniciou o processo prático, se modifique
ao longo da atividade prática e se torne a lei que rege a totalidade de tal
processo. Porém, a subordinação do processo em sua totalidade a uma lei
que somente é descoberta a posteriori, ao resultado real deste mesmo
processo um caráter único, imprevisível e não repetível. Conforme a
concepção de Gramsci o que existe, como resultado da ação transformadora
do homem, é práxis (VÁSQUEZ, 2007).
Vemos então que a atividade prática no sistema capitalista traduz o
inverso da concepção da práxis criadora. Todos os esforços e as inúmeras
ferramentas de gestão existentes são utilizados para reduzir a
imprevisibilidade, controlar o processo e padronizá-lo para que o objetivo seja
60
alcançado. É a subordinação de todo o processo ao fim, ao produto real. É a
negação da atividade criadora.
61
Capítulo 4 – O Paradoxo da inovação : fatores limitantes e
alavancadores dentro da organização
4.1) As ferramentas de controle
Apregoa-se em boa parte da literatura sobre criatividade e inovação
aplicadas às organizações, que o ambiente empresarial deve ser apropriado
para que o desenvolvimento da criação e inovação possa ocorrer mais
livremente. Quanto mais liberdade para criar, maior a contribuição dos
funcionários.
Porém, o que se observa na prática é totalmente o inverso. De forma
proposital, controla-se muito bem o processo da inovação, não se
interessando a empresa pela criatividade, pois como vimos, inovação é a
criatividade transformada em forma de mercadoria.
A princípio este cenário aparenta um possível paradoxo. Como é possível
controlar o processo inovador se o mesmo depende de liberdade para existir
e se manifestar ? Não se está coibindo e sufocando as possibilidades de
inovação da empresa ao se quantificar os resultados esperados por este
processo ?
É justamente através deste controle que é possível obter um aumento da
produtividade da inovação. Uma vez que diversos atores estão envolvidos
em um processo criativo na organização, tais como funcionários,
fornecedores, clientes, entre outros, é essencial que a organização lance mão
de diversas ferramentas para o controle e direcionamento da inovação.
Mais do que um aparente paradoxo, o processo inovador em uma empresa
é dialético. É preciso que se exerça um controle para que a inovação obtenha
os resultados esperados, mas ela própria é utilizada como ferramenta de
62
gestão para que a produtividade da empresa, e da própria inovação, seja
maximizada.
Diversos fatores e ferramentas são utilizados pelas organizações para se
obter o maior retorno financeiro (mais-valia) do processo da inovação.
Burocracia, poder, racionalidade, hierarquia, meritocracia, avaliações de
desempenho, balanced scorecard, e a própria inovação são alguns exemplos
de controles e indicadores comuns hoje nas empresas.
Estes controles não são novos, apesar de algumas vezes virem travestidos
de uma roupagem contemporânea. Eles misturam diversas teorias que,
aplicadas simultaneamente, têm o propósito de controlar e ao mesmo tempo
estimular a aplicação da inovação na empresa.
A dialética da inovação inicia-se quando a mesma é utilizada como
ferramenta de gestão, como um controle e alavanca de processos envolvendo
recursos humanos para se extrair o máximo de produtividade das pessoas. A
avaliação de desempenho é um clássico exemplo deste uso. Diversas
empresas possuem o sistema de avaliação para controlar e melhor direcionar
o desenvolvimento e desempenho dos funcionários para que os objetivos
corporativos sejam atingidos. Algumas utilizam o processo de avaliação para
realizarem um ranking dos funcionários e, desta forma, promover
constantemente o que chamam de bottom five turnover(rotatividade de 5%
dos funcionários menos produtivos, ou melhor dizendo, pior avaliados). Este
ranking também é motivacional, pois serve como acelerador salarial, sendo
que os funcionários mais bem avaliados tendem a receber maiores
percentuais de aumento.
Inserida no processo de avaliação de desempenho, como parte de
diversos itens, está a inovação. A medição para fins comparativos entre
funcionários (qual recurso humano na organização é mais inovador do que
outro) deve ser realizada com base em objetivos quantitativos, diminuindo-se
63
a possibilidade de elementos qualitativos, pois estes últimos estão sujeitos a
interpretações diversas, dificultando o gerenciamento. Por exemplo, o
número de patentes registradas ou a redução de custos/despesas em um
determinado projeto oriundos de um processo inovador são exemplos comuns
de medições da inovação. Entretanto, em empresas de tecnologia, por
exemplo, a inovação não somente é peça integrante dos processos
existentes, mas principalmente um dos diferenciais de competição deste
mercado. Não basta utilizá-la como ferramenta de gestão para aumento da
produtividade. A inovação tem de ser direcionada à criação de novos
produtos e mercados para que o processo de acumulação de capital possa
ser realizado.
O processo de avaliação obedece a uma sistemática precisa. É realizado
com uma determinada freqüência (em muitos casos anualmente), sendo que
o responsável imediato (gerente, supervisor, entre outros) possui a condição
de realizar a avaliação. É um processo burocrático, hierárquico, racional e
com poder e autoridade determinados previamente. Ou seja, está
fundamentado na Teoria da Burocracia de Max Weber.
Weber desenvolveu sua teoria baseado na crescente complexidade das
empresas, as quais exigiam um modelo racional mais bem definido em
contrapartida com as fragilidades e parcialidades dos modelos da Teoria
Clássica e de Recursos Humanos. Através da racionalidade, que adequa os
meios aos objetivos, é possível se obter o máximo de eficiência da
organização. Seus principais elementos o a própria racionalidade,
processos, impessoalidade, divisão do trabalho, meritocracia, poder e
autoridade. A diferença entre poder e autoridade está no fato de que o
primeiro é tratado como um potencial para exercer influência e o último como
probabilidade de uma ordem ser obedecida (WEBER, 2004).
É exatamente neste ambiente empresarial controlado que a inovação
existe. Ao contrário de diversos autores que propõem um ambiente adequado
64
e rtil para o processo de inovação, onde a liberdade é fator essencial e os
controles não venham a atrapalhar o desenvolvimento de inovações, o que
vemos na maioria das organizações é um direcionamento crescente de
ferramentas de gestão, entre elas a própria inovação, para que os resultados
da chamada inovação sejam financeiramente os mais lucrativos possíveis.
O balanced scorecard é outro exemplo de controle visando o aumento da
produtividade dos recursos humanos. Trata-se de uma metodologia
desenvolvida na década de 90 pelos professores da Harvard Business
School, Robert Kaplan e David Norton. Apesar dos criadores afirmarem que o
balanced scorecard é um sistema de gerenciamento e não um sistema de
medição, ele é baseado em métricas previamente definidas, permitindo a
empresa transformar sua visão e estratégia em ações muito bem
direcionadas. Os chamados indicadores chaves de desempenho (KPIs Key
Performance Indicators) são definidos com base na divisão da empresa em
quatro perspectivas :
1) Aprendizado e crescimento esta perspectiva inclui o treinamento e
atitudes e cultura corporativas. Em tese, tem foco nas pessoas que devem
permanecer em constante atitude de aprendizagem, a qual está totalmente
conectada aos objetivos da empresa de crescimento de receita e mercado, e
aumento da mais-valia. De acordo com os criadores desta metodologia,
aprendizagem é mais do que treinamento e inclui tutores e mentores na
organização para que os funcionários com maior potencial de retorno para a
companhia possam se desenvolver mais rapidamente, aumentando desta
forma a velocidade da geração de lucro. Nesta perspectiva, as métricas mais
comuns são investimento nos recursos humanos versus o retorno esperado.
Como o conhecimento e aprendizado adquirido por uma pessoa na
companhia é um ativo intangível, é necessário traduzi-lo em métricas
quantitativas e facilmente mensuráveis. Portanto, o retorno esperado pelo
investimento feito é geralmente assinalado em termos financeiros, ou seja,
65
quanto se espera de colaboração do funcionário para o aumento da mais-
valia da empresa.
2) Processos de Negócio nesta perspectiva o foco está nos processos
internos da empresa, que devem colaborar ao máximo para o aumento da
produtividade. O processo de inovação é muito enfatizado nesta perspectiva,
pois contribui para a melhoria das tarefas e diminuição de custos e
desperdícios. A própria inovação como processo de negócio é utilizada para
que não haja gastos em atividades que não estejam relacionadas com o
negócio da empresa, ou como é mais comum no meio empresarial, atividades
que não agreguem valor ao cliente. É importante salientar que o balanced
scorecard como um todo, mas principalmente nesta perspectiva, utiliza as
bases da teoria da burocracia de Weber como pilar de sustentação. Para que
os KPIs possam ser definidos para os processos de negócio, são necessários
detalhamentos de cada tarefa, os responsáveis envolvidos, o fluxo de
informações e os resultados esperados. Ou seja, hierarquia, burocracia,
autoridade, poder e processos.
3) Clientes esta perspectiva baseia-se na satisfação do cliente com foco
em suas necessidades. Diversas empresas realizam pesquisas de satisfação
com seus principais clientes, algumas delas utilizando a metodologia “blind (o
cliente responde o questionário sem saber a qual empresa fornecedora se
refere). A métrica é simples : nível de satisfação, que pode ser dividido por
áreas de atendimento ao cliente, por exemplo, vendas, prestação de serviços,
qualidade do produto, satisfação com pós-vendas, entre outras. Geralmente,
utiliza-se um índice geral de satisfação o qual, invariavelmente, é parte dos
objetivos de cada funcionário envolvido no processo para posterior avaliação
de seu desempenho.
4) Finanças segue sendo a principal perspectiva, presente em todas as
demais anteriores. As métricas são as tradicionais, a saber : aumento de
mercado e faturamento, redução de custos e despesas e conseqüente
66
aumento da lucratividade. Além disto, o nível de detalhes, cujo controle é
facilmente realizado pela tecnologia hoje disponível, inclui contribuição na
receita de determinados funcionários, por exemplo, envolvidos diretamente
em um projeto (os quais são chamados de billable”) e possuem suas horas
de trabalho pagas diretamente pelo cliente através de um específico projeto.
Com isto, é possível assinalar individualmente métricas financeiras para cada
recurso humano da empresa e avaliá-lo. Caso os objetivos não sejam
atingidos, ações corretivas serão tomadas, entre elas, a troca ou redução do
quadro de funcionários.
