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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
ANTONIO PIRES CARVALHO
A REPRESENTAÇÃO DA SECRETÁRIA NO CINEMA
São Paulo
2008
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ANTONIO PIRES CARVALHO
A REPRESENTAÇÃO DA SECRETÁRIA NO CINEMA
Dissertação de Mestrado apresentada à
Banca Examinadora, como exigência
parcial para a obtenção do título de
Mestre do Programa de Mestrado em
Comunicação, área de concentração
em Comunicação Contemporânea da
Universidade Anhembi Morumbi, sob a
orientação do Prof. Dr. Luiz Antonio
Vadico.
São Paulo
2008
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ANTONIO PIRES CARVALHO
A REPRESENTAÇÃO DA SECRETÁRIA NO CINEMA
Dissertação de Mestrado apresentada à
Banca Examinadora, como exigência
parcial para a obtenção do título de
Mestre do Programa de Mestrado em
Comunicação, área de concentração em
Comunicação Contemporânea da
Universidade Anhembi Morumbi, sob a
orientação do Prof. Dr. Luiz Antonio
Vadico.
Aprovado em ----/-----/-----
Nome do orientador
Nome do convidado
Nome do convidado
AGRADECIMENTOS
Neste momento em que este projeto se encerra, cabe ressaltar que ele foi
possível através de um ideal, somado aos meus esforços, às minhas necessidades e
aos objetivos que tanto buscava. Por isso sinto a necessidade de agradecer aos
meus professores e amigos que tanto me ajudaram e me ensinaram a alcançar a
minha evolução pessoal, espiritual e acadêmica.
Com este texto, espero poder ter transmitido todo o meu sentimento de afeto
e reconhecimento pela ajuda na conclusão desta obra, durante este percurso que
por circunstâncias pessoais, familiares, profissionais e econômicas, ainda não tinha
sido alcançada. Entretanto, o tempo é que determina todas as nossas ações,
estabeleci que o momento havia chegado, reuni tudo o que era possível para me
motivar e me inspirar para tornar assim possível a sua realização. Acreditei
principalmente no ânimo, apoio e alegria que minha família tão gentilmente me
contemplou, foi exatamente com este componente que saí para empreendê-lo.
Neste novo universo que estava entrando, um labirinto de muitas trilhas e
luzes, pude, finalmente acreditar que estava na área e no cenário que havia
esperado. Durante esta trajetória de conhecimentos, um novo momento se abriu e
revelou a importância de se poder obter um novo saber. Todo este aprendizado foi
fundamental e decisivo para melhorar e qualificar a minha função de professor.
Como em todos os agradecimentos, às vezes, cercado pela emoção e buscando o
eixo da razão, posso por algum motivo deixar de mencionar algum nome, mas todos
farão parte da minha memória e respeito.
Desculpe se por ventura esteja cometendo alguma injustiça, porém não
poderia deixar de registrar aqui a minha gratidão à Professora Dra. Bernadette Lyra,
pela generosidade com que passava seus conhecimentos. Ao professor Dr. Rogério
Ferraraz que com sua maneira descontraída e inteligente dava o tom das suas
aulas. Ao professor Dr. Vicente Gosciola, pela sua extrema e dedicada atenção em
todos os momentos solicitados. À professora Dra. Sheila Schvarzman que além de
ser uma profunda conhecedora da história e do cinema, conseguiu me transmitir o
gosto pelo neo-realismo italiano que discutido em suas aulas, me levaram
prazerosamente a assistir a quase todos os filmes. Ao professor Dr. Marcello
Giovanni Tassara, que teve o carinho de me convidar para assistir a Defesa de
Doutorado na USP, de sua aluna Joliane Olschowsky Cruz, Mulher e Ciência:
Representação ou Ficção, USP, 2007, que serviu de pesquisa e referência, como
também participou da Banca da minha Qualificação, com observações e
comentários, os quais foram vistos e revistos, na entrega final para a Defesa do
Mestrado, vimos agradecer também à professora Dra. Maria Ignes Carlos Magno
pelas aulas e alegria com a qual nos contemplava e ao professor Dr. Gelson
Santana, que nas vezes que conversávamos nos presenteava com seu brilho de
inteligência e de serenidade.
Um especial agradecimento à professora Dra. Rosana de Lima Soares,
convidada para participar da nossa Banca de Qualificação, que no conjunto de suas
observações, tornou possível realizar uma melhora qualitativa e objetiva do projeto.
Meu agradecimento particular ao professor orientador Dr. Luiz Antonio Vadico, que
desde o primeiro momento se colocou à disposição para ajudar-me neste
empreendimento. Sua identificação com o tema e sua adesão ao projeto, foram
decisivos para que ele tivesse um andamento tranqüilo e pontual. Seu carinho, suas
orientações, nossas inúmeras conversas cercadas de uma paciência quase que
monástica, ajudaram a construir o presente documento, ao Professor, a minha
eterna gratidão. Agradeço também a todos aqueles que na Universidade Anhembi
Morumbi, ajudaram de forma direta e indireta nesta minha trajetória, e em especial à
Diretoria Acadêmica, na pessoa da professora Dra. Marisa Forghieri que tornou
possível o Mestrado de Comunicação.
E minha gratidão infinita à minha esposa Elisabete, a que dedico esta
Dissertação, sabedor que sou, das madrugadas, semanas e dias que eu passava
recluso ao trabalho, pela compreensão e pelo desvelo pessoal, fatores que tornaram
possível finalizar este trabalho. E para encerrar recorro a Fernando Pessoa: “Tenho
em mim todos os sonhos do mundo”, cujo pensamento sintetiza o meu sonho agora
realizado.
RESUMO
O objetivo da dissertação foi visualizar como as imagens das secretárias nas
organizações foram relacionadas ao imaginário do cinema, contribuindo para estudar
o comportamento e sua evolução no campo histórico, social e econômico. Esta
pesquisa foi baseada em filmes de produção hollywoodiana, com os quais foi
possível através de uma filmografia, previamente escolhida, construir e demonstrar
socialmente esse imaginário. Partindo de uma cinematografia que contou com um
total de 31 filmes, no peodo de 1933 a 2008, os quais, foram mapeados nas suas
principais características e estabelecidos no conjunto os seus pontos marcantes e
coincidentes. Foi imprescindível, a partir do tema e das produções tidas como foco
da nossa Dissertação, destacar e analisar suas principais produções: “Como
Eliminar Seu Chefe”, (1980); “A Secretária do Futuro”, (1988); “O Diabo Veste Prada”
(2006), entre outros. Procurou-se, no decorrer da construção do trabalho,
contextualizar estes filmes à sociedade e a história contemporânea.
Palavras-chave: Secretária. Representação. Trabalho. Sexualidade. Profissão.
Movimento Feminista. Transformações Sociais.
ABSTRACT
The objective of this work is to visualize how the image of the secretaries in the
companies has been related to the imaginary showed in the movies, contributing to
the study of their behavior and evolution in the historical, social and economic fields.
This research was based on Hollywood movies which filmography, previously
selected, allowed building and socially demonstrating that imaginary. Starting from
cinematography of thirty-one movies in total, in the period from 1933 to 2008, it was
mapped in their main characteristics and then established in conjunction to their
strong and coincident aspects. It was essential, from the themes and productions
chosen as focuses in this work, to distinguish and analyze its main movies: “Nine to
Five”, (1980); Working Girl”, (1988); “The Devil Wears Prada” (2006), among others.
Along the work, it was pursued the contextualization of those movies to the society
and contemporary history.
Key-words: Secretary. Representation. Work. Sexuality. Profession. Feminist
Movement. Social Changes.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
1. REPRESENTAÇÃO ........................................................................................... 13
1.1 A Representação da Secretária no Cinema. A década de 1930-1939 ..... 18
1.1.1 O Cinema e as Artes no século XX....................................................... 18
1.1.2 Análise socioeconômica do período.................................................... 20
1.1.3 Seleção e análise dos filmes no período............................................. 21
1.1.3.1 “His Private Secretary” – (Sua Secretária Particular) ........................ 22
1.1.3.2 “Wife vs. Secretary” – (Ciúmes: Esposa vs. Secretária).................... 25
1.1.3.3 “Mr. Smith Goes to Washington” – (A mulher faz o Homem) ……… 27
1.1.4 Considerações sobre os filmes da década de 1930 -1939................. 30
1.2 A década de 1940 1949 ............................................................................ 32
1.2.1 Análise socioeconômica e cultural do período .................................. 32
1.2.1.1 O pós-guerra (1914-1918 – 1939-1945) ............................................ 32
1.2.1.2 Sociedade e Cultura Pós – 45 ........................................................... 33
1.2.2 Seleção e análise dos filmes no período ............................................ 34
1.2.2.1 “The Maltese Falcon” – (O Falcão Maltês) ......................................... 34
1.2.2.2 “Springtime in the Rockies” ................................................................ 35
1.2.2.3 Lifeboat” – (Um Barco e Nove Destinos) .......................................... 37
1.2.2.4 “My Dear Secretary” .......................................................................... 39
1.2.3 Considerações sobre os filmes da década de 1940 ........................... 43
1.3 O período de 1950 – 1959 ............................................................................ 46
1.3.1 Análise sociocultural do período ............................................................ 46
1.3.1.1 A Guerra Fria – Sai da realidade e invade as telas ............................ 46
1.3.2 A seleção e análise dos filmes do período .......................................... 47
1.3.2.1 “All About Eve” – (A Malvada)……...................................................... 48
1.3.2.2 “His Private Secretary” ....................................................................... 49
1.3.2.3 “Three Coins in the Fountain(A Fonte dos Desejos) …………..… 51
1.3.2.4 “Desk Set” – (Amor Eletrônico) ………………..................................... 53
1.3.3 Considerações sobre os filmes da década de 1950 ........................... 56
1.4 Os anos de 1960 – 1969 ............................................................................... 58
1.4.1 Análise socioeconômica do período ................................................... 58
1.4.1.1 O Movimento Feminista ………………............................................... 58
1.4.2 A seleção e análise dos filmes do período ......................................... 61
1.4.2.1 “The Apartment” – (Se Meu Apartamento Falasse) ………………..... 61
1.4.2.2 “Psycho” – (Psicose)...................…………......................................... 63
1.4.2.3 “Marnie” ou (Marnie – Confissões de uma Ladra) .....………….......... 67
1.4.3 Considerações sobre os filmes da década de 1960 ........................... 69
1.5 1.5 Análise das décadas de 70 e 80 ………………...…………………...…... 71
1.5.1 Seleção e análise dos filmes das décadas de 70 e 80 ....................... 73
1.5.1.1 “Frenzy” – (Frenesi) .…………………………………………………….. 73
1.5.1.2 “Ghostbusters” ……………………………………………………...…… 77
1.5.1.3 “The Woman in Red” – (A Dama de Vermelho) ……….……………. 79
1.5.1.4 “The Secret of My Success” – (O Segredo do Meu Sucesso) .….. 82
1.5.2 Considerações sobre os filmes das décadas de 1970 e 1980 ........... 85
1.6 Análise do período de 1990 – 1999 ......................………………................... 86
1.6.1 Seleção e análise dos filmes do período ............……………….......... 87
1.6.1.1 “Disclosure” – (Assédio Sexual) ........................................................ 88
1.6.1.2 “In The Company of Men” – (Na Companhia dos Homens) ……..… 90
1.6.2 Considerações sobre os filmes da década de 1990 ........................... 93
1.7 Análise histórica do período 2000 – 2008 .................................................... 94
1.7.1 Seleção e análise dos filmes do período - (2000 - 2008) .................... 95
1.7.1.1 “Dr. T & the Women” – (Dr. T e as Mulheres) …………..…................ 95
1.7.1.2 “Secretary” – (Secretária) …………..…..………………………….…… 98
1.7.1.3 “Blind Spot: Hitler’s Secretary” – (A Secretária de Hitler) e “A Queda!
As Últimas Horas de Hitler” ........................................................................... 101
1.7.1.4 “The Office” …………………..…………….…….................................. 106
1.7.1.5 “The Perfect Assistant” – (A Secretária Perfeita) ……………............ 111
1.7.2 Considerações sobre os filmes de 2000-2008 .................................... 112
2.
OS TRÊS MAIS IMPORTANTES FILMES DA “REPRESENTAÇÃO DA
SECRETÁRIA NO CINEMA” E SUAS RESPECTIVAS CONTEXTUALIZAÇÕES
..... 115
2.1 Análise dos filmes .......................................................................................... 115
2.1.1 Análise do filme “9 To 5(Como Eliminar seu Chefe) ....................... 117
2.1.2 “Working Girl” – (Uma Secretária de Futuro) e, “The Devil Wears Prada” –
(O Diabo Veste Prada) ............................................................................. 121
CONCLUSÃO ........................................................................................................ 129
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 131
APÊNDICES .......................................................................................................... 133
INTRODUÇÃO
A presente Dissertação reúne trinta e um filmes, num período de 75 anos, que
para poder situar melhor a leitura e dar os fundamentos pelos quais foi possível
realizar este trabalho foram devidamente analisados e dentre este inventário,
destacamos como marcos deste estudo os três filmes que em diferentes momentos
tornaram-se importantes e emblemáticos e assim tornou possível trazê-los ao tempo
presente e contextualizá-los.
Começamos a nossa apresentação cinematográfica com o filme “Sua
Secretária Particular” (1933) dirigido por Phil Witman, que tem como astro principal
John Wayne o principal e o mais disputado galã de Hollywood, para fazer parte de
uma história que tinha uma jovem secretária pela qual ele apaixona e acaba se
casando e, encerramos com o filme “A Secretária Perfeita” (2008) uma secretária
que assume o papel de uma obcecada psicopata que quer casar com o seu chefe a
qualquer custo, nem que para isso tenha que matar sua esposa.
Nesta jornada de 31 filmes, é importante destacar que um fio condutor
ligando-os desde o primeiro em 1933 até o último, ao nosso olhar em 2008 pudemos
perceber e anotar que a sexualidade esteve presente em quase toda filmografia.
Esta característica de posicionamento e de leitura nos permite deduzir que os
diretores buscaram através das realidades contadas ou vistas, um farto material para
compor o imaginário e através deles contar as histórias, onde em todos os
momentos a sexualidade era explicitada, como também os assédios morais
implícitos ou não, que serão comentados com mais amplitude nas análises dos
respectivos filmes.
Neste conjunto de estudos que reúne dados históricos e suas
contextualizações foi possível analisar a luta da mulher em busca de um
reconhecimento social. Seu surgimento no cenário do trabalho, sua participação na
sociedade, sua inserção no campo político e verificar posteriormente o
reconhecimento histórico de suas conquistas e a posição que agora ocupa, em
contra-ponto à mesma mulher no início do século XX.
Foi uma luta de desiguais, porém fantástica sob o ponto-de-vista do cinema
como observador e documento da história, que a cada fotograma, nos permitiu sentir
a evolução social pela qual passou a função secretária até o presente momento e
comparar este estudo ao resultado que nos guiou como propósito desde início da
nossa pesquisa, o de mostrar a importância da secretária nos conteúdos elaborados
para o cinema e a visão dos mais importantes diretores de Hollywood sobre o tema.
Para isto, selecionamos o filme “Como Eliminar seu Chefe” de 1980, conta a
história de três secretárias que se unem e decidem através de estratégias bem
conduzidas e alinhadas, eliminar a presença de um chefe, cujo histórico
organizacional, apresenta atitudes pouco convencionais, que as deixam sempre em
situações nada agradáveis. Este mau chefe depois de ser mantido aprisionado por
elas, para o bem do Departamento, que sem a sua presença e participação
conseguem impor mudanças e conquistar da alta presidência o apoio e aprovação
das medidas tomadas. Permitindo assim duas promoções, a primeira é ver o mau
chefe ser transferido para uma filial em outro país e a segunda é ter a ascensão de
uma ex-secretária ao topo da organização.
Este filme como será visto através de uma análise mais detalhada ao longo
do trabalho, será possível perceber a grande ruptura da mulher frente ao momento
histórico que vivia, pois, na década anterior Betty Friedan, apareceu como
precursora e líder do movimento feminista, o que serviu de referência para o diretor
Colin Higgins ao transportar da realidade os movimentos que inspiravam as
mudanças, como matéria-prima para o imaginário de sua obra.
O segundo filme “Uma Secretária de Futuro” de 1988, dirigido por Mike
Nichols, mostra uma outra ruptura dentro do contexto social, o aparecimento dentro
da história de uma mulher no topo da organização Katharine Parker (Sigoumey
Weaver), como perfil de uma executiva de caráter e procedimentos duvidosos, que
espaço ao surgimento da secretária Tess McGill, que inteligentemente consegue
mudar o rumo da história, mostrando aos executivos do seu relacionamento a forma
escusa de como ela agia, consegue assim a façanha de ocupar o lugar desta na
organização. Assim sendo, a ética e as boas relações na organização devem ser
vistas e mantidas, permitindo assim a possibilidade de promoção.
O terceiro filme “O Diabo Veste Prada” (2006), dirigido por David Frankel, que
tem como grande cenário a representação de vários duelos, entre eles pudemos
destacar: mulheres versus mulheres; a luta o entre bem e o mau; a executiva versus
a secretária; poder e dinheiro versus liberdade. Todos esses componentes fazem
parte da história que a executiva poderosa e autoritária perde a batalha para uma
secretária que se nega a entrar “jogo”, pois as suas características e convicções
pessoais a fazem se afastar e a retornar ao seu sonho inicial de ser uma jornalista,
antes, porém sem antes ter provado o doce e o veneno das agruras que cercam as
corporações e os seus domínios.
Neste processo de levantamento e análise dos vários filmes foi fundamental
as referências dos teóricos como: George Duby, Michel Foucault, Wolfgang Iser e
Michel Volvelle entre outros, reconhecidos no meio acadêmico, que contribuíram
com suas visões a cerca do imaginário e da representação.
13
1. REPRESENTAÇÃO
A representação é uma forma de objetivar um fato, um conteúdo, uma história
contada ou escrita, uma atividade conhecida ou não, através da sua representação,
trazendo para a realidade o acontecimento e como este agora no imaginário do autor
é expresso, seja através de uma peça de teatro ou na visão de um Diretor de
Cinema, que vai reproduzi-lo no seu roteiro, apresentando a visão dele no contexto
da narrativa, ao mesmo tempo passando para o público a verossimilhança com o
fato real. Assim sendo, a representação designa o modo pelo qual em diferentes
lugares e momentos uma determinada realidade é construída, pensada e dada a ler
por diferentes grupos sociais.
A construção das identidades sociais é o resultado de uma relação de força
entre as representações impostas por aqueles que têm poder de classificar e de
nomear e a definição submetida ou resistente, que cada comunidade produz de si
mesma de uma história social da cultura.
A recusa do pressuposto que os contrastes e as diferenças culturais estejam
forçosamente organizados em função de um recorte social previamente constituído.
Leva a uma abordagem de centrar a atenção nos empregos diferenciados, nos usos
contrastantes dos mesmos bens, dos mesmos textos, das mesmas idéias. Isto é, a
apropriação definida como o consumo cultural, como uma operação de produção
que embora não fabrique nenhum objeto, assinala a sua presença a partir de
maneiras de utilizar os produtos que lhe são impostos.
Na busca da história das interpretações visando a maneira como os
indivíduos e a sociedade concebem, representam, a realidade e de como essa
concepção orienta suas práticas sociais onde o método utilizado como referência é o
mundo que serve como representação para compor sua história, suas lendas, suas
ficções e seu próprio imaginário, responsável em transmitir através das gerações a
continuidade de um fato inexistente ver transformar-se em real, tal o apelo que as
representações podem lhe conferir.
Essa noção de que permanentemente, pode estar relacionando as imagens
presentes, representadas, seja ela real ou aproximada ao que se conhece e a contra
posição ao objeto ausente, permitindo feões comparativas de realismo ou de
exageros de quem as descreveu ou a está representando, abre a possibilidade do
14
desenvolvimento de um senso crítico que permite o estudo da representação
enquanto fonte de dados e ou observação de determinado fato ou realidade.
Os discursos historiográficos são determinados pelos interesses dos grupos
dominantes, ou seja, aqueles que determinam ou expressam a sua vontade de como
a história será relatada. Entretanto, de acordo com Joliane Olschowsky da Cruz
1
o
ato de representar está baseado na idéia de como imagens mentais que se formam
no cérebro e elas só são verificáveis por um único ator, aquele que as imagina. Esta
sua observação nos dá uma luz de como ocorrem as representações, elas são como
um espelho de uma imagem, de uma fala, de um fato, do real ou do imaginário.
Podemos citar Peter Burke
2
, que em seu livro destaca o papel ativo da
imaginação, conforme trabalha as imagens e descreve como os reis contribuíam
para a criação de uma imagem ideal de si próprio e como esta ajudava a manter o
poder da monarquia; além de representar a si mesmo, o rei era assim representado
em muitas esculturas e pinturas, o que reforça o seu papel e do sistema político no
qual se insere.
Para Jean-Pierre Rioux
3
é possível distinguir pelo menos quatro blocos mais
importantes no âmbito da história cultural: a dos signos e símbolos exibidos; a dos
lugares expressivos e as sensibilidades difusas; a da ancorada sobre os textos e as
obras de criação, íntimas, alegóricas e emblemáticas valorizando as ferramentas
mentais; e as evoluções dos sentidos, misturando os objetos, as práticas, as
configurações e os sonhos.
Segundo Sirinelli (2004)
4
, a síntese entre os dois pólos possíveis de uma
história cultural é concebida ao mesmo tempo como história das representações do
mundo e como elas são elaboradas pela mente, desde os sistemas de pensamento
mais construídos até as sensibilidades mais simples. Esses pólos delimitam um
campo de estudo, tendo por objeto tudo aquilo que é dotado de sentido em um grupo
humano em determinado período; tal pensamento nos contempla e validade nos
termos da definição e da reflexão proposta uma história cultural.
Para corroborar com o pensamento de que as representações tornam-se um
fenômeno social coletivo, e que o mesmo se apodera do inconsciente coletivo;
1
CRUZ, Joliane Olschowsky da. Mulher na Ciência: Representação ou Ficção. 2007. Tese de Doutorado –
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
2
BURKE, Peter. Fabricação do Rei. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
3
RIOUX, Jean-Pierre; SIRINELLI, Jean-François. Pour une histoire culturelle. Paris: Seuil, 1997 p.17-18..
4
Jean-François Sirinelli, nasceu em Paris em 11 de junho de 1949. É um especialista da história francesa, e
especialista da história política e cultural da França não século XX. Professor de universidades e do Instituto de
Estudos Políticos de Paris e Diretor do Centro de História e de Ciências Políticas de Paris.
15
traduzindo assim, para quem realiza essa metamorfose um sentimento de verdade
cuja realidade vivida passa ser objeto de pura modelagem, o perdendo em
nenhum momento o realismo ou a sua identidade com a realidade, seja ela na
palavra escrita ou na oralidade, como também na transposição da imagem através
de multimeios.
Segundo Serge Moscovici
5
, as representações são responsáveis por
comportamentos e atitudes dos indivíduos da coletividade, mas sofrem alterações a
partir da vivência na qual é forjada. A construção das representações é multifatorial,
e elas serão tão diversas quantas forem às opiniões de onde nasçam e os objetos
passíveis de representação. Pensando dessa forma, estudar as representações
poderia ser uma maneira de desvendar a sociedade tal como ela é percebida por
seus atores. As representações sociais explicariam como alguns comportamentos
vistos como naturais foram, em verdade, construídos “naturalmente” através do
contato social.
O autor apresenta o quanto a sociedade se utiliza para ilustrar ou relatar o
seu cotidiano de alguma forma, o passado em algum momento da sua história, e
como ela mesmo contada baseada em fatos tidos como reais, na verdade são
fragmentos que são colocados num formato de mosaico o que sugere a
representação real, ou quase que real. Para ele, a representação social é um
fenômeno do cotidiano, que se produz num determinado contexto social. O
indivíduo, ator participante da coletividade se apropria da produção coletiva acerca
de determinados valores os quais o grupo criou uma idéia comum. Nesse sentido, a
representação social é um fenômeno psicossocial, um conjunto de conceitos,
afirmações e explicações originadas no cotidiano, no desenrolar de combinações
interpessoais.
Para iluminar a esta pesquisa e dar a sua fundamentação seja da profissão
ou da atividade secretarial, exercida basicamente na sua grande maioria por
mulheres, entende-se que a realidade é transportada para um cenário, cujos efeitos
de representação serão por conta do seu autor ou narrador, porém, sem em nenhum
momento deixar de recorrer ao modelo social recorrente; segundo Moscovici
6
, numa
visão ampliada e assertiva do que são as representações sociais.
5
MOSCOVICI, Serge. A Representação Social da Psicanálise. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1978.
6
Idem.
16
A filmografia estudada nos permitiu traçar os paralelos e as coincidências
observadas em cada um, como também contextualizar as passagens em seus
referidos tempos e analisar as respostas que a sociedade dava através das suas
realidades. E como o imaginário pode captar estes ciclos de mudanças vistos nos
filmes, o que permitiu elaborar um inventário, que além de convidativo, é instigante.
Sendo assim, após situarmos o nosso olhar, estamos aptos a percorrer juntos
esta análise, um inventário que irá conduzir aos mais diversos cenários e a
resultados inimagináveis. Sendo a nossa contribuição como pesquisador, que ao
trabalhar o tema secretária resgata a sua importância ao longo do século XX, e
confere a ela uma justa inserção na cinematografia pesquisada.
Na mesma direção recorre-se ao trabalho de Doutorado de Joliane
Olschowsky da Cruz, que observa:
Cada cultura engendra e põe em circulação seu modo de ver,
costumes, permissões e interdições através de representações
quase intangíveis, entendidas e partilhadas e ainda cuidadas pelos
indivíduos de cada grupo. Com a intenção de verificar a
permanência dessas representações, no intuito de entender como as
imagens podem perpetuar ou transformar conceitos à teoria das
Representações Sociais de Serge Moscovici.
7
Na categorização e seleção dos filmes escolhidos, que compreende o período
de 1933 a2008, percebe-se o quanto esta observação co-valida este trabalho de
pesquisa, onde a sexualidade e as diferenças sociais entre as mulheres e os
homens no ambiente secretarial, onde ela estará representando o papel da
secretária é uma constante em quase em todas as tramas, configurando a
perpetuação do estereótipo que a sociedade através do seu inconsciente coletivo
em cada profissão ou atividade exercida.
Nas representações o estereótipo é tratado como uma memória ou uma
combinação de fatos observados, que podem ser tratados de forma correta de quem
os vê, como um modelo calcado na sociedade, como determinadas profissões ou
atividades que podem ser consideradas matrizes de uma deformação social,
rotulando assim tudo ou todos aqueles que a exercem no real ou a levam para o
imaginário. Para isso, destaca-se Pierre Lévy, que enfatiza o seguinte pensamento:
7
CRUZ, Joliane Olschowsky da. Mulher na Ciência: Representação ou Ficção. 2007. Tese de Doutorado –
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
17
Parece que apenas levamos em conta em nossos raciocínios àquilo
que se enquadra em nossos estereótipos e nos esquema pré-
estabelecidos que usamos normalmente. (Lévy, 1993, p. 153).
Ainda, no trabalho de Joliane Olschowsky da Cruz
8
, há uma referência à
Roger Chartier na analise crítica da obra da “História das Mulheres no Ocidente”, no
período moderno, entre os séculos XVI e o XVIII, mais que no período anterior,
(...) a construção da identidade feminina se enraíza na interiorização
pelas mulheres, de normas enunciadas pelos discursos femininos. A
ênfase deve ser colocada sobre os dispositivos que asseguram e
eficácia desta violência que, como escreveu Pierre Bordieu, ‘só
triunfa se aquele (a) que sofre contribui para a eficácia; ela o
submete na medida em que ele (ela) é predisposto por um
aprendizado anterior a reconhecê-la
9
. Um objeto maior da história
das mulheres é então o estudo dos discursos e práticas, manifestos
em registros múltiplos, que garantem (ou devem garantir) que as
mulheres consintam nas representações dominantes da diferença
entre os sexos: desta forma a divisão das atribuições e dos espaços,
a inferioridade jurídica, a iniciação escolar nos papéis sociais, a
exclusão da esfera pública, etc. Longe de afastar o “real” e de
indicar figuras do imaginário masculino, as representações se
inscrevem nos pensamentos e nos corpos de umas e de outros.
(CHARTIER, 1995.p.40).
A obra o “Fictício e o Imaginário” nos apresenta como o fictício ajuda na
construção de algo que nos possa parecer real; apresenta a sua origem na ficção e
no imaginário do inconsciente popular, seja na literatura, nas artes e na oralidade. O
que nos leva à reflexão de como o cinema utiliza tais técnicas para dar a sua versão
da realidade, segundo essa ou aquela linha de pensamento, vide Wolfgang Iser
10
.
8
CRUZ, Joliane Olschowsky da. Mulher na Ciência: Representação ou Ficção. 2007. Tese de Doutorado –
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007
9
BORDIEU, P. La noblesse d’ état. Gradnes écoles et espirit de corpo.
10
Idem.
18
1.1 A Representação da Secretária no Cinema. A década de 1930 – 1939
1.1.1 O Cinema e as Artes no século XX
O cinema foi um dos responsáveis em documentar a história do Século XX. A
nova invenção atraiu no início poucos adeptos, constituídos basicamente das
camadas populares. Alguns intelectuais se recusavam a aceitar a nova idéia.
Entretanto foram as classes mais simples que aderiram e reconheceram o valor que
a nova invenção poderia trazer: entretenimento.
havia na verdade duas artes de vanguarda que todos os porta-
vozes da novidade artística, em todos os países, podiam com
certeza admirar, e as duas vinham mais do Novo que do Velho
Mundo: o cinema e o jazz. O cinema foi cooptado pela vanguarda
durante algum tempo durante a I Guerra Mundial, depois de
inexplicavelmente ignorada por ela. Não apenas se tornou essencial
admirar essa arte, e notadamente sua maior personalidade,
11
“Charles Chaplin”.
12
A década de 30 iniciava-se com uma grande mudança a incorporação do som
direto no cinema, ou seja, estava chegando ao fim da era do “cinema mudo”, o que
faria com que alguns atores, produtores e diretores, alterassem toda a
representação até então vista, pois, com som direto, a arte cinematográfica ganharia
um novo alento, uma nova dimensão, era um novo ciclo que surgia.
A vanguarda do cinema europeu irrompeu na Rússia, foi esta vanguarda que
nos trouxe, um dos grandes marcos do cinema: “Encouraçado Potemkin” de Sergei
Eisenstein, uma verdadeira obra-prima do cinema mudo.
O cânone de “filme de arte” que se esperava que os fãs intelectuais
admirassem em pequenos templos de cinema especializados,
durante a era dos cataclismos, de um lado a outro do globo,
consistia essencialmente de criações de vanguarda como:
Encouraçado Potemkin, de Sergei Eisenstein (1898-1948), de 1925,
em geral considerado a obra-prima de todos os tempos. A seqüência
da escadaria de Odessa nessa obra, que quem tenha visto como
11
Charles Spencer Chaplin Jr. (Londres, 16 de abril de 1889 Corsier-sur-Vevey, 25 de dezembro de 1977) foi
um ator, diretor, roteirista e músico britânico nascido na Inglaterra.
12
FERREIRA, Jorge; REIS FILHO, Daniel Aarão; ZENHA, Celeste; O século XX O tempo das dúvidas Do
declínio das utopias às globalizações. p. 227. Civilização Brasileira – Rio de Janeiro, 2002.
Celeste Zenha – Professora adjunta de Metodologia a História da Universidade Federal do Rio de Janeiro –
Mídia e informação no cotidiano contemporâneo.
19
eu vi num cinema de vanguarda de Charing Cross, na década de
1930 jamais esquece, foi descrita como “a seqüência clássica do
cinema mudo, e possivelmente os mais influentes seis minutos da
história do cinema”. (Manvell, 1944, pp. 47-8).
13
Na Europa era o cinema francês, visto pela ótica dos intelectuais como René
Clair
14
que afirma ser o cinema o formato ideal para entreter o povo, conforme Jean
Renoir
15
.
A Europa tinha um modelo muito particular para fazer cinema, um tanto diferente de
Hollywood, que soube de maneira inteligente e ao mesmo tempo comercial fazer com a
máquina de produzir filmes, produzisse e vendesse essencialmente sonhos, que fossem
contínuos, incessantes e poderosos. Atraindo assim, os melhores diretores e técnicos
disponíveis na Europa para integrarem a máquina de fazer sonhos em Hollywood (EUA), de
acordo com o pensamento de
Eric Hobsbawm, que se segue:
Estes como críticos não intelectuais gostavam de observar, eram
menos agradáveis, embora sem dúvida mais artisticamente
refinados que o grosso daquilo que centenas de milhões (incluindo
os intelectuais) viam toda a semana em palácios do cinema cada vez
mais gigantescos e luxuosos, ou seja, a produção de Hollywood. Do
outro lado, os showmen realistas de Hollywood foram quase tão
rápidos quanto Diaghilev em perceber a contribuição da vanguarda
ao lucro. O fluxo de diretores da Europa Central, como Lang
16
,
Lubitsch
17
e Wilder
18
, para o outro lado do Atlântico - e praticamente
todos eles eram vistos como intelectuais em suas terras nativas – iria
ter impacto considerável sobre a própria Hollywood, para não falar
de técnicos como Karl Freund (1890-1969) ou Eugen Schufftan
(1893-1977).
19
13
HOBSBAWM, Eric; Era dos Extremos O breve culo XX 1914 1991 p. 182 183. Companhia das
Letras – São Paulo, 2005.
14
René Clair (1898-1981). Foi autor e diretor de cinema francês.
15
Jean Renoir (1894-1979). Foi cineasta, escritor, roteirista, e ator francês.
16
Friedrich Anton Christian Lang (Viena, 5 de Dezembro de 1890 Los Angeles, 2 de Agosto de 1976) foi um
realizador, roteirista e produtor nascido na Áustria.
17
Ernst Lubitsch (Berlim, 28 de janeiro de 1892 — Hollywood, 30 de novembro de 1947), foi um ator e diretor de
cinema alemão, e atuando como diretor de filmes em Hollywood (EUA). Os seus filmes eram engenhosos e
sofisticados, com uma boa e maliciosa sexualidade. Em todos eles o famoso "Toque Lubitsch". muitas
definições do que seja de fato o Toque Lubitsch, mas a maioria delas foca o seu único, nada convencional e um
pouco efêmero jeito de fazer filmes.
18
Billy Wilder (Sucha Beskidzka, 22 de Junho de 1906 — Beverly Hills, 27 de Março de 2002) foi um realizador de
cinema estado-unidense. Dirigiu com muita maestria um dos filmes selecionados para esta Dissertação de
Mestrado: “Se meu Apartamento Falasse” de 1960.
19
HOBSBAWM, Eric; Era dos Extremos O breve século XX 1914 1991 p. 183. Companhia das Letras
São Paulo, 2005.
20
1.1.2 Análise socioeconômica do período
Para situar o que foram os anos 1930, deve-se embasar historicamente no
final da década de 1920 nos EUA, marcada para sempre como um dos períodos
mais críticos vividos pelo capitalismo, a Grande Depressão. Este fenômeno levou a
população americana a amargar o desemprego, testemunhar a quebra da Bolsa de
Valores de Nova York, documentar nas ruas filas e filas de homens e mulheres em
busca de alimentos. A Grande Depressão vivida pelos EUA foi determinada por uma
crise de superprodução que atingiu, principalmente os países capitalistas.
A década de 20 foi marcada por um clima de euforia, especialmente
nos Estados Unidos. A produção total norte-americana aumentou em
mais de 50% e a prosperidade podia ser medida pelo enorme
movimento das bolsas de valores. A busca do rendimento em curto
prazo e em grandes proporções provocou uma onda de especulação
em larga escala, em torno das sociedades de ações. Milhões de
norte-americanos foram atraídos para o mercado de capitais, que
era movido pelo clima de confiança e pelo mito da eternidade do
“american way of life.
20
A economia americana viveu num caos total. O desemprego era o mais alto
da história recente dos EUA, não havia produção, não havia dinheiro para produzir,
muito menos para alimentar o poder de compra e de consumo, conforme segue no
texto abaixo.
A primeira medida foi o afiançamento do protecionismo comercial,
que os Estados Unidos iniciaram em 1930. (...) Como estas medidas
protetoras não bastariam para deter à baixa de preços e matérias-
primas e produto básico nos mercados internacionais, recorreu-se a
medidas “malthusianas” como a destruição de stocks. Um caso típico
foram as queimas de café brasileiro. Em 1927-1928 tinha
conseguido um record de produção, que se repetiu em 1929-1930;
em 1931, por imersão ou por fogo, foi destruído a terça parte da
colheita.
21
Para muitos historiadores, o poderio de Hollywood advém de ser vista como
“uma máquina de fazer sonhos”, essa visão foi transmitida, se tornando peça
fundamental na recuperação econômica, social e moral de um povo que estava
20
BERUTTI, Flávio; FARIA, Ricardo; MARQUES, Adhemar; História Contemporânea Através de Textos
Textos e Documentos 5 – Pg. 155 - Contexto – São Paulo, 2001.
21
Idem.
