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[...] and that Montaigne seems to have had two main overlapping meanings in
mind, related to this subject of self-study, of which the Essais were rather the
method than the vehicle: tests or trials of his judgment, the instrument of self-
study; and probings and samplings of that self
207
.
Montaigne se aplicará na busca do auto conhecer a partir de uma atenção ao
juízo, e de sua existência a sua capacidade ou não de se manter uniforme, de
se estabelecer ou não alguma constância para tirar dele alguma referência
segura ou mesmo a verificação de algum conhecimento, em face da
antecedência da ignorância
208
. Para a apresentação dessa aplicação, ou dos
seus resultados parciais, prefere não apenas os tropos do ceticismo grego,
mas também seu vocabulário capaz de mitigar a certeza.
Eu chego a odiar as coisas verossímeis se me são apresentadas como
infalíveis, e prefiro as expressões que atenuam a audácia da proposição, como,
por exemplo: ‘talvez, até certo ponto, dizem, penso’, e outras do mesmo
gênero
209
.
[Referindo-se aos Pirrônicos] Suas expressões habituais são: ‘não pretendo ter
estabelecido’, ‘não há mais razões para que seja assim do que de outro jeito’,
‘não percebo’, ‘as aparências são iguais em um caso como noutro’, ‘não há
como falar mais a favor do que contra’, ‘nada parece verdadeiro que não possa
ser falso’. Sua palavra sacramental é ‘sustento’, isto é, ‘argumento, mas não
vou além e não julgo’. Eis seus estribilhos
210
.
As passagens sugerem pelo menos duas portas de saída por onde se vertem
as análises ou as parcelas de resultados da aplicação de Montaigne. Na
primeira, sua pesquisa é capaz de dialogar com outros resultados, desde que
sejam comunicados com radical arrefecimento das pretensões definitivas,
libertas das expressões que estabelecem. Pesquisador obstinado e senhor de
um objeto definido, demonstra que domina, claramente, quais são as
capacidades e limitações intelectuais, bem como os tipos de percursos
207
Cf. Frame, 1969 (p. 3) (grifo nosso)
208
Cf. LII, X, 351quanto a fraqueza de meu juízo, reconheço-a e a confesso. Cf. LII, X, p. 349
[…] a idéia que desenvolvo [...] é sempre minha. Cf. LII, XII, p. 471 […] nosso julgamento não
tem fundamento sólido. Quantas vezes julgamos diversas vezes as coisas? Quantas vezes
mudamos de idéias? O que hoje admito e creio, admito e creio na medida do possível.
Também em LII, XII, p. 476 Conhecendo a instabilidade de meu julgamento, reagi e,
excepcionalmente, cheguei a uma certa continuidade de opinião, conservando ou menos
intatas as que a princípio tivera. Cf. LII, X, p. 348, Quem busca sabedoria, que a busque onde
se aloja; não tenho a pretensão de possuí-la. O que aí se encontra é produto de minha
fantasia. Ainda em LIII, XI, p. 327 Quem deseja curar-se de sua ignorância precisa confessá-la.
[...] e há tanta ciência em conceber essa ignorância como em conceber a própria ciência. (os
grifos são nossos)
209
Cf. LIII, XI, p. 327 (grifo nosso)
210
Cf. LII, XII, p. 423 (grifo nosso)