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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
FILIPI CÉSAR RODRIGUES CARDOSO DA SILVA
ANIMAÇÃO POR STOP – MOTION: UM ESTUDO COMPARATIVO
DOS FILMES A NOIVA CADÁVER (TIM BURTON, 2005) E DOSSIÊ
RÊ BORDOSA (CÉSAR CABRAL, 2008)
SÃO PAULO
2008
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FILIPI CÉSAR RODRIGUES CARDOSO DA SILVA
ANIMAÇÃO POR STOP – MOTION: UM ESTUDO COMPARATIVO
DOS FILMES A NOIVA CADÁVER (TIM BURTON, 2005) E DOSSIÊ
RÊ BORDOSA (CÉSAR CABRAL, 2008)
Dissertação de Mestrado apresentada à Banca
Examinadora, como exigência parcial para a
obtenção do título de Mestre do Programa de
Mestrado em Comunicação, área de
concentração em Comunicação
Contemporânea da Universidade Anhembi
Morumbi, sob orientação do Prof. Dr. Marcello
Giovanni Tassara.
SÃO PAULO
2008
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FILIPI CÉSAR RODRIGUES CARDOSO DA SILVA
ANIMAÇÃO POR STOP – MOTION: UM ESTUDO COMPARATIVO
DOS FILMES A NOIVA CADÁVER (TIM BURTON, 2005) E DOSSIÊ
RÊ BORDOSA (CÉSAR CABRAL, 2008)
Dissertação de Mestrado apresentada à Banca
Examinadora, como exigência parcial para a
obtenção do título de Mestre do Programa de
Mestrado em Comunicação, área de
concentração em Comunicação
Contemporânea da Universidade Anhembi
Morumbi, sob orientação do Prof. Dr. Marcello
Giovanni Tassara.
Aprovado em ____/____/____
_______________________________________
Prof. Dr. Marcello Giovanni Tassara
_______________________________________
Prof. Dr. Antônio Luiz Cagnin
_______________________________________
Prof. Dr. Viscente Gosciolla
A meus pais, José Raimundo Costa e
Lucineide Rodrigues, responsáveis por tudo
que sou.
AGRADECIMENTO
- A Deus, por me dar saúde, força e energia para concluir esta pesquisa.
- A meu orientador Dr. Marcello Giovanni Tassara, pelo apoio e horas de
dedicação à minha pesquisa.
- Aos meus amigos e parentes que acreditaram na minha capacidade de concluir
mais esta etapa da minha vida.
- A meu grande amigo Luiz Ciocchi, que sempre me deu apoio e nunca me deixou
desistir nas horas mais difíceis desta jornada.
- A meu amigo Edson, pelo apoio, incentivo para que a elaboração do trabalho se
realizasse.
RESUMO
O trabalho apresenta uma análise comparativa entre os filmes A Noiva
Cadáver (Tim Burton 2005) e Dossiê Bordosa (César Cabral - 2008),
realizados segundo a mesma técnica de animação, ou seja, o Stop-Motion. Para
tanto, desenvolveu-se um estudo cotejando os dois filmes, levando-se em
consideração a linguagem e cnica de ambas as obras: de Tim Burton e César
Cabral. Tal estudo foi dividido em duas etapas. A primeira apresenta um
documentário que mostra o processo de construção da animação Stop-Motion
(fundamental para um melhor entendimento e análise dos filmes) e as diferenças de
suas técnicas dentro do mercado nacional e internacional. A segunda etapa do
estudo consiste numa pesquisa bibliográfica que busca situar o leitor no que se
refere ao contexto histórico da animação, apontando-lhe suas principais
características e relação entre os filmes.
Para a exposição da pesquisa, foram apresentados os making of de ambos
os filmes estudados e uma entrevista com o direto do curta-metragem Dossiê
Bordosa (César Cabral 2008). Em seguida, realizou-se uma explanação baseada
no livro Arte da Animação de Alberto Lucena Junior e outras obras referentes aos
dois filmes pesquisados.
Palavras-chave: cinema. animação. stop-motion.
ABSTRACT
This project presents a comparative analysis of the movies. A Copse Bride
(Tim Burton 2005) and Dossier Bordosa (César Cabral 2008), which were
made using the same animation technique: Stop-Motion. In this way, it was
developed a study coparing both movies, talking into consideration the technique of
Tim Burton’s and César Cabra’s works. Such study was divided in two stages: the
first presents a documentary which shows the process of construction of an
animation in Stop-Motion (fundamental for a better comprehension and analysis of
the movies) and the differences of the techniques in the brazilian and world market;
the second consists in a bibliographical research in order to inform the reader about
the historical context of the animation, showing its main features and connections
between both movies.
For the explanation of this research, it was shown the making of of both
atudied movies and an interview with the director of the short-film Dossier
Bordosa (César Cabral 2008). Afterwards, it was made an explanation base don
the book Arte da Animação, by Alberto Lucena Junior, and other works related to
both movies.
Key-words: cinema. animation. stop-motion.
SUMÁRIO
DISSERTAÇÃO
Introdução
........................................................................................... 10
Capítulo 1 - Contexto histórico e técnico do Cinema de
Animação................................................................................................
14
1. 1. Cinema de Animação – Um Gênero
Cinematográfico?............................................................. 19
1.2. Tipos de Animação................................................... 21
1.2.1. Animação Tradicional ou Desenho Animado......... 22
1.2.2. Animação Stop-Motion ou Massa Plástica.............
25
Capítulo 2 - Etapas de Construção da Animação em Stop-
motion vistas através do acompanhamento da
realização do filme de curta-metragem Rê Bordosa
(CÉSAR CABRAL, 2008).............................................. 33
2.1 Entrevista com César Cabral Diretor do Filme
Dossiê Rê Bordosa (2008).......................................................................
40
Capítulo 3 - Análise descritiva do filme A Noiva Cadáver e
sobre Tim Burton.........................................................
49
Capítulo 4 Estudo comparativo entre os filmes A Noiva
Cadáver (Tim Burton – 2005) e Dossiê Rê Bordosa (César Cabral –
2008)........................................................................................................
72
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................
90
BIBLIOGRAFIA.................................................................................
93
ANEXOS............................................................................................
95
INTRODUÇÃO
A animação é a atividade de atração visual mais intensa da atenção,
resultado de um longo processo perceptivo e de estudos das imagens, pinturas e
fotografias. Segundo Lucena (2001), A palavra “animação”, e outras a ela
relacionadas, deriva do verbo latino animare (“dar vida a”) e veio a ser utilizada
para descrever imagens em movimento no século XX “, emergindo, dessa forma,
uma nova linguagem audiovisual cinematográfica.
Muitas pessoas confundem animação, desenho animado e cinema de
animação. E, como foi colocado o conceito de animação acima, falta esclarecer as
diferenças entre desenho animado e cinema de animação.
Sabe-se que cinema é o registro e a reprodução do movimento por meio de
técnicas diversas. Com as técnicas de aplicação de animações, surge um novo
gênero de arte o cinema de animação, que trata da aplicação destas técnicas de
animação nos meios de comunicação cinematográfica. E, por fim, o desenho
animado é umas das técnicas de animação.
Essa nova linguagem de cinema de animação, cada vez mais, utiliza e
experimenta novos recursos digitais e efeitos especiais nos filmes, contribuindo,
assim, com diferentes recursos audiovisuais voltados para o cinema, que é um dos
meios de comunicação que sofreu maiores mudanças diante de tantas inovações
tecnológicas, como, por exemplo, o desenvolvimento da técnica de animação em
massa plástica ou Stop-Motion.
O objeto da pesquisa que ora apresentamos teve sua origem no momento
em que indagamos: até que ponto a produção de filmes desenvolvidos no Brasil por
meio da técnica de animação em massa plástica apresenta uma característica
tipicamente nacional? Em busca de resposta para tal questionamento, selecionamos
um curta-metragem, no caso, Dossiê Bordosa (César Cabral 2008) e
confrontamos com o filme A Noiva Cadáver (Tim Burton – 2005).
O início da animação foi difícil, pois animadores como Norman McLaren,
Alexander Alexeieff, Claire Parker, Lotte Reiniger, Oskar Fischinger, entre outros,
não possuíam recursos tecnológicos suficientes, o que dificultava a disseminação da
animação nos meios audiovisuais. Entretanto, com possibilidades e conhecimentos
tecnológicos maiores, atualmente, é possível realizar animações em maior escala e
com mais qualidade artística. Desta forma, verifica-se uma necessidade de se
pesquisar a animação em geral e suas classificações (animação tradicional, digital,
por recortes, por pinos, por silhuetas, massa plástica ou Stop-Motion, por fotografias
e congêneres).
A animação que iremos estudar e analisar neste trabalho será a técnica de
animação em Stop-Motion ou Massa Plástica. Nela, o animador trabalha
fotografando objetos, fotograma por fotograma, ou seja, quadro a quadro. Durante o
intervalo de fotografar um e outro fotograma, o animador muda um pouco a posição
dos objetos. Nesse sentido, quando o filme é projetado a 24 fotogramas por
segundo, temos a ilusão de que os objetos estão se movimentando.
Também dentro dos gêneros cinematográficos, os filmes de animação podem
classificar-se por seus enredos, como na literatura romântica, que possui várias
classificações como: o conto maravilhoso, infantil, de horror, romântico e dramático.
Trata-se de classificações de enredos que serão estudadas e aplicadas nesta
pesquisa.
Assim, justifica-se a pesquisa a ser realizada conforme um estudo
comparativo aplicado aos filmes A Noiva Cadáver (Tim Burton 2005) e Dossiê
Bordosa (César Cabral – 2008). Para tanto, realizou-se um estudo descritivo e
comparativo dos dois filmes, levando-se em consideração a técnica, linguagem e
processo de elaboração das obras.
A análise do processo de elaboração da técnica de animação aplicada aos
filmes tem o objetivo de verificar a relação entre o desenvolvimento técnico e
estético dos filmes de animação estudados nesta pesquisa. Dessa forma, mostra um
interesse de um estudo mais apurado nos filmes - A Noiva Cadáver (Tim Burton
2005) e Dossiê Bordosa (César Cabral 2008). Para isso foi realizado um
levantamento dos elementos que a configuram:
a) técnicas de animação em massa plástica;
b) personagens e cenas;
c) roteiro, narrativa e linguagem.
O fato de pesquisar dois filmes de animação audiovisual, como A Noiva
Cadáver (Tim Burton 2005) e Dossiê Bordosa (César Cabral 2008) justifica-
se pela formação de um imaginário e/ou conteúdo audiovisual que ainda não foi
estudado suficientemente, quase não havendo teses ou dissertações sobre este
tema no Brasil.
Os autores lidos, pesquisados e consultados para este trabalho
desenvolveram seus estudos, sobretudo, no campo da comunicação audiovisual
como o cinema.
Cabe ressaltar que, ao pesquisar sobre cinema de animação, pouco se
encontra sobre este assunto em bibliografias. Essa é a razão por que o principal
embasamento teórico estudado é o de Alberto Lucena, autor que, com seu livro A
Arte de Animação, oferece, entre os poucos autores que se dedicaram ao assunto,
um referencial teórico com conteúdo apreciável sobre cinema de animação.
Também levamos em consideração os estudos de Jonh Halas, Jacques
Aumont, Norman McLaren, Marcello G. Tassara, Roland Barthes, Carlos Alberto
Miranda, Charles Solomon e Robert Benayoun.
A pesquisa foi inicialmente realizada por meio de um estudo bibliográfico dos
autores que constam no referencial teórico. Em seguida, buscou-se fechar o enfoque
na técnica de animação conhecida como Stop-Motion.
O trabalho apresenta um estudo comparativo entre as técnicas de animação
em Stop-Motion ou Massa Plástica e o processo construtivo destas são analisados
nos filmes: A Noiva Cadáver (Tim Burton 2005) e Dossiê Bordosa (César
Cabral 2008). Para tanto, realizou-se um estudo descritivo e comparativo dos dois
filmes, levando-se em consideração a técnica, linguagem e relação do enredo das
obras.
Tal estudo foi dividido em duas etapas: a primeira apresenta a criação de um
making of, feito por uma empresa brasileira de animação - Coala Filmes do César
Cabral, que mostra o processo de construção da animação Stop-Motion ou massa
plástica (fundamental para um melhor entendimento e análise dos filmes). Em
seguida, foram realizadas uma análise e uma comparação com o making of do filme
A Noiva Cadáver (Tim Burton 2005), pesquisado neste trabalho, em que foi vista
a diferença de construção entre a cnica de animação no mercado nacional e o
internacional.
A segunda etapa do estudo consiste numa pesquisa bibliográfica que busca
ambientar o leitor no que se refere à relação entre a criação destes filmes em local
nacional e internacional, apontando-lhes suas principais características e relação
entre eles.
Para a pesquisa, são apresentadas cenas do documentário, imagens dos
filmes e, em seguida, uma explanação descritiva e comparativa dos filmes A Noiva
Cadáver (Tim Burton – 2005) e Dossiê Rê Bordosa (César Cabral – 2008).
CAPÍTULO I
1. CONTEXTO HISTÓRICO E TÉCNICO DO CINEMA DE ANIMAÇÃO.
A animação é a atividade de atração visual mais intensa da atenção,
resultado de um longo processo perceptivo e de estudos das imagens, pinturas e
fotografias. Segundo Lucena (2001), a palavra “animação”, e outras a ela
relacionadas, deriva do verbo latino animare (“dar vida a”) e veio a ser utilizada
para descrever imagens em movimento no século XX “, emergindo, dessa forma,
uma nova linguagem audiovisual cinematográfica.
A linguagem de cinema de animação cada vez mais se utiliza de novos
recursos digitais e efeitos especiais nos filmes. Tais recursos influenciam de
diferentes maneiras audiovisuais, sobretudo o cinema, um dos meios de
comunicação que mais sofre transformações diante de tantas invenções
tecnológicas.
Ainda segundo Lucena (Op. Cit., p. 28) ”A história da animação é
particularmente significativa na demonstração de como a relação entre técnica e
estética na produção visual da arte é indissolúvel e vital simplesmente uma não
existe sem a outra”.
A arte surgiu na Pré-História e, depois, no Egito antigo. Exemplos posteriores
são as pinturas de Leonardo Da Vinci com o seu desenho Proporções do corpo
humano, que representa um homem exibindo o dobro de seus membros. Marcel
Duchamp, com sua pintura Nu descendo uma escada é outro pintor famoso que usa
movimento em sua obra para representar várias seqüências de posições de um
personagem num único quadro.
Conforme diz Martin (2003, p. 13) “Noventa anos após a descoberta dos
irmãos Lumière, autores importantes na evolução do cinema, ninguém mais contesta
seriamente que o cinema seja uma arte”.
O cinema nasceu de várias inovações que vão desde o domínio fotográfico
até a ntese do movimento que utiliza a persistência da retina
1
, utilizada nos
primitivos brinquedos ópticos.
Sabendo das potencialidades que tem a aplicação dos brinquedos ópticos no
cinema de animação, convém também levá-las em consideração. Da construção
desses brinquedos ópticos, passando pelas histórias em quadrinhos, pelos
desenhos no papel, e primitivas técnicas de animações, chegamos aos pequenos
filmes animados.
O exame de atividades diversificadas como a construção de aparelhos
ópticos, marionetes, desenhos sobre papel, desenhos para seqüências de
movimentos, pinturas e demais objetos, permite criar uma visão de conjunto do
desenvolvimento construtivo e estético da animação. Assim, através da pesquisa
com esses objetos (brinquedos ópticos e desenhos), chega-se a uma visão mais
clara sobre o surgimento do cinema animado.