Verificamos então, que o balanced scorecard é um aprimoramento da
burocracia de Weber, levando em consideração as facilidades tecnológicas
hoje existentes no mercado. Os indicadores chaves de performance (KPIs)
são determinados pelos objetivos quantitativos da empresa e incluídos no
desempenho de cada funcionário, o qual será avaliado por ter atingido (ou
não) as métricas estabelecidas.
A inovação, na metodologia do balanced scorecard, é vista como um
acelerador no alcance dos objetivos, possivelmente excedendo-os
numericamente. Os resultados práticos de um processo de inovação o
mensurados de forma quantitativa, e os mais admiráveis são os que atingem
ou ultrapassam as métricas financeiras e de produtividade previamente
definidas.
4.2) Poder : Weber, Foucault e Marx
Outro fator, por algumas vezes limitante e por outras alavancador da
inovação é o poder. No contexto das organizações, podemos classificar o
poder de diversas formas : pela teoria político-clássica (poder legítimo,
dominação, influência), pela teoria de Foucault (poder circunstancial e
individual/microfisico), pela teoria de Max Weber (domínio e disciplina), entre
67
outros. Embora boa parte dos estudos organizacionais utilize a abordagem
de Weber, podemos encontrar diversos elementos das idéias de Foucault nas
organizações atuais.
Foucault não produziu uma teoria geral sobre o poder. Sua obra é
permeada pelo estudo das relações sociais, partindo do princípio histórico
sobre a constituição e transformação do saber e realizando posteriormente,
uma análise sobre o porquê desta constituição e transformação, introduzindo
o poder como instrumento capaz de explicar a produção do saber
(FOUCAULT, 2005).
Tanto Weber como Foucault abordaram a questão do poder em termos
práticos, constituídos de ações realizadas através das relações sociais.
Weber foca o poder nas relações individuais e Foucault, que foi crítico feroz
sobre a noção de sujeito, enfoca o tema poder através das características
culturais e históricas. Para ambos, poder possui um caráter relacional
quando, por exemplo, alguns conseguem que outros realizem o que os
primeiros desejam, atuando sobre suas ações.
O enfoque de Weber trata das fontes de legitimidade do poder e qual as
condições para se exercê-lo. A principal pergunta de Weber é : o que é o
poder ? Para Foucault, o cerne da questão é o funcionamento do poder, ou
seja, como se exerce o poder, quais as técnicas e tecnologias utilizadas para
colocar em prática o poder.
Marx substancializa o poder identificando-o em uma entidade, como o
Estado, por exemplo. Segundo ele, o poder é institucional e será preciso
tomá-lo por parte da classe trabalhadora através de uma revolução socialista.
Apesar desta visão marxista ser aparentemente distante da abordagem de
Weber e Foucault, é importante notar que podemos fazer uso das teorias
destes três autores para melhor entender as organizações capitalistas.
68
É no contexto do capitalismo, que possui nas corporações um de seus
pilares, que se desenvolve e se aplica o poder nas diversas empresas. Os
mecanismos de controle mencionados (como a avaliação de desempenho)
ocorrem dentro do princípio da burocracia weberiana. Cada gerente ou chefe
é responsável por realizar as avaliações de seus subordinados e possui o
poder conferido pelo seu cargo para analisar e atribuir notas a seus
funcionários além de ter a oportunidade de discutir seus pontos de vista
documentados na avaliação de desempenho no intuito de convencer, ou pelo
menos influenciar a aceitação das opiniões dos primeiros. Porém, a partir do
momento que existe uma interdependência proposital de objetivos entre os
diversos níveis hierárquicos, os gerentes ou chefes dependem dos resultados
de seus subordinados para que seus próprios objetivos sejam atingidos, e
assim por diante. Esta dependência dilui o poder na organização, tornando-o
circunstancial e microfísico, conforme aborda Foucault.
Como então garantir que os objetivos sejam atingidos nesta rede de
dependência corporativa ? Controlando ao máximo as atividades de cada
indivíduo dentro da organização. E isto somente é possível graças ao
conceito de divisão de trabalho amplamente discutido por Marx. A cada
empregado é atribuído objetivos quantitativos os quais, no seu conjunto,
conduzirão a objetivos maiores a que o principal objetivo da organização,
maximização do lucro, seja concluído. Caso algum empregado não cumpra
ou atinja algum objetivo previamente determinado, uma punição é prevista
para que “ocorra uma melhora em seu trabalho”, o que nada mais representa
do que uma ameaça explícita, de acordo com a visão de Foucault : vigiar e
punir (FOUCAULT, 2001).
O principal elemento dos controles existente na organização é a
determinação dos objetivos, os quais aparecem sob diversas formas.
Objetivos de desempenho, KPIs (Key Perfomance Indicators), CSIs
(Customer Satisfaction Index) são diferentes nomenclatura para um mesmo
69
objeto. Ter objetivos claros, quantitativos e mensuráveis são características
mandatórias para que se possa controlar e punir qualquer desvio. Utilizando-
se do conceito de Weber da influência em adição ao caráter microfísico do
poder de Foucault, encontramos diversas maneiras e técnicas para garantir o
alcance dos objetivos. A participação nos lucros é uma forma de
remuneração que visa estimular os empregados de uma organização a se
esforçarem ao máximo para conseguir aumentar o lucro do capitalista e
receberem em troca parte do que foi lhes tirado para que a mais-valia
pudesse ser atingida. Essa visão marxista é adulterada pela empresa ao
colocar os empregados como partícipes da lucratividade, motivando-os
financeiramente através dos possíveis ganhos, porém utilizando-se de
técnicas de gerenciamento de controle, acompanhamento e punição. Caso
os objetivos não sejam cumpridos, o poder legítimo da burocracia de Weber é
exercido, excluindo de qualquer punição, o próprio capitalista.
A inovação é parte integrante da definição dos objetivos. Não somente
como um meio alavancador de resultados, mas também como elemento fim
de um processo. O conceito de inovação como criatividade transformada em
forma de mercadoria traduz a dinâmica quantitativa inerente a qualquer
objetivo corporativo. Para que uma empresa seja mais “competitiva” do que
outra nada mais é necessário do que estruturá-la para realizar as mesmas
atividades para se produzir um bem ou serviços utilizando-se um número
menor de recursos financeiros, ou ainda reduzir as atividades necessárias
obtendo-se o mesmo resultado. Para isto, o processo de inovação em uma
organização capitalista é de fundamental importância. Paradoxalmente, não é
permitindo total liberdade aos empregados que o aumento de competitividade
será alcançado. Pelo contrário, é explicitando numericamente este objetivo
que se força os empregados envolvidos a direcionarem seus esforços no
intuito de tornar a empresa mais “competitiva”. Incentivando-os através de
diversas técnicas de persuasão e coerção, entre elas o balanced scorecard e
as avaliações de desempenho, cujas conseqüências podem ser a perda do
emprego, redução das responsabilidades e do poder implícito nos cargos,
70
diminuição do crescimento dentro de uma carreira na organização, os
empregados lutam diariamente para que seus objetivos individualmente
assinalados sejam atingidos. Mesmo sendo a modalidade de trabalho em
grupo amplamente difundida nas organizações, cada profissional possui um
objetivo individual definido pela organização. Basta lembrar que promoções
são realizadas individualmente.
Quando a inovação é parte fundamental da atividade de uma empresa, por
exemplo, na área farmacêutica ou de tecnologia, é ainda mais nítida sua
relação com os objetivos quantitativos. Números de patentes solicitadas e
quantidade de novos produtos lançados no mercado são exemplos de
medições atribuídas aos diversos empregados os quais são conduzidos
diariamente pelos objetivos estipulados a “produzir inovação” como
mercadoria.
Um novo aspecto, existente nas organizações atuais, e que transpõem a
organização burocrática de Weber, é que o poder atribuído e legitimado pela
divisão do trabalho através das diversas funções dentro de uma empresa, não
possui a tangibilidade e substancialidade mesmo em se tratando de relações
sociais. É comum, para empresas de capital aberto, que o poder legítimo
esteja identificado em uma espécie de entidade chamada acionista. Porém,
não se sabe ao certo quais empresas ou pessoas compõem este grupo. Sem
conseguirmos identificar os atores do processo de relação social, é difícil
estabelecermos, mesmo na abordagem de Foucault, quem está vigiando e
quem será punido. O escárnio estudado por Foucault nos hospitais, prisões e
manicômios é resultado do processo de poder com clara definição de quais
pessoas, em determinada relação circunstancial, detém o poder.
O TQM (Total Quality Management Gerenciamento da Qualidade Total)
também é amplamente utilizado nas empresas, principalmente as que
possuem processos produtivos. Originária da Toyota, o TQM consiste em
tornar viável a qualidade em todos os processos organizacionais, através do
71
planejamento, organização e controle. Denomina-se Total porque não
restringe os processos de qualidade somente para a empresa, mas estende
os mesmos para fornecedores, distribuidores e demais parceiros.
Difere-se do controle de qualidade existente no Fordismo, pois não
restringe as atividades e responsabilidades à gerência, mas amplia o conceito
para todos os funcionários da empresa. Com isto, transfere-se a
responsabilidade para cada trabalhador, na maioria das vezes sem
contrapartida em sua remuneração, objetivando um maior controle e melhor
resultado de cada um. Conseqüentemente, a produtividade aumenta,
diminuindo-se a incidência de erros e retrabalhos, e o lucro tende a crescer.
Uma vez que se diluem as responsabilidades pela organização, sendo
todos responsáveis pela qualidade, (e, portanto, passíveis de maior punição)
a inovação também é diluída neste processo. A cada trabalhador são
designados objetivos específicos quantitativos os quais são acompanhados
cuidadosamente para que sejam atingidos. Quanto mais o trabalhador
conseguir superar estes objetivos, em tese, mais inovação foi colocada em
prática, uma vez que a mesma é medida em valores financeiros (redução de
custo, aumento de vendas, aumento de lucratividade).
Outra ferramenta utilizada para controle e direcionamento da inovação é o
chamado “empowerment. Segundo Wilkinson, o empowerment é
considerado como uma possível solução para o problema sobre ambientes
tayloristas e burocráticos onde a criatividade é sufocada e trabalhadores
sentem-se desmotivados e insatisfeitos. O conceito básico do empowerment
é a delegação de tarefas e responsabilidades pelos diversos níveis
hierárquicos da empresa atribuindo maior autonomia e poder de decisão
(WILKINSON, 1997).
