Download PDF
ads:
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
ESCOLA DE ECONOMIA DE SÃO PAULO
FELIPPE CAUÊ SERIGATI
FIDELIDADE E GOVERNANÇA CORPORATIVA EM COOPERATIVAS:
um estudo empírico com as cooperativas paulistas
SÃO PAULO
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
FELIPPE CAUÊ SERIGATI
FIDELIDADE E GOVERNANÇA CORPORATIVA EM COOPERATIVAS:
um estudo empírico com as cooperativas paulistas
Dissertação apresentada à Escola de
Economia de São Paulo da Fundação
Getúlio Vargas, como requisito para
obtenção do título de Mestre em
Economia
Orientador: Prof. Dr. Paulo Furquim
de Azevedo.
SÃO PAULO
2008
ii
ads:
Serigati, Felippe Cauê.
Fidelidade e governança corporativa em cooperativas: um estudo empírico com as
cooperativas paulistas / Felippe Cauê Serigati. – 2008.
121 f.
Orientador: Paulo Furquim de Azevedo.
Dissertação (mestrado) - Escola de Economia de São Paulo.
1. Cooperativas - Administração. 2. Governança corporativa. 3. Clientes -
Fidelidade. I. Azevedo, Paulo Furquim de. II. Dissertação (mestrado) - Escola de
Economia de São Paulo. III. Título.
CDU 334
iii
AGRADECIMENTOS
Embora o processo de produção de uma dissertação tenha uma face muito pessoal, e às
vezes até mesmo solitária, este processo só se concretiza com a colaboração de um conjunto
significativo de pessoas. Gostaria de agradecer a todos que contribuíram para a realização
deste trabalho. No entanto, infelizmente, devido ao limitado espaço disponível e à minha curta
memória, não será possível retribuir a ajuda de todos mencionando seus nomes explicitamente
nesta seção.
Dentro dos limites já mencionados, gostaria de destacar alguns nomes cuja
participação foi decisiva para o sucesso do esforço representado por esta dissertação.
Em primeiro lugar, agradeço o apoio de toda a minha família que, além de me
incentivar a concluir este trabalho, compreendeu a minha ausência em tantas oportunidades.
Agradeço também à Vanessa Contato Lopes Resende que pacientemente compreendeu meu
tempo livre cada vez mais escasso.
Devo agradecimentos especiais aos amigos que contribuíram diretamente para que esta
dissertação se concretizasse. Entre eles, meu orientador, o professor Paulo Furquim de
Azevedo, que, além de me indicar os diversos caminhos possíveis para a execução deste
trabalho, tranqüilizou-me nos momentos em que achei que esta dissertação não teria um final
feliz. Da mesma forma, agradeço imensamente os professores Verônica Inês Fernandez
Orellano e Sigismundo Bialoskorski Neto que estiveram sempre disponíveis para me ajudar
na elaboração deste trabalho. Em especial, agradeço toda a atenção dispensada pelo Davi
Rogério de Moura Costa – que foi uma espécie de co-orientador – por meio de conselhos e
sugestões que ajudaram enormemente a suprir minha falta de experiência com o objeto de
estudo analisado por esta dissertação.
Agradeço também a todo pessoal do ICA/Codeagro, cujos dados e infra-estrutura me
permitiram concluir este trabalho, e a todos colegas, professores e funcionários da EESP/FGV
pelo apoio e colaboração.
Apesar da contribuição de tanta gente, esta dissertação pode apresentar falhas,
algumas naturais de qualquer trabalho científico e outras resultado da minha teimosia em
manter no texto somente as reflexões que eu acreditava. Portanto, qualquer equívoco que este
trabalho possa oferecer são de minha total responsabilidade.
Peço desculpas a todas as outras pessoas que me ajudaram a concluir esta dissertação e
cujos nomes não foram devidamente reconhecidos nesta seção. Saibam que, embora não
iv
tenham sido mencionados, agradeço muito toda ajuda concedida e as tenho com elevada
consideração e apreço.
Enfim, a todos, muito obrigado!
v
A ciência tem sido um
empreendimento cheio de enganos e
erros, assim como de triunfos
brilhantes; a ciência tem sido uma
tarefa levada a cabo por seres
humanos falíveis e várias vezes
altamente emocionais.
Thomas Kuhn
vi
RESUMO
Cláusulas de fidelidade e políticas de fidelização são elementos comuns nos debates sobre
como intensificar o comprometimento dos associados com sua cooperativa. A literatura
acadêmica já apresentou diversos fatores que podem influenciar o
comprometimento/fidelidade dos associados. Entretanto, poucas respostas foram dadas quanto
à influência que o desenho institucional da cooperativa pode ter no comprometimento ou na
fidelidade dos seus associados. Por meio das informações disponíveis no banco de dados do
PDICOOPs – que conta com dados em formato de painel para os anos de 1989, 1992 e 2000 -,
esta dissertação avalia empiricamente os determinantes do comprometimento dos associados
com a cooperativa, tendo como foco os efeitos dos custos e benefícios da ação coletiva,
propósito da organização cooperativa. Adicionalmente, esta dissertação investiga se o nível de
comprometimento dos associados tem efeitos sobre o desempenho da cooperativa.
vii
ABSTRACT
Fidelity clauses and loyalty policies are common elements in discussions on how to intensify
the member commitment with their cooperative. The academic literature has already
presented several factors that can influence the member commitment. However, few answers
were provided about the influence of the cooperative institutional design on the member
commitment. Through the information available in the PDICOOPs’ database - which has a
panel data for the years 1989, 1992 and 2000 - this dissertation empirically assess the
commitment determinants associated with the cooperative, focusing the effects of the costs
and benefits of collective action. Additionally, this dissertation investigates whether the level
of member commitment has effect on the cooperative financial performance.
viii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................1
PARTE I – GOVERNANÇA EM COOPERATIVAS E FIDELIDADE: REVISÃO DA
LITERATURA
...................................................................................................7
1. GOVERNANÇA E INCENTIVOS ......................................................................7
1.1. Conselho de diretores ................................................................................... 12
1.2. Proposta de aquisição hostil ............................................................................ 13
1.3. Grandes blockholders................................................................................... 13
1.4. Contratos de incentivos .................................................................................15
2. GOVERNANÇA CORPORATIVA EM ORGANIZAÇÕES COOPERATIVAS.................... 17
2.1. A organização cooperativa como um nexo de contratos............................................... 17
2.2. Comparação entre organização cooperativa x empresa investidor-proprietário (IOF)................ 20
3. A ORIGEM DOS PRINCIPAIS FATORES QUE CONDICIONAM AS ESTRUTURAS DE
GOVERNANÇA DE UMA ORGANIZAÇÃO COOPERATIVA
........................................... 24
3.1. O cooperado enquanto proprietário e usuário da cooperativa ......................................... 28
3.2. Não alocação dos direitos sobre as receitas residuais e dos direitos residuais de controle sob a
propriedade de um mesmo agente
............................................................................. 38
3.3. Características próprias dos membros de uma cooperativa que explicam o perfil da sua participação
na governança da cooperativa
.................................................................................. 46
4. COOPERATIVAS E FIDELIDADE................................................................... 52
4.1. Custos e benefícios da Ação coletiva................................................................... 52
4.2. Determinantes da fidelidade: hipóteses principais .....................................................57
PARTE II – UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE OS DETERMINANTES DA FIDELIDADE E SUAS
CONSEQÜÊNCIAS SOBRE O DESEMPENHO DE COOPERATIVAS
...............................59
5. NATUREZA DOS DADOS E DAS VARIÁVEIS UTILIZADAS NOS TESTES EMPÍRICOS ... 60
5.1. Variáveis utilizadas ..................................................................................... 61
5.2. Estatísticas descritivas .................................................................................. 68
5.3. Resultados esperados.................................................................................... 71
6. MODELOS ESTIMADOS E RESULTADOS OBTIDOS ............................................73
6.1. Determinantes do comprometimento dos associados .................................................. 73
6.2. Influência do nível de comprometimento sobre o desempenho financeiro............................ 77
CONCLUSÃO.................................................................................................. 87
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 90
APÊNDICES ................................................................................................... 94
INTRODUÇÃO
Há pouca divergência quanto à importância de um elevado nível de comprometimento
entre os membros de uma cooperativa. Entretanto, os fatores que condicionam esta desejada
característica dos cooperados ainda é objeto de significativa polêmica. De um lado, há um
grupo que, baseado na doutrina cooperativista, defende que não é necessário qualquer
instrumento ou política para reforçar o comportamento de lealdade de um associado com os
assuntos da cooperativa. Este comportamento surgiria naturalmente dado que o cooperado
voluntariamente se associou à cooperativa e, desta forma, se tornou um dos seus proprietários.
De outro, há aqueles que defendem que sem a adoção de instrumentos de seleção ou de
separação, sob a forma de políticas de fidelização ou cláusulas de fidelidade, dificilmente
seria garantido um grau satisfatório de comprometimento dos associados com a sua
cooperativa.
Esta última corrente de pensamento que defende a existência de mecanismos e
instrumentos de seleção e separação pode ser observada nos princípios cooperativos
divulgados pela OCB, nos quais, dentro do primeiro princípio (livre adesão), há a defesa do
desenvolvimento de políticas que possibilitem a fidelização do associado com a sua
cooperativa
1
. Parte da literatura acadêmica que estuda governança corporativa em
organizações cooperativas também defende a existência de instrumentos que aumentem os
incentivos para que cada membro apresente maior grau de comprometimento, seja
proporcionando benefícios àqueles que operam mais regularmente com a cooperativa, seja
aplicando medidas de punição para aqueles que adotam comportamento que, embora racional
do ponto de vista individual, resulta em prejuízos ao grupo de cooperados. Este é o tema a que
se dedica esta dissertação. Seu propósito é investigar empiricamente os determinantes da
fidelidade em cooperativas e, secundariamente, seus efeitos sobre o desempenho dessas
organizações.
A relevância deste tema decorre, entre outros, da grande importância que as
organizações cooperativas têm para a economia nacional, principalmente no setor agrícola.
Ao longo das últimas décadas, as cooperativas vêm aumentando sua participação na produção
agrícola nacional e cumprindo um papel fundamental enquanto instância de coordenação em
benefício do produtor rural. Este, ao se associar a uma cooperativa, pode ter acesso aos
ganhos advindos da cooperação, tais como pagar menos por insumos, serviços e assistência
1
OCB (2008). Apresentação institucional – 2008.
1
técnica necessários à produção, obter uma renda domiciliar maior e, com freqüência, alcançar
maior produtividade (ganhos de escala).
De acordo com dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), em 2007 o
Brasil contava com 7.672 cooperativas, totalizando 7,68 milhões de associados e gerando
250.961 empregos diretos. Nos últimos dez anos (1998-2007), houve um acentuado
crescimento do número de produtores associados a alguma cooperativa, saindo de 4,4 milhões
em 1998, alcançando 7,68 milhões em 2006. Ao observar esta série, é possível concluir que
desde 2002 as cooperativas vêm atendendo um público cada vez maior, pois embora cresça o
número de associados, o número de cooperativas permaneceu praticamente constante. Em
1998 eram 5.102 cooperativas, em 2002, 7.549, e em 2006, 7.672. (OCB, 2008)
Cooperativa é uma forma de organizar a produção presente em diversos ramos de
atividade, tais como agropecuário, crédito rural, infra-estrutura, saúde, transporte,
habitacional, educacional, trabalho e consumo, entre outros. Merece destaque a atuação das
cooperativas na produção agropecuária brasileira, pois responde por pouco mais de 38% do
PIB agropecuário, produzidos em sua grande maioria por pequenos e médios produtores –
81,29% dos cooperados contam com propriedade menor que 100 ha. (OCB, 2008)
As cooperativas mantêm forte participação em diversas cadeias, destacando-se trigo
(62,19% do total produzido no país), cevada (44,19%), leite (39,70%), aveia (39,21%),
algodão (38,91%), carne suína (31,52%), soja (29,40%), café (27,97%), alho (22,47%), uva
(19,17%), milho (16,68%), arroz (11,36%) e feijão (11,18%). Parte desta produção é
destinada ao mercado externo. Em 2007 as cooperativas exportaram US$ 3,3 bilhões (FOB),
com destaque para produtos como álcool etílico, soja em grão, carne de frango em pedaços,
café em grão, farelo de soja, milho em grão, carne suína, açúcar, óleo de soja e carne bovina
congelada.
Apesar de todo o desenvolvimento observado no sistema cooperativista, há muitos
desafios a serem superados. Entre os principais obstáculos apresentados por entidades ligadas
ao setor (OCB, 2007 e 2008) destacam-se aqueles ligados à relação cooperativa-cooperado,
entre eles: o desenvolvimento de políticas que possibilitem a fidelização do associado com a
sua cooperativa; mensuração e análise do nível de participação dos associados nas estruturas
organizacionais da cooperativa, especialmente nos comitês e assembléias gerais;
diferenciação dos serviços exclusivos aos associados e dos oferecidos a outrem; e
aperfeiçoamento da comunicação interna.
A maior parte destas questões está ligada à governança corporativa, assunto que
passou a dominar parte do debate sobre os novos desafios para o progresso das cooperativas
2
no Brasil, principalmente após a promulgação da Constituição de 1988. Até esta data, o
funcionamento das cooperativas era determinado e fiscalizado pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra). Após a Constituição de 1988, o controle e a gestão
das cooperativas passaram a ser internos, efetuados pelos conselhos administrativo e fiscal,
órgãos eleitos e compostos pelos próprios membros das cooperativas. Na prática, no entanto,
estas funções não são exercidas de forma satisfatória, pois os conselhos geralmente têm um
caráter mais político do que técnico e são fortemente dependentes do presidente –
características que prejudicam sua capacidade de monitorar o comportamento e as decisões
dos gestores, além de não fornecer informações adequadas para os cooperados ou para outros
agentes externos.
A literatura acadêmica também tem se dedicado cada vez mais aos temas ligados às
questões de governança corporativa em organizações cooperativas, em particular àquelas
ligadas ao comprometimento de cooperados. De acordo com Cook, Chaddad e Iliopoulos
(2004), o desenvolvimento das teorias sobre custos de agência, custos de transação, contratos
incompletos e direitos de propriedade permitiram o surgimento de estudos que tomam a
organização cooperativa como um nexo de contratos, que procura lidar com interesses
conflitantes entre cooperados. Questões sobre suas estruturas de governança e suas
especificidades, principalmente quando comparadas com as das firmas investidor-proprietário
(IOFs), vêm atraindo cada vez mais interesse por parte da literatura, assim como assuntos
ligados à importância da função do presidente da cooperativa (management), às estratégias de
capitalização das cooperativas, às políticas de fidelização dos cooperados, e ao papel dos
conselhos no monitoramento e na troca de informações entre o publico interessado.
As estruturas de governança de uma cooperativa são condicionadas por um amplo
conjunto de características tanto da cooperativa, quanto dos seus associados quanto do próprio
ambiente institucional ao qual esta organização está inserida. No entanto, as particularidades
destas características têm três principais origens: a) a singularidade de que os cooperados são,
simultaneamente, proprietários e principais usuários dos ativos da cooperativa; b) a forma
pela qual a lei 5764/71 aloca os direitos de propriedade dos associados, de tal modo que os
direitos residuais de controle e os direitos sobre as receitas residuais não são alocados sob a
propriedade de um mesmo agente; e c) as características intrínsecas dos membros de uma
cooperativa.
Assim como a parcela da renda de cada associado que depende dos resultados da
cooperativa e do quão homogêneo são os interesses dos cooperados, o nível de
comprometimento de cada membro com os assuntos da cooperativa é umas das principais
3
características próprias dos associados que afetam as estruturas de governança de uma
organização cooperativa.
Entende-se por comprometimento, o comportamento que faz com que o cooperado
mantenha uma relação de longo prazo com a cooperativa. Uma relação que, muito além de ter
seu nome no quadro social, significa assumir comportamentos que contribuam para a
sobrevivência da organização cooperativa no longo prazo. Entre estes comportamentos,
destacam-se a) o compromisso de entregar sua produção à cooperativa na proporção daquilo
que foi utilizado dos ativos da cooperativa; b) a participação nos processos de tomada de
decisão coletiva; ou c) se envolver com as rotinas e assuntos da organização.
Esta dissertação estudará o aspecto do comprometimento quanto à decisão do
associado entregar ou não sua produção à cooperativa. Esta face do comprometimento é
importante porque reduz problemas relacionados ao chamado ‘efeito carona’, facilita a
capitalização da organização cooperativa de forma mais estável e previsível, seja porque
aumenta a probabilidade de os associados entregarem sua produção (Zylbersztajn, 2002), seja
porque possibilita aos associados identificarem na cooperativa uma relação de longo prazo e
não uma opção de mercado de curto prazo (Fronzaglia, 2005). Por conseguir implementar
mais facilmente estratégias de longo prazo, as cooperativas permitem maior estabilidade no
mercado, mesmo quando apresentar condições menos favoráveis que uma IOF (Fulton, 1999),
além de tornarem o processo de tomada de decisão coletiva menos custoso (Hansmann, 1996).
No entanto, ambiente com elevado grau de comprometimento também podem aumentar os
problemas de agência, pois podem dificultar o monitoramento do comportamento do gestor
por empobrecer medidas para avaliar seu desempenho, como a perda de associados, ou por
eliminar incentivos para que o gestor busque reduzir custos ou aumentar receitas por canais
alternativos (Fulton, 1999).
A literatura já apresentou diversos fatores que podem influenciar o comprometimento
de um associado, entre eles, a satisfação de cada membro com o comportamento e
desempenho do gestor (Bhuyan, 2007), a existência de educação cooperativista (Staatz, 1987)
e a capacidade de a cooperativa diferenciar seus membros dos não membros (Fulton, 1999).
No entanto, poucas respostas foram dadas quanto à influência que o desenho institucional da
cooperativa pode ter no comprometimento ou na fidelidade dos seus associados. Para tentar
explicar tal relação é necessário compreender a cooperativa como um grupo (nexo de
contratos) de pessoas cujo objetivo principal é viabilizar a oferta de um bem coletivo por meio
de ações coordenadas entre os membros.
4
O comprometimento de cada associado não é um atributo fixo, é influenciado por
características do grupo (tamanho da cooperativa e sua capacidade de ofertar bens coletivos),
dos próprios membros (grau de homogeneidade dos interesses entre os associados), dos bens
coletivos que estão sendo ofertados e dos instrumentos de seleção ou separação existentes
entre as instituições do grupo. (Olson, 1971) Desta forma, esta dissertação investigará os
efeitos dos ganhos de ação coletiva e custos de coordenação (custos da ação coletiva) sobre o
comprometimento dos associados com a cooperativa. Além desta questão principal, este
trabalho também tentará responder se, de fato, cooperativas que conseguem construir um
ambiente de maior comprometimento entre seus associados apresentam melhor desempenho
financeiro.
Conforme brevemente descrito acima, a literatura oferece uma quantidade razoável de
estudos sobre os fatores e a importância de um ambiente com elevado grau de
comprometimento. No entanto, poucos trabalhos empíricos, ao menos no Brasil, foram
encontrados tentando testar estas hipóteses. Merece destaque o estudo de caso sobre a
fidelidade e reciprocidade dos associados da CAROL – Cooperativa dos Agricultores da
Região de Orlândia (Móglia, L. C., et. alii, 2003) os trabalhos de Bialoskorski (2007, 2006 e
2005) que testam influência da função objetivo, do número de associados e do desempenho
econômico da organização cooperativa na participação de associados nas assembléias gerais
ordinárias e em comitês educativos.
Reconhecendo esta carência por estudos empíricos, esta dissertação procura avaliar
quais são os efeitos dos custos e benefícios da ação coletiva sobre o grau de
comprometimento de cooperados. Este estudo é feito por meio do banco de dados do
PIDCOOP (Programa Integrado de Desenvolvimento do Cooperativismo), coletados pelo
Instituto de Cooperativismo e Associativismo (ICA) da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA). Como foram utilizados dados dos três
levantamentos executados pelo PDICOOP nos anos de 1989, 1992 e de 2000, foi possível
testar hipóteses por meio de modelos de painel.
Esta dissertação está organizada em duas partes, além desta introdução, da conclusão,
das referências bibliográficas e dos apêndices. A primeira parte está dividida em quatro
capítulos. O primeiro discute a literatura sobre governança corporativa por meio de uma breve
revisão das teorias que a fundamentam. No capítulo seguinte, baseado na interpretação da lei
5764/71, que disciplina o cooperativismo, e da comparação com companhias de capital
aberto, será justificada a concepção da organização cooperativa como um nexo de contratos.
No terceiro capítulo, será exposta a literatura que discute governança corporativa
5
especificamente em organizações cooperativas, identificando as origens dos principais
elementos que condicionam suas estruturas de governança. Por fim, o quarto capítulo
apresenta detalhadamente a questão e as hipóteses sugeridas por esta dissertação, justificando
a importância da fidelidade para a governança corporativa em organizações cooperativas, em
um esforço para identificar como e quais características de uma organização cooperativa
podem afetar o nível de comprometimento dos seus associados. A segunda parte desta
dissertação, que está dividida em dois capítulos, apresenta os resultados dos testes empíricos
que foram realizados com o objetivo de testar as hipóteses propostas. No quinto capítulo será
descrita a origem dos dados utilizados na construção das variáveis utilizadas nos testes
empíricos e no sexto e último capítulo serão discutidos os métodos escolhidos para testar
empiricamente as hipóteses, bem como serão apresentados seus resultados e as principais
conclusões obtidas.
6
PARTE I – GOVERNANÇA EM COOPERATIVAS E FIDELIDADE: REVISÃO DA
LITERATURA
Comprometimento e fidelidade são características dos membros de um grupo no caso
desta dissertação, dos associados de uma cooperativa que estão intimamente associadas à sua
capacidade de ação coletiva. Nesta primeira parte, a questão da dissertação será fundamentada
teoricamente e as hipóteses que a sustentam serão apresentadas de forma detalhada.
Entretanto, antes de cumprir estas duas metas, será necessário descrever o que é uma
cooperativa, ressaltando as características que a diferencia de uma companhia de capital
aberto. Esta distinção é necessária porque praticamente toda literatura sobre governança
corporativa foi elaborada focando em tais tipos de companhias. Desta forma, esta primeira
parte está dividida em quatro capítulos. O primeiro discute a literatura sobre governança
corporativa por meio de uma breve revisão das teorias que a fundamentam, a saber, teoria da
agência, passando por teoria dos custos de transação, direitos de propriedade e teoria dos
contratos. No capítulo seguinte, por meio da interpretação da lei 5764/71 e da comparação
com companhias de capital aberto (Lei das Sociedades Anônimas), será justificada a
concepção da organização cooperativa como um nexo de contratos. No terceiro capítulo, será
exposta a literatura que discute governança corporativa especificamente em organizações
cooperativas, identificando as origens dos principais elementos que condicionam suas
estruturas de governança. Por fim, o quarto e último capítulo desta primeira parte apresentam
detalhadamente a questão e as hipóteses sugeridas por esta dissertação, justificando a
importância da fidelidade para a governança corporativa em organizações cooperativas, em
um esforço para identificar como e quais características do desenho institucional de uma
organização cooperativa podem afetar o nível de comprometimento dos seus associados e
como este influencia seu desempenho financeiro.
1. GOVERNANÇA E INCENTIVOS
A partir do trabalho seminal de Coase (1937), a firma passa a ser tratada como um
ambiente para a coordenação das transações entre os agentes econômicos alternativo ao
mercado. Não importa se estas transações ocorrem entre dois agentes internos à firma ou entre
a mesma e um agente externo, todas são intermediadas através da elaboração de um contrato.
Nesta direção, a firma passa a ser vista como a união de um conjunto de relações contratuais
7
(nexo de contratos), passando, portanto, a ser definida como um signatário comum de um
grupo de contratos (Hansmann, 1996, p.18). De forma mais ampla, Jensen e Meckling (1976,
p.9) definem a firma como uma forma fictícia legal que serve como um nexo de contratos
para os relacionamentos contratuais
2
.
Essas relações contratuais se dão com todos os agentes com os quais a firma está
envolvida, não somente com os funcionários, mas com os fornecedores, clientes, credores,
entre outros. Estes contratos comprometem a firma a certas ações, tais como fazer pagamentos
aos vendedores, entregar mercadorias, amortizar dívidas com credores, repassar dividendos
aos acionistas, serviços aos clientes, etc. Há duas formas com as quais a firma pode se
relacionar com outros agentes: a) contratação via mercado – um agente negocia com a firma
somente através do contrato e não permuta nenhum direito de controle sobre a propriedade; b)
atribuição de propriedade – um agente, além do contrato, passa a contar também com a posse
de algum direito de propriedade sobre a firma. (Hansmann, 1996, p.19)
Este autor usa a expressão “contratação via mercado” para enfatizar que o agente neste
tipo de transação pode controlar o comportamento da firma somente por meio da busca em
fazer valer seu contrato, por meio de recurso junto a uma terceira parte, ou por retaliação
direta, que inclui a ameaça de cessar a transação. Por outro lado, quando um agente se
relaciona com a firma por meio de uma transação do tipo “atribuição de propriedade”, ele
conta com uma opção a mais, pois, ao colocar a transação em uma estrutura hierárquica, pode
buscar o controle do comportamento da firma diretamente através dos seus mecanismos
internos de governança. Por fim, partindo da visão de Coase, argumenta-se que a firma
internalizará transações sempre que os custos da contratação via mercado forem maiores que
os de internalização em uma hierarquia.
A principal função de um contrato é estabelecer direitos e compromissos entre as
partes envolvidas, isto é, alocar direitos de propriedade. Aqui, propriedade é definida como a
posse dos direitos residuais de controle e dos direitos sobre as receitas residuais. De acordo
com Hansmann (1996, p.11-2), controle residual é ter a autoridade para decidir sobre os usos
e destinos de um ativo que devido aos seus altos custos de transação ou imperfeita capacidade
de previsão, não podem ser especificados ex-ante em um contrato, mas podem ser alocados
para aqueles que terão o poder discricionário. Este mesmo autor define receitas residuais
como os ganhos líquidos que sobram após todos os pagamentos com os quais a firma está
contratualmente comprometida, tais como, salários, juros, pagamentos a fornecedores, etc.
2
Adicionalmente, Williamson (1991) nota que tais contratos têm uma natureza qualitativamente distinta dos
contratos externos à firma, por serem baseados no poder de fiat.
8
Portanto, a partir destas definições, o proprietário de um ativo será aquele que detiver tanto o
direito de se apropriar dos ganhos líquidos quanto a autoridade para decidir sobre todos os
usos de um ativo em qualquer circunstância, desde que não entre em conflito com um contrato
ou legislação anterior.
Todas as transações de uma firma, sejam internas, sejam com agentes externos, são
intermediadas através da elaboração de um contrato, cuja principal função é alocar direitos de
propriedade entre as partes. Se fosse possível resolver por meio de contratos todas as
possíveis contingências futuras, boa parte dos conflitos de uma transação entre dois agentes
seria suprimida. No entanto, isso não é possível devido a três fatores: (Hart, 1995, p.23-8)
a) racionalidade limitada: devido à complexidade e imprevisibilidade do mundo real, os
agentes encontram dificuldades para pensar em prazos mais longos e para se preparar
para todas as contingências que podem surgir;
b) custos intrínsecos à elaboração de um contrato (coleta de informações, negociação e
redação): ainda que fosse possível prever todas estas contingências, seria complicado e
custoso para as partes negociá-las, estabelecer uma linguagem comum que descrevesse
todos os cenários e ações possíveis e, por fim, redigir um contrato que contemplasse
todas estas questões;
c) limitada capacidade de interpretação: mesmo se as partes pudessem preparar e
negociar cláusulas quanto a todas as possíveis contingências futuras, será difícil e
custoso redigir um contrato de tal forma que em um litígio uma autoridade externa
possa compreender o texto e o significado do documento e, principalmente, fazê-lo ser
cumprido.
Como resultado desses três custos de contratação, as partes envolvidas escreverão um
contrato intrinsecamente incompleto, ou seja, com lacunas, falhas, ambigüidades e que,
portanto, será omisso quanto a determinados aspectos dos direitos e compromissos de cada
parte. Dessa forma, o contrato terá que ser revisado e renegociado assim que estas limitações
se fizerem presentes. Todavia, o processo de renegociação impõe severos custos, tanto ex-
post, no decurso das barganhas e discussões sobre os novos termos do contrato, quanto ex-
ante, pois os agentes podem se antecipar a este litígio e tentar manter ou obter vantagens
informacionais – isto é, estabelecer assimetrias de informação – para extrair vantagens do
contrato final, se distanciando do resultado ótimo.
A principal questão tratada pela teoria da agência é a separação entre controle e
propriedade. Essa separação ocorre quando há, entre outros motivos, delegação de parte dos
direitos residuais de controle do proprietário (principal) para um outro indivíduo (o agente).
9
Tais situações ocorrem com enorme freqüência no universo corporativo, pois encontramos
duas figuras com necessidades e habilidades, de certa forma, complementares: o investidor e o
executivo. O primeiro necessita do capital humano do executivo para produzir retornos para
seus investimentos, enquanto o executivo precisa dos recursos financeiros do investidor para
gerar riqueza através da realização de determinada atividade para a qual tem habilidade.
(Shleifer e Vishny, 1997, p.740)
Esta separação entre controle e propriedade pode gerar conflitos quando não há
convergência de interesses entre as partes. Como argumentou Jensen e Meckling (1976, p.5),
se ambas as partes – tanto o principal quanto o agente – são maximizadores de utilidade, há
boas razões para acreditar que o último nem sempre agirá a favor dos interesses do primeiro.
Ou seja, que garantias tem o investidor de que sua riqueza não será expropriada quando seus
interesses não estão sendo atendidos pela maximização da utilidade do executivo? Mesmo
quando o executivo busca exclusivamente os interesses dos acionistas, Betch, Bolton e Röel
(2002, p.16) apontam que são geradas ineficiências; entre elas o elevado nível de
endividamento ou de alavancagem.
Problemas de agência
Os problemas advindos desta separação (controle e propriedade) são chamados de
problemas de agência. A conseqüência mais grave desta separação é que, dado o risco de ter
sua riqueza expropriada, o nível de investimento realizado pelo principal é menor do que
aquele que seria concretizado caso a satisfação dos seus interesses estivesse assegurada pelas
ações do executivo.
Para minimizar os problemas de agência, o principal e o agente assinam um contrato
que estabelece os direitos e compromissos de cada parte. No caso de uma corporação, o
executivo e o investidor firmam um acordo que especificará o que o primeiro fará com os
recursos alocados e como os retornos serão divididos. Porém, como os contratos são
incompletos, isto é, como nem todas as possíveis contingências futuras estarão contempladas
no documento, o executivo e o investidor têm que determinar de que forma serão alocados os
direitos residuais, tanto de controle quanto sobre a receita. (Hart, 1995, p. 30)
Ainda de acordo com este autor, é aquele que detém os direitos dos controles residuais
que deverá ter o direito de decidir todos os usos do ativo, em qualquer situação, desde que não
fira nenhum contrato, costume ou lei anterior. Já para Shleifer e Vishny (1997, p.741), o
executivo deve deter a maior parte dos direitos dos controles residuais porque ele detém maior
10
qualificação e informações sobre como fazer uso dos ativos da firma. Todavia, os limites
deste poder discricionário devem ser estabelecidos no contrato.
Quando a propriedade do ativo é dispersa, ocorre o problema do ‘efeito-carona’, de tal
modo que cada investidor não tem incentivos para incorrer individualmente nos custos de
monitoramento, cujos benefícios se estendem a todos os acionistas. Como resultado, os
direitos residuais de controle dos executivos e o espaço que eles têm para alocar os recursos
de forma discricionária se tornam muito maiores do que seriam se os investidores ou uma
terceira parte externa pudessem ser mais ativos. Ao final de todo esse processo, o executivo
geralmente detém um grande poder discricionário, ou seja, poder de decidir questões relativas
ao ativo que não estão contempladas no contrato.