Alguns exemplos de brinquedos ópticos inventados serão colocados no
decorrer da pesquisa para melhor expressar o seu processo de desenvolvimento e
realização, destacando-se, assim, sua importância para o cinema de animação.
O taumatroscópio inventado entre 1820 e 1825 por William Fitton é um
disco com uma imagem na frente e outra no verso, e um cordel em duas
extremidades, cujo objetivo é sobrepor as imagens como se fosse uma, através
da rotação do disco. Para isso, enrolam-se os cordéis e a seguir puxam-se.
Enquanto o disco roda, as imagens fundem-se, criando a ilusão de ser apenas um
desenho, como no exemplo a seguir:
1
A natureza exata do fenômeno ótico e/ou psicológico que permite ao cérebro sintetizar o
movimento a partir dos estímulos que atingem a visão é discutida por alguns autores:”Mas o
fenômeno da persistência da retina nada tem a ver com a sintetização do movimento: ele
constitui, aliás, um obstáculo à formação das imagens animadas, pois tende a superpô-las
na retina, misturando-as entre si. O que salvou o cinema como aparato técnico foi a
existência de um intervalo negro entre a projeção de um fotograma e outro, intervalo esse
que permitia atenuar a imagem persistente que ficava retida pelos olhos. O fenômeno da
persistência da retina explica apenas uma coisa no cinema, que é o fato justamente de não
vermos esse intervalo negro. A ntese do movimento se explica por um fenômeno psíquico
(e não óptico ou fisiólogico) descoberto em 1912 por Wertheimer e ao qual ele deu o nome
de fenômeno phi: se dois estímulos são expostos aos olhos em diferentes posições, um
após o outro e com pequenos intervalos de tempo, os observadores percebem um único
estímulo que se move da posição primeira à segunda." (MACHADO, 1997 p. 20).
Taumatroscópio (1825). Academia de Artes e Ciências cinematográficas, Hollywood
O fenaquistoscópio, inventado em 1928 por Joseph-Antoine Ferdinand
Plateau, era feito de dois discos: um com seqüência de imagens pintadas em torno
do eixo, outro com espaços na mesma disposição. Estes se prendem um ao outro
por meio de uma haste, através de orifícios no meio dos discos. Quando os discos
são girados, o observador vê as imagens em movimento através dos espaços, o que
permite a interrupção requerida pelo olho para combiná-las corretamente, como
ocorre na imagem abaixo:
http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=868&sid=7
O zootroscópio, inventado em 1834 por William George Horner, conhecido
como roda viva, era um brinquedo no qual os desenhos eram feitos em tiras de
papel e montados num tambor giratório, e através dos seus espaços se observava o
movimento, seguindo o mesmo princípio de montagem dos brinquedos anteriores;
http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=866&sid=7
O flipbook foi inventado em 1968 e ficou conhecido como livro mágico em
português, construído através de imagens ou fotografias montadas em ordem de
movimento, como num livrinho de histórias em quadrinhos. Quando as páginas são
viradas rapidamente, cria-se a ilusão de movimento dos desenhos. De acordo
Alberto Lucena (2001, p. 35) “Pela sua praticidade e eficiência, ainda hoje se usa
esse recurso ao se produzirem filmes baseados em animação com desenhos os
animadores pioneiros foram categóricos em apontá-lo como o brinquedo óptico que
mais os inspirou”.
http://caligraffiti.wordpress.com/2008/03/13/flipbook-arco-iris/
O praxinoscópio foi um aparelho inventado em 1877 por Émile Reynaud, ao
qual introduziu muitos aperfeiçoamentos, por isso passaria a chamá-lo Teatro
Óptico. Mais tarde, com a aplicação da lanterna mágica ao praxinoscópio, Émile
Reynaud conseguiu projetar perfeitamente, a distância, desenhos animados ainda
mais elaborados.
As histórias contadas eram muito simples, com uma duração entre 8 e 15
minutos. Os desenhos eram "incrustados" numa forte tira de tela, para lhes dar mais
consistência e flexibilidade, com perfurações para facilitar o arrasto através de uma
série de carretos.
A fita corria no sentido horizontal no projetor, um lampascópio (variante da
lanterna gica), e era acionada manualmente a uma determinada velocidade. As
imagens eram projetadas a distância sobre uma pantalha enquadrada por décors
fixos, com boa nitidez e sem grande trepidação.
Alguns exemplos de praxinoscópio, lampascópio e teatro óptico:
http://www.spedromar.net/conteudoseducativos/cinema/cinema-ficha07.pdf
De acordo com Ceram:
Para projetar as imagens animadas sobre a tela, ele utilizava um
“lampascópio” que criava o fundo e uma lanterna mágica suplementar para
projetar as fases do movimento sobre a tela. A partir de 1892 ele pintava as
imagens sobre tiras transparentes e perfuradas de celulóide e as projetava
por trás da tela, ocultando assim, obviamente, o aparelho (CERAM, 1966; p.
207).
Esses brinquedos ópticos vieram a colaborar na descoberta e
desenvolvimento da técnica do registro do movimento e, conseqüentemente, com o
cinema de animação.
1.1. Cinema de Animação – Um Gênero Cinematográfico?
De acordo com Stam:
Em uma perspectiva de longo prazo, a história do cinema e, portanto, da
teoria do cinema, deve ser considerada à luz do crescimento do
nacionalismo, para o qual o cinema se transformou em um instrumento
estratégico de “projeção” dos imaginários nacionais. (STAM, 2003; p. 33)
A história do filme de animação começa com os primeiros momentos do
cinema mudo e continua até os dias de hoje. Conforme Alberto Lucena:
A animação, na década de 1930 a 1940 nos EUA, passava por uma grande
popularização. Eram os anos de ouro dos estúdios Disney, que
influenciavam o uso de animação na televisão e a introdução de inúmeras
técnicas experimentais que resultaram em filmes marcantes. No entanto,
este novo recurso visual era refém de seu extenuante processo de
realização, que limitava esta arte tanto em termos quantitativos quanto em
termos de possibilidades estéticas. (LUCENA, 2001; p. 28)
Em 2001, Alberto Lucena Junior lançou o livro Arte da Animação, volume em
que o autor discorre sobre o histórico do cinema de animação, enriquecendo, assim,
a pouca bibliografia existente no Brasil sobre este tema.
O cinema de animação é hoje uma enorme indústria que engloba filmes,
séries para TV, conteúdo para sites, aparelhos de telefone móvel e demais meios de
comunicação audiovisuais. Questiona-se o posicionamento mercadológico do
cinema de animação no cinema contemporâneo; se este poderia ser classificado
como gênero ou não.
É possível observar um crescimento considerável de filmes animados no
mercado cinematográfico. Alguns exemplos de filmes de animação são: Branca de
Neve e os Sete Anões (1937 – Walt Disney), Bambi (1942 – David Hand), A Bela e a
Fera (1991 Gary Trousdale), Aladdin (1992 Ron Clements), O Rei Leão (1994
Roger Allers), Toy Story (1995 John Lasseter), A Fuga das Galinhas (2000 – Peter
Lord), A Viagem de Chihiro (2001 Hayao Miyazaki), Shrek (2001 Andrew
Adamson), A Era do Gelo (2002 Chris Wedge), Procurando Nemo (2003 – Andrew
Stanton), O Estranho Mundo de Jack (2003 - Tim Burton), Os Incríveis (2004 Brad
Bird), A Noiva Cadáver (2005 – Tim Burton), Wallace e Gromit: A Batalha dos
Vegetais (2005 Nick Park), Pérsepolis (2007 Vicent Paronnaud), Os Simpsons
O Filme (2007 – David Silverman).
Estes são alguns dos vários filmes de animação mais importantes. Por esta
quantidade crescente de filmes nas salas de exibição, locadoras, produtoras e em
formato de Dvds, levanta-se a questão do papel e da posição destes filmes
animados no mercado cinematográfico, ou seja, indaga-se se estes o possuem
quantidade e qualidade técnica suficiente para serem classificados como um
possível gênero cinematográfico.
É notório que, a cada ano que passa, cresce o número de projetos
cinematográficos realizados segundo técnicas de animação. Tal gênero tem-se
consubstanciado nas últimas edições de grandes eventos de animação como, por
exemplo, o Anima Mundi, considerado um dos maiores festivais de filmes animados
do mundo.
Cada vez mais se discute o impacto que a evolução das técnicas de
animação revela no panorama do cinema e qual o futuro a que esse gênero pode
aspirar. Mas o que será que gera esse interesse sempre crescente pelo cinema de
animação? Seria o sucesso mundial que esses filmes conseguem alcançar, cada
vez com mais facilidade? Ou, talvez, as novas tecnologias que, por sua vez, abrem
novas possibilidades e dão novo fôlego a um gênero que, pouco mais de uma
década, era dado como de segunda classe? De fato, a animação foi um tipo de
cinema limitado a poucas produções e visto, sobretudo, como um cinema menor,
para um público de menores.
Com o aparecimento das técnicas de animação computadorizada, a
animação sofreu a revitalização de que necessitava. A partir d, o prestígio do
gênero cresceu sensivelmente. Difundiu-se um tipo de animação dirigido para um
público mais adulto e maduro. Assim, torna-se necessário ver o cinema de animação
com um olhar mais apurado e considerá-lo como um possível gênero
cinematográfico.
1.2. Tipos de Animação
Os termos animação e animar originaram-se da idéia de dar alma ou vida a
alguma coisa. Embora aceitos universalmente, os mesmos contêm uma imprecisão
implícita, pois nem tudo que tem vida se move (como a maioria dos vegetais) e nem
tudo que se move tem vida própria (como os planetas e corpos sólidos em queda
livre). Desde já, cabe apontar a diferença entre três conceitos, muitas vezes usados
impropriamente como sinônimos: animação (arte de animar objetos e figuras
estáticas, ou seja, desprovidas de movimento próprio); cinema de animação (a
tecnologia cinematográfica empregada como suporte para a animação) e desenho
animado (apenas uma, embora a mais conhecida, entre as inúmeras técnicas do
cinema de animação).
A animação também apresenta subdivisões que são capazes de estabelecer
métodos, conceitos, sistemas, formas e linguagem dentro desta nova tecnologia,
despertando para o mundo uma possibilidade de execução de um produto com uma
riqueza técnica, estética e animada nos filmes.
Os filmes em geral podem ser classificados em gêneros ou categorias, como,
por exemplo, o cinema de animação. E dentro desses gêneros ou categorias, a
animação pode ser classificada em subtipos ou subgrupos, como: animação por
recortes, animação tradicional - desenhos animados, animação digital - computação
gráfica, tinta sobre o papel, massa plástica (Stop-Motion), objetos e/ou bonecos,
tinta sobre vidro, sombras, substituição e deslocamento (quadro a quadro), por areia,
fotografias e tantos outros, ao sabor da imaginação dos animadores.
1.2.1. Animação Tradicional ou Desenho Animado
A animação tradicional, por vezes também chamada de animação por célula
ou animação desenhada a mão, é a mais velha e historicamente a mais popular
forma de animação. Nesta técnica de animação, cada quadro é desenhado a mão,
sendo que, para a realização de um desenho animado, é necessário preparar 24
fotogramas (ou frames, segundo a terminologia mais atual).
Nas palavras de Lucerna (2001:41):
Caberá a um artista plástico inglês, o ilustrador James Stuart Blackton (que
migrou para os Estados Unidos aos 10 anos), a glória de ter realizado o
primeiro desenho animado, Humorous Phases of Funny Faces, em 1906.
Antes, porém, esse mesmo artista (da mesma forma que outros, como
Walter Booth, Segundo de Chomón, Edwin Porter, Anatole Thiberville, Emile
Cohl) teve de aperfeiçoar a técnica da substituição por parada de ação
2
.
O desenho animado surge posteriormente ao nascimento das histórias em
quadrinhos, e, conseqüentemente, depois do cinema. Vários são os desenhos
animados que têm correspondência com as HQ
3
como, por exemplo, os desenhos
2
Aqui, o termo parada de ação deve ser entendida como o que exporemos mais adiante
como animação por deslocamento.
3
HQ é uma sigla que representa histórias em quadrinhos e se trata de uma forma de arte
que conjuga texto e imagens, com o objetivo de narrar histórias dos mais variados gêneros e
estilos. São, em geral, publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras publicadas em
revistas e jornais. São conhecidos como comics nos Estados Unidos, bande dessinée na
da Walt Disney: Gato Félix, Mickey, Tom e Jerry, Pernalonga, Pica-Pau, Coméia,
Os Flinstons, entre outros.
De acordo com Didier (1994), “Os vínculos entre HQ e DA
4
são até mais
antigos, que alguns célebres desenhistas (Mc Cay, Cohl, Rabier) haviam
trabalhado em desenho animado e numerosos autores de HQ atuais vêm dos meios
de animação”.
As histórias em quadrinhos, os desenhos animados e os filmes de animação
em geral são realizados segundo processos semelhantes, como é o caso dos
desenhos no papel que são utilizados nas HQ e nos DA. Corrobora o exposto Didier
ao afirmar:
Todos os nossos heróis mais célebres viram sua silhueta se agitar em
desenhos animados: Tintin com O lago dos tubarões (1972), Astérix com
Astérix, o Gaulês (1966), Asterix e Cleópatra (1967) e Os Doze trabalhos de
Asterix (1976); Lucky Luke (em 1971 e 1978); Os Smurfs, em episódios
para televisão... Assim como o cinema atrai os cenógrafos de HQ, o
desenho animado recruta desenhistas que vêem a possibilidade de animar
“de fato” suas personagens ou novos universos. ( DIDIER, 1994; p. 36).
Em animação utilizam-se, basicamente, duas maneiras de trabalhar, a saber:
a técnica de animação, por deslocamento e animação por substituição.
No primeiro desses dois métodos, a animação por deslocamento, um objeto
qualquer (um recorte de cartolina, um boneco de massa plástica ou mesmo um
punhado de tinta) é deslocado quadro a quadro, seguindo uma trajetória bem
determinada ou outro critério qualquer, definido pelo animador. O outro método é a
animação por substituição, no qual as fases sucessivas do movimento (desenhos
em papel ou celulóide) são preparadas a priori na prancheta do animador e
substituídas, uma por uma, diante das lentes da câmera quadro a quadro. O
desenho animado, cuja realização se fundamenta na confecção de desenhos
traçados e pintados em folhas transparentes, consiste em uma técnica tipicamente
França, fumetti na Itália, tebeos na Espanha, historietas na Argentina, muñequitos em Cuba,
mangá no Japão.
4
DA é o mesmo que desenho animado e cada desenho animado é a forma tradicional, ou
seja, cada quadro é desenhado à mão.
de substituição. Isso permite a conservação, eventual reutilização dos desenhos e a
reprodutibilidade das operações de filmagem.
A seguir alguns exemplos de produção desta técnica de desenhos animados.
Gertie, a Trained Dinosaur,
desenhado por Winsor McCay em 1909. A lenda diz que foi resultado de uma uma brincadeira
numa festa onde Winsor disse que faria um dinossauro andar.
A dança dos esqueletos foi
realizado em 1929 nos estúdios da Disney - http://www.marel.pro.br/animad1.htm
http://blog.ericksouza.com/roteiro-storyboard-e-personagens/
Esses desenhos são exemplos de algumas possibilidades oferecidas pela
técnica de desenho animado realizada através do desenho no papel.