Porém, ao contrário do que se apresenta, o empowerment não é uma
alternativa aos ambientes burocráticos e não proporciona maior poder de
72
decisão. Esta suposta autonomia é previamente controlada e limitada pelos
objetivos e resultados explicitamente colocados aos diversos níveis de
hierarquia da empresa, não deixando espaço para que a aparente liberdade
de inovação seja direcionada a qualquer outro objetivo que não os
estabelecidos pela empresa.
Assim sendo, o empowerment é uma ferramenta de gestão que utiliza
exatamente a estrutura burocrática de Weber para que a empresa aumente a
produtividade de cada funcionário, atribuindo-lhe maior responsabilidade,
porém com uma vigilância constante. Caso o resultado não seja o esperado,
a punição Foucaultiana ocorrerá invariavelmente.
Podemos também incluir na relação de ferramentas de controle utilizadas
pelas empresas, o incentivo financeiro (por meio de gratificações e prêmios)
para a aplicação da criatividade e inovação. Por diversas vezes, corporações
promovem um tipo de concurso interno para julgar e conferir um prêmio à
chamada idéia ou atitude mais inovadora (ou criativa vale lembrar que à
empresa interessa a inovação como forma de produção de mercadoria). Este
tipo de mensuração somente é possível quando se estabelece uma métrica
quantitativa e objetiva. Assim sendo, como não é possível medir a
criatividade ou inovação devido à sua essência subjetiva, o que se mede é o
resultado de sua aplicação, ou seja, a produção do excedente (mais-valia)
para o capitalista.
Em resumo, de acordo com o duplo caráter da inovação, ora sendo um
meio, uma ferramenta de gestão para aumento da produtividade, ora sendo
um fim como elemento principal para existência da empresa, esta lança mão
de diversas técnicas para que o principal objetivo corporativo, o lucro, seja
atingido.
Ferramentas como balanced scorecard, avaliação de desempenho,
“bottom 5 turnover”, TQM, o exemplos de como as empresas direcionam a
73
utilização da inovação em prol dos seus objetivos. Vale lembrar que estas
ferramentas não são utilizadas de maneira isolada pelas empresas. Ao
contrário, combinam-se entre si para formar um complexo controle das ações
dos trabalhadores em prol dos objetivos a serem atingidos. Estes devem ser
quantitativos e mensuráveis, além de interligados entre os diversos níveis
hierárquicos da empresa para que componham uma rede de dependência (e
por diversas vezes de competição) entre os funcionários no intuito de obter o
máximo de produtividade de cada um.
74
Capítulo 5 – Alienação induzida e suas conseqüências
O fio condutor que direciona os esforços de uma empresa para que a
lucratividade seja atingida é a correta definição dos objetivos e as ferramentas
pelas quais serão gerenciados.
Os ciclos econômicos, diferentemente dos estudados por Schumpeter, têm
no século XXI um tempo muito mais curto. Segundo Mészáros, a alienação é
caracterizada pela transformação de tudo em mercadoria, pela conversão dos
seres humanos em coisas e pela fragmentação do corpo social em indivíduos
isolados, os quais perseguem seus próprios objetivos de forma isolada.
A definição dos objetivos e a maneira pela qual são gerenciados seguem
as três características citadas por Mészáros. Primeiro, a inovação nas
empresas refere-se à criatividade transformada em forma de mercadoria.
Possui duplo caráter, como visto, podendo ser utilizada tanto como
alavancadora da acumulação do capital como ferramenta de gestão, para
que os esforços da organização sejam todos direcionados para o lucro
(MÉSZÁROS, 2002).
Segundo, a transformação do trabalho em força de trabalho, tornou-o uma
mercadoria vendável pelo trabalhador. O capitalista adquire esta força para
utilizá-la na fabricação de mercadorias cuja posse não é do trabalhador que a
produziu, mas sim do capitalista. Com isto, temos a subsunção do trabalho
ao capital, incluindo aqui a inovação.
Terceiro, os objetivos individuais traçados e gerenciados para cada
trabalhador, obriga-os a concentrar sua energia em atingi-los ao longo de um
determinado período. A punição pela falha ocorre de diversas formas, desde
o não incremento salarial (pagamento que o capitalista realiza pela venda da
força de trabalho do empregado) até a demissão do trabalhador.
75
Os objetivos que as empresas determinam para cada empregado estão
associados, invariavelmente, ao fator tempo. Assim sendo, espera-se que um
trabalhador atinja determinados resultados em um certo espaço de tempo.
Com a diminuição dos ciclos econômicos em termos de tempo devido a vários
fatores, entre eles o decréscimo na taxa de utilização no capitalismo atual, os
objetivos têm de ser atingidos cada vez mais em um menor espaço de tempo.
Este processo é conhecido como produtividade, ou seja, produzir mais com
no mínimo, os mesmos recursos em um espaço de tempo menor. Metas
anuais agora são, não raras vezes, fragmentadas em trimestres para que o
acompanhamento e o gerenciamento ocorram sempre no curto prazo. Com
isto, a pressão pelos resultados sobre os empregados aumenta ainda mais.
Os executivos, responsáveis pela determinação dos objetivos corporativos, os
quais são divididos entre os diversos níveis da empresa, também recebem a
mesma pressão de tempo e tendem a ter um olhar menos distante, mais
imediato.
Este processo, inerente ao sistema capitalista atual, direciona a inovação
também para o curto prazo. Com exceções de pesquisas científicas, onde a
inovação é o principal elemento de sustentação da empresa no mercado em
que atua, a inovação deve gerar mercadorias financeiramente viáveis para
que os objetivos de curto prazo sejam atingidos bem como manter os
esforços da empresa concentrados para o alcance destes objetivos. O
resultado é a alienação do trabalhador, especialmente dos executivos que
determinam os objetivos. Devido à pressão existente, focam a condução da
empresa no microcosmo das atividades diárias.
E as ferramentas de gestão (TQM, balanced scorecard, avaliação de
desempenho) aliadas à estrutura burocrática da empresa tornam cada
trabalhador em um ser alienado, na concepção marxista :
1) o homem está alienado da natureza
2) o homem está alienado de si mesmo
76
3) o homem está alienado de seu “ser genérico”
4) o homem está alienado do homem
No primeiro caso, a alienação do homem em relação à natureza expressa
a relação do homem com o produto de seu trabalho. O empregado que
vende sua força de trabalho ao capitalista não é dono do resultado de sua
produção. O chamado “mundo sensível exterior”, conforme Marx, perde
relação com o homem, pois seu trabalho está alienado, ou seja, foi
transformado em uma mercadoria que ele vende sob certas circunstâncias.
O segundo ponto é referente ao homem e ao ato de produzir. No interior
do processo de trabalho, o homem relaciona-se com a própria atividade de
maneira alheia, algo que não lhe oferece satisfação e prazer por si mesma,
mas apenas o ato de vendê-la.
No terceiro aspecto, Marx levou em consideração o rebaixamento do
homem perante a humanidade, ou seja, a alienação da “condição humana”,
que vê no trabalho não alienado o cerne da sociedade.
O quarto e último ponto é a resultante das outras três anteriores. Sendo o
homem alienado da natureza e a si mesmo de um lado e alienado na relação
entre homem e humanidade do outro, temos o estranhamento do homem pelo
próprio homem (MÉSZÁROS, 2006).
As duas principais características da sociedade capitalista, que levam a
alienação segundo Marx, são : a divisão do trabalho baseada na troca e a
propriedade privada. A primeira é uma expressão econômica que somente se
aplica às condições de alienação e a última é erroneamente baseada na
natureza humana (MÉSZÁROS, 2006). Segundo o autor, a gênese da divisão
do trabalho na sociedade capitalista atual pode ser ilustrada da seguinte
forma :
77
Vemos que o egoísmo (propriedade privada) é uma condição absoluta,
axiomática. O valor é produzido na interação mútua entre troca e divisão do
trabalho, sendo que a propriedade privada é elemento indispensável para que
as duas anteriores possam existir.
Portanto, uma vez que os responsáveis pela definição dos objetivos
empresariais, trabalham dentro do contexto capitalista, que possui como base
a propriedade privada e a divisão do trabalho, tornam-se invariavelmente
alienados com relação ao seu produto de trabalho e com relação aos demais.
As ferramentas de gestão mencionadas anteriormente, enfatizam a
individualidade (seja de um empregado ou de um grupo de empregados), pois
o gerenciamento é feito na esfera de cada trabalhador, bem como a punição
ou o reconhecimento.
A inovação, utilizada como ferramenta de gestão, também é um fator de
alienação do homem com o trabalho. Neste processo de troca e divisão do
Egoísmo -- Interesses individuais -- Propriedade privada
Troca
Venda
Compra
Divisão do Trabalho
Figura 1 – Mészáros, 2006
78
trabalho, a inovação controla e acelera a produção de mercadorias (troca e
venda) maximizando assim a acumulação de capital. O que aparenta ser um
diferencial em determinadas empresas que inovam e “aprendem”, é um
determinante de alienação cujas conseqüências são a visão de curto prazo,
devido aos objetivos terem um tempo cada vez menor para ser atingidos, e
um controle ainda maior das tarefas de cada trabalhador, devido à divisão do
trabalho.
A possibilidade de autonomia e poder de decisão do processo de
empowerment traz a transferência de algumas responsabilidades da divisão
do trabalho que se somam às funções de cada trabalhador, de onde se
espera uma maior responsabilidade frente aos resultados desejados. O
processo de geração de mais-valia permanece o mesmo, ou seja, a não
retribuição pelo capitalista à força de trabalho do trabalhador.
Desta forma, o devemos esperar uma atitude de maior planejamento e
pensamento de médio e longo prazo por parte dos executivos. Por estarem
no contexto capitalista atual, a exigência de resultados de curto prazo,
movidos pela aceleração dos ciclos econômicos e pela redução da taxa de
utilização, fazem com que estes trabalhadores sejam alienados do trabalho
como função social, incentivando o individualismo através da determinação de
objetivos numéricos e das ferramentas de controle e punição existentes.