Com um grande poder discricionário, os executivos terminam com significativos
direitos residuais de controle sobre como alocar os recursos dos investidores, deixando-os
expostos à expropriação de suas riquezas. Essa expropriação pode ocorrer de diversas formas
entre as quais: a) redução do montante de recursos que os investidores estarão dispostos a
financiar; b) preferência pelo reinvestimento do fluxo de caixa líquido; c) expansão da firma
além daquilo que seria a opção mais lucrativa; d) entrincheiramento dos investidores e
permanência no cargo mesmo quando não for competente nem qualificado para exercê-lo; e)
financiamento de benefícios próprios como jatinhos particulares, jantares, luxos, etc.; f)
dispêndio em pet projects. (Shleifer e Vishny, 1997, p.742-3)
Dada a incompletude dos contratos e o possível baixo incentivo e capacidade que o(s)
principal(is) tem para monitorar o executivo – principalmente quando a propriedade é
dispersa – este acaba com um significativo poder discricionário que, entre outras
conseqüências amplia: a) os custos de monitoramento realizados pelo principal – além dos
custos para mensurar e observar o comportamento do agente, o principal também incorrerá
em custos por meio de restrições orçamentárias, políticas de compensação, manuais de
procedimento, etc.; b) os custos de amarra (bonding costs) – custos associados às garantias
estabelecidas para evitar que o agente tome certas ações que possam ferir o interesse do
principal ou para recompensar o principal caso o agente realize tais atos; c) as perdas residuais
– equivalente monetário da redução de bem-estar experimentada pelo principal devido à
divergência de interesses entre o principal e o agente. (Jensen e Meckling, 1976, p5-6)
Hansmann (1996, p.20-1) faz observações importantes ao questionar se a dispersão da
propriedade é um problema para a governança corporativa, ao questionar qual seria a
dificuldade de promover maior concentração. Três razões são apontadas pelo autor: 1)
(principal) a riqueza de um investidor individual pode ser pequena para a necessidade do
11
investimento; 2) mesmo se o investidor tiver condições de assumir todo o investimento, ele
pode querer diversificar o risco investindo menos em cada projeto e; 3) fatias maiores das
corporações têm menor liquidez no mercado secundário, prejudicando o investidor.
Entre as principais estratégias citadas por Betch, Bolton e Röel (2002, p.22) para
mitigar o problema de agência, destacam-se: 1) eleição de um conselho de diretores para
representar os interesses das diversas partes envolvidas com a firma; 2) proposta de aquisição
hostil lançada por um comprador que temporariamente concentrará poder de voto (ou
propriedade); 3) monitoramento ativo e contínuo por parte de um grande blockholder, que
pode ser um grande investidor ou um intermediário financeiro, tal como um banco, uma
companhia controladora ou um fundo de pensão; 4) alinhamento dos interesses do executivo
com os dos investidores por meio de contratos de incentivo. Passa-se, a seguir, a uma
apresentação mais aprofundada de cada um desses mecanismos.
1.1. Conselho de diretores
Uma das alternativas para limitar o problema de agência, principalmente quando os
investidores (principais) são dispersos é ter um conselho de diretores monitorando o
comportamento e as decisões do executivo (agente). No entanto, como o executivo
normalmente é mais bem informado sobre o que ocorre na firma, as decisões do conselho são
muito influenciadas pelas opiniões do primeiro, enfraquecendo sua capacidade de
monitoramento. Betch, Bolton e Röel (2002, p.44) também apontam que os diretores relutam
em votar contra o executivo por medo de serem destituídos do cargo, a menos que exista uma
forte evidência de má gestão que lhes de segurança de que será formada uma maioria contra o
executivo.
A exigência de que uma fração mínima do conselho seja constituída por diretores
independentes é uma tentativa de reduzir a influência do executivo sobre o mesmo. A
racionalidade por trás deste requerimento é que se os diretores são independentes, as chances
de que eles venham defender os interesses dos investidores são maiores. No entanto, é
importante ressaltar que como os diretores independentes não têm maiores relações com a
firma geralmente também não são mais bem informados e encontram, portanto, maiores
dificuldades para monitorar as ações do executivo. Outra fragilidade da estratégia de diretores
independentes é que eles continuam dependentes do executivo para serem renomeados.
Outro ponto colocado pela literatura (Grossman e Hart, 1986), é a importância dos
conselhos servirem como um espaço onde os interesses de todos os stakeholders estejam
12
representados. Isto significa, por exemplo, incluir no conselho representantes dos
trabalhadores, fornecedores, credores, etc. Por um lado, a introdução deste no conselho
poderia favorecer investimentos específicos em capital humano e facilitar o fluxo de
informações sobre o comportamento do executivo, pois, por exemplo, os trabalhadores são
mais bem informados do que os acionistas a respeito das ações do executivo. Porém, por
outro lado, a divisão de controle com outros membros da firma também tem seus problemas
como barreiras ao fluxo de informações – pois representaria perda do poder de barganha para
alguma das partes – e pode vir a conceder muito poder discricionário ao executivo para que
possa arbitrar conflitos em um conselho muito heterogêneo.
1.2. Proposta de aquisição hostil
Em um típico caso de aquisição hostil, um comprador faz uma oferta aos acionistas
dispersos para comprar toda ou uma fração considerável de ações. Caso o comprador consiga
adquirir o controle da firma, poderá, então, substituir ou, ao menos, controlar o executivo.
Aquisições são consideradas mecanismos rápidos para a concentração de propriedade.
(Shleifer e Vishny, 1997, p.756)
De acordo com o Betch, Bolton e Röel (2002), propostas de aquisição reduzem o
monopólio informacional do executivo sobre o estado da firma e aumenta a possibilidade de
substituição de administradores ineficientes. É importante ressaltar que a ameaça de aquisição
pode disciplinar, por si só, o comportamento do administrador. No entanto, este é um
mecanismo altamente custoso e pode vir a desestimular investimentos específicos por parte do
executivo.
1.3. Grandes blockholders
A estratégia de criação de um grande blockholder para conter problemas de agência se
fundamenta na hipótese de que, ao criar uma estrutura de propriedade concentrada em pelo
menos um grande investidor, este terá maior interesse em monitorar o comportamento do
executivo e o poder de implementar mudanças. Quando tanto os direitos de controle quanto os
direitos sobre as receitas residuais estão concentrados nas mãos de um pequeno grupo de
investidores, as ações coordenadas são muito mais prováveis que em situações nas quais os
direitos de propriedade estão dispersos.
13
Os benefícios de grandes bolckholders são claros: eles têm tanto o interesse em ter, na
medida do possível, o retorno do seu investimento assegurado quanto o poder para fazer valer
este interesse. Todavia, também há custos devido à presença de grandes investidores. De
acordo com Shlerfer e Vishny (1997, p.758), o mais óbvio destes custos, o qual também é o
argumento mais comum quanto aos benefícios da propriedade dispersa, é que grandes
blockholders podem não ter seus ativos diversificados e, portanto, ficam expostos a risco
excessivo. No entanto, os autores também chamam atenção ao fato de a propriedade das
companhias geralmente ser tão concentrada em quase qualquer lugar do mundo sugere que a
falta de diversificação não é tão grave que compense abrir mão dos direitos de controle.
Outro problema da concentração da propriedade em um único grupo é que este
representará unicamente seus próprios interesses, que nem sempre coincidirá com os dos
outros stakeholders. No processo de uso de seus direitos de controles para maximizar sua
riqueza, grandes bolckholders podem redistribuir a riqueza de forma ineficiente, expropriando
recursos de outros stakeholders – o que pode ser particularmente problemático quando estes
têm interesse em fazer investimentos específicos para a empresa, porém não o fazem devido
ao risco de expropriação.
Concentração de propriedade por meio de grandes bolckholders pode tomar diversas
formas, entre elas grandes acionistas e grandes credores.
Grandes acionistas
Grupos reduzidos de acionistas têm maior incentivo para coletar informações e
monitorar o executivo, além de evitar o tradicional problema do carona entre os investidores.
Este grupo também mantém suficiente controle pelo voto para pressionar o executivo em
alguns casos ou, até mesmo, para dispensá-lo. De acordo com Betch, Bolton e Röel (2002,
p.35), a vantagem é que em uma estrutura concentrada existe um incentivo ao monitoramento,
enquanto que em uma estrutura dispersa isto só ocorre em momentos de crise sob a ameaça de
aquisição hostil.
No entanto, grandes acionistas se defrontam com o problema de exposição excessiva a
risco devido a pouca diversificação. Grandes fatias da empresa podem ser pouco
transacionáveis em um mercado secundário e com isso perde-se a capacidade dos preços das
ações transmitirem informações sobre o desempenho do executivo.
14
Grandes credores
Muitos credores, tais como os bancos, também são potenciais grandes investidores
ativos. Assim como os grandes acionistas, eles têm grandes investimentos na firma e querem
ver o retorno destes investimentos se materializarem. Seu poder vem em parte devido à
variedade de direitos de controle que eles recebem quando a firma entra em situação de
inadimplência ou quando os contratos firmados não são honrados, e em parte porque eles
emprestam a prazos mais curtos fazendo com que os devedores tenham que voltar
regularmente para conseguir mais fundos. Como resultado de ter uma grande variedade de
controles, grande credores combinam substanciais direitos de fluxo de caixa (cash flow rights)
com a habilidade de interferir nas principais decisões da firma. Como resultado, bancos e
outros grandes credores são em diversas formas muito parecidos com os grandes acionistas.
Shleifer e Vishny (1997, p.757) No entanto, conforme observa Harris e Raviv (1988), bancos
podem não ter incentivo para disciplinar os executivos enquanto a firma se mantiver longe do
default.
Resumindo, a vantagem de uma estrutura concentrada é que existe um incentivo ao
monitoramento, enquanto que em uma estrutura dispersa isto só ocorre em momentos de crise
sob a ameaça de aquisição hostil. Por outro lado, estrutura dispersa eleva a liquidez no
mercado secundário e expõe os investidores a riscos excessivos.
1.4. Contratos de incentivos
Quando os contratos são incompletos e o executivo possui maior habilidade que os
investidores, o primeiro (agente) freqüentemente detém maiores direitos residuais de controle,
abrindo enorme espaço para que busque seu próprio interesse. Uma solução para este
problema pode ser a elaboração de um contrato de longo prazo que alinhe ex-ante seus
interesses com os dos investidores (principal). Os contratos de incentivo são, portanto, um
mecanismo para conceder maiores direitos sobre as receitas residuais aos agentes que detém
boa parte dos direitos residuais de controle – na mesma direção da tese defendida por Hart
(1995), na qual os direitos sobre as receitas residuais devem ser alocados com os mesmos
indivíduos que detêm os direitos residuais de controle. Caso contrário haveria menores
incentivos para a realização, por exemplo, de investimentos específicos e, sobretudo, haveria
maior sujeição a problemas de moral hazard, visto que a maximização do valor do ativo
depende do uso adequado do controle residual, sendo os direitos sobre as receitas residuais o
incentivo para que isso ocorra de modo mais eficiente.
15
Muitos desses contratos de compensação contam com um salário-base, um bônus
relacionado à performance de curto prazo e um plano de participação acionária (opções de
ações), além de alguns outros benefícios ou ameaça de demissão quando o desempenho da
firma sistematicamente não for satisfatório. No entanto, o executivo não é influenciado
somente por incentivos explícitos, mas, também, por incentivos implícitos. Isto é, ele não está
preocupado somente com os benefícios pecuniários da sua performance, mas também com a
sua reputação, materializada em oportunidades futuras para sua carreira. (Betch, Bolton e
Röel, 2002, p.47) Ainda sobre este ponto, Gibbons e Murphy (1992) sugerem que quanto
mais velho for o executivo e quanto mais tempo ocupar o cargo, mais eficientes serão os
incentivos implícitos. Por outro lado, quanto mais jovem, mais adequados serão os incentivos
explícitos.
Embora os contratos de incentivo sejam amplamente utilizados como uma maneira de
dar mais segurança aos interesses do investidor, este mecanismo apresenta diversas
desvantagens, entre elas:
a) os contratos de incentivo criam enormes oportunidades de self-dealing por parte do
executivo, especialmente se estes contratos forem negociados com conselhos de
diretores pouco motivados, passivos ou dominados por ele. Betch, Bolton e Roel
(2002, p.45) afirmam, inclusive, que boa parte da literatura disponível dá mais atenção
à estrutura de compensação do pagamento do executivo do que a determinação do
processo de barganha entre este, o comitê de remuneração e o conselho, assim como o
processo de seleção do comitê e dos membros do conselho;
b) o executivo pode deter informação privilegiada quando negociar suas compensações
(Shleifer e Vishny, 1997, p.745).
Estes autores ainda lembram que os contratos de incentivo só são possíveis se for
viável a implementação de alguma medida de desempenho verificável que seja altamente
correlacionada com a qualidade das decisões do executivo e que também possa ser utilizada
nos tribunais em um eventual litígio. Por fim, outro ponto relevante é a importância da
aversão ao risco para a eficácia destes contratos. Quanto mais avesso ao risco for o executivo,
menos eficientes serão os contratos de incentivo, pois sua renda contará com uma proporção
maior de um componente variável. De forma análoga, os contratos serão mais eficientes
quanto menor a aversão ao risco. O próximo capítulo discute as particularidades da
organização cooperativa e suas implicações para a governança corporativa de cooperativas.
16
2. GOVERNANÇA CORPORATIVA EM ORGANIZAÇÕES COOPERATIVAS
2.1. A organização cooperativa como um nexo de contratos
Ao longo desta dissertação, uma organização cooperativa será compreendida como um
nexo de contratos, a forma com a qual a teoria da agência enxerga uma empresa de qualquer
natureza, conforme foi exposto no capítulo anterior. Para justificar tal concepção para uma
organização cooperativa, serão discutidas neste capítulo as principais características que a
definem a partir da interpretação da Lei 5764, de 16 de dezembro de 1971, também
habitualmente conhecida por a lei cooperativista. Dentre as características que definem uma
organização cooperativa, serão destacadas como a lei define esta organização, as regras para
ingresso e saída dos seus membros, o funcionamento e composição dos seus conselhos, as
atribuições e dinâmica das assembléias ordinária e extraordinárias, além das instituições que
governam o capital social, as sobras ou perdas e os fundos coletivos.
De acordo com os art. 3º e 4º da Lei 5764/71, uma cooperativa (singular) é uma
sociedade de pessoas constituída pelo número mínimo de 20 pessoas, com forma e natureza
jurídica própria, de natureza civil, não sujeita à falência, constituída para prestar serviços a
seus associados, sem objetivo de lucro. É uma empresa com dupla natureza, que contempla o
lado econômico e social dos seus membros. O associado é ao mesmo tempo proprietário e
usuário da cooperativa. Enquanto proprietário, o associado participa de sua administração e se
apropriará de partes de seus resultados financeiros, isto é, terá a posse tanto dos direitos
residuais de controle quanto dos direitos sobre as receitas residuais. Enquanto usuário, o
associado fará uso dos bens e serviços oferecidos pela cooperativa.
Em seu artigo 29, a lei 5764/71 delibera que o ingresso a uma cooperativa é livre a
todos que quiserem utilizar seus serviços, desde que adiram aos propósitos sociais e
preencham as condições estabelecidas no estatuto. No entanto, a lei faz duas restrições ao
acesso a uma cooperativa: 1) no art. 29 § 1º ressalva que admissão dos associados poderá ser
restrita às pessoas que exerçam determinada atividade, profissão ou estejam vinculadas a uma
determinada entidade; 2) o art. 4º inciso I determina que a adesão é voluntária, desde que não
haja impossibilidade técnica para a prestação de serviços. Expressamente a lei estabelece, em
seu art. 37, que a cooperativa deve assegurar igualdade de direitos entre os cooperados,
impedido a cobrança de prêmios ou taxas para a entrada de novos associados ou a
remuneração a quem agenciar novos membros.
17
Embora o ingresso de um associado seja livre e espontâneo, sua saída só pode se dar
sob circunstâncias especiais, quais sejam: 1) pedido voluntário de sua demissão; 2) eliminação
em virtude de infração legal ou estatutária, ou fato especial previsto no estatuto; 3) dissolução
da pessoa jurídica; 4) falecimento do associado; 4) incapacidade civil não suprimida; ou 5)
deixar de atender qualquer requisito estatutário de ingresso ou permanência.
A cooperativa é administrada por uma Diretoria ou Conselho de Administração
compostos exclusivamente por associados eleitos pela Assembléia Geral. Da mesma forma,
estes só podem ser destituídos do cargo por processo semelhante. O mandato de cada
conselheiro não pode ser superior a 4 anos e a cada eleição devem ser renovados no mínimo
um terço (1/3) dos seus integrantes. Ainda sobre o corpo de gestores da cooperativa, os art. 51
e 47 § 1º, respectivamente, estabelecem que a administração poderá contratar gerentes
técnicos ou comerciais externos ao quadro de social
3
, bem como criar outros órgãos
necessários à administração.
Além do Conselho de Administração (ou Diretoria), a cooperativa também deve contar
com um Conselho Fiscal, cuja principal função é fiscalizar as ações do primeiro, garantindo o
exato cumprimento do estatuto e da respectiva legislação. Ainda de acordo com a lei 5764/71
em seu art. 56, o Conselho Fiscal é composto por 6 membros, sendo 3 efetivos e 3 suplentes,
também eleitos em Assembléia Geral, com mandato de um ano; devem ser renovados no
mínimo dois terços (2/3) dos seus integrantes a cada eleição. Ressalta-se que o § 2º do mesmo
artigo impede que um associado exerça simultaneamente cargos nos órgão de administração e
de fiscalização.
A Assembléia Geral
4
é o órgão deliberativo supremo da cooperativa, tendo poderes,
dentro dos limites legais e estatutários, para decidir sobre todos os aspectos da organização. O
art. 42 é claro ao expressar que cada associado tem direito a um voto apenas, independente do
volume de capital que ele tenha integralizado, isto é, independente da quantidade de quotas-
partes que ele detenha. As liberações são tomadas pela maioria de votos dos associados
presentes com direito de voto.
De acordo com a lei, tanto em seu art. 24 quanto no art. 4º inciso III, o capital da
cooperativa será subdividido em quotas-partes e nenhum associado poderá subscrever mais de
3
Quadro social é o conjunto de associados que formam a cooperativa.
4
A assembléia geral pode ser ordinária ou extraordinária. A primeira é realizada anualmente nos três primeiros
meses subseqüentes ao encerramento do exercício para, principalmente, prestação de contas e eleições. A
segunda é realizada sempre que necessário, mediante a convocação feita pelo presidente da cooperativa, por
qualquer órgão de administração, pelo Conselho Fiscal ou após solicitação não atendida, por um quinto (1/5) dos
associados presentes com direito de votar. No entanto, alguns assuntos como mudança de objeto da sociedade e
reforma estatuária, são de competência exclusiva da assembléia extraordinária.
18
um terço (1/3) do total de quotas-partes
5
. Ainda no art. 24 § 3º, é vedado às cooperativas
distribuírem qualquer espécie de benefício às quotas-partes ou estabelecer outras vantagens ou
privilégios, financeiros ou não, em favor de quaisquer associados ou terceiros, excetuando-se
os juros de no máximo 12% ao ano que incidirão sobre a parte integralizada. De forma muito
clara, o art. 4º inciso IV determina que as quotas-partes são inacessíveis a agentes externos à
sociedade.
De acordo com Hiriart (2002, p. 7), a principal receita da cooperativa é a taxa de
administração ou serviço; a qual estabelece um percentual a ser retido de todas as operações
que o associado fizer com ela. Do montante do faturamento da cooperativa, cabe à assembléia
geral decidir sobre o rateio das sobras ou das perdas. Pelo art. 4 item VII, as sobras líquidas
apuradas no exercício poderão ser rateadas entre os associados, depois de deduzidos os
percentuais para os fundos indivisíveis
6
, em partes diretamente proporcionais às operações
realizadas com a cooperativa
7
. Pelo art. 89, os prejuízos verificados no decorrer do exercício
serão cobertos com recursos provenientes do Fundo de Reserva e, se insuficientes, por meio
de rateio entre os associados, na razão direta dos serviços usufruídos.
Devido ao conjunto de instituições formais (lei 5764/71 e as normas estatutárias) e
informais (características comuns entre os associados) que envolvem as relações entre os
agentes e a cooperativa, determinando suas estruturas de governança, a organização
cooperativa será, portanto, encarada como um nexo de contratos, assim como uma empresa
investidor-proprietário (IOF). No entanto, há diferenças significativas e marcantes entre estes
dois arranjos organizacionais. Na próxima seção serão analisadas estas diferenças.
5
Salvo nas sociedades em que a subscrição deva ser diretamente proporcional ao movimento financeiro do
cooperado ou transformado ainda, em relação à área cultivada ou ao mesmo número de plantas e animais em
exploração.
6
Pelo art. 28 as cooperativas são obrigadas a constituir: 1) Fundo de Reserva destinado a reparar e atender ao
desenvolvimento de suas atividades, constituído com, no mínimo, 10% das sobras líquidas do exercício; 2)
Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social (FATES) destinado à prestação de assistência aos
associados, seus familiares e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa, constituído por, no
mínimo, 5% das sobras líquidas apuradas no exercício. Ambos os fundos são indivisíveis. Todavia, além destes
fundos previstos na legislação, a assembléia geral poderá criar outros fundos, inclusive rotativos, com recursos
destinados a fins específicos, fixando o modo de formação, aplicação e liquidação.
7
Exemplo de como as receitas residuais são divididas de acordo com o volume de operações que um membro
realizou com a cooperativa: se dois membros de uma cooperativa processadora de café detiverem a mesma
quantidade de quotas-partes, mas um deles tiver entregado 100 sacas de café e o segundo apenas 20, o primeiro
receberá proporcionalmente uma parcela das sobras cinco vezes maior que àquela recebida pelo segundo.
19
2.2. Comparação entre organização cooperativa x empresa investidor-proprietário
(IOF)
Nesta seção serão comparadas as formas com as quais estão alocados os direitos de
propriedade de uma organização cooperativa e de uma IOF – especialmente de uma
companhia ou sociedade anônima – e serão analisadas as respectivas conseqüências
decorrentes destes arranjos. Inicialmente serão descritas algumas das principais características
das IOFs a partir da interpretação da Lei 6404, de 15 de dezembro de 1976, também
conhecida como a Lei das SAs. Conjuntamente a esta descrição, serão observadas algumas
diferenças entre as IOFs e as organizações cooperativas quanto à divisão do capital social, aos
canais para a transação dos direitos de propriedade, às características particulares das ações e
das quotas-partes, aos critérios para a divisão das receitas residuais, ao papel das assembléias
gerais, à alocação do poder de voto e à composição e funcionamentos dos órgãos de
administração. Por fim, serão discutidas as conseqüências fundamentais 1) das diferentes
formas de alocação dos direitos de propriedade, 2) do duplo papel exercido pelos associados,
assumindo a função tanto de proprietários quanto de principais usuários dos ativos da
cooperativa, e 3) das características intrínsecas dos membros de uma cooperativa. Conforme
será argumentado a seguir, estes três pontos constituem as principais origens dos
condicionantes das estruturas de governança de uma cooperativa e, por conseqüência, do grau
de comprometimento dos cooperados. Os desdobramentos de cada origem serão estudados na
próxima seção.
2.2.1. Características básicas de uma IOF
As empresas investidor-proprietário (IOF) são aquelas cuja propriedade foi atribuída
aos seus investidores, ou seja, em última instância, são os seus investidores que decidem
sobre os usos e destinos de todos os ativos da empresa e têm o direito de se apropriarem das
receitas proporcionadas por estes ativos. De acordo com Hansmann (1999), em quase todos os
setores da economia este é o tipo mais comum de atribuição da propriedade porque o custo de
propriedade para os investidores é freqüentemente mais baixo que o custo de contratação via
mercado.
Pode-se classificar as IOFs em dois grandes grupos principais: abertas ou fechadas. De
acordo com a Lei 6404/76 em seu art. 4º, “a companhia é aberta ou fechada conforme os
valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos a negociação em bolsa ou
20
mercado de balcão”. As companhias de capital aberto serão utilizadas como referência para
realizar a comparação entre a forma com a qual estão alocados os direitos de propriedade de
uma IOF e de uma organização cooperativa porque ambas contam com características comuns
que salientam os pontos singulares da última. Entre eles, notadamente, se destacam a divisão
do capital social em ações ou quotas-partes, favorecendo ou não a dispersão da propriedade,
além de elementos em comum como órgãos de administração eleitos pelos proprietários e
processos de tomada de decisão marcados pelos interesses de vários stakeholders. No entanto,
embora as organizações cooperativas e as IOFs contem com arranjos organizacionais
semelhantes, seus direitos de propriedade estão alocados de forma distintas, modificando a
relação entre seus stakeholders, bem como seus instrumentos de governança e o acesso a
fontes de financiamento.
O capital social das IOFs está divido em pequenas frações denominadas ações tal
como nas cooperativas, cujas frações são chamadas de quotas-partes. Em ambos os casos
estas frações representam a menor parcela do capital das empresas que conferem direitos de
propriedade aos seus detentores. No entanto, há importantes diferenças entre as ações e as
quotas-partes.
No caso da IOF e de acordo com a lei 6404/76 em seu art. 4º, as ações são
transacionadas em mercados específicos (bolsa ou de balcão). Desde que autorizado a operar
nestes mercados, qualquer agente pode adquirir ações de uma empresa ou negociar as que já
possui. A ação consegue sintetizar em seu valor presente a soma dos ganhos futuros esperados
descontados a uma determinada taxa de desconto e permite que seu detentor realize,
praticamente a qualquer momento, os potenciais ganhos futuros de uma firma vendendo parte
ou a totalidade de suas ações.
Por outro lado, não há um mercado formado para transacionar os direitos de
propriedade de uma organização cooperativa representados pelas quotas-partes. Aliás, por lei,
as quotas-partes são caracterizadas por serem inalienáveis, ou seja, não podem ser
transacionadas para um outro agente, seja externo à organização cooperativa, seja um outro
associado. A quota-parte confere a um indivíduo, desde que atenda alguns pré-requisitos
estabelecidos pelo estatuto, o direito de transacionar com a cooperativa, de participar do
processo de tomada de decisão, de utilizar seus ativos e de ter acesso aos serviços prestados
por ela (assistência técnica, social, médica, odontológica, educacional, seguro, lobby, etc.). O
associado pode se desfazer deste direito recuperando parte dos recursos aplicados, que podem
ser remunerados parcialmente por uma taxa de juros pré-determinada. Porém o valor presente
21
da quota-parte não está diretamente relacionado com o desempenho passado nem futuro da
organização cooperativa.
Ao representar a posse de uma fatia de uma empresa, a ação confere ao seu possuidor
direitos sobre as receitas residuais, ou seja, direito de se apropriar de parte do lucro obtido
pela empresa. Este direito é expressamente garantido pela lei 6404/76 em seu art. 109. O
tamanho desta “fatia” é proporcional ao número de ações que o proprietário detém. Por outro
lado, em uma organização cooperativa a divisão das receitas residuais
8
não é feita de acordo
com a posse das quotas-partes, mas proporcionalmente ao volume de operações realizadas
com a cooperativa.
Assim como nas organizações cooperativas, as assembléias gerais são os órgãos
máximos de tomada de decisão de uma IOF. Conforme esclarece o art. 121 da lei 6404/76, a
assembléia geral tem poderes de decisão sobre todos os negócios relativos ao objeto da
companhia e autoridade para tomar as resoluções que julgar conveniente à sua defesa e
desenvolvimento. No caso de companhias abertas, é dado o direito a voto àqueles que
detenham ações ordinárias
9
; as decisões serão tomadas, como celebra o art. 129, a partir da
maioria absoluta dos votos, não se computando os votos em branco. No caso das IOFs, como
está consagrado o conceito de uma ação, um voto, os direitos a voto são proporcionais ao
volume de capital integralizado por cada investidor sob a forma de ações, o que permite a
existência de acionistas controladores e acionistas minoritários, conforme a proporção de
ações que cada acionista detiver. Como as ações, que conferem direito de voto e determinam
seu peso em uma votação, podem ser transacionadas, é possível que um agente aumente ou
reduza seus direitos residuais de controle por meio da aquisição ou venda de ações.
Já para a organização cooperativa, prevalece o conceito de gestão democrática, isto é,
vale a regra de um homem/um voto. Desta forma, independente da quantidade de quotas-
partes ou do volume de operações realizadas com a cooperativa, o voto de todos os associados
tem o mesmo peso. Conseqüentemente, mesmo que houvesse um mercado para a transação
das quotas-partes, ainda não seria possível que algum proprietário tivesse maiores direitos
residuais de controle que outros, pois prevaleceria a idéia de gestão democrática.
8
Comumente conhecidas como “sobras”.
9
De acordo com o art. 16 da Lei 6404/76, uma ação ordinária é aquela que confere ao seu titular os direitos
essenciais do acionista, especialmente, participação nos resultados da companhia e direito de voto em
assembléia. Pelo art. 17 da mesma lei, uma ação preferencial pode conferir ao seu titular direito de voto com
restrições ou até mesmo não conferir direito de voto algum. No entanto, contam com vantagens que consistem
em 1) prioridade na distribuição de dividendo; 2) prioridade no reembolso do capital; ou 3) acumulação das duas
prioridades anteriormente citadas.
22
Entre outras atribuições de uma assembléia geral, conforme o art. 122 inciso II da lei
6404/76, destaca-se a eleição ou dissolução dos principais órgãos de administração de uma
IOF. São eles o conselho de administração, diretoria executiva e conselho fiscal, aos quais
cabe a administração da organização. De acordo com o art. 140 o conselho de administração
deverá ser composto por, no mínimo, três membros, eleitos pela assembléia geral; estes só
podem ser destituídos das suas funções por uma deliberação tomada também em assembléia
geral. O prazo de gestão não poderá ser superior a três anos, contudo é permitida a reeleição.
Pelo art. 143, a diretoria executiva será composta por dois ou mais diretores eleitos e que
podem ser destituídos a qualquer momento pelo conselho de administração. Assim como o
conselho de administração, o prazo de gestão não poderá ser superior a três anos, sendo
permitida a reeleição. No entanto, o § 1º do mesmo artigo determina que apenas um terço
(1/3) dos diretores poderão ser simultaneamente membros do conselho de administração. O
conselho fiscal será composto, conforme estabelecido pelo art. 161, por no mínimo três
membros e no máximo cinco, com suplentes em igual número, acionistas ou não, eleitos pela
assembléia geral. De acordo com o art. 163, entre outras funções, o conselho fiscal é
responsável por fiscalizar os atos dos administradores e verificar o cumprimento dos seus
deveres legais e estatutários, além de examinar as demonstrações financeiras da companhia.
Enquanto em uma organização cooperativa o acesso aos órgãos de administração, com
exceção da diretoria executiva, não podem ser ocupados por pessoas externas à cooperativa, a
lei 6404/76 não faz qualquer ressalva sobre este aspecto, facilitando desta forma a presença de
conselheiros independentes e a profissionalização da gestão. Por outro lado, a lei
cooperativista exige, em consonância com a idéia de gestão democrática, renovação mínima
dos cargos ocupados pelos conselheiros; já a lei das SAs. não faz esta ressalva.
23
3. A ORIGEM DOS PRINCIPAIS FATORES QUE CONDICIONAM AS
ESTRUTURAS DE GOVERNANÇA DE UMA ORGANIZAÇÃO
COOPERATIVA
Nesta seção serão discutidas as origens dos principais fatores que condicionam as
estruturas de governança de uma organização cooperativa, investigando a natureza destas
origens e apresentando seus principais desdobramentos. São elas: 1) a forma com a qual a lei
5764/71 aloca e define a posse e o acesso aos direitos de propriedade de uma cooperativa; 2) a
particularidade dos proprietários destes direitos serem, simultaneamente e com grande
freqüência, seus principais usuários; e 3) determinadas características intrínsecas
correntemente encontradas entre estes proprietários.
Alocação dos direitos de propriedade pela lei 5764/71
De acordo com Hart (1995), observa-se maior eficiência quando a maior parte dos
direitos sobre as receitas residuais é atribuída ao mesmo agente que detém a maior parte dos
direitos residuais de controle. Ou seja, a maior parcela das receitas advindas da realização de
um investimento deverá ser apropriada pelo mesmo agente que decidirá os usos e destinos dos
ativos que proporcionarão tal retorno. Uma alocação distinta desta poderá resultar em
ineficiências devido à redução de incentivos para realizar investimento específicos, sob o
risco de se tornar refém de problemas de hold-up.