1.2.2 Animação Stop-Motion ou Massa Plástica
A animação por Stop-Motion é uma técnica inventada nos primórdios da
história do cinema e utilizada pela primeira vez no clássico “The Humpty Dumpty
Circus”, de Albert E. Smith, realizado em 1898, em que um circo de bonecos
ganhava vida diante da tela. A técnica de animação Stop-Motion faz com que o
animador trabalhe fotografando objetos, fotograma por fotograma, ou seja, quadro a
quadro. Entre um fotograma e outro, o animador muda um pouco a posição dos
objetos. Assim, quando o filme é projetado a 24 fotogramas por segundo, temos a
ilusão de que os objetos estão se movimentando. Esta é, portanto, uma típica
técnica de animação por deslocamento.
Essa ilusão de movimento se devido à persistência da retina, pois quando
a retina dos olhos está excitada pela luz, ela envia impulsos para o cérebro que, por
sua vez, os interpreta como imagem. A partir dessa ilusão, foram criadas diversas
técnicas para se fazer um filme de animação. Deve ser notado que este princípio
aplica-se também ao cinema de ação ao vivo.
A animação Stop-Motion é possibilita dar vida a variados objetos, como
recortes, bonecos, massa plástica, arames e mesmo atores vivos. Observem-se
alguns exemplos de animação em massa plástica - Stop-Motion:
Filme: “A Noiva Cadáver – 2005” - Diretor: Tim Burton;
Na animação por recortes, os personagens ou bonecos são criados,
desenhados, recortados e montados para que se possa movimentá-los.
Essa técnica não permite reproduzir os movimentos com perfeita
verossimilhança, por isso, na maioria das vezes, é necessária a utilização de
recursos de estilização do movimento.
Uma das características da animação por recortes é a dos movimentos
rápidos, com grandes pausas. Isso acontece porque os personagens são
desenhados em papel, em película, pintados e recortados, em uma quantidade
menor do que a necessária para se deixar os movimentos com a aparência real.
Para que a animação tenha movimentos verossimilhantes, é necessário criar 24
desenhos ou fases distintas para um único segundo de movimento.
Na filmagem de uma animação de recortes, utiliza-se uma mesa especial,
chamada truca
5
, para que o material seja fotografado quadro a quadro,
minuciosamente. Toda a animação será construída ali, diretamente na mesa, com o
auxílio de diversos dispositivos, os quais podem ser utilizados para separar as
5
Em inglês, este dispositivo recebe o nome de animation stand.
diversas camadas da animação, assim como os personagens, o cenário e os
recortes.
na animação em massa plástica ou Stop-Motion, ou seja, com bonecos e
arames - objetos dotados de volume - os mesmos são dispostos em estúdio e
envolvidos por cenários construídos na mesma escala. A disposição da câmera e
das luzes segue princípios semelhantes à que é empregada em filmes de ação ao
vivo, como, por exemplo, os filmes de animação com massa plástica: “A Noiva
Cadáver (2005 - Tim Burton) e no curta-metragem Dossiê Rê Bordosa (2008 - Cesar
Cabral)”. No segundo capítulo desta pesquisa, ficarão mais claras todas as etapas
de desenvolvimento e execução de filmes segundo esta técnica de animação.
As imagens a seguir ilustram esses processos de animação por bonecos.
Filme: “A Noiva Cadáver – 2005” - Diretor: Tim Burton;
Im
imagem da Rê Bordosa – http://www.dossierebordosa.com.br/
1.2.3 Animação Digital
A animação digital, também conhecida como animação por computação
gráfica, é entendida hoje como uma das principais e a mais moderna técnica de
animação. Trata-se da construção de imagens em movimento por meio de
computadores, segundo suas diferentes modalidades: 2D e 3D
6
. Esta última (3D)
poderá futuramente vir a ser a sucessora digital da animação por Stop-Motion,
ameaçando a animação em massa plástica tradicional, que a animação por
computador torna a construção dos movimentos mais prática, econômica e com
possibilidade de maior verossimilhança.
A técnica da computação gráfica envolve várias etapas nas quais as
ferramentas de trabalho deixam de ser o papel, o pis e a tinta. Como nas outras
técnicas, sucessivas imagens são criadas, finalizadas e transferidas para um filme.
Até se chegar à etapa de transferência para um filme, passa-se pela modelagem (o
processo de construção dos personagens), cenário e objeto, no computador.
Passada a etapa de modelagem, vêm a etapa de rendering
7
e a animação.
O processo de modelagem desenvolve-se de várias formas, sendo o principal
recurso a utilizar o de polígonos (na maioria, triângulos e retângulos). Através da
reunião desses polígonos, montam-se espécies de grades, que serão a base
estrutural do personagem, cenário ou objeto essencial para o desenvolvimento da
narrativa.
6
2D ou duas dimensões e 3D ou dimensões. O 2D apresenta-se como um sucessor do
desenho animado convencional.
7
Rendering ou termo "renderizar" (do inglês to render) vem sendo usado na computação
gráfica, significando converter uma série de símbolos gráficos num arquivo visual, ou seja,
"fixar" as imagens num vídeo, convertendo-as de um tipo de arquivo para outro, ou ainda
"traduzir" de uma linguagem para outra.
Processo de
modelagem tridimensional, várias etapas são necessárias para geração da cena.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Modelagem_tridimensional
Após a modelagem, a superfície do personagem é virtualmente revestida com
o material adequado, durante a etapa de rendering. Nesta etapa, os programas
podem simular diversos materiais e aplicar-lhes as texturas necessárias, como se
pode observar nos exemplos a seguir:
Renderização de
uma cena tridimensional -
http://pt.wikipedia.org/wiki/Modelagem_tridimensional
Imagem renderizada de uma edificacão, obtida de uma modelagem tridimensional -
http://pt.wikipedia.org/wiki/Modelagem_tridimensional.
O processo de rendering corresponde à composição de uma imagem, o que
inclui a iluminação, as sombras, as texturas etc. O rendering pode ser entendido
como o processo digital que, por meios de programas, cria uma imagem, tornando-
se, assim, o recurso que transforma os tantos pixeis
8
em uma imagem completa.
Em seguida, é feita a animação propriamente dita. O computador torna o
processo de animação mais fácil e rápido, pois, em muitos casos, o animador
posiciona o personagem nos pontos-chave do movimento, e o programa cria as
posições intermediárias. Assim, o animador beneficia-se dos programas de
8
Pixeis são de
elementos de imagem, sendo pix a abreviatura em inglês para Picture. É o menor
elemento num dispositivo de exibição (como por exemplo um monitor), ao qual é possivel atribuir-se
uma cor. De uma forma mais simples, um pixel é o menor ponto que forma uma imagem digital,
sendo que o conjunto de milhares de pixels formam a imagem inteira.
animação em computação gráfica e de seus recursos avançados para realização de
uma boa animação ou aplicação de movimento.
Uma das próximas evoluções esperadas da animação digital é da produção
em alta qualidade de resolução dos movimentos, o que possibilita o
desenvolvimento do movimento sintético o mais próximo possível da realidade dos
movimentos reais dos humanos.
Segue na imagem abaixo o exemplo do filme Shrek dos diretores Andrew
Adamson e Vicky Jenson, um filme criado em computação gráfica.
CAPÍTULO II
2. ETAPAS DE CONSTRUÇÃO DA ANIMAÇÃO EM STOP-MOTION VISTAS
ATRAVÉS DO ACOMPANHAMENTO DA REALIZAÇÃO DO FILME DE CURTA-
METRAGEM DOSSIÊ RÊ BORDOSA (CÉSAR CABRAL, 2008).
A característica marcante das técnicas de animação conhecidas como
animação por Stop-Motion
9
consiste em sua natureza espacial, ou seja, os objetos a
serem animados são dotados de volume, contrariamente ao que acontece com o
desenho animado e outras técnicas de animação plana. De maneira semelhante a
estas, a animação em Stop-Motion pode ser desenvolvida segundo algumas
técnicas diferenciadas de manipulação, que vão desde o simples deslocamento
quadro a quadro de pequenos objetos inanimados em que adquire extrema
importância a memória muscular
10
- até a animação praticada com atores vivos
(conhecida como pixilation
11
). No primeiro caso, muitos exemplos podem ser
encontrados em antigos filmes publicitários, nos quais produtos aparentemente se
moviam ou embalagens se abriam revelando seus conteúdos
12
. No caso de
9
Modalidade de animação que utiliza modelos feitos com diversos materiais. Dentre esses
materiais, os mais comuns são as massas de modelar, especificamente a massa plástica,
que ajuda a sugerir a idéia do movimento obtido quadro-a-quadro, isto é, a ilusão de
movimento dada por uma sequência ordenada de imagens estáticas.
10
Conceito definido por Norman McLaren e que afirma que o cérebro, através dos músculos
da mão, consegue reter a memória da quantidade de esforço realizado pelo animador ao
deslocar um objeto, entre um fotograma e outro. Desta forma, o animador consegue
controlar a velocidade aparente do mesmo.
11
É uma técnica de animação stop motion na qual atores vivos ou objetos reais são
utilizados, captados quadro a quadro (como fotos), criando uma sequência de animação.
Esta pode ser considerada uma das mais antigas técnicas de animação, utilizada pela
primeira vez em 1911 no filme Jobard ne peut pas voir les femmes travailler pelo francês
Émile Cohl.
12
Em um exemplo memorável da década de 20, o alemão Oskar Fischinger realizou um
pequeno filme publicitário deste tipo, em que um exército de cigarros saem da embalagem.
animação com atores, são clássicos estes dois exemplos de filmes animados de
curta-metragem: The Neighbours (1952) e A Chairy Tale (1957), ambos do escocês
Norman McLaren, um dos fundadores do National Film Board do Canadá.
Entretanto, as técnicas mais conhecidas utilizadas nesse tipo de animação
realizam-se com fantoches, bonecos flexíveis, com massa plástica ou plastilina. Esta
técnica é conhecida como claymation
13
. São exemplos de filmes realizados desta
forma: Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais (Steve Box e Nick Park, 2005) e
Chicken Run (Peter Lord, Nick Park, 2000).
A animação em Stop-Motion requer conhecimentos técnicos construtivos e
específicos. Assim sendo, no presente capítulo, será mostrada a realização - em
todas as suas diversas etapas de um filme de animação com massa plástica e os
materiais envolvidos na correspondente filmagem. Trata-se da descrição de um
curta-metragem produzido pela empresa produtora Coala Filmes, pertencente ao
animador César Cabral e especializada nesse gênero cinematográfico.
César Cabral estudou cinema na Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo ECA USP, tendo-se especializado em animação.
Atualmente possui sua própria produtora de animação - a Coala Filmes - e realiza
filmes de publicidade e curtas-metragem.
A Coala Filmes é uma empresa cinematográfica especializada em animação
por Stop-Motion e atua na área de produção audiovisual nos seguintes segmentos:
criação, mock-ups
14
, animação, produção para TV e Cinema. A empresa realizou
vários trabalhos de comerciais, cinema, TV e cenotécnica como: a campanha do
comercial da boneca SUSI Estrela S/A, a confecção de cenários e bonecos para
um comercial de consórcio do Itaú, confecção de cenários e bonecos para
campanha LUFTAL e mais a produção de SHLUPH – curta-metragem com os
personagens Palhaços Mudos de autoria do cartunista Laerte. A sua localização é
na avenida Atlântica, 982 Santo André São Paulo. A empresa possui
equipamentos e emprega profissionais capacitados para realização de animação em
Stop-Motion.
13
Claymation é uma técnica de animação (stop motion) baseada em modelos de barro ou
material flexível similar.
14
Trata-se de uma maquete em escala do objeto a ser filmado.
O último trabalho da Coala Filmes é um curta-metragem que fala de uma
personagem conhecida como Bordosa, criada pelo cartunista Angeli, na década
de 80, no qual ele conta a vida e loucuras cometidas por essa personagem das
histórias em quadrinhos. A idéia desse curta é contar a história através de animação
em massa plástica e conseguir transmitir o máximo de qualidade técnica e visual
para uma história em quadrinhos transformada em filme. Os personagens dublam na
tela os próprios autores da história do filme, que é baseada e desenvolvida através
de entrevistas e depoimentos dos envolvidos com a criação do curta Dossiê Rê
Bordosa (César Cabral 2008).
Algumas imagens dos personagens e cenários do curta-metragem do Dossiê
Rê Bordosa Coala Filmes:
QuickTime™ and a
TIFF (Uncompressed) decompressor
are needed to see this picture.
Imagem da Rê Bordodsa – http://www.dossierebordosa.com.br
QuickTime™ and a
TIFF (Uncompressed) decompressor
are needed to see this picture.
Imagem do Bob Cuspe – http://www.dossierebordosa.com.br
Imagem do Angeli – http://www.dossierebordosa.com.br
Nessa etapa da pesquisa, focamos o desenvolvimento da animação desse
curta-metragem e o papel que cada profissional exerce no processo de elaboração.
Conforme foi colocado em entrevista realizada com o animador César Cabral,
ao iniciar-se um processo de realização, é necessário ter uma idéia do que se
pretende produzir. Em seguida, essa idéia é colocada no papel através de
rascunhos ou roteiro inicialmente em forma de um estudo de linguagem a ser
executada nesse material pelos profissionais da área.
Realizado o roteiro, surgem a preocupação com a linguagem e a técnica
usada na produção da história a ser contada. Neste caso, trata-se do curta-
metragem do Dossiê Bordosa. A etapa seguinte de execução, após a criação do
roteiro, é a maneira como serão realizadas as filmagens e serão utilizados efeitos
visuais para acrescentar ao material produzido, como é o caso deste curta realizado
com a técnica de animação em Stop-Motion e produzido pela empresa de animação
de César.
Decidido o roteiro e planejado a filmagem, vem a próxima etapa da realização
do filme: a captura das imagens e os depoimentos sobre a vida dos personagens
envolvidos na história em quadrinhos.
Terminado o processo de captura das imagens e depoimentos, é necessário
transformar esta história em uma animação. O processo é desenvolvido da seguinte
forma: a animação em massa plástica - stop-motion é realizada através da
construção dos personagens e cenários. Vale salientar, contudo, que a elaboração
dos personagens requer um tipo de massa plástica correta, que nesse caso é a
massa epóxi, por ser uma massa fabricada para preencher pequenas falhas e
espaços, muito usada na prática do modelismo e que facilita a modelagem dos
personagens e cenários.
O cuidado com os tamanhos e com as características dos bonecos a serem
criados é outra preocupação que deve ser observada em relação aos personagens,
figurantes e cenário de animação.
O processo de construção dos bonecos requer muita habilidade e geralmente
estes o constituídos de arame, alumínio e massa epóxi. Assim, no
desenvolvimento do esqueleto do boneco, é necessária a utilização dos
instrumentos citados acima. Em seguida, é preciso modelar cada parte do boneco,
como os braços, pernas e cabeça.
Os bonecos e cenários são construídos por meio de moldes de gesso, a
saber: uma forminha que permite retirar dela uma pele de látex que é oca como se
fosse uma luva. Esta pele é inserida no esqueleto do boneco, às vezes sendo
necessária a introdução de silicone ou outro material para dar uma melhor
consistência ao boneco, permitindo, assim, uma aparência de personagens ou
bonecos antropomórficos.
Em seguida, vem o procedimento que se refere ao acabamento dos bonecos
e que recebem um banho de látex, deixando-os secarem depois. Quando se
observa a existência de alguma imperfeição com os bonecos, estes são refeitos. Se
houver necessidade, uma nova mão de pintura é aplicada para que os bonecos
fiquem lisos. Feito isso, finaliza-se esta etapa de construção dos bonecos com os
últimos retoques.
Terminado o processo de construção dos personagens, vêm as etapas de
realização do prélight
15
.