21
atravessando uma das piores crises de sua história. Hollywood transformou-se em
num grande centro de produções, algumas modestas, outras porém bem
elaboradas, o que continuou rendendo bilheterias e dólares para indústria. Embora,
não se pode esquecer, que elas também documentaram o momento e a realidade
vivida durante a crise.
A Grande Depressão, como não podia deixar de ser, foi utilizada
como tema por muitos escritores e cineastas. Filmes como a ”A Noite
dos Desesperados”, retratam com uma crueza impressionante o
desespero das pessoas comuns perante a miséria com a qual
passavam a conviver; na literatura existem vários livros que
utilizaram a depressão como pando de fundo. A obra de *Steinbeck,
“As Vinhas da Ira”, ambientado ma região centro-oeste e sudeste do
país, mostra outros efeitos da crise. Ademais nessa época, os
tratores começavam a se tornar comuns, substituindo o trabalho de
dez famílias, despejando nas estradas uma multidão de famintos.
22
Um outro momento do relato que nos chamou a atenção é exatamente o
contraste com a economia brasileira em “estado de estagnação”, sem reações e sem
perspectivas, vide Flávio Berutti.
23
1.1.3 Seleção e análise dos filmes no período
Reunimos neste período os filmes “His Private Secretary(Sua Secretária
Particular) de 1933, “Wife versus Secretary” (Ciúmes Esposa vs. Secretária)
produzido em 1936 e Mr. Smith Goes to Washington” – (A Mulher Faz o Homem) de
1939, para nossa análise inicial, estes filmes documentam um período em que os
Estados Unidos atravessava uma de suas piores crises e assim mesmo pode nos
oferecer algumas produções que no nosso entender, tinha como objetivo atrair ao
máximo o público feminino. Naquele momento, Hollywood tinha seus galãs
destacados para esta finalidade, entre eles John Wayne, Clark Gable e James
Stewart. Como objeto da nossa pesquisa a secretária, nestes filmes, tem suas
primeiras inserções, cujas participações a princípio modestas conseguem marcar o
22
BERUTTI, Flávio; FARIA, Ricardo; MARQUES, Adhemar; História Contemporânea – Através de Textos
Textos e Documentos 5 – Pg. 155 - Contexto – São Paulo, 2001.
23
Idem, p. 166.
22
início de uma trajetória, posteriormente marcadas por grandes títulos e grandes
atuações.
1.1.3.1 “His Private Secretary” – (Sua Secretária Particular) - EUA 1933
A produção deste filme é de junho de 1933, com John
Wayne e Evalyn Kanapp, dirigido por Philip H. Witman. nesta
década, John Wayne filmou cerca de 46 longas, ou seja, uma
média de 4.6 filmes por ano. Estima-se tal volume de filmes se
deve a sua presença marcante nas telas, como também ao seu
tipo físico. John Wayne que estreou no Cinema em 1928 com o
filme “Hangman’s House”, de toda a sua filmografia, extensa e diversificada, foi em
“His Private Secretary”, no papel de Richard (Dick) Wallace, um playboy que se
enamora de sua futura esposa, na época secretária, Marion Hall (Evalyn Knapp).
Sinopse: John Wayne no papel de (Dick Wallace) vivendo o filho de um
homem de negócios Mr. Wallace interpreta um playboy, que com suas atitudes
pouco recomendáveis, horroriza seu pai, um cidadão austero e preocupado com o
desempenho das suas empresas. Como atuavam juntos, Mr. Wallace o desafia a
saldar uma dívida da empresa. Com esta missão a cumprir, chega à cidade de
Somerville, onde conhece Marion que trabalha e mora com o avô. Encantado com
Marion, logo estabelecem um romance e logo fica sabendo da verdadeira missão de
Dick. Ciente dos fatos convence o avô a emprestar o dinheiro para saldar a dívida da
empresa de Dick. Eles se casam, e ela que era secretária do avô, se propõe a
trabalhar com o pai de Dick Wallace em suas empresas, onde irá ocupar o lugar do
seu marido. Com evolução da trama, ela muda as atitudes do pai de Wallace, para
melhor, o ambiente do escritório fica sob seu comando e se torna mais profissional.
O que leva Dick Wallace e pai a se reencontrarem dentro da organização graças às
suas ações. Desta forma as relações pessoais exerceram influência positiva no
exercício profissional.
Neste filme foram selecionadas algumas cenas como as da abertura que
mostra a figura de uma mulher, sentada, com uma agenda sobre as pernas, o que
23
nos passa a impressão de que este filme poderá ter algumas insinuações ou apelos
sexuais, como se pode comprovar depois.
As demais cenas que serão descritas que mostram o ambiente secretarial e a
abordagem feita por Dick Wallace, como uma insinuação ao assédio sexual. Na
cena seguinte um indício de assédio sexual, quando Dick Wallace pede a uma
das secretárias para que aponte o seu lápis.
Cena que mostra um
escritório com duas
secretárias e uma outra,
distribuindo tarefas.
Secretária realizando
tarefas no escritório.
Momento em que Dick
Wallace se insinua para a
secretária.
Plano de detalhe nas
pernas da secretária.
24
O primeiro encontro entre O encontro entre Dick, e o avô
Dick e Marion. de Marion, o qual se tornam aliados.
Marion se apresenta para Marion no exercício de Secretária
trabalhar com o pai de Wallace. nas empresas do pai de Dick.
Diálogo entre Marion e Wallace.
Cena de poder e persuasão.
Nesta cena vê-se quando o assistente de Mr. Wallace
rejeita uma candidata à secretária, a qual, não preenchia os pré-requisitos
estabelecidos como beleza e apresentação, passando assim um sentimento de
preconceito no que seria o ideal de beleza para ser uma secretária.
25
Conclusão: À primeira vista parece ser um filme sem grandes pretensões, mas no
decorrer constata-se que as secretárias eram vistas pelos diretores de cinema como
um grande pretexto para se iniciar qualquer relação. Pois, estavam em ambientes
divididos por homens, e estes eram absolutos desde as questões econômicas até as
questões pouco ou sem nenhuma moralidade. É neste filme que podemos perceber
as primeiras inserções de cenas que mostram o assédio sexual, entretanto, a
história tem um final feliz, a jovem secretária tem o seu objetivo alcançado, ou seja,
casar-se com o filho de um grande empresário e atuar na mesma empresa
pertencente ao seu sogro.
1.1.3.2 “Wife vs. Secretary” – (Ciúmes: Esposa vs. Secretária)
em 1936, temos para nossa análise o filme Wife vs. Secretary” – (Ciúmes:
Esposa vs. Secretária)
O filme dirigido por Clarence Brown tem como centro da história, o editor de
revista Van Stanhhope (Clark Gable) é um
trabalhador incansável, um executivo
dinâmico e com um casamento muito feliz
com a sua bela esposa Linda (Myrna Loy).
Através de alguns amigos que confia, Linda
recebe alguns conselhos para tomar
cuidado com a secretária Helen Whitey”
Wilson (Jean Harlow), que é extremamente
sexy, e, que trabalha diretamente com seu marido. Até mesmo sua sogra lhe avisa
do perigo. A secretária Helen “Whitey” Wilson tem um namorado Dave (James
Stewart) que também é muito desconfiado.
No filme Van Stanhhope e Linda formam um jovem e feliz casal, ele fica
sempre preparando várias surpresas, canta para ela, esconde jóias dentro da
comida, uma série de atitudes que a impressionam e deixam perceber uma relação
muito feliz e estável, até que surge Helen, que vai atuar como sua secretária e a
proximidade de trabalho entre os dois, acaba complicando a vida conjugal.
26
Helen "Whitey" Wilson, interpreta uma jovem, tida pelos padrões
da época como de “moça direita”, e que tinha um namorado,
declaradamente ciumento. Dave Van Stanhhope, vive o papel
de um marido direito, que no escritório, demonstrava atitudes
estritamente profissionais com sua secretária, não deixando em
nenhum momento transparecer outros interesses. Porém, para
os seus amigos, algumas de suas atenções deixava e
impressão de que havia um romance secreto entre eles.
Para complicar as relações com a esposa, as desconfianças surgem, os
falatórios são constantes, mas na verdade, tudo não passa de
intrigas, já que na realidade não há nada entre Van e sua
secretária.O filme como um todo, trata das relações entre
esposa e secretária, em que o ciúme é o componente que o
tom da história, mostrando uma vez mais o duelo entre duas
mulheres, uma que acredita que está sendo ameaçada em seu casamento, e outra
que age sem ameaçar.
Wife vs. Secretary” foi o "filme de atriz" da Jean Harlow, que morreria no ano
seguinte. Foi uma das poucas chances que a atriz teve
uma atuação de verdade, digna de ser vista.
E é Helen, na verdade, quem dá o tom da narrativa,
com destaque para a cena em que ela vai atrás de
Linda, que já queria pedir o divórcio de Van, para avisá-
la que ela tem que confiar no marido e fazer as pazes
com ele. Neste momento, sai de cena a secretária e entra a mulher, que quer
mostrar para Linda que ela não era uma destruidora de casamentos, muito menos
interesseira. A ponto de propor para que Linda fosse atrás do seu marido e não
desse atenção a suposições ou maledicências.
Conclusão: Este filme mostra como a secretária era vista pela sociedade e
representada na tela pelo diretor Clarence Brown que o tom da sedução, da
insinuação e dos perigos que qualquer chefe poderia correr com uma secretária
jovem bonita e sensual. E, como a mulher deste chefe poderia impedir os prováveis
avanços ou investidas, que esta pensaria ou desejasse fazer.
27
1.1.3.3 “Mr. Smith Goes to Washington” – (A mulher faz o Homem)
Para fechar a série que documenta a década, apresentamos Mr. Smith Goes
to Washington” – (A mulher faz o Homem), - EUA, 1939, a qual, será vista a seguir.
“A Mulher faz o Homem”, trata com muita desenvoltura o
papel de uma secretária de um grande político, que
consegue reverter uma história de mentiras e se coloca
como defensora da verdade e da ética.
Sinopse: Jovem interiorano e idealista é eleito para o
Senado e chega a Washington cheio de sonhos e
aspirações. Mas não demora em descobrir os verdadeiros interesses que
movimentam seus colegas de Congresso. Dirigido por Frank Capra, conhecido pela
capacidade de transportar para o cinema o “ideal americano” como decência e bom-
mocismo. Obteve dez indicações para o Oscar, como do melhor filme, diretor e ator
James Stewart. O filme ganhou apenas a estatueta de melhor história original -
categoria que mais tarde foi extinta e substituída para roteiro original.
Cena 1 Cena 2
Na cena 1 pode-se ver Ms. Clarissa Saunders (Jean Arthur) como secretária,
recepcionando o novo Senador Mr. Jefferson Smith (James Stewart) em seu
gabinete. Na cena 2, ela começa a assessorar o novo Senador, dando-lhe todas as
coordenadas de ações e de postura, como uma verdadeira líder.
Nas demais vê-se como ela exerce o poder de persuasão, estimulando e se
colocando à disposição do Senador para ajudá-lo no que for preciso para
desenvolver e apresentar o seu Projeto, o que estava sendo sabotado por um grupo
28
liderado por Jim Taylor (Edward Arnold) e pelo Senador Joseph Harrison Paine
(Claude Rains) que estavam interessados em construir uma represa no local.
O Senador Jefferson Smith resolve desenvolver um projeto para criação de
um acampamento para jovens, o qual não deverá abrigar garotos de Montana,
como de outras regiões do País. Ao ouvi-lo falar do mesmo com tanto entusiasmo,
Clarissa Saunders, fica encantada com os sentimentos puros do novo senador,
mudando radicalmente sua opinião sobre ele e passando a dar todo o suporte de
que ele necessita para levar a cabo sua tarefa.
Concluído o trabalho de levantamento de dados, com sua secretária Ms.
Saunders, ele o apresenta numa das sessões do Senado. Durante sua fala, o
Senador Smith explica que o acampamento proposto deverá ser levantado nas
adjacências de um afluente do rio Willet Creek, em Terry Canyon. Ao ouvi-lo, O
Senador Paine se retira e aciona um esquema para mantê-lo afastado do Congresso
no dia seguinte, quando deverá ser votada a liberação de verbas para a represa
Willet.
Diante de tanto jogo sujo, propinas, ameaças, pressões de todos os lados, o
jovem senador decide largar tudo e voltar para Jackson City, mas é impedido por
Clarissa Saunders que, a essa altura, encontra-se por ele apaixonada e decidida a
ajudá-lo a desmascarar o sistema de corrupção existente no Congresso. E
começa decididamente seu apoio ao jovem Senador, comparecendo em todas as
seções do Congresso.
Dominando o regulamento que rege o funcionamento do Senado, Clarissa
instrui Mr. Smith sobre como agir e recorrer a determinados artigos que lhe
garantirão o direito de falar por quanto tempo julgar necessário. Assim, por diversas
horas, ele expõe a situação de seu Estado, que precisa se livrar de uma quadrilha de
sanguessugas, que controla a quina política através de propinas pagas a
congressistas. No caso da represa Willet, Mr. Taylor quer vê-la construída para seu
proveito próprio.
Ao final de sua fala, o Senador Smith encara o Senador Paine, a quem lembra
que ele e seu pai sempre o admiraram por ser o senador um defensor das causas
perdidas, aquelas pelas quais vale a pena lutar e até mesmo morrer. debilitado
pelos consecutivos dias de fala, sem descanso e não podendo sentar-se, cai
desmaiado em plena sessão.
29
Um dos grandes momentos do filme refere-se à cena 3
descrita acima, na qual a Secretária assume o papel de
assistente direta do novo Senador, ocupando assim a
coordenação do novo Projeto.
Momento em que ela assume o controle de todas as
ações e começa a redigir em conjunto com ele o novo
Projeto que seapresentado e defendido pelo Senador,
em pleno Capitólio.
Nesta pode-se ver o momento em que Miss Saunders,
lhe entrega um grande volume de cartas de apoio ao
Senador. Neste momento uma comemoração em
função da estratégia e do resultado obtido.
Momento em que entra na galeria do Senado para
participar e dar apoio direto ao Senador Mr. Smith.
Momentos finais do filme em que o Senador acusador
entra em plenário para desmascarar a farsa que ele
tinha montado para acusar o Senador Mr. Smith, quando
uma vibração geral sobre sua absolvição e inocência,
a qual é comemorada com grande entusiasmo por Miss
Saunders, sua fiel e correta Secretária.
Momento em que as palavras do jovem senador batem
fundo no Senador Paine que, não suportando as
tensões decorrentes, explode aos gritos dizendo que ele
é quem deve ser cassado, pois tudo o que Senador
Smith falou é verdade!
Conclusão: Este filme mostra pela primeira vez no cinema o poder
transferido para uma secretária, no que se refere a mudar a história de uma
30
narrativa, com inteligência, astúcia, colaborativa, parceira e ética nas relações. Ela
se torna a principal assessora do novo Senador, cuja vida é mudada no Senado por
causa do trabalho e das orientações que ela vai mostrar a ele. Nossa secretária
surpreende no filme, ela vai dividir junto com o Senador os principais papéis no filme,
demonstrou que pode ter uma grande mulher por trás de todo grande homem, aliás,
a competente Ms. Clarissa foi fundamental para que Mr. Smith mostrasse de que era
capaz.
1.1.4 Considerações sobre os filmes da década de 1930 -1939
Os anos 30 marcam uma América totalmente destroçada no campo
econômico e social. A depressão econômica chega ao seu auge. Os Estados Unidos
mergulha numa profunda crise, mostrando ao mundo o realismo das ruas, homens e
mulheres sem emprego, sem comida e quase que sem perspectivas futuras.
Nesta análise filmica reunimos três filmes que tratam distintamente seus
temas. Todavia eles têm como base de seus roteiros a representação de secretárias
no início com papéis sem grandes pretensões que, no decorrer da narrativa crescem
e tomam os seus espaços previstos pelos diretores das respectivas películas. Ao
rever a história deste período, não pode-se esquecer que os anos de 1920 e os anos
de 1930 marcaram de sobremaneira a ascensão de Hollywood, independente do
caos que se vivia no período.
Os três diretores focam o papel da representação da secretária, ambientado
dentro do escritório e no seu dia-a-dia. Colocando em destaque a identificação da
secretária dentro dos papéis funcionais, e sua relação com a máquina de escrever,
objeto inseparável, considerado como parte integrante do seu trabalho.
As três produções não economizaram esforços em trazer para contracenar
com as secretárias nada menos do que estrelas de primeira grandeza de Hollywood,
que além de gerarem bilheteria, garantiriam uma platéia com supremacia feminina.
Um público formado por secretárias ou não, mas que pudessem ver e sonhar
histórias do seu dia-a-dia contracenado por astros como: John Wayne (His Private
Secretary), Clark Gable e Jean Harlow (Wife versus Secretary), James Stewart (Mr.
Smith Goes to Washington).
31
Os três diretores exploram a sensualidade e a sexualidade, sendo mais
evidente no filme “His Private Secretary”. O que surpreende em cada filme é como
as secretárias são representadas, tipos simples, sem grande importância. Dos três
filmes, o que mais foca a ascensão e importância de uma secretária é sem dúvida
nenhuma é o filme “Mr. Smith Goes to Washington” que em português foi traduzido
em (A Mulher faz o Homem), como uma analogia perfeita do papel social da nova
mulher que estava surgindo.
A história passa por ética, comprometimento, parceria, falta de interesse
financeiro e de cargos, valores que foram mostrados pela secretária que foi
designada para assistir ao novo Senador, que havia recém chegado do interior, foi
ela que alterou a trajetória do filme e assumiu a postura ética, tarefeira, organizada,
disciplinada e, totalmente voltada para uma causa: a verdade! O filme nos transporta
para o debate no Senado e os sucessivos dias que o nosso jovem Senador Mr.
Smith passaria discursando para provar a sua inocência diante das acusações que
lhe foram direcionadas. Mas, se formos analisar o período, essa ação da mulher na
função de secretária que consegue mudar uma história de mentiras que estava
sendo encenada, foi determinante pela sua atuação nas galerias, sendo crucial para
que o jovem Senador Mr. Smith conduzisse a sua luta até o fim. É importante nesta
análise, destacar os figurinos, os penteados e a postura que as secretárias são
representadas, mostram um cuidado absoluto com a representação dos seus papéis.
Não se em nenhuma cena em que as secretárias são representadas, nada que
comprometesse o comportamento, nenhuma cena de sexo, bebida e até mesmo o
uso do cigarro.
Com relação à maquiagem, neste período é perceptível que as sobrancelhas
eram totalmente depiladas e redesenhadas com lápis, num traço fino, ousado e
marcante. Sombras de pálpebras em pó exploravam todos os matizes, indo dos
castanhos aos cinzas, e inclusive ao preto para a noite, os cílios cuidadosamente
recurvados eram cobertos por máscaras. Para evitar todo excesso considerado
vulgar, a maquiagem da boca tornou-se mais discreta.
Na verdade os três filmes mostram em diferentes ângulos o que uma
secretária no papel de assistente de um executivo poderia fazer. E o que suas
respectivas esposas sentiriam ao ver seus maridos ao lado de uma bela e jovem
secretária, tudo e muito mais: ciúmes e divisão de poderes.
32
1.2 A década de 1940 1949
1.2.1 Análise socioeconômica e cultural do período
1.2.1.1 O pós-guerra (1914-1918 – 1939-1945)
O século XX tem sua história marcada por duas Grandes Guerras, a I Guerra
em 1914 1918 e a II Guerra 1939 1945. Estes períodos históricos formam um
divisor de perdas e conquistas para a humanidade. Com o fim da Guerra, os Estados
Unidos, iniciam sua recuperação econômica. Uma década que marca o estilo bem
sucedido dos americanos: sua produção e seus eletrodomésticos. Estes referenciais
históricos econômicos acabam se tornando o sinal para uma corrida ao consumo,
como também, uma bandeira para sua propaganda o “American way of life”, a qual,
era um modelo a ser exportado e copiado por onde passasse, seja através do
cinema ou da televisão, e nesta esteira das grandes transformações, viria o novo
papel da mulher.
Uma grande mudança que afetou a classe operária, e também a
maioria de outros setores das sociedades desenvolvidas foi o papel
impressionantemente maior nela desempenhado pelas mulheres; e,
sobretudo – fenômeno novo e revolucionário – as mulheres casadas.
A mudança foi de fato sensacional. Em 1940, as mulheres casadas
que viviam com os maridos e trabalhavam por salário somavam
menos de 14% do total da população feminina dos EUA. Em 1980,
eram mais da metade: a porcentagem quase duplicou entre 1950 e
1970.
24
Finda a II Guerra, o mundo foi tomado por uma série de fenômenos, como
numa cadeia de acontecimentos, que alteraram para sempre o comportamento das
sociedades, que a partir deste momento ingressavam num novo universo de
consumo, moda, modismos e, principalmente as inovações trazidas, logo após o fim
da Guerra.
24
HOBSBAWM, Eric; Era dos Extremos O breve século XX 1914 1991 p. 304. Companhia das Letras
São Paulo, 2005.
33
1.2.1.2 Sociedade e Cultura Pós - 45
O pós-guerra trouxe ao mundo a supremacia americana no campo da
economia, nas comunicações, no entretenimento, no lazer, nas inovações para o lar,
e no consumo de todos os tipos eletrodomésticos, que partir daquele momento
começavam a fazer parte do dia-a-dia das donas-de-casa.
Todo este sonho de consumo americano “The american way of life”, no fundo,
era uma grande estratégia para vender ao mundo uma imagem de nação rica e bem
sucedida, a qual, seria promovida via cinema e pela televisão.
Esta estratégia acabou refletindo em nosso país, trazendo consigo inovações
inimagináveis para a mulher brasileira, mas que agora poderia sonhar em comprar:
geladeira, máquina de lavar, ferro-elétrico, liquidificador, batedeira, rádio, fonógrafos,
portáteis e as sonhadas TV(s) que ainda eram em branco e preto.
Neste contexto, pode-se observar como o cinema americano, baseado em
Hollywood foi o responsável direto e indireto destes sonhos de consumo, bem como
na interferência direta nos hábitos e costumes da sociedade. Dentre esses hábitos
muito explorados na grande maioria das suas produções, está fumar o cigarro, o
consumo de bebidas alcoólicas, que viriam com o tempo trazer uma mudança radical
no comportamento dos jovens e das mulheres.
As mulheres também entraram, e em número impressionantemente
crescente, na educação superior, que era agora a mais óbvia porta
de acesso às profissões liberais. Imediatamente após a Segunda
Guerra Mundial, elas constituíam entre 15% e 20% de todos os
estudantes na maioria dos países desenvolvidos, com exceção da
Finlândia um farol da emancipação feminina onde somavam
quase 43%.
25
25
HOBSBAWM, Eric; Era dos Extremos O breve século XX 1914 1991 p. 305. Companhia das Letras
São Paulo, 2005.
34
1.2.2 Seleção e análise dos filmes no período
É neste contexto que surgem os filmes que reunimos para análise do período:
“The Maltese Falcon” (O falcão Maltês, também conhecido como Relíquia
Macabra) EUA, de 1941, “Springtime in the Rockies” (Minha Secretária
Brasileira), de 1942, “Lifeboat” (Um Barco e Nove Destinos), de 1944 e “My Dear
Secretary” (Minha Querida Secretária) de 1948, os quais, foram produzidos em
plena II Guerra, alguns, trazem mensagens implícitas de supremacia e antipatia aos
alemães, como pode ser visto em “Lifeboat”, dirigido por Alfred Hitchcock.
1.2.2.1 “The Maltese Falcon” – (O Falcão Maltês, também conhecido como Relíquia
Macabra) – EUA - 1941
Sinopse: O filme “O Falcão Maltêstem como cenário a cidade
de San Francisco, Sam Spade (Humphrey Bogart), vive o papel
de um detive, o qual é contratado por uma misteriosa mulher
Mary Astor (Brigid O'Shaughnessy) para ajudá-la a se apossar
de uma estatueta (Falcão Maltese) recheada de pedras
preciosas.
Atrás dessa busca uma grande trama que envolve sedução,
mentiras e assassinatos. Além disso, há também alguns escroques como Sidney
Greenstreet (Kasper Gutman) e Peter Lorre (Joel Cairo), em busca do mesmo
objetivo. O destaque é poder ver Effie Perine (Lee Patrick) como secretária e fiel
escudeira de Sam Spade. O filme é conhecido como um dos primeiros no estilo
noir.
26
Nesta cena a secretária Effie Perine (Lee Patrick)
anuncia a chegada de uma cliente ao escritório. É ela
que no decorrer do filme, fica como apoio a Sam Spade
para capturar os assassinos, como também os
envolvidos no roubo do “Falcão Maltês”.
26
Filme “noir” é um estilo, uma maneira de se filmar, influenciada pelo Expressionismo Alemão, pelo Realismo
poético francês e pelo romance policial, tendo surgido na década de 40/ início da de 50.
35
Nesta cena ela demonstra total controle da situação
que ocorre para informar ao seu chefe, quando ele
entra ao escritório, avisando que uma pessoa em
sua sala o aguardando.
Na seguinte, ela cuida de Sam Spade, após receber
alguns golpes de seus oponentes; demonstra parceria e
cuidados com o chefe e assim até o fim do filme ela é a
secretária que fica com a responsabilidade de todo os
acontecimentos que giram em torno do escritório e de
Sam Spade, seu chefe. Isto nos passa o quanto à mulher no âmbito social ainda
representava o papel de mãe nos cuidados, zelo e atenção que é dada na cena, o
que sugere uma superposição de papéis. Tanto na vida profissional como na vida
privada o papel de mãe é conservado pelas mulheres e usufruído pelos homens.
Conclusão: O filme elogiado pela crítica na época mostra uma narrativa de
mistério e suspense do começo ao fim, a história prende o fôlego de quem assiste;
pois, uma trama muita bem estruturada em torno do roubo. A secretária Effie
Perine (Lee Patrick) de Sam Spade, nas poucas cenas em que aparece, nos deixa
uma impressão de uma figura fiel ao seu chefe, competente naquilo que faz,
observadora, para contar detalhes ao chefe, e principalmente comprometida com
discrição dos fatos e altamente confiável.
1.2.2.2 “Springtime in the Rockies”
No ano seguinte tivemos o lançamento do filme “Springtime in the Rockies”,
uma comédia que tem como atriz principal Betty Gable, no auge da carreira, no
papel de Vicky. Porém quem toma o espaço do filme é a cantora brasileira Carmen
Miranda, como podemos ver a seguir, “Springtime in the Rockies” (Minha
Secretária Brasileira) – EUA produzido em 1942.
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Sinopse: Dirigido por Irving Cummings. Com Betty Grable, Carmen
Miranda e John Payne. EUA, cor, 1942, 91 min. Musical. Dan
Christy, astro da Broadway, inconformado por perder Vicky, sua
namorada e parceira nos palcos, vai até o Canadá para tentar
reconquistá-la. A moça, ciumenta, desconfia das intenções do rapaz
ao descobrir que ele contratou uma secretária, cujo papel foi
desempenhado por Carmen Miranda.
Nesta cena é o exato momento em que Miss Rosita
(Carmen Miranda) se apresenta como Secretária e
descreve suas habilidades funcionais a Dan (John
Payne).
Nesta cena Rosita tenta convencer Dan (John Payne)
em contratá-la como sua secretária, expondo a ele
todos os seus conhecimentos referentes à função, fato
que acaba acontecendo, pois Rosita faz uma boa
exposição de seus conhecimentos como secretária.
Dan se surpreende com os trajes agora apresentados
por sua secretária, Rosita, que entra em seu escritório já
com o bloco de anotações. Ele pergunta: É assim que
trabalham as secretárias no Brasil? Rosita responde -
por acaso estou sem roupa? alguma objeção de eu
estar com esta roupa?
Dan provoca cena de ciúmes em Vicky, beijando Rosita
e a apresentando como sua secretária. Uma encenação
para deixar Vicky pensando que ele a tinha trocado.
37
Vicky entra no exato momento em que Dan simula uma
cena de ciúmes, como se Rosita fosse sua namorada,
e assim, provoca ciúmes em Vicky.
Dan apresenta Rosita como sua secretária. Criando
assim, um momento de dúvida para Vicky, do que havia
de verdade entre ele e Rosita.
Cena em que Vicky e Rosita estão se produzindo para
atuarem em um show. O objetivo tinha sido alcançado
por Rosita, inicialmente, se apresentar como secretária
e ser depois vista pelo empresário de shows.
Conclusão: O filme mostra uma secretária totalmente fora dos padrões normais,
apesar de toda a sua falta de habilidades e seu conhecimento prático, pode-se
observar a interpretação de uma cantora que realizava a representação de uma
secretária para um grande empresário. Rosita como secretária usa sua função de
secretária como estratégia para se aproximar daquele que poderia ser seu
“padrinho” no ingresso do meio artístico.
1.2.2.3 Lifeboat” – (Um Barco e Nove Destinos)
Na seqüência, temos o filme Lifeboat” – (Um Barco e Nove Destinos) EUA,
produzido em 1944, uma obra de Alfred Hitchcock, a qual trata dos efeitos que a
Guerra como fator psicológico de rejeição ao inimigo, mesmo que este inimigo
estivesse no mesmo barco, e que oferecesse ajuda para o momento em que nove
pessoas estavam à deriva no mar, depois que o navio em que estavam havia sido
bombardeado.
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Sinopse: Dirigido por Alfred Hitchcock - Baseado em um
conto de John Steinbeck (Um Barco e Nove Destinos) se
passa inteiramente em um barco desgovernado vagando
sem rumo pelo Atlântico Norte. Após um cargueiro aliado
ser afundado por um U-boat alemão, um grupo incomum de
pessoas acaba reunido em um barco salva-vidas. Cada um
dos náufragos assume um papel no bote salva-vidas,
incluindo aqui uma mulher, que portando uma máquina de
escrever, assume a função de secretária, para registrar
todos os fatos.
Neste filme, pode-se recortar uma cena emblemática, surrealista, durante o
naufrágio de um navio, nove pessoas se salvam e entre elas uma mulher que
aparenta um status um pouco acima dos demais, ela utiliza uma câmera para filmar
a chegada das pessoas ao bote salva-vidas, como também, fica responsável por
toda a organização das tarefas.
uma determinação para cada um dos náufragos que enquanto estivessem no
bote salva-vidas, teriam funções idênticas às quais
exercem no seu dia-a-dia, desde o comandante, o
especialista em mecânica, a enfermeira, o
cozinheiro e ela como secretária, assume o papel
de registrar todos os fatos na sua máquina de
escrever, como pode-se ver nesta cena a seguir.
Cena em que ela mantém a máquina de escrever junto a si, e como ela abre o
diálogo com cada um, dando a todos um ar de
superioridade e de liderança, de como agir e de
como obter o cumprimento das tarefas. O que
proporciona a verificação do papel da mulher na
estrutura social em situações limites.
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Estas são as cenas que antecedem ao clímax do filme,
quando há uma série de questionamentos, quanto à
sua função de registrar os acontecimentos, um dos
mastros da vela, derruba a máquina de escrever no
mar, como na cena abaixo, o que podemos interpretar
como sendo uma demonstração de insatisfação quanto à liderança que naquele
momento era exercida pela secretária.
Conclusão: Alfred Hitchcock nos leva através deste filme algumas cenas,
como: a secretária de posse de uma filmadora e depois de uma máquina de
escrever, que aparecem como objetos integrantes de sua bagagem. Como também
a discussão de todo o grupo em recusar o papel de “comando” do bote salva-vidas a
um alemão. Lembramos que os Estados Unidos lutavam na II Guerra e o inimigo era
o Nazismo o que justifica a rejeição da liderança do alemão a bordo do barco.
1.2.2.4 “My Dear Secretary”
Logo após o término da II Guerra Mundial, Hollywood em 1948,
lança o filme “My Dear Secretary”, e, convida para astro principal
do filme, Kirk Douglas, no qual, vai desempenhar o papel de um
escritor que se apaixona por suas secretárias, um incorrigível
sedutor, como podemos ver a seguir.
Sinopse: Filme dirigido por Charles Martin. A narrativa
tem como enredo um famoso escritor, vivido por Owen Waterbury (Kirk Douglas),
que em sua trajetória de palestras, busca inspirações para compor seus livros. O
referido autor é conhecido também por ser um incorrigível mulherengo.
40
Os problemas surgem, quando contrata a bela escritora aspirante Stephanie
Gaylord (Laraine Day) para ser sua nova secretária, pretende acrescentá-la à sua
lista de conquistas amorosas. Stephanie Gaylord não é presa fácil e logo Waterbury
se vê disposto a deixar para trás sua condição de playboy conquistador. Eles
acabam se casando, mas Gaylord o sabe se pode confiar no marido quando ele
contrata uma nova secretária, também muito atraente.
Nesta análise inicial, este filme, durante a sua apresentação tem uma série de
quadros disponibilizados em diferentes situações, mostrando a evolução desde a
função de uma mulher nos serviços diários de uma faxineira até o papel de
secretária em uma organização. É interessante poder perceber o que cada deles
contém de mensagem implícita e explícita.
Cena 1 - Esta é a abertura do Filme, que mostra no
canto esquerdo uma mulher fazendo o papel de
uma dona-de-casa. No canto direito, uma outra
mulher, agora no papel de secretária “correndo”
atrás do chefe.
Cena 2 Esta mostra a secretária e sua
inseparável máquina de escrever, em pleno
exercício da função, observando as habilidades do
assistente-cozinheiro.
Cena 3 – A secretária na função multifuncional,
atendendo o chefe.
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Cena 4 – A secretária como uma serviçal, sempre
atrás do chefe.
Cena 5 - A secretária redigindo suas cartas e
tendo na outra ponta o chefe recebendo as suas
tarefas realizadas.
Cena 6 – Este quadro mostra uma mulher estafada
pelo seus afazeres domésticos e a secretária
sendo assediada pelo seu chefe.
Cena 7 Mostra a secretária sendo “assediada”
pelo cozinheiro-assistente em seu ambiente de
trabalho
Cena 8 Mostra o seu grito de “basta” atirando no
chefe um aviãozinho de papel, como uma
referência à intolerância aos desmandos ou
exageros do seu chefe.
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Neste conjunto de cenas nota-se como são exploradas as imagens e as
funções da mulher fazendo trabalho pesado faxineira e a mulher mais capacitada
como secretária. Mostrando de maneira implícita as diferenças intelectuais e sociais
entre elas e como ocupam seu espaço profissional.
Esta seqüência que faz a abertura do filme serve como uma citação sobre
como a sociedade da época a mulher comum, com tarefas pesadas e a figura da
mulher, como secretária, sempre em paralelo, para que se possa comparar ou,
melhor, entender a transformação social pela qual a mulher iniciaria um longo
caminho em busca, de novos espaços no trabalho, no respeito e na igualdade de
direitos.
O roteiro trata da trajetória de uma assistente Stephanie Gaylord (Laraine
Day) que vai a uma palestra e se mostra interessada em ser secretária do escritor
Owen Waterbury (Kirk Douglas), e nesta seqüência, destaca-se o primeiro encontro.
Nesta outra seqüência o contato de Stephanie Gaylord
com a secretária do seu agente que a recomenda para
ser secretária do famoso escritor.
Nesta cena, começa a escrever um ensaio para se
apresentar como secretária do famoso escritor.
Atuando como secretária, anotando os textos de um
novo capítulo ditado pelo escritor. Este a torna esposa,
entretanto não insegurança no que diz respeito à
fidelidade do marido.
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Nesta cena um momento de ciúmes quando Owen
Waterbury, conversa com uma candidata a sua
secretária, despertando desconfiança em Stephanie
Gaylord, que volta a ser sua secretária eventual. O
que acaba levando os dois a se reaproximarem e
reatar o casamento que havia sido comprometido por
cenas de ciúmes.
Conclusão: Este filme tem uma referência muito próxima com o filme “Wife
versus Secretary” de 1936, em que os enredos quase que se mesclam. Uma esposa
que um dia foi secretária, agora se vê as voltas com seu marido que, no seu trabalho
lida com secretárias, despertando assim ciúmes, crises no casamento. As histórias
têm muitas similaridades. Mais uma vez o cinema se apropria da realidade e a faz
ser representada na tela.
1.2.3 Considerações sobre os filmes da década de 1940
Durante a II Guerra Mundial, os Estados Unidos entram de fato no
combate no dia 07 de dezembro de 1941. Hollywood estava patrioticamente
comprometida com a guerra, produzindo filmes que mostrassem para opinião pública
patriotismo e heroísmo através das suas histórias, diretores, atores e todo um
conjunto de esforços para gerar simpatia e grandes bilheterias, além disso, teve um
papel fundamental na construção de imagem e de patriotismo, enviando ao front,
atores, que se alistaram voluntariamente, como: James Stewart, Alan Ladd, Robert
Taylor, Clark Gable, Victor Mature, entre outros. Quanto a atrizes, Hollywood
produziu filmes, peças promocionais, baralhos, revistas que foram enviadas para as
tropas americanas na Europa, como Betty Gable, Verônica Lake, Rita Hayworth,
Jeane Russel, Gene Tierney, Ava Gardner, entre outras.