Ao se observar as características de uma ação
10
, conclui-se que esta aloca a cada
proprietário os direitos residuais de controle proporcionais aos seus direitos sobre as receitas
residuais. Além desta adequada conjunção, a existência de um mercado secundário também
permite que o detentor de uma ação consiga recuperar o valor investido em sua aquisição,
vendendo parte ou a totalidade das ações que possui, além de disponibilizar meios para que
este aumente, caso deseje, sua participação nos direitos de propriedade de uma companhia
aberta.
Por outro lado, a forma como a lei 5764/71 estabelece as características de uma quota-
parte impede que os direitos sobre as receitas residuais estejam alocados para um proprietário
na mesma proporção que seus direitos residuais de controle. Por força da lei, estes são iguais
para todos os membros de uma organização cooperativa, isto é, independentemente da
quantidade de quotas-partes que um proprietário detenha, seu voto terá o mesmo peso que o
10
Desconsiderando a diferença entre ações ordinárias e preferenciais.
24
de todos os outros (um homem/um voto). Os direitos sobre as receitas residuais também não
são primordialmente determinados pela posse de quotas-partes; é o volume de operações
realizadas com a organização cooperativa que determina a “fatia” que caberá a cada membro
no momento da divisão das sobras. De forma sintética, a posse de quotas-partes garante a um
agente o direito de uso dos ativos e serviços que a cooperativa oferece, o direito de participar
por meio do voto do processo de tomada de decisão coletiva e o direito de ser votado,
respeitando as determinações da lei e do estatuto, caso seja candidato aos cargos dos órgãos
de administração.
Em suma, a forma como a lei 5764/71 define os direitos de propriedade em uma
organização cooperativa, ao não alocar os direitos sobre as receitas residuais e os direitos
residuais de controle sob a propriedade de um mesmo agente (ou grupo de agentes), cria
obstáculos para que arranjos organizacionais mais eficientes sejam adotados. Além deste
descasamento, ao vetar a transação dos direitos de propriedade entre membros e não-membros
e ao impedir o acesso de agentes externos a estes direitos, a lei cooperativista também
impossibilita o surgimento de um mercado secundário para os direitos de propriedade da
organização cooperativa. Com isto perdem-se instrumentos que: 1) viabilizem a apreciação
dos direitos de propriedade e, cuja soma total, sinalizam o valor de mercado da cooperativa;
2) permitam os agentes vender ou adquirir estes direitos por um preço que representa o valor
presente da soma dos ganhos futuros esperados; 3) forneçam parâmetros para avaliar o
desempenho do gestor, bem como a performance dos outros membros dos órgãos de
administração; e, por fim, 4) perde-se, também, uma fonte da qual a cooperativa poderia se
utilizar para buscar novos financiamentos.
A conjunção do descasamento entre direitos sobre as receitas residuais e direitos
residuais de controle, da proibição da transação dos direitos de propriedade, da restrição de
terceiros acessar estes direitos e da obrigação da dispersão da propriedade cria obstáculos para
a utilização de dois clássicos instrumentos de governança, grandes blockholders e ameaça de
aquisição hostil. O primeiro, por meio da concentração dos direitos de propriedade sob a
titularidade de um mesmo agente ou grupos de agentes, pode atenuar os chamados problemas
de agência. O segundo pode disciplinar o comportamento do gestor e de outros membros do
órgão de administração devido à ameaça de demissão caso os direitos de controle se
concentrem na mão de um novo titular, geralmente externo.
Da mesma forma, aquela conjunção também dificulta o acesso da organização
cooperativa a algumas fontes de financiamento, entre elas o mercado de crédito bancário,
devido à dispersão da propriedade que torna nebulosa a determinação de um colateral para o
25
empréstimo, além de dificultar o acesso de grandes credores aos processos de tomada de
decisão. Como já foi mencionado, a inexistência de um mercado para transacionar os direitos
de propriedade impede que a cooperativa se utilize dos mercados de capitais para buscar
financiamento.
Duplo papel do associado: proprietário e usuário da cooperativa
Outra característica que merece atenção é o duplo papel exercido pelos membros de
uma cooperativa. Enquanto em uma IOF os agentes que adquirem seus direitos de
propriedade atuam quase que unicamente como investidores ou gestores desta organização, os
detentores dos direitos de propriedade de uma cooperativa, além de atuarem como
proprietários, também são seus principais fornecedores (no caso de uma cooperativa agrícola,
por exemplo) ou seus principais clientes (no caso de uma cooperativa de consumo ou de infra-
estrutura). Tal particularidade modifica a função objetivo da organização cooperativa,
tornando-a mais difusa. Ou seja, esta função objetivo incorpora conflitos de interesses entre a
face proprietário de um associado e seu lado usuário dos ativos da cooperativa.
Este duplo papel se reflete em diversos aspectos nas estruturas de governança da
organização cooperativa. Destacadamente, este conflito de interesses afeta a determinação dos
preços dos produtos dos associados adquiridos pela organização, além da taxação dos serviços
e assistências oferecidos. Este conflito também é observado ao examinar o papel e os desafios
defrontados pelos gestores de cooperativas, principalmente quando comparados com aqueles
encarados pelos executivos de IOFs. Da mesma forma, há alterações nas funções e
compromissos exercidos pelos conselhos dos órgãos de administração e fiscal das
cooperativas. No entanto, diversos autores (Hansmann, 1996 e 1999; Sykuta e Cook, 2001;
Staatz, 1987) apontam que o duplo papel exercido por um membro de uma cooperativa, ao
proporcionar um melhor fluxo de informações, favorece a redução de assimetria de
informações nas transações entre a cooperativa e seus membros.
Características intrínsecas dos membros de uma organização cooperativa.
Influenciada pelos princípios da doutrina cooperativista
11
, a legislação cooperativista
estabelece, conforme exposto nas seções 3.1 e 3.2, diversas regras para manter os direitos de
propriedade de uma organização cooperativa dispersa entre seus membros. Esta dispersão não
11
Denomina-se doutrina cooperativista o conjunto de idéias estabelecidas pelos chamados pensadores socialistas
utópicos que fundamentaram o movimento cooperativista ao longo do século XIX. Entre estes pensadores,
destacam-se Robert Owen, Charles Fourier, Philippe Buchez e Louis Blanc.
26
está presente na maioria das empresas IOFs, pois contam freqüentemente com um acionista
majoritário ou com um grupo de acionistas controlador que, devido ao volume de direitos de
propriedades possuídos, tem grandes incentivos em manter o controle na IOF. No entanto,
geralmente a dispersão dos direitos de propriedade de uma cooperativa também é resultado de
características correntemente observadas entre seus membros
12
. Entre elas se destacam:
a) a limitada capacidade de cada membro realizar individualmente os investimentos
desejados, seja por insuficiência de capital próprio, seja por incapacidade de alavancar
os recursos necessários junto a fontes de financiamento. Geralmente, este associado só
consegue viabilizar este investimento por meio da organização cooperativa ao
conseguir reunir recursos de diversos outros agentes ou, junto com eles, ter acesso a
fontes de financiamento em condições mais favoráveis. No entanto, estas
circunstâncias favorecem ainda mais a dispersão dos direitos de propriedade de uma
cooperativa.
b) a significativa parcela da renda individual de boa parte dos associados ser fortemente
dependente dos resultados obtidos junto à organização cooperativa, seja por meio da
divisão das receitas residuais – comumente chamada de divisão das sobras –, seja por
meio das operações realizadas junto aos ativos da cooperativa.
c) por fim, ambas as características acima descritas implicam em uma elevada aversão ao
risco por parte dos membros de uma organização cooperativa.
Apesar de boa parte dos fatores condicionarem desfavoravelmente as estruturas de
governança de uma organização cooperativa, conforme exposto por Hansmann (1996 e 1999),
as cooperativas estão funcionando há décadas, muitas delas se tornaram grandes players nos
mercados onde atuam e têm participação relevante, quando não decisiva, na produção de
algum bem, principalmente matérias-primas, commodities agrícolas ou minerais, ou no
provimento de algum serviço. Isto levar a crer que, embora existam obstáculos à eficiência
deste arranjo, as cooperativas apresentam qualidades que, de outra forma não seriam
apropriadas pelos agentes envolvidos se estas organizações não existissem.
De acordo com Leathers (2006, p. 668-9), podem ser assim enumeradas as vantagens
obtidas por um agente ao se tornar membro de uma organização cooperativa:
a) melhor preço recebido pelo produto final proporcionado pelo maior poder de barganha
ou por acesso a novos mercados;
12
Ao menos no Brasil entre as cooperativas de produção agropecuária.
27
b) menor custo para comercializar seu produto devido ao menor custo de contratação,
desde que haja alto grau de confiança entre a cooperativa e seus membros, e à redução
de incerteza e riscos de mercado;
c) melhor fluxo de informações entre a cooperativa e seus membros, facilitando a
introdução de tecnologia ou novas técnicas produtivas que aprimorem a qualidade do
produto final.
Como foi visto, as organizações cooperativas são estruturas complexas que, embora
guardem muitas semelhanças com as IOFs, possuem características distintas e marcantes que
afetam a forma como são organizadas suas estruturas de governança. Foram analisadas nesta
seção as origens destes fatores condicionantes e apresentaram-se algumas decorrências destas
particularidades. Serão estudados na próxima seção os desdobramentos de cada
particularidade apresentada.
3.1. O cooperado enquanto proprietário e usuário da cooperativa
O duplo papel dos membros de uma organização cooperativa faz surgir diversos
conflitos e questões que não existem em uma IOF. A origem desta diferença está no fato de o
membro de uma cooperativa ser simultaneamente proprietário e um dos principais usuários
dos ativos da cooperativa. Este duplo papel leva a organização cooperativa a ter uma função
objetivo bem mais difusa, principalmente quando comparada com uma IOF. Estas empresas
contam com uma função objetiva mais claramente definida; seus acionistas desejam obter o
máximo retorno possível do seu investimento e isso se dá primordialmente por apenas dois
canais: pagamento de dividendos e a valorização dos seus direitos de propriedade.
Os investidores de organizações cooperativas percebem o retorno do seu investimento
por diversos canais, pois ao assumir tanto a função de proprietário quanto de usuário recebem
rendimentos por meio da divisão das receitas residuais obtidas a partir dos resultados
alcançados pela cooperativa, do valor agregado à sua produção individual, ao utilizar os ativos
da organização, e dos preços favoráveis oferecidos pela cooperativa para os seus produtos.
Desta forma, a função objetivo de uma organização cooperativa geralmente é mais difusa e,
com isso, abre possibilidade para divergências de interesses e, conseqüentemente, maiores
conflitos.
Entre esses conflitos se destacam as questões em torno de como serão internamente
distribuídas as receitas, já que a forma como ocorre esta distribuição afeta de modo distinto a
28
renda individual de cada acionista, e as questões em torno de como determinar o preço dos
produtos ou serviços que remunerarão os fornecedores (ou clientes) da cooperativa.
De acordo com Staatz (1987, p. 39), como os investidores de uma organização
cooperativa também são seus principais usuários, eles desejam participar mais ativamente dos
processos de tomada de decisão quanto a forma como serão distribuídas as receitas e como
serão alocados os custos da cooperativa, seja por meio de tentar influenciar as deliberações
dos membros dos conselhos, seja atuando diretamente via assembléias. Se por um lado isto
pode ser desejável por aumentar a participação das partes interessadas no processo de tomada
de decisão, por outro, havendo divergência de interesses, torna as decisões mais lentas e
custosas devido à dificuldade para a formação de consensos. Tal dificuldade não parece ser
tão comum em uma IOF, já que seus acionistas terão suas rendas individuais primordialmente
via maximização dos lucros.
Outro ponto que merece ser destacado e que será mais bem discutido mais adiante, é
que este conflito de interesses e a variedade de preferências entre os membros da cooperativa
torna mais complicado e delicado os trabalhos dos órgãos de administração, destacadamente
do conselho de administração e, principalmente, do gestor. (Staatz, 1987 e Cook, 1994)
Como os membros de uma cooperativa também assumem o papel de principais
fornecedores/clientes, a determinação do preço que remunera os produtos adquiridos ou
vendidos pela cooperativa também se torna alvo de disputa e fonte de conflito de interesses.
Se por um lado, tomando a face proprietário da organização, é mais interessante pagar o
menor preço possível, minimizando os custos para maximizar os lucros, por outro, assumindo
agora a posição de usuário, quanto maior o preço pago pelo produto adquirido, maior será a
receita individual de cada associado. Portanto, estes interesses podem ser claramente
conflitantes. Este conflito praticamente não existe na determinação dos preços pagos pelos
insumos de uma IOF ou por seus produtos ou serviços oferecidos, pois quanto menor o
dispêndio realizado para a aquisição dos insumos e maior a receita obtida transacionando seus
produtos e serviços no mercado, maior o excedente final apropriado pela firma.
Como o associado enxerga o valor do seu investimento na cooperativa mais como um
instrumento para valorizar sua produção individual do que como uma fonte de retorno do seu
capital, se preocupando mais com o quanto de produtividade este investimento trará a sua
produção do que com a produtividade do capital, Staatz (1987, p. 40-3) defende que a
avaliação da taxa de retorno do investimento da cooperativa deva ser feita em duas partes:
retorno “do” capital e retorno “sobre” o capital. O primeiro depende do programa de resgate
do capital investido; já o segundo é obtido por meio do uso dos ativos da cooperativa, da
29
provisão por parte da cooperativa de bens coletivos, da qualidade dos serviços e dos produtos
fornecidos pela cooperativa, além dos frutos colhidos pela articulação de lobbies.
Conforme também salienta Staatz (1987, p. 36-8), a determinação dos preços dos
produtos da cooperativa incorpora, ainda, os custos fixos da produção dos seus fornecedores,
os quais, para uma IOF, são considerados meramente como custos variáveis. Dado um
aumento no custo de oportunidade de uso da terra, a cooperativa não pode adquirir um
volume menor de produtos dado o acréscimo no seu custo, pois seus “fornecedores” contam
com direitos de controle e podem interferir nesta decisão. Ao incorporar o custo fixo dos seus
fornecedores, o capital da cooperativa se torna menos flexível do que o de uma IOF e,
portanto, as primeiras tendem a concentrar seus investimentos em atividades fortemente
relacionadas com as atividades dos seus associados. Ao contrario de uma IOF, a cooperativa
pode ter dificuldades para aplicar seus recursos em atividades mais lucrativas, caso não
estejam relacionadas com as dos seus fornecedores.
Contudo, a determinação de preços pela cooperativa, assume ainda outras funções, o
que torna sua decisão ainda mais complexa. Conforme lembra Fulton (1999, p. 429), uma das
razões históricas que justificaram a existência da cooperativa é sua capacidade de alterar os
preços praticados pelas IOFs. Portanto, a determinação do preço praticado por uma
organização cooperativa também leva em consideração a reação de seus concorrentes não
apenas para a sua lucratividade, mas como um instrumento de defesa das rendas individuais
dos seus associados.
Devido ao duplo papel assumido pelo cooperado e às limitações estabelecidas pela lei
5764/71, limitando os cargos dos órgãos de administração exclusivamente aos associados, há
poucos incentivos para que um membro qualquer se especialize em alguma destas funções.
(Zylbersztajn, 2002, p. 7) No entanto, como boa parte da renda de um cooperado está
associada à sua produção, a dedicação aos cargos nos conselhos fica comprometida. Nos dois
próximos tópicos serão analisados o papel do gestor de uma organização cooperativa e as
funções assumidas pelos Conselhos de Administração e Fiscal dentro da realidade deste duplo
papel.
3.1.1. Papel do gestor
Os mesmos fatores que condicionam as estruturas de governança das organizações
cooperativas, também influenciam o papel dos seus gestores. Destacadamente, a função
objetivo mais difusa, a dispersão dos direitos de propriedade, favorecendo heterogeneidade de
interesses entre seus titulares, e a forma como os direitos de propriedade estão alocados nestas
30
organizações exigem dos gestores de organizações cooperativas, conforme defende Cook
(1994), maiores habilidades do que aquelas demandadas aos administradores de IOFs.
Neste mesmo artigo, Cook comenta que a literatura acadêmica há tempos tem dado
pouca atenção ao papel do comportamento dos gestores de cooperativas. Dos trabalhos
existentes, parte defende que a tomada de decisão em uma cooperativa emana somente das
decisões dos membros e, portanto, o comportamento do gestor exerce pouca nenhuma
influência
13
. Por outro lado, autores mais recentes sugerem contrariamente que administrar
uma empresa orientada a seus usuários é diferente, quando não mais difícil, que gerenciar
uma IOF
14
.
Na linha destes últimos trabalhos, Bhuyan (2007, p. 276-7) argumenta que se o gestor
não der a atenção adequada aos assuntos da cooperativa ligados aos interesses particulares dos
associados, o desempenho da organização será insatisfatório devido ao fraco
comprometimento por parte dos seus membros. Citando um estudo de caso de Goodman
(1994), Bhuyan descreve como pobres práticas de gestão e falta de comunicação adequada
resultam em descontentamento por parte dos membros ao sentirem que suas demandas são
desconsideradas e provocam maiores mudanças na gestão e na operação da cooperativa.
Citando ainda um outro estudo de caso em Jessé e Rogers (2006), este mesmo autor indica
como equívocos de um gestor podem levar a uma crise de confiança dentro do quadro social
e, conseqüentemente, a substanciais perdas financeiras e insatisfação dos seus membros. O
autor destaca, por fim, a importância de que os gestores de cooperativas e seus diretores
tentem entender as características, valores, necessidades, satisfação e objetivos dos associados
para aperfeiçoar o desempenho da sua gestão e a performance da cooperativa.
Como a cooperativa conta com uma função objetiva mais difusa, resultado de sua
característica intrínseca na qual seus associados são simultaneamente proprietários e
principais usuários, o gestor de depara com um grande desafio ao ter que atender tanto
objetivos econômicos quanto sociais. Conforme descreve Bialoskorski (2003), o presidente de
uma organização cooperativa deve buscar tanto resultados econômicos positivos como a
conquista de novos mercados, aprimoramento do fluxo de informações, menor assimetria
informacional, identificação e redução dos custos de agência e controle de comportamento
oportunista, quanto atender os objetivos sociais, tais como criação de benefícios sociais,
administração de diferentes interesses políticos, divisão dos ganhos através de justiça social,
gerenciamento da divisão do trabalho e sofisticação da participação de cada membro.
13
Aizsilneks (1952), Aresvik (1955), Clark (1952), Emelianoff (1948), Phillips (1953) e Robotka (1957).
14
Axworthy (1990), LeVay (1983), Murray (1983), Perrault (1983), Shaffer (1982) e Staatz (1987).
31
De acordo com Cook (1994), devido à amplitude dos objetivos de uma cooperativa e
dada a dificuldade em definir um único conjunto de metas – freqüentemente percebido em
uma IOF –, é exigido do seu gestor a capacidade de gerar submetas ou sub-objetivos
mensuráveis. Dentro destas submetas, conforme destaca Bhuyan (2007) e Goddard et al.
(2002), tem que estar presente o atendimento das necessidades políticas dos associados,
exigindo do gestor a habilidade de realizar lobbies para atender as demandas dos membros da
cooperativa. O gestor se tornaria, portanto, uma espécie de porta-voz dos interesses dos
associados.
Quando a dispersão da titularidade dos direitos de propriedade favorece a
heterogeneidade de interesses entre os associados, para conseguir trabalhar esta diversidade
de preferências individuais, será exigido do gestor de uma organização cooperativa habilidade
para administrar conflitos, trabalhar com ambiente internos instáveis, imprecisos e complexos,
além da vocação para construir coalizões, consensos e um ambiente de lealdade entre os
membros. (Cook, 1994)
Como pode haver divergências entre os interesses dos proprietários quanto à
distribuição das receitas residuais e à alocação dos custos, o gestor pode ter que atuar como
um pacificador entre estes grupos. Conseqüentemente, boa parte do tempo dos gestores de
cooperativas pode ser consumida para coordenar as relações entre seus membros,
principalmente quanto maior e mais diversificado for o quadro social. Tal situação pode pôr a
cooperativa em uma posição menos competitiva porque seu gestor terá menos tempo para se
dedicar a questões administrativas ou estratégicas que seus pares em uma IOF. (Staatz, 1987,
p. 43)
Dificuldades para avaliar o desempenho do gestor
O comportamento do gestor de uma organização cooperativa também é influenciado
pela precariedade de instrumentos e medidas para avaliar o seu desempenho. Por serem de
difícil aplicação para julgar o desempenho de uma cooperativa, dada suas características
particulares, instrumentos e medidas consagrados em IOFs, tais como a valorização dos
direitos de propriedade em um mercado secundário específico, a existência de um “mercado
de executivos” e os critérios contábeis apresentados em um demonstrativo de resultados são
pobres para avaliar a performance de um gestor destas organizações e para disciplinar seu
comportamento.
O valor dos direitos de propriedade negociados em um mercado secundário, tal como
bolsas de valores, é amplamente utilizado em IOFs como medida para avaliar o desempenho
32
do seu gestor. Todavia, como a legislação brasileira impede a transferência e a apreciação dos
direitos de propriedade de uma cooperativa, impossibilitando a criação de um mercado
secundário, não é possível utilizar o valor de mercado da cooperativa para disciplinar o
comportamento do seu gestor. Para Zylbersztajn (2002, p. 14), como as cooperativas não
contam com um mecanismo sinalizador do desempenho do seu gestor tal como o mercado
acionário que faz o valor das ações variarem como reflexos dos seus bons ou maus resultados,
os relatórios de auditorias externas ganham maior relevância como instrumentos de
acompanhamento da gestão.
Como as cooperativas são um tipo de empresa que conta com uma função objetivo
mais difusa, pois têm que atender as necessidades dos seus proprietários não apenas pelo
resultado econômico, mas também pela qualidade dos produtos e serviços oferecidos aos seus
usuários, o desempenho do gestor não pode ser avaliado simplesmente pelos resultados
contábeis da cooperativa, em contraste com a realidade de uma IOF. De acordo com
Hansmann (1999, p. 398), como conseqüência desta inadequação dos critérios contábeis para
disciplinar o comportamento do gestor, há maior exigência sobre membros de uma
cooperativa para que estejam mais bem informados sobre as decisões tomadas pelos seus
órgãos de administração do que se observa sobre os acionistas de uma IOF.
A reputação em um “mercado de executivos” é outro mecanismo amplamente
utilizado em IOFs para disciplinar o comportamento dos seus gestores. Este mercado
proporciona incentivos para que o executivo realize boa gestão, aperfeiçoando o desempenho
da companhia, devido à expectativa de ganhos futuros por meio de novas contratações em
condições mais favoráveis. Fronzaglia (1995, p. 8-9) esclarece que devido ao fato dos
gestores de cooperativas serem escolhidos por meio de eleição entre seus membros e devido à
pouca profissionalização dos órgãos de administração, seja porque as cooperativas ainda não
julgam relevante a introdução de administradores externos especializados, seja porque as
legislação cooperativista cria obstáculos a esta contratação, ainda não há no Brasil um
mercado de executivos para cooperativas minimamente formado. Conforme esclarece
Fronzaglia (1995, p. 8-9), como os benefícios de uma boa gestão sob a forma de ganhos
pecuniários (salários) e não pecuniários (reputação) não se apresentam de forma contundente
para um presidente/gestor eleito, sua missão se torna agradar os interesses dos grupos que o
apoiaram durantes as eleições.
Por outro lado, como a renda dos proprietários é fortemente influenciada pelas
decisões do gestor que afetam a qualidade e o preço final dos produtos e serviços
transacionados pela cooperativa devido ao seu duplo papel exercido nesta organização, Staatz
33
(1987, p. 43) afirma que um ponto positivo desta característica intrínseca das cooperativas é
que o gestor provavelmente será chamado a dar explicações e justificar suas decisões com
maior freqüência que em uma IOF.
3.1.2. Função e composição dos conselhos
A legislação cooperativista obriga as organizações cooperativas a constituírem pelo
menos dois órgãos responsáveis pela gestão da organização. São eles o conselho
administrativo e o conselho fiscal. O funcionamento e o papel destes são condicionados
principalmente por três fatores: a) pelo duplo papel exercido por um conselheiro, um voltado
para o lado produtivo da cooperativa ou dos seus associados e outro focado nas rotinas
administrativas da organização; b) pela função de representante de grupos de associados,
defendendo interesses particulares; e c) pelo conceito de gestão democrática no qual todos os
associados têm o mesmo poder de voto.
Duplo papel do conselheiro (lado produtivo x lado administrativo)
A lei 5764/71 determina que somente os associados podem assumir os cargos do
conselho, conseqüentemente, os conselheiros também são usuários dos ativos da cooperativa.
Se, por um lado, este fato tem uma face positiva, pois, enquanto usuários, os conselheiros
terão grande conhecimento técnico sobre as atividades produtivas dos associados e sobre as
operações e serviços oferecidos pela cooperativa, por outro, estes mesmos conselheiros
podem ter menor preparo sobre como administrar uma cooperativa ou sobre como monitorar o
comportamento do gestor.
De acordo com Staatz (1987, p. 52), se as operações da cooperativa forem complexas,
se distanciando das atividades individuais dos associados, é provável que falte conhecimento
aos conselheiros sobre questões como negociações, marketing, varejo, processos burocráticos,
etc. Isto leva as cooperativas a um dilema: quanto mais os produtores participam das funções
de liderança no conselho, mais eles podem evitar pobres decisões e fracas gestões; quanto
menos eles participam, mais a propriedade estará desconectada do controle.
Ao comparar o conselho de uma organização cooperativa com o de uma IOF, percebe-
se que os membros do primeiro podem apresentar características distintas. Por estarem nas
duas pontas do processo, podem tomar uma postura mais ativa no processo de tomada de
decisão porque, como também são usuários, contam com fortes incentivos para tomarem
conhecimento sobre, por exemplo, a determinação dos preços da cooperativa ou a qualidade
dos serviços e assistências; decisões que em uma IOF se concentram praticamente de forma
34
exclusiva nas mãos do gestor. Como não há boas medidas de performance para os gestores de
cooperativas, a função de monitores dos conselheiros ganha ainda maior importância.
Representante de grupos de interesse
Conrforth (2004, p. 14-20) argumenta que a função primordial dos conselheiros de
uma organização cooperativa é ser representante dos interesses dos associados nos órgãos de
administração. Isto é resultado do processo eleitoral no qual são escolhidos os conselheiros,
cujos eleitores são os próprios associados, e da falta de preparo para monitorar o
comportamento do gestor ou para auxiliá-lo no processo de tomada de decisão. Desta forma,
as cooperativas se tornam uma instituição muito mais voltada para atender os interesses dos
seus membros do que para buscar sua própria sustentabilidade. Ainda, conforme aponta
Cornforth (2004), geralmente os membros escolhem como conselheiro aquele que facilitará
sua comunicação com o gestor, fazendo chegar até ele suas demandas e necessidades.
Conseqüentemente, o conselho se torna um órgão passivo para ratificar e informar as decisões
tomadas pelo gestor.
A falta de habilidade dos conselheiros para monitorar o comportamento do gestor e
auxiliar na administração da cooperativa amplia o espaço para as atividades de influências,
isto é, atividades encampadas por grupos de associados para tentar influenciar os tomadores
de decisão a defenderem seus interesses nos processos de divisão das receitas residuais e de
alocação dos custos da cooperativa. Conforme salienta Fronzaglia (1995, p. 5), além de gerar
custos – os chamados custos de influência – estas atividades promovem perda de eficiência,
pois deslegitimam o processo e os meios formais de tomada de decisão.
Sobre custos de influência, Cook (1995, p. 1157) afirma que como as decisões dos
órgãos de administração afetam a distribuição de riquezas e de outros benefícios entre os
associados, surgem incentivos para que membros individualmente ou organizados em grupos
tentem influenciar as deliberações dos gestores e conselheiros em benefício próprio. Essas
atividades, chamadas de atividades de influência geram custos para a cooperativa que podem
variar de acordo com a) a existência de uma autoridade central, b) os tipos de procedimentos
que delimitam a tomada de decisão e c) o grau de homogeneidade de interesses entre os
associados. (Cook, 1995, p. 1157)
Zylbersztajn (2002, p. 14) reforça esta idéia ao concluir que os conselhos em
cooperativas geralmente têm um caráter mais político do que técnico e, portanto, são muito
dependentes do presidente da cooperativa. Seguindo este raciocínio, é possível concluir que a
legislação brasileira reforça estas questões ao não exigir qualquer formação ou experiência
35
mínima dos associados que pretendem assumir os cargos de conselheiros ou ao impedir o
acesso de pessoas externas ao quadro social a estes cargos. Este tipo de característica pode ter
implicações para o comprometimento de cooperados para com a cooperativa, uma vez que sua
representação pode ser viesada para grupos de cooperados, mesmo que sem qualificação
técnica.
Gestão democrática (um homem/um voto)
As cooperativas são caracterizadas por um processo de gestão que tenta ser o mais
democrático possível. Está fundamentado neste princípio o conceito de um homem/um voto
que, por sua vez, confere igual poder de voto a todos os membros da cooperativa,
independentemente da quantidade de quotas-partes ou do volume de operações realizadas com
a cooperativa. Esta dispersão dos direitos residuais de controle abre espaço para que os
minoritários – isto é, aqueles que detêm quantidades mínimas de quotas-partes ou que pouco
transacionam com a cooperativa – possam explorar os majoritários. De acordo com Staatz
(1987, p. 50) os principais instrumentos de defesa dos majoritários são a ameaça de se retirar
da cooperativa, provocando uma forte descapitalização, ou esforços para influenciar os
membros dos órgãos de administração por canais informais, deslegitimando ainda mais os
processos formais de tomada de decisão.
Diante desta realidade, os conselhos podem contar, ao acreditarem que dependem da
massa de pequenos associados para a sua reeleição, com fortes incentivos para atuarem de
forma política, tentando agradar os grupos minoritários
15
que concentram grande poder de
voto, à custa dos recursos dos majoritários e comprometendo a sobrevivência da própria
cooperativa.
Esta dispersão do poder de voto explica porque a formação de coalizões entre os
acionistas geralmente é muito mais importante no processo de tomada de decisão nas
cooperativas do que nas IOFs. Todavia, a necessidade de construir coalizões sugere que os
custos de transação destes processos são mais elevados nas primeiras do que nas últimas.
(Staatz, 1987, p.51) Isso pode comprometer a capacidade de uma cooperativa reagir
rapidamente a uma mudança no mercado. Hendrikse e Veerman (2001).
15
Minoritários em termos de relevância econômica.
36
3.1.3. Melhor fluxo de informação
Dado o duplo papel do cooperado, há menores incentivos para promover assimetria de
informação. De acordo com Sykuta e Cook (2001), enquanto em uma IOF o proprietário de
uma firma freqüentemente obtém maior ganho quando adquire seus insumos por preço menor
ou vende ser produtos ou serviços por um preço maior, à custa dos seus fornecedores ou dos
seus clientes, em uma organização cooperativa esta vantagem não é tão clara, pois as duas
pontas - proprietário-fornecedor ou proprietário-cliente - são assumidas pelos mesmos
agentes. Desta forma, os proprietários de uma cooperativa podem não perceber aumento de
renda ao expropriar uma parcela maior do excedente que, de outra forma, seria apropriado
pelos fornecedores ou clientes.
Devido a estas características, Sykuta e Cook (2001) afirmam que há maiores
incentivos para um melhor fluxo de informações entre as partes envolvidas em uma
organização cooperativa. Esta percepção é compartilhada por Staatz (1987, p. 40) ao afirmar
que os membros podem dar informações mais confiáveis para a organização porque, como
também são proprietários, estão mais seguros de que a cooperativa não utilizará esta
informação para agir de forma oportunista contra eles. Na mesma linha, este autor também
defende que os membros de uma cooperativa geralmente contam com maior número de canais
abertos para comunicarem suas preferências aos órgãos de administração do que seus pares
em IOFs. Exercer o poder de voz pode ser mais barato para os usuários de uma cooperativa do
que para os stakeholders de uma IOF.
Sykuta e Cook (2001) e Hansmann (1999, p. 390) defendem, também, que como os
usuários de uma organização cooperativa têm interesses em ambos os lados de uma transação,
é possível sempre acreditar na outra parte. Nesta direção, Zylbersztajn (2002, p. 16) afirma
que, portanto, as cooperativas têm um importante papel como redutor de custos de transação
devido à menor assimetria de informacional, além da grande capacidade de coordenar um
número mais expressivo de contratos baseados na sua elevada capilaridade.