O processo de elaboração dos cenários é praticamente o mesmo de
elaboração dos bonecos, pois existe uma preocupação com as formas, medidas e
escalas. Esta preocupação estende-se aos objetos, suas localizações, iluminação,
melhor ângulo da câmera, posição correta dos personagens em cena, construção de
paredes e melhor forma de aplicação destes.
Uma vez finalizados o prélight, a construção dos personagens e a montagem
do ambiente a ser filmado - inclusive o posicionamento dos bonecos nos cenários -
pode-se dar início ao processo mais importante, que é o de animar.
Este processo é realizado com duas câmeras fotográficas e um bom
programa de animação instalado no computador. Neste caso, o programa utilizado é
15
Prélight é uma pré-montagem do cenário, ou seja, desenha-se no papel todo o
cenário, e em seguida, monta-se o mesmo como uma forma de teste, que tem o objetivo de
visualizar o resultado final.
o Stop Motion Pro
16
, que captura as imagens e em seguida movimento tanto às
imagens filmadas com pessoas reais como às imagens que estão sendo capturadas
através da fotografia dos bonecos, o que simula a realidade dos movimentos das
pessoas reais.
A próxima etapa da realização é a parte do áudio, no caso, do curta Dossiê
Bordosa, filme produzido por meio de depoimentos e entrevistas, razão pela qual
houve a necessidade de muitos diálogos por parte dos bonecos. Esse procedimento
implica a gravação das vozes em estúdio ou durante as próprias entrevistas.
Em seguida, o áudio é exportado para um programa chamado Lip Sync
17
, que
é conhecido como sincronismo labial. Ao colocar o áudio no filme, são criadas bocas
dos bonecos com alguns dos fonemas, como o /a/, /o/, /p/, /e/.
As vozes colocadas nos personagens do curta Dossiê Rê Bordosa são as dos
próprios entrevistados ou personagens reais desta história, o que garante mais
realismo à narrativa do filme. Ademais, de acordo com a fala do personagem real,
procura-se dar uma sensação de que o personagem em boneco possui as mesmas
expressões labiais.
O animador precisa saber qual a forma e tempo correto de se animar para
que a reprodução dos movimentos transmita uma sensação de realidade. Para
tanto, é necessário animar ou mover 24 frames para um segundo de movimento. No
caso da animação que foi aplicada ao curta do Dossiê Rê Bordosa - foram aplicados
12 posições para cada segundo de filme, cada uma filmada duas vezes para se
obter um segundo de animação. Esse modo de dar movimento a uma animação
reduz pela metade o tempo de trabalho, entretanto perde-se qualidade na
reprodução dos movimentos.
16
Stop Motion Pro: trata-se de um programa que permite reproduzir as imagens
filmadas de personagens reais nas imagens dos bonecos de animação. Dessa forma,
reproduzindo gestos e ações iguais entre os personagens reais e os personagens sintéticos.
17
Lip Sync é um programa que reproduz gestos labiais idênticos aos da fala dos
personagens. É um sincronismo labial dos personagens baseado em atores ou outros
personagens.
Dessa forma, o animador vai construindo cada fase do movimento do
personagem e muda a cada fotograma a posição e captura aquela posição na qual
ficou o boneco ou objeto que ele está animando. E, ao projetar a cena filmada, à
velocidade de 24 fotogramas por segundo, pode-se observar o movimento que é
dado a eles. Realizadas todas essas etapas de captação das imagens em
movimento, dá-se início às próximas fases do processo de construção e finalização.
O arte-finalista é um profissional importante para finalizar uma animação, pois
é ele que vai consertar todos os erros de modelagem dos bonecos e cenários. Este
profissional conserta as traquitanas
18
, que são os acessórios necessários para
locomoção dos bonecos na cena, e corrige as linhas das bocas dos bonecos e as
sombras, que o plano que foi filmado é passado para o arte-finalista em estado
bruto. Como foi colocado pelo profissional Giulianoarte-finalista da Coala Filmes –
o arte-finalista meio que “maqueia” as falhas dos bonecos e cenários. Em seguida,
são dados os efeitos de iluminação e efeitos especiais necessários para cada
cenário, bonecos e cenas.
Esta é uma visão geral do trabalho desenvolvido na elaboração de um filme
de curta-metragem segundo as técnicas de animação em Stop-Motion. Como vimos,
aqui foi acompanhado o processo de elaboração e filmagem do Dossiê Bordosa,
dirigido pelo animador César Cabral, da Coala Filmes.
A seguir apresentaremos uma entrevista do diretor do curta Dossiê
Bordosa (César Cabral – 2008), em que ele fala um pouco de sua experiência
profissional como animador, de sua experiência com as técnicas de animação Stop-
Motion e sobre as vantagens e desvantagens da utilização deste recurso.
2.1. ENTREVISTA COM CÉSAR CABRAL DIRETOR DO FILME DOSSIÊ
BORDOSA (2008).
César Cabral é formado em Cinema pela Escola de Comunicações e Artes
(ECA) da USP e sócio da Coala Filmes. Apresentou a palestra Animação e as Novas
Técnicas durante a II Semana de Design Digital, na noite do dia 09 de maio. Seu
18
Na linguagem profissional, este termo significa um instrumento qualquer que auxilia o
animador em seu trabalho.
vasto currículo inclui a direção e a animação de vários filmes publicitários com a
utilização da técnica Stop-Motion entre bancos, brinquedos, remédios e outros.
Segue-se a entrevista que ele nos concedeu após a palestra.
2.1.1. Vamos começar nossa entrevista pedindo que você fale um pouco sobre
sua formação, sua trajetória profissional, como entrou nessa área de
animação.
César Cabral: Eu fiz o curso de Cinema na ECA. Quando entramos em uma
faculdade, não sabemos muito bem o caminho que iremos tomar, e durante o curso,
a partir do terceiro ano, tínhamos que escolher uma área: edição de som, edição de
vídeo, montagem, roteiro e animação. Eu acabei optando por animação, pois foi uma
coisa da qual sempre gostei, tinha muita ligação com desenho à mão livre, que era
uma coisa que eu gostava muito de fazer quando era moleque.
Meu trabalho na faculdade foi a realização de um curta de animação de massinha
com bonecos, em Stop-Motion, acho que por causa de algumas influências que tive.
Eu tinha começado a freqüentar festivais de animação e foram exibidos na ECA dois
curtas que considero bem significativos da época, “A Garota das Telas” e
“Frankenstein Punk”, que foram os dois primeiros filmes do Cao Hamburguer, que
acabou dirigindo o “Castelo Rá-tim-bum” e hoje é diretor de cinema de ficção.
Eu também conheci um modelista, que é quem faz os bonecos de massinha, e o
chamei para trabalhar neste curta, ele modelando e eu fazendo a direção e
animação. Depois acabamos montando uma empresa em sociedade.
A animação não tem um mercado muito grande, stop motion tem um mercado
pequeno, mas foi a forma como descobri o que estava a fim de fazer.
2.1.2. Quando você começou a trabalhar nessa área, partiu para o segmento de
propaganda ou ficou produzindo alguns curtas, para conseguir ter um nome
no mundo da animação e, só depois, entrar no mercado publicitário?
César Cabral: Depois da faculdade eu comecei a trabalhar como assistente de
animação, que é alguém que ajuda o animador com fichas de action do
personagem, marcando todos os movimentos que devem ser feitos no boneco, e fui
assistente do Fernando Coster, que, por sinal, foi assistente do Cao Hamburguer, e,
com isso, ele acabou me levando para outros trabalhos ligados à publicidade e
outros meios. Fui, assim, assistente de animação na vinheta de abertura do
“Caldeirão do Huck”, depois em alguns comerciais... E isso acabou me introduzindo
ao mercado,.Chegou uma hora em que comecei a animar também!
A nossa empresa acabou tendo uma coisa boa, que foi o fato de fazermos não a
animação, mas também os bonecos e cenários. A nossa vantagem foi que eu e meu
sócio assumimos papéis diferentes na empresa: ele, muito mais voltado para esta
área técnica de montar os bonecos e cenários; e eu, trabalhando com a direção e
animando. Isso possibilitou que nossa empresa fizesse mais do que animação.
Fazemos também cenários, bonecos e mocap, que é a modelagem da embalagem
ou do produto, em massinha, para filmagem.
2.1.3. Você poderia falar um pouco sobre o processo de produção de uma
animação?
César Cabral: A primeira etapa, independente de ser uma animação, mas pensando
em uma realização audiovisual, seja um curta ou longa-metragem ou uma série de
TV, parte de você ter uma boa idéia, e a boa idéia é algo que qualquer pessoa pode
ter. A partir daí você desenvolve o roteiro e começa a analisar as dificuldades de
realização, que é uma coisa muito importante em animação. A animação de
bonecos, por exemplo, não pode ter um roteiro que use fogo, pois não para fazer
fogo em Stop-Motion. você pode afazer, mas somente se usar outros recursos,
como misturar com 3D ou com desenho em papel. É importante ter a noção desta
complexidade e também não ter projetos muito ambiciosos, daqueles em que o curta
terá 20 cenários e 50 bonecos em cena, pois a chance de você não conseguir
realizar isso é muito grande. No fundo, é ter um bom conhecimento desta construção
de projeto.
O passo seguinte é montar a equipe: você chama uma pessoa da área de fotografia,
outra da área de montagem, alguém que faça a animação, outra que faça a
modelagem, cenário.
O grande papel de um diretor é administrar a equipe, pois um filme, animação ou
não, é o resultado de um trabalho conjunto de pessoas com diferentes aptidões.
2.1.4. Uma curiosidade que muitos têm quanto ao Stop-Motion é sobre como
exatamente é filmado... Qual tipo de equipamento é utilizado? Como é essa
filmagem quadro a quadro?
César Cabral: Primeiro é preciso entender que no cinema não se tem uma imagem
contínua. O que se tem é uma série de fotografias que são exibidas em seqüência
de 24 fotos por segundo, porque, na retina humana, a imagem tem um tempo de
permanência, ela não desaparece instantaneamente, ela demora 1/18 segundos.
Então, quando você uma seqüência de imagens mais rápida do que isso, você
tem a sensação de movimento, pois quando a segunda imagem chega à retina, a
primeira ainda não se apagou, e assim por diante. Se fizéssemos um filme a cinco
quadros por segundo, nós o veríamos todo quebrado.
Em termos de equipamento, antes tínhamos a câmera de cinema, que ainda é
utilizada, que é uma mera na qual você vai fotografando frame a frame. A
diferença é que a câmera de cinema faz 24 fotografias por segundo. Em Stop-Motion
é diferente. Você usa uma câmera de cinema especial em que você aperta um botão
e ela tira uma foto como se fosse uma máquina fotográfica comum. Hoje usamos
uma câmera digital que não apresenta diferenças de funcionamento com relação às
antigas, além do fato de usarmos um computador e os softwares apropriados para
montar o vídeo. Não usamos mais uma película.
2.1.5. Em uma animação em deo você também trabalha com 24 quadros por
segundo ou é diferente do cinema?
César Cabral: Em animação, em geral se trabalha com 15 quadros por segundo. É
diferente do cinema. Somente se a animação for muito complexa e exigir
movimentos muito perfeitos, você trabalha com 30 quadros por segundo, que é o
dobro do trabalho.
2.1.6. Considerando os vários estilos de animação como o Stop-Motion, e o
advento da animação 3D, fica parecendo que não existe mais nada para ser
inventado. Você acha que ainda existe espaço para inovação em termos
técnicos ou de linguagem na animação?
César Cabral: Em termos de técnica eu penso que ainda existe este espaço,
principalmente quando falamos em animação 3D, pois se trata de algo muito recente
e que ainda não amadureceu. A cada filme que você vê, as melhorias o
claramente perceptíveis de um para outro. Por exemplo, Toy Story e Toy Story 2
apesar de o primeiro ser bem melhor como história, a diferença técnica entre os dois
é muito grande. Outro exemplo é o do filme Final Fantasy, que foi apresentado como
uma super revolução técnica, mas foi um fracasso, pois o tinha uma história para
contar e, se você assistir hoje, vai enxergar um monte de defeitos que, na época,
você o percebia. A questão é que todo dia novos programas são desenvolvidos;
misturam-se técnicas e ainda não sabemos para onde isso vai nos levar.
Hoje, na animação de massinha, pensemos na Aardman Animations, que é o
estúdio que fez a A Batalha dos Vegetais e A Fuga das Galinhas. É um estúdio
inglês que é o maior estúdio de animação Stop -Motion do mundo, ganhou Oscar e
tudo o mais. Pois eles acabaram de fazer um filme todo feito em 3D, o Por Água
Abaixo, que totalmente com cara de massinha, que é um desenvolvimento que
permitiu aos softwares de 3D criar esta textura. Mas para fazer um bom filme em 3D,
não foi o computador ou o software que fez tudo sozinho; tinha muita gente boa
envolvida no processo. É que a imagem final é apenas técnica. Antigamente você só
conseguia ver figuras geométricas e hoje já temos imagens mais orgânicas.
No fundo, para mim, o principal continua sendo ter uma boa história para contar,
independente da técnica, mas, quando começou a onda do 3D na propaganda,
todos queriam essa nova técnica, e nós tivemos problemas, mas começamos a
modelar bonecos para serem utilizados como modelos pelos estúdios de 3D na
modelagem no computador. Hoje, passada essa novidade, o que voltou a importar é
a animação independente da técnica. Mesmo o Stop-Motion voltou ao mercado,
basta pegar, como exemplo, o filme Noiva Cadáver.
Inovação sempre vai existir. Quando achamos que nada mais pode ser inventado,
vem alguém e inventa algo novo, como podemos ver na técnica de movimento de
câmera em Matrix... Até então, ninguém tinha pensado em fazer isso! É, portanto,
uma criação!
2.1.7. Existem animadores ou filmes de animação que você considere que são
marcos desta linguagem, que deram um impulso muito grande ao stop
motion?
César Cabral: Eu considero os filmes do Nick Park, que fez três ou quatro curtas
com os personagens Wallace & Gromit. Esses trabalhos mudaram o conceito dos
filmes de massinha, porque, inicialmente, o Stop-Motion permite tudo, pode até estar
mal feito, mas, como é massinha, é aceito. Mas o Nick Park conseguiu chegar a uma
qualidade técnica tão apurada que mudou os rumos deste tipo de animação, pois,
depois dele, pudemos alcançar um nível como o do filme Noiva Cadáver, em que
existem momentos em que eu mesmo me pergunto se é realmente um filme de
massinha.
Hoje em dia não se admitem mais os pequenos defeitos nos filmes de animação em
stop motion. É claro que tudo está ligado à linguagem que se pretende usar. Você
pode fazer alguma coisa trash, aparentemente mal feita, deformada, mas desde que
seja a intenção do autor utilizar isto como linguagem, e não por falhas técnicas.
Outros casos o os filmes da Disney, principalmente pelo espaço que conseguem
no mercado e a divulgação da linguagem da animação para o grande público.
2.1.8. Vamos agora falar sobre a revelação bombástica que você fez durante
sua palestra, sobre os bonecos de massinha não serem feitos de massinha...
Isso poderá chocar muita gente, mas você poderia falar um pouco sobre a
construção desses bonecos?
César Cabral: Na verdade, é que na animação de massinha, muito pouco é feito
com massinha. Não é que não exista. Por exemplo, no meu trabalho da série
Caquinhas, os personagens são todos de massinha, exceto o braço.