No conjunto de análise desses quatro filmes, em que os respectivos Diretores
se ocuparam em suas narrativas de usarem a representação da secretária, que
ganham expressividade e importância. Em “The Maltese Falcon”, tem-se a presença
de Humphrey Bogart, no papel do detive Sam Spade. Em “Springtime in the
Rockies”, (Minha Secretária Brasileira), tem-se John Payne, Betty Gable e Carmen
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Miranda (Rosita) como secretária. Aliás, elogiada pela crítica, pois através do seu
desempenho e caracterizações consegue ofuscar os demais atores. Vale ressaltar
que este é o primeiro filme da série com representações de secretárias ser
produzido em Technicolor.
uma outra curiosidade nesta cinematografia, que vale a pena ser citada.
Os Estados Unidos recém integrante na guerra junto aos países denominados de
“Aliados” desenvolve uma política de “boas relações” com alguns países da América
Latina, mais especificamente com o Brasil. O Brasil seria escolhido pelos EUA para
ter uma Base Americana em Natal (Rio Grande do Norte), o ponto mais setentrional
da América Latina. O título original do filme “Springtime in the Rockies” ganhou em
português, o título de “Minha Secretária Brasileira”, sugestivo e interessante.
Adotaram o nome de Rosita, tipicamente mexicano, tendo sido “cooptada” para o
papel uma das nossas maiores estrelas brasileiras, Carmen Miranda, para trabalhar
em Hollywood. Uma outra ação, agora de Walt Disney, selou de vez essa chamada
“boa relações” criando um personagem com características típicas do malandro
carioca, o “Zé Carioca”.
Em “Lifeboat”, produzido em 1944, Alfred Hitchcock, escolhe um filme
“politicamente correto” para falar sobre a Guerra, quando um dos personagens
resgatados que é alemão, não consegue impor sua liderança assim, como se espera
que aconteça com o nazismo. Hitchcock mostra pela primeira vez no cinema quem é
amigo dos EUA e quem não é. É um dos filmes que mostra algumas cenas surreais,
em alto mar, num bote salva-vidas, uma das líderes do grupo de náufragos, uma
secretária, redigindo os acontecimentos em uma máquina de escrever.
Em “My Dear Secretary”, Kirk Douglas é outro galã de Hollywood escalado
para trabalhar em temas que pudessem despertar “suspiros” em todas as mulheres
do mundo. No filme o escritor Owen Waterbury (Kirk Douglas), o estava satisfeito
com sua assistente e se encanta com uma jovem Stephanie Gaylord (Laraine Day)
que convida para trabalhar como secretária, para tempos depois pedi-la em
casamento. Hollywood faz boas escolhas de atores para os papéis masculinos,
conforme verifica-se nesta seqüência onde os personagens mostram o poder de
sedução dos homens e de suas secretárias, e como decorrência a guerra provocada
por ciúmes da esposa. Este filme tem muita semelhança com “Wife versus
Secretary”, tanto na narrativa como na mensagem.
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Os quatro filmes selecionados apresentam situações comuns, secretárias que
têm papéis secundários, entretanto conseguem seus espaços na história. A
sexualidade e a sensualidade podem ser vistas nos filmes “Springtime in the
Rockies” e ”My Dear Secretary” quando as secretárias são envolvidas pela trama em
um clima de romance, um passo para um bom casamento.
É importante destacar nos filmes “His Private Secretary” de 1933 e “My Dear
Secretary” de 1948 dos Diretores Phil Witman e Charles Martin pela ordem de
direção terem utilizado dois galãs para contracenarem as personagens que
interpretaram o papel de secretária (John Wayne e Kirk Douglas). Uma outra
coincidência na narrativa dos filmes é que os dois galãs, (John Wayne e Kirk
Douglas), respectivamente “His Private Secretary” e My Dear Secretary” são dois
sedutores e irresistíveis conquistadores, que sucumbem aos encantos das
secretárias. Pois além de trabalharem com elas, acabam se casando.
Dos quatro filmes analisados, apenas “Springtime in the Rockies” que tem o
título em português de (Minha Secretária Brasileira) tem Carmen Miranda como
secretária. A personagem executa seu trabalho, canta, dança e encena, ou seja,
nada haver com a representação real de uma secretária no seu dia-a-dia. Dos filmes
que mostram a representação da secretária é em (The Maltese Falcon) que o diretor
John Huston soube usar com maestria algumas características que formam o perfil
de uma secretária e que foram bem explorados, como:
- Discrição.
- Seriedade.
- Hábitos contidos.
- Roupas adequadas.
- Perfil solene.
- Fidelidade absoluta.
- Tarefeira.
- Tempo extra para cuidados pessoais com seu chefe.
Em plena II Guerra Mundial é possível perceber como o glamour, a estética e
a beleza, continuam sendo sinônimos de cuidados pessoais, os quais eram motivos
de referência para as mulheres se produzirem com mais acuidade e sensualidade,
pois o cinema era a grande vitrine. Os efeitos da guerra abalaram o mundo e o
mercado de cosméticos e da beleza, teve uma queda em função da falta de
matérias-primas, o que faz o uso de graxa para botas servir como máscara para
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cílios. Outros produtos, na falta dos originais, foram substituídos pelo carvão que foi
usado para produzir efeitos de sombra nas lpebras; a graxa para sapatos como
tintura para as sobrancelhas e pétalas de rosa embebidas em álcool produziam um
blush líquido, da era vitoriana. Ao longo de todo este período, as estrelas usaram
cabelos longos, um modo de exprimir feminilidade numa época em que muitos
outros meios não eram mais acessíveis.
Em resumo, os quatro filmes conseguem em suas tramas e narrativas dar
destaque e importância às representações das secretárias, nos quais, percebe-se
que há algumas alterações muito visíveis, um aumento crescente de tempo
destinado à esse intento.
1.3 O período de 1950 – 1959
1.3.1 Análise sociocultural do período
1.3.1.1 A Guerra Fria – Sai da realidade e invade as telas
A Guerra Fria, durante os anos 50, travada entre os Estados Unidos e a então
União Soviética ficou marcada pelo início da corrida espacial, uma competição entre
os dois países pela liderança na exploração do espaço,
a ficção científica se torna
realidade. Foi nesta década que a Rússia surpreende o mundo enviando ao espaço
uma nave com uma cadela, Laika, que entrou para a história ao ser enviada ao
espaço a bordo do Sputnik-2; em 3 de novembro de 1957, um mês depois do
lançamento da primeira nave espacial Sputnik, pelos russos. A ficção científica e
todos os temas espaciais passaram a ser associados a modernidade e foram muito
usados. Até os carros americanos ganharam um visual inspirado em foguetes. Eles
eram grandes, baixos e compridos, além de luxuosos e confortáveis.
A prosperidade americana era vista nos filmes, através da televisão, da
propaganda e, principalmente pela grande variedade de aparelhos eletrodomésticos,
que ajudariam a mudar o comportamento da mulher no lar e na sociedade. Os
Estados Unidos estavam vivendo um momento de prosperidade e confiança, que
haviam se transformado em fiadores econômicos e políticos do mundo ocidental
após a vitória dos Aliados na II Guerra. Isso fez surgir, durante esse período, uma
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juventude abastada e consumista, que vivia com o conforto que a modernidade lhes
oferecia.
A televisão se popularizou e permitia que as pessoas assistissem aos
acontecimentos que cercavam os ricos e famosos, que viviam de luxo, prazer e
elegância, como o casamento da atriz Grace Kelly com o príncipe Rainier de
Mônaco.
1.3.2 A seleção e análise dos filmes do período
Os anos 50 foram marcados por grandes acontecimentos dentro da
cinematografia mundial, dentre eles, o início das produções em Technicolor,
aumentando assim o nível de suas produções, com mais qualidade, acabamento e
melhor definição de imagem. “All About Eve” - (A Malvada) (1950), que abre o
período, tem no seu principal papel Bette Davis, que está no auge de sua carreira,
com a qual, empresta seu talento à história do filme. O filme “Private Secretary” -
(Secretária Particular) (1953), uma das séries de maior sucesso da TV americana,
que tem como enredo a representação de uma secretária como no papel principal da
série.
A seguir, estaremos apresentando nossas considerações sobre o filme “Three
Coins in the Fontain” - (A Fonte dos Desejos) (1954), além de compor uma história
com três secretárias, foi uma das maneiras de Hollywood mostrar que Roma ainda
estava bela e preservada, apesar da Guerra, e, por último “Desk Set” - (Amor
Eletrônico) (1957), um dos primeiros filmes que Hollywood produziu, com o
patrocínio de uma grande indústria de computadores, a IBM, para que assim
mostrasse como a nova invenção que estava chegando ao mercado poderia fazer
parte da rotina dos escritórios, além de mostrar o bom desempenho de Spencer
Tracy e Katherine Hepburn, o que veremos a seguir. Para abrir a série de
apresentações, vamos discorrer sobre All About Eve” – (A Malvada) – EUA ,
produzido em 1950.
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1.3.2.1 All About Eve” – (A Malvada)
Sinopse: O filme “All About Eve”, tem a direção de Joseph L.
Manckiewicz e Bette Davis, no auge de sua carreira, fazendo o
papel neste filme da atriz de teatro Margo Channing, a qual é traída
por sua protegida Eve Harrington (Anne Baxter), aparentemente
inocente, mas na realidade, astuciosa e ambiciosa. Gay Merrill co-
estrelou como o marido que permanece fiel a Margo. Hugh Marlowe faz o
dramaturgo, hospedado por Eve, e Celeste Holm faz sua esposa maravilhosa e
melhor amiga de Margo. Thelma Ritter está perfeita como a camareira de língua
ferina. Destaque para a presença de George Sanders como Addison Dewitt, o crítico
elegante que supera a calculista Eve.
Comentário: Eve Harrington Desenvolve seu depoimento, falando da sua
cidade de origem, onde exercia a função de secretária em uma fábrica de cervejas.
Papel de secretária ou assistente é que é desenvolvido ao longo do filme quando
assume de vez todo o exercício da função, através do qual, exerce com doentia
maestria um papel de dominada que se supera e passa a dominar Margo Channing.
Como observa-se nas duas cenas seguintes:
Este filme faz uma metalingüística quando trata especificamente da
representação e do imaginário, pois, Eve Harrington, tem uma fala que diz: “Eu era
criança, brincava muito de representar, eu criava uma porção de coisas, mas, essas
coisas, não tem importância, o fato é que representar e criar começam a participar
da minha vida, cada vez mais, de tal forma, que eu não distinguia mais nada entre o
real e o imaginário, só que o imaginário, me parece mais real”.
Cena em que trata o assunto do real e do imaginário e
fala da sua experiência como secretária em sua cidade,
onde atuou em uma fábrica de cervejas.
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Nesta cena já morando com
Margo Channing (Bette Davis) começa a
assumir a vida pessoal e a profissional da atriz.
É nesta cena que Margo, que não aparece, fala
textualmente: “Ela (Eve) é minha governanta, minha
assistente, minha conselheira e minha confidente”.
Conclusão: O roteiro traz uma riqueza em detalhes sobre poder de persuasão,
domínio, capacidade de induzir, privar das relações pessoais e profissionais.
Assumir papéis imaginários ou fantasias até se ver dentro do real, fazendo um papel
agora de verdade. Cabe ressaltar que, o excesso de confiança de Margo permite a
inversão de papéis por Eve que não consegue se impor, procura novos espaços,
deixa sua musa buscando outra inspiração.
1.3.2.2 “His Private Secretary”
Em 1953 pode ser visto, o filme “His Private Secretary”, EUA - uma série que foi líder
de audiência na TV americana, cuja apresentação poder ser vista a seguir.
Sinopse: Foi um dos maiores sucessos da TV Americana,
como série de TV. A série teve um total de 103 episódios,
de Fevereiro de 1953 a Setembro de 1957 na rede CBS.
Esta série foi estrelada por An Sotern que viveu o papel de
secretária como Susie McNamara, como uma eficiente
secretária de Peter Sands estrelado por Don Porter,
interpretando seu chefe direto.
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Foram selecionadas algumas cenas para ilustrar o que foi esta série de
grande sucesso na TV americana nos anos 50. Cujo teor dos episódios se
passavam num fictício escritório de uma grande corporação de negócios
Estas cenas mostram o ambiente secretarial e seu
inseparável chefe. Os episódios transcorriam sempre
dentro do escritório, com situações cômicas provocadas
por Susie, som seus colegas de trabalho e as visitas
que seu chefe recebia. Pode-se perceber que as
referências de Suzie, na capa do filme e em todas as cenas são com seus óculos, o
que deve passar para as pessoas, que a secretária é uma pessoa que passa
respeitabilidade, confiança, e conhecimento. Durante esses quatro anos, no qual
produziram 103 episódios,
Conclusão: Esta série fez muito sucesso na TV americana nos anos 50,
pois, tinha como personagem central uma secretária que desempenhava seu papel
com muita eficiência, porém, passando uma imagem de uma secretária inofensiva e
até às vezes ingênua, entretanto era muito esperta e ativa. Para o escritório e os
colegas, Susie era a amiga ideal, para o seu chefe e para as visitas era a secretária
que todos gostariam de ter, tal o seu carisma e o seu senso de humor.
51
1.3.2.3 “Three Coins in the Fountain(A Fonte dos Desejos)
A seguir, em 1954 estréia o filme “Three Coins in the Fountain” (A Fonte
dos Desejos) uma produção hollywoodiana, filmada em Roma, uma história de amor,
quase que um conto de fadas, que reúne três secretárias, o que as une além do
trabalho em comum, é o amor, no qual, se pode ver um final feliz para todas.
Sinopse: Nesta charmosa comédia, três amigas americanas,
secretárias, trabalhando na Itália manifestam um desejo quando
jogam moedas na Fontana de Trevi, em Roma, o de conseguirem o
homem de seus sonhos. Uma secretária de um órgão
governamental Miss Frances (Dorothy McGuire) decide conquistar o
coração de seu chefe John
Frederick Shadwell (Clifton Webb). Sua
colega de trabalho, uma escritora, Anita Hutchins (Jean Peters)
desafia as normas do escritório namorando um italiano Giorgio Bianchi (Rossano
Brazzi) que trabalha com elas. E por último, a recém-chegada ao escritório Maria
Williams (Maggie McNamara) encontra um verdadeiro príncipe encantado italiano
Príncipe Dino di Cessi (Louis Jourdan) e apaixona-se; selando o destino dessas três
sonhadoras secretárias.
Ao centro a nova secretária chega a Roma.
O encontro das três secretárias.
Nesta cena mostra o momento da nova secretária no
escritório da Representação americana em Roma.
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Cena que identifica a Representação do Serviço
americano em Roma, local de trabalho das secretárias,
Nesta cena mostra o momento da nova secretária no
escritório da Representação americana em Roma. E o
diálogo das novas funções que a nova Secretária
deverá ter neste novo trabalho.
Momento em que a nova secretária recebe as boas
vindas do seu chefe para assumir o novo posto, visto
que a secretária que está ao lado, está de partida.
A terceira secretária desenvolve o papel de secretária
privada de um grande escritor. Este filme nos remete
ao “My Dear Secretary”, (Minha Querida Secretária),
de 1948, que tem como abordagem um escritor
também famoso, porém aqui neste filme as três
secretárias desempenham seus respectivos papéis e acabam se enamorando e
todas têm um final feliz, ou seja, o cargo de secretária, era apenas um pretexto para
uma grande história de amor, uma fábula em que encontram o par perfeito.
Conclusão: Analisando a época em que foi rodado este filme, anos 50,
mostra bem como a sociedade via o papel da secretária o de aproveitar a
oportunidade gerada pelo exercício do seu trabalho, e da mobilidade entre os
setores administrativos. Desfrutar da oportunidade de conhecer pessoas influentes,
poder compartilhar com o chefe o poder e sedução, já que o cargo lhe propiciava, no
exercício do trabalho esta intimidade; indo além, ter a possibilidade de arrumar um
marido. Isto mostra que a sociedade permite que a mulher trabalhe, mas não como
meio de ascensão social e sim, para manter o status quo, ser mãe de família.
53
1.3.2.4 “Desk Set” – (Amor Eletrônico)
Seguindo a mesma trilha dos filmes que tratam da representação da
secretária, poderá ser visto a análise produzida para “Desk Set” (Amor Eletrônico)
– EUA de 1957.
Sinopse: Bunny Watson (Katharine Hepburn) é a chefe de um
departamento de pesquisa em uma grande rede de TV onde faz seu
trabalho com sabedoria. Tendo recebido direto do presidente da
empresa a tarefa de introduzir computadores no desempenho de
algumas funções do departamento, Richard Summer (Spencer
Tracy) chega à bem-dirigida divisão de Bunny para observar as atividades rotineiras.
Infelizmente, no entanto, Summer recebeu ordens para manter sua missão em
segredo e em decorrência disso, toda a equipe de funcionários acredita que será
substituída. Para piorar as coisas, parece haver mais do que uma pequena atração
entre Bunny e Summer, o que aborrece Mike (Gig Young), o namorado de Bunny. À
medida que a tensão no escritório aumenta, aumentam também as situações hilárias
neste clássico da comédia romântica.
Nestas cenas são mostrados pela primeira vez os usos
da tecnologia de informática, como patrocinadora do
filme, a IBM, mostra seus computadores de última
geração em uso nos escritórios, fazendo merchandising.
Esta seqüência mostra bem a localização e o nível do escritório, o estilo das
secretárias, o corporativismo, o trabalho em equipe presente nas cenas e a
apresentação das novas tecnologias: os computadores de grande porte invadindo o
54
cotidiano do ambiente secretarial e do mundo dos negócios. O final deste filme nos
remete aos anteriores, que terminam com casamento da secretária.
Cena 1 Cena 2 Cena 3
Na cena 1 A identificação da sede da empresa. Na cena 2 a chegada do novo
executivo, que tinha uma missão sigilosa. E na terceira, mostra como a notícia
“corre” entre as secretárias do departamento.
Momento em que as secretárias se encontram e
começa a estabelecer um clima de pânico com a
chegada de Summer, que ninguém sabe qual é a sua
missão.
Bunny no papel de uma bem sucedida supervisora de
Departamento recebe Summer para saber quais são
seus objetivos dentro da área.
Entre os dois personagens estabelece-se algo especial,
além do bom relacionamento em ajudar nos novos
objetivos, surge um interesse pessoal entre eles.
No decorrer da bem sucedida implantação dos novos
computadores, que irá gerar uma nova dinâmica no
escritório, os dois se aproximam cada vez mais.
55
Esta cena registra o êxito da implantação dos
computadores na corporação e a formação de um
novo casal: Bunny e Summer, que vai melhorar a
eficiência das secretárias, bem como ajudar na
modernização da empresa. Nesta cena vê-se o
momento final em que os dois celebram o sucesso da implantação do novo
programa de computadores, bem como o próprio romance.
É neste filme que pode-se ver nos
créditos iniciais do filme a menção à
marca IBM, responsável pela criação
do “Computador Eletrônico”, aqui
visto como um grande e poderoso
merchandising.
Conclusão: No filme “Desk Set” (Amor Eletrônico), de 1957, Bunny Watson
(Katharine Hepburn) é a chefe do departamento de pesquisas de uma rede de TV.
Ela com suas três assistentes têm como trabalho responder a dúvidas dos
produtores e dos jornalistas, com base em uma biblioteca reservada repleta de
estatísticas, citações e almanaques. Eis que chega o computador que vai mudar
toda a rotina no departamento, e, com ele, o “especialista em eficiência” Richard
Sumner (Spencer Tracy), que tem como responsabilidade ver e avaliar a
implantação desta nova tecnologia, que estava chegando ao mercado.
Como era de se esperar da aparente rivalidade entre Richard e Bunny e no
meio da história um computador, nasce um caso de amor entre os dois. uma
contribuição histórica neste filme, até como apelo didático, de como as áreas e as
pessoas, iriam lidar com aquela máquina. Foram destacadas algumas cenas, como
a chegada do mainframe à biblioteca, onde pode se ver uma funcionária
encarregada da operação de instalação, chamar a atenção sucessivas vezes das
assistentes de Bunny, por deixarem a porta aberta e fumarem dentro da sala.
56
A impressão que se tem, a essa altura, é que o filme foi usado pela IBM, para
através do cinema, informar a chegada da nova máquina. Outro fato que chama
atenção no filme, é que em nenhum momento os atores falam a palavra
“computador” - preferem “electronic brain”, (cérebro eletrônico) para, numa segunda
fase, mais tarde, ser assumido como: “Computador Eletrônico”, seja ele de grande
ou médio porte.
Uma nova preocupação surge entre as \secretárias quando conversam sobre
o medo de perderem seus empregos para a nova máquina, e de como enfrentariam
aquela modernidade que acabava de chegar ao departamento. Sinais do tempo: foi
com a tecnologia que a função da secretária ganhou nova importância e incorporou
novos papéis às suas funções.
1.3.3 Considerações sobre os filmes da década de 1950
Nos anos 50 acontece a revolução da moda, dos costumes, da maneira de
agir, a chamada a “era dourada” de Hollywood. Super produções, super astros e
super faturamento nas bilheterias dos cinemas distribuídas pelo mundo. Era o pós-
guerra, momento em que os EUA mostravam ao mundo o seu “american way of life”.
Destaque para “All About Eve” (A Malvada) de 1950 que apresenta um elenco
dos mais caros e dos mais balados do cinema, nada menos do que: Bette Davis,
Anne Baxter e George Sanders. A narrativa do filme “All About” (A Malvada) tem a
história de
Margo Channing (Bette Davis), uma atriz de teatro que teve o seu espaço
invadido por uma mulher no papel de
Eve Harrington (Anne Baxter), uma
personagem obcecada e desejosa de estar ao lado de sua grande estrela. Um
detalhe que chama atenção é quando no início do filme, Eve Harrington (Anne
Baxter) relata o seu passado e diz textualmente que havia exercido o cargo de
secretária numa pequena empresa em sua cidade natal. Um outro fato é que ela
morando na casa de Margo Channing consegue impor comandos que vão desde a
agenda do dia-a-dia às chamadas telefônicas e o que ela deveria dizer. O filme
conquista 6 Oscar, nada mal, para um Diretor que reúne num único filme o melhor
de Hollywood.
O que nos favorece na análise conjunta é o destaque que os Diretores deram
às personagens que representaram os papéis de secretária, um cuidado no figurino
57
usado nos filmes “Three Coins in the Fontain” e “Desk Set”. Nos Anos 50, a moda
dos vestidos longos e largos, dos taillers, também denominados de “terninhos
femininos” que vieram e se instalaram no guarda-roupa básico de qualquer
secretária, em qualquer empresa independente da localização geográfica.
A moda deste período é marcada pela introdução da sombra nas pálpebras, o
lápis de sobrancelha, a máscara para cílios e, sobretudo o delineador. A importância
da maquiagem dos olhos trouxe uma infinidade de criações e reformulações de
produtos. A maquiagem realçava a palidez da pele e a intensidade dos lábios. Os
pós-de-arroz e compacto tiveram uma presente marcante como produtos de beleza
para a mulher.
Nos filmes apresentados pode-se ver como o tema sedução é explorado
pelos seus respectivos Diretores, o que se apresenta como uma repetição dos filmes
vistos aqui, isto é, os chefes se casarem com suas respectivas secretárias; a fórmula
se repete. As secretárias que agora começam aparecer nos filmes demonstram um
comportamento mais profissionalizado e integrado aos novos tempos.
É no filme “Desk Set” que pela primeira vez é mostrado no ambiente
empresarial a tecnologia do futuro, que iria transformar os escritórios, a vida das
secretárias e o mundo empresarial, o uso dos computadores. Foi sem dúvida o
melhor apelo de marketing produzido para a IBM no cinema. Em “Desk Set”,
Spencer Tracy e Katherine Hepburn, encenam no filme uma aproximação puramente
profissional que termina em casamento com sua secretária. Na vida real, a ficção
imita a verdade, ou a verdade imita a ficção, pois Spencer Tracy e Katherine
Hepburn, na vida real se casariam de verdade depois do filme.
Em resumo os três filmes apresentam roteiros com histórias bem articuladas,
colocando no foco a representação da secretária que de fato, naquele momento, era
percebida e reconhecida pelo seu grau de importância na economia, no trabalho e
nas empresas. Um outro fato a ser destacado é que a partir destes dois filmes:
Three Coins in the Fontain e Desk Set, a filmografia estudada é em Tecnicolor,
exceto Se meu Apartamento Falasse e Psicose, que ainda seriam produzidos em
preto e branco.
58
1.4 Os anos de 1960 – 1969
1.4.1 Análise socioeconômica do período
1.4.1.1 O Movimento Feminista
Os anos 60 irrompem como um dos períodos mais conturbados do pós-
guerra. É a década do avanço do feminismo e das suas conquistas; também foi
marcada pela explosão estudantil de 1968, na França, que atingiu o mundo. Vista
pela intolerância e pela insatisfação social reinante, conforme Eric Hobsbawm
resume a seguir, as idas e vindas do movimento feminista.
O Feminismo demorou a abordar interesses vitais da operária, como
a licença-maternidade. Uma fase posterior do feminismo na verdade
insistiu em diferenças de gênero, embora o uso da ideologia liberal
de individualismo abstrato e o instrumento da lei de “direitos iguais
não fossem de fato compatíveis com o reconhecimento de que as
mulheres não eram, e não deviam necessariamente ser, iguais aos
homens e vice-versa”.
27
O cinema dos anos 60 é o grande reprodutor das mudanças sociais, ele é
responsável por captar essas mudanças e as transportá-las para as telas. Surge
uma mulher muito mais livre, muito mais questionadora e rompendo as barreiras
masculinas na divisão de poder no trabalho.
É nos Estados Unidos que nascem as primeiras manifestações referentes ao
feminismo através da liderança de Betty Friedan
28
, que projeta uma nova visão e um
clamor de rebeldia contra o sistema machista vigente aentão, sufocante e sem
muitas alternativas para o sexo feminino; nas questões de liberdade, do trabalho e
dos direitos iguais aos dos homens. Betty Friedan lança seu livro “Feminine
Mystique” (A Mística Feminina). O livro foi considerado na época, como um grande
alerta para as mulheres, pois a autora denunciava que mulheres eram timas de um
sistema que as forçava a encontrar satisfação pessoal de forma indireta através do
êxito do marido e dos filhos, (1963). Vem através de Betty Friedan o “grito” que toda
27
HOBSBAWM, Eric; Era dos Extremos O breve século XX 1914 1991 p. 311. Companhia das Letras
São Paulo, 2005.
28
Betty Naomi Goldstein Friedan –(1921-2006)- Escritora feminista norte-americana. Um dos maiores nomes dos
direitos humanos e feminismo mundial.
59
mulher gostaria que ecoasse pelo mundo, nos parlamentos, na sociedade, nas
religiões, e na raiz das famílias.
Sob o ponto de vista da história a mulher foi a mola-mestra das mudanças
comportamentais no mundo. Através dos seus protestos, às vezes restrito ao lar, no
campo, nas fábricas, na sociedade, este grito começou a soar mais forte, a ganhar
eco, e principalmente ouvidos e adesões em todo o mundo, vide Eric Hobsbawm, pg.
313.
29
É nos anos 60 que definitivamente a mulher ascende politicamente ao poder,
conquista o direito da participação política, algo impensável na década anterior. Com
esta condição, as mulheres começaram a ganhar espaços, despertaram as atenções
dos políticos e dos parlamentos. Colocavam à prova todo o poder de influência e
decisão de que eram capazes, surpreendendo até aos mais pessimistas.
No centro das questões que são discutidas estão os movimentos de
emancipação da mulher, agora denominado de pós-feminista do século XXI, nada
surge tão forte e emblemático quanto ao velho tema do casamento. A instituição
casamento é ao que tudo indica o grande desafio do pós-feminismo, que na
atualidade tem sinalizado para um aumento de casamentos informais, convivência
no mesmo ambiente, porém sem adesão ao ritual religioso ou a legalização formal.
Linda Hirshman
30
, advogada e professora aposentada, que atualmente ocupa o
centro acirrado de discussões sobre o debate da condição feminina nos Estados
Unidos, segundo Linda Hirshman, de todos os erros cometidos pelo feminismo, o
mais grave na sua visão foi à incapacidade de mudar a instituição casamento, ponto
que estaria no centro de toda discussão da condição feminina. Para alguns
especialistas o casamento é um grande entrave para que as mulheres atinjam a
igualdade em salários, remuneração pelo trabalho, mesmas oportunidades de
ingresso e ascensão dentro das corporações, assim como na divisão com os
homens da carga de trabalho e das responsabilidades compartilhadas na
administração da casa e na educação dos filhos.
O feminismo subverteu a ordem da história e que provocou mudanças
irreversíveis para o mercado de trabalho, no comportamento sexual e nas relações
pessoais. Foi uma mudança de costumes e de conquistas femininas, reconhecidas e
aceitas tanto na esfera privada, quanto na blica. No campo social elas foram
29
HOBSBAWM, Eric; Era dos Extremos – O breve século XX – 1914 – 1991 – p. 313. Companhia das Letras –
São Paulo, 2005.
30
Linda Hirshman – Feminista americana autora do Livro “Get to Work” (Vamos ao trabalho).
60
significativas como: o direito ao voto, a legitimação do divórcio, a legalização do
aborto, a entrada maciça de mulheres nas universidades e a expansão numérica e
qualitativa nas áreas de serviços, educação e negócios.
O século XXI dá o tom da nova mulher, cada vez mais independente, capazes
de ditar regras nos escritórios, escolher e rejeitar parceiros, como também ter a sua
opção sexual resguardada e assegurada.
Surgem reflexões contemporâneas em que a Mulher está inserida, não
apenas como números ou em planilhas estatísticas de institutos legitimados pela
sociedade, mas dentro de uma evolução social com resultados econômicos
surpreendentes. Todavia este fenômeno, não afasta ou diminui as funções
domésticas, como mostra as inversões de ordem que, gradativamente vão sendo
absorvidas pela sociedade, como: carreira, maternidade, matrimônio, divórcio e novo
casamento.
Os dados atuais revelam que nos últimos anos a diferença salarial está em
queda, o avanço e a inclusão da mulher nos novos cargos e em funções tidas como
“feudos”, masculinos estão em alta. As diferenças ainda são expressivas, nos
Estados Unidos, elas ganham em torno de 25% a menos do que os homens na
mesma atividade profissional; o Brasil os índices superam na média os 30%.
O feminismo nos países muçulmanos está muito distante da realidade das
mulheres no Ocidente. Elas têm os vetos religiosos, que além de rígidos e
conservadores, o garantidos pelas Leis Islâmicas que confinam e as
discriminalizam perante às mulheres ocidentais, impondo restrições ao trabalho
externo, permitindo uma abertura gradual no ingresso às universidades e a prática
de esportes, como o impedindo o direito ao voto, no Kuwait e no Qatar foi aprovado.
Um dos maiores desafios do s-feminismo do século XXI é encontrar um
equilíbrio nas relações sociais e comportamentais da sociedade, que durante
séculos foi dominado indiscutivelmente pelos homens.
61
1.4.2 A seleção e análise dos filmes do período
Dos anos 60, selecionamos o filme “The Apartment” (Se Meu Apartamento
Falasse), produzido em 1960, um dos primeiros filmes a mostrar a estrutura de uma
organização, como também o dia-a-dia nos escritórios e os bastidores vividos por
eles. No mesmo ano Alfred Hitchcock estréia um dos seus mais famosos filmes:
“Psycho” – (Psicose) (1960), e em 1964, Hitchcock nos brinda com “Marnie” –
(Marnie Confissões de uma Ladra), uma envolvente história de uma mulher
cleptomaníaca, que vive um trauma da infância, num grande drama psicológico.
1.4.2.1 “The Apartment” – (Se Meu Apartamento Falasse)
Para iniciarmos a análise do período, selecionamos o filme “The Apartment”
(Se Meu Apartamento Falasse) – EUA de 1960.
Sinopse: C. C. Baxter (Jack Lemmon) é um funcionário de uma
importante Companhia de Seguros de Manhattan. Solteiro, ele
empresta seu apartamento aos chefes casados que têm amantes,
na expectativa de subir assim na hierarquia da empresa, que
estes lhe prometem recomendá-lo junto ao Gerente de Pessoal,
Sr. Sheldrake. (Fred MacMurray)
No apartamento contíguo, vivem
o Dr. Dreyfuss
(
Jack Kruschen)
e sua família, que têm Baxter como um maníaco
sexual, devido às constantes festas que se celebram em sua casa. Baxter apaixona-
se por Fran Kubelik, (Shirley MacLaine) uma jovem ascensorista que é a admiração
de seus chefes.
Um dia, ele é chamado à sala do Sr. Sheldrake, que demonstra interesse de
também usufruir o seu apartamento. Nesta seqüência do filme há cenas explícitas do
que ocorre neste grande escritório, Isto é, grande parte dos seus executivos, m
compromissos e agendas de saída com funcionárias.
62
Na cena, Baxter, tenta realocar a agenda de espaço
entre os executivos que querem usar os seus
apartamentos para os encontros, já marcados.
Na cena, um executivo que está despachando com sua
secretária, recebe um dos telefonemas e pede que ela
saia. Na cena 3, uma das telefonistas da empresa,
reclama que não pode mudar o horário do seu
encontro”.
Pode-se perceber nesta cena como funcionavam os
escritórios na época, abertos, com as pessoas muito
próximas uma das outras, o que podia passar a
imagem mais intimista das relações.
Na cena, uma das telefonistas da empresa, reclama
que não pode mudar o horário do seu “encontro”.
Nesta cena uma referência de quase todas as
secretárias que aparecem nos filmes relacionados, o
uso dos óculos, acessório muito comum em quase
todos os filmes.
Nesta cena uma invasão de privacidade quando a
secretária pega a extensão do telefone e começa a
ouvir as conversas “informais” do seu chefe, cujo teor,
pretende utilizar para obter alguma vantagem.
63
Nesta cena, a mesma secretária agora numa festa,
ouvindo conversas paralelas a respeito do que ocorre
no escritório entre os executivos e as funcionárias.
Conclusão: Mais uma vez se repete o cenário: o ambiente secretarial, local
propicio para reunir os mais diversos executivos, com das mais diversas áreas,
surgindo assim os romances proibidos e os encontros “camuflados” que não
despertassem suspeitas. Como vimos, toda a empresa, está envolvida, mas há
sempre alguém à espreita para “ouvir” e tentar tirar vantagens, como uma secretária
que por ser preterida naquele jogo, tenta tirar algum proveito. A dinâmica do local é
propícia para estabelecer a partir das relações não profissionais, como os assédios
sexual e moral, uma forma de se manter ou ampliar espaço no ambiente da
empresa.
1.4.2.2 “Psycho” – (Psicose )
em 1960 Alfred Hitchcock dirige e nos apresenta um dos seus mais
famosos filmes: “Psycho” – (Psicose) – EUA.
Sinopse: “Psycho” (Psicose) é considerado pelos críticos de
cinema, como uma obra-prima do cinema de Hollywood. Dirigido
pelo diretor Alfred Hitchcock, obtendo o reconhecimento do
“American Film Institute” como o melhor “thriller” de todos os
tempos. Psicose é uma obra de suspense, com ingredientes
psicológicos assustadores. Marion Crane (Janet Leigh), atua
como secretária de uma imobiliária localizada no Phoenix,
Arizona.
Numa tarde de sexta-feira, logo após retornar ao escritório, recebe do seu
patrão a missão de depositar a quantia de 40.000 dólares no Banco, com a
64
autorização de retornar apenas na segunda, pois não estava se sentindo bem e
queria aproveitar e chegar mais cedo em casa.
Porém, a história muda radicalmente e Marion foge com o dinheiro, segue por
uma estrada pelo deserto, até encontrar o Motel Bates, no qual, pretende passar a
noite e continuar a sua fuga. Mal sabia ela que encontraria Norman Bates
(Anthony Perkins) o dono do motel, um psicopata, vivendo dupla personalidade, que
acaba matando Marion, e jogando-a no seu carro no pântano, juntamente com o
dinheiro roubado, fato que o próprio Norman Bates igonorava
A história acontece na cidade de Phoenix, Arizona,
EUA.
Esta cena mostra bem o dia da semana e o horário em
que está acontecendo o encontro da secretária Marion
Crane e seu amante.
Nesta outra, também o diálogo mantido entre Marion
e seu amante de que: “estes longos almoços deixam
seu chefe com azia”. Talvez uma referência aos
freqüentes encontros furtivos entre os dois.
Nesta cena Marion chega ao escritório e pergunta
para outra secretária, se alguém havia telefonado.
Cena em que seu chefe acompanhado de um amigo,
que trás consigo uma soma: 40 mil dólares, que por
cuidados, ele recomenda a Marion deposite no Banco.
65
Nesta cena uma clara insinuação de que o dinheiro
compra tudo, e ele estava ali para ofertá-lo. Era uma
oferta, pois era dele o dinheiro que iria ser depositado
por Marion.
Cena em que Marion recebe da outra secretária o
pacote dos 40 mil dólares, os quais deveriam ser
depositado por ela em um Banco.
A tentação: 40 mil dólares, que estão sob a guarda
de Marion, para serem depositados no Banco, ficam
ali jogados em sua cama, enquanto se arrumava.
Neste plano seqüencial que é longo, Marion, por
várias vezes, olha o pacote de dinheiro, e começa a
mudar os seus planos. Ao invés de ir ao Banco, inicia
sua fuga com o dinheiro.
Nesta sua “fuga” Marion, passa com seu carro
próximo ao escritório e é vista pelo seu chefe que a
reconhece.