Ao contrário do que sugere parte da literatura em administração, a
inovação nas empresas desenvolve-se em um ambiente de extremo controle
e preciso direcionamento de esforços, pois é uma ferramenta de aceleração
do processo de acumulação capitalista. Quando a inovação é o centro da
competitividade de uma empresa, por exemplo, na indústria de tecnologia, o
controle e os objetivos são ainda mais financeiramente e numericamente
determinados para que o principal foco da empresa capitalista, o lucro, possa
ser atingido e ultrapassado.
79
Devemos lembrar que pelo princípio ético aristotélico existe uma relação
harmoniosa entre os indivíduos e a comunidade. Esta coesão desaparece no
capitalismo atual, que baseia as relações humanas em termos de conflitos e
contradições. O avanço do capitalismo através das forças produtivas cria um
modelo de vida com ênfase cada vez maior na privacidade (MÉSZÁROS,
2002). A alienação das relações sociais manifesta-se no contexto capitalista
obrigando o indivíduo a refugiar-se em seu mundo privado. Segundo
Mészáros, na medida em que se amplia a extensão da produção de
mercadorias, o papel do indivíduo como consumidor privado adquire uma
importância cada vez maior para a perpetuação do próprio sistema de
produção.
A organização precisa de controles e ferramentas específicas para tornar
constante a lógica produtiva expansionista. Não somente o indivíduo, como
elemento da sociedade, é compelido a permanecer em seu pequeno mundo
privado, mas na atividade laboral é que realiza o principal modelo que utiliza
em sua existência. Portanto, vemos que a prática corporativa que gera
conflitos e incentiva a individualidade na empresa extrapola o escopo da
pessoa jurídica e direciona as atitudes e pensamentos da sociedade como um
todo.
Independentemente do tipo de atividade que cada indivíduo realiza, vimos
que a sociedade capitalista décadas estabeleceu uma mudança na forma
social do trabalho. Passou da simples produção de mercadoria para a
produção capitalista de mercadoria, de relações entre pessoas para relações
entre coisas. Conforme o exemplo fornecido por Harry Braverman no livro
Trabalho e Capital Monopolista A Degradação do Trabalho no Século XX,
“um alfaiate que faça um terno sob medida para certo cliente cria um objeto
útil sob a forma de mercadoria; ele o troca por dinheiro e tira da importância
recebida suas próprias despesas e meios de subsistência; o cliente que paga
este alfaiata compra um objeto útil e pelo dinheiro que deu nada espera senão
um terno” (BRAVERMAN, 1987, p.349). É o conceito de “trabalho
80
improdutivo” de Marx. Seguindo na explanação de Braverman “mas o
capitalista que assalaria um salão de alfaiates para fazer ternos cria uma
relação social. Nesta relação, os alfaiates agora fazem muito mais que
apenas ternos; fazem-se a si mesmos como trabalhadores produtivos e a seu
empregador como capitalista. O capital é assim não o dinheiro trocado por
trabalho; é dinheiro trocado por trabalho com o objetivo de apropriar-se
daquele valor que ele cria no que é pago e acima do que é pago, o valor
excedente” (BRAVERMAN, 1987, p.349). Basicamente, Marx definia o
trabalho produtivo no capitalismo como aquele que produz valor de
mercadoria, excluindo todo o trabalho que não é trocado por capital (no
exemplo acima, o primeiro alfaiate que troca o terno por dinheiro (renda) para
sua subsistência).
Este papel do trabalho no modo capitalista de produção permeia nossa
atual sociedade. O estudo feito por Marx sobre trabalho produtivo e
improdutivo mostra o efeito visionário das transformações sociais que
vivemos. Ora, se pagar ao filho do vizinho para aparar a grama é
considerado por Marx um trabalho improdutivo, diferentemente de se
contratar os serviços de jardinagem de uma empresa para aparar a mesma
grama (talvez utilizando o mesmo rapaz) para conseguir lucro do trabalho
feito, ou seja, trabalho produtivo para fins de acumulação de capital, temos
que o modo de produção e acumulação capitalista procura transformar cada
vez mais o trabalho improdutivo em produtivo.
Além disto, segundo Braverman, “a grande massa de trabalho que era
admitida como improdutiva porque não trabalhava para o capital foi agora
transformada em massa de trabalho que é improdutiva porque trabalha para o
capital, e, devido às necessidades do capital terem aumentado tão
notavelmente” (BRAVERMAN, 1987, p.351). Estão inseridas neste contexto
as funções de vendas, armazenagem, logística, contabilidade, entre outras,
as quais servem para concretizar os valores de troca, transformando-os em
forma de dinheiro, porém não amplia o valor ou o valor excedente existente
81
na sociedade nem a menor parcela à classe capitalista. (BRAVERMAN,
1987).
É um ciclo vicioso que se alimenta da própria deturpação social gerada
pelo processo. O homem deixa de trocar o objeto de seu trabalho por
dinheiro (renda) e passa a vendar sua força de trabalho ao capitalista, que se
apropria do valor excedente gerado. Quanto maior o valor excedente
produzido, maior a necessidade de transformar o trabalho improdutivo em
produtivo. Esta relação social criada pela troca de trabalho por dinheiro com
fins de acumulação perpassa toda a sociedade capitalista, fazendo com que
as relações humanas passem a ser relações capitalistas.
As conseqüências da exacerbação da sociedade capitalista podem ser
vistas em todos os lugares e setores. A devastação e destruição ambiental
que atinge o planeta, a eminente possibilidade de escassez de água em um
breve espaço de tempo, as mazelas e misérias de mais de dois terços da
população mundial, o esfacelamento das relações humanas são um preço
alto a se pagar pelo chamado progresso em nome da melhoria de condições
de vida de alguns. Enquanto as empresas aumentam seus investimentos em
inovação, para gerar um excedente ainda maior, a sociedade civil (dentro do
contexto capitalista) tenta sobreviver por meio de uma luta sem a menor
possibilidade de vitória, pois o capitalismo se alimenta do próprio efeito
devastador que causa.
A inovação acelera este processo. Visto que é utilizada para evitar
qualquer desvio no esforço da produção de mais-valia, inovar é tornar maior o
retorno que o capitalista busca na sociedade baseada no capital. A noção de
“riqueza das nações” desapareceu sendo substituída pela idéia de
“prosperidade”, que nada tem a ver com a produção de bens e serviços úteis
mas sim com a velocidade do fluxo nas interligações do capital e mercadorias
(BRAVERMAN, 1987).
82
Alienação e inovação, combinadas, transformam o papel do trabalho no
modo de produção capitalista. De um lado a empresa, que direciona seus
esforços para que cada profissional tenha a condição e o controle necessário
para reduzir qualquer tipo de perda, aumentando assim o que chamamos de
produtividade. Investimentos são realizados em treinamento e capacitação
cujo retorno esperado está devidamente incluído nas formas de medição
utilizadas pelas empresas (como por exemplo, a avaliação de desempenho).
Do outro lado, o trabalhador que não escolhe ou direciona sua capacitação,
pois a mesma é definida pela empresa por meio dos objetivos de negócio. O
chamado “plano de desenvolvimento” de cada trabalhador é resultado e
conseqüência do “plano de desempenho”. Se a atividade de um determinado
profissional exige contato com algum país da América Latina, então é preciso
desenvolver o conhecimento e domínio da língua espanhola. Mesmo que o
trabalhador queira estudar alemão, não poderá fazê-lo através do
investimento da empresa que espera um retorno específico do investimento
no estudo do espanhol. O trabalhador fica alienado do processo que
determina como melhor aplicar e desenvolver seu trabalho dentro do contexto
capitalista.
Além disto, a inovação nas organizações é por diversas vezes,
diretamente relacionada com a educação e a questão do aprendizado nas
organizações. De acordo com Nogueira “a chave da inovação está em
articular novos espaços entre a educação, a mudança e a tecnologia da
informação. O pressuposto é que a mudança o é uma escolha, e sim uma
questão de sobrevivência no mundo contemporâneo. Isso porque o
conhecimento está sofrendo profundas transformações e, como matéria-prima
da educação, tornou-se recurso estratégico para o desenvolvimento.”
(NOGUEIRA, 2007, p. 324).
Há, porém, que se destacar alguns conceitos. A empresa busca e investe
em educação, qualificação ou instrução de seus funcionários e parceiros ? O
que dever ser gerido : o trabalhador ou o seu conhecimento ?
83
Estas questões são abordadas de maneira crítica por Braverman.
Segundo ele “instruir um trabalhador significa apenas capacitá-lo a executar
as diretrizes do seu programa de trabalho. Desde que ele possa fazer isso,
terminou sua instrução, seja qual for a sua idade (GILBRETH apud
BRAVERMAN, 1987, p. 378).
A educação é um conceito mais amplo, que trata de conhecimentos que
transcendem apenas o conteúdo funcional, somente aquilo que se pode
colocar em prática de imediato. Pois bem, sendo o contexto capitalista
baseado em um objetivo maior pré-definido (aumento do lucro e acumulação)
todo e qualquer esforço em educação, qualificação ou instrução deve ter
aplicação imediata para que o retorno do investimento (ou gasto) feito pela
companhia seja o maior e mais breve possível.
A este sentido prático, meramente utilitário, onde as necessidades
imediatas e os atos para satisfazê-las são as bases de nosso cotidiano,
chamamos de práxis utilitária (VÁZQUEZ, 2007). Esse objetivismo reduz o
prático em uma única dimensão : a utilitária, ou seja, “prático é o ato ou objeto
que produz uma utilidade material, uma vantagem, um benefício; imprático, é
o ato ou objeto que carece dessa utilidade direta e imediata” (VÁZQUEZ,
2007, p.33). Do ponto de vista da produção capitalista, prático é o produtivo,
é o que produz valor e mais-valia.
Esta praticidade aliena o homem, não conduzindo-o à percepção e
reflexão de uma dimensão maior da realidade, transcendendo o limite da
consciência comum. “O homem comum e corrente, imerso no mundo de
interesses e necessidades da cotidianidade, não se eleva a uma verdadeira
consciência da práxis capaz de ultrapassar os limites estreitos de sua
atividade prática para perceber, sobretudo em algumas de suas formas o
trabalho, a atividade política, etc -, em toda a sua dimensão antropológica,
gnoseológica e social. Isto é, não percebe a que ponto, com seus atos
84
práticos, está contribuindo para escrever a história humana, nem pode
compreender até que grau a práxis necessita da teoria, ou até que ponto sua
atividade prática se insere em uma práxis humana social, o que faz com que
sues atos individuais envolvam os atos dos demais e, por sua vez, os destes
se reflitam em sua própria atividade” (VÁZQUEZ, 2007, p. 35).