Nós usamos massinha numa primeira etapa da modelagem, que seria como uma
matriz que é para termos a textura da massinha. Desta primeira modelagem é feito
um molde como se fosse uma pele de borracha que depois é preenchido com
silicone, porque, em publicidade, o tempo é fundamental. Não podemos falar que
fazemos o comercial, mas vai demorar três meses para realizar, e isto é inviável,
tanto pelo prazo como pelo custo. Logo, isto é uma forma de ajudar o animador
durante o processo de filmagem. Se estivesse realmente trabalhando com
massinha, o animador teria que remodelar o personagem a cada frame.
Você pega, por exemplo, A Batalha dos Vegetais, que é todo modelado em
massinha. Mesmo tecnicamente perfeito, existem momentos em que você enxerga
as digitais do modelador no rosto das personagens. E devemos lembrar que a
produção foi de 50 milhões de dólares, e que eles tiveram três anos para trabalhar, o
que é um processo completamente diferente do que se faz no mundo da
publicidade, em que não se tem nem esse dinheiro nem esse tempo.
Os bonecos são feitos, então, com esta pele de látex. O silicone preenche o boneco
e o esqueleto é feito de arame ou alumínio, com articulações que seriam juntas ou
rótulas, e epóxi, que é modelado e lixado para dar o acabamento mais liso.
2.1.9. Qual o tempo médio que se gasta para produzir uma animação de uns 15
ou 30 segundos, de alto nível, para publicidade?
César Cabral: Isto varia muito de acordo com a complexidade da animação,
personagens, cenários etc. Em publicidade o tempo é sempre muito escasso. Um
exemplo que eu tenho, que foi o mais rápido que fizemos, foi uma série de três
comerciais para uma empresa chilena, o Super Pollo. Este trabalho durou uns 50
dias de produção de cenários e bonecos, 10 ou 12 horas por dia, com uma equipe
de três modeladores, e mais 20 dias de animação com dois animadores.
2.1.10. E quantos segundos de animação você consegue produzir por dia,
nesse ritmo de trabalho, ou seja, 10 ou 12 horas por dia?
César Cabral: Em um dia que rende muito, mas muito mesmo, você consegue
filmar cinco segundos, mas tem dia em que demora muito, pois o trabalho de
animação só ocorre depois da montagem do cenário, do acerto da iluminação,
acertos de câmera, de enquadramento. Se vai ter movimento de mera, deve-se
traçar a trajetória antes, porque a câmera no Stop-Motion também é fixa. Se você vai
ter um movimento num trilho, o deslocamento deve ser feito de centímetro em
centímetro, ou milímetro em milímetro, dependendo da ação, pois se a câmera tiver
que percorrer um metro em dois segundos, você tem de calcular este movimento
matematicamente com uma régua, dividindo os espaços para cada fotograma.
Depois de toda esta preparação é que você vai iniciar a animação. Então, dias
em que você consegue, no máximo, fazer um segundo de animação.
É um trabalho lento, não tem como acelerar o processo. Cada movimento precisa
ser estudado, antes, no computador, verificar se está OK. Se não estiver, você
retorna e corrige, e isto às vezes acontece 20 vezes antes de tirar a próxima foto.
Claro que, com a experiência, você vai ficando mais ágil, além de que você tem que
ter o cuidado de não esbarrar no cenário, pois você não pode alterar o cenário.
2.1.11. Uma pergunta que sempre fazemos é focada àqueles que pretendem
entrar nesta área. Como devem se preparar? O que você, por exemplo, espera
de um profissional ingressante no mercado?
César Cabral: A primeira coisa é ter certeza de que quer trabalhar nesta área. O
que eu sempre vejo é que muita gente quer fazer animação porque gosta de assistir
às animações, mas eu tive estagiários que, depois de uma semana sem ver muita
coisa acontecendo, acabaram desistindo, pois acham que, depois de um dia inteiro
de trabalho, ter feito cinco segundos é monótono. Pois é, o que menos temos no set
é animação.
Eu também penso que as pessoas têm que gostar realmente do que fazem, pois a
dedicação é muito grande. É um trabalho árduo e, portanto, você deve realmente
gostar de realizá-lo.
E deve ter muita seriedade. O comprometimento com o trabalho é fundamental,
independente de você achar algumas coisas muito chatas. E você também deve
saber e querer trabalhar em equipe.
CAPÍTULO III
3. ANÁLISE DESCRITIVA DO FILME A NOIVA CADÁVER, DE TIM BURTON.
3.1. Descrição do filme A Noiva Cadáver de Tim Burton.
Enquanto o filme O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before
Christmas - 1993), começou com um poema que o Burton havia escrito, ilustrado
logo depois que ele terminou o trabalho Vincent em 1982, a inspiração para A Noiva
Cadáver (Corpse Bride - 2005) veio de uma fonte muito mais antiga. Sua origem
está planteada em um conto do leste europeu do séc. XIX, contado a Burton por seu
amigo Joe Ranft, que havia sido diretor e supervisor da história do filme O Estranho
Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas - 1993).
A Noiva Cadáver (Corpse Bride - 2005) é um filme de animação em Stop-
Motion produzido e realizado por Tim Burton e Mike Johnson. A produção é um
clássico da animação, por sua linguagem visual inovadora.
As ambiências underground
19
, soberbamente montadas, adensam o clima
romântico e de horror gótico que se quer criar. De fato, o filme A Noiva Cadáver
(Corpse Bride - 2005) continua a tradição dos clássicos negros, românticos, horror
gótico e comédia negra, característica do diretor Tim Burton.
A história se desenvolve em torno de um homem preso a duas mulheres, uma
viva e outra morta, também envolvendo suas famílias. Todos vivem em um pequeno
vilarejo no leste europeu no séc. XIX. As famílias de Victor (voz de Johnny Depp) e
Victoria (voz de Helena Bonham-Carter), respectivamente, são bem distintas uma
da outra.
A rivalidade de classes é espelhada nos interesses de uma família aristocrata
19
Underground ("subterrâneo", em inglês) é uma expressão usada para designar um
ambiente cultural que foge dos padrões comerciais, dos modismos e que está fora da mídia.
Muito conhecido como Movimento Underground ou Cena Underground.
falida que, através do casamento da filha, tenta aproveitar-se de outra familia
burguesa que possui uma boa condição financeira. De um lado, a classe e as
maneiras, o bom nome e condição social; do outro, o poder do dinheiro, apesar do
comportamento pouco educado e mesmo grosseiro dos novos-ricos.
A família de Victor é mais simples, pois se consttui de comerciantes que
vivem uma boa fase econômica. Seus pais pretendem casar Victor (voz de Johnny
Depp), seu único herdeiro, com Victoria (voz de Helena Bonham-Carter), uma
moça de familia tradicional e bem reconhecida na sociedade.
A família de Victoria, embora seja tradicional, encontra-se em péssima
situação financeira. Esse motivo justificava seu interesse em realizar o casamento
da filha com um homem que pudesse estabilizar suas finanças.
Victor é um jovem atrapalhado que está de casamento marcado com Victoria,
mas conhece a noiva no dia do ensaio da cerimônia. Mesmo sendo um
casamento arranjado, ambos simpatizam um com o outro (como acontece na
imagem abaixo). No entanto, esse jovem casal não conta com a grande confusão e
mistério viria a pertubar atrapalhar o enlace matrimonial entre eles.
Imagem retirada do livro Corpse Bride e que representa o primeiro encontro dos
personagens Victor e Victoria.
Na floresta vizinha ao vilarejo onde Victor mora, existe um local sombrio,
escuro e assustador, criado para representar uma cena de horror e ao mesmo
tempo suspense: uns dos cenários que Burton costuma usar em suas produções.
Victor treina seus votos após ter errado tudo durante o ensaio cerimonial com
Victoria e suas respectivas famílias presentes, mais a presença de um golpista
chamado Lord Barkis Bitern, que passava pela cidade e aproveita a oportunidade
para se passar por convidado da família de Victoria, assim, ficando hospedado na
casa da noiva.
No entanto, voltando à parte em que o rapaz realizava o ensaio dos votos na
floresta, ao colocar a aliança num galho seco e proclamar corretamente os votos de
casamento, acontece algo inesperado: umas das cenas de maior suspense e susto
do filme.
O que ele não imaginava é que o galho seco era um dedo de verdade,
pertencente a uma jovem assassinada (voz de Helena Bonham-Carter) que volta do
mundo dos mortos e surge de uma cova, assim assustando tanto o rapaz quanto os
telespectadores do filme.
A noiva cadáver (Emily – voz de Emily Watson), que surge da cova e insiste
não em ser esposa de Victor, mas também em aceitar os votos ditos por ele
naquele momento, é a principal personagem dessa história cheia de suspense,
horror gótico, humor negro e romance.
Imagem do livro Corpse Bride - momento em que Victor proclama os votos de
casamento.
Imagem do livro Corpse Bride - momento em que Victor coloca o anel no galho seco
(dedo da noiva cadáver).
Na cena seguinte, acontece uma perseguição da noiva cadáver sobre Victor,
que este, assustado com aquela situação, corre em busca de ajuda e se debate
com as árvores e galhos secos da floresta. O rapaz corre até perder o ar e chega em
uma pequena ponte que liga a floresta à cidade. Achando que está livre daquela
possível assombração, por um momento, detém-se para se recompor. Então, em
mais uma cena de susto, a noiva cadáver surge atrás dele e fala que ele pode beijá-
la e, em seguida, leva-o para o mundo dos mortos, como mostra a imagem seguinte.
Ao despertar no mundo dos mortos, que mais parece mundo dos vivos, pois
há muitas cores vibrantes, música, animação das pessoas que ali vivem, Victor acha
que está sonhando e tenta acordar daquele possível sonho que mais parece um
pesadelo, pois ele vê cadáveres, cabeças falantes, larvas saindo dos olhos de
esqueletos, imagens assustadoras de órgãos internos de seres humanos.
Ao perceber que não se trata de um sonho, ele começa a fazer perguntas que
são respondidas através de um musical realizado pelos esqueletos pertencentes ao
mundo dos mortos. Vale lembrar que Burton em seus filmes usa muito musical
durante o desenrolar das histórias, e no filme a Noiva Cadáver
(
Corpse Bride 2005),
não é diferente.
As pessoas do mundo dos mortos gostam de celebrar tudo com uma boa
música, bebidas e muito humor, causando uma sensação de prazer e aceitação por
parte dos telespectadores. Chega a ser cômica a maneira como Tim Burton
consegue transformar uma possível cena de horror, terror e susto em algo alegre,
divertido e cômico. A imagem a seguir mostra o mundo dos mortos, suas cores
vibrantes e a alegria dos personagens que ali moram.
Em contrapartida, no mundo dos vivos, as suas cores são frias, cinzas,
escuras, dando um ar de depressão e tristeza; as pessoas que pertencem ao mundo
dos vivos são muitas e dão a impressão de serem infelizes. Na imagem a seguir
imagem do mundo dos vivos - Burton tenta mostrar esse contraste entre os mundos
de uma maneira divertida, além de revelar, de certa forma, que a morte não é tão
assustadora como as pessoas temem.
Imagem retirada do livro Corpse Bride – representando o mundo dos vivos.
Na casa dos Everglot, todos aguardam pela volta de Victor para dar
continuação ao ensaio, pois Victoria e seus familiares nada sabiam a respeito do
que acontecia com o rapaz.
Na cena seguinte, o sr. Barkis Bittern entra na sala na qual os pais do noivo
estão reunidos e dá a notícia de que Victor havia sido visto com uma outra mulher, a
noiva cadáver, o que causou espanto na família do rapaz, que afirma que seu filho
não conhecia nenhuma outra mulher. Após esta notícia, os pais de Victor saem em
busca de seu filho pela cidade.
Voltando ao mundo dos mortos, Victor tenta arrumar uma saída para toda
aquela situação e fugir daquele local e da vista de sua mais nova esposa, a noiva
cadáver, que está a sua procura por todas as partes no mundo dos mortos. Quando
ela o encontra, os dois sentam e conversam. Antes disso, porém, ela lhe dar um
presente: seu cão, que havia morrido e se chama Scraps, o que deixou Victor
contente ao reencontrar seu antigo amigo.
Em seguida, Victor tem a idéia de voltar ao mundo dos vivos e levar a sua
esposa para ser apresentada a seus pais. No entanto, a noiva cadáver constata que
não é possível realizar tal feito, pois eles não pertencem mais àquele mundo. Mas
como em todo conto algum mágico ou espécie de mago, neste conto não é
diferente: o mágico ou senhor da magia se chama Elder Gutknecht.
Imagem do mágico Elder Gutknecht, retirada do livro Corpse Bride.
O casal pede ajuda ao mágico para retornar ao mundo dos vivos e visitar os
pais de Victor. Depois de muita insistência de ambos, o tal mago concede o pedido,
levando-os até o mundo dos vivos. Antes, porém, explica-lhes que deve ser
mencionada a palavra mágica, amarelinha, para que eles possam retornar ao mundo
dos mortos.
Ao retornar ao mundo dos vivos, Victor mais uma vez tenta enganar a noiva
cadáver dizendo que teria que ir ao encontro dos seus pais sozinho para contra-lhes
tudo o que havia acontecido, para depois lhes apresentar sua esposa. A noiva
cadáver (Emily), apesar de não querer ficar sozinha, aceita a proposta de Victor.
O rapaz corre para casa de Victoria, certo de que havia conseguido fugir da
noiva cadáver. Todavia, ao chegar à casa de sua pretendente (Victoria), o moço
escuta o pai da noiva ameaçando-o de morte e, como ele é muito trapalhão e
medroso, fica com receio de que o pai da noiva estivesse falando a verdade.
Enquanto isso, a noiva cadáver, cansada de tanto esperar por Victor, vai à
sua procura e encontra-o no quarto de Victoria onde ele, alguns momentos antes,
havia-se declarado e dito que não via a hora de se casar com ela. Victor, contudo,
não teve tempo suficiente para lhe contar o que havia acontecido no período que
estava desaparecido, pois a noiva cadáver, sentindo-se traida e humilhada, cita a
palavra mágica amarelinha e levou-o de volta para o mundo dos mortos, deixando
Victoria sem nada entender.
Ao chegar ao mundo dos mortos, a noiva cadáver começa a tirar satisfações
com o pobre rapaz, que não sabe o que fazer de sua vida, ou como solucionar
aquele problema em que ele se metera. Victor, então, tenta explicar para a noiva
cadáver que tudo não passou de um engano e que ela está morta e ele vivo, assim,
deixando Emily (a noiva cadáver) arrasada. Esta cena chega a causar uma
sensação de pena por parte dos telespectadores pela situação vivida pela noiva
cadáver, que amarga profundos ciúmes de Victor, que gosta de outra mulher.
No mundo dos vivos, Victoria tentar pedir ajuda a sua mãe e explicar que seu
noivo (Victor) estava casado com uma mulher morta. Sua mãe acha que a filha está
louca e a tranca em seu quarto. Desesperada, Victoria não vê outra alternativa a não
ser fugir pela janela de seu quarto.
A moça vai até a igreja para buscar ajuda do padre, mas este não acredita no
que a moça lhe conta e a leva de volta para casa, deixando seus pais extremamente
aborrecidos.
Os pais da noiva começam a entrar em desespero por conta dos comentários
a respeito da anulação do casamento. Lord Barkis Bitern escuta tudo atrás da porta
e entra na sala propondo ser marido de Victoria no lugar de Victor, que ele
imaginava que a família Everglot encontrava-se em boas condições financeiras e
pagaria um bom dote pelo casamento dele com a moça. Os pais de Victoria gostam
da idéia, pois resolveriam o problema de não passar vergonha diante da sociedade e
por pensarem que o sr. Barkis Bitern era um homem de boa condição financeira.
Enquanto isso, no mundo dos mortos, Victor encontra a noiva cadáver
sozinha e triste a tocar piano. O rapaz, então, aproxima-se e pede-lhe desculpas por
tudo que havia dito. Pela primeira vez, em um momento de afeto, ambos começam,
juntos, a tocar piano.
De repente, ouve-se uma sirene que informa a chegada de uma pessoa
morta: tratava-se do caseiro e motorista da família de Victor que estava muito
doente. Então, o motorista informa Victor de que sua amada Victoria iria casar-se
com outro homem, o que deixou Victor bem desapontado.
Paralelamente, no mundo dos vivos, Victoria se prepara para o casamento
com o Sr Barkis Bitern, com o desânimo de quem está indo para um enterro. Em
seguida, o casamento de Victoria com o bandido sr. Barkis Bitern se realiza.
No mundo dos mortos, Victor entristece-se por ter perdido sua amada para
outro homem. Em seguida, ele ouve, por trás da porta, uma conversa entre a noiva
cadáver e o mágico Elder Gutknecht, em que o mago a informa de que existe uma
complicação em seu casamento com Victor, que ela está morta e ele vivo. Ou
seja, eles não estão casados legalmente, pois existe uma diferença de mundos e de
situação entre eles, já que a morte os separa.
A única forma de o casamento se oficializar seria Victor morrer, ou seja, este
teria que tomar veneno e fazer parte do mundo dos mortos. No entanto, a noiva
cadáver, num ato de amor, diz que jamais pediria isso a ele. Contudo, Victor,
desapontado com o casamento de sua amada e na tentativa de reconstruir sua vida
ao lado de outra pessoa, concorda em tomar o veneno e se casar com a noiva
cadáver, deixando-a, portanto, muito feliz e criando um clima de festa entre todos,
no mundo dos mortos. Começam, então, os preparativos para o casamento que se
realizará no mundo dos vivos.
Na imagem acima, Victor e A Noiva Cadáver anunciam que iram se casar.
No mesmo momento em que Victor e a Noiva Cadáver anunciam o
casamento, no mundo dos vivos, o Lord Barkis Bitern e Victoria festejam seu
casamento, que mais parece um velório, tão desanimador é o clima.
De repente os mortos começam a invadir o mundo dos vivos para assistir ao
casamento da Noiva Cadáver com Victor, causando pânico e medo a todos, em uma
das cenas mais engraçadas do filme, pois mais parece uma comédia do que uma
cena de terror.
Aquela situação, que causa medo e susto a todos no mundo dos vivos,
transforma-se e passa a ser uma cena emocionante e digna de finais felizes, pois os
vivos começaram a reconhecer seus parentes mortos e com eles comemoram o
reencontro: encarnados e desencarnados.
Imagem retirada do livro Corpse Bride reencontro de encarnados com
desencarnados.
Em seguida, Lord, ao saber que sua mais nova esposa e sua família estavam
falidos, revolta-se, pois julgava ter aplicado um grande golpe.
Victoria sai e percebe que todos estão indo para a igreja e vai até para ver
o que ocorre. Percebe, então, que se trata do casamento de seu amado com outra
mulher e fica escondida observando tudo.
A noiva cadáver, ao dar-se conta da presença de Victoria na igreja, resolve
desistir de Victor para que este seja feliz com sua amada. Porém, antes disso
acontecer, ocorre um grande conflito entre héroi (Victor) e vilão (Lord Barkis Bitern),
ficando claro, então, que o grande vilão da história é o Lord Barkis Bitern,
pretendente da noiva cadáver no passado, e que a matou após o casamento para
ficar com seu dote: o mesmo que ele pretendia fazer com Victoria.
Imagem retirada do livro Corpse Bride – momento em que Victoria observar as
escondidas o casamento de seu amado com a Noiva Cadáver.
Héroi e vilão começam a travar uma luta na igreja, até que Lord Barkis Bitern
consegue desarmar Victor. Mas Lord não contava com a surpresa que estava por
vir. Antes de matar Victor, Lord Barkis resolve brindar a morte do rapaz com o vinho
que continha veneno, usando, sem que ele soubesse, a mesma taça que deveria ser
usada por Victor para morrer e concretizar seu casamento com a noiva Cadáver.
Imagem retirada do livro Corpse Bride - cena final do filme.
O vilão agoniza e more, deixando a alma da noiva cadáver vingada e com a
sensação de liberdade.
Na cena final do filme, a noiva cadáver se transforma em várias borboletas
que saem voando. Victor e Victoria se casam e têm um final feliz. (Imagem final do
filme logo acima).
3.1.2. Sobre Tim Burton: alguns comentários seus em relação ao filme A Noiva
Cadáver.
3.1.2.1. Transcrição de textos do livro Tim Burton´s Corpse Bride – An invitation
to the wedding, onde o autor explica a idéia do filme.
Segundo SALISBURY (2005, p. 11-13):
A Noiva Cadáver contará com um bom elenco nas vozes de seus
personagens principais. Helena Boham-Carter fará a voz da noiva
(morta) e Jonny Depp será Victor. O elenco ainda conta com Ablberty
Finney, Richard E. Grant, Christopher Lee, Joanna Lumley e Emily
Watson, Jonny Depp parece combinar mesmo com o estilo de Tim
Burton. A Noiva Cadáver será o quarto filme em que ambos
trabalham juntos.
“O Joe me deu uma idéia no tempo do filme Estranho Mundo
de Jack” se lembra Burton, que estava procurando fazer um outro
projeto em Stop-Motion“ e este era minimalista; não haviam
personagens que eu me lembre, exceto a própria noiva cadáver. Era
uma história curta, e mesmo que tivesse um roteiro curto, ela me
chamou a atenção e me pareceu apropriada para esse tipo de
técnica de animação”.
A história concentrava-se em um jovem que estava viajado
para se casar com sua noiva e quando o seu anel de noivado
colocado no dedo de uma garota morta (que depois sai da cova e
insiste que ela é sua esposa legalmente). Depois, ele é levado para
um mundo subterrâneo enquanto a sua noiva continua no mundo dos
vivos à sua espera.
Para o Burton, parte do sucesso de O Estranho Mundo de
Jack (The Nightmare Before Christmas - 1993), tinha sido a
qualidade emocional que o filme conseguiu captar, principalmente
com relação a Sally Eu gostei muito desse personagem, ele diz: é
legal conseguir emoção com animação. Eu estava tentando realizar
alguma coisa com aquela qualidade de emoção novamente.
O Conto do Joe pareceu oferecer essa possibilidade de
realizar algo mais com essa técnica de animação e tentar passar
emoção que não consegue na maioria dos filmes. Eu estava
tentando expandir meus personagens femininos.
Conforme sua imaginação começou a evoluir, Burton começou
a colocar suas idéias no papel, rabiscando os primeiros personagens
que eventualmente se transformariam nos do filme noiva cadáver.
Começando pela própria noiva que foi inspirada pela noiva de
Frankstein de Elsa Lanchester’s tanto na parte visual quanto na parte
espiritual. Depois veio Victor Van Dort, tímido, que seria o noivo que
se dividio entre duas mulheres: uma viva e outra morta. Depois
veio a esposa fiel de Victor, Victoria Everglot, e seus pais
exploradores Finis e Maudeline Evarglot, o esqueleto que era líder de
uma banda chamada Bonejangles, nos moldes de Sammy Davis Jr e
mais Scraps, seu cão fiel, inicialmente concebido como de carne e
ossos e futuramente transformando-se no cadáver de um cão.
“Umas das coisas com as Tim Burton estava fascinado em
suas descobertas era a de descobrir um jeito de fazer uma história
que pudesse ser vista como assustadora e ao mesmo tempo uma
fábula romântica sobre a verdade do amor, sem ser pesada. Uma
história sobre liberdade de expressão e a busca do amor.
O roteiro levou bom tempo até ser desenvolvido, cerca de 10
anos, e passou por várias versões até se chegar à versão final,
lembra Burton. Embora o conto tivesse origem russa, Burton não
quis localizar a sua noiva cadáver em nenhum país particular. Era
claro para mim o desejo de manter o aspecto de contos de fadas.
Mesmo que conservando elementos vitorianos e que o elenco fosse
basicamente britânico, eu não queria necessariamente colocar num
país especifico.
À medida que o roteiro foi se desenvolvendo também o foram os
personagens e seus mundos. O Victor iria viver num castelo cinza
onde se mantinha o moralismo no período vitoriano inglês e o
aspecto visual do leste europeu. A terra dos vivos seria fria, nada
amistosa e impessoal. Em contraste a noiva cadáver iria, ao se casar
com Victor, leva-lo a uma viagem pela terra dos mortos que,
conforme concebido teria cores fortes, alegres e vibrantes, assim
passando a sensação de possuir mais vida do que as terras dos
vivos.
Para Burton os temas de inversão e troca de percepção lhes
são familiares. Isso me leva de volta para minha infância.
Sentimentos que as pessoas chamam de normais não o são para
mim e o que as pessoas chamam de anormais também não o são
para mim. Crescer numa América suburbana onde as pessoas tem
medo da morte e depois você algumas culturas, como a do
México, onde existe o dia da morte, um feriado extremamente
Festivo onde as pessoas celebram a morte e com ela se divertem.
Os esqueletos fazem coisas engraçadas, e eu sentia que
aquilo era onde eu queria chegar, pois a morte faz parte do ciclo da
vida e não é preciso ficar muito triste com ela, mesmo que quando
ela nos causa alguma dor. É preciso que você seja um pouco
espiritual e esperançoso e de certa forma misterioso e bonito.
3.1.2.2. Descrição sobre o diretor Tim Burton.
Algumas palavras de Tim Burton (Op. Cit. 2005, p. 8-9) :
Conforme eu fui crescendo e assistindo aos filmes de
monstros, eu me tornei um grande fã de Ray Harryhausen , com os
filmes Jason and The Argonauts, os filmes de Simbá, 20 milhões de
milhas da terra. Conheci o nome dele antes que eu soubesse do
nome de qualquer outro ator. O Ray foi e continua sendo um artista
muito especial. E, ao assistir os filmes dele, sempre pude sentir a
arte por trás de seu trabalho.
Como muitas pessoas, eu fui inspirado pelo trabalho dele e o
que sou hoje, em parte, é por causa dele. Então, assistindo aos
filmes dele, você ficava consciente da sua arte, suas habilidades e
do amor que ele colocava em seu trabalho. Ele conseguia mostrar
seus monstros com mais emoção do que muitos atores naqueles
filmes. Se não havia um personagem no filme, ele sempre criava
alguma cena fantástica de morte; os monstros sempre tinham um
final avassalador. Por exemplo, no final o monstro sacode o rabo e
você sempre se sentia pena dele. Como eu fui crescendo e
assistindo a esses filmes e esses monstros terem sempre mortes
trágicas, isto foi de uma certa forma uma catarse para minha própria
adolescência.
Quando nós estávamos realizando o filme A Noiva Cadáver
(Corpse Bride - 2005), eu fui felizardo o suficiente para finalmente
conheci o Ray, o Johnny Deep, a Helena Bonhan Carter e eu fomos
até a casa dele e foi umas das experiências mais maravilhosas e
prazerosas que tive, e eu digo que sempre tive muita sorte em
minha vida por ter possibilidade de conhecer e trabalhar com
pessoas que sempre admirei e que me inspiraram: pessoas como
Vincent Price, Christopher Lee e Michael Gough. Em cada caso, eles
foram se tornando pessoas fantásticas e especiais e, com Ray não
foi diferente por isso, essa oportunidade, o momento muito especial,
em que ele nos veio visitar no set de gravação do filme A Noiva
Cadáver. Eu acho que naquele dia muito trabalho não foi feito.
A idéia para o filme A Noiva Cadáver (Corpse Bride), veio de
uma velha história contada a mim pelo meu amigo Joe Ranft , que
eu tinha conhecido desde o meu tempo de estudante, na Cal Arts. O
Joe que, morreu logo após o termino do filme A Noiva Cadáver
(Corpse Bride), tinha trabalhado na Disney e foi supervisor de roteiro
tanto no Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas -
1993) como em James e o Pêssego Gigante (James and the Giant
Peach). Depois, ele mostrou toda sua arte na Pixar; era um
fantástico contador de histórias e quando me contou essa pequena
história sobre um homem preso a duas mulheres, uma morta e uma
viva, ele sabia que ia me interessar muito. Esse livro é dedicado a
ele e todos fantásticos artistas que trabalharam na produção deste
filme.
3.1.3. Imagens demonstrativas sobre etapas de construção de uma animação e
modelagem dos bonecos do filme A Noiva CadáverTim Burton
Imagem de Tim Burton e sua equipe nas filmagens do filme A Noiva Cadáver
(Corpse Bride - 2005).
Imagens dos bonecos em fase de modelagem para serem utilizados no filme
A Noiva Cadáver (Corpse Bride - 2005).
Imagens das cabeças dos bonecos em fase de modelagem para serem
utilizados no filme A Noiva Cadáver (Corpse Bride - 2005). São feitas várias cabeças
dos bonecos e com diferentes expressões faciais, para facilitar o tempo de filmagem
das cenas, como mostram as imagens.
Noiva Cadáver.
Gravação de uma das cenas de Victor e A Noiva Cadáver no mundo dos
mortos.
PERSONAGENS DO FILME:
Victor (voz de Johnny Depp).
Victoria (Helena Bonham-Carter).
A Noiva Cadáver (Emily voz de Emily Watson).
Lord Barkis Bitern – vilão da história.
Pais de Victoria – Família Ever Glot.
Família de Victor.
CAPÍTULO IV
4. ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS FILMES A NOIVA CADÁVER (TIM
BURTON – 2005) E DOSSIÊ RÊ BORDOSA (CÉSAR CABRAL – 2008)
Os filmes A Noiva Cadáver (Tim Burton 2005) e Dossiê Bordosa (César
Cabral 2008) são duas obras desenvolvidas segundo o mesmo tipo de técnica de
animação. A Noiva Cadáver (Tim Burton - 2005) é um filme de animação em Stop-
Motion, produzido e realizado por Tim Burton e Mike Johnson nos EUA; o curta
Dossiê Bordosa (César Cabral 2008) é um filme realizado no Brasil, por uma
empresa de animação, a Coala Filmes.
Os dois filmes podem ser comparados somente em função da técnica de
animação aplicada a ambos, dado que os mesmos não possuem semelhanças
relacionadas ao enredo. Com relação à duração de cada filme, diferença, pois o
filme Dossiê Bordosa (César Cabral 2008) é um curta de 16min, enquanto o
filme A Noiva Cadáver (Tim Burton - 2005) é um longa de 78min.
Em ambos os filmes, tanto no de Tim Burton, como no de César Cabral, foi
empregada a mesma cnica de animação em massa plástica, lembrando que o
filme A Noiva Cadáver (Tim Burton - 2005) dispõe de mais recursos financeiros,
mão-de-obra e equipamentos, exigindo, pois, um esforço bem maior de produção do
que do filme Dossiê Bordosa (César Cabral 2008). Todavia, apesar de suas
limitações financeiras, a Coala Filmes tem um desempenho apreciável, mesmo se
comparado a alguns estúdios norte-americanos. A empresa brasileira dispõe de
equipamento adequado para o desenvolvimento de projetos em Stop-Motion.
O filme de Tim Burton continua a tradição dos clássicos românticos, pois nele
se observa a presença do horror gótico e da comédia negra. o curta Dossiê
Bordosa (César Cabral 2008) é baseado na personagem chamada Bordosa,
criada pelo cartunista Angeli. Essa personagem era uma mulher emancipada,
independente e desprendida das regras morais estabelecidas pela sociedade.