Momento do filme que Marion, muda o seu roteiro
definitivo e empreende uma fuga, pegando uma
estrada, muito tarde, dorme ao volante e é
acordada por um policial. Este desconfia e a
acompanha a uma certa distância desde sua chegada à loja de veículos, como
também à saída, quando compra com o dinheiro roubado um novo carro.
66
O que pode-se ver neste filme é a estratégia adotada pelo Diretor Alfred
Hitchcock, em cujas cenas, contempla como uma secretária eficiente, honesta,
cumpridora de tarefas, acima de qualquer suspeita. Porém, o que nos mostra de
verdade é que ela durante o expediente burla as regras de trabalho e de conduta e
vai se encontrar com seu amante, passando assim uma imagem de uma secretária
muito pouco confiável.
Como seu chefe não sabe dos encontros, ele acredita que Marion é o tipo da
funcionária confiável a quem se pode dar missões que envolvem confiança, como a
que lhe foi entregue. Entretanto, os fatos mudam e ela mostra à todos, namorado,
irmã, colega, chefe, que não era uma cidadã acima de qualquer suspeita.
Assim era acima de qualquer suspeita o Motel de Norman Bates, um local que
no passado, teria tido muitos clientes, mas que em função da construção da nova
estrada, estava quase que abandonado. Fato que levou Marion a confundir a estrada
principal e cair numa estrada secundária, local em que é assassinada na cena
clássica do chuveiro.
Para se desfazer de qualquer vestígio, Norman Bates coloca o corpo de
Marion e todos os seus pertences no carro, incluindo a grande soma de dinheiro que
havia sido roubada por ela, fato que ele desconhecia. Norman dirige o carro até o
pântano e o empurra, desaparecendo com o corpo de Marion, seu carro e o dinheiro
roubado.
Pode-se perceber no filme que o assassinato praticado por Norman Bate, que
vivia sob alucinações, como o diálogo e discussões constantes com sua mãe, que
mantinha em voz alta, para que desse a entender que havia uma segunda pessoa
na casa. Na verdade, o que havia no casarão, era uma mulher empalhada fazendo o
papel da sua mãe, que havia morrido há alguns anos.
Conclusão: Na primeira parte do filme, Alfred Hitchcock coloca a secretária
Marnie, como “centro” de toda a trama, cuja primeira aparição já nos passa a
sensação de que não seria uma pessoa confiável. Sensação essa que se concretiza
com o roubo e o seu desaparecimento misterioso. Também fica a clara sugestão de
que o mau comportamento de uma secretária ou não, é prontamente castigado ou
pelas buscas empreendidas pela polícia ou pelo “destino”.
67
1.4.2.3 “Marnie” ou (Marnie – Confissões de uma Ladra)
Depois de quatro anos sem filmar, Alfred Hitchcock vem com “Marnie” ou
(Marnie Confissões de uma Ladra), 1964, um drama psicológico com clima de
suspense.
Sinopse: Alfred Hitchcock cria um retrato fascinante de uma
mulher perturbada e o homem que tenta salvá-la, nesse
emocionante suspense psicológico. Tippi Hedren é Marnie uma
secretária, que também tem o papel de uma ladra compulsiva e
mentirosa que vai trabalhar para Mark Rutland (Sean Connery),
e tenta roubá-lo. Mark impulsivamente se casa com a bela
secretária e ladra, tentando descobrir as razões de seu
comportamento obsessivo. Quando um terrível acidente ameaça sua mulher, Mark
força Marnie a confrontar seu terror e seu passado, numa conclusão aterradora, de
que quando era criança viu sua mãe assassinar seu pai.
Sua imagem bem cuidada, suas roupas finas e o seu modo de trabalhar, não
a impede de praticar sucessivos roubos nas empresas em que é contratada. Toma
os devidos cuidados, para sempre que possível mudar o visual, cor dos cabelos,
para não ser facilmente reconhecida. Mas, isso não impede que o determinado
detive do porte de Mark Rutland (Sean Connery), descubra a fraude.
Ressalta-se também às insinuações de Mark Rutland (Sean Connery) com
referências sobre a lembrança das suas belas pernas. Estes temas são recorrentes
das tramas que acompanham os filmes de secretárias, como, no filme “My Dear
Secretary”, de 1933.
A primeira cena do filme mostra Marnie caminhando na
estação, veja o cuidado que é dado às roupas e a bolsa
que a mesma leva.
68
O anúncio do roubo de 10.000 dólares a Mark Rutland.
duas referências, que Mark sobre a secretária
Marnie: a lembrança de suas belas pernas e sua
articulação no escritório.
Cena 1 Cena 2 Cena 3
Na cena 1, pode-se notar o olhar atento de Marnie enquanto o executivo, na
cena 2, manuseia e fala a senha do cofre. Pode-se ver o cuidado e atenção quanto
aos procedimentos. Na cena 3, Marnie, simula que está indo embora, uma maneira
de não levantar qualquer suspeita, pois era uma sexta-feira.
Cena 4 Cena 5 Cena 6
Logo que Marnie percebe que não mais ninguém no escritório, se dirige à
mesa onde o executivo guardava a senha e se dirige ao cofre, conforme pode-se ver
nas cenas 5, 6 e 7, a efetivação do roubo; que é quebrado pelo trabalho da
faxineira, bem no canto esquerdo. Marnie a percebe pelo barulho e começa a sair
69
sem ser percebida, causando o que o Diretor Alfred Hitchcock mais soube fazer:
suspense.
Na narrativa do filme Mark encarregado das investigações
se aproxima de Marnie, quando um novo roubo acontece,
para ter certeza que era a mesma pessoa, Mark propõe
casamento, mas, este casamento era a forma de manter
Marnie sob seu controle e vigilância, o que ela percebe
depois, pois, torna-se refém de Mark, o que prefere, para
não ser entregue à polícia.
Conclusão: O filme "Marnie - Confissões de uma Ladra" é um dos clássicos
de Alfred Hitchcock, onde mais uma vez, se utiliza uma personagem para
representar uma secretária em mais um dos seus filmes. Partindo de um roteiro bem
elaborado que mistura roubo, mentiras, mistério, crime, disfunção sexual e outros
distúrbios de origem psicológica. O mestre do suspense, Alfred Hitchcock, com a
habilidade de sempre, traz a história de uma ladra compulsiva que se dedica a abrir
cofres das empresas para as quais trabalhava como secretária, sem deixar pistas,
porém cai na armadilha do detive Mark Rutland, que lhe oferece: a prisão ou se
casar com ele. Depois de casados, contra sua vontade, Marnie tem seu terrível
passado revelado.
1.4.3 Considerações sobre os filmes da década de 1960
A pesquisa filmica desta década tem como destaque o diretor inglês Alfred
Hitchcock, com a inclusão de dois filmes (Psycho e Marnie) que m muito em
comum: a representação da secretária, cujos personagens são as suas preferidas na
composição e participação em suas tramas.
Esta década avança no quesito comportamento das secretárias mostradas
nos filmes anteriores, de histórias com induções à sexualidade e à sensualidade,
agora as representações que os Diretores reservaram para as secretárias o mais
70
explícitos, o que leva os espectadores a terem uma visão alterada do
comportamento formal até então mostrado.
O filme “The Apartment” (Se meu Apartamento Falasse) é o primeiro da
série a mostrar claramente como funciona o sistema de sedução e sexo nas
organizações promovido pelos seus executivos. E, mostra como funciona a
interligação entre as demais áreas organizacionais, envolvendo funcionárias em uma
rede bem conectada e bem compartilhada.
Os demais filmes desta rie analisada têm algumas coincidências que
revelam aos espectadores alguns pontos subjetivos como, ética, lealdade, quebra de
confiança e conflitos de interesses.
O conjunto da obra de Alfred Hitchcock que reúne (Lifeboat, Psycho, Marnie e
Frenzy) tem narrativas e situações muito similares, que quase que se repetem em
todo os filmes. Alfred Hitchcock pela primeira vez mostra ao espectador o outro lado
da mulher, nestas representações como secretárias, suas personagens
surpreendem pela ousadia e perspicácia de como conduzem suas ações frente ao
roubo que praticam. Nos filmes Psycho e Marnie, vê-se a exposição da secretária
como autoras de roubos praticados nas empresas onde trabalham. Hitchcock nos
mostra em Marnie, uma personagem cleptomaníaca, até ser definitivamente
desmascarada.
Alfred Hitchcock no filme “Marnie” mostra o drama psicológico e alteração de
identidade que a personagem Marnie (secretária) vive. Este processo atormenta
Marnie, fazendo com que essas perturbações sejam responsáveis pela sua
compulsão ao roubo, como também a constante troca de identidade.
Estes filmes demonstram claramente como as secretárias, vivendo os seus
papéis dentro de uma organização, ficam próximas aos segredos, participam de
tarefas conjuntas, sem despertar suspeitas. Até que, sem ninguém esperar
começam a praticar alguns delitos. A questão que aparece em todos os filmes é a
figura que uma secretária passa, o de muito presente na vida na empresa, e
presumidamente afastada de qualquer suspeita. Alfred Hitchcock torna esta faceta
visível em todos os seus filmes.
As secretárias aqui representadas são astutas, observadoras, atentas,
percebem facilmente situações que ainda irão acontecer. Alfred Hitchcock mostra
sua genialidade em lidar com personagens que representam secretárias, de todos os
71
Diretores analisados, cabe a ele o maior número de filmes com esta representação,
quatro em seu currículo.
Para completar a análise, é nesta fase que a moda explode como uma grande
revolução de costumes. É a década da introdução das minissaias e as mulheres
começaram a deixar de lado o clássico e então "ultrapassado" visual fatal. A
feminilidade transitava entre o comportado e o irreverente, as cores que passaram a
ser usada tinham tons fortes, puros e verdadeiros, como: o rosa-choque, dourado,
verde, violeta e laranja. Os anos 60 marcam o início da cultura pop americana.
1.5 Análise das décadas de 70 e 80
Os anos 70 e 80 definitivamente marcam o século XX como a grande virada
social e cultural que varre o mundo, liderado pela revolução feminista que teve início
nos anos 70 e se aprofundou nos anos 80, vide Eric Hobsbawm, pg. 306.
31
A grande revolta feminina bate às portas do Vaticano e começa a ecoar como
uma grande mudança dogmática que a Igreja insistia em continuar. Vide Eric
Hobsbawm, pg. 306
32
A revolução a qual Eric Hobsbawm trata é do conjunto de papéis
desempenhados pelas mulheres, agora, nos mesmos níveis de competitividade e de
responsabilidades que o homem, que as tarefas do lar e a educação dos filhos,
continuam sob a sua responsabilidade. De qualquer maneira, o que alterou na
revolução social não foi apenas a natureza das atividades exercidas pela mulher,
mas principalmente seus papéis como mulher, mãe e cidadã.
O ingresso preferencial por parte dos patrões das mulheres no mercado de
trabalho foi uma das saídas oportunistas dos empresários em contratar uma mão-de-
obra mais barata e mais disponível.
A cada de 70 e 80 mostra ao mundo a outra face da mulher. Agora na
política, sua ascensão neste novo cenário é avassalador, tomando espaços políticos
até então inimagináveis, impondo assim uma participação político-social de grande
impacto e de mudanças, momento em que a participação da mulher no contexto
31
HOBSBAWM, Eric; Era dos Extremos O breve século XX 1914 1991 p. 306. Companhia das Letras
São Paulo, 2005.
32
Idem.
72
político-social sobressai com o aparecimento de líderes como: Indira Ghandi (Índia,
1966-84)
33
, Benazir Bhutto
34
(Paquistão, 1988-90; 1994) e Aung San Suu Kyi
35
, que
teria chefiado a Birmânia não
fosse o veto dos militares, como filhas; Sirimavo
Bandaranaike
36
(Sri Lanka, 1960-5; 1970-(7), Corazón Aquino (Filipinas, 1986-92)
37
e Isabel
Perón (Argentina, 1974-6)
38
, como viúvas.
39
Este fenômeno político em que as mulheres começam a dividir com os
homens, até então com supremacia absoluta, passam a despertar em todas elas um
sentimento de liberdade, um momento em que diante da representatividade do
exercício político que o cargo impunha, eram elas as mulheres, que estavam ali
representadas. O sonho não é mais sonho, o sonho torna-se realidade.
Os anos 80 representam o que pode ser chamado da era das grandes
rupturas em sociais, e com esta mobilização que transforma as sociedades é através
do cinema que consegue com muita propriedade absorver as mudanças que as
mulheres começavam a impor nos escritórios e a alternância de poder com os
homens, pela primeira vez, as mulheres ascendem a cargos de chefia e de gerência
em algumas corporações. É neste momento que o cinema inteligentemente se
apropria e passa essa representatividade de poder vivido pelas secretárias.
No final da década dos anos 60 aparece uma personagem que veio para
marcar história, Betty Friedan como a primeira mulher a protestar publicamente
contra as desigualdades sofridas pelas mulheres, tidas socialmente como segunda
classe. Protestou e o seu ato serviu de bandeira para todas as mulheres do mundo,
como uma pioneira na batalha da igualdade da mulher no campo social, econômico
e civil.
33
Aos 49 anos, Indira Gandhi é eleita Primeira-Ministra da Índia, com minoria no Congresso. Mas sua grande
vitória acontece as 52 anos: permanece como Primeira-Ministra, desta vez, com maioria absoluta (19 Janeiro de
1966 até 24 Março de 1977, e novamente entre 14 de Janeiro de 1980 até o seu assassinato, ocorrido em 31 de
Outubro de 1984).
34
Benazir Bhutto – (1953 - 2007) - Foi uma política paquistanesa, duas vezes primeira-ministra de seu país,
tornando-se a primeira mulher a ocupar um cargo de chefe de governo de um Estado muçulmano moderno.
35
Aung San Suu Kyi, nasceu em (Rangum, 19 de Junho de 1945) é líder e ativista birmanesa, premiada com o
Nobel da Paz em 1991, líder da oposição ao regime ditatorial do país, ativista dos direitos humanos.
36
Sirimavo Bandaranaike - Foi primeira-ministra do em três períodos separados: 1960-1965, 1970-1977 e 1994-
2000. Primeira mulher do mundo a ocupar o cargo de primeiro-ministro.
37
Corazón Aquino - (1933-) (Presidente das Filipinas entre 1986 e 1992).
38
Isabelita Perón – (1931-) Primeira Mulher a governar a Argentina (1974-1976). Primeira mulher a ocupar cargo
de Presidente na América Latina.
39
HOBSBAWM, Eric; Era dos Extremos O breve século XX 1914 1991 p. 307. Companhia das Letras
São Paulo, 2005.
73
1.5.1 Seleção e análise dos filmes das décadas de 70 e 80
Os anos 70 mostram um fato que surpreendeu como dado da pesquisa, foi a
década com o menor número de filmes produzidos com representação da secretária,
apenas um, Frenzy” – (Frenesi) – EUA – 1972, depois deste vácuo aqui constatado,
em 1981 que estréia “Ghostbusters” (Os Caça-Fantamas I), em 1984 “The
Woman in Red” (A Dama de Vermelho) (1984) e em 1987 “The Secret of my
Success” (O Segredo do meu Sucesso), esta ausência de produções nos anos 70,
foi compensada pelas produções que aqui inovam no gênero, a comédia é o tema
que une todos os filmes dos anos 80.
1.5.1.1 “Frenzy” – (Frenesi)
Selecionado para representar a década de 1970, temos o filme
Frenzy”
(Frenesi) – EUA de 1972.
Sinopse: Londres está sendo aterrorizada por um serial killer que
está atacando as mulheres atrás de sexo. A polícia tem um principal
suspeito, Richard Ian Blaney (Jon Finch), que fará de tudo para
provar sua inocência.
E é neste roteiro, que Alfred Hitchcock coloca mais uma secretária,
agora, num papel menor, porém clássico, a da secretária passiva, de
pouca ação ou influência na trama.
Pode-se perceber a roupa e os óculos que fazem parte do estereotipo da
secretária Monica Barling (Jean Marsh). Vê-se também como é detalhista e muito
observadora, atenta à conversa que está acontecendo na sala ao lado.
Estes fatores surpreendem à primeira vista, Alfred Hitchcock apesar de dar
pouco tempo ao papel da secretária, lhe credita um espaço razoável de participação
o que lhe confere, que normalmente os chefes dão: liberdade de sair mais cedo ou,
poder se ausentar do escritório, pois naquela tarde sua chefe a dispensa. Como
pode-se observar na seqüência a seguir.
74
Cena 1 Cena 2 Cena 3
Cena 1 entrada no escritório, identificado como “The Blaney Bureau
Frendship”, um escritório de assuntos matrimoniais, pertencente a Brenda Margareth
Blaney (Bárbara Leigh-Hunt) no qual, a secretária posicionada e cumprindo a sua
tarefa de anunciar a visita. Cena 2 inicia-se um diálogo de reconhecimento e na cena
3, agora mais descontraída, pergunta: Quem devo anunciar? - O Sr. Blaney.
Cena 4 Cena 5 Cena 6
Nas cenas 4 e 5 há uma seqüência em que Brenda e seu ex-marido Richard
Blaney, discutem em sua sala, o tom da conversa e alta, o que deixa Monica
intranqüila. Brenda, envergonhada, pede para que Monica tire a tarde para fazer
compras, assim, insinuando que gostaria de ficar a sós com a visita. Na cena 6, a
secretária antes de sair, toma atenção à conversa que na sala ao lado.
Robert “Bob” Rusk
(Barry Foster) chega à
Agência de Brenda,
na hora do almoço, a
estupra e a estrangula
com uma gravata.
75
Monica, a
secretária, no se
retorno do almoço,
vê Richard Blaney
saindo da Agência.
Monica reafirma à
Scotland Yard,
que tem certeza
que fora Mr. Blaney
o assassino.
Richard, procurado pela polícia, procura refúgio com
Barbara Jane Milligan (Anna Massey), sua
namorada e ex-colega de trabalho no Pub onde
trabalhara. A Scotland Yard, polícia britânica, sai na
procura de Richard e descobre que Barbara
também foi estuprada e morta nas mesmas condições de Brenda.
Richard pede ajuda a
Bob, que lhe
promete, para em
seguida o trair,
entregando-o à
polícia, como principal suspeito das mortes.
Levado a julgamento Richard é condenado à prisão
perpétua. Porém, ainda no tribunal grita que é
inocente, acusando Bob de ser o verdadeiro
assassino e promete matá-lo.
76
O sargento Spearman que aprece interrogando
Monica, que pelo seu depoimento, acaba deduzindo
que o provável assassino seja Bob, quando toma
conhecimento que Richard havia fugido do hospital.
Neste momento Richard chega ao apartamento de
Bob, onde encontra uma jovem estrangulada sobre
a cama. Logo a seguir chega ao local o Inspetor
Oxford.
Os dois aguardam Bob que chega, pouco depois,
com um baú para transportar o cadáver. Neste
momento, tudo fica desvendado, com as provas
finais e com a prisão do verdadeiro assassino.
Conclusão: O filme “Frenesi” tem como cenário uma agência matrimonial, no
qual, acontece um assassinato, envolvendo todos os personagens nesta trama: uma
empresária descasada, em permanente conflito com seu ex-marido, uma secretária
solteirona e um serial killer. O Diretor Alfred Hitchcock nos passa com muita exatidão
o poder de observação que a secretária passa aos detetives, quando perguntada se
tinha visto algo diferente. Pois, como secretária poderia fornecer informações
importantes para esclarecer o assassinato da sua chefe Brenda.
A filmografia de Alfred Hitchcock, o que inclui uma lista de filmes vistos e
analisados por nós como: Lifeboat, Psicose, Marnie Confissões de uma Ladra. E
para fechar a série do mestre do suspense, “Frenesi”, que seguindo os anteriores,
também inclui em sua trama a personagem de uma secretária.
O motivo principal talvez seja que “Frenesi” traz tudo o que o mestre fez
antes, só que de forma “compacta”, num único filme, e de maneira igualmente
magistral. Nesse penúltimo filme dele (o último seria Trama Macabra de 1976),
observa-se o genuíno humor hitchcockiano, personagens curiosos (alguns até
bizarros), ângulos de câmeras bem elaborados, cnica arrojada, diálogos ricos, e
como não poderia faltar: muito suspense.
77
1.5.1.2 “Ghostbusters”
Entrando nos anos 80, vamos encontrar o filme “Ghostbusters” (Os Caça-
Fantamas) EUA de 1984, uma comédia, que marca o início dos filmes
selecionados com representações de secretárias do período.
Sinopse: Um grupo de parapsicólogos desempregados decide
se unir para formar os Caça-Fantasmas, que têm como grande
missão livrar Nova York de um ataque de fantasmas, monstros
e outras criaturas do além.
O filme é dirigido por Ivan Reitman (Evolução) e com Bill
Murray, Dan Aykroyd, Sigourney Weaver, Rick Moranis e
Harold Ramis no elenco. Porém, o destaque do filme é dado à
secretária que cuida do escritório, em duas cenas antológicas,
como as cenas abaixo onde demonstra parceria, vibração, comprometimento e
profissionalismo no trato do trabalho e com os clientes, como pode-se ver nesta
cena a seguir, anunciando o pedido de mais um cliente.
Nesta seqüência que reúne quatro cenas, mostra o exato momento em que a
secretária atende ao telefone a solicitação de um cliente pelos serviços da Agência,
e como ela vibra em anunciar: Trabalho! Sinal que mostra seu engajamento com os
objetivos da organização.
78
Esta é a cena em que ela a “secretária” fecha uma
venda. Mostra seu entusiasmo na venda dos serviços,
que ela acredita, aposta e confia. Cenas em que
passam uma imagem de credibilidade e confiança a um
candidato à vaga na empresa.
Cena 1 Cena 2 Cena 3
Nesta seqüência das cenas selecionadas, pode-se ver como o candidato
diante de tanta convicção passada pela secretária, diz: “Se me pagarem bem,
acredito em tudo que quiser”. Uma forte referência do diretor, no papel que uma
secretária desempenha em uma organização, foi mostrado aqui, o quanto ela
conhece a empresa, seus serviços, sua filosofia e seus objetivos.
Cena 4 Cena 5 Cena 6
Conclusão: O filme “Os Caça-Fantamas” através da visão do seu Diretor
mostra como uma secretária que às vezes parece ter uma função pouca significativa
na trama, nas poucas cenas que lhe são reservadas consegue transmitir o quanto de
representatividade nos passa nas questões de comprometimento, entusiasmo e
parceria. Os Caça-Fantamas é o segundo filme da década no gênero comédia, o
primeiro da série dos Anos 80, é “9 To 5” (Como Eliminar seu Chefe) que tem nesta
Dissertação um capítulo especial. É a cada que os temas com secretárias são
mais descontraídos, porém, seguindo a linha da sensualidade e da sexualidade,
presente em toda a série analisada.
79
1.5.1.3 “The Woman in Red” – (A Dama de Vermelho)
Dando continuidade, apresentamos a comédia “The Woman in Red” (A
Dama de Vermelho) EUA, produzida em 1984, um filme de construção inteligente,
um enredo que envolve três personagens em inusitadas situações.
Sinopse: Theodore Pierce (Gene Wilder) é um executivo
casado e com filhos, que se em uma situação bem
complicada. Ele começa a recordar que tudo começou
quando conheceu Charlotte (Kelly LeBrock), uma
deslumbrante modelo que o perturbou tanto que ele se viu
motivado em trair Didi (Judith Ivey), sua amada esposa,
apenas para ter um caso com ela. Theodore articula um plano
para ir para a cama com esta sensual estranha e para
complicar uma colega de escritório, Ms. Milner (Gilda Radner), acredita que
Theodore está interessado nela.
Este é um outro filme que rompe a barreira de que a secretária deveria ser
bonita e sensual, faz de Ms. Milner (Gilda Radner) no papel de uma secretária, nada
convencional no quesito beleza, pois, foge totalmente ao estereótipo encontrado nos
demais filmes. Ms. Milner, na função de secretária do departamento, é confundida
quando Theodore Pierce, no objetivo de falar com a “Dama de Vermelho” que estava
em sua sala, faz uma ligação, no exato momento que alguém baixa a persiana, não
deixando Theodore ver, quem realmente atende a ligação.
Para ele, quem estava ao telefone era a “Dama de Vermelho”, lhe faz um
convite para um encontro. Mas, na verdade, quem atende é Ms. Milner, que recebe o
convite, por engano, para um encontro. Desta hilária cena, surgem todas as
confusões, tornando Ms. Milner numa implacável e vingativa perseguidora de
Theodore, pois, este foge dela em todos os encontros marcados por ele, que além
de ator é o diretor do filme. É Ms. Milner que vai fazer o contra-ponto com a “Dama
de Vermelho”, (Charlotte), uma modelo que vai virar a cabeça de Theodore Pierce.
80
Foram selecionadas três cenas que representam
bem esta comédia, na qual um imprevisto: a
“Dama de Vermelho” (Charlotte), que está sentada
aguardando a secretária, inclina-se para atender o
chamado do telefone, vindo da mesa de Theodore,
neste momento, baixa-se a persiana, e Theodore
pensa que está falando com ela.
Theodore enquanto insiste com seu telefone para
que a “Dama de Vermelho” atenda. Ele tenta se
esconder atrás de um recorte no jornal.
Entretanto, quem pega o telefone é a secretária do
departamento, com quem Theodore marca um
encontro. Para Theodore, o diálogo que ele mantinha
naquele momento, era com a “Dama de Vermelho”
(Charlotte). Mas, não era, o diálogo era com a
secretária Ms. Milner.
Esta por sua vez, pensa que é ele que está a fim,
mas, não comparece em nenhum dos encontros. No
primeiro, não consegue sair de casa. No segundo
encontro, quando que era a secretária do
departamento, foge.
Neste momento inicia-se uma série de “vinganças”
muito engraçadas, das quais, ele nem imagina o
porquê de tanta maldade por parte da secretária.
Aqui uma revelação explícita de relacionamentos
entre pessoas do mesmo escritório.
81
Um novo encontro é marcado.
Theodore ainda pensa que é a “Dama de Vermelho”
é que está falando ao telefone.
Cena em que Theodore se defronta com o engano,
não era a “Dama de Vermelho” que estava marcando
os encontros e, sim com a secretária da Agência.
Nesta cena, a secretária derruba sobre os seus
relatórios um vidro de tinta, deixando Theodore e seu
assistente sem entender nada.
Uma série de desencontros até Theodore conseguir o tão esperado encontro
com a “Dama de Vermelho” (Charlotte), tão esperado que, no dia em que os dois
decidem e que estão no apartamento, surge o marido de Charlotte, que tinha
retornado de viagem.
A seqüência final do filme é hilária, Theodore tenta fugir pelo para-peito do
edifício, o que chama a atenção das pessoas que passam na rua, que dá a entender
que uma tentativa de suicídio. Forma-se uma aglomeração, os bombeiros são
chamados, os repórteres de TV começam a transmitir ao vivo, e, ao vivo as imagens
chegam até a família de Theodore que assistem aquela cena, pensando que ele
estava com grande estresse provocado pelo trabalho no escritório.
82
Conclusão: Pela primeira vez o cinema quebra o mito da beleza e do
estereótipo de que toda secretária deveria ser bonita, neste filme a secretária do
departamento é uma mulher pouco atraente e por isso não chamava atenção dos
colegas. Quando recebe o telefonema que era endereçado à “Dama de Vermelho”,
entra em total descompasso.
E sobre o mito da beleza, Eduardo Geada, traz em seu texto uma reflexão
para ilustrar o quanto a Secretária é exigida em seu estertipo de que tem que
passar beleza e sensualidade:
A Mulher precisa se ser bela, porque para pensar e agir existe o
homem, do produtor ao realizador do ator ao herói. É ver o número
reduzidíssimo de mulheres que ocuparam (ocupam) lugares de
decisão no seio da profissão cinematográfica. As profissões
tradicionalmente femininas na produção cinematográfica
(Secretárias, anotadoras, montadoras) destinam-se essencialmente
a assistir o realizador e o Produtor na execução dos Projetos para as
quais, a sua participação criativa é mínima, embora seja
indispensável no bom andamento dos trabalhos
40
Como mostra o filme, Ms. Milner, não perderia por nada a oportunidade de
aceitar o convite de um colega para um encontro. que estava competindo com
uma mulher tida como exuberante e, portanto, sem chances. Novamente o cinema
recorre ao assédio sexual para justificar o enredo que acontece numa Agência de
Propaganda.
1.5.1.4 “The Secret of My Success” – (O Segredo do Meu Sucesso)
Em “The Secret of My Success” (O Segredo do Meu Sucesso) EUA,
produzido em 1987, é outra comédia que se passa numa grande corporação, onde
um jovem aspirante a executivo tem sua vida totalmente mudada, saindo do cargo
de entregador interno de correspondência para o de Presidente.
Sinopse: Brantley Foster (Michael J. Fox) é um jovem com boa
formação, que nasceu e foi criado no Kansas, mas após terminar a
faculdade ele decide ir fazer fortuna em Nova York. Infelizmente,
quando ele chega na cidade descobre que o emprego que lhe tinha
40
GEADA, Eduardo – O Poder do Cinema – p. 53, Editora Livros Horizonte – Lisboa Portugal, 1985.
83
sido prometido não se concretiza, assim ele se obrigado a pedir ajuda para
Howard Prescott (Richard Jordan), um parente distante, que controla um
conglomerado multimilionário.
Brantley Foster consegue um modesto lugar na empresa do tio: Office- boy
interno. Começar por baixo o está em seus planos. Assim, tem a idéia de viver
uma vida dupla na empresa, usando também o nome de Carlton Whitfield, um
executivo que ninguém sabe de onde veio, mas tem sacadas brilhantes.
Paralelamente, é seduzido por Vera Prescott (Margaret Whitton), a mulher de seu
tio, mas Brantley sente interesse é por Christy Wills (Helen Slater) – que faz o papel
de Executiva. Carol Ann Susi, (Jean) faz o papel de secretária no filme e, tem um
papel de destaque no final da trama.
Foram selecionadas duas cenas nas quais o Diretor Herbert Ross deu um
espaço para a secretária no início da trama, como cumpridora à risca das tarefas e o
seu reconhecimento por parte de Brantley Foster, que a contempla com o cargo de
Secretária da Presidência graças ao seu desempenho profissional e lealdade.
Pela segunda vez, o cinema quebra uma seqüência de secretárias tidas como
bonitas, sensuais, e destaca uma secretária com um perfil totalmente diverso do que
até então os filmes com o tema apresentara. Com um detalhe: super eficiente e
super ativa, em todas as cenas em que representa o papel de secretária.
84
Quando descobrem que Brantley Foster o é
executivo, tomam a decisão de mandá-lo embora.
Com ajuda da sua fiel secretária, começa a reunir os
pertences para deixar a empresa. Sua secretária
ainda lhe dirige palavras de incentivo como: não
fique triste, vamos em frente.
Reunião do Conselho, a ex-esposa, com 51% das
ações, assume a empresa, desaloja o ex-marido do
seu cargo e posse a Brantley Foster, como novo
presidente, com sua fiel e parceira secretária.
Sua secretária que o esperava tal virada na
organização torna-se a partir de agora, secretária do
novo Presidente: Brantley Foster. Mas, ninguém
poderia imaginar a grande virada que a história deu.
Conclusão: Neste filme, pela terceira vez, o tema secretária é tratado com
um tipo de mulher totalmente diferente daquele usualmente escolhido. Desta vez, o
papel representado de secretária é de uma personagem que tem as medidas além
das convencionais, não obedece ao tradicional padrão de beleza, muito menos uma
secretária que pudesse chamar a atenção do chefe.
O diretor do filme Herbert Ross, nos a oportunidade de conhecer uma
secretária que sabe exercer sua profissão. É discreta. Sabe ser parceira. É amiga e
principalmente solidária ao jovem executivo que assessora; e que mais tarde
assumiria o comando da empresa. E, para situar, ele a leva para participar da
reunião com os novos executivos, o que a torna secretária executiva da presidência.
85
1.5.2 Considerações sobre os filmes das décadas de 1970 e 1980
Com exceção de “Frenzy”, um filme misto de policial e suspense, produzido
nos anos 70, tivemos nos anos 80 na comédia, o gênero que contempla todas as
produções do período. Isto faz com os filmes com a representação da secretária,
tenham uma grande bilheteria e sejam bem lembrados como filmes que divertiram
uma geração.
O Filme “Ghostbusters” (Os Caça-Fantamas) alcançou grande sucesso,
rendendo mais uma produção, que foi denominada de “Ghostbusters II”. O destaque
é para a personagem que faz o papel de secretária, vendedora eficiente de serviços,
uma personagem com muito bom humor, empenhada naquilo que faz e crença total
na capacidade dos seus parceiros em exterminar “fantasmas”.
“The Woman in Red” (A Dama de Vermelho) foi um sucesso absoluto de
bilheteria, reunindo atores que sabem fazer humor com inteligência e sutileza
quando o assunto é homossexualismo e traição, tudo no melhor estilo “politicamente
correto”. Sem em nenhum momento expor de forma discriminatória os lados
mostrados.
O filme ainda conta com uma participação involuntária de uma secretária do
departamento, que por engano foi confundida a personagem Charlotte (A Dama de
Vermelho) e toma conta da história no filme.
“The Secret of my Success” (O Segredo do meu Sucesso) em seu roteiro
tem como cenário uma grande corporação, onde a exposição dos fatos tem o seu
curso. E consegue mostrar como o labirinto das organizações está permeável a
determinadas condutas dos seus executivos. Com o namoro proibido do presidente
da empresa com sua funcionária, a qual ocupa um alto posto na organização, vê-se
também o assédio sexual praticado pela mulher do presidente em relação a um dos
funcionários da empresa. Este filme tem muitas semelhanças com um outro filme da
década de 60; “The Apartment” – (Se Meu Apartamento Falasse).
Destaque para os papéis das secretárias Jean (Carol Ann Susi) em “The
Secret of my Success” – (O Segredo do meu Sucesso) e, Ms. Milner (Gilda Radner),
roubam a cena nos respectivos filmes. Primeiro, porque quebram um paradigma
contido em todos os filmes, que a secretária deveria sempre parecer bonita, caso
delas era bem o oposto. Segundo, porque mostram que a beleza não é o essencial
86
para exercerem a função e sim, competência, discrição e muita disposição para o
trabalho.
A coincidência é que nos filmes selecionados as personagens representadas
como secretárias não são alvo de conquistas ou estarem em busca de aventuras. O
que aconteceu na narrativa dos filmes: “Os Caça-Fantamas”, “A Dama de Vermelho”
e “O Segredo do Meu Sucesso”, e sim secretárias, com muita eficiência, porém
longe dos padrões beleza esperado.
Os Anos 80 invadiram o nosso cotidiano em que os códigos de beleza
começavam a mudar de acordo com as estações do ano. A sombra passava do
castanho ao violeta e era esfumaçada, em arco-íris. Os cílios eram alongados com
máscaras coloridas (verde relva e azul piscina) e a prova d'água. E, uso do batom
vermelho, vivo.
Como uma figura emblemática deste período, Madonna, surgia como uma
nova mulher, que foi um marco da cada em que era proibido "fraquejar" e que o
proibido não exigiria. A beleza virou competição e as mulheres passaram a cuidar
muito do corpo e da estética, demonstrando assim que no campo do trabalho e dos
cuidados pessoais, não seriam mais intimidadas.
1.6 Análise do período de 1990 – 1999
Os anos 90 foram historicamente marcados como o período das grandes
transformações sociais que estavam ocorrendo tanto no Ocidente quanto no Oriente,
era uma frenética corrida dos indivíduos independente do sexo ou classe social no
sentido de serem aceitos tanto pessoal como socialmente frente às instituições
públicas ou à sociedade organizada.
Por outro lado, a revolução cultural que soprou como um vento de
transformações e deixaram marcas profundas na sociedade. As artes, as
expressões literárias, a televisão, as comunicações foram vitais no papel de
catalisação e disseminação desse fenômeno cultural de fim de século. Hollywood
não poupou esforços para diante desses fatos históricos de grandes transformações,
87
divulgando e sendo a sua maior testemunha. Eric Hobsbawm nos aproxima da
grande revolução no final do século XX, vide Eric Hobsbawm, pg. 328
41
Completando o painel do final do século XX, a supremacia do capitalismo
frente ao socialismo que pôs abaixo o “Muro de Berlin e com ele a utopia do
comunismo. O mundo tem que se reorganizar assimilando e dando conta das
transformações socioeconômicas ocorridas
A revolução cultural desestrutura e modifica tudo, alterando economias e
desenvolvendo novas áreas de produção, às vezes em silêncio, às vezes
ruidosamente. A Globalização é o grande fenômeno, enquanto as grandes potências
discutem suas medidas, o chamado “Terceiro Mundo” formado por países em
desenvolvimento, protestam. Fazendo com que o pensamento individual e coletivo
possam ser influenciados e transformados num novo totem, muito acima daquilo que
as outras gerações deixaram como legado.
1.6.1 Seleção e análise dos filmes do período
Os anos 90 que aqui aparece na nossa pesquisa reúne produções bem
distintas, “Disclosure” (Assédio Sexual) produzido em 1994, onde pode se ver um
assédio sexual, agora praticado por uma mulher, que é na verdade, chefe do seu
funcionário. Neste filme, aparecem algumas cenas que tem secretárias atuando
neste grande escritório, porém o foco foi para ilustrar que o assédio sexual que
aparece em quase toda nossa pesquisa filmográfica, aqui é praticado por uma
mulher, num grande jogo, para manter o seu poder na organização.