Assim sendo, a empresa capitalista capacita o trabalhador meramente
para seus propósitos de acumulação, retirando do indivíduo toda a
consciência de ser social, cuja existência é o resultado dos atos e
pensamentos coletivos. A chamada educação deveria ser responsável por
formar e alimentar esta consciência reflexiva, porém cada vez mais esforços
são realizados para que o conteúdo educacional seja o mais próximo da
realidade do mercado, para que tenha aplicação prática imediata. Caso
contrário, perde-se qualquer sentido em se desenvolver o intelecto em
assuntos chamados não-práticos (ou impráticos).
É essa consciência prático-utilitária que norteia a sociedade atual. Cada
indivíduo é um ser auto-suficiente desassociado de qualquer relação coletiva
com os demais habitantes do planeta. Seus esforços em termos de
conhecimento e ações devem ser direcionados para a vitória diária sobre os
competidores (nem sempre oponentes), donde a valorização da
individualidade é fundamental para a sobrevivência na sociedade capitalista
criada. Trata-se de uma luta travada com ferramentas práticas e objetivas,
utilitárias, mas deformadas em seus valores de uso por meio dos valores de
troca, mas que possuem um forte simbolismo no contexto capitalista. Este
ciclo, de competitividade acirrada e individualismo extremado, distanciam o
homem de seu sentido social, coletivo e provoca dramáticas conseqüências
para a sociedade atual. Infelizmente podemos ver claramente alguns dos
efeitos nocivos da destruição das relações sociais, transformada apenas em
relações mercadológicas.
85
Um retrato fiel da nossa realidade pode ser encontrado e resumido no
seguinte poema de Attila József (MÉSZÁROS, 2002, p.51) :
A Sombra da Incontrolabilidade
Rato primitivo espalha praga entre nós :
pensamento impensado.
Rói adentro todo o nosso alimento
e corre de um homem ao outro.
Por isso o beberrão ignora
que ao afogar as mágoas em champanhe
Engole em seco o insípido caldo
do pobre apavorado.
E já que a razão falha em exigir
direitos fecundos das nações
nova infâmia se levanta a incitar
as raças umas contra as outras.
A opressão grasna em esquadrões,
aterra no coração vivo, como em carniça –
e a miséria escorre pelo mundo todo,
tal qual a baba no rosto de idiotas.
86
Capítulo 6 – Pesquisa com executivos de empresas no Brasil
Este capítulo apresenta o resultado de uma pesquisa por amostragem de
alguns executivos de alto escalão (diretores, vice-presidentes e presidentes)
de empresas que atuam no Brasil sobre sua visão, perspectiva e aplicação da
criatividade e inovação nas empresas que trabalham. O intuito desta
pesquisa é ilustrar o desenvolvimento teórico que embasa este trabalho, não
sendo o elemento central e principal da dissertação, por não se tratar de
estudo de caso. Porém, os elementos trazidos pelas respostas do
questionário aplicado aos entrevistados são de relevância pois aproximam a
teoria apresentada da prática de algumas corporações.
Por meio desta pesquisa, pudemos também verificar como a literatura do
management se expressa no discurso e pensamento dos executivos.
A abordagem escolhida para a pesquisa foi qualitativa e exploratória. De
acordo com Minayo (2003) trata-se de um conjunto de técnicas para construir
uma realidade que não pode ser quantificada, pois trabalha em um espectro
de crenças, valores e relações que não podem ser reduzidos apenas a
variáveis estatísticas. Devido à subjetividade do tema criatividade e inovação,
a pesquisa foi realizada utilizando prática que permite a construção de um
conhecimento intersubjetivo e compreensivo (GODOI, 2006).
As informações levantadas foram obtidas pelo envio, por e-mail, do
questionário abaixo para as fontes primárias e contato telefônico informando o
escopo da pesquisa. Não foram feitas entrevistas pessoais neste processo.
87
6.1) Conteúdo da pesquisa
Segmento ao qual sua empresa faz parte. Ex : Tecnologia,
Telecomunicações, Farmacêutica, Automobilística, Finanças, Serviços, etc. :
__________________
Cargo atual : ______________________________Idade :________________
Tempo total de empresa : __________Tempo no cargo atual : ____________
Nível de instrução : ( ) doutorado ( ) mestrado
( ) pós-graduado ( ) superior
( ) médio ( ) fundamental
Quantidade média de horas trabalhadas por dia : _________________
Sexo : ( ) masculino ( ) feminino
Faturamento anual da empresa no Brasil :
( ) maior que U$ 500 milhões
( ) entre U$ 250 milhões e U$ 500 milhões
( ) entre U$ 100 milhões e U$ 250 milhões
( ) entre U$ 50 milhões e U$ 100 milhões
( ) menor que U$ 50 milhões
Número de funcionários no Brasil :
( ) maior que 3.000 pessoas
( ) entre 1.500 e 3.000 pessoas
( ) entre 700 e 1.500 pessoas
( ) entre 200 e 700 pessoas
( ) menor que 200 pessoas
88
1) Como você define criatividade e inovação em sua empresa ?
2) Em minha organização, criatividade e inovação são vitais para a vantagem
competitiva sobre nossos concorrentes.
( ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
3) Para que os esforços despendidos em criatividade e inovação sejam
direcionados ao aumento da lucratividade da empresa é imprescindível o
controle da criatividade e inovação.
( ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
4) O principal objetivo da criatividade e inovação em minha empresa é ser
uma ferramenta para ampliação da lucratividade e aumento da vantagem
competitiva sobre os concorrentes.
( ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
89
5) Como sua organização mede a criatividade e inovação ?
6) Quais fatores, em sua opinião, influenciam a criatividade e a inovação em
sua empresa ?
7) Na minha organização, existem objetivos corporativos ligados à criatividade
e inovação.
( ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
8) Os funcionários possuem objetivos para a medição da criatividade e
inovação ? Cite alguns exemplos.
9) Em caso afirmativo na questão anterior, como sua organização garante que
os objetivos ligados à criatividade e inovação sejam atingidos ou superados ?
10) Em minha organização, procuramos incentivar a criatividade e inovação
através de prêmios em dinheiro, viagens e outros tipos de gratificações e
reconhecimentos.
( ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
90
6.2) Principal objetivo da criatividade e inovação
Para que pudéssemos obter uma maior abrangência nos resultados, foram
pesquisados executivos de empresas de diversos segmentos, entre eles
tecnologia da informação, finanças, serviços, e empresas com tamanhos
diferentes, tanto em número de funcionários como em faturamento.
Todos os executivos, sem exceção, responderam que criatividade e
inovação possuem como principal objetivo o aumento da lucratividade e a
obtenção de vantagem competitiva sobre os concorrentes, indicando
claramente que se trata de um assunto estratégico. Para o segmento de
tecnologia, criatividade e inovação foram apontadas como fatores essenciais
para a sobrevivência da empresa. Melhoria em processos, redução de
custos, aumento da satisfação dos clientes, aumento da lucratividade e novos
lançamentos de produtos e serviços para o mercado foram apontados como
resultados importantes da aplicação da criatividade e inovação nas empresas
pesquisadas. Observa-se que a definição utilizada para ambos os termos
aproxima-se da proposta por Gardner, sendo a capacidade de solucionar
problemas e gerar novos produtos e serviços valorizados dentro de um
contexto de comunidade (GARDNER, 1995).
As entrevistas confirmaram que parte dos executivos procuram incentivar a
criatividade e inovação através de prêmios em dinheiro, gratificações. Como
executivos de alto escalão, este tipo de prática torna-se um padrão para toda
a empresa e não somente um determinado setor. Este incentivo nada mais é
do que a troca dos resultados gerados por meio da aplicação da criatividade e
inovação sob a ótica de Gardner por dinheiro. Ou seja, transformam-se
ambos, criatividade e inovação, em mercadoria com valor de troca para o
capitalista, sendo que apenas uma pequena parte do excedente gerado é
repassado ao trabalhador.
91
Abstrai-se assim a parte subjetiva da criatividade e inovação
transformando-a em objetivos quantitativos e mensuráveis, com o principal
intuito de aumento da mais-valia. Ao incentivar por meio de prêmios e
gratificações, o executivo demonstra que está interessado na inovação como
forma de mercadoria, que produz valor de troca e contribui para que os
objetivos financeiros sejam alcançados. Temos então a inovação como a
criatividade transformada em forma de mercadoria.
6.3) Controle da criatividade e inovação : o paradoxo
inexistente
As entrevistas também mostram que os executivos pesquisados não são
desfavoráveis ao controle da criatividade e inovação, para não haver
desperdício nos esforços direcionados na obtenção da lucratividade. Ao
contrário, concordam que é imprescindível este controle.
Os entrevistados apontaram que as empresas possuem objetivos
corporativos ligados à criatividade e inovação, os quais são mensurados
através de ferramentas como a avaliação de desempenho. Com relação aos
fatores que influenciam a criatividade e inovação na empresa, os executivos
apontaram que a concorrência e a cultura da empresa o determinantes
neste aspecto.
De acordo com a pesquisa, pudemos observar que os entrevistados
concordam que deve existir controle para que os esforços em criatividade e
inovação possam maximizar o excedente produzido, e citam que diversas
ferramentas o utilizadas para tanto. Resultados financeiros, avaliação de
desempenho, pesquisa de satisfação de clientes são componentes de
mensuração existentes. Porém, apesar de admitir explicitamente a
necessidade destes controles, os executivos o os percebem como
limitadores da criatividade e inovação. Pelo contrário, citam que a liberdade
92
sobre a maneira de cada funcionário agir é preponderante para que a
empresa seja criativa e inovadora. Para os executivos, o é um paradoxo o
controle dos resultados através da auditoria dos objetivos individuais, desde
que cada um tenha a percepção de uma suposta liberdade para atuar no
intuito de atingir ou ultrapassar estes resultados.
Como participantes de uma classe privilegiada no capitalismo, os
executivos não somente repetem na prática o discurso teórico da literatura do
management como promovem em suas empresas a validação destes
conceitos. Conforme pudemos analisar, se alienam por possuírem uma força
de trabalho com valor de troca maior do que a maioria dos outros
profissionais. A prática utilitária compõe de maneira determinante o universo
destes profissionais de alta direção nas empresas, sendo que os objetivos
corporativos devem ser atingidos através do controle e da mensuração das
atividades individuais, porém com liberdade de ação. Qualquer esforço que
fuja desta aplicabilidade prática é visto como desperdício e deve ser
expurgado da rotina empresarial.