37
3.2. Não alocação dos direitos sobre as receitas residuais e dos direitos residuais de
controle sob a propriedade de um mesmo agente
Nesta seção será discutido os canais pelos quais a forma como estão alocados os
direitos de propriedade de uma organização cooperativa, devido às regras determinadas pela
lei 5764/71, afetam suas estruturas de governança que, por sua vez, limitam a utilização de
instrumentos de governança amplamente utilizados em IOFs e o acesso a fontes de
financiamento.
Partindo da definição de direitos de propriedade como a posse dos direitos sobre as
receitas residuais e dos direitos residuais de controle, observa-se que a legislação
cooperativista brasileira no esforço de manter a propriedade e o controle desta organização
dispersos e de assegurar a soberania dos usuários sobre a cooperativa, acaba não alocando os
direitos de propriedade da forma mais eficiente possível, criando diversos obstáculos para o
seu melhor funcionamento. Em outras palavras, Cook (1995, p. 1156) afirma que dadas as
características particulares de uma cooperativa, esta alocação dos seus direitos de propriedade
leva a conflitos sobre os direitos residuais de controle e sobre as receitas residuais, elevando
os custos de transação, principalmente quanto mais complexa for a estrutura organizacional da
cooperativa.
Ao menos no caso brasileiro, é possível afirmar que boa parte desta alocação tem sua
origem na regras determinadas pela lei 5764/71. Conforme já discutido na Seção 2.2, os
direitos sobre as receitas residuais não estão proporcionalmente alocados àqueles que detêm a
titularidade dos direitos residuais de controle. Estes estão divididos homogeneamente entre
todos os associados devido ao princípio de gestão democrática que, entre outros pontos,
estabelece o preceito de um homem/um voto. Por sua vez, os direitos sobre as receitas
residuais não estão alocados na proporção do capital integralizado sob a forma de quotas-
partes, mas ao volume de operações realizadas junto à cooperativa.
Além desse desalinhamento entre direitos sobre a receita residual e direitos de
controle, a legislação também cria obstáculos ao vetar a transação dos direitos de propriedade
(quotas-partes) de uma cooperativa, seja entre seus membros, seja para agentes externos. A lei
5764/71 impede também o acesso tanto aos direitos sobre as receitas residuais quanto aos
direitos residuais de controle por parte de terceiros externos à cooperativa. Por fim a
legislação cooperativista proíbe a concentração destes direitos nas mãos de um único agente.
Por um lado o princípio de gestão democrática impede que qualquer associado tenha poder de
voto maior ou menor que outro, fazendo valer, portanto, a regra de um homem/um voto. Por
38
outro, a lei é clara ao proibir a posse de uma porção maior que 1/3 do total de quotas-partes de
uma cooperativa nas mãos de um único associado, salvo exceções determinadas pela
legislação.
Para Cook (1995, p. 1156-7), são cinco os principais problemas resultantes da má
definição dos direitos de propriedade: problemas de horizonte, de portfolio, de controle, do
carona, além dos custos de influência
16
.
Problema de horizonte
O problema de horizonte ocorre quando os direitos sobre as receitas residuais de um
ativo são menores que sua vida produtiva, isto é, quando há um descompasso temporal entre a
vida útil de um ativo e a apropriação das receitas residuais por ele geradas. Este problema é
causado pelas restrições à transação destes direitos, gerando poucos inventivos ao
investimento de longo prazo. Devido aos problemas de horizonte, o gestor e os conselheiros
da cooperativa são simultaneamente a) pressionados para aumentar a proporção dos
pagamentos correntes aos cooperados em detrimento dos recursos destinados ao investimento
e b) a acelerar o aporte de capital através da retenção dos ganhos.
Ainda sobre os problemas de horizonte, Staatz (1987, p.45) afirma que devido à falta
de liquidez das quotas-partes, os associados são obrigados a buscar a maior parte dos seus
ganhos por meio do uso presente dos ativos da cooperativa. Tal estratégia pode levar a uma
maior pressão sobre os gestores da cooperativa a darem prioridade às estratégias de prazos
mais curtos do que com horizontes mais longos. De mesma forma, os membros podem criar
resistências a financiarem investimentos de longo prazo, principalmente se eles acreditarem
que os frutos deste investimento só florescerão quando não necessitarem mais dos ativos da
cooperativa. Outro ponto observado por Staatz, é que os membros mais velhos tendem a
pressionar o gestor para aumentar os ganhos presentes mesmo se isso significar liquidar os
ativos da cooperativa.
Em suma, é possível concluir que problemas de horizonte geram três conseqüências
principais: a) aumentam a proporção do fluxo de caixa da cooperativa destinada a pagamentos
presentes em detrimentos dos investimentos; b) aceleram os programas de aposentadoria e os
dividendos pagos sobre o capital investido na organização comprometendo a retenção dos
16
Os problemas de carona e de custos de influência foram discutidos, respectivamente nas seções 2.3.1.2
Função e composição dos conselhos e 2.3.2 características próprias dos membros de uma cooperativa que
explicam o perfil da sua participação na governança da cooperativa.
39
ganhos para investimento; e c) incentivam a liquidação dos ativos da cooperativa, como um
todo ou em parte.
Problema de portfolio
O portfolio de investimento da cooperativa pode não refletir os interesses ou a aversão
ao risco dos associados que são, em última instância, os principais investidores desta
organização. Como a lei proíbe a transação de seus direitos de propriedade, bem como sua
apreciação, os associados não podem remover ou realocar seus investimentos e são forçados a
aceitar riscos distintos daqueles que desejariam. Como forma de se proteger, pressionam os
órgãos de administração a rearranjar os investimentos da cooperativa, reduzindo seu risco,
mesmo que isso implique menores retornos esperados.
Problema de controle
Assim como nas IOFs, as organizações cooperativas também enfrentam problemas
decorrentes da divergência de interesses entre os associados (investidores) e os membros dos
órgãos de administração (gestores e conselheiros). No entanto, para este último modelo de
organização, a falta de um mercado de executivos e de um mercado secundário que sinalize o
valor de mercado de uma cooperativa e que viabilize a transação dos seus direitos de
propriedade torna esta divergência ainda mais problemática, pois empobrece a eficácia dos
instrumentos para monitorar e disciplinar o comportamento dos gestores e conselheiros.
Refletindo sobre a má alocação dos direitos de propriedade em uma cooperativa, ao
comparar as estruturas de governança de uma cooperativa tradicional com as de cooperativas
de novos tipos (Cooperativas de Nova Geração, por exemplo), Cook e Iliopoulos (2000)
demonstram que os problemas de direitos de propriedade vagamente definidos afetam os
incentivos para os associados investirem na cooperativa e a capacidade de esta conseguir
aporte de capital. Ainda, de acordo com estes autores, os membros estão mais dispostos a
investir quando a cooperativa é caracterizada por estruturas como cooperativas fechadas,
marketing agreements, direitos de propriedade (quotas-partes) transferíveis e apreciáveis, o
que pode expressar que tais estruturas tendem a reduzir os problemas do carona, de horizonte
e de portfolio. Ou seja, as características de uma cooperativa com direitos de propriedade
melhor alocados proporcionam maiores incentivos ao investimento.
40
3.2.1. Instrumentos de governança
Grandes blockholder e aquisição hostil
Ao estabelecer que nenhum associado pode subscrever mais que 1/3 do total de
quotas-partes, a legislação cooperativista brasileira impede a concentração dos diretos sobre
as receitas residuais via distribuição de sobras. Ao obrigar a dispersão destes direitos, alguns
consagrados instrumentos de governança corporativa, tais como monitoramento ativo e
contínuo por parte de um grande blockholder e proposta de aquisição hostil (ou ameaça de),
não são aplicáveis às organizações cooperativas.
Dado que a lei 5764/71 não permite que um agente externo (empresários,
comerciantes e pessoas jurídicas) faça parte do quadro social de uma cooperativa
17
, fica
impossibilitada a adoção de instrumentos de governança corporativa como a ameaça de
proposta de aquisição hostil, pois não é possível transferir direitos residuais de controle
(direito de voto). Como somente os membros do quadro social, isto é, aqueles que detêm
quotas-partes, podem votar os agentes externos não têm como obter direitos de controle sob a
forma de direto de voto. Esta restrição impede que a cooperativa se financie através de aporte
de capital destes "agentes externos", pois não é permitido realizar transferências de direitos
sobre as receitas residuais (quotas-partes).
Conselhos de diretores e contratos de incentivo
Embora a lei cooperativista reserve os cargos do Conselho de Administração ou da
Diretoria exclusivamente aos associados, a legislação permite a contratação de executivos
profissionais e independentes que não pertençam ao quadro social da cooperativa para auxiliar
os gestores na condução da organização. Com relação à remuneração destes executivos, a lei
não faz qualquer restrição, consentindo a elaboração de contratos de incentivo para alinhar os
interesses destes executivos aos objetivos da cooperativa. Dentre as modalidades de contratos
de incentivo, somente aqueles que representam transmissão de direitos sobre as receitas
residuais não podem ser aplicados aos executivos independentes que atuam em cooperativas.
Não há qualquer restrição para contratos de incentivo que contemplem remuneração por
desempenho, acordos de demissão ou bônus.
17
A única situação em que a legislação permite que pessoas jurídicas façam parte do quadro social é quando se
trata de cooperativas de grau inferior que constituíram uma cooperativa de grau superior (federação ou
Centraiseração).
41
A existência de um conselho de diretores é outro mecanismo de governança
corporativa amplamente utilizado pelas empresas convencionais que também pode ser
empregado nas cooperativas. Aliás, a Lei Cooperativista tornou este mecanismo obrigatório.
Toda cooperativa para funcionar regularmente deve constituir um Conselho de Administração
ou uma Diretoria eleita pelos associados por meio de uma assembléia geral e constituídos
exclusivamente por membros do quadro social. Este Conselho ou Diretoria, assim como em
qualquer outra empresa, irá auxiliar o gestor, no caso, o presidente da cooperativa, a
administrar a organização e irá monitorar suas decisões.
Além do Conselho de Administração ou da Diretoria, a lei 5764/71 também exige a
constituição de um Conselho Fiscal. Assim como o Conselho de Administração e a Diretoria,
somente os membros do quadro social podem exercer as funções do Conselho Fiscal, porém a
legislação permite a contratação de auditorias externas e de profissionais externos e
independentes, desde que não tenham parentesco até de 2º grau com nenhum conselheiro ou
diretor. Ou seja, a própria legislação cooperativista já exige a adoção de instrumentos de
governança, os Conselhos Fiscal e de Administração, que reduzem os problemas de agência
ao monitorarem o comportamento e as decisões dos gestores.
Por fim, a legislação exige outro procedimento que representa um esforço na direção
de uma gestão mais transparente. Os conselheiros ou diretores são eleitos para mandatos de no
máximo 4 anos. Isto é, além de prestar contas aos seus associados todos os anos ao final do
exercício social, os gestores também têm sua administração avaliada periodicamente quando
esgota o prazo do seu mandato por meio de eleições junto aos membros do quadro social.
Dessa forma, embora não exista, no Brasil, um mercado para gestores de cooperativas que
possa incentivá-los a realizar uma boa administração por meio de mecanismos de reputação,
para permanecer nos cargos exercidos os gestores têm que agradar e ter uma boa imagem
juntos aos associados.
3.2.2. Fontes de financiamento
As possíveis formas de alocação dos direitos de propriedade também condicionam a
acessibilidade dos instrumentos de financiamento disponíveis para uma organização. Para
Williamson (1988, p. 588-9), o aporte de recursos pode ser observado como instrumentos de
governança, pois especificam como serão transacionados e alocados os direitos de controle e
divididas as receitas residuais. Desta forma, é possível caracterizar em quais situações é mais
provável a elaboração de contratos de dívida (debt) ou a realização de aporte de capital
(equity).
42
De acordo com o autor, contratos de dívida são caracterizados pelas rígidas regras
contratuais, como pagamento de juros em intervalos fixos de tempo, estabelecimento de
colaterais e pagamento de todos os compromissos ao final do contrato. Neste, o credor tem
prioridade em caso de concordata ou falência. Em situações em que é possível transacionar
ativos por meio de poucas regras, o custo de elaborar um contrato de dívida não dever ser alto.
No entanto, a desvantagem de ter somente poucas regras é que elas podem não ser adequadas
ou suficientes para uma determinada contingência inesperada. Quando poucas e simples
regras não conseguem responder de forma eficiente a um grupo significativo de contingências
futuras, por exemplo, conforme aumenta a especificidade de um ativo, os custos dos contratos
de dívida aumentam fortemente.
O aporte de capital é uma estrutura de governança que dá direitos de controle aos
credores, atribuindo-lhes direitos sobre as receitas residuais e direitos de controle, como poder
de voz ou voto em conselho de diretores. A variedade e flexibilidade dos mecanismos de
controle disponíveis para um conselho permitem que as decisões se ajustem mais
eficientemente a uma multiplicidade de circunstâncias que os rígidos contratos de dívida não
conseguem dar conta. A posse de algum direito de controle confere segurança aos credores de
que seus recursos serão utilizados para atender seus interesses, elevando, portanto, a
probabilidade de que não terão seus recursos expropriados. Em transações que envolvem
ativos específicos, estratégias de aporte de capital resultarão em custos menores que a
elaboração de contratos de dívida. No entanto, os custos, tanto de um contrato de dívida
quanto de aporte de capital, se elevam quanto maior o nível de especificidade de um ativo,
porém os custos do primeiro crescem a uma velocidade maior que os do segundo.
Esta comparação entre as estratégias de financiamento via aporte de capital e via
elaboração de contratos de dívida pode ser utilizada para caracterizar as principais fontes de
financiamento utilizadas por uma organização cooperativa – a saber, aporte de recursos dos
próprios associados e crédito bancário. Como as cooperativas têm fortes restrições para
transferir seus direitos de propriedade para agentes externos, estratégias de aporte de capital
se tornam muito custosas, quando não inviáveis. Dadas estas restrições, financiamento via
contratos de dívida (crédito bancário e emissão de títulos) e via aporte de recursos por agentes
que já detêm direitos de propriedade (maior capitalização via recursos dos associados) são
encontrados com maior freqüência em cooperativas. Ainda assim, estas fontes de
financiamento encontram dificuldades particulares devido à forma como estes direitos estão
definidos em uma cooperativa.
43
Aporte de capital via associados
Como a lei 5764/71 limita a transferência de direitos de propriedade principalmente
para agentes externos à organização, a estratégia de aporte de capital é viável somente aos
indivíduos que sejam titulares de direitos de propriedade da cooperativa ou que se enquadrem
nos pré-requisitos para fazer parte do quadro social se tornando novos associados. O aporte
de capital via associados também é amplamente utilizado devido ao seu baixo de custo, já que
o resgate destes recursos são feitos com restrições e de forma incompleta.
Apesar do baixo custo, esta estratégia apresenta implicações desfavoráveis. Enquanto,
por um lado, quando um acionista resgata seus direitos de propriedade via mercado de
capitais, o tamanho do capital de uma IOF permanece praticamente inalterado, mudando
apenas o proprietário destes direitos, o resgate do capital investido na cooperativa reduz seu
total de recursos disponíveis.
Da mesma forma, quando a cooperativa opera sistematicamente um plano de resgate
deve, simultaneamente, adotar um programa para adquirir capital novo a partir dos atuais
associados ou de novos membros simplesmente para manter sua estrutura de capital original.
(Staatz, 1987, p. 47) O resgate total dos recursos integralizados na cooperativa por um
associado é restringido devido aos seus impactos negativos para a organização. Para
Hansmann (1999, p. 399), esta restrição é fruto da conseqüente descapitalização sofrida pela
cooperativa e pela divergência de interesses entre os membros que estão se retirando do
quadro social e aqueles que permanecem. Para os últimos, não restituir integralmente os
recursos integralizados representa uma transferência de recursos praticamente a custo zero.
Porém, Holmström (1999, p. 408) não concorda que as partes que queiram sair sejam mal
ressarcidas somente porque os que ficam queiram explorar esta fonte de recursos. Para este
autor há diversas maneiras de resolver este problema contratualmente. No entanto, o ponto
central desta questão é que o custo de apreciar o valor da saída é muito mais devastador que o
custo de depreciá-la, pois aumenta o incentivo à saída.
Mercado de crédito
Junto com o aporte de capital via associado, o mercado de crédito, principalmente
bancário, é a principal fonte de financiamento para as organizações cooperativas. No entanto,
devido à forma como estão alocados seus direitos de propriedade, à dispersão da propriedade,
à questões legais e ao histórico destas organizações, esta estratégia de financiamento tamm
encontra seus obstáculos.
44
Devido às restrições de acesso aos direitos de propriedade de uma organização
cooperativa, grandes credores não podem deter direitos de controle ou direitos de voz nos
conselhos de forma a assegurar menor incerteza quanto aos usos dos seus recursos e reduzir a
probabilidade de expropriação. Mesmo nas modalidades de crédito que não exigem
transferência de direitos de propriedade, requerendo apenas a elaboração de contratos de
dívida, as cooperativas ainda enfrentam dificuldades distintas daquelas encaradas pelas IOFs.
Para Zylbersztajn (2002, p. 9), como os ativos de uma cooperativa são propriedades de
todos os associados, há dificuldades em oferecê-los como colaterais em empréstimos devido à
dificuldade para aliená-los quando necessário. Na mesma linha, Bialoskorski (2002, p. 94-5)
observa que, além de financiar a si própria, a cooperativa acaba com freqüência financiando
seus associados para garantir a aquisição de determinada quantidade de produtos ou a venda
de insumos, trazendo complicações adicionais para o equacionamento do seu nível de liquidez
e para a seleção de fontes de crédito adequadas e compatíveis com o nível de renda do seu
cooperado. Bialoskorski também defende que as lacunas na lei brasileira também prejudicam
o acesso a fontes de financiamento, tal como a falta de uma legislação consolidada para casos
de falência de cooperativas que permita ao credor acionar procedimentos legais para obter de
volta seus recursos, da forma como acontece em sociedades anônimas ou limitadas. Por fim,
este autor também reconhece que o insucesso de muitas cooperativas acabou sinalizando ao
sistema financeiro que se trata de um cliente de alto risco de crédito, provocando um aumento
do custo do empréstimo ou do nível de garantias e, no limite, restringindo o aporte de
recursos. Esta situação se torna ainda mais delicada, ao escassear o crédito público para as
cooperativas. (Fronzaglia, 2005, p. 2)
Outras opções não são viáveis, por razões já expostas, tais como acesso a mercado de
capitais, devido à impossibilidade de transferir direitos de propriedade. Conforme aponta
Hendrikse e Veerman (2000) as dificuldades de uma cooperativa se capitalizar a leva a resistir
a entrar em mercados intensivos em capital e dificulta o gestor a adotar políticas mais
financeiramente arriscadas.
45
3.3. Características próprias dos membros de uma cooperativa que explicam o perfil
da sua participação na governança da cooperativa
Nesta seção serão discutidas as características freqüentemente encontradas entres os
membros de uma cooperativa que influenciam sua estrutura de governança. Entre essas
características, duas têm recebido especial atenção da literatura: 1) significativa parcela da
renda dos associados que depende fortemente dos resultados da cooperativa, seja por meio
dos preços dos produtos e serviços praticados pela cooperativa, seja por meio da distribuição
de sobras, seja pelas quase rendas oferecidas; 2) elevada homogeneidade de interesses dos
associados, principalmente quando comparada com a das similares IOFs, devido a um
conjunto de características freqüentemente comuns aos membros de uma mesma cooperativa,
tais como localização geográfica, principal bem produzido, laços comuns (religião,
descendência, etc.).
3.3.1. Homogeneidade de interesses
Como os membros de uma organização cooperativa geralmente produzem o mesmo
tipo de mercadoria, tratam com a mesma cooperativa por muitos anos e tendem a se
concentrar em uma mesma região geográfica, além de compartilharem algum laço comum,
seja religioso, ideológico, cultural ou de descendência, Hansmann (1996, p. 134) afirma que
eles acabam constituindo um grupo mais homogêneo. Esta homogeneidade, ao aumentar a
probabilidade de interesses comuns, reduz custos de agência e torna o processo de tomada de
decisão coletiva mais simples. (Hansmann, 1999, p. 393)
Uma das vantagens mais relevantes das cooperativas frente às IOFs é justamente o
menor custo para que seus membros tomem decisões. No entanto, como esta vantagem se
fundamenta na homogeneidade de interesses, as cooperativas encontram fortes dificuldades
para lidar com qualquer elemento que promova maior heterogeneidade. Esta é a razão dada
por Hansmann (1996 e 1999) para a dificuldade das cooperativas trabalharem com produtos
que não sejam homogêneos e não-fungíveis. O autor também utiliza esta explicação para
justificar que raramente se observam cooperativas trabalhando com mais de um produto;
ainda, quando isto acontece, geralmente esses produtos passam a ter contabilidades e
gerenciamento próprios.
A partir do conceito de poder de voz de Hirschman (1970), Holmström (1999, p. 408)
afirma que a existência de maior homogeneidade de interesses somada às dificuldades para
46
recuperar os investimentos realizados, resulta em uma eficiente alocação do poder de voz nas
cooperativas. De acordo com o autor, os interesses das partes em uma transação podem ser
protegidos dando-lhes opções de saída ou poder de voz. Este deve ser dado ao grupo que pode
usá-lo de modo mais efetivo e responsável e que não possa ser protegido de forma pouco
custosa por opções de saída. No entanto, homogeneidade é um pré-requisito fundamental para
o uso mais efetivo do poder de voz. Os membros das cooperativas contam com estas duas
características, pois apresentam tanto elevada homogeneidade de interesses quanto
dificuldade para recuperar a integridade dos seus recursos investidos na cooperativa ao se
desligar desta organização.
O processo de tomada de decisão coletiva é sempre difícil, todavia, se torna ainda mais
custoso quanto maior for a divergência entre os interesses dos grupos envolvidos. Um grupo
com interesses em comum chega a uma boa decisão em um tempo menor que um grupo com
interesses significativamente divergentes. Aliás, este pode até mesmo não alcançar qualquer
decisão ou alcançar resoluções pobres a um custo muito elevado. Consequentemente,
enquanto o poder de voz for valioso devido às frágeis opções de saída, não é interessante dá-
lo a grupos muito heterogêneos porque este poder não será eficientemente utilizado, podendo
ser gasto em discussões e inutilidades. (Holmström, 1999, p. 407)
Ainda sobre a importância desta homogeneidade, Holmström (1999) defende que,
como o processo de tomada de decisão coletiva em cooperativas é muito dependente de
consensos e de convergência de interesses, mudanças radicais, mesmo quando necessárias, se
tornam grandes obstáculos por criar divergências e ampliar tensões entre seus membros.
3.3.2. Comprometimento e ideologia
Nesta parte da seção será discutida a importância do comprometimento dos associados
com os interesses da cooperativa ao reduzir o problema do carona que, por sua vez,
compromete a capitalização da cooperativa e deteriora suas estratégias de longo prazo. Serão
analisadas, ainda, as vantagens e desvantagens de uma relação cooperativa-associado com
elevado grau de comprometimento.
Em um estudo sobre o desempenho das cooperativas não agrícolas nos EUA, Bhuyan
e Leistritz (2001) encontraram evidências de que o comprometimento dos membros é
fundamental para o sucesso da cooperativa, pois a lealdade e a participação dos membros de
qualquer organização member-based é um ponto crítico para a sua sobrevivência.
A partir de uma amostra de associados de cooperativas no meio atlântico dos EUA,
Bhuyan (2007) conclui que existe forte correlação entre o comprometimento de um associado
47
e a sua satisfação quanto à gestão da cooperativa. De acordo com o autor, quanto menor for a
atenção dada pelo gestor aos produtos e as preferências dos associados, maior a chance de
insatisfação destes com relação à cooperativa e, portanto, menor será sua lealdade.
O compromisso de maior lealdade pode ser utilizado como estratégia para atenuar o
problema de carona nas organizações cooperativas. Cook (1995, p. 1156) define os problemas
de carona como fruto da impossibilidade da transação dos direitos de propriedade que permite
que os benefícios gerados pela cooperativa possam ser acessados por indivíduos que não
participaram plenamente do investimento realizado para desenvolver tais ganhos. Ou seja, há
a possibilidade de que um agente faça uso de um recurso para seu próprio benefício sem que
tenha bancado todos os custos decorrentes deste uso; estes, por sua vez, são assumidos por
algum outro agente.
Cook ainda faz menção a um tipo de problema de carona ainda mais complexo – o
qual o autor chama de insider free rider problem. Este ocorre quando um novo sócio da
cooperativa obtém os mesmo direitos de uso, de controle e de acesso às receitas residuais que
membros mais antigos. Todavia, como apenas os últimos assumiram os custos para realizar os
investimentos necessários, cria-se um “desincentivo” ao investimento, principalmente de
longo prazo.
Os problemas do carona são muito mais intensos em cooperativas abertas, pois estas
são obrigadas a comprar qualquer volume de produto com qualquer qualidade que o produtor
resolva entregar. Todavia, como os mercados vêm caminhando na direção de maior
especialização e segregação dos produtos, maior coordenação é requerida; tarefa a qual
cooperativas abertas podem encontrar dificuldades para atender. (Sykuta e Cook, 2001)
Como a lei 5764/71 em seu art. 29 determina que o ingresso nas cooperativas é livre a
todos que desejarem utilizar os serviços prestados pela sociedade, desde que cumpram
determinados pré-requisitos, as cooperativas brasileiras podem ser consideradas abertas. Ser
uma cooperativa aberta faz com que o associado tenha o direito de entregar seu produto à
cooperativa, mas não tenha a obrigação de fazê-lo. Fronzaglia (1995, p. 4) afirma que há uma
distinção entre o direito de transacionar e a decisão de cooperar. Em uma relação marcada
pela falta de comprometimento, o associado só entregará sua produção se a cooperativa
conseguir oferecer condições mais favoráveis que qualquer outro agente no mercado. Dessa
forma, este passa a enxergar a cooperativa mais como uma opção ao mercado spot, cujo
direito de transacionar ele adquiriu ao se tornar membro, do que como sua propriedade. Nesta
situação a cooperativa cumpre apenas a função de atenuar falhas de mercado nos momentos
em que são mais nocivas aos seus associados. Estes, por sua vez, têm menor incentivos para
48
monitorar as ações do executivo e contribuir para sua administração, dificultando a adoção de
estratégias de longo prazo por parte da cooperativa.
A literatura já apresentou diversas críticas à política de cooperativa aberta. Por meio
de um modelo, Leathers (2006) sugere que mesmo com adesão voluntária, as cooperativas
podem não ser eficientes para os produtores rurais. De acordo com o autor, à medida que o
número de membros de uma cooperativa cresce e, simultaneamente, os custos médios
individuais se reduzem, aumentando os custos de transação dos não membros, existe a
possibilidade de os produtores serem “varridos” para a cooperativa mesmo que a maioria
tenha custos de transação mais baixos caso a cooperativa não existisse. O autor também
afirma que uma vez que existe a cooperativa, é vantajoso para um produtor se associar porque
quanto mais produtores façam parte da cooperativa, mais difícil será encontrar compradores
para aqueles que permanecem sozinhos no mercado.
Ao discutir em quais circunstâncias associados heterogêneos têm maior ou menor
probabilidade de entregar seu produto à cooperativa, Karantininis e Zago (2001, p. 1272)
concluem que em cooperativas abertas há a tendência de apenas os piores produtores
permanecerem fiéis à organização. Os produtores de melhor qualidade tendem a buscar para
os seus produtos melhores oportunidades no mercado. Desta forma, os autores sugerem que as
cooperativas deveriam pensar em políticas para reter os melhores produtores e aumentar suas
vantagens competitivas.
Para Fulton (1999, p. 419), uma das formas de observar o comprometimento dos
associados com sua cooperativa é verificar se seus membros transacionam com ela mesmo
quando o preço oferecido pelas IOFs for superior. A fonte de comprometimento é um
conjunto de características, tais como localização, responsabilidade por atividades de lobby ou
envolvimento com assuntos da comunidade, que aprece a um grupo de pessoas (os membros),
mas não aparece a outro (os não-membros). Dentre as fontes de comprometimento, Fulton
(1999, p. 423) destaca a importância da ideologia cooperativista ao defender que, sem ela, o
cooperativismo não teria sobrevivido ou, ao menos, não teria conquistado a dimensão que tem
hoje.
Staatz (1987, p. 42) também destaca a importância da ideologia cooperativista como
instrumento para aumentar a lealdade dos seus membros, ao afirma que é coerente que as
cooperativas invistam na chamada educação cooperativista. Zylbersztajn (2002, p. 3) faz
ressalvas quanto à capacidade de a ideologia cooperativista, por si só, conseguir suprimir o
comportamento oportunista.
49
Considerando que comprometimento é a capacidade de uma cooperativa se diferenciar
de uma IOF, Fulton (1999) o considera de grande importância para a sobrevivência da
cooperativa porque determina o quanto esta consegue se manter no mercado mesmo quando
suas condições econômicas – por exemplo, preço oferecido ao produtor – não for mais
favoráveis que aquelas proporcionadas pelas IOFs. Portanto, o elemento que vai trazer esta
estabilidade para a cooperativa é o comprometimento dos membros, para conquistá-lo a
cooperativa precisará criar instrumentos para diferenciá-los dos não-membros; para isto, é
necessário fidelizá-los.
Portanto, políticas que proporcionam maior comprometimento gera vantagens às
cooperativas ao conferir maior estabilidade à sua capitalização, viabilizando melhores
estratégias de longo prazo. Todavia, relações que envolvem maior comprometimento também
apresentam desvantagens. Entre elas, Fulton (1999, p.430) destaca que o elevado nível de
comprometimento dificulta o monitoramento do comportamento do gestor, pois empobrece
medidas para avaliar seu desempenho como a perda de associados, abrindo maior espaço para
o self-dealing por parte do administrador. Tal nível de comprometimento também pode ser
nocivo para a cooperativa quando permitir que o poder de voz seja utilizado somente para fins
ideológicos ou políticos que agreguem pouco à cooperativa ou aos seus associados. Por fim,
como o elevado nível de comprometimento garante que o associado transacione com a
cooperativa mesmo em condições desfavoráveis, também acaba eliminando os incentivos para
que o gestor busque reduzir custos ou aumentar as receitas por canais alternativos.
Apesar destas desvantagens, relações entre a cooperativa e o associado marcadas por
baixo nível de comprometimento trazem mais prejuízos que vantagens, pois aumenta os
problemas de horizonte, de carona e de agência ao abrir maior espaço para que os agentes se
comportem de maneira oportunista.
Parcela da renda que depende dos resultados obtidos pela cooperativa
De acordo com Hansmann (1996, p. 134), grande parte dos membros de uma
cooperativa tem parte significativa da sua renda fortemente dependente dos resultados obtidos
pela organização. Estes resultados afetam a renda dos seus membros porque estes se
apropriam de parte do excedente gerado pela cooperativa por meio da aquisição ou venda de
produtos ou serviços por um preço mais favorável. Também impactam na renda no cooperado
porque a cooperativa proporciona assistências e outros benefícios que se apresentam como
quase renda para os associados, além de se apropriarem do excedente gerado pela cooperativa
por meio da divisão das receitas residuais (sobras).
50
Se, por um lado, essa relação entre a renda do associado e os resultados obtidos pela
cooperativa geram fortes incentivos para que seus membros tenham maior interesse no
processo de tomada de decisão coletiva, seja revelando suas preferências, seja monitorando o
comportamento do gestor e de outros membros dos órgãos de administração, por outro lado,
esta dependência torna os cooperados mais avessos ao risco, já que boa parte da sua renda
pode ser comprometida, pressionando o seu gestor a adotar estratégias mais conservadoras.
Staatz (1987, p. 39-40) afirma que os associados estão expostos a riscos maiores
porque seus investimentos na cooperativa assumem um caráter mais irreversível (sunk), dado
as dificuldades de recuperar seus recursos imobilizados. Geralmente é mais fácil para um
investidor recuperar seus investimentos aplicados em uma IOF do que em uma cooperativa. O
autor ainda defende que devido à imobilidade do capital, é mais difícil para a cooperativa que
para uma IOF reduzir seu risco por meio da diversificação em atividades não relacionadas.