“In the Company of Men” (Na Companhia dos Homens) (1997), um drama
vivido por uma secretária que sofre de deficiência auditiva, e tem o seu espaço
invadido por dois executivos que a querem para satisfazer uma aposta feita entre
eles, que a primeira mulher que encontrassem no novo escritório, seria a escolhida
para satisfazer seus desejos sexuais. “*Psycho” (Psicose) (1998) * Remake do
filme Psycho de Alfred Hitchcock, que vale a pena ser visto, como um dos clássicos
de Alfred Hitchcock.
41
HOBSBAWM, Eric; Era dos Extremos O breve século XX 1914 1991 p. 328. Companhia das Letras
São Paulo, 2005.
88
Esta série começa com o filme “Disclosure” – (Assédio Sexual) – EUA ,
produzido 1994, chama atenção pelo enredo, também vivido numa grande
corporação, onde o poder e a sedução agora é apresentado na versão feminina, que
como filme, surpreende pela ousadia e marca a mudança de comportamento que a
sociedade estava vivendo.
1.6.1.1 “Disclosure” – (Assédio Sexual)
Sinopse: Tom Sanders (Michael Douglas), um executivo, espera ser
promovido, mas quem acaba ocupando o cargo é Meredith Johnson
(Demi Moore), com quem ele teve no passado um envolvimento.
Meredith rapidamente tenta forçá-lo a ter relações sexuais e em
virtude da recusa dele, ela ameaça destruí-lo na empresa.
Estas duas cenas iniciais no filme referem-se a um diálogo entre duas
secretárias que falam de assédio sexual e traição, quando uma das secretárias fala
que se casou com seu chefe depois de cinco tentativas antes de dar o aceite
definitivo, pois, como ela mesmo diz: “antes de ser um caso clássico de assédio
sexual entre chefe e secretária, eu preferi casar com ele”.
O enredo deste filme se passa em uma organização em que a Executiva da
empresa, decide agir de forma incorreta e sem nenhuma ética com seus
fornecedores e parceiros. Mas, Tom Sanders, não concorda com a jogada que está
sendo tramada por ela (Meredith Johnson), a tenta impedir. Em contra partida,
Meredith aplica um plano de assédio sexual em Tom, para obter dele silêncio e
89
cumplicidade em suas intenções, para ilustrar selecionamos cenas onde pode se ver
o conteúdo dos diálogos entre a executiva e o seu subordinado.
Os diálogos que aparecem descritos em cada cena mostram e demonstram
como Tom Sanders tenta convencer Meredith Johnson a o praticar o assédio
sexual e tenta escapar das suas investidas.
Tom Sanders tenta de todas as maneiras de o se envolver com Meredith
que investe pesado para obter dele a cumplicidade, porém não consegue o intento.
Ele decide no dia seguinte denunciar os fatos, entretanto é tarde, tendo sido
responsabilizado pelo assédio e pela trama, lhe restando somente a possibilidade de
provar sua inocência.
Conclusão: Este filme mantém diálogos fortes sobre poder, quebra de ética,
abuso de poder, assédio moral e sexual. Jogo de poder entre subordinado e chefe.
Pela primeira vez, o cinema mostra o assédio moral e sexual por iniciativa da
mulher. Da seleção até aqui estão comentada, esse é o único em que não trata da
secretária em sua narrativa. O que não invalida a iniciativa, pois a intenção foi
90
mostrar algumas similaridades com os demais como: o ambiente administrativo, a
sedução e assédio sexual de uma chefe mulher sobre seu subordinado.
Assistimos com o passar dos anos uma mudança comportamental aqui
representada, de que as mulheres que durante séculos foram vítimas de quem as
tinha sob o comando, passa agora a fazer de vítima o homem. O que poderia
relacionar o poder ao direito de ser imoral, não se tratando de sexo e sim, do status.
1.6.1.2 “In The Company of Men” (Na Companhia dos Homens)
Como havíamos relatado na introdução dos filmes relacionados da década,
apresentamos “In The Company of Men” (Na Companhia dos Homens) EUA
1997, que tem como característica uma história de abuso moral e sexual, vivido por
uma secretária, que involuntariamente cai numa armadilha engendrada por dois
executivos que vieram trabalhar na sua organização.
Sinopse: Abandonados por suas respectivas
namoradas, dois executivos Chad (Aaron Eckhart) e
Howard (Matt Malloy) decidem vingar-se do sexo frágil.
Para isso, encontram a vítima perfeita, a secretária
Christine (Stacy Edwards), surda e muda, que se
seduzida e abandonada.
Porém um tenso embate psicológico se desenvolve entre os dois. Com
diálogos afinados e direção austera e segura, o filme é considerados um dos mais
inteligentes dos últimos anos. Neste filme é explicitado um jogo entre dois executivos
que vão se encarregar de seduzir a primeira mulher que encontrarem no novo
escritório que irão trabalhar. Fazem uma aposta e selam um acordo de que irão
seduzi-la um de cada vez, mas, nenhum dos dois poderá revelar a trama. A intenção
é usá-la enquanto permanecessem e depois descartá-la quando retornassem.
Não deu nada certo, pois um dos dois rompeu o acordo sem que o outro soubesse.
O filme tem uma estrutura dramática coerente com o que se passa nos
bastidores dos escritórios. O diretor Neil LaBute escolheu uma secretária muda e
surda, que por um lado é frágil, mas por outro é competente e ética. Quando
91
descobre a trama, ela abandona esses dois jogadores, deixando-os de uma maneira
que o fizesse se sentir sem moral, sem ética e sem nenhum respeito.
Foram selecionadas algumas cenas do filme, para mostrar a “trama” perversa
e sem escrúpulos por parte dos executivos Chad e Howard.
Momento em que os executivos celebram um acordo
de que irão seduzir a primeira mulher disponível no
novo lugar que irão trabalhar.
Chad faz a primeira abordagem. depois ele
percebe que a secretária Christine tem deficiência na
fala e na audição.
Inicia-se aqui uma atividade conjunta de trabalho, do
qual, ele vai aproveitar para seduzi-la.
Inicia-se o revezamento entre Chad e Howard na
conquista, sempre cada um a convidando para sair,
deixando transparecer que ninguém sabe de nada.
A hora da verdade. Ela acaba descobrindo através de
Howard que estava sendo vítima de um jogo armado
pelos dois executivos.
92
Neste momento Christine toma satisfação de Chad
do porquê que foi usada naquele jogo?
Momento em que a secretária desmascara um dos
jogadores e fala: - “Vocês estão brincando comigo,
não é?”
O desapontamento dela diante do acontecido e o
desespero de Howard, quando percebe que a perdeu
e também perdeu o jogo.
Conclusão: Este filme tem um jogo psicológico e uma trama de envolvimento
em que a presa é uma secretária que aparenta inocência diante de dois executivos
metidos a conquistadores. que ninguém esperava que ela virasse o jogo a seu
favor e evitasse ser vítima de uma exploração sexual. Outro roteiro de assédio
sexual, agora tramado por dois homens, e que a presa indefesa, demonstra astúcia
virando o jogo e desbancando os seus mentores cujos planos imorais e aéticos,
foram todos destruídos, não restando nada a nenhum deles, apenas o desprezo e
nojo, por parte de Cristine, conforme a última cena do filme.
93
1.6.2 Considerações sobre os filmes da década de 1990
Os anos 90 foram marcados por filmes tidos como “pesados”, impactantes e
densos, diante do tema central, sexo. E pela maneira que foi utilizada pelos seus
diretores, em suas narrativas se comparados com os primeiros filmes da década de
30. Foram selecionadas e analisadas no presente trabalho:
Disclosure” (Assédio Sexual) (1994) do diretor Barry Levinson, que pela
primeira vez mostrou no cinema a inversão de papéis, o assédio sexual, tão comum
praticado por chefes contra suas secretárias, neste filme, o assédio sexual é
praticado por uma alta executiva de uma corporação contra seu subordinado. Este
fator invertia a ordem das questões, pois seria quase que impossível, ou
numericamente desprezível, situações como essas, vividas no filme “Disclosure”.
Barry Levinson, quis mostrar neste filme um outro lado, que as mulheres, são
exatamente iguais aos homens, em desejos, carências, que estariam em de
igualdade quando fossem mencionar ética e moral. Ele tira o véu da hipocrisia e
mostra que nos escritórios, o pecado ou a falta de ética e de respeito não está
restrito tão somente à natureza masculina.
No filme “In The Company of Men”, talvez o mais chocante de todos, mostra o
“acerto” ou uma aposta de quem ficaria com a secretária. Como se ela fosse
qualquer coisa descartável, ou disponível como um objeto a qualquer à qualquer um,
em qualquer tempo, lugar a troco de nada. Neil LaBute, quis chocar ainda mais,
colocando a secretária como deficiente auditiva e com deficiência de fala, isto é; uma
figura especial, atípica, principalmente na função secretarial em qualquer lugar do
mundo.
A aparentemente fragilidade da secretária que a colocaria num patamar de
difícil defesa, ela transforma em vantagem, descobrindo a verdade e se impondo
declaradamente contra a trama dos dois executivos. Para as secretárias as
seqüências apresentadas, pelo Diretor Neil Labutem, é a forma de resistência
feminina aos abusos sexuais e morais que a grande maioria ainda são submetidas.
Encerra-se assim a análise do período, o qual nos serviu de referência para
ilustrar com estas apresentações o que foi a década de 90, no que compreende a
representação da secretária.
94
1.7 Análise histórica do período 2000 – 2008
Esta última parte de filmes que foram selecionados, marcam uma visão
contemporânea que os diretores deram aos seus filmes, nos quais, concentram
destaques à representação da secretária, os quais, serão comentados.
Pôde-se dividir para facilitar uma leitura mais concentrada dos temas que
giram em torno da sexualidade e do comportamento que acontecem de maneira
comum nestes filmes, uma viagem ao interior dos escritórios, onde se podem
perceber claramente, as insinuações, os assédios sexuais, as torturas psicológicas,
os desafios sofridos pelas mulheres, que entre eles estão a discriminação latente e a
falta de ética moral, às vezes por parte dos homens, às vezes por parte das
mulheres.
No período analisado historicamente os filmes da década, que reúne histórias
com representação de secretárias. Em todas as décadas passadas, fragmentos se
misturam e contam um pouco da história da beleza feminina através dos tempos.
A aparência, em manifestações diversas e imagens extremas, refletiram os
processos de transformação. Os dois últimos anos misturam todos os possíveis
estilos de moda e maquiagem. Trazem a classe e a elegância do início do século, a
delicadeza sexy dos anos 60, a irreverência dos anos 80 e a "apatia" em tom de
protesto dos anos 90.
O século XXI rompe em definitivo com o sistema e mostra claramente através
da história dos 75 anos aqui mostrados, em que cerca de 33 filmes, foram
devidamente analisados desde o seu composto histórico até o cinematográfico, em
que se pode observar com muita freqüência o quanto o cinema se utilizou e explorou
a sexualidade em todos os filmes, uns, ingenuamente, outros, explícitos e diretos.
Esta é a visão que pode ser mais observada e detalhada em todas as análises.
95
1.7.1 Seleção e análise dos filmes do período - (2000 - 2008)
A seleção de filmes da década inclui: “Dr. T & the Women” (Dr. T e as
Mulheres) EUA de 2000, para logo em seguida apresentarmos um documentário
“Blind Spot: Hitler’s Secretary(A Secretária de Hitler) Áustria 2001, que conta
a história vivida pela secretária Traudl Junge, junto a Adolf Hitler, desde a sua
chegada ao bunker, até os seus últimos dias de vida de Hitler.
Em 2002, é lançado o filme “Secretary” (Secretária) EUA, que tem como
tema central o papel de uma secretária em convívio com um chefe que a faz passar
as piores situações de humilhação, aque um dia, independente de toda aquela
situação, resolvem se casar.
O documentário que contém o depoimento de Traudl Junge, serve de
referência para a produção de 2004: “A Queda! As Últimas Horas de Hitler” EUA.
Como a secretária tem como ambiente de trabalho o escritório, selecionamos a série
“The Office” 1a. e 2a. Temporada EUA de 2005, do qual foi selecionado o
episódio “Assédio Sexual” e para finalizar o período, “The Perfect Assistant” (A
Secretária Perfeita) EUA de 2008, que tem o enredo centrado na secretária que é
obsessiva pelo chefe e assassina de sua esposa.
1.7.1.1 “Dr. T & the Women” – (Dr. T e as Mulheres)
“Dr. T & the Women” – (Dr. T e as Mulheres) – EUA, produzido em 2000, tem
aqui uma síntese que ajuda na análise que se segue.
Sinopse: Um renomado ginecologista Dr. Sullivan Travis
(Richard Gere), que atende à grande maioria das mulheres da
mais alta classe social de Dallas, vive cercado por diversas
mulheres durante as 24 horas do dia. Entretanto, sua vida vira
de cabeça para baixo quando sua esposa Kate (Farrah
Fawcett) resolve ter uma crise de infantilidade e sua filha mais
nova Connie (Tara Reid) passa a ter ciúmes da própria irmã
Dee Dee (Kate Hudson), em função do casamento dela.
96
É um dos filmes selecionados que nos remetem a um paralelo com o filme
comentado aqui, Disclosure, que foi o primeiro filme a revelar o assédio sexual por
parte das mulheres, e neste aqui, o fato se repete, com a secretária Carolyn (Shelley
Long) assediando sexualmente o seu chefe, Dr. T.
Selecionou-se aqui algumas cenas que referendam os fatos, de assédio
sexual provocado pela secretária Carolyn no Dr. T, logo após o fim do expediente,
com a intenção de ajudá-lo no seu relaxamento, ela simula uma massagem, começa
a se despir e se insinuar para o ato final. Dr. T, não percebe essa manobra,
quando se afasta para pegar o paletó é que a Carolyn escondida sob a mesa de
trabalho e as suas roupas e sapatos espalhados.
Nesta seqüência de cenas, a primeira, uma das secretárias comunica ao Dr. T
que está de saída, e se ele precisa de algo. Na terceira cena, Carolyn, secretária
do Dr. T, vai fechar a porta da clínica.
Cena 1 Cena 2 Cena 3
Como sabia que estava sozinha na cnica, resolve entrar na sala onde Dr. T
estava descansando, conforme a cena 1. Na cena 2 insiste em entrar. Na cena 3,
sem o jaleco, começa as suas investidas As cenas 4, 5 e mostram bem como é o
seu assédio.
97
Cenas que mostram como se inicia a abordagem
até o assédio sexual. O plano de imagens, capta o
exato momento, em que a secretária Carolyn entra
na sala e percebe Dr. T num momento de
relaxamento.
Entra, para se propor a massageá-lo, começa a se
despir, um aumento na intensidade das
massagens.
O momento em que Dr. T se levanta para sair e vai
perceber que ela estava quase sem roupa,
abaixada, sob a mesa.
Nesta cena, Carolyn está quase despida, pois,com
a intensidade e reciprocidade por parte do Dr. T, ela
obteria o seu intento.
Cena em que Carolyn é surpreendida quando Dr. T
se levanta para sair, não se sente à vontade com a
maneira de agir de Carolyn
O momento em que Dr. T se levanta para sair e vai
perceber que ela estava quase sem roupa,
abaixada, sob a mesa.
98
Conclusão: Este filme repete o enredo de Disclosure, em que a chefe de
departamento tenta assediar sue subordinado, aqui nesta trama é a secretária
tentando seduzir seu chefe. Em ambos os filmes, o intento acaba não acontecendo
por uma única razão, os respectivos homens rejeitam tal procedimento. O que
demonstra que a questão do assédio não se define em relação ao sexo, e sim, em
relação ao caráter e à ética.
1.7.1.2 “Secretary” – (Secretária)
Seguindo o roteiro de filmes, apresentamos “Secretary(Secretária) EUA,
produzido em 2002.
Sinopse: Uma adolescente que acabou de sair do sanatório,
arruma um noivo apaixonado e um emprego de secretária para
espantar a loucura. O problema é que o noivo é muito certinho e
o chefe é muito mais louco do que ela. Neste filme percebe-se
dois tipos de assédio o sexual e o moral, ambos relatados e
vistos nos filmes: Assédio Sexual, Dr. T e as Mulheres. que
neste a secretária acaba se casando com o chefe.
Foram selecionadas algumas cenas que representam como os assédios
foram cometidos, alguns deles, ao extremo. Nesta seqüência, vê-se o auto
treinamento para a entrevista. Da segunda até a quarta cena é como o chefe estima
ou determina como será o seu trabalho no escritório. A sexta cena é que o trabalho é
tedioso.
Treinando falas para se sair bem nas entrevistas –
“De que estou muito empolgada, com esta
oportunidade”.
99
Qual é o perfil exigido pelo chefe com relação à
contratação da nova secretária? “Só preciso de
uma datilógrafa que saiba atender ao telefone”.
Seu discurso é o mesmo, ele precisa de uma
secretária que não pense, que execute tarefas e
que cumpra ordens.
uma pressão psicológica dele sobre ela,
repetindo que ela é apenas uma serviçal.
Nesta cena há uma clara referência de gênero,
com questionamentos como: ”Gênero o que de
errado? Provocando assim uma reflexão sobre o
problema que as mulheres enfrentam, desde o
desrespeito até os assédios.
Ela sob pressão psicológica: “Só preciso de uma
datilógrafa que saiba atender telefone”. Uma
referência de que para alguns executivos a
secretária só serviria para este tipo de tarefa.
Cena de um momento de estresse em que começa
a exteriorizar a pressão recebida por parte do chefe,
batendo o telefone.
100
Nesta outra aqui, cumprindo outras tarefas, além
daquelas secretariais.
Nesta cena uma cena em que ele pede mais
açúcar, o que pode representar da parte dele, que
ele quer mais afeto ou mais atenção por parte dela.
“Esta carta tem três erros. – Sinto muito, eu...”.
“Um momento psicológico de alta pressão exercido
sobre a secretária”.
Para ele a secretária executa um trabalho repetitivo:
- “É um trabalho muito tedioso”.
“Gênero O que há de errado com você?”. Uma
clara referência de preconceito e de domínio.
Nas duas cenas a seguir, a primeira é o início do
assédio, a segunda é a consumação. Ele se dirige à
secretária e diz: “com essa gargantinha”. Uma clara
referência para uma sedução que está implícita.
101
Como um “adestrador” ensaia e exercita todas as
ações até que as mesmas saiam mais que perfeitas.
Sujeitando assim a secretária a ficar sob seu
domínio e à mercê do que ele quer e como quer.
Conclusão: Este clima psicológico de alta pressão é a representação quase que
real do que ocorre na grande maioria das organizações, principalmente quando a
secretária está iniciando carreira ou tem um chefe com desvios de conduta.
1.7.1.3 “Blind Spot: Hitler’s Secretary” (A Secretária de Hitler) e “A Queda! As
Últimas Horas de Hitler”
Para contar a história de Adolf Hitler, selecionamos dois filmes que
documentam o peodo da história recente, e que qual, o cinema se utilizou nada
mais nada menos do que a sua secretária, aqui descrita nos filmes “Blind Spot:
Hitler’s Secretary (A Secretária de Hitler) de 2001 e “A Queda! As Últimas Horas
de Hitler” de 2004.
Reunimos nesta análise dois filmes, “Blind
Spot: Hitler’s Secretary” que narra com
exclusividade o depoimento de Traudl
Junge, que foi Secretária de Hitler de abril
de 1942 até os seus últimos instantes em 23
de abril de 194, e o segundo “A Queda! – As
últimas Horas de Hitler”, uma representação
do seu depoimento como secretária.
O depoimento que perdura dias, nos contempla como uma memória de
guerra, em que é relatado por ela todo o seu período como Secretária. Como foi
escolhida para ser sua Secretária. Como atuava e como era o seu trabalho
secretarial dentro do bunker. Seu relacionamento com o alto comando militar. Seu
envolvimento e seu comprometimento com a causa do seu país.
102
Por outro lado, no filme - A Queda! As Últimas Horas de Hitler vê-se a
representação como Secretária de Hitler, com toques de dramatização,
sentimentalismos, aproximação ao realismo e uma demonstração de uma serviçal
obediente e fiel, mesmo que isso lhe custasse à própria vida.
No final da guerra Traudl Junge foi presa e respondeu a intermináveis
interrogatórios. Liberada depois que provou que estava a trabalho e não a um
propósito de guerra. O que se pode observar é como uma Secretária pode através
do seu trabalho tornar-se memória, referência e arquivo em qualquer empresa.
Seu cargo de Secretária lhe possibilita um livre acesso às mais diversas
informações, como também a pessoas e departamentos, sua figura é tida em filmes
como um verdadeiro arquivo que pode ser usado para o bem ou para o mal.
Sinopse: Blind Spot: Hitler’s Secretary - A Secretária de Hitler - Traudl Junge
foi secretária particular de Hitler desde o outono de 1942 até a derrocada do regime
nazista, em 1945. Ela o acompanhava em todos os
lugares, seja em seu trem exclusivo, seja no bunker
do Führer. Foi ali que Hitler ditou para ela seu
testamento.
Agora, Traudl Junge, 81 anos, fala pela primeira vez
na história diante de uma câmera. Na primavera de 2001, o diretor André Heller
finalmente conseguiu convencê-la da importância de registrar suas memórias para a
posteridade.
Ela mostra uma memória excepcional, mas também revela suas dúvidas e
reflexões pessoais. No total, foram gravadas 10 horas de material, do qual foram
editados 90 minutos para o documentário, sem o uso de imagens de arquivo. Junge
se revela uma adversária ferrenha do nacional-socialismo, mas também uma mulher
idosa perplexa com a incapacidade de uma jovem ingênua ao não identificar a
gravidade da situação, com a qual colaborava.
Sinopse: A Queda! Os Últimos dias de Hitler. Traudl Junge (Alexandra Maria
Lara) trabalhava como secretária de Adolf Hitler (Bruno Ganz) durante a II Guerra
Mundial. Ela narra os últimos dias do líder alemão, que estava confinado em um
quarto de segurança máxima.
103
Foram selecionadas algumas cenas para que se tenha uma visão de cada
filme, nesta, mostra o exato momento em que fala de como se tornou Secretária de
Hitler. Um detalhe da abertura do filme: a máquina de escrever, objeto que
identificou a profissão secretária no mundo.
“... e ser empregada que Hitler...”.
A possibilidade de trabalhar na Chancelaria.
Uma referência como ficou sabendo que Hitler
estava buscando uma secretária.
Esta oportunidade foi anunciada como:
precisava-se de uma datilógrafa.
Martin Bormann foi encarregado por Hitler em
selecionar as moças com perfil secretarial.
Traudl Junge, foi a escolhida por Hitler.
Traudl Junge preenchia todas as características
que Hitler buscava. Desde a competência até a
lealdade, no caso se fosse preciso morreriam
todos pela causa.
Traudl Junge em seu depoimento, se surpreende
com a escolha, como também sabia da
importância que a função exigia, e dos riscos que
estaria correndo ao lado do homem mais
perseguido da época.
104
Momento em Adolf Hitler pede para que sua Secretária Traudl Junge redija o texto
do seu Testamento.
Estas cenas mostram: o
seu trabalho como
secretária, anotando o
Testamento de Hitler,
aqui nos referimos ao
documento que preservaria memória que estava sendo registrada em sua quina
de escrever. Um pedido de Hitler à sua secretária: “use taquigrafia”. O que deixa
transparecer que ele não queria ouvir o ruído deste registro e não se sentir
incomodado por estar naquela situação limite ou, manter sob sigilo aquele
documento que estava sendo ditado.
Hitler ditando seu Testamento.
Uma atividade que demorou dias.
105
Uma presença constante no dia-a-dia com Hitler.
.
Momento em que recebe das mãos do próprio Hitler
as cápsulas de cianureto, caso fosse pega viva.
Aqui a data: 23 de Abril de 1945.
Conclusão: Reunimos um documento em que há um depoimento de quem
viveu um período, mesmo que na memória, pode ainda transcrever com muita
exatidão detalhes e fragmentos de um dos mais dramáticos períodos da História do
século XX, na qual Traudl Junge foi uma personagem muito importante devido ao
seu trabalho de secretária de Adolf Hitler, lhe rendeu proximidade e intimidade com o
poder.
No outro documento temos uma ficção, a representação do período baseada
em seus depoimentos. É muito interessante, observar as diferenças entre o
documentário que tem o depoimento e o filme que é pura representação; ampliando
a possibilidade de uma análise histórica do que é relatado como este é
representado.
Para complementar a importância de ressaltar os dois filmes com os quais pode-
se observar a história e a sua representação, conforme o pesquisador Marc Ferro, o
qual diz em seu livro que:
A totalidade daquilo que foi filmado desde o início do século
(macro ou micro-história, história dos acontecimentos ou não,
documentário ou ficção) constitui hoje, de fato, um arquivo
considerável, guardado nesses abrigos brindados das
106
cinematecas, das televisões, das coleções privadas e na
memória das pessoas. *
42
E, a estudiosa Flávia Cesarino Costa que demonstra com muita propriedade
as diferenças entre os registros e a ficção, pela via da narração, no qual nos dá uma
clareza sobre o tema aqui apresentado.
Parece-nos que hoje a chamada verossimilhança depende do
apagamento das diferenças (explícitas) entre os registros em foco (fato
e ficção) pela via da narração. Nesse sentido, é o estilo da narração
que caracterizará uma ficção ou um documentário, porque tanto um
como o outro são formas narrativas.”
43
Com a anuência destes autores que corroboraram para autorizar esta análise,
pode-se estreitar as linhas desta pesquisa e o posicionando frente a estes dois
filmes como referências que ilustram a categoria do documentário e a categoria da
ficção.
Sendo que, o filme apresenta a história narrada pela personagem real dos
acontecimentos, suas reflexões e discursos implementados pelo diretor vão dar
veracidade ou embasamento para o desenvolvimento do roteiro, sem o mesmo
compromisso com a história e agora sim, com a linguagem cinematográfica.
Os dois documentos que serviram de apoio para análise que trouxeram um
rico material de pesquisa que possibilitou a comparabilidade do que foi narrado seja
no depoimento ou na representação, sua diferença e sua verossimilhança.
1.7.1.4 “The Office”
Saindo do universo da guerra, entramos agora no universo corporativo, onde
privilegiamos para nossa análise a rie The Office” 1a. e 2a. Temporada EUA,
que foi produzido e exibido a partir de 2005, uma série que conta os bastidores das
corporações e descreve com muita propriedade as relações de comportamento
vividas hoje nos escritórios.
42
FERRO, Marc – Cinema e História – p. 69, Editora Paz e Terra, São Paulo, 1992.
43
COSTA, Flávia Cesarino; O Primeiro Cinema – Espetáculo, Narração, Domesticação, São Paulo, Azougue
Editorial, 2005.
107
Sinopse: Nesta irreverente adaptação da famosa série
britânica, Steve Carell é Michael Scott, o egocêntrico,
insensível e incompetente gerente regional de uma subsidiária
da Dunder Mifflin Paper Company. Michael acredita ser o cara
mais engraçado do escritório, uma fonte de sabedoria para
negócios e o melhor amigo de seus funcionários. Ele nem
desconfia que a sua equipe, incluindo a doce recepcionista
Pam, o bajulador representante de vendas Jim, o insuportável assistente Dwight e o
jovem e inteligente estagiário Ryan o toleram apenas pelo fato dele assinar o
contracheque deles.
Desta série escolheu-se o episódio “Assédio Sexual”, para reforçar esta
pesquisa uma vez que praticamente todos os filmes até aqui relacionados tratam do
tema sexo. O assédio sexual está mais que presente o que sugere é que por parte
dos diretores e do inconsciente coletivo é o que leva ao plano de discussão se a
função de secretária, o ambiente masculino em que está inserida e a sua aparente
dependência levam, em quantidade significativa, os executivos, a fazer uso dessa
prática.
Cena 1 – Abertura da série Cena 2 – Abertura
Comentários: Percebe-se uma grande alteração com a abertura da série de
TV “Private Secretary” que foi ao ar na TV americana dos anos 50, em que se vê nos
próprios quadros as figuras da secretária e de seu chefe no formato de desenhos,
personalizando cada um dos atores.
Enquanto que os quadros da série de TV, “The Office”, uma produção original
da TV inglesa, o no formato também de desenhos, porém estilizados, em que as
pessoas, são meras referências, sem identidade ou feição. Segundo seus
Distribuidores, Universal Pictures, esta atual série, tem uma grande audiência
mundial, se comparado com a série de TV dos anos 50, “Private Secretary”. A
108
diversidade das mídias e o surgimento das TV (s) a cabo, e a grande produção de
séries por parte dos Estúdios, possibilitaram uma grande aceitação no que se refere
à audiência e compra dos seus produtos.
Foram selecionadas algumas cenas que poderão ajudar na análise sobre o
episódio: “Assédio Sexual”.
Cena 1 Cena 2
Nestas cenas um diálogo aberto entre dois executivos que estão
discutindo uma questão sobre “casos de secretárias”, não se importando com o
próprio ambiente, onde estão, no expediente de trabalho, com as pessoas e muito
menos com uma mulher próxima.
Cena 3 Cena 4
Nestas duas cenas a 3 e a 4 mostram bem como um preconceito explícito
sobre mulheres, que é abertamente falado, nos termos como pode-se ver nas cenas
3 “- Está cheio de mulher burra por aí. – Elas são mulheres, certo?” Na cena 4, onde
mostra a secretária, a referência é: “E ela é uma incompetente. Sério? vamos
nós...” Este texto sugere que os homens o mais competentes, deixando a
secretária com ar de não acreditar no que está ouvindo.
109
Cena 5 Cena 6
Estas cenas mostram o momento em que o chefe de RH comunica que o
assédio sexual é possível de punições. Uma das assistentes pergunta: “E namoro no
escritório?” A referência nos remete é se o namoro poderá continuar ou será
proibido?
Cena 7 Cena 8
Nas cenas 7 e 8, a empresa questiona se funcionários namorando ou
foram mais além. Isto mostra e caracteriza que as relações entre funcionários é
quase uma constante, deixando para quem assiste que a empresa pode não
concordar, porém não consegue evitar.
110
Cena 9 Cena 10
Estas cenas mostram a visão da empresa referente, “Se namorar com
colegas de trabalho não é uma boa”. E na continuação há: “Então, vamos tentar
evitar isso, mas...”.Mas, deixando visível a “liberdade” que entre os funcionários,
mesmo antes do RH se pronunciar a respeito.
Conclusão: O episódio “Assédio Sexual” trata das relações entre
funcionários, deixando claro no filme, que estes eventos são uma constante nas
organizações, e que proibi-los seria uma tarefa quase que impossível. Nos mostra
como o cinema capta essas mudanças comportamentais que ocorrem na sociedade
e as devolve na forma de representação.
Escolheu-se a série “The Office “ como uma série de TV que trata do dia-a-dia
dos escritórios e levou-se no tempo para ser comparado com uma série de TV dos
anos 50 “Private Secretary”, para mostrar as diferenças de época e as diferenças
sociais ocorridas em um mesmo ambiente. A série dos anos 50 faz uma abordagem
sem compromisso, apenas como diversão, assistir os episódios e as trapalhadas da
secretária em situações simples, porém cativantes e simpáticas. “The Office”, na
contextualização do século XXI o tratamento dado aos assuntos sem nenhum pudor,
tirados da realidade corrente em qualquer escritório como em qualquer lugar ou
pessoa.
A escolha do episódio “Assédio Sexual”, entre os vários episódios se deu,
pois nos pareceu mais conveniente mostrar a discussão de valores e os
preconceitos que ainda são externados nessas ocasiões. A filmografia escolhida,
depois de assistida e analisada, apresentou uma grande incidência de temas sobre a
sexualidade.
111
1.7.1.5 “The Perfect Assistant” – (A Secretária Perfeita)
Fechando a nossa pesquisa compreendida em toda a nossa dissertação, a
qual, totalizou cerca de 31 filmes, apresentamos “The Perfect Assistant” (A
Secretária Perfeita) – EUA de 2008.
Sinopse: Rachel (Josie Davis) é uma eficiente e dedicada
secretária de uma empresa, na qual trabalha para um executivo
que tem uma filha pequena, sofre um grande baque, quando
sua esposa internada em um hospital para tratamento. Rachel
como secretária aproveita para ir além da sua dedicação, se
coloca à disposição para ajudá-lo no que for preciso.
Começa a cuidar da sua filha, com visitas
constantes à casa do executivo. Toma a
iniciativa de dormir na casa com o intuito de ficar
ao lado da criança, enquanto sua esposa
continuava internada.
O que seriam cuidados especiais torna-se obsessão, a secretária quer
assumir o papel da esposa e ficar com o executivo. Em função dessa trama, arma
um plano de assassinar a esposa do executivo que está internada, assim poderia
ficar com ele, pois privava da intimidade da sua casa. Porém ele rejeita o assédio
e suas investidas de Rachel, até o dia em que descobre a verdadeira razão para
tanta dedicação, ela quer a morte da sua esposa e ficar com ele.
Conclusão: Este é um outro filme que trata de assédio sexual em que a
secretária é a ativa e o executivo é o passivo, o que demonstra para quem assiste
ao filme, como a secretária é mostrada pelo diretor Douglas Jackson, uma
personagem com dupla personalidade, uma com extrema dedicação e de confiança,
a outra, que nos seus afazeres profissionais, como também, não mede esforços para
conquistar seu chefe.
112
Esse terror ou clima psicológico que acompanha a secretária em todo o filme
está descrita por Wolfgang Iser em seu livro, o Fictício e o Imaginário,
44
, sobre qual
descreve sua visão:
Se a fantasia pode ser uma fonte de terror ou até se autodestruir,
suas várias definições parecem se relacionar menos a qualidades do
que a agentes que ditam sua aplicação. Nesse caso, a história do
fundamento se confundiria com uma história da fantasia. Tal
duplicidade, que transparece através do discurso fundante, se
comprovaria como duplicidade própria à fantasia. Se suspendermos
o contexto em que se torna operacional, ela se voltará contra si
mesma. Por isso sua história se mostra como a tentativa sempre
cambiante de pô-la a serviço de fins para que se mantenha o seu
controle. Pois ela parece ter um potencial ambíguo, fonte de sua
história.
45
Com esse pensamento o autor Wolfgang Iser nos posiciona como funciona a
duplicidade e como a fantasia serve de referência ao imaginário, e como o filme nos
transporta e nos mostra esses recursos com os quais o diretor soube trabalhar. O
que lembra a fala de Eve Harrington (Anne Baxter) no filme “All About Eve” (A
Malvada) EUA, 1950, como citado anteriormente: - Eu era criança, brincava muito
de representar, eu criava uma porção de coisas, mas, essas coisas, não tem
importância, o fato é que representar e criar começam a participar da minha vida,
cada vez mais, de tal forma, que eu não distinguia mais nada entre o real e o
imaginário, só que o imaginário, me parece mais real”.
1.7.2 Considerações sobre os filmes de 2000-2008
Para retrospectiva desta década, reunimos dois filmes que falam da história
recente, do nazismo e do seu personagem principal: Adolf Hitler. No filme Blind
Spot: Hitler’s Secretary” (A Secretária de Hitler) Áustria 2001 trás o relato fiel
da secretária de Adolf Hitler, um depoimento de Traudl Junge sobre o período em
que durante a II Guerra trabalhou ao lado do Führer em seu bunker, até os seus
últimos dias.
44
ISER, Wolfgang. O fictício e o imaginário. p. 211, Rio de Janeiro: Eduerj, 1996.
45
Idem,
113
No filme “A Queda! As Últimas Horas de Hitler” EUA 2004, é a
representação do depoimento visto no primeiro filme. Chama a atenção os detalhes
que cercam o depoimento de Traudl Junge, em que pode-se perceber seu
profissionalismo, sua dedicação, seus cuidados, seu comprometimento, sua
discrição, seu papel serviçal, tanto no nível pessoal de Adolf Hitler como das
pessoas que lá estavam.
O que mais surpreende neste filmes é a direção que cada diretor deu a cada
história, no primeiro, era o de colher o máximo de informações e pequenos detalhes
que aos poucos vinham à tona, como lembrança de uma história vivida intensamente
Traudl Junge. No outro filme, o diretor transporto o real para a ficção, dando à
história um sentido mais direto, captando assim os momentos de quem esteve muito
próxima de Adolf Hitler, para alguns historiadores, mais do que Eva Braun. Porém
um dos momentos mais aguardados é quando ela recebe do próprio Adolf Hitler as
cápsulas de cianureto, caso viesse a ser presa, a ordem era engolir.
Ela preferiu ficar viva, para enfrentar fugas, prisões, interrogatórios, até ser
finalmente libertada, pois, ela tina sido apenas secretária, que nos limites de sua
atuação profissional, recebia e cumpria ordens. Deixando muito clara a sua isenção
pessoal e profissional com o nazismo, que depois, em seu depoimento reforça esta
tese.
O filme “Dr. T & the Women” (Dr. T e as Mulheres) EUA 2000, pode ser
analisado como um dos filmes em que a interpretação da secretária como assistente
do Dr. T, lembra muito o filme “Disclosure” (Assédio Sexual) de 1994, em que as
histórias têm muito em comum, o assédio provocado por mulheres. Em (Assédio
Sexual) vê-se como a executiva em busca de uma relação que a mantivesse isenta
de qualquer acusação, assedia o seu subordinado para que o mesmo fosse o seu
cúmplice, fato que ele recusa, para depois sofrer as piores perseguições
comandadas por ela. No outro filme, vê-se a secretária Carolyn fazer o assédio
sexual explícito, uma perseguição quase que maníaca que ela tem por Dr. T, mas
ele ao perceber as investidas, se afasta e as ignora.