6.4) Alienação executiva
Todos os executivos pesquisados possuem o que chamamos de salário
fixo e variável. Parte de seus ganhos, referente ao salário variável, são
recuperados de acordo com as metas atingidas. Conforme estas metas são
ultrapassadas, “aceleradores salariais” são disparados e aumentam o valor
do salário variável do executivo.
Esta prática nada mais é do que a transferência do risco de não se gerar o
excedente necessário e desejado pelo capitalista, para o trabalhador. È um
incentivo financeiro para que todos os esforços sejam empregados no
direcionamento do lucro. O executivo passa a ser sócio do capitalista, mas
somente no risco pois, caso os resultados previamente definidos não sejam
93
atingidos, o profissional não recebe (ou somente recebe parte) do valor de
sua força de trabalho vendida ao capitalista. Em se produzindo um resultado
melhor do que o esperado e definido, apenas uma pequena parte deste
excedente gerado é repassado ao executivo, reduzindo o risco do custo
variável do capitalista.
A consequência desta prática é a alienação do executivo que busca
incessantemente em seu dia-a-dia maneiras de aumentar seus ganhos, uma
vez que o salário variável não possui limites. Qualquer atitude deve ter
aplicabilidade utilitária imediata para que sua renda seja maximizada. Como
o executivo necessita de seus subordinados para alcançar seus objetivos
corporativos individuais, as metas de cada trabalhador também são definidas
de forma a concentrar a força de trabalho no objetivo maior da empresa, o
lucro. Esta invididualização coletiva, ou seja, vários profissionais trabalhando
com objetivos individuais para se alcançar um objetivo maior e único para o
capitalista, gera uma distorção e miopia nas relações sociais no modelo
capitalista, onde cada indivíduo representa isoladamente um pequeno
universo, não importando as consequências dos seus atos para com os
demais, desde que possa, individualmente, atingir seus objetivos e propósitos.
Uma vez que a empresa (formada por pessoas) possui uma relação
dialética com a sociedade, influenciando-a e sendo influenciada, o resultado
desta mistificação financeira, onde o desejo de se destacar na sociedade gira
em torno, na maioria das vezes, da quantidade de posses de um indivíduo, é
a ruptura do homem com seu próprio ser e com a natureza, como ser humano
coletivo e social. Objeto e sujeito passam a ter uma relação prática e utilitária,
sem qualquer percepção ou desenvolvimento de uma capacidade de
abstração e visão ampla subjetiva do universo que cerca o homem, onde a
interação entre ambos deveria ser a de transformação constante para o
desenvolvimento coletivo, chamado de humanidade.
94
Conclusão
A captura da capacidade criativa do trabalhador é uma necessidade do
capital desde sempre, e não invenção recente, como sugere muitas vezes a
literatura do management a leitura de Marx (2006) e de Schumpeter (1982)
entre outros autores, deixa esse ponto muito claro. Porém, na medida em que
o capitalismo avança na produção de serviços e na utilização do trabalho não
repetitivo, criatividade e inovação adquirem crescente importância nas
organizações. Na sociedade dos descartáveis (MÉSZÁROS, 2002), o ciclo
econômico encolheu, portanto, a taxa de inovação (criatividade transformada
em forma de mercadoria) deve ser crescente para sustentar o modelo de
acumulação do capital.
Os estudos sobre criatividade e inovação, especialmente no que se
referem ao primeiro, desenvolveram-se ao longo da história através de
diversas abordagens. Porém, é a abordagem capitalista que busca
intensificar a troca entre trabalho e dinheiro com fins de acumulação que
domina o cenário atual.
O duplo caráter da inovação, utilizada pelas empresas como fator principal
de acumulação e como ferramenta de gestão, torna sua aplicação
fundamental para a sobrevivência no mercado atual. Companhias de
tecnologia e farmacêuticas, por exemplo, investem consideráveis percentuais
de suas receitas em inovação para se diferenciarem dos competidores e
lançarem ao mercado novas opções de produtos e serviços que, por diversas
vezes (como princípio estratégico), são únicas. Isto permite que, durante um
certo período, haja um monopólio de determinada empresa o que possibilita a
existência de um valor de troca que proporcione altas taxas de excedente
(mais-valia).
A outra face desta mesma moeda, direciona os esforços despendidos na
inovação (para a criação de um novo produto ou serviço) no intuito de diminuir
95
ao máximo os desperdícios (custos). As diversas técnicas de controle
existentes, tais como balanced scorecard, TQM, avaliação de desempenho,
foram criadas com o objetivo de controlar todo e qualquer processo da
empresa, inclusive o de inovação. A falsa noção de que uma empresa
considerada inovadora possui ambiente menos controlado, mais relaxado,
com maior autonomia para todos que participam da empresa é outra não-
contribuição da literatura do management. Como por muitas vezes, o
processo de inovação caracteriza-se por diversas tarefas e resultados
subjetivos, é necessário que transforme esta subjetividade em objetivos
mensuráveis e perfeitamente controlados. Número de patentes, quantidade
de novos produtos e serviços, valor financeiro da redução de custos são
exemplos de como a inovação é medida nas empresas. Medição esta que
possui como principal direcionador, a maximização do lucro.
As empresas não somente inovaram em processos e métodos para
conseguir maior produtividade e competitividade, mas também alteraram o
capitalismo empresarial para um novo contexto no qual o valor simbólico
prevalece sobre o valor de troca ou de uso.
O lucro na sociedade do descartável advém cada vez mais da quantidade
de acessos a um “produto” cujo custo basicamente existiu durante sua criação
e desenvolvimento, mas não no acesso individual. Produtos materiais e uma
parcela considerável de serviços apresenta esta lógica de geração da mais-
valia, não mais baseada na quantidade de trabalho, mas no monopólio e no
preço que os consumidores devem pagar para poder utilizá-los. Esta lógica
crescentemente presente em nossa sociedade gera a “indústria do pedágio”,
na qual se cobram taxas, pois a empresa fabricante detém o que chamamos
de monopólio de conhecimento. Desta forma, a rapidez da inovação pode
perpetuar a mais-valia, gerando características e qualidades exclusivas para o
produto ou serviço em questão, mantendo a organização à frente de seus
concorrentes. E tal lógica do capitalismo empresarial resulta da combinação
de inovação, conhecimento e valor. De acordo com Rifkin (2000), uma
96
drástica conseqüência deste processo de substituição da propriedade pelo
acesso é que, quando a cultura é absorvida pela economia, somente os
vínculos comerciais restarão para manter a sociedade unida.
O capital imaterial é utilizado como um meio para produzir novos
consumidores. É a releitura do conceito da destruição criativa. Porém, os
novos consumidores serão, invariavelmente individuais, concebidos na origem
como detentores de capacidade de compra, ao contrário do cidadão, em tese,
detentor de direitos independentemente da posse de meios de pagamento.
Assim, o consumidor não contém, per si, necessidades coletivas, desejo de
mudança social e preocupação com o bem comum (GORZ, 2005).
Em síntese, sobre a base da inovação, três fenômenos se intensificam,
com sérias conseqüências para a sociedade: aumento da concentração do
mercado (oligopolização), da alienação e do consumo dos descartáveis.
O produto ou serviço inovador permite à empresa praticar preços
extorsivos, obtendo o chamado lucro extraordinário (PINDYCK; RUBINFELD,
2004), que por sua vez, realimenta a espiral da concentração, para prejuízo
das pessoas quanto maior a concentração do mercado, pior as condições
de acesso das pessoas. Quando tal processo ocorre na produção de
medicamentos, por exemplo, temos produtos literalmente vitais, cujos preços
são impeditivos à maioria dos que deles necessitam.
As conseqüências da alienação são sobejamente conhecidas. Inicialmente
conhecíamos a alienação do trabalhador ocupado com tarefas repetitivas e
impedido de compreender o resultado completo de seu esforço. Agora
estamos diante de um trabalhador que é empurrado a acreditar na produção
de inovação como exercício de liberdade (daí a literatura do management
insistir nessa suposta causalidade), não raro em cargos de comando, sendo
re-envolvido nos valores do individualismo, quando a vida de todos nós
depende da ética da solidariedade (WOLF, 1990).
97
A sociedade do descartável, para usar a expressão de Mészaros (2002),
entre muitos outros problemas, é uma das causas dos danos ambientais com
os quais convivemos, acrescidos daqueles que mortificarão as próximas
gerações. O domínio do conceito prático-utilitário em nosso cotidiano
capitalista, transforma as relações sociais em relações mercadológicas,
produzindo seres humanos alienados, individualistas e desconexos de sua
raiz coletiva, tornando tudo aquilo que não possui aplicabilidade imediata
como mercadoria inútil e dispensável. O homem passa a viver uma realidade
onde a polis é apenas um conceito geográfico e não antropológico. Sua
consciência comum está à margem da reflexão, abstração e de um sentido
amplo de sua verdadeira condição de criador e criatura.
As reflexões apresentadas não pretendem sugerir uma guerra à
criatividade e à inovação, mas apontar as conseqüências de ambas quando
operam de maneira preponderante com os interesses da acumulação do
capital.
98
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109
Anexos
Anexo A - Pesquisa 1
Segmento ao qual sua empresa faz parte. Ex : Tecnologia, Telecomunicações,
Farmacêutica, Automobilística, Finanças, Serviços, etc. : Finanças
Cargo atual : Superintendente Idade : 53 anos
Tempo total de empresa : 3 anos Tempo no cargo atual : 3 anos
Nível de instrução : ( ) doutorado ( ) mestrado
( X ) pós-graduado ( ) superior
( ) médio ( ) fundamental
Quantidade média de horas trabalhadas por dia : 10 horas
Sexo : ( X ) masculino ( ) feminino
Faturamento anual da empresa no Brasil :
( X ) maior que U$ 500 milhões
( ) entre U$ 250 milhões e U$ 500 milhões
( ) entre U$ 100 milhões e U$ 250 milhões
( ) entre U$ 50 milhões e U$ 100 milhões
( ) menor que U$ 50 milhões
Número de funcionários no Brasil :
( X ) maior que 3.000 pessoas
( ) entre 1.500 e 3.000 pessoas
( ) entre 700 e 1.500 pessoas
( ) entre 200 e 700 pessoas
( ) menor que 200 pessoas
110
1) Como você define criatividade e inovação em sua empresa ?