Confirmando esta hipótese, Bialoskorski (2002, p. 87-8) aponta que enquanto empresas
agrícolas tradicionais passam por um processo de redução de risco por meio de maior
diversificação e diferenciação dos seus produtos, as cooperativas tradicionais permanecem
com estratégias de produtos genéricos e não-diferenciados.
51
4. COOPERATIVAS E FIDELIDADE
4.1. Custos e benefícios da Ação coletiva
O comprometimento dos associados com os assuntos da cooperativa, conforme
apresentado nas seções anteriores, é um ponto importante nos estudos sobre governança
corporativa destas organizações. A eficácia da ação coletiva depende desse grau de
comprometimento, o qual, por conseqüência, influencia os efeitos das regras utilizadas para
governar as transações entre os stakeholders de uma organização cooperativa.
Por um lado, um ambiente com maior comprometimento é importante porque reduz
problemas de carona, facilita a capitalização da cooperativa de forma mais estável e
previsível, seja porque aumenta a probabilidade de os associados entregarem sua produção
(Zylbersztajn, 2002), seja porque possibilita aos associados identificarem na cooperativa uma
relação de longo prazo e não uma opção de mercado de curto prazo (Fronzaglia, 2005).
Conseqüentemente, a cooperativa consegue adotar mais facilmente estratégias de longo prazo,
favorecendo sua permanência no mercado mesmo quando apresentar condições menos
favoráveis que uma IOF (Fulton, 1999), além de tornar o processo de tomada de decisão
coletiva mais barato (Hansmann, 1996). Porém, por outro lado, o comprometimento também
pode dificultar o monitoramento do comportamento do gestor por empobrecer medidas para
avaliar seu desempenho como a perda de associados ou por eliminar incentivos para que o
gestor busque reduzir custos ou aumentar receitas por canais alternativos (Fulton, 1999).
A literatura já apresentou diversos fatores que podem influenciar o comprometimento
de um associado, entre eles, a satisfação de cada membro com o comportamento e
desempenho do gestor (Bhuyan, 2007), a existência de educação cooperativista (Staatz, 1987)
e a capacidade de a cooperativa diferenciar seus membros dos não membros (Fulton, 1999).
No entanto, poucas respostas foram dadas quanto à influência que o desenho institucional da
cooperativa pode ter no comprometimento ou na fidelidade dos seus associados. Para tentar
explicar tal relação será necessário compreender a cooperativa como um grupo de pessoas
cujo objetivo principal é viabilizar a oferta de um bem coletivo
18
por meio de ações
coordenadas entre os membros do grupo.
É possível considerar a cooperativa como um grupo de indivíduos que se associam
com um determinado objetivo em comum. Ou seja, a cooperativa pode ser considerada como
18
Bem coletivo é definido como qualquer bem que, caso o membro de um grupo consiga consumi-lo, é
impossível ou muito custoso impedir que qualquer outro membro do grupo também o faça. Ou seja, aquele que
não comprou ou não pagou pelo uso deste bem, não pode ser excluído do seu uso.
52
um grupo que foi criado por um conjunto de indivíduos que compartilhavam algum interesse
comum e perceberam que, por meio de uma organização formal, seu objetivo comum seria
mais facilmente atingido. No caso de uma cooperativa, este interesse comum é a oferta de um
bem coletivo, que pode ser a aquisição de uma máquina ou equipamento de uso comum, ou,
entre outros, um maior poder de barganha que viabilize a obtenção de um preço mais
favorável, seja para os insumos necessários ao processo produtivo, seja para a venda da
produção final. Portanto, é possível tratar a cooperativa como um grupo de indivíduos que se
organizam para ofertar um bem coletivo e, desta forma, atender a um interesse comum.
É importante ressaltar que grupos de indivíduos são formados quando ações
individuais e desorganizadas dificilmente são capazes de atender o interesse comum. Com
isso, conclui-se que nenhum grupo sobrevive se não trouxer qualquer benefício aos seus
membros. No entanto, mesmo se todos os indivíduos em um grupo tenham ao menos um
interesse em comum – o interesse que levou à formação deste grupo – e perceberem ganhos
ao agirem na direção deste interesse, não há garantias de que os membros deste grupo
conseguirão concretizar este objetivo.
A explicação para esta afirmação está na constatação de que embora os membros do
grupo tenham ao menos um interesse em comum, cada indivíduo, em particular, tem outros
interesses que podem ser diferentes e, até mesmo, contraditórios aos interesses do restante do
grupo. Ou seja, mesmo que o grupo tenha sido formado após o reconhecimento de que todos
os seus membros compartilham ao menos um interesse em comum e que todos tenham
percebido que obterão ganho se o objetivo for realizado, o comprometimento de cada membro
pode ser inferior ao necessário para o sucesso deste interesse comum.
Mas, se todos compartilham exatamente este interesse e percebem ganhos na sua
concretização, por que o comprometimento de cada membro do grupo pode ser insuficiente
para o sucesso da realização do objetivo comum? A partir das idéias de Olson (1971) é
possível afirmar que há quatro principais fatores que podem afetar negativamente o
comprometimento dos membros de um grupo para a realização de um objetivo comum. São
eles: 1) o quão diferente – ou até mesmo contraditórios – são os outros interesses de cada
membro; 2) a constatação de que o benefício percebido pela provisão de um bem coletivo
pode não compensar os custos necessários para obtê-lo; 3) a percepção de que o custo de ter
um comportamento oportunista (por exemplo, comportamento de carona) pode ser menor que
os custos para ofertar o bem coletivo; e 4) a inexistência de instrumentos de coerção que
aumentem os incentivos para que cada membro tenha um elevado comprometimento com a
realização do objetivo comum do grupo.
53
Estes fatores são condicionados por algumas características da cooperativa.
Destacadamente: 1) a natureza dos bens coletivos que estão sendo ofertados, isto é, se são
bens coletivos inclusivos ou exclusivos; 2) o tamanho do grupo, que no caso de uma
cooperativa é o número total de associados no quadro social; e 3) a existência de mecanismos
de seleção e separação.
Para Olson (1971), bem coletivos podem ser classificados em dois grupos:
a) bens coletivos inclusivos, que são os bens que quanto mais membros fizerem uso,
melhor ou indiferente será para o restante dos membros que permanecerão se
utilizando do bem e, portanto, uma redução no número de usuários não traz benefícios
particulares para os indivíduos;
b) bens coletivos exclusivos, que são os bens que quanto menos membros fizerem uso,
melhor para aqueles que permanecerão se utilizando do bem e, portanto, uma redução
no número de usuários traz benefícios particulares para os indivíduos.
O tamanho do grupo, isto é, o número de associados que a cooperativa possui em seu
quadro social é uma característica que pode condicionar fortemente o comprometimento
particular de cada membro. Quanto maior a capacidade de um grupo ofertar bens coletivos,
maiores serão os ganhos da ação coletiva, seja porque consegue realizar investimentos mais
vultosos, seja porque consegue reduzir o custo médio deste investimento para cada cooperado,
seja porque consegue obter ganhos de escala.
Se, por um lado, por conta do efeito escala, grupos numerosos têm a capacidade de
ofertar maior quantidade de bens coletivos ou bens de maior qualidade, por outro lado, seus
custos de provisão também serão maiores. Custos de provisão não incluem somente os custos
de aquisição e manutenção do bem coletivo, mas os custos de coordenar os processos de
tomada de decisão que tratarão dos usos e destinos deste bem (custos de organizar o grupo, de
comunicação entre os membros, de barganha, de criação, de nomeação, etc.). Da mesma
forma, grupos pequenos terão, por um lado, menor capacidade para ofertar bens coletivos,
mas também terão menores custos de coordenação. Ou seja, mantido constante o tamanho dos
cooperados, o aumento do grupo revela um trade off entre ganhos de ação coletiva e custos de
coordenação. Como conseqüência, mesmo que os benefícios da ação coletiva sejam
inesgotáveis, os custos de coordenação crescentes impõem limites para o crescimento de uma
organização cooperativa.
Mecanismos de seleção e separação são instrumentos que podem diferenciar os
membros que contribuem para o provimento do bem coletivo daqueles que não contribuem,
mitigando, sobretudo, o comportamento de carona. Desde que não haja mecanismos de
54
seleção ou de separação, ou seja, desde que não haja instrumentos que possam coagir um
membro a agir na direção da realização do objetivo comum, grupos menores apresentam
maior probabilidade de conseguir ofertar bens coletivos, afinal, grupos menores
provavelmente são compostos por membros cujos “outros interesses” – isto é, interesses
diferentes daqueles chamados de comuns ao grupo – sejam mais homogêneos. Ou seja,
membros de grupos menores tendem a apresentar interesses mais homogêneos que, por sua
vez, aumentam o comprometimento de cada membro com o grupo. Por outro lado, grupos
maiores tendem a apresentar um conjunto mais amplo de “outros interesses” que com maior
dificuldade serão mais homogêneos. Com isto, é possível afirmar que em grandes grupos é
maior a probabilidade de interesses divergentes e, consequentemente, de menor nível de
comprometimento.
Outro ponto que modifica o comprometimento de cada membro com os interesses
comuns de acordo com o tamanho do grupo é a percepção da relação entre custos e benefícios
e entre os custos de provisão e os custos de adotar um comportamento oportunista
(comportamento de carona).
Em grupos menores, é maior a fatia do benefício total que cabe a cada membro, bem
como maior será a participação de cada indivíduo no rateio dos custos totais de provisão. Com
isso, maior será a probabilidade de um bem coletivo deixar de ser ofertado caso um membro
deixe de contribuir com a sua parte para a provisão do bem. Ou seja, além de aumentar o
comprometimento de cada membro com a provisão do bem – dado que se uma quantidade
mínima de usuários não contribuírem, não haverá a oferta do bem coletivo – quanto maior o
efeito da ação de cada membro para o sucesso do grupo, menor será o incentivo para que
algum membro adote um comportamento oportunista (carona). Além desse efeito direto em
incentivos, o menor tamanho do grupo facilita o monitoramento pelos pares e,
conseqüentemente, a imposição de sanções variadas ao comportamento não cooperativo.
Em grandes grupos, nos quais a contribuição de indivíduos isolados não é significante
para os resultados obtidos pelo grupo como um todo, há poucos incentivos à oferta de um
bem coletivo, a menos que exista algum instrumento de coerção ou de incentivo positivo que
leve os membros do grupo a agirem na direção do interesse comum. Em outras palavras, em
grandes grupos o impacto da ação de um membro será fracamente percebido pelo restante dos
membros. Isto é, um comportamento individual oportunista ou um comportamento individual
de lealdade terá pouco efeito sobre a percepção de custos ou benefícios dos outros membros,
tornando o monitoramento pelos pares menos eficaz. Por outro lado, este impacto será grande
55
em pequenos grupos; isto também limita a ação do comportamento oportunista e incentiva o
comportamento de lealdade.
Mecanismos de seleção e de separação podem ser importantes instrumentos para
aumentar o comprometimento de cada membro na direção da realização do objetivo comum.
No entanto, de acordo com Olson (1971), determinar se um grupo necessita ou não de
instrumentos de seleção ou de separação para fornecer bens coletivos depende do número de
membros e do nível de interesse de cada membro para a concretização do objetivo comum;
quanto o maior o número de membros e quanto menor o interesse, maior a necessidade de
instrumentos de coerção.
Estes instrumentos têm como principal meta selecionar ou separar os membros em
dois subgrupos, aqueles que contribuíram para a provisão do bem e aqueles que não
contribuíram. Ainda de acordo com Olson (1971) somente por meio de incentivos de seleção
ou de separação será possível conduzir as atitudes de um grupo na direção dos interesses
coletivos. O incentivo tem que ser seletivo de forma que aqueles que não participarem da
organização ou não contribuírem para a provisão do bem comum sejam tratados
diferenciadamente. Estes incentivos seletivos podem ser tanto positivos quanto negativos, ou
seja, podem tanto punir os que não contribuíram quanto beneficiar os que fizeram a sua parte.
Olson (1971) ainda ressalta que incentivos sociais, tais quais emoções ou ideologia, também
podem ser incentivos seletivos.
Esse aspecto foi mais profundamente desenvolvido pela literatura de Economia
Institucional, sobretudo em sua vertente que faz uso de conceitos de confiança e normas
sociais (Dietz et al., 2003). Esses autores colecionam evidências de sociedades em que a ação
coletiva ocorre sem o uso de mecanismos formais de coação. Por meio de normas sociais que
prescrevem o comportamento cooperativo e sanções do grupo àqueles que violam o
comportamento prescrito, torna-se possível também a ação coletiva. Entretanto, também a
efetividade das normas sociais, que pressupõem compartilhamento de crenças e modelos
mentais entre todos os membros do grupo, é reduzida à medida que cresce o número de
participantes.
Em síntese, quanto maior o grupo, maiores serão os custos de coordenação para
alcançar os interesses coletivos, pois: 1) quanto maior o grupo, menor a fração do benefício
total percebida por cada membro e, conseqüentemente, menor a percepção do benefício
56
gerado pela ação coletiva
19
; 2) quanto maior o grupo, maiores serão os custos de coordenação;
e 3) quanto maior o grupo, menor a probabilidade de que um bem público seja ofertado sem
que haja algum mecanismo de coerção ou algum outro incentivo para que os membros ajam
na direção dos interesses coletivos.
4.2. Determinantes da fidelidade: hipóteses principais
Conforme foi visto, comprometimento é uma das características dos associados que
afetam a sua participação na organização da cooperativa e que influencia a funcionalidade de
alguns importantes instrumentos de governança. No entanto, o comprometimento de cada
associado não é uma característica fixa, é influenciado por características do grupo (tamanho
da cooperativa e sua capacidade de ofertar bens coletivos), dos próprios membros (grau de
homogeneidade dos interesses entre os associados), dos bens coletivos que estão sendo
ofertados e dos instrumentos de seleção ou separação existentes entre as instituições do grupo.
Desta forma, esta dissertação buscará responder se existe uma relação inversa entre ganhos de
ação coletiva e custos de coordenação que influencia significativamente o comprometimento
dos associados com a cooperativa. Além desta pergunta principal, a dissertação tamm
tentará responder secundariamente se, de fato, cooperativas que conseguem construir um
ambiente de maior comprometimento entre seus associados apresentam melhor desempenho
financeiro.
A partir da revisão bibliográfica sobre governança corporativa em companhias de
capital aberto e em organizações cooperativas, bem como sobre a relação entre custos de
coordenação e ganhos de ação coletiva, conclui-se que comprometimento é uma das
características dos associados que afetam a sua participação na organização da cooperativa e
que influenciam a funcionalidade de alguns importantes instrumentos de governança.
A partir destas reflexões, é possível fazer um conjunto de hipóteses relacionadas aos
efeitos dos benefícios da ação coletiva e dos custos de coordenação sobre o comprometimento
dos associados com a cooperativa e, posteriormente, se o nível de comprometimento dos
associados ajuda a explicar o desempenho financeiro da cooperativa. A revisão da literatura
aqui empreendida fornece o fundamento para as seguintes hipóteses, a serem testadas
empiricamente no próximo capítulo desta dissertação.
19
Por outro lado, quanto maior o grupo, ceteris paribus o tamanho de cada cooperado, maior a probabilidade de
que o benefício total gerado seja maior e, dependendo da existência de retornos crescentes de escala, o benefício
médio também seja maior.
57
Hipótese 1: O nível de comprometimento dos associados é
negativamente influenciado pelo número total de associados no
quadro social da cooperativa, ceteris paribus o tamanho da
cooperativa, devido ao custo de coordenação incorrido para ofertar
bens coletivos;
Hipótese 2: O nível de comprometimento dos associados é
positivamente influenciado pelo tamanho da cooperativa, na hipótese
de que quanto maior a cooperativa, ceteris paribus o número de
associados, maior será sua capacidade de ofertar bens coletivos, ou
seja, maiores serão os ganhos de ação coletiva;
Hipótese 3: O nível de comprometimento dos associados é
positivamente influenciado pela maior homogeneidade dos interesses
dos membros. Neste ponto, trata-se não somente da homogeneidade
dos interesses comuns, mas, principalmente, da homogeneidade dos
“outros interesses”. É importante ressaltar que a hipótese 1 (sobre
número total de associados) também reforça esta proposição;
Hipótese 4: O nível de comprometimento dos associados é
positivamente influenciado pelo investimento em capital humano feita
pela cooperativa para os seus associados, notadamente sob a forma
de cursos sobre educação cooperativista;
Hipótese 5: Um maior nível de comprometimento influencia
positivamente o desempenho financeiro da cooperativa.
Na Parte II serão descritos detalhadamente todos os procedimentos realizados para
executar os testes empíricos que buscaram construir uma resposta para estas duas questões.
58
PARTE II – UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE OS DETERMINANTES DA
FIDELIDADE E SUAS CONSEQÜÊNCIAS SOBRE O DESEMPENHO DE
COOPERATIVAS
A segunda parte desta dissertação apresenta um estudo empírico que procura avaliar os
determinantes da fidelidade em cooperativas agropecuárias paulistas, bem como seu efeito
sobre o seu desempenho financeiro. Conforme argumentado na Parte I, a literatura oferece
uma quantidade razoável de estudos sobre os fatores e a importância de um ambiente com
elevado grau de comprometimento. No entanto, poucos trabalhos empíricos, ao menos no
Brasil, foram encontrados testando estas hipóteses.
Reconhecendo esta carência por estudos empíricos, esta dissertação realiza, por meio
do banco de dados do PIDCOOP
20
, um esforço para avaliar empiricamente se o tamanho do
grupo de associados, a capacidade da cooperativa ofertar bens coletivos e o grau de
homogeneidade de interesses dos cooperados realmente influenciam o grau de
comprometimento dos associados.
Nesta Parte II serão apresentados os resultados dos testes empíricos realizados com o
objetivo de testar as hipóteses propostas por esta dissertação. No entanto, antes de apresentar
os resultados obtidos e suas respectivas metodologias, será descrita na primeira seção a
origem dos dados empregados na construção das variáveis utilizadas nos testes empíricos. Na
última seção serão discutidos os métodos escolhidos para testar empiricamente as hipóteses,
bem como serão apresentados seus resultados e as principais conclusões obtidas.
A seguir será apresentada a origem dos dados que foram utilizados para testar as
hipóteses propostas, bem como todos os procedimentos adotados para construir as variáveis
utilizadas nos testes empíricos realizados.
20
Sigla referente a ‘Programa Integrado de Desenvolvimento do Cooperativismo’. Tais dados foram coletados
pelo Instituto de Cooperativismo e Associativismo (ICA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do
Estado de São Paulo (SAA).
59
5. NATUREZA DOS DADOS E DAS VARIÁVEIS UTILIZADAS NOS TESTES
EMPÍRICOS
Os dados utilizados para testar empiricamente as hipóteses sugeridas nesta dissertação
foram extraídos do banco de dados do Instituto de Cooperativismo e Associativismo (ICA) da
Secretara de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA) frutos de
levantamentos realizados por meio dos Projetos de Desenvolvimento Integrado do
Cooperativismo de São Paulo (PDICOOPs). Este projeto teve início em um contexto de
reafirmação da importância do cooperativismo como instrumento para o desenvolvimento
econômico e social. Nesta direção, os PDICOOPs pretendiam fornecer dados que auxiliassem
a elaboração da política cooperativista do Estado de São Paulo de modo a tornar mais efetivo
o apoio e o estímulo ao setor.
O banco de dados com as informações consolidadas pelo PDICOOP foi constituído
por dados coletados junto às cooperativas agrícolas do Estado de São Paulo em três
levantamentos realizados pela SAA, por meio da equipe do ICA, nos anos de 1989, 1992 e de
2000. As informações foram coletadas a partir de questionários aplicados pelo corpo técnico
do ICA que entrevistou diretores e técnicos destas organizações. No total, foram entrevistadas
144 cooperativas em 1989, 136 em 1992 e 127 em 2000. Tais números correspondem
aproximadamente a todas as cooperativas agropecuárias paulistas registradas no sistema ,
OCB
21
nos respectivos anos, além de algumas cooperativas oriundas dos processos de
reforma agrária.
Este banco de dados conta com informações que retratam diversas faces das
cooperativas agrícolas do Estado de São Paulo nos anos de 1989, 1992 e de 2000. Estão
disponíveis dados sobre o quadro associativo, presença de filiais ou participação em outras
empresas, o quadro de funcionários, assistências oferecidas aos associados e aos funcionários,
produção comercializada, serviços prestados aos associados, etc. Como a pesquisa foi
aperfeiçoada e ampliada ao longo dos anos, parte das variáveis não está disponível em todos
os levantamentos. No Apêndice 1 segue uma lista com todas as variáveis disponíveis para os
três anos em que foram realizados os levantamentos.
Para avaliar o efeito de ganhos de ação coletiva e de custos de coordenação sobre o
nível de comprometimento dos associados com a cooperativa e para avaliar se
comprometimento do associado ajuda a explicar o desempenho financeiro desta organização,
21
Sistema OCB é sistema de representação das cooperativas reconhecido pela lei 5764/71. É composto pela
Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e pelas Organizações de Cooperativas Estaduais.
60
foram utilizadas as variáveis que serão descritas na seção seguinte. No entanto, algumas
variáveis que foram utilizadas nos testes empíricos não estavam disponíveis no banco de
dados original do PDICOOP, isto é, foram construídas a partir de combinações entre algumas
variáveis do próprio PDICOOP ou de outros bancos de dados públicos. Os procedimentos
adotados para a construção das variáveis Proporção de Associados Atuantes, Faturamento
por Cooperado, HHI, Meios de Comunicação, Outros Meios de Comunicação e Tempo de
Vida serão descritos a seguir.
5.1. Variáveis utilizadas
5.1.1. Modelo 1: determinantes da fidelidade
Variável dependente
Proporção de associados atuantes (fidelidade)
Estão disponíveis no banco de dados do PDICOOP para os três anos (1989, 1992 e
2000) informações sobre o número de cooperados que operam com a cooperativa. Esta
dissertação utilizará tal informação como uma proxy de comprometimento/fidelidade com a
cooperativa, ou seja, assumi-se aqui que o comportamento de fidelidade ou de
comprometimento pode ser captado pela decisão do cooperado operar ou não com a
cooperativa. No entanto, é reconhecido que esta variável não distingue diferentes níveis de
comprometimento de cada cooperado, assumindo como equivalentes tanto a decisão de
entregar sua produção à cooperativa quanto apenas realizar uma simples compra de insumos.
No entanto, esta variável ainda separa dois grupos de cooperados, aqueles que tem
relacionamento corrente com a cooperativa e aqueles que não o têm, servindo, portanto, como
proxy para o grau de comprometimento do conjunto de cooperados.
Como não é adequado utilizar o número absoluto de cooperados atuantes para medir
comprometimento, pois, nesta situação, teríamos um viés a favor das cooperativas com maior
número total de associados, optou-se por utilizar a proporção de associados atuantes com
relação ao total de associados da cooperativa.
Variáveis explicativas
Número total de associados
O número total de associados presentes no quadro social da cooperativa será utilizada
como proxy para custos de coordenação, na suposição de que quanto maior o número de
61
cooperados, maiores serão os custos para a realização do processo de tomada de decisão
coletiva, para a formação de consensos, para a constituição de grupos que possam representar
seus interesses junto aos gestores, enfim, para a oferta de bens coletivos.
Número de funcionários
A variável número total de funcionários será utilizada como proxy para o tamanho da
cooperativa, na suposição de que quanto maior a cooperativa, maior tende a ser seu número
total de funcionários, maior será sua capacidade de ofertar bens coletivos e,
conseqüentemente, maiores serão os ganhos de ação coletiva.
Índice Herfindahl-Hirschmann para o faturamento da cooperativa (HHI)
A fim de se avaliar parte dos custos de coordenação, deve-se identificar qual é o grau
de homogeneidade de interesses entre cooperados. Para tanto, optou-se por uma medida do
grau de concentração de diferentes produtos no faturamento da cooperativa, como forma de
mensurar o quão alinhados ou dispersos são os interesses dos cooperados com relação ao
perfil da sua produção.
O índice de Herfindahl-Hirschmann (HHI) é um clássico indicador de concentração
amplamente utilizado em economia industrial e em análises de mercado. No caso desta
dissertação, o HHI é a somatório do quadrado da participação do faturamento de cada produto
no faturamento total da cooperativa.
=
=
n
i
i
sHHI
1
2
trabalha.acooperativ a qual a com produtos de totalnúmero
a;cooperativ da totalofaturament no i produto do ofaturament do ãoparticipaç
sendo,
=
=
n
si
Este índice fornece uma medida de quão concentrado é o faturamento de uma
cooperativa em determinado produto. O índice pode variar de ‘0’ a ‘1’, sendo tanto maior a
concentração quanto maior o índice, de modo que, quando o faturamento da cooperativa é
resultado da transação de um único tipo de produto, o índice é igual e 1.
Conforme mencionado, esta medida de concentração será utilizada como proxy para
homogeneidade de interesses, pois, de acordo com a literatura, quanto menor a quantidade de
produtos com a qual a cooperativa trabalha, isto é, quanto maior o HHI, mais homogêneos
serão os interesses dos cooperados e menores serão os custos de coordenação para ofertar
62
bens coletivos. Dessa forma, de acordo com a hipótese 3, espera-se que quanto maior o HHI,
maior o nível de fidelidade.
Investimento em capital humano (Cursos e Treinamentos)
A variável Cursos e Treinamentos capta o investimento em capital humano feita pela
cooperativa para os seus associados, notadamente sob a forma de cursos sobre educação
cooperativista. Há a hipótese (Staatz, 1987) de que quanto maior o investimento em educação
cooperativista, maior será o nível de comprometimento dos associados. Porém, embora,
dentre os cursos captados pela variável Cursos e Treinamentos está o de educação
cooperativista, não é possível separá-lo dos outros cursos (organização rural, administração,
produção rural, informática, etc.).
Variáveis de controle
Meios de comunicação com os associados (Meios de Comunicação)
Nos três levantamentos realizados pelo PDICOOP foram coletadas informações sobre
quais meios de comunicação as cooperativas utilizavam para manter seus associados
informados a respeito das suas rotinas e decisões. Entre todos os canais de comunicação
presentes no banco de dados apenas jornais, revistas, programas de TV ou de rádio e outros
estão disponíveis para todos os anos. Desta forma, a variável Meios de Comunicação indica se
a cooperativa faz uso de pelo menos um destes canais (1) ou se não utiliza canal algum (0).
Outros meios de comunicação utilizados pela cooperativa (Outros Meios de Comunicação)
A variável Outros Meios de Comunicação reúne todos os meios de comunicação que a
cooperativa utiliza mas não podem ser classificados como jornais, revistas, programas de TV
ou de rádio. Esta variável conta com meios de comunicação como boletins, circulares e
internet porque estão presentes como opções individuais nos levantamentos de 1992 e de
2000, mas não estão no de 1989.
Ano de fundação e tempo de vida da cooperativa no momento da entrevista
O tempo de vida da cooperativa foi calculado a partir da diferença entre o ano em que
se realizou o levantamento e o ano de fundação da cooperativa. Esta variável apresenta
vantagens quando comparada à variável Ano de Fundação porque, além de variar para uma
mesma cooperativa entre os anos pesquisados, o que permite o uso da técnica de efeitos fixos
sem que isso signifique perda da variável, também permite avaliar de forma mais apurada se
63
existe um efeito de aprendizado ou desgaste conforme a cooperativa vai se tornando mais
antiga.
Demais variáveis
Outras variáveis foram utilizadas para controlar algum outro efeito sobre a variável
dependente Proporção de Associados Atuantes. São elas, o número de filias da cooperativa, o
número de singulares que cada cooperativa mantém sociedade e uma variável dummy que
indica se a cooperativa participa de alguma central, federação ou confederação.
5.1.2. Modelo 2: Influência do nível de comprometimento sobre o desempenho financeiro
Variável dependente
Faturamento das cooperativas (Faturamento por Cooperado)
O banco de dados do PDICOOP não conta com informações sobre o balanço
patrimonial das cooperativas agrícolas paulistas, limitando as possibilidades dos testes
empíricos realizados. Dentre as informações disponíveis, a que mais se aproximou de algum
resultado financeiro que pudesse ser usado como medida de desempenho foi o volume de
produção (em quantidades) desagregado por produto comercializado. Como o faturamento de
qualquer empresa é o resultado do produto entre quantidades e preços individuais, foi possível
construir uma aproximação para esta medida de desempenho a partir do volume de produção
– informação disponível no banco de dados do PDICOOP – e de um vetor de preços
individuais construído com base em preços coletados em diferentes fontes, a saber:
a) Preços calculados a partir do cruzamento de informações coletados no levantamento
do PDICOOP em 2000;
b) Preços Médios Mensais Recebidos pelos Agricultores no Estado de São Paulo
divulgados pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA);
c) Preços de produtos agropecuários negociados na Ceagesp;
d) Preços Médios Pagos pela Agricultura divulgados pelo IEA;
e) Preços Médios Mensais no Varejo divulgados pelo IEA;
f) Preços Médios Mensais Recebidos pelos Produtores da FGV/Agroanalysis.
No levantamento realizado pelo PDICOOP em 2000, foi registrado o faturamento
desagregado por produto de cada cooperativa entrevistada. Portanto, para este ano, obteve-se
tal medida de desempenho sem a necessidade de qualquer tratamento nos dados. No entanto,
como os levantamentos do PDICOOP para os anos de 1989 e 1992 não coletaram o
faturamento das cooperativas, apenas os dados sobre o volume de produção comercializada,
64
foi necessário aplicar um vetor de preços especificamente construído para calcular esta
medida de desempenho.
Se os faturamentos das cooperativas estivessem disponíveis para todos os anos, seria
necessário deflacioná-los, ou seja, trazer os respectivos preços unitários a valores de um
mesmo período, para realizar comparações. Dado que há necessidade de construir vetores de
preços para os anos de 1989 e de 1992, é possível superar este problema se todos os
faturamentos forem construídos, logo de partida, por preços unitários observados em um
mesmo período; no caso, optou-se por utilizar preços unitários médios observados em
dezembro de 2000, pois os faturamentos deste ano já estavam prontos no banco de dados.
Com esta estratégia, no entanto, perde-se parte da capacidade de observar a habilidade das
cooperativas ajustarem sua produção às variações dos preços de mercado dos seus produtos.
A seguir serão descritos os passos realizados para a construção do vetor de preços
necessários para calcular o faturamento de cada cooperativa, destacando a fonte utilizada para
cada produto, os critérios utilizados para conversão de unidades quando necessário e de que
forma foram feitas as aproximações para os produtos cujos preços unitários não foram
encontrados, além dos produtos que, por diversos motivos, não puderam compor o cálculo do
faturamento.
Obtendo preços a partir dos próprios dados do PDICOOP 2000
Como o faturamento é obtido a partir do produto entre quantidades comercializadas e
seus respectivos preços unitários e o levantamento do PDICOOP de 2000 conta com as duas
primeiras informações, para obter a última basta fazer a divisão entre faturamento e volume
da produção comercializada, ambos desagregados por produtos. Para os produtos que no
levantamento de 2000 foram observados no faturamento de apenas uma cooperativa, seu
preço unitário é obtido de forma direta. Porém, o preço unitário dos produtos que foram
observados no faturamento de duas ou mais cooperativas foi obtido por meio do cálculo da
média aritmética dos valores observados após a exclusão dos outliers
22
.Como não há
informações sobre em que período do ano estes produtos foram comercializados, admitiu-se
por impossibilidade de um tratamento mais refinado que esses valores se referem a preços
anuais médios em valores de dezembro de 2000.
Os preços calculados a partir destes cruzamentos correspondem a 66,25% e a 67,57%
do total de bens produzidos pelas cooperativas, respectivamente, em 1989 e em 1992, e foram
22
Foram considerados outliers valores observados que, em módulo, superavam em três desvios padrão o valor
médio.
65
utilizados para calcular 48,67% e 85,27% do faturamento total do conjunto de cooperativas
entrevistadas nos mesmos anos, respectivamente. No Apêndice 2 segue a lista dos produtos
que foram obtidos por meio do cruzamento de informações disponíveis no levantamento do
PDICOOP de 2000. Este mesmo apêndice também indica quais preços foram obtidos de
forma direta e quais foram calculados por meio de uma média aritmética, com ou sem a
exclusão de outliers.
