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Sérgio Garcia, começa enfocando uma cena marcante do filme, em que Lamarca
afirmava não sair do Brasil, apesar dos constantes pedidos de companheiros que
estavam preocupados com a vida do líder guerrilheiro. O texto possui um enfoque
maior no ator Paulo Betti. Este, antes do lançamento do filme, estava em Nova York
fazendo um curso de teatro. Em relação ao filme, Paulo Betti, apontou a
preocupação de tentar uma aprimorada reconstituição física de Carlos Lamarca.
Dessa maneira fez exercícios para enrijecer os músculos e uma dieta em que
emagreceu 15 Kg. Preocupou-se até em estudar o tipo de caligrafia do capitão
guerrilheiro. Essa postura possui bastante ligação com a linha cinematográfica
clássica, onde há uma busca de naturalidade e de precisão.
Paulo Betti esforçou-se em buscar informações sobre Carlos Lamarca,
utilizando
-
se de livros e acervos de imagens. Uma foto teria chamado a sua atenção,
a de Lamarca lendo Guerra e Paz de Tolstoi, num acampamento do sertão baiano,
que instigou Betti a ler o livro. Luciana Burlamaqui e Sérgio Garcia apontam o filme
Lamarca com o potencial de recuperar o prestígio do cinema nacional, não só por
exumar a história de um herói da esquerda brasileira, mas, principalmente, por ter
qualidades. É didático sem ser redundante: ideológico, sem ser maniqueísta .
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O ator Paulo Betti se caracterizou nos anos 90 por uma postura de esquerda.
Condenou artistas que apoiaram Fernando Collor de Melo e sempre declarou seu
voto a Lula. Neste artigo do Jornal do Brasil, entretanto, está mais ponderado.
propugnava um não envolvimento em questões políticas, artísticas e literárias. Na década de 50 o
jornal começou com uma grande reforma, que passou a incluir nomes bastante respeitáveis, como
Jânio de Freitas, Carlos Castelo Branco, Carlos Lemos, Luis Lobo, Ferreira Gullar, entre outros. No
in
ício dos anos 60, com a entrada de Alberto Dines, houve um grande reconhecimento da qualidade
do jornal. Podemos mencionar algumas inovações desta reforma: 1) criação do suplemento
dominical, que apresentava assuntos diversos e acabou se transformando num caderno literário; 2)
diminuição do número de anúncios; 3) pela primeira vez, em 1957, publicação de uma fotografia na
primeira página; 4) maior envolvimento em questões políticas.
Essas mudanças consubstanciaram o perfil do Jornal do Brasil. No momento do golpe militar
de 1964, assim como a maior parte da grande imprensa, apoiou os golpistas e conseqüentemente o
governo de Humberto Alencar Castelo Branco. A sua tradição liberal ficou bastante ratificada na
oposição ao governo de Ernesto Geisel, devido à política estatizante deste presidente. Em 1981, na
ocasião do atentado terrorista do Rio Centro, o jornal contestou a versão oficial apresentada pelo
governo da época e, devido à série de reportagens realizadas, recebeu o Prêmio Esso de Jornalismo.
Com
a redemocratização, o Jornal do Brasil, de forma geral, apoiou as medidas adotadas
pelo governo de Fernando Collor de Melo e somente começou a defender o impeachment quando o
processo em curso para retirar o presidente do seu cargo já estava muito adiantad
o. Em 1994, ano de
lançamento do filme
Lamarca,
o jornal carioca considerou o plano de estabilização da economia como
algo positivo dentro do panorama político brasileiro. Informações extraídas de ALVES DE ABREU,
Alzira... [et al.] Dicionário histórico-
bio
gráfico brasileiro pós-
1930
. Rio de Janeiro: Editora FGV;
CPDOC, 2001.
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BURLAMAQUI, Luciana, GARCIA, Sérgio. Revista de Domingo.Jornal do Brasil, Rio de janeiro, 01
mai. 94.