perspectiva da própria realidade, ou seja, na medida em que se reconhece a
interferência do sujeito na compreensão do objeto, procura-se apreender a
realidade a partir do próprio objeto, a partir da perspectiva do objeto; assim, a
objetividade é afirmada pela negação da interferência do sujeito cognoscente e
pela afirmação da perspectiva do próprio objeto: como nas ciências humanas e
especialmente na Educação a realidade que se pretende conhecer é vivida pelos
sujeitos da própria realidade – pelos agentes integrantes desta mesma realidade –
é, pois, a perspectiva destes agentes que se pretenderá atingir, apreender e
conhecer. Em outras palavras, será a perspectiva cultural dos sujeitos – a versão
dos próprios agentes acerca da realidade da qual fazem parte – que constituirá, ao
mesmo tempo, a referência discursiva conceitual acerca da realidade e o próprio
objeto a ser conhecido. Nas ciências humanas – e na pesquisa em educação –
esta vertente, de base relativista, tem sido representada, em sua dupla dimensão,
pelas correntes interpretativistas
5
, destacando-se, como exemplo do segundo
caso, as abordagens fenomenológicas, etnometodológicas e interacionistas
6
.
Dentro desta perspectiva, as abordagens qualitativas ganham força especial,
como critérios metodológicos alternativos aos métodos reivindicados pelo
positivismo. O trabalho de Lígia Márcia Martins (2007), em especial, procurou
analisar e criticar essas abordagens qualitativas e sua vinculação com o
materialismo histórico dialético, apontando para a força destas abordagens na
conjuntura epistemológica atual. Assim diz a autora:
5
Muitas foram as influências das abordagens interpretativas das ciências sociais na pesquisa em
educação; dentre elas, destaca-se o trabalho de Clifford Geertz (1978), que tornou-se referência
metodológica do interpretativismo e onde aparecem a etnografia e a descrição densa como
elementos metodológicos centrais para o trabalho de pesquisa, tomados como referência do
interpretativismo em geral. Como exemplo da fenomenologia, destaca-se o trabalho de A. Schutz
(1979).
6
A afirmação sobre a impossibilidade da neutralidade e a crítica ao positivismo levou à conclusão,
presente nestas posturas metodológicas, de que todo saber é uma interpretação da realidade e,
como interpretação, não representa a realidade em si mesma. Como alternativa metodológica à
interferência do sujeito no processo de conhecimento, apresentou-se a polifonia – elemento da
etnometodologia – na tentativa de apresentar a realidade em suas próprias vozes, sem a
interferência da interpretação. Também neste sentido, a presença das narrativas como tentativa de
minimização ou superação destas interferências, tem sido referencial metodológico utilizado. Para
exemplo, ver o trabalho de Elza Dutra (2002), intitulado “A narrativa como uma técnica de pesquisa
fenomenológica”. Todas estas propostas têm sido utilizadas como referenciais possíveis em
pesquisa educacional, como podemos observar na própria formação atual dos alunos na pós-
graduação em Educação da UERJ.
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