O que se pode concluir é que hoje o assédio sexual, que está presente nos
escândalos corporativos, blicos ou privados, está também presente no cinema.
Coube ao cinema explorar este tema, abordando o assédio sexual provocado por
mulheres, quebrando assim uma inércia histórica, de que os assédios sexuais até
então mostrados eram quase que na sua totalidade provocados por homens.
114
“Secretary” (Secretária) - EUA 2002 é um dos filmes tidos pela crítica
como um drama psicológico de uma secretária que passa a ter no seu dia-a-dia de
trabalho, um relacionamento com seu executivo cruel, às vezes sadomazoquista.
Uma relação tempestuosa que num crescente da história, os remete ao final do
filme, a se unirem pelo casamento. A similaridade deste filme com relação aos
demais é a co-relação de alguns filmes aqui analisados em que as secretárias
acabam se casando com seus respectivos chefes. Um ingênuo ou intencional
assédio que depois de correspondido, pode levá-los, tanto na vida real como na
ficção, à união informal ou a um casamento formal.
No filme “The Office” 1a. e 2a. Temporada EUA 2005 Pode-se ver
neste episódio “Assédio Sexual” como o cinema trata abertamente este tema, e
como ele trata os fatos reais que ocorrem em todos os escritórios do mundo: as
relações entre funcionários, que leva, muitas vezes a uma relação de aproximação,
de abordagem, e de relação sexual entre os pares.
Nesta comédia de costumes, a exploração da mulher no ambiente corporativo
é “desnudado” e mostra-se real e até questionador, quando referências sobre as
mulheres de maneira preconceituosa e desrespeitosa por parte dos homens.
“The Perfect Assistant” – (A Secretária Perfeita) – EUA – 2008 - Um filme que
também nos remete às narrativas em que a mulher, toma a iniciativa do assédio
sexual e vai direto ao seu objetivo principal: o executivo ou o chefe direto. Nos filmes
(Assédio Sexual) e (Dr. T e as Mulheres) cujas histórias, quase que se repetem,
tendo como figura principal a mulher executiva ou secretária fazendo este papel de
sedução explícita. que desta vez, ele é doentio, perverso, e criminoso. A
secretária aqui representada é uma mulher obcecada em ter o executivo para si,
nem que seja para matar sua esposa. Este filme tem muita similaridade com um
outro que mostra o mesmo tema: “Instinto Selvagem” de 1994.
O que esses filmes têm em comum, no conjunto da obra, é quando o
profissional atravessa o outro lado e vai dar na vida pessoal de cada um dos seus
integrantes. Esta interferência, que inicialmente é inofensiva e fácil de ser estancada,
às vezes, supera o raciocínio lógico das questões e levam os diretores a criarem
situações de conflito e de relacionamentos que com o tempo e com o
desdobramento das histórias, sempre acabam muito mal, tanto para quem provoca o
assédio, quanto para quem sofre.
115
2. OS TRÊS MAIS IMPORTANTES FILMES DA “REPRESENTAÇÃO DA
SECRETÁRIA NO CINEMA” E SUAS RESPECTIVAS CONTEXTUALIZAÇÕES.
2.1 Análise dos filmes:
“9 To 5” - (Como Eliminar seu Chefe) (1980)
“Working Girl” - (Uma Secretária de Futuro) (1988)
“The Devil Wears Prada” - (O Diabo Veste Prada) (2006)
1980 1988 2006
Para que se possa compor uma melhor análise sobre o tema desta pesquisa,
inserindo a representação da secretária no seu respectivo contexto, foram eleitos
três filmes em diferentes épocas, cujas obras evidenciam as mudanças ocorridas
nos diferentes campos sociais. A mulher no seu trabalho como secretária,
representada no cinema pelos mais diferentes diretores, que souberam transpor da
realidade para representação dos acontecimentos históricos, isto é, o que estava
ocorrendo com a mulher e os seus reflexos no campo do trabalho.
A busca e construção do tema “A Representação da Secretária no Cinema”
foi nosso objetivo mostrar o quanto uma categoria profissional, em sua maciça
maioria exercida por mulheres, fosse ter do cinema visibilidade e assim pudesse ver
registradas as conquistas no campo social, econômico e familiar. A tecnologia que
acompanha bem de perto esta profissão remonta o século XIX, com a invenção da
máquina de escrever e às mudanças impostas pela alta tecnologia, ressaltando a
Tecnologia da Informação que foi responsável pela extensão, qualificação e
evolução, da profissão secretária em todo o mundo. Tendo sido o cinema a
116
testemunha ocular, tratando do tema em uma significativa mostra de produções
demonstrando a sua importância social e econômica.
A história como depositária dos fatos, nos apresenta farto material para que
fosse produzido o filme “9 To 5(Como Eliminar seu Chefe) -1980 - O primeiro
sinal de rompimento contra uma sociedade machista, em que as mulheres estavam
privadas de alguns dos mais sagrados direitos: a liberdade de expressão e sua
rebeldia secular contra a centralização e coerção exercida pelos homens. Eric
Hobsbawm, nos recorta o exato momento desses acontecimentos.
Mesmo uma leitura desatenta das pioneiras americanas do novo
feminismo na década de 1960 sugere uma distinta perspectiva de
classe nos problemas femininos (Friedan, 1963; Degler, 1987). Elas
se preocupavam maciçamente com a questão de “como a mulher
pode combinar carreira ou emprego com casamento e família”, um
problema fundamental apenas para que as que tinham essa opção,
inexistente então para a maioria das mulheres do mundo e para todas
as pobres.
46
Essas transformações foram bem representadas e dramatizadas pelo cinema
que explorou o ritual de passagem da mulher nas décadas de 50 e 60, que eram
tidas como obedientes e de características funcionais dentro do lar. Para uma nova
mulher que buscava “ares de liberdade” e independência no pensar, no agir, dando
direção ao seu próprio destino no que toca o livre arbítrio de ter filhos e a opção de
se casar. O exercício de análise e conteúdo que esses três filmes, escolhidos, para
representarem as passagens do tempo e as mudanças com as quais as mulheres se
serviram para reescrever a sua história no campo das relações econômicas, sociais
e comportamentais.
O feminismo aqui representado é a referência de como a sociedade se via, e
como era essa transformação, como uma grande descoberta ou redescoberta de
que a partir daquele movimento, o mundo jamais seria o mesmo, como jamais seria
a mesma as relações no campo de trabalho. Pode-se citar, novamente, o historiador
Eric Hobsbawm para obter dos seus escritos o grito registrado do feminismo.
Apesar disso, nos países desenvolvidos, o feminismo de classe
média ou o movimento de mulheres educadas ou intelectuais,
alargou-se numa espécie de sensação genérica de que chegara a
hora da libertação feminina, ou pelo menos da auto-afirmação das
46
HOBSBAWM, Eric; Era dos Extremos – o breve século XX – 1914 – 1991, p. 311. São Paulo, Companhia das
Letras, 2004.
117
mulheres. Isso se dava porque o feminismo específico da classe
média inicial, embora às vezes não diretamente relevante para os
interesses do resto do grupo feminino ocidental, suscitava questões
que interessavam a todas: essas questões se tornaram urgentes à
medida que a convulsão social que esboçamos gerava uma
profunda, e muitas vezes súbita, revolução moral e cultural, uma
dramática transformação das convenções de comportamento social
e pessoal.
47
Essas revoluções, que foram obtidas no campo da moral, referem-se a
costumes, no comportamento e à mentalidade. Revoluções sociais que interferiram e
reposicionaram a mulher na sua longa jornada de subir a pirâmide do
reconhecimento público, amplamente mencionado por Eric Hobsbawm, que aparece
nos três filmes; numa linguagem que mostra os novos valores e como eles serviriam
de matriz para todas as mudanças que vieram e de como elas seriam
contextualizadas, mostrando que no relógio do tempo essas transformações são
pontuais e irreversíveis.
2.1.1 Análise do filme “9 To 5(Como Eliminar seu Chefe) – EUA – 1980
Os anos de 1980 marca o ano em que a revolução feminista invade as telas
dos cinemas e dissemina o vento das mudanças em todas as direções, o ano da
ruptura definitiva, estréia o filme “9 To 5” (Como Eliminar seu Chefe), dirigido por
Colin Higgins, uma comédia que transcende o tempo, e ainda continua muito atual,
tanto pela narrativa como pelos preciosismos da representação.
O filme é uma comédia que faz uma crítica ao ambiente das corporações
americanas do início da década de 80. Comparando-o hoje é possível verificar que
muita coisa mudou e muitas situações apresentadas não seriam possíveis de se
repetir agora, mas, para os estudiosos no assunto, continua sendo um documento
que contém uma crítica e uma reflexão pelas mudanças de comportamento que
estavam revolucionando a sociedade.
47
HOBSBAWM, Eric; Era dos Extremos – O Breve século XX – 1914 – 1991, p. 313, São Paulo, Companhia das
Letras, 2004.
118
Em nossa análise comparativa, destaca-se um
fato que é coincidente nos três filmes
analisados neste capítulo, contém
basicamente o mesmo enredo e os mesmos
fatos como os acidentes com seus
personagens. No filme “9 To 5” quem vai para
o hospital é o executivo Franklin Hurt Jr.
(Dabney Coleman), vítima de queda da sua cadeira no escritório, fato que
desencadeia o desenvolvimento do argumento
da trama, onde as três secretárias Violet (Lily
Tomlin), Judy (Jane Fonda) e Doralee (Dolly
Parton) se unem para enfrentar a tirania e
abusos de comando do chefe Mr. Hurt. Desta
vez, um homem no comando, que da metade
do filme até o final, perde o poder para as três
mulheres.
As cenas a ser descrita são consideradas marcantes, como por exemplo,
quando as três secretárias mulheres, depois de alguns drinks, começam a sonhar e
no seu imaginário se transformam em três personagens que assumem diferentes
papéis e vão à forra com Mr. Hurt, cada uma delas fazendo a sua vingança pessoal.
Violet como “Branca de Neve” mistura o seu pó mágico no café do chefe, alterando o
seu comportamento; Doralee como num filme western laça-o e amarro-o como seu
fosse um animal e Judy o persegue como uma caçadora, o persegue a atinge o seu
alvo, tem sua cabeça exposta como um troféu de caça.
Momento em que as três secretárias, começam a
imaginar como se vingariam de Mr. Hurt e como
elas detalham suas ações.
Essas três histórias representam a vingança que elas sonham contra Mr. Hurt,
na mente de cada uma, passa tudo aquilo que lhes acontecem no dia-a-dia, e
119
invertem os papéis, agora elas assumem o comando das ações e ele é vítima de
toda a sua maldade e machismo contra as suas secretárias.
Doralee como uma
mulher do velho Oeste
o amarra em pleno
deserto.
Violet de “Branca de
Neve” prepara um
café, com o pó mágico
e dá a Mr. Hurt.
Judy, a caçadora, o
persegue e o alveja,
colocando-o como
um troféu de caça em
sua sala.
Momento em que
saem do sonho e
retornam à realidade
do escritório.
Para darem vida aos seus sonhos e realizarem as
mudanças que implementariam na empresa,
decidem seqüestrar Mr. Hurt e mantê-lo prisioneiro,
em sua própria casa, enquanto sua esposa viaja, e
com mais liberdade e sem pressões, fazem assim
as transformações necessárias na empresa.
120
As três literalmente tomam o poder na empresa,
comandam conjuntamente uma série de
mudanças que repercutem na presidência, o que
resulta a promoção de Mr. Hurt para uma filial no
Brasil e para o seu lugar, nada menos do que a
ex-secretária: Ms. Violet se torna a vice-
presidente operacional.
As três amigas comemoram o final feliz, por
terem “eliminado o chefe” que foi transferido
para uma filial no Brasil, na Amazônia pelos
“bons serviços prestados”.
Conclusão: Pela primeira vez o cinema retrata as mudanças sociais, que
vinham acontecendo, a ascensão da mulher no trabalho e a conseqüente conquista
de novos postos na hierarquia organizacional uma secretária que assume a vice-
presidência de uma companhia, por competência e extrema dedicação. Sobre a
sexualidade neste filme, vimos as insistentes investidas de Mr. Hurt em relação a
Doralee, e em todas elas não foi correspondido; apresenta-se um chefe que não
respeitava e não tratava bem seus funcionários, e vimos também como um trabalho
em equipe com fundamentos bem objetivos, consegue mudar o rumo de uma
história.
Foi possível analisar essas três diferentes épocas, reunindo um filme de 1980,
um de 1988 e o mais recente de 2006, que têm as mesmas preocupações, as
mesmas questões discutidas num período de 26 anos, quando o qual o cinema
consegue passar a sua versão de representatividade da profissão secretária e a
transferência de poder.
O maior desafio é analisar o poder sendo questionado, sendo passado de
mãos. Deixando de ser uma área ou um reduto exclusivamente masculino. Nesta
arena de discussões entra a mulher, o mercado de trabalho, o feminismo e entrada
da secretária na representação, em que o cinema nos mostra as mudanças do
mundo contemporâneo.
121
2.1.2 “Working Girl” – (Uma Secretária de Futuro) – EUA – 1988 e,
“The Devil Wears Prada” – (O Diabo Veste Prada) - EUA – 2006
Uma análise de épocas, suas similaridades históricas e sua contextualização
Para que se possam situar as épocas em que esses filmes foram produzidos,
serão contextualizados de forma que se possa obter da história contemporânea, a
razão da sua narrativa. O diretor de (Uma Secretária de Futuro) (1988), Mike
Nichols, em seu filme apresenta o papel de secretária de Tess McGill (Melanie
Griffith), que soube, explorar as dificuldades da posição e superar-se, para ocupar
no final um cargo maior na corporação.
Depois de passar por uma situação
desconfortável de assédio sexual provocada
pelo seu antigo chefe, Tess McGill
,
enfrenta
uma nova transferência, com uma
recomendação da empresa: que mudasse o
seu comportamento. Novamente estava ela
pronta para mais um desafio. Diante dos novos fatos, não se intimidou em ter que
trabalhar para uma exigente executiva, Katharine Parker (Sigourney Weaver).
Neste filme, uma relação muito próxima com o “Diabo Veste Prada” (2006)
dirigido por David Frankel, que mostra a representação do poder e das disputas
inerentes à atividade profissional e como as pessoas que fazem parte deste
ambiente corporativo se incluem ou se excluem.
Nos dois filmes, um duelo surdo, porém presente que trata da
representação de quem exerce a função de
secretária e de quem tem o “comando”, no caso
a chefe. Os perfis das executivas têm
características semelhantes, a tirania de como
agem e como detêm o poder. O diretor David
Frankel, cuja história foi inspirada no livro
48
,
48
O Diabo veste Prada, Weisberger, Lauren; São Paulo, Record, 2006.
122
coloca Meryl Streep (Miranda Priestly) como uma poderosa executiva, senhora do
tempo e de todos que a cercam, absoluta das decisões, e inflexível nas suas ordens.
A secretária neste caso, pode ser incluída na mesma análise de papéis
representativos, e Anne Hathaway (Andy Sachs), tem toda uma trajetória repleta de
obstáculos, com uma série de novos desafios, entre eles atender profissionalmente a
executiva, bem como os seus caprichos pessoais, personalistas e ditatoriais.
No filme “Uma Secretária de Futuro”, Tess McGill
é uma secretária de origem humilde, assim como
Andy Sachs, no filme “O Diabo Veste Prada”.
Tess trabalha para a conceituada executiva
Katharine Parker, que tem uma referência de
exercício de poder e mostra uma época em que
o poder feminino ainda não era tão acentuado se compararmos com Miranda
Priestly, dezoito depois, pode-se perceber que o exercício do poder e a luta de
bastidores se sofisticaram, pois a evolução das atribuições do cargo e a tecnologia
ajudaram nesta conquista.
um paralelo referencial entre as duas quanto
às vestimentas e aparência que ambas
apresentam no início de carreira. Tess McGill
tem um cabelo e um penteado desajeitado e
desproporcional para o seu rosto. Tem excessos
de pulseiras e colares, como também exageros
na pintura, até que ouve as recomendações de Katherine Park, que lhe o tom de
como deverá se vestir e se produzir. As mudanças são rápidas e marcantes, como
poderá ser vista no final do filme, totalmente diferente do que era no início do filme.
123
O mesmo ocorre com Andrea Sachs, que quando
chega à redação da revista “Runway” com suas
roupas simples e jeito totalmente despojado, tem
uma recepção das mais decepcionante, pois
todos inclusive Miranda, a como uma pessoa
sem estilo e sem nenhum gosto em se traja. Não
poderia esquecer que estava no quartel general
da mulher mais poderosa do mundo da moda. Até
que encontra em Nigel (Stanley Tucci), a princípio
também integrante do grupo que a achava cafona,
entretanto torna-se seu amigo e seu personal
style, mudando para melhor o seu visual, vestindo-a com as melhores grifes do
mundo, surpreendo Miranda, Emilly, Nate, Serena e seus amigos pela grande
transformação ocorrida.
A adaptação da heroína, Andrea Sachs no filme
interpretado por Anne Hathaway, que atuou em (O
Diário da Princesa e O segredo de Brokeback
Mountain). Uma mulher desinteressada por moda
e ansiosa por uma chance para exercer suas
aptidões jornalísticas. Sem esperar, por uma
ordem não natural dos acontecimentos, pois é rejeitada por Emilly, assistente direta
de Miranda Priestly, mas, sai-se bem na entrevista com a poderosa editora, sendo
autêntica e não uma deslumbrada diante de uma lenda ou mito fabricado.
A sorte ou a oportunidade a leva a ser contratada por Miranda Priestly e esta
é alçada ao ambiente fútil da redação da revista “Runway” e aos crescentes
caprichos de sua editora, personagem representada pela talentosa Meryl Streep,
vencedora de dois Oscars.
Sua entrada na revista “Runway”, primeiramente, para ser assistente da
poderosa Miranda Priestly, por si é um grande desafio. No decorrer do dia-a-dia,
deverá exercer a função de secretária, assistente, serviçal, recepcionista e estar à
disposição para os ataques de estrelismos ou até pedidos tidos como impossíveis
uma das suas muitas alucinações. Certa vez, Andrea teve a missão de conseguir a
124
todo custo os manuscritos inéditos do livro de “Harry Porter”, de J.K. Rowling, que
ainda seria lançado.
Como se pode ver no filme, consegue cumprir a
tarefa, para muitos impossível. Andrea consegue
aqueles manuscritos, por intervenção de Christian
Thompson (Simon Baker), um freelancer que
escreve artigos para as editorias de moda, com bom
trânsito entre os principais editores, e que mais
tarde, em Paris, durante a separação temporária entre Andrea e Nate, têm um caso
passageiro.
Em a “Secretária do Futuro” a trama se inicia logo
após a chefe sofrer um acidente e quebrar a perna,
quando Tess assume o lugar de sua chefe. Neste
ponto, pode-se comparar com o roteiro do filme “O
Diabo Veste Prada”, quando a secretária Emily
(Emily Blunt), tida como primeira-secretária de
Miranda Priestly, também quebra a perna num acidente quando atravessava a rua,
justamente falando ao telefone com Andy Sachs.
Tess ouve uma mensagem na secretária eletrônica de Katherine Parker, o
que a faz entrar no computador pessoal da chefe e, descobre que está sendo
armada uma jogada de negócios que envolve a empresa em que ambas trabalham.
A executiva es propondo uma inteligente jogada financeira a um grande
empresário, entretanto, quem tinha apresentado esse projeto era ela, que foi
preterida. Então, indignada, assume o lugar profissional de Katherine, infiltrando-se
no labirinto de suspeitas que cerca a trama. E para complicar a história Tess, se
envolve com Jack Trainer (Harrison Ford), namorado de sua chefe.
Fato coincidente e replicante no filme “O Diabo Veste Prada” é que Andy
Sachs, pelo acidente ocorrido com Emily ocupa o seu lugar, sendo destacada para ir
junto com Miranda para o Desfile de Moda que ocorre anualmente em Paris, onde se
sai muito bem, explorando a representação da secretária no quesito, organização,
disciplina, ordem, memória, etiqueta e relações públicas.
125
Uma cena que merece ser comentada em “O
Diabo Veste Prada” refere-se a festa para
divulgar a grife, quando Andrea Sachs assume
de vez o papel de assistente de Miranda Priestly.
Ela nos surpreende pela agilidade e pela riqueza
de detalhes que tem que se preocupar agora
como assistente direta e até deixa a poderosa editora curtir algo como: “muito além
do que o próprio briefing foi capaz”. Andrea de cafona e mal ajeitada, agora está
portando figurino da última moda, e com um comportamento irretocável a toda prova,
uma verdadeira workaholic
49
; passa a viver 24 horas à disposição e à mercê dos
caprichos de Miranda Priestly, fazendo com que esquecesse por momentos seu
namorado Nate, e a sua vida simples.
Neste filme, a secretária Andy também suspeita
que algo não lícito estaria ocorrendo e tenta
avisar Miranda, que não a quer ouvir e a impede
de ir mais à adiante no caso. Um perfeito jogo
de poder que confirma os meandros pouco
claros que cercam os negócios e as
organizações. O que é confirmado no texto de Maria Bernadete Pupo
50
.
Nota-se que a jovem personagem tinha obsessão pela sua
carreira. Quando percebe que poderia transformar todos
aqueles desafios em oportunidades, doa-se de corpo e alma.
Talvez ainda não tivesse entendido que para isto tudo tinha
um preço a pagar. A pergunta é: será que um ano de sacrifício
ao serviço de um "diabo" que veste Prada não é um preço
demasiadamente alto? Este é um drama presente na vida de
muitas pessoas. O filme ensina, além da importância da
preparação na busca de um emprego, que nem tudo vale a
pena para mantê-lo. Perseverança, dedicação, humildade,
seriedade e honestidade são fatores muito relevados no
mundo corporativo, mas nada
deve ultrapassar o limite de
nossa dignidade e integridade.
51
49
A palavra Workaholic vem da língua inglesa e significa viciado em trabalho, e é uma gíria derivada da palavra
Alcoólica, que quer dizer alcoólatra... o quer dizer pessoa viciada em trabalho, sem muita folga para pensar ou
fazer a não ser no trabalho.
50
Maria Bernadete Pupo é administradora de empresas, pós-graduada em Direito do Trabalho e Mestra em
Recursos Humanos pelo Unifieo, onde é responsável pela gerência de RH e também palestrante para os cursos
de MBA.
51
Idem
126
Nesta análise final, serão comentados alguns momentos que marcam os dois
filmes. A primeira em “Uma Secretária de Futuro” é quando Tess desmascara
Katherine Parker perante o Conselho e o presidente da empresa a destitui do cargo
promovendo Tess para o seu lugar.
O segundo é quando vai assumir as novas funções,
na sua chegada ao departamento, ainda não
acreditando no que estava lhe acontecendo, muito
menos onde era o seu local de trabalho e com quem
iria trabalhar. Ao chegar, observa uma pessoa numa
sala falando ao telefone com os pés para cima da
mesa. Tess se surpreende ao saber que aquela
pessoa é a sua secretária e aquela sala estava
reservada para ela. Ao assumir de vez as novas
funções, aproveita para falar como deve ser a
relação de trabalho entre as duas e a conduta que
deverá ser cumprida dali para frente, já a assistente, entendeu que agira errado.
Tess pega o telefone e liga para sua amiga no antigo escritório e dá a boa notícia.
Cyn recebe a boa notícia e vibra com entusiasmo o
sucesso da amiga e ex-secretária Tess. Tess ao
telefone, em sua sala, no grande edifício onde agora
estava instalada, ouve-se na trilha sonora a canção
tema do filme, em alto e bom som “Let The River Run”
com Carly Simon, Oscar da Melhor Canção Original.
127
No filme “O Diabo Veste Prada” a primeira
grande cena em que Andrea e Miranda, em Paris
dentro de um carro a caminho do Desfile, travam
um diálogo tenso sobre conduta, ética,
relacionamento, posição e futuro.
Andrea sai do carro, caminha na direção contrária à
de Miranda Priestly, que é cercada por flashes,
jogando seu celular na fonte, num gesto de
liberdade, no exato momento em que Miranda tenta
um contato, é o fim das relações entre elas.
O segundo momento é quando Andrea dá as costas
literalmente àquele glamour rodeado de interesses,
fantasias e mentiras, e sai decidida a buscar o
“mundo que ela acreditava”. Sai em busca de
realizar o seu antigo sonho de ser jornalista, volta
para Nova York, reencontra Nate (Adrian Gremier).
Andrea conquista um emprego como jornalista.
É contratada pelo Editor do “The New Yorker
Mirror”, que lhe oferece a oportunidade de ter uma
coluna com a qual ela sempre sonhara.
Conclusão Esta proposta com análise dos melhores momentos dos dois
filmes, produzidos em diferentes épocas, é trazer as similaridades das histórias,
como também uma reflexão de como se podem comparar as duas executivas, seus
poderes, suas tiranias e suas leviandades. Mostrando em cada filme o jogo dos
bastidores, interesses escusos e envolvimento de pessoas inocentes. Em “Uma
Secretária de Futuro” a ex-secretária toma o lugar da executiva. E em “O Diabo
Veste Prada”, a secretária, caso concordasse com sua executiva, poderia ter, tudo o
128
que uma jovem na sua idade gostaria de ter: glamour, dinheiro, visibilidade e poder.
Recusou tudo, para ir atrás do sonho de ser jornalista, recuperar seu antigo amor e
seus amigos. Nestes três filmes fica claro que ocorre uma “reação” ao longo do
tempo no tipo de representação da secretária no cinema, nos três elas deixam de
ser objeto sexual, se tornarem independentes, assumem novas posições
profissionais e um reconhecimento da própria sociedade que lhes abre as portas das
oportunidades para realização pessoal e profissional.
129
CONCLUSÃO
A tarefa de construir um tema que fosse baseado em uma profissão: o papel
da mulher como secretária e a sua representação através do cinema, não foi uma
escolha fácil. Muito menos simplista. Foi uma escolha consciente e pontual, pois o
tema, possibilitou antever um universo muito extenso, entretanto, recorreu-se ao
Cinema para extrair dele a história desta construção.
O que nos levou a dissertar acerca do tema e o que mais nos empolgou na “A
Representação da Secretária no Cinema”, foi a possibilidade de poder acessar uma
lista de filmes que descreveram, nas mais diversas épocas a representação da
secretária.
Esta pesquisa recortou do cinema hollywoodiano os filmes mais
representativos, tanto no ponto de vista histórico, como no ponto de vista dos seus
Diretores, que souberam tocar em delicados temas sociais e mostrar o inconsciente
coletivo, o pensar da profissão e da mulher que o exercia.
Foi uma busca não muito fácil, pois a qualidade referencial estava superposta
por uma série de outros filmes de conteúdo e contribuição duvidosa no que se refere
à proposta inicial.
Como esse tempo foi identificado pelo cinema e como o cinema contribuiu de
forma direta e prática no repensar de papéis, na delicadeza de tocar em
determinados temas, como sexo, drogas, poder e manuseio, desvio de conduta, sem
em nenhum momento resvalar no que se pode dizer: vulgaridade ou
descaracterização da verdade.
Essa pesquisa possibilitou conhecer um labirinto de caminhos, com
mensagens e signos, às vezes claros e fáceis de serem identificados, ou outros,
resultado da garimpagem em vídeos clubes, na memória do cinema, dos cinéfilos e
um grande contingente de interessados no estudo do tema.
O que surpreendeu nesta pesquisa que recorta exatamente 75 anos, desde o
primeiro filme “My Private Secretary(Minha Secretária Particular), de 1933, até o
atual, “The Perfect Assistant” (A Secretária Perfeita) - EUA, 2008, foi a
preocupação histórica que o cinema teve com tema: representá-lo e contá-lo na sua
versão, sem nunca esquecer a realidade vivida nas organizações.
130
Foi deveras compensador realizar essa produção acadêmica. Poder reunir à
mesma mesa sob o mesmo foco do tema; pesquisadores, acadêmicos, cineastas,
historiadores e profissionais das mais diversas áreas do conhecimento. Esta mescla,
permitiu pesquisar e construir com fundamentos todo um estudo no qual foram
levantados dados históricos, sociais e econômicos.
Estes estudos serviram de base para poder reunir, analisar e categorizar toda
a cinematografia relacionada com secretárias sob a ótica, crítica e representação do
Cinema e do Audiovisual.
Valeu a pena realizar esse percurso que quando iniciado, não se sabia o
quanto de verdade ou quais verdades ou descaminhos poderiam nos levar. Não se
poderia prever o tempo ou a dificuldade em encontrar material suficiente para
compor a Dissertação, se as informações estariam em fragmentos ou disponíveis
com livre acesso à pesquisa.
Por outro lado, utilizando o conhecimento de áreas específicas e do estudo de
setores que registram a mesma similaridade, pode-se compor o nosso estudo de
forma tal que possibilitou o entendimento do Cinema através da sua importância
histórica e a sua contribuição social.
Hoje, depois de vermos o quanto o Cinema e a Academia de Hollywood
contribuíram para iluminar um vasto campo de experiências ainda não vivenciadas e
se vivenciadas, não com tanta intensidade, mostrou como esta área ou profissão
mereceu e ainda merece espaços na cinematografia. Um resultado que deve-se
compartilhar quando se descobre que o grande anseio da mulher na sociedade era a
sua busca pela conquista através da estabilidade do emprego ou a estabilidade
adquirida com o casamento.
Porém o cenário de fundo, visível em todos os filmes é a sexualidade, às
vezes explorada de forma abusiva ou intencional por parte dos homens, mas não só,
pois fomos surpreendidos quando a mulher assumia este papel, colocando assim o
homem numa posição de inquietação e desconforto, que historicamente cabia-lhe
essa iniciativa.
O Cinema como narrador da história, cuja tarefa de representá-la, foi sem
dúvida o meio que se pode reconhecê-lo como forma de captar o imaginário coletivo
e transformá-lo em peças passíveis de serem vistas e revistas.
131
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9769&idaff=0 - Data: 03/02/08 – 12:49
133
APÊNDICES
134
Apêndice A – Planilha de análise fílmica
Universidade Anhembi Morumbi
Mestrado em Comunicação Contemporânea
Planilha de análise fílmica - "A Representação da Secretária no Cinema"
Autor: Antonio Pires Carvalho
Data: 07/10/2008 Atualizada
Item
Título do Filme Diretor Ano
País Categorização
Original Português
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
Década de 30
1
His Private Secretary
Sua Secretária Particular Phil Witman
1933
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
2
Wife versus Secretary
Ciúmes - Esposa vs.
Secretária
Clarence Brown
1936
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
3
Mr. Smith Go
es to
Washington
A Mulher faz o Homem Frank Capra
1939
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
Década de 40
4
The Maltese Falcon
Relíquia Macabra John Huston
1941
USA
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
5
Springtime In The Rockies
Minha Secretária Brasileira Irving Cummings
1942
USA
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
6
Lifeboat
Um Barco e Nove Destinos Alfred Hitchcock
1944
USA
7
My Dear Secretary
Minha Querida Secretária Charles Martin
1948
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
Década de 50
8
All About Eve
A Malvada
Joseph L.
Manckiewicz
1950
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
9
Private Secretary
Secretária Particular Oscar Rudolph
1953
USA
10
Three Coins in the Fontain
A Fonte dos Desejos Jean Negulesco
1954
USA 10
1
1
1
1
1
1
11
Desk Set
Amor Eletrônico Walter Lang
1957
USA 1
1
1
1
1
1
1
Década de 60
12
The Apartment
Se Meu Apartamento Falasse
Billy Wilder
1960
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
13
Psycho
Psicose Alfred Hitchcock
1960
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
14
Marnie
Marnie Confissões de uma
Ladra
Alfred Hitchcock
1964
USA
135
Item
Título do Filme Diretor Ano
País Categorização
Original Português
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
Década de 70
15
Frenzy
Frenezi Alfred Hitchcock
1972
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
Década de 80
16
9 To 5
Como Eliminar seu Chefe Colin Higgins
1980
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
17
Ghostbusters
Os Caça-Fantamas I Ivan Reitman
1984
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
18
The Woman In Red
A Dama de Vermelho Gene Wilder
1984
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
19
The Secret of my Succe$s
O Segredo do meu Sucesso Herbert Ross
1987
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
20
Working Girl
Uma Secretária de Futuro Mike Nicols
1988
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
Década de 90
21
Disclosure
Assédio Sexual Barry Levinson
1994
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
22
In The Company of Men
Na Companhia dos Homens Neil LaBute
1997
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
23
Psycho
Psicose Gus Van Sant
1998
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
Década de 2001 - 2008
24
Dr. T and the Women
Dr. T e as Mulheres Robert Altman
2000
USA
25
Im Toten Winkel-Hitlers
Sekretärin
A Secretária de Hitler
André Heller /
Othmar Schmiderer
2001
AUS 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
26
Secretary
Secretary Steven Shainberg
2002
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
27
Der Untergang
A Queda! As ültimas horas de
Hitler
Oliver Hirschbiegel
2004
ALE 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
28
The Office - 1a.Temporada
The Office - 1a. Temporada
2005
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
29
The Office - 2a.Temporada
The Office - 2a. Temporada
2006
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
30
The Devil Wears Prada
O Diabo Veste Prada David Frankel
2006
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
31
The Perfect Assistant
A Secretária Perfeita Douglas Jackson
2008
USA 1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
31
32
33
34
35
36
TOTAL
26
10
23
19
23
30
29
28
26
27
24
21
22
25
26
24
22
21
19
19
17
20
24
136
Categorias
Função
Total
1
Obediente 26
2
Passividade 10
3
Profissionalismo 23
4
Dinâmica 19
5
Concentrada 23
6
Tarefeira 30
7
Produtiva 29
8
Disciplinada 28
9
Organizada 26
10
Multifuncional 27
11
Líder 24
12
Poderosa 21
13
Autônoma 22
14
Iniciativa 25
15
Estilo e Moda 26
16
Eficiência 24
17
Gestora 22
18
Executora 21
19
Cooperativa 19
20
Assertiva 19
21
Flexibilidade 17
22
Competências 20
23
Conhecimento 24
137
Apêndice B - A Mulher e o mercado de trabalho
A industrialização de São Paulo iniciou-se na primeira parte do século XX, logo após a
grande vinda de imigrantes, grande parte formada por italianos, que primeiramente se
deslocavam para o interior, onde se instalavam na lavoura e colheita do café. O histórico
deste período nos coloca diante do dilema vivido naquela época, tinha uma mão-de-obra
disponível e acessível, que eram os ex-escravos, que não tinham habilidades ou preparo nas
primeiras letras da alfabetização, por isso sua ocupação era mais direcionada à força, uso
bruto do homem. E a força-tarefa dos imigrantes na maioria italianos, melhores posicionados
economicamente e socialmente, mais preparados para a ocupação imediata dos postos das
fábricas que estavam sendo implantadas. É no início do século XX, que pode-se notar, na
recém indústria paulista, sua composição de trabalhadores, ocupada em grande parte por
imigrantes italianos.
Dados revelam que em São Paulo, a partir da década de 20, estima-se que de cada
quatro habitantes da cidade um era estrangeiro, e que os italianos representavam mais de
40% desse total.
52
A grande massa de imigrantes, vinda em sua grande parte do sul da Itália,
devido à escassez de trabalho e às doenças endêmicas que castigavam a Itália neste
período.
Esta imigração ajudou significativamente na formação da mão-de-obra, no
crescimento e expansão da cidade de São Paulo, e a formação dos bairros tipicamente
italianos, como o Brás, Belenzinho e a Mooca, onde as fábricas eram instaladas e localizadas
e por questões estratégicas de moradia se formou no seu entorno grandes concentrações
habitacionais.
Em 1907, São Paulo, contava com 307 fábricas, a maioria dos setores têxtil, de
vestuário, alimentos e bebidas. Foi neste período que São Paulo, com o avanço da
industrialização, incorporou ao seu cotidiano as longas jornadas de trabalho, a má
alimentação e os salários reduzidos. Enfim, tudo o que caracterizou a exploração da classe
operária em todo o mundo, no início da industrialização.
Foram as tecelagens que concentraram a maior quantidade de trabalhadores dentro
desse perfil quantitativo, como por exemplo, as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo,
Cotonifício Rodolfo Crespi
53
e a Cia. Nacional de Tecidos de Juta, de Jorge Street, instalada
no bairro do Belenzinho, São Paulo, construindo para os seus operários uma vila de casas,
52
Revista da Indústria – Ano 6 – no. 118 – Junho – 2006 – p. 58.59
53
Idem.
138
inclusive a primeira creche para filhos de funcionários, o que passou a ser denominada de
Vila Maria Zélia.
Há uma referência histórica do discurso e práticas que o empresariado paulista tinham
em relação aos seus empregados, os quais era, na visão deles, simples mercadoria de troca
e venda, como no caso de Jorge Street, diz:
Eu tenho em São Paulo, entre os meus quase 3.000 operários, mais de 1.100 moças de 15 a 18 anos
de idade, que representam robustez física igual à de suas companheiras de maior idade e que
produzem o mesmo que elas”.
