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ou retaliações às antigas lideranças políticas, desde que a orientação presidencial
fosse obedecida
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O DISCURSO DO MAJOR MARINHO LUTZ
Agradecendo a homenagem prestada á sua pessoa o major Marinho Lutz,
director da E. F. Noroeste pronunciou o seguinte discurso:
“Senhores. Aceitando e agradecendo esta homenagem, não o faço
entretanto, somente em meu nome, senão também, em nome da Noroeste,
que tenho a honra de dirigir e de todos que nella mourejam diariamente no
cumprimento do dever.
(...) Esta homenagem, que me é profundamente grata, não me desperta
sentimento de vaidade, é para mim profundamente significativa, por que
representa o attestado mais frisante da transformação do ambiente, sob o
qual assumi a direcção da Noroeste, há um anno passado.
Naquella época, sob a impressão de graves agitações políticas partidárias,
a minha investidura na direcção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil foi
recebida como a de um delegado de uma facção partidária, para exercer
pressão sobre as que lhes fossem adversas.
Ao assumir o cargo que hoje occupo, sei perfeitamente que a muitos
pareceu iminente o phantasma das remoções e das perseguições arbitrárias
de funccionários da Estrada.
Era impressão dominante que eu iria fazer uso do cargo para favorecer
facções políticas.
Os factos, porém, estão ahi para comprovar o inverso: o pessoal da
Noroeste ahi está, nos mesmos lugares em que o encontrei, até mesmo os
funccionários da immediata confiança da administração cujos factos
desafiam quem aponte um gesto de arbitrariedade.
Nem por isso, reneguei ou renegarei as minhas preferências políticas, que
jamais se confundiram ou se confundirão com os meus actos
administrativos.
Releva ainda notar, que é dupla a minha responsabilidade de director da
Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.
No exercício desta funcção que me confiou o Governo da República, não
respondo somente pelos actos de simples administrador, sugeito, na
concepção geral, á prestação de contas do ponto de vista monetário.
Si, por um lado, estou na obrigação de dar conta do patrimônio que me foi
entregue, por outro pesa-me sobre os ombros o dever de honrar os galões
que me foram confiados pelo Exército Nacional.
De uma como de outra, posso dar contas ao Governo e aos meus
companheiros de farda aqui presentes com a consciência do dever
cumprido.(...)
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Getulio Vargas em sua administração estadonovista aproveitou antigas lideranças do Partido
Republicano Paulista, o que deve ter acalmado os ânimos políticos de São Paulo e da cidade de
Bauru. “S. Paulo tem novo Interventor Federal. Foi nomeado o sr. Adhemar de Barros, ex-deputado
pelo antigo Partido Republicano Paulista. Demitiram-se todos os secretários e o prefeito da Capital –
Continuam na pasta da Segurança o Tenente Coronel Dulcidio Cardoso, e no commando da força
pública, o Coronel Mário Xavier”. Folha do Povo, anno 5, nº 502, 26/04/1938, p.1.
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Folha do Povo, anno 5, nº 501, 24/04/1939, p.2 (grifos meus). Nas fontes jornalísticas consultadas
não aparecem quaisquer notícias de perseguições ou o cometimento de arbitrariedades sob a
administração do Major Marinho Lutz. Tais notícias não poderiam constar nos jornais quer pelo
prestígio que contava o Major Marinho Lutz entre os seus companheiros de farda quer o apoio político
que administrador contava para o exercício do seu cargo.
A complacência dos órgãos da imprensa para com as condutas das pessoas de classes sociais
elevadas e com grande prestígio político era importante além do fato de existir desde 1934 o
Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (CDPC) que era responsável pela censura aos
meios de comunicação inclusive os jornais. Esse órgão foi reestruturado no início de 1938 passando
a se chamar Departamento Nacional de Propaganda (DNP) e foi substituído pelo Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP) em 27 de dezembro de 1939, com atribuições ampliadas como:
censura prévia de jornais, revistas, cinemas, teatros, livros e diversões publicas tais como festas