Tremendamente grande e rápida pelas exigências do mercado financeiro.
2) Em minha organização, criatividade e inovação são vitais para a vantagem
competitiva sobre nossos concorrentes.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
3) Para que os esforços despendidos em criatividade e inovação sejam
direcionados ao aumento da lucratividade da empresa é imprescindível o controle da
criatividade e inovação.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
4) O principal objetivo da criatividade e inovação em minha empresa é ser uma
ferramenta para ampliação da lucratividade e aumento da vantagem competitiva
sobre os concorrentes.
( ) Concordo plenamente
( X ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
111
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
5) Como sua organização mede a criatividade e inovação ?
Pelo resultado financeiro.
6) Quais fatores, em sua opinião, influenciam a criatividade e a inovação em sua
empresa ?
A competitividade com os concorrentes, o exemplo de outras áreas do
conglomerado e a liberdade para criar que a empresa nos dá.
7) Na minha organização, existem objetivos corporativos ligados à criatividade e
inovação
( ) Concordo plenamente
( X ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
8) Os funcionários possuem objetivos para a medição da criatividade e inovação ?
Cite alguns exemplos.
Não conheço.
9) Em caso afirmativo na questão anterior, como sua organização garante que os
objetivos ligados à criatividade e inovação sejam atingidos ou superados ?
10) Em minha organização, procuramos incentivar a criatividade e inovação através
de prêmios em dinheiro, viagens e outros tipos de gratificações e reconhecimentos.
( ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
112
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( X ) Discordo plenamente
113
Anexo B - Pesquisa 2
Segmento ao qual sua empresa faz parte. Ex : Tecnologia, Telecomunicações,
Farmacêutica, Automobilística, Finanças, Serviços, etc. : Tecnologia da
Informação.
Cargo atual : Presidente Idade : 49 anos
Tempo total de empresa : 11 anos Tempo no cargo atual : 1 ano
Nível de instrução : ( ) doutorado ( ) mestrado
( X ) pós-graduado ( ) superior
( ) médio ( ) fundamental
Quantidade média de horas trabalhadas por dia : 11 horas
Sexo : ( X ) masculino ( ) feminino
Faturamento anual da empresa no Brasil :
( ) maior que U$ 500 milhões
( ) entre U$ 250 milhões e U$ 500 milhões
( X ) entre U$ 100 milhões e U$ 250 milhões
( ) entre U$ 50 milhões e U$ 100 milhões
( ) menor que U$ 50 milhões
Número de funcionários no Brasil :
( ) maior que 3.000 pessoas
( ) entre 1.500 e 3.000 pessoas
( ) entre 700 e 1.500 pessoas
( X ) entre 200 e 700 pessoas
( ) menor que 200 pessoas
114
1) Como você define criatividade e inovação em sua empresa ?
Criatividade e inovação são ao mesmo tempo uma visão na nossa empresa
assim como considero uma necessidade para o sucesso na Indústria de
Tecnologia da Informação.
Ela permeia da visão da empresa e se expressa na capacidade de cada
funcionário de externar suas idéias e serem recompensados pelo sucesso das
mesmas.
2) Em minha organização, criatividade e inovação são vitais para a vantagem
competitiva sobre nossos concorrentes.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
3) Para que os esforços despendidos em criatividade e inovação sejam
direcionados ao aumento da lucratividade da empresa é imprescindível o controle da
criatividade e inovação.
( ) Concordo plenamente
( X ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
4) O principal objetivo da criatividade e inovação em minha empresa é ser uma
ferramenta para ampliação da lucratividade e aumento da vantagem competitiva
sobre os concorrentes.
115
( ) Concordo plenamente
( X ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
5) Como sua organização mede a criatividade e inovação ?
Não existe uma medida pratica para tal. A empresa presa ambas ao fazer
investimentos em áreas onde não há uma correlação direta e de curto prazo na
lucratividade da mesma, incentivando comunidades e buscando um ambiente
de trabalho colaborativo.
Medidas práticas como numero de patentes não avaliam com amplitude uma
empresa criativa e inovadora, que pode diferenciar-se na prestação de
serviços para o mercado e mesmo para as comunidades que participa, sejam
de empresas ou de grupos de usuários.
6) Quais fatores, em sua opinião, influenciam a criatividade e a inovação em sua
empresa ?
Cultura da empresa, incentivo a grupos ou áreas especificas e participação
ativa em comunidades e organizações afins.
7) Na minha organização, existem objetivos corporativos ligados à criatividade e
inovação
( ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( X ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
116
8) Os funcionários possuem objetivos para a medição da criatividade e inovação ?
Cite alguns exemplos.
Em algumas áreas específicas sim, como nas comunidades de software e
incentivo a área de software livre. Sãoobjetivos normalmente estratéicos que
atuam na remuneração direta dos funcionários ligados a esta área.
Para funcionários de outras áreas premiações específicas, avaliadas por
programas de spiff, que o ha uma correlação da atividade fim dos
mesmos com estes objetivos, mas se deseja uma participação mais ampla dos
funcionários de todas as áreas.
9) Em caso afirmativo na questão anterior, como sua organização garante que os
objetivos ligados à criatividade e inovação sejam atingidos ou superados ?
São feitas avaliações anuais, atualizadas a cada 3 meses, para
acompanhamento das metas. Não é uma garantia, mas sim um
acompanhamento das metas e da performance em questão.
10) Em minha organização, procuramos incentivar a criatividade e inovação através
de prêmios em dinheiro, viagens e outros tipos de gratificações e reconhecimentos.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
117
Anexo C - Pesquisa 3
Segmento ao qual sua empresa faz parte. Ex : Tecnologia, Telecomunicações,
Farmacêutica, Automobilística, Finanças, Serviços, etc. : Serviços
Cargo atual : Sócio Diretor Presidente Idade : 63 anos
Tempo total de empresa : 19 anos Tempo no cargo atual : 19 anos
Nível de instrução : ( ) doutorado ( ) mestrado
( X ) pós-graduado ( ) superior
( ) médio ( ) fundamental
Quantidade média de horas trabalhadas por dia : 12 horas
Sexo : ( X ) masculino ( ) feminino
Faturamento anual da empresa no Brasil :
( ) maior que U$ 500 milhões
( ) entre U$ 250 milhões e U$ 500 milhões
( ) entre U$ 100 milhões e U$ 250 milhões
( ) entre U$ 50 milhões e U$ 100 milhões
( X ) menor que U$ 50 milhões
Número de funcionários no Brasil :
( ) maior que 3.000 pessoas
( ) entre 1.500 e 3.000 pessoas
( ) entre 700 e 1.500 pessoas
( ) entre 200 e 700 pessoas
( X ) menor que 200 pessoas
118
1) Como você define criatividade e inovação em sua empresa ?
Encontrar soluções diferentes para nossas empresas clientes - do maior valor
possível, no ato de adquirir nossos serviços e conseguir comunicá-las de
forma simples e efetiva.
2) Em minha organização, criatividade e inovação são vitais para a vantagem
competitiva sobre nossos concorrentes.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
3) Para que os esforços despendidos em criatividade e inovação sejam
direcionados ao aumento da lucratividade da empresa é imprescindível o controle da
criatividade e inovação.
( ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( X ) Discordo plenamente
4) O principal objetivo da criatividade e inovação em minha empresa é ser uma
ferramenta para ampliação da lucratividade e aumento da vantagem competitiva
sobre os concorrentes.
( ) Concordo plenamente
( X ) Concorde parcialmente
119
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
5) Como sua organização mede a criatividade e inovação ?
Através de aferimento e medição da satisfação dos nossos clientes durante
todas as etapas dos serviços prestados.
6) Quais fatores, em sua opinião, influenciam a criatividade e a inovação em sua
empresa ?
Expectativas claras de sucesso e resultados percebidos por nossos clientes,
comunicados freqüentemente a todos os membros da nossa organização,
seguidos de liberdade sobre a maneira de cada um agir.
7) Na minha organização, existem objetivos corporativos ligados à criatividade e
inovação.
( X ) Concorde plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
8) Os funcionários possuem objetivos para a medição da criatividade e inovação ?
Cite alguns exemplos.
Sim, os resultados.
9) Em caso afirmativo na questão anterior, como sua organização garante que os
objetivos ligados à criatividade e inovação sejam atingidos ou superados ?
120
Através da medição dos nossos resultados.
10) Em minha organização, procuramos incentivar a criatividade e inovação através
de prêmios em dinheiro, viagens e outros tipos de gratificações e reconhecimentos.
( ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( X ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
121
Anexo D - Pesquisa 4
Segmento ao qual sua empresa faz parte. Ex : Tecnologia, Telecomunicações,
Farmacêutica, Automobilística, Finanças, Serviços, etc. : Telecomunicações
Cargo atual : Diretor Idade : 46 anos
Tempo total de empresa : 5 anos Tempo no cargo atual : 3 anos
Nível de instrução : ( ) doutorado ( ) mestrado
( X ) pós-graduado ( ) superior
( ) médio ( ) fundamental
Quantidade média de horas trabalhadas por dia : 11 horas
Sexo : ( X ) masculino ( ) feminino
Faturamento anual da empresa no Brasil :
( ) maior que U$ 500 milhões
( X ) entre U$ 250 milhões e U$ 500 milhões
( ) entre U$ 100 milhões e U$ 250 milhões
( ) entre U$ 50 milhões e U$ 100 milhões
( ) menor que U$ 50 milhões
Número de funcionários no Brasil :
( ) maior que 3.000 pessoas
( ) entre 1.500 e 3.000 pessoas
( X ) entre 700 e 1.500 pessoas
( ) entre 200 e 700 pessoas
( ) menor que 200 pessoas
122
1) Como você define criatividade e inovação em sua empresa ?
Elementos de vantagem competitiva sobre nossos concorrentes. Novos
produtos e serviços com novas tecnologias.
2) Em minha organização, criatividade e inovação são vitais para a vantagem
competitiva sobre nossos concorrentes.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
3) Para que os esforços despendidos em criatividade e inovação sejam
direcionados ao aumento da lucratividade da empresa é imprescindível o controle da
criatividade e inovação.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
4) O principal objetivo da criatividade e inovação em minha empresa é ser uma
ferramenta para ampliação da lucratividade e aumento da vantagem competitiva
sobre os concorrentes.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
123
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
5) Como sua organização mede a criatividade e inovação ?
Por meio dos resultados. Os objetivos corporativos são determinados
anualmente e revisados trimestralmente.
6) Quais fatores, em sua opinião, influenciam a criatividade e a inovação em sua
empresa ?
O incentivo gerencial, a cultura da empresa e o controle do desempenho
individual e em grupo.
7) Na minha organização, existem objetivos corporativos ligados à criatividade e
inovação
( ) Concordo plenamente
( X ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
8) Os funcionários possuem objetivos para a medição da criatividade e inovação ?
Cite alguns exemplos.
Existem premiações para melhores projetos que usam criatividade e inovação
em prol de melhorias que refletem em nossos resultados.
9) Em caso afirmativo na questão anterior, como sua organização garante que os
objetivos ligados à criatividade e inovação sejam atingidos ou superados ?
Avaliações de desempenho anuais, com ajustes trimestrais e reuniões
periódicas para a revisão dos objetivos da empresa.
124
10) Em minha organização, procuramos incentivar a criatividade e inovação através
de prêmios em dinheiro, viagens e outros tipos de gratificações e reconhecimentos.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
125
Anexo E - Pesquisa 5
Segmento ao qual sua empresa faz parte. Ex : Tecnologia, Telecomunicações,
Farmacêutica, Automobilística, Finanças, Serviços, etc. : Automobilística
Cargo atual : Diretor Idade : 51 anos
Tempo total de empresa : 25 anos Tempo no cargo atual : 8 anos
Nível de instrução : ( ) doutorado ( ) mestrado
( X ) pós-graduado ( ) superior
( ) médio ( ) fundamental
Quantidade média de horas trabalhadas por dia : 13 horas
Sexo : ( X ) masculino ( ) feminino
Faturamento anual da empresa no Brasil :
( X ) maior que U$ 500 milhões
( ) entre U$ 250 milhões e U$ 500 milhões
( ) entre U$ 100 milhões e U$ 250 milhões
( ) entre U$ 50 milhões e U$ 100 milhões
( ) menor que U$ 50 milhões
Número de funcionários no Brasil :
( X ) maior que 3.000 pessoas
( ) entre 1.500 e 3.000 pessoas
( ) entre 700 e 1.500 pessoas
( ) entre 200 e 700 pessoas
( ) menor que 200 pessoas
126
1) Como você define criatividade e inovação em sua empresa ?
Condição de sobrevivência. Tecnologia e atitude de cada profissional.
2) Em minha organização, criatividade e inovação são vitais para a vantagem
competitiva sobre nossos concorrentes.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
3) Para que os esforços despendidos em criatividade e inovação sejam
direcionados ao aumento da lucratividade da empresa é imprescindível o controle da
criatividade e inovação.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
4) O principal objetivo da criatividade e inovação em minha empresa é ser uma
ferramenta para ampliação da lucratividade e aumento da vantagem competitiva
sobre os concorrentes.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
127
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
5) Como sua organização mede a criatividade e inovação ?
Resultados financeiros e de satisfação de nossos clientes.
6) Quais fatores, em sua opinião, influenciam a criatividade e a inovação em sua
empresa ?
A cultura da empresa, a necessidade de permanecer entre os líderes, os
objetivos da empresa.
7) Na minha organização, existem objetivos corporativos ligados à criatividade e
inovação
( ) Concordo plenamente
( X ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
8) Os funcionários possuem objetivos para a medição da criatividade e inovação ?
Cite alguns exemplos.
Não diretamente. As metas financeiras e os índices de satisfação dos clientes
refletem indiretamente nossa criatividade e inovação.
9) Em caso afirmativo na questão anterior, como sua organização garante que os
objetivos ligados à criatividade e inovação sejam atingidos ou superados ?
Reuniões semanais com funcionários e parceiros. Avaliações de desempenho
e medições mensais de diversos índices (satisfação, receita, lucratividade,
produtividade).
128
10) Em minha organização, procuramos incentivar a criatividade e inovação através
de prêmios em dinheiro, viagens e outros tipos de gratificações e reconhecimentos.
( ) Concordo plenamente
( X ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
129
Anexo F - Pesquisa 6
Segmento ao qual sua empresa faz parte. Ex : Tecnologia, Telecomunicações,
Farmacêutica, Automobilística, Finanças, Serviços, etc. : Varejo
Cargo atual : Diretora Idade : 45 anos
Tempo total de empresa : 10 anos Tempo no cargo atual : 5 anos
Nível de instrução : ( ) doutorado ( ) mestrado
( ) pós-graduado ( X ) superior
( ) médio ( ) fundamental
Quantidade média de horas trabalhadas por dia : 11 horas
Sexo : ( ) masculino ( X ) feminino
Faturamento anual da empresa no Brasil :
( X ) maior que U$ 500 milhões
( ) entre U$ 250 milhões e U$ 500 milhões
( ) entre U$ 100 milhões e U$ 250 milhões
( ) entre U$ 50 milhões e U$ 100 milhões
( ) menor que U$ 50 milhões
Número de funcionários no Brasil :
( X ) maior que 3.000 pessoas
( ) entre 1.500 e 3.000 pessoas
( ) entre 700 e 1.500 pessoas
( ) entre 200 e 700 pessoas
( ) menor que 200 pessoas
130
1) Como você define criatividade e inovação em sua empresa ?
Nosso diferencial sobre a concorrência. Essencial em cada funcionário.
2) Em minha organização, criatividade e inovação são vitais para a vantagem
competitiva sobre nossos concorrentes.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
3) Para que os esforços despendidos em criatividade e inovação sejam
direcionados ao aumento da lucratividade da empresa é imprescindível o controle da
criatividade e inovação.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
4) O principal objetivo da criatividade e inovação em minha empresa é ser uma
ferramenta para ampliação da lucratividade e aumento da vantagem competitiva
sobre os concorrentes.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
131
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
5) Como sua organização mede a criatividade e inovação ?
Através da satisfação de nossos clientes e funcionários.
6) Quais fatores, em sua opinião, influenciam a criatividade e a inovação em sua
empresa ?
A cultura da nossa empresa e nossos funcionários. Procuramos ouvi-los
sempre, pois a grande maioria das sugestões beneficia a empresa como um
todo.
7) Na minha organização, existem objetivos corporativos ligados à criatividade e
inovação
( ) Concordo plenamente
( X ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
8) Os funcionários possuem objetivos para a medição da criatividade e inovação ?
Cite alguns exemplos.
Não temos formalmente. Porém, diariamente nosso funcionários são
incentivados pela gerência e por meio de premiações e fornecer novas idéias e
sugestões para a melhoria dos serviços que prestamos aos cliente e
relacionamento com nossos parceiros.
9) Em caso afirmativo na questão anterior, como sua organização garante que os
objetivos ligados à criatividade e inovação sejam atingidos ou superados ?
Reuniões constantes de feedback e metas da empresa.
132
10) Em minha organização, procuramos incentivar a criatividade e inovação através
de prêmios em dinheiro, viagens e outros tipos de gratificações e reconhecimentos.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
133
Anexo G - Pesquisa 7
Segmento ao qual sua empresa faz parte. Ex : Tecnologia, Telecomunicações,
Farmacêutica, Automobilística, Finanças, Serviços, etc. : Serviços
Cargo atual : Diretor Idade : 52 anos
Tempo total de empresa : 4 anos Tempo no cargo atual : 4 anos
Nível de instrução : ( ) doutorado ( X ) mestrado
( ) pós-graduado ( ) superior
( ) médio ( ) fundamental
Quantidade média de horas trabalhadas por dia : 11 horas
Sexo : ( X ) masculino ( ) feminino
Faturamento anual da empresa no Brasil :
( ) maior que U$ 500 milhões
( ) entre U$ 250 milhões e U$ 500 milhões
( ) entre U$ 100 milhões e U$ 250 milhões
( ) entre U$ 50 milhões e U$ 100 milhões
( X ) menor que U$ 50 milhões
Número de funcionários no Brasil :
( ) maior que 3.000 pessoas
( ) entre 1.500 e 3.000 pessoas
( ) entre 700 e 1.500 pessoas
( ) entre 200 e 700 pessoas
( X ) menor que 200 pessoas
134
1) Como você define criatividade e inovação em sua empresa ?
Por sermos uma empresa de serviços com estrutura enxuta, a criatividade e
inovação é essencial para nosso crescimento.
2) Em minha organização, criatividade e inovação são vitais para a vantagem
competitiva sobre nossos concorrentes.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
3) Para que os esforços despendidos em criatividade e inovação sejam
direcionados ao aumento da lucratividade da empresa é imprescindível o controle da
criatividade e inovação.
( ) Concordo plenamente
( X ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
4) O principal objetivo da criatividade e inovação em minha empresa é ser uma
ferramenta para ampliação da lucratividade e aumento da vantagem competitiva
sobre os concorrentes.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
135
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
5) Como sua organização mede a criatividade e inovação ?
Através do crescimento agressivo da empresa no país.
6) Quais fatores, em sua opinião, influenciam a criatividade e a inovação em sua
empresa ?
O tamanho da empresa, a informalidade que existe no relacionamento dos
funcionários no Brasil e em outros países e a possibilidade de crescimento de
carreira que cada um possui.
7) Na minha organização, existem objetivos corporativos ligados à criatividade e
inovação
( ) Concordo plenamente
( X ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
8) Os funcionários possuem objetivos para a medição da criatividade e inovação ?
Cite alguns exemplos.
Diretamente, não. As metas, a possibilidade de superação das mesmas e os
benefícios financeiros gerados são um incentivo natural para que todos
trabalhem de forma criativa e inovadora.
9) Em caso afirmativo na questão anterior, como sua organização garante que os
objetivos ligados à criatividade e inovação sejam atingidos ou superados ?
Resultados corporativos anuais com revisões trimestrais. Além de reuniões
semanais para verificação de qualquer desvio e ações corretivas.
136
10) Em minha organização, procuramos incentivar a criatividade e inovação através
de prêmios em dinheiro, viagens e outros tipos de gratificações e reconhecimentos.
( X ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente
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