54
A representatividade numérica de mulheres e crianças significava um grande atrativo
para os empregadores por terem a mesma carga horária, exercerem as mesmas funções dos
homens e receberem salários mais baixos.
Os dados mais surpreendentes desta fase é quantidade de mulheres e crianças nas
fábricas, segundo Margareth Rago, que em seu livro descreve as atividades de trabalho, a
falta de higiene, a violência sexual, e a jornada de 17 horas, com restrições a horário de
almoço e término da jornada, não recebiam horas extras ou qualquer benefício, diz
textualmente os números da época:
No recenseamento de 1920, foram inspecionadas 247 indústrias têxteis; do
total de 34.825 operariados arrolados, 14.352 (41,21%) eram homens e
17.747 eram (50,96%) eram mulheres.
55
Ainda no início do século XX, mais precisamente em 1901, quando se comparou
esses dados com os 1920, e deparou-se que “As mulheres representavam cerca de 49,95%
do operariado têxtil, enquanto as crianças respondiam por 22,79%. Em outras palavras, 72,
74% dos trabalhadores têxteis eram mulheres e crianças”. Margareth Rago (2002).
56
Além disso, a contratação preferencial era das mulheres com filhos que além da renda
conjunta, era um vínculo único, pois a moradia e a proximidade do trabalho eram facilitadores
na educação das crianças e no preparo da mão-de-obra. A razão de se preferir a mão-de-
obra (feminina e de crianças) em grande número nas tecelagens se dava pela carência para
execução de tarefas mais delicadas, ou seja, com dedos finos, as crianças por terem mãos
menores, facilitavam a troca de linhas dos carretéis ou o refazer do quando as linhas se
quebravam.
Nesta análise filmica pôde-se constatar o quanto de transformações surgiram no
decorrer da história do século XX e construindo o século XXI, registra-se a passagem da
54
História das Mulheres no Brasil, Cap. Trabalho Feminino e Sexualidade, p.593, São Paulo, 2002.
55
Idem.
56
Ibidem.
139
mulher por diversas fases sociais, até chegar ao nosso tempo, em que a dupla ou tripla
jornada de trabalho, reconhecidamente está mais presente entre elas, se formos comparar
com as atribuições delegadas ao homem. Para fundamentar recorreu-se ao historiador Eric
Hobsbawm
57
que ilustra e documenta essa passagem:
Contudo, a própria amplitude da nova consciência de feminilidade e
seus interesses torna inadequadas as explicações simples em termos
de mudanças do papel da mulher na economia. De qualquer modo, o
que mudou na revolução social não foi apenas à natureza das
atividades da mulher na sociedade, mas também os papéis
desempenhados por elas ou as expectativas convencionais de que
devem esses papéis, e em particular as suposições sobre os papéis
públicos das mulheres, como a entrada em massa de mulheres
casadas no mercado de trabalho, produzissem mudanças
concomitantes e conseqüentes.
58
Essas mudanças as quais Eric Hobsbawm se referem à entrada em larga escala das mulheres
no mercado formal de trabalho, e, foi no século XX que esta transformação ganhou escala global. As
mulheres foram responsáveis pelas mudanças quanto a carga horária de trabalho, agora mais
humanas. Os Direitos da licença maternidade. A proibição ao trabalho infantil como também os
desrespeitos que eram praticados contra elas. E com isso surgiu uma nova etapa de composição
financeira e econômica da família, o que ajudou a empurrar a economia e o consumo ao estado que
hoje se conhece, porém a cooptou à máquina de produzir e gerar riquezas.
As primeiras greves organizadas por mulheres
Historicamente os dados apresentados e os registros da época, início do século XX,
apontam que São Paulo, em suas indústrias mantinha um grande número de mulheres. Para
elas, as condições de trabalho eram como datam os historiadores, precárias, áreas sem
nenhuma higiene, segurança ou primeiros socorros. As jornadas eram na sua grande maioria,
longas, sem descanso. Este tipo de trabalho quase que escravo, resultou em uma grande
insatisfação, gerando assim a primeira greve em São Paulo, em 1901, na Fábrica de Tecidos
Sant’Ana - setecentas trabalhadoras organizaram piquetes, numa greve contra o
rebaixamento de salários e as violências sexuais de que estavam sendo vítimas.
No mundo, entretanto, dados anteriores, registram que a primeira manifestação
feminina aconteceu em Nova York, EUA, no dia 08 de Março de 1857, contra o abuso em
57
HOBSBAWM, Eric, A Era dos Extremos – O breve século XX – 1914 – 1991. p.306-307, São Paulo, Companhia das Letras,
2005.
58
Idem
140
relação ao número de horas diárias de trabalho, reivindicando uma jornada de 10 horas. Essa
manifestação foi violentamente reprimida pela polícia, que com os patrões e polícia,
trancaram as portas da fábrica e atearam fogo. Onde as operárias asfixiadas pelas chamas,
morreram todas carbonizadas.
59
Em 1917, pela primeira vez, é permitido o ingresso de mulheres no serviço público
brasileiro, ao mesmo tempo em São Paulo, no mês de julho eclode aquela que é considerada
a primeira grande greve no Brasil. Paralisando a capital por mais de 30 dias, estendendo-se
pelo interior do Estado e foi duramente reprimida.
60
Em 1919, uma delegação brasileira, liderada por Berta Lutz
61
e Olga de Paiva Meira,
participou da reunião do Conselho Feminino da Organização Internacional do Trabalho (OIT),
quando na Conferência se aprovou o princípio de salário igual para trabalho igual.
62
Na Constituição de 1934, era Vargas, a mulher pela primeira vez, consegue alguns
direitos, até então negados, como: o direito ao voto e regulamentos do trabalho feminino.
Estabelece a equiparação salarial e proíbe o trabalho feminino noturno, e, neste ano Carlota
Pereira de Queiroz
63
é eleita a primeira deputada brasileira.
E, em 1950, a primeira baixa no que se refere às conseqüências das greves
lideradas por mulheres, na cidade de Rio Grande, Rio Grande do Sul, durante a passeata de
1º. de Março, quando é assassinada a tecelã Angelina Gonçalves.
64
59
Idem, p. 15
60
Idem, p. 35.
61
Bertha Maria Julia Lutz (São Paulo, 1894 – Rio de Janeiro, 1976). Foi considerada uma das pioneiras do feminismo no
Brasil.
62
8 de Março – Dia Internacional da Mulher – Uma data e muitas histórias, Imesp, São Paulo, p. 33.
63
Carlota Pereira de Queiroz (São Paulo, 13 de fevereiro de 1892 – São Paulo, 14 de abril de 1982), foi médica, pedagoga e
atuou na política.
64
Idem, p. 36
141
A divisão entre a mulher operária e a mulher que atua nas áreas administrativas
A industrialização em São Paulo registra que até quase metade do século XX, o
trabalho reservado a mulheres, era o mais simples possível, basicamente operacional.
Cabendo aos homens a função de contra-mestre ou função de chefia.
Todavia com a chegada de mulheres mais qualificadas ao mercado, isto é, letradas,
advindas das Faculdades, mesmo sendo muito difícil, pois, havia restrições culturais no
acesso da mulher à educação. A indústria começa a aceitar mulheres em suas áreas
administrativas, o que leva a entender, daí, o surgimento da função secretarial, como se pode
ver na referência a seguir:
Esta área de atividade ocupa oito em cada dez mulheres qualificadas que
trabalham na indústria. E do total de cargos administrativos, 70% são
secretárias.
65
Assim, a indústria paulista, faz com que as áreas administrativas abram mais espaços
e possam absorver em suas fileiras um maior número de mulheres, preferencialmente mais
qualificadas para as atividades que começavam a ser incorporadas e preenchidas pelo
segmento feminino.
Havia uma divisão clara de trabalho na indústria, as operárias tinham funções
puramente operacionais, trabalhar com teares ou máquinas, e as mulheres com funções
administrativas, eram responveis pelas operações nos escritórios fabris, podiam ser vistas
nos setores de: atendimento, despacho, contabilidade e ou de rotinas administrativas, além
dos departamentos de pessoal e vendas.
“O setor administrativo é encontrado, como seria de esperar, em todos os
ramos industriais e concentra a maior proporção das trabalhadoras
qualificadas na indústria.”
66
O pós-guerra em 1945, trás para a indústria paulista, grandes avanços, sua
supremacia perante os demais Estados da Federação, são claros e evidentes. Surge uma
nova classe operária, mais qualificada e preparada para lidar com novos equipamentos e
65
Eva Alterman Blay – Trabalho Domesticado: A Mulher na Indústria Paulista, p. 163, Ática, São Paulo, 1978.
66
Idem.
142
maquinários que eram importados, mesmo quando na sua grande maioria, eram
equipamentos de segunda mão, ainda eram mais eficientes.
Este avanço também é acompanhado nas áreas administrativas, onde havia uma
hierarquização, de funções e de comandos. Setores que as mulheres não exerciam a força
para o trabalho, e sim o conhecimento adquirido e sua aplicação.
Nas indústrias, pela pouca oferta oferecida nas áreas administrativas, eram áreas
muito disputadas por mulheres universitárias, que pela diversidade dos cursos, nem sempre
aproveitadas na sua especialidade, e, sim dentro das áreas administrativas, conforme segue:
Os cargos administrativos, do modo como estão aqui organizados, agrupam
diversas hierarquias de postos. vários tipos de cargo, exercidos por
universitárias formadas em Economia, Administração, Matemática, Direito e
Psicologia. As diplomadas nestes cursos encarregavam-se em geral de
cargos específicos às suas habilitações formais.
67
No exercício das funções administrativas, a função secretarial, começa a ganhar corpo
dentro das organizações, sejam elas fabris ou não. Este grande impulso econômico
possibilitou a expansão de uma grande quantidade de cargos que começavam a ser de
ocupados na sua especificidade, ou seja, secretárias, preferencialmente por mulheres com
formação em História ou em Ciências Sociais. Este ganho administrativo nas tarefas era bem
vindo, pois, eram mulheres, que sabiam com desenvoltura usar a gramática, o cálculo e,
principalmente a redação para produzir correspondências. Assim sendo, recorre-se a um
dado, que posiciona com precisão esta dedução.
Mas inúmeros casos também de mulheres formadas em cursos que nada
têm a ver com o cargo que desempenham como, por exemplo, secretárias
formadas em História ou Ciências Sociais.
68
Pelo pouco acesso que as camadas mais pobres da população tinha para a educação,
a escassez de mão-de-obra qualificada era muito evidente. Poucas mulheres tinham o
acesso garantido às áreas administrativas, principalmente as com pouca formação. Isto não
impediu, entretanto de estar sem cargo ou função específica, atuando em outras nas áreas
administrativas.
Em seu capítulo sobre “A Conquista do Espaço Público”.
69
, Margareth Rago, define
com muita clareza o que é o espaço público moderno, como:
67
Eva Alterman Blay – Trabalho Domesticado: A Mulher na Indústria Paulista, p. 163, Ática, São Paulo, 1978.
68
Eva Alterman Blay, Trabalho Domesticado: A Mulher na Indústria Paulista, p. 163, Ática, São Paulo, 1978.
69
História das Mulheres no Brasil, Margareth Rago, Cap. A conquista do espaço feminino, p. 603, São Paulo, UNESP, 2002.
143
Esfera essencialmente masculina, do qual as mulheres participavam apenas
como coadjuvantes, na condição de auxiliares, assistentes, enfermeiras,
secretárias, ou seja, desempenhando as funções menos importantes nos
campos produtivos que lhe eram abertos.
70
O que sugere, o aproveitamento era reservado para mulheres jovens,
preferencialmente solteiras, para o exercício de funções ou cargos que não requeriam
qualquer formação. Esta confirmação aparece logo a seguir, quando a autora Eva Alterman
Blay, documenta a premissa de no início da atividade profissional as mulheres sem formação,
vão ao longo da sua atuação no trabalho se qualificando até a formação universitária e
conseqüentemente ampliando sua competência e espaços para ocupar outros postos.
“Na área dos cargos administrativos estão também trabalhadoras que m
escolaridade de nível médio e algumas têm apenas o primário, mas que
executam tarefas qualificadas na estrutura ocupacional da indústria”.
71
Como se refere Eva Alterman Blay, foi graças à mulher com uma formação
educacional, cultural e de conhecimentos mais ampliados, que as possibilitou a entrada nas
indústrias, pelo caminho administrativo e não a de operária. Assim, surgia no Brasil uma nova
classe de mulheres que fariam parte das indústrias, as chamadas funções administrativas e
burocráticas, deixando assim para as mulheres de menor escolaridade as funções de
operária.
Mulheres, Educação, Trabalho e Família
Ao verificar as informações sobre a mulher e a sua inserção no trabalho a visão da
quantificação, das divisões, e dos extratos sociais, foi ampliada; como resultado pode-se
perceber que esta composição era de mulheres vinda das camadas mais simples e sem
recursos escolares de formação, ocupando as fábricas com posições de subalterna e de
trabalhos quase que primários.
Os dados históricos também apontam a sua chegada ou entrada no mercado de
trabalho formal, onde começava a se posicionar e criar referências nas áreas administrativas,
então muito recentes. A criação de empregos e oportunidades nesta área era uma reserva
quase que exclusiva para mulheres advindas de classes sociais mais bem estruturadas
economicamente e educacionalmente. O que nos leva a deduzir, que a formação de
70
História das Mulheres no Brasil, Margareth Rago, Cap. A conquista do espaço feminino, p. 603, São Paulo, UNESP, 2002.
71
Idem, p. 163
144
empregos e algumas especializações nas áreas administrativas, foram como apontam os
dados uma decorrência quase que natural para formação da profissão secretária.
Mulheres no Mercado de trabalho: Grandes Números
72
A força e a participação da mulher na história do trabalho no Brasil ultrapassam mais
que um século, porém, foi a partir de 1993, que os dados históricos começaram a ser
estudados e divididos, o que possibilitou uma radiografia deste estudo com mais detalhes.
Ao analisar o comportamento da força de trabalho feminina no Brasil no
último quarto de século, o que chama a atenção é o vigor e a persistência do
seu crescimento. Com um acréscimo de 25 milhões de trabalhadoras entre
1976 e 2002, as mulheres desempenharam um papel muito mais relevante do
que os homens no crescimento da população economicamente ativa.
73
Esses dados reforçam a participação e expansão da Mulher no mercado formal de
trabalho, pois até os anos 70 cabia à mulher, quase que exclusivamente as atividades e
rotinas domésticas. Neste período os registros apontam que em cada grupo de 100 mulheres,
apenas 28 trabalhavam formalmente. No novo milênio este número praticamente dobra, como
se pode ver logo abaixo.
Enquanto as taxas de atividade masculina mantiveram-se em patamares
semelhantes, entre 73 e 76% em praticamente todo o período, as das
mulheres se ampliaram significativamente. Se em 1976, 28 em 100 mulheres
trabalhavam, adentrou-se o novo milênio com a metade das mulheres
trabalhando ou procurando um trabalho.
74
A globalização nos ajuda a entender este fenômeno, como por exemplo, nos Estados
Unidos, a divisão dos empregos entre mulheres e homens, mostra uma tendência de
crescimento da mão de obra feminina, que da década de 50 para cá, a participação de
homens no mercado de trabalho caiu de 70% para 52%, enquanto a das mulheres subiu de
30% para 48% no mesmo período. Segundo o IBGE, o número de mulheres chefes de família
aumentou mais de oito vezes entre o período de 1995 e 2005. Para o IBGE elas são as
principais provedoras em 28% dos lares brasileiros. As mulheres representam 56% dos
72
Fundação Carlos Chagas – Banco de Dados sobre o Trabalho das Mulheres – www.fcc.org.br/mulher/index.html
73
Idem.
74
Ibdem.
145
brasileiros que têm 12 anos de estudo ou mais, para Marcelo Néri
75
, isto é fruto da revolução
que fizeram lá pelos anos 60.
Mulheres, Trabalho e Família
76
Fonte: www.fcc.org.br – Banco de dados sobre o trabalho das Mulheres.
O estudo relativo ao tema em questão reúne em seu bojo, alguns componentes
importantes e interligados aos conjuntos sociais e aos aspectos estruturais econômicos pelo
qual o Brasil passava nesta época, e os seus reflexos diretos sobre a família brasileira.
No item anterior, os anos 70 foi o marco histórico, que pode ser denominado de: o
início de uma revolução social no trabalho, promovido silenciosamente pelo grande
contingente de mulheres que começavam a fazer parte de uma estatística, até desconhecidas
ou até irrelevantes. Um estudo desta transformação é bem evidente, como se pode observar
a seguir.
A partir da década de 70 até os dias de hoje, a participação das mulheres no
mercado de trabalho tem apresentado uma espantosa progressão. Se em
1970 apenas 18% das mulheres brasileiras trabalhavam, chega-se a 2002
com metade delas em atividade.
77
Alguns fatores inerentes à mulher, que foram analisados neste estudo, apontam como
entraves ou restrições ao trabalho; a escolha de uma função e a maternidade. Os problemas
advindos do retorno pós-maternidade ao trabalho, eram inerentes à luta e à manutenção da
sua vaga no emprego.
A necessidade da mulher compor com a sua força de trabalho a renda familiar,
verifica-se com o surgimento do núcleo de mulheres, ainda que numa escala menor que eram
responsáveis em manter economicamente o sustento da família, umas por ausência da figura
masculina, outras pela opção de independência. Ainda trabalhar e manter a família continua
75
Marcelo Neri é economista da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro.
76
Fundação Carlos Chagas – Banco de Dados sobre o Trabalho das Mulheres – www.fcc.org.org.br/mulher/index.html
77
Idem.
146
sendo uma opção individual da mulher, às vezes, compartilhada com o cônjuge. Como
sugere a referência no destaque abaixo.
No entanto, o trabalho das mulheres não depende tão somente da demanda
do mercado e das suas qualificações para atendê-la, mas decorre tamm de
uma articulação complexa de características pessoais e familiares. A
presença de filhos, associada ao ciclo de vida das trabalhadoras, à sua
posição no grupo familiar - como cônjuge, chefe de família etc -, à
necessidade de prover ou complementar o sustento do lar, são fatores que
estão sempre presentes nas decisões das mulheres de ingressar ou
permanecer no mercado de trabalho.
78
Assim sendo, pode compor com estas observações o fato das mulheres serem mais
aceitas no mercado operário de trabalho, era devida a sua condição socioeconômica. As
questões de manutenção de sustento alimentar. Da possibilidade real de terem os filhos mais
próximos de si. Um ganho diferenciado a menor do que os homens. Assim, por parte dos
patrões, poderia se usar uma mão-de-obra infantil integrada à mãe, sem remuneração, e,
muito menos fazer parte das obrigações trabalhistas.
78
Fundação Carlos Chagas – Banco de Dados sobre o Trabalho das Mulheres – www.fcc.org.org.br/mulher/index.html
147
Mulheres Brasileiras, Educação e Trabalho
79
As transformações através da Educação, como demonstram os dados da Fundação
Carlos Chagas, possibilitaram à mulher, requisitos de equilíbrio entre a busca de melhores
patamares de trabalho e de ganhos. O que nos possibilitou deduzir, através das pesquisas,
que este componente ajudou na abertura do mercado de trabalho para mulheres com grau de
instrução elevada. Essa abordagem ocorreu em grande parte em todo segmento ocupacional.
Entretanto observou-se a formação espontânea, ou até intencional de “redutos” ou
áreas organizacionais, que ao longo da sua instalação e projeções, foram por muito tempo
ocupada, na sua supremacia por homens.
Em outro “segmento” o mercado foi ocupado pelas mulheres que silenciosamente,
foram tomando para si, uma identidade funcional e uma identificação cada vez mais presente
nessas funções ou áreas de atuação em que houve um movimento crescente, onde
destacam-se as áreas de: Humanas, Artes, Saúde e Bem-Estar Social.
Tanto no ensino superior, como na educação profissional, quando se
observam as opções femininas segundo as áreas de conhecimento, nota-se a
existência de algumas mais permeáveis à presença das mulheres e outras
nem tanto, sinalizando a futura reprodução em ”nichos" ou "guetos"
ocupacionais femininos no mercado de trabalho.
80
Estes avanços sociais e tomadas de posições foram sensíveis no campo de trabalho e
na política, as quais, foram identificadas inicialmente ou preferencialmente feita por homens.
O fato da mulher, querer buscar mais preparo e se qualificar profissionalmente, denotava uma
luta contra as instituições e práticas na época, que mais beneficiavam os homens do que a
elas. Essa busca de justiça social e econômica nas relações de trabalho, não impediu, sua
evolução. Porém, quanto a ganhos, este desequilíbrio, se comparado aos homens, ainda se
mantém.
O fato de as trabalhadoras disporem de credenciais de escolaridade
superiores aos seus colegas de trabalho, entretanto, não tem se revertido em
ganhos semelhantes, pois os dados deixam claro que homens e mulheres
com igual escolaridade obtêm rendimentos diferentes. O fato é que, as
relações de gênero vão determinar valores diferentes para profissionais no
mercado de trabalho, conforme esse trabalhador seja homem ou mulher. E se
a maiores patamares de escolaridade estão associados, de uma forma geral,
maiores salários, isso é mais verdade para os homens do que para as
mulheres.
81
79
Fundação Carlos Chagas – Banco de Dados sobre o Trabalho das Mulheres – www.fcc.org.br/mulher/index.html
80
Idem
81
Ibdem.
148
Essa desigualdade social está refletida no momento histórico das relações entre
capital e trabalho, em que as distorções de tratamento, oportunidade e de ganhos, sempre
foram desfavoráveis às mulheres, criando-se um ciclo vicioso e ininterrupto de favorecimento
ao gênero masculino estas diferenças, deixando para as mulheres, mesmo formadas a luta
pela igualdade de tratamento e, principalmente quanto ao ganho obtido na força de trabalho,
seja ele intelectual ou não.
O Lugar das Mulheres no Mercado de Trabalho
82
Os anos 70 e 80 foram reconhecidos como períodos da grande retomada industrial,
com a crescente demanda do mercado interno, o aumento dos meios de transporte de
comunicações e a qualificação do trabalhador, havendo um crescimento da indústria que
ocupava grande parte da mão-de-obra disponível.
Com o surgimento da computação e da automatização industrial, começa a surgir um
novo campo de trabalho, ou área ocupacional, que foi denominada de “serviços” e aos
poucos foi tomando espaços e chega até este início de século XXI como uma das áreas que
teve o maior crescimento. Esta nova área de desenvolvimento econômico foi responsável por
grande absorção da mão-de-obra feminina, assegurando a elas, espaços para a sua entrada
no mercado e o seu desenvolvimento social e econômico.
Os padrões gerais de localização dos trabalhadores e das trabalhadoras no
mercado de trabalho, quando tomados de forma agregada, pouco se
modificaram entre 1970 e 2002, nos últimos 32 anos, portanto. Elas
continuam sendo mais expressivamente absorvidos na prestação de serviços,
incluídos. Eles, por sua vez, encontram maiores
oportunidades de
colocação, pela ordem, na indústria, nos serviços e nas atividades
agropecuárias.
83
82
Fundação Carlos Chagas – Banco de Dados sobre o Trabalho das Mulheres – www.fcc.org.br/mulher/index.html
83
Idem
149
Mulheres e o Mercado Formal de Trabalho
84
A leitura que se pode ter dos dados apresentados, demonstram um avanço percentual
a cada década, da ocupação de empregos formais por mulheres. Sejam eles através do
regime da CLT ou informal. Principalmente, as empresas públicas e de saúde, têm uma
grande representatividade. Um outro dado que cabe apontá-lo como um dos vetores deste
crescimento quanto à ocupação de mulheres perante a oferta de trabalho é que houve um
aumento maior de oferta de novos postos de trabalhos direcionados à elas em contra-ponto
aos homens, como os dados apontam entram em decréscimo.
A participação das mulheres no conjunto dos empregos formais sempre foi
restrita, permanecendo, entre 1985 e 2002, muito próxima de 1/3. No entanto,
nesses 17 anos essa participação vem crescendo de forma lenta, mas
persistente, particularmente a partir da década de 90, com a redução
proporcional dos empregos masculinos: em 1985, 32,4% dos empregos
formais eram femininos, em 1992, 35,9% e em 2002, 39,7%.“Nos últimos 10
anos, entre 1992 e 2002, as empresas informaram a abertura de 2 968 779
novos postos de trabalho para homens e de 3 423 024 para mulheres.
85
Esses dados refletem que o mercado feminino cresce de forma silenciosa, mas,
velozmente, e, dispara nas tendências com uma participação crescente e atuante. Este
fenômeno aponta que o mercado feminino é o que mais cresce atualmente no mundo e o que
mais tem a crescer ainda. Como se pôde avaliar nesta coleta de dados e leituras sobre o
setor, que ainda muito espaço e receptividade por parte do mercado em recebê-las. Isto é
uma questão de tempo.
84
Fundação Carlos Chagas – Banco de Dados sobre o Trabalho das Mulheres – www.fcc.org.br/mulher/index.html
85
Idem
150
Apêndice C - Histórico da Função Secretária e a sua migração para o Brasil
Surgimento da Profissão da Profissão Secretária
Foi na Revolução Industrial, final do século XVIII, que o mundo mudou seus espaços e
seu modo de pensar, de agir, de produzir e de vender. Sendo que, em 1776, dois fatos que
alteraram o curso da história: a independência dos Estados Unidos e a publicação da obra “A
Riqueza das Nações”: uma investigação sobre sua natureza e suas causas, do escocês
Adam Smith
86
.
A Revolução Francesa, com a queda da Bastilha, em 1789, institui o lema de:
Fraternidade, Igualdade e Liberdade; cria um novo contrato social, abandonando o
absolutismo que imperava há séculos; e, amplia o espaço para uma discussão política, social
e democrática.
Todavia foi o avanço tecnológico, as invenções, que mudaram para sempre as
relações de produção e o homem: a invenção da máquina alternativa a vapor por James
Watt, no período de 1769 a 1780; a máquina de fiar; o tear mecânico; a locomotiva e o navio
a vapor, todos usando a máquina de Watt; diversas máquinas agrícolas
87
.
O período de 1860 - 1880 é fértil em transformações, a substituição do ferro pelo aço,
a eletricidade (1878), o telefone, o automóvel, o cinema. Houve nessa época, grande
incremento das estradas de ferro e das comunicações, alterando o modo de pensar, de agir e
de viver,
Na segunda fase da Revolução Industrial, uma invenção muda a tarefa artesanal, da
escrita à mão, para a escrita com uso de recursos mecânicos, ou seja: a máquina de escrever
inventada por Chistopher Latham Sholes
88
, em 1860. A se pedido, a sua filha, Lilian Sholes,
testou tal invento, tornando-se a primeira mulher a escrever numa máquina, em público. Pois,
na visão do seu inventor, este novo invento deveria ser visto por mais pessoas,
principalmente por empresários e comerciantes, que seriam os futuros usuários, e daí
multiplicariam a sua adoção aos mais diversos segmentos, como de fato aconteceu.
Lílian Sholes que nasceu em 30 de setembro de 1850, teve a data do seu aniversário
escolhida para fazer parte do calendário que estabeleceu, como 30 de setembro o Dia da
Secretária. Pois por ocasião do centenário de seu nascimento, as empresas fabricantes de
86
Adam Smith (provavelmente Kirkcaldy, (Fife, 5 de junho de 1723 Edimburgo, 17 de Julho de 1790) foi um economista e
filósofo escocês. Teve como cenário para a sua vida o atribulado século das Luzes, o século XVIII.
87
Lacombe, Francisco; Heilborn, Gilberto; Administração – Princípios e Tendências, p. 36, São Paulo, Saraiva, 2003.
88
Inventor norte-americano (Mooresburg, Pensilvânia, 1819 Milwaukee, Visconsin, 1890), Em 1867, com Samuel Soule e
Carlos Glidden, montou a primeira máquina de escrever, produzida em série por Remington a partir de 1873. Larousse
Cultural, p. 5361, São Paulo, 1995.
151
máquinas de escrever fizeram diversas comemorações, entre elas, concursos para escolher a
melhor datilógrafa. Os tempos mudaram, mas, a data continua fazendo parte das
comemorações por parte das secretárias.
A profissão de secretário (a)
89
não tem a sua origem muito conhecida. Pesquisas
antigas revelam que o antepassado do (a) secretário (a) era o Escriba que dominava a
escrita, fazia as contas, classificava os arquivos, redigia as ordens, era capaz de receber
ordens por escrito e, por conseguinte, encarregado de sua execução. Portanto, um
profissional de atuação destacada em toda a Idade Antiga. (Ver Apêndice I)
a origem da palavra secretário (a) vem do Latim secretarium que significa lugar
retirado, conselho privado. Também, secretum que significa: lugar retirado, retiro, solidão,
audiência secreta, particular, segredo, mistério.
Na Idade Média as funções do secretário ficavam restritas aos monges. Sua função
era fazer cópias e arquivos de documentos. Já na época da Revolução Industrial, ocorrida na
Inglaterra, a partir de 1760, instalou-se uma nova estrutura empresarial, onde funções novas
como: assessoria administrativa fortaleceu o papel do profissional de secretariado.
No início do século XX, as duas Grandes Guerras Mundiais modificaram a estrutura de
mão-de-obra das indústrias que, até então, era predominantemente masculina, dando início a
entrada de mão-de-obra feminina em funções administrativas, uma vez que a mão-de-obra
masculina estava em combate.(ver Apêndice I)
Segundo Maria Liana Castro Natalense em seu livro
90
, descreve o desenvolvimento da
profissão de secretariado assim:
- Da Idade Antiga até o início do século XX a profissão foi eminentemente masculina;
- A partir da década de 30 até os nossos dias, a profissão tornou-se eminentemente
feminina;
- Nos últimos anos, nota-se um despertar do interesse masculino pela profissão. Cerca
de 10% dos profissionais existentes, atualmente, na área de secretariado, são
homens.
O perfil do profissional de secretariado no Brasil, historicamente, mudou muito, teve
seu início como mera função de servir, de executar as “técnicas secretariais básicas”, nas
décadas de 50 e 60. Passou pela função de “assessoria gerencial” para participar de reuniões
(redigir atas), na década de 70, até o papel de “executar, gerenciar”, décadas de 80 e 90.
Atualmente, exige-se um perfil do profissional de secretariado que vai além do gerenciar, é
necessário assessorar o executivo que participa do processo decisório nas organizações.
89
NATALENSE, Maria Liana Castro; Secretária Executiva – Manual Prático. IOB, São Paulo, 1995.
90
Idem.
152
Para Stefi Maerker
91
, o secretariado é uma profissão, e é assim que deve ser visto. A
boa secretária ou o bom secretário não são aqueles que pretendem tomar o lugar do líder,
mas sim, aqueles que têm vocação para assessorá-lo dentro do que exige uma parceria
moderna.
outros pesquisadores como Lucia Casimiro
92
, que em sua pesquisa em artigo
publicado no site
93
, admite uma pontuação mais precisa de dados quando descreve quanto à
origem da função:
Nos remotos dias de Alexandre Magno, um secretário era "realmente"
um secretário. Para levar a cabo este encargo, em 300 a.C., você
passaria a noite em claro, entalhando uma tabuinha de cera com a
espátula e todo o dia seguinte retalhando o inimigo com uma espada.
Esta era uma posição de prestígio - porém perigosa - e, Alexandre
Magno, unicamente em sua campanha da Ásia, perdeu 43 Secretários.
91
Maerker, Stefi; Secretária – Uma parceria de sucesso – São Paulo, Gente, 1999.
92
Graduada em Pedagogia pela PUC de S.Paulo, com especialização no Método Montessori Lubienska (Itália) e em RH e
Andragogia - BOSTON USA. Facilitadora da Creative Education Foundation Buffalo, N.Y.
93
http: //www.fenassec.com.br/artigos/art52.htm
153
Apêndice D – A Categorização das habilidades e competências na função secretarial
A função secretarial exercida em grande parte por mulheres tem como escopo
principal algumas habilidades e competências sobejamente identificáveis que as reconhecem
e as qualificam no decorrer das suas atividades funcionais e nos seus papéis no dia-a-dia.
Fundamentado no que autores, estudiosos de Administração referem-se às habilidades e
competências requeridas para o exercício de qualquer atividade, nota-se, porém, que
algumas delas, estão intimamente ligadas à carreira. Como por exemplo, a obediência.
Segundo Peter Druker
94
“As pessoas respondem a um conjunto de valores e idéias e
princípios comprovados, gerando aumentos incríveis de competência”. E entre esses
princípios, está a obediência, que, está inserida no conceito e práticas administrativas, pelo
volume de emissões e classificações de ordens ou instruções emanadas por superiores, que
podem ser: ordens gerais, ordens específicas, ordens verbais e ordens escritas.
Dialogando com este pensamento, as empresas, buscam através da sua força de
trabalho, um grau maior de capacitação e de comprometimento, sendo assim, procurou-se
um alinhamento de pensamento, com as idéias de Jayr Figueiredo de Oliveira e Edison
Aurélio da Silva,
95
quando contextualiza o uso do conhecimento e da gestão de algumas
habilidades, dentro das organizações, destacando a objetividade e clareza quanto aos papéis
que seus funcionários devem desempenhar.
Portanto, o uso da administração do conhecimento, com o instrumento de
gestão voltado para eficiência, eficácia e criatividade, é cada vez mais
fundamental na perpetuação das organizações. Sendo assim, cabe aos
gerentes adotarem novas ações na busca pela melhoria da produtividade,
competitividade e lucratividade organizacional.
96
Nos filmes analisados, que estão categorizados em 31 obras na tabela (em anexo),
identificou-se a obediência como fator observado com freqüência, embora, conforme é vista
na vida prática, não significa que esta deva ser exercida de maneira cega e inquestionável
pela secretária. A obediência tratada neste caso é relativa quanto ao cumprimento restrito às
funções, as quais lhe serão atribuídas e que deverão ser ou estarem sendo cumpridas.
Ao contrário a passividade, indiferença ou a negligência, tidos como pontos críticos,
para alguns autores da área empresarial, são atribuídas a pessoas que agem ou têm atitudes
que não são responsáveis ou comprometidas. Estas atitudes acabam gerando assim um
descompasso com aquilo que se quer de um funcionário ou estima receber. O Consultor Luiz
94
Elizabeth Haas Edersheim, A Essência de Peter Drucker, Uma visão do futuro, p. 139, São Paulo, Elsevier, 2007.
95
Jayr Figueiredo de Oliveira; Edison Aurélio da Silva, Gestão Organizacional, São Paulo, Saraiva, 2006.
96
Idem, p. 12.
154
Carlos de Queirós Cabrera
97
define, que quando estiver perseguindo um objetivo não se
distraia, não perca o foco, são atitudes, na sua visão, que devem ser observadas no ambiente
corporativo.
Essa é uma atitude fundamental para a sua imagem. Mostre aos seus pares e ao
seu superior, que você é tenaz. Quando focada, não procrastine, não mude de
ritmo. Ponha foco, e sua imagem será de alguém determinada, resilente e dedicada.
Alguém com quem se pode contar.
98
A manifestação da obediência é vista na análise filmica, como exemplo concreto, que
do ponto de vista ético-profissional a falta deste atributo ou não exercício da mesma pode,
gerar problemas corporativos, alguns muito graves e irreversíveis.
Nunca em nenhum momento das atividades concentradas no trabalho formal, a
palavra profissionalismo, foi tão exigida e praticada nas organizações. Acredita-se que sem
ele, nenhuma atividade pode ser plenamente exercida com segurança ou sobras qualitativas
em seu resultado. Na atividade secretarial, é fundamental este reconhecimento e exercício.
O profissionalismo como resultado de um conjunto de experiências, aprendizado e
desenvolvimento, estabelecem o grau de elevação de uma secretária aos demais cargos
hierárquicos, como também a sua mudança de faixas salariais, de áreas, e de posição dentro
da organização. No que se refere à secretária é uma condição inerente, pois, suas atividades
requerem a prática secretarial com profissionalismo, seja diante da função, da área ou
perante a empresa sob seu comando direto ou indireto.
Ser e estar dinâmica é um outro requisito altamente observado. Pois, a jornada de
trabalho, pede e determina algumas ações que sejam dinâmicas, como também, possam
imprimir dinamismo no ambiente em que atuam. O dinamismo pode ser encontrado em certos
grupos funcionais, para um desempenho ou necessidade que se faça uso. Na área secretarial
o dinamismo está em poder atender ou estar atuando com um volume de trabalho ou de
ações que pedem certa urgência ou determinada simultaneidade.
Nos filmes relacionados, foi possível observar, com precisão, quando em algumas
cenas nos é mostrado os executivos demandando uma série de atividades, como nos passa
na observação mostrada no filme "Working Girl" - (Uma Secretária de Futuro) - EUA, 1988.
Tess, a secretária rem contratada é chamada para sua primeira reunião, onde é
questionada sobre algumas sugestões para organização de uma festa empresarial; ela
assume uma postura de conhecimento, de inovação e principalmente dinamismo quanto ao
97
Luiz Carlos de Queirós é professor da Eaesp-FGV, diretor da PMC Consultores e membro do Executive Board da Amrop
Hever Group.
98
Revista Você S/A – Uma Questão de Atitude – p. 34. Novembro de 2005 – Edição 89.
155
que está sendo discutido. E conseqüentemente, a tarefa lhe é confiada, e passa ser na área a
qual foi designada, seu primeiro desafio.
Concentração ou foco naquilo que faz condição inerente a qualquer atividade
humana. No trabalho secretarial a concentração é exigida não somente nas tarefas, como
também na prática e no intercâmbio entre o emissor (chefia) e receptora (secretária) tendo
que pautar a atividade desde o início até o fim, segundo Amalia Sina:
Uma das grandes vitórias femininas nos ambientes corporativos foi
justamente trazer para dentro das empresas a noção de que uma pessoa é
um todo: não se fragmenta em partes para atuar em negócios. Ao contrário,
quanto mais estiver inteira em um processo, provavelmente mais condições
terá para discernir sobre prós e contras. (SINA, 2005, p.79).
A produtividade é a relação entre produção, volume, qualidade e resultado final das
tarefas. Ela está relacionada ao conhecimento, a experiência, a repetitividade da mesma
tarefa. Nas organizações são mensuradas a produtividade operacional e a produtividade
funcional. A produtividade secretarial através da sua agente ganhou espaços e aumentou a
sua proeficência com a atualização e o manuseio de vários instrumentos tecnológicos.
Pode-se relacionar alguns dos principais equipamentos como: a máquina de escrever
ainda no século XIX; o telégrafo; o telefone; o telex; o telefone sem fio e o telefone móvel. As
máquinas de reprografia; as máquinas de escrever elétrica. Os gravadores de voz; o fax. Os
computadores de grande porte, de mesa ou pessoais. Como também os equipamentos para
transmitirem vídeo-conferências.
A inclusão de novas tecnologias emergentes no final do século XX e início do século
XXI registram ao longo da história das organizações, principalmente nas áreas
administrativas, uma revolução no conceito de produtividade.
Ser ou estar disciplinada, quanto a um conjunto de tarefas, é a referência pela qual a
secretária é reconhecida ou tratada. É relativa a importância que ou determina para uma
ou mais tarefas; além do ordenamento do volume de atividades a serem executadas e sua
priorização na ordem de execução e entrega. A prioridade é a preferência ou a urgência em
que a tarefa ou ação lhe é confiada e passada. A disciplina se manifesta na ordem de
produção que leva à produtividade, aprofundando o conhecimento e experiência adquirida.
Na análise filmica encontra-se esta representação com caracterizações espontâneas ou
fortemente determinadas, pelas áreas de chefia ou executivas.
Nas estações de trabalho, a imagem de uma secretária organizada é aquela que
opera e orienta suas funções, como também as dos executivos, numa ordem natural de
prioridades e urgências. É o processo de disposição dada a uma ou mais tarefas. Entende-se
156
que o volume e a demanda da área secretarial, independente do tamanho da empresa, tem
que ser organizada. Assim sendo, uma secretária organizada é aquela que consegue atender
a um ou mais executivos, sem perda de qualidade, sem a perda do foco, e, principalmente no
atendimento tempo que cada ação se processa visando a observância do objetivo.
Ser multifuncional foi uma qualificação incorporada à função secretarial, com mais
ênfase, a partir dos anos 90 quando as organizações tiveram suas estruturas alteradas,
compactadas e enxugadas. Durante muito tempo coube à secretária uma identificação única,
com uma única chefia direta, o que era mais que coerente, devido à baixa tecnologia nos
escritórios ou áreas administrativas. Com o surgimento e avanço da tecnologia o que tornou
as relações internas cada vez mais padronizadas e a arquitetura funcional passaria novas
incumbências aos chefes, que perderiam aos poucos a passividade, ou seja, a dependência
quase que total da atividade exercida pela secretária para o sucesso do desempenho das
suas funções.
Assim sendo, o advento crescente da tecnologia e a assimilação dos mesmos
processos pelos chefes ou executivos, a secretária começaria a perder a unicidade de
atendimento e de tarefas para se transformar em multifuncional. Esta multifuncionalidade é
contemplada pela diversidade de tarefas, simultâneas ou não; e pelo atendimento na
pluralidade de executivos e de áreas. Deixando de apenas exercer funções meramente
mecânicas para ir aos poucos migrando para funções que demandam iniciativa e decisão
tornando-se assessoras, no que diz respeito ao auxílio, à orientação, à coordenação e ao
acompanhamento direto de projetos. Atividades essas, que durante muito tempo foi fórum
específico e reduto das chefias diretas.
A função e exercício da atividade secretarial requer que a secretária tenha
competência nas comunicações, qualidade que será observada e incentivada pelas
organizações como peça fundamental nas relações internas e eternas. Como também, um
facilitador no fluxo de informações entre as áreas. Que com esse diferencial, possa interagir
com mais velocidade e precisão, os processos organizacionais, mobilizar e integrar demais
secretárias na mesma plataforma de gestão.
A liderança é outra habilidade que no decorrer do dia-a-dia, se aprende, se
desenvolve e se consolida, como também, se amplia. A liderança pode ser observada nas
jornadas de trabalho, no tratamento com seus pares, no relacionamento externo e interno. No
conjunto de ações que precedem ou procedem desta necessidade. A secretária líder e que
tem liderança é aquela que consegue impor um ritmo de trabalho com compromissos de alto
desempenho e de comando integrado horizontal ou vertical.
157
Alguns autores optam em reforçar as diferenças entre líder e liderança. Esclarecendo
que líder é o indivíduo, uno e indivisível. Por outro lado, a liderança é a função ou atividade
que o indivíduo executa. Mas, tamm são enfáticos quando em suas definições, no que se
refere a posicionamentos: nem todos que são reconhecidos como tal, exercem uma
liderança. (Éder Paschoal Pinto, 2007)
99
.
Na publicação do “Manual do Secretariado Executivo” pontua-se que a
multifuncionalidade é um processo incorporado pela secretária, a qual, dinamiza e opera
funções simultâneas dentro da sua plataforma de trabalho, como é colocado nesta
observação:
É a sua capacidade de interatividade silmutânea em desenvolver plataformas
de execução e gerenciamento de ações em diferentes níveis de comando,
sejam eles horizontais ou verticais, sem nunca perder o ”foco” no seu trabalho
e nas suas atribuições”. Esta é uma das aplicações da liderança
multifuncional possibilita uma visão sistêmica ampliada, como também uma
navegabilidade por todas as áreas de uma organização.
100
Ainda discorrendo sobre liderança, depara-se com o enfrentamento entre a líder
secretária e o líder executivo. Como administrar essas relações? Qual a postura
recomendada, ou melhor, aquela que o mercado como forma de crescimento e
desenvolvimento integrado. Segundo Stefi Maerker, sua posição referente à secretária líder,
é:
O secretariado é uma profissão, e é assim que deve ser visto. A boa
secretária não é aquela que pretende tomar o lugar do líder, mas sim a que
tem vocação para assessorá-lo dentro do que exige uma parceria moderna.
101
Nesta análise em que nos propomos, como a representação da secretária que o
cinema imprime na questão de liderança o que passa decididamente, nas relações entre ela e
os executivos, como eles dividem e convivem neste espaço. várias teorias a respeito de
liderança, de acordo com Éder Paschoal Pinto, especialista na área de gestão empresarial,
em que a configura a liderança como o resultado de aprendizado do indivíduo e do ambiente
em que está contextualizada a ação.
As teorias de liderança situacional observam os estilos de gerência de
liderados em diferentes ambientes ou situações, tendo como
personagem o líder, o liderado e o ambiente. Elas sustentam que o
resultado depende do contexto.
102
99
PINTO, Éder Paschoal; Gestão Empresarial - Casos e Conceitos de Evolução Organizacional, São Paulo, Saraiva, 2007.
100
Manual do Secretariado Executivo - Capítulo, p, Difusão Cultural do Livro – São Paulo, 2004.
101
MAERKER, Stefi, Secretária – Uma parceria de sucesso. P. 55, Gente, São Paulo, 1999.
102
PINTO, Éder Paschoal; Gestão Empresarial – Casos e Conceitos de Evolução Organizacional, p. 76. Saraiva, São Paulo,
2007.
158
O poder é outorgado e não auto declarado. No que se refere a secretárias uma
diferença substancial entre a poder e estar poderosa. O poder é o processo transferido ou
determinado por empresas ou pessoas, para o exercício profissional ou atividade que lhe é
conferida. chefes ou executivos que transferem alguns poderes, conjunto de resoluções
que pelo desempenho, qualificações e experiência a secretária poderá estar
desempenhando. No que tange a ser ou estar poderosa é a adjetivação que uma secretária
recebe de pessoas com quem trabalham ou se relacionam diretamente ou indiretamente.
O conflito se quando ao estado de ser ou estar poderosa fere a ética e o bom
andamento das atividades que lhe o atribuídas. Segundo Stefi Maerker, que descreve a
importância e a responsabilidade que o poder é transferido a uma secretária e os seus
perigos decorrentes do mau uso ou exacerbação do mesmo.
Levando em conta que a secretária é uma das principais fontes do executivo,
quanto mais o tempo passa, quanto mais ela se envolve com o negócio, os
clientes, os fornecedores e os demais profissionais da empresa, mais ela se
torna um centro vital de informações o que realmente lhe confere um poder
significativo.
103
A autonomia é o conjunto de ações que uma secretária pode ter e exercer durante
suas atividades. Na visão empresarial é a delegação por alguém superior ou de grau
hierárquico maior, de liberdade de exercício pleno de toda e ou qualquer atividade funcional.
Esta delegação é sempre respaldada pelas responsabilidades que são advindas. A
autonomia como se reconhece hoje, dentro da área secretarial, por parte de alguns chefes ou
executivos é algo que no passado era quase que impensável, ou realizável.
Pois, a grande maioria dos chefes tolhia ou seguravam ao máximo a delegação de
tarefas. Mas, com decorrer dos anos, a chegada de profissionais mais qualificadas e
preparadas para o exercício da função, como também a diversidade e uso de múltiplas
tecnologias, possibilitou a quebra deste paradigma. A autonomia de ação foi ampliada e
utilizada pelas secretárias, liberando os chefes ou executivos para outras tarefas que lhe são
de execução.
A iniciativa é uma outra qualidade muito discutida nos meios executivos, quando se
refere às atividades ou funções de uma secretária. É o ponto exato ou momento certo para
uma tomada de decisão, uma retomada de um trabalho que requer um tempo ou dedicação
maior. Ou, é o posicionamento frontal e de execução frente ao conjunto de tarefas que
naquele momento ou estágio pedia ou se fazia necessário. Entretanto observa-se que nas
103
MAERKER, Stefi, Secretária – Uma parceria de sucesso. P. 63, Gente, São Paulo, 1999.
159
organizações as iniciativas podem ser muito bem vindas, mas, em outras ocasiões a iniciativa
poderia ser tolhida ou bloqueada pelo executivo ou chefe que lhe é assistida.
A apresentação, isto é, o estilo e a moda seguem um padrão estético preestabelecido
que uma secretária tem como estereótipo ou, melhor, um padrão a ser obedecido ou seguido.
Durante muitas décadas as secretárias usavam basicamente vestido, conjuntos de saia,
blusa ou tailleur. Foi a partir dos anos 70 que se deu o uso das calças compridas por
mulheres e o advento dos terninhos para mulheres, moda que perdura até hoje. Raramente
uma figura feminina, seja nos negócios, seja na política, ou no trabalho que não se apresente
de terninho.
Este estilo que seguia uma moda com uma estética austera, foi atualizado a partir do
tailleur inspirado por Coco Chanel
104
, lhe dando um toque ou uma finalização para a
adaptação aos terninhos, conjunto formado por um blazer com a cintura marcada e mais
curto que um paletó masculino, e uma calça que compunham um look. O que agradou em
cheio o público feminino, pois, além de romper com a rigidez, trouxe com seu uso, mais
mobilidade e praticidade ao ambiente de trabalho e agregou a idéia de competência e de
poder, antes exclusivamente masculina.
Os anos 50 marcam para o Brasil, o seu ingresso definitivo no chamado clube da
industrialização moderna, com a chegada das primeiras montadoras de automóveis em 1956.
Como também o aumento substancial de empresas multinacionais que aportavam desde a
indústria pesada ao varejo, como foi o caso da Sears, Roebuck, que chegou ao Brasil no
início dos anos 50 no Rio de Janeiro e depois na década seguinte se instala na capital
paulista, onde instala sua primeira loja na Praça Oswaldo Cruz, hoje, ocupado pelo Shopping
Paulista.
Esta evolução trás um novo formato de varejo imprime um novo layout e um novo
comportamental em relação aos costumes, introduzindo mega lojas com sofisticação,
esmero, atendimento diferenciado e produtos que a mulher brasileira que até então,
desconhecia ou ainda não tinha acesso de compra.
Foi a cosmetologia foi responsável em ajudar a criar uma nova imagem da mulher,
seja no meio social, no trabalho ou em casa, com produtos que pudessem ser usados como
maquiagem e assim, dar um novo look à mulher que começa a ser moderna e atual como o
seu tempo, conforme segue:
Na verdade, os anos 50, e, sobretudo a década seguinte, representam uma
época de transformações aceleradas para a história do embelezamento no
Brasil: a modernização das técnicas de produção de
perfumes e
104
Gabrielle Chasnel – Coco Chanel (1883-1971) – Estilista francesa que revolucionou com a moda a imagem feminina.
160
cosméticos
105
, ampliação do mercado de produtos industrializados ligados ao
conforto e aos cuidados corporais, a batalha da beleza pretende ser, mais do
que nunca, uma luta pessoal e cotidiana, que diz respeito às mulheres da
elite, mas também às funcionárias públicas, secretárias, professoras e donas-
de-casa.
106
As formas de beleza e a padronização do estereótipo de secretária distorceram
premissas, tais como: a secretária deveria ser invariavelmente bonita, marcando presença,
que o seu tipo físico possa agradar preferencialmente a ala masculina. Para complementar
esta afirmação, Michelle Perrot
107
, diz textualmente:
A insistência em associar a feminilidade à beleza não é nova. A idéia de que
a beleza está para o feminino assim como a força está para o masculino,
atravessa os séculos e as culturas.
108
As transformações sociais porque passaram o protótipo feminino foram mais
impactantes do que as ocorridas com os homens. O século XX foi testemunha ocular dos
registros que revolucionaram os costumes, alteraram a moda, bem como o olhar sobre o
feminino, essas transformações são mais abrangentes como diz em seu texto, Denise
Bernuzzi de Sant’Anna:
Da medicina ao esporte, passando pela higiene e pela moda, esta história é
heterogênea, pouco explorada, embora ela trate de uma preocupação ao
mesmo tempo antiga e contemporânea.
109
A eficiência é a medida na mensuração da execução de uma tarefa e o seu resultado
final. Na prática, na área secretarial, as suas agentes em grande maioria são cobradas ou
observadas por tal desempenho. Sua eficiência se no todo ou em parte da realização de
uma tarefa e está presente na rapidez, na solução e na demanda em que lhe é atribuída um
encargo e este, é finalizado com o resultado esperado pelo chefe ou executivo da área.
Durante muitas décadas coube à secretária apenas o papel de assistente ou
simplesmente operacional de um chefe ou executivo. A gestora, denominação que surge a
partir da metade dos anos 90 e ganha importância a partir do início do século XXI. Mas, foi a
partir do crescimento e a qualificação das secretárias que, as empresas impuseram às suas
105
Cf. Hugo Schlesinger, Enciclopédia da Indústria Brasileira, 4º. Vol., ed. Brasileira, 1959, p. 1382. A Segunda Guerra obriga
o Brasil a buscar em seu próprio território certas matérias-primas que vão contribuir de modo decisivo para a expansão da
indústria de perfumes e cosméticos. A este respeito, ver, “No reino dos Avon, Factor, Lopes e Bozzano”, Anuário Banas 4ª.
Ed., Banas, Pesquisas Econômicas, 1963, p. 127.
106
Denise Bernuzzi de Sant’Anna, (Org.) Políticas do Corpo, p. 130, São Paulo, Estação Liberdade, 1995.
107
Michelle Perrot, Les Femmes et leurs images ou le regard des femmes ”. in Georges Duby et Michelle Perrot, Images de
femmes, Paris, Plon, 1992, p.176
108
Idem
109
161
estruturas formais, o surgimento do papel de gestora, ou seja, a assistência direta com
poderes descritivos operacionais, de execução e de decisão.
Este facilitador ou diferencial fez com que a função secretarial ganhasse importância
num determinado número de empresas e tivesse uma sobrevida, ou uma adaptação mais
contemporânea. São essas tendências de modernidade que passam pelas empresas, que
atingem diretamente os cargos gerenciais e de chefia e vão, refletir diretamente na secretária,
alterando seu escopo de tarefas iniciais.
Ser executora é um diferencial que não pode ser confundido com a gestora.
Executora, na visão dos especialistas organizacionais é a maneira como uma secretária cria,
alinha, pauta, define, age, controla, executa e delega grupo de tarefas que lhe são atribuídas,
podendo agir em nome ou no lugar do chefe ou do executivo.
Em algumas organizações, a secretária exerce funções em que tem a
obrigação de controlar certos comportamentos relacionados com as tarefas
atribuídas a funcionários que estão sob sua responsabilidade.
110
Ser cooperativa é próprio do ambiente e das relações estabelecidas no meio
secretarial. No sentido amplo operacional vê-se que no decorrer das décadas os layouts
organizacionais reservaram à secretária os ambientes ou espaços abertos co-divididos com
as demais profissionais da sua área. Este facilitador criou e transpareceu uma convivência
muito próxima entre elas, criando um status quo de ajuda mútua e de cooperatividade
compartilhada. Porém este sentido cooperativo não era o modelo ou padrão usado em todas
as áreas secretariais ou por todas as secretárias.
Este diferencial profissional de se trabalhar cooperativamente ou em equipe é
reconhecido por grande parte das organizações como inerente ao meio secretarial. Para
ilustrar a linha de raciocínio empregada, pode-se recorrer à definição de Hernandes Medeiros
(2004):
A posição da secretária dentro da organização exige dela certa dose de
habilidade no relacionamento com colegas, clientes e superiores.
111
Pela responsabilidade e multiplicidade de tarefas, a assertividade no conjunto das
ações tornou-se imprescindível ao seu bom desempenho. Reconhece-se uma secretária pela
sua assertividade quando o conjunto de decisões ou tarefas executadas tiveram o apelo de
110
MEDEIROS João Bosco Medeiros, HERNANDES, Sonia; Manual da Secretária – Técnicas de Trabalho, p. 25, São Paulo,
4ª. Ed. Atlas, 2004.
111
MEDEIROS, Hernandes, 2004, p. 27.
162
que sua opinião, suas palavras, suas ações foram assertivas, isto é, ponderadas, realistas e
qualitativas.
Diante das transformões ocorridas nos últimos 50 anos, em que a secretária era o
exercício de uma tarefa quase que imutável, seja no âmbito empresarial ou nas linhas
hierárquicas. Com o tempo e com as mudanças tecnológicas impostas, houve uma
necessidade quase que imperativa que a secretária se tornasse flexível. A flexibilidade está
receptividade de ir para uma nova área, na troca de chefia, na alteração organizacional, nas
transformações de papéis operacionais e até na promoção para um novo cargo.
As competências são relativas à formação acadêmica ou a experiência adquirida em
outras atividades profissionais. É muito comum se utilizar em entrevistas na área de Recursos
Humanos um questionamento para se saber ou avaliar o quanto de competências tem uma
secretária em sua bagagem profissional.
As competências, habilidades técnicas e ou operacionais passam pelo que a
secretária sabe ou pode executar além do que o escopo da profissão pede, perfazendo o
conjunto de valores que ela vai contribuir para a organização.
O conhecimento humano é adquirido através de experiências vividas ou experiências
advindas de alguma área do conhecimento. No caso da secretária é mensurado pelo quanto
esta profissional somou ao longo da carreira, e o quanto ela reciclou ou melhorou no conjunto
de procedimentos para executar as funções.
Para o exercício da função secretária o conhecimento ou aprendizado vem numa
escala organizacional reconhecida como: Recepcionista, Estagiária, Assistente, Secretária
Júnior, Secretária Assistente e Secretária Executiva, topo máximo da carreira, quando estará
atendendo mais diretamente as áreas de comando da organização. E, mais recente, as
secretárias estão assumindo novos papéis que a levam a exercer funções de gestão e de
assessoras, em níveis de gerência ou atuando no boarding da organização.
E, um dos componentes que fazem com que qualquer carreira possa ter uma trajetória
alterada, ou, na melhor das hipóteses o seu sucesso assegurado, é a ambição. A ambição
não pode ser confundida como um mero componente, e sim, como um fator decisivo e
eliminatório, presente no mundo corporativo, como essencial para qualquer pessoa que
esteja competitiva e quer mais para a sua carreira. James Champy descreve o que é
ambição.
É a energia humana que move as pessoas, que as faz avançar e que
direciona seus esforços para realizar alguma coisa grande.
112
112
James Champy, é um dos autores do livro “O Limite da Ambição”, lançado no Brasil em 2000. Revista Veja – p. 55. Edão
1945 – Ano 39 – no. 8 – 1º. de Março de 2006. Editora Veja – São Paulo.
163
A ambição é o oxigênio que move e estimula as pessoas a darem um salto planejado
em suas carreiras, nota-se no dia-a-dia como a ambição é vista no campo das relações de
trabalho, e como elas são vistas sob o olhar de quem seleciona, contrata e treina para que
venham a desempenhar suas funções. Funções principalmente exercida pelas secretárias,
que devem ter um sonho de como alcançar novos postos em uma corporação, conforme
Pedro Roberto Almeida:
As pessoas dizem que querem crescer na carreira; que querem novos
desafios. Com o tempo, perdem a motivação se, a cada obstáculo superado,
não houver uma contrapartida em dinheiro. Não tenho dúvida de que pagar
bem é a melhor forma de aguçar a ambição.
113
A categorização de habilidades e competências na função secretarial formulada e
estrategicamente analisada por nós, em cada filme, possibilitou encontrar referências no
ambiente corporativo e trazê-los sob a luz dos estúdios de cinema, a visão dos seus diretores
que, através das narrativas atribuíram o mesmo enfoque do real.
Sendo que o imaginário deu um tom de cores ficcionais, sem nunca, porém se
distanciar da realidade vivida no ambiente secretarial. Esta pesquisa nos remete ao
entendimento e decodificação das etapas e características, que norteiam a função de
secretária. A categorização, isto é, as características, as quais foram denominadas de
categorização. Estas características nos apontam indícios de como no cinema, sob a direção
de diversos diretores com suas diversas leituras, foram externadas em suas narrativas a
representação do papel de secretária.
Pela análise desta pesquisa, tendo como referência os filmes selecionados, pode-se
concluir ou estimar que alguns diretores copiaram a realidade. Para outros diretores a
realidade serviu como modelo, pano-de-fundo ou referência para reforçar o ficcional. Assim
ao contrário do lógico, muitas das cenas mostradas, ilustram com muito realismo, que se
pode questionar se a realidade imita a arte ou como a arte imita a vida; independente da
corrente estética que a obra cinematográfica se insere.
A comunicação e a sua derivação de ser comunicativa é uma outra competência a ser
trabalhada e observada pelas organizações como peça fundamental, a função e exercício da
função secretarial requer desta, uma ambiência com o todo da organização, na disseminação
e recebimento de informações.
113
Pedro Roberto Almeida é diretor da América Latina Logistics (ALL), São José dos Pinhais – PR – p. 36.Revista Você S/A –
Edição 93- Março 2006 – Editora Abril – São Paulo.
164
ANEXO E - Gênero e Sociedade – Como a sexualidade é tratada sob o olhar do cinema
Para ilustrar a pesquisa na qual analisou-se uma filmografia que compreende o
período datado de 1933 até 2008, num acervo de 31 filmes, selecionados a partir de
produções produzidas em Hollywood (EUA), todas em suas mais diversas formas apresentam
a sexualidade como “pano de fundo” em todas as suas histórias ou narrativas, deixando claro
para o expectador que a sexualidade era e é um tema recorrente.
Buscou-se alguns filósofos para poder pontuar a sexualidade como visão social e
comportamental. O primeiro deles é Michel Foucault que nos diz:
Mais do que a incidência econômica, o que me parece essencial é a existência, em
nossa época, de um discurso onde o sexo, a revelação da verdade, a inversão da lei
do mundo, o anúncio de um novo dia e a promessa de uma certa felicidade estão
ligadas entre si.
114
A sexualidade sob o ponto de vista da história, apresenta dois momentos onde há uma
ruptura sobre o seu pensar e a sua transformação social, a primeira foi no século XVII, em
que estava disseminada por toda a sociedade da época uma carta de conduta da decência e
de proibições. E a segunda, no início do século XX quando essas leis começaram a ser
revistas e a sociedade pode finalmente poder exercer sua plenitude de liberdade no que se
refere à sexualidade, como pode-se ler no texto que se segue.
A história da sexualidade se quisermos centrá-la nos mecanismos de
repressão, supõe duas rupturas. Uma no decorrer do século XVII: nascimento
das grandes proibições, valorização exclusiva da sexualidade adulta e
matrimonial, imperativa da decência, esquiva obrigatória do corpo, contenção
e pudores imperativos da linguagem; a outra no século XX; menos ruptura,
aliás, do que inflexão da curva; é o momento em que os mecanismos da
repressão teriam começado a afrouxar; passar-se-ia das interdições sexuais
imperiosas a uma relativa tolerância a propósito das relações pré-nupciais ou
extramatrimoniais.
115
A sexualidade surge como fato histórico social no início do século XIX, em que estes
fenômenos são analisados sob a ótica da moralidade, dos costumes, da pedagogia e até da
medicina. Era um novo limiar que surgia, mas que tinha sido anunciado pelas artes nos
séculos anteriores, como nas pinturas, que exibiam cenas de mulheres desnudas e com
insinuações eróticas. Michel Foucault, novamente nos preenche com sua visão o pensamento
sobre a sexualidade.
114
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade – I – A Vontade do saber. 6 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1985. p. 13.
115
Idem. p. 109.
165
O próprio termo “sexualidade” surgiu tardiamente, no início do século XIX. É
um fato que não deve ser subestimado nem superinterpretado. Ele assinala
algo diferente de um remanejamento de vocabulário; mas não marca,
evidentemente, a brusca emergência daquilo que se refere. O uso da palavra
foi estabelecido em relação a outros fenômenos: o desenvolvimento de
conhecimentos diversos (que cobriram tanto os mecanismos biológicos da
reprodução, como as variantes individuais ou sociais do comportamento); a
instauração de um conjunto de regras e de normas, em parte tradicionais e
em parte novas, e que se apóiam em instituições religiosas, judiciárias,
pedagógicas e médicas; como também as mudanças no modo pelo qual os
indivíduos são levados a dar sentido e valor a sua conduta, seus deveres,
prazeres e sentimentos, sensações e sonhos.
116
Um outro fato que precisa ser abordado, Michel Foucault trata em seu texto a relação
de poder ou de submissão definido por questões sociais ou econômicas; onde o poder pode
ser visto em suas várias dimensões ao analisarmos a filmografia apresentada nesta
Dissertação, como Michel Foucault apresenta em seu pensamento:
E foi preciso também um deslocamento teórico para analisar o que
freqüentemente se descreve como manifestação do “poder”; ele me levara a
interrogar-me, sobretudo sobre as relações múltiplas, as estratégias abertas e
as técnicas racionais que articulam o exercício dos poderes.
117
Foi na metade do século XIX que a mulher é iluminada pela primeira vez com a
expressão “emancipação feminina com a criação dos primeiros preservativos, que assim
poderiam oferecer uma igualdade social e de costumes então jamais vista, de acordo com
Rosalind Bronfman Tockus, no qual diz:
Na segunda metade do século XIX, a Igreja Católica estava informada do
emprego do preservativo, muito difundido na França. Depois de 1843 a
vulcanização da borracha permitia fabricá-lo mais barato. O fenômeno da
emancipação feminina, a aspiração a uma maior igualdade, a valorização da
sexualidade, são causadas por transformações sócio-econômicas.
118
A efevercência das primeiras décadas do século XX apresentam uma Europa muito
mudada, principalmente quando as classes pensantes, artistas e intelectuais pregavam a
emancipação feminina; ao mesmo tempo em que havia também, um olhar de desprezo em
relação a uma sociedade que praticava a emancipação, no entanto era hipócrita ao não
reconhecer esse movimento. Rosalind Bronfman Tockus nos fala da fase da I Guerra
Mundial.
116
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade – 2 – O uso dos prazeres. . Rio de Janeiro: Graal, 1994. p. 9.
117
idem. p. 11.
118
TOCKUS, Rosalind Bronfman. Sexualidade nos dias de hoje – O Sexo sem Preconceitos. São Paulo: Ágora, 1986. p. 18.
166
Até a Primeira Guerra Mundial, a emancipação sexual foi principalmente obra
de artistas e de intelectuais. O grande público acompanhava à distância ou
então se mostrava indignado, quando os escritores protestavam contra a
hipocrisia e a injustiça da falsa moral.
119
As duas guerras mundiais foram cruciais para a revisão e consolidação de conceitos
que, ainda recentes, implicam no comportamento dos jovens diante do amor e do casamento.
Entre as duas guerras mundiais, atitude dos adolescentes modificou-se.
Reagiram de forma negativa ao amor romântico e passaram a se comportar
naturalmente. não faziam solenes declarações de amor, já não pediam
oficialmente a mão da bem-amada.
120
Mas, esta mudança ocorreu de fato logo após o fim da II Guerra Mundial, quando a
revolução sexual tomou espaços até então jamais pensados. Para a mulher a única condição
de se fazer reconhecida e ter status dentro da pirâmide social era o casamento, uma das
instituições mais consagradas e que ainda faz história de sua validação e reconhecimento
civil, social e religioso, como se pode ver a seguir.
Depois da Segunda Guerra Mundial, graças aos vários meios de informação,
a revolução sexual apresentou uma difusão social muito mais ampla”.
121
É neste período da história que ocorrem mudanças muito sensíveis quanto a
comportamento e costumes, e, através dos meios de comunicação, entre eles o cinema,
buscam-se referências, para se criar uma nova imagem para a mulher, conforme Rosalind
Bronfman Tockus em seu texto:
Para a mulher, casamento ainda era o único meio de atingir o status e o
reconhecimento social. Mas tenta-se criar uma nova “imagem” da mulher, ao
mesmo tempo mãe, mulher, amante.
122
A sociedade na época não tratava esses assuntos de maneira aberta como sendo de
responsabilidade social. Esses assuntos não eram vistos como problemas sociais adquiridos
ou desenvolvidos no meio social, mas sim, com um problema de foro exclusivamente íntimo.
E para contribuir com este pensamento, a publicação de 1930 do Papa Pio XI de duas
encíclicas que vieram selar qualquer questão sobre o tema pela Igreja Católica.
119
TOCKUS, Rosalind Bronfman. Sexualidade nos dias de hoje – O Sexo sem Preconceitos. São Paulo: Ágora, 1986.Idem.
120
Idem. p. 19
121
Ibdem, p. 19.
122
Ibidem, p. 18.
167
O esclarecimento sexual, a contracepção, o aborto, não eram considerados
nem tratados como problemas sociais, mas individuais. Em 1927, Hodam
reclamava o amor livre, o direito ao aborto, a igualdade dos direitos das mães
solteiras. Em 1930 o papa Pio XI
123
publicou duas encíclicas, uma sobre o
casamento e a contracepção, e outra sobre a educação.
124
As artes como a pintura, a fotografia, o cinema, foram responsáveis pela construção
da sexualidade e busca de referências que pudessem trazer público, audiência, que
provocasse curiosidade, espanto, desejo e inebriasse platéias das mais diferentes culturas
nos mais diversos cantos geográficos do planeta. O cinema na verdade foi o seu maior
veículo de comunicação, e ainda continua. Foi o cinema de Hollywood que nos proporcionou
as primeiras fantasias sensuais e porque não dizer: eróticas, através de atrizes como; Theda
Bara, Lilian Gish, Gloria Swanson Louise Brooks, Mae West, Jean Harlow, Hedy Lamarr,
Mary Pickford, Greta Garbo, Marlene Dietrich e atores como Rodolfo Valentino, Douglas
Fairbanks, John Gilbert, John Barrymore, Lon Chaney, entre outros.
O cinema, por sua vez, exercia uma grande influência. Não só os adolescentes
tinham a possibilidade de estabelecer contatos na sala de espetáculo, mas
também o público aprendia a conhecer numerosos tipos de mulheres exóticas
e de homens sedutores.
125
Esta revolução de costumes, que fala do casamento, tem em Simone de Beauvoir
126
uma síntese do pensamento sobre esta instituição secular, em seu ponto-de-vista, conforme
segue.
Casamento é o destino tradicionalmente oferecido às mulheres pela
sociedade. Também é verdade que a maioria delas é casada, ou já foi, ou
planeja ser, ou sofre por não ser.
127
A realização pública de uma Feira de Erotismo em 1969 na cidade de Copenhague,
Dinamarca, foi uma grande revolução dos costumes, onde as artes na forma das mais
diversas expressões rompe a mais difícil barreira dos costumes, aquilo que seria reservado
como mostra para poucos, ganha as ruas. No sentido amplo: a liberdade da sexualidade
atinge a sua plenitude no século XX, como destacado no texto abaixo.
Em 1969 realizou-se em Copenhague a primeira feira de erotismo. Diz-se que
o erotismo vendeu mais que os queijos suíços. São colocadas e, circulação
123
Pio XI - Achille Ratti – (1857 – 1939) - (Papa de 1922 a 1939)
124
idem, p. 19.
125
TOCKUS, Rosalind Bronfman; Sexualidade nos Dias de Hoje – O Sexo sem Preconceitos – p. 19. Ágora – São Paulo,
1986.
126
Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, melhor conhecida como Simone de Beauvoir (Paris, 9 de janeiro de
1908 — Paris, 14 de abril de 1986), foi uma escritora, filósofa existencialista e feminista francesa.
127
Veja Especial Mulher, Junho de 2006, Ano 39 – P. 53. (Veja 1958)
168
dúzias de livros sobre as técnicas de coito e outras formas de contatos
sexuais.
128
Depois de percorrer a história do século XX, pode-se concluir com a esta pesquisa
sobre a sexualidade, que foi com a revolução feminina, silenciosa quando precisa, mas
ruidosa se necessária. Pontual naquilo que elas as mulheres reivindicavam: mudanças,
trazendo e impondo transformações sociais. Alterando para sempre a relação
comportamental entre homens e mulheres, envolvendo parlamentos, mudando leis.
Destacando-se assim, um novo papel da mulher na sociedade. A história dos
costumes não poderegistrar o momento que elas romperam barreiras como, por exemplo,
trajar novas vestimentas, praticar hábitos até então impensáveis e atuar na sociedade com
mais liberdade e espaço, tornando sua presença pública. Foi uma revolução a partir de
conquistas que elas, as mulheres, inteligentemente souberam construir.
Dos trajes e banho inteiros a mulher passou a maiô muito decotado, ao
biquíni, ao monoquíni.
129
Quem é essa nova mulher que chega totalmente repaginada para o século XXI,
trazendo na sua bagagem uma série de acessórios pessoais, que à primeira vista, não são
descartáveis, não é moda, muito menos modismo. Representam um conjunto de
características aferidas e reconhecidas como uma feminista feminina, criatura para ser líder,
segura de si, com atitudes de auto-suficiência que a fazem diferentes se formos compará-la à
mulher do início do culo XX. Competente na lides acadêmicas e no universo corporativo,
sua presença e participação nestes cenários é ascendente quando se referem a números
estatísticos.
Esta nova mulher pode ser vista com maior intensidade nas ruas, cada vez mais
presente no alto escalão das empresas privadas ou públicas. Uma geração mais precoce que
chega muito jovem às portas das universidades para realizar um vestibular ou, iniciar uma
carreira em alguma organização, num contra-ponto comparativo aos homens, elas são
maioria, têm as melhores notas, e têm um currículo de estudos mais extenso, para confirmar
esta tendência, o Marcelo Neri, nos dá sua contribuição.
Nunca a distância entre homens e mulheres foi tão pequena, no que se
refere à mulher no mercado de trabalho, e hoje, a sociedade tem um
viés pró-mulher.
130
128
Idem. P.19
129
TOCKUS, Rosalind Bronfman; Sexualidade nos Dias de Hoje – O Sexo sem Preconceitos – p. 19. Ágora – São
Paulo, 1986.
169
O século XXI é o resultado bem sucedido de uma primeira parte histórica vivida pelas
mulheres de todo o mundo, que lutavam nos anos 60, pela emancipação feminina, uma dura
batalha que quebrassem os paradigmas de trocar as funções de donas de casa e passassem
a trabalhar fora, que tivessem seus próprios ganhos, e que pudessem ter vida além do
cotidiano doméstico. A independência em optar ou não pela maternidade, com o surgimento
da pílula anticoncepcional, em 1960, possibilitaram ter controle sobre suas próprias vidas
pessoais, e assim poderiam investir em suas próprias carreiras, sem colocar em risco e
maternidade e a família. Esta foi a maior revolução que as conduziram a ter uma
independência econômica, sem estar atrelada a casamentos e com capacidade financeira e
econômica e poderem se sustentar sozinhas.
130
Marcelo Néri, Economista da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro –p. 91- Revista Época – no. 462 – 26 de março
de 2007.
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