O curta realizado por César Cabral desenvolve-se a partir de um dossiê que
busca descobrir o real motivo da morte desta personagem em quadrinhos que, na
década de 80, saía em notas do jornal Folha de São Paulo. Isso porque seu criador,
o cartunista Angeli, matou Rê Bordosa sem dar nenhuma explicação aos seus
milhares de s. Então surgiu a idéia, por parte do diretor César Cabral, de realizar
um filme de animação, em massa plástica, para desenvolver o tema sobre uma
personagem tão famosa e querida pelos leitores do jornal.
A técnica de animação em Stop-Motion foi inventada nos primórdios da
história do cinema e utilizada pela primeira vez no clássico “The Humpty Dumpty
Circus”, de Albert E. Smith, realizado em 1898, onde um circo de bonecos ganhava
vida diante da tela.
O curta-metragem Dossiê Rê Bordosa, apesar de sua pequena divulgação no
mercado cinematográfico, vem trazendo boa repercussão para o cinema de
animação brasileiro, pois o curta tem participado de alguns festivais como: Anima
Mundi, I Festival de Paulínia, Festival Cine-PE, Festival “É Tudo Verdade” , Festival
Internacional de Curtas de São Paulo, Festival de Curtas de Belo Horizonte e
Festival de Cinema de Gramado.
O filme já recebeu os seguintes prêmios:
-
Menção Honrosa no Festival “É Tudo Verdade”.
-
Melhor Roteiro no Festival “CINE-PE”.
-
Melhor Trilha Sonora no Festival “CINE-PE”.
-
Melhor Filme no I Festival Paulínia de Cinema.
-
Melhor Curta-Júri Popular no I Festival Paulínia de Cinema.
-
Melhor Prêmio da Crítica no I Festival Paulínia de Cinema.
-
Melhor Animação Brasileira no Anima Mundi 2008 – RJ e SP.
-
Melhor Curta-metragem no Anima Mundi 2008 – RJ e SP.
-
Prêmio Aquisição Canal-Brasil no Anima Mundi 2008.
Imagem retirada do site: www.dossierebordosa.com.br
Pela participação e prêmios em festivais cinematográficos, pode-se inferir o
valor do curta-metragem Dossiê Rê Bordosa e seu incontestável papel no panorama
do cinema de animação brasileiro, cada vez mais consolidado em nosso mercado
cinematográfico.
A seguir, com o material audiovisual transcrito, o estudo visa ambientar o
leitor no que se refere às características de um filme desenvolvido segundo a técnica
de animação em massa plástica, como nos filmes pesquisados. Há também palavras
dos diretores de ambos os filmes falando de suas produções e da técnica de
animação aplicada.
4.1. TRANSCRIÇÃO DO MATERIAL AUDIOVISUAL - DEPOIMENTOS E ETAPAS
DE ELABORAÇÃO DE ANIMAÇÃO EM STOP-MOTION DO CURTA-METRAGEM
DOSSIÊ RÊ BORDOSA
4.1.1. APRESENTAÇÃO
Segue-se uma transcrição de parte do material audiovisual colhido durante a
pesquisa. Trata-se de depoimentos de profissionais da área e imagens referentes ao
processo e àcnica de animação em massa plástica, a ser analisado.
O texto foi organizado em três seções correspondentes à própria estrutura do
material filmado. A primeira parte traz o animador César Cabral, um dos
proprietários da produtora Coala Filmes, que fala de um modo geral sobre o
processo e execução da animação em massa plástica, das etapas de construção
dos bonecos, cenários e, por fim, explica de fato como se anima e se aplica o áudio
nos bonecos.
A segunda parte corresponde à apresentação por parte de Anália, uma das
sócias da Coala, que fala sobre o acabamento e construção dos personagens, ou
bonecos da animação, mostrando as etapas de execução. Na terceira parte, temos
Giuliano arte-finalista - explicando sua função no processo de finalização de uma
animação.
Espera-se que esse material sirva não apenas de registro das discussões
travadas durante a realização desse filme, mas também como material de consulta
permanente para pesquisas futuras, visto que neles se expressam pontos
importantes de técnica, linguagem e execução no que diz respeito à produção de
uma animação.
4.1.2. EXPLICAÇÃO SOBRE ETAPAS DE CONSTRUÇÃO DE UMA ANIMAÇÃO
CÉSAR CABRAL (ANIMADOR) O que é um boneco de animação, ele é todo
pensado... vou dar aqui um exemplo com o Bob Cuspe (boneco). A gente para fazer
a animação, ela é feita quadro a quadro, né? Que é o Stop-Motion, então a gente
monta o esqueleto é... no geral com arames, algumas peças metálicas tipo alumínio
que a gente chama de bodoint que o essas pecinhas aqui que muitas vezes a
gente usa pra fazer uma articulação como se fosse uma rotula mais ou menos,
que em casos é... pequenos por exemplo: dedos a gente usa um araminho mesmo,
a gente monta um esqueletinho de arame com massa epóxi, com várias coisas e
prepara o boneco pra isso. É... essa é a primeira parte do esqueleto por que, por
que é... a animação é feita quadro a quadro como eu falei! A gente têm que
movimentar e posicionar é...a ação dele passo a passo que dizer a gente sei se
eu vou fazer o boneco movimentar o braço eu venho, né? Mexo um pouquinho e
vejo se ok e tiro uma foto vou lá, mexo mais um pouquinho e tiro outra foto como
a gente tá trabalhando no formato para cinema que são 24 quadros, a gente têm que
ter 24 movimentos para se fazer um segundo de animação, muitas vezes a gente
acaba reduzindo isso a 12 frames por segundo porque a gente dobra o frame ao
invés de mexer 24 posições para movimentar um braço eu mexo em 12 vezes e
duplico esses frames, o que acaba poupando tempo de animação e a ação do
boneco também muitas vezes num requer uma precisão de movimento assim. É...
voltando ao processo de falar do boneco, definido o desenho tudo a gente começa
a construção do boneco, o boneco é feito primeiro o esqueleto com essas medidas a
gente faz uma modelagem de massinha, é feito primeiro, por exemplo, um braço é
modelado de massinha esse braço essa massinha a gente usa para fazer o molde
de gesso, esse molde de gesso faz como se fosse uma forminha, dessa forminha a
gente tira uma pele de látex ... essa pela de látex ela é oca como se fosse uma luva
onde a gente introduz o esqueleto do boneco, a gente preenche muitas vezes com
silicone ou com algum outro material pra... dar uma consistência né? De não fica oco
depois de... introduzido o esqueleto. E têm a parte que acabamento que é a pintura,
tratamento do látex para ele ficar mais lisinho, né? No geral ele sai do molde e ele
sai sempre meio áspero com umas imperfeições. Então têm todo um acabamento
pra que ele fique bem lisinho ... essa é a primeira parte que a gente monta que é
a...são os braços, essa parte de tex depois têm uma parte de modelagem
propriamente que é de massinha que é feita, a gente está usando uma massa que,
na verdade, ela é como se fosse uma massa plastilina, uma massa de modelagem
normal, com a diferença que depois que ela é aquecida ela endurece, isso ajuda
muito porque sempre trabalhar com massinha é... uma situação meio complicada
assim, porque exige modelagem durante a animação, a massinha derrete e... tempo
também de produção que aumenta e muito. Como o filme têm 15 minutos, mais ou
menos uns 10 minutos de animação e uma parte de tempo tópico que são imagens
dos quadrinhos de... crédito e tudo mais a gente acabou optando por trabalhar com
esse material por uma questão prática mesmo de produção.
4.1.3 CONSTRUÇÃO DE CENÁRIO
CÉSAR CABRAL (ANIMADOR) A construção do cenário é uma ... assim é
basicamente o mesmo processo de construção do boneco, a gente define desenhos,
define medidas, escalas dos objetos e ai é feita a modelagem é ... modelagem e
também construção de paredes essas coisas que é madeira mesmo ? Então a
gente primeiro a gente monta o piso; as paredes têm esse acabamento que é pintura
e, depois, têm algumas modelagens nesse caso aqui, por exemplo, do
hambúrguer... esses hamburgueres ... esse hamburguesinho aqui é feito de epóxi,
massa epóxi rígido. Na verdade têm pintura e acabamento pra deixar com essa cara
meio gordurosa.
4.1.4 EXPLICAÇÃO SOBRE COMO ANIMAR E COLOCAR ÁUDIO EM UMA
ANIMAÇÃO
CÉSAR CABRAL (ANIMADOR) Pra preparar a animação né? Eu falei como se
faz o boneco, como se pensa o processo de produção. Mas, para a animação, o que
a gente têm é... como o filme é meio que baseado em depoimentos, os bonecos
falam muito. Então, o que a gente fez, eu... foi gravar essas vozes no processo
normal ou em estúdios ou na própria entrevista dessa gravação a gente exporta um
áudio. Esse áudio é montado em um programa para se fazer o lip sync, que a gente
chama é... o lip sync é sincronismo labial. A gente têm algumas bocas dos bonecos
que são os fonemas tipo a boca “A”, “O”, “P”, “E” são algumas expressões, o
pra fazer certinho mas a gente marca alguns ponto da fala. Então a gente vai para
um programa que só faz isso. Então, a gente vai escolhendo as boquinhas conforme
a pessoa vai falando: a pessoa vai falar sei lá, casa A boca “A”, “S” e “a” menor...
feito isso, a gente solta uma listagem em arquivo de texto que quando eu estou num
processo de animação eu num preciso pensar qual é a boca que eu preciso colocar,
eu tenho todo o arquivo preparado é... para minha fala que estou fazendo a cena.
Nesse caso, o boneco está falando depois desse dia. Então eu sei, aqui têm um
frame, dois frames com a boca fechada, ai vai pra boca “D”, depois vai para boca
“O” então fica muito mais fácil de trabalhar. Esse é um primeiro princípio em que se
tem de se preparar um lip sync de animação, diferente de um tempo atrás quando
era muito mais complicado de fazer. Você tinha que ir analisando o áudio para
pensar a animação. Hoje, com o programa, o computador acabou facilitando muito
nossa vida.
4.1.5 ETAPAS DE ACABAMENTO DE UMA ANIMAÇÃO
ANÁLIA (....) Aqui na Coala, eu pego um pouquinho da parte de acabamento dos
bonecos de látex que vão ser usados na animação. E aí o primeiro processo, o início
do processo para fazer o boneco é realmente você modelar a peça do boneco que
você quer e fazer um moldezinho de gesso, que nem esse aqui (ela mostra a peça).
A gente já fez, o boneco estar pronto, é mais pra ver e pronto. Acontece uma quebra
de fala. Então a parte do desenho a gente faz uma modelagem em massinha,
mesmo plastilina, para poder colocar no molde e fazer um molde de gesso. o
molde de gesso é enchido com a borracha látex que é esse liquido branquinho aqui,
então a gente enche deixa ele ali um pouquinho, forma uma casquinha e ele sai do
molde com essa cara assim, ele saiu bruto né? Então sai as rebarbas de onde vazou
o látex, aí o que eu faço? Eu corto bonitinho as rebarbas, passo a maquininha e
deixo ele mais lisinho, no jeito. dentro, com base nessa pele de látex é feito um
esqueletinho em arame ... arame, aí vai de acordo com o que o projeto precisa, esse
aqui é um araminho depois ele é enchido de silicone para ficar durinho e ao mesmo
tempo ter a maleabilidade para a animação. E a pele de látex, quando ela sai do
molde, ela sai assim toda é... com a falha do gesso, então o que a gente faz para
deixar ele assim com essa cara lisa e de massinha é dar o banho, chamado banho
de látex que eu vou fazer aqui para mostrar. Então é o próprio material látex
que a gente usou para tira a pele, que ele é banhado e deixado escorrer. E
forma essa película bem lisa que depois a gente faz uma pintura e fica bem com
essa cara de massinha. Essa aqui é uma peça que a gente estar até já aproveitando
de um outro bonequinho para fazer um outro que está na mesma posição. Esse
daqui é o da Paulinha, que agente trocou a bota para fazer a Márcia. E aqui eu
vou mostrar como é feito o banho ... então em cima daquela pele de látex tratada
que agente cortou as rebarbas a gente faz o banho só para alisar e o banho têm que
ser assim uma coisa bem natural mesmo, deixar ele escorrer ... porque se ficar
pincelando ele vai de novo formar as imperfeições... então a gente faz um banho e
deixa ele escorrer bem natural.
4.1.6 FINALIZÃO
GIULIANO (ARTE FINALISTA) Eu tiro as traquitanas, as linhas das bocas é... o
plano que vêm pra mim assim, ele vêm meio cru, quer ver? Deixa eu mostrar aqui...
ele não vêm com efeito nenhum assim, vêm com traquitana que é necessário para
poder fazer o bonequinho se mexer e vêm com essas linhas das bocas aqui, que é o
processo que eles tiram pro boneco poder falar. Então o que eu faço aqui é... meio
que consertar essas linhas e... tirar as traquitanas do boneco, meio que eu também
reconstruo as sombras algumas coisas que faltam assim, então ele meio que toma
vida e fica meio livre porque com a traquitana da impressão que ele ainda estar, né?
Logo quando eles animam eles me mandam e o meu processo é tirar, meio que
consertar assim, eu o finalizo ainda porque têm o processo com o Daniel, eles dão
um efeito de luzes essas coisas, eu meio que só maqueio assim, vai... os planos que
chegam.
4.1.7 FICHA TÉCNICA DO FILME - RÊ BORDOSA
Ficha Técnica na ordem de aparição no filme
Entrevistados
Toninho Mendes
Laerte
Márcia Aguiar
Paula Madureira
Tales Ab’Saber
Angeli
Vozes
Paulo César Pereio (Bibelô)
Grace Gianoukas (Rê Bordosa)
Laert Sarrumor (Bob Cuspe)
Locutores
Lena Whitaker
Odayr Baptista
Argumento
Carla Gallo e Cesar Cabral
Direção e Animação
Cesar Cabral
Produção Executiva
Carol Scalice
Roteiro e edição
Leandro Maciel e Cesar Cabral
Diretora de produção
Anália Tahara
Produção de Finalização
Camila Dipold
Direção de Fotografia
Marcelo Trotta
Direção de arte
Daniel Bruson
Modelagem de bonecos e Cenários
Olyntho Tahara
Edição de Som
Eduardo Santos Mendes
Mixagem
JLS (Sasso)
Supervisão de Foley
Kiko Ferraz
Som Direto
Guile Martins
Estúdio de Gravação
MCR
Música Original
Cláudio Augusto
Músicas
Xá Lá Lá - Los Pirata
Rotina - Inocentes
Skate Gralha – Grinders
Finalização e Composição
Daniel Bruson
Ian Sampaio
Chiquinho
Danilo Enoki
Giuliano Di Girolamo
Carlo..
ROTATIVO
Colaboração em roteiro e edição
Rodrigo Lorenzetti e Fernanda Oliveira
Assistente de produção
Fernanda Carreá
Assistentes de animação
Luciana Facury
André Bueno
Assistentes de Bonecos e Cenários
Daniel Savioli
Anália Tahara
Vozes Coadjuvantes
Giuliano Di Girolamo
Anália Tahara
Fernanda Carréa
Artista de foley: Felipe Burger Marques
Gravação de foley: Sérgio Guidoux Kalil
Edição de foley: Chrístian Vaisz (Chrístian é com acento mesmo...)
Assistência de estúdio de foley: Lísia Faccin
Empresas
Foley: Kiko Ferraz Studios
JLS – Facilidades Sonoras
MCR estúdios (apoio)
Estudios Mega
Agradecimentos
Carolina de Carvalho
Marcos Luque
Mulher da MCR
Renato Amoroso
Eduardo Climaschauska
Cecilia Taioli
Vagner Ceccotti
Paula Prícipe (Petrobras)
Cacá Valente (Petrobrás)
Sérgio, Paco e tem mais 1 ...(los Pirata)
Clemente
Lobão e Regina
Rosangela Rodrigues (Veja)
Eurípedes Alcântara (Veja)
Andréa Cortes (rolling Stone)
Ivan Finoti (Folhateen)
Marcia Carini
Alcides Cabral
Terezinha Cabral
Os Locutores amigos da Fernanda
Fernando Scavone
Paulo Sacramento
Eduardo Bicudo
Veja
Rolling Stone
New York Times
Le Monde
Folha de São Paulo
são capas fictícias
4.2. TRANSCRIÇÃO DO MATERIAL AUDIOVISUAL - DEPOIMENTOS E ETAPAS
DE ELABORAÇÃO DE ANIMAÇÃO EM STOP-MOTION DO FILME A NOIVA
CADÁVER – TIM BURTON (2005)
4.2.1 APRESENTAÇÃO
Segue-se uma transcrição de parte do material audiovisual. Para tanto, foram
colhidos depoimentos de profissionais da área e imagens do processo e da técnica de
animação em massa plástica, empregados no filme A Noiva Cadáver de Tim Burton.
O texto foi organizado em seções correspondentes à própria estrutura do
material audiovisual. Nele o diretor Tim Burton, diretores de animação, criadores de
cenários e bonecos, comentam o desenvolvimento técnico e artístico da produção
do filme A Noiva Cadáver (Corpse Bride - 2005).
Espera-se que esse material sirva não apenas de registro das discussões
travadas durante a realização desse filme, mas possam servir também como
material de consulta permanente para pesquisas futuras, visto que neles se
expressam pontos importantes de cnica, linguagem e execução, no que diz
respeito à produção de uma animação realizada nos EUA.
4.2.2 EXPLICAÇÃO SOBRE ETAPAS DE CONSTRUÇÃO DE UMA ANIMAÇÃO E
MODELAGEM DOS BONECOS
MIKE JOHNSON (DIRETOR) Os bonecos foram feitos por MacKinnon e
Saunders, em Manchester. São os melhores do mundo na criação de bonecos.
Estão na maioria dos projetos de Stop-Motion ... que aconteceram nos últimos 20
anos.
PETER SAUNDERS (CRIADOR DE BONECOS) Os bonecos são, provavelmente,
50 por cento arte e 50 por cento técnica e trabalho duro. uma parcela muito
grande de criatividade... posta nos bonecos, do jeito como são feitos... como são
pintados, como são vestidos. Estamos criando 200 bonecos e todos têm que parecer
que vieram do mesmo mundo.
JAN MACKINNON (CRIADOR DE BONECOS) Precisamos de pessoas que
tenham um passado artístico e habilidade criativa... mas que estejam prontas a
trabalhar dentro do design... e trabalhar com os criadores, para garantir que tudo
pareça que veio do mundo de A Noiva Cadáver (Tim Burton – 2005).
MIKE JOHNSON (DIRETOR) Tim tinha uma idéia bem clara de como queria que
os bonecos fossem. E trabalhou em desenhos, esboços e pinturas... antes de nos
encontrarmos. Isso foi ótimo. Ficamos empolgados de nos chamarem para trabalhar
no projeto.
ALLISON ABBTE (PRODUTORA) Tim desenhou a maioria deles... e tivemos o
desenhista Carlos Grangel, da Espanha.
TIM BURTON (PRODUTOR / DIRETOR) – Carlos é ótimo. É um grande desenhista.
Meus esboços são bem crus... mas ele foi bem sensível ao tentar captar... o que eu
estava querendo e depois expandiu a idéia.
CARLOS GRANGEL (DESIGNER DE PERSONAGENS) Cada personagem tem
sua personalidade. E a personalidade dita a forma, o equilíbrio e o ritmo. Cada
personagem tem sua própria silhueta. É importante reconhecer cada um dos
personagens... quando os vemos na tela. E o bonecos, então m que ser bem
pitorescos... é bastante estilizados. Tivemos que criar muitas formas.
PETER SAUNDERS (CRIADOR DE BONECOS) Os principais m rostos
mecânicos... uma coisa que foi feita em alguns comerciais... e em alguns outros
projetos, mas nunca havia chegado a este nível, pelo que sei da parte mecânica...
ser tão pequena para caber nestes bonecos.
MIKE JOHNSON (DIRETOR) Os bonecos se enquadram em muitas categorias.
Os de apoio podem se mexer em volta do cenário... e têm uma ou duas
expressões faciais. Mas os principais, Victor, Victoria e a Noiva Cadáver levam o
filme.
MIKE JOHNSON (DIRETOR) – Mike foi muito perspicaz em dar mais flexibilidade ao
animador. O animador podia julgar até onde ele podia chegar com cada elemento do
rosto. Acabou havendo muito mais do próprio desempenho deles.
PETER SAUNDERS (CRIADOR DE BONECOS) Isso um olhar mais
expressivo... do que animação de mudança de lugar... que é mais limitada e pré-
determinada. Estou muito feliz com o nível de expressões que conseguimos
alcançar. Investimos muito tempo e esforço para fazer os bonecos o mais
articulados possível.
MIKE JOHNSON (DIRETOR) E o que acabamos fazendo foi criar cabeças
complicadas com mecanismos que abrem e fecham o maxilar e roldanas que
permitam o personagem sorrir ou franzir o rosto.
PHIL DALE (ANIMADOR) Eles se esmeraram com os bonecos e com as cabeças
especialmente esses mecanismos que têm que caber na cabeça desses bonecos.
TIM BURTON (PRODUTOR / DIRETOR) Eles fazem um trabalho tão bonito. Os
bonecos o tão senveis e têm textura... e é sério... como os relógios suíços, são
feitos de forma tão bela.
MIKE JOHNSON (DIRETOR) Os personagens de Tim são sempre um desafio
para serem feitos em modelos tridimensionais. Eles tendem a ser bem altos e
magros e com pés bem pequenos... Tivemos que ver diversos modos de construir o
sistema de juntas que usamos nos modelos... e como suportariam o peso dos
personagens. A dificuldade é que os cabeças deles estão cerca de 25, 30
centímetros de distância do chão. O animador tem que manipular a cabeça o tempo
todo... e isso imprime muita pressão no modelo. Então, tem que ser bem preso ao
cenário.
ANDY GENT (PRINCIPAL ADERECISTA) Nós gastamos, eu acho... uns cinco
meses criando esses equipamentos. Fizemos coisas que ajudariam a criar o
movimento. Muitos bonecos têm roupas.
Então, fizemos com que isto fique dentro da roupa... e os animadores têm
acesso com uma barrinha para mexer nestas peças, criar um movimento vertical... e
os bonecos balançam como se andassem... mas eles não têm pés. Tudo isto fica
escondido dentro das roupas.
A noiva é um personagem muito difícil. Há tantas partes complicadas nela. Só
o véu levou semanas de pesquisa. Tentamos métodos diferentes... usamos todo tipo
de coisas que ficassem escondidas, fios, metais que ficassem ligados a ele. E fomos
mudando o material com que é feito o véu.
ANTHONY SCOTT (SUPERVISOR DE ANIMAÇÃO) Tecidos são difíceis de
trabalhar. É muito difícil controlar o tecido. Muitos testes foram feitos.
GRAHAM G. MAIDEN (SUPERVISOR DE FABRICAÇÃO) Uma série de fios
passam pelo tecido e não podem ser vistos. o queremos muito fios, pois
atrapalham.
PHIL DALE (SUPERVISOR DE FABRICAÇÃO) Precisamos de alguns fios, as
vezes nenhum. As vezes, fios puxando o vestido, como se estivesse ao vento.
PHIL DALE (CARECA) Em algumas tomadas, o vento balança sua roupa. Isto
aqui é usado, mas quando está sob o vestido... não dá para ver. o para ver
nada. Cria um tipo de efeito do vento soprando no vestido. E fazemos com que ele
desça... como se o vento estivesse passando.
MIKE JOHNSON (DIRETOR) Para os personagens principais de A Noiva
Cadáver... nos fizemos 14 noivas-cadáveres... 14 Victors e 13 Victorias. A
multiplicidade de personagens não é por serem descartáveis... mas porque como o
processo de animação é muito lento... eles precisam ter múltiplas cópias.
JOHNNY DEEP (ATOR “VICTOR VAN DORT”) Acho Victor um ator bem melhor
do que eu.
Eu preferiria que Victor fizesse os filmes para mim. Eu só faria a voz.
TIM BURTON (PRODUTOR / DIRETOR) – Continuistas dos objetos e dos cenários
- Legal... ficou ótimo.
- Boa Sorte.
4.2.4. FICHACNICA DO FILME A NOIVA CADÁVER, DE TIM BURTON
Título Original: Corpse Bride
Tempo de Duração: 78 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2005
Estúdio: Warner Bros. / Tim Burton Animation Co. / Will Vinton Studios
Distribuição: Warner Bros.
Direção: Tim Burton e Mike Johnson
Roteiro: Caroline Thompson, baseado em roteiro de John August e Pamela Pettler
Produção: Allison Abbate e Tim Burton
Música: Mike Adams e Danny Elfman
Fotografia: Pete Kozachik
Desenho de Produção: Alex McDowell
Direção de Arte: Nelson Lowry
Edição: Jonathan Lucas
Efeitos Especiais: The Moving Picture Company
Elenco (Vozes)
Johnny Depp (Victor Van Dorst)
Helena Bonham Carter (Noiva-Cadáver)
Emily Watson (Victoria Everglot)
Tracey Ullman (Nell Van Dort / Hildegarde)
Paul Whitehouse (William Van Dort / Mayhew / Paul)
Joanna Lumley (Maudeline Everglot)
Albert Finney (Finnis Everglot)
Richard E. Grant (Barkis Bittern)
Christopher Lee (Pastos Galswells)
Michael Gough (Elder Gutknecht)
Jane Horrocks (Sra. Plum / Aranha viúva negra)
Enn Reitel (Maggot)
Deep Roy (General Bonesapart)
Danny Elfman (Bonejangles)
Stephen Ballantyne (Emil)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa realizada apresentou, por meio de estudos bibliográficos, uma
análise descritiva e comparativa relacionada aos filmes A Noiva Cadáver (Tim
Burton 2005) e Dossiê Bordosa (César Cabral 2008). Uma semelhança na
técnica aplicada na execução de ambos os filmes é a técnica de animação em Stop-
Motion ou Massa Plástica.
No primeiro capítulo foi realizado um estudo do contexto histórico e técnico do
cinema de animação. Assim, este capítulo permitiu dar um embasamento teórico
suficiente para se ter uma noção do início, presente e futuro do cinema de animação
no mercado cinematográfico. Além disso, os levantamentos bibliográficos permitiram
compreender os aspectos técnicos e históricos que contribuíram para uma melhor
fundamentação da pesquisa realizada.
No segundo capítulo falou-se um pouco da técnica de animação em Stop-
Motion ou Massa Plástica, expondo suas etapas de desenvolvimento e execução no
curta-metragem Dossiê Bordosa (César Cabral 2008). Através deste capítulo é
possível avaliar todas as dificuldades, necessidades, carências e vantagens de se
realizar uma animação em massa plástica no Brasil. Ademais, permite a avaliação
da parte técnica e de equipamentos utilizados na elaboração de um filme de
animação.
Ainda no segundo capítulo é possível ler uma entrevista do diretor do curta-
metragem Dossiê Bordosa (César Cabral 2008) e dono de uma empresa de
animação, Coala Filmes, em que ele fala um pouco da história e das técnicas da
animação executadas por sua empresa.
No terceiro capítulo desta pesquisa, é apresentada uma análise descritiva do
filme A Noiva Cadáver (Tim Burton 2005), levando-se em consideração a técnica
de animação utilizada na obra. Tal estudo foi realizado por meio de uma decupagem
das cenas do filme, assim, formulando-se a conclusão de que um filme como A
Noiva Cadáver (Tim Burton 2005), dispõe de recursos técnicos, financeiros e de
equipamentos de alta qualidade para seu desenvolvimento. Desta forma, este tipo
de cinema com animação em Stop-Motion não deixa a desejar, em questão de
realismo e satisfação, em relação a grandes filmes de atores famosos que se
beneficiam de efeitos especiais e computação gráfica em suas produções.
Nesta perspectiva, realizou-se um estudo que visa ambientar o leitor no que
se refere à aplicação da técnica de animação em massa plástica no filme de Tim
Burton, apontado-lhe suas principais características e técnicas. Para tanto, foram
apresentadas imagens do filme A Noiva Cadáver (Tim Burton – 2005), e em seguida,
uma descrição das cenas relacionando o desenvolvimento da técnica de animação
em Stop-Motion com a aplicação estética e da linguagem.
No quarto capítulo desenvolveu-se um estudo comparativo entre os filmes A
Noiva Cadáver (Tim Burton 2005) e o curta-metragem Dossiê Bordosa (César
Cabral 2008), levando-se em consideração a linguagem e a técnica dos filmes
pesquisados, na tentativa de identificar relações entre produções cinematográficas
animadas no Brasil e nos EUA. Tal estudo visou ambientar o leitor no que se refere
às diferenças, semelhanças e benefícios de um desenvolvimento da técnica de
animação em massa plástica nos dois filmes da pesquisa.
Esta relação entre os dois filmes, no quarto capítulo da pesquisa, foi
desenvolvida através da comparação de uma entrevista e making of cedidos pelos
diretores de ambos os filmes.
O diretor do curta-metragem Dossiê Bordosa (César Cabral 2008) fala
um pouco da técnica de animação e mostra a preparação dos cenários e dos
bonecos de seu filme. o diretor do filme A Noiva Cadáver (Tim Burton 2005)
explica um pouco como foi gravado e surgiu a idéia do seu filme, explicando as
complicações de se realizar um filme animado em Stop-Motion.
A resposta à pergunta que apresentamos na introdução desta pesquisa é que
ambos os filmes, tanto o curta-metragem Dossiê Bordosa (César Cabral 2008)
e o filme A Noiva Cadáver (Tim Burton 2005), são duas obras que apresentam o
mesmo processo de produção, a saber: primeiramente desenvolve-se uma idéia,
em seguida, modelam-se os bonecos e cenários. Passada a etapa de modelagem,
inicia-se a realização da animação ou aplicação do movimento aos personagens e,
por fim, aplica-se o áudio. Conclui-se, por tanto, que o cinema de animação em
massa plástica brasileiro não produz nada de original; ao contrário, reproduz a
mesma técnica desenvolvida pelo cinema de animação em massa plástica nos EUA.
Outra conclusão a que chegamos diz respeito à capacidade técnica do
cinema de animação brasileiro em relação ao americano, pois o cinema de
animação nacional, apesar de suas dificuldades financeiras, não deixa a desejar em
relação ao resultado final de um filme animado dos EUA.
O curta-metragem Dossiê Bordosa (César Cabral 2008), vale lembrar,
tem, hoje, uma boa repercussão nos festivais e mercado cinematográfico nacional.
Tendo em visa sua boa qualidade técnica e estética, não vai demorar para que
venha a ganhar prêmios internacionais.
A pesquisa realizada foi apenas um passo para melhor conhecermos a
capacidade produtiva do cinema de animação brasileiro em relação ao cinema de
animação dos EUA. Assim, pode-se concluir que ambos possuem semelhanças
significativas entre si.
Vale lembrar que é necessário a aplicação de novas pesquisas, com intuito
de melhor entender o desenvolvimento e o avanço do cinema de animação no
mercado cinematográfico brasileiro.
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