Preços Médios Mensais Recebidos pelos Agricultores – IEA
Como não foi possível associar todos os bens produzidos pelas cooperativas agrícolas
paulistas nos anos de 1989 e de 1992 a algum dos preços calculados a partir do cruzamento
das informações do levantamento do PDICOOP de 2000, parte do vetor de preços foi
construído utilizando os Preços Médios Mensais Recebidos pelos Agricultores calculados
pelo IEA. Como estes preços são dados mensalmente, para calcular o preço médio anual de
cada produto, utilizou o Índice de Preço por Atacado – Oferta Global (IPA-OG) da Fundação
Getúlio Vargas (FGV) para deflacioná-los a valores de dezembro de 2000. Este deflator foi
escolhido por contar com séries específicas para cada grupo de produto agrícola. No caso
desta dissertação, foram utilizadas as séries IPA-OG para animais e derivados, legumes e
frutas, oleaginosas e raízes e tubérculos, além do índice geral para produtos agrícolas utilizado
para aqueles produtos que não se enquadravam em nenhum grupo disponibilizado pelas
séries. O preço médio anual, a valores de 2000, de cada produto foi obtido calculando-se a
média aritmética dos preços mensais deflacionados.
Foram associados a estes preços 8,13% e 5,82% dos produtos comercializados pelas
cooperativas em 1989 e em 1992, respectivamente. Estes produtos responderam por 6,10% e
1,48% do faturamento total das cooperativas respectivamente para os mesmo anos. Segue no
Apêndice 3 a lista com os produtos cujos preços individuais foram obtidos a partir dos dados
divulgados pelos Preços Médios Mensais Recebidos pelos Agricultores – IEA, além do
deflator utilizado em cada caso.
Preços Ceagesp
Mesmo após a utilização das duas fontes anteriores, uma pequena parte – porém
significativa – dos produtos ainda não tinha sido associada a nenhum preço individual. Para
completar a lista foram utilizados os preços dos produtos agropecuários negociados na
Ceagesp. Como os preços desta fonte são diários, foram utilizados os preços do último dia útil
de dezembro de 2000. Reconhece-se com isso perda de informação, pois este preço não capta
66
as variações devido à sazonalidade dos produtos. Como os preços já se referem a dezembro de
2000 e contam com apenas uma observação, não foi realizado qualquer tratamento adicional.
Os preços dos produtos agropecuários negociados na Ceagesp foram associados a
12,92% dos bens produzidos em 1989 e a 14,76% dos produtos comercializados pelas
cooperativas em 1992. Estes produtos respondem por 44,31% e 11,23% do faturamento total
destas organizações respectivamente para os mesmos anos. O Apêndice 4 indica quais
produtos foram associados aos preços da Ceagesp.
Outras fontes
As três fontes anteriormente mencionadas foram responsáveis pelos preços individuais
de 88,27% dos produtos do levantamento de 1989 e de 88,15% dos produtos do levantamento
de 1992. Também foram responsáveis pela composição de 99,08% do faturamento total de
1989 e pela composição de 97,98% do faturamento de 1992. Os preços individuais dos
produtos restantes foram obtidos em três fontes, cuja participação está descrita no Apêndice 5.
Como todos esses preços foram obtidos a partir de dados mensais, passaram pelos mesmos
tratamentos que os Preços Médios Mensais Recebidos pelos Produtores – IEA, isto é, foram
deflacionados pelo IPA-OG respectivo para cada grupo agrícola, trazendo seus valores a
preços de dezembro de 2000, para, posteriormente, serem calculados os preços médios anuais
por meio de uma média aritmética entre os preços mensais deflacionados.
23
Variável explicativa
Para testar empiricamente a Hipótese 5 desta dissertação, a saber, se o nível de
comprometimento dos associados influencia significativamente o desempenho financeiro da
cooperativa, a variável Proporção de Associados Atuantes – a proxy de fidelidade – é a única
variável explicativa.
Variáveis de controle
23
Para alguns bens, não foi possível encontrar preços individuais nas fontes anteriormente mencionadas que
correspondessem exatamente às unidades de medidas registradas nos levantamentos dos PDICOOPs de 1989 e
de 1992. Para não perder estes dados foram feitas aproximações para converter tais produtos em unidades de
medida cujos preços individuais fossem compatíveis. O Apêndice 6 sintetiza estas aproximações. Ainda assim,
depois de todo esse processo, 9,17% dos produtos coletados pelo PDICOOP de 1989 e 7,9% dos produtos
coletados pelo PDICOOP de 1992 não tinham sido associados a qualquer fonte devido a problemas para
converter a unidade de medida ou porque nenhum outro preço individual cabível foi encontrado. No Apêndice 7,
segue a lista dos produtos com suas respectivas unidades que permaneceram sem preço individual e, portanto,
não participaram do cálculo do faturamento total das cooperativas em seus respectivos anos.
67
Todas as demais variáveis já apresentadas, Número Total de Associados, Número de
Funcionários, HHI, Cursos e Treinamentos, Tempo de Vida, Ano de Fundação, Meios de
Comunicação, Outros Meios de Comunicação, Centrais, Número de Filiais e Número de
Singulares serão utilizadas como variáveis de controle.
Por fim, a Tabela 1 sintetiza todas as variáveis utilizadas em cada modelo testados na
parte empírica:
Tabela 1 – Descrição das variáveis utilizadas nos testes empíricos
Modelo Tipo de variável Nome da variável
V
ariável dependente
Proporção de Associados Atuantes
V
ariáveis explicativas
Número Total de Associados
Número de Funcionários
HHI
Cursos e Treinamentos
ariáveis de controle
Tempo de Vida
Ano de Fundação
Meios de Comunicação
Outros Meios de Comunicação
Centrais
Número de Filiais
Número de Singulares
V
ariável dependente
Faturamento por Cooperado
V
ariável explicativa
Proporção de Associados Atuantes
ariáveis de controle
Número Total de Associados
Número de Funcionários
HHI
Cursos e Treinamentos
Tempo de Vida
Ano de Fundação
Meios de Comunicação
Outros Meios de Comunicação
Centrais
Número de Filiais
Número de Singulares
Determinantes da fidelidade
Influência da fidelidade sobre o
desempenho financeiro
Fonte: Elaboração do autor
5.2. Estatísticas descritivas
A seguir serão apresentadas três tabelas com algumas estatísticas que descrevem a
distribuição das variáveis que foram utilizadas nos testes empíricos. As variáveis foram
68
Pelo exame das medidas de dispersão (valor mínimo, 1º quartil, mediana, 3º quartil e
valor máximo) é possível afirmar que os dados apresentam razoável variação. A mesma
conclusão pode ser aplicada às variáveis binárias, pois a freqüência relativa de suas
distribuições não apresenta grande concentração em qualquer valor. Por fim, talvez o ponto
que mais chame atenção seja o valor máximo para a variável Faturamento por Cooperado.
Um valor desta magnitude sugere grande probabilidade de presença de outliers que podem vir
a distorcer os resultados a serem obtidos e, conseqüentemente, demandarão um tratamento
posterior mais adequado.
Embora tenham sido entrevistadas 192 cooperativas no período (1989, 1992 e 2000), o
que deveria fornecer 576 observações, estão disponíveis apenas 407 registros na base de
dados. Esta diferença decorre do fato de que, no período, 66 cooperativas faliram (14 entre
1989 e 1992 e 52 entre 1992 e 2000) e 49 surgiram (6 entre 1989 e 1992 e 43 entre 1992 e
2000). Duas variáveis (Faturamento por Cooperado e HHI) contam com apenas 295
observações, pois, infelizmente, o banco de dados do PDICOOP não fornece informações
sobre o volume de produção de todas as cooperativas entrevistadas.
69
Tabela 2 – Estatísticas descritivas para as variáveis binárias
divididas em dois grupos: binárias e contínuas. Para as primeiras serão apresentadas apenas as
freqüências absoluta e relativa (Tabela 2). Para as últimas será apresentado um quadro mais
completo com número total de observações, média, desvio padrão, valor mínimo observado,
1º quartil, mediana, 3º quartil e valor máximo observado (Tabela 3). A tabela com a
correlação simples entre as variáveis é apresentada no Apêndice 8.
Valores
Freq. Freq (%) Freq. Freq (%) Freq. Freq (%)
0
236 57,99 94 23,10 160 39,31
1
171 42,01 313 76,90 247 60,69
Total
407 100 407 100 407 100
Fonte: Banco de dados do PD
Cursos e
Treinamentos
Meios de
Comunicação
Outros Meios de
Comunicação
ICOOP e elaborão do autor
Tabela 3 – Estatísticas descritivas para as variáveis contínuas
Variáveis N dia desvio padrão mínimo 1º quartil mediana 3º quartil máximo
mero Total de Associados
407 1.040,545 1628,108 20 120 423 1323 12439
Proporção de Associados Atuantes
407 0,699 0,250 0,047 0,522 0,704 0,933 1
Faturamento por Cooperado
295 283.294,800 2.647.186,00 18,53 3.206,54 10.689,04 32.882,29 43.100.000,00
Número de Funcionários
407 112,764 218,256 0 9 30 108 1403
Ano de Fundação
407 1967 15,783 1933 1959 1966 1975 2000
HHI
295 0,642 0,274 0,105 0,421 0,590 0,998 1
mero de Filiais
407 2,253 4,515 0 0 0 3 43
Número de Singulares
407 1,147 2,608 0 0 0 1 21
Tempo de Vida
407 26,715 15,147 0 18 26 36 67
Fonte: Banco de dados do PDICOOP e elaboração do autor
5.3. Resultados esperados
De acordo com a literatura, com as reflexões já apresentadas e com as variáveis
disponíveis, há um modelo teórico que sugere como algumas características da cooperativa e
do seu grupo de associados influenciam o comprometimento/fidelidade de cada cooperado. A
partir deste modelo, acredita-se que o comprometimento do associado (Proporção de
Associados Atuantes) seja:
a) Negativamente influenciado pelo número total de associados no quadro social da
cooperativa (Número Total de Associados) devido ao custo de coordenação incorrido
para ofertar bens coletivos. Afortunadamente, número total de associados no quadro
social é uma variável disponível no banco de dados do PDICOOP e foi a variável
utilizada para medir o tamanho do grupo;
b) Positivamente influenciado pelo tamanho da cooperativa, na hipótese de que quanto
maior a cooperativa, maior será sua capacidade de ofertar bens coletivos, ou seja,
maiores serão os ganhos de ação coletiva. Como proxy para o tamanho da cooperativa,
será utilizada a variável número total de funcionários contratados pela cooperativa
(Número de Funcionários), na hipótese de que quanto maior a cooperativa, maior
tende a ser o seu número de funcionários.
c) Positivamente influenciado pela maior homogeneidade dos interesses dos membros.
Mais uma vez, é importante ressaltar que a proposição 1 (sobre número total de
associados) também reforça esta proposição. A variável índice de Herfindahl-
Hirschmann (HHI) afere o grau de concentração do faturamento de uma cooperativa
em poucos produtos e, portanto, será utilizada como proxy para homogeneidade de
interesses. É importante notar que o fato dos cooperados trabalharem com uma
quantidade menor de produtos reforça a homogeneidade tanto dos interesses comuns a
todos quanto os “outros interesses”.
d) Positivamente influenciado pelo investimento em capital humano feita pela
cooperativa para os seus associados, notadamente sob a forma de cursos sobre
educação cooperativista. A variável sobre promoção de cursos e treinamentos pela ou
via cooperativa (Cursos e Treinamentos) será utilizada como proxy de investimento
em capital humano. Dentre os cursos captados pela variável cursos e treinamentos está
o de educação cooperativista, no entanto, não é possível separá-lo dos outros cursos
(organização rural, administração, produção rural, informática, etc.);
e) Por fim, esta dissertação também propõe que um maior nível de comprometimento
(Proporção de Associados Atuantes) influencia positivamente o desempenho
financeiro da cooperativa (Faturamento por Cooperado). O desempenho financeiro de
uma cooperativa será medido pela variável faturamento por cooperado. Facilmente se
reconhece que esta variável não está entre as mais sofisticas medidas de desempenho
financeiro que a contabilidade pode fornecer, mas era a única disponível para um
número expressivo de cooperativas.
Outras variáveis serão utilizadas para controlar demais características das cooperativas
ou dos seus associados. Como talvez possa existir, ao longo do tempo, um efeito aprendizado
ou desgaste do comprometimento dos associados com a cooperativa ou das estruturas de
governança da mesma para com os primeiros, duas variáveis serão testadas: o tempo de vida
da cooperativa no ano em que se realizou a entrevista (Tempo de Vida) ou seu ano de
fundação (Ano de Fundação). Também será avaliado se a existência de canais de
comunicação entre a cooperativa e seus associados pode afetar o comprometimento dos
últimos com a primeira. Para tal, duas variáveis serão utilizadas: se a cooperativa conta com
ao menos um canal de comunicação com seus cooperados, como jornais, revistas, programas
de TV ou de rádio (Meios de Comunicação); e se a mesma se utiliza de outros canais de
comunicação (Outros Meios de Comunicação). Por fim, serão utilizadas outras variáveis que
controlarão os possíveis efeitos de algumas características das cooperativas, a saber, sua
participação em centrais, federações ou confederações (Centrais), seu Número de Filiais e o
Número de Singulares com as quais a cooperativa mantém sociedade.
72
6. MODELOS ESTIMADOS E RESULTADOS OBTIDOS
6.1. Determinantes do comprometimento dos associados
A seguir serão apresentados os testes empíricos realizados para testar as hipóteses 1 a
4, apresentadas no capítulo 4 desta dissertação, as quais tratam dos efeitos dos benefícios da
ação coletiva e custos de coordenação sobre o comprometimento dos cooperados.
Primeiramente serão apresentados os modelos estimados, suas diferentes especificações e,
posteriormente, seus resultados finais. Os modelos apresentados nas Tabela 4 e Tabela 5
contam com a mesma especificação, mudando apenas a técnica utilizada para estimar cada
modelo. Os resultados apresentados na Tabela 4 foram obtidos por meio da estimação
conhecida como Pooled Ordinary Least Squares (POLS). Já os resultados apresentados na
Tabela 5 foram obtidos por meio da estimação de modelos de painel com efeitos aleatórios.
Nas Tabela 4 e Tabela 5, os modelos 1 e 2 são os modelos irrestritos, isto é, utilizam
todas as variáveis possíveis. No entanto, como não foi possível pôr em um mesmo modelo os
pares de variáveis Tempo de Vida/Ano de Fundação e Meios de Comunicação/Outros Meios
de Comunicação devido a problemas de colinearidade perfeita, houve a necessidade de criar
dois modelos irrestritos. Como as variáveis Número de Singulares e Número de Filiais se
mostraram fortemente não significantes nas duas primeiras especificações, foram descartadas
e deram origem aos modelos 3 e 4 que também controlam os possíveis efeitos de
colinearidade perfeita entre as variáveis já mencionadas.
Ao observar os resultados dos modelos 1, 2, 3 e 4, nota-se que as variáveis sobre
meios de comunicação e sobre o ano de fundação não se mostraram fortemente significativas
e, desta forma, foram descartadas resultando no modelo restrito 5. Este modelo indica que as
proxies para tamanho do grupo (Número Total de Associados), tamanho da cooperativa
(Número de Funcionários), homogeneidade de interesses (HHI), tempo de vida da
cooperativa (Tempo de Vida), investimento em capital humano (Cursos e Treinamentos)
controladas pela participação da cooperativa em centrais, federações e confederações
(Centrais) são fortemente significativas. Aliás, estas variáveis foram significativas em todos
os modelos apresentados, mesmo quando são excluídas as cooperativas que faliram ou
surgiram no período (modelo 6) ou quando são excluídos os outliers da variável Faturamento
73
por Cooperado
24
(modelo 7), com exceção da variável HHI no modelo 6 estimado por painel
com efeitos aleatórios (Tabela 5).
Tabela 4 – Resultado das estimações pelo método POLS para as Hipóteses 1, 2, 3 e 4
Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 Modelo 5
-0,00003 -0,00003 -0,00003 -0,00003 -0,00003
0,0030 0,0160 0,0050 0,0010 0,0010
0,00025 0,00029 0,00027 0,00026 0,00027
0,0020 0,0010 0,0000 0,0000 0,0000
0,18020 0,17080 0,17122 0,17822 0,15718
0,0010 0,0010 0,0010 0,0010 0,0030
0,05816 0,06129 0,06466 0,05506 0,06483
0,0340 0,0240 0,0170 0,0420 0,0170
0,08339 0,08431 0,07962 0,08766 0,08277
0,0030 0,0030 0,0050 0,0020 0,0040
-0,00177 -0,00177 -0,00183
0,0420 0,0410 0,0360
0,00154 0,00162
0,0640 0,0500
0,07302 0,07008
0,0370 0,0460
0,05827 0,06118
0,0350 0,0230
0,00065 -0,00128
0,8760 0,7610
-0,00005 0,00033
0,9910 0,9430
0,51998 -2,52598 0,54039 -2,70418 0,59290
0,0000 0,1200 0,0000 0,0940 0,0000
R2 0,1460 0,1465 0,1482 0,1451 0,1328
Número de obs 295 295 295 295 295
Heterocedasticidade
Teste de White 0,0004 0,0003 0,0000 0,0000 0,0000
Teste de Breusch-Pagan 0,0019 0,0038 0,0018 0,0034 0,0038
Fonte: Elaboração do autor
* O p-valor da estimativa de cada coeficiente é apresentado logo abaixo do valor estimado de cada
coeficiente.
variável dependente: Proporção de Associados Atuantes*
Número Total de
Associados
Número de Funcionários
HHI
Cursos e Treinamentos
Centrais
Tempo de Vida
Ano de Fundação
_cons
Meios de Comunicação
Outros Meios de
Comunicação
Número de Filiais
Número de Singulares
24
A identificação e apresentação dos outliers da variável Faturamento por Cooperado serão discutidos na
próxima seção.
74
Tabela 5 – Resultado das estimações pelo método de painel com efeitos aleatórios para
as Hipóteses 1, 2, 3 e 4
Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 Modelo 5 Modelo 6 Modelo 7
-0,00004 -0,00003 -0,00003 -0,00003 -0,00003 -0,00004 -0,00003
0,0120 0,0250 0,0120 0,0070 0,0090 0,0030 0,0360
0,00024 0,00027 0,00027 0,00027 0,00028 0,00035 0,00024
0,0010 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0020
0,17028 0,16437 0,16592 0,17166 0,15620 0,09732 0,21060
0,0060 0,0070 0,0060 0,0060 0,0100 0,2480 0,0010
0,06714 0,06663 0,07202 0,06258 0,07149 0,07920 0,07496
0,0200 0,0170 0,0110 0,0260 0,0120 0,0260 0,0140
0,08965 0,09270 0,08747 0,09584 0,09002 0,08007 0,10719
0,0050 0,0030 0,0060 0,0020 0,0040 0,0480 0,0020
-0,00225 -0,00224 -0,00226 -0,00190 -0,00256
-0,0300 0,0300 0,0280 0,2030 0,0170
0,00180 0,00189
0,0560 0,0460
0,05737 0,05595
0,1500 0,1610
0,04912 0,05524
0,0920 0,0490
0,00300 0,00075
0,3680 0,8280
-0,00156 -0,00102
0,7140 0,8100
0,54861 -3,04106 0,55579 -3,22800 0,60123 0,63438 0,55915
0,0000 0,1000 0,0000 0,0820 0,0000 0,0000 0,0000
R2 (total)
0,1433 0,1449 0,1469 0,1439 0,1320 0,1422 0,1371
Número de obs
295 295 295 295 295 183 271
sigma_u
0,0983 0,0948 0,1001 0,0925 0,1024 0,0993 0,1015
sigma_e
0,1835 0,1866 0,1818 0,1855 0,1825 0,1914 0,1833
rho
0,2229 0,2050 0,2327 0,1991 0,2396 0,2120 0,2348
Teste de Hausman
-30,36 -6,28 0,0793 0,0811 0,0916 0,0542 0,0530
Teste para efeitos aleató
r
0,0358 0,0380 0,0241 0,0481 0,0165 0,1380 0,0313
Fonte: Elaboração do autor
* O p-valor da estimativa de cada coeficiente é apresentado logo abaixo do valor estimado de cada coeficiente.
variável dependente: Proporção de Associados Atuantes*
Número Total de
Associados
Número de Funcionários
HHI
Cursos e Treinamentos
Centrais
Tempo de Vida
Ano de Fundação
_cons
Meios de Comunicação
Outros Meios de
Comunicação
Número de Filiais
Número de Singulares
Como pode ser observado pelas Tabela 4 e Tabela 5, estes resultados se mantêm tanto
na estimação pela técnica de POLS quanto utilizando modelos de painel com efeitos
aleatórios. Em todos os casos, com exceção dos modelos irrestritos 1 e 2, o teste de Hausman
sugere que é recomendável utilizar modelos de painel com efeitos aleatórios (p-valor > 0,5),
em detrimento dos modelos de painel com efeitos fixos, para testar as Hipóteses 1, 2, 3 e 4
desta dissertação. Para os modelos irrestritos 1 e 2 o teste de Hausman fica mal especificado e
nenhuma conclusão pode ser extraída do seu resultado. Os modelos de painel com efeitos
aleatórios (Tabela 5) foram estimados usando matriz de covariância robusta devido aos
persistentes problemas de heterocedasticidade diagnosticados pelos testes de White e de
Breush-Pagan nas estimações por POLS (Tabela 4). Testes de Fator de Inflação da
75
Variância
25
(Apêndice 9) indicam que em todos os modelos não há problemas de
multicolinearidade e o número de observações disponíveis garante, pelo teorema do limite
central, que os estimadores são normalmente distribuídos.
Os resultados apresentados pelas Tabela 4 e Tabela 5 corroboram parte das hipóteses
desta dissertação, apresentadas no capítulo 4. A Hipótese 1 estabelece que o “nível de
comprometimento dos associados é negativamente influenciado pelo número total de
associados no quadro social da cooperativa devido ao custo de coordenação incorrido para
ofertar bens coletivos”, sendo testada por meio da variável Número Total de Associados. Os
resultados indicam que o efeito do número de associados, uma proxy para os custos de
coordenação, tem um efeito significante e consistentemente negativo sobre o nível de
comprometimento de cooperados, conforme esperado.
Também a Hipótese 2 é corroborada pelos resultados empíricos observados nas
cooperativas paulistas. Conforme estabelece esta hipótese, o nível de comprometimento dos
associados é positivamente influenciado pelo tamanho da cooperativa, controlado pelo
Número Total de Associados, uma vez que maiores serão os ganhos derivados da ação
coletiva. De fato, o tamanho da cooperativa, tendo como proxy o Número Total de
Funcionários, tem um efeito positivo, significante e bastante robusto sobre o
comprometimento de cooperados. Uma vez que o número de cooperados é uma variável
controlada, conforme cresce o tamanho da cooperativa, cresce o grau de comprometimento de
cooperados, para um dado número de cooperados. O crescimento da cooperativa pela mera
agregação de cooperados, portanto, não está associado a um crescimento do nível de
cooperação.
Uma segunda proxy para custos de coordenação é dada pela homogeneidade de
interesses dos cooperados, conforme estabelece a Hipótese 3. A homogeneidade dos
interesses dos cooperados foi captada pela variável HHI, que mede o grau de concentração do
faturamento da cooperativa por produto. Conforme esperado, cooperativas cujo faturamento é
derivado de poucos ou, predominantemente, de um produto apresentam maior grau de
comprometimento, o que indica que a homogeneidade de interesses reduz os custos de
coordenação, facilitando a ação coletiva.
25
Para detectar a presença de forte de multicolinearidade utiliza-se o Fator de Inflação da Variância (FIV).
Estima-se uma regressão auxiliar entre as variáveis explicativas do modelo e calcula-se o fator de inflação da
variância (1/1-R
2
k
) para cada coeficiente. R
2
é o R
2
de cada regressão de x
k
contra todas as outras variáveis
(Greene, 2003, p. 57). Caso esta estatística seja menor que 10, não há indícios de que haja forte
multicolinearidade entre as variáveis explicativas. Os resultados apresentados no Apêndice 9 e no Apêndice 10
foram calculados pelo Stata® 9.2 que apresenta tanto os cálculos tradicionais quanto o inverso do FIV (1/FIV).
Neste caso, valores maiores que 0,1 não sugerem forte presença de multicolinearidade.
76
Finalmente, a Hipótese 4, mais relacionada à literatura de ideologia cooperativa, indica
que o treinamento de cooperados, sobretudo aquele voltado à educação cooperativa, tem o
efeito de elevar o grau de comprometimento de cooperados. Os resultados indicam que
também esta variável teve o seu sinal esperado, embora em menor grau de significância. Uma
vez analisados os determinantes do grau de comprometimento de cooperados, resta indagar se
esta variável está associada a um melhor desempenho das cooperativas.
6.2. Influência do nível de comprometimento sobre o desempenho financeiro
A seguir serão apresentados os testes emricos realizados para testar a Hipótese 5
desta dissertação, a saber, se o nível de comprometimento dos associados ajuda a explicar o
desempenho financeiro da cooperativa. De forma semelhante ao estudo anterior,
primeiramente serão apresentados os modelos estimados, suas diferentes especificações e,
posteriormente, seus resultados finais. Os modelos apresentados nas Tabela 6 e Tabela 7
contam com a mesma especificação, mudando apenas a técnica de estimação utilizada; os
resultados apresentados na Tabela 6 foram obtidos por POLS, enquanto que os resultados
apresentados na Tabela 7 foram obtidos por meio da estimação de modelos de painel com
efeitos aleatórios. No entanto, como há riscos de problemas de endogeneidade entre
desempenho financeiro e comprometimento/fidelidade dos seus associados, também foram
estimados modelos de painel com efeitos aleatórios utilizando variáveis instrumentais para
controlar este possível efeito. Os resultados destes últimos modelos são apresentados pela
Tabela 9.
Para avaliar a Hipótese 5, a saber, se o comprometimento ou fidelidade dos associados
impactam positiva e significativamente o desempenho financeiro da cooperativa, foram
estimados 5 modelos com especificações distintas, tanto utilizando o método POLS quanto o
método de painel com efeitos aleatórios. Em todos os modelos, busca-se avaliar se a proxy de
comprometimento (Proporção de Associados Atuantes) é significativa para explicar o
desempenho financeiro da cooperativa (Faturamento por Cooperado), controlando pelo
tamanho do grupo (Número Total de Associados), pelo tamanho da cooperativa (Número de
Funcionários), pela homogeneidade de interesses do grupo (HHI), pela tempo de vida da
cooperativa (Tempo de Vida ou Ano de Fundação), pela existência de investimento em capital
humano (Cursos e Treinamentos) e pela participação em centrais, federações e confederações
(Centrais).
77
Tabela 6 – Resultado das estimações pelo método POLS para a Hipótese 5
Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 Modelo 5
262196,1 291478,8 -68556,1 -43975,3 -90988,2
0,7070 0,6760 0,9200 0,9490 0,8940
-392,2 -395,7 -396,7 -400,0 -394,6
0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
4574,0 4543,5 4296,1 4265,7 4322,7
0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
-30136,6 -3853,5 342517,2 373300,4 335966,4
0,9620 0,9950 0,5380 0,5040 0,5440
4891,0 2926,4
0,6360 0,7750
-7893,7 -5996,6
0,4200 0,5410
-567164,9 -567933,3
0,0810 0,0780
-557937,4 -571849,8
0,0990 0,0910
248920,8 15900000,0 -159033,0 11700000,0 -64168,6
0,7370 0,4080 0,8160 0,5430 0,9140
R2
0,1173 0,1186 0,1012 0,1021 0,1010
Número de obs
295 295 295 295 295
Heterocedasticidade
Teste de White
0,0000 0,0000 0,0001 0,0000 0,0000
Teste de Breusch-Pagan
0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
Fonte: Elaboração do autor
* O p-valor da estimativa de cada coeficiente é apresentado logo abaixo do valor estimado de cada coeficiente.
variável dependente: Faturamento por Cooperado*
Número de Associados
Atuantes
Número Total de
Associados
Número de Funcionários
Centrais
_cons
HHI
Tempo de Vida
Ano de Fundação
Cursos e Treinamentos
Tanto na Tabela 6 quanto na Tabela 7, os dois primeiros modelos (1 e 2) são os
modelos irrestritos. Houve a necessidade de estimar dois modelos como irrestritos devido a
problemas de colinearidade perfeita entre as variáveis Tempo de Vida e Ano de Fundação.
Como as variáveis Centrais e Cursos e Treinamentos se mostraram fortemente não
significativas nestas duas especificações, foram descartadas e deram origem aos modelos 3 e
4. Nestes dois últimos modelos, as variáveis Tempo de Vida e Ano de Fundação também se
mostraram fortemente não significativas e foram excluídas, resultando no modelo restrito 5.
78
Tabela 7 – Resultado das estimações pelo método de painel com efeitos aleatórios para a
Hipótese 5
Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 Modelo 5
15271,1 14832,2 18385,0 18192,2 17391,2
0,0460 0,0450 0,0150 0,0130 0,0130
-6,1 -6,0 -6,3 -6,3 -6,1
0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
46,746,050,349,650,5
0,0070 0,0080 0,0030 0,0040 0,0030
28059,1 28403,0 22075,4 22968,0 22012,1
0,0150 0,0150 0,0170 0,0150 0,0170
142,8 123,7
0,5120 0,5530
-128,3 -151,6
0,5490 0,4690
-1017,1 -781,4
0,8360 0,8710
9163,9 8701,4
0,2000 0,2230
-11921,4 244423,8 -5527,6 295616,8 -1939,8
0,3290 0,5610 0,5760 0,4700 0,7910
R2 (total) 0,1587 0,1593 0,1632 0,1640 0,1599
Número de obs 271 271 271 271 271
sigma_u 32375,1 32395,6 31816,4 31778,2 31948,9
sigma_e
24783,5 24695,5 25375,2 25396,6 25396,6
rho 0,6305 0,6325 0,6112 0,6102 0,6128
Teste de Hausman
0,5288 0,5269 0,0504 0,1216 0,1760
Teste para efeitos aleatórios 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
Fonte: Elaboração do autor
* O p-valor da estimativa de cada coeficiente é apresentado logo abaixo do valor estimado de cada
coeficiente.
Centrais
_cons
HHI
Tempo de Vida
Ano de Fundação
Cursos e Treinamentos
variável dependente: Faturamento por Cooperado
Número de Associados
Atuantes
Número Total de Associados
Número de Funcionários
Da mesma forma que para as Hipóteses 1, 2, 3 e 4, os testes de Hausman apresentados
na Tabela 7 sugerem, para todas as especificações estimadas, que é recomendável utilizar
modelos de painel com efeitos aleatórios (p-valor > 0,5), em detrimento dos modelos de
painel com efeitos fixos. Os modelos de painel com efeitos aleatórios (Tabela 7) foram
estimados usando matriz de covariância robusta devido aos persistentes problemas de
heterocedasticidade diagnosticados pelos testes de White e de Breush-Pagan nas estimações
por POLS (Tabela 6). Testes de Fator de Inflação da Variância (Apêndice 10) indicam que em
todos os modelos não há problemas de multicolinearidade e o número de observações
79
disponíveis, novamente, garante, pelo teorema do limite central, que os estimadores são
normalmente distribuídos.
Ao observar o número de observações disponíveis para os testes empíricos do primeiro
estudo (295) e do estudo secundário (271), nota-se uma pequena diferença. Esta é resultado da
exclusão de 9 cooperativas cujos valores apresentados para o faturamento por cooperado eram
muito grandes e distorciam os resultados. Abaixo segue a lista das 9 cooperativas que foram
excluídas das estimações para testar a hipótese secundária (Tabela 8) e no Apêndice 11 são
apresentados quatro gráficos que mostram como o faturamento por cooperado destas
cooperativas altera a distribuição da variável Faturamento por Cooperado.
Tabela 8 – Nome das cooperativas que apresentaram valores distorcivos (outliers) na
variável Faturamento por Cooperado e os anos cujas observações foram perdidas
Anos observados Nome das cooperativas
1898, 1992 e 2000 COOP. AGRIC. MISTA DO VALE DO MOGI-GUACU - COOPERGUACU
1898, 1992 e 2000 COOP. AGROINDUSTRIAL HOLAMBRA
1898, 1992 e 2000 COOP. AGROPEC. HOLAMBRA - CAPH
1898 e 1992 COOP. DE LATICINIOS DE BRAGANCA PAULISTA LTDA
1898, 1992 e 2000 COOP. DE LATICINIOS DE PROMISSAO
1898, 1992 e 2000 COOP. DE PRODUTORES DE LEITE DA ALTA PAULISTA - COPLAP
1898, 1992 e 2000 COOP. DOS PROD.DE AGUARDENTE DE CANA E ALCOOL DO EST.DE S.PAULO LTDA
1898 e 1992 COOP. DOS PRODUTORES E FORNECEDORES DE CANA DE VALPARAISO LTDA
1898, 1992 e 2000 COOP. MISTA DE PESCA NIPO BRASILEIRA
Fonte: Banco de dados do PDICOOP
Após todas estas considerações, seria possível concluir que o nível de
comprometimento dos associados é um aspecto da relação entre cooperativa e cooperados que
tem importante influência na determinação do desempenho financeiro destas organizações.
Todos os modelos estimados por painel com efeitos aleatórios que foram apresentados na
Tabela 7 indicam que a variável Proporção de Associados Atuantes é singificativa para
explicar Faturamento por Cooperado independente da especificação do modelo. No entanto,
além dos resultados da estimação por POLS sugerir a conclusão oposta, ou seja, Proporção de
Associados Atuantes não é significativa para explicar o desempenho financeiro da cooperativa
(Tabela 6), esta relação pode estar diante de um problema de endogeneidade.
Problemas de endogeneidade surgem quando um modelo é estimado na presença de
uma variável explicativa endógena, que é uma variável que está correlacionada com o termo
de erro, no caso desta dissertação, devido a problemas de simultaneidade. Simultaneidade, por
sua vez, ocorre quando pelo menos uma variável explicativa – no caso, Proporção de
Associados Atuantes – é determinada conjuntamente com a variável dependente (Faturamento
80
por Cooperado). No caso desta Hipótese 5, isto significa que, ao mesmo tempo que
comprometimento explica o desempenho financeiro, este explica o primeiro.
Para superar esta dificuldade, é necessário re-estimar os modelos pelo método de
mínimos quadrados em dois estágios (2SLS). Para utilizar tal método, é necessário buscar
variáveis instrumentais, que são variáveis que não aparecem na equação, não são
correlacionadas com o termo de erro e são (parcialmente) correlacionadas com a variável
explicativa endógena (Proporção de Associados Atuantes). As regressões anteriormente
apresentadas nas Tabela 4, Tabela 5, Tabela 6 e Tabela 7 sugerem quatro possíveis
instrumentos (Cursos e Treinamentos, Centrais, Ano de Fundação e Tempo de Vida), pois são
variáveis razoavelmente correlacionadas com a variável Proporção de Associados Atuantes
(Tabela 4 e Tabela 5), mas não correlacionadas com Faturamento por Cooperado (Tabela 6 e
Tabela 7).
A Tabela 9, a seguir, mostra os resultados das estimações de modelos de painel com
efeitos aleatórios utilizando variáveis instrumentais sob diversas combinações dos
instrumentos. O modelo 1 utiliza três instrumentos (Cursos e Treinamentos, Centrais e Tempo
de Vida), assim como o modelo 2 (Cursos e Treinamentos, Centrais e Ano de Fundação). Não
é possível utilizar os quatro instrumentos simultaneamente devido a problemas de
colinearidade perfeita entre as variáveis Tempo de Vida e Ano de Fundação. Os cinco
modelos restantes (modelos 3, 4, 5, 6 e 7) apresentam os resultados das estimações utilizando
combinações de todas as variáveis instrumentais tomadas 2 a 2, evitando estimar um modelo
com a presença simultânea das variáveis Tempo de Vida e Ano de Fundação devido ao
problema já mencionado.
81
Tabela 9 – Resultado das estimações pelo método 2SLS para a Hipótese 5
Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 Modelo 5 Modelo 6 Modelo 7
30068,81 31714,47 50802,61 -13412,05 -27838,47 41028,04 41493,6
0,3580 0,3740 0,2210 0,7650 0,6570 0,3000 0,3370
-5,9109 -6,2569 -5,7151 -7,3050 -7,9907 -5,5950 -6,1444
0,0240 0,0160 0,0350 0,0220 0,0400 0,0430 0,0240
48,8172 51,4157 46,5651 59,5687 64,7844 46,1297 50,1666
0,0200 0,0140 0,0360 0,0170 0,0330 0,0390 0,0250
21177,16 22002,14 19901,8 25421,39 27271,52 20025,26 21379,25
0,0440 0,0400 0,0770 0,0260 0,0360 0,0700 0,0590
-10435,06 -12046,42 -24270,39 18015,97 27225,31 -17511,1 -18554,86
0,6320 0,6060 0,3650 0,5400 0,5010 0,4970 0,5040
R2 (total) 0,1613 0,1613 0,1496 0,0966 0,0592 0,1553 0,1570
Número de o
b
271 271 271 271 271 271 271
sigma_u
32123,9 30915,7 28548,2 35658,9 35421,4 31940,8 30110,8
sigma_e 28282,2 30708,8 30708,8 26119,5 25691,7 29443,1 32892,5
rho
0,5633 0,5034 0,4636 0,6508 0,6553 0,5406 0,4559
Instrumentos
as_trein as_trein as_trein as_trein as_trein confed confed
confed confed confed tempvid fundac tempvid fundac
tempvid fundac
Fonte: Elaboração do autor
* O p-valor da estimativa de cada coeficiente é apresentado logo abaixo do valor estimado de cada coeficiente.
HHI
_cons
variável dependente: Faturamento por Cooperado
Número de
Associados
Atuantes
Número Total
de
Associados
Número de
Funcionários
Assim como os resultados apresentados pelos modelos estimados por POLS exibidos
na Tabela 6, ao utilizar variáveis instrumentais para controlar os efeitos de endogeneidade,
não é possível afirmar que comprometimento (Proporção de Associados Atuantes) tem efeito
relevante para explicar o desempenho financeiro da cooperativa (Faturamento por
Cooperado). Todos os modelos estimados por painel com efeitos fixos e variáveis
instrumentais, independente da combinação de instrumentos utilizada, revelaram a variável
Proporção de Associados Atuantes fortemente não significativa. No entanto, este resultado
não pode ser tomado como definitivo; os modelos estimados por painel com efeitos aleatórios
e a possível precariedade dos instrumentos disponíveis sugerem cautela nestas conclusões.
Para avaliar a qualidade dos instrumentos utilizados, estimou-se os mesmos modelos
da
82
Tabela 9 em dois estágios, o primeiro pelo método de mínimos quadrados ordinários e o
segundo pelo método dos momentos generalizados (GMM). Esta técnica foi utilizada para que
fosse possível calcular o teste de J-Hansen, que avalia a exogeneidade dos instrumentos, e os
testes de Kleibergen-Paap, que avaliam a força dos instrumentos. Os resultados destes testes
são exibidos no Apêndice 12. Em suma, os resultados sugerem que os instrumentos são
fracos, porém exógenos. Desta forma, mantém-se inconclusivo o efeito do nível de
comprometimento dos associados sobre o desempenho financeiro de uma cooperativa.
Comentários finais
As conclusões sintetizadas nos parágrafos anteriores são fruto do confronto das
proposições sugeridas pela literatura com os resultados empíricos obtidos. Estes, por sua vez,
são condicionados pela forma como foram definidas as variáveis. Portanto, é necessário
avaliar o quanto as definições adotadas podem afetar a interpretação dos resultados e onde é
necessário salientar as ressalvas.
Para avaliar o tamanho do grupo foi utilizada a variável número total de associados no
quadro social da cooperativa (Número Total de Associados). É possível afirmar que esta é
uma variável exata, pois não há nenhuma outra mais apropriada para captar o que se deseja, o
tamanho do grupo.
Foi utilizada a variável Número de Funcionários para medir o tamanho da cooperativa
e, conseqüentemente, sua capacidade de ofertar bens coletivos. Aqui parte-se da hipótese de
que quanto maior a cooperativa, maior sua capacidade de ofertar bens coletivos e, portanto,
maiores serão seus ganhos de ação coletiva. No entanto, esta proxy não consegue captar
situações em que a cooperativa é capitalizada e apresenta, por isso, significativos ganhos de
ação coletiva, mas conta com pequeno número de funcionários, seja porque trabalha com
tecnologia intensiva em capital, seja porque a cesta de produtos com a qual trabalha não
demanda muito força de trabalho. Utilizar a variável número total de funcionários como proxy
para a capacidade da cooperativa ofertar bens coletivos é privilegiar as cooperativas
intensivas em trabalho. De qualquer forma, com os dados disponíveis é confusa a criação de
uma dummy classificando as cooperativas em intensivas em trabalho ou intensivas em capital
a partir da natureza do principal produto comercializado.
A variável índice de Herfindahl-Hirschmann denota homogeneidade de interesses a
partir da concentração do faturamento da cooperativa em poucos produtos. No entanto, não
consegue captar situações em que o faturamento da cooperativa é fortemente concentrado na
comercialização de poucos bens produzidos por um pequeno grupo de grandes associados,
83
enquanto há um número expressivo de pequenos cooperados – representando grande parte dos
direitos residuais de controle – que comercializa pequenas quantidades de uma grande
variedade de produtos. Mais uma vez, com os dados disponíveis não é possível superar esta
deficiência, pois não há como saber o que é produzido por cada cooperado.
Para apreciar se existe ao longo do tempo algum efeito aprendizado ou desgaste da
relação cooperativa-associado foi utilizada a variável tempo de vida da cooperativa (Tempo de
Vida). Entretanto, além do Tempo de Vida, seria interessante utilizar o Ano de Fundação da
cooperativa. Provavelmente, cooperativas fundadas, por exemplo, em décadas distintas,
apresentam desenhos institucionais diferentes que, por sua vez, afetam a relação cooperativa-
cooperado e o comprometimento do último com a primeira. A variável Ano de Fundação está
disponível no banco de dados, porém não é possível utilizá-la conjuntamente com a variável
Tempo de Vida devido a problemas de colinearidade perfeita. Satisfatoriamente, a introdução
de uma ou outra variável não afeta os resultados finais obtidos.
Parte da literatura afirma que investimento em cursos sobre educação cooperativista
pode melhorar o grau de fidelização e comprometimento do associado. Dentre os cursos
captados pela variável cursos e treinamentos está o de educação cooperativista, no entanto,
não é possível separá-lo dos outros cursos (organização rural, administração, produção rural,
informática, etc.) em todos os levantamento realizados pelo PDICOOP. Esta separação é
possível para os anos de 1992 e 2000; o dados referentes ao levantamento de 1989 não faz
esta distinção. Portanto, perde-se um ano – e todo o conjunto de observações que isto
representa – para avaliar de forma mais apurada o efeito da educação cooperativista sobre o
comprometimento e fidelização dos associados.
A variável meios de comunicação entre a cooperativa e os seus associados (Meios de
Comunicação) tenta captar os efeitos de uma maior comunicação entre as cooperativas e seus
associados, na hipótese de que quanto mais o cooperado se sente membro efetivo do grupo,
maior será seu comprometimento com a cooperativa. Esta variável é limitada porque capta
somente se a cooperativa conta com determinados meios de comunicação (jornais, revistas,
programas de TV ou de rádio e outros); nada informa sobre a efetividade do uso destes canais.
Entretanto, não há no banco de dados do PDICOOP qualquer outra variável que seja capaz de
distinguir de forma mais sofisticada este efeito.
Foi utilizada a variável proporção de associados classificados como atuantes sobre o
número total de cooperados no quadro social da cooperativa como proxy para grau de
comprometimento/fidelidade dos associados. O PDICOOP classifica como cooperado atuante
aquele que opera com a sua cooperativa. No entanto, operar pode ser tanto comercializar sua
84
produção com a cooperativa ou realizar compras em comum, quanto efetivar uma simples
compra no supermercado da cooperativa ou fazer uso dos serviços de assistência técnica
disponibilizados. Os dois primeiros exemplos de envolvimento do associado com a sua
cooperativa são proxies para comprometimento/fidelidade compartilhadas por outros estudos
sobre o assunto, como Móglia et alli (2003), Zylbersztajn (2002) e Cook (1995). Entretanto,
os dois últimos exemplos de envolvimento poderiam alterar a interpretação dos resultados
obtidos porque não representam efetivamente um comportamento que pode ser classificado
como “fiel”. Acredita-se fortemente que estes efeitos não afetam significativamente os
resultados finais porque é baixa a correlação entre a variável Proporção de Associados
Atuantes e as variáveis oferta de assistência veterinária (0,1613), assistência agronômica (-
0,0017), de máquinas e equipamentos (0,09), de assistência técnica de uma forma mais geral
(0,0569) e a variável oferta de produtos para uso doméstico (-0,0829).
Facilmente se reconhece que a variável faturamento por cooperado não está entre as
mais sofisticas medidas de desempenho financeiro que a contabilidade pode fornecer, mas é a
única disponível para um número expressivo de cooperativas.
Feitas todas estas as ressalvas e pesando as limitações dos resultados obtidos, o
principal resultado esperado foi confirmado. De acordo com os dados disponíveis e utilizando
os métodos estatísticos escolhidos (modelos POLS e de painel com efeitos aleatórios),
realmente existe uma relação inversa entre custos de coordenação e ganhos de ação coletiva
que influencia significativa e consistentemente o grau de comprometimento dos associados.
Poucos questionamentos permanecem sobre esta relação. O comentário que merece mais
destaque é que a proxy utilizada para ganhos de ação coletiva deixa de captar a diferença entre
cooperativas intensivas em capital e intensivas em trabalho.
Satisfatoriamente, confirmou-se a importância da homogeneidade de interesses para o
grau de comprometimento/fidelidade. Este resultado pode ser explicado pelo fato de que em
ambientes com maior homogeneidade de interesses os custos do processo de tomada de
decisão coletiva (Hansmann, 1996 e 1999) e os custos de coordenação (Olson, 1971) são
menores, aumentando identificação de cada membro com o grupo e aumentando a
probabilidade deste proporcionar benefícios para seus membros.
Um interessante resultado alcançado é o tempo de vida da cooperativa se mostrar
negativamente correlacionado com o comprometimento/fidelidade dos associados. Este
resultado pode ser explicado por Hansmann (1996) que afirma que quanto mais antiga for a
cooperativa, maiores serão os conflitos entre os que querem sair e os que permanecerão na
organização, pois a saída/perda de um membro da cooperativa representa perda de capital
85
para a cooperativa. Diferentemente de uma IOF, que quando um acionista resgata seus
direitos de propriedade via mercado de capitais, o tamanho do capital total da empresa
permanece praticamente inalterado, mudando apenas o proprietário destes direitos; o resgate
do capital investido na cooperativa reduz seu total de recursos disponível. No entanto, outra
possível explicação é o fato de que a cooperativa não consegue acompanhar a mudança do
perfil da produção dos seus associados ou da região onde está localizada, mas, assim mesmo,
o associado mantém seu vínculo formal com a organização
26
.
A presença de canais de comunicação entre a cooperativa e seus associados, se
mostrou irrelevante para explicar comprometimento/fidelidade. Porém, este resultado pode ser
fruto da incapacidade da variável escolhida captar a efetividade do uso destes canais.
26 Este fato pode ser facilmente observado por um exemplo hipotético: uma cooperativa de leite localizada em uma região onde atualmente
deixou-se de produzir leite e seus associados passaram a se dedicar à cultura da cana, provavelmente apresentará um número significativo de
associados em seu quadro social, mas uma quantidade menor poderá ser classificada como atuante. Mesmo quando o associado deixa de
operar com a cooperativa, ele não se desliga formalmente da cooperativa. O benefício de se desligar (retirar o valor de suas quotas partes)
não compensa seus possíveis custos (abrir mão de algum benefício que a cooperativa ainda ofereça ou possa vir a oferecer).
86
CONCLUSÃO
É consensual na literatura cooperativa que o comprometimento de um cooperado com
a cooperativa está associado a uma relação de longo prazo entre ambos. A partir da revisão
bibliográfica, argumentou-se que um ambiente com elevado grau de comprometimento é
importante porque reduz problemas de carona, facilita a capitalização da organização
cooperativa de forma mais estável e previsível, seja porque aumenta a probabilidade de os
associados entregarem sua produção (Zylbersztajn, 2002), seja porque possibilita aos
associados identificarem na cooperativa uma relação de longo prazo e não uma opção de
mercado de curto prazo (Fronzaglia, 2005). Por conseguir implementar mais facilmente
estratégias de longo prazo, as cooperativas permitem maior estabilidade no mercado, mesmo
quando apresentarem condições menos favoráveis que uma IOF (Fulton, 1999), além de
tornarem o processo de tomada de decisão coletiva menos custoso (Hansmann, 1996).
Embora a literatura já tenha sugerido como diversas características da cooperativa, dos
associados e da relação entre os dois que podem influenciar o comprometimento, poucas
respostas foram dadas quanto à influência que o seu desenho institucional pode ter no
comprometimento ou na fidelidade dos seus cooperados. Na mesma linha, existe uma
carência ainda maior de trabalhos empíricos, principalmente no Brasil, que corroborem as
diversas proposições sobre quais fatores influenciam a fidelidade dos associados, sendo os
trabalhos já citados (Bialoskorski, 2007, 2006 e 2005; Móglia, L. C., et. alii, 2003) raras
exceções.
Reconhecendo esta carência e fazendo uso das informações disponíveis no banco de
dados do PDICOOP, esta dissertação buscou avaliar empiricamente os efeitos dos benefícios
da ação coletiva e dos custos de coordenação sobre o grau de comprometimento dos
associados com a cooperativa. Secundariamente, este estudo investigou se o maior
comprometimento de cooperados está diretamente associado a um melhor desempenho da
cooperativa.
Os resultados empíricos indicam que o nível de comprometimento dos associados é a)
negativamente correlacionado com o tamanho do grupo, medido pelo número total de
associados no quadro social da cooperativa; b) positivamente correlacionado pelo tamanho da
cooperativa, medido pela proxy número total de funcionários da cooperativa; c) positivamente
correlacionado com o maior grau de homogeneidade de interesses entre os membros do
grupo, medido pelo grau de concentração do faturamento da cooperativa em poucos produtos;
e d) negativamente correlacionado pelo tempo de vida da cooperativa.
87
Com isso, é possível concluir que, de fato, o comprometimento responde aos custos e
benefícios envolvidos na coordenação para a realização de uma ação coletiva. Traduzindo em
outras palavras, os resultados obtidos permitem afirmar que quanto maior a cooperativa
(maiores os ganhos de ação coletiva) e menor o número total de associados (menores os
custos de coordenação), maior tende a ser o comprometimento de cada cooperado. Os
resultados ainda sugerem que a homogeneidade de interesses também é um fator importante
para determinar a fidelidade dos associados, provavelmente por reduzir os custos do processo
de tomada de decisão coletiva. Por fim, os testes empíricos também revelaram que o tempo de
vida da cooperativa é importante para explicar o comprometimento dos associados. De acordo
com os resultados obtidos, quanto mais antiga se torna a cooperativa, menor o
comprometimentos dos associados.
Um resultado inesperado foi o fato de não ser conclusivo o efeito do
comprometimento para explicar o desempenho financeiro da cooperativa. O resultado
esperado não foi confirmado por todos os modelos econométricos utilizados, com exceção dos
modelos de painel com efeitos aleatórios, em que o comprometimento foi importante para
explicar desempenho financeiro. Uma explicação para este resultado é o possível problema de
endogeneidade entre as variáveis Proporção de Associados Atuantes e Faturamento por
Cooperado. Ao refazer os testes empíricos utilizando os modelos de equações simultâneas, os
resultados são também inconclusivos. No entanto, testes também sugerem que os
instrumentos utilizados não são plenamente adequados, ou seja, são exógenos, mas são fracos,
o que, por sua vez, não permitem concluir pela significância ou não do comprometimento
sobre os resultados financeiros da cooperativa.
Dado que há poucos dados disponíveis sobre o funcionamento das cooperativas e que
os dados existentes são precários, desatualizados ou apresentam pequena abrangência, há
grande demanda por novas pesquisas de campo e coleta de informações junto às cooperativas
e, se possível, junto aos próprios cooperados. Todo este quadro explica, ao menos em parte, a
escassez de trabalhos empíricos sobre o assunto. Este trabalho sugere uma nova agenda de
pesquisa, com a finalidade de identificar os instrumentos adequados para se estimar os efeitos
do comprometimento sobre o desempenho financeiro de cooperativas. Isso demandará novas
pesquisas de campo e enriquecimento da base de dados. Em particular, é interessante levantar
informações que resultassem em bons instrumentos para avaliar os efeitos do
comprometimento dos associados com a sua cooperativa sobre o seu desempenho.
Cláusulas de fidelidade estão presentes com freqüência nos estatutos, mas, geralmente,
raramente são executadas. Nesta direção, seria interessante levantar informações sobre a
88
aplicação das cláusulas de fidelidade, bem como a existência de políticas de fidelização e os
desenhos particulares destas políticas. Por fim, seria interessante replicar esta metodologia em
outros estados para avaliar se os resultados encontrados nesta dissertação são conseqüência de
características particulares das cooperativas agropecuárias paulistas ou se estas conclusões
podem ser estendidas a todo universo cooperativista brasileiro. Provavelmente é possível
replicar esta metodologia no Paraná, que conta com um amplo banco de dados fruto do SAAC
(Sistema de Análise e Acompanhamentos das Cooperativas) mantido pela OCEPAR
(Organização das Cooperativas do Estado do Paraná). Seria interessante, também, comparar
estes resultados com estudos sobre as cooperativas que atuam em outros ramos, por exemplo,
cooperativas educacionais, de trabalho, ligadas ao setor de saúde, habitação, etc.
Esta dissertação, apesar das limitações inerentes a qualquer trabalho de pesquisa,
realizou um esforço para tentar averiguar a importância e os condicionantes do
comportamento de comprometimento dos associados com a sua cooperativa. Espera-se que
este esforço possa de alguma forma estimular a produção de novos trabalhos, pesquisas ou
busca por informações. Assim como todo o processo de produção de conhecimento dito
científico, os passos são dados de forma lenta e custosa, mas na direção da agregação de novo
conhecimento.
89
BIBLIOGRAFIA
AIZSILNEKS, A. P. (1952) Farmer cooperatives and economic welfare: a reply. Journal of
Farm Economics, 34, p. 563-66.
ARESVIK, O. (1955) Comments on “Economic nature of the cooperative association.”
Journal of Farm Economics, 37, p. 140-44.
AXWORTHY, C. S. (1990) Myth and reality in cooperative association: members, directors,
employees, and managers. In: FULTON, MURRAY (org.) Cooperative organizations and
Canadian society, University of Toronto Press, p. 39-62.
BETCH, M., BOLTON, P. e RÖEL, A. (2002). Corporate governance and control. NBER
Working Paper Series N.9371. December
BHUYAN e LEISTRITZ (2001) An examination of characteristics and determinants of
success of cooperatives in the non-agricultural sectors. Journal of Cooperatives, 16, p. 45-62.
BHUYAN, SAHJIB (2007). The people factor in cooperatives: an analysis of member
attitudes and behavior. Canadian Journal of Agricultural Economics, 55, p. 275-298.
BIALOSKORSKI NETO, SIGISMUNDO (2007) Um ensaio sobre desempenho econômico e
participação em cooperativas agropecuárias. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 45,
p. 119-138.
BIALOSKORSKI NETO, SIGISMUNDO (2006) Member participation and relational
contracts in agribusiness co-operatives in Brazil. The International Journal of Co-operative
Management, v. 3, p. 20-26.
BIALOSKORSKI NETO, SIGISMUNDO (2004) Economia das organizações cooperativas:
uma análise da influência da cultura e das instituições. Tese de livre-docência. Faculdade de
Economia Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto USP, FEA-RP/USP, Brasil.
BIALOSKORKI NETO, SIGISMUNDO (2003) Corporate governance and the role of the
managers in Brazilian cooperatives. In: International Center of Research and Information on
the Public, Social and Cooperative Economy, International Center of Research and
Information on the Public, Social and Cooperative Economy. Oxford, Inglaterra.
BIALOSKORSKI NETO, SIGISMUNDO (2002) Estratégias e cooperativas agropecuárias:
um ensaio analítico. In: BRAGA, MARCELO JOSÉ; BRÍCIO DOS SANTOS REIS (org.),
Agronegócio Cooperativo: Estruturação e Estratégias. 1 ed. Viçosa, Universidade Federal de
Viçosa, Departamento de Economia Rural, v. A281, p. 77-101.
BRASIL Lei nº. 5764, de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional de
Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades e dá outras providências.
CLARK, E. (1952) Farmer cooperatives and economic welfare. Journal of Farm Economics,
34, p. 35-51.
COASE, RONALD. H. (1937). The nature of the firms. Economica n4, November.
COOK, MICHAEL. L. (1994) The role of management behavior in agricultural cooperatives.
Journal of Agricultural Cooperatives, Vol. 9, p. 42-58.
COOK, MICHAEL. L. (1995) The future of u.s. agricultural cooperatives: a neo-institutional
approach, American Journal of Agricultural Economics, Vol. 77, Nº 5, p. 1153-59.
90
COOK, MICHAEL. L. and C. ILIOPOULOS (2000) Ill-defined property rights in collective
action: the case of us agricultural cooperatives" In: MENARD, CLAUDE (ed.) Institutions,
Contracts and Organizations, London, UK, Edward Elgar Publishing, p. 335-48.
CORNFORTH, CHRIS (2004). The governance of cooperatives and mutual associations: a
paradox perspective. Annals of Public and Cooperative Economics, 75(1), p. 11-32.
DIETZ, T., OSTROM, E., STERN, P. C. (2003) The Struggle to Govern the Commons.
Science, Nº 302, p. 1907-1912.
EMELIANOFF, IVAN V. (1948) Economic theory of cooperation: economic structure of
cooperative organizations. Washington D.C.
FRONZAGLIA, THOMAZ. (2005). Monitoring farm cooperative corporate governance. V
International PENSA Conference on Agrifood Chains/Network Economics and Management,
Ribeirão Preto, Fea-RP, p. 1-13.
FULTON, MURRAY (1999) Cooperatives and member commitment. The Finnish Journal of
Business Economics, Special issue: Role of cooperative entrepreneurship in modern market
environment, LTA vol 4, p. 418-37.
GIBBONS, ROBERT e KEVIN J. MURPHY (1992). Optimal incentive contracts in the
presence of career concerns: theory and evidence. Journal of Political Economy 100, 468-505.
GODDARD, ELLEN., PETER BOXALL e MEL LEROHL. (2002) Cooperatives and the
commodity political agenda: a political economy approach. Canadian Journal of Agricultural
Economics, 50, p. 511-26.
GOODMAN, J. D. (1994) It’s a matter of governance: the angry members may be right.
Management Quarterly, 35, vol 1, p. 2-5.
GROSSMAN, SANFORD J. e HART, OLIVER D. (1986). The costs and benefits of
ownership: a theory of vertical and lateral integration. Journal of Political Economy, 94, p.
691-719.
HANSMANN, HENRY (1996). The ownership of enterprise. The Belknap Press of Harvard
University Press.
HANSMANN, HENRY (1999). Cooperative firms in theory and practice. The Finnish
Journal of Business Economics, Special issue: Role of cooperative entrepreneurship in
modern market environment, LTA vol 4, p. 387-403.
HARRIS, MILTON, e ARTUR RAVIV (1988). Corporate control contests and capital
structure. Journal of Financial Economics, 20, p. 55-86.
HART, OLIVER (1995). Firms, Contracts, and Financial Structure. London, Oxford
University Press.
HENDRIKSE GEORGE W.J. e CEES P. VEERMAN (2000). Marketing cooperatives: an
incomplete contracting perspective. ERIM Reported Series, Reference Nº ERS-2000-13-ORG.
HENDRIKSE GEORGE W.J. e CEES P. VEERMAN (2001) Marketing Cooperatives and
Financial Structure: a Transaction Costs Analysis, Agricultural Economics, 26, p. 205-216.
HIRIART, MARIA M. M. (2002) Cooperativismo: primeiros passos. 2ed., São Paulo, ICA.
HIRSCHMAN, ALBERT (1970) Exit, voice, and loyalty: responses to decline in firms,
organizations, and states. Cambridge, Harvard University Press.
91
HOLMSTRÖM, BENGT (1999). Future of cooperatives: a corporate perspective.
Cooperative firms in theory and practice. The Finnish Journal of Business Economics, Special
issue: Role of cooperative entrepreneurship in modern market environment, LTA vol 4, p.
404-17.
JENSEN, MICHAEL E WILLIAM MECKLING (1976). Theory of the managerial behavior,
agency costs and ownership structure. Journal of Financial Economics, v.3, p. 305-360,
October.
JESSÉ, EDWARD V. e RICHARD T. ROGERS (2006) The Cranberry Industry and Ocean
Spray Cooperative: lessons in cooperative governance. Monograph Series, #19, Food System
Research Group, Department of Agricultural & Applied Economics, University of Wisconsin-
Madison.
KARANTININIS, KOSTA. e ANGELO ZAGO (2001) Endogenous membership in mixed
duopsonies. American Journal of Agricultural Economics, 83, Nº5, p. 1266-1272.
LEATHERS, HOWARD (2006) Are cooperatives efficient when membership is voluntary?
Journal of Agricultural and Resource Economics, Western Agricultural Economics
Association, 31, vol 3, p. 667-676.
LEVAY, C. (1983) Agricultural co-operative theory: a review. American Journal of
Agricultural Economics, 15, vol 3, p. 431-41.
MÓGLIA, LUÍS CARLOS, et alli (2004) Fidelidade e reciprocidade do cooperado: o caso da
CAROL. 2004. 76 f. Monografia - FUNDACE, Ribeirão Preto.
MURRAY, GORDON C. (1983) Management work: analysis from observation. Management
Science, 18, p. 897-B110.
OCB (2007) Apresentação Institucional – 2007. Brasília. Disponível em
<http://www.brasilcooperativo.com.br/Default.aspx?tabid=156>. Acesso em: 15/08/2007.
OCB (2008) Apresentação Institucional – 2008. Brasília. Disponível em
<http://www.brasilcooperativo.com.br/estat >. Acesso em: 25/06/2008.
OLSON, MANCUR (1971) The logic of collective action – public good and the theory of
groups. Cambridge, Massachusetts e London. Harvard University Press.
PERRAULT, E. E. (1983) A comparison of managerial behavior in cooperatives and investor
owned firms serving farmers. Master’s Plan Paper. Michigan State University.
PHILLIPS, RICHARD (1953) Economic nature of the cooperative association. Journal of
Farm economics, 35, p. 74-87.
ROBOTKA, FRANK. (1957) A theory of cooperation. In: M. Abrahamsen and C. Scroggs
(ed.), Agricultural Cooperation, Minneapolis, Minnesota: University of Minnesota Press, p.
121-42..
SHAFFER, JAMES D. (1982) Notes for a more comprehensive theory of farmer owned
cooperative system. Cooperative Theory Working Paper 1, Department of Agricultural
Economics, Michigan State University.
SHLEIFER, ANDREI. E ROBERT VISHNY (1997). A survey of corporate governance. The
Journal of Finance, Vol 52, Issue 2, Jun, P. 737-783.
STAATZ, JOHN. M. (1987). The structural characteristics of farmer cooperatives and their
behavioral consequences. Cooperative Theory: New approaches. In: Royer, J. (ed.), ACS
Service Report Nº 18, Washington D.C., U.S. Department of Agriculture, p. 33-60.
92
SYKUTA, MICHAEL e MICHAEL L. COOK (2001) A new institutional economics
approach to contracts and cooperatives. American Journal of Agricultural Economics, v. 83,
n. 5.
WILLIAMSON, OLIVER E. (1988) Corporate Finance and Corporate Governance. The
Journal of Finance, Vol. 43, Nº 3, Papers and Proceedings of the Forty-Seventh annual
Meeting of the American Finance Association, Chicago, Illinois, December 28-30, 1987, p.
567-591.
WILLIAMSON, OLIVER E. (1991) Comparative Economic Organization: The Analysis of
Discrete Structural Alternatives. Administrative Science Quarterly, Vol. 36, Nº 2, June, p.
269-296.
ZYLBERSZTAJN, Décio (2002). Quatro Estratégias Fundamentais para Cooperativas
Agrícolas. In: BRAGA, MARCELO JOSÉ; BRÍCIO DOS SANTOS REIS (org.),
Agronegócio Cooperativo: Estruturação e Estratégias. 1 ed. Viçosa, Universidade Federal de
Viçosa, Departamento de Economia Rural, v. A281.
93
APÊNDICES
Apêndice 1 – Lista de variáveis disponível no banco de dados do PDICOOP para todos
os levantamentos
Nome da variável Interpretação
Ident
Número de identificação da cooperativa
ano
Ano ao qual se refere as informações sobre a cooperativa
nomecoop
Nome da cooperativa em 2000
arm_frig
Se a cooperativa oferece estrutura de frigorífico para os produtos dos seus
associados
arm_litro
Capacidade estática dos armazéns em litros
arm_sacoton
Capacidade estática dos armazéns em sacos (toneladas)
arm_tem
Se a cooperativa oferece estrutura de armazenagem para os produtos dos seus
associados
arm_ton
Capacidade estática dos armazéns em toneladas
as_as_agr
Se a cooperativa oferece assistência “agronômica” aos seus associados
as_as_agrn
Número de técnicos e engenheiros agrônomos que a cooperativa oferece aos seus
associados
as_as_mudas
Se a cooperativa oferece assistência (produção de mudas) aos seus associados
as_as_ofmaq
Se a cooperativa oferece assistência (oficinas - maquinário) aos seus associados
as_as_out
Se a cooperativa oferece outro tipo de assistência técnica aos seus associados
as_as_pesq
Se a cooperativa oferece assistência (pesquisa) aos seus associados
as_as_vet
Se a cooperativa oferece assistência veterinária aos seus associados
as_as_vetn
Número de veterinários que a cooperativa oferece aos seus associados
as_educ_soc
Se a cooperativa oferece assistência educacional ou social aos seus cooperados
as_escola
Se a cooperativa oferece escola aos seus associados ou às suas famílias
as_medod
Se a cooperativa oferece assistência médica ou odontológica aos seus associados
as_out
Se a cooperativa oferece outro tipo de assistência social ou educacional aos seus
associados
as_prod
Se a cooperativa oferece assistência produtiva aos seus associados
as_recre
Se a cooperativa oferece assistência recreativa aos seus associados
as_tec
Se a cooperativa oferece assistência técnica aos seus associados
94
as_trein
Se a cooperativa oferece cursos ou treinamento aos seus associados
ass_at
Proporção de Associados Atuantes da cooperativa
ass_atp
Proporção do Proporção de Associados Atuantes da cooperativa com relação ao
total
ass_nat
Número de associados não atuantes da cooperativa
ass_natp
Proporção do número de associados não atuantes da cooperativa com relação ao
total
ass_total
Número total de associados da cooperativa
benefic
Se a cooperativa oferece estrutura para beneficiamento dos produtos dos seus
associados
confed
Se a cooperativa participa de alguma central, federação ou confederação
f_prod_dome
Se a cooperativa oferece produtos para uso doméstico aos seus associados
faliu
Se a cooperativa faliu durante o período analisado (1989 – 2000)
fat_props
Faturamento total por cooperado em cada ano
fat_tots
Faturamento total da cooperativa em cada ano
fun_adm
Número total de funcionários da cooperativa que trabalham na área de
administração
fun_ind
Número total de funcionários da cooperativa que trabalham na área industrial
fun_out
Número total de funcionários da cooperativa que trabalham em outros setores
fun_serv
Número total de funcionários da cooperativa que trabalham na área de serviços
fun_tot
Número total de funcionários da cooperativa
func_med
Se a cooperativa oferece assistência médica aos seus funcionários
func_odont
Se a cooperativa oferece assistência odontológica aos seus funcionários
func_out
Se a cooperativa oferece outro tipo de assistência aos seus funcionários
fundac
Ano de fundação da cooperativa
hhis
Índice Herfindahl-Hirschmann para a composição do faturamento da cooperativa em
cada ano
industr
Se a cooperativa oferece estrutura para a industrialização dos produtos dos seus
associados
m_jornal
Se a cooperativa se comunica com seus associados por meio de jornais
m_out
Se a cooperativa se comunica com seus associados por meio de outros canais
m_radio
Se a cooperativa se comunica com seus associados por meio de programas de
rádio
m_revista
Se a cooperativa se comunica com seus associados por meio de revistas
95
m_tv
Se a cooperativa se comunica com seus associados por meio de programas de tv
nfiliais
Número de filiais da cooperativa
nsingular
Número de singulares às quais a cooperativa está mantém associação
num_obs
Número de ocasiões em que a cooperativa foi observado no banco de dados
ofer_defen
Se a cooperativa oferece defensivos agrícolas aos seus associados
ofer_fert
Se a cooperativa oferece fertilizantes aos seus associados
ofer_insum
Se a cooperativa oferece insumos agrícolas aos seus associados
ofer_maq
Se a cooperativa oferece maquinário aos seus associados
ofer_out
Se a cooperativa oferece outros insumos produtivos aos seus associados
ofer_pvet
Se a cooperativa oferece produtos veterinários aos seus associados
ofer_racao
Se a cooperativa oferece ração aos seus associados
secagem
Se a cooperativa oferece estrutura de secagem para os produtos dos seus
associados
surgiu
Se a cooperativa surgiu durante o período analisado (1989 – 2000)
tempvid
Tempo de vida da cooperativa em cada ano
96
Apêndice 2 - Preços de produtos obtidos pelo PDICOOP 2000 e os anos em que foram
utilizados
Produto
Unidades
utilizadas
Anos Tratamento
Abobrinha kg, ton 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Aguardente litros 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Algodão pluma kg, ton 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Amendoim kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Arroz kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Atemoyia ton 2000 nenhum (direto)
Avestruz unidades 2000 nenhum (direto)
Bagre ton 2000 nenhum (direto)
Bebida láctea litros 2000 média
Berinjela kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Borracha ton 1992, 2000 nenhum (direto)
Brócolis ton 1992, 2000 nenhum (direto)
Café beneficiado kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Café coco kg, ton 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Café industrializado kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Camarão legítimo ton 1989, 1992 nenhum (direto)
Camarão rosa ton 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Camarão rosa sem cabeça ton 1989, 1992 nenhum (direto)
Camarão vermelho ton 1989, 1992 nenhum (direto)
Caqui kg, ton 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Cenoura kg, ton 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Chuchu kg, ton 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Citrus ton 1992 nenhum (direto)
Couve kg 1989 nenhum (direto)
Couve manteiga ton 1992, 2000 nenhum (direto)
Couve-flor ton 1992, 2000 nenhum (direto)
Creme de leite kg, ton, litros 1989, 1992, 2000 média excluindo outliers
Doce de leite kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Espinafre ton 2000 nenhum (direto)
Farelo de soja kg, ton 1989, 2000 nenhum (direto)
Feijão kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Flores dúzias 1989, 1992, 2000 média
Frangas recrias cabeças 1989 nenhum (direto)
Frango abatido kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Frango vivo kg, ton 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Frutas kg, ton 1989, 2000 nenhum (direto)
Goiaba kg, ton 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Hortifrutis volumes 2000 média
Iogurte copos, litros 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Jiló kg, ton 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Lagostim (Pitu) ton 1989, 1992 média
Laranja kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Látex in natura kg 1989 nenhum (direto)
Leite A litros 2000 nenhum (direto)
Leite ácido litros 1989, 1992 média
Leite aromatiz./vitamin. litros 2000 média
Leite B litros 1989, 1992, 2000 média
Leite C litros 1989, 1992, 2000 média excluindo outliers
Leite de cabra litros 1992 nenhum (direto)
Leite desnatado litros 1992 média
97
Leite em pó kg, ton 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Leite longa vida litros 2000 média
Leite reidratado litros 1992 nenhum (direto)
Limão ton 1992, 2000 nenhum (direto)
Madeira de Eucalipto m3 2000 nenhum (direto)
Mandioca ton 1992, 2000 média excluindo outliers
Mandioquinha ton 2000 nenhum (direto)
Manjuba ton 2000 média excluindo outliers
Manteiga kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Milho kg, ton 1989, 1992, 2000 média excluindo outliers
Milho verde ton 1992 média excluindo outliers
Nectarina kg, ton 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Netmelon ton 2000 nenhum (direto)
Óleo bruto degomado ton 2000 nenhum (direto)
Ostra dúzias 2000 nenhum (direto)
Ovos dúzias 1989, 1992, 2000 média
Peixes diversos ton 2000 nenhum (direto)
Pepino kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Pêssego kg, ton 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Pimentão kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Queijo kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Queijo gouda ton 2000 nenhum (direto)
Queijo minas frescal ton 2000 média
Queijo minas padrão ton 2000 nenhum (direto)
Queijo montanhês ton 2000 nenhum (direto)
Queijo mussarela ton 2000 média
Queijo parmesão ton 2000 nenhum (direto)
Queijo prato ton 2000 média
Queijo provolone ton 2000 nenhum (direto)
Queijo tipo ricota ton 2000 nenhum (direto)
Rã ton 2000 nenhum (direto)
Requeijão litros 2000 média excluindo outliers
Salsicha ton 2000 nenhum (direto)
Sardinha ton 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Sementes - grãos diversos ton 2000 nenhum (direto)
Soja kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Sorgo kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Sorinho litros 2000 nenhum (direto)
Suco de laranja ton 1992, 2000 nenhum (direto)
Tomate kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Tomate cereja ton 2000 nenhum (direto)
Trigo kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Uva kg, ton 1989, 1992, 2000 média
Vagem kg, ton 1989, 1992, 2000 nenhum (direto)
Fonte: Elaboração do autor
98
Apêndice 3 – Produtos cujos preços foram obtidos pelos Preços Médios Mensais
Recebidos pelos Agricultores (IEA) e os anos em que foram utilizados
Produto
Unidades
utilizadas
Anos Deflator
Algodão em caroço kg, Toneladas 1989, 1992 IPA-OG - Oleaginosas
Banana kg, Toneladas 1989, 1992 IPA-OG - Legumes e frutas
Banana Verde Toneladas 1992 IPA-OG - Legumes e frutas
Batata kg, Toneladas 1989, 1992 IPA-OG - Raízes e tubérculos
Cana toneladas 1989 IPA-OG - Produtos agrícolas
Cebola kg, Toneladas 1989, 1992 IPA-OG - Raízes e tubérculos
Gado de corte Cabeças 1989, 1992 IPA-OG - Animais e derivados
Mamona kg 1989 IPA-OG - Oleaginosas
Suíno kg, Toneladas 1989, 1992 IPA-OG - Animais e derivados
Fonte: Elaboração do autor
99
Apêndice 4 - Produtos cujos preços foram obtidos pelos preços negociados na Ceagesp e
os anos em que foram utilizados
Produto Unidades utilizadas Anos
Abacate toneladas 1992
Abacaxi kg, toneladas 1989, 1992
Abóbora kg 1989
Acelga kg, toneladas 1989, 1992
Alcachofra kg 1989
Alface dúzias, toneladas 1989, 1992
Alho toneladas 1992
Ameixa kg, toneladas 1989, 1992
Azaléia unidades 1992
Batata-doce kg, toneladas 1989, 1992
Beterraba kg, toneladas 1989, 1992
Bulbos kg, unidades 1989, 1992
Camarão sete barbas toneladas 1989, 1992
Cará toneladas 1992
Castanha toneladas 1989, 1992
Corvina toneladas 1989, 1992
Couve-flor unidade 1989
Crisântemo maçoss, unidades 1992
Ervilha caixas, toneladas 1989, 1992
Escarola toneladas 1992
Folhagem maços 1989
Gengibre caixas, toneladas 1989, 1992
Gérbera unidades 1992
Gladíolo dúzias 1989, 1992
Kalanchoe unidades 1992
Lichia caixas, toneladas 1989, 1992
Linguado toneladas 1989, 1992
Maçã kg, toneladas 1989, 1992
Manga kg, toneladas 1989, 1992
Melancia kg, toneladas 1989, 1992
Melão amarelo kg, toneladas 1989, 1992
Morango kg, toneladas 1989, 1992
Mudas unidades 1992
Murcote kg 1989
Néspera kg, toneladas 1989, 1992
Ovos de codorna dúzias 1989, 1992
Ovos para incubação dúzias 1989
Peixes diversos toneladas 1989, 1992
Pêra toneladas 1992
Pimenta kg, toneladas 1989, 1992
Pinha toneladas 1992
Plantas unidade, toneladas 1989, 1992
Quiabo kg, toneladas 1989, 1992
Repolho kg, toneladas 1989, 1992
Rosa dúzias 1989, 1992
Violeta unidade, mudas 1989, 1992
Fonte: Elaboração do autor
100
101
Apêndice 5 - P Produtos cujos preços foram obtidos por outras fontes, os anos em que
foram utilizados e as fontes utilizadas
Produto
Unidades
utilizadas
Anos Deflator Fonte
Alcool anidro Litros 1992
IPA-OG - Produtos
agrícolas
Pago pelo produtor
Alcool hidratado Litros 1992
IPA-OG - Produtos
agrícolas
Pago pelo produtor
Alcool refinado Litros 1992
IPA-OG - Produtos
agrícolas
Pago pelo produtor
Caroço algodão para
industrialização
Toneladas 1992
IPA-OG -
Oleaginosas
Pago pelo produtor
Caroço algodão para
semente
Toneladas 1992
IPA-OG -
Oleaginosas
Pago pelo produtor
Chá (folha verde) kg, toneladas 1989, 1992
IPA-OG - Produtos
agrícolas
Varejo IEA
Farinha de mandioca toneladas 1992
IPA-OG - Produtos
agrícolas
Varejo IEA
kg, toneladas 1989, 1992
IPA-OG - Fibras
vegetais
FGV/Agroanalysis
Maracujá kg, toneladas 1989, 1992
IPA-OG - Legumes e
frutas
Varejo IEA
Milho para semente Toneladas 1992
IPA-OG - Cereais e
grãos
Pago pelo produtor
Oleo de algodão toneladas 1992
IPA-OG -
Oleaginosas
Varejo IEA
Oleo de soja kg 1989
IPA-OG -
Oleaginosas
Varejo IEA
Ovelhas abatidas cabeças 1992
IPA-OG - animais e
derivados
Associação Paulista de
Criadores de Ovinos
Painço Toneladas 1992
IPA-OG - Cereais e
grãos
Pago pelo produtor
Semente de soja kg 1989
IPA-OG - Cereais e
grãos
Pago pelo produtor
Semente de trigo kg 1989
IPA-OG - Cereais e
grãos
Pago pelo produtor
Sementes
(flores/plantas)
kg 1989
IPA-OG - Cereais e
grãos
Pago pelo produtor
Fonte: Elaboração do autor
Apêndice 6 – Aproximações realizadas para converter unidades de medidas em preços individuais compatíveis
Produto
Preços
unitários
unidadess
utilizadas
Fonte Anos Tratamento realizado
Alface 9,54 dúzias Varejo IEA 1989
Pode haver problemas por uso de fontes distintas. O uso
foi necessário devido às dificuldades para fazer a
conversão de medidas (pé - toneladas).
Ameixa 1,01 kg Ceagesp 1989
Utilizou-se a média entre os preços da ameixa carmesim,
gema e rubi mel.
Bulbos 2,32 kg Ceagesp 1989 Utilizou-se preços de flores (mistura) da Ceagesp
Camarão rosa
sem cabeça
1.741,71 toneladas PDICOOP 2000 1989 Utilizou-se o preço do camarão rosa PDICOOP 2000.
Folhagem 3,17 maço Ceagesp 1989 Utilizou-se o preço da samambaia (1 mala - 1kg)
Frangas recrias 5,08 cabeças PDICOOP 2000 1989
Utilizou-se o mesmo preço de frango abatido com 3,5 kg -
PDICOOP 2000.
Iogurte 0,27 copos PDICOOP 2000 1989 Padronizou-se como medida o copo de 200 ml.
Látex in natura 2.013,76 kg PDICOOP 2000 1989 Utilizou-se preço da borracha do PDICOOP 2000.
Leite Ácido 0,27 litros PDICOOP 2000 1989
Como o mercado para este tipo de produto é muito
reduzido, utilizou-se 50% do valor do preço do Leite C.
102
Maçã
1,01 kg Ceagesp 1989
Utilizou-se o preço médio entre as variedades Fuji e
Goldem.
Oleo de soja 1,67 kg Varejo IEA 1989
Utilizou-se a proporção de 900ml de óleo de soja
equivalente a 840g do mesmo produto.
Semente de
trigo
1,99 kg Pago pelo produtor 1989
Média das sementes disponíveis (algodão, amendoim,
arroz, batata, feijão, milho, soja, sorgo)
Sementes
(flores/plantas)
293,33 kg Pago pelo produtor 1989 Utilizou-se o preço das sementes de tomate
Alface 845,67 toneladas Ceagesp 1992
Utilizou-se a média entre os preços da alface lisa e
crespa.
Azaléia 0,72 unidades ceagesp 1992 Utilizou-se o preço da gérbera.
Banana Verde 232,85 toneladas
IEA Recebido pelo
produtor
1992 Utilizou-se o mesmo preço da banana convencional.
Bulbos 1,46 unidades Ceagesp 1992 Utilizou-se preço de flores do PDICOOP
Caroço algodão
p/indus.
446,91 toneladas Pago pelo produtor 1992
Utilizou-se o preço da semente de algodão do preço paga
pelo produtor - IEA.
Caroço algodão
p/semente
446,91 toneladas Pago pelo produtor 1992
Utilizou-se o preço da semente de algodão do preço paga
pelo produtor - IEA.
Citrus 204,66 toneladas PDICOOP 2000 1992 Utilizou-se o preço da laranja do PDICOOP 2000.
Crisântemo
(maço)
2,61 maço Ceagesp 1992 Considerou-se um pacote como um maço
103
Crisântemo
(unidade)
1,46 unidades Ceagesp 1992 Utilizou-se preço de flores do PDICOOP
Kalanchoe 1,46 unidades Ceagesp 1992 Utilizou-se preço de flores do PDICOOP
Leite ácido 0,27 litros PDICOOP 2000 1992
Como o mercado para este tipo de produto é muito
reduzido, utilizou-se 50% do valor do preço do Leite C.
Leite de cabra 1992 Utilizou o mesmo preço do Leite A.
Leite desnatado 1992 Utilizou-se o mesmo preço do leite longa vida.
Leite reidratado 1992 Utilizou-se o mesmo preço do Leite C.
Linter 1992 Descartado por falta de informações.
Milho verde 180,92 toneladas PDICOOP 2000 1992 Utilizou-se o mesmo preço do milho convencional.
Niger 1992 Descartado por falta de informações.
Oleo de algodão 1.672,39 toneladas Varejo IEA 1992 Utilizou-se o mesmo preço do óleo de soja.
Painço 1.988,95 toneladas Pago pelo produtor 1992
Média das sementes disponíveis (algodão, amendoim,
arroz, batata, feijão, milho, soja, sorgo)
Plantas 3.170,00 toneladas Ceagesp 1992 Utilizou-se o mesmo preço de Folhagens - Ceagesp.
104
Suíno
155,16 cabeça
IEA Recebido pelo
produtor
1992 Assumiu-se um porco de 90kg (6 arrobas)
Netmelon 1.134,11 toneladas PDICOOP 2000 2000 Utilizou-se o mesmo preço do melão amarelo.
Requeijão 900,00 toneladas PDICOOP 2000 2000
Utilizou a proporção de 250g de requeijão equivalentes a
250 ml do mesmo produto.
Plantas 3,17 unidade Ceagesp 1992, 1989 Utilizou-se o mesmo preço de Folhagens - Ceagesp.
Camarão
legítimo
1.741,71 toneladas PDICOOP 2000 1989, 1992 Utilizou-se o preço do camarão rosa PDICOOP 2000.
Camarão rosa
sem cabeça
1.741,71 toneladas PDICOOP 2000 1989, 1992 Utilizou-se o preço do camarão rosa PDICOOP 2000.
Camarão sete
barbas
3.320,00 toneladas Ceagesp 1989, 1992
Camarão
vermelho
1.741,71 toneladas PDICOOP 2000 1989, 1992 Utilizou-se o preço do camarão rosa PDICOOP 2000.
Chá (Folha
verde)
15.551,41 kg, toneladas Varejo IEA 1989, 1992
Utilizou-se o preço do chá preto. O original era chá de
folhas verdes.
Gado de corte 619,92 cabeça
IEA Recebido pelo
produtor
1989, 1992 Utilizou-se o preço do boi gordo com 16 arrobas (240 kg).
Gladíolo 17,47 dúzias Ceagesp 1989, 1992 Utilizou-se preço de flores do PDICOOP
Lagostim (Pitu) 1.741,71 toneladas PDICOOP 2000 1989, 1992 Utilizou-se o preço do camarão rosa PDICOOP 2000.
105
Creme de leite 28.000,00 toneladas PDICOOP 2000 1992, 2000
Utilizou-se a proporção de 250 ml de requeijão é
equilante a 250 g do mesmo produto.
Fonte: Elaboração do autor
Apêndice 7 – Produtos cujos preços individuais não foram encontrados
Produto
Unidades utilizadas Anos
Anjo toneladas 1989, 1992
Casal
kg 1989
Derivados do leite toneladas 1989
Esteiras toneladas, unidades 1989, 1992
Gordura kg, toneladas 1989, 1992
Linter toneladas 1992
Niger toneladas 1992
Fonte: Elaboração do autor
106
as_trein ass_atp ass_total confed fat_props fun_tot fundac hhis m_comunic m_out nfiliais nsingular tempvid
as_trein
1,0000
ass_atp
0,1547 1,0000
ass_total
0,1454 -0,0745 1,0000
confed
-0,1094 0,1118 -0,0013 1,0000
fat_props
-0,0127 0,0765 -0,0488 -0,0522 1,0000
fun_tot
0,2699 0,1722 0,5035 0,0982 0,2451 1,0000
fundac
-0,1121 0,1055 -0,1712 -0,0635 -0,0565 -0,1832 1,0000
hhis
0,0691 0,0813 -0,0186 -0,4588 -0,0254 -0,1721 0,1437 1,0000
m_comunic
0,1268 0,1294 0,0787 0,0926 0,0389 0,1869 0,0068 -0,2430 1,0000
m_out
-0,0429 0,1373 -0,2006 0,1171 0,0647 -0,0633 0,1227 -0,1531 0,6139 1,0000
nfiliais
0,2393 0,0894 0,6199 0,0691 0,0363 0,7118 -0,1547 -0,0354 0,1157 -0,0109 1,0000
nsingular
0,1238 0,0397 0,3060 0,0450 -0,0205 0,2822 -0,0510 0,0406 0,0070 -0,0792 0,3636 1,0000
tempvid
0,1802 -0,1023 0,1577 -0,0321 0,0380 0,1657 -0,9591 -0,0763 0,0247 -0,0511 0,1714 0,0319 1,0000
Fonte: Elaboração do autor
107
Apêndice 8 - Correlação entre as variáveis utilizadas nos testes empíricos
Apêndice 9 – Fator de inflação da variância para a hipótese principal
Variable VIF 1/VIF Variable VIF 1/VIF
Número Total de
Associados
1,68 0,5948
Número Total de
Associados
1,78 0,5631
Número de
Funcionários
2,23 0,4481
Número de
Funcionários
2,23 0,4476
HHI 1,41 0,7102 HHI 1,38 0,7244
Cursos e
Treinamentos
1,15 0,8694
Cursos e
Treinamentos
1,12 0,8930
Centrais 1,30 0,7682 Centrais 1,30 0,7704
Tempo de Vida 1,07 0,9315 Ano de Fundação 1,08 0,9229
Meios de
Comunicação
1,10 0,9056
Outros Meios de
Comunicação
1,12 0,8914
Número de Filiais 2,62 0,3816 Número de Filiais 2,69 0,3712
Número de
Singulares
1,18 0,8465
Número de
Singulares
1,18 0,8467
Mean VIF
1,53
Mean VIF
1,54
Variable VIF 1/VIF Variable VIF 1/VIF
Número Total de
Associados
1,41 0,7110
Número Total de
Associados
1,36 0,7332
Número de
Funcionários
1,49 0,6712
Número de
Funcionários
1,51 0,6626
HHI 1,33 0,7495 HHI 1,39 0,7193
Cursos e
Treinamentos
1,13 0,8858
Cursos e
Treinamentos
1,13 0,8866
Centrais 1,29 0,7759 Centrais 1,28 0,7809
Tempo de Vida 1,07 0,9355 Ano de Fundação 1,07 0,9310
Outros Meios de
Comunicação
1,07 0,9316
Meios de
Comunicação
1,11 0,9020
Mean VIF
1,26
Mean VIF
1,26
Variable VIF 1/VIF
Número Total de
Associados
1,36 0,7351
Número de
Funcionários
1,49 0,6714
HHI 1,32 0,7601
Cursos e
Treinamentos
1,13 0,8859
Centrais 1,29 0,7778
Tempo de Vida 1,07 0,9364
Mean VIF
1,27
Fonte: Elaboração do autor
Modelo 5
Modelo 1 Modelo 2
Modelo 3 Modelo 4
108
109
Apêndice 10 – Fator de inflação da variância para a hipótese secundária
Variable VIF 1/VIF Variable VIF 1/VIF
Número de
Funcionários
1,58 0,6342
Número de
Funcionários
1,58 0,6327
mero Total de
Associados
1,41 0,7084
mero Total de
Associados
1,41 0,7072
HHI 1,36 0,7368 HHI 1,36 0,7341
Centrais 1,32 0,7551 Centrais 1,32 0,7559
Número de
Associados Atuantes
1,15 0,8672
Número de
Associados Atuantes
1,15 0,8669
Cursos e
Treinamentos
1,15 0,8686
Cursos e
Treinamentos
1,13 0,8826
Tempo de Vida 1,08 0,9222 Ano de Fundação 1,08 0,9225
Mean VIF
1,29
Mean VIF
1,29
Modelo 1 Modelo 2
Variable VIF 1/VIF Variable VIF 1/VIF
Número de
Funcionários
1,51 0,6607
Número de
Funcionários
1,51 0,6607
mero Total de
Associados
1,41 0,7087
mero Total de
Associados
1,41 0,7074
Número de
Associados Atuantes
1,10 0,9071
Número de
Associados Atuantes
1,10 0,9076
HHI 1,06 0,9457 Ano de Fundação 1,07 0,9314
Tempo de Vida 1,05 0,9495 HHI 1,07 0,9360
Mean VIF
1,23
Mean VIF
1,23
Variable VIF 1/VIF
Número de
Funcionários
1,49 0,6698
mero Total de
Associados
1,40 0,7119
Número de
Associados Atuantes
1,09 0,9192
HHI 1,06 0,9473
Mean VIF
1,26
Fonte: Elaboração do autor
Modelo 5
Modelo 3 Modelo 4
Apêndice 11 – Ilustração gráfica da presença dos outliers e a distorção que causavam na distribuição da variável Faturamento por
Cooperado
Gráfico 1 – 100 maiores observações de Faturamento por Cooperado com outliers
0
5000000
10000000
15000000
20000000
25000000
30000000
35000000
40000000
45000000
50000000
1 4 7 101316192225283134374043464952555861646770737679828588919497100
Cooperativas (ordenadas)
fat_props
Gráfico 2 – 85 maiores observações de Faturamento por Cooperado após a exclusão dos 15 outliers
0
5000000
10000000
15000000
20000000
25000000
30000000
35000000
40000000
45000000
50000000
135791113151719212325272931333537394143454749515355575961636567697173757779818385
Cooperativas (ordenadas)
fat_props
110
Gráfico 3 – Distribuição da variável Faturamento por Cooperado com os outliers
0
5000000
10000000
15000000
20000000
25000000
30000000
35000000
40000000
45000000
50000000
1 9 17 25 33 41 49 57 65 73 81 89 97 105 113 121 129 137 145 153 161 169 177 185 193 201 209 217 225 233 241 249 257 265 273 281 289
Cooperativas (ordenadas)
fat_props
Gráfico 4 – Distribuição da variável Faturamento por Cooperado sem os outliers
0
5000000
10000000
15000000
20000000
25000000
30000000
35000000
40000000
45000000
50000000
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78 85 92 99 106 113 120 127 134 141 148 155 162 169 176 183 190 197 204 211 218 225 232 239 246 253 260 267 274
Cooperativas (ordenadas)
fat_props
111
Apêndice 12 – Testes para a qualidade dos instrumentos
Instrumentos utilizados Instrumentos utilizados
14,584 14,110
Chi-sq(3) P-val: 0,0022 Chi-sq(3) P-val: 0,0028
5,867 5,851
Stock-Yogo weak ID test critical values: 5% maximal IV relative bias 13,91 Stock-Yogo weak ID test critical values: 5% maximal IV relative bias 13,91
10% maximal IV relative bias 9,08 10% maximal IV relative bias 9,08
20% maximal IV relative bias 6,46 20% maximal IV relative bias 6,46
30% maximal IV relative bias 5,39 30% maximal IV relative bias 5,39
Hansen J statistic (overidentification test of all instruments): 1,536 Hansen J statistic (overidentification test of all instruments): 1,454
Chi-sq(2) P-val: 0,4639 Chi-sq(2) P-val: 0,4833
Instrumentos utilizados Instrumentos utilizados
10,626 6,904
Chi-sq(2) P-val: 0,0049 Chi-sq(2) P-val: 0,0317
6,238 3,597
Stock-Yogo weak ID test critical values: 5% maximal IV relative bias 19,93 Stock-Yogo weak ID test critical values: 5% maximal IV relative bias 19,93
10% maximal IV relative bias 11,59 10% maximal IV relative bias 11,59
20% maximal IV relative bias 8,75 20% maximal IV relative bias 8,75
30% maximal IV relative bias 7,25 30% maximal IV relative bias 7,25
Hansen J statistic (overidentification test of all instruments): 0,83 Hansen J statistic (overidentification test of all instruments): 0
Chi-sq(1) P-val: 0,3622 Chi-sq(1) P-val: 0,9839
Weak identification test (Kleibergen-Paap rk Wald F statistic): Weak identification test (Kleibergen-Paap rk Wald F statistic):
Modelo 1 Modelo 2
Underidentification test (Kleibergen-Paap rk LM statistic): Underidentification test (Kleibergen-Paap rk LM statistic):
Cursos e Treinamentos; Centrais;
Tempo de Vida
Cursos e Treinamentos; Centrais; Ano
de Fundação
Modelo 3 Modelo 4
Underidentification test (Kleibergen-Paap rk LM statistic): Underidentification test (Kleibergen-Paap rk LM statistic):
Cursos e Treinamentos; Centrais Cursos e Treinamentos; Tempo de Vida
Weak identification test (Kleibergen-Paap rk Wald F statistic): Weak identification test (Kleibergen-Paap rk Wald F statistic):
112
Instrumentos utilizados Instrumentos utilizados
5,789 10,946
Chi-sq(2) P-val: 0,0553 Chi-sq(2) P-val: 0,0042
2,996 6,028
Stock-Yogo weak ID test critical values: 5% maximal IV relative bias 19,93 Stock-Yogo weak ID test critical values: 5% maximal IV relative bias 19,93
10% maximal IV relative bias 11,59 10% maximal IV relative bias 11,59
20% maximal IV relative bias 8,75 20% maximal IV relative bias 8,75
30% maximal IV relative bias 7,25 30% maximal IV relative bias 7,25
Hansen J statistic (overidentification test of all instruments): 0,017 Hansen J statistic (overidentification test of all instruments): 1,506
Chi-sq(1) P-val: 0,8958 Chi-sq(1) P-val: 0,2198
Instrumentos utilizados
11,018
Chi-sq(2) P-val: 0,0041
6,209
Stock-Yogo weak ID test critical values: 5% maximal IV relative bias 19,93
10% maximal IV relative bias 11,59
20% maximal IV relative bias 8,75
30% maximal IV relative bias 7,25
Hansen J statistic (overidentification test of all instruments): 1,426
Chi-sq(1) P-val: 0,2323
Weak identification test (Kleibergen-Paap rk Wald F statistic):
Weak identification test (Kleibergen-Paap rk Wald F statistic): Weak identification test (Kleibergen-Paap rk Wald F statistic):
Modelo 7
Underidentification test (Kleibergen-Paap rk LM statistic):
Centrais; Ano de Fundação
Modelo 5 Modelo 6
Underidentification test (Kleibergen-Paap rk LM statistic): Underidentification test (Kleibergen-Paap rk LM statistic):
Cursos e Treinamentos; Ano de
Funda
ç
ão
Centrais; Tempo de Vida